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Licenciatura em Economia
5. OS MOVIMENTOS INTERNACIONAIS DE
CAPITAIS EM MACROECONOMIA
Bibliografia:
Ramos (2020)
Dornbush, Fisher & Startz (2018), cap. 13
Conceição Pereira
FEUC, 2022/23
Macroeconomia II – 2022/23 1
Tendência e Obstáculos à Igualização Internacional das Taxas de Juro
• Liberalização e consequente crescimento dos movimentos de capitais, a partir
dos anos 80 do sec. XX: investidores procuram obter o maior retorno nos
seus investimentos em todo o mundo, pelo que o capital flui para países com
taxas de retorno mais elevadas.
• Se taxa de retorno no país > (<) que no exterior, em ativos similares, ocorre
uma entrada (saída) de capitais em busca de maior remuneração, o que gera
excesso (escassez) de capital, que por sua vez reduz (eleva) a taxa de retorno
no país, alinhando pela que é proporcionada no exterior tendência à
igualização internacional das taxas de retorno proporcionadas pelos ativos
em que são aplicados os capitais.
• Admitindo apenas ativos que rendem juros (ou cujo retorno está de alguma
forma relacionada com os juros), isto significa que o capital fluirá para países
com taxas de juro mais elevadas. Trata-se de uma tendência à igualização
internacional das taxas de juro.
– Daqui a 1 ano recebe $A. 0(1 + i*), que troca por A. 0(1 + i*) / 1 €
∗
∗ ∗
∗ ∗
∗
∗ ∗
• Por aproximação :
Macroeconomia II – 2022/23 6
Equação de paridade das taxas de juro
• Se existir perfeita mobilidade de capitais, a tendência à igualização internacional
das taxas de retorno, i.e. ∗ determinará:
• Esta equação é designada por Equação de Paridade das Taxas de Juro (EPTJ).
∗
os capitais são atraídos ao país em enorme quantidade.
∗
os capitais fogem para o exterior em enorme quantidade.
• Portanto, a não observância da EPTJ conduz ao desequilíbrio do mercado
cambial.
• Se admitirmos , a EPTJ escreve-se:
• Tal como a condição de PPC estabelece que bens semelhantes tendem a custar o
mesmo preço em todo o lado, a EPTJ estabelece que, quando há perfeita
mobilidade de capitais, as taxas de retorno de ativos semelhantes não podem
diferir sistematicamente entre países. Mas, ao contrário da PPC, a EPTJ é válida
mesmo no muito curto prazo.
Macroeconomia II – 2022/23 7
Equação de paridade das taxas de juro
• Admite-se que a EPTJ é sempre satisfeita e qualquer desvio é imediatamente
eliminado.
• Como o nosso objeto de estudo é uma pequena economia em relação ao RM
i* é exógena e quando i i*, é a taxa de juro interna que tem que ajustar para
que a EPTJ se verifique.
• Um cenário de perfeita mobilidade de capital pode ser representado por uma
linha horizontal no diagrama IS/LM, denominada BP=0, desenhada ao nível
da taxa de juro internacional, i*, porque nesse cenário só existe equilíbrio no
mercado cambial quando é verificada a condição i = i*.
tradicionalmente um equilíbrio ex
ante no mercado cambial ser i > i* Entrada de capitais
equivalente a um equilíbrio na
i = i* BP=0
Balança de Pagamentos (e um
desequilíbrio no mercado cambial i < i* Saída de capitais
ser assimilado a um desequilíbrio
na BP AR).
Y
Macroeconomia II – 2022/23 8
Macroeconomia II
Licenciatura em Economia
6. A POLÍTICA MACROECONÓMICA EM
ECONOMIA ABERTA:
O MODELO MUNDELL-FLEMING
Bibliografia:
Burda & Wyplosz (2022), cap. 12
Dornbush, Fisher & Startz (2018), cap. 13
Santos et al. (2016), cap. 8
Conceição Pereira
FEUC, 2022/23
Macroeconomia II – 2022/23 9
Introdução
• Até agora, os nossos modelos de determinação do produto admitiam que as
economias estão ligadas internacionalmente apenas através do comércio de bens
e serviços. Porém, essa ligação também ocorre através dos mercados financeiros.
O conceito de economia aberta pressupõe abertura comercial e financeira.
• Hoje em dia, o grau de integração entre os mercados financeiros é bastante
elevado perfeita mobilidade de capitais (PMC).
i
• Objetivo: compreender como são determinados o LM ou RT
produto e a taxa de juro num cenário de PMC, E
estudando o modelo Mundell-Fleming - extensão do i* BP=0
modelo IS/LM ou IS/RT à economia aberta sob PMC
(hip.: preços rígidos). Neste modelo a economia só
está em equilíbrio macroeconómico global em E: IS
Y
• Este modelo é adequado para estudar uma pequena economia aberta (a integração
financeira, altera a análise porque i* é exógena para as economias pequenas).
Enquanto, o modelo que já estudámos sem PMC é o adequado para estudar uma
grande economia (ex. EUA). Uma vez que um país grande afeta, mas não é muito
afetado pela taxa de juro/retorno externa, omite-se a curva BP=0.
Macroeconomia II – 2022/23 10
Determinação de Y e i em câmbios fixos
Política Monetária
• Em regime de câmbios fixos o BC fixa a taxa de câmbio.
• De entre os 3 possíveis instrumentos do BC, oferta de moeda, taxa de juro e
taxa de câmbio, só é possível escolher um se o BC opta por fixar a taxa
de câmbio, deixa de poder controlar os outros, ou seja perde a autonomia da
PM não pode controlar M (LM perde relevância), nem pode controlar i
(RT perde relevância) pode omitir-se LM / RT
• BC só pode escolher um ponto sobre a
curva L: enfrenta 2 restrições, L e a taxa i
de juro internacional i* só pode 1
escolher o ponto A
A
i*
• Se tentar reduzir i / aumentar M para
alcançar o ponto B, o capital flui para o
exterior, porque i < i* BC compra MN i B
para evitar que desvalorize (vende ME
2
reservas) BC retira moeda de L
circulação M/i retorno ao ponto A
L, M
• M endógena
Macroeconomia II – 2022/23 11
Determinação de Y e i sob câmbios fixos
Política Monetária
quando BC controla M • PME LM0LM1
• i i < i* saída de
i
LM0 capitais EOMN/ EPME
pressão à depreciação da MN.
1 LM1
• BC compra MN em troca de
2
i*
ME ( reservas cambiais)
BP=0 para evitar depreciação da MN
M LM1LM0
• A expansão monetária é
revertida (toda a moeda
IS fornecida em mercado aberto
tem que ser retirada em
mercado cambial) BC não
Y0 Y tem qualquer controlo sobre i
ou M; a PM é ineficaz em
influenciar o produto.
Macroeconomia II – 2022/23 12
Determinação de Y e i em câmbios fixos
Perturbações da procura
• G, T, I, x … IS0IS1 (A→B): rendimento aumenta e taxa de juro
permanece inalterada (lembrar que com PMC e câmbios fixos, as curvas
LM/RT podem ser omitidas da representação).
• Comparação com situação sem PMC, em
LM ou RT que a BP=0 perde relevância e a LM ou a
i C RT ganham relevância (ponto C):
– Se BC controla M, quando a procura
A B
i* BP=0 aumenta e consequentemente Y,
levando a L1, surge um EPM i,
pois M não se altera;
IS1 – Se BC adota a RT ele sobe a taxa de
IS0
juro para limitar a subida de Y.
Macroeconomia II – 2022/23 14
Determinação de Y e i em câmbios fixos
Perturbações financeiras internacionais
• i* BP=0BP=0’
• i* i < i* saída de capitais
i LM0 ou RT0 EOMN / EPME pressão à
depreciação da MN.
B
i*’
A
BP=0’ • BC compra MN/ vende ME (
i* BP=0 reservas cambiais) para evitar
depreciação da MN M
• i I Y, recessão decorrente da
IS0 interdependência monetária
Y1 Y0 Y internacional, que reflete a perda de
autonomia da PM.
• grande exposição a perturbações
financeiras internacionais.
Macroeconomia II – 2022/23 15
Determinação de Y e i em câmbios fixos
Política cambial
• A PM pode continuar a ser implementada, mas através da PC (realinhamento
deve ser acompanhado de variação do stock monetário):
• PEL IS0IS1 (A→B) (= perturbação da procura) Y L1
– Face a L1, se o BC não fornecesse a moeda adicional, a taxa de juro subiria
(A→C) i > i* entrada de capitais pressão à apreciação da MN, que
BC evitaria vendendo MN / comprando ME M C→B
– O BC poderá desde logo fornecer moeda em mercado aberto: A→B.
i i
C
C
B A B
i* i* BP=0
A
L’
IS1
L IS0
L,M Y0 Y1 Y
Macroeconomia II – 2022/23 16
Determinação de Y e i em câmbios flexíveis
• Em regime de câmbios flexíveis a taxa de câmbio é determinada em mercado
( ajusta-se até que o mercado cambial equilibre).
– BC recupera a autonomia da PM (pode adotar metas monetárias ou a RT)
– BC abdica da taxa de câmbio como instrumento (determinada em mercado)
– Curva IS torna-se endógena (porque a taxa de câmbio é endógena) pode omitir-se a IS.
Política Monetária
i LM0 ou RT0 LM1 ou RT1
• PME: i / M RT0RT1 ou
LM0LM1 (A→C) A B
• i i < i* saída de capitais i* BP=0
EOMN / EPME depreciação da
MN (BC não intervém) C
IS1
• (Ex-Im) IS0IS1 (C→B) IS0
Y
• PM muito eficaz. Y0 Y1
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Determinação de Y e i em câmbios flexíveis
Macroeconomia II – 2022/23 20
Determinação de Y e i com e sem PMC
• A transmissão da política monetária:
– Sem PMC: i Investimento Y
– Com PMC:
• Câmbios fixos: i saída de capitais intervenções do BC para
manter a taxa de câmbio, anulando a eficácia da PM
• Câmbios flexíveis: i saídas de capital PEL Y
• Eficácia da PO:
– Sem PMC: POE Y ( L i I: crowding out do investimento
mitiga Y, se BC controlar M; BC aumenta M, para evitar i se BC
controlar i maior Y)
– Com PMC:
• Câmbios fixos: i entrada de capitais intervenção do BC para
manter a taxa de câmbio aumenta M, reforçando a eficácia da PO
• Câmbios flexíveis: i entrada de capitais PEL (crowding
out da PEL) Y, anulando a eficácia da PO, se BC controlar M; BC
aumenta M para evitar i, o que garante a eficácia da PO se BC
controlar i.
Macroeconomia II – 2022/23 21
Determinação de Y e i com e sem PMC
Trilema de Mundell-Fleming:
• De entre as 3 opções assinaladas nos vértices do triângulo os
países podem apenas escolher duas, ou seja um dos lados do
triângulo.
PMC
A B
Macroeconomia II – 2022/23 22
Vantagens e Desvantagens Relativas dos Regimes Cambiais
Câmbios fixos Câmbios flexíveis
Efeito no produto
PME Sem efeito Aumento
Perturbações positivas da procura Aumento Sem efeito
(incluindo POE)
Aumento da taxa de juro internacional Diminuição Aumento
Instrumento exógeno da PM Taxa de câmbio Taxa de juro ou
oferta de moeda
Instrumento endógeno da PM Taxa de juro ou Taxa de câmbio
oferta de moeda
7. DESEMPREGO E INFLAÇÃO
Bibliografia:
Lipsey & Chrystal, cap. 23 (13ª ou 14ª edição: p. 570-576 ou 596-601 + case study 5)
Dornbusch, Fischer e Startz, 13ª edição, cap. 8 (p. 179-188) e 6 (p. 122-130)
Conceição Pereira
FEUC, 2022/23
Macroeconomia II – 2022/23 25
Definições e Custos de desemprego
• O desemprego é contra-cíclico, tendendo a subir nas fases desfavoráveis do
ciclo económico e a descer nas fases favoráveis, mas nunca se anulando.
• O desemprego total pode ser desagregado em desemprego cíclico e
desemprego de equilíbrio taxa de desemprego total (u) = taxa de
desemprego cíclico + taxa de desemprego de equilíbrio (u*).
• Desemprego cíclico (cyclical unemployment): causado por um nível
demasiado baixo da procura agregada, insuficiente para adquirir todo o
produto potencial, que gera um hiato do produto negativo. Verifica-se,
então, quando Y < Y* (u > u*).
• Desemprego de equilíbrio (equilibrium unemployment), também designado
por desemprego natural ou de LP: aquele que persiste quando Y = Y* (u =
u*).
• Apesar da situação ser referida como uma situação de “pleno emprego”,
quando Y = Y* existe desemprego!
• Ver desemprego de equilíbrio como a tendência de LP e desemprego cíclico
como o desvio de CP relativamente a essa tendência (u – u*).
Macroeconomia II – 2022/23 26
Definições e Custos de desemprego
Macroeconomia II – 2022/23 27
Definições e custos do desemprego
Alguns custos do desemprego
• Custos a nível agregado:
– Perda de produto: hiato negativo é a medida do valor dos bens e
serviços que deixam de ser produzidos.
– Impostos que os desempregados pagariam poderiam ser usados em
benefício de toda a sociedade.
– Despesa pública com subsídio de desemprego deixa de ser usada em
benefício de toda a sociedade.
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Causas e Políticas de Redução do Desemprego
w
• Se, em recessão, a procura de
SL
trabalho diminuir para DLR, mas
o salário permanecer fixo em wN, Desemprego
Involuntário
a oferta de trabalho será LN, mas = LN – LR
Macroeconomia II – 2022/23 33
Causas e Políticas de Redução do Desemprego
Macroeconomia II – 2022/23 34
Custos da Inflação e Deflação
• Hipótese de inflação perfeitamente antecipada: todos os contratos são
ajustados com base na inflação esperada, de modo a que o valor real
do rendimento e da riqueza dos indivíduos não seja afetado (ex.
salários e taxas de juro aumentam para compensar subida dos preços).
Mas, mesmo neste caso existem custos, que são pequenos quando a
taxa de inflação é moderada, mas que podem ser significativos em
hiperinflação:
– Custos associados à detenção de moeda líquida e custos de sola de sapato
= com operações que visam evitar a perda de poder de compra resultante
da detenção de liquidez.
– Custos de menu = dispêndio de recursos com a alteração dos preços
(recálculo e remarcação)
Macroeconomia II – 2022/23 35
Custos da Inflação e Deflação
• a) Na relação de crédito
– a inflação diminui o valor real da dívida o credor é prejudicado e o
devedor beneficiado
– Mecanismo de compensação do credor: para evitar esta transferência de
poder de compra, a taxa de juro contratada deve ser mais elevada de
forma a compensar o credor pela perda de poder de compra decorrente da
subida dos preços = acrescenta-se à taxa de juro que remunera a cedência
de fundos a taxa de inflação esperada:
Macroeconomia II – 2022/23 36
Custos da Inflação e Deflação
iN = iR + e Equação de Fisher
– iN é a taxa de juro nominal = taxa de juro contratada, que incorpora, para além
da remuneração da cedência de fundos (iR), a compensação pela inflação
esperada
– e é a taxa de inflação esperada
– iR é a taxa de juro real = taxa que remunera a cedência de fundos:
Macroeconomia II – 2022/23 38
Custos da Inflação e Deflação
b) Outros exemplos de efeitos redistributivos fora da relação de crédito:
– entre o Estado e o setor privado:
• Inflação desloca as pessoas para escalões superiores de impostos sobre o
rendimento => deve haver atualização de escalões de acordo com a inflação.
• Inflação aumenta receita com IVA, porque taxas incidem sobre preços de
bens e serviços nominalmente mais elevados; e também tende a aumentar a
carga tributária sobre o rendimento obtido com a poupança.
• Hiperinflação reduz receita com impostos diretos devido a pagamento
desfasado - Efeito Tanzi-Oliveira.
– entre capitalistas e trabalhadores: a inflação não antecipada beneficia os que
recebem lucros em prejuízo dos que recebem salários, porque os salários não
aumentam de forma tão rápida e acentuada como os preços
• Indexação salarial como possível solução: os contratos de trabalho podem
incluir cláusulas que determinam o ajustamento automático do salário em
função da inflação.
• Indexação salarial complica o ajustamento em caso de choques da oferta.
• Ver: https://www.imf.org/en/Publications/fandd/issues/Series/Back-to-Basics/Inflation
https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/ATAG/2022/733710/EPRS_ATA(2022)733710_EN.pdf
https://www.bancobpi.pt/contentservice/getContent?documentName=PR_UCMS02066607
Macroeconomia II – 2022/23 39
Inflação: episódios históricos e da atualidade
(a desenvolver no âmbito da apresentação do tema 10)
• Episódios históricos de Hiperinflação: Alemanha (1923), Hungria (1946),
América Latina (sobretudo anos 1980), Zimbabwe (2006-09), Venezuela
(2017-22), etc; estão normalmente associados a grandes perturbações políticas
e financiamento monetário de elevados défices públicos.
• Inflação na atualidade: simultaneamente inflação pela procura (com origem no
aumento da procura por bens e serviços) e inflação pelos custos (com origem
no aumento dos custos de produção).
– Procura: recuperação da procura na sequência do alívio das restrições impostas pela
pandemia covid-19 e de apoios concedidos pelo Estado;
– Oferta: persistência de uma oferta de bens de consumo limitada, devido a
estrangulamentos nas cadeias de abastecimento, decorrentes das restrições impostas
durante a pandemia (sobretudo na China), e aumento do preço da energia e dos
alimentos, causado pela depreciação do euro face ao dólar (no caso da AE) e pela
guerra da Rússia na Ucrânia.
• Ver: Burda & Wyplosz, BOX 10.2: Hyperinflation and Central Banks: Historical and Current
Episodes e BOX 5.2: Zimbabwe: The Top of the Inflation Heap; Dornbusch, Fischer & Startz,
secção 19.5; https://jornaleconomico.pt/noticias/inflacao-2022-o-que-e-e-quais-as-suas-consequencias-879137;
https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/BRIE/2022/729352/EPRS_BRI(2022)729352_EN.pdf;
Macroeconomia II – 2022/23 40
Macroeconomia II
Licenciatura em Economia
7. DESEMPREGO E INFLAÇÃO
(conclusão)
Bibliografia:
Dornbusch, Fischer e Startz, 13ª edição, cap. 8 (p. 179-188) e 6 (p. 122-130)
Conceição Pereira
FEUC, 2022/23
Macroeconomia II – 2022/23 41
Dilema Inflação-Desemprego: a Curva de Phillips
• Num estudo que publicou em 1958 sobre a Grã-Bretanha para o
período 1861-1957, Phillips constatou que existia uma relação estável
e inversa entre a taxa de crescimento dos salários nominais, Ŵ , e a
taxa de desemprego, u:
ˆ Wt Wt 1
W
Wt 1
u
• Declive negativo: a níveis baixos da taxa de desemprego, típicos das
fases favoráveis do ciclo económico, ocorre um excesso de procura no
mercado de trabalho, que conduz ao crescimento rápido dos salários
nominais; a níveis elevados da taxa de desemprego, típicos das fases
desfavoráveis do ciclo económico, ocorre um excesso de oferta no
mercado de trabalho, conducente a aumentos modestos ou
eventualmente reduções dos salários nominais.
Macroeconomia II – 2022/23 42
Dilema Inflação-Desemprego: a Curva de Phillips
• Com o tempo o termo curva de Phillips passou também a ser usado para
descrever uma relação entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego:
u* u
Macroeconomia II – 2022/23 43
Dilema Inflação-Desemprego: a Curva de Phillips
• Lógica da Curva de Phillips:
– u = u* (equilíbrio no mercado de trabalho) salários nominais crescem
ao mesmo ritmo da produtividade do trabalho CUT constantes =
0
– u < u* (excesso de procura no mercado de trabalho) salários nominais
crescem a um ritmo superior ao da produtividade do trabalho CUT
crescem > 0
– u > u* (excesso de oferta no mercado de trabalho) salários nominais
crescem a um ritmo inferior ao da produtividade do trabalho CUT
decrescem < 0
Desemprego cíclico
Macroeconomia II – 2022/23 44
Dilema Inflação-Desemprego: a Curva de Phillips
• Reinterpretação da curva de Phillips: a curva foi vista como uma
ementa para as escolhas de política económica, assumindo-se que
optar por uma política de estabilização expansionista gera inflação
mas absorve desemprego, e a opção contrária controla a inflação mas
gera desemprego.
• Esta curva não prevê a
possibilidade de haver estagflação
(combinação de estagnação com
inflação, ou seja a coexistência de
elevado desemprego e elevada B
inflação):
– A: quando há desemprego cíclico u* u
(u > u*) não há inflação ( < 0) A
– B: quando há inflação ( > 0) não
há desemprego cíclico (u < u*)
Macroeconomia II – 2022/23 45
Dilema Inflação-Desemprego: a Curva de Phillips
• Desatualização da Curva de Phillips: a curva de Phillips deixou de se
adequar à realidade a partir de finais da década de 60, quando a
inflação e o desemprego começaram a aumentar a um ritmo acelerado
nas economias desenvolvidas, ou seja quando passou a verificar-se
estagflação.
• Objeção de Friedman-Phelps: a curva de Phillips apresenta uma taxa de
inflação independente das expectativas de inflação; porém, a inflação
efetiva depende das expectativas de inflação, porque os salários são
negociados com base na inflação esperada (ex. se a taxa de inflação
esperada for 5%, os salários terão que aumentar pelo menos 5% para
que os trabalhadores não percam poder de compra).
• Proposta de Milton Friedman e Edmund Phelps: incorporação das
expectativas de inflação na curva de Phillips:
t te ( ut u*)
Macroeconomia II – 2022/23 46
Dilema Inflação-Desemprego: a Curva de Phillips
• Graficamente:
e
u* u
• Agora, mesmo quando a economia se encontra em pleno emprego pode haver
inflação, desde que existam expectativas de inflação:
∗ 𝒆 ∗
t t 1 ( ut u*) t ( ut u*)
e+
u* u
• De acordo com esta versão da curva, a taxa de inflação depende de 3
forças: