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Crédito: Simone Massoni

CURTA NOSSA
PÁGINA

VOL. 19 | N. 32 | 2014

P.01 P.08 P.52


Sociologia, política e Júlio Bressane e os A ubiquidade das câmeras
arcaísmo: entrevista jogos de designação e a irrupção do real
com Michel Mafesoli Alexandre Rocha da Silva e Felipe da Silva Polydoro
Iuri Furukita Baptista , Cássio de Borba Luca
Janaina Gamba e Karina Weber
Recebido em 25 de julho de 2014. Aceito em 23 de março de 2015.

Júlio Bressane e os Resumo Abstract


Júlio Bressane e os jogos de designação Júlio Bressane and the designation
jogos de designação analisa as estratégias de representação games analyzes the strategies of
do ilme O Mandarim (1995). Na análi- representation in the movie The
Júlio Bressane and the se dos jogos de designação que o dire-
tor engendra, podem-se perceber três
Mandarin (1995). There seem to be
three types of designation games
designation games momentos distintos: uma representa- built by the director: a traditional
ção tradicional, que resguarda a identi- representation, which sticks to the
dade dos personagens indicados (Fer- identities of the indicated charac-
nando Eiras representa iconicamente ters (through iconic, indexical and
Mário Reis, Gilberto Gil representa in- symbolic representation); a nomad
Alexandre Rocha da Silva1 , dicialmente Sinhô, Gal Costa represen- designation, which migrates from
ta simbolicamente Carmen Miranda); a representamen to the next; and
Cassio de Borba Luca2 uma designação nômade, que passa a multiple or polytonal designa-
de um representâmen a outro (Tom tion which identiies a continuous
Jobim é representado por Edu Lobo e, line that stylistically connects Mário
na mesma cena, por Fernando Eiras); e Reis, Chico Buarque and Noel Rosa.
uma designação múltipla que identii- The audiovisual, thus, points toward
ca uma linha contínua conectando es- a fabulation posture in which the
tilisticamente Mário Reis, Chico Buar- semiosis of music has primacy over
que e Noel Rosa. O audiovisual, assim, the identities attributed to its inter-
aponta para uma postura fabuladora preters and composers.
em que a semiose da música tem pri-
mazia sobre as identidades atribuídas
a seus intérpretes e compositores.

Palavras-chave Keywords
Designação; cinema brasileiro; semiótica. Designation; brazilian cinema; semiotics.
Júlio Bressane e os jogos de designação

Introdução (a) da temática, como a música de Maria Bethânia (c) dos diálogos e encontros de personagens cul-
Júlio Bressane, diretor carioca nascido em 1946, no documentário Bethânia Bem de Perto (1966), a lite- turais históricos, como Oswald de Andrade, que é
foi um dos principais nomes do Cinema Marginal. ratura de Machado de Assis em Brás Cubas (1985) ou apresentado a Lamartine Babo por João do Rio em
Com Rogério Sganzerla, dirigiu no ano de 1970 a pro- ainda o próprio cinema nacional sendo discutido em Tabu (1982).
dutora Belair, que, em seus três meses de atividade, Cinema Inocente (1980); Extrapolando, sem dúvida, este pequeno apa-
lançou sete longas de baixo-orçamento3 (Bressane, (b) da trilha sonora, como, por exemplo, a canção nhado, a exploração de signos de brasilidade pare-
2005, p.38). É uma constante em sua obra a referên- São coisas nossas, de Noel Rosa, em Barão Olavo (1970), ce refletir sua concepção de cinema: um “organismo
cia intersemiótica de diferentes expressões da cultu- entre outras incontáveis incorporações do patrimônio intelectual demasiadamente sensível e que faz fron-
ra brasileira. Isso vem sendo feito por meio: fonográico brasileiro do século XX; teira com todas as artes, ciências e a vida” (Bressane,
1996, p.37). E também um organismo “trans-tudo,
nômade” (Bressane, 2000, p.23), “onde tudo se tra-
duz, tudo se dobra e se desdobra. Chega à borda e
transborda!” (Bressane, 1996, p.42).
Em O Mandarim (1995), Júlio Bressane explora a
fronteira do cinema com a música brasileira, retra-
tando o cantor Mário Reis de uma forma não-biográ-
fica, em que o foco muitas vezes escapa à diegese
central para explorar os signos que constituíram a
vida e a época do protagonista/cantor. Este artigo
propõe-se a analisar algumas das semioses engen-
dradas pelo diretor neste movimento.
As sequências analisadas foram selecionadas
inicialmente pela propriedade comum de envolver
artistas conhecidos da música brasileira (Sinhô, Tom
Jobim, Noel Rosa, Carmen Miranda, Villa-Lobos, Gal
Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil). A riqueza das
conexões e especialmente das referências que o fil-
me traz à tona levou à constituição do objeto deste
artigo: os modos de representação utilizados pelo
diretor e a identificação de sua tese (crítica) a respei-
to das designações, um dos aspectos fundamentais
que estatui a proposição. Analisar o filme, portan-
to, como proposição significa distinguir, para cada
sequência, aspectos relativos a três dimensões da
proposição (Deleuze, 1975): quem realiza a manifes-

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tação, o que é designado, como se articulam plano de Encerrando o círculo da proposição (Deleuze, 1975, na medida em que os atores eventualmente são per-
expressão e plano de conteúdo. p. 18), tem-se a dimensão da manifestação. É a relação da sonalidades notórias de nossa cultura. Inseridos numa
proposição com o sujeito que fala e se exprime, corres- obra em que transitam outras tantas iguras históricas
pondente às crenças e desejos desse eu manifestante. designadas, aparece a necessidade de se indagar: Chico
As dimensões da proposição Essa dimensão, nota Deleuze, é a que possibilita toda a Buarque designa Noel ou manifesta a si mesmo? E Edu
Deleuze dedica um capítulo à proposição, por meio
classe, já mencionada, dos indicadores, pois os indicado- Lobo, que é chamado de Tom Jobim (supostamente o
da qual seriam exprimíveis os acontecimentos, na Lógica
res formais (isto, aquilo, aqui, ontem, etc.), da ordem da designando), mas canta uma melodia própria? Nestes
do Sentido, de 1969. O autor francês apresenta, ali, três
designação, só funcionam quando em relação com esse momentos, manifestação e designação entram num
relações distintas da proposição com as quais “muitos
“manifestante de base”. Trata-se, ainda, do domínio do jogo que não parece ter uma solução simples, se pau-
autores concordam” (Deleuze, 1975, p.13), para depois
“pessoal”, em que a dicotomia lógica não é mais verda- tando por uma série de possibilidades de interpretação,
acrescentar uma dimensão suplementar: a do sentido.
deiro/falso, e sim veracidade/engano. Esse deslocamen- numa combinatória do acontecimento engendrada
A primeira dimensão é chamada designação ou in-
to de valores lógicos, que já se encontra na análise do pelo diretor. Estes jogos, que desconstroem o conceito
dicação: “é a relação da proposição a um estado de
pedaço de cera em Descartes (Deleuze, 1975, p. 15), pare- tradicional de designação, serão discutidos a seguir.
coisas exteriores” (Deleuze, 1975, p.13). Opera pela as-
sociação das palavras com o objeto e o estado de coi- ce corresponder, no cinema, à passagem de uma forma
sas designado, os quais elas devem representar. Pode de veracidade à potência do falso, como se verá adiante. Os jogos de designação
ser tida como a função informativa da proposição. A manifestação no cinema expressa relações A partir das dimensões da proposição acima apre-
Portanto, a indicação tem relação, em termos lógicos, complexas e de diferentes ordens, por ser uma obra sentadas, as sequências de O Mandarim passaram a
com a verdade e a falsidade, e a proposição é conside- coletiva: seu correspondente envolve diferentes ‘ato- ser mapeadas com o objetivo de se identificarem as
rada verdadeira quando “é efetivamente preenchida res sociais’ - a indústria que produz e financia o pro- estratégias designativas adotadas pelo diretor, que
pelo estado de coisas”, ou seja, quando está adequada jeto, o diretor/autor da obra, a equipe que decide os culminam com a expressão de sua tese: a de que há
ao estado de coisas representado. À luz da “intuição rumos da trama. No caso do cinema de autor, como uma certa indecidibilidade entre designado e desig-
designadora”, dizemos de uma palavra, em relação a o é o de Julio Bressane, a ideia da manifestação está nante, uma vez que ambos são efeitos de um mes-
um objeto: “é isto” ou “não é isto”. Fernando Eiras, em fortemente associada ao projeto do diretor, embora, mo processo semiótico desconstrutivo que consiste
O Mandarim, é Mário Reis; na medida em que repre- rigorosamente, não possa ser reduzida a ele. em afirmar a anterioridade da cultura, do cinema e
senta e indica o cantor. Às três dimensões, Deleuze acrescenta uma quarta: o da música em relações a seus autores e aos objetos
Outra dimensão da proposição é a signiicação. sentido. Este, para Deleuze, é o expresso da proposição, que designam. Como se Bressane dissesse, à luz de
Trata-se da relação da palavra com conceitos univer- e não existe fora dela. “O sentido é o exprimível, o que Villa-Lobos: estamos na música (e por extensão no
sais ou gerais. Do ponto de vista da signiicação, con- se diz das coisas e não a essência ou a coisa em si” (Silva cinema); é ela que nos faz, e não o contrário.
sideramos sempre os elementos da proposição como et al., 2012, p. 12). Por isso a pergunta, em Deleuze, não Assim, este artigo pretende evidenciar os modos
‘signiicante’ das implicações de conceitos que po- pode ser ‘qual o sentido de um acontecimento?’, já que o como Bressane foi desconstruindo as designações em
dem remeter a outras proposições, capazes de servir sentido é o próprio acontecimento: a relação que resulta O Mandarim até chegar a uma espécie de indecidibili-
de premissa à primeira (Deleuze, 1975, p.15). A função da mistura entre corpos. dade cuja expressividade não pode ser compreendida
da signiicação, em outras palavras, é a ligação entre o Nos ilmes de Bressane, pensados à luz desta teoria senão através do jogo. Nesse jogo, por vezes, a indica-
plano de expressão e o plano de conteúdo4. da proposição, a dimensão da designação se destaca ção do designado é dada por marcas indiciais fortes,

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como na cena em que Gal Costa é chamada de “peque- ções identitárias (ator-representado) que se desenvol- marchinha. Sua sombra forma uma silhueta perfeita do
na notável” ao interpretar Carmem Miranda. Em outros vem no ilme. Isto acontece quando Fernando Eiras, personagem designado.
momentos, há mais de um referente possível, o que co- designando diegeticamente Mário Reis, se apropria dos
meça a embaralhar o jogo: Chico Buarque, chamado no trejeitos vocais de Tom Jobim e passa a designar este
ilme de Noel Rosa (supostamente o designando), canta último extradiegeticamente. Outro exemplo: em várias
tanto canções suas quanto de Noel; Semelhantemente, sequências é relevante a detecção de um dado com-
Caetano airma ter sido parceiro de Sinhô, mas este fa- positor como referente, cujo nome não é mencionado,
leceu em 1930, o que dá ensejo à interpretação da fala mas que não deixa de ser designado por sua música ou
como referência a Gilberto Gil, seu companheiro de tro- por outras menções indiretas.
picália que interpreta Sinhô neste ilme. Se, genericamente, podem-se identiicar designa-
Por im, há momentos em que a designação sofre ções marcadamente diegéticas e designações que ne-
um abalo fatal, como, por exemplo, quando o diretor cessitam de referências extradiegéticas, para os propó-
aproxima Sinhô e Pixinguinha a partir da sobreposição sitos deste artigo ainda é necessário desenvolver mais
de suas canções, criando uma nova música que não se uma tipologia das designações para que nos aproxime-
deixa atribuir a um compositor ou a outro. Diante disso, mos das estratégias adotadas por Bressane. Apresenta-
veriicamos que Bressane tende a realizar, em termos das a seguir, tratam-se das designações (1) identitárias
gerais, duas espécies de designação em seu cinema. – de natureza icônica (Mário/Eiras), indicial (Sinhô/Gil) e
À primeira damos o nome de designação diegética, simbólica (Carmen/Gal), (2) nômades (Edu-Tom-Mário)
que ocorre quando a própria cena dá indicação de que e (3) múltiplas ou politonais (Chico/Noel/Mário).
uma tal igura designa um certo personagem. Eiras é,
desde os momentos iniciais do ilme, chamado de “meu Designações identitárias
caro Mário!”: signo diegético que implica uma represen- O primeiro tipo de designação veriicado é aquele
tação, por parte do ator, do cantor da primeira metade em que ator e personagem entretêm relações estáveis,
do século XX. Em suma, diegéticas são as designações nas quais as identidades são resguardadas. Os casos se-
claramente ligadas à sucessão de fatos da narrativa: as guintes são pensados com o auxílio da segunda tricoto-
designações que se estabelecem “conforme a icção mia de signos de Peirce (2012, p. 52), que diz respeito às Figuras 1 e 2: A perspectiva icônica – Mário Reis/Fernando Eiras
que o ilme apresenta”, pois diegético é “tudo o que relações do signo com seu objeto.
essa icção implicaria se fosse supostamente verdadei- Fernando Eiras interpreta o protagonista Mário Reis, Percebe-se, aqui, do ponto de vista da manifestação,
ra” (Aumont e Marie, 2006, p. 77). Esse tipo de designa- que, nas iguras 1 e 2, canta Jura, de Sinhô. No regis- que o diretor escolhe um tipo de representação tradicio-
ção se conforma a um cinema que mantém sua forma tro sonoro, é reproduzida a gravação de Mário de 1928, nal ao decidir que Fernando Eiras representaria por con-
de verdade e se estatui a partir de identidades ixas ou, ouvida na íntegra. No registro visual, Eiras faz uma du- venção Mário Reis, o designado. A signiicação é constru-
pelo menos, estáveis em sua referencialização. blagem mimeticamente detalhista de Mário Reis. Sua ída para dar veracidade à primazia da designação, posto
Ao segundo tipo de designação, chamamos de ex- expressão facial assemelha-se à de Mário Reis, especial- que a expressão é uma coleção de signos e trejeitos que
tradiegético, e ocorre quando há alusão a conceitos mente nos movimentos das sobrancelhas, e também remetem de imediato ao conceito Mário Reis. Fernan-
que não correspondem necessariamente às designa- seus gestos, inclusive o dos dedos levantados, típico da do Eiras é, no Mandarim, o representante do que acima

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chamamos de designação diegética em sua forma mais Relativamente, de forma mais especíica, à desig-
evidente. O estilo impresso no plano de expressão é a nação, vemos nestas sequências uma concomitância
ferramenta do ator para seguir remetendo à designação entre designação diegética e designação extradiegé-
realizada na diegese (“caro Mário”), para continuar repre- tica que aparece pela primeira vez. A primeira se con-
sentando a identidade de seu personagem. igura quando Mário-Eiras chama Sinhô pelo nome (e
Em termos semióticos, trata-se de uma representa- também, na mesma frase, pela alcunha: “rei do sam-
ba!”). A designação extradiegética ocorre quando o
ção predominantemente icônica5, em que os caracteres
estilo de Gil se impõe nas interpretações das canções
apresentados são relacionados por semelhança com os
de Sinhô. Este é seu artifício para representar, extra-
caracteres do objeto. Em Peirce, esta categoria de repre-
diegeticamente, a si mesmo: como diz o próprio Sinhô
sentação envolve um “objeto de experiência na medida no ilme, essa é uma questão de “voz” e “silabar”.
em que alguma de suas qualidades faça-o determinar a Este jogo faz circularem Gil como manifestante e
ideia de um [outro] objeto” (Peirce, 2012, p.52). A atua- designado extradiegeticamente e Sinhô como persona-
ção de Fernando é mimética neste sentido: o ator faz a gem designado diegética e extradiegeticamente. Nesse
imitação das particularidades expressivas de Mário Reis, ponto, ainda que dentro de uma lógica de representa-
presta atenção aos detalhes qualitativos do referente, ção tradicional, já se pode vislumbrar a complexidade
e tanto melhor executa sua função quanto melhor faz das relações promovidas pelo diretor entre seu ilme e os
Figuras 3, 4 e 5: A perspectiva indicial – Sinhô/Gilberto Gil personagens da música brasileira. A designação vai se fa-
determinar num interpretante a ideia de seu referente.
Sinhô, compositor dos anos 20, representado por zendo menos coniável como indicação individual e indi-
Gilberto Gil em O Mandarim, dialoga (Figuras 4 e 5) com Gil canta duas canções de Sinhô: Sabiá e Gosto que me ciária, se desenvolvendo rumo a um signo múltiplo, obra
enrosco. Ambas têm gravações de Mário Reis de 1928 (no aberta, que realiza diversas conexões de uma só vez.
Mário Reis, que foi seu aluno de violão e intérprete. No
ilme, quando cantadas, Mário somente observa). A inter- Na cena anterior, a representação de Mário Reis ain-
registro verbal, podem-se notar estes papeis: dá con-
pretação de Gil, acompanhado do violão, porém, não é da preservava natureza marcadamente icônica - um sin-
selhos a Mário6, elege-o como seu “intérprete ideal”.
uma representação idedigna das gravações dos anos 20. signo icônico, um existente que comporta as qualidades
Seu estilo trata de forma soisticada o instrumento, que que remetem a seu referente; nesta, como vimos, Gilber-
parece mais orgânico, e o modo de apresentar a melodia to Gil também é um sinsigno, mas se insinua sobre seu
também se desfaz de um certo rigor próprio às grava- designado, adiciona qualidades ao objeto. Em alguma
ções de samba do período. O distanciamento do repre- medida, a atuação de Gil ainda é presa indicialmente a
sentado em relação ao seu representante, evidenciado Sinhô; sempre se mantém uma determinação de Sinhô
por um tipo de interpretação brechteana escolhida por na participação de Gil, na exata medida em que este re-
Gil, demonstra a um tempo a natureza indicial do signo mete àquele. Assim sendo, a designação de Sinhô ocorre
– Gil não é Sinhô, mas o indica (e homenageia) – e os ar- por meio de um sinsigno indicial remático, que “dirige a
tifícios de signiicação utilizados pelo diretor para levar atenção para um objeto pelo qual sua presença é deter-
adiante sua tese sobre a natureza fabuladora do cinema. minada” (Peirce, 2012, p. 55).

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A perspectiva simbólica: a designação. Na dimensão da designação, Gal é Car-


Carmen Miranda/Gal Costa men Miranda, mas esta dimensão entra em contraste
Gal Costa, em O Mandarim, representa Carmen Miran- com as estratégias de signiicação adotadas. O plano de
da (1909-1955), com quem Mário Reis interpretou algumas expressão elaborado por Bressane não poderia ser me-
canções célebres. Antes de sua aparição, ouve-se a grava- nos solidário ao conceito geralmente signiicado pela
ção de Alô, Alô, de 1934, nas vozes de Mário e Carmen. “pequena notável”. A colisão se dá em toda parte nes-
Gal, em um primeiro momento, está vestida com tas sequências: a escuridão do ambiente em contraste
uma camisa larga e escura, cabelos soltos (Figura 6). À com a estética tropical e veranil de Carmen Miranda; as
parte o movimento facial e eventuais sorrisos, sua pos- roupas discretas em oposição ao traje exótico; a música
tura é basicamente ixa. O fundo se divide horizontal- à capela e mais lenta em oposição ao estilo “alegre e
mente: em cima, morros cariocas e nuvens claras; em- buliçoso” (Severiano, 2008, p.149) de cantar; mesmo a
baixo, água (possivelmente da lagoa Rodrigo de Freitas). ixidez do gestual de Gal se opõe ao poder expressivo
O dia é nublado e o resultado é uma fotograia sombria. do corpo e dos gestos da designada.
Ainda não houve indicação de que a cantora represen- Contudo, surge a marca da designação diegética,
taria algum personagem especíico. neste caso atenuada - há apenas a menção a um apeli-
Então Gal canta Morena dos Olhos d’Água, de Chico do de Carmen Miranda: “pequena notável”. A conexão
Buarque, em uma interpretação contida, lertando com entre ambas é realizada por um indicador dentro do
a bossa nova. Logo em seguida, a fotograia passa a ser próprio contexto do ilme. Mas, novamente como na re-
em preto e branco. Desta vez Gal canta Camisa Listrada, de lação Gil-Sinhô, Bressane reconigura o plano da signi-
Assis Valente, composta em 1933. Carmen Miranda efeti- icação que acompanha o personagem designado. Em
vamente gravou esta canção, entre tantas outras de Assis Sinhô-Gil, era a intervenção do ator sobre a canção de
Valente, em 1938. Mas a interpretação de Gal se distancia Sinhô que impunha seu conceito (Gil) ao plano de con-
completamente do ritmo de marchinha que Carmen Mi- teúdo. Agora, são os registros visual (a contenção dos
randa e a banda que a acompanhava imprimiam à peça. movimentos, a seriedade dos tons escuros) e sonoro (o
Aqui, novamente, o compasso é mais lento do que na ver- canto à capela) da expressão de Gal Costa que invertem
são original. Os vibrati no im dos versos se alongam (dife- o conceito habitual de Carmen Miranda, chegando ao
Figuras 6, 7 e 8: Carmen Miranda (interpretada por Gal Costa) ponto de assemelhar-se a um negativo da personagem
rente dos de Carmen Miranda, que são breves).
canta Chico Buarque, Assis Valente e encontra Mário Reis
Em um terceiro momento, Carmen Miranda é inal- histórica designada. Ou seja, não se trata mais de ‘adi-
mente identiicada por Mário Reis. O cantor exclama que cionar’ ao conceito, mas de fazer uma representação
ambos “enfeitam a vida”. Então, Carmen-Gal ‘se despe- Se o diretor estivesse interessado em uma represen- simbólica por inversão, levando o jogo que envolve de-
de’ com um close que a descreve a partir de baixo, len- tação mimética, o conceito de Carmen Miranda seria signação e signiicação a um ponto de extrema tensão.
ço branco balançando ao vento, ao som de Novo Amor, aqui expresso como habitualmente é: revestido de uma
de Ismael Silva. Novamente sua expressão (emoldura- “imagem estereotipada de um Brasil sexualmente ex- Designações nômades: Tom Jobim
da pela cena) é mais “dramática” do que se esperaria. posto, hipercolorido e frutal”, como disse Caetano (Ve- Em uma cena do trecho inal do ilme, o músico Edu
loso, 2012, p.263). Mas a signiicação, aqui, se choca com Lobo participa cantando, diante de Mário/Eiras, Choro

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Bandido, composição sua e de Chico Buarque. Antes, e de Chico. A indicação de Tom Jobim parece, assim, se Nesse sentido pode-se dizer que Bressane faz
Mário o identiica, de saída: “Tom Jobim!”. Então Edu/ transpor de Edu Lobo para Fernando Eiras/Mário Reis. passar aqui um terceiro jogo em que uma designa-
Tom diz que trouxe um choro novo pra apresentar a ção nômade pode passar, como no caso da indicação
Mário, e que o teria composto com Noel Rosa. de Tom Jobim, de um representâmen a outro. Como
A canção que ele apresenta, contudo, saiu no ál- diz o poeta: “mesmo que os cantores sejam falsos
bum O Corsário do Rei, de 1985. O disco trazia a trilha, como eu/ serão bonitas, não importa,/ são bonitas as
composta por Chico Buarque e Edu Lobo, da peça ho- canções”. Designação nômade para um “cinema nô-
mônima de Augusto Boal. Da gravação participam vá- made”, como diz Júlio Bressane, “trans-tudo”.
rios artistas, entre os quais o próprio Tom Jobim, que,
em Choro Bandido, divide o microfone com Edu.
Edu/Tom, voltando ao Mandarim, canta o Choro Designações múltiplas ou politonais
na íntegra, divergindo pouco de sua interpretação de O cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda
estúdio (a diferença principal é que aqui temos uma (1944) interpreta, em O Mandarim, o cantor e composi-
versão acústica, acompanhada somente pelo violão tor Noel Rosa (1910-1937), sendo assim identiicado des-
que o próprio Edu toca, enquanto na gravação de 85 de o começo (“Eu sou Noel Rosa”, “de Vila Isabel”).
ouvem-se piano e cordas). Apesar do suposto ineditis- Chico executa (Figuras 11 e 12), com voz e violão,
mo da canção anunciado por Edu-Tom, no momento Provei e Filosoia, ambas de Noel Rosa (1936 e 1933, res-
em que ele canta “E daí nasceram as baladas/ E os ar- pectivamente), diante de Mário Reis e de duas moças.
roubos de bandidos como eu/ Cantando assim/ Você São claras suas idiossincrasias performáticas costumei-
nasceu pra mim/ Você nasceu pra mim”, Mário-Eiras Figuras 9 e 10: Edu Lobo/Tom Jobim e Mário Reis/Fernando Eiras ras: o timbre vocal, o sotaque (outra possibilidade se-
abandona a passividade de espectador e intervém, ria imitar o modo de pronunciar o R da época de Noel),
cantarolando um acompanhamento, à maneira de uma estreita relação com o ritmo e a harmonia produ-
A designação diegética aparece, nesta sequência, zidos no violão ‘bossanovista’, etc. Mas o resultado é
Tom Jobim. As melodias, com esse particular timbre
logo no começo (“Tom Jobim!, que prazer em vê-lo”). singular porque o estilo de Chico, em muitos aspectos,
grave e rouco, são recorrentes na obra de Tom7.
Assim, vemos a homenagem que Bressane presta a Mas há também dois momentos em que ocorre uma é uma continuidade do de Noel. Representá-lo no il-
Tom Jobim, morto no ano anterior ao do lançamento de designação extradiegética: primeiro, quando o modo me não signiicou, para Chico, um esforço de interpre-
O Mandarim. Fernando Eiras, embora trajado como e de- de cantar de Edu é praticamente idêntico ao da versão tação como o de Eiras relativamente a Mário Reis. Sua
signando Mário Reis, aqui faz a vez de Tom, trazendo-o à presente em O corsário do rei, e vemos a intrusão de seu atuação habitual, em certo sentido, é a de Noel Rosa:
cena, no plano do conteúdo, por meio do seu modo de próprio conceito na representação que faz de Tom Jobim sabe-se que Chico já foi considerado um promotor do
cantar. Chega-se à conclusão de que, embora Fernando (o procedimento se assemelha ao identiicado na relação velho samba (Severiano, 2008, p. 364) e comparado a
Eiras, relativamente à dimensão designativa, seja Mário Sinhô/Gil). Depois, quando é Fernando Eiras (até então Noel pela delicadeza das letras. Além disso, Filosoia já
Reis, este Mário Reis, relativamente à dimensão da sig- designando Mário Reis) que apresenta o trecho de Tom faz parte de sua obra: foi interpretada no álbum Chico
niicação, é Tom Jobim. Edu Lobo, por sua vez, que de- Jobim na canção - e o faz com o estilo habitualmente re- Canta, de 1973. Bressane parece indicar uma certa in-
signava Tom Jobim, apresenta-se no plano de expressão lacionado ao conceito de Tom (se há uma representação dissociabilidade entre Chico e Noel, o que é reforçado
como ele mesmo, Edu, cantando uma composição sua icônica de Tom Jobim na cena, certamente é a de Eiras). na sequência em que Edu Lobo representa Tom Jobim,

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anunciando que escreveu uma canção com Noel Rosa. signação identitária para uma designação múltipla: Má- postas para causar um dos efeitos mais relevantes para
Choro Bandido, que ele então apresenta, é, na verdade, rio interpreta Chico, que é intérprete de Noel, que tem a “libertação da dissonância” que a música do século
uma composição sua (Edu) e de Chico. como um de seus maiores intérpretes Mário Reis, que é XX operou (Ross, 2011, p.98). O importante, aqui, é no-
grande inluência de Chico. tar que Bressane conigura esta politonalidade tanto
em termos musicais (via união das canções) quanto em
termos de designação. Não se pode atribuir ao repre-
sentâmen Fernando Eiras uma identidade pura: há múl-
tiplos referentes sobrepostos, quase como numa ‘disso-
nância designativa’.
Esta coniguração aponta para um terceiro jogo de
designação engendrado por Bressane, em que um ator
já não se atém a uma identidade, já que pode passar, a
um só tempo, por várias identidades incompossíveis8;
já que pode designar, a um só tempo, seu personagem,
toda uma corrente histórica de sambistas e a si mesmo.
Designação politonal, “transbordante”, processo de sin-
gularização não-identitário.

Considerações
Figuras 11 e 12 Júlio Bressane e os jogos de designação buscou
identificar, na esteira das provocações de Jacques
Voltemos, contudo, à primeira aparição do perso- Aumont em As Teorias dos Cineastas (2004), elemen-
Figuras 13 e 14
nagem Noel em O Mandarim, que entra em cena cami- tos de uma teoria latente na obra do diretor margi-
nhando em direção à câmera, numa paisagem tropical. nal carioca. Pode-se reconhecer, a partir de uma sé-
Acompanha-o, na trilha sonora, a canção A Banda. Como Em outra cena, o personagem Mário (Figuras 13 e rie de sequências do filme O Mandarim, observadas
se sabe, esta foi composta por Chico Buarque em 1966. 14), interpretado por Fernando Eiras, canta Voltei a Can- do ponto de vista das dimensões da proposição, que
Sabe-se menos, porém, que Mário Reis gravou uma ver- tar, de Noel Rosa, com a câmera centralizada em seu Bressane desconstroi a designação enquanto relacio-
são própria em seu derradeiro disco, de 1971. E esta é a rosto. Na trilha sonora, concomitantemente, ouve-se nada com uma forma de verdade. De um lado, ex-
versão utilizada por Bressane para introduzir Noel. De Na esquina da vida, também de Noel. A sobreposição, plodida numa proliferação múltipla de identidades
modo que, agora, é Chico quem é interpretado por uma um tanto perturbadora, articula uma prática politonal: (Chico, que designa toda a história do samba desde
de suas maiores inluências (Mário), ao mesmo tempo a justaposição de dois ou mais campos tonais (Ross, Noel), e, de outro, autonomizada e circulando livre-
em que Chico interpreta Noel. O papel designativo de 2011, p.97), ou seja, duas tonalidades que mantêm, cada mente (Tom Jobim, que é indicado por mais de um
Chico em O Mandarim passa, assim, a se estender tam- uma, sua organização interna intocada (em acordo com representâmen), a lógica designativa dá lugar, no ci-
bém a Mário: tudo indica que o foco passa de uma de- o paradigma diatônico ocidental), mas que são sobre- nema de Bressane, a uma função de fabulação.

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Júlio Bressane e os jogos de designação

A fabulação aparece quando o cinema já não é mais Referências


representativo de objetos pré-existentes, e quando o AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campi- VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Com-
movimento não se restringe ao sistema sensório-motor nas: Papirus, 2004. panhia das Letras, 2012.
(em que o movimento recebido se prolonga numa nova
ação determinada). Mas também quando as narrações AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e
são falsiicantes: o tempo não é mais cronológico, já que crítico de cinema. Campinas: Papurus, 2006.
pode passar por presentes incompatíveis ou passados Referências audiovisuais
não-necessariamente verdadeiros. É crônico, e apresen- BRESSANE, Júlio. Alguns. Rio de Janeiro: Imago, 1996. BRESSANE, Júlio. O mandarim. [Filme-vídeo]. Roteiro e
tado diretamente, já que a tendência dos movimentos direção de Júlio Bressane. Direção de produção de Ra-
não é mais a resolução lógica e econômica das tensões, __________. Cinemancia. Rio de Janeiro: Imago, 2000. quel Couto. Líder, Rio de Janeiro, Brasil, 1995. 90 min.
mas justamente o movimento anormal, essencialmente color. son.
falso, de realidades superpostas. __________. Fotodrama. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
É por meio dessa injeção de tempo crônico na forma __________. Barão Olavo, o Horrível. [Filme-vídeo].
de verdade que o cineasta se torna propriamente artista, DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Pers- Direção de Júlio Bressane. Brasil. 1970. 72 min. color. son.
‘lagrado em delito de criação de mitos e lendas’, liber- pectiva, 1975.
tando a potência do falso (Deleuze, 1986, p. 155-188). A __________. Brás Cubas. [Filme-vídeo]. Direção de Jú-
lógica de designação, em Bressane, se deixa contaminar __________. A imagem-tempo São Paulo: Brasilien- lio Bressane. Brasil, 1985. 92 min.
por uma tal potência de falseamento, guardando com- se, 1986. color. son.
promisso não com a identiicação, mas somente com a
expansão do sentido, quarta dimensão da proposição. DELEUZE, Gilles ; GUATTARI, Félix. Mil platôs v. 2. Rio de __________. Cinema inocente. [Filme-vídeo]. Direção
Paralelamente a uma tese desconstrucionista e fa- Janeiro: editora, 34, 1995. de Júlio Bressane. Brasil, 1979. 39
buladora, Bressane airma uma proposição sobre a na- min. color. son.
tureza pré-individual da criação compartilhada com PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2012.
Deleuze, que airma (considerando a literatura): “desde __________. Tabu. [Filme-vídeo]. Direção de Júlio
que se atribui um livro a um sujeito, negligencia-se este SILVA, Alexandre Rocha da; ARAUJO, André Corrêa da Bressane. Brasil, 1982. 79 min. Black
trabalho das matérias e a exterioridade de suas correla- Silva de; MELLO, Jamer Guterres de; CONTER, Marcelo and White. pb.son.
ções. Fabrica-se um bom Deus para movimentos geoló- Bergamin. Deleuze e a Semiótica Crítica. Semeiosis.
gicos” (Deleuze, 1995, p. 10). [suporte eletrônico] Disponível em: <http://www.se- BRESSANE, Júlio; ESCOREL, Eduardo. Bethânia bem de
Contra os deuses, os sujeitos, os autores, Bressane – iro- meiosis.com.br/u/61>. Acesso em: 24 jul. 2014. perto - A propósito de um show. [Filme-vídeo]. Direção
nicamente uma das máximas expressões do cinema de au- de Eduardo Escorel e Júlio Bressane. Brasil, 1966. 33 min.
tor no Brasil – em O Mandarim leva a lógica da designação ROSS, Alex. O resto é ruído: escutando o século XX. pb. son.
ao paroxismo para demonstrar, com grande rigor e sensi- São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
bilidade, a anterioridade ontológica da fabulação, que faz e BUARQUE DE HOLLANDA, Chico. A banda. Chico Buar-
desfaz até o limite da indecidibilidade as designações que SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular que de Hollanda. Intérprete: Chico Buarque. Brasil. RGE,
a um tempo nos tranquilizam e nos enclausuram. brasileira. São Paulo: Editora 34, 2008. 1966. LP.

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__________. Morena dos olhos d’água. Chico Buar- Notas 5 Sabe-se que o ícone não se reduz à ideia de semelhança
que de Hollanda - Volume 2. Intérprete: Chico Buarque. 1 Doutor em Ciências da Comunicação pela Universida- (há índices que se expressam como imagens, como diagra-
Brasil. RGE, 1967. LP. de do Vale do Rio dos Sinos (2003), com pós-doutora- mas, como metáforas), mas aqui é este o traço relevante
do na Universite de Paris III (Sorbonne-Nouvelle). Pes- para que se possam pensar as estratégias de Bressane para
FILHO, André. Alô, Alô. Intérpretes: Mário Reis e Car- quisador do CNPq (bolsista produtividade) e professor a desconstrução da designação.
men Miranda. 1934. do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e 6 “Talvez o mais importante de um poeta seja sua voz. As
ideias? Que importam as ideias? A voz! Humano instru-
Informação da Faculdade de Biblioteconomia e Comu-
LAMARTINE, Babo. Voltei a cantar. Intérprete: Mário mento da emoção”
nicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Reis. 1971 - Odeon - MOFB 3690 - (PPGCOM/UFRGS – Rua Ramiro Barcelos, 2705, 2º an-
7 Pode-se ouvi-lo assim cantarolando, por exemplo, em Águas
dar, Santana, CEP: 90035-007, Porto Alegre/RS – Brasil).
LOBO, Edu; BUARQUE DE HOLLANDA, Chico. Choro ban- de Março (não na primeira versão, do Matita Perê de 1973, mas
E-mail: arsrocha@gmail.com.
dido. Paratodos. Brasil. 1993. CD. na gravação com Elis Regina de 1974) e mais notavelmente
ainda em Pra Dizer Adeus (do álbum Edu & Tom, de 1981).
ROSA, Noel; FILHO, André. Filosoia. NR012. Intérprete: 2 Graduando em Jornalismo na Faculdade de Bibliote-
Mário Reis, 1933. conomia e Comunicação da UFRGS. Bolsista FAPERG. 8 A noção leibniziana de compossibilidade pretendia sanar o
Integra o Diretório CNPq Semiótica e Culturas da Co- paradoxo dos futuros contingentes: como evitar que seja
ROSA, Noel; VADICO. Provei. NR027. (Noel Rosa e Vadi- municação (GPESC). (FABICO/UFRGS – Rua Ramiro Bar- absurdo dizer que uma batalha naval pode ocorrer ama-
co). Marília Batista e Noel Rosa, 1936. celos, 2705, Santana, CEP: 90035-007, Porto Alegre/RS nhã (já que, se ela ocorre, é falso que ela tenha podido não
– Brasil). E-mail: cassioborba@gmail.com. ocorrer e que, se ela não ocorre, é falso que ela tenha em
SILVA, Ismael. Novo amor. Gravação. 1929. qualquer momento podido)? As hipóteses, contudo, não
seriam impossíveis, mas incompossíveis, não podendo
SINHÔ. Jura. Gravação. 1938. 3 Os ilmes da Belair, todos de 1970, são: Barão Olavo, o hor- ocorrer num mesmo mundo (Deleuze, G. 1986, p. 160).
rível; Cuidado, madame; A família do barulho (dirigidos por
Bressane) e Carnaval na lama; Copacabana, mon amour; Sem
VALENTE, Assis. Camisa listrada. Intérprete. Marlene.
essa aranha; A miss e o dinossauro (dirigidos por Sganzerla).
Choro. 1937.

__________. Gosto que me enrosco. Gravação. Intér- 4 Conceitos de Louis Hjelmslev, revisitados por Deleuze e Fé-
prete: Mário Reis. 1928. lix Guattari em Mil Platôs (Deleuze, Guattari, 1995, pp. 11-50).
Para Hjelmslev, a função semiótica é a solidariedade que liga
__________. Sabiá. Gravação. Intérprete: Mário Reis. 1928. conteúdo e expressão. A expressão terá sua forma, que, no
caso da pronúncia de uma palavra, se impõe sobre a subs-
tância que é a cadeia fonética. O conteúdo a que a expressão
se conecta, semelhantemente, passará por um movimento
de modelagem exercido pela forma em relação à sua subs-
tância do conteúdo. (Hjelmslev, 1975, p.54-64)

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