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BANG! /// 1
uis Melo nasceu em Lisboa
em 1981. Estudou Design
de Comunicação na Facul-
dade de Belas-Artes da Universi-
dade de Lisboa, porém aprendeu
ilustração digital paralelamente,
como autodidata, online. Pode-se
dizer que deve muito do percurso
dentro da sua profissão actual ao
envolvimento em fóruns de arte
digital.
O seu trabalho é maioritariamente
ligado aos videojogos, tendo co-
laborado tanto como freelancer ou
integrado em estúdios, em projec- 2
tos de diversos temas e dimensões,
e com clientes nos mais variados
países. Considera que a aposta na
versatilidade compensou, não só
porque é incapaz de se cingir a
um estilo, como também por lhe
agradar bastante mudar contras-
tadamente de registo, de projecto
para projecto.
Entre 2009 e 2010 fez uma pas-
sagem de ano e meio por Xangai
para participar, como concept artist,
no projecto Alice: Madness Returns,
desenvolvido pela Spicy Horse
Games, experiência que conside- 3
rou extremamente enriquecedora
em todos os sentidos.
De volta a Portugal, como freelancerr,
e com uma paixão crescente pela
literatura, particularmente a de fic-
ção científica, tem lido bastante e
procurado trabalhos editoriais nes-
se âmbito, tendo já ilustrado capas
para vários livros do género. Ten-
tando aprofundar ainda mais este
interesse, aventurou-se recente-
mente pela escrita criativa, que está
a levar a sério e que já resultou na
produção de vários contos.
A busca por um lado mais autoral
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do seu trabalho é um aspecto que
pretende explorar mais a fundo e
que está a ganhar bastante peso na
sua produção actual, traduzindo-se
em breve na publicação de histórias
suas ilustradas e projectos de BD,
embora também continue em con-
tacto com o meio dos videojogos.
Para contrabalançar a sua activi-
dade principal e também manter
uma certa sanidade mental, o Luis
reserva outras actividades criativas
exclusivamente
para o lazer, tais
como tocar tam-
bores e cozinhar
pratos picantes.
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po e alma). O bem, pelo contrário, é secundárias de Tiganaa formam um gru- gens femininas, mas também persona-
exclusivo aos heróis, quase sempre sem po rico, complexo e memorável. Caros gens masculinas cativantes. Os eventos
falhas, dúvidas ou arrependimentos. leitores, mais do que uma boa leitura, ocorrem pela mesma altura do que O
Guy Gavriel Kay, que procura cons- desejo a todos uma excelente viagem. Mago – Aprendiz e a maioria dos even-
tantemente transcender as fraquezas tos tomam lugar em Kelewan. A ação
da fantasia, com Tiganaa marca um corte centra-se bastante nos Tsuranuanni. A
com essa tradição tolkiana do bem e do não perder.
mal. Tiganaa está repleto de personagens
Caixa As Crónicas de Gelo e
em conflito com as suas próprias de- Fogo
cisões e com o impacto que essas de- de George R.R. Martin Acácia - Vol. 5
cisões têm nos outros. Aliás, a grande de David Anthony Durham
força desta obra é precisamente a am- Apresentamos As Crónicas de Gelo e Fogo
biguidade moral das suas personagens. em formato… Tyrion. Ou seja, toda a
Durham dá continuação a uma série
Não são homens bons nem maus, são acção, aventura e emoção que George
ambiciosa e complexa em que forças
apenas homens, apesar do poder que R. R. Martin nos habituou, mas em for-
morais ambíguas, bem como o grande
lhes foi atribuído e que os coloca na mato de bolso. A caixa, com um design
teatro político e económico, influen-
posição de fazerem grande bem ou espectacular, é composta por dez vo-
ciam o destino de muitos povos e cul-
grande mal. Quem conhece a obra de lumes elegantes e resistentes. Atenção
turas. Vários anos decorreram desde
George R. R. Martin sabe exatamente que apesar de serem dez volumes, ape-
os eventos no último livro e a rainha
do que estamos a falar. nas inclui os primeiros cinco volumes Ama o seu marido centauro (sim, leram Corinne Akaran governa com mão de
Vejamos as personagens: Alessan, o da saga no formato grande, ou seja, de bem), a sua ligação à deusa Epona e ce-nos um mundo de fantasia épica com
ferro, ao mesmo tempo que engrande-
NOVEMBRO herói de Tigana, não olha a meios para A Guerra dos Tronoss até A Tormenta de toda a pompa e circunstância que isso ce os seus poderes de feiticeira. Cada a sua própria geografia, religião, política
atingir os fins. Espadas. A segun- traz. Na verdade, quase esqueceu a sua e estruturas sociais complexas. Numa
um dos irmãos Akaran está envolvido
Mas será heróico, da metade da saga vida na Terra… especialmente quando península que em tudo nos recorda
em planos vitais para a guerra iminente
Tigana - A Lâmina na Alma mesmo quando em formato de descobre que está grávida. contra os Auldek, os invasores que vêm uma Itália medieval e onde o povo co-
de Guy Gavriel Kay os fins são tão bolso chegará em Então, uma erupção abrupta de poder mercializa vinho, cereais e especiarias
do gelo e estão prestes a abater-se sobre
nobres como o 2014. atira-a de volta para Oklahoma. Sem por terra e por mar, Tiganaa conta-nos
Acácia. Mas outras ameaças surgem e
Quando publicou O Senhor dos Anéis resgate de um magia, a jovem não consegue regressar podem destruir o equilíbrio precário de uma história poética e poderosa sobre
nos anos cinquenta do século passa- povo, recorrer ao a Partholon e, como tal, vai precisar de poder. Conseguirá a rainha de Acácia a força da política e da religião, o custo
do, J. R. R. Tolkien não podia sequer assassínio e à pró- ajuda. O problema é que essa ajuda virá resistir na guerra que se avizinha? do sangue e o preço do amor.
sonhar que estava a criar alicerces tão pria escravatura? JANEIRO na forma de um homem tão tentador
profundos para a fantasia épica que, Brandin, o vilão, como o seu marido. Quem diria que ser
meio século depois, uma multidão de tem uma capaci- deusa por escolha seria bem mais difícil
autores ainda o copiaria até à exaustão. dade imensa de Divina por do que ser deusa por engano?
Esses alicerces, hoje clichés absoluta- amar. Vive, inclu- Escolha
mente esgotados, são vários: a história sive, uma das mais de P. C. Cast
dividida nos tradicionais três volumes; belas histórias de
as características físicas e culturais dos amor da literatura A autora do suces- O Mago - A Serva
elfos, anões e outras raças míticas; a fantástica. Mas é o so A Casa da Noite do Império - Vol. 2
inevitável demanda do herói; os pode- ódio que o move está de regresso de Raymond E. Feist ÚLTIMOS LANÇAMENTOS DA COLECÇÃO BANG!
rosos artefactos mágicos; a figura do durante gran- ao romance para-
210. Justiça de Kushiel
senhor das trevas; e, por fim, talvez a de parte da vida. normal com o se- Uma das sagas mais importantes de
Jacqueline Carey
que mais marcou a fantasia desde en- Alessan e Brandin gundo volume da todos os tempos foi a criação de Ray- 211. Acácia – O Povo das Crianças Divinas
tão: a separação simplificadora entre o são personagens complexas e das mais saga Partholon. Shannon Parker, a he- mond E. Feist. Com mais de 16 mi- David Anthony Durham
bem e o mal. Com Tolkien o mal é ab- fascinantes do género. Diga-se que es- roína do primeiro volume, finalmente lhões de livros vendidos e traduzido 212. Dragões de um Alvorecer de Primavera, vol. 3
soluto e corrompe absolutamente (cor- tão em boa companhia: as personagens aceitou a sua vida mítica em Partholon. em mais de 35 países, Feist continua a Margaret Weis & Tracy Hickman
maravilhar milhares de leitores de fan- 213. Sangue Final
tasia. Figura entre os 10 melhores escri- Charlaine Harris
NOVOS PROJECTOS: tores de fantasia em praticamente todas 214. Mago – A Serva do Império
Raymond E. Feist & Janny Wurts
as listas. Esta saga, escrita em parceria 215. Divina por Engano, vol. 1
Viva o Brasil! Revista Bang! online com Janny Wurts, foi elogiada como a P. C. Cast
Em 2013, a Saída de Emergência não se limitou a fazer 10 A Bang! está na internet, com actualizações diárias, conte- melhor saga a resultar de uma escrita 216. Contos de Algernon Blackwood
anos. Também se expandiu para o Brasil numa parceria am- údos fabulosos e grandes colaboradores. Acompanhe tudo a duas mãos. A Saga Filha do Império Algernon Blackwood
conta a história de uma mulher e da
biciosa com a Sextante, um dos maiores grupos editoriais do sobre literatura fantástica e ajude-nos a divulgar o portal.
intriga e manipulação que ela usa para
FEVEREIRO 217. A Fera Perfeita
Michael Jan Friedman, Robert Greenberger,
país irmão. Para descobrir o que andamos a fazer por terras
Peter David
chegar ao poder. Trilhando o seu cami-
brasileiras, visite-nos em www.sdebrasil.com Brandon Sanderson nho entre armadilhas e traições que os Tigana - A Voz da Vingança 218. A Ironia e Sabedoria de Tyrion Lannister
No ano que vem, em Portugal, vamos ver um dos melho- de Guy Gavriel Kay
George R. R. Martin
seus inimigos lhe preparam e… a pos-
Prémio Bang! res autores de literatura fantástica a chegar à colecção Bang!
sibilidade de descobrir o amor. Não se
219. Tigana - A Lâmina na Alma, vol. 1
Guy Gavriel Kay
E esta expansão para o Brasil traz de volta o Prémio Bang! Brandon Sanderson e a sua saga Mistbornn começarão a ser Segundo volume da obra-prima de Guy
trata de uma destruição de mundo ou
Um prémio para a melhor ficção fantástica onde poderão publicados ainda no primeiro terço do ano. Esta saga nin- Gavriel Kay. Mais do que estar na van-
de forças do bem contra forças do mal.
concorrer tanto autores portugueses como brasileiros. O re- guém vai querer perder! guarda de um movimento destrutor
É um livro de personagens e de intriga.
gulamento deverá ser comunicado ainda este ano. Preparem dos alicerces da fantasia, o autor ofere-
Podemos encontrar fortes persona-
os vossos originais!
co. Ninguém entra, ninguém sai daqueles portões e o festim começa. Desfilam histó-
rias de todos os discos, pequenos contos de terror que abordam a possessão espiritual,
o vodu, o coveiro solitário. Toda a performance tem uma encenação fílmica, com uma
banda sonora infernal, entre virtuosismo e puro storytelling.
g O Rei (Diamante) canaliza
em si todas estas energias à solta e o público, o vosso escriba incluído, rende-se com
uma entrega digna de um povo aclamando o seu líder. É um teatro inspirado, aquele Fernando Ribeiro é vocalista e letrista da banda
que nos é apresentado e fica-se com uma sensação idêntica no fim do concerto aquela Moonspell, com a qual já lançou vários discos, e
de quando lemos um bom livro de terror ou vemos um clássico filmado do género. em 2009 participou no projecto Amália. Tem três
Uma certa ansiedade, um medo familiar, interrogações na cabeça, um peso agradável livros de poesia publicados e, no universo love-
que nos vai deixando mas que enquanto dura dá sentido ao nosso gosto e curiosidade craftiano, traduziu para português a biografia em
pelo macabro, pelo lunar. banda desenhada intitulada “Lovecraft”, assinou
as introduções das antologias “Os Melhores contos
K ing Diamond começou a sua carreira no final dos Setenta mas foi já nos Oitenta
que se destacou enquanto o vocalista dos seminais Mercyful Fate. Esta sua primei-
ra banda (apesar dos projectos anteriores que gerariam esta dinastia maldita) era e
de H. P. Lovecraft” e participou nas antologias “As
Sombras Sobre Lisboa” e “Contos de Terror do
Homem-Peixe”. Em 2011, publicou ficção
sempre será uma banda totalmeente diferente de todas as outras bandas de Metal na colecção Mitos Urbanos
na altura. Semanticamente, apro oximava-se já da matéria obscura como nenhum da editora Gailivro.
outro grupo, tendo sempre desp prezado o satanismo-choque em favor de um
enredo de histórias que bem po odiam ter dado filmes de terror, não fosse,
por vezes, o mundo do cinem ma cego, surdo e mudo a algumas
propostas que os músicos veicul ulam através do seu som e imagem.
Quando os Mercyful Fate se seepararam, o King seguiu o seu tri-
lho e estreou-se com um disco chamado
c Fatal Portrait, elevando a
atmosfera visual e musical a um m outro nível. Em nome próprio, ele
foi autor de histórias vivas e vibrantes do mundo do além, dos mor-
tos, das vinganças dos espíritos,, da maldade sorridente das bonecas
C
dos quartos das crianças. Não tivvesse optado pela música, King Dia-
mond poderia, pelos seus dotess literários, ter-se tornado numa das
grandes referências da ficção dee horror Escandinava. As encruzi-
hegamos ao palco
do Graspop (Fes- lhadas levaram-no a outro, não menos glorioso caminho.
tival de Metal da
Bélgica, visitado
nesta edição por Q ue teve um preço e uma recompensa como as boas histó-
rias têm. Acabado de reccuperar de uma cirurgia de peito
aberto que quase o levou até ao o mundo que canta, King Dia-
mais de 60.000
pessoas) meia hora mond voltou aos palcos para assombrar,
a para nosso gáu-
antes do nosso dio, fazendo, nessa noite, esqueecer o hype que gira
concerto começar. O voo de Lisboa atra- à volta dos Ghost e das suas canções
c bem
sou e apenas um condutor implacável con- mais vulgares mas completam mente efica-
segue fazer uma distância de hora e meia zes. Esse regresso é a sua e a n nossa re-
em talvez 45 minutos, tomando atalhos compensa. E que bom poder assistir.
que provavelmente se abriram só daquela Fica a faltar uma longa-metraagem
vez, para se fecharem por completo depois baseada na sua obra-prima (o dis-
da nossa veloz passagem. Vamos directos co Abigail) que, com toda a ceerte-
ao palco, fazemos um linecheck à velocida- za, seria uma produção de meesttree
de da luz, visto-me, sem pudor, ao lado do (Guillermo de Toro, Stephen King,
K
palco, na zona técnica. São duas da tarde, a Carpenter se me ouvem, dêeem
tenda está cheia, o concerto é óptimo. sinal verde a este projecto.) que
q
encantaria todos aqueles, saudo osos
N ão podia perder este festival por
nada desta vida. Quem fecha o nos-
so palco são os Ghost e o cabeça de cartaz
de um filme com impacto espiiritual
que nos desafie pelo medo, co omo o
all
Não podia perder este festival por nada desta vida. (...)quando chega a hora, estou lá no foram o Exorcista, o já mencionaaddo
King Diamond e quando chega a hora, público para apreciar o regresso do verdadeiro Príncipe das Trevas do Heavy Metal Rosemary’s Babyy e outros clássiccoss
estou lá no público para apreciar o re- do pânico interior que de vezz
gresso do verdadeiro Príncipe das Trevas em quando temos de nos dei--
do Heavy Metal. Claro que não me refiro
ao Papa Emmeritus, líder dos Ghost, aos
quais só dedico umas breves linhas porque
como Rosemary’s Babyy e outros clássicos
mais obscuros dos anos Setenta) é, no
momento, o nome mais quente e vibran-
J á é de noite quando o palco de King
Diamond é mostrado aos seus ávidos
seguidores. Este cenário recria uma casa,
xar governar.
esta banda (que recria ambientes litúrgicos, te do Metal actual, tendo por isso um que podia ser o interior de uma mansão
apelando a uma musicalidade que tem tan- tempo de antena que só não é descomu- oitocentista do Sul dos EUA, que se pre-
to de Blue Oyster Cult e NWOBHM, e a nal porque esta banda o merece verdadei- tende assombrada. Há uma grade traba-
uma teatralidade que pisca o olho a filmes ramente. Um encanto obscuro. lhada que preenche toda a frente do pal- King Diamond
voltou aos palcos
para assombrar
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evangelho perdido, que foi posteriormen-
te publicado com o título O Evangelho das
Putas Gnósticas,
s pela editora Eurídice, Eu-
rídice!.
N
o início do conto em apreço, xa não só volta a chamar as
Gogol explica que Viy é um mesmas criaturas infernais
monstro pertencente ao folclore como invoca o próprio
da Pequena Rússia (área mais ou menos Viy, rei dos gnomos, que vê
correspondente à actual Ucrânia), mais tudo, quando os seus acóli-
precisamente o rei dos gnomos, “cujas tos lhe levantam as longas
pálpebras chegavam ao chão”, acres- pálpebras, que lhe tombam
centando que a história que vai contar sobre a cara em ferro. Mas
é também de índole folclórica e que a entretanto chega a manhã,
procurará reproduzir fielmente. Ao que um galo canta, os demó-
parece, porém, tais afirmações não têm nios são forçados a fugir e
fundamento, não existindo no folclore Khoma é encontrado mor-
ucraniano uma personagem como Viy, to de medo.
que seria então produto da imaginação
do autor. A nota referida destinar-se-ia
C
então a aumentar a credibilidade e poder onforme ficou dito,
do conto. nem tudo nesta
A história em si pode dividir-se em história – nomea- Quadro “O Pesadelo” de Henry Fuseli, 1781
três partes. damente a figura de Viy –
A primeira parte consta da descrição parece pertencer realmente ao folclore de pesadelo em que a vítima […] se sen- de uma bruxa que os presentes não pu-
da vida no Mosteiro de Bratsky e dos ucraniano. Não obstante, os demónios te esmagada por um grande peso que deram abandonar até de madrugada de-
seus estudantes. Ao fim de cada ano es- que a bruxa invoca enquadram-se em lhe oprime o peito. Este fenómeno […] vido a barulhos aterradores, bater de pal-
colar, estes deixam o Mosteiro e seguem tradições eslavas, segundo as quais os supunha-se provocado por uma bruxa mas e estranhas luzes no exterior, tudo
em grupos para suas casas. A narrativa maus não seriam bem recebidos pela (ou espírito maligno) que cavalgasse a provocado por outras feiticeiras.
concentra-se em três deles, Khaliava, terra, depois de mortos, saindo por isso vítima”. O mesmo tema claramente ins- As histórias folclóricas foram clas-
Khoma Brutus e Tiberius Gorobetz. das suas campas para atormentar os vi- pirou o famoso quadro “O Pesadelo” sificadas segundo um sistema criado
A segunda parte conta a chegada vos; Gogol descreve os seus demónios (1781), de Henry Fuseli. pelo folclorista finlandês Antti Aarne
dos três companheiros a uma quinta como tendo “terra negra” agarrada a Também August Ey ((Harzmärchenbu- (1867-1925), para permitir a análise com-
longínqua, onde são acolhidos. Durante eles. Também os encantamentos, os ch; oder, Sagen und Märchen aus dem Oberhar- parativa de narrativas e textos, até oriun-
a noite, Khoma é assediado por uma ve- exorcismos e o círculo protector que ze, 1862, pp. 46-48) fala na história de um dos de diferentes culturas. Essa classifi-
Ilustração para o livro Viy, por H. Yakutovych,1989 lha que lhe salta para as costas e o obriga Khoma traça no chão se encontram no mineiro que, depois de ter troçado da cação foi originalmente publicada com o
O
Fernando. esotéricos? Queres minha alma imortal?
tampo de madeira escura ergueu-se, puxa- um aviso para quem não tivesse a sensibilidade para sentir a O astrólogo esbugalhou os olhos em completo terror,
balbuciando meias palavras ininteligíveis. Que espírito seria
O Diabo riu, não com escárnio, não
do pela mão trémula do poeta que espreitou aura daquele objecto, essas chamas que lançam, não luz, mas
para o interior da arca. Não conseguia ver sim treva visível. aquele, capaz de se materializar numa imagem tão nítida sem como um julgamento na forma de garga-
muito mais do que quando a arca estava fe- que lhe tivesse sido dada qualquer energia anímica? Raphael
lhada. Riu como a vida quando mostra as
Q
chada, mas também não precisava. Sabia de já ouvira falar de almas que ganhavam uma proto existência
cor a posição de cada molho de papéis no interior, cada pa- uanto mais tempo Fernando Pessoa passava a tentar no ectoplasma dos vivos, mas sempre como formas amorfas e suas ironias, como um bebé que não tem
lavra escrita nesses papéis, cada ideia dentro dessas palavras. sistematizar e catalogar todos os seus heterónimos, frágeis, nada como o jovem que sorria em silêncio. Semicerrou
Deixou a tampa levantada, aproximou-se do fato delicada- mais se perdia no labirinto de gente que vivia dentro os olhos, tentando ver para lá da matéria, encontrando não nada de melhor para fazer.
mente dobrado sobre a cadeira, tirou a caixa de fósforos do de si. Eles iam e vinham sem se anunciarem nem pedirem li- mais que vazio no espaço onde a aura deveria irradiar. Aquele — Não, Fernando, para que queria eu uma alma mais frag-
bolso do casaco e acendeu um cigarro. A luz baça e averme- cença, como um amigo que bate à porta de casa ao qual não corpo era negação
negaç pura, mentada que a igreja de Cristo? Quero que me escrevas um
lhada projectou sombras ténues em redor. A arca de madeira podemos recusar entrada. Hoje era a noite de Raphael Bal- recusanddo-se até livro.
parecia agora uma enorme boca escancarada, tragando obras, daya. Ao início, Fernando ainda tentara invocar Alberto Caei- a si prróprio e — Um livro?
digerindo-as, apurando-as, preparando-se silenciosamente ro, mas fora o astrólogo quem respondera ao chamamento. o espaaço que — Sim, uma porta de entrada para todos os outros mis-
para as regurgitar quando chegasse a sua hora. A Hora da Raphael Baldaya puxou a mesa pé de galo para o centro da ocupaava. Não térios sobre os quais eu quero que tu e o Raphael escrevam.
qual falara na Mensagem. MENS AGitat molEM. M Um farol a pequena sala, pousando-lhe sobre o tampo um molho de pági- lhe restando
r Chamar-se-á a “Hora do Diabo”. Será a história de uma mu-
guiar os leitores do futuro, para que encontrassem a mensa- nas em branco, tinta e uma caneta de aparo. Do bolso do casa- mais hipó- lher chamada Maria, à qual o Diabo fará um filho através do
gem dentro da garrafa que em breve iria lançar nos mares do co tirou um embrulho de papel pardo cujo conteúdo castanho teses senão Verbo, pela simples exposição de quem é.
tempo, à mercê do esquecimento. Embora não o sentisse, o e polvoroso levou à boca para mascar. obedeccer, Bal- — E porquê eu? Porque não outro qualquer? Porque não
horóscopo não mentia, o negrume já se começara a instalar A pulsação disparou. Assim que os amargos sucos oníricos daya chamou um ocultista, porque não Crowley, a quem chamam besta
no fígado e não faltava muito para reclamar o resto do corpo. se libertaram, Raphael sentiu o corpo mergulhar numa cor- Fernanddo Pes- 666?
Chupou com força o fumo que se escapava entre os dedos, rente eléctrica, num frenesim interior que o impelia a saltar, a soa cuja persona-
p O cenho de Lúcifer tornou-se carregado, com uma seve-
enchendo os pulmões com a fragrância tabágica, na esperan- correr, a gritar, a arfar, a falar os mil idiomas que tinha dentro lidade sse impôs ridade solene, fazendo os olhos mergulhar na escuridão do
ça de afastar o desassossego que o havia arrancado da cama de si. Cerrando os dentes, fincou uma das mãos na mesa en- à sua. O rosto do rapaz, como duas estrelas solitárias no firmamento.
e feito espreitar para a arca. Mergulhou o braço no breu e quanto com a outra aligeirou o nó da gravata. Cuspiu a resina jovem — Ele não acredita em mim e eu não acredito nele. Para
retirou, de entre as cerca de vinte e cinco mil páginas, o único de papoila para o chão e deixou-se a ofegar sobre a mesa, revi- além disso, quem melhor para entregar a minha mensagem
livro cuja vontade de surgir não nascera na sua alma ou da dos rando os olhos que viam agora para além do mundo material. que um nativo de gémeos com ascendente em escorpião? Se é
seus heterónimos. Tentou ler o título, mas este estava coberto Não era a droga que o controlava mas sim ele que controlava a que me estás a perceber — disse, piscando o olho, apontando
pela aura magnética que infundia a resma num fogo negro droga. Uma façanha só possível a um médium treinado como para a carta astrológica que surgiu em cima da mesa. — Por-
que bailava na escuridão sem nunca consumir ou projectar ele. O braço ergueu-se sem qualquer ordem ou refreio do seu tugal é um Ente. Esse ente tem que cumprir um destino. Esse
luz. Lembrou-se das palavras de John Milton: No light; but ra- dono e pegou na caneta de aparo, molhando-a na tinta. Ra- destino envolve que as verdades sejam reveladas primeiro em
ther darkness visible. Haveria de acrescentar isso como epígrafe, phael já tinha feito aquilo antes. Chamava-lhes romances do português do que em outra língua qualquer. É através do Ver-
senão o entendimento de tudo. — Pedi ao meu irmão mais velho para te levar até ele. A ti e a todos os que tu és.
— E que recebo de volta? Tem de haver uma oferta para eu poder fazer um acordo com o Diabo. — A — Queria mais tempo, queria mais tempo para acabar todas as obras a que me propus. Ainda há tanto
hipótese parecia diverti-lo. — Imortalidade, talvez? — acrescentou, jocoso. espaço na arca que me deste.
O Diabo coçou a cara imberbe, fingindo-se apanhado de surpresa. Agradava-lhe que Fernando co- — O que lá está é a herança que estava destinada àqueles que estão para vir, nem mais, nem menos. O
nhecesse os ritos e protocolos. Levantou-se da cadeira e abriu os braços ao alto, como se apresentasse o suficiente para que alcances a imortalidade pela arte e eu a fecundação pelo Verbo. Obrigado, obrigado
Mundo. a todos vós.
— Tal como o meu irmão mais velho deu uma arca não afundável para guardar toda a criação, eu A enfermeira entra na sala e passa os óculos ao poeta. Ele pede papel e caneta para escrever. Sabe
também te dou a ti uma arca, desta vez à prova de esquecimento. Tudo o que lá guardares será lido no que é a sua última frase. Não pode ser em Português. A carga simbólica da última frase é demasiada
futuro, quando o teu génio for reconhecido. Será a tua imortalidade em forma de madeira. para arriscar a escrever na língua do 5º Império. Fernando escolhe o inglês, a língua em que foi
Fernando acendeu um cigarro, deixando o olhar pensativo enrolar-se no fumo, dizendo por fim: educado, a língua do 4º Império que, tal como ele, está prestes a desaparecer. Que virá? Depois
— Posso recusar? de si? Depois do 4º Império? Fernando quer saber, mas o Diabo aponta para o relógio e abana
O Diabo mostrou os dentes todos num esgar feroz. a cabeça negativamente. O poeta, e todos dentro dele, firma a caneta na mão e garatuja: I
— Tu não queres recusar. know not what tomorrow will bring.
O silêncio instalou-se no quarto. O fumo de cigarro ascendia imperturbável
ertu em mo-
vimentos hipnóticos, construindo e destruindo quimeras cinzentas até se desvanecer
num meio maior que si. Quase em surdina, Fernando tomou a palavra entre lân-
guidas passas de fumo.
— Agora compreendo. És tão escravo quanto eu. Dizess que cons-
tróis o Fado, como se fosses o seu arquitecto, e afinal não
passas de um dos seus capatazes. No final,
BANG! /// 29
os mesmos os pontos de união, «para mal dos meus pecados e nha imaginação, desfilava aquilo que a mesada não chegava para tudo. O que
são familiares os motivos que do dinheiro dos almoços e lan- milhares de fãs de FC conhecem como nos é negado alimenta a íntima vontade.
os integram na comunidade. ches escolares, a colecção Argo- o sentido do maravilhoso ((sense of Exemplar a exemplar, fui adquirindo, e
Pode ter origem na reco- nauta, argutamente, mantinha wonder). r Vastas naves enfrentavam-se lendo, o que estava disponível. A colec-
mendação de um amigo ou nas primeiras páginas uma lista em batalhas cruéis e planetas recheados ção tinha, já, quase trinta anos, mais do
familiar: «uma tia minha, que com os últimos números publica- de alienígenas malévolos eram bases se- dobro da minha idade – e eu, que anda-
coleccionava a Argonauta, con- cretas de Impérios do Mal» l (Ricardo ra tão distraído no limbo, tardando em
dos e nas últimas páginas uma Loureiro). nascer.
tou-me ao jantar sobre um lago de pequena amostra do volume
alcatrão, num planeta perdido na Como eles, encontrei a Ar-
seguinte da colecção. Tudo isto gonauta, ou esta
periferia da Galáxia, onde residia servido com uma periodicidade encontrou-me,
um computador que guardava mensal» (Ricardo Loureiro). depois de estar
o registo das “almas” de toda a Cria um vício a que não se desperto para a
espécie humana [e que] estaria de- quer fugir: «depois do primeiro existência de Fic- omo qualquer boa colecção que se
fendido por milhares de morcegos veio o segundo, e logo o terceiro» ção Científica. preze, e em particular, numa de tão
gigantes» (João Barreiros). (Jorge Candeias). Pertenço à ge- longa duração como a Argonauta, é
Surge por acidente, por Deixa na alma, gravados ração das capas possível demarcar períodos.
estar-se ali, naquele instante, a fogo, o nome de mundos prateadas, cujo O mais óbvio será a nível do forma-
diante do mostruário de uma e autores, tão irreais e desco- «tom metálico»o or- to. Desde o primeiro número, apresen-
A sensação do primeiro con-
livraria e deparar-se com a capa lava ilustrações ta-se como livro de bolso com uma di-
tacto transpõe oceanos: «descobri a
cuja ilustração, título ou au- e n i g m á t i c a s, mensão regular de duzentas páginas, um
Coleção Argonauta em Janeiro de 1977,
tor despertam lembranças de raramente ilus- pouco menor que o paperback americano,
em plena Rodoviária Novo Rio, quando
outras leituras ou imprimem trativas de uma o que é mantido até à decisão da edito-
estava prestes a embarcar numa viagem
promessas de mundos mara- cena do livro, ra, em 2004, de aumentar ligeiramente
de férias para o interior do estado. Como
vilhosos: «uma bela manhã se tratava de um romance do Clifford D. mas compostas o tamanho com o n.º 553 (A ( Grande
em Sesimbra, com o calor já a Simak, meu autor predileto, não hesitei 1 «invariavelmente Roda – The Big Wheel,l de William Rollo)
apertar, entrei numa daquelas em adquirir o livrinho de capa prateada, de fotomontagens e seguintes – uma decisão mal recebida
papelarias/tabacarias que na n.º 227, O Outro Lado do Tempo e/ou colagens com pelos apreciadores2, talvez em parte pela
altura ainda vendiam livros e eis ((Enchanted Pilgrimagee)» (Gerson naves, planetas transformação radical das ilustrações
que num escaparate de arame Lodi Ribeiro). e estranhos sóis» s num estilo quase abstracto que repre-
Atravessa gerações: «é um bo- (Ricardo Loureiro). A edição de sentou um retrocesso face à revolução
daqueles que rodam sobre um
cado difícil recordar coisas desses tempos entrada foi O Número do Monstro de cores e imagens chamativas em voga
eixo deparo com uma série de no mercado editorial. Mas até então, a
iniciais, já lá vão 60 anos – quando saiu – 1.º volume,e do Heinlein [n.º 294],
livrinhos que de imediato atra- mas admito que poderia ter sido Argonauta arriscou periodicamente a
em o meu jovem olhar»» (Ricardo o número 1 em 1953, tinha eu 22 anos
e cursava Arquitectura, e lembro-me que qualquer outro. Heinlein era o au- mudança – que por vezes se estranhava
Loureiro). tor que melhor conhecia do con- mas que acabava por ser bem-vinda – de
Por vezes, a sedução demo- o primeiro livro que comprei foi o n.º 7,
Inconstância do Amanhã (Tomor- ( junto de exemplares no escaparate alterar a composição da capas, de intro-
ra: «houve um livro da Argonauta de uma tabacaria de praia. Ali, tão duzir estilos e técnicas de imagem e de
que sempre exerceu um terrível fascí- row Sometimes Comes), s de F. G.
Rayer, livro que me deixou então positi- mansamente pou- criar um corpo consistente de ilustrado-
nio sobre mim: A Árvore Sagrada sados, quais pepi- res de reconhecido mérito e ímpar numa
[n.º 224], um dos livros dos meus vamente fascinado, e depois disso passei a
ser um consumidor assíduo da colecção» o tas num concurso colecção de FC publicada em Portugal
pais, publicado cá em 1972, e que de garimpagem. até aos dias de hoje.
eu me lembro de ser uma presença (António de Macedo).
Espalha-se por territórios e «O prazer da desco- O primeiro foi Cândido Costa Pin-
constante [pela casa]. Nunca li o nhecidos a início como rapi- da minha própria casa mais uns três ou berta pela primeira to, que ilustrou as capas do n.º 1 ao 32
livro, mas cresci fascinado pela capa culturas: «conheci a coleção Argo- damente se tornam familiares: quatro Argonautas. Peguei num. Mis- vez de livros-chave do ((Robinsons do Cosmos – Les Robinsons du
– melhor dizendo, pela contracapa – nauta por volta dos 12 ou 13 anos, «o primeiro livro da Argonauta que são Interplanetária do Van Vogt [n.º Cosmos,s de Francis Carsac), conhecido
género é uma expe-
onde um gigantesca iguana verde está na Livraria Pedrosa, em minha li foi Os Frutos Dourados do 9]. Li-o às escondidas, por baixo do len- riência tão intensa artista plástico e designerr gráfico portu-
prestes a devorar um astronauta de cidade natal (Campina Grande, Sol de Ray Bradbury [n.º 55], de çol, com a lanterna acesa. E, claro, voltei que é quase compa- guês que se radicou no Brasil no final da
imaculado branco que paira sobre Estado da Paraíba). Era uma ex- quem eu já tinha lido alguns contos a borrar-me de medo, porque os monstros rável à da descober- vida e cujas inclinações surralistas terão
ela, filmando-a, contra um céu de um celente livraria, até para os padrões em antologias»
s (Bráulio Tavares). nele descritos eram verdadeiramente as- ta do sexo»» (João influenciado os desenhos fortemen-
laranja intenso»
o (João Seixas). de hoje » (Bráulio Tavares). Evoca-se aquela aventura sustadores. Mais tarde descobri todos os Seixas). Porque te simbólicos daquela sequência. Mas
O rosto sorri-nos e bate Planta sementes no espírito do tão íntima, mais tarde, com o livros do Stefan Wul e ele foi, durante estes encerram será com o n.º 33, o agora famosíssimo
as pestanas: «nessa bela manhã leitor: «Quando, depois de ler A Ne- toque de nostalgia e prazer da muitos anos, um dos meus autores favori- as chaves do Fahrenheit 451 de Bradbury (em 1956,
escolhi mais por virtude da capa que recordação de uma descoberta tos»
s (João Barreiros). apenas três anos após o lançamento do
bulosa de Andrómeda, pedi ao mistério. Ainda
mostrava um vaivém espacial – na que não retorna: «[A história Mas a inocência deu lugar ao hoje, sempre romance original e traduzido por Má-
meu pai mais livros do mesmo género, contada pela minha tia] era a do
altura ainda um protótipo, os primei- encantamento, e este perdura por que passo pela rio Henrique-Leiria), que se dá início à
ros voos seriam 3 anos mais tarde –,
aconteceram duas coisas. Por um lado, Ortog, g do escritor francês Kurt
fiquei a saber que existia uma coisa uma vida: «Galactic Patroll de E. loja que substi- contribuição de Lima de Freitas, um dos
a dirigir-se a um planetóide âmbar, Steiner (André Ruellan), um dos E. «Doc» Smith com o apropriado tí- tuiu este local, mais conhecidos pintores e desenhado-
visivelmente artificial, do que por chamada ficção científica. Por outro, primeiros livros da Argonauta [n.º tulo de Patrulha Galáctica (n.º 270), recordo. res portugueses do século XX e figura
conhecer o nome do autor de algum tive nas mãos o meu primeiro Argo- 66]. Li-o com um arrepio crescente marcante na vida da colecção.
e com uma despropositada nave USS E s t ava - s e
lado, o livro Exilados da Terra nauta.»» (Jorge Candeias). de horror, porque, aos meus olhos Entreprise na capa: foi este o livro que no tempo das escolhas: as biblio- Freitas vem trazer um dinamismo
(n.º 249) de Ben Bova» a (Ricardo O primeiro contacto abre a inocentes de então, o livro era bem e uma riqueza de composição a obras
verdadeiramente iniciou o dilúvio de FC tecas sub-urbanas ou escolares
Loureiro). porta que não se volta a fechar: sinistro. Depois descobri nas estantes de autores tão distintos como Heinlein,
para mim. Ali, perante os olhos da mi- não adquiriam Ficção Científica e
344 //
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BANG
ANG!
ANG! ANNGG! ///// 35
BBAANG 35
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horr paara rrepe re
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’A solili é uma das a p perso o- coomp preendeer o seeu in inte
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pe ortte do filho Sttev evan n quee o llev evouo
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nos na primeirra par- a cometeer tamanha atro ocidadade
de con ontraa
A
te pella Pení n nssula de Palma e a apr pres
esen
es e - Tigan na. Península de Palma partilha
taar os aconttecim i en
im nto
to
os políticos
po
po s e histtó-
ó Albe
berrico de Barbaddior é o outro fe fei-
i uma língua em comum e
ricos. Um jovem seensív ívvel
e e dotado o paara
ra tice
ti ceir
cei o que mantém a Palma sob o seu está dividida em nove províncias:
a música, ao descobr b ir a verdade acerca domííni n o. O oposto de Brandin, é um Senzio, Certando, Corte, Baixa
das suas origens, nunca mais volta a ser s nhor de guerra bárbaro, talvez a figu-
se Corte (a antiga Tigana), Asoli,
o mesmo. raa mais unidimensional na obra de Kay. Chiara, Tregea, Astibar e Ferraut.
Attra
A traavé
véss ded le, conhecemos outras fi- Apen enas vê a Penínsulaa co
en comomo uum m meio o A parte oriental é dominada por
guras qu quee formam, na aparência, uma para ati t ngir o fim e tudo o que ambi- Alberico, ao passo que o lado
mera companhia de músicos. No início ciona é a glóriaa e poder no Impé p rio de ocidental é dominado por Brandin
do livro, descobrimos qu que os músicos Barbadior. que reina a partir da ilha de Chiara.
têm uma identidade que escon sco dem de
sc Do lado oposto, Al Ales
e san, o prínc ríín ipe Duas luas orbitam em torno da
todos e uma missão que pretendem de- de Tigana, é o suposto herói ói de qu quem em terra onde os habitantes veneram
sempenhar a todo o custo. Todos eles se espera a redenção e a vingançça, mas uma tríade de deuses, um deus e
fazem parte de um grupo secreto de é uma figura que ganha uma dimensão duas deusas.
conspiradores e rebeldes que planeia cada vez mais humana e menoss heróica.
derrubar os feit iticeiros e libertar Tigana, Constantemente atormentado por o dú- Ao contrário de fantasias mais
a sua pátria subjugada e amaldiçoada das vidas, jurou livrar a Península dos feiti- tradicionais, não imperam criaturas
garras de Brandin. ceiros tiranos mas, mesmo com compa- míticas ou outras raças e a única
A guns são jovens, outros não tão jo-
Al nheiros tão leais como Devin, Ca Catr tria
triana
ia n entidade sobrenatural a fazer a
v ns
ve ns, mam s todos sentem intensamente a e Baerd, o príncipe cresceu em exílio e sua aparição é uma riselka cuja
peerd
r a da sua u terra natal. Alguns ainda constante fuga, atormentado pela me- aparição traz presságios. A magia
dese
de seeja
jamm redi dimir os erros do passado ou mória de uma Tigana que já não existe na Península existe, mas não é
pres
pr eser
es erva
er varr as pouucas memórias familia- e de um pai corajoso que se tornou uma disciplinada nem é ensinada e
ress qu
re quee lhes restam. lenda e um már árti
tir para os tiganenses. muitos dos praticantes são forçados
Ass mul
A ulhe
ul h res têm um protagonismo
he Para piorar as coisas, Alessan sabe que, a esconder os seus talentos dos
tão fo fortrtee quuanto os homens em Tigana.
rt para alcançar a vitória, terá dee comet om meter e tiranos ou arriscam-se a uma
Como eles, lutam pela sua liberdade e actos questionáveis. A sua ua rellaç
ação
ão ccom om o sentença de morte.
dignidade, apaixonam-se (às vezess pe pela
las
la feiticeiro Erlei eii providencia algu
ein gun
gu ns dos
pessssoa
ss oass er
oa e radas) mas, muitas vezes su- episódios mora raais
i e éticocos maais desafi fian- Muito ao estilo da antiga Itália
peeraand
pera ndo os homens, demonstram uma tes do livro. medieval que era formada por
coragem e sacrifício imensas e estão É difícil escolher uma única cena de- Estados que constantemente
dispostass a da darr a sua vida para pagar o cisiva do livro entre tantas – o que dizer guerreavam entre si, assim é
preço dee san angugue.
gu e. do magní nífi
ífi
fico
co capítulo do “mergulho do apresentada a Península. Os
anel” ou ou a Emb m er Night com os cami m-
mi conflitos internos permitiram a
nhananntes
tes da noite? – mas de umaa coisa fácil conquista dos territórios,
nãão há dúvida: o leitor ficará certaamente em simultâneo, mas de modo
ma
marcado
ma pelos momentos finaiis de d sta independente, pelos dois feiticeiros
obra monumentaal em que Kay tom mou que estabeleceram uma balança
outr
ou traa paarte
rtte da da nar a raativa
tiiva é ffoc
ocad
oc a a
ad uumma decisão contro oversa quando doo rrevevvella precária de poder.
naa ilha de Chiar arra ononde de B Bra
rand
randdin
ndinin es-
es- um dos grandes segredos da saga.. Res est
esta
taabe
b leceu a sua cort rtee e é co c nt n ad
ada através ao leitor decidir se essa decisão nãão fa farrá
rá
doss ol
do o hohoss de
d Dia iano
nora
no raa, um ma beela l mulher todo o sentido face aos tema m s principais
q e fo
qu oi ca
c ptptur
u ad
ur ada pe pelo los meerc
los r en
enár
árrios do do livro: a perda da ident ntid
i ade, a vingan-
r i Br
re B an ndi
dinn e quq e rapi pida
ida
damente see tor o- ça, o desejo por liberdade e escolha pes-
n u um
no u a da dass suuasa ama mant
ma n es
nt e fav avor
orit
ori ass een-
it soal, a necessidade de compaixão. Pois
tree o seu sa
tr sais
isha
haan. A hi histstóória de Dianora
ória
ór afinal é o próprio Alessan que admite
é umuma de sol ollid
idão
ãoo, dúvi vid
ida
da, du dupla identi- “Neste mundo em que nos encontramos, pen-
d dee e uma
da m ang ngúsúússti
tiaa e tris
trrisste
tezzas imensas. so que é preciso ter compaixão acima de tudo,
O pa pa saddo de Dia
pass iano
n raa é contado em
no ou estaremos sozinhos.” Se nunca leram
flas
fl ashb
ash acackskss e cced
eddo de desc s obri
sc obr mos os seus
ob Guy Gavriel Kay, posso assegurar-vos
veerd
rdad
addei
eiro
iroos ob
obje
bjetitiivos. s Ela é testemunha que estão nas mãos de um contador de
do imemens nso
ns o po
podeder de Brandin sobre os histórias exímio que vos fará viver uma
seeus súbúbdidito
di to
os e o seu bobo Rhun, da sua autêntica montanha-russa de emoções.
a ro
ar rogâ
gânc
gâ ncia
nc ia e frieza, mas também do seu
chharme e sensualidade. Nós sabemos
logo no início do livro que ele é o vilão,
36 /// BANG!
Alessan. Através de Devin,
O líder do grupo de rebeldes e ficamos a conhecer a Península
conspiradores, Alessan herdou de Palma e muita da política que
um legado de tragédia. Filho a afecta.
mais novo de Valentin, príncipe
de Tigana, e único herdeiro
sobrevivente de uma dinastia Faz parte do grupo de rebeldes
quebrada pela guerra, é a ele que de Alessan. Tempestuosa, forte
cabe tentar resgatar o seu reino e independente, é assombrada
das garras dos feiticeiros. Uma pelos erros do passado da sua
figura atormentada por dúvidas família, os quais deseja redimir.
e receios, é muito respeitado
pelos seus companheiros de
estrada. Rei de Ygrath e um feiticeiro
poderoso que trouxe guerra GUY GAVRIEL KAY é um autor canadiano que se iniciou no mundo literário ao ser convidado por Christopher Tolkien
aos territórios da Península para editar O Silmarillion de J. R. R. Tolkien. É o autor da trilogia de fantasia A Tapeçaria de Fionavar e das obras de fantasia
Uma bela mulher que foi do Ocidente, é um homem de histórica Os Leões de Al-Rassan, A Song for Arbonne, The Sarantine Mosaic (dois volumes) e a sua mais recente série centra-se
capturada pelo feiticeiro emoções intensas e incapaz de no Império da China, Under Heaven e River of Stars. Tigana é uma das suas obras mais aclamadas. O seu trabalho encontra-se
Brandin de Ygrath, tornando-se perdoar a morte do seu filho, traduzido em vinte e uma línguas e recebeu numerosas nomeações e prémios ao longo da sua carreira.
parte do seu harém, Dianora Stevan, às mãos de Valentin, 1
rapidamente tornou-se a sua o príncipe de Tigana. Por essa
concubina favorita. Dianora morte, os Tiganenses foram
tem uma identidade e plano amaldiçoados e pagaram um
A
secretos que podem conduzir à preço demasiado elevado. É
ruína de todos. A sua natureza o homem mais perigoso da
conflituosa forma uma parte Península, mas tem um lado ntes de publicar o lizando alguns desses elementos, mas
vital do enredo. vulnerável que oculta de todos. seu primeiro ro- crria
iand
ndo
nddo pe
person
o agens mais modernas,
mance, The Summer i tr
in t odduz
uzin
indo
indo sex
do exualidade e temas como
ex
Tree, foi convidado liibe
libe
berddad
a e de escolha ou o pr
p eço (ou
Um dos mais antigos pelo Christopher fardo) do poder.
companheiros de Alessan e Um feiticeiro e senhor de Tolkien para editar
seu aliado na rebelião contra guerra que mantém a Península O Silmarillion de Tigana foi o primeiro romance onde
os feiticeiros. Um dos filhos do Oriente subjugada. É um JRR Tolkien, considerado uma obra-pri- encontrou a sua voz criativa. Sei que
de Tigana, as suas memórias homem cruel e calculista e ma por muitos dos seus fãs. Foi uma não lhe agrada muito o termo “Fantasia
de infância e adolescência que deseja apenas regressar ao decisão deliberada escrever a Tapeçaria Histórica”, mas ao recriar determina-
perseguem-no constantemente e Império de Barbadior e disputar de Fionavar, a sua primeira trilogia de dos eventos históricos num cenário de
nunca se esqueceu da irmã com o lugar de Imperador. . fantasia, na tradição de Tolkien? Uma fantasia acabou por criar um conjunto
quem tinha uma relação íntima. homenagem a um escritor que influen- de obras único e forte. Em Os Leões de
ciou tão intensamente o género? Al-Rassan tem um grande fascínio pelo
A te
An tess de mai a s, obrrig
igad
ado por esta entre--
ad canto do cisne da presença dos Mouros
vist
vista.
a É uum
a. mp prraz
azer
er tter
er a oportunidade em Portugal e Espanha. Em A Song for
Sandre era o antigo Duque de pararti
tilh
tilh
har alg
lgum
umas
um as reflexões com os Arbonne, é a cruzada albigense na Pro-
de Astibar e um feiticeiro. O meus leito ores.
rees. vença Medieval que captou a sua imagi-
seu filho foi capturado pelos Fionavar não foi tanto uma homena- nação. Em Tigana, inspirou-se na Itália
Barbadianos e torturado. Alia-se gem como uma tentativa de regressar às Medieval. Também Constantinopla e
à demanda de Alessan de modo mesmas raízes, à capacidade de moldar China foram objectos de estudo em ro-
a obter vingança pelos actos uma fantasia. Na altura, a maioria dos mances recentes. A fantasia permite-lhe
cometidos contra a sua família. escritores de fantasia que conhecia es- maior liberdade em explorar os princi-
tavam a afastar-se da dimensão épica pais temas do livro?
em direção a uma obra minimalista, Suponho que hoje em dia me sinta mais
Um jovem bardo com uma deixando os grandes épicos para escri- confortável com o termo “Fantasia His-
memória excepcional e talento tores que imitavam cinicamente Tolkien tórica”, pois as pessoas gostam de rótu-
para música, é testemunha de como forma de obter sucesso comer- los e categorias. Tenho imensas razões
uma conspiração que o faz cial. Não era o meu desejo que um gé- por trabalhar com o que um crítico cha-
conhecer um grupo secreto de nero tão forte em mito, lenda, folclore ma de “história com um pendor para o
rebeldes, liderado pelo príncipe acabasse dessa forma. Fionavar foi um fantástico” e escrevi ensaios e discursos
desafio que impus a mim próprio, uti- sobre isso (leitores que saibam ler inglês
E
tal contexto medieval ficcional, com
para outra coisa, para no dia seguinte olharmos de novo e aperfeiçoarmos algo spero que tenham gostado de acompanhar o processo de elaboração de
roupagens muito específicas. Algo que
que achávamos estar já terminado. Tiganaa e que este texto vos ajude a compreender melhor o processo de
foi particularmente difícil de encontrar.
Pormenores da cidade original foram então apagados, janelas transformadas, criação deste tipo de projectos. Desejo-vos votos de boas leituras e que
As imagens mais encontradas foram
perspectivas mudadas. Um “corte e costura” digital. Finalmente com a cidade este fantástico romance de Kay vos surpreenda e delicie ao serem transportados
bailarinas (especialmente dançarinas
construída, o herói escolhido e com algumas paletas de cor apresentadas, a para os mundos soberbos típicos da sua escrita.
do ventre) e embora algumas
decisão pendeu para um tom geral mais “terra” bem ao estilo medieval. Decisão Bancos de Imagem utilizados: Arcangel e Shutterstock.
poses fossem adequadas, as roupas
essa que foi validada pelo editor e também pela opinião da equipa da SdE (é
eram despropositadas para o que
comum, quando estamos indecisos em relação a capas de um livro, mostrá-
pretendíamos: muito brilhantes,
las e fazer uma votação pela equipa toda, não só os designers mas todos:
garridas e demasiado chamativas.
administrativos, assistentes editoriais, etc.)
No entanto, com a ideia de mudar
alguns elementos na mulher, começou
a experiência de colocar a primeira
com várias paisagens em fundo. A
ideia era ter o aspecto de ilha ou então
manter a paisagem do livro anterior,
se funcionasse. As experiências de cor
vvieram ao mesmo tempo naturalmente.
A paisagem e a cor ficaram então
decididos: seria o fundo com o mar
e rochas, e a cor seria azulada, com Modelo definida e alteração de cor e vestuário
elementos de nevoeiro e mistério
à mistura. No entanto, havia ainda
dúvidas quanto à mulher escolhida. A
roupa era muito excessiva e não parecia
enquadrar-se no mundo criado por
Kay. Por isso a solução foi escolher
a mesma manequim mas com outra
pose e literalmente mudar-lhe a roupa
Ana Santos nasceu em Lisboa,
e adereços: apagar todo o excesso de a 30 de Setembro de 1976.
brilhantes, mudar a cor do vestido e Licenciada em Arquitetura do Design
adicionar todo o tipo de pormenores pela FAUTL, iniciou o seu percurso
Alteração da paisagem (torres), cor final e encaixe do guerreiro que a juntasse ao look do héroi do profissional em Milão no atelier
primeiro livro. O processo foi o
seguinte:
Esseblu de Susana Vallebona. Já em
Portugal fez parte da equipa FPGB
Design e posteriormente da Editora
Pergaminho. Trabalha desde 2008 na
Editora Saída de Emergência.
44 //// BANG!
G A //// 45
BBANG!
BA
tipos de narrativa de FC (ou nor- sub-géneros menos próprios como a space-opera, a as gadget stories,s
malmente encarados como FC), e outros à data ainda inexistentes como os vários punks,s com
e após menosprezar aquelas his- especial destaque para o steampunk.
tórias que de FC têm apenas os Heinlein voltaria ao tema em 1959, numa conferência intitula-
adereços – histórias passadas no da Science Fiction: It’s Nature, Faults and Virtues,s cujo texto foi inclu-
futuro ou noutros planetas, que ído no volume The Science Fiction Novel: Imagination and Social Criti-
poderiam passar-se de igual modo cism, compilado por Basil Davenport. Nesse texto, entre outras,
na Terra no século XIX – Hein- Heinlein acrescenta uma precisão ao que antes escrevera e que
lein refere-se às histórias de ficção nos permite compreender como é possível que o termo por ele
científica especulativa como sendo proposto tenha começado a deslizar pela encosta escorregadia
aquelas em que “a ciência dominante da obscuridade descritiva. Apenas onze anos depois de ter intro- históricas transplantadas para cenários fu--
e os factos estabelecidos são extrapolados duzido o termo, Heinlein serve-se dele, agora, explicitamente, turistas ou transplanetários. Assim sendo,,
de forma a produzir uma situação nova, como permutável com Ficção Científica: “O termo ‘ficção científica’ a Ficção Especulativa seria constituída porr
uma nova moldura para a acção huma- já faz parte da linguagem (…) e vou usá-lo… embora pessoalmente prefira aquelas “histórias cujo objectivo é explorar, desco--
na. Em resultado dessa situação nova, o termo ‘ficção especulativa’ por ser mais descritivo. Servir-me-ei de ambos brir, aprender, através da projecção, extrapolação,,
surgem novos problemas humanos, e a os termos de forma intercambiável, um sendo o uso corrente, o outro porque analogia, formulação de hipóteses e experimenta--
história a ser contada é sobre a forma de me ajuda a pensar – mas com o mesmo referente em ambos os casos” s (su- ção-no-papel, algo sobre a natureza do universo,,
lidar com esses novos problemas”. s Um blinhado meu). do homem, da ‘realidade’. (…) Sirvo-me aqui doo
dos elementos que Heinlein indica O termo Ficção Especulativa é de facto mais descritivo quando termo ‘ficção especulativa’ especificamente para des--
como essenciais para a verdadeira é o utilizado por Heinlein, sobretudo pela presença ali do verbo crever o modo que faz uso do tradicional ‘métodoo
ficção científica (especulativa), é “extrapolar”, a partir dos factos e das leis científicas conhecidas, científico’ (observação, hipótese, experimentação))
que não sejam violados quaisquer e quando utilizado para circunscrever um conjunto de obras de para examinar uma qualquer postulada aproxi--
dos factos científicos conhecidos, FC de conteúdo específico da paleta mais ampla de uma FC mação à realidade, através da introdução de um m
impondo-se que, quando o autor latu sensuu (na verdade, penso que Ficção Extrapolativa seria um conjunto de mudanças – imaginárias ou inventivass feministas (e os mais ri ridículos
recorra a uma teoria que contra- identificador bastante melhor do que Ficção Especulativa, pois – no pano de fundo dos ‘factos conhecidos’, criandoo women studies), s aplicaç a ão das te-
rie as teorias dominantes, esta seja em termos gerais, toda a ficção é, por definição, especulativa). 1 um ambiente no qual as respostas e percepções dass ses marxistas e freudiian a as à crí ríítit-
plausível e deva incluir e explicar personagens revelarão algo sobre as invenções, sobree ca literária, etc… Efectivam men ntete,,
os factos conhecidos tão satisfa- as personagens ou sobre ambas.” Merril escreve: ““A A liltera rattura
ra tu de
toriamente quanto a teoria que meados do século XX X apapen
ennas
a pode ter
pretende substituir. Leitores fami- significado na medida em que per erceba, e
er
liares com o processo científico, einlein utiliza assim de forma indistinta FC/FE, para identi- Que mudou, então, no sentido se inter-ralacione, com
com a real
co alliddad a e estru-
reconhecerão aqui uma exigência ficar o género literário que parte do mundo real e dos factos turante da nossa cul ultu
ultuura: a revvolução no
comum a qualquer teoria cientí-
do termo, de Heinlein para Mer- pensamento científifico quue su
s bstitu tuuiu a me- e
científicos estabelecidos para extrapolar um mundo distinto
fica, e os leitores mais cientes da do nosso, imaginário-mas-possível; ao fazê-lo, reconhece tam- ril? Ambos consideram os factos cânica pela dinâmica, a clas clas
assisisififificação pe p la
crítica literária, reconhecerão aqui bém a dificuldade em obter acordo sobre o que são os “factos integração, o positivismo pela relativid iddade,
a aplicação do método científico à
científicos como ponto de partida as certezas pela prorooba
babililida
daade
de est statística, o
conhecidos” e o “mundo real”, e é essa a precisão (e diria quase,
literatura que Judith Merrill, como a presciência) que se me afigura mais relevante. Para Heinlein, e limite essencial para o mundo dualismo pela paridade”. e
veremos, postulava como essen- ambos os termos referem-se ao “universo factual da nossa experiên-
cial à ficção especulativa.
imaginado (imaginário-mas-pos-
cia, no sentido com que qualquer pessoa esperaria que tais palavras fossem
Uma leitura atenta do texto de utilizadas por membros educados e esclarecidos (“enlightened”) da cultura sível), e as consequências desse
Heinlein não deixa dúvidas de que ocidental”
l do nosso tempo.
esta ficção especulativa por ele
mundo alterado sobre as perso-
Estamos, como se vê, perante uma definição clara e concisa
proposta é apenas um sub-género de Ficção Especulativa como sendo um género que recorre aos nagens como a essência da his- confusão de Merril é patente mesmo a
daquilo que poderemos conside- factos e ao método da Ciência para extrapolar um mundo dife- um leigo na matéria, reflectindo de formaa
rar uma Ficção Científica mais
tória. Mais, ambos coincidem
rente do nosso, imaginário mas possível, do qual resultam novos quase exaustiva o clima cultural da década daa
ampla, correspondendo aquela problemas, os quais são propostos e resolvidos. Uma definição na experimentação virtual como de sessenta nos Estados Unidos da Amér éric
érica,
a e
a,
à FC Hard, e incluindo esta os muito distante da salgalhada incoerente e logicamente inconsis- particularmente a política cultural dos departaam
amen n-
cerne da experiência literária da
tente de Lilly. tos de Letras das várias Universidades, onde ao lon-
Para compreender como passamos de um estado ao outro, é Ficção Científica. O que distin- go da década seguinte se viriam a refugiar oss ná náuf
uuffra
rago
goss
go
importante atentar na recuperação do termo, em meados dos da grande experiência falhada dos sincréticos anos os 60. A
gue, então, a definição de ambos?
anos sessenta, por Judith Merril, uma das mais influentes e rele- esquerda académica, genuinamente mobilizadda pe p la Gueu rraa
vantes editoras de ficção científica da New Wavee americana. Es- do Vietname, pela emergência de considerações ambienentatais
is e
A diferença é subtil mas essencial, e resi--
crevendo na revista Extrapolationn nºs 7 e 8 (Maio e Dezembro de pela justificada revolta pela oposição ao fim do segregacion nismo
ismo
de precisamente na definição de “mundo o
1966), num texto cujo título deixava já antever o cerne da ques- real” e de “factos científicos” – em suma,, racial, uma esquerda que pensou mudar o mund ndo com os pro
nd r testtos
tão e do seu desenvolvimento futuro – What do you Mean: Science? na definição de Ciência – a que amboss anti-bélicos, a postura anti-capitalista e anti-empresarial, e com as demonstra-
Fiction?? – Merril avança uma definição de Ficção Especulativa deitam mão. Embora os dois autores en-- ções de Paris de Maio de 68, viu-se atirada contra a realidade da Invasão de Pra Praga
gaa
bastante próxima da de Heinlein e, se calhar, ainda mais descri- carem a FC como a forma privilegiada dee pela União Soviética, pela brutalidade da Reevo v lução Cultural Maoísta, pelos eventos
tiva do que a do primeiro Grand Master da FC. Tal como ele, literatura para a Era da Ciência e da Técni- em torno da Convenção Democrata de Chicago o, e pelo encerramento sanggreent n o da
Merril começa por encarar a Ficção Especulativa como sen- ca, Merril tem da Ciência uma perspectiva década do flower power,r do LSD e de Woodstock. Perdi
ca, dida a bat atta ha no plano do
atal d real,
do uma de três categorias da Ficção Científica, a par das ‘Te- pós-moderna, quase me atreveria a dizer impunha-se definir essa realidade como arbitrária, como pr
pós-moderna, produto de uma coe o rciva con-
aching Stories’ e das ‘Preaching Stories’ – cujo conceito não coonstrutivista, em tudo semelhante às vá- venção colectiva da qual urge libertar-se, como indefinííve
onstrutivista, v l por uma única muundividên n-
importa aqui aprofundar – e tal como Heinlein, Merril rias
as pseudo-ciências que emergiram dos cia. A falência das suas ideias subjectivas podia apenas demonstrar que era a realidade
exclui a aventura espacial e os westerns e aventuras anoss 60: estudos (multi)culturais, estudos que estava enganada.
466 //
/ / BANNG!
G BANG! /// 47
Merril escrevia sob a declarada influên- si, era pouco relevante para a sua escrita, a ela nos permitiu descobrir como balizas
cia de Reginald Bretnor, particularmente não ser como espelho da loucura humana da imaginação no particular jogo de extra-
do ensaio “The Future of Science Fiction”, que gerara um mundo caótico e desestru- polação literária. São esses que preferem o
incluído no volume Modern Science Fiction, turado. A Ciência não gera conhecimen- termo Ficção Especulativa ao termo Fic-
e, tal como ele, defendia a emergência no to, mas age apenas como criadora das ção Científica.
curto prazo de uma literatura de ficção paisagens apocalípticas onde o Homem A Ficção Científica é o único género
científica que, ainda que artisticamente se pode explorar a si mesmo; onde o Ho- que assume a poesia da descoberta e do
em dívida para com a corrente literária mem pode explorar o espaço interior. conhecimento do Universo em todas as
da não-ficção científica (non-science fiction), n suas manifestações. Usualmente despre-
seria uma forma de literatura integrada, zada por antepor os objectoss (gadgetss, naves
e única forma de expressão da cultura espaciais, monstros fantasistas) aos sujeitos,s
ocidental do século XX. Nas palavras da a FC sabe que sua é a voz de quem reco-
própria Judith Merril, essa ficção científi- ó que, tal como Merril reconhecia, a nhece a imanente beleza do universo indi-
ca, ainda inexistente, viria colmatar, pela Ciência é sem dúvida o mais impor- ferente e das suas frias equações.
sua especial valia literária, a lacuna de uma tante instrumento do conhecimento Num momento histórico em que a
tal forma de expressão na literatura con- humano, o elemento estruturante da nos- Ciência sofre o ataque de um relativismo
temporânea, mas, ao fazê-lo, “deixaria de sa cultura e o único meio de que dispo- cultural de consequências perigosas para a
ser ‘ficção científica’, e tornar-se-ia simples litera- mos para nos aproximar o mais possível nossa cultura e sociedade, é à FC, e não à
tura contemporânea”, a substituindo-se, assim, da verdade última das coisas. Recusan- FE, que cumpre o papel de dar voz àque-
à literatura normalmente denominada do-lhe as características de objectividade les que fazem o trabalho do conhecimen-
mainstream. e de instrumento de análise e estudo do to; aqueles que Auden dizia que os poetas
E sem dúvida que qualquer apreciador real, Merril abre as portas precisamente à deixavam sem voz:
da ficção científica, nesse ponto concreto, confusão de Lilly e à vacuidade do cor-
estaria de acordo com ela. Mas Merril es- rente entendimento de Ficção Especula-
crevia também num específico momento tiva. David Bowlin, editor da revista on-line “Unfortunately poetry cannot cele-
do desenvolvimento do género: no de- ShadowKeep (citado por Lilly), apresenta
albar da New Wavee Britânica, que ela via esta absurda definição: ““A Ficção Especula- brate them, because their deeds are
como um movimento ainda embrionário tiva é um mundo criado por escritores, onde tudo concerned with things, not persons,
mas já consciente, que se desenvolvia em pode acontecer. É um lugar que fica para lá da and are, therefore, speechless.”
torno da New Worldss de Michael Moor- realidade, um lugar que nunca poderia ser, ou po-
cock, e de Ballard, no campo da FC, e em deria ser, se as regras do Universo fossem apenas W.H. Auden, In The Dyer’s Hand,
torno de poetas como Dylan Thomas e um bocadinho diferentes”.s “Poet and the City” (1963)
Peter Redgrove, para dar origem a essa Quem lê Ficção Científica, sabe que
nova literatura, que deixaria para trás quer esta é, por excelência, a única literatura
a ‘normal’ ficção científica, quer a litera- capaz de dar voz ao progresso de uma Libélula não se chega por estradas. Não existem
tura mainstream. Mas Ballard, profeta da forma de saber que foi a única que permi- caminhos nem placas que lá conduzam. Libélula
New Wave,e escrevia sob a perspectiva de tiu alcançar os feitos (ainda que com ínsi- está em todos os sítios e a todos os momentos. Em
que a Civilização Ocidental vivia os seus tos defeitos) do moderno mundo e cul- esquinas, avenidas, ruelas. Em mares e desertos.
últimos dias, e assumia o sincretismo sur- tura ocidentais. Só quem é ignorante da Em tardes de sol, crepúsculos frios, noites amenas.
realista que o leva a antepor a sugestão Ciência, ou quem duvide da centralidade João Seixas autor e crítico literário, é uma das Uma cidade invisível nas nossas terras concretas. Uma cida-
sensorial ao racionalismo positivista, ou, do seu papel na criação de conhecimen- vozes mais activas na defesa da Ficção Científica de com a delicadeza robusta de um insecto.
em Portugal. Para além do exercício da advoca- Quem a penetra deve fazê-lo sem expectativas e sem
como chegou a escrever Brian Aldiss, a to humano e da descoberta da verdade, cia, escreve frequentemente sobre Ficção Científi-
ser “descuidado com o factual”. l A Ciência em pode abdicar das regras do Universo que roteiros. Não há forma de saber se Libélula lhe oferecerá
ca e Fantástico, tendo publicado artigos e ensaios
nas revistas Ler, Bang!, Paradoxo, Megalon, no cavernas, palácios, fossas ou ribeiros. A cada visita a cidade
Jornal Público e em diversos sites. Editou várias mostra-se igual e diversa. Talvez o forasteiro lhe encontre
antologias e, junto com Pedro Marques, fundou a os edifícios de ametista, as estradas de água, as florestas de
editora Livros de Areia. papoilas e corais. Talvez descubra apenas os bairros urba-
nos plenos de gente estranha e comum, de rostos desco-
nhecidos, mudados pouco a pouco até se parecerem afinal
Bibliografia sumária: HEINLEIN, Robert A. – “On the Writing LILLY, N. E. – “What is Speculative Fic-
com quem sempre conhecemos. Porque Libélula é mutável
of Speculative Fiction”, in ESHBACH, Lloyd tion?”, Green Tentacles, www.greententacles.com/
e se transforma com as histórias que lhe trazem e que por lá
CLUTE, John e NICHOLLS, Peter – The Arthur (Ed.), Of Worlds Beyond, Dobson Books, articles/5/26, 2002, acedido em 26 de Junho de deixam. Porque Libélula se transfigura a cada olhar e a cada
Encyclopedia of Science Fiction, St. Martin’s Press, Ltd, London, 1965 (originalmente publicado em 2013 dia novo se distende.
New York, 1995 1948) MERRIL, Judith – “What do you Mean: Libélula está cheia de mulheres inventadas e homens
DAWKINS, Richard – Unweaving the Rainbow: HEINLEIN, Robert A. – “Science Fiction: Science? Fiction?”, in CLARESON, Thomas ficcionados, e também daqueles que existiram e foram Inês Botelho nasceu em Vila Nova de Gaia em Agosto
Science, Delusion and the Appetite for Wonder, Hou- Its Nature, Faults and Virtues”, in DAVEN- D. (Ed.), SF: The Other Side of Realism – Essays on vertidos em palavra. A cidade é um mundo em perpétuo de 1986.
ghton Mifflin Company, New York, 1998 (so- PORT, Basil (Ed.), The Science Fiction Novel, Ad- Modern Fantasy and Science Fiction, Bowling Green movimento, mundano e extraordinário, feito de todas as Licenciada em Biologia, iniciou em 2009 um Mestrado
vent Publishers, Chicago, 1974 (originalmente University Popular Press, Bowling Green, Ohio, narrativas de todos os tempos, dos nossos contos, livros e em Estudo Anglo-Americanos. Completou o 8º grau
bretudo o capítulo 2, “Drawing Room of Dukes”,
poemas. de Piano e Formação Musical. É autora da trilogia
p.15-37) publicado em 1957) 1971 (ensaio original de 1966)
Quando se sai de Libélula, vem-se com ela nos passos. E de fantástico “O Ceptro de Aerzis”, composta por
GROSS, Paul R. & LEVITT, Norman – Hi- HOLTON, Gerald – Science and Anti-Science, SMITH, John Maynard – “Tinkering”, Lon-
assim se a leva a novos espaços. “A Filha dos Mundos” (2003), “A Senhora da Noite e
gher Superstition: The Academic Left and its Quarrels Harvard University Press, Cambridge, Massa- don Review of Books, September 1981, in Did das Brumas” (2004) e “A Rainha das Terras da Luz”
with Science, The Johns Hopkins University Press, chusetts, 1994 (2ª edição, sobretudo o capítulo 6, Darwin Get it Right? – Essays on Games, Sex and (2005). Publicou ainda os romances “Prelúdio” (2007)
Baltimore, 1998 “The Anti-Science Phenomenon”, p.145-189) Evolution, Penguin Books, London, 1993 e “O passado que seremos” (2010).
BANG! /// 67
do reino celeste de Gälûñ’lätï, os mitos tiva do último século, alguns dos quais
servem-se de elementos naturais (ou da ainda hoje são fontes de inspiração para
sua ausência notória) e criam lugares fan- escritores de todo o mundo.
tásticos onde as histórias sobre verdade, «O Sul» foi mitificado como lugar de
justiça, bem, mal e desespero são repre- calor e humidade estivais sufocantes, de
sentadas numa tapeçaria auditiva que a quintas degradadas e de trepadeiras om-
um tempo cativava os ouvintes (e, mais nipresentes. Até o ar parece por vezes
tarde, leitores) e os levava a pensar nas lembrar plantações arruinadas e casas
mensagens entretecidas nas histórias. carbonizadas. A devastação provoca-
Em séculos recentes, estas mitologias da pela Guerra Civil foi muito além da
fantásticas desenvolveram-se, grosso perda de uma percentagem significativa
modo, segundo temas nacionais. Os in- da população anterior ao conflito ou da
gleses têm a sua «Matéria da Bretanha», destruição de várias povoações e cul-
ou o ciclo de histórias em torno do len- turas. Para muitos, na alma dos sobre-
dário Rei Artur e seus Cavaleiros da Tá- viventes ficou gravada uma impressão
vola Redonda. Em França e Itália temos metafísica: uma espécie de Pecado Ori-
a «Matéria de França» e as histórias sobre ginal social que levaria não só a que os
os Doze Paladinos de Carlos Magno, em pecados dos pais fossem atribuídos aos
especial Rolando/Orlando. O El Cid descendentes até à quarta geração, mas
dos espanhóis representa a Reconquista. também a uma tendência para a perver-
Contudo, todos eles se desenvolveram sidade do orgulho, da fúria e do racismo.
ao longo de vários séculos e, à excepção Embora tal mentalidade não seja total-
do poema épico quinhentista Orlando mente real, sente-se ainda uma espécie
Passei muito tempo a refletir sobre o que realmente Furioso, surgiram antes das viagens de de «letra escarlate» hawthorniana que
poderiam ser os «Livros das Minhas Vidas», em especial no Colombo ao chamado «Novo Mundo».
Quando o último navio da frota de
atormenta muitos sulistas, quase como
uma cruz que carreguem, tanto pelos
que diz respeito aos trabalhos que abrangem os panoramas Magalhães circum-navegou o globo em seus próprios pecados como pelos dos
1521, a crença num mundo plano apoia- antepassados.
da imaginação frequentemente associados à fantasia e a do em colunas foi derrubada. Todavia, «lugar» no Sul americano é traiçoei- Por mais negativos que esses senti-
outras ficções especulativas. Tantas foram as obras que me a fusão do «lugar» físico e imaginado
continuou a dar origem a trabalhos cati-
ro, estando pejado de minas culturais
e históricas que podem rebentar se o
mentos sociais possam ser, não deixam
de levar a um pendor para uma excelen-
influenciaram ao longo dos anos que se torna difícil fazer vantes, como Os Lusíadass de Camões e O incauto viajante der um passo em falso te literatura prenhe de imaginação. Veja-
Peregrinoo de John Bunyan, onde os luga- que seja. Mesmo 152 anos depois do iní- mos, por exemplo, as histórias do Com-
uma breve seleção de histórias a analisar sem pelo menos as res metafóricos assumiam uma impor- cio da Guerra Civil Americana, «o Sul» padre Coelho, de finais do século XIX,
contextualizar na minha vida. Assim sendo, começarei por tância pelo menos equivalente aos seus
paralelos reais. Podemos argumentar que
evoca ainda conotações de escravatura,
da vida nas plantações, do Ku Klux Klan
início do XX. Estas narrativas acerca de
um coelho esperto que leva a melhor so-
discutir o conceito de «lugar» e o seu papel na criação das graças à predominância do lugar meta- (KKK) e memórias perenes quanto à bre uma raposa velhaca, um urso violen-
fórico e irreal à custa dos locais físicos «Causa Perdida». Estes elementos sórdi- to e outros animais antropomorfizados
narrativas que desde há anos me cativam. «reais» (alterados quanto bastasse para se dos juntam-se de formas bizarras, tendo representam duas vertentes da vida su-
adequarem às necessidades narrativas), a dado origem àqueles que terão sido dos lista, ambas nascidas de um cadinho de
unidade do local e da crença, unidos em melhores trabalhos de ficção especula- contos africanos ocidentais, americanos
poucas montanhas ou vales de distância mitos que reforçavam os mores sociais, nativos do sudeste e anglo-celtas. Cresci
do vale fluvial mesopotâmico. Plenas de começava a dividir-se nas ficções «espe- a ouvir a versão feita por Joel Chandler
submundos escuros e subterrâneos, de culativa» e «realista» dos nossos dias. destes contos, onde os personagens são
touros divinos e de flores ocasionais (já Até certo ponto, talvez seja lícito apresentados na forma de narrativas
m Retrato do Artista Quando Jovem,
m de Ja- para não falar de um dilúvio que quase considerar as fantasias como sendo excêntricas contadas pelos trabalhado-
mes Joyce, Stephen Dedalus opta por de certeza será o inspirador do de Noé), trabalhos «menores». Afinal de contas, res das plantações, sempre com um co-
identificar o seu lugar no mundo indo estas narrativas serviram para mostrar a elas não transmitem a credibilidade dos mentário racista implícito. No entanto,
desde o intimamente local (Classe de gerações de ouvintes como orientar a sua mitos antigos – não se espera vir a des- as histórias do Compadre Coelho têm
Elementos) até ao, bem, «universal» (o vida e para os recordar das limitações da cobrir uma Hobbiton em solo inglês, ainda uma outra conotação, adiantada
Universo). Esta abordagem indutiva ao vida humana. Contudo, nas discussões embora ainda reste uma ténue esperança por Zora Neale Hurston no seu primei-
posicionamento no contexto de um uni- das mitologias, tanto as antigas como distante quanto a um Rei Artur históri- ro trabalho não-ficcional, Mules and Men.
verso maior assemelha-se ao modo como as mais modernas, ignoram-se muitas co. O «lugar» nas fantasias modernas as- Aí, o Compadre Coelho desenvolve uma
acredito que muitas fantasias ganharam vezes os aspectos visuais que dão for- sume estranheza em relação à realidade resistência subversiva contra a ordem
vida: os contadores de histórias originais ma às narrativas para que se enquadrem conhecida. Claro que isso nem sempre estabelecida, e no âmago das fantasias
tentaram dar uma forma imaginada aos nas necessidades da audiência. Desde o é assim. Vejamos, por exemplo, a minha encontramos um comentário social ba-
seus locais íntimos dentro de um mundo gelo vetusto dos mitos nórdicos sobre a região nativa, o Sul dos Estados Unidos. seado na realidade complexa da socieda-
maior, mais estranho e, por vezes, assus- criação do mundo ao Caos informe de Ao contrário de praticamente qualquer de sulista pós-Guerra Civil. Estes dois
tador que parecia existir fora do cenário onde nasceram a Noite e o Dia e destes outra parte da América do Norte an- pólos, a manipulação branca dos mitos
das suas aldeias ou cidades-estado. Nas os deuses e deusas posteriores, e depois glófona, o Sul possui uma memória de negros para que se adequem à sua visão
narrativas sumérias de Gilgamesh, Enki- à crença cherokee de que o escaravelho lugar tão forte que a própria história se de hierarquia social e a subversão negra
du e Ishtar, as mais antigas mitologias Dâyuni’sï juntou lama para criar um lugar moldou de acordo com as necessidades dessa mesma hierarquia, representam, na
registadas, a acção costuma ter lugar a onde repousar durante a sua estadia longe da populaça. forma de fantasia, a topografia cultural
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74 /// BANG! BANG! ///
/// 75
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ntre 15 a 17 de Novembro, os descreve Portugal ocupado pelos nazis. a banca da Saída de Emergência, mesa
leitores poderão aceder a uma Não poderia faltar o novo almanaque de jogos e outras actividades.
programação eclética. As ses- Steampunk de 2013, organizado pelo Em paralelo, encontra-se a decorrer
sões abrem na sexta-feira com grupo Clockwork Portugal e que estará o concurso de fotografia ZORAN-
uma apresentação dos prémios presente para apresentar o Almanaque, FRAMES, promovido pela editora
Adamastor, bem como o respetivo re- assim como a criadora Angélica Elfic. Cavalo de Ferro em colaboração com
gulamento para a edição de 2014. Nel- A SDE irá marcar presença no even- o Fórum Fantástico, com a parceria da
son Zagalo estará presente para uma to através da revista Bang! 15, que es- Sony, da Xerox e da Biblioteca Muni-
conversa sobre a publicação do livro tará disponível no Fórum Fantástico, e cipal Orlando Ribeiro, em torno dos
História dos Videojogos em Portugal. A ilus- haverá uma sessão em que os editores quatro livros do escritor sérvio Zoran
tração no género fantástico marca pre- irão discutir a expansão do projeto Zivkovic traduzidos por essa editora
sença através do convite feito a vários para o Brasil e a nova plataforma digi- em Portugal: A Biblioteca, O Escritor-
artistas portugueses que mostrarão os tal da revista. Fantasma, O Último Livro e Sete Notas
seus trabalhos. Ao fim da tarde, David O inusitado projecto Winepunk pro- Musicais. Os resultados do concurso
Soares, António Monteiro e José Pedro mete muitas surpresas numa divulga- serão anunciados no dia de sábado por
Lopes estarão presentes para conversas ção em exclusivo dos seus primeiros João Morales, e o mesmo será objec-
sobre o horror. materiais literários. to de uma exposição a abrir no FF e a
O Fórum Fantástico trouxe este Ian McDonald termina em grande o permanecer até 7 de Dezembro.
ano a Portugal um convidado de peso: dia de sábado com uma sessão de apre-
o britânico Ian McDonald, autor de sentação do seu livro Brasyl, seguida de O programa completo poderá ser con-
obras visionárias como River of Gods, e sessão de autógrafos. sultado no site:
Brasyl, esta última editada em Portugal O último dia do evento, domingo, http://forumfantastico.wordpress.
pela ASA/Leya. O autor publicou mais conta com as participações de vários com
de 20 romances e dezenas de contos, autores que têm publicado contos fora
ganhando notoriedade pelos seus ar- de Portugal: João Ventura, João Rama-
rojados ambientes de ficção científica lho-Santos, Inês Montenegro e João
em países em desenvolvimento – como Rogaciano.
na premiada trilogia temática composta A sessão de sugestões de livros por
por River of Gods (2004), Brasyl (2007) Artur Coelho, João Barreiros e João Ian Mcdonald
e The Dervish House (2010), cuja acção Campos não poderia
futurista decorre respectivamente na também faltar.
Índia, no Brasil e na Turquia. A secção de banda-de-
A componente audiovisual estará re- senhada do Fórum Fan-
presentada através das curtas Jogo Mal- tástico irá contar com as
dito de David Rebordão, que também participações dos autores
falará do seu projeto cinematográfico, da BD Dog Mendonça e Pi-
RPG. Serão igualmente apresentados o zzaboy, Filipe Melo e os
filme Collider e a série Sangue Frio, assim ilustradores Juan Cavia e
como várias curtas-metragens, com Gustavo Villa, bem como
presença dos realizadores. João Mascarenhas do
O dia de sábado abre ao início da tar- projeto Butterfly Chroni-
de com a apresentação da nova edição cles e Ricardo Venâncio,
da revista Lusitânia, um projeto dedi- com o projecto Hanu-
cado à publicação de ficção especulati- ram, o Dourado.
va de raiz cultural portuguesa. O autor Como tem sido habi-
Luís Corredoura apresenta de seguida tual nas sessões anterio-
o seu livro Nome de Código Portograal, res, haverá feira do livro
Cartaz da autoria de Pedro Piedade Marques uma obra de história alternativa em que gerida pela D. Kartoon,
ecentemente consagrado como o
Bertrand lançou recentemente um melhor Álbum Português de BD no
dos clássicos de literatura distópi- Festival de BD da Amadora de 2013, O
ca e uma das mais obras mais influen- Bailee conta a história de um inspector
tes nos estudos feministas. Margaret da Pide enviado para investigar uma
Atwood conta a história de Defred, uma série de ocorrências sobrenaturais
serva na república de Gileade, onde as- numa pequena vila costeira em 1967.
sistimos à descrição de uma sociedade Aparições de zombies e caças a bruxas
to quando me lembra, não aparece uma futuro próximo da nossa Terra, onde as distópica em que as mulheres apenas não faltam, mas Nuno Duarte vai muito
única mulher. Um pouco de chauvinismo massas proletárias se alheiam de uma vida existem para procriação, sendo negada para além da mera aventura e o seu herói
e culto do macho Alfa não faz mal a nin- de penúria e exploração capitalista, à custa qualquer identidade ou possibilidade de improvável demonstra uma tocante
guém. O que aqui aparecem, em delicio- de espectáculos televisivos de jogos vio- amor. Uma obra audaciosa e marcante profundidade no meio da loucura,
sas diversidades, são ruínas e artefactos. lentos de massacre. Missão? Passar para que concebe um futuro negro como
Ruínas de extintas civilizações alie- opressão e paranóia do regime do
o tal mundo de forma de alerta para os perigos do fun- Estado Novo. Uma história bem urdida
nígenas cujos artefactos, inexplica- fantasia, OVER- damentalismo e extremismo religioso. ao qual o talento de Joana Afonso
velmente, continuam a funcionar e a WORLD, através
tramar a vida aos colonos humanos. provou estar à altura.
de um buraco
Cabe aos Engenheiros “desligar” os verme, e massac-
s vezes, vindas de um passado pro- sistemas ainda activos ou utilizá-los rar, durante um
fundo, ascendem à superfície peque- para outros fins. Perceber o que raio
nas maravilhas como esta, que julgávamos período de tempo
queriam os alienígenas fazer com
para sempre perdidas. Bem haja o editor limitado, tudo o quase impossível de acreditar que Rock
aquilo, desde supermetropolitanos à
John Pelan que tem vindo a ressuscitar escala planetária, a estruturas feitas que são elfos, feit- Hudson, um dos maiores galãs de me-
autores de FC que o tempo e a indiferen- de sombra onde o tempo funciona iceiros, Princesas lodramas e westerns das décadas de 50 e
ça editorial resolveu enterrar para sempre. de modo diferente. Cada conto seu Guerreiras e Sen- 60, tenha entrado num filme tão sombrio
Colin Kapp será mistério. Cada mistério, com hores das Trevas. e retorcido como esta estranha obra-pri-
um autor que uma solução que não lem- Como um jogo ma de ficção científica e horror de John
provavelmente bra o diabo. O ciclo dos UNOR- de computador tornado real. Hari Michel- Frankenheimer, mas a verdade é que Hu-
ninguém ouviu THODOX ENGENEERS estava son tem os músculos amplificados, na- dson não só entrou, como teve um dos
falar. Mas, em- vedado aos fãs desde as edições nomáquinas a correr-lhe no sangue, uma papéis mais convincentes da sua carreira.
bora imbuído do esgotadas dos anos 70. Ei-lo que câmara incrustada no olho e uma espada A primeira parte do filme é interpretada
espírito “pulp”, regressa em todo o seu esplendor. com filamento monomolecular, capaz de por um protagonista mais velho que é
chegou a ser tão E frescura. / João Barreiros cortar carne de orc como nós cortamos contactado por uma misteriosa agência
confrontacional manteiga. Os direitos das fadinhas e elfos? que lhe oferece juventude e uma nova
como o próprio Quer lá ele saber, pelo menos de início. O vida abastada. Ao ganhar uma segunda
Alfred Bester. que as Corporações realmente desejam, é
Quem afirma vida, rapidamente cede à insatisfação e
explorar os recursos naturais deste novo anseia por desfazer o compromisso com a
não gostar de ler mundo. Minerais, petróleo, urânio, água
contos, nem sabe agência… Um filme moderníssimo, e em
não contaminada. Com um humor ácido, nada datado, que termina com um dos fi-
o que perde. Con- uma feroz crítica social ao sistema de cas-
tudo, para quem se atreva a regressar às nais mais perturbadores vistos em cinema.
tas anunciado pelo capitalismo selvagem,
esquecidas glórias da pós-Idade do Ouro
Matthew Stover diverte-se a desconstruir
da FC, aqui está uma mão cheia de FC
todos os clichés dos mundos de fantasia
hard (ou pelo menos tão hard quanto
nos permitiam os idos anos 50). Todos que infelizmente começaram a preencher
os contos desta antologia pertencem ao as estantes das nossas livrarias com um ex-
mesmo universo da Liga dos Engenhei- cesso de palha melosa. A Terra Média do
ros Não-Ortodoxos. Aqueles que pen- maginem um herói de fantasia, à la Co- Tolkien nunca mais será a mesma depois
sam fora da caixa. Aqueles que encon- nan, num mundo recheado de elfos, da “visita” envenenada deste ciborg ul-
tram sempre soluções divergentes para fadinhas, orcs e deuses sequiosos de sacri- tra-hitech que não olha a meios para subir
solucionar problemas aparentemente ir- fícios de sangue. Um mundo onde a ma- na pirâmide social do pesadelo corpora-
resolúveis. Os mal-criados que costumam gia funciona com o mesmo rigor de uma tivo deste nosso futuro já tão próximo.
trocar as voltas à ditadura militar dos equação matemática. Banal? Been there, done A vida é dura para os actores. Absoluta-
planetas ocupados pela espécie humana. that?? Nem pensem. Hari Michelson é um mente a não perder. / João Barreiros
Todos homens, helás.s Nestes contos, tan- actor a soldo das Mega Corporações num
ste é, sem dúvida, um Neste livro são introduzidos
dos maiores e mais em- conceitos revolucionários como a
blemáticos romances do “Matrix”, que designa um quase
género“Cyberpunk”, com universo alternativo no ciberespaço
uma influência que se es- (termo aliás popularizado pelo au-
tende ao Cinema (com a trilogia Ma- tor), onde computadores e progra-
trix dos irmãos Wachowski), Jogos mas são usados para projetar a cons-
de Computador (Shadowrun Returns), ciência humana permitindo a ligação
Banda Desenhada (Akira) e Anima- direta entre o homem e a máquina.
ção (com o revolucionário Ghost in the Um futuro predominantemente
Shell do mestre do anime Masamune sombrio e dominado por mega-cor-
Shirow) de entre outros que vão da porações em que o Homem e a Má-
Moda à Música. quina se fundem para “melhorar” o
Curiosamente saiu no mítico ano homem. Neuromancer é um livro de
(para os futuros distópicos) de 1984, referência e de certa forma um olhar
sendo a obra de estreia de William para o que a humanidade se pode
Gibson e conseguiu a proeza de tornar num futuro próximo (talvez
arrecadar os três principais prémios mais próximo do que o que seria de-
da ficção científica o “Nebula sejável).
Award”, o ”Philip K. Dick Award”e
o ”Hugo Award”.
ara comemorar os 60 anos decorridos desde a também estará disponível aos visitantes catering e mer-
publicação do clássico de Ray Bradbury, Fahre- chandising temáticos, bem como jogos e entretenimento
nheit 451, a Faculdade de Letras da Universidade relacionados com o universo Whoviano.
do Porto organiza uma série de conferências em
torno da temática “Projectando Futuros Ne-
gros” nos dias 14 e 15 de Novembro. Uma obra distó-
pica que reflecte parte da situação política do seu tempo,
Fahrenheit 451 expôs, por um lado, a censura do Estado,
o conformismo compulsivo e a erosão de ideais demo-
cráticos e, por outro, a forma como os média e a publi-
cidade esmagam o individualismo e criatividade. O filme
de François Truffaut de 1966, que conferiu uma maior
visibilidade à obra literária, fará parte do programa e será
exibido no dia 15 de Novembro.
80 /// BANG!