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Capturada Romance Dark Jacque Dark
Capturada Romance Dark Jacque Dark
1ª Edição
Brasil, 2020
Plágio é crime!
Romance Dark
Essa história contém temas perturbadores: violência, abusos
e dominação, que podem deixar, vocês, leitores, desconfortáveis.
Por favor, se não acha esse tema relevante para você, NÃO LEIA!
Boa leitura!
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capitulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Uma nuvem escura pairava sobre Chicago, eclipsando a lua
minguante. O hotel luxuoso pegava fogo, as chamas
incandescentes consumiam aquele prédio imponente o reduzindo a
pó. Continuei correndo com meus saltos agulha, não podia parar
agora, precisava prosseguir. Ouvi ao longe as sirenes dos carros de
bombeiros. Parei e olhei para trás, estavam apagando as chamas,
mas uma boa parte do hotel foi queimada. Se eu tivesse sorte, ele
pensaria que morri.
Continuo correndo, as pessoas estão agitadas, há um
movimento grande em torno daquela área, carros de equipe de tevê
passam pela rua apressados, eles não podem deixar de noticiar que
o hotel The Palace, pertencente a Viktor Russell, um homem
poderoso e bilionário, está se consumindo em chamas.
Me sentia ofegante e cansada, esses saltos não estavam me
ajudando. Parei por um momento e os tirei, segurando-os nas mãos,
porque não cabiam na bolsa pequena que carregava.
Continuei andando descalça. Meu vestido era um longo,
desenhado por um estilista famosíssimo. A joia em meu pescoço
brilhava. Precisava me livrar de tudo isso o mais rápido possível.
Por sorte já estava escuro e as pessoas não reparavam muito em
mim.
Precisava pegar um táxi, tinha que sair desse lugar, não
sabia se ele mandou seus homens me procurarem ou se pensava
que eu estava dentro do hotel, não me importava, meu único
objetivo nesse momento era desaparecer para que nunca mais
aquele homem chegasse perto de mim. Um calafrio subiu na minha
espinha. Se ele me encontrasse, nem sabia o que seria de mim.
Lágrimas quentes desciam pelo meu rosto, enxuguei-as
rapidamente, não tinha tempo para chorar minhas mágoas, agora
tinha que desaparecer. Comecei a acenar para os táxis, mas
nenhum parou, tentei mais algumas vezes e finalmente um parou.
Entrei e o motorista perguntou:
— Para onde, senhora?
Eu não tinha a mínima ideia para onde ir, não planejei aquela
fuga, simplesmente quando vi a oportunidade de escapar o fiz. Não
podia ir para nenhum lugar que conhecia. O motorista do táxi me
olhava através do espelho com os olhos questionadores.
— Me leve para a rodoviária — respondi.
O homem iniciou a corrida, dei uma última olhada para trás,
não conseguia ver o hotel, porém a nuvem negra e a fuligem
corriam pelo ar.
— A cidade está agitada hoje — o taxista comentou.
Levei um susto, porém falei alguma coisa somente para ser
educada.
— Parece que sim.
— O The Palace pegou fogo, tinha uma festa de gala lá
oferecida pelo próprio dono.
— Alguém se feriu ou morreu?
— Ainda não sabem.
— Hum...
Baixei minha cabeça e contemplei minhas mãos, que
estavam trêmulas, onde meu anel de casamento brilhava como
nunca. Olhei a mancha roxa disfarçada com uma linda pulseira de
diamantes e a manga do vestido ajudava a esconder os hematomas
que ele deixava no meu corpo.
Suspirei fundo buscando ar, não sabia para onde iria, não
tinha muito dinheiro, acho que tinha quinhentos dólares em dinheiro
e cartões, mas não podia usá-los. Também não podia pedir ajuda a
minha família, não tinha amigos, nada, absolutamente nada; ele
havia me afastado de tudo e todos. Fechei os olhos e me lembrei de
algumas horas atrás, quando estávamos nos preparando para a
festa de gala.
— Chegamos.
Saí das minhas lembranças e olhei através da janela. Era a
rodoviária. Abri a bolsa e perguntei:
— Quanto que é?
— Trinta dólares.
Peguei uma nota de cem dólares e o entreguei, depois que
me devolveu o troco saí e olhei para a fachada. Não sabia para
onde ir. Entrei, algumas pessoas olhavam para mim, porque minhas
vestimentas chamavam atenção. Decidi comprar roupas. Procurei
uma loja de conveniência e comprei uma calça e casaco de
moletom. Peguei também tênis, meias, um boné e uma mochila,
para transportar todas as minhas coisas. Não podia deixar nada
para trás.
Depois de pagar as compras, segui para o banheiro, tirei o
vestido e usei as novas roupas, que ficaram largas; comprei dois
números maiores justamente para disfarçar. Embolei os cabelos em
um coque e os cobri com o boné. Tirei as joias e as guardei na
mochila. Calcei os tênis, pronto!
Segui para o painel que mostrava as horas e os destinos dos
ônibus. Procurei o que sairia mais próximo, vi um com destino para
Missouri, que sairia dentro de meia hora. Cruzei os dedos para que
ainda tivesse bilhetes, aproximei-me do guichê.
— Oi, gostaria de uma passagem para Missouri, a próxima
saída.
A atendente digitou no computador e informou:
— Ainda temos passagem.
Respirei aliviada.
— Quero esse.
— Seu nome, senhorita.
Meu nome?! Não podia dar meu nome verdadeiro, Catharine
Russell não existe mais. Pensei por alguns momentos, a atendente
me olhava desconfiada. Sorri timidamente e respondi:
— Mia, Mia Stuart.
A mulher digitou no computador.
— Tem uma identificação, senhorita?
Não tinha, o que fazer? Dizer a verdade:
— Não tenho.
— A senhorita é maior de idade?
— Sim.
— Preciso de uma identificação, senhorita.
— Por favor, me ajuda, só preciso ir embora, fugir dele —
supliquei.
A mulher me encarava com dó, ela parecia me entender.
Então, balançou a cabeça positivamente, imprimiu o bilhete e me
entregou.
— Boa sorte!
— Obrigada, muito obrigada.
— Somente vai.
Andei rapidamente olhando os números do ônibus, encontrei
o meu, entreguei o bilhete para o motorista, que destacou e
escaneou uma parte e me devolveu o restante. Entrei no ônibus,
sentei-me na cadeira indicada no meu bilhete.
Eu me encontrava tensa, não conseguia relaxar, a todo
momento pensava que ele entraria naquele ônibus e me arrastaria
para fora pelos cabelos. O medo era inevitável, algumas horas atrás
jamais pensei que estaria em um ônibus com destino a outro estado.
Se nada tivesse acontecido, a essa altura estaríamos em casa e
provavelmente transando.
Senti um frio na barriga, não acreditava que consegui
escapar. Se eu tivesse planejado, talvez não teria dado tão certo. Na
verdade, nunca cogitei a possibilidade de ir embora, eu sabia que
era algo impossível e, além do mais, sabia quem era Viktor Russell
e do que ele era capaz para impor suas vontades.
O ônibus começou a mover, meu coração acelerou, em
pouco tempo já estávamos na estrada, eu ainda me sentia tensa e
respirava com dificuldade, minha garganta se fechou, abri a bolsa e
peguei minha bombinha, borrifei algumas vezes até conseguir
respirar normalmente, uma senhora que estava do meu lado
perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim, eu tenho asma.
— Se precisar de alguma ajuda...
— Obrigada pela oferta, só preciso do meu remédio.
— Okay. Será uma longa viagem.
— Eu tenho três bombinhas aqui.
— Tem medo de viajar?
— Não.
Depois de uma longa viagem chegamos a Missouri, eu
olhava perdida, não sabia o que fazer, para onde ir. A mesma
mulher que conversou comigo no ônibus aproximou-se.
— Tem alguma mala?
— Não, só essa mochila.
— Alguém vem te receber?
— Não.
— É sua primeira vez aqui?
— Sim, na verdade se a senhora puder me ajudar e me
indicar um local barato para eu ficar por um tempo, eu agradeço.
— Acho que você falou com a pessoa certa, alugo quartos
em minha casa.
Sorri e não acreditei em minha sorte. A partir daquele dia, a
Sra. Pérez foi meu anjo de guarda, em pouco tempo estava
instalada e até um emprego ela conseguiu para mim. Fui trabalhar
com ela na empresa de limpeza que possuía. Ela não fez muitas
perguntas sobre a minha vida, apenas lhe disse que estava
começando uma vida nova.
A única notícia que tive sobre o que aconteceu no hotel,
soube através do noticiário. Segundo eles, a esposa de Viktor
Russell estava desaparecida, mas não sabiam se ela foi uma das
vítimas do desastre. Nada mais foi falado sobre mim ao longo dos
dias que aquela notícia estava em destaque. Muitas pessoas
morreram naquela noite.
Amontoei todas as coisas que pertenciam a Catharine
Russell, o vestido, o sapato, a bolsa e a carteira com os cartões e
documentos. Acendi o fogo e, em pouco tempo, tudo virou pó.
Catharine Russell morreu naquele incêndio.
Um ano depois...
Andei a passos rápidos, olhei para trás por várias vezes, era
sempre assim, o medo e a angústia me acompanhavam e esses
dias esses sentimentos aumentaram, talvez por tudo que aconteceu
com Ramon. O pobrezinho além de estar machucado ainda iria para
a cadeia, sem direito a fiança.
Aquilo tudo parecia irreal, jamais pensei que ele fosse metido
com drogas, mas ainda acreditava que era inocente, estava
achando que alguém implantou aquilo no carro dele para incriminá-
lo, contudo, a polícia foi inflexível com relação a esse caso, porque
eles já o condenaram. A polícia podia até achar que o caso foi
esclarecido, no entanto eu ainda achava que ele era inocente e
estavam tentando fazê-lo ir preso. Agora quem faria uma coisa
dessas? Essa era a grande incógnita.
Pressionei a sacola de compras entre os dedos, apertei os
passos. A noite estava fria, usava um casaco, porém ainda sentia
calafrios.
Entrei no prédio e segui para o elevador, senti-me mais
protegida e me acalmei. Cheguei ao meu andar e rapidamente fui
até a porta do meu apartamento, respirei aliviada, senti-me segura.
Abri a porta e esperei Amendoim, correndo abanando seu
rabo e pulando em volta de mim. Estranhei por não o ver, entrei no
hall com um sorriso, tirei o casaco e pendurei no gancho.
— Amendoim, cadê meu garotinho?
Nada, franzi a testa.
“Será que ele está doente ou algo assim?”, pensei
preocupada. Andei em direção à cozinha.
— Amendoim.
À medida que fui andando, vi algumas marcas vermelhas no
chão, fiquei assustada, parecia sangue. Entrei em pânico, alguma
coisa aconteceu com Amendoim. Andei com passos vacilantes, e
quanto mais me aproximava da cozinha, mais horrorizada ficava,
para todo lado havia sangue, levei a mão à boca. Olhei em volta à
procura de Amendoim; quando o vi, meu estômago embrulhou. Ele
estava morto, a cabeça decapitada ao lado do corpinho.
— Oh, meu Deus!
Recuei em pânico, só um monstro faria uma coisa daquelas,
e eu soube quem foi. Uma música sinistra começou a tocar, meu
coração parou de bater por alguns segundos, apertei os olhos em
pânico.
— Não! — falei incrédula.
— Oi, anjo.
Abri os olhos, meu corpo arrepiou-se todo, minhas pernas
vacilaram, meu coração palpitou descompassado. Ouvi sua voz
poderosa em minhas costas. Deus! Era ele, meu algoz, meu
pesadelo, meu marido.
Eu queria correr, gritar, espernear, mas não conseguia, o
medo me fez paralisou. Ouvi seus passos aproximar-se lentamente,
já senti seu perfume inebriante, sua masculinidade, seu poder. Não
conseguirei lutar contra ele, nunca consegui.
Senti seus braços poderosos fechar em minha cintura, seu
rosto em meus cabelos. Ele suspirou inalando o perfume. Deslizou
os lábios até o meu ouvido e murmurou:
— Quanto tempo, anjo! Estava com saudades de mim?
Eu não consegui falar nada, meu pânico era palpável, eu
estava nas mãos dele de novo. Não! Eu preferia morrer a voltar para
ele. Diante do meu silêncio, ele disse:
— Pensei que estivesse mais corajosa, anjo, já que teve a
ousadia de fugir de mim.
— Por favor, Viktor... — Minha voz saiu trêmula e
entrecortada.
— Ahhh! Como é bom ouvir sua voz, linda e suplicante de
medo novamente, meu anjo.
Sua voz diabólica entrou em meus ouvidos e passou por
toda a minha carne, como se a estivesse dilacerando. Meu coração
pararia de bater antes que esse homem fizesse alguma coisa. Isso
era tudo que pensava. Nunca senti um medo assim antes; das
outras vezes, eu sentia medo, mas não como agora. Não me
lembrava do meu coração bater tanto como estava agora.
Meu hálito quente me fez sentir fraca quando tentei respirar
firmemente, tinha que tentar convencê-lo a me deixar, não podia
voltar para ele, tinha que ser esperta. Eu queria correr, na verdade
queria ter coragem de atingi-lo com algo, no entanto estava
aterrorizada.
— Viktor, acho que podemos conversar, já se passou tanto
tempo...
— Sim, muito tempo e uma boa parte achando que minha
esposa estava morta.
Minha garganta parecia que tinha um caroço enorme quando
eu engolia e a saliva descia arranhando, surpreendi-me por ainda
não ter tido uma crise de asma. Ouvir sua voz já era suficiente para
me deixar desnorteada, paralisada de medo.
Como tinha imaginado, ele pensou que eu havia morrido, por
isso consegui me esconder por tanto tempo. Mas agora teria que
voltar para ele, porém não o faria, eu não podia viver com um
homem que me maltratava desde os primeiros dias do nosso
casamento, que me subjugava e ameaçava, não voltaria para
aquela vida.
Reunindo o pouco de coragem que eu tinha, virei-me para
ele e o encarei. Fiquei mais pálida ao ler o que vi em suas órbitas.
Seus olhos estavam em um azul pálido, eles não eram calorosos,
simpáticos, compreensivos, mas intensos, aterrorizantes,
flamejantes, olhos de um homem possuído, raivoso e mortal.
Ele me avaliava também, a maneira como me olhava me
fazia sentir calafrios, como se ele pudesse entrar dentro do meu
corpo e arrancar minha alma. Precisava manter a calma para lidar
com ele, consegui dar dois passos para trás.
— Viktor, acho que não podemos continuar, eu decidi ir
embora, sei que errei por deixá-lo pensar que havia morrido...
Parei de falar quando observei que ele se aproximou de mim
em passos lentos, parou ficando a uma distância perigosa, quase
me tocando. Ainda não entendia de onde tirei forças para discutir
com ele.
— Eu sei que está zangado — falei em um fio de voz.
— Não estou zangado com você — murmurou como se
fosse um leopardo observando sua presa.
Eu estava estupefata, não esperava que me dissesse isso,
com certeza estava fazendo algum jogo, ele era mestre em fazer
jogos mentais e me deixar confusa.
Ele estendeu a mão grande e deslizou os dedos em alguns
fios de cabelo. O toque era suave, mas em vez de me deixar
tranquila me deixava mais apavorada. Sentia como se o oxigênio do
local fosse acabar, mesmo assim, não me afastei, não consegui, as
lágrimas que tanto segurei escorreram em minhas bochechas.
— Tão linda, do jeito que a imaginei — falou com uma voz
baixa, contida. — Sonhei com esse momento em que tocaria em
você novamente.
Seus dedos deslizaram lentamente por minhas bochechas,
até o meu pescoço. Em seguida subiu em meu queixo e segurou ali,
sua mão se fechou e apertou. À medida que ele esmagava os ossos
da minha mandíbula delicada, seu rosto se transformava, sua pele
cor de oliva tornou-se uma coloração avermelhada, seus olhos
tornaram-se escuros. Ele praticamente me suspendeu pelo queixo
usando apenas uma das mãos e me trouxe para junto do seu rosto.
— Você sabe como as coisas funcionam. Sairá daqui comigo
e entrará no carro, sem fazer nenhum gesto contrário e muito menos
falar qualquer coisa.
Ele me soltou e fiz a única coisa que poderia fazer, dobrei os
joelhos e o atingi entre a virilha, ele se afastou um pouco, mais em
surpresa do que de dor. Eu não podia parar, precisava correr e com
toda velocidade tentei alcançar a porta, no entanto, meu pequeno
ato de coragem foi bloqueado quando ele me alcançou, pegou em
meus braços, sem piedade me lançou longe. Caí quase perto do
corpinho do Amendoim.
Meu peito chiou e minha garganta fechou, não conseguia
respirar, levei as mãos desesperadas no bolso da calça buscando
minha bombinha. Viktor abaixou-se e a pegou primeiro, ele segurou
a uma distância de mim.
— Precisa disso? — perguntou com uma expressão cruel.
Não conseguia falar, parecia que havia uma corda no meu
pescoço me apertando, ele me deixaria morrer, se não conseguisse
abrir as vias respiratórias o pouco resquício de ar que ainda restava
em mim acabaria.
— Não, minha linda e adorável esposa, não a deixarei
morrer. Seria uma pena permitir que morra tão facilmente.
Ele então introduziu a bombinha em minha boca e borrifou
várias vezes, ainda não conseguia respirar totalmente, mas o
remédio abriu as vias respiratórias e com muita dificuldade busquei
ar. Eu estava muito fraca para conseguir lutar.
Sem gentileza, ele me levantou nos braços e me levou para
o carro. Meu corpo estava trêmulo e dolorido, meu peito pesado
pelo esforço de tentar respirar. Senti o macio do couro do carro e
ouvi as batidas das portas, eu estava nas mãos dele de novo e, pelo
pouco que demonstrou, minha vida seria um inferno, até mais de
como era antes.
Encolhi-me no canto do banco, Viktor sentou-se do meu lado,
sentia sua presença poderosa e seu perfume característico. Nunca
gostei daquele cheiro, aliás, tudo nele me enjoava e causava
repúdio.
O carro moveu-se, me levando para onde? Para a casa em
Chicago? Só de pensar naquela prisão luxuosa me dava calafrios.
Meu Deus! Consegui viver longe disso por um ano e em menos de
um minuto ele me capturou, não era justo.
O silêncio era pesado, ele parecia que não queria falar muito,
Viktor sempre foi assim, ele não era de falar, mas de agir. Às vezes,
eu apanhava sem ao menos saber o porquê. Não queria voltar para
aquela vida, precisava fazer algo para me livrar. Mas quais eram as
minhas chances? Nenhuma. Além da presença intimidadora do
Viktor, havia os seguranças, percebi por alto que só no carro havia
dois e tinha certeza de que havia mais fazendo a escolta.
Jamais o poderoso Viktor Russell andava por aí sem ao
menos quatro brutamontes ao seu redor. As pessoas imaginavam
que, por ser rico, precisava se proteger de um suposto sequestro,
ou algo assim. Mal sabiam que ele era o mandante da maioria dos
crimes que cercavam Chicago. Os seguranças não estavam ali
somente para proteger sua integridade física, mas para agirem em
um só comando qualquer coisa que ele precisasse como líder de
uma organização criminosa que controlava o governo e as
autoridades de Chicago. Ele tinha a cidade em suas mãos.
E o que eu sou nisso tudo? A esposa troféu, a mocinha da
alta sociedade com um sobrenome respeitado, que foi criada para
não pensar, não protestar e aceitar tudo de cabeça baixa. Era
exatamente isso que Viktor precisava para consolidar de vez sua
presença na alta sociedade. Não sabia a história de como ele
conseguiu a sua fortuna, mas o pouco que ouvi aqui e ali, ele veio
das ruas de Chicago, acreditava que desde cedo o mundo do crime
fez parte da sua vida.
O carro chegou em uma pista de pouso privada, Viktor
desceu e me ajudou a sair do veículo, sua mão grande me segurou
com firmeza. Eu estava tão apavorada que minhas pernas pareciam
de gelatina, praticamente não conseguia me manter de pé. Olhei em
volta e observei um jato preto e dourado com o logo do Viktor. Ele
me fez subir os degraus, parecia que estava indo para a forca,
tamanha era a minha vontade de não entrar naquele avião.
Uma aeromoça impecável nos recebeu com toalhas quentes
e champanhe. Eu peguei a toalha quente antes que entrasse em um
colapso, minhas mãos estavam um gelo de tão nervosa. Viktor me
conduziu até uma das poltronas luxuosas. Sentei-me e apertei a
toalha nas mãos. O interior do avião era luxuoso, o que não me
surpreendeu, porque já conhecia toda aquela riqueza. Talvez a
maioria das pessoas ficassem impressionadas, mas só eu sabia que
tudo aquilo era apenas uma prisão luxuosa.
Uma pressão pesada em meu peito tornou difícil a
respiração. Fechei os olhos e me encostei na janela, tentei controlar
aquele mal-estar respirando fundo várias vezes, até me sentir
melhor. Abri os olhos e senti o impacto de seu olhar. Ele estava
sentado à minha frente, observando-me com sua feição impassível.
— Coloque o cinto, partiremos em alguns minutos.
Fiz o que ele mandou com as mãos trêmulas, ele também se
ajeitou e o piloto avisou no alto-falante que já havia recebido
autorização da torre de comando e que voariam dentro de um
minuto.
Em pouco tempo estava no ar, deixando para trás aquele
lugar que me recebeu tão bem. Um lugar que vivi a melhor fase da
minha vida. Abandonei amigos de verdade, a Sra. Pérez. Um
calafrio passou em minha espinha. Deus! Tinha certeza de que foi o
Viktor que mandou atacar o Ramon, não tinha dúvidas sobre isso,
tudo fazia sentido agora.
— Por quê? — perguntei em voz baixa.
— Quer uma resposta sobre o quê? — perguntou hostil.
— Você mandou atacar o Ramon?
Ele pegou uma bebida que a aeromoça lhe serviu e solveu
antes de responder enigmático:
— Apenas mandei que fizessem um carinho nele, seu
sofrimento está apenas começando.
Arregalei os olhos e tentei processar aquela informação. Ele
pretende machucá-lo ainda mais?
— Viktor, ele não tem nada a ver comigo, nenhum deles
sabem nada sobre a minha vida, são pessoas inocentes. Deixe-os
em paz.
— Catharine, minha querida, mas você não entende que os
machucarei somente por você. Os farei sofrer somente para que
você sinta o que causou ao me desafiar.
— Não!
— A essa altura, seu precioso Ramon receberá um
tratamento VIP na prisão e sua querida mãezinha será tratada muito
bem em um dos meus alojamentos. Em breve, você os verá; por
ora, só quero que imagine o sofrimento deles.
— Por favor, Viktor, não faça isso.
Ele levantou-se e aproximou-se de mim, debruçou em minha
cadeira e chegou seu rosto próximo ao meu ouvido, podia sentir seu
hálito quente e o aroma de whisky que estava bebendo.
— Isso é só o começo, querida esposa. Bem-vinda de volta
ao meu mundo.
Ele segurou meu rosto com as duas mãos e apertou.
— Fugir de mim foi o pior erro da sua vida. Você jamais
escapará de mim novamente e, de uma vez por todas, entenderá o
que é ser esposa de Viktor Russell.
Um ano atrás...
***
***
***
***
Fiquei estupefata.
Encontrava-me nervosa, sem saber o que fazer, muitas
dúvidas martelavam em minha cabeça.
Como o Ramon descobriu meu paradeiro? A quem ele se
refere? Será que é o Viktor? Mas como ele sabe sobre o Viktor?
Será que a Sra. Pérez contou para ele sobre meu marido? Mas ela
não sabia nem o nome dele. Como ele saiu da cadeia? Viktor sabe
que ele saiu da cadeia? Oh, meu Deus! O que está acontecendo?
Como Ramon entregou esse bilhete a manicure? Qual a ligação
deles?
Andei de um lado para o outro e minha cabeça não parava
de pensar em uma solução para aquele dilema. Eu tinha a sensação
de que alguma coisa não encaixava, Viktor havia me dito que tanto
a Sra. Pérez quanto o Ramon estavam em seu poder, agora esse
bilhete estranho. Peguei o pedaço de papel e o analisei novamente,
eu não tinha certeza sobre a caligrafia do Ramon, mas parecia
muito com a letra dele, o bilhete foi escrito à mão.
A única pessoa que poderia me esclarecer alguma coisa era
a manicure, mas ela se foi, retornaria somente na próxima semana.
Porém, eu tinha o contato dela, podia lhe ligar e pedir para que
voltasse, inventaria alguma desculpa, talvez uma unha quebrada ou
algo assim. Não conseguirei esperar até a próxima semana para
confrontá-la. Sabia que Viktor controlava meu celular,
provavelmente ele saberia da ligação, mas essa não era a primeira
vez que eu ligava para ela.
Peguei o aparelho, procurei o número da mulher, logo achei.
Parei para pensar. Não, não posso ligar hoje, Viktor achará
estranho, esperarei até o dia seguinte, tenho que inventar uma
ótima desculpa para pedir que a manicure retorne antes do dia
marcado.
Um calafrio percorreu minha espinha.
Isso pode ser uma armadilha do Viktor. É isso, foi ele que
mandou o bilhete se fazendo passar pelo Ramon. Mas qual o intuito
disso? Ele queria me testar para ver se fugirei novamente. É a única
explicação. Então, para provar que não farei isso, terei que entregar
o bilhete para ele. Mas e se não for isso? Com certeza ele matará o
Ramon, eu não posso arriscar a vida dele e nem da Sra. Pérez. Se
realmente foi o Ramon que enviou o bilhete, isso significa que ele
fugiu do Viktor.
Contudo, não poderei alimentar essa esperança nele, não
deixarei o Viktor. Se ele realmente conseguiu escapar, quero que
fiquei longe e nem pense em aparecer aqui. Porém, não sei se
mostro o bilhete para o Viktor, ou não. Ah! Realmente não sei o que
fazer.
Estou entre a cruz e a espada.
Sentei-me no banco abaixo da janela, apreciando a vista
exterior, onde se estendia um lindo jardim. Sempre gostei de
admirá-lo, mas não conseguia me concentrar naquele momento,
minha cabeça não parava de pensar sobre o bilhete. Tirei-o, mais
uma vez, do bolso e olhei atentamente, tinha quase certeza de que
era a letra do Ramon.
Um barulho na porta me assustou, guardei o bilhete
rapidamente no bolso e olhei para a porta assustada. Deparei-me
com o olhar intenso do Viktor sobre mim, sua expressão não
denunciava em nada se ele viu quando escondi o bilhete.
— Algum problema? — perguntou.
— Não, só me assustei com sua chegada, não o esperava
cedo.
Levantei-me e segui em sua direção, minhas pernas estavam
moles, mas tentei manter a postura. Cheguei perto dele e lhe sorri
timidamente, ele continuava com seu semblante insondável,
realmente não conseguia desvendá-lo. Fiz uma pergunta somente
para disfarçar. Meu coração batia rapidamente.
— Como foi seu dia?
Ele nada respondeu, continuou me examinando. O sorriso
deixou meu rosto, o medo me fez recuar um passo. Imediatamente
a mão dele segurou meu pulso com força, eu congelei, ele me
puxou para junto do seu corpo poderoso.
— Não minta para mim.
Abri a boca e fechei sem som. Aquele era o momento de lhe
revelar sobre o bilhete. “Faça, faça”, era o que martelava em minha
cabeça, mas não podia fazer isso, ele caçaria e mataria o Ramon.
Apesar do aviso claro em seus olhos, optei por mentir.
— Não estou mentindo sobre nada, por que o faria?
Realmente apenas me assustei com sua chegada repentina.
Ele levantou uma das mãos, seu rosto tornou-se mais
aterrorizante, eu comecei a tremer. A mão dele deslizou em minha
face, me sentia em um precipício, o silêncio austero foi cortado por
ele.
— Realmente espero que não esteja me escondendo nada,
Catharine, eu descobrirei, você sabe disso.
Com essa ameaça pairando no ar, do mesmo modo que sua
expressão se tornou severa, tornou-se suave. Ele soltou meu pulso,
que até então segurava com força, e comunicou como se nada
tivesse acontecido.
— Vamos sair, arrume-se, iremos a inauguração do meu
novo clube.
Não sei se ficava aliviada ou não, Viktor era como um
camaleão, somente com uma diferença do animal, ele não mudava
de cor, mas de humor conforme sua vontade. De qualquer maneira
não podia lhe contar a verdade agora, eu já menti e as
consequências disso serão desastrosas, no entanto, precisava
ganhar algum tempo para prevenir o Ramon, talvez ele não fizesse
ideia de quem era meu marido. Faria isso por eles, essa era a minha
única esperança de salvar a vida da Sra. Pérez e do Ramon.
Viktor e eu saímos da sala, ao chegarmos no hall ele
comunicou:
— Vou para o escritório resolver alguns assuntos, vai para o
quarto e esteja linda essa noite. Tudo o que quero que use está
separado no seu closet, já sabe como deve ser.
Ele me beijou de maneira casta e se afastou. Suspirei
aliviada, ficava tensa em sua presença. Subi as escadas
cuidadosamente. Ao entrar no quarto, Carmen, uma das
empregadas, estava me esperando. De forma polida e gentil, ela
curvou-se e, em seguida, falou:
— Preparei um banho de banheira, Sra. Russell.
— Obrigada, Carmen, eu adoro banho de banheira.
— Isso é bom, senhora, ajuda a relaxar.
Seguimos para o banheiro, relaxar era o que eu precisava no
momento, a minha vida estava confusa, não sabia o que seria de
mim quando Viktor descobrisse sobre o bilhete. Sabia que ele
descobriria, mas queria ganhar tempo.
Carmen gentilmente ajudou-me a despir, eu não gostava
disso, precisava ter minha privacidade ao me banhar, mas, às
vezes, Viktor ordenava que ela viesse me ajudar. Entrei na banheira
e afundei na água quente. A empregada recolheu minhas roupas e
se dirigiu para a saída, imediatamente me lembrei do bilhete que
estava no bolso da calça e a chamei em alarde:
— Espera, tem algo no bolso da calça.
Saí da banheira apressada e a alcancei, ela me devolveu a
calça, virei-me de costas, não queria que ela visse, apesar de ter
uma aparência agradável, ela era empregada do Viktor, não podia
confiar. Tirei o bilhete e amassei na mão, devolvi a calça para ela.
— Vou guardar isso no meu closet, com licença.
Entrei no cômodo e olhei em volta, decidi guardar em uma
das gavetas embaixo das roupas. Coloquei a mão sobre o peito,
esconder aquilo estava se tornando um tormento, não sabia se
conseguiria aguentar a pressão. Senti falta de ar, peguei a
bombinha e borrifei algumas vezes até sentir a respiração regular.
Retornei para o banheiro e terminei meu banho. A empregada não
estava mais no cômodo.
Voltei para o closet e avaliei o vestido que o Viktor escolheu.
Era lindo, de veludo verde-musgo, mangas compridas, parecia ser
bem-comportado, porém apenas um detalhe o tornava ousado: uma
fenda na lateral que descia do início da minha coxa até os pés.
Provavelmente ao andar, toda a minha perna esquerda ficaria
exposta. Não gostava disso, Viktor me fazia usar essas roupas
provocantes e sempre encontrava um motivo para me punir por me
“exibir” para os homens. Mas não tinha saída, se ele escolheu esse,
terei que usá-lo.
Sentei-me e massageei meu corpo com hidratante, até
deixar a pele lisa e brilhante, em seguida usei o conjunto de lingerie,
uma calcinha fio dental e sutiã meia taça que valorizava o decote
dos seios. O vestido não tinha muito detalhes, era liso. Nos pés
calcei sandálias de salto alto e um colar de esmeraldas e pulseira
seguindo o estilo do colar. Nos cabelos apenas fiz um coque alto
deixando alguns fios soltos e prendi com uma fivela de diamantes.
Os brincos faziam conjunto com o colar. No rosto optei por uma
maquiagem elaborada. Ao finalizar, saí do closet e me deparei com
o Viktor, ele já estava pronto em um smoking preto. Olhou-me de
cima a baixo e esboçou um sorriso satisfeito. Aproximou-se de mim
com um casaco de vison preto. Estávamos no outono e o clima já
estava frio. Ele me ajudou a vesti-lo.
Um Rolls Royce guiado por um motorista uniformizado
estava nos esperando. Entramos e seguimos para o clube. Sentia-
me nervosa, não sei como seria essa festa depois de um ano sem
aparecer em eventos sociais com ele, não sabia o que o Viktor falou
para as pessoas sobre mim pela minha ausência, por isso decidi lhe
questionar.
— Viktor, o que você falou para as pessoas sobre mim?
— Nada, não tenho que dar satisfação a ninguém sobre a
minha vida.
— Terá pessoas conhecidas lá?
— Muitas.
— Mas se alguém me perguntar onde estive durante esse
último ano, o que posso dizer?
— Diga o que quiser, Catharine, só espero que o que você
diga me deixe satisfeito.
Ele jogou a responsabilidade toda nas minhas costas, previ
que essa festa seria um pesadelo. Respirei fundo tentando controlar
a falta de ar.
Chegamos ao local, tentei acalmar meus nervos ao olhar a
fachada do clube luxuoso com as luzes coloridas. Descemos do
carro e o gerente aproximou-se nos cumprimentando
respeitosamente. Havia uma fileira de funcionários nos aguardando.
Viktor passou por eles sem nem ao menos lhe dirigir um olhar, eu
sorri para alguns educadamente. Seguimos para a grande cabine
privada no segundo andar. Havia poucas pessoas no local, das
quais a maioria conhecia de outros eventos, Viktor selecionava bem
as pessoas que o cercava.
Sentamo-nos em uma mesa, logo garçonetes em saias
pretas de couro curtíssimas e tops nos serviram bebidas e
aperitivos, eu apenas pedi água. Estava nervosa, com certeza as
pessoas viriam falar comigo e eu não sabia o que lhes dizer.
Observei os olhares curiosos sobre mim.
Depois de algum tempo, percebi que Viktor fez um sinal, ele
estava autorizando para que as pessoas pudessem falar conosco.
Uma mulher que já conhecia aproximou-se.
— Querida Catharine, há quanto tempo, não a vi em eventos
sociais, digamos... Um pouco mais de um ano?
— Acho que sim.
— Por onde andou?
— Eu estava em retiro por um tempo. Depois do acidente no
hotel, fiquei muito abalada e passei uma temporada com uns
parentes distantes.
Olhei para o Viktor, sua expressão não revelava o que ele
achou da minha desculpa, mas percebi que aprovou.
A noite transcorreu calma, até me surpreendi. Apesar da
curiosidade, as pessoas mantiveram uma conversa leve.
Uma certa altura, Viktor me comunicou que iria tratar um
assunto e que já voltaria. Estranhei, pois ele jamais me deixava
sozinha em lugar nenhum, eu até podia andar pelo salão, mas
sempre com a presença dele, nem mesmo em seu clube. Ele
afastou-se e sumiu. Dei de ombros e continuei conversando com as
pessoas.
Estava distraída ouvindo uma conversa de uma das
mulheres, quando percebi um garçom aproximar-se de nós, ele
estava com uma bandeja na mão e me lembrava muito uma pessoa,
porém não sabia a quem exatamente.
— Um drink, senhora.
Arrepiei-me até o último fio de cabelo, sem acreditar no que
meus ouvidos ouviram. Aquela voz era do Ramon, não havia
dúvidas disso.
Isso é real? Meus olhos arregalados cravaram no rosto dele.
Não podia acreditar que o Ramon estava na minha frente. O que
significa isso?
Ele me encarava sério, esperando que eu pegasse a bebida
que me oferecia.
Não consegui me mover, meus pés pareciam colados no
lugar. O medo começou a correr em minhas veias, provocando-me
espasmos de pânico e terror. Olhei em volta rapidamente para
procurar o Viktor, não o vi em lugar nenhum, mas alguma coisa me
dizia que ele voltaria em breve, ou pior, estava me observando de
algum lugar. Fiquei pálida e cambaleei, as mulheres que estavam
comigo perceberam meu alarde e me ampararam.
— Está tudo bem, Catharine?
Ramon, sem nenhum vestígio que me conhecia, pegou um
copo de água e estendeu em minha direção.
— Água, senhora.
Eu o encarava muito assustada, em seu rosto havia muitas
cicatrizes, eram feias, mas eu conseguia vê-lo através delas. Seus
cabelos também estavam diferentes, loiros, provavelmente ele os
pintou. Seus olhos negros também estavam em outra tonalidade,
não pretos como antes, mas verdes. Ele estava disfarçado.
— Catharine, bebe um pouco de água, você está pálida. —
Uma das mulheres pediu.
Estendi minhas mãos trêmulas e segurei o copo que o
Ramon oferecia em minha direção, ele fechou a mão envolta da
minha e olhou diretamente nos meus olhos, percebi que ele me
entregava algo junto com o copo de água. Apertei bem em minhas
mãos e ele soltou, curvou-se e saiu. Eu o segui com os olhos até ele
desparecer na multidão.
Levei o copo de água até a boca e tomei um gole, apoiei o
copo sobre a mesa e escorreguei a mão segurando o que o Ramon
deixou para mim. Para esconder aquilo sem que ninguém
percebesse, abri a bolsa, peguei a bombinha e deixei o pedaço de
papel dentro.
— Acho que preciso disso — falei para as mulheres. Borrifei
um pouco do remédio, bebi mais um pouco de água e as mulheres
voltaram a conversar. Eu não escutava nada do que falavam, minha
mente estava voltada toda para o Ramon.
Meu Deus! O que significa tudo isso? Como ele conseguiu
entrar aqui? Será que o Viktor o conhece? Alguma coisa está
estranha em tudo isso, onde está o Viktor? Ele nunca me deixou
sozinha assim em um lugar.
Preciso saber o que contém naquele papel. Por isso decidi ir
ao banheiro. Levantei-me e anunciei minha decisão para as
mulheres.
Andei como uma sonâmbula no meio da multidão. Procurei
pelo banheiro e logo o encontrei. Entrei rapidamente e me tranquei.
Peguei o bilhete e abri, com as mãos trêmulas de nervoso e medo.
Mia,
Me encontre no corredor para a cozinha, terceiro à esquerda.
Preciso falar com você. Não tenha medo, seu marido não
aparecerá. Estou te esperando.
Ramon.
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“Use-o.”
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FIM
Capturada pelo amor
(Jacque Dark)
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