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TURISMO RURAL: RENDA E PROPAGANDA

* Roberto Rodrigues

Volto ao tema que não tem merecido a necessária atenção: o turismo


rural.
Há muitos anos, quando presidia a Organização Internacional de
Cooperativas Agrícolas da ACI, participei de uma reunião em Oslo, Noruega.
Houve uma visita de campo a algumas propriedades rurais. Em muitas delas,
independente do tamanho (em geral pequenas) o turismo fazia parte da
atividade dos proprietários. Enquanto almoçávamos em uma delas, chegou um
grupo de turistas procurando por comida, e foram recebidos com farta refeição.
Depois seguiram para um rio que banhava a propriedade para fazer canoagem.
Os donos da fazendinha contaram que aquilo acontecia quase todos os dias
durante o verão, e eles tinham uma cozinha preparada para servir refeições
rapidamente, além de uma pequena estrutura de embarque no rio procurado.
No inverno, o turismo era para esquiar. E ainda tinha a temporada de caça ao
alce, permitida legalmente, que trazia muitos ganhos ao fazendeiro, seja na
alimentação dos caçadores, seja como guia, seja como orientador até de ação em
sustentabilidade.
O fato é que a renda do turismo ajudava muito. E os riscos, muito
menores.
Mais tarde, já como presidente da ACI, visitei uma grande cooperativa
de produtos lácteos na Holanda, uma organização primorosa, focada, altamente
profissional, que apenas transformava o leite em queijos dos mais diversos
tipos. Esta cooperativa tinha uma área de turismo. Visitantes iam conhecer o
processo industrial e terminavam o programa brincando com cabritinhos
recém-nascidos, tirando leite das cabras, fazendo degustação de queijos e por
fim compravam queijos, tábuas, facas especiais, e etc, de forma que boa parte do
faturamento líquido da cooperativa era devido ao turismo.
Em Barcelona e mais recentemente em Mendoza-Argentina, visitei vários
vinhedos e produtores de vinho com programação da maior qualidade, o que já
está acontecendo na serra gaúcha com resultados super positivos.
Há poucos meses visitei uma área rural na região de Campinas e
Indaiatuba em que pequenos produtores recebem em suas propriedades
excursões de estudantes e grupos da chamada melhor idade. Fazem palestras
sobre a atividade rural, fornecem refeições em barracões construídos para esse
fim – comida realmente da roça, feijão com toucinho, ovo caipira, galinha
d’angola, mandioca frita, farofa, verdura colhida na hora, com grande sucesso.
E ainda levam os visitantes às plantações de frutas onde colhem e comem no pé
mesmo goiabas e mangas.
Uma beleza. Mas falta muito ainda. É possível desenvolver uma grande
atividade no Turismo Rural. A Secretaria da Agricultura de São Paulo tem até
uma Câmara Setorial para este tema, e existe uma excelente Associação
Nacional de Turismo Rural, além de outras locais e estaduais.

GLOBO RURAL – MAR/2015 – TURISMO RURAL: RENDA E PROPAGANDA


Entre 2003 e 2008, 31 milhões de brasileiros chegaram à classe C e
passaram a se beneficiar do turismo, sempre de caráter mais urbano, seja na
praia, seja na montanha.
Mas há um gigantesco universo a ser explorado pelo turismo rural,
inclusive de caráter educacional, para mostrar as tecnologias sustentáveis
usadas em nosso agro e a contribuição que o setor oferece ao progresso do país.
Temas como o uso da água, de defensivos agrícolas, de fertilizantes, dos
produtos geneticamente modificados são do maior interesse da sociedade
urbana e é fundamental desmistificar as falácias e os mistérios criados em torno
deles.
O turismo rural valoriza a atividade no campo e agrega renda ao
produtor rural. E renda com prazer, o que é ainda melhor.

* Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da


FAO para as Cooperativas e Presidente da Academia Nacional de Agricultura
(SNA)

GLOBO RURAL – MAR/2015 – TURISMO RURAL: RENDA E PROPAGANDA

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