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Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática

Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica


Departamento de Engenharia Mecânica
Departamento de Física
Escola Superior Aveiro Norte

Curso: 8327 Licenciatura em Engenharia Aeroespacial


Disciplina: 42254 Introdução à Engenharia Aeroespacial
Ano Letivo: 2022/23

Relatório
Módulo:
Projeto em Estruturas Aeroespaciais

Autor: [115538] Cláudia Jamal


Autor: [114319] Pedro Araújo
Autor: [112850] Tomás Martins

Turma: P1

Data: 07/11/2022
Docente: Robertt Valente, Frederico Cerveira, Mariana Banea
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Resumo

Este módulo teve como objetivos: dar aos estudantes a possibilidade de criar, analisar e aperfeiçoar
estruturas aeronáuticas e aeroespaciais utilizando ferramentas de mecânica computacional; desenvolver a
sua compreensão do comportamento mecânico de diferentes materiais usados em aplicações aeronáuticas
e aeroespaciais, bem como fornecer as bases para que os estudantes possam ser capazes de pensar e criar
materiais; Desenvolver competências fundamentais sobre como interpretar, analisar e projetar sistemas de
propulsão para diferentes aplicações, incluindo modelos experimentais e de modelação/simulação
numérica computacional; compreender os mecanismos físicos envolvidos na falha e degradação de
estruturas aeronáutica e aeroespaciais, em função dos carregamentos (mecânicos, térmicos,
aerodinâmicos, eletromagnéticos, etc.) a que estão sujeitas. Através da realização de 3 aulas teóricas, da
pesquisa realizada de forma independente pelos alunos e da redação de um relatório final foi possível
atingir os objetivos anteriormente enumerados.

Introdução

Ao desenvolver um projeto para uma estrutura aeroespacial é necessária a análise cuidada e


detalhada do mesmo. Sendo nos nossos dias os principais meios de projeção de estruturas aeroespaciais de
natureza computacional precisamos de conhecer e ser capazes de aplicar métodos que facilitem a análise
do projeto em mão. É necessário, portanto a análise da dita estrutura e também da sua composição, o
material que a constituí.
Com isto em mente analisámos o que é um material, qual a sua classificação e os modos como
podem ser empregados na indústria aeroespacial. Como os objetivos do módulo dão especial atenção às
aplicações aeronáuticas e aeroespaciais, onde a redução do peso tem bastante relevância, os materiais
compósitos são os que melhor correspondem às necessidades do setor por possibilitarem uma melhoria no
desempenho mecânico e redução do peso das estruturas. Assim damos especial atenção aos compósitos
tendo sido realizada a produção deste material em aula para consolidar os conhecimentos sobre os seus
métodos de fabrico e as suas várias aplicações no setor aeroespacial, analisamos também o fabrico da peça
obtida.
Abordámos também os métodos de modelação e simulação, aprofundando os conteúdos
abordados na aula sobre o método dos elementos finitos e as suas aplicações CAE (Computer Aided
Engeneering).

Análise e discussão

Os Materiais na Indústria Aeronáutica e Aeroespacial

Os materiais podem ser definidos como todos os recursos naturais e artificiais com a capacidade de
ser manipulados pelo Homem para a obtenção de um produto desejado. Estes são a primeira porta aberta
para evolução da humanidade, pois permitem a execução dos conceitos projetados na mente humana e a
sua tradução para a vida real.
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Os materiais podem ser classificados em 4 grupos os metais, cerâmicos, polímeros e compósitos.


Nesta parte do trabalho focar-nos-emos nas suas aplicações no contexto aeroespacial.

Os metais são um grupo diverso, apresentando características como boa condutividade elétrica e
térmica, resistência, alta tenacidade a fraturas e outras propriedades mecânicas importantes para a
Indústria Aeroespacial, no entanto possuem alta densidade daí que seja necessário pensar numa forma de
reduzir as quantidades utilizadas. Neste grupo, as ligas metálicas de alumínio, titânio, bronze e níquel são
de extrema importância no fabrico de componentes de aeronaves, satélites e aviões tendo sido as mais
aplicadas no fabrico das estruturas de aviões que podemos ver na figura 1 e vaivéns espaciais, e na
produção dos seus componentes mecânicos nos últimos anos.

Figura 1: “Esqueleto” metálico de um avião

Tem-se vindo a reduzir o número de componentes em ligas metálicas presentes nestas estruturas
uma vez que os compósitos metálicos conseguem atingir um desempenho comparável com apenas uma
fração do peso.

Os cerâmicos são materiais com condutividade elétrica reduzida e menos tenacidade em relação
aos metais, no entanto apresentam uma resistência a tração considerável. Por isso são maioritariamente
usados no reforço e proteção das estruturas aeroespaciais, sendo utilizadas por exemplo no revestimento
do exterior das naves espaciais e nos cilindros internos dos seus motores. Uma das aplicações mais
importantes em estruturas aeroespaciais deste material é o vidro de quartzo que por suportar altas
temperaturas e variações bruscas de pressão é muitas vezes usado para as janelas das naves espaciais
como a da figura 2.

Figura 2: “Cupola” da ISS (International Space Station)

É graças às propriedades óticas e mecânicas deste material que é possível aos astronautas observar
experiências realizadas no exterior, e conduzir acoplamentos.

Os polímeros também apresentam uma reduzida condutividade elétrica, resistência a tração e


tenacidade a fratura, mas os plásticos de alta performance com a sua baixa densidade e alta resistência
tornam-se apelativos para a indústria aeroespacial. São aplicados por exemplo em sistemas de implantação
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de matrizes solares e blocos de isolamento de cabos. Outro material pertencente a este grupo é o Kevlar,
que devido a sua alta resistência a fratura e usado nos bordos de ataque das asas de aeronaves militares,
blindagem de hélices e carenagens. Uma das aplicações na indústria aeronáutica mais próxima de nós são
as janelas dos aviões, como a que vemos na figura 3, que normalmente são feitas de acrílico.

Figura 3: Janelas de um avião comercial

Os compósitos são um grupo de materiais bastante diverso, em rápido crescimento na Industrial


Aerospacial. Estão definidos pela American Society for Testing and Materials como a mistura física de dois
ou mais materiais combinados para formar um novo material de engenharia útil e com propriedades
diferentes dos seus componentes puros.

Classificam-se em compósitos de origem natural ou artificial onde podemos encontrar os


compósitos de matriz polimérica, cerâmica e metálica.

Os compósitos de matriz cerâmica são leves rígidos e resistentes por isso são utilizados em
turbinas, sistemas de travagem ou até mesmo no fabrico de mísseis por suportarem temperaturas
elevadas.

Os compósitos de matriz metálica são os mais usados na Indústria Aeroespacial, proporcionam


resistência e leveza o que contribuiu para o seu crescimento na Indústria Aeroespacial, como exemplo
temos partes estruturais do Space shuttle.

Os compósitos de matriz polimérica possuem como matriz uma resina á base de polímeros e como
reforço uma vasta gama de materiais normalmente na forma de fibras. Possuem elevada resistência
mecânica, grande flexibilidade, o que os torna fáceis de adaptar e moldar em formas complexas, elevada
resistência química e baixa densidade.

Entre os vários métodos de fabrico dos compósitos de matriz polimérica estão: Spray lay-up,
Laminação, enrolamento filamentar, infusão e Prepregs.
O método Spray lay-up usa um expressor que a partir de um novelo de fibra divide-a em pequenas
partículas que são expelidas juntamente com resina pressurizada diretamente no molde.
A Laminação é feita depositando camadas sucessivas de fibra e cobrindo-as de resina, consolidando
cada camada, também diretamente no molde.
O enrolamento filamentar tal como a laminação cai cobrindo a superfície com camadas sucessivas
de filamentos de fibra banhados em resina, mas desta vez o molde vai rodando e uma carruagem que
carrega o banho de resina e deixa as fibras uniformemente separadas e paralelas move-se durante a
deposição.
A infusão é feita depositando as camadas de fibra no molde, de seguida sela-se o molde deixando
apenas uma abertura ligada a um tanque com resina e outra ligada a uma bomba de vácuo. À medida que a
bomba retira o ar do saco a resina vai sendo puxada do seu recipiente e vai cobrindo as camadas no molde.
Por último temos o Prepegs, este método é bastante parecido com o anterior, mas não é necessário
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um recipiente para resina pois são usadas fibras já impregnadas com resina. Assim faz-se apenas a
deposição das fibras no molde, cobre-se e isola-se deixando-se apenas uma abertura para a bomba de
vácuo, esta vai retirar o ar do saco e pressionar as camadas umas contra as outras.

Todos estes métodos podem ser feitos de modo manual ou automatizado e através do uso de um
forno ou de um autoclave é possível acelerá-los.

Entre os diversos processos de fabrico para os compósitos, destacamos laminação automatizada,


pela sua importância na indústria aeroespacial. Neste processo uma estrutura vai mover-se e depositar
diretamente na superfície as fibras e a resina sendo também imediatamente compactadas por um rolo
adjacente à estrutura. Este processo permite o fabrico de camadas curvas contínuas sem imperfeições
significativas permitindo otimizar o design das peças. Como resultado é necessária menos fibra para
desenhar uma peça que preforme ao mesmo nível.
Esta tecnologia está agora a ser preparada pela ESA (European Space Agency) para que possa ser
adaptada à grande escala do modo a que no futuro se possam produzir estruturas espaciais através deste
método que suportem as condições de voo.

Figura 4: Dois tubos em compósitos produzidos para projeto da ESA

Produzimos em aula uma asa através do processo de laminação manual com recurso a compactação
por vácuo. Para isto foi necessário primeiro o desenho e desenvolvimento da asa num software, depois a
produção de um molde com base nesse desenho.

Figura 5: desenho 3D de meia asa

O processo de laminação manual utilizado consistiu na deposição de camadas sucessivas de fibras


sendo que entre cada uma se aplicou uma camada de homogénea de resina, preparada na hora, com um
pincel. Compactou-se cada camada fazendo pressão com o pincel para adaptar pormenores, como cantos, e
para evitar a formação de imperfeições na peça final. Depois da deposição das camadas fez-se a sua
compactação, neste caso recorreu-se à compactação por vácuo. Enrolou-se o molde já com todas as
camadas em vários tecidos com o propósito de absorver os excessos de resina e não permitir que a peça
cole ao saco. Uma bomba de ar removeu o ar do saco de vácuo o que levou à diminuição da pressão e do
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seu volume comprimindo-se assim as camadas contra o molde.

Figura 6: Molde da meia asa

É necessário depois esperar que a resina solidifique para que se possa remover a peça terminada
do molde, podendo depois este ser reutilizado para o fabrico de outras peças iguais.

Método dos elementos finitos

Qualquer projeto de engenharia começa com um desenho. De modo a analisar o conceito


desenvolvido, a melhor opção é o método dos elementos finitos. Este método, consiste em dividir o objeto
em estudo num conjunto de elementos, que comunicam entre si através de nós. Assim, resolve-se um
único problema complexo, ao dividi-lo em vários problemas mais simples. 
Partindo da transformação de um número infinito de variáveis, em finitos elementos mais simples,
de comportamento bem definido, aproxima-se o problema real, a um conceito útil para o desenvolvimento,
ainda que com um grau de incerteza. 
Em função do problema em questão, adequa-se o método á situação. Os elementos podem ser de
caracter bidimensional ou tridimensional (ou até retas unidimensionais). Ficando a sua forma (triangular,
quadrada, poliédrica, etc.) ao critério do engenheiro. Também o número finito de elementos é variável,
sendo um maior número, mais semelhante á realidade. E ainda o comportamento dos nós, que ligam os
elementos entre si, formando com eles a malha, com é possível ver na seguinte imagem.

Figura 7: Exemplo de uma peça dividida em elementos


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Em função da malha e dos seus parâmetros, as equações que definem o comportamento físico, são
resolvidas de forma aproximada á realidade. Sendo os resultados da análise tanto mais precisos, quanto
maior for o número de nós e elementos 
Em cada nó guarda-se informação para as forças aplicadas e o deslocamento resultante, em cada
eixo. A partir de simplificações obtêm-se matrizes otimizadas, como as da figura 8, para cada tipo de reação
da malha. Sendo estas matrizes que tornam o método ideal para utilizaç ão em CAE (Engenharia Assistida
por Computador). 

Figura 8: Malha, forças nela aplicadas e matriz otimizada.

  
Engenharia assistida por computador

Atualmente, o método é principalmente aplicado em computador, uma vez que estes permitem a
sua mais rápida e precisa resolução. Pode ser utilizado para diversos fins desde análise estrutural de falhas,
tensões, deformações, relações mecânicas entre partes, análise térmica, eletromagnética e até, por vezes,
de dinâmica de líquidos e gases (muito útil no estudo de dinâmica de fluídos). O método dos elementos
finitos tem diversas aplicações. 

Figura 9: Aplicações do método dos elementos finitos em vários objetos.

Há, no entanto, a necessidade de ter em conta que onde o método se verifica mais limitado , é
quando não existem linearidades. Existindo não linearidades:  geométricas (grandes deformações),
materiais (deformações permanentes), de contacto e ainda outras como o desgaste e a mudança de fase . É
por isso preferido em sistemas relativamente lineares, em que as não linearidades são desprezáveis. 
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Deve ainda ter-se em conta que o método é apenas uma aproximação da realidade, sendo,
portanto, necessários, protótipos físicos. É uma excelente opção para eliminar, á partida, projetos que não
cumpram os seus objetivos, ou para os melhorar, mas não substitui a realidade. 
Resulta então do método dos elementos finitos, e da sua aplicação digital, um dos pilares da
engenharia moderna. Recorrendo a CAD e a CAE, tornam-se possíveis projetos mais complexos,
aprimorando o projeto de engenharia, reduzindo significativamente os custos experimentais  recorrendo a
modelos geométricos/computacionais retirando resultados dos cálculos aplicados sobre eles e melhorando
o projeto até o dar por concluído. 

Conclusões

Os conteúdos lecionados bem como a pesquisa feita para a redação do relatório tornaram possível
o cumprimento dos objetivos propostos. Percebemos assim que é essencial a análise e aperfeiçoamento de
qualquer projeto para uma estrutura aeroespacial, sendo para isto mais fácil recorrer a ferramentas
computacionais e a técnicas como o método dos elementos finitos para compreender quais serão os seus
comportamentos e reações a diversos fatores exteriores. É também de grande importância perceber quais
as condições a que vai estar sujeita a dita estrutura e com base nestas condições, recorrendo aos
conhecimentos sobre comportamento dos diferentes materiais existentes, pensar qual o melhor material
para se usar, como o empregar, quais os fatores que possam levar à sua falha e como o podemos impedir
que este falhe.

Bibliografia consultada

-Google Imagens
-Slides das aulas
-https://www.esss.co/blog/metodo-dos-elementos-finitos-o-que-e/  
-http://sharetechnote.com/html/EngMath_Matrix_FEM_TrussAnalysis.html  
-https://www.hitechcae.com/blog/applying-fluid-structure-interaction-to-automotive-aerodynmics/  
-https://www.esa.int/ESA_Multimedia/Images/2022/07/Composites_development
-https://www.esa.int/Enabling_Support/Space_Engineering_Technology/Tailor-
made_composites_for_tougher_space_structures
-https://www.infoescola.com/fisica/propriedades-mecanicas/#plasticidade-comportamento-plastico
-http://www.aviacao.org/article/materiais-compositos/
-https://www.cimm.com.br/portal/artigos/21952-aplicacoes-cobre-ganham-espaco-industria-aeroespacial
-http://www.aluminio100porcento.com/uploads/files/3_aplica%C3%A7%C3%B5es_do_alum
%C3%ADnio_na_ind%C3%BAstria_aeron%C3%A1utica_e_aeroespacial.pdf
-https://www.ensingerplastics.com/pt-br/aeronaves-aeroespacial
-http://www.foz.unioeste.br/~lamat/downmateriais/materiaiscap10.pdf

Contribuição individual
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Todos os elementos mostraram interesse e dedicação ao longo de todo o processo, cooperando


para a pesquisa e redação do relatório final. Destaca-se o papel dos elementos Cláudia Jamal e Tomás
Martins na parte correspondente aos materiais na indústria aeronáutica e aeroespacial e também Pedro
Nuno na conceção e desenvolvimento da parte correspondente ao modelo dos elementos finitos.

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