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e-coisa-seria

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 227, 01 de Novembro |


2009

cultura e lazer

Brincadeira é coisa séria


Ronaldo Nunes

A proposta de Brinquedo e Cultura (112


págs., Ed. Cortez, tel. 11/3611-9616, 15 reais) é
auxiliar os educadores na compreensão das
múltiplas maneiras de utilização do lúdico por
crianças até 10 anos em instituições
educativas. Além disso, os artigos selecionados
ajudam a desmistificar a ideia de que o
brinquedo é próprio da infância e passam a
associá-lo à cultura humana em geral.

Foto: Marcelo Kura Por meio da difusão de modernos conceitos


sobre o brinquedo e sua função na
brincadeira, assim como por meio de
exemplos extraídos de investigações acadêmicas, o filósofo francês Gilles
Brougère introduz o leitor em uma nova lógica sobre o assunto. Com marcas
acadêmicas de forte influência sociológica e antropológica, a leitura é fácil e
sugere respostas a várias questões frequentes na prática educativa e
pedagógica: brinquedos de guerra são válidos ou não? Qual a boneca mais
adequada para a iniciação das crianças no faz de conta? Deve-se ou não
deixar as crianças assistirem TV? Afinal, para que serve brincar com objetos
industrializados?

O foro principal do texto é deixar de lado os paradigmas psicológicos relativos


ao brinquedo e buscar entendê-lo como produto de uma cultura com traços
próprios. Seu uso pelas crianças representa mais do que uma influência
negativa ou positiva. Ele introduz os pequenos nas formas, imagens de si
mesmos e da sociedade na qual vivem de uma maneira histórica e cultural
particular.

Brougère surpreende com uma questão que, provavelmente, poucos se


colocam: afinal, não somos nós mesmos, membros da sociedade, que damos
sentido a esses objetos miniaturizados e distorcidos do real para que se
produzam, distribuam e consumam brinquedos?
Para contrapor-se às críticas quanto ao uso dos modelos industrializados, o
autor finaliza com o belo capítulo Que Possibilidades Têm a Brincadeira, em
que situa na história o discurso que valoriza essa atividade infantil, de Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778) ao romantismo, passando pelas concepções
que definem práticas educativas distintas. A análise da relação entre
brincadeira e cultura oferece uma ajuda preciosa na criação de um ambiente
lúdico para os pequenos.

Sobre o autor O filósofo e antropólogo Gilles Brougère é conferencista e diretor


do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Paris-Norte.
Pesquisa a relação entre brincadeira, Educação e pedagogia escolar desde os
anos 1970.

Gisela Wajskop, autora desta resenha, é doutora em Educação e presidente e


diretora pedagógica do Instituto Superior de Educação de São Paulo -
Singularidades.

Clássico do mês

Trecho do livro

"Voltemos à brincadeira de guerra e tentemos compreender seu sentido:


inegavelmente a criança se confronta com uma parte da cultura humana.
Pode parecer chocante dizer que a guerra e a violência são componentes de
nossa cultura. Contudo, não são necessários estudos históricos
aprofundados para compreender a contribuição da guerra e da violência para
nossa cultura, tal como ela existe. Basta limitar-se à atualidade para perceber,
também, a parcela de violência das culturas contemporâneas. A brincadeira
da criança, ao buscar recursos no ambiente que a cerca, só pode se abastecer
com esse rico vocabulário da violência. Sendo uma confrontação com a
cultura, a brincadeira é, também, confrontação com a violência do mundo, é
um encontro com essa violência em nível simbólico. A criança deve dar
sentido não só a isso, como ao resto. De que modo a violência poderia
escapar dessa apropriação desde que compreendemos sua importância
cultural? A criança tem de conviver com isso. Talvez a brincadeira seja o único
meio de suportá-la (...) "

De 9 a 30 de novembro, quem entrar em contato com a Editora Cortez e


mencionar a parceria com NOVA ESCOLA ganhará 30% de desconto na
compra de um exemplar.

Biblioteca viva

Em 2003, o Grupo Editorial Record fechou parceria com o Instituto


Oldemburg de Desenvolvimento para oferecer à população 1 milhão de livros
novos. O acervo começou a ser distribuído em grupos de mil obras para cada
uma das bibliotecas do projeto Leitura para Todos. Passados seis anos, com
673 salas de leitura implantadas pelo país, a iniciativa se aproxima de sua
meta e não para por aí. O sucesso pode ser medido pela fila de espera: há 4,6
mil entidades aguardando uma sala do Leitura para Todos. Para mais
informações, acesse aqui.

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