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Jornada de Estudos
Antigos e Medievais
ISSN 2237-1605
Organizadores
Terezinha Oliveira
Rafael Henrique Santin
Silvana Malavasi Huszcz
Juliana Calabresi Voss Duarte
Anna Paula de Jesus Almeida
Maringá-PR
Setembro/2020
FICHA TÉCNICA
XIX Jornada de Estudos Antigos e Medievais
IX Jornada Internacional de Estudos Antigos e Medievais
Política, Cultura, Religião e Religiosidade: Projetos Educacionais na Antiguidade e Medievo
Promoção:
Universidade Estadual de Maringá
Programa de Pós-Graduação em Educação
Expediente
Universidade Estadual de Maringá
Reitor: Prof. Dr. Julio César Damasceno
Vice-Reitor: Prof. Dr. Ricardo Dias Silva
Organizadores
Terezinha Oliveira
Rafael Henrique Santin
Silvana Malavasi Huszcz
Juliana Calabresi Voss Duarte
Anna Paula de Jesus Almeida
Coordenação Geral:
Prof.ª Dr.ª Terezinha Oliveira (UEM)
Prof.ª Dr.ª Angelita Marques Visalli (UEL)
Prof. Dr. Rafael Henrique Santin (IFPR)
Sumário
Palestras Temáticas
MITO E EDUCAÇÃO NO PRINCIPADO: UMA ANÁLISE DO EPÍTOME DAS TRADIÇÕES
TEOLÓGICAS DOS GREGOS, LUCIUS ANNAEUS CORNUTUS (SÉCULO I D. C.).
ARANTES JUNIOR, Edson.....................................................................................................................................22
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Comunicações
Eixo Temático
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
UMA ANÁLISE SOBRE A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA POR MEIO DAS OBRAS DE RAMON
LLULL E ERASMO DE ROTTERDAM
MUNHOZ, Maria Luiza da Luz
PERIN, Conceição Solange Bution..........................................................................................................................36
O MEL DAS MUSAS QUE ADOÇA SABERES NECESSÁRIOS: UMA ANÁLISE DO GÊNERO
LITERÁRIO POESIA DIDÁTICA NAS OBRAS "DE RERUM NATURA", DE LUCRÉCIO, E
"ASTRONOMICAS", DE MANÍLIO (SÉCULOS I A.C.)
OLIVEIRA, Rodrigo Santos Monteiro...................................................................................................................39
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
OLIVEIRA, Terezinha...............................................................................................................................................56
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A ATUAÇÃO DOS FÍSICOS, DAS AMAS DE LEITE E DAS PARTEIRAS NOS CUIDADOS
COM A SAÚDE DAS CRIANÇAS (SÉCULO XIV)
SOUSA, Larissa Lacé...................................................................................................................................................62
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
“MINHA FÉ, VIL INFERNO, TRIUNFARÁ SOBRE TI”: O MEDO DISCURSIVO NO IN-
QUARTO DE THE TRAGICALL HISTORY OF D. FAUSTUS (1604)
KELLER, Kevenn Werney........................................................................................................................................90
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A ARTE DE RAMON LLULL EM SUA OBRA O LIVRO DO GENTIO E DOS TRÊS SÁBIOS
(C. 1274-1276)
PINHEIRO, Marcos Jorge dos Santos ....................................................................................................................95
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Palestras Temáticas
Resumo: Os mitos são narrativas partilhadas, que remetem a uma memória cultural. A alegoria foi um dos
recursos utilizados para validar seus enredos, o que era muito útil no processo educacional e de transmissão
de valores que se desejam hegemônicos. Um desses escritores pouco conhecidos foi Lucius Annaeus
Cornutus, que era à família do filósofo estoico Séneca. Em seu livro de mitologia, cujo título é Epítome das
tradições teológicas dos gregos, ele apresenta uma função propedêutica e pedagógica, na qual o escritor busca
ensinar ideias estabelecidas entre os estoicos por meio da mitologia, ligando os mitos e possíveis etimologias
das palavras. Tais epítomes eram muito comuns no Império Romano, sua função era fornecer informações
precisas a aristocracia senatorial e equestre, sendo um manual com ideias presentes nos círculos estoicos
romanos.
Resumo: Reconhecido como um dos mais importantes filósofos gregos e pela tradição posterior, a
investigação do ateniense Platão é passagem obrigatória para as diversas áreas do saber. A abrangência de
sua filosofia, encontra ressonâncias também nos estudos sobre o fenômeno educativo, por isso, as ideias
que defendeu interessam aos educadores: elas se posicionam como pretensas reformadoras da polis. Naquilo
que se propôs, em face das circunstâncias sociais e políticas apresentadas, Platão se mostrou convencido de
que a formação do filósofo, embora não exclusivamente, teria papel de relevo na organização de uma cidade
considerada ideal. Dimensões desse projeto formativo podem ser reconhecidas em seus diálogos, o Mênon e
a República. Neles, enfatiza aspectos relevantes na medida em que considerou o conhecimento como uma
virtude ética e remédio que cabe à formação cumprir, tendo em vista o fim destinado, o preparo do homem
cívico.
Palavras-chave: Platão. Formação do homem cívico. Mênon. República.
Resumen: El lenguaje ha sido desde su orígenes y en sus variadas formas el instrumento privilegiado para
transmitir el conocimiento. Por ello, en los contextos teóricos de la gnoseología y la pedagogía, la historia
del pensamiento se ha cuestionado incesantemente la relación entre lenguaje, conocimiento y realidad. En
el siglo VI d.C., Damascio de Siria, último escolarca de la Academia platónica de Atenas, plantea la paradoja
de un principio o fundamento metafísico inaccesible al conocimiento y a la vez un uso del lenguaje que,
desde la conciencia de la propia construcción, remite a la instancia inaccesible para elaborar una
representación simbólica de lo inefable. El presente trabajo analiza algunas de esas instancias en el tratado
De principii, donde Damascio niega la identidad entre el conocimiento y su objeto en favor de una
trascendencia unitaria que se despliega como Unidad, Verdad y Bien: ¿los conceptos trascendentales del ser?
Resumo: Os Regimentos de Epidemia são escritos produzidos a partir do século XIV em que predominam
preceitos com o desígnio de informar a população de determinada localidade como prevenir-se contra a
peste. O Regimento de preservação da pestilência, composto em 1348, por Jacme d'Agramont, físico e mestre na
Faculdade de Medicina da Universidade Lérida, é um dos primeiros tratados pertencentes a esse gênero da
literatura médica medieval. Nessa obra, embasando-se nas teorias médicas de auctoritates antigas e árabes, o
autor explica o surgimento de epidemias a partir da mudança ou alteração na qualidade e substância do ar
que se tornava corrompido. Nesta perspectiva, a proposta deste trabalho é compreender, na fonte em análise,
a definição de peste, a relação entre o ar e o surgimento de doenças pestilentas e as principais medidas
preventivas prescritas por Jacme d'Agramont.
ut credas, crede ut intelligas” tão bem exibe. Na redação desta obra, em diálogo, intervêm Santo Agostinho e seu
filho Adeodato, em que o perguntar e o responder são vias de acesso à verdade. Coloca-se, deste modo, a
questão pedagógica do ensinar e aprender e seu sentido. De notar que esta obra é escrita logo após a morte
do filho, à beira de fazer dezassete anos. De algum modo, encontramo-nos perante um memorial.
Palavras-chave: Santo Agostinho. Adeodato. Ensinar. Aprender
Resumo: Publicado em forma de carta, em 1596, o texto Relação do solene recebimento das Santas Relíquias, que
foram levados da Sé de Coimbra, ao Real Mosteiro de Santa Cruz, descreve o itinerário, o cortejo, os andores e os
relicários com objetos e fragmentos de ossos de pessoas virtuosas que compõem a celebração processional.
Trata-se, portanto, de um inventario de uma grande festividade que envolveu não só religiosos seculares e
regulares, como também a sociedade política e civil da cidade de Coimbra. O tema principal do documento
é recordar aos fiéis, por meio das relíquias, a importância dos apóstolos, dos mártires, dos papas, dos
confessores, dos santos e santas e dos beatos e beatas como homens e mulheres que colocaram a fé católica
acima de qualquer adversidade. Assim, a fonte também possibilita uma reflexão acerca da manifestação e
exposição de objetos religiosos e da ritualização de gestos sagrados e comunicações simbólicas de uma longa
tradição que atravessou todo o período medieval, mas que ainda se fez muito presente no início da Idade
Moderna, tema este que será tratado nesta mesa redonda.
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Resumo: No conjunto das narrativas produzidas pela Ordem no primeiro século franciscano, observa-se
uma reconstrução da vida de Francisco com base no apagamento de suas origens e experiência burguesas.
Trata-se de um mecanismo de produção de memória, que se alinha menos a um suposto passado do que a
um projeto em vigor no presente e com implicações para o futuro. A memória das narrativas projetava um
Francisco enobrecido: sua atuação na primeira guerra de Assis contra Perúgia, em 1202, enquanto citadino
e defensor da autonomia da cidade, seria apresentada como uma agência típica da aristocracia cavaleiresca.
A partir desse expediente, sua interação progressiva com os bens sagrados acabaria por operar a segunda
conversão: de miles armatus em miles Christi.
Resumo: O tema da pobreza evangélica considerada pelos teólogos franciscanos e dominicanos, ao longo
do séc. XIII, diz respeito à condição do estado religioso e nos conduz ao coração das controvérsias entre
seculares e medicantes. A figura de São Boaventura é essencial nessa discussão, que é ao mesmo tempo,
teológica e filosófica. Cabe ao homem religioso que faz o seu voto livre de fé, ao entrar na ordem, a
observância da obediência, da pobreza e da castidade. Como conceber a pobreza como ideal de perfeição
para um homem que exerce sua atividade de pregador e também professor universitário? Boaventura, no
escrito Apologia pauperum (1269), defende uma noção de pobreza como ideal de perfeição evangélica frente
aos ataques, primeiramente, de Guilherme de Santo Amor e, depois, de Gerardo de Abbevile, que
contestavam o direito de franciscanos e dominicanos de ensinarem na Universidade. É meu objetivo expor
a noção de pobreza evangélica como renúncia dos bens materiais, a partir da noção de usus e dominium
empregada por Boaventura. Ver-se-á que a reflexão bonaventuriana toma como modelo a figura de Cristo
como espelho, cuja inspiração é essencialmente franciscana.
Resumo: O processo criativo de um artista sacro é mediado pela memória cultural relacionada a uma
narrativa. Em relação ao cristianismo o discurso central que dá sentido a esta linguagem visual situa-se nas
Sagradas Escrituras, especialmente nos Evangelhos. A vida de Cristo e dos apóstolos foram (e são)
transpostas ao mundo sensitivo de modo amplo, sendo a narrativa mais representada pela arte ocidental. A
narrativa considerada sublime pelos fiéis se fez presente no espaço da Terra Santa, sendo a cidade de
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Jerusalém seu palco principal. O imaginário tardo- antigo e medieval incorporou a narrativa cristã ao
universo artístico. A tradição foi sendo constituída com a posse dos santos lugares, especialmente após as
Cruzadas (XI- XIII). Nesta comunicação temos a pretensão de retomar a discussão do espaço sagrado em
sua dimensão simbólica. Para tanto iremos analisar a arte de Claúdio Pastro (1948- 2016), tendo por foco
uma de suas obras menos conhecidas, situada no interior do Brasil.
Resumo: O objetivo dessa comunicação é refletir sobre a relevância da retórica nos escritos do mestre
Tomás de Aquino (1224/25-1274). Salientamos, de início, que essa tarefa não é fácil, pois estamos nos
referindo a um dos maiores autores da cristandade latina e, sem dúvida, um dos maiores escolásticos do
século XIII (GRABMANN, 1992; TORREL, 2004; GILSON, 2005; OLIVEIRA, 2005; LE GOFF, 2008).
Todavia, ainda que a tarefa seja complexa, consideramos relevante refletir sobre o sentido da voz, da palavra,
da linguagem e da escrita a partir de formulações do mestre Dominicano. Para Tomás de Aquino, a
linguagem está diretamente associada à condição de humanidade, pois ela encontra-se atrelada à potência
intelectiva do homem. É porque o homem possui intelecto que a linguagem é possível, portanto, a retórica
vai além da ideia de ser a arte de bem falar. Exposto nosso problema, destacamos que as fontes para esse
debate serão duas Questões da Suma de Teologia, a 176 – ‘O dom da língua’ e a Questão’ 177 ‘A graça grátis
dada da palavra’, ambas contidas na parte IIa-IIae. Por fim, esclarecemos que o fio teórico de nossas
formulações segue as pegadas da História Social.
Resumo: Raimundo Lùlio, na sua última estadia em Paris (1309-1311), escreveu O livro da lamentação da
Filosofia. Encaminhou diversas cartas ao rei da França – Filipe IV, e com elas a obra sobre a Filosofia. Ele
apelava ao rei o apoio para propagar a fé cristã e renegar os ensinamentos averroístas que estavam sendo
propagados, principalmente, na Universidade de Paris. Para tanto, na obra, ele apresenta a Filosofia como a
personagem que dialoga com doze princípios para provar que ela (Filosofia) não era contra a Teologia, mas
sim, o meio de comprovação da existência de Cristo, desde o seu nascimento. O objetivo da investigação é
compreender os ensinamentos de Lúlio e analisá-los como valores, considerados pelo autor, necessários
para a formação do homem do século XIV. Porém, esses valores, no entendimento de Lúlio, só seriam
passíveis de apreensão pela via da ciência – a Filosofia.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
constantemente. Nos mais recentes estudos, a pesquisa desenvolvida tem seguido um caminho de reflexão
sobre alguns conceitos que podem trazer problematizações conceituais como, por exemplo, o de intelectual
e os círculos estratégicos literários que eram constituídos por sujeitos políticos ativos nos vários espaços e
ambientes sociais da sociedade romana na segunda metade do I século E.C. Diante dessas reflexões, esta
conferência visa compreender como se dá a contribuição da filosofia ao equipamento intelectual dos
romanos cultos em geral. Para tanto, é necessário abordar alguns estudos para além daqueles que escreveram
obras declaradamente filosóficas em latim como Lucrécio, Cícero, Varrão e Sêneca, ou que aderiram
abertamente a uma escola particular, como Ático, ou que oferecem comentários explícitos sobre os
princípios de particular escolas, como Horácio. É necessário mapear a paisagem mental daqueles que fazem
uso e reconhecem a linguagem filosófica e os padrões de pensamento, de forma consciente ou, pelo menos,
semiconsciente, sem se considerar adeptos de uma escola ou promotores de suas doutrinas. Neste sentido,
a abordagem aqui proposta visa analisar algumas influências filosóficas diretas e indiretas nas
correspondências plinianas.
Durante muito tempo, [São] Patrício foi considerado um escritor pobre, sem qualquer ferramenta literária
mais sofisticada, ignorante em retórica. Boa parte dessas interpretações se baseou no que o próprio autor
escreveu, já que ele iniciou seu principal texto, a Confessio, se apresentando como "Patricius peccator
rusticissimus et minimus omnium fidelium", dentre outros termos aparentemente pejorativos. No entanto,
faltou considerar que a retórica "pobre" de Patrício era um topos da retórica do período, cuja significação
não pode ser compreendida apenas dessa maneira. Assim, a historiografia contemporânea vê a questão a
partir de uma nova ótica, considerando a complexidade do tema. Nesta comunicação, abordarei a relação
entre educação, letramento e retórica na Antiguidade Tardia, a partir dos escritos de Patrício, considerando
o contexto dos intercâmbios e conexões entre a Britannia e a Hibernia entre os séculos IV e V.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Quer pela conversão da intencionalidade quer pela reconfiguração dos conteúdos, a educação não é assunto
político em Agostinho. Como mais tarde a translatio studii confirmará na sua sistematizada afinação escolar,
a educação liberal – de forte traçado cultural – inscreve-se como meio de aproximação da alma a Deus e
afastamento da cidade dos homens. Neste sentido a educação pode ser inscrita na dimensão do amor a
Deus como paideia adequada ao exercitatio animi. Todavia, a interpretação feita por Arendt ao conceito
augustiniano de amor (na sua tese de doutoramento intitulada O Conceito de Amor em Agostinho, 1929),
articulada com a interpretação do conceito amor mundi (A Condição Humana, 1958) levam a rever e a mitigar
o que acima se afirmou, propondo-se o seguinte: a educação pode ser assunto político enquanto expressão
do amor ao outro (alteridade; charitas) e do amor ao mundo (comparticipação na criação).O presente texto
apresenta dois objetivos: um mais restrito, retomar a relação entre educação e política em Agostinho de
Hipona para a reperspectivar além do dualismo habitual que separa Igreja e Estado; outro mais alargado,
firmar uma atitude teórica de compromisso ao pensar-se a educação, o que significa orientar o pensamento
sobre educação pelo compromisso com os outros e o mundo.
Palavras-chave: Educação. Política. Agostinho. Hannah Arendt; amor ao outro. Amor ao mundo.
Resumo: Galli é como eram chamados os sacerdotes da deusa frígia Cibele, incorporada no panteão oficial
romano no século III AEC. Sobre esses sacerdotes, há diversos textos literários do período romano que os
representam como castrados, emasculados em seu corpo, em suas vestimentas e em suas performatividades,
sempre de forma bastante negativa. A possível prática ritual de intervenção no corpo realizada pelos galli
estava ligada ao mito de Átis, o consorte de Cibele, e envolvia cultos de fertilidade e prosperidade para
deuses da vegetação. O objetivo dessa apresentação é analisar as representações literárias femininas dos galli
cruzando elementos de gênero com a visão sobre esses sacerdotes como o outro estrangeiro. Feito isso,
pretendo também levantar algumas hipóteses sobre suas práticas rituais.
estudos sobre magia na Idade Média com outras áreas do conhecimento ainda é um a caminho que se
desenvolve à margem na historiografia brasileira.
Palavras-chave: Idade Média. Afonso X de Castela. Siete Partidas. Astrologia.
Resumo: Nossa proposta é discutir como amor e fidelidade são temas recorrentes em cantigas de
Cancioneiros medievais e do Cancioneiro coligido por Almeida Garrett em Oitocentos. Procuramos discutir
como essas composições marcam uma visão histórica do amor entrelaçando duas concepções de exigência
de fidelidade: a primeira, do amor jurado entre o casal de amantes independentemente de leis sociais, e a
segunda, da fidelidade jurada em um compromisso social e religioso que não necessariamente envolve o
amor. Embora não seja intenção diminuir a importância da religião cristã, nossa perspectiva considera que
o casamento exige a fidelidade, principalmente porque está ligado à concepção de família enquanto
instituição civil que deve garantir a descendência, a continuidade da linhagem e a preservação da herança.
Nesta esfera codificada pelo bem comum familiar o amor é um mal, um sentimento indesejado e perigoso
por não se pautar na escolha da melhor aliança para a linhagem. A comparação das composições medievais
com textos oitocentistas leva-nos a propor a hipótese de que estas cantigas registram formas de amor
opressivas e violentas, contra a mulher, ressaltando uma suposta inconstância, mas também apresentam,
especialmente em textos satíricos, outra perspectiva relacionada à crítica ao sofrimento feminino.
Resumo: D. Juan Manuel infante de Castela nasceu na cidade de Escalona (Toledo) em 5 de maio de 1282
e faleceu em Murcia em 13 de junho de 1348. Filho do Infante D. Manuel (1234-1283) e Beatriz de Saboia.
Neto de Fernando III, o santo, de Castela (1217-1252) e Leão (1230-1252) e sobrinho de Alfonso X, o sábio
(1252-1284). Obteve sólida formação na corte de seu primo D. Sancho IV de Castela, tio de D. Fernando
IV e tutor de D. Alfonso XI (1325-1350) durante a sua menoridade. Conflitos de ordem pessoal e política
levaram o rei e seu antigo tutor a confrontos inevitáveis. Escreveu várias obras, dentre elas as de caráter
didático (objeto de nossa investigação) visando a educação dos nobres em seus vários estágios até a fase
adulta, como El libro enfenido (1334-1337), o Libro de los estados (1330), Libro del caballero y del escudeiro (1326/28).
Visamos com essa comunicação analisar as contribuições desse homem para a cultura castelhana,
especialmente aquelas referentes a instrução de crianças e jovens nas áreas das Letras e da Moral.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Embora amadores da ciência médica, os romanos do primeiro século da nossa era nos legaram uma literatura
a respeito da higiene e de um saber médico que mesclava a medicina tradicional e empírica - de origem
familiar-, e a medicina terapêutica, em grande medida de influência grega. O tratado De Medicina de Aulo
Cornelio Celso, por exemplo, composto durante o reinado de Tibério (14-37 d.C.), apresenta prognósticos
para uma vida saudável, bem como uma classificação das doenças e o perfil necessário ao cirurgião. Todavia,
mais do que apresentar esse saber médico, nosso objetivo é entender as opiniões acerca da prática médica,
particularmente por meio de Caio Plínio Segundo (23 – 79 d.C.) e Marco Valério Marcial (30/40 – 102 d.C).
Non est uiuere, sed ualere uita (Martialis, Ep. VI,70); ... Medicoque tantum hominem occidisse inpinutas summa est.
(Plinius Secundus, Nat.Hist., XXIX,VIII,18). As linhas escritas pelo poeta espanhol, Marcial, e pelo
naturalista, Plínio o velho, respectivamente, sublinham a importância do bem viver, do temor à doença e
ao sofrimento que fazem os indivíduos dependentes do medicus, uma figura caricatural, falsa, vaidosa e capaz
de explorar os molestados pelas misérias do corpo.
Palavras-chave: Caio Plínio Segundo. Marco Valério Marcial. Medicus.
O objetivo deste trabalho é realizar um estudo introdutório sobre D. João I e seus filhos, D. Duarte e o
Infante D. Pedro, como modelos de intelectuais do reino luso no século XV. Ao iniciar a nova dinastia, D.
João de Avis e sua prole dão grande valor à escrita e à produção de livros. Neste sentido, o próprio pai
enquanto monarca compôs um manual de caça, o Livro de Montaria. Quanto a D. Duarte, seu primogênito e
sucessor, se preocupou em aumentar a biblioteca régia e é conhecido como um “rei filósofo”, tendo escrito
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
um tratado sobre a arte de cavalgar, o Livro de Ensinança de Bem Cavalgar toda Sela, além de ter composto um
tratado sobre os pecados e virtudes intitulado o Leal Conselheiro. Já o seu irmão, o Infante Dom Pedro, que
ocupou a regência do reino após a morte prematura de D. Duarte (de peste, após apenas cinco anos como
monarca), redigiu o Livro da Virtuosa Benfeitoria, um manual de comportamento para reis e nobreza, voltado
para o ensinamento de virtudes.
Palavras-chave: D. João I. Ínclita Geração. Modelos de intelectuais. Dinastia de Avis.
O eixo temático Educação na Antiguidade e Idade Média destina-se a reunir textos e promover debates
dedicados ao estudo do fenômeno educativo nas épocas Antiga e Medieval.
Nosso trabalho apresenta uma reflexão sobre a história do nascimento da Universidade no medievo
português. Seu surgimento como instituição assegura a permanência da memória fundamental em uma
sociedade. Temos como objetivo entender as situações históricas que foram relevantes para o surgimento
dessa instituição. A metodologia utilizada em nosso estudo foi a pesquisa bibliográfica, visto a necessidade
de recorrer a fontes primárias para assegurar a qualidade do trabalho. Ter um olhar peculiar para as raízes
medievais da Universidade como instituição de acordo com perspectiva da historiografia. Dessa maneira,
observamos que pensar a Universidade é considerar suas especificidades como parte inerente de um coletivo,
de um contexto histórico maior de uma dada sociedade.
Este trabalho reflete sobre as preocupações gregas quanto ao processo educativo, com vista a entender o
sentido de educação para Homero e para os homens de seu tempo. Desde pequeno, o homem grego
aristocrata era estimulado a buscar as virtudes modelares dos heróis, tais como a honra, a coragem e a
amizade; além disso, aprendia a respeitar os deuses e a crer em seus mitos, particularmente naqueles contidos
na Ilíada e na Odisseia. Heróis, como Aquiles, Odisseu e Heitor converteram-se em modelos a ser seguidos.
A partir destes referenciais, as crianças aprendiam que deveriam mostrar-se superiores aos seus pares na
força, na beleza, na habilidade com instrumentos musicais ou ainda na nobreza de sua linhagem. Devido a
isso, alguns conceitos ligados aos valores homéricos serão analisados, tal como o de areté, kleos, agathos e
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
time, que podem ser traduzidos, de modo geral, por excelência, glória, nobreza e honra. Esses atributos
deveriam ser desenvolvidos ao máximo para o processo educacional se realizasse. Desse modo, por meio de
suas personagens e do ideal que essas personagens incorporavam, os mitos exemplificavam comportamentos
e instituíam determinados modos de ser e viver. Assim, analisando as epopeias homéricas por meio de
diferentes perspectivas, tal como a literária e a histórica, procurou-se investigar como essas epopeias
fundamentaram as concepções educacionais gregas e, posteriormente, colaboraram com alguns dos ideais
formativos ocidentais.
O trabalho analisa alguns elementos pedagógicos que estabelecem referências para a formação do mestre
(professor) como essencial para o ensino no século XII. Para tanto, a obra analisada é Didascalicon de Studio
Legendi, de Hugo de São Vítor (1096-1141), compreendendo que São Vítor a escreveu como um ‘manual’
para o desenvolvimento do intelecto pela via do conhecimento das ciências, a problemática investigativa
perpassou o sentido do conhecimento como atemporal, visto que, cada período exige novas formas de
ensinar e de aprender. Dessa forma, nos fundamentamos no conceito de longa duração para averiguar alguns
aspectos educacionais-social prioritários na formação humana, visto que, a História social nos permite
entender o passado e o presente interligados pela memória de comportamentos e práticas que proporcionam
a civilidade. Segundo São Vítor, a sapiência é o ponto central para o ensino e para a aprendizagem, porém,
só é possível ser um sábio com muito estudo e uso do intelecto. Analisando a importância do conhecimento
como fator necessário para a sociedade, o autor desenvolve um método de estudo, no qual a leitura e a
memória estão vinculadas para o pensamento reflexivo. Desse modo, investigamos sobre a relação que São
Vítor fazia entre o conhecimento e o comportamento, apresentando aos homens da sua época a necessidade
do estudo como via de organização pessoal e social.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Idade Média. Hugo de São Vítor. Didascalicon. Leitura e Memória.
Este estudo refere-se ao tema voltado a educação do cavaleiro, mediado pelo romance de cavalaria do século
XII Tristão e Isolda de Joseph Bédier (1864-1938). O projeto tem como principal objetivo analisar algumas
questões educacionais que permeiam a literatura cavaleiresca, refletir sobre alguns valores apresentados pelo
cavaleiro do século XII e que perpassam por qualquer período histórico. Para isso, fizemos levantamentos
bibliográficos voltados ao contexto medieval. Nos fundamentamos em autores que tratam sobre os
cavaleiros e os apresentam como: disseminadores do cristianismo, protetores dos seus senhores, dos feudos
e defensores das mulheres e dos necessitados. Alguns estudiosos como: Marc Bloch (1886-1944), Jacques
Le Goff (1924-2014), Terezinha Oliveira (2007), dentre outros, foram autores essenciais para o
desenvolvimento da pesquisa, pois possibilitaram o aporte teórico para a compreensão mais ampla sobre a
educação no contexto medieval, analisando-a nas relações sociais e comportamentais que auxiliaram os
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
homens a se re/organizarem na Europa. A nosso ver, a História nos permite compreender o passado e
determinar o futuro, haja vista que, o presente depende das relações do passado para se fazer presente e, por
conseguinte, as relações futuras dependem do desenvolvimento do presente. Desse modo, o estudo da
literatura, novela/romance de cavalaria, é fundamental para analisar a trajetória educacional informal e
religiosa que o cavaleiro percorreu e serviu como modelo para os demais, visto que, as normas da Ordem
da cavalaria eram permeadas pela fé (devoção), fidelidade e princípios virtuosos que tornava o cavaleiro um
exemplo social/educacional. A Ordem exigia do cavaleiro as virtudes como principal quesito da sua
formação, ou seja, exigia comportamentos virtuosos que percorriam e percorrem as relações humanas em
todos os contextos e, podemos afirmar que, no presente ainda são essencialmente necessárias para a
formação do homem. Com isso, pudemos chegar a definição teórica de que, a literatura, nesse estudo, mais
especificamente, o romance de cavalaria Tristão e Isolda é um meio de compreender as ações educacionais
do homem em diferentes momentos, permitindo refletir sobre a importância do papel do singular no
coletivo. Por meio do conceito de longa duração entendemos que passado, presente e futuro se relacionam
e permitem a reflexão histórica/presente da educação, do social e das alterações de cada momento que
alteram o comportamento humano e suas relações.
O artigo analisa a importância do conhecimento na formação do cavaleiro do século XIII. Para tanto, o
estudo está fundamentado no Livro da Ordem de Cavalaria de Ramon Llull (1232-1316). Em meio às
transformações sociais e educacionais do período, o autor tratou sobre a importância do conhecimento para
a formação cavaleiresca, considerando que a verdadeira missão do cavaleiro era servir a Cristo e a Igreja.
Llull propôs em seu projeto educacional, uma formação humana por meio do conhecimento das virtudes
próprias da Ordem da Cavalaria e que, segundo ele, estavam esquecidas. Descreveu o passo a passo para se
tornar um cavaleiro virtuoso e um exemplo/modelo para a sociedade. Nesse sentido, esse estudo
fundamenta-se na história social e no conceito de longa duração, pois acreditamos que entender sobre
algumas questões educacionais do passado, nos possibilita compreender a relevância do conhecimento na
formação do homem em diferentes períodos. Os resultados revelam a importância do conhecimento na
formação humana do cavaleiro, pois ninguém pode amar e servir aquilo que não conhece. Sendo assim, à
proposta de Ramon Llull possibilitou um novo projeto educacional para a época, contemplando a formação
do corpo e da mente por meio do uso da razão e das virtudes.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Estudar sobre o papel da mulher na sociedade, independentemente do período em que ela está inserida,
sempre é um desafio, pois a mulher poucas vezes é destacada pelo que exerce socialmente. Historicamente
a maior parte das conquistas sempre carrega nomes masculinos, entretanto, a nosso ver, a inserção da mulher
na sociedade, implícita ou explicitamente, sempre cumpre e cumpriu uma função essencial para o
desenvolvimento do homem, seja como mãe, dona de casa, intelectual, cientista e demais. Partindo desse
entendimento, o estudo analisa a mulher do século X, em especial a Monja Rosvita. Abordaremos também,
de forma breve, outras mulheres que se destacaram historicamente no campo cientifico, mais
especificamente na matemática. Algumas dessas mulheres sofreram graves punições por refutarem algumas
questões que eram tidas como verdade em sua época. Nesse sentido, o estudo, fundamentado no conceito
de longa duração, ou seja, no entendimento de que a história nos favorece a compreensão da formação e
desenvolvimento humano, tem por objetivo geral compreender a importância dos ensinamentos da Monja
Rosvita no século X. Nos ateremos no capítulo 4 da obra Educação, Teatro e Matemática medievais,
traduzido por Jean Luiz Lauand. Com isso, faremos um estudo sobre algumas das alterações sociais que
envolveram a Educação feminina no século X, tentando compreender sobre a importância do teatro
realizado pela Monja Rosvita e a relação com o ensino da Matemática. Também nos cabe citar algumas
outras personalidades que tiveram destaque em seu período, para que assim possamos validar a importância
destes feitos históricos.
O presente estudo tem como objetivo refletir sobre algumas virtudes, mais especificamente, a bravura,
retratada na obra A Canção de Rolando. Esta literatura francesa medieval do século XII, narra os confrontos
físicos e ideológicos entre os cristãos (Francos) e os sarracenos (Árabes e Muçulmanos) na fronteira da
França e Espanha. Rolando, sobrinho do imperador Carlos Magno (742 d.C.- 814), é o principal personagem
desta obra. É um guerreiro, dotado de virtudes. Pretendemos entender a conduta dos homens daquela época,
a partir do comportamento corajoso de Rolando, que manifesta o verdadeiro caráter dos princípios ético,
moral e educacional que compõem a sua sociedade. A análise deste estudo apresenta as virtudes de Rolando
como a personificação da educação medieval, um ideal de homem do século XII. Para tanto, a pesquisa teve
como base teórico-metodológica a análise histórica pela totalidade, fundamentada em autores que tratam da
História Social e do conceito de Longa Duração, como Marc Bloch (1886-1944) e Jacques Le Goff (1924-
2014). As questões educacionais e morais perpassam o passado e o presente. O homem atual não é diferente,
possui vícios e virtudes como os do passado. Desse modo, consideramos que por meio da literatura clássica,
é possível investigar o comportamento do homem do século XII e tratar sobre alguns aspectos que,
independentemente do período histórico, são considerados essenciais para a formação humana.
DAGIOS, Mateus
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A tragédia Filoctetes (409 a.C.) de Sófocles é testemunha de um período de profunda reavaliação para os
atenienses, envoltos na crise da guerra e entre diferentes anseios sociais. A peça conta o mito do arqueiro
homônimo, que embarcou para Troia e foi picado por uma serpente, o que lhe causa uma doença. Por causa
dessa condição, Odisseu decidiu abandoná-lo na ilha de Lemnos. Dez anos depois, Odisseu veio a conhecer
uma profecia de que Troia só seria vencida com o arco de Filoctetes. A peça começa com o retorno de
Odisseu à ilha, em companhia de Neoptólemo, filho de Aquiles, com o objetivo de capturar o arco, que está
em mãos do solitário e doente Filoctetes. A tragédia problematiza dois projetos educacionais que se
colocavam como antagônicos. De um lado, as concepções guerreiras que tomavam a virtude (areté) como
inata, pertencente a um código de conduta e a um círculo aristocrático. Do outro, uma postura relacionada
aos educadores sofistas e às técnicas retóricas necessárias para triunfar no mundo político ateniense, que
poderiam ser resumidas pela ideia de Protágoras de que a virtude poderia ser ensinada.
A tragédia centraliza Neoptólemo entre tais dois argumentos. De um lado, um Odisseu ligado ao poder do
lógos e ao político ateniense do final do século V a.C., imbuído de doutrinas sofísticas. De outro, Filoctetes
composto em oposição a Odisseu. Para Filoctetes, seus valores pertencem ao mundo do kalòs kágathos,
(belo e bom), do guerreiro aristocrático grego. Ele exalta a areté, a excelência aristocrática guerreira, os
valores da phýsis.
O presente trabalho tem por objetivo analisar o desenvolvimento da educação e do ensino no Império
Carolíngio. Carlos Magno (742-814), líder dos Francos, recebeu de seu pai Pepino III (714-768), um imenso
território para conquistar e organizar. Utilizando planos táticos muito bem elaborados, o grande líder dos
Francos, conquistou um imenso território e, deste fato, surgiu a necessidade de estruturar os povos
conquistados tendo como meta organizá-los e civilizá-los, de acordo com os padrões do imperador. A meta
proposta pelo governante foi alcançada por meio da educação e do ensino ofertados por intelectuais vindos
das nações próximas. Os intelectuais utilizaram-se do ensino religioso para promover a cristianização dos
povos conquistados. O mais importante educador foi o monge de York, Alcuíno (735-804). O projeto
educativo do monge Alcuíno tinha como premissa a instrução para os governantes, pois os mesmos
governariam o povo e, então, necessitavam de preparo para isso. A instrução foi também concebida aos
monges da Igreja. Diante disso, diversos estabelecimentos de ensino foram construídos junto aos mosteiros,
junto as catedrais e aos palácios. Do empenho feito pelo imperador para unificação dos povos por meio da
educação religiosa, é que se fundaram as bases para que, em séculos posteriores, fossem estabelecidas as
universidades.
O presente trabalho tem a intenção de mostrar o projeto do filósofo Ramon Llull para converter aqueles
que não seguiam a fé cristã. Como fundamentação teórica, utilizam-se trabalhos que tratam sobre a História
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
do Imaginário, como Le Goff (1994) e Análise do discurso, Foucault (2000). Para isso, busca-se apresentar
a proposta de conversão, pois o filósofo entendeu que tinha uma missão de transformar os ditos “infiéis”,
mulçumanos e judeus, em cristãos, isto é, buscou o fortalecimento da Cristandade por meio de um “Projeto
Cristão Imperialista”, por isso, traçou estratégias. Por meio de seus escritos, tomou a educação como
ferramenta de evangelização para convencer os seus contemporâneos de que anunciava a “verdade”, e
poderia “salvar as suas almas”. A metodologia se dará por meio do estudo bibliográfico e documental. A
pesquisa objetiva analisar o discurso do maiorquino Ramon Llull, em relação às questões educacionais de
sua época, e a sua forte preocupação com a evangelização e unificação do cristianismo, em um contexto de
expansão de religiões, como o islamismo, o que levou muitos cristãos a traçar estratégias de conquistas e
“regates as almas” dos que professavam outros credos. Desse modo, Ramon Llull, por meio das suas obras
usou a educação como instrumento e aparato discursivo, visando a conversão dos ditos “infiéis” dos mais
diferentes povos ao cristianismo, em um contexto no qual, outras religiões competiam na cooptação de
novos membros.
Gil Vicente foi autor de dezenas de peças teatrais. Mas tal como outros pedagogos humanistas de sua época,
tratou de questões relativas à educação feminina, mesmo que em menor proporção e com objetivos bem
diferentes. A identificação dos modelos e contramodelos femininos no teatro vicentino, como não poderia
deixar de ser, está diretamente associada à maior ou menor aceitação do padrão educacional em que a casa
se constituía o espaço por excelência na educação da mulher. Diante disso, este trabalho buscou analisar o
lugar que a casa ocupava na educação feminina e como este espaço, eminentemente doméstico, contribui na
compreensão dos modelos e contramodelos de comportamentos femininos em Portugal a partir dos
seguintes autos vicentinos: Quem tem farelos? (1515?), Viúvo (?), Rubena (1521), Inês Pereira (1523) e
Lusitânia (1533). Ao constatarmos que este espaço é constantemente negado pelas personagens femininas e
muitas eram aquelas que dele queriam se afastar, pudemos perceber que a tentativa de sair do privado se
constituía no principal meio de identificar o contramodelo educativo, o que era ao mesmo tempo uma forma
de transgredir os papeis que a mulher viria desempenhar no interior da família.
UMA ANÁLISE SOBRE A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA POR MEIO DAS OBRAS DE RAMON
LLULL E ERASMO DE ROTTERDAM
O trabalho tem o objetivo de analisar algumas questões sobre a educação da criança dos séculos XIII e XVI,
apresentadas por Ramon Llull (1232-1316) e Erasmo de Rotterdam (1466-1536). O propósito é entender a
necessidade de formar o homem desde cedo para a sua inserção na sociedade futura. Para tanto, as obras
estudadas foram Doutrina para crianças de Ramon Llull escrita no século XIII e De Pueris de Erasmo de
Rotterdam do século XVI. Três séculos separam as obras, e ambas discorrem sobre a educação moral e
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
social das crianças de seus respectivos contexto histórico. Os dois autores por meio de um “manual”
apresentam instruções acerca da educação, considerada por eles, necessárias para a formação da criança.
Nesta perspectiva, a pesquisa está fundamentada na História social, no conceito de Longa Duração e teve
como objeto de investigação analisar os aspectos sociais da época dos autores e como as suas propostas de
educação influenciaram para a reorganização da sociedade. Com o desenvolvimento do estudo entendemos
que a educação foi e será sempre uma preocupação que perpassa historicamente, pois, formar a criança e ter
a preocupação com a sua educação é entender que estamos tentando pensar numa sociedade futura e que
tenha a base mínima de princípios que regem ações para o coletivo.
O propósito desta comunicação é apresentar Ambrósio de Milão (339-397) como intelectual e influenciador
de seu tempo. O Bispo de Milão foi uma autoridade no mundo eclesiástico e secular, reafirmando o credo
Niceno por meio de cartas enviadas aos bispos da Ásia Menor e instruindo os imperadores Graciano (359-
383), Valentiniano II (375-392) e Teodósio Augusto I (379-395) a respeito da fé Nicena. Utilizaremos o
sermão Sobre a Penitência e discutiremos três pontos neste sermão: a penitência como forma de coibir a ira,
a homília como discurso de convencimento e o cristianismo como ponto de partida para a formação do
homem. Dado o exposto, nosso objetivo é compreender como o ser humano se torna responsável por suas
ações, como se formam as lideranças e como o cristianismo contribuiu na formação subjetiva do homem.
Feito isso, será possível enxergar os sermões de Ambrósio de Milão como parte da história da humanidade,
no sentido de cooperação para a formação dos homens de seu tempo e como documento histórico para a
formação subjetiva dos homens do nosso tempo. No caso da educação, a Pedagogia pode exercer o papel
de influência na formação dos sujeitos, dando respostas as crises educacionais direcionando educadores e
alunos. Da mesma forma que aconteceu aos intelectuais do passado, lidaremos com as instituições e
atividades sociais derivadas das relações humanas e portanto, devemos demonstrar preparo e zelo para que
ocorra o desenvolvimento de sujeitos capazes de minimamente expressar uma condição de humanidade.
A nossa pesquisa pretende estabelecer, a partir da psicologia de Tomás de Aquino, a possibilidade de uma
teoria da aprendizagem de bases tomistas e neotomistas com aplicabilidade no atual campo da epistemologia
da educação. Para avaliarmos a efetividade de nosso projeto convém estabelecer alguns elementos: o escopo
metodológico e campo epistêmico da nossa problemática; o problema em si mesmo, situado no campo de
desenvolvimento das noções de processo cognitivo e de aprendizagem; um conceito, ao menos provisório
de aprendizagem; em que sentido afirmamos a existência de uma psicologia em Tomás de Aquino. A
metodologia parte da reflexão filosófica, com uma leitura centrada na psicologia apresentada nas questões
de 75 a 89 na Primeira Parte da Suma Teológica (2005) e no opúsculo A unidade do intelecto, contra os
averroístas (2016). Esta leitura, todavia, é mediada pela neoescolástica de Étienne Gilson e de Henri-
Dominique Gardeil e pelo neotomismo atravessado pela filosofia analítica de Giuseppe Butera (2011), que
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
aproxima a psicologia cognitiva de Beck e a psicologia aristotélica e de Edward Feser (2013;2016), que
interpreta os problemas contemporâneos em filosofia da mente a partir de uma perspectiva aristotélico-
tomista. Após isso, aproximamos a psicologia tomista das atuais teorias da aprendizagem, em especial da
psicologia cognitivista. Fazemos isto desde a história das teorias da aprendizagem de Lefrançois (2018) e da
teoria do psicólogo cognitivista Beck (2004).
O artigo lança luz na memória do ensino na Idade Média com o desejo de compreender o desenvolvimento
do conhecimento e a continuidade de pensamento. A Idade Média está entre os períodos mais fecundos da
história da humanidade, no qual o Ocidente Medieval atingiu seu apogeu deixando uma substancial herança,
por exemplo, as universidades. No século XIII, se consolida as universidades, aos moldes das associações
de ofícios, com a função de formar o indivíduo. O ensino nesse período é um fenômeno complexo e
paradigmático pela originalidade e inovação do método científico praticado. Os mestres medievais seguem
normas mais ou menos precisas e mostram certo rigor metodológico. Fatores sociais, econômicos, políticos
e religiosos foram determinantes para o desenvolvimento e aprimoramento da educação nesse período.
Abordar-se-á, aqui, três aspectos: 1 as origens do ensino formal; 2 o surgimento e desenvolvimento das
universidades, de modo especial, a parisiense; 3 o método pedagógico utilizado pelos escolares.
Nosso trabalho apresenta as circunstâncias históricas que influenciaram o surgimento da dinastia de Avis,
em Portugal no século XV. A investigação se inicia com as disputas no reino de Portugal e Castela com o
objetivo de expor a importância da história da educação não apenas como uma narrativa fechada no passado,
mas a partir das inquietações do presente. A metodologia utilizada foi de cunho bibliográfico sobre os
conflitos nos séculos XIV e XV. Assim, mostramos o monarca D. João I (1357-1433) como o fundador da
Dinastia de Avis que reinou entre (1357-1433), e D. Duarte (1391-1438) que prosseguiu no governo durante
cinco anos. Nosso estudo demonstra reflexões sobre as origens da Dinastia de Avis de acordo com a
historiografia, assim apresenta a continuidade desse governo no reinado de D. Duarte.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A pesquisa desenvolvida tem como objetivo estudar a obra De Magistro do filósofo Santo Agostinho a fim
de compreendermos em sua filosofia a relação ensino e aprendizagem do educando. Para Agostinho, a figura
do mestre (professor) não é fundamental para o aprendizado eficaz do discípulo (aluno), pois o verdadeiro
aprendizado vem de Deus. A figura do mestre como um auxiliador da aprendizagem é posta para o filósofo
de modo que pela linguagem nada se ensina, a não ser, os próprios sinais derivados da linguagem. Logo, a
impossibilidade de qualquer tipo de ensino de um agente exterior para com o aprendiz. O verdadeiro
aprendizado ocorre por meio de uma rememoração, em seu conceito da Teoria da Iluminação, que tem
como fundamento a filosofia platônica, mais precisamente sobre o conceito da Teoria da Reminiscência. A
Filosofia da Educação reflete sobre problemas que envolvem a relação ensino e aprendizagem e revisitar os
clássicos é válido para compreendermos o movimento educacional feito ao longo da história. A obra De
Magistro além de nos apresentar um problema acerca da metodologia de ensino, ela expõe também uma
abordagem da Filosofia da Linguagem, detalhando o seu mecanismo e sua real função para o homem, na
qual Agostinho concluirá que por ela, nada se aprende, apenas indica para algo. A metodologia de pesquisa
teve como base a revisão bibliográfica dos escritos de Agostinho e de seus comentadores.
OLIVEIRA, Viviane de
OLIVEIRA, Terezinha
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O objetivo do nosso trabalho é realizar uma reflexão sobre o conceito de arte para Leonardo da Vinci (1452-
1519). Analisamos os excertos IIº, a Comparacion entre las diversas Artes, in Cuardernos de Notas, escrito
pelo artista no século XVI. A partir de sua leitura evidenciamos dois posicionamentos do pintor: a constante
elevação da pintura como arte, quando comparada a poesia e a música, e o entendimento da arte e do belo,
enquanto reprodução da realidade humana. Sobre esses posicionamentos, evidenciamos a importância do
contexto florentino para a formação de Leonardo da Vinci e ao debate sobre a relevância que as artes
plásticas ganham e moldam a estética do período. Para compor essa análise, comparamos os excertos do
pintor com o conceito de pintura em Da Pintura, escrito por Leon Battista Alberti (1404-1472). Essa análise
permitiu evidenciar uma forte influência de Alberti na elaboração do conceito de arte para da Vinci. O
recorte historiográfico se limita aos séculos XV e XVI, em Roma e Florença. Nosso viés metodológico está
calcado nos conceitos de tempo, espaço e História, proposto por Marc Bloch (2001), na perspectiva da
História Social. Compreendemos o homem sujeito histórico do seu tempo e passível de análise para o
comportamento humano, como um todo.
Este trabalho trata da história do pensamento político medieval. Ele se debruça sobre um tratado produzido
por volta de 1314 pelo franciscano Paulino de Veneza (c. 1274-1344): o De regimine rectoris. A obra, um
“espelho de príncipe”, contém uma ideia curiosa: a recreação e a conversação cotidianas, dentro de um
ambiente de corte, podem contribuir para a boa formação política do governante. Este tema é um dos
aspectos mais originais do texto e, por isso, é o objeto deste trabalho. Nele, pretendo lidar com o seguinte
problema: que articulação o autor fez entre as virtudes políticas, a retórica e a vida cortesã? O objetivo do
texto é esclarecer que papel Paulino deu a esses temas dentro do escopo maior da obra, que é o de educar o
governante para que ele presida o melhor regime político possível. Para tanto, por meio de um método
analítico (isto é: interpretando parte a parte o texto, que não é longo), a investigação levanta a hipótese de
que o frade tomou a corte veneziana como uma espécie de protótipo da comunidade política, onde o
governante e seus conselheiros podiam experimentar suas virtudes e sua retórica, bem como tecer os laços
afetivos que tornariam a elite dirigente coesa e eficiente.
Catarina de Aragão (1485-1536) desempenhou um importante papel na política externa de seus pais, os Reis
Católicos, firmando um importante acordo entre Castela e o reino inglês, ao casar-se com Arthur Tudor
(1486-1502) em 1501 e, após a morte deste, ao contrair matrimônio com Henrique, Duque de York (1491-
1547) em 1509. Analisa-se que a última filha dos Reis Católicos, dispôs uma trajetória marcada por
momentos onde sua fé e suas ações nortearam decisivamente sua vida enquanto vivia na corte inglesa. A
principal fonte em análise é a obra El Jardín de las nobles doncellas que foi composta por frei Martin de
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Córdoba e dedicada à Isabel I de Castela (1451 -1504) e que estrutura a conduta de uma rainha evidenciando
as virtudes que esta deveria possuir pautando-se, sobretudo numa educação cristã. Ademais, referenciamos
as cartas oficiais com o intuito de compreender o papel de Catarina enquanto rainha consorte na Inglaterra
dando ênfase na sua forte ligação com a religiosidade. Logo, considerando que o principal e mais próximo
modelo de conduta de Catarina foi a sua mãe, a rainha Isabel I, propõe-se analisar neste trabalho, a princípio,
a maneira como esta foi instruída e a partir daí compreender as influências destes ensinamentos na vida de
Catarina de Aragão aprofundando os modelos de educação, condutas e visões da sociedade neste período.
O presente estudo tem por objetivo geral verificar como as produções acadêmicas da pós-graduação com
recorte temporal na Antiguidade estão entendendo a importância da tragédia na formação humana. O
Estado do Conhecimento é entendido, nesse estudo, como um levantamento bibliográfico para identificar,
registrar, categorizar a produção cientifica de uma área do conhecimento ou uma temática específica. A
pesquisa foi realizada na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) por meio das palavras tragédia
e formação humana limitadas aos títulos das dissertações e teses. Os trabalhos encontrados foram
classificados conforme o recorte temporal, sendo divididos em Antiguidade, Idade Média, Modernidade e
Contemporaneidade. Foram encontrados seis trabalhos referentes a Antiguidade, os quais receberam outras
classificações que possibilitaram identificar a predominância do conceito de formação humana e como os
pesquisadores entendem a potencialidade da tragédia nos processos educativos. A realização desse estudo
constituiu-se de grande importância por identificar os interesses dos pesquisadores, na atualidade, sobre a
temática em questão, possibilitar a compilação de referenciais teóricos e orientar novas proposições de
estudos na área.
O objetivo da análise da obra é catalogar os modelos de comportamento que circulavam durante a Baixa
Idade Média, mostrando quais são as críticas que Gil Vicente demonstra em sua obra moralizante. O
teatrólogo enfatiza no Auto da Alma os pecados que afastavam as pessoas do paraíso. A peça foi apresentada
ao rei D. Manuel I e à rainha dona Leonor, na cidade de Lisboa, em 1518, de caráter moralista e religioso.
Gil Vicente, incomodado com os comportamentos que dos indivíduos. Retratava críticas. Ainda dividida em
dois temas centrais: o drama e a comedia, o autor irá transmitir de forma inovadora os ensinamentos que
muitos daquela sociedade não se importavam mais. Com intuito de enfatizar e resgatar as virtudes essenciais
para a salvação, Gil Vicente apresenta personagens como: Alma, Anjo Custódio, Igreja, Santo Agostinho,
Santo Ambrósio, S. Jerónimo, S. Tomás, Dous Diabos. O autor tem uma proposta reformista da sociedade
e neste sentido, apresenta em suas peças os modelos ideais que deveriam ser seguidos pelos portugueses do
século XVI. A obra Vicentina possui um teor pedagógico, com elementos educativos, moralizantes e com o
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
teor religioso para transmitir ao público os comportamentos ideais a serem seguidos para se obter uma
conduta cristã correta e conseguir salvação.
Entre os séculos XII e XIII, com o desenvolvimento do comércio, do artesanato e das cidades, as escolas
catedrais assumiram um papel importante no ensino secular, pois até o momento predominavam as escolas
monásticas, exclusivamente para religiosos. Nesse ambiente de ensino citadino, formaram-se as corporações
universitárias, nas quais o franciscano Gilberto de Tournai (1200-1284) destacou-se como mestre na
Universidade de Paris e autor de obras importantes na história da educação medieval. A historiografia
brasileira dedicada à História da Educação se desenvolveu enormemente desde a década de 1980 com a
renovação de objetos, abordagens e problemáticas. Nesse sentido, o objetivo deste estudo consiste no
levantamento e análise da historiografia da História da Educação Medieval no Brasil, com foco no mestre
franciscano Gilberto de Tournai. Para tanto, realizou-se um levantamento de pesquisas publicadas sobre a
temática na base de teses e dissertações da CAPES e SCIELO, entre os anos de 2000 a 2019, sendo possível
identificar as tendências e lacunas nesse domínio. Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa e
bibliográfica. A partir dessa investigação, conclui-se que há escassez de estudos sobre o tema, sobretudo,
quanto ao referido mestre e suas reflexões educacionais.
Este texto tem como objetivo investigar a metodologia de ensino utilizada no período histórico
compreendido no milênio presente entre os séculos V e XV, conhecido como Idade Média, e, a partir daí
desenvolver um aplicativo para dispositivos móveis que auxilie o aprendizado dos estudantes do Ensino
Médio tanto em Matemática como em História. Buscamos assim (re)unir áreas que tradicionalmente estão
em lados “opostos” do conhecimento, especialmente nas mentes dos adolescentes, já habituados à
disciplinarização do aprender e das grades curriculares. A partir da investigação dos fundamentos da
Matemática medieval em seus textos clássicos, relatamos o desenvolvimento de um aplicativo para
dispositivos móveis através da ferramenta APP INVENTOR (disponibilizada gratuitamente), com
problemas tipicamente medievais para, mesmo sem os mestres do medievo, aguçar a mente dos jovens que
cursam a escola em nossa atualidade. Importante ressaltarmos a necessidade de desenvolvimento de
aplicativos para dispositivos móveis, considerando que a distância física dos envolvidos no processo
educativo não pode ser mais um fator de estática ao aprendizado. Pretende-se, assim, que este meio seja
utilizado como ferramenta pedagógica no ensino tanto da Matemática como da História, e como fator de
humanização que é tão caro em nossos dias.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Este trabalho tem como temática a discussão da origem da cidade de Atenas, na Grécia antiga, e de como
se deu formação do cidadão ateniense na cidade-estado de Atenas, através de uma educação que utilizava
do conhecimento histórico e de mitologia grega como instrumentos formativos. O objetivo é mostrar como
o grego do período clássico (V e IV a.C) tinha no conceito de autochthon justificativa para sua origem na
terra pátria e, desta forma, reforçavam a sua cidadania ateniense como legítima e inquestionável. A ideia de
que eram ‘nascido da terra”, ou seja, autochthon servia para mostrar que eram os legítimos habitantes da
Hélade, por isso helenos, e nunca colonos ou invasores. Para isso, buscavam educar o cidadão ateniense
através da sua história e da mitologia, que se fundiam através da sua literatura e sua religião mítica. Destaca-
se ainda nesta discussão como o grego certificava que a cidade de Atenas tinha sido fundada pelo herói
mítico, Teseu, seu oikites, e como esta transitou de uma organização estruturada na comunidade familiar do
oikos, sob o domínio do poder patriarcal e das leis divinas, para uma polis democrática conduzida pelo
cidadão e pelas leis escritas, atingindo a condição de cidade grega por excelência no século V a.C.
A comunicação aborda aspectos da formação filosófica epicurista e da utilidade da filosofia entendida como
arte de viver e terapêutica da alma com vistas à felicidade. No aprendizado da filosofia em Epicuro se
destacam, por um lado, os meios pelos quais o discípulo toma contato com a filosofia, nessa direção estão
as cartas a Herôdoto, sobre a física; a Pitoclés, sobre astronomia e meteorologia e a Meneceu, sobre filosofia
prática e o potencial formativo que a exercitação filosófica detém; por outro, a defesa da filosofia como uma
sabedoria prática que enlaça a virtude e o prazer, se apresentando, desse modo, como guia ético seguro para
alcançar a vida feliz - uma arte de viver - que pode ser observado nas Máximas principais e nas Sentenças
vaticanas. Por meio do filosofar à maneira epicurista as crenças indutoras do medo e das perturbações da
alma são dirimidas, em seguida, são indicadas as práticas e os saberes necessários ao cálculo dos desejos e,
consequentemente, a administração saudável dos prazeres e o encontro da virtude. Tais prerrogativas,
segundo Epicuro, tornam possível distinguir o verdadeiro filosofar daquele aparente e inócuo, pois que o
primeiro se faz amparado no conhecimento da natureza, condição imprescindível para a libertação dos
medos, e da prudência, condição para as deliberações em direção à serenidade. É nesse sentido que o
aprendizado e a prática da filosofia se transformam em uma terapêutica da alma.
OLIVEIRA, Terezinha
Essa comunicação tem por objetivo refletir sobre o projeto de educação apresentado por Rosvita de
Gandersheim (935-1002) e a sua contribuição para o desenvolvimento social do século X. Considerada por
nós uma intelectual para a época, Rosvita inovou ao escrever peças teatrais de cunho religioso. Por meio da
dramatização, a monja buscava formar os homens de seu tempo e recuperar valores que estavam se
perdendo. No mosteiro de Gandersheim, Rosvita escreveu seis dramas. No entanto, para essa comunicação
nos pautamos na peça teatral intitulada Ressurreição de Drusiana e Calímaco (calimachus), contida nas obras
Dramas e Obras dramáticas, publicado por López (2003) e Paz (2000). Nessa peça, Rosvita conta o drama
de Calímaco, um homem que se apaixonou por uma mulher casada e deseja tê-la a todo custo, nem que seja
após a sua morte. Mediante as circunstancias, ele planeja violar o cadáver da amada, mas antes do ato ser
consumado, Calímaco morre. O desenrolar da peça se dá com a ressurreição dos personagens mortos, para
o julgamento final. Ao apresentar uma de suas peças, pretendemos destacar a relevância de sua obra para a
história da educação e revelar a sua intenção ao escrever peças tão dramáticas.
Este eixo tem como objetivo promover reflexões acerca da imagem como um registro histórico. Considera-
se as imagens como produções materiais que possibilitam o estudo sobre o comportamento humano nas
sociedades antiga e medieval.
Ricardo I é certamente um dos personagens medievais mais famosos que se tem notícias. Sua vida, repleta
de episódios épicos e dramáticos, foi (e continua a ser) representada na literatura, nas artes, no cinema, nos
quadrinhos, e em muitas outras formas de expressão como a história de um dos grandes heróis do ocidente,
não apenas como um Rei-Cavaleiro mas também como o representante maior da causa cruzadista. Tanto
no tempo em que viveu quanto nos anos subsequentes a sua morte, muitas lendas e mitos foram criados
sobre o famoso “Coração de Leão”; o resgate do cativeiro por um menestrel, o duelo contra Saladino, a
presença narrativas robinhoodianas, até sua sexualidade foi, em certo, momento objeto de especulação por
parte de historiadores e curiosos em geral. Neste sentido, buscando entender o papel que este personagem
tinha na imaginação medieval, propomos analisar uma obra literária em particular (o romance Coer de Lyon,
especificamente a versão presente no manuscrito Gonville and Caius MS 175, datado da primeira metade
do século XV), que se destaca de muitas outras fontes pelo tratamento controverso que dá ao monarca –
sem com isso abandonar a tonalidade heroica que comumente é atribuída a ele.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Na atualidade tornou-se comum encontrar livros, filmes, séries e jogos que abordam a temática medieval,
principalmente o imaginário fantástico. Sabendo que a literatura ficcional e a indústria do entretenimento
estão sempre revisitando a Idade Média nas mais diversas formas, nos questionamos qual é a origem dessa
popularidade. Estudando a teoria psicanalítica, descobrimos que a fantasia possui um papel importante na
nossa estrutura psíquica, construindo suportes que nos ajudarão a obter prazer e alívio, enquanto nos
adequamos as exigências da sociedade (FREUD, 1908/1974). A fantasia humana cria mitos, lendas e heróis
que são projeções de nossos desejos humanos, construindo narrativas atemporais (RANK, 1909/2020). Mas
se imaginários fantásticos existiram em todos os períodos e culturas, então porque especificamente o
imaginário medieval costuma ser o mais utilizado? Jacques Le Goff (1985/1994) defendia uma “longa Idade
Média”, afirmando que temos uma memória nostálgica desse período, seja através da oralidade ou da escrita.
De fato, tradições e reminiscências medievais ainda são encontradas em nossa cultura ocidental, mesmo que
revestidas de idealização e fantasia. Seria esse o motivo do nosso fascínio pelo medievo?
A novela de cavalaria A Demanda do Santo Graal, escrita no século XIII, é parte da Matéria da Bretanha, o
ciclo de contos do rei Artur e seus cavaleiros, sendo um conjunto de narrativas que foi apropriado por vários
segmentos da sociedade ao longo dos séculos. A obra em questão foi utilizada pela Igreja Católica como
forma de inserir um modelo de comportamento para os cavaleiros, correspondente aos ideais do
cristianismo. Deste modo, Galaaz, protagonista da história, é descrito com aspectos castos que remetem a
Cristo e, por tais características religiosas, era imbatível em batalha. Assim, o personagem estabeleceu, por
meio da literatura, um modelo de cavaleiro ideal que se refletiu na realidade, como pode ser visto no contexto
português. De acordo com a obra Crónica do Condestável de Portugal, do século XV, o comandante militar
lusitano Nuno Álvares Pereira almejou ser igual ao cavaleiro fictício Galaaz. Ambos são retratados na
documentação com atributos religiosos semelhantes, ao ponto de que o comandante militar foi canonizado
santo em 2009. Portanto, o objetivo do trabalho é analisar a existência de um modelo de cavaleiro cristão
perfeito no final da Idade Média em Portugal, através de um personagem literário que influencia a
representação de uma figura histórica lusitana.
PALAVRAS-CHAVE: Modelo de cavaleiro. Galaaz. Nuno Álvares Pereira. Matéria da Bretanha. Cavaleiro
Perfeito.
O trabalho sequente é parte do projeto “Iconologia: ciência da cultura guiada por imagens”, orientado pelo
prof. Dr. Francisco Marshall”, e aborda a iconologia do deus Posídon na Grécia antiga por meio da análise
da documentação literária e da cultura material proveniente dos períodos Arcaico e Clássico. Através dos
epítetos associados a Posídon nos poemas épicos, líricos, trágicos e nos Hinos Homéricos, e dos índices de
representação do deus presentes nos vasos de cultura ática, percebe-se que diferentes elementos constituíram
a sua identidade durante o tempo e nas diferentes poleis da Hélade. Tomando como pressuposto a teoria
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
warburguiana, que entende as produções culturais como totalmente influências pelo universo experienciado
pelo indivíduo que as produz, examina-se quais foram os determinantes históricos-sociais para a
identificação de Posídon com um aspecto particular em dado momento. Com a seleção do kantharos de
figuras vermelhas Boston 98.932, no qual Posídon é retratado em meio a batalha entre os deuses e os
gigantes, utiliza-se o método Panofsky para o exame do objeto com a finalidade de compreender as linhas
de representação do deus no imaginário mítico ateniense e como as mudanças do contexto as modificam.
Este trabalho traz uma reflexão sobre as possibilidades de estudos em sala de aula, de fenômenos históricos
– caso do aborto, a partir da análise comparativa de um texto jurídico medieval do século XIII e um discurso
fílmico do início do século XXI. Nosso objetivo é levarmos os alunos a discutirem sobre este tema,
percebendo que não se trata de um debate atual, mas que ocorre desde o período convencionado de Idade
Média, conforme as fontes demonstram. Selecionamos, para este estudo, especificamente o Fuero Juzgo, obra
jurídica mandada à tradução para o castelhano, adaptada e elaborada sob o reinado de Fernando III (1217-
1252), em Castela e o filme “O crime do Padre Amaro” (El crime del Padre Amaro), de 2002. Interessa-nos,
nesta pesquisa, percebermos, a partir de um discurso fílmico produzido e ambientado no contexto histórico
do século XXI, traços de medievalismos à luz do contido no texto jurídico produzido no século XIII, a fim
de identificarmos continuidades, semelhanças, aproximações e convergências no caso específico do aborto.
Tal análise nos possibilita, ainda, abordarmos outras questões a serem debatidas pelos discentes em sala de
aula, tais como, negligência, paternidade, culpabilização da mulher pela gravidez e sua responsabilização pela
decisão da prática abortiva.
O presente texto apresentará algumas considerações sobre a problemática da imagem enquanto linguagem
política em moedas e sua relação com a reformulação de concepções de poder imperial na Roma do primeiro
século da Era Cristã. Para tanto, escolheu-se o período que vai do ano de 54 até 68, fase na qual o mundo
romano encontrava-se sob a regência de Nero. O recorte cronológico neroniano traz consigo uma série de
importantes elementos numismáticos: além do grande refinamento artístico na qualidade dos retratos do
príncipe e da diversidade de temas apresentados, notáveis inovações nas regras iconográficas são perceptíveis
e que se relacionam diretamente com a construção de novas concepções de poder que repensavam a natureza
da autoridade imperial. Tais propostas imagéticas tinham por objetivo engrandecer a figura de Nero, pois
traziam consigo a heroização e a devoção às artes, exemplos associados, assim, com a instituição de uma
concepção teomórfica (imitatio dei), monumental e pendente ao viés absolutista de poder, calcado em
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
valores culturais monárquicos oriundos das realezas helenísticas do oriente. A presente análise lidará
majoritariamente com exemplares emitidos nas oficinas de Roma e Lugdunum (Gália).
Ao longo da história, as mulheres foram motivos de inspiração para diversos artista. Na Idade Média, não
foi diferente, representaram-nas em imagens e iluminaras dos manuscritos, afrescos, baixos e altos-relevos,
na arquitetura das igrejas. São várias as manifestações cotidianas em que aparecem: sozinhas, ao lado do
marido e dos filhos, junto aos santos, orando, trabalhando no campo, nas oficinas ou em casa, grávidas,
divertindo-se no campo ou na corte. Com efeito, diversos são os retratos femininos e os tipos de figuras
idealizadas presentes nas cantigas, como a dama, a senhora, a camponesa, a donzela, entre outras. Essas
representações correspondem ao imaginário cultural do medievo e, consequentemente, presentes nos
discursos poéticos. Neste trabalho, portanto, nosso olhar recai sobre a representação literária da mulher da
corte, descrita nas cantigas de amor. Os trovadores que compuseram entre os séculos XII e XIV, em uma
atitude de humilde contemplação, louvam de modo respeitoso, segundo o código do amor cortês, a mulher
inatingível, consolidando um tratado comportamental sobre as relações amorosas da Corte medieval. Desse
modo, nosso corpus de análise compõe-se de textos selecionados do poeta e trovador D. Dinis. Nesses
textos, a mulher é inacessível pela impossibilidade de realização plena dos sentidos, encontra-se em um plano
físico e espiritual superior ao trovador, por isso, está distante, mas reconstituída pela memória do sujeito
apaixonado.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O debate sobre Cinema e História se consolidou como uma importante área em ambos os campos,
ocupando um lugar privilegiado também no Ensino de Historia Antiga. A personagem “múmia” é uma velha
conhecida da sétima arte, e sua presença em filmes sobre o antigo Egito, ambientados no passado e no
presente, confunde-se com a própria história do cinema. Nos anos 1930, a produtora estadunidense
Universal Studios não apenas transformou as múmias em personagens de filmes de terror, como também
criou um longo e rentável blockbuster que, em 2017, culminou no filme “A Múmia”, dirigido por Alex
Kurtzman. A partir da exibição desta película para estudantes de licenciatura em História, e com base nas
suas percepções, discutimos a elaboração de roteiros de análise, tendo em mente o ensino de história e a
formação de professores e professoras. Grande parte do cinema comercial estadunidense é consumido em
escala global, incluindo estudantes no Brasil. Filmes como “A Múmia” expressam uma narrativa histórica
que não é neutra. Portanto, torna-se relevante a reflexão criteriosa sobre seus aspectos estéticos e
historiográficos, com vistas no desenvolvimento de um olhar crítico em termos de cinema e consumo de
produtos a ele associados, bem como na superação de narrativas orientalistas e estereotipadas.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema Comercial. Ensino de História. Formação de Professores. Egito Antigo
La Chanson de Roland, gesta escrita entre os séculos XI e XII, é considerada uma das primeiras obras em
língua vernácula produzidas na França. A obra é vista como exemplo para a nobreza medieval por ter em
sua narrativa amplamente expressos valores como dignidade, respeito e coragem, elementos que não
perderam importância no decorrer dos séculos e que ainda hoje têm relevância. O texto foi destinado a um
público bem variado, formado por vassalos, citadinos e viajantes, que tinham em comum o gosto por
aventuras e batalhas. E por suas características textuais e importância literária, apresenta um rico painel de
investigação das configurações de modelo de comportamento e moral para a nobreza francesa no período.
Nesta obra, a construção da imagem do herói Rolando e de seu tio Carlos Magno, vem imbuída de um
caráter modelar, apontando a retidão de personalidade e, assim como seus pares, são mostrados como
defensores da honra nacional, feudal e familiar, moldando a efígie de cavaleiro perfeito. Por esse destaque,
até mesmo o rei da época, o capetiano Luís VI (1108-1137), tentará unir sua imagem ao do imperador franco,
visando assim obter prestígio e confiança de seus súditos, desconfiados de sua capacidade em portar a coroa.
Quando nos debruçamos sobre a figura mítica e literária de Melusina, ser sobrenatural típico dos contos
maravilhosos medievais, encontramos um campo profícuo de debate sobre as representações femininas no
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
imaginário da Idade Média, sobre suas utilizações políticas e ideológicas e seu incrível papel nas genealogias
regionais. A imagem dessa esposa-fada-sereia foi adaptada e transformada nas versões e temporalidades do
medievo, como a Dama do Pé de Cabra. O exemplo de conto melusiniano português da Baixa Idade Média
pode ser encontrado na obra genealógica O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, do século XIV. Essa
utilização não se finda somente nesse período histórico. Esse trabalho tem como objetivo debater os
modelos e imagens dessa figura mítica medieval e compartilhar os temas e subversões encontradas em outros
exemplos Modernos e Contemporâneos, que se espalham pela Europa e no Brasil, a partir da perspectiva
de gênero e do imaginário social.
Apontado por Le Goff (1981) como marco às representações do “Outro Mundo”, o “Tratado do Purgatório
de São Patrício” (Tractatus de Purgatorio Sancti Patricii) ocupa um lugar de destaque junto à chamada
literatura medieval de viagens pelo pós-vida. Redigido por um monge cisterciense na segunda metade do
séc. XII (c. 1179–1181), descreve-se nele a jornada expiatória de certo cavaleiro de nome Owein, que, ainda
in corpore, percorrerá as paragens do Purgatório e Paraíso Terrestre, descrevendo-as aos vivos em seu
retorno. Assim, com o intuito de apresentar ao público brasileiro a respectiva obra, a comunicação ora
proposta divide-se em duas etapas inter-relacionadas: na primeira, será abordado o Tratado propriamente,
com ênfase em parcela de sua tópica frente à literatura que o precede. Na segunda, serão tecidos comentários
sucintos acerca de outros relatos que envolvem a localidade descrita na obra, entre eles os escritos do
mercador florentino Antônio Mannini (séc. XV) e do cavaleiro húngaro Laurêncio de Pasztho (séc. XV).
Uma das primeiras formas de expressar visualmente a santidade de Francisco de Assis foram pinturas feitas
em madeira durante o século XIII, conhecidas como távolas historiadas ou ícones vita. Esse modelo,
importado da cristandade grega, trazia a imagem de um santo em dimensões destacáveis em um plano
principal centralizado, cercado por episódios da sua vida em dimensões proporcionalmente menores.
Embora outros veneráveis também tenham sido homenageados nestes retábulos, no Ocidente Medieval,
Francisco de Assis foi o personagem mais retratado nesses moldes. Oito távolas historiadas de Francisco de
Assis produzidas ao longo do século XIII foram preservadas.
Datada e assinada, considerada a mais antiga destas obras, está o painel da Igreja de São Francisco, na cidade
de Pescia, localizada na Toscana. Foi pintado por Boaventura de Berlinghiero no ano de 1235, cerca de nove
anos após a morte de Francisco e sete após a sua canonização. Parte da transformação do quadro ao longo
dos oito séculos foi registrada textualmente ou por fotografias. O objetivo da comunicação é reunir os
registros históricos sobre as mudanças de forma e conteúdo da Távola de Pescia e com isso refletir sobre a
transmissão de uma pintura da Idade Média Central até os dias atuais. Será demonstrado como o quadro
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
exposto no altar Mainardi da igreja pesciatina, com quase oitocentos anos de existência, apresenta-se a menos
de quarenta sob a atual forma.
PALAVRAS-CHAVE: Francisco de Assis. Ordem dos Frades Menores. Século XIII. Pintura.Távola
historiada.
Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas considerações sobre a viagem iniciática ao Além-
medieval, tomando como exemplo as obras Visão de Túndalo e o Purgatório de São Patrício. As narrativas
apresentam dois protagonistas, respectivamente, o cavaleiro Túndalo e Owein, que realizam um itinerário
no mundo do Além. A finalidade da viagem de ambos os protagonistas é a purificação e a redenção de seus
pecados e, com isso, atingir a salvação. No entanto, a estrutura do esquema narrativo escatológico desses
dois relatos se reveste de algumas particularidades que os aproximam, mas também os afastam. Neste
sentido, pretende-se realizar um breve estudo comparativo dessas fontes, as quais apresentam
particularidades de certos elementos ligados às heranças estruturais escatológicas presentes nas narrativas de
viagens iniciáticas que circularam ao longo da Idade Média. Tais análises são pertinentes para a discussão
das experiências dos viajantes que empreenderam uma jornada às regiões do Além (Inferno, Purgatório e
Paraíso).
O “medievalismo” pode ser entendido como uma disciplina acadêmica dedicada a abranger todos os tipos
de interação com a Idade Média e a recepção da cultura medieval em períodos pós-medievais. Contribuiu e
continua promovendo um melhor entendimento das diferentes formas que o medievo foi [re]apropriado,
[re]inventado, [re]construído, [re]produzido, [re]lido, [re]escrito e [re]interpretado pelas ciências, pelos meios
de comunicação de massa e também pelos não acadêmicos ou leigos. No entanto, a partir do já consolidado
termo/conceito “medievalismo” foi criado também o “neomedievalismo”. Esse neologismo já foi
empregado por diversos autores e atualmente seu uso dedica-se principalmente aos estudos das narrativas
fictícias e idílicas do medievo. As interpretações mais livres e criativas da Idade Média, um universo
alternativo de medievalismos, uma grande fantasia ou um metamedievalismo.
Esse trabalho propõe uma breve investigação sobre as diferentes inter-relações midiáticas das recentes
produções neomedievalistas nos jogos elétricos, no cinema e na televisão. Da famosa trilogia “O Senhor dos
Anéis”, passando por “The Elder Scrolls V: Skyrim”, “The Witcher”, até o fenômeno “Game of Thrones”.
O sucesso dessas produções neomedievalistas reiteram como o fantástico medieval continua inspirando e
magnetizando o imaginário coletivo pelos sortilégios e maravilhamentos de uma lendária Idade Média que
jamais existiu.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O presente trabalho propõe discutir de que maneira os manuscritos e as imagens foram fundamentais para
reafirmação de modelos de santidade evangélica no mundo medieval, em finais do século XIII e início do
século XIV, em Toulouse, sul da França. A pesquisa em questão volta-se para o estudo do caso de Domingos
de Gusmão, antigo Mestre Geral da Ordem dos Frades Pregadores, canonizado pelo papa Gregório IX em
03 de julho de 1234. As fontes a serem utilizadas tratam-se de crônica de Jordão da Saxônia (Orígenes de la
Orden de Predicadores). Quanto às imagens, as iluminuras dominicanas que utilizaremos são integrantes do
manuscrito denominado “Libellus de solacione et institucione noviciorum”, o qual faz parte do catálogo
geral dos manuscritos das Bibliotecas Públicas da França. As imagens produzidas naquele período e que
serão alvo desta análise situam-se em um conjunto de relações entre sujeitos religiosos e o próprio modelo
de santidade que se buscava alcançar por meio de suas funções, estabelecendo assim a relação entre Modelo
e Imagem, discutida por Franco Jr. (2010). Tais considerações nos possibilitam conduzir o debate do valor
destas iluminuras, desde os cuidados em produzi-la, preserva-la ao cumprimento das funções que lhe vão
sendo atribuídas dentro da própria Ordem. Segundo Gajano (2002), as imagens não somente são formas de
veiculação desses modelos de santidade, como manifestam-na pelos elementos fixos presentes nas figuras,
principalmente dos Santos.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A nossa pesquisa, ainda em fase inicial, analisa de que maneira o papa Júlio II (1503- 1513) construiu sua
fama e reputação. Dessa forma, o objetivo geral do nosso estudo será analisar o uso político da arte e
instrumentalização, pelo pontífice, da fama de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-
1520). Logo, as fontes principais são dois afrescos produzidos durante seu pontificado, o primeiro decora
uma das paredes da Stanza della Segnatura, intitulado como Escola de Atenas (1511-1512), feito por Rafael.
O segundo arranjo orna o teto da Capela Sistina (1508-1512) e foi realizado por Michelangelo. As fontes
auxiliares são dois livros escritos nas primeiras décadas do século XVI. Storia d’Italia foi redigido por
Francesco Guicciardini (1473-1541) e publicado somente em 1561, já O Príncipe do florentino Nicolau
Maquiavel (1469 – 1527) foi publicado pela primeira vez em 1532. A partir do método de análise
iconográfico e iconológico proposto pelo historiador Erwin Panofsky buscamos descrever e interpretar os
afrescos a fim de buscar pelo significado intrínseco das fontes pictóricas. Ademais, a análise será perpassada
pelos conceitos da corrente historiográfica da História Cultural, principalmente, pela luta de representações
exposta pelo historiador francês Roger Chartier, com a intenção de perceber as fronteiras entre a esfera
militar e cultural do pontificado de Júlio II, conhecido entre seus contemporâneos como o papa guerreiro.
No século XIII floresceu, na Europa, o movimento denominado Culto Mariano, o qual ficou marcado por
inúmeras manifestações devocionais e artísticas em homenagem à figura de Maria, Mãe de Jesus. Na
literatura, foi empreendido pelo rei D. Alfonso X, de Castela e Leão, o projeto de composição das Cantigas
de Santa Maria, nas quais foram narrados diversos milagres e louvores à Maria. Nesta obra, os autores
fizeram uso de vários recursos literários de modo a criar representações da figura mariana, apresentaram
também traços físicos e psíquicos bem definidos da mãe de Cristo, de forma a exaltá-la e expor, por meio
do seu exemplo, modelos moralizantes de conduta aos demais cristãos. Neste sentido, partindo da análise
interdisciplinar baseada nos Estudos de Literatura e História, esta investigação de doutorado, em andamento,
tem o objetivo de compreender as representações simbólicas da figura de Maria presentes na literatura
medieval escrita em galego-português, a partir das Cantigas de Santa Maria, de D. Alfonso X, e analisar como
tais representações traduziam o imaginário social e o pensamento do período.
Nas últimas décadas, a extensa e multifacetada obra do filósofo maiorquino Ramon Llull (c. 1232-1316) tem
sido cada vez mais pesquisada e traduzida no Brasil. A trajetória e o pensamento de Llull, contudo, foram
pouco aproveitados no ensino escolar de História. Com o objetivo de oferecer caminhos e possibilidades,
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A Legenda Áurea é a mais célebre composição hagiográfica do período medieval. Ela foi escrita, em 1293,
pelo dominicano e arcebispo de Gênova, Jacopo Varazze (1229-1298), um dos pensadores mais expoentes
da Ordem dos Frades Pregadores. Este legendário sobre as vidas dos santos foi copiado rapidamente para
diversas versões latinas e vernáculas que se difundiram, por sua vez, em diferentes reinos europeus. Seu
conteúdo versava sobre o papel exemplar dos santos perante às tentações mundanas, apresentava a
associação entre o tempo litúrgico e o mundano e contava com ricas iluminuras que ajudavam a encantar,
ensinar, persuadir e reforçar a doutrina para um público leigo formado por uma rica aristocracia ou então
por abastados comerciantes que poderiam financiar tanto a tradução quanto a iluminação dos sofisticados
códices. Neste sentido, o problema central desta comunicação é analisar a associação do Diabo com
determinadas cores e formas na imagética medieval e elucidar os seus significados teológicos e sociais
presentes na primeira tradução francesa da Legenda Áurea que temos notícia: o manuscrito Ms. Fr. 241
confeccionado em 1348 na cidade de Paris e que atualmente está disponível na Biblioteca Nacional da
França.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
sobre a harmonia cultural presente na arte renascentista. O afresco da sibila Cumeia constitui-se como fonte
dessa pesquisa, a qual se desenvolve por meio da análise iconográfica. Os procedimentos metodológicos são
provenientes de Erwin Panofsky no que se refere a análise pré-iconografica e iconográfica. Com a realização
do estudo pudemos verificar que Michelangelo reúne em Cumeia conhecimentos provenientes de vários
âmbitos como da cultura greco-romana, da cultura cristã, da anatomia e da fisiologia que, em comunhão,
expressam um novo olhar dos homens para a sociedade projetando-a na arte que, também, ganha novas
características.
A comunicação apresenta uma releitura da imagem de Medusa, personagem da mitologia grega, em grande
medida construída de forma negativa. Elegemos como fonte o filme Percy Jackson e o ladrão de raios,
lançado nos Estados Unidos em 2010. Trata-se de uma adaptação cinematográfica da saga de Rick Riordan,
com direção de Chris Columbus e produção de Michael Barnathan, Mark Radcliffe e Karen Rosenfelt. O
filme se passa no mundo atual e narra a história do jovem Percy, que se aventura em um grande mal
entendido; Zeus suspeita que ele, o filho adolescente de Poseidon, tenha roubado seu raio. A releitura da
imagem de Medusa por meio da análise da fonte audiovisual nos permite considerar a imagem
cinematográfica a partir da realidade ou da representação alegórica, e nesse sentido entender qual a dimensão
da manipulação das imagens.
A comunicação visa a apresentar proposta didática ligada à atividade “Santos em Imagens”, conduzida pela
Profa. Andréia C. L. Frazão da Silva como parte do projeto “Os legendários abreviados mendicantes, a
temática do martírio e a construção medieval da memória de santos venerados no Rio de Janeiro”. A pesquisa
é desenvolvida no PEM/UFRJ com financiamento da FAPERJ. Nossa inserção na atividade está vinculada
à pesquisa de doutorado em desenvolvimento, sobre liderança espiritual feminina na Idade Média, tendo
como aporte teórico as reflexões de Joan Scott.
Vamos apresentar dois vídeos e dois materiais didáticos produzidos nessa iniciativa, que se basearam na
interpretação dos relatos da vida de Santa Luzia presentes na Legenda Áurea, produzida por Jacopo de
Varaze no século XIII.
Além de apresentarmos o processo de criação desses materiais e sua integração com a atividade Santos em
Imagens, debateremos seus usos em sala de aula e sua divulgação nas redes sociais. Consideramos que essa
é uma forma de articular os estudos de gênero ao ensino de história medieval a partir de uma abordagem
que permita aproximar o público não acadêmico a uma visão menos estereotipada dos papeis sociais
ocupados por mulheres no medievo.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A apresentação terá como objetivo discutir a pesquisa em fase inicial intitulada: “Uma história que nunca
permanece igual: Análise de transformações no mito Arturiano ao longo da segunda metade do século XX
no Cinema Estadunidense”, que deseja elucidar as modificações que ocorreram nos discursos e
representações que o Cinema produziu a respeito dessa lenda medieval na segunda metade do século XX e
como elas se relacionam com as transformações políticas, sociais e, sobretudo, religiosas desse mesmo
período. Ela trabalhará com a ideia de uma identidade cristã estadunidense a fim de entender como as
alterações sofridas por essa última se relacionam em algum nível com a retratação do mito arturiano. Utilizará
também os conceitos de Reminiscências Medievais e Medievalidades. Por fim, empregará a História Cruzada,
ramo da História Comparada, que será imprescindível na análise e interpretação das fontes principais, os
filmes “Os Cavaleiros da Távola Redonda” e “Lancelot, O Primeiro Cavaleiro”, além da fonte literária que
inspirou a criação dos mesmos, “A Morte de Artur”.
O eixo tem por objetivo reunir estudos sobre pensadores antigos e medievais, principalmente em relação à
preservação da memória e da tradição do conhecimento.
Sabe-se que a Literatura Latina é rica em poetas, cujas obras, devido ao grande valor literário, atravessaram
o tempo e continuam sendo objeto de estudo de todo aquele que deseja conhecer um pouco do que foi a
cultura de Roma. No entanto, no campo dos estudos literários, pouco se ouve falar de Lucano (I d. C.), o
grande poeta da Farsália. Mesmo nos livros, cujo objetivo é o estudo da Literatura Latina com maior
profundidade, não se encontram informações suficientes e análise coerente de sua obra maior, que foi escrita
quando o poeta estava no auge de sua juventude. O que encontramos, geralmente, é uma lista dos defeitos
que o poeta cometeu ao compor sua epopeia. Talvez, isso se deva ao fato de Lucano ter renunciado aos
moldes clássicos dos poemas épicos, que reinavam absolutos em sua época. A maioria dos críticos literários
classificam Lucano como um historiador, desprezando elementos importantes da expressão artística
próprios do fazer poético. Este trabalho tem como objetivo mostrar que a finalidade preponderante de
Lucano na Farsália não deve ser procurada na correspondência à realidade histórica, mas nas emoções,
sentimentos e aspirações do poeta, que avulta na inspiração e na inteligência com que utilizou os expedientes
da poesia para apresentar fatos tomados da história. Para o nosso objetivo, pesquisamos diretamente o texto
da Farsália, a fim de que a obra e poeta recebam o devido valor no âmbito literário.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Esta comunicação tem como objetivo analisar os elementos retóricos para a construção da imagem negativa
do imperador Nero(54 d.C.-68 d.C), nos Anais de Tácito. Quando Tácito começou a contemplar uma
história Júlio-Claudiana por volta de 114 d.C. conseguiu ter uma carreira completa e satisfatória. Ele tinha
60 anos e honras políticas e significativas e reconhecido como principal orador político de Roma. A estrutura
dos Anais como todo combina princípios analíticos, que se aplicam a uma organização menor dentro de
cada livro que agrupa os livros de acordo com os Principados dos imperadores, princípio que acentua os
diversos significados políticos: assim como ocorre nos livros dedicados a Tibério, ocorre também com
Cláudio e Nero, e tem significados importantes: o livro 11 termina com a morte de Messalina por volta do
ano de 48 d.C., o livro 12 inicia com o casamento de Cláudio e Agripina. Quanto a Nero, no livro 14, a
trama se inicia com o assassinato de Agripina em 59 d.C. e termina com a morte de Otávia em 62 d.C. O
livro 15 termina com o fim da conspiração de Pisão em 65 d.C. Por fim, compreenderemos a importância
da análise taciteana para a avaliação desse imperador.
Este artigo tem como objetivo analisar a importância dos Intelectuais da Idade Média no XIII, em especial
o filósofo Alberto Magno (1200-1280), a fim de discutir qual era o papel deles na sociedade no qual estavam
inseridos entendendo a importância da totalidade histórica para que os mesmos desenvolvessem seu oficio.
Como objeto de estudo usaremos Jacques Le Goff um historiador o qual se propõe a estudar a Idade Média
e Alberto Magno pensador do século XIII. Le Goff, aponta que na Idade Média o intelectual se apresentava
como um homem o qual tinha como ofício a arte de pensar e ensinar os homens de seu tempo, de modo
que seus estudos fizessem parte do cotidiano da sociedade em que ele era partícipe. Neste sentido, o autor
observa que para isso ocorrer é preciso que o historiador contemple a totalidade dos acontecimentos e não
apenas o momento em que as revoluções eclodem. Ainda apresenta que a história para ser compreendida
em sua totalidade deve abarcar o passado o presente, pois é através do passado que o homem analisa seu
presente e procura agir de modo a corrigir o seu tempo. Alberto Magno como um pensador de seu tempo
desenvolve uma teoria a respeito da formação humana, apontando que o homem deveria viver de forma que
contemplasse as virtudes morais como modo de assegurar a convivência humana, promovendo uma melhora
a sociedade em que vive, deixando um legado as sociedades futuras. Deste modo, acreditamos que este
estudo será uma análise da totalidade histórica, tendo como base a história social.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a importância da instrução e justiça para a formação do
governante, em consonância com a obra O Livro da Virtuosa Benfeitoria, do Infante Dom Pedro (1392-
1449) que foi um dos príncipes da dinastia de Avis. Esse príncipe recebeu uma educação excepcional para
aquela época e devido a suas viagens para o estrangeiro, ficou conhecido como Infante das Sete Partidas.
Ele destinou sua obra a seu irmão D. Duarte (herdeiro da coroa portuguesa). No livro, Dom Pedro se
preocupou em estabelecer as virtudes necessárias para a formação do bom governante, afirmando que o
líder deveria ser bem instruído e ser virtuoso, pois esses são pontos vitais na formação de um bom
governante. Do ponto de vista de D. Pedro, o governante deveria saber que as ações de líder não poderia
ser obra do acaso, mas dotado de planejamento e ações pensadas para guiar a sociedade, tendo como
princípio o bem, resultando em benfeitorias. Com isso, consideramos que a obra de D. Pedro se constitui
um tratado de educação para os príncipes, contudo, não deveria ser lida somente por eles, mas também
assimilada pelos súditos, para que soubessem como viver harmonicamente em sociedade e obedecer às
regras da sociedade. Portanto, sua obra não se tratava de um projeto individual, mas sim, um intento que
visava toda a comunidade, com vistas a atingir o bem comum.
Os anos mil e os seguinte foram marcados, na Europa, pelos seguintes aspectos: descentralização do poder,
fome, invasões nórdicas e guerras, mas, sobretudo, pelo sentimento de espera. A espera pelo fim do mundo,
com a vinda do Anticristo, assim como descrito no Apocalipse de São João. Nesse período, os escritores
buscaram unir o visível (mundo físico e material) ao invisível (mundo de Deus, ou de fenômenos naturais
que eles ainda não sabiam explicar). Embora Hildegarda de Bingen tenha nascido no final do primeiro século
do milênio, no ano de 1098, a sua obra possui ecos de algumas crenças dessa época como: penitência para
alcançar a salvação; importância da ordem social para uma sociedade harmoniosa e estável; utilização de
elementos do mundo material para explicar fenômenos reais; humanização de Deus, tornando-o mais
próximo dos homens; e a importância de demarcar historicamente os acontecimentos narrados em suas
obras. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é compreender como esse pensamento milenarista está
presente nas principais obras de Hildegarda de Bingen: Scivias, Livro dos Méritos da Vida e Livro das Obras
Divinas. As obras se constituem como importante objeto de estudo por apresentarem o contexto social em
que foram produzidas e sintetizar o pensamento hildegardiano, pois são complementares umas as outras.
Para tanto, serão utilizados os pressupostos da História Social (BLOCH, 2001; DUBY, 1989; DUBY, 1998),
considerando a história como um processo de longa duração (BRAUDEL, 1965).
PALAVRAS-CHAVE: Hildegarda de Bingen. Anos mil. União visível e invisível. Ordem social.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Este artigo traz reflexões acerca da relação entre passado e presente, a partir do pensamento de Jacques Le
Goff (1924-2014), buscamos abordar essa relação por meio da perspectiva de longa duração descrita pelo
historiador e a partir disso, refletir também, acerca da importância da memória nesse processo, destacando
a existência da memória individual como identidade pessoal de cada sujeito e a memória coletiva, que é
constituída pelas relações sociais e conhecimentos a adquiridos e apropriados, desde o início da formação
do ser humano, que o constitui como um ser social. Por fim, realizamos uma breve discussão que buscou
evidenciar a importância da consciência histórica para a formação do indivíduo e da sociedade, visto que é
um conceito fundamental pois, permite que ele possua a consciência de suas responsabilidades e se
compreenda como um indivíduo pertencente a uma determinada sociedade, com a responsabilidade de que
todas as suas ações refletem e interferem no coletivo. A fonte que possibilitou a realização deste escrito foi
o livro História e Memória, de Jacques Le Goff (1990). Observe-se que essa pesquisa é de cunho
bibliográfico e, em relação aos pressupostos teóricos, seguimos as pegadas da História Social.
Esta pesquisa teve como objetivo analisar a concepção de governante apresentada por um intelectual
português do século XVI, Jerônimo Osório (1506-1580). O estudo tem como fonte principal um conjunto
de cartas desse autor, compilada e publicada sob o título de Cartas Portuguesas. Esse conjunto de missivas
apresenta uma série de conselhos ao rei, por um lado, e, por outro, um relato de como se encontrava a
situação política e econômica do reino português neste século. A análise da fonte, se pautou em dois
intelectuais que escreveram conselhos aos governantes: João Quidort (1255-1306), Sobre o poder régio e
papal, Egídio Romano (1247-1316) e Sobre o Poder eclesiástico. No livro Sobre o poder régio e papal,
escrito no início do século XIV, seu autor aborda o equilíbrio de poderes e a correção mútua entre rei e
papa. Este escrito foi censurado por uma comissão da qual Egídio Romano fazia parte. No livro Sobre o
poder eclesiástico, afirma-se que todo poder e propriedade somente são legítimos enquanto concessão do
pontífice. A pesquisa se baseou nos escritos teóricos de Le Goff, Marc Bloch e David Hume, que formaram
uma base para compreendermos a importância da história e da historiografia no âmbito da educação.
Essa comunicação busca discutir os objetivos e estratégias discursivas na produção hagiográfica franciscana,
observante e vulgar do final do século XV, através dos manuscritos do Specchio dell’Ordine Minore,
compêndio hagiográfico composto por Giacomo Oddi, cujo códice mais antigo é de 1474. Sua obra se insere
na disputa identitária e política entre os grupos Observante e Conventual, e reivindica para o grupo produtor
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
o legítimo seguimento dos ideais de Francisco de Assis. Postulamos a hipótese de que a formação e
fortalecimento identitário dos frades leigos, menos estudados, criou a demanda de uma produção discursiva
mais popular, mas não por isso menos densa. Através da análise de características comuns aos três
manuscritos que compõe a tradição manuscrita da obra no século XV, observamos que a adaptação de uma
tradição literária anterior, o uso do vulgar e de manuscritos com imagens foi uma estratégia para a
disseminação da identidade que se formara e que encontrou no Espelho da Ordem dos Menores um de seus
mais ambiciosos produtos.
Essa comunicação tem por objetivo refletir, mediante uma abordagem filosófico-educacional, acerca das
formulações do autor Anselmo de Bec (1033-1109) a partir do seu tratado Sobre a Verdade (1988), sobre a
ausência de vontade humana em promover a justiça. Nessa obra, Anselmo de Bec busca uma definição de
justiça e a apresenta como uma subcategoria da verdade, qualificada da vontade, do saber e do agir humano.
Salienta a retidão da vontade como o lugar no qual se encontra, no homem a justiça, uma vez que se ela
estiver ausente não seria possível o convívio humano, portanto, “[...] não é justo quem não faz, querendo, o
que deve [...] é justa aquela vontade que observa a retidão de si mesma por causa da própria retidão.” (A
Verdade, Cap. XII p. 144-145). Conhecido pelo seu argumento ontológico, que tem como premissa provar
a existência racional de Deus, afirmava, baseando-se em Agostinho de Hipona (354-430 d. C.) ser necessário
“crer para entender”. Considerando suas formulações e o seu contexto histórico, procuraremos analisar
porque o autor trouxe essa preocupação no seu tempo. Inquieta-nos supor uma sociedade na qual esteja
ausente a justiça e sua retidão, a prudência e os bons atos. A nosso ver, uma sociedade sem essas
características teria dificuldade em desenvolver seus princípios de civilidade, visto que o indivíduo que
procura satisfazer somente suas necessidades não possui interesses em uma justiça pautada no querer
coletivo.
Este trabalho tem por objetivo apresentar o conceito de humildade como um princípio formativo atemporal,
segundo os escritos de Hugo de Saint-Victor. Observamos que, ainda que o foco de nosso estudo seja a
obra do mestre Vitorino, consideramos, também, formulações de outros autores sob a perspectiva da
História Social. A justificativa desta pesquisa vincula-se a necessidade historiografia de compreender o
gérmen da escola atual que teve suas raízes no período medieval, como nos indicou Durkheim (1982) e Le
Goff (2016). De acordo com esses autores, pensadores da Idade Média desenvolveram um pensamento
científico que foi denominado de escolástico. Assim, ao estudarmos a humildade, compreendemos que, para
Hugo de Saint Victor, a humildade proporciona a abertura para o conhecimento que resultaria em
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
aprendizagem, por isso, o estudante não deveria desprezar nenhum estudo, visto que sempre cooperaria
para sua própria formação pessoal. Essa formação humana é encontrada em Boaventura de Bagnoregio
(1937), ao expor conselhos aos homens cristãos e recomendar que se evitasse a soberba, por ser o oposto
da humildade, que limita o olhar abrangente e impossibilitaria o aprender. Tomás de Aquino (2004) ao
apresentar a prudência evidenciaria a necessidade humana de aprender com o outro, com docilidade e
solicitude para seu pleno desenvolvimento humano. Desse modo, nesta exposição, buscaremos a humildade
como um conceito que vai além de aptidões naturais, mas um princípio educacional que não se limita a um
período histórico.
Esse estudo tem como objetivo refletir sobre o gênero literário Ensinanças visto como um documento
destinado à educação do Infante D. Sebastião, no século XVI, assim como perceber na linguagem imagética
a sua representação como um ideal de governante tanto laico como cristão. Torna-se possível afirmar que
um elemento importante para a realização desse intuito era a educação que, no caso, se fazia também pela
imagem iconográfica e pela literatura. Do universo simbólico quinhentista, será apreciada algumas imagens
de representação social desse rei. Em relação ao texto literário, analisar-se-á o manuscrito Sentenças para a
ensinança e doutrina do príncipe D. Sebastião (1554), de André Rodrigues de Évora. Trata-se de uma edição
Fac-símile, publicada em 1983, do manuscrito inédito da Casa Cadaval. A eleição dessa obra justifica-se
porque temos como pressuposto que as Sentenças indicariam os comportamentos necessários à formação
de um ideal de rei que representaria os anseios da sociedade. Salienta-se, pois, que os pressupostos teóricos
que nortearão nossa análise pautam-se na História Social, pois ela nos possibilita compreender os processos
educativos, nos âmbitos da História da Educação e da História Medieval e Moderna Portuguesa, para além
das instituições formais.
D. Duarte (*1391-1438†) foi o segundo monarca da Dinastia Avisina, este rei ficou conhecido pelo epiteto
de Rei-Filosofo por ter se dedicado a cultura, e por seus trabalhos literários. Em seu escrito principal, o Leal
Conselheiro, um tratado de conduta moral, doutrinária e disciplinar, o eloquente rei mostra-se preocupado
com a saúde do corpo e da alma. D. Duarte sugestiona no LC a prática de atos que fortaleçam corpo e
espírito, defendendo o princípio de uma “mente sã em um corpo são,” visando assim que seus súditos, em
especial seus pares, pois sua obra parte de um ambiente de letrados e para letrados, “huũ A.B.C. de lealdade.
Ca he feicto principalmẽte pra senhores e gẽte de suas casas.” (LC, 1843, p. 03). Assim, tinha por objetivo
que vivessem de forma virtuosa, pois afastando-se do pecado estariam cuidando da própria saúde.
Defendemos nessa proposta que o “médico das almas”, assim como o monarca ficou conhecido, ao indicar
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
modelos educativos a serem seguidos, estava preocupado em moldar o agir coletivo e propiciar a coesão
social aos agentes da nova dinastia e seus partidários.
Frente aos insucessos que culminaram no término da Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), letrados ingleses
empenharam-se em localizar as razões para tal malogro. Ainda que a conduta ilícita e desordenada dos
adversários Valois na feitura do conflito tenha sido enfaticamente destacada pelos súditos dos reis Lancaster
como um elemento crucial para determinar sua derrota, os homens de saberes igualmente pontuaram para
o desconcerto dos próprios combatentes ingleses a cruzarem o mar em direção aos territórios sob litígio.
Ao se realizar o mapeamento das orientações lançadas aos homens de armas, evidenciou-se os malefícios
trazidos pela indolência do corpo guerreiro às empresas marciais. Nesse sentido, a partir de alertas
registrados por quem ponderou a partir do que teria lido, testemunhado ou ao menos ouvido dizer sobre o
tópico em pauta, a comunicação apreciará a demarcação moral lançada sobre os excessos como a embriaguez
e a lascívia como parâmetros recorrentes a fundamentarem explicações dentre escritos produzidos na
Inglaterra para insucessos militares. Sinteticamente, pretende-se discutir sobre como as denúncias presentes
em escritos narrativos e reflexões tratadísticas atrelaram aqueles polos de descomedimento aos resultados
negativos das ações armadas inglesas.
PALAVRAS-CHAVE: Guerra dos Cem Anos. Escritos prescritivos. Moralidade Guerreira. Indolência.
A Dinastia de Avis, eleita a partir de cortes circunstanciais, com a figura do Mestre de Avis, D. João, será
resultado de uma profunda crise dinástica que se instaura no Reino Português com a morte de D. Fernando
I, em 1383. Por conta da alçada conturbada ao trono, a Casa de Avis mobilizará uma série de elementos
memorialísticos enquanto instrumento de legitimação dinástica: As crônicas régias, a heráldica e até mesmo
uma memória litúrgica fúnebre.
É nesse contexto que se insere nossa análise do Leal Conselheiro. A obra é de autoria de D. Duarte, sucessor
direto do Mestre de Avis e articulador do Ideário Fúnebre da Dinastia. Composto por um prólogo e 101
capítulos, separados por temas - os 72 primeiros dedicados aos pecados, aos vícios e às virtudes, do 73 ao
90, sentimentos e o coração humano, e, nos últimos 12, generalidades - o Leal Conselheiro é um compilado
cuja intenção é a difusão de um modelo moral para os fidalgos, os “Homee da Corte”. Esmiuçaremos nesse
trabalho como o propósito educativo e moral dessa obra se articula com as concepções sobre a morte e o
erguimento de uma memória legitimadora para a Dinastia de Avis.
A ATUAÇÃO DOS FÍSICOS, DAS AMAS DE LEITE E DAS PARTEIRAS NOS CUIDADOS
COM A SAÚDE DAS CRIANÇAS (SÉCULO XIV)
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A proposta desta comunicação é analisar os cuidados com a saúde das crianças na Idade Média a partir de
três ofícios de atuação no âmbito médico: os físicos, as parteiras e as amas de leite. A fonte, objeto de nossa
análise, é o Tratado de Los Niños, composto no início do século XIV pelo físico e mestre da Universidade
de Montpellier, Bernardo de Gordônio (1258-1318). Nesse escrito, estruturado em 28 capítulos, o autor lista
as doenças mais comuns durante a infância, indicando os tratamentos e os respectivos cuidados para evitá-
las e assim, conservar a saúde. O Tratado é uma obra de prática médica que integra o Livro sobre a
Conservação da vida humana desde o nascimento até a hora da morte, conhecido também como Regimento
de Saúde. Esse escrito contém quatro partes práticas da medicina: a primeira trata-se do pulso, a segunda
sobre a sangria, a terceira é dedicada à higiene e a última sobre a urina. Na terceira parte, encontram-se os
preceitos direcionados aos cuidados com a saúde infantil. Assim, a nossa proposta é identificar nessa obra,
fruto da medicina universitária medieval, as principais enfermidades que afligiam as crianças. Do mesmo
modo, a partir dos preceitos preventivos e terapêuticos propõe-se compreender como o físico Bernardo de
Gordônio apresenta o seu ofício, o das parteiras e das amas de leite nos cuidados com a saúde infantil.
O objetivo desse estudo é tecer considerações sobre Hugo de Saint-Victor e a escola onde lecionou e teve a
incumbência, em determinado momento, de organizá-la, ou seja, como um espaço de preservação da
memória e tradição do conhecimento, tendo como base a pesquisa de doutorado defendida em 2019 sob o
título "O projeto educacional de Hugo de Saint-Victor no século XII: sapiência e sacramento na formação
e na restauração humana". Nossa atenção, desde a iniciação científica, concentrou-se na formação humana
e intelectiva no decorrer da história. Para desenvolver nossas considerações, fundamentamo-nos em autores
que tratam da período histórico em que viveu e produziu o mestre medieval do século XII, tais como
Durkheim (2002), Gryzbowski (2014), Le Goff (1995; 2007), Oliveira (2005; 2008; 2013), Verger (2001),
entre outros. O referencial teórico que fundamenta esse estudo está em consonância com os pressupostos
teórico-metodológicos da História Social e segundo a perspectiva de que os clássicos atuam na formação de
pessoas, isto é, de que os escritos dos autores estudados propiciam ensinamentos relevantes à formação
humana e intelectiva, independentemente da época em que a obra e o autor estão situados.
O eixo Instituições e Política na Antiguidade e Idade Média tem o objetivo de promover pesquisas e estudos
sobre a institucionalidade e a política nas épocas Antigas e Medievais, sob as diversas perspectivas teóricas
da História, da Filosofia, da Arte e da Literatura.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A presente comunicação decorre de nossa atual pesquisa de doutoramento, que objetiva compreender a
relevância do Mausoléu de Augusto, atualmente chamado de Augusteo, como um lugar de memória à luz da
historiografia recente. Em nossa compreensão, o monumento em questão foi destinado a perpetuar a
memória das gentes Iulia e Claudia, haja vista que o Princeps Otávio Augusto e seus parentes, membros da
domus Augusta, foram depositados naquele edifício após suas respectivas mortes e funerais. Sendo assim,
se faz necessário mapear os membros da família Júlio-Claudiana e os trâmites políticos que envolveram a
construção do edifício, bem como a sucessão imperial de Augusto para Tibério e a permanência do
monumento no tempo, seus usos e esquecimentos ao longo dos séculos. Portanto, dentro desse quadro
analítico, contamos com trabalhos de pesquisadores contemporâneos do campo da memória e dos estudos
sobre a morte na Antiguidade Clássica, além de relatórios de escavações arqueológicas e projetos de
restauração do Mausoléu de Augusto, os quais apresentaremos no decorrer da comunicação.
Durante a Baixa Idade Média Ocidental é possível observar o aumento da produção “historiográfica” acerca
do Reino e como consequência das monarquias. É resultado, especialmente, do crescimento da autoridade
régia, centralização administrativa e construção do que alguns historiadores chamam de Estado. No caso
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
inglês a narrativa dos reis ocupa um espaço importante na produção histórica do reino e na construção da
identidade inglesa. O rei é visto como um aglutinador das tradições, costumes e integrador das diversidades
do reino. O cronista John Capgrave em meados do século XV, por exemplo após narrar a história inglesa
ligada ao texto bíblico e a trajetória da Cristandade, dedica-se quase que inteiramente a partir do século XIII
com Henrique III na narrativa do reino inglês, tendo como roteiro principal a narrativa dos monarcas. O
objetivo desta comunicação é compreender como Adam de Usk, Thomas Walsingham e John Capgrave
construíram suas narrativas e ao mesmo tempo auxiliaram na construção da identidade inglesa no final da
Idade Média utilizando elementos da imagem régia. Algumas questões devem ser levantadas. A significação
do Reino no final do medievo e sua relação mais ampla com a imagem régia, que engloba aspectos mais
pragmáticos da política como ainda a dimensão simbólica.
Durante o medievo, a aristocracia fundiária retirava sua legitimidade da atividade guerreira: esperava-se que
reis e senhores assumissem o papel de líderes militares, defensores de suas terras e povos. Um exército
medieval, desta forma, contava em suas fileiras com membros da elite social, de simples Cavaleiros-bacharéis
a grandes príncipes e magnatas. Uma vez reunidos, estes aristocratas – que por vezes não se encontrariam
de outra maneira – tinham a oportunidade de discutir, confabular e trocar opiniões e notícias, tornando o
exército um centro de debate e articulação política. Assim sendo, nesta comunicação nos deteremos sobre a
grande hoste Valois reunida entre julho e agosto de 1346 em resposta à invasão da Normandia por forças
Plantagenetas sob o comando do Rei Eduardo III da Inglaterra, na fase inicial da Guerra dos Cem Anos
(1337-1453). Nela constavam – além do Rei da França, Filipe VI, e membros proeminentes da nobreza
francesa – outros três reis: João da Boêmia, Carlos da Germânia e Jaime de Maiorca; e contingentes oriundos
de regiões tão distantes quanto as atuais Bélgica, Alemanha, Suíça e República Tcheca. Iremos analisar –
utilizando das crônicas de Jean Le Bel, Jean Froissart, Geoffrey Le Baker e do Anônimo Romano – as
relações de poder na hoste, alimentadas pelos valores e expectativas Cavaleirescos, e seus efeitos na
campanha contra os ingleses. Ao final esperaremos ter estabelecido a centralidade do fator político na
condução dos exércitos medievais.
PALAVRAS-CHAVE: História Política. História da Guerra. Cavalaria. Guerra dos Cem Anos.
cavaleiro faz uma viagem ao Inferno e Paraíso, recebendo diversos avisos e têm visões de duas personagens
importantes, a rainha Genevra e Morgana, a irmã do rei Artur. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar
como essas mulheres eram representadas pelo clero e como a literatura desse período influenciava nos
modelos de comportamentos para homens e mulheres da Idade Média Central.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero. A Demanda do Santo Graal. Sonhos. Modelos
No princípio do século X, o rei carolíngio da Francia Ocidental Carlos III realizou uma concessão de terras
a um líder escandinavo conhecido como Rollo, surgiria assim a dinastia normanda ou dinastia de Rouen.
Desta forma, podemos dizer que a Normandia é construída a partir da fusão deste elemento escandinavo
trazido por estes imigrantes nórdicos e pela população e instituições carolíngias já existentes na região.
Este sincretismo entre francos e nórdicos pode ser percebido na própria dinastia de Rouen. Na obra de
moribus et actis primorum normanniae ducum de Dudo de Saint-Quentin, o filho e herdeiro de Rollo,
Guilherme é descrito como sendo fruto da união de seu pai com uma nobre franca. Assim, Guilherme,
Longa-Espada, é representado tanto como um líder escandinavo que busca construir laços com lideranças
nórdicas quanto como um legítimo príncipe franco cristão, herdeiro e parente de importantes nobres francos
e que procura reforçar e valorizar estes vínculos. Esta pesquisa busca analisar a narrativa de Dudo de Saint-
Quentin da vida e do governo de Guilherme I da Normandia. Assim, procuramos evidenciar o caráter dúbio
atribuído por Dudo a Guilherme, sendo tanto um nobre franco como uma liderança desse mundo
escandinavo. Desse modo, intentamos demonstrar como a própria construção da narrativa de Dudo sobre
Guilherme esta intimamente ligada a própria política dúbia de alianças normandas, que insere esta
Normandia como um ponto de intercessão entre as esferas de poder franca e escandinava.
EZÍDIO, Camila
Na Suma Teológica I-II e II-II encontramos, respectivamente, os chamados Tratado da Lei e Tratado da
Justiça que inclui a questão do Direito. Nesses, Tomás de Aquino constrói não só uma teoria moral e política,
mas, também a análise prática das estruturas fundamentais que sustentam a comunidade política. O objetivo
desta comunicação é apresentar a relação entre os conceitos de lei, justiça e direito no interior do
funcionamento da sociedade. Essa, que segundo Tomás é fruto de uma disposição natural do homem que,
em contrapartida, encontra ali as condições necessárias para a realização plena de sua natureza através de
suas ações. A lei, entendida como um conjunto de regras morais e políticas, se configura como um pilar da
comunidade, na medida em que, rege e ordena sobre as ações humanas que ali se dão. A regra que carrega
o nome de lei, carrega também o critério da justiça, de maneira que, o ordenamento da lei é sempre sobre
ações justas. A justiça é definida por Tomás, como uma disposição pela qual, observando um critério de
equidade, se dá a cada um o que é seu de direito, o direito é, portanto, o objeto da justiça. Com efeito, o
direito só existe na comunidade política caso haja ali ações justas e, somente haverá ações justas se houver,
por sua vez, uma lei que a isso ordene.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A discussão sobre o papel feminino na História e dos mecanismos engendrados pela sociedade patriarcal
para manter um controle sobre suas vidas e corpos, tem fomentado diversos trabalhos ao longo dos anos.
Por compreendermos que a dominação masculina (Boudier, 2002) não é natural, assim como as distinções
entre os gêneros (Scott, 1989), sendo estes construções históricas, o nosso trabalho se propõe a analisar os
casos e as formas de violência presentes em duas obras literárias medievais: A Demanda do Santo Graal,
novela de cavalaria do século XIII, e a Crônica de D. Pedro, escrita no século XV por Fernão Lopes. A
Demanda do Santo Graal é uma novela de cavalaria produzida na França e traduzida para o português em
cerca de 1250. É centrada na figura do rei Artur e seus 150 cavaleiros que buscam o Santo Graal, Vaso
Sagrado que teria recolhido o sangue vertido por Cristo na Crucificação. Nesta obra, o feminino é associado
ao imaginário de Eva, e o contato com as mulheres prejudicaria a ascese espiritual dos cavaleiros. Na Crônica
de D. Pedro, Fernão Lopes trata das ações do monarca em seus aspectos pessoais e administrativos, sem
deixar de demonstrar a relação que mantinha com o povo português. Em ambas as narrativas a violência
contra o feminino não se constitui no objeto principal da construção dos textos. Porém, mesmo assim, os
casos se fazem presentes, demonstrando a necessidade de pensarmos enquanto historiadores a relação
passado-presente.
O processo de formação do reino de Portugal como uma instância política autônoma perdurou todo o
século XII. Neste período, já é possível identificar a produção paulatina do discurso que visava a legitimação
da fundação de um novo reino independente com relação a Leão e Castela no Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra. Isso acontece a partir da narração de eventos que marcaram a vida da Rainha Teresa (? - 1130) e
os anos iniciais do reinado de Afonso Henriques (1109 - 1185). Em nossa pesquisa, a partir de um estudo
comparativo, analisamos o papel das representações dessa rainha na construção do discurso inicial da
nacionalidade de Portugal. Para isso, nos valemos de documentos produzidos ao longo dos séculos XII e
XIII. Para a presente comunicação, apresentaremos o balanço bibliográfico de trabalhos produzidos nos
últimos 25 anos, cujo objeto central tenha sido essa governante. O recorte temporal foi determinado tendo
em vista a expansão do campo das História das Mulheres verificado em diferentes países a partir da década
de 1990. Nosso objetivo é identificar de que maneiras os pesquisadores já abordaram a figura dessa mulher
e quais foram os elementos mais recorrentemente destacados em suas investigações.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A comunicação aqui apresentada tem como finalidade explorar, por meio de comédias latinas produzidas
durante o período republicano, as relações e as práticas escravistas entre os romanos. Para isso, selecionamos
a comédia Os Cativos (~194 a.C.) produzida por Tito Mácio Plauto (~254-184 a.C.) ou somente Plauto. O
estudo do tema se fez por meio da discussão sobre a República romana, a escravidão, o teatro e sobre
comédias latinas, com a finalidade de demonstrar a relação existente entre a obra, o autor e seu contexto de
produção. Por se tratar de um texto cômico, nossa discussão teórico-metodológica norteou-se pelos
elementos próprios da comédia tais como a exageração, a linguagem vulgar, grosseira e por vezes ultrajante,
as críticas leves e as situações que fogem à realidade, com a finalidade de promover o riso no público
espectador. Todos os elementos anteriormente citados aludem a Plauto e seus escritos cômicos, no século
II a.C.
O enfrentamento com a morte é um fato comum a toda humanidade. À época do Principado de Augusto,
esse processo biológico proporcionava a realização de um espetáculo de poder, um instrumento de
produção, seleção e transmissão de memória com base na execução dos rituais e das procissões fúnebres
pela família do morto. Dessa forma, com esta comunicação, interessa-nos compreender a Consolatio ad
Liuiam, do Pseudo-Ovídio, para, desse modo, analisar o comportamento feminino de Lívia, esposa de
Augusto, frente à morte de seu filho Druso, bem como seu envolvimento nos processos ritualísticos de luto
e o consolo. Neste espaço, Lívia, esposa do princeps e membro da domus augustana, possuía uma posição
pública; por isso, esperava-se que mesmo enlutada pudesse refletir a uirtus, mostrando-se firme mediante ao
evento, produzindo modelos de comportamentos e a imagem do ‘novo sucessor’, seu filho Tibério. A morte
e as atitudes emotivas evocadas são culturais e historicamente construídas. Ao problematizarmos o estudo
das emoções no contexto mortuário, propõe-se avançar em um espaço que envolve questões sucessoriais, o
respeito aos mortos e como este texto, destinado à Lívia e divulgado entre os grupos aristocráticos, cumpriria
uma função didática ao regular comportamentos frente à finitude humana.
Na comédia aristofânica intitulada Assembleia das Mulheres, Praxágara e as demais esposas dos cidadãos
atenienses, decidiram tomar o poder de seus cônjuges como um demonstrativo da ineficiência dos homens
para governar a cidade. A peça baseia-se na construção de uma sociedade ideal, formulada e organizada por
mulheres. A obra em evidência é datada de 392 a.C. e encenada pela primeira vez no festival das Leneias, ou
seja, uma das comemorações dedicadas ao deus Dioniso nas quais as peças teatrais se integravam entre as
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
demais práticas rituais oferecidas ao deus. Embora risível para a época, o trabalho em relevo nos permite
uma reflexão acerca da representação da esposa ideal do cidadão ateniense, bem como, um debate acerca da
presença feminina fora do Gineceu. Notadamente, nos referimos à categoria das esposas dos cidadãos,
segmento também conhecido como Mélissa. Por intermédio da lei Pericliana de 451-450 a.C., esta restringiu
a cidadania a filhos de pais e mães atenienses, isto é, aos Eupátridai. Desta maneira, notamos a presença de
uma “cidadania feminina”, embora indireta e não institucionalizada. Apesar de ter sido apresentada por
Aristófanes de uma forma cômica, esta não era ilegítima.
A Idade Média igualmente poderia chamar-se Idade das Peregrinações, visto que peregrinar é uma das
expressões mais características e intensas da espiritualidade medieval. No cristianismo, podemos distinguir
vários tipos de peregrinação: de fé e devoção aos santuários; a votiva; a fim de cumprir uma promessa; a
ascética, no intuito de progresso espiritual, resultante da mortificação e sacrifícios inerentes às grandes
viagens; a de penitência, como expiação de faltas graves, etc.
Em Portugal nos séculos XIV e XV, encontramos uma fonte diretamente ligada às peregrinações: Livros de
Milagres. Analisando esta documentação, assim como as Chancelarias, descobrimos que este movimento
religioso possui um viés não necessariamente ligado ao âmbito religioso: o viés político.
São doações para conquistar apoio de um grande mosteiro, lutas para demarcação de influência na capital
Lisboa, conquista de intervenção por determinada Ordem Religiosa, liberdade para pedir esmolas em
território luso, dentre outros.
O objetivo desta comunicação é analisar o movimento político que encontramos nas peregrinações através
de dois casos: a peregrinação de D. Afonso V ao Mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe e o incentivo,
por parte do Mosteiro dos Santos, a devoção dos Santos Mártires de Lisboa.
As relações entre o poder espiritual e o poder temporal tem como um de seus objetivos legitimar a primazia
política de um ou outro perante o Ocidente cristão. Neste sentido, ambos buscam afirmar sua superioridade,
sua preeminência. Podemos dizer que tal objetivo está por trás de uma parte significativa dos argumentos
produzidos. E como ele será veiculado? Por meio de escritos, como bulas, cartas, tratados políticos,
hagiografias, etc. Esses textos remontam a inícios da Idade Média e se apresentam constantes durante todo
o medievo.
Nesta comunicação, apresentaremos alguns trechos retirados de escritos produzidos no âmbito daqueles
poderes. Selecionamos, de um lado, três excertos redigidos por agentes ligados ao poder espiritual: o papa
Gelásio I, o bispo Hincmar de Reims e o papa Gregório VII. Enquanto que, de outro, constam duas cartas
vinculadas ao poder temporal: a do imperador Henrique IV para o papa Gregório VII, e a falsificação que
teria sido realizada por partidários do rei da França, Filipe IV, que se destina ao papa Bonifácio VIII e teria
circulado pelas ruas de Paris.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
PALAVRAS-CHAVE: Relações de poder. Poder espiritual. Poder temporal. Produção textual medieval.
Tido como o último rei Plantageneta, Ricardo III foi e continua sendo um dos monarcas mais controversos
da Inglaterra. A maioria de nós temos nosso primeiro contato com sua história através de estudos sobre as
Guerras das Rosas e pela tragédia homônima de William Shakespeare. Com a descoberta de seu corpo em
2012 por um time de especialistas da Universidade de Leicester as discussões acadêmica e leigas sobre ele
ressurgiram, e novas pesquisas foram e continuam sendo realizadas. Mas o que se encontra por trás dessas
discussões? A grande questão que envolve o século XV inglês e por consequência Ricardo III é a de que as
famílias de York e Lancaster são oriundas de um ancestral comum, Eduardo III. Sendo assim, entre 1400 e
1483, cria-se um cenário onde o conflito dinástico de disputas e deposições até a proporcionava “alternativas
monárquicas” ao trono inglês, algo que nunca antes havia ocorrido em tamanha escala. Partindo desse
contexto social e político, suas tensões e conceitos de realeza, analisamos as influências políticas, dinásticas
e sociais do chamado “longo século XV inglês” em associação a duas obras escritas sobre o monarca que
fazem parte dos primeiros 30 anos de memória escrita após sua ascensão ao trono.
PALAVRAS-CHAVE: Inglaterra. Século XV. Guerras das Rosas. Ricardo III. Conflitos. Dinastia
Este trabalho está relacionado à nossa pesquisa de mestrado, desenvolvida no PPGHC-UFRJ, em que
investigamos a Vita Columbae e a Collectanea, uma hagiografia sobre Patrício do mesmo período, em relação
ao discurso sobre o outro religioso - os chamados “pagãos”; e as ações do homem santo em prol da
cristianização nessa região.
Na presente comunicação, buscamos analisar o discurso hagiográfico sobre a conversão à religião cristã
presente nessa narrativa, considerando a importância desse documento para estudo da expansão do
Cristianismo nas Ilhas do Norte europeu. A Vita Columbae é um texto hagiográfico escrito por Adomnán,
nono abade do monastério de Iona, nas décadas finais do século VII. Essa obra busca defender a santidade
de Columba, peregrino irlandês que fundou mosteiros na Irlanda e na Britania.
Columba viveu e atuou na segunda metade do século VI, sendo hagiografado por Adomnán cerca de cem
anos depois. O hagiógrafo buscava expandir a notoriedade de Columba para além do território insular, e
procurou caracterizá-lo como uma figura de influência junto à grupos dinásticos da Irlanda, um “pai”
espiritual para seus monges e uma personagem central para a expansão do Cristianismo nas Ilhas do Norte.
Nessa comunicação, analisaremos o papel do “homem santo” na conversão das populações ditas “pagãs”
na hagiografia, de forma a respondermos os seguintes questionamentos: de que forma a conversão de grupos
não cristãos é retratada na obra, e como esse tema contribuiu para a construção da imagem de Columba e
seu legado no final do século VII.
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O seguinte trabalho é fruto de uma pesquisa iniciação científica e que, orientada pelo Prof. Dr. Paulo Duarte
Silva (PEM//UFRJ/PPGHC), é vinculada ao projeto intitulado “Exegese e poder episcopal na Primeira
Idade Média: as mulheres nos sermões exegéticos de Cesário de Arles (502-543 e.C)”. Nossa pesquisa foi
iniciada no ano de 2018, e é produzida no âmbito do Programa de Estudos Medievais (PEM/UFRJ).
Consideramos que os sermões medievais foram um dos principais instrumentos de uniformização litúrgica,
e que, na medida em que se ampliava o alcance dessa pregação muitos clérigos dirigiam suas atenções às
mulheres. Assim, destacamos o papel que a pregação medieval teve no processo de fortalecimento da
autoridade clerical, sobretudo dos bispos, bem como sua função no processo de normatização das mulheres,
mais especificamente, em sua condição de casadas.
Dialogando com a praxiologia de Pierre Bourdieu, pretendemos nessa apresentação expor um panorama
geral sobre os sermões exegéticos e admoestatórios de Cesário de Arles – em especial aqueles referentes ao
Antigo Testamento –, buscando referências à vida conjugal e a ditames sobre personagens bíblicas casadas
nos diferentes contextos de sua pregação.
O objetivo desta comunicação é apresentar nossa pesquisa de Iniciação Científica em curso no Programa de
Iniciação Científica da Universidade do Estado da Bahia (2019-2020). Discutimos, a partir de uma revisão
bibliográfica, como o santuário de Apolo em Delfos e os Jogos Píticos colaboraram com o processo de
construção e consolidação de uma identidade grega comum entre os helenos, espalhados por centenas de
pólis de uma ponta a outra do Mediterrâneo. A partir do século VII a.C., os grandes santuários, como o de
Zeus (em Olímpia) e o de Apolo (em Delfos), se transformaram em espaços de competição entre os cidadãos
das diversas pólis gregas nos festivais pan-helênicos, fortalecendo os vínculos de identidade entre elas. Ao
tempo em que os santuários reforçavam a identidade helênica exibiam em seus espaços monumentalizados
as identidades individuais políades espelhadas através de suas diversas oferendas – tesouros, estátuas,
exibidos à vista de todos. Partimos da concepção de Jonathan Hall, que afirma que os gregos viveram sempre
em processo de tornarem-se gregos, ou seja, sua identidade foi construída e reconstruída por vezes,
englobando ou suprimindo grupos.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Ávito de Viena foi um bispo romano da Gália tardo-antiga cuja sé ficava em Viena (atual Vienne, França),
no Sudeste gaulês, quando tal ópido fazia parte do território burgúndio. O indivíduo em questão produziu
uma grande quantidade de literaturas ao mesmo tempo em que desenvolveu uma estreita relação político-
religiosa com os reis Gundebaldo (473-516) e Sigismundo (516-523), burgúndios do clã dos Gébicas, cuja
dinastia governou o Reino da Sapaudia por toda a existência de tal organização política. A carta que
analisamos, a Epístola 93, foi escrita por Ávito de Viena em meados da segunda década do século VI EC,
para que o rei Sigismundo a enviasse, como emissário do discurso, ao imperador romano-oriental Anastácio
II (491-518). Nessa obra, vemos uma retórica que afirma a sujeição dos burgúndios aos romano-orientais.
Objetivamos entender o nível de poder que o Império Romano do Oriente exercia sobre o Reino Burgúndio
da Sapaudia a partir da análise do discurso epistolar aqui tratado, observando assim qual a importância da
mensagem da carta para a manutenção das relações que ela representa. Utilizamo-nos do conceito de
território proposto por Marcelo Lopes Souza (2009), e norteamos o nosso pensamento historiográfico a
partir da Nova História Cultural.
PALAVRAS-CHAVE: Território. Reino Burgúndio da Sapaudia. Império Romano do Oriente. Epístola 93.
Ávito de Viena. Século VI EC.
Nosso objetivo nesta comunicação é examinar uma passagem específica (versos 184-218) da tragédia Íon de
Eurípides, representada em algum momento entre 413 e 411 antes de Cristo (a.C.) nos palcos de Atenas. O
excerto menciona, a partir de uma écfrase, parte do conjunto escultórico de uma das fachadas do templo de
Apolo, em Delfos, cenário da peça. Ao mobilizar os elementos míticos presentes nessa fachada, Eurípides
os vincula à própria identidade de Atenas. Pretendemos discutir a exultação de Atenas presente na écfrase e
as implicações daí decorrentes relacionando-a ao momento singular de sua história, após o desastroso
conflito com os siracusanos, que redundou em incontáveis perdas humanas, em um quadro de guerra que
se arrastava havia mais de vinte anos.
A partir dos séculos XII e XIII a produção escrita no Ocidente medieval vai adquirindo maior magnitude,
se convertendo em um importante meio de poder referente a promoção régia. A redação de obras escritas
no medievo, como as crônicas, agrega mais um elemento no conflito por poder entre os diferentes grupos
sociais, colocando-se em uma posição privilegiada na disputa na construção de memória. O uso do conceito
de ideologia tem sido muitas vezes evitado pelos historiadores medievalistas em suas análises, em detrimento
dos conceitos de cultura ou mentalidade. Isso se origina, entre outros motivos, pela influência do
pensamento marxista em sua formulação e por sua elaboração em um período mais recente, durante o século
XIX. Nossa intenção com esta apresentação fundamenta-se na proposta de uma nova perspectiva em relação
ao uso do conceito de ideologia no medievo, contemplando a produção cronística. Para isso iremos articular
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
algumas considerações sobre o papel da cronística nas disputas de poder e na construção de memória. A
partir disso, em nosso entendimento, a crônica medieval constitui em instrumento ideológico fundamental
nas relações de poder e de afirmação geralmente identificado com projetos nobiliárquicos, eclesiais e régios,
estabelecendo parâmetros de conduta.
Após sucessivas campanhas contra os Impérios do Ocidente e Oriente para reafirmar a autonomia do Reino
Vândalo, e legitimar os domínios sobre os territórios ocupados, o rei vândalo Genserico por volta de 470
utilizou de sua posição privilegiada, e de suas campanhas bem-sucedidas, para estabelecer um tratado de paz
duradouro com o Imperador Zenão e, que deveria continuar a prevalecer mesmo após a morte de seus
signatários, pouco usual para o período. O tratado é visto por alguns historiadores contemporâneos como
benéfico para ambas as partes, pois reduziu as pressões militares ao Oriente, e garantiu estabilidade política
aos vândalos. Entretanto, para o bispo católico Victor de Vita, a pacificação de Zeno representou o
abandono do Império para com os ‘romanos’ na África. Sua obra Historia Persecutionis escrita em meados
de 489, após o reinado de Hunerico pode ser compreendida como um testemunho dos crimes e violências
promovidas pelos vândalos, seu estilo narrativo apresenta características de escrita cênica com intenção de
chocar seu público-leitor e, servir como apelo ao Oriente para frear essas atrocidades. Nossa apresentação,
portanto, pretende evidenciar como sua obra colabora para observamos as relações entre o Reino Vândalo
e o Império Romano do Oriente e, como seu autor denuncia o Oriente pela pacificação como diretamente
responsável por essas violências.
PALAVRAS-CHAVE: Reino Vândalo. Império Romano do Oriente. Victor de Vita. África Vândala. Século
V.
BESTIÁRIO MEDIEVAL: CONSIDERAÇÕES SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO LEÃO NA
OBRA “O LIVRO DAS BESTAS (1288-89)” DE RAMON LLULL
Essa apresentação faz parte da dissertação de mestrado desenvolvida no PPGHC/UFRJ sob orientação do
professor Dr. Paulo Duarte Silva. Deste modo, nossa comunicação aborda a produção documental de
Ramon Llull (1232-1316) em sua primeira estadia em Paris (1288-89), através da obra O livro das Bestas
(LB, 1288-89). O determinado texto estava inserido na conjuntura de 1280, quando, após diversas
movimentações políticas e intelectuais, chegou à França de Filipe IV.
Nesse novo ambiente, Llull procurou se inserir na corte em busca de apoio desse rei na construção das
escolas de línguas na França. Além disso, visou o reconhecimento das suas obras na Universidade de Paris,
fato que lhe traria maior autoridade, em sua condição de homem de saber. Igualmente, nesse cenário, Llull
buscava se apresentar como conselheiro do monarca, então recém-coroado e filho de Filipe III, antigo aliado
de Jaime II, com quem Llull tinha uma estreita relação política.
Nessas circunstâncias, Ramon Llull escreveu o LB, documento associado a dois gêneros textuais: espelho
de príncipe e bestiário. Ao representar os animais em sua obra, pretendia estabelecer um exemplo didático
cristão, definindo o comportamento ideal para o rei e a seu conselho. Deste modo, se trataria de uma possível
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
crítica ao comportamento da corte francesa e poderia ter o objetivo de credenciar Llull como conselheiro
do monarca francês.
Em vista disso, analisamos a representação do leão/monarca e estabelecemos uma investigação baseada na
técnica de análise do discurso de textos narrativos: averiguando o enredo da obra, com quem o leão se
relacionava e como foi qualificado. Visto que a constituição de seu perfil fazia parte do comportamento ideal
de um monarca e que deveria se atentar aos membros do conselho.
Verificamos que em III a.C., na necrópole de Ensérune, no sul da França, a comunidade local cremava os
seus mortos, e posteriormente os enterrava dentro de urnas funerárias em covas, junto com o mobiliário da
pira funerária destruído e um mobiliário exclusivo da sepultura. Nesta comunicação, nossa intenção é
demonstrar como a partir das performances rituais funerárias identificadas a partir dessas sepulturas,
observamos a construção das relações de parentesco dos membros da elite local. No contexto funerário,
averiguamos o que é considerado que deve ser lembrado acerca dos mortos, assim como o que deve ser
esquecido. Representando uma imagem idealizada e seletiva desses indivíduos. Nessas sepulturas,
identificamos como agregados familiares e famílias extensas eram representados e enfatizados a partir dos
mobiliários pessoais e presentes funerários depositados nas sepulturas. Assim como através do
posicionamento das sepulturas na necrópole. Dessa forma, identificamos que em um contexto colonial,
marcado por diversos contatos interculturais, a construção do parentesco era enfatizada nessas sepulturas.
Sua construção era uma estratégia política da elite local, e culminava materialização de linhagens na paisagem
local, assinalando a formação de descendências.
Nosso objetivo é analisar a representação da mulher espartana na tragédia Andrômaca, levada aos palcos
por Eurípides no século V a.C., em Atenas. A construção da obra acontece no momento análogo ao da
Guerra do Peloponeso – combate entre as pólis gregas, onde Atenas e Esparta lideravam ligas opostas.
Nesse sentido, discorremos como Eurípides utiliza diversos atributos para desqualificar a mulher espartana.
Nosso foco recai sobre um deles, ainda pouco discutido pela historiografia – a infertilidade. Acreditamos
que ao caracterizar a personagem esparciata Hermione, este aspecto é reforçado para demonstrar a sua
inferioridade. Nossa compreensão sobre representação parte do conceito proposto por Roger Chartier
(1983). Assim, as representações não são a realidade, mas um olhar sobre ela, e, apesar de construídas como
universais, são determinadas pelos interesses de quem as constrói. É nessa perspectiva que pretendemos
examinar o olhar euripidiano sobre as mulheres de seus inimigos de guerra, as espartanas. Partimos do estudo
e análise da tragédia, relacionando-a com outros documentos produzidos no mesmo período e interpretados
à luz da historiografia mais recente sobre o tema.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O De Fide Catholica Ex Veteri et Novo Testamento Contra Iudaeos, tratado antijudaico escrito por Isidoro
de Sevilha nos primeiros anos do reinado de Sisebuto (612-621), é um documento de grande importância
para o estudo da história das relações entre cristãos e judeus, tendo servido como principal referência para
os textos posteriormente incluídos na tradição Adversus Iudaeos até pelo menos o século XII. Apesar disso,
e embora venha recebendo maior atenção de estudiosos nos últimos anos, o De Fide permanece
comparativamente pouco explorado, em larga medida pela dificuldade de estabelecer quais foram as fontes
utilizadas para a redação do tratado; e de definir como situar a obra – e o próprio Isidoro – no contexto do
reinado de Sisebuto, marcado pelo endurecimento de medidas legislativas contra judeus, chegando a impor
sua conversão à força. Neste trabalho nos propomos a apresentar um panorama inicial das principais
interpretações propostas pela historiografia como resposta a essa segunda dificuldade, tal como discutir
algumas possibilidades acerca do papel do De Fide.
Dentre outros aspectos, nos séculos IV e V ocorreu a crescente ingerência dos bispos romanos nos assuntos
eclesiásticos e políticos do Mediterrâneo e, sobretudo, das províncias ocidentais. Segundo a historiografia
tradicional, este processo estaria associado à definição gradual de alguns contornos da ação eclesiástica e
política Igreja de Roma, destinado à proeminência “papal” nos assuntos gerais da Cristandade nos séculos
seguintes. Dentre outros bispos romanos do período, Leão (440-461) costuma ser elencado como um dos
protagonistas desse processo, a partir do exame de seu amplo conjunto de sermões e epístolas. Esta
comunicação vincula-se ao projeto de pesquisa contemplado pelo edital CNPq Humanidades/2016 e a
reflexões anteriores, apresentadas em outros eventos e sistematizadas em comunicações e artigos. À luz das
investigações mais recentes a respeito do bispado romano na Primeira Idade Média e, em específico, do
governo de Leão e de sua pregação, analisamos os sermões de comemoração de sua elevação episcopal (sl.
1-5). Interessa-nos examinar os aspectos referentes à eleição e ao “fardo” bispal apresentados neste
conjunto, considerando a pertinência que tais temas possuíam no processo de afirmação do episcopado no
período.
Em nossa comunicação, associada à nossa dissertação recentemente defendida acerca da temática mais
ampla da Völkerwanderung, abordaremos a construção acerca da identidade anglo-saxônica, no século IX,
na História dos Bretões, atribuída ao monge galês Nennius. Tal documentação foi produzida em um
contexto de disputas monárquicas, e nos permite aferir conexões entre as formas de afirmação de grupos
identitários em disputa na Britannia, assim como a compreensão de elementos político-culturais
significativos para aquelas sociedades. Dessa forma, identificamos na documentação uma construção dupla
acerca do “ser saxão”: aquela que se pauta no que denominamos em trabalhos anteriores de incógnita da
barbárie e a que reafirma o anglo-saxão como senhor da guerra. Tais compreensões, embora dúbias, são
essenciais em um contexto de monarquias em constante disputa e, também na formulação de uma acepção
delimitada acerca dos eventos correntes na ilha, a saber: a incursão escandinava e a aproximação bretã em
relação às demais monarquias anglo-saxãs, principalmente pela reafirmação das conexões com a Igreja.
O que pretendemos discutir, então, é a forma como o discurso identitário acerca do passado anglo-saxão
constitui uma compreensão dupla, que serve aos propósitos correntes de disputas políticas locais que, no
século IX, tem formas de afirmação de poder específicas; além disso, serve como base de elementos que
possibilitam a formulação de identidade anglo-saxã, incluso os associando em momentos à civilização e em
outros à barbárie.
No norte da Europa a Islândia surge como nação em um contexto histórico da chamada Era Viking (793-
1066 DEC). O Estado Livre Islandês (874-1262 DEC) surge assim pela ausência de um sistema executivo,
sendo gerida pelo sistema judiciário correspondente as Þings (Assembleias), atuando na resolução de
problemas sociais lideradas pelo Goðar(chefe), homens de maior capital social e recursos financeiros dos
distritos que ajudam as necessidades dos homens livres(frændi). Esse período após a Era de Sturlungs (séc.
XIII) gera a submissão da Nação à Coroa Norueguesa. Porém, o Estado Livre Islandês será tema frequente
nas sagas islandesas, narrativas encontradas em manuscritos medievais (século XII-XVII), que apresentam
famílias, clãs e seus conflitos. Esses conflitos, sejam pequenos como uma zombaria feita ao outro, sejam
grandes como uma batalha entre grupos dos distritos da Nação, costumam ter como um dos principais
fatores a honra. A honra é um conceito de caráter ambíguo, permeando desde o interno, o individual e a
escolha até o externo, o social e as consequências das escolhas. Procura-se, então, estabelecer uma análise
comparada das sagas de Víga Glum e de Þorðar Hreðu, visando entender como o conceito se é apresentado
e influencia as ações dos principais personagens narrados.
O eixo Filosofia na Antiguidade e Idade Média reúne pesquisas e debates sobre a produção do conhecimento
filosófico em diferentes épocas, objetivando conhecer as contribuições dos pensadores antigos e medievais
para as diversas áreas da Filosofia.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O objetivo desse texto é apresentar a Lógica para Principiantes como exemplo de texto produzido durante
a Idade Média, por um professor, Pedro Abelardo (1079-1142). A Lógica para Principiantes é um tratado
medieval de Lógica, no qual, Abelardo se embasa em obras de autores que o precederam para discutir a
Questão dos Universais. Para isso, esse mestre do século XII tece um comentário a obra Isagoge de Porfírio,
em consonância com traduções de obras de Aristóteles feitas por Boécio, assim como textos do próprio
Boécio. Essas obras estudadas e discutidas por Abelardo na Lógica para Principiantes, eram o fundamento
da aprendizagem da Lógica no período em que Abelardo viveu (ESTÊVÃO, 2015). Assim, essa fonte
possibilita em certa medida, a compreensão de como era realizado o ensino de Lógica na primeira metade
do século XII. O pressuposto teórico que fundamenta esse estudo é a História Social, a fim de entender a
atividade realizada por um professor do século XII. Ante a isso, se pretende com a análise da Lógica para
Principiantes estudar e refletir a respeito da Questão dos Universais, tendo como premissa o emprego de
‘autoridades’ do conhecimento que, possibilitaram a Abelardo construir e refutar argumentos relacionados
a temática dos universais.
PALAVRAS-CHAVE: História da educação. Pedro Abelardo. Lógica para Principiantes. Questão dos
Universais.
Este trabalho busca refletir sobre o conceito de justiça de acordo com Hesíodo exposta por ele em sua obra
Os trabalhos e os dias. Os poemas expostos por Hesíodo constituem o ponto de partida do pensamento
ético grego e ajudaram a formatar algumas partes da futura filosofia, já que se pode perceber um certo
esforço pela busca de ordem, harmonia e racionalidade. Por meio de narrativas fantásticas, que hoje
chamamos mitos, Hesíodo relata em seus poemas um problema crucial que engloba a inquietação de toda
raça humana: o problema da justiça. Em sua obra Os trabalhos e os dias, ele reúne alguns pequenos poemas,
dos quais os mais conhecidos são: As duas lutas, Prometeu e Pandora e As cinco raças. Esses mitos narram
como se deu a separação entre deuses e homens, como surgiu a primeira mulher e a questão da vingança e
do trabalho, mas a essência de todos eles é o problema da justiça, bem como problemas a ela relacionados,
qual sejam, injustiça e sofrimentos. Esses poemas quando investigados a fundo nos mostram o clamor de
Hesíodo ao seu irmão Perses, pedindo que esse se arrependa da injustiça que fez e que encontre a justa
medida em sua vida. O presente trabalho se justifica, pois se propõe analisar e compreender a importância
dos mitos hesiódicos, principalmente pela noção de moralidade por ele esboçada e vislumbrada tão
brilhantemente em seus poemas, introduzindo um significado de justiça prenhe de sentidos que seriam
levados em consideração e elaborados mais profundamente pela futura filosofia.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Embora Guilherme de Ockham não tenha escrito nenhuma obra em que abordasse, de modo explícito,
questões referentes ao Ensino de Filosofia, os modi philosophandi adotados por ele em sua Opera Politica
conteriam, de maneira subjacente, uma metodologia de Ensino de Filosofia. Assim sendo, procuraremos
sustentar a hipótese de que sob os procedimentos metodológico-filosóficos assumidos pelo Venerabilis
Inceptor nessas Obras Políticas subjaz, de forma velada, uma possível metodologia de Ensino de Filosofia,
a qual poderia representar uma significativa diretriz frente às atuais discussões concernentes ao Ensino de
Filosofia. Esses dois procedimentos, e/ou paradigmas metodológico-filosóficos subjacentes às Obras
Políticas de Ockham (o modus philosophandi sine determinatione e o modus philosophandi cum
determinatione), constituem uma plausível metodologia de ensino de Filosofia, que (1) motivada pela
existência de um problema, (2) parte da revisão do pensamento pensado e (3) conduz à autonomia
especulativa e deliberativa do pensamento pensante. Trata-se, portanto, de uma metodologia cujo télos, ou
finalidade última, é a autonomia e a liberdade do pensamento, isto é, visa conduzir o, inicialmente, revisor
de pensamentos já pensados à determinação ou livre formulação do próprio pensamento, seja ele concorde
ou discorde dos pensamentos anteriores, e isto, em última análise, é propriamente Filosofia ou Filosofar.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
por tradutor profissional, aponta para outras perspectivas e possibilidades de conclusão, assim como
extrapola o âmbito de leitura da tetralogia que compôs o tema originário do projeto de iniciação científica.
O presente artigo tem por objetivo analisar o tema do Mal na tetralogia Apologia, Críton, Êutífron e Fédon,
sendo os três primeiros diálogos considerados escritos da mocidade de Platão, terminando numa aporia,
relativos à virtude e à ciência, ao passo que o último diálogo, escrito no período da idade madura do filósofo,
enfatiza o tema da morte. Muito embora o Mal relacionado ao indivíduo seja um tema caro à Modernidade
no pensamento filosófico, Sócrates parece antecipar as origens do debate no Ocidente a partir de suas
concepções de justiça e de dever moral baseadas na obediência às leis da cidade-estado grega, no respeito às
avenças (acordos) entre os homens e no cumprimento dos deveres cívicos perante as instituições da pólis
ateniense. Para Sócrates, a Razão e a virtude não se contradiziam enquanto conhecimento. Porém, ele não
sistematizou a Ética do ponto de vista científico, mas do ponto de vista prático-institucional legou a noção
de paidéia ou formação ascética dos moços atenienses no contexto institucional de Atenas, tema à época
importante tanto para o âmbito doméstico da vida grega (oîkos) quanto para a economia da Nação ateniense,
a partir de então nas mãos dos ágeis políticos da aristocracia jovem da elite ática. Conclui-se que certamente
se faz controversa a condenação à morte de Sócrates pelo crime público de impiedade e de corrupção dos
moços atenienses em razão de sua prática habitual do diálogo nas ruas de Atenas ou pelo exercício da
filosofia enquanto uma ocupação que não era estranha à pólis grega. Sócrates, pela sua individualidade e
expressão de espírito, representou o arquétipo do filósofo ocidental.
O presente estudo visa expor a análise e pesquisa realizada em São Boaventura para elucidar os seus
pressupostos epistêmicos. Esclarecendo, desse modo, a conceituação das chaves de leitura indispensáveis
para possibilitar o processo de hermenêutica na Filosofia e Teologia do Doctor Seraphicus. Visando a análise
do sistema filosófico e o processo hermenêutico em Boaventura de Bagnoregio, surge, portanto, a
necessidade de buscar e analisar os conceitos fundamentais do seu sistema filosófico para que haja uma
autêntica e fundamentada hermenêutica. A hermenêutica necessita da contextualização histórica, linguística,
cultural, geográfica e teórica do autor e das obras tomadas para estudo e análise. Desse modo, aspira-se,
nesse estudo, a elucidação desses pressupostos indispensáveis para que haja a compreensão da teoria de São
Boaventura. Para tanto, inicialmente a linha da pesquisa é desenvolvida segundo a forma como São
Boaventura concebe a obtenção do conhecimento humano e sua finalidade enquanto ser. Desta forma, o
primeiro fator a ser analisado é a origem social e religiosa do autor abordado e como ocorre sua formação
acadêmica e intelectual. Faz-se necessária, portanto, a análise da Escola Franciscana e do eminente mestre
em Artes e Teologia Alexandre de Hales, que fora mestre de São Boaventura. Por conseguinte, esse é o
seguimento central deste primeiro estudo.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
No caso de Boécio, sua fluência em grego garantia acesso direto às obras de Platão e Aristóteles, mas, dado
a época em que viveu e sua situação social, sabe-se que sua educação também se deu, em grande parte,
através dos clássicos latinos, o que não é nenhuma surpresa quando se considera a influência de Cicero nas
obras de Boécio. Ainda que tivesse acesso à tradição filosófica grega, o latim foi seu idioma principal. Na
época em que o filósofo viveu o respeito pela tradição intelectual e a crença cristã eram combinados de
modo bastante livre com a tradição da antiguidade clássica.
Os argumentos tópicos, apesar do afastamento de Aristóteles a que Boécio, por vezes, se arrisca, ainda são
baseados na teoria silogística aristotélica. Assim, o tipo de sentença que Boécio escolhe utilizar em sua
argumentação está ligado a sua interpretação de Aristóteles. Enquanto quatro tipos de sentenças são
considerados por Aristóteles em diferentes partes do Organon a ponto de podermos considerar quatro tipos
de asserções (sentenças com valor de verdade), apenas dois desses tipos recebem o aval lógico a partir do
Da Interpretação, a saber, as sentenças particulares e as universais. As questões linguísticas que Aristóteles
levanta acerca dos tipos de sentença e que parecem definir seu papel na criação do Quadrado Lógico de
Oposição que utilizamos até hoje não parece ser suficiente para impedir que comentadores como Boécio,
que realizam a ligação entre a antiguidade tardia e o início do medievo, ao reproduzirem e adicionarem a
seus tratados, retomem sentenças indefinidas.
Durante o período medieval acreditou-se que Dionísio Areopagita foi um dos homens convertidos por São
Paulo, na passagem do apóstolo por Atenas. Daí a consideração forte por sua palavra, porque ele seria um
personagem evangélico, salvo pelo próprio Paulo. No entanto, trata-se de uma falsificação história. O autor
do Corpus Dyonisium escolheu este nome por pseudônimo e viveu possivelmente no século V ou VI, em
Damasco, na Síria, sendo herdeiro direto das doutrinas neoplatônicas e cristão convertido.
Não se sabe a verdadeira identidade do escritor das obras, mas passou-se a chama-lo, somente a partir do
século XIX, quando o equívoco foi dissolvido, como Pseudo-Dionísio Areopagita. É ele quem extrai do
neoplatonismo o fundamento de uma mística, numa passagem do paganismo para o cristianismo, e nomeia
sua tentativa de compreender a natureza divina como uma teologia mística. O percurso de sua obra,
incluindo Hierarquia Celeste e, principalmente, Nomes Divinos, levará os principais ícones da Filosofia
Medieval a trabalharem suas teses com máxima consideração. Alberto Magno compõe uma edição
comentada de Nomes Divinos, tal como o fez com a obra aristotélica, Tomás de Aquino tem Dionísio como
uma de suas três principais referências teóricas e Mestre Eckhart é o seu principal seguidor no século XIV.
Um equívoco histórico que teve consequências imensuráveis e transformadoras para a Filosofia Medieval.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Neste estudo buscamos identificar qual verdade era buscada por Agostinho de Hipona (354-430), a partir
do que está contido no VII Livro da obra Confissões. Nesta obra, que possui um caráter auto biográfico,
Agostinho mantém um diálogo com Deus expondo à Ele sua trajetória de vida, suas buscas, suas dúvidas,
seus erros deixando transparecer suas inquietações, pois ainda quando jovem declarou que sua juventude
cheia de vícios estava morta, e com o avançar da idade ainda continuava a deixar-se contaminar por coisas
vãs. Neste processo de busca pela verdade, Agostinho se interessou pelo maniqueísmo, pela astrologia e o
ceticismo. Ao aderir a seita dos maniqueus, buscou elucidações para suas dúvidas (a essência de Deus, a
origem do mal) - o maniqueísmo pronunciava uma verdade que posteriormente o próprio Agostinho
condenou. Ao buscar a verdade e a sabedoria manteve contato com pessoas e obras que influenciaram seu
modo de pensar. O bispo Ambrósio – homem de significativa influência, contribuiu para que Agostinho,
aos poucos, se aproximasse da doutrina católica passando a argumentar sobre a falsidade dos maniqueus.
Com a leitura das Epístolas de Paulo, Agostinho afirma que descobriu que tudo o que de verdade tinha
encontrado nos livros platônicos, era dito nas Epístolas com a garantia da graça de Deus.
Entre os bispos cristãos da Antiguidade Tardia, indubitavelmente Sinésio de Cirene é um dos mais mal
avaliados pela patrística. A historiografia divise-se quanto à sua conversão ou à mera adesão ao cristianismo
por motivos políticos, uma vez que, para muitos historiadores, seus escritos apresentam um caráter dúbio
em relação ao posicionamento religioso, já que ora apresenta aspectos da cultura religiosa neoplatônica,
sobretudo porfiriana, ora cristã nicena, oficializada pelo imperador romano Teodósio (379-395) por meio
do Edito de Tessalônica (380). A partir do material epistolar de Sinésio de Cirene, produzido entre 410-413,
momento em que atua como bispo de Ptolomaida, discutiremos a pertinência da ideia de 'conversão' e as
dissonâncias entre o cristianismo e o neoplatonismo, presente em suas cartas, fundamentais para a
compreensão de seu posicionamento como bispo.
Álvaro Pais (1275-1349), franciscano formado em direito civil e canônico na Universidade de Bolonha, foi
Bispo de Corona(1332), de Silves(1333-49), penitenciário e partidário do papa João XXII(1316-34) na
questão do Papado em Avinhão(1309-76).O Bispo circulou em diversas cidades do ocidente cristão, e
escreveu suas principais obras, O Espelho dos Reis- manual de educação de governantes, e Estado e Pranto
da Igreja- tratado político, no contexto das tensões políticas do baixo medievo e da afirmação das
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
monarquias. Em suas teses, A. Pais, um intelectual a serviço dos ideais e objetivos da Igreja, apresenta
elementos para a definição do príncipe ideal e da organização da sociedade medieval.O Bispo defende a
importância da educação régia para a boa governança, e aponta as características e atitudes do monarca
necessárias para a realização do bem comum, sobretudo quanto às relações com a Igreja, e à manutenção
das liberdades episcopais. As obras do Bispo constituem acervo multifacetado para o estudo dos temas
políticos do medievo cristão, devido ao seu valor intrínseco, pelo caráter político- filosófico que lhe é
atribuído e pelo seu valor histórico, pelo condicionamento em que estão inseridas, proporcionando a
compreensão de vários aspectos da sociedade e da filosofia medieval.
PALAVRAS-CHAVE: Álvaro Pais. Poder e Ideias Políticas. Pensamento político medieval. Filosofia
medieval. Portugal século XIV
O trabalho analisa algumas considerações acerca do processo da intelecção humana e do ensino tratados por
Santo Tomás de Aquino no De Magistro. Para tanto, empregamos o método da pesquisa bibliográfica de
caráter qualitativo. O De Magistro de Santo Tomás é um opúsculo inserido no Corpus de Quaestiones
Disputatae de Veritate, na questão de número 11, com quatro artigos. São estabelecidas as relações
necessárias à educação, ocupando-se, assim, do processo intelectivo epistêmico capaz de conduzir os
indivíduos à ciência c à perfeição. A visão educacional tomasiana se fundamenta na Antropologia. O
conhecimento humano se principia nos sentidos, no qual são afetados pelo mundo na experiência concreta,
criando as imagens abstratas chamadas de fantasmas. O intelecto, posteriormente ao primeiro momento do
processo, recolhe os dados assimilando os princípios e conceitua-os. Lançando mão de um axioma
aristotélico, Tomás diz que o conhecer, isto é, o inteligir, é edução do conhecimento de potência ao ato.
Traz ao centro das reflexões no tocante a temática uma perspectiva que corresponde aos anseios e
indagações emergidas nos círculos de discussões. No desenvolvimento o artigo aborda dois pontos: 1 o
processo do conhecimento humano; 2 analise da concepção tomasiana de Educação.
O artigo, “Uma análise estóica das obras de Ovídio, Arte de amar e Cartas Pônticas, do ano I d.C. ao XVI
d.C.”, tem como propósito analisar às obras Arte de amar e Cartas Pônticas, escritas pelo poeta Ovídio e
publicadas entre os anos I d.C e XVI d.C. Os objetivos consistiram em relacionar à expansão da filosofia
estóica, em meio a tradução da cultura helênica à realidade romana, às modificações resultantes da união
entre à virtus estóica e o mos maiorum, sobretudo os conflitos morais vivenciados por Ovídio. Para tanto,
unimos a análise do conteúdo das obras do poeta ao estudo do gênero poético ao qual estas se inserem,
ligando as informações coletadas ao contexto de ambas as obras, tendo como base teórica e metodológica
o vínculo entre a produção historiográfica e as fontes literárias, proporcionado pelo viés da História Cultural.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O diálogo platônico, Banquete, sempre fora entendido – pela tradição – como um discurso aprimorado
sobre o amor e a vida ética. Esta comunicação, por sua vez, deseja analisar o referido diálogo sob outro
prisma: o de ser ele um autêntico texto de filosofia política. Platão ao desenvolver uma reflexão acerca do
conceito e das benesses de Éros, compreendendo-o como algo constitutivo da alma humana; evidencia que
é a filosofia a expressão mais perfeita desse erotismo entendido como um modo de vida, intrinsecamente
ligada à realidade política do indivíduo. Há no Banquete, com efeito, elementos para se compreender ser
esta obra uma nova apologia de Sócrates, justificando os acontecimentos políticos atenienses. Para tanto,
Platão fazendo uso da ironia, mascara seu discurso para dar tons de imparcialidade. A memória de Sócrates,
com isso, é defendida e separada dos eventos políticos trágicos de Atenas. Fazendo compreender que,
qualquer culpa a ele outorgada, não passará de uma falta de justiça com o cidadão mais justo da pólis. Todos
os recursos dramáticos do diálogo, bem como seus personagens, objetivam, portanto, elevar um discurso
político em defesa de um cidadão injustiçado e seguidor fiel das leis da cidade. O que faz perceber que,
usando da ironia, Platão mascara seu discurso sobre a realidade da vida, formando um profícuo estudo de
filosofia política, na defesa da memória de Sócrates, em seu diálogo Banquete.
O objetivo do eixo é entender e discutir os princípios que envolvem indivíduos e grupos sociais na sua
relação com o conhecimento e modus vivendi no mundo antigo e medieval.
Na obra Historia septem tribulationum Ordinis Minorum, Ângelo Clareno (1247-1298) pregou um rigor na
prática da pobreza na Ordem franciscana e ressignificou o conceito de História da Ordem. Frei Clareno teve
uma trajetória conturbada no movimento franciscano, foi preso em 1316, foi perseguido durante o
pontificado de João XXII (1316-1334), além de ter sofrido inúmeros exílios. Para Felice Accrocca, o Frade
Ângelo ao lado de Ubertino de Casale (1259-1330), pode ser considerado como um dos principais expoentes
do movimento espiritual. Por um lado, a historiografia italiana atualmente divide-se entre os historiadores
que ressaltam a sua ortodoxia e santidade, e por outro, os historiadores que almejam demonstrar a sua
heterodoxia e fanatismo. Nesta comunicação, temos por objetivo fazer um exercício de análise da sua obra
mais polêmica, o Chronicon, para discutir o seu conceito de História da Ordem que mescla a sua própria
trajetória pessoal e a de um movimento franciscano específico. Por fim, os problemas de interpretação da
regra franciscana aparecem como um fio condutor da discussão sobre a “verdadeira” intentio de Francisco
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
de Assis (1182-1226), que para Clareno foram esfumaçadas pelas inúmeras concessões de privilégios dados
à Ordem dos Menores.
A presença dos judeus na Península Ibérica gerou diversas tensões e disputas, além de estimular as mais
variadas trocas e assimilações culturais, sobretudo no campo da medicina ao traduzir e difundir autores
como Avicena, Averróis, Hipócrates e Galeno pelo Ocidente latino. Numa época onde os recursos médicos
e os profissionais capacitados eram escassos, recorria-se aos saberes e técnicas dos físicos judeus na tentativa
de recuperar o equilíbrio humoral, aliviar as dores e esconjurar as enfermidades, ignorando as diferenças
religiosas e sociais e primando a saúde. O papel desempenhado por esses personagens enquadrou-se na
compreensão própria do medievo de tolerância: a concessão régia para uma minoria viver conforme suas
crenças, exercendo seus ofícios e mantendo seus costumes, desde que os mesmos aceitassem a condição de
subordinados e rejeitassem a participação ativa nas escolhas e decisões políticas do reino. Sob a perspectiva
da historiografia da medicina, analisarei o papel dos físicos judeus no campo médico e cultural, assim como
a participação ativa dos mesmos na vida pessoal e familiar do rei Jaime II de Aragão, tendo como objeto
central de análise um conjunto de cartas trocadas entre o monarca e seus subordinados nos anos de 1291 a
1327, período do seu reinado.
Esta breve comunicação proporá uma interpretação sacramental da relação filosófica entre a "Lex Aeterna",
medida das essências presentes no Logos de Deus e a "Lex Naturalis" como sua decodificação, pelo logos
natural humano, a partir da noção de sinderesis, herdade da filosofia de Aristóteles. Para tanto, analisaremos
as Questões 90 e 91 da Parte III da Suma de Teologia, que tratam de ambos os citados conceitos de ius
naturale para São Tomás de Aquino, à luz da doutrina sacramentológica do Doctor Angelicus, com especial
destaque para a Questão 60 da mesma Parte III da Suma de Teologia. Nossa finalidade é ensejar a hipótese
interpretativa da substância do direito natural racional-teológico como um "sacramentale", para nos
valermos da categoria elaborada por Berengário de Tours em "De coena altaris" (1078). Como em outras
ocasiões, procuraremos concluir com a tese do caráter sacramental de todas as concepções que engendram
o imaginário centro-medieval.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A interseccionalidade é um conceito sociológico que possibilita tratar das questões de gênero de forma mais
abrangente, considerando o status social e etnia no processo de construção da imagem feminina, nas
abordagens relativas aos estudos de gênero em geral, e neste estudo em particular. Esta análise interseccional,
vem contribuir com o entendimento da situação das mulheres na antiguidade e os papéis por elas
desempenhados. Na feminilidade existe um significante instável, e os discursos romanos, por mais ambíguos
que sejam sobre a diferença sexual, acabam sendo repletos de dúvidas incômodas, mesmo quando fornecem
a verdade científica ostensiva sobre a Mulher. Nesse sentido, identificamos que o sistema cultural romano
foi distinguido por limites de classe, etnia e gênero “perigosamente permeáveis”.
Partindo desse pressuposto, este trabalho tem por objetivo tratar da educação das mulheres romanas em seu
contexto social, levando em conta a produção literária do momento, bem como, o entrelaçamento de fatores
de discriminação. Aqui será analisada a influência dos círculos literários na publicação dos trabalhos elegíacos
de uma mulher em especial: Sulpícia, “a Elegíaca”.
O livro "De Monarchia", escrito por Dante Alighieri, em 1313, tem por cenário um período de conflitos que
envolviam a autoridade papal e o imperador do Sacro Império Romano-germânico que, ipso facto, era rei
da Itália, tensionados após da publicação da Bula Unam Sanctam por Bonifácio VIII, em 1302, onde o Papa
declarava o poder da Igreja acima do poder de qualquer Reino terreno, colocando o poder temporal a serviço
do poder eclesiástico. Nesta tessitura antagônica de poderes, Dante, escreve este tratado político filosófico
no qual expõe seu pensamento apoiado em argumentos que refutar a política vigente, divergem sobre a
interferência papal na administração das cidades e defendem o poder do imperador. O texto é publicado em
uma Itália cujo cenário político-administrativa encontrava-se fragmentada, na qual, Dante, toma parte no
grupo dos guelfos brancos – contrários à interferência do poder papal na administração das cidades. Nesta
perspectiva, esta investigação pretende averiguar o papel do poder imperial, o impacto deste nas relações
que se manteriam com a Igreja, haja vista a preponderância daquele em relação a esta, e na forma como se
conduziriam as relações de política e poder na visão do autor.
Este estudo tem por finalidade destacar questões históricas e religiosas da Idade Média, cujas influências,
direta ou indiretamente, estruturaram e definiram o perfil sociocultural dos povos que formaram o Ocidente
europeu. Nesse sentido, consideramos a dinastia Carolíngia, o sistema feudal e a Igreja como as principais
instituições que alavancaram e transformaram o caos provocado pelas invasões e a precariedade de
subsistência em um mundo de guerras e divisões. Os acordos e as dependências mútuas entre o Estado e a
Igreja serviram aos primeiros processos daquela cultura. Entre disputas e controvérsias ao longo de séculos,
dentro das próprias instituições referidas, o desenvolvimento demográfico, o aparecimento e
desenvolvimento das cidades, as classes sociais, o renascimento intelectual, o despertar do humanismo foram
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
acontecimentos que, aos poucos, favoreceram as mudanças no modus vivendi do homem medievo.
Estabeleceu-se uma sociedade orientada e organizada sob a perspectiva da guerra, a cavalaria, e da Igreja sob
preceitos cristãos. Nossas ponderações e informações históricas, assim como as consequentes conclusões,
são baseadas em pesquisas e reflexões de estudiosos como Bloch, Duby, Le Goff, Vauchez, entre outros,
sobre o período e o tema em pauta. Depreendemos, ainda, que a abertura aos conhecimentos da cultura
greco-latina, tais como a filosofia, a lógica, a dialética foi o fator inevitável e decisivo para a descoberta do
indivíduo nas suas particularidades e necessidades.
Em finais do século XIII, é escrita no Convento de Pádua, ao Norte da Península Itálica pelo Frade Pedro
Raimundi de Sancto Romano, a Vita Sancti Patris Antonii de Padua, chamada também de Legenda
Raimundina. Ao narrar a vida e os milagres do santo português Antônio, que veio a falecer e ser canonizado
na Península Itálica, a hagiografia reforça as virtudes do protagonista não só como clérigo ordenado, mas
como um homem de saber, versado nas Sagradas Escrituras e na Teologia. Ao mesmo tempo, o texto
hagiográfico estabelece uma hierarquia entre trabalho intelectual e trabalho manual, entendendo o primeiro
como mais importante dentro da Ordem e para a vida de um religioso franciscano naquele contexto. Esta
comunicação, portanto, discute, a partir da análise da legenda em questão, a forma como os frades menores
passam a entender o papel do saber e do estudo a partir da segunda metade do século XIII, bem como as
distinções entre clérigos e leigos dentro da Ordem.
A presente comunicação tem por objetivo discutir as relações entre a oralidade e o processo de letramento
ocorridos em Gales, especialmente a partir do século XI, com a disseminação de monastérios nas regiões de
fronteiras com a Inglaterra, chamadas de Marcas Galesas ou Y Mers. A partir de indícios encontrados em
textos galeses (como aqueles conhecidos como Mabinogion), poderíamos notar que sua existência oral
precedeu sua forma escrita, cabendo aos bardos memoriza-los, conta-los e reconta-los e, por fim, realizar
sua redação. Grande exemplo disto são as Tríades da Ilha da Bretanha ou Trioedd Ynys Prydain, conjunto
de tríades organizadas de tal forma a fim de facilitar a memorização e recitação dos poetas e que, a partir
dos séculos XIV e XV, tiveram seus conteúdos transcritos. Assim, verificaremos a composição do corpus
de textos escritos produzidos no período e que viriam a formar a herança literária do País de Gales.
O objetivo de nossa pesquisa é mostrar que existiu uma tradição intelectual durante o período conhecido
como Escolástica Tardia, a Escola de Salamanca, que, inserida num contexto histórico de desenvolvimento
comercial mundial, produziu um número significativo de obras voltadas para explicação do funcionamento
dos mercados, das atividades comerciais e financeiras, bem como algumas discussões originais sobre a
questão da usura. Embora os escolásticos da Escola de Salamanca não tenham sido os primeiros a
defenderam a prática da cobrança de juros, nem os responsáveis por realizarem pioneiramente a distinção
entre juros e usuras, eles foram mais fundo nestas discussões do que seus predecessores e elaboraram
argumentos tão sofisticados que dificilmente poderiam ser refutáveis. Os escolásticos tardios refletiram
sobre as consequências econômicas do descobrimento da América e, em particular, sobre o processo
inflacionista desencadeado na Europa pela afluência massiva de metais preciosos vindos das minas do Peru
e do México; analisaram os novos fenômenos econômicos experimentados, sobretudo, no século XVI e,
desse modo, debatendo sobre as novas realidades econômicas que as suas respectivas sociedades
vivenciavam, desenvolveram uma nova teoria sobre a legitimidade da cobrança de juros.
No século XIX Sabatier evidenciou a disputa memorialística entre os grupos “Espirituais” e “Conventuais”
que reivindicavam memórias de Francisco de Assis para legitimação de planos ideológicos. As hagiografias
franciscanas “oficiais” apresentam em seu conteúdo visões doutrinárias que foram utilizadas como modelo
para as ações religiosas dos “Conventuais”. Em contrapartida a essas visões estava o grupo dos franciscanos
“Espirituais”, que viam o uso dessas interpretações de forma divergente e reivindicavam muitas vezes os
testemunhos das hagiografias franciscanas “não oficiais”. Abordamos por meios das análises discursivas
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
hagiográficas a construção do milagre deífico dos estigmas de Francisco de Assis e suas representações para
a religiosidade medieval. Compreendemos que por mais que a memória sobreviva a seu desaparecimento,
assumindo a forma de um mito que, por não poder se ancorar na realidade política do momento, alimenta-
se de referências culturais, literárias ou religiosas. Assim, “o passado longínquo pode então se tornar
promessa de futuro e, às vezes, desafio lançado à ordem estabelecida” (POLLAK, 1989, p.11-12). Por isso
o trabalho de conservação de uma memória vive em constante disputa por causa da reivindicação de
interesses de grupos divergentes.
O templo era uma das principais expressões da cultura material no que se refere à religião e à religiosidade
no Mundo Antigo. Na Roma do período augustano não era diferente, de tal forma que a construção de
templos obedecia a regras precisas, além de estar ligada a estratégias políticas, pois conferia glória aos seus
responsáveis. Neste trabalho analisamos o processo de construção de templos, suas características gerais e
as principais regras para a construção da moradia das divindades, bem como a importância com que a
construção de templos teve neste período. Para tanto, nos utilizamos do De Architectura, de Vitrúvio, bem
como dos vestígios da cultura material da época.
O presente artigo tem por objetivo analisar algumas das observações do teatrólogo português Gil Vicente
(1465?-1536?) em relação aos comportamentos morais dos membros da Igreja durante a Baixa Idade Média,
tendo por base algumas peças do escritor luso. Serão aqui evidenciados, a partir das ações dos personagens,
alguns dilemas e escolhas. Além disso, com a proposta de entender os posicionamentos, por vezes, ásperos,
do teatrólogo, às transformações comportamentais que vinham ocorrendo ao longo dos séculos XV e XVI,
faremos breves considerações à historiografia portuguesa, a pesquisadores vicentistas e a teóricos como J.
Le Goff e G. Duby, para dar conta de conceitos como imaginário, que nos possibilitam penetrar melhor no
mundo das ideias da Baixa Idade Média. Acreditamos que as críticas de Gil Vicente direcionadas aos
membros da Igreja, não colocam o dramaturgo como um opositor do catolicismo, mas sim o aproximam da
imagem de um cristão fervoroso, preocupado com o desgaste da instituição cristã e com o desvio da conduta
de muitos de seus membros, os quais, na concepção vicentina, deveriam ser modelos comportamentais para
todos os fiéis.
No Antigo Testamento as mulheres estrangeiras são apontadas como responsáveis por corromper os
homens hebreus da verdadeira fé, ou seja, a fé no deus Yahweh. Sendo assim, a redação deuteronomista
coloca-as influenciando alguns homens contra a proposta monoteísta constantemente reforçada nos livros
bíblicos. Em Reis, que compõe os Livros Históricos, há relatos sobre uma princesa cananeia chamada
Jezabel, que após se tornar rainha de Israel desvirtua seu marido fazendo-o adorar dois deuses cananeus,
Baal e Asherah, e construir templos a eles. Desta maneira, temos por objetivo apresentar uma análise das
passagens onde a rainha Jezabel e seu marido, o rei Acab, são representados como maus exemplos de
governantes, dialogando com as possíveis intenções da escrita do texto deuteronomista. Observamos uma
relação de poder na narrativa da rainha Jezabel que envolve a submissão do feminino, interseccionado com
o estrangeiro frente ao masculino na cultura e na imposição do monoteísmo em torno de deuses como
Yahweh e de locais como Israel. Diante disso, percebemos uma questão de gênero. E, assim, nossa pesquisa
aplica o conceito de gênero como proposto por Joan Scott (1995), ou seja, tratando gênero como uma
categoria de análise, dentro dos debates sobre poder e cultura da História Cultural.
A agricultura romana representava uma importante atividade dos homens romanos. Além disso,
caracterizava valores do mos maiorum, que era repassado por gerações. Os aspectos religiosos da vida no
campo traduziam-se em bons ciclos anuais e boas colheitas, mas para isso, a partir da obra de Varrão De re
rústica – um manual agrícola romano dos finais da republica romana, século I a.C. - vê-se que era necessário
invocar certa quantidade de divindades. São esses aspectos religiosos desse tratado sobre agricultura das
características dos deuses e seus cultos que analisaremos nessa comunicação.
Estatuetas de terracota foram fabricadas na Grécia e seus domínios desde o período Neolítico até o Império
Romano (cerca de 4.000 anos de produção e difusão das peças). Seus propósitos eram diversos: algumas
serviam como bonecas e outros brinquedos, outras como oferendas votivas. Escavações, tanto as mais
antigas quanto as mais recentes, nos mostram que as estatuetas de terracota estavam presentes em ambientes
domésticos, religiosos e em sepulturas; quando encontradas em casas, a maior suposição é que naquele local
existia um templo ou altar de culto doméstico, sendo a ideia de que certos exemplares possuem caráter
estritamente religioso muito presente nos estudos a seu respeito. As estatuetas de terracota sobreviventes
foram em sua maioria encontradas no que parecem ser templos; quando encontradas em sepulturas, acredita-
se que faziam parte das posses da pessoa ali enterrada, e portanto, estavam lá para acompanhá-la: as
terracotas eram encontradas em sepulturas juntamente com peças de cerâmica, jóias ou armas. Esta
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
comunicação tem como principal objetivo trazer um panorama geral dos usos e funções das estatuetas de
terracota, discutindo seus contextos de circulação, produção e difusão.
Esta pesquisa tem como propósito analisar a construção da imagem do Imperador Constantino (288 – 337
d.C) a partir das fontes: Sobre lá muerte de los perseguidores, do autor Lactâncio (250 – 325 d.C), e a História
Eclesiástica, de Eusebio de Cesaréia (265 – 339 d.C). O estudo tem como objetivo compreender e analisar
o conceito de “herói do Cristianismo”, que passou a ser associado ao Imperador. Assim, ao
analisarmos a imagem de Constantino nas fontes, passamos a compreender as relações de poder que
envolvem política e religião. Dessa forma, os objetivos norteadores desse estudo são: analisar a imagem de
Constantino nas fontes, compreender a construção da
imagem de herói do Cristianismo e a relação entre política e religião. Assim, nos
questionamos: Como era visto o Imperador pelos romanos? De que forma Constantino foi considerado um
herói do Cristianismo? Como o Imperador se manteve no poder?
Quais as relações de poder e amizade? A partir da análise da fonte impressa e das referências bibliográficas,
abordaremos as representações de poder que se perpetuaram ao longo da História. Nesse sentido, o recorte
espaço temporal é o século IV, no Baixo
Império Romano. A metodologia utilizada é a análise das fontes, com base nos
referenciais teóricos. Diante das discussões propostas, a ideia é analisar como
Constantino e o Cristianismo se mesclaram, e como isso transformou o Império
Romano após a adesão do Cristianismo como religião oficial do Império.
O objetivo desse trabalho é tecer reflexões sobre a política em Platão (427 a.C. - 347 a.C.) e o conceito de
justiça. Para essa análise, elegemos como fonte o Livro IV da República, o qual propõe um modelo de
organização política da Polis, uma cidade de vida fraterna e justa. Nessa cidade ideal cada cidadão deveria
desempenhar uma função social com excelência e também buscar o conhecimento baseado no
discernimento da justiça e saber que ela é crucial para a felicidade dos homens que estão inseridos na Polis.
Com a finalidade de compreender seu projeto político, ou seja, a formação do filósofo-rei, ou do rei-filósofo
para governar. Para o autor, existiriam apenas três categorias de cidadãos: o trabalhador, o guardião e o
governante, sendo que, cada um desempenharia a função que lhe teria sido atribuída. Nesse contexto, a
educação, em grego Paideia, seria um meio de selecionar as capacitações de cada um, de acordo com a
tendência do homem. A nosso ver, o estudo do passado é imprescindível para analisarmos algumas questões
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
que perpassam a história dos homens. Desse modo, o estudo está fundamentado na História Social, sob a
perspectiva da longa duração e da totalidade apresentados no campo da Escola dos Annales e que nos
permitem entender a relação do homem no seu devido tempo histórico. Nesse sentido, formulações de
autores de outros tempos históricos nos permitem refletir sobre a necessidade do conhecimento para a
formação do homem, seja ele do passado ou do presente.
O objetivo do presente trabalho é discutir a categoria de simbolismo no Além da viagem imaginária Visão
de Túndalo e da obra Divina Comédia de Dante Alighieri. Para isso decidimos dar ênfase na representação
do Inferno e Paraíso das duas obras. A Visão de Túndalo, constitui-se em um manuscrito produzido no
século XII no ano de 1149. O relato narra a viagem espiritual de um cavaleiro chamado Túndalo, que por
não fazer a vontade de Deus visita, na companhia de um anjo, os lugares de danação e de galardão das almas
no Além-túmulo. Esse relato foi difundido por meio oral e era tido como verídico pelos medievos. Já a
Divina Comédia foi escrita pelo o poeta florentino Dante Alighieri (1265-1321) no início do século XIV,
durante o seu exílio político de Florença. A obra ficcional conta a peregrinação do próprio Dante em forma
de personagem, que ao se encontrar perdido numa selva escura empreende uma viagem na companhia do
poeta Virgílio ao Além tripartido. As duas fontes de estudo apesar de descreverem um Além cristão possuem
intenções e simbolismos diferentes. Nossa proposta é discutir as aproximações e os distanciamentos entre
as duas obras, bem como as influências e o contexto da época de cada produção medieval.
“MINHA FÉ, VIL INFERNO, TRIUNFARÁ SOBRE TI”: O MEDO DISCURSIVO NO IN-
QUARTO DE THE TRAGICALL HISTORY OF D. FAUSTUS (1604)
A última década do reinado de Elizabeth I viu emergir inúmeros discursos acerca do medo. Tendo em vista
tais discursos, essa pesquisa questiona a agência desses diversos medos de modo a organizar o corpus social
inglês através da tragédia The Tragicall History of D. Faustus (1604), de Christopher Marlowe. Deste modo,
utilizando-se da metodologia da história cultural de Roger Chartier, pensamos a relação entre a representação
teatral com o universo de discursos e práticas por ela organizada. A organização do corpus social, por sua
vez, está na legitimação de certos grupos religiosos e no ataque a outros. Dentre os eventos que permitiram
a emergência desses diversos medos, temos a formulação dos primeiros protocolos de controle a imprensa,
que difundia ataques aos bispos de Londres na conhecida Controvérsia Marprelate. Assim como o perigo
direto oferecido pelo ataque da Armada Espanhola de Felipe II à Inglaterra, e a constante ação do Deus
protestante em prol do reino elisabetano. De modo semelhante, a luta por hegemonia religiosa agia na
apropriação de discursos reformados, como os de Calvino, e no ataque a Igreja Romana, cujos crentes eram
caracterizados como papistas. Esse contexto, deste modo, é organizado por perigos e temores, cujo a raiz
está na ação de súditos pouco virtuosos, que como Fausto, o protagonista da tragédia, sucumbem a ambição
e aos desejos de poder.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A partir do século XI, os manuscritos médicos abrem espaço para as receitas de cosmética, uma vez que esta
não se ateve apenas aos cuidados com a aparência, mas também visava à saúde corporal. De Ornatum
mulierum atribuído à Trótula, uma médica do Sul da Itália pertencente à renomada Escola Médica de
Salerno, é um exemplo concreto das preocupações e práticas femininas, sobretudo, no âmbito doméstico.
O tratado é um composto de 70 receitas, que se divide em assuntos referentes à cosmética, doenças
dermatológicas, seguindo a ordem: pelos, cabelos, pele, lábios, dentes e por fim, as genitálias femininas,
escrito possivelmente entre os séculos XI e XII. O manual recebe influências da medicina Greco-Árabe
decorrente do contato com a série de traduções realizadas em Monte Cassino, iniciadas por Constantino, o
Africano. Assim, a partir da análise das receitas presentes na obra De Ornatum mulierum, objetivamos
identificar os principais problemas que afligiam as mulheres, os medicamentos empregados para a
terapêutica, os ingredientes utilizados, o modo de preparo e sua aplicação com base nas teorias das
autoridades médicas antigas e árabes, de forma a compreender como preocupações com a aparência, a saúde
e as doenças femininas foram discutidas e teorizadas na Idade Média.
Na Idade Média construiu-se a concepção do tempo linear, concebido no seio do Cristianismo que utilizou
como referência de periodização os fatos da Criação, a Encarnação e o Juízo Final. Esses acontecimentos
marcaram a relação entre o passado e o presente dos medievos entendido como algo essencial da consciência
coletiva que foi formada sob a orientação da ideologia da Igreja cristã. Além disso, uma terceira dimensão
do tempo ganhou força nos discursos dos eclesiásticos, a concepção do futuro, advindo com a espera do
fim dos tempos e da Escatologia, que eram lembrados pelos religiosos, principalmente nos momentos de
calamidades. As explicações sobre essa temática eram associadas ao imaginário do medo da punição eterna
no Inferno e à expectativa da salvação no Paraíso. Relacionando o tempo e o imaginário, pretende-se discutir
a categoria do tempo futuro no relato de viagem imaginária Visão de Túndalo (XIV-XV). Escrita no século
XII em latim e traduzida para o português no final do século XIV, a fonte narra a viagem do cavaleiro
Túndalo ao Além Medieval e descreve os lugares percorridos por ele, explicando os destinos das almas no
Além-Túmulo de acordo com as condutas comportamentais. Esse documento expressa a preocupação que
os homens medievais tinham com o futuro post mortem e sobre o que fazer na vida terrena para alcançar o
reino celeste no Além.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
No Império Romano, consolar alguém em luto pela perda de um ente querido envolvia funções sociais e
práticas públicas. Para os poetas profissionais em relação de patronato, as práticas sociais consolatórias eram
uma demanda dos patronos enlutados, para quem deveriam ser cantados os epicédios, ou seja, as
consolações poéticas que normalmente tratavam sobre as vidas dos falecidos e os lutos das pessoas às quais
os poemas eram endereçados. As Siluae, uma coleção de cinco livros com trabalhos poéticos escritos por
Públio Papínio Estácio (c. 45 – 96 EC), apresentam nove poemas que podem ser considerados
consolationes, pois retratam a morte de alguém e lidam com o luto de seus endereçados. Como todos os
poemas das Siluae são obras encomendadas por patronos para serem recitadas em determinada evento, os
casos da maior parte das consolações em análise são de escritos para apresentações durante os rituais
funerários. Essa comunicação, então, visa analisar os epicédios de Estácio em suas funções sociais. Para isso,
iremos discutir os aspectos da literatura consolatória romana e apresentar o contexto de produção das Siluae
como poesias de patronato no Principado Flaviano (69 – 96 EC). Com essas conjunturas em perspectiva,
buscaremos compreender como o discurso das consolações em análise estão envolvidos com as exigências
de patronato e, também, como os próprios interesses de Estácio com seus patronos são marcados nesses
poemas.
Artur aparece na História dos Bretões, obra de Nennius apenas como um comandante de batalha, dono de
uma ótima habilidade. No entanto ele não é o foco central da obra, mas sim as dinastias ou imperadores que
o antecederam, e construíram assim a História da Bretanha. Artur é inserido na linhagem real, como um dos
monarcas legítimos da Bretanha por Geoffrey de Monmouth, na História dos Reis da Bretanha, Artur não
é mais apenas um guerreiro, mas sim, um Pendragon, descendente de Uther que o antecedeu como rei
legítimo. Mesmo enquanto era apenas considerado um cavaleiro, ou comandante de guerra, Artur não
carregava valores cristãos tão fortes. Artur ainda que tivesse algumas experiências com aventuras, não era
um herói no seu oficio, pensando dessa maneira seu mito vem sido ressignificados pela sociedade atual,
situação que modifica a sua história dependendo do contexto. Os exemplos mais claros perante a sociedade
atual são os filmes, e ao se tratar se um Artur heroico, uma produção de 2017 se destaca, Rei Arthur: A
Lenda da Espada, modifica de modo brusco parte das narrativas tradicionais para trazer um Artur que
vivencia novas experiências em torno do que chamamos de “jornada do Herói”.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A proposta deste trabalho é analisar os preceitos dietéticos e terapêuticos destinados às grávidas a partir do
estudo de dois escritos médicos: o Tesouro dos Pobres e o Lilio da Medicina. A primeira obra, composta
pelo físico português Pedro Hispano (1210 – 1277), pertence ao gênero da literatura médica denominando
receituário em que apresenta receitas para várias enfermidades da cabeça aos pés, dentre as quais destacam-
se dois capítulo denominados: Contra a dificuldade no parto e A dor depois do parto. Já o Lilio da Medicina,
escrito pelo físico e mestre na Faculdade de Medicina em Montpellier Bernardo de Gordônio (1258-1318),
entre 1303 e 1305, é um manual terapêutico, onde o autor apresenta a definição, as causas, sintomas, o
prognóstico e a cura de várias enfermidades. As recomendações acerca da gravidez aparecem nos capítulos
O regimento da grávida e o aborto, A dificuldade de nascimento e Da retenção da placenta. No período em
estudo, o parto era privado e acontecia num cenário doméstico e de âmbito feminino. A quantidade de
mortes, tanto das mães quanto dos bebês, explica o interesse de físicos como Pedro Hispano e Bernardo de
Gordônio que escreviam sobre o tema em suas obras. Assim, propõe-se identificar nas fontes em análise os
preceitos médicos referentes aos cuidados com a gravidez, o risco de aborto e o parto.
Neste comunicação pretendemos fazer uma breve exame dos achados de cultura material e da estrutura
física da necrópole de Pupput, na atual Tunísia, então Africa Proconsularis, descritos no relatório
arqueológico ,de Aicha Ben Abed e Marc Grieshmeier, das escavações de 1995-1999. A partir deste exame
prosseguimos com uma análise comparativa formal entre esse padrão de enterramento e outras formas
tradicionalmente observadas na região da África Romana em períodos anteriores e sincrônicos. Buscamos
assim estabelecer uma contextualização desse modelo de enterramento, que consideramos genuinamente
Afro-romano e daqueles que a historiografia relevante estabeleceu terem sido construídos por populações
autóctones ou introduzidos na região pelas experiências de colonização fenícia e romanas. Na Necrópole de
Pupput julgamos observar a formação de um modelo de enterramento original àquela região e período, fruto
dos contatos entre as diversas experiências em mescla no norte da África sob o Império Romano. Este
complexo funerário teria tido seu período de maior expressão entre os séculos II e IVa.C. , período de
transição entre a antiguidade clássica e a antiguidade tardia. Esperamos que o estudo das práticas funerárias
expressas neste sítio possam ser esclarecedoras quanto aos processos pelos quais a sociedade romana do
norte da África passava neste período.
Nosso tema confere visibilidade para a conectividade estabelecida entre Cuxe e a Grécia, cujas origens
remontam ao século VIII a.C., e que foi retomado na Atenas Clássica, através do mito de Perseu e
Andrômeda pelos dramaturgos e artistas cerâmicos. Reconhecendo essa conectividade, promovida pelo
Mediterrâneo, nossa pesquisa se empenha em estudar a formação do paradigma ideal de feminino vinculado
às práticas da tecelagem e das atividades religiosas, construído com base na justaposição dessas e funções
sociais desempenhada pelas atenienses e meroítas. Para tanto, privilegiamos a análise da antologia Histórias
de Heródoto, nomeadamente os tomos que mencionam povos denominados de “etíopes”, das tragédias
Andrômeda, de Sófocles e Eurípides, Suplicantes de Ésquilo, os vasos cerâmicos que representaram cenas
dessas peças e os cântaros janiform de dupla face.
O intuito deste trabalho é analisar o posicionamento da Igreja Católica em Portugal, no contexto da transição
do mundo medieval para o moderno. Por meio do Concílio de Trento (1545 – 1563) o catolicismo reafirmou
seus dogmas e intensificou a chamada Reforma Católica que em certa medida, também foi uma reposta às
Reformas Protestantes que disseminavam seus ideais na Europa. Tendo em vista algumas comunidades
diocesanas do período, analisando sua composição e atividades desenvolvidas, sobretudo no campo da
Educação, a construção do texto pretende se desenvolver no sentido de compreender os motivos que
levaram a Igreja a promover seu décimo nono Concílio Ecumênico. Para realizar tal investigação, a
metodologia vai partir dos pressupostos da pesquisa bibliográfica e documental, recorrendo aos aportes da
História da Educação. O artigo de justifica por propor investigar a reafirmação do catolicismo no território
português, nos limiares da transição do mundo medieval para o moderno.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
A ARTE DE RAMON LLULL EM SUA OBRA O LIVRO DO GENTIO E DOS TRÊS SÁBIOS
(C. 1274-1276)
Resumo: Ver-se-á, nesta comunicação, como Ramon Llull projeta sua Arte na feitura d’O livro do gentio, e,
por conseguinte, o caráter mistagógico desta obra, para a qual pretendeu-se sua divulgação para a
Cristandade visando a conversão geral dos gentios e infiéis. Na Arte Geral, Llull gera o esquema primordial
de sua Arte, sistema lógico-ordenado com função de achar verdades da realidade e, por consequência,
defender a religião verdadeira. Em atinência ao “intelecto defeituoso dos homens”, Llull viu a necessidade
de simplificar o sistema da Arte para habilitar sua divulgação pelo mundo, ora, só assim conseguiria atingir
seus desígnios estabelecidos desde que converteu-se. O livro do gentio e dos três sábios surge nesse contexto:
trata-se de uma história ficcional na qual dá-se um debate entre três anciões das Três Religiões do Livro.
Eles buscam convencer um andarilho gentio, a seu próprio pedido, acerca de qual seria a religião correta
para que ele se convertesse, discussão em que todos os participantes têm o devido tempo e condições para
argumentarem a razão da Verdade em suas respectivas religiões. Tal uso da Razão se faz, com efeito, pela
correlação direta da Arte luliana, com que, pela associação de atributos do Ser, cada sábio tenta provar sua
Verdade.
PALAVRAS-CHAVE: Ramon Llull; O Livro do gentio e dos três sábios; Arte; Cristianismo; Muçulmano.
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IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Fenômeno importante do fim da Idade Média, o surgimento e dispersão, primeiramente pelo mundo
germânico e depois pelo resto da Europa, dos chamados fechtbücher (Fechtkampft mit dem Schwert),
comumente traduzidos como “Manuais de Esgrima”, tem como pano de fundo um interessante e marcante
movimento, ou seja, o surgimento de uma nobreza cada vez mais letrada. O primeiro destes fechtbücher
que temos conhecimento, intitulado como Manuscrito Walpurgis, Manuscrito da Torre ou simplesmente
I.33, data de meados de 1300 e, apresenta, em suas páginas, monges ensinando pessoas (tanto homens
quanto mulheres) o uso de espada e broquel, um pequeno escudo feito de madeira ou metal, que podia ser
carregado com facilidade junto ao corpo: Conjunto este bastante comum no período e difundido como arma
de proteção pessoal em várias camadas da sociedade. Contudo, ao avançarmos no tempo e determos nossos
olhares sobre os próximos manuais existentes, produzidos quase 100 anos depois, percebemos que há uma
clara mudança, as técnicas ali representadas, apesar de ainda serem voltadas para o duelo, claramente agora
se direcionam majoritariamente às classes dominantes. A nobreza estava tornando-se literata e, ao fazê-lo
criava um gênero muito específico de manuscrito, os fechtbücher.
O objetivo deste trabalho é o de analisar o legado deixado por Eulógio de Córdoba no que se refere à
representação da religião muçulmana, a partir de sua narrativa da vida e morte dos mártires da Córdoba do
século IX. Eulógio conseguiu desenhar uma das bases para o que no futuro condicionaria um mito da fé
muçulmana, como sinônimo de violência e de agressão. Se afirma que Eulógio - mesmo que parcialmente -
cumpriu com seu objetivo de destacar o inimigo islâmico, uma vez que ainda que não tenha inflado um
movimento contra o domínio muçulmano no século IX, oportunizou o legado de uma representação do
cristianismo cordobês enquanto combativo, frente a dominação do Outro – bem como a necessidade de
continuar-se com esse ímpeto de agressão ao Islã. Em tal sentido, procuramos analisar a forma como
Eulógio de Córdoba colaborou para a formação de um mito político do Islã.
Como Hans Blumenberg afirmou (1985), o mito deve ser entendido como um processo que soma duas
ações: o ato de dizer e o ato de fazer. Em tal sentido temos em mente que ao construir uma narrativa sobre
a sua Córdoba e “os seus” mártires, Eulógio possibilitou a construção de um mito, onde o Islã era o grande
inimigo e agressor, demonstrando a violência islâmica ao narrar o martírio, mas deixando de lado
perspectivas quanto a aceitação ao Outro nesta fé oriental.
Estudar a Idade Média, sem dúvida, é um desafio. O período denominado de Baixa Idade Média foi uma
época e ainda é de bastante controvérsia historiográfica, mas, também, de forma inegável, tempos de
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
transformações. Convulsões sociais, políticas e econômicas, marcaram o fim do medievo. Nicolau de Cusa
que nasceu no século XV, em 1401 e morreu 1464, foi um grande personagem do fim da Idade Média. Sua
notoriedade se faz perceber por sua vultosa produção literária, cerca de 30 obras. Entre elas, as mais
destacadas são a De Docta Ignorantia e De visione Dei. Esta última foi escrita para resolver questionamentos a
cerca da vida contemplativa, nas quais os monges de Tegernsee estavam interessados. Em De visione Dei,
objeto de análise deste artigo, Nicolau tenta fazer um equilíbrio entra a contemplação por meio do intelecto,
e a contemplação por meio da afetividade. As duas são necessárias para acessar o divino. Esse contato com
o divino é descrito por Nicolau por meio da Teologia Mística.
Palavras-chave: Medievo. Mística. Filosofia. Espiritualidade. Visão. Deus. Homem. Conhecer. Ignorância.
Contemplação.
O presente trabalho tem por finalidade tratar sobre a questão espacial na obra
literária “O Hobbit”, de J.R.R. Tolkien, perscrutando as referências medievais que
levaram o autor inglês a colocar, em suas obras, uma diferença simbólica dos espaços calcada no substrato
mitológico. Para tanto, ampara-se nos conceitos de maravilhoso e de heterogeneidade do espaço. O
primeiro, tal como aponta Jacques Le Goff, um recurso visual presente nas mais variadas narrativas
medievais, em especial, nos romans; o segundo, de acordo com Mircea Eliade, uma forma de relação com a
materialidade que o homem religioso possui, relação esta que modifica a importância dos espaços de maneira
simbólica e coletiva. Dessa forma, buscaremos comparar essa forma de relação espacial como é retratada
nas narrativas Tristão e Isolda e A Demanda do Santo Graal, quais são os elementos que modificam a relação
dos homens com os espaços e quais desses elementos podem ter sido referências para a gesta literária de O
Hobbit. Nesse sentido, a questão do maravilhoso impõe a possibilidade de aventuras e demandas para os
cavaleiros da Távola Redonda e, por outro lado, entrecortam a narrativa literária, que representa, aos seus
moldes, a sua própria realidade histórica e suas próprias relações e sintomas sociais/ espaciais.
O tema do casamento místico é, na tradição judaico-cristã, uma forma alegórica de representar a relação
entre o divino e o humano. Assim, figura nos textos bíblicos, nos escritos dos padres da igreja e em diversas
obras medievais, com matizes. No âmbito do cristianismo, como expressão de espiritualidade,
majoritariamente, a noiva foi associada às mulheres virtuosas e o noivo, a Cristo. Neste sentido, a partir do
século XII, algumas mulheres incorporam a alegoria em seus escritos, referindo-se a Cristo como esposo,
sublinhando sua íntima relação com ele.
Em nossa comunicação vamos apresentar e discutir um milagre narrado em dois legendários abreviados
mendicantes compostos na segunda metade do século XIII. A Legenda aurea, texto mais conhecido,
composto no âmbito dominicano, na Península Itálica, por Tiago de Voragine e a compilação Legende
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Sanctorum, de autoria do franciscano hispano João Gil de Zamora. Tais obras foram escritas com objetivo
de reunir materiais para serem consultados pelos frades no preparo de pregações.
Nosso foco estará no trecho final dos capítulos dedicados a mártir Inês nos dois legendários, que narram o
casamento simbólico entre Paulino, um clérigo, e uma imagem da Santa Inês. A questão central que
objetivamos debater é se essa relato pode ser interpretado como uma manifestação da alegoria do casamento
místico.
A proposta deste trabalho é analisar as doenças crônicas e doenças de campanha que afligiam o rei Luís IX
(1214 -1270) pelos relatos de Jean de Joinville. Assim, propõe-se o estudo da crônica História de São Luís
(Histoire De Saint Louis), composta entre 1305 – 1309, pelo senescal de Champagne Jean de Joinville (1224
-1317) que acompanhou o rei durante a sua peregrinação à Terra Santa (1248-1254). Em sua narrativa, por
intermédio de suas memórias, nos apresenta os feitos do rei e ao traçar o perfil do monarca francês, cria um
retrato ideal de um rei guerreiro, peregrino e pacificador em que predominam as virtudes de justiça, caridade
e sobriedade. Joinville, assim como a historiografia, retrata Luís IX como o rei modelo dos Espelhos dos
Príncipes e mesmo apresentando esse exemplo monárquico, ele não hesitou em relatar questões relacionadas
à saúde e às enfermidades crônicas que afligiam o monarca, tais como: a erisipela e febre terçã e as contraídas
em suas expedições militares como a doença de campanha e a disenteria.
O Objetivo do presente trabalho é discutir as diferenças e as similaridades entre dois relatos míticos de
criação da Antiguidade, o Enuma Elish, da tradição babilônica e a Teogonia de Hesíodo. Não se sabe
precisamente quando o principal poema cosmogônico dos babilônicos foi escrito, mas a maioria dos
estudiosos afirma que ele é posterior ao ano de 1100 a.C. sendo o mais popular o exemplar encontrado na
biblioteca do rei assírio Assurbanipal que data do século VII a.C., já a Teogonia acredita-se que foi escrita
no século VIII a.C. pelo poeta grego chamado Hesíodo, que teria recebido inspiração divina das musas, para
relatar como os deuses e o mundo surgiram. Desde que o texto do Enuma Elish foi descoberto de forma
fragmentada em 1949, os estudiosos logo perceberam paralelos entre esse e outros textos da Antiguidade,
muito posteriores ao poema do Antigo Oriente Próximo, como o Relato de criação bíblico e o Relato
Cosmogônico grego. Apesar das diferenças, os dois poemas apresentam muitas similaridades, por essa razão
pretendemos com esse trabalho analisar as evidências textuais de como a Teogonia, em muitos aspectos foi
influenciada em sua forma de compor a sua própria Cosmogonia e Teogonia tendo como fonte o Enuma
Elish e de como essa troca cultural foi realizada.
PALAVRAS-CHAVE: Teogonia. Oriente Próximo. Enuma Elish. Mitologia Comparada. Grécia Antiga.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Diálogos Olimpianos é um projeto de extensão do Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico
da UFSM - GEMAM/UFSM que visa trazer o conhecimento produzido na universidade sobre as sociedades
antigas de forma acessível, divertida e prazerosa através de episódios de um Podcast, disponibilizados em
plataformas abertas na internet. Os episódios são apresentados em diferentes formatos: entrevistas ou bate
papos com pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas de estudos sobre a Antiguidade e comentários
de fontes antigas, de trabalhos contemporâneos sobre a Antiguidade ou de temas gerais da Antiguidade,
geralmente frutos das pesquisas e estudos realizados pelo GEMAM/UFSM. Visamos atingir um público
amplo que não se limite apenas aos estudantes universitários, para isso buscamos desenvolver uma
linguagem mais acessível e didática. No entanto, nos preocupamos em não deixar de apresentar o conteúdo
de forma interpretativa, estrutural e problematizada e a partir do rigor das pesquisas científicas. Esperamos,
com isso, ampliar o conhecimento público sobre elementos da sociedades antigas, propondo discussões que
levem à reflexão crítica sobre a imperiosa e tradicional morfologia da História Antiga, dividida no binômio
Antiguidade Clássica e Antiguidade Oriental. Dessa maneira, apresentamos nosso interesse em pensar e
divulgar a pluralidade de experiências e de sociedades na chamada Antiguidade a partir da perspectiva da
integração, das fronteiras culturais e do debate interdisciplinar.
Este trabalho tem por objetivo analisar as recomendações terapêuticas que deveriam ser seguidas para a
prescrição e elaboração de remédios presentes no Livro de Medicamentos Simples do físico árabe Abûu-l-
Salt (1068-1134). Em relação à tipologia, essa obra pertence ao gênero farmacológico que é caracterizado
pela indicação de vários medicamentos de origem vegetal, animal e mineral. A obra, estruturada em um
prólogo e vinte capítulos e tendo como embasamento teórico os saberes de autoridades antigas e árabes,
apresenta medicamentos destinados às enfermidades e problemas ligados aos humores (sangue, fleuma, bile
amarela, bile negra) e aos órgãos mais importantes do corpo humano como o coração, o estômago e o
pulmão. No escrito farmacológico em análise, o preceito predominante refere-se à teoria do uso dos
contrários. Assim, sabendo a qualidade predominante na doença (quente, úmida, fria e seca), poderia utilizar
remédios feitos a partir de medicamentos com qualidades opostas à da enfermidade. Desse modo, propõe-
se, neste trabalho, compreender a concepção de medicamentos a partir das teorias médicas utilizadas pelo
físico Abûu-l-Salt e identificar os principais preceitos que deveriam ser seguidos pelos boticários ao usar os
ingredientes para a elaboração de medicamentos.
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Este trabalho tem como propósito analisar os preceitos referentes à terceira coisa não natural, os alimentos
e as bebidas, recomendados em tempos de pestilência. A fonte em estudo é obra Medicina Sevillana,
composta em 1384, por Juan de Aviñon (1323 – 1384) e estruturada em um prólogo e sessenta e nove
capítulos. Nesse escrito, o autor apresenta prescrições dietéticas e também princípios terapêuticos acerca de
diversas enfermidades que assolaram a cidade de Sevilha. A peste, objeto de estudo, é discutida nos seis
últimos capítulos: Da definição de epidemia e suas causas; Qual é a razão pela qual um lugar prejudica uns
mais que outros?; Dos sinais de epidemia; Para que serve estudar medicina, se a epidemia veio do céu; Como
as pessoas saudáveis devem se comportar em tempo de epidemias; Do regimento dos que padecem dessa
doença. Assim, Juan de Aviñon apresenta do ponto de vista médico a definição de peste, as causas da
epidemia, os sinais da pestilência, os medicamentos para tratar as feridas e, sobretudo meios de preservar a
saúde daqueles que não foram acometidos pela doença. Neste sentido, o objetivo desta pesquisa é analisar a
dieta alimentar que deveria ser adotada em tempos de epidemia.
PALAVRAS-CHAVE: Epidemia. Dieta Alimentar. Saberes Médicos. Juan de Aviñon. Medicina Sevillana.
O episcopado de Cipriano em Cartago durou apenas nove anos, de 249 a 258. Quando ocorreu a perseguição
de Décio, em 249, Cipriano, mesmo encontrando-se no autoexílio, continuou a comandar a sua congregação,
na tentativa de manter a união e a disciplina dos fiéis. Nesse contexto, surgiu uma acirrada controvérsia,
responsável por diversos conflitos dentro da Igreja (intra ecclesiam), na qual Cipriano veio a intervir. Por
meio das obras de Cipriano, temos o objetivo de evidenciar o conflito político dentro da Igreja de Cartago
durante o século III d. C. Destacaremos o problema relativo ao rebatismo dos lapsi e a formação de grupos
rivais. Diante desse contexto, podemos perceber que durante o episcopado de Cipriano (249-258)
desenrolou-se um conflito político entre ele e alguns eclesiásticos, considerados, por ele, como heréticos,
cismáticos e rebeldes. O conflito dentro da comunidade cartaginesa foi, sem sombra de dúvidas, a maior
preocupação de Cipriano, sobretudo no que dizia respeito às questões disciplinares que ameaçavam o
bispado como um todo e, num plano mais local, a sua própria autoridade episcopal.
A Antiguidade Tardia foi palco para muitas transformações e conflitos e, dentre eles, podemos mencionar a
querela do cristianismo com o judaísmo. O status ocupado por judeus e cristãos na Península Ibérica se
alterou de forma significativa conforme o cristianismo ganhava espaço dentro do Império Romano, se
tornando uma religião legalizada e, posteriormente, oficializada. Já no início do século IV, com o Concílio
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XIX JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
IX JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
de Elvira, é possível identificar conflitos entre esses dois grupos. Os cânones XVI e LXXVIII advertem à
homens ou mulheres cristãs que não se relacionem sexualmente com judeus, normatizando, desta forma, os
casamentos mistos. Essas regulamentações demonstram que o convívio com judeus podia ameaçar a
autonomia cristã, além de evidenciar uma disputa territorial, já que, casamentos podiam envolver heranças.
Assim, hipotetizamos a existência de uma disputa interna, na Península Ibérica, entre cristãos e judeus, por
controle, autonomia e espaços político-religiosos e territoriais, visto que, as atas de Elvira indicam uma
normatização para as relações entre as comunidades cristãs e judaicas, como, por exemplo, a regulamentação
de casamentos entre judeus e cristãos e o convívio entre esses dois grupos. Nesse sentido, há uma dissociação
e definição do outro no concílio de Elvira, ou seja, de quem é ou não cristão, gerando um processo de
identidade, através da alteridade. Nessa comunicação abordaremos as questões referentes aos conflitos
judaico-cristãos e a construção de identidade a partir dos mesmos.
A antiguidade tardia é um período marcado por transformações. O conceito, já aplicado nas últimas décadas
pela historiografia, tenta repensar os diversos elementos típicos dos séculos III ao VII de forma a mudar a
imagem pessimista e de crise do final da Antiguidade e o começo da Idade Média. Nesse trabalho, amparados
pela metodologia da “História dos Conceitos”, utilizamos como ferramenta de análise as “Mobilidades” na
tentativa de demonstrar e ressaltar os movimentos populacionais e a importância das comunicações em um
mundo mediterrânico extremamente conectado. Aqui, quando nos referimos às mobilidades as entendemos
como: migrações populacionais, movimentos de ideias, de mercadorias, de práticas e de culturas. Não nos
esquecendo dos meios necessários para tal: transporte marítimo, terrestre, estruturas governamentais,
diplomáticas e outros. Dessa forma, comprovamos que o estudo dos períodos finais do Império Romano
pode ser estudo a partir da “História Militar”, área da historiografia que vem ganhando espaços na academia
a partir de uma renovação de si mesma e dos problemas por ela propostos. Assim, consideramos que o
período assinalado não demonstra um fim dramático como tradicionalmente vislumbrado, mas uma
temporalidade marcada pela presença do movimento.
Dos ocupantes do trono de São Pedro durante o período que convencionou-se chamar de Antiguidade
Tardia, o papa Gregório I (também conhecido como Gregório Magno ou Gregório, o Grande) é um dos
nomes que mais se descantam; não somente por conta da sua produção teológica expressiva, mas também
porque se mostrou um político hábil à frente da cidade de Roma lidando com as políticas Imperiais e
eclesiásticas de Constantinopla e defendendo os interesses da sua Sé. É em Gregório Magno que vamos ver
um dos primeiros conflitos entre a noção de Romanitas e de Christianistas dentro da Igreja latina; em um
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cenário onde Império Bizantino se mostrava mais preocupado em defender as fronteiras orientais dos
Persas, deixou a península Itálica e sua antiga capital em posição frágil. Gregório teve que lidar
constantemente com o perigo de um novo ataque lombardo à Roma já que, com a invasão lombarda de 568-
69, esses se tornaram os principais senhores da Itália (restando apenas as possessões bizantinas de Roma e
Ravena, e de Nápoles e Sicília ao sul), obrigando Gregório - em alguns casos - a gastar o tesouro da Igreja
para reforçar o aparato defensivo de Roma e de Nápoles.Apesar de valorizar o Império Bizantino e de
reconhecê-lo como o legítimo Império Cristão, Gregório foi hábil em enviar missões para a evangelização
dos lombardos e de projetar o poder da Igreja Latina com a missão de Cantuária para a conversão dos anglo-
saxões. Gregório, dotado de grande astúcia, soube lidar com as constantes tragédias ocorridas na Roma de
seu tempo (guerras, saques, pestes) sem perder de vista o trabalho pastoral (desenvolvendo inclusive a sua
Regra Pastoral) e a afirmação da Sé de São Pedro como o centro legítimo da Christianitas.
O retorno de determinados temas ao longo da história, segundo Bakhtin, permite que homens e culturas
articulem um contínuo diálogo que, além das interseções que se estabelecem, torna possível a contínua
apreensão de novas perspectivas com que esses temas são retocados em cada época, por meio de gêneros
que melhor os conforma ao contexto histórico. O inferno, em suas variadas configurações, por exemplo,
acompanha a cultura ocidental desde tempos remotos. Diferentes gêneros, em diálogo com a época de sua
circulação, retratam esse espaço do além-mundo central para o Ocidente marcadamente ressignificado
também no grande tempo da cultura ocidental. Em crescente e provisório acabamento, que se movimenta
da Antiguidade à Idade Média e a tempos posteriores, a morada dos mortos, dos condenados e dos
demônios, ressurge e se mostra em forma e conteúdo num grande diálogo que retoma o passado, ou seja,
sentidos já experienciados, atualiza o presente, com sentidos próprios da época, e lança as bases do futuro,
com possibilidades destes tempos derivadas, em sua perene indissociabilidade da cultura ocidental.
Toda religião tem em sua constituição a presença de mitos e ritos, sendo os ritos uma forma de atualizar –
ou repetir os acontecimentos – dos mitos. Na Antiga Mesopotâmia, podemos encontrar muitos registros
sobre essas práticas, sendo que a palavra para “ritual” em acádico era nêpeŝtu, que significa “realizar uma
performance”; então o ritual envolvia um espaço e um tempo sagrados e o uso de gestos, palavras e
elementos, com o objetivo de alcançar um feito (seja a cura de doenças, a prosperidade, afastar má sorte e
maus espíritos, ter boas colheitas, conquistar o amor de uma pessoa, etc.). As fontes sumérias que envolvem
conjuros mágicos e textos de orientação para realização de rituais, nos mostram uma cosmovisão onde o
mundo dos humanos e o mundo dos deuses não estavam separados e todo acontecimento nesse mundo
divino repercutia de alguma forma na vida humana. Sendo assim, o objetivo da presente comunicação é de
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discutir, como o uso de práticas mágicas na Suméria era uma forma de negociar com as divindades e ao
analisar as fontes, percebemos que os humanos não ficavam alheios e completamente submetidos ao que
acreditavam ser a vontade dos(as) deuses(as), pois se utilizavam dessas práticas magicas para alcançar seus
desejos e intervir no mundo.
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