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Professora Lúcia Helena Galvão

Direitos desta edição reservados a Lúcia Helena Galvão. A


reprodução de parte e/ou inteiro teor desta obra (ebook, ar-
quivo digital), por qualquer meio, sem autorização do autor,
constitui violação da Lei de Direitos Autorais – Lei 9.610/98.
©2022, Lúcia Helena Galvão e Pedro Paiva.

1ª edição, Brasília, DF, 2022

Coordenação editorial: Lúcia Helena Galvão


Transcrição: Natani Franco
Edição: Idealix Cursos Online
Revisão: Luís Eduardo da Silva
Capa: Patrícia Versiani
Projeto gráfico: Mauro Barbosa, SJPDF 3.619/2000

Galvão, Lúcia Helena e Paiva, Pedro.


Curso Técnicas de Estudo. Professora Lúcia Helena Galvão e Pedro
Paiva – Brasília, DF. Idealix Cursos.

289p.il.

ISBN – 978-65-995491-2-0 

1. Educação; 2. Técnicas de Estudo; 3. Filosofia. 4. Huma-


nidade I. Lúcia Helena Galvão e Pedro Paiva. II. Desenvolvimento
Humano.

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BRASÍLIA – 2022
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ÍNDICE

BOA VINDAS
Na era da informação, qual a importância do saber?.... 6
Somos aprendizes da vida................................................... 44
Os mandamentos do resumo.............................................. 70
O bom estudante e o autoconhecimento......................... 89

MÓDULO I – AUTOCONHECIMENTO
Aula 1 – Introdução............................................................ 109
Aula 2 – Teste inicial – Perguntas de 1 a 4....................... 115
Aula 3 – Teste inicial – Perguntas de 5 a 8........................ 122
Aula 4 – Teste inicial – Perguntas de 9 a 14..................... 128
Aula 5 – Teste inicial – Perguntas de 15 a 22................... 135
Aula 6 – Teste inicial – Perguntas de 23 a 27................... 142
Aula 7 – Teste inicial – Perguntas de 28 a 31................... 149
Aula 8 – Teste inicial – Perguntas de 32 a 36................... 156
Aula 9 – Teste inicial – Perguntas de 37 a 40................... 162

MÓDULO II – CONDIÇÕES PRELIMINARES


Aula 10 – Valor intríseco.................................................. 167
Aula 11 – Condições Pessoais – Local para estudo......... 172
Aula 12 – Planejamento de estudo – Planilha I.............. 183
Aula 13 – Planejamento de estudo – Planilha II............. 190
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Curso de Técnicas de Estudo

MÓDULO III – TÉCNICAS DE ESTUDO


Aula 14 – Como ler I........................................................... 197
Aula 15 – Como ler II.......................................................... 202
Aula 16 – Como fazer um bom resumo............................. 208
Aula 17 – Aula prática de resumo..................................... 214
Aula 18 – Os quatro mandamentos do resumo.............. 220
Aula 19 – Anotações e revisão das aulas....................... 225
Aula 20 – Método Robinson (EPL2R) – Explorar,
Perguntar e Ler................................................ 230
Aula 21 – Método Robinson (EPL2R) – Receitar
e repassar........................................................... 237
Aula 22 – Explorando um livro – Aula demonstrativa..... 242
Aula 23 – Conclusão – Repasse do curso...................... 247

MÓDULO EXTRA
Aula 24 – CONCENTRAÇÃO
Importância, dificuldades, práticas............... 249
Aula 25 – MEMÓRIA
Orientações básicas......................................... 265

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BOAS-VINDAS

Na era da informação,
Qual a importância do saber?

Sejam bem-vindos. Hoje o que nós vamos fazer


é uma palestra, um pouco reduzida, a respeito de um
tema muito interessante, na era da informação, que é
a importância do saber.
Eu acho esse tema vital para falarmos a respeito
da questão da técnica de estudo, da forma como ensi-
nam. – Vocês sabem, nós estamos lançando o Curso
de Técnicas de Estudo, que para mim é vital.
Muitas vezes, tenho conversado nas minhas pa-
lestras com vocês a esse respeito. Eu acho que esse
Curso deveria ser ensinado, lá ainda... talvez no Ensi-
no Fundamental.
Eu vejo pessoas que me dizem:
“– Eu li um livro.”
E eu pergunto:
“– Quais foram as informações importantes
desse livro?”
“– Não sei. Teria que reler. Não me lembro...”
Então, imagine você, a quantidade de informa-
ções que há que adquirir. Se você tiver que ficar
lendo mil vezes o mesmo livro, porque não guarda
nada, provavelmente não vai muito longe. Umas das
coisas maravilhosas, para tesourar pela vida afora,
e temos que reter na memória para poder usá-las,
inclusive. Eu acho muito importante o Curso, a Pa-

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lestra, independente de irem ou não fazer ou o Cur-


so, é que entendam esse critério de que a informa-
ção, em primeiro lugar, tem que ser retida, e depois
vivenciada.
A diferença entre o mero conhecimento e o saber.
Sabedoria é um conhecimento onde você refletiu e vi-
venciou. Ou seja, não é uma mera questão de quan-
tidade, ela implica em qualidade, ela implica em pro-
fundidade. Portando, da maneira como nós ensinamos
a estudar, não é para quem quer meramente memori-
zar conhecimento; nem é para aquele que quer fazer
uma leitura superficial. É para aquele que considera o
conhecimento como um fim, considera que é um dos
grandes qualificadores de consciência do ser humano,
e considera que conhecimento não é só quantidade, é
qualidade.
Muito recentemente, estive em um evento, que é
o Hacktown, onde falava para eles a respeito de In-
teligência Artificial e Consciência Humana. Uma das
coisas foi falar disso, do medo que as pessoas têm de
serem substituídas pela inteligência artificial.
Se o conhecimento for só memória, as pessoas
vão ser substituídas, sim, já estão sendo. Quem acha
que tem mais memória do que um grande processador
de dados? É uma loucura.
A partir do momento em que você tem um envol-
vimento, profundo conhecimento, e passa a vivenciá-
-lo, aí a coisa fica diferente. Inclusive, se você parar
para pensar um pouco no que dizia um Steve Jobs, as
orientações que ele dava, acho muito interessantes.
Ele dizia, quando lhe perguntaram se a máquina
ia substituir o homem, em termos de inteligência:
“– Bom, a máquina vai sempre processar in-
formações dadas. Mas, gerar o novo, ter ideias
novas, vai ser sempre humano.”

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E como isso é raro, vai ser cada vez mais valo-


rizado o homem que é capaz de ter ideias próprias,
ideias novas. Você pode imaginar, por exemplo, me-
lhorar o funcionamento do hotel. Você pode colocar
esses elementos dentro de um computador, e fazer
toda uma análise combinatória para ver as alternati-
vas que você tem.
Mas, ele não vai criar o AirBNB. Não vai pensar
isso. Não vai pensar fora da caixinha. Um ser humano
é capaz. Mas para isso ele processou a ideia “hotel”,
e imaginou uma ideia melhor. A máquina não sai des-
se quadradinho. Mas, se nós considerarmos que, na
nossa vida prática, também não temos saído do qua-
dradinho, é bem provável que a gente acabe sendo
superados sim. E isso é bom.
Veja bem, não é a máquina que está tomando o
lugar do homem. É o homem que vem tomando, há
muito tempo, o lugar da máquina. A partir do momento
em que o conhecimento se torna só retenção, e exis-
te um certo símbolo de status na quantidade de livros
que eu li, sem que você veja um reflexo claro dessa
leitura na vida da pessoa. O homem está tomando o
lugar da máquina e, às vezes, ele faz menos até do
que a máquina, porque a máquina tem um processa-
mento lógico daquilo que você deu como informação
prévia para ela.
Ela é capaz de um algoritmo, onde explicita todas
as conclusões possíveis daquele ponto de partida que
você deu. Lógica para o homem atual também está
ficando rara. Então, a gente considera que o conheci-
mento humano é pós-lógica. Mas, a nossa mentalida-
de habitual é pré-lógica.
Agora me digam, com toda honestidade, vocês
estão aí me assistindo, se vocês não consideram que
um pouquinho de lógica, essa que qualquer computa-

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dor mais complexo é capaz de exercer, não melhoraria


muito, por exemplo, os sistemas de manipulação, que
ocorrem em relação ao ser humano. Só lógica. Não
estou falando de criatividade, de inteligência. Só lógica
já ajudaria muito a proteger o homem.
Nós estamos numa fase pré-lógica, por comodis-
mo. Não é que o computador vai nos superar. Ele já
superou, pelo menos lógico ele é. Você não manipula
o computador.
Não diz:
“– Olha, não pense dessa forma.”
Ele vai continuar processando logicamente a in-
formação.
O que eu trouxe a vocês aqui, aliás, já aviso, inclu-
sive, porque acho que é uma informação importante.
Tem anos que eu vinha tentando, porque isso custava
uma dedicação maior, para transformar esse Curso de
Técnicas de Estudo em um curso online, virtual.
Nós já estamos com as pré-inscrições abertas, lá
no site da Idealix, vocês veem propaganda nas minhas
páginas. Inclusive, entrem lá e façam a pré-reserva da
sua vaga. Nós vamos fazer o lançamento, e esse lan-
çamento, esse primeiro lançamento, terá vagas limita-
das. É um curso pelo qual eu tenho muito carinho, por
uma razão muito simples: eu uso.
Você pode imaginar um livro que li há 20 anos,
e o tenho resumido e fichado. Inclusive, ficho até as
reflexões que faço sobre ele. De uma tal maneira que,
se voltar ali, vou parar e vou recomeçar de onde eu
parei. Não vou ter que reler o livro inteiro, isso não foi
perdido, não lembro... – Não lembro, eu reviso, tenho
fechamento de tudo aquilo que faço. E isso me dá uma
eficácia fora do comum.
Porque eu posso reler, reler, reler... acrescentar
as minhas reflexões ao meu fichamento, e chegar a

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uma certa síntese, que não é só o que havia no livro.


Mas também o que eu entendi e o que amadureci do
que havia no livro. Ou seja, o conhecimento começa
a fazer diferença. Não é mais só quantidade, é quali-
dade. E desenvolve um método onde você aprende
a amar o conhecimento. Não faz para chegar a outro
lugar, faz por ele mesmo.
Essa é uma primeira premissa que gostaria de
passar para vocês. A nossa discussão, espero que
não seja tão longa, vamos ver.
Eu gostaria de trazer para vocês algumas discus-
sões do que hoje se fala a respeito da tal Era da In-
formação. – O que seria a Era da Informação? Esse
nome, especificamente usado dessa forma, vai surgir
aí em torno de 1970.
O pessoal do Instagram não está acompanhando
a tela do PowerPoint. Infelizmente isso é difícil pelo
Instagram. Mas esta é a Era da Informação, onde a
tecnologia começa a tomar conta das preocupações
do homem. A Era Digital ou Tecnológica, como tam-
bém é chamada, começa em 1970. E ela começa a
ter um ponto de vista um pouco diferenciado daquilo
que a gente tinha até então. Começa a surgir aquilo
que a gente chama de sociedade pós-industrial. Os
conhecimentos valem mais do que as mãos calejadas.
Ou seja, começa-se a privilegiar mais o conhecimento
intelectual do que o conhecimento prático. Isso é du-
vidoso, porque o conhecimento prático é um comple-
mento; mas que não se pode dispensar.
E começa a haver um fluxo de informações em
todas as direções, principalmente dentro de uma em-
presa. Até então se praticava aquilo que a gente cha-
mava de Fordismo.
O que era o Fordismo? O presidente da empre-
sa dava ordens, dava orientações, os operários cum-

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priam. Não havia espaço para que os operários na


linha de produção pudessem passar acima das infor-
mações que eles recolhem daquilo.
E cada um deles tem um ângulo de visão do que
está sendo feito, dos defeitos, do processo de produ-
ção, das suas imperfeições. Inclusive da qualidade do
produto, que está sendo gerado. É uma informação
preciosíssima.
Seria muito importante, para quem está lá em
cima, saber essa informação. Processar tudo isso
para chegar a uma conclusão, que beneficiasse a to-
dos, beneficiasse o processo. E esse novo modelo,
que é chamado de Toyotismo, nasceu muito pelos pa-
íses orientais; sobretudo no Japão.
Esse modelo vai sendo modificado dentro das
empresas, vai sendo aplicado, de tal maneira que a
ideia é, nesta Era da Informação, que haja fluxo de
informação em todas as direções, de baixo para cima,
de cima para baixo. Quem tem a informação, que a
aporte ao todo.
A informação começou a ser a mais valorizada. Co-
meçou a ser o capital fundamental da sociedade. Isso
é bom, por um lado, como falei para vocês. Eu acredito
que essa ideia do Toyotismo é muito boa. Todo mundo
troca informações dentro de um processo; acho muito
bom. Porque todo mundo tem algo a dizer. Todo mundo
dentro de uma empresa, de uma instituição, em geral,
dentro de uma família, todo mundo tem uma âncora,
que aporta muito para o todo.
E seria muito bom que a gente aprendesse a res-
peitar o ponto de vista dos outros, e a fazer com que o
resultado da nossa visão do processo fosse uma soma
de todos esses pontos de vista, como uma empresa
que soma em si todos os pontos de vista de cada uma
das suas fases.

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Agora, a questão de desvalorização do conheci-


mento prático, isso evidentemente não é bom. O co-
nhecimento prático, ou seja, as mãos calejadas, tam-
bém aporta um conhecimento, que não poderia ser
desprezado. Isso também deveria ser considerado. E
quando o homem, além de ter uma informação intelec-
tual, também tem as mãos calejadas, ele tem um outro
aspecto de vida, que é fundamental para ele.
O trabalho prático ajuda o homem a desenvolver
disciplina; ajuda o homem a ter um certo domínio so-
bre si próprio; ajuda o homem a ter um certo contro-
le, inclusive sobre as suas formas mentais. O homem
ocioso, do ponto de vista físico, cria um fluxo mental
que, muitas vezes, é muito difícil de controlar. Enfim,
uma série de coisas se perde, quando você desvalo-
riza o trabalho concreto, a chamada mão na massa.
Continuando, então, o que foi gerado como efei-
to mais imediato, de 1970 para cá? Na verdade, não
é só de 1970. Nós podemos ver que o século XX todo
caminhou nessa direção. Mas, com certeza, isso é
estatístico, da metade do século XX para cá se pro-
duziu mais tecnologia, bem mais, do que nos 1950
anos anteriores.
A tecnologia avançou em uma velocidade enor-
me, e apontou cada vez mais nessa direção de valo-
rizar o conhecimento, que pode aportar mais criação,
mais tecnologia.
Então, o quê nasce ali? O que vai acontecer aí?
Um rápido crescimento do setor de serviços, com
um rápido aumento da tecnologia, e o conhecimento
e a criatividade se tornam as matérias cruciais des-
sa tecnologia.
Vejam se vocês entendem. Essas áreas passam
a ser muito valorizadas. As áreas de criação tecno-
lógica, o desenvolvimento da criatividade e as áreas

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de serviços começam a ser valorizados, e começam a


ser áreas de ponta. São as chamadas novas profis-
sões, que estão emergentes no mercado. Todo mun-
do começa a se dedicar muito a isso. A desenvolver
a própria criatividade, mas, às vezes, sem um certo
direcionamento sobre as necessidades a que essa
criatividade se deveria voltar.
Nós avançamos em uma velocidade fenomenal,
quanto à tecnologia e à capacidade de serviços. Mas,
o lado humano, o que foi que aconteceu?
Não é surpresa para ninguém, nem é novidade.
Todo mundo sabe disso, que nós vivemos, em grande
parte das profissões, um momento crítico de bug psi-
cológico. Ou seja, não foi o bug do milênio de informa-
ções. Foi o bug do milênio da mente humana, que saiu
do controle. E como se começou a focar muito nesse
aspecto do desenvolvimento dos meios, o homem se
afastou ainda um pouco mais dos fins. E se afastou
também dos princípios. – Tudo isso gerou um vazio
existencial, que chega um determinado momento em
que você está produzindo em uma megavelocidade.
Você está gerando coisas de ponta, mas você mesmo
já não tem mais motivação, não sabe mais muito bem
quem é, nem aonde você vai chegar com tudo isso.
Então os resultados positivos, maior longevidade,
maior conforto, maior eficácia e rapidez nas soluções
em geral e o estímulo constante para aquisição de co-
nhecimentos são um aspecto positivo da coisa. Positi-
vo até determinado ponto, não é?
Porque, vamos ver, maior longevidade. Se você
não tem uma motivação clara, se você não sabe o quê
fazer com a vida, pode só aumentar o espaço da cri-
se existencial. Nós sabemos que hoje existe uma ex-
cessiva valorização do profissional jovem. Aumentar a
longevidade, se você não dá um papel, um sentido à

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vida desse ser humano, dentro da sociedade, talvez


você não esteja fazendo grande coisa. Se não enten-
deu muito bem a lógica da vida, talvez não esteja fa-
zendo muita coisa.
Em várias palestras que dei, pessoalmente, eu fa-
lava a respeito de um experimento. Talvez alguns de
vocês conheçam, pois foi feito no Zimbábue, por um
médico psiquiatra chamado Dixon Chibanda. O Zim-
bábue é um país que tem pouquíssimos psiquiatras.
Parece que eram 12, com ele. E houve um crescimen-
to progressivo, como de resto em todo o mundo, de
casos de depressão e suicídio. E ele não tinha como
atender todas aquelas pessoas. Sendo tão poucos,
eles não tinham como atender. E não havia recursos
para trazer novos médicos do exterior.
Ele teve uma ideia, que eu achei qualquer coi-
sa de maravilhosa. Ele, simplesmente, pegou as se-
nhoras de terceira idade, que havia na sociedade,
jogadas, sem muita utilidade, porque não tinham
muita instrução, e tinham saído daquela fase mais
produtiva.
Pegou essas senhoras e ensinou para elas o
básico da TCC, que é a Terapia Cognitivo-Comporta-
mental. E botou essas senhoras, nas localidades onde
elas viviam, fazendo atendimento a pessoas depressi-
vas. Isso fez um sucesso tal, gente, que ele chegou a
fazer dois grupos piloto, um deles conduzido por ele,
e o outr conduzido por essas senhoras, as Avós do
Zimbábue.
Incrível, porque essas avós conseguiram um índi-
ce de remissão de sintomas superior ao do grupo que
estava sendo conduzido diretamente por ele. E ele é
uma pessoa linda, não é? Ficou contentíssimo com
essa sua derrota, e de perceber a eficácia dessas se-
nhoras. Que a figura da avó já é associada simbolica-

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mente à ideia do carinho, do colo, e, além disso, com


uma sabedoria de vida muito grande, que associada à
instrução básica que ele deu fez com que elas fossem
terapeutas de primeira linha.
Por que eu conto essa história para vocês aqui,
agora? Eu quero que vocês entendam que o quê o
doutor Dixon Chibanda fez não foi, simplesmente,
atender muito melhor o problema da depressão e dos
suicídios no Zimbábue.
O quê ele fez também, além disso, foi dar sen-
tido à existência dessas senhoras. Elas passaram a
ser úteis à sociedade; passaram a aportar com a sua
maturidade, com a experiência de vida delas. E isso é
um elemento de um valor fundamental dentro da so-
ciedade. Fazer com que, em todas as faixas etárias,
o ser humano tenha um produto, tenha um sentido
para existir, um aporte à vida. Senão, não adianta au-
mentar a longevidade, pois, se a motivação humana
se perde, vai ser uma longevidade com péssima qua-
lidade de vida.
Em uma sociedade em que existe o preconcei-
to de que o homem de terceira idade já não serve
mais para nada, a não ser para consumir recursos
dos serviços sociais, então eu coloco como duvido-
so isso, que é tido como um grande produto. É bom,
mas não é completo; não é? Aumentar a longevi-
dade deveria implicar em aumentar a qualidade de
vida do homem idoso.
E, por fim, a tecnologia aumentou o conforto, e
aumentar o conforto demais não é muito bom, quan-
do o homem tem que caminhar demais. Isso gera um
comodismo, uma inércia, que não é boa para quem
tem muito para crescer. Todos nós temos muito para
crescer. Para quem tem muito que caminhar, almofa-
da muito macia não é tão boa assim. Maior eficácia e

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rapidez na solução de problemas práticos, em geral,


isso é bom.
Mas quando faz com que o homem fique com tem-
po excessivo de sobra, e esse homem também não tem
direcionamento humanístico, não tem um sentido de
vida, esse tempo de sobra pode arriscar de ser aplicável
a vícios e dependências, de todo tipo de elementos, para
dar uma graça à vida. Porque a vida se torna um tédio.
Muito tempo ocioso, às vezes, pode ser contraprodutivo,
quando esse homem não sabe o quê fazer com ele.
E o estímulo contínuo à aquisição de conheci-
mentos também. Porque os conhecimentos técnicos
vão gerando cada vez mais, mais, mais... mais tecno-
logia. – E os conhecimentos humanos foram pratica-
mente descartados como inúteis.
E não é de todo, eu sei que pode parecer polê-
mico para vocês isso, mas não é de todo errada essa
conclusão. Porque as humanidades começaram a per-
der a fé em si mesmas, começaram a ficar muito dis-
tanciadas da necessidade de serem humanas. E isso
fez com que elas fossem, cada vez mais, pôr essa per-
da de autoconfiança dentro do seu papel no mundo
atual, e de fato perdendo o seu lugar.
Às vezes, as humanidades são consideradas
quase que um curso para quem não passou em ves-
tibular mais difícil. Desculpe-me falar com essa fran-
queza toda, mas nós vivemos esse drama.
Eu sou uma filósofa, tenho um orgulho enorme
disso, não faria outra coisa na vida. Mas, eu tenho
uma motivação grande por trás da Filosofia, em rela-
ção ao que posso fazer por mim. Se não é recuperado
esse status pelas humanidades, elas vão ser realmen-
te cada vez mais descartadas.
Bom, e os elementos negativos que surgem com
tudo isso? Maior depressão, ansiedade, solidão, pâni-

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co, estresse, apatia, e índice de suicídios crescente.


Muitas vezes, profissionais de diversas áreas têm
me procurado:
“– Olha, estamos com problemas aqui. Vem
fazer uma palestra, que ajude o nosso pessoal.
Está tendo casos de depressão em números mui-
to elevados.”
Eu trouxe para vocês, inclusive, um trecho de
uma música da Legião Urbana. Lembram disso aqui?
“Estátuas e cofres e paredes pintadas. Nin-
guém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da ja-
nela do quinto andar. Nada fácil de entender.”
Percebem o que é que o Renato Russo quis dizer
com isso? Ninguém explica isso pelo conforto que ela tem.
Estátuas e cofres e paredes pintadas, ou seja,
uma pessoa que vive em um ambiente com todas as
benesses da tecnologia do século XXI. Mas ela se ati-
rou da janela do quinto andar.
O que faltou? Nós percebemos que agora é o mo-
mento de parar, e analisar. Porque não adianta termos
as coisas e perdermos o homem. Já diziam os roma-
nos, na decadência de Roma, que falavam isso:
“– Ai de nós, que conquistamos o mundo, e
perdemos a nós mesmos.”
Vocês não acham que está na hora de fazer um
pouco de exame de consciência à romana? Nós, que
dominamos o mundo; nós, que conquistamos o mun-
do tecnológico, vamos, ah, sei lá... Ultrapassamos o
cinturão que nos divide, o espaço externo e interno do
Sistema Solar, mas perdemos o ser humano.
Vamos discutir um pouco a respeito desse lado
humano. O ser humano, quando deixa de ser o final
do processo, quando o final do processo passa a ser
coisas; cuidado, nós estamos em crise. Os seres hu-
manos vão começar a perder o seu sentido de vida.

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É difícil consertar ser humano. Isso, às vezes,


produz gerações de sofrimento e perda de referencial.
É melhor se preocupar com o ser humano. As coisas
são o meio, o ser humano é o fim. E é o momento mais
do que necessário de pararmos de pensar nisso.
As necessidades geram demandas, e essas de-
mandas tensionam a criatividade. Quais são as nossas
maiores necessidades? Às vezes, eu entro na internet,
e acho isso engraçado, porque a pessoa inventa ne-
cessidades, máquina em que você acopla o celular e
vira um microscópio, aí você sai olhando as coisas,
e não sei o quê. Máquina, olha, é impressionante. A
gente não tem tanta necessidade assim.
Claro que eu não me considero, nem de longe,
um Sócrates. Já devem ter ouvido falar. Quem sou eu,
não é? Eu me considerar alguma coisa parecida com
isso. Já devem ter ouvido falar de Sócrates ir à feira
só para olhar para as coisas, e perceber, com toda a
satisfação, quantas coisas havia de que ele não ne-
cessitava. E voltava feliz da vida por isso.
Mas, vamos e venhamos, a gente está exageran-
do, está inventando necessidades para depois vender
cacarecos. As necessidades nossas são agora de con-
sertar o homem, de posicioná-lo diante da vida como
um ser humano. Dar a ele princípios humanos, dar a
ele fins – que façam com que ele seja fator de soma na
sua vida, e na vida da humanidade. Posicioná-lo dian-
te da natureza interna e externa. Orientá-lo, ou seja,
mostrar para ele um referencial, um sentido de vida,
um Oriente, ou um Norte.
Porque o homem está desorientado, desnortea-
do. Ou seja, está na hora da nossa criatividade não se
voltar tanto e apenas para o bem-estar. Mas também
para o bem-ser, para o estar-bem, para o ser-bom.
Isso é uma necessidade premente.

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Nós criamos uma tecnologia, e quase que auto-


maticamente nasce uma maneira de utilizá-la de uma
forma amoral. Ou seja, duais como nós estamos, e
pendendo muito mais para um lado, às vezes, do ego-
ísmo e da manipulação, está na hora talvez de a gente
pensar mais no bem-ser do que no bem-estar. Inclusi-
ve, porque isso está gerando um nível de debilidade
onde nós já não sabemos mais reagir diante das ad-
versidades. O excesso de conforto produz, às vezes,
um homem que, diante da diversidade, fica apático.
Não sabe como reagir. Está acostumado a viver entre
algodões, e a vida sempre terá adversidades.
Às vezes, eu vejo pessoas que não conseguem
superar elementos, que são perfeitamente parte da
vida. Não são nenhuma tragédia imprevista, coisas
perfeitamente previsíveis, dentro da vida.
Cada vez mais, fraquejamos diante dos proces-
sos, dos protocolos da vida. Cada vez mais, estamos
inertes, do ponto de vista psicológico. Não existe mais
muita elasticidade, muita mobilidade, do ponto de vis-
ta psicológico. Nossa psique ficou fragilizada, e preci-
samos trabalhar com isso. Gerar conhecimento para
trabalhar com isso. E aí o conhecimento talvez seja
mais necessário, neste momento, do que em qualquer
outro lugar.
Diga-me um lugar onde o conhecimento seja mais
necessário do que aí, neste momento, na História da
humanidade? Onde? Precisamos de mais máquinas
que vão até os limites do Sistema Solar? Precisamos
de mais máquinas que nos ofereçam, sei lá, comuni-
cações mais velozes?
Nós não temos tanta coisa assim para dizer. Para
comunicar tão pouco, eu acho que a gente já tem
meios demais. O que nós comunicamos? Ao menos,
se você considera, sei lá, dentro de uma área mais

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científica, em que há uma consistência maior entre


quem se comunica. Mas, o nosso dia a dia, nós temos
muito pouco para dizer por dez formas diferentes.
Nossos assuntos são muito superficiais. Nossa
profundidade é praticamente ausente. Portanto, está
na hora de parar de criar meios de comunicação, e
criar conteúdo digno de ser comunicado.
Ou seja, a criatividade deveria se voltar... – signifi-
cativamente, não digo que uma coisa deva parar, mas
que nós deveríamos equilibrar essa busca – a criativi-
dade deveria se voltar significativamente para dentro
do homem, para entendê-lo e fazê-lo funcionar como
ser humano.
Bom, continuando. Eu coloquei aqui uns quizzes,
uns questionariozinhos, só para vocês pensarem um
pouco a respeito disso. Peguei um fato histórico, que
é relativamente distanciado no tempo, já tem eu acho
que mais de dez anos, que foi aquele escândalo da
bolsa, da bolha imobiliária nos Estados Unidos. E que
provocou um prejuízo tremendo, vários suicídios.
Alguns de nós, um pouquinho menos jovens, não
é? Devem se lembrar disso. Foi curioso, escândalos
desse tipo... – não só ele, praticamente todos os asse-
melhados, antes e depois dele –, é que quem estava na
cabeça desses escândalos não eram pessoas incultas.
Não eram pessoas com poucos anos de escolaridade.
Muito pelo contrário. Na cabeça de toda essa es-
trutura, que provocou prejuízo humano e econômico,
havia gente laureada em Harvard, que é a melhor,
considerada a melhor universidade do mundo.
Chegou um momento tal, eu me lembro de um
editorial do Washington Post, onde o jornalista que ali
escrevia falou, com muita sinceridade:
“– E pensar que fiquei tremendamente moti-
vado para mandar os meus filhos para Harvard.

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Será que vale tanto assim a pena, realmente?”


E não é só aí. Desafio vocês a verem os grandes
escândalos no mundo, os grandes problemas, as si-
tuações mais delicadas. Eles não são provocados por
pessoas sem escolaridade, sem, entre aspas, cultura.
Muito pelo contrário, são provocados por pessoas com
alto nível de escolaridade. Portanto, eu peço que vo-
cês pensem nisso com calma.
Lembrem, eu sou uma filósofa, e filósofo é um
pouco chato para esses lugares comuns, que existem
dentro da sociedade. Quando as pessoas dizem que
a razão dos problemas atuais é a falta de educação,
e que é preciso educar, eu concordo em parte, pois
depende do que você chama de educação. Porque
os nossos critérios de educação atual não estão for-
mando moralmente o homem, não estão formando o
caráter, não estão dando referenciais humanos, não
estão convertendo os homens em verdadeiros seres
humanos com valores, com virtudes, compreensíveis
e com finalidades humanas.
Não, são simplesmente egoístas bem-informa-
dos. E o egoísta feroz, é melhor que seja mal informa-
do. Pois assim ele está menos capacitado a produzir
dano. – Eu concordo que a gente necessita de educa-
ção. Mas vamos discutir o que é educação. Educação
não é acumular um monte de informações superficiais
em cima de um egoísmo brutal.
Essas informações vão ser como uma arma na
mão de uma criança. Platão já dizia que é preferível a
ignorância absoluta do que o conhecimento em mãos
inadequadas. Percebam bem isso.

Quis dois. Mais uma provocação para vocês:


“– De tudo que você estudou, de quanto você
se lembra?”

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“– Ah, mas eram bobagens. Eu não precisa-


va de tudo aquilo...”
Olha, eu lhe garanto que, se você soubesse es-
tudar, tivesse o hábito da reflexão, qualquer coisa que
aprendeu na vida teria sido útil. Qualquer coisa.
“– Ah, o problema é dos programas de estu-
do no Brasil.”
Está bom, eu concordo que talvez não sejam os
mais adequados. Mas, seja qual for o Programa de
Estudo que lhe é oferecido, para quem tem um ânimo
de aprendizado como forma de ver, simbolicamente,
a vida, e através desses ensinamentos aprender a
ver a sua própria natureza humana, qualquer coisa
é útil.
Recentemente, eu tenho estudado bastante so-
bre a vida de Gandhi, o Mahatma. Eu fico surpresa
de ver como ele praticava isso. Ou seja, qualquer co-
nhecimento de vida, qualquer coisa que você obser-
va com ânimo de aprendiz pode ajudá-lo a melhorar a
sua percepção do que é a vida, de quem é você, e do
seu compromisso para com ela.
Sempre conto uma história nas minhas palestras,
que talvez alguns de vocês conheçam, que é de um
vídeo que assisti rapidamente, de passagem, sobre o
plantio de uvas para a confecção de vinho de alta qua-
lidade, em países do “primeiro mundo”.
Eu me recordo de um trecho desse vídeo, foi mui-
to curto o pedaço que assisti, em que se dizia que,
nessas grandes plantações, de vinícolas muito experi-
mentadas, eles podam os ramos inferiores de cada um
daqueles pezinhos, para que a energia vital da planta
se eleve até os ramos mais elevados.
Aquelas uvas, que estão nos ramos mais eleva-
dos, reúnem em si toda a vitalidade, todo o fluxo de
vitalidade da planta, e portanto elas se desenvolvem

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melhores. Aquilo foi uma coisa que me deixou intriga-


da, por vários dias.
“– Gente, será que, se eu fizer isso comigo,
não dá certo? Será que se eu podar essas coisas
vulgares, inferiores, banais, superficiais, que es-
tão lá embaixo, eu não concentro a minha ener-
gia, vida no mais elevado que tenho, e não produ-
zo os melhores frutos?”
Para mim, foi tão contundente, que passou a ser
uma disciplina de vida, a partir daquele dia. Então, vo-
cês percebem, se existisse um Programa de Estudo,
ensinando como se produz vinho na França, você diria:
“– Que inútil, menino não vai produzir vinho.”
Mas, qualquer conhecimento que passa pela
nossa vida, se temos ânimo de aprendizes, podemos
aprender com ele, e através dele, sobre nós mesmos.
Isso é uma outra coisa que eu acho importantíssima,
que procuro abordar bastante no meu curso: Aprender
a aprender. Amar o conhecimento em si, e ter como
meta a construção de si mesmo, muito acima do que a
meta de construir coisas.
Repito, a natureza não precisa da gente para
construir coisas. Ela se vira muito bem. Ela precisa
de nós para construir homens, porque isso ela não
pode fazer por nós. Valorizar o conhecimento – de
tudo que estudamos, não lembramos de quase nada.
– Não sabíamos estudar, é verdade. Isso é um fato
lamentável.
Também não estávamos interessados no conhe-
cimento. Colocaram na nossa cabeça, e nós aceita-
mos, que o conhecimento era um transtorno, no meio
do caminho, para obter uma vida confortável e praze-
rosa. E há que reverter essa programação.
Das notícias que você leu esta semana, quanto
você parou para pensar sobre elas?

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Às vezes, as pessoas me dizem:


“– Sou uma pessoa bem-informada. Eu li o
jornal de hoje, li o jornal da semana inteira, às
vezes, mais de um jornal.”
E me falam:
“– Eu li tal manchete. Eu li tal notícia.”
Eu pergunto: O quê você refletiu sobre isso?
“– Refleti? Não, eu li o artigo inteiro.”
“– Mas como é que você vai saber se isso
era uma manipulação? Você acredita que tudo
que se coloca na imprensa é, absolutamente, fiel
à realidade?”
“– Ah, deve ser...”
“– E se não for?”
Será que não dá para você trabalhar um pou-
co com isso, exercitar um pouco de lógica, dar uma
mastigada nesse material, e ver se ele realmente
lhe é útil?
Conto sempre a história da minha avó, que ela
era uma senhora analfabeta, mas ia lá e mastigava
toda a informação que recebia do mundo, e saía com
uma sentença dela. Ou seja, nós lemos e achamos
que fizemos o nosso papel, simplesmente, tomando
como verdade tudo aquilo que está publicado com le-
tras de forma em um livro, ou em um jornal.
Isso é ser uma vítima fácil de todo tipo de mani-
pulação. Nós sabemos que, hoje, quem produz o in-
formativo, quer seja um livro, quer seja um noticiário,
quer seja um periódico qualquer, não é quem, neces-
sariamente, é um idealista e quer ilustrar a humanida-
de. É quem pode pagar por isso.
E saber que vamos tirar daí coisas boas, coisas
más, e até mesmo, quando decodificamos que alguém
está querendo nos enganar, que essa informação nos
é útil. Por que essa pessoa quer tanto que eu pen-

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se dessa forma? E se eu pensasse o contrário, o quê


aconteceria? Por que essa pessoa quer tanto que eu
olhe nessa direção? Que será que está se passando,
na outra direção, que ela não quer que eu veja?
Ou seja, mesmo na má informação, se você está
preparado para absorver, de maneira correta, assim
como o seu estômago está preparado para assimilar
o alimento sadio, e excretar aquilo que não presta, se
você for tão esperto quanto o seu estômago, as infor-
mações manipuladas não lhe fazem mal. Muito pelo
contrário. Você começa a desconfiar:
“– Quem quer tanto assim que eu pense des-
sa forma? O quê está por trás disso?”
De tudo que você conhece, o quê vai fazer a dife-
rença, nos momentos de dificuldade?
Pensem sobre isso.
Eu me recordo, nos meus tempos de garota, na
Faculdade, que isso já faz muito tempo, eu olhava, às
vezes, para aquele monte de xerox. Bom, pelo menos
no meu tempo era assim; quase não faziam a gente
comprar livro; faziam a gente tirar xerox de pedaços de
livros, e isso, ao final, depois da minha formatura, era
uma montanha de xerox no chão.
Passando por uma dificuldade maior na vida, eu
olhei para tudo aquilo, e perguntei:
“– Tem uma palavra aí que me sirva para re-
solver este problema?”
Sim, nenhuma palavra. Aí eu parei para pensar:
“Bom, está bom de eu procurar informações
mais humanamente úteis. Porque senão a minha
memória vai jogar tudo isso para trás.”
Porque aquilo que não é aplicável, a memória evi-
dentemente joga para trás. E você vai perdendo com
o passar do tempo, vai se diluindo... com o passar do
tempo...

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Então, reflexões simples. Eu peço a vocês que


não sejam passivos diante da vida. Nós temos uma
tarefa muito grande – construir os seres humanos, a
nós mesmos, e através do nosso exemplo abrirmos
caminho para outros. Isso não é pouca coisa. Isso é
grandioso.
Os grandes homens, o que fizeram? Fizeram
isso. E os homens, os gênios, construíram coisas
que talvez nos sejam até úteis. Mas, os grandes ho-
mens da História da humanidade constituíram ho-
mens. Começando por eles mesmos, esses fizeram
toda a diferença.
Hoje vivemos em uma sociedade letrada. Nun-
ca se estudou tanto. Eu fico surpresa, às vezes, por-
que, para todos os lados, uma pessoa ter um curso de
graduação já não quer dizer muita coisa. Pós-, pós-,
pós, pós-, um monte de pós-, e cada vez mais coisa.
E quando você coloca essa pessoa na vida ela não se
mostra, necessariamente, dando respostas melhores
à vida do que outra pessoa, que tem menos anos de,
digamos assim, banco de universidade.
Ela não se mostra uma pessoa com domínio de
si própria, uma pessoa com . Não vai havendo uma
qualificação humana junto com esse bombardeio de
informações. Na História, isso não tem nem chance
de ser diferente, nunca houve um momento histórico
onde nós tivemos tantos anos de escolaridade para
uma parte da população, certamente, pois existe uma
parte relegada a nada.
Uma parte da nossa população tem mais informa-
ções do que jamais se teve na História. E nós nunca
sentimos tanta solidão, nunca nos sentimos tão perdi-
dos, nunca estivemos tão desorientados como hoje.
Ou seja, no passado, alguns referenciais, havia. Mes-
mo nos momentos mais duros.

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Hoje, chegou um momento em que a gente já não


sabe muito bem o quê está fazendo por aqui. Tudo se
tornou diluído, em uma vida que nos é dada como se
fosse para mero desfrute. Como se nós não tivésse-
mos nada a aportar à vida. Como se nós estivéssemos
aqui apenas para desfrutar aquilo que a vida nos ofe-
rece. E isso vai cada vez mais inviabilizando os nos-
sos potenciais internos e humanos.
Claro, estou tentando me controlar para não en-
veredar a palestra para essa direção, porque senão
a gente não sai daqui hoje. Nós sabemos que, hoje,
talvez vivamos um momento histórico recorde, em ter-
mos de perda de referenciais de vida.
Costumam me dizer:
“– Em tal império, em tal império, em tal lugar...”
Eu vou lhe dizer, eles tinham um referencial. Se
estavam certos ou não, não sei. Mas eles tinham um
referencial acima da sobrevivência. E nós já não te-
mos muito isso.
“– O quê você faz, além de sobreviver? Que
lhe disseram que era a vida, além de sobreviver
com conforto?”
Hoje nunca se estudou tanto, nunca se leu tanto,
nunca se teve tanta informação, e nunca o egoísmo
teve tanto poder.
Você pode dizer:
“– Não, na verdade, a violência foi se redu-
zindo ao longo da História.”
É verdade, a humanidade vai se desenvolvendo
aos poucos, vai numa média, e nós desenvolvemos
uma crítica social diante da violência extrema, diante
do egoísmo extremo. Mas se isso se torna só um me-
canismo de repressão social, e não é assimilado pelo
homem como valor, uma crise histórica mais violenta
pode acontecer, e nós voltamos à barbárie.

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O quê estou querendo dizer para vocês desse


comportamento social um pouco mais adequado: Ele
é condicionamento moral ou é consciência moral?
Fazemos porque senão somos criticados pela socie-
dade, ou fazemos porque por trás disso existe uma
reflexão sólida, que nos mostra que o ser humano é
mais feliz assim?
Porque, se isso é só verniz, se isso é só um
esmalte, gente, o menor tremor de terra e voltamos
àquela barbárie lá de trás, de Átila, rei dos Hunos, de
Gengis Khan, ou seja lá de quem for. Ou seja, uma
película de pouca cobertura, e ninguém sabe quais as
adversidades o futuro nos reserva. Ninguém sabe o
quê ainda virá por aí.
O mundo é um barril de pólvora. Os conflitos
de todos os tipos são meramente encobertos e não
resolvidos. Existem ódios, existem rancores guarda-
dos aí, sob essa película de convivência educada e
muito ativa.
Nós não somos um vulcão extinto, somos um vul-
cão em plena atividade. Mas que mantém uma apa-
rência razoável, para o turista tirar foto. E que pode
explodir a qualquer momento. Então, vivemos um mo-
mento de egoísmo muito intenso, mas não transmuta-
do, apenas reprimido.
Somos mais inteligentes, mais sábios, somos
melhores com essa nossa maneira de lidar com a
informação, com essa nossa maneira de lidar com a
explicação, e assim nos tornamos seres humanos me-
lhores, entendam bem isso.
Existe um exemplo antigo, que pertence ao pro-
fessor Jorge Angel Livraga, o fundador de Nova Acró-
pole. Eu adoro esse exemplo. Acho que ele diz muito
em poucas palavras. Se você considera o homem que,
em Roma, conduziu uma biga, e o homem que hoje

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conduz um avião a jato, avançou a máquina ou avan-


çou o homem?
Quem de vocês pode me garantir que aquele ho-
mem que conduzia a biga não era um pouco mais frater-
no, mais sensível à dor alheia, do que o piloto do avião
a jato? Vocês acham que o homem evoluiu na mesma
intensidade da máquina? Nós sabemos que não.
Talvez aquele homem fosse um pouco mais sen-
sível, um pouco mais, digamos assim, comprometido
com o bem da sua pátria. Isso que em geral os roma-
nos eram, um pouco mais preocupados com valores,
pois civitas romana, a cidadania romana, constante-
mente incutia essa ideia de valores. E talvez eles ti-
vessem, do ponto de vista humano, muito mais tecno-
logia do que o piloto do avião a jato.
Ou seja, nós somos mais inteligentes?
Vocês vão dizer:
“– Não, isso somos.”
Você está falando que somos mais racionais. Que
temos uma mentalidade racionalista prática, que é ca-
paz de produzir todo algoritmo lógico para inventar no-
vidades, do ponto de vista das coisas.
Mas inteligência, como intelegile, como escolher
dentre, é discernimento, é a capacidade de escolher o
bom grão, é a capacidade de escolher aquilo que nos
convém, como seres humanos, daquilo que nos bes-
tializa. Nós temos isso? Nós sabemos dentro de todas
as ofertas que o mundo nos faz diariamente escolher
aquilo que nos humaniza, e descartar aquilo que nos
bestializa? Temos essa noção? Nós não somos inteli-
gentes?
Inteligência prática, como diria Sócrates:
“– Aja para que eu o veja.”
Coloque uma pessoa diante de uma situação crí-
tica na sociedade, que você vai ver quem é inteligen-

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te, quem tem autocontrole, quem segura uma situação


crítica, mantendo o domínio de si próprio.
Eu fico muito impressionada, por exemplo, com
esse estudo de Gandhi que estou fazendo. Situações
críticas, onde havia conflitos, onde estavam morrendo
centenas de pessoas, ele mantinha a calma, não dei-
xava brotar nenhuma gota de ódio, e pensava consi-
derando a visão dos dois lados.
E com isso Gandhi produziu uma estratégia, o
Satiagraha, que foi um negócio incomparável. Não é a
toa que ele se tornou um Mahatma. Ou seja, isso era
inteligência, isso era inteligência.
Cadê essa nossa inteligência hoje? Nós somos,
cada vez mais, uns contra os outros. As mínimas dife-
renças nos separam. Mais sábios; nem se fala... Essa
sabedoria, que nos transmuta em todos os planos, e
nos torna seres humanos realmente melhores, mais
dignos da condição humana, está cada vez mais rara.
Somos melhores em que aspecto? Em que as-
pecto melhoramos? Sabemos produzir muitas coisas;
certo, isso é bom. A Medicina evoluiu muito, a gente
vive mais, bom. Não vou duvidar dessas utilidades téc-
nicas, porque são óbvias.
Mas, vejam bem. Quando o homem não sabe
aonde quer chegar, talvez seja melhor ele escolher
um meio um pouco mais simples. Em outras palavras,
se você está indo para o abismo, é melhor ir de bici-
cleta do que de Porsche. Vai chegar um pouco mais
devagar. Ou seja, os meios muito eficazes, quando os
fins são desastrosos, podem ser ruins. Nada é bom ou
mau em si. Bom ou mau é o uso que se faz das coisas.
Tudo no universo é dual. Bom... você não tem
uma finalidade humanística de vida, e coloca mais tec-
nologia na sua mão. Você vai fazer o quê com essa
tecnologia? Vai afundar cada vez mais a si próprio e

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à humanidade. Como dizem os indianos, gerar cada


vez mais carma. Talvez fosse melhor ter menos. Per-
cebam que tudo é muito relativo, quando nós não es-
tamos bem consolidados sobre os valores humanos.
Se nós construímos o ser humano sólido, com
valores, com virtudes, com sabedoria, com discerni-
mento, qualquer coisa que você dê na mão dele, para
gerar frutos altamente nutritivos, não só para ele, mas
para toda a natureza, vai beneficiar toda a natureza.
Agora, um homem bestializado, o quê você colo-
ca na mão dele vai potencializar esse lado bestial. To-
dos nós sabemos, Hitler seria menos ofensivo se fos-
se analfabeto. Aquela oratória fantástica que ele tinha
potencializou uma psicopatologia. Era melhor que ele
fosse totalmente ignorante. É preferível a ignorância
absoluta, do que o conhecimento em mãos inadequa-
das. Isso é Platão. – Vamos continuar gerando conhe-
cimento, ou é melhor a gente começar a se preocupar
também em gerar homens? Isso é fundamental.
Hora de voltar a nossa criatividade para dentro,
para gerar como produto a consciência humana. Eu
desafio todos vocês, que trabalham com criatividade,
que comecem a voltar a sua criatividade para um pro-
duto: Criar seres humanos de verdade. Seres huma-
nos que sejam capazes de dar respostas humanas ao
mundo. Seres humanos que sejam capazes de cum-
prir com o seu papel.
Assim como as plantas cumprem, são base da
cadeia alimentar; assim como os animais cumprem,
perpetuam a sua espécie, procriam, sobrevivem; o ser
humano, que perpetue a condição humana. Que seja
capaz de aportar com o mundo naquilo que se espera
de um ser humano.
Eu reitero que, do ponto de vista da Filosofia, as
plantas vieram para fazer trocas de energia e gerar

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alimentos, que são a base da cadeia alimentar. Os ani-


mais, para exercer a sobrevivência e a procriação, de
maneira eficaz. E os homens vieram para gerar valo-
res, virtudes e sabedoria.
Um homem honesto, íntegro, preserva as plantas,
preserva os animais, preserva o planeta, e tudo mais
lhe será dado pela criação. Agora, quando o homem
não faz o quê lhe compete, não adianta você preser-
var a natureza. A natureza humana em guerra com a
natureza vão se destruir ambas. Portanto, há que se
começar a pensar nisso.
Grandes criativos do mundo, dediquem um pouco
da sua criatividade para criar seres humanos. Ou seja,
eu faço um convite para aqueles que trabalham com
criatividade. Aproximem-se um pouco mais da Filoso-
fia. Isso vai ser um diálogo muito útil, porque esse é o
nosso ofício. Pensamos nisso o tempo todo.
Não basta a informação, é necessária a formação.
O domínio do ódio, quando você é ofendido. – Gandhi
fala uma coisa linda: Que nunca devemos odiar os ho-
mens, mas que devemos odiar as ofensas.
Os vícios enlouquecem os homens. Se nós fos-
semos capazes de lutar contra os vícios, e não contra
os seres humanos que foram dominados por eles, nós
teríamos muito mais misericórdia, e seríamos capazes
de sair, no final, não vencedores sobre alguém, mas
vencedores junto.
Uma das coisas mais urgentes para a gente é a
fraternidade. Vencermos esses tipos de ódio, que es-
tão constantemente fazendo com que alguém esteja
por cima, massacrando quem está abaixo.
Esse modelo é um modelo nocivo, pérfido, que
vai nos levar à destruição, independente de quem es-
teja acima e abaixo. As nossas lutas para poder colo-
car, destacar alguma classe social que foi reprimida,

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tomam uma faceta de vingança. Ou seja, eu fui repri-


mida, agora eu reprimirei.
Isso não é um modelo que faça nenhuma dife-
rença. Um modelo onde uns são oprimidos e outros
são opressores é ruim, seja quem for que esteja de
cada um dos lados. Vamos desenvolver um modelo
onde a gente não ganhe sobre ninguém, onde a gente
ganhe junto. Vamos desenvolver uma capacidade de
autocontrole diante da diversidade. Vamos desenvol-
ver uma capacidade de pensarmos no futuro, não só
no nosso, mas no da humanidade. Vamos desenvolver
uma mentalidade de um sentido de vida que seja apor-
tar valor à vida, e não só à minha.
Sair daqui maior do que eu entrei, e ser fator de
soma para a humanidade. Ou seja, um monte de ele-
mentos básicos. Vamos trabalhar sobre isso. Isso é
urgente, a humanidade necessita disso, e a natureza
como um todo necessita disso.
As duas naturezas, a natureza externa e a natu-
reza humana, clamam por isso. Isso é um vácuo pe-
rigoso, a ausência de seres humanos no mundo. Não
adianta você me dizer:
“– Bom, são não sei quantos bilhões...”
Não são, mas um bilhão de corpos. A alma huma-
na desperta eu não sei quantas temos. Mas uma coisa
é certa, precisa aumentar esse número.
“– Só é útil o conhecimento que nos torna
melhores.”
Isso é fundamental. Reflitam sobre isso. Estamos
crescendo como seres humanos? Legal, a nossa edu-
cação está adequada. Se não estamos, não adianta
aumentar a quantidade de um remédio que não está
curando a sua dor. Estou sofrendo uma dor de cabeça
terrível. Uma cefaleia horrorosa, e tomando um com-
primido que não está funcionando. Dobro ou triplico,

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não vai adiantar. Daqui a pouco, eu me intoxico com o


medicamento. Ele já provou que é ineficaz. A dose que
era necessária, ele já provou que é ineficaz.
A nossa educação, da forma como fazemos hoje,
meramente informativa, já provou que é ineficaz. Nós
vamos colocar mais informação, vamos colocar os ga-
rotos oito horas por dia dentro da escola, vamos colo-
car mais e mais e mais pós-, pós-, pós-, pós-, espe-
cialização, e um monte de coisa. Você vai tomar dez
comprimidos e não vai passar a sua dor. Porque esse
comprimido, no primeiro, no máximo, no segundo, já
lhe mostrou que era ineficaz. No décimo, já é estupi-
dez. Temos que repensar no que consiste uma ver-
dadeira educação, que trabalhe com a formação em
valores humanos.
Também passou da hora de pararmos de tomar
o remédio errado. Passou da hora de pensarmos em
uma Medicina interna, uma Medicina da natureza hu-
mana, que seja mais eficaz do que essa que estamos
aplicando.
Que mais? Ensinar valores, ou seja, começar a
fazer com que o homem aprenda, desenvolvendo isso
desde a infância. Aprenda que os valores humanos
são uma delícia, que dão prazer também. Existem os
prazeres da alma, existem os prazeres humanos. De-
purar o gosto. Não existe coisa mais gostosa do que
você perceber “eu tive um ato de bondade que tinha
ninguém olhando”. Eu não ia ganhar nada com isso.
Não contei para ninguém. Mas, eu fiz, pelo que eu era.
Então, me senti honrado de a vida me dar essa oportu-
nidade. Que delícia que é a bondade. Que delícia que
é a fraternidade. Às vezes, você coloca uma imagem
na internet, uma coisa simples, mostrando uma pes-
soa sendo solidária, e daqui a pouco tem um bando de
gente dizendo:

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“– Isso me comoveu, me levou às lágrimas...”


Ah, é? Então a gente gosta disso. Por que não
usa? Se isso nos traz tanta satisfação, se isso nos
toca tão profundamente.
Sempre conto uma das experiências que a gente
usa com as nossas crianças, porque fazemos ensino
de Filosofia para crianças a partir de 4 anos, filhos dos
alunos dos nossos cursos de Filosofia. E, imaginem,
você pedir para uma criança servir suco para um grupo
de crianças que fazem parte do seu grupo de estudos.
E nessa jarra de suco existe o suficiente para quatro
copos, por exemplo, e elas são cinco. Em um deter-
minado momento, você conseguir fazer com que essa
criança sinta que, se tiver que faltar, que seja para ela.
Porque honra é mais gostoso do que suco. Fra-
ternidade é mais gostoso do que suco. Ela curtiu isso
adoidado, e ficava orgulhosa.
A ponto de vir e dizer:
“– Olha, tia. Hoje faltou para mim... Olha, eu
consegui. Abri mão do meu suco.”
Alegríssima, superalegre. Qual o prazer que o
suco daria? O prazer da honra é muito duradouro. Es-
sas experiências, às vezes, eu converso com essas
crianças 20 anos depois, e ainda são uma fonte de
inspiração para elas. E ainda são um apoio para várias
decisões que tomaram na vida.
Então, ensinar que os valores não são coerção,
mas são convicção, são fontes de realização, são fon-
tes de prazer. Ensinar o gosto dos valores humanos.
Fazer com que gostem deles, e não do que vão ga-
nhar ou perder com isso.
É impossível que o ser humano não goste da na-
tureza humana. Isso é um absurdo. É como a planta
não gostar de ser planta, ou o animal não gostar de ser
animal. Todos os seres são felizes naquilo que são.

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A maior felicidade reside, perdão, na realização


da nossa identidade. Por que só o ser humano não
seria feliz, sendo humano? Você não percebe que tem
alguma coisa errada aí? Temos que ensinar valores,
não como uma obrigação, um fardo, mas como um
privilégio maravilhoso. Minha oportunidade de ser ho-
nesto nessa vida, não sei se ela vai de novo ser tão
grande assim...
Cada vez que se apresentar, eu vou usar bem, por-
que não tem coisa mais bonita do que a honestidade.
Não tem coisa mais bonita do que você pegar uma coi-
sa, que não lhe pertence, e procurar o dono e entregar:
“– Isso é seu?”
Não tem coisa mais gostosa do que o sono dos
justos. E não há coisa mais gostosa do que o prazer
do dever cumprido. Vamos ensinar isso para a huma-
nidade. Mas vamos começar primeiro experimentando
em nós, e curtindo isso demais. Saboreando isso mais
do que chocolate belga.
Continuando, ensinar que beleza é harmonia.
Beleza também é um elemento que gera em nós um
estado de espírito meio celestial. Perceber que esse
estado de espírito é provocado, porque beleza é har-
monia. É a harmonia de cores que faz um belo quadro.
É a harmonia de sons que faz uma bela melodia. É a
harmonia de movimentos que faz um belo espetáculo
de dança. Ou seja, nós nos deliciamos diante da har-
monia. Por que não a praticamos?
É uma delícia se conseguimos fazer isso dentro
de nós. Com todas as vozes que existem dentro de
nós, harmonizá-las em direção a um único propósito.
Realizar-se como ser humano, ser humano. E essa
mesma harmonia com as pessoas à nossa volta. Com-
pormos um grande corpo, que é a humanidade. Alar-
garmos o nosso conceito de família.

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Ensinarmos que beleza é harmonia. E se nós fica-


mos, se temos sede de beleza, o nosso lazer implica
em muitas vezes estarmos diante da beleza, porque
isso nos provoca um estado quase que de êxtase. Co-
meçarmos a ser promotores de harmonia. Não precisa
você ser um artista para isso. A grande obra de arte do
homem é viver como um ser humano. Sozinho e em
coletividade.
Então, começarmos a pensar, por que eu sinto
tanto prazer diante do belo? E se eu promover o belo?
A minha vida vai ser muito mais prazerosa. Eu não
sou só usuário, sou um promotor de beleza nos meus
gestos, nos meus pensamentos, nas minhas palavras.
Impressionante, gente, como seria, por exemplo
– eu sei que estou falando muito de Gandhi, porque
realmente tenho lido muito sobre ele ultimamente.
No seu diário, na sua autobiografia, ele fica em uma
alegria tremenda, quando consegue dominar o pen-
samento. Uma alegria tremenda, quando consegue
ter uma ação coerente, ainda que ninguém goste.
“– Todo mundo me odiou por isso. Mas eu
estou tão feliz; fui coerente.”
A gente precisa de mais homens desse tipo. De
homens que se alegram por serem humanos, e con-
sideram que não há prazer maior do que esse.
Não pense:
“– Não, mas ele era um Mahatma.”
Ele era um ser humano que se tornou um Mahat-
ma. Ser humano é uma construção, não nasce pronto.
E esse desafio está presente para todos os seres hu-
manos.
Ensinar a combater o egoísmo, de tal maneira
que, quando você vê que por trás da sua motivação
existe um desejo de tirar proveito das situações, de
maneira egoísta, combata imediatamente isso.

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Isso exige uma disciplina férrea. Quando eu per-


cebo que estou sendo egoísta, lá nos bastidores das
minhas motivações, reajo imediatamente. Sempre
brinco com os meus alunos.
Se pousa uma barata em você, você olha para
ela, e diz...:
“– Ah, deixa aí. Eu tiro amanhã.”
Ninguém faz isso. Ninguém faz isso. Barata no
seu braço, já tem até uma palavra específica para isso:
“– Ah! Jogue para cima...”
Faça um pouco isso, quando vir os seus defeitos
morais. Grite, jogue-os para a frente imediatamente.
Jogue-os para cima. Não os admita. Quando você os
vir, combata-os imediatamente com disciplina. Não
admita que estejam enfronhados por trás das suas
ações, pensamentos; sempre na motivação de tirar
proveito de tudo para si próprio. Quando vir isso, con-
sidere como barata.
Tenha aí uma disciplina mental, pois isso é uma
barata. É a pior das baratas, a mais contaminada de
todas. Portanto, vi, jogar longe imediatamente, sem
concessões. Isso é um processo de construção de au-
todisciplina. Qualquer coisa que você constrói tem que
ter disciplina.
Construa a si próprio. Implique determinados vo-
tos, como dizia Gandhi, certos compromissos, certos
protocolos, que lhe impeçam de fraquejar. Comprome-
ta-se consigo mesmo. Gandhi chamava isso de voto.
Nós podemos chamar de compromisso. Comprome-
ta-se na construção de si próprio, de forma séria. Não
abra mão disso.
Para quem não sabe, grande parte da vida de
Gandhi, para não dizer toda a sua vida, ele diz que
construiu baseado nos votos que ele fez para sua mãe,
quando aos 18 anos foi estudar Direito na Inglaterra.

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Aqueles votos, que ela exigiu que ele fizesse, ele


não fez só durante os três anos da Inglaterra; ele fez
durante toda a sua vida. E esses votos, sua mãe já
morta, quando ele volta da Inglaterra, já não a encon-
tra viva, esses votos nortearam a vida dele inteira, e
foram de uma utilidade, que ele disse:
“– Eu não sei o quê teria sido da minha vida
sem esses votos, que a minha mãe me exigiu fazer.
O peso disso, de ter feito esses votos para a minha
mãe, foi um auxiliar precioso no domínio de mim
mesmo, e no aperfeiçoamento de mim mesmo.”
Faça votos. Faça votos diante da sua consciên-
cia, diante de um ser amado, que você queira honrar,
ainda que não esteja mais presente fisicamente.
Desenvolva a verdadeira inteligência, que é dis-
cernimento. Que é uma inteligência que não aceita as
coisas a priori, porque estão na moda. – Não rode o
software vida, não compre opinião pronta. Aquela que
pegar, leve para um canto isso, e a mastigue, matute.
Uma frase, que eu acho muito bonita, mais uma
vez, do nosso fundador, o professor Jorge Angel Livra-
ga. Ele dizia:
“– O homem não vive daquilo que ele come.
Ele vive daquilo que ele assimila.”
O seu estômago faz todo o trabalho para ver o
quê é para assimilar, e o quê é para eliminar. Por que a
mente não pode fazer também, e melhor até? Não me
parece bem mais complexo. Ou seja, desenvolver a
verdadeira inteligência, que é discernimento, é passar
a mergulhar nas coisas, a aprofundar-se nelas. Vê-las,
e ver através delas. Ver o princípio que está por trás
de tudo aquilo, e aplicá-lo em outras situações da vida,
para ver se é válido.
Não comprar o pacote vida pronto. Já concluindo,
ensinar o valor da unidade. As coisas são vivas quan-

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do são unas. Tudo que é dissecado não tem mais vida.


A humanidade está dissecada, nossa natureza huma-
na está dissecada. Nosso valor da composição é o de
sentir realização e prazer em unir, e não em separar.
Em conjugar, e não em dissecar.
Ensinar o valor de que o conselho da unidade é
sempre o melhor conselho, em qualquer circunstância.
Classicamente, a unidade é o atributo, por excelência,
de Deus. Aproximar-se da unidade é aproximar-se des-
se arquétipo, desse ideal tão inspirador. Para muitos, o
mais inspirador de todos. E eu me incluo nesse grupo.
Estimular a crescer como seres humanos. Come-
çar a passar isso para as crianças, para os jovens.
O quê você deve esperar no futuro? Ganhar melhor
do que todo mundo, ter mais status? Não! Ser mais
humano, para inclusive ajudar os outros a também se-
rem. Que aí você se torna um referencial. Ensina isso
como meta.
Estudar para abrir a mente, não para meramente
acumular informações, e sair esnobando, porque você
já leu vários livros. É preciso processar o quê vivemos,
e o quê estudamos.
Saber amadurecer, gostar de processar o conhe-
cimento. Considerar isso uma curtição, fazer disso um
objeto de conversa entre amigos. Que nós nos una-
mos, e as nossas amizades também sejam unidas em
torno de ideias. E não meramente em torno de banali-
dades corriqueiras.
Sabedoria é saber e aplicar. Sabedoria é uma
profunda reflexão, e depois uma vivência coerente:
“– Honrai as verdades com a prática.” É uma
frase de uma grande filósofa, chamada Helena
Blavatsky.
Ver como o rei está nu. Muitas vezes, o rei desfila
nu na nossa frente. Ou seja, as loucuras do mundo

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atual, não pense que são só no Brasil, não. Em todo


lugar do mundo, as alienações, os modismos, os Tha-
nh de todo tipo se apresentam como pensamento da
moda, e a gente engole ao pé da letra.
Aprender a olhar e saber, “o rei está nu”. Menos
erudição, no sentido de quantidade de informação, e
mais sabedoria, qualidade, aprofundamento.
Cuidado com essa cultura de sermos tão rasos
quanto um pires. Não temos mais verticalidade, não
temos mais capacidade de ir ao fundo, à essência das
ideias, que se escondem por trás das informações,
que nos oferecem. Isso nos torna muito limitados, do
ponto de vista da inteligência, uma ferramenta que nos
é oferecida pela natureza humana, mas que há que
saber usar.
“– A simplicidade é o último grau de sofisti-
cação.”
Uma frase que se atribui a Leonardo da Vinci. Eu
acho muito interessante. Simples, disse que, quan-
to mais intelectual é o homem, mais vaidoso ele se
torna. Quanto mais sábio, mais simples ele se torna.
Porque o sábio vislumbra o universo que existe ainda
para saber, enquanto o mero intelectual acha que já
sabe tudo. O universo dele é muito pequeno. E desse
pequeno fragmento que ele consegue ver ele já tem
quase tudo.
Sócrates dizia:
“– Só sei que nada sei.”
Isso é prova de grande sabedoria. Ele vislumbra-
va o tamanho daquilo que havia para conhecer. O vai-
doso não vislumbra nada. Vê um átomo e acha que
tem muito. Então, quanto mais se sabe, mais humilde
e mais disposto a se comprometer com a humanidade.
E transmitir, de mãos cheias, o pouco que temos. Hon-
rai as verdades com a prática.

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E assim terminamos hoje, gente, a nossa peque-


na palestra. Não foi nem tão pequena assim.
Eu queria passar para vocês o critério, para aque-
les que vierem a se interessar pelo nosso Curso de
Técnicas de Estudo. Não é um curso meramente téc-
nico. Nosso curso de aprender a estudar é um curso
muito cheio de Filosofia.
Porque o quê queremos ali não é simplesmente
ensinar a você a fazer uma boa síntese, a refletir, mas
também a aprender a tesourar e transformar esse co-
nhecimento em vida. É isso que nós nos propomos.
Somos uma escola de Filosofia, e não fazemos
meramente técnica. A Filosofia usa a sua criatividade
voltada para a construção de homens. E eu convido to-
dos, em qualquer profissão, a associarem esse ofício,
essa missão da criatividade. Ou seja, a tomarem para
si o dever de ser também um pouco filósofo. Platão
dizia que, enquanto você exerce qualquer profissão,
você poderia e deveria ser também filósofo. Porque a
Filosofia aporta um novo ângulo, uma nova perspecti-
va ao seu ofício, seja ele qual for.
Inclusive, e principalmente, ao ofício de um bom
estudante, aquele que ama e quer para si a sabedoria.
Muito obrigada, e a gente se vê.
Eu espero que você possa tornar úteis alguns
desses conhecimentos.
Obrigada.

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BOAS-VINDAS

Somos aprendizes da vida

Hoje nós vamos conversar a respeito de um mon-


te de tópicos. Todos eles, vamos tratar de uma manei-
ra sumária, mas para vocês terem uma ideia de como
todas essas coisas compõem a capacidade de um
bom estudante.
Que na verdade não é simplesmente a capacidade
de um bom estudante, é a capacidade de um bom apren-
diz. E um bom aprendiz é uma coisa fundamental que
o ser humano seja, porque disso se trata: Viemos aqui
para aprender. Viemos aqui para construir a nós mes-
mos, e ocupar o nosso espaço no mundo. Ser fatores de
soma, acrescentarmos valor a nós mesmos e ao mundo.
Então, quem não é aprendiz está fadado a pas-
sar a vida em vão. Quem não é aprendiz está fadado
a não cumprir com a sua missão de sair daqui maior
do que entrou. Não se enganem, achando que quem
tem que estudar bem é simplesmente aquele que tem
alguma prova para fazer.
Deixe-me falar uma coisa para vocês: A vida tem
provas todos os dias, e o aprendizado é fundamental
para que a gente passe bem por elas. Para que as
provas na vida não virem sofrimento inútil, e, inclusi-
ve, para que não tenhamos que ficar repetindo esse
sofrimento.
Porque a vida é reiterativa. Se você não passa por
uma prova, ela vai constantemente estar dando situa-

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ções, simbolicamente, semelhantes. Ou seja, quando


a gente se senta num banco escolar, a pedagogia de
uma escola é uma imitação da pedagogia da vida. Ela
nos oferece provas, ela não avisa quando vão ser, ela
não avisa o quê vai cair. Ou seja, só existe uma forma
de você se sair bem nessas provas, que é estar per-
manentemente com ânimo de aprendizagem.
Não deixar para estudar na véspera, porque você
não sabe quando vai ser a véspera. Provavelmente,
todos os dias são a véspera. A vida é constantemente
de aprendizado e provas.
Então, alguns elementos que eu trago para vo-
cês, vocês sabem, a gente está com o Curso de Téc-
nicas de Estudo para ser lançado. Eu sempre digo que
esse curso, que foi desenvolvido por Nova Acrópole,
e que eu já dou há muitos anos, deveria ser, em um
estado ideal, inserido na escola dos meninos, desde a
primeira infância.
É impressionante o desperdício de tempo, por-
que nós temos estudado mal. Já cansei de comparti-
lhar com vocês a minha angústia de ver uma pessoa
me dizer:
“– Li tal livro...”
Um livro bom, importante. O quê é que eu espe-
ro? Que ela tenha incorporado o ensinamento desse li-
vro à sua vida. Ela não só não incorpora na hora, como
não incorpora depois, porque não lembra. Ela não fica
com uma síntese do que viu ali. Ela passa flutuando
por cima das coisas, e fica com uma impressão mo-
mentânea... que pode ser até agradável, mas um ano
depois ela e aquele que não leu são a mesma coisa,
não fazem muita diferença.
Eu acho incrível que alguém leia um bom livro e,
um ano depois, não saiba me dizer uma frase, uma
palavra do que estava ali. Tem uma impressão geral,

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tem mais ou menos a ideia da história, mas não tem


aprendizado registrado nenhum. Não sabe se apo-
derar daquilo que lê, não sabe fazer um bom ficha-
mento, não sabe revisar, não sabe refletir sobre tudo
aquilo que lê.
Nós não temos tantos anos assim, meus caros. A
vida humana é bem curtinha. Eu me recordo, como se
fosse ontem, quando ainda era uma adolescente, uma
jovem, eu já tenho 55 anos, uma experiência prática,
a vida passa de uma maneira que é fugaz. Ela escor-
re pelo meio dos nossos dedos. Já já... acabou essa
experiência...
Nós não temos tempo para ficar lendo mil vezes
o mesmo livro, para ver se assimilamos alguma coi-
sa. Claro que os bons livros merecem ser relidos, mas
serem bem lidos e bem relidos, para que você vá, de
fato, tesourando alguma coisa. Senão, é um grande
desperdício.
Nós vivemos um drama, que é de as pessoas
não lerem. Quando leem, leem mal; ou seja, não sa-
bem escolher a literatura, ficam lendo coisas sem ne-
nhum nível. E quando escolhem bem elas leem mal,
ou seja, não sabem reter nada; e quando retêm, elas
não vivem aquilo.
Pelo amor de Deus, vamos simplificar a vida hu-
mana. Vamos juntar todos esses problemas e ver se
a gente os resolve em um pacote, em um pacote Hu-
manização. Que é o quê a gente propõe nesse Cur-
so. Vamos tentar ver se a gente aprende os pilares da
condição humana.
Um dia, eu tenho certeza, isso que a gente faz
isoladamente hoje, dentro de Nova Acrópole, será par-
te de um programa de estudo de um estado ideal, des-
de a infância. Nós deveríamos ensinar o ser humano
a aprender, pois isso não é uma coisa que vem inata.

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O potencial, sim; mas há que ser ensinado, há que ser


trazido à tona, por meio de uma transmissão inteligen-
te da arte de aprender; não é?
Uma coisa que eu acho incrível. Vocês sabem que
eu gosto muito de Helena Bravatsky; nós, filósofos, em
Nova Acrópole, gostamos muito dela. E ela falava uma
coisa, que me recordo, que quando li eu fiquei muito
impressionada. É uma filosofia muito especial.
Uma página de um bom livro, de um livro espe-
cial, de nível, você deveria fechá-lo, e refletir pelo
menos uma hora sobre aquela página. E ela chega
a dizer que a leitura começa na hora em que você
fecha o livro.
Bom, o quê ela está dizendo de um livro especial,
um livro sagrado, ou um grande romance, ou um livro
que tenha um nível, que seja realmente um pilar da
cultura humana, é que esse tipo de livro demanda, às
vezes, até mais de uma hora de reflexão por página.
Ela ainda vai adiante, comenta várias coisas so-
bre isso. Mas, eu acho interessante... é claro que ou-
tros livros, talvez, exijam menos, porque livros mais
técnicos. Mas não conheço nenhum livro, que vale a
pena ser lido, que não exija que, ao fechá-lo, você o
reflita. Porque senão você perdeu o seu tempo. É uma
pseudoleitura. Você leu e não assimilou. Então, ela di-
zia que a arte da leitura começa na hora em que você
fecha o livro. E tem que saber o nível de dificuldade, o
nível de reflexão que cada tipo de obra tem, para ser
assimilada.
Um livro sagrado, um dos livros, um grande livro
tradicional da humanidade, eles são extremamente
simbólicos. Portanto, são aqueles que mais exigem re-
flexão. Uma leitura superficial desses livros vai gerar,
em primeiro lugar, uma tendência à literalidade; você
não entende nada, você toma ao pé da letra o quê está

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ali. E essa literalidade, levada muito longe, misturada


com paixões, pode virar fanatismo.
A leitura sagrada costuma ser a mais simbólica
que tem. Um livro desse tipo exige uma reflexão, por
um tempo maior, do que você leva fazendo simples-
mente a leitura. Portanto, não é uma obra rápida. É
uma obra a se fazer ao longo da vida. E não são pou-
cos esses livros. Há livros maravilhosos, que a gente
não deveria deixar de ler.
Enfim, um pouco para que vocês pensem a esse
respeito, como é que é a história de estudar bem?
Quem estuda bem, normalmente, vai construindo a si
próprio junto com a leitura. Junto com esse estudo,
junto com a reflexão, ele vai construindo a si próprio.
Porque ele vai assimilando, como se fossem novos ci-
mentos na construção de si mesmo. Ele sai do outro
lado da leitura maior. Aquilo agrega um valor para ele
que não é simplesmente o valor que o escritor deu. É
o valor que o escritor deu mas acrescentado ao que eu
pude perceber, aprofundar e deduzir disso. Ou seja,
você me passa uma jarra de água, eu acrescento mais
algo ali. Não fica simplesmente aquilo que eu recebi.
Nisso consiste a nossa missão com o futuro, en-
tregar para ele mais do que a gente recebeu. Não
podemos ser uma geração nula. Nós temos que pas-
sar para o futuro mais do que a gente recebeu. Daí
essa necessidade de trabalharmos aquilo que é bom.
Acrescentarmos as nossas próprias reflexões. Pense
um pouco sobre isso, sobre a nossa dívida com o fu-
turo. Esse futuro que, direta ou indiretamente, é com-
posto todo ele dos nossos filhos, dos nossos netos. E
nós temos um dever com eles.
Eu tenho um poema, de que inclusive gosto mui-
to, que fala aos meus tetranetos. Um momento de
reflexão que fiz, onde falava sobre esse compromisso

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com o futuro. Do quanto eu tenho que agregar valor ao


mundo para deixá-lo um pouco melhor do que recebi.
E claro que com isso eu tenho que assimilar, tenho
que trabalhar os conteúdos de valor, de qualidade que
os meus antepassados me deixaram. Entendê-los e
acrescentar a minha dose de reflexão. Cada um de
nós tem uma capacidade de acrescentar algo, que só
cada um de nós pode acrescentar. Isso consiste no
conceito de indivíduo.
O indivíduo é aquele que tem um aporte único e
irrepetível para dar ao mundo. Se ele não der o seu
recado, o seu recado não pode ser dado por nenhu-
ma outra pessoa. Porque ele é uma nota daquela... de
uma sinfonia, da sinfonia da música da vida, da can-
ção da vida. Uma nota que vai ser perdida.
Lembram daquela história de que ninguém é in-
substituível? Posso dar a minha opinião para vocês
sobre isso? Eu acho que todos são insubstituíveis.
Todos, invariavelmente. Cada um de nós é, absoluta-
mente, insubstituível.
Bom, a vida vai continuar, mas a nota que eu ti-
nha para aportar a essa sinfonia ninguém vai colocar.
Vai ficar um vácuo, e ela vai ser um pouco menos bela.
Daí a necessidade do aprendizado, para que a gente
não saia daqui sem pronunciar a nossa palavra sagra-
da, sem dar o nosso recado.
Bom, então vamos entrar nos nossos conceitos
de hoje. Como falei para vocês, a gente vai abordar ra-
pidamente alguns conceitos, é claro, porque em uma
mera live, pequena, que não se propõe a ser muito
grande. Então poderia falar muito sobre isso, porque
são vários os conceitos.
Aqui estão algumas pinceladas, para que vocês
reflitam sobre um conjunto de conceitos e elementos
que participam do processo de aprendizado.

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Por exemplo, o de sensibilidade.


Você vai dizer:
“– Mas, sensibilidade serve para o aprendi-
zado?”
Serve demais. Como eu falei para vocês, toda
obra de nível é composta de linhas e entrelinhas. Você,
mais do que simplesmente, lê o quê está nas linhas.
Você sente aquilo que o autor não disse, aquilo que
ele sugeriu, aquela referência que ele fez a algo que
não estava ali. Se vocês pegarem as primeiras edi-
ções do Dom Quixote, de Cervantes, ele tinha escrito,
na portada do livro: Após as trevas, espero a luz.
Sabe o quê é que ele estava querendo dizer? Que
algum dia ele esperava que alguém iluminasse a sua
obra, e lesse não simplesmente aquilo que estava lá,
e risse e achasse que era uma comédia de costumes.
Mas que alguém entendesse que aquilo ali nada
mais era do que uma cópia da condição humana, do
que a condição humana pode chegar a ser. Ou seja,
que lesse simbolicamente, fosse além do literal.
No seu tempo, considerava-se que o Dom Quixo-
te era apenas uma comédia. E isso é curioso, porque,
na verdade, o Dom Quixote é uma comédia, um dra-
ma, tudo ao mesmo tempo. Ele fala da vida humana
com todos os seus aspectos.
Então, essa questão da sensibilidade, ela exige
de nós que sejamos sensíveis e interessados pelo
conhecimento. Essa sensibilidade é que vai nos dar
motivação para mergulharmos de ponta no conheci-
mento. E, realmente, extrairmos dali a pérola, como
o pescador de pérolas de que fala Sidarta Gautama.
Que pudéssemos mergulhar ali, e extrair a pérola do
conhecimento que aquela obra guarda.
Percebam, aprendam das crianças. Dificilmente,
você vai ver, eu conheço algumas pessoas assim, mas

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não são tantas, que têm tanto interesse por conhecer


quanto tem uma criança, que fica louca quando você
vai explicar alguma coisa para ela. Que fica atrás de
você fazendo mil perguntas, e você olha no olhinho
dela, o olho está brilhando!! Ela quer realmente enten-
der, quer realmente conhecer. Aquilo ali é uma ques-
tão prioritária para ela. Nossa, como eu acho isso ma-
ravilhoso!
São muitos anos dando aula, dando palestra. E
não é tão comum assim, que eu olho para os olhos de
uma pessoa, que me faz uma pergunta, e vejo essa
sadia necessidade de conhecer.
Às vezes, perguntamos, por tantas outras razões,
até para nos fazermos notar, até para querermos mos-
trar a nossa opinião, até para querermos impor a nos-
sa opinião sobre aquela do palestrante.
Há “n” razões por que um adulto faz uma per-
gunta. Uma criança faz por uma: avidez por conhecer.
Uma curiosidade sadia:
“– Eu quero descobrir o quê é isso. O que há
por trás? Por que é que os adultos fazem isso?
Por que a vida é assim?”
Eu me recordo do momento na infância das mi-
nhas filhas, em que a minha filha mais velha assistia
um filme, Meu Primeiro Amor, onde o protagonista era
uma criança, e ela morria por uma picada de abelha.
Foram três dias em que tive que fazer um exer-
cício filosófico, para explicar para ela o quê era mor-
te. E ela não se saciava, não achava que aquela ex-
plicação era suficiente. No dia seguinte, vinha e me
perguntava mais coisa. Foi um curso para mim, e não
para ela.
Passei três dias tendo que abordar todos os as-
pectos da morte, para que ela entendesse. Com per-
guntas que eu nunca nem tinha imaginado. Eu aprendi

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mais do que ela. E ali havia uma sadia curiosidade,


não havia outra coisa senão ânimo de aprendizado.
É interessante, a gente deveria aprender realmen-
te, com as crianças, nesse sentido. Depois o conhe-
cimento passa a ser uma coisa secundária na nossa
vida. Nós nos acomodamos, e queremos apenas so-
breviver prazerosamente. Conhecimento se torna um
estorvo. Isso é terrível. Essa é a morte do processo de
crescimento como seres humanos. Porque para cres-
cer como seres humanos nós temos que ser sempre
aprendizes. Ou seja, antes de nascer o nosso ímpeto
de aperfeiçoamento, ele já morreu. Isso é muito triste.
Você olha, e as pessoas já desistiram de se realizar
como seres humanos, quando a trajetória deles ainda
mal começou. Às vezes, um jovem, e não quer mais
saber de nada. Quer sobreviver prazerosamente.
Bom, que mais a gente poderia falar sobre isso?
Em um interesse intrínseco, eu não vou explicar mui-
to para vocês esse conceito, mas passo grande parte
do Curso falando sobre ele, que é interessar-se pelo
conhecimento em si, e não pelo que você vai ganhar
com ele. Sempre que você estiver estudando, pare
e pense:
“Eu estou interessado nisso, ou no que eu
vou ganhar, ou no que eu posso perder se não
aprender isso? Isso tem interesse para mim, ain-
da que não viesse nada depois? Por si, eu tenho
interesse nisso?”
Quando você pode dizer:
“– Sim, eu estudaria isso, ainda que eu fosse
Robinson Crusoé, e estivesse numa ilha deserta.”
Eu posso dizer:
“– Você está começando a aprender o jogo.
Está começando a se tornar um verdadeiro
aprendiz.”

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Aliás, pense sobre isso – na sua mala, para as


férias, iriam alguns livros, iria algum estudo, alguma
reflexão? Se nas suas férias você não vai estudar, por-
que estudar é cansativo, você nunca vai ser um bom
aprendiz.
Se você fosse Robinson Crusoé, e não levasse
nada para refletir, para estudar, só coisas concretas
para sobreviver; bom, seria difícil que você se tornas-
se um bom estudante. Porque, de uma certa maneira,
somos Robinson Crusoé.
Somos uma alma humana, refugiada em um mun-
do de superficialidade, de banalidade. E se nós não
trazemos em nós o ânimo do aperfeiçoamento, o amor
ao aperfeiçoamento, o estudo vai ser um tédio. Você
nunca será um bom estudante, se na sua bagagem
de férias não existir um tempo para estudar. Um livro,
algo do tipo. – Significa que diversão não inclui apren-
dizado. Aprendizado é tédio. Esqueça, você pode fa-
zer todos os cursos do mundo. Não vai ser um bom
estudante enquanto tiver essa mentalidade.
Vamos falar um pouco a respeito de três concei-
tos, que estão muito relacionados entre si, que são: a
atenção, a concentração e a dispersão. É claro que os
três são basicamente a mesma coisa, não é?
A atenção – que é o foco. A concentração – que é,
simplesmente, pegar esse foco da atenção e projetar
sobre um objeto em particular. E a dispersão – que é a
incapacidade de fazer ambos. Agora vamos ver o que
nos faz tão dispersos? Isso daria uma palestra. E que
talvez a gente não estivesse muito dispostos a entrar
a noite aqui falando dela. Inclusive, eu já fiz palestras
falando sobre isso.
Vocês devem imaginar, em primeiro lugar, que há
o aspecto do treino, lógico. A atenção se treina. Nós
consideramos hoje que estar atentos cansa. Eu estou

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olhando para vocês, vocês estão olhando para mim;-


vocês estão cansando de olhar? Vocês estão cansan-
do de respirar? Vocês estão cansando de ouvir? Não,
na verdade, os atributos de ver, de ouvir e de respirar
são naturais da vida. Nós estamos preparados para
fazer o tempo todo. E quando exercitamos isso, isso
não nos cansa. E se a atenção fosse igual a esses
atributos? Se a atenção fosse igual a respirar, a olhar,
a ouvir? E se eu disser para vocês que é?
Simplesmente, nós fechamos os olhos, e agora
estamos com preguiça de enxergar. Dá muito trabalho.
– Se exercitássemos a atenção, ela não dispenderia
nenhum sobre-esforço. É um atributo natural do ser
humano.
Agora, existem muitos conceitos por trás, patroci-
nando essa nossa desatenção. Então, por um lado, a
prática. Vocês vão ver que existem muitas práticas de
atenção, de concentração. Algumas simples, como o
Trataka, que é aquele quadrinho que se faz com uma
circunferência e uma bolinha no centro. A ideia é que
você se concentre nesse ponto, de uma maneira tal
que você já não veja mais a circunferência. Ou seja,
ser capaz de conter os pensamentos circulares, nem
que seja por um minuto.
Uma série de outros existe, não é difícil você en-
contrar exercícios de concentração. Mas, o mais difícil
é você ter motivação para fazer esse exercício. É que
nem a bicicleta. Existem exercícios para você se equi-
librar em cima dela, mas você precisa da motivação
para andar de bicicleta. Porque vai haver contratem-
pos, vai ralar o joelho, vai cair, vai ter medo.
Ter motivação significa que, do outro lado do
aprendizado, existe uma vida muito mais qualificada
para você. Existe uma percepção do sentido da vida
que lhe traz bem-estar, lhe traz felicidade, lhe traz

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harmonia. Eu acho muito difícil, cá entre nós, que al-


guém que acredita que a vida é um caos, e não tem
nenhum sentido, seja um bom estudante. Porque, no
fundo, a grande motivação do bom estudante é querer
entender a vida. Se ela não tem como ser entendida,
por que eu estudaria? Apenas para tirar vantagem em
uma situação em particular?
Bom, há jeito de tirar vantagem driblando o co-
nhecimento. Muita gente faz isso. Então, se não há
algo maior que eu queira descobrir na vida, o misté-
rio da Vida, o mistério da minha própria existência, se
eu não acredito que exista esse mistério, um sentido
maior para tudo, é muito difícil que eu vá amar o co-
nhecimento.
Então, um sentido, uma finalidade, uma propos-
ta maior, isso é fundamental para que você queira ler
na vida. A atenção se desenvolve, os exercícios são
bons. Eu os pratico, inclusive. Faço o Trataka, que é
um exercício muito simples e muito bom. Qualquer
pontinho na parede você pode estar fazendo Trataka.
Mas, o exercício fundamental é você olhar para a
vida o tempo todo. Lá fora, nesse momento, tem um
cachorro latindo, lá longe, que eu estou imaginando:
“Será que ele está na rua? Será que ele está
no quintal de alguém? Será que ele está latindo,
porque ouviu alguém passando pela porta, ou ele
late por saudade do seu dono, que até esta hora
ainda não chegou do trabalho?”
Ou seja, tem um monte de coisas; e daí daria para
desenvolver uma conversa só sobre o latido desse ca-
chorro. Tem um significado aí por trás disso.
Se você vai para o seu trabalho sem olhar para
nada, se você passa o dia sem olhar no rosto das pes-
soas, se não existe nada de particular no dia de hoje
que lhe sirva para uma boa reflexão, para entender

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melhor a vida, olha, vai ser difícil você ter ânimo de


aprendiz.
Você vai estudar mecanicamente, com uma dis-
ciplina, que se torna cansativa. Quando não tiver mais
uma meta imediata, vai parar de estudar. O verda-
deiro estudante acha em qualquer coisa na sua vida
um motivo para uma boa curiosidade, para um bom
ânimo de aprendizado. Porque a vida é inteiramente
pedagógica.
Se você não tem isso, vai circunscrever a sua
necessidade de estudar a essa apostila, para passar
nesse concurso, você vai ser um memorizador. E olha
que alguém que goste um pouco dessa matéria vai
passar na sua frente, facilmente. Não tenha dúvida.
Uma pessoa que goste do conhecimento, e estu-
de uma hora por dia, vai passar na sua frente, mesmo
você estudando dez horas por dia, pensando que es-
tudar é uma chatura.
Porque não existe nada que faz com que o co-
nhecimento crie raízes em nós, nada tão eficaz, quan-
to gostar do conhecimento. Sentir que ele lhe agrega
valores à vida. Não me interessa se eu não vou passar
nessa prova, mas que eu vou sair melhor do que eu
entrei, vou. Porque, olha o tanto de coisa interessante
que aprendi. Um monte de outros aspectos da vida
que, se eu não entrasse aí, eu não os veria.
É um elemento fundamental, que está por trás do
bom aprendiz. Acreditar que a vida é pedagógica, e
querer desvendar o mistério da vida, querer conhecer
a si próprio, querer conhecer o destino de todos os se-
res, querer saber o quê estamos fazendo aqui.
Por isso é que eu acho que Filosofia, olhem, en-
tendam bem, às vezes eu falo isso, que a Filosofia é
muito útil, e as pessoas dizem:
“– Todo mundo tem que ser filósofo?”

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Todo mundo tem que ser o quê deve ser. Mas,


além disso, pode ser também filósofo. Porque através
da Filosofia você vê sentido na Engenharia e na Mar-
cenaria. Na Medicina e na Maternidade.
A mulher do lar ou o homem do lar, e a mulher e o
homem que estão na rua, trabalhando para negócios,
qualquer ofício tem um sentido maior do que mera-
mente extrair dele a sobrevivência.
Que a Filosofia ajuda a fazer, seja lá o quê for
que você tenha para fazer, por completo, e não pela
metade.
Lembrem de Gibran:
“– Aquele que não tece o tecido com amor
mata só a metade do frio daquele que vai vesti-lo.
Aquele que não espreme a uva com amor mata
só a metade da sede daquele que vai beber esse
vinho.”
Ou seja, a Filosofia nos ajuda a fazer muitas coi-
sas por completo. O quê? O quê lhe cabe fazer, seja
lá o que for.
Bom, atenção, concentração e dispersão. Em pri-
meiro lugar, são interesse na vida, e depois, prática.
Você pode fazer exercícios específicos, ou pode prati-
car nos próprios fatos da vida. Faça um diário à noite,
e reflita sobre o seu dia, para ver se você, de fato,
prestou atenção.
Exije de si próprio, todo dia, aprender uma coi-
sa nova. Isso é ótimo. Dá um trabalho tremendo. E
se você conseguir, olha, vai se tornar um excelente
aprendiz. Pense em uma dica rápida e eficaz, é esta.
Todo dia eu vou aprender alguma coisa, e vou regis-
trar, para eu não enganar a mim mesmo.
Temos a questão da leitura. Leitura é tão mais
do que você colocar os olhos no papel e ir passan-
do mecanicamente páginas. É tão mais. No nosso

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Curso de Técnicas de Estudo, vamos falar de todos


os detalhes disso. Você tem que perceber que, você
pode estar onde estiver, nunca é monólogo, se você
não quer que seja.
O autor morreu há não sei quantos anos, às vezes
há não sei quantos milênios. Mas se você quer que seja
um diálogo, vai ser um diálogo. Porque ali tem um ser
humano expressando o melhor das suas ideias, deixan-
do ali o quê ele gostaria de aportar à humanidade como
presente, mesmo depois da sua morte.
Eu acabo de ler a biografia de Gandhi. Nós es-
tamos fazendo uma série de palestras sobre ele, e
foi muito impressionante, porque parecia que eu es-
tava dentro da casa de Gandhi, dentro da vida de
Gandhi, caminhando com ele. Muitas vezes, eu me
emocionei.
É impressionante essa questão das camadas
que a leitura tem. Só que leitura é sempre um diálogo.
Você tem que saber fazer perguntas adequadas, obri-
gar que o autor lhe responda. Saber criar curiosidades
sobre o quê vem, e esperar o quê ele vai lhe trazer.
Saber criar teorias sobre como ele vai caminhar, e de-
pois ver se as suas previsões batem com a resposta
do autor.
Ou seja, a leitura é interativa. Se existe um interesse
vivo, uma curiosidade vital, a leitura é muito interativa.
E há uma série de formas de você tornar essa leitura
viva. – Uma leitura mecânica, passiva, onde você está
ali só recebendo informações, sem muita capacidade de
concentração – porque, se você não está interessado na
leitura, na sua mente, vão estar passando outras coisas,
notícias do jornal do dia, as compras do mercado, o quê
você vai fazer amanhã de manhã... –, o espaço que você
não preenche vai ser preenchido pela dispersão, e vai
roubar a qualidade da sua leitura.

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Portanto, se eu não estou imaginando a vida do


autor, o quê ele estava vivendo quando escreveu aqui-
lo, colocando perguntas para ele, vendo como ele res-
ponde, esse vácuo da minha apatia vai ser preenchido
por dispersão. E a minha leitura vai ser pela metade,
ou às vezes menos. Às vezes, um terço, ou um quarto.
Só um quarto de mim estava ali.
Que mais nós poderíamos falar sobre isso... – So-
bre leitura, nós teremos que passar muitas técnicas.
Uma coisa é certa, leitura tem um processo. Não é
simplesmente abrir os olhos diante de um texto, é mui-
to mais do que isso.
Nós abrimos os olhos diante de um ser humano, e
às vezes não estamos ali, que dirá então diante de um
texto escrito. Há que aprender a se colocar de corpo e
alma naquilo que você está lendo, e criar um interesse
vital, onde qualquer leitura se torna um diálogo.
E aí vocês vão perceber como é possível dialogar
com Platão, 2.400 anos depois, de uma maneira tão
intensa que, às vezes, você o sente como íntimo.
Às vezes, a pessoa fala:
“– Ah! Platão.”
“– Opa! Esse eu conheço bem.”
Como se fosse uma pessoa física que conheci.
Está criando uma intimidade, é algo muito especial.
Às vezes, uma intimidade maior até do que com as
pessoas físicas que estão perto de você. Às vezes, o
seu vizinho é menos íntimo seu do que Platão. Isso é
curioso, isso é possível. Uma boa leitura leva a isso.
Que mais, memória. Memória também é muito pa-
recida com a questão da atenção e da dispersão. Ela
exige treino, mas ela exige também saber que a vida é
pedagógica. Uma coisa que faz com que a gente tenha
a memória diminuída é a falta de treino, vejam bem,
pois a memória não é de meia dúzia de privilegiados:

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“– Fulano tem uma boa memória.”


Está bom que alguém possa ter uma capacidade
excepcional, mas a maioria dos seres humanos tem a
mesma capacidade de memória. Salvo alguns casos
excepcionais, que são exceções.
A memória precisa ser exercitada.
Já cansei de ver pessoas que diziam:
“– Eu não tenho memória.”
E daqui a pouco elas estavam decorando poe-
mas enormes. É possível isso. Simplesmente é uma
questão de exercício. E pode ser um exercício, como
eu falei, que está cheio de cursos por aí de memori-
zação, onde você usa técnicas. Elas funcionam bem,
mas são limitadas, no sentido de você se tornar atento
para toda a sua vida, e no sentido de memorizar as
coisas importantes.
Você tem que ter uma memória ativa, porque você
tem que ter poder sobre ela. E dizer:
“– Eu vou estar atento à vida.”
Eu não sei quais são as coisas fundamentais. Eu
não posso selecionar o quê da vida é interessante,
porque eu não sou sábio.
Isso é muito, eu acho incrível, gente. Fico imagi-
nando, por exemplo, imaginem que vocês estivessem
na Ágora, na Grécia. Estava passando Sócrates, para
fazer ali um discurso, um diálogo com seus discípu-
los. Muitas pessoas estavam ali. Mas estavam pres-
tando atenção a outra coisa, que lhes parecia mais
interessante.
Quando Fernando Pessoa estava lá naquela
cafeteria A Brasileira do Chiado, sentado lá na sua
mesinha, devia ter um monte de gente naquelas me-
sas achando que valia mais a pena fazer outra coisa
do que prestar atenção no Fernando Pessoa, que
estava ali.

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Quando Dom Pedro II andava pelas ruas do Rio


de Janeiro, devia haver um monte de pessoas passan-
do à sua volta, que de repente estavam concentradas,
e achando que o objeto da sua mente era mais impor-
tante do que o quê estava acontecendo à sua volta.
Quantas pessoas perderam coisas maravilhosas
na História, achando que a vida não tem nada para
oferecer. E que os seus pensamentos são mais inte-
ressantes do que aquilo que está acontecendo à sua
volta.
Os seus pensamentos são aquilo que você já viu.
Aquilo que está acontecendo à sua volta é o novo, que
a vida lhe trouxe, porque tinha algo para você apren-
der com aquilo.
Por trás disso, existe uma visão de que a vida não
é casual.
“– Nada acontece ao homem que não seja
próprio do homem.”
Isso diz Marco Aurélio, imperador estoico romano.
Ou seja, se na nossa vida não houvesse nada para ser
apreendido, provavelmente não estaríamos mais aqui.
Que isso, mais uma vez, é de um outro livro, que
é o Bardo Thodol, o Livro Tibetano dos Mortos. Se
nós fechamos os olhos, de uma maneira tal que não
queremos aprender mais nada, nós decretamos, que-
remos morrer. Porque não existe vida se não houver
possibilidade de aprendizado.
À nossa volta, o tempo todo, estão acontecendo
coisas que poderiam agregar valor à nossa vida, se
nós tivéssemos comparecido à aula, se estivéssemos
atentos. E aí nós começamos a achar que a vida é
tediosa, porque não acontece nada, e criamos subs-
titutivos para ela. Fantasias, fantasias individuais, que
nos fazem estar desdobrados pela rua afora. Você vê
as pessoas passarem por você, e elas não estão ali.

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Só está o corpo. Às vezes, as pessoas estão falando


com você, e não estão ali. Só está o corpo, cumprindo
o script mecânico, que ele memorizou. E a mente está
em outro lugar. Quantas pessoas estão à sua volta,
estão ali de corpo e alma?
Você percebe que a pessoa se ausenta, porque
acha que aquele momento é banal e não tem nada
para lhe oferecer. E aquele momento é riquíssimo. Ela
se ausentou por uma fantasia. E isso é tão comum,
que hoje é institucionalizado. Não é só a fantasia indi-
vidual. Existem as fantasias coletivas.
Uma série de entretenimentos, que nada mais
são do que uma fuga, para que o homem saia da sua
vida tediosa e vá para a vida daquele fulano, que se di-
verte, que anda de carrão, que viaja para tudo quanto
é lugar do mundo. Ou seja, cria uma vida artificial, para
que você se ausente da sua e vá se divertir lá, porque
a sua vida não tem graça nenhuma...
Duvido, esteja você onde estiver, faça você o
quê fizer, eu lhe garanto que à sua volta, agora, exis-
tem coisas muito mais interessantes do que qualquer
coisa que esteja se passando em qualquer entre-
tenimento.
Porque existe exatamente aquilo que você pre-
cisa aprender agora para crescer. Nada substitui a
vida, nada substitui a necessidade das pessoas que
estão dentro da sua casa. O estado, às vezes, de
tristeza, de abandono, que existe nas suas coisas, é
por elas não serem tratadas com o devido carinho,
porque as coisas falam dessas necessidades, que
existem dentro do nosso peito, e que às vezes se
manifestam em sonhos, mas a gente não percebe o
apelo delas. A necessidade de cuidar mais das pes-
soas que amamos, a necessidade de mais reflexão,
a saudade de si próprio.

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Tem 1.000 vozes a sua volta e dentro de você,


neste momento, que são mais interessantes do que
as vozes de qualquer substitutivo da vida, de qualquer
fuga. Percebam que os vícios, sejam eles quais forem,
nada mais são do que um grau radical de substitutivos
da vida, porque a vida foi considerada um tédio.
Se eu disser para vocês que a vida não é um té-
dio, talvez tivéssemos o maior antídoto para todo tipo
de vício e de fuga, desde os mais brandos até os mais
heavy metal, não é isso?
Enfim, é importante percebemos isso. Amor à vida
é um antídoto muito, muito eficaz. Ânimo de aprendiz,
estar o tempo todo ligado àquilo que a vida propõe. E
que é riquíssimo. Tem momentos que são cerimoniais.
Se você parar pra pensar nos momentos belos da sua
vida, talvez se lembre de um momento muito simples,
que lhe trouxe um estado de satisfação e de plenitude
muito grande. Esse momento de agora também pode
fazer isso.
Bom, continuando, expressão e lógica.
Muitas pessoas fazem curso de oratória, eu acho
altamente recomendável. Recomendo inclusive que
façam. Mas talvez vocês não saibam uma coisa, que
existe um nível básico da oratória. Que é você ir lá na
frente e falar bem.
Esse é o básico.
“– Ué, como assim, professora?”
É, é o básico. Você ir lá na frente, saber o quê fa-
zer com os braços, saber o quê fazer com a voz, saber
o quê fazer com os olhos. Isso é o básico, meus caros.
Sabe qual que é a oratória avançada? Você saber
o quê você vai falar lá na frente com coerência, com
lógica, sabendo que vai acrescentar alguma coisa ao
seu ouvinte. Não é, simplesmente, algo que você du-
plicou de um livro, que ele poderia ler na casa dele.

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Tem a sua dose de reflexão. Você acrescentou a sua


dose de experiência. Ali você vai passar algo que é de
valor, e que traz luz à vida de quem o ouve.
A preparação de um discurso, claro, com um sig-
nificado, com um aporte àquele que o ouve, é a parte
mais difícil da oratória. Então, às vezes, as pessoas
pensam:
“– Eu sou tímido para falar em público. Eu
fico envergonhado.”
Pode ser que você seja tímido. E isso dá para trei-
nar e superar, essa timidez. Por aí existem excelentes
cursos de oratória. Mas provavelmente você também
tem dificuldade para escrever um discurso, de uma
maneira tal que, ao ler, você se convença.
Bom, de qualquer maneira, eu vou dizer isso, por-
que vale a pena ser ouvido. Quando você tem algo
a dizer, você vai encontrar uma via para que isso se
manifeste.
Como dizia Carlos Drummond de Andrade:
“– Procura a palavra sagrada. Penetra no rei-
no das palavras.”
Se você tem algo a dizer, fica muito mais fácil de
você encontrar os meios. Então, a oratória avançada
é trabalhar um discurso útil a quem ouve, coerente,
com lógica, com clareza. Você não vai, não sei se isso
é boa notícia, acho que não, em uma plena segunda-
feira, você não vai conseguir fazer isso se você não
aprender a pensar com lógica o tempo todo.
Os ensinamentos bem concatenados, os pensa-
mentos bem ordenados, a lógica é como uma equa-
ção matemática. A conclusão tem que ser deduzida da
premissa. Não entra nada no meio do caminho. Não
sai nada que não estivesse na primeira premissa, uma
dedução inteligente, de argumento a argumento.
Muitas vezes, as pessoas pensam:

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“– Bom, mas você é uma filósofa, está me


dizendo que lógica é tudo?”
Não, não estou dizendo que lógica é tudo. Eu es-
tou dizendo que, perto da forma como a gente pen-
sa, hoje em dia, lógica é muito. Muito recentemente,
alguns devem ter assistido uma palestra minha, que
está no YouTube, que fiz sobre Inteligência Artificial e
Consciência Humana.
Onde, necessariamente, na comparação dessas
duas coisas, eu tive que dizer:
“– Bom, a máquina trabalha com lógica.”
Tem um algoritmo que ela segue rigorosamente.
O ser humano pode mais do que isso. O ser humano
pode intuição, pode criatividade, pode um monte de
coisas. Mas, com o comodismo mental que nós temos
hoje em dia, nós não temos nem a lógica; nós estamos
aquém da máquina. Ou seja, nem a lógica nós desen-
volvemos. Temos preguiça de pensar, e compramos
pacotes prontos.
Se você pega esses argumentos da moda, o pen-
samento da moda, para fazer um exercício lógico de
análise daquilo, eu acho que você não passa de se-
gunda linha. Não vou entrar nisso, porque seria com-
prar uma briga terrível. Mas, o pensamento da moda,
normalmente, é uma das coisas mais furadas da His-
tória.
Eu já estive uma vez fazendo uma pesquisa so-
bre a moda de vários momentos históricos. É difícil.
Nunca encontrei nenhuma moda que soubesse o quê
estava dizendo.
Se você soubesse, analisava isso com sensatez
– sem ter que aderir muito imediatamente, no calor
das emoções –, guardando um pouco o tempo certo
para você ver a que você vai empenhar a sua vontade,
onde você vai assinar embaixo.

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Não aderir tão entusiasticamente, imediatamente,


às coisas, porque a sociedade lhe cobra isso.
“– Você é contra ou a favor?”
“– Espere aí. Deixe-me pensar.”
“– Não, mas não pode ficar pensando tanto...”
É, então, estou fora! Se você não me der tempo
para refletir, eu não me manifesto em relação a nada.
E pode ser que eu vá refletir e não seja nem contra
nem a favor, e não queira saber disso.
Porque isso, em si, já é um sofisma: Ou está co-
migo ou está contra mim. Não, não sou nem uma das
duas coisas. Eu sou uma pessoa que gosta de você,
mas não estou nem com você nem contra você. Estou
a favor daquilo que o faz crescer e contra aquilo que
o animaliza.
Pronto, é outra coisa, não deixe que ninguém o
coloque na parede, e o obrigue a se colocar em posi-
ções com que você não concorda com nenhuma das
duas alternativas. Isso é um sofisma. Falácia do tercei-
ro excluído. Existem muito mais do que duas alterna-
tivas. Então, só a lógica, que é a ciência do raciocínio
correto, do pensamento correto, já nos protegeria de
muita coisa.
Dentro do Curso de Filosofia, a gente estuda uma
escola filosófica, pela qual eu tenho muito carinho, que
é o Estoicismo, onde eles prezavam muito pela lógica.
Epicteto, que é um grande filósofo estoico, dizia:
“– Proteja a sua razão e ela protegerá você.”
Bom, isso é tudo? Não, depois disso, tem um
monte de outras capacidades, que vão além da lógica,
mas, se você começa zelando pela lógica, de muita
coisa você já vai se safar, está certo?
E por fim vamos falar um pouco a respeito da
síntese. Olha, quando você lê um livro, e você pode
garantir que daqui a um ano ainda vai ter alguma coi-

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sa dele com você, você fez uma boa síntese. Quando


você está conversando com alguém, e quer garantir
que você vai entender onde essa pessoa está queren-
do chegar, enquanto ela está falando, você está fazen-
do uma boa síntese.
Fazer síntese é querer pegar o coração de todas
as coisas. As coisas são cercadas de adornos, mas
elas têm um centro, um coração. E você tem que se
apossar desse coração, para que possa interagir real-
mente com as pessoas, possa interagir com uma obra,
possa interagir até consigo mesmo. Ou seja, a capaci-
dade de síntese é uma busca de sentido.
O homem que é capaz de fazer uma síntese ele
pegou o essencial de uma obra, e pode incorporá-la,
de forma que ele jamais vai perder o essencial dessa
obra. Então, não precisa, ainda que seja bom, reler
boas obras, mas ele não precisa ficar relendo mil ve-
zes para entender o essencial. Ele tem o hábito de, a
primeira vez que está lendo, já estar buscando o es-
sencial. E isso é superinteressante, gente.
A gente vai falar em uma dessas nossas lives a
respeito dos mandamentos de um bom resumo. Você
está lendo, e você já está ali pegando a ideia princi-
pal. Você termina uma leitura, e você já tem o resumo
prontinho. Você já vai ali como um caçador buscando
a sua presa, que é o coração de todas as coisas.
Um dia, vamos estar diante da morte, e sabe o
quê é que a vida vai exigir de nós, nesse momento?
O poder de síntese, para ver o quê valeu a pena, para
ver o quê fez diferença. A vida vai exigir poder de sín-
tese. E, se não o temos, vamos sair da vida de mãos
abanando.
O tempo todo temos que saber o quê é que está
valendo a pena. Aliás, isso nos ajuda, inclusive, a viver
melhor. O quê está valendo a pena, o quê está fazen-

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do sentido? O quê disso vai fazer com que eu seja um


ser humano de verdade, que traga valor ao mundo, à
minha vida e à vida dos que me cercam?
A síntese não vai ajudar só no final, pois ela ajuda
enquanto você está vivendo. Porque ela vai lhe mos-
trando que o quê feito foi até agora está longe de ser
aquilo que você gostaria, ou está indo bem, ou você
está paralisado.
A síntese é a capacidade de irmos ao centro, e
vermos além de todos os adornos, além de todas as
aparências, o quê de fato estamos vivendo; se é que
estamos vivendo. Que a síntese, em um determinado
momento, pode nos mostrar que não houve, que não
há nada a sintetizar.
Se eu contar para vocês quantas vezes eu já me
sentei na frente de palestrantes, com um papel na
mão, tentando tirar a síntese do que aquela pessoa
está falando, e terminei com esse papel em branco...
Porque hoje, é incrível, às vezes, até com pesso-
as que dominam bem as palavras, às vezes elas não
têm um conteúdo claro, é um conjunto de coisas agra-
dáveis ao ouvido, mas não tem um conteúdo.
E é estranho, porque você fica no ar. Quando é
que ele vai começar, ou ela vai começar a falar real-
mente o assunto, que ele ou ela quer dar para a gen-
te? Qual é o conceito que vai ficar disso?
Às vezes termina, aí você vê que a pessoa fala
muito, fala bonito, mas não tem síntese, não tem
coração. E às vezes acho que as pessoas estão se
desacostumando a perceber que as coisas têm que
ter coração. Ou seja, as coisas sem coração não vão
muito longe, porque o coração é que marca o ritmo
da vida.
Então, síntese também não é algo que se restrin-
ja ao momento em que você abre um livro. Síntese

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é uma capacidade inata e extremamente necessária


para a vida.
Faça uma síntese do que você viveu até agora,
e veja se era essa vida que você esperava de um ser
humano, de si próprio. E, se está um pouco longe do
que você esperava, comece a acertar o seu passo. E
a cada passo, uma nova síntese, para que você não
se perca de novo.
Bom, gente, isso é o nosso bate-papo de hoje. É
uma coisa rápida, como eu falei. O quê estou trazen-
do para vocês são algumas ideias. Vocês sabem que
esse conteúdo do nosso Curso de Aprender a Estudar
vai sair já, já, e que foi feito com muito carinho.
Aqueles que se interessem, eu tenho certeza de
que vão gostar. E aqueles que não possam fazer, tam-
bém espero que essas palavras tenham sido de utili-
dade. Que possam trazer para vocês alguma reflexão,
que os coloque na situação ideal do ser humano, de
eterno aprendiz.
Estarei com vocês, e tenho certeza de que, bom,
essa palestra de hoje, esse curso de como estudar,
tudo está sendo feito com muito carinho, e espero que
traga a vocês, que possa espetar, alfinetar o eterno
aprendiz que está adormecido dentro de vocês.
Muito obrigada a todos.

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BOAS-VINDAS

Os mandamentos do resumo

Sejam bem-vindos a mais este nosso bate-papo!


Agradeço muito a presença de todos.
Nós vamos falar um pouco a respeito dos nossos
Mandamentos do Resumo. Mais do que isso, nós va-
mos falar para vocês sobre a necessidade do resu-
mo, da síntese. São alguns elementos de que muito,
e reiteradamente, tenho falado. Mas, às vezes, não
convenço as pessoas. Quantas vezes as pessoas vêm
me dizer:
– Sou professora há muitos anos, mas tenho
essa aula para dar; o quê é o mais importante?
Eu achei interessante isso, porque a gente deve-
ria ter sempre em mente este capítulo desse livro. O
quê é o mais importante, inclusive do livro como um
todo? O quê é o mais importante deste livro? Qual era
o peixe que ele queria me vender? Eu comprei? Esse
peixe de fato tinha valor? Correspondia ao que ele ofe-
recia? Qual é a sua ideia principal? Eu concordo com
ela, discordo, e por quê?
Se eu discordo fundamentado, porque só dá para
discordar assim, não numa questão de simpatizo ou
não com as ideias, eu tenho ou não uma boa razão
para não crer nessas ideias?
Eu posso ver isso, a partir desse diálogo entre as
minhas ideias e as ideias do autor, e observando como
a vida se desenrola. Às vezes, lá na frente, vejo me-

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lhor o quê o autor disse aqui. Lá na frente, eu percebo


que ele tinha mais razão do que eu. Mas para isso pre-
ciso estar atenta. Para isso preciso estar observando a
comparação entre as ideias do autor e as minhas.
Temos uma mania de ser muito desatentos com
as ideias. Desculpem, mas se eu pegasse vocês, nes-
te momento, e saísse perguntando assim, à queima
roupa:
– Qual é a sua ideia sobre a justiça?
– Qual é a sua ideia sobre o amor; sobre a vida
como um todo; sobre a paz; sobre a bondade; sobre a
fraternidade?
– Qual é a sua ideia sobre isso?
– Como você entende isso?
Desdobre isso em miúdos, de forma prática, para
mim. Vocês perceberiam que, em grande parte, na
maioria dos casos, creio que... eu colocaria vocês em
um aperto?
A gente tem pouco hábito de pensar em ideias.
Quando você começa um livro, o quê você vai buscar
ali? – Salvo raros casos, onde a gente vai buscar me-
ramente entretenimento.
A gente entra num livro para buscar conhecimen-
to, e conhecimento é receber ideias, e analisá-las. Ver
se de fato condizem com a sua visão de mundo, ou se
acrescentam algo novo a sua visão de mundo, e assi-
milá-las. Se você não assimilou nenhuma ideia de um
livro, essa leitura foi perdida.
Provavelmente, se é um bom livro, vai ter que lê-lo
novamente, mais adiante. E isso é algo que, como falo
sempre, nós não deveríamos nos permitir.
Se vocês observassem os livros principais, os li-
vros mais belos da humanidade, se fizéssemos uma
lista disso – descendo a miúdos, descendo a exce-
lentes romances, descendo a livros sagrados de tudo

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quanto é tradição, fazendo uma lista bastante comple-


ta –, perceberiam que, dada a dificuldade dessa leitu-
ra, e dada a sua extensão, a nossa vida não é longa.
Nós temos pouco tempo, e por termos pouco
tempo não deveríamos desperdiçá-lo, ao ler mal lido
um livro – se ele vale a pena ser lido... Aliás, eu vou
dizer algo, que talvez vocês se surpreendam, talvez
até discordem de mim, mas eu claramente aconse-
lho a isso.
Se você vai ler um livro com expectativa, e ele
não corresponde em absoluto àquela linha em que
você pensava que ele caminharia, mas se desprenda
e se disperse numa banalidade, num conjunto de ele-
mentos que não correspondem a nada do que você
esperava, não leve essa leitura até o final. Imediata-
mente, comece algo que valha mais a pena.
E olhe que estou falando para vocês algo que
para mim é extremamente difícil. Eu sou o tipo da pes-
soa que não tem dificuldade para levar as coisas até o
final. Grande parte da minha vida, minha infância, eu
era considerada uma teimosa de marca maior. E pou-
cas vezes na minha vida eu me recordo de ter largado
alguma coisa pela metade.
Mas, honestamente, ler um mau livro por teimosia
não é válido. Ou seja, retomando o argumento, para
que entendam o quê eu estou querendo dizer. Nossa
vida é curta perto da quantidade de coisas boas que
há para ler.
Primeiro lugar, não desperdicem tempo em coisas
de má qualidade – não digo entretenimento, porque é
uma forma de espairecer, faz parte. As coisas de má
qualidade, não percam tempo com elas.
Em segundo lugar, as boas leituras. Não desper-
dicem a oportunidade de sintetizá-las, e de terem as
ideias sempre com vocês.

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Síntese, gente, é muito mais do que meramente


um método de estudo, é um método de aprender com
a vida. É um método de aprender com o outro, e de
ensinar ao outro. Síntese no fundo é tomar o coração
de todas as coisas, entender a que vêm.
Vocês vão perceber que toda comunicação é bas-
tante coberta, digamos assim, por um chantili de ideias
de apoio. Toda comunicação tem uma ideia de apoio
que enfatiza, uma ideia de apoio que mostra o outro
lado da situação.
No Curso de Técnicas de Estudo, inclusive, pre-
tendo falar sobre isso. Agora, a ideia principal que está
sendo apresentada ali às vezes é curta, é pequena,
mas você tem que aprendê-la, e guardá-la. Bom, esse
texto é essa ideia.
Os textos dão algumas fundamentações, as prin-
cipais, que você pode até resumir e guardar também.
Mas, o principal, esse texto fala dessa ideia, e defende
este ponto de vista sobre essa ideia.
Isso é fundamental para você confrontar também
a vida. Já falei muito para vocês que, diante da morte,
por exemplo, que não é um bom exemplo, não é uma
reflexão que ninguém gosta de fazer, mas disse que,
diante da morte, a principal função do ser humano é
sintetizar a sua vida, e ver o quanto ele fez diferença
para o mundo, para si mesmo. O quanto você foi fator
de soma, na sua própria vida, na vida das pessoas que
o cercam.
Ou seja, você não vai se perder em ninharias,
em um momento final de tudo isso. Você vai se fixar
naquilo que foi real. Ou seja, vai ter que naturalmen-
te ser capaz de fazer síntese. No meio de todo esse
movimento, para lá e para cá, no meio de todas essas
coisas, o quê foi real? O quê fez diferença? O quê re-
almente somou?

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Lógico, se isso vai acontecer ao final da vida,


também devia acontecer periodicamente, ao longo
dela. Porque não é certo você avaliar sua vida apenas
quando ela acabou. Porque já não lhe dá mais chance
de mudar o seu curso.
Como dizia o filósofo Marco Aurélio, nós devería-
mos nos comportar como se hoje fosse o primeiro dia
de nossas vidas, seja aquele espírito de pureza, de
ver as coisas sem preconceitos, mas também como
se fosse o último da nossa vida. Termos capacidade
de analisar, sintetizar tudo que ficou para trás, e ver se
era realmente isso que queríamos fazer. Se estamos
indo na direção correta. Ou seja, retomando e enu-
merando. Poder de síntese é fundamental para você
aprender da vida, para você poder transmitir os seus
ensinamentos sobre a vida.
Eu imagino que uma pedagogia ideal, numa ci-
dade ideal, por exemplo, numa República de Platão,
uma cidade imaginária, eu imagino que um bom pro-
fessor chegaria e exporia de maneira bem clara as
ideias principais, e depois as fundamentaria, e de vez
em quando voltaria às ideias principais, até ensinar os
alunos a encontrarem no meio de qualquer discurso as
ideias principais.
E, para que eles não percam isso, que saibam
que todo o resto é apoio, gravita em torno, enriquece,
apoia. Mas o aluno tem que saber o quê é fundamen-
tal. Acredito que seria muito interessante na nossa
Pedagogia Escolar se a gente ensinasse o aluno, nas
nossas próprias aulas, a encontrar as ideias principais.
Ensiná-lo a fazer uma boa síntese, um bom resumo.
Eu fico imaginando um aluno, como tantas vezes
já tive na vida. Eu passo um texto, dou uma aula, e peço
para que ele faça um resumo daquilo. E essa pessoa
vem com um pedaço aleatório, recortado do meio do

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texto ou da oratória que eu fiz. Um trecho, às vezes,


irrelevante. Eu fico impressionada, porque, às vezes,
pessoas adultas, profissionais experientes, e não sa-
bem, não têm esse espírito de focar naquilo que é fun-
damental, naquilo que é dito, naquilo que é ouvido.
Evidentemente, perdemos o coração das coisas,
não estamos atentos a ele. Será que a gente não per-
de também o nosso coração? Começamos a não sa-
ber o que é fundamental na nossa vida.
Síntese, entendam! É a capacidade de encontrar o
fundamental no meio daquilo que é supérfluo. Será que
a gente sabe fazer isso na nossa vida? Será que a gente
sabe dizer o quê é aquilo que não pode ser sacrificado?
Aquelas coisas que são dotadas de um valor ex-
cepcional, que não poderiam ser atropeladas por ou-
tras. Aquilo que não pode ser delegado, aquilo que
não pode ser abandonado, aquilo que não pode ser
adiado indefinidamente.
Quais são as funções da nossa vida que são as-
sim? Você percebe que, quando a gente se coloca
contra a parede, que é um exercício filosófico muito
útil, você vai perceber que você não tem uma síntese
do que é fundamental na sua vida, e daí vem essa
dificuldade de encontrar a síntese em todas as coisas.
Então, a capacidade de síntese tem a ver com
discernimento, saber encontrar o cerne das coisas, sa-
ber encontrar aquilo que é no meio de um monte de
aparências. Ela é fundamental para a identidade; ela é
fundamental para o aprendizado com a vida; para ab-
sorver as mensagens que a vida está lhe dando todos
os dias, simbolicamente, através dos acontecimentos;
para você entender o quê os outros estão lhe dizendo,
querendo lhe dizer. Ainda quando o outro não sabe se
expressar muito bem, você sabe achar o coração da
intenção dele no meio da fala.

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Expressar-se bem, e através do seu exemplo en-


sinar as pessoas a terem um bom discernimento, en-
tão, é fundamental para a compreensão, assimilação
e transmissão do conhecimento.
Se nós consideramos, como dizia Platão, que a
arte de apreensão e transmissão do conhecimento é
a arte mais sagrada da vida humana, porque conhe-
cimento aplicado, vivenciado, é o quê nos transforma
realmente em seres humanos, nós vamos perceber
que o poder de síntese é um dos elementos funda-
mentais que deveríamos ter aprendido, desde idade
muito tenra.
Agora vocês sabem que Filosofia não suporta vi-
timização.
– Não aprendi...
– Não me ensinaram...
Ótimo. Você percebeu que precisa, comece a
aprender agora mesmo. Ensine a si próprio. Comece
a trabalhar com esta ferramenta, e você vai perceber
o ganho de qualidade em relação a tudo na vida. Você
não se desloca de um lugar para o outro, não passa
por meia dúzia de acontecimentos, sem se perguntar: O
quê a vida está querendo me dizer com isso? Você não
sai de casa, entra no carro e chega no trabalho sem se
perguntar por que o trajeto hoje foi dessa maneira. Por
que acontece esse fato; esse fato; esse fato…
A capacidade de síntese o coloca observador, com
espírito de aprendiz, ávido por encontrar a mensagem
que está por trás das aparências, ávido por abrir o en-
velope da vida. Percebam, isso é muito importante.
Nós somos aprendizes, não podemos esquecer dis-
so nunca. E devemos guardar e carregar conosco a
síntese do que foi vivido. Não o envelope. A síntese.
Mais uma vez, reitero algo que há muito venho
falando, ao longo de minhas palestras. Que é o exem-

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plo do suco de laranja. Nós estamos gripados, vamos


lá, esprememos e tomamos o suco da laranja. Di-
zem que esse ácido ascórbico nos protege, aumen-
ta a nossa imunidade, por exemplo, diante de uma
gripe. Tudo bem, eu incorporo esse ácido ascórbico,
ele passa a integrar a minha imunidade, a minha ca-
pacidade de resposta ao meio, a minha resistência a
determinados vírus.
Mas as cascas que eu carreguei eu jogo fora. Eu
não vou ficar carregando um saco de cascas de laran-
ja para a vida inteira. Daqui a pouco, isso pesa tanto...
que eu não tenho mais condições de avançar, não te-
nho mais condições de crescer.
E nós deveríamos fazer isso em relação às men-
sagens que a vida nos manda. Aprender, pegar, fazer
uma síntese. Pegar o coração da experiência, jogar
fora a dor que nos proporcionou, jogar fora o mal que
nos fez, jogar fora o envelope.
Todas as características, o preço que pagamos
por aquilo, isso deveria ser descartado. Se não, o peso
para avançarmos é enorme. Diz uma passagem do Li-
vro Tibetano dos Mortos, o Bardo Thodol, que se sou-
béssemos fazer isso, caminharmos jogando fora as
cascas de laranja, os envelopes, e guardando apenas
a essência que cada coisa nos ensina, pasmem, tal-
vez não fosse necessária a morte.
A morte se torna necessária exatamente porque
carregamos um saco de cascas de laranja e, às vezes,
não tomamos o suco. Às vezes, não aprendemos a
essência daquele acontecimento.
Mas carregamos o preço que pagamos. Não abri-
mos o envelope, não lemos a mensagem que está lá
dentro, mas ficamos carregando envelopes, envelopes
e envelopes… ou seja, síntese é pegar o essencial, e
descartar o desnecessário.

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Síntese nos ajuda a ter uma vida mais produtiva e


feliz, e não amargurada e presa às embalagens, sem
atenção ao conteúdo. Síntese faz com que a gente não
tenha que viver pela segunda vez a mesma experiên-
cia, para aprender o mesmo conteúdo. Essa é a ideia.
Bom, lógico, nós vamos passar hoje, e dentro do
Curso de Técnicas de Estudo, de maneira mais com-
pleta, as técnicas para você fazer um resumo, uma
síntese, um texto numa folha de papel.
Mas essas técnicas podem, sim, ser implantadas
a qualquer coisa na sua vida. A ideia de que nós esti-
véssemos com espírito de capturar o coração das coi-
sas, inclusive, capturar o nosso próprio coração, que é
o mecanismo na construção da nossa identidade.
Quanto mais dentro, mais fora. Quanto mais faze-
mos isso com o mundo, mais temos capacidade de fa-
zer conosco. E vice-versa, quanto mais encontramos
o nosso coração, mais facilmente achamos o coração
de todas as coisas.
Então, vamos lá? Entendido todo este longo pre-
âmbulo, vamos falar um pouco a respeito do que seriam
os quatro mandamentos do resumo, que foi uma for-
ma com que eu resumi as ideias principais, para que
vocês saibam se comportar diante de um texto.

O primeiro mandamento do resumo: vai dizer


o seguinte:
“– Você não usará duas palavras se pode
usar uma só. Ou não usará três palavras se pode
usar só duas.”
Se está lendo um texto, um parágrafo ou uma fra-
se, em geral, faça o resumo por parágrafos. Porque, a
princípio, num texto bem escrito, cada parágrafo tem
que ter uma única ideia. Para isso, existem os pará-
grafos, e não para ilustrar uma folha de papel.

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Então, o parágrafo tem uma ideia principal. Você


vai localizar no texto essas ideias principais, vai subli-
nhar o mínimo, para que ela fique clara; o mínimo. Não
se sublinha artigo desnecessário, nenhum adorno, ad-
jetivos em geral. Se não são imprescindíveis, não se
sublinha. E você vai transformar isso numa nota de
margem, e já são as unidades do seu resumo que fi-
cam prontas ali.
Assim, se você fala que o mensageiro olhou, aten-
tamente, de um lado para o outro, e atravessou a rua, e
entregou uma carta ao seu destinatário, do outro lado da
rua, bom, é um trecho cheio de requintes, blá, blá, blá...
Dependendo do contexto do texto, a princípio,
pelo menos, um parágrafo como este eu resumiria:
Mensageiro, entregou, destinatário. Mensageiro en-
tregou mensagem ao destinatário. Aliás, mensageiro,
nem precisava repetir mensagem, não é? Mensageiro
fez entrega a destinatário. Só isso, nada mais.
Não se sublinha coisíssima nenhuma, se ele
olhou para o lado, para o outro, se ele foi atento ou de-
satento, se o seu mensageiro era tranquilo, inquieto.
Simplesmente, o coração desse texto é mensa-
geiro entregou mensagem destinatário. Nada mais.
Então você não usa cinco palavras se quatro explicam
bem. Aí tem quarto, está muito bem explicado.
Você não coloca nenhum adorno. Resumo não
tem adornos. Os adornos adoçam, embelezam o
texto. Resumo não é obra literária, resumo é uma
coletânea das ideias que um parágrafo transmite.
Portanto nenhum adorno, nenhuma gota de chantili.
Desse pequeno período, desse pequeno parágrafo,
o resumo seria:
– Mensageiro entregou carta destinatário.
Acabou. Sublinhe apenas isso. Entenderam bem
essa ideia? Eu espero que tenha ficado claro para vo-

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cês. Em inúmeras situações, procurem a mensagem;


aqui foi o quê? Uma carta foi entregue, uma palavra foi
dita. Alguma coisa foi feita.
Veja o quê é a ideia central, sublinhe apenas essa
ideia. Isso é o primeiro passo que você tem que dar
para fazer um bom resumo. A partir daí, você vai trans-
crever um resumo para a margem. Fazer uma nota de
margem. Bom:
“– Qual é o segundo mandamento do resumo?”
Não deixar de dar o seu recado. Cuidado! Que
nisso de sublinhar só a ideia principal, às vezes, so-
mos afoitos, principalmente quando não temos experi-
ência, e sublinhamos pouco demais.
Então, o primeiro mandamento dizia: Não colo-
que nada a mais.

O segundo mandamento do resumo vai dizer:


Não coloque nada a menos. Não deixe de dar o
seu recado. Então, se eu falo apenas mensageiro,
carta e destinatário, vocês percebem que isso está
mutilado?
Que mensageiro, carta e destinatário é para dizer:
“– Não entregou, destruiu a carta do desti-
natário...”
Dependendo do verbo que esteja aí, você tem uma
diferença muito grande. Você mutilou a mensagem, ela
não está completa, e você vai ler e dizer:
“– O quê esse mensageiro fez com essa car-
ta, que era do destinatário?”
Ou seja, você não pode dar o recado, o recado é:
mensagem entregue.
Esse recado, você tem que saber qual é o núme-
ro mínimo de palavras para expressá-lo com clareza.
Se tiver dúvidas... porque quando a gente está fazen-
do algo para o agora, às vezes, a gente o mutila.

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Porque, digamos, eu estou fazendo um resumo


para ler, para fazer uma aula para a próxima semana.
Daqui a uma semana, eu me lembro.
Mas, você tem que se imaginar lendo esse resu-
mo daqui a um ano, dois, cinco, talvez até dez. Ain-
da estaria claro para mim? Daqui a dez anos, eu abro
esse texto e olho essa frase. O quê esse mensageiro
fez com essa carta, que eu não estou entendendo, não
lembro mais? Ou seja, você não tem a íntegra daque-
la mensagem, daquele texto, para recuperar quando
você quiser; não tem, você mutilou a comunicação.
Então, cuidado, não seja excessivo; não coloque
coisas que são meros adornos, meros elementos cir-
cunstanciais, ou ideias de apoio, que não acrescentam
em nada na mensagem do texto. Mas também não o
mutile, de tal maneira que depois você tente entender
o texto, e não dê mais.
Se são três palavras o suficiente, então são as
três; não coloque quatro. Mas também não coloque
duas, e nisso você vai fazer a sua nota de margem.

O terceiro mandamento do resumo: Você vai


guardar as ideias e não as palavras. Não tem ne-
nhuma necessidade de você usar o vocabulário do au-
tor, e fazer o resumo usando o vocabulário dele, não!
Resumo é resumo das ideias, e não das palavras. En-
tendem isso?
Então, se alguém fala que, digamos, eu coloquei
até uma frase aqui para vocês: João celebrará sole-
nemente o matrimônio de alguém. João celebrará
solenemente o matrimônio de alguém? João fará o ca-
samento de alguém, de fulano. João fará casamento.
Ah! Mas não tem o verbo fazer, nem tem a pa-
lavra casamento aí. – É exatamente a mesma coisa.
Não conserve as palavras, conserve as ideias. Inclu-

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sive, porque do resumo, na síntese, você vai ter uma


capacidade de memorização do que é essencial na-
quele texto.
E para a memorização você tem que usar pala-
vras do seu uso. Palavras correntes no seu vocabulá-
rio, e não palavras com preciosismo ou erudição ex-
cessivas, ou gírias, coisas estranhas, que não sejam
do seu uso.
Ou seja, guardará as ideias e não as palavras.
Não tem nenhum sentido memorizar a palavra
que o autor utilizou. – Então, fulano fará casamento
de ciclano. Acabou, fim de papo. Está bem resumido.
Não tem nenhuma necessidade de repetir pa-
lavras solenes. Quanto mais do seu vocabulário for,
quanto mais simples for, melhor.

E por fim o quarto mandamento do resumo, de


um bom resumo, bem-feito: Você não amontoará as
ideias de maneira desconectada.
Imagine, mais uma vez, o exemplo que eu dei.
Você vai ler esse texto daqui a dez anos. Você tem
que saber como você saiu de uma ideia e chegou na
outra. Não dê saltos ilógicos nele, de tal maneira que,
agora, eu entenda como foi que saiu da primeira ideia
e chegou na segunda. Ou daqui a dez anos isso não
vai fazer nenhum sentido.
Digamos, sei lá, um exemplo bobo, você está
passando uma receita de feijão. Como fazer feijão? –
Aí eu coloco lá, pego os grãos, cato os grãos, coloco
na panela, fervo, de repente, quando o bacon estiver
bem frito...
Espere aí, como é que eu saí do grão que estava
na panela para esse bacon? Que bacon é esse? De
onde ele saiu? – Você percebe que faltou um pedaço
da história? Do início, você não tinha dito que esse

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feijão tinha bacon. Como é que o bacon foi para a frigi-


deira? O quê eu fiz com ele antes?
Ou seja, se você deixa frestas da compreensão,
essa história fica desconectada. Você tenta contar
para si próprio daqui a dez anos, ou daqui a um ano,
e você não consegue remontar a lógica do esquema.
Está faltando uma peça nesse quebra-cabeça.
Você não pode deixar que uma ideia não tenha
uma transição para a outra. Que ela não tenha uma
passagem lógica para a outra.
Então, cozinhou os grãos. Se quiser colocar bacon
no feijão, corte-o em quadradinhos, esquente a frigidei-
ra, coloque-o lá e o deixe fritar. Aí sim, tem uma cone-
xão, ainda que você possa resumir um pouco isso. Mas,
tem uma conexão. Não deixe ideias amontoadas em
cima da outra.
A nossa mente trabalha com lógica, que é a ci-
ência dos raciocínios corretos. E ela exige de você
que tenha uma boa compreensão de que tudo esteja
conectado.
Uma vez que você fez isso, resumiu com o mínimo
de palavras, mas compreensíveis; não deixou de dar o
recado; não mutilou o texto; e usou as suas palavras. E
ainda há uma conexão lógica entre cada ideia que você
assinalou ali, naquela margem. Coletando essas ideias
da margem, você já tem um resumo em tópicos.
Depois você pode até transformá-lo em um pe-
queno texto, se quiser. No Curso de Técnicas de Es-
tudo, a gente vai explicar melhor isso. Mas um resumo
em tópicos já serve demais. Onde as ideias estão cla-
ras, e bem conectadas uma com a outra. Ainda que
não haja um e, mais, porém, nada, mas as ideias têm
uma sequência lógica.
Às vezes, eu não preciso nem da transcrição,
porque tenho o hábito de fazer a transcrição dessas

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notas de margem, e fazer um fichamento dos textos,


dos livros que leio. Mas, às vezes, só folheando o livro,
com aquelas notas de margem, eu já pego as ideias
principais rapidamente.
Então, falo para vocês de um fato muito recente, a
leitura da biografia de Gandhi. Bom, é um livro de 523
páginas, pelo menos na edição que tenho. Fazendo
notas de margem, da maneira como eu faço, fazendo
o resumo que faço, muito facilmente, eu tenho certeza
de que daqui a dez anos estarei com as ideias princi-
pais da vida de Gandhi em mente.
Simplesmente uma leitura, olhe, nem daqui a um
mês. Talvez daqui a um mês eu não soubesse mais
dos pontos principais. E é lógico, gente, isso é apenas
o resumo.
Mas, se você pretende fazer com isso uma aula,
uma palestra, a partir do resumo, que é síntese do que
o autor disse, você começa a fazer as suas próprias
reflexões, que vão acrescentar o seu ponto de vista
àquilo que foi dito. Que isso já é uma outra história, é
o amadurecimento da ideia. É o seu entendimento da
ideia, é a sua interpretação, é aquele “q” a mais, que
você tem que colocar em tudo que faz.
Porque, se transmitimos só aquilo que recebe-
mos, muito mais fácil as pessoas ficarem em casa len-
do o livro, e não virem ouvir o quê você tem a dizer.
Então, repito para vocês aquela frase, de que gos-
to muito, e sempre a uso. O homem não vive daquilo
que ele come, ele vive daquilo que ele assimila.
Logo, o resumo é um ponto principal, fundamen-
tal, para que você possa mastigar essas informações.
Ao longo dos anos, vai extraindo cada vez mais con-
clusões sobre aquilo. De uma certa maneira, não na
sua íntegra, no seu todo, mas as ideias fundamentais
desse livro do Gandhi ainda estão comigo.

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E a partir dos momentos em que for vendo as coi-


sas na vida, essa ideia do Gandhi, esse ponto de vista
do Gandhi estará comigo. Eu também vejo pelos olhos
dele. Porque você integrou aquilo como uma possibili-
dade sua, e ela não o deixa mais.
Então, um exemplo – não estou dizendo que eu
faça isso, estou simplesmente colocando como uma
tentativa que eu faço. Filósofo não é perfeito, tem
apenas ânimo de aperfeiçoamento. Mas, com uma
leitura bem-feita, e com um resumo bem-feito, a par-
tir desse momento, eu olho o mundo com os pontos
de vista meu e do Gandhi. Tenho dentro de mim,
integradas em mim, algumas possibilidades que ele
me trouxe.
O livro é belo, tem muitos adornos, algumas cir-
cunstâncias, é uma autobiografia. Porém, as ideias
principais dele são o quê me interessa levar. E, inclu-
sive, integrar na minha maneira de ver o mundo. Isso é
uma outra grande vantagem de uma síntese bem-fei-
ta. Você pode integrar as informações na sua forma de
entender a vida.
De modo que daqui a pouco, não é só você. É
você e um monte de pontos de vista que você amadu-
receu, que você refletiu e integrou. E cada vez mais as
heranças do passado vão somando para o homem do
presente e para o homem do futuro.
Se eu tiver que responder a uma circunstância
apenas com minha experiência, eu tenho aí 55 anos
de vida para responder a uma circunstância qualquer,
um problema, uma dor.
Se eu aprendo de Gandhi, eu tenho os meus 55
anos mais os 78 dele, e se eu aprendo de mais uma
outra pessoa, eu tenho mais os 78 mais digamos os
60, digamos, dessa outra pessoa. Chega um determi-
nado momento em que, se a gente sabe ler da manei-

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ra correta, refletir, assimilar as ideias de um bom autor,


você responde às circunstâncias da vida com milênios
de respaldo atrás de você.
Você soma as respostas de milênios de homens
que pensaram sobre a vida, sobre dores semelhantes
a esta, porque a vida é cíclica e reiterativa. A natureza
dos problemas é muito semelhante, embora a sua for-
ma seja infinitamente diferenciada.
No fundo, os problemas são perda, dor, perda de
autocontrole. Não saber responder à vida, não saber
responder à morte, não saber lidar com o outro, ou com
a convivência, os problemas humanos fundamentais,
que nos fazem sofrer, nos geram ganhos, geram per-
das, são muito parecidos ao longo da história.
Podemos sim aprender com aqueles homens
que, ao longo do tempo, souberam dar resposta eficaz
a isso.
Então, imagine, em um determinado momento,
você dar respostas da sua vida com respaldo de Con-
fúcio, Lao Tsé, Sidarta Gautama, Platão, Aristóteles,
e por aí vai, grandes pensadores. Isso significa saber
receber a herança que os homens do passado nos
deixaram.
Como dizia Isaac Newton, numa correspondência
a um amigo:
“– Quando monto nos ombros dos meus
antepassados, vejo muito mais longe no hori-
zonte.”
E é essa a ideia. Então, percebam que síntese
é uma ideia ampla. É uma ferramenta muito neces-
sária, é algo que eu poderia dizer que é um aparato
da inteligência humana. Que nós temos que apren-
der a utilizar. E que nos facilita muitíssimo a vida.
Espero que vocês tenham guardado as etapas prin-
cipais disso.

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Bom, dentro do Curso de Técnicas de Estudo, ex-


plicamos mais, falamos de diferentes tipos de resumo,
acrescentamos possibilidades. Mas essa ideiazinha já
fica para você como um patrimônio.
Tente fazer uma leitura, mas não deixe para ama-
nhã. Faça agora. Pegue um jornal, pegue um artigo de
jornal, e leia do jeito que estou falando. Pegue as ideias
principais na margem, na margem, na margem… só o
essencial, só o coração desse texto.
Depois você vai perceber que, às vezes, len-
do da maneira comum, de repente, uma notícia que
você leu pela manhã, você não tinha entendido di-
reito; não tinha pego as ideias principais. E só ago-
ra, lendo dessa forma, você entendeu tudo que esse
artigo tinha a dizer. Tudo que essa notícia tinha a
dizer, que, realmente, uma síntese bem-feita não
deixa escapar uma única ideia válida de um texto.
Ela não mutila o texto, ela apenas retira aquilo que
é supérfluo. Ela não deixa passar uma única mensa-
gem fundamental, seja a sua íntegra, o coração do
texto inteiro, você recebe, você capta.
E pode optar no que vai fazer com esse coração.
Experimentem. Eu garanto a vocês que, se já leram
essa notícia pela manhã sem critério, da maneira
como habitualmente corremos os olhos por uma no-
tícia, você não captou o coração dela, não entendeu
todos os seus detalhes.
Talvez lendo agora, com esse critério que eu pas-
sei, vocês digam:
“– Nossa, parece que eu não tinha lido nada.”
Agora esse texto criou vida sob os meus olhos.
Eu espero que seja uma experiência válida para
vocês. Lembro que transmito essa informação, porque
eu a uso. E isso tem sido de uma utilidade tremenda
para mim.

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Porque nós vamos integrando, integrando as


coisas que vão passando por nós. Não desperdiça-
mos, a natureza não trabalha com desperdícios. Nos-
sa energia, vida, é limitada, e tem que ser muito bem
empregada.
Com excelentes leituras, mas, além disso, com
excelentes métodos, para tirar o melhor que ela tem
para nos entregar.
Muito obrigada.
Espero que seja útil para vocês essa instrução.

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BOAS-VINDAS

O bom estudante e o autoconhecimento

O nosso bate-papo de hoje vai ser sobre o bom


estudante e o autoconhecimento. Para mim, existe
uma coisa que é fundamental, gente, que é o ânimo
de aprendiz.
Fico olhando, toda vez que vejo a biografia de um
grande homem, como acabei de ler a de Ghandi. Já li
também sobre Leonardo da Vinci, e sobre muitos ou-
tros grandes personagens da História. Tinham um âni-
mo de aprendiz fora do comum. Está certo, você pode
me dizer que você não quer fazer coisas tão radicais,
tão grandiosas assim.
Mas, a construção da nossa própria vida, acredi-
te, é uma coisa radical e grandiosa. E é necessário o
ânimo de aprendiz. Não temos, neste momento, todas
as ferramentas humanas ativadas. Tem muita coisa
que precisamos aprender, pois precisamos encontrar
o caminho para superar as nossas dificuldades, para
encontrar em nós as respostas que necessitamos.
Isso exige ânimo de aprendiz, mesmo. Essa curiosida-
de vital diante da vida, como tem uma criança.
Então, a ideia do autoconhecimento nada mais é
do que um livro que você vai abrir. Inclusive, se você
for observar, tem técnicas parecidas com os livros que
utilizamos, com as técnicas que utilizamos na leitura.
Eu selecionei para vocês aqui, o pessoal do Instagram
está inclusive vendo aqui a minha colinha, selecionei

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alguns pontos que considero importantes. Isso é uma


matéria extra, além daquilo que está no Curso. Daria
para fazer um outro Curso, tão grande quanto este,
talvez até maior, falando só sobre critérios do autoco-
nhecimento.
Selecionei algumas coisas apenas para que vo-
cês reflitam. O mesmo ânimo que leva você a enten-
der bem a mensagem de um autor em um livro, ou
a mensagem de um professor em uma aula, faz com
que você entenda melhor a si próprio, também na vida.
Então, algumas dicas para que você observe,
aprendendo a se autoconhecer, através de critérios de
um bom estudante. E alguns critérios desses, que são
a atenção concentrada, a observação, a imaginação, a
criatividade, vão estar presentes o tempo todo.
Imagine que você é um livro a ser compreendido,
a ser decifrado. Que você vai ter que pegar pelas en-
trelinhas. Se você se colocar diante de um espelho, e
perguntar nesse momento quem é você, vai ter pou-
cas respostas. Como você vai saber isso? Vai saber
rastreando seu movimento pela vida. Rastreando e
descobrindo a si próprio por meio das suas atitudes,
das escolhas que faz, das prioridades que dá, da ten-
dência, quando não está muito consciente, a tratar as
pessoas de determinada maneira. Isso vai trazendo à
tona certos valores mal trabalhados, certas virtudes
mal desenvolvidas, e certas coisas bem desenvolvi-
das, coisas bem-acabadas. Ou seja, isso dá para você
uma margem de estudo de si próprio. E vou exatamen-
te falar a respeito de alguns desses critérios.
O primeiro critério que gostaria de falar com vo-
cês é sobre identidade. Sempre falo que identidade
tem dois elementos básicos: Onde eu estou e onde eu
quero chegar. Isso é bem evidente, não é, gente? Bem
óbvio. Eu quero ir à casa de um de vocês. Sei onde é

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a casa. A primeira coisa que preciso saber, depois de


fixar o meu objetivo, é onde eu estou agora.
“– Bom, estou em Brasília.”
A partir disso, você pode me dizer que voo tomo,
quais os horários que tem, o que faço quando chego
ao aeroporto. Saber onde estou e onde quero chegar
é fundamental, para que você tenha uma básica no-
ção de identidade. Vamos por partes nisso aí? Vamos
ver como é que essa habilidade de um bom estudante
ajuda nisso?
Onde eu estou, em primeiro lugar? Existe uma
frase bíblica que, nesse sentido, nos ajuda bastante:
“– Pelas vossas obras, vos conhecerei.”
Ou seja, entendam bem, quando eu pergunto
quem sou, e respondo:
“– Pelas vossas obras, vos conhecerei.”
Não estou querendo dizer que as minhas ações
são aquilo que eu sou profundamente, mas são aquilo
que eu estou agora.
Não se olha bem os rastros pelo mundo; posso
ter uma certa noção: Quem passou por aqui? Era um
homem muito habilidoso. Você vê, por exemplo, um
rastro de destruição, não passou por ali um cisne.
Deve ter passado um bicho um pouco mais bruto. Veja
os rastros que você deixa no seu ambiente de traba-
lho, os rastros que deixa na sua casa. Como ficam as
pessoas quando você está em casa, quando não está.
Qual é a expectativa pelo seu retorno. Vai vendo as
pegadas que você deixa no caminho.
Portanto, se você quer identificar, rastrear um ani-
mal em uma selva, vai olhando as pegadas que ele
deixa no caminho. Veja as suas próprias pegadas.
Elas são pegadas construtivas? São pegadas concilia-
doras? Quando são, e quando não são? Quando tem
uma dificuldade, um conflito, você é uma presença

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que é esperada, é aguardada, ou todo mundo procu-


ra afastar você de casa, quando tem um conflito? Ou
seja, uma série de elementos, rastreie, observe, pes-
quise, como se você estivesse pesquisando em uma
enciclopédia, em um dicionário. Pesquise os rastros
que você deixa pelo mundo.
Observe, e veja: Quem passou por aqui e deixou
esse eco? Quando eu passo, como ficam esses am-
bientes por onde eu passei? Quando eu estou para
chegar, qual é a expectativa de quem me aguarda?
Qual é a posição que eu tomo no mundo?
E não pergunte para si próprio:
“– Eu sou tolerante?”
Sabe por quê? Porque você vai responder com
fantasia. Nós não sabemos muito bem o quê somos. E
quando você coloca as coisas de uma maneira muito
seca, nós tendemos a responder com fantasia.
Ao invés de perguntar:
“– Eu sou tolerante?”
Veja as situações de conflito, o quê houve, e que
tipo de rastro você deixou. Da maneira mais objetiva
possível. Assim como você não pode ir para um livro
com preconceitos, porque você não aprende nada,
imagine você que eu sou seguidor dogmático de uma
religião, e vou ler sobre a história de outra religião,
que não a minha. Com essa perspectiva mental, é
claro que só vou ver defeitos. Já vou preparado para
ver defeitos.
Então procure ver da maneira mais limpa possí-
vel, sem predisposições de, como se diz popularmen-
te, puxar a brasa para sua sardinha; procure ver obje-
tivamente:
“– Por aqui passou um ser humano. Quem
era ele? Com esse rastro, que tipo de ser humano
pode ter passado por aqui?”

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Vá observando o impacto que você causa no mun-


do. Isso é quase que uma pesquisa, um trabalho de ob-
servação. E a partir daí você tem mais ou menos uma
noção de onde você está. Isso é muito importante.
Nós sofremos demais daquilo que Jung chama-
va de Inflação do Ego. Estamos no primeiro degrau e
imaginamos estar no quinto ou no décimo. Isso é tre-
mendamente prejudicial. Porque assim não podemos
trabalhar bem o nosso plano de viagem. Eu não posso
trabalhar bem o meu plano de viagem, se não sei que
estou em Brasília. Imagino que estou mais perto de
vocês, e estou no meio do caminho.
E em segundo lugar: Aonde eu quero chegar?
Que é outro elemento que você usa aí, não só a ob-
servação; nesse caso, mais a imaginação. Em várias
palestras, falo sobre isso. Imagine-se diante da morte.
Coloque a sua consciência nesse ponto. Não tenha
medo. Você tendo medo ou não, terá que chegar lá.
Se você imagina antes de chegar, tem a possibilidade
de chegar um pouco mais bem preparado.
Colocar a consciência nesses últimos momen-
tos é uma situação que, psicologicamente, pode ser
forte. Mas que também lhe mostra muitas coisas que
a mente normal do dia a dia não mostra. Diante da
morte, o quê vai ser importante? O quê eu gostaria de
ver dentro de mim, e à minha volta? Quando eu olhar
para trás, como gostaria de ver um rastro que deixei
no mundo?
É importante visualizar isso, gente. O quê seria
importante, o quê seria cálido, o que daria um consolo
ao meu coração. Saber que eu beneficiei as pesso-
as, que elas estão um pouquinho melhores, porque
eu passei pela vida delas. Saber que estou saindo um
pouco melhor do que entrei. Saber que eu estou em
paz com céus e terra. Não tenho nada a cobrar da

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vida, nem ela de mim. Fiz o meu melhor. Não fui per-
feito, ninguém é. Mas, fiz o meu melhor.
Como dizia Helena Blavatsky:
“– Aquele que faz o seu melhor, faz tudo o
quê se pode esperar dele.”
Essa visão é muito importante. E essa visão é um
trabalho de imaginação, que é muito típico do estu-
dante. Vocês vão ver aqueles que fizerem o Curso.
Com todo o rastreamento, antes de você entrar numa
obra, ela exige um grande trabalho de imaginação. É
sim uma das qualidades fundamentais de um bom es-
tudante a imaginação, a criatividade. Esses dois pa-
râmetros ali são muito importantes, e podem ser con-
quistados com muito mais facilidade por aquele que
tem o ânimo de aprendiz.
Que mais a gente poderia falar sobre boas per-
guntas para quem quer o autoconhecimento? O quê
me paralisa? Ou seja, aquilo que mais temo, de tal ma-
neira que, se acontecer, vou ficar paralisado. É uma
boa pergunta para se fazer, se você quer se autoco-
nhecer. Você está se rondando.
Lembrem daquele exemplo do caçador que está
rondando um animal na selva, Ele quer saber o quê
ele é. Vai vendo os comportamentos, vai vendo os ras-
tros que ele vai deixando. O que eu mais temo, o quê
me paralisa? Você vai poder se perguntar:
“– Por que será que eu temo tanto isso?”
Com certeza, aquilo que você teme deve amea-
çar lhe tirar alguma coisa. E essa coisa que você teme
tanto perder, se você a perder, seria tão fatal assim?
Bom, pode ser que seja perder a vida. E aí já é um
outro assunto: Por que é que eu temo a morte?
Mas, se nós estamos falando na vida, estamos fa-
lando de outro assunto qualquer, qualquer outra coisa
que você teme, use um pouco da imaginação; a inves-

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tigação primeiro, para saber, e depois a imaginação de


um bom estudante. E se eu perdesse, se eu perdesse
isso que temo tanto perder? O quê aconteceria no dia
seguinte? Eu estaria vivo? Eu continuaria vivendo? As
coisas essenciais seriam mantidas? Seriam. Então,
por que é que eu temo?
Vai perceber que um dos elementos que mais nos
paralisam é, exatamente, não aceitarmos a perda. E
um dos esquemas que a gente faz para lidar bem com
isso é exatamente aceitar a perda. Porque você des-
monta a ameaça.
“– Eu não gostaria de perder isso, com certe-
za, não. Mas, se eu perder, vou continuar vivendo
com a maior dignidade possível.”
Eu me recordo, uma vez, de uma história que me
contaram. Eu não sei até que ponto ela é fábula ou é
realidade. Mas falava de uma das situações mais dolo-
rosas de perda que pode acontecer, que é a perda de
um casal, que vivia muitos anos, décadas juntos.
Em um dia, a senhora, esposa, se vai. E o espo-
so fica ali velhinho, sozinho. Uma tristeza tremenda, e
os filhos se preocupam com isso. Chegam para ele, e
perguntam:
“– O senhor gostaria que quem morresse
fosse o senhor, e a mamãe ficasse aqui sofrendo
tudo isso, que você está passando? O senhor não
a ama? Não prefere que, se algum dos dois tives-
se que sofrer, que com certeza, teria, que fosse o
Senhor?”
Ele disse que teve um estalo, e falou:
“– É mesmo, é mesmo. A melhor coisa que
eu poderia desejar para ela é não ter que chorar
a minha morte. Isso seria terrível para ela. Se-
ria muito sofrido. Com certeza, se alguém tivesse
que sofrer mais, eu ou ela, eu escolheria que fos-

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se eu, porque a amava demais, não gostava de


ver ela sofrendo.”
Isso deu a ele um grande alívio pela perda.
“– Minha vida é muito fugaz. Daqui a pouco
estamos todos juntos. Mas, se há que sofrer, eu
amo tanto essa pessoa que prefiro sofrer eu.”
Percebam que isso é, simplesmente, esses jo-
vens, filhos, eles simplesmente usaram da imagina-
ção, e colocaram esse senhor em uma situação onde
a perda foi mais tolerável para ele. Aceitação da per-
da, com certeza, alivia muito essas nossas paralisias.
Isso, a descoberta disso, é simplesmente um ato de
observação, de imaginação, de criatividade.
Já contei para vocês, em várias palestras, que eu
superei o meu medo de dirigir. Que eu cheguei à con-
clusão de que achava que as pessoas iam pensar que
eu dirigia mal, meu maior medo era esse. Eu andava
tão devagar, que não ia provocar grandes acidentes.
Medo dos outros acharem que eu dirigia mal. Era ób-
vio que eu dirigia mal. Aceitei a perda. Todo mundo já
sabe. Só faltou colocar um plástico no retrovisor:
“– Sou uma motorista novata. Dirijo mal.”
Todo mundo já sabia. Dali por diante, o quê vies-
se era lucro. Se alguém gritasse:
“– Ah, barbeira.”
“– Ah, é isso aí mesmo! É isso que eu sou.”
Pronto, temer o quê? A aceitação da perda nos dá
um alívio muito grande dessas coisas que nos parali-
sam. Mas, percebam que o rastreamento dessa situa-
ção é como rastrear um vocábulo no dicionário. Esse
rastreamento, esse espírito de aprendiz, esse espírito
investigador.
Aquele que estuda bem o mundo estuda bem a si
próprio. Estuda bem um livro, estuda bem as situações
em que a vida se apresenta. Tem um ânimo de apren-

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diz. Daqui a pouco, ele rastreia as próprias armadi-


lhas, onde a sua identidade pode estar aprisionada.
Daqui a pouco, ele encontra saídas para a realização
de si próprio. Autoconhecimento tem tudo a ver com o
espírito de um bom aprendiz.
Que mais nós podemos pensar? Eu temo a morte?
Será que o ânimo de estudante ajuda a gente a respon-
der essa pergunta? – Bom, se você disser que sim, você
poderia se perguntar, e na maior parte dos casos as pes-
soas vão dizer que sim. Alguns dizem que não. Eu acho
que alguns, realmente, sabem o quê estão dizendo.
Mas, às vezes, podem não ter refletido bem a
respeito. Procure imaginar se, realmente, você estaria
preparado para isso. Bom!
“– Não, não estaria. Eu não estou preparado,
por quê? Por que é quê eu temo a morte?”
Aí começa o seu espírito investigador.
“– Eu temo a morte, é porque acho que vai
acontecer uma coisa terrível comigo. Tem uma
concepção da morte que me assusta.”
O quê um bom estudante faria em relação a essa
concepção? Vamos dar uma olhada, se a gente con-
sidera que o ser humano é parte da natureza, a natu-
reza humana integrante da natureza, será que esse
fato que você está imaginando acontece com todas
as coisas que morrem na natureza? Faça um paralelo.
Use um pouco de Biomimética.
Aprenda dos comportamentos da natureza para
checar se suas concepções de vida estão corretas. A
natureza se apavora quando todas as flores, e todos
os frutos, e todas as folhas caem no inverno? Não, ela
não se apavora com essa morte. Ela tende a preservar
as raízes e a renascer. Ela obedece a um ciclo. A natu-
reza não se sente nunca com perda total. Ela sempre
se recupera, se recria.

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Esse medo todo que eu tenho de uma extinção,


de uma perda total, existe algo na natureza que se
comporte dessa maneira? Porque, se nada se com-
porta assim, pode ser que eu esteja tendo uma con-
cepção errada.
Biomimética é uma ciência muito curiosa, que
observa o comportamento da natureza para entender
o próprio homem. Por exemplo, no local onde existe
muita biodiversidade, ou seja, espécies vegetais mui-
to diferenciadas, vivendo em harmonia, você pode
aprender muito sobre a vida do ser humano em so-
ciedade. Somos todos diferentes, e poderemos viver
em harmonia. Ou seja, as leis da natureza, diante da
morte, a morte tem esse sentimento de desamparo,
e de perda total? Em algum momento, há perda total,
ou, como dizia Lavoisier:
“– Nada se perde, tudo se transforma.”
Talvez isso me obrigasse a rever as minhas po-
sições diante da morte, e a temesse menos. Percebe
que isso é uma atitude de investigador, de aprendiz.
E aquele que teme, porque não sabe, não faz
a mínima ideia do que vem depois da morte? Bom,
quem sabe se a gente fosse atrás daqueles que sa-
biam alguma coisa a respeito, tinham noções mais cla-
ras, tinham uma serenidade muito grande em relação
a esse conceito.
Se você pega, por exemplo, um livro como Fé-
don, de Platão, você vai ver as últimas três horas de
vida do filósofo Sócrates, minuto por minuto. Como
um homem que tinha um grau de autocontrole, de
autoconhecimento muito grande, se comportava
diante da morte.
Bom, se eu não sei o que é algo, eu pesquiso, vou
atrás de quem já soube. E talvez esse me apoderar do
conhecimento do passado preencha esse meu vácuo,

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e me deixe mais tranquilo. Se eu contar, por exemplo,


com a visão de Sócrates, a sua postura diante da mor-
te foi absolutamente tranquila. Ele tinha evidências,
tinha reflexões profundas, que testemunhavam a res-
peito da imortalidade da Alma.
Pode ser que você não acredite, mas procure
outros. Há muitos sábios que confrontavam a morte
diante da vida. Há muitos sábios que, ainda em vida,
trabalharam essa ideia, e deixaram preciosos depoi-
mentos de como lidar com ela.
Ou seja, aprendiz, quando sabe dar uma investi-
gada, para ver se o quê ele sabe está mesmo certo,
checa. Quando não sabe, vai atrás de quem sabe. E
ambas as atitudes vão minimizar o pânico diante des-
sa ideia. Se eu acho que não tenho medo da morte,
ótimo, se você realmente não tem. Mas, de vez em
quando, é bom dar uma de estudante também. Colo-
car-se, na imaginação, diante da morte. E ver, porque
às vezes temos arroubos de coragem que não são
verdadeiros. Sabermos se isso é uma atitude bem fun-
damentada. Se é, tranquilo. Esse é um problema que
não tenho. Passemos adiante. Mais um ponto podero-
so de autoconhecimento. Eu tenho identidade, eu sei o
quê me paralisa, eu sei o quê esperar da morte, e sei
como me comportar diante dela.
Que mais nós poderíamos falar? O quê um bom
estudante pode aportar a esse processo de autoco-
nhecimento? O quê me traz felicidade? E também, por
que não, o quê me traz tristeza?
Gente, eu pergunto para vocês, sei lá, qual é a
população de tal país. Você vai atrás, investiga, vê es-
tatísticas, vê recenseamentos. Eu estou lhe dizendo,
faça um recenseamento no seu dia. Reencontrar qual
é o momento em que você estava feliz, ou em que
estava triste.

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Tente ver qual é a circunstância que lhe provoca


uma felicidade real, uma tristeza real. Procure conhe-
cer melhor o quê é o fator da sua verdadeira felicidade,
da sua verdadeira tristeza, e não uma máscara social,
que você utiliza para obedecer a padrões.
Também uma história que sempre conto, que
quando cheguei à Nova Acrópole, quando comecei a
aprender Filosofia, o meu professor me perguntou:
“– Você sabe o quê realmente a faz feliz?”
Eu era uma garota de 20 e poucos anos. À noite,
fechei os olhos, repassei o meu dia, e perguntei:
“– Quando eu estava feliz? Quando eu esta-
va feliz?”
Então me lembrei do momento em que eu estava
remexendo a terra do meu jardim, plantando algumas
coisinhas. Bom, e aquele momento em que eu estava
no happy hour? Eu percebi, nada contra o happy hour,
mas no meu caso particular aquilo não me dava pra-
zer, nem felicidade nenhuma.
Aquilo ali, eu estava batendo ponto em um com-
promisso social, que podia trazer felicidade para ou-
tras pessoas, mas não para mim. E eu não tinha nem
sequer noção disso. Eu não sabia o quê me fazia feliz,
e também não sabia o quê me fazia triste. Também fui
procurar isso, e encontrei um momento em que me
senti incoerente com aquilo em que eu acreditava.
Esse foi um momento de tristeza, e outras coi-
sas que, normalmente, se consideram um momento
de tristeza, para mim, não significavam nada. Ou seja,
esse ânimo de investigador que o bom estudante tem
eu começo a rastrear, inclusive quais são os seus sen-
timentos diante das coisas. O quê é a sua própria fe-
licidade. O quê é a sua própria tristeza. E não uma
máscara social, uma sobrepersonalidade, que você
usa para agradar e para parecer que você gosta do

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que todo mundo gosta, e rejeita o que todo mundo re-


jeita, porque não é assim.
Aliás, o ser humano é um universo ímpar e irre-
petível. – Percebam que aí é o ânimo com que você
se lança a uma pesquisa. É o ânimo com que você
se lança a um estudo de uma disciplina. É o ânimo
de aprendiz, o mesmo, só que agora você está ras-
treando o mais precioso dos conhecimentos, que é o
Conhece-te a ti mesmo.
Que mais... Outro ponto de autoconhecimento,
que o estudo poderia nos ajudar demais. Quando eu
me decepciono comigo? Será que eu me decepcio-
no comigo? Garanto que se decepciona. E essa per-
gunta, gente, ela vai lhe trazer uma resposta muito
preciosa. E quando você investigar, observar, vai en-
contrar dentro de você sabe o quê? O seu legítimo
código de ética.
Você vai saber o quê o fere. Qual das suas atitu-
des o fere. Onde você sente que aquilo que fez não
bate com algo muito íntimo, e muito legítimo, no qual
você acredita. Essa pergunta é maravilhosa.
Então, às vezes, aquela dorzinha, aquele incômo-
do que nós sentimos à noite, antes de dormir; aquela
sensação de uma certa angústia, de um desconforto
psicológico, é porque nós saímos procurando culpa-
dos externos.
“– Ah, foi o engarrafamento. Foi porque o
meu chefe hoje estava intolerável. Foi por isso,
foi por aquilo...”
Olha, eu vou dizer para vocês; na maior parte dos
casos, não é nada disso; é você mesmo. É alguma
coisa que você fez que o feriu. E que o feriu profunda-
mente. Você tem que saber imaginar, saber rastrear,
saber procurar no seu dia. Repassar na sua imagina-
ção, repassar na sua memória todos os momentos do

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dia, com o ânimo de um pesquisador dedicado. En-


contrar aquele momento em que, quando você bate
nele, o seu coração dói. Você vai perceber que aí é al-
gum protocolo interno, alguma coisa que lhe era muito
cara, e você atropelou.
Eu me recordo que, a primeira vez que identifi-
quei isso, eu percebi:
“– Gente, agora eu entendo melhor aquela
imagem cristã dos espinhos cravados no coração
do Cristo.”
Embora, no caso dEle, a Sua ferida é mais pelos
atos externos, óbvio. Mas, no nosso caso, nós ferimos
o nosso coração como se fosse com um espinho encra-
vado pelos nossos próprios atos. Nada nos fere tanto
quanto os nossos próprios atos. Observe bem isso.
Dificilmente a gente termina um dia muito ferido.
Pode ter um mau humor, uma irritação, mas não muito
ferido pelo que alguém fez. O quê mais nos fere, em
geral, é o quê nós mesmos fazemos. Existe algo sa-
grado dentro de nós, aquilo que os indianos chamam
de Dharma, uma concepção, um código, um protocolo.
E quando você o fere, o atropela, é como se você cra-
vasse um espinho no seu próprio coração.
Fazer essa pergunta, investigar, ir atrás vai lhe
permitir encontrar o seu código de ética mais profundo.
O código que rege o seu próprio coração. Isso é lindo.
Isso é um passo maravilhoso para o autoconhecimen-
to. Quem obtém isso? O bom estudante, com bom
ânimo de investigador. Aquele que vai atrás, que não
desiste de conhecer a si próprio, que não desanima.
Às vezes, eu fico perplexa quando vejo determinadas
investigações, determinadas teses, obras escritas.
Um escritor, que dedicou anos ali para achar um
detalhe sobre a vida de um personagem histórico, um
detalhe sobre uma civilização, aquela busca, nossa!

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Um ânimo desse, voltado para dentro, seria um au-


toconhecimento maravilhoso. E isso facilitaria toda a
nossa vida à volta. Facilitaria a vida da humanidade
à nossa volta. Como eu já disse muitas vezes para
vocês, quanto mais dentro, mais fora. Quanto mais ilu-
mino dentro, maior a minha capacidade de lançar luz
à minha volta. Então, é mais um elemento que o bom
investigador, o bom estudante vai descobrir, de uma
utilidade tremenda.
Que mais nós podemos ter aqui... O que espero
do futuro? Olha que rastreamento bom. Que boa pes-
quisa de campo. O quê eu espero do futuro? Vou dar
uma dica para vocês.
Uma das coisas fundamentais que a gente deve
trabalhar aí, com a nossa imaginação, é esperar do
futuro que ele nos traga serenidade, paz de espírito. E
isso é o foco da imaginação do bom estudante.
Imaginar o quê o futuro pode me trazer de aconte-
cimentos que me gerem serenidade e paz de espírito.
Você pode me dizer:
“– Eu não concordo com isso. Eu quero no
futuro dinheiro. Eu quero no futuro amor. Eu que-
ro no futuro felicidade.”
E eu vou lhe devolver a pergunta:
“– Então me diga uma pessoa feliz sem paz
de espírito?”
Uma pessoa desfrutando profundamente de um
amor verdadeiro, sem paz de espírito, sem serenidade;
uma riqueza material que possa ser muito bem curtida
por alguém que vive uma inquietude, uma perda de
serenidade, uma perda de paz de espírito tremenda, é
como você dizer que alguém pode ser feliz com algu-
ma coisa, mas andando sobre um piso de espinhos.
Qualquer bem que você queira do futuro só pode
ser desfrutado se você tem primeiro um piso adequa-

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do, que é serenidade e paz de espírito. Isso lhe permi-


te um exercício de imaginação que é delicioso, para o
bom estudante. Imaginar que fatos do futuro poderiam
me trazer serenidade e paz de espírito, e valorizá-los,
sobretudo. Imaginar um futuro onde essas coisas são
conquistadas.
E assim você vai já pavimentando o seu futuro.
Construindo, como diria Platão, primeiro no plano das
ideias, para que depois ele exista aqui. – Percebam
que interessante. Um investigador, um rastreador de
si mesmo. Como diria lá o nosso querido Milton Nas-
cimento:
“Eu, caçador de mim.”
Eu investigador de mim.
Eu estudante de mim mesmo.
E por último, mas não menos importante, uma
pergunta que seria bem interessante para o bom estu-
dante de si próprio:
“– O quê posso fazer pelos demais?”
Isso é fantástico, gente. Às vezes, damos aos de-
mais, isso quando damos, isso quando existe um ver-
dadeiro ânimo de doação, damos aos demais aquilo
que a gente gostaria de ter, se nos perguntassem o
que queremos. E, às vezes, aquilo que é maravilhoso
para nós é péssimo para o outro.
Aí o ânimo do estudante entra com um valor pre-
cioso. Porque para ser uma pessoa empática, para
desenvolver empatia, você tem que ser um excelente
investigador. Empatia não é se colocar no lugar do ou-
tro. Empatia é entender o outro, a partir dele mesmo, e
não de mim, se eu estivesse lá. Ou seja, a partir dele
mesmo. Tentar entender o mundo através dos olhos
dele, dos valores dele, das circunstâncias dele. Enten-
dam isso. Entender o mundo a partir dele significa que
você pode ajudá-lo de uma forma que ele entenda, de

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uma forma que seja acessível. E eu não estou dizendo


para você fazer aquilo que lhe agrada, mas para você
fazer aquilo que o faz crescer.
Mas, lógico, chegar a ele com uma linguagem
que ele seja capaz de entender, que não o fira. Enten-
der em que ponto ele está, em que degrau ele está,
para puxá-lo para o degrau seguinte, e não imaginar
colocá-lo em um degrau que ele, definitivamente, não
alcança, não quer e não pode estar nele agora.
Perceber a localização psicológica, moral e es-
piritual do outro, para puxá-lo um degrau acima. Não
fazer aquilo que ele quer, mas aquilo que ele necessi-
ta para crescer. Mas sabendo se comunicar com ele.
Sabendo entrar no seu mundo de valores, sem feri-lo.
Sabendo localizá-lo e, a partir daí, tentar atraí-lo para
um pouco mais alto.
A empatia é um trabalho de investigação primoro-
so, e depende, claro, de muito amor, mas também de
muito ânimo de aprendiz, de muito ânimo de estudan-
te, que vai atrás de entender o universo, e não consi-
dera que o seu universo é o único possível. Que não
acredita que a sua visão de mundo é a única possível.
E veja que isso se estende em situações que, às ve-
zes, até são engraçadas. E não é só com as pessoas
que estão a nossa volta.
Eu vejo, às vezes, as pessoas tentando entender
o homem do passado, de outras civilizações, de outro
tempo, de outro espaço, aplicando os seus padrões de
valor. Fazendo julgamentos, tremendamente, injustos.
Para conhecer a nossa história pessoal e coletiva,
sabendo cada um dos personagens que participaram
dela, qual a intenção que tinham? Onde queriam che-
gar? Para entender antes de julgar. Para proporcio-
nar aos demais um degrau a mais, uma posição que
eles possam alcançar, uma ajuda que realmente seja

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compreendida como tal. Ou seja, para sermos fator de


soma para as pessoas à nossa volta. É uma atitude de
muita investigação, curiosidade, observação, atenção,
imaginação, e até criatividade.
Essas são apenas algumas dicas. E não param
por aqui. Eu sei que vocês são capazes de vocês mes-
mos elaborarem muitas outras perguntas, que são ras-
treamentos da minha identidade.
Rastreamentos de mim mesmo. E rastreamentos
de si próprio não são diferentes, nas suas técnicas do
rastreamento, de qualquer outra coisa. Com técnicas
de estudo, técnicas de um bom estudante da vida, de
si próprio, da minha natureza humana, da natureza em
geral. Tentando harmonizar, alinhar todas essas coi-
sas. Tentando proporcionar harmonia e beleza.
Bom, isso é basicamente o que eu queria trazer
para vocês hoje. Como falei, um pequeno bate-papo.
Mas, olhe, talvez entre as grandes virtudes que a
gente tenha que incluir, nesse nosso manual do bom
ser humano, a gente tenha que se lembrar de colocar
lá o ânimo de aprendiz, que é de um bom estudante.
Com esse ânimo de querer saber das coisas, não
achar que já sabe. Platão costumava dizer que o pior
inimigo de quem quer aprender é achar que já sabe.
Não caminha, não avança. O ânimo de um aprendiz,
que tem consciência do tamanho da sua ignorância, é
como dizia Sócrates:
“– Só sei que nada sei.”
Reconsidere esse mistério do desconhecido, do que
há para aprender, a chamada mais poderosa da vida.
E é isso, então, gente. Espero encontrá-los lá no
Curso, nas perguntas que mandam para mim, e espe-
ro que saiam todos muito melhores estudantes; aqueles
que se animarem a fazer o Curso, é claro, agora ou em
algum momento, que saiam muito melhores estudantes.

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A vida está cheia de revelações maravilhosas, in-


clusive guardadas dentro de você mesmo. Existe um
conto oriental muito interessante que fala sobre isso.
Um conto indiano, que diz que quando os deuses in-
dianos criaram um mundo, e criaram o homem, eles
queriam um lugar para esconder a natureza divina do
homem, a sua essência divina. E pensaram, porque
não queriam que fosse um lugar fácil. Se eles colo-
cassem, cavassem um buraco muito profundo, colo-
cassem no interior da Terra, como eles pensaram em
fazer, então o deus Brahma imediatamente disse:
“– Aí não vai funcionar. Os homens são mui-
to curiosos. São quase que bisbilhoteiros. Já, já,
eles vão escavar a terra inteira, e vão encontrar
fácil a sua essência divina. Não vai dar tempo de
eles terem mérito suficiente para ela.”
Aí, um outro deus deu um palpite:
“– Vamos colocar no fundo dos oceanos.”
E mais uma vez Brahma disse:
“– Não vai dar também. Os homens são bem
mais complicados do que vocês imaginam. Eles
remexem o mundo inteiro. Já, já eles vão chegar
a esse fundo desse oceano, antes de ter méri-
to para encontrar a sua essência, e se darem
com ela.”
Aí, em um determinado momento, o próprio Brah-
ma teve a ideia:
“– Ótimo, eu já sei onde vou esconder a natu-
reza divina do homem. Eu vou esconder no último
lugar em que ele vai procurar, que é dentro de si
próprio.”
É mais ou menos isso que a gente está vivendo.
O último lugar onde a gente procura respostas é den-
tro de nós mesmos. Eu acredito que seria bem mais
fácil se procurássemos em primeiro lugar ali.

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Ou seja, com ânimo de aprendizes, o ânimo de


autoconhecimento.
Sempre com a postura de um bom estudante:
curioso diante dos mistérios da vida.
É o que eu desejo para vocês.
Um abraço a todos.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 1 – Introdução

Olá, sejam bem-vindos nesta nossa nova emprei-


tada juntos. Que eu garanto que vai ser uma aventura
maravilhosa para vocês. Mais uma vez, repito, reitero,
eu proponho e ensino esta técnica, porque eu a uso, e
para mim ela é de utilidade enorme.
Cá entre nós, acredito que, numa sociedade ide-
al, técnicas de estudo deveriam ser ensinadas, desde
a mais tenra infância. Fico imaginando o tempo que
perdemos, trabalhando com uma forma de estudo que
desgastou energia e absorveu muito pouco de conteú-
do. O quanto perdemos de tempo, e tempo é vida.
E isso, realmente, é um disparate. Termos tanto
material para estudar, e tão pouca técnica para abor-
dá-lo, para aproveitá-lo, de tal maneira que ele possa
de fato ser incorporado à nossa vida, e possa ser di-
ferente a nossa vida a partir daí. Ou seja, que gere
verdadeiro aprendizado, e não mera memorização
temporária.
Técnicas de Estudo é um curso criado por uma
Escola de Filosofia, à qual pertenço, que é a Nova Acró-
pole. E, lógico, tudo que nasce dentro de uma Escola
de Filosofia tem um teor filosófico muito interessante.
Sempre comento com as pessoas que existe um inte-
resse muito grande por aprender oratória, que eu acho
extremamente justificado. Oratória é muito bom.

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Mas, talvez, a sequência correta para que você


tivesse uma boa absorção de oratória seria primeiro
estudar, administrar o seu tempo; em segundo lu-
gar, estudar técnicas de estudo; e só então estudar
oratória.
Você chegar diante de um público, e se expres-
sar bem, não depende apenas da sua técnica de ex-
pressão, mas do preparo do conteúdo que você fez
anteriormente. E esse preparo vai gerar autoconfian-
ça, segurança, que permite que você se expresse de
maneira mais bem colocada, de maneira mais eficaz.
O quê nós vamos ter é, exatamente, algumas técnicas
que nos permitem realizar uma absorção de conhe-
cimentos não só em um livro, mas na vida como um
todo. Isso é o quê eu acho mais interessante, nesse
aprendizado de técnicas de estudo.
Bom, existem algumas coisas que são bem pré-
vias, e que é importante a gente dizer. Que a técnica
de estudo, por exemplo, vai nos permitir uma relação
mais sensível, atenta e concentrada – naquilo que
queremos estudar. Vocês vão perceber que ela abre
tanto o foco que você vai ser sensível, atento e con-
centrado. Não só quando abre um livro diante de você,
mas quando abre um novo dia diante de você, cada
vez que amanhece.
Mais sensível à necessidade do seu filho, do seu
esposo ou esposa; mais sensível à necessidade da-
quela pessoa que convive com você no trabalho. Mais
atento às oportunidades de agregar valor à sua vida,
agregar valor à vida do outro; e mais concentrado na-
quilo que você deve fazer, naquilo que faz a diferença
na sua vida. Não tão disperso. – Olha, todos nós sabe-
mos, a dispersão é a doença do século XXI.
Aprender a estudar com foco, com qualidade, vai
nos permitir combater, com uma ferramenta muito efi-

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caz, esse terrível vampiro de tempo, que se chama


dispersão.
Então, algumas vantagens que a técnica de es-
tudo oferece, nós vamos falar nisso muitas vezes ao
longo do Curso. Nós vamos ver que ela nos dá facili-
dade de leitura, de memória, de expressão, de lógica
e de síntese. Ou seja:
“– As coisas são complicadas, eu não consi-
go ler esse livro...”
Olha, às vezes a culpa não é do livro. Às vezes,
a responsabilidade é da forma como você lida com o
conhecimento, da forma como você lida com a leitura.
Tem livros que têm realmente uma maior densi-
dade, e exigem reflexão, para que você caminhe mais
adiante e recolha algum significado. Tem livros até, na
História, que são propositalmente cifrados, para que
aqueles mais precipitados, e mais dispersos, fiquem
pelo meio do caminho.
E só aqueles que têm uma maior perseverança
e qualidade na sua leitura vão adiante. Vários livros
oferecem conteúdos maravilhosos, mas vão deixando
os despreparados pelo caminho.
Então, você tem possibilidade, não só de uma
leitura atenta, como também de uma maior memori-
zação. Técnica de Estudo lhe permite fazer uma asso-
ciação daquele conhecimento novo com o todo da sua
vida. Isso não se perde mais.
Quando uma informação importante é agregada à
sua vida, você a relaciona com as coisas importantes
dela. Isso não se perde mais. É como se fizesse parte
da história da sua vida.
Uma das formas que nós vamos ver mais bem- su-
cedidas de memória é a memória sequencial, quando
uma coisa dá seguimento na nossa história. Por exem-
plo, se eu conto para você a história da Branca de Neve:

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“– A madrasta manda o caçador levar Branca


de Neve para a floresta. Ih, nossa! Eu esqueci o
quê o caçador fez com a princesa na floresta...”
Ninguém vai falar isso, porque existe uma se-
quência de acontecimentos, que se você se lembra
da primeira cena, essa sequência vai puxar até a
última, até:
“– E foram felizes para sempre.”
E assim é quando um conhecimento agrega valor
à nossa vida: você o memoriza, porque, quando você
for contar a história da sua vida, aquele conhecimen-
to entra ali de forma expressiva. Esse conhecimento
me fez melhor, esse conhecimento agregou uma pos-
sibilidade de divisão de vida que eu não tinha antes.
Portanto, parte da história da minha vida é esse co-
nhecimento.
Técnicas de Estudo permitem que você lide des-
sa forma com o conhecimento. Ele deixa de ser um
mero obstáculo, uma mera coisa chata que você tem
que enfrentar, e passa a ser algo que lhe dá uma pos-
sibilidade de melhor resposta às circunstâncias. Faz
parte da história da sua vida.
Outro negócio, outra coisa importante, outro as-
pecto importante é a capacidade de expressão. Logi-
camente, se você estuda bem, significa que você pro-
cessa bem essa informação, dentro da sua cabeça. Ou
seja, saber estudar implica em uma clareza mental, dis-
cernimento, capacidade de concatenar logicamente o
pensamento. Se você tem isso, na hora em que vai se
expressar na comunicação, essa mesma ordem que há
dentro há fora. E você é claro, você é preciso, você é
capaz de comunicar uma mensagem de maneira ótima,
seja qual for a pessoa a quem você se dirija.
Hoje é um dos elementos que mais se estuda – a
capacidade de mediação entre grupos que não se en-

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tendem. Por que não se entendem? Porque, às vezes,


a pessoa fala uma única linguagem, que é aquela lin-
guagem do mundo onde ela vive, com os seus valores,
e não é capaz de se comunicar com o mundo do outro.
A tal ponto que você tem que colocar um ser humano
mais sensível aí no meio, para ser quase que um in-
térprete de duas pessoas que falam a mesma língua,
língua portuguesa.
Mas, não falam a mesma língua quanto a signifi-
cados, e não conseguem estabelecer uma comunica-
ção. Uma boa capacidade de estudo vai lhe permitir
adquirir o conteúdo que qualquer conhecimento está
querendo oferecer. E se você tem o conteúdo você o
embala conforme o gosto do freguês. Você é capaz
de explicar aquela ideia para uma criança pequena,
para uma pessoa idosa, para uma pessoa de qual-
quer nível cultural. Ou seja, você pegou o coração
do conhecimento, agora você o expressa conforme a
necessidade.
Outro elemento interessante é a capacidade de
síntese. Nós vamos falar bastante sobre ela mais adian-
te, porque é uma das capacidades mais importante da
vida. No fundo, tudo que está à nossa volta se oferece
a uma síntese. A pessoa está falando com você, você
tem que ser capaz de... – às vezes, ela não se expressa
bem, às vezes é um pouco confusa... –, você é capaz
de tirar a essência do que ela está querendo lhe dizer?
Você é capaz de tirar a essência do que um texto es-
crito está querendo lhe dizer? Um dia, você vai olhar
para trás e vai ter que tirar a essência até do que a sua
vida quis lhe dizer. Isso faz parte da nossa vida. Crescer
exige ser capaz de tomar o coração das coisas; isso é
poder de síntese.
Então, esses são alguns dos elementos, entre
muitos outros, que você vai aprender com Técnicas

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de Estudo. Olha, vou lhe falar, volto a contar a história


de Gandhi. Dizem que um dia uma mãe chegou para
Gandhi, e falou:
“– Por favor, mestre. Pede ao meu filho que
não coma tantos doces.”
E Gandhi pediu uma semana para falar com a
criança.
Ela pensou:
“– Bom, uma semana, ele vai preparar um
discurso maravilhoso.”
Quando ela volta com a criança ali, dali uma se-
mana, ele chega para o menino e diz:
“– Meu filho, não coma tantos doces.”
A mãe fica muito grata. E fica um pouco curiosa.
“– Mas, mestre, você levou uma semana
para se preparar para dizer só isso...”
E Gandhi teria respondido:
“– É, mas durante essa semana eu não comi
doces.”
Eu acho essa história, particularmente, bonita. Sabe
por quê? Se eu vou ensinar para vocês, através deste
Curso, como não comer doces, significa que algum tem-
po na minha vida eu tenho que ter me controlado no con-
sumo de doces, ter essa abstinência de doces, tenho que
ter conquistado isso como experiência.
Portanto, eu me sinto muito segura, porque eu
uso isso. Tenho necessidade, pelo próprio ofício a que
me dedico, sou professora, de sintetizar muita infor-
mação. Eu posso dizer, com toda a segurança: sem
esse método, isso não seria possível. Então, vamos
nos lançar juntos a uma aventura e, com certeza, ela
vai lhe deixar muita coisa útil.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 2 – Teste inicial


Perguntas de 1 a 4

Bem, agora vamos partir para uma coisa chamada


Teste Inicial. Normalmente, o quê eu fazia era passar
esse Teste Inicial para você, para que o preenchesse
sozinho. Isso é uma coisa que teve muito pouco pro-
veito; por quê? Porque, se a pessoa não entende o
teor desses itens, eles não vão gerar um estado de
consciência. Não vale nada você fazer esse teste, que
vai sim ser mandado para você, se você não entender
a importância de cada um desses itens.
Eu me baseio, claro, não poderia me basear em
outra coisa, em Platão. Porque ele dizia que, toda vez
que você faz leis para um Estado, você deveria ter um
longo preâmbulo explicativo, para que as pessoas en-
tendessem o sentido daquelas leis.
Porque o quê evolui é a consciência. Se não es-
tamos conscientes do valor dessas recomendações,
elas não valem nada. São um mero teste, que vocês
vão preencher com o “xizinho”, e não vai ter nenhum
significado.
Então, acho bastante importante a gente fazer
essa aventura juntos, e comentarmos cada item des-
se Teste Inicial. Depois, eu não vou olhar as suas
respostas. Você responde sozinho, diante de si pró-
prio, diante da sua própria consciência. – Procure ser

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o mais honesto possível, e procure, na medida do


possível, quando perceber maus hábitos, entender
por que os tem. Qual o tipo de satisfação esse mau
hábito lhe traz?
Costumo falar nas minhas aulas de Filosofia que
nós temos defeitos, sobretudo, por uma razão: Porque
gostamos deles. Se fosse algo que você não gostas-
se; imagine uma mesa velha, caindo aos pedaços, ou
feia, com uma decoração que você não gosta. Não fi-
caria uma semana na sua casa. Você já a teria coloca-
do fora de casa. Se ela permanece anos dentro da sua
casa, é porque você gosta dela. Acha que combina
com a decoração.
Assim é com os nossos defeitos. Eles permane-
cem, porque a gente dá espaço para eles. A gente não
os coloca porta fora porque gosta de algo deles. O
prazer que eles nos dão, o comodismo que eles nos
oferecem.
Então, cada vez que vocês perceberem que, num
desses itens, vocês têm um vício, vocês têm um ele-
mento mal elaborado. Parem para perceber: Por que
mantêm algo que claramente lhes prejudica, claramen-
te atrapalha a sua assimilação de conhecimentos?
Vamos lá? Então, vamos começar agora a parte
um do Teste Inicial.

Pergunta número um:


“– Você tem um local fixo para estudar?”
“– Ah, isso é importante?”
É importante. Você vai dizer:
“– Bom, mas uma pessoa que estuda bem,
estuda bem em qualquer lugar.”
Concordo, mas nós não somos essa pessoa que
estuda bem. Uma pessoa que anda muito bem de bi-
cicleta faz bicicross, anda em um terreno acidentado,

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cheio de buraco. Mas se nós não somos essa pessoa


que anda bem, melhor começarmos num terreno pla-
no. De preferência, que não seja um chão tão duro,
porque se você cair não se machuca tanto. Ou seja,
para quem está aprendendo existem, sim, condições
ideais. E essas condições ideais são um ambiente
onde você tira tudo aquilo que você sabe que o disper-
sa, atrapalha, tira do centro.
Observe, que curioso, porque tudo na nossa vida
é simbólico. Se você entra na casa de uma pessoa,
e a cozinha é maravilhosa, ela gosta de cozinhar, ela
gosta de se alimentar bem. Uma sala de jantar linda.
Bom, ela gosta de comer bem, gosta de receber os
amigos. Uma bela sala de TV. Ela gosta de sentar ali e
assistir programação de TV. Um quarto de dormir, um
belo toalete, tudo. Aí, você pergunta:
“– E um quarto de estudo?”
“– Ah, não tem espaço para isso.”
O que você presume? Para essa pessoa, é impor-
tante ver TV; se alimentar; cozinhar; dormir; se higieni-
zar; estudar, não. Porque se isso fosse importante ela
lhe daria um espaço próprio.
Ela não diz:
“– Bom, vou deixar aqui um ambiente multiu-
so e, quando der, aí eu faço a cozinha.”
Não, o ambiente da cozinha sempre é cozinha. O
ambiente multiuso, quando der, eu durmo ali. Mas, na
maior parte dos casos, a menos que haja uma neces-
sidade muito extrema, não fazemos isso.
O nosso ambiente de dormir é todo adaptado
para o nosso relaxamento, para que a gente descanse
ali. Bom, estudar é uma necessidade? Sim. Então, de-
veria haver um ambiente adaptado para isso. Se você
não tem:
“– Ah, falta espaço.”

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Olhe, talvez fosse o caso de pensar um pouco


melhor em como você aproveita o seu espaço. Ou,
se realmente não existe essa possibilidade, quem
sabe, utilize uma biblioteca próxima, um local onde
você possa ter condições ideais. Porque, se não sa-
bemos ainda como estudar, qualquer fator circuns-
tancial pode ser um impedimento. Pense um pouco
sobre isso.

Pergunta número dois:


“– Eu estudo em um lugar sem ruídos, TV,
rádio etc.?”
Inclusive, aquele nosso belíssimo celular, ele fica
ligado do seu lado? De tal maneira que, você está no
meio de um raciocínio, e faz aquele plim??... Chegou
um WhatsApp??...
“– Ah, isso é muito urgente. Pode ser uma
coisa urgente. Deixe-me ver o que é...”
Honestamente, você imagina uma coisa muito ur-
gente, pegou fogo na sua casa, e alguém lhe manda
um WhatsApp? Eu acho que não. Eu acho que você
tem que ter cuidado, porque isso gera uma ansiedade,
e um vício. Que nós conhecemos muito bem, que já foi
no passado pelo computador, agora é pelo telefone.
Ou seja, uma curiosidade meio infantil, que não
sabe priorizar o que é importante em cada momento.
Então, nessa hora, o telefone bem longinho... Deixe
um recado para uma pessoa qualquer, amiga, que se
tiver uma emergência procure você, e você coloca um
toque diferenciado só para essa pessoa... E ela sabe
que só vai ligar se for uma emergência.
Sempre tem um jeito de contornar, se nós usamos
a inteligência, e queremos, de fato, estudar. – Ou seja,
não deixarmos informações à nossa volta que nos dis-
persem. Não temos tanta concentração assim, então

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nem TV, nem rádio, e de preferência um ambiente que


não tenha tantos ruídos ambientais.
“– Ah, eu vou ter que vedar o espaço para som?”
Não, não precisa tanto. Mas, se você tem uma
casa que tem um quarto de frente, um quarto de fundo,
opte pelo de fundo. Certamente, os barulhos da rua vão
lhe incomodar menos. Isso é uma providência simples,
não é nada demais. Todos nós, dentro das nossas con-
dições, podemos pensar nisso: um ambiente que nos
favorece ao aprendizado de estudar bem.

Pergunta número três:


“– Você limpa o local de estudo de qual-
quer coisa que distraia?”
É uma consequência da anterior. Bom, eu já tirei
TV, já tirei rádio, já tirei computador, já tirei celular.
Mas, tem um quadro na parede, que você gosta mui-
to dele, e ele tende a prender a sua atenção. Esse
não é um bom objeto para o lugar onde você estuda.
Você tem um revisteiro, com um monte de revistas,
com capas atraentes, não é um bom objeto para o
lugar onde você estuda. – Nós somos aprendizes.
É um ambiente sóbrio, que tenha só o necessário,
para não atrapalhar a sua concentração, e favorecer
o seu estudo.
Então, qualquer elemento distrativo, qualquer ob-
jeto que atraia a atenção, é bom que não esteja aí.
Imagine que nós já somos dispersos. Estamos lutando
contra um vício, que tende a nos puxar para qualquer
coisa. Se nós ainda nos aliamos a esse vício, e deixa-
mos coisas atrativas, estamos dando vantagem para o
inimigo. Estamos dando vantagem para a dispersão.
Dê uma checada geral no seu ambiente. Sóbrio, com
nada que possa pendurar a sua atenção. Lembrem de
um filósofo chamado Pitágoras.

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Pitágoras, ele dizia o seguinte aos seus alunos,


na Escola Pitagórica. Ele colocava uma cortina, e dava
aula por detrás dessa cortina, com uma certa transpa-
rência. Mas, opaca o suficiente para que não vissem
os detalhes dele.
Ele dizia:
“– Eu falo daqui para que a atenção de vocês não
se pendure nas pregas da minha túnica.”
Esse conhecia técnica de estudo. Ele sabe que
uma prega de túnica para um aluno disperso é sufi-
ciente para ele perder a aula. Portanto, herde essa sa-
bedoria pitagórica. Isso é bem importante.

Pergunta número quatro:


“– Você estuda com boa luz?”
Isso é fundamental, que você perceba o ponto
confortável de iluminação. Se tem luz natural, e se
essa luz natural incomoda, porque é muito intensa no
horário em que você estuda, um bom blecaute seria
interessante.
Ou, se tem um abajur, se esse abajur está bem-
posicionado. Se tem uma regulagem para que, quan-
do a luz canse a sua vista, você possa diminui-la. Ou
seja, você favorecer a leitura clara e fácil. Tirar todos
os obstáculos que haja no caminho.
Eu sofro de vista cansada. Na minha idade é co-
mum, eu mesma sofro. Uns bons óculos de leitura,
não leia sem ele. E quando a vista cansa, começa a
gerar efeitos como dor de cabeça, e vista turva, isso
vai impedi-lo de continuar.
Então, se você tem vista cansada, use óculos de
leitura. Ou seja, facilite para que a iluminação e a visu-
alização não sejam o impeditivo. A ideia é retirarmos
todos os impeditivos. Lembro a vocês uma passagem
de Jung, o grande psicólogo, que quando ele fazia o

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seu planejamento do ano seguinte ele imaginava to-


dos os defeitos que tinha, e os obstáculos que pode-
riam se colocar. E dava a resposta a esses obstáculos
antes que eles se manifestassem.
Faça a mesma coisa para estudar. O que pode
me incomodar? A vista? Vou prevenir os óculos. A
iluminação? Vou me prevenir com um bom abajur. A
ventilação? Vou prevenir. Ou seja, tire qualquer impe-
ditivo. Previna os impeditivos, se você quer realmente
ter eficácia.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 3 – Teste inicial


Perguntas de 5 a 8

Pergunta número cinco:


“– O local em que você estuda é bem ven-
tilado?”
Observe isso, e perceba que não é uma resposta
padrão.
“– Sim, é bem ventilado.”
É bem ventilado neste momento. Tenha recursos
para que você se sinta confortável, para que o calor
ou frio não o incomodem. Então, nessa estação, está
bem ventilado. E quando esquentar? Só abrir a janela
vai ser suficiente? Tenha recursos já previstos, para
que você não se detenha diante dessa dificuldade.
O vento da janela. Bom, a janela traz vento, mas
também traz barulho. Será que um ventilador silen-
cioso... deixe-me ver a quantidade de volume que
esse ventilador emite, para ver se ele não vai me dis-
persar, ou, quando faz frio, se estou preparado para
isso. Só fechar a janela aquece? Ou seja, considere
as variações que o ano vai lhe oferecer. E se você
sempre tem recursos para que esse fator temperatura
não o atrapalhe.
Ou seja, lembre da ideia de Jung, de prever os
obstáculos, e dar a resposta para eles antes que eles
se apresentem. Quem quer estudar trabalha a favor da

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concentração, e não da dispersão. Leve a sério. Você


quer estudar?
“– Quero!”
Assim, eu vou trabalhar contra os fatores de dis-
persão. Não vou deixá-los soltos por aí, para que eu
tenha desculpa. Porque se você deixa fatores de dis-
persão soltos vai dizer:
“– Eu tentei e não deu...”
Você não tentou; você deixou os obstáculos à solta.
Portanto, você não estava tão determinado as-
sim. Existe uma coisa que a gente tem que ter clareza,
chegar diante de nós mesmos, no espelho, e dizer:
“– Eu quero realmente estudar?”
Se você quer, leve isso a sério, e tudo que possa
ser fator de distúrbio tire do caminho, antes de abrir a
primeira página.

Pergunta número seis:


“– Quando começa a estudar, antes de co-
meçar a estudar, você separa tudo de que vai
necessitar? Dicionários, livros etc., para não
ter que parar para buscar depois?”
Olhe, você pode achar que é uma bobagem. Tem
uma estante, que está a três passos daqui, e ali tem
um dicionário, ali tem tudo que eu necessito. E não é
conveniente deixar o computador ligado, porque você
pode recorrer ao Google, porque o computador vai
dispersá-lo.
Então, se você vai necessitar de informações, dê
uma verificada no que você necessita, e pesquise no
Google antes. Ou então recorra ao dicionário mesmo.
Agora, o ideal é que você não tenha que se levantar e
dar esses três passos. Parece uma brincadeira? Não
subestime a sua dispersão. Você está lutando contra
um inimigo sério. Só de dar esses três passos... você

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passa pela janela... e vê alguma coisa interessante lá


fora. E quando você volta já não está mais pensando
no objeto dos seus estudos.
Qualquer mínima coisa, sendo como somos, ama-
dores, pode nos tirar o foco. Então, se eu vou precisar
disso, isso esteja ao alcance da minha mão, em cima
da mesa, para que o tempo de recurso a esse elemen-
to seja o mínimo possível. E o mínimo possível, no
entanto, também é possibilidade de dispersão. Outro
elemento importante.

Pergunta número sete:


“– Você reserva algum tempinho, todos os
dias, para o estudo?”
Olhe, você tem que perceber que a vida se sus-
tenta em cima de uma coisa: ritmo. Seu coração pode
bater mais lento ou mais acelerado, mas ele não para
de bater. Porque, senão, você estaria morto. Toda a
vida se sustenta por ritmo.
Uma das coisas que ensino em Administração do
Tempo é, exatamente, você pegar o seu ano e criar
os ciclos de maior e menor produtividade. Sabe o quê
significa isso? Imagine que você tem um livro de 365
páginas para ler, e um ano para lê-lo. Em uma mate-
mática simplória, daria uma página por dia.
Mas, em uma matemática inteligente, não. Por-
que tem aquela fase em que as crianças estão de
férias, estão dentro de casa, e demandam muito
mais atenção. Nessa fase, talvez você leia só um pa-
rágrafo.
Naquela fase, onde você tem um tempo mais livre
no seu trabalho, tem mais disponibilidade, você pode
aumentar para três, quatro páginas.
Mas, nenhuma circunstância o detém. Você tem
que estar preparado para isso. Se você tem um bom

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carro, é um carro com tração nas quatro rodas, por que


você considera que ele é bom? Porque em nenhuma
estrada ele se detém. Em uma estrada bem asfaltada,
lisa, ele anda que é uma maravilha. Agora, em uma
estrada totalmente esburacada, ele reduz a sua veloci-
dade para 20 quilômetros, mas não se detém também.
Ele adapta a velocidade às condições da estrada, mas
nem uma nem outra podem fazer com que ele quebre
e o deixe na mão.
A sua leitura tem que ser assim também. Capa-
citada para terrenos complicados e para terrenos pla-
nos. Por isso, eu recomendo, naqueles momentos
mais complexos que você tem, leia um parágrafo, leia
três linhas, quatro linhas, mas não se detenha.
Porque não existe um momento, já que estamos
falando de automóveis, onde o seu carro gaste mais
combustível do que naquele onde ele quebra a inér-
cia, e acelera. Esse é ponto de partida. Na partida,
o carro puxa muito combustível, porque ele tem que
vencer a inércia. E assim também é na vida. Se você
se detém, perde o ritmo do que estava estudando an-
tes, e, para partir da inércia, começar tudo de novo,
vai ter que recapitular muita coisa para trás. Ou seja,
vai ter perda, e vai se sentir tremendamente desani-
mado, desestimulado.
Se você ler um parágrafo todos os dias, ainda que
você avance pouco, você não perdeu o fio da mea-
da, e não perdeu o hábito. Aqui nós vamos falar sobre
isso. Fundamentalmente, trata-se de trazer para den-
tro da nossa vida o hábito de obter conhecimento. Que
é uma coisa natural nossa, não cansa.
Você pode dizer:
“– Eu canso de estudar todos os dias.”
O quê você não tem é prática. É como se você
dissesse:

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“– Eu canso de enxergar. Tem horas no dia


em que eu tenho que fechar os olhos.”
Não cansa. Você percebe que enxergar é um atri-
buto natural seu. Aprendeu a utilizá-lo em todo o tem-
po de vigília. Estudar é um atributo natural seu tam-
bém. Não teria por que cansar. Simplesmente, você
não aprendeu a usá-lo.
Dentro daquelas aptidões, que ensinam para a
gente desde pequenininho, infelizmente, no nosso
contexto cultural, já foi diferente no passado, no nos-
so contexto cultural atual não nos ensinaram a gostar
de estudar. A fazer isso com naturalidade, e a fazê-lo
sempre, sempre que houver uma oportunidade de es-
tar em estado de aprendiz, querendo aprender alguma
coisa da vida, das circunstâncias, de tudo.
Então, não perca o ritmo. Guarde com você uma
máxima, que vai lhe ser muito útil:
“– Sem pressa e sem pausa.”
Ou seja, de acordo com as condições do terreno,
mas não me detenho nunca, não perco o ritmo. O rit-
mo é a chave da vida.

Pergunta número oito:


“– Você divide o tempo pelas matérias que
tem que estudar?”
Isso é fundamental. Se eu tenho duas horas, bom,
duas horas é pouco para estudar, vou estudar só esta
matéria. Por muito que seja uma matéria agradável e
boa, no entanto, duas horas de uma única matéria vai
ser excessivo, e a última hora vai ter um grau de pro-
dutividade decrescente.
Entenda algo, que também não costumamos
aprender, que o descanso não vem de não fazer nada. O
descanso vem da variação de atividade. Você tem que
constatar isso na sua vida. Feche os olhos, e pense...:

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“Em que momento no dia estive mais relaxa-


do?” Você vai perceber que não necessariamente
foi naquele em que você estava sentado na ca-
deira, com os pés para cima. Porque você deteve
o corpo... mas não deteve a mente.
E muitas vezes está repassando os problemas do
dia, os problemas da vida; continua cansando. Talvez,
se ao invés de fazer isso você fosse para o jardim,
remexesse a terra com as mãos, plantasse uma plan-
tinha, podasse uma planta, essa pequena atividade, o
seu foco mental nessa pequena atividade o descan-
sasse muito mais.
Ou seja, o que nos descansa é a variação de ativi-
dades, e não, simplesmente, deter as atividades. Que,
em geral, a mente, não conseguimos deter. A concen-
tração em outra coisa é que realmente nos relaxa. En-
tão, quando você for estudar, ainda que o tempo seja
pequeno:
“– Eu tenho uma hora para estudar.”
Tente revezar aí com duas coisas que sejam dife-
rentes, de naturezas diferentes. Que ambas não vão
cansá-lo.
Cuidado para não caírem naquele paradoxo da
grade horária dos colégios de Ensino Médio, que às
vezes pegam três horários seguidos de exatas, por
exemplo. Para um garoto, que não tem nenhuma téc-
nica de estudo, é evidente que ali eles estão colocando
uma massa de matérias que não vão ser absorvidas.
E depois chegam para o aluno, e dizem:
“– Você foi mal na prova, porque não estava
atento na aula...”
Até que ponto alguém consegue estar atento a
uma aula desse tipo? Ou seja, existem muitas coisas
que teriam que ser revistas no nosso sistema de edu-
cação. Reflita sobre isso.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 4 – Teste inicial


Perguntas de 9 a 14

Continuando, lembre-se, alguns desses tópicos se-


rão aprofundados no Curso, daqui a pouco. Mas, eu já
quero que você faça esse questionário – com consciên-
cia do que está fazendo, ok? Vamos continuar lá, então.

Pergunta número nove:


“– Você estuda, no mínimo, cinco horas se-
manais, além das aulas que assiste?”
Bom, se alguém anda estudando para vestibular,
para concurso, para qualquer outra coisa, sabe perfei-
tamente que simplesmente assistir às aulas é a mes-
ma coisa que nada.
O estudo, de fato, começa quando, dentro de
casa, você abre o caderno, e começa a trabalhar com
as técnicas que tem, com os métodos que tem, para
que aquilo seja assimilado.
Em Filosofia, existe um princípio, que a gente
sempre usa, numa frase muito interessante, que diz:
“– Você não vive daquilo que você come.
Você vive daquilo que você assimila.”
Ou seja, um professor de cursinho joga em você
uma tonelada de informações. Você consome muito,
mas assimila muito pouco. Quando você vai, dentro de

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casa, abrir o seu caderno, e fazer uma análise detalha-


da, uma síntese, algum método, que nós vamos ensinar
para você poder assimilar melhor isso, aí sim é o estu-
do. O outro é uma recepção passiva de informações.
Eu já tive oportunidade de ver gente, duas pes-
soas, que se lançaram a estudar para um concurso
público. Uma entrou para um cursinho caríssimo, que
aprovava, tinha os melhores professores; o outro não
fez nada disso, ele simplesmente comprou uma apos-
tila, um livro, e estudou em casa sozinho. Foi esse se-
gundo que foi aprovado.
Então, não caia na ilusão de que receber passi-
vamente informações é realmente estudo. É só o iní-
cio. O estudo, de fato, começa quando você, dentro
de casa, se dedica a ele. E isso tem que ser, por hábi-
to, pelo menos, cinco horas semanais. Você tem sete
dias. As cinco horas semanais, dá menos de uma hora
por dia para se dedicar em profundidade a algo que
você se dispôs a aprender.
Como sempre, considerando aquela questão do
ritmo. Pode diminuir em algumas épocas da vida, pode
aumentar em outras, mas nunca se deter. Eu vou saber
se você é um bom estudante se eu abrir a sua mochila
de viagem e, lá dentro, houver pelo menos um livro. Ou
seja, você adquiriu o hábito, que faz parte daquilo que
você considera como férias, e encontra o ritmo, que o re-
laxa, com a leitura e o estudo. Porque, se todos os seus
livros ficam em casa, quando você sai para se distrair, o
estudo é um fardo. E você não vai ser um bom estudante.

Pergunta número dez:


“– Você anota as aulas e os exercícios que
deve fazer?”
Olhe, isso é um drama, porque existem opiniões
das mais diversificadas. Será que não é melhor eu fi-

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car parado, ouvindo o professor, ao invés de anotar?


Eu não perco coisas? Não, não é melhor.
O fato de você estar anotando, inclusive, exige
que você esteja mais atento. Porque se você ficar de-
satento perde uma informação, e não vai anotar. Se
você ficou olhando para o professor, eu lhe garanto
que a sua mente viaja em todas as direções. Daqui a
pouco, já não é o professor, é a namorada, é o super-
mercado, são os filhos, e você já não está ali.
Não temos tanto controle mental assim – que se-
ria um outro Curso, para considerarmos algumas téc-
nicas interessantes. E nós não temos esse controle
mental. Portanto, se não estivermos com a escrita nos
ajudando, vamos nos dispersar.
Além do mais, para você rever esses conhecimen-
tos depois, você simplesmente não tem nada quando
chegar em casa. Você não vai lembrar de quase nada.
Eu garanto para você que, uma aula que aconteceu há
quatro horas, se você lembrar de dez, 15 minutos, vai
lembrar muito. Isso se você estiver bastante atento.
Quantas vezes acontece de uma pessoa perder
uma aula, e perguntar para um colega:
“– Como foi?”
“– Foi muito boa.”
“– Me diz, o quê aconteceu?”
“– Ah, não lembro. Tenho que ver as minhas
anotações.”
“– Me diz uma coisa...”
“– Ah, não sei. Você me perguntou assim, de
chofre. Não sei dizer. Tenho que olhar as minhas
anotações.”
Ou seja, se você não tem anotações, provavel-
mente não vai ter nada. Então: Anote sim. Anote as
aulas, os exercícios que deve fazer. Isso é uma forma,
inclusive, de pegar as rédeas da atenção.

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Pergunta número onze:


“– Você pergunta quando não entende al-
guma coisa?”
Ou seja, você tem que perceber o quê é contado.
Falamos sobre a estória da Branca de Neve. Ela era
uma órfã. O seu pai se casa de novo, e a madrasta
tem inveja dela, então manda o caçador largá-la na
floresta. Os anões a resgatam etc. etc.
Se você não entendeu uma parte da estória, vai
ficar um vácuo aí no meio.
“– A madrasta tinha inveja dela e fez o quê
mesmo? Não entendi essa parte...”
“– Aí depois ela achou os anões...”
Está bom, você vai ficar com fragmentos de uma
estória na cabeça. Você não tem a sequência lógica,
portanto não vai guardar.
“– Tem um negócio que aconteceu aí no
meio do caminho que eu não entendi o que foi...”
Ou você corre atrás das anotações do colega de
sala, se não tiver acesso ao professor, ou vai ao pro-
fessor, se tem essa possibilidade.
Em geral, um professor, um bom professor gosta
que o aluno tenha interesse e curiosidade.
“– Eu não entendi essa parte. Não está fa-
zendo sentido dentro da minha mente. Está fal-
tando alguma coisa aqui.”
E ele vai preencher esse vácuo para que a sua
estória esteja completa. Ou seja, tenha a coragem de
fazer perguntas. Além do que, pela minha experiência,
quase 31 anos como professora, posso lhe dizer, com
toda a segurança: Em geral, a pergunta de um aluno
beneficia vários outros.
Porque, provavelmente, não foi o único que es-
tava desatento naquela parte, e a sua pergunta traz
aquela peça que faltava para muita gente.

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Pergunta número doze:


“– Você faz algum planejamento dos estu-
dos, e procura segui-lo?”
Mais uma vez, da mesma maneira que a gente
não tem as rédeas da nossa mente para se concentrar
em uma aula, se não estudar, você não tem as rédeas
do seu tempo para seguir um programa de estudo, se
não anotar e fizer um planejamento disso.
Você tem que saber: De tal a tal hora, é o meu
momento de estudo. E dentro dessa hora vou estudar
uma hora tal coisa, vou fazer um tempo de intervalo,
vou estudar tal outra, e sou fiel a essa lei, que eu mes-
mo criei. Crio uma lei, e eu mesmo a sigo. Se essa lei
se mostra ineficaz, posso até mudar o meu planeja-
mento no futuro.
Mas, eu tenho que ter um esqueleto, um esque-
ma, para me colocar dentro dele, porque espontane-
amente, sozinho, eu vou me perder. Daqui a pouco,
estudo metade do que pensava, e não estudo a coisa
certa. Ou seja, há que fazer um planejamento, um es-
queleto do que acontecerá dentro do seu tempo, uma
programação. Isso é extremamente útil. Eu diria, indis-
pensável.

Pergunta número treze:


“– Quando planeja seu estudo, você inclui
alguns minutos de descanso?”
Vocês vão perceber, quando estudarmos a res-
peito dessa questão da pausa, que é extremamente
necessária, que é importante você programar quando
ela vai acontecer, e o quê você vai fazer aí dentro.
Exatamente porque não sabemos muito bem o
quê nos recicla. Se você estuda uma hora, e faz uma
pausa de dez minutos, para depois continuar estudan-
do, e nessa pausa você pega o telefone e vai brigar

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com o esposo, a esposa, o vizinho, é melhor que não


tivesse feito isso. Porque vai voltar em condições de
estresse piores do que se a pausa não existisse.
Ou seja, a pausa deve ser feita, e deve ser cal-
culada, para dar certo. Se eu ficar parado, vou pensar
naquele problema que estou vivendo. Então vou me
dedicar a algo, uma coisa simples, sei lá. Vou me de-
dicar a ouvir uma música. Simplesmente dou o play
em uma música que eu gosto, e vou ficar observando
o andamento da melodia, vendo o quê ela me sugere.
Mas eu tenho que ocupar a minha mente com
algo que seja, realmente, como um ar puro dentro da
minha cabeça, dentro do meu corpo. Que, realmente,
me renove. Por isso, você tem que aprender não só a
planejar as pausas, como também a saber o quê fazer
dentro delas.
Nós somos tão inconscientes, que não sabemos
nem o quê nos descansa. E isso é bem complicado.
Faz parte de um processo fundamental para a Filoso-
fia, que é o autoconhecimento.

Pergunta número quatorze:


“– Ao ler uma página de um livro, artigo ou
jornal, você entende o conteúdo na primeira
leitura?”
Observe isso. Somos tão viciados a ler as coisas
en passant, por cima, que nem paramos para nos per-
guntar:
“– O quê eu entendi disso?”
Pode ser que você esteja passando por cima de
coisas que teriam algo a lhe oferecer. Várias vezes, eu
já falei para as pessoas:
“– Você leu o jornal de hoje?”
“– Ah, eu dei uma passada de olhos...”
“– Você viu que aconteceu tal coisa?”

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“– Não, estava no jornal de hoje?!”


E, às vezes, ela passou os olhos, de fato, no jor-
nal inteiro. Mas não teve aquela leitura atenta, para sa-
ber o quê ali poderia lhe oferecer algum conteúdo inte-
ressante. Treine isso, com qualquer leitura que caia na
sua mão. Para que a sua leitura seja mais concentrada
e mais atenta.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 5 – Teste inicial


Perguntas de 15 a 22

Pergunta número quinze:


“– Quando estuda, você mantém a aten-
ção durante todo o texto?”
E isso é uma pergunta, que eu tenho certeza, a
maioria vai dizer que não. Temos ciclos de atenção
muito curtos. Estamos mal-acostumados. É perfeita-
mente possível no entanto estender esse ciclo. Por-
tanto, eu recomendo a você fazer leitura de qualidade,
por um minuto, por exemplo. É o que eu aguento. Fe-
che os olhos, respire fundo, relembre aquilo que você
leu; faça leitura de qualidade por mais um minuto.
Como se fossem micropausas.
Mas não continue lendo, sendo que a sua aten-
ção ficou lá atrás. Você está perdendo o seu tempo.
Chega aquele momento em que você lê uma página,
até embaixo e, de repente, olha, não sei nada que eu
li... Tem que voltar lá para cima.
Quando você perceber que cansou, e a consciên-
cia foi para outro lugar, pare imediatamente. Feche os
olhos, relembre o quê você entendeu até ali. Se não
entendeu nada, recomece tudo novamente, e veja:
“– Eu consigo ficar atento um minuto?”
Fico atento um minuto.
“– Não deu, cansei.”

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Feche os olhos: um minuto de respiração. Reci-


clo o que eu já vi, e continuo mais um minuto. Com o
tempo, você vai suportar um minuto e meio, dois mi-
nutos. Mas não ceda à tentação de continuar lendo
superficialmente, sem estar entendendo nada. Isso é
um péssimo hábito.
E, no final, dizemos:
“– Eu li.”
O quê você leu? Você, simplesmente, passou os
olhos, e não reteve nada. Então, aprenda a ir aumen-
tando o seu ciclo de atenção.
Nunca diga:
“– Eu sou desatento.”
Diga:
“– Eu estou destreinado.”
Porque atento, a atenção é um atributo de qual-
quer ser humano. Aprenda a desenvolver a muscula-
tura nesse campo.

Pergunta número dezesseis:


“– Você utiliza dicionários e livros de con-
sulta, quando não entende alguma coisa?”
Hoje, realmente, está ficando mais raro utilizar di-
cionários ou livros de consulta. Eu recomendo a você,
bom, durante a leitura, não é bom manter o computa-
dor ligado. Se você necessita na hora, sim, faça uma
consulta, na hora. Mas, se é um termo que pode ser
consultado depois, anote no papel.
“– Bom, eu estou lendo sobre a História da
Grécia. O cidadão me citou um nome do Renas-
cimento...”
Isso não é essencial para o entendimento do meu
texto. Está bom, então você pode anotar num peda-
cinho de papel, depois que terminou o seu tempo de
estudo, vá lá, e cheque. Isso é um excelente conselho.

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Não deixe que passe alguma coisa desconheci-


da, sem que você vá lá depois e cheque. Isso é qua-
se que uma filosofia de vida. Passou por mim, eu não
sabia do que se tratava, a partir de hoje eu vou saber.
Porque nada entra na minha vida por acaso. Algo
isso tem para me ensinar, e que eu não sei. Então,
terminei o meu estudo de História da Grécia, terminou
o meu horário de estudo; eu vou lá, agora sim, posso
ligar o computador e pesquisar:
“– Quem foi fulano de tal do Renascimento?”
Isso é muito bom. Se você faz isso, você vai ad-
quirindo um repertório que, daqui a pouco, várias cita-
ções, você sabe do que se trata, sabe fazer relações,
e isso vai lhe ajudar muito. Assim se vai adquirindo
uma cultura geral maior. Não deixe que passe nada
por você que não saiba, de que não procure depois
tomar conhecimento, ainda que basicamente.

Pergunta número dezessete:


“– Enquanto estuda, você anota as pala-
vras difíceis, o quê não entendeu, ou o quê
mais chamou a atenção?”
Outro elemento importante. Falamos já sobre os
nomes que você não conhece, as palavras difíceis, e
essas são boas consultar na hora, mas, às vezes, uma
ideia brilhante que você teve, naquele momento, não
dá para trabalhá-la.
“– Bom, eu tive uma ideia brilhante. Esse fato
histórico se parece com outro da História, ou se
parece com um fato que eu vivi... Essa situação
da Grécia lembra algo que eu vivi na minha vida.”
Bote um bloquinho de notas do lado, e anote isso
aí. Porque, se você reflete depois sobre isso, você não
só vai aprender o quê aquele livro diz, mas vai acres-
centar exemplos práticos àquilo que aquele livro diz.

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E vai acrescentar muito mais profundidade ao seu es-


tudo. Portanto, ideias brilhantes devem interromper o
meu estudo? Não, mas não devem ser perdidas. Um
bloquinho do lado...:
“– Tal relação, será que é verdadeira?”
Terminou o estudo, vai lá e pesquisa. Isso vai dar
muito mais vivacidade, muito mais motivação ao seu
estudo.

Pergunta número dezoito:


“– Você relê as anotações de aula, e pega
com o colega aquilo que perdeu?”
Quando nós estudarmos o método Robinson, vo-
cês vão aprender como se faz isso. Algo que é anota-
do, você tem que contar a história para você, como fa-
lamos sobre a Branca de Neve. Ao perceber lacunas,
corra atrás.
Como já falamos, por intermédio de um colega, e,
se não foi possível, por intermédio do próprio profes-
sor. Mas não deixe lacunas de entendimento naquilo
que você necessita estudar. Isso é fundamental, para
que você não tenha falhas na ponte, que possam lhe
fazer cair no meio do caminho do seu estudo. Tem que
haver uma continuidade sólida de ideias, para que isso
seja bem assimilado.
Aqui já estamos começando a entrar em um terre-
no que vamos estudar muito bem, que é a capacidade
de fazer um bom resumo. Que tem uma importância
tal, poderia dizer para vocês, que talvez essa seja a
técnica mais importante de qualquer Curso de Técni-
cas de Estudo sério. E não é simples. Aliás, poucas
vezes na minha vida... Vejam bem o quê eu estou fa-
lando, não estou exagerando. Eu tenho quase 31 anos
como professora. Poucas vezes na minha vida, eu vi
uma pessoa que sabe fazer um resumo bem-feito.

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E tem alguns elementos aqui, prévios, como por


exemplo esta pergunta, que vai nos ajudar a pensar
sobre isso.

Pergunta número dezenove:


“– Você sublinha as palavras importantes?”
Hoje há quem diga que isso não deve ser feito,
porque “isso é uma técnica ineficaz”, que você não
grava a informação só por causa disso. Mas subli-
nhar as palavras importantes não só o ajuda a pro-
curar, e encontrar, a ideia central de um texto. Você
vai poder praticar isso até quando estiver ouvindo a
conversa de alguém.
Um dia, você vai ser capaz de fazer isso com
uma aula de um professor. Você não vai precisar ano-
tar tudo que ele diz. Vai pegar as ideias principais, vai
anotar só as ideias. Aí não perde nunca mais nenhum
detalhe importante.
Então, sublinhar a palavra importante não é só
porque depois isso vai lhe ajudar, que isso nem ajuda
tanto. Mas na hora vai lhe ajudar a desenvolver um
foco, e uma eficácia em discernir, que é mais impor-
tante em tudo.
Ah, então isso é fundamental que seja praticado.
E vai ser a base de um bom resumo. Um bom resumo
começa desse trabalho aqui. É o tijolo básico da cons-
trução do seu resumo.

Pergunta número vinte:


“– Você faz uma primeira leitura básica –
a gente chama isso de rastreamento – do ín-
dice, do prefácio, antes de começar a leitura
de um livro?”
Você nem se dá ao trabalho de fazer isso? Leia as
orelhas do livro, leia o prefácio, leia alguma nota do edi-

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tor, tudo que possa. Leia bem o índice de capítulos, os


títulos dos capítulos, para você ver o quê o autor propõe.
Dê uma refletida sobre tudo isso, para gerar uma
expectativa sobre o quê vem. Isso também é um ponto
importantíssimo. Porque significa que você está come-
çando a desenvolver uma leitura interativa. Você não
é um receptor passivo de informações. Vocês vão ver,
quando aprendermos o Método Robinson, o quanto
isso é importante, uma leitura de exploração prévia à
entrada no conteúdo.

Pergunta número vinte e um:


“– Você tem facilidade para encontrar as
ideias principais de uma matéria?”
Quantas vezes, no meu Curso de Técnicas de
Estudo, eu passo um mesmo exercício? Pegue uma
história conhecida, sei lá, um conto de fada. Então,
conte-o em 30 segundos. A pessoa fica embolada...
Em 30 segundos, ela começa a contar, sei lá, a Branca
de Neve, e começa...:
“– Era uma vez...”
Bom, aí você já perdeu uns quatro, cinco segun-
dos. Isso não é a ideia principal. Não precisa disso
em 30 segundos. A pessoa tem muita dificuldade em
saber quais são as ideias principais. E quando você
reduz o palco a 30 segundos, você tem que vir com
pílulas das palavras fundamentais, que vai dar para
entender a história. Tudo o mais é secundário.
Ou seja, essa capacidade de identificar a ideia
principal é fundamental também em um bom estudante.

Pergunta número vinte e dois:


“– Quando estuda, você faz resumos?”
Não venha me dizer que isso não é importante.
Não conheci ainda um Curso de Técnicas de Estudo,

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de qualquer linha, porque existem vários, que me con-


vencesse que fazer um resumo não é importante. Ou
seja, o hábito de fazer resumos é importante que seja
adquirido.
E nós vamos passar para você técnicas bem deta-
lhadas de como fazê-lo muito bem-feito. De tal maneira
que você pegue um livro, que leu há dez anos, então lê
o resumo, e recupera todas as ideias principais.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 6 – Teste inicial


Perguntas de 23 a 27

Pergunta número vinte e três:


“– Você relê, de tempos em tempos, aquilo
que já foi estudado?”
É lógico, todos nós sabemos, já ouvimos falar,
que esse é um dos detalhes mais conhecidos em téc-
nica de estudo; que a revisão é que vai ser uma das
ferramentas fundamentais para que você fixe aquilo
que foi estudado.
Daí a vantagem de você ter uma boa síntese, um
fichamento. Não precisa serem aquelas fichinhas de
papel do meu tempo. Use um recurso qualquer, um
aplicativo qualquer. Mas faça resumos, e releia os re-
sumos. Reler novamente o livro, com o mesmo grau
de atenção que você leu da primeira vez, vai resultar
na mesma coisa: nada.
É importante que você faça uma boa leitura da
primeira vez. Não tenha pressa, faça uma boa leitura,
fazendo um resumo de qualidade. E releia esse resu-
mo, de tanto em tanto tempo. Costuma-se dizer que o
ideal seria reler aos 20% do tempo total que você pre-
tende relembrar. Por exemplo, se você quer lembrar
de algo por cinco anos, teria que rever, com bastante
atenção, a cada um ano.

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Eu não sou muito, digamos, não acredito tanto


nessa regra, porque... imagine que você queira lem-
brar para a vida inteira. Vai ter que relembrar a cada
12 anos. Eu acho isso um pouco exagerado. Acho que
você tem que estabelecer um prazo. Eu faria uma re-
visão das coisas que não quero esquecer pelo menos
uma vez a cada ano. Daí um bom fichamento, um bom
resumo o ajuda demais.
Imaginem vocês, um caso como o meu, que sou
professora, e às vezes tive que substituir um profes-
sor, que por alguma razão não pôde vir, de última hora.
Ter que relembrar uma obra, porque ela não estava
preparada para aquela eventualidade. Com um ficha-
mento, você relembra com muitos detalhes, com muita
precisão, de um livro em coisa de 15, 20 minutos. Um
fichamento bem-feito vai tirar todas as informações es-
senciais, de tal maneira, como se você tivesse acaba-
do de ler o livro.
Então, é importante que releiam, sim, que revi-
sem, mas não o livro inteiro. Isso seria pouco prático,
considerando a quantidade de literatura que temos
pela frente. Aquilo que ficou para trás tem que ter
uma forma eficaz de ser recuperado. E essa forma é
uma boa síntese, um bom resumo, que esteja sem-
pre à mão.

Pergunta número vinte e quatro:


“– Você pede ajuda quando tem dificulda-
des nos estudos?”
Isso é um elemento interessante, e bastante filo-
sófico: Nunca acharmos que sabemos tudo. Porque,
de fato, em qualquer assunto, o que nós sabemos é
uma pequena parcela, e a vida está sempre nos abrin-
do oportunidades de expansão, de atualização, de ir
além daqueles nossos limites.

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Nunca achar que quem mais entende desse as-


sunto é você. Sempre tem alguém, e não devem ser
poucas pessoas, que têm muito a acrescentar àqui-
lo que você sabe. Nunca achar que, de repente, uma
pessoa, sei lá, você é um atleta, uma pessoa que se
aposentou, que já não pratica mais, que não tem nada
a me ensinar. Tem sim, e muito.
O corpo dele talvez já não responda a uma disci-
plina de esportes. Mas a mente tem muita experiência
acumulada. Tem muitos problemas que ele soube su-
perar, que podem lhe ajudar a superar isso também
mais rapidamente. Ou seja, tenha a humildade de es-
tar, eternamente, numa posição de aprendiz.
Para quem conhece um pouco de mitologia ger-
mânica, escandinava, sabe que lá tem um Deus, Odin,
ou Wotan, que era considerado o mais sábio dos deu-
ses do Valhalla. Por uma razão: ele sempre perguntava
tudo a todo mundo. Disfarçava-se de ser humano, co-
locava um grande chapéu, para esconder que ele não
possuía um olho, e não fosse reconhecido como Odin,
e andava perguntando tudo para todos. E por isso ele
era o mais sábio de todos os deuses. Inclusive, os seus
dois corvos também andavam pelo mundo, ouvindo as
vozes dos homens e comunicando-as a ele.
Steven Pressfield, que é um escritor que eu admi-
ro bastante, costuma dizer que é um grande aprecia-
dor de golfe, e que o maior jogador de golfe do mundo
é Tiger Woods. Ele diz:
“– Olhe, ele praticamente, para quem o as-
siste, é um atleta tão completo.”
Que o Steven até acha que ninguém tem nada
para ensinar a ele.
Mas Tiger Woods tem um treinador, e ele sempre
está na postura de aprendiz. Sempre está ouvindo o
quê esse treinador tem a ensinar a ele. Provavelmen-

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te, é por isso que é o melhor do mundo. Então, nun-


ca achar que sabe o suficiente, e sempre pedir ajuda
daqueles que, em algum aspecto, em algum detalhe,
possam agregar valor ao que você precisa. Possam
ter aquela pecinha que lhe falta, como uma criança
que troca figurinhas. Eu tenho quase todo o álbum,
quase. Ainda uma criança que tem poucas figurinhas
pode ter exatamente aquela que me falta. Ou seja,
sempre pedir ajuda.

Pergunta número vinte e cinco:


“– Você estuda concentrado, sem muita
dispersão?”
É claro que essa pergunta pode parecer um pou-
co sem sentido para vocês.
“– Bom, se eu tivesse essa concentração
toda, não estaria fazendo um curso de Técnicas
de Estudo.”
Está certo, e está errado. Tudo no mundo é dual.
O quê ele diz aqui é quanto tempo você consegue es-
tudar concentrado, para você partir disso. Você tem
que perceber, ainda que seja um limite muito pequeno.
Você tem que saber:
“– Isso é o quê eu tenho.”
Eu vou expandir a partir daí... Então, pegue um
assunto que lhe interessa, um assunto de que você
gosta. Não um romance ou literatura. Pegue um as-
sunto que você tenha que estudar, que seja do seu
agrado, e veja quantas páginas, quanto tempo você
consegue ficar concentrado naquilo.
Bom, esse é o seu limite de concentração. A partir
daí, você vai ganhando espaço, vai empurrando trin-
cheiras, vai avançando a partir dessa ilha de luz que
você tem. Como se fosse um farol lá no meio do ocea-
no, você expande a sua luz, a partir daquele ponto que

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você tem. Veja, verifique isso, o quanto de concentra-


ção você já possui neste momento... para aspirar a
metas maiores.

Pergunta número vinte e seis:


“– Quando se senta para estudar, você co-
meça imediatamente?”
Também é uma coisa vital, que já falamos antes,
e reiteramos agora. Tudo o quê você necessita, dei-
xe próximo. Tudo que lhe pode impedir, resolva antes.
Atenção à hora que você marcou:
“– Eu marquei para começar a estudar às 15
horas.”
Tudo que é necessário, como elemento prévio ao
estudo, eu marco para até as 15 para as três, para eu
então me preparar para o estudo. Coloque os livros
próximos, feche as janelas, ligue o ar-condicionado,
coloque um copo de água perto de onde você vai es-
tudar, tudo o quê é necessário. De tal maneira que,
quando se sentar às três horas, comece imediatamen-
te a estudar.
Já passou o tempo dos preâmbulos. Isso é fun-
damental, para que a gente adquira um certo domínio
sobre nós mesmos. Saibamos honrar aquilo com que
nos comprometemos. Tenhamos um certo controle do
nosso ciclo de atenção.
É a mesma coisa que um palestrante, que vai cada
vez mais adiando o início da sua palestra, porque todo
mundo chega atrasado. Ele perde o controle do público.
Você vai perder o controle de si próprio. Ou seja, no ho-
rário marcado, sente-se, e comece a estudar.

Pergunta número vinte e sete:


“– Você sabe dizer as ideias principais de
uma aula que acabou de ter?”

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Isso é muito interessante, que você faça essa ex-


periência. Você vai perceber o quanto a sua atenção é
periférica. Quanto você não se concentra no essencial.
E aí vai entender por que é tão importante aprender a
fazer síntese; aprender a fazer resumo.
Exatamente capturar a ideia central daquilo que
está acontecendo diante de você. Imaginem, isso é
uma coisa que sempre me intrigou, quando um pas-
sarinho levanta voo para pegar comida para o seu fi-
lhote, que ficou no ninho. Um passarinho minúsculo,
um pardal. Ele levanta voo até uma certa altura. Como
é que ele consegue ver daquela altura, perceber uma
minhoca se remexendo lá embaixo? Ou um inseto?
Ele não se dispersa olhando a paisagem. O tempo
todo, a mente dele está concentrada: minhoca, inseto.
Então, qualquer coisa que se mexa, que seja pare-
cida, imediatamente ele reage, se posiciona, dá aquele
mergulho, e pega. Agora, nós estamos tão dispersos,
tão sem objetivo, não sabemos o quê vamos buscar
dentro de uma aula, dentro de um livro, que olhamos
para tudo que é periférico... e perdemos o centro.
Então, é como se você assistisse uma aula comi-
go, e falasse dessa blusa:
“– Olha que bonitinha que é a blusa dela...”
Como é cheia de passarinho, de sei lá o quê. Mas
não soubesse dizer qual foi o assunto que eu tratei.
Isso é mais comum do que você imagina.
Como é comum você perder uma aula, e pergun-
tar para um amigo:
“– O quê foi que aconteceu nessa aula?”
E a pessoa não saber lhe dizer uma ideia. Onde
a sua atenção estava? Dispersa, ou para outro lugar,
ou para outra coisa dentro daquele mesmo ambiente.
Relembro a você uma máxima, que pertence a Carl
Jung, que acho muito interessante:

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“– Mente e corpo juntos.”


Procure alcançar essa máxima. Isso vai lhe aju-
dar a capturar a essência de cada momento, é fun-
damental.

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AUTOCONHECIMENTO

Aula 7 – Teste inicial


Perguntas de 28 a 31

Pergunta número vinte e oito:


“– Você costuma cumprir tudo o quê pla-
nejou estudar para aquele dia?”
Isso é fundamental, que você dê aí um prazo.
Bom, eu comecei a fazer planejamento... vocês vão
aprender isso, como fazer um planejamento bem bá-
sico. Não tem muito segredo nisso, uma planilhazinha
do que você vai estudar, hora por hora, a cada dia.
Então, eu faço uma planilha com três horas de es-
tudo. Mas me disperso, me enrolo todo. Talvez você te-
nha que começar com menos. Comece com aquilo em
que você se garante. Eu me garanto em uma hora. E
depois você vai acrescentando um pouco mais. Eu me
garanto em uma hora e meia. Eu me garanto em duas
horas, até chegar às três horas que você pretende.
Não é conveniente que você faça um planeja-
mento de três horas, não faça nenhuma hora com-
pleta, e continue insistindo nas três horas. Sucessi-
vos fracassos vão fazê-lo desanimar. Acho que não
é do desconhecimento de vocês que existem cursos,
por exemplo, para pessoas traumatizadas em Mate-
mática. Que não conseguem resolver, sei lá, equa-
ções complexas.

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Quando a pessoa começa a estudar nesses cur-


sos, eles a colocam para fazer contas de adição e sub-
tração, uma quantidade enorme. Simplesmente para
que ela perca o trauma de que é incapaz de se rela-
cionar com a Matemática. E ela vai avançando, até o
ponto em que necessitava entender, com essa impres-
são, de que isso é fácil. Essa mera impressão mental,
de que isso é muito fácil, vira completamente a nossa
capacidade de compreensão das coisas.
Então, quando você começa a colocar metas,
mas não cumpre, e persiste naquele mesmo patamar,
você vai ficar com a impressão muito, muito negativa,
que trabalha contra você. Você vai ter a impressão de
que não é capaz disso. Você tem que sempre garantir
que você é capaz disso.
Comece de onde você é capaz, e vá expandin-
do aos poucos. Cumpra aquilo com que você se com-
prometeu. Se esse patamar está alto, reduza para um
patamar real, e vá expandindo a partir daquilo em que
você se garante.

Pergunta número vinte e nove:


“– Ao resumir uma matéria, você usa as
suas palavras?”
Olhe, isso aí é uma coisa que a gente vai traba-
lhar bastante, quando fizermos o método Robinson, e
há muita resistência em relação a isso. Isso é essencial.
Eu trabalho como palestrante há 30 e poucos
anos, quase 31. Existe uma coisa que é complicada,
quando um palestrante começa, quando ele dá as
suas primeiras palestras, que é a necessidade que ele
sente de decorar as palavras do autor do livro que es-
tudou. Pensem numa palestra que não funciona, pois
fica uma coisa mecânica. Parece que você tem ali um
robô repetidor, decorado.

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É fundamental que a gente saiba que, em uma


mensagem, você tem que pegar o conteúdo, e expres-
sá-lo com as palavras que forem necessárias. No caso
de um resumo, expressá-lo com as suas palavras, as
mais fáceis e compreensíveis possível.
Para isso, você tem que desenvolver uma atenção
para perceber o quê é conteúdo e o quê é forma. A forma
é útil, é importante, mas ela tem que ser a forma mais
acessível, para você relembrar. E se eu tenho o conte-
údo, eu posso voltar a vesti-lo com uma forma mais in-
telectual, posso modelá-lo para falar com uma criança,
posso modelá-lo para falar com uma pessoa muito sim-
ples, posso modelá-lo conforme o gosto do freguês.
Já contei para os meus alunos, em uma ocasião,
em que eu colava um cartaz, a respeito de uma pales-
tra de Filosofia, e me apareceu uma criança de cinco,
para me perguntar o quê era Filosofia. Não serviam
as palavras de Platão, não serviam as palavras de
Aristóteles.
Eu tive que encontrar o conteúdo da Filosofia
dentro de mim, e traduzir esse conteúdo nas palavras
dela. É assim que funciona. Senão você só tem uma fa-
chada decorada. Você não tem a essência das coisas.
Daí que é a importância de, de vez em quando, fazer al-
guns exercícios, que obriguem você a sair da fachada,
e colocar esse conteúdo em outros contextos.
Então, se você está lendo uma determinada obra,
digamos, um parágrafo de uma obra complexa, com
uma linguagem erudita, e você quer resumir esse pa-
rágrafo, que diz lá que a ordem ontológica do universo
tem a ver com a hermenêutica da vida, você vai ter
que entender isso aí e traduzir com as suas palavras,
no mínimo de palavras possível, e as suas.
Ou seja, o ser tem a ver com o sentido da vida.
Ser relacionado ao sentido da vida. Eu resumiria des-

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sa forma, sem artigos, sem nada. Nós vamos aprender


isso no resumo.
Isso tem sentido para você. O resto, bom, o res-
to é uma forma. É a forma daquele autor. Não tem,
necessariamente, que ser a minha. Então, às vezes,
você vai olhar o resumo de um livro, bem-feito, que
você fez, e não usa uma palavra do autor, mas todas
as ideias estão ali. Entenda isso.
Cuidado com essa resistência de achar que, se
eu não decoro as palavras do autor, isso vai me preju-
dicar, a ideia vai ser retorcida. Isso no fundo é não con-
fiar, o suficiente, na sua capacidade de compreensão
da ideia, que se esconde por trás das palavras. Por-
tanto, você vai ter que exercitar esse discernimento,
captar a ideia e traduzi-la nas suas palavras, da forma
mais simples possível. Isso é fundamental.
Importante começar, neste momento, em tudo
que você lê, a treinar. Um parágrafo inteiro do jornal.
O que o escritor quis dizer com isso, o jornalista? Qual
é a ideia principal? Expressar com as suas palavras.
Lógico, é muito bom quando a gente para e faz
exercícios dentro de um curso. Eu vou passar alguns
exercícios para você. Mas, o grande exercício é a vida.
Se você não for utilizar todas as oportunidades de ler
alguma coisa, que passam diante de você, para pra-
ticar a capacidade de síntese, a descoberta da ideia
principal, não vai ter curso que vai lhe ensinar a ser um
bom estudante.
Tem certas coisas que, ou você pratica na vida
como um todo, ou não pratica. E isso vai gerar uma pré-
disposição, você vai perceber que é muito boa. Está
olhando para uma pessoa e, ao mesmo tempo, está
tentando pegar a ideia principal, que, às vezes, nem ela
sabe exatamente, nem ela sabe. A ideia principal, ela
não está expressando, está só na mente dela.

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E, às vezes, tem pessoas que têm tanta dificulda-


de de expressão, que elas falam, falam, falam, falam
e não dizem claramente o quê querem. Se você está
atento, você percebe que aquelas ideias todas estão
apontando para uma ideia principal. Mas a ideia prin-
cipal ela não falou. E você é capaz, por atenção, de
perceber onde esses sinais estão apontando, e captar
até o quê não foi dito.
Recordo um professor de Filosofia maravilhoso
que tive, hoje já é falecido, que quando uma pessoa,
em uma palestra, fazia uma pergunta para ele, eu ima-
ginava o quê eu responderia. E o que ele respondia
não tinha nada a ver com o quê eu responderia, e não
tinha nada a ver com o quê eu tinha entendido da per-
gunta. E a pessoa ficava satisfeita.
Na verdade, ele entendia o quê a pessoa queria
dizer pela atenção à estrutura do pensamento dela.
Percebia que a essência ela não soube expressar, e
ele pegava essa ideia e respondia essa ideia. Isso é
uma perícia em achar a ideia principal, não em um tex-
to, mas em uma pessoa falando diante de você. É uma
questão de prática, isso é viável.
Então, é importante considerarmos a prática des-
se novo hábito, a partir de agora.

Pergunta número trinta:


“– Você procura se lembrar do que está
aprendendo no dia a dia?”
Veja que tem muito a ver com o que acabamos de
falar. Ou seja, buscar relações, praticar os exercícios
que foram passados, buscar ver o mundo a partir da-
quela ótica que aquele ensinamento lhe deu.
Falava para vocês, ainda, que você esteja estu-
dando o Regimento Interno de um órgão público, para
o qual pretende fazer concurso. Se você considerar

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como a pessoa que fez aquele Regimento estava ima-


ginando o conjunto de seres humanos que trabalha-
riam ali, e como prevenir para que certos erros não
fossem cometidos, você começa a olhar para as pes-
soas no seu dia a dia para imaginar se elas realmente
são assim. Se elas realmente são propensas a esse
tipo de erro, ou se essa pessoa que fez esse Regimen-
to superestimou, ou subestimou, o ser humano.
O quê você consideraria, se você escrevesse o
Regimento? Como seria ele, considerando a experi-
ência que você tem como ser humano, olhando, co-
nhecendo melhor os seres humanos à sua volta? Em
qualquer coisa, você pode aprender, e deve.
Disso se trata a vida, como inteiramente simbóli-
ca. Estamos aqui como aprendizes. E se não nos co-
locamos como bons estudantes diante da vida, não o
seremos em nenhum outro lugar.

Pergunta número trinta e um:


“– Você se esforça para gostar do que pre-
cisa aprender?”
Isso é outro elemento que acho fundamental. Nós
temos uma impressão, tremendamente falsa, de que as
coisas que a gente gosta e as coisas que a gente não
gosta são imutáveis, que fazem parte do nosso ser.
Nós nem sabemos o quê é o nosso ser, a nossa
essência, a nossa identidade mais profunda. Nós nem
a conhecemos. Não tivemos ainda o esforço necessá-
rio para descobri-la, trazê-la à luz. Os nossos gostos e
desgostos, nossas aceitações e rejeições, são produto
da cultura onde fomos inseridos, do meio, das coisas
que nos ensinaram a gostar e a rejeitar.
Brinco com meus alunos, dizendo a respeito do
arroz, por exemplo. Esse arroz soltinho, que nós te-
mos no Brasil, seria horrível numa cultura como a ja-

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ponesa. Como você pega arroz soltinho com um pali-


to? Ali são os bolinhos, é o arroz que a gente chama
de unidos venceremos. Bom, se eu tivesse nascido
lá, o meu gosto seria outro.
Aí você vai dizer:
“– Mas, isso é uma bobagem. Você está fa-
lando de culinária.”
Olhe, todos os planos têm uma correspondência.
Esse princípio da correspondência, que é egípcio, é
uma das leis do universo. Ou seja, não é só o paladar
de um alimento, de aceitar um e rejeitar outro, mas
é também o gosto emocional, de gostar de um lugar,
rejeitar outro. O gosto de gostar de uma pessoa ou de
rejeitar outra. O gosto mental de gostar de uma maté-
ria e de rejeitar outra. Não são gostos seus. São um
condicionamento externo que, se você percebe que
não são bons, você pode recriar.
Resumindo a história, você pode aprender a gos-
tar. Pode desenvolver laços e vínculos com aquilo que
você percebe que é bom, é útil e o ajuda a crescer.
Pode aprender a rejeitar aquilo que só dispersa o seu
tempo, e não está lhe trazendo nada de novo.
Você pode remodelar o seu gosto. Isso, classi-
camente, é chamado de formação de caráter. Se nós
não aprendemos a gostar de estudar, e estudarmos o
que é necessário que seja estudado, não vamos nun-
ca nos tornar bons estudantes.
Pense um pouco a respeito disso.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 8 – Teste inicial


Perguntas de 32 a 36

Pergunta número trinta e dois:


“– Você nunca diz de uma matéria que pre-
cisa aprender: Isso é ruim; isso é difícil; isso é
chato; eu não dou conta?”
Não deve dizer, jamais. Você já criou uma pre-
disposição negativa. E essa predisposição negativa
vai bloquear metade da sua perspicácia, da sua re-
flexão, do seu discernimento, da sua capacidade de
apreender e somar verdadeiro conhecimento a partir
daquilo.
Quando alguma coisa é taxada previamente,
você fecha as portas da compreensão. Nós não sa-
bemos como as nossas predisposições mentais são
poderosas. Às vezes, até em relacionamentos huma-
nos. Por alguma razão fútil, olhamos para uma pes-
soa, e dizemos:
“– Não gostei, não gostei do jeito daquela
pessoa.”
E esse rótulo vai dificultar um relacionamento que
poderia ter lhe trazido coisas maravilhosas. Não ro-
tule disciplinas. Acredite, se elas estão na sua vida,
elas são boas. Elas têm alguma coisa para lhe ensinar.
Porque aquilo que não é útil para você, por lógica, não
teria aparecido na sua vida. Quando já não tiver o quê

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aprender com elas, elas vão se retirar da sua vida, vão


passar adiante. Reflita bastante sobre isso.

Pergunta número trinta e três:


“– Você nunca deixa as coisas mais difí-
ceis para o final?”
Isso é uma mania que, provavelmente, nós es-
tamos contaminados por ela também. Quando você
sai na rua, e vê um conjunto de pessoas pintando um
muro, por exemplo, você vai perceber que, nas primei-
ras horas da manhã, o Sol está um pouco mais ameno,
as pessoas estão bem-dispostas, o quê é então que
elas pintam? A parte baixa do muro. No final da tarde,
que está todo mundo cansado, passaram por um Sol
forte, loucos para voltar para casa, eles deixaram para
pintar a parte alta, que exige subir numa escada, des-
cer, subir na escada. Ou seja, a parte mais difícil.
Obviamente, de uma maneira inconsciente ou
consciente, às vezes, essas pessoas se programa-
ram para não terminar esse trabalho hoje. Se elas
quisessem, de fato, terminar hoje, elas começariam
pelo mais difícil. Porque, no final da tarde, pintar o
quê está baixo é mais fácil para alguém que está can-
sado. Não precisa escada, não precisa nada.
Então, inconscientemente, às vezes, nós nos
boicotamos. Fazemos um pouco como a Penélope,
lá do mito de Ulisses, que tecia o tapete durante o
dia e, na calada da noite, ia lá, puxava o fio. Nós nos
boicotamos, porque não queremos fazer tudo aquilo
naquele dia.
Mais uma vez, eu reitero uma coisa que é impor-
tantíssima para vocês: Joguem limpo com vocês mes-
mos. Cheguem diante de um espelho, e digam:
“– Quanto tempo eu quero fazer isso? Em
primeiro lugar, isso é necessário? Em segundo

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lugar, eu quero realmente fazer? Em terceiro, em


quanto tempo eu quero fazer?”
Ninguém está lhe obrigando a isso. Faça um pac-
to livre com a sua consciência. E, uma vez feito, procu-
re respeitá-lo. A menos que surja um imprevisto muito
fora do comum, procure respeitá-lo. Por uma questão
de respeito a si próprio. Ou você vai perdendo a con-
fiança em si próprio, e isso é grave, e difícil de reverter.

Pergunta número trinta e quatro:


“– Você relê um texto, prova, trabalho, de-
pois que termina?”
Isso é fundamental. Você vai perceber que nós te-
mos um antípoda entre razão e emoção. Não aumente
a “ideia à prova”, sabe-se lá por que cargas d’água.
Dava uma boa reflexão filosófica sobre isso, a “ideia à
prova” excita as nossas emoções. Ficamos ansiosos,
ficamos nervosos. E, toda vez que a emoção se ele-
va, a razão desce. Ou seja, é muito difícil uma pessoa
estar muito emotiva, e estar muito lúcida. A razão está
muito lúcida; a emoção desce.
Quando você termina uma prova, termina o traba-
lho, e faz aquele:
“– Ufa, acabei.”
Recupera um pouco do equilíbrio emocional. Bai-
xa um pouco a ansiedade. – Essa é uma boa hora
para você voltar lá e examinar o quê foi feito, agora
com a razão, e fazer os ajustes necessários. Temos
que saber trabalhar com o quê temos neste momento.
Eu não controlo muito as minhas emoções, neste mo-
mento. Então vou criar uma estratégia para que elas
não me impeçam de fazer um trabalho com qualidade.
Vou fazê-lo da melhor maneira que posso.
Mas, ao final, relaxo. – Acabou, volto atrás, ape-
nas com a mente. A emoção sossegada, e a mente

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vai rever tudo aquilo que foi feito. Isso é um elemento


muito importante.

Pergunta número trinta e cinco:


“– Quando tem prova, você sempre dorme
pelo menos seis horas?”
Olhe, os fatores físicos, nós vamos estudá-los
mais, eles têm que ser considerados. E não venha
com a ilusão, com a fantasia de achar que você é dife-
rente. Que só você é diferente. Que não precisa dormir
tanto, que a sua razão não se abala. Vai se abalar,
sim. E deve estar se abalando sempre.
Você, talvez, não esteja atento ao exercício das
suas capacidades racionais nas primeiras horas do
dia, ou ao longo do dia como todo. E não esteja per-
cebendo que essa sua capacidade está limitada por
um estado de sonolência, por um cansaço constante.
Se começar a se exigir mais, vai perceber que está
produzindo menos.
Se você obedece às leis da vida, ela lhe dá o seu
fruto. Ela lhe dá a justa recompensa. As leis da vida
dizem que você conduz um veículo. Que nem aquele
veículo que está estacionado lá fora. Eu o conduzo e
ele necessita de calibragem, ele necessita de combus-
tível, necessita de lubrificação, necessita de troca de
óleo, e eu sei disso. E não vou dizer:
“– O meu é mais forte do que os outros. Não
precisa...”
Ele vai me deixar na mão. E o seu veículo, ainda
que não esteja lhe deixando na mão, o seu veículo
físico já está limitando as suas possibilidades de dar
respostas à vida, se você não respeita as especifica-
ções dele.
Então, aprender a considerar, observar o nível de
produtividade que eu tenho ao longo de um dia. Perce-

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ber que às vezes não é bom, porque não respeito cer-


tas condições físicas. E aprender a respeitar as leis da
natureza. Você pode caminhar junto com a natureza, e
ela o apoia, ou você pode ir na contramão. E ao invés
de ter a natureza como aliada você vai tê-la como ini-
miga, como resistência. Não faça isso, é uma loucura.
Não somos nós que vamos nos opor à natureza.
Não nascemos para isso, nem temos capacidade para
isso, então, é uma loucura. Trabalhar junto com ela,
ela é coerente, e, aceitando as regras dela, ela nos dá
os seus melhores frutos.

Pergunta número trinta e seis:


“– Quando você tem prova, não toma be-
bidas alcoólicas na véspera, e não se alimenta
de nada pesado no mesmo dia?”
Uma continuação do caso anterior. Você consi-
derar qualquer elemento que limite a sua consciência,
qualquer elemento que gere um estado de indisposi-
ção, pois isso não é bom quando você se propõe a
fazer alguma tarefa importante. Agora, veja bem, aí
dava uma margem para especulação filosófica de tudo
quanto é jeito. Porque todos os dias temos uma tare-
fa importante. Estamos vivos, estamos no mundo, e
não temos tantos dias assim. Se você considerar que
temos 70, 80 anos de vida, um dia é bem importante.
Por isso, o ideal seria que a gente nunca tivesse
hábitos que baixassem demais a nossa consciência.
Porque eles estão jogando a nossa vida fora. Agora,
muito particularmente, quando você tem um trabalho
a fazer, um livro a escrever, uma prova, uma palestra,
por favor, saiba reconhecer o quê o limita. Conheça
melhor a si próprio. Aprenda a observar os efeitos.
Estamos tão desligados, que não percebemos os efei-
tos que as coisas geram em nós. Comece a observar

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mais. Um alimento pesado comido na hora errada,


às vezes, até um bom copo de suco de maracujá no
café da manhã, lhe atrapalha a atenção nas primeiras
horas do dia. Isso não é uma lenda, isso é real.
Aprenda a observar os efeitos que as circunstân-
cias produzem sobre você, para se colocar inteligente-
mente no mundo.

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MÓDULO 1
AUTOCONHECIMENTO

Aula 9 – Teste inicial


Perguntas de 37 a 40

Pergunta número trinta e sete:


“– Geralmente, você estuda sozinho, sem
colegas?”
Mais uma polêmica...
Porque aí tem gente que é contra, e tem gente
que é a favor de estudar em grupo. A maioria das pes-
soas se coloca a favor. Porém, tudo no mundo é dual.
E isso tem estágios em que é bom, e tem estágios em
que é péssimo.
Vocês têm que saber que o estudo tem estágios.
Você não é uma pessoa tão concentrada. Estamos
aprendendo ainda, estamos como aprendizes.
Você está com um livro aberto na sua frente, que
talvez seja uma leitura um pouco complexa. – E você
tem um colega do lado, interrompendo a cada dois
minutos, para fazer piadinha, ou tem que parar para
atender o telefone. Ou ainda ele esteja tentando se
concentrar, mas se mexendo na cadeira, mexendo em
coisas, obviamente o estudo vai render a metade. Co-
loca mais um colega, divide mais uma vez.
Esse não é estágio para estudar em grupo. Esse
é um estágio solitário do processo de estudo, onde
você cria um ambiente com menos apelo possível.
Esse não é um estágio para estudar em grupo.

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Sabe qual é excelente estágio para estudar em


grupo? É aquele momento em que você já fez o seu
fichamento, já está com os resumos prontos. Aí você
faz até uma brincadeira junto com os amigos. Um vai
fazendo perguntas, um para o outro, outro erra, outro
faz uma gracinha, e todas essas circunstâncias vão
lhe ajudando a memorizar. Então, saiba analisar com
discernimento todos os processos que você precisa vi-
ver, para tirar daí os melhores resultados.

Pergunta número trinta e oito:


“– Você não fica levantando e se movimen-
tando à toa, quando se senta para estudar?”
Ou seja, tem um monte de maus hábitos que temos...
“– Ah, eu estudo melhor se ando por um lado
e para o outro...”
Não estuda. Só vai lhe provocar dispersão. É um
vício que você tem que aprender a romper. A ideia é:
como se o corpo tivesse virado uma estátua. A sua
mente está muito ágil; o corpo, não. Se você está movi-
mentando o corpo, significa que uma parte da sua aten-
ção está indo para ele.
Porque, é óbvio, para você movimentar o corpo
dentro de uma sala, você tem que estar observando
para não esbarrar em nada, para não tropeçar, para
não dar uma topada. E isso é um pouco da sua atenção
que foi para o corpo. O corpo tem que pedir o mínimo
possível de atenção, para que a mente possa ter o má-
ximo. Então, observe esses vícios que a gente tem, de
estar se mexendo... mexendo em coisa na mesa... fa-
zendo coisas absolutamente desnecessárias.
Procure combater. Como uma pessoa combate
um tique nervoso qualquer, um vício de coçar a cabe-
ça? Isso é um vício que o dispersa.
Aprenda a trabalhar com isso.

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Pergunta número trinta e nove:


“– Sempre que tem prova, você consegue
não ficar muito nervoso?”
Isso é uma coisa interessante, e, claro, vai me-
recer uma abordagem maior, quando entrarmos nos
itens do Curso. Você vai perceber que nós temos uma
armadilha mental dentro de nós. A nossa mente nos
coloca nervosos, porque ela nos ameaça de perder-
mos alguma coisa. Uma dica que eu uso, e que foi
muito eficaz para mim, foi aceitar a perda. Sabe o quê
significa isso? A mente diz:
“– Se você não passar nesse concurso, você
vai ficar desempregado.”
Você diz:
“– Está bom, já não passei, já estou desem-
pregado; já aceitei a perda. Agora me deixe con-
centrar nisso aqui, porque isso aqui é importante,
está interessante, vou aprender com isso. Se eu
não passar, eu vejo depois, começo a estudar de
novo.”
Se você aceita a perda, ela fica sem argumen-
tos para chantageá-lo e lhe tirar do centro. Vou contar
para vocês uma história, que eu vivi, e que foi mui-
to interessante. Comecei a dirigir. E, lógico, como a
maior parte das pessoas que começam a dirigir, era a
pior motorista que vocês possam imaginar no mundo,
e tinha pavor de dirigir.
Um belo dia, eu perguntei para mim mesma:
“– Por que você tem tanto medo de dirigir?”
Porque, dirigindo na velocidade em que você di-
rige, o perigo de acidente será só se for de atrope-
lar uma tartaruga manca. Não vai acontecer acidente.
Você está com medo de quê? Aí eu descobri que o
meu medo era de que as pessoas achassem que eu
era uma barbeira, uma má motorista.

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Eu, simplesmente, cheguei diante do espelho, e


disse:
“– Você é uma barbeira. Você é uma barbei-
ra. Você é uma barbeira. Está certo? Está certo.
Agora, quem disser isso, é uma mera constata-
ção da verdade. Não vai me ofender.”
E saí.
“– Sua barbeira...”
“– É isso aí mesmo. É isso que eu sou. Esse
me conhece bem.”
E pronto. Não tinha mais por que estar nervosa.
Eu aceitei a perda, e continuei viva, e continuei dirigin-
do. Eu fui aprendendo, fui fazendo menos barbeira-
gem, e estou aqui até hoje, dirigindo da melhor manei-
ra que posso. Quando a sua mente lhe ameaça com
alguma coisa, aceite a perda. Você vai ver que ela fica
sem argumento para abalá-lo emocionalmente.
Comece do jeito que você está, mas aos poucos
você vai pegando esses ganchos mentais, que lhe ti-
ram do centro. E dê uma resposta adequada para eles.
Essa é uma dica, mas você vai encontrar outras.

Pergunta número quarenta:


“– Você consegue sempre não perder tem-
po à toa, antes das provas?”
Aí é um assunto que eu aconselharia, àqueles
que puderem, que fizessem também o Curso de Ad-
ministração do Tempo. Porque você precisa ter ferra-
mentas para constatar se está jogando o tempo fora.
Normalmente, não sabemos.
Achamos:
“– Não, meu tempo é todo preenchido.”
Olhe, se você for analisar, você tem meia hora
produtiva, uma hora e meia conversando fiado, len-
do notícias irrelevantes, olhando bobagem na internet.

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Você tem muitos, muitos vácuos entre um prazo de


atividade e outro de tempo vazio – jogado fora com
coisas tremendamente inúteis, que é aquilo que a gen-
te chama de tira-tempo.
Você tem que aprender a identificar isso. Enco-
lher esse tempo dedicado a essas coisas. Aprender a
ganhar tempo do vazio, e não das suas atividades.
“– Preciso de mais tempo para estudar. Vou
parar de fazer o curso de inglês.”
Curso de inglês é uma hora. Você perde duas no
YouTube, no Facebook, seja lá o quê for. Não abra
mão do tempo ocupado. Abra mão do tempo vazio, e
perceba que, de repente, você não tem só uma hora
para estudar por dia. Pode ter muito mais. Se abrir
mão do vazio, dos tira-tempos, daquilo que lhe rouba
a produtividade sem lhe dar nada em troca.
Dê uma observada. Lembre-se do ponto de vista
da Filosofia:
“– Para começar qualquer processo de
transformação, você começa pelo conhece-te a
ti mesmo.”

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MÓDULO 2
CONDIÇÕES PRELIMINIARES

Aula 10 – Valor intrínseco

Caríssimos alunos. Antes que a gente comece o


processo do Curso propriamente dito, tem algo que
é muito importante passar para vocês. Eu sou uma
professora de Filosofia, de Nova Acrópole, que é uma
instituição internacional, que se dedica ao ensino de
filosofia prática, vivencial.
Eu posso dizer para vocês que existe um agrega-
do que a Filosofia dá à Técnica de Estudo que nenhum
outro tipo de curso dá. Que é essa dica que vou passar
para vocês agora. É uma coisa chamada Valor Intrín-
seco. Sabe o que significa isso?
Pare pra refletir comigo. Você vai fazer uma prova
de vestibular. Você vai fazer uma prova para um con-
curso público. Tem que estudar um monte de coisas.
Você percebe que todo o seu amor, todo o seu desejo
e todo o seu interesse está no curso universitário, ou
naquele trabalho público que você quer acessar. – O
estudo é um estorvo no meio do caminho? Quem de
nós poderia dizer, com toda honestidade, se tivesse
uma oportunidade de entrar nesse Ccurso, de entrar
nesse emprego, sem ter que estudar tudo isso, e sem
risco. Eu não aceitaria.
Claro que todo mundo estaria louco para uma
oportunidade como essa. – Sabe por quê? O bom
mesmo é o quê você vai ganhar com o estudo. Ele

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em si é uma chatura, é um estorvo, é um transtorno,


desagradável.
Às vezes, eu vejo pessoas falarem:
“– Eu entrei nesse curso universitário, mas
sofri tanto, que você não faz ideia. Suei camisa.”
Esse sofrer e suar camisa foi o estudo. Ou a pes-
soa que entra para um emprego público, e diz:
“– Olhe, você não sabe. Eu deixei de viver
para poder me preparar para passar nesse con-
curso.”
Deixar de viver é sinônimo de estudar, segundo
os valores dessa pessoa.
Eu tenho que achar graça porque, vamos e ve-
nhamos, estudar é um transtorno, é um estorvo, é
um sofrimento, é deixar de viver? Como é que essa
pessoa vai se tornar um bom estudante? Vocês per-
cebem que isso não tem nenhuma lógica? Isso não
vai acontecer nunca.
Imaginem vocês o quê faz com que o homem
possa sair da ignorância, e chegar à sabedoria, que é
a meta de vida do ser humano, senão o conhecimento
corretamente recebido, assimilado e vivenciado?
Isso é o quê nos diferencia dentro do esquema
da natureza. Que tipo de ser humano é esse, que con-
sidera o conhecimento como um estorvo? Quando
você percebe o nível de preconceitos, de alienações,
de isolamento, de equívocos na convivência, será que
isso não é um efeito colateral, muito claro, de o ser
humano não querer conhecer mais nada, de só querer
desfrutar da vida, com o maior conforto possível?
Ou seja, a felicidade do homem consiste não em
crescer, em expandir, em conhecer o mundo; consis-
te em ficar o mais parado possível. Bom, isso é a
felicidade de uma pedra, e não de um ser humano.
Da pedra para o ser humano, acho que aí houve uma

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complexidade progressiva. A natureza teve muito tra-


balho para fazer essa travessia. E nós, a essa altura
do campeonato, com todo o potencial que a natureza
nos dá, queremos a felicidade da pedra, a inércia, a
lei do menor esforço?
Esse vício moderno faz com que a pessoa, des-
de o berço, seja um potencial péssimo estudante. Que
passa por adversidades na vida, mas não aprende
nada daquilo, para que no futuro não gere essa ad-
versidade na vida dos outros. Simplesmente, se sente
vítima; ou, não é assim?
“– Eu tive um péssimo professor. Eu tive um
parente que não foi muito bom comigo.”
Eu me coloco na postura de aprendiz, para per-
ceber se eu não tenho esses mesmos vícios, e não
posso maltratar outros no futuro? E não aprendo des-
sa experiência para me tornar melhor do que essa
pessoa? Não, eu simplesmente me vitimizo, e saio
pela vida inteira sem aprender nada, e colocando a
culpa de tudo nos outros, e querendo que as coisas
sejam gratuitas.
Evidentemente, você não vai transformar uma
pedra em um diamante, simplesmente, lixando por
fora. Ou seja, submetendo a um sofrimento. Você vai
tornar uma pedra em um diamante se você mergulha
profundamente na sua estrutura molecular, por exem-
plo, de um carvão, e organiza o carbono aí dentro, de
tal maneira que essa estrutura molecular se converta
em diamante.
Isto significa, se não mergulhamos dentro de nós,
e mudamos essa nossa concepção equivocada, sobre
o estudo como uma tortura, nunca seremos bons estu-
dantes. E a nossa vida também passará sem grandes
aprendizados. Seremos tão infantis e imaturos aos 80
quanto éramos aos oito, porque passamos pela vida

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totalmente cegos. Nós nos negamos a aprender. –


Percebam isso: É um assunto grave, que não vai ape-
nas na direção do estudo, mas em tudo na nossa vida.
Isso é uma grande perda.
Quem sabe recuperarmos, se vocês pegarem um
dia um diálogo de Platão, vocês vão ver que em torno
de Sócrates, o grande filósofo, se sentavam garotos
de várias idades. Ali já com aquela vivacidade de eu
quero aprender.
Um dia desses, no meu trabalho, passei por uma
mãe que levava o seu garotinho para tomar uma vaci-
na. E ele choramingava, se debatia. A mãe continuava
levando. Chegou uma hora em que ele parou para ela,
e disse o seguinte:
“– Mãe, por que a gente tem que passar
pela dor?”
E eu achei tão interessante, porque aquilo já não
era um argumento para demover a mãe. Era um dese-
jo de entender a vida. Por que tem dor na vida?
Mas, era uma pergunta tão legítima, o interesse
no conhecimento, que me deu vontade de me sentar
no chão e dialogar filosoficamente com ele. Você per-
cebe que esse frescor de uma criança, que quer sa-
ber, nós já perdemos há muito tempo. Não queremos
saber de nada. Queremos, simplesmente, sobreviver,
com maior conforto e o maior prestígio possível. Essa
perda do interesse pelo aprendizado vai fazer de você
medíocre. Faça você o esforço que fizer.
Imagine você andar pela vida, com cada coisa
que ela apresenta, tendo interesse por aprender. Você
passa por um programa que está falando sobre como
se faz um bom vinho. Digamos que você não beba,
não goste de vinho. Mas, você percebe que, ali, aque-
le agricultor de uma vinícola está ensinando que você
deve cortar todos os galhos inferiores daquela videira,

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para que fiquem só os mais elevados, para que a sei-


va, fazendo esse esforço de se elevar, se depure e, lá
em cima, gere as melhores uvas.
Será que isso não me ensina sobre o que eu
tenho que fazer comigo também? Cortar tudo que é
grosseiro, tudo que é baixo, tudo que é vulgar, para
que a seiva da minha vida se eleve e gere os melhores
frutos? Você aprende com isso. Você aprende quando
você poda a rosa, que está no seu vasinho, para ela
viver alguns dias mais.
A vida, de vez em quando, nos poda também, para
que nós possamos estar abertos a receber novo alimen-
to, receber nova seiva. Você vai olhando a sua volta, e
tem o intuito de entender, como dizia Einstein, as ideias
de Deus. O quê ele quis com tudo isso. Isso tem um es-
pírito sadio de aprendiz, que vai fazer com que você seja
um excelente estudante. Não me importa se eu vou pas-
sar nesse concurso, mas depois de estudar isso aqui eu
vou sair um ser humano melhor. Não importa se eu vou
passar nesse vestibular, mas depois que eu estudar isso
aqui eu vou sair um ser humano melhor.
Percebam, e isso é fundamental. Não me digam
que isso é muita Filosofia para um curso de técnica de
estudo. Porque eu vou lhe dizer:
“– Isso é o essencial.”
Isso é a única coisa que pode realmente lhe tor-
nar um bom estudante. Percebam que tudo aquilo que
tem valor na nossa vida vale em si mesmo, e não pelo
que vem depois.
O amor:
“– Você ama alguém?”
“– Amo.”
“– Você ama pela pessoa, ou porque ela
tem um bom salário e pode lhe dar uma vida
confortável?”

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Senão, isso não é amor. É um plano de previdên-


cia privada.
“– Você é justo?”
“– Sou.”
“– Você teve um ato justo porque você ama
a justiça, ou porque essa pessoa podia lhe fazer
favores depois?”
Porque, senão, você fez marketing pessoal.
Amor, justiça, bondade, honra, tudo que temos de
mais elevado na vida vale em si mesmo, e não pelo
que você vai ganhar com isso. E com o estudo não é
diferente. Adquirir conhecimento é tão nobre quanto
amar, é tão nobre quanto ser bom. É uma necessidade
de entrarmos em harmonia com a natureza, que nos
cerca, de não sermos um elemento que fere, mas ser-
mos elemento que se encaixa.
No dia em que você me disser:
“– Eu vou passar umas férias de um mês em
um local que é um verdadeiro paraíso. Vou para
um resort, vou ficar à beira do mar.”
Se eu abrir a sua mala, e ali dentro tiver um ou
dois livros, eu vou lhe dizer:
“– Você é um bom estudante.”
Porque no seu paraíso cabe estudo. Aquele que
coloca o estudo só no inferno, faça ele o esforço que
fizer, sempre vai ser um péssimo estudante.

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MÓDULO 2
CONDIÇÕES PESSOAIS

Aula 11
Local para estudo

Agora que você já fez o seu Teste Inicial, já deu


para refletir, concluir sobre um monte de maus hábitos,
que vão ter que ser revistos. E muitos bons hábitos,
também, que vão ser reforçados. Agora que você já
viu a respeito do objetivo intrínseco, já refletiu sobre
essa ideia, que é muito importante, nós vamos co-
meçar com as técnicas do Curso, propriamente ditas.
Com as recomendações, aqueles elementos que têm
que ser considerados.
O primeiro que nós vamos falar são das condi-
ções para o estudo. As condições físicas, até falamos
um pouco sobre elas lá no exercício, considerar tudo
aquilo que gere algum tipo de indisposição, de condi-
ção física desagradável, para que você esteja com a
mente o mais lúcida possível. Ou seja, sono de me-
nos, comida pesada, bebida alcoólica, ou qualquer ou-
tro tipo de coisa que baixe a consciência.
Qualquer elemento distrativo, por exemplo, estar
preocupado demais com algo. Aí você vai dizer:
“– Bom, como é que eu vou fazer para deixar
de estar preocupado demais com algo?”
Por isso, eu digo que, às vezes, é bom dar uma
olhada lá atrás, em Administração do Tempo. Porque,
se você deixar esse argumento lhe atrapalhar, ele vai

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atrapalhar toda a sua vida. Porque não existe um dia


da nossa vida em que a gente não tenha algo para se
preocupar.
Seria bom que você pudesse demarcar um ho-
rário, de tantas a tantas horas – sei lá... das oito às
nove, vou pensar sobre esse problema. Refletir e pro-
curar soluções. – Nesse horário, você não faz mais
nada, mas reflete sobre isso. Se não encontrar so-
luções nesse horário, é porque pensar não traz so-
luções. Há que ter um pouco de paciência, há que
esperar a hora certa para voltar a pensar a respeito;
há que esperar que outros fatores surjam no cenário.
E você não pensa mais.
Pode ser, pode parecer para vocês uma brinca-
deira, mas, de vez em quando, temos que brincar um
pouco com esses elementos, que tiram o nosso tempo.
“– Isso é importante, e eu devo pensar.”
Está bom, vou marcar um horário para pensar. E
penso nesse horário, não faço mais nada; só penso. E
no resto do meu tempo eu me concentro naquilo que
estou fazendo, que é importante, que é vital, que é
aquilo que eu tenho que tirar do meu dia. É aquilo que
vai agregar valor ao meu dia.
Não é bom que a gente se deite à noite com a
sensação de que nada, que era necessário e impor-
tante, foi feito. É bom dar vida ao nosso dia. Isso de-
pende de nós, não depende só da natureza. Então,
vejamos sobre os elementos fundamentais do plano
físico, esses fatores, e outros mais, que podem ser
exclusivos seus.
Você tem que observar... o que influencia o seu
corpo. O ambiente está muito quente, está muito frio...
O ambiente está muito seco ou, seja lá o que for... Ob-
serve o quê pode afetar o seu físico, e tirar as suas
condições de lucidez máxima.

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Fatores mentais. Bom, aí são muitos, não é? Além


da preocupação, que falamos ainda há pouco, que é um
fator eminentemente mental, você tem de desenvolver
hábitos de concentração. Tem que desenvolver hábitos
de organização das ideias. Não querer pensar em tudo
ao mesmo tempo. E, isso, vai ter que fazer cada vez
mais práticas de concentração, práticas de pensar em
uma única coisa de cada vez, e ir se desenvolvendo a
partir daquela capacidade, que você tem, de organizar a
sua mente, porque dispersão, no fundo, é caos mental.
Você vai me perguntar:
“– Como é que faz isso, para organizar a
mente?”
Está cheio de técnicas de concentração no mer-
cado. Você pode fazê-las, mas vou lhe dizer uma coi-
sa: Não adianta nada você organizar a sua mente, se
você não organiza o seu armário, se você não organi-
za a sua bolsa, se você não organiza a sua casa – por-
que cada vez que você detecta bagunça, por exemplo,
no seu armário, e você faz de conta que não viu, e
empurra a porta e tranca, isso é porque, dentro da sua
mente, você colocou uma voz de comando:
“– Eu aceito conviver com o caos.”
E... se você aceita conviver com o caos, ele vai
estar em todos os planos, no mental, no emocional, no
físico, no energético, em todos os planos da sua vida.
Mas se você coloca uma sentinela que diz:
“– Eu não aceito conviver com o caos, com a
bagunça.”
Você vai ter que reagir cada vez que ela passe por
você. E se você não reage, você fez uma concessão...
e essa concessão vai vazar para todos os planos. Ou
seja, vocês se lembram lá da frase cristã:
“– Não servirás a dois senhores ao mesmo
tempo.”

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Ou da frase islâmica:
“– Não montarás em dois camelos ao mesmo
tempo.”
Você tem que impor uma única regra na sua vida.
E por muito que você pratique exercícios de concentra-
ção, que de fato existem, e são bons, – não vai adian-
tar se você não organiza a sua vida como um todo.
Você não coloca uma única lei nesse território.
Uma terra que tem muitas leis é uma terra que não tem
nenhuma. Ninguém sabe a quem obedecer. Você gera
um faroeste, uma terra sem dono, dentro da sua men-
te. De tantas leis que querem conviver juntas, contra-
ditórias entre si. Ou é ordem, ou é não ordem. E se é
ordem vai ter que ser em todo o seu mundo.
Isso é uma boa observação, considere isso. Leve
a sério. Isso é uma síntese de experiências que vêm
das gerações. Isso que eu estou dizendo tinha filóso-
fo falando disso há 2 mil anos, que conquistavam um
bom nível de concentração, usando fórmulas como
esta. Por que não começar de onde eles pararam?
Leve a sério. Pense a respeito dessas reflexões.
Lembre daquela frase filosófica:
“– Você não vive daquilo que você come.
Você vive daquilo que você assimila.”
Eu jogo essas informações em você. Se você não
as leva a sério, se não as reflete, não tenta assimilá-
-las, é a mesma coisa que nada.
Então, fatores ambientais, mentais, concentração,
organização, e postura ativa. Isso é um elemento fun-
damental. Já já a gente vai ver como é que você faz
uma leitura. Você não é um receptor passivo de infor-
mações, que o escritor está lhe dando. Você dialoga
com ele, se coloca em uma posição ativa. Você faz per-
guntas. Você procura as respostas. Uma leitura de um
livro é um diálogo. Assistir uma aula é um diálogo. Você

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tem que ter uma postura ativa, de quem está buscan-


do o conhecimento. E não só recebendo passivamente
impressões.
Quantas vezes você vai, eu faço muito isso, vou
com um amigo ou outro, em um cinema, assistir um fil-
me. E, no final, aquelas partes mais emocionais fazem
com que todo mundo fique:
“– Oh, que filme belo!”
Aí, na hora do lanche, ali na praça de alimenta-
ção, que a gente começa a dissecar o filme, começa
a perceber que tem uma ideia que não funciona. Uma
outra ideia furada; uma outra ideia contraditória. Por
preguiça de irmos a esse requinte de analisar cada
coisa que passa por nós, às vezes, rotulamos errada-
mente as coisas da vida. E temos prejuízos com isso.
Ah, então, desenvolver essa atenção, concen-
tração, até no filme que você está assistindo. Bom,
eu estou na beira da praia, relaxando. Eu estou aten-
ta ao mar, ao céu, ao simbolismo que tudo isso tem.
Eu estou tentando aprender. Ou seja, estou viva. Es-
tou de corpo e alma presente, onde for, aonde eu
tiver que ir.
Ao sair de férias, eu não deixo meu discernimento
trancado dentro do apartamento. Ele vai junto comigo.
Eu não deixo a minha lucidez no apartamento. Ela vai
junto comigo. Portanto, ela continua em uma postu-
ra de aprendiz. Ainda que eu esteja na frente de uma
praia – aliás, não tem lugar melhor do que ver anoite-
cer na frente de uma praia. Já nasceu muita reflexão
filosófica desse momento.
Mais condições ambientais: motivação interna,
relembrar por que você está estudando aquilo. O quê
você quer aprender com aquilo. Aonde você quer che-
gar. Quais são os elementos ali que você acha que
podem contribuir para você crescer. Não por motiva-

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ção de ter um emprego, ou de ter o curso universitário,


mas, no estudo em si.
Ainda que aquilo seja árduo, isso está me ensi-
nando, está me mostrando outros aspectos, que eu
nunca tinha considerado. Quem sabe você ia um dia
fazer um Regimento Interno. E essa observação vai
me permitir aperfeiçoar os erros que foram cometidos,
agregar fatores que não foram considerados. Para que
eu possa ter a ambição de fazer algo melhor, eu preci-
so primeiro entender aquilo que já foi feito.
E esse é um problema da nossa geração. – As
gerações jovens vêm, e simplesmente renegam tudo
que foi feito antes. E querem começar do zero. Nova
administração.
E ali, naquilo que foi feito, tinha muita sabedoria –
que poderia ser aprendida. E erros – que tinham que
ser descartados. – Tudo é dual. – Então, quando eu
aprendo de qualquer coisa que se interpõe no meu ca-
minho, quando for eu a construir essas ferramentas,
vou fazê-las melhor. Eu agrego valor à vida.
Quê mais podemos ter. Repetição, claro. Ou seja,
preparar-se para revisar o seu resumo, de tempos em
tempos. Já colocar aquilo à mão.
Eu sou a favor, sempre, de imprimir. Acho, uma
hora o seu computador, sei lá... não funciona, caiu a
internet. Eu não acesso um arquivo virtual. – Você
tem o fichamento impresso, em algum lugar. Você vai
lá e revisa tudo que estudou até aquele momento.
Tenha já, não se sinta entediado por isso. Tenha já
dentro do seu planejamento um tempo para revisar o
quê ficou para trás.
Que mais... condições ambientais importantes. O
ambiente mesmo, o espaço onde você estuda. Fala-
mos um pouco sobre isso lá nas perguntas. O espaço,
olhe para ele, não pode ser um padrão. Você tem que

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observar a partir de você mesmo. O que nesse am-


biente chama a minha atenção? Às vezes, até a cor
da parede faz com que um ambiente não seja indicado
para o estudo. Queira ou não, a gente está recebendo
essa informação. E às vezes uma parede de um ala-
ranjado muito forte rouba muito a sua atenção. Ela é
um chamado. E ela tende a gerar um estado emocio-
nal meio agitado.
Ou seja, todos os fatores circunstanciais do am-
biente, onde você vai se sentar para estudar, você tem
que ver como o afetam. E não tenha pena. Isso não é
uma galeria de arte. Esse é um lugar para ficar tranqui-
lo, com o mínimo de apelo.
Então, sem coisas nas paredes, sem muito adere-
ço, sem fotografias, nada, nada. Mais sóbrio possível.
Perceba, primeiro lugar, se você tem um lugar para
estudar. Se não tem, vá para uma boa biblioteca, que
tem aquelas cápsulas individuais. Segundo lugar, se
você tem, todos os fatores ambientais você tem que
limpar, antes de começar a estudar.
Que mais, temporais... Ou seja, encontrar aquele
tempo em que você está mais perceptivo, onde está
mais desperto, onde está mais ativo, e alocar aí as
horas de estudo das coisas mais difíceis, novas, aque-
las que você não entendeu ainda. Ou seja, tudo aquilo
que exige um maior esforço.
Normalmente, para a maior parte dos seres hu-
manos, essas horas são as primeiras horas da manhã.
Há exceções. Reitero, exceções. De pessoas que têm
ciclos de atenção muito boa no início da madrugada.
Mas, a maioria das pessoas que estudam de madru-
gada, na verdade, está trocando a noite pelo dia.
A grande maioria da humanidade tem as suas
horas ótimas nas primeiras horas da manhã. Então,
eu vou alocar esse tempo para as coisas que são

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novas, que são complicadas, e de que eu ainda não


aprendi a gostar.
Então, distribua bem os fatores ambientais, para
que eles sejam favoráveis a você. Eu sempre brinco
com os meus alunos, que, quando querem estudar
alguma coisa difícil, por exemplo, um filósofo difícil é
Immanuel Kant, aí você aloca isso para logo depois
do almoço.
Evidente que você está se programando para
dormir em cima do livro do Kant. Está mentindo para si
próprio. Você quer dizer:
“– Eu tentei, mas não deu certo.”
Você não tentou. Já no planejamento, você esta-
va se autoboicotando.
Mais uma vez, voltamos àquele ponto:
“– Seja honesto consigo mesmo.”
Eu devo estudar isso; eu necessito estudar isso;
eu quero estudar isso. Desse modo, eu não vou fazer
gol contra. Eu não vou trabalhar contra mim mesmo.
Portanto criar as condições ideais para que isso dê
certo. Porque pode ser que, lá no final, você acabe
amando Immanuel Kant, entendendo a maneira dele
de se expressar, e sabendo lidar com isso. As dificul-
dades, quando são enfrentadas, em geral, mostram
que não são tão amargas quanto pareciam.

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MÓDULO 2
PLANEJAMENTO DE ESTUDO

Aula 12 – Planilha I

Olá, hoje vamos dar continuidade falando a res-


peito de uma coisa que parece simples, mas não é
tanto assim. Como fazer a sua planilha, o seu planeja-
mento de estudo.
“– Bom, é uma matriz. Eu jogo lá dentro, se-
gunda a sexta, ou segunda a sábado, seja quanto
for que eu estude e, a cada dia, coloco as maté-
rias que vou estudar, e o tempo.”
Está bom, a base é esta. Mas, não é só isso. Eu
lhe aconselho, antes de jogar as matérias dentro de
uma planilha, fazer uma lista de tudo que você tem que
estudar. Que aí você vai distribuindo essas matérias ali
dentro, considerando algumas coisas. Por exemplo, a
extensão da matéria. Às vezes, você tem que estudar
um pouco de algo, e muito de outro. Ou seja, quanto
tempo você precisa de estudar aquilo. É importante
para saber posicioná-la dentro da sua planilha. Óbvio
que aquilo que tem uma extensão, um volume maior,
você vai precisar de mais tempo. Talvez, tenha que es-
tudar três vezes por semana aquela mesma matéria.
Outra coisa que você vai ter que considerar, o
prazo que você tem. Isso tem que estar concluído até
tanto. Então você confecciona a sua planilha, não só

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a desta semana, mas tenha uma ideia de quanto você


vai distribuir essa matéria, até chegar à véspera da
prova, até chegar à véspera da necessidade daquele
conhecimento.
Da mesma maneira que falo em Administração do
Tempo, que para você planejar a sua vida você come-
ça pela vida como um todo, e depois vai colocando o
médio e o pequeno prazo, aqui também é a mesma
coisa. Todo prazo que você tem, ... tenho dois meses
para estudar. Então, não planejar esta semana alea-
toriamente. – Eu vou planejar esta semana, conside-
rando que parte do todo eu tenho que ter alcançado, a
cada semana, até chegar ao prazo que tenho.
Outra coisa que é muito importante: Você deve
enumerar as suas matérias – recomendo usar ou nú-
meros ou letras, como você preferir, do mais complexo
para o mais simples – você faz uma ordem.
De tal maneira, que no número “1”, ou na letra “a”,
em primeiro lugar, você vai colocar aquilo que é mais
difícil, mais árduo, e que você não aprendeu ainda.
Faça uma listinha decrescente – isso é extrema-
mente importante.
Primeiro lugar, para que você saiba a necessida-
de de estudar aquilo, nos melhores horários. Lembram
que já falamos sobre isso, é muito importante reiterar,
saber qual é o seu horário ótimo de atenção. 80% ou
mais da humanidade, aí existem estatísticas de todo
jeito, são pessoas que têm o melhor horário de aten-
ção nas primeiras horas da manhã. Então, aquilo que
é mais difícil, desconhecido, você deve enfrentar nes-
sas horas mais produtivas da manhã.
Eu vou colocar em primeiro lugar a coisa mais di-
fícil? Não, não é bem assim. Aí tem um outro elemen-
to que você tem que considerar. Houve uma época da
minha vida em que eu fiz canto. Estudava canto, canto

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lírico. Era muito interessante, porque a minha professo-


ra nunca me deixava entrar em uma melodia, e cantar!
Antes, eu tinha que fazer um aquecimento. E an-
tes de concluir aquele estudo do dia, eu tinha que fa-
zer um desaquecimento. – A forma de aquecer a voz
e desaquecê-la.
Assim também é quando você entra no estudo.
Você vem da rua, do mundo, da vida. Mil apelos, agi-
tação, todo voltado para fora. – Estudo sempre exige
uma certa introspecção... – Então você tem que fazer
um pequeno prazo de aquecimento, para sair desse
mundo agitado, e entrar no ciclo da leitura, no mundo
da leitura.
Esses, digamos assim dez minutos, 15 minu-
tos iniciais, leia ou estude algo que você goste mui-
to, que você curta muito, que seja assim muito fácil
para você.
Digamos que você goste de literatura. Coloque
dez, 15 minutos de literatura para aquecer. E aí entra
no mais difícil. Depois que você terminar os seus estu-
dos, seja lá quantas horas forem. No final, desaqueci-
mento. – Coloque novamente alguma coisa agradável.
Não é bom que você fique com a sensação de...
“– Terminei de estudar, estou morto.”
Ou continuar pensando naquilo que é difícil. Nós
temos que criar um umbral, que nos divida da vida
comum, para que aquilo não continue lhe cansando,
depois que você parou de estudar. Então você coloca
um umbral de aquecimento; um umbral de desaque-
cimento.
Preste atenção, às vezes nós criamos muitas es-
tratégias, sem que queiramos. Usamos estratégias
para boicotar a nós mesmos. A gente inventa mil coi-
sas para dizer que não dá para estudar assim: Não
consigo estudar essa matéria; não consigo estudar

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todo esse tempo. – Não é tanto assim uma questão de


conseguir. É uma questão de querer.
Esses dias, vivi uma experiência bastante interes-
sante: Presenteei um livro a uma jovem. E depois de
algum tempo passei por ela, e ela estava no celular,
olhando um monte de coisas.
E eu lhe perguntei:
“– Você começou a ler o livro que eu lhe dei?”
“– Não, porque hoje eu não trouxe meus ócu-
los. E estavam lacrimejando, os meus olhos.”
A tela do celular não lacrimeja os olhos? Só o li-
vro? Achei isso muito curioso, porque foi uma forma
inconsciente de ela me dar uma desculpa, de que es-
tava entediada com a leitura. Não tinha concentração
suficiente para uma folha de papel. Por quê? Nós so-
mos a geração multimídia. Tudo é colorido, tudo é 3D,
tudo pula em cima da gente.
Então, você se coloca diante de uma folha de pa-
pel, mas rapidamente a atenção se esgota, com esse
gosto pela novidade nas coisas curtas, e pouco pro-
fundas, e de pouca mensagem, que são digeridas e
abandonadas rapidamente. Você tem que localizar
qual é a sua dificuldade de se colocar diante de uma
folha de papel, diante de um livro. E cuidado, não min-
ta para si próprio.
Nós estamos, realmente, entrando em um ciclo,
que você tem que identificar em você, onde estamos
nos viciando em telas multicoloridas e multimídia. Es-
tamos nos desacostumando da leitura. E isso é pe-
rigoso, e complicado. Inclusive, porque essa forma
multimídia e multicolorida, em geral, trabalha para en-
tretenimento, e não para educação.
A maior parte das coisas que ainda temos que
aprender na vida, que são dotadas de valor, ainda
estão em uma folha de papel, em um livro. Portan-

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to, cuidado para que esse vício não torne impossível


você ler. Seja honesto consigo mesmo. Assuma suas
dificuldades.
Então me programei, fiz um aquecimento, mas um
aquecimento não é... olhando o celular... É lendo algo.
É da mesma natureza. – Mas, algo de que você goste,
algo que faça você se interessar pela leitura, que gere
um umbral da consciência do mundo para o estudo.
E depois, a mesma coisa, na saída. – Você tem que
perceber que, quando você não faz o desaquecimento,
você pode passar o dia inteiro girando com um proble-
ma de uma leitura mal compreendida, ou alguma coisa
que foi muito forte. Isso vai lhe cansar mentalmente, e
pode gerar um rechaço em relação a essa matéria.
Toda vez que criamos um esgotamento inútil, por
não sabermos lidar com a leitura, pode ser que depois
tenhamos resistência para voltar a ler. Porque lembra-
mos o quanto foi ruim ontem.
Lembrem-se do que eu já falei para vocês, da-
quele curso que ensina Matemática, começando das
quatro operações, para levar até o nível de integral.
– Você tem que ir crescendo aos poucos, conduzindo-
-se... como quem conduz uma criança...
Portanto, não adquira traumas inutilmente. Você
terminou de estudar, tem que criar um umbral para que
entre em outra sintonia. Sobretudo se você está estu-
dando antes de dormir. – Você pode entrar na consci-
ência onírica preocupado com uma questão qualquer,
sei lá, de Matemática... e isso fazer com que você te-
nha um sono péssimo, e acorde de manhã esgotado...
E vai gerando uma rejeição em relação à matéria que
você está estudando... Pensem um pouco a respeito
dessa questão.
Então, primeira coisa da planilha, você tem que
começar com simples, complexo, simples...

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Outro elemento que é importante você conside-


rar: o revezamento do teor das matérias. Se você está
estudando algo que é um pouco mais denso, nós cos-
tumamos usar o exemplo de exatas e humanas, mas
apenas é um exemplo.
Às vezes, quando a pessoa não tem muito pendor
para exatas, aquilo se torna um pouco mais difícil para
ela, e mais cansativo. Coloque aquilo no meio, então,
humanas antes, humanas depois. Se você tem pendor
para exatas, faça o contrário: exatas, humanas, exa-
tas. Ou seja, reveze o teor das coisas.
Bom, eu estudo Filosofia; é tudo Filosofia. É muito
diferente você ler, por exemplo, um autor um pouco
mais palatável, mais simples, como um estoico, ou ler
um livro de Kant.
Você tem aí o mais complexo.
Reveze essas matérias.
– Lembre-se do exemplo da planilha de estudos
do garoto do Ensino Médio. Quando você olha, às ve-
zes, um estudante de Ensino Médio, tem Matemática,
Matemática, Física seguidas. Às vezes, quatro horá-
rios seguidos.
– E nós percebemos como é que esses garotos
costumam gerar uma aversão em relação a essas ma-
térias.
Por não saberem dosar e mesclar, de tal manei-
ra que o garoto estudante não esgote o seu ciclo de
atenção.
Sempre lembrem, você está se comportando
como se fosse um adulto, conduzindo uma criança,
que ainda não aprendeu a gostar do que deve gostar.
Não traumatize a criança.

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MÓDULO 2
PLANEJAMENTO DE ESTUDO

Aula 13 – Planilha II

Continuando sobre planilhas, falamos um pou-


co sobre as condições iniciais para você fazer aquele
quadradinho. Tão simples. Precisa falar tanto? Preci-
sa. – Olhe, se vocês pararem para pensar, qualquer
ato que pareça muito simples, se você coloca inteli-
gência nele, ele se torna muito melhor, muito mais efi-
caz, muito mais rápido e agradável.
Pense, por exemplo, em como varrer a sua casa
com mais inteligência. E você vai perceber que tem
n modos, n formas, que você não parou antes para
pensar. – Entramos no piloto automático, e acabamos
perdendo um monte de oportunidades de aperfeiçoa-
mento em qualquer coisa que a gente faça. Até mes-
mo uma planilha, que parece tão simples.
Uma coisa que é importante, falando ainda sobre
planilhas, é avaliar o resultado – a cada etapa. Nós
partimos de um ponto, onde a gente não conhece a si
mesmo. Não conhecemos a nós mesmos. E esse não
conhecer faz com que a gente não tenha uma noção
do que é a planilha boa para nós.
Então, eu recomendo, para ficar mais simples,
que você faça a cada semana uma boa avaliação.
E veja:
“– Essa planilha, do jeito que eu fiz, as maté-
rias distribuídas dessa maneira, essa duração de

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cada período de estudo, isso foi mais produtivo


ou mais improdutivo?”
Perfeito nunca vai ser, entenda isso. Foi 100% de
produtividade, só se você tivesse 100% de qualidade
de bom estudante. Está longe ainda disso. Você é um
aprendiz. Perfeito não vai ser, vai haver dificuldades.
Mas em uma semana você tem que parar, colocar essa
planilha diante de você, e perceber se as facilidades
que ela introduziu na sua vida são superiores às difi-
culdades. Se os acertos são maiores do que os erros.
Ou seja, se ela está sendo útil. E se ela tem pequenas
imperfeições, que você já percebeu, corrija, reajuste.
Agora, se ela está sendo totalmente improduti-
va, é o momento de você repensar, e fazer uma outra
planilha. – É como se você estivesse em uma loja de
roupa, experimentando aquela que cabe em você. É
assim que se faz uma planilha. Tente uma primeira.
“– Não cabe, está pegando em mim... Está
me incomodando, aperta nos braços...”
Tire; tente outra. Mas, perceber que nunca vai ha-
ver, ... é muito raro que você encontre aquela roupa, ...
que a gente diz:
“– Parece que foi feita para mim!”
Sobra um pouquinho aqui, falta um pouquinho ali.
Perfeita, perfeita mesmo, é muito difícil. Nesse mundo,
tudo é dual. Então, se ela tem pequenas imperfeições,
você as corrige, e continua com ela. Se tem mais im-
perfeições do que qualidades, refaça a sua planilha,
pelo menos, a cada semana. Para não ficar insistindo
em uma fórmula que não dá certo.
Outra coisa que é interessante considerarem:
“– Não usar a palavra ‘difícil’ para nada que
você for colocar dentro dessa sua planilha.”
Então, você pode dizer:
“– Nisso eu tenho mais dificuldade.”

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“– Eu tenho.”
Mas não:
“– Esta matéria é difícil...”
“– Isso eu não conheço; isso é mais extenso;
isso é um pouco mais trabalhoso.”
Mas, nunca diga é difícil. Já conversamos sobre
isso, lá atrás. Quando falávamos do seu exercício ini-
cial.
– E, deixe eu lhe falar, as predisposições ne-
gativas. Elas praticamente tiram a nossa oportu-
nidade de fazer alguma coisa bem-feita.
Isso não é nada de muito metafísico, nem esoté-
rico. Isso é simples, quando nos colocamos diante de
algo, dizendo:
“– Isso não é para mim.”
A probabilidade de que seja então é quase nenhu-
ma. Nós já fechamos a porta. Nós já vamos ali apenas
para conferir que aquela opinião inicial era acertada.
Então, nunca diga:
“– Isso é difícil.”
“– Isso, neste momento, é algo novo. Eu vou
aprender a torná-lo fácil.”
Porque isso é uma arte, e uma arte que pode ser
exercida por qualquer um. Entrar naquelas situações
de vida, que parecem difíceis, e torná-las fáceis. Você
faz por você, e também por quem vem atrás, que pode
aprender a partir disso, e não ser tão custoso para ele.
Então, às vezes, eu no meu tempo de colégio...
eu me lembro disso... que entrava em uma equação
para tentar resolver. Não só porque eu queria resolver,
mas porque eu era monitora, e tinha um bando de ga-
rotos, que estavam me esperando entender, para que
eles entendessem também...
Esse fato de eu ser monitora me estimulava a en-
frentar aquilo, e torná-lo fácil. – Às vezes, esse hábito

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tão salutar e tão filosófico de pensar em mais gente,


e não apenas em nós mesmos, é o melhor método de
aperfeiçoamento.
Então, nunca diga de uma disciplina:
“– Isso é difícil.”
Você está tirando a sua oportunidade de apren-
der. Está reduzindo a sua oportunidade de aprender. –
Uma regra: Nem difícil, nem qualquer outro pejorativo
sinônimo, é difícil, é ruim, é chato. Nunca diga isso.
Um outro elemento, que também é importante,
ainda dentro do assunto planilha: Coloque dentro da
sua planilha um tempo para exercícios. – Se existem
exercícios sobre isso, é importante que você coloque
um tempo para eles.
Quando se faz exercícios, você tira o centro da-
quela observação, daquela matéria, e o veste de outra
maneira. Ou seja, um exercício de pergunta, de uma
situação prática.
“– Uma pessoa está vivendo tal situação. O
que é certo nessa situação?”
Você vai ter que pegar o conceito, que era uma
frase memorizada, tirar dele a informação e aplicá-
la à vida. Isso faz com que a sua observação vá se
aprofundando.
Procure pensar:
“– Para quê eu posso utilizar essa informa-
ção na minha vida prática, algum dia? Isso, algum
dia, pode ser útil para a minha vida prática? Para
quê? Onde? Como?...”
Quando você coloca as coisas em uma situação
viva, você as assimila na sua memória. Porque se tor-
nam um elemento apto a lhe dar respostas positivas
para a vida. Ou seja, a mente as classifica como úteis,
e guarda aquilo que é útil. E joga fora aquilo que lhe
parece inútil.

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Então, fazer uma boa bateria de exercícios deve-


ria estar incluído na sua planilha, em algum momento.
Talvez no final da semana, pegar um dia para exercí-
cios. Lógico que as disciplinas são muito diferencia-
das. Mas, de qualquer maneira, em geral, quase todas
elas têm uma possibilidade de se fazer exercícios ne-
las, para ajudar a memorizar.
Essas são as dicas sobre planilha.
Reveze a dificuldade: simples, complexo, simples...
Coloque tempo de intervalo; isso também é fun-
damental. Ou seja, o ideal mesmo seria 50 minutos de
estudo, e dez minutos de contrarritmo, de intervalo. –
Lembrem, já falamos sobre isso também, contrarritmo,
intervalo, pausa, você tem que saber o quê vai fazer
aí dentro.
Se eu simplesmente paro, continuo pensando na-
quilo que estava estudando. – Ou posso fazer até pior:
Posso ir com a minha mente para uma coisa que me
faz sofrer, ou me angustia, ou me preocupa.
Quando você pensa em alguma coisa com essa
carga emocional negativa, você se cansa mais do que
se tivesse continuado a estudar. Não vale a pena, não
é pausa. As pausas têm de ser programadas também.
Veja o que realmente o relaxa.
“– Toda vez que eu ouço essa música, me
relaxa...”
Coloque essa música!
“Toda vez que eu brinco um pouco com os
meus animais de estimação, eu relaxo...”
Faça isso.
Faça uma atividade em que você possa mudar o
seu foco mental, e realmente reciclar. Não deixe esse
espaço vazio, porque você para o corpo, não para a
mente. Nem coloque coisas que tenham uma carga
emocional negativa.

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Considere tudo isso. Quanto mais detalhes obser-


vamos de uma prática, mais podemos aperfeiçoá-la. E
isso é esculpindo, como um artista... que tira todas as
arestas da pedra, até que ali fique alguma coisa bela.
A sua planilha também vai ficar algo bela, que ves-
te perfeitamente a sua necessidade como estudante.
Boa sorte com ela!!

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDOS

Aula 14 – Como ler I

Animados para continuarmos? Continuamos en-


tão, com a nossa jornada para aprendermos a apren-
der. Agora vamos falar de um item chamado Como ler,
como realizar a leitura, que é fundamental. Evidente,
não é em um curso de técnicas de estudo que a gente
vai se preparar para ler da forma correta.
Lembrem que nós estamos fugindo de um fantas-
ma, que é o fantasma da dispersão. Aquele que nos
faz ler uma folha inteira e, quando chega no final, você
pergunta para si próprio:
“– O quê tinha nessa folha?”
E não lembra do primeiro parágrafo de uma pági-
na que você leu. Isso é cada vez mais comum. Hoje eu
não sei, porque a dispersão tem ido em um crescente,
tão grande, que eu acredito que, daqui a pouco, você
termina um parágrafo, e não vai saber como ele come-
çou. Porque a nossa mente está muito pouco domada.
Ela está habituada à dispersão.
Então, vamos começar a pensar sobre essa ques-
tão do como ler.
A primeira coisa, que é o conselho universal, que
vou usar não só neste tópico, mas em tudo que vem
para a frente, é atitude ativa, iniciativa, querer ir na di-
reção do estudo. Nunca ache que estudar, ler, assistir
uma aula é algo passivo.

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Nós começamos a falar sobre esse assunto lá no


exercício, e aqui vamos desenvolver. Qualquer prática
de estudo é um diálogo. O autor está lhe mandando
informações. Você tem que fazer perguntas, você tem
que se posicionar, você tem que ter iniciativa. E isso,
inclusive, vai ser uma das fórmulas mais poderosas
para que você vença a dispersão.
Instigar – perceba, em uma aula, se você faz
uma pergunta para o professor, você não fica muito
mais atento? Não sei, você gera um ponto emocional!
Onde todo mundo está olhando para você, o professor
está olhando, você está ali ansioso por aquela respos-
ta. Ou seja, você gera pontos emocionais, quando se
coloca em relação a com quem está falando.
No caso, é um escritor, que não está ali. Talvez,
não esteja nem mais vivo, mas a informação está ali,
e você pode colocá-lo contra a parede. Pode preparar
respostas, antes que ele lhe responda, e pode avan-
çar ativamente sobre a informação. Isso torna você
não um agente passivo, mas ativo, um protagonista do
processo. O que vai ajudá-lo a conquistar a atenção.
Vocês vão perceber que, ao final desse nosso Curso,
como Módulo Extra, vamos ter um Módulo de Memori-
zação, de Concentração.
Mas, tem certas coisas que não são um exercício,
são uma postura que você deve ter diante de tudo.
Isso é um axioma. Quanto mais passivo você estiver,
menos vai aprender. Seja ativo, tenha iniciativa diante
do conhecimento. Essa é a primeira coisa diante do
como ler.
Vamos estudar isso mais detalhadamente, quan-
do entrarmos em algo que eu considero fundamental
no curso, que é o Método Robinson. Ele vai ensinar
passo a passo como você faz para ser um estudan-
te ativo.

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Mas, vamos lá. Nesse tópico do como ler, vocês


têm que perceber algumas evidências dentro de um
texto. Imagina, você tem uma folha de papel diante de
você. Claro que isso depende muito da qualidade de
quem escreveu; mas existe uma regra.
Você sabe para que existem parágrafos? Por
quê? Por que existem os parágrafos? É uma divisão
para tornar o texto um pouco mais organizado, para
dar um tempo para você respirar, para ficar mais boni-
ta a diagramação em uma folha?
Deixe-me lhe contar, não é? Sabe por que é?
Cada parágrafo tem uma única ideia.
“– Ah, mas eu conheço um escritor que colo-
ca cinco ideias em um parágrafo.”
Olha, que pena. Pena para ele. Ele não conhece
a regra. Mas, isso não é o correto. E bons escritores
não fazem isso. Cada parágrafo é uma única ideia. E
você tem que entrar nesse parágrafo como um caçador,
tentando descobrir qual é essa ideia. Vocês vão ver que
tem uma coisa fundamental, que inclusive vamos falar
um pouquinho dela já já, que é o poder de síntese.
O poder de síntese é como um pássaro, que le-
vanta voo para procurar comida para o seu filhote.
Qualquer coisa que se mexa lá embaixo é potencial-
mente comida. Ele está atento, ele está buscando.
Você vai entrar em um parágrafo atento e buscando
qual é a ideia principal do autor. E aí você vai perceber
que nem sempre o autor é tão claro, nem sempre ele
é tão objetivo, nem sempre ele esboça isso de forma
muito evidente. E outro elemento é que nós estamos
ainda aprendendo.
Então, tem algumas dicas para quando você está
buscando uma ideia principal em um parágrafo, que
são as chamadas ideias de apoio. Que nós vamos fa-
lar um pouquinho sobre elas.

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Primeiro lugar, uma pessoa que quer lhe dizer


algo em um parágrafo pode dizer de três formas.
Pá, bateram na sua porta, você abre a porta, e o
cidadão diz:
“– Eu quero lhe vender uma enciclopédia.”
Esse tem um estilo direto. Normalmente, os ven-
dedores, que hoje não fazem mais isso, vendas de en-
ciclopédia era só lá no meu tempo, mas hoje os ven-
dedores não fazem mais isso. Porque se a pessoa não
quer, pumba! A conversa dura dois segundos. Bate a
porta na cara dele.
Então, ele não chega e diz isso. Primeiro ele diz:
“– Bom dia, como está lindo o dia! Você está
tão bem hoje, como é que você está? O quê você
pretende fazer no dia de hoje? Eu tenho aqui uma
enciclopédia, que pode melhorar o seu dia, por-
que o seu dia vai se tornar mais culto, mais ilus-
trado de sabedoria.”
A pessoa que faz isso, ela está usando um estilo
intermediário. Tem uma introdução, a ideia chave, pá!
Enciclopédia. E depois uma argumentação que apoia
isso. Ou seja, uma ideia de contextualização, a ideia
principal, e depois uma ideia de apoio explicativa.
Mas, existe aquele cidadão que é considerado o
vendedor de enciclopédias clássico, que fala tudo que
você possa imaginar. E a última coisa que ele fala é
a enciclopédia. Isso era o trauma da minha geração,
porque você sabia que, se você abrisse a porta para
um vendedor de enciclopédia, você não perdia menos
do que 15 minutos. Porque ele ia enrolar você 14 mi-
nutos para depois falar da enciclopédia. Era infalível.
Então, a gente olhava lá pelo olhinho, via que era en-
ciclopédia, nem abria a porta. Senão 15 minutos iam
embora. Ele fala de como está o dia, como ele está
feliz, como ele quer que você seja feliz, que o tempo

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está maravilhoso, que as flores estão brotando, como


é bom a gente estudar, a nossa consciência se desen-
volve, nós nos tornamos mais preparados para a vida,
blá, blá, blá, blá, blá, enciclopédia. Esse é o estilo indi-
reto, a extremos, bem cansativo.
Mas, você percebe que todo escritor tem o seu
estilo. E dentro de um parágrafo às vezes você perce-
be algo que vai lhe ajudar a ler todo o resto do texto. E,
normalmente, quando um escritor adota um estilo, ele
tende a ser reiterativo. Usá-lo várias vezes.
Se ele tem um estilo imediato, pá, e as ideias de
apoio vêm depois, fica fácil. Ele já começa dizendo o
quê ele quer. Não é comum. O mais comum é o inter-
mediário. Ele dá aquela contextualizada, para você se
sentir em casa, sentar-se no sofá. Aí ele puxa o assun-
to; depois ele apoia o argumento dele. Que essa ideia
é intermediária, não é? Mas, tem aquele que também
vai deixar, lá para a última palavra do parágrafo, o quê
ele quer dizer. E o pior, gente, tem gente que nem diz
o quê quer dizer, só insinua. E você tem que deduzir
pelas insinuações.
Você não pode, você é um caçador, você não
pode sair dessa floresta sem a sua presa. Você não
pode sair desse parágrafo sem saber o quê esse ci-
dadão queria dizer. A menos que ele não queira di-
zer nada. Aí realmente não dá. O quê também pode
acontecer.
Mas, um bom escritor tem algo a dizer com cada
parágrafo, e você não pode sair dessa floresta sem a
sua caça. Então, para ajudar, você vai ler as placas de
sinalização. E as placas de sinalização são as ideias
de apoio, que nós vamos falar delas já, já.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 15 – Como ler II

Preparados, então, para aprender a ler as pla-


cas de sinalização? Deixa-me lhe explicar como é
que acontece. Quando se começa a falar de um as-
sunto, é muito comum, não vou dizer que seja obri-
gatório, mas é muito comum que o autor comece
contextualizando.
É que nem o vendedor de enciclopédias.
“– Que belo dia. Será que vai chover?”
Isso não tem nada a ver com enciclopédia. É
simplesmente um cenário que ele está criando para
começar a conversar com você. E isso, normalmen-
te, são as ideias de contextualização. Essas são as
únicas que não sinalizam onde é que está a ideia prin-
cipal. Todas as demais, que são as ideias de apoio,
estão fundamentando a ideia principal.
Então, elas são setinhas assim, elas apontam
para a ideia fundamental. Se você compreende isso,
se você lê a sinalização, reconhecendo uma ideia de
apoio, você já cai no que a pessoa está querendo dizer.
Acha rápido. Quando você treina, inclusive é interes-
sante fazer isso... pegue um texto, só caçando a ideia
principal. Você vai para um parágrafo, quando você
acha uma ideia de apoio, vê o que ela está apoiando,
risca a ideia principal, abandona o parágrafo, passa
para o outro.

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Vai perceber que você consegue pegar a ideia


principal de uma página longa, de uma lauda de tex-
to, em minutos, pouquíssimos minutos. Quanto mais
treinado você é, você pegas as ideias principais em
um texto com quatro, cinco parágrafos em um minu-
to, dois. Você sabe o quê significa isso? Você já tem
o resumo desse texto semipronto. A ideia principal
você anota, transforma em nota de margem. Recolhe
isso tudo, e depois você vai fazer o resumo do jeito
que você quiser, textual, em tópicos, ou com esque-
ma gráfico.
Treinando, você vai fazer isso com uma rapidez
que você não vai acreditar. Pois, eu recomendo ago-
ra que você faça esse exercício. E faça com coisas
simples, faça com uma notícia de jornal. Pega a sua
canetinha, e vai lá. Olhou uma ideia de apoio, vê o
que ela está apoiando, para onde ela está apontando.
Vai lá, pá! Marca, abandona. Vou para a próxima pá!
Pá! Pá! Eu lhe garanto que você vai se espantar com
a rapidez com que você pega as ideias principais de
um texto, relativamente longo. Então, são essas as
ideias de apoio.
A ideia de apoio pode ser: reiterativa, vou exem-
plificar para vocês já já; pode ser de contraste; pode
ser exemplificativa; ou argumentativa. Nós vamos pe-
gar um texto e vamos trabalhar com isso, para que
vocês entendam.
Vejam só este texto:
“– Meu amor, quero falar contigo sobre algo
importante para nós dois. Depois de convivermos
por todos esses anos, percebi que és uma pes-
soa especial para mim. Teus valores, princípios e
ideais, são uma constante motivação para a mi-
nha vida. Estou apaixonado por ti e quero te pedir
para construirmos juntos uma família.”

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Esse pequeno parágrafo, você percebe, em pri-


meiro lugar, que o cidadão tem um estilo superindi-
reto. Ele só fala o que ele quer nas últimas palavras
do texto. Ou seja, ele é realmente descendente de
vendedor de enciclopédia. Ele só vai ao assunto nas
últimas palavras.
Ora, comecem a perceber algumas coisas:
“– Meu amor, quero falar contigo sobre algo
importante para nós dois.”
Não dá para imaginar o que seja isso. A gente
pode até fazer uns palpites, mas ele não disse nada.
Ele pode estar querendo pedir que ela pague um di-
nheiro que ele emprestou, ou querendo terminar o na-
moro, ou querendo, sei lá, vender o cachorro. Qual-
quer coisa pode vir daí. Ali, ele só está preparando o
cenário, o ambiente. Preparado o cenário, é como se
ele puxasse a cadeira para os dois sentarem, e con-
versarem. E aí ele vai começar a desenrolar a conver-
sa dele. Nesse caso aqui, vejam bem:
“– Depois de convivermos todos esses anos,
percebi que és uma pessoa especial para mim.”
Isso aí é um argumento, não é? Todos esses anos
que nós estamos vivendo, eu percebi isso. Estou ar-
gumentando com você. Aí ele vai dar um exemplo. Por
exemplo:
“– Teus valores, princípios e ideais são uma
constante motivação para a minha vida.”
E aí ele vai ao assunto fundamental.
“– Estou apaixonado por ti e quero te pedir
para construirmos juntos uma família.”
Resumo da ópera, sem entrar em muitos deta-
lhes. Se eu fosse sublinhar esse texto, eu sublinharia
só construirmos família. Só isso. Sabe o quê eu co-
locaria como nota de margem, pedido de casamento.
Com as minhas palavras, porque tudo isso aqui é isso.

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Um pedido de casamento. Sabe como é que a gente


poderia resumir esse parágrafo?
“– Quer casar comigo?”
Foi isso que ele fez. Nada mais. Agora vamos fa-
zer a brincadeira ao inverso? Eu dizer para você:
“– Quer casar comigo?”
Você vai ter que me dar uma ideia de apoio argu-
mentativa para isso. Deixa-me lhe explicar como fun-
ciona.
“– Quer casar comigo?”
Ideia de apoio argumentativa:
“– Eu acho que as pessoas foram feitas para
viverem juntas. Desde o início da humanidade,
as sociedades vivem em conjunto. Eu acho que
o matrimônio é algo muito necessário na vida do
ser humano.”
Ele está argumentando.
Ideia de apoio exemplificativa:
“– Porque, por exemplo, o meu avô e a minha
avó vivem juntos há 50 anos e são muito felizes.
Eu conheço vários casais velhinhos que envelhe-
ceram juntos. Foram muito mais felizes do que
sozinhos.”
Ele está lhe recorrendo a um exemplo prático.
Percebam que, se eu quero saber qual é a ideia princi-
pal, só com essas ideias, ele já me apontou.
“– Porque eu acho que o matrimônio é algo
muito bom para o ser humano.”
Por que ele está usando esses argumentos? Para
onde aponta esse argumento? Esse argumento é de
quem quer se casar. Óbvio. Por exemplo, meu avô e
minha avó viveram juntos por 50 anos. Esse exemplo
serve para quê? O que ele está elogiando aí? O casa-
mento. Óbvio que esse cidadão quer se casar. Você
percebe que está apontando para essa ideia.

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Ideia de apoio por contraste.


“– Quer casar comigo?”
Qual é a ideia de contraste?
“– Aqueles que não se casam são muito infe-
lizes. Ficam amargurados, ficam solitários, vivem
menos.”
Olha, gente, nada pessoal, não estou defen-
dendo essas ideias não. Mas você percebe que ele
gerou um argumento que é o contraste daquilo que
ele está defendendo. Quem não casa não é feliz. É
isso que ele está querendo dizer. Só por esse argu-
mento você já não poderia descobrir que ele quer se
casar? Claro. Pode ser que ele nem escreva o Quer
casar comigo, mas escreva só esses argumentos.
Você já chega à conclusão de que ele quer se casar.
E a ideia de apoio reiterativa, que é aquela que,
depois que você deu a ideia principal, você fica repe-
tindo a ideia principal com outras palavras. Para dar
maior ênfase, causar maior comoção, fazer com que
aquilo fique mais contundente.
“– Então, quer casar comigo? Quer viver co-
migo por todos os dias da nossa vida, até que
a morte nos separe? Quer juntar os nossos chi-
nelinhos na beira da cama? Quer envelhecer ao
meu lado?”
Você percebe que ele está falando a mesma coi-
sa, para dar um impacto emocional maior.
Então, imagina que eu faça um texto para você
que não tenha ideia principal. Só tem o seguinte:
“– Aquelas pessoas que se casam, está pro-
vado pela ciência que vivem mais. Por exemplo,
minha avó se casou, viveu 50 anos ao lado do
marido. E as pessoas que não se casam, eu te-
nho visto que são tão infelizes.”
Só com essas ideias, sem dizer a ideia principal...

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você já sabe que a ideia principal está ausente, mas é:


Quer casar comigo.
Entendem, eu coloquei alguma coisa muito sim-
plória, muito boba para vocês verem, mas é assim. Ló-
gico que, depois que a gente pegar prática em desco-
brir a ideia principal, você vai lá, pum! Descobre sem
precisar ficar pegando rastros. Mas, enquanto não te-
mos experiência, e ainda existe muito território a per-
correr até termos essa perícia toda, as ideias de apoio
são sinalizadoras importantes para você.
Então, você vê uma frase, que não é a ideia prin-
cipal, mas ela já lhe dá a dica. Qualquer frase de um
parágrafo deveria, de alguma maneira, estar lhe dan-
do a dica, ainda que a ideia principal não estivesse ali.
Porque um parágrafo, repito, tem uma ideia prin-
cipal. E tudo que está em volta, ou é contextualizante,
ou é de apoio, de alguma forma. Então, se você lê um
pedaço da frase, e não o parágrafo inteiro, ele já está
lhe dando uma dica. Ele já é uma placa de sinalização.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 16 – Como fazer um bom resumo

Agora vamos aprender a fazer um bom resumo?


Você não faz ideia de como isso é importante. Uma
coisa que eu gosto de explicar antes, porque os meus
alunos têm uma certa dificuldade de entender a impor-
tância de fazer um bom resumo. Ele não é importan-
te só para você estudar. Para estudar, é fundamental.
Se eu pudesse dizer uma técnica que ajuda a estudar
bem, resume o curso toda a uma técnica, eu diria:
“– Faça um bom resumo.”
Não estou exagerando. Agora, para a sua vida
como um todo, saber fazer uma boa síntese é funda-
mental. Percebam que existem certas mensagens na
vida. O quê você tem a aprender com uma situação,
o quê você tem a aprender com uma convivência com
uma pessoa, que deu certo ou não deu.
O poder de síntese é o poder de extrair o ensi-
namento de todas as coisas que você vive na vida,
para não ter que ficar repetindo aquela experiência
mil vezes. Considere que a vida está querendo lhe
ensinar alguma coisa. Se você está vivendo expe-
riências repetitivas, é porque você está repetindo a
mesma série escolar.
Ou seja, como se diz popularmente, você levou
bomba nessa lição, e está repetindo. Ficou para se-
gunda época, ou está repetindo o ano. A Pedagogia

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da Natureza é muito parecida com essa que nós uti-


lizamos. Então, um dia vamos estar diante da morte,
e vamos ter que olhar para trás, e fazer o quê? Fazer
uma síntese do que foi válido na nossa vida, do que
aprendemos com ela, do que ensinamos, do quanto
crescemos, do quanto ajudamos as pessoas a cres-
cerem. Por isso, é bom que a gente comece a fazer
isso antes.
Esse ano, 31 de dezembro, esse ano, quais foram
as lições importantes que eu aprendi? Eu fui o útil na
vida de quem? Eu cresci como ser humano? Quanto?
Seria excelente que a gente fizesse isso todos os anos
na nossa vida. Anotasse, de preferência, para saber,
qual é o centro, o quê foi válido na sua vida.
E todos os adornos que são colocados em volta,
esses vão ficar para trás; a memória não vai guardar
isso. Não guarde adornos, mas guarde o essencial.
Para isso, você tem que encontrar o essencial. Tem
que deixar que de ser disperso, tornar-se um caça-
dor, como eu falei daquele pássaro, caçador do ali-
mento para o seu filhote. Seu filhote é você mesmo, a
sua essência, e também são todos os seres humanos
que estão a sua volta, que podem ser alimentados por
você, pelo que você aprendeu da vida.
Vamos falar sério. Uma pessoa que não aprende
nada da vida, será que vai aprender na hora que se
coloca diante de um livro? Olha, existe um princípio,
que é o paralelismo. Ou, você se coloca com espírito
de aprendiz sempre, ou não terá nunca.
Desculpa lhe dar esta má notícia. Mas, se você
não aceita aprender da vida, não vai ligar o botão de
bom estudante só na hora em que se senta para es-
tudar. O ânimo pelo estudo, nós falamos lá no início,
que o interesse intrínseco é fundamental, é ponto de
partida. Então anime-se. Fazer uma boa síntese, fazer

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um bom resumo é a coisa mais importante que você


vai aprender aqui.
Mas, também, não fique tão chateado por não
saber. A maioria das pessoas não sabe. Isso eu lhe
falo com a experiência de quem ensina isso há anos.
Quantas e quantas vezes eu vou lhe dizer que, se eu
encontrei, ao longo de 20 anos dando técnicas de es-
tudo, duas pessoas que sabiam fazer uma boa síntese
antes de fazer o Curso, foi muito. A tendência é pegar
elementos irrelevantes, é não encontrar o centro das
coisas. Quantas vezes dei um texto, e disse:
“– Faça o resumo.”
E a pessoa, aleatoriamente, pegou um parágrafo,
e me entregou.
“– Toma aqui. Isso é um resumo.”
Ou fez um resumo maior do que o texto original.
Repetiu tudo que o autor falou, só de maneira menos
explicada. Ou seja, ficou maior o resumo do que o tex-
to. De tudo que você possa imaginar. Quer dizer, fazer
um resumo é um aprendizado que a gente deveria ter
recebido ao longo da nossa vida escolar, mas que não
recebemos. E é uma das razões de sermos tão dis-
persos. Vamos lá então, entrar nisso levando a sério.
Porque aí... acenda alarme vermelho, aí vem coisa im-
portante.
Então, uma primeira coisa que a gente pode con-
siderar. Você lê o parágrafo, identificou a ideia princi-
pal, sublinha.
“– Ah, mas eu vou sujar o meu livro.”
Olha, deixa eu lhe falar uma coisa. Se você gosta
de livro limpinho, compra dois. Deixa um limpinho na
estante, e o outro faz com que tenha vida, debaixo das
suas anotações. Vai criar vida para você.
“– Ah, está bom. Eu não sei ainda. Eu posso
sublinhar a coisa errada.”

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Sublinha com lápis. Se você tem medo porque


ainda está inexperiente, sublinha com lápis. Mas, você
tem que procurar e sublinhar as ideias principais de
cada parágrafo. Treina antes na leitura do jornal, que
eu lhe mandei.
Quando for para um livro, sublinha a ideia prin-
cipal de cada parágrafo. Primeira coisa feita. Isso é
fundamental. Não sublinha nada que não seja neces-
sário. Ou seja, dentro daquele texto do casamento é
casar comigo, o resto, nada. Nem artigos, nem nada,
nem um tipo de adorno. Vamos falar um pouco mais
sobre isso. Sem adornos. Sublinha uma ou duas pala-
vras, o mínimo possível que designe aquela ideia. Que
você bata o olho e reconheça.
Bom, então digamos, eu sublinhei casar comigo.
Quando eu vou fazer a nota de margem, que é o se-
gundo passo e muito importante, eu vou pegar a ideia
“casar comigo” e vou transformar em um resuminho,
com o mínimo de palavras possíveis, mas as minhas
palavras.
Entendam isso. Porque casar comigo é uma coi-
sa muito simples. Eu até poderia utilizar, mas você vai
ter textos que são linguagem, sei lá, shakesperiana,
linguagem de Camões, uma linguagem muito diferente
da sua. E se você quer resumir com as ideias do au-
tor, com as palavras do autor, você, simplesmente, vai
gerar uma nota estranha, que não vai significar nada
para você.
Em suma, você não usa as palavras do autor.
Você pega a ideia e expressa do seu jeito. E então,
eu sublinhei pedido de casamento. Eu sublinhei ca-
samento, pedido. Eu vou escrever isso quer casar.
Ou, seja lá de que outra forma for, sem nada que seja
desnecessário. A nota de margem, às vezes é uma
palavra só. Às vezes, duas. Não se usa artigo, não se

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usa adjetivos, não se usa nada. Uma mínima expres-


são, com as suas palavras, da ideia do autor. Aí você
faz isso. – Sublinhei, peguei a ideia principal, resumo.
Peguei a ideia principal, resumo. É um resuminho da-
quele parágrafo a nota de margem. Só que só da ideia
principal, nada mais.
Terminei. Digamos que eu li uma página, cinco
parágrafos. Sublinhei a ideia principal, coloquei a nota
de margem com as minhas palavras. Você já tem um
resumo pronto desse texto. Você vai simplesmente
fazer, vou lhe dizer o quê eu faço. Vou fazer uma pa-
lestra sobre esse texto. Eu pego todas essas notas
de margem, faço um resumo em tópicos. Para essa
palestra, está suficiente, morreu aí.
Agora, imagine que eu faça um resumo em tópi-
cos. Isso, hoje, eu entendo muito bem. Mas, se daqui
a cinco anos eu quiser fazer uma palestra sobre esse
texto, só em tópicos, às vezes, eu não entendo mais,
não faz mais sentido para mim. Eu esqueço o quê
aqueles tópicos querem dizer.
Então, se eu quero ter um resumo que me sirva
sempre, eu não preciso mais ler esse livro, eu vou
no meu resumo e falo dele, transformo esses tópi-
cos, e os amarro em uma sequência lógica. Faço um
pequeno texto. É um resumo textual. Esse resumo
textual não pode ter mais do que 20 por cento do ta-
manho do texto original. Você tem que contar mesmo
as linhas. Você não pode colocar mais do que 20%
do texto original.
E, a partir desse resumo de tópicos, ou textual, se
você quiser, e gostar disso, pode fazer um mapa men-
tal, um resumo gráfico. E aí, você sabe, a ideia prin-
cipal no meio, e você vai enraizando todos os argu-
mentos para todos os lados. Ou seja, aí você expressa
esse resumo na fórmula que você achar melhor.

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Eu, particularmente, uso tópicos e resumo textual.


Um para curto prazo, outro para longo prazo. Você vai
ter aqui vários exemplos disso, mostrando para você o
que é um resumo em tópicos, o quê é um resumo tex-
tual e o quê é um resumo gráfico. Isso é fundamental
praticar, gente. Separe um bom tempo para resumir
textos. Pegue como exemplo o quê a gente fez aqui, e
faça o seu exercício.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 17 – Aula prática de resumo

Vamos lá fazer um resumo de um texto juntos?


Eu coloquei para vocês um texto, que foi escolhido
a dedo. Não só porque nós vamos fazer o resumo
dele, poderia ser qualquer texto, mas também porque
a mensagem que ele traz é especialmente pensada
para você. Que tem a ver com aquela ideia do interes-
se intrínseco, que está no início.
Eu vou ler junto com você este texto. Depois vou
mostrar como fiz o meu resumo em tópicos e como eu
fiz o meu resumo textual. Entenda a regra: 20%. Nós
temos aqui, então, um texto de 56 linhas, e eu fiz um
resumo com menos de 11 linhas. O máximo seria 11
linhas, 20%. Vamos lá? Preste atenção neste texto,
ele se chama Mudar? Só aprendendo a gostar!
Em toda escola que passamos, sempre há aquele
aluno zero à esquerda. Os professores têm dor de
cabeça só em ouvir o nome dele. A diretora já ligou até
para o avô do garoto, e o seu boletim é reconhecido de
longe pelas notas vermelhas. Assim era Eugênio, que,
como diziam os colegas, de gênio só tem o nome. O
quê nem os colegas, professores, pais ou diretores sa-
biam é que Eugênio, de tanto ouvir que seu caso não
tinha solução, já desistira de tentar mudar.
“– Como posso mudar, se ninguém, nem eu
mesmo, acredito mais que eu consiga?”

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Pensava ele, desconsolado. Aconteceu que, um


certo dia, entrou um novo professor de História na
escola. E, pela primeira vez, Eugênio começou a se
interessar pela matéria, pois o professor explicava
tão bem que, em sua aula, não se ouvia um pio de
conversa.
Certa manhã, enquanto o professor falava sobre
alguns filósofos importantes da História, escreveu uma
frase no quadro, que chamou a atenção de Eugênio:
“– A vontade humana não tem fronteiras.”
“– Aquilo que o senhor escreveu no quadro,
é verdade mesmo, professor? Ou é só uma frase
de efeito?”
Perguntou Eugênio. E o professor responde:
“– Sim, é verdade. A vontade humana é a
arma mais poderosa que temos.”
Diz o professor:
“– Quer dizer que podemos ser o quê quiser-
mos, basta querer?”
“– Bom, querer de verdade é o primeiro passo.”
“– Desculpa, professor, mas eu não acredito
nisso.”
“– Por que não?”
Pergunta o professor, curioso.
“– Porque a coisa que eu mais quero é me
tornar um bom aluno. Mudar de verdade. Mas, até
hoje, não consegui nada.”
O professor para, pensa um pouco, e depois
pergunta:
“– Você gosta de estudar, de aprender coisas
novas, ou de assistir aulas, Eugênio?”
“– Ih, professor, sinceramente, não gosto nem
um pouco. Mas, o quê isso tem a ver com a Histó-
ria? Eu não preciso gostar de estudar para tirar boas
notas. É só decorar o quê vai cair na prova, ué.”

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“– É aí que você se engana. Um bom aluno,


de verdade, gosta de estudar e de aprender. De-
corar, qualquer um consegue, assim como colar
na prova.”
“– Mas então esse negócio não é para mim
mesmo. Eu nunca gostei de estudar, professor.”
“– Você pode aprender a gostar, se quiser.”
“– Aprender a gostar, como é que é isso?”
Perguntou Eugênio, espantado:
“– Bom, primeiro quero que você pense nas
coisas que gostava há dez anos atrás. São as
mesmas coisas que você gosta hoje, Eugênio?”
“– Claro que não.”
“– Pois é, isso mostra que o nosso gosto
muda. E nem demora tanto quanto dez anos. Se
os nossos gostos vivem mudando tanto, você
não acha que também pode controlá-los, para
que a gente possa gostar daquilo que é bom
para a gente, assim como estudar?”
“– Hum... Eu realmente nunca tinha pensado
nisso, sabe, professor.”
“– Então, tente. Se realmente se quiser tor-
nar um bom aluno, sei que vai conseguir. Eu acre-
dito que você pode.”
Eugênio ficou surpreso. Era a primeira vez que al-
guém falava que acreditava nele. Nesse momento, algo
novo começou a nascer dentro dele. Um misto de en-
tusiasmo, coragem, força de vontade e confiança. Algo
que ele nunca havia sentido antes, mas que reconhe-
ceu na hora como sendo a força de vontade.
A partir desse dia, Eugênio começou a mudar um
pouquinho. Começou a prestar atenção em todas as
aulas, começou a estudar diariamente, fazia todas as
tarefas de casa, e tirava todas as dúvidas com os
professores.

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Aos pouquinhos, seus colegas já começavam a


lhe pedir para estudar junto com ele. E, até fisicamen-
te, Eugênio começou a mudar. Já não andava mais
com as roupas desleixadas de sempre, estava com a
postura firme e autoconfiante. Até que, no final do ano,
o inesperado aconteceu.
Eugênio conseguiu nota dez em todas as matérias
do quarto bimestre, conseguindo o prêmio de melhor
aluno. Nunca alguém se sentira tão feliz quanto Eugê-
nio. Porém, o aluno ainda não havia esquecido de seu
professor, a quem abraçou emocionado, e disse:
“– Muito obrigado, professor. O senhor me
ensinou muito mais do que imagina, e essa lição
não vou esquecer nunca.”
Extraído de um livro infantil, Histórias para Des-
pertar. Percebam que esta história não vou comentar,
mas ela tem muitas lições implícitas dentro dela. O
nosso objetivo, neste momento, é só falar do resumo.
O resumo que eu fiz, que gostaria de passar
para vocês, em primeiro lugar, se eu fosse fazer uma
palestra sobre isso, a primeira coisa que eu faria se-
ria o resumo em tópicos, que é nada mais do que
a coleta das minhas notas de margem. Resumo em
tópicos é só isso.
E o meu resumo em tópicos foi esse:

Primeiro tópico:
– Toda escola; maus alunos; Eugênio era um.

Segundo tópico:
– Ninguém acreditava nele; nem ele.

Terceiro tópico:
– Novo professor de História; Eugênio gosta da
aula.

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Quarto tópico: – Frase no quadro; a vontade é


ilimitada. Eugênio, quero mudar e não consigo. Pro-
fessor; gosta de estudar? Eugênio; não, mas não pre-
cisa, é só decorar. Professor; precisa sim e você pode
aprender a gostar. Surpresa de Eugênio e mudanças.
Atento às aulas, estudo diário, tarefas de casa feitas,
pergunta aos professores, ajuda aos colegas, nova
postura. Último tópico: final do ano, nota dez em todas
as matérias; gratidão ao professor pela lição de vida.

C’est fini. Eu acho até que, se eu me esforçasse,


dava para fazer menos do que isso, enxugar algumas
palavrinhas. Fiz um pouco mais desdobrado, para que
vocês entendam.
Então, percebam, isso aqui ficou um pouquinho
de nada de tópicos, em uma folhinha de papel. Nenhu-
ma ideia importante foi omitida. Eu peguei a ideia prin-
cipal de cada parágrafo. Nenhuma ideia importante foi
omitida. Aí, bom, eu tenho esse resumo em tópicos.
Hoje, pode significar alguma coisa para mim esse “nin-
guém acreditava nele, nem ele”.
Mas, daqui a 5 anos, se eu for ler isso, eu não
vou entender mais. Aí eu transformo isso aqui em um
resumo textual, que vocês vão ver aí. Eu transformei
em um resumo de três, seis, nove, dez, 11 linhas. Na
verdade, dez linhas e meia.
Eu simplesmente emendei esses tópicos e os
transformei em uma historinha. Sem nenhum ador-
no, o mais simples possível. E fiz um resumo de dez
linhas e meia. Isso, daqui a dez anos, se eu ler, eu
ainda relembro.
Bom, além disso, quem quiser fazer o mapa men-
tal, eu também dei um exemplo para vocês aqui. Um
resumo gráfico de qualquer tipo, vocês vão ver, tam-
bém dá para fazer. Mas, é importante que vocês já vão

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assimilando algo, que vamos explicar melhor, daqui a


pouco. Nenhuma ideia principal de nenhum parágrafo
foi sacrificada.
Resumir não é mutilar. Mas, nenhum adorno foi
conservado. Resumir é extrair tudo aquilo que não é
estritamente necessário para que a mensagem seja
dada. Mas, a mensagem não pode deixar de ser pas-
sada em todos os seus pontos importantes. Vamos ver
já, já os mandamentos do resumo.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 18 – Os quatro mandamentos do resumo

Vamos lá, pessoal da equipe do resumo. Eu vou


falar para vocês agora uma coisa importantíssima. Os
quatro mandamentos do bom resumo. Isso aqui é uma
lei, meus caros. Quem infringir qualquer dos manda-
mentos vai para o inferno do mau estudante. Portanto,
prestem atenção. Eles são fundamentais.

PRIMEIRO mandamento do resumo:


– Não usarás três palavras se podes
usar duas.
Ou seja, tirar adorno. Saber identificar, até mesmo
em uma frase, quais são as palavras suficientes para
designar uma ideia.
Então, no resumo do Eugênio, eu coloquei:
“– Toda a escola, maus alunos. Eugênio era
um...”
Não, está muito seco.
Coloca:
“– Toda grande escola, existem maus alunos.”
Excesso, chantili. Chantili engorda, corta.
“– Toda escola, maus alunos. Eugênio era
um...”
Esse era aí, eu já dei de lambuja. Não precisa-
va nem colocar. Ou seja, nunca usa adorno, adjetivos,
contextualizações.

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Os tópicos têm que ser sequinhos, porque o resu-


mo tem que tirar todas as ideias contextualizantes, de
apoio. Ele só dá o recado. A partir da ideia, você recria
todo o chantili, se você quiser. Mas, a ideia tem que
ser conservada. Então, nunca usar as três palavras
se pode usar apenas duas. Corta o chantili, deixa só
o essencial.

SEGUNDO mandamento do resumo:


– Não deixarás de dar o recado.
Aí você fica afoito, vai para o outro lado, não é?
Para o outro extremo.
“– Não, está muito grande o meu resumo,
deixa eu cortar esse professor de História. Não
preciso dele para nada.”
Você cortou o professor de História, que foi o quê
converteu Eugênio a uma nova mentalidade. Você não
resumiu, você mutilou a história. Porque esse ponto
era imprescindível. Então, você não pode deixar de
dar o recado.
O recado é:
“Eugênio, mau estudante; professor que
acredita nele; aprender a gostar; Eugênio, bom
estudante.”
Esse é o esqueleto do texto. Você não pode tirar
uma parte do esqueleto, que esse homem não fica em
pé. Esse seu resumo não caminha sobre as próprias
pernas. Então, você tira todo o adorno, mas, por favor,
não me tire a massa do bolo. Só o chantili, ou seja,
você tem que manter todas as ideias ali, presentes.

TERCEIRO mandamento do resumo:


– Não conservarás as palavras, e sim as ideias.
Olha, meus caros, são muitos anos dando pales-
tra. Muitas vezes, eu vejo palestrante novato, ele quer

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falar, igualzinho, o quê está no livro. Então, ele decora


aquele palavrório todo complicado, que ele acha que,
se ele falar com as suas palavras, ele não vai estar
dando uma boa palestra. As pessoas olham, e parece
uma peça teatral malfeita, mal interpretada. Porque a
pessoa não está nem interpretando, ela está ali com
medo de esquecer.
Frases amarradas, secas e sem nenhuma expres-
são própria. Eu nunca fiz palestras decorando as pa-
lavras do autor. Pego a ideia e a expresso com as mi-
nhas. E isso, para aqueles que vierem a fazer um bom
curso de oratória, vai ser mostrado lá. Mais próximo do
tom da conversa, com as suas palavras – as ideias po-
dem até algumas serem de um autor, mas você tem
que acrescentar as suas também –, você transmite o
seu significado, você dá o seu recado. Portanto, não
conservarás as palavras, mas as ideias.
Lembrem de Leonardo Da Vinci:
“– A simplicidade é o maior requinte.”
Se você estiver dando uma aula ou uma pales-
tra, você simplifica, você pega a ideia em maior pro-
fundidade, e sabe expressá-la na linguagem do seu
público, seja ele quem for. Se for escrever um resumo,
faz algo que seja simples, e fácil de você entender em
qualquer outro momento da sua vida.

QUARTO mandamento do resumo:


– Não amontoarás as ideias sem continuidade.
Então, resolvi fazer um texto a respeito daqueles
meus tópicos do Eugênio.
Aí coloco lá:
“– Toda escola, maus alunos, Eugênio um,
ninguém acreditava, novo professor.”
Que é isso? Isso não é uma carta cifrada. Isso
é o quê? Quando eu vou juntar as ideias, elas têm

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que ter sentido. Não vou amontoá-las, sem nenhum


sentido. Tem que dar uma sequência. Essa ideia
veio antes dessa, e veio antes dessa. Têm que ser
contadas na ordem certa. Você colocar os conecti-
vos para que elas tenham um sentido, e você possa
conservá-las.
Lembra o que falei lá no início, uma das me-
mórias mais eficazes que existem é a memória se-
quencial. Ou seja, a memória de quem ouve uma
história:
“– A Branca de Neve foi mandada para a flo-
resta com um caçador e... esqueci.”
Não acontece. Se você lembra da palavra Branca
de Neve, você lembra a sequência da história toda. O
sequencial, que é a memória histórica – hoje inclusive
se tem trabalhado muito com isso dentro de palestras,
que é a história do storytelling –, você vai contando a
história em paralelo com as suas ideias, o quê é uma
forma de memorização maravilhosa.
Então, você vai pegar os seus tópicos, e vai trans-
formar em uma historinha, que tenha sentido. Que a
passagem de um argumento para o outro não seja
abrupta, que tenha um sentido. Enxuto, com pouquís-
simas palavras, mas que tenha um sentido.
Esses são os quatro grandes mandamentos do
resumo. Fique atento a isso. Perceba a necessidade
deles. Assim você constrói algo de qualidade.

Sabe o quê é, você daqui a dez anos precisar


dar uma aula sobre um livro, ir lá, só no seu resumo,
pegar as ideias principais, e estar preparado para a
aula? Um bom resumo lhe garante isso. Daqui a dez
anos, vou fazer uma outra prova sobre esse mesmo
assunto. Meu resumo é tão bom, que ele me dá o
essencial.

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Perceba que isso é fundamental em todos os se-


tores da vida, reitero. Esforce-se para conquistar esse
estágio de ter a capacidade de fazer um bom resumo.
Repito, saia com caneta na mão, sublinhando a
ideia principal de artigo de jornal, de carta de convo-
cação do condomínio, de qualquer coisa que cair na
sua mão. Você vai ver que, daqui a pouco, vai estar
esperto para isso.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 19 – Anotações e revisão das aulas

Bom, agora vamos falar sobre um bom hábito,


que hoje é bastante polêmico, inclusive. Há vários de-
fensores do contrário disso. Mas, eu vou lhe falar, com
toda a honestidade, com toda a experiência que tenho:
Tome nota nas suas aulas. C’est fini.
Não acredite em nada que diga o contrário a isso.
Porque, olha, isso é mais do que comprovado. Quando
você está escrevendo o quê o professor está dizendo,
sabe o quê você está fazendo? Você está viabilizando
a técnica do Jung: corpo e mente juntos.
Porque para escrever você tem que estar atento.
Se você desligar, você não sabe mais o quê você está
escrevendo. Nós não temos muito domínio, muita con-
centração para dizermos:
“– Eu vou ficar só olhando para o professor e
não vou perder nenhuma palavra dele.”
Você vai perder todas. Vai dispersar. A sua mente
vai para o encontro com a namorada, vai para a conta
do supermercado, vai para qualquer coisa. Não vai es-
tar ali. Não somos tão treinados assim em concentra-
ção. Se você anota, você obriga a sua atenção a estar
ali. Só nisso você já ganha muito.
Segundo lugar, depois você tem algo como base
para estudar. O quê você vai fazer. O professor simpli-
ficou, ele fez um resumo daquilo que leu em um livro.

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Você não anota essa síntese que ele lhe deu. Vai ter
que voltar à fonte dele para estudar. Isso não tem ne-
nhum sentido. Você desperdiçou o trabalho que ele fez
para sintetizar aquilo. O quê ele está lhe oferecendo é
uma síntese interpretada das fontes. Você vai ter que
fazer a sua síntese interpretada. Por que não começa
da dele, não aproveita a dele, ainda que você tenha
que voltar às fontes?
Então, é muito importante. Não discuta, deixe que
cada um faça o quê achar melhor. Sei que há os de-
fensores da não anotação. Eu lhe digo, como experi-
ência prática: não funciona. Não temos esse nível de
concentração. Não lembramos quase nada depois de
uma aula de uma hora.
Tome as anotações, e ainda lhe recomendo me-
lhor do que isso. Pegue aquelas folhas, que são da-
queles arquivos que trazem aquelas folhinhas soltas, e
preencha só um lado da folha. Numere, coloque sem-
pre em cima ou a data da aula, que é o ideal, aula de
tal coisa dia tal, ou então coloque um número mesmo,
dia tal, número 1. De tal maneira que você possa or-
denar isso depois. Anote só de um lado da folha. Isso
é muito interessante.
Você chega dentro de casa, você solta o gan-
cho do seu classificador e coloca todas as informa-
ções diante de você. Você já pode, e é o ideal, ir
lendo aquelas informações, vir com o marca-texto,
ou mesmo com uma caneta, sublinhando as ideias
principais.
Todas as informações do dia estão ali, diante de
você, ao mesmo tempo. Você está aproveitando de
uma parte muito significativa da memória, que é a me-
mória visual. Nós temos memória auditiva, temos me-
mória visual, mas, em geral, no nosso atual estágio, a
visual é mais eficiente do que a auditiva.

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Não é tão comum que as pessoas memorizem


tudo só ouvindo. Vendo, memoriza-se muito mais. E
se pode refletir a respeito das ideias principais. Então,
você coloca toda informação diante de você. Ou seja,
as folhas anotadas de um lado só, e ali mesmo você já
pode ir sublinhando e fazendo a sua nota de margem.
Você já sai, com aquela tomada de olhos, com um re-
sumo daquela aula que você assistiu.
Claro, o melhor é fazer isso o mais próximo possí-
vel do momento em que a aula terminou. Cheguei em
casa, coloco as minhas folhas, faço o meu resumo de
hoje. Também, nesse momento, você vai ter a oportu-
nidade de contar a história da aula para você. Se teve
um argumento ali que você não entendeu, ou se dei-
xou de anotar alguma coisa, você sente que a história
ali capenga.
“– A Branca de Neve chegou na floresta com
o caçador e os anões foram para a mina...”
Bom, tem alguma coisa faltando nessa história.
Como é que ela saiu da floresta, que anões são es-
ses? Está faltando uma parte da história aqui. Você
pode marcar essa parte, ir atrás das anotações dos
colegas. Se ninguém anotou, você pode perguntar ao
próprio professor como dessa ideia passou para esta.
De tal maneira que você tenha uma trajetória lógica
e completa ali. Você já tem a sua historinha contada,
do primeiro argumento até a última conclusão. E as
ideias principais, todas marcadas. Dali já tem as notas
de margem. Dali já tem o seu resumo em tópicos. Isso
é importante fazer, todos os dias, o mais próximo pos-
sível da aula. Você pensa:
“– Eu acabei de assistir uma aula de três,
quatro horas, e ainda vou fazer isso?”
Quanto mais treinado estiver, mais rapidamente
faz. Dependendo do tamanho do seu resumo, você vai

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fazer isso aí em dez minutos, dez minutos que vão


fazer com que você não perca aquelas quatro horas
de aula. É muito maior o prejuízo do que gastar dez
minutos resumindo, no dia seguinte, você não se lem-
brar de nada.
Eu lhe garanto. No dia seguinte, talvez não. Mas,
com uma semana, se você não fizer isso, você não se
lembra de quase nada. Ou seja, jogou quatro horas
fora para economizar dez minutos. Isso não tem lógi-
ca. Isso não funciona.
Bom, que mais poderíamos falar a respeito dis-
so. Usar símbolos, sim, para abreviar. Muito cuidado.
Eu recomendo que você faça uma tabelinha dos seus
símbolos. Tem gente que tem hábito de, toda vez que
a palavra termina com mente, colocar um tracinho. Já
sabe que ali é mente. Faça uma tabela, como se fosse
um dicionário seu. Tracinho sinônimo de mente.
Eu uso só as primeiras letras de tal palavra que
é muito recorrente. Ou, uso só o início e o final da pa-
lavra. Faço uma tabelinha. – Porque, como esses re-
sumos, esses códigos, esses símbolos que a gente
cria são meio arbitrários, não custa nada amanhã ou
depois a gente esquecer.
E, olha, eu já vivi isso. De resumir as coisas de
uma maneira muito simplificada, que depois eu não
lembro mais o quê era aquilo. Tem mais ou menos 20
anos que eu tenho um fichamento de uma palestra, e
estou tentando lembrar o quê era o exemplo do chu-
veiro. Eu não faço a mínima ideia do que seja aquilo.
E perdi, provavelmente, um exemplo importante. Por-
que eu resumi de uma forma excessiva e inadequada.
Pense em você no futuro.
Então, se eu vou usar esse símbolo para resumir
palavras, eu tenho que saber, tenho que ter um lugar,
anotadinho, onde coloco o quê significa esse símbo-

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lo. Ora, seja cuidadoso. Ninguém perde nada por ser


prudente e cuidadoso. Então, não use símbolos sem
primeiro anotar o quê eles significam, sem fazer a sua
tabelinha de decodificação.
Guarde bem essas ideias. Faça os seus resumos,
faça os seus fichamentos, que são os resumos das
anotações de aula, e depois de um certo tempo revise
esses resumos.
Ao invés de ter que ler todas as minhas aulas, eu
vou a esses resumos. Vou fixando o conteúdo. Quan-
tas vezes mais eu revisar, mais vou fixar esse conte-
údo. Vamos ver isso, daqui a pouquinho, no Método
Robinson.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 20 – Método Robinson (EPL2R) I –


Explorar, perguntar e ler

Caríssimos, chegamos enfim ao tão esperado,


tão desejado, tão anunciado Método Robinson. Para
os íntimos, ele deixa que você o trate por EPL2R, que
é o seu acróstico, para você memorizar. EPL2R signi-
fica o seguinte: explorar, perguntar, ler, recitar e repas-
sar. São os dois erres: recitar e repassar. Guarde isso,
memorize, porque são etapas fundamentais.
Nunca chega em um livro assim subitamente. Não
seja imprudente, não seja atrevido. O livro se fecha para
você. E ainda que você entre nele, vai encontrar a porta
fechada. Então, esse método, que é muito utilizado nas
universidades norte-americanas, é excelente para que
você faça uma leitura de um livro, de uma apostila, de
um texto qualquer, da maneira mais eficiente possível.
Sobretudo quando se trata de um livro. Para isso, ele foi
feito, ele é perfeito para essa função.
Então, eu quero ler um livro, ou necessito ler um
livro. Em ambos os casos, você tem que estar motiva-
do, interessado, e achando que, ali, você vai aprender
alguma coisa que é útil para sua vida.
Lembrem do objetivo intrínseco. Aqui estamos
juntando tudo do Curso. Ou seja, antes de abrir a pági-
na, antes de fazer qualquer coisa, eu estou motivado,
interessado, e acredito que, se isso surgiu na minha

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vida, é porque tem algo a me ensinar, e eu vou sair do


outro lado um pouco maior do que sou hoje. Ou seja,
eu vou entrar nessa viagem, vou sair mais consciente,
e isso vai me permitir dar respostas melhores à vida.
Essa é a predisposição.
Aí vem o livro propriamente dito, livro físico. Qual
é a primeiríssima coisa que você vai fazer com ele?
“– Vamos ler.”
Não, calma, calma. Segure a ansiedade. Você vai
explorar. Uma exploração, você vai dar uma volta em
torno dele, como se fosse uma pessoa nova que você
quer conhecer. Para dar uma volta em torno dela, para
ver o jeito como ela se comunica, como ela se expres-
sa, como ela se movimenta, para ver se lhe inspira con-
fiança, onde ela quer chegar, que tipo de pessoa ela é.
Você vai fazer isso com o seu livro. Você vai che-
gar para ele e vai explorar. Vai ler o título, o subtítulo, a
introdução, que normalmente não é escrita pelo autor,
mas por alguém que o conhece e recomenda o livro, e
o índice. Ou seja, todos aqueles tópicos, porque aquilo
ali nada mais é do que o resumo da ideia que ele pre-
tende passar. O índice nada mais é do que um resumo
em tópicos.
E por ali você começa a querer perceber, intuir,
que tipo de peixe ele está querendo lhe vender. Qual
é a mensagem que vem por trás daquilo. Vai fazendo
presunções, que ainda que falsas vão lhe ajudar. Que
vão fazer com que você seja um interlocutor ativo da
mensagem que vem de lá.
Então, na exploração, você passa em volta do li-
vro, em todos os seus detalhes. Lê as orelhas, olha lá
um retratinho do autor. Lê atrás, todos os livros que
ele já escreveu. Lê, mais ou menos, o jeito com que
ele escreve o prefácio. Examina cada item do índice,
imagina o quê vem por ali.

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Então você já está com algumas presunções,


algumas ideias, que o preparam para entrar no livro
ativamente. Aí você vai fazer uma segunda coisa. Ou
seja, a primeira, exploração; rondar aquele elemento
novo, rondar e pegar informações na vizinhança; não
é isso? Rondando o elemento novo e pegando infor-
mações na vizinhança. O segundo ponto é: perguntar.
E aí você vai colocar o autor contra a parede.
“– Bom, você está dizendo isso. Você tem
certeza disso? Qual é o argumento que você tem
para provar isso?”
Ou seja, exigir que o autor nos dê provas do que
está afirmando. E como é que você vai fazer isso? De
maneira muito simples: transforma títulos e subtítulos
em perguntas. Ou seja, vira a arma contra aquele que
emitiu a ideia, não é? O feitiço contra o feiticeiro. Por
exemplo, eu peguei aqui um livro de Luís Fernando
Verissimo, As mentiras que os homens contam.
Você não pode chegar e pensar:
“– O quê ele está falando? Ele está que-
rendo dizer que os homens mentem mais do
que as mulheres? E o quê ele considera como
uma mentira? Por que ele está partindo desse
pressuposto, falando só dos homens, e não dos
seres humanos? Será que os homens mentem
tanto assim? E que tipo de mentiras eles mais
contam? Então, todos os homens que mentem
assim, se mentem, por que o fazem? Por que ele
selecionou esse setor da sociedade, os homens,
e está afirmando que eles mentem? Já está par-
tindo do princípio de que eles mentem, quais são
os seus fundamentos?”
Ou seja, já coloquei o autor contra a parede. E no
subtítulo, a mesma coisa. E nos índices, no índice, nos
títulos dos capítulos, a mesma coisa. Mas, não é só

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isso. Sabe o quê você vai fazer depois que transformar


tudo em perguntas?
Por exemplo, um texto que diga:
“– O mundo moderno está em decadência.”
Por que ele está em decadência? Que mundo
você está falando? O quê é o mundo moderno? É
o mundo intelectual, o mundo financeiro, o mundo
político? Ele está em decadência, ou a humanida-
de sempre viveu ciclos de decadência, e esse é
mais um?”
Vai fazendo perguntas, mas, antes de você pas-
sar adiante, você vai ter que fazer mais uma coisa:
“– Responder as suas próprias perguntas.”
Isso se chama de linha mestra. Digamos que eu
pego o livro do Veríssimo, e ele diz As Mentiras Que
os Homens Contam.
Aí eu pergunto:
“– Os homens contam tanta mentira assim?”
Aí eu respondo: “Eu acho que hoje as pessoas
contam muitas mentiras. Tanto homens quanto mulhe-
res. Porque as pessoas vivem no mundo da fantasia e
acreditam nela.” Os homens mentem mais do que as
mulheres? Só os homens mentem?
“– Não, eu acho que todo mundo mente. Ele
deve estar querendo selecionar os homens por
alguma razão especial, que eu vou procurar des-
cobrir ao longo da leitura.”
Que tipo de mentiras será que esses homens
contam?
“– Olha, eu acho que a maior parte das men-
tiras que eles contam tem a ver com coisas que
eles gostariam de ser e não conseguiram con-
quistar. Então, criam na fantasia.”
Ou seja, você vai dar as respostas. Que aí, quan-
do você partir para a leitura, você vai perceber uma

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coisa interessante. Você tem essa linha mestra, que


foi a resposta que você deu, e o autor vai vir com a
dele. E você vai estar de olho para ver se a ideia dele
tem alguma coisa a ver com a sua. E se não tem você
vai examinar.
Bom, a minha linha mestra está aqui. O que esse
autor respondeu é mais completo e mais profundo do
que aquilo que a minha linha mestra dizia. Ou é me-
nos. Pode acontecer de ser menos. É mais fútil, é mais
superficial, é meramente engraçadinha, mas não tem
conteúdo. Pode acontecer.
Isso é uma coisa para que vocês têm que estar
preparados. Hoje nós falamos muito sobre leia mais.
Eu sempre acrescento: leia melhor. Porque não é,
simplesmente, porque alguém publicou um livro que
ele tem muita coisa para dizer. Eu acho que vocês con-
cordam comigo, que existe uma grande, uma enorme
quantidade de livros no mercado que estão ali porque
aquele que escreveu foi capaz de pagar a sua edição.
Mas, não contém nenhum grande... alguma
grande descoberta, alguma ideia muito original. Não
tem um conteúdo que vale a pena, e às vezes, na sua
ideia mestra, você já percebe que o autor está muito
abaixo dela. Ou seja, talvez aquele não seja um livro
digno de ser lido.
Então, as perguntas, eu mesmo respondo. De-
pois vou caçar no livro as respostas que esse autor vai
dar. E vou comparar com a minha linha mestra. – Isso
é uma coisa muito interessante. Eu estou avançando
e colocando o autor contra a parede.
Agora sim. Já fiz tudo que tinha que fazer. Ron-
dei em volta, explorei, fiz perguntas. Agora eu vou ler.
Como que eu vou ler? Lembrando da minha linha mes-
tra, lembrando das minhas perguntas, caçando as res-
postas dentro do texto. Isso vai me dar uma objetivida-

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de, porque eu vou diretinho para as ideias principais.


O autor tem que se explicar, ele me propôs isso. Cadê
a resposta disso? Isso já me dá um foco do que eu
estou procurando dentro do livro.
Isso facilita muito, por exemplo, se você quiser
fazer uma leitura rápida. Passo os olhos, encontrei
a ideia principal, pronto. Passo os olhos, encontrei a
ideia principal, pronto. Isso é matéria para um outro
curso, mas os métodos de leitura acelerada trabalham
com isso. Faço perguntas, e vou direto aos parágra-
fos, procurando respostas.
Bom, você tem uma pergunta, você tem uma li-
nha mestra, agora eu vou ler. Cada parágrafo, uma
ideia. Caneta na mão, lápis na mão, marca-texto na
mão, sublinho só as palavras mínimas para designar
aquela ideia.
E, automaticamente, do lado, nota de margem. Li
todo aquele texto assim, sublinhando, fazendo nota de
margem, já tenho a coleta dessas notas de margem, é
o meu resumo. Porque eu posso estar ali procurando
onde está a resposta da minha pergunta. Pode acon-
tecer de haver mais de uma resposta. Pode acontecer
de não haver nenhuma resposta. Todas as possibilida-
des podem acontecer.
E isso já cria em você uma presunção de que
tipo de leitura você está fazendo. O quê o autor está
querendo transmitir ali. Você já tem o resumo em tó-
picos, fazendo isso. Ao final, pode condensar tudo
isso, e transformar em um resumo textual, ou em um
mapa mental.
E, por último, nós vamos ter a recitação e o repas-
se. Vamos deixá-los um pouquinho mais para a frente.
Reflita sobre esses itens.

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MÓDULO 3 – TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 21 – Método Robinson II –


Receitar e repassar

Continuando, o nosso mágico método, EPL2R, é


o Método Robinson. A essa altura, vocês já entende-
ram que mágico não existe. O que é mágica é a sua
capacidade de fazer esforço, a sua determinação para
mudar. Isso aqui é uma boa ferramenta, mas ela não
trabalha por você. Você vai ter que experimentá-la, vai
ter que usá-la.
Uma coisa eu posso reiterar com você, eu uso, e
funciona muito bem. Portanto, estou transmitindo um
mapa de uma estrada que eu já percorri.
Eu posso lhe dizer:
“– Legal, ela o leva ao destino.”
Eu me sinto com autoridade para dizer isso. Fun-
ciona; experimente. Nós vamos então, continuando,
nós vamos explorar, perguntar e ler, que é o EPL. Nós
vamos falar dos dois erres, que são recitação e repas-
se. O quê vem a ser recitação? Fecho o livro, conto a
história para mim mesmo, e aí eu percebo se há va-
zios de má compreensão.
Existe uma autora do século XIX, chamada Hele-
na Blavatsky, que diz:
“– O estudo começa quando você fecha o livro.”
E ela tem realmente razão. E aí continua com uma
série de dicas complexas, mas de que ela tem razão.
Dependendo do livro, ela dizia:

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“– Uma página de um livro muito profundo


exige 20 minutos, pelo menos, de reflexão so-
bre ela.”
Ou seja, ela está falando de uma literatura mais
complexa. Mas, em geral, a recitação é o fundamen-
to do estudo. Realmente, você começa o aprendizado
quando você fecha o livro.
Então, fechei o livro. Vou contar para mim:
“– Eugênio estudava mal. Ninguém acredi-
tava nele, nem ele. O professor chegou e disse
que a vontade transforma. Ele duvidou. O profes-
sor disse que ele tinha que aprender a gostar. Ele
tentou, mudou, ajudou os colegas. Se tornou o
melhor aluno.”
Contei a história para mim. Ou seja, a história está
completa. Eu estou com o recado assimilado. Agora,
imaginem vocês que, lá no meio do caminho...:
“– Eugênio era um mal estudante, não con-
fiava em si mesmo, ninguém confiava nele, o quê
veio depois, hein? Como é que aconteceu dele lá
embaixo se tornar o melhor aluno da classe?”
Não me lembro desse pedaço. Percebi um vá-
cuo. E essa percepção desse vácuo é muito impor-
tante, porque você vai ter que ir atrás de fontes para
preencher esse vácuo. Como já falamos lá atrás, vai
atrás do professor, faz perguntas, pega anotações de
outros colegas. Se necessário, vai até a fonte, ao livro
de onde tudo isso saiu. Mas você tem que preencher
esse buraco. Você não pode ter lapsos.
A história tem que estar bem contadinha para
você mesmo. Nessa hora, você fecha o livro, e recon-
ta toda a história para você. Isso é a recitação. Enten-
dam, isso é um elemento fundamental. A melhor forma
de memorização, antes da memória sequencial, o quê
é? Ensinar um conteúdo.

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Quando você ensina, você assimila mais do que


em qualquer outra técnica de memorização. O recitar
é uma simulação de uma aula. Você está dando uma
aula para você mesmo, sobre a essência daquilo que
você viu naquele dia. Essa aula tem que ser completa.
Não pode haver lapsos.
E, se há, esse é um momento para você perce-
ber, e ir atrás de completar a história. Preencher esse
buraco da história. Procurar essa peça do quebra-ca-
beça. Isso é recitar.
E por último o último R da história, que é repas-
sar. Aí você pega essa fichinha que você fez, com tudo
resumido, a história completa, com todos os seus ca-
pítulos, a historinha bem sintética, e você estuda junto
com os amigos, ou estuda sozinho. Passa várias ve-
zes, passa várias vezes...
Eu, em uma certa ocasião da minha vida, fazia
uma coisa muito interessante. Nós tínhamos que es-
tudar mitologia. Eu fiz um baralho. Eu colocava a fi-
gura do Zeus atrás da carta, e na frente eu contava
a historinha dele. Aí mostrava Zeus para a pessoa. O
meu colega tinha que contar a historinha do deus, to-
dinha. Aí ele pegava uma carta lá, sei lá, Atena. E eu
tinha que contar a história de Atena sozinha. Quando
a gente errava, aquele ponto emocional do erro fazia a
gente não esquecer de jeito nenhum.
“– Ah, fulano falou tal coisa de Zeus.”
Aí a gente morria de rir. Nunca mais eu esque-
ci aquilo. Os pontos emocionais, até dos erros que
a gente cometia, ajudavam a memorizar. Fantástico.
Este é o momento para o estudo em grupo.
Ou seja, se você tem possibilidade de estudar
em grupo, faça algum tipo de jogo, alguma brincadei-
ra, para memorizarem juntos. Até os erros ajudam a
memorizar.

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Pense na sua vida escolar, no curso primário,


por exemplo. O quê caiu na prova da terceira série?
Aquela questão que você errou, e que deu um vexa-
me, essa você não esquece nunca. O resto esqueceu
tudo, não é assim? Sabe por quê? Ela gerou um ponto
emocional, você ficou com vergonha. O seu profes-
sor, sei lá, comentou, algum colega riu. Isso gerou um
ponto emocional. Você esquece de tudo mais. Essa
questão que você errou não esquece nunca.
Então, esse momento do repasse em grupo dá
muito certo. Faça uma brincadeira, faça um jogo.
Repassar quantas vezes for possível. E você vai ver
que todo mundo vai memorizar. Até os erros ajudam
para isso.
Então, nós temos aqui a síntese do Método Ro-
binson EPL2R. Explorar, rondar, ver a vizinhança. Per-
guntar, fazer as suas próprias respostas à linha mestra.
Ler com todos os detalhes, sublinhar, nota de margem,
depois fazer o resuminho textual, ou de tópicos, do jei-
to que você quiser. Depois, recitar. Fechou o livro, con-
ta a história para você, vê se ela está completa.
Está completa, está ali fichada, meu resuminho
completo. Depois reúne os colegas e vamos fazer o
baralho da Matemática, o baralho da Mitologia, seja lá
o quê for. Vamos repassar juntos, várias vezes.
Se eu pedir para vocês que repassem para mim o
método Robinson, vocês seriam capazes? Conte pra
mim aí o quê é que tem aqui, EPL2R? Explique pra
mim a essência de cada uma dessas etapas. Comece
a fazer essa brincadeira. Faça agora para mim a reci-
tação do método Robinson. Isso vai ser ótimo. Feche
os seus estudos e conte para você a história deste
método. Aí você vai perceber:
“– Teve um lapso, teve uma coisa que eu não
entendi.”

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Volta atrás, vê. Preenche esse lapso. Repete vá-


rias vezes. Daqui a pouco, isso para você vai ser algo
absolutamente assentado na memória. Agora é prati-
car, e aí sim ninguém mais rouba isso de você, quando
se torna fato da sua vida.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 22 – Explorando um livro –


Aula demonstrativa

Pessoal, eu tenho uma novidade para contar para


vocês. Eu ganhei um livro. Olha aqui, tem até dedi-
catória para mim, está vendo? É meu mesmo. Agora,
como eu sou uma seguidora vigorosa do Método Ro-
binson, primeiro eu vou dar uma olhada nele.
O quê eu vou fazer? Vou ler o título, Os Primeiros
Filósofos. Hum, legal. Aqui atrás diz que:
“O sentido das origens gera em nós um ca-
minho de renovação”.
Interessante.
“Voltar às origens é empreender um caminho
de renovação.”
Legal, aí estou vendo aqui a autora, bonita, inte-
ressante, parece que é jornalista, dá aulas na univer-
sidade. Legal, simpática, gostei dela. Vou ver o índice.
Prólogo, está aqui. Ela cita várias frases de vários au-
tores. Alguém escreve por ela.
No índice, eu vou encontrar falando, por exemplo,
sobre a época dos sábios. Será que houve uma épo-
ca? Bom, já estou adiantando. Isso são perguntas.
Caminho de sabedoria. Em busca da origem dos con-
ceitos. Está bom, li.
Outra orelha fala de outros livros dela. Bonitos,
uns títulos interessantes. Dei uma rodada aqui, está

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bom. Mas, eu tive uma noção. Parece ser uma autora


espanhola, jornalista e filósofa, que está falando de al-
guma coisa a respeito de filósofos antigos. É o quê me
pareceu até agora.
Agora, vamos ver, vamos fazer algumas perguntas
sobre ele? Vamos colocá-la contra a parede? Minha que-
rida Maria Dolores. Os primeiros filósofos. Como é que
ela sabe quem foram os primeiros? Será? Houve primei-
ros? O que é Filosofia? Filosofia é amor à sabedoria. Só
de um tempo para cá que os homens começaram a amar
a sabedoria? Por que ela considera que houve primei-
ros? Será que esses que ela fala não foram os últimos?
Por que os primeiros? Porque nós queremos saber por
que ela acha que esses filósofos que ela vai abordar são
os primeiros. Aqui ela me diz que voltar às raízes exige
renovação. Renovação, por que eu preciso me renovar,
se eu estou feliz do jeito que eu sou? Por que eu preciso
voltar atrás? Isso não vai gerar saudosismo? Eu não vou
ficar fazendo culto ao passado? Por que será que ela diz
que a gente tem que voltar às raízes para se renovar? Fi-
quei curiosa para saber isso, sabe. O que são as nossas
raízes? São as experiências da nossa vida, ou o quê a
gente pensava no passado?
Eu estou vendo que aqui dentro ela vai falar a res-
peito da época dos sábios. Houve uma época em que
tinha mais sábio do que nas outras? Será que houve?
Que época foi essa? E por quê? Será que tinha algu-
ma coisa, ali naquele tempo histórico, que favorecia as
pessoas serem sábias, e hoje não tem isso mais? Por
que eles se concentraram todos em uma época só?
Como é que a gente pode saber disso?
Os caminhos da sabedoria, interessante. Será
que isso significa que existem caminhos? Bom, eu já
fiz minhas perguntas, até demais, não é? Vou começar
a dar as minhas respostas.

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Os primeiros filósofos. Eu, particularmente, acho


que devem ter tido as primeiras pessoas que se cha-
maram de filósofos. O primeiro filósofo mesmo não
tem como a gente saber quem foi. A primeira pessoa
que perguntou sobre a vida? Eu acho que não tem. Eu
acho que devem ter tido aqueles que primeiro rece-
beram o nome de filósofos. Essa é a minha resposta,
essa é minha linha mestra.
Bom, voltar às raízes faz com que a gente se
renove. Eu acho que voltar as raízes deve ser voltar
àqueles primeiros sonhos, primeiros ideais da gente,
para a gente beber dessa fonte do nosso entusiasmo,
da nossa motivação. Que, às vezes, ao longo do tem-
po, se desgastou. Eu acho que deve ser isso; será? O
quê vocês acham?
Bom, aqui, quando ela fala a respeito da época
dos sábios, eu acho que, por alguma razão, teve uma
época onde os sábios passaram para a História. O
pessoal os deixou na História, deve ser porque nesse
tempo o pessoal valorizava sábio. Aí escrevia histó-
ria sobre eles. – Nosso momento histórico deve ser
uma época dos sábios também. Deve ter sábios por
aí. Mas, a gente só escreve a história dos políticos,
dos jogadores de futebol.
Então, parece que a época não é de sábios, não
é? Eu acho que é isso. Agora eu vou ler e ver o quê ela
me diz disso. Se ela me disser algo que está acima da
minha expectativa, bom, ela está me acrescentando
coisas muito boas, e eu garanto que vai acrescentar,
no caso dessa autora. Mas, em um outro livro qual-
quer, ele poderia dizer coisas que fossem bem menos
do que supus, bem menos que a minha linha mestra.
Mas, deixe estar, que eu vou ler capítulo por capí-
tulo, colocando-a contra a parede, para ela me dar es-
sas respostas. Vou comparar com a minha linha mes-

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tra; vou sair aqui procurando, caçando a ideia principal


em cada parágrafo, vou fazer a minha nota de mar-
gem, e vou sair com um resuminho.
E aí eu digo para você:
“– O livro acrescentou, estava acima da mi-
nha linha mestra, ou não?”
Eu vou sair daqui com uma síntese, que vai me
acrescentar coisas muito boas. Aí eu vou fechar o li-
vro. Fechado esse livro, eu vou contar a história dele
todinha para mim. Blá, blá, blá, blá, os sábios na Gré-
cia, porque não sei quê, porque Pitágoras criou esse
nome, blá, subiu, desceu, foi para os pitagóricos, veio
dos pitagóricos, foi para os pré-socráticos, blá, blá,
blá, blá, blá. Vou contar a história para mim. Se faltar
algum pedaço,
“– Opa, esqueci um capítulo da novela. Dei-
xa eu voltar exatamente nessa altura. Ah, eu es-
queci disso aqui. Que foi quando nasceu Platão,
Sócrates, depois os Estoicos. Esse pedaço esta-
va faltando.”
Preenchi. Fecho, conto a história toda para mim.
Agora eu sei a história completa. Aí eu vou pegar o meu
resuminho, pegar aqueles meus colegas, que estão
precisando estudar isso também. Vamos nos reunir, e
vamos fazer uma cartada de filósofos, dos primeiros fi-
lósofos, que todo mundo vai sair daqui se lembrando
disso. Legal. Lembrem-se, só nesse momento, na hora
do repasse, é que é bom estudar em conjunto. – Qual-
quer um que venha a se meter no meio da minha explo-
ração, das minhas perguntas, quando estou estudando,
eu vou perder o foco. Não vou conseguir fazer nada.
Juntos, depois que fizemos tudo, o resumo de um
ou do outro pode até acrescentar. O resumo de outro
pode focar em um ponto que eu não tinha percebido. E
a gente vai se ajudar a memorizar o essencial.

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Essa é a forma de ler. Faz com que você, daqui


a dez anos, sobre os primeiros filósofos: “Li.” Quais
eram as ideias? “Blá, blá, blá, blá, blá.” Daqui a 20
anos, os primeiros filósofos: “Li.” “Quais eram as prin-
cipais ideias?” “Blá, blá, blá, blá,blá.” – “Lúcia, corre
lá, que você tem que dar uma aula sobre os primeiros
filósofos.” E estou eu lá, com 70 anos, com a minha
bengalinha. Pego o meu resumo, sei tudo sobre os
primeiros filósofos. Pode deixar comigo. Ou seja, eu
me aproprio. Eu capturo a essência desse livro. Eu me
aproprio, integro, e estou apta a distribuir, onde eu for
demandada. Isso é o Método Robinson.
Posso lhe garantir, eu tenho usado bastante, e
tem dado muito certo.

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MÓDULO 3
TÉCNICAS DE ESTUDO

Aula 23 – Conclusão – Repasse do Curso

Bom, eu estou me despedindo de vocês, mas fi-


quem por aí, que vocês sabem que nós teremos um
anexo (Módulo Extra), com algumas técnicas, que vão
ser muito boas para vocês complementarem tudo o
quê foi estudado até aqui. Mas, antes disso, vamos
fazer uma brincadeira juntos? Vamos fazer o repasse
do nosso Curso de Técnicas de Estudo.
Vamos lá? O quê a gente aprendeu juntos?
Ideia intrínseca, em primeiro lugar. Motivação
intrínseca no estudo em si. Depois a gente aprendeu
as vantagens de ser um bom estudante. Depois fa-
lamos das condições ambientais que podem favo-
recer a nossa leitura. Depois falamos de como fazer
a matrizinha do seu planejamento, o quê deve ser
feito e o quê não deve. Depois falamos a respeito de
como ler, procurar a ideia principal, fazer sublinha-
do, fazer nota de margem, fazer o seu resuminho.
Falamos dos quatro mandamentos do resuminho,
que você tem que seguir rigorosamente, para não ir
para o inferno do mau estudante. Falamos a respeito
do bom hábito de tomar nota de todas as aulas que
você assiste. Falamos, por fim, do método EPL2R:
explorar, perguntar, ler, recitar e repassar.
E assim repassamos as ideias principais de tudo
que foi visto. Não esqueçam, isso toma vida quan-

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do você coloca na prática. Um ano praticando isso


aqui, eu lhe garanto, você não esquece nunca mais
na vida.
E vamos lá para a continuação do Curso, para os
anexos. E eu espero encontrar você por aí, como um
estudante muito melhor do que era, antes de começar-
mos juntos.
Um abraço.

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MÓDULO EXTRA
CONCENTRAÇÃO

Aula 24 – Importância, dificuldades, práticas

Meu nome é Pedro Paiva, sou psicólogo de pro-


fissão, aluno e professor de Nova Acrópole, e hoje eu
vou falar um pouco sobre concentração.
E nessa aula vamos aprender um pouco mais so-
bre o conceito de concentração, sua importância na
nossa vida, as dificuldades para desenvolver essa ca-
pacidade, e alguns exercícios práticos para ajudar a
melhorar a nossa concentração.
O desenvolvimento da concentração não é uma
tarefa fácil, muito pelo contrário. Veremos o quão difícil
é dominar a nossa mente. Aliás, são muitas as tradi-
ções que sabiam da importância de desenvolver essa
capacidade. A concentração não é apenas uma ma-
neira de tornar os nossos estudos mais eficientes, ou
nos tornar apenas mais produtivos, mas é algo neces-
sário para o autoconhecimento, que é o grande objeti-
vo da Filosofia.
Então, veremos que concentrar a mente em
algo, seja algo externo, como um texto que estamos
lendo, seja algo interno, como encontrar um ponto de
serenidade em nós mesmos, consiste em algo mui-
to parecido com o ato de domesticar um animal. Po-
demos então imaginar a mente como um gigantesco
animal, como um elefante, por exemplo. O elefante é
um animal extremamente poderoso, e que pode ser

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muito útil para um agricultor, por exemplo, devido a


toda a sua força.
Mas, se esse animal não for dominado, pode ser
assustadoramente destrutivo. Assim é a nossa mente,
uma ferramenta poderosíssima, se for bem dominada,
mas extremamente perigosa, quando fora de controle.
Então, eu vou contar para vocês uma pequena
história, que ilustra isso que eu estou dizendo. Cer-
ta vez, um candidato a discípulo procurou o grande
Buda, a fim de se tornar seu discípulo, e disse:
“Ó grande Buda, estou aqui, pois quero ser
seu discípulo. Estou pronto. Pode me passar as
primeiras lições, porque eu estou pronto.”
O Buda disse:
“– Calma, meu rapaz. Antes de torná-lo como
discípulo, tomá-lo como discípulo, eu gostaria de
lhe pedir algo muito simples.”
“– Pode pedir, mestre. Estou pronto.”
“– Eu quero que você vá para casa, e re-
torne assim que conseguir não pensar mais em
macaco.”
O discípulo, sem entender muito bem o propósi-
to daquilo, se retirou. Um ano depois, ele retorna ao
mestre Buda.
“– Então, meu filho, você está pronto para
ser meu discípulo?”
“– Não, senhor. Eu não quero mais ser seu
discípulo. Quero apenas que você tire esse ma-
caco da minha cabeça.”
Essa história ilustra nossa dificuldade em con-
trolar a nossa mente. Escolher não pensar em algo é
muito difícil.
Então, agora eu vou apresentar para vocês al-
guns conceitos importantes. Para falarmos de concen-
tração, precisamos entender um pouco sobre o quê é

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nossa mente. Nossa mente, essa grande fábrica de


pensamentos, parece nunca estar em repouso. Mes-
mo quando a gente está dormindo, ela parece estar
trabalhando freneticamente, produzindo os nossos so-
nhos, que apesar de nem sempre a gente conseguir
se lembrar deles, ocupam boa parte do nosso sono,
da nossa noite.
Parece, é como se fosse a chama de uma foguei-
ra, que está constantemente reagindo ao vento. Indo
de um lado ao outro, com uma agitação incessante.
Se examinamos nossa mente, vamos ver que ela é
semelhante à visão que temos de uma cidade gran-
de vista por cima. Com toda aquela movimentação
de carros, pessoas, sons. Então, precisamos libertar
a nossa mente dessas perturbações, porque são elas
que provocam a distração e a dispersão.
A dispersão. – Para ganharmos consciência des-
se nosso nível de dispersão, eu gostaria de propor a
prática do Trataka. O Trataka é um exercício de con-
centração, e sua prática é muito simples. Basta você
fixar a atenção sobre um ponto no centro de um círcu-
lo, como vocês vão ver na figura. Quando consegui-
mos nos concentrar no ponto central, o círculo externo
desaparece, permanecendo apenas o ponto.
Entendam que esse é um efeito natural, que virá
com a prática. Não deve ser um objetivo, pois até o
desejo de fazer o círculo sumir vai atrapalhar a nossa
concentração. Então, é só fazer o exercício, sem muito
desejo, sem muita intenção. Então, nesse momento,
faremos uma prática por cinco minutos, só para a gen-
te fazer uma avaliação da nossa concentração.
Então, durante cinco minutos, fixem os olhos no
ponto central. E toda vez que surgir algum pensamen-
to indesejado, uma lembrança, uma preocupação, ou,
até mesmo, uma sensação que lhe tire do seu foco,

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abaixe a cabeça, faça um traço em um papel, e volte a


se concentrar. E quando houver outra dispersão, volte
a riscar o papel. Ao final dos cinco minutos, você vai
saber quantas vezes se dispersou.
Não se assuste se esse número for muito maior
do que você esperava. E se foi muito pequeno, des-
confie. Isso pode ter acontecido, porque você demo-
rou muito a perceber que havia se dispersado.
O objetivo da concentração é eliminar todos os
obstáculos que nos impedem de penetrar os objetos a
que escolhemos conscientemente prestar atenção. É
essa capacidade que nos permite compreender real-
mente as coisas. A compreensão de um texto, de algo
que alguém está falando, e até de questões mais filo-
sóficas, como:
“– Qual o sentido da vida?”
Vai ser proporcional ao nosso grau de concentra-
ção. É isso que vai nos permitir integrar plenamente o
conteúdo de um objeto. Uma atenção sem obstáculos
e sem fugas.
Estratégia. – Entendam que a grande estratégia
aqui não é ver tudo, mas focar naquilo que é essencial.
Assim, a concentração deve ser o descanso de todas
as ações secundárias, para conseguir a serenidade
necessária, que vai lhe permitir compreender plena-
mente os objetos. Quando formos estudar um texto,
por exemplo, devemos ter uma pergunta em mente. A
pergunta fundamental que precisa ser respondida ao
final daquele livro, ou daquele capítulo, ou parágrafo,
ou frase. Não importa qual, mas deve ser a mais rele-
vante para nós. Isso é uma leitura ativa.
Essa pergunta vai ser o objeto da nossa concen-
tração, e por mais que a gente se disperse devemos
retornar para essa pergunta. Assim, vamos ver que,
mesmo se não respondermos bem a essa pergunta

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fundamental, será muito mais fácil responder as ou-


tras que virão.
Bem, a dificuldade que encontraram no Trataka
revela a dificuldade no mistério da unidade. Com al-
guns exercícios, e a prática continuada, que vamos
explicar mais para a frente, você certamente consegui-
rá fazer esse círculo externo desaparecer. O difícil vai
ser manter isso por muito tempo. Ele vai sumir... ele
vai voltar... porque, inúmeras vezes, pensamentos e
sentimentos indesejados vão se infiltrar em intervalos,
às vezes muito curtos.
Então, esse estado de dispersão, que é revelado
pelo exercício, nos mostra que não funcionamos como
um. Somos fragmentados. O importante é não desis-
tir. Procurar exercitar com constância e perseverança.
Porque, um dia, é para que a gente possa, um dia, per-
ceber como as coisas realmente são em sua plenitu-
de, sem sombras, sem julgamentos, em sua unidade.
“– Se deixamos a mente em estado selva-
gem, sem controlá-la, será destruidora, e será
a origem de numerosos sofrimentos para nós e
para os outros. Todos os nossos sofrimentos pas-
sados, presentes e futuros têm origem na mente
não submissa e distraída.” (Fernando Schwarz)
Nós já falamos sobre o conceito de concentração,
sobre dispersão, fizemos um diagnóstico do nosso ní-
vel de concentração, e estabelecemos uma estratégia
para guiar a nossa prática. Agora, nós vamos falar do
caminho para o desenvolvimento da concentração,
das suas quatro etapas e dos obstáculos que vamos
encontrar nessa jornada.
O objetivo da consciência é despertar. A distra-
ção é o nosso principal inimigo, e ela conta com dois
capangas poderosos: o entorpecimento e a sonolên-
cia. No entorpecimento, o mais grosseiro dos dois,

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nossa mente se comporta de forma pesada e lenta.


É quase como um sono completo. É o estado de total
inércia da mente, onde se distrai com qualquer coisa,
com fantasias grosseiras, sem qualquer propósito ou
utilidade. E é comum, inclusive, divagar por longos
períodos de tempo.
E ao final a gente nem consegue se lembrar do
que a gente estava pensando. O celular, a internet,
as redes sociais, essas são verdadeiras armas do en-
torpecimento. Porque, às vezes, a gente perde horas
nisso, e depois a gente nem se dá conta do que a gen-
te ficou fazendo com aquele tempo tão inútil. Porque
aquele tempo, simplesmente, foi jogado no lixo, perde-
mos, não tem mais volta.
E a sonolência. A sonolência ainda é mais perigo-
sa, porque se disfarça de tranquilidade.
“– Não, eu sou desatento, porque eu sou
muito tranquilo.”
E aí, quando atribuímos virtude ao que, na ver-
dade, é uma debilidade, o problema é muito sério.
Porque dificilmente a gente vai travar a batalha, que
é necessária, para vencer esse defeito. A gente vai
proteger o defeito como se ele fosse parte da nossa
identidade. Seria como colocar um inimigo no centro
do nosso castelo, e a gente ainda protegê-lo.
Então, quais são os defeitos: a negligência, a ir-
responsabilidade, e assim vai. O disfarce vai se dar
através das justificativas. Por exemplo:
“– Ah, não presto atenção, porque essa ma-
téria é muito chata, ou é inútil, ou o professor é
péssimo.”
Enfim, você perde o verdadeiro alvo da batalha.
Começa a colocar a culpa nos outros, em vez de as-
sumir a responsabilidade sobre a sua atenção, sobre
a sua concentração.

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Primeira etapa: a etapa do esforço. Essa etapa


requer esforço, porque precisamos ter disciplina para
insistir nos exercícios, mesmo sem conseguir ver mui-
to resultado no começo. A gente vai ter dificuldade em
focar, e muito mais em manter o foco. É como come-
çar a voar, é difícil. As primeiras batidas de asa, com
certeza, o pássaro tem muita dificuldade para quebrar
aquela inércia. Por isso que a gente precisa de mais
disciplina, principalmente nesta etapa.

Segunda etapa: a etapa da prática. Com o maior


domínio da prática, a gente vai começar a focalizar
com mais facilidade os objetos, ainda que de forma
meio intermitente, sem tanta constância na concentra-
ção. Mas a gente vai conseguir retornar ao estado de
concentração, e isso vai se tornar cada vez mais fácil.
E aí a gente vai começar a entender melhor o quê a
gente realmente está buscando. Que estado é esse
que eu estou querendo alcançar.

Terceira etapa: a etapa da continuidade. Aqui a


concentração voluntária sofre cada vez menos com as
interrupções. Pode até conseguir se manter por mais,
muito mais tempo, e esse é o grande desafio. Tentar
prolongar os momentos de concentração. Tentar ven-
cer aqueles limites de um ou dois minutos, e tentar
levar para três, quatro, cinco. Ou seja, a continuidade
da concentração. Isso é muito importante.

Quarta etapa: nessa fase, a concentração se tor-


na um estado constante, onde não se faz mais esfor-
ço nenhum para mantê-la. É muito difícil falar desse
estado, a gente não está acostumado com isso. Mas
seria o ideal a gente poder estar sempre concentrado.
A gente tem a ilusão de que se concentrar cansa. Mas,

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dispersar também cansa. A nossa mente está sempre


prestando atenção em algo. A diferença é que a gente
não orienta a nossa concentração, a gente não orienta
o foco da nossa atenção.
É impossível falar do tempo necessário para mu-
dar essas etapas, quanto tempo vai ser gasto em cada
uma delas, já que isso vai depender mais da dedica-
ção de cada um. Mas, mesmo que vocês não perce-
bam essas mudanças, e que fiquem por muito tempo
na primeira etapa, por exemplo, não se preocupem,
pois, certamente, vão ter benefícios perceptíveis.
Bem, agora eu vou detalhar um pouco mais cada
uma das etapas. Essa primeira etapa começa quando
decidimos sair da confusão, que a nossa vida tem que
mudar, e que precisamos da batalha para nos tornarmos
aquilo que queremos. Decidir não é conseguir, mas, cer-
tamente, a gente vai quebrar uma grande inércia, quando
a gente toma essa decisão. E o esforço é menor quando
assumimos logo a nossa responsabilidade, sem perder
muito tempo, resistindo e lamentando. Assume a respon-
sabilidade, que você tem que mudar em alguma coisa. E
aí começa a travar as batalhas necessárias.
Então, aqui a gente vai deixar de nos enganar, e
aí começamos a enfrentar as dificuldades, mas sem
justificativa. É claro que a concentração não vai ser
constante. Na verdade, ela vai se manter por muito
pouco tempo, mas o trabalho já teve início. E aí a vi-
tória vai depender da constância e da perseverança.
Devagar e sempre.
Aqui nessa fase, especialmente, é necessário mui-
to esforço. Mas, esse esforço vai se reduzindo, vai dimi-
nuindo, à medida que a gente vai deixando de alimentar
os inimigos, os inimigos do entorpecimento e da sono-
lência. Assim, a nossa força vai ser cada vez menor, a
força necessária para manter a concentração.

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0 segunda etapa. Agora que já começamos a do-


minar um pouco melhor as dispersões, o importante
vai ser nos mantermos vigilantes, porque os hábitos,
os hábitos de entorpecimento, por exemplo, podem
se infiltrar novamente. E aí a caminhada vai precisar
recomeçar, o quê nunca é fácil. Porque a lembrança
de que já conseguimos uma vez pode levar a gente a
adiar de novo, não é? Como se a gente falasse:
“– Ah, eu já fiz. Então, eu começo na se-
gunda-feira. Ah, deixa para outra segunda...” E
assim vai...”
Essa inércia é muito mais difícil de ser vencida,
uma vez que a gente perdeu o ritmo. Então, aqui é pre-
ciso sempre se lembrar do objetivo que a gente está
buscando, para praticar em todas as situações. Esse
é o grande... é a grande finalidade. Sem deixar que o
estado de tranquilidade nos adormeça, e acabe por
nos levar à negligência, não é? Ou mesmo ao retorno
daquele estado de dispersão.
Então, aqui é importante saber que o trabalho
não acabou, e aí a gente tem que colocar energia para
manter aquilo, que já foi conquistado.
Na terceira fase, o mais importante é a atenção.
A gente costuma pensar que se manter atento é algo
cansativo. Pode ser, quando se pratica muito pou-
co, mas na realidade é o estado onde não se perde,
mas se ganha energia. O problema é que confundi-
mos atenção com tensão. Isso sim é cansativo. Essa
atenção é o quê vai proporcionar uma concentração
natural, sem esforço. E é como se pudéssemos nos
observar de fora. Nós nos vemos fazendo as coisas,
tudo parece um pouco mais lento, mas na realidade
estamos obtendo é velocidade e eficiência, porque es-
tamos vendo de fora. Estamos constantemente aten-
tos, observando cada um dos nossos gestos, para

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onde vamos, os pensamentos que estão vindo a nos-


sa mente, e assim vai.
Agora na quarta etapa, aqui está o verdadeiro
estado de concentração. Não é mais necessário ba-
talhar tanto. Não existe mais tanta distração. A per-
sonalidade começa a obedecer àquilo que se escolhe
fazer, naquilo em que se escolhe concentrar, e assim
vai. Então, seja acordar cedo no dia seguinte, seja es-
tudar por muitas horas, ou dedicar seu tempo para os
demais, sem medos, sem reservas. Essa entrega, né?
Então, a consciência se sente plena, porque vol-
tou, se voltou, não é? Para essa vida interior, por se
observar, por ver o quê você tem de melhor, que pode
transmitir para os demais, e assim vai. E aí os objetos
externos perdem um pouco de apelo. Você começa a
tomar gosto por esse estado de consciência, por esse
estado de concentração. E por isso o esforço se torna
menor. Na tradição oriental, a gente pode tratar até de
outras etapas, mas essas quatro já nos servem muito
bem, e já são um grande desafio, pelo menos para
grande média das pessoas.
A quarta etapa pode até parecer um sonho distan-
te, mas por que não sonhar com isso, não é? Perdemos
tanto tempo sonhando em ter coisas. Por que não de-
dicar um pouco os nossos sonhos a ser como gostarí-
amos de ser, não é? Não só por nós, mas porque as
pessoas que estão a nossa volta também seriam be-
neficiadas. Com esse nível de concentração, a gente
pode ser muito mais livre, porque a gente pode escolher
aquilo que a gente quer viver, escolher aquilo a que a
gente quer se concentrar. Então, essa liberdade vai nos
permitir também expressar muito mais bondade, muito
mais justiça, muito mais virtude, e assim vai.
A prática do relógio. Você vai pegar um relógio
de ponteiro, e vai se concentrar no ponteiro de segun-

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dos, ao longo de um minuto. Começou o minuto, você


vai seguir cada segundo daquele ponteiro, cada movi-
mento dele, com o máximo de atenção, com o máximo
de concentração, dando a volta completa. E ao final
você vai tentar então manter esse estado.
O que é interessante é que esse exercício pode
ser muito útil, inclusive para a gente ter um diagnósti-
co de quantas vezes a gente se dispersa. Porque ao
longo de um minuto, provavelmente, a sua mente vai
sair, vai se preocupar com outras coisas; vai, às ve-
zes, lembrar de alguma coisa que parece importante.
Ou, simplesmente ter alguma sensação física, ou algo
assim pode acabar lhe dispersando, e é interessante
você ir tomando nota disso. Ao final de um minuto, é
muito provável que você escape dez, 15 ou até 20 ve-
zes. Mas, não se assuste, é assim mesmo.
A prática do incenso. Esta é uma prática muito
simples, mas ela é muito útil. Você vai precisar de um
incenso e de um quarto bem escuro. Qual é a ideia?
Você colocar aquele incenso, que vai criar um ponto
de luz constante, que não fica oscilando, que não fica
variando, então você vai tentar se focar, se concentrar
naquele pontinho de luz, pelo tempo que você deter-
minar. Eu sugiro que não passe muito de três, quatro,
no máximo cinco minutos. Porque a chance de você
realmente fazer o exercício durante todo esse período
é muito pequena. O melhor é você manter ali um minu-
to, entre um e três minutos seria o ideal.
Então, é isso. Você se senta numa posição con-
fortável, com a coluna ereta, sem cruzar nenhum dos
membros, e ali você tenta colocar esse incenso, mais
ou menos na altura dos seus olhos, e mantém ali a
atenção, por esse período que eu acabei de falar. E aí
você vai com o tempo, com certeza, você vai conseguir
ir aumentando o período em que você fica concentra-

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do de forma constante, que é o grande objetivo. Não


se preocupe. Certamente você vai se dispersar mui-
tas vezes, mesmo sendo um período de tempo curto,
como um minuto. Mas, é assim mesmo, a prática vai
lhe dar mais facilidade.
A prática do Trataka. Essa prática é muito se-
melhante à prática do incenso. Mas, ao invés de você
estar em um quarto escuro, você vai estar no quarto
normal, iluminado, e, ao invés de ser um incenso a
gente vai usar uma placa, com o desenho que vocês
vão ver logo a seguir, aí nos slides. Aí você vai então
tentar se concentrar no ponto central. Concentrado,
quando a gente consegue se concentrar bem, a ten-
dência é que esse círculo externo comece a desapa-
recer. Ele apaga, volta, e é assim mesmo. Você tam-
bém vai definir um tempo, eu sugiro aí por volta de
três minutos, três a cinco minutos, não passa muito
disso, não é? E aí você vai tentar se manter concen-
trado o máximo possível, sem interromper tanto a sua
concentração.
Mas, por que você coloca ali três a cinco minutos?
Não é porque você vai ficar o tempo todo concentrado,
mas é para você insistir, durante todo esse período,
voltar para aquele ponto de concentração. Dispersou,
volta. Dispersou, volta. Esse é o exercício. E aí você
pode fazer isso, todos os dias, três minutinhos. Com o
tempo, você vai ver a diferença.
A prática dos objetos. Essa prática é muito sim-
ples também, e ela se parece muito com a prática
do Trataka e do incenso. Mas, ao invés de você ter
um incenso, ou de você ter o Trataka, você vai esco-
lher algum objeto. Pode ser um copo, pode ser um
jarro de flor, pode ser um martelo, qualquer objeto
que você tiver. Você coloca na sua frente, e tenta se
manter concentrado nele, durante algum período de

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tempo. Mais uma vez, três a cinco minutos. Não pas-


sar muito desse tempo.
E o quê é interessante? O objeto, ele vai provocar
em você, às vezes, algumas análises como:
“– Nossa, ele é grande; ou, ele é pequeno;
ou, ele está sujo; ou, está limpo...”
E é, justamente, este o grande desafio desta
prática. É você combater esses pensamentos, es-
ses julgamentos, essas análises. Para quê? Para
que você se mantenha concentrado, observando
cada detalhe, mas sem se prender a eles, e sem
deixar que a sua mente comece a criar associações,
que vão lhe desviar do objeto, daquilo que você está
observando.
Esse exercício é muito bom, porque ele vai nos
ajudando a identificar em nós o quê é um estado de
concentração. E é isso que a gente está buscando. Ver
como é que eu posso me relacionar com os objetos,
prestar atenção neles, sem me perder. Sem me perder
nessas associações e divagações da mente.
Por fim, a prática do cotidiano. Bem, todos os
exercícios anteriores vão lhe dando aos poucos uma
experiência do que é estar concentrado. Vão gerando
em você uma referência do que é esse estado de con-
centração, e é isso que, agora, você vai tentar praticar
nos diferentes momentos do seu dia.
Por exemplo, quando você está lavando louça.
Você pode estar lavando louça, prestando atenção
em cada detalhe, mas sem deixar que a sua mente
divague. Sem deixar que ela fuja para o problema no
trabalho, problema com a família ou qualquer coisa
assim. Você vai aproveitar aquele tempo ali que você
tem para lavar louça para se manter concentrado. Não
ache que você está perdendo tempo.
Às vezes, a gente pensa que:

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“– Não, mas se não pensar em tal coisa,


como é que eu vou resolver esse problema?”
Normalmente, quando a gente está preocupado,
a gente não está resolvendo o problema. A gente só
está se desgastando com ele. Então, quando a gente
está concentrado, e fazendo bem-feito, qualquer coisa
que seja, qualquer atividade que seja, a gente vai sair
com muito mais energia, com muito mais foco.
Então, esse exemplo, ao lavar louça, é muito
bom. Mas tem outros. Por exemplo, quando você está
dirigindo. Você pode ali se sentar numa posição con-
fortável, da forma correta, prestar atenção em tudo
que está acontecendo à sua volta, prestando atenção
no carro da frente. Ou seja, o máximo de atenção, o
máximo de concentração. E é interessante que esse
exercício, você com o tempo vai vendo que dirigir, por
exemplo, pode se tornar muito mais interessante, mui-
to mais agradável – do que aquele estresse a que a
gente está acostumado.
Uma outra forma de praticar, que eu acho muito
válida, e que hoje em dia a gente não pratica muito, é
quando você estiver escutando alguém. Quando estiver
escutando alguém, tenta se concentrar em cada pala-
vra que está sendo dita, no som dela, como ela lhe im-
pacta, como você sente aquilo que está sendo falado.
Esse exercício, ele é muito bom, porque a pessoa
vai se sentir mais escutada, mais ouvida. E você, tam-
bém, vai compreender, realmente, muito mais do que
a gente costuma compreender. Porque, normalmen-
te, a gente já começa a conversar com as pessoas já
respondendo mentalmente, ou já pensando no que a
gente vai falar depois. Fica aquele falatório. Enquanto
o mais interessante é você realmente escutar. Você
silenciar as vozes internas, para depurar, não é?, cada
uma daquelas palavras. Esse exercício é muito bom

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e, com certeza, vai lhe ajudar a criar laços muito mais


profundos com as pessoas.
Concluindo, o desenvolvimento da concentração
é, certamente, uma difícil tarefa. Mas, se a gente en-
tender bem as suas implicações, que não são apenas
com relação a nossa eficiência e produtividade, mas
também com relação à busca da nossa realização
como seres humanos, vamos ver que é uma caminha-
da que vale a pena. Esses exercícios são boas práti-
cas, que podem facilitar muito das nossas tarefas do
cotidiano, como estudar, por exemplo.
Mas, em um nível mais profundo, e se associar-
mos isso ao desenvolvimento da concentração com
uma busca de autoconhecimento, com a investigação
filosófica, que procura compreender a natureza pro-
funda das coisas e de nós mesmos, vamos ver que
a concentração, como técnica, é apenas a ponta do
iceberg. É como um cajado, que pode facilitar muito
a nossa caminhada, mas que tem pouca serventia se
não sabemos para onde queremos ir.

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ORIENTAÇÕES BÁSICAS

Aula 25 – Memória

Já aconteceu com vocês de estarem lendo algu-


ma coisa, irem fazer uma prova, e, de repente, dar da-
quele branco? Sabe, quando você acabou de assistir
uma aula, por exemplo, estava superinteressante, e
quando você foi falar para alguém, branco de novo.
Isso acontece o tempo todo. No nosso dia a dia, no
nosso cotidiano, é muito comum. A gente jurava que
tinha captado aquela informação, mas veio o branco.
Parece que aquilo tudo desapareceu.
Bem, meu nome é Pedro Paiva, e hoje vou falar
um pouco sobre memória.
Por que muitas vezes nós não lembramos das
coisas? Muito provavelmente, nós não conseguimos
guardar a informação da forma correta. A gente estu-
dou, leu, prestou atenção na aula, não foi por falta de
atenção. Mas, na hora de resgatar a informação, ti-
vemos alguma dificuldade. Então, quando as pessoas
falam assim:
“– Ah, eu não tenho memória.”
Muito provavelmente, não é falta de memória, é
na verdade mau uso da memória.
“– O grande mal do homem é o esquecimento.”
Quem disse essa frase foi Merlin, o grande mago
do mito do Rei Arthur. E isso ele falou no filme Excalibur.
E o quê isso significa? Significa que o esquecimento,

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não ter memória, é um problema muito mais grave do


que, simplesmente, perder informações. Merlin queria
dizer que a memória é algo vital, algo que faz parte da
identidade do ser humano, e que todos nós, de alguma
maneira, precisamos desenvolver.
A memória não é só para acumular dados, acu-
mular informações, como se a gente fosse um gran-
de arquivo. Na verdade, a memória pode nos ajudar a
descobrir o nosso sentido de vida, ou melhor, além de
descobrir, guardar, manter o foco, manter esse olhar
sempre atento àquilo que, realmente, é importante
para nós. Por exemplo, às vezes, a gente começa a
trabalhar, porque a gente quer ser feliz. E aí eu sei
que, para ser feliz, eu preciso ter dinheiro. Para ter
uma vida digna, cuidar das minhas coisas, pagar as
minhas contas etc.
Mas, com o tempo, eu posso me perder desse
meu verdadeiro objetivo, que era ser feliz, e começar
a me preocupar tanto, com ganhar dinheiro, que eu
acabo não alcançando mais a minha meta. E aí, eu
começo a trabalhar, começo a ser promovido e, de re-
pente, estou trabalhando dez, 12, 20 horas por dia, e
não estou conseguindo desfrutar daqueles momentos.
Por quê? Porque eu esqueci o meu principal objetivo,
e é a isso que a memória pode nos ajudar. Muitas ve-
zes, a gente esquece o quê realmente quer.
Tem uma história interessante, que é a história
de um índio. Uma história um pouco engraçada, mas
que serve para ilustrar. Imagine o seguinte; Chega um
homem branco, e um índio está lá deitado na rede,
naquela preguiça. E aí o homem branco pergunta:
“– Ei, é isso que você espera da sua vida?
Você vai ficar só deitando na rede, dormindo e
pescando? É isso que você quer?”
Ele falou assim:

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“– É, eu estou feliz assim.”


“– Bem, mas você poderia trabalhar e ga-
nhar dinheiro.”
“– Mas, para quê que eu vou trabalhar?”
“– É porque aí você pode ganhar dinheiro,
pode acumular dinheiro.”
“– Mas, para que eu quero dinheiro?”
“– Não, porque se você tiver bastante di-
nheiro, você vai poder fazer o quê você quiser.”
“– Ué, mas eu quero dormir na rede e pescar.”
Essa pequena história, ela é interessante para
mostrar para nós que, se a gente não perder de vis-
ta aquilo que a gente realmente quer, a gente não se
perde no caminho. Porque se a gente esquece o quê
a gente quer, ou se a gente esquece o quê a gente
busca, a gente, certamente, vai perder o foco, vai se
distrair com coisas, que não são tão importantes, e
aquela finalidade principal, a nossa felicidade, acaba
se perdendo.
Tem um conceito clássico de memória, que diz:
“– Memória é fidelidade a nós mesmos.”
Como assim, fidelidade a nós mesmos? Exata-
mente, a memória pode nos ensinar e manter forte,
manter firme a nossa verdadeira identidade. Temos
valores, temos princípios, temos uma identidade clara,
que a gente foi definindo e lapidando com o passar
dos anos, com o passar do tempo. E muitas vezes a
gente se coloca, ou fica diante de situações em que
essa identidade é colocada à prova. Muitas vezes, a
gente pode esquecer de um valor, esquecer de um
princípio, e escorregar.
Por exemplo, você está lá no seu trabalho, e você
vê que as pessoas estão planejando sair do trabalho
mais cedo; mas aquilo ali vai contra um valor seu, vai
contra um princípio seu. Nesse momento, é importante

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lembrar o quê é mais importante para você, senão a


gente acaba se perdendo.
Então, essa identidade, essa fidelidade é a me-
mória que nos permite manter. Quem sou eu? Quais
são os meus valores? Tem um outro conceito, que
complementa a ideia da memória:
“– O poder de reviver estados psíquicos pas-
sados, reconhecê-los como nossos, e localizá-los
em algum ponto do passado.”
Esse aspecto da memória mostra que a nossa
história, tudo que a gente foi, passando e vivendo, ela
vai compondo a nossa memória.
Tanto é que eu posso falar para vocês:
“– Ah, quando eu tinha 12 anos, na minha
escola, eu lembro que tirei dez na prova de Ma-
temática, e foi um dia muito especial para mim.”
Percebem, localizei um evento. E isso, de alguma
forma, contribuiu para construir quem eu sou. Então,
a memória nos dá uma noção de quem nós somos. É
como se ela começasse a construir, e isso, com cada
tijolo, cada memória, cada acontecimento, vai forman-
do esse grande edifício que nós somos. Claro, não es-
tamos completos. Isso aí é uma saga para a vida toda.
Mas nós precisamos desse lastro, nós precisamos
desses conteúdos, desses tijolos, desses degraus
para formar quem nós somos. Nós estamos aqui hoje,
com os nossos objetivos e nossas motivações, graças
a isso, graças a essa construção ao longo do tempo.
Buda diz que, em algum momento, até essas me-
mórias a gente vai abandonar. Mas, até chegar esse
momento, a gente precisa muito da memória. Ela que
nos ajuda a saber o quê vou fazer agora, qual é o meu
próximo objetivo etc.
Bem, e a gente vai ver que a memória só vai fun-
cionar bem se ela estiver também associada à con-

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centração. Por que a concentração? A concentração


me leva a otimizar, a colocar toda a minha atenção,
toda a minha energia em observar o quê realmen-
te está acontecendo. Então, a concentração vai me
permitir encontrar a essência das coisas, e guardar
aquilo que é útil.
Porque, por exemplo, às vezes, a gente em vez
de guardar aquilo que realmente é importante, a es-
sência do acontecimento, aquilo que eu posso apren-
der como experiência, eu guardo um monte de coisa
que não serve.
Uma vez, digamos que você estivesse no seu tra-
balho, e chega o seu chefe, e fala assim:
“– Ei, fulano. Você é um grande preguiçoso.
Olha só, você não me entregou a planilha na data
que eu tinha pedido.”
É claro que é ofensivo, e talvez ele não devesse
falar assim com você. Mas, o fato dele ter colocado
isso poderia servir como uma importante experiência.
Poxa, você podia aprender que, da próxima vez, você
vai ter que ficar mais atento, para que você não perca
os prazos, e assim vai. Mas, como é que a gente faz
normalmente? A gente fica ofendido. E aí o tempo vai
passando... e a gente só lembra do rancor,
“– Ah, aquele homem, um dia, me chamou de
preguiçoso.”
As semanas vão passando, os meses vão pas-
sando, e tudo isso só vai nos desgastando, porque
nós vamos guardando todo esse rancor. Quando o
mais importante era, talvez, descobrir o quê eu pode-
ria aprender com aquilo, e memorizar isso. Mas, não.
A gente guarda todo o rancor, toda a mágoa, e não
aprende nada. É como se a gente pagasse um preço
muito alto por aquilo, com todo aquele sofrimento, toda
aquela dor, mas não aprendesse nada. É como se fôs-

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semos a um supermercado, fizéssemos uma compra


enorme, mas não levássemos a mercadoria.
Então, a concentração vai nos ajudar a selecionar
o quê eu devo guardar, o quê vale a pena guardar. Não
qualquer coisa. É como se eu tivesse um armário de
ferramentas. Eu não vou guardar qualquer coisa no ar-
mário de ferramenta. Eu vou jogar fora a embalagem,
vou jogar fora todo o lixo. Vou guardar só a ferramenta,
só o quê eu realmente preciso.
Assim isso pode nos transformar de alguma ma-
neira, porque eu vou aprendendo a selecionar aque-
las memórias que acrescentem algo na minha vida,
que me façam crescer, que me façam me desenvolver.
E, às vezes, a gente reclama que a nossa memória
está ruim, que eu não estou conseguindo lembrar mais
nada, mas pode ser que ela não esteja ruim, mas que
eu esteja guardando muitas coisas inúteis.
Um problema de memória, que muitas vezes as
pessoas falam:
“– Ah, a minha memória não funciona para
nada.”
Eu vou dar um pequeno exemplo, que ilustra que,
talvez, não seja exatamente a memória o problema.
Eu vou contar uma pequena história que ilustra isso.
Tenho uma filha de sete anos, e é muito comum ela
receber bilhetes que precisa me entregar. Bilhetes que
falam de coisas burocráticas sobre algum aconteci-
mento ou evento na escola, alguma mensalidade que
teve algum reajuste. Enfim, informações burocráticas.
Esses bilhetes, é muito difícil ela se lembrar de
me entregar. Por outro lado, quando se trata de um
passeio, quando se trata de uma brincadeira, ou de al-
gum evento divertido para ela, esse ela não esquece.
E por que será? Porque, na verdade, a gente pensa
que o problema da memória é uma falta de capacida-

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de de guardar informações, mas, na realidade, o quê


falta é interesse. A questão do interesse é mais impor-
tante. Ou seja, se eu não estiver interessado, se eu
não conseguir orientar a minha atenção, vai ser muito
difícil eu me lembrar de alguma coisa.
Então, minha pergunta é:
“– Será que temos realmente problema de
memória, ou temos, na verdade, dificuldade em
selecionar, em colocar interesse naquilo que que-
remos memorizar?”
Porque, quando é algo divertido, vocês imaginem,
quando eu passei por uma festa, e foi muito divertido,
foi muito engraçado, meus amigos fizeram piadas, às
vezes, eu me lembro muito bem desses eventos, por-
que foram interessantes para mim. Quando estão me
falando alguma coisa que tem a ver com a minha área
de conhecimento, com a minha área de atuação, isso
tudo a gente guarda. Agora, quando me falam coisas
que eu não consigo me interessar, essas, provavel-
mente, eu vou perder logo.
Então, esquecemos das coisas, porque acaba-
mos levando uma vida muito mecânica, sem realmen-
te colocar esse foco. Lembramos de coisas, às vezes,
que ocorreram quando éramos crianças pequenas.
Por quê? Porque aquilo foi importante para nós. Aqui-
lo teve sentimentos associados, teve emoções asso-
ciadas, tem um valor especial. Agora, quando a gente
pensa no quê comi hoje de manhã, às vezes, eu não
consigo me lembrar. Por quê? Porque não foi impor-
tante, foi mecânico.
Então, a gente vai entender também que memo-
rizar não é simplesmente guardar tudo dentro de uma
sacola. Memorizar não é acumular informações, mas
organizar as informações. É colocá-las de uma forma
ordenada, para que eu possa recuperar aquilo. Ima-

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gine, um exemplo, você tem um apartamento ali, de


100 metros quadrados, um apartamento bem grande.
E aí você quebra todas as paredes desse apartamen-
to, e coloca todas as suas coisas jogadas ali no meio
da sala. Desde uma bola furada até o seu diploma de
curso superior. Está tudo jogado em uma grande mon-
tanha no meio da sala.
Agora vamos imaginar um outro apartamento do
mesmo tamanho. Mas, onde as coisas estão organi-
zadas. Tem salas, quartos, armários, gavetas, e to-
dos os mesmos objetos que a gente imaginou no pri-
meiro apartamento estão nesse segundo, mas agora
guardados de uma forma harmônica, organizada, in-
teligente.
Certamente, no segundo apartamento, seria mui-
to mais eficiente. Em pouco tempo, provavelmente,
encontraria alguma coisa que eu quero. Da mesma
maneira, a nossa memória precisa estar organizada,
para que eu possa recolher as informações sempre
que precisar.
E como é que funciona, então, a organização da
nossa memória? Como é que são esses armários da
nossa memória? Eles são construídos através de as-
sociações. – Associações com os nossos sentidos,
com as nossas emoções, com localizações. Então,
quando eu vou associando aquela memória, aquela
informação a uma coisa que faça sentido para mim,
ela tem muito mais chance de ficar bem guardada.
E o quê a gente precisa fazer então? A gente
precisa, de alguma maneira, construir associações
conscientes. Vocês já fizeram isso. Na hora de sair de
casa, para saber que tem uma coisa muito importante,
que você não pode esquecer, aí você pode colocar na
porta da saída da sua casa um lembrete, um bilhete.
Que quando estiver saindo você vai ver:

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“– Opa, estava esquecendo aqui a minha mo-


chila... Estava esquecendo aqui a minha pasta...”
Você associou ao momento em que você estava
saindo aquela lembrança. Então, da mesma maneira,
a gente pode construir essas associações, por meio
da nossa imaginação, para lembrar de certas infor-
mações. É nesse sentido que a gente disse que a in-
formação se torna viva, porque ela é introduzida, ou
ela é integrada a nossa vida como um todo, a outros
momentos da nossa vida. É nesse sentido que signi-
fica que a memória, ela passa pelo nosso coração. A
informação passa pelo nosso coração, e aí ela se tor-
na viva. Informações vivas são muito mais fáceis de
lembrar.
Bem, até o momento, já falamos da importância
da memória, como ela pode nos ajudar a encontrar a
nós mesmos. Vimos que memorizar tem a ver com or-
ganizar. Vimos também que, para memorizar, eu pre-
ciso ter interesse, preciso colocar a atenção, concen-
tração naquilo que eu quero. E agora vamos praticar
algumas técnicas, aprender algumas técnicas, para
tentar exercitar e desenvolver cada vez mais a nossa
memória.
Memorização de texto: Será que precisamos
mesmo decorar textos?
Normalmente, o quê é necessário é simplesmen-
te entender o contexto, entender as ideias principais.
Isso já é suficiente para a maioria das provas e exercí-
cios que vamos fazer.
Mas, às vezes, pode sim ser importante decorar
letra por letra, linha por linha, de alguma coisa. Por
exemplo, em prova de concurso, às vezes, você pre-
cisa ter ali a letra da Lei, cada detalhe. Porque uma
vírgula, uma palavrinha pode mudar completamente o
sentido da questão, e aí você erra, você perde aquilo.

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Bem, e uma outra razão, que eu acho muito im-


portante, de decorar texto, é que isso pode nos servir
como ferramenta de mudança de um estado de cons-
ciência. Por exemplo, às vezes, você está em um dia
meio triste, meio chateado, e aí você se lembra de um
texto que lhe traga força, que lhe traga esse espírito de
vontade, essa força de vontade, ou algo que lhe faça
rir, que lhe faça sorrir, contemplar a beleza. Enfim, às
vezes é um poema, às vezes é um texto mesmo, às
vezes é até uma imagem, que lhe ajuda a evocar algo.
Saber essa beleza do texto, saber esses detalhes,
pode realmente mudar o seu dia. Mas, com certeza,
é muito difícil decorar texto. Não é fácil, leva tempo.
Então, você vai precisar ter muita paciência. Eu vou
ensinar algumas técnicas, que podem ajudar a acele-
rar esse processo. Mesmo assim, vão ser necessárias
paciência e perseverança.
A técnica consiste no seguinte: Você vai escolher
um texto, e vai ler a primeira linha do texto. Quando
você tiver terminado de ler, você vai reler mais umas
duas ou três vezes, até que você vai tentar repetir a
linha para você sem ler.
Quando você conseguir repetir a linha perfeita-
mente, você vai passar para a segunda linha, e vai
fazer a mesma coisa. E aí vai repetir a linha para você
mesmo. Uma vez que você conseguiu repetir essa se-
gunda linha, você vai repassar a primeira na sua ca-
beça, repassar a segunda, e aí começar a repetir e a
tentar decorar a terceira linha.
Feito isso, decorou a terceira, volta para a pri-
meira, para a segunda e para terceira. Ou seja, toda
vez que você for passar para uma nova linha, você vai
repassar as anteriores mentalmente. E quando você
conseguir completar todo um parágrafo, você tenta re-
peti-lo por três vezes completo. E aí, depois de repe-

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tir por três vezes completo, você relê o parágrafo, vê


se não tem nenhum erro, se não esqueceu nenhuma
palavra, se não deixou alguma coisa passar, e então
passa para a linha do próximo parágrafo.
Então, assim você vai fazendo, de forma acu-
mulativa. Cada linha, você volta para o início. Cada
parágrafo, você volta para o parágrafo anterior. E as-
sim... você vai avançando. Ao final, quando chegar a
completar o texto todo, que você gostaria de decorar,
você vai ter que repetir por mais algumas vezes. E
aí você vai ver que essa memória vai ficando bem
consistente.
Você pode achar que isso vai levar, que isso leva
muito tempo, que isso demora muito. Mas, podem
acreditar que, seguindo uma técnica, um método, você
ganha muito tempo, e não perde não. Pode parecer
difícil, mas com exercício, com treino, com a prática,
vai se tornar cada vez mais fácil.
Imagens concretas: Por que decorar imagens
concretas?
Bem, a imaginação é algo que ajuda muito na me-
morização. É graças à imaginação que a gente conse-
gue, às vezes, guardar muitas informações, conteú-
dos de livros, de filmes completos, porque a gente usa
imagens. A imagem condensa muitas informações. Ela
guarda muitas informações de uma forma simples, e
muito mais fácil e natural para a gente decorar.
É muito mais fácil, tentem se concentrar e imagi-
nar a palavra flor, como se estivesse escrita na tela de
um computador; você só pensa na palavra.
“– Tá, ok, consegue decorar.”
Mas, se você imaginar uma flor, uma flor bem bo-
nita, bem exuberante, qual imagem você acha que vai
ser mais forte e mais fácil de guardar? Com certeza,
a imagem da flor, muito mais do que aquelas letrinhas

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ali sem carregar nenhuma vida, sem carregar nenhum


valor emocional, sentimental etc.
Então, a imagem, ela me permite criar associa-
ções. E, como funcionam essas associações? As as-
sociações, é como se eu colocasse um localizador na
minha memória. Eu vou associar aquele conteúdo,
aquela informação a outras coisas. Eu vou trazer a
ela vida, vou lhe trazer movimento, associá-la a outros
sentidos.
Para a gente entender, como os nossos sentidos
evocam memórias. É muito interessante, tem gente
que, só de sentir aquele cheiro de lenha, queimando
no fogão, já se lembra de toda a sua infância, do doce
de leite que ele comia, quando a vó dele fazia no fogão
a lenha. Percebem que, se eu coloco os sentidos, eu
ajudo a tornar aquela memória mais viva. Dou uma
localização, dou um endereço para a minha memória.
Então, essa é a ideia. A gente vai tentar fazer isso
agora de forma consciente. Deliberadamente, vamos
escolher associações. Vamos usar a nossa imagina-
ção, para tornar cada imagem, cada informação mais
viva, e assim guardá-las de forma mais forte, mais cla-
ra, na nossa memória.
Vamos pensar agora em dez imagens: lago, heli-
cóptero, chocolate, cadeira, pirulito, baleia, escola, Sol,
óculos, casaco. Conseguiram decorar? Provavelmen-
te, não. Agora, então, vamos tentar criar as imagens,
vamos tentar dar vida, vamos colocar mais elementos
de humor, de movimento, de cor para essas palavras.
Vamos lá.
Imaginem um lago. Um lago bem grande, bem bo-
nito, espelhado. E, saindo desse lago, um helicóptero
amarelo gigantesco. Ele está saindo do lago. A cauda
dele parece que ainda está mergulhada na água, e a
sua hélice, girando naquela velocidade. E sobre a hé-

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lice, correndo sobre a hélice, um chocolate, uma barra


de chocolate. É isso mesmo. É um chocolate correndo.
Bem, e nesse chocolate, em um dos quadradi-
nhos que formam essa barra de chocolate, tem o pé
de uma cadeira, atravessando essa barra de chocola-
te. E essa cadeira, muito grande, rosa choque, tem um
pirulito sentado. É como se fosse um pirulito sentado
na cadeira. E o pirulito está carregando no seu colo
uma enorme baleia. Uma baleia que parece um bebê.
E quando a gente vai olhar dentro da boca da baleia
tem uma escola cheia de crianças brincando, gritando.
Parece até que a escola vai explodir de tantas crian-
ças dentro. E aí na janelinha da escola tem um raio
de Sol. E o raio de Sol está entrando, e de um lado
tem a escola, do outro lado, o próprio Sol. E o Sol está
usando o quê? Óculos escuros. É um Sol com óculos
escuros. E esses óculos têm uma haste muito grande,
muito comprida. E uma dessas hastes então forma um
gancho. E nesse gancho tem um enorme casaco de
plumas, verde fosforescente.
Bem, vocês viram que essa mistura é meio...
meio louca, meio maluca. Mas, cada uma dessas pa-
lavras, cada um desses exageros que eu coloquei,
dessa cor, desse movimento, foi justamente para
tornar tudo mais vivo, mais impactante. E um pouco
do humor, como eu coloquei ali, o pirulito sentado na
cadeira, ou da escola quase explodindo, ou de um
Sol com óculos escuros, todas essas coisas ajudam
a dar um colorido para cada informação. E, ao invés
de ser uma informação fria, neutra, agora ela se torna
viva e marcante.
Bem, agora tentem vocês, sem ler as palavras,
sem escutar o áudio, tentem repassar todas essas
imagens, todas essas palavras, e vejam se foi mais
fácil assim.

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É comum que algumas pessoas podem até pen-


sar em... no meio dessas palavras colocar as crian-
ças, por exemplo. Porque a gente criou uma imagem
de crianças. E eu as coloquei justamente para mostrar
isso. Que ao criar essa cadeia de imagens, criar essas
associações de imagens, a gente tem que tomar cui-
dado para não colocar outras diferentes. Porque se a
gente coloca uma outra imagem, a gente pode acabar
confundindo, achando que ela também guarda algum
conteúdo, certo?
Olha, e é interessante, porque essa forma, essa
lista que a gente fez, de dez palavras, pode ter pare-
cido um pouco difícil para alguns, mas para outros foi
muito fácil. Com a mesma técnica, sem mudar nada,
eu posso criar listas de 50, 100 palavras, tranquila-
mente. O quê é importante? Eu crio uma imagem forte,
e que uma imagem esteja enganchada na outra. Eu
não posso pensar em imagens isoladas. Elas têm que
estar em contato.
Lembra que o helicóptero saia da água? Lembra
que o chocolate estava correndo em cima da hélice?
Que a cadeira atravessava o chocolate? Que o piruli-
to estava sentado sobre a cadeira? Que a baleia es-
tava no colo do pirulito? Que a escola estava dentro
da boca da baleia? Que o raio de Sol atravessava a
janela, e que os óculos escuros, que estavam no Sol,
tinham uma haste, que formava um gancho, que esta-
va prendendo o casaco?
Viram? Isso é muito importante. A gente precisa
enganchar uma imagem na outra, porque ao lembrar
de uma imagem eu vou lembrar de todas as outras.
Tentem isso também com uma lista de compras, por
exemplo. Vocês vão ver que vai ser muito fácil decorar
50 itens com tranquilidade. Claro que, com a prática,
isso vai se tornar muito mais fácil.

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Às vezes, você pode até achar assim:


“– Ah, isso eu nunca vou conseguir.”
Mas, se você praticar, se você treinar bastante,
tenho certeza que vai conseguir.
Bem, uma outra forma de utilizar essa técnica é,
ao invés de usar palavras de objetos concretos, usar
palavras que sugerem símbolos; o quê é mais difícil,
porque vai exigir mais criatividade. Porque, tudo bem,
pensar em uma cadeira é fácil. Mas, como é que eu
faço para pensar em ordem? Ou, como é que eu faço
para pensar em alegria? Como é que eu faço para
pensar em justiça? Enfim, cada uma dessas palavras
tem um sentido mais subjetivo. Então, eu vou ter que
simbolizar cada uma dessas ideias com imagens, usar
a mesma técnica anterior.
Então, vejam bem, eu vou passar uma sequên-
cia de palavras, e vocês vão ver, vão tentar criar os
seus próprios símbolos, e ver se conseguem decorar.
Ordem, alegria, justiça, generosidade, concentração,
memorização, paciência, perseverança, liberdade.
E aí, conseguiram criar uma imagem para cada
uma dessas palavras? Conseguiram encadear todas
elas? É mais difícil, não é? Realmente, vai exigir essa
criatividade e essa síntese. Como é que eu pego uma
ideia e a transformo em uma imagem?
Isso com a prática também vai se tornando cada
vez mais fácil, e você pode ir criando os seus próprios
símbolos. Eu, por exemplo, vou colocar para vocês
como eu fiz para tentar decorar essa sequência.
Ordem, eu pensei em uma gaveta perfeitamente
organizada, e brilhante de tão organizada. E dentro da
gaveta, lá no fundo, tinha um sorriso enorme, que re-
presenta a alegria. E em um dos lados desse grande
sorriso pendia uma balança, a balança da justiça. E
em um dos pratos da justiça uma montanha de mo-

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edas se espalhando, representando a generosidade.


Mas, todas elas se acumulavam, e se concentravam
em um único ponto, que representa a concentração, e
desse ponto emanava uma grande luz, iluminando um
cérebro, um cérebro cheio de arquivos, representando
a memorização. Em cima desse cérebro, tinha uma
cadeira de balanço, e ali um senhor pacientemente es-
perando o dia passar. No nariz desse senhor pacien-
te, havia um escalador, com muito esforço, tentando
escalar o nariz desse velhinho. E precisava de muita
perseverança para conseguir chegar lá. Uma vez que
ele alcança, então, a ponta do nariz daquele velhinho,
ele salta de asa-delta, representando a liberdade.
Bem, as imagens para vocês podem não fazer
nenhum sentido, mas para mim fazem. Isso é impor-
tante. Vocês encontrem os símbolos, as representa-
ções que fazem sentido para cada um de vocês. É isso
que vai permitir à gente conseguir pegar ideias cada
vez mais complexas, e representá-las de uma forma
precisa. Não estranhe se no começo vocês tiverem di-
ficuldade. É normal. A gente pode confundir um pouco
os conteúdos etc. Mas, se a gente conseguiu guardar
a essência, já vai ser suficiente.
Mais uma técnica muito interessante é o Palácio
da Memória. O Palácio da Memória teria surgido como
técnica lá na Grécia antiga. Porque aqueles palestran-
tes, aqueles oradores tão famosos precisavam deco-
rar, às vezes, muito conteúdo. Então eles utilizaram
esta técnica para dar aquelas palestras públicas. Na
época não tinha datashow. É interessante que eles
usavam era a sua memória espacial. Ou seja, era uma
memória que todos nós temos, de lembrar de localiza-
ções, de lugares, de espaços.
Só uma curiosidade. É que os esquilos, por exem-
plo, têm essa memória, e a utilizam muito bem. Não

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sei se todos sabem, mas um esquilo chega a escon-


der 10.000 nozes por ano em diferentes lugares, às
vezes, distantes uns dos outros. É claro que eles per-
dem alguns, e é graças a esses pequenos lapsos que
nascem árvores em diferentes lugares. Mas, a maioria
deles, eles conseguem recuperar. E como é que eles
fazem para decorar tantas informações assim, tantos
lugares diferentes?
É porque, na verdade, a nossa capacidade de
memorizar lugares é muito grande, é muito mais po-
derosa do que a nossa capacidade de decorar infor-
mações normalmente. Então, no Palácio da Memória,
é esse tipo de capacidade de memorização que nós
vamos utilizar.
Vamos buscar, então, lugares que nós já conhe-
cemos muito bem, e tentar ali guardar informações.
Por exemplo, se você tentar fechar os olhos aqui, e
imaginar como é a sua casa, como é a sua casa a par-
tir do momento em que você entra pela porta da frente,
tenho certeza de que você vai se lembrar de detalhes,
sem nenhuma dificuldade.
Você vai conseguir lembrar onde é que fica a por-
ta, onde fica a garagem, onde fica a sala, onde fica a
cozinha, onde ficam os móveis da cozinha, onde ficam
os móveis do escritório, e assim vai. Se você pensar
na casa da sua avó, da sua irmã, da sua tia, enfim,
qualquer uma dessas casas, mesmo que você não te-
nha ido lá tantas vezes, você vai ver que é muito fácil
de decorar. Nosso cérebro está muito bem-preparado
para isso.
Com a técnica do Palácio da Memória, por exem-
plo, eu posso pegar uma palestra inteira, transformá-la
em tópicos, e desses tópicos criar imagens. O quê eu
vou fazer com essas imagens? Ao invés de associar
uma à outra, e de guardá-las dentro de uma sequência

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lógica, a sequência que eu faria, por exemplo, para lo-


calizá-las, ao percorrer a minha casa. Eu vou mostrar
para vocês um exemplo de como posso transformar
uma aula, uma palestra, um curso em informações,
imagens, que eu possa guardar em um ambiente que
eu escolher.
Bem, agora eu vou apresentar a técnica do Palá-
cio da Memória, baseada na aula que acabei de dar.
Eu vou ter que falar sobre o conceito clássico de me-
mória, sobre a importância dela, sobre o problema da
distração, sobre o problema de selecionar aquilo que
guardamos, sobre utilizar a memória de uma forma
prática, das técnicas, cada uma delas, e concluir.
Bem, então vamos lá. Aqui está uma planta de
um apartamento comum, onde eu vou, então, guardar
cada imagem que criei para sintetizar o conjunto de
informações. Estou entrando aí por essa porta, e no
primeiro cômodo, na sala, eu encontro uma foto mi-
nha, que representa a minha identidade, e me ajuda
a lembrar que a memória é fidelidade a nós mesmos.
O próximo cômodo é a cozinha, onde coloquei a
imagem do Mago Merlin, que me lembra que o gran-
de mal do homem é o esquecimento. E que lembrar,
memorizar, não é só uma questão de acumular infor-
mações, mas também é uma trilha de crescimento. Até
porque o mago Merlin é um grande mestre.
A imagem dessa criança me remete à ideia de
que os nossos interesses vão ajudar na nossa memó-
ria. Reclamamos de falta de memória, mas na verda-
de, às vezes, é falta de interesse. E essa criança me
lembra minha filha, naquele exemplo que eu dei, que
não me entrega os bilhetes porque, provavelmente,
está prestando atenção em outras coisas. Borbole-
tas, por exemplo, é algo que, com certeza, chamaria
a atenção dela.

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No próximo cômodo, temos um diamante, que


me lembra que cada memória, cada acontecimento,
guarda algo de valor, e que eu preciso me concentrar
nisso, nesse elemento, nessa essência, e não sofrer e
guardar coisas inúteis.
Agora, no outro cômodo, eu vejo aí uma caixa
de ferramentas, que representa, justamente, o fato
de que as memórias são algo que pode nos ajudar
no cotidiano. E também já me remete a uma próxima
ideia, de que eu posso desenvolver técnicas, habili-
dades, capacidades que me ajudam a utilizar a minha
memória com mais domínio, assim como eu uso uma
ferramenta.
A primeira técnica que eu ensinei foi a técnica de
decorar textos, onde a gente ia linha por linha, apren-
der linha por linha, cada tópico, cada palavra.
No próximo cômodo, eu coloquei a imagem de
um tijolo, que me lembra a produção de imagens con-
cretas, que foi aquela associação de imagens que nós
fizemos para decorar listas de compras etc.
No próximo cômodo, no banheiro, eu coloquei
logo na entrada dele uma imagem simbólica, a ima-
gem de uma pomba, que traz a ideia da paz e tudo,
mostrando que a gente passou e aprendeu um pouco
sobre a técnica de imagens simbólicas, para sintetizar
mais informações.
E por último, a última técnica, esta que estou
apresentando agora, do Palácio da Memória.
Bem, usem as suas imagens, e não se preocu-
pem se no começo não for algo muito fácil, ou muito
simples, de fazer. Com a prática, vocês com certeza
vão conseguir. Bem, vocês podem se perguntar, co-
mentar:
“– Puxa, mas a minha casa não é tão grande,
eu não tenho tanto espaço.”

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Mas, olha, se eu escolher o meu quarto, eu pode-


ria guardar muita coisa. Poderia guardar uma informa-
ção na cama, outra na cômoda, outra no armário. Às
vezes, até dentro de uma gaveta eu consigo encontrar
vários campos, vários pontos diferentes, e em cada
um deles guardar uma informação também diferen-
te. E assim eu posso ter muitos palácios da memória,
muitos lugares, guardando diferentes conteúdos, e os
acessando sempre com mais facilidade.

Conclusão. Essas são algumas técnicas que eu


já utilizei, e que para mim servem muito bem. Eu acre-
dito que, para a maioria das nossas utilidades mais
comuns, elas são muito úteis e práticas. Mas, o impor-
tante é que cada um pode desenvolver a sua própria
técnica. Perceber, combinar diferentes técnicas, com-
binar diferentes formas, e guardar as informações. O
importante é utilizar bem a imaginação. Isso vai ser
uma vantagem muito grande.
Claro que tem pessoas que querem se tornar pro-
fissionais da memória. É possível, mas o importante
é a gente ser prático, encontrar qual é o nível de utili-
dade, qual o nível de necessidade que nós temos. Só
tem uma forma de a gente, realmente, desenvolver a
nossa memória: exercitando, praticando muito.
E mais uma vez, eu volto a lembrar, que se eu
utilizar a minha memória não só para acumular infor-
mações, não só de uma forma mecânica e utilitária,
eu posso utilizar a memória para sempre lembrar de
quem eu realmente sou. Ou seja, se eu me envolvo
em uma discussão, eu percebo que eu estou saindo
do meu centro, a minha memória também pode me
ajudar a lembrar que:
“– Calma, eu não sou uma pessoa nervosa,
eu não sou uma pessoa agressiva ou violenta.”

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E eu volto para onde eu estou, para a minha ver-


dadeira identidade.
Então, essa é a grande finalidade da memória.
Lembrar de quem nós somos.
É fidelidade a nós mesmos.

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LUCIA HELENA GALVÃO MAYA é


professora de Filosofia, há mais de 30
anos, na Organização Internacional Nova
Acrópole. Possui quatro livros publicados e um no prelo,
dois roteiros teatrais montados, e é letrista de melodias,
interpretadas por nomes expressivos da MPB, como Zizi
Possi, Flávia Wenceslau e outros. Possui cerca de 700
palestras publicadas no YouTube e no canal de Streaming
da Nova Acrópole, Acrópole Play, com palestras que já
obtiveram mais de duas milhões de visualizações, e hoje
somam mais de 70 milhões de acessos. Faz inserções
em veículos de imprensa no País, como Jovem Pan, CBN
e outros, e realiza conferências em instituições públicas e
privadas em todo o Brasil.

Possui ainda cursos online com mais de 10.000.000


alunos, com as temáticas de Administração do Tempo,
Técnicas de Estudos e Estoicismo, em parceria com a
empresa Idealix Cursos.
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A filósofa e professora Lúcia Helena Galvão


traz à tona a profundidade do que é ser um
verdadeiro aprendiz. O Curso Aprendendo
a Estudar é banhado pelos conhecimentos
da Filosofia que dão um direcionamento,
sentido e amplitude maior que uma
simples técnica de estudos.
É fundamental que todo ser humano seja um
bom aprendiz. Existirmos para construirmos a
nós mesmos e ocupar o nosso espaço
no Mundo. Então, quem não é aprendiz está
fadado a passar a vida em vão, em sair do palco
da existência sem ter acrescentado nada na
própria vida e das pessoas com quem conviveu.
A Vida é pedagógica e tem provas todos os dias,
temos que ser aprendizes para passar por elas
e não deixar essas provas se tornarem
um sofrimento inútil, pois a Vida é reiterativa.
Estar permanentemente com o ânimo de
aprendizado garante que você se saia
bem nas provas da Vida.

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