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HIJMBOLDT -

EAREINVEN AODA /

AMERICA

Mary Louise Pratl

oi em 1799 que Alexander von Hum­ ção e auto-compreensão sentiram a neces­


boldt e Aimé Bonpland conseguiram sidade de um processo de reinvenção.
a autorização da corte espanhola para via­ Os trabalhos de Humboldt sobre a Amé­
jarem livremente pelo inleriordas colônias rica foram uma voz importante no diálogo
americanas. A viagem estendeu-se entre entre os dois continentes. É este o tema
1799 e 1804, lapso durante o qual viajaram deste ensaio.
extensivamente pela América do Sul, Mé­
xico, Eslados Unidos e OIba. Bonpland
retomou à América do Sul em 1814 e ali
ficou até o rmal de sua vida (na realidade,
se "fez natural" do Paraguai). Humboldt I. Expansão e Interiores
permaneceu na Europa e entre 1807 e 1834
publicou cerca de trinla livros baseados em 'Por uma perspectiva global, os livros e
suas viagens. Estes livros, ou ao menos as viagens de Humboldt pela América
alguns deles, tiveram um importante papel coincidem com uma conjuntura particular
na reinvenção discursiva e ideológica da da expansão capilalista européia. As fa­
Hispano-América que aconteceu, no prin­ mosas explorações de Cook e Bougainville
cípio do século, dos dois lados do Allânri­ pelo Pacífico em 1760 e 1770 marcamm a
co. Ao mesmo tempo em que se desman­ úllima grande fase marítima da exploração
telava a hegemonia espanhola, lanto as européia. Cook descobriu e desenhou os
classes comerciais européias, decididas a mapas das COSIaS do último continente por
se expandirem na região, quanto as elites delinear: a Austrália. Na Europa, no final
crioulas que buscavam fonnas de legitima- do século XVUI, passou-se a dar ênfase à

Hour. Elle anieo roi tradUZIdo por Mana JOIé Mou� d. Luz. Morta,., tendo suJo pubhado on Jjnalmaue. fUI reVIsta
NuevoTctlOC11tu:O, IDO I, n'l. 1988.

&1wJos Hisfóri4:D.r, Rio de Jlncir� vd. 4. n.' 1991. p. 151-16!1i


152 ESTUDOS !-nsTÓRICOS -199118

explomção interior, terras adentro, possi­ pular e de seu tmbalho ideológico. Desta
velmente pela primeim vez desde a con­ maneira, como espero demonstrar em con­
quista do Peru e da procum do Eldorado. tinuaçao, o discurso de Humboldt sobre a
Em um prefácio, Humboldt registra esse América deve ser escutado em diálogo
momento de mudança: "Não é navegando com outros textos contemporâneos.
ao longo da costa", diz, "que podemos Em na Grã-Bretanha que o capital esta­
descobrir o caminho das cordilheirns e sua va-se acumulando mais aceleradamente e
constituição geológica, seu clima etc.... que a produção superava em mpidez os
Seu tmdutor inglês dá um caráter estético mercados. Nos sonhos de aquisição dos
ao tema: "Gem�nente as expedições ma­ burgueses protestantes da Inglaterra, a des­
rítimas têm uma certa monotonia que vem nudez do mundo inteiro ver-se-ia logo co­
da necess idade de se referir, continuamen­ berta com têxteis britânicos. Em 1 788 for­
te, à navegação com uma linguagem técni­ mou-se a Sociedade para o Descobrimento
ca (...). A descrição de viagens terrestres a das Zonas Interiores da África e começou
regiões longínquas é muito mais propícia a explornção do Niger. A1exander von
a despçrtar o interesse gemi" (Humboldt, Humboldt, que na época tinha 19 anos,
1822).1 fez-se imediatamente sócio. Dumnte as
O momeJltum econômico para a explo-
o
três décadas seguintes a sociedade enviou
ração terrestre é claro. A medida que a exploradores-escritores famosos, como
industrialização acelera a produção, na Eu­ Mungo Park, Richard Denham, Richard e
ropa intensifica-se a demanda de mercados John Lander (Park foi um dos heróis de
e matérias-primas; os capitalistas europeus Humboldt). Simultaneamente, o interior

buscam um comércio mais direto com o da Africa do Sul sofreu uma mininvasão
estrangeiro sem competência e sem inter­ de explomdores-escritores, começando
mediários locais; uma CllQnnC apropriaçao com os naturalistas Anders Spannan e o
e transfonnação eurocentnsta do planeta franco-brasileiro Le Vaillant. As invasões
pôe- se em movimento. Ao longo de todo britârúcas se sucederam em 1802 e 1806.
o século XIX a exploração e descrição do Em 1797 a África do Norte foi invadida por
interior do continente foram uma atividade Napoleão, acontecimento que obrigou
de capital importância pam este processo Humboldt e Bonpland a desviarem o itine-

expansiorústa, tanto do ponlo de vista ins­ rário da Arrica para as Américas. Da mes-
trumentaI (confecção de mapas, documen­ ma maneira, a pressão começava a sesentir
tação, contatos iniciais) quanto do ideoló­ no império americano da Espanha, cujo
gico. Da mesma maneiro que em anterio­ interior havia pennanecido fechado duran­
res momentos expansioll.istas, a lilcTiltura te muitos anos a viajantcs estrdngciros. A
de viagens constitui um veículo importallle carta brane;) que a Corte espanhola deu a
para a criação de conhecimentos e fonnas Humboldt e a Bonpland foi uma resposta
. .
de compreensão que, no sentido teatral, aos premcntes lIltcresses econonucos e,
-

uproduzimm" o projeto expansionisla para também, às exigências de poderosas co­


a imaginação européia. Os livros de via­ munidades científicas e diplomáticas euro­
gens, imensamente populares durante todo péias. E, novamente, a exploração veio
o século XIX, não ofereccmm aos leitores atravês da invasão: a viagem de Humboldt
europeus somente representações estáveis, foi seguida da dos genemis britânicos que
canônicas, ancoradas em sistemas ideoló­ invadimm o rio da Prata em 1806 e 1807.
gicos coerentes e consistentes. Pelo con­ (Na realidade, fomm estes mesmos gene­
trário, a variedade intema de l..1is obras em tais britânicos que, um ano antes, haviam

uma parte importante do seu atmtivo po- invadido a Arrica do Sul.) Nas décadas
IIUMBOLDT E A R EINVENÇÃO DA AMalCA 153

seguintes, o interior da América do Sul "se através de uma delicada diplomacia. Mas,
abriu" sob o influxo de viajantes-escrito­ aqui termina a semelbança.
res, como tinha sucedido na África. A expedição de La Condamine cumpriu
sua missão. No entanto, é mais lembrada
por sua carga dramática do que por seus
êxitos científicos. Os expedicionários so­
freram muilos desastres e quando, dezanos
depois de sua partida, regressaram à Euro­
11. A ciência e a consciência
pa, não levavam mostras de botânica mas,
planetária
somente, relatos horripilantes de espiona­
gem, intrigas, assassinatos, doenças, sofri­
Embora as expedições malÍtimas de mentos e amor. Eram histórias relatadas
Cook possam ter encerrado um capítulo na em um estilo facilmente reconhecido para
história das viagens, abriram, contudo, um os europeus: o estilo dos naufrágios, do
capírulo novo na história da literatura de sofrimento e da sobrevivência que tinha
viagens, um capítulo que Humboldt viveu sido o modelo utilizado na literatura de
até suas últimas conseqüências. Foram so­ viagens desde o século XVI. A poélica
brerudo os trabalhos sobre as expediçôcs dessa "Iileratura de sobreviventes" exigia
de Cook que consolidaram o raciocínio um equilíbrio aristolélico entre a instrução
científico como uma maneira dominante e o divertimento: o último, fornecido pela
na literatura de viagens e exploroções. Por emoção e o caráter exótico do relato, e a
volta de 1790, a literatura européia sobre o primeiro, pelo drama moral da redenção,
mundo não-europeu estava claramente po­ bem como por apêndices descritivos sobre
larizada em dois extremos: o científicol costumes, nora e fauna. No seu informe à
representado por descriÇÕes de viagens e Ac..demia de Ciências de Paris em 1745,2
inumeráveis livros de história narural taxo­ La Condarnine adola automaticamente es­
nÔmica, e o sentimental, representado por ta velha configuração sumamente estável.
narraÇÕes de viagens, novelas e poesia ro­ Sessenta anos mais tarde, lal possibilidade
mântica do sublime. (Nesta polarizaç.ão já não existia para Humboldt. Realmente,
pode-se reconhecer as duas caras da hege­ Humboldt se refere em um prefácio a esle
monia burguesa emergente: a separação tipo de relato como relalivo a uma "época
entre formas subjetivas e objetivas de au­ anterior". Ao contrário, em 1740, se bem
toridade, entre as esferas pública e priva­ que o projelo de La Condamine fosse cien­
da.) Humboldt nasceu no meio desta dinâ­ tífico, ainda não existia uma autoridade
mica e ela é transparente em seu trabalho. discul1iiva geral especificamente ancorada
Este ponto é evidente quando se compara na ciência; para Humboldt esta forma de
Humboldt com seu antecedente imediato autoridade já é um forte in1perativo.
na América do Sul, o científico francês La Cook encontra-se, portanto, entre La
Condamine. Por iniciativa da comunidade Condamine e Humboldl, com o apareci­
científica européia, La Condamine chefiou mento de seus lrabalhos sobre viagens
em 1735 uma expedição internacional ao científicas e o nascimento da ciência como
continente para medir a longitude exata de forma normativa de pesquisa. Humboldt
um grau no equador. Como no caso de discorda muita deste desenvolvimento. A
Humboldl, conseguir a autorização da cor­ maior parte de sua obra esteve dedicada ao
te espanhola para a viagem foi uma con­ que ele se refere como "o grande problema
quista assombrosa que só se pôde alcança r da descrição física do globo". Dos trinta
no homem desinteressado da ciência e livros que escreveu e que foram O resultado
154 ESn-oos IIISTÓRICOS -199111

de suas viagens pela América, a maioria nomias européias descritivas, assim como
são tratados de taxonornia botânica e zoo­ seus museus, seus jardins botânicos e suas
lógica - sobre plantas equinociais, um par coleções de história natural, são fonnas
de livros dedicados exclusivamente ao es­ simbólicas de apropriação planetária, arti­
tudo das mimosas, alguns atlas físicos, culações de uma "consciência planetária"
zoologia e anatomia comparadas -além da emergente através da qual, parafraseando
descrição demográ fica de base ecológica Daniel Defer (1982), a Europa chega a
dos célebres Ensaios políticos. Humboldt ver-se a si mesma, como um "processo
estava tão comprometido com O projeto da planetário" mais do que uma simples re­
ciência descriliva que manifestou um gran­ gião do mundo. (Destaca-se que o tenno
de desinteresse pelas fonnas narrativas. "poder descritivo" é usado para discutir e
DUnlnte muitos anos negou-se a escrever avaliar tais sistemas).
uma descrição narradora de sua viagem Apesar de estarem baseados no mundo
americana e pode-se imaginar que foi a não-social, escritos científicos como os de
proliferação de trabalhos de viagens poste­ Humboldt devem ser vistos também como
riores o que finalmente lhe convenceu a "estatísticos" no sentido etimológico (cf. o
iniciar seu Relato histórico em 1814. Ape­ tenno alemãoStaatÍ5tik) vinculado a s/ate­
sar de seu enonne êxito popular, Hum­ craft. A geografia e as ciências naturais
boldl, cinco anos mais tarde, abandonou o são, entre outras coisas, aparelhos discur­
projeto, depois de completar dolorosamen­ sivos mediante os quais os Estados defi­
te três livros c de destruir o quarto manus­ nem e representam o território. Não é por
crito. Certamente é o poder estabili71ldor acaso que a descrição da paisagem toma-se
e totalizador da ciência descritiva e c1assi­ uma prática importante no meio das lutas
ficatória o que atrai Humboldt e seus cole­ pa ra forjar as primeiras repúblicas burgue­
gas científicos e o que faz, a seu ver, me­ sas da América e da Europa. E tampouco
díocre o estilo narrativo. Na maneira nar- é por acaso que a descrição da paisagem
rnllv3, uma pessoa conta somente uma pe- por Humboldttenha sido reproduzida uma

quena história, caminha um único e e outra vez pelos escritores crioulos ame­
estreito caminho sobre a face da Terra. Por ricanos durante as décadas seguintes à in­
outro lado, as grnndes categorias descriti­ dependência.
vas da ciência taxonômica cobrem o globo Este vínculo com a fonnação estatal,
sem esforço algum, designando tudo, sub­ claríssima nos E/lSaios polúicos de Hum­
metendo tudo a um conjunto de sistemas boldt, traça as dimensões políticas e de
classificatórios que, como Humboldt espe­ classe na ascensão da ciência. Como men­
rava, expressaria, finalmente, a hannonia cionei antes, ao final do século XVIII, os

e a unidade subjacente do cosmo. (Ele discursos complementares da ciência e o


dedicou as últimas décadas de sua vida ao sentimento havíam-se enraizadocomo for­
magllum opus enciclopédico intitulado mações ideológicas centrais de uma hege­
Cosmos.) monia burguesa emergente. Assim como
Adverte-se claramente que o "grande demonstrou Norbcrt Elias (1978), eles
problema da descrição física do globo", constituem o desafio burguês às ideologias
como apareceu no final do século XVllJ na da vida cortesã. Nesta última, o valor pes­
Europa, não é, de maneira algúma, inde­ soal se enrni71l mais na pure71l do próprio
pendente do grande projeto de expansão sangue (nobre) do que na profundidade da
política e comercial que fi Europa estava própria alma (burguesa). O mundo exte­
simultalleamente articulando na escala rior se lê mais através de categorias de
global. Além do que pOSs.1m ser, as taxo- hierarquia e privilégio do que da descrição
IlVMOOLDT E A RE1NVENÇÃO DA A.\{ÊRICA 155

classificatória (bUIguesa). Humboldt ocu­ soal". 1ànto o primeiro quanto o último de


pa uma posição única em relaçao a este seus trabalhos sobre as Américas foram
diálogo entre a hegemonia cortesã e a bur­ fruto do referido ensaio e seus trabalhos
guesa. Ele é u m burguês que cresceu na foram mais lidos durante sua vida. São
corte de Frederico n, onde seu pai era nestes escritos não-especializados que en­
camarista do príncipe imperial. Durante Cocarei o que segue.
seus anos de estudante, Humboldt desfru­ Seu primeiro ensaio, Quadros da lIQtu­
tou do papel de radical da corte, uma vez ,pzo (1806), está baseado em uma série de
que, junto com seu irmão Wtlhelm, preCe­ conferências que realizou no seu regtesso
ria comparecer aos salões da iluelligelllsia e que ampliou consideravehn�nte nas edi­
judaica de Berlim em vez dos salões da ções de 1826 e 1849 (Humholdt, 1850).
nobreza alemâ. Quando Humboldt conhe­ Quadros da lIatureza é um liwo inovador
ceu em Paris a Simón Bolívar, manifestou no qual Humboldt trata de misturar a des­
seu inteiro apoio às revoluções america­ crição científica com o discurso romântico
nas, como já havia Ceito com a Crancesa. do sublime produzindo o que ele cbamou
Sua vida, contudo, nutuou sempre entre ua maneira estética de tratar tcmas de His­
conservar ou excluir o VOII cortesão que seu tória Natural" (Humbold� 1850, Prefácio).
pai tinha obtido em 1738. Foi precisamen­ Sua meta é reproduzir no leitor "esse pra­
te a combinação das relações cortesãs de zer que a mente sensível recebe da contem­
Humboldt com sua capacidade técnica o plação imediata da natureza" (ibid). A
que lhe assegurou a confiança da Coroa América do Sul é declarada um lugar pri­
espanhola (Bolling, 1973). vilegiado para "a antiga COmUI1MO da na­
tureza com a vida espiritual do homem".
Em nenhum outro lugar, diz Humbold� "a
natureza nos impressiona mais profunda­
mente COm sua sensação de grandeza; em
m. Um novo Cristóvão Colombo nenhum outro lugar nos fala tão poderosa­
mente como no mundo tropical"
Enquanto parecia estar levando o proje­ (1850:154). No seu propósito de repre­
to da ciência descritiva a seu extremo en­ sentar esta grandeza e comunhão, Hum­
ciclopédico, Humboldt sentiu-se sempre boldt está convencido de que o brilho da
incomodado com o empobrecimento espi­ descrição estética pode complementar-se e
ritual e estético do discurso científico, com intensificar-se mediante as revelações da
seu tédio inevitável. Reconhecendo a in­ ciência sobre as "forças ocultas" que fazem
nuência científica nos relatos de viagem, funcionar a natureza. É, porém, um exer­
diz, "temo que não baverá muita tentação cício que ele acha "cheio de dificuldades
em seguir o caminho dos viajantes interes­ na sua execução". O primeiro ensaio da
sados pelos instrumeillos e recompilações coleção, o famoso Sobre estepes e deser­
científicos", como ele (Humbold� 1822, tos, começa com um viajante imaginário
PreCácio). Justamente com seus tratados que desvia seu olhar das zonas cultivadas
científicos sobre as Américas, Humboldt do litoral da Venezuela para dirigi-lo às
experimentou com formas não-especiali­ planícies do interior:
zadas de escrever, tmtando, assim, de mi·
ligar o enfadonho do detalhe científico "Quando o viajante deixa atrás os vales
misturnndo..o com o estético, mesmo alpinos de Caracas e o lago de Tacari­
quando tratava de assegurar a autoridade gua, cbeio de ilhas renctindo em suas
da ciência por cima do Umera.mente pes- águas as formas das bananeiras vizi-
156 ES11JDOS I-nsTORlCOS -199�

lUtaS; quando deixa os campos resplan­ melancólicas". Realmente, a ausência de


decentes com o suave e luminoso verde seres humanos toma-se essencial na visão
da cana. .<fc�açúcar (ait iana, ou a sombra americana de Humboldt. Éjustamente es­
escura das plantações de cacau, seu ta ausência, argumenta Humboldt, o que
olhar descansa nas estepes do sul, cujas "lhes dá carta branca às forças da natureza
aparentes elevações desaparecem no para que se desenvolvam" (1850:12). As­
longínquo horizonte ( ... ). De repente sim é como os seres e o espaço tendem a
encontra-se sobre a triste margem de se excluir mutuamente; assim é como o
um território estéril" (Humboldt, olhar de Humboldt despovoa e "desestori­
1850:15) za" a paisagem americana, não obstante
cante sua grandeza e variedade.
Humboldt pretende fazer com que esta O esforço de Humboldt em fundirciên­
região dcsol:lda se tome maravilhosamen­ cia e estética teria muilos imitadores. Em­
te viva na mente de seus leitores. Eis aqui bora inovadora em outros sentidos, sua
um exemplo perfeito de seu cstilo estético­ atitude tipifica o que acabo de mencionar
científico: como a "consciência planetária" européia
que surge neste período. A ciência natural
UA superfície da terra está apenas ume­ cataloga o mundo como natureza e especi­
decida antes que a Kil/ingiae, o panícu­ ficamente não a cataloga como história.
lo Paspalum e uma variedade de ervas "O homem" podia ocupar o centro do uni­
cubram a fecunda estepe. Estimulada verso na Europa, mas não no resto do
pela força da luz, a mimosa herbácea mundo, tal como viam os europeus. A
solta suas adonnecidas folhas pendura­ história só será admitida quando o pensa­
das como se estivesse saudl:lndo o n.as­ mento evolucionista (darwiniano) lhe per­
ccr do sol em coro com a CH lIção matinal mitir catalogar-se como naNreza. Do
dos pássaros e com as norcs aquáticas mesmo modo aqui a estetização está sepa­
que se abrem. Os cavalos e os bois, rada de um ser humano histórico, um im­
pletóricos de vida e gozo, pastam vaga­ plícito potencial na estética do sublime. O
bundeando pelas planícies. O luxurian­ imaginário viajante-observador é o único
te pasto esconde a onça de lindas vestígio da narrativa de viagens e da bist6-
manchas que, à espreita em um escon­ na.

derijo e medindo cuidadosamente a ex­ O discurso de Humboldt representa, ao


tensão do pulo, salta semelhante ao tigre mesmo tempo, o apelo de uma estratégia
asiático, com a ncxibilidade de um gato dividida com Colombo, Vespúcio e Ra­
sobre a sua presa" (1850:16). leigh, alguns dos primeiros "inventores da
,

América". E a estratégia de apresentar a


Estas plalúcies estão vivas, sem dúvida, América como um mundo primitivo da
mas curiosamente desprovidas de seres natureza, um Outro que não é um inimigo;
humanos. As fantasias sociais de hanno­ um espaço que contém plantas e animais
nia, trabalho c ausência de alicnaç'do se (alguns humanos), não organizados em so-
-
projetam sobre o mundo não-humano (os ciedades e economias; um espaço cuja úni­
pássaros que cantam as malinas, as planL1s ca história é a que está por começar; um
que saúdam o sol etc.), mas não há pessoas. espaço sem estrutura para ser representado
Seus vestígios estão aí: o cavalo e o touro em um discurso de acumulaÇÕes, um catá­
foram levados pelo homem. Mas o imagi­ logo depois estruturado e historiado. O
nário viajante europeu é a única pessoa viajante imaginário de Humboldt é um
mencionada nestas "sol idôcs S<lgradas e novo Colombo que, desta vez, desembarca
IIUMBOLDT E A REINVENÇÃO DA A.\rfa.ICA 157

e penetra pelo interior para repetir o gesto nem colocar nossos pés, descemos e
fundador. De fato, freqüentemente faz-se chegamos ao rio: atravessamos a pé ou
alusão a Colombo. Em Quadros da natu­ em ombros de escravos e subimos •
reza, o ensaio sobre o Orinoco, por exem�

vertente oposta ( .. ) A medida que avan-


pIo, começa atr,lVés do olhar de um mari­ çávamos, a vegetação ia-se fazendo


nheiro imaginário que "ao se aproximar mais densa. Em vários lugares as raízes
das costas graníticas da Guiana (...) vê das árvores linham quebrado a rocha
diante de si a ampla foz de um caudaloso calcária, melendo-se pelas rachaduras
rio que nui violentamente como um mar que separam os estralos. Era um proble­
sem costas . " É evidente a alusão do encon­ ma carregar as plantas que colhíamos a
tro de Colombo com o Orinoco na sua cada passo. Os bambus, as heliconias
terceira viagem. Nâo é sem razâo que com lind;l� nores roxas, as hcrvas e ou­
freqüentemente se elogia Humboldt como Iras plantas da famJ1ia das amomiíccas
o "redescobridor" da América (Stoctzer, aqui alcançam de oito a dez pés de altura
1959). Porém, depois de elogiar, é neces· e sua rrescura e tenro verdor, seu sedoso
sário perguntar o que siglÚfica reviver o brilho e o eXlraordiná{io desenvolvi·
gestll imaginário de Colombo logo depois mento do parênquirna formam um sur·
de três séculos de domínio espanho!. preendente contraste com o marrom dos
O mesmo projeto de reinvenção prcdo­ fetos quase do tamanho de uma árvore,
rlÚna no Relato hlStóríco de Humboldl. cuja folhagem está tão tlclicadamente
Aqui também a naturez.1 é o espeláculo: a delineada. Os índios fi/eram cortes com
sociedade coloni.li - c, com ela, a história seus facões no tronco da, árvores e fica­
- está ou bem no fundo ou fora de cena. mos maravilhados com essa" belas ma·
Poder-se-ia esperJr que o tecido social e deiras vermelhas e doumdas que, algum
humano da Hispano-Arnérica tmnsparc­ dia, serão solicitadas pelos 1I0S50S enta­
=se melhor em um relato feito quotidia­ Ihadores e marceneiros" (l8:!:!:73-4).
namente. Assim, os movimentos de Hum­
boldt estavam com pletamente imersos em Os crítico� I i IIIIH 111 m/JIo em elogiar este
e dependiam da 1l1Ira-estrulur.t colonial, c:,lilo humbolc.hmno por �Uíl perspicácia c
que SÓ aparece, contudo, em seu lexto de avaliação da paisagem americana frente à
maneira acidellta!. As missões, os h,,'pi· cnonnc indiferença européia. Os crílicos
tais, as granjas, os pioneiros c o, povoados li,tham razão em reconhecer em Humbuldt
nos quais se hospedou são mencionado:" um antecendentc-chave na tradição do re.­

mas nunca pomlcnorizados� o mesmo olismofomãst ico (na paisagem acima cila­
acontece com os moradores, scj:lln eles da, os leitores contemporâneos s6 podem
missonários espanhóis, colonos crioulos escutar a V07 de Alejo C1 rpe ntier em Los
ou escravos e lrabnllmuorcs indígenas que pasos perdidos). Deve-se destacar, ao
gUIavam e transportavam sua equIpagem
• •

mesmo lempo, o lugar do mundo social no


no momento da partida. Consideremos a parecer discursivo de Humboldl. Na pai­
seguinle passagem: sagem alltes descrita, os habitantes da
América passam visivelmente a um pri­
"Os colonos, com a ajuda de seus escra­ meiro plallo só a serviço dos europeus. A
vos,abriram uma vereda atmvé� d:l mata iniciativa lomada por eles próprios éa de
até a primeira queda do rio Jua!,"
, a: mostrar aos curoP{'� os recursos explorá­
dia 10 de setembro fizemos n05&1 incur­ veis como se estivessem ansiosos por faci­
são ao Cuchivano (... ). Quando no alto litar a apropriação industrial de seu meio
da montanha já não nos foi mais possível ambiente. É eSle o geslo que dá margem a
158 ES'11JOOS HlSTóRIOOS -1991.18

uma das relativamente escassas al usões ção que facilitou a utilização dos livros de
nesses livros aos propósitos do capital eu­ Humboldt pelos inte lectuais crioulos que
ropeu. Entretanto, qualquer impressão a buscavam descolonizar sua cultura sem
respeito desses habitantes, como donos de perder seus valores europeus.
uma economia ou de uma ecologia pro­
prias, brilha por sua ausência.
Em suma, "a maneira estética de Hum­
boldt de tratar temas de história natural" IV. Humboldt transculturado
representa uma América em um estado
primitivo a partir do qual poderá agora, Silva a la agriculrura e1l In zona tó"ida
dependendo do ponto de vista, elevar-se à de Andrés Bello (1825) é somente um dos
glória da civili2J!ção ou cair na corrupção muitos livros bispano-americanos que têm
da civili2J!ção. O que significa reviver esta suas raí7P.S DOS textos de Humboldl. Sabe­
estratégia nas vésperas da independência mos que Bello, sendo ainda jovem e estu­
da llispano-América e de uma nova fase dante, conbeceu Humboldt e Bonpland em
de intervenção européia? Humboldt c seus Caracas e os acompanhou em algumas de
viajantes imaginários estão delineando pa­ suas expedições locais, inspirando-se em
ra os europeus um novo começo da história seus projetos. Anos mais tarde, escreven­
da América do Sul, um novo poDtO de do por ocasião da Independência da Hispa­
partida para um futuro que começa agora no-Anlérica, Bello repete, no início de seu
e que remodelará esse "território selva­ famoso Silva, o gesto humboldtiano do
gem". Em um de seus prefácios, Hum­ (re)descobrimento. O começo, "Salve, te­
boldt alude a este futuro: cU/ufa região", assemelha-se ao viajante
inJaginário de Humboldl. Segue um catá­
"Se então algumas páginas de meu livro logo grandioso das riquezas naturais da
forem arrancadas do esquecimento, o América, desde a cana-<le-açúcar, • cocho­
habitante das margens do Orinoco verá, nilha, os cados, o fumo, o aipim, o algodão
extasiado, que as populosas cidades en­ etc. Nota-se o mesmo discul1io de acumu­
riquecidas pelo comércio e os campos lação, o mesmo tom grandioso,.. mesma
férteis CIIltivados pelos homens livres visão do florescente mundo primitivo. O
embelezam esses lugares quando, na eco de Colombo é,talvez, ainda mais forte
época de minhas viagens, só encontrei que em Humboldl.
selvas impenetráveis e tcrras inundadas" Com relação à reinvenção da América,
(1822:I,li). Bello está situado de maneira diferente das
de Humboldt e de seus discípulos. Como
Segundo a experiência de Humboldt, a intelectual crioulo, o projeto de Bello em
visão transfonnadora da América aparece Silva é descoloni""dor. Está buscando no­
novamente como uma paisagem vista por vas fonnas de representação para as novas
uma testemunha imaginária. Entre Hum­ repúblicas, um discul1io que fundamente o
boldt e esse futuro observador existe uma auto-conhecimento e a legitimação no pre­
cadeia de acontecimentos dos quais Hum­ sente c projeta as novas sociedades para o
boldt explicitamente se exclui. Sua auto- futuro. (Silva foi escrito como parte de um
-

apresentação ao longo dessas páginas é épico de três partes intituladoAmérica que,


finnemente não-intervencionalista, mas à semelhança do Cosmos totalizador de

finnemente inocente. E necessário reco-



Humboldt, nunca foi terminado).
nhecer aqui uma mistificação. Como exa­ Na sua qualidade de literato crioulo,
minarei a seguir, foi esta mesma mistifica- Bello seguiu um rumo complicado no pro-
IIUMIlOLOT E A RELWENÇÁO DA AMÊlICA 159

cesso de uma culturn descololúza<la erudi­


ta. Por um lado, está comp rom(>li d o com v. Os intervencionistas Ingleses
a lileraturn de base européia em cOlllrn p o­
siçáo aos "barbarismos" indígenas c ao Rodeado por Humboldl, Virgilio e Me­
provincianismo rurnJ. Por oUlro, vê a ne­ néndez y Pclayo, o projelo descolonizador
cessidade de uma auto-afi nnaçtio anlc n de Bello nâo é outm coisa senão um exer­
nova onda de intervcncionismo europru. cí cio de loucurn? Talvez. Mesmo assim,
Uma das respostas de Bello é lranscullumr é import:Hlte reconhecer a experimentação
(pedindo emprestado o termo a Fernalldo de seu lexto e da época de seu escrilo. Os
Ortiz e a Ángel Rama)J algull'l modelos leóricos da lransculturnção identificam a
europeus. Ponanto, se Bcllo inicialmente seleção e a illvellção como os dois proces­
repele o geslo do descobrimenlo de Hum­ sos centrais mediante os quajs as periferias

boldl, repele-o somenle como geslO. De­ incorporam a cul!ura da melrópole (Rama,
1982, capo 1), processos cujas experimen­
pois de uns scssenta versos de grandcza
taçõcs e inovações os teóricos da aculturn­
botânica, o poeta muda rcpenli n:u nem c de
ç;;o ignornm. Tanlo a seleção quanto a
conceito. Torna-se persuasivo aos habi­
invenção estão claramente presentes em
tantes dil� novas repúblicas paro quc po­
Silva, de Bell o 111l1l'lcul!urnndo materiais
voem a paisagem v:7i a e re pud iem os de ­
,

europeus em uma nova visão descoloniza­


1

bililados demô nios das cidades 0111 fav o r


dom que, em importanles aspeCIOS, impug­
de uma vida simples e campeslre: "Oh!
na a visão hegel1lôn.icd da Europa. La
jovens nações, que jUlllasflcva IIlais sobre o
Cal/liva e Faclllldo podem ser vislos,
atônito Ocideme/de precoces I"uréi. a CI­
igua I me n le como experiências IÚtidamen­
beça !/honra i o campo, honr.1i a plcs
,

� il \l
le c rioulas em b u sca de uma cullurn desco­
vida/do lavmdor e sua modes�1 frnllque­
IOllizada ill'ilruída.
za". O futuro, ape llas emrcvislo Jlor HUIl1-
Paro esclarecer csle ponto, só se neces­
bold� converte-se no lema do lexto <le
sita examinar outros text os sobre a Améri­
Bello. Pard articular esse futuro, Bello
ca Lalin a com que dialogavam tanlo os
toma outro modelo europeu, o pas to ri l .
escritores hi spa no-a mc rica ll os quanto
Nota-se na scgulllhl p.arte do poem;], UIII:I
Humboldl. Por volla de 1820, oUlro dis­
dívida e specia l com 'L' GeórgiCl/s de Vir­
curso muilo diferenle sobre a Hispano­
gílio. Uma dívida suficientemcnte sigl lili ­ AméricJ estiva ressoando em tomo de
caliva pam ill'lpimr MClléndez y Pclayo a Bello em Londres e de Humboldt em Paris.
reivindicarem 8ello como "o mais virgil iiJ­ Em 1810, depois de desaparecidas as res­
no de nossos poclas".4 A poesi a paslaml trições coloniais, dezenas de viajanles, so­
de 8ello COll'lerva a poslura eSlelizanle da bretudo ingleses, escrevernm livros de via-
obrd de Humholdl. l11assubslitui a temática gens. E muito possível que esta afluência
-

da na lurC7.a c do visual por uma mi ss:io de li vros de viagens lenha sido o que mais
moral e cívica. Bello evoca a Hum bo ld l tarde levou Humboldl a empreender seu
para deixá -l o de Intlo c seguir COm outro prüprio Relato histórico. Bello leu e escre-
assunto, fa7cntJu icuall11clIle com outros veu conlll1U;unenle estes cscntorcs para os
, .

. .
:
-

textos-chave dll1llC:-'1ll0 p eríodo


S
. Tanto La ICltOIl'.5 IUspano-ame ncanos e em oca-
.

cawiva de Echevcrria quanlo o Faclllldo siões Irnduziu resumos (ainda que de modo
de Sannienlo começam com paisagcll� muilo selelivo).
c1arnmentc humboldtianas e os dois, U1l111 Como Jean Franco assinalou, a maioria
vez adquirida esta expressão, encami­ desses visilanles brilânicos da época da
nham-se parn outras fom."s rellcxivas. Independência viajou e escreveu explicita-
160 lSTtrooS IIISlÓRICOS - 199118

mente como cxplomdorcs de v:lI1guarda "Há nesse país lodas as facilidades par.
pa", ° clpilal europeu (Fr-t nco, 1979). En­ a elllpresa {' gm ndes expectativas de pro­
genheiros, millcra logist;\S, fa/clH.Jcirm, (' gresso: só se Ilecessita que o homem
flgrônomos cmll1 enviados pólm: loc;l Ii/Jlr COl1lece fl lai'cr a máquill:l rtndar. Ela
e analisar, com prccisiio, os rCCllTM)�; COIl­ agora está pamd;'l, m;ls com o cilpital e a
tatar c contrata r as c1itc� locais; i n hmnar indlístria podem Iic;lr pmdutiv :l, com
os perigos potenciais c iJS condições de seguro:; bene fícios c extrema riqUC7;1."
lrabalho, lransporte e oUl ros assunlos. De­
senvolviam um discurso clanUllcntc elo· o contr.1SIC com 0$ exuberantes pano­
qüente de sua miss[lo. Como assina!;, ra mas de Humboldt não podia ser maior.
Franco, esta onda de vi;ljanlcs-cscri lorcs Ncstes textos, a natureza lImcricana é
buscou frcqücnlemcnle uma posiç,io cons­ apresentada, obsessivamentc, C0l110 o rru­
cienciosamente nul iCSlétit,1 cm seus livros, lO da explomç'-'o européia. O cxolismo e a
inl roduzindo retóricas cconôm iC<ls c i 11Ier­ retórica mmfintica uc Humboldt sflo deix,l­
vencion iSlas que esta Véllll q Uil'" lola Ime 111 (' do� de lado el11 prol de uma visão lIloder­
ausenles dos livros dc Humholdl c de seus ui7;1 do m, i ndustri ai iz'1dora.
.. Cri t iCH 111-$C
discípulos. Aprecin-sc, por exemplo, ('�I:l frequcnlemenlc os livros de Humboldl
visão dos Andes CI11 uma dcsCriÇÜll de I Q
� 7 porque são "cxcessivamente cicntíficos,
feila pelo cngcnheiro in!;lés Jost'ph An­ com pouquíssimos detalhes para satisrazer
drews (cilada por Fmncn): um;1 1l1inUIlCiosa leitu m", C0l110 expressou
UIl1 escrilOr c m 1 825 (Slescnson, 1825).
"Conlemplando a cordilheim mais pró­ As expcclalivas de inlcrvenção européia
xima c seus altos cumes, o senhor 1'110- ocupam o centro e n;"io as l11:1rgcns deste
mas e cu sonhamos (10 ImIo de suas discurso e seus porta-v07Cs louvam em vez
íngremes ladcims. Escav:unos ricos fi­ de mistificarem sua particip:lção nesse
lões mincmis, COllSlruílllOS fomos de processo. Em contraste direto com 1-lul11-
fundição; em noss,) i1l1agi naç.l0. ilviSla­ boldl (c Bello), a nalure7a ,: visla como
mos uma mullid,-,o de ,mhal hadorcs problemática c, inclusive, rcia, c sua pró­
desloca Ildo- se cOlno i Il:-;e!lh lla:-, ti Ilur.ls pria pri m i lividadr é um signo do descuido
e sOllhamo� quC' este cllonnr l' ...clvil­ hUll1ano. Em 1828, " lenenlC Charles
gCIll território c!'Ilava povmtdo rt'lílS Bmnd acha os pampas ";íridos c inóspitos"
energias do:> brilâllicl)� fi nOH' ou dez (p. 57) se bem que enconlrc semprc belcvlS
m il has de disl'-'lIcia" (Fr.IIIl·O, 1 979: I1;)S cenas de tmbalho dos nat ivos. "Foi
133). lindo", diz, qua ndo duas l ro p i l has de mulas
Cllcontmm-sc n:1 estrada, "ver C0l110 os
De maneira si milar, Juhn Mawc ( I S 16) peões mantêm as tropilhas scrmradas umH
tenta mas não consegue descrever O cemi­ das oUl ras" (Brand, 1 828:208). Para O
rio "selvagem c romântico" que descobre francês Gaspar Mo ll icn (1 824), a nalureza
em Ul Pinta (' só COllbC gUC exdam:lr: "Que' primiliva acha-se descuidada ou indcci fr.í­
pnlco pílm u m :Igricullor empreendeuor! vel cnquanto fi belc7i! cSlíi nns paisage ns
Na realidade, ,,'ualll1cnle ,udo eSl" descui­ civili7<ldas qne lemh""" a Europa:
dado". Charles Cochmne (s.d.), UII1 hnl'-'­
nica cuja tl1l1bição é Hpm.lcra r-!'It' UH pl':-'C:I "Oepob de :11 mvcssa n nos uma espesSéI
de pérohls dói Colômhin, vr. níl paisHgelll selv<l, continu<ll11os sempre el11 asccl1-
americana, uma mri qu i lllJ adonllccída il ('�­ s:io, i1té cheg:'JnlloS li um lugar a partir
pcrn dc alguém qU(' a coloque cm movi­ do qUill !'Jurgiu lllllíl paisagcm verdadei­
mento: ramcnte magníricH: a rcgiflo intcirn de
HUMBOLDT E A RElNVENÇÃO DA AM�lUCA 161

Maraquitase estendia em frente de onde co da sociedade de províndas", vários via­


nos encontrávamos; víamos suas mon­ jantes frustrados queixam-se da indiferen­
tanhas semelhantes a montes insigni fi­ ça crioula diante das qualidades do confor­
cantes; podíamos distinguir as casas to, da eficiência, da limpeza, da variedade
brancas de Maraquita. Muito mais pró­ e do gosto. 10hn Mawe pode conceber a
ximo de nós estavam os terrenos de custa e muito menos tolerar uma sociedade
Honda, banhados pelo Madalena, cujas cujos membros tenham decidido viver de
verdes margens davam uma singular carne bovina e de mate. Os alojamentos
beleza à paisagem vizinha. Podíamos são repugnantemente toscos, é difícil con­
imaginar que fosse o Sena serpenteando seguir cavalos, as demoras são intoleravel­
pelos férteis prados da Normandia. Esta mente enomles. Viajantes após viajantes
bela paisagem, contudo, desapareceu escandalizam - se com "as roupas imun­
assim que penetramos outra vez na ma­ das" que vêm na chusma. Na chegada a
ta" (p. 57). Lima, Charles Brand se sente repugnado
com as mulheres limenhas que são "des­
Asociedade crioula, relegada do discur­ mazeladas e sujas" e "não usam nunca
so de Humboldt, é longamente tratada por espartilho"; os homens 5.10, igualmente
esta vanguarda capitalista, quase sempre "sujos e assombrosamente indolentes"
sob uma luz muito negativa. Ainda que se (Brand, 1828:182). Jobn MieIS manifesta
elogiassem freqüentemente as elites, pela idêntica impressão no interior da Argenti­
sua hospitalidade e seu estilo de vida aris­ na: " as roupas destcsseres são tâo imundas
tocrático, a crítica à sociedade crioula era que nenhum deles pensa, nem por um s6
quase obsessiva, pela indolência e o aban­ momento, em lavar o rosto c, poucos, ra­
dono de seus bens. "Mesmo que a nature­ mmente, lavam ou conserta m suas roupas:
za tenba sido profusa em bênçõcs", diz uma vez que as usam, as usam dia e noite
10M Mawe, "os habitantes foram negli­ até apodrecerem" (MieIS, 1826:3 1). Para
gentes em melhorá-Ia" (1816:89). Segun­ outros, é igualmente horroroso o hábito de
do 10hn Mie", (1826) "as pessoas que vi­ dividir os pratos de comida, as panelas da
vem fora dos povoados, mesmo vivendo cozinha, os copos e as camas.
em terra fértil e não tenham nada que fazer, De vez em quando as contradições saem
nunca cultivam, nem mesmo un') pequeno à superfície. No pampa, MieIS mostra-se
pedaço de terra". O fracas�o dos crioulos ao menos ligeiramente surpreendido, por­
se entende como a repulsa não somente em que as pessoas quase não fazem exercício
trabalhar mas, também, em racionalizar a físico e "contudo são saudáveis, robustas,
produção, em especializá-Ia e buscar seu musculosas e atléticas" (1826:32). Charles
máximo rendimento. Os europeus se as­ Brand comove-se com a igualdade da so­
sustavam com a ausência de cercas e outros ciedade do pampa ("Vivendo tão livres e
cercados, o fracasso em separar as ervas independentes como o vento, eles não po­
nocivas das colheitas, a indiferença em dem nem poderão reconhecer a supe­
diversificar os cultivos ou em "preseJVar a rioridade de nenhum outro mortal"), mas
raça" dos cachorros, cavalos c, inclusive, acha "esquisito que sejanl tão sujos e rela­
deles próprios. xados, particulannente as mulheres, que
Com a mesma força, os crioulos -espe­ são asquerosamente sujas. Não têm a mí­
cialmente nas províncias - são criticados nima idéia da comodidade" (1828:74-5).
pelo fato de niio possuírem hábitos moder­ Se a paisagem americana deve transfor­
nos de conforto. Apesar de freqüentemen­ mar sua condição selvagem em um quadro
le manifestarem entusiasmo pelo "pitares- de indústria e eficácia, sua população co-
162 ESTUDOS l-nSTÓRICOS - 11Jf)1J8

lonial também deve-se transfonnar: de somente a América estava em jogo neste


massa indolente, indiferente, carente de diálogo, proponho finalizar com o exame
apetite, noção de hierarquia e gosto pelo de um texto, no qual a Europa é reinventa­
trabalho, em assalariado e mercado para os da por um escritor hispano-americano. Re­
bens de consumo metropolitanos. firo-me a Domingo Faustino Sanniento e
Em sua convocatória aos fazendeiros ao relato de suas viagens à Europa em
humildes e sem medo do trabalho duro, 1845-1847 (Sanniento, 19(9).
Bello compartilha claramente a crítica que Dada a longa associação da literatura de
os britânicos fazem da sociedade provin­ viagens com os europeus e com o expan-

ciana, de que esta não logrou desenvolver sionismo europeu, não é de se surpreender
seu meio. Ao mesmo tempo, nem o traba­ que Sanniento achasse um pouco proble­
Lho assalariado nem o consumismo têm mática sua própria aUloridade como escri­
lugar na chamada de Bello para uma vida tor de viagens. UPara qualquer escritor',
austera e simples, assentada na terra. A diz Samuento em seu prefácio, "é muito
perspectiva pré-industrial e pastoral de difícil escrever livros de viagens inleres­
Bello não deve ser vista somente como santes agora que a vida civilizada repro­
nostálgica e reacionária, mas sim como duz, em todas as partes, as mesmas carac­
uma resposta dia lógica à visão mercantilis­ terísticas" (1909:2). "Maior é a di ficulda­
ta e expansionista dos engenheiros britâni­ de", continua, Use o viajante sai de socie­
cos. Bello é um literato urbano, vê a Eu­ dades mais ai rasadas, para constatar que
ropa em busca de alternativas para eSla existem outras mais adiantadas. Sente-se,
visão e Imnscultura Virgnio e Humboldt enL1o, incapaz de observar pela falta de
com esse propósilo. A notória omissão de preparo, que deixa o olhar turvo e míope,
minerais emseu canto de louvara AmériC.1 por causa da dilala,Jo da vista e a multipli­
é, talvez, sintomálica na sua intenção des­ cação dos objetos que nelas se encaixam".
coloni7..adora: a mineração (como bem sa­ Ele cita como exemplo desla turbidez sua
bia Humboldt) consliluía o grau de alração própria incapacidade em descobrir nas fá­
para o capital estrangeiro e o locus dos bricas algo mais que uma acumulação
desígnios neocoloniais. inexplicável de maquinaria. Se seu texto
fosse comparado com o dos grandes escri­
tores de viagens, como Chateaubriand, La­
ma rtine, Dumas ou Jaquemonl, condui,
!leu seria o primeiro em deixar de escrever"
IV_ Reinventando Europa (p. 6).
Apesar desta elaborada renúncia - que
Silva, de Bell�, enlra então em um diá­ se deve ler também como uma atitude -,
logo transatlântico iniciado por Humboldt Sanniento conlinua e escreve seu relato de
e seguido por muitos escritores dos dois viagem sem qualquer evidência da invali­
lados do oceano ao longo da época da dade do espírito que se aplica neste prefá­
Independência. É um diálogo onde se en­ cio. Seu texto, com efeito, faz com que se
contram várias V07..CS comprometidas no pergunte: Olmo se situa o homem de letras
que chamei de "reinvenção da América". americano com relação à Europa na fase
Particularmente para os escritores bispa­ independente? O capílulo inicial apresenta
no-americanos, é um momentd altamente um episódio fascinante dedicado a respon­
experimental, no qual a transculturação der a esta pergunta, ao menos no aspecto
dos paradigmas europeus é de fundamen­ simbólico. O relato começa com o navio
tai importância. Pam que não se pense que de Samuento saindo de Valparaíso rumo a
HUMBOLDT E A REINVE.'lÇÃO DA AM17:R ICA 163

Montevidéu e depois Europa. Como se ca gradualmente o paraíso utópico. Os


refletisse as dificuldades de Sanniento em quatro homens, como se chega a saber, são
"zarpar" seu próprio texto, o barco fica sem infelizes e estão divididos entre si, chegan­
vento e encalhado durante quatro dias, logo do Sarmiento à conclusão de que "a discór­
após se afastar da costa chilena. Este não­ dia é uma condição da nossa existência,
acontecimento, decididamente fora da retó­ mesmo sem governo e mulheres" (p. 22).
rica habitual dos livros de viagem, acontece Do mesmo modo que na história origi­
junto a uma ilha chamada Más-a-Cuera. nai de Crusoe, o episódio de Más-a-Cuera
Apesar de estar "mais fora" da civiliza­ de Sarmiento pennite uma leitura alegóri­
ção, esta ilha possui uma história que a une ca. Neste caso, o que faz a alegoria são as
com força à Europa e à sua tradição literá­ próprias complexas relaçóes de Sanniento
ria. Más-a-Cuera é uma das ilhas de luan com as culturas européia, norte- americana
Fernández, onde o escocés Alexander Sel­ e argentina. Na importante escala da civi­
kirk esteve abandonado durante muitos lização de Sarmiento, ele coloca os habi­
anos nos fins do século XVII. Mais tarde tantes de Más-a-Cuera "mais longe" que ele
Selkirk e sua história ficaram famosos co­ mesmo, mas não tão longe quanto alguns
mo modelo que Defoe tomou para sua habitantes do interior da Algentina. Ob­
novela Robinson Crnsoe. Conhecedores servando que os norte-americanos, igual­
deste antecedente, Sarmiento e alguns mente como Crusoe, foram capazes de
companheiros aproveitaram a ocasião para manter um exato calendário, Sanniento
reviver e revisarporsi próprios a experiên­ lembra o episódio em que os habitantes de
cia de Crusoe. DeCidem passar um dia na uma das capitais de província da Argentina
ilha Más-a-Cuera e assustam-se ao desco­ descobrem, através de um viajante que
brirem que já está habitada por quatro in­ passava por lá, que, de algum jeito tinham
diferentes norte-americanos que viviam perdido, durante um ano, a contagem de
ali, segundo a expressão de Sarmiento, um dia: descobriram com grande estupefa­
usem se preocuparem com o futuro, livres ção, "que estavam jejuando às quarta- fei­
de qualquer jugo e fora do alcance das ras, ouvindo missa aos sábados e traba­
vicissitudes da vida civilizada". Tal como lhando aos domingos" (p. 14).
sugere essa linguagem, o relato que Sar­ Segundo parece, os anglo-norte-ameri­
miento faz da vida em Más-a-Cuera conser­ canos podem, mesmo náu fragos e excluí­
va um pouco o espírito utópico de Crusoe dos, manter o calendário racionalizado,
de Defoe. Ele descreve um paraíso mas­ não acontecendo o mesmo com os nativos
culinizado, com vários rasgos da modesta das províncias das colônias.
visão pastoral de Bello. De acordo coma Alegoricamente, esta cena de Más-a­
época, é também um paraíso republicano: fuera faz com que Sanniento se situe com
não existe nenhum Sexta-Feira escraviza­ respeito às múltiplas referências culturais
do e a hierarquia redominante é a do que chocam com ele. Com relação à Eu­
esquema pai-filho. Predomina o rasgo ropa, Sanniento está ligeiramente "mais
cavaleiresco de Crusoe: os homens se di­ longe". Ao mesmo tempo, sua marginali­
vertem organizando um dia de caça a ca­ dade tem uma dimensão afinnativa: o epi­
bras selvagens, das que abllndam na ilha. sódio transculturado de Crusoe realiza o
(Como se lembrará, Crusoe capturou estas gesto que a tenninologia contempomnea
cabras; o Selkirk original, por sua vez, chama, hojeemdia, de realismo fantástico.
contou ter dançado com elas no desejo de Olhando a metrópole, o escritor coloniza­
companhia humana). Contudo, à medida do reivindica: Thas novelas (Robinson
que o relato avança, Sarmiento desmistifi- Crusoe) são minhas realidades (Más-a-
164 ES1UOOS IDSTORlCOS - 199118

fuera); teu pa"'iado é meu presente, teu ' arborizadas ou, freqüentemente, ao Palais
exotismo (um mundo fora do tempo do Royal" (Sanniento, 1909:116).
relógio) é minha vida quotidiana (no inte­ Em gesto burlesco, transculturado, Sar­
rior da Argentina). Só depois de se colocar roiento, então, reenfoca o discurso descri­
desta maneira, Sanniento começa a assu­ tivo (pré-industrial) bumboldtiano, exata­
mir O papel de escritor de viagens como menle em seu próprio contexto de origem:
mediador cultura\. Com efeito, sua via­ a metrópole capitalista. É o modelo bum­
gem SÓ continua quando . mediação cultu­ boldtiano salvo numa dimensão: a da apro­
ral pode seguir. priação. Figura alienada, o jlanetlr não
É de acordo com este gesto que, che­ compra, não coleciona amostras, não clas­
gando a Paris, Sanniento se representa co­ sifica, não faz esquemas totalizadores nem
mo um descobridor: o descobridor do exa­ imagina transformar o que vê. Reaciona,
to análogo do que Humboldt tinha encon­ contudo, e Sanniento, o archi-jlanet.r fren­
trado nas regiões equinociais. Paris é uma te ao espetáculo dos jlaneurs reage fazen­
enorme comuc6pia, um lugarde diversida­ do-se uma pergunta muito americana e
de e abundâncias intermináveis e exóticas. muito republicana: uÉ este, efetivamente,
O que Humboldt encontrou nas selvas e
o povo que fez as revoluções de 1789 e
nos pampas, Sarmiento encontra nas lojas 1830? Impo"'iível!" Um comentário pro­
da rua Vivienoe, nas coleções do lardin des vável para um sul-allle';caoo inde­
pendente e nas vésperas de 1842. Um
Plantes, nos museus, nas galerias, nas li­
comentário verdadeiramente profético.
v rarias e nos restaurantes. As descriÇÕes
catalogadoras que Sarmiento faz de Paris
reproduzem o discurso acumulativo de
Humboldt e sua posição de assombro ino­
cente. Ironicamente, o naturalista se re­
descobre no fúl1leur urbano. Sarmiento se Notas
refere longamente às alegrias do jlaneur,
cujo privilégio, tal como o descreve, é 1. a. Humboldl (1822), ltadução de Helen
curiosamente semelhante ao do naturalis­ Maria Williams. lbomasina Ross realizou uma
ta: " 0 flaneur em Paris é uma coisa santa e lradução posterior em 1851.
respeitável, uma função tão privilegiada 2. Apresentado pardalmellte em PinJcerton:S
que ninguém ousa interrompê-lo. O jIa­ voyages, v. 14
neur tem direito a meter o nariz em todas 3. Estelenno, originalmente denomioadope­
as partes ( . ..). Se um cidadâo pára diante lo sociólogo cubano Fernando Ortiz da déada
de uma fresta do muro e a olha com aten­ de 1940, Coi recentemente reiDtroduzido nos es­
ção, não falta um desconhecido que se tudos literários hispano-americanos por Ángel
detém para ver o que o indivíduo está Rama, especialmente em seu Tran.scuüurQción
NJ"al;va de Âmbial ÚlliNl (México. Siglo
olhando; surge um terceiro e logo já são XXI, 1982).
uns oito; todos os passantes param: a rua
4. alado por Hespel t ti alii (1946).
fica obstruída; ajuruamenta". (p. 111).
S. Essas matérias apareceram 00 Reperlorio
Semelhante ao naturalista Hwnbold� americano Bello. Ver volumes 19 e 20 das
de
"oflaneurpersegue também uma coisa que Obras compWQs d.eAndris Helio (Caracas, Mi·
ele mesmo não Sabe o que é; busca, olha, nisterio de Educació!i, 1957).
examina, passa adiante, vai lentamente, faz 6. Aqui estou em dCvida com o ltabalho de
rodeios, aoda e chega ao fim (...) algumas Eliubetb Ganel! sobre os conceitos geracionais
vezes às margens do Sena ou às avenidas do Facwtdo de Sarmiento.
HUMBOLDT E A R ElNVENÇAo DA AMÉUCA 165

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