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Sistema construtivo multiviga para cobertura:


Desempenho e percepção do usuário

Research · May 2016


DOI: 10.13140/RG.2.1.3356.2486

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3 authors, including:

Mena Marcolino
Universidade Estadual de Maringá
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inovadoras no Âmbito do Sistema Nacional de Avalição Técnica View project

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QUALIDADE DE PROJETO NA ERA DIGITAL INTEGRADA
DESIGN QUALITY IN A DIGITAL AND INTEGRATED AGE

III Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído


VI Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção

Campinas, São Paulo, Brasil, 24 a 26 de julho de 2013

SISTEMA CONSTRUTIVO MULTIVIGA PARA COBERTURA:


DESEMPENHO E PERCEPÇÃO DO USUÁRIO1

Mena Cristina Marcolino


Universidade de São Paulo, USP
menamarcolino@sc.usp.br
Marcela Paula Maria Zanin Meneguetti
Universidade Estadual de Maringá, UEM
marcela@mzm.eng.br
Márcio Minto Fabrício
Universidade de São Paulo, USP
marcio@ sc.usp.br

RESUMO
A pesquisa trata de um sistema construtivo para cobertura em aço denominado multiviga,
patenteado e disseminado nacionalmente. O referencial teórico abrange a inovação
tecnológica do sistema, a qualidade no projeto, a avaliação do ambiente construído e
percepção do usuário. Através dos procedimentos, partindo de uma avaliação Pós-
Ocupação, pesquisa exploratória e entrevistas, investigam-se os requisitos de qualidade no
projeto e a aceitação do usuário decorrente do escamoteamento do sistema nas fachadas.
O objetivo geral é apresentar as inovações nas fases de projeto, processo de fabricação e
montagem da multiviga. Os objetivos específicos investigam quais aspectos (desempenho
ou projeto) motivaram à descontinuidade do sistema para a realização de intervenções na
cobertura. Os resultados da pesquisa antes e após as intervenções comprovam: o bom
desempenho técnico construtivo da multiviga; a piora no desempenho da cobertura após
as intervenções; a baixa aceitação pelo usuário não está relacionada ao desempenho do
sistema construtivo de cobertura, mas ao detalhe de projeto do beiral. Conclui-se a respeito
da eficiência técnica e tecnológica da multiviga, podendo haver a replicação do sistema
com a sugestão da participação do usuário no processo de projeto para definir requisitos
que possibilitem o aproveitamento do potencial de um sistema construtivo inovador.
Palavras-chave: Avaliação Pós-Ocupação. Cobertura. Telhado.

ABSTRACT
This research discusses a nationally disseminated patented steel covering system named
multiviga. The theoretical framework approaches the system technological innovation,
design quality, built environment evaluation and user perception. The design quality
requirements and user acceptance related to the system camouflage on the facades were
investigated through procedures, part of a Post-Occupancy Evaluation, an exploratory
research and interviews. The overall goals are to present the innovation in design phases and
the multiviga manufacturing and assembly processes. The specific goals investigate which
aspects (performance or design) led to the discontinuity of the system on the performance of

1 MARCOLINO, M. C.; MENEGUETTI, M. P. M. Z.; FABRÍCIO, M. M. Sistema Construtivo Multiviga para


cobertura: desempenho e percepção do usuário. In: III SIMPÓSIO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO
PROJETO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO. VI ENCONTRO DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇAO, 2013, Campinas. Anais... Campinas: ANTAC, 2013.

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interventions in building coverings. The results of the survey performed before and after the
interventions show that: multiviga has good technical and constructive performance; the
worsening of the covering performance after the interventions; and that the low user
acceptance is not related to the performance of the covering system but to specific eaves
design detail. It is concluded that the multiviga is technically and technologically efficient
and that with the suggestion of the user participation in the design process to define
requirements that allow the use of the potential of an innovative constructive system there
may be a replication of the system.
Keywords: Post-Occupancy Evaluation. Covering. Roof

1 INTRODUÇÃO
A multiviga é um subsistema de cobertura desenvolvido para edificações,
diferenciando-se do sistema convencional em madeira pela redução dos
componentes estruturais e pela utilização do aço. O sistema foi veiculado
em meios de comunicação, patenteado e disseminado nacionalmente na
década de 90 por uma empresa brasileira siderúrgica e recebeu prêmios por
ser considerada uma inovação para a época. O sistema original foi
previamente testado em laboratório de acordo com as Normas
Internacionais de Dimensionamento Estrutural e Avaliações de Desempenho
(MENEGUETTI, 1997). O conceito de sistema industrializado e racionalizado
utilizando o aço como material construtivo continuou evoluindo e obtendo
investimentos maciços cujo desdobro foi o sistema Casa Fácil e outros
contemporâneos intitulados soluções para a autoconstrução.
A conjuntura nacional constitui-se por demanda habitacional e encontra-se
carente por tecnologias que proporcionem custo competitivo, fabricação e
montagem rápida e fácil, rigidez estrutural, estanqueidade e durabilidade.
Para coberturas espera-se que as novas tecnologias proporcionem
alinhamento do telhado, fim das infiltrações e goteiras, resistência mecânica
e estabilidade estrutural contra intempéries tal como vendaval e pouca
exigência de mão de obra qualificada. A pesquisa justifica-se pela
necessidade de inovação e tecnologia em sistemas construtivos que se
mostrem viáveis e possam ser replicáveis.
Para a presente pesquisa o tema multiviga reune características inovadoras
nas fases de projeto, fabricação e montagem. Porém foram observados que
passados 18 anos da implantação da multiviga em um dos conjuntos
habitacionais produzidos no Estado do Paraná, datado da 2ª fase -
transferência da tecnologia, do total de 174 casas em Cambé-PR observou-
se o escamoteamento do sistema multiviga. A partir desta verificação e
considerando a relevância do sistema as hipóteses levantadas são: se o
sistema construtivo foi significantemente substituído pelo convencional em
madeira se por questões de qualidade no projeto, percepção/aceitação do
usuário, estéticas, desempenho, patologias do ambiente construído ou
interferências e compatibilidades com outros subsistemas e materiais.
O objetivo geral desta pesquisa é caracterizar o sistema construtivo multiviga
quanto ao projeto, processo de produção e montagem para verificar os
aspectos de inovação e tecnologia. Os objetivos específicos são avaliar a

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aceitação dos usuários das coberturas em multiviga do conjunto


habitacional em Cambé-PR abordando aspectos da qualidade do projeto,
e desempenho técnico-construtivo com a finalidade de responder as
hipóteses levantadas.
A partir dos resultados alcançados sugere-se a participação do usuário nas
discussões do projeto para a melhoria da qualidade do ambiente construído
em conjuntos habitacionais de interesse social e auxiliar na retroalimentação
do processo de projeto para fins sociais.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A qualidade está associada a atributo intrínseco de coisas ou pessoas e,
nesse contexto, não pode ser identificável e mensurável diretamente, sendo
identificada a partir das características que conferem qualidades às coisas
(FABRICIO; ORNSTEIN, 2010).
As duas dimensões associadas à qualidade são:
• a dimensão objetiva (propriedades físicas e atributos do produto);
• a dimensão subjetiva (capacidade de as pessoas mensurarem as
características de um produto ou serviço) (SHEWHART, 1931 apud
FABRICIO; ORNSTEIN, 2010).

O conceito de qualidade é dinâmico e varia com o tempo e com os


interesses das pessoas ou organizações em que é empregado (PICCHI, 1993
apud FABRICIO; ORNSTEIN, 2010).
Sobre produção do ambiente construído a qualidade deve ser conceituada
como aquela que é percebida em termos de seus significados culturais e
simbólicos. A expansão do conceito de qualidade arquitetônica é
entendida como a síntese alcançada pelo ambiente construído em termos
de originalidade e que consegue relações custo-benefício equilibradas,
considerando-se forma, função e técnica (VOORDT E WEGEN, 2005 apud
FABRICIO; ORNSTEIN, 2010).
Na produção do ambiente construído associa-se a qualidade arquitetônica
aos fatores funcional, ambiental e social. Estes fatores devem proporcionar
elevado nível de qualidade arquitetônica dos ambientes do habitat
humano, sejam estes interiores ou exteriores. Durante o uso, a qualidade está
associada a desempenho da edificação, aos custos e à facilidade de
manutenção e a valorização econômica do imóvel. Aplicação de
procedimentos realimentadores tal como a Avaliação Pós-Ocupação (APO),
norteia as intervenções em edificações em uso ou estabelece diretrizes de
projeto de futuras edificações semelhantes. A Avaliação Pós-Ocupação
trata-se de uma análise sociopsicológica e técnico-construtiva que auxilia na
retroalimentação de novos projetos com requisitos que procuram aproximar
o usuário da edificação, de acordo com seu uso e finalidade (FABRICIO;
ORNSTEIN, 2010).

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Os procedimentos de gestão do processo de projeto e de retroalimentação


continuada deveriam ser estimulados entre os projetistas como forma de
minimizar erros e reconhecer as boas práticas ao longo do processo de
projeto, construção, uso, operação e manutenção de edifícios. Porém,
somente o atendimento aos requisitos técnicos e funcionais do ambiente
construído não necessariamente garante a satisfação das necessidades e
dos desejos do usuário (FABRICIO; ORNSTEIN, 2010).

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Os procedimentos metodológicos empregados para o estudo empírico
investigativo e descritivo foram pesquisa a fontes de dados técnicos e
levantamento realizado no Conjunto Habitacional Castelo Branco I em
Cambé-PR. Foram percorridas as ruas Veneza, Roma e Nápoles onde foram
executadas as 174 habitações. Do total de unidades domiciliares do
Conjunto Habitacional 75 % dos moradores foram entrevistados; 5 % do total
de respondentes são locatários.
Para avaliar o desempenho físico da unidade aplicam-se parte dos
instrumentos de uma Avaliação Pós-Ocupação - APO: walkthrough,
observação de aspectos físicos da unidade habitacional e entrevista semi-
estruturada com os usuários. A entrevista semi-estruturada prevê um roteiro e
o pesquisador realiza as anotações, cujas perguntas podem não ser
necessariamente aplicadas na ordem em que aparecem; o entrevistador
possui certo grau de liberdade para adaptar as questões conforme a
situação, sem deixar a entrevista fugir ao foco (CONCEIÇÃO; SILVA;
GOLDSCHIDT, 2008). A síntese das questões abordadas na entrevista semi-
estruturada estão representadas no Quadro 1. As questões referem-se aos
itens de satisfação do usuário e de desempenho técnico-construtivo. Os
resultados esperados são qualitativos. As questões de desempenho técnico-
construtivo são isolamento, estanqueidade, durabilidade e estabilidade e
rigidez estrutural. As questões relacionadas à aceitação do usuário são sobre
o projeto: número de águas, estrutura, materiais e altura da cobertura.

Quadro 1 - Síntese das questões da entrevista semi-estruturada.


QUESTÕES RESULTADOS ESPERADOS
Tempo de moradia? menos de 5 anos, entre 5 e 10 anos; mais de 10 anos;
Casa própria ou alugada? própria ou alugada
Ampliou ou reformou? sim ou não
Se sim, qual material? metálico – mesmo sistema construtivo
madeira
Possui forro interno? Isolamento - forro em madeira, laje ou outro.
Acabamento interno.
Há infiltrações? Estanqueidade - Presença de goteiras ou não na
porção original da habitação e nas ampliações.
Realiza manutenção? Quem faz Durabilidade - manutenção constante ou não.
a manutenção do telhado? Realizada pelo proprietário ou contrata mão de
obra de terceiros.
Quanto à segurança estrutural e Estabilidade e rigidez estrutural. Destelhamento e
vendavais? presença de patologias - rachaduras ou fissuras.

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O que mudaria no telhado? Projeto - número de águas, estrutura, materiais da


Para as habitações que não telha e da estrutura, altura.
sofreram alterações na tipologia Facilidade de ampliação.
construtiva.
O que acha do beiral aparente Projeto – valoriza ou não a fachada – beiral bonito,
em aço (treliças)? feio ou diferente.
Fonte: Elaborado pelos autores

Os resultados representam dois momentos da pesquisa investigativa: o


levantamento de dados em acervo (caracterização do sistema construtivo
multiviga) e levantamento dos aspectos físicos da unidade habitacional
(resultados da avaliação do ambiente construído e da percepção do
usuário).

4 CARACTERIZAÇAO DO SISTEMA CONTRUTIVO MULTIVIGA


A implantação do sistema de cobertura Multiviga iniciou-se em agosto de
1994 e o processo de implantação do sistema passou por quatro fases
principais, são elas (MANUAL TÉCNICO DO CONSULTOR, 1994):
• 1ª Fase: Desenvolvimento das ferramentas de produção,
compatibilização com outros subsistemas; execução de um protótipo em
Nova Esperança - PR com área de 56,00 m2.
• 2ª Fase: Transferência da tecnologia e execução de 174 casas em
Cambé – PR.
• 3ª Fase: Projeto piloto e construção de 100 casas em Ivaté - PR; projeto
piloto e construção de 50 casas em Tapejara – PR.
• 4ª Fase: Disseminação da tecnologia e produção de 400 moradias em
Ivaté – PR.

Para as habitações populares executadas nas fases descritas a taxa média


de consumo de aço foi de 7,7 kg/m2, incluída as perdas.

4.1Inovação e Tecnologia: projeto, processo de fabricação


e montagem do sistema de cobertura multiviga
Adotou-se o Manual Técnico do Consultor (1994) para a caracterização do
sistema quanto ao projeto, processo de fabricação e montagem,
abordando suas principais diretrizes e os pontos de inovação e tecnologia. A
obtenção das características geométricas do projeto do sistema resultou da
combinação de fatores estruturais e construtivos, tais como (Figura 1):
• a largura imposta pela galga da telha.
• as diagonais a 45° formadas pelo senóide permitem menores esforços de
compressão nas mesmas.
• a altura resulta da modulação obtida para o senóide nas três faces.

Em termos estruturais, o sistema resume-se basicamente numa


estrutura treliçada espacial unidirecional. É formada por uma seção
triangular composta por dois perfis laminados em cantoneira e um

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“T”, interligados entre si por senóides em barras redondas dobradas a


45°. Os senóides formam uma estrutura espacial composta por
pirâmides que conferem rigidez estrutural nos dois eixos principais da
seção transversal (MENEGUETTI, n. 11, 1997).

Figura 1 - Condições geométricas do sistema

Fonte: Manual Técnico do Consultor, 1994.

A qualidade do projeto e do sistema conforme Manual Técnico do Consultor


(1994) foi aferido logo na primeira fase de implantação do sistema a partir
da execução de um protótipo (casa padrão COHAPAR de 56,00 m2). Os
resultados após a execução do protótipo foram:
• custos compatíveis com o sistema convencional em madeira.
• rigidez estrutural e diminuição dos riscos durante vendavais.
• durabilidade do material.
• mão de obra do carpinteiro dispensada, considerando que a carpintaria
trata-se de um serviço que exige experiência e qualificação.
• aceitação e incorporação das mudanças na estética das fachadas.
• redução das deformações e fim das goteiras.

O processo de fabricação priorizou as diretrizes abaixo:


• modulação que permite que o transporte seja feito por pequenos
veículos utilitários, reduzindo custos.
• a modulação dos senóides não requer mão de obra e operadores com
habilidades em cálculos geométricos, ajustes e controle durante cada
dobra.
• a segurança do trabalhador no processo de fabricação foi assegurada
no quesito ergonomia com a implantação de plataforma de trabalho e
altura adequada no posto (Figura 2).
• a fabricação ou industrialização pode ser feita no próprio canteiro de
obras e no local da montagem possibilitando redução de custos com
transporte e impostos de produtos industrializados.
• foi desenvolvido ferramental apropriado para dobrar senóide (Figura 2).

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Figura 2 – À esquerda: Plataforma de trabalho: montagem e pintura. À direita:


Ferramental e bancada para dobra da estrutura (senóide).

Fonte: Manual Técnico do Consultor, 1994.

O processo de montagem priorizou as diretrizes a seguir:


• no processo de soldagem a fixação das cantoneiras e perfil T,
componente da viga, é executada de maneira que as deformações e
empenamentos sejam reduzidos. Esta diretriz esta diretamente
relacionada à necessidade de rigidez estrutural, durabilidade e
alinhamento do telhado.
• as partes componentes são moduladas reduzindo o transporte e
manuseio, durante a fabricação.
• a montagem é considerada pelo fabricante como fácil, pois não exige
mão de obra qualificada. A qualificação é obtida com o treinamento
mínimo de quatro horas.

As interferências com outros subsistemas tais como fundação e alvenaria


proporcionam redução dos custos com fundação pela leveza da estrutura e
rigidez estrutural à moradia.
Todos os subsistemas estruturais (alvenarias e cobertura) interagem e
tornam a estrutura monolítica. Desta maneira, as multivigas são
apoiadas nas paredes dos oitões e fixadas em uma cinta de
concreto sustentada continuamente na alvenaria, de forma que as
mesmas deixem de ser isoladas e passem a constituir uma estrutura
integrada com a alvenaria. Nas extremidades da cinta, a armadura
é ligada à cinta de amarração superior da alvenaria, formando um
pórtico triangular que tem por tirante a barra horizontal. Visando
interagir com outros processos, a multiviga pode ser fixada nos oitões
com perfis metálicos. Em termos estruturais, o sistema resume-se
basicamente numa estrutura treliçada espacial unidirecional. É
formada por uma seção triangular composta por dois perfis
laminados em cantoneira e um “T”, interligados entre si por senóides
em barras redondas dobradas a 45°. Os senóides formam uma
estrutura espacial composta por pirâmides que conferem rigidez
estrutural nos dois eixos principais da seção transversal (MENEGUETTI,
n. 11, 1997).

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Após a montagem da estrutura e recobrimento, o sistema multiviga altera a


tipologia convencional de coberturas de habitação popular em madeira
devido aparência (sem forro) da estrutura em aço no beiral (Figura 3).

Figura 3 - À esquerda: largura da multiviga conforme galga da telha. À direita:


sistema de cobertura aparente na fachada

Fonte: Manual Técnico do Consultor, 1994.

5 RESULTADOS

5.1 O ambiente construído


Observou-se que parte das unidades habitacionais produzidas com o
sistema multiviga sofreu modificação em sua totalidade na forma e na
estrutura da cobertura. Uma parcela significativa das unidades reformadas e
ampliadas tiveram oitão frontal eliminado da tipologia construtiva (Figura 4).

Figura 4 – À esquerda e à direita: Rua Veneza. Alteração da tipologia, forma e


estrutura da cobertura.

Fonte: Acervo dos autores

Uma parcela sofreu intervenções apenas na fachada frontal, sendo


conservada a estrutura da cobertura aos fundos da edificação (Figura 5).
Outra parcela sofreu ampliação apenas no sentido do recuo lateral do lote
mantendo-se a tipologia na porção frontal (Figura 5).

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Figura 5 – À esquerda: Rua Roma. Manutenção de parte do sistema construtivo aos


fundos. À direita: Rua Veneza. Ampliação transversal do projeto. Manutenção do
sistema construtivo da cobertura

Fonte: Acervo dos autores

A pesquisa observa a técnica empregada nas ampliações (ligações entre


estrutura original e a nova). Estas observações foram relevantes para a
avaliação do desempenho técnico-construtivo do sistema de cobertura
antes e após as intervenções. Foi observada a incompatibilização entre
projetos e materiais para as ligações (Figura 6).

Figura 6 – À esquerda: Rua Nápoles. Ligação entre sistema construtivo em aço e o


ampliado em madeira. À direita: Rua Roma. Ligação aço-madeira

Fonte: Acervo dos autores

5.2 A percepção do usuário


Os entrevistados são residentes no Conjunto a mais de 10 anos e com até 5
anos e somente uma minoria de aluguel. A maioria são proprietários da casa
e uma minoria são proprietários desde a época da ocupação do Conjunto.
Identificou-se durante a pesquisa um significativo número de unidades a
venda e para aluguel. A totalidade das unidades passou por reformas e
ampliações ao longo dos 18 anos de ocupação. As ampliações posteriores
foram exclusivamente em madeira devido aos aspectos: mão de obra
disponível para a execução do serviço, na técnica construtiva em madeira,

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maior custo na realização do serviço em estrutura metálica e, sobretudo na


preferência dos usuários pela aparência da madeira na cobertura. A este
aspecto é relevante ressaltar a tradição e cultura da população desta
localidade.
As unidades habitacionais possuem laje de concreto. Não há reclamações
sobre isolamento e acabamento interno.
A incompatibilidade entre os projetos (original e intervenção) causaram
problemas com o desempenho estrutural e a estanqueidade pela presença
de fissuras e infiltrações, respectivamente.
Os usuários não observaram infiltrações na parte original do telhado. As
reclamações quanto às infiltrações são localizadas nos pontos das
ampliações e ligações caracterizadas na avaliação do ambiente construído,
pela falta de compatibilização entre projetos e materiais ou mão de obra
qualificada. Outra questão é a ineficiência dos sistemas de captação de
águas pluviais (calhas) ocasionadas pela geminação das casas que
sofreram ampliação no recuo lateral, causando infiltrações também à casa
vizinha.
A unidade habitacional da Figura 7 passou por ampliação desta natureza e
manteve o sistema construtivo multiviga e a inclinação da cobertura.
Observa-se neste caso o pé-direito muito baixo e infiltrações na parede.

Figura 7 - Ampliação usando a técnica construtiva multiviga

Fonte: Acervo dos autores

Do total de entrevistas 70 % dos proprietários afirmaram contratar profissionais


para executar a manutenção dos telhados. Uma minoria declarou realizar a
própria manutenção. Porém o que pode ser verificado in loco é que há
pontos de corrosão da estrutura na ligação com a cinta superior de
concreto e que a pintura da estrutura permanece na cor original. A falha na
manutenção comprometerá a durabilidade do sistema de cobertura em
aço.
Quando questionados sobre a segurança estrutural e a resistência da
cobertura a vendavais 100 % dos usuários declararam não haver problemas

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durante o tempo de moradia. Uma minoria relatou incidentes com


destelhamento apenas no beiral do oitão. Este caso pode estar relacionado
à falta de manutenção e telhas não amarradas adequadamente durante o
processo de montagem. Quanto à presença de rachaduras e fissuras 100%
dos entrevistados declararam não haver este problema. Um único caso
identificado de rachadura in loco consta na Figura 8 com patologia na
ligação entre estrutura da cobertura e cinta de amarração superior.

Figura 8 - Ampliação usando a técnica construtiva multiviga

Fonte: Acervo dos autores

Quando questionados sobre o que mudariam no telhado as respostas são:


mudariam somente a água e optariam pela estrutura de madeira. O total de
entrevistados declarou que mudariam a água do telhado para fachada
frontal eliminando o oitão. Sobre este aspecto pode-se concluir que não há
uma negação do sistema de estrutura multiviga, mas sim da tipologia
arquitetônica da habitação, havendo um consenso que o que agrava a
tipologia da fachada é não ter a água frontal.
Quando questionados sobre a estrutura e aparência do beiral 60% dos
entrevistados responderam não gostar e que a falta do beiral forrado e a
estrutura aparente compromete o valor do imóvel. E para os entrevistados
que não são proprietários quando questionados se adotariam a tipologia do
sistema 100% afirmaram que não adotariam.

5 CONCLUSÕES
A partir dos resultados conclui-se que a baixa aceitação do usuário esta no
acabamento e na tipologia arquitetônica e não propriamente no sistema
construtivo. Conclui-se que as ampliações levaram aos problemas de
desempenho a partir da incompatibilidade entre materiais e falta de projeto
complementar. Como, por exemplo, o problema das goteiras é recorrente
nas construções que passaram por ampliações.
Um sistema construtivo deve ser projetado de modo que possibilite não só
manutenção de baixo custo, estudos e detalhes de projeto para as
ampliações, mas que, sobretudo considere os aspectos culturais,
psicológicos e estéticos da populaçao atendida. Comprova-se esta

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exigência a partir dos resultados onde os itens que receberam maior


reprovação não foram o de desempenho como estrutural, estanqueidade e
durabilidade, mas sim o de projeto em relação à estética e a aparência do
sistema podendo concluir que a participação do usuário no processo de
projeto é importante na identificação do usuário com o produto.
A preferência pela madeira, além dos aspectos culturais, psicológicos e
estéticos deu-se pela oferta de mão de obra não necessitando de um
projeto complementar em aço e de uma mão de obra considerada pelos
usuários mais cara. Em geral as ampliações com ligacões em madeira
diretamente na estrutura em aço, para o caso específico, foram
consideradas precárias. A pesquisa corrobora os dados do Manual Técnico
do Consultor (1994) por verificar através da pesquisa investigativa qualitativa
o atendimento dos principais requisitos de desempenho técnico-construtivo
para cobertura. Em projetos futuros prever o acabamento (fechamento)
externo do beiral da fachada adequando a tipologia arquitetônica ao
subsistema de cobertura e a aceitaçao do usuário para que um detalhe de
projeto não desqualifique o potencial técnico e construtivo de um sistema
construtivo. Considera-se pertinente a disseminação da experiência do
sistema multiviga no meio acadêmico, para retroalimentar futuros estudos ou
desenvolvimento de técnicas já existentes que possam ser viáveis e
replicadas em projetos sociais.
Sugere-se a continuidade da pesquisa em outros conjuntos habitacionais
onde houve a implantação do sistema multiviga para a investigação se a
percepção do usuário é recorrente com a inclusão e investigação dos
aspectos relacionados à cultura local, ao senso estético e psicológico dos
usuários.

AGRADECIMENTOS
A Profa Dra Marcela Paula Maria Zanin Meneguetti e autora do sistema
construtivo de cobertura multiviga pela disponibilização do acervo técnico.

REFERÊNCIAS
CONCEIÇÃO, C. S.; SILVA, G. C. C.; GOLSCHIDT, L. Avaliação de desempenho do
ambiente construído. Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura –
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2008.

FABRICIO, M. M.; ORNSTEIN, S. W. Qualidade no projeto de edifícios. 1. ed. São


Carlos: Rima / ANTAC, 2010. v. 1.

MANUAL TÉCNICO DO CONSULTOR, 1994.

MENEGUETTI, M. P. M. Z. Construção Civil ganha opção inédita para fabricação de


coberturas. Revista Técnica Cotação. nº 10, abril de 1997.

MENEGUETTI, M. P. M. Z. A versatilidade do sistema multivigas para moradia popular.


Revista Técnica Cotação. nº 11, maio de 1997.

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