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Martinho Lutero e os 505 anos da Reforma Protestante

Teólogo Rodolfo Capler relembra a história do monge agostiniano responsável


pelo evento religioso que revolucionou o mundo

Manipulação, imoralidade, instrumentalização da fé, fome, peste, pânico e medo


da morte. Essas e outras coisas marcavam a Europa do século XVI. Foi neste contexto
assombroso que o monge agostiniano Martinho Lutero se levantou em 17 de outubro de
1517 e afixou suas 95 teses contra o Papa Leão X, na porta da catedral de Wittenberg,
dando início a um debate acadêmico que culminou na Reforma Protestante.
Em 1521, com o movimento da Reforma em curso, Lutero foi levado à cidade de
Worms e diante da cúpula religiosa oficial, foi intimado a renegar as suas teses, entre
outros escritos que contestavam a postura da Igreja. Correndo risco de morte, protestou
diante de todos: “A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou
por uma razão clara, sou limitado as Escrituras que citei e por minha consciência
cativa à Palavra de Deus. [...] Não posso agir de outra forma: esta é a minha posição.
Que Deus me ajude. Amém”.
A coragem de Lutero imprimiu o espírito da Reforma Protestante. Com a
intrepidez de poucos, o jovem monge queimou a bula papal Exsurge Domini e chamou
o Papa Leão X de “anticristo”. As ideias de Lutero e dos reformadores e reformadoras
que ao seu lado estiveram, produziram inúmeras transformações no mundo da época.
Com a ênfase na dignidade da pessoa humana e na liberdade de consciência do
indivíduo, o movimento da Reforma fortaleceu o ideal do Estado secular e contribuiu
para mudanças nas artes, cultura, política, educação, economia e ciência, estabelecendo
o nascimento do chamado mundo moderno. O crescimento da política regional, a
fundação do sistema de educação pública, a elevação do status da mulher, a minoração
do tráfico humano e da prostituição, o banimento da queima de hereges nas fogueiras, o
desencorajamento do genocídio de deficientes e do sacrifício de crianças – lutas que
persistem até hoje - foram conquistas da Reforma.
Embora haja pouco reconhecimento da sociedade contemporânea sobre o legado
protestante, os seus contributos estão aí; todos desfrutamos de suas conquistas
humanitárias. Neste 31 de outubro, dia em que se comemora 505 anos deste evento que
revolucionou o mundo, relembrar os seus feitos é imprescindível para que não se perca
de vista os valores que norteiam a civilização ocidental.
Rodolfo Capler é teólogo, autor de “Geração Selfie’ e pesquisador do Laboratório
de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

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