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ESCOLA DE INSTRUÇÃO ESPECIALIZADA

CURSO DE HABILITAÇÃO AO QUADRO AUXILIAR DE OFICIAIS

A CIÊNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL, COM ÊNFASE NA ANÁLISE


DAS MICRO EXPRESSÕES FACIAIS EMOCIONAIS E DOS SEIS CANAIS DE
COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, COMO FERRAMENTAS DE DETECÇÃO E
ANÁLISE DE CREDIBILIDADE, NAS ENTREVISTAS DOS PROCESSOS DE
SELEÇÃO E ADMISSÃO DE PESSOAL

EDGAR MIQUELITO JÚNIOR – ST

Trabalho de Conclusão do Curso de Habilitação


ao Quadro Auxiliar de Oficiais apresentado à
Escola de Instrução Especializada do Exército
Brasileiro, como requisito parcial para a obtenção
do título de Tecnólogo em Administração Militar.

ORIENTADOR:
MARCELO AUGUSTO DOS SANTOS – 1º Ten

Cuiabá
2021
EDGAR MIQUELITO JÚNIOR – ST

GRUPO C

A CIÊNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL, COM ÊNFASE NA ANÁLISE


DAS MICRO EXPRESSÕES FACIAIS EMOCIONAIS E DOS SEIS CANAIS DE
COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, COMO FERRAMENTAS DE DETECÇÃO E
ANÁLISE DE CREDIBILIDADE, NAS ENTREVISTAS DOS PROCESSOS DE
SELEÇÃO E ADMISSÃO DE PESSOAL

Trabalho de Conclusão do Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais


apresentado à Escola de Instrução Especializada do Exército Brasileiro, como requisito
parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em Administração Militar.

AVALIADO POR:

______________________________
2º Ten FLÁVIO BRAGA DE LIMA
Professor da Disciplina de Metodologia de Pesquisa Científica

______________________________________
1º Ten MARCELO AUGUSTO DOS SANTOS
Tutor: Grupo C

Cuiabá
2021
RESUMO

De grande importância nos processos de seleção e admissão de pessoal, a


atividade de entrevista é a primeira oportunidade que a instituição possui de conhecer seus
futuros integrantes, os quais mais tarde poderão somar esforços no desenvolvimento de suas
tarefas ou poderão gerar óbices a disciplina e/ou a segurança orgânica da Organização Militar.
Para o candidato é sabido que a entrevista é o seu ‘cartão de vistas’ pessoal e social, na qual
ele procurará mostrar quem ele “efetivamente é”, evidenciando suas qualidades e omitindo
suas deficiências e más inclinações. Em pouco tempo após a incorporação já se consegue
distinguir, mesmo que intuitivamente, dos militares egressos, os que serão possivelmente
bem-sucedidos e os que relativamente apresentarão problemas disciplinares, com base em seu
comportamento. Essa percepção subjetiva nada mais é do que a observação de sua
paralinguagem, um consenso comum na instituição que denota, não uma predisposição
enviesada a julgamentos de personalidade pelo observador, mas sim aos acertos ou erros de
julgamento de mérito pelo entrevistador durante as entrevistas na Comissão de Seleção. A
análise criteriosa da narrativa do entrevistado, observando e avaliando pontos importantes do
seu discurso enquanto acontece, são ações relevantes a serem bem gerenciadas pelo
entrevistador para a descoberta oportuna de problemas sociais e vícios incompatíveis com a
disciplina militar no entrevistado, os quais o mesmo tente omitir, porém perceptíveis no seu
conjunto de ações e reações emocionais. Com este trabalho, propõe-se uma observação sobre
a relevância da utilização dos atuais protocolos de investigação da análise de credibilidade do
discurso, pela análise e codificação da emoção humana e suas implicações, através das macro
e micro expressões faciais, codificáveis nas sete emoções primárias e universais de Alegria,
Tristeza, Medo, Raiva, Nojo, Desprezo e Surpresa, através do Facial Action Coding Sistem
(FACS) desenvolvido por Ekman, Paul & Friesen, Wallace & Hager, Joseph (2002) e pela
análise dos seis canais de comunicação não verbal de Estilo Interacional, Voz, Conteúdo
Verbal, Expressão Facial, Linguagem Corporal e Psicofisiologia, através o Protocolo SCAnR,
Six Channel Analysis in Real Time, desenvolvido pela The Emotional Intelligence Academy
(EIA), como agregadores de desempenho ao trabalho do entrevistador na detecção de traços
característicos de conduta dissimulativa (mentira) em candidatos à incorporação no âmbito
das comissões de seleção e admissão de pessoal do Exército Brasileiro.

Palavras-chave: Comissão de seleção, entrevista, análise, conduta dissimulativa,


FACS, SCAnR.
ABSTRACT

Of great importance in the personnel selection and admission processes, the


interview activity is the first opportunity that the institution has to meet its future members,
who will later be able to join efforts in the development of their tasks or may generate
obstacles to discipline and / or the organic security of the Military Organization. For the
candidate, it is known that the interview is his personal and social ‘card of views’, in which he
will try to show who he “effectively is”, highlighting his qualities and omitting his
deficiencies and bad inclinations. In a short time after the incorporation, it is already possible
to distinguish, albeit intuitively, from the military graduates, those who are likely to be
successful and those who will relatively present disciplinary problems, based on their
behavior. This subjective perception is nothing more than the observation of its paralanguage,
a common consensus in the institution that it denotes, not a predisposition biased to
personality judgments by the observer, but to the successes or errors of judgment of merit by
the interviewer during the interviews at the Commission of selection. Careful analysis of the
interviewee's narrative, observing and evaluating important points of his speech while it
happens, are relevant actions to be well managed by the interviewer for the timely discovery
of social problems and addictions incompatible with military discipline in the interviewee,
which he tries omit, but perceptible in their set of actions and emotional reactions. With this
work, we propose an observation on the relevance of using the current investigation protocols
for the analysis of discourse credibility, for the analysis and codification of human emotion
and its implications, through macro and micro facial expressions, codable in the seven
primary emotions and universals of Joy, Sadness, Fear, Anger, Disgust, Contempt and
Surprise, through the Facial Action Coding Sistem (FACS) developed by Paul Ekman,
Wallace V. Friesen and Joseph C. Hager (2002) and by analyzing the six channels of non-
verbal communication of Interactional Style, Voice, Verbal Content, Facial Expression, Body
Language and Psychophysiology, through the SCAnR protocol, Six Channel Analysis in Real
Time, developed by The Emotional Intelligence Academy (EIA), as performance aggregators
to the interviewer's work in the detection of characteristic traits of dissimulative conduct (lie)
in candidates for incorporation within the scope of personnel selection and admission
commissions of the Brazilian Army.

Keywords: Selection committee, interview, analysis, dissimulative conduct,


FACS, SCAnR.
LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A – Extrato Atlas das Emoções

Apêndice B – Extrato EMFACS/8

Apêndice C – Lista de Ilustrações e Tabelas

Apêndice D – Pesquisa de Estudo: Analise Comportamental


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .………………………………………………………….…………………………………………… 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO …………………….……………………………………….…………………………... 9


2.1. CONCEITUAÇÃO DA MENTIRA (CONDUTA DISSIMULATIVA) ….…………………………………………. 9
2.1.1. Os Porquês da Mentira .….……………………….…………………………………………...…………..……... 9
2.1.2. Verdades e Mentiras Acerca da Mentira …….……………………………………….…………………………. 10

2.2. INTRODUÇÃO A NEUROCIÊNCIA ……………......……………………………………………….……………... 11


2.2.1. A Neurociência e o Sistema Límbico ...…………….………………...…………………………………………... 11
2.2.2. A Neuroanatomia e as Emoções …………………….………………….………..……………………………….. 12
2.2.3. A Neuropsicologia e as Emoções …………………………………………………………………………………. 13

2.3. O SISTEMA FACS E AS SETE EMOÇÕES PRIMÁRIAS E UNIVERSAIS …….………….…….………………. 14


2.3.1. Introdução a Análise das Expressões Faciais Através do Sistema FACS …………….……………….………. 15
2.3.1.1. O Que São as Sete Emoções Primárias e Universais …....……………….……………….……………….……... 16
2.3.1.2. Codificando a ALEGRIA e Seus Estados …….…………….……………….……………….…………………... 17
2.3.1.3. Codificando a TRISTEZA e Seus Estados ………………………….……………….……………….………...… 17
2.3.1.4. Codificando o MEDO e Seus Estados …….……………….…….……………….………………………………. 17
2.3.1.5. Codificando a RAIVA e Seus Estados …….……………….…….……………….……………….……………... 17
2.3.1.6. Codificando o NOJO e Seus Estados …….……………….…….……………….……………….………………. 18
2.3.1.7. Codificando o DESPREZO e Seus Estados ….……………………….……………….……………….………… 18
2.3.1.8. Codificando a SURPRESA e Seus Estados ….……………………….……………….……………….………… 18

2.4. O PROTOCOLO SCAnR …………………………………………………………………………………………….. 19


2.4.1. Introdução a Análise Comportamental Através do Protocolo SCAnR ……………………………………….. 19
2.4.2. A Regra 3-2-7 na Detecção de Conduta Dissimulativa …………………………………………………………. 19
2.4.3. Os Seis Canais de Comunicação Não Verbal ……………………………………………………………………. 20
2.4.3.1. Alterações no Canal ESTILO INTERACIONAL (S) ……………………………………………………………. 20
2.4.3.1.1. Fluxo Verbal (S1) ………………………………………………………………………………………………. 20
2.4.3.1.2. Evasividade (S2) ………………………………………………………………………………………………... 20
2.4.3.1.3. Gerenciamento de Impressão (S3) ……………………………………………………………………………... 21
2.4.3.2. Alterações no Canal VOZ (V) ……………………………………………………………………………………. 21
2.4.3.2.1. Volume Vocal (V1) ……………………………………………………………………………………………... 21
2.4.3.2.2. Pitch Vocal (V2) ………………………………………………………………………………………………... 21
2.4.3.2.3. Tom/Timbre Vocal (V3) ………………………………………………………………………………………… 21
2.4.3.3. Alterações no Canal CONTEÚDO VERBAL (C) ……………………………………………………………….. 22
2.4.3.3.1. Tempo Verbal (C1) ……………………………………………………………………………………………... 22
2.4.3.3.2. Distanciamento (C2) …………………………………………………………………………………………… 22
2.4.3.3.3. Análise de Declaração (C3) ……………………………………………………………………………………. 22
2.4.3.3.4. Deslizamento Verbal (C4) ……………………………………………………………………………………… 23
2.4.3.4. Incongruências no Canal EXPRESSÃO FACIAL (F) …………………………………………………………… 23
2.4.3.4.1. Codificação FACS (F1) ………………………………………………………………………………………... 23
2.4.3.4.2. Duração da Expressão (F2) ……………………………………………………………………………………. 23
2.4.3.4.3. Simetria do Rosto (F3) …………………………………………………………………………………………. 23
2.4.3.4.4. Sincronia Muscular (F4) ……………………………………………………………………………………….. 23
2.4.3.4.5. Perfil da Expressão (F5) ……………………………………………………………………………………….. 24
2.4.3.5. Alterações no Canal LINGUAGEM CORPORAL (B) …………………………………………………………... 24
2.4.3.5.1. Deslizamento Gestual (B1) ……………………………………………………………………………………... 24
2.4.3.5.2. Gestos Ilustradores (B2) ……………………………………………………………………………………….. 24
2.4.3.5.3. Gestos Manipuladores (B3) ……………………………………………………………………………………. 25
2.4.3.5.4. Tensão Muscular (B4) ………………………………………………………………………………………….. 25
2.4.3.5.5. Olhos, Piscadas e Pistas Oculares (B5) …………………………………………………………………….….. 25
2.4.3.6. Alterações no Canal PSICOFISIOLOGIA (P) …………………………………………………………………… 25
2.4.3.6.1. Frequência Cardíaca (P1) ……………………………………………………………………………………... 25
2.4.3.6.2. Transpiração (P2) ……………………………………………………………………………………………… 26
2.4.3.6.3. Temperatura Corporal (P3) ……………………………………………………………………………………. 26
2.4.3.6.4. Pressão Arterial (P4) …………………………………………………………………………………………... 26
2.4.3.6.5. Respiração (P5) ………………………………………………………………………………………………... 26
2.4.3.6.6. Digestão (P6) …………………………………………………………………………………………………... 26
2.4.3.6.7. Pupilas (P7) …………………………………………………………………………………………………….. 26

2.5. OS VIESES NA ANÁLISE DE CREDIBILIDADE …………………………...……………………………………. 27


2.5.1. Efeitos Negativos dos Vieses em Uma Análise de Credibilidade ……………………………………………….. 27
2.5.2. Tipos de Vieses …………………………………………………………………………………………………….. 28

3. MATERIAIS E MÉTODOS …………………….………………………………………..…………………….…….. 28


3.1. FONTES DE PESQUISA E AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO…………………………………………………. 28

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO …………………….………………………………………..……………………… 28


4.1. DOS RESULTADOS ………………………………………………………………………………………………… 28

4.2. DA DISCUSSÃO ………………………...…………………………………………………………….…………….. 29

5. CONCLUSÃO …………………….………………………………………..…………………….…………………… 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……….………………………………………………………………………… 30


8

1. INTRODUÇÃO

A atividade de entrevista de pessoal, por ocasião das Comissões de Seleção é


normatizada pelas Normas Técnicas para as Comissões de Seleção (EB30-N-30.004, 1ª
Edição, 2012), no nº IV, do § 1º, do Art. 46 e no Apêndice G destas normas, publicada na
Portaria nº 015/DGP, de 6 de fevereiro de 2012 (Separata ao BE Nº 7/2012), onde a entrevista
é a primeira oportunidade que a Força avalia seus candidatos a incorporação quanto ao
possível Parecer “Suspeito”, quando evidenciado no Teste de Seleção Inicial (TSI), sendo
avaliados durante a entrevista no decorrer do processo seletivo, quanto ao aspecto moral e
expressão oral, no levantamento da presença de traços de caráter relacionados com problemas
sociais, levantar atributos e sugerir uma pré-qualificação.
Nesse ponto, a atividade de entrevista delega ao entrevistador a tarefa de detectar
comportamentos e desvios de caráter incompatíveis com a disciplina militar e problemas
sociais durante sua realização, o que garante uma relativa acuidade ao trabalho executado.
Porém por vezes o entrevistador não consegue perceber traços sugestivos de
conduta dissimulativa no entrevistado, incorporando cidadãos possuidores de caráter e
conduta duvidosos ou mesmo criminosos, como eventualmente ocorrem nas diversas regiões
do país, gerando potenciais óbices a segurança orgânica de uma organização militar e a
disciplina da tropa. A incorporação de pessoal de caráter incompatível com a disciplina
militar se dá, dentre outras hipóteses, pela falta de técnicas de entrevista de metodologia e
eficácia cientificamente comprovadas durante a entrevista, onde o entrevistador acaba por
empregar seu conhecimento próprio, de capacidade limitada e atrelada a sua personalidade. O
próprio entrevistador tende, por vezes, a gerar falsas percepções de julgamento do mérito que
podem facilmente induzi-lo ao erro de diagnóstico, seja por presunção, ou pela habilidade em
dissimular do entrevistado ou ainda pela falta de atenção do entrevistador as pistas verbais e
não verbais que o entrevistado efetivamente demonstre pela paralinguagem, dentre outras.
Em face à relevância da atividade de entrevista, objetivando a seleção e
incorporação de pessoal possuidor de pendor e caráter alinhados às peculiaridades da
atividade militar, o trabalho buscará responder à seguinte pergunta:
Como otimizar a eficácia do entrevistador pela melhoria de sua acurácia e
assertividade na detecção e análise da conduta dissimulativa (mentira) no candidato, quando
este vier a incorrer, durante as entrevistas nas Comissões de seleção e admissão de pessoal,
através do conhecimento e da utilização dos mais modernos protocolos científicos de
entrevista cognitiva e dos sistemas e protocolos de investigação da análise de credibilidade?
9

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. CONCEITUAÇÃO DA MENTIRA (CONDUTA DISSIMULATIVA)


Conforme CARVALHO, Anderson (2020, p. 7) a mentira, é aqui denominada de
“conduta dissimulativa, por sua derivação do latim DISSIMULARE, ou o mesmo que fingir,
de onde DIS significa “para fora” e SIMUL significa “parecido, semelhante”, parecer real
quando não o é”. É o ato racional de enganar, expresso no sentido de lograr êxito ante o
prejuízo alheio, dissimular a verdade tirando vantagem do que é dito. Ainda, segundo Ekman
(2021, Paul Ekman Group) a mentira é: “um ato no qual alguém faz uma escolha deliberada
de enganar outra pessoa sem dar uma notificação prévia dessa intenção”. Mentiras destroem
relações interpessoais, causando prejuízos nas relações de trabalho e nos relacionamentos
afetivos, na esfera familiar.
Não obstante, dentro dos princípios basilares do Exército Brasileiro da hierarquia
e da disciplina, o ato de “faltar com a verdade” ocupa lugar de destaque dentre as mais graves
transgressões disciplinares do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), disponível em:
Regulamento Disciplinar do Exército;(número 1, do Apêndice I, do RDE), não se furtando a
caracterização do cometimento de crime se cometida em algumas condições específicas,
dispostas no Código Penal Miliar (CPM), disponível em: Código Penal Militar; Decreto-Lei
Nº 1.001, de 21 de outubro de 1969.; (Art. 312 e Art. 346).

2.1.1. Os Porquês da Mentira


Toda conduta dissimulativa tem origem na “necessidade” de omitir, alterar,
falsificar, fabricar ou negar informação relevante ao contexto em que é inserida. Os principais
motivadores da mentira são para evitar uma punição, para ser recompensado, por
autoproteção ou para proteger um amigo, para obter a admiração dos demais, para evitar
constrangimentos, para manter a privacidade e/ou para obter poder perante os demais.
CARVALHO, Anderson (2020).
Não se pode caracterizar com que frequência as pessoas mentem. Existem vários
estudos com diferentes resultados nessa temática, como afirma Feldman, Robert (2002, p.163-
170), que “pessoas contam em média de duas a três mentiras em dez minutos durante uma
interação”. Segundo afirma DePaulo, Bella (2006, p.214-234), “o ser humano tende a mentir
até 2 vezes por dia”. Em observância a questão conclui-se que o ato de mentir é pontual,
dependendo de variantes que vão desde as possíveis motivações emocionais até questões
psicossociais pessoais (mitomaníacos).
10

2.1.2. Verdades e Mentiras Acerca da Mentira


Os vários ditados conhecidos sobre a dissimulação tem sua origem na
desinformação em relação aos verdadeiros critérios de análise da mentira e a ciência progride
em refutar antigas proposições acerca da mentira. Dos mais conhecidos mitos acerca da
mentira ante a explicação científica sobre seu equívoco excencial, são citados:
a) quem mente desvia o olhar, preconiza como verdade que o mentiroso não
encara sua vítima enquanto mente, por provavelmente se sentir envergonhado.
Vrij, Aldert (2008, p.42) entende que:
“O grande potencial comunicativo do olhar significa que as pessoas têm
prática em usar e, portanto, controlar o olhar. Uma vez que a visão comum é
que os mentirosos desviam o olhar, mentirosos, portanto, provavelmente
tentarão evitar a aversão ao olhar, e eles provavelmente serão razoavelmente
bem-sucedidos ao fazer isso.”

Na realidade o mentiroso procura olhar fixamente para seu interlocutor pois


precisa saber se a mentira está sendo aceita enquanto é contada (Facial Feedback);
b) Síndrome do Nariz de Pinóquio: Preconiza como verdade que o mentiroso
coça o nariz enquanto mente. A ciência comprova que ao mentir experimentamos uma alta
carga emocional hormonal composta por catecolaminas, cortisol e noradrenalinas que,
despejados na corrente sanguínea geram aumento do fluxo sanguíneo, estresse e alterações
fisiológicas, cujo nariz coça, pela irrigação sanguínea. Porém qualquer carga emocional pode
gerar essas alterações como o nervosismo e a excitação. Consequentemente coçar o nariz é
mais caracterizado como gesto pacificador e pode ser interpretado como incongruente quando
inserido num conjunto de sinais, porém nunca isoladamente; e
c) Gesto da Mentira: Preconiza como verdade que o mentiroso faz este ou aquele
gesto específico enquanto mente. Coçar o nariz, tocar a cabeça, o cabelo, a orelha, cotovelo
ou qualquer parte do corpo isoladamente não é fator de detecção de conduta dissimulativa.
Lansley, Cliff, (2017, p. 91), explica que esses gestos chamados manipuladores:

“Descrevem as ações quando uma parte do corpo toca ou brinca com outra
parte do corpo. Ou pode ser que alguém mexa em um objeto como uma caneta,
botão, fios de cabelo ou joias. Isso pode ser devido ao relaxamento ou
nervosismo e é de uso limitado na análise do comportamento, a menos que
vejamos aumentos e diminuições que não podem ser explicados pela Narrativa,
Linha de Base ou Contexto”.

Não existe até o momento o conhecimento na comunidade científica de um sinal


corporal isolado característico da mentira.
11

O mentiroso, por conhecer a verdade, ante o fato de ter que omiti-la, alterá-la ou
fabricar mentiras ao seu redor, sente alta carga cognitiva para lidar ao mesmo tempo com a
omissão da verdade, com o processo gerador da mentira e suas próprias emoções. Esse
aumento significativo na cognição permite que vazamentos inconscientes e involuntários da
verdade surjam em sinais não verbais (clusters) e incongruentes com o contexto, como
negações com a cabeça, auto-toques, movimentos de ombros (shrug), expressões faciais fora
de contexto, pela tentativa de supressão ou repressão das emoções experienciadas.

2.2. INTRODUÇÃO A NEUROCIÊNCIA


A curiosidade humana em relação a função do cérebro, do sistema nervoso central
e sua ciência, sabe-se hoje, é bem antiga. Remontam cirurgias realizadas a mais de 4.000
anos, pelas descobertas arqueológicas de crânios fósseis contendo acessos cirúrgicos com
bordas calcificadas, denotando recuperação óssea e a consequente sobrevida do indivíduo por
tempo considerável após a incisão (vide Ilustração 2.1, Apêndice C, p. 2). Atualmente o
avanço do conhecimento científico em neurociência é facilitado graças ao advento
tecnológico, a exemplo da ressonância magnética funcional que registra através de um sistema
de cores a maior ou menor atividade cerebral nas diversas partes do cérebro em tempo real
(vide Ilustração 2.2, Apêndice C, p. 2). Dos ramos da neurociência afetos ao estudo da
linguagem corporal elencam-se a neuroanatomia que estuda a morfologia do sistema nervoso
e suas implicações e a neuropsicologia que estuda o processamento das emoções e sua
interação com o comportamento humano.

2.2.1. A Neurociência e o Sistema Límbico


O mecanismo da emoção é a execução de um programa complexo de percepções
sensoriais e alterações corporais automáticas e inconscientes, com reações motoras, somáticas
e viscerais características para cada emoção, intensas e repentinas a exemplo das reações a um
perigo iminente com fulcro na garantia da sobrevivência do indivíduo. Para que possamos
entender o processo emocional humano é necessário entendermos todo conjunto de estruturas
do encéfalo responsáveis pelas respostas emocionais e suas implicações. O sistema límbico,
também conhecido como cérebro emocional, situado entre o córtex e o cérebro reptiliano, é
responsável pelas respostas emocionais, pelo comportamento e pela memória emocional. Em
seu livro, DARWIN, Charles (1872), estudou e comparou expressões emocionais entre
humanos e diferentes animais. Várias contribuições científicas surgiram posteriormente a fim
de trazer luz a fisiologia das emoções, contribuindo para os atuais conhecimentos sobre o
12

sistema límbico. Em 1937, em seus estudos o cientista James Papez relacionou as estruturas
do sistema nervoso central e as emoções ao perceber que essas estruturas eram conectadas
entre si formando um circuito fechado, conhecido como o Circuito de Papez (vide Ilustração
2.2.1, Apêndice C, p. 3). Conforme Favacho, Elma (2015), posteriormente o Circuito de
Papez foi reformulado, relacionando-se com a memória emocional enquanto outras estruturas
foram mais relacionadas as emoções como o tálamo que integra os sistemas sensorial e
motor, o hipotálamo que regula funções como sono, libido, apetite e temperatura corporal, o
hipocampo que é responsável pelo armazenamento da memória, o giro do cíngulo
responsável pelos controles visual, auditivo e alterações emocionais, o córtex pré-frontal que
mesmo não fazendo parte do sistema límbico possui conexões que estão diretamente ligadas a
amígdala e ao tálamo e a amígdala responsável pela percepção semiconsciente, padronização
de comportamentos apropriados a ocasião, relacionada a memória emocional e aos estados
emocionais do medo consoantes a resposta de “congelar”, “fugir” ou “lutar”, cumprindo o
papel principal na função límbica (vide Ilustração 2.2.2 e Ilustração 2.2.3, Apêndice C, p. 3).

2.2.2. A Neuroanatomia e as Emoções.


A neuroanatomia guarda estrita relação com o estudo das emoções através do
sétimo par craniano (NC VII), par de nervos faciais responsável em maior escala, dentre
outras, pelas contrações musculares presentes na mímica facial como reações espontâneas a
estímulos emocionais do sistema límbico e em menor escala pela ação sensitiva (nervo
intermediário) relativa aos sentidos de audição e paladar (vide Tabela 2.2, Apêndice C, p. 3).
Segundo Nobeschi, Leandro (2020), (vide Ilustração 2.2.4, Apêndice C, p. 4):
“Anatomicamente o NC VII deixa a Ponte e entra no meato acústico interno,
atravessa a orelha média, emitido um ramo denominado nervo corda do
tímpano (que se liga ao nervo lingual do trigêmeo) e suprindo os dois terços
anteriores da língua (inervação gustativa). O NC VII deixa o crânio pelo
forame estilomastoideo, emite ramos para os músculos estilo-hióideo e o ventre
posterior do músculo digástrico.  Atravessa o parênquima da glândula parótida
(sem inervá-la), e na margem anterior dessa glândula se divide em cinco ramos
terminais, que se distribuem para os músculos da expressão facial (incluindo o
músculo platisma do pescoço). Os ramos terminais do NC VII são: temporais,
zigomáticos, bucais, marginal da mandíbula e cervical. O NC VII apresenta
componentes autônomos parassimpáticos que suprem as glândulas
submandibulares, sublinguais e lacrimais”.

Nobeschi, Leandro (2020)

Disponível em: Nervos cranianos – Anatomia papel e caneta


(anatomia-papel-e-caneta.com.
13

2.2.3. A Neuropsicologia e as Emoções


A neuropsicologia delineia o conceito dos mecanismos de formação do estado
emocional humano em estrita relação com os conceitos da Linha do Tempo das emoções de
Paul Ekman (vide Ilustração 2.2.5, Apêndice C, p. 4) e o Atlas das Emoções, de Paul Ekman
(vide Anexo A) e suas implicações. Pelo pressuposto, as emoções se processam através de um
caminho percorrido no encéfalo, que pode ser entendido como:
a) a PRÉ-CONDIÇÃO: se define pela relação entre a experiência pregressa do
indivíduo (BASE DE DADOS) e o que venha a anteceder um evento.
Ex: Você sabe que precisa ir a uma reunião importante (PRÉ-CONDIÇÃO).
b) o EVENTO: é um estímulo, uma situação que desencadeia o processo
emocional.
Ex: No caminho você é barrado por um trânsito intenso (EVENTO) que vai
invariavelmente te atrasar (GATILHO) e você se estressa (PRÉ-CONDIÇÃO + EVENTO =
GATILHO).
c) o GATILHO: regido pelas amígdalas, de caráter universal ou cultural, é o
“sequestro emocional” da informação pelas amígdalas, que acionam uma emoção ante a
relação entre a pré-condição e o evento.
Ex: Na iminência do atraso pelo trânsito parado (GATILHO) você se irrita. Isso
ocorre porque as amígdalas “buscarão” automaticamente por informações similares na base de
dados (HIPOCAMPO) e as “compararão” com o (EVENTO) atual, sinalizando o risco,
desencadeando a emoção de RAIVA (PRÉ-CONDIÇÃO + EVENTO + GATILHO =
EMOÇÃO).
d) a BASE DE DADOS: está no hipocampo, é o iceberg emocional, onde estão as
experiências emocionais, os aprendizados e as crenças pessoais. Emoções externadas nas
micro expressões faciais e na linguagem corporal são a ponta desse iceberg vindo a tona,
evidenciadas no processo emocional e são os pontos mais importantes de uma análise. Em
todo ser humano a emoção é ativada pelo seu gatilho individual correspondente, consoante a
pré-condição e o evento. Após o desencadear emocional entra em ação o PROCESSO DE
FILTRAGEM SELETIVA, de caráter mais cognitivo que emocional, onde os
SENTIMENTOS e EMOÇÕES SOCIAIS são criados e por fim, toda a experiência emocional
gerará uma PÓS CONDIÇÃO onde, quer seja boa ou ruim, será armazenada novamente na
BASE DE DADOS, para ser recrutada se for o caso.
14

2.3. O SISTEMA FACS E AS SETE EMOÇÕES PRIMÁRIAS E UNIVERSAIS


O Sistema FACS, Sistema de Codificação da Ação Facial, segundo Ekman &
Friesen & Hager (2002), correlaciona as emoções evidenciadas na face à detecção de conduta
dissimulativa e análise de credibilidade quando não há congruência entre o que o entrevistado
narra (processo cognitivo racional que pode ser manipulado) e o que suas expressões faciais
mostram (processo emocional involuntário, impossível de ser manipulado).
O sistema teve início com a pesquisa realizada pelo Dr. Paul Ekman, na década de
1970, sendo apresentado por Ekman & Friesen (1978), com a Teoria da Universalidade das
Emoções. Revisada e atualizada por Ekman & Friesen & Hager (2002), Ekman prova através
do compilado de suas pesquisas, realizadas em diversas culturas em diferentes partes do
mundo, inclusive no Brasil e, em particular na tribo Fore, uma sociedade tribal da Papua Nova
Guiné, até então “não contaminada” pela cultura ocidental, comprovando a existência das 7
(sete) emoções primárias e universais de ALEGRIA, TRISTEZA, MEDO, RAIVA, NOJO,
DESPREZO e SURPRESA, expressas sempre através do mesmo display facial.
Pelo FACS, dos 141 músculos existentes na face, foram catalogadas 43 unidades
de ação, Action Units ou AUs, de interesse às sete emoções primárias e universais, compostas
por um display facial de movimento muscular específico para cada emoção, catalogadas no
EMFACS 8 conforme sua prototipagem (vide Apêndice B). Do processo desencadeado pelo
estímulo externo os músculos faciais reagem automaticamente a emoção gerada na amígdala
se contraindo de forma automática, involuntária e homogênea durante a experimentação da
emoção através da enervação do NC VII que liga diretamente o sistema límbico a face. Essas
reações involuntárias são o cerne da codificação das sete emoções básicas as quais, pelos
preceitos da filogênese, são inerentes a todo ser humano independentemente de sua etnia ou
cultura correspondentes, onde todo ser humano, independente da cultura a qual é inserido,
reage a um estímulo com a mesma prototipagem relativa as sete emoções primárias, salvo se
portador de um distúrbio físico que o impeça de realizar tais movimentos.
Estudos como os de Matsumoto & Frank & Hwang (2013, p. 30) comprovam que:
“Os atletas cegos vieram de 23 culturas. Se indivíduos com cegueira congênita
de países e culturas muito diferentes produzem exatamente as mesmas
configurações faciais de emoção nas mesmas situações emocionalmente
evocativas que atletas que enxergam, esta é uma forte evidência da base
biológica de sua origem porque esses indivíduos não poderiam ter aprendido a
produzir essas expressões através da observação visual”.

Exceção se faz a expressão da emoção de desprezo, considerada pela maioria dos


teóricos como expressão facial social, aprendida durante a vida.
15

2.3.1. Introdução a Análise das Expressões Faciais Através do Sistema FACS


O FACS, como efetiva ferramenta de leitura facial emocional tem a função de
identificar e codificar os movimentos faciais durante uma interação, através da leitura do
movimento taxonômico involuntário provocado pelas unidades de ação (AUs) empregadas,
em correlação a uma escala de evidência e pontuação de intensidade, de escala A, B, C, D ou
E (vide Tabela 2.3, Apêndice C, p. 5) definindo micro expressões faciais como expressões de
intensidade A e B e como macro expressões faciais expressões de intensidade C, D e E.
Durante a entrevista, com base no EMFACS/8 o entrevistador treinado marca as
AUs dos movimentos faciais incongruentes com o contexto evidenciados na face do
entrevistado, codificando-os pela prototipagem característica e revelando-as ainda que o
mesmo tente ocultá-las, por supressão ou repressão. AUs características de uma determinada
emoção quanto a sua prototipagem, quando congruentes com o contexto, especificam
genuinamente a emoção experimentada. (vide Ilustração 2.3.1, Apêndice C, p. 5).
As micro expressões são movimentos involuntários e inconscientes da mímica
facial, muito rápidos, durando entre 1/12 avos de segundo a 1/2 segundo, muito sutis a
observação, como resultado de vazamentos emocionais por tentativa de supressão ou
repressão de uma emoção experienciada. As micro expressões foram descobertas pela
investigação realizada pelos psicólogos Haggard, Ernest & Isaacs, Kenneth (1966, p. 154-
155), quando foram percebidas enquanto eram analisados os vídeos gravados das sessões de
psicoterapia dos internos da ala de um hospital psiquiátrico, na tentativa de encontrar algum
sinal não verbal que pudesse evidenciar as reais intenções desses pacientes na comunicação
paciente/terapeuta. Da observação dos vídeos a 1/6 de sua velocidade normal e por vezes
quadro a quadro os pesquisadores conseguiram observar esses sutis movimentos na face o que
definiram como micromomentary expressions (MMEs) ou Micro Expressões Momentâneas.
Macro expressões faciais são expressões claras e duradouras na face, visíveis
mesmo a maiores distâncias (vide Ilustração 2.3.2, Apêndice C, p. 5). São expressões de
análise de baixa credibilidade tendo em vista serem expressões de exibição deliberada e
voluntária, podendo ser facilmente controladas e simuladas. São caracterizadas como
expressões falsas e sem teor de credibilidade quando, no contexto de uma análise não
cumprirem com os cinco critérios de avaliação especificados quanto:
a) ao Tempo de Duração (Timing), onde as macro expressões verdadeiras duram
entre um segundo e meio a 3 segundos e macro expressões falsas perduram na face por tempo
maior que 4 (quatro) segundos, sinalizando manipulação muscular voluntária relativa a
emoção exibida, no intuito de mascarar a emoção verdadeira ou encenar uma emoção;
16

b) a Sincronia, onde expressões verdadeiras são acionadas em sincronia,


simultaneamente nas partes superior e inferior da face, pois o NC VII rege seu estímulo
emocional em toda a face ao esmo tempo, segundo sua prototipagem característica;
c) ao Perfil da Emoção (Onset / Apex / Offset), relacionado ao movimento gradual
e homogêneo do aumento e da diminuição de intensidade da expressão. Seu aumento (onset),
seu ápice ou clímax (Apex) e o seu declínio (Offset) devem ser proporcionais quando a
expressão da emoção exibida é verdadeira;
d) ao Protótipo da Emoção, referindo-se as AUs expressas na face, variando em
intensidade de acordo com o contexto. De acordo com cada emoção, no protótipo existem
AUs mais confiáveis do que outras por se caracterizarem como de difícil ação voluntária sem
que exista a experimentação da emoção ou, de difícil inibição no caso da ocorrência da
emoção estimulante. São as unidades de ação (AUs) 1, 6, 7, 15, 20, 23 e AD 29. Por outro
lado, a ação de AUs que não fazem parte da prototipagem podem se caracterizar como uma
ação voluntária de tentar controlar ou mascarar uma emoção experimentada; e
e) a Simetria, é a simetria muscular de ação entre os lados direito e esquerdo da
face. Expressões faciais devem ser ativadas da mesma forma e ao mesmo tempo em ambos os
lados da face. Expressões verdadeiras empregam sempre as mesmas AUs, na mesma
intensidade e no mesmo tempo. Sinais assimétricos como diferentes intensidades ou duração
da ação muscular maior em um lado do que em outro são uma tentativa de dissimulação, logo,
uma expressão falsa. Uma observação se faz às micro expressões no contexto da manipulação
facial, onde há interesse em mascarar ou neutralizar a emoção, podendo normalmente ser
exibidas expressões assimétricas devido a ação de outras AUs.
Importante entender que uma micro expressão somente poderá revelar o que o
entrevistado esteja sentindo e nunca o que esteja pensando. Se nenhuma expressão é exibida
não significa que o entrevistado esteja sendo honesto.

2.3.1.1. O Que São as Sete Emoções Primárias e Universais


Conforme Matsumoto & Frank & Hwang (2013, p. 15), as emoções são:
“Um dos sinais mais importantes que o rosto exibe é a emoção. Ser capaz de ler
os estados emocionais da pessoa com quem você está falando é uma habilidade
incrível que pode ajudar qualquer pessoa cuja profissão exija interação face a
face. Ser capaz de ler as emoções dos outros pode lhe dar uma visão não
apenas de seus estados emocionais, mas de suas intenções, motivações,
personalidades, confiabilidade e credibilidade. As emoções podem nos informar
sobre intenções maliciosas, informações ocultas ou fraude absoluta.”
17

Nesse ínterim, as expressões faciais das sete emoções primárias e universais de


alegria, tristeza, medo, raiva, nojo, desprezo e surpresa, segundo seus estados emocionais nos
permitem mensurar e analisar, pela leitura e codificação de sua prototipagem universal em
relação a narrativa do entrevistado, suas tentativas de dissimulação, quando ocorrerem.

2.3.1.2. Codificando a ALEGRIA e Seus Estados


É a expressão do movimento facial ascendente, que “ilumina” a face. É a
expressão mais comumente observada na face, tanto a alegria genuína como ao chamado
sorriso social, sendo a expressão mais utilizada como máscara social. Seus estados mentais,
relacionados a intensidade são explicados no Apêndice A e sua codificação é expressa na
Ilustração 1 do Apêndice B, página 2, respectivamente. Seu gatilho universal é o REGOZIJO.
É expressa na face sempre que algo agradável acontece, quando vencemos uma disputa, temos
boas lembranças, nos contagiamos com a alegria alheia, dentre outros.

2.3.1.3. Codificando a TRISTEZA e Seus Estados


É a expressão emocional relacionada a movimentos descendentes da face, à queda
do padrão facial. Seus estados mentais, relacionados a intensidade são explicados no
Apêndice A e sua codificação é expressa na Ilustração 2 do Apêndice B, página 3,
respectivamente. Seu gatilho universal é a PERDA (pessoal, moral ou material). Sentimos
tristeza quando, dentre outros, perdemos um ente querido, quando perdemos uma
oportunidade, quando nos arrependemos de um erro cometido ou quando nos contagiamos
com a tristeza alheia, por simpatia.

2.3.1.4. Codificando o MEDO e Seus Estados


É a expressão característica da perplexidade. Seus estados mentais, relacionados a
intensidade são explicados no Apêndice A e sua codificação é expressa na Ilustração 3 do
Apêndice B, página 4, respectivamente. Seu gatilho universal é a AMEAÇA (moral ou física).
Sentimos medo quando somos expostos a algo que nos ameace, física ou moralmente, quando
somos atacados por um predador ou quando algo particular e que nos cause desconforto esteja
na iminência de se tornar público, dentre outros exemplos.

2.3.1.5. Codificando a RAIVA e Seus Estados


É a expressão característica da hostilidade. Seus estados mentais, relacionados a
intensidade são explicados no Apêndice A e sua codificação é expressa na Ilustração 4 do
18

Apêndice B, página 5, respectivamente. Seu gatilho universal é o IMPEDIMENTO. Sentimos


raiva quando existe algo que venha a impedir nosso caminho, tudo que venha a nos impedir
de prosseguir na ação em curso, por exemplo quando ao dirigirmos e outro motorista corta
nossa frente, fazendo com que tenhamos que frear o carro repentinamente.

2.3.1.6. Codificando o NOJO e Seus Estados


É a expressão característica da repulsa, da incompatibilidade. Seus estados
mentais, relacionados a intensidade são explicados no Apêndice A e sua codificação é
expressa na Ilustração 5 do Apêndice B, página 6, respectivamente. Seu gatilho universal é a
NÃO CONTAMINAÇÃO (SOCIAL e/ou MATERIAL). Sentimos nojo quando precisamos
nos afastar de algo venenoso, contaminado, que cremos que possa nos causar dano, físico ou
social. Fisicamente, sangue, vísceras e fluidos corporais, comida estragada, dentre outros, nos
causam nojo. Socialmente, atitudes dissimuladas, obscenas e indiscretas de outras pessoas,
dentre outros, nos causam nojo.

2.3.1.7. Codificando o DESPREZO e Seus Estados


É a expressão característica da depreciação material, pessoal e social. Seus estados
mentais, relacionados a intensidade são explicados no Apêndice A e sua codificação é
expressa na Ilustração 6 do Apêndice B, página 8, respectivamente. Seu gatilho universal é a
SENSAÇÃO DE SUPERIORIDADE. Desprezamos tudo aquilo que julgamos ser inferior,
material, pessoal e socialmente! É uma emoção negativa quando associada a status social e
atrelada a preconceitos, sendo considerada como emoção social, aprendida por convivência.

2.3.1.8. Codificando a SURPRESA e Seus Estados


É a expressão característica do espanto, do repentino, do súbito. Não possui estado
mental pois sua experimentação é sempre intensa e uniforme. Sua codificação é expressa na
Ilustração 7 do Apêndice B, página 9. É predecessora de outras emoções, podendo se ligar a
todas as demais, porém particularmente ao MEDO, a qual percebe-se a similaridade de
prototipagem. Seu gatilho universal é o INESPERADO. Experimentamos surpresa quando
algo inesperado acontece, quando entramos em “estado de alerta”, quando nos surpreendemos
de alguma forma. Com contrações mais suaves, seu tempo de duração (Onset, Apex e Offset)
genuíno é mais rápido (no máximo 2 segundos) que a expressão da emoção de MEDO.
19

2.4. O PROTOCOLO SCAnR


O Protocolo SCAnR, Six Channel Analysis in Real Time, é o primeiro protocolo
de análise de credibilidade desenvolvido por Cliff Lansley et al., pesquisador pela The
Emotional Intelligence Academy (EIA). É atualmente um dos protocolos de maior respaldo
perante a comunidade científica em análise multicanal de detecção da dissimulação em tempo
real, através dos seis canais de comunicação não verbal (Estilo Interacional, Voz, Conteúdo
Verbal, Expressão Facial, Linguagem Corporal e Psicofisiologia). Ekman & O’Sullivan &
Frank, (1999 p. 265), afirmam que “qualquer pessoa pode se tornar um detector do engano”.
O conhecimento de análise da linguagem corporal se traduz pela observação e analise do
comportamento intuitivo, emocional e reativo das pessoas. Como protocolo de análise de
credibilidade do discurso o SCAn-R se adéqua as atividades de entrevista nas comissões de
seleção e admissão de pessoal.

2.4.1. Introdução a Análise Comportamental Através do Protocolo SCAnR


Dos mais de cinquenta artigos científicos que embasam a metodologia do
Protocolo SCAnR, todos citam o conceito da Linha de Base. A linha de base é o conjunto de
reações corporais identificáveis no comportamento do entrevistado num contexto neutro a fim
de traçar seu perfil comportamental de honestidade. É o comportamento padrão, natural e
espontâneo do entrevistado, onde ele é honesto em suas atitudes mais comuns, se sente seguro
e se expressa livremente através da paralinguagem, demonstrando reações naturais e
congruentes com o contexto, com respostas verdadeiras, previamente conhecidas.
Da mesma forma observa-se um ponto de inflexão, proeminente e característico da
conduta dissimulativa, quando essa linha de base é quebrada pelo entrevistado ao ser
submetido ao aumento de carga cognitiva. Dessa quebra na linha de base, surgem um ou mais
Pontos de Interesse (PIn’s) observados na sua paralinguagem em um ou mais dos seis canais
de comunicação, discordantes com o que está sendo verbalizado, não se encaixando no
contexto. Perfazendo 27, esses PIn’s estão divididos e codificados dentro dos seis canais não
verbais de comunicação.

2.4.2. A Regra 3-2-7 na Detecção de Conduta Dissimulativa


O que seguramente comprova a evidência de uma conduta dissimulativa é o que
resta da análise do conjunto dos 27 sinais verbais e não verbais, inconscientes e involuntários,
ligados a estados emocionais que caracterizam incongruência quando comparados com a
narrativa apresentada, em razão do contexto e do tempo, após o estímulo.
20

Conforme Lansley, Cliff (2017, p. 40), foi estabelecida a Regra 3-2-7 de detecção
de conduta dissimulativa. Pela Regra 3-2-7 deve haver a ocorrência de pelo menos 3 (três)
pontos de interesse, em até 2 (dois) canais de comunicação diferentes, dentro do tempo
máximo de 7 (sete) segundos após um estímulo emocional para que se possa considerar uma
possível incongruência, sugestiva de conduta dissimulativa do entrevistado, conforme o
contexto.

2.4.3. Os Seis Canais de Comunicação Não Verbal


Abaixo estão descritos os seis canais de comunicação não verbal, Estilo
Interacional, Voz, Conteúdo Verbal, Expressão Facial, Linguagem Corporal e Psicofisiologia
e seus respectivos pontos de interesse:

2.4.3.1. Alterações no Canal ESTILO INTERACIONAL (S)


O Estilo Interacional destaca a forma como falamos palavras e frases e suas
implicações ante um estímulo. A conduta dissimulativa está ligada ao estado emocional
requerendo maior esforço cognitivo para sua perfeita execução, onde o mentiroso pode deixar
vazar informações enquanto fala, por não conseguir controlar seu comportamento, dado o
nível de excitação.

2.4.3.1.1. Fluxo Verbal (S1)


Ocorre quando existem perturbações repentinas de fluxo no discurso, como pausas,
agregadores verbais (erm, hum, hã, éeeeee), gaguejos, hesitações e falsos começos (Então…,
Sim, Claro, etc…) além de mudanças repentinas de velocidade e ritmo na fala.

2.4.3.1.2. Evasividade (S2)


Ocorre quando se tenta desassociar-se da mentira ou do contexto, podendo negar
informações se essas comprometem, não respondendo diretamente quando confrontado com
algo. São táticas para desvencilhar-se de opinar ou responder diretamente, se utilizando de
uma suposta dúvida para uma pergunta simples, responder com qualificadores, mostrar
comprometimento limitado ou negar comprometimento, evitar o confronto direto, atacar o
questionador ou a pergunta com outra pergunta, ou ainda por omissão, fugindo do tema
principal, divagando questões desconexas ou mudando de assunto ao levar a atenção para algo
que lhe é favorável, ignorando o ponto chave da questão.
21

2.4.3.1.3. Gerenciamento de Impressão (S3)


O gerenciamento da impressão está ligado a imagem que se quer que ou outros
vejam, reforçando a credibilidade do argumento com uma apelação exagerada. Enquanto
mente e os fatos não estão a seu favor, o mentiroso tenta canalizar esforços em agregadores de
impressão para mostrar ao interlocutor a imagem do que se quer passar por verdadeiro quando
não o é. Constituem reforços de imagem de honestidade baseados em cargo, posição social,
crenças e valores morais, apelo religioso, apelo ao caráter pessoal, apelo a credibilidade, apelo
a representação coletiva, apelo a polidez na educação. Ainda, itens de vestuário (uniformes,
roupa branca), itens de mão (Bíblia, Constituição, livros escolares) e adornos (medalhas,
plaquetas militares), quando utilizados para causar boa impressão, sendo inapropriados ou
exagerados com o contexto são gerenciadores de impressão.

2.4.3.2. Alterações no Canal VOZ (V)


A voz é a melodia da fala, suas nuances e tons, ouvida em qualquer idioma. O
som da voz está ligada as eventuais alterações hormonais e emocionais, tanto pelo
tensionamento das cordas vocais quanto ao maior ou menor volume e velocidade de ar
expelido pelos pulmões devido ao nível de hormônios como a adrenalina presentes na
corrente sanguínea. O que se leva em consideração aqui é a quebra da linha de base vocal em
seu volume, seu pitch vocal e seu tom.

2.4.3.2.1. Volume Vocal (V1)


É a alteração repentina na intensidade do som do que está sendo verbalizado. O
entrevistado está falando num volume normal, congruente com sua linha de base e num dado
momento ele fala mais alto ou mais baixo (vide Tabela 2.4.2, Apêndice C, p. 6).

2.4.3.2.2. Pitch Vocal (V2)


É a alteração repentina na frequência de vibração (nota musical) do que está sendo
verbalizado. O entrevistado está falando normalmente, congruente com sua linha de base e
num dado momento ele fala mais grave ou mais agudo (vide Tabela 2.4.2, Apêndice C, p. 6).

2.4.3.2.3. Tom Vocal (V3)


É a alteração repentina no timbre ou a qualidade vocal quando se está verbalizando. É
a mudança do tom de voz para mais suave ou mais ríspido ou qualquer alteração na voz não
considerada V1 ou V2 (vide Tabela 2.4.3, Apêndice C, p. 6).
22

2.4.3.3. Alterações no Canal CONTEÚDO VERBAL (C)


As pessoas conseguem facilmente controlar e manipular o conteúdo verbal tendo vista
ser um processo cognitivo e consciente. Escolher dizer ou não algo, é perfeitamente
manipulável. Lansley & Archer (2015, p. 238), concluíram haver três PIn’s indicadores de
possível conduta dissimulativa no canal C, conforme as pistas a seguir descritas.

2.4.3.3.1. Tempo Verbal (C1)


Caracteriza-se pelas alterações de tempo verbal durante o discurso em relação ao
contexto. Exemplos: - Estamos todos ansiosos para saber. Tomara que ela possa
ENCONTRAR. (não seria ser encontrada ou se encontrar).

2.4.3.3.2. Distanciamento (C2)


Caracteriza-se pela desassociação com o ato e/ou o contexto, pela intenção de se
colocar numa posição de afastamento em relação a autoria. São consideradas substituições de
pronomes pessoais, o uso de recursos provisórios, substituições do sujeito e do substantivo
por pronomes na terceira pessoa, uso de termos emocionais e linguagem afetiva
(eufemismos), o uso de preocupações impróprias em relação ao contexto, palavras
eliminatórias e outros marcadores de modalidade epistêmica.

2.4.3.3.3. Análise de Declaração (C3)


Conforme Vrij, (2005, p. 3–41), os critérios de conteúdo C3 fazem uso de uma
versão adaptada de análise de conteúdo baseada nos critérios CBCA. Embora o CBCA seja
usado em tribunais europeus, na avaliação da credibilidade em transcrições de narrativas de
abuso sexual de crianças, tem sido usado para avaliar relatos adultos relacionados a outras
questões além do abuso sexual (Porter e Yuille 1996; e Vrig et al., 2000). Alguns dos critérios
do CBCA em combinação com os critérios de monitoramento da realidade são alterados no
Protocolo SCAnR, focando em ocasiões em que o conteúdo da história que o entrevistado
relata possuam: (I) carência de coerência (discrepância narrativa), (II) carência de relato
espontâneo (excesso de linearidade, detalhes e tempo cronologicamente estruturados, relatos
sugestivos de ensaio), (III) detalhamento inadequado, especialmente no núcleo crítico da
história (relatos vazios, de associações relacionadas e detalhes supérfluos, riqueza de detalhes
no prólogo, que faltam no evento principal ou no epílogo), (IV) vagueza contextual (queda na
quantidade de informações contextuais relativas ao evento principal), (V) falta de descrições,
de interações, conversas literais, narrativas de conversas de outras pessoas, uso de metáforas,
23

(VI) falta de admissões de falha de memória (recuperação/autocorreção espontânea são


coerentes em relatos verdadeiros) e autodepreciação, (VII) falta de relatos contendo
declarações de estados mentais e emocionais (de si mesmo e de outras pessoas).

2.4.3.3.4. Deslizamento Verbal (C4)


O critério C4 é comumente conhecido como o ato falho ou o escorregar de língua,
por onde escapam palavras ou meias palavras reveladoras.

2.4.3.4. Incongruências no Canal EXPRESSÃO FACIAL (F)


Os critérios de incongruência relacionados ao canal face (F), são os descritos no
Sistema FACS relacionados ao EMFACS/8 (Anexo B), quanto a duração, simetria, sincronia
e o perfil das expressões faciais, a linha de base do entrevistado e o contexto.

2.4.3.4.1. Codificação FACS (F1)


O critério F1 é caracterizado por anomalias que ocorrem na linha de base (face
neutra) como as micro expressões (todas, pois se tratam de uma emoção reprimida) e as
macro expressões incongruentes com a narrativa e o contexto, excluídas possíveis
deformidades e assincronias faciais permanentes.

2.4.3.4.2. Duração da Expressão (F2)


O critério F2 é caracterizado quando o tempo da expressão da emoção apresentada
é incongruente, denunciando uma expressão falsa, posada. Macro e micro expressões
possuem, respectivamente, tempo máximo de duração de 2 até 3 segundos e 1/12 a ½
segundo.

2.4.3.4.3. Simetria do Rosto (F3)


O critério F3 é caracterizado quando ocorre assimetria no movimento entre as
partes superior e inferior e entre os lados direito e esquerdo da face, incongruentes com a
linha de base, com exceção a expressão da emoção de desprezo, por ser unilateral.
Mascaramentos também são observados.

2.4.3.4.4. Sincronia Muscular (F4)


O critério F4 é caracterizado quando ocorre assincronia de movimento muscular
na expressão entre as partes superior e inferior da face. Uma expressão é verdadeira quando
24

possui sincronia de movimento, com toda a musculatura de sua prototipagem sendo acionada
ao mesmo tempo.

2.4.3.4.5. Perfil da Expressão (F5)


O critério F5 é caracterizado quando ocorre alteração de movimento muscular
incongruente com o perfil da expressão facial (Onset, Appex e Offset) da emoção. Uma
expressão verdadeira possui harmonia de movimento, do início da expressão, chegando ao
ponto máximo e decrescendo novamente.

2.4.3.5. Alterações no Canal LINGUAGEM CORPORAL (B)


Enquanto as expressões faciais revelam as emoções, o corpo revela como lidamos
com elas. Durante uma interação prestamos maior atenção ao canal verbal e a face pois não
nos preocupamos com a expressão corporal e consequentemente deixamos vazar grande parte
do emocional pelos gestos. Gestos com as mãos são geralmente realizados na frente do corpo,
dentro do perímetro toráxico e da largura dos ombros, do pescoço para baixo, não descendo
abaixo da linha da cintura. Grande parte dos gestos não é universal, sendo relacionados a
cultura, portanto do pescoço para baixo devemos esperar comportamentos diferentes segundo
a cultura de cada entrevistado. Nesse escopo o canal B captura microgestos e deslizes gestuais
indicativos de vazamentos, evidências de mudanças no comportamento de gestos ilustradores
e manipuladores; evidências de tensão muscular; e mudanças de comportamento dos olhos.

2.4.3.5.1. Deslizamento Gestual (B1)


Deslizamentos gestuais são gestos abruptos ou sutis (tentativa de disfarce),
microgestos curtos, rápidos e incongruentes com a narrativa, característicos de um vazamento.
São sinais pequenos e inconscientes, ocorrendo nos dedos, mãos, ombros, cabeça, pés ou com
o corpo todo.

2.4.3.5.2. Gestos Ilustradores (B2)


São gestos que acompanham e ilustram a narrativa e dão ênfase ao que é narrado.
Intimamente ligados a comunicação não verbal, quando congruentes representam 60% à 65%
da comunicação em uma interação. São realizados majoritariamente com as mãos, também
podem ser realizados o corpo todo (aproximação, afastamento ou direcionamento), com a face
(franzir do ceno, elevar sobrancelhas, arregalar os olhos) e são influenciados pela cultura
local. O critério busca o aumento ou a diminuição da intensidade, modificações de padrão de
25

execução e falta de sincronia do gesto com a fala (direção apontada diverge do olhar ou há
atraso narrativo) nos gestos ilustradores, incongruentes com a narrativa e a linha de base.

2.4.3.5.3. Gestos Manipuladores (B3)


São auto-toques massageadores sugestivos de aumento no estresse, realizados em
diversas partes do corpo com a finalidade de controlar e aliviar tensões. São perceptíveis
também pelo manuseio de objetos. São incongruentes quando, não estando presentes na linha
de base, passam a acontecer num dado momento da interação.

2.4.3.5.4. Tensão Muscular (B4)


O estresse emocional derivado do medo pode causar tensão na face, mãos, braços,
pernas, ombros e dorso. Fora de contexto podem ser:
a) Reativas, quando evidenciarem estresse, ansiedade, raiva ou medo pelo porvir;
b) Proativas, quando demonstrarem tentativas de supressão ou repressão de
vazamentos emocionais ou convencimento.

2.4.3.5.5. Olhos, Piscadas e Pistas Oculares (B5)


Primeiro diferenciaremos piscada de fechamento do olho. Segundo Ekman
(FACS, 2002, p. 35) “o fechamento dos olhos ocorrem por ½ segundo ou mais”. Piscadas
duram bem menos. A piscada se destina a lubrificar o olho, entre quatro a cinco piscadas por
minuto. Excluindo a ação de agentes externos, alterações no número de piscadas e fechamento
deliberado dos olhos durante a fala são incongruências narrativas quando ocorrerem.

2.4.3.6. Alterações no Canal PSICOFISIOLOGIA (P)


Durante a experiência emocional os órgão são afetados pela química hormonal e
pelos impulsos elétricos através do sistema nervoso autônomo (SNA) originando vazamentos.
Ao reagir, o parassimpático prioriza a atividade de alguns sistemas (circulatório, respiratório e
muscular) em detrimento de outros menos necessários a ocasião, gerando reações como
sudorese, ruborização ou palidez facial, falta de ar, respiração vagarosa ou ofegante, dilatação
nasal, reações digestivas, boca seca, deglutição, lubrificação labial e dilatação das pupilas.

2.4.3.6.1. Frequência Cardíaca (P1)


O P1 é observável principalmente pela dilatação ou pulsação da carótida ou em pontos
na face quando ocorrer e não haver relação de causa e efeito com outras circunstâncias.
26

2.4.3.6.2. Transpiração (P2)


A transpiração repentina (suor a frio) faz brilhar o rosto e umedece as mãos. É
causada pelo medo e ocorre quando a presença repentina de suor não tiver relação de causa e
efeito com circunstâncias ambientais.

2.4.3.6.3. Temperatura Corporal (P3)


A ruborização ou palidez facial é causada pela alteração do fluxo sanguíneo,
sendo sugestiva de raiva ou vergonha e a palidez é sugestiva de medo, quando ocorrem sem
haver relação de causa e efeito com circunstâncias ambientais.

2.4.3.6.4. Pressão Arterial (P4)


Alterações na pressão arterial são comuns nos estados do medo mas também
surgem na raiva e na alegria. São perceptíveis através de um estado geral de inquietação
diante de uma situação de confronto, onde teoricamente não deveria haver a preocupação, por
presunção de inocência. A movimentação corporal não é congruente com o contexto.

2.4.3.6.5. Respiração (P5)


A respiração vagarosa ou a apneia, diferente da respiração normal ou o aumento
de intensidade e dilatação das narinas evidenciam-se respectivamente medo e raiva.
Alterações no fluxo respiratório como inspiradas a fundo, pausas ou expiradas vagarosas,
mesmo em baixa intensidade são incongruências.

2.4.3.6.6. Digestão (P6)


A necessidade de deglutição em seco, a lubrificação dos lábios e reações
digestivas estão relacionados a alterações hormonais emocionais incongruentes com a
narrativa.

2.4.3.6.7. Pupilas (P7)


A alteração na dilatação das pupilas está relacionada a estados emocionais de
excitação cognitiva de grande interesse. Sofrem influência direta da luminosidade, do uso de
medicamentos e drogas psicoativas. Toda alteração perceptível nas pupilas é incongruente
quando ocorrer, desde que não haja relação de causa e efeito com circunstâncias ambientais e
efeitos de medicamentos de uso corrente.
27

2.5. OS VIESES NA ANÁLISE DE CREDIBILIDADE


Vieses se originam da mescla de processos culturais e cognitivos, como resultados
das percepções que temos de tudo ao nosso redor segundo nossas referências pessoais.
Fazemos dos vieses a nossa noção de verdade, segundo nossos conceitos e valores. O viés
norteia o pensamento crítico segundo conceitos que são carregados durante a vida. Não se
trata de crença, mas do que forma a crença ou fortalece o que já se tem por crença. Nesse
ínterim, pautamos decisões baseados em vieses que cultivamos, tendendo a nos aproximar de
ideias as quais nos simpatizamos e nos afastar das que discordamos, sem o julgamento
raciocinado do mérito.
Segundo Jung, Carl Gustav. (1937/2012e, p. 41):
“De acordo com a lei filogenética, recapitulamos, em nossa infância,
reminiscências da pré-história da raça e da humanidade em geral.
Filogeneticamente, procedemos e evoluímos dos obscuros confins da terra. Por
isso os fatores que mais nos afetaram se transformaram em arquétipos e são
estas imagens primordiais que nos influenciam mais diretamente e por isso
também parecem ser as mais poderosas.”

O encéfalo, uma das estruturas mais complexas que existem, segundo esse
princípio, se forma através de dois processos distintos, a filogênese caracterizada pelo termo
que define as hipóteses para a evolução humana, comum a todo indivíduo e a ontogênese
caracterizada pelo processo biológico de desenvolvimento do individuo. Todas as pessoas
possuem vieses, os quais são responsáveis por suas decisões. Vieses não tem relação com
valores morais mas são impressos como se fossem, podendo determinar julgamentos acerca
de um fato, onde o que se observa acaba por ser contaminado pela opinião pessoal. Percebe-se
neste contexto, existir um fato concreto, passível de variadas perspectivas segundo as opiniões
enviesadas de cada observador.

2.5.1. Efeitos Negativos dos Vieses em Uma Análise de Credibilidade


Percepções desenvolvidas com base em juízos de valores são associações feitas
com base na experiência pessoal de quem julga. Logo, o que se passa na vida do entrevistador
se reflete em sua conduta pessoal e nesse escopo, não se deixar influenciar por seus vieses
durante uma entrevista pode fazer toda a diferença entre, ser justo e imparcial ou pôr a perder
toda a credibilidade do trabalho. Opiniões pessoais podem enviesar gravemente uma
entrevista, deixando de se identificar sinais claros de incongruência, seja pela empatia entre as
partes ou pela busca por incongruências onde nada de concreto exista, por mera antipatia por
28

parte do entrevistador. A questão chave está na imparcialidade do entrevistador, em sua


análise perante as palavras, as expressões faciais, os gestos e a personalidade do entrevistado.

2.5.2. Tipos de Vieses


Por obviedade, da particularidade de percepções de cada ser humano ante um
determinado tema, existem os mais variados tipos de vieses, porém alguns se destacam como
mais comuns a maioria dos seres humanos. O Codex dos Vieses Cognitivos (vide Ilustração
2.5.1, Apêndice C, p. 7) elenca vieses mais comuns.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. FONTES DE PESQUISA E AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO


A aquisição do conhecimento necessário ao desenvolvimento deste trabalho se
deu pela pesquisa, tradução e estudo da ampla literatura estrangeira e nacional existentes,
afetas ao Sistema FACS e ao Protocolo SCAnR e pela conclusão dos cursos de Practitioner
em Análise de Micro Expressões Faciais (M7E) e Practitioner em Análise de Conduta
Dissimulativa e Credibilidade (M6C), realizado na modalidade EAD, pela Academia
Internacional de Linguagem Corporal, instituição de ensino civil no Brasil.
Da aquisição do conhecimento, fez-se necessário elaborar e difundir uma pesquisa
de campo através do link https://forms.gle/E1E1opnUMgm8JzMH7, que objetivou ao
participante voluntário realizar uma ambientação aos conceitos de linguagem corporal
emocional das sete emoções primárias e universais e aos princípios da detecção de conduta
dissimulativa, cuja teoria é sucintamente abordada neste trabalho e os resultados e crítica são
abordados mais amiúde no Apêndice D.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. DOS RESULTADOS


Objetivo mestre da pesquisa, o questionário (vide Apêndice D) avaliou, após uma
introdução ao conteúdo teórico, a acurácia e a assertividade dos 100 (cem) voluntários
participantes, evidenciando sua real capacidade de observação, identificação e percepção das
emoções alheias e da identificação e detecção da conduta dissimulativa, como possíveis
entrevistadores sem treinamento em FACS e SCAnR, cujo resultado se mostra em
consonância com as demais pesquisas do gênero.
29

4.2. DA DISCUSSÃO
Ambos os métodos científicos, vistos separadamente, se mostraram conclusivos
em detecção das emoções e consequentemente, na mentira quando o que é narrado não
corresponde com os sinais emocionais vazados. Vistos pela perspectiva do trabalho em
conjunto, onde os conceitos do FACS e do SCAnR são mesclados, evidencia-se que podemos
chegar a uma taxa de acurácia em análise da emoção e da credibilidade maior do que 90%,
com o respectivo estudo e treinamento em FACS e SCAnR, efetivamente auxiliando o
entrevistador em seu parecer sobre o que o candidato realmente disse, além de sua expressão
verbal.

5. CONCLUSÃO
Pretendeu-se com este trabalho apresentar de forma sintética e objetiva a
relevância dos preceitos da linguagem corporal emocional, estruturados nas metodologias do
Sistema FACS e do Protocolo SCAnR, com fulcro na disseminação de conhecimento
científico, como método e meios necessários ao trabalho do entrevistador na observação,
análise e detecção de indícios de conduta dissimulativa, quando houver, em candidatos a
incorporação e admissão as fileiras do Exército Brasileiro, por ocasião das entrevistas nas
Comissões de Seleção de pessoal. Nesse ínterim, optou-se pela descrição sucinta da ampla
literatura científica existente, no condão de gerar o interesse ao assunto pelo público interno
na pesquisa, no aprimoramento pessoal e profissional e no desenvolvimento das habilidades
correlatas. Todo o referencial teórico em conjunto com a pesquisa de campo realizada atingiu
os objetivos propostos, cujo resultado obtido satisfaz os requisitos de objetividade, porém o
trabalho se mostrou extenso pelo porte necessário a abordagem de todos assuntos aos quais se
objetivou atingir.
O trabalho por si só não habilita o leitor a detectar conduta dissimulativa,
constituindo-se como material auxiliar, fazendo-se necessário amplo estudo da literatura e
treinamento prático que pode ser desenvolvido pela análise de trechos de vídeos com
conteúdo previamente conhecido pela mídia (exemplo: entrevistas do caso Nardoni) e
discussão em grupos de estudo sobre quais pistas da paralinguagem são encontradas, para que
se atinja um nível mínimo de 80% a 90% de acurácia e assertividade em detecção de conduta
dissimulativa. Este trabalho também não pretende extinguir a temática pois a ciência humana,
cuja evolução é constante, progride dia-a-dia, se revolucionando e se complementando.
30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JUNTA MILITAR. Ministério da Justiça; Ministério da Marinha; Ministério do Exército;


Ministério da Aeronáutica. Decreto-Lei nº 1.001, 21 de outubro de 1969. Código Penal
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2020.

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2002. Diário Oficial da União: Regulamento Disciplinar do Exército, Brasília, DF, ano 2002,
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2020.

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A CIÊNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL, COM ÊNFASE NA ANÁLISE


DAS MICRO EXPRESSÕES FACIAIS EMOCIONAS E DOS SEIS CANAIS
DE COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, COMO FERRAMENTAS DE
DETECÇÃO E ANÁLISE DE CREDIBILIDADE, NAS ENTREVISTAS DOS
PROCESSOS DE SELEÇÃO E ADMISSÃO DE PESSOAL

APÊNDICE A – EXTRATO ATLAS DAS EMOÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso

Cuiabá
2021
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ekman, Paul.; Emotional FACS 8; Paul Ekman Group LLC, 2021.

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DE COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, COMO FERRAMENTAS DE
DETECÇÃO E ANÁLISE DE CREDIBILIDADE, NAS ENTREVISTAS DOS
PROCESSOS DE SELEÇÃO E ADMISSÃO DE PESSOAL

APÊNDICE B – EXTRATO EMFACS/8

Trabalho de Conclusão de Curso

Cuiabá
2021
2

Ilustração 1 – Prototipagem Alegria (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de ALEGRIA observa-se claramente em


diferentes níveis de intensidade, podendo ser empregados simultaneamente os seguintes
grupos musculares:
a. Na face superior:
1. Contração esfincteriana do Orbicular do Olho, enrugando os cantos dos olhos (pés
de galinha), pela ação da AU 6, se constituindo na ação de maior credibilidade da alegria
verdadeira, em conjunto com a AU 7 em expressões de maior intensidade; e
b. Na face inferior:
1. Contração do Zigomático Maior, pela ação da AU 12, avolumando o triângulo
infraorbital (maçã do rosto) e puxando os cantos dos lábios para fora e para cima.
3

Ilustração 2 – Prototipagem Tristeza (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de TRISTEZA observa-se claramente,


em diferentes níveis de intensidade, podendo ser empregados simultaneamente os seguintes
grupos musculares:
a. Na face superior:
1. Contração do Frontalis Par Medialis pela ação da AU 1 (parte interna) enrugando
ascendentemente a região central da testa e contração do Corrugador do Supercílio e do
Depressor do Supercílio, enrugando a glabela, entre as sobrancelhas pela ação da AU 4; e
2. Contração da porção palpebral inferior do Orbicular do Olho (Pálpebra Inferior)
pela ação da AU 7.
b. Na face inferior:
1. Contração do Depressor do Ângulo da Boca pela ação da AU 15 e do Depressor
do Lábio Inferior pela ação da AU 16, respectivamente arqueando os cantos da boca para
baixo e a projetando o lábio inferior “beiço” (mais perceptível em altas intensidades); e
2. Contração do Mentual pela ação da AU 17, ocasionando o enrugamento do
queixo.
4

Ilustração 3 – Prototipagem Medo (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de MEDO observa-se claramente, em


diferentes níveis de intensidade, podendo ser empregados simultaneamente os seguintes
grupos musculares:
a. Na face superior:
1. Contração do Frontalis pela ação das AU 1 e AU 2 (seções Frontalis Par Medialis
e Frontalis Par Lateralis) enrugando ascendentemente e longitudinalmente a pele da testa,
elevando os supercílios e contração do Corrugador do Supercílio e do Depressor do
Supercílio, enrugando a glabela, entre as sobrancelhas pela ação da AU 4; e
2. Contração do Elevador da Pálpebra Superior pela ação da AU 5 (Pálpebras
superiores levantadas) evidente do maior aparecimento da esclera, a parte branca dos olhos.
b. Na face inferior:
1. Contração do Risório pela ação da AU 20 puxando os lábios para os lados e a
contração do Platisma, enrijecendo a região do pescoço pela ação da AU 21; e
2. Pode ou não ocorrer abertura da boca, pela ação da AU 25 (descolamento dos
lábios) e o movimento denominado de queda do mento pela distensão da AU 26 (queda do
maxilar) e pela AU 27 (alongamento da boca).
5

Ilustração 4 – Prototipagem Raiva (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de RAIVA observa-se claramente, em


diferentes níveis de intensidade, podendo ser empregados simultaneamente os seguintes
grupos musculares:
a. Na face superior:
1. Contração do Corrugador do Supercílio e do Depressor do Supercílio pela ação da
AU 4 enrugando a região da glabela, entre as sobrancelhas;
2. Contração do Elevador da Pálpebra Superior pela ação da AU 5 (Pálpebras
superiores levantadas) evidente do maior aparecimento da esclera, a parte branca dos olhos; e
3. Contração da parte interna do músculo Orbicular do Olho pela ação da AU 7
(Pálpebra inferior tensionada e olhar fixo ao objeto da emoção).
b. Na face inferior:
1. Contração do Nasális pela ação da AU 38 (Dilatação das narinas);
2. Contrações do Orbicular da Boca pelos conjuntos de ações das AUs 23, 24 e 25
(Respectivamente, compressão dos lábios, tensionamento dos lábios para as extremidades e
descolamento dos lábios); e
3. Atitude geral de projeção corporal.
6

Ilustração 5 – Prototipagem Nojo (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de NOJO observa-se, em diferentes


níveis de intensidade, podendo ser empregados simultaneamente os seguintes grupos
musculares:
a. Na face superior:
1. Pode ocorrer, porém não característico, a contração do Corrugador do Supercílio e
do Depressor do Supercílio pela ação da AU 4, enrugando a região da glabela, entre as
sobrancelhas;
2. Pode ocorrer, porém não característico, a contração da parte interna do Orbicular
do Olho pela ação da AU 7 (Pálpebra inferior tensionada); e
3. Pode ocorrer, porém não característico, a distensão do Elevador da Pálpebra
Superior pela ação da AU 43 (Pálpebras superiores abaixadas) fechamento parcial ou total dos
olhos.
b. Na face inferior:
1. Contração do Elevador do Lábio Superior pela ação da AU 10 (o centro do lábio
superior é elevado);
2. Contração do Depressor do Ângulo da Boca pela ação da AU 15 e do Depressor
do Lábio Inferior pela ação da AU 16, respectivamente arqueando os cantos da boca para
baixo e a projetando o lábio inferior “beiço” (mais perceptível em altas intensidades);
7

3. Contração do Mentual pela ação da AU 17, ocasionando o enrugamento do


queixo;
4. Pode ou não ocorrer abertura da boca, pela ação da AU 25 (descolamento dos
lábios) e o movimento denominado de queda do mento pela AU 26 (queda do maxilar); e
5. Atitude geral de afastamento corporal.
8

Ilustração 6 – Prototipagem Desprezo (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de DESPREZO observa-se sempre


unilateralmente, para a direita (R) ou para a esquerda (L) em diferentes níveis de
intensidade, podendo ser empregados os seguintes músculos:
a. Na face inferior:
1. Contração UNILATERAL do Elevador do Lábio Superior pela ação da AU 10 L
ou R;
2. Contração UNILATERAL do Zigomático Maior pela ação da AU 12 L ou R; ou
3. Contração UNILATERAL do Risório pela ação da AU 14 L ou R.
Observações:
1. Ambos movimentos promovem, conforme sua intensidade, de menor a maior
acentuação unilateral do sulco nasolabial consoante a AU acionada e o tensionamento dos
lábios para uma das extremidades da face, dando a impressão de um “meio sorriso”; e
2. Atitude geral de superioridade em relação a outra parte, levantamento do queixo
(como quem olha por cima).
9

Ilustração 7 – Prototipagem Surpresa (Fonte: EMFACS/8 – Paul Ekman, 2002)

Como codificação característica da expressão de SURPRESA observa-se claramente, em


diferentes níveis de intensidade, podendo ser empregados simultaneamente os seguintes
grupos musculares:
a. Na face superior:
1. Contração do Frontalis pela ação das AU 1 e AU 2 (seções Frontalis Par Medialis
e Frontalis Par Lateralis) enrugando ascendentemente e longitudinalmente a pele da testa,
elevando os supercílios; e
2. Contração do Elevador da Pálpebra Superior pela ação da AU 5 (Pálpebras
superiores levantadas) com pouco aparecimento da esclera, a parte branca dos olhos (menos
evidente que no MEDO).
b. Na face inferior:
1. Pode ou não o movimento denominado de queda do mento pela distensão da AU
26 (queda do maxilar) e pela AU 27 (alongamento da boca).
2. É uma emoção majoritariamente transitória, predecessora de outra emoção,
conforme o contexto.
10

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ekman, Paul; Friesen, Wallace; Hager, Joseph. Facial Action Coding System, The Manual.
Published by Research Nexus division of Network Information Research Corporation, Salt
Lake City: 2002.

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Carvalho, Anderson; Mendes, Edgar. Prototipagem das Emoções Segundo EMFACS 8;


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______.Paul Ekman Group LLC, 2021: Disponível em: Homepage - Paul Ekman Group.
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A CIÊNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL, COM ÊNFASE NA ANÁLISE


DAS MICRO EXPRESSÕES FACIAIS EMOCIONAS E DOS SEIS CANAIS
DE COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, COMO FERRAMENTAS DE
DETECÇÃO E ANÁLISE DE CREDIBILIDADE, NAS ENTREVISTAS DOS
PROCESSOS DE SELEÇÃO E ADMISSÃO DE PESSOAL

APÊNDICE C – ILUSTRAÇÕES E TABELAS

Trabalho de Conclusão de Curso

Cuiabá
2021
2

2.2. INTRODUÇÃO A NEUROCIÊNCIA

Ilustração 2.1 – Crânio do neolítico que passou por uma trepanação


Fonte: Luciana Galastri/Revista Galileu (Foto: Natural History Museum, Lausanne/Rama)

Ilustração 2.2 – O Cérebro de um Psicopata no fRMI


Fonte: Moura, Bruna Maiana. Disponível em: PT.Superenlightme.com
3

2.2.1. A Neurociência e o Sistema Límbico

Ilustração 2.2.1 – Circuito de Papez Ilustração 2.2.2 – Sistema Límbico

Ilustração 2.2.3 – Teorias de ação e reação do Sistema Límbico

2.2.2. A Neuroanatomia e as emoções


Origem Origem
Nervo Tipo Origem Real no no Distribuição Função
Encéfalo Crânio
SVE: 2/3 anteriores da
Muscular: Núcleo língua (nervo lingual)
Braquiomotor na SSG: Pavilhão acústico Gustação nos 2/3 anteriores
da língua (nervo lingual)
Ponte. Sulco Forame glândula
MSG: Submandibular, Sensibilidade geral em parte
VII Misto bulbo Estilomas do pavilhão acústico
sublingual e lacrimal
Sensitivo: pontino toideo Fibras parassimpáticas
MVG: Músculos da
Gânglio Expressão facial
mímica facial e couro
Geniculado. cabeludo

Tabela 2.2. – Funções do NC VII


4

Ilustração 2.2.4 – Ramificações do NC VII

2.2.3. A Neuropsicologia e as emoções

Ilustração 2.2.5 – Linha do Tempo das Emoções


Fonte: Academia Internacional de Linguagem Corporal. Carvalho, Anderson & Mendes, Edgar, (2020).
5

2.3. O SISTEMA FACS E AS SETE EMOÇÕES PRIMÁRIAS E UNIVERSAIS


2.3.1. Introdução as expressões faciais através do Sistema FACS
Vestigial Leve Marcado Pronunciado Forte Extremo Máximo

A B C D E
Tabela 2.3 – Relação entre a Escala de Evidência e Pontuações de Intensidade
Fonte: Facial Action Coding System. The Manual. Ekman, & Friesen & Hager, (2002).

AU6: Ação esfincteriana do músculo Orbicularis Oculi na intensidade


“D”
Formação de rugas (pés de galinha) nos cantos dos olhos e a formação de
sulco e embolsamento na pálpebra inferior; e

AU12: Ação do músculo Zigomático Maior na intensidade “D”


Ação muscular puxando os cantos da boca para cima e para fora,
formando a acentuação do triângulo infraorbital).

Prototipagem de uma macro expressão da emoção: 6D + 12D =


FELICIDADE.
Ilustração 2.3.1 – Prototipagem da
emoção de Alegria
Fonte: Arquivo pessoal.

Ilustração 2.3.2 – Macro expressão de raiva. Fonte: Anatomy of Facial Expression. Uldiz Zarins (2017).
6

2.4. O PROTOCOLO SCAnR

2.4.3.2.1. Volume Vocal (V1)


Escala de Mensuração – V1
1 2 3 4 5
Sussurrar Falar Baixo Linha de Base Falar Alto Gritar
Tendência a relatos dissimulados
Tendência a relatos manipuladores
(Diminuição no volume da voz no Tendência a relatos
(Aumento do volume da voz buscando ser
momento em que mente, a mentira é dita verdadeiros
mais expressivo, por manipulação)
mais baixo)

Medo*, Nojo, Tristeza e Surpresa EMOÇÕES Medo*, Raiva e Felicidade

Obs: A emoção Medo pode influenciar o V1 tanto em aumentar o volume da voz quanto em diminuí-la
(perder a voz).
Tabela 2.4.1 – Escala de Mensuração de Volume Vocal (V1)

2.4.3.2.2. Pitch Vocal (V2)


Escala de Mensuração – V2
1 2 3 4 5
Graves Médio Graves Linha de Base Médio Agudos Agudos
Tendência a relatos Tendência a relatos dissimulativos e/ou
Tendência a relatos dissimulados (Graves)
verdadeiros manipuladores (Agudos)

Medo, Nojo e Tristeza EMOÇÕES Medo, Raiva, Felicidade e Surpresa

Tabela 2.4.2 – Escala de Mensuração de Pitch Vocal (V2)

2.4.3.2.3. Tom Vocal (V3)


Escala de Mensuração – V3
1 2 3
Fala Ríspida
Fala Suave
Linha de Base Tendência a relatos dissimulados e/ou
Tendência a relatos dissimulados
manipuladores
Voz menos prazerosa, nasalidade, sopro ao Tendência a relatos Voz com tempo e força menos controláveis
falar, menos ressonância, fala arrastada. verdadeiros (inconsciente)

Tristeza EMOÇÕES Raiva

Tabela 2.4.3 – Escala de Mensuração de Tom Vocal (V3)


7

2.5. Os vieses na análise de credibilidade


2.5.2. Tipos de Vieses

Ilustração 2.5.1 – Exemplos de Vieses (Fonte: Viés Cognitivo – Wikiwand.com).


8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O Nervo Facial (CN VII). TeachmeAnatomy.info, 2020. Disponível em: The Facial Nerve (CN
VII) - Course - Functions - TeachMeAnatomy , Acesso em: 20 Dez 2020.

Carvalho, Anderson; Mendes, Edgar. Apostila M6C, Academia Internacional de Linguagem


Corporal, Fortaleza: 2020.

Ekman, Paul; Friesen, Wallace; Hager, Joseph. Facial Action Coding System, The Manual.
Published by Research Nexus division of Network Information Research Corporation, Salt
Lake City: 2002.

Ekman, Paul. Paul Ekman Group LLC, 2021: Disponível em: Homepage - Paul Ekman
Group., Acesso em: 21 Set 2020.

Zarins, Uldiz. Anatomy of Facial Expression, Exonicus Inc, Seatle, 2017.


9

Viés Cognitivo. Wikiwand.com, 2020. Disponível em: Viés cognitivo - Wikiwand , Acesso
em: 23 Dez 2020.
2

ESCOLA DE INSTRUÇÃO ESPECIALIZADA


CURSO DE HABILITAÇÃO AO QUADRO AUXILIAR DE OFICIAIS

EDGAR MIQUELITO JÚNIOR – Subtenente

A CIÊNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL, COM ÊNFASE NA ANÁLISE


DAS MICRO EXPRESSÕES FACIAIS EMOCIONAS E DOS SEIS CANAIS DE
COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, COMO FERRAMENTAS DE DETECÇÃO E
ANÁLISE DE CREDIBILIDADE, NAS ENTREVISTAS DOS PROCESSOS DE
SELEÇÃO E ADMISSÃO DE PESSOAL

APÊNDICE D – PESQUISA DE ESTUDO


ANÁLISE COMPORTAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso

Cuiabá
2021
2

1. Apresentação

Foi proposta uma pesquisa de campo em forma de questionário contendo 10 (dez)


perguntas com respostas de múltipla escolha, realizada através de formulário disponibilizado
eletronicamente pela Google Forms, elaborado e difundido pelo autor/pesquisador através do
link (https://forms.gle/E1E1opnUMgm8JzMH7). Na pesquisa, após uma explanação de
ambientação ao conteúdo introdutório, com textos explicativos e ilustrações de exemplos das
expressões das sete emoções primárias e universais de FELICIDADE, TRISTEZA, MEDO,
RAIVA, NOJO, DESPREZO e SURPRESA, as quais são assunto da pesquisa ao qual se
amalgamam todos os conceitos apresentados no trabalho ao qual este apêndice integra, foi
proposto um questionário, respondido por 100 (cem) voluntários participantes dos diversos
segmentos da sociedade.
A pesquisa introduziu o participante voluntário ao conceito de linguagem corporal
emocional, para avaliar sua real capacidade de observação e correta identificação e percepção
das emoções alheias, em iniciação aos conceitos de detecção de conduta dissimulativa.
Ao pesquisador, objetivou analisar e mensurar o percentual de assertividade e a
acurácia dos participantes voluntários, em diferentes níveis de dificuldade, na detecção de
expressões faciais emocionais que se evidenciam no contexto de um breve filme exibido para
cada questão, de forma a se mensurar pelo número de questões certas ou erradas respondidas,
a acurácia em detecção de expressões faciais emocionais e possíveis condutas dissimulativas
de cada participante, como potencial entrevistador sem treinamento específico em FACS e
SCAnR.

2. Resultados da Pesquisa: Análise Comportamental


Como resultado da pesquisa, na Figura 1 destacam-se informações de relevância
como média de acertos, onde 73% dos voluntários participantes obtiveram scores de 1 (um)
ponto até 5 (cinco) pontos marcados, tendo acertado efetivamente 50% ou menos da pesquisa.
Este percentual corrobora em parte com outros dados já conhecidos na comunidade científica,
onde pessoas sem conhecimento específico, ao analisarem a credibilidade de um determinado
discurso, tendem a atingir índice de assertividade média de 50%, conforme apontam Ekman &
O’Sullivan & Frank (1999, p. 265-Table 2) e DePaulo & Bond (2006, p.214-234), onde foram
analisadas as exatidões de julgamento de conduta dissimulativa interpretadas por 24.483
entrevistadores comuns, sintetizando os resultados de pesquisas de 206 documentos, onde
3

estes entrevistadores erraram 54% de seus diagnósticos, não conseguindo identificar metade
das mentiras contadas no experimento.
Em comparação, entrevistadores treinados em FACS e SCAnR atingem média de
mais de 90% de assertividade, chegando a 96% (Paul Ekman), sendo efetivamente mais
precisos do que aparelhos destinados a detecção de conduta dissimulativa como o polígrafo,
que possui índice de assertividade máxima de até 86%. A discrepância de resultados obtidos
pelo técnico treinado em FACS e SCAn-R e o polígrafo ocorre porque o aparelho tende a
gerar falsos positivos, por não diferenciar sinais reais de dissimulação de possíveis alterações
psicofisiológicas ocasionadas por desconfortos fisiológicos, emoções como raiva e medo que
geram sensações como excitação e estresse, congruentes com o contexto por também serem
plausíveis de ocorrer em relatos verdadeiros, induzindo ao erro de diagnóstico.
Tecnicamente o polígrafo, pela definição de Alcântara (2015) é:
“O polígrafo, aparelho também conhecido como detector de mentiras é
composto por um conjunto de sensores que medem o ritmo da respiração, a
pressão sanguínea, os batimentos cardíacos e o suor na ponta dos dedos da
pessoa examinada. Seu funcionamento se baseia na teoria de que essas reações
do organismo se alteram quando se mente. Um teste de polígrafo também é
conhecido como um exame de detecção psicofisiológica de fraude”.
Alcântara, Jesseir C. – Juiz de Direito e Professor
Disponível em: Detector de mentiras vale como prova ? | Policia Civil do Estado
de GoiásPolicia Civil do Estado de Goiás .

Ou ainda, conforme Kinast, Priscilla (2020):


“O polígrafo, criado por John Larson em 1921, é uma máquina capaz de gerar
muitos gráficos simultaneamente, com medições de vários fatores fisiológicos
humanos: O ritmo da respiração, a pressão sanguínea, os batimentos cardíacos e
o suor na ponta dos dedos da pessoa examinada”.
Kinast, Priscilla
Disponível em: O Detector de mentiras polígrafo é confiável?
(oficinadanet.com.br).

A média de erros e acertos em pessoas sem treinamento se deve a importância e


atenção exclusiva que as mesmas tendem a creditar as proposições da linguagem oral (canal
de comunicação menos crível por ser de fácil manipulação cognitiva por desonestos),
negligenciando vazamentos emocionais visíveis nos seis canais de comunicação não verbal,
além de erros de interpretação, enviesados por impressões pessoais arraigadas na
personalidade em relação ao contexto, a narrativa observada e as evidências apresentadas pelo
entrevistado em seu relato.
4

3. Dados gráficos da Pesquisa de Estudo: Análise Comportamental

Figura 1: Média de resultados da Pesquisa Comportamento, de propriedade do autor.


Disponível em: https://forms.gle/E1E1opnUMgm8JzMH7.

As figuras 1.1, 1.2, 1.3, 1.4, 1.5, 1.6, 1.7, 1.8, 1.9 e 1.10 abaixo discriminam as
questões da pesquisa e seus respectivos percentuais de acerto:

Figura 1.1 – Percentual de acertos na Questão 1 Figura 1.2 – Percentual de acertos na Questão 2

Figura 1.3 – Percentual de acertos na Questão 3 Figura 1.4 – Percentual de acertos na Questão 4
5

Figura 1.5 – Percentual de acertos na Questão 5 Figura 1.6 – Percentual de acertos na Questão 6

Figura 1.7 – Percentual de acertos na Questão 7 Figura 1.8 – Percentual de acertos na Questão 8

Figura 1.9 – Percentual de acertos na Questão 9 Figura 1.10 – Percentual de acertos na Questão 10

4. Comentários sobre as Questões de Difícil Resolução


Na Questão 1 (vídeo disponível em: https://youtu.be/u7qtO9dpSks), a ação das
unidades de ação responsáveis pela prototipagem da emoção FELICIDADE, exemplificadas
na introdução da pesquisa, são expressas em baixa intensidade, quase vestigial, onde 64% dos
participantes não puderam perceber corretamente as alterações na face. Observa-se ainda que
11% marcaram a alternativa “TRISTEZA”, 7% marcaram a alternativa “SURPRESA”, 4%
marcaram a alternativa “MEDO” e 46% não perceberam nenhuma alteração na face,
marcando a alternativa “NEUTRO”.
6

Na Questão 2 (vídeo disponível em: https://youtu.be/56xYQ_fX9qk), observa-se


claramente durante o discurso, a ação das unidades de ação da prototipagem da emoção
FELICIDADE, exemplificadas na introdução da pesquisa e incongruentes com a situação e a
narrativa apresentadas onde, além de outras observações, a mulher sorri, caracterizando um
Duping Delight¹. No escopo dos demais elementos do estudo codificáveis apresenta, além do
Duping Deligth (B1), não visualização pelo fechamento das pálpebras (B5) e negação com a
cabeça enquanto fala (B1), simula o choro, sem lágrimas (S3) e pela ausência da expressão de
tristeza (F1), Também não denota real desespero ou agonia pelo então desaparecimento de
seus dois filhos. Soube-se após, por confissão da mesma à polícia, que ela os matou afogados
empurrando-os, dentro de um carro, pra um lago. Nesta questão 84% dos participantes não
puderam perceber a tentativa de dissimulação ou as alterações na face onde, 2% marcaram a
alternativa “RAIVA”, 71% das pessoas julgou haver uma expressão de TRISTEZA na sua
face, 4% marcaram a alternativa “SURPRESA” e 7% marcaram a alternativa “MEDO”.

Na Questão 5 (vídeo disponível em: https://youtu.be/YdGSEDaFOEU), a ação


das unidades de ação responsáveis pela prototipagem da emoção TRISTEZA são expressas
em leve intensidade, onde 55% dos participantes não puderam perceber as alterações na face,
sendo porém a questão que mais se aproximou da média geral em número de acertos.
Observa-se ainda que 21% marcaram a alternativa “DESPREZO”, 16% marcaram a
alternativa “NOJO”, 6% marcaram a alternativa “RAIVA” e 12% não perceberam nenhuma
alteração na face, marcando a alternativa “NEUTRO”.

Na Questão 6 (vídeo disponível em: https://youtu.be/HD7dXDr0jPU), a ação das


unidades de ação responsáveis pelas prototipagens das emoções de MEDO e TRISTEZA, são
respectivamente expressas em alta intensidade, onde 65% dos participantes não puderam
perceber corretamente as alterações na face. Observa-se ainda que 11% marcaram a
alternativa “SURPRESA, TRISTEZA e FELICIDADE”, 44% marcaram a alternativa
“SURPRESA e TRISTEZA”, 10% marcaram a alternativa “MEDO e TRISTEZA e
FELICIDADE” e ninguém marcou a alternativa “Apenas TRISTEZA”. Cabe a ressalva de
que a questão se caracteriza pela de maior dificuldade de acerto da pesquisa, dada a
similaridade das prototipagens das emoções de MEDO e SURPRESA, que pode ter gerado
________________________
¹. Duping Deligth – Segundo Ekman P. et al., What the Face Revels. Oxford University Press, 2005. o sorriso de
deleite ou sorriso do mentiroso, consiste na expressão de felicidade causada pela sensação de prazer que o
mentiroso sente quando percebe que a mentira dita por ele é aceita ou quando o mentiroso percebe que
conseguiu enganar.
7

a proximidade de escolhas entre as alternativas de “MEDO e TRISTEZA” (35%) e


“SURPRESA e TRISTEZA”(44%).

Na Questão 7 (vídeo disponível em: https://youtu.be/V4IePavnStk), a ação das


unidades de ação responsáveis pela prototipagem da emoção TRISTEZA são novamente
expressas, em intensidade leve, onde 73% dos participantes não puderam perceber
corretamente as alterações na face. Observa-se ainda que 5% marcaram a alternativa
“SURPRESA”, 12% marcaram a alternativa “DESPREZO”, 6% marcaram a alternativa
“NOJO” e 50% não perceberam nenhuma alteração na face, marcando a alternativa
“NEUTRO”.

Na Questão 9 (vídeo disponível em: https://youtu.be/eSSy7jVjn-g), observa-se


predominantemente as ações das unidades de ação responsáveis pelas prototipagens das
emoções de NOJO (F1), DESPREZO (F1) e em menor escala MEDO, expressas em baixa
intensidade caracterizando-se como vazamentos emocionais, pela tentativa de repressão,
tornando-se incongruentes com a narrativa de desculpas apresentada (S3) onde, no contexto
de um arrependimento verdadeiro, deveriam existir expressões emocionais genuínas de
TRISTEZA (C3). O arrependimento apresentado no vídeo (que é um sentimento, não uma
emoção) se relaciona mais ao MEDO (F1) pela repercussão negativa do ato perpetrado e
divulgado por ela mesma, podendo ser enquadrado como crime de racismo, previsto no
Código Penal. No discurso empregam-se agregadores verbais (S1), distanciamento (C2) e
negações com a cabeça (B1). Nesta questão 70% dos participantes não puderam perceber as
tentativas de dissimulação ou as alterações no comportamento e na face onde, 4% marcaram a
alternativa “Apenas TRISTEZA”, 39% marcaram a alternativa “ARREPENDIMENTO e
TRISTEZA”, 27% marcaram a alternativa “MEDO e ARREPENDIMENTO” e ninguém
marcou a alternativa “TRISTEZA e FELICIDADE”.

Na Questão 10 (vídeo disponível em: https://youtu.be/lBw7v57LJQ0), observa-se


no vídeo que a garota parece expressar a emoção FELICIDADE, porém observa-se que por
trás da máscara de felicidade que ela tenta manter estão presentes suas reais expressões de
TRISTEZA (F1) e se intensificam nos pontos onde lhe são feitas perguntas críticas
relacionadas a um familiar. Desamparo e desalento são sentimentos e não fazem parte das sete
emoções básicas relacionadas ao estudo. Nesta questão 59% dos participantes não puderam
perceber corretamente a tentativa de mascaramento da emoção de TRISTEZA GENUÍNA
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expressa na face. Observa-se ainda que 17% marcaram a alternativa “TRISTEZA e


FELICIDADE GENUÍNA”, 27% marcaram a alternativa “TRISTEZA e DESAMPARO”,
10% marcaram a alternativa “TRISTEZA e DESALENTO” e 5% marcaram a alternativa
“Apenas TRISTEZA”.

As Questões 3, 4 e 8 (vídeos disponíveis em: https://youtu.be/r59xsWoSr54;


https://youtu.be/V5OXEXAVR4A; e https://youtu.be/6MkNIwxblTc, respectivamente),
obtiveram número de acertos por mais de 50% dos participantes voluntários, apesar de
apresentarem níveis de dificuldade similares as demais questões.

A Questão 4 Diferencia-se das demais pelo formato de apresentação da questão


em relação ao contexto e às alternativas de resposta. A intenção do pesquisador na elaboração
da questão foi através da obviedade da resposta correta, levando-se em consideração todo o
contexto do vídeo e das alternativas de resposta, gerar a curiosidade e reflexão no
participante, porém sem conhecimento em FACS e SCAnR, em identificar no vídeo a forma
de dissimulação e as expressões faciais apresentadas pelo suspeito na entrevista, por
comparação direta com os dados apresentados nas alternativas.

5. Comentários a Pesquisa de Satisfação


Ainda, ao término da pesquisa, os participantes responderam a uma pesquisa de
satisfação sobre o assunto abordado, cujos resultados abaixo evidenciam o grau de relevância
demonstrado pelos participantes em relação ao assunto, nos quesitos capacidade de
entendimento do assunto abordado, onde 94% dos participantes opinaram ser de fácil
entendimento. Sobre as dificuldades encontradas para a resolução das questões, 60% dos
participantes opinaram ter encontrado dificuldades. Sobre o grau de interesse pessoal no
assunto e pelo incentivo ao conhecimento pela forma como o assunto foi abordado,
respectivamente, 99% e 87% dos participantes opinaram positivamente. Sobre se têm ciência
da existência de vários estudos, em vários países, que validam cientificamente as teorias
apresentadas, 60% dos participantes opinaram conhecer o fato. Sobre o interesse pessoal
por novas perspectivas de interação com outras pessoas, 92% dos participantes opinaram
positivamente. Sobre a ciência do emprego de protocolos de detecção de conduta
dissimulativa por agências governamentais estrangeiras, 68% dos participantes opinaram
ter conhecimento do fato, cujas opiniões encontram-se registradas nas tabelas abaixo
elencadas.
9

Figura 4.3.1: Entendimento do assunto abordado Figura 4.3.2: Dificuldade de resolução das questões

Figura 4.3.4: Grau de interesse pessoal no assunto Figura 4.3.5: Grau de interesse pessoal no assunto

Figura 4.3.6: Estudos científicos realizados Figura 4.3.7: Interesse por novas perspectivas de interação

Figura 4.3.8: Sobre o emprego de protocolos de detecção de


conduta dissimulativa por agências governamentais
10

6. Conclusões da Pesquisa
Em resumo, a pesquisa se mostrou coerente com outras do mesmo tema
anteriormente apresentadas pelos artigos científicos citados, quanto a seu grau de dificuldade
em relação ao público-alvo (voluntários sem treinamento em FACS e SCAnR), quanto a
objetividade e aos resultados obtidos. A pesquisa de opinião demonstrou alto grau de
aceitação e interesse pelo tema por parte das pessoas que realizaram a pesquisa pela
relevância que o assunto encerra, demonstrado respectivamente nos gráficos das Figuras 1.14
e 1.15, onde 99% das pessoas demonstraram interesse pessoal em aprofundar conhecimentos
no tema e 87% das pessoas se sentiram incentivadas a estudar o tema pela forma como o
assunto foi abordado na pesquisa. Através do gráfico da Figura 1.17, 92% dos participantes
consideraram a relevância e o interesse por novas perspectivas nas interações com as outras
pessoas, pelo conhecimento de técnicas para melhor interpretação de sinais verbais e não
verbais no cotidiano.
Observa-se também a relação inversa entre o índice de entendimento do assunto e
sua aplicabilidade, o primeiro demonstrado no gráfico da Figura 1.12, onde 94% das pessoas
julgaram fácil o entendimento dos conceitos apresentados e a segunda, demonstrada no
gráfico da Figura 1.13, onde 60% das pessoas encontraram dificuldades em aplicar os
conceitos na prática, denotando que a falta de métodos de aplicação do conhecimento e a falta
de prática podem facilmente induzir a um erro de diagnóstico preciso, evidenciado na média
de pontuação geral da pesquisa onde 73% das pessoas (todas sem treinamento em FACS e
SCAnR) obtiveram de 1 (um) até 5 (cinco) pontos marcados, conforme o gráfico da Figura 1.
11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alcântara, Jessier C., - Detector de mentiras vale como prova?; Polícia Civil do Estado de
Goiás. Disponível em: Detector de mentiras vale como prova ? | Policia Civil do Estado de
GoiásPolicia Civil do Estado de Goiás . Acesso em 12 Nov 2020.

DePaulo, Bella M.; Bond, Charles F. Jr; Accuracy of Deceptions Judgments. Personality and
Social Psychology Review, (2006, p.214-234).

Ekman, Paul; O’Sullivan, M.; Frank M. G.; A Few Can Catch A Liar, American
Psychological Society, v. 10, n. 3, p. 265-Table 2. May. 1999.

Ekman, Paul et al., What the Face Revels; Oxford University Press, 2005.

Google Forms, Formulários Google; Disponível em: https://docs.google.com/forms/u/0/,


Acesso em 7 Set 2020.

Miquelito, Edgar. J., Pesquisa de Estudo: Análise Comportamental, Formulários Google,


Disponível em: https://forms.gle/E1E1opnUMgm8JzMH7, 2020.

Kinast, Priscilla, - o Detector de mentiras polígrafo é confiável?, oficinadanet.com.br,


Disponível em: O Detector de mentiras polígrafo é confiável? (oficinadanet.com.br). Acesso
em 12 Nov 2020.

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