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Vislumbres da vida e ensinamentos

Bhagavan Sri Ramana Maharshi

Frank H. Humphreys, R.F.C.

(Antigo Superintendente de Polícia, Madras)

Sri Ramanasramam

Tiruvannamalai

Publicado por: T.N. Venkataraman

President, Board Of Trustees

Sri Ramanasramam

Tiruvannamalai

1982

Esta tradução: Rio de Janeiro

2002
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Sumário

Prefácio .................................................................................................................................... 3
Introdução ................................................................................................................................ 4
Parte I ....................................................................................................................................... 8
1º Mais Mahatmas autênticos ................................................................................................. 8
2º Frank encontra seu primeiro mestre ................................................................................... 8
3º Frank visita o Maharshi ........................................................................................................ 9
4º Segunda visita de Frank ao Maharshi ................................................................................ 10
5º A valentia e a sensação de segurança Geradas pelo contato com o mestre ..................... 10
6º Os ensinamentos do Mahatma na versão de Frank .......................................................... 11
Parte II .................................................................................................................................... 13
Mais Ensinamentos de Mahatma ........................................................................................... 13
8º Religião .............................................................................................................................. 13
10º Realização ........................................................................................................................ 14
11º Pecados ........................................................................................................................... 15
12º Adoração .......................................................................................................................... 15
Parte III ................................................................................................................................... 17
O Maharshi ............................................................................................................................. 17
1º Como aconteceu o chamado ............................................................................................. 17
2º Como ele passava o tempo na caverna ............................................................................. 17
3º Uma versão hindu de gideão e seu velo ............................................................................ 17
4º O Mahatma que Causou a quebra do silêncio de doze Anos do Maharshi ....................... 18
5ª O aprendizado de Sastri ..................................................................................................... 18
6º Clarividência e dons psíquicos de sastri ............................................................................. 19
7º Como Maharshi responde aos curiosos ............................................................................. 19

Prefácio

Frank H. Humphreys é um nome bastante familiar aos devotos de Bhagavan Sri


Ramana Maharshi. A biografia de Sri Bhagavan, Auto-Realização, escrita por B.
V. Narasimha Swami tem dois capítulos sobre Humphreys, dando um breve
esboço de sua vida e das instruções que lhe foram dadas por Sri Bhagavan.
Quando Humphreys visitou Sri Ramana Maharshi em 1911, ele transmitiu suas
impressões sobre Sri Maharshi e Suas instruções a Felicia Scatchered, que na
época era editora da International Pshychic Gazette, de Londres. Elas foram
compiladas num livrinho em 1925 e os capítulos em Autorrealização forma
extraídos dele.
A narrativa de Humphreys sobre suas experiências com Sri Bhagavan é tão
simples e interessante que os leitores encontram nela uma excelente apresen-
tação dos ensinamentos de Bhagavan.
S. Narasimhayya, que escreveu a introdução que segue, era professor de télu-
go em Vellore. Era discípulo de Sri Kavyakanta Ganapath Muni e de Sri Bhaga-
van. Foram ele e Kavyakanta que levaram Humphreys a Sri Bhagavan.
O livrinho impresso originalmente na gráfica Lakshmi Vilas Press, em
Thyruppapuliyur, está sendo reeditado agora com algumas mudanças conside-
radas necessárias.
Uma pequena referência à visita de Humphreys a Sri Bhagavan e aos ensina-
mentos, no livro de Osborne Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconheci-
mento, conclui:
Servir na polícia não agradava a Humphreys. Sri Bhagavan aconselhou-o a fa-
zer o seu serviço e meditar ao mesmo tempo. Durante alguns anos ele assim o
fez e depois aposentou-se. Sendo já católico e tendo compreendido a unani-
midade essencial de todas as religiões, não sentiu necessidade de mudar mas
voltou para a Inglaterra, onde entrou para um mosteiro.

O Editor

Introdução

Eu não gosto de ficar entre o leitor atento e esta interessante peça de litera-
tura religiosa. Mas, embora fraco como sou, farei o melhor que puder, já que
fui convidado a fazê-lo. Esta é uma descrição comovente e instrutiva, feita
por um jovem (ansioso na busca de Mahatmas a fim de obter Iluminação), de
sua visita a Mahatma Sri Ramana Maharshi e de suas experiências com este
Santo vivo do Sul da Índia, que é conhecido e reverenciado por ter alcançado
a meta da religião Vedanta, e que é um manancial de força espiritual para a
humanidade, nestes dias de materialismo desenfreado.
Sua descrição é concisa e vívida e, em minha opinião, não necessitaria de pre-
fácio ou introdução. Quão intensa é a vibração no corpo e quão elevado e re-
vigorado fica o espírito na presença do Mestre, o homem pode apenas sentir,
mas não expressar. O ensinamento do Mestre é exatamente aquilo de que ne-
cessitamos nesta época em que o homem tem vida curta, fraqueza no corpo,
debilidade no espírito, e tem sua atenção totalmente voltada para as coisas
materiais – aparentes e temporais – em lugar de preferir as espirituais – reais e
eternas. Todo o ensinamento do Mahatma Sri Ramana Maharshi gira em torno
de um único eixo: “Conhece-te a ti mesmo, então conhecerás tudo e nada
mais terás a aprender”.
Ele advoga um processo muito simples de pesquisa, isto é, “Quem sou eu?”
Um pensamento constante e puro no Atman – destituído de forma, nome e
atributos – leva o pensador para a fonte de todos os pensamentos – o Coração,
onde o pesquisador e o pesquisado se fundem, ou de certo modo se perdem na
pesquisa, que é Mukti, liberação ou Autorrealização. Esta é verdadeira reali-
zação de Atman – Deus interior e exterior.
O autor deste atraente livrinho parece ter obtido informações sobre Sri Rama-
na Maharshi de várias fontes e em épocas diferentes. Uma palavra ou duas
sobre como foi que o Sr. Frank H. Humphreyes teve chance de ouvir falar de
“nosso” Maharshi, de visitá-lo e de ser incluído no rol de seus admiradores,
pode interessar ao leitor.
F.H. Humphreys veio à Índia como Superintendente Assistente de Polícia em
janeiro de 1911. Quando checou a Bombaim estava tão doente que teve que
ser levado para o hospital, onde permaneceu até meados de março. Chegou a
Vellore no dia 18 desse mês. Quando cheguei naquele dia para ensinar-lhe
télugo, a primeira coisa que me perguntou foi: “Munshi!, você conhece astro-
logia?” Respondi que não. A próxima pergunta foi: “Você poderia me arranjar
uma tradução em inglês de algum livro de astrologia?” Eu concordei com seu
pedido conseguindo uma cópia do George Union Club, Vellore.
Na manhã do dia seguinte, 19 de março, quando me devolvia o livro, pergun-
tou-me: “Você conhece algum Mahatma por aqui?” Eu fingi não conhecer ne-
nhum sábio e neguei ter qualquer conhecimento de tais grandes homens. Na
manhã do terceiro dia, dia 20, ele aproximou-se de mim com uma veemente
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e inquiridora pergunta: “Munshi! Você disse ontem que não conhecia nenhum
Mahatma. Eu vi seu Guru esta manhã em meu sonho. Ele sentou-se ao meu
lado e me disse algo que eu não entendi, assim como ele não entendeu o que
eu lhe disse. O primeiro homem de Vellore que eu encontrei em Bombay foi
você.” Quando questionei como poderia ter me visto em Bombay, sendo que
eu nunca havia viajado além de Guntakal, ele respondeu que, quando estava
internado com febre alta no hospital em Bombay, a fim de aliviar-se da dor
durante algum tempo, concentrara e direcionara sua mente (atenção) para
Vellore e, em seu corpo astral, o primeiro homem que encontrou fui eu. Eu o
deixei, dizendo que não sabia nada sobre o corpo astral ou qualquer outro
corpo exceto o físico. Contudo, a curiosidade tentou-me a testá-lo e, naquela
tarde, levei para ele um pacote com fotografias de grandes homens inclusive
as de nosso Maharshi e de Ganapathi Muni. Silenciosamente coloquei o pacote
diante dele, sobre sua mesa, e fui tranquilamente para o Sr. L. Clift, outro
agente da polícia a quem eu estava então ensinando. Quando retornei para o
Sr. Humphreys uma hora mais tarde, ele me recebeu com as palavras: “Aqui
está o retrato de seu Guru. Ele não é seu preceptor? Diga-me.” Assim dizendo,
apontou para mim a fotografia de nosso Ganapathi Sastri, que havia separado
dentre as outras. Este ato seu surpreendeu-me. Eu fora pego e não podia me
esconder ou esconder o meu mestre.
Eu considerava (e ainda considero) Ganapathi Sastri como meu Guru. Em 1906
ele me ensinou a concentrar-me e me orientou para direcionar e fixar minha
atenção em Paramatma, conhecido como Sri Ramana, um nome muito querido
para meu coração. A instrução de Sastri não é diferente da do nosso Maharshi.
O Sr. Humphreys adoeceu novamente e foi aconselhado por um médico a ir
para Ootacomund, o que ele fez a 1º de abril de 1911. Enquanto estava lá,
escreveu-me a respeito de seu encontro com uma pessoa estranha, vestida
pobremente mas bem constituída, com olhos brilhantes, cabelo emaranhado e
uma longa barba. O senhor com quem o Sr. Humphreys estava morando na
colina disse-lhe que, embora já vivesse ali há muitos anos, nunca havia visto
aquele homem estranho. O Sr. Humphreys perguntou-me quem poderia ser
aquele homem e eu simplesmente respondi que, a julgar pela descrição que
ele fez, eu achava que devia ser um Siddha. Sua segunda carta desde aquela
estância na montanha foi um pedido para que lhe ensinasse Hatapranayama.
Considerando o estado frágil de sua saúde, não achei conveniente falar-lhe
sobre a retenção voluntária e forçada da respiração mas, simplesmente disse-
lhe que o pensamento puro e constante em Paramatma em nosso coração pro-
vocaria a Kumbakam natura, ou absorção de mente no coração – o último es-
tágio e estado que os sábios desejam ardentemente.
Sua terceira pergunta foi: “O fato de comer carne será uma ajuda ou um im-
pedimento para o progresso da meditação?” Em resposta escrevi-lhe umas
cinco ou seis páginas sobre “Ahimsa paramo Dharma” explicando que não pra-
ticar violência ou não matar é a maior das virtudes e concluí a carta com es-
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tas palavras: “alimentar-se de carne não ajuda o meditador em sua medita-


ção.” Ele respondeu que o que havia visto em um sonho que tivera naquela
manhã era confirmado pelo que estava escrito em minha carta, que ele rece-
beu algumas horas mais tarde, que seria difícil para ele deixar de repente seu
longo hábito de comer carne e que ele o faria gradativamente. Em uma de
suas cartas vindas da Inglaterra, anos mais tarde, lembro-me dele ter me es-
crito que havia se tornado vegetariano.
Sua quarta carta desde aquela fria e saudável estância solicitava meu conse-
lho sobre se ele podia entrar numa sociedade mística, pois ainda não havia
completado 21 anos de idade. Ele acrescentava que os membros daquela soci-
edade tinham o privilégio de encontrar-se e falar com Mahatmas face a face e
que, em uma de suas existências anteriores ele havia pertencido a tal socie-
dade. Como eu não sou nem crente nem descrente do misticismo e o que eu
queria era simplesmente Santi – paz mental e unidade com o Atman em meu
interior – e como era minha convicção que o simples e incessante pensamento
puro em Brahman, sem forma, sem nome e sem atributos me conduziria a es-
te estado sublime – uma bênção – escrevi para ele, apenas, que as coisas de-
veriam ser feitas de acordo com o próprio prarabdha e que, se fosse seu kar-
ma que voltasse a ser membro daquela sociedade mística, nada poderia impe-
di-lo e por isso eu não podia dar-lhe conselho algum.
No final de 1911, ele voltou das montanhas. Um dia, enquanto eu estava ensi-
nando-lhe télugo em Vellore, pediu-me papel e lápis e fez o desenho de uma
caverna numa montanha com um sábio em pé à sua entrada e um riacho que
fluía suavemente descendo a colina na frente da caverna. Ele disse que havia
visto esta cena em seu sonho e perguntou-me o que seria. Imediatamente veio
à minha mente o pensamento de nosso Maharshi, que morava então na caver-
na Virupaksha, e eu lhe falei sobre Sri Ramana Paramatma. Desde o dia em
que ele vira Ganapathi Satrigal em seu sonho, ele vinha me perguntando e me
apressando para que o levasse até o Sastri.
Como aconteceu dele encontrar Ganapathi Sastri e como ele foi levado até o
Maharshi ele explica claramente em sua narrativa. Depois disso ele fez várias
visitas independentes até nosso Mestre sempre que tinha uma dúvida para ser
esclarecida ou uma pergunta a ser feita.
Agora vou relatar o que aconteceu na presença do Maharshi durante a primei-
ra visita de Humphreys a ele. Ele saudou o Mahatma e permaneceu em oração
e meditação silenciosa por alguns minutos. Quando lhe foi permitido falar a
primeira pergunta que ele fez foi: “Mestre, poderei ajudar o mundo?” a res-
posta do Mahatma foi: “Ajudando a você mesmo, você ajudará o mundo.” A
mesma pergunta repetida teve a mesma resposta, com a observação de que
ele estava no mundo, mas não era diferente (separado) dele, nem era o mun-
do diferente dele, e que então ajudando a si mesmo, ele ajudaria o mundo –
significando com isso a unidade do Jeeva com Atman).
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A seguinte e última pergunta foi: “Mestre, serei capaz de realizar milagres,


como Sri Krishna e Jesus o fizeram?” Esta pergunta esbarrou numa contra per-
gunta: “Estariam eles, no momento em que realizaram os milagres, cientes de
que estavam fazendo milagres?” o Sr. Humphreys, depois de um longo silên-
cio, respondeu: “Não, Mestre. Eles eram apenas o meio através do qual o po-
der de Deus fazia seu trabalho.” Quanta importância pode ser atribuída às
coisas de natureza mística está vividamente explicado neste livrinho.
Irmão queridos! Quando um homem se perde em Deus, ele se torna um mero
instrumento nas mãos de Deus, e é um com Deus, tendo se tornado uma parte
integrante de Deus; ele consegue aquela paz e felicidade (que não é afetada
por alegrias ou tristezas) que só pode ser desfrutada mas nunca descrita. Pos-
samos nós alcançar esse estado de repouso mental e paz no coração que os
homens santos sempre buscam!

S. Narasimhayya
Madanapalle, 2-3-1925

Parte I
1º Mais Mahatmas autênticos

POR
FELICIA R. SCATCHERD
(“FELIX RUDOLPH”)

“Os artigos do Sr Thurstan são frequentemente comentados. Seria bom saber


mais sobre a Índia e as visitas aos Mestres”. Assim escreveu um amigo com
referência à Gazeta Psíquica Internacional.
No mesmo dia trouxe-me um pacote de cartas de um jovem amigo que estava
na Índia.. eu não o via desde sua adolescência. Eu o chamarei Sr. Frank. Esse
é seu nome de batismo, e cai-lhe admiravelmente, portanto não o mudarei.
Transcreverei suas experiências dentro do possível em suas próprias palavras.

2º Frank encontra seu primeiro mestre

Cerca de três meses atrás, encontrei em meu sonho um grande homem. Falei
sobre isto com meu professor de télugo. O professor trouxe-me alguns retra-
tos. Eu reconheci de imediato o homem entre todos os outros. Na última sex-
ta-feira, esse homem estava passando por Vellore para ir a uma Conferência
Teosófica, em Tiruvannamalai. Ele não pertence à Sociedade Teosófica. Todos
os Mestres trabalham para o bem comum. Quando o trem chegou, eu logo o
reconheci. Ele tinha cerca de 1,77 de altura e era bem constituído, com uma
testa grande e nariz aquilino – bem apessoado em todos os sentidos. Ele des-
ceu do trem e nós sentamos juntos na sala de espera. É impossível descrever
como é estar na presença de um Mestre. Eu não sabia se ele era um Mestre,
mas sentar em sua presença, embora ele dificilmente dissesse uma palavra e
não falasse inglês, era sentir-se mais e mais emocionado – sentir novas im-
pressões tocando-nos mentalmente. Era uma experiência extraordinária. Sou-
be mais tarde que ele era o primeiro letrado de sânscrito na Índia, e isto sig-
nifica algo aqui, onde o sânscrito é o idioma das Escrituras e todo estudante
da sabedoria o aprende. Ele conhece as ciências até pelo avesso, e sabe mui-
tos idiomas. Você se lembra como os Apóstolos de repente “falaram em lín-
guas”. Bem, existem pessoas aqui que conhecem este homem toda sua vida, e
eles sabem que até certo dia ele não falava uma palavra em tâmil, que é uma
língua muito difícil. Quinze dias depois, ele foi capaz de dar uma longa pales-
tre em puro tâmil e ler e escrever essa língua tão bem como qualquer dos pro-
fessores.
Perguntei-lhe como havia conseguido essa façanha e ele respondeu: “Pela
meditação.”
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Pense nisto! Sem nenhum livro, nenhuma gramática! Simplesmente meditando


em Deus, como estes homens sabem fazer, e pedindo que o tâmil lhe fosse
ensinado. Sua face, quando em repouso, brilha de felicidade. À menor descul-
pa, ele ri, e muitas vezes volta-se para você e balança sua cabeça de um jeito
que os indianos têm, que significa: Tudo bem!
Ele prometeu passar a tarde e a noite de hoje ensinando-me e depois irá se
recluir durante um ano. Ele disse que se eu fosse a Tiruvannamalai ele me
levaria para ver o Maharshi (um Mahatma ou muito Grande Mestre) que vive
lá, e que é considerado um dos maiores Mahatmas na Índia.

3º Frank visita o Maharshi

Ontem eu consegui um dia de licença e fui com o professor para encontrar


Sastri (o Mestre sobre quem tenho escrito). Sastri e o professor são ambos
chelas (discípulos) do Maharshi. Durante uma hora e meia ouvimos a confe-
rência de Sastri em tâmil, para uma grande multidão, e ele parecia reanimado
pelos seus esforços. Às duas da tarde, ele apontou para a caverna onde o
Maharshi vive, e nós partimos montanha acima para vê-lo. Quando chegamos à
caverna sentamos diante d’Ele, a Seus pés, e não dissemos nada. Ficamos as-
sim por um longo tempo, e eu me senti erguido para fora de mim mesmo.
Então Sastri disse que eu olhasse o Maharshi nos olhos, e que não desviasse
meu olhar. Por meia hora eu fixei meu olhar nos Seus olhos que nunca muda-
ram sua expressão de profunda contemplação. Comecei a perceber de algum
modo que o corpo é o Templo do Espírito Santo – eu apenas podia sentir que
Seu corpo não era o homem, era o instrumento de Deus, apenas um corpo
inerte sentado imóvel, do qual Deus estava irradiando terrivelmente. Minhas
próprias sensações eram indescritíveis. Sastri disse então que eu podia falar.
Eu pedi ensinamento que me iluminasse e Ele falou e nós escutamos. Em al-
gumas poucas frases em inglês entrecortado e em télugo. Ele transmitiu pala-
vras de grande significado, e me ensinou diretamente, o que Ele raramente
faz, e me fez Seu chela (discípulo) – claro que não como o Sastri, Seu chela
muito especial, mas como um dentre os muitos que os grandes Mestres têm.
A visão mais comovente foi o número de criancinhas, de até 7 anos de idade,
que subiam a montanha, por conta própria, a fim de sentar perto do Maharshi,
embora Ele pudesse não dizer uma palavra ou nem mesmo lhes dirigir um
olhar por muitos dias seguidos. Eles não brincam, mas apenas ficam lá senta-
das em quietude, em perfeita felicidade.
Ele é um homem além de qualquer descrição, com Sua expressão de dignida-
de, gentileza, autocontrole, e serena força de convicção.
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4º Segunda visita de Frank ao Maharshi

Fui de motocicleta e subi até a caverna. O Maharshi sorriu quando me viu mas
não ficou nem um pouco surpreso. Antes de sentar, Ele me perguntou sobre
um assunto de caráter íntimo do qual tinha conhecimento, mostrando assim
que havia me reconhecido. Todos quantos vêm a Ele são como um livro aber-
to, e um simples olhar Seu basta para revelar seu conteúdo. “Você ainda não
comeu e está com fome – disse ele”. Admiti que estava certo, e Ele imedia-
tamente pediu a um chela que me trouxesse comida – arroz, manteiga, frutas,
etc., que eu comi com os dedos, pois os nativos não usam colheres. Embora
tenha treinado comer dessa maneira faltava-me destreza. Por isso Ele me deu
uma colher feita de casca de coco, sorrindo e falando de quando em quando.
Não posso imaginar nada mais bonito que Seu sorriso. Bebi leite de coco,
branco como o leite de vaca e delicioso, ao qual Ele havia adicionado açúcar.
Quando terminei eu estava ainda com fome e, sabendo disso, Ele pediu que
trouxessem mais. Ele sabia tudo e, quando outros queriam me forçar a comer
frutas depois que já estava satisfeito, Ele os deteve de imediato. Tive que
pedir desculpas pelo meu modo de beber. Ele disse apenas: “Não tem impor-
tância”. Os hindus são muito estritos sobre isso. Nunca sorvem nem bebem
tocando a vasilha com os lábios, mas despejam o líquido diretamente na boca.
Beste modo muitos podem beber da mesma xícara sem medo de infecção. En-
quanto eu estava ainda comendo, Ele relatava minha história passada para os
demais, e com grande precisão também. Entretanto, so me vira uma vez an-
tes, e havia visto muitas centenas de pessoas nesse intervalo. Ele simplesmen-
te consultava nosso interior da mesma forma que nós consultaríamos uma en-
ciclopédia. Fiquei umas três horas escutando seus ensinamentos. (Tinham lhe
mostrado um livro que me fora dado pela Sra. R.W. Nankivell, para pedir Sua
opinião sobre ele. Elogiou-o, e falou citando trechos dele.)
Eu ouvi que numa ocasião, quando um chela fez uma pergunta, Ele pegou um
livro, apontou para uma passagem nele, e disse: “Aqui está sua resposta”.
Mais tarde eu estava com sede, pois havia sido uma caminhada quente, mas
eu não o disse em palavras. Todavia, Ele percebeu e disse a um chela que me
trouxesse limonada.
Afinal tive que partir, então curvei-me, como nós fazemos, e sai da caverna
para colocar minhas botas. Ele saiu também, e disse que eu podia voltar para
vê-lo novamente.

5º A valentia e a sensação de segurança Geradas pelo contato com o mestre

É estranho como a gente se modifica depois de ter estado em Sua presença.


Eu estou acostumado com cachorros, mas ainda me sentia perturbado se um
cão viesse em minha direção no curso normal dos acontecimentos. Entretanto
isto aconteceu lá, e eu apenas olhei para o cachorro e caminhei em linha re-
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ta, porem ele tentou me morder três ou quatro vezes. Eu não senti nenhum
medo, nem fiquei de qualquer forma contrariado. Ouvi exclamações de susto
mas só percebi que existira algum perigo quando já estava a meio caminho de
descida da montanha.
Uma mordida de cachorro não é brincadeira neste país não só por causa da
selvageria dos cães e por estarem seus dentes cheios de germes devido à car-
ne putrefata que eles comem, mas também porque as feridas não saram bem
no calor e pela prevalência da hidrofobia.

6º Os ensinamentos do Mahatma na versão de Frank

Um mestre é alguém que medita somente em Deus, lança sua personalidade


inteira no mar de Deus, afoga-a e esquece-a lá, até que se torna simplesmen-
te o instrumento de Deus e, quando sua boca se abre, fala palavras de Deus
sem esforço ou pensamento prévio e, quando levanta sua mão, Deus flui no-
vamente através dela para realizar um milagre.
Não dês demasiada importância aos fenômenos psíquicos e coisas assim. Seu
número é legião – absolutamente incontável – e uma vez que a fé nas coisas
espirituais tiver se estabelecido no coração do buscador, tais fenômenos terão
cumprido sua finalidade. Clarividência, clariudiência e coisas que tais não va-
lem a pena, quando uma iluminação e uma paz tão maiores são mais possíveis
de alcançar sem elas do que com elas. Os Mestres aceitam estes poderes como
uma forma de autosacrifício! Eu conheço Mestres, dois dos maiores, e te digo
que a idéia de que um Mestre é simplesmente alguém que conseguiu poder
sobre os diversos sentidos ocultos, através de longa prática e oração ou outra
coisa assim, é absolutamente falsa. Nenhum Mestre jamais se importou nem
um pouco com os poderes ocultos, pois não tem nenhuma necessidade deles
em sua vida cotidiana.
Os fenômenos que vemos são curiosos e surpreendentes – mas o mais maravi-
lhoso disso tudo, que nós não percebemos, é que uma, e somente uma força
ilimitada é responsável por:
(a) Todos os fenômenos que vemos,
(b) O ato de vê-los.
Não fixes tua atenção em todas estas coisas mutáveis da vida, morte, e fenô-
menos. Não penses nem mesmo sobre o próprio fato de vê-las ou percebê-las,
mas só naquele que vê todas estas coisas. Aquilo que é responsável por isso
tudo. Isto parecerá quase impossível ao princípio, mas pouco a pouco os resul-
tados serão sentidos. Leva anos de prática diária e constante, mas é assim que
se faz um Mestre. Dá a ti mesmo quinze minutos por dia para praticar. Man-
tém os olhos abertos e tenta manter a mente firmemente fixa em Aquilo Que
Vê. Está dentro de ti. Não esperes descobrir que “Aquilo” é algo definido em
que a mente pode se fixar facilmente: não será assim. Embora leve anos des-
cobrir esse “Aquilo”, os resultados desta concentração logo se mostrarão – em
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quatro ou cinco meses – em todas as formas de clarividência inconsciente, em


paz mental, na força para lidar com as dificuldades, no poder em geral – po-
der sempre inconsciente. Eu te dei este ensinamento nas mesmas palavras
que os Mestres os dão para seus chelas. De agora em diante, com teu pensa-
mento inteiro em meditação, não deixes que ele se fixe no ato de ver, nem
naquilo que vês, mas inabalavelmente em Aquilo Que Vê.


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Parte II
Mais Ensinamentos de Mahatma

7º Realização

Não há qualquer recompensa para a Realização. Quando se compreende a


idéia não se deseja nenhuma recompensa. Como Krishna disse: “Tens o direito
a trabalhar, mas não o direito aos frutos do teu trabalho”. Uma Realização
Perfeita é simplesmente adoração, e adoração é Realização. Se você senta e
percebe que você só pensa em virtude da Vida Una, e que a mente, animada
pela Vida Una no ato de pensar é uma parte do todo que é DEUS, então você
compreende que sua mente não tem existência como uma entidade separada,
e o resultado é que mente e corpo, fisicamente (por assim dizer) desapare-
cem e a única coisa que permanece é o Ser, que é ao mesmo tempo existência
e não existência, e não é explicável por palavras ou idéias.
Um Mestre não pode evitar estar perpetuamente neste estado, com apenas
esta diferença, que, de algum modo para nós incompreensível, ele pode usar
a mente, o corpo e até o intelecto, sem recair na ilusão de ter uma consciên-
cia separada. Não há explicação para estas coisas. Como Vivekananda disse:
“Você não ajuda o mundo em absoluto desejando ou tentando fazê-lo, mas só
ajudando você mesmo.”

8º Religião

É inútil especular ou tentar desenvolver uma compreensão mental ou intelec-


tual e trabalhar sobre ela. É apenas religião – um código para crianças e para
a vida social – um guia para nos ajudar a evitar choques, de forma que o fogo
interno possa queimar totalmente a insensatez em nós e nos ensinar, um pou-
co mais cedo, o bom senso – isto é, o conhecimento de que o separatismo é
uma ilusão. A religião, seja ela cristianismo, budismo, hinduísmo, teosofia,
filosofia ou qualquer outro tipo de “ismo” ou “sofia” ou sistema, podem nos
levar apenas até o ponto onde todas as religiões se encontram e não além.

9º Deus

Esse ponto onde todas as religiões se encontram é o apercebimento, não no


sentido místico, mas no mais mundano, cotidiano e prático dos sentidos – e
quanto mais mundano, cotidiano e prático melhor – do fato de que Deus é TU-
DO, e TUDO É DEUS.
Deste ponto começa o trabalho da prática desta compreensão mental, e todo
ele consiste na quebra de um hábito. Precisamos deixar de chamar as coisas
de “coisas”, e chamá-las de DEUS; e em lugar de pensar que elas são coisas,
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saber que elas são DEUS; ao invés de imaginar que a “existência” seja a única
coisa possível, perceber que a existência é só a criação da mente (pois se não
houver existência a mente não poderia ver nada) e que a não existência é
consequência necessária se você postula a existência. O conhecimento das
coisas só mostra a existência de um órgão de conhecimento. Não existe ne-
nhum som para o surdo, nem o que ver para os cegos, e a mente é somente
um órgão de concepção ou de apreciação de certos aspectos de DEUS.
DEUS é infinito, portanto, existência e não existência são apenas partes com-
ponentes d’Ele. Não quero dizer que DEUS seja formado de partes definidas. É
difícil fazer-se compreender quando se fala de DEUS... O verdadeiro conheci-
mento vem de dentro e não de fora. E verdadeiro conhecimento não é “sa-
ber” mas “ver”.

10º Realização

Realização nada mais é do que ver DEUS literalmente. Você deve ler tudo que
eu escrevo literalmente. Nosso maior erro é imaginar DEUS agindo simbolica-
mente e alegoricamente, e não de maneira prática e literal.
Tome um pedaço de vidro, pinte nele cores e formas, e coloque-o numa lan-
terna mágica; acenda uma luz branca, e as cores e formas pintadas no vidro
serão reproduzidas na tela. Se a luz não fosse acesa, você não veria as cores
do slide na tela.
Como se formam as cores? Decompondo-se a luz branca ao passar através de
um prisma. O mesmo acontece com o caráter de um homem. É visto quando a
Luz da Vida (DEUS) está brilhando através dele, isto é, através das suas ações.
Se o homem está adormecido ou morto, você não vê seu caráter. Só quando a
Luz da Vida está animando o caráter, e fazendo-o agir de mil modos diferen-
tes, em resposta ao seu contato com este mundo multifacetado, você pode
perceber o caráter do homem. Se a luz branca não tivesse sido decomposta e
posta em figuras e formas em nosso slide da lanterna mágica, nós nunca terí-
amos sabido que havia um pedaço de vidro diante da luz, pois a luz teria atra-
vessado livremente a lanterna. De certo modo aquela luz branca foi adultera-
da e privada de um pouco de sua nitidez ao ser forçada a brilhar através das
cores no vidro. O mesmo acontece com o homem comum. Sua mente é como a
tela. Nele brilha a luz, atenuada e mudada porque ele permitiu que o mundo
mutável ficasse diante da Luz (DEUS) em lugar de ver a própria Luz (DEUS), e
sua mente reflete os efeitos que vê, do mesmo modo que a tela reflete as
cores sobre o vidro. Tire o prisma e as cores desaparecerão, reabsorvidas na
luz branca de onde vieram. Tire as cores do slide e a luz brilhará claramente
através da lanterna. Tiremos de nossa visão o mundo de efeitos que vemos, e
olhemos só as causas, e então veremos a Luz (DEUS). Um Mestre em medita-
ção, embora mantenha os olhos e ouvidos abertos, fixa sua atenção tão fir-
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memente em “Aquele que Vê”, que ele nem vê nem ouve, nem tem qualquer
consciência física em absoluto – nem mesmo mental, mas só espiritual.
Nós precisamos afastar o mundo, que causa nossas dúvidas, que anuvia nossa
mente, e a luz de DEUS brilhará claramente. Como pode ser afastado o mun-
do? Quando, por exemplo, ao ver um homem, você diz: “Isto é DEUS animando
um corpo”, corpo que responde, mais ou menos perfeitamente, às diretrizes
de DEUS, como um navio responde mais ou menos perfeitamente ao seu leme.

11º Pecados

O que são pecados? Por que, por exemplo, um homem bebe demais? Porque
odeia a idéia de estar limitado – limitado pela incapacidade para beber tanto
quanto deseja. Ele está lutando pela liberdade a cada pecado que comete.
Esta luta pela liberdade é a primeira ação instintiva de DEUS na mente de um
homem. Porque DEUS sabe que ele não é limitado. Beber demasiado não traz
liberdade ao homem, entretanto ele não sabe que em realidade está buscando
liberdade. Quando se apercebe disso, ele começa a buscar o melhor caminho
para obter a liberdade. Mas o homem só ganha essa liberdade quando percebe
que nunca esteve limitado. O eu, eu, eu que se sente tão limitado é em reali-
dade o Espírito Ilimitado. Eu estou limitado porque não sei nada que não seja
percebido por um dos meus sentidos. Entretanto, eu sou o tempo todo aquele
que sente em toda pessoa, em toda mente. Estes corpos e mente são só os
instrumentos do “Eu”, o Espírito Ilimitado. O que quero eu com os instrumen-
tos quando eu sou os próprios instrumentos, como as cores são a Luz Branca?
Jesus, o homem, estava totalmente inconsciente quando fez Seus milagres, e
falou Suas palavras maravilhosas. Era a Luz Branca, a Vida, Quem é a causa e
o efeito, agindo em perfeito concerto. “Eu e Meu Pai somos Um”... (Ele disse
também: “Meu Pai é maior que eu” ). Desista da idéia de “eu” e “Meu”. Pode
o corpo possuir qualquer coisa? Pode a mente possuir qualquer coisa? Ferra-
mentas inanimadas são ambos, a menos que a Luz de DEUS esteja brilhando
através deles. Estas coisas que nós vemos e sentimos são só as cores separadas
do Espírito Ilimitado.

12º Adoração

Qual é a melhor forma de adorar a DEUS? Ora, não tentando adorá-LO, mas
entregando todo seu ser a Ele, e mostrando que todo pensamento, toda ação,
são apenas a ação da Vida Una (DEUS) – mais ou menos perfeita na medida em
que as ações forem inconsciente ou conscientes. DEUS trabalha com perfeição
em nossas ações virtuosas inconscientes. Um Mestre, quando ensina, está lon-
ge de pensar sobre instruir; entretanto, sentir uma dúvida ou uma dificuldade
em sua presença é invocar de imediato, antes mesmo que possas expressar
tua dúvida, as palavras maravilhosas que esclarecerão essa dúvida. As pala-
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vras nunca falham e o Mestre, com seu coração fixo em DEUS, sabendo perfei-
tamente que nenhuma ação é pessoal, sem fazer nenhuma reivindicação de
ter originado o pensamento ou de ter sido o meio de dissipar uma dúvida, sem
nunca dizer “eu” ou “meu”, vendo só DEUS em todo pensamento e ação, se-
jam eles teus ou seus, não se surpreende nem sente qualquer prazer especial
em ter dissipado tua dúvida. Ele nunca deseja sentir prazer. Ele diz:
- Quem é que sente prazer? Ora, DEUS.
- Que é prazer? Ora, a apreciação – instintiva ou não – de DEUS.
- Que é o tal “Eu”? É DEUS.
- DEUS é prazer. Se eu desejar perpétuo prazer, devo esquecer de mim mes-
mo, e ser aquilo que é o próprio prazer, ou seja, DEUS.
Um Mestre sacrifica todo seu ser, afunda-o como uma idéia artificial no Ocea-
no de DEUS Que É, e Que é, literalmente, o Material e a Causa de tudo, e se
torna a corporificação da felicidade. De igual modo, ele afasta todo desejo
pessoal, até o desejo de virtude. Ele nega serem suas próprias ações e as atri-
bui a DEUS, até que se torna a corporificação daquela virtude pessoal que
“um dia” desejou, e todo aquele que se aproxima dele será abençoado. Ele é
a corporificação de todas as virtudes. Assim são a verdadeira adoração e seus
resultados.


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Parte III
O Maharshi

Os fatos recolhidos a seu respeito são esparsos e escassos, mas cheios de inte-
resse por causa de sua rara simplicidade.
Fui bastante afortunado por obter duas fotografias do Maharshi, sentado em
posturas diferentes, em meditação profunda. Uma delas acompanha minhas
breves anotações. Nada adianta escrever-me pedindo detalhes adicionais. Eu
estou publicando tudo que me é permitido tornar conhecido.

1º Como aconteceu o chamado

Um chela que conheço contou-me esta história: Quando o Maharshi tinha de-
zesseis anos teve o verdadeiro Despertar. Mas continuou a viver com Seu ir-
mão até a crise, que ocorreu a 29 de agosto de 1896. Nesse dia, vendo o
Maharshi sentado de pernas cruzadas e entregue à meditação, o irmão mais
velho o reprovou, insinuando que aquele que deseja viver como um sadhu não
tem direito à vida do lar. O Maharshi saiu de casa deixando um bilhete. Partiu
em obediência ao Chamado vindo de Arunachala. Viveu no Templo de Aruna-
chaleswara e outros lugares antes de escolher viver na caverna onde Frank O
viu. Ele tem cerca de trinta e nove anos, e viveu na caverna durante muitos
anos.

2º Como ele passava o tempo na caverna

Após os dois primeiros anos ele refugiou-se no silêncio. Durante anos não disse
uma palavra. Não havia nenhum fanatismo nisso, exceto uma falta de disposi-
ção para se envolver em conversas. Ele voltou a falar e ensinar nos últimos
seis anos. Ele fala as línguas da Índia Meridional e a inglesa. Conhece a parte
mais importante das Escrituras hindus de cor, e está bem familiarizado com a
História Cristã e dos Tempos Bíblicos. Poucos sabem seu nome ou qualquer
outra coisa sobre ele além da história de como deixou seu lar, que ele mesmo
tem contado a seus chelas, e que ele é brâmane por nascimento. Sua persona-
lidade é a coisa mais extraordinária sobre ele, e estranhas histórias são con-
tadas por testemunhas dignas de crédito. Por exemplo:

3º Uma versão hindu de gideão e seu velo

Um ano, durante os primeiros dias das Monções, o Maharshi estava sentado no


sopé da montanha, ao ar livre, em profunda meditação. Certa mulher, conhe-
cida do narrador, tinha ido levar-lhe uma oferenda e pedir sua bênção. Pelo
caminho, foi surpreendida por um pesado aguaceiro que a obrigou a refugiar-
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se debaixo de uma pedra ou árvore, mais ou menos a trezentas jardas (275 m


aprox.) de onde ele estava sentado. Ela o viu sentado imerso em meditação
todo o tempo. Quando a chuva parou, ela subiu até ele e constatou que ao
redor dele, por um espaço de cerca de quarenta e cinco metros, o chão esta-
va completamente seco.

4º O Mahatma que Causou a quebra do silêncio de doze Anos do Maharshi

Não é possível entender o Maharshi sem o conhecimento dos detalhes de seu


relacionamento com Ganapathi Sastri (veja International Psychic Gazette de
junho). Um dia, Sastri veio a ele e disse um verso em sânscrito, e o silêncio de
doze anos estava quebrado. Isto aconteceu há seis anos, e o Maharshi tem fa-
lado e ensinado desde então. Sastri, por assim dizer, encarna o aspecto inte-
lectual da Mestria, e o Maharshi o aspecto devocional. Entretanto, Sastri é
bastante devocional, e a sutileza do intelecto do Maharshi é inquestionável. O
que o próprio Sastri sempre diz é: “Não sou eu, mas o Maharshi, quem faz es-
tas coisas”. Ele evidentemente considera-se como um instrumento do Mahars-
hi, como o manipulador do poder gerado pelo maior dos Mahatamas vivos. Mas
isto não deve ser considerado tão literalmente. É somente uma dedução dos
fatos considerados como um todo. É notável como o homem devoto reconhe-
ceu imediatamente o homem intelectualmente – desenvolvido, e como este
último imediatamente rendeu-se à influência do devoto santo meditativo.
Quando Sastri estava se aproximando do sopé da montanha com Frank, por
ocasião da primeira visita de Frank ao Maharshi, ele fez duas profecias, uma
das quais logo se cumpriu e a outra aguarda a hora de ser cumprida.
Ao chegarem perto da montanha, Sastri disse: “Silêncio! Devemos ficar quie-
tos agora. Estamos nos aproximando d’Ele.” Sastri tem um senso de humor
sutil. Uma ocasião Frank fez uma pergunta sobre uma encarnação passada.
Sastri olhou para ele e disse: “Aguarde uns dois meses e eu lhe falarei sobre
todas suas passadas encarnações, com riqueza de detalhes.” Por um momento
Frank ficou muito contente; depois percebeu que o Mahatma o estava testan-
do. E Sastri riu suavemente do seu modo inimitável e murmurou: “Que bem?
Que bem lhe faria?”

5ª O aprendizado de Sastri

Certa vez Sastri sentiu-se espiritualmente chamado para ir ensinar sânscrito


em uma cidade pequena. Ele foi. Havia uma vaga na escola e ele solicitou-a.
os diretores disseram: - Como saberemos que seu sânscrito é bom? Imediata-
mente Sastri viajou para o Norte até Benares, passou pelos testes mais seve-
ros, alcançou o grau mais elevado, retornou à pequena cidade com seus certi-
ficados, mostrou-os aos diretores e então os rasgou em pedacinhos que jogou
fora. Um estudioso de sânscrito famoso diz que você pode dar a Sastri qual-
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quer assunto, ao acaso, e ele só andará para lá e para cá alguns minutos, e


então falará desenrolando versos em sânscrito, perfeitos na forma e no senti-
do, mais rápido do que você conseguiria escrevê-los, tratando do tema esco-
lhido.

6º Clarividência e dons psíquicos de sastri

Um homem foi enviado para descobrir se Sastri era sedicioso. Encontrou-o


numa caverna, sentado em meditação. O homem estava disfarçado, e disse
que reverenciava Sastri e desejava tornar-se seu chela. Sastri recebeu o visi-
tante com amabilidade e fez-lhe algumas perguntas. O homem tinha sido ins-
truído e respondeu prontamente. Então eles sentaram por algum tempo e Sas-
tri entrou novamente em meditação. O homem tinha vindo diretamente em
sua missão, assim não havia possibilidade de que Sastri tivesse recebido aviso
de sua vinda. Não fizera a Sastri qualquer pergunta e simplesmente aparentou
ser um provável chela. Então Sastri disse: - Você vem de tal e tal cidade; você
quer descobrir se eu sou um revolucionário. Por que você me disse mentiras?
O homem confessou e finalmente tornou-se chela de Sastri.
Sastri tem doze chelas especiais. Confiou a cada um o tema que fosse mais
apto a expor. Certa ocasião enumerou os assuntos para um chela pedindo-lhe
que escolhesse. O chela assim o fez. Ao olhar para cima, ele descobriu um
suave sorriso na face do Mestre, o que lhe disse que Sastri sabia de antemão
qual iria escolher.
Em outra ocasião, Sastri disse:
- Inglaterra, França, Alemanha, Itália, América – eu vou a todos os lugares.
Tais coisas são ditas simplesmente, sem qualquer traço de vaidade, como me-
ras declarações de fatos.
Perguntaram a Sastri: “Poderia um homem permanecer em meditação perpé-
tua: Poderia manter seus olhos abertos tanto tempo? Sastri disse: “Sim”. En-
tão ele foi observado dia e noite por uma semana, e durante esse tempo ele
nunca fechou seus olhos. Se você olhar para a fotografia do Maharshi, você
verá que seus olhos estão abertos. Todavia ele está mergulhado em meditação
profunda e inconsciente para todo o mundo exterior. Aqueles que dormiram
na caverna com o Maharshi, dizem que ele praticamente nunca dorme em ab-
soluto.

7º Como Maharshi responde aos curiosos

Quando as pessoas fazem perguntas por mera curiosidade ele pode permane-
cer uns momentos em concentração, e dizer: “Não recebi autorização de
DEUS para responder esta pergunta”. Ou ele pode replicar: “Você diz, eu, eu
quero saber. Diga-me quem é esse eu? Conheça primeiro esse eu, e então vo-
cê saberá tudo”.
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Mas no caso daqueles que buscam iluminação espiritual. Ele fica mais disposto
a debater qualquer ponto para fortalecer a compreensão. Com ambos era in-
variavelmente o mesmo. A menos que já estivesse no embalo de responder
perguntas, elas não serão respondidas imediatamente mas colocadas primeiro
em meditação.

F. R. S.

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