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CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Henrique Augusto Rohloff

ANÁLISE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS PLUVIAL E RESIDUAL


PARA A UTILIZAÇÃO NA PRODUÇÃO DE CONCRETO

Santa Cruz do Sul


2019
2

Henrique Augusto Rohloff

ANÁLISE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS PLUVIAL E RESIDUAL


PARA A UTILIZAÇÃO NA PRODUÇÃO DE CONCRETO

Trabalho de Conclusão de Curso I, apresentado ao Curso


de Engenharia Civil da Universidade de Santa Cruz do Sul
como requisito para obtenção do título de bacharel em
Engenharia Civil.

Orientador: Prof. M. Eng. Marco Antônio Pozzobon

Santa Cruz do Sul


2019
3

RESUMO

Este trabalho traz um estudo sobre a viabilidade da aplicação de águas do tipo pluvial
e residual na produção de concreto, quanto aos efeitos causados no próprio concreto
e aos impactos econômicos e ambientais. O objetivo do estudo foi fazer um
comparativo entre estes tipos de água e a água potável, a qual é automaticamente
apropriada para a produção de concreto e foi utilizada como parâmetro, sendo
realizados levantamentos e ensaios para serem feitas as análises de suas viabilidades
ou inviabilidades. Para isso, inicialmente foram feitos levantamentos bibliográficos
sobre o assunto, buscando a metodologia para as análises. Através da metodologia,
foram postos em prática a captação dos insumos, os ensaios e todos os outros
elementos que foram previamente levantados nessa revisão. Os resultados
mostraram que a água residual se demonstrou com propriedades bem semelhantes
às da água potável e, com base nos presentes estudos e a curto prazo, seu uso está
apto à produção de concreto. Já para a água pluvial, os resultados ficaram bem
abaixo do esperado, mesmo tendo todos os parâmetros químicos dentro do aceitável
pela norma de referência para o assunto – NBR 15900:2009. Com isso, entende-se
que o seu uso deve ser feito com restrição e devem ser feitos maiores estudos sobre
o seu comportamento físico-químico. Concluiu-se também que, através destes
estudos, utilizar estes tipos de água se torna uma alternativa muito importante para o
melhor aproveitamento e a conservação de nossos recursos hídricos e que sua
utilização dentro da construção civil pode trazer também benefícios econômicos.

Palavras-chave: Construção civil; água pluvial; água residual; água de amassamento;


concreto; sustentabilidade.
4

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Esquema básico de um sistema de captação de água da chuva 19


Figura 2 – Exemplo de sistema condutor de água pluvial, formado por uma calha de
beiral e tubulação vertical de aço galvanizado 22
Figura 3 – Funcionamento de um reservatório do tipo cisterna 23
Figura 4 – Exemplo de estação de tratamento de águas residuais industriais 27
Figura 5 – Tambor de água com a devida identificração após a coleta 36
Figura 6 – Vista do sistema de captação da água pluvial da residência em que foram
captadas as amostras deste tipo de água 37
Figura 7 – Filtro do sistema de captação 37
Figura 8 – Reservatório do sistema de captação pluvial 38
Figura 9 – Reservatório da água residual tratada 39
Figura 10 – Lavagem de um caminhão da empresa de dosagem de concreto 39
Figura 11 – Tanques do decantador 40
Figura 12 – Amostras colocadas em copos cristalinos para verificação sensorial de
diferenciação de colorações 41
Figura 13 – Recipientes preenchidos com as amostras e identificados, prontos para
serem levados para as análises 42
Figura 14 – Aferição do abatimento de um dos traços-amostras 45
Figura 15 – Identificação e armazenamento dos corpos de prova 46
Figura 16 – Retificação das superfícies dos corpos de prova 47
Figura 17 – Ensaio de corpo de prova sendo realizado pela prensa hidráulica 48
Figura 18 – Exemplo de um gráfico gerado pelo Tesc 49
5

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Demonstrativo da quantidade de água que é encontrada no Planeta 14


Gráfico 2 – Uma pequena porção de toda a quantidade de água é considerada
utilizável como recurso hídrico 15
Gráfico 3 – Comparação entre as resistências atingidas pelos ensaios para traços 1
52
Gráfico 4 – Comparação entre as resistências atingidas pelos ensaios para traços 2
52
6

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Requisitos e procedimentos de ensaio para inspeção preliminar de água


destinada ao amassamento de concreto 29
Tabela 2 – Teor máximo de cloreto em água para amassamento 30
Tabela 3 – Requisitos para substâncias prejudiciais 31
Tabela 4 – Resistências mínimas dos corpos de prova nos ensaios de resistência à
compressão 32
Tabela 5 – Previsão de dosagem para a produção dos traços de concreto 43
Tabela 6 – Dosagem utilizada para a produção dos traços de concreto 44
Tabela 7 – Testes de slump aferidos nos traços-amostras 44
Tabela 8 – Resultados das análises químicas para os três tipos de água 50
Tabela 9 – Resultados encontrados através dos ensaios de compressão axial 51
7

LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


ANA Agência Nacional de Águas
ASCE American Society of Civil Engineers
CP corpo de prova
D dia
H hora
mm milímetro
MPa mega Pascal
NaOH hidróxido de sódio
NBR Norma Brasileira de Referência
NO óxido nítrico
NO2 dióxido de nitrogênio
mg/L miligrama por litro
MS Ministério da Saúde
pH potencial hidrogeniônico
RS Rio Grande do Sul
SO2 dióxido de enxofre
STD sólidos totais dissolvidos
UFPel Universidade Federal de Pelotas
Unisc Universidade de Santa Cruz do Sul
8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1 Área ..................................................................................................................... 11
1.2 Delimitação do Tema........................................................................................... 11
1.3 Justificativa .......................................................................................................... 12
1.4 Objetivo Geral ..................................................................................................... 12
1.5 Objetivos Específicos .......................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 13
2.1 A água e o mundo ............................................................................................... 14
2.1.1 Distribuição no Planeta..................................................................................... 14
2.2 Classificação dos tipos de água para a produção de concreto ........................... 15
2.2.1 Água de abastecimento público ....................................................................... 15
2.2.2 Água natural de superfície, água de captação pluvial e água residual industrial .
...................................................................................................................... 15
2.3 Precipitação atmosférica ..................................................................................... 16
2.3.1 Média anual ...................................................................................................... 16
2.3.2 Médias sazonal, mensal e diária ...................................................................... 17
2.3.3 Chuva ácida e outros agentes .......................................................................... 17
2.4 Aproveitamento e conservação da água pluvial .................................................. 18
2.4.1 Coberturas........................................................................................................ 20
2.4.2 Calhas .............................................................................................................. 20
2.4.3 Condutores verticais e horizontais.................................................................... 21
2.4.4 Reservatório ..................................................................................................... 22
2.4.5 Distribuição ....................................................................................................... 24
2.4.6 Limpeza ............................................................................................................ 24
2.5 Reaproveitamento e conservação da água residual ........................................... 25
3 METODOLOGIA..................................................................................................... 28
3.1 Objeto de estudo ................................................................................................. 28
3.1.1 Procedimentos ................................................................................................. 28
3.1.2 Resultados esperados ...................................................................................... 30
3.2 Consistência do concreto fresco ......................................................................... 32
3.3 Análise de viabilidade .......................................................................................... 33
3.4 Procedimentos práticos ....................................................................................... 34
9

3.4.1 Materiais utilizados ........................................................................................... 34


3.4.1.1 Areia natural média ....................................................................................... 34
3.4.1.2 Brita número 1 ............................................................................................... 35
3.4.1.3 Cimento Portland ........................................................................................... 35
3.4.1.4 Água pluvial ................................................................................................... 35
3.4.1.5 Água potável ................................................................................................. 38
3.4.1.6 Água residual................................................................................................. 38
3.4.2 Análises preliminares ....................................................................................... 40
3.4.3 Coletas para as análises químicas ................................................................... 41
3.4.3 Amassamento de concreto ............................................................................... 42
3.4.3.1 Traços utilizados............................................................................................ 43
3.4.3.2 Testes de slump ............................................................................................ 44
3.4.3.3 Moldagem ...................................................................................................... 45
3.4.3.4 Cura e desmoldagem .................................................................................... 46
3.4.3.5 Ensaios de compressão axial ........................................................................ 47
4 RESULTADOS E ANÁLISES ................................................................................. 50
4.1 Ensaios químicos ................................................................................................ 50
4.2 Ensaios físicos .................................................................................................... 51
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
ANEXOS ................................................................................................................... 62
10

1 INTRODUÇÃO

Em todas as partes do mundo estão surgindo novos conceitos para o


gerenciamento da água da chuva, tanto nas zonas urbanas quanto nas rurais. Estes
conceitos buscam atender às necessidades que são despertadas por diversos setores
da sociedade quanto à conservação da água. Problemas como a escassez, a perda
de qualidade dos mananciais devido à crescente poluição e a distribuição por serviços
de abastecimento públicos ineficientes são alguns fatores que levam-os à procura por
melhorias. Dentre os novos meios de conservação de água está o aproveitamento da
água da chuva. (GONÇALVES, 2006)

Uma das formas de aproveitamento da água da chuva que é muito utilizada no


Brasil é a por meio de cisternas, principalmente na região do semiárido. May (2004)
afirma que, apesar de os benefícios adquiridos graças à economia de água terem
trazido melhorias na qualidade de vida de diversas famílias em locais dessa região, o
papel e a importância dessa alternativa ainda são pouco compreendidos pela maior
parte dos técnicos, dos governantes e da população do País.

Vem chamando a atenção da economia mundial e de entidades ambientais o


grande volume de água que é gasto nos processos industriais. Para sanar esse
grande problema, estão sendo buscadas alternativas para o controle das demandas
(COSTA E TELLES, 2007). Uma dessas alternativas é o reaproveitamento de águas
residuais advindas de processos industriais.

A quantidade de água potável utilizada atualmente no Brasil, com suas devidas


finalidades, é distribuída, conforme Santos (2011), com o setor urbano sendo
responsável por 26% do seu consumo. Já a Construção Civil corresponde por 16% do
total. O uso deste recurso não se restringe apenas ao período da obra, mas também
à habitação da edificação já concluída.

Com base nisso, existe uma necessidade não só ecológica quanto


socioeconômica de serem encontradas formas de praticar a conservação e o
aproveitamento deste bem na área da construção civil. Uma dessas formas é a
implantação de reservatórios para a captação de água pluvial ou residual para a
preparação do concreto, cuja viabilidade se caracteriza pela diminuição da demanda
de água abastecida pelas empresas de saneamento, resultando na diminuição de
11

custos com água potável e tendo como consequência, até mesmo, a minimização do
risco de enchentes. (MAY, 2004)

A água utilizada para a obtenção de um concreto adequado às suas finalidades


é conhecida como água de amassamento. Portanto, para ser considerada adequada,
a ela é atribuída especial atenção no que diz respeito à qualidade. Seu uso para a
produção partia em geral da premissa de que “se a água é boa para beber também
será boa para produzir o concreto” (ROMANO, 2004, p.49), o que por muitas vezes
não é verdade. Com isso, o problema encontrado era a indefinição de que a água da
chuva ou residual, após captada e armazenada em reservatórios adequados para
esse fim, atendia às especificações de produção ou não.

Desde os anos 40, período em que foi iniciada a normatização do concreto na


construção civil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, o país ainda
não tinha um texto especificamente tratando-se da qualidade da água adequada para
a produção do concreto. Eram, em geral, seguidas as determinações de outros locais
do mundo, principalmente da Europa e dos Estados Unidos. Foi então, que o Comitê
Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados (ABNT/CB-18), seguindo o início dos
trabalhos sobre o tema no âmbito internacional ISO, tomou como base o Projeto de
Norma Internacional e formulou a NBR 15.900 – Água para amassamento de concreto
– com onze partes, que se tornou válida a partir de 2009. (BORDIN, 2010)

Essa Norma técnica será a principal base para a elaboração do trabalho e a


verificação de que a qualidade da água captada irá ou não atender às especificações
vigentes da primeira.

1.1 Área

O presente trabalho será desenvolvido nas áreas de Instalações Hidrossanitárias


e Materiais de Construção, com foco na análise da qualidade das águas captadas e
armazenadas em reservatórios para a utilização na construção civil.

1.2 Delimitação do Tema

A análise da qualidade das águas pluviais e residuais será realizada a partir da


obtenção de amostras captadas em dois locais na cidade de Santa Cruz do Sul.
12

1.3 Justificativa

Como afirmam Carvalho, Moruzzi & Oliveira (2007), o aproveitamento de água


da chuva se tornou uma alternativa muito favorável para minimizar diversos problemas
como a escassez de água e as frequentes inundações urbanas e como no consumo
de toda água potável do país, a construção civil responde pela parcela de 16%
(SANTOS, 2011), se torna muito interessante encontrar nesse setor uma proposta que
atenda às necessidades dos dois contextos. Para isso, de acordo com Carvalho,
Moruzzi & Oliveira (2007), a captação e o armazenamento da água advinda de
precipitações são ótimas formas de minimizar impactos de tais problemas, que podem
trazer tanto a benefícios socioambientais quanto vantagens econômicas na produção
de concreto.

Com base nessas informações e principalmente com o caráter de preservação


e melhor aproveitamento de um bem vital para a humanidade – a água – que foi
observada a necessidade de ser realizado um estudo sobre o aproveitamento das
águas pluvial e residual na Construção Civil.

1.4 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral realizar uma análise da qualidade da água
armazenada em reservatórios, para ser utilizada na construção civil, mais
especificamente na produção de concreto.

1.5 Objetivos Específicos


• Realizar análise comparativa da qualidade das águas de chuva e residuais
em relação à água potável, com base das normas vigentes;
• Analisar ganhos/perdas ecológicos e econômicos da aplicação de sistemas
de captação e reaproveitamento com uso na produção de concreto;
• Verificar se o concreto terá resultados significativamente diferentes entre
os tipos de água utilizados .
13

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A água e o mundo

O termo água refere-se basicamente ao elemento encontrado na natureza, sem


estar ligado a nenhum tipo de uso ou utilização. Quando se trata de um bem
econômico, que possui algum vínculo com um processo produtivo ou de simples uso,
ela se torna um recurso hídrico. Contudo, nem toda água encontrada no Planeta pode
ser considerada um recurso hídrico, e, por isso, grande parte é inadequada para o uso
doméstico, industrial, agrícola, pecuário e afins. (REBOUÇAS, BRAGA & TUNDISI,
2002)

Em geral, o uso para consumo, tanto com fins básicos para a população quanto
para a produção industrial e agropecuário, considera apenas a água doce apropriada.
A freshwater se designa, conforme Rebouças, Braga & Tundisi. (2002), por aquela que
possui teor de sólidos totais dissolvidos (STD) inferior a 1.000mg/L. Ainda, para ela
ser considerada potável, não deve ter cheiro, gosto nem cor.

Em grande parte do Brasil, a água é um bem ainda considerado abundante e


não é dado ao melhor aproveitamento dela a devida importância. Em países com
menor disponibilidade, este assunto é levado com muito mais seriedade há tempos.
No país, aos poucos isso está sendo mudado.

Em julho de 2014, o volume útil da Cantareira, que atende 8,8 milhões


de pessoas na Grande SP, esgotou. Com o esvaziamento do reservatório e
as previsões pessimistas de falta de chuva, São Paulo se afogou na maior
crise hídrica dos últimos 80 anos. (COHEN, 2015)

Em 2019, a região de Brasília, no Distrito Federal, chegou a ficar mais de 100


dias sem uma gota de chuva (BORGES, 2019). Estes são fatos que nos instigam a
considerar melhor o aproveitamento e o reaproveitamento dos recursos hídricos, não
levando apenas em conta que o valor do litro da água no país ainda é, em geral, muito
barato. A aplicação do assunto do presente trabalho na produção de concreto é uma
das formas dos recursos serem melhor empregados na construção civil.
14

2.1.1 Distribuição no Planeta

A água em todos os seus estados ocupa aproximadamente 70% da superfície


terrestre, levando muitas pessoas a acreditarem que ela é um recurso abundante e
infinito, conforme visto no Gráfico 1. Porém, dados apontados com estimativas pela
Universidade Federal de Pelotas – UFPel (2014) mostram que somente 2,70%
correspondem à água doce de toda essa quantidade, com o restante sendo
encontrado em mares e oceanos.

Além disso, como pode ser visto no Gráfico 2, a maior parte dessa parcela está
armazenada em geleiras e calotas e ainda está considerado o vapor d’água, restando
apenas uma pequena porção para as águas superficiais e subterrâneas, comparando-
se à quantidade total. Dado que ressalta a necessidade de preservação dos recursos
hídricos, tema tão presente atualmente nas “[...] discussões de sustentabilidade em
todo o planeta, tendo-se a constante preocupação em relação a sua disponibilidade e
qualidade para a atual e futuras gerações.” (UFPel, 2014, p.5)

Gráfico 1 – Demonstrativo da quantidade de água que é encontrada no Planeta

Terra 30%

Água 70%

Fonte: adaptado de UFPel, 2014.


15

Gráfico 2 – Uma pequena porção de toda a quantidade de água é considerada


utilizável como recurso hídrico

Água doce Água doce


superficial e de geleiras,
subterrânea calotas e
0,8% vapor
1,9%

Água
salgada
97,3%

Fonte: adaptado de UFPel, 2014.

2.2 Classificação dos tipos de água para a produção de concreto

Conforme a parte 1 da Norma Brasileira de Referência NBR 15.900 da ABNT


(2009), de um modo geral, é possível verificar a adequação ou não da água para a
produção de concreto em função de sua origem, que podem ser classificadas
conforme descrição a seguir no tocante ao presente estudo. Ainda é levada em conta
a premissa de que a água potável atenda automaticamente à Portaria nº 2.914/2011
do Ministério das Saúde - MS, podendo ser utilizada sem a necessidade de ensaio
para a preparação do concreto e não tendo nenhuma restrição.

2.2.1 Água de abastecimento público

A água de abastecimento público (potável), que deve atender a Portaria


2.914/11, é aquela que é distribuída pelas companhias de saneamento. Segundo a
NBR 15.900-1 da ABNT (2009), não é necessária a realização de ensaios para o seu
uso em concreto e é considerada adequada.

2.2.2 Água natural de superfície, água de captação pluvial e água residual


industrial

Neste item da Norma da ABNT (2009) se encontra a água natural de superfície,


que é encontrada em rios, lagos e afins, e é trazido o tocante do trabalho que será
16

elaborado – a captação pluvial, que ocorre quando é utilizada a água por precipitação
e a água residual, que é obtida através da reutilização em processos industriais.

2.3 Precipitação atmosférica

A definição dada por Garcez & Alvarez (1998, p.57) é que o termo precipitação
atmosférica pode ser entendido como “o conjunto de águas originado do vapor de
água atmosférico que cai, em estado líquido ou sólido, sobre a superfície da terra.” No
entanto, uma superfície pode ser também a cobertura de um prédio, por exemplo. Não
somente a chuva, mas também a neve, o granizo, o nevoeiro, o sereno e a geada
também fazem parte deste conceito. Sobretudo, na latitude em que se encontra o
Brasil, são as chuvas que são mais decorrentes e tem maior representatividade na
captação pluvial.

Para ser realizada uma análise da ocorrência e da distribuição das chuvas em


determinadas regiões, fica bastante prática a utilização de recursos gráficos para esse
interesse. Conforme descrito por Garcez & Alvarez (1998, p.82), um processo
bastante aceito “[...] para essa representação é o traçado de isoietas, que são curvas
que unem pontos de igual altura de precipitação para um período determinado.” Elas
podem ser relativas a um período anual, sazonal, mensal ou diário, ou até mesmo de
uma precipitação isolada. No anexo A (fora de escala) pode ser vista parte do
LEVANTAMENTO DA GEODIVERSIDADE – PROJETO ATLAS PLUVIOMÉTRICO
DO BRASIL – ISOIETAS ANUAIS MÉDIAS PERÍODO 1977 A 2006, realizado pelo
Governo Federal junto ao Ministério de Minas e Energia e à Secretaria de Geologia,
Mineração e Transformação Mineral, demonstrando estas representações gráficas. O
anexo refere-se mais especificamente às regiões Sul e Sudeste, que são de interesse
do estudo.

2.3.1 Média anual

A altura pluviométrica anual é uma das mais interessantes características da


medição pluviométrica, pois remete imediatamente a uma noção sintética de
comportamento de precipitações em um local. Para ser encontrado esse padrão local,
faz-se uma média aritmética utilizando-se como valor dominante uma série de alturas
pluviométricas anuais em relação ao período em que elas ocorreram, ou seja, soma-
17

se as alturas, dividindo-as pelo intervalo de anos. Para o cálculo é indicado o uso de


períodos de observação de 20 a 30 anos, que já podem ser adotados com suficiente
precisão. (GARCEZ & ALVAREZ, 1998)

2.3.2 Médias sazonal, mensal e diária

Da mesma forma que a medida anual, podem ser calculadas as médias sazonal,
mensal e diária levando em conta um determinado intervalo de tempo. Mais
importante ainda é que esses intervalos sejam comparados com os da mesma época
de anos anteriores, para ser criado um padrão. Médias diárias em relação a anos
anteriores são pouco precisas e não são muito interessantes para a realização de
cálculo de volume de um reservatório, por exemplo. Já as médias mensais e sazonais
– geralmente de estações – são bastante usuais neste caso, pois, conforme Garcez
& Alvarez (1998, p.79), dão “[..] uma noção clara das modificações periódicas das
precipitações, que são certamente cíclicas, como as variações meteorológicas que as
provocam.” É importante determinar qual ou quais tipos de média serão analisadas,
em geral, de acordo com o tamanho da demanda de água para a produção de
concreto.

2.3.3 Chuva ácida e outros agentes

A água da chuva possui um pH ligeiramente ácido, próximo a 5,60, resultante da


dissolução do CO2 na atmosfera. Porém, algumas regiões têm sofrido alterações
alarmantes no nível de acidez, graças às atividades humanas, como a produção
industrial e o uso de combustíveis fósseis para força motora dos veículos e de uso de
usinas termoelétricas. (MENDONÇA, RAMALHO & CAMPOS, 2009)

Sobre isso, Brena (2009, p.63) afirma que:

A queima de combustíveis fósseis é a maior responsável pela contaminação


do ar por SO2, NO e NO2, que são os mais importantes ingredientes da chuva
ácida. O SO2 é o primeiro maior causador da acidificação, sendo os óxidos
NO e NO2 a segunda maior causa.

A determinação da quantidade encontrada na água desses elementos é prevista


na NBR 15.900 e influi diretamente na corrosão tanto do concreto quanto do aço e de
18

outros metais que fazem parte da composição junto ao concreto. Outro fator que
intervém na determinação é a utilização de agrotóxicos nas lavouras, pois misturam-
se às precipitações metais pesados como chumbo, mercúrio e cádmio, cuja presença
também está associada aos centros urbanos pelo acumulo dos resíduos industriais
(GIMENES, 2012). Outro agente que influi na verificação da qualidade da água é a
deposição de matérias orgânicas, seja de coliformes fecais de animais ou de folhas.
Por esse fator, deve ser dada especial atenção à limpeza de todo o sistema e à sua
manutenção.

2.4 Aproveitamento e conservação da água pluvial

Como afirma May (2004), existem medidas convencionais e não convencionais


para a conservação da água. O sistema de aproveitamento por meio de água de chuva
é considerado não-convencional e não-potável, sendo bastante praticado em países
como Estados Unidos, Alemanha, Austrália e Japão, entre outros. No Brasil, este
sistema é praticado principalmente em localidades onde há menor disponibilidade de
água, como em algumas cidades do Nordeste. O uso desse sistema se torna viável
no momento que o aproveitamento acaba por diminuir a demanda de água potável de
fornecimento pelas companhias de saneamento, resultando em fatores positivos como
a diminuição de custos e a redução do risco de enchentes em caso de chuvas fortes
e/ou prolongadas.

De acordo com a UFPel (2014, p.54), as cisternas podem ser caracterizadas


como tanques que possuem “[...] a função de armazenar a água proveniente da
captação da água da chuva (coletada em telhados, pátios, quintais e outras áreas
superficiais) [...]”. O sistema de captação deve ser projetado e executado “[...] tendo
em vista a funcionalidade, a segurança, a higiene, a durabilidade a economia e o
conforto [...]”. Para que essas características sejam asseguradas, a UFPel (2014,
p.54) lista alguns cuidados com as cisternas:

I) ter a capacidade de coletar e armazenar os volumes de água previstos;


II) ser estanque, ou seja, livre de vazamentos e infiltrações;
III) permitir a limpeza e desobstrução de calhas e condutos;
IV) ser constituído de materiais resistentes às condições do tempo (chuva e
ventos).
19

May (2004) informa ainda que o processo funciona da seguinte forma: para a
captação, são utilizadas áreas de cobertura não-permeáveis, na maior parte das
vezes os telhados. A primeira chuva que cai sobre a cobertura acaba lavando-a,
apresentando um alto grau de contaminação e é aconselhado que sua primeira
captação seja desprezada. A água de chuva é coletada através de calhas, condutores
verticais e horizontais. Após a coleta, ela ficará armazenada em um ou mais
reservatórios que podem ser de diversos materiais. A viabilidade da utilização desse
sistema leva em consideração basicamente três fatores: precipitação, área de coleta
e demanda. O reservatório deve ser dimensionado conforme a necessidade
demandada da utilização da água e de acordo com a disponibilidade pluviométrica
local, por se tratar de ser o componente mais oneroso do sistema.

Figura 1 – Esquema básico de um sistema de captação de água da chuva

Fonte: Sempre Sustentável. Aproveitamento de água de chuva de baixo custo para


residências urbanas. Disponível em: http://www.sempresustentavel.com.br>. Acesso
em: 15 de maio 2018.
20

2.4.1 Coberturas

A cobertura é a definição dada por um telhado, uma laje, um terraço ou afins. É


nela onde a água precipitada cai e escoa até a captação pelas calhas. A quantidade
de água que pode ser captada está diretamente ligada à sua dimensão, que é definida
como área de contribuição ou de captação. A ABNT (2007, p.2) a define como “área,
em metros quadrados, projetada na horizontal da superfície impermeável da cobertura
onde a água é captada”.

As coberturas horizontais de laje devem ser projetadas para evitar


empoçamento, tendo declividade mínima de 0,5%, de modo que garanta o
escoamento de águas pluviais até os canais de drenagem. Em alguns casos, para
evitar grandes cursos d’água, elas devem ser subdivididas em áreas menores e ter
orientações de caimento diferentes. (ABNT, 1989)

2.4.2 Calhas

Conforme descrito em Norma pela ABNT (1989, p.2), uma calha é um “Canal que
recolhe a água de coberturas, terraços e similares e a conduz a um ponto de destino”.
Existem três tipos de calha: a de água-furtada, que é instalada na linha de água-
furtada da cobertura; a de beiral, que é instalada nos beirais da cobertura; e a calha
de platibanda, que é instalada na linha de encontro entre a cobertura e a platibanda.

As calhas de beiral e as de platibanda devem, sempre que possível, serem


presas o mais próximo possível da extremidade sob a cobertura, centralizando-as. A
inclinação mínima para elas é de 0,5%, uniformemente. O desnível para o caso de
água-furtada vai de acordo com o projeto. (ABNT, 1989)

Conforme Tomaz (2010), deve-se considerar a utilização de calhas de menor


comprimento, pois quando ela é muito longa, há perigo de entupimento. Por vezes é
necessária a divisão da calha em diferentes condutores verticais.

Os materiais das calhas que podem ser utilizados, segundo a ABNT (1989) são
chapas de aço galvanizado, folhas-de-flandres, chapas de cobre, aço inoxidável,
alumínio, fibrocimento, PVC rígido, fibra de vidro, concreto ou alvenaria. A NBR 15.527
da ABNT (2007) estabelece que devem ser instalados dispositivos para a remoção de
21

detritos nas calhas, os quais podem ser, por exemplo, grades ou telas.

A equação 1 é apresentada pela NBR 10844/89 da ABNT (1989) para o cálculo


da vazão na calha.

Equação 1 – Vazão de calhas

Q= I x A / 60

Onde:

• Q= vazão de pico (litros/min)


• I= intensidade pluviométrica (mm/h)
• A= área de contribuição (m²)

O período de retorno para a cidade de Santa Cruz do Sul a ser adotado é de 25


anos, pois possui população acima de 100.000 habitantes. O mínimo adotado para a
intensidade pluviométrica é de 180mm/h, de acordo com o anexo A.

2.4.3 Condutores verticais e horizontais

Os condutores são tubos fechados ou abertos que ficam entre as calhas e o


reservatório, normalmente ainda havendo um filtro antes deste. As tubulações
verticais e horizontais são responsáveis por recolher a água advinda das calhas e
coberturas com finalidade de conduzi-la até a parte inferior da edificação. Eles são
ligados através de conectores como joelhos, tipo “T”, luvas e outros. (ABNT, 1989)

A NBR 10.844 da ABNT (1989) indica que os materiais que podem ser
empregados nos dois tipos de tubulações e nas conexões são ferro fundido,
fibrocimento, PVC rígido, aço galvanizado e cobre. Ainda, para as peças verticais, o
material pode ser de chapas de aço galvanizado, folhas-de-flandres, chapas de cobre,
aço inoxidável ou fibra de vidro e, para as horizontais, cerâmica vidrada, canais de
concreto ou alvenaria. Um exemplo que é muito utilizado é o sistema composto por
calhas e condutores de aço galvanizado, como visto na figura 2:
22

Figura 2 – Exemplo de sistema condutor de água pluvial, formado por uma calha de
beiral e tubulação vertical de aço galvanizado

Fonte: ADL Calhas. Calhas brancas Curitiba e região metropolitana. Disponível em:
<https://www.adlcalhas.com.br>. Acesso em: 16 de maio de 2018

2.4.4 Reservatório

O volume de água de chuva precipitado na área de contribuição e escoado


através das calhas e condutores verticais e horizontais é armazenado no reservatório
ou cisterna. No seu projeto devem ser considerados os dispositivos extravasor
(popularmente conhecido como ladrão), de esgotamento, cobertura (tampa),
inspeção, ventilação e segurança, como pode ser observado na figura 3. O
turbilhonamento deve ser minimizado, dificultando a ressuspensão de sólidos e o
arraste de materiais flutuantes. (ABNT, 2007)
23

Figura 3 – Funcionamento de um reservatório do tipo cisterna

Fonte: Tekhouse. Sistema de Captação para Água da Chuva. Disponível em:


<http://www.tekhouse.com.br>. Acesso em 16 de maio de 2018.

A cisterna, propriamente dita, é um tipo de reservatório com estrutura mais


reforçada, podendo ser enterrada, apoiada sobre o piso ou elevada. A capacidade de
armazenamento, de estrutura necessária, finalidade, custo, disponibilidade de local
de implantação e de materiais para a construção são elementos que levam a escolha
pelo tipo de cisterna mais adequado à edificação. (UFPel, 2014)

Alguns cuidados especiais devem ser tomados para a qualidade da água ser
garantida em um reservatório, pois a água da chuva costuma trazer consigo metais
pesados que estão no ar, os quais se depositam no fundo e formam uma pequena
camada de lama. São exemplos de cuidados a prevenção de entrada de luz do sol no
reservatório devido ao crescimento de algas deixando a tampa do reservatório
hermeticamente fechada e a inclusão de grade na saída do extravasor, para evitar que
entrem pequenos animais. (TOMAZ, 2009)

Sobre o volume dos reservatórios, ABNT (2007, p.3) ressalta que ele “[...] deve
ser dimensionado com base em critérios técnicos, econômicos e ambientais, levando
em conta as boas práticas da engenharia [...]”. O cálculo é realizado com base no
24

coeficiente de escoamento da superfície, no volume de água aproveitável anual,


sazonal, mensal ou diário, na precipitação média anual, sazonal, mensal ou diária, na
área de coleta e na eficiência do sistema, utilizando-se da equação 2:

Equação 2 – Volume dos reservatórios

V = P x A x C x η fator de captação

Onde:

V = Volume do reservatório
P = Precipitação média
A = Área de contribuição
C = Coeficiente de escoamento superficial
η fator de captação = Eficiência do sistema de captação

Para o dimensionamento do volume de uma cisterna, devem ser conhecidas


algumas características da região em que será a água será utilizada para a produção
do concreto, como qual o índice médio de precipitação e o número de meses sem
chuva. Esses fatores influenciam diretamente na viabilidade ou inviabilidade da
implantação de um sistema deste tipo. (UFPel, 2014)

2.4.5 Distribuição

A saída de água pode ser feita com a utilização de bombas e sistemas


pressurizados ou mesmo por uso da própria gravidade, em casos onde o reservatório
localiza-se em elevação. Um sistema de distribuição é composto por tubos e
conexões, válvulas e, quando os pontos de utilização estão em níveis superiores ao
nível de água dentro da cisterna, bomba hidráulica e motor (elétrico ou a diesel).
(UFPel, 2014)

2.4.6 Limpeza

Para que a água captada das chuvas esteja de acordo com as especificações
para a produção do concreto devem ser adicionados dispositivos que ajudem a torná-
la a mais pura possível. Uma das mais importantes e simples formas da pureza ser
atingida é a filtração, que tem o objetivo de retirar compostos indesejáveis. O filtro
25

pode ficar antes mesmo de a água chegar ao reservatório ou na parte da distribuição.


Dentre os filtros mais utilizados destacam-se os de areia, que se baseiam em uma
técnica em que a água transpõe os poros entre os grãos e são retidas as sujeiras e
bactérias, diminuindo sua turbidez. Para ser diminuído o odor, deve ser adicionada na
parte inferior do filtro uma camada de carvão vegetal moído e sem pó. É muito
importante a lavagem do filtro regularmente e, se ele começar a entupir, indica-se a
raspagem da camada superficial de areia de aproximadamente um centímetro.
(UFPel, 2014)

Além do filtro, a UFPel (2014, p.71) aponta que existem alguns cuidados a serem
tomados em relação à limpeza do sistema de captação por meio de cisternas para
que seja alcançada uma água de qualidade. São exemplos destes cuidados:

• A cisterna não pode ser feita em qualquer lugar, porque a poluição do ar


interfere na qualidade da água.
• A área de captação tem que estar limpa (telhados, calhas, pavimentos ou
área de drenagem).
• Deve-se optar por tintas utilizadas na pintura dos telhados que não
contenham substâncias que prejudiquem a saúde humana e dos animais.
• Realizar a limpeza periódica das instalações de cobertura, condução,
filtração armazenamento de água.
• Instalar um filtro após as calhas para que a água seja tratada.
• As primeiras águas da cisterna devem ser descartadas.

A limpeza influi diretamente, além da qualidade da água, na redução de futuros


problemas, como a deterioração de materiais e gastos com manutenções. Ela deve
ser frequente e pode ser feita até mesmo manualmente, utilizando água e sabão.
(UFPel, 2014)

2.5 Reaproveitamento e conservação da água residual

Segundo Costa e Telles (2007), o reuso de água, dentre elas a residual, é


considerada uma opção muito inteligente pelo mercado mundial, pois o uso de
tecnologias que tratam resíduos está dentro do conceito de sustentabilidade para os
recursos ambientais. Dentre as aplicações que abrangem o seu reuso está a utilização
deste tipo de água dentro da construção civil.

De acordo com Mancuso e Santos (2003), citando a Organização Mundial da


26

Saúde (1973), a água residual trata-se de reciclagem interna, pois ocorre quando a
água é reutilizada internamente pelas instalações industriais, objetivando economia e
diminuição da poluição. “O setor industrial é, em grande parte, responsável pela
emissão de poluentes e de outros impactos ambientais.” (COSTA E TELLES, 2007)
Por isso, é muito importante que as indústrias se preocupem com o reaproveitamento
das águas que são utilizadas em seus processos, já que o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) obriga por lei as indústrias a tratarem as águas destes
processos. Costa e Telles (2007) afirmam ainda que “a qualidade da água aplicada no
setor industrial pode variar conforme estudos de causas e efeitos de impureza nela
contida e o custo benefício de cada tipo de aplicação.”

Para que a reutilização das águas advindas de processos industriais seja


possível, é necessária a instalação de sistemas de tratamentos de efluentes. As
estações de tratamento de águas residuais utilizam habitualmente processos
mecânicos, biológicos e químicos para remover os contaminantes. Elas podem ir de
simples reservatórios que se baseiam na sedimentação a processos refinados de
tratamento biológico. O tratamento biológico para a utilização da água residual na
construção civil deve ter como objetivo reduzir ou eliminar as impurezas da água,
como bactérias, componentes consumidores de oxigênio, substâncias químicas e
metais pesados que foram disseminados na água durante os processos das
indústrias. (GRUNDFOS, 20-?) Um exemplo de uma estação de tratamento pode ser
visto na figura 4. O volume do reservatório é muito relativo, dependendo da produção
da indústria, o que faz com que seja gasto uma certa quantidade de água, a qual pode
ser tratada.
27

Figura 4 – Exemplo de estação de tratamento de águas residuais industriais

Fonte: Cimento Itambé. Reuso de água funciona se vier contemplado no projeto.


Disponível em: <https://www.cimentoitambe.com.br> Acesso em: 07 de novembro 2019.

Vale ressaltar que para a água advinda de lavagem direta da sobra de


amassamentos de concreto, como de betoneiras, por exemplo, considera-se que ela
atende automaticamente a todos os parâmetros, não sendo necessária tratá-la, desde
que não forem aplicados nenhum tipo de detergente, sabão ou quaisquer outras
substâncias que possam alterar quimicamente as propriedades da água.
28

3 METODOLOGIA

O trabalho seguiu a pesquisa exploratória, que, conforme Mattar (1995), é de


suma importância no estágio inicial de um projeto de pesquisa, pois traz ao
pesquisador a familiaridade e o conhecimento necessário para a problemática da
pesquisa e a presunção de soluções. A pesquisa exploratória engloba o levantamento
bibliográfico, que tem o objetivo de trazer o conhecimento fundamental sobre o
assunto, utilizando-se de obras realizadas por outros autores (GIL, 2008). Segundo
Santos (2013), “o material consultado na pesquisa bibliográfica abrange todo
referencial já tornado público em relação ao tema de estudo.” Para isso, devem ser
utilizados livros, teses e dissertações, artigos, publicações e manuais de órgãos
públicos, etc., de modo a agregar informações e ampliar conceitos do uso de sistema
de captação de água pluvial.

Os métodos utilizados para a determinação da qualidade da água serão os de


análise química. Para complemento dos estudos, foi utilizado como método a
pesquisa experimental em laboratório, sendo realizados ensaios de resistência à
compressão do concreto.

3.1 Objeto de estudo

Os experimentos foram realizados a partir de coletas de água de captação pluvial


e de abastecimento de um mesmo local e a residual em uma empresa de dosagem
de concreto, as quais foram levadas a um laboratório de análises. As coletas das
águas pluvial e potável foram feitas a partir de um reservatório-cisterna e da água de
abastecimento público do mesmo local, respectivamente. A água residual encontrava-
se em um reservatório da empresa de concreto. O laboratório de análises químicas
seguiu todas as exigências estabelecidas na NBR 15900 pela ABNT (2009), incluindo
todas suas partes.

3.1.1 Procedimentos

Partindo da NBR 15900-2 da ABNT (2009), define-se que a quantidade mínima


de água para a avaliação preliminar deve ser de 3,00 litros. A ABNT (2009) estabelece
também que para o procedimento de recolhimento das amostras, tanto da rede pública
29

quanto de um sistema de distribuição de água pluvial e residual, devem ser escolhidas


torneiras limpas e sem vazamentos.

Para os procedimentos iniciais, “Uma pequena subamostra deve ser avaliada,


assim que possível, após a coleta, com relação à presença de óleos, gorduras,
detergentes, cor, material sólido odor e matéria orgânica”, os quais devem atender
aos itens determinados na tabela 1: (ABNT, 2009, p.1)

Tabela 1 – Requisitos e procedimentos de ensaio para inspeção preliminar de água


destinada ao amassamento de concreto

Parâmetros Requisito
Óleos e gorduras Não mais que traços visíveis
Detergentes Qualquer espuma deve desaparecer em 2 minutos
A cor deve ser comparada qualitativamente com água potável
Cor
devendo ser amarelo claro a incolor
Material sólido Máximo de 50.000mg/L
Deve ser inodora e sem odor de sulfeto de hidrogênio, após a
Odor
adição de ácido clorídrico
Ácidos pH ≥ 5
A cor deve ser mais clara ou igual à da solução-padrão, após a
Matéria orgânica
adição de NaOH

Fonte: Adaptada de ABNT (2009).

Os ensaios com corpos de prova de cimento deverão ser moldados a partir de


uma mistura que pode ser manual ou mecânica, com as quantidades de materiais a
serem misturados, um de cada vez. Cada partícula de cimento deve entrar em contato
com a água, tornando a pasta bastante íntegra e para que a mistura fique homogênea,
envolvendo cada um dos agregados, ligando-os firmemente entre si, após o concreto
ter endurecido. (GIAMMUSSO, 1999)
30

3.1.2 Resultados esperados

Como a ABNT (2009, p.3) considera que “A água classificada como água potável
é considerada em conformidade com os requisitos previstos nesta Norma”, espera-se
que os resultados das análises entre esta classificação e as águas de captação pluvial
e residual sejam semelhantes.

No quesito das propriedades químicas, as substâncias, que estão dispostas em


partes individuais na NBR 15900 da ABNT (2009), zinco, chumbo, cloreto, sulfato,
fosfato, álcalis, nitrato e açúcar, não devem exceder aos valores estipulados pela parte
1 da Norma.

Assim, para os cloretos, espera-se que os teores não excedam aos seguintes
limites na água, conforme tabela 2 da parte 1 da NBR:

Tabela 2 – Teor máximo de cloreto em água para amassamento

Uso Final Teor máximo de cloreto (mg/L)


Concreto protendido ou graute 500
Concreto armado 1.000
Concreto simples (sem armadura) 4.500

Fonte: Adaptada de ABNT (2009).

Já para o teor de sulfato na água, expresso como SO4 2-, a ABNT (2009) define
que não deve exceder 2.000mg/L.

Sobre álcalis, ABNT (2009, p.6) explicita que:

Se agregados potencialmente reativos com álcalis forem usados no concreto,


a água deve ser ensaiada quanto aos teores de álcalis de acordo com ABNT
NBR 15900-9. O equivalente alcalino de óxido de sódio não deve exceder 1
500 mg/L. Se esse limite for excedido, a água pode ser usada apenas se for
comprovado que foram tomadas ações preventivas quanto à reação álcali-
agregado, conforme ABNT NBR 15577-1s.

Os açúcares, fosfatos, nitratos, chumbo e zinco são substâncias contaminantes


para a água de amassamento do concreto. Para aprovação da água quanto a esses
31

contaminantes, podem ser executados ensaios quantitativos de detecção destes


elementos, respeitando os limites estabelecidos pela tabela 3. No caso de os limites
não serem atendidos, devem ser realizados ensaios de tempo de pega e de
resistência à compressão em amostras de referência, paralelamente com a água em
ensaio.
Tabela 3 – Requisitos para substâncias prejudiciais

Substância Teor máximo (mg/L)


Açúcares 100
Fosfatos, expressos como P2O5 100
Nitratos, expressos como NO3 - 500
Chumbo, expresso como Pb2+ 100
Zinco, expresso como Zn2+ 100

Fonte: Adaptada de ABNT (2009).


Assim, se todos os requisitos forem atendidos, a água de amassamento pode
ser considerada apta para a produção do concreto.

Em caso de a água não estar em conformidade, devem ser moldados seis corpos
de prova de mistura mecânica, os quais devem obter os valores médios mínimos de
resistência a ruptura à compressão com suas respectivas idades de ruptura conforme
a tabela 4. (TARTUCE & GIOVANNETTI, 1990)

Sobre os resultados esperados para o tempo de pega, Tartuce & Giovannetti


(1990, p.36) descrevem que “Segundo as especificações brasileiras, os cimentos
devem apresentar tempo de início de pega maior ou igual a 1 hora, e tempo de fim de
pega menor ou igual a 10 horas [...].” Portanto, se esses parâmetros forem atingidos,
mesmo que as características químicas não estiverem em pleno acordo com as da
NBR 15900, a água ensaiada estará apta para ser utilizada na produção da massa de
concreto.
32

Tabela 4 – Resistências mínimas dos corpos de prova nos ensaios de resistência à


compressão

Idade CP 25 (em MPa) CP 32 (em MPa) CP 40 (em MPa)


3 dias 8 10 14
7 dias 15 20 24
28 dias 25 32 40

Fonte: Adaptada de Tartuce & Giovannetti (1990).

3.2 Consistência do concreto fresco

Conhecido como slump test, este é um ensaio bastante simples para a


determinação da consistência do concreto e é normatizado pela ABNT NBR NM
67:1998. O teste consiste em determinar o quanto a massa fresca do concreto,
previamente compactada com uma haste, é abatida através da retirada de um molde
cônico, que deve ser na direção vertical durando entre 5 a 10 segundos. Esta é a
maneira mais simples e conveniente de ser realizado o controle da produção do
concreto, mantendo uniformes as misturas provenientes de diferentes betonadas.
(METHA E MONTEIRO, 1994)

O processo, conforme determina a ABNT (1998), necessita de uma placa de


base metálica quadrada ou retangular com lados mínimos de 500 mm e espessura
mínima de 3 mm, um molde cônico metálico com diâmetros da base inferior de 200
mm, superior de 100 mm e altura de 300mm, uma haste metálica de 16 x 600 mm
com extremidades arredondadas e uma concha metálica para auxiliar no
preenchimento do molde. São úteis também uma gola, que vai inserida no topo do
molde para auxiliar no preenchimento, e uma espátula de aço para retirar o excesso
no topo. Todas estas ferramentas devem estar limpas e devem ser previamente
umedecidas. Para a aferição do abatimento é utilizada uma trena ou uma régua. O
procedimento acontece da seguinte forma:

• Posiciona-se a placa de base sobre uma superfície plana, não inclinada e sem
irregularidades, próxima à betoneira ou a fôrma em que foi produzida a massa;
33

• O cone com a gola é colocado sobre a placa, o qual possui aletas1 sobre onde
o operador deve posicionar os pés com firmeza;
• Com o uso da concha, preenche-se o tronco com a massa dividindo-a em
camadas de aproximadamente um terço da altura do molde cada, sendo
compactadas com 25 golpes do bastão a cada término de preenchimento;
• Retira-se o excesso no topo do cone com auxílio da espátula de aço;
• O operador deve então segurar as aletas com as mãos enquanto ainda pisa
nelas de forma a manter o conteúdo estável;
• Posteriormente ele deve tirar os pés com cuidado enquanto segura as aletas
com as mãos, fazendo pressão vertical para baixo e posicionando seus pés de
forma segura para que o próprio operador não tombe;
• Assim que estiver posicionado, o operador inicia a retirada de todo o molde de
maneira constante em um intervalo de tempo de 5 a 10 segundos;
• É medido o abatimento do tronco de concreto, comparando-se lado a lado na
placa a altura do molde e o topo da massa de teste, com auxílio da haste
colocada na superfície do cone e uma trena ou régua;
• Se o resultado não for satisfatório, essa quantidade de massa de teste deve
ser descartada e devem ser adicionados novos materiais à massada e
realizados novos testes até que o slump requerido seja encontrado. Em alguns
casos, se mesmo assim o abatimento a ser alcançado não ocorrer, todo o
concreto deve ser descartado.
“A operação completa, desde o início de preenchimento do molde com concreto
até sua retirada, deve ser realizada sem interrupções e completar-se em um intervalo
de 150 s.” (ABNT, 1998, p.4)

3.3 Análise de viabilidade

O método de avaliação do sistema de aproveitamento de águas de chuva e


residual tratando-se de viabilidade deve ser iniciado pela estimativa inicial do custo
de um sistema similar, considerando-se um tempo de retorno. Para isso, é necessário
que sejam considerados não somente os custos diretos de valor presente como

1
Alças que servem para o apoio do molde cônico
34

também os custos indiretos, como manutenção, operação e ocupação de área do


terreno/edificação. (TOMAZ, 2010)

Os custos da água de abastecimento público utilizada para produzir o concreto


demandado para construir uma edificação serão comparados com os custos da
implantação, manutenção e operação dos sistemas de captação pluvial e residual, em
relação à produção da mesma quantidade de concreto. A análise desses custos
caracterizará a viabilidade ou não da implantação do sistema.

3.4 Procedimentos práticos

Os procedimentos práticos iniciaram-se a partir da coleta das águas que seriam


utilizadas para os ensaios e foram seguidos segundo o cronograma. Todas as
amostras foram previamente coletadas em tambores que ficaram armazenados por
alguns dias em uma sala em abrigo de luz e calor, até que seus conteúdos fossem
utilizados para a produção do concreto e as análises químicas. A seguir serão
descritos os procedimentos detalhadamente.

3.4.1 Materiais utilizados

Os materiais foram coletados tendo-se como base os traços que são


consolidados no mercado e suas quantidades ideais. Todos os cuidados foram
tomados devidamente na coleta, tanto na segurança dos envolvidos quanto ao
manuseio e armazenamento correto dos materiais. Os traços serão descritos mais
adiante.

3.4.1.1 Areia natural média

Areia natural média foi utilizada como agregado miúdo para a produção dos
traços utilizados nos ensaios. Segundo a ABNT (2009), caracteriza-se como areia
média os grãos que possuem dimensões granulométricas entre 0,2 e 0,6 mm. Ela foi
coletada junto ao setor de armazenamento da empresa de dosagem de concreto
Conpasul, localizada em Santa Cruz do Sul. Segundo os responsáveis, essa areia é
advinda da extração do Rio Jacuí, em Rio Pardo. Essa mesma areia é utilizada em
seus processos de produção de concreto que é empregado em todas as obras de
35

seus clientes na região, quando solicita-se esse agregado.

Para a sua utilização para os ensaios, a areia foi devidamente seca ao sol para
ser diminuído o teor de umidade e evitar que os resultados fossem alterados pela
quantidade de água que já estava retida em sua composição. Este procedimento foi
feito utilizando-se de lonas que foram cobertas por finas camadas areia, para que o
processo fosse acelerado à secagem ao sol. Assim que seca, a areia foi pesada e
ensacada.

3.4.1.2 Brita número 1

A brita número 1, definida pela ABNT (2009) como um agregado graúdo que
passa entre as peneiras de 4,8 e 12,5 mm, foi utilizada para a produção dos traços
dos posteriores ensaios. Igualmente à areia, a brita foi coletada no setor de
armazenamento da empresa Conpasul. Conforme informações, a brita é oriunda de
uma jazida localizada em Linha Andreas, na cidade de Vera Cruz – RS.

3.4.1.3 Cimento Portland

O cimento foi coletado na empresa Conpasul diretamente do seu silo de


armazenamento por meio de um tonel plástico com vedação, com finalidade de mantê-
lo protegido de umidade e outras impurezas que poderiam afetar sua qualidade. O
tipo de cimento utilizado foi o CP II F-40 da marca Itambé, o qual é utilizado
constantemente nas obras que a empresa emprega o seu concreto.

3.4.1.4 Água pluvial

A água pluvial foi coletada numa residência localizada no bairro Senai, em Santa
Cruz do Sul, por dispor de um sistema de captação tecnicamente satisfatório. A água
foi captada em uma torneira limpa e sem vazamentos, como indicam as
recomendações. Essa torneira é ligada por uma canalização que utiliza somente a
água do reservatório pluvial, não tendo ligação com o sistema de abastecimento
público. Esta água é utilizada para fins de lavagem de calçadas, irrigação de plantas
e do solo e demais funções não potáveis do lar. A coleta foi feita em um tambor de
água, anteriormente utilizado para água mineral de consumo, de 20 litros, o qual foi
36

devidamente esterilizado, lavado previamente com a água pluvial e deixado para


secagem, afim de não haver influência de impurezas ou de outro tipo de água. Após
a coleta, o tambor foi cuidadosamente estancado e identificado, conforme a figura 5.

Figura 5 – Tambor de água com a devida identificação após a coleta

Fonte: Autor.

A captação da residência é feita através da água de chuva que escorre por uma
cobertura com telhas de barro esmaltadas e é captada através de condutores verticais
e horizontais, conforme pode ser visualizado na figura 6. Antes de chegar ao
reservatório, a água passa por um filtro com peneiras que impedem a passagem de
sujeiras mais grossas, vide a figura 7. Pequenas partículas acabam passando e se
depositam no fundo do reservatório. O reservatório do local, que pode ser visto na
figura 8, tem a capacidade de 5 mil litros e é feito de fibra. Nota-se também pela
imagem a presença do extravasor, que serve para que o reservatório não transborde.
37

Figura 6 – Vista do sistema de captação da água pluvial da residência em que foram


coletadas as amostras deste tipo de água

Fonte: Autor.

Figura 7 – Filtro do sistema de captação

Fonte: Autor.
38

Figura 8 – Reservatório do sistema de captação pluvial

Fonte: Autor.

3.4.1.5 Água potável

A água potável foi coletada também em um tambor de 20 litros que anteriormente


era usado para consumo e na mesma residência em que foi coletada a água pluvial.
O procedimento de esterilização, lavagem e secagem do tambor foi realizado como
de padrão. A coleta foi feita em uma outra torneira em que a água é oriunda do
abastecimento público, torneira qual estava devidamente limpa e sem vazamentos.
Por fim, o tambor foi propriamente distinguido dos demais.

3.4.1.6 Água residual

A água residual foi obtida em um reservatório metálico, como pode ser visto na
figura 9, que armazena a água que é reutilizada após a lavagem do piso, de
caminhões e de equipamentos da empresa Conpasul. A figura 10 foi captada no
momento em que um dos caminhões da empresa estava sendo lavado. A água escoa
através de valas e da inclinação do piso até um decantador. Depois, esta água passa
por processos de tratamento nesse decantador que tem diversos tanques que vão
39

filtrando-a por sedimentação, para que ela possa ser reutilizada em novas lavagens
ou outros empregos, conforme as necessidades da concreteira. Os tanques podem
ser vistos na figura 11. Após passar pelo decantador, a água é bombeada até o
reservatório. Por vezes a água tratada acaba sendo desperdiçada, quando a
capacidade do reservatório é excedida. Quando chove, a água pluvial também se
mistura nos tanques. A limpeza, coleta e identificação da amostra foram basicamente
feitas igualmente aos demais tipos de água anteriormente citados.

Figura 9 – Reservatório da água residual tratada

Fonte: Autor.

Figura 10 – Lavagem de um caminhão da empresa de dosagem de concreto

Fonte: Autor.
40

Figura 11 – Tanques do decantador

Fonte: Autor.

3.4.2 Análises preliminares

Logo que coletadas, foram observados alguns parâmetros sensoriais nas


amostras, comparando-se umas com as outras. Os parâmetros utilizados como
satisfatórios foram dados pela amostra de água potável, pois a mesma é considerada
própria para a produção de concreto por especificações técnicas, mesmo antes de ser
ensaiada quimicamente.

Primeiramente, foi verificado o tempo em que as espumas desapareciam após o


recipiente ser cheio. Nem mesmo na água residual – que previamente foi utilizada
para lavagem e continha detergentes misturados antes do tratamento – teve um tempo
de desaparecimento superior a dois minutos, fazendo com que todos os tipos de água
estivessem visualmente de acordo no quesito espumas de detergentes. Isso
provavelmente se deve ao fato de serem utilizados detergentes biodegradáveis, o que
faz com que eles sejam diluídos na água com maior facilidade no tratamento. Quanto
a óleos e gorduras, não foram encontrados traços que aparentemente
comprometeriam a amostra na produção de concreto.

Em sequência foram colocados os três tipos de água em três copos com


bastante transparência para que fosse analisada a cor de cada amostra, atentando-
se em ter um fundo de cor homogênea e mesma incisão de luz para não haver
41

dessemelhança sensorial, o que pode ser visto na figura 12. Da esquerda para direita
estão dispostos os copos com água pluvial, potável e residual, sucessivamente. Com
isso, notou-se que as amostras de água potável e pluvial eram muito semelhantes,
sendo incolores. Já o copo com água residual mostrou-se com a coloração mais turva,
levemente amarelada/acinzentada, provavelmente por ainda conter finos do concreto
que foi lavado, que não foram eliminados no tratamento. Essa suposição se reforça
ao ser analisado o odor desta amostra, que apresentou um leve cheiro característico
de concreto fresco. A norma prevê que este odor ocorre neste tipo de água. As demais
amostras foram também analisadas sensorialmente pelo cheiro e caracterizadas
como inodoras.

Figura 12 – Amostras colocadas em copos cristalinos para verificação sensorial de


diferenciação de colorações

Fonte: Autor.

3.4.3 Coletas para as análises químicas

Para a coleta das amostras para as análises químicas foram seguidos os


procedimentos recomendados pelo ITAG 3 – Manual de coleta de amostra de água
para consumo humano, água bruta em poço tubular para fins de abastecimento e água
superficial para análises físico químicas, da Central Analítica da Unisc. Este manual
apresenta especificações de segurança, manuseio e conservação para a coleta das
amostras, estando de acordo com o que é recomendado pela NBR 15900.
42

As amostras foram coletadas a partir dos galões que estavam no abrigo de luz e
calor em recipientes próprios fornecidos pela Central, os quais estavam esterilizados
e com os devidos conservantes. Todos os recipientes foram identificados, conforme
visto na figura 13, e encaminhados para análise logo em sequência.

Figura 13 – Recipientes preenchidos com as amostras e identificados, prontos para


serem levados para as análises

Fonte: Autor.

3.4.3 Amassamento de concreto

Após os materiais serem devidamente obtidos e serem dados os corretos


cuidados, iniciou-se a pesagem destes para a produção das massas de concreto. Para
isso, era necessário serem definidos os traços para os ensaios, que serão
apresentados a seguir. A produção se deu no laboratório/canteiro de obras da Unisc.
Nela, os equipamentos foram previamente revisados e limpos para que não houvesse
interferência nos resultados. Antes de serem inseridos os materiais à betoneira, ela foi
imprimada com uma mistura de 50g de cimento e 50 ml de água (respeitando cada
tipo de água) para dar fluidez dos materiais com as paredes. Os materiais foram
pesados em uma balança e incorporados às misturas através de baldes. A sequência
de incorporação de materiais foi brita-água-cimento-areia. As quantidades de água
eram medidas através de uma jarra industrial de 2 litros com marcações em mililitros.
A mistura era batida na betoneira até que atingisse boa trabalhabilidade, não podendo
estar segregando ou emaranhando, o que durava cerca de cinco minutos. Após serem
43

realizados os testes de slump e as formas dos corpos de prova serem preenchidas, a


quantidade das massadas que sobrava era descartada em um papa-entulhos que
tinha essa finalidade. Entre cada produção ou o encerramento das atividades, todos
os materiais e equipamentos eram limpos para que também não houvesse
interferência nos resultados.

3.4.3.1 Traços utilizados

Conforme já mencionados, os traços escolhidos para os ensaios de slump e


compressão considerados como adequados foram os comercialmente produzidos.
Estes traços são consolidados por terem na prática boa trabalhabilidade e resultados
satisfatórios. Foram então definidos o traço 1 como “mais fraco”, devendo atingir
aproximadamente e o 2 como “mais forte”, os quais deveriam ser igualmente
reproduzidos nos três tipos de água e podem ser vistos na tabela 5. Foram previstas
produções de aproximadamente 60 kg de traço-amostra para que a quantidade fosse
suficiente para preencher as formas de corpos de prova posteriormente.

Tabela 5 – Previsão de dosagem para a produção dos traços de concreto

Previsão de consumo de materiais para a produção de aproximadamente 60


kg de concreto
Traço Cimento (kg) Areia natural média (kg) Brita #1 (kg) Água (l)
1 6,95 23,66 25,00 5,01
2 9,31 21,54 25,00 5,03

Fonte: Elaborada pelo autor.

Inicialmente, as quantidades de água tiveram apenas previsões, mas foram


adequadas até que atingissem o slump entre 100 e 160 mm. Foram misturados todos
os materiais na betoneira e seguidas estas recomendações. Porém, o slump não foi
incialmente atendido. A quantidade correta foi definida no primeiro traço 1 que foi
produzido e no primeiro traço 2, ou seja, foi adicionada água aos traços até que o
slump atingisse um valor aceitável. Com isso, a quantidade de água que deveria ser
reproduzida para as demais traços-amostras está disposta, juntamente com os outros
materiais, na tabela 6:
44

Tabela 6 – Dosagem utilizada para a produção dos traços de concreto

Consumo utilizado de materiais para a produção de aproximadamente 60 kg


de concreto
Traço Cimento (kg) Areia natural média (kg) Brita #1 (kg) Água (l)
1 6,95 23,66 25,00 5,40
2 9,31 21,54 25,00 5,50

Fonte: Elaborada pelo autor.

3.4.3.2 Testes de slump

Para o primeiro traço 1 realizado e para o primeiro traço 2, como já mencionado,


foi incorporada água até que o abatimento se adequasse ao requerido – concreto
S100. Assim, as quantidades de água foram apenas repetidas para os demais traços.
Os testes de slump foram então realizados após cada massada e obtiveram as
medidas conforme a tabela 7.

Tabela 7 – Testes de slump aferidos nos traços-amostras

Traço Medida do slump (mm)


PO1 150
PO2 145
PL1 160
PL2 155
RE1 145
RE2 100

PO – água potável
PL – água pluvial
RE – água residual

Fonte: Elaborada pelo autor.

Estas medidas foram obtidas conforme o procedimento padrão de teste de


slump, que foram mensuradas através da diferença do topo do cone e o topo do
abatimento da massa com uma trena, conforme pode ser visto na figura 14. Todas as
medidas ficaram dentro da especificação inicial, a qual determinava um abatimento
45

entre 100 e 160 mm. Notou-se que a massa do traço 2 residual teve um slump mais
baixo e teve uma trabalhabilidade pior. A massa estava com uma aderência à
betoneira e era difícil até mesmo retirá-la com a concha para o preenchimento dos
moldes de corpos de prova.

Figura 14 – Aferição do abatimento de um dos traços-amostras

Fonte: Autor.

3.4.3.3 Moldagem

Com os ensaios de abatimento já realizados, foi iniciada a moldagem dos corpos


de prova. Primeiramente, as fôrmas, com diâmetro de 100 mm e altura de 200 mm,
foram besuntadas com óleo para que os corpos se soltassem com facilidade após a
cura inicial. Os moldes eram então preenchidos até a metade, adensados
manualmente com o bastão com 12 golpes, preenchidos até o topo, aplicados mais
46

12 golpes e era dado um acabamento final com colher de pedreiro. Foram realizados
dois moldes para cada traço-amostra por idade para que houvesse uma contraprova.
Os moldes então foram identificados com etiquetas em suas alças e armazenados em
prateleiras longe de vibrações, umidade, calor ou para que outras pessoas não
entrassem em contato com as provas, conforme pode ser visto na figura 15.

Figura 15 – Identificação e armazenamento dos corpos de prova

Fonte: Autor.

3.4.3.4 Cura e desmoldagem

Após 24 horas de cura, todos moldes eram desformados e limpos. Dois


exemplares de cada traço-amostra eram imediatamente levados ao teste de
compressão normal para serem encontrados os primeiros resultados. As demais
fôrmas eram levadas a uma caixa d’água, onde os corpos ficavam mergulhados em
47

uma solução saturada de água e cal em condições ideais até que fossem rompidos
nos ensaios, definidos por cronograma. Definiu-se que os ensaios seriam realizados
com cura de 24 horas, 2 dias, 7 dias e 28 dias por razões de logística do laboratório.

3.4.3.5 Ensaios de compressão axial

Os ensaios de compressão normal foram realizados no laboratório da


universidade através de uma prensa hidráulica da marca Emic, modelo DL30000N,
que tem a capacidade de carga de compressão de 2000kN. Para estes ensaios foi
seguido o método dado pela norma ABNT NBR 15270. Os corpos eram previamente
retificados com serra industrial de disco de corte nas duas extremidades para que as
superfícies ficassem as mais planas possíveis, vide figura 16. Ainda assim foram
postos discos de Neoprene para o ajuste exato dos corpos de prova, afim de garantir
que suas superfícies de contato fossem uniformes em relação à da prensa, evitando
que as cargas exercidas se distribuíssem desigualmente e os resultados se dessem
incorretos. Com os exemplares devidamente planos, eles eram levados à máquina
que iniciava o emprego de força, conforme a figura 17, até que o corpo se rompesse.

Figura 16 – Retificação das superfícies dos corpos de prova

Fonte: Autor.
48

Figura 17 – Ensaio de corpo de prova sendo realizado pela prensa hidráulica

Fonte: Autor.

O software do equipamento Tesc então analisava a força empregada pela prensa


sobre a área da superfície do cilindro, resultando em um gráfico de tensão através do
tempo, como pode ser visto em exemplo na figura 18. Conforme eram rompidos, os
corpos de prova foram tendo seus resultados anotados quanto à sua identificação.
Com esses resultados foi possível serem realizadas análises comparativas entre os
traços-amostras.
49

Figura 18 – Exemplo de um gráfico gerado pelo Tesc

Fonte: Autor.
50

4 RESULTADOS E ANÁLISES

Com todos os ensaios realizados, químicos e físicos, foi possível que os


resultados fossem comparados entre si e serão descritos a seguir.

4.1 Ensaios químicos

Na tabela 8 estão dispostos os resultados que foram encontrados através das


análises químicas da Central Analítica da Unisc para as amostras. Foram realizadas
análises com os seguintes parâmetros em laboratório: alcalinidade total; alcalinidade
de carbonatos; alcalinidade de hidróxidos; alcalinidade de bicarbonatos; sólidos totais;
chumbo; cloretos; cor aparente; fosfato; matéria orgânica; nitrato; óleos e graxas
totais; pH; detergentes; sulfato; zinco.

Tabela 8 – Resultados das análises químicas para os três tipos de água

Parâmetro Potável Pluvial Residual NBR 15900


Alcalinidade total (mg/L CaCO3) 11,0 6,4 42,3 1500
Alcalinidade carbonatos (mg/L CaCO3) 0 0 -1059,5 1500
Alcalinidade hidróxidos (mg/L CaCO3) 0 0 1101,8 1500
Alcalinidade bicarbonatos (mg/L CaCO3) 11,0 6,4 0,0 1500
Sólidos totais (mg/L) 63,0 17,0 1525,0 50.000
Chumbo (mg/L) <0,001 0,001 <0,001 500
Cloretos (mg/L) 9,52 <0,25 38,18 1000
Cor aparente (uH) <2,0 <2,0 5,0 Preliminar
Fosfato (mg/L) <0,02 <0,02 <0,02 100
Matéria orgânica (mg/L) 0,45 1,8 21,375 Preliminar
Nitrato (mg/L) 0,2 0,6 0,2 100
Óleos e graxas totais (mg/L) <5,0 <5,0 <5,0 Preliminar
pH 6,86 7,05 12,39 ≥5
Detergentes (mg/L) <0,1 <0,1 <0,1 Preliminar
Sulfato (mg/L) <0,1 <0,1 143,3 2000
Zinco (mg/L) <0,02 0,15 <0,02 100

Fonte: Elaborada pelo autor.


51

É possível analisar algumas características através destes resultados. Os


parâmetros alcalinidade, sólidos totais, cloretos, cor aparente, matéria orgânica e
sulfato da água residual tiveram valores maiores que as demais amostras, que ficaram
com valores bem próximos. Nos casos de sólidos totais e matéria orgânica, os valores
foram bem maiores que os demais para a água residual. A grande quantidade de
sólidos totais provavelmente deve-se ao fato de estarem presentes micropartículas de
cimento e a matéria orgânica pelo fato de serem utilizados detergentes biodegradáveis
na lavagem dos caminhões e piso, os quais possuem compostos orgânicos. Nota-se
também que todos os resultados da água potável e pluvial ficaram bem semelhantes.
Mesmo assim, todos os resultados ficaram destro das especificações da norma NBR
15900 para todas as amostras, tornando as amostras aptas para a produção de
concreto.

4.2 Ensaios físicos

A tabela 9 apresenta os valores obtidos nos ensaios de rompimento de corpos


de prova, através da prensa e dos relatórios do software. Um exemplo do relatório
gerado pode ser visto no anexo B. Os resultados de água potável foram usados como
parâmetro.

Tabela 9 – Resultados encontrados através dos ensaios de compressão axial

Resistência à compressão axial, em MPa


Traço Cura Pluvial Potável Residual
24 H 3,1 3,3 3,9
2D 6,7 7,2 8,0
1
7D 9,4 14,5 14,4
28 D 14,8 20,1 19,2
24 H 4,3 6,6 6,2
2D 9,3 16,2 16,7
2
7D 16,7 26,9 26,2
28 D 23,6 35,7 33,5

Fonte: Elaborada pelo autor.


52

Através desses valores, foram gerados os gráficos comparativos das


resistências alcançadas de cada traço quanto aos tipos de água, que podem ser
visualizados pelos gráficos 3 e 4.

Gráfico 3 – Comparação entre as resistências atingidas pelos ensaios para traços 1

TRAÇOS 1
25,00
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO (MPA)

20,00

15,00
Pluvial
10,00 Potável
Residual
5,00

0,00
0 24 H 2D 7D 28 D
TEMPO DE CURA

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 4 – Comparação entre as resistências atingidas pelos ensaios para traços 2

TRAÇOS 2
40,00
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO (MPA)

35,00
30,00
25,00
20,00 Pluvial
15,00 Potável
10,00 Residual
5,00
0,00
0 24 H 2D 7D 28 D
TEMPO DE CURA

Fonte: Elaborado pelo autor.


53

É visto que os resultados das águas de fonte potável e residual possuem valores
muito próximos. Já os corpos de prova moldados com utilização de água pluvial
ficaram com resistências abaixo das demais. Seguem algumas considerações:

Para água pluvial:

• Em 24 horas, o traço 1 e 2 tiveram resistências 7,81% e 35,39%


menores que a cura da potável, respectivamente;
• Em 2 dias, o traço 1 e 2 tiveram resistências 7,18% e 42,65% menores
que a cura da potável, respectivamente;
• Em 7 dias, o traço 1 e 2 tiveram resistências 35,1% e 37,85% menores
que a cura da potável, respectivamente;
• Em 28 dias, o traço 1 e 2 tiveram resistências 28,08% e 34% menores
que a cura da potável, respectivamente;

Para água residual:

• Em 24 horas, o traço 1 teve resistência 15,92% maior que a cura da


potável e para o traço 2 ficou 7,38% menor;
• Em 2 dias, o traço 1 e 2 tiveram resistências 10,5% e 2,96% maiores
que a cura da potável, respectivamente;
• Em 7 dias, o traço 1 e 2 tiveram resistências 0,89% e 2,38% menores
que a cura da potável, respectivamente;
• Em 28 dias, o traço 1 e 2 tiveram resistências 4,62% e 6,24% menores
que a cura da potável, respectivamente.

Estas considerações demonstram que não foi possível ser observado um padrão
característico de resistências ao longo do tempo apenas sendo utilizados dois corpos
de prova por cura. Com base apenas nestes resultados, podem ser consideradas com
resistências satisfatórias os amassamentos que utilizaram água potável e residual. O
que utilizou água pluvial teve resultados que demandam cautela para sua aplicação
em uma edificação ou qualquer artefato de concreto, pois ficaram bem abaixo do
parâmetro de água potável.
54

5 CONCLUSÃO

Através dos resultados obtidos através de análises e ensaios físico-químicos, é


possível compreender que a utilização de água de fontes pluvial e residual é sim
exequível, mas devem ser mantidos os devidos cuidados. Apesar de os valores
obtidos pelas análises químicas mostrarem que as amostras estavam aptas à
produção de concreto, segundo a norma NBR 15900, foi comprovado que os corpos
de prova os quais foi utilizada água pluvial para o amassamento obtiveram valores
bem abaixo do esperado, comparando-se com as resistências de parâmetro da água
potável. Isso demonstra que existe algum fator que não está contemplado na norma
NBR 15900. Maiores estudos devem ser realizados para ser encontrado um padrão
característico das resistências quanto aos resultados químicos. A água residual
analisada teve seus resultados muito próximos aos da água potável e, com isso, sua
utilização para a produção de concreto pode ser considerada adequada, mas devem
ser realizados maiores estudos dos efeitos de sua aplicação a longo prazo.

Considerando-se que o consumo de água para cada m³ de concreto varia de 160


a 250 litros (VOTORANTIN, 2016) e o de concreto tem média de 23% para cada m²
construtivo, utilizando um sistema com lajes maciças, vigas e pilares (BOTELHO,
2004), a quantidade de água que pode ser utilizada de forma sustentável através do
aproveitamento das águas de chuva ou residual chega a aproximadamente 50 litros
por cada metro quadrado, somente para a produção de concreto para estes elementos
estruturais. A aplicação de argamassas para execução de reboco em paredes e forros,
assentamento de pisos e outras finalidades também possui um consumo de água
aproximado por área, o que resulta em cerca de 100 litros de água por metro quadrado
construtivo.

Conforme consultado em uma fatura de água da Companhia Riograndense de


Saneamento (CORSAN), de uma residência em Santa Cruz do Sul, o valor da água
potável, sem taxas de serviço básico, custa em torno de 5 reais o metro cúbico. Este
valor é irrisório se comparado a outros insumos da construção civil.

Para a utilização de água pluvial ou residual é necessária a instalação dos


elementos de captação, tratamento e armazenamento já mencionados anteriormente.
Isso faz com que haja custos de implantação e manutenção dos sistemas. Estes
55

custos dependem basicamente da quantidade de água a ser armazenada, pois


refletem no tamanho dos reservatórios – sendo que, quanto maiores, maior o custo –
e da distância entre os elementos de captação e a armazenagem. O valor final torna-
se bastante variável de um exemplo para outro e um levantamento através de um
modelo real seria o ideal para ter-se uma análise mais eficaz. Porém, utilizando como
exemplo hipotético a construção de um prédio padrão de 10 andares com 30 m² por
pavimento em Santa Cruz do Sul, pode-se concluir que são utilizados mais de 17 m³
de água só com produção de concreto. Esse número pode dobrar se for considerada
a produção de argamassas. Multiplicando-se a soma das quantidades de água da
produção de concreto e de argamassas pelo valor do metro cúbico – 5 reais, conclui-
se que um prédio desse padrão gasta apenas em torno de 170 reais com água potável
(sem taxas de serviço) para a produção concreto e argamassas, um valor que
certamente faz com que a implantação de um sistema de captação ou reutilização em
si sejam inviáveis economicamente para este fim. Entretanto, para uma empresa
concreteira, por exemplo, a longo prazo pode haver um bom retorno econômico e uma
enorme melhoria no aproveitamento de recursos hídricos.

Como o litro da água potável é ainda muito barato no Brasil, a maioria das
empresas não se preocupam com ele. Insumos de maior valor tem maior frente e
requerem maiores esforços na redução de custos para as empresas. Além dos custos
com implantação e manutenção dos sistemas de captação e reutilização, há ainda os
custos com as análises químicas das águas e os ensaios físicos com o concreto. No
entanto, os impactos ambientais podem ser reduzidos e as empresas terem uma
imagem melhor perante seus clientes, colaboradores e a sociedade, o que faz com
que exista também impactos econômicos indiretos. No caso da Conpasul, por
exemplo, a empresa é obrigada por lei a tratar a água a qual ela descarta, por causa
de vários fatores ambientais. São muitos litros de água os quais são descartados ou
ficam armazenados para outros fins que poderiam ser utilizados para a produção de
concreto. Neste caso, a implantação do sistema é então obrigatória e o único custo
adicional para a empresa em adotar o uso da água residual seriam os primeiros
ensaios químicos e físicos, os quais deixam de ser necessários até um padrão de
qualidade ser estabelecido.

Além de ser ecologicamente positiva, a sua utilização sustentável na produção


de concreto ajudará na obtenção de certificações ambientais para as edificações
56

como o LEED (Leadership in Energy and Enviromental Design – Liderança em Energia


e Design Ambiental) – um selo que “[...] possui o intuito de incentivar a transformação
dos projetos, obra e operação das edificações, sempre com foco na sustentabilidade
de suas atuações” (GBCBRASIL, 2019), valorizando futuramente o imóvel.

A Acqua Brasilis (201?), empresa especialista em usos sustentáveis de água,


afirma que mais de 500 empreendimentos possuem registro de projetos de reuso de
água com certificação ambiental no Brasil, o que demonstra que as construtoras estão
cada vez mais se preocupando com a utilização dos recursos hídricos de uma forma
sustentável.

Este trabalho foi muito importante para que fossem realizadas estas
constatações, mas ele sozinho não contempla um estudo completo. Para a
complementação a respeito do assunto tratado, são recomendados futuros estudos,
como moldagem de um maior número de amostras de corpos de prova, testes destes
tipos de água em épocas diferentes do ano, assim como em diferentes regiões, adição
de mais parâmetros químicos, estudo da relação de cada parâmetro químico com os
resultados de resistência e assim por diante. Estes estudos complementariam este
trabalho, dando maior confiabilidade aos resultados já encontrados.
57

REFERÊNCIAS

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química – Determinação de cloreto solúvel em água. Rio de Janeiro, 2009.

______. NBR 15900-7: Água para amassamento do concreto. Parte 7: Análise


química – Determinação de sulfato solúvel em água. Rio de Janeiro, 2009.

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química – Determinação de fosfato solúvel em água. Rio de Janeiro, 2009.

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62

ANEXO A
63

ANEXO B

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