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UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Letícia Ferreira Dreher

ESTUDO DA APLICAÇÃO DA NOVA NORMA DE ALVENARIA ESTRUTURAL


NOS CANTEIROS DE OBRA

Santa Cruz do Sul


2021
Letícia Ferreira Dreher

ESTUDO DA APLICAÇÃO DA NOVA NORMA DE ALVENARIA ESTRUTURAL


NOS CANTEIROS DE OBRA

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso


de Engenharia Civil, da Universidade de
Santa Cruz do Sul para a obtenção do título
de bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Me. Marcus Daniel F. dos Santos.

Santa Cruz do Sul


2021
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao quadro docente do curso de Engenharia Civil da Universidade de


Santa Cruz do Sul por todo conhecimento compartilhado e contribuição na minha
formação, de maneira especial ao professor Marcus Daniel que dedicou tempo e se
mostrou sempre entusiasmado para realização deste trabalho.
Aos meus amigos que estiveram me incentivando durante a realização deste
trabalho, principalmente os que são fruto dos anos de graduação.
Ao meu namorado, Cleiton, pelo suporte, paciência e carinho dedicados nesta
reta final da faculdade.
À minha família por tanto amor e motivos para eu buscar o meu melhor.
Por último e mais importante, agradeço de maneira especial aos meus pais,
Leandro e Tamara, por todo apoio, amor e suporte emocional e financeiro dedicados
à minha formação pessoal e profissional.
RESUMO

A presente pesquisa tem por finalidade avaliar o atendimento da ABNT NBR


16868:2020 – Alvenaria Estrutural em quatro empreendimentos que utilizam este
sistema construtivo. Através do estudo da evolução e execução deste sistema
construtivo e posterior visita nas obras com a aplicação de um questionário
desenvolvido a partir do estudo da norma, que entrou em vigor em 10 de agosto de
2020, composto por um série de critérios listados a partir das recomendações da
norma, foi possível verificar que houve uma considerável evolução do que diz respeito
a procedimentos de execução, principalmente por ser notável o conhecimento dos
envolvidos no processo, além de ser verificada a realização de etapas importantes
para garantir a rigidez da estrutura e para que futuras patologias sejam evitadas. No
entanto, foi verificado que nenhuma das obras atende integralmente à normativa deste
sistema construtivo, sendo identificadas falhas construtivas desde o recebimento de
materiais até as verificações finais dos limites de tolerância, incluindo o
armazenamento e conferência dos materiais, marcação da alvenaria e pontos de
graute, preenchimento não uniforme ou incompleto das juntas, falhas no escoramento
de vergas, altura do grauteamento incorreta, transpasse de armaduras insuficiente,
execução incorreta das instalações elétricas e hidrossanitárias e inspeção dos
serviços falha ou inexistente por parte de um técnico, por exemplo.

Palavras-chave: Alvenaria Estrutural; empreendimentos; norma; sistema construtivo;


execução; falhas construtivas.
LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Esquema identificando verga, contra verga e cinta de amarração............37


Figura 02 – Variações máximas da espessura das juntas de argamassa....................42
Figura 03 – Variação do nível da superfície da laje de apoio da alvenaria...................43
Figura 04 – Limites máximos para o desaprumo e desalinhamento das paredes
e desnível da fiada de respaldo...................................................................................45
Figura 05 – Desobstrução dos furos............................................................................47
Figura 06 – Obra A......................................................................................................50
Figura 07 – Obra B......................................................................................................51
Figura 08 – Obra C......................................................................................................51
Figura 09 – Obra D......................................................................................................52
Figura 10 – Bloco que deveria ter 29 cm com 27 cm de largura e com espessura maior
que a tolerância admitida na obra A............................................................................54
Figura 11 – Diferença na tonalidade dos blocos decorrente da queima durante a
produção na obra A.....................................................................................................54
Figura 12 – Diferença na tonalidade dos blocos decorrente da queima durante a
produção (obra B).......................................................................................................55
Figura 13 – Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra A....................57
Figura 14 – Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra B....................57
Figura 15 – Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra C....................58
Figura 16 – Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra D....................58
Figura 17 – Armazenamento da cal hidratada e cimento na obra A.............................59
Figura 18 – Armazenamento da Argamassa na obra B...............................................60
Figura 19 – Argamassa em silo na obra C...................................................................60
Figura 20 – Armazenamento da Argamassa na obra D...............................................60
Figura 21 – Esquema com indicação dos apartamentos para o profissional na
betoneira na obra B.....................................................................................................61
Figura 22 – CP’s referentes aos apartamentos 504 e 505 da obra B...........................61
Figura 23 – Armazenamento das armaduras na obra A..............................................63
Figura 24 – Armazenamento das armaduras na obra B..............................................63
Figura 25 – Armazenamento do aço na obra C...........................................................64
Figura 26 – Armazenamento do aço na obra D...........................................................64
Figura 27 – Armadura fora do vazado do bloco e incompatibilidade na marcação na
obra A.........................................................................................................................66
Figura 28 – Locação incorreta da armadura e consequente erro na marcação na obra
C.................................................................................................................................67
Figura 29 – Juntas uniformes e nos limites de tolerância na obra A.............................68
Figura 30 – Junta horizontal menor que 5 mm na obra A.............................................69
Figura 31 – Juntas verticais não preenchidas completamente na obra B....................69
Figura 32 – Junta horizontal não preenchida na obra A...............................................70
Figura 33 – Comprimento de armadura para transpasse maior que o necessário na
obra B.........................................................................................................................71
Figura 34 – Comprimento de armadura para transpasse menor que o necessário na
obra A.........................................................................................................................71
Figura 35 – Escora formando ângulo de 90 graus com a verga na obra A...................72
Figura 36 – Escoramento de verga improvisado na obra A.........................................72
Figura 37 – Escoramento de verga com escora metálica na obra D............................73
Figura 38 – Escoramento de verga sem formar ângulo de 90 graus na obra B............73
Figura 39 – Vãos sem escora na obra D......................................................................74
Figura 40 – Grauteamento na 9ª fiada na obra A.........................................................75
Figura 41 – Grauteamento na 6ª fiada na obra B.........................................................75
Figura 42 – Grauteamento na 8ª fiada na obra C.........................................................76
Figura 43 – Grauteamento na 7ª fiada na obra D.........................................................76
Figura 44 – Armadura da contraverga com cobertura insuficiente na obra A..............77
Figura 45 – Armadura da contraverga com cobertura insuficiente na obra D..............77
Figura 46 – Quebras nas paredes para passagem das instalações elétricas e
sanitárias a obra B......................................................................................................78
Figura 47 – Quebra na parede para passagem de eletrodutos na obra C....................79
Figura 48 – Quebra na parede para passagem de eletrodutos na obra D....................79
Figura 49 – Exemplo de paredes com abertura correta para instalações elétricas na
obra C.........................................................................................................................80
Figura 50 – Quebra da parede para instalações hidrossanitárias na obra A................80
Figura 51 – Instalações hidrossanitárias no interior dos blocos na obra A...................81
Figura 52 – Instalações hidrossanitárias localizadas já na primeira fiada na obra C....81
Figura 53 – Desalinhamento dos blocos na região do vão na obra A...........................82
Figura 54 – Verificação da planicidade com régua de alumínio...................................83
Figura 55 – Verificação do prumo................................................................................84
Figura 56 – Verificação de esquadro...........................................................................85
Figura 57 – Gráfico relacionando a quantidade de critérios atendidos para execução
de Alvenaria Estrutural em cada obra.........................................................................86
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Definição de lote para controle de bloco ou tijolo.....................................18
Tabela 02 – Dimensões nominais de blocos cerâmicos estruturais e vedação
para alvenaria racionalizada.......................................................................................20
Tabela 03 – Tolerâncias dimensionais relacionadas à média das dimensões
efetivas.......................................................................................................................21
Tabela 04 – Aceitação e rejeição das características visuais....................................22
Tabela 05 – Aceitação ou rejeição para os ensaios de características geométricas....22
Tabela 06 – Aceitação ou rejeição na inspeção por ensaios do índice de absorção
d’água.........................................................................................................................23
Tabela 07 – Aceitação ou rejeição na inspeção por ensaios de resistência à
compressão individual................................................................................................23
Tabela 08 – Dimensões nominais dos blocos de concreto..........................................24
Tabela 09 – Quantidade de amostras.........................................................................25
Tabela 10 – Traço em volume das argamassas M, S, N O de acordo com a ASTM C
270 (2008)..................................................................................................................26
Tabela 11 – Proporções recomendadas para a dosagem do graute em volume e
materiais secos...........................................................................................................29
Tabela 12 – Valores máximos de espaçamento entre juntas verticais de controle......35
Tabela 13 – Variáveis de controle geométrico na produção da alvenaria....................46
Tabela 14 – Siglas utilizadas quanto a avaliação dos critérios....................................49
Tabela 15 – Critérios observados quanto ao atendimento do controle de recebimento
e armazenamento dos blocos.....................................................................................53
Tabela 16 – Relação do tipo de argamassa utilizada nas obras..................................58
Tabela 17 – Pré-requisitos avaliados para elevação da alvenaria...............................64
Tabela 18 – Critérios verificados com relação a marcação da alvenaria.....................65
Tabela 19 – Critérios verificados através do questionário quanto a elevação da
alvenaria.....................................................................................................................68
Tabela 20 – Critérios aplicado no questionário quanto a conferência da alvenaria......82
LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT – Associação brasileira de normas técnicas


NBR – Norma Brasileira Regulamentadora
PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat
CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo
CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
EST – Estrutural
EPI – Equipamento de Proteção Individual
EPC – Equipamento de Proteção Coletivo
PSQ – Programas Setoriais da Qualidade
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
1.1 Área e delimitação do tema ................................................................................ 11
1.2 Justificativa ......................................................................................................... 12
1.3 Objetivos ............................................................................................................. 13
1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................... 13
1.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................. 14
2.1 Histórico da Alvenaria Estrutural ......................................................................... 14
2.2 Introdução à Alvenaria Estrutural ........................................................................ 15
2.3 Elementos e componentes empregados ............................................................. 17
2.3.1 Blocos ............................................................................................................... 17
2.3.1.1 Blocos cerâmicos.......................................................................................... 19
2.3.1.2 Blocos de concreto ....................................................................................... 23
2.3.2 Argamassa de assentamento ........................................................................... 25
2.3.3 Graute ............................................................................................................... 28
2.3.4 Armadura .......................................................................................................... 30
2.4 Projeto................................................................................................................. 31
2.4.1 Primeira fiada .................................................................................................... 32
2.4.2 Elevação da alvenaria ....................................................................................... 33
2.4.2.1 Juntas ........................................................................................................... 33
2.4.2.2 Amarração de paredes ................................................................................. 35
2.4.2.3 Vergas e contravergas.................................................................................. 36
2.4.2.4 Cinta de amarração ...................................................................................... 37
2.4.2.5 Instalações elétricas e hidrossanitárias ........................................................ 37
2.4.2.6 Esquadrias .................................................................................................... 38
2.4.3 Norma de desempenho .................................................................................... 39
2.4.4 ISO 9001 ........................................................................................................... 40
2.4.5 Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) ........ 40
2.5 Execução ............................................................................................................ 41
2.5.1 Marcação e primeira fiada ................................................................................ 42
2.5.2 Elevação da alvenaria ....................................................................................... 44
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 48
3.1. Recebimento de materiais .................................................................................. 48
3.2. Controle de produção da Alvenaria Estrutural .................................................... 49
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................... 50
4.1 Controle de qualidade, recebimento e armazenamento dos materiais. .............. 52
4.1.1 Blocos cerâmicos .............................................................................................. 53
4.1.2 Argamassa ........................................................................................................ 58
4.1.3 Graute ............................................................................................................... 61
4.1.4 Armadura .......................................................................................................... 62
4.2 Controle de qualidade da execução .................................................................... 64
4.2.1 Pré-requisitos para elevação da alvenaria ........................................................ 64
4.2.2 Marcação da primeira fiada .............................................................................. 65
4.2.3 Elevação da alvenaria estrutural ....................................................................... 67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 87
6 RECOMENDAÇÕES DE TRABALHOS ............................................................... 90
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 91
ANEXO A.................................................................................................................. 93
1 INTRODUÇÃO

Apesar de ser um sistema construtivo bastante antigo, utilizado nas principais


construções que marcaram a humanidade, como as pirâmides do Egito, Coliseu
Romano e Catedral de Notredame, a Alvenaria Estrutural teve seu uso intensificado a
partir da década de 1960 devido aos resultados experimentais que deram origem às
teorias e critérios de projeto, aliados ao desenvolvimento da fabricação de materiais e
elementos apropriados para execução deste sistema construtivo.
Mesmo com vantagens claras com relação aos outros sistemas, como a
redução do desperdício de material e do tempo de execução, maior organização e
planejamento no processo de construção e a exclusão de elementos estruturais (vigas
e pilares), ainda existem problemas neste sistema de construção decorrentes da mão
de obra desqualificada e a consequente má execução. Por isso foi necessário buscar
soluções para as patologias observadas e regulamentações específicas para
Alvenaria Estrutural, garantindo, desta forma, um padrão de qualidade para todo o
processo e a redução de falhas decorrentes da execução.
Além da execução do sistema construtivo, para que seja possível garantir a
conformidade da obra, é necessário que todos os materiais utilizados sejam
controlados e analisados quanto aos requisitos técnicos mínimos específicos para
cada um deles, bem como necessário a realização de ensaios para comprovar a
eficácia dos materiais e sistema construtivo.
Portanto, é aconselhado que as recomendações, métodos e parâmetros
previstos nas Normas Brasileiras sejam seguidos em todas as etapas da obra para
que o empreendimento seja entregue com maior qualidade, visando a funcionalidade
com segurança e economia.
Com base nisso, este trabalho propõe um estudo da ABNT NBR 16868:2020 –
Alvenaria Estrutural – Parte 2: Execução e controle de obras e Parte 3: Métodos de
ensaio que entraram em vigor em 10 de agosto de 2020 e, a partir disso, verificar seu
atendimento nos canteiros de obra.

1.1 Área e delimitação do tema

O presente trabalho foi desenvolvido na área de Alvenaria Estrutural, mais


especificamente na parte de normativas desse sistema construtivo, onde foi verificado
se os empreendimentos em execução e que utilizam este método construtivo estão
11
seguindo as regulamentações da norma regulamentadora da Alvenaria Estrutural, a
ABNT NBR 16868:2020, que entrou em vigor em agosto de 2020.
A partir do estudo da nova norma foi elaborado um questionário para verificar se
as obras atendem ao que é regulamentado para este sistema construtivo, além de
verificar quais os documentos utilizados nas obras visitadas para garantir o controle
de qualidade dos materiais e da execução da alvenaria estrutural.

1.2 Justificativa

Tendo em vista o crescimento do mercado imobiliário brasileiro e o consequente


crescimento do setor da construção civil, surge a necessidade de opções de sistemas
construtivos modernos, econômicos, ágeis e de boa qualidade. É por este motivo que
a Alvenaria Estrutural tem ganhado espaço no cenário mundial que, aliada aos altos
índices de qualidade e economia, oferece vantagens como flexibilidade construtiva,
velocidade de construção, potencial de racionalização e produtividade e menor prazo
de execução.
No entanto, para garantir a eficácia do sistema, é necessário que sejam seguidos
recomendações, métodos e parâmetros que são previstos na legislação brasileira
através das NBR’s; bem como, acompanhar as atualizações que possam vir a ocorrer
para, desta forma, evitar erros e incompatibilidades, padronizar os processos
produtivos, impulsionar a qualidade do empreendimento ao fim do processo e orientar
o profissional acerca de materiais, produtos e processos.
É necessário, portanto, que os profissionais da construção civil estejam atentos
às atualizações das NBR’s e ao surgimento de novas normas que regulamentem um
serviço para facilitar e garantir a execução correta e dentro dos parâmetros exigidos,
além destas assegurarem amparo jurídico ao projetista e executor em casos de
patologias que levam os clientes a processarem juridicamente as
construtoras/incorporadoras e responsáveis técnicos.
Com este objetivo foi criada a ABNT NBR 16868:2020 – Alvenaria Estrutural que
entrou em vigor em agosto de 2020 e surgiu, basicamente, pela necessidade de uma
norma específica para este sistema construtivo. A principal alteração desta norma,
que substitui outras três, é que esta não faz distinção entre alvenaria estrutural de
blocos cerâmicos e de concreto que anteriormente eram regulamentados por normas
distintas. Além disso, as normas que foram substituídas eram divididas em três partes,
projeto; execução e controle tecnológico; e métodos de ensaio, enquanto a nova
12
norma inclui mais duas partes: estrutura em situação de incêndio e projeto para ações
sísmicas.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo da ABNT NBR 16868:2020 -


Alvenaria Estrutural - parte 2 e 3, que entrou em vigor em 10 de agosto de 2020,
referente à execução e controle tecnológico e métodos de ensaios e, a partir disso,
verificar o atendimento desta norma em quatro obras.

1.3.2 Objetivos Específicos

 Realizar um estudo da ABNT NBR 16868:2020 - Alvenaria Estrutural, parte 2


e 3;
 A partir do estudo desenvolver um questionário direcionado à verificação do
controle de recebimento e armazenamento dos materiais, atendimento ou não
das tolerâncias impostas e execução da Alvenaria estrutural.
 Aplicar o questionário em quatro empreendimentos que utilizam a Alvenaria
Estrutural que estejam em execução a partir da data que a norma entrou em
vigor.

13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Histórico da Alvenaria Estrutural

Tendo sua origem datada na Pré-história com as civilizações assírias e persas,


a Alvenaria Estrutural passou por um processo de aprimoramento a partir da
“utilização do conhecimento empírico, baseado na experiência dos construtores, em
que a forma garantia a rigidez e a estabilidade estrutural” (MOHAMAD, 2015) e,
posteriormente, de estudos experimentais deste sistema construtivo que culminaram
em um método racionalizado e econômico que vem sendo amplamente utilizado no
Brasil e no mundo.
Durante este processo foram inúmeras as obras de importância histórica e
humanitária e com características particulares ao redor do mundo, que foram
construídas com diferentes metodologias e materialidades, dentre as quais estão os
blocos de pedra, tijolos cerâmicos secos ao sol e cerâmicos intertravados, com ou
sem utilização de ligantes.
Ainda sem conhecimento das medidas que promovem a racionalização no
processo executivo da alvenaria estrutural, foi iniciada a construção, em 1889, de um
edifício de 16 pavimentos, 65 metros de altura e com paredes de 1,80 metros na base,
em Chicago, nos Estados Unidos, denominado “Monadnock”, que por consequência
da falta de conhecimento analítico, utilizando apenas o conhecimento adquirido e
passado de geração para geração, teve sua construção lenta e com elevado custo,
justamente o oposto das vantagens oferecidas pelo sistema nos dias atuais.
(RAMALHO E CÔRREA, 2003)
Além da dificuldade de racionalização e da falta de conhecimento teórico acerca
da alvenaria estrutural, que teve sua utilização presente desde a pré-história com
diferentes materiais e métodos de execução, havia ainda restrição do planejamento e
dificuldade de otimização da ocupação do espaço, tornando este sistema construtivo
obsoleto e dando espaço a versatilidade e liberdade arquitetônica oferecidos pelas
estruturas de concreto armado.
Já em 1950, com base em experimentos e cálculos racionais que antes eram
inexistentes, começam a surgir normas que permitem calcular a espessura necessária
das paredes e a resistência suportada pelas alvenarias. Segundo Ramalho e Côrrea
(2003), através dos dados obtidos, a construção de um prédio, por Paul Haller, na
Suíça, com 13 pavimentos e 42 metros de altura executado em alvenaria não-armada,
14
com espessuras de paredes internas de 15 cm e externas com 37,5 m, revolucionando
a maneira de construir utilizando-se a alvenaria estrutural. Além disso, outro fator que
impulsionou o retorno da utilização deste sistema construtivo foi a escassez e
consequente aumento de preços do concreto e do aço ocasionados pela Segunda
Guerra Mundial.
A partir disso, passaram a ser fornecidas regulamentações básicas a serem
seguidas para o projeto de elementos de parede à compressão, definição de teorias
e o aperfeiçoamento dos modelos matemáticos de cálculo, bem como, a intensificação
da fabricação de materiais e componentes apropriados para execução.
No Brasil, a alvenaria é utilizada desde a chegada dos portugueses no século
XVI, porém como uma alvenaria resistente. (RAMALHO E CÔRREA, 2003) A
Alvenaria Estrutural, de fato, passa a ser introduzida em meados de 1960, se tornando
uma excelente opção, para suprir o déficit habitacional que o país enfrentava.
Segundo Camacho (2006), a primeira construção, o conjunto habitacional Central
Parque da Lapa, em São Paulo, foi construída em 1966, empreendimento de quatro
pavimentos e espessuras de parede de 19 cm. Porém, somente em 1989 foi publicada
uma norma nacional, que abordava os cálculos para alvenaria estrutural armada e não
armada, específica para blocos vazados de concreto.
Atualmente a Alvenaria Estrutural é um dos métodos construtivos mais utilizado
no Brasil, possuindo uma norma específica que regulamenta projeto, execução e
controle tecnológico e métodos de ensaio, garantindo, assim, a padronização do
processo construtivo e a redução ou inexistência de patologias decorrentes da má
execução ou da falha na concepção dos projetos.

2.2 Introdução à Alvenaria Estrutural

A alvenaria, conjunto composto por tijolos, blocos ou peças sobrepostas unidas


por argamassa e formando um elemento vertical, é definida por Tauil e Nese 2010
como um:

[...] conjunto coeso que serve para vedar espaços, resistir a cargas oriundas
da gravidade, promover segurança, resistir a impactos, à ação do fogo, isolar
e proteger acusticamente os ambientes, contribuir para a manutenção do
conforto térmico, além de impedir a entrada de vento e chuva no interior dos
ambientes.

Além das vantagens inerentes à função, a alvenaria estrutural destaca-se ainda


por benefícios preeminentes quando comparada a outros métodos construtivos, sendo
15
o mais notável a dupla função de vedação e resistência que as paredes, quando
atingem a resistência mínima exigida por norma, desempenham nas edificações.
Portanto, junto com as lajes, a alvenaria tem função estrutural e exclui a
utilização de vigas e pilares utilizados nos processos construtivos tradicionais, o que
acarreta a simplificação dos procedimentos de execução, redução do número de
etapas, da diversidade de materiais e da mão de obra, facilidade de organização e
racionalização do processo, tornando este sistema mais ágil e econômico quando
comparado a outros sistemas.
No entanto, como as paredes têm função estrutural, chamadas de portantes, é
necessário um projeto bem elaborado para que não haja comprometimento da
estrutura. Por isso não são permitidas improvisações e é restringida a possibilidade
de alterações, como a retirada de paredes. Além disso, há limitação no tamanho dos
vãos, já que, por não haver vigas e pilares, a carga recebida pela laje não é descarrega
pontualmente em cada um desses elementos previstos em sistemas mais
convencionais, e sim distribuídas nas paredes estruturais utilizadas no sistema.
Para garantir eficiência no desempenho da edificação e atender às limitações do
sistema, são necessários um bom planejamento e a execução de um projeto
arquitetônico detalhado, subordinado à concepção estrutural e compatibilizado com
os demais projetos complementares; a execução com mão de obra qualificada,
seguindo as normas vigentes e com a utilização de produtos normatizados e
confiáveis; além da correta organização e planejamento do canteiro de obras.
A ABNT NBR 16868:2020 define como elemento a parte da estrutura
suficientemente elaborada, constituída da reunião de dois ou mais componentes.
Estes elementos podem ser armados, não-armados ou protendidos, de acordo com a
utilização de armaduras previstas em projeto. É possível ainda, prever a Alvenaria
Estrutural como parcialmente armada.

- Alvenaria Armada: a ABNT NBR 16868:2020 define os elementos de alvenaria


armada como “elemento de alvenaria no qual são utilizadas armaduras passivas que
são necessárias para resistir aos esforços solicitantes.” Desta forma, com a finalidade
de absorver os esforços calculados no projeto estrutural, sem dispensar a utilização
de armaduras construtivas e de amarração, a alvenaria estrutural armada pode ser
definida, segundo Camacho (2016), como um

16
[...] processo construtivo em que, por necessidade estrutural, os elementos
resistentes (estruturais) possuem uma armadura passiva de aço. Essas
armaduras são dispostas nas cavidades dos blocos que são posteriormente
preenchidas com micro-concreto (graute).

- Alvenaria não-armada: a ABNT NBR 16868:2020 define os elementos de alvenaria


não armada como “elemento de alvenaria no qual não há armadura dimensionada
para resistir aos esforços solicitantes.” Segundo Tauil e Nese (2010) a alvenaria não-
armada é classificada como um

[...] tipo de alvenaria que não recebe graute, mas os reforços de aço (barras,
fios e telas) apenas por razões construtivas – vergas de portas, verga e
contravergas de janelas e outros reforços construtivos para aberturas – e para
evitar patologias futuras: trincas e fissuras provenientes da acomodação da
estrutura, movimentação por efeitos térmicos, de vento e concentração de
tensões.

- Alvenaria parcialmente armada: a alvenaria parcialmente armada, por mais que


não mencionada na ABNT NBR 16868:2020, é comumente utilizada no processo
construtivo, onde o projeto prevê elementos resistentes armados e não-armados.
- Alvenaria protendida: a ABNT NBR 16868:2020 define os elementos de alvenaria
protendida como “elemento de alvenaria no qual são utilizadas armaduras ativas”.
Segundo Tauil e Nese (2016), essa armadura ativa, ou pré-tensionada, submete a
alvenaria a esforços de compressão. Os autores ainda comentam que este tipo de
alvenaria é pouco utilizado, “[...] pois os materiais, dispositivos e mão de obra para
proteção têm custo muito alto [...]”

2.3 Elementos e componentes empregados

2.3.1 Blocos

Segundo Parsekian (2010), “os blocos representam de 80 a 95% do volume da


alvenaria, sendo determinantes de grande parte das características da parede:
resistência à compressão, estabilidade e precisão dimensional, resistência ao fogo e
à penetração de chuvas, isolamento térmico e acústico e estética.”
Para Mohamad (2017), “as principais unidades que compõe a alvenaria
estrutural no Brasil são: bloco cerâmico, bloco de concreto e bloco sílico calcário.” No
entanto, a ABNT NBR 16868:2020 – Alvenaria Estrutural, que substituí outras duas
normas divididas em alvenaria estrutural de blocos cerâmicos e blocos de concreto,

17
foi criada e, desde agosto de 2020, regulamenta a alvenaria estrutural com estes dois
tipos de blocos.
De acordo com esta norma, os blocos cerâmicos devem atender às
especificações da ABNT NBR 15270:2017 e os blocos de concreto a ABNT NBR
6136:2014.
Além do material componente dos blocos, estes ainda podem ser classificados
quanto à forma, podendo ser maciços ou vazados, a diferença relaciona o índice de
vazios com a área total. Quando o índice de vazios for menor que 25% da área total
do bloco, denomina-se como maciço, já quando esse valor for excedido, denomina-se
como vazado.
No caso do controle de materiais o procedimento para os dois tipos de blocos é
o mesmo, sendo dispensado, segundo a ABNT NBR 16868:2020, nos seguintes
casos:

a) se os blocos ou tijolos possuem certificação de conformidade com as ABNT


NBR 15270 e ABNT NBR 6136;
b) se o fbk for menor ou igual a 14 MPa;
c) se forem realizados ensaios de controle de prisma em todos pavimentos.

A tabela 01, transcrita da ABNT NBR 16868:2020, define o que é considerado


um lote de blocos para fins de controle de qualidade.

Tabela 01 – Definição de lote para controle de bloco ou tijolo

Número de pavimentos acima do Área construída em


considerado para controle (até a cobertura) planta m²
0a4 1800
5a9 1200
10 ou acima 600

Fonte: ABNT NBR 16868:2020.

O número de exemplares da amostra a ser considerado para controle de


qualidade de um lote de blocos cerâmicos e de concreto são definidos pela ABNT
NBR 15270:2017 e ABNT NBR 6136:2014, respectivamente. No entanto, se o lote de
obra for formado por mais de um lote de fábrica, a ABNT NBR 16868:2020 recomenda
que seja assegurada a quantidade mínima de cinco exemplares por lote de fábrica na
amostra.
Quanto aos critérios para aceitação, a ABNT NBR 16868:2020 determina:

18
O lote de bloco ou tijolo é aceito se o valor da resistência à compressão
característica da amostra ou contraprova for maior ou igual ao especificado
no projeto, e se as suas dimensões estiverem de acordo com as ABNT NBR
6136 e ABNT NBR 15270-1.

A ABNT NBR 16868:2020 norteia quanto ao armazenamento dos blocos


cerâmicos e de concreto. Ao serem recebidos, devem ser descarregados em uma
superfície plana e nivelada que assegure a estabilidade da pilha, em local que evite a
contaminação direta ou indireta por ação da capilaridade da água, como lajes
devidamente cimbradas ou mesmo sobre o solo. Na armazenagem deve ser indicado
o número do lote, a classe de resistência e o local de aplicação.

2.3.1.1 Blocos cerâmicos

Os blocos cerâmicos são, segundo Parsekian (2010), “fabricados por extrusão


(e não por prensagem), a partir da mistura de um ou mais tipos de argilas com aditivos,
e queimados em fornos com temperatura variando entre 800 e 1.100ºC.” Estes blocos
estruturais, que possuem furos prismáticos perpendiculares à face que os contêm,
podem ser classificados como: bloco cerâmico estrutural de paredes vazadas, bloco
cerâmico estrutural com paredes maciças, bloco cerâmico estrutural com paredes
maciças (paredes internas vazadas) e bloco cerâmico estrutural perfurado.
Os fabricantes devem garantir que os blocos tenham a forma de um prisma reto
com dimensões nominais indicadas na tabela 02, transcrita da ABNT NBR
15270:2017, para os blocos cerâmicos estruturais:

19
Tabela 02 – Dimensões nominais de blocos cerâmicos estruturais e vedação
para alvenaria racionalizada

Dimensões nominais (cm)


Dimensões modulares
LxHxC Comprimento C
Módulo dimensional Largura Altura
L H Bloco 1/2 Bloco L Bloco T
M = 10 cm principal bloco amarração amarração
M x (5/4) M x (5/2) M 11,5 24 11,5 - 34
M x (2) M x (5/2) M 24 11,5 - 34
M x (2) M x (3)M 9 29 14 24 39
19
39 19 29 49
M x (2) M x (4)M
59 29 - -
(5/4) M x (5/4) M x ( (5/2) M 11,5 24 11,5 - 36,5
(5/4) M x (2) M x ( (5/2) M 24 11,5 - 36,5
(5/4) M x (2) M x (3) M 11,5 29 14 26,5 41,5
19
39 19 31,5 51,5
(5/4) M x (2) M x (4) M
59 29 - -
(3/2) M x (2) M x (3) M 29 14 - 44
14 19 39 19 34 54
(3/2) M x (2) M x (4) M
59 29 - -
(2) M x (2) M x (3)M 29 14 34 49
19 19 39 19 - 59
(2) M x (2) M x (4)M
59 29 - -

Fonte: ABNT NBR 15270:2017.

Os septos dos blocos cerâmicos estruturais de paredes vazadas devem possuir


espessura mínima de 7 mm e, das paredes externas, no mínimo 8 mm. Já os blocos
cerâmicos de paredes maciças possuem paredes com espessura mínima de 20 mm,
com as paredes internas podendo apresentar vazados, desde que a espessura total
seja maior ou igual a 30 mm, sendo 8 mm a espessura mínima de qualquer septo.
Além da forma, a ABNT NBR 15270:2017 ainda regulamenta que os blocos
devem garantir características geométricas (medidas das faces, espessura dos septos
e paredes externas dos blocos, desvio em relação ao esquadro, planeza das faces,
área bruta e área líquida) e físicas (massa seca e índice de absorção de água) e
mecânicas (resistência à compressão característica).
Segundo Mohamad (2015), as tolerâncias dimensionadas podem ser resumidas
conforme a tabela 03:

20
Tabela 03 – Tolerâncias dimensionais relacionadas à média das dimensões efetivas
Tolerâncias dimensionais
Tolerâncias dimensionais
Dimensão relacionadas às medições
relacionadas à média (mm)
individuais (mm)
Largura (L) ±5 ±3
Altura (H) ±5 ±3
Comprimento (c) ±5 ±3

Desvio em relação ao esquadro (D) 3

Planeza das faces ou flecha (F) 3

Fonte: Mohamad (2015)

Quanto a composição dos lotes para fins de inspeção, a ABNT NBR 15270:2017
determina que um lote de fabricação deve ser constituído de no máximo 250 mil
unidades e que os blocos sejam do mesmo tipo, qualidade, marca e fabricados nas
mesmas condições. Já o lote de recebimento deve possuir no máximo 35 mil blocos
e ter a mesma classe e fornecedor. (ABNT NBR 15270:2017)
A amostragem pode ser simples ou dupla, cada uma com 13 blocos para lotes
de 1000 a 250.000 blocos. Primeiramente, por questões de racionalidade, é realizada
a amostragem por inspeção geral: a identificação, com a amostragem simples, e as
características visuais com amostragem dupla. A identificação inclui as informações
de identificação do fabricante (CNPJ e razão social), dimensões nominais, indicação
de rastreabilidade (lote ou data de fabricação), telefone do serviço de atendimento ao
cliente e as letras EST (quando se tratar de blocos com condição estrutural). Já as
características visuais devem garantir a integridade do bloco, não apresentando
quebras, superfícies irregulares ou deformações que prejudiquem a função do bloco.
(ABNT NBR 15270:2017)
Com relação a identificação, prevista para a amostragem por inspeção geral, a
aceitação fica à critério do atendimento de todas as informações exigidas pela norma.
Já as características visuais nessa amostragem, ficam condicionadas a tabela 04,
transcrita da ABNT NBR 15270:2017.

21
Tabela 04 – Aceitação e rejeição das características visuais
Unidades não conformes
Número de blocos constituintes
1ª amostragem 2ª amostragem

Nº de Nº de Nº de Nº de
1ª amostragem 2ª amostragem
aceitação aceitação aceitação aceitação

13 13 2 5 6 7

Fonte: ABNT NBR 15270:2017.

Aprovado o lote na inspeção geral, é realizada a amostragem por ensaios, que


adota amostragem simples. Primeiramente é realizado o ensaio de determinação das
características geométricas, descritas anteriormente, com amostras constituídas de
13 corpos de prova. Também por questões de racionalidade, posteriormente, são
realizados o ensaio de determinação da resistência à compressão, com amostra
constituída de 13 corpos de prova, e o ensaio de determinação do índice de absorção
do bloco, com amostra constituída de seis corpos de prova. (ABNT NBR 15270:2017)
Na amostragem por ensaios, o lote é reprovado quando qualquer não
conformidade for verificada em relação aos requisitos gerais ou específicos
estabelecidos na norma, bem como, se a média obtida nas verificações das
dimensões efetivas ultrapasse a tolerância, determinada na tabela 04. A aceitação da
amostragem das características geométricas fica condicionada a tabela 05. (ABNT
NBR 15270:2017)

Tabela 05 – Aceitação ou rejeição para os ensaios de características geométricas


Número de blocos ou
Unidades não conformes
tijolos constituintes
Amostragem simples Número para aceitação do lote Número para rejeição do lote

13 2 3

Fonte: ABNT NBR 15270:2017.

Ainda na inspeção por ensaios, os critérios de aceitação referentes ao índice de


absorção d’água e à resistência à compressão individual estão condicionados ao
disposto nas tabelas 06 e 07, respectivamente, transcritas da ABNT NBR 15270:2017.

22
Tabela 06 – Aceitação ou rejeição na inspeção por ensaios
do índice de absorção d’água

Número de blocos ou
Unidades não conformes
tijolos constituintes
Amostragem simples Número para aceitação do lote Número para rejeição do lote
6 1 2

Fonte: ABNT NBR 15270:2017.

Tabela 07 – Aceitação ou rejeição na inspeção por ensaios


de resistência à compressão individual

Número de blocos ou
Unidades não conformes
tijolos constituintes
Amostragem simples Número para aceitação do lote Número para rejeição do lote
13 2 3

Fonte: ABNT NBR 15270:2017.

2.3.1.2 Blocos de concreto

Desde meados de 1970 como opção no mercado brasileiro, os blocos de


concreto são constituídos de cimento Portland, agregados, água e aditivos que
aumentam a coesão da mistura fresca. Os dois primeiros devem atender às
respectivas normas regulamentadoras vigentes: ABNT NBR 5732, ABNT NBR 5733,
ABNT NBR 5735, ABNT NBR 5736 e ABNT NBR 11578 para o cimento; e ABNT NBR
7211 para os agregados graúdos e miúdos.
Os blocos de concreto são “produzidos por vibrocompactação e, posteriormente
curados ao ar ou em câmera úmida com algum tipo de aquecimento” (MOHAMAD,
2015). Estes processos devem garantir que os blocos sejam homogêneos,
compactos, com arestas bem definidas e sem trincas para, desta forma, atenderem
aos requisitos exigidos pela ABNT NBR 6136:2014, como os limites de resistência,
absorção e tração linear por secagem.
As dimensões especificadas pelo fabricante para largura, altura e comprimento,
chamadas de dimensões nominais, sejam modulares ou submodulares, devem
atender a tabela 08, transcrita da ABNT NBR 6136:2014, que determina as dimensões
para cada família de blocos. A família de blocos é definida pela norma como um

Conjunto de componentes de alvenaria que interagem modularmente entre si


e com outros elementos construtivos. Os blocos que compõem a família,
segundo suas dimensões, são designados como bloco inteiro (bloco
predominante), meio bloco, blocos de amarração em L e T (blocos para
encontros de paredes, blocos compensadores e blocos tipo canaleta.

23
Tabela 08 – Dimensões nominais dos blocos de concreto

Família 20x40 15x40 15x30 12,5x40 12,5x25 12,5x37,5 10x40 10x30 7,5x40
Largura 190 140 115 90 65
Altura 190 190 190 190 190 190 190 190 190
Inteiro 390 390 290 390 240 365 390 290 390
Medida nominal (mm)

Meio 190 190 140 190 115 - 190 140 190


2∕3 - - - - - 240 - 190 -
Comprimento

1∕3 - - - - - 115 - 90 -
Amarração em "L" - 340 - - - - - - -
Amarração em "T" - 540 440 - 365 - - 290 -
Compensador A 90 90 - 90 - - 90 - 90
Compensador B 40 40 - 40 - - 40 - 40
Canaleta inteira 390 390 290 390 240 365 390 290 -
Meia canaleta 190 190 140 190 115 - 190 140 -

Fonte: ABNT NBR 6136:2014.


A norma ainda define valores de tolerância para largura de ± 2,0 mm e para a
altura e comprimento de ± 3,0 mm.
Com relação a resistência, é possível variar de 4,0 MPa a 20 MPa através de
ações como o aumento do teor de cimento, pela carga de compactação, pelo número
de vibrações e pelo baixo fator água/cimento. (MOHAMAD, 2015) A partir das
resistências, de acordo com a ABNT NBR 6136:2014, é possível classificar os blocos
quando à sua função e aplicação em classes A, B e C.
- Classe A: blocos com função estrutural, aplicados acima ou abaixo do nível do solo;
- Classe B: blocos com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima
do solo;
- Classe C: blocos com ou sem função estrutural. Podem ser utilizados blocos com
função estrutural com largura de 90 mm em edificações de no máximo um pavimento;
blocos com largura de 115 mm em edificações de até dois pavimentos; e blocos com
larguras de 140 mm e 190 mm para edificações de até cinco pavimentos.
Segundo a ABNT NBR 6136:2014, para fins de inspeção no recebimento, o lote
é constituído pelo fabricante, composto por um dia de produção e limitado a 40.000
blocos, devendo “ser formado por um conjunto de blocos com as mesmas
características, produzidos sob as mesmas condições e com os mesmos materiais.”
Além disso, o fornecedor deve fornecer informações como: “data de fabricação e
identificação do lote, resistência característica à compressão axial, dimensões
nominais e classe”.

24
A idade de controle para inspeção pode ser considerada de duas formas:
condição 1 e condição 2. A ABNT NBR 6136:2014 as define como
Condição 1: a idade de controle deve ser a data de entrega dos
carregamentos que compõem o lote, ou seja, o fabricante deve fornecer o
componente com as características físico mecânicas atendidas na data de
entrega.
Condição 2: a idade de controle pode ser tomada após a data da entrega e
ser no máximo aos 28 dias, contados a partir da data de entrega de produção
mais recente dos diversos carregamentos que compõem o lote. A aplicação
desta condição fica sujeita à aceitação do consumidor.

A quantidade de amostras é definida pela tabela 09, transcrita da ABNT NBR


6136:2014. Além da quantidade, a norma ainda indica que seja feita inspeção visual
pelo comprador ou representante legal para verificar a integridade física dos blocos.

Tabela 09 – Quantidade de amostras

Quantidade mínima de blocos


Quantidade de blocos da
para ensaio dimensional e Quantidade de
amostra bloco para
resistência à compressão axial
Quantidade de
ensaios de
blocos do lote
Critério Critério absorção e área
Prova Contraprova estabelecido estabelecido líquida
em 6.5.1. em 6.5.2.
até 5.000 7 ou 9 7 ou 9 6 4 3
5.001 a 10.000 8 ou 11 8 ou 11 8 5 3
Acima de 10.000 9 ou 13 9 ou 13 10 6 3

Fonte: ABNT NBR 6136:2014

2.3.2 Argamassa de assentamento

Segundo Ramalho e Corrêa (2003), “a argamassa de assentamento possui


funções básicas de solidarizar as unidades, transmitir e uniformizar as tensões entre
as unidades de alvenaria, absorver pequenas deformações e prevenir a entrada de
água e vento nas edificações.”
Para atingir suas funções com excelência, além da resistência à compressão,
uma característica secundária da argamassa ao absorver os esforços do conjunto, e
o atendimento às especificações previstas no projeto estrutural, esse agente ligante
ainda deve possuir propriedades básicas como boa aderência, elasticidade,
trabalhabilidade e economia, além de ser forte, durável e com capacidade para
garantir a integridade, estanqueidade e retenção de água adequada para garantir a
hidratação do cimento.

25
Deve-se garantir ainda o atendimento à ABNT NBR 13279:2005 que indica,
dentre outras recomendações, a realização prévia de ensaios desenvolvidos em
laboratório: o ensaio de resistência à compressão e, com a finalidade de determinar a
aderência da argamassa com o bloco ou tijolo, o ensaio de resistência de tração na
flexão do prisma, realizado conforme a ABNT NBR 16868:2020.
Quanto ao traço utilizado nas argamassas, como mostra a tabela 10, transcrita
da norma existem recomendações internacionais que indicam o volume de materiais
necessário de acordo com a necessidade de resistência e o local de aplicação.
Segundo Mohamad (2017), são 4 os tipos de argamassa, denominadas de M, S, N e
O:

M: Essa mistura proporciona alta resistência, sendo indicada para alvenarias


armadas e não armadas submetidas a altas cargas de compressão. São
apropriadas, então, para resistir a pressões de terra, solicitação de vento e
terremotos, ou seja, para estruturas abaixo e acima do nível do solo.
S: Possui uma alta resistência de aderência, o que a torna ideal frente a
solicitações de tração. É também recomendada para estruturas submetidas
à força de compressão de magnitude corrente, mas que requerem aderência
quando solicitadas à flexão (pressão de solos em arrumos, vento, terremoto).
Sua durabilidade recomenda-a para paredes junto ao solo (fundações,
arrumos e pisos).
N: É usual para estruturas acima do nível do solo, sendo recomendada para
paredes externas e internas e também para a técnica de revestimento de
pedras coladas na parede. Sua trabalhabilidade, sua resistência à
compressão, sua flexão, seu custo são parâmetros que a recomendam para
as aplicações usuais.
O: O alto teor de cal confere a esta argamassa uma baixa resistência. Por
isso, ela é recomendada para paredes não estruturais (externa e interna) e
paredes com “stone veneer”, desde que não estejam sujeitas a umidade. É
também usada em prédios de até dois pavimentos, possuindo boa
trabalhabilidade e baixo custo.

Tabela 10 – Traço em volume das argamassas M, S, N O


de acordo com a ASTM C 270 (2008)

Cim. Portland ou Cal hidráulica


Tipo Proporção de agregado
cimento com adição ou leite de cal
M 1 0,25
S 1 0,5 Maior que 2,25 e menor que
3 vezes a soma dos volumes
N 1 1 de aglomerantes
O 1 2

Fonte: adaptado de Mohamad (2017).

A ABNT NBR 13279:2005 determina que a resistência à compressão da


argamassa tenha o valor mínimo de 1,5 MPa. Já a ABNT NBR 16868:2020 especifica
26
que o valor máximo seja 1,5 vezes maior que a resistência característica especificada
para o bloco, evitando o risco de fissura. De acordo com Mohamad (2017), as
resistências à compressão atingidas pelas argamassas M, S, N e O se reduzem de
maneira decrescente, atingindo, aos 28 dias, valores aproximados de 17,2 MPa; 12,4
MPa; 5,2 MPa; e 2,4 MPa, respectivamente.
Para o controle de produção deve ser realizado ao menos o ensaio de
resistência à compressão média da argamassa, devendo chegar a um coeficiente de
variação inferior a 20% entre as amostras moldadas para um lote, que é definido de
acordo com a condição mais limitadora das seguintes opções: 600m² de área
construída em planta, dois pavimentos para construções com blocos ou tijolos de fbk
≤ 6,0 MPa, um pavimento para construções com blocos ou tijolos de fbk > 6,0 MPa,
duas semanas de produção ou argamassa fabricada com matéria prima de mesma
procedência, mesma dosagem e mesmo processo de preparo. (ABNT NBR
16868:2020)
A amostra para controle de produção de um lote de argamassa consiste em “seis
exemplares. Cada exemplar é constituído de um corpo de prova. Recomenda-se a
construção adicional de igual número de exemplares para eventual contraprova. A
moldagem e o ensaio devem ser realizados de acordo com o Anexo A ou ABNT NBR
13279”. (ABNT NBR 16868:2020)
Os corpos de prova são feitos em moldes metálicos cúbicos de 40 mm de aresta.
É necessário, primeiramente, aplicar uma fina camada de óleo mineral nas faces
internas e remover o excesso com um papel absorvente, limpo e seco para auxiliar na
desmoldagem, que ocorre após (48 ± 24) h após a moldagem, mantidos sob abrigo
de sol e vento. O procedimento consiste em colocar a argamassa em duas camadas,
executando 30 golpes com soquete de borracha ou madeira aparada entre cada uma
das camadas, rasar o molde com régua metálica e cobrir com filme plástico. (ABNT
NBR 16868:2020)
Para aceitação de um lote de argamassa, a ABNT NBR 16868:2020 indica que:

O lote de argamassa é aceito se o coeficiente de variação da amostra ou


contraprova for inferior a 20 % e o valor médio for maior ou igual ao
especificado no projeto. No caso de resultado de resistência de argamassa
com valor médio uma vez e meia superior ao especificado em projeto, deve-
se rever o procedimento de recebimento e dosagem desta e monitorar a
alvenaria em relação ao aparecimento de fissuras.

27
A argamassa utilizada pode ser tanto a preparada em obra como a
industrializada, ambas com os mesmos procedimentos exigidos para aceitação e
métodos de ensaio. A argamassa preparada em obra, no entanto, deve atender ainda
às normas que especificam cimento, cal hidratada e agregados: ABNT NBR
16697:2018, ABNT NBR 7175: e ABNT NBR 7211:2009, respectivamente.
Para o armazenamento, a ABNT NBR 16868:2020 indica que seja verificada a
validade dos sacos de argamassa, para o caso da industrializada, ou do cimento e da
cal, para argamassa preparada em obra, de forma a manter os sacos com validade
mais próxima de expirar na parte superior da pilha. O local de armazenamento deve
ser coberto e de preferência com piso argamassado ou de concreto, mantendo os
produtos secos e protegidos da umidade do solo, sem contato com paredes, teto e
agentes que possam afetar suas características. Além disso, evitar o empilhamento
de mais de dez sacos de cimento ou de cal. No caso específico de tempo de
armazenamento de até 15 dias, as pilhas podem ser de até 15 sacos.
É importante ressaltar que a norma limita que a produção de argamassa deve
ser tal que todo o material seja consumido “no prazo máximo de 2h 30 min, exceto se
houver o uso de aditivos retardadores de pega” (ABNT NBR 16868:2020) além de ser
necessário que o acondicionamento seja em um recipiente metálico ou plástico que
assegure a estanqueidade. Outras limitações são quanto ao ajuste da consistência da
argamassa, que permite a adição de água no máximo uma vez, e quanto a perda de
água em climas quentes ou com ventos acentuados, sendo recomendado o
cobrimento do recipiente da argamassa.

2.3.3 Graute

O graute é um microconcreto composto por cimento, água, agregados miúdos e


agregados graúdos que possui propriedades como trabalhabilidade, fluidez e
resistência à compressão. É comumente utilizado para o enchimento em reforços
estruturais nas zonas de concentração de tensões, como nas vergas e contravergas,
e para preencher os vazios dos blocos, aumentando a resistência à compressão da
parede de alvenaria estrutural sem a necessidade de aumentar a resistência do bloco.
As características do graute no estado fresco devem garantir “o completo
preenchimento dos furos e não pode apresentar retração que provoque o seu
descolamento das paredes do bloco” (ABNT NBR 16868:2020), além de possuir
consistência adequada para que não ocorra a segregação.
28
Os materiais utilizados devem obedecer ao regulamentado pela norma. Portanto,
os agregados devem ter dimensão menor que ¼ da menor dimensão dos vazados a
serem preenchidos e os aditivos devem estar de acordo com a ABNT NBR 11768-1 e
ABNT NBR 11768-2 ou devem ter duas propriedades verificadas experimentalmente.
A dosagem deve garantir que o graute atinja as características físicas e
mecânicas necessárias para o bom desempenho estrutural da parede. Mohamad
(2015) explica que em obras pouco carregadas pode-se utilizar traços clássicos, os
quais são resumidos pelo autor na tabela 11, transcrita do livro:

Tabela 11 – Proporções recomendadas para a dosagem do graute


em volume e materiais secos

Materiais constituintes
Cimento Areia Pedrisco
Sem pedrisco 1 3a4 -
Com pedrisco 1 2a3 1a2

Fonte: Mohamad (2015).

De acordo com ABNT NBR 16868:2020, o valor da resistência à compressão


característica do graute deve ser especificada em projeto com valor mínimo de 15
MPa e de acordo com as ABNT NBR 5738:2015 e ABNT NBR 5739:2018. Já para fins
de verificação da influência do graute na resistência total da alvenaria devem ser
realizados ensaios em laboratório. A norma indica a realização do ensaio de
compressão de primas, pequenas paredes ou paredes para verificar a ação no que
diz respeito à compressão.
O controle de produção do graute é realizado com o intuito de verificar os valores
característicos especificados no projeto e realizado através do ensaio de resistência
à compressão característica das amostras moldadas para cada lote. Assim como para
argamassa, de acordo com a ABNT NBR 19868:2020, é considerado um lote a
condição mais restritiva dos seguintes limites:

600m² de área construída em planta, dois pavimentos para construções com


blocos ou tijolos de fbk ≤ 6,0 MPa, um pavimento para construções com
blocos ou tijolos de fbk > 6,0 MPa, duas semanas de produção ou argamassa
fabricada com matéria prima de mesma procedência, mesma dosagem e
mesmo processo de preparo.

A ABNT NBR 16868:2020 determina a amostra que deve ser utilizada para
controle de produção de um lote. Segundo a norma, quando o graute utilizado for

29
dosado na central, utilizam-se os critérios especificados na ABNT NBR 12655:2015.
Já para outros casos a norma define:

Em outros casos, a amostra de graute deve conter seis exemplares. Cada


exemplar é constituído de um corpo de prova. Recomenda-se a construção
adicional de igual número de exemplares para eventual contraprova. A
moldagem dos corpos de prova deve ser feita de acordo com a ABNT NBR
5738. O ensaio é realizado de acordo com a ABNT NBR 5739.

Para ser aceito, o lote de graute deve ter sua amostra ou contraprova com valor
característico maior ou igual ao especificado no projeto a partir dos ensaios realizados.
Além disso, a norma considera como estruturais e aplicáveis à alvenaria estrutural
grautes com resistência a partir de 15 MPa (classe C15 e acima). (ABNT NBR
16868:2020)
As recomendações para recebimento e armazenamento do graute são as
mesmas que as determinada pela ABNT NBR 16868:2020 para argamassa.

2.3.4 Armadura

Segundo Mohamad (2017) “a armadura na alvenaria estrutural é utilizada para


resistir a esforços de tração e cisalhamento. Eventualmente, pode ser utilizada para
conectar paredes e outros elementos não estruturais, para evitar eventuais
fissurações.”
Para garantir o trabalho em conjunto com o restante dos componentes da
alvenaria e promover a proteção contra corrosão, a armadura é envolvida por graute.
No entanto, segundo Ramalho e Corrêa (2003), “uma exceção é feita para armaduras
colocadas nas juntas das argamassas de assentamento. Nesse caso é importante
ressaltar que o diâmetro deve ser de no mínimo 3,8 mm, não ultrapassando a metade
da espessura da junta.” A ABNT NBR 16868:2020 também indica que, quando
imersas em juntas de argamassa, as armaduras sejam de aço seja galvanizado,
devendo seguir as recomendações da ABNT NBR 16300:2016, ou de metal resistente
à corrosão.
O projeto deve especificar o aço de acordo com a ABNT NBR 7480:2007 e,
segundo a ABNT NBR 16868:2020, em situações em que não houverem ensaios ou
valores fornecidos pelo fabricante, pode-se admitir o módulo de elasticidade do aço
igual a 210 GPa.

30
O armazenamento do aço deve ser de maneira a manter suas propriedades e
característica geométricas inalteradas, impedindo o contato com qualquer tipo de
contaminante.

2.4 Projeto

O projeto “tem importância primordial na qualidade das edificações, sendo


apontado como a principal origem de patologias das construções, em diversos
estudos estrangeiros” (PICCHI, 1993). No entanto, segundo Mohamad (2017), o
projeto em alvenaria estrutural possui maiores limitações quando comparado a
projetos em sistemas tradicionais, como a simetria, volumetria, dimensões máximas
dos vãos e flexibilidade da planta.
Segundo Parsekian (2010) “o projeto arquitetônico é elaborado em três fases:
estudo preliminar, anteprojeto e projeto.” O primeiro é adaptado ao projeto estrutural,
define a forma da edificação com o lançamento preliminar das paredes resistentes e
de contraventamento e o estudo do traçado das paredes não resistentes.
O anteprojeto define as dimensões do bloco para estabelecimento de um
módulo, que permite o desenvolvimento do projeto através da aplicação da técnica de
coordenação modular, ou seja, concebido com base na modulação dos blocos, já que
possuem dimensões de comprimento, altura e largura conhecidas e de pequena
variabilidade dimensional, o que significa que todas as medidas, sejam elas verticais
ou horizontais, são múltiplas do valor da espessura do bloco empregado, normalmente
15 cm ou 20 cm). (MOHAMAD, 2015)
Ramalho e Côrrea (2003) destacam que:
A modulação é um procedimento absolutamente fundamental para que uma
edificação em alvenaria estrutural possa resultar econômica e racional. Se as
dimensões de uma edificação não forem moduladas, como os blocos não
devem ser cortados, os enchimentos resultantes certamente levarão a um
custo maior e uma racionalidade menor para a obra em questão.

A partir da modulação da alvenaria, amarração das paredes e determinação das


dimensões das aberturas com dimensões moduladas, parte-se para o projeto
arquitetônico que inclui, segundo Parsekian (2010):

[...] as plantas de primeira e segunda fiadas, as plantas de elevação de todas


as paredes, bloco por bloco, com representação das aberturas cotadas
(geralmente escala 1:20), mostrando todos os detalhes de como a parede
deve ser executada, identificando os tipos de bloco (meio-bloco, inteiro, bloco
e meio, canaletas, J), os eventuais grauteamentos verticais e horizontais, as
armações presentes, a indicação das intersecções de paredes e instalações
elétricas.”
31
Na alvenaria estrutural a forma da edificação, além de estar vinculada à sua
função, também é condicionada pelo sistema construtivo, pois, segundo Mohamad
(2017), há a solicitação de que as paredes portantes sejam distribuídas no plano de
forma rígida o bastante para resistir a esforços horizontais, como a ação do vento.
Para garantir excelência na execução, é imprescindível garantir integração
intensa entre projeto e obra e a integração e compatibilização das paredes projetadas
com as instalações prediais, já que, além de terem função estrutural e de vedação, as
paredes ainda podem conter elementos das instalações, que devem ser previstas para
que os blocos possam ser separados no canteiro de obras. Tais medidas, aliadas a
um bom planejamento e ao projeto gráfico, promovem a racionalização construtiva,
ou seja, uma aplicação mais eficiente de recursos nas atividades desenvolvidas que
elimina improvisações na execução e reduzem a geração de entulhos a quase zero
na obra, o que implica em economia.
Quanto as especificações relacionadas aos materiais, o projeto deve conter,
segundo a ABNT NBR 16868:2020:

[...] as resistências características à compressão dos prismas ocos e prismas


cheios, e grautes, as faixas de resistência média à compressão (ou as classes
conforme a ABNT NBR 13281) das argamassas, assim como a categoria,
classe e bitola dos aços a serem adotados. Também podem ser apresentados
os valores de resistência sugeridos para os blocos ou tijolos, de forma que as
resistências de prisma especificadas sejam atingidas.

2.4.1 Primeira fiada

Tendo assegurado o equilíbrio das decisões entre os projetistas, com as


características gerais da edificação definidas, é possível dar início a fase de
anteprojeto, onde estão incluídos a definição do tipo de bloco utilizado e a definição
das paredes estruturais, sendo possível dar início à concepção do projeto
arquitetônico. Com o projeto pronto, a partir da técnica de coordenação modular, é
possível fazer o lançamento da planta de primeira fiada.
A planta de primeira fiada indica graficamente, dentre outras informações, como
deverão ser assentados os primeiros blocos na laje, além de confirmar a viabilidade
do projeto arquitetônico, já que irá dispor os blocos com as dimensões determinadas
pelo projetista, verificando, desta forma, a não utilização de componentes especiais
para compensar medidas, por isso, é importante que no projeto arquitetônico sejam
previstas as dimensões internas dos cômodos como múltiplas do módulo de referência
adotado.
32
Além da modulação, uma série de informações devem estar contidas na planta
de primeira fiada. Dentre elas, segundo Manzione (2004):

- Eixo de locação com medidas acumuladas a partir da origem;


- Eixos de locação com medidas acumuladas até a face dos blocos;
- Dimensões internas dos ambientes com medidas sem acabamentos;
- Indicação dos blocos estratégicos com cores diferentes;
- Indicação de elementos pré-fabricados;
- Posicionamento de shafts e furação de lajes;
- Representação diferente entre as paredes estruturais e as de vedação;
- Numeração das paredes e indicação de suas vistas;
- Indicação dos pontos de graute;
- Medidas dos vãos das portas;
- Representação das cotas de forma direta evitando a obtenção de medidas
por diferença.

2.4.2 Elevação da alvenaria

2.4.2.1 Juntas

2.4.2.1.1 Juntas horizontais e verticais

Segundo Mohamad (2017), “as juntas horizontais são parte da estrutura tanto
quando a unidade de alvenaria.” As juntas devem ter dimensões e características em
acordo com a NBR 16868:2020 e preenchidas completamente com argamassa com
traço indicado no projeto, visto que em caso de não cumprimento pode ocorrer a
redução da resistência da alvenaria.
Enquanto as juntas horizontais possuem função de resistir aos esforços de
compressão, o preenchimento das juntas verticais tem pouco efeito para esta função,
no entanto afetam a resistência à flexão e ao cisalhamento do conjunto e contribuem
significativamente com a qualidade acústica, térmica e de produtividade da edificação.
A ABNT NBR 16868:2020 regulamenta que as juntas verticais sejam sempre
preenchidas, exceto se for especificada sua não utilização.
A aplicação de argamassa pode ser prevista de duas maneiras: somente nas
paredes longitudinais do bloco, chamada de junta seca, ou nas paredes longitudinais
e transversais do bloco, chamada de junta total. A ABNT NBR 16868:2020 recomenda
que, a menos que especificado em projeto, seja feita a junta total nos blocos ou tijolos,
já que, segundo Mohamad (2017), o argamassamento total confere vantagens à
edificação, como a solidarização do conjunto, menor permeabilidade, maior aderência
e maior resistência à compressão.

33
2.4.2.1.2 Juntas de dilatação

A junta de dilatação é um espaço deixado entre duas paredes estruturais que


tem a finalidade de permitir que os movimentos provenientes de variações de
temperatura e retração ocorram na estrutura, evitando a concentração de tensões
entre estes elementos estruturais. Essa junta deve ser prevista quando houver
mudanças na rigidez que tendem a “separar” a edificação, resultando em fissuração.
A ABNT NBR 16868:2020 recomenda quanto a previsão das juntas de dilatação
no projeto:

Recomenda-se prever juntas de dilatação no máximo a cada 24 m da


edificação em planta. Esse limite pode ser alterado, desde que se faça uma
avaliação dos efeitos da variação de temperatura e retração sobre a estrutura,
incluindo a eventual presença de armaduras adequadamente alojadas em
juntas de assentamento horizontais.

De acordo com Mohamad (2017), “a junta de dilatação deve ser preenchida com
material deformante, como isopor, e suas extremidades vedadas com material
impermeável e elástico.”

2.4.2.1.3 Juntas de controle

Segundo Vilató e Franco (1998), as juntas de controle

[...] têm por função limitar as dimensões do painel de alvenaria a fim de que
não ocorram elevadas concentrações de tensões em função das
deformações intrínsecas do mesmo. Estas deformações podem ter sua
origem em movimentações higroscópicas (capacidade dos materiais de
absorver e liberar água), modificando o volume quando varia o conteúdo de
umidade, em variações de temperatura, ou em processos químicos, como
reações de expansão de materiais presentes nas juntas e ou blocos.

Com a finalidade de prevenir o surgimento de fissuras, as juntas de controle


verticais são previstas nas seguintes situações: mudanças bruscas de direções
(formas de L, T e U), nos pontos em que há variação da espessura da parede, nos
pontos em que há variação brusca da altura da parede, intersecções com pilares e
vigas de concreto e no encontro da última fiada com a laje de cobertura. (TAUIL E
NESE, 2010)
Quando não há avaliação precisa das condições específicas do painel, a ABNT
NBR 16868:2020 recomenda a disposição destas juntas com espaçamento máximo
limitado aos valores da tabela 12, transcrita da norma.

34
Tabela 12 – Valores máximos de espaçamento entre juntas verticais de controle

Espaçamento máximo entre juntas verticais de controle m


Alvenaria com taxa de armadura
Localização do Alvenaria sem armadura horizontal maior ou igual a 0,04%
Material
elemento horizontal da seção transversal (altura .
espessura)
t ≥ 14 cm t < 14 cm t ≥ 14 cm t < 14 cm
Externa 10 8 12 9
Cerâmica
Interna 12 10 15 12
Externa 7 6 9 8
Concreto
Interna 12 10 15 12

Fonte: ABNT NBR 16868:2020.


Mohamad (2017) explica que as juntas verticais de controle “[...] devem ser
preenchidas com um material compressível resiliente (isopor, plástico, borracha) e ser
vedadas por um material impermeabilizante que impeça entrada de água.”
Para garantir o desempenho estrutural da edificação, é necessário que alguns
cuidados sejam tomados ao prever a execução das juntas de controle, como o perfeito
selamento para coibir a entrada de umidade e o cuidado para não interferir na
estabilidade, transmissão de carga das paredes e na redução da resistência ao fogo.
Pela exigência destes cuidados especiais, existem alternativas que, sempre que
possível, podem ser adotadas no projeto para substituir estas juntas e reforçar as
áreas mais frágeis, como as colunas de graute, treliças planas ou barras de
transferência.

2.4.2.2 Amarração de paredes

Nas edificações em alvenaria estrutural, a segurança é garantida pela rigidez da


edificação em decorrência da união (amarrações) entre as paredes estruturais, nas
duas direções principais do vento, e pelo controle no projeto e na produção da
edificação. (Mohamad, 2015)
Com o intuito de promover a economia e racionalização e garantir a transmissão
de ações de uma parede para outra, é necessário amarrar duas ou mais paredes que
se encontrem para aliviar uma parede mais carregada e acrescentar tensões numa
menos carregada. As amarrações das paredes podem ser feitas de maneira direta ou
indireta.

35
Para Mohamad (2017), a amarração direta pode ser definida como um “padrão
de ligação de paredes por intertravamento de blocos, obtido com interpenetração
alternada de 50% das fiadas de uma parede na outra”. Campos explica sobre os dois
tipos de amarração direta, em L e em T.
- Amarração direta em L: quando utilizados os blocos da família 39 na elevação da
alvenaria, é necessária a utilização de blocos especiais em todas as fiadas nas
dimensões 14x34 cm. Já quando utilizados blocos da família 29, não são necessários
blocos especiais.
- Amarração direta em T: neste caso, os blocos especiais nas dimensões 14x44 cm
são necessários em umas das fiadas quando os blocos da família 29 forem utilizados
e, quando utilizados os blocos da família 39, utiliza-se blocos especiais nas dimensões
14x43 cm em uma fiada e, na fiada seguinte, nas dimensões 14x54 cm.
Quanto a amarração indireta, a ABNT NBR 16868:2020 faz a seguinte definição:

Padrão de ligação de paredes com junta vertical a prumo em que o plano da


interface comum é atravessado por armaduras normalmente constituídas por
grampos metálicos devidamente ancorados em furos verticais adjacentes
grauteados ou por telas metálicas ancoradas em juntas de assentamento.

As juntas a prumo, mencionadas na descrição da norma, podem ser empregadas


entre paredes estruturais e entre parede estrutural e de vedação, no entanto, para sua
aplicação, é necessário o cuidado de grautear e grampear os furos dos blocos.
(Mohamad, 2015) No entanto, para Parsekian (2010), é indicado evitar este tipo de
amarração por considerar que traz prejuízos no comportamento estrutural das
paredes já que não as une totalmente e acaba por reduzir a rigidez nos carregamentos
laterais, além de prejudicar a distribuição de cargas verticais.

2.4.2.3 Vergas e contravergas

As vergas e contravergas, esquematizadas na figura 01, são elementos


estruturais executados em portas e janelas com a finalidade de absorver as tensões
que se concentram nestas aberturas e que influenciam diretamente o desempenho da
parede como elemento estrutural. De modo específico, as vergas, executadas na
parte superior das portas e janelas, têm a função de resistir a esforços de tração na
flexão, redistribuindo para a parede as cargas verticais. As contravergas, por sua vez,
executadas na parte inferior das janelas, têm a função de distribuir os esforços
concentrados que surgem na parte inferior das aberturas e devem ser executadas

36
com reforço de aço para distribuir as tensões concentradas nos cantos inferiores dos
vãos.
A execução destes reforços horizontais é feita com blocos canaleta preenchidos
com graute e armadura (dimensionada no projeto), peças moldadas no local ou peças
pré-moldadas, conforme especificado no projeto.

Figura 01 – Esquema identificando verga, contra verga e cinta de amarração

Fonte: Site Tékhton.

2.4.2.4 Cinta de amarração

Executada na última fiada de cada pavimento e com a finalidade de distribuir as


cargas nas paredes e solidarizá-las, a cinta de amarração pode, segundo a ABNT
NBR 16868:2020, “ser executada com blocos especiais, tipo canaleta, ou com formas.
Em toda as situações deve-se assegurar o completo preenchimento da cinta”
Ainda de acordo com a ABNT NBR 16868:2020, “o grauteamento dessa cinta
deve preceder a montagem das formas de laje, exceto se for assegurada a não
movimentação dos blocos de canaletas assentados, durante todas as etapas do
processo de produção.”

2.4.2.5 Instalações elétricas e hidrossanitárias

Para garantir a racionalização da execução proposta por este sistema


construtivo é primordial que haja integração entre os projetos. Somado a isso, devido
a função estrutural desempenhada pelas paredes, é intolerável rasgar as paredes
estruturais para passagem das instalações, já que tal ação reduz a espessura da
parede e, consequentemente, a sua resistência. (Mohamad, 2017)
O projeto de instalações elétricas deve prever que as tubulações verticais sejam
embutidas na parede, ou seja, utilizando os espaços vazados dos blocos para a

37
passagem das mangueiras, enquanto os eletrodutos horizontais são embutidos nas
lajes ou nos pisos.
É possível, ainda, a utilização de blocos especiais para instalação dos pontos
elétricos, que já apresentam o recorte necessário. No entanto, segundo Mohamad
(2017), “[...] em razão do custo do bloco especial ser maior, muitas vezes opta-se por
utilizar um bloco convencional, realizando-se, posteriormente, o corte na obra.”
Para as instalações hidráulicas, uma ação em particular proporciona a
racionalização: a concentração de áreas afins, que facilita o percurso vertical das
instalações de água e esgoto, bem como, a adoção de shafts que podem ser
executados em diferentes formas, como, por exemplo, com fechamento em gesso;
com esperas em alvenaria e fechamento removível; com fechamento total em
alvenaria; e aproveitável pelos dois lados da parede.
Além disso, para viabilizar a distribuição horizontal, das tubulações e contribuir
com a racionalização do empreendimento, as tubulações podem ser embutidas no
piso ou com a utilização de blocos mais estreitos na parede de vedação que permitem
embutir as tubulações.
No projeto gráfico, as instalações hidráulicas devem ser detalhadas com todas
as descidas de tubulações identificadas na paginação das paredes, deixando os
espaços necessários para a passagem delas.

2.4.2.6 Esquadrias

A produção racionalizada se aplica também aos sistemas de esquadrias para


portas e janelas instaladas em obras de alvenaria estrutural, que devem respeitar a
modulação dos vãos e com tamanho, forma e arranjo adequados, já que influenciam
no comportamento estrutural. (PARSEKIAN, 2010) Desta forma, é possível
compatibilizá-las com portas e janelas oferecidas comercialmente ou então
providenciar aberturas feitas sob medida de acordo com a dimensão do vão.
As portas podem ser executadas com métodos diferentes: com batentes
metálicos ou de madeira. Manzione (2004) faz as seguintes considerações para cada
uma delas:
Batentes metálicos – Os batentes metálicos facilitam a elevação da alvenaria,
pois servem de gabarito para o vão; por outro lado, impedem a adoção do kit
“porta pronta”. Como medida de racionalização, sugere-se para este caso a
adoção do conceito de “folha pronta”, no qual as folhas de porta já venham
com pintura de fundo e ferragens colocadas.

38
Batentes de madeira – Os batentes em madeira permitem a adoção do
sistema kit “porta pronta” com a fixação do conjunto porta-batente com
espuma de poliuretano. Aconselha-se também, neste caso, que o conjunto já
venha com uma pintura de fundo para a obra.

Com relação às janelas, a solução construtiva varia de acordo com o tipo de


esquadria a ser utilizada, como ferro, alumínio ou PVC. É importante salientar, no
entanto, que em todos os casos deve ser prevista a instalação de peitoris, que tem a
finalidade de proteger a fachada e evitar a entrada de água através do caixilho.

2.4.3 Norma de desempenho

De acordo com o “Guia para arquitetos na aplicação da norma de desempenho”,


patrocinado pelo CAU, a Norma de desempenho, em vigor desde julho de 2013,
“agrega uma extensa relação de normas já existentes, das mais diversas disciplinas
e relacionadas ao tema, e estabelece ampla e solidária junção de incumbências entre
os intervenientes do processo”. A norma precisou quebrar uma série de padrões da
cultura dos processos construtivos utilizados no país, “trazendo novas formas de
especificar e elaborar projetos que inclui o conhecimento do comportamento em uso
dos inúmeros materiais, componentes elementos e sistemas construtivos que
compõem a edificação.”
A ABNT NBR 15575:2014 é subdividida em 6 partes: requisitos gerais; requisitos
para os sistemas estruturais; requisitos para os sistemas de pisos; requisitos para os
sistemas de vedação verticais internas e externas – SVVIE; requisitos para os
sistemas de coberturas; e requisitos para os sistemas hidrossanitários. Desta forma a
norma tem o objetivo, segundo estudo realizado pela CBIC, “Análise dos Critérios de
Atendimento à Norma de Desempenho ABNT NBR 15.575” de:

[...] estabelecer uma sistemática de avaliação de tecnologias e sistemas


construtivos de habitações, com base em requisitos e critérios de
desempenho expressos em normas técnicas brasileiras da ABNT/Inmetro,
tais como desempenho acústico, térmico, lumínico, dentre outros.

As alvenarias são regulamentadas pela parte 4 da ABNT NBR 15575:2014,


sistemas de vedações verticais internas e externas (SVVIE), sejam para blocos com
função estrutural ou apenas de vedação, os quais, segundo Silva (2014) devem
proporcionar estanqueidade à água, isolação térmica e acústica, capacidade de
fixação de peças suspensas, capacidade de suporte a esforços de uso,
compartimentação em casos de incêndio, entre outras propriedades. No caso da
alvenaria estrutural, a norma de desempenho foi baseada nas antigas normas que
39
estavam em vigência para blocos cerâmicos e de concreto, a ABNT NBR 15812:2010
e ABNT NBR 15961:2011, respectivamente. Em entrevista para o site Mapa da Obra
(2017), o engenheiro Arnoldo Wendler explica que o atendimento à essas normas,
que recentemente foram substituídas pela ABNT NBR 16868:2020, já garante o
atendimento aos requisitos estruturais, tensões e deformações, e a vida útil mínima
de 50 anos para as edificações utilizando este sistema construtivo.

2.4.4 ISO 9001

A ISO 9001 é um sistema de gestão de qualidade internacional criado pela ISO


(International Organization Standardization) e no Brasil gerenciado pela ABNT com o
intuito de garantir a otimização de processos e tornar o desenvolvimento de produtos
mais ágil, a fim de satisfazer os recebedores finais do produto e, consequentemente,
aumentar o desempenho de empresas de qualquer tipo perante seus clientes.
Na construção civil, para uma empresa receber a certificação, é necessário que
a mesma monitore os processos institucionais e os aperfeiçoem. Para isso adotam-se
documentos para organização e controle do processo de produção, garantindo a
redução de custos, a padronização de serviços e a melhora contínua da cadeia
produtiva

2.4.5 Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H)

O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H)


possui como base as diretrizes da ISO 9001 e, segundo o site do Ministério do
Desenvolvimento Regional,

é uma ferramenta do Governo Federal que busca garantir dois pontos


fundamentais quando se fala de habitação de interesse social: a qualidade,
com obras marcadas pela segurança e durabilidade; e a produtividade do
setor da construção a partir da sua modernização.

As ações promovidas por este programa garantem que a cadeia produtiva evolua
e se desenvolva a partir de 3 sistemas de adesão voluntária: o SiAC, SiNAT e SiMaC.
O primeiro deles é o “sistema de avaliação da conformidade de empresas de serviços
e obras da construção civil” (SiAC), que foi elaborado com base nas normas da ISO
9001 e em requisitos envolvidos na prática da construção civil, induzindo à
modernização das construtoras, oferecendo moradias de qualidade e, ao mesmo
tempo, realizando auditorias adequadas.

40
Já o SiMaC (Sistema de Qualificação de Empresas de Materiais, Componentes
e Sistemas Construtivos), segundo o site do PBQP-H, “combate a não conformidade
na fabricação, importação e distribuição de materiais, componentes e sistemas
construtivos, isto é, exige o cumprimento das normas técnicas brasileiras elaboradas
pela ABNT”, para isso utiliza-se de Programas Setoriais de Qualidade (PSQ).

2.5 Execução

Conforme mencionado no decorrer do trabalho, a execução dos


empreendimentos em alvenaria estrutural depende da qualidade dos projetos e exige
que esta fase esteja completamente finalizada, com a integração e compatibilização
dos projetos arquitetônico, estrutural, elétrico, hidrossanitário e demais projetos
complementares.
Para promover a racionalização e melhor produtividade do sistema, assim como
uma série de medidas citadas até aqui, na execução é imprescindível que as equipes
estejam familiarizadas com os projetos e devidamente capacitadas, já que, segundo
Parsekian (2010), “a correta execução e o controle da alvenaria é fator importante
para que se atinja o máximo de eficiência do sistema construtivo”, além de ressaltar
quanto a importância da fiscalização da obra: “nas paredes construídas sem
fiscalização, a resistência pode ser significativamente menor que naquelas
construídas com fiscalização”.
A fase de execução também depende das condições que são dadas para que
sejam garantidas as tolerâncias dimensionais especificadas, como, por exemplo, os
materiais, que devem estar em acordo com as suas respectivas normas
regulamentadoras e as ferramentas utilizadas no processo, sendo recomendável o
controle de recebimento de cada um deles.
Quanto às ferramentas e equipamentos específicos utilizados na execução,
Mohamad (2017) lista os seguintes: nível alemão, régua prumo-nível, esticador de
linha, palheta, bisnaga, escantilhão de canto, andaimes com guarda-corpo, caixote
para argamassa, suporte para caixote regulável e argamassadeira.
Para o início de qualquer atividade, é necessário que todos os equipamentos de
segurança de uso coletivo e individual passem por inspeções para verificar suas
condições. Segundo Mohamad (2017):

41
A Norma Regulamentadora (NR) nº 18 estabelece diretrizes de ordem
administrativa de planejamento e organização, que objetivam a
implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança
nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho. Entre elas, a
utilização dos equipamentos de proteção individual e coletiva (EPI e EPC).

A ABNT NBR 16868:2020 regulamenta quanto a espessura das juntas verticais


e horizontais e determina a variação máxima admitida, como mostra a Figura 02

As juntas horizontais devem ter espessuras de 10 mm, exceto as juntas


horizontais da primeira fiada, conforme 9.2.3. As juntas verticais devem ter
espessuras de 10 mm, exceto se forem especificados valores diferentes no
projeto.
Figura 02- Variações máximas da espessura das juntas de argamassa

Fonte: ABNT NBR 16868:2020

Quanto a aplicação da argamassa, a ABNT NBR 16868:2020 indica que “os


cordões de argamassa sejam aplicados sobre os blocos em uma extensão tal que sua
trabalhabilidade não seja prejudicada por exposição prolongada ao tempo, evitando-
se a queda nos vazados dos blocos”.

2.5.1 Marcação e primeira fiada

A ABNT NBR 16868:2020 indica os requisitos que devem ser verificados antes
do início da elevação para assegurar que a alvenaria seja construída conforme o
projeto:

a) a locação, esquadros e nivelamento da base de assentamento da


alvenaria conforme tolerâncias descritas nesta seção ou especificadas no
projeto;

42
b) o posicionamento dos reforços metálicos e das tubulações de acordo com
o projeto;
c) a limpeza da laje, ou viga, sobre os quais a alvenaria é executada,
quando a materiais que possam prejudicar a aderência da argamassa
entre o bloco ou tijolo e a laje, ou viga;
d) a limpeza dos blocos ou tijolos e peças pré-fabricadas, que devem estar
isentos de materiais que prejudiquem sua aplicação e desempenho

Para garantir o critério de nivelamento da base, a norma indica que “a variação


da superfície de apoio da alvenaria não pode ultrapassar ± 10 mm em relação ao plano
especificado.” (ABNT NBR 16868:2020), como mostra a Figura 03.

Figura 03 - Variação do nível da superfície da laje de apoio da alvenaria

Fonte: ABNT NBR 16868:2020

Finalizados os serviços preliminares, inicia-se a marcação de fato, que tem


influência na precisão geométrica do conjunto de paredes que serão elevadas. Nesta
fase são marcadas as direções de paredes, vãos de portas e shafts com o auxílio do
fio traçante, sempre verificando a perpendicularidade entre as paredes com a
utilização do esquadro. (MOHAMAD, 2015)
Após a marcação das linhas com as direções das paredes, é instalado o
escantilhão em pontos definidos pelo encontro de paredes, que garante o nivelamento
perfeito das demais fiadas. Este equipamento é constituído, segundo Mohamad
(2015), “de uma haste vertical metálica com cursos graduada de 20 em 20 cm e duas
hastes telescópicas articuladas a 1,20 m de altura.” A instalação consiste em marcar
a posição dos escantilhões, fixar o pé e a mão francesa e colocar o escantilhão a
prumo, além de incluir a instalação dos gabaritos de portas.
Para garantir a segurança dos trabalhadores deve ser instalada a linha de vida
e removido o guarda corpo de proteção.

43
É possível, então, iniciar o assentamento dos blocos da primeira fiada, com a
colocação, primeiramente, dos blocos estratégicos. A ABNT NBR 16868:2020 faz
duas considerações que devem ser asseguradas durante a execução da alvenaria:

- os blocos e tijolos depois de assentados não devem ser movidos da sua


posição para não perder a aderência com a argamassa
- as paredes de alvenaria devem ser executadas apenas com blocos inteiros
e seus complementos. Para serem utilizadas peças cortadas pré-fabricadas
ou pré-moldadas, estas devem estar previstas no projeto de produção e
obtidas mediante condições controladas.

Antes de iniciar o assentamento é necessário amarrar e esticar a linha de


referência com o auxílio do esticador no escantilhão. Além disso, também é
recomendado umedecer a superfície do pavimento na direção da parede para
assentar os blocos da primeira fiada.
Há, ainda, uma recomendação específica da ABNT NBR 16868:2020 para o
assentamento da primeira fiada, a qual indica que o valor mínimo da junta seja de 5
mm e que o valor máximo não pode ultrapassar 20 mm, sendo admitido o valor de até
30 mm para trechos que tiverem comprimento inferior a 500 mm. Em casos em que
nenhuma condição satisfaça, deve ser utilizado um material de mesma resistência da
laje ou da viga para o nivelamento da base, como mostra a figura 03 a seguir.
De acordo com Parsekian (2010), a primeira fiada do pavimento térreo deve ser
assentada com argamassa de cimento e areia, devido ao uso do impermeabilizante,
além disso, deve ser constantemente verificada quanto à sua qualidade e consistência
para facilitar a aplicação, que é realizada com uma colher de pedreiro.

2.5.2 Elevação da alvenaria

O assentamento dos blocos, depois de finalizada a primeira fiada, é realizado


com a aplicação de argamassa utilizando-se palheta nas paredes longitudinais, e a
colher de pedreiro nas paredes transversais, ou, se o profissional preferir, com uma
bisnaga. A norma exige que os vazios dos blocos não sejam obstruídos e, caso houver
argamassa em excesso, que esta pode ser retirada e misturada à argamassa fresca,
desde que não tenha contato com o chão ou andaime.
As juntas verticais devem ser sempre preenchidas com a aplicação de dois filetes
de argamassa na parede lateral dos blocos ou tijolos, assegurando que cada um dos
filetes tenha largura de no mínimo 30 mm. No entanto, a norma permite que, para
edifícios de até cinco pavimentos, o preenchimento das juntas seja realizado posterior
44
a elevação total da parede. Neste caso, a aplicação é feita com bisnaga e utilizando
argamassa não retrátil, a compressão da aplicação deve ser suficiente para assegurar
a largura mínima dos filetes. (ABNT NBR 16868:2020)
Além do controle geométrico do preenchimento das juntas com suas respectivas
tolerâncias, é necessário, ainda, garantir que o prumo, nível e alinhamentos dos
elementos estejam dentro das concordâncias admitidas pela ABNT NBR 16868:2020,
como mostra a tabela 13, que indica que “o desaprumo e o desalinhamento máximo
das paredes e pilares não podem superar 10 mm, além de atender ao limite de 2mm/m
[...]. Na altura total do prédio, o máximo desaprumo admitido é de 25 mm”, como
mostra a figura 3.

Figura 04 – Limites máximos para o desaprumo e desalinhamento das paredes


e desnível da fiada de respaldo

Fonte: ABNT NBR 16868:2020


Quanto a descontinuidade vertical, é permitido que os pilares e paredes tenham
no máximo 5 mm entre um pavimento e outro, sendo admitido o mesmo valor nas
alvenarias periféricas em relação à laje superior. Na fiada de respaldo, ou cinta de
amarração, deve ser realizada a conferência do pé direito do pavimento, que não pode
ser inferior a 5 mm e superior a 10 mm da medida especificada no projeto. (ABNT
NBR 16868:2020).

45
Tabela 13 – Variáveis de controle geométrico na produção da alvenaria

Fator Tolerância
Espessura ± 3 mm
Junta horizontal 2 mm/m
Nível
10 mm no máximo
Espessura ± 3 mmm
Junta vertical 2 mm/m
Alinhamento vertical
10 mm no máximo
± 2 mm/m
± 10 mm no máximo por piso
Vertical (desaprumo)
Alinhamento e locação ± 25 mm na altura total do
da parede edifício
Horizontal (desvio em relação à ± 2 mm/m
locação e ao desalinhamento) ± 10 mm no máximo
Nível superior das
Nivelamento da fiada de respaldo ± 10 mm
paredes

Fonte: ABNT NBR 16868:2020.

No posicionamento das armaduras é necessário assegurar que estas se


mantenham na posição correta durante o grauteamento para garantir o cobrimento
especificado no projeto. Além disso, é tolerado um erro máximo de 1 cm no
posicionamento para seções fletidas com dimensão inferior a 20 cm, no plano de
flexão, e 2 cm para seções comprimidas ou de dimensão superior a 20 cm. A norma
também proíbe a contato de materiais de naturezas distintas e que fios, barras e telas
de reforço imersos em juntas de argamassa devem ser de aço galvanizado ou de
metal resistente à corrosão. (ABNT NBR 16868:2020)
A norma ainda faz referência quanto a distância mínima que as barras de
armadura devem estar separadas, a fim de permitir o correto lançamento e
compactação do graute. Para isso, as distâncias livres entre as barras adjacentes não
podem ser menores que o diâmetro máximo do agregado mais 5 mm, 1,5 vezes o
diâmetro da armadura e 20 mm. (ABNT NBR 16868:2020)
Na operação de grauteamento deve ser assegurado que os furos dos blocos
estejam alinhados e desobstruídos, com a completa remoção das rebarbas de
argamassa, como mostra a figura 04. É necessário realizar a molha do local antes do
lançamento, que deve ser realizado de uma altura máxima de 1,6 metros, exceto se
for devidamente aditivado, para, desta forma, evitar a segregação. No caso do graute
não ser autoadensável, o adensamento deve ser manual, com a utilização de hastes
entre 10 mm e 15 mm de diâmetro e com comprimento suficiente para atingir toda a
46
extensão do vazado. Devem ser criadas janelas de visita nas alturas definidas pelo
projetista para o grauteamentos, a fim de realizar a limpeza destes e a inspeção da
operação. (ABNT NBR 16868:2020)

Figura 05 – Desobstrução dos furos

Fonte: ABNT NBR 16868:2020

47
3 METODOLOGIA

Neste capítulo será abordada a metodologia da pesquisa adotada para a


elaboração do trabalho, que consiste em uma pesquisa descritiva de caráter
qualitativo. A partir do estudo da ABNT NBR 16868:2020 foram listados critérios com
base nesta norma. Este questionário foi aplicado em quatro obras em execução em
alvenaria estrutural com início a partir do dia 10 de agosto de 2020.
Tendo em vista o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa, as obras
visitadas seguem o PBQP-H e devem estar em acordo com padrões normativos de
regulamentação. A partir disso foi verificado se os padrões construtivos, de inspeção
e controle de qualidade adotados pelas construtoras/incorporadoras estão atualizados
de acordo com a nova norma.
A partir das exigências identificadas na norma para cada etapa da execução,
foram verificados in loco o atendimento quanto ao recebimento de materiais, se a
construtora realiza todos os métodos de ensaio exigidos e se a produção da alvenaria
estrutural é inspecionada e respeita as tolerâncias exigidas pela norma.
Por isso, a fim de verificar o cumprimento, frequência e métodos utilizados para
tais inspeções no canteiro de obras, os critérios a serem verificados foram
transformados em formato de questionário, anexo A, que foi preenchido durante as
visitas nas obras, e posteriormente comparadas às normas vigentes.

3.1. Recebimento de materiais

Inicialmente foi verificado se os responsáveis realizam a correta inspeção dos


materiais recebidos no canteiro, para, desta forma, garantir que as propriedades
estejam de acordo com o especificado em projeto. Os critérios para controle de
qualidade foram analisados, sendo questionado ao responsável a periodicidade e
número de amostras analisadas e, em caso de não aceitação de um lote, qual o
procedimento adotado.
Além do recebimento dos materiais, também foi verificado o armazenamento dos
mesmos, que devem estar em locais adequados para garantir a integridade e, se
exigido pela norma, com as devidas identificações.

48
3.2. Controle de produção da Alvenaria Estrutural

Para garantir que os empreendimentos estejam sendo executados com materiais


que atendam as especificações do projeto, é necessário controle de qualidade da
produção da argamassa e do graute. Este controle ocorre através da moldagem de
amostras, com quantidade definida pela ABNT NBR 16868:2020 de acordo com o
empreendimento, que posteriormente serão ensaiadas. Para argamassa deve ser
realizado ao menos o ensaio de resistência à compressão média, com coeficiente de
variação inferior a 20% entre as amostras. Já nas amostras de graute deve ser
realizado o ensaio de resistência à compressão característica em prismas, paredes
ou pequenas paredes, com o intuito de verificar os valores característicos
especificados no projeto.
Além das inspeções referentes ao controle de produção dos materiais, também
devem ser realizadas inspeções no que tange à elevação da alvenaria estrutural,
como, por exemplo, espessuras das juntas, armaduras de transpasse, dimensões
previstas no projeto, prumo e alinhamento das paredes e grauteamento.
Em ambos os casos, controle de produção de materiais e elevação da alvenaria,
foram verificados os métodos adotados e os responsáveis pela conferência, a
periodicidade, a quantidade de elementos conferidos e, nos casos que os critérios
analisados não atinjam a tolerância admitida, qual o procedimento adotado para
solucionar o problema.
Para a execução é possível dividir o questionário em três partes distintas:
serviços preliminares, marcação da alvenaria estrutural e elevação da alvenaria
estrutural, os quais tiveram os critérios observados dispostos em tabelas e avaliados
quanto ao seu atendimento conforme a tabela a seguir

Tabela 14 – Siglas utilizadas quanto a avaliação dos critérios

SIGLA UTILIZADA SIGNIFICADO


- Não se aplica
A Atende
AR Atende com restrição
NA Não atende

Fonte: do Autor (2021)

49
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A etapa experimental deste trabalho consiste na aplicação de um questionário,


Anexo A, para verificar se as exigências da ABNT NBR 16868:2021 – parte 2 e 3 estão
sendo respeitadas nos canteiros de obras de quatro obras localizadas em três cidades
do Rio Grande do Sul e, caso não sejam cumpridas, quais as possíveis consequências
no desempenho da estrutura.
As quatro amostras estudadas tiveram suas aprovações posteriores a data de
agosto de 2020, quando entrou em vigor a nova norma regulamentadora da Alvenaria
Estrutural, a ABNT NBR 16868:2020, e são obras financiadas pela Caixa Econômica
Federal, ou seja, seguem o PBQP-H.
A obra A, figura 06, possui um total de 15 mil metros de área construída, com
cinco torres de cinco pavimentos em alvenaria estrutural (térreo e 4 tipos), cada um
com 40 apartamentos, totalizando 200 apartamentos de natureza residencial que
variam de 54,5m² e 65m², com área total a ser construída em alvenaria estrutural de
aproximadamente 14.472,00 m².

Figura 06 – Obra A

Fonte: do Autor (2021)

A obra B, figura 07, por sua vez, possui 3 torres de 7 andares com apartamentos
com metragem entre 60,08 m² e 70,73 m².

50
Figura 07 – Obra B

Fonte: do Autor (2021)

A obra C, figura 08, é um empreendimento de natureza residencial com duas


torres, sendo 1 torre de 1 pavimento em concreto armado (subsolo) e 7 pavimentos
em alvenaria estrutural (térreo e 6 tipos) e a outra torre com 7 pavimentos em alvenaria
estrutural (térreo e 6 tipos), totalizando 84 apartamentos. A área total a ser construída
em alvenaria estrutural é de aproximadamente 4.857,00m².

Figura 08 – Obra C

Fonte: do Autor (2021)

51
Já a obra D, figura 09, é um residencial de apenas uma torre composta pelo
térreo mais 7 andares, com 58 apartamentos, sendo 50 apartamentos e 8 coberturas
duplex com áreas que variam de 58,27 m² a 160,69 m². A área total a ser construída
em alvenaria estrutural é de aproximadamente 5.030,00 m².

Figura 09 – Obra D

Fonte: do Autor (2021)

4.1 Controle de qualidade, recebimento e armazenamento dos materiais.

Trabalhar com materiais em conformidade ao exigido por suas respectivas


normas e estabelecer um controle de qualidade dos materiais recebidos no canteiro
de obras são ações primordiais para garantir os resultados desejados durante a
execução. Para isso as obras visitadas utilizam materiais de fabricantes com
certificação PSQ e algumas também desenvolvem materiais e documentos internos a
fim de inspecionar o material recebido no instante do recebimento, além de orientar o
responsável quanto ao correto armazenamento.
As amostras A, B e C possuem em comum um manual com especificações
técnicas e recomendações que tem a finalidade de informar a todos os envolvidos no
processo de execução do empreendimento sobre conceitos básicos do sistema de
Alvenaria Estrutural. Além deste documento, as amostras B e C também possuem um

52
material que instrui quanto ao recebimento de materiais, chamados respectivamente
de “instrução de recebimento de material” e “inspeção de armazenamento e
recebimento de materiais”. A amostra D, por sua vez, possui um documento chamado
de “RAPM – Recebimento, armazenamento e preservação de materiais.”

4.1.1 Blocos cerâmicos

É unanimidade entre as amostras a utilização do bloco estrutural cerâmico. Com


relação a este material foram observados critérios referentes ao controle das
características visuais, geométricas, físicas e mecânicas exigidas pela norma, além
do armazenamento, como é possível verificar na Tabela 15 a seguir.

Tabela 15 – Critérios observados quanto ao atendimento do controle de recebimento e


armazenamento dos blocos

Obra
CRITÉRIOS OBSERVADOS
A B C D
É realizado controle das características geométricas dos blocos? A A A A
É realizado controle das características geométricas dos blocos? A A A NA
É realizado controle das características físicas dos blocos? A A A A
É realizado controle das características mecânicas dos blocos? A A A A
Armazenamento de acordo com a norma AR A A A

Fonte: do Autor (2021)

As características visuais são verificadas no ato de recebimento por todas as


obras, ou seja, as quebras, irregularidades na superfície e deformações, desta forma,
atendendo ao exigido pela norma. Já as características geométricas, onde deve ser
verificado se o bloco possui o formato de um prisma reto com altura, largura e
comprimento de acordo com o solicitado ao fabricante, é realizada somente nas obras
A, B e C, sendo dispensada na obra D, neste caso, sendo a única que não atende a
norma.
É importante salientar que nas verificações das características geométricas, em
todos os casos, houveram relatos negativos quanto ao material entregue pelo
fornecedor. Uma das principais considerações é quanto a variação nas dimensões do
bloco que excediam a tolerância de ± 3 mm admitida pela ABNT NBR 15270-1:2017,
observada na figura 10, o que acarreta de maneira significativa na planicidade das
paredes, que tem tolerância admitida pela ABNT NBR 16868:2020 de ± 2 mm/m, em
um maior consumo de argamassa e redução na resistência do conjunto.

53
Figura 10 – Bloco que deveria ter 29 cm com 27 cm de largura e com
espessura maior que a tolerância admitida na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Outro problema relatado pelos responsáveis e visualizado durante as visitas é


com relação a queima do bloco. Nas figuras 11 e 12 é possível visualizar blocos mais
queimados com relação aos demais. Este defeito afeta diretamente nas
características físicas do bloco, como o índice de absorção da água, e provoca o
enfraquecimento da parede, o surgimento de fissuras e a redução do desempenho da
estrutura.
Figura 11 - Diferença na tonalidade dos blocos decorrente
da queima durante a produção na obra A

Fonte: do Autor (2021)

54
Figura 12 – Diferença na tonalidade dos blocos decorrente
da queima durante a produção (obra B)

Fonte: do Autor (2021)

A empresa fabricante possui a certificação PSQ relacionada ao PBQP-H e,


mesmo que pela teoria os blocos não passem no controle visual e geométrico, as
construtoras/incorporadoras optam por aceitar o lote, tendo em vista a baixa produção
do fabricante, que demora a entregar novos pedidos, e a falta de alternativas de novos
fornecedores. Foi relatado ainda que eventualmente é solicitada a troca de pallets, o
que implica em um atraso na produção e ociosidade da mão de obra.
Além do controle visual e geométrico, o controle mecânico é realizado em todas
as amostras através do ensaio de prisma oco e grauteado. A ABNT NBR 16868:2020
permite que, caso tenha sito realizada a caracterização da alvenaria com os mesmos
materiais e componentes que estão sendo utilizados dentro do prazo de 360 dias que
antecedem o início da obra, este procedimento se torna desnecessário, podendo ser
utilizados os resultados de caracterização anterior. Desta forma, já que as obras A, B
e C são de construtoras com empreendimentos em constante andamento, os
resultados considerados são, em todos os casos, de obras anteriores, visto que os
fabricantes permaneceram os mesmos dentro do prazo estabelecido. Já a obra D

55
realizou os ensaios no início da execução da alvenaria, estando estes válidos até a
data da visita. Nestes casos, todas as obras atendem ao preconizado na norma.
A ABNT NBR 16868:2020 ainda exclui a necessidade do controle da alvenaria
por ensaio de prisma quando a resistência característica do prisma obtida no ensaio
de caracterização seja maior ou igual ao dobro da resistência característica
especificada para o prisma no projeto.
Vale ressaltar que o controle dos blocos é dispensado, segundo a ABNT NBR
16868:2020, nos seguintes casos:

a) se os blocos ou tijolos possuem certificação de conformidade com as ABNT


NBR 15270 e ABNT NBR 6136;
b) se o fbk for menor ou igual a 14 MPa;
c) se forem realizados ensaios de controle de prisma em todos pavimentos.
Durante o estudo da ABNT NBR 16868:2020, foi identificado um tópico
relacionado ao ensaio de prismas inviável de ser realizado que indica que de cada
parede devem ser construídos e ensaiados dois corpos de prova de prisma, sendo a
amostra do ensaio o total de prismas construídos e ensaiados. À exemplo da obra C,
que possui 60 paredes, valor pequeno quando comparado a outros empreendimentos,
seria um total de 240 blocos, mais de um pallet inteiro, que é composto por um total
de 192 unidades se tratando de blocos 14 cm de largura.
As características físicas (massa seca e índice de absorção de água) e
mecânicas (resistência à compressão característica) podem ser obtidas através dos
laudos fornecidos pelo fabricante.
Sobre o armazenamento a ABNT NBR 16868:2020 não faz nenhuma menção
quanto ao empilhamento de pallets, somente indica que devem ser descarregados em
superfície plana e nivelada que assegure a estabilidade da pilha e armazenados sobre
lajes devidamente cimbradas ou sobre o solo, desde que seja evitada a contaminação
direta ou indireta por ação da capilaridade da água. Especialistas indicam que sejam
empilhados até 5 pallets, a restrição nas obras é devido ao transporte, sendo possível
somente com grua em decorrência da altura. Neste caso, todas as amostras cumprem
com o exigido pela norma e ao indicado pelos especialistas, como mostram as figuras
13, 14, 15 e 16. Apesar de estar de acordo quanto ao local de armazenamento, houve
falha no armazenamento dos blocos na obra A, figura 13, provocando a quebra dos
blocos.

56
A ABNT NBR 16868:2020 indica ainda que seja feita a indicação física, classe
de resistência e local de aplicação dos blocos, o que não é realizado em nenhuma
das amostras, ou seja, a norma não é plenamente atendida.

Figura 13 - Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 14 - Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra B

Fonte: do Autor (2021)

57
Figura 15 – Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Figura 16 – Armazenamento de blocos estruturais cerâmicos na obra D

Fonte: do Autor (2021)

4.1.2 Argamassa

Conforme mencionado no item 2.3.2 do presente trabalho, a argamassa pode


ser tanto industrializada quanto preparada em obra. Das obras incluídas neste estudo,
apenas uma utiliza a argamassa preparada em obra, como mostra a relação da Tabela
16 a seguir:

Tabela 16 – Relação do tipo de argamassa utilizada nas obras.

Obra
TIPO DE ARGAMASSA
A B C D
Industrializada X
Preparada em obra X X X

Fonte: do Autor (2021)

58
Na obra A, por se tratar do uso da argamassa preparada em obra, a ABNT NBR
16868:2020 exige que esta realize o controle da cal hidratada, cimento e agregados
utilizados na sua composição, o que não é realizado no canteiro, não atendendo a
norma.
As obras B, C e D, que utilizam argamassa industrializada, podem utilizar o laudo
com os resultados dos ensaios fornecidos pelo fabricante, uma novidade da nova
norma. No entanto, a obra B ainda realiza o ensaio de resistência à compressão média
em laboratório terceirizado, considerando a amostra um saco de argamassa para cada
lote recebido.
Quanto ao armazenamento, a ABNT NBR 16868:2020 determina que a
argamassa industrializada deve ser mantida em espaço coberto, seco, sem contato
com paredes, tetos e outros agentes nocivos e com piso argamassado ou de concreto,
já que se estiverem prejudicam a trabalhabilidade do material e precisam ser
descartados. Na obra A, por ser utilizada a argamassa preparada em obra, é
necessário que se atente quanto a validade do cimento e da cal e o local, o que é
garantido pelos responsáveis, e onde estes são armazenados, como observado na
figura 17. Na obra B, apesar do cuidado com relação à umidade, a norma não é
cumprida, já que os sacos de argamassa são mantidos em lugar aberto e cobertos
com uma lona, como mostra a figura 18. A obra C utiliza a argamassa em silo, como
mostra a figura 19, evitando problemas relacionados ao armazenamento. A obra D
cumpre integralmente ao exigido, como mostra a figura 20.

Figura 17 – Armazenamento da cal hidratada e cimento na obra A

Fonte: do Autor (2021)

59
Figura 18 - Armazenamento da Argamassa na obra B

Fonte: do Autor (2021)

Figura 19 – Argamassa em silo na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Figura 20 - Armazenamento da Argamassa na obra D

Fonte: do Autor (2021)


60
4.1.3 Graute

Para o graute o questionário foi direcionado ao ensaio de compressão


característica e foi o material onde se obteve respostas mais divergentes. A ABNT
NBR 16868:2020 indica que devem ser moldados 6 corpos de prova por tipo de
componente ou elemento de alvenaria. Nestas condições a única amostra que realiza
a moldagem do número correto de corpos de prova é a obra B, um total de 6, sendo
2 por dupla de apartamento, como mostra o esquema da figura 21 mantido próximo à
betoneira, e os dois corpos de prova com a devida indicação, como se pode observar
na figura 22.

Figura 21 – Esquema com indicação dos apartamentos para o profissional na betoneira na obra B

Fonte: do Autor (2021)

Figura 22 – CP’s referentes aos apartamentos 504 e 505 da obra B

Fonte: do Autor (2021)

61
A obra A realiza a moldagem de 2 corpos de prova de manhã e 2 à tarde,
conforme a produção. A obra C é a única em que é utilizado graute usinado, sendo
moldados 4 corpos de prova por caminhão recebido. Já a obra D realizou a moldagem
apenas dos primeiros traços de graute até chegar na resistência necessária, neste
caso moldando 6 amostras por mistura. Portanto, nenhuma das três atende a norma.
Assim como identificado para os blocos, a ABNT NBR 16868:2020 é incoerente
no que diz respeito a moldagem de corpos de prova, indicando que

De cada parede grauteada, devem ser moldados seis corpos de prova de


graute. Esse número independe do número de vazios grauteados. Destes
corpos de prova, três devem ser representativos da metade inferior das
paredes e os outros devem ser representativos da metade superior,
correspondendo às duas etapas de grauteamento. Se o grauteamento for
realizado em mais de duas etapas, devem ser moldados três corpos de prova
em cada etapa. Cada amostra de graute corresponde à quantidade de corpos
de prova moldados por parede.

4.1.4 Armadura

A ABNT NBR 16868:2020 indica que o aço deve ser armazenado de forma a
manter suas características geométricas e suas propriedades, organizado por cada
tipo e classe de aço especificado no projeto, que seja evitado o contato com qualquer
tipo de contaminante, que as barras cortadas e dobradas sejam alocadas em lugares
que impeçam a ocorrência de danos e deformações que possam prejudicar seu uso
no local especificado. As figuras 23, 24, 25 e 26 mostram a maneira em que as barras
e telas de aço separadas, neste caso, todas estão em conformidade ao exigido pela
norma.

62
Figura 23 – Armazenamento das armaduras na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 24 - Armazenamento das armaduras na obra B

Fonte: do Autor (2021)

63
Figura 25 – Armazenamento do aço na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Figura 26 – Armazenamento do aço na obra D

Fonte: do Autor (2021)

4.2 Controle de qualidade da execução

4.2.1 Pré-requisitos para elevação da alvenaria

De antemão é necessário garantir alguns pré-requisitos básicos para o início da


elevação da alvenaria, que faziam parte do questionário e estão dispostos e
preenchidos quanto ao seu cumprimento ou não na Tabela 17.

Tabela 17 – Pré-requisitos verificados para elevação da alvenaria

Obra
CRITÉRIO OBSERVADO
A B C D
Calibragem dos equipamentos de inspeção A A A A
Verificação do nivelamento da superfície de apoio A A A A
Limpeza da laje antes da marcação A A A NA
Limpeza dos blocos A A A NA

Fonte: do Autor (2021)


64
A calibragem dos equipamentos - como esquadros, réguas de alumínio, trenas,
prumo, nível - é de fundamental importância para que os limites de tolerância sejam
respeitados. As obras visitadas possuem os equipamentos mestres para que todos os
trabalhadores se baseiem e para que o produto final esteja dento dos limites de
tolerância admitidos.
Em todas as amostras a superfície de apoio é verificada com a mangueira de
nível e, nos casos em que a diferença de nível seja superior a ± 10 mm com relação
ao plano especificado, a ABNT NBR 16868:2020 permite que a junta da primeira fiada
seja de até 30 mm para trechos com comprimento inferior a 500 mm, caso contrário,
deve ser utilizado um material de mesma resistência da laje para solucionar o
desnível.
Quanto a limpeza, foi relatado somente pelos responsáveis da obra D que não é
devidamente realizada, tanto nos blocos quanto na superfície de assentamento, o que
interfere na aderência da argamassa ao bloco e a fixação do bloco na superfície.

4.2.2 Marcação da primeira fiada

Conforme mencionado anteriormente, a marcação tem fundamental importância


para garantir que o projeto modulado seja respeitado e os pontos de graute e
armaduras acompanhem as dos andares inferiores, garantindo a rigidez da estrutura,
além de assegurar o esquadro nos ambientes e as dimensões dos cômodos previstas
no projeto. Os critérios apontados na Tabela 18 foram questionados quanto ao seu
atendimento ou não aos responsáveis.

Tabela 18 – Critérios verificados com relação a marcação da alvenaria

Obra
CRITÉRIO OBSERVADO
A B C D
Conferência da marcação pelo técnico NA A A NA
Conferência das juntas da primeira fiada NA A A NA
Nivelamento da superfície com material de mesma resistência
NA A A NA
da laje (nos casos em que o desnível for superior a 30 mm

Fonte: do Autor (2021)

Ou seja, com base no que foi informado pelos responsáveis, somente nas obras
B e C a marcação da alvenaria, pontos de graute, instalações e vãos costumam ser
conferidos pelo técnico, mas em todas as obras geralmente são os próprios
profissionais que fazem a disposição dos blocos, o que não tem validade para o
65
PBQP-H, como no caso das obras A e D. Na figura 27, por exemplo, é possível
observar que a armadura não está dentro do vazado do tijolo, local onde está previsto
ponto de graute e, consequentemente, há incompatibilidade na marcação, facilitando
a ocorrência de patologias.

Figura 27 – Armadura fora do vazado do bloco e incompatibilidade na marcação na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Apesar da resposta afirmativa com relação a conferência da marcação da


alvenaria na obra C, foram verificadas inconformidades, como na figura 28, por
exemplo, onde a armadura também não está dentro do vazado do bloco e a marcação
não está correta. Caso o problema não seja resolvido, o que se torna difícil nessa
etapa da execução, acarretará na redução da resistência à tração da parede, já que
os pontos de graute, junto da armadura, tem a mesma função do pilar das estruturas
de concreto armado e, nestes casos, a armadura estaria fora do conjunto.

66
Figura 28 – Locação incorreta da armadura e consequente erro na marcação na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Conforme mencionado anteriormente, todas as obras realizam a conferência da


superfície de apoio, no entanto, nos casos em que a diferença de nível excede ao
tolerado pela norma, somente as obras B e C seguem a solução indicada pela norma,
ou seja, utilizam material de mesma resistência da superfície. As obras A e D utilizam
a própria argamassa de assentamento para corrigir o desnível, ultrapassando a
espessura máxima tolerada para junta de primeira fiada. Em resumo, somente as
obras B e C atendem a norma.

4.2.3 Elevação da alvenaria estrutural

Na etapa da elevação da alvenaria há uma série de critérios que devem ser


verificados, já que um erro pode provocar consequências consideráveis no produto
final, como, por exemplo, a redução da resistência, da vida útil e do desempenho
térmico e acústico. A Tabela 19 indica os critérios que foram verificados quanto ao
atendimento nas obras visitadas.

67
Tabela 19 – Critérios verificados através do questionário quanto a elevação da alvenaria

Obra
CRITÉRIO OBSERVADO
A B C D
Verificação da uniformidade das juntas verticais e horizontais
NA A A NA
durante a elevação da alvenaria por um técnico
Verificação do correto preenchimento das juntas por um
NA NA A NA
técnico
Verificação das armaduras e transpasses A NA A A
Verificação da limpeza dos furos dos blocos antes do
A A A A
grauteamento
Graute lançado a no máximo 1,6 metros A A NA A
Conferência das instalações elétricas e hidrossanitárias NA NA A A
Verificação do correto escoramento de vergas e contravergas AR AR AR AR

Fonte: do Autor (2021)

O preenchimento das juntas deve seguir as orientações do projeto e os limites


de tolerância indicados pela norma com o máximo de excelência, prevendo sempre a
uniformidade, como no caso da figura 29 na obra A, e garantindo o exigido pela ABNT
NBR 16868:2020 de 10 mm ± 5 mm. No entanto, em toda as obras foram identificadas
paredes com juntas com espessura fora da tolerância, ou seja, menores que 5 mm,
como na figura 30, maiores que 15 mm, como na figura 10 exposta anteriormente,
além do preenchimento não uniforme, como na figura 31 e até completamente sem
argamassa, como na figura 32. A origem desta falha construtiva pode ter relação com
as diferenças nas dimensões dos blocos, mas na maioria dos casos se trata da
execução incorreta por parte do profissional. Essa descontinuidade na espessura das
juntas horizontais e verticais pode comprometer o desempenho acústico e térmico das
paredes e estanqueidade. (nota da ABNT NBR 16868:2020)

Figura 29 – Juntas uniformes e nos limites de tolerância na obra A

Fonte: do Autor (2021)

68
Figura 30 – Junta horizontal menor que 5 mm na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 31 - Juntas verticais não preenchidas completamente na obra B

Fonte: do Autor (2021)

69
Figura 32 – Junta horizontal não preenchida na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Outra situação verificada foi com relação ao transpasse das armaduras nos
pontos de graute, o qual a norma indica que seja de 40 a 50 vezes o diâmetro da
barra, geralmente é dimensionado 50 vezes o diâmetro e comumente utilizadas as
barras de 10 mm, totalizando 50 cm. Na obra B houveram situações em que foi
deixado um comprimento maior que o necessário, como observado na figura 33, e na
obra A locais onde a armadura não tinha comprimento suficiente para o transpasse,
como na figura 34, ou seja, ambas as obras não atendendo a norma. Nas obras C e
D o comprimento estava padronizado e conforme a solicitação da norma.

70
Figura 33 – Comprimento de armadura para transpasse maior que o necessário na obra B

Fonte: do Autor (2021)

Figura 34 – Comprimento de armadura para transpasse menor que o necessário na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Não foram presenciadas situações em que os profissionais estivessem


grauteando os pontos indicados no projeto, paredes, vergas ou contravergas, por esta
razão não foi possível verificar se é realizada a correta limpeza antes da operação.
A execução das vergas e contravergas é necessária para evitar o surgimento de
fissuras nos cantos de portas e janelas e também no centro do vão, já que os esforços
se redistribuem e se concentram nestes locais, facilitando o surgimento destas. Para
terem resultado efetivo, as vergas precisam ser escoradas, ou seja, reforçadas, a fim
de garantir a sustentação do peso da fôrma e da carga do graute e a perfeita
moldagem da peça concretada.

71
Para efeitos positivos, a escora deve formar um ângulo de 90 graus com a verga
e a contraverga, como na figura 35, e excluir qualquer tipo de improvisação, como
calços com pedaço de blocos, como observado na figura 36, ambas as situações na
obra A. As obras A, B e C utilizam escoras de madeira, por isso devem possuir o
tamanho exato da medida vertical do vão. Uma solução é a utilização da escora
metálica que pode ser ajustada conforme a dimensão vertical do vão, como na obra
D, observada na figura 37. Outros erros construtivos verificados foram as escoras sem
formar o ângulo de 90 graus, como na figura 38 e vãos sem nenhuma escora, como
observado na figura 39.

Figura 35 – Escora formando ângulo de 90 graus com a verga na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 36 – Escoramento de verga improvisado na obra A

Fonte: do Autor (2021)

72
Figura 37 – Escoramento de verga com escora metálica na obra D

Fonte: do Autor (2021)

Figura 38 – Escoramento de verga sem formar ângulo de 90 graus na obra B

Fonte: do Autor (2021)

73
Figura 39 – Vãos sem escora na obra D

Fonte: do Autor (2021)

Quanto a operação de grauteamento a ABNT NBR 16868:2020 indica que “a


altura máxima de lançamento do graute deve ser de 1,6 m, exceto se o graute for
devidamente aditivado, garantindo a coesão sem segregação”, neste caso, admitido
que seja lançado a 1,8 m. Nas obras visitadas houve variação na altura em que é
realizado o grauteamento. Na obra A, apesar da resposta afirmativa quanto ao
atendimento da norma, foi verificado que o grauteamento é realizado na 9ª fiada, como
mostra a figura 40, ou seja, a norma não é atendida na prática e, neste caso, a
armadura de transpasse na altura de meio pé direito será insuficiente para fazer o
tranpasse, já que irá restar somente 29 centímetros de barra. As obras B, C e D
realizam a operação na 6ª, 8ª e 7ª fiada, respectivamente, como mostram as figuras
41, 42 e 43, desta forma atendem ao exigido pela norma.

74
Figura 40 – Grauteamento na 9ª fiada na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 41 – Grauteamento na 6ª fiada na obra B

Fonte: do Autor (2021)

75
Figura 42 – Grauteamento na 8ª fiada na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Figura 43 – Grauteamento na 7ª fiada na obra D

Fonte: do Autor (2021)

A ABNT NBR 16868:2020 indica que a armadura utilizada nas vergas e


contravergas deve ter cobrimento mínimo de graute de pelo menos 15 mm. Nas obras
A e D foi verificado que a armadura não estava completamente envolta pelo graute
em alguns locais, como mostra a figura 44 e 45, não atendendo a norma. A figura 45
relata também o adensamento deficiente realizado na obra D.

76
Figura 44 - Armadura da contraverga com cobertura insuficiente na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 45 – Armadura da contraverga com cobertura insuficiente na obra D

Fonte: do Autor (2021)

Duas das grandes vantagens da alvenaria estrutural são a redução do


desperdício de materiais e a mitigação do retrabalho, comum no sistema
convencional, por exemplo, no caso das instalações elétricas e hidrossanitárias que,
através da compatibilização de projetos, são instaladas conforme as paredes vão
sendo elevadas e sem a necessidade de quebra, já que neste sistema as paredes
77
possuem função estrutural e as quebras implicariam na redução da resistência do
conjunto e redução do desempenho acústico. No entanto, foram observadas quebras
em algumas paredes das obras B, C e D (figuras 46, 47 e 48, respectivamente) para
passagem de eletrodutos.

Figura 46 - Quebras nas paredes para passagem das instalações elétricas e sanitárias a obra B

Fonte: do Autor (2021)

78
Figura 47 – Quebra na parede para passagem de eletrodutos na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Figura 48 – Quebra na parede para passagem de eletrodutos na obra D

Fonte: do Autor (2021)

A maneira correta da execução é realizar a marcação nas paredes onde devem


ser posicionadas esperas hidráulicas ou caixinhas elétricas e realizar o corte com uma

79
serra copo ou serra mármore, como foi verificado na obra C, demonstrado pela figura
49.

Figura 49 – Exemplo de paredes com abertura correta para instalações elétricas na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Nas obras A e D foi verificado a quebra nas paredes para as instalações


hidrossanitárias, como registrado na figura 50, onde ainda é possível observar um
volume de entulho que acaba sendo gerado em situações como esta, prejudicando a
resistência e desempenho acústico da parede. As figuras 51 e 52, observadas nas
obras A e C, respectivamente, indicam a maneira correta da execução das instalações
hidrossaniárias, devendo estas passarem pelos vazados dos blocos

Figura 50 – Quebra da parede para instalações hidrossanitárias na obra A

Fonte: do Autor (2021)

80
Figura 51 – Instalações hidrossanitárias no interior dos blocos na obra A

Fonte: do Autor (2021)

Figura 52 – Instalações hidrossanitárias localizadas já na primeira fiada na obra C

Fonte: do Autor (2021)

Há ainda critérios que devem ser verificados por um responsável detentor do


conhecimento técnico referente aos limites de tolerância aceitáveis pela ABNT NBR
16868:2020, listados na Tabela 20, normalmente engenheiros, mestres de obra ou
estagiários, promovendo, desta forma, o controle de qualidade da alvenaria.

81
Tabela 20 – Critérios aplicado no questionário quanto a conferência da alvenaria

Obra
CRITÉRIO OBSERVADO
A B C D
Conferência do alinhamento vertical e horizontal das paredes A A A A
Conferência do esquadro entre as paredes A A A A
Conferência do prumo das paredes A A A A
Conferência da abertura dos vãos das esquadrias NA A A A
Conferência do nivelamento da fiada de respaldo A A NA A
Conferência do pé direito NA A NA A
Fonte: do Autor (2021)

O desalinhamento dos blocos, como mostram as figuras 53 e 54, acaba sendo


um problema frequente em todos os empreendimentos, em decorrência, na maioria
dos casos, das diferenças dimensionais dos blocos estruturais recebidos. Por isso,
mesmo que a resposta seja afirmativa quanto a verificação do alinhamento vertical e
horizontal, foram observados desvios neste critério em todas as obras. As paredes
dificilmente serão refeitas, em alguns casos a laje já foi posicionada/moldada, sendo
assim, será necessário corrigir através do reboco argamassado, aumentando o uso
deste material e a possibilidade do surgimento de fissuras.

Figura 53 – Desalinhamento dos blocos na região do vão na obra A

Fonte: do Autor (2021)


82
Figura 54 – Verificação da planicidade com régua de alumínio

Fonte: do Autor (2021)

Outra verificação que deve ser realizada para garantir o alinhamento vertical das
paredes é a conferência do prumo, como verificado na figura 55, que deve atender à
especificação da ABNT NBR 16868:2020 de que paredes e pilares do pavimento não
podem superar o desaprumo de 10 mm, além de atender ao limite de 2 mm/m. Para
este caso, obteve-se resposta afirmativa em todas as obras quanto a realização desta
conferência por parte dos responsáveis técnicos.

83
Figura 55 – Verificação do prumo

Fonte: do Autor (2021)

O esquadro deve ser verificado em todos os cantos de paredes que formam 90º
graus em projeto, como observado na figura 56, e, como consequência, verificar se
foi feita a correta marcação da alvenaria e a conferência das fiadas seguintes. A ABNT
NBR 16868:2020 admite a tolerância de ±2 mm/m. De acordo com as respostas dos
responsáveis pelas obras, todas realizam a verificação, atendendo a norma.

84
Figura 56 – Verificação de esquadro

Fonte: do Autor (2021)

Os vãos das aberturas devem ser conferidos para garantir que as dimensões
estejam de acordo com a projetada, já que os contramarcos e as próprias esquadrias
são solicitados aos seus respectivos fornecedores conforme as dimensões do projeto.
No entanto, na obra A não é realizada a conferência dos vãos por um responsável
técnico, implicando em erros de execução do projeto.
Além das verificações de alinhamento vertical e horizontal, esquadro, prumo e
dimensões das esquadrias, ainda é previsto que seja conferido o pé direito e a fiada
de respaldo antes do posicionamento ou moldagem da laje. No primeiro caso, obteve-
se resposta afirmativa nas obras A, B e C. Já para a conferência da fiada de respaldo,
somente as obras B e D afirmaram realizar a conferência.
Em resumo, foi verificado que dos 19 critérios que contemplam a parte de
serviços preliminares, marcação e execução da alvenaria, as obras A, B, C e D
atenderam, respectivamente à 11, 16, 16 e 12 critérios, como ilustra o gráfico a seguir
(Figura 57).

85
Figura 57 – Gráfico relacionando a quantidade de critérios atendidos
para execução de Alvenaria Estrutural em cada obra

Critérios atendidos
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Obra A Obra B Obra C Obra D

Obra A Obra B Obra C Obra D

Fonte: do Autor (2021)

86
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o estudo da evolução dos métodos construtivos utilizados para Alvenaria


Estrutural, estudo da ABNT NBR 16868:2020, aplicação do questionário desenvolvido
e a verificação do cumprimento das regulamentações propostas por esta norma nas
obras visitadas, pode-se concluir que os profissionais envolvidos possuem, no geral,
boa afinidade com o sistema construtivo. Percebe-se ainda que as vantagens
mencionadas no decorrer do trabalho são verídicas quando realizado controle
tecnológico dos materiais e controle de qualidade da alvenaria.
No entanto, nenhuma das amostras cumpriu com todos os quesitos observados,
demonstrando que as construtoras/incorporadoras precisam desenvolver processos
de inspeção de execução de serviços e recebimento de materiais a fim de eliminar os
erros construtivos verificados, tornando esta uma rotina diária no canteiro de obras.
Deve-se ainda ser providenciada a indicação de um responsável para cada tarefa,
que, por sua vez, tenha recebido treinamento prévio.
Levando em consideração a finalidade da pesquisa, que tinha como principal
objetivo verificar o atendimento da ABNT NBR 16868:2020 nas obras visitadas, é
necessário reafirmar quanto a necessidade das verificações iniciais, desde o
recebimento e armazenamento dos materiais. Para os blocos, é realizado controle
visual, físico e mecânico em 100% das obras, sendo relatado, em todos os casos, a
queima demasiada dos blocos, o que implica no índice de absorção d’água,
característica física do bloco. As características geométricas são conferidas em 75%
das obras, havendo relatos em todos os casos de diferenças dimensionais
consideráveis nos blocos. Os ensaios de prisma oco e grauteado são utilizados de
obras anteriores em 75% das obras, já que estas são de construtoras que possuem
empreendimentos em constante andamento.
Com relação à argamassa foi verificado que em 100% das obras são utilizados
os laudos do fabricante, somente em 25% delas é realizado novamente o ensaio em
laboratório terceirizado pela própria construtora para fins de conferência dos ensaios.
O armazenamento é deficiente em apenas 25% das obras, onde os sacos são
cobertos somente com uma lona, ficando expostos às intempéries. Já o graute foi o
material onde obteve-se maior divergência com relação à realização do controle
tecnológico, sendo realizado corretamente em apenas 25% das obras.

87
O preenchimento não uniforme ou até inexistente das juntas, que em muitos
casos não obedece a tolerância de 10 ± 5 mm preconizada pela norma, foi a falha
mais recorrente, uma consequência da aceitação de blocos com diferenças
dimensionais e a falta de treinamento da mão de obra, o que compromete o
desempenho acústico e térmico das paredes e a estanqueidade, além da redução da
resistência à flexão e ao cisalhamento da parede, prejudicando o seu desempenho.
Desta forma, faz-se necessário que os materiais atendam aos critérios de controle de
recebimento e que o responsável pela inspeção recuse o lote sempre que houverem
incompatibilidades.
A operação de grauteamento, que ocorre em fiadas diferentes em todos os
empreendimentos, ultrapassa a altura de 1,6 metros ou 1,8 metros, indicada pela
norma, somente na obra A, onde é realizada na 9ª fiada. Neste caso o transpasse da
armadura não obedece ao exigido pela norma na metade do pé direito, de 40 ou 50
vezes o diâmetro da barra, já que estas possuem 2 metros e a altura da parede neste
caso seria de 1,71 metros, sobrando somente 29 centímetros para o transpasse.
Além do transpasse falho em meio pé direito, em 50% das amostras o transpasse
da armadura deixada na laje para o início da elevação também não obedece a norma.
Em alguns casos o grauteamento é deficiente nas contravergas, onde foi
verificado que as armaduras não tiveram o cobrimento de 15 mm exigido pela norma,
deixando estas expostas e com risco de corrosão, seja por falta de material ou por
não realizar o adensamento do material.
Outra incoerência constatada é a maneira como é realizado o escoramento de
vergas, que possuíam improvisações e escoras posicionadas em ângulos diferentes
de 90 graus, na maioria dos casos devido ao tamanho da escora ser superior a
dimensão vertical do vão, o que induz a concentração de esforços nos cantos e no
centro do vão e, consequentemente, o surgimento de fissuras nessas regiões. Neste
caso é necessário que a escora de madeira seja de tamanho compatível ao vão ou
adotado o uso de escoras metálicas que possibilitem a regulagem.
Nas quatro obras ocorreram alguns pontos onde as instalações elétricas e
hidrossanitárias não obedeciam a modulação dos blocos, sendo utilizadas soluções
contrárias às características deste sistema construtivo, como a agilidade e
racionalização de materiais, e partindo para geração de entulho e retrabalho com as
quebras de paredes para passagem de canos de PVC e eletrodutos. Nestes casos,

88
projetos e blocos adequados, respeitando a modulação das paredes, e cortes pontuais
com serra mármore ou serra copo podem solucionar estas inconveniências.
Apesar de ser verificada a utilização de esquadros, réguas de alumínio e nível
bolha para garantir a alocação das paredes nos eixos determinados em projeto,
formando o ângulo de 90º, e a conferência da planicidade e nível das paredes pelos
profissionais (bloqueiros/pedreiros), as verificações quanto ao atendimento da norma
pelos engenheiros ou estagiários da obra são falhas ou inexistentes.
Ainda que o a Alvenaria Estrutural tenha evolução clara no que diz respeito à sua
regulamentação e especialização da mão de obra, as falhas construtivas observadas
induzem à conclusão de que normalmente prevalece a agilidade em detrimento da
qualidade do empreendimento, além das construtoras/incorporadoras acabarem
deixando de usufruir de características vantajosas deste sistema quando comparada
a outros, como redução de entulho e do retrabalho, rentabilidade, agilidade da
produção e bom desempenho térmico e acústico.

89
6 RECOMENDAÇÕES DE TRABALHOS

- Estudo da ABNT NBR 16868:2020-1: Alvenaria Estrutural – Projeto e verificação dos


projetos em andamento com as regulamentações;

- Aumentar o número de amostras pesquisadas;

- Construções térreas até prédios de maior altura;

- Realizar um estudo para criar procedimentos que sejam padrão nas empresas.

90
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16868:2020 – Parte 1:


Alvenaria Estrutural - Projeto, Rio de Janeiro, 2020.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16868:2020 – Parte 2:


Alvenaria Estrutural – Execução e controle tecnológico, Rio de Janeiro, 2020.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16868:2020 – Parte 3:


Alvenaria Estrutural – Métodos de ensaio, Rio de Janeiro, 2020.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270:2017 – Parte 1:


Componentes cerâmicos - Blocos e tijolos para alvenaria, Rio de Janeiro, 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6136: Bloco vazado de


concreto simples para alvenaria estrutural, Rio de Janeiro, 2014

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279 - Argamassa


para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da
resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2014

BLOCO BRASIL, ABCP, SINAPROCIM. Manual de desempenho 4ª edição – Guia


para atendimento à Norma ABNT 15575. Associação Brasileira da Industria de
Blocos de Concreto, Associação Brasileira de Cimento Portland, Sindicato Nacional
da Industria de Produtos de Cimento. Abril de 2019

COÊLHO, Ronaldo Sérgio de Araújo. Alvenaria Estrutural. Ronaldo Sérgio de Araújo


Coelho. – São Luís: UEMA, 1998

CAMACHO, Jefferson Sidney. Projeto de edifícios de alvenaria estrutural.


Jefferson Sidney Camacho. – Ilha Solteira, SP: Nepae, 2006

COSTELLA, Marcelo Fabiano et al. Avaliação da aplicação da norma de desempenho:


estudo de caso em cinco empreendimentos. Revista de Engenharia Civil IMED,
Passo Fundo, v. 4, n. 2, p. 55-74, dez. 2017. ISSN 2358-6508. Disponível
em: https://seer.imed.edu.br/index.php/revistaec/article/view/2256. Acesso em: 22
maio 2021. doi:https://doi.org/10.18256/2358-6508.2017.v4i2.2256.

MANZIONE, Leonardo. Projeto e execução de alvenaria estrutural/ Leonardo


Manzione. São Paulo, SP – :O nome da Rosa, 2004

MAPA DA OBRA. NBR 15575, Norma de desempenho em paredes de blocos de


concreto. Disponível em: <https://www.mapadaobra.com.br/inovacao/nbr-15575-
norma-de-desempenho-em-paredes-de-blocos-de-concreto/. Acesso em 28 de maio
de 2021

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL. Programa Brasileiro da


Qualidade e produtividade do Habitat. Disponível em https://www.gov.br/mdr/pt-
br/assuntos/habitacao/pbqp-h. Acesso em 28 de outubro de 2021.

91
MOHAMAD, Gihad. Alvenaria estrutural: construindo o conhecimento./ Gihad
Mohamad, Diego Willian Nascimento Machado, Ana Cláudia Akele Jantasch - São
Paulo: Blucher, 2017. 168p

MOHAMAD, Gihad. Construções em Alvenaria Estrutural./ coordenado por Gihad


Mohamad - São Paulo: Blucher, 2015.

PARSEKIAN, Guilherme Aris. Alvenaria estrutural em blocos cerâmicos: projeto,


execução e controle/ Guilherme Aris Parsekian, Márcia Melo Soares - São Paulo: O
nome da rosa, 2010.

PICCHI, F. A. Sistemas de qualidade: Uso em empresas de construção de


edifícios. São Paulo: USP, 1993. 2v. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo.1993.

RAMALHO, Márcio. Projeto de edifícios de alvenaria estrutural/ Marcio A.


Ramalho, Marcio R. S. Corrêa. São Paulo: Pini, 2003
VILATÓ, Rolando Ramirez. As juntas de movimentação na alvenaria estrutural/ R.
Ramirez Vilató, L.S. Franco. – São Paulo : EPUSP, 1998.
SILVA, Cláudio Oliveira. Manual de Desempenho – Alvenaria com Blocos de
Concreto/ Cláudio Oliveira Silva, Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP,
Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto - BlocoBrasil. São Paulo,
2014.

TAUIL, Carlos Alberto. Alvenaria Estrutural / Carlos Alberto Tauil, Flávio José
Martins Nesse. – São Paulo: Pini, 2010

THOMAS, Ercio. Qualidade no projeto e na execução de alvenaria estrutural e de


alvenarias de vedação em edifícios/ E. Thomaz, P. Helene – São Paulo: EPUSP,
2000. 31p. – (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de
Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/252)

92
ANEXO A

QUESTIONÁRIO PARA VERIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS DE INSPEÇÃO REALIZADOS NO CANTEIRO DE OBRAS

PROFISSIONAL OBRA: DATA DA


RESPONSÁVEL: _________________________ ___________________ INSPEÇÃO: ___/___/______
A empresa possuio o ISO 9001? ( ) SIM
( ) NÃO
Controle de recebimento de materiais

1. Blocos cerâmicos

ID CRITÉRIO É realizado? Se sim, atende a norma?

1.1
É realizado controle das características visuais dos blocos? SIM NÃO A AR NA
1.2 É realizado controle das características geométricas dos blocos? SIM NÃO A AR NA
1.3 É realizado controle das características físicas dos blocos? SIM NÃO A AR NA
1.4 É realizado controle das características mecânicas dos blocos? SIM NÃO A AR NA
Quantas amostras são inspecionadas?
1.4.1

Em caso de não aceitação de um lote, qual o procedimento adotado pela empresa?


1.4.2

1.5 O armazenamento é realizado de acordo com a norma? SIM NÃO A AR NA

2. Argamassa

ID CRITÉRIO É realizado? Se sim, atende a norma?

2.1 É realizado ensaio de resistência à compressão média? SIM NÃO A AR NA


Se sim, com que frequência?
2.1.1

Qual a quantidade de amostras ensaiadas? São moldadas contraprovas?


2.1.2

Em caso da argamassa não atingir aos resultados previstos em projeto, qual procedimento adotado pela empresa?
2.1.3

Quem é o responsável pela moldagem dos corpos de prova? Este recebeu instrução para realização?
2.1.4

2.2 É realizado controle da cal hidratada utilizada na composição da argamassa? SIM NÃO A AR NA
Se sim, com que frequência?
2.2.1

2.3 É realizado controle do cimento utilizado na composição da argamassa? SIM NÃO A AR NA


Se sim, com que frequência?
2.3.1

2.4 É realizado controle dos agregados utilizados na composição da argamassa? SIM NÃO A AR NA
Se sim, com que frequência?
2.4.1

2.2 O armazenamento é realizado de acordo com a norma? SIM NÃO A AR NA

3. Graute

ID CRITÉRIO É realizado? Se sim, atende a norma?

3.1 É realizado ensaio de compressão caracterísitica? SIM NÃO A AR NA


Se sim, com que frequência?
3.1.1

Qual a quantidade de amostras ensaiadas?


3.1.2

Caso o graute não atingir aos resultados previstos em projeto, qual procedimento é adotado?
3.1.3

Quem é o responsável pela moldagem dos corpos de prova? Este recebeu instrução para realização?
3.1.4

Como é realizado o transporte de graute?


3.1.5

ID CRITÉRIO É realizado? Se sim, atende a norma?

É realizado o controle de recebimento para manter o sacos com validade mais


4.1 próxima de expirar na parte superior da pilha? SIM NÃO A AR NA

93
4. Controle de qualidade da produção

ID CRITÉRIO É realizado? Se sim, atende a norma?

Os equipamentos utilizados para inspeção são devidamente calibrados? (trenas,


5.1 SIM NÃO A AR NA
réguas de alumínio, esquadro...)
É verificado o nivelamento da superfície de apoio antes da elevação da
5.2 alvenaria? A tolerância admitida não deve ultrapassar ± 10 mm em relação ao SIM NÃO A AR NA
plano especificado.
Caso ultrapasse a tolerância, qual o procedimento adotada para solucionar essa questão?
5.2.1

5.3 É feita a limpeza da laje, ou viga, sobre a qual a alvenaria será executada? SIM NÃO A AR NA

5.4 É feita a limpeza dos blocos e remoção de materiais que prejudicam a aderência? SIM NÃO A AR NA

5.5 É realizada a conferência da marcação por um responsável técnico? SIM NÃO A AR NA

É realizada a conferência das juntas da primeira fiada, sendo estas com


5.6 SIM NÃO A AR NA
espessuras entre 5mm e 20mm?
Com que periodicidade?
5.6.1

Caso ultrapasse a tolerância, qual o procedimento adotada para solucionar essa questão?
5.6.2

É realizada a conferência das juntas verticais e horizontais durante a elevação,


5.7 SIM NÃO A AR NA
sendo estas com espessuras de 10mm (± 3mm)?
É verificado, durante a execução, se o preenchimento das juntas está de acordo
5.8 SIM NÃO A AR NA
com o especificado no projeto? (junta seca ou total)
Se sim, com que frequência? Em quantos elementos?
5.8.1

Caso ultrapasse a tolerância, qual o procedimento adotada para solucionar essa questão?
5.8.2

5.9 São verificadas as armaduras e transpasses conforme o projeto? SIM NÃO A AR NA

É realizada a verificação da limpeza dos furos dos blocos, remoção das rebarbas
5.10 SIM NÃO A AR NA
e molha do local antes do lançamento do graute?
São conferidas as posições da instalação das caixas elétricas e tubulações
5.11 SIM NÃO A AR NA
hidráulicas?
É verificado se o lançamento do graute é realizado de uma altura de no máximo
5.12 SIM NÃO A AR NA
1,6 metros?

5.13 O escoramento das vergas é realizado corretamente? SIM NÃO A AR NA

É verificado se o alinhamento vertical e horizantes das paredes atende a


5.14 SIM NÃO A AR NA
tolerância de ±2mm/m?
5.15 É verificado o esquadro entre as paredes com tolerância de ± 2 mm/m? SIM NÃO A AR NA
5.16 Conferência do prumo das paredes com tolerância de ± 2 mm/m? SIM NÃO A AR NA
5.17 São verificadas as dimensões dos vãos das esquadrias? SIM NÃO A AR NA
É verificado o nivelamento da fiada de respaldo admitindo-se uma tolerância de ±
5.18 SIM NÃO A AR NA
10mm?
É feita a conferência do pé direito? A tolerência admitida é de valores inferiores a
5.19 SIM NÃO A AR NA
5 mm e superiores a 10 mm das especificadas em projeto.

EXTRA SIM NÃO A AR NA

EXTRA SIM NÃO A AR NA

EXTRA SIM NÃO A AR NA

EXTRA SIM NÃO A AR NA

OBSERVAÇÕES:

Responsável pelo preenchimento:

94

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