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Modelagem do solo para sistemas de

aterramento – a determinação da
profundidade do modelo geoelétrico
 3, agosto, 2022
 Um Comentário
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Publiquei recentemente (junho de 2022) na edição 25 da revista Cigre


Science&Engineering (publicada pelo Cigre, em Paris/França) o artigo “Ground
modeling for the design of electrical grounding systems – The determination of
the geoelectric model depth”. Apresento aqui o resumo e as conclusões deste
artigo, que demonstram a necessidade de modelos de solo profundos para o
projeto de sistemas de aterramento de grandes dimensões, como os
caracterizados por usinas fotovoltaicas e parques eólicos.

O problema aqui proposto é a determinação da profundidade necessária do


modelo geoelétrico a ser utilizado no projeto do sistema de aterramento de
plantas de geração de energia renovável, com quilômetros de extensão, que
deve ser compatível com a área e a geologia local. Plantas situadas em regiões
de baixa resistividade, como bacias sedimentares, requerem modelos
geoelétricos mais rasos, enquanto aquelas localizadas em áreas cratônicas,
que apresentam alta resistividade, requerem modelos geoelétricos mais
profundos.

Com base no conhecimento da estrutura geológica local, a profundidade do


modelo geoelétrico pode ser estimada e as campanhas de sondagem
geoelétrica podem ser planejadas, o que pode incluir uma combinação de
sondagens elétricas verticais rasas (SEV, com arranjos e Wenner ou de
Schlumberger) com sondagens audiomagnetotelúricas (AMT) e/ou
levantamentos eletromagnéticos no domínio do tempo (TDEM).

Neste artigo foi elaborado um estudo paramétrico que avalia a profundidade do


modelo geoelétrico necessário para o projeto de um parque eólico e para dois
tamanhos de UFV. Este artigo interdisciplinar aplica conhecimentos de
geofísica para a solução de um problema de engenharia elétrica.

A primeira constatação do conjunto de simulações realizado é que,


considerando o sistema de aterramento integrado, seja de uma UFV ou de um
parque eólico, não há motivos para preocupações quanto à resistência de
aterramento, pois essas plantas de grande extensão sempre apresentarão uma
resistência de aterramento baixa, abaixo do clássico valor de referência de 10
Ω.

Para o projeto de eletrodos de aterramento HVDC, é necessário um modelo


geoelétrico profundo, que pode atingir toda a crosta superior (cerca de 20 km
de profundidade). Para o sistema de aterramento de uma instalação em
corrente alternada, não importa o tamanho da área, um modelo geoelétrico de
2 km de profundidade será suficiente, mesmo em um meio geológico de alta
resistividade.

Para uma única torre de aerogerador de um parque eólico, o levantamento


tradicional de eletrorresistividade com arranjo de Wenner e espaçamento de
até 64 m é suficiente para a construção de um modelo geoelétrico adequado.
No entanto, para as plantas de geração renovável aqui analisadas, a
construção de um modelo geoelétrico requer a combinação de sondagens
elétricas verticais rasas (SEV) com sondagens eletromagnéticas mais
profundas, como o audiomagnetotelúricos (AMT) e/ou no domínio do tempo
(TDEM – Time Domain Electromagnetic).

A norma ABNT NBR 7117/2020 inclui os levantamentos eletromagnéticos como


um dos recursos de mapeamento da resistividade das camadas mais
profundas do solo, considerando sua aplicação para sistemas de aterramento
de grande área. A metodologia para a construção de um modelo geoelétrico
profundo, combinando dados elétricos e eletromagnéticos, foi inicialmente
estabelecida para o projeto de eletrodos de aterramento HVDC, porém, já foi
aplicada aqui no Brasil para a modelagem geoelétrica de diversas instalações
de energia (dois parques eólicos, três UFV e uma SE).
O estudo paramétrico realizado adotou um modelo geoelétrico 1D de três
camadas. No entanto, para um projeto de sistema de aterramento de grande
área, usualmente será necessário um modelo com mais camadas, de modo a
permitir uma boa representação das camadas superficiais, responsáveis pelos
gradientes de potencial da superfície do solo, e das camadas mais profundas,
importantes para a determinação da resistência de aterramento da planta. A
resistência de aterramento é um importante parâmetro para o cálculo do split-
factor, que determina a distribuição da corrente de falta para a terra na SE
coletora pelos caminhos disponíveis (cabos para-raios da LT, malha da SE e
malha da UFV ou torres de aerogeradores).
Autor:

Por Paulo Edmundo da Fonseca Freire, engenheiro eletricista e Mestre em


Sistemas de Potência (PUCRJ). Doutor em Geociências (UNICAMP) e membro
do CIGRE e do COBEI, também atua como diretor da Paiol Engenharia

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