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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
NATAL-RN
2019
Ana Paula Nogueira Sallaberry
Análise da atividade pozolânica da cinza da folha da bananeira pelos métodos da ABNT NBR
5752:2014 e da condutividade elétrica
Natal-RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Análise da atividade pozolânica da cinza da folha da bananeira pelos métodos da ABNT NBR
5752:2014 e da condutividade elétrica
__________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Alysson Brilhante Faheina de Souza – Orientador
___________________________________________________
Profa. Dra. Luciana de Figueiredo Lopes Lucena – Coorientadora
___________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida – Examinador interno
___________________________________________________
Prof. Dr. Kleber Cavalcanti Cabral – Examinador externo
Natal-RN
2019
RESUMO
As pesquisas que buscam materiais alternativos e que trazem novas tecnologias ao mercado da
construção civil são cada vez mais recorrentes e, nesse contexto, surge a possibilidade de estudo
para a destinação dos resíduos gerados na bananicultura. O presente estudo teve como objetivo
avaliar o potencial pozolânico da cinza da folha da bananeira (CFB) pelos métodos do índice
de desempenho com cimento Portland aos 28 dias – NBR 5752:2014 e da condutividade elé-
trica. As cinzas foram produzidas em um forno mufla às temperaturas de 450ºC e 900ºC e sub-
metidas a diferentes tempos de moagem, de 1 e 3 horas para cada. Para caracterização química
e física das CFB foram feitas análises de massa específica real, fluorescência e difração de raios
X (FRX e DRX), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e teor de matéria orgânica. Os
resultados mostraram que todas as cinzas possuem propriedades de material pozolânico, con-
cluindo que a temperatura e tempo de moagem ótimo para produção do material foi, respecti-
vamente, 900ºC e 1 hora.
ABSTRACT
Researches that seek alternative materials and bring new technologies to the civil construction
market are increasingly recurring and, in this context, the possibility of studying the destination
of waste generated in banana culture arises. The present study aimed to evaluate the pozzolanic
potential of banana tree leaf ash (CFB) by the methods of Portland cement performance index
at 28 days - NBR 5752:2014 and electrical conductivity. The ashes were produced in a muffle
furnace at temperatures of 450ºC and 900ºC and subjected to different grinding times, of 1 and
3 hours each. For chemical and physical characterization of the CFB, real specific mass analy-
sis, X-ray fluorescence and diffraction (XRF and XRD), scanning electron microscopy (SEM)
and organic matter content were analyzed. The results showed that all ashes have properties of
pozzolanic material, concluding that the optimum temperature and grinding time for material
production were, respectively, 900ºC and 1 hour.
1. INTRODUÇÃO
Os recursos naturais são amplamente empregados como matéria prima pela construção
civil, que é um dos setores que mais movimenta a economia. Como consequência disso, impac-
tos ambientais são gerados e nesse contexto, progressivamente surgem pesquisas direcionadas
a buscar materiais alternativos que minimizem esses impactos e tragam novas tecnologias ao
mercado.
O cimento Portland é um dos materiais mais fabricados no mundo e seu uso é expressivo
na engenharia civil. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC,
2019), em 2013 o consumo de cimento no Brasil foi de 71 milhões de toneladas, o equivalente
na época a 353 kg/ano para cada habitante brasileiro. É importante destacar que a indústria
cimenteira brasileira possui um parque industrial reconhecido em esfera internacional pelas
baixas emissões de CO₂ e pelo uso de adições minerais (RODRIGUES, 2012).
As adições minerais são utilizadas com a finalidade de agregar qualidades diferenciais
ao cimento e realizar o aproveitamento de resíduos. O uso de tal material implica na redução
de impactos ambientais, bem como na preservação de jazidas minerais e diminuição da emissão
de CO₂ e outros gases gerados na fabricação do Cimento Portland (CORDEIRO, 2006). As
adições se resumem a escória de alto forno, gipsita, materiais pozolânicos e materiais carboná-
ticos (BATTAGIN et al., 2010), interessando para o atual estudo os materiais com propriedades
pozolânicas.
Segundo Kanning (2013), os materiais pozolânicos são associados ao cimento e a cal
com a finalidade de melhorar suas características em estado fresco e endurecido. O uso de ma-
teriais pozolânicos, para Rodrigues (2012), permite reduzir o consumo de cimento Portland,
além de gerar concretos e argamassas mais duráveis.
Uma variedade de resíduos de biomassa com potencial pozolânico já foi estudada, entre
eles as cinzas da casca de arroz, cinzas do bagaço da cana de açúcar, cinzas da madeira, cinzas
da folha da bananeira, entre outros (TAVARES, 2019). Dados da Food and Agriculture Orga-
nization (FAO, 2019) indicam o Brasil como o 3º maior produtor mundial de banana do ano de
2017 e, conforme dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2018),
nesse ano o Brasil produziu 6,8 milhões de toneladas. O estado do Rio Grande do Norte foi o
9º maior produtor de bananas, com 210.933 toneladas produzidas.
Na bananicultura há uma grande geração de resíduos, sendo descartados para cada to-
nelada de banana colhida cerca de 3 toneladas de pseudocaule, 480 kg de folhas, 440 kg de
cascas e 160 kg de caules. Entretanto, apenas as cascas das bananas possuem destinação, a qual
compreende principalmente a alimentação de porcos (FERNANDES et al., 2013).
O potencial pozolânico das cinzas das folhas de bananeira (CFB) foi inicialmente estu-
dado por Kanning (2010), sendo em continuidade estudado pelo mesmo autor a utilização desta
cinza como adição em argamassas (KANNING, 2013) e a resistência mecânica e química de
amostras de concreto com incorporação de 10% e 20% da cinza (KANNING et al., 2014). Ta-
vares (2019) estudou a potencialidade da cinza como substituição parcial do cimento em con-
cretos com variações de teores de 0 a 15% de substituição da massa do cimento pela CFB.
Em virtude da abundância da bananicultura e da enorme geração de resíduos no setor,
juntamente com a importância de se estudar materiais alternativos com potencial pozolânico a
serem utilizados na indústria cimentícia, se justifica um maior estudo das propriedades da CFB.
Neste caso, sob circunstâncias de variações de temperatura (450ºC e 900ºC) de incineração e
moagem (1h e 3h para cada), com análise de sua pozolanicidade pelo método previsto na NBR
5752:2014 e o método da condutividade elétrica, pretende-se resultar em uma temperatura e
tempo de moagem ótimo.
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Ana Paula Nogueira Sallaberry, graduanda em Engenharia Civil, UFRN
Profa. Dra. Luciana de Figueiredo Lopes Lucena, Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
Prof. Dr. Paulo Alysson Brilhante Faheina de Souza,
2. REVISÃO DE LITERATURA
De forma a se entender o assunto abordado no presente estudo, faz-se importante explanar
sobre a literatura pertinente. Nesse item será feita uma breve revisão sobre o cimento Portland,
cinzas da folha da bananeira, pozolanas e métodos de avaliação da atividade pozolânica.
Kanning (2010) foi o primeiro a estudar a potencialidade da cinza da CFB como material
pozolânico. O autor estudou as cinzas incineradas até a temperatura de 850ºC e com os tempos
de 0 h; 0,5 h; 1 h e 3 h de moagem, concluindo em seu estudo que as cinzas geradas a 850ºC
possuem atividade pozolânica superior aos mínimos estipulados pelas normas brasileiras, além
de seu tempo ótimo de moagem ser aos 30 minutos.
Dando continuidade aos estudos, Kanning (2013) utilizou a CFB como adição em arga-
massas, concluindo que isso proporcionou melhorias nas propriedades do material, como redu-
ção de permeabilidade associada a maior durabilidade e maior resistência mecânica. Kanning
et al. (2014) estudaram a resistência mecânica e química de amostras de concreto com incorpo-
ração de 10% e 20% da cinza.
Tavares (2019) inovou ao estudar a potencialidade da cinza como substituição parcial
do cimento em concretos com variações de teores de 0 a 15% de substituição da massa do
cimento pela CFB. O autor obteve em seus resultados um incremento de resistência a compres-
são do concreto de acordo com o aumento do teor de substituição, sendo o teor ótimo aos 10%.
No estudo, Tavares (2019) realizou uma pré-calcinação a 200ºC e em seguida calcinou
até 900ºC o material, posteriormente moendo por 30 minutos. Para análise da atividade pozo-
lânica o autor utilizou os métodos de Chapelle modificado e da condutividade elétrica, obtendo
como resultado que a cinza não era pozolânica no primeiro e boa pozolana no segundo.
2.3. POZOLANA
Para Verçoza (1987, p.113), “As pozolanas são materiais naturais ou artificiais pulve-
rulentos que são inertes quando puros, mas adquirem as propriedades dos aglomerantes hidráu-
licos quando em contato com a cal aérea hidratada”.
Atualmente, a NBR 12653 (ABNT, 2014) define como pozolânico os materiais silicosos
ou silicoaluminosos que sozinhos possuem irrisória propriedade ligante, mas quando finamente
moídos e na presença de água, reagem com o hidróxido de cálcio à temperatura ambiente. A
referida norma classifica os materiais pozolânicos em três classes, a classe N, que engloba as
pozolanas naturais e artificias, materiais vulcânicos, terras diatomáceas e argilas calcinadas; a
classe C, a qual pertencem as cinzas volantes provenientes da queima do carvão mineral em
usinas termoelétricas e a classe E, para quaisquer outros tipos de pozolana que não contemple
as classes anteriormente mencionadas, como as cinzas de resíduos vegetais.
Para as 3 classes, a NBR 12653:2014 descreve os requisitos químicos e físicos que o
material deve ter, conforme mostrado na tabela 2.
Onde: Icimento é o índice de cimento Portland aos 28 dias; fcB é a resistência média aos
28 dias dos corpos de prova moldados com cimento Portland e 25% do material pozolânico e
fcA a resitência média dos corpos de prova moldados apenas com cimento Portland.
O método da condutividade elétrica foi inicialmente trabalhado por Luxán et al. (1989)
e consiste em avaliar a atividade pozolânica das pozolanas naturais de uma suspensão de hidró-
xido de cálcio e pozolana, medindo a condutividade elétrica durante 120 segundos. A diferença
entre a condutividade final e inicial é o indicador da pozolanicidade do material, sendo classi-
ficado conforme a tabela 3.
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3. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste tópico serão abordados os materiais e metodologia empregados para realização
do estudo das CFB. As cinzas foram analisadas por meio de caracterizações químicas, físicas
e por avaliação de atividade pozolânica.
3.1. MATERIAIS
As folhas de bananeira utilizadas foram obtidas de plantações na cidade de Olho D’água
dos Borges/RN, passando então por um processo de secagem ao sol para eliminação de umi-
dade.
Para determinação do índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias foi uti-
lizado o cimento CP-II-F-32 – Cimento Portland composto com fíler, da marca Montes Claros.
A escolha de tal cimento é justificada pela recomendação da norma NBR 5752 (ABNT, 2014)
e por não conter pozolanas em sua composição, o que interferiria nos ensaios.
A areia padrão utilizada no ensaio de índice de desempenho com cimento foi preparada
conforme as exigências da norma NBR 7214 (ABNT, 2015).
Foi utilizado aditivo superplastificante da marca Aditiv-Cal, próprio para argamassas,
para fins de melhoria na trabalhabilidade das argamassas. Seu uso não ultrapassou 1,5% da
massa do cimento.
O hidróxido de cálcio utilizado no ensaio de condutividade elétrica foi da marca Ma-
quira, com teor de pureza de 100% e dentro do prazo de validade.
A água potável utilizada no preparo das argamassas foi fornecida pela concessionária
da cidade de Natal/RN, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN),
e a água deionizada utilizada no ensaio de condutividade elétrica foi fornecida pelo laboratório
do Núcleo de Pesquisa em Petróleo e Gás – NUPPEG/UFRN.
3.2. METODOLOGIA
O procedimento experimental seguido para o trabalho está resumido na figura 1. Será
abordado nos subtópicos a seguir o detalhamento dos procedimentos adotados.
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Para o estudo atual optou-se por fazer uma maior análise das CFB, utilizado duas tem-
peraturas de incineração, de 450ºC e 900ºC. As incinerações foram feitas de forma direta, sem
pré-calcinação, de forma a garantir que as propriedades do material não sofressem possíveis
alterações. A incineração a 450ºC foi escolhida com base nos resultados da análise termogravi-
métrica feita por Tavares (2019), sendo uma temperatura em que o material já sofreu degrada-
ção de grande parte de sua massa, como a hemicelulose, celulose e lignina presentes. A tempe-
ratura de 900ºC foi escolhida conforme Kanning (2010) por garantia ao material que ocorra a
atividade pozolânica.
Para obtenção das cinzas foram feitas incinerações a 450ºC e 900ºC no forno mufla da
marca JUNG, no Laboratório de Nutrição Animal da Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ/UFRN.
O forno mufla foi programado com incrementos de temperatura de 5ºC/minuto e, após alcan-
çada a temperatura final, permanecia por 60 minutos nessa temperatura.
Após o processo de incineração, as cinzas obtidas a 450ºC e a 900ºC foram submetidas
a dois tempos de moagem, de 1h e 3h, no moinho de bolas da marca QUIMIS, modelo Q 298-
2, com rotação de 150rpm, no Laboratório de Materiais de Construção Civil - UFRN. A relação
utilizada foi de 2/3 de cinza e bolas ocupando o jarro, deixando assim 1/3 deste livre.
As cinzas após moídas foram peneiradas, por via seca, na peneira com abertura de malha
de 45 µm. O material retido foi de 1,4% e 1,7% para as amostras incineradas, respectivamente,
a 900ºC e 450ºC com 3 h de moagem; e 2% e 2,3% para as amostras incineradas, respectiva-
mente, a 900ºC e 450ºC e 1 h de moagem.
O ensaio de teor de matéria orgânica das cinzas foi realizado no Laboratório de fertili-
dade do solo e nutrição de plantas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)
campus Mossoró.
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Foram feitas análises químicas nas 04 amostras das cinzas através do ensaio de caracte-
rização de espectrometria por fluorescência de raios X, em um aparelho Bruker S2 Ranger,
utilizando radiação de paládio e pelo ensaio de difração de Raios X, feito em um difratômetro
da marca Bruker, modelo D2 Phaser, com os espectros obtidos sob as condições de varredura
(2θ) de 3° a 70° e passo angular de 0,02°. Ambas as análises foram feitas no Laboratório de
Peneiras Moleculares – LABPEMOL/UFRN.
Para verificação da morfologia das cinzas foi utilizado o microscópio eletrônico de var-
redura de bancada da marca Hitachi, modelo TM3000, do Laboratório de Caracterização Estru-
tural de Materiais, Departamento de Materiais – UFRN.
Para medir a atividade pozolânica das cinzas foi utilizado o método de determinação do
índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias de acordo com a NBR 5752:2014,
sendo o ensaio feito no Laboratório de Materiais de Construção Civil – UFRN.
Foram moldados 06 corpos de prova (CPs) cilíndricos de (50 x 100) mm de argamassa
de referência e 06 CPs para cada amostra de cinza, com substituição de 25% em massa do
cimento pela cinza, identificados conforme o Quadro 1. Ao todo, foram moldados 30 CPs e as
dosagens utilizadas paras as argamassas foram as descritas na norma do ensaio.
A mistura dos materiais foi feita em um misturador mecânico de eixo vertical com ca-
pacidade de 5 litros. Todo processo de mistura, moldagem, cura e ruptura à compressão dos
CPs foi conforme a norma NBR 7215:2019.
Figura 2 – Corpos de prova com 1 dia de idade da CFB-900-1H (a) e CFB-450-1H (b)
(a) (b)
Fonte: Autor (2019)
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Para verificação da atividade pozolânica das amostras também foi realizado o ensaio da
condutividade elétrica em uma solução contendo hidróxido de cálcio Ca(OH)₂, água deionizada
e a cinza, com as quantidades de cada material baseados no estudo de Tavares (2019).
Inicialmente, adicionou-se nas células 29,331 g de água deionizada e 0,053 g de
Ca(OH)₂. As células são ligadas a um banho termostático e apoiadas em agitadores magnéticos
com velocidade de 900 rpm, sendo a temperatura de ensaio 40ºC. Espera-se 1 h da solução sob
agitação para que o CH seja dissolvido e então é adicionado 0,616 g de cada um dos 4 tipos de
cinzas em cada uma das células (figura 3), sendo então iniciada as leituras com um condutiví-
metro elétrico, com leitura de 100 μS/cm a 100mS/cm. As quantidades utilizadas dos materiais
foram pesadas em uma balança de precisão (precisão 0,00001g). O ensaio foi todo conduzido
nos laboratórios do Núcleo de pesquisa em Petróleo e Gás – NUPPEG/ UFRN.
As leituras de condutividade foram feitas por 10800 s, tempo este menor que o de Ta-
vares (2019) (85000 s) e próximo ao de Payá et al. (2001) (10000 s).
(a) (b)
Fonte: Autor (2019)
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. MASSA ESPECÍFICA REAL
Os resultados dos ensaios de massa específica real do cimento Portland e das cinzas
estão expressos na tabela 4.
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Para Bauer (2000), é considerado igual a 3,15 g/cm³ a massa específica do cimento,
podendo variar para valores levemente inferiores; segundo Verçoza (1987), a massa específica
do cimento é superior a 3,05 g/cm³, sendo o valor encontrado condizente com o previsto em
literatura. Em relação aos valores encontrados para a CFB incinerada a 900ºC foram menores
que os valores obtidos por Tavares (2019) (2,63 g/cm³ 0,5 h de moagem), mas próximos aos
encontrados por Kanning (2010) (2,52 g/cm³ com 1 h de moagem e 2,49 g/cm³ com 3 h de
moagem). As cinzas a 450ºC obtiveram valores de massa específica próximos aos valores en-
contrados por Silva (2016) para a cinza do bagaço da cana-de-açúcar sem moagem incineradas
a 400 e 500ºC (de 2,07 a 2,09 g/cm³).
É importante saber o teor de matéria orgânica das amostras, visto que isso interfere na
sua utilização em argamassas e concretos. Segundo Verçoza (1987), a matéria orgânica pode
alterar as reações destes, chegando a comprometer e até impedir o seu endurecimento.
Através do método disponível empregado em laboratório (método da EMBRAPA) foi
possível encontrar apenas os valores das amostras produzidas a 900ºC, sendo os resultados in-
conclusivos dos teores das amostras a 450ºC, necessitando assim de outro método para sua
análise.
Dessa forma, a análise das amostras de CFB mostram que foi encontrado um valor de
0,02% na amostra de CFB-900-3H e 0,2% na amostra de CFB-900-1H, um valor bastante baixo
de matéria orgânica fazendo uma comparação com o limite máximo admitido em agregados
miúdos pela NBR 7211 (ABNT, 2009) que é de 10%.
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As análises dos resultados de FRX das CFB expressos na tabela 6 demonstram que as
cinzas CFB-900-3H, CFB-900-1H e a CFB-450-1H possuem somatório de SiO₂, Al₂O₃ e Fe₂O₃
igual a, respectivamente, 55,05%, 56,84% e 54,91%. De acordo com a NBR 12653 (ABNT,
2014) se enquadram como classe E, sendo a soma dos referidos óxidos igual ou maior a 50%.
Já a amostra de CFB-450-3H ficou ligeiramente inferior a esse valor, com 49,09%. Kanning
(2013) obteve um somatório de SiO₂, Al₂O₃ e Fe₂O₃ em suas amostras de 52,77% e Tavares
(2019) igual a 37,3%, que pode ter sido causado pelo processo de duas incinerações.
A norma também limita as quantidades máximas de SO₃ em 5%, devido valores eleva-
dos do óxido poderem causar expansão pela formação de etringita nas primeiras horas de hi-
dratação do cimento e restrição da quantidade de Na₂O em 1,5%, devido reação álcali agregado
e surgimento de eflorescência (KANNING, 2013). No estudo todas as amostras apresentam
valores inferiores a esses, com respectivamente, SO₃ e Na₂O iguais a 1,33% e 0,80%; 1,31% e
1,20%; 2% e 0,70% e 1,74% e 0,70% (CFB-900-3H; CFB-900-1H; CFB-450-3H e CFB-450-
1H).
A análise do DRX das 04 amostras de CFB, resumidas nas figuras 4 e 5, mostram picos
de formas cristalinas de calcita em maior abundância, seguida de quartzo e sílica. Os resultados
são condizentes com o encontrado no trabalho de Kanning (2013), porém no presente estudo
não foram identificados picos de magnesita e fluoreto de lítio, como o autor. Tavares (2019)
também encontrou as fases identificadas no presente estudo, com um adicional de sulfato de
magnésio e cloreto de potássio. Na amostra CFB-450-1H pode-se observar também a presença
da forma cristalina da alumina.
Silva (2016) chegou à conclusão em seu estudo que a quantidade elevada de formas cris-
talinas de quartzo da cinza do bagaço da cana-de-açúcar disfarçou a presença de possível halo
amorfo nas análises, o que pode ser uma justificativa para o presente trabalho.
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Nas imagens obtidas através do MEV foi observado nas CFB incineradas a 450ºC estru-
turas cristalinas hexagonais de quartzo ou sílica (figuras 6a e 6b), conforme análise comparativa
com o resultado do DRX, assim como a presença de uma grande quantidade de partículas an-
gulosas, como também encontrado no trabalho de Kanning (2013). Na figura 6b vê-se também
a presença de um cristal em formato romboédrico que pode ser referente a calcita ou alumina.
As análises das CFB incineradas a 900ºC demostram uma maior quantidade de estruturas
esponjosas (figura 6d) e o surgimento de uma estrutura cristalina maior (figura 6c). Também
foi observado um menor aparecimento de estruturas cristalinas em relação as CFB incineradas
a 450ºC, com uma maior quantidade de estruturas amorfas.
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(a) (b)
(c) (d)
O resultado do ensaio de resistência à compressão média aos 7 dias do cimento está ex-
presso na tabela 7. O valor obtido foi maior que o mínimo descrito pela norma NBR 16697
(ABNT, 2018), de 20 MPa com esta idade.
Foi realizado tratamento estatístico nos resultados das amostras individuais, sendo ex-
cluído os CPs cujos desvios relativos máximos deram maior que 6%, para fins de tornar os
resultados mais representativos. O Icimento de cada CFB foi de 90,83%; 120,84%; 112,13% e
107,97% (CFB-900-3H, CFB-900-1H, CFB-450-3H e CFB-450-1H), sendo todos maiores que
o estabelecido na NBR 12653 (ABNT, 2014) (Icimento ≥ 90%) e classificadas como material
que possui atividade pozolânica.
Os CPs com a CFB-900-1H, CFB-450-3H e CFB-450-1H apresentaram acréscimo na
resistência de, respectivamente, 20,84%, 12,13% e 7,97%. Entre os CPs com as CFB incinera-
das a 450ºC observou-se ainda que houve um acréscimo na resistência devido ao incremento
do tempo de moagem, comportamento esse esperado. Nas amostras com as cinzas incineradas
900ºC não ocorreu o mesmo, podendo a explicação ser atribuída a alguma diferença de energia
empregada no momento do adensamento.
5. CONCLUSÃO
De acordo com a análise dos resultados chegou-se as seguintes conclusões acerca do es-
tudo:
• A análise das cinzas para massa específica foi dentro do esperado para materiais pulve-
rulentos; as cinzas a 450ºC mostraram-se um material mais leve;
• Através do FRX pode-se obter uma análise química das CFB e enquadrá-las como ma-
terial pozolânico classe E segundo a ABNT NBR 12653:2014. Apenas o resultado da
CFB-450-3H ficou ligeiramente abaixo (menos de 1%);
• As análises de DRX e MEV mostraram-se compatíveis com estudos anteriores existen-
tes na literatura;
• Os ensaios de Teor de matéria orgânica apresentaram baixos valores para as amostras a
de CFB incineradas a 900ºC, aceitáveis para incorporação do material em argamassas e
concretos;
• Todos os materiais foram classificados como pozolânico pela ABNT NBR 5752:2014,
sendo a CFB-900-1H a de maior acréscimo de resistência em relação ao valor de refe-
rência (20,83% a mais);
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Diante o exposto, todas as cinzas apresentaram atividade pozolânica e merecem ser tes-
tadas no emprego como parte do agregado miúdo em argamassas, concretos ou em substituição
parcial do clínquer do cimento Portland.
REFERÊNCIAS
______. NBR 7211: Agregados para concreto - Especificação. Rio de Janeiro, 2009.
______. NBR 7214: Areia normal para ensaio de cimento - Especificação. Rio de Janeiro, 2015.
______. NBR 16605: Cimento Portland e outros materiais em pó: determinação da massa es-
pecífica. Rio de Janeiro, 2017.
CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Dados CBIC. 2019. Disponível em:
<http://www.cbicdados.com.br/menu/materiais-de-construcao/cimento>. Acesso em:
08/11/2019.
21
FAO, Food And Agriculture Organization of the United Nations. Crops, FAOSTAT. 2019.
Disponível em: <http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC/visualize>. Acesso em: 15/11/2019.
KANNING, Rodrigo C. et al. Banana leaves ashes as pozzolan for concrete and mortar of
Portland cement. Construction and Building Materials, v. 54, p. 460-465, 2014.
PAYÁ, J. et al. Determination of amorphous silica in rice husk ash by a rapid analytical
method. Cement and Concrete Research, v. 31, p. 227-231, 2001.