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Resumo
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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Professora
Pesquisadora do magistério superior - Departamento de Psicologia (DEPSI). Coordenadora do Programa de Pós-
graduação Stricto Sensu em Psicologia. E-mail: emmy.uehara@gmail.com
2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Mestre em
Abstract
To design effective systems for human-machine, one must understand the mind in relation to
work and technology (ergonomics) and mind can not be understood without studying the brain
(neuroscience). Studying the brain and the mind together with the complex area of work is
called Neuroergonomics. Thus, this article is configured as a updated literature review on key
milestones and conceptualization of this new area, highlighting its possible methods used in
research and in everyday practice, as well as applications and future prospects. Since its
inception in 2003 until the formal today, the neuroergonomics has helped many fields such as
health, education, industry, to develop products more suited to the user's needs and conditions
safer and more efficient in various jobs, environments domestic and general users.
Keywords: Neuroergonomics; Neurosciences; Brain.
1. Introdução
A ergonomia (ou o estudo dos interseção para a troca de diferentes
fatores humanos) vem evoluindo como uma disciplinas como a psicologia e engenharia,
disciplina única e independente, cujo foco por exemplo, possibilitando o surgimento
se dá na natureza da interação homem- da ergonomia (Wickens et al., 1998).
máquina, visto por uma perspectiva É por esta característica de interação
científica plural de diversos outros campos de diversas outras disciplinas, que Chapanis
de conhecimento, tais como a engenharia, (1996) define a ergonomia como “um
design, psicologia e gerenciamento de campo multidisciplinar” para a
sistemas humanos compatíveis. Abrahão e contribuição mútua entre a psicologia
colaboradores (2009) introduzem a (inicialmente a psicologia cognitiva
ergonomia como uma área de aplicação e
experimental), a antropometria (um ramo
produção de conhecimentos sobre o aplicado da antropologia), a fisiologia
trabalho, classificando-a como uma aplicada, a medicina do trabalho, a
disciplina dirigida a uma interpelação engenharia, a estatística e o design
sistêmica de aspectos da atividade humana. industrial. Assim, de acordo com a
Wickens e colaboradores (1998) descrevem International Ergonomics Association
que o campo da ergonomia se desenvolveu (2000), a ergonomia se define como uma
principalmente a partir de uma preocupação disciplina científica independente, que
restrita ao entendimento da interação busca compreender as interações entre os
humana com as ferramentas físicas. Essa seres humanos e outros elementos de um
interação em questão serviu de ponto de
Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) Stricto Sensu em Psicologia (PPGPSI) UFRRJ
Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ, Seropédica, v. 5,: pp.147-162, 2021 ISSN 1983 – 5507
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Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ
observar com mais precisão, por exemplo, De acordo com Sarter e Sarter
o tempo e as estruturas específicas (2003), para que seja possível uma
envolvidas na execução de determinada neuroergonomia, é necessário antes a
tarefa ou na realização de operações adoção da perspectiva da neurociência
mentais particulares. Ao se aplicar tais cognitiva. Isto se deve ao fato de que ambos
possibilidades de estudo nos trabalhos de os campos apresentam objetivos
ergonomia, podemos notar uma mudança intimamente relacionados. Ao mesmo
na abordagem adotada. tempo em que a neurociência cognitiva
busca descobrir os mecanismos cerebrais
Como apontam Fafrowicz e Marek
que mediam a atividade cognitiva
(2007), na abordagem tradicional da
complexa, a neuroergonomia busca
ergonomia, as funções mentais, cognitivas
compreender como esses mesmos
e emocionais do sujeito são consideradas
mecanismos cerebrais estão envolvidos na
como construtos teóricos que servem de
performance humana na interação com a
ponto de partida para o trabalho. A partir de
tecnologia (Hancock & Szalma, 2003).
uma abordagem da neuroergonomia, os
Mehta e Parasuraman (2013) também
estudos se concentram nas estruturas
pontuam que a neurociência cognitiva é o
neurais envolvidas na ação do sujeito.
que vai dar as bases para compreensão da
Assim, não são mais os construtos teóricos
interação entre pessoas e sistemas de
que guia o trabalho – como na abordagem
trabalho proposta na neuroergonomia, haja
tradicional ergonômica – mas sim o próprio
vista que para isso se faz necessário
funcionamento cerebral que pode (ou não)
compreender as bases neurais associadas à
ser convergente com o que foi predito nesse
eficiência física e cognitiva, o que a
constructo. A função de estruturas neurais
ergonomia tradicional não abarca em seu
particulares ativas durante o desempenho
escopo.
de uma tarefa de trabalho se torna o ponto
de partida. Ao unir a abordagem De maneira prática, a
epistemológica das neurociências com os neuroergonomia pode prever de maneira
estudos em ergonomia, a neuroergonomia mais eficaz e natural a interação entre os
surge como uma nova perspectiva e seres humanos e a tecnologia. Ao entender
abordagem de trabalho (Fafrowicz & como o cérebro realiza as tarefas complexas
Marek, 2007). do cotidiano, muitos benefícios tanto para a
pesquisa quanto para a prática da
A neuroergonomia incide sobre as
ergonomia podem ser proporcionados.
investigações das bases neurais de funções
Uma nova concepção de condições de
perceptivas e cognitivas, tais como ver,
trabalho mais eficientes e seguras podem
ouvir, lembrar, decidir e planejar, em
surgir, tendo como potenciais beneficiados
relação às tecnologias e configurações no
os desenvolvedores de tecnologias, os
mundo real. Isto é, como o cérebro humano
donos de sistemas ou a sociedade em geral
interage com o mundo através de um corpo
cuja tecnologia é utilizada. Assim, a
físico. Ao mesmo tempo, a neuroergonomia
neuroergonomia acaba deixando de lado
também se preocupa com a base neural do
uma abordagem baseada exclusivamente na
desempenho físico – o ato de agarrar,
avaliação do desempenho ostensivo ou de
mover ou levantar objetos utilizados em
percepções subjetivas do operador, como
trabalhos com computadores e outras
ressaltam os autores Parasuraman e Riley
máquinas (Parasunaman & Rizzo, 2007).
(1997) e Mehta e Parasuraman (2013).
4. Algumas aplicações
4.2. Aviação
5. Considerações
Sem dúvida, por ser um novo campo “mundo real”, também promovem uma
interdisciplinar, perguntas como essas melhor qualidade de vida ao trabalhador.
ainda necessitam de respostas. Há Todo esse conhecimento pode nos levar,
realmente um diálogo entre os múltiplos por exemplo, à construção de teorias mais
campos da neuroergonomia? É possível consistentes, orientações e reformulações
desenvolver pesquisas em neuroergonomia nos produtos, otimização das placas de
no Brasil? Suas técnicas são sinalização e advertência, redução do erro
financeiramente viáveis? Atualmente, já é humano, desenvolvimento de próteses
possível desvendar os mistérios do cérebro neurais e toda uma nova geração de robôs.
com menos dificuldade, se compararmos há Dessa forma, todo o conhecimento pode ser
trinta anos. Os métodos atuais de pesquisa aproveitado no aprimoramento de sistemas
têm instigado os pesquisadores a realizarem e produtos, visando condições mais seguras
novas perguntas e a desenvolverem novos e eficientes em diversos postos de trabalho,
quadros explicativos sobre o ser humano ambientes domésticos e usuários em geral.
em seu trabalho e sua relação com as No entanto, mesmo com todo o
máquinas e os sistemas automatizados. aparato tecnológico, entender o cérebro
Os avanços neurocientíficos e humano – isto é, cognição e
tecnológicos permitiram uma maior comportamento – continua sendo uma
compreensão dos circuitos cerebrais tarefa árdua. Assim, ao traçar esse breve
responsáveis por distintas operações da panorama da neuroergonomia, foi possível
cognição humana, que além de propiciarem observar que muito conhecimento está
o entendimento sobre os mecanismos sendo gerado, mas ainda há um longo
subjacentes ao desempenho em tarefas do caminho pela frente.
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Endereço para correspondência: Universidade
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