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EVPHROSYNE

R E V I S TA DE FILOLOGIA CLÁSSICA

N O VA   S É R I E

VOLUME XLVII

CENTRO DE ESTUDOS CLÁSSICOS


FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA

M M X I X
EVPHROSYNE
R E V I S TA D E F I L O L O G I A C L Á S S I C A

*
CENTRO DE ESTUDOS CLÁSSICOS
FA C U L D A D E D E L E T R A S D E L I S B O A
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CENTRO DE ESTUDOS CLÁSSICOS
FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA

EVPHROSYNE
R E V I S TA D E F I L O L O G I A C L Á S S I C A

NOVA  SÉRIE – VOLUME  XLVII

MMXIX
Frederico Lourenço,
Nova Gramática do Latim
(Lisboa, Quetzal, 2019, 505 pp. ISBN 978-989-722-566-6)

Ricardo Nobre
Centro de Estudos Clássicos da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
rnobre@letras.ulisboa.pt

Na definição de “gramática” proposta por Rafael Bluteau1 – “a porta


por que se entra a todas as ciências e o fundamento de todas as artes liberais
e disciplinas nobres” –, reconhece-se um estatuto inigualável de acesso ao
conhecimento que se exprime por intermédio do idioma, cuja compreensão
radica num saber gramatical básico, seja implícito, seja explícito. Quando
um filólogo descreve teoricamente o funcionamento de uma língua está
também a aplicar um sofisticado método científico que não se distingue do
usado por outras disciplinas do saber: pela descrição sistemática e expli-
cação teórica de estruturas morfológicas e sintácticas, fonéticas, semânticas
e pragmáticas, a gramática faculta a quem aprende uma língua competên-
cias que permitem aplicar essa teoria na dinâmica comunicativa – em que
se inclui, é claro, a leitura de línguas que deixaram de ser naturalmente pro-
dutivas (vulgarmente ditas “línguas mortas”); é por isso que o leitor é capaz
de ler, nas línguas que domina, frases novas reutilizando conhecimentos
adquiridos em estruturas de outras situações discursivas similares.
A publicação de uma gramática é, por conseguinte, um acontecimento
de saudar, visto que ela supõe que um filólogo entendeu que a sua perspectiva
de análise de um sistema linguístico traz novidade suficiente à literatura
científica e didáctica disponível no ambiente cultural em que vive. Talvez
por isso, em Portugal, a sucessão de gramáticas de latim poucas vezes tenha
estado isenta de controvérsia, como bem recordam as polémicas da substitui-
ção, no século XVIII, da obra de Manuel Álvares, S.J. (cujos contornos histó-
ricos são bastante mais amplos) pelo Novo Método da Gramática Latina,
de António Pereira de Figueiredo, C. O. No século XIX, depois da edição de
diversas obras de relativa pouca longevidade (pelo menos em comparação

1  Por comodidade, cita-se a partir de J. P. Silvestre, A Língua Iluminada: antologia do

Vocabulário de Rafael Bluteau, Lisboa, Biblioteca Nacional, Babel, 2013, p. 78.


418 RICARDO NOBRE

com as mencionadas anteriormente), a publicação da gramática de Joaquim


Alves de Sousa envolveu o seu autor em disputa com o próprio Epifânio
da Silva Dias.
O desenvolvimento das disciplinas linguísticas parece ter conduzido
a uma estabilização da polémica, pelo menos quanto às línguas clássicas.
No nosso país, publicaram-se no século XX as gramáticas de latim por que
estudamos: a Gramática Latina, de Manuel Francisco de Miranda (1.ª ed.,
1901; 8.ª ed., 1962, revista por Arlindo Ribeiro da Cunha), que resulta de
um trabalho verdadeiramente notável de sistematização do funcionamento
da língua, com os recursos existentes na época (e, por força do avanço cien-
tífico, necessariamente desactualizada); o Compêndio de Gramática Latina,
de José Nunes de Figueiredo em parceria com Maria Ana Almendra, publi-
cado originalmente em 19522; a Gramática Latina, de António Freire (1.ª ed.,
1956, melhorada e corrigida em edições posteriores); a Gramática Latina,
de António Afonso Borregana, vinda a lume em 1999. Já no nosso século foi
publicado, em 2001, o “guia” Maximo Gaudio Linguam Latinam Disco, de
Maria Alcina dos Mártires Lopes3. Neste panorama, verifica-se que as gramá-
ticas de latim portuguesas foram sendo tradicionalmente publicadas por
autores e autoras que têm ou tiveram uma longa carreira na docência desta
língua, sendo ainda autores de manuais escolares (ou responsáveis pelos
programas da disciplina no ensino secundário4).
É neste contexto que surge, pela mão do filólogo classicista Frederico
Lourenço, em 2019, a Nova Gramática do Latim (doravante mencionada
como NGL), de que aqui me ocupo.
Deixando de lado o facto de a obra ter sido acompanhada de uma
propaganda que ignora não apenas a renovação científica e pedagógica
por que passou a gramática latina mais usada em Portugal, imputando-lhe
“programas” e “metodologias dos liceus portugueses no tempo de Salazar”
(p. 11), mas também a existência de obras publicadas ex novo muito depois
de 1974 (inexactidão que poderá ser facilmente corrigida numa próxima

2  O livro de que actualmente dispomos com esse título foi sujeito a transformações que

o adequaram ao ensino do latim nos nossos dias. De “livro único”, o Compêndio de Gramática
Latina tornou-se um livro único no panorama editorial ao introduzir nas suas páginas, em
contínuas edições, informações que o harmonizaram com os programas oficiais da disciplina.
Demonstram-no o acrescento de notas sobre etimologia ou da lista de verbos frequentes, a
actualização da terminologia gramatical e a reescrita de exemplos feitas ao longo do tempo,
em sucessivas transformações que lhe garantiram a longevidade que legitimamente conhece.
3  Apesar de se apresentar como um “guia de iniciação ao Latim” e não uma gramática

no sentido tradicional, é legítimo considerar um primeiro instrumento de trabalho em que a


morfologia é apresentada, de forma sistemática, em função da etimologia; a sintaxe surge, de
modo sintético e esquemático, reduzida ao essencial.
4  A. A. Borregana foi um dos responsáveis pelos programas de 1993; é autor dos manuais

de latim para o ensino secundário Novo Método de Latim (1.ª ed. do manual para o 10.º ano,
1993; a edição de acordo com os programas actualmente em vigor, de 2001, em parceria com
Ana Rita Borregana, data de 2004, reimpr. 2008). M. A. Almendra, falecida em 2005, foi autora
dos manuais Publius et Terentia (10.º ano, 1999; 11.º ano, 2000), depois de ter sido co-autora,
com José Nunes de Figueiredo, dos métodos Initia Latina (publicado entre 1967 e 1993) e
Initium (1991-1998).
FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 419

oportunidade), o “Preambulum” (pp. 11-12) anuncia o propósito do A.:


“oferecer […] uma gramática nova, cujo objectivo é sistematizar de forma
desempoeirada os tópicos essenciais para a leitura de textos latinos em
prosa e em verso”5 (p. 11). Para tal, a gramática organiza-se em duas
secções linguísticas (Morfologia e Sintaxe) e uma terceira de Varia (que
é mais propriamente um conjunto de anexos), antecedidas do referido
“Preambulum”, “Abreviaturas, sinais e convenções” (pp. 13-15) e de capí-
tulos introdutórios (“Introdução à língua latina”, pp. 17-39, “Noções básicas
de pronúncia”, pp. 41-59).
Ao longo da NGL nunca fica completamente claro o tipo de novidade
(que se anuncia desde o título) que a obra propõe, nem onde esta gramá-
tica a pratica: Lourenço não se filia explicitamente em nenhuma escola lin-
guística contemporânea e não promove verdadeiramente uma renovação da
análise gramatical do latim. De facto, ao apoiar-se continuamente na gramá-
tica de Kühner e Holzweissig6, de 1912, a experiência de leitura da NGL
conduz o leitor para uma análise linguística anterior à Primeira Grande
Guerra e, por consequência e surpresa, alheia aos desenvolvimentos da lin-
guística como ciência, que o A. parece reduzir a questões de “terminologia”7.
Lourenço apresenta, portanto, em 2019, uma gramática como se Chomsky
nunca tivesse existido.
Sendo uma escolha consciente do A. a inscrição da obra no conjunto de
instrumentos didácticos, a NGL não concorre, assim, com obras como as e
J. N. Adams8, Baldi e Cuzzolin9, Baños10, Conte, Berti e Mariotti11, Danckaert12,

5  As citações não são fiéis à norma ortográfica da NGL, redigida segundo o Acordo Orto-

gráfico de 1990. Ao citar o latim, usarei o v ramista em vez de u.


6  A gramática de Kühner é considerada “a melhor gramática de latim alguma vez produ-

zida” (p. 74) e “A maior autoridade sobre a gramática latina” (p. 163). Em momento algum se
problematiza a decisão de recorrer a uma obra que, repleta de qualidades, se encontra cienti-
ficamente ultrapassada em muitos aspectos (não por acaso, a sintaxe de Pinkster pretende ser
a sua actualização). Igualmente questionável é a afirmação, a propósito da grafia original de
hic: “Há bastante incerteza sobre o assunto” (p. 222), remetendo para esta gramática. Não se
compreende, portanto, qual a relevância, numa gramática escolar com a profundidade desta,
de tal tipo de informação.
7  O A. confessa sem rebuço: “Um pensamento que certamente já terá ocorrido a quem

está a ler este livro é que a terminologia gramatical usada é ‘conservadora’. A razão para isso é
que não é útil aplicar ao ensino e à aprendizagem do latim o último grito (seja ele qual for) no
campo da terminologia gramatical: em primeiro lugar, porque o que conta hoje como último
grito será certamente substituído por outra coisa qualquer daqui a uns anos; em segundo lugar,
porque as grandes obras de consulta para o estudo do latim e do grego, as quais, mais cedo
ou mais tarde, todos os helenistas e latinistas têm de consultar […] usam a terminologia tradi-
cional. […] É a opção mais sensata” (pp. 224-225). Ao aceitar esta apreciação, estaríamos a
impedir o avanço científico da linguística ou a afastá-lo e a excluí-lo do ensino, o que não pode
ser admitido.
8  Na bibliografia, aparecem citadas as obras The Regional Diversification of Latin 200 BC-

-AD 600 (Cambridge, Cambridge University Press, 2007) e An Anthology of Informal Latin, 200
BC-AD 900 (Cambridge, Cambridge University Press, 2016), eventualmente usadas na recolha
de exemplos. Em falta, encontra-se, pela importância que a NGL atribui à questão da norma e
desvio, Social Variation and the Latin Language (Cambridge, Cambridge University Press, 2013).
9  Ph. Baldi, P. Cuzzolin (edd.), New Perspectives on Historical Latin Syntax. Vol. 1: Syntax

of the Sentence; vol. 2: Constituent Syntax: Adverbial Phrases, Adverbs, Mood, Tense; vol. 3:
420 RICARDO NOBRE
101112

Ernout e Thomas13, Lavency14, Oniga15, Panhuis16, Touratier17 nem Väänä-


nen18. Aliás, de obras de linguística contemporânea, a bibliografia (de que
falarei mais adiante) apenas regista a Oxford Latin Syntax, de Pinkster19.
No entanto, a escolha de não adoptar modelos de análise desenvolvidos
pela linguística contemporânea não é um defeito metodológico per se, dado
que se adequa ao tipo de ensino das línguas clássicas no nosso país, onde
o divórcio entre os departamentos de linguística e de estudos clássicos nas
universidades continua a afastar os latinistas da investigação que a maioria
dos autores citados no parágrafo anterior tem realizado. Assim, se o traba-
lho de Lourenço se ajusta ao público a que se destina, resta esclarecer em
que medida a NGL cumpre de forma mais eficaz os objectivos enunciados
que as gramáticas já existentes.
Pode dizer-se que uma das maiores qualidades da NGL é a quase
ausência daquilo a que, com o Padre Rafael Bluteau, se poderia chamar
“geringonça”: “linguagem inventada por gente da mesma profissão, ou par-
cialmente, para que ninguém os entenda, quando falam”20. Ainda assim,
mesmo que não se fale de política21, há momentos em que a “geringonça” é
necessária, sobretudo numa obra desta natureza: o vocabulário técnico e a
terminologia científica traduzem conceitos precisos e rigorosos, sem ambi-
guidades ou segundas leituras, a menos que os próprios sentidos derivem
metonimicamente (como aconteceu com o próprio termo “geringonça” e
como sucede com muita da terminologia gramatical obsoleta, em todas as
línguas ocidentais). Assim, se são de saudar passos em que a NGL se pode
orgulhar de ser uma gramática “desempoeirada” por não se exceder em
preciosismos terminológicos não essenciais à boa compreensão da língua,
a verdade é que o leitor – experiente na língua ou não – sente a falta de um
discurso metalinguístico rigoroso, muitas vezes substituído por formulações
como “Estas categorias [genitivo objectivo e genitivo subjectivo] são mais

Constituent Syntax: Quantification, Numerals, Possession, Anaphora; vol. 4: Complex Sentences,


Grammaticalization, Typology, Berlim, De Gruyter Mouton, 2009-2011.
10  J. M. Baños Baños (coord.), Syntaxis del Latín Clássico, Madrid, Liceus, 2009.
11  G. B. Conte, M. Berti, E. Mariotii, La Sintassi del Latino, Florença, Le Monnier, 2006.
12  L. Danckaert, The Development of Latin Clause Structure: A Study of the Extended Verb

Phrase, Oxford, University Press, 2017.


13  A. Ernout, F. Thomas, Syntaxe latine, Paris, Klincksieck, 2002.
14  M. Lavency, Vsus: Grammaire latine, 2.ª ed., Louvain-la-Neuve, Peeters, 1997.
15  R. Oniga, Latin: A Linguistic Introduction, trad. N. Schifano, Oxford, Oxford University

Press, 2014.
16  D. Panhuis, Latin Grammar, Ann Arbor, The University of Michigan Press, 2009.
17  Ch. Touratier, Syntaxe latine, Louvain-la-Neuve, Peeters, 1994.
18  V. Väänänen, Introduction au latin vulgaire, Paris, Klincksieck, 2006.
19  Esta obra é mencionada, p. 271, para confirmar o uso de um conjuntivo, dali colhendo

um exemplo, e citada, p. 302, a propósito da classificação de um genitivo com o verbo sum.


20  J. P. Silvestre, op. cit., p. 43.
21  Como por exemplo se lê no romance O Milagre Segundo Salomé, de José Rodrigues

Miguéis (Lisboa, Estampa, 1982): “o problema é essencialmente económico, mas tudo depende
da fórmula política. Se não for dentro da geringonça parlamentar, há que ir buscá-la fora dela”
(p. 287; cf. p. 397).
FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 421

difíceis de entender, pois constituem, de certo modo, um artificialismo dos


gramáticos” (p. 303). O leitor fica na dúvida se a diferença entre sujeito e
complemento directo é um artifício gratuito dos gramáticos22.
Uma obra de metalinguagem deveria usar os termos técnicos deste
campo do saber. A mestria do autor revelar-se-á na forma como a descodi-
fica, não no facto de a ocultar, sob pena de a obra poder ser útil apenas
a curiosos e não se instituir como uma referência. Por isso, é surpreen-
dente encontrar informação ao longo das páginas da NGL referida como
“curiosidades” (duas vezes na p. 200), quando a descrição da língua poderia
ser mais neutra. Além disso, seria necessário mais rigor na formulação de
alguns enunciados que os torna inexactos: por exemplo, ao falar do impe-
rativo de nolo, diz-se: “é a partir dele (+ infinitivo) que se forma o impera-
tivo negativo” (p. 202), quando o que se deveria ter escrito era “que se pode
formar o imperativo negativo”, visto que existem outros modos de expressar
a ordem negativa (como é ensinado na p. 348).
Simultaneamente, o A. segue a tradição das gramáticas latinas em
português, que nem sempre têm uma explicação clara de estruturas e fenó-
menos linguísticos, quando, para compreender uma língua com as caracte-
rísticas do latim (declinável, com uma enorme flexibilidade de colocações
e a utilização de constituintes descontínuos23), é preciso aprender um con-
junto de informação gramatical que permita fazer a ligação entre a forma
física da palavra e a função sintáctica na frase. Deste modo, no tratamento
da sintaxe, não é garantido que o apelo intuitivo a práticas linguísticas em
português seja suficiente para operar uma leitura funcional de um texto
latino. Isto é mais perturbador quando os alunos da disciplina ou os auto-
didactas não costumam ter consciência muito clara do que são o sujeito e
o predicativo do sujeito, como se distingue este do complemento directo,
da diferença entre advérbios e adjectivos ou entre preposições e conjunções
– estas muito simplesmente definidas como “as ‘dobradiças’ que permitem
a articulação das frases” (p. 256): não se menciona que as conjunções coorde-
nativas articulam sintagmas com o mesmo estatuto sintáctico e não apenas
orações (termo que o A. funde com o conceito de “frase”).
Lourenço também não diferencia com clareza orações coordenadas
de subordinadas nem conjunções coordenativas de subordinativas. Aliás, a
definição de oração subordinada não é adequada ao conhecimento linguís-

22  Noutros momentos, a gramática veicula coloquialismos inusitados numa obra desta

natureza: “frase latina escrita às três pancadas” (p. 66); “mas ‘no terreno’, quando estamos a
ler um texto latino” (p. 89; cf. p. 279), “foi algo que nunca lhes passou pela cabeça” (p. 92),
“grafias bem estrambólicas” (p. 99), “ocasionou uma verdadeira festa de formas morfológicas
alternativas” (p. 121), “Para sossegar quem acabou de se surpreender com este panorama”
(p. 137), “forma ‘unissexo’” (p. 143, para falar em comum de dois), “encontramos formas
desconcertantes” (p. 220), “À morfologia […] ‘chega-se lá’ por intuição” (p. 253), “pôr tão cedo
quanto possível ‘as mãos na massa’ no que toca à leitura em latim” (p. 273), “Quem leu até
aqui este capítulo e pensou ‘como é que eu vou meter isto tudo na cabeça?’ pode consolar-se”
(p. 319), etc.
23  Infelizmente, sobre a ordem das palavras em latim a NGL nada tem a dizer. Por isso

também não é de estranhar a ausência de J. Marouzeau (L’ordre des mots en latin. 4 vols., Paris,
Les Belles Lettres, 1922-1953), de Panhuis ou de Danckaert (obras citadas) na bibliografia.
422 RICARDO NOBRE

tico que temos. Por meio de exemplos em português, afirma-se de forma


inexacta: “A oração introduzida por ‘quando’ está subordinada à ante-
rior (a principal ou subordinante), porque a oração de ‘quando’ não pode
fazer sentido independentemente da oração a que está subordinada. A frase
[= oração] ‘a população fechou as portas ao imperador’ faz sentido sozinha;
mas a frase [= oração] ‘quando soube da sua chegada’ não funciona como
enunciado independente” (p. 256, sublinhado meu). Cunha e Cintra
(o melhor modelo de gramática tradicional da língua portuguesa) ensinam
que “as orações subordinadas funcionam sempre como termos essenciais,
integrantes ou acessórios de outra oração”24 e que, nessa medida, “o perío-
do composto por subordinação é, na essência, equivalente a um período
simples. Distingue-se apenas o facto de os termos (essenciais, integrantes e
acessórios) deste serem representados naquele por orações”25. Assim sendo,
oração subordinante é aquela em que pelo menos um dos constituintes
tem a forma de uma oração subordinada: por isso, no exemplo citado de
Lourenço, é também problemático que a definição de oração principal
pareça coincidir com a de subordinante, pois uma frase pode ter várias
orações subordinantes, diversas subordinadas, mas só uma principal (que
pode ser, claro, subordinante). Ao mesmo tempo, ao avançar a hipótese
de que a oração subordinada pode ser eliminada sem prejuízo da inteligi-
bilidade do enunciado subordinante e que a oração subordinada não faz
sentido sozinha, Lourenço admite que uma frase pode ocorrer sem sujeito
ou complemento directo – ou seja, se for uma oração subordinada substan-
tiva26. Na verdade, quando muito concederíamos que apenas a eliminação
das orações adverbiais ou circunstanciais, ou seja, com funções de modi-
ficador (ou adjunto, satélite ou, mais tradicionalmente, complemento cir-
cunstancial), não compromete a gramaticalidade da oração subordinante27.

24  C. Cunha, L. F. Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa,

Sá da Costa, 1999, p. 594. Depois de distinguir orações subordinadas de coordenadas com


base no critério de dependência, também A. G. Ferreira e J. N. de Figueiredo (Compêndio de
Gramática Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1995, p. 39) afirmam que orações subordinadas
substantivas são as que “desempenham as funções próprias do substantivo, isto é, podem servir
de sujeito, complemento directo, complemento indirecto, aposto, predicativo e determinativo”.
Almendra e Figueiredo não definem “oração subordinada”, mas afirmam, por ex., que as
orações completivas de quod “acompanham como sujeito ou complemento” determinados
verbos (Compêndio de Gramática Latina, Porto, Porto Editora, 2003, p. 191), e, nas orações
infinitivas, distinguem as que desempenham uma função de sujeito das que são seleccionadas
como complemento de verbos (pp. 194-195). Lourenço usa um vocabulário mais impreciso
quando afirma que uma oração subordinada depende de um verbo (p. 263), sem esclarecer que
esse tipo de dependência tem que ver com o facto de o verbo seleccionar (para usar o termo
aceite na linguística moderna; na gramática tradicional dir-se-ia “pedir”) a oração como sujeito
ou complemento directo.
25  Cf. C. Cunha, L. F. Lindley Cintra, op. cit., p. 596.
26  Se a oração subordinada desempenhar uma função sintáctica de sujeito ou de com-

plemento (directo, indirecto, oblíquo) – ou seja, se for uma oração subordinada substantiva –
numa outra oração (subordinante), ela não pode ser eliminada sem prejuízo da gramatica-
lidade da frase.
27  É por isso que as orações mais típicas que desempenham funções de modificador

(chamadas adverbiais ou circunstanciais) exibem como característica grande mobilidade na


FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 423

No capítulo intitulado “Guia prático de orações subordinadas”, estas


surgem pela ordem: infinitivas (pp. 321-326), finais (pp. 326-328), consecuti-
vas (pp. 328-330), condicionais (pp. 330-334), causais (pp. 334-335), tempo-
rais (pp. 335-337), concessivas (pp. 337-339), comparativas (pp. 339-340),
relativas (pp. 340-342). Embora sejam substantivas como as infinitivas,
merecem capítulo à parte as orações interrogativas indirectas (tratadas em
conjunto com as directas, pp. 343-346); existe outro para as ordens directas
e indirectas (pp. 347-350) e um outro para as orações subordinadas substan-
tivas completivas (que nunca recebem esta classificação) de quin, quominus
e seleccionadas por verbos de receio ou impessoais (um só capítulo,
pp.  351‑357). Nota-se, assim, um desencontro desta gramática com outras
ferramentas didácticas tradicionais, que incluem justificadamente capítulos
sobre as orações completivas de ut (a sintaxe de Woodcock, que serve de
referência para Lourenço, trata este tópico no “discurso indirecto”).
Falta, ainda, na NGL o tratamento de orações com o verbo nas formas
não-finitas além de infinitivo (referidas apenas como completivas); destas,
só as orações participiais são tratadas sob a designação de “ablativo abso-
luto”, mas não no âmbito da subordinação, apesar de este exibir caracterís-
ticas da subordinação adverbial28.
Tendo em atenção estas imprecisões, lacunas e omissões29, de que
resulta uma problemática organização das matérias, os capítulos sobre
sintaxe são os mais decepcionantes da NGL. No entanto, há um conjunto
de inexactidões que precisam de ser corrigidas logo que seja possível: no
quadro-síntese das orações coordenadas não figuram as conjunções disjun-
tivas (p. 257) e no quadro das subordinadas não se incluem as comparativas
(p. 258); as orações “causais” não são coordenadas (p. 260, onde o A. porven-
tura quereria escrever “explicativas”); não são mencionadas as orações
disjuntivas (pp. 260-262, atendendo a que as copulativas foram tratadas nas
pp. 158-159); na página 337, foi um lapso classificar como oração temporal
o exemplo oderint dum metuant porque dum metuant é uma oração condi-
cional30; na mesma página, em nota, o A. usa o adjectivo “antigramatical”

frase. Ainda assim, nem todas as orações adverbiais podem ser eliminadas sem prejuízo da
gramaticalidade da oração subordinante: é o que acontece com orações subordinadas que se
anunciam na subordinante por meio de correlativos – orações subordinadas comparativas e
consecutivas (e que não são adverbiais típicas: Ch. Touratier, Grammaire latine: introduction
linguistique à la langue latine, Paris, Éditions Sedes, 2008, pp. 220-227, considera as orações
comparativas e consecutivas como expansão do grupo adjectival porque têm a função sintáctica
de complemento do adjectivo) – e nas estruturas condicionais mais complexas em que a apódose
e a prótase funcionam com regras específicas.
28  Cf. A. Cart, P. Grimal, J. Lamaison, R. Noiville, Grammaire Latine, Paris, Nathan,

1998, p. 145; Ch. Touratier, Syntaxe latine, pp. 655-659; Ch. Touratier, Grammaire latine,
pp. 227-228, B. L. Gildersleeve, G. Lodge, Latin Grammar, Wauconda, Bolchazy-Carducci Pub-
lishers, 2003, pp. 426-428; e L. Sausy, Grammaire latine complete, Paris, Eyrolles, 2015, p. 261.
29  O A. compromete-se a fazer um “o tratamento da sintaxe […] pragmático e sintético,

evitando propositadamente informação redundante e secundária” (p. 272), mas os aspectos


aqui focados não são menos que essenciais.
30  Como se lê nas sintaxes de A. Ernout, F. Thomas (p. 391) e de J. M. Baños Baños (p. 659),

além da gramática de M. A. Almendra, J. N. de Figueiredo (p. 205).


424 RICARDO NOBRE

em vez do que corre mais frequentemente na linguística, “agramatical”; na


mesma nota, fala-se de as “gerações mais antigas” considerarem erradas
construções concessivas com indicativo, mas na história da nossa língua
encontram-se exemplos de concessão com indicativo até ao século XIX. Além
disso, actualmente, as orações subordinadas concessivas também admitem
indicativo quando são introduzidas por “mesmo se” ou “inclusive se”31.
Observando os capítulos da secção “Morfologia”, nota-se que na NGL
a ordem dos casos nos paradigmas de declinação é (como em Almendra
e Figueiredo): nominativo, vocativo, genitivo, acusativo, dativo e ablativo.
A ordem antiga, preferida na América do Norte (adoptada por Allen e
Greenough, Kennedy ou Wheelock; nas gramáticas portuguesas, seguida
por Freire), é: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, ablativo e vocativo.
Na Europa, Cart et al.32, Gaillard e Cousteix33, Griffin34, Guisard e Laizé35,
Morwood36, entre outros e, em Portugal, Borregana e Lopes seguem a
ordem nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e ablativo. Usada
nos métodos (europeus) Ecce Romani, Cambridge Latin Course, Oxford Latin
Course e Lingua Latina Per Se Illustrata parece ser a ordem pedagogicamente
mais eficaz porque junta o maior número de casos com terminação igual
(e por isso melhor para a memorização). Os capítulos sobre a sintaxe dos
casos têm, todavia, uma disposição diversa: acusativo (pp. 288-294), dativo
(pp. 295-300), genitivo (pp. 301-308), ablativo (pp. 309-315).
Apesar de se ter mencionado a posição do vocativo, a verdade é que
Lourenço elimina este caso “para não sobrecarregar os paradigmas desta
gramática com informação redundante” (p. 67)37. Do ponto de vista pedagó-
gico, pode ser perniciosa esta eliminação, sendo aconselhável escrever o seu
nome ao lado do nominativo, como faz a gramática de Griffin.
Nos paradigmas de declinação, depois do modelo flexionado, surgem
“Outros substantivos importantes desta subcategoria”: listas de palavras
enunciadas com significado e género, que resulta numa redundância rela-
tivamente ao vocabulário final. Merece também nota o facto de, nas tabelas
de declinação e de conjugação, não sobressaírem graficamente as formas
latinas, que estão em itálico, enquanto o que não é para referência nem
memorização (categorias de género, número, caso, tempo, modo, etc.) está
em negrito e em versaletes; causa ainda estranheza as tabelas de flexão
verbal terem espaços em branco (se não existe futuro do conjuntivo, não há
necessidade de haver lugar para ele na tabela).

31  F. Oliveira, “Modalidade e Modo”, in Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho,

2003, p. 265.
32  A. Cart, P. Grimal, J. Lamaison, R. Noiville, op. cit.
33  J. Gaillard, J. Cousteix, Grammaire du latin, Paris, Nathan, 1992.
34  R. M. Griffin, Cambridge Latin Grammar, Cambridge, Cambridge University Press, 2008.
35  Ph. Guisard, Ch. Laizé, Grammaire nouvelle de la langue latine, Paris, Bréal, 2001.
36  J. Morwood, A Latin Grammar, Oxford, Oxford University Press, 1999.
37  T. Janson (A Natural History of Latin, Oxford, Oxford University Press, 2004), J.-F. R.

Mondon (Intensive Basic Latin: A Grammar and Workbook, London, Routledge, 2015) e
J.  Morwood (op. cit.) são outros exemplos recentes desta prática. No caso de Lourenço, é
um estranho critério quando noutros pontos a gramática não tem escrúpulo em mostrar-se
redundante (por ex., nas dezasseis páginas sobre o calendário).
FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 425

Ainda quanto ao tratamento das classes de palavras, nota-se que os


capítulos são muito desiguais: há seis capítulos para nomes (designados
“substantivos”) e nove para verbos. Não há qualquer menção de determinan-
tes nem quantificadores (os numerais são um anexo de Varia), que são mais
ou menos confundidos com os pronomes38, a seguir aos quais se posicio-
nam um capítulo sobre adjectivos39 e outro sobre advérbios. Preposições40
e conjunções são (compreensivelmente) tratadas no âmbito da sintaxe; não
há menção de interjeições.
Os capítulos sobre nomes e verbos são exemplares quanto ao desen-
volvimento de questões ligadas à flexão destas palavras, explicadas a partir
da etimologia. Sabe-se que o estudante que se inicia no latim não decora
as declinações e as conjugações mais rapidamente com informação desta
natureza, mas esse estudo terá, pelo menos, uma profundidade histórico-
-linguística que o professor deseja que crie raízes (é por isso legítimo ao
leitor desejar o mesmo tipo de pormenor a respeito de advérbios, conjun-
ções e preposições).
No capítulo “Introdução ao verbo latino” formulam-se declarações
como “não perderemos tempo a explic[ar]” as categorias verbais de pessoa
e número e que “só os verbos transitivos (os que admitem complemento
directo) é que têm sistema completo das duas vozes” (p. 133), embora os
verbos intransitivos também admitam formas passivas. No mesmo capítulo,
lê-se, a propósito da enunciação dos verbos: “Esta é a norma anglo-saxó-
nica. Não vejo utilidade na tradição, seguida noutros países, de acrescentar
a estes quatro elementos a 2.ª pessoa do singular do presente do indicativo
activo” (p. 134). A vantagem que o A. não vê diz respeito, por exemplo, à
maior facilidade com que um estudante diferencia a conjugação de tema
misto da conjugação de tema em consoante ou de tema em i (diferença que
se torna mais intuitiva também nos verbos depoentes). Ainda sobre as dife-
rentes conjugações temáticas, a NGL problematiza: “na realidade, a ideia
de que existem quatro conjugações em latim induz parcialmente em erro,
porque elas só são diferentes no presente, no imperfeito e no futuro” (p. 135).
Assim reduzidas, parece que as diferenças não respeitam à flexão desses
tempos no indicativo, imperativo, infinitivo, conjuntivo, particípios, etc.

38  Quando as palavras que funcionam como pronomes têm função de adjectivo (acom-

panhando o nome) chamam-se determinantes. A tradição gramatical latina em Portugal não


adoptou ainda a designação de quantificador para os “determinantes que designam quantidade”.
39  Não é claro nem evidente o motivo por que os adjectivos não são tratados ao lado

dos nomes.
40  No capítulo (secção de sintaxe) sobre “preposições” (p. 281), o A. afirma que “Em

grego e alemão, as preposições podem reger um (ou mais) de três casos: acusativo, dativo
e genitivo”: esta informação não é relevante, sobretudo porque a conclusão será: em latim,
“as preposições regem somente dois [casos]: acusativo e ablativo” (p. 281). Assim, causa ou
gratia com genitivo não são interpretadas como preposições, mas como posposições (!) apenas
porque não se colocam antes do nome a que se referem (felizmente não se mudou o nome à
preposição usada no meio do sintagma, como em summa cum laude).
426 RICARDO NOBRE

Os capítulos sobre verbos levantam, aliás, várias questões, que assim se


esquematizam:
– O imperativo é tratado numa página, em que se afirma que “a 2.ª
pessoa do plural no imperativo futuro passivo é raríssima; tem poucas ates-
tações na época arcaica […] e desaparece no fim da época republicana”
(p. 137); na página 164, lê-se novamente: “o imperativo é raro no futuro
(raríssimo no futuro passivo)”: se a forma é rara, porquê dar-lhe mais
atenção do que ao vocativo?
– Ao tratar do supino, define-se etimologicamente a palavra (em texto,
desenvolvendo em rodapé com citação de bibliografia), terminando com um
parêntesis: “Em boa verdade, essa explicação teórica não ajuda especial-
mente na compreensão do supino” (p. 141). Teria, provavelmente, sido mais
prudente a definição etimológica de defectivo (a propósito dos verbos, p. 205)
ou depoente41 (p. 210), tendo em vista compilar “informação que possa, real-
mente, ser útil” (p. 11)42.
– Ao afirmar sobre os particípios “declinam-se e usam-se como adjec-
tivos” (p. 143), esquece-se o seu uso como verbo, núcleo de oração, com
um sujeito e que selecciona complementos, que é todavia mencionado na
página 358.
– É certo que amare equivale ao nominativo de um paradigma que se
completa com o gerúndio (p. 140), mas também é verdade que o gerúndio
no acusativo não tem a função de complemento directo (pois é essa também
uma das funções do infinitivo), indicação ausente do corpo da NGL.
– A informação é excessivamente segmentada no tratamento do gerun-
divo (p. 144), que tem um parágrafo inteiro (numerado) a informar que em
mais quatro páginas se falará da substituição do gerúndio pelo gerundivo;
pelo contrário, ao tratar do ablativo absoluto (pp. 271-272) não se informa o
leitor de que se voltará a referir a construção nas páginas 312-313. Quando
começa o capítulo sobre o futuro, afirma-se: “Na p. 149, vimos que a razão
pela qual o conjuntivo em latim (e em grego) não tem futuro é que, em fase
antiquíssima da língua, o conjuntivo era ele próprio uma forma de futuro”

41  Sobre os verbos depoentes (pp. 210-213) parece faltar informação essencial na prepa-

ração do leitor: em momento nenhum se diz que são verbos com sintaxe de voz activa (“sentido
activo”, p. 210, pode não ser suficiente), com um sujeito que “pratica” a acção e um comple-
mento directo quando são verbos transitivos (e não agente da passiva ou sujeito no qual recai a
acção, como sucede nas construções passivas).
42  Noutros momentos, há observações que parecem extemporâneas, como a informação

de que “No século V d. C., um bispo cristão chamado Agrécio compôs um tratado intitulado
De Orthographia. Não deixa de ser sintomático que, no tocante a esta questão, ele tenha dado
a explicação errada ao afirmar que é no conjuntivo perfeito que o -i- é breve” (p. 152). Talvez
sejam também desnecessárias notas como esta, a propósito da forma “dêictico”: “Nunca é de
mais [sic] sublinhar que ‘deítico’, como se lê habitualmente, ostenta uma acentuação errada, já
que o -ei- é um ditongo. As alternativas certas são: ou a grafia etimológica ‘dêictico’; ou então
‘díctico’; ou ainda, para quem não pronuncia o ‘c’, ‘dítico’” (p. 221, nota); ou ainda a nota da
p. 253 onde se lê: “Claro que a intuição não constitui, só por si, um fundamento sólido na abor-
dagem à morfologia do latim. Basta pensar na seguinte tradução ‘intuitiva’, com que me ri às
gargalhadas há muitos anos, do primeiro verso da Eneida: ‘A arma, o varão e o cano que o meu
primo trouxe de Tróia’”.
FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 427

(p. 163). Estas remissões internas fragmentam a exposição e desviam a


atenção do leitor.
– Não haverá vantagem em enunciar o verbo sum com o particípio
futuro (p. 146); na página 147, o leitor sente a falta da justificação da origem
das formas do verbo ser em português (não que sejam necessárias numa
gramática de latim, mas o A. alimenta essa curiosidade com as referências
ao grego, ao francês e ao italiano43).
– Em dois parágrafos da página 148, o A. acrescenta informação rele-
vante sobre formas arcaicas do presente do conjuntivo do verbo sum (sem
sobrecarregar a gramática de informação quase irrelevante para a leitura
de textos literários clássicos e pós-clássicos), mas, na página 150, não se
explica a formação do imperfeito do verbo sum; na mesma página, lê-se que
o morfema -va- do imperfeito do indicativo português provém de -ba- em
latim, mas não é justificado o que aconteceu às nossas segunda e terceira
conjugações, que não exibem essa marca morfológica.
– Na quantidade e pormenor de informação, causa estranheza, uma vez
mais, que se considere pertinente afirmar que a desinência -ere (por -erunt)
no perfeito do indicativo está “bem documentada no latim da época repu-
blicana (em inscrições e no SCdB)” (p. 176), presente ainda nalguns poetas,
mas não se diga que esta é a terminação que se encontra em autores como
Salústio e Tácito (que não usa a outra).
– Na consideração dos perfeitos formados por alongamento da vogal,
não há comentário ou explicação de mudança de timbre de ago para egi,
frango para fregi ou facio para feci (mantendo lavo, lavi ou sedeo, sedi a
mesma vogal, alongando-a).
– Com o argumento de se pretender “evitar a controvérsia quanto à sua
nomenclatura”, é ambíguo que se chame “vogal breve” à vogal de ligação
(p. 159, em nota; na p. 168 é claro que onde se diz que “o latim desenvolveu
a nossa já conhecida vogal breve” deveria ler-se “vogal de ligação”). Não
parece haver controvérsia (na linguística contemporânea nem na gramática
tradicional portuguesa) no que respeita a “vogal de ligação”; com efeito, se
o A. não viu necessidade de distinguir “índice temático” de “vogal temática”,
estas observações quanto à vogal de ligação permanecem sem fundamento.
Já se mostrou que a gramática exibe fragilidades do ponto de vista da
linguística teórica. Em alguns passos, todavia, parece que apenas a tradição
portuguesa ou francesa (fora do campo de estudo anglo-saxónico e germâ-
nico) é alvo de crítica: “Em relação aos verbos, utilizo “tema” de forma
simplificada, como equivalente ao termo inglês stem. Poder-se-ia decompor
uma forma como amas em radical am + vogal temática a + desinência -m44;

43  Existem muitas situações em que se recorre ao grego para explicar algum aspecto da

morfologia latina (por ex., pp. 92, 145, 179), o que é um erro metodológico, embora reconheça
que poderá suscitar a curiosidade do leitor quanto ao grego (se bem que, sem conhecimento
do alfabeto, de nada lhe serve). É pouco crível que esta quantidade de informação sobre uma
língua que o leitor desconhece e que não está a aprender ajude a perceber o latim que está
a estudar.
44  Trata-se de uma gralha, pois a desinência pessoal de amas é -s.
428 RICARDO NOBRE

ou, de acordo com outras teorias, radical ama + desinência -m. Não que-
rendo entrar nessa discussão, opto por manter a terminologia tão simples
quanto possível” (p. 159, em nota45) – mas a simplicidade não pode produzir
ambiguidade e incerteza.
Noutro lugar, verifica-se a confusão entre palavras formadas por com-
posição e por derivação: respondeo não é composto de spondeo (p. 178), mas
seu derivado. Os verbos “compostos de sum” (p. 194)46 ou “compostos de eo”
(p. 199) são na realidade igualmente derivados. São derivadas todas as pala-
vras que se formam com acrescento de prefixo e de sufixos, e compostas as
palavras formadas por mais do que um radical (tanto na gramática tradi-
cional como na linguística contemporânea). Nesse aspecto, a NGL, no capí-
tulo sobre substantivos compostos, ao subcategorizar “Substantivos com-
postos em que ambas as partes constituintes declinam” e nomes “em que só
uma das partes constituintes declina”, mostra que composição é diferente
de derivação.
No que respeita à classe dos pronomes, a terminologia desta gramá-
tica é a mesma do período criticado na introdução: “pronome interrogativo
de função adjectival” (pp. 227, 228) em vez de “determinante interrogativo”
era como se dizia no ensino do Estado Novo, tal como “adjectivos prono-
minais”. Como não identifica os quantificadores com a classe correcta, o
A. apresenta-os deste modo: “Trata-se de um grupo de vocábulos que apre-
sentam a excentricidade de misturar, no singular, a 2.ª e a 3.ª declinações”,
“excentricidade […] partilhada com os numerais” (p. 236), ou seja, repita-se,
a classe de quantificadores.
Nos pronomes pessoais, não é claro o objectivo com que se comparam
as formas do sânscrito, do grego, do latim, do alemão e do inglês. Se a gramá-
tica serve o propósito de explicar a língua latina, mesmo que recorra a
algumas informações etimológicas, fazer disso um quadro, que é introdu-
zido por uma formulação como “a reconstrução teórica […] esbarra contra
a multiplicidade de formas” (p. 214) parece apenas excessivo.
Não é explicado o conceito de pronome reflexo (pp. 218, 265), noção
que um professor de Latim sabe como é difícil para os alunos compreen-
derem. O mesmo se diga a respeito do pronome relativo, cujo conceito não é
esclarecido. Seria ainda de repensar a enunciação da regra de concordância
segundo a qual “O pronome relativo concorda com o antecedente em género
e número, mas surge no caso exigido pela função sintáctica desempenhada
na oração” (p. 340), reformulando-a para a sua justificação: o pronome rela-
tivo toma o género, número e caso da palavra que substitui, se ela estivesse
expressa.
Só depois dos pronomes surge o capítulo dos adjectivos (pp. 231-242),
no qual não se diz como se enunciam, mesmo que essa informação tenha

45  Na p. 342, “oração relativa de caracterização” (uma oração relativa com função sintác-

tica típica de adjectivos) merece uma nota de rodapé onde se lê: “Na terminologia anglo-saxó-
nica, ‘relative clause of characteristic’”.
46  Os derivados de sum não surgem completamente enunciados e por isso o leitor não é

informado de que eles não têm particípios.


FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 429

sido dada com pormenor a propósito dos nomes e dos verbos (criando entro-
pia com enunciações semelhantes, em particular com a dos particípios e dos
pronomes possessivos). Dos graus dos adjectivos apenas são mencionados o
comparativo e o superlativo de superioridade (não se faz menção de que
existem outros). Em página e meia, surgem informações sobre o superlativo
de superioridade dos adjectivos da 1.ª classe terminados em -er e a indi-
cação de que facilis, difficilis, gracilis, humilis, similis e dissimilis têm dois
ll nesse grau (sem dizer porquê47). Desafortunadamente, nada se diz sobre
o superlativo relativo de inferioridade, o comparativo de inferioridade e
igualdade; falta a distinção entre superlativo absoluto e superlativo relativo.
No capítulo sobre advérbios, fala-se de “advérbios formados a partir
de adjectivos” (p. 243) sem se esclarecer que são advérbios de modo. Depois
da formação de advérbios a partir de adjectivos, o A., que deu abundantes
informações etimológicas a propósito dos nomes, não explica a origem de
advérbios como diu, iam, semper (p. 244). Teria ainda valido a pena distin-
guir os advérbios de negação (p. 246) porque não exibem todos o mesmo
comportamento (na p. 272 mistura-se o advérbio de negação non com a con-
junção ne). No fim, fala-se de “advérbios oxítonos” (pp. 248-249), fundindo
categorias semânticas (“advérbios de limitação”, “advérbios de causa”, etc.)
com aspectos fonéticos; esta lista desses advérbios não tem tradução e não
se menciona que são advérbios de lugar (tratados em mais parte nenhuma
do livro).
“Da língua saem as maledicências, as injúrias, as blasfémias, as men-
tiras, os perjúrios […]. Por outra parte, tem a língua soberanas excelên-
cias, é intérprete do coração, oráculo dos pensamentos, chave da memória,
parteira dos conceitos, vivo prelo das palavras, freio da prudência e leme
da razão”48: a dimensão expressiva das línguas é infinita e as páginas da
NGL de Lourenço são disso testemunho, pois diversas vezes o A. afirma
que a finalidade da aprendizagem do latim é ler textos nessa língua, sobre-
tudo a sua literatura, mas também documentos de outros registos, de onde
resulta a amplitude de exemplos provindos de textos literários, de Énio a
Santo Agostinho49, a que junta, tal como Pimentel, Espírito Santo e Beato50,
Wheelock51 e English e Irby52, alguns exemplos epigráficos e graffiti, no con-
texto das quais se debatem questões de norma e erro (mais correctamente,

47  Torna-se algo incompreensível esta afirmação do Preambulum: “o enfoque está no

‘porquê’ das coisas, porque não me parece motivante pôr diante de discentes uma língua cheia
de complexidades gramaticais sem dar a ver a sua razão” (p. 11).
48  J. P. Silvestre, op. cit., p. 46.
49  Existe um exemplo de Descartes (p. 261) e a antologia de textos inclui o epitáfio de

Gregório V; no entanto, a NGL não explora as alterações do sistema linguístico além de Agostinho,
sendo por isso desadequada para a leitura de textos medievais, renascentistas e modernos.
50  M. C. C.-M. S. Pimentel, A. do Espírito Santo, J. Beato, Sic Incipitur: Curso Elementar

de Latim, Lisboa, Colibri, 1998, pp. 67-108.


51  F. M. Wheelock, Latin, rev. Richard LaFleur, 7.ª ed., Nova Iorque, Collins, 2011.
52  M. C. English, G. L. Irby, Little Latin Reader, 2.ª ed., Oxford, Oxford University Press,

2018.
430 RICARDO NOBRE

deveria porventura falar-se em “desvio” ou “variante”)53. Talvez os exemplos


de oração relativa com indicativo e do falécio pudessem ter sido mais deco-
rosos (nas línguas vivas também há calão, mas não é ensinado na escola).
Ainda assim, e tal como na gramática de Freire, todos os exemplos
da NGL são autênticos (cuidadosamente traduzidos54, sendo marcadas as
quantidades de todas as vogais longas), ao contrário do que, seguindo uma
tendência da tradição francesa, as outras gramáticas escolares portuguesas
têm feito55. Um aspecto muito positivo dos exemplos da secção da sintaxe
diz respeito ao acrescento do vocabulário logo abaixo das frases em latim,
“para permitir uma decifração mais motivante das citações propostas”
(p. 259, nota)56. Tal prática acompanha o paradigma da obra Little Latin
Reader, de onde se retiram alguns exemplos57.
A terceira secção, Varia, inclui um capítulo muito pouco desenvolvido
(e que poderia, como anteriormente mencionado, estar junto de outros quan-
tificadores na Morfologia), acerca dos “Numerais” (pp. 367-370). Talvez o
capítulo sobre “Noções de fonética histórica do latim” (pp. 371‑382) pudesse
ter evitado fazer juízos de valor sobre a pronúncia (cuja descrição deveria ser
um trabalho de fonética e não de estética). Os capítulos “Noções de métrica
latina: poesia”58 (pp. 383-406), “Noções de métrica latina: prosa” (pp. 407-413),
“Datas Romanas” (pp. 414-429), “Abreviaturas romanas” (pp.  430-432),
“Vocabulário essencial da língua latina” (pp. 433-467) e “Antologia de textos”
(pp. 468-495) não tratam de assuntos linguísticos, embora tradicionalmente
muitas gramáticas incluam informações semelhantes em anexos.

53  Seria de questionar a pertinência da inclusão deste tipo de texto, por vezes desviante
da norma, como modelar e representativo das regras da gramática que o estudante necessita
conhecer para ler sem constrangimentos em latim. No entanto, o leitor fica desde cedo com
consciência de que a língua, tal como os romanos escreviam, não tinha o aspecto que se encontra
cristalizado nos livros, tratando-se antes de uma língua sujeita a variações como qualquer
outra. Além disso, é há muito reconhecido o valor didáctico das inscrições como textos de sen-
tido completo, existindo até um método construído com esses textos (M. Hartnett, By Roman
Hands, Indianapolis, Focus, 2012).
54  Mencione-se apenas que o exemplo quo usque tandem, Catilina, abutere patientia

nostra? (p. 211) não traduz tandem (numa obra didáctica a tradução deve ser o mais literal
possível); os exemplos erit ille mihi semper deus (p. 216) e vetus oppidum et nobile (p. 231) não
estão traduzidos.
55  Optando por reduzir os exemplos a expressões mínimas do fenómeno que se pretende

ilustrar, em inícios dos anos 60 do século XX, no sistema de ensino francês, todas as regras
gramaticais passaram a ser representadas por exemplos típicos que sintetizavam as constru-
ções sintácticas. A gramática de H. Petitmangin, revista em 1963 por P. Coussin, é um exemplo
desse fenómeno, parcialmente importado para Portugal por Almendra e Figueiredo.
56  No entanto, nem sempre é apresentado o significado adequado ao contexto do exemplo

(e as frases das pp. 264-265 não têm vocabulário, que regressa a partir da p. 266).
57  Outros são retirados das obras de J. N. Adams, creditadas na bibliografia.
58  Na métrica, a NGL evidencia-se como a melhor síntese em manuais deste tipo

(só A. Traina, G. B. Perini, Propedeutica al Latino Universitario, 6.ª ed., Bologna, Pàtron, 2016,
pp. 251-287 têm uma exposição mais completa). Na bibliografia, sobre métrica e cláusulas
métricas, é de realçar o tratado de Nougaret, citado pela primeira edição de 1948 (em vez da
4.ª edição em vida do autor, em 1986, com correcções).
FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 431

Não se encontraram exemplos de gramáticas com um vocabulário com


as características com que Lourenço elabora o seu “Vocabulário Essencial
da Língua Latina”. Com efeito, Morwood59 e Griffin60 apresentam um voca-
bulário com interesse funcional para a gramática, reunindo léxico usado nos
exemplos e exercícios, e não com o propósito de decorar as palavras. Desde
o início da obra, Lourenço manifesta-se legitimamente preocupado com a
questão da aquisição de vocabulário; no entanto, embora alguns métodos
recentes para a aprendizagem do latim menorizem o tema, a solução pro-
posta pelo A. é decorar uma lista de vocabulário avulso, sem a utilização das
palavras em contexto (a partir do qual uma palavra se compreende, bem
como os seus cambiantes), prática que tem dado poucos resultados posi-
tivos na pedagogia das línguas segundas e parecia ultrapassado. No que
respeita ao latim, acentue-se que o sucesso de métodos como Lingua Latina
Per Se Illustrata, de Hans Ørberg, incide exactamente na forma como o
vocabulário é apresentado, definido por contraste ou associação com outras
palavras que o aluno já conhece e, muitas vezes, recorrendo a ilustrações.
E deste modo, surgindo as palavras diversas vezes ao longo do texto, a aqui-
sição do vocabulário é natural e semelhante à aprendizagem do léxico na
língua materna.
Do vocabulário propriamente dito, poderiam acrescentar-se palavras
com alta frequência de uso: capillus, chorus, cibus, digitus, dominus, inimicus,
libellus, lyra, magister, materia, minister, mora, mundus, musa, natus,
nympha, opera, ora, polus, provincia, pugna, rota, ruina, stella, tenebrae (con-
frontado com Williams61); ou (recolhendo em Gaffiot as palavras fundamen-
tais) aequus, agito, alienus, alius, altus, an, aptus, at, atque, certus, circa,
modo, per, premo, quisque, sensus, signum, sisto, solvo, spiritus, sub, subiicio,
succedo, super, supra, tempero, voco, entre muitas outras. Por seu lado,
interest deveria estar enunciado como intersum e videtur como videor; par
surge enunciado com o genitivo dentro de parênteses, saindo do paradigma
normal que utiliza vírgulas; quin e quominus não têm significado, mas
apenas remissão, enquanto em qui, quae, quod não se remete para o para-
digma de flexão nem para a oração relativa; quod também introduz oração
completiva, mas essa indicação está ausente. Simultaneamente, palavras
que têm a mesma forma que em português poderiam ser facilmente dispen-
sadas (grammatica, poeta, rosa, sol), mesmo que se alegue que a sua inclusão
permite o conhecimento da declinação a que pertencem.
Teria sido mais proveitoso optar por outra estratégia na apresentação
do vocabulário: uma lista de raízes (como em Lewis62, devidamente actuali-
zada), prefixos e sufixos (mas para isso a gramática precisaria de um capí-
tulo sobre formação de palavras). Note-se, por fim, que a definição de alguns

59  J. Morwood, op. cit., pp. 155-171.


60  R. M. Griffin, op. cit., pp. 111-119.
61  M. A. E. Williams, Essential Latin Vocabulary: The 1,425 Most Common Words Occur-

ring in the Actual Writings of over 200 Latin Authors, California, Sophron, 2013.
62  C. T. Lewis, An Elementary Latin Dictionary, Oxford, Oxford University Press, s/d,

pp. 936-952.
432 RICARDO NOBRE

termos ao longo da obra não coincide com os desta lista. Definir parens,
parentis como “parente” (p. 91) parece, por sua vez, desajustado, pois, como
a própria gramática regista na página 455, o sentido é de “progenitor(a)”.
Cornu é traduzido por “chifre” nas páginas 122, 123 e 124 mas por “corno”
na página 439.
Foram já apontadas algumas ausências bibliográficas da NGL; no
entanto, não fora o adjectivo “nova” no título e a promessa de uma “gramá-
tica actualizada”, talvez se dispensasse um comentário demorado às três
páginas de referências bibliográficas63. Em primeiro lugar, é evidente que
a bibliografia desmente as críticas que a gramática faz aos materiais de
que dispomos para a aprendizagem do latim em Portugal: se se condenam
os métodos do tempo de Salazar (compreende-se que se critiquem alguns
textos propostos para leitura ou mesmo a natureza doutrinária de alguns
exemplos, mas de resto é uma observação que excede a dimensão linguís-
tica, pelo que não é este o espaço para a debater), a principal bibliografia da
NGL foi produzida entre o final do século XIX e meados do seguinte.
Estão ausentes as obras recentes que se anunciam como actualizações
dos estudos canónicos (sendo de lamentar, por exemplo, o uso de Buck,
mencionado na p. 149, em vez de Sihler ou de Baldi; Pinkster, que actualiza
Kühner, é, como se viu, subaproveitado). Na página 273, o A. admite que o
estudo da sintaxe latina, “idealmente, deveria ser alicerçado na leitura de
A New Latin Syntax, de E. C. Woodcock”. No entanto, a proposta da NGL
para a sintaxe não segue este modelo, optando pelo de Morwood, de que
por vezes se aproxima textualmente. Também ausente está, como se viu, a
Syntaxe Latine de Ernout e Thomas.
Apesar da importância dada não só à aquisição de vocabulário como
à leitura de textos não canónicos, o único dicionário da bibliografia é o
Oxford Latin Dictionary; Ernout e Meillet não são nomeados como autores
do Dictionnaire étymologique de la langue latine (mencionado nas abrevia-
turas, mas ausente da bibliografia). Sabe-se que todos os dicionários de
latim-português (sobretudo o de Torrinha e o de Gomes Ferreira) têm
problemas metodológicos e limitações, mas quem está a aprender (ou a
recordar) latim poderá não estar disponível para o uso de obras lexicográ-
ficas estrangeiras. Assim, uma nota sobre dicionários seria bem-vinda, tal
como a referenciação dos dicionários de Gaffiot64 e de Conte, Pianezzola
e Ranucci65.
“Tem a língua suas horas; em umas deve calar e deve falar em outras,
mas nunca tem hora para dizer tudo”66: assim também as gramáticas. Esta,

63  As gramáticas latinas em Portugal são parcas em bibliografia, que se resume sobre-

tudo a obras similares, ou seja gramáticas de carácter geral, muitas vezes francesas. Borregana
tem uma página de referências, e o Compêndio de Almendra e Figueiredo deixou de mostrar
bibliografia na edição de 1978.
64  F. Gaffiot, Le Grand Gaffiot: Dictionaire Latin-Français, rev. coord. P. Flobert, Paris,

Hachette, 2000.
65  G. B. Conte, E. Pianezzola, G. Ranucci, Dizionario della Lingua Latina, Florença, Le

Monnier, 2004.
66  J. P. Silvestre, op. cit., p. 47.
FREDERICO LOURENÇO, NOVA GRAMÁTICA DO LATIM 433

apesar das suas 505 páginas, não diz tudo sobre a língua latina, nem este
texto regista todas as objecções metodológicas, científicas e pedagógicas que
a leitura da NGL levanta, nem é esse o seu propósito. Nesse sentido, reco-
nheço que uma leitura alternativa deste livro, enquanto obra de divulgação,
testemunho devoto de um amor à língua, esforço para que o Latim reen-
contre o seu lugar na nossa vida (qualidades que ninguém poderá negar ao
trabalho de Frederico Lourenço) conduziria a conclusões muito diferentes
das que a análise linguística permitiu.
I
COMMENTATIONES

La Antígona de Eurípides y el P. Oxy. 3317 – Carmen Morenilla / Núria Llagüerri. . 9

Más allá de las formas del amor: γάμος y ἔρως en Suplicantes de Esquilo – María
del Pilar Fernández Deagustini............................................................................. 31

Exemplum Pietatis: Lausus in the Aeneid – Lee Fratantuono........................................ 53

There’s something fishy about Philaenis: Martial 9.62 and related epigrams – Daniel
López-Cañete Quiles. .............................................................................................. 69

El prólogo de la Expositio quattuor Euangeliorum atribuida a Jerónimo (CPL 631 y


CLH 65): presentación, edición crítica y comentario – José Carracedo-Fraga. . 93

Le parole del pianto nella poesia di Venanzio Fortunato – Francesca D’Angelo. ....... 119

Le fonti del sesto libro del De rerum naturis: le fondamenta dell’opera di Rabano
Mauro – Camilla Bertoletti................................................................................... 161

La medida del pie romano: nota de crítica textual sobre un problema filológico-mate-
mático de la Repetitio Sexta de Mensuris de Nebrija – José María Maestre
Maestre.................................................................................................................... 191

De muscipulis et caveis. The cage and the mousetrap as pictorical and literary
motifs in neo-latin emblem books – Carlos Pérez González. ............................. 221

La representación simbólica de la paz: la disputa por el patronazgo de Atenas en


los Emblemata (Fráncfort, 1596; Heidelberg, 1600) de Denis Lebey Batilly –
Beatriz Antón. ......................................................................................................... 247

II
STVDIA BREVIORA

The Adjectives ὅσιος and ἀνόσιος referring to Divinities in Euripides – Ana C. Vicente
Sánchez..................................................................................................................... 273

Ov. Met. 8.647: una proposta esegetica – Alessia Maria Scalera.................................. 279

Note testuali a Seneca, De brevitate vitae – Giuseppe Russo. ......................................... 287

Atticism in Plutarch: a μίμησις τῶν ἀρχαίων or diglossia? – José Vela Tejada. ............. 295
552 RERVM INDEX

Marco Aurelio, vida y pensamiento en una tragedia actual – María Luisa Harto
Trujillo..................................................................................................................... 309

Las Vitae XII Caesarum de Suetonio en los florilegios latinos – María José Muñoz
Jiménez...................................................................................................................... 325

Ex obliuionis tenebris. Apuntes sobre la edición veneciana de las obras de Hernán


Ruiz de Villegas – Laura Jiménez Ríos. .................................................................. 339

Nuevos datos sobre la versificación latina de Benito Arias Montano: el libro quinto
de los Hymni et secula – Antonio Dávila Pérez..................................................... 353

Mujer y ejercicios retóricos en los Progymnasmata de J. Micraelio – Jesús Alexis


Moreno García......................................................................................................... 367

El ejemplo de Lucrecia en el De institutione feminae christianae de Juan Luis Vives


– Rosa María Marina Sáez...................................................................................... 381

Recepción clásica en la biosfera. La hipótesis Medea o la vida como enemiga de sí


misma – Helena González-Vaquerizo. .................................................................. 393

The Syria Trojan Women from therapeutic theatre to a cry for action – Sandra
Pereira Vinagre....................................................................................................... 403

III
DISPVTATIO NES

Frederico Lourenço, Nova Gramática do Latim – Ricardo Nobre............................... 417

Juan Gil (ed.), Chronica Hispana saeculi VIII-IX – Rodrigo Furtado........................... 435

Habiller en latin. La traduction de vernaculaire en latin entre Moyen Âge et Renais-


sance – Ana María Sánchez Tarrío. ....................................................................... 447

IV
VARIA NOSCENDA

“Dar un beso” (φίλημα δοῦναι) y “besar” (φιλέω, καταφιλέω) en el Nuevo Testamento:


sus traducciones al latín, gótico y antiguo eslavo eclesiástico – Daniel Ayora
Estevan. .................................................................................................................... 457

V
LIBRI RECENSITI

a)  Edições de texto. Comentários. Traduções. Estudos Linguísticos

Martha Krieter-Spiro, Homer’s Iliad: The Basel Commentary. Book XIV, translated
by Benjamin W. Millis and Sara Strack, edited by S. Douglas Olson. – Claude
RERVM INDEX 553

Brügger, Homer’s Iliad: The Basel Commentary. Book XVI, translated by


Benjamin W. Millis and Sara Strack, edited by S. Douglas Olson – Rui Carlos
Fonseca..................................................................................................................... 481

Luigi Battezzato, Euripides. Hecuba – Ana Alexandra Alves de Sousa........................ 485

Vergílio, Geórgicas, trad. Gabriel A. F. Silva – Ricardo Nobre..................................... 485

Rhiannon Ash (ed.), Tacitus: Annals Book XV – Maria Cristina Pimentel. .................. 487

Juan Antonio López Férez, Galeno. Preparación y constitución de textos críticos, entre-
ga y publicación de obras propias o ajenas – Inmaculada Rodríguez-Moreno..... 489

Riccardo Macchioro, Le redazioni latine della Passio Tryphonis martyris. Traduzioni


e riscritture di una leggenda bizantina – P. F. Alberto. .......................................... 491

Navigatio sancti Brendani. Editio Maior a cura di Rossana E. Guglielmetti. Testo


critico di Giovanni Orlandi e Rossana E. Guglielmetti – P. F. Alberto. .............. 492

Juan A. Estévez Sola (ed.), Chronica Hispana saeculi XII. Pars III. Historia Silensis
– Rodrigo Furtado................................................................................................... 493

E. Pérez Rodríguez (ed.), Las palabras del paisaje y el paisaje en las palabras de la
Edad Media. Estudios de lexicografía latina medieval hispana – P. F. Alberto..... 495

Aldus Manutius, Humanism and the Latin Classics. Edited and Translated by John
N. Grant – Maria Luísa Resende. ........................................................................... 497

Antonio Dávila Pérez, Benito Arias Montano. Apología de la Biblia Regia – Juan
Carlos Jiménez del Castillo................................................................................... 497

Expostulatio Spongiae. En defensa de Lope de Vega, edición y traducción de Pedro


Conde Parrado y Xavier Tubau Moreu – Armando Senra Martins...................... 499

Noël Golvers (ed.), Ferdinand Verbiest, Postulata Vice-Provinciae Sinensis in Vrbe


Proponenda, A blueprint for a renewed SJ mission in China – Arnaldo do
Espírito Santo.......................................................................................................... 501

Literatura-Mundo Comparada: Perspectivas em Português I – Mundos em Português,


coord. geral Helena Carvalhão Buescu; coord. científica do vol. I Helena
Carvalhão Buescu e Inocência Mata; coord. executiva do vol. I Ariadne Nunes,
Flávia Ba, Francisco Carlos Marques, Gonçalo Cordeiro, Miriam de Sousa,
Patrícia Infante da Câmara e Rafael Esteves Martins — Ricardo Nobre............ 503

b)  Literatura. Cultura. História

Antonia Sarri, Material Aspects of Letter Writing in the Graeco-Roman World. 500 BC
- AD 300 – Maria Cristina Pimentel....................................................................... 505

Simon Critchley, Tragedy, the Greeks and Us – Sofia Frade ......................................... 507
554 RERVM INDEX

Milagros Quijada Sagredo, M. Carmen Encinas Reguero (edd.), Connecting Rhetoric


and Attic Drama – Sofia Frade................................................................................ 509

Maria Michela Sassi, The Beginnings of Philosophy in Greece – Simon Noriega-


-Olmos....................................................................................................................... 510

Esther Eidinow, Envy, Poison, and Death: Women on Trial in Classical Athens –
Nereida Villagra. .................................................................................................... 512

Francis Cairns, Hellenistic Epigram. Contexts of Exploration – Ana Lóio..................... 514

David Quint, Virgil’s Double Cross. Design and meaning in the Aeneid – Luís Manuel
Gaspar Cerqueira..................................................................................................... 515

Stephen Harrison, Stavros Frangoulidis, Theodore D. Papanghelis (edd.), Intra-


textuality and Latin Literature – Gabriel A. F. Silva............................................... 517

F. Bessone, M. Fucecchi (edd.), The Literary Genres in the Flavian Age. Canons,
Transformations, Receptions – Ana Lóio. ................................................................ 519

Esteban Calderón Barca, Sabino Perea Yébenes (edd.), Estudios sobre el vocabu-
lario religioso griego – Rui Miguel Duarte.............................................................. 522

Dag Nikolaus Hasse, Amos Bertolacci (edd.), The Arabic, Hebrew and Latin Recep-
tion of Avicenna’s Physics and Cosmology – André Baptista................................. 523

Federica Ciccolella, Luigi Silvano (edd.), Teachers, Students, and Schools of Greek
in the Renaissance – Maria Luísa Resende............................................................. 524

Matteo Salvadore, The African Prester John and the Birth of Ethiopian-European
Relations, 1402-1555 – Maria Luísa Resende......................................................... 525

Raúl López López, Eduardo Álvarez de Palacio (edd.), Humanistas españoles. Arte,
Ciência y Literatura – Manuel José de Sousa Barbosa.......................................... 526

Sandra Rodríguez Piedrabuena, Gréta Kádas, Sata Macías Otero, Kevin Zilver-
berg (edd.), Approaches to Greek and Latin Language, Literature and History –
Catarina Gaspar........................................................................................................ 529

Francisco J. González Ponce, F. Javier Gómez Espelosín, Antonio L. Chávez Reino


(edd.), La letra y la carta. Descripción verbal y representación gráfica en los
diseños terrestres grecolatinos. Estudios en honor de Pietro Janni – Bernardo
Machado Mota.......................................................................................................... 531

Adam J. Goldwyn, Byzantine Ecocriticism: Women, Nature, and Power in the Medi-
eval Greek Romance – Rui Carlos Fonseca............................................................ 532

Donna Zuckerberg, Not All Dead White Men, Classics and Misogyny in the Digital
Age – Sofia Frade..................................................................................................... 537
RERVM INDEX 555

Andrés Pociña Pérez, Aurora López, Carlos Morais, Maria de Fátima Silva,
Patrick J. Finglass (edd.), Portraits of Medea in Portugal During the 20th and
21st Centuries – Ricardo Duarte.............................................................................. 538

c)  Instrumenta

Carlos Márquez, La decoración arquitectónica de Villa Adriana (Material selecto de


los almacenes) – Ángel Urbán................................................................................. 541

Daniela Urbanová, Latin Curse Tablets of the Roman Empire – Catarina Gaspar......... 544

Olivier Guyotjeannin (ed.), L’Art Médiéval du Registre: Chancelleries royales et prin-


cières – Carlos Guardado da Silva.......................................................................... 545
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a) Remissions to pages within the paper are not allowed.
b) Note references:
Books: J. de Romilly, La crainte et l’angoisse dans le théâtre d’Eschyle, Paris, Les Belles Letres, 1959, pp. 120-130;
2nd reference: J. de Romilly, op. cit., p. 78.
Journals: R. S. Caldwell, “The Misogyny of Eteocles”, Arethusa, 6, 1973, 193-231 (vol., year, pp.). 2nd reference:
R. S. Caldwell, loc. cit.
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(ed.), Rencontres de cultures dans la Philosophie Médiévale — Traductions et traducteurs de l’Antiquité tardive
au XIVe siècle, Paris, Les Belles Letres, 1971, pp. 47-64.
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