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Um dos itens da pesquisa realizada em todas as paróquias da arquidiocese de São Paulo, em vista

do sínodo arquidiocesano, refere-se à fé na ressurreição dos mortos: você crê na ressurreição dos
mortos? As respostas revelaram que cerca de 25% dos católicos de São Paulo colocam em dúvida
ou não creem na ressurreição dos mortos.

Isso, de certa forma, não surpreende uma vez que, na cultura contemporânea tendente ao
materialismo, a fé na ressurreição dos mortos e na vida eterna parece absurda. E muitos cristãos e
católicos também acabam pensando assim. No entanto, a questão deve levar a refletir sobre a
nossa pregação: estamos anunciando a integralidade da mensagem do Evangelho? A fé na
ressurreição de Jesus Cristo e na nossa ressurreição, “no último dia”, é parte essencial da
mensagem cristã. A Igreja proclama que crer na vida eterna, mas cadê os que de fato crêem...

No tempo de Jesus, os Saduceus também não acreditavam na ressurreição dos mortos, mas Jesus
lhes ensinou que a ressurreição dos mortos, “pelo poder de Deus”, é segura. “Deus não Deus dos
mortos, mas dos vivos” (Mc 12,24). O próprio Jesus anunciou: “eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crer em mim, ainda que tenha morrido, viverá” (Jo 11,25). Na pregação dos apóstolos,
sobretudo de São Paulo, a fé na ressurreição de Cristo e na nossa ressurreição futura é claríssima.
“Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há
ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a nossa
pregação é sem fundamento e também é sem fundamento a vossa fé. Mas, na verdade,
Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram” (1Cor 12,14-20).

Desde o início do Cristianismo, e ao longo de toda a sua história, esta verdade encontrou
resistência. Sempre houve o modo de pensar materialista, segundo o qual a vida humana não vai
além da vida corporal neste mundo, e que não há o poder de Deus, capaz de ressuscitar os mortos.
Havia também o pensamento da reencarnação, que é diferente da ressurreição dos mortos. E ainda
hoje estão presentes as visões sobre a existência humana, que excluem a ressurreição dos mortos.
Talvez este foi o aspecto mais contestado da fé cristã. Ao mesmo tempo, porém, a afirmação da
ressurreição de Jesus e da nossa ressurreição corporal tornou-se uma das características
marcantes da fé cristã, que a distingue de outras formas de crer e de pensar sobre a existência
humana. Nós somos daqueles que creem na ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos e na
nossa ressurreição futura, graças ao poder de Deus.

Na profissão de fé, nós proclamamos: “creio na ressurreição da carne”. Neste caso, “carne” designa
o ser humano na sua condição frágil e mortal. Pelo nosso corpo, somos parte deste mundo
perecível. O próprio Filho de Deus, vindo a este mundo, assumiu a nossa carne: “o Verbo se fez
carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Com a “ressurreição da carne” afirmamos que, após a morte,
não haverá apenas vida para a nossa alma espiritual e imortal, mas que também para nossos
corpos, que se desintegram e voltam ao pó da morte. Eles também são destinados a receber vida
nova e transfigurada (cf Rm 8,1).

Muitas são as perguntas que daí decorrem: quando isso acontecerá? Onde? Como? Por obra de
quem? Para responder, é preciso relacionar as respostas com o conjunto da nossa fé cristã. Antes
de tudo, isso não é obra do homem, mas do poder de Deus Trindade. O Deus Criador, em quem
cremos, tem o poder de chamar os mortos à vida e o faz em vista da obra redentora que seu Filho
realizou, para que “todos tenham vida, e vida plena” (cf Jo 10,10). E será “vida nova” para os
nossos pobres corpos mortais, à semelhança da vida de Jesus ressuscitado, graças ao poder do
Espírito Santo e vivificador. A ressurreição “dos mortos”, ou “da carne”, é a plenitude da nossa
salvação. Deus não quer nos salvar apenas “um pouco”, mas plenamente, e nos chama a participar
em corpo e alma da sua vida imortal e gloriosa. Isso está no centro da fé e da esperança cristã.

Quando isso acontecerá? Como será? Onde? É normal que nos coloquemos essas questões. No
entanto, não devemos esquecer as palavras de Jesus: só Deus mesmo conhece os seus desígnios
(cf Lc 21,7s). Não se trata de obra do homem, mas é graça salvadora de Deus. No Novo
Testamento encontramos a expressão – “último dia”, ou “últimos tempos”: “quem vê o Filho e nele
crê tem a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia” (6,39; cf Jo 11,24; 12,48). A expressão
não indica um “dia cronológico”, mas o momento da manifestação do poder de Deus. E o tempo de
Deus não é igual ao nosso.

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