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Valeria Wolf Arteterapia - Grupo Diário do Bordado

Engolindo sapos:

A expressão engolir sapo, usada quando somos obrigados a tolerar coisas


desagradáveis sem podermos responder, é um regionalismo típico do Brasil.

De acordo com Luís da Câmara Cascudo, em Dicionário do Folclore Brasileiro, o


sapo é indispensável nas bruxarias. Acreditava-se ainda que existia uma pedra na
cabeça dos anfíbios eficaz nos sortilégios. Eles eram, portanto, associados às
forças ocultas.

Há também um episódio bíblico que conta que Deus castigou um faraó egípcio
enviando um enxame de rãs, que invadiram casas e fornos, e até atrapalhavam na
preparação de comida, tornando-se assim uma situação desagradável.
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As três penas ou O Tolo– um conto de Grimm

Era uma vez um rei que tinha três filhos. Dois deles eram inteligentes e sensatos,
porém o mais novo, era chamado de Tolo.

Quando o rei sentiu que estava ficando fraco, começou a pensar em deixar o trono,
mas não sabia à qual dos filhos deveria passar a coroa. Pensou muito, chamou os
três filhos para junto dele e falou:

- Saiam em viagem e aquele que trouxer o mais lindo Tapete, será meu sucessor.
Mas, para que não houvesse discussão entre os três em relação ao caminho a
seguir, o rei levou-os para a frente do Castelo, pegou três penas e soprou-as para o
ar dizendo:

- Para onde elas voarem, para lá ireis.

A primeira voou para o oeste, a segunda para leste e a terceira caiu no chão perto
do mais novo. Assim, um irmão foi para a direita, o outro tomou a esquerda, mas
ficaram zombando do mais novo que não poderia ir para lugar nenhum, porque a
pena tinha caído no chão e ele teria que ficar ali no mesmo lugar. O Tolo sentou-se
no chão, muito triste, mas de repente, ele viu um alçapão e resolveu abri-lo. Quando
levantou a tampa ele viu que havia uma escada para baixo. Resolveu descer para
ver o que podia encontrar.
Lá embaixo, encontrou uma porta, bateu e ouviu uma voz que dizia:

“Donzela menina,
Verde e pequenina.
Pula de cá para lá
Ligeiro vai olhar,
Quem lá na porta está.”

A porta abriu e ele viu uma grande e gorda sapa sentada e rodeada por uma porção
de sapinhos pequenos. A gorda sapa perguntou o que ele queria, ele respondeu
sem graça:

-Eu gostaria de ter o mais lindo Tapete que exista, para me tornar rei.
Aí a sapa chamou uma sapinha e lhe disse:

“Donzela menina
Verde e pequenina
Pula de cá pra lá
Ligeiro vá buscar
A caixa que lá está.”
Valeria Wolf Arteterapia - Grupo Diário do Bordado

A sapinha trouxe a caixa que era bem grande e a sapa gorda abriu-a tirando de
dentro dela o mais lindo e fino Tapete que existia na terra e entregou-o ao rapaz. Ele
agradeceu e subiu de volta.

Os outros dois irmãos, porém, julgando-se muito sabidos, não procuraram nada.
Pegaram, cada um, uma pastora de ovelhas e tiraram suas grossas mantas para
levar ao rei e dizer que eram Tapetes.
Quando chegaram, o mais novo estava entrando no Castelo, trazendo o
maravilhoso Tapete.
Quando o rei viu o Tapete, admirou-se e disse:

- Por direito e por justiça, o reino deve pertencer a ele, meu caçula.

Na mesma hora os outros dois reclamaram dizendo ser impossível ele se tornar rei.
Pediram mais uma tarefa ao pai. Este lhes falou:

- Herdará o meu reino aquele que trouxer o mais belo Anel que existir.
O tolo mais uma vez desceu pela escada do alçapão e contou o que acontecera
para a sapa gorda, dizendo o que precisava agora.
A sapa na mesma hora chamou a sapinha e lhes disse a mesma coisa.(repetir
verso)
Quando a sapa abriu a caixa, ela tirou o mais lindo Anel que já se viu, cheio de
pedras e brilhantes.
Os dois mais velhos mais uma vez não se preocuparam e pegaram pelo caminho
aros de uma roda de carroça e levaram ao rei.
Quando o mais novo chegou com o maravilhoso Anel, o rei novamente disse que
ele seria o novo rei, mas os irmãos não se conformaram e pediram uma última
chance.
O rei resolveu conceder o pedido, mas disse que seria a última tarefa
definitivamente. Eles teriam que trazer a mais linda Moça que encontrassem.
O Tolo desceu novamente as escadas para falar com a sapa e dizer-lhe que
precisava de uma linda Moça.

-Ah, disse a sapa, esta não está à mão assim, de repente, mas vais recebê-la.

Ela deu-lhe um nabo oco, com seis camundongos atrelados nele.

O Tolo perguntou a ela o que fazer com isso?

A sapa respondeu: - Ponha uma das sapinhas pequenas aí dentro.


Ele agarrou uma sapinha e colocou-a dentro do nabo oco. Nem bem ele saiu do
alçapão, ela transformou-se numa lindíssima Moça, o nabo virou uma carruagem e
os camundongos lindos cavalos. Ele partiu para casa.
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Os dois nem se preocuparam em procurar Moça bonita, levaram as primeiras


camponesas que encontraram pelo caminho.
Quando o rei viu as três, nem pensou, decidiu que o reino era do mais novo, por
direito e por justiça.
Mais uma vez os dois gritaram que não era possível o Tolo ganhar a coroa e
exigiram que o reino fosse dado ao que conseguisse que a Moça escolhida saltasse
através de um arco que pendia do teto do salão. Eles pensavam que as
camponesas iriam conseguir, porque a outra tinha um jeito franzino e fraco.
O rei aprovou a ideia e pediu que as três pulassem. Mas as camponesas eram tão
desajeitadas que caíram no chão ao pular e uma quebrou a perna e a outra o braço.
A fraquinha pulou então, e atravessou o arco com leveza sem se machucar.
O rei não discutiu mais e deu a coroa para o Tolo. Este, como era muito bom, deixou
que os irmãos continuassem a morar no Castelo com suas camponesas, as quais
passariam a fazer todo o serviço. Desta maneira todos ficaram felizes e o Tolo
mostrou-se um ótimo rei.

No conto “ O Tolo” ou “As Três penas de Grimm , von Franz diz que o
personagem “tolo” exerce função compensatória para o mundo que vivemos que
está tão agitado e tão apressado. O conto nos mostra que muitas vezes a solução
está bem no nosso nariz. Mas precisamos ter calma para esperar, observar e aceitar
certas demandas que não estão dentro dos paradigmas da sociedade atual.

Pontos a serem observados:


● Os sapos que vem de fora e os sapos internos;
● As potencialidades ou riquezas internas;
● A busca genuina da alma
● Os pares de opostos: o que eu penso de mim e o que os outros dizem de
mim
● A leveza da alma (self) e a autocrítica do ego
● A aceitação da sabedoria interna x rebeldia do ego
● As soluções que estão muitas vezes próximas de nós, dentro de nós e não
distantes

Por que interpretar os contos?

Se antigamente bastava a figura do contador de histórias, hoje além dele,


precisamos compreender e analisar os contos de fadas. Von Franz coloca que ao
nos distanciarmos das nossas bases mais instintivas e naturais, precisamos, hoje,
interpretar os contos para que eles possam ter o mesmo sentido e surtir o mesmo
efeito que tinham no tempo em que eram simplesmente contados.
Valeria Wolf Arteterapia - Grupo Diário do Bordado

Esse exercício de ampliação da consciência, criação e compreensão de metáforas e


expansão dos significados dos símbolos é de extrema importância para o equilíbrio
da psique.
Os símbolos são ricos em analogia, e exercem função de elemento de ligação,
mediação, une contrários e reduz oposições.

Referencias:

Benoist, L., Signos, simbolos e Mitos - Ed. Interlivros de Minas Gerais Ltda, MG 1977.

Von Franz, M.L., “ A Interpretação dos Contos de Fadas, trad. M.E. Spaccaquerche, Ed
Achiame,1981/Paulus 2003.

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