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História da Mineralogia

Chapter · December 2012

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Daniel Atencio
University of São Paulo
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Estudo integrado de geologia, mineralogia e caracterização tecnológica do minério com vistas à exploração de ETRP em Pitinga (AM). Avaliação do potencial para ETRP
de granitos análogos na Província Estanífera de Goiás". View project

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Evolução das Ciências II


TÓPICO
HISTÓRIA DA MINERALOGIA
Daniel Atencio

4.1 Introdução
4.2 Antecedentes Pré-históricos e a Antiguidade Clássica
4.3 A Idade Média
4.4 O Renascimento
4.5 A física dos minerais
4.6 A química dos minerais
4.7 Óptica mineralógica no século XIX
4.8 Aplicações petrográficas da óptica mineral
4.9 O século XX
4.10 Microscopia de minério e microssondas
4.11 A Associação Mineralógica Internacional (IMA)
4.12 O presente
4.13 A Mineralogia no Brasil

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4.1 Introdução
A história da mineralogia foi tratada em excelentes pesquisas de Hawthorne (1993), Sureda
(2008), Cornejo e Bartorelli (2010) e alguns outros. O texto a seguir é uma colagem de infor-
mações retiradas desses trabalhos.

4.2 Antecedentes Pré-históricos e a


Antiguidade Clássica
A utilização dos minerais pelo homem começou muito antes do estabelecimento da
Mineralogia como ciência, conforme ressaltou Sureda (2008). Os dados da antropologia, com a
documentação associada aos locais habitados pelo homem primitivo, permitem comprovar esta
afirmação e enumerar uma longa lista de minerais utilizados na vida cotidiana das antigas socieda-
des humanas. O desenho de utensílios, armas, joias e vários objetos de culto ou de decoração, re-
gistra o uso de quartzo, obsidiana, opala, turquesa, malaquita, ouro, cobre, prata, granada, coríndon,
topázio, hematita, olivina, jadeíta, alabastro, lazurita, entre várias dezenas de espécies minerais com
características muito apreciadas para esses fins práticos. A relação de minerais com o homem pré-
-histórico é muito antiga. Precede o Holoceno e o Homo sapiens, e é conhecida nas comunidades
de pré-hominídeos (Homo faber, Homo erectus) na forma de utensílios e ornamentos em assenta-
mentos tão antigos como 0,9 e 1,2 Ma. Uso não significa conhecimento científico adquirido e
a mineralogia como ciência dos minerais é iniciada por um registro descritivo e documentado
com as propriedades de suas espécies e variedades. Embora os arqueólogos provem a elaboração
de joias em ouro puro e maciço em Hotnitsa, Bulgária central, um local distante nove milênios do
presente, ou a mineração de turquesa, organizada pelos faraós do Egito na península do Sinai, com
mais de 4.500 anos de antiguidade, sem a versão escrita de uma história coerente sobre as proprie-
dades minerais, não há conhecimento organizado, ou seja, não há ciência dos minerais. De acordo
com Hawthorne (1993), a literatura mais antiga conhecida, que cita os minerais, são os Vedas, dos
indianos, que data de aproximadamente 1100 a.C. Há compilações chinesas de minerais do século
VII a.C. e outros manuscritos indianos do século III a.C. De acordo com Sureda (2008), uma
mineralogia incipiente aparece na Grécia clássica do século V a.C., quando Heródoto (484-420?

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a.C.) utiliza na “Odisseia” o termo krystallos para se referir ao gelo. Quase um século mais tarde,
Platão (428-348 a.C.) atribui no “Timeu” o duplo significado de gelo e cristal de rocha com
origem etimológica em kryos = frio e halas = sal. Estas raízes gregas são preservadas no presente
em ciências tão distantes como a cristalografia e a criogenia. A Grécia é o limiar desta história da
mineralogia. Aristóteles (384-322 a.C.), pai das ciências naturais e o mais proeminente seguidor
de Platão, escreveu brevemente sobre minerais em sua obra “Meteorológica”. Ele, por sua vez, teve
um discípulo chamado Teofrasto (372-277 a.C.), que é considerado precursor da mineralogia, da
botânica e da zoologia. Em um ensaio intitulado "Sobre as pedras" (315 a.C.),Teofrasto descreveu
cinábrio, crisocola, magnetita e gipsita, minerais de sua autoria pelo princípio básico de prioridade
em ciência para o pesquisador que introduz o registro de algo do mundo natural no conhecimen-
to humano, sejam estrelas, planetas, cometas, asteroides ou espécies biológicas viventes ou fósseis,
assim como os próprios minerais. A mineralogia sistemática atual o coloca como autor das quatro
espécies referidas por entender que a descrição é satisfatória e inequívoca. A cor e a densidade
dos minerais são as duas propriedades mais relevantes nas descrições de Teofrasto. O hidróxido de
níquel trigonal, teofrastita de Vermion, Macedônia, Grécia, é o mineral dedicado à sua memória
por Marcopoulus e Economou (1981).
Em Roma, quando a superioridade das legiões romanas contra a falange grega mudou radical-
mente a equação do poder no mar Mediterrâneo após as batalhas de Cinoscéfalos (197 a.C.) e Pidna
(168 a.C.), Marcus Porcius Cato (234-149 a.C.), político e orador, impulsionou a literatura latina
ante o classicismo grego. Sua obra "De agri cultura", junto com a compilação "Praecepta", influen-
ciou a famosa “História natural” de Plínio.Três séculos depois, Gaius Plinius Secundus (23-79 d.C.),
mais conhecido como Plínio, o Velho, foi um romano que até o ano de 77 escreveu uma notável
enciclopédia de ciências naturais "Naturae Historium Libri", em trinta e sete volumes. Os últimos
quatro volumes foram dedicados a minerais. Ágata, alabastro, berilo, calcita, cassiterita, diamante,
electro, galena, hematita, malaquita e ouropigmento são espécies descritas por ele.

4.3 A Idade Média


O declínio da civilização greco-romana mergulha a Europa na escuridão do misticismo e na
irracionalidade pelos próximos quinze séculos. O próximo trabalho a ter uma abordagem mais
científica é o do cientista persa Abu Rayhan Ahmad al-Biruni (973-1048), um intelectual de fé

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muçulmana, que foi destaque em astronomia, antropologia, geodésia, geologia, química e física.
Abrigou uma mente científica e enciclopédica, como historiador, filósofo, geólogo, matemático
e farmacêutico. Ele escreveu o livro “Gemas” no final de sua vida.
A mineralogia também documenta a contribuição de um médico árabe radicado no sul da
Espanha, Abu Ali al-Hosain ibn Abdullah Ibn Sina (980-1037 d.C.), Avicena em textos latinos,
que escreveu “Ille Canon” (a regra) e estabeleceu, em Granada, a primeira ordem sistemática dos
minerais em quatro grupos, de acordo com antigas aplicações
médicas. A abordagem sistemática de Avicena os separou em: 1.
as pedras que não dão metais (refratárias ao fogo); 2. os metais
ou pedras metálicas (deixam resíduo metálico ao queimar); 3. os
enxofres (completamente voláteis ao queimar); e 4. os sais (solú-
veis em água). Avicenita, um óxido de tálio cúbico de Bukhara
Usbeque, cordilheira Zirabulak, Samarkand, no Uzbequistão foi
nomeado em sua memória por Karpova et al. (1958).
Durante o período pré-Renascença, o número de minerais
conhecidos cresceu rapidamente e a abordagem fenomenoló-
gica pelos filósofos mais rigorosos foi essencial para o desen-
volvimento da Mineralogia como uma ciência útil, conforme
destaca Hawthorne (1993). Figura 4.1: Avicenna (C. 980 - 1037)

4.4 O Renascimento
O Renascimento foi acompanhado por uma grande expansão da atividade econômica na
Europa. Em particular, extensos trabalhos de mineração e fundição tiveram lugar na Alemanha no
início do século XVI. Sobressai a figura do alemão Georg Bauer (1494-1555), que teve grande
influência intelectual, a ponto de ser considerado o pai da mineralogia da Renascença europeia.
Mais conhecido como Agrícola, seu pseudônimo latino, estudou filosofia, teologia e medicina em
Leipzig, Tübingen, Bolonha, Pádua e Ferrara. Ele se formou em 1526 e se estabeleceu na cidade
de Joachimsthal, agora na República Checa, um centro de mineração, onde praticou medicina
(1527). Ali se interessou muito pelo estudo dos minerais utilizados em medicamentos. Estendeu
suas investigações ao campo da mineralogia e da teoria do minério e às técnicas utilizadas na

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mineração. Agrícola foi melhor mineralogista do que médico, embora as necessidades humanas
em saúde continuassem a estimular seu conhecimento dos minerais. Seus trabalhos publicados,
De orto et causis subterraneorum (1544), De natura eorum quae effluunt ex terra (1545), De natura
fossilium (1546), De natura possibilium, De veteribus et novis metallis (1546), De animantibus subterraneis
(1548) e De l'arti dei metalle (1563), são textos originais de mineralogia escritos com seus métodos
para identificar minerais e preparar remédios. Suas técnicas de mineralogia determinativa foram
basicamente corretas e seus princípios têm perdurado até hoje. Descreve cor, brilho, transparência,
densidade, clivagem e fratura entre as propriedades físicas, e foi o primeiro a reconhecer a origem
orgânica dos fósseis, mas o tratamento das formas cristalinas ainda necessitava de futuros estudos.
A sistemática moderna o reconhece como descobridor de almandine, bismuto, bórax, fluorita e sal
amoníaco.Três das espécies são fundentes muito bons e o processamento de minerais é a disciplina
que deve mais ao talento de Agrícola, também reverenciado como o pai da metalurgia.Tanto seu
primeiro livro, Bermannus, sive de re metallica dialogus (1528), quanto o último, De re metallica libri
XII (1556), tratam de mineração e metalurgia, com uma descrição precisa dos métodos de mine-
ração e benefício do minério extraído. Em 1536, Agrícola se mudou para a cidade de Chemnitz,
um importante centro da indústria mineira da Alemanha, e foi eleito Bürgermeister (prefeito)
em 1546. Morreu de um derrame no meio de um acalorado debate religioso com um pastor
protestante, depois de ter servido nove anos no governo da cidade. De re metallica foi sua obra
máxima e a razão para a sua merecida fama. Publicado em Basileia um ano após sua morte, teve
uma divulgação notável com um alcance global como texto de consulta em mineração.
Mais ou menos contemporâneo de Agrícola foi Vannoccio Biringuccio, de Siena, Itália. Em
seu trabalho de metalurgia, Pirotecnia, que apareceu em 1540, ele desenvolveu uma classifica-
ção de minerais, similar em escopo à de Agrícola.

4.5 A física dos minerais


Lucretius (99-55 a.C.) primeiramente propôs que a matéria (ele explicitamente incluiu
minerais) consistia de átomos dos “elementos” terra, ar, fogo e água. Esta foi, porém, uma pro-
posição essencialmente axiomática. O primeiro trabalho indutivo sobre a constituição interna
dos minerais é atribuída a Johannes Kepler. Em 1611, ele fez a primeira descrição da simetria
hexagonal dos flocos de neve, propondo que eles eram compostos de um arranjo de

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empacotamento compacto de “átomos” esféricos de gelo, e reconheceu a natureza única dos


arranjos cúbico e hexagonal compactos de esferas.
Em 1669, Nicolau Steno (ou Niels Stensen) mostrou que os
ângulos interfaciais dos cristais de quartzo são constantes, inde-
pendentemente do hábito cristalino. Ele também propôs o cres-
cimento dos cristais pela adesão de partículas provenientes de um
fluido externo, e concluiu que o crescimento cristalino é direcio-
nal na natureza, com o hábito cristalino dependente das taxas de
fluxo de material nas diferentes direções. A hipótese de Steno é
um avanço muito importante, pois ele estabeleceu a Cristalografia
como uma ciência quantitativa, e a forma externa tornou-se de Figura 4.2: Johannes Kepler
grande importância na descrição e classificação de minerais. O
zênite foi atingido quando Abraham Werner (1750-1817), professor de Mineralogia em Freiburg,
Alemanha, desenvolveu um esquema completo de classificação de aproximadamente 300 mine-
rais, que foi importante para a padronização de descrições e nomenclatura de minerais. Ele foi o
primeiro a introduzir nomes de minerais a partir de pessoas: prehnita (em homenagem ao coronel
Hendrik von Prehn, que descobriu o mineral), torbernita (para Torbern Olof Bergman, um pro-
eminente mineralogista e analista sueco) e witherita (para William Withering, que descreveu
originalmente o mineral). Apesar de a classificação de Werner ter sido muito importante, o desen-
volvimento da mineralogia química já se havia iniciado, assinalando o fim das propriedades físicas
como a base da classificação mineral.
Após o desenvolvimento do goniômetro por Carangeot
em 1780, Jean Baptiste Louis Romé de l'Isle (1736-1790)
confirmou a hipótese de Steno, estabelecendo a lei da cons-
tância dos ângulos interfaciais. O maior avanço desse período,
entretanto, deve-se a René-Just Haüy (1743-1822). Em seu
Tratado de Cristalografia, publicado em 1784, Haüy propôs
que os cristais consistiam de moléculas internas idênticas,
empilhadas juntas, e mostrou como diferentes modificações
do mesmo empilhamento poderiam dar lugar a diferentes
Figura 4.3: A formação de cristais de neve
formas cristalinas. A similaridade de suas ideias com as de
por empacotamento compacto de "átomos de cela unitária e retículo espacial é impressionante. Em 1815,
neve", segundo Kepler

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Christian Weiss desenvolveu a ideia de eixos cristalográficos e sua relação com os eixos de sime-
tria, e reconheceu os sistemas cúbico, tetragonal, ortorrômbico, hexagonal e trigonal. Em 1825,
Friedrich Mohs, inventor da escala de dureza de Mohs descobriu os sistemas monoclínico e
triclínico. Em 1830, Johann Hessel derivou as 32 classes cristalinas. Auguste Bravais derivou os
14 retículos de Bravais em 1848. A derivação dos 230 grupos espaciais são de autoria de E.S.
Fedorov, Artur Schoenflies e William Barlow. Barlow também deu os primeiros passos em di-
reção a um melhor entendimento dos fundamentos da estrutura cristalina, propondo o arranjo
da estrutura cristalina da halita, o que foi completamente ignorado pela comunidade científica
da época, ficando à espera da tecnologia do século XX.

4.6 A química dos minerais


Em 1758, Kronstedt desenvolveu uma classificação de minerais que era híbrida de critérios
químicos e físicos, e o estudo químico de minerais começou a acelerar, particularmente com
os estudos sistemáticos de Torbern Bergman (1735-1784). Muitos mineralogistas químicos
clássicos realizaram estudos analíticos dos minerais conhecidos na época. Numerosos minerais
novos e 25 novos elementos químicos foram descobertos entre 1790 e 1830. Um fator-chave
foi a descoberta das leis da estequiometria pelo químico inglês John Dalton (1766-1844). Com
o desenvolvimento da teoria atômica de Dalton, a importância da constituição química dos
minerais foi prontamente estabelecida e todas as classificações mineralógicas sérias subsequentes
foram baseadas na química mineral. Neste período, destaca-se a figura de Jon Jacob Berzelius
(1779-1848). Esse famoso mineralogista e químico sueco desenvolveu uma classificação mi-
neralógica baseada na eletronegatividade dos elementos, criando as classes dos óxidos, haletos,
fosfatos, sulfatos e silicatos. Nessa época, François Beudant e William H. Wollaston (que dizia
que nomear minerais a partir de pessoas não era uma boa ideia) descobriram o conceito de so-
lução sólida nos minerais; e Eilhardt Mitscherlich (1794-1863) propôs a ideia de polimorfismo.
Essas ideias acarretaram um rápido crescimento no número de espécies minerais.
O ano de 1837 é um marco na história da Mineralogia. Ele assinala a data de publicação
da primeira edição de A System of Mineralogy, de James Dwight Dana (1813-1895). A quarta
edição de seu trabalho surgiu em 1854 e, nessa edição, Dana introduziu o "moderno" esquema

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de classificação química de Berzelius, e o aplicou sistematicamente a todos os minerais conhe-


cidos na época.

4.7 Óptica mineralógica no século XIX


No século XIX, aconteceu uma revolução com o uso de microscopia de polarização em
Mineralogia e Geologia. Transcorreram dois séculos desde que o holandês van Leeuwenhoek
inventou o microscópio e criou a microbiologia até o nascimento do microscópio de luz
polarizada, a ferramenta notável que impulsionou drasticamente o estudo dos cristais minerais e
o conhecimento das rochas através da petrografia. O mérito maior deve-se ao italiano Giovanni
Battista Amici (1786-1863), que adaptou, em 1827, uma fonte de luz plano-polarizada ao
velho microscópio simples dos biólogos, criando assim o microscópio petrográfico, e ao escocês
William Nicol (1771-1851), que criou, em 1829, um prisma (que hoje leva o seu nome) para
fornecer uma fonte confiável de luz plano-polarizada. A produção industrial de microscópios
de polarização desenvolveu-se muito, no final do século XIX e início do século XX, ante
uma demanda mundial difundida após as novas técnicas de óptica mineral e petrografia. O
estudo das rochas em seções delgadas sob a luz polarizada criou uma demanda de instrumental,
que a esmerada produção artesanal de pioneiros como Amici, Talbot, Nachet, Dick, Chevalier,
Highly, Spencer, Picard, Frankenheim, Bulloch, Koristka, Ross, Plössl, Queen, Ladd, Körner,
Oberhauser, entre outros, se viu incapaz de cobrir. O fabricante alemão Carl Zeiss (1816-1888)
iniciou, então, a produção em série de microscópios e acessórios.

4.8 Aplicações petrográficas da óptica mineral


Até a metade do século XIX e com o microscópio de polarização como ferramenta básica,
começou na geologia um crescente movimento global para a investigação dos minerais e rochas
pela refração da luz plano-polarizada. Pierre Louis Antoine Cordier (1777-1861), engenheiro
de minas francês, descobriu a cordierita e descreveu suas propriedades microscópicas já entre
1813 e 1815, bem antes de usar os prismas de polarização. Henry Clifton Sorby (1826-1908)
é hoje reconhecido como o pai inglês da petrografia microscópica, nova ciência do estudo de

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rochas e minerais em lâminas delgadas. Habilidoso geólogo britânico, no ano de 1849 foi um
dos pioneiros no uso do microscópio de polarização e lâminas delgadas de rochas, percebendo a
profundidade que reside na possibilidade de seu uso para a petrologia e outras ciências da terra.

4.9 O século XX
Na virada do século, uma profunda mudança teve lugar com os métodos de trabalho e as
ferramentas disponíveis em cristalografia. As primeiras décadas do século XX assistiram ao uso
maciço da difração de raios X por cristais e ao domínio crescente da cristalografia estrutural e
da cristaloquímica.Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923) foi um físico alemão, que descobriu
os raios X em 1895. Ele estudou na Technische Hochschule Eidgenössische, Zurique, e, em
seguida, ingressou formalmente em engenharia mecânica na Polytechnikum de Zurique para
frequentar aulas de física Rudolph Julius Emmanuel Clausius (1822-1888) e trabalhar no labo-
ratório de August Kundt (1839-1894), ambos destacados físicos com forte influência em sua
vocação e carreira. Quando Kundt substituiu Clausius na cadeira de Física, tomou Röntgen
como assistente e, juntos, reorganizaram o laboratório de física experimental. Ele defendeu seu
doutorado em Física pela Universidade de Zurique em 1869. Ocupou vários cargos como
professor de física nas universidades de Estrasburgo (1874), de Giessen (1877) e de Würzburg
(1888), onde trabalhou com os famosos colegas Helmholtz e Lorenz, e, finalmente, na
Universidade de Munique (1890) para substituir o falecido Eugen Cornelius Joseph Lommel
(1837-1899), diretor do Physikalische Institut der Universität
München, onde Röntgen resolveu passar o resto de sua vida.
Em novembro de 1895, quando testou o impacto de raios cató-
dicos sobre um anticátodo de metal, observou em uma placa
opaca de papelão a fluorescência de cristais de cianeto de platina
e bário, fluorescência emitida em correspondência com a des-
carga de elétrons rápidos e sua brusca frenagem pelo anticátodo.
Ele repetiu o teste para verificar se uma radiação secundária
penetrante, atravessando o material opaco ordinário, emergia do
anticátodo pela frenagem violenta dos elétrons acelerados.
Figura 4.4: Rontgen (1895)
descoberta dos raios x Chamou de raios X esta radiação, utilizando a letra que

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representa uma incógnita em matemática, em alusão à incerteza da sua natureza, corpuscular ou


ondulatória. Esse nome é preservado até hoje. Röntgenografía é a disciplina que estuda a teoria
e aplicações dos raios X ou raios röntgen. O artigo Über eine neue art von Strahlen, comuni-
cando a descoberta, veio apenas sete semanas mais tarde, em dezembro de 1895. Röntgen rece-
beu o Prêmio Nobel de Física de 1901. Röntgenita é um flúor-carbonato de cálcio e terras
raras de simetria trigonal, descoberto em Narssârssuk, Groenlândia (Donnay 1953). Em 2004, a
União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) homenageou a memória de
Röntgen, nomeando röntgênio o elemento químico de número 111.
Por mais de uma década, os enigmáticos raios X foram utilizados em aplicações médicas,
sem que fosse esclarecida a sua natureza. Max Theodor Felix von Laue (1879-1960) e seus
auxiliares Walter Friedrich e Paul Knipping, da Universidade de Munique, realizaram, em 1912,
a experiência fundamental para difratar um feixe de raios X
através de um cristal de esfalerita. Esta experiência validou si-
multaneamente a teoria atômica de Dalton, a existência de uma
rede tridimensional de Bravais, cujo espaçamento tem a ordem
de grandeza do comprimento de onda dos raios X, os quais, por
sua vez, adquiriram significado como parte do espectro eletro-
magnético da radiação natural, descrito por Maxwell em 1865.
Laue alcançou sua capacitação de professor, em 1906, com o
tema Über die Entropie von interferierenden Strahlenbündeln
e lecionou no Institut für Physik Theoretische der Universität
München a partir de 1909. Ele ocupou o cargo de professor
de física teórica na recém-fundada Goethe-Universität de Figura 4.5: Von laue (1912)
interação raios x - cristais
Frankfurt do Meno, e foi agraciado com o prêmio Nobel de
Física por difração de raios X em 1914. No final da Primeira Guerra Mundial, escolheu tra-
balhar no Kaiser-Wilhelm-Institut für Physik (agora Max Planck Institut), Universidade de
Berlim (1919), e foi seu diretor a partir de 1933. Um método de difração de raios X nos cristais
leva o seu nome. Laueíta é fosfato hidratado de manganês e ferro com simetria triclínica, do
pegmatito Oberphalz, Baviera, Alemanha, descoberto e nomeado por Strunz (1954).
No desenvolvimento posterior das técnicas röntgenográficas aplicadas à cristalografia, desta-
cam-se William Henry Bragg (1862-1942) e William Lawrence Bragg (1890-1971), dois físicos
australianos, pai e filho, que receberam o Prêmio Nobel de Física em 1915 por seu trabalho.Tão

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logo Laue relatou sua experiência em Munique, os Bragg, em Cambridge, abordaram a questão
de uma forma integrada: William Henry tornou-se mais interessado pela natureza dos raios
X e pela concepção dos equipamentos de difração experimental; William Lawrence escolheu
abordar as estruturas cristalinas de substâncias sólidas e os fundamentos da química do cristal.
Em 1913, apresentaram a famosa Lei de Bragg, relacionando o ângulo formado pelo feixe
difratado com os planos cristalográficos, o espaçamento entre esses planos e o comprimento de
onda dos raios X utilizados. No mesmo ano, publicaram a estrutura de halita, que demonstrou a
ausência de moléculas de cloreto de sódio no cristal, mas uma alternância de íons Cl e Na em
um poliedro regular octaédrico. O Bragg pai recebeu as medalhas Rumford (1916) e Copley
(1930) da Royal Society de Londres, instituição que presidiu entre 1935-1940. Bragg filho
o sucedeu no cargo apenas a partir de 1954, mas foi diretor do Laboratório Cavendish, em
Cambridge, onde James Watson e Francis Crick descobriram, em fevereiro de 1953, a estrutura
helicoidal da molécula de DNA com a ajuda de raios X. O mineral braggita, sulfeto de platina,
paládio e níquel, tetragonal, encontrado no Complexo Bushveld, Transvaal, África do Sul, foi
nomeado em honra de ambos por Bannister e Hey (1932).
Linus Pauling capitalizou o trabalho dos Bragg e produziu suas famosas regras que formam
uma das bases da moderna cristaloquímica. Estas contribuíram significativamente para a solução
e interpretação de algumas das estruturas mais complexas de silicatos. Quando Warren (1929)
solucionou a estrutura cristalina da tremolita, ele usou a terceira lei de Pauling para mostrar que
a tremolita contém OH essencial, que ocupa a posição O(3).

4.10 Microscopia de minério e microssondas


Também pertence ao século XX a história da microscopia de polarização para estudo de
minerais opacos, aqueles minerais que não deixam passar a luz em lâminas delgadas e não
podem ser examinados por refração no microscópio petrográfico. A microscopia de minério
necessitou da concepção de um epiluminador eficaz para projetar e refletir a luz polariza-
da verticalmente sobre a superfície polida horizontal de minerais opacos. Ela também exigiu
técnicas especiais para a confecção de máquinas de polimento capazes de proporcionar um
acabamento espelhado de alta qualidade, em seções polidas contendo minerais de dureza e mi-
croestrutura muito contrastadas. A microscopia de minério tornou-se um suporte importante

TÓPICO 4  História da Mineralogia


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para a geologia econômica de depósitos minerais metalíferos, e o seu desenvolvimento ampliou


o conhecimento das espécies minerais nas classes dos elementos, sulfetos, sulfossais, óxidos e
hidróxidos, nas quais predominam minerais opacos. Técnicas complementares de fotometria e
microdureza complementam o estudo, determinando-se quantitativamente a refletividade e a
dureza nesses minerais. Sem dúvida, os avanços tecnológicos na química analítica instrumental
foram cruciais para a análise química de qualidade, quantitativa e pontual, mediante o emprego
do microscópio eletrônico e das microssondas analíticas (eletrônica, protônica e de íons pesa-
dos). Assim se pode estabelecer a composição de minerais ou fases vítreas que formam inclusões
muito pequenas em outros minerais, com dimensões de poucos micrômetros, cristais zonados,
crescimentos autigênicos de diferentes idades etc.

4.11 A Associação Mineralógica


Internacional (IMA)
De acordo com Sureda (2008), durante o século XX e em sua evolução como ciência dos
minerais, a mineralogia atingiu um nível de maturidade sem precedentes, situação que lhe
permitiu evitar obstáculos nacionais, a influência excessiva de personalidades fortes, o uso de
termos técnicos inadequados e a admissão de espécies minerais de existência duvidosa, com
estudos insuficientes. Um fator decisivo para esse avanço notável foi a criação conjunta, em
1958, da Associação Mineralógica Internacional (IMA), uma verdadeira federação internacional
de associações de mineralogistas, estabelecida com o propósito de racionalizar a nomenclatura
mineralógica e controlar, em nível mundial, a aceitação oficial dos novos minerais e nomes
propostos pelos seus descobridores. Presentemente, proposições de novos minerais e seus
nomes passam por um mecanismo de avaliação e aprovação pela Comissão de Novos Minerais,
Nomenclatura e Classificação (CNMNC), ex-Comissão de Novos Minerais e Nomes de
Minerais (CNMMN), da Associação Mineralógica Internacional. Há um formulário específico
para submissão de propostas a essa comissão. As pesquisas sobre a prioridade e a originalida-
de da proposta, assim como o controle do estudo exaustivo da espécie mineral com técnicas
modernas, para excluir possíveis erros de identidades ou sinônimos, constituem o principal
esforço dos membros da CNMNC-IMA. Desde a sua criação, a IMA aprova as novas pro-
postas, depura a nomenclatura prévia revisando os grupos minerais complexos ou as espécies

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70 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp

duvidosas, propiciando, além disso, estudos históricos sobre prioridades. Nesse sentido, também
desacredita a nomenclatura que se revela falsa (nomes obsoletos) e distingue as categorias de
nomes válidos propostos antes de 1959 (G); nomes questionáveis descritos antes de 1959 (Q),
e os nomes publicados depois de 1959 sem a aprovação da IMA (N). A história da CNMMN
foi relatada por Fourestier (2002), e no site http://pubsites.uws.edu.au/ima-cnmnc/ são
encontradas todas as informações e publicações relacionadas a novos minerais, nomenclatura
e classificação. A mineralogia sistemática atual reconhece cerca de 4.800 espécies, e a ela se
incorporam, em média, 80 novos minerais descobertos e aprovados a cada ano.

4.12 O presente
Atualmente, conforme ressaltou Sureda (2008), a mineralogia apresenta uma tendência a
se adaptar, em termos gerais e interdisciplinares, com a aplicação de seus métodos e seus la-
boratórios para as nanotecnologias no desenvolvimento de novos materiais com propriedades
inovadoras para a indústria e a sociedade. Esse contexto heterogêneo, que hoje é chamado
frequentemente de Ciência dos Materiais, reúne mineralogia, física do estado sólido, química
orgânica e inorgânica e a informática. A mineralogia de alta pressão, que começou com grandes
prensas hidráulicas e continuou com bigornas de diamante e o feixe analítico dos síncrotrons,
permitiu investigar o comportamento da matéria no interior do planeta, sob pressões que já
chegam a centenas de GPa, e a fronteira entre o manto e o núcleo da Terra. A cristalografia
e a cristaloquímica projetam suas linhas de investigação sobre a cinética da cristalização dos
minerais petrográficos em ambientes sem gravidade, investigações que permitem interpretar a
evolução da matéria nas nebulosas protoestelares e seus resíduos presentes no sistema solar.

4.13 A Mineralogia no Brasil


A história da mineralogia no Brasil foi tratada em alguns poucos textos, destacando-se os de
Leonardos (1955), Franco (1981), Atencio (2000) e, mais recentemente, Cornejo e Bartorelli
(2010). As informações a seguir foram extraídas desses trabalhos. Os minerais, em nosso país,
começaram a ter utilidade a partir dos povos indígenas, desde o pré-descobrimento, através de

TÓPICO 4  História da Mineralogia


Licenciatura em Ciências · USP/Univesp 71

diversos objetos líticos e afrescos em cavernas (minerais, suas variedades e rochas), onde são
encontrados principalmente amazonita, calcedônia, grafita, hematita, jadeíta, malaquita, nefrita,
hematita, opala, quartzo, quartzo aventurino, quartzo hialino, sílex, sillimanita, anfibolito, copal,
basalto, diabásio, diorito, esteatito, filito, gabro, gnaisse, granito, jaspe, quartzito e xisto.
O primeiro registro mineral no Brasil deve-se ao espanhol Felipe de Guilhem, que, em
1550, aventou, baseado em relatos indígenas, a ocorrência de esmeralda na chamada Serra
Resplandecente. O primeiro historiador a relatar incursões ao
sertão brasileiro foi o português Pero de Magalhães Gandavo
(1576), com a narrativa da possível ocorrência de ouro nativo
na região correspondente ao atual estado de Minas Gerais. O
também português Gabriel Soares de Sousa, que residiu na
Bahia de 1567 a 1584, escreveu o Tratado Descritivo do Brasil
(1587), no qual mencionou as pedras de construção dos arre-
dores da cidade de Salvador, descreveu as rochas calcárias do rio
Jaguaribe e de Alcântara, falou da obtenção de cal a partir de
conchas e corais da região de Taparica, assegurou a existência
de minérios de ferro, cobre, ouro e prata; falou de gemas azuis
e verdes, referiu-se ao “cristal finíssimo” e às “esmeraldas que Figura 4.6: Djalma Guimarães
nascem dentro do cristal e como elas crescem muito, arreben- (1895 -1973)

tam o cristal”, falou de ametistas muito escuras, exibindo um roxo de púrpura muito fino, de
granadas muito vermelhas e de geodos de quartzo. Os moradores de Santos, Afonso Sardinha,
pai (português) e filho (brasileiro), em 1589, descobriram a jazida de ferro (magnetita) do
Morro de Araçoiaba, na região correspondente a Ipanema (atual Sorocaba). Surgiu, assim, a
primeira atividade metalúrgica do Brasil em 1591.
No século XVII, a busca de pedras preciosas (e de índios para escravizar) pelas mãos dos
bandeirantes ajudou a empurrar a fronteira da América portuguesa para além da linha de
Tordesilhas. Foi também quando Fernão Dias Paes Leme atravessou o sertão de Minas Gerais
em busca de esmeraldas, encontrando pedras verdes que, na verdade, eram turmalinas. O paulista
seria vingado três séculos depois, com a descoberta de esmeraldas no sertão mineiro na década
de 1920. Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de esmeralda, só ficando atrás da
Colômbia. Menos conhecida que a saga bandeirante é a atuação de José Bonifácio de Andrada
e Silva (1763-1838), o patrono da Independência, como geólogo e mineralogista. Formado

Evolução das Ciências II  AMBIENTE NA TERRA


72 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp

em filosofia natural pela Universidade de Coimbra, José Bonifácio foi estudar mineralogia na
Alemanha (Alexander von Humboldt foi um de seus colegas). Numa viagem à Suécia, descre-
veu 12 minerais - quatro deles eram novos. Em 1789, os geólogos alemães Abraham G. Werner
e D.L.G. Karsten determinaram o primeiro mineral-tipo do Brasil, denominado crisoberilo,
coletado em aluviões da região de Araçuaí, Minas Gerais.
José Vieira Couto, a partir de 1798, indicou a ocorrência de chumbo, diamante, ouro nativo,
cobre nativo, estanho e platina nativa, nas localidades de Serro Frio, Abaeté, Diamantina (Arraial
do Tijuco), Conceição do Mato Dentro e Ouro Preto, em Minas Gerais. José de Sá Bittencourt
Câmara, em 1822, mencionou a ocorrência de nitro, especularita (variedade de hematita)
e crocoíta, na região de Catas Altas (Minas Gerais). Os alemães Karl Friederich Phillip von
Martius e Johann Baptiste von Spix, relataram a presença de topázio imperial em Vila Rica
(atual Ouro Preto), e foram os primeiros cientistas a visitarem o meteorito siderítico Bendegó,
encontrado em Monte Santo, sertão da Bahia, em 1784. Augustin Alexis Damour, mineralogista
francês, descreveu o mineral-tipo brasileiro goyazita, proveniente da Lavra Ribeirão do Inferno,
próximo a Diamantina, em 1894. O petrologista austríaco Eugen Hussak, juntamente com o
mineralogista inglês George Thurland Prior, descreveram em 1895 os minerais-tipo brasileiros
derbylita (procedente de Tripuí, Ouro Preto, Minas Gerais), além de tripuhyíta, senaíta e floren-
cita (Ce). Em 1906, Hussak descreveu o mineral-tipo brasileiro gorceixita, em homenagem ao
geólogo francês Claude-Henri Gorceix, fundador da Escola de Minas e Metalurgia de Ouro
Preto, em Minas Gerais.
O primeiro brasileiro a formular um mineral-tipo para o Brasil foi o eminente professor
Djalma Guimarães (1895-1973), que, em 1925, determinou o mineral arrojadita (que hoje em dia
constitui um grupo), em homenagem ao geocientista brasileiro Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa.
Apenas 54 minerais são considerados espécies-tipo válidas do Brasil. Destes, 19 foram publi-
cados antes de 1959, quando a CNMMN (hoje CNMNC) - IMA foi estabelecida:

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Ano Espécie Autores


1789 Crisoberilo D.L.G Karsten, A.G. Werner
1792 Euclásio R.J.Hauy
1809 Paládio W.H.Wollaston
1853 Joseíta A.Kengott
1884 Goyazita A.Damour
1895 Derbylita E.Hussak e G.T.Prior
1897 Tripuhyita E.Hussak e G.T.Prior
1898 Senaíta E.Hussak e G.T.Prior
1899 Florencita - (ce) E.Hussak e G.T.Prior
1906 Gorceixita E.Hussak
1945 Brazilianita F.H.Pough e E.P.Henderson
1947 Souzalita W.T.Pecora e J.J.Fahey
1947 Scorzalita W.T.Pecora e J.J.Fahey
1949 Frondelita M.L.Lindberg
1953 Faheyíta M.L.Lindberg e K.J.Murata
1953 Moraesita M.L.Lindberg, W.T.Pecora, e A.L.M.Barbosa
1954 Barbosalita M.L.Lindberg e W.T.Pecora
1954 Tavorita M.L.Lindberg e W.T.Pecora
1955 Arsenopaladinita M.H.Hey

Tabela 1

De 1959 a 2000, 18 espécies minerais brasileiras aprovadas seguem sendo válidas (0,43 por ano):

Ano Espécie Autores


1974 Tantalaeschynita-(Y) M.S aDUSUMILI
1974 aTHENEÍTA A.M CLARK, A.J CRIDDLE
1974 Isomertieíta A.M.Clark, A.J.Criddle, E.E.Fejer
1976 Bahianita P.B.Moore, T.Iraki
1977 Palladseíta R.J.Davis, A.M.Clark, A.J.Criddle
1978 Whiteíta-(CaFeMg) P.B.Moore, J.Ito
1978 Whiteíta-(MnFeMg) P.B.Moore, J.Ito
1980 Lantanita-(Nd) A.C.Roberts, G.Y.Chao, F.Cesbron
1986 Minasgeraisita-(Y) E.E.Foord, R.V.Gaines, J.G.Crock, W.B.Simmons, Jr., C.P.Barbosa
1986 Parabariomicrolita T.S.Ercit, F.C.Hawthorne, P.Cerny
1988 Lantanita-(La) E.H.Nickel, J.A.Mandarino
1990 Arupita V.F.Buchwald

Evolução das Ciências II  AMBIENTE NA TERRA


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1990 Zanazziíta P.B.Leavens, J.S.White, J.A.Nelen


1994 Yanomamita N.F.Botelho, G.Roger, F.d'Yvoire, Y.Moëlo, M.Volfinger
1997 Quintinita-2H G.Y.Chao, R.A.Gault
2000 Dukeíta J.A.R.Stirling, A.C.Roberts, P.C.Burns, A.J.Criddle, M.N.Feinglos
2000 Serrabrancaíta Th.Witzke, R.Wegner, Th.Doering, H.Pöllmann, W.Schuckmann
inédito Fluornatromicrolita

Tabela 2

Nos últimos oito anos (2003 a 2010): 17 novos minerais foram descritos (2,125 por ano):
2004 Coutinhoíta D.Atencio, F.M.S.Carvalho, P.A.Matioli
2004 Lindbergita D.Atencio, J.M.V.Coutinho, S.Graeser, P.A.Matioli, L.A.D.Menezes Fo.
2005 Oxikinoshitalita L.N. Kogarko, Yu.A. Uvarova, E. Sokolova, F.C. Hawthorne, L. Ottolini,
J.D.Grice
2006 Atencioíta N.V. Chukanov, R.K. Rastsvetaeva, St. Möckel, A.E. Zadov, L.A.Levitskaya
2006 Kalungaíta N.F. Botelho, M.A. Moura, R.C. Peterson, C.J. Stanley, D.V.G. Silva
2006 Matioliíta D. Atencio, J.M.V. Coutinho, Y.P. Mascarenhas, J.A. Ellena
2006 Arrojadita-(PbFe) C. Chopin, R. Oberti, F. Cámara
2007 Ruifrancoíta D. Atencio, N.V. Chukanov, J.M.V. Coutinho, L.A.D. Menezes Fo., V.T.
Dubinchuk, St. Möckel
2008 Menezesita D. Atencio, J.M.V. Coutinho, A.C. Doriguetto, Y.P. Mascarenhas, J.A. Ellena,
V.C. Ferrari
2008 Guimarãesita N.V. Chukanov, D. Atencio, A.E. Zadov, L.A.D. Menezes Fo., J.M.V. Coutinho
2008 Brumadoíta D. Atencio, A.C. Roberts, P.A. Matioli, J. A. R. Stirling, K.E. Venance, W.
Doherty, C.J. Stanley, R. Rowe, G.J.C. Carpenter, J.M.V. Coutinho
2010 Qingheiíta-(Fe2+) F. Hatert, M. Baijot, S. Philippo, J. Wouters
2010 Bendadaíta U. Kolitsch, D. Atencio, N.V. Chukanov, N.V. Zubkova, L.A.D. Menezes Fo.,
J.M.V. Coutinho, W.D. Birch, J. Schlüter, D. Pohl, A.R. Kampf, I.M. Steele,
G. Favreau, L. Nasdala, G. Giester, D.Yu. Pushcharovsky
2010 Manganoeudialita S.F. Nomura, D. Atencio, N.V. Chukanov, R.K. Rastsvetaeva, J.M.V.
Coutinho, T.K. Karipidis
2010 Hidroxicalcioromeíta D. Atencio, M.B. Andrade, A.G. Christy, R. Gieré, P.M. Kartashov
2011 Carlosbarbosaíta D. Atencio, A.C. Roberts, M.A. Cooper, L.A.D. Menezes Fo., J.M.V.
Coutinho, J.A.R. Stirling, N.A. Ball, E. Moffatt, M.L.S.C. Chaves, P.R.G.
Brandão, A.W. Romano.
inédito Uvita C.M. Clark, F.C. Hawthorne, J.D.Grice

Tabela 3

TÓPICO 4  História da Mineralogia


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Referências Bibliográficas
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2000,114p.
Bannister, F.A. E Hey, M.H. Determination of minerals in platinum concentrates
from the Transvaal by X-ray methods. Mineralogical Magazine, 23, 188-208, 1932.
Cornejo, C. E Bartorelli, A. Minerais e pedras preciosas do Brasil. São Paulo: Solaris, 704p, 2010.
Donnay, G. Roentgenite, 3CeFCO32CaCO3, a new mineral from Greenland.
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Fourestier, J. The naming of mineral species approved by the Commission on New
Minerals and Mineral Names of the International Mineralogical Association: a
brief history. Canadian Mineralogist, 40, 1721-1735, 2002.
Franco, R.R. A mineralogia e a petrologia no Brasil. in: Ferri, M.G. and Motoyama, S.
(coord.), História das Ciências no Brasil. EDUSP, EPU, CNPq. v. 3, p. 1-42, 1981.
Hawthorne, F.C. Minerals, mineralogy and mineralogists: past, present, and future.
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