Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Dos fatos.
A recorrente, no dia 31/01/2018, às 09h05min, conduzia o veículo Logan, placas AAA 0000 –
São Paulo/SP, quando, no cruzamento da Av. Salim Farah Maluf com a Av. Vila Ema, foi autuado
com base no artigo 187, inciso I, do Código de Trânsito Brasileiro, por supostamente “Transitar
em local/horário não permitido pela regulamentação – Rodízio” [1]
Note-se, que a autuação foi feita por meio eletrônico - Radar, sem que, na via onde estava
instado o respectivo instrumento de aferição de velocidade, houvesse sinalização correta que
informasse ao recorrente, onde era o limite da zona de rodízio.
Várias razões são suficientes para concluir-se que o A.I.T. ora atacado, é inconsistente e não
pode ser considerado válido segundo as regras preconizadas pelo Código de Trânsito Brasileiro,
conforme articuladamente abaixo se expõe.
Dessa regra ex lege, extrai-se que a infração só pode der aplicada após o julgamento da
existência dos requisitos formais que emprestam validade ao auto de infração, o que se
confirma pela simples leitura do caput do artigo 281 do Código de Trânsito Brasileiro abaixo
transcrito:
O recorrente transitou no dia dos fatos, vindo pela Av. Professor Luís Inácio de Anhaia Melo,
sentido bairro-centro, adentrando na Av. Salim Farah Maluf, pela alça de acesso da Praça Maria
do Nascimento Silva, conforme ilustra o mapa abaixo:
Na imagem abaixo, fica claro a imagem do acesso e a sinalização existente no local do acesso à
Av. Salim Farah Maluf:
Mais à frente a imagem é a seguinte:
No exato ponto onde o recorrente adentrou na Av. Salim Farah Maluf, vemos a seguinte
imagem:
No primeiro cruzamento à frente, onde está o radar que acusou a infração ora recorrida, ou
seja, cruzamento das Avenidas Salim Farah Maluf e Vila Ema é a situação:
O recorrente, sabendo que era dia de rodízio municipal e que seu carro estava proibido de
adentrar na zona de rodízio, por não ter placas, pensou que não estava em zona de proibição
do trânsito para aquele dia e horário, mas mesmo assim, saiu da zona do Rodízio municipal,
pela Praça Rolim de Moura, ou seja, o primeiro acesso à direita após o cruzamento, caminho
que podemos ver na imagem abaixo:
Esse caminho foi feito para que o recorrente pudesse chegar ao Fórum Trabalhista da Zona
Leste de São Paulo, onde tinha uma audiência judicial agendada (Doc.j.), pois era reclamante
em uma ação trabalhista (Doc.j.), e todo o trajeto daí em diante se deu em zona livre da
proibição.
A figura abaixo demonstra que o recorrente andou na zona limítrofe do rodízio por um curto
espaço, estimado em 200 metros, vejamos:
Tal transgressão ocorreu, de fato, pois como se verifica em todas as imagens apresentadas, que
não existe uma placa sequer indicando que ali se iniciava a zona geográfica do rodízio, ou seja,
na saída da Av. Prof. Luís Ignácio de Anhaia Melo (Sentido bairro-centro), pela Praça Maria da
Penha Nascimento Silva, em direção à Av. Salim Farah Maluf.
Além do percurso insignificante que o recorrente percorreu no limite geográfico da zona de
proibição, logo saindo para uma zona livre de trânsito, não se deparou com qualquer
sinalização que naquele local se iniciava ou terminava a zona de rodízio.
O recorrente realmente pensava que naquele local não havia proibição, tanto que escolheu ir
até ali e mudou o trajeto de seu destino e percorreu uma zona livre de trânsito.
A sinalização existente na Av. Salim Farah Maluf, na altura da Praça Florestan Fernandes bem
mais à frente, possui sinalização indicando o início do rodízio, razão pela qual o recorrente foi
induzido a pensar que a proibição era a partir desse ponto, vejamos as imagens:
As imagens são claras, e vemos que o Poder Público se preocupou em fiscalizar mas não em
informar.
A situação ora narrada é uma verdadeira armadilha, pois sem saber exatamente onde termina
ou onde se inicia a zona de proibição, só se pode pensar em uma indústria bem instalada de
multas de trânsito.
Observa-se que, ainda que a lei preveja expressamente infração por transitar em locais e
horários não permitidos, esta infração está sujeita a Regulamentação, o que não ocorreu no
presente caso, ou mesmo se ocorreu, a sinalização competente não foi instalada no local.
Art. 90. Não serão aplicadas as sanções previstas neste Código por inobservância à sinalização
quando esta for insuficiente ou incorreta.
Sendo assim, no caso concreto, não há o que se falar em imputar multa ao recorrente, uma vez
que em nenhum momento este se deparou com qualquer sinalização que o instruísse de forma
correta e, pela existência de sinalização de início em outro local, foi induzido ao erro.
Ainda, importa frisar que os atos administrativos, para que sejam válidos, devem obedecer o
princípio constitucional da legalidade, devendo seguir estritamente a forma prescrita na lei.
Por oportuno vejamos o conceito, constante do Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro para a
expressão “regulamentação da via”:
Portanto, verifica-se que no rodízio de veículos vigente em são Paulo, o órgão competente de
trânsito, nos termos da Resolução CONTRAN 180/05, está obrigado a implantar a placa de
sinalização denominada R-10, com as devidas informações adicionais necessárias a
regulamentação da restrição de circulação veicular, com o objetivo de se legitimar o disposto
na legislação que implantou o citado rodízio.
A respeito do tema, cumpre salientar o estabelecido na mencionada resolução, a qual aprovou
o Volume I do Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito, com as regras de instalação e
interpretação para toda a Sinalização vertical de regulamentação:
Princípios de utilização: O sinal R-10 deve ser utilizado em área, via/pista ou faixa para proibir o
trânsito de veículos automotores.
Quando utilizado para regulamentar a proibição em determinada (s) faixa (s) deve vir
acompanhado de informação complementar.
Posicionamento na via: A placa deve ser colocada no início do trecho da restrição, à direita ou à
esquerda ou em ambos os lados, conforme o caso.
...
Relacionamento com outras sinalizações: O sinal R-10 pode ser antecedido de sinalização
especial de advertência informando sobre a restrição à frente e/ou placa de orientação
indicando rotas alternativas.
Enquadramento: O desrespeito ao sinal R-10 caracteriza infração prevista no art. 187, inciso I,
do CTB.”
Assim sendo, verifica-se que norma do CONTRAN exige a existência da placa R-10 para
informar, orientar e advertir o condutor acerca da restrição de circulação em determinados
locais e horários imposta pela municipalidade, só assim poderá se configurar a infração do
artigo 187, inciso I, do CTB.
Ademais, ressalta-se que os atos administrativos para terem total validade devem estar
revestidos do princípio da legalidade, instituído no artigo 37 da Constituição Federal, ou seja,
deve seguir estritamente a forma prescrita em lei.
Por fim, há de se observar que o Poder Judiciário já se manifestou a respeito tema em questão,
abraçando a tese aqui ventilada, ao conceder liminar em ação civil pública, em tramite perante
a 10ª Vara da Fazenda Pública (processo nº 583.53.2007.108594-1), ou seja:
Enfim, essas são as razões que impõem o total acolhimento do presente recurso, até porque o
Poder Público, na situação, transgride a lei, impõe uma indústria de multas e, em especial,
ofende frontalmente o artigo 37 da Constituição Federal, pois não age em obediência aos
princípios da legalidade, eficiência e moralidade.
Como se vê nas imagens já apresentadas, quando o recorrente entrou na Av. Salim Farah
Maluf, percorreu aproximadamente 200 metros até sair da referida Avenida, pela Praça Rolim
de Moura.
Note Vossa Senhoria, que o recorrente não apresentou qualquer intenção de transgredir a
legislação de trânsito, tampouco sabia que estava infringindo o rodízio naquele local e a falta
de sinalização ainda permitiu que continuasse pensando assim.
Se o recorrente soubesse que havia transgredido a lei, trafegaria então pela Av. Salim Farah
Maluf, já que seria a rota mais confortável, mas pegou o acesso da Praça Rolim de Moura,
justamente porque conhecia a sinalização de solo colocada na Praça Florestan Fernandes, na
Av. Salim Farah Maluf, um pouco mais à frente.
A falta de conhecimento do delito exclui o dolo, o que por via de consequência lógica, exclui do
delito, tendo em vista a natureza de direito penal das sanções de trânsito.
Diante disso, além de termos uma situação onde a transgressão legal foi ínfima, bem como o
fato que o recorrente estava com severo vício em sua vontade, pois desconhecia a proibição
por conta da transgressão da legislação de trânsito pelo próprio Poder Público, deve o auto de
infração ora guerreado, ser considerado insubsistente, inconsistente e ilegal, devendo ser
cancelado na forma da lei.
5. Dos pedidos.
(i) Que seja recebido o presente recurso sem o pagamento da multa [3] e em todos os seus
termos, pois obedecidos os requisitos do artigo2866 do C.T.B..;
(ii) Que seja dado efeito suspensivo ao auto de infração de trânsito, até o julgamento do
presente recurso, caso a decisão não ocorra dentro do prazo de 30 (trinta) dias, estabelecido
peloparagrafo 3ºº do Artigo2855 do C.T.B.. [4];
(iii) Que seja julgado totalmente procedente o presente recurso administrativo, para
reconhecer a insubsistência, inconsistência e consequente nulidade do A.I.T., por ofensa ao
princípio da legalidade, especificamente aos termos da Resolução1800/05, do Conselho
Nacional de Trânsito – CONTRAN, por não existir no local uma placa de sinalização do tipo R-10
e demais motivos apresentados neste recurso;
(iv) Que a decisão seja devidamente fundamentada, para que a recorrente possa exercer seu
direito ao contraditório e ampla defesa, garantidos pela Constituição Federal l;
(v) Que seja impedida de ser registrada ou apagada dos prontuários da requerente, a
pontuação gerada em seu Prontuário Geral único.
(vi) Que o recorrente seja devidamente notificado da decisão sobre o presente recurso, sob
pena de nulidade.
Nestes termos,
P. deferimento.