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Copyright 2020 © Jacque Dark

Capa e Diagramação: Matheus e Mari Mendes


Colaboração na capa: Afrodite Dark

Revisão: Carla Fernanda

1ª Edição
Brasil, 2020

Todos os direitos reservados todos.


Proibido a reprodução total ou parcial desta obra,
sem a autorização expressa do autor. Lei 9.610, de
19 de fevereiro de 1998, artigo 184. “Violar direitos
autorais, pode acarretar pena de 3 (três) meses a 1
(um) ano ou multa.”

Plágio é crime!

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Vivendo nas sombras, ela corre, com medo de cada
passo,cada olhar,dele...

Catharine Russell é uma jovem que fugiu de Chicago, do


submundo do crime e de seu marido: um homem implacável, sem
coração e poderoso. Desde então, com uma nova identidade, ela
tenta viver uma vida tranquila.
No entanto, isso acabou, ele a encontrou e a está trazendo
ao lugar que lhe pertence e ela terá que enfrentar o homem que não
aceita um não como resposta dessa mulher que teve a ousadia de
desafiá-lo.

Romance Dark
Essa história contém temas perturbadores: violência, abusos
e dominação, que podem deixar, vocês, leitores, desconfortáveis.
Por favor, se não acha esse tema relevante para você, NÃO LEIA!
Boa leitura!
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capitulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Uma nuvem escura pairava sobre Chicago, eclipsando a lua
minguante. O hotel luxuoso pegava fogo, as chamas
incandescentes consumiam aquele prédio imponente o reduzindo a
pó. Continuei correndo com meus saltos agulha, não podia parar
agora, precisava prosseguir. Ouvi ao longe as sirenes dos carros de
bombeiros. Parei e olhei para trás, estavam apagando as chamas,
mas uma boa parte do hotel foi queimada. Se eu tivesse sorte, ele
pensaria que morri.
Continuo correndo, as pessoas estão agitadas, há um
movimento grande em torno daquela área, carros de equipe de tevê
passam pela rua apressados, eles não podem deixar de noticiar que
o hotel The Palace, pertencente a Viktor Russell, um homem
poderoso e bilionário, está se consumindo em chamas.
Me sentia ofegante e cansada, esses saltos não estavam me
ajudando. Parei por um momento e os tirei, segurando-os nas mãos,
porque não cabiam na bolsa pequena que carregava.
Continuei andando descalça. Meu vestido era um longo,
desenhado por um estilista famosíssimo. A joia em meu pescoço
brilhava. Precisava me livrar de tudo isso o mais rápido possível.
Por sorte já estava escuro e as pessoas não reparavam muito em
mim.
Precisava pegar um táxi, tinha que sair desse lugar, não
sabia se ele mandou seus homens me procurarem ou se pensava
que eu estava dentro do hotel, não me importava, meu único
objetivo nesse momento era desaparecer para que nunca mais
aquele homem chegasse perto de mim. Um calafrio subiu na minha
espinha. Se ele me encontrasse, nem sabia o que seria de mim.
Lágrimas quentes desciam pelo meu rosto, enxuguei-as
rapidamente, não tinha tempo para chorar minhas mágoas, agora
tinha que desaparecer. Comecei a acenar para os táxis, mas
nenhum parou, tentei mais algumas vezes e finalmente um parou.
Entrei e o motorista perguntou:
— Para onde, senhora?
Eu não tinha a mínima ideia para onde ir, não planejei aquela
fuga, simplesmente quando vi a oportunidade de escapar o fiz. Não
podia ir para nenhum lugar que conhecia. O motorista do táxi me
olhava através do espelho com os olhos questionadores.
— Me leve para a rodoviária — respondi.
O homem iniciou a corrida, dei uma última olhada para trás,
não conseguia ver o hotel, porém a nuvem negra e a fuligem
corriam pelo ar.
— A cidade está agitada hoje — o taxista comentou.
Levei um susto, porém falei alguma coisa somente para ser
educada.
— Parece que sim.
— O The Palace pegou fogo, tinha uma festa de gala lá
oferecida pelo próprio dono.
— Alguém se feriu ou morreu?
— Ainda não sabem.
— Hum...
Baixei minha cabeça e contemplei minhas mãos, que
estavam trêmulas, onde meu anel de casamento brilhava como
nunca. Olhei a mancha roxa disfarçada com uma linda pulseira de
diamantes e a manga do vestido ajudava a esconder os hematomas
que ele deixava no meu corpo.
Suspirei fundo buscando ar, não sabia para onde iria, não
tinha muito dinheiro, acho que tinha quinhentos dólares em dinheiro
e cartões, mas não podia usá-los. Também não podia pedir ajuda a
minha família, não tinha amigos, nada, absolutamente nada; ele
havia me afastado de tudo e todos. Fechei os olhos e me lembrei de
algumas horas atrás, quando estávamos nos preparando para a
festa de gala.

Olhava meu reflexo no espelho, o vestido longo branco com


bordado dourado, mangas compridas e um decote generoso era
lindíssimo. Meus cabelos loiros desciam como cascatas ondulados
em meus ombros, estava apresentável como a esposa perfeita do
todo poderoso Viktor Russell. Sorri com tristeza.
Estendi a mão e peguei um par de brincos, os coloquei, e em
seguida o colar. Ele mandou eu usar aquele conjunto hoje e ai de
mim se não o obedecesse. Posicionei a joia no pescoço e tentei
fechá-la, não consegui achar o fecho. Voltei a joia para o estojo,
teria que pedir ajuda a ele e não gostaria de fazer tal coisa, mas não
tinha saída. Se eu não estivesse pronta na hora que ele saísse,
quando voltássemos... não gostava nem de pensar.
Saí do closet e segui para a suíte, ele devia estar no closet
dele. Quando entrei, o chamei baixo, porque ele odiava que o
chamasse gritando.
— Viktor.
Ele não estava ali. Saí e olhei em volta, nosso quarto era tão
grandioso que, às vezes, eu mesma me perdia nele. Decidi olhar na
varanda, o vi de costas através do vidro, ele estava ao celular.
Suspirei desanimada, não podia interrompê-lo. Quando percebi que
desligou, chamei-o:
— Viktor.
Ele virou-se para mim, com seu semblante sempre fechado,
nunca o vi sorrir em seis meses de casados.
— O que foi, Catharine?
— Não consigo fechar o colar, você pode me ajudar?
— Volta para o seu closet, já estou indo lá.
Obedeci-o imediatamente, voltei para o meu closet e o
esperei de pé em frente ao espelho. Fechei os olhos e pensei na
casa dos meus pais, no jardim florido sempre muito bem cuidado
pela minha mãe e suspirei fundo.
Senti a sua presença em minhas costas, abri os olhos e o
encarei através do espelho. Ele estava impecavelmente vestido em
seu smoking preto, os cabelos penteados para trás sem nenhum fio
solto. Era um homem alto, de porte atlético, ombros largos. De uma
beleza máscula assustadora, pele cor de oliva e olhos azuis, um
homem lindo, no entanto, um tirano sem coração, um carrasco.
Sorri sem humor, apenas um esboço, ele aproximou-se de
mim e segurou nos meus ombros, beijou o alto da minha cabeça.
— Está linda, anjo — sussurrou.
— Obrigada.
— Dê-me o colar.
Sem pestanejar, peguei a peça e o entreguei, afastei meus
cabelos para o lado e ele circulou a joia em meu pescoço sem
desviar um minuto seus olhos dos meus, eu também o olhava e
sempre mantinha um sorriso falso nos lábios. Ao terminar, ele beijou
a curva do meu pescoço e enlaçou minha cintura com seus braços
musculosos. Fechei os olhos sentindo náuseas pelo seu toque.
— Já sabe o que espero de você na festa — ele falou.
— Sim.
— Não me decepcione, anjo, sabe que odeio ser contrariado,
principalmente por você.
— Eu sei.
— Ótimo! Agora vamos, nossos convidados nos esperam.
— Sim.
Peguei a minha bolsa e o segui, descendo as escadarias da
mansão. Abaixo uma limusine branca nos esperava. Entramos e
seguimos para o hotel.
Chegamos à festa de gala, onde havia muitas fotos, tapete
vermelho, pessoas bajuladoras. Horas depois, houve a explosão,
fogo, pessoas correndo sem destino. Não o vi e nem aos seus
seguranças. Sem pensar corri entre as pessoas e saí do hotel pela
saída de emergência, misturando-me a multidão. Ouvi alguém me
chamando desesperado. Era ele.
— Catharine, Catharine.
Comecei a correr sem parar, sem destino, apenas com um
objetivo: fugir do homem que dizia ser meu marido.

— Chegamos.
Saí das minhas lembranças e olhei através da janela. Era a
rodoviária. Abri a bolsa e perguntei:
— Quanto que é?
— Trinta dólares.
Peguei uma nota de cem dólares e o entreguei, depois que
me devolveu o troco saí e olhei para a fachada. Não sabia para
onde ir. Entrei, algumas pessoas olhavam para mim, porque minhas
vestimentas chamavam atenção. Decidi comprar roupas. Procurei
uma loja de conveniência e comprei uma calça e casaco de
moletom. Peguei também tênis, meias, um boné e uma mochila,
para transportar todas as minhas coisas. Não podia deixar nada
para trás.
Depois de pagar as compras, segui para o banheiro, tirei o
vestido e usei as novas roupas, que ficaram largas; comprei dois
números maiores justamente para disfarçar. Embolei os cabelos em
um coque e os cobri com o boné. Tirei as joias e as guardei na
mochila. Calcei os tênis, pronto!
Segui para o painel que mostrava as horas e os destinos dos
ônibus. Procurei o que sairia mais próximo, vi um com destino para
Missouri, que sairia dentro de meia hora. Cruzei os dedos para que
ainda tivesse bilhetes, aproximei-me do guichê.
— Oi, gostaria de uma passagem para Missouri, a próxima
saída.
A atendente digitou no computador e informou:
— Ainda temos passagem.
Respirei aliviada.
— Quero esse.
— Seu nome, senhorita.
Meu nome?! Não podia dar meu nome verdadeiro, Catharine
Russell não existe mais. Pensei por alguns momentos, a atendente
me olhava desconfiada. Sorri timidamente e respondi:
— Mia, Mia Stuart.
A mulher digitou no computador.
— Tem uma identificação, senhorita?
Não tinha, o que fazer? Dizer a verdade:
— Não tenho.
— A senhorita é maior de idade?
— Sim.
— Preciso de uma identificação, senhorita.
— Por favor, me ajuda, só preciso ir embora, fugir dele —
supliquei.
A mulher me encarava com dó, ela parecia me entender.
Então, balançou a cabeça positivamente, imprimiu o bilhete e me
entregou.
— Boa sorte!
— Obrigada, muito obrigada.
— Somente vai.
Andei rapidamente olhando os números do ônibus, encontrei
o meu, entreguei o bilhete para o motorista, que destacou e
escaneou uma parte e me devolveu o restante. Entrei no ônibus,
sentei-me na cadeira indicada no meu bilhete.
Eu me encontrava tensa, não conseguia relaxar, a todo
momento pensava que ele entraria naquele ônibus e me arrastaria
para fora pelos cabelos. O medo era inevitável, algumas horas atrás
jamais pensei que estaria em um ônibus com destino a outro estado.
Se nada tivesse acontecido, a essa altura estaríamos em casa e
provavelmente transando.
Senti um frio na barriga, não acreditava que consegui
escapar. Se eu tivesse planejado, talvez não teria dado tão certo. Na
verdade, nunca cogitei a possibilidade de ir embora, eu sabia que
era algo impossível e, além do mais, sabia quem era Viktor Russell
e do que ele era capaz para impor suas vontades.
O ônibus começou a mover, meu coração acelerou, em
pouco tempo já estávamos na estrada, eu ainda me sentia tensa e
respirava com dificuldade, minha garganta se fechou, abri a bolsa e
peguei minha bombinha, borrifei algumas vezes até conseguir
respirar normalmente, uma senhora que estava do meu lado
perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim, eu tenho asma.
— Se precisar de alguma ajuda...
— Obrigada pela oferta, só preciso do meu remédio.
— Okay. Será uma longa viagem.
— Eu tenho três bombinhas aqui.
— Tem medo de viajar?
— Não.
Depois de uma longa viagem chegamos a Missouri, eu
olhava perdida, não sabia o que fazer, para onde ir. A mesma
mulher que conversou comigo no ônibus aproximou-se.
— Tem alguma mala?
— Não, só essa mochila.
— Alguém vem te receber?
— Não.
— É sua primeira vez aqui?
— Sim, na verdade se a senhora puder me ajudar e me
indicar um local barato para eu ficar por um tempo, eu agradeço.
— Acho que você falou com a pessoa certa, alugo quartos
em minha casa.
Sorri e não acreditei em minha sorte. A partir daquele dia, a
Sra. Pérez foi meu anjo de guarda, em pouco tempo estava
instalada e até um emprego ela conseguiu para mim. Fui trabalhar
com ela na empresa de limpeza que possuía. Ela não fez muitas
perguntas sobre a minha vida, apenas lhe disse que estava
começando uma vida nova.
A única notícia que tive sobre o que aconteceu no hotel,
soube através do noticiário. Segundo eles, a esposa de Viktor
Russell estava desaparecida, mas não sabiam se ela foi uma das
vítimas do desastre. Nada mais foi falado sobre mim ao longo dos
dias que aquela notícia estava em destaque. Muitas pessoas
morreram naquela noite.
Amontoei todas as coisas que pertenciam a Catharine
Russell, o vestido, o sapato, a bolsa e a carteira com os cartões e
documentos. Acendi o fogo e, em pouco tempo, tudo virou pó.
Catharine Russell morreu naquele incêndio.
Um ano depois...

As joias brilhavam dentro da caixa, enquanto eu as


contemplava fascinada; eram tão lindas, as únicas coisas que
restaram da Catharine Russell. Peguei o anel de noivado e me
lembrei o dia que ele me pediu em casamento; na verdade, não
pediu, apenas comunicou sua decisão.

Estávamos sentados na sala da casa dos meus pais. De


cabeça baixa, eu não conseguia olhar para o homem imponente,
assustador e intimidador que dominava o local com sua presença.
Meu pai também estava cabisbaixo e minha mãe tentava disfarçar
sua emoção, a voz de aço cortante daquele homem se fez ouvir:
— Estenda a mão, Catharine.
Saí do meu estado catatônico e levantei-me, estendi a mão
direita e ele a pegou. Seu toque era quente e repugnante para mim,
sua mão áspera e grande com a pele morena contrastava com a
minha, pequena e muito branca, com as unhas bem feitas em um
esmalte nude.
Minha mãe sempre dizia que a mulher tinha que ser vaidosa
e estar bem cuidada. Ele deslizou o anel enorme de diamante de,
pelo menos, dez quilates em meu dedo anelar; a joia era linda, mas
representava para mim uma prisão.
Olhei-o e esbocei um sorriso tímido, por fora aparentava a
noiva perfeita e recatada pronta para me casar com ele, mas por
dentro estava aterrorizada, em pânico na verdade. Eu sentia um
medo incontrolável.
Não queria aquele casamento, não amava aquele homem,
nem ao menos o conhecia. Apenas hoje o vi e, apesar de ser bem
apessoado, era um homem assustador. Mas, como uma boa filha
obediente, não protestei em nenhum momento quando meu pai
comunicou que me casaria com ele. Lembrei-me daquele dia.
— Catharine, estamos falidos, tentei de tudo para sairmos do
abismo sem fim, mas a fábrica de brinquedos quebrou e, para
piorar, estamos em dívida com Viktor Russell e com esse não
podemos brincar.
— Quem é ele, papai?
— Um homem poderoso, recorri a ele para pedir um
empréstimo e tentar salvar a fábrica, mas investi o dinheiro
erroneamente, perdemos tudo e a fábrica faliu.
— O senhor quer dizer que não temos nenhum dólar sequer?
— Não.
— Mas se vendermos essa casa...
Meu pai me cortou, arrasado:
— Catharine, tudo agora pertence ao Russell, essa casa e o
prédio da fábrica.
— Então teremos que sair daqui?
Meu pai suspirou fundo, senti que não iria falar coisa boa.
— Catharine, mesmo ele tendo posse de tudo, ainda assim
estamos em dívida com ele, porém, nos fez uma proposta.
— Qual?
— Ele deixará a casa para eu e sua mãe morarmos e não
cobrará a dívida caso você se case com ele.
— Eu? Mas... mas como, pai? Ele nem ao menos me
conhece e muito menos eu a ele.
— Ele sabe quem você é, aliás, sabe tudo sobre nós.
— E se eu recusar?
— Isso não é uma alternativa.
— Então esse será meu destino?
— Sim, não me decepcione, Catharine.
Olhei fundo nos olhos do meu pai, eu sabia que nada que
dissesse mudaria aquilo que já estava planejado para mim, sempre
foi assim. Senti minha garganta fechar, meu peito chiou, respirei
fundo, levantei-me e comuniquei:
— Não te decepcionarei. Com licença!
Saí do escritório rapidamente, busquei minha bombinha no
bolso do vestido e borrifei várias vezes, respirava pesado, andei até
o meu quarto e me fechei lá. Poucos minutos depois, minha mãe
bateu à porta e entrou.
— Você está bem?
— Sim.
— Sei que essa notícia foi chocante para você, mas não
temos saída. Esse homem, ele...
Minha mãe parou de falar, seus olhos minaram lágrimas, ela
as segurou como sempre fazia. Segundo ela, não devíamos mostrar
emoções, porém eu queria saber o que ela mencionaria sobre o
homem com que me casarei.
— Ele...?
— Nada, a única coisa que precisa saber é que, se esse
casamento não acontecer, não perderemos somente essa casa.
Não sabia exatamente o que ela queria dizer, mas faria o que
eles queriam.
— Não se preocupe, mãe, me casarei com esse Viktor
Russell — comuniquei a ela.
— Sabia que poderíamos contar com você.
— Só espero que ele saiba que sou uma moça doente.
— Ele sabe, não se preocupe.

Voltei ao presente, um ano livre, um ano sem seu toque, sem


suas lições, sem sua presença dominante. Às vezes, não acreditava
que já se passou tanto tempo. Ainda não me sentia segura, todos os
dias pensava que ele me encontraria, mas seguia vivendo um dia de
cada vez.
Hoje, daria um grande passo na minha vida, estava de
mudança para o meu pequeno apartamento, resolvi sair da casa da
Sra. Pérez. Ela me ajudou imensamente em tudo e lhe serei
eternamente grata, mas chegou o momento de ter minha
independência e não ocupar para sempre o quarto que ela
disponibilizou para mim, ela podia ganhar dinheiro alugando-o para
outra pessoa.
A princípio, ela protestou, disse que poderia viver na casa o
tempo que quisesse, mas sentia que precisava andar com as
minhas próprias pernas. Não deixarei de trabalhar com ela, hoje eu
era uma espécie de faz-tudo no pequeno escritório da empresa de
limpeza: eu que fazia os orçamentos com os clientes, os horários
dos funcionários, ajudava a contratar novos funcionários, enfim, tudo
que ela precisava. Todo dinheiro que eu ganhava guardei, gastei
muito pouco e, em um ano, consegui juntar um bom dinheiro.
A Sra. Pérez não me cobrava o aluguel do quarto, eu sempre
queria lhe ajudar, mas ela jamais aceitou e ainda me pagava o
salário, por isso, não protestava para qualquer coisa que ela
precisava, fazia de tudo para compensar toda sua gentileza e
generosidade.
Olhei para as joias, deviam valer uma fortuna. Se as
vendesse, com certeza teria grana para me manter no luxo por um
bom tempo, talvez até investir em um negócio próprio, comprar uma
casa, enfim, seria uma solução para a minha vida financeira, mas
não podia vendê-las, eram joias exclusivas desenhadas somente
para mim, não existia outra igual no mercado, por esse motivo, se
elas aparecerem no mercado de joias, com certeza todos que
trabalhavam com isso espalhariam a notícia e em pouco tempo
chegaria aos ouvidos do Viktor.
Não sabia o que o Viktor achava que aconteceu comigo, não
tinha certeza se ele pensava que de fato morri naquele incêndio, eu
acreditava que sim, caso contrário ele me procuraria, ou talvez não,
pode ser que eu tenha quebrado seu orgulho e nem ousou me
procurar. Ri com essa possibilidade, quebrar seu orgulho era
apenas impossível, aquele homem não tinha quaisquer sentimentos
para serem quebrados, então deduzi que realmente ele pensava
que morri, apesar de não ter ouvido nada sobre isso na imprensa,
somente sobre as outras vítimas, mas nada sobre mim.
Depois do noivado, só fui reencontrá-lo no dia do casamento,
não sabia quem era realmente, descobri dias depois com quem
realmente havia me casado e, a partir daquele dia, minha vida se
tornou um inferno ao lado dele.
Ouvi uma batida na porta do quarto, guardei as joias na caixa
e a fechei, nunca mostrei para alguém, muito menos contei sobre
minha vida, tudo estava enterrado para sempre. Pedi que entrasse.
A senhora Pérez adentrou o cômodo.
— Oi, Mia, está pronta para ir?
— Sim.
— Sabe que essa casa estará aberta para você sempre.
— Eu sei, Sra. Pérez.
— Vem aqui, me dê um abraço.
Abracei-a forte, ficamos assim por alguns minutos; quando
ela me liberou, encarou-me emocionada.
— Se cuida, não se esqueça das bombinhas, sempre
mantenha elas em todas as gavetas da casa e na bolsa.
— Eu sei, Sra. Pérez — ri.
— O Amendoim cuidará de você.
— Sim, ele será minha companhia.
Amendoim era o meu pequeno cachorro da raça Yorkshire
que ganhei dela. Apesar de ter bastante pelo, ele não os perdia; por
esse motivo, podia ficar com ele. Não era alérgica a cachorro, mas
por ter asma não era bom ficar em um ambiente onde havia
acúmulo de pelos, poeiras e tudo mais que pudesse contribuir para
o fechamento das minhas vias respiratórias. Portanto, Amendoim
era perfeito para mim.
Depois das despedidas, segui para a minha nova casa. Era
domingo, dia da minha folga; decidi me mudar naquele dia para não
atrapalhar meus afazeres diários na empresa de limpeza.
Amendoim estava em uma gaiola de plástico próprio para
transporte de cachorro. Cheguei rapidamente ao apartamento, não
era muito longe da casa da Sra. Pérez, apenas vinte minutos, assim
não ficava longe dela e nem do trabalho, já que o escritório
funcionava na própria casa dela.
Paguei o táxi, que me levou até meu apartamento, subi as
escadas animada. Não havia muitos móveis, porque o apartamento
era pequeno, tipo uma quitinete.
Havia uma cozinha dividida por uma meia parede, que dava
para a sala; um quarto, banheiro e a varanda. A única mobília que
tinha era a cama, o quarto tinha um closet e não era necessário
armário; e a cozinha já vinha completa com geladeira, fogão,
lavadora de louça, micro-ondas, pia e os armários planejados. Só
precisaria comprar uma mesa e sofás, talvez uma TV, mas essas
coisas eu adquiriria com o tempo.
Olhei em volta, nem acreditava que tinha, pela primeira vez,
meu próprio cantinho. Se alguém me dissesse isso há um ano, eu
não acreditaria. Peguei a gaiola do Amendoim e abri, o cãozinho
correu alegre pela casa cheirando em todos os cantos. Sorri, tinha
sorte de tê-lo, ele sempre foi minha companhia.
Não tinha muitas coisas para fazer, já havia ido ao
supermercado para as compras, a geladeira estava abastecida, não
comprei muitas coisas, somente eu e Amendoim não teríamos
necessidade de muitos alimentos. Não possuía um carro, não
porque não tinha dinheiro para comprar um usado, mas não tinha
carteira de habilitação com o nome de Mia Stuart; na verdade, não
tinha documento nenhum com esse nome, ninguém nunca me pediu
para nada, tudo que comprava era com dinheiro e o aluguel do
apartamento foi com a ajuda da Sra. Pérez. Isso não era uma
situação boa, eu sei, mas era melhor viver assim do que usar minha
verdadeira identidade, tinha certeza de que ele saberia caso eu
usasse o nome Catharine Russell ou até meu nome de solteira
Catharine Akins.
Uma nova etapa da minha vida estava se iniciando e estava
até feliz como nunca estive antes. Pensei nos meus pais, sabia que
não podia contatá-los e deixá-los pensar que morri era cruel, mas
diante dessa situação não tive escolha. Não sabia se eles sofreram
muito, talvez minha mãe tivesse sofrido mais que meu pai. Suspirei
e olhei através da varanda para o horizonte à minha frente, um dia
poderia ser eu mesma, tinha fé nisso.
Um mês antes dele ser capturada...

— Vamos, filho, entra na gaiola, mamãe precisa trabalhar.


Amendoim correu pela casa abanando o rabo e não me
obedeceu, todas as manhãs era a mesma coisa, ele não queria
entrar na gaiola para me acompanhar no trabalho. Não gostava de
deixá-lo sozinho por muitas horas, por isso o levava comigo, a Sra.
Pérez não se importava e ele ficava comigo no escritório. Meu
horário de trabalho era das oito da manhã até as cinco da tarde e
isso seria um longo tempo para deixá-lo sozinho.
Tinha que colocá-lo na gaiola, o filho da Sra. Pérez passaria
daqui a pouco para nos pegar, ele vinha todas as manhãs, passava
em minha casa, me deixava na casa da mãe dele e depois seguia
para o seu próprio trabalho. Foi a própria senhora Pérez que sugeriu
esse arranjo e ele aceitou de bom grado.
Ramon era um bom rapaz, tinha 23 anos, a mesma idade
que eu. Nos dávamos muito bem desde que a senhora Pérez me
"adotou", ele sempre foi gentil e respeitoso, porém vira e mexe
jogava seu charme para o meu lado, eu apenas levava na
brincadeira os galanteios dele. Acho que fiquei estragada para
relacionamento, só de pensar em me envolver com outro homem
me dava calafrios, nunca mais na vida confiarei em homem nenhum
depois de ter passado pelas mãos do Viktor.
Acabei de colocar Amendoim na gaiola, peguei a bolsa sai
rapidamente, tranquei a porta e desci as escadas praticamente
correndo. Estava atrasada, estava quase na hora do Ramon passar
para nos pegar.
Cheguei ofegante e ele ainda não havia chegado, suspirei
aliviada. A manhã estava linda, estávamos no verão e o sol já
estava alto àquela hora da manhã. Olhei distraída para o movimento
dos carros na avenida, levei um susto quando Ramon parou o carro
e me chamou:
— Mia.
— Bom dia, Ramon.
— Bom dia, sol da manhã.
Ri tímida, esse era o apelido que Ramon colocou em mim
por causa dos cabelos loiros, ele e sua mãe eram descendentes de
mexicanos, portanto tinha cabelos pretos e pele morena, diferente
de mim, com a pele clara, cabelos loiros natural e olhos azuis.
Depois que ajeitei a gaiola do Amendoim no banco de trás do
carro, fechei a porta e senti um calafrio, olhei para a avenida e vi um
Mercedes preto brilhante passando rente ao carro do Ramon, os
vidros escuros impossibilitavam ver quem eram os ocupantes. Meu
coração acelerou, paralisei e segui o carro com o olhar até que
desapareceu no meio do tráfego.
Era sempre assim, todas as vezes que via um carro de luxo
tinha essa mesma reação, e esses dias estava sendo frequente, às
vezes ia a pé no supermercado perto de casa e tinha a sensação
que alguém me vigiava, pode ser uma paranoia minha, mas há um
ano que não conseguia andar tranquila, sempre pensava que ele me
encontraria.
— Vamos, Mia — Ramon chamou.
Sorri, entrei no carro e imediatamente ele partiu,
conversamos ao longo do caminho.
— Quando me dará uma chance?
— Ramon, você sabe que o considero como a um irmão.
— Assim você parte meu coração, sol da manhã. — Colocou
a mão no peito, fazendo uma cara de desolado.
— Não exagera, Ramon.
— Quem te machucou?
Tensionei corpo e fechei o sorriso, não gostava nem de
pensar sobre o Viktor, muito menos falar dele para alguém. Ramon
apenas suspirou, não era a primeira vez que ele fazia aquela
pergunta e todas as vezes reagia do mesmo jeito.
— Desculpa, sei que não gosta de falar da sua vida.
— Está tudo bem.
Seguimos o resto do percurso em silêncio, meus
pensamentos voltaram-se para o dia do meu casamento.

Observei-me no espelho, os cabelos cor de ouro estavam


cuidadosamente puxados para trás em um penteado sofisticado.
Uma maquiagem impecável cobria a pele do meu rosto, lisa e
jovem, que parecia macia e levemente ruborizada me dando um ar
de saudável. Meus lábios estavam cobertos por um batom rosa
claro brilhoso.
Estava no meu quarto na casa dos meus pais que em breve
deixaria para trás. Era a noiva perfeita, linda em um vestido de
renda e organza, feito especialmente para mim, com um decote
generoso nas costas e uma saia com camadas e mais camadas de
organza e tule com uma cauda imensa. Calcei sapatos de saltos
dourados e solado vermelho caro. Tudo do bom e melhor para a
filha perfeita no dia que seria entregue em uma bandeja de prata
para um completo estranho.
As aparências eram tudo que importavam para os meus pais
naquele dia, estava prestes a me casar com um homem que vi
somente uma vez, nada sabia sobre ele a não ser que possuía uma
das maiores fortunas dos Estados Unidos, como se isso fosse o
mais importante para mim.
Continuei me avaliando. Não usava um véu, apenas uma
tiara de diamantes e brincos e colar de pérolas verdadeiros.
Segundo minha mãe, pérolas traziam sorte para o casal.
Estava pronta para me tornar a esposa do Viktor Russell. Por
fora aparentava estar calma e linda, mas por dentro um turbilhão de
sentimentos se apoderavam de mim. Peguei minha bombinha que
estava escondida em um pequeno bolso no vestido, que foi feito
exclusivamente para esse intuito e borrifei algumas vezes, respirei
fundo.
Esses dias que antecederam o casamento, tive esperança
de que esse dia não chegaria, ou talvez que ele desistisse, afinal de
contas o que fazia um homem rico, poderoso e bonito se submeter a
um casamento arranjado? Me questionava todos os dias desde que
meu pai comunicou o enlace. E esse enigma me deixava angustiada
pelo meu futuro obscuro.
Escutei uma leve batida na porta e meu pai entrou, seus
cabelos grisalhos estavam perfeitamente arrumados sem nenhum
fio solto. Ele ainda mantinha seu ar de empresário, mas sabíamos
que agora vivia de favor nessa casa, obedecendo às ordens do
Viktor. Tudo pertencia a ele, nada mais era nosso, e daqui alguns
minutos eu também lhe pertenceria.
— Está linda!
— Obrigada.
Meu pai sentou-se em uma das cadeiras e voltou a atenção
ao celular, estava elegante em seu terno como sempre. Ele nasceu
de uma família rica, já herdou a fábrica de brinquedos e nunca
passou necessidades. Estava acostumado ao luxo desde que
nasceu.
Minha mãe veio de uma família de classe média, ela era
assistente pessoal do meu pai e acabou se casando com ele
quando se divorciou da primeira esposa. Tinha uma leve impressão
de que ela foi o pivô da separação, mas eles nunca falaram disso
comigo.
Eu tinha uma irmã mais velha, porém não mantínhamos
contato, ela morava fora do país e não queria saber de nós,
somente se preocupava com o dinheiro que meu pai mandava.
Nunca a conheci pessoalmente.
— Está na hora de ir — o coordenador do casamento
comunicou.
Meu pai acenou para ele e guardou o celular no bolso.
Voltou-se para mim.
— Vamos, minha querida, seu noivo a aguarda.
Levantei-me educadamente e segurei em seu cotovelo. Ser
educada e não questionar nada era algo importante para os meus
pais, fui ensinada a ser perfeita em todos os momentos, ser uma
dama respeitada da alta sociedade, receber pessoas ilustres, a
organizar jantares, comandar uma casa. Não tinha profissão, meus
pais apenas me deixaram estudar o básico, eles sempre falavam
que eu não precisaria trabalhar, pois me casaria com um homem
rico e fui preparada para isso.
Chegamos em frente às portas duplas da igreja, o
organizador do casamento as abriu e os convidados lançaram
olhares curiosos, todos queriam ver a noiva do poderoso Viktor
Russo. Respirei com dificuldade, meu pai me olhou e perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim.
A música tocou, caminhamos a passos lentos todo o
percurso do corredor com um tapete vermelho. Havia um pequenino
cortejo de damas de honra a minha frente, apenas três moças que
eram filhas de algum executivo do meu pai creio eu, as conheci há
poucos dias antes do casamento, elas abriam caminho com pétalas
de rosas.
Sorri suavemente tentando não me apavorar, imaginei que
aquele dia era o mais feliz da minha vida e que o homem que me
esperava no altar era aquele que escolhi para marido.
Segurei minha respiração, meus olhos focaram no homem
alto parado no altar, ele era assustador, incrivelmente bonito, mas
não uma beleza clássica dos almofadinhas da alta sociedade de
Chicago, mas sim, máscula e selvagem com um ar de perigo.
Quando finalmente chegamos ao altar, meu pai beijou meu
rosto e me entregou para ele, deslizei minhas mãos nas dele que
entrelaçou seus dedos na minha mão pequena em comparação a
dele, meus olhos assustados o avaliaram atentamente. Ele
realmente era bonito, cabelos castanho-escuros, pele morena, um
rosto de maçãs altas, boca bem desenhada, olhos azuis e uma
barba perfeitamente aparada. Era um homem másculo e
extremamente poderoso. Um frio passou pela minha espinha.
A cerimônia se iniciou, eu não prestei atenção em nada e
falei tudo automaticamente até o momento que deslizei uma aliança
no dedo dele e ele no meu. Quando o sacerdote nos anunciou
unidos pelo sagrado matrimônio, Viktor segurou em meu rosto e me
beijou suavemente na boca, foi um toque, mas suficiente para me
deixar atordoada.
Andamos de mãos dadas pelo corredor sob os aplausos dos
amigos e familiares. Sorri para todos, mas não me sentia bem,
aquilo era uma farsa, sem amor e nem mesmo desejo, pelo menos
da minha parte. No entanto, acabamos de confirmar diante das
testemunhas e de Deus que éramos feitos um para o outro e
juramos amor e compromisso. Senti-me uma impostora.
Ao sairmos da igreja, uma limusine nos esperava, não tive
tempo de me despedir de ninguém, entramos no carro e esse saiu
rapidamente, olhei para trás e vi várias mãos acenando em
despedida.
Ficamos em silêncio, eu não sabia como agir com ele, era
estranho pensar que eu era sua esposa. Ele aparentemente não
queria falar também, concentrava a atenção em seu celular. Mas
logo voltou-se para mim e perguntou:
— O que sabe sobre mim?
— Não muito, apenas o que meus pais me falaram.
— O que exatamente eles falaram?
— Seu nome e que é empresário.
Ele me encarou e tocou meu rosto, me fez olhá-lo.
— Sim, sou empresário e isso é tudo que precisa saber no
momento, minha esposinha linda. Em breve saberá quem realmente
sou e o que espero de você.
Engoli em seco, senti que estava em total escuridão em
relação a ele.
— Vamos para a nossa casa, teremos a nossa lua de mel,
não vejo a hora de possuí-la.
Senti um pânico crescente, eu sabia que essa hora chegaria,
evitava pensar sobre isso, mas mesmo que eu tivesse me
preparado para essa noite, senti medo. Queria um pouco mais de
tempo, mas percebi que isso não aconteceria. Senti minha garganta
se fechar, busquei minha bombinha no bolso secreto do vestido e
borrifei algumas vezes enquanto ele me encarava esperando-me
recuperar. Quando percebeu que eu estava melhor perguntou:
— Está nervosa?
— Um pouco.
— Não fique tentarei ser o mais gentil que conseguir na
nossa primeira noite, mas te aviso de antemão que a desejo demais.
Esperei muito por você e estou sedento para saborear cada
pedacinho do que me pertence.
Aquela declaração me deixou mais nervosa, eu esperava
que ele sentisse pelo menos atração sexual por mim, mas a maneira
que falou foi tão intensa que me deixou em pânico. Percebendo meu
alarde, pegou em minhas mãos apertando, senti necessidade de lhe
falar:
— Nunca fiz isso antes.
— Eu sei, anjo, e não vejo a hora de conhecer os mistérios
do seu corpo intocado.
Beijou minhas mãos ainda me encarando, seus olhos eram
aterrorizantes, parecia que estava em frente ao próprio demônio.

— Mia — Ramon me chamou.


Olhei-o assustada, estava tão absorta que nem percebi que
já havíamos chegado.
— Entregue. Tenha um bom-dia, sol da manhã.
— Obrigada, Ramon.
Desci do carro e peguei Amendoim, acenei para ele e entrei
na casa, para mais um dia de trabalho.
Três semanas antes dela ser capturada...

A semana passou quase voando, já era sexta-feira, estava


no escritório na casa da Sra. Pérez organizando alguns arquivos,
eram quase cinco da tarde, hora de ir para casa. Amendoim, como
sempre, estava deitado no chão aos pés da minha cadeira. Estava
distraída e não percebi alguém entrando, uma voz conhecida me
chamou:
— Mia.
Dei um pulo da cadeira assustada e suspirei aliviada quando
percebi que era a Sra. Pérez. Levei a mão ao peito, meu coração
batia a mil.
— Nossa! Levei um susto.
— Desculpa, não queria assustá-la.
— Eu que peço desculpas Sra. Pérez, essa semana ando
um pouco preocupada.
Ela sentou-se em uma cadeira de frente para mim e pegou
em minhas mãos, que estavam trêmulas e geladas.
— Mia, nos conhecemos há um ano, nunca lhe perguntei
sobre sua vida, mas a observando todo esse tempo sei que guarda
um segredo. Essa semana te percebi assustada, preocupada.
Quero que saiba que estou aqui para ajudá-la e apoiá-la em
qualquer coisa. Às vezes, os fardos da vida são pesados demais
para carregarmos sozinhas. Estou aqui para te ouvir, te aconselhar.
Se quiser desabafar, pode contar comigo.
Não consegui conter as lágrimas e elas desceram em meu
rosto, os soluços de angústia balançaram meu corpo. A Sra. Pérez
me abraçou de forma acalentadora. Percebendo meu estado,
Amendoim aconchegou-se em meus pés. Sentia-me amada por
aquelas pessoas, talvez mais do que fui quando vivia com meus
pais.
A Sra. Pérez, sempre tão gentil, me ajudou em um dos
momentos mais difíceis da minha vida. Ela merecia saber, eu
precisava desabafar.
Desfiz o abraço e a encarei, estava pronta para lhe contar a
pior fase da minha vida.
— Senhora Pérez, agradeço imensamente tudo que fez por
mim. Sem a senhora, talvez não teria conseguido me reerguer e não
sei o que seria se mim. Vou te contar como fui parar dentro daquele
ônibus e de quem estava fugindo.
Suspirei fundo e iniciei minha história:
— Nasci em uma família rica, fui criada para ser uma
dondoca, uma esposa da alta sociedade. Nunca questionei meus
pais, eles decidiram tudo para a minha vida e eu aceitei. Meus pais,
principalmente meu pai, era um homem que exigia perfeição,
especialmente da minha parte; eu tinha que ser a impecável,
intocável e perfeita. Apenas uma coisa atrapalhava tudo isso que ele
exigia: a minha doença. Por esse motivo, ouvia constantemente
meus pais discutirem sobre meu destino, meu pai achava que
ninguém iria querer se casar comigo por eu ser assim.
Baixei meus olhos com tristeza profunda, a Sra. Pérez
levantou meu rosto e sorriu.
— Você é perfeita, Mia, nunca a deixem dizer o contrário.
— Como acreditar nisso, Sra. Pérez, se constantemente
ouvia meu pai dizendo que nenhum homem aceitaria se casar
comigo por eu ter asma?
Dando uma pequena pausa, continuei meu relato:
— Enfim, um dia, um homem poderoso e rico, exigiu que eu
me casasse com ele. Meu pai estava falido e devendo muito
dinheiro a ele. Eu não tinha saída, não tinha esperança de encontrar
um amor de verdade e me casei com um completo estranho, sem
amá-lo, sem ao menos saber quem era. Meu pai ficou muito feliz
com o arranjo, claro, conseguiu casar a filha doente com uma das
maiores fortunas dos Estados Unidos e, ainda de quebra, resolveu
seus problemas financeiros.
Enxuguei algumas lágrimas e assoei o nariz, olhei para a
Sra. Pérez, que me encarava silenciosamente, e continuei:
— Meu pai não se importou com meu destino, ele sabia com
quem eu estava me casando. Ele me entregou a um psicopata, um
criminoso perigoso, poderoso e masoquista onde sua palavra era
lei. Ele controlava tudo e todos, e eu entrei em sua vida para ser seu
brinquedinho, uma bonequinha para ele manipular. Até o ar que eu
respirava era controlado por ele.
— Sinto muito, Mia, não fazia ideia.
— Foram seis meses de casamento e os piores da minha
vida. Ele me agredia fisicamente pelo simples fato de eu existir. Sim,
era isso. Fui criada para ser uma moça sem vontades, que cuidaria
da casa e do marido, e estava pronta para isso. Mas ele gostava de
me ver machucada, triste e humilhada. Dizia que me desejava, que
eu era linda, um anjo, como me chamava constantemente. Mas se
eu não fizesse exatamente o que queria, ele me agredia. Nem olhar
para os lados eu podia sem a sua permissão.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, senti-me aliviada
por contar essa parte da minha vida para alguém, porém não me
aprofundarei mais, falar sobre o Viktor me desgastava, perdia as
forças, sentia-me fraca, como sempre fui diante dele.
— Senhora Pérez, tudo o que passei ainda é doloroso. Eu o
deixei, fugi na verdade; e, pela primeira vez, estou vivendo a minha
vida, sem marido e pais manipuladores. Eu queria esquecer, estou
tentando esquecer, mas meu medo é constante que ele me
encontre.
— Você acha que ele a está procurando?
— Eu não sei, talvez ele pensa que morri.
— Seu verdadeiro nome não é Mia, não é?
— Sim, mas não revelarei meu nome, aquela mulher está
enterrada e gostaria que continuasse lá.
— Eu entendo.
— Obrigada por me escutar, peço que não compartilhe essa
história com ninguém, nem com o Ramon.
Ela fez um gesto como se estivesse passando um zíper nos
lábios e falou:
— Minha boca é um túmulo.
Sorri, nos abraçamos, sentia-me aliviada por ter falado.
Desfizemos o abraço e olhei as horas, já eram quase seis da tarde,
nem reparei que as horas passaram tão rápido.
— Preciso terminar de organizar esses arquivos e ir embora.
— Não se preocupe com isso, Mia, deixa para a segunda-
feira. Já que passou da hora de ir para casa, aproveita para jantar
aqui em casa, preparei comida mexicana, sei que gosta.
— Não quero dar trabalho.
— Você sabe que é bem-vinda. É sexta, à noite, e você
precisa de um pouco distração.
— Está bem, não consigo resistir a sua comida mexicana.
— Isso!
Arrumei as coisas por alto e saímos do escritório, a casa da
Sra. Pérez ficava nos fundos. Ramon havia acabado de chegar e se
ofereceu em me levar para casa mais tarde.
A noite foi agradável, jantamos e conversamos. Ajudei a Sra.
Pérez a arrumar a cozinha. Voltei para casa as dez horas da noite,
Ramon me deixou na porta do apartamento.
— Boa noite, sol da manhã.
— Boa noite.
Ele se foi e entrei no apartamento, tirei Amendoim da gaiola
e me sentei na poltrona. Falar do Viktor ainda era muito difícil.
Meus pensamentos voltaram para a noite de núpcias.

A limusine atravessou os portões de ferro, olhava assustada


através da janela a mansão a minha frente. O carro parou na
entrada e desci, ainda usava o vestido de noiva, por isso tive ajuda
do Viktor para ajeitar todos aquela babados e tules.
Entramos na casa e olhei em volta maravilhada, era grande e
luxuosa, porém sombria. Era acostumada ao luxo, mas realmente a
casa de Viktor me surpreendeu:
— Bela casa — sussurrei suavemente.
Ele aproximou-se de mim.
— Sua casa agora.
Arrepiei-me, era estranho imaginar que agora eu era casada
e viverei naquela casa que mais se assemelhava a um castelo
medieval e, pior, dividir a vida com um homem que nada sabia.
Sentia-me como um náufrago, em estado nervoso absoluto.
Quase saí do meu corpo, quando o senti aproximar-se, sua
mão grande deslizou lentamente em minhas costas até quase tocar
minha bunda, ele encostou os lábios na minha orelha.
— Vamos!
Ele me guiou pela escada até chegarmos ao quarto. Viktor
abriu as portas duplas e me fez entrar, assim me deparei com um
ambiente grande e luxuoso com uma decoração masculina em tons
escuros. O quarto combinava perfeitamente com seu dono.
— Se quiser, pode redecorar todo o quarto ou a casa toda —
ele comunicou.
Nada disse, apenas olhava para tudo assustada.
— A deixarei por alguns minutos para se familiarizar. Não
fique nervosa, anjo, saberei cuidar de você.
Com isso, ele se afastou e saiu do recinto fechando as
portas, eu respirei várias vezes procurando buscar ar. Dei graças a
Deus por ele me dar alguns minutos.
Olhei em volta e me deparei com uma porta, que devia ser
do banheiro. Andei até lá e entrei. Decidi tirar os acessórios e os
sapatos. Desfiz o penteado, meu couro cabeludo estava dolorido.
Não poderia tirar o vestido sozinha, porque havia pequenos botões
que o fechava nas costas e não conseguia alcançar.
Voltei para o quarto e me sentei em uma das poltronas,
contorcia as mãos uma na outra. Por incrível que pareça, não tive
nenhuma crise de asma, geralmente quando ficava nervosa minha
garganta fechava. De qualquer maneira, borrifei um pouco de
remédio.
A porta abriu-se, ele entrou, havia trocado de roupa, na
verdade usava um robe negro. Meu coração disparou. Ele
aproximou-se de um móvel e ligou o som, uma música sombria com
acordes de piano começou a tocar no ambiente.
— Venha para a cama, linda esposa.
As palavras dele me assustaram, eu não pude evitar o frio
que atravessou meu corpo, queria me concentrar e tentar sentir
alguma coisa, mas o medo e a repulsa apoderaram-se de mim. Ele
pegou em meus pulsos e me fez levantar, acompanhei-o até a
cama, minhas pernas pareciam de chumbo.
— Viktor, eu...
— Shhh...
Ele me virou de costas e afastou os cabelos o jogando por
sobre um dos ombros, em seguida beijou a base do pescoço
suavemente, fechei os olhos e me arrepiei da raiz dos cabelos até
as pontas dos dedos do pé.
Enquanto me beijava, abria os botões do vestido. Ao
terminar, levou as mãos ao meu ombro e deslizou o vestido tirando-
o do meu corpo. Fiquei apenas de calcinha e sutiã.
Ele me fez virar de frente e se afastou contemplando meu
corpo, sentia-me envergonhada, meu corpo não era feio, mas
também não era cheio de curvas, pelo contrário, tinha seios
pequenos demais e uma cintura delgada, porém com pouco quadril.
— Linda — elogiou-me, rouco.
Viktor continuou me despindo, deslizou as mãos no fecho do
sutiã liberando meus pequenos seios, sentia-me exposta, queria me
cobrir, mas meus músculos estavam tensos, não conseguia me
mover. Então, ele espalmou as mãos grandes nos mamilos e os
cobriu por inteiro, nunca havia sido tocada tão intimamente por
ninguém. Estava com medo, aterrorizada na verdade.
— Perfeitos — sussurrou.
Não sei se ele falava aquelas coisas somente para me
agradar ou me deixar relaxada. De qualquer maneira, não estava
surtindo efeito, eu estava quase tendo um colapso nervoso.
Seu próximo passo foi tomar meus lábios em um beijo macio,
sensual, lento, ele passava a língua em minha boca suavemente.
Enquanto fazia isso, me fez deitar na cama, senti a frieza do cetim
em minhas costas. Aquele corpo enorme cobriu-me. Meu coração
martelava na minha garganta, o sangue em meu corpo bombeava
rapidamente e não era de desejo sexual, muito pelo contrário, eu só
queria sair e não deixar ele me possuir, não estava pronta para isso,
no entanto, que argumentos poderia usar para me livrar?
— Relaxa!
— Viktor, eu não estou pronta, gostaria que me desse mais
tempo.
Ele levantou-se e ajoelhou na cama, eu também me sentei
me encostando na cabeceira e tentando esconder meus seios com
os braços. Encarei-o e me arrependi de fazê-lo; assim que o fitei,
seus olhos, estavam vermelhos, como duas chamas
incandescentes, seu rosto era uma máscara de raiva, engoli em
seco, estava em frente ao próprio demônio.
— Catharine, não torne essa experiência ruim para você.
Ele abriu o robe e seu tórax e peito musculoso ficaram à
mostra, fiquei paralisada, mas o que me deixou em choque foi seu
membro enorme apontado para mim. Aquele músculo rochoso
encoberto com veias salientes era algo novo, nunca vi um homem
nu em toda a minha vida. Ele levou uma das mãos no pênis e o
segurou.
— Nunca deixe seu marido desse jeito e se recuse a saciá-
lo, não quero te machucar hoje, mas o farei se, da próxima vez, abrir
essa linda boquinha para se recusar a dar o que é meu.
Entrei em pânico, claramente estava ameaçando me
machucar. Ele aproximou-se de mim e me abraçou.
— Você está preparada para mim, assim como estou
preparado para você. Não faça isso, não sabe com quem está
mexendo.
O beijo que ele me deu já não era terno como antes, mas
exigente, sua língua buscava a minha querendo uma resposta, seus
lábios encobriam os meus em uma posse molhada e erótica. Sua
pélvis forçava a minha, senti seu pênis sobre a renda da calcinha.
Sua boca me deixou e desceu na linha do meu pescoço
deixando uma trilha do seu hálito morno, levei um susto quando sua
língua rolou em meus mamilos. Engasguei e senti minha garganta
fechar, porém não entrei em crise, o que era estranho.
Meu estômago parecia uma montanha-russa, minha
respiração acelerou até eu ficar ofegante quando ele deslizou minha
calcinha me fazendo ficar completamente nua. Senti o frescor na
minha intimidade assim que ele afastou minhas pernas abrindo-as.
Sua língua deslizou em minhas dobras, eu estava seca, mas sua
saliva fez o trabalho de deixá-la lubrificada.
— Como você é linda e doce.
Senti a ponta do seu pênis deslizar em minha entrada, eu
queria fechar as pernas, mas não podia, não podia deixá-lo
zangado. Ele deitou-se sobre mim e murmurou:
— A farei minha e te mostrarei a quem pertence.
Ele buscou meu calor envolvente e pressionou seu pau em
meu núcleo, fechei os olhos antecipando o momento que ele
introduziria aquilo em mim.
Quando empurrou duro contra a minha suavidade, eu abafei
um grito de dor; aquilo doía muito, como se estivesse entrando
brasa em mim. Viktor começou a empurrar para a frente e para trás,
a dor era tamanha que comecei a chorar e espalmei minhas mãos
em seu peito o empurrando. Ele segurou nos meus pulsos e os
prendeu com força.
— Está me machucando — choraminguei.
Ele não me deu atenção e continuou se lançando sobre mim
com seu corpo grande e seu comprimento petrificado me possuindo
e roubando minha inocência para sempre.
Não soube o que aconteceu, mas sentia como se houvesse
chamas incandescentes em volta de nós.
Viktor colidiu seus lábios contra os meus, enquanto
mergulhou cada vez mais dentro de mim. Ele não parou de
empurrar seu corpo até que seu torço ficou rígido e ele rugiu quando
atingiu seu clímax. Senti-o enchendo meu corpo com sua secreção
e, em seguida, desmoronou em cima de mim, beijando meu
pescoço, movendo seus quadris até liberar o último pingo do seu
sêmen. Eu fiquei parada, não sentia absolutamente nada a não ser
dor.
— Melhor do que imaginei — murmurou ofegante.
Aquela experiência não foi boa para mim, na verdade foi
horrível, mas fiquei feliz por ter acabado, talvez não fosse tão ruim
na próxima vez. Estremeci só de pensar que teria que fazer isso de
novo.

Voltei ao presente, aquela foi a primeira noite de muitas,


onde em nenhuma delas consegui sentir prazer com ele e esse fato
não abalara em nada Viktor Russell, nossa vida sexual só era
prazerosa para ele.
Levantei-me do sofá e entrei no banheiro para tomar um
banho quente. Ao finalizar, deitei-me e apaguei o abajur.
Lá fora, um carro negro moveu-se ao perceber a escuridão
do seu quarto.
Uma semana para ela ser capturada...

Andava apresada no corredor do hospital, meu coração batia


acelerado, fazia uma pequena prece mentalmente para que tudo
estivesse bem com ele. Cheguei à área de espera e vi a Sra. Pérez.
Assim que me viu, correu em minha direção.
— Mia, ele está muito mal — disse nervosa.
— O que aconteceu, Sra. Pérez?
— Ele foi atacado, bateram muito nele e o deixaram
desacordado.
— Quem fez isso e por quê?
— Eu não sei, Mia, a polícia disse que foi um acerto de
contas, mas o Ramon não tem inimigos. Você o conhece, ele
sempre é gentil com todos, somente trabalha e, às vezes, sai com
amigos.
— Ele ficará bem, Sra. Pérez, eu tenho certeza disso.
— Mia, por que fizeram isso com o meu menino?
Abracei-a forte e a consolei, ela estava em prantos e eu com
o coração apertado e um medo incomum. Um calafrio passou por
todo o meu corpo, em uma sensação de impotência. Não sabia o
que pensar.
“Quem faria uma coisa dessas com o Ramon? Será...? Não!
Não pode ser, não pode ser!”, repeti mentalmente.
Ele não foi assaltado, nem ao menos levaram o carro ou
qualquer outro pertence, então o ataque não foi feito por ladrões,
como a Sra. Pérez afirmou. Ramon não tinha inimigos e nunca foi
ameaçado.
Minha cabeça não parava de pensar, eu imaginava várias
possibilidades, mas me recusava a pensar que poderia ser ELE.
Não queria nem pronunciar seu nome, nem mentalmente, tinha
medo só de imaginar que ele pudesse ter me encontrado e
machucou o Ramon somente como um aviso. Ele sabia fazer essas
coisas: amedrontar, manipular, articular maldades. Era um psicopata
e não tinha dúvidas de que poderia fazer isso.
Engoli em seco, eu tinha certeza de que a polícia nos daria
um parecer e diria que talvez Ramon tivesse sido confundido com
alguém ou algo assim. Era o que meu coração pedia a todo
momento.
— Senhora Pérez? — o médico a chamou.
Ela foi ao encontro dele correndo e eu fui atrás.
— Como está o meu filho?
— Ele está estável. Apesar da gravidade do ataque, as
pessoas que o atacaram não queriam matá-lo, pois os golpes foram
dados em lugares específicos, evitaram regiões mais sensíveis
como cabeça e abdome, porém os membros superiores e inferiores
foram bastante atingidos, os dois braços foram quebrados e as
pernas também e no rosto somente houve alguns cortes com
navalha. Eu tenho a impressão de que queriam dar algum tipo de
aviso.
— Eu posso vê-lo?
— Sim, mas, por favor, ele está muito machucado e inchado,
por isso peço que não entre em desespero ao vê-lo. O pior já
passou, não tem mais risco de morte, mas está sedado, por esse
motivo dorme profundamente. Ficará assim por uns dias.
— Ele ficará com cicatrizes no rosto?
— Infelizmente sim, os cortes foram profundos.
— Eu também posso ir, doutor? — perguntei.
— Sim, claro, se a Sra. Pérez permitir. Você é a namorada
dele?
— Não... Sou como uma irmã.
— Mia pode vir comigo e está autorizada a visitá-lo quando
quiser.
— Muito bem, estão prontas? A enfermeira as levará para o
quarto dele.
Seguimos a mulher, minhas pernas estavam bambas,
parecia que iria cair de tão nervosa que estava, aquilo era um
pesadelo. Ramon não merecia isso.
Entramos no quarto, os únicos sons eram dos barulhos dos
aparelhos médicos. A Sra. Pérez aproximou-se do leito e falou com
voz chorosa de cortar o coração:
— O que fizeram com você, meu menino?
Ramon estava com os braços e as pernas enfaixados e o
rosto com curativos, percebia-se a volta dos olhos enegrecidos e
inchadas por causa dos cortes. Meu coração ficou do tamanho de
uma semente de mostarda, uma angústia e medo apoderaram-se de
mim. Respirei fundo para conter as lágrimas e não deixar a garganta
fechar. Respirando com chiado no peito, falei com a voz
entrecortada:
— Sinto muito, Sra. Pérez.
— Você está bem? — perguntou percebendo meu alarde.
— Sim, eu... eu...
Não consegui falar, a Sra. Pérez me abraçou e ficamos
assim por alguns minutos.
Depois de um tempo, fomos para a casa da Sra. Pérez,
decidi dormir com ela aquela noite para lhe fazer companhia. Na
cama pensava sobre o que havia acontecido com Ramon. Eu tinha
certeza de que isso foi coisa dele, só podia ser. Quem mais faria
isso com ele? Percebi que eu era um risco para eles, precisava me
afastar, ir embora, não só pela minha segurança, mas por eles. Sei
que magoarei a Sra. Pérez indo embora sem avisar, mas se ele
estiver por perto é capaz de fazer algo pior. Arrepiei-me só de
imaginar.
Vou esperar alguns dias para planejar tudo, por enquanto
agirei normal, não quero que a Sra. Pérez perceba que isso pode ter
sido feito pelo meu ex-marido. Também esperarei a posição da
polícia, pode ser que eles descubram que foi algum motivo que não
tenha nada a ver com o Viktor, assim não precisarei ir embora.
Tentei dormir, mas apenas cochilei, logo o sol nasceu e me
levantei, não conseguiria ficar mais na cama. Fui para a cozinha,
onde a Sra. Pérez preparava um café.
— Bom dia, Mia.
— Bom dia. Como está?
— Não consegui dormir muito bem.
— Eu também não.
— Irei para o hospital após o café da manhã.
— Ficarei aqui no escritório.
— Obrigada, Mia, não sei o que seria da minha vida sem
você.
— Eu que agradeço.
— A polícia virá aqui hoje. Se eles fizerem algumas
perguntas, não se preocupe, é preciso investigar.
— Tudo bem.
— Eles falaram que tudo indica que foi um acerto de contas,
Ramon arrumou confusão com alguém e não nos contou.
— A senhora acredita nisso?
— Não sei, minha filha, Ramon não é de se meter em
encrencas, nunca aconteceu antes, mas pode ser que, dessa vez,
ele tenha se metido com gente barra pesada, só assim para ter
alguma explicação no que aconteceu.
Fiquei em silêncio ponderando aquelas informações, eu não
acreditava que Ramon tivesse se envolvido com essas pessoas e
tinha certeza de que a polícia encontraria uma explicação para o
que aconteceu.
— Irão fazer a perícia no carro dele hoje. — A Sra. Pérez
voltou a falar.
— E não encontrarão nada, Ramon é o cara mais honesto
que já conheci na vida.
— Sim, estou tranquila com relação a isso.
Comemos em silêncio. Quando terminamos, a Sra. Pérez
saiu e cuidei do Amendoim. Ela sempre mantinha a comida dele em
casa.
A manhã passou rapidamente, fiz minhas atividades
normalmente. Na hora do almoço estava sentada na frente do
computador, comendo um sanduíche enquanto trabalhava. Alguém
entrou e imediatamente levantei-me para receber, eram dois
policiais: uma mulher e um homem.
— Boa tarde.
— Boa tarde.
— Eu sou o detetive Miller e essa é a detetive Costas,
viemos para lhe fazer algumas perguntas com relação ao caso do
Sr. Ramon Pérez.
— Pois não, queiram se sentar.
— Não é necessário, não ficaremos muito.
O homem pegou um bloco de notas e começou as
perguntas:
— Seu nome completo por favor.
— Mia Stuart.
— Há quanto tempo conhece o senhor Ramon?
— Pouco mais de um ano.
— Qual sua relação com ele?
— De amigos, somos quase irmãos. Morei aqui na casa da
Sra. Pérez desde que me mudei para cá.
— O senhor Ramon tinha algum inimigo, recebeu alguma
ameaça?
— Não que eu saiba.
— Ele tinha contato com drogas?
— Não.
— A senhorita conhece alguém que poderia ser uma ameaça
para ele?
Nesse momento pensei no Viktor, eu poderia falar para a
polícia sobre a minha desconfiança, mas isso os levaria a ele e,
consequentemente, ele me encontraria. Porém, se eu ficasse quieta,
estaria omitindo um fato importante. Estava em um beco sem saída
e não sabia o que fazer. O detetive me encarava desconfiado, até
que a Costas falou:
— Se tem alguma coisa para nos contar, preciso que fale
agora, qualquer coisa pode nos ajudar.
— Eu não tenho mais nada a dizer, sinto muito.
— Tem certeza, senhorita?
— Sim.
Senti-me uma covarde por não falar nada, mas meu pânico
era maior. Miller terminou de fazer as anotações e falou:
— Tudo bem, acho que isso é tudo, em poucos dias
esperamos ter algum resultado.
— Obrigada.
Nesse momento, o rádio do homem apitou e ele atendeu:
— Detetive Miller.
— Preciso que retorne ao departamento de polícia
imediatamente, foi encontrado entorpecentes em grandes
quantidades no carro da vítima Ramon Pérez. — Uma voz no rádio
falou:
O policial olhou em minha direção, eu não entendia o que
estava acontecendo. Miller falou:
— Entendido, estamos a caminho.
O policial desligou. Olhou para mim e comunicou:
— Parece que o senhor Ramon estava envolvido com
drogas.
— Não é possível.
— Iremos averiguar, mas foi encontrado drogas no carro
dele.
— Meu Deus!
— De qualquer maneira, peço que não saia do estado sem o
nosso conhecimento, todos estarão sob investigação.
— Tudo bem.
— Com licença.
Quando os policiais saíram, eu desabei na cadeira. Era
inacreditável Ramon envolvido com drogas.
Uma hora depois, a Sra. Pérez retornou muito triste.
— Eles encontraram drogas no carro do Ramon, os policiais
irão indiciá-lo por tráfico de drogas, assim que ele sair do hospital,
irá para a cadeia.
Abracei-a e a acalentei, ela estava em prantos, não era
possível que Ramon fosse envolvido com essas coisas. Ele tinha
um ótimo trabalho, era uma pessoa tranquila, pacata, era
inexplicável.
— Eu não entendo, Mia, o Ramon nunca se envolveu com
essas coisas. Você acredita, não é?
— Claro que acredito, tudo será esclarecido quando ele se
recuperar, tenho certeza de que ele é inocente.
— Ele tem que ter uma explicação para isso, caso contrário,
irá preso.
Ela intensificou o choro e eu apenas a abracei.
Dois dias depois, Ramon acordou, ele não sabia dizer o que
tinha acontecido, apenas disse que um carro o fechou e dois
homens desceram já com as armas em punho. Um deles mandou
que entrasse no carro deles e o outro assumiu o carro do Ramon. O
levaram para um lugar e lá o espancaram. Depois disso não se
lembra de mais nada.
O inquérito policial foi concluído e Ramon estava sob
custódia do estado, algumas pessoas apareceram para depor e o
acusaram de ser um fornecedor de drogas. Ramon negou tudo, mas
não teve jeito, assim que se recuperasse iria para a cadeia. A Sra.
Pérez só chorava e eu estava arrasada.
Era uma sexta-feira, mais um dia de expediente terminou e
fui para casa. Assim que cheguei, percebi que tinha que ir ao
supermercado, deixei Amendoim em casa e fui caminhando, o
mercado era perto. Andava alheia a um carro preto parado na frente
do meu prédio.
Algumas minutos antes dela ser capturada...

Andei a passos rápidos, olhei para trás por várias vezes, era
sempre assim, o medo e a angústia me acompanhavam e esses
dias esses sentimentos aumentaram, talvez por tudo que aconteceu
com Ramon. O pobrezinho além de estar machucado ainda iria para
a cadeia, sem direito a fiança.
Aquilo tudo parecia irreal, jamais pensei que ele fosse metido
com drogas, mas ainda acreditava que era inocente, estava
achando que alguém implantou aquilo no carro dele para incriminá-
lo, contudo, a polícia foi inflexível com relação a esse caso, porque
eles já o condenaram. A polícia podia até achar que o caso foi
esclarecido, no entanto eu ainda achava que ele era inocente e
estavam tentando fazê-lo ir preso. Agora quem faria uma coisa
dessas? Essa era a grande incógnita.
Pressionei a sacola de compras entre os dedos, apertei os
passos. A noite estava fria, usava um casaco, porém ainda sentia
calafrios.
Entrei no prédio e segui para o elevador, senti-me mais
protegida e me acalmei. Cheguei ao meu andar e rapidamente fui
até a porta do meu apartamento, respirei aliviada, senti-me segura.
Abri a porta e esperei Amendoim, correndo abanando seu
rabo e pulando em volta de mim. Estranhei por não o ver, entrei no
hall com um sorriso, tirei o casaco e pendurei no gancho.
— Amendoim, cadê meu garotinho?
Nada, franzi a testa.
“Será que ele está doente ou algo assim?”, pensei
preocupada. Andei em direção à cozinha.
— Amendoim.
À medida que fui andando, vi algumas marcas vermelhas no
chão, fiquei assustada, parecia sangue. Entrei em pânico, alguma
coisa aconteceu com Amendoim. Andei com passos vacilantes, e
quanto mais me aproximava da cozinha, mais horrorizada ficava,
para todo lado havia sangue, levei a mão à boca. Olhei em volta à
procura de Amendoim; quando o vi, meu estômago embrulhou. Ele
estava morto, a cabeça decapitada ao lado do corpinho.
— Oh, meu Deus!
Recuei em pânico, só um monstro faria uma coisa daquelas,
e eu soube quem foi. Uma música sinistra começou a tocar, meu
coração parou de bater por alguns segundos, apertei os olhos em
pânico.
— Não! — falei incrédula.
— Oi, anjo.
Abri os olhos, meu corpo arrepiou-se todo, minhas pernas
vacilaram, meu coração palpitou descompassado. Ouvi sua voz
poderosa em minhas costas. Deus! Era ele, meu algoz, meu
pesadelo, meu marido.
Eu queria correr, gritar, espernear, mas não conseguia, o
medo me fez paralisou. Ouvi seus passos aproximar-se lentamente,
já senti seu perfume inebriante, sua masculinidade, seu poder. Não
conseguirei lutar contra ele, nunca consegui.
Senti seus braços poderosos fechar em minha cintura, seu
rosto em meus cabelos. Ele suspirou inalando o perfume. Deslizou
os lábios até o meu ouvido e murmurou:
— Quanto tempo, anjo! Estava com saudades de mim?
Eu não consegui falar nada, meu pânico era palpável, eu
estava nas mãos dele de novo. Não! Eu preferia morrer a voltar para
ele. Diante do meu silêncio, ele disse:
— Pensei que estivesse mais corajosa, anjo, já que teve a
ousadia de fugir de mim.
— Por favor, Viktor... — Minha voz saiu trêmula e
entrecortada.
— Ahhh! Como é bom ouvir sua voz, linda e suplicante de
medo novamente, meu anjo.
Sua voz diabólica entrou em meus ouvidos e passou por
toda a minha carne, como se a estivesse dilacerando. Meu coração
pararia de bater antes que esse homem fizesse alguma coisa. Isso
era tudo que pensava. Nunca senti um medo assim antes; das
outras vezes, eu sentia medo, mas não como agora. Não me
lembrava do meu coração bater tanto como estava agora.
Meu hálito quente me fez sentir fraca quando tentei respirar
firmemente, tinha que tentar convencê-lo a me deixar, não podia
voltar para ele, tinha que ser esperta. Eu queria correr, na verdade
queria ter coragem de atingi-lo com algo, no entanto estava
aterrorizada.
— Viktor, acho que podemos conversar, já se passou tanto
tempo...
— Sim, muito tempo e uma boa parte achando que minha
esposa estava morta.
Minha garganta parecia que tinha um caroço enorme quando
eu engolia e a saliva descia arranhando, surpreendi-me por ainda
não ter tido uma crise de asma. Ouvir sua voz já era suficiente para
me deixar desnorteada, paralisada de medo.
Como tinha imaginado, ele pensou que eu havia morrido, por
isso consegui me esconder por tanto tempo. Mas agora teria que
voltar para ele, porém não o faria, eu não podia viver com um
homem que me maltratava desde os primeiros dias do nosso
casamento, que me subjugava e ameaçava, não voltaria para
aquela vida.
Reunindo o pouco de coragem que eu tinha, virei-me para
ele e o encarei. Fiquei mais pálida ao ler o que vi em suas órbitas.
Seus olhos estavam em um azul pálido, eles não eram calorosos,
simpáticos, compreensivos, mas intensos, aterrorizantes,
flamejantes, olhos de um homem possuído, raivoso e mortal.
Ele me avaliava também, a maneira como me olhava me
fazia sentir calafrios, como se ele pudesse entrar dentro do meu
corpo e arrancar minha alma. Precisava manter a calma para lidar
com ele, consegui dar dois passos para trás.
— Viktor, acho que não podemos continuar, eu decidi ir
embora, sei que errei por deixá-lo pensar que havia morrido...
Parei de falar quando observei que ele se aproximou de mim
em passos lentos, parou ficando a uma distância perigosa, quase
me tocando. Ainda não entendia de onde tirei forças para discutir
com ele.
— Eu sei que está zangado — falei em um fio de voz.
— Não estou zangado com você — murmurou como se
fosse um leopardo observando sua presa.
Eu estava estupefata, não esperava que me dissesse isso,
com certeza estava fazendo algum jogo, ele era mestre em fazer
jogos mentais e me deixar confusa.
Ele estendeu a mão grande e deslizou os dedos em alguns
fios de cabelo. O toque era suave, mas em vez de me deixar
tranquila me deixava mais apavorada. Sentia como se o oxigênio do
local fosse acabar, mesmo assim, não me afastei, não consegui, as
lágrimas que tanto segurei escorreram em minhas bochechas.
— Tão linda, do jeito que a imaginei — falou com uma voz
baixa, contida. — Sonhei com esse momento em que tocaria em
você novamente.
Seus dedos deslizaram lentamente por minhas bochechas,
até o meu pescoço. Em seguida subiu em meu queixo e segurou ali,
sua mão se fechou e apertou. À medida que ele esmagava os ossos
da minha mandíbula delicada, seu rosto se transformava, sua pele
cor de oliva tornou-se uma coloração avermelhada, seus olhos
tornaram-se escuros. Ele praticamente me suspendeu pelo queixo
usando apenas uma das mãos e me trouxe para junto do seu rosto.
— Você sabe como as coisas funcionam. Sairá daqui comigo
e entrará no carro, sem fazer nenhum gesto contrário e muito menos
falar qualquer coisa.
Ele me soltou e fiz a única coisa que poderia fazer, dobrei os
joelhos e o atingi entre a virilha, ele se afastou um pouco, mais em
surpresa do que de dor. Eu não podia parar, precisava correr e com
toda velocidade tentei alcançar a porta, no entanto, meu pequeno
ato de coragem foi bloqueado quando ele me alcançou, pegou em
meus braços, sem piedade me lançou longe. Caí quase perto do
corpinho do Amendoim.
Meu peito chiou e minha garganta fechou, não conseguia
respirar, levei as mãos desesperadas no bolso da calça buscando
minha bombinha. Viktor abaixou-se e a pegou primeiro, ele segurou
a uma distância de mim.
— Precisa disso? — perguntou com uma expressão cruel.
Não conseguia falar, parecia que havia uma corda no meu
pescoço me apertando, ele me deixaria morrer, se não conseguisse
abrir as vias respiratórias o pouco resquício de ar que ainda restava
em mim acabaria.
— Não, minha linda e adorável esposa, não a deixarei
morrer. Seria uma pena permitir que morra tão facilmente.
Ele então introduziu a bombinha em minha boca e borrifou
várias vezes, ainda não conseguia respirar totalmente, mas o
remédio abriu as vias respiratórias e com muita dificuldade busquei
ar. Eu estava muito fraca para conseguir lutar.
Sem gentileza, ele me levantou nos braços e me levou para
o carro. Meu corpo estava trêmulo e dolorido, meu peito pesado
pelo esforço de tentar respirar. Senti o macio do couro do carro e
ouvi as batidas das portas, eu estava nas mãos dele de novo e, pelo
pouco que demonstrou, minha vida seria um inferno, até mais de
como era antes.
Encolhi-me no canto do banco, Viktor sentou-se do meu lado,
sentia sua presença poderosa e seu perfume característico. Nunca
gostei daquele cheiro, aliás, tudo nele me enjoava e causava
repúdio.
O carro moveu-se, me levando para onde? Para a casa em
Chicago? Só de pensar naquela prisão luxuosa me dava calafrios.
Meu Deus! Consegui viver longe disso por um ano e em menos de
um minuto ele me capturou, não era justo.
O silêncio era pesado, ele parecia que não queria falar muito,
Viktor sempre foi assim, ele não era de falar, mas de agir. Às vezes,
eu apanhava sem ao menos saber o porquê. Não queria voltar para
aquela vida, precisava fazer algo para me livrar. Mas quais eram as
minhas chances? Nenhuma. Além da presença intimidadora do
Viktor, havia os seguranças, percebi por alto que só no carro havia
dois e tinha certeza de que havia mais fazendo a escolta.
Jamais o poderoso Viktor Russell andava por aí sem ao
menos quatro brutamontes ao seu redor. As pessoas imaginavam
que, por ser rico, precisava se proteger de um suposto sequestro,
ou algo assim. Mal sabiam que ele era o mandante da maioria dos
crimes que cercavam Chicago. Os seguranças não estavam ali
somente para proteger sua integridade física, mas para agirem em
um só comando qualquer coisa que ele precisasse como líder de
uma organização criminosa que controlava o governo e as
autoridades de Chicago. Ele tinha a cidade em suas mãos.
E o que eu sou nisso tudo? A esposa troféu, a mocinha da
alta sociedade com um sobrenome respeitado, que foi criada para
não pensar, não protestar e aceitar tudo de cabeça baixa. Era
exatamente isso que Viktor precisava para consolidar de vez sua
presença na alta sociedade. Não sabia a história de como ele
conseguiu a sua fortuna, mas o pouco que ouvi aqui e ali, ele veio
das ruas de Chicago, acreditava que desde cedo o mundo do crime
fez parte da sua vida.
O carro chegou em uma pista de pouso privada, Viktor
desceu e me ajudou a sair do veículo, sua mão grande me segurou
com firmeza. Eu estava tão apavorada que minhas pernas pareciam
de gelatina, praticamente não conseguia me manter de pé. Olhei em
volta e observei um jato preto e dourado com o logo do Viktor. Ele
me fez subir os degraus, parecia que estava indo para a forca,
tamanha era a minha vontade de não entrar naquele avião.
Uma aeromoça impecável nos recebeu com toalhas quentes
e champanhe. Eu peguei a toalha quente antes que entrasse em um
colapso, minhas mãos estavam um gelo de tão nervosa. Viktor me
conduziu até uma das poltronas luxuosas. Sentei-me e apertei a
toalha nas mãos. O interior do avião era luxuoso, o que não me
surpreendeu, porque já conhecia toda aquela riqueza. Talvez a
maioria das pessoas ficassem impressionadas, mas só eu sabia que
tudo aquilo era apenas uma prisão luxuosa.
Uma pressão pesada em meu peito tornou difícil a
respiração. Fechei os olhos e me encostei na janela, tentei controlar
aquele mal-estar respirando fundo várias vezes, até me sentir
melhor. Abri os olhos e senti o impacto de seu olhar. Ele estava
sentado à minha frente, observando-me com sua feição impassível.
— Coloque o cinto, partiremos em alguns minutos.
Fiz o que ele mandou com as mãos trêmulas, ele também se
ajeitou e o piloto avisou no alto-falante que já havia recebido
autorização da torre de comando e que voariam dentro de um
minuto.
Em pouco tempo estava no ar, deixando para trás aquele
lugar que me recebeu tão bem. Um lugar que vivi a melhor fase da
minha vida. Abandonei amigos de verdade, a Sra. Pérez. Um
calafrio passou em minha espinha. Deus! Tinha certeza de que foi o
Viktor que mandou atacar o Ramon, não tinha dúvidas sobre isso,
tudo fazia sentido agora.
— Por quê? — perguntei em voz baixa.
— Quer uma resposta sobre o quê? — perguntou hostil.
— Você mandou atacar o Ramon?
Ele pegou uma bebida que a aeromoça lhe serviu e solveu
antes de responder enigmático:
— Apenas mandei que fizessem um carinho nele, seu
sofrimento está apenas começando.
Arregalei os olhos e tentei processar aquela informação. Ele
pretende machucá-lo ainda mais?
— Viktor, ele não tem nada a ver comigo, nenhum deles
sabem nada sobre a minha vida, são pessoas inocentes. Deixe-os
em paz.
— Catharine, minha querida, mas você não entende que os
machucarei somente por você. Os farei sofrer somente para que
você sinta o que causou ao me desafiar.
— Não!
— A essa altura, seu precioso Ramon receberá um
tratamento VIP na prisão e sua querida mãezinha será tratada muito
bem em um dos meus alojamentos. Em breve, você os verá; por
ora, só quero que imagine o sofrimento deles.
— Por favor, Viktor, não faça isso.
Ele levantou-se e aproximou-se de mim, debruçou em minha
cadeira e chegou seu rosto próximo ao meu ouvido, podia sentir seu
hálito quente e o aroma de whisky que estava bebendo.
— Isso é só o começo, querida esposa. Bem-vinda de volta
ao meu mundo.
Ele segurou meu rosto com as duas mãos e apertou.
— Fugir de mim foi o pior erro da sua vida. Você jamais
escapará de mim novamente e, de uma vez por todas, entenderá o
que é ser esposa de Viktor Russell.
Um ano atrás...

Observei-a sério, ela estava conversando com uma dessas


mulheres enfadonhas da alta sociedade. Era uma excelente anfitriã,
recebia muito bem meus convidados, porém sabia exatamente
como agir. Se fizesse algo que me desagradasse, quando
chegássemos em casa a poria em seu lugar.
Pressentindo meu olhar sobre ela, virou-se e observou o
local com os olhos até me encontrar. Ao me ver, sorriu timidamente.
Mantive o meu olhar ameaçador, ela fechou o sorriso e abaixou o
rosto. Pela sua expressão, já imaginou o que fez de errado, se
cometeu algum deslize que me aborreceu, no entanto, nada
aconteceu, mas gostava de deixá-la alarmada, imaginando o que a
esperava ao retornarmos para casa.
Dei um gole na bebida e imaginei o que vamos fazer hoje à
noite, muito sexo selvagem, irei fodê-la até o amanhecer. Adorava
comer essa garota, ela me deixava com um tesão da porra. Trepava
com ela desde que nos casamos sem interrupção, ela não
menstruava, a fazia tomar anticoncepcional sem intervalos para que
isso não acontecesse. Por esse motivo, fazíamos sexo todos os
dias. Se tinha alguma viagem a levava comigo, ela era minha
distração entre um intervalo e outro das reuniões intermináveis do
mundo corporativo.
Sua beleza estonteante me encantou desde o primeiro dia
que pus os olhos nela, ainda uma menina de longas tranças loiras
com seu vestido branco balançando em um parque. Ela tinha
apenas dez anos de idade, uma garotinha linda de pele alva. Eu já
era um homem feito, calejado pela vida, havia matado mais homens
que a quantidade de anos que ela tinha. Não senti desejo sexual por
ela, era apenas uma menina, mas eu tinha certeza de que seria
minha, eu precisava que ela fosse minha. Então, a partir daquele
dia, eu vivia minha vida sempre sabendo que um dia me casaria
com ela. Assim foi o início da minha obsessão.
Os anos foram passando, eu observava seu crescimento de
longe, às vezes parava meu carro a uma distância da escola dela e
a via saindo e entrando no carro com motorista, que sempre a
aguardava. A menina franzina foi crescendo e se transformou em
uma linha adolescente. Minha admiração foi tornando-se desejo, às
vezes sonhava com o dia que a possuiria.
Sabia todos os seus passos, acompanhava seus passeios, a
observava em seus momentos de lazer, ela sempre gostou de ficar
no parque sentada em um dos bancos. Adorava assistir a maneira
como ela lia, sempre absorta, um livro. Ela estava se tornando
impossível de resistir. Estudava a maneira como ela colocava os
cabelos atrás da orelha, sem parar de ler. Observava suas feições
mudarem conforme lia. Ela estava completamente alheia que eu
estava sempre à espreita, sondando-a, esperando-a tornar-se
mulher, minha mulher.
As mulheres que tinha em minha vida eram apenas para
esquentar minha cama, não era celibatário. Mesmo aguardando
meu anjinho crescer, tinha uma vida promíscua, muitas mulheres,
orgias e muito sexo.
Meus negócios no mundo do crime vinham de longa data.
Desde que ainda era um garoto, que nasceu na parte pobre da
cidade; pais drogados, que não davam a mínima para o filho. Cresci
rapidamente, não sentia nada pelos meus pais, aliás, não sentia
nada por ninguém, cresci para ser frio e calculista e consegui em
pouco tempo criar minha organização criminosa no submundo de
Chicago e me tornar um dos chefes mais perigosos do mundo do
crime.
Atualmente, eu governava todo o tráfico de drogas da cidade
de Chicago e do estado. Um dos aspectos mais importantes para a
minha organização, era manter a fachada de ser um membro
contribuinte da sociedade. Nenhum dos meus homens do alto
escalão, meus capitães – como chamava meus líderes – tinha
antecedentes criminais. Uma vez que um deles tivesse algum
envolvimento com a polícia e, consequentemente, uma ficha
criminal, se fosse solto e não tivesse traído a nossa lei de sempre
ficar calado sobre a nossa organização, desceria de cargo e se
tornaria soldado. Caso quebrasse a nossa lei, morreria, mesmo se
estivesse dentro da cadeia.
Esses homens eram advogados, políticos, jornalistas,
empresários, todos com ficha limpa, sem nenhum problema com a
polícia. Eu era o empresário poderoso, com ramificações em vários
negócios, tornei-me um dos homens mais ricos dos Estados Unidos
e ingressei na alta sociedade de Chicago, do país e até do mundo.
Havia sempre rumores sobre mim, mas nunca ninguém conseguiu
provar nada e nunca conseguirão, se alguém abrisse a boca ou
descobrisse alguma coisa, era calado para sempre.
O nome Viktor Russell se tornou o mais respeitado e temido
no mundo corporativo, porém, precisava consolidar de vez minha
posição e o casamento com Catharine seria perfeito, pois era de
família rica e seu sobrenome muito respeitado na alta sociedade.
Quando ela completou dezoito anos, comecei a planejar a
falência do pai dela. Assim, me aproximei do homem e com minhas
dicas ele foi se afundando em dívidas e, em poucos anos, sua
empresa estava em um abismo sem fim. Eu, como um bom
samaritano, ofereci um empréstimo para ajudá-lo, ele aceitou,
contudo, eu mexi meus pauzinhos para que ele não conseguisse
reerguer a fábrica de brinquedos e essa faliu. A dívida que ele tinha
comigo era tão alta, que nem se vendesse a casa e o prédio da
fábrica, conseguiria me pagar. Quando fui cobrar meu dinheiro, fiz
questão de fazê-lo saber quem eu era e do que era capaz.
Então, quando lancei minha proposta, ele aceitou
imediatamente, até percebi que parecia aliviado. Começou a me
falar sobre a filha e eu apenas o cortei e comuniquei que eu já sabia
tudo sobre ela e sobre sua família e que, se não dançassem
conforme minha música, não veriam mais o sol nascer.
Havia chegado o momento de me casar com Catharine. A
esperei por longos treze anos, estava na hora de tomar o que era
meu.
Ela já estava pronta para mim, uma linda mulher, que seria
minha para sempre. Eu também já estava pronto para me casar, um
homem necessitava de uma mulher do seu lado, e Catharine era
perfeita para ser a esposa de Viktor Russell.
Agora estávamos casados havia seis meses, e cada vez
mais obcecado por ela, eu a controlava em todos os sentidos, ela
não dava um passo sem eu saber o que estava fazendo, até seus
pensamentos me pertenciam.
Percebi que ela saiu de perto das mulheres com quem
estava conversando e se aproximou de mim. Cautelosa, questionou
com uma voz baixa e medrosa:
— Tem alguma coisa errada?
— Não, o que estaria de errado?
— Eu não sei — respondeu baixo.
— Não sabe? Deveria saber — digo autoritário, somente
para aterrorizá-la.
— Viktor, eu... eu sinto muito se fiz alguma coisa que não o
agradou. — Juntou as mãos em súplica.
— Você sabe que um pedido de desculpas com essa vozinha
manhosa não me convence.
Ela me olhou com os lindos olhos azuis brilhantes marejados
de lágrimas. Catharine me deixava louco com esse chororô, ela
sabia que lágrimas não me comoviam, aliás, nada me comovia e ela
sabia disso.
— Se derramar uma única lágrima agora, revogarei a
decisão de não puni-la essa noite.
— Sinto muito — pede chorosa.
— Cale a boca, Catharine, você me irrita! — exclamei furioso
entredentes.
Ela manteve a cabeça baixa e contorceu as mãos de
nervoso, respirou fundo várias vezes até se recompor um pouco.
— Posso ir ao banheiro? — pediu.
— Vai.
Ela seguiu em direção ao local, acompanhei-a com os olhos,
nesse momento um homem se aproximou e puxou conversa.
Haviam se passado alguns minutos quando ouvi a explosão, o
barulho foi muito forte e o local onde estávamos estremeceu. As
pessoas começaram a entrar em pânico, quando houve uma
segunda explosão e uma parte do teto do salão de festas desabou.
O pânico estava instaurado, labaredas de fogo para todos os lados,
mas eu só pensava na Catharine. Corri para a direção dos
banheiros a chamando loucamente:
— Catharine, Catharine!
O fogo consumia tudo, estava muito quente, a fumaça já
entrava em minhas narinas e meus olhos ardiam. Não conseguia vê-
la em lugar nenhum, um dos meus homens aproximou-se e gritou:
— Chefe, temos que sair daqui, agora.
— Eu quero a minha mulher, CATHARINE! — gritei
desesperado.
— Não podemos ficar, ela pode ter saído do prédio.
Não tinha o que fazer, se não saísse morreria, o fogo
consumia tudo rapidamente.
Na rua a procurava entre as pessoas, a chamava, mas nada
dela. O hotel estava em chamas. Se ela não conseguiu sair, a essa
altura já estava morta. Olhava para as labaredas e não acreditava
que ela poderia estar lá dentro, sem vida, então gritei:
— CATHARINE! — Minha voz ecoou no caos.
***

Uma semana depois do incêndio...

Tamborilava meus dedos sobre o tampo da mesa de


carvalho do meu escritório, a minha volta, muitos jornais onde
notificaram a tragédia. Quinhentas e quatorze pessoas mortas, entre
convidados, hóspedes e funcionários. Foi considerada a maior
tragédia de incêndio da história de Chicago.
Muitos corpos estavam totalmente carbonizados, demoraria
meses para fazer a identificação de todos, por isso não saberei
rapidamente se Catharine estava entre as vítimas. A única coisa que
mandei foi que não noticiassem nada sobre ela. Queria ter certeza
de que realmente estava morta para oficialmente lançar uma nota
na imprensa.
Mas naquele momento havia outros assuntos para resolver.
As autoridades estavam investigando sobre o que causou o
incêndio, a hipótese foi de homem bomba, mas eu já sabia que foi
um ataque terrorista e eu estava agindo por conta própria para
pegar os responsáveis, meus homens iriam até o inferno encontrar
os filhos das putas que ordenaram atacarem ao meu hotel.
Os meses foram passando e a cada corpo que era
identificado, eu achava que era ela, mas nada. Comecei a
desconfiar que ela não estava dentro do hotel, então a única coisa
que poderia ter acontecido era ela ter aproveitado a situação e
fugido.
Comecei a amadurecer essa hipótese, confesso que isso
não me passou pela cabeça até agora, ela não teria tanta coragem
assim, não acreditava que faria uma coisa dessas, mas a cada
corpo que era identificado, mais certeza eu tinha de que ela não
estava entre as vítimas.
Nesse meio tempo, viajei para o Oriente Médio, meus
homens estavam na cola dos responsáveis do ataque ao meu hotel.
Fiquei um mês e conseguimos pegar o mandante, matamos
a todos, ao líder e toda a sua família e seus aliados. Estava vingado,
ainda de quebra dei os créditos para o governo americano, afinal de
contas foi um ataque terrorista nos Estados Unidos.
Haviam se passado seis meses quando o último corpo foi
identificado, das 280 pessoas que estavam carbonizadas, nenhuma
era ela. Ao mesmo tempo fiquei aliviado e em cólera, ela realmente
havia fugido de mim. Aquela certeza fez meu sangue ferver, ela teve
a ousadia de me deixar, fez exatamente o que eu temia.
A partir daí, iniciei a busca dela, iria encontrá-la nem que
fosse no céu, no inferno, no fim do mundo, mas a encontraria.
Demorou um mês para encontramos a primeira pista, alguém viu
uma mulher vestida da maneira que mostrei na foto entrando em um
táxi. O próximo passo foi encontrar o taxista. Havia milhares de táxis
na cidade de Chicago, não seria uma tarefa fácil, contudo, meus
homens não usavam métodos convencionais para descobrirem as
coisas, algumas semanas, encontramos o homem, ele contou que
levou uma mulher com as descrições dela para a rodoviária.
Na rodoviária, exigi que me mostrassem os vídeos de
segurança da noite do incêndio, porém o vídeo já havia saído dos
arquivos, então fui à caça das atendentes dos guichês que estavam
trabalhando aquela noite.
Em pouco tempo já havia a encontrado, a princípio ela não
queria falar nada, mas ela não sabia com quem estava lidando,
algumas ameaças e ela abriu a boca. Ela vendeu o bilhete para uma
mulher jovem sem identificação que se chamava Mia Stuart e, pela
descrição que a mulher deu, era ela.
Após descobrir que ela havia partido para Missouri, foi só
questão de algumas semanas até a encontrar, viva e muito bem.
Era um homem conhecido pela frieza em tratar as coisas, por
isso, apesar de querer capturá-la imediatamente, fiz tudo com
cuidado, queria descobrir tudo sobre sua nova vida, seus amigos e
as pessoas que a ajudaram, absolutamente tudo, inclusive se ela
teve algum relacionamento com alguém.
Só de imaginar que ela pudesse ter se entregado para outro
me tirava completamente do sério. Se eu descobrisse que ela fez
isso, a mataria, mas antes eu aproveitaria cada pedacinho dela.
Foi um mês a observando, seguindo cada passo dela.
Quando já havia descoberto tudo sobre sua nova vida, constatei que
durante esse tempo não houve nenhum namorado, mas isso não
me deixou tranquilo, queria ouvir dela essa confirmação.
Exatamente um ano depois de ter fugido de mim, ela estava
de novo em minhas mãos. Se ela pensou que sua vida era ruim
antes, agora seria pior.
Nas mãos do inimigo.

Estava apavorada, se pensei que iríamos para a mansão, me


enganei completamente, estava assustada olhando através da
janela do carro, o local parecia muito longe da civilização, o carro
subia uma região montanhosa, era tão alto que meu ouvido fazia
pressão.
Eu sabia que estávamos em Illinois, vi o aeroporto através da
janela assim que o avião taxiou. Segurava no braço da poltrona com
muita força, não queria sair daquele avião.
Impaciente, Viktor abriu meu cinto e praticamente me
arrastou, a porta do jato se abriu e segurei a respiração, meu medo
pelo que viria era algo incontrolável, eu tremia muito.
Desci as escadas praticante sendo arrastada pelo Viktor,
tropeçando nos degraus. Ele me colocou no banco atrás do carro e,
para a minha surpresa, sentou-se na frente com o motorista. Eu não
podia vê-los e nem ouvi-los, havia uma divisória. Os vidros do carro
eram escuros e blindados, porém eu conseguia ver tudo lá fora, mas
ninguém conseguia me ver, por isso pedir ajuda a algum transeunte
seria difícil. Forcei a maçaneta, mas, como já era de se esperar,
estava travada.
O carro moveu-se e em pouco tempo estava no trânsito
intenso, reconheci a cidade de Chicago, que logo ficou para trás.
Agora estava seguindo para o meu destino incerto. Não
sabia o que o Viktor planejava, a única certeza que tinha é de que
ele não teria misericórdia de mim. À medida que o carro subia, mais
aterrorizada ficava, não tinha a mínima ideia de que lugar era
aquele.
Percebi que o veículo entrou através de um portão e
chegamos a um pátio externo. Observei que havia vários guardas
armados patrulhando o local. Eles assemelhavam-se a agentes das
forças especiais, com roupas pretas, botas, luvas e óculos escuros.
Em suas mãos havia fuzis e nas cinturas pistolas. Percebi que eles
usavam escutas também.
Eu já sabia como era o esquema de segurança do Viktor,
mas na mansão eles eram discretos, no entanto, aqui, havia muitos.
Nunca soube se eles me vigiavam, o Viktor nunca me falou nada e
eu também nunca fiz qualquer coisa para testá-los; na verdade,
morria de medo de tudo aquilo que o Viktor representava.
O carro parou em uma entrada. Era uma casa, parecia
luxuosa, como todas as propriedades do Viktor, porém não
entramos, ele me guiou para uma entrada subterrânea. Andamos
em um corredor sombrio até uma porta de aço, ele destrancou e me
fez entrar. Não havia nada no cômodo, somente uma luminária que
pendia do teto. O local era frio, não havia janelas e as paredes eram
cinzas, assemelhava-se a uma caixa grande.
Olhei em volta quando percebi que ele se dirigiu a porta, sem
dizer uma palavra, ele saiu e trancou-a. Entrei em pânico, corri até
lá, bati gritando por ele:
— Viktor, não me deixa aqui, por favor!
Absolutamente nada, o local só fazia eco da minha voz.
Abracei-me, estava com frio, respirava pesado. Não consegui conter
as lágrimas, minha angústia só piorava a minha condição. Respirei
fundo buscando ar, levei as mãos no bolso e procurei a bombinha,
não a encontrei, lembrei-me de que ele ficou com meu remédio. Não
podia entrar em crise, se isso acontecesse, morreria. Então tentei
me acalmar, respirei fundo várias vezes e decidi me sentar no chão
encostada na parede.
Lágrimas não paravam de escorrer em meu rosto, eu estava
no mundo dele de novo, um mundo perigoso, onde poder, dinheiro e
violência sobressaíam, eu não queria fazer mais parte disso, não
queria ser a esposa submissa, vivendo em um relacionamento
abusivo, não só físico como psicológico, eu estava ficando doente,
paranoica, calculava todos os meus passos para que não fizesse
nada que o desagradasse. Não queria viver esse inferno
novamente.
O silêncio foi interrompido com o som de uma música
sombria, eu já conhecia aquela música e isso me fez intensificar o
choro. Todas as vezes que a gente transava, ele colocava a mesma
música, eu a odiava. Tapei os ouvidos e apertei os olhos, não
suportarei que me toque, só de pensar nisso me dava náuseas.
Ouvi a porta abrir-se, olhei apavorada aquela figura alta
entrando. Ele ainda estava com a mesma roupa, uma camisa
branca, um blazer e calça de brim pretos. Sapatos de couro italiano
brilhantes. Ele parecia tão grande, a visão do próprio diabo,
aterrorizante. Foquei em suas mãos enormes, lembrei-me das vezes
que as senti em meu rosto me estapeando ou me segurando com
força.
Levantei minha cabeça, precisava lhe pedir, lhe convencer,
implorar, o que fosse preciso fazer para que ele tivesse ao menos
um pingo de compaixão. Encarei-o fixamente, seu olhar era de um
homem em cólera, eles brilhavam intensamente. Meu coração
palpitava loucamente, poderia senti-lo em minha garganta. Ele
aproximou-se de mim, eu não desgrudava os olhos dele,
acompanhava seus movimentos com a respiração suspensa. Ele
abaixou-se onde eu estava, me encolhi mais ainda e desviei o olhar.
Sentia seu hálito quente em meu rosto, eu precisava ter
coragem, não podia deixá-lo me fazer mal.
— Viktor...
Não consegui terminar de falar, ele colocou um dedo nos
meus lábios me fazendo calar.
— Quietinha!
Meu coração martelava no peito, sua voz era fria e
controlada, não demonstrava suas emoções, mas eu já conhecia
esse jeito dele, sempre foi assim. Nada o fazia fugir do controle,
cada atitude era pensada e executada, sem um pingo de remorso
ou de compaixão.
— Deixou que alguém a tocasse?
Sua pergunta me pegou de surpresa, pisquei as pálpebras
algumas vezes, meu cérebro não processou bem a pergunta.
Aquela demonstração de posse dele sempre esteve presente em
nossa relação, mas era a primeira vez que senti um tom de
insegurança vindo de sua parte, ele tinha dúvidas se houve alguém
durante esse período que fiquei longe de sua presença. Poderia me
sentir em vantagem sobre isso, mas não me sentia, eu preferia que
ele soubesse que nunca houve ninguém.
— Não! — Minha voz saiu estrangulada.
— Nem mesmo o seu querido Ramon? — insistiu.
— Não! — enfatizei.
— Mas ele queria tê-la.
Percebi que não era uma pergunta, mas uma afirmação.
— Não houve ninguém, Viktor — reafirmei.
— Levanta! — ordenou e se levantou afastando-se alguns
passos de mim.
Para não o aborrecer, fiz o que ordenou imediatamente.
Estava trêmula, com muito medo. Levantei-me com dificuldade me
segurando na parede, encostei-me nela. O ar parecia escasso,
afastei meus lábios e puxei-o pela boca para os meus pulmões o
quanto eu podia.
— Tira a roupa, quero-a completamente nua.
O pânico apoderou-se de mim, olhava para ele incapaz de
combatê-lo, incapaz de me defender. Um caroço começou a se
formar na minha garganta querendo fechar minhas vias
respiratórias. Engoli várias vezes tentando desfazer aquela
sensação. Levei um susto quando ele lançou a bombinha sobre
mim.
— Não quero que tenha uma crise agora, Catharine —
avisou com sua voz cortante —, mas você sabe que isso nunca me
impediu de fazer o que quiser com você.
Abaixei-me e peguei o remédio, borrifei algumas vezes, não
estava em crise, mas por conta de toda a situação, contribuía para o
meu mal-estar. De fato, o Viktor nunca se importou com a minha
doença, ele nunca teve pena de mim quando entrava em crise, mas,
por incrível que pareça, era raro eu entrar em crise quando ele
estava me batendo ou me ameaçando de algum modo. Eu não sei,
mas parecia que desenvolvi algum autocontrole, talvez devia ser
algum mecanismo de defesa, o corpo entendia que, se eu ficar mais
debilitada diante do atraque, seria pior.
De qualquer maneira, sempre me sentia fraca e com
dificuldade de respirar, mas isso nunca o impediu de me agredir.
O local onde estava agora, não era apropriado para alguém
asmático; era frio, apesar de ser limpo, ele sabia disso. Manter-me
naquele ambiente contribuiria para o agravamento da doença. Eu
não era asmática em grau elevado, porém, depois que me casei
com ele, tive uma piora, por conta do estresse da relação e pelo fato
dele fumar em minha presença.
Nesse último ano longe dele, consegui me recuperar, apenas
com a bombinha era capaz de controlar a falta de ar. Agora já não
sabia o que seria de mim, pensava que ele queria me matar.
— Está esperando o quê para fazer o que eu mandei?
— Viktor, por favor.
Não tive tempo de falar mais nada, o tapa em meu rosto foi
tão forte que pensei que perderia os sentidos. Caí no chão, coloquei
a mão onde ele havia batido e me encolhi chorando copiosamente.
Ele se aproximou e agachou, falando baixo perto do meu ouvido:
— Tire a roupa agora!
Com as mãos trêmulas, sentei-me no chão e comecei a
despir-me. Levantei-me e tirei a calça. Por último as peças íntimas.
Fiquei de cabeça baixa, meus cabelos soltos tapavam meu rosto e
colo. Ouvi seus passos e intensifiquei o choro. Ele parou em frente a
mim e passou as mãos em meus braços, tirou os cabelos da frente
e me fez olhá-lo. Tentei desviar, mas ele me segurou firme.
— Olha para mim!
Levantei minha cabeça e nossos olhos se encontraram, sua
expressão era aborrecida, sobrancelhas juntas e a boca trincada em
uma linha fina. Ele escorregou os dedos no local que havia me
batido me causando dor, em seguida deslizou o polegar em meus
lábios trêmulos. Ele aproximou seu rosto do meu praticamente
encostando seus lábios nos meus e os acariciando.
— Se deixou que outro homem a tocasse, Catharine, te
matarei — sussurrou contra a minha boca com uma voz rouca.
— Não! — falei fraca. — Ninguém me tocou, por favor,
acredite-me.
Ele desceu sua mão em meu corpo e passou-a em minha
vagina.
— Você sabe que isso aqui é meu, não é?
— Sim.
— Mas você fugiu de mim, Catharine, eu te dei tudo e você
foi embora. Por que fez isso? Não era feliz?
Esse homem é louco! Como me faz uma pergunta dessa? Eu
era subjugada e espancada por esse psicopata e ele me perguntou
se eu era feliz?
Uma revolta cresceu dentro de mim e sem pensar tentei me
soltar de seus braços. Foi inútil, o gesto só o fez ficar mais zangado.
O segundo tapa foi pior que o outro, senti sangue escorrer do meu
nariz. Ele segurou meu maxilar com força e levantou minha cabeça,
sua ira transluzia em suas pupilas dilatadas. Ele vai me matar.
Minhas lágrimas escorriam sem controle e passavam por minha
boca misturando-se com o sangue. Podia sentir o gosto de
ferrugem.
— O que você merece, Catharine, por me privar de você
durante um ano, UM ANO, Catharine? — gritou as últimas palavras.
Eu estava em pânico, o medo corria por minha espinha
fazendo tremer todo meu corpo. Não conseguia falar, respirar ou
lutar.
Com fúria, ele me empurrou no chão, eu caí, ele subiu em
cima de mim e me prendeu com o corpo. Uma sequência de tapas
atingiu meu rosto de ambos os lados. Eu gritei e pedi, desesperada,
que ele parasse; mas quanto mais eu pedia, mais ele batia. Quando
pensei que não aguentaria mais, ele parou, levantou-se um pouco e
abriu as calças, eu não tinha forças para mais nada.
— Vamos ver o que eu perdi nesse último ano.
Ele abriu minhas pernas com violência e me penetrou, seu
autocontrole esvaiu-se de vez, seus olhos expressavam violência,
ele estava fazendo aquilo somente para me machucar. Seu único
propósito era o gozo físico, a liberação da energia e o prazer
pessoal.
A nossa relação íntima sempre foi assim, porém, apesar dele
ser enérgico no ato sexual e algumas vezes me machucar, nunca
me violentou. Eu nunca lhe disse não, nem quando me batia. Se ele
queria sexo, eu ficava quietinha e deixava ele fazer o que quisesse,
no entanto, dessa vez, era sexo punitivo, ele estava realmente me
machucando.
Seu quadril movia-se freneticamente, ele se lançava tão
violentamente dentro de mim, que tinha a impressão de que me
quebraria. O chão duro contra minhas costas e bunda contribuía
para o meu desconforto. Ele deitou-se sobre mim ainda me
penetrando violentamente e abraçou meu corpo fraco. Seus lábios
beijavam meu rosto, seu suor escorria por sua têmpora, ele falava
entre gemidos e sussurros:
— Senti tanto a sua falta.
Ele deslizou a boca de encontro a minha, porém virei o rosto.
Ele fechou ainda mais a expressão e segurou meus pulsos contra o
chão duro.
— Você é minha, Catharine, e lhe mostrarei isso da pior
maneira possível. Se achou que antes sua vida não era boa, agora
te dou as boas-vindas ao verdadeiro inferno.
Sua voz era letal, uma sentença clara do que seria minha
vida a partir de agora. Fechei meus olhos forte e pedi a Deus que
tudo acabasse logo. Aquilo parecia irreal, não era possível que
estava acontecendo, mas eu estava sendo violada pelo meu próprio
marido.
— Você sabe quantas vezes sonhei em te ter debaixo de
mim de novo?
Ele enterrou o rosto em meus cabelos, gemendo e
grunhindo.
— Você não escapará de mim uma segunda vez.
Balancei a cabeça tentando buscar ar; quando ele chegou
em seu clímax com um grito triunfante, senti toda sua secreção
preenchendo-me. Eu estava muito machucada, tanto intimamente
como fisicamente. Seu aperto em meu pulso afrouxou, enquanto ele
convulsionou de prazer.
— Ah! Anjo, meu anjinho está de volta, de volta para mim. —
Sua respiração era acelerada, sua voz rouca e jocosa.
Quando tudo acabou, ele saiu de dentro de mim e levantou-
se. Mantive minha cabeça de lado e os olhos fechados. Ouvi ele
ajeitando a roupa e a fivela do cinto sendo fechada. Senti-me suja,
violada e completamente machucada. Nunca em meu pior pesadelo,
pensei em passar por isso.
Percebi que ele se agachou próximo de mim, senti suas
mãos em meus cabelos puxando-os.
— Abre os olhos.
Abri-os e o encarei. Sua expressão fria voltou, ele estava em
seu autocontrole novamente.
— Aproveita suas acomodações, meu amor, acabou as
regalias e mordomias.
Com isso, soltou-me com vigor, andou até a porta e saiu.
Encolhi-me em forma de conchinha, estava tão debilitada que não
tinha forças nem para chorar. Uma náusea forte formou-se, não
consegui controlar e vomitei, meu corpo contorcia-se, liberando a
última gota de suco estomacal.
Com dificuldade, levantei-me e me arrastei até o canto do
cômodo, peguei a bombinha que estava no chão e borrifei na
garganta. Encolhi-me e fiquei parada, como uma estátua, sem saber
o que fazer, sem saber o que pensar. Aquela música sombria ainda
tocava; se eu a odiava antes, agora a abominava.
Suspirei longo e instável, havia uma dor horrível entre
minhas pernas, não queria me mover nunca mais, cobri meu rosto
com as mãos e gemi em repugnância. Uma dor aguda atingiu meu
coração, dentro de mim uma certeza martelava: por mais que
desejei que ele não me encontrasse, no fundo sabia que esse dia
chegaria. E aqui estou, nas mãos dele de novo, capturada pelo meu
marido e inimigo. Como ele disse, estou no inferno e não sei como
sair.
Meu corpo não parava de tremer, aquele lugar era muito frio,
as juntas dos meus dedos estavam doloridas e rígidas de tanto
apertar as mãos tentando aquecê-las, meus dentes batiam um nos
outros. Eu estava em uma confusão de pensamentos, não
conseguia organizá-los, mas precisava me concentrar. Foco.
Estava sentada encolhida naquele canto na mesma posição,
desde a hora que o Viktor saiu do local. Não tive coragem de me
mover, agora precisava vestir minhas roupas ou morreria de frio.
Olhei em volta à procura delas, as vi amontoadas no centro do
cômodo.
Movi-me com dificuldade, meu corpo todo estava dolorido, a
dor era tanta que contorcia as feições quando praticamente me
arrastei até as roupas. Sentei-me no chão e coloquei os jeans, nem
peguei a calcinha, só queria aquecer meu corpo. O próximo foi o
suéter.
Passei as mãos trêmulas no rosto para sentir o quanto
estava machucada, um dos meus olhos estava inchado, pois não
conseguia abri-lo direito, meus lábios cortados e as bochechas
muito doloridas. A minha intimidade também doía, sentia até dor
interna.
Não soube quanto tempo se passou, talvez algumas horas,
meu estômago estava vazio, sentia fome. Minha bexiga doía
também, sentia uma vontade de urinar, mas estava segurando.
Olhei em volta para ver se tinha alguma porta extra para um
banheiro, precisava usar um, não conseguirei segurar por mais
tempo. Não vi nada. Senti um nó na garganta e as lágrimas quentes
que, até então, reprimi, brotaram copiosamente. Que homem cruel e
sem coração!
Deitei-me no chão frio, comecei a tossir seco, provavelmente
ficarei doente, não tinha como isso não acontecer. Além do meu
estado, o contato com aquele ambiente gelado agravaria a minha
doença. Fechei os olhos e a imagem do Amendoim povoou minha
mente, meu cachorrinho não merecia um fim daqueles, a cena que
presenciei não saía da minha cabeça.
Um clique e todos os meus sentidos ficaram em alerta, o
barulho da porta sendo aberta me fez arregalar os olhos. Fiquei
tensa, todos os meus músculos se contraíram. Ouvi seus passos no
cômodo, mas não tive coragem de me mover. Ele se aproximou de
onde eu estava, pude ver seus sapatos, diferentes dos outros que
usava anteriormente. Esses não eram pretos, mas marrom escuro.
Escutei o barulho de seu isqueiro, em poucos segundos, a
fumaça tóxica da nicotina poluiu o ar e encheu meus pulmões
fragilizados. Ele fumava lentamente e lançava a fumaça em minha
direção. Apertei os olhos, tentando não tossir, mas não consegui
segurar, tossi várias vezes até minha barriga doer.
Ele afastou-se e andou pelo cômodo lentamente, o barulho
dos seus passos no assoalho de concreto frio, ecoavam ao redor de
mim. Eu queria falar, pedir, gritar se fosse preciso, mas me lembrei
de como era importante ficar calada, talvez assim ele não me
machucasse ainda mais. Ele havia parado. Jogou a ponta do cigarro
no chão e pisou esmagando-o. Ouvi sua voz de comando.
— Sente-se.
Espalmei minhas mãos no chão e impulsionei meu corpo até
conseguir sentar-me. Encolhi as pernas e mantive a cabeça baixa,
praticamente encostando nos joelhos. Engoli meu medo e tentei
manter a compostura o melhor que pude. Ele abaixou junto a mim e
deslizou as mãos em meus cabelos, fechei os olhos e senti náuseas
com seu contato. Colocou meus cabelos cuidadosamente atrás da
minha orelha e me fez levantar a cabeça. Eu não o olhava
diretamente, mantive o olhar em um ponto da parede a minha frente.
Ele passou as mãos em meus machucados me fazendo sentir dor,
gemi baixinho, respirando entrecortado.
— Está com fome, benzinho?
Balancei a cabeça positivamente. Ele pegou em meu rosto
com violência e me fez olhá-lo. Nossos olhos fizeram contato, eu
estava olhando para os olhos do demônio supremo. Eu não chorei,
não fiz nada, apenas o encarava petrificada.
— Como devo tratar a esposa fujona, anjinho? Com carinho?
Hã!
Ele puxou meus cabelos e me trouxe para junto dele, sua
boca encostou na minha, ele começou a passar a língua em meus
lábios, o aperto dele era muito forte e me fez minar lágrimas. Solucei
alto e pedi com a voz fraca e chorosa:
— Não me machuque mais, por favor.
— Ahhh! Mas te machucar é o que mais quero, anjo, deixar
essa boquinha macia e esse rostinho lindo com a minha marca.
Com isso ele me beijou, foi um beijo quente, molhado e
erótico. Ele introduziu a língua toda em minha boca, rolando por
todo a cavidade e entrelaçando na minha língua. Segurei em seu
paletó, ele também me abraçou e me apertou em seus braços
musculosos. Eu parecia uma boneca envolta daquele círculo de aço,
seu aperto tornou-se forte, não conseguia respirar, ele se tornou
violento, agarrou meus cabelos e puxou-os para trás, deixando meu
pescoço exposto, ele deixou minha boca e começou a explorar a
região, falava com uma voz alterada entre desejo e raiva:
— A minha vontade é de matá-la, Catharine, pela ousadia de
fugir de mim.
— Não me machuque, Viktor, te imploro!
— Cale a boca, porra! — rugiu como uma besta.
Ele me segurou na parte de cima dos braços, apertou e me
sacudiu várias vezes violentamente, eu estava em pânico absoluto,
não conseguia reagir, meus soluços desesperados saíam da minha
garganta. Quando ele estava satisfeito, empurrou-me com toda a
força no chão, bati a cabeça no concreto duro, minha vista
escureceu, mas não perdi os sentidos, encontrava-me em um
estado de torpor.
Sem piedade, Viktor rasgou as minhas roupas com uma
força descomunal, a calça jeans e o suéter eram agora um
emaranhado de tecido. Em desespero, comecei a suplicar, era
minha única arma contra ele.
— Eu sinto muito, não planejei fugir de você, Viktor.
Minha súplica o irritou mais ainda, e de novo bateu em meu
rosto. Levantei as mãos para proteger-me, mas ele as segurou e
debruçando-se sobre mim, sussurrou em meu ouvido:
— Você me pagará, Catharine, por cada dia que ficou longe
de mim. Ficará aqui, nesse cômodo frio, somente para me
proporcionar prazer. Farei sexo com você todos os dias, várias
vezes ao dia e, à noite, se assim o desejar.
Com isso ele levantou-se e despiu-se, livrou-se das calças,
da camisa e paletó. Ele não usava cueca. Se ele planejava destruir
minha mente, já conseguiu sua missão. Ele era como um gato
brincando com sua presa, antes de finalmente matá-lo.
— Ajoelha-se! — ordenou com voz estrondosa.
Respirei pesado, levantei-me e ajoelhei, meu rosto ficou a
centímetros do seu pênis. Aquela rocha de músculos era o meu
pesadelo, o membro era grande e grosso e me machucava todas as
vezes que ele introduzia em mim. Porém, agora, eu sentia pavor
depois do que ele fez. Eu queria chorar, mas não tinha mais
lágrimas para derramar.
— Estava com saudades, amor?
Ele passou o pênis em meu rosto, eu permaneci calada,
embora uma parte de mim queria sair dali, correr para longe, mas
também sabia que não havia nenhum lugar para correr, estava à
mercê dele, e mesmo que eu tentasse, seria algo estúpido, jamais
conseguiria lutar com ele. Então, teria que sofrer calada como
sempre fui.
— Chupa! Faz aquele boquete como te ensinei que só você
sabe fazer.
Um nó na minha garganta se formou, odiava fazer aquilo,
mas, para não piorar as coisas, apenas peguei no pau enorme e
alojei na minha boca. Sexo oral sempre foi uma frequência entre a
gente, às vezes fazíamos em lugares inusitados, como no avião, no
carro, até na ópera no camarote privado. Foi a pior experiência que
tive, tinha medo de altura, na verdade tinha pavor e o Viktor sempre
escolheu os lugares altos; segundo ele, um homem em sua posição
devia sempre estar acima de todos. Ele sabia minha fragilidade com
relação à altura, mas como sempre nunca se importou.
Precisava me concentrar na respiração, aquilo tudo na minha
boca me deixava com falta de ar. Iniciei os movimentos suavemente,
mas Viktor forçou minha cabeça para eu engoli-lo todo. Senti-me
sufocada, tentei tirar um pouco para puxar o ar, mas Viktor não
deixou. Lágrimas escorreram em meu rosto.
— Faz isso direito, Catharine, esqueceu de como eu gosto?
Rápido!
Fechei os olhos e tentei fazer aquilo o mais rápido que pude,
assim acabava logo. Mesmo com o peito doendo pela dificuldade de
respirar, chupava o pau levando-o até a garganta. Ele gemia alto,
como um animal. Quando atingiu o clímax, tirou o pênis da minha
boca rapidamente e ejaculou em meu rosto.
Sentia-me suja, humilhada e usada. Eu não era nada para
ele a não ser uma coisa que ele usava para lhe proporcionar prazer.
Sim, ele sempre foi generoso comigo, não podia negar, ele me
mimava com as mais variadas roupas, sapatos e bolsas, todas
exclusivas das maiores marcas de grife. Joias desenhadas
exclusivamente para mim, todas de pedras preciosas. Objetos de
artes de valores exorbitantes, bastava eu me interessar por uma
peça ele comprava sem pestanejar. Porém, nada daquilo me atraía,
coisas materiais eram a última coisa que queria daquele casamento.
Viktor voltou a vestir suas roupas, eu fiquei de joelhos, com a
cabeça baixa e puxando ar pela boca. Estava muito cansada e com
meu peito dolorido. Ouvi que ele chutava alguma coisa em minha
direção. O objeto parou a alguns centímetros de mim. Era um balde
com um pouco de água e uma flanela.
— Limpa aquela sujeira agora! — ordenou.
Levantei minha cabeça e o encarei, desviei para onde ele
apontava, o local que havia vomitado mais cedo. Vaguei meus olhos
no ambiente e percebi que havia um carrinho, parecido com aqueles
de hotel que as camareiras usavam para limpar os quartos, porém
esse era menor. Viktor tirou de lá uma cadeira dobrável e
desdobrou, sentou com tudo tranquilamente, cruzou as pernas e,
mais uma vez, acendeu um cigarro. Ele me encarava como se fosse
Lúcifer.
— Anda logo, Catharine, não tenho a noite toda para esperar
você fazer o que mandei.
Sem saída, peguei na alça do balde e levantei-me, andei até
o local e me abaixei, comecei a limpar meu próprio vômito.
Enquanto fazia isso, chorava e tossia ao mesmo tempo, era a única
coisa que me consolava.
Quando terminei, esperei-o falar o que tinha que fazer agora.
Novamente, ele empurrou algo em minha direção, era outro balde
pequeno, com um pouco de água e espuma e uma pequena toalha.
— Limpe-se.
Peguei a toalha e mergulhei na água, passei pelo rosto e
corpo. Ao passar a toalha em minha genitália, lembrei-me de que
precisava ir ao banheiro. Engoli em seco e comuniquei:
— Preciso ir ao banheiro.
Ele levantou-se e veio na minha direção, meu coração
acelerou. Pegou em meus braços com brutalidade e praticamente
me arrastou. Atordoada pela agressividade dele, tropecei em
minhas próprias pernas. Saímos da sala e andamos até o final do
corredor sombrio. Ele abriu uma porta e, antes de me deixar entrar,
segurou em meu rosto e me fez encará-lo de perto.
— Faça o que tem que fazer e não tente fugir, é impossível.
Ele me soltou e empurrou para dentro, a porta fechou-se e
olhei em volta, era um banheiro pequeno com apenas um vaso e
não era tão limpo. Nem passou pela minha cabeça tentar fugir,
mesmo se quisesse seria impossível, o banheiro nem janela tinha.
Havia um espelho, olhei-me e fiquei chocada com o que vi, eu
estava muito machucada, especialmente no rosto. No corpo havia
marcas roxas.
Após fazer minhas necessidades, voltamos para o meu
cativeiro, terminei de me limpar, aquilo não era um banho, mas só o
fato de passar uma toalha molhada pelo meu corpo já me fez sentir-
me melhor. Ao terminar, ele me mandou sentar no chão encostada
na parede. Assim o fiz. Em seguida, ele aproximou-se com uma
pequena caixa, eu a conhecia, era minha a caixa onde guardava as
joias que estava usando no dia da fuga e meu anel de casamento.
Viktor abriu-a e tirou o anel, a joia de diamantes brilhava.
— Estenda a mão.
Estendi e me mantive imóvel e silenciosa, o único som que
sobressaía era o da minha própria respiração pesada. Ele introduziu
aquele aro de metal frio em meu dedo, meu anel de casamento, um
símbolo que para muitos significava amor e companheirismo. Para
mim significava uma prisão, um elo impossível de se quebrar.
— Devidamente no local de onde nunca deveria ter saído —
falou sem demonstrar emoção.
Ele levantou-se abruptamente me assustando, andou a
passos rápidos até o carrinho e tirou de lá um pacote, jogou sobre
mim. O pacote caiu no chão e olhei seu conteúdo, era algo para
comer: havia uma fruta e pão. Ele também deixou uma garrafa
descartável com água.
— Coma, só terá outra refeição amanhã à noite.
Recolheu todas as coisas e colocou no carrinho, inclusive
minhas roupas. Ele vai me deixar nesse lugar frio completamente
nua, deduzi. Não aguentarei, preciso que ele deixe alguma
vestimenta.
— Viktor, estou com frio.
Ele me ignorou e seguiu para a porta, abriu-a e empurrou o
carrinho para o corredor. Percebi que havia outra pessoa que
recolheu o carrinho. Viktor voltou-se para mim e lançou um último
olhar em minha direção, saiu sem ao menos dizer se traria alguma
roupa.
Peguei o pacote, abri e comecei a comer o pão rapidamente,
estava esfomeada. Ao finalizar, bebi a água, mas não muito para
não ficar com vontade de ir ao banheiro rapidamente.
Lágrimas inundaram meus olhos e escorreram. Eu não tinha
mais esperanças, aquele só foi o primeiro dia após ser capturada. O
primeiro dia do meu tormento.
Respirava curto, sentia muita dor nos pulmões ao puxar o
oxigênio. Ao ter mais uma rajada de tosse, eu me encolhi; a cada
contração do abdome por conta da tosse, uma dor aguda acontecia.
Meus pulmões estavam muito inflamados. A única coisa que aliviava
um pouco era o remédio, que deixava as vias respiratórias abertas,
mas a exposição àquele frio por dias estava acabando comigo.
Sabia que ele viria, já estremecia em antecipação, não
aguentava mais ser violentada. Minha intimidade estava tão
machucada que, ao urinar, sentia uma ardência horrível. Até
constatei que sangrei e não tinha nada a ver com menstruação,
talvez ele tivesse machucado meu útero. Realmente não sabia, a
única coisa que tinha certeza era de que ele estava me tratando
apenas como um corpo, o usando para seu deleite sem ao menos
se preocupar com as minhas condições de saúde. Nada diferente do
que ele já fazia antes, no entanto agora ele fazia de tudo como
punição.
O sexo entre nós sempre foi doloroso para mim, ele nunca
se preocupou se eu sentia prazer ou não. Porém, sempre fazíamos
no conforto, fosse em casa ou nas viagens. Mesmo no avião dele
onde havia um quarto que nada perdia para um hotel de luxo. Os
apartamentos que ele tinha ao redor do mundo, todos luxuosos, até
no escritório dele, onde já transamos algumas vezes era confortável.
Não me importava por sua riqueza ou aceitava aquela situação por
causa do seu dinheiro, fui uma menina criada no luxo, já estava
acostumada com isso. Porém, agora, além de me manter naquele
local desconfortável, ainda me machucava demais durante o sexo.
Eu precisava me proteger dele de alguma maneira, pedir não
adiantava, ele me batia quando suplicava. Nem ao menos meu
estado debilitado comovia seu coração. Não queria morrer assim,
mas se continuasse naquele lugar meu corpo não aguentaria. Decidi
me deitar, eu estava em estado letárgico, um sono estranho, era
como se eu não pudesse manter meu corpo ligado, ele precisava
ser desligado. Fechei os olhos e quase que imediatamente, dormi.
Mãos ásperas deslizavam em meu corpo, eu não conseguia
me mover, era como se estivesse presa por uma força sobrenatural,
eu sabia que algo estava acontecendo, mas não sabia exatamente o
que era. Ouvi-o rasgando minha camiseta e a peça sendo arrancada
do meu corpo frio me deixando exposta, uma rocha de músculos
quentes e pesados me esmagou, sua respiração era forte como um
animal espreitando sua presa.
Levei as mãos em seu peito tentando empurrá-lo para longe,
não queria seu contato, mas não conseguia, parecia que era uma
parede de concreto. Ele abriu minhas coxas, tentei fechá-las, mas
ele me forçou mantê-las abertas. Senti a cabeça robusta do seu pau
pressionar sobre a minha entrada lisa. Ele empurrou com força, eu
estava seca e aquilo entrou em mim como se estivesse me
queimando. Eu gritei angustiada de dor e comecei a lutar com ele,
esmurrando-o.
— Não, não.
Ele segurou meus braços me imobilizando e começou a
acelerar seus impulsos para dentro de mim fortemente. Ele era o
dominante e animalesco, estava indo mais fundo do que nunca com
violência e selvageria. Não conseguia lutar contra ele.
— Promete, Catharine, que não me deixará? — rosnava em
meu ouvido.
— Não! Jamais te prometerei isso, eu vou embora assim que
tiver uma chance.
Não sabia por que disse aquilo, mas não conseguia me
controlar e tinha certeza de que pagaria por tal ousadia.
Ele parou os movimentos abruptamente e segurou
fortemente em meu maxilar com uma das mãos e me sacudiu.
— O que disse?
Não falei nada, ele entendeu perfeitamente, além do mais,
meus pulmões não aguentavam mais, não conseguiria falar mais
uma palavra, minha respiração parou em minha garganta, apenas
as lágrimas de terror deslizavam em meu rosto.
— Você nunca me deixará de novo, Catharine. A farei sentir
o inferno em meus braços, anjo, a farei ter prazer comigo —
decretou.
Assim, ele voltou a se movimentar, dessa vez de maneira
firme, porém sem violência, ele deslizava o pau para dentro e para
fora passando em meu clitóris e escorregando pela fenda. Ele fez
isso até eu começar a produzir secreção lubrificante. Eu mesmo não
estava entendendo o que estava acontecendo. Quando ele sentiu
que eu estava molhada, alojou o pênis dentro de mim sem introduzi-
lo com violência e começou os movimentos, pressionando a pélvis
no clitóris que estava sensível.
Ondas de prazer começaram a se formar em mim, eu ainda
tentei escapar dele, mas ele me imobilizou com o corpo, sua boca
em meu pescoço beijando-o. Arrepiava-me a cada investida dele,
senti que meus seios ficaram duros e seu peito roçava nos mamilos
o deixando mais sensíveis. Eu estava em uma confusão de
sentimentos: sentia raiva, medo, repulsa e prazer, tudo parecia
distorcido para mim.
Abri a boca para protestar e pedir para ele parar, mas nada
saiu, somente um gemido rouco antes de eu atingir o clímax, não
estava preparada para aquilo, os músculos vaginais se contraíram,
soltei um grito agudo e respirei fundo. Nunca senti algo assim, o
prazer vinha de dentro para fora, era tão bom que parecia que meu
corpo flutuava.
A confusão e o pânico obscureceram minha mente, por um
momento pensei que estava sonhando, ou melhor, em um pesadelo.
Pisquei várias vezes e abria os olhos enquanto o orgasmo deixava
meu corpo e a realidade batia em minha porta. O que tinha
acontecido? Não era possível eu ter tido prazer com ele. Mas seu
corpo enorme estava sobre mim me esmagando, seu suor
misturava-se ao meu, seu cheiro másculo e seu perfume familiar
invadiam minhas narinas. Eu precisava que ele saísse de dentro de
mim, eu não conseguia respirar.
Tentei empurrá-lo mais uma vez, mas eu estava presa em
seu corpo sólido e forte. Ele ainda não havia gozado e não parava
de me estocar.
— Sou o seu dono — falava enquanto escorregava seus
lábios em meu rosto, beijando-o. Ele tentou tomar minha boca e
desviei o rosto. Seus olhos escureceram, e falou entredentes: —
Você é minha, Catharine.
— Me solta, não consigo respirar — pedi em um fio de voz.
Ele intensificou os movimentos me prendendo mais ainda
junto dele, virei minha cabeça para o lado para conseguir respirar e,
nesse momento, ele atingiu seu prazer. Os jatos de sêmen
rapidamente preencheram meu canal transbordando-o. Minha
parede vaginal, em contato com o líquido, começou a arder.
Eu não conseguia mais, meus pulmões doíam, eu precisava
sair dali, minha respiração estava presa. Tentei puxar o ar e ele não
veio, essa era a primeira vez que me sentia assim enquanto ele
estava transando comigo.
— Me solta, por favor — pedi quase sem voz.
Ele então saiu de dentro de mim e levantou-se, andou até o
canto e pegou minha bombinha, me entregou e borrifei algumas
vezes e respirei pesado até o remédio começar a fazer o efeito.
Enquanto isso ele vestiu-se. Quando percebeu que eu havia
melhorado, abaixou-se e pegou nos meus braços com violência me
fazendo levantar. A maneira que ele me levantou foi tão violenta,
que eu parecia uma boneca em suas mãos. Ele me empurrou em
uma parede e me prendeu lá, eu o encarava em pânico.
— Você jamais terá outra chance de fugir de mim, Catharine!
— bradou rangendo os dentes, seu ódio era enorme, seu rosto
estava distorcido e seu olhos nem ao menos se mexiam, ele estava
completamente alterado, como se estivesse sob o efeito de alguma
droga.
Abaixei o rosto, me encolhendo toda, ele esbravejou, as
gotículas de saliva atingiram meu rosto:
— Olha para mim quando eu estiver falando com você,
caralho!
Eu não conseguia, apertei os olhos e pedia a Deus para
aquele monstro ir embora e me deixar em paz. Com raiva, levantou
meu rosto me forçando a olhá-lo, eu supliquei:
— Por favor, Viktor, tenha misericórdia.
Ele colocou as mãos enormes na minha boca me fazendo
calar. Em seguida, me pegou pelos ombros e me empurrou para
outra parede, bati com força. Não satisfeito, me deu um tapa no
rosto com o dorso da mão, eu caí no chão de barriga para baixo. Ele
abaixou-se e agarrou meus cabelos.
— Eu vou acabar com você, Catharine, eu vou destruir tudo
que você ama, seus amigos, seus pais, sua irmã e toda a família
dela.
Ele soltou meus cabelos e se levantou, senti seu chute em
minha barriga, foram três golpes fortes, não resisti e perdi os
sentidos.

Voltando ao presente, estremeci ao me lembrar daquele dia,


ele quase me matou. Levei as mãos ao rosto e senti o inchaço, olhei
para as mãos e estava machucada. Coloquei os pés no chão
lentamente, um após o outro, tentando não fazer barulho. Levantei-
me apoiando na mesa de cabeceira. Meu corpo estava todo
dolorido, fiz uma expressão de dor. Olhei em volta e vi uma porta,
com cuidado andei até ela, meus pés afundaram no carpete macio.
Cheguei até lá e girei a maçaneta, a porta abriu-se, puxei-a
lentamente e ousei olhar além do batente. Não havia ninguém,
aquilo me encorajou a continuar. Andei pelo corredor enorme
observando os quadros com moldura moderna, percebi que todos
eram pinturas de artistas contemporâneos e valiam uma verdadeira
fortuna.
Cheguei até uma escadaria não conseguia olhar para baixo,
tinha medo de altura e aquele local era bem alto. Aproximei-me do
corrimão e me segurei nele com firmeza, desci lentamente, sem
nunca olhar para baixo, só para os degraus. Ao chegar no chão,
respirei aliviada, meus pés tocaram no piso frio de mármore negro e
brilhante.
Continuei caminhando, tudo estava em silêncio total, parecia
que estava sozinha. Percebi que na sala, com vários ambientes,
havia janelas enormes de vidro que cobriam do teto até o chão.
Cheguei perto de uma delas e olhei. A paisagem era linda, havia
uma piscina enorme e palmeiras que balançavam à mercê do vento.
Virei-me para dentro e continuei explorando, a casa era
impressionante, até eu, que sempre vivi no luxo, fiquei
impressionada. Era diferente da mansão em Chicago, aquela tinha
uma decoração moderna e futurística. Percebi que havia uma porta
de correr de vidro, fui até lá e abri, o vento invadiu o cômodo e
beijou meu rosto, meus cabelos esvoaçaram e minha camisola
dançava ao balanço do vento.
— Vai aonde, Catharine?
Estremeci da ponta dos pés até o último fio de cabelo ao
ouvir sua voz poderosa. O medo me fez paralisar, ele aproximou-se
de mim, senti seu corpo enorme parar em minhas costas, ele
espalmou uma das mãos no vidro e empurrou para o lado fechando-
a. Continuei do mesmo jeito, a respiração acelerada e o coração
palpitando como louco. Ele levou as mãos em meus ombros e me
virou para ele, olhei em seu rosto, ele era tão alto e forte, mas em
seu rosto havia uma máscara de frieza.
— Tentando fugir de novo, anjinho?
— Não. — A palavra quase não saiu.
— É claro que estava.
Ele pegou em uma das minhas mãos e entrelaçou na dele.
— Vem aqui!
Puxando-me, ele andou me levando para as escadas,
subimos e subimos e subimos, percebi que havia quatro pavimentos
na casa. Eu não queria nem sonhar em olhar para baixo naquele
momento. Viktor seguiu para outra porta de correr e a abriu. Saímos
juntos, era uma sacada suspensa, a panorâmica era incrível, mas
para alguém que tinha medo de altura era aterrorizante. Ele me
puxou para a direção do parapeito, eu não podia, ele sabia disso,
entrei em desespero e pedi:
— Não me faça fazer isso, Viktor, por favor.
— Vem aqui, amor, eu quero que saiba aonde você está e
que aqui será impossível você fugir de mim.
— Não, eu tenho medo.
— Eu sei que tem, meu anjo, por isso mesmo te trouxe aqui,
para que contemple a vista espetacular.
Ele me puxou com violência até o parapeito, fechei os olhos,
senti o vento forte batendo no meu rosto e enxugando as lágrimas
que derramavam em cascatas. Ele me abraçou por trás me
estreitando em seu corpo poderoso e falou em meu ouvido:
— Olha, amor, é tudo seu, você não gosta da sua
propriedade? Hã!
Ele tirou alguns fios de cabelo do meu rosto e passou os
lábios em meu pescoço.
— Abre os olhos! — ordenou.
— Não! — neguei entre lágrimas.
— Faça o que estou mandando, Catharine, não quero ficar
zangado com você! — ameaçou.
— Por favor, Viktor! — supliquei.
— Essa é sua última chance para me obedecer.
Abri os olhos lentamente, não conseguia ver claramente,
porque estavam turvos pelas lágrimas, mas percebi que era muito
alto. Havia muitas montanhas ao longe.
— Olhe para baixo.
— Não!
Voltei a fechar os olhos de novo, senti que ele afrouxou os
braços em torno da minha cintura e aproveitei para me virar, segurei
em seu terno e enterrei a cabeça em seu peito chorando
desesperadamente. Ele me abraçou e passou as mãos no meu
cabelo me acalentando.
Quando me acalmei um pouco, ele me tirou daquele lugar e
entramos na casa. Seguimos pelo corredor e chegamos a uma
porta.
— Esse será seu novo quarto, anjo. Não queria te deixar
aqui, mas, pela sua desobediência, terei que fazê-lo.
Ele abriu a porta e entramos, a princípio, parecia um cômodo
comum, as paredes assemelhavam-se a aço e o teto tinha um
desenho como escama de peixe, também parecia de aço. Não havia
mobília, assim como no outro cativeiro. Ele me levou até o centro,
segurou na base do meu queixo e levantou minha cabeça me
fazendo olhá-lo.
— Sabe que não gosto de castigá-la, mas você me faz fazer
essas coisas.
Ele beijou meus lábios apaixonadamente, suspendeu-me em
seus braços e agarrou meus cabelos. O beijo foi tão poderoso, que
me tirou o ar e machucou meus lábios mais ainda. Quando ele me
soltou, cambaleei. Ele levou as mãos no bolso e tirou de lá minha
bombinha, estendeu para mim.
— Toma, precisará disso.
Peguei-a com as mãos trêmulas. Ele afastou-se e saiu do
cômodo, ouvi o clique da porta sendo trancada. Puxei o ar e solucei.
Abracei-me e vaguei os olhos em volta. Pelo menos não era frio, a
temperatura era agradável. Ouvi outro clique, um barulho de algo
deslizando com maciez se fez ouvir. Olhei para baixo e percebi que
o chão se abria sob meus pés. Entrei em pânico e corri para onde
ainda havia piso, mas tudo estava se abrindo. Corri para o canto e
encostei na parede, agachei-me e fiquei olhando tudo se abrir
lentamente.
— Não!
Olhava fixamente com os olhos arregalados todo o piso
sumir, fechei os olhos forte quando percebi que estava chegando
até a mim e espalmei as mãos na parede como se pudesse me
segurar. A única coisa que pensava era que cairia no abismo. De
repente, tudo ficou em silêncio, percebi que não havia caído. Será
que havia parado de abrir? Arrisquei abrir os olhos. Não havia mais
piso, porém eu não despenquei, ainda permanecia em cima de algo.
Ousei colocar a mão no piso, sem olhar para baixo e algo como uma
grande rachadura abriu-se e trincou. Fechei os olhos e levei as
mãos aos ouvidos. Meu Deus! Eu estava sobre um vidro. Todo o
piso era de vidro agora e eu estava em um local muito alto.
Segure-me. Era tudo que eu queria naquele momento,
alguém para me segurar, me carregar no colo e me tirar daquele
lugar. Ele estava usando meu ponto fraco contra mim, simplesmente
não conseguia abrir os olhos e muito menos me mover. A cada
movimento, por menor que fosse, o chão de vidro trincava e abria
uma rachadura. Eu estava apavorada, o medo era tanto que urinei.
Por sorte, ou azar, não sei, não usava uma calcinha.
Tinha medo de altura desde criança. Por ter asma, meus
pais, especialmente minha mãe, me protegiam exageradamente, eu
não podia fazer absolutamente nada, ela não me deixava brincar
com amiguinhos, ir às festinhas, nem ao menos brincar no quintal.
Minha vida se resumia a escola/meu quarto. Era raro as vezes que
eles deixavam eu sair para brincar ao ar livre. Com isso, à medida
que fui crescendo, adquiri algumas fobias: medo de lugares
fechados, com muitas pessoas e a mais grave, medo de altura.
A privação de atitudes de liberdade, espontaneidade e receio
me tornaram uma pessoa sem autoconfiança. Sentia-me inerte, e
jamais explorei e descobri meu potencial. Meus pais jamais
permitiram que eu fizesse algo além dos estudos básicos. A única
coisa que eles não proibiam era a leitura. Por isso me agarrava aos
livros os devorando, me perdia no mundo imaginário da literatura. À
medida que fui crescendo, e seguindo recomendações médicas,
eles me deixavam ir ao parque perto de casa para pegar ar fresco,
eu passava horas lendo, ao som dos pássaros e da brisa.
Apesar da acrofobia – medo de altura –, eu conseguia entrar
em um avião, subir em prédio e até escadas, porém não podia nem
pensar em olhar para baixo; se isso acontecesse, eu sentia tontura,
entrava em pânico, tinha palpitação cardíaca, tremedeira e chorava
compulsivamente. Antes de me casar com o Viktor, sempre evitei
lugares altos; depois que casei, ele simplesmente ignorou minha
fobia. Agora me colocou nesse lugar, que mais parecia uma caixa
de aço com fundo de vidro.
Suas punições estavam me puxando para mais fundo no
abismo; por mais que ele me maltratasse no passado, nada que ele
fez comigo se comparava ao que estava fazendo agora, eu estava
totalmente fora do meu senso de realidade, parecia que me
encontrava em um pesadelo sem fim, não conseguia entender sua
mente doentia, ele não era uma pessoa normal, era um doente e eu
o alvo da sua loucura.
O extremo culminar e a desorganização hormonal do meu
corpo queimaram meus olhos de lágrimas. Ele me deixou muito
fraca e vulnerável, mais fraca como jamais estive. Sempre fui uma
menina fraca, ou melhor, sempre me fizeram acreditar que eu era
frágil, que eu não serviria para nada, nem mesmo para me casar.
Meu pai deve ter ficado aliviado quando esse homem propôs
casamento.
Eu não aguentava mais ficar na mesma posição, meus olhos
ardiam, meus músculos doíam, minha respiração estava
entrecortada. Segurava a bombinha apertado em uma das mãos,
mas não conseguia nem mexer os braços, tamanho era meu horror.
Estava tão absorta em meu próprio terror mental que não
percebi quando ele entrou, apenas o estalar do vidro me fizeram
ficar em alerta.
Ainda com medo, abri os olhos e o vi caminhando. A cada
passo que ele dava, surgia uma rachadura no vidro e o barulho
trincado. Porém, a mesma rachadura desaparecia rapidamente, e
assim acontecia a cada passo. Ele estava fumando, a fumaça
rapidamente invadiu meus pulmões, fazendo-me tossir.
Ele parou no meio do cômodo, reparei que estava sem
camisa, apenas vestia uma calça de moletom e estava descalço
também, exibia seu peito e abdômen musculoso e liso. Eu precisava
pedir para ele me tirar daquele lugar, se continuasse entraria em um
colapso nervoso.
— Viktor, me tira daqui.
— Não gosta das suas acomodações?
— Por que está fazendo isso comigo? Eu prometo que não
vou embora, mas me tira daqui — pedi entre soluços desesperados.
— Vem aqui!
— Não, é muito alto, o piso vai se quebrar.
— Eu mandei vir aqui! — rosnou irritado.
— Não... — falei já sem forças.
— Você decide, Catharine, ou vem ou ficará aqui por tempo
indeterminado.
Fechei os olhos novamente, respirei fundo tentando controlar
o pânico. Eu precisava tentar, ele não ia ceder e faria qualquer coisa
que ele quisesse para sair desse lugar. Espalmei as mãos na
parede e levantei-me lentamente. A cada movimento, o chão
parecia que iria se quebrar. Consegui ficar de pé e encostei de
costas na parede, apertei meus olhos fechados, com muito medo de
abri-los, talvez se eu os mantivesse fechados, eu podia fingir que
aquilo não era nada além de um pesadelo. Suguei uma respiração
profunda para os meus pulmões, preparei-me para abrir as
pálpebras e encarar a realidade. Estava em um lugar alto sobre um
piso de vidro enquanto o meu carrasco me esperava do outro lado.
Tremores de medo sacudiam meu corpo, quase não
conseguia me manter de pé. Abri os olhos, pisquei algumas vezes
para limpar as lágrimas e ajustar a luz, fixei no Viktor que estava a
alguns passos de mim, com seu rosto implacável, sem nenhum
vestígio de piedade ou solidariedade. A fumaça do cigarro flutuava a
sua volta, ele tragava e borrifava mais uma rajada de fumaça
poluindo o cômodo, o cheiro era insuportável, fazia meus olhos
arderem, porém ainda precisava tentar a última vez, não era
possível ele ser tão insensível à minha situação.
— Viktor, por favor, vem me pegar, eu não consigo andar.
— Coragem, amor. Vem até os meus braços, para o lugar
onde quero que você fique.
Ele estendeu os braços em minha direção. Por um instinto e
uma necessidade de me proteger, dei o primeiro passo, o piso
trincou e uma rachadura se abriu correndo por todo chão, eu parei
aterrorizada, no entanto a rachadura desapareceu e tudo pareceu
intacto. Percebi então, que a rachadura não era real, parecia algum
tipo de ilusão, não sei, mas aquilo não me acalmou, se olhasse para
os meus pés, via o quanto estávamos no alto e aquela sensação
que tudo ia se quebrar era algo real.
— Coragem!
Dei mais um passo e outro e outro e me joguei em seus
braços. Ele me segurou firme e me abraçou. Eu me agarrei nele
como se fosse meu herói, meu salvador e solucei, as lágrimas
derramadas deslizaram em meu rosto.
— Não foi tão difícil, foi?
Olhei para o seu rosto, e encarei seus olhos azuis pálidos
penetrantes, tentando encontrar alguma bondade. Rezei por uma
lasca, um pingo de compaixão, mas não vi nem compaixão e muito
menos bondade... não, eu encontrei alguém que estava cheio de
ódio e raiva. Ele me olhou como se me desprezasse simplesmente
por respirar.
Não consegui mais manter o contato visual e fechei os olhos,
quase que imediatamente ele segurou meu rosto com uma das
mãos e os polegares apertaram a minha bochecha.
— Abre os olhos! — rosnou.
Eu abri rápido, ele afrouxou o aperto, não tinha mais forças
para lutar, para nada, eu queria muito entender por que me odiava
tanto. Seus olhos tomaram os meus e me manteve prisioneira, e
havia uma peculiaridade cruel em sua boca. Senti suas mãos
deslizarem em meus ombros e segurarem meus braços, ele apertou
minha carne e me suspendeu. Senti seu hálito quente em meu
rosto, sua boca aproximou-se da minha, meus lábios entreabriram e
liberei um suspiro, quando ele me beijou.
Não era um beijo violento, nem terno, era um meio-termo,
firme, porém sem me machucar. Fiquei nas pontas dos pés para
alcançá-lo o máximo que pude, suas mãos desceram até minha
cintura e me puxou para junto do seu corpo, espalmei minhas mãos
em seu peito, sua ereção pétrea pressionou em minha barriga. Uma
excitação quente correu através de mim, nunca senti isso antes,
mas meu corpo, de uma certa maneira, estava correspondendo
aquele contato, eu fiquei assustada com isso.
Viktor deixou minha boca e beijou meu pescoço, ele chupava
e alternava, mordiscava minha orelha. Aquilo lançou arrepios pelo
meu corpo e fez meus mamilos intumescerem. Começou a me
forçar a baixar, o vidro trincou e me assustei, me agarrei mais a ele,
não queria me mover e nem olhar para baixo. Fechei os olhos.
— Me tira daqui, Viktor — supliquei docemente.
Ele me empurrou para o chão e esse pareceu que se
quebrou em mil pedaços, o som de vidro rachando e trincando me
fizeram encolher. Era o meu fim; se não morresse com a queda,
morreria de ataque cardíaco. Meu coração martelava contra a minha
caixa torácica loucamente. Viktor me agarrou e me fez ficar de
barriga contra o chão, ele subiu em mim me imobilizando e agarrou
meus cabelos.
— Você pensa que me convencerá de alguma coisa usando
essa voz doce, Catharine?
Eu não disse nada, não conseguia. Viktor puxou meus
cabelos rente ao couro cabeludo e fez minha cabeça virar para trás.
— Fica de quatro.
— Não! Pare, está me machucando.
— A machucarei mais ainda se não fizer o que estou
mandando! — esbravejou.
Fiz o que mandou, mas mantive os olhos fechados, o som
ensurdecedor do vidro trincando me deixou em pânico.
— Abra os olhos! — ordenou.
Relutei e pensei em não o obedecer, mas não tinha saída, ou
fazia que ele mandava ou sofreria ainda mais. Ao abrir os olhos, vi o
abismo através do vidro, abaixo só havia vegetação. Senti tontura e
náusea, meu corpo gelou e minhas mãos suaram frias, meu coração
parecia que iria sair pela boca.
Viktor levantou a minha camisola e passou a mão na minha
bunda apertando-a. Voltei a fechar os olhos. Os dedos dele estavam
agora na minha vagina, massageando-a vigorosamente.
— Por que está fazendo isso comigo? — perguntei entre
soluços.
— Porque eu posso, sou seu dono, seu marido e você,
Catharine, ficará comigo até o último suspiro do meu corpo. Eu
jamais te deixarei livre, prefiro vê-la morta, mas nunca longe de
mim, tendo uma vida com outro.
— Não tenho outro.
— Não me interessa! Eu sei que, cedo ou tarde, alguém se
interessaria por você e, com certeza, você, esposinha, cederia. Por
isso, cale a sua boca e sinta meu pau dentro de você, te mostrando
a quem você pertence.
Viktor me penetrou por trás na minha vagina. Senti a pressão
e o pênis, grosso, grande e firme me invadindo. Engasguei um
pouco e cerrei meus lábios enquanto ele me estocava sem dó. O
barulho de sua posse e do chão se abrindo misturavam-se e eu
parecia entrar em um estado de confusão mental. Viktor gemia alto
enquanto me empalava. Percebi que estava em outra dimensão, era
como se não pudesse sentir mais nada.
Viktor debruçou sobre mim, sussurrando em meu ouvido e
gemendo:
— Catharine, por que me deixou, por quê?
Eu não disse nada, apenas tentava levar oxigênio para meus
pulmões entre minha angústia e soluços.
— Você não entende o quanto te desejo, minha menina. Eu
sou um homem perdido sem você.
Aquelas palavras não faziam sentido para mim, ele parecia
confuso, frágil, isso não era possível, Viktor Russell jamais mostraria
fragilidade, mesmo que ele tivesse uma, o que para mim era
impossível.
Não percebi quando ele terminou, apenas senti que me
deixava e meu corpo caía sobre o chão. Notei que ele me pegou no
colo, segurei em seu pescoço firme, só queria que ele me tirasse
dali. Atendendo ao meu pedido silencioso, ele saiu daquele cômodo
e me levou para o quarto que estava antes, me deitou na cama. Eu
parecia uma sonâmbula, sabia o que estava acontecendo em volta,
mas não tinha reação. Ele deitou-se do meu lado e me abraçou
carinhosamente. Estava exausta, meu corpo pedia repouso. Acabei
pegando no sono.

***

Haviam se passado alguns dias, eu não sabia exatamente


quantos, mas Viktor não me mandou de volta para aquele quarto.
Também não saí desse que estava agora, mas era melhor que
qualquer coisa. Depois que ele me tirou daquele cômodo, fiquei com
febre alta e muita falta de ar; por esse motivo, um médico veio me
ver, ele receitou analgésico e antibióticos, meus pulmões estavam
debilitados. Desde então, estava me tratando. Viktor trazia as
refeições para mim, porém quase não ficava comigo durante o dia,
mas à noite sim, porém não transávamos.
Agora me sentia melhor dos pulmões e os machucados
estavam sarando. Por conta disso, tomei uma decisão: seria a
esposa que o Viktor queria, mostraria para ele que não tinha a
mínima pretensão de fugir de novo, faria de tudo para tentar
entendê-lo. De certa forma, ele mostrou fragilidade, ainda que, após
aquele dia, voltou a ser o homem frio e calculista. Nossa relação era
complexa, não sabia o que ele sentia por mim, às vezes parecia
ódio, outras vezes desejo ou obsessão. Os meus sentimentos por
ele também estavam uma confusão, mas o que tinha absoluta
certeza de que sentia em relação a ele era medo, muito medo.
Não havia saída para mim, Viktor deixou bem claro que
jamais me deixaria viver longe dele, eu não tinha como escapar
mais. Dessa vez, eu fui capturada para sempre.
O sangue, líquido viscoso e vermelho escorria entre meus
dedos e pingava no chão do tatame. Meu adversário, que, em
poucos minutos, seria apenas um cadáver, agonizava dando seus
últimos suspiros. Eu observava o infeliz perder a vida. O conhecia
desde que éramos meninos, entramos na mesma gangue, éramos o
terror da vizinhança. Salvei o desgraçado de muitas enrascadas, o
considerava como a um irmão que nunca tive, até o dia de hoje. Era
um dos meus capangas. Mas não podia deixar vivo quem cobiçava
o que era meu, principalmente a Catharine, seja quem for, mataria
com as próprias mãos como fiz agora.
Hoje vim fiscalizar os meus negócios ilegais de perto, tinha
homens de confiança para fazerem isso, porém nunca deixava de,
uma vez no mês, olhar tudo de perto. As finanças principalmente, é
claro! Decidir o destino de quem foi estúpido suficiente para entrar
no meu caminho e não cumprir com seus deveres, fosse clientes ou
associados. Ser chefe de uma organização criminosa extremamente
perigosa não era fácil, a polícia estava sempre à espreita,
esperando uma oportunidade para nos pegar, principalmente o
chefe, eu. Porém, nunca o fariam, tinha dos meus no governo,
apenas uma ligação e tudo seria resolvido. No entanto, tinha que
manter os agentes do FBI longe dos meus negócios. No mês
passado, já me deram um prejuízo apreendendo uma das minhas
cargas.
Tudo por culpa da Catharine, só ela me fazia desviar dos
meus negócios e eu não gostava disso, a fraqueza de um homem
era demonstrada a partir do momento que deixava uma mulher
tomar seus pensamentos a ponto de somente pensar nela, e
Catharine era mestre em fazer isso. Olha o que tive de fazer por ela,
espancar até a morte um dos meus mais antigos associados
somente por achá-la bonita. Ele não disse diretamente para mim, o
homem não seria estúpido a esse ponto, todos sabiam a quem
Catharine pertencia e que nem olhar para ela era permitido, muito
menos verbalizar que a achava bonita. Não pensei duas vezes, o
desafiei para uma luta, ele era forte, sabia lutar bem, conseguiu me
atingir algumas vezes. Mas, diferente de mim, ele nutria sentimentos
na nossa amizade. Já eu não sentia, respeitava e admirava aqueles
que eram fiéis, homens que davam a vida pela organização, mas
jamais nutria sentimentos, se precisasse matar, o fazia sem pensar
duas vezes.
Saí do tatame e me dirigi a uma pia, lavei as mãos.
Arranquei os olhos dele com as próprias mãos, e que servisse de
exemplo para todos. Encarei-me no espelho embaçado, o infeliz
deixou um corte na minha sobrancelha, gostei disso, me faria
lembrar que essa noite, a Catharine me pagaria. Por culpa dela
matei um homem de confiança, ele estava comigo no dia que a
capturei, dirigia o carro. Segurei na pia com as duas mãos e apertei
os olhos, fiz uma careta e trinquei os dentes, meus músculos
exaustos pelo esforço da luta estavam rígidos. Meus cabelos
molhados pelo suor, caíam na minha testa.
O que a Catharine era capaz de fazer comigo, eu ficava
alucinado por ela, sentia-me vulnerável, e isso me irritava, ela era só
uma coisinha bonita para me proporcionar prazer, nada mais, uma
esposa modelo, que teve a ousadia de me deixar. Aquilo intensificou
meu ódio. Como ela teve coragem de fazer tal coisa? Uma menina
insignificante, medrosa e doente.
— Porra! — esbravejei.
Ela trouxe algo a minha vida, algo que nunca vi antes no
meu mundo sombrio: sentimento. Sim, antes não conseguia sentir
nada por ninguém, ainda não consego, mas por ela, meu sangue
corria mais rápido nas veias e meu coração acelerava. Sentia sinto
desejo por ela, porém não era só isso, era algo que não sabia
explicar. Era como uma droga que dominava meu corpo e mente.
Alguns tolos chamariam esse sentimento de amor, no entanto para
mim era muito mais.
Amor era um sentimento nobre que fazia com que o
indivíduo fizesse tudo pela pessoa amada, inclusive abrir mão dela
para que fosse feliz se assim fosse.
O que sentia por ela não tinha nada de nobre, muito pelo
contrário, não buscava a felicidade dela, mas meu próprio prazer
pessoal, esse sentimento idiota não fazia parte da minha vida, eu
queria tudo da Catharine, mas jamais abriria mão dela, ela ficaria
comigo por bem ou por mal, não me interessava se isso a
magoasse, ou a fizesse sofrer, ela era minha pelo resto de sua vida.
De novo me encarei no espelho e uma raiva dominava meu
ser, meus olhos flamejavam, eu sentia necessidade de ver mais
sangue, de derramar mais sangue, eu precisava extravasar a raiva
dentro de mim. Se Catharine estivesse na minha frente agora, ela
seria o objeto da minha fúria.
Fechei o punho e com raiva soquei o espelho que rachou e
refletiu minha imagem em pedaços distorcidos. Meu sangue
escorreu. A dor não me atingiu, sei que me cortei, mas não senti.
— Caralho! — gritei.
Nesse momento, um dos meus homens entrou no local e se
aproximou.
— Está tudo bem, chefe? — perguntou cauteloso.
Retomei meu olhar frio, peguei uma toalha, envolvi na mão e
me virei para o homem.
— Mandem tirar o corpo do Diego do tatame, entregue para
a família dele e os façam dar-lhe um enterro digno.
— Sim, chefe.
Andei em direção a saída, o local onde estava era um
complexo no submundo do crime, um lugar secreto no subsolo de
Chicago. Era como uma pequena cidade, onde mantinha um centro
de treinamento para os novos associados e, claro, os maiores
hackers que trabalhavam a serviço do crime. Tinha meus próprios
aposentos, segui até lá e fui direto para o banheiro, tomar um
banho.
Catharine conhecia esse lugar, a trouxe apenas uma vez, ela
ficou muito assustada, na ocasião não sabia muito bem quem eu
era, na verdade ainda não sabia realmente o que eu era e o que
representava, ela não fazia ideia da grandiosidade disso tudo, mas
nunca tive a intenção de lhe esconder esse meu lado, pelo contrário,
fazia questão que ela soubesse, mesmo que superficialmente.
Porém, ainda assim, ela ousou me deixar. Isso me deixava
possesso, não me conformava com tamanha ousadia. Se fosse
outro, a essa altura já teria conhecido o inferno, ou o céu, no caso
da Catharine.
Após o banho, estava no meu escritório olhando os
relatórios, ouvi uma batida na porta e Fred, meu segundo homem no
comando, adentrou a sala.
— Chefe, há novos membros.
— Alguma coisa que preste? — perguntei, salvando o
documento em meu computador e o desligando.
— Dei uma olhada por alto neles, alguns não passarão da
primeira etapa do treinamento, mas a maioria me pareceu
adequados.
— Checou as fichas deles, algum problema com a polícia?
— Dois deles tiveram passagem pela polícia, mas crimes
leves, eles podem ser direcionados aos pontos de distribuição.
— Hum... Já que estou aqui, eu mesmo os entrevistarei,
coloque-os na sala vermelha, já eliminaremos os fracos de primeira.
— Claro! — Ele já estava preparando para sair e eu o
impedi.
— Como está passando nosso amigo na prisão?
— Se refere ao Ramon, chefe?
— A quem mais me referiria?
— Está sendo tratado muito bem, se tornou rebelde e o
deixaram na solitária. Acho que não aguentava mais ser a
mulherzinha dos presos. — Ele gargalhou.
Continuei sério e ordenei:
— Mande tirá-lo da solitária, quero que continuem o tratando
como mulherzinha. Quando chegar o momento certo, mandarei
eliminá-lo. Nesse meio tempo, se ele tornar-se rebelde, ordene que
o espanque, mas não o isole dos outros presos. Se tiver algum
problema com os carcereiros, mandem me procurar, tenho certeza
de que eles não vão querer arrumar encrenca comigo.
— Certo, chefe! E a mulher?
— Mantenha-a presa, em breve darei um fim nela.
— Okay!
Saí da sala seguido do Fred e fomos para a sala brindada,
sentei-me em frente ao vidro que separavam os nossos associados.
Fred ordenou que os colocassem um do lado do outro. A luz
acendeu-se e olhei um por um atentamente. Eles não podiam me
ver. De cara já percebia quem seriam os eliminados. Vamos
começar os testes.
Peguei a ficha do primeiro, olhei, mandei que desse um
passo à frente.
— Mario Dante, mexicano, trabalhou em Tijuana para o cartel
Sinaloa e para El Chapo. O que o fez atravessar a fronteira e nos
procurar?
— A sua fama, senhor, quero servir os melhores e no mundo
do narcotráfico não há ninguém maior que o Boris the Beast.
Boris Beast era o meu codinome, no mundo do crime não
usávamos nossos nomes verdadeiros, especialmente o chefe. Por
isso todos me conheciam com Boris ou somente BB, que se tornou
minha marca. Continuei com a entrevista:
— Matou quantos homens?
— Alguns.
— Número.
— Três.
— Hum... Tem família?
— Sim, estão no México.
— Olhe para a tela a sua frente.
O homem olhou e arregalou os olhos.
— Essa é a sua família? — perguntei.
— Sim, se-senhor — ele gaguejou.
— Abriria mão deles pela nossa organização?
Percebi que o homem engoliu em seco e piscou os olhos
várias vezes, ele suava muito. Nem precisava me responder, esse já
estava eliminado. Sinalizei para Fred, que ordenou que o tirassem
da sala.
Chamei o próximo, o homem era alto, corpulento, seus olhos
nem ao menos piscavam, ele olhava vidrado para a frente, percebia-
se pela expressão que não havia sentimentos nele. Sorri.
— Bill Cosby, americano de Nova Iorque, não tem nenhum
envolvimento com crime. O que nos fez procurar?
— Quero potencializar meu talento.
— E qual seria?
— Sou assassino de aluguel.
— Nunca foi pego?
— Não, senhor.
— Quantas vítimas?
— Vinte.
— Olhe para a tela a sua frente. É sua namorada?
— Sim, senhor.
— Posso mandar estourar os miolos dela agora?
— Sim, senhor.
O homem nem ao menos piscou, ele era perfeito. Ordenei
que matassem a mulher na frente dele. O barulho do disparo ecoou
em toda a sala, o homem nem ao menos se moveu. Ele estava
dentro para iniciar o treinamento.
— Volte para o seu lugar! — ordenei.
Antes mesmo de eu chamar o próximo, um deles levantou os
braços e pediu amedrontado, o homem suava como um porco.
— Não quero mais participar, senhor, desisto.
A pior coisa em um homem era a covardia, principalmente
criminosos ou aspirantes a criminosos. Me irritava isso, esse nem
merecia gastar uma das minhas balas na sua cabeça oca, mas
resolvi brincar com o idiota, antes de eliminá-lo. Olhei as fichas e
logo achei a dele.
— James Colosimo, acusado de fraude em uma instituição
financeira onde trabalhava, cumpriu dois anos de cadeia.
— Sim, Senhor, saí tem alguns meses e, desde então,
almejava entrar para sua organização criminosa.
— E o que fez mudar de ideia?
— Eu não posso abrir a mão da minha família, Senhor.
— E quem disse que terá que abrir mão de sua família?
— Eu... Eu... Eu pensei, senhor! — O homem gesticulava
apontando para o monitor.
Esse não merecia nem que eu perdesse meu tempo. Olhei
para o Fred e ordenei:
— Mate-o.
Um dos meus homens entrou e o mandou sair da sala.
Patético! “Como alguém assim quer fazer parte da minha
organização?”, perguntei-me.
Voltei a falar no microfone para o outros da sala:
— Mais alguém que quer desistir?
O silêncio era geral, ninguém se manifestou.
— Muito bem! Continuemos.
Assim, fiz a entrevista com cada um. De dez homens,
sobraram seis. Um bom número. Geralmente, de cada dez homens,
apenas de um a dois conseguiam chegar até o final do treinamento.
Precisava que os homens que trabalhavam para mim fossem os
melhores.
Agora irei para casa, essa noite Catharine que se
preparasse, quase uma semana sem sexo. Apenas a deixei em paz
por esses dias para que se recuperasse, mas agora acabou, ela
estava ótima e daria a melhor noite da vida dela.
Andava de um lado para o outro no imenso quarto, o Viktor
saiu da propriedade. Ele não disse nada, apenas vi o helicóptero
pousando e ele embarcou.
Não sei se podia deixar o quarto, já fazia algumas horas que
ele se retirou e me sentia faminta.
Eu não fazia ideia em que direção ficava a cozinha, não tinha
certeza se havia empregados. Na mansão em Chicago havia
muitos, mas aqui parecia uma mansão de filme de suspense. Às
vezes, eu tinha o pressentimento de que até os quadros se moviam.
Talvez fosse ilusão de ótica, mas era essa a sensação que tinha.
Admirei a linda paisagem do vale a minha frente, o quarto
tinha uma janela enorme de onde podia contemplar a vista
esplêndida. Eu não chegava perto, não conseguiria olhar para baixo,
mas observando de longe tinha a impressão de que era uma tela
grande de cinema. Percebi o vento balançando as palmeiras altas,
as folhas se deixavam levar pela força das rajadas, elas não tinham
opção, ou cediam à força ou se quebravam. Às vezes, sentia-me
como as folhas da palmeira, não podia sair do lugar e ficava à
mercê da robustez do Viktor. Percebi a duras penas que, se eu não
fosse flexível, ele me quebraria mais do que já fez até agora.
Suspirei fundo, meu estômago roncava, precisava comer
alguma coisa, e para isso teria que explorar a casa até achar uma
cozinha. Não sabia se essa aventura o deixaria zangado, apesar de
tudo em volta estar em completo silêncio, sabia que havia olhos do
Viktor por toda a parte. Não, sua presença física não se encontrava,
mas ele tinha seus fiéis soldados, homens preparados para, a uma
ordem dele, executarem com precisão o destino de todos.
Eu sabia que havia deles por aí, não dentro da casa, Viktor
nunca permitiu que esses homens adentrassem na residência, mas
em volta sim. Na outra mansão, eles eram discretos. Quando
saíamos, eles nos escoltavam, contudo pareciam seguranças
particulares, vestidos em termos pretos, óculos de sol e pontos nos
ouvidos. No início achei um tanto exagerado da parte do Viktor ter
tantos seguranças. Quando morava com meus pais, eu tinha um
segurança, na verdade ele não era um segurança propriamente dito,
era o motorista que fazia as vezes de segurança. Ele era grande e
com uma cara de bravo e isso assustava as pessoas. Era um
homem muito bom e brincalhão, às vezes desejava que ele fosse
meu pai.
Mas à medida que fui conhecendo o mundo do Viktor,
percebi que aquelas pessoas não eram somente seguranças, eram
criminosos, e que meu marido era o chefe deles. Eu tive absoluta
certeza disso quando ele me levou para o submundo, o local onde
comandava toda a organização, eu fiquei chocada com o que vi. O
lugar parecia aqueles laboratórios secretos do governo que
Hollywood descrevia em seus filmes de ficção científica ou invasão
alien. Tudo quanto era equipamento de última geração se
encontrava naquela área, tudo a serviço do crime.
Finalmente decidi sair do quarto, abri a porta vagarosamente,
ele não deixou nada trancado, exceto quando me capturou e me
trouxe de volta, nunca trancafiou nada. Na verdade, em nenhum
momento ele ditou as regras, simplesmente fui descobrindo à
medida que fazia alguma coisa que ele julgava que quebrasse
alguma de suas regras, como, por exemplo, conversar ou ser cordial
com outros homens em eventos sociais, não vestir uma determinada
roupa que ele escolhesse, ou simplesmente ser apenas eu, gentil e
educada com todos, então pagava sendo agredida fisicamente.
Continuei minha jornada, eu já havia andado pelo corredor
antes, então não foi difícil encontrar as escadas, desci
cuidadosamente. Embaixo, decidi segui pelo lado esquerdo, talvez a
cozinha se encontrasse nessa direção. A medida que eu andava,
tinha a sensação de que o chão se quebraria, não era o mesmo
efeito daquele quarto, lá de fato o piso era de vidro, mas o silêncio
era tão intenso que meus passos faziam barulho, como se estivesse
pisando em cacos de vidro. Arrepiei-me, aquele lugar era
assustador.
Depois de olhar várias portas acabei encontrando a cozinha,
suspirei aliviada. Entrei no cômodo enorme, a cozinha era um estilo
moderno, em tons de cinza e branco, com uma bancada enorme no
centro com um tampo de mármore cinza mesclado com branco,
armários brancos e lustres de cristal. Parecia que nunca fora usada.
Segui até a grande geladeira de portas duplas, abri-a e verifiquei
seu interior. Havia muita comida, frutas, iogurtes, queijos, os mais
variados frios. Escolhi o que precisava para preparar um sanduíche.
Ao finalizar, decidi comer no quarto. Arrumei tudo em uma bandeja,
aproveitei também para separar algumas frutas extras para comer
mais tarde, não queria andar pela casa de novo. Voltei para a minha
prisão luxuosa.
Sentei-me em uma das poltronas e comi com prazer, estava
morrendo de fome. Após a refeição, dormi por algumas horas e
acordei já com a tarde caindo. Viktor não havia retornado, então
decidi tomar um banho.
Enchi a banheira, joguei sais de banho perfumado, despi-me
e observei meu corpo no enorme espelho. As marcas roxas que ele
me deixou já estavam quase desaparecendo, na barriga onde ele
chutou ainda tinha hematomas escuros. Apalpei o local e fiz
expressão de dor, ainda estava dolorido.
Suspirei desanimada, queria entender esse homem, sua
cabeça doentia, no entanto era algo que estava fora da minha
compreensão. Contudo, tentarei penetrar em sua mente, precisava
entender a escuridão dentro dele, só assim eu conseguirei armas
para me defender. Não fisicamente, eu não tinha chances em uma
luta corporal com um homem enorme e forte como ele, mas em
artimanhas, saber podar suas arestas, deixá-lo entender que eu era
a esposa submissa e que fugir dele novamente estava fora de
questão. Nunca mais farei isso. Porém, também não podia sofrer
ataques, não queria que ele me matasse.
Entrei na banheira perfumada e me deitei, a água quente e
as bolhas envolveram todo meu corpo, fechei os olhos e deixei a
água massagear meu corpo judiado. Algum tempo depois, terminei
o banho e me envolvi em uma grande toalha felpuda. Minha pele
estava rosada e aquecida pela quentura da água. Andei
distraidamente até o quarto e não o percebi sentado em uma das
poltronas. O susto foi tão grande que soltei um pequeno grito, minha
alma parecia que saiu do corpo. Empalideci e parei estática. Agarrei
a toalha apertando ainda mais junto do meu corpo.
Viktor me encarava com seus olhos demoníacos, eu já
conhecia aquele olhar, ele tinha planos para mim. Engoli a saliva
várias vezes e decidi pôr meu plano em prática. Colocando um tom
doce na voz e, sorrindo levemente, perguntei:
— Levei um susto, desculpa. Já chegou há muito tempo?
Ele ainda mantinha seus olhos em mim, com uma expressão
enigmática, as mãos entrelaçadas uma na outra na frente do rosto.
As mãos dele eram grandes e assustadoras, arrepiei-me toda só de
imaginar que ele me tocaria com elas.
Ele levantou-se em um supetão, eu praticamente pulei e
respirei pesado. Minha vontade era de recuar, na verdade correr o
mais longe que pudesse, mas me mantive firme esperando ele
aproximar-se de mim, meus olhos alarmados o encaravam
arregalados. Meu coração palpitava forte, eu segurei a respiração,
tinha medo até de respirar e isso o irritar.
Viktor parou a uma distância de dois palmos de mim, tirou o
blazer que usava, o jogou sobre um sofá, em seguida começou a
tirar a camisa. Ele desabotoava a roupa sempre mantendo seus
olhos fixos em mim, eu via labaredas de fogo crispando de seus
olhos azuis aterrorizantes. Seus ombros largos e o peito musculoso
e liso se revelaram a minha frente. Eu estava hipnotizada por
aqueles contornos fortes, ombros largos e braços avantajados. O
homem mantinha um físico perfeito; se fosse em outras
circunstâncias o acharia atraente. Mas toda aquela musculatura me
deixava mais apavorada, eu não tinha chances contra ele, me sentia
um bichinho acuado e sem forças.
Aquilo que não queria que acontecesse aconteceu, as
lágrimas fluíram de meus olhos e caíram livremente, eu sabia que
essa minha atitude poderia ter consequências, o Viktor já me bateu
antes por chorar, mas eu não conseguia, ele me aterrorizava
demais, me subjugava e a única coisa que fazia era chorar e pedir a
Deus que tudo acabasse logo.
Segurei um soluço na garganta quando ele levantou uma das
mãos e passou no meu rosto, em seguida ele tirou alguns fios de
cabelo úmidos da minha testa, ele fazia tudo com carinho, mas já
antecipava o tapa que viria em seguida.
— Por que está chorando? — perguntou.
— Me desculpa, eu... eu... — As palavras não saíam.
— Está com medo de mim, benzinho?
— Não...
Ele arqueou uma das sobrancelhas e desdenhou:
— Assim não irá para o céu, Catharine, meninas mentirosas
têm lugar garantido no inferno.
Sua expressão cruelmente arrogante me fez recuar um
passo. Solucei entrecortado e me assustei quando ele me pegou os
braços e me trouxe para junto dele. Ele me beijou ferozmente, sua
boca devorava a minha, seu beijo era duro e exigente e eu podia
sentir seu sabor perverso. Tentei acompanhá-lo, entrelacei a minha
língua com a dele e me entreguei ao beijo.
Viktor levou uma das mãos em minha nuca e agarrou meus
cabelos, forçando a cabeça para a frente aprofundando o beijo.
Inevitavelmente, meus mamilos ficaram intumescidos, soltei a toalha
que até então segurava com toda a força e levei as mãos aos seus
ombros. O nó se desfez e o tecido caiu no chão me deixando
completamente exposta. Viktor rosnou entre meus lábios e me
suspendeu em seus braços, ele me fez entrelaçar as pernas em sua
cintura e me levou até a cama entre beijos.
Meus seios duros e enrijecidos, roçavam em seu peito
lançando arrepios eróticos a minha pele. Nunca me senti desse
jeito, parecia que estava sob o efeito de drogas, ele era intoxicante e
estava completamente entregue.
— Quero ver até onde vai a sua redenção, docinho —
sussurrou entre meus lábios.
Uma vez que ele me colocou na cama, me fez abrir as coxas
e olhou todo meu sexo exposto, ele deslizou os polegares
separando meus lábios da boceta. Ele a estudou atentamente, como
se meu sexo fosse a coisa mais fascinante, eu estava ofegante e
respirava pesado. Ele começou a massagear minha vulva e meu
corpo reagiu produzindo líquido lubrificante. Os dedos dele ficaram
lambuzados e ele os levou à boca, chupando e limpando todo meu
fluido.
— Linda boceta — elogiou com sua voz áspera cheio de
luxúria.
Mantendo minhas dobras separadas, ele traçou minha
entrada com a ponta da língua. Apertei o lençol enquanto ele
devorava minha boceta. Ele explorou meu clitóris e beliscou
levemente com os dentes o broto hipersensível inchado, provocando
uma resposta imediata do meu corpo, eu estava sentindo prazer. Ele
me tinha exatamente onde queria, molhada e sexualmente
eletrizada.
De repente, ele levantou-se e tirou as calças, seu pau estava
duro e enorme, eu já tinha visto toda a plenitude de suas formas
esculpidas, mas nunca desejei que ele me possuísse com aquilo. Eu
olhava o membro fascinada por tamanha perfeição. A cabeça estava
exposta e as veias salientes pulsantes encobriam todo seu
comprimento.
Ele inclinou-se sobre mim, seu corpo enorme me encobriu,
entrei em um momento de pânico, minha respiração ficou pesada.
Todos aqueles sentimentos eram novos para mim, nunca senti
desejo sexual por ele. Ele voltou a me beijar com fervor e de
maneira violenta, segurou meus pulsos e os juntou acima da minha
cabeça. Por instinto, eu tentei me levantar, mas seu corpo me
prendeu firmemente. Só restava me contorcer embaixo dele
tentando escapar. Ele deixou minha boca e sussurrou no meu
ouvido, seu hálito quente fazia cócegas na pele do meu pescoço:
— Fica calminha, docinho, eu não vou te machucar... Por
enquanto.
— Não, Viktor!
— Fique quieta, caralho! — esbravejou.
Imediatamente, parei de me mover, então ele soltou meus
pulsos e pegou um dos meus mamilos entre o polegar e o indicador
e apertou até eu gritar de dor. Ao mesmo tempo, ele mordeu o ponto
sensível entre meu pescoço e ombro. Eu choramingava embaixo
dele, confusa com a reação do meu corpo. Apesar do medo, eu
estava mais excitada do que já estive em minha vida. Na verdade,
essa era a primeira vez que meu corpo reagia positivamente a ter
sexo com ele.
Decidi relaxar o corpo enquanto ele lambia e mordiscava
meus seios e pescoço. Eu podia sentir sua ereção potente de
encontro a minha pele e isso me deixava arrepiada. Satisfeito, ele
liberou meus seios e afagou meus cabelos, como se eu fosse um
baixinho de estimação.
— Boa menina!
Sentindo-me segura, tirei os braços da posição que ele havia
deixado antes, isso provocou sua ira.
— Mantenha os braços acima da cabeça! — rosnou.
Fiz rapidamente. Ele alisou as mãos em meu corpo e se
estabeleceu entre as minhas coxas. Seus dedos afundaram em
minha carne. Ele empurrou com força e grosseiramente provocando
dor. Fechei os olhos e apertei-os. Ele fez isso várias vezes até me
machucar, só parou depois que viu sangue. Ele havia rasgado a
minha pele sensível. Em seguida, ele voltou a lamber-me e enterrou
a língua na minha boceta devorando-a como um homem faminto.
— Venha pra mim — resmungou contra a minha carne
aquecida.
Ele chupou meu clitóris até que meu corpo começou a liberar
ondas de prazer. Entre uma confusão de dor, medo, desejo e
repulsa, eu tive um orgasmo. A sensação foi tão maravilhosa que
parecia que saí do meu corpo, meu núcleo pulsava contra a boca
dele, que me sugava extraindo através do meu orgasmo a última
gota de êxtase. Eu estava trêmula e fraca.
O peso dele caiu no meu corpo e ele tomou meus lábios e
introduziu a língua ao mesmo tempo que entrou em mim em um
impulso forte. Sentindo uma ardência e dor onde ele havia
machucado com o dedo, eu gemi de agonia. Ele me fodeu
ferozmente, à medida que seu pau me penetrava em um impulso
frenético, me esticando, meu corpo cedeu a invasão. Ele pegou nas
minhas pernas e me fez entrelaçar no seu quadril. Gemeu contra a
minha boca e aumentou o ritmo, me fodendo duro e rápido.
— O que você tem, que me enfeitiça, menina, o quê?
Seu orgasmo explodiu e ele liberou sua carga quente dentro
de mim. O homem gemia e apertava meus pulsos com força. Seu
quadril movia-se com impulsos ásperos e seu pau contraía dentro
de mim até que a última gota de sêmen fosse liberada. Eu sentia
ardência e incômodo por causa do machucado.
Ele parecia fraco em cima de mim, seu corpo banhado em
suor irradiava testosterona através dos poros, seus musculosos
rígidos me sufocavam. Ele ainda estava dentro de mim, parecia
exausto e saciado. Passou seus lábios em minha boca, bochecha e
pálpebras. A respiração dele era acelerada e quente contra a minha
pele.
Quando ele parou de se mover completamente, senti sua
respiração voltar ao normal, sua cabeça repousada no vão do meu
pescoço, tive a impressão de que ele havia dormido. Sentia-me
sufocada com seu peso, por isso me movi lentamente para tentar
tirá-lo de cima de mim. Porém, ele não estava dormindo e com
violência, levantou a cabeça e agarrou meus cabelos com força.
— Vai aonde?
— Eu preciso respirar.
— Você é uma pequena feiticeira, me deixa louco por esse
seu corpinho delicioso — falou entredentes.
Com raiva, ele puxou meu cabelo e me empurrou contra a
cabeceira da cama com violência.
— Se pensa que acabei com você, pequena feiticeira, está
enganada, eu só comecei. Vou te foder até deixar seu corpo mole.
Você é um anjinho que me atenta e me faz fazer loucuras. Essa sua
boca tentadora, esses olhos azuis suplicantes me deixam louco. Eu
preciso machucar você, Catharine.
— Não!
— Sim, esse seu jogo de submissa não funciona comigo,
Catharine, sei que planeja ir embora de novo.
— Não irei, eu prometo — tentei acalmá-lo.
Ele riu, uma risada diabólica.
— Eu disse que mentirosas irão para o inferno.
— Eu já estou em um — retruquei sem pensar e me
arrependi em seguida.
Seus olhos sardônicos me avaliavam atentamente, eu podia
ver a maldade espelhada neles.
— A menina medrosa está colocando as asas de fora. Hum...
Não sei se fico contente, ou com raiva. Me pergunto o que você
andou aprendendo com aquelas pessoas com a qual morou?
— Eu não aprendi nada, eles são boas pessoas e não faziam
ideia da sua existência.
— Pois todos morrerão e você, querida esposa, será a única
responsável.
— Não lhes faça mal, Viktor, eu já voltei para você.
— Não voltou com suas próprias perninhas, meu amor, por
isso tive que trazê-la de volta. Me pagará caro, Catharine, por
tamanha ousadia.
— Me desculpa!
— Cale a boca e abre essas pernas!
Ele reiniciou sua posse sobre meu corpo. Sentia-me mal pela
situação do Ramon e da Sra. Pérez. Não sabia como salvá-los do
destino cruel. Não conseguia penetrar na cabeça insondável e
sombria daquele homem, eu me sentia perdida, sem saída.
Como ele disse, transou comigo até me deixar sem forças.
Quando terminou, eu dormi profundamente, meu corpo se desligou
de tudo aquilo. Eu estava exausta.
Havia se passado um mês desde que Viktor me capturou,
agora estávamos no carro voltando para a mansão de Chicago. Não
sei se ficava aliviada ou não, estava com medo e não sabia como
seria a minha vida a partir de agora. Pensava se retornaríamos a
como era antes: ter que ir a eventos, jantares, viajar com ele,
receber empresários em casa. Isso sempre foi um tormento para
mim, nunca sabia exatamente o que Viktor esperava da minha
parte. Meu comportamento sempre foi impecável, porém para Viktor
nunca era o suficiente. Eu vivia com a corda no pescoço com
relação a ele.
— Você quer ver seus pais?
Olhei para o lado onde Viktor estava sentado. Sua expressão
era enigmática. Eu nunca sabia o que esperar dele. O fato de me
perguntar isso me surpreendeu, ele havia feito uma ameaça clara
que acabaria com a vida dos meus pais. Claro que não desejava
que ele cumprisse a ameaça, mas se ele desistiu de lhes fazer
alguma coisa, isso mostrava que, de certa forma, estava abrindo
exceções. Isso me dava esperança para interceder pela Sra. Pérez
e o Ramon.
— Você me deixará vê-los? — perguntei cautelosa.
— Por que não? — retrucou em um tom insondável.
— Sim, eu gostaria — respondi suave, tentando demonstrar
uma confiança que estava longe de sentir.
— Eles estão a esperando na mansão.
Pisquei as pálpebras algumas vezes confusa, não esperava
algo assim. Mesmo perante suas atitudes nos últimos dias de não
me agredir mais e nem me trancafiar naquele quarto horrendo, isso
não significava que foi gentil comigo, não mesmo, muitas vezes as
atitudes dele eram mais expressivas que suas explosões de ira. Na
verdade, quando ele estava assim, ficava mais preocupada com seu
próximo passo. Ele era como uma bomba relógio, aparentava
tranquilidade, mas por dentro sempre tramava algo, a um pequeno
deslize meu, boom!
Sem perceber, chegamos à mansão, olhei a fachada e
relembrei tudo que vivi naquela casa enorme. Minhas emoções
eram um emaranhado de nostalgia, medo e impotência. Viktor
desceu do carro primeiro e, em seguida, abriu a porta para mim. Ele
estendeu a mão e eu a peguei para que me ajudasse a sair. Olhei
em volta, nada mudou, tudo estava exatamente como me lembrava.
As mãos enormes do Viktor tocaram levemente as minhas
costas, ele sussurrou em meu ouvido:
— Bem-vinda de volta ao lar, esposinha.
Arrepiei-me violentamente pela maneira como falou,
entrelacei as mãos nervosa. Senti um medo estranho só de pensar
que estive longe de tudo aquilo e agora estava de volta para aquela
vida da qual escapei. O suspense de não saber o que me esperava
daqui para a frente me consumia. Não dormi bem esses dias. Além
de toda a expectativa sobre um futuro tenebroso, Viktor exigiu minha
atenção na cama. Passamos todos esses dias no quarto transando.
Ele só me deixava poucas vezes para dormir ou comer. Eu estava
exausta.
Ele me lançou um olhar cínico, claramente desfrutando de
meu medo. Pegou em minhas mãos e falou baixo, porém
aterrorizante:
— Vamos!
Subimos os degraus até o saguão de entrada familiar.
Seguimos para a sala principal e meus pais estavam sentados nos
esperando. Assim que nos viu, levantaram-se e minha mãe correu
em minha direção abraçando-me.
— Catharine, filha, como você está?
— Estou bem, mãe — respondi escondendo a emoção.
— Como você some assim, minha querida? Pensamos que
estava morta.
— Estou viva.
Papai se aproximou de mim e olhou-me de alto a baixo com
olhar condenador. Sua aparência estava horrível, nunca o vi daquele
jeito. Os cabelos estavam curtos, a expressão abatida e havia
algumas cicatrizes em seu rosto.
— Fico feliz que esteja bem, Catharine — falou sem emoção,
sem nem ao menos me tocar. Parecia que falava aquilo por
obrigação.
— Obrigada, pai.
Minha mãe pegou em minhas mãos e as olhou, deu um grito
histérica:
— Deus, Catharine! O que aconteceu com suas unhas?
Estão quebradas e sem esmaltes. Sempre te falei que uma mulher
não deve deixar as unhas desse jeito. Vamos logo arrumar isso.
Amanhã mandarei minha manicure cuidar melhor de suas unhas.
— Mãe, não é necessário, não estão tão horríveis assim.
— Vai com ela, Catharine — Viktor ordenou. — Todas as
suas coisas estão exatamente como deixou. Eu e seu pai iremos
tratar de negócios.
Não discuti, segui minha mãe até a saleta particular. Assim
que entramos, mamãe trancou a porta. Zangada, falou entredentes.
— Catharine, o que deu em você? Como faz uma coisa
dessas? Fugir do seu marido?
Fiquei estarrecida. Como minha mãe ousava perguntar-me
isso se ela sabia exatamente quem ele era.
— Não podia continuar vivendo com ele, mãe, a minha vida
era um inferno.
— Catharine, você nos deixou em maus lençóis, Viktor só
nos deixou vivos porque ele não tinha certeza se você havia
morrido. Mas assim que ele descobriu que havia fugido, mandou
seus homens até a nossa casa e nos levaram a um lugar horrível.
Ficamos presos como animais.
Minha mãe pausou e levou a mão à testa. Apenas baixei a
cabeça e me senti culpada por toda aquela situação.
— Eu sinto muito, mãe.
— Sente muito? Com sua atitude, você quase nos matou, o
seu pai foi agredido até ficar desacordado, Viktor queria saber se
nós a ajudamos na fuga.
Não consegui conter as lágrimas. Desolada, sentei-me em
uma das cadeiras, aquilo era um pesadelo. Minha mãe voltou a
falar:
— Catharine, você deveria ser grata ao Viktor por ainda te
querer de volta. Você precisa mantê-lo feliz, para o bem de todos.
— E a minha felicidade? — Choraminguei, minha voz saiu
estrangulada. — Você e papai sabiam quem ele era e me
entregaram em uma bandeja de prata.
— Se você fizesse as coisas direito, Catharine, não passaria
por essa situação. Você percebe que o Viktor sente algo forte por
você? Percebe isso? Seja o que for, é esse sentimento que nos
mantém vivos, inclusive você.
— O que ele sente por mim é doentio, é obsessão. Ele sente
prazer em me subjugar.
— Não importa! Você é a esposa dele, portanto faça o que
tem que ser feito.
Ficamos em silêncio, me sentia uma mosca presa a uma
teia, não havia escapatória para mim, ninguém me ajudaria. Se
antes já não faziam, agora então estava condenada a sofrer nas
mãos do meu marido até o dia que ele decidisse matar a todos.
Porque inevitavelmente isso aconteceria cedo ou tarde.
De repente, ela falou:
— Deixa eu ajeitar sua unha, está um caco.
Minha mãe pegou a caixa de manicure, abriu e separou uma
lixa. Sentou-se à minha frente e começou a lixar minhas unhas. Não
havia argumento. Assim que terminou, ela guardou as coisas e
falou.
— Melhor. Amanhã sua manicure virá para esmaltar sua
unha e espero que Viktor permita que ela venha toda semana como
era antes.
Não falei nada. As coisas não haviam mudado. Como
sempre, meus pais estavam preocupados com as aparências e seus
status, não se importavam comigo e não se compadeciam pelo que
eu sofria. Sabia que eles não tinham ideia da real situação entre
mim e o Viktor, de todas as coisas que passei nas mãos dele e
estava passando, mas eles tinham noção de que eu era agredida.
No entanto, nunca me ajudaram. Minha mãe apenas fingia que não
via meus hematomas, as vezes que ela vinha em casa. Eu também
nunca falei nada sobre as agressões, tudo era tão horrível que não
tinha coragem de compartilhar, principalmente com eles que decerto
não me apoiariam.
Eu e minha mãe voltamos para a sala e meu pai levantou-se
e apenas comunicou, sem ao menos olhar para mim:
— Vamos, Jane, despeça-se da Catharine.
— Cuide-se, filha, amanhã voltarei com a manicure se Viktor
permitir.
Ela olhou para o Viktor, que falou com sua voz grossa e fria:
— Mande somente a manicure, você não precisa vir.
Catharine retornará sua rotina.
— Tudo bem.
Minha mãe beijou minha testa e seguiu meu pai. Ele nem ao
menos me dirigiu a palavra.
Assim que ambos saíram, eu me mantive no mesmo lugar,
não sabia o que fazer. Viktor também continuou sentado me
observando. O silêncio constrangedor foi quebrado pelo toque do
celular dele. Ele atendeu a chamada e levantou-se. Respirei aliviada
e apenas sentei em um dos sofás para esperar ele terminar. Assim
que desligou, ele comunicou:
— Terei que sair, você já sabe como as coisas funcionam.
Ele aproximou-se de mim e me fez levantar. Me olhou por
alguns segundos e beijou meus lábios em um beijo leve. Depois
passou a mão em minha bochecha, a apertou e sacudiu minha
cabeça levemente.
— Comporte-se, benzinho. Se aprontar alguma, seja o que
for, seus pais morrem hoje.
Com isso, ele saiu da sala e seguiu para o saguão da casa.
Olhei através da janela os carros afastando-se. Respirei fundo.
Vaguei os olhos ao meu redor. Estava de volta à minha casa, a
minha prisão e, dessa vez, não havia escapatória para mim.
Subi até o quarto, estava cansada. A casa estava em
silêncio, não vi nenhum dos empregados.
Ao chegar percebi que tudo estava exatamente como antes,
o quarto sombrio me trazia recordações desagradáveis, aquele lugar
foi palco de muitas das minhas agressões. Olhei em direção a
enorme cama impecavelmente arrumada e meu estômago
embrulhou. Corri para o banheiro e vomitei. Só saí quando não
havia nada no meu estômago.
Arrastei-me até a pia e levei a boca, peguei minha escova de
dentes que estava no mesmo lugar e escovei-os. Minha respiração
estava pesada e meu peito doía pelo esforço. Resolvi tomar um
banho. Entrei no closet e, mais uma vez, as lembranças não eram
boas. Percebi que nada havia mudado, nenhum vestido estava fora
do lugar. Abri uma das gavetas e escolhi um pijama duas peças de
flanela.
Tomei um banho de chuveiro quente e logo depois dormi.
Acordei com o Viktor em cima de mim beijando meu rosto.
— Acorda, esposinha, esqueceu suas obrigações?
Fiquei confusa, ele continuou me beijando no pescoço, rosto,
boca e, entre beijos, prosseguiu falando:
— Não ordenou que preparassem o jantar, amor, e tampouco
estava linda lá embaixo me esperando.
— Eu pensei, pensei...
— Pensou errado, eu disse que sua rotina havia voltado —
falou rude.
— Me desculpa.
— Já deveria saber que pedidos de desculpas não me
convencem, no entanto hoje deixo passar esse pequeno deslize,
afinal de contas, você está aqui, na nossa casa, na nossa cama, e
isso me deixa com muito tesão e jantar é a última coisa que quero
agora, a não ser devorar você.
Assim, ele praticamente arrancou minhas roupas e me
possuiu ferozmente.
Mais tarde, estávamos jantando, Viktor parecia mais
relaxado, até uma expressão leve percebi. Então, decidi interceder
pela Sra. Pérez e o Ramon.
— Viktor, posso lhe pedir uma coisa?
— Claro, benzinho, o que você quiser. Você quer alguma
joia?
— Não.
— Um castelo?
— Não, Viktor, não quero nada material.
— Não? — Ele arqueou uma das sobrancelhas e me
encarou enigmático.
— Eu queria... Eu queria que você desse a liberdade para a
Sra. Pérez e o Ramon — respondi rápido para não perder a
coragem.
A expressão dele mudou radicalmente, vi a fúria se formar
em seus olhos, ele largou os talheres e fechou os punhos. Engoli
em seco.
O pânico começou a me dominar, meus olhos se alargaram,
respirei em suspiros curtos, engoli com força, minha garganta se
fechou. O homem à minha frente me encarava com os olhos
possessos, minha pele parecia que ia derreter com a intensidade de
seu olhar ardente. Minhas têmporas pulsavam, o sangue corria
rápido nas veias, fazendo meu coração bombear acelerado.
Eu precisava tentar acalmá-lo e mostrar que eles não tinham
culpa de nada. Devia isso a Sra. Pérez que me acolheu e ajudou
sem nunca pedir nada em troca. Coloquei a vida deles em riso e por
minha culpa estão nessa situação. Então, nada mais justo que
interceder por eles, mesmo que isso custasse a minha pele, porque,
pela expressão do Viktor, ele me esmagaria. No entanto, eu tinha a
obrigação de tentar, era o mínimo que faria por eles.
Reunindo o pouco de coragem que ainda me restava, puxei
ar o máximo que pude, e pedi com a voz mais firme que consegui
colocar:
— Por favor, Viktor, me escuta. Eles não têm culpa, nem ao
menos sabiam meu nome verdadeiro. Eu conheci a Sra. Pérez por
acaso e o Ramon...
— Cale a boca, Catharine! — ele rosnou como um leão
raivoso espumando pela boca.
Meus olhos alarmados, arregalaram-se mais, quando ele
levantou da sua cadeira. Abri a boca para falar, mas a fechei na
mesma hora, não consegui pronunciar nenhuma palavra, minhas
cordas vocais pareciam que estavam com um nó, o medo era tanto
que minhas vistas escureceram e desfocaram por um momento. Vi
quando ele tirou uma arma de trás das suas costas. Meu coração
deu um solavanco, ele começou a bater com tanta força, que
chegou a doer no peito. Pronto! Era o meu fim.
Viktor cruzou a pequena distância entre a gente e aproximou-
se de mim, ele não fazia aquilo de maneira selvagem, caminhava
lentamente, como um leão astuto. Eu não conseguia encará-lo,
apenas fixei o olhar em um ponto da mesa e tentei respirar. Meu
corpo todo tensionou pela expectativa do que viria.
Fiquei tensa e o oxigênio faltou na sala, quando ele colocou
a arma na minha cabeça. Eu não conseguia puxar a respiração,
meu peito estava apertado. Se eu não morrer com um tiro na
cabeça, morrerei com falta de ar. Estava tão apavorada, que
nenhum músculo se movia, minhas mãos não saíam do lugar, por
esse motivo, não consegui levar a mão no bolso para pegar minha
bombinha.
— Está vendo essa arma?
Eu não consegui falar, meus olhos arderam e lágrimas
quentes brotaram e escorreram por minha bochecha.
— Está vendo a porra dessa arma?! — Dessa vez, ele gritou
e eu dei um pulo da cadeira. O metal frio do cano da arma
encostado na minha cabeça me avisava do perigo, o sangue em
minhas veias congelou. Apesar de ser casada com um criminoso,
nunca vi uma arma tão de perto, especificamente encostada em
mim. Sentia-me como um ratinho acuado diante do leão.
— S-Sim — respondi soluçando, as lágrimas já entravam
boca adentro e gotejavam em minha roupa.
— Será com ela que matarei hoje mesmo seu querido
Ramon.
— Não!
Com violência, ele empurrou para longe o prato com a
comida que estava a minha frente e esse voou longe e se espatifou
no chão. Em seguida, Viktor abaixou a arma e colocou-a sobre a
mesa a minha frente. Ele a largou, olhava para aquele objeto
aterrorizada. Eu podia pegá-la se quisesse e matá-lo. Meu Deus! Eu
jamais teria coragem de fazer algo assim, não sabia nem ao menos
manejar aquilo.
— Levanta! — ordenou.
Apertei os olhos e segurei na borda da mesa para ajudar a
me erguer. Eu estava trêmula e meus músculos pareciam que não
sustentariam meu peso. Consegui ficar de pé. Puxava o ar
entrecortado, não conseguia fazer uma respiração completa e isso
contribuía ainda mais para o meu atordoamento.
— Olha para mim.
Virei o rosto e levantei a cabeça encarando-o. Sua face era
uma máscara de ódio, tentei buscar alguma humanidade em seus
olhos, mas não conseguia, só via um monstro. Ele me agarrou e,
por um momento, eu segurei a respiração. Seus dedos traçaram a
pele do meu braço, deixando arrepios em seu rastro, e não era
arrepios agradáveis ou de desejo, não, muito longe disso, eram
arrepios de medo, muito medo.
Suas mãos subiram até meu rosto, eu comecei a fazer uma
prece mentalmente para que aquele tormento acabasse. Ele pegou
em meus cabelos, os puxou e me trouxe para junto do rosto dele.
Encostou testa contra testa. Minha respiração acelerou, e as
lágrimas intensificaram.
— O que você sente por ele? — Sua voz tinha um tom de
raiva, mas, ao mesmo tempo, de insegurança. Não era a primeira
vez que percebi esse contraste, principalmente em se tratando de
Ramon.
— Nada! Somente o vejo como a um irmão.
— Mentira!
Ele me estapeou fortemente em um dos meus ouvidos, que
por um momento pensei que não poderia ouvir mais. Caí sobre a
mesa e algumas louças se quebraram. Sem nem ao menos
conseguir raciocinar sobre o primeiro tapa, ele desferiu o segundo
do outro lado do meu rosto, atingindo o outro ouvido. Um zunido
ecoou na minha cabeça. Eu não conseguia ouvir direito. Mais uma
vez, ele me estapeou e caí no chão.
Senti que ele me pegou nos braços e me suspendeu como
se eu fosse uma pena, me puxou até as escadas e praticante me
arrastou escada acima. Eu não tinha forças para lutar. Minha mente
ficou em branco, não conseguia nem ao menos gritar, meus soluços
balançavam meu corpo, não sobreviverei a isso, o homem estava
completamente tomado pelo... Pelo quê? Ciúme? Será que ele tinha
esse sentimento com relação ao Ramon? Não, talvez possessão,
ele me vê como sua propriedade, e outro jamais deve ocupar minha
mente, mesmo que esse alguém seja apenas um amigo.
O homem estava tão puto, que abriu as portas duplas da
suíte com um pontapé, escancarando-as, tive até a impressão que
uma delas se quebrou. Com brutalidade, me fez entrar e me jogou
sobre a cama. Tentei fugir, mas ele foi mais rápido e começou a me
bater, eu tentava me defender com os braços, mas não adiantou, ele
fechou o punho e socou a minha barriga. Senti gosto de sangue na
boca e me dobrei com as mãos sobre a barriga. Mas ele ainda não
havia terminado, continuou me espancando. Em desespero comecei
a pedir desesperada:
— Para, por favor!
— Você gosta dele, Catharine?
— Não, já te disse que não.
— Ele encostou em você?
— Não, nunca.
— Eu vou matá-lo, irei arrancar suas vísceras com as
próprias mãos. Você é minha e nenhum homem ficará na sua
cabeça.
Ele segurou meu maxilar e me fez encará-lo.
— Abre os olhos, caralho!
Abri, não conseguia enxergá-lo direito. Além do horror de
tudo aquilo, meus olhos estavam turvos de lágrimas e pavor. Ele
praticamente encostou sua boca na minha e falou com os dentes
cerrados, sua voz era horripilante:
— A quem você pertence, Catharine?
— Você.
— Então, por que maldição você pede pela vida de outro
homem?
— Porque ele não teve culpa, nem ele, nem sua mãe.
Com ódio, ele pegou em minha mão esquerda e torceu um
dos meus dedos até quase quebrá-los. Eu gritei de dor, então ele
tapou a minha boca com a mão forte. Arregalei os olhos encarando
aquele rosto demoníaco.
— Pare de chorar e gritar! — ordenou.
Balancei a cabeça positivamente e ele soltou minha boca.
Puxei o ar com muita dificuldade enquanto meu dedo latejava.
Ele me largou bruscamente, caí na cama e me encolhi. Ouvi
seus passos andando pelo cômodo. Percebi que ele entrou no
banheiro. Aproveitei aquele momento para pegar meu remédio e
borrifei algumas vezes na garganta. Suspirei fundo e consegui
respirar completo. Ele voltou e fiquei tensa, senti o colchão afundar,
em seguida ele pegou em meus braços e me fez sentar. Havia um
caixa de primeiros socorros em sua mão. Ele abriu e tirou de lá
gazes e começou a limpar meu machucado no rosto, cada vez que
ele tocava eu me encolhia. Ele limpou o sangue dos meus lábios
cortados. Depois pegou em minha mão e olhou o dedo, eu tentei
puxar, mas ele segurou firme. Então fez um curativo, enrolou gazes
e esparadrapo até deixar o dedo imobilizado. Por último, estendeu
um comprimido, eu o peguei e coloquei na boca sem ao menos
cogitar em não fazê-lo, ele era louco.
Levantando-se de novo, ele foi para o banheiro, olhei para o
frasco de remédio e algo muito ruim passou pela minha cabeça,
pensei em pegá-lo e engolir todo o conteúdo, assim acabaria com
aquele sofrimento. Antes que me faltasse coragem, fiz exatamente
isso, estendi a mão e o peguei, porém me arrependi na mesma
hora, não teria coragem. Apesar de todo sofrimento, amava a vida e
por isso passava por tudo isso, se não já teria desistido. Já estava
pronta para colocar o frasco no lugar, quando ele retornou e viu o
frasco em minha mão, a impressão que passei era de que iria abri-
lo, não retornar para o lugar.
Vi a cor dos seus olhos mudarem para um tom mais escuro,
ele cerrou o maxilar e travou a boca em uma linha fina. Aproximou-
se e eu não consegui me mover, continuei com o frasco na mão.
— O que está fazendo?
— N-Nada.
Ele avançou sobre mim, tomou o frasco da minha mão e
lançou longe. Depois virou-se em minha direção e me deu o copo de
água que havia trazido. Peguei com as mãos trêmulas e bebi alguns
goles. Engasguei quando percebi que ele começou a se despir. Meu
choro voltou, eu o olhava aterrorizada, não era possível que ele quer
transar agora depois de tudo que me fez. Mas era exatamente isso
que iria acontecer, ele já estava nu e completamente ereto.
Ele tirou o copo da minha mão e colocou na mesa de
cabeceira. Sentou-se na cama e abraçou meu corpo trêmulo. Iniciou
beijos varrendo todo meu rosto machucado, ele beijava com
carinho, mesmo assim doía. Ele passou a boca em meus lábios e
me beijou. Eu não correspondi, não podia, apenas fiquei parada,
sentindo as lágrimas quentes escorrerem em minhas bochechas.
Exatamente como sempre foi, no entanto dessa vez ele parece que
se importou com meus ferimentos. Não sei se achava isso positivo
ou negativo, tudo no Viktor era uma incógnita, ele era complexo e eu
não sabia lidar com isso.
Ele me deitou entre beijos e posicionou-se em cima de mim,
seu membro latejante e duro pressionou em minha barriga dolorida
pelo soco. Ele me abraçou tão junto dele que pude sentir seu
coração que batia loucamente, não acreditei que consegui ouvir um
coração, eu achava que não havia um dentro do seu peito. Mas
havia, e ele vibrava. Sua mão deslizou em meu corpo e puxou o
suéter que eu usava para cima até tirá-lo. Em seguida, a calça. Ele
a desceu lentamente, seus olhos estavam cravados em meu rosto, o
jeito que ele me olhava era tão sexy, nada lembrava aquele homem
demoníaco de alguns minutos atrás que me espancou. Segurei um
soluço quando senti suas mãos passearem entre as minhas coxas
até chegarem em meu triângulo encoberto pela calcinha.
A peça que eu usava não tinha nada de sexy, era uma
calcinha de algodão, branca e grande o suficiente para tapar muito
bem o meu sexo e até minha bunda. A usei por ser confortável, mas
Viktor nunca se importou com peças íntimas, eu tinha várias
lingeries sexys que ele me mandava usar as vezes, mas por incrível
que pudesse parecer, ele preferia as roupas íntimas do dia a dia.
— Tão angelical — sussurrou.
Lentamente essa peça também foi retirada e minha vagina
ficou exposta. Senti sua mão massagear toda a extensão da minha
boceta, encoberta por ralos pelos púbicos dourados. Quando ele
tirou a mão, fechei as pernas, não queria fazer sexo com ele, era
degradante ter alguma relação íntima com um homem que me
machucou, mas não tinha opção. Se eu não fizesse, ele me bateria
e me machucaria durante o ato que, inevitavelmente, ele faria, com
ou sem o meu consentimento, então para que tudo não se tornasse
pior do que já era, apenas fiquei quieta.
De novo ele voltou a ficar em cima de mim e levou a mão as
minhas costas, desatou o sutiã e liberou meus seios. Ele jogou a
peça longe e, em seguida, ficou em uma posição de meia flexão, ele
sustentava o corpo com as duas mãos espalmadas contra o
colchão. Ele olhava para mim com um prazer predatório, como se
fosse me devorar. Então, com uma violência que eu não estava
esperando, ele levou uma das mãos atrás da minha nuca e tomou
meus lábios em um beijo erótico, quente, exigente, ele parecia
desesperado, entrelaçando a língua na minha, sugando meus
lábios. Eu comecei a ficar sem ar e tentava respirar o máximo que
podia. Ele soltou meus lábios e puxei oxigênio pela boca. Viktor
ainda beijava meu pescoço, rosto, entre beijos ele sussurrava rouco:
— Te desejo tanto, menina, o que você faz pra me deixar
assim, Catharine? Eu preciso de você, anjo, sacie minha sede.
Suas mãos hábeis deslizaram até meus mamilos e os
apertou, soltei um gemido longo de dor, logo sua boca escorregou
ao longo do meu pescoço até meus pequenos seios, ele os sugou
completamente, meus seios praticamente cabiam todo dentro da
sua boca. Com a outra mão ele apertou o outro seio esmagando-o.
Eu liberei soluços entrecortados de aflição. Sua língua circulou no
meu mamilo rosado freneticamente. Eu comecei a sentir arrepios
pelo meu corpo e um formigamento na minha parte inferior.
Não, não, não, eu preciso lutar contra isso, meu corpo não
pode corresponder a ele, é degradante e nojento, não quero sentir
nada com o homem que me bateu.
Concentrei-me em meu dedo que latejava e em meu rosto
que doía, sim, precisava me lembrar de que ele era um monstro e
eu o odiava.
Apertei meus olhos fechados enquanto ele continuava a me
explorar com a boca e as mãos. De repente, senti a língua dele
passeando pelo meu corpo, um pequeno choro escapou dos meus
lábios e apertei as pernas para que ele não tocasse em minha
boceta, que inevitavelmente começou a lubrificar. No entanto,
aquele gesto só o fez ficar zangado e sem nenhum carinho, ele me
empurrou para cima e bateu a minha cabeça na cabeceira da cama,
por sorte, o encosto era acolchoado e amorteceu a batida. Mas a
violência contida no gesto me deixou apavorada. Não posso
apanhar mais, Deus! Não aguentarei.
Seu próximo passo foi forçar a abrir as minhas pernas. Tentei
lutar, mas foi inútil, ele as esparramou e se posicionou entre elas.
Lágrimas escaparam descontrolada de meus olhos, ele segurou
meu rosto e apertou.
— Lágrimas não irão te salvar, amor, eu adoro vê-las
escorrendo pelo seu rosto lindo enquanto te fodo. Você me pertence
e nenhum babaca vai ocupar sua mente, somente eu, entende isso,
Catharine?
— Sim.
— Eu vou te foder e não há nada que você possa fazer sobre
isso, a não ser sentir meu pau te penetrando. Transarei com você,
Catharine, até ter certeza de que somente eu ocupo seus
pensamentos.
Ele levantou meus braços e os prendeu com as mãos
entrelaçadas na minha. Senti muita dor no dedo que ele havia
machucado e gemi choramingando de agonia. Seu pau afundou em
mim e gritei em choque pela invasão repentina, ele não foi gentil,
minhas paredes internas queimavam enquanto se ajustava ao seu
comprimento e circunferência, eu nunca tive experiência com outros
homens para compará-los, mas, por instinto, tinha certeza de que
Viktor era maior do que a maioria deles, sempre me machucava
com tudo aquilo dentro de mim. Ele fez alguns impulsos de
aquecimento, antes de começar a posse impiedosamente. Suas
mãos cravaram em minha carne e puxou a minha bunda para
acompanhá-lo em cada impulso.
— Ah! Como eu adoro essa boceta apertada em torno do
meu pau.
Rapidamente meu corpo aqueceu-se, parecia que seu pau
era uma vara de ferro quente. Seus impulsos aceleraram, ele
levantou minhas pernas para cima para que me fodesse mais fundo.
Ele me bombeava tão forte, que a qualquer momento me quebraria
no meio, ele estava como um animal selvagem. Em um momento,
ele parou de me golpear e tirou o pau, em seguida introduziu
novamente, ele fez esse movimento algumas vezes, tirava tudo e
depois afundava de novo, até que tirou e desceu o rosto entre as
minhas pernas.
— Adoro olhar para a sua boceta fodida — falou.
Sua língua iniciou movimentos circulares em meu clitóris, ele
o sugou e lambeu até deixá-lo inchado e sensível suficiente para um
orgasmo. Mais uma vez, ele lambeu toda a minha boceta. Eu
respirava ofegante, uma confusão de pensamentos e sentimentos
misturavam-se ao êxtase. Eu não queria sentir nada, mas meu
corpo não conseguia resistir as suas investidas precisas.
Mais uma vez, ele enterrou seu pau dentro da minha boceta
latejante e molhada, dessa vez deitou todo seu corpo sobre mim e
me abraçou, reiniciando sua posse. O pau mergulhava fundo e eu
podia senti-lo batendo no colo do meu útero. Os quadris dele
roçavam no meu clitóris me fazendo sentir ondas de prazer. Viktor
grunhia e o som dos nossos corpos batendo um no outro me
deixavam mais quente e úmida. Ele começou a murmurar palavras
de posse em meu ouvido:
— Minha, meu anjo, minha menina, minha mulher.
Os gemidos, suor, lágrimas, soluços de angústia aflição,
medo, posse, dor, tudo borbulhava em um caldeirão de êxtase e
paixão, loucura e desespero. Era tão intenso, poderoso e infalível
que nada conseguiria quebrar aquele elo. Talvez nem a morte.
Em seu último impulso, senti seu pau contrair e sua carga
quente jorrar nas paredes da minha vagina, seu fluido derramou-se
dentro de mim. Viktor tirou o pau e terminou de ejacular em minhas
coxas, logo em seguida ele pressionou a mão no meu clitóris e eu
tive uma rajada de prazer, senti minha entrada piscar e gritei o nome
dele:
— Viktor!
Um sorriso de triunfo desenhou seus lábios. Fechei as
pernas e apertei. Viktor deitou-se do meu lado de barriga para cima.
Ficamos parados, cada um absorto em seus pensamentos.
Quando ele se recuperou, voltou-se para mim e me abraçou,
estreitando-me forte em seus braços musculosos. Enterrou seu
rosto em minha cabeleira e inalou o perfume. Em seguida me virou
para o seu lado e me fez olhá-lo, ele passou a mão nos
machucados do meu rosto, eu apenas fechei os olhos.
— Vem, vamos tomar um banho juntos — decretou.
Não protestei, levantei-me com a ajuda dele, estava tão
dolorida que andava devagar, ele me puxou pelas mãos até o
banheiro, ligou a ducha e, enquanto esperávamos a água esquentar,
ele posicionou-se atrás de mim e me abraçou, inclinou-se em meu
pescoço e beijou, seu pênis já mostrava que estava pronto para
mais uma vez. Eu não esboçava nada, fiquei apenas observando
nosso reflexo no espelho. Meu rosto machucado, lábios cortados,
uma mancha escura envolta do meu olho. Em minha barriga
percebia-se uma mancha avermelhada e meu dedo, imobilizado. E o
homem que fez tudo aquilo me beijava e acariciava, como se
fôssemos o casal mais romântico. Aquilo me fez ficar enjoada.
O vapor da água quente dominou o cômodo anunciando que
o chuveiro estava quente. Viktor me guiou até lá, eu agia como uma
boneca, simplesmente não reagia. Entramos juntos, ele me
posicionou embaixo do jato forte. Colocou sabonete líquido em uma
esponja e ensaboou meu corpo. Assim que terminou, deixou a água
me lavar. Em seguida, ele me suspendeu e encostou na parede, me
beijou com sofreguidão, ele me fez abrir as pernas e entrelaçar em
sua cintura e de novo me possuiu. Seus movimentos eram vorazes,
firmes e possessivos. De repente, ele me soltou, me fez virar de
frente e me prendeu no vidro do boxe, meus pequenos seios ficaram
esmagados contra o vidro e minha cabeça ficou de lado, também
encostada no vidro. Viktor segurou na minha cintura e me introduziu
por trás. Ele se lançava com força dentro de mim, meu corpo
judiado batia no vidro no ritmo de seus impulsos.
Finalmente, ele gozou e me liberou, pegou um robe e me fez
vestir. Acabei pegando no sono assim que ele me deixou na cama.
Uma certa hora, ele me acordou e reiniciou tudo de novo,
passamos o resto da noite transando, assim como ele prometeu,
não conseguia pensar em mais nada a não ser nele. Em uma certa
altura, ele estava dentro de mim e eu estava tão exausta, que
simplesmente desliguei meu corpo e não vi quando ele terminou.
Aquela noite foi a mais longa da minha vida.
Catharine dormia profundamente enquanto eu a observava
sentado em uma poltrona. Ela era tão linda e vendo-a do jeito que
estava me deixava mais louco por ela. Que caralho! Essa porra de
sentimento me irritava e me tirava do sério. A menina teve a
coragem de pedir pela vida daquele miserável, não era possível que
ela tivesse algum sentimento por ele, mas aquela dúvida martelava
na minha cabeça.
Quando a observei durante o mês que antecedeu sua
captura, eu os via juntos, todos os dias ele a pegava e a levava para
aquele lugar que ela chamava de trabalho. Porém, nunca os vi sair
juntos à noite ou ele passar a noite na casa dela. Mas isso não me
deixava tranquilo, ela ficou um ano longe e, por mais que tenha
mandado investigar tudo que ela fez durante esse ano, eu não tinha
certeza se ela esteve com alguém, principalmente se ela teve algo
com esse Ramon, afinal de contas eles moraram na mesma casa.
Só de pensar que ela viveu sob o mesmo teto com outro homem,
fazia meu sangue borbulhar.
— Maldição!
Eu precisava eliminar esse rato, mas não queria
simplesmente enfiar uma bala na sua cabeça, isso seria muito fácil.
Irei tirá-lo da cadeia e o levarei para o meu quartel general. Ele não
me conhecia, não fazia a mínima ideia quem eu era.
Mandarei que matem a mãe dele na sua frente. Quebrarei o
resto de humanidade que há nele. Depois disso o tornarei um dos
meus associados e descobrirei tudo sobre seus sentimentos e
principalmente se eles tiveram alguma relação. Ele mesmo me
contará tudo. Quando achar o momento certo, o eliminarei, mas
antes farei a prova de fogo, quero saber o que ela sente por ele.
Peguei o celular, contactei o Fred e expliquei o que ele devia
fazer.
Desliguei o aparelho, olhei para a minha mulher, ela não
tinha um sono tranquilo, se movia de um lado para o outro e
respirava pesado. Aproximei-me dela e sentei na cama. Coloquei a
mão em sua testa e senti que estava muito quente. Percebi que ela
não conseguia respirar, Droga! Ela estava tendo uma crise.
Rapidamente peguei sua bombinha e borrifei em sua garganta, ela
suspirou algumas vezes, o remédio ajudou, mas não parou a crise,
seus lábios já estavam ficando roxos. Peguei o inalador, pinguei
gotinhas de corticosteroide e liguei, coloquei a máscara em seu
rosto. A fiz sentar, essa posição era melhor para ajudá-la a respirar.
O remédio começou a fazer efeito e logo seus lábios voltaram a
coloração rosada.
Quando senti que ela havia melhorado, desliguei o aparelho
e tirei a máscara do seu rosto. Ela me encarava com seus olhos
azuis lindos.
— Sente-se melhor?
Ela balançou a cabaça positivamente.
Eu a abracei e a fiz encostar a cabeça em meu peito.
— Ótimo, amor, não permitirei que morra, jamais a deixarei
partir, nem para a morte.
A noite passada foi “A” noite, Catharine me dava muito mais
do que prazer físico, ela me fazia vibrar, ter uma satisfação
masculina inigualável e eu ficava possuído pela sua aura de
bondade, compaixão e vulnerabilidade. Ah! Como eu gosto e me
alimento dessas fraquezas dela, a subjugo, a manipulo e a faço ser
exatamente o que quero que seja: a minha mulher.
Emoções não faziam parte da minha vida, nunca as senti, eu
olhava para as pessoas e as via como seres inferiores, que se
deixavam levar por sentimentos idiotas, então, simplesmente as
esmagava quando isso me era conveniente. E desde muito cedo
percebi esse meu lado perverso, lembro-me de que nunca fui o
carinha legal da escola, eu já manipulava os “amiguinhos” e sugava
tudo que eu podia deles, depois os descartava.
A minha vida familiar nunca foi estruturada, sim eu tinha pais,
porém nunca senti absolutamente nada por eles. Os tratava com
indiferença. Com o tempo, se envolveram com drogas e álcool,
minha mãe não conseguia lidar comigo, eu a desprezava
simplesmente por demonstrar afeto por mim. Meu pai também
sucumbiu e se entregou ao vício. Olhava com frieza a degradação
deles. Eles morreram em suas próprias desgraças.
Muito cedo já me envolvi no mundo do crime, eu não sentia
medo, empatia, compaixão. Fazia o que tinha que ser feito e isso se
tornou um trunfo para mim. Aos 15 anos matei pela primeira vez. Foi
algo incrível, eu gostei; a sensação de decidir sobre a vida de
alguém me fez parecer Deus. A partir daí decidi me tornar o maior, o
líder, o poderoso. Com vinte anos, já tinha minha organização
criminosa formada. Porém, era pouco, eu precisava me envolver na
sociedade e para isso, me camuflei no empresário poderoso. E
assim o fiz, aquilo que era barreira para mim, eu passava por cima
como um trator, em pouco tempo, aos 25 anos, já era considerado
um dos empresários mais ricos no ramo de entretenimento, com
boates e casa de shows. Em seguida foram os hotéis de luxo,
prédios comerciais nos Estados Unidos e no mundo. Me envolvi em
tudo que me trazia dinheiro e poder. Já era um bilionário antes dos
trinta anos. A capacidade de não sentir emoções me fez chegar
onde estava com facilidade, pois não tinha escrúpulos para
conseguir o que queria, eu apenas fazia se isso me trouxesse algum
benefício.
Paralelo ao meu lado empresário, estava o Boris, chefe do
narcotráfico, isto é, a produção, finalização, distribuição e
comercialização de drogas. Eu comercializava todo tipo de droga
ilegais e criava novas. Tinha laboratórios específicos para a criação
dessas drogas, quanto mais viciante, melhor. Por isso era o mais
temido e procurado pela polícia. E confesso que o mundo do crime
era o que mais me fascinava e é também o que mais me trazia
poder, dinheiro e satisfação pessoal.
As mulheres na minha vida foram sempre objetos de prazer,
sexo fazia parte da minha existência desde que eu era um moleque.
Já comia as menininhas inocentes da escola sem nenhum remorso
em fazê-lo. Na adolescência, me envolvia com as mocinhas de
família. Porém, não me satisfaziam e muito cedo procurei mulheres
maduras, prostitutas, casadas, empresárias. Nunca me envolvi
emocionalmente com nenhuma delas, então só tirava aquilo que
precisava e descartava quando não me interessava mais. Deixei
muitos corações partidos no caminho. Destruí famílias e vidas.
Já Catharine era tudo diferente do que já tive, não era só sua
beleza que me fascinava, mas sua fragilidade, isso me deixava em
estado eufórico e subjugá-la era como um afrodisíaco, ela trouxe
algo a minha vida: sentimento.
Não, não se animem e pensem que esse sentimento era algo
positivo, muito pelo contrário, o que sentia pela Catharine era algo
possessivo, paranoico, obsessivo. Sim, eu não suportava pensar
que ela não tinha sentimentos por mim, aquele sentimento que eu
não era capaz de dar, mas que queria receber dela: amor. Sim, eu
queria seu amor, sua adoração, que em seus pensamentos somente
eu habitasse. E quando ela falava daquele Ramon, não conseguia
me controlar, eu ficava louco. Antes, só o fato dela ser simpática
com outro homem me tirava do sério. Mas agora era algo real, ela
viveu com ele, morou na mesma casa e tinha certeza de que ele
nutria algum sentimento por ela. Contudo, o que eu queria ter
certeza era dos sentimentos dela.
Por esse motivo, já pus o meu plano em prática. Ramon era
um inimigo perigoso, ele mexeu em algo muito precioso: minha
mulher. Por isso, o queria do meu lado, parecia loucura alimentar e
dar munição ao inimigo, mas isso era uma estratégia, eu queria ter
certeza de que Catharine não sentia nada por ele, somente o
sentimento fraterno de irmão. Quando tivesse essa confirmação,
acabarei com a vida dele, assim como acabei com a vida da mãe
dele em sua frente, um tiro certo na cabeça e ela foi para o inferno.
Agora nesse momento, meus homens o “resgataram” de seu
destino cruel: a morte; porém, foi tudo planejado, queria fazê-lo
acreditar que tudo o que aconteceu com ele e sua mãe foi a mando
do marido da Catharine, Viktor Russell, mas ele não saberá disso. O
ajudarei a se vingar dele. Será divertido manipulá-lo.
Girei na cadeira do meu escritório no coração de Chicago,
olhei através da janela enorme de vidro, levantei-me e arrumei meu
terno. Amassei o charuto que fumava no cinzeiro e me dirigi a saída.
Era hora do Ramon conhecer o homem que salvou sua vida.

***

Ele estava sentado em uma cadeira de ferro, seu rosto


encoberto por um saco de pano e as mãos amarradas para trás.
Entrei na sala e sentei-me na frente dele. Cruzei as pernas,
busquei um cigarro no bolso, peguei o isqueiro de prata, abri a
tampa e acendi o cigarro. A ponta vermelha brilhou e eu traguei
profundamente e soltei a fumaça no ar. O perfume da nicotina
dominou o ambiente.
Observei-o por alguns minutos antes de mandar tirar o pano.
Com um sinal, um dos meus homens aproximou-se dele e revelou
sua face. Ele me encarou com grandes olhos negros. Os cabelos
estavam tão curtos que era possível ver as cicatrizes deixadas por
meus “amigos” da cadeia. O rosto também não estava agradável à
vista, havia cicatrizes profundas o que deixava sua face
praticamente deformada.
— Quem é você? — perguntou.
Usando minha camuflagem de bom samaritano, respondi:
— Aquele que vai te ajudar.
— Por quê?
— Porque sei quem fez isso com você e sua mãe.
Percebi seus olhos brilharem ao falar da mãe, ele ainda
sentia emoção e isso seria a sua fraqueza, o que usaria contra ele
mesmo. Idiota!
— Como você sabe de tudo isso?
— Tenho meus interesses nesse caso.
— Quem é você?
— Sou Boris, the Beast, chefe da maior organização
criminosa de Chicago, conhecido como Hell Bloods (Sangue do
inferno).
Percebi que ele arregalou os olhos, ele sabia quem éramos,
pelo menos já ouviu falar, acho que todos já ouviram falar de nós.
Menos a Catharine antes de me conhecer, ela era um anjo.
— E... E o que você quer comigo?
— Quero torná-lo um dos meus e te ajudar a se vingar do
Viktor Russell.
— Não conheço esse homem.
— Sei disso, mas tenho certeza de que conhece a esposa
dele, Catharine Russell, conhecida por você como Mia Stuart.
A expressão dele foi de chocada para raivosa, ele tentou se
soltar.
— O que você fez com a Mia? — gritou.
— Eu não fiz nada, mas o marido dela sim, foi ele que
mandou fazer tudo isso com você e sua mãe.
— Não. — Ele balançou a cabeça em negação, apertando os
olhos.
Quando abriu os olhos novamente, pude ver o ódio
espelhado. Vibrei por dentro. É isso, ele caiu direitinho.
— Eu quero acabar com ele.
— E eu estou aqui para te ajudar. A partir de hoje, começará
seu treinamento. Vou torná-lo forte para destruí-lo e tirar a Mia dele.
A expressão dele se tornou suave ao falar dela, não havia
dúvidas, ele gostava da minha mulher. Com frieza e controlando
meu instinto assassino, perguntei:
— Temos um acordo?
— Temos.
— Perfeito!
Fiz sinal para um dos meus homens aproximar-se e mandei
que o desamarrasse. Assim que ele estava livre, estendi minha mão
para selar o acordo.
— Seja bem-vindo ao Hell Bloods!
Ele apertou minha mão. A partir daquele momento, seu
destino estava traçado.

***

Olhei para a minha esposa linda a minha frente, ela estava


com medo, podia senti-lo. Mandei chamá-la em meu escritório, um
boquete dela era a única coisa que queria agora. Observei seu rosto
machucado, eu gostava disso, a aparência dela com minha marca
me fazia sentir mais tesão, meu pau parecia uma rocha querendo
estourar as calças. Caralho! Só ela me deixava assim.
— Vem aqui, anjo. — chamei-a fazendo sinal com a mão.
Ela caminhou até mim com passos vacilantes, frágil, em seu
rosto havia o pânico. Não baterei nela, não havia motivo, apenas
queria que usasse essa boquinha linda. Ela sabia me satisfazer com
ela. O jeito tímido dela fazer me deixava louco.
Quando aquela coisinha linha chegou perto, parou sem
saber o que fazer, eu estendi as mãos e ela as pegou, puxei-a para
cima de mim e ela sentou em meu colo, a fiz abrir as pernas e
minha ereção roçou em sua boceta, que, como sempre, estava
encoberta pelas suas calcinhas angelicais que eu adorava. Amava
pensar que a corrompia, que a fodia, que fazia sexo com ela bruto.
Mesmo assim, ela mantinha seu ar inocente, tímido e angelical. Isso
me deixava mais fascinado por ela.
Ainda estava com raiva dela, pela ousadia de ter fugido de
mim, mas isso me deu mais munição para puni-la. Esfreguei meu
pau com vigor nela.
— Sente meu pau, docinho?
— Sim.
— Gosta dele?
— S-Sim. — Ela se engasgou ao falar.
— Quer engoli-lo?
Ela não falou nada, então agarrei em seus cabelos com força
e a puxei para junto do meu rosto, rosnei.
— Quer engoli-lo? — perguntei de novo.
— Sim — respondeu chorosa, com as lágrimas descendo em
seu rosto.
Caralho! A Catharine me irritava com essas lágrimas, ela
sabia que isso não me comovia, mas insistia em derramá-las. Sem
paciência, a fiz se ajoelhar entre as minhas pernas. estava sentado
na cadeira do escritório e ela ficou embaixo da mesa.
— Faça seu trabalho, amor.
Timidamente, ela começou a desabotoar o botão da calça e
abriu o zíper. Em seguida, a desceu até embaixo. Fez o mesmo com
a cueca, minha enorme ereção bateu em sua cara, tinha um pênis
maior que a média e isso sempre foi uma vantagem, além de grande
era grosso, tinha um pouco de dificuldade ao penetrá-la.
Sempre encontrava resistência, mas quando ele entrava, se
ajustava perfeitamente em seu canal apertado. Isso me dava mais
prazer, eu entrava em outra dimensão quando estava dentro dela.
Ela se assustava com ele, adorava ver seus lindos olhos
arregalados ao se deparar com minha virilidade. Mas a boca dela
também era uma delícia.
— Vai, amor, me dá prazer!
Ela pegou no pênis com sua mão pequena, ela precisava
usar as duas mãos para fechar a circunferência do pau. Catharine
iniciou lambendo a ponta da cabeça, respirei fundo e fechei os
olhos. Aquele jeito tímido dela fazer aquilo me deixava louco. Aliás,
tudo nela me deixava louco.
Senti quando ela introduziu meu membro até a metade em
sua boca, segurei os cabelos dela e puxei, soltando um gemido de
satisfação. Empurrei a cabeça dela mais fundo, ela se engasgou,
tentou tirar, mas eu a imprensei com um sorriso perverso. Ela
controlava a respiração e começava a chupar. Seus lábios
deslizaram subindo e descendo lentamente, eu adorava ver sua
boca aberta preenchida pelo meu pau.
— Isso, anjo, boa menina. Bombeia mais rápido.
Empurrei a cabeça e puxei os cabelos dela para que
acelerasse. Podia ouvir o pau a sufocando, ela tentava o máximo
fazer o que eu mandei, ela sabia como deveria fazer, caso contrário
seria pior para ela. Eu grunhia de satisfação como uma fera,
tamanho era meu prazer.
Olhei para a sua cabeça entre minhas pernas com cabeleira
dourada e longa, seus cabelos quase batiam no chão enquanto ela
me chupava, eu gostava do tom dourado, eles eram brilhantes e
macios. Segurei em um tufo de cabelo e a fiz olhar para mim,
empurrei o pau até o início de sua garganta e ela fechou os olhos e
prendeu a vontade de vomitar. Ela sabia que não podia fazê-lo. Vi
saliva e fluidos sexuais na lateral de sua boca escorrendo, aquela
visão me deu mais tesão.
— Porra! — gemi e apertei mais seus cabelos.
O prazer se formava enquanto meu pau aumentava de
tamanho, latejava dentro daquela boca provocativa, inocente, linda.
Caralho, eu vou gozar forte na boca dela, eu estou louco. Porra!
— Ahhhh!
O orgasmo aconteceu em uma rajada quente e rápida.
Contraí-me em impulsos esporádicos liberando minha carga potente
em sua garganta. Ela parou de me chupar e tentou engolir o máximo
que pôde. Eu puxei o pau de sua boca e o sêmen deslizou na lateral
de sua boca e ainda derramou em seu colo. O prazer foi tão foda
que não parei de latejar e contrair o pau. Respirei ofegante e
massageei os cabelos dela. Ela era perfeita, minha menina
manipulável.
Observei meu pau brilhante pela saliva dela, eu agora relaxei
e a fiz sair de baixo da mesa e deitar seu rosto em meu peito. Ela
respirou pesado e eu a deixei descansar. Essa tarde apenas
começou, assim que ela se recuperasse, irei fodê-la sobre a mesa
do escritório.
Engoli com força tentando controlar meu mal-estar, ainda
sentia o gosto do sêmen dele em minha boca, aquilo fez meu
estômago dar um nó. Minhas narinas inalaram seu perfume
másculo, uma mistura de tabaco e perfume almiscarado. Antes
achava esse cheiro dele insuportável, ultimamente já não achava
isso, parecia que me acostumei.
Senti suas mãos deslizarem em meus cabelos, as batidas do
seu coração diminuíram o ritmo pelo orgasmo adquirido. Estava
sentada em seu colo, com as pernas abertas e a cabeça apoiada
em seu peito largo. Pude sentir seu volume aumentando e
endurecendo, ele estava ereto de novo, eu não sabia como ele
conseguia isso, fazia uns dez minutos que ele gozou na minha boca
e já estava armado novamente.
Senti seus lábios em meu cabelo, suas mãos deslizaram até
a minha cintura e seguraram, começou a mover os quadris e seu
pênis roçou em mim. Tentei controlar o tremor e a resposta do meu
corpo. Parecia loucura, mas minha vagina começou a lubrificar e
meus mamilos intumesceram. Ele me afastou e me olhou, seu olhar
de desejo óbvio fez meu corpo formigar com sensações estranhas.
Eu não queria que ele me possuísse, mas, ao mesmo tempo, meu
coração batia rápido diante daquele olhar intenso. Ele me olhava
como se eu fosse a mulher mais linda do mundo e isso fez-me sentir
poderosa.
Ri de mim mesma. Poderosa? Nunca, Viktor sempre estará
no controle, eu apenas devaneio na imaginação de que posso ter
algum poder sobre ele.
No entanto, ele me levantou e apoiou sobre a mesa, em
seguida empurrou a cadeira dele para longe. Olhando para mim, ele
tirou a camisa e ficou completamente nu. Em seguida, se ajoelhou
entre as minhas pernas, eu não acreditava que ele estava naquela
posição, eu podia vê-lo do alto, seu cabelo castanho bagunçado,
caído em seu rosto e seus olhos azuis me fitavam como se ele fosse
um selvagem, um animal pronto para devorar sua presa, e eu era a
sua presa.
Ele era magnífico, meu coração acelerou, nunca senti algo
assim com relação a ele, sempre o via com medo, mas, naquele
momento, eu estava o desejando.
Não! Não posso sentir algo assim por ele, é horrível. Ainda
sinto os efeitos da surra que ele me deu, meu dedo está inchado e
dolorido e meu rosto roxo.
E tudo causado por aquele homem, que no momento
começou a deslizar a língua na minha coxa interna, sua boca quente
fez uma trilha de fogo em minha pele. Eu fechei os olhos e arfei,
meu coração bombeou sangue rapidamente por todas as minhas
artérias. Ele era diabólico, mas lindo.
Sempre o achei bonito, mas me recusava a enxergá-lo com
bons olhos. No início até tentei, mas no primeiro tapa que ele me
deu simplesmente me fechei como uma concha e se pensei em
nutrir algum sentimento por ele, acabou naquele momento que me
agrediu. Então, a única coisa que eu nutria era repulsa e medo. O
medo era e é o maior sentimento que tinha com relação a ele. Meus
pais nunca me bateram, nem ao menos levantaram a mão para
mim, eu sofria sim, mais ataques psicológicos do que físicos da
parte deles. Contudo, nas mãos do Viktor, eu sofria os dois, sentia-
me uma mariposa presa a uma teia de aranha.
Ele continuou sua sedução, agora sua boca se deteve na
minha vagina, que ainda estava coberta pela calcinha. Ele passou a
língua sobre o tecido e forçou, como se quisesse introduzir na minha
entrada. A sensação era gostosa, o fato de ter uma barreira me
deixava mais excitada e desejosa de sentir sua língua. A calcinha
estava encharcada e Viktor se deliciava de meus fluidos.
Soltei um gemido baixo quando ele começou a deslizar a
minha calcinha, segurei o lábio inferior com o dente tentando não
demonstrar que estava gostando daquilo, mas era quase
impossível, meu corpo todo estava arrepiado e minha vagina
molhada, piscava com um vagalume, dando todo o sinal que estava
disponível para ser possuída.
Viktor lambeu minhas dobras e deslizou a língua por toda a
rachadura subindo até meu abdome, a língua dele era mágica.
Involuntariamente comecei a mover meus quadris para senti-lo
melhor.
Ele levantou a cabeça e me olhou, sorriu de uma maneira
sedutora, cheio de sex appeal e masculinidade, ele sabia que eu
estava gostando daquilo, ele sabia o que estava fazendo com meu
corpo. Minhas bochechas ficaram quentes, senti-me envergonhada.
Porém, antes de eu ter qualquer atitude, Viktor levantou-se,
me pegou pela cintura e me puxou para a sua rocha latejante. Ele
levantou a saia do meu vestido e a tirou pela cabeça, eu não estava
de sutiã e meus seios ficaram nus. Ele me inclinou sobre a mesa e
começou a sugá-los. Rolou a língua no pequeno bico do peito
rosado várias vezes até chupar e deixá-lo sensível, fez o mesmo
com o outro. Suas mãos apertavam meus seios enquanto os
sugava.
Viktor deixou meus seios e começou a deslizar as mãos em
meus contornos, ele as passava pela minha costela e descia até o
quadril e voltava novamente, seus dedos estavam quentes enquanto
traçava as minhas curvas várias vezes. Seu toque parecia mais uma
massagem sensual que erótica. Meu corpo relaxou e eu o arqueava
ao seu toque, seus dedos habilidosos passaram por todo meu
corpo, eu me sentia à deriva, em um estado de completo abandono.
De repente, as mãos dele passearam entre minhas pernas.
Seu toque era rude, seus dedos traçaram minhas dobras sensíveis.
Meu coração acelerou, o medo voltou ao pensar que ele podia se
tornar violento, porém mudou o padrão e começou a introduzir o
dedo sem violência, meu corpo estava agora em plena atenção,
com a minha unidade pingando entre seus dedos.
Isso tudo era novo para mim, Viktor nunca se preocupou com
meu prazer, mas ultimamente ele me proporcionava isso e eu ficava
perdida, meu corpo parecia um instrumento nas mãos dele, afinado
ao seu toque orquestral.
— Quente e molhada para mim — sussurrou. — Você gosta
disso? — perguntou pressionando seu dedo no meu clitóris inchado.
Eu não falei nada, não conseguia, havia uma bola na minha
garganta e não era por falta de ar, mas por pura tensão sexual, eu
estava carregada de tesão correndo por todo meu corpo. Viktor
pressionou mais os dedos no meu clitóris e o dedo mediano afundou
em minha abertura.
— Você gosta disso? — perguntou de novo, ele queria uma
resposta.
— Sim, sim... Oh, sim!
Com isso, ele tirou os dedos e levantou-se entre as minhas
pernas e alinhou seu pau na minha boceta molhada. Eu arfei na
expectativa de recebê-lo.
— Você me quer dentro de você, docinho?
— Sim! Deus! Sim... Me foda! — respondi com a voz trêmula.
Viktor deslizou a ponta do seu pau na minha entrada
molhada, mas não me penetrou, eu sentia uma ardência gostosa.
Ele afundou seu membro, doeu como sempre, eu suspirei trêmula e
liberei um gemido de dor, mas logo todo seu comprimento estava
dentro de mim, meu corpo quente e molhado envolveu em torno de
sua ereção. Eu apoiei os cotovelos sobre a mesa para apoiar.
Ele afundou profundamente, não lentamente, mas bruto,
duro. Ele segurava na borda da mesa com as duas mãos apoiadas,
os músculos dos seus braços pareciam maiores. Eu podia ver as
veias salientes, seu rosto estava vermelho e suado, os cabelos
úmidos agarrados a sua testa.
A testosterona inundava o ambiente quando ele começou os
movimentos, forte, potente, animal, quente, mas, diferente das
outras vezes, eu participava de sua posse. Viktor puxou seus
quadris para trás e eu senti sua espessura deslizar ao longo do meu
canal pulsante, cada um de seus impulsos faziam meu corpo liberar
um prazer que nunca tive, era como pequenos orgasmos, era tudo
diferente do que tive até agora de sexo.
Ele movia muito rápido, seus gemidos e sussurros eram
animalescos, eu também gemia, fiquei chocada com a facilidade
que meu corpo o aceitou e como me senti incrível. Pela primeira vez
me senti mulher, a mulher dele. Viktor parou de mover por um
momento e me abraçou, ele puxou minha bunda para se encaixar
melhor em mim e reiniciou os movimentos, eu segurei em seus
ombros poderosos. Ele bombeava cada vez mais potente.
— Oh, inferno... Porra... Como você é gostosa, anjo... Me
leva à loucura — falou ofegante.
Eu o estava dando muito prazer, gostei da sensação de levá-
lo à loucura, eu nunca havia percebido que, quando ele estava
dentro de mim me possuindo, sempre mostrava esse lado frágil,
fiquei surpresa por ter esse poder sobre ele.
Será que essa descoberta era boa ou ruim?
Eu não sabia, a única coisa que tinha plena certeza é de que
ele estava acabando comigo, assim como eu estava acabando com
ele de tanto prazer. Viktor estava dirigindo meu corpo com toda a
força da sua luxúria.
Continuou os impulsos rápidos, eu o agarrei mais para junto
de mim, estava tão alucinada que cravei minhas unhas em sua
carne e o mordi no ombro, não foi uma mordida forte, mas o
suficiente para deixar uma marca. Meu corpo pulsava e pulsava,
com o suor escorrendo, meus cabelos grudados em minha pele.
Finalmente, a explosão sexual tomou conta do meu corpo e
meu orgasmo aconteceu. Meu corpo atingiu o pico e o longo
orgasmo reprimido rolou como uma avalanche, jorrei líquido em
volta do pau dele e ondas de contrações musculares rasgaram o
meu corpo.
Depois de tanta tensão que antecedeu esse momento, a
sensação não se parecia com nada que havia experimentado. Ele
também gozou me transbordando de seu líquido quente, pela
primeira vez eu gostei de ser preenchida por sua semente.
Ficamos abraçados até nossas respirações voltarem a
normalização. Ele ainda estava alojado dentro de mim e senti seus
lábios em meus cabelos. Ele sussurrou próximo ao meu ouvido:
— Você foi incrível, anjo, agora sabe o que é ser minha
mulher, como se sente sobre isso?
— Eu... Eu não sei.
Ele me afastou e me fez olhá-lo, eu estava envergonhada e
confusa por tudo que tínhamos compartilhado, meus sentimentos
estavam desconexos, não podia acreditar que me entreguei
completamente ao meu carrasco.
Viktor saiu de dentro de mim, rompendo a nossa ligação,
senti uma sucção e uma sensação de vazio. Fechei as pernas e
desci da mesa, percebi que havia líquidos orgásticos sobre a mesa
e que alguns papéis dele estavam bagunçados e espalhados. Ele
virou de costas para mim e olhava através da grande janela de
vidro. A noite estava caindo e já podíamos ver as luzes da cidade
brilhando ao longe. Sua silhueta incrível contrastava contra a luz,
seus músculos avantajados e perfeitos me deixavam fascinada,
desci os olhos até os músculos das nádegas, me contraí e desviei
os olhos.
Não posso admirá-lo, ele é um demônio e jamais terei algum
sentimento por ele, nem mesmo desejo sexual.
Ele voltou-se para mim e seguiu até a mesa, pegou um maço
de cigarro e tirou um, acendeu e fumou tranquilamente recostado na
mesa ao meu lado. Eu não conseguia me mover, estava em estado
de choque. O cheiro da fumaça começou a me fazer sentir mal, por
isso pedi timidamente:
— Posso ir ao banheiro?
— Não.
— Por que não?
Ele voltou-se para mim, sua expressão tornou-se diabólica.
— Você pensa que pode me manipular só porque tivemos
um sexo incrível?
— Não pensei nada disso — me defendi.
— Eu sei que pensa que pode ganhar alguma vantagem
usando essa sua boceta e por isso tentar fugir novamente.
— Já disse que não vou mais fugir de você.
— Hum... Veremos, Catharine.
— Eu só queria ir ao banheiro para me lavar e vestir-me.
— Pode se vestir aqui mesmo, não precisa se lavar, eu gosto
de sentir o cheiro do sexo em você.
Sem saída, peguei as roupas e comecei a vestir-me, tossi
algumas vezes por causa da fumaça, ele continuava o mesmo, não
tinha um pingo de compreensão pela minha doença, parece que
fazia de propósito.
Ele acabou esmagando o cigarro e se vestiu. Quando estava
colocando a camisa, percebeu meu arranhão e a marca dos meus
dentes em seu ombro. Ele passou a mão e olhou para mim.
— Quer dizer que a gatinha linda tem garras e dentes
afiados, hum!
Fiquei vermelha como um pimentão, olhei para o ombro dele
e fiquei horrorizada, eu fiz aquilo. Não acreditava. Ele parecia não
se importar, até sorriu e terminou de se vestir. Ao finalizarmos,
saímos do escritório.
Enquanto descíamos o elevador, Viktor ligou para o seu
motorista avisando que deixaria o prédio. Chegamos até o subsolo e
o carro já estava pronto, entramos e ele se sentou do meu lado.
Viktor parecia ter assuntos para resolver e ficou no celular, eu
apenas olhei através da janela as luzes da cidade e acabei pegando
no sono, acordei com o Viktor me pegando no colo.
— Chegamos em casa, bela adormecida.
Apenas me aninhei mais em seus braços e o deixei me levar
para o nosso quarto. Senti a cama macia em minhas costas, me
aconcheguei e voltei a dormir. Senti os lábios do Viktor em minha
bochecha, ouvi ele falar algo, mas achei que não ouvi direito, talvez
estivesse sonhando. O que ele falou não era possível, nunca. Então,
deixei o sono me consumir.

***

Duas semanas depois...

Estava na sala particular, a manicure que sempre cuidou das


minhas unhas esmaltava-as. Minha rotina havia voltado, os
machucados que o Viktor deixou em meu corpo já estavam
desaparecendo, o dedo que ele havia torcido já se encontrava
melhor.
A nossa vida estava como era antes de eu fugir, continuava
andando em ovos e com medo de fazer qualquer coisa que o
deixasse zangado, mas algo mudou significativamente em nossa
vida sexual, ele ainda era enérgico, insaciável e sempre me
lembrava em não usar o sexo para manipulá-lo, sendo que nem
pensava nessa possibilidade, sabia que jamais funcionaria, então
não perdia meu tempo, mas Viktor não acreditava em mim, apenas
desisti de convencê-lo ao contrário. De qualquer maneira, eu
gostava de transar com ele. Não me sentia bem com isso, mas, pelo
menos assim, nossa convivência era suportável.
Não soube nada da Sra. Pérez e do Ramon, mas não podia
perguntar nada ao Viktor. Porém, sentia uma tristeza enorme por
eles e pedia a Deus todos os dias para que estivessem vivos e
livres, era o que eu queria acreditar.
Quando a manicure terminou de cuidar das minhas unhas e
secá-las, recolheu o material e os guardou. Eu lhe sorri quando ela
se levantou para ir embora.
— Te acompanharei até a porta — comuniquei.
Assim que me levantei, ela segurou em meu braço e falou:
— Alguém mandou um recado.
Ela me passou um bilhete e colocou no meu bolso.
— Se cuida, Sra. Russell, eu mesmo posso encontrar a
saída.
Ela saiu da sala rapidamente. Então, levei a mão no bolso e
peguei o papel, franzindo a testa. Abri e li seu conteúdo. Em poucas
palavras, estava escrito:
Estou vivo e te tirarei dele.
Ramon.

Fiquei estupefata.
Encontrava-me nervosa, sem saber o que fazer, muitas
dúvidas martelavam em minha cabeça.
Como o Ramon descobriu meu paradeiro? A quem ele se
refere? Será que é o Viktor? Mas como ele sabe sobre o Viktor?
Será que a Sra. Pérez contou para ele sobre meu marido? Mas ela
não sabia nem o nome dele. Como ele saiu da cadeia? Viktor sabe
que ele saiu da cadeia? Oh, meu Deus! O que está acontecendo?
Como Ramon entregou esse bilhete a manicure? Qual a ligação
deles?
Andei de um lado para o outro e minha cabeça não parava
de pensar em uma solução para aquele dilema. Eu tinha a sensação
de que alguma coisa não encaixava, Viktor havia me dito que tanto
a Sra. Pérez quanto o Ramon estavam em seu poder, agora esse
bilhete estranho. Peguei o pedaço de papel e o analisei novamente,
eu não tinha certeza sobre a caligrafia do Ramon, mas parecia
muito com a letra dele, o bilhete foi escrito à mão.
A única pessoa que poderia me esclarecer alguma coisa era
a manicure, mas ela se foi, retornaria somente na próxima semana.
Porém, eu tinha o contato dela, podia lhe ligar e pedir para que
voltasse, inventaria alguma desculpa, talvez uma unha quebrada ou
algo assim. Não conseguirei esperar até a próxima semana para
confrontá-la. Sabia que Viktor controlava meu celular,
provavelmente ele saberia da ligação, mas essa não era a primeira
vez que eu ligava para ela.
Peguei o aparelho, procurei o número da mulher, logo achei.
Parei para pensar. Não, não posso ligar hoje, Viktor achará
estranho, esperarei até o dia seguinte, tenho que inventar uma
ótima desculpa para pedir que a manicure retorne antes do dia
marcado.
Um calafrio percorreu minha espinha.
Isso pode ser uma armadilha do Viktor. É isso, foi ele que
mandou o bilhete se fazendo passar pelo Ramon. Mas qual o intuito
disso? Ele queria me testar para ver se fugirei novamente. É a única
explicação. Então, para provar que não farei isso, terei que entregar
o bilhete para ele. Mas e se não for isso? Com certeza ele matará o
Ramon, eu não posso arriscar a vida dele e nem da Sra. Pérez. Se
realmente foi o Ramon que enviou o bilhete, isso significa que ele
fugiu do Viktor.
Contudo, não poderei alimentar essa esperança nele, não
deixarei o Viktor. Se ele realmente conseguiu escapar, quero que
fiquei longe e nem pense em aparecer aqui. Porém, não sei se
mostro o bilhete para o Viktor, ou não. Ah! Realmente não sei o que
fazer.
Estou entre a cruz e a espada.
Sentei-me no banco abaixo da janela, apreciando a vista
exterior, onde se estendia um lindo jardim. Sempre gostei de
admirá-lo, mas não conseguia me concentrar naquele momento,
minha cabeça não parava de pensar sobre o bilhete. Tirei-o, mais
uma vez, do bolso e olhei atentamente, tinha quase certeza de que
era a letra do Ramon.
Um barulho na porta me assustou, guardei o bilhete
rapidamente no bolso e olhei para a porta assustada. Deparei-me
com o olhar intenso do Viktor sobre mim, sua expressão não
denunciava em nada se ele viu quando escondi o bilhete.
— Algum problema? — perguntou.
— Não, só me assustei com sua chegada, não o esperava
cedo.
Levantei-me e segui em sua direção, minhas pernas estavam
moles, mas tentei manter a postura. Cheguei perto dele e lhe sorri
timidamente, ele continuava com seu semblante insondável,
realmente não conseguia desvendá-lo. Fiz uma pergunta somente
para disfarçar. Meu coração batia rapidamente.
— Como foi seu dia?
Ele nada respondeu, continuou me examinando. O sorriso
deixou meu rosto, o medo me fez recuar um passo. Imediatamente
a mão dele segurou meu pulso com força, eu congelei, ele me
puxou para junto do seu corpo poderoso.
— Não minta para mim.
Abri a boca e fechei sem som. Aquele era o momento de lhe
revelar sobre o bilhete. “Faça, faça”, era o que martelava em minha
cabeça, mas não podia fazer isso, ele caçaria e mataria o Ramon.
Apesar do aviso claro em seus olhos, optei por mentir.
— Não estou mentindo sobre nada, por que o faria?
Realmente apenas me assustei com sua chegada repentina.
Ele levantou uma das mãos, seu rosto tornou-se mais
aterrorizante, eu comecei a tremer. A mão dele deslizou em minha
face, me sentia em um precipício, o silêncio austero foi cortado por
ele.
— Realmente espero que não esteja me escondendo nada,
Catharine, eu descobrirei, você sabe disso.
Com essa ameaça pairando no ar, do mesmo modo que sua
expressão se tornou severa, tornou-se suave. Ele soltou meu pulso,
que até então segurava com força, e comunicou como se nada
tivesse acontecido.
— Vamos sair, arrume-se, iremos a inauguração do meu
novo clube.
Não sei se ficava aliviada ou não, Viktor era como um
camaleão, somente com uma diferença do animal, ele não mudava
de cor, mas de humor conforme sua vontade. De qualquer maneira
não podia lhe contar a verdade agora, eu já menti e as
consequências disso serão desastrosas, no entanto, precisava
ganhar algum tempo para prevenir o Ramon, talvez ele não fizesse
ideia de quem era meu marido. Faria isso por eles, essa era a minha
única esperança de salvar a vida da Sra. Pérez e do Ramon.
Viktor e eu saímos da sala, ao chegarmos no hall ele
comunicou:
— Vou para o escritório resolver alguns assuntos, vai para o
quarto e esteja linda essa noite. Tudo o que quero que use está
separado no seu closet, já sabe como deve ser.
Ele me beijou de maneira casta e se afastou. Suspirei
aliviada, ficava tensa em sua presença. Subi as escadas
cuidadosamente. Ao entrar no quarto, Carmen, uma das
empregadas, estava me esperando. De forma polida e gentil, ela
curvou-se e, em seguida, falou:
— Preparei um banho de banheira, Sra. Russell.
— Obrigada, Carmen, eu adoro banho de banheira.
— Isso é bom, senhora, ajuda a relaxar.
Seguimos para o banheiro, relaxar era o que eu precisava no
momento, a minha vida estava confusa, não sabia o que seria de
mim quando Viktor descobrisse sobre o bilhete. Sabia que ele
descobriria, mas queria ganhar tempo.
Carmen gentilmente ajudou-me a despir, eu não gostava
disso, precisava ter minha privacidade ao me banhar, mas, às
vezes, Viktor ordenava que ela viesse me ajudar. Entrei na banheira
e afundei na água quente. A empregada recolheu minhas roupas e
se dirigiu para a saída, imediatamente me lembrei do bilhete que
estava no bolso da calça e a chamei em alarde:
— Espera, tem algo no bolso da calça.
Saí da banheira apressada e a alcancei, ela me devolveu a
calça, virei-me de costas, não queria que ela visse, apesar de ter
uma aparência agradável, ela era empregada do Viktor, não podia
confiar. Tirei o bilhete e amassei na mão, devolvi a calça para ela.
— Vou guardar isso no meu closet, com licença.
Entrei no cômodo e olhei em volta, decidi guardar em uma
das gavetas embaixo das roupas. Coloquei a mão sobre o peito,
esconder aquilo estava se tornando um tormento, não sabia se
conseguiria aguentar a pressão. Senti falta de ar, peguei a
bombinha e borrifei algumas vezes até sentir a respiração regular.
Retornei para o banheiro e terminei meu banho. A empregada não
estava mais no cômodo.
Voltei para o closet e avaliei o vestido que o Viktor escolheu.
Era lindo, de veludo verde-musgo, mangas compridas, parecia ser
bem-comportado, porém apenas um detalhe o tornava ousado: uma
fenda na lateral que descia do início da minha coxa até os pés.
Provavelmente ao andar, toda a minha perna esquerda ficaria
exposta. Não gostava disso, Viktor me fazia usar essas roupas
provocantes e sempre encontrava um motivo para me punir por me
“exibir” para os homens. Mas não tinha saída, se ele escolheu esse,
terei que usá-lo.
Sentei-me e massageei meu corpo com hidratante, até
deixar a pele lisa e brilhante, em seguida usei o conjunto de lingerie,
uma calcinha fio dental e sutiã meia taça que valorizava o decote
dos seios. O vestido não tinha muito detalhes, era liso. Nos pés
calcei sandálias de salto alto e um colar de esmeraldas e pulseira
seguindo o estilo do colar. Nos cabelos apenas fiz um coque alto
deixando alguns fios soltos e prendi com uma fivela de diamantes.
Os brincos faziam conjunto com o colar. No rosto optei por uma
maquiagem elaborada. Ao finalizar, saí do closet e me deparei com
o Viktor, ele já estava pronto em um smoking preto. Olhou-me de
cima a baixo e esboçou um sorriso satisfeito. Aproximou-se de mim
com um casaco de vison preto. Estávamos no outono e o clima já
estava frio. Ele me ajudou a vesti-lo.
Um Rolls Royce guiado por um motorista uniformizado
estava nos esperando. Entramos e seguimos para o clube. Sentia-
me nervosa, não sei como seria essa festa depois de um ano sem
aparecer em eventos sociais com ele, não sabia o que o Viktor falou
para as pessoas sobre mim pela minha ausência, por isso decidi lhe
questionar.
— Viktor, o que você falou para as pessoas sobre mim?
— Nada, não tenho que dar satisfação a ninguém sobre a
minha vida.
— Terá pessoas conhecidas lá?
— Muitas.
— Mas se alguém me perguntar onde estive durante esse
último ano, o que posso dizer?
— Diga o que quiser, Catharine, só espero que o que você
diga me deixe satisfeito.
Ele jogou a responsabilidade toda nas minhas costas, previ
que essa festa seria um pesadelo. Respirei fundo tentando controlar
a falta de ar.
Chegamos ao local, tentei acalmar meus nervos ao olhar a
fachada do clube luxuoso com as luzes coloridas. Descemos do
carro e o gerente aproximou-se nos cumprimentando
respeitosamente. Havia uma fileira de funcionários nos aguardando.
Viktor passou por eles sem nem ao menos lhe dirigir um olhar, eu
sorri para alguns educadamente. Seguimos para a grande cabine
privada no segundo andar. Havia poucas pessoas no local, das
quais a maioria conhecia de outros eventos, Viktor selecionava bem
as pessoas que o cercava.
Sentamo-nos em uma mesa, logo garçonetes em saias
pretas de couro curtíssimas e tops nos serviram bebidas e
aperitivos, eu apenas pedi água. Estava nervosa, com certeza as
pessoas viriam falar comigo e eu não sabia o que lhes dizer.
Observei os olhares curiosos sobre mim.
Depois de algum tempo, percebi que Viktor fez um sinal, ele
estava autorizando para que as pessoas pudessem falar conosco.
Uma mulher que já conhecia aproximou-se.
— Querida Catharine, há quanto tempo, não a vi em eventos
sociais, digamos... Um pouco mais de um ano?
— Acho que sim.
— Por onde andou?
— Eu estava em retiro por um tempo. Depois do acidente no
hotel, fiquei muito abalada e passei uma temporada com uns
parentes distantes.
Olhei para o Viktor, sua expressão não revelava o que ele
achou da minha desculpa, mas percebi que aprovou.
A noite transcorreu calma, até me surpreendi. Apesar da
curiosidade, as pessoas mantiveram uma conversa leve.
Uma certa altura, Viktor me comunicou que iria tratar um
assunto e que já voltaria. Estranhei, pois ele jamais me deixava
sozinha em lugar nenhum, eu até podia andar pelo salão, mas
sempre com a presença dele, nem mesmo em seu clube. Ele
afastou-se e sumiu. Dei de ombros e continuei conversando com as
pessoas.
Estava distraída ouvindo uma conversa de uma das
mulheres, quando percebi um garçom aproximar-se de nós, ele
estava com uma bandeja na mão e me lembrava muito uma pessoa,
porém não sabia a quem exatamente.
— Um drink, senhora.
Arrepiei-me até o último fio de cabelo, sem acreditar no que
meus ouvidos ouviram. Aquela voz era do Ramon, não havia
dúvidas disso.
Isso é real? Meus olhos arregalados cravaram no rosto dele.
Não podia acreditar que o Ramon estava na minha frente. O que
significa isso?
Ele me encarava sério, esperando que eu pegasse a bebida
que me oferecia.
Não consegui me mover, meus pés pareciam colados no
lugar. O medo começou a correr em minhas veias, provocando-me
espasmos de pânico e terror. Olhei em volta rapidamente para
procurar o Viktor, não o vi em lugar nenhum, mas alguma coisa me
dizia que ele voltaria em breve, ou pior, estava me observando de
algum lugar. Fiquei pálida e cambaleei, as mulheres que estavam
comigo perceberam meu alarde e me ampararam.
— Está tudo bem, Catharine?
Ramon, sem nenhum vestígio que me conhecia, pegou um
copo de água e estendeu em minha direção.
— Água, senhora.
Eu o encarava muito assustada, em seu rosto havia muitas
cicatrizes, eram feias, mas eu conseguia vê-lo através delas. Seus
cabelos também estavam diferentes, loiros, provavelmente ele os
pintou. Seus olhos negros também estavam em outra tonalidade,
não pretos como antes, mas verdes. Ele estava disfarçado.
— Catharine, bebe um pouco de água, você está pálida. —
Uma das mulheres pediu.
Estendi minhas mãos trêmulas e segurei o copo que o
Ramon oferecia em minha direção, ele fechou a mão envolta da
minha e olhou diretamente nos meus olhos, percebi que ele me
entregava algo junto com o copo de água. Apertei bem em minhas
mãos e ele soltou, curvou-se e saiu. Eu o segui com os olhos até ele
desparecer na multidão.
Levei o copo de água até a boca e tomei um gole, apoiei o
copo sobre a mesa e escorreguei a mão segurando o que o Ramon
deixou para mim. Para esconder aquilo sem que ninguém
percebesse, abri a bolsa, peguei a bombinha e deixei o pedaço de
papel dentro.
— Acho que preciso disso — falei para as mulheres. Borrifei
um pouco do remédio, bebi mais um pouco de água e as mulheres
voltaram a conversar. Eu não escutava nada do que falavam, minha
mente estava voltada toda para o Ramon.
Meu Deus! O que significa tudo isso? Como ele conseguiu
entrar aqui? Será que o Viktor o conhece? Alguma coisa está
estranha em tudo isso, onde está o Viktor? Ele nunca me deixou
sozinha assim em um lugar.
Preciso saber o que contém naquele papel. Por isso decidi ir
ao banheiro. Levantei-me e anunciei minha decisão para as
mulheres.
Andei como uma sonâmbula no meio da multidão. Procurei
pelo banheiro e logo o encontrei. Entrei rapidamente e me tranquei.
Peguei o bilhete e abri, com as mãos trêmulas de nervoso e medo.

Mia,
Me encontre no corredor para a cozinha, terceiro à esquerda.
Preciso falar com você. Não tenha medo, seu marido não
aparecerá. Estou te esperando.
Ramon.

Fiquei mais horrorizada ainda com esse bilhete.


Que espécie de assunto ele quer falar comigo? Ele sabe
quem é o Viktor? Como ele tem certeza de que ele não aparecerá?
Aquilo não era algo normal, o Viktor jamais sumiria assim. Será?!...
Apertei os olhos. Uma coisa horrível passou pela minha
cabeça e um sentimento estranho atingiu meu coração. Eu não
queria sentir isso, mas era tão forte que lágrimas escorreram pelo
meu rosto.
Será que o Ramon fez alguma coisa com o Viktor? Será que
ele o matou?
Sem perder mais tempo com hipóteses, guardei o bilhete.
Precisava saber de tudo, e só o Ramon podia me esclarecer. Saí do
banheiro cuidadosamente, olhei em volta, parecia tudo tranquilo.
Segui na direção que o Ramon indicou. Andei pelo corredor com
pouca luz olhando para todos os lados, alguns garçons passavam
com as bandejas. Senti meu braço sendo puxado e uma mão
tapando minha boca.
— Sou eu, não se assuste.
Ele me levou para uma despensa de bebidas e fechou a
porta. Em seguida me abraçou. Fiquei sem reação, não acreditava
que estava naquele lugar com ele. Afastando-me ele falou
rapidamente:
— Mia, presta atenção, eu vou te tirar do seu marido, mas
preciso da sua ajuda.
— Você conhece o Viktor? Como você o conhece?
— Eu sei quem ele é e tudo o que fez a você, a mim e minha
mãe.
— Como?
— Alguém está me ajudando.
— Quem?
— Um homem tão poderoso quanto o seu marido.
— Eu não acredito nisso. Você não sabe quem é o Viktor, ele
é muito perigoso. Por favor, Ramon, vai embora, suma daqui, vai o
mais longe que você puder, leve a Sra. Pérez para um lugar seguro.
— Não, Mia, eu sei que tem medo dele e por isso vou te
ajudar a fugir, dessa vez será para sempre.
— Como conseguiu entrar aqui?
— Já disse, o homem que está me ajudando conhece seu
marido, ele quer se vingar dele. Foi ele que me colocou aqui. Nesse
momento, eles estão juntos.
Eu não conseguia acreditar, o Viktor sendo manipulado por
alguém era tão irreal quanto aquela conversa que eu estava tendo
com Ramon. Precisava convencê-lo a fugir, antes que fosse tarde
demais.
— Vai embora, Ramon, não deixarei meu marido. Eu quero
ficar com ele.
— Sei que fala isso da boca para fora.
— Por favor, Ramon, vai embora, ninguém pode com ele,
salve a sua vida e da sua mãe. Isso tudo pode ser uma armadilha
dele.
— Ele mandou matar a minha mãe! — Ramon gritou.
O silêncio era denso, somente cortado pela minha respiração
pesada. Coloquei a mão na testa, não, não era possível. Recostei-
me na parede perplexa, as lágrimas grossas escorreram em meu
rosto. Senti falta de ar, ela estava morta, ele a matou, ele a matou.
— Eu sinto muito! — Não conseguia nem falar direito
tamanha era a minha tristeza.
— Mia, a manicure te entregará o bilhete te dando todas as
coordenadas para a fuga. O homem que está nos ajudando é muito
rico, ele nos disponibilizou um jato. Somente esteja no local no dia
marcado.
— Não farei isso. Salve a sua vida, vai embora!
Andei até a porta e já estava pronta para sair, mas Ramon
me segurou firme me impedindo:
— Confie em mim.
Encarei-o com benevolência, levei a mão em seu rosto
marcado pela maldade do Viktor e o acariciei. A culpa me consumia,
eu causei a destruição dessa família. Não podia contar nada para o
Viktor sobre o Ramon, não o farei, ele poderia me matar, mas jamais
revelarei que estive com ele.
— Salve sua vida!
Com isso, deixei o local e praticamente corri para o salão,
com o coração batendo como tambor. Não olhei para trás, apenas
queria voltar para o lugar que o Viktor me deixou e rezar para ele
não perceber minha ausência ou já ter voltado. De qualquer
maneira, não podia mais perder tempo, provavelmente ele saberia
desse meu pequeno desaparecimento, por sorte eu disse que
estava indo ao banheiro, só esperava que ele acreditasse que só fui
ao toalete.
Olhei para trás para me certificar de que Ramon não me
seguia, quando dei de encontro com uma parede de músculos, com
impacto quase caí. Meu coração acelerou ao olhar para o homem
alto que bloqueava meu caminho. Prendi a respiração ao perceber
quem era.
— Viktor — falei baixo.
— Vai a algum lugar? — O tom da voz dele era áspera, mas
não revelava nada.
Não conseguia falar, não queria demonstrar meu nervosismo
para não denunciar o que de fato estava fazendo, mas não
conseguia controlar o tremor das mãos.
— O gato comeu sua língua, anjo? — Percebi a ironia em
sua pergunta.
— Eu... Eu... estava no banheiro. — Gesticulei aprontando
para o local onde ficava os banheiros.
— É mesmo? Mas você estava vindo do outro lado.
Engoli as lágrimas que insistiam em subir em meus olhos,
minha garganta estava quente e dolorida pela pressão das lágrimas.
Ele sabia e ia acabar comigo. Encarei-o suplicante, em busca de
misericórdia, mas ele me sondava com olhos furiosos. Ele
aproximou-se e eu fiz todo o esforço da minha alma para não correr,
fugir daquele demônio, do meu marido. Ele encostou a boca em
meu ouvido sem ao menos me tocar.
— Eu adoro quando mente para mim, Catharine, me dá
munição para te punir — sussurrou.
— Viktor...
Ele me silenciou pondo o dedo em meus lábios.
— Tarde demais, esposinha. Quero que caminhe atrás de
mim, abaixe o olhar, não olhe nem para o lado e não fale nada, nem
um pio.
A inflexão em sua voz deixava claro que era extremamente
prudente obedecê-lo. Ele caminhou entre as pessoas e eu apenas o
segui, algumas das mulheres, percebendo que estávamos deixando
o local, se aproximaram para se despedir, mas eu nem ao menos
lhes respondi, sabia que pareceria rude, mas naquele momento não
estava pensando na etiqueta.
Viktor também não deu atenção a ninguém, ele andava com
a arrogância de quem não devia satisfação de seus atos. Saímos
por uma porta, um segurança a abriu e a segurou para que
pudéssemos passar, em seguida a porta se fechou atrás de nós.
Percebi que estávamos na entrada dos fundos do clube. Notei que o
carro que estava nos esperando não era o mesmo que viemos, o
local era sombrio e tudo à volta estava em silêncio, somente
quebrado pelo meus passos e do Viktor.
Queria lhe explicar, dizer que realmente havia ido no
banheiro, mas que errei o caminho. Parei quando estávamos
próximos do carro. Precisava tentar, não revelaria sobre o Ramon,
não podia fazer isso, mas precisava apaziguar sua raiva.
— Viktor, deixa eu explicar...
Com uma fúria, ele voltou-se e me pegou nos braços,
empurrou meu corpo frágil na lateral do carro. Bati tão forte que tive
a sensação de que desmaiaria. Ele me deu um tapa forte no rosto e,
em seguida, fechou suas mãos enormes em meu pescoço e
começou a apertar. Seu rosto era uma máscara transfigurada de
ódio. Eu segurei em seus braços musculosos e tentei tirá-lo do meu
pescoço, mas era inútil, ele apertava mais ainda. De repente, ele me
soltou e segurou em meu maxilar, me fez encará-lo e rosnou como o
cão do demônio. Sentia seu hálito morno em meu rosto e apertei os
olhos.
— Eu falei para não abrir a boca, qual a porra da parte que
você não entendeu?
Ele me soltou e me afastou do carro, abriu a porta e me
empurrou no banco com um safanão e bateu a porta com fúria, eu
pulei de susto e me encolhi. Ele seguiu para o lado do motorista e
assumiu o volante, percebi que ele mesmo iria dirigir.
As lágrimas que tanto segurei agora rolavam soltas, peguei a
bombinha e me mediquei. Dei um pulo ao ouvir sua ordem.
— Coloca o cinto! — ordenou seco.
Fiz o que ele mandou, eu estava fraca e apreensiva, isso que
ele fez era só uma demonstração do que viria em casa. Não tinha
certeza de que ele sabia sobre o Ramon, eu esperava que não, já
bastava a Sra. Pérez ter morrido, eu não queria carregar mais essa
culpa. Viktor dirigia o carro potente em alta velocidade, olhei para a
mão dele apertando o volante, a mesma mão que minutos atrás
quase me matou.
Seguimos em silêncio até em casa. Ao chegarmos, ele
desceu do carro e abriu a porta do meu lado.
— Desce!
Eu não queria entrar na casa, mas não tinha saída, saí
hesitante. Viktor me puxou com violência me fazendo sair do carro
rápido. Ele bateu a porta e me arrastou escada acima. Meu Deus!
Ele vai me matar, por isso preciso me defender.
— Viktor, por favor, vamos conversar.
Ele me ignorou e continuou me arrastando. Ao chegarmos no
topo da escada, eu tentei me soltar de seu aperto. Com meu
movimento, ele se desequilibrou e me soltou. Ouvi seu corpo
enorme rolando a escada e gritei apavorada.
Apertei os olhos e levei a mão na lateral da cabeça, Droga!
Tentei me levantar, estava meio tonto, mas consegui me sentar e
encostar na parede, olhei para o topo, Catharine estava agachada,
seu estado era tão lamentável quanto o meu. Ela parecia em
choque, suas pequenas mãos seguravam com força o corrimão da
escada, além do susto ela ainda tinha a porra do medo da altura.
“Caralho!”, esbravejei mentalmente. No momento que percebi que
iria cair, a soltei para que não viesse junto comigo, por sorte, eu
treinei para conseguir cair de qualquer lugar sem causar maiores
danos, por isso, quando me desequilibrei, me joguei e rolei a
escada, assim amenizou a queda. Rolei até o primeiro patamar e
bati na parede.
Um dos empregados apareceu, então ordenei:
— Vai até a minha mulher.
Ele passou por mim e subiu as escadas, aproximou-se dela
cuidadosamente.
— Senhora! Venha, vou ajudá-la.
— Eu não fiz nada — falou, soluçando.
— Catharine, vai com ele, eu estou bem — pedi.
O empregado ajudou-a a levantar-se e a levou para a nossa
suíte. Enquanto isso me ergui, aparentemente não havia quebrado
nada, só a minha cabeça que latejava. Catharine conseguiu me
nocautear, puta que pariu! Sabia que ela não teve culpa, mas se não
tivesse se agitado para tentar escapar de mim, nada disso teria
acontecido. O empregado retornou e tentou me ajudar.
— Não preciso de ajuda, estou bem.
— Quer que chame o médico, senhor?
— Eu não quero a porra de médico nenhum aqui. Só preciso
agora é de uma boa dose de conhaque.
Ele seguiu seu caminho e terminei de subir. A porra da minha
cabeça não parava de doer, levei a mão no ferimento e sangrava
bastante. Andei pelo corredor atordoado, não via as coisas
claramente. Entrei na suíte e Catharine, que estava sentada sobre a
cama, levantou-se e, insegura, se aproximou de mim.
— Como você está? — perguntou-me cautelosa.
— Vivo.
— Eu sinto muito, Viktor.
Ignorei-a e praticamente desabei na poltrona, fechei os olhos
e apertei fazendo uma expressão de dor. Senti que Catharine
aproximou-se, ela estava preocupada. Isso era bom, usarei essa
culpa dela ao meu favor. Abri os olhos e a encarei.
— Está feliz com o que causou?
— Eu não tive culpa, foi um acidente. Acho que você precisa
de um médico.
— Não preciso de porra de médico nenhum.
— Então deixa olhar o seu ferimento, eu posso fazer um
curativo.
Ela era tão fácil de ser manipulada, minha menina linda.
Vamos ver como ela se saía cuidando do marido ferido.
— Vai em frente, amor.
— Eu vou pegar a caixa de primeiros socorros.
Ela se afastou apressada, apenas fechei os olhos e esperei a
minha enfermeira dedicada voltar. Estou gostando disso.
Senti que ela voltou e se aproximou, antes que ela
começasse a cuidar do ferimento, ordenei:
— Antes de começar, prepara uma dose de conhaque duplo
para o seu marido.
— Eu acho que você não deve beber, Viktor, pode precisar
tomar analgésico para a dor e não é bom misturar remédio com
bebida alcoólica.
Segurei-a no pulso e a puxei, ela caiu em meu colo. Ela me
encarava com aqueles olhos azuis lindos, eu ficava fascinado em
como ela era linda com seus olhos que me encaravam com medo.
Adorava tanto isso, meu brinquedinho. Aproximei meus lábios em
seu ouvido e murmurei:
— A única coisa que preciso agora é de uma dose dupla de
conhaque e de você.
Ela saiu de cima de mim e seguiu até um pequeno bar que
mantinha em nossa suíte, observei-a encher o cálice com as mãos
trêmulas. Ela trouxe a bebida e me entregou, engoli tudo de uma
vez só, o álcool desceu queimando e meu corpo se aqueceu,
perfeito. Para que um homem precisa de remédio? Devolvi o copo
para ela, que o colocou na mesa próxima. Em seguida abriu a mala
de primeiros socorros, separou gazes e começou a limpar o
machucado.
— O corte é fundo, acho que precisará levar ponto. Não é
melhor você ir ao médico?
— Já disse que não, apenas faça seu trabalho, é para isso
que serve as esposas.
Ela continuou. Eu estava puto com ela, sei que foi se
encontrar com aquele Ramon e ainda ousou mentir para mim. Com
essas atitudes, ela me tirava do sério. Levarei essa brincadeira até o
final, darei todas as chances para que ela aceite fugir com ele.
Quero ver até onde ela vai. Apesar da raiva, gostei quando ela disse
que não me deixaria e mandou o Ramon ir embora, contudo ainda
não ouvi da sua boca os sentimentos dela para com ele. Sei que ela
repetiu inúmeras vezes que não sentia amor carnal por ele, mas
ainda não acreditava nisso. O fato dela o ter mandado embora não
significava que não nutria algum sentimento amoroso por ele. Dizem
que o amor faz as pessoas abrirem mão do outro para o seu bem-
estar. Basta saber se o amor dela era amor entre um homem e uma
mulher ou amor fraternal. De qualquer maneira, matarei o Ramon,
não via a hora de acabar com a raça dele.
— Pronto, terminei o curativo.
Coloquei a mão e senti o curativo. A ferida não estava
doendo, mas minha cabeça parecia que iria explodir, contudo, irei
ignorar essa porra, não queria ir a médico nenhum, nunca precisei
de um.
— Bom trabalho! — falei.
— Você precisa tirar essa camisa, tem sangue nela.
— Faz isso por mim, eu não consigo me mover. — Fiz
expressão de dor e cara de pobre coitado.
Ela timidamente tirou o paletó, desatou a gravata borboleta,
depois começou a desabotoar a minha camisa. Eu apenas
acompanhava seus movimentos com os olhos semicerrados. Eu já
estava com o pau duro, ela era capaz de me fazer ir da raiva ao
desejo em segundos, só ela tinha esse poder sobre mim, mas a
bobinha não sabia, ou melhor não fazia ideia de como usar esse
poder.
— Vou pegar uma camisa limpa pra você — avisou.
Segurei em seu pulso firme a impedindo.
— Não.
Trouxe-a para junto de mim, minha cabeça doía, mas
naquele momento eu a queria e a teria.
— Não foge não, docinho, sacia a minha sede de você.
Ela olhou para mim com a surpresa refletida em seus olhos
azuis cor de flor de milho.
— Você não... — parou de falar quando eu puxei a mão dela
e a fiz pressionar meu pau inchado. Ela respirou fundo assustada.
— Viu como você me deixa, nem ao menos em meu estado
consigo controlar isso.
— Acho que não devemos, Viktor, você precisa descansar.
— Preocupada com meu bem-estar? — Puxei-a e a fiz
sentar em cima de mim, forcei suas pernas para que se abrissem.
Fiz ela sentir meu pau potente. — Sou o seu marido e nenhuma
pancada na cabeça me impedirá de te possuir.
Segurei em sua cintura fina e beijei a curva do seu pescoço,
havia marcas vermelhas nele por causa do meu aperto mais cedo e
essa imagem me deu mais tesão. Caralho! Eu a desejo demais.
Levantei-me com ela no meu colo e praticamente cambaleei
até a cama. Merda! Essa cabeça está me matando! Mas ignorei e
continuei a explorar as curvas deliciosas da minha esposa. Seria um
sexo rápido. Então, sem perder tempo, suspendi o vestido e
arranquei sua calcinha, ela suspirou em protesto. Em seguida, abri a
calça e projetei meu pau para fora. Sem esperar mais nada, a
penetrei e meu pau deslizou em sua entrada quente, ela me
recebeu como sempre, resistindo, mas logo se abriu como uma flor
e eu bombeei rápido. O esforço intensificou a dor na minha cabeça,
mas se eu fosse morrer agora queria morrer fodendo a minha
mulher.
Sei que eu não era bom para ela, mas eu era um egoísta,
por isso não me importava. Tudo que queria focar agora era na
maneira como ela me fazia sentir. Um conquistador, um dominador,
fodendo meu prêmio, reivindicando seu corpo que só a mim
pertencia. Senti suas paredes de veludo em tomo da minha dureza,
eu amava senti-lo, amava estar dentro dela, eu amava sua boceta
apertada. Não houve mulher no mundo que foi capaz de me
proporcionar o que ela me dava.
Meu quadril empurrou mais forte, rangi os dentes enquanto
ouvi seus soluços. Os sons que ela fazia, sincronizava bem com
meus próprios gemidos. Nossos corpos foram feitos um para o
outro, não havia dúvida disso, eu a devorei até que finalmente
ejaculei e me esvaziei dentro dela. As ondas de prazer correram
pelo meu corpo. Eu desabei sobre ela respirando apressado. Minha
cabeça latejava, eu estava tão cansado que meus olhos pesaram.
Porra! Nunca me senti tão fraco assim depois de uma transa, mas
não consegui manter a porra dos olhos abertos.
Saí de cima dela e deitei de costas, não consegui mais
resistir, meus olhos queimavam e a cabeça parecia que ia explodir.
Acabei sucumbindo e caindo na escuridão.
Olhei para o Viktor que parecia desacordado, movi-me e
verifiquei se ele respirava. Coloquei o ouvido em seu peito e sim, ele
estava respirando. Levantei-me e abaixei o vestido, puxei a colcha
da cama e ele se moveu e se ajustou de lado. Eu o cobri e fui para o
banheiro.
Sabia que era uma idiota em ajudá-lo, deveria desejar sua
morte, mas não consegui. Quando o vi cair quase tive um colapso
nervoso, me senti culpada por ele ter perdido o equilíbrio, mas logo
em seguida, ele mostrou que nada o abalava, nem mesmo uma
queda. Com sua arrogância já ditava ordens, estava até surpresa
por ele ter dormido agora, as vezes pensava que ele não era
humano.
Olhei-me no espelho, meu rosto estava vermelho pelo tapa
que me deu e meu pescoço com marcas de seus dedos. Suspirei
com tristeza, eu queria tanto sentir ódio dele, mas nunca tive esse
sentimento por ele. Parece incrível, mas eu sempre tive medo,
repulsa, nojo, mas nunca ódio. Talvez o que mais se aproximou a
ódio ou desejo de vingança tenha sido a raiva, contudo era algo
mais no calor das emoções do que uma emoção profunda e
enraizada. E nesse momento podia dizer com precisão que não
sentia ódio dele, mas pena.
Crispei a boca em repúdio a mim mesma. Pena. Como posso
sentir isso pelo homem que me bate, humilha e me faz prisioneira
de seu egoísmo? Eu não sabia explicar, talvez não haja explicação
sobre isso.
Tomei um banho rápido de chuveiro. Ao terminar, vesti um
pijama de flanela confortável. Voltei para o quarto e percebi que o
Viktor suava muito e se movia na cama murmurando, aproximei-me
dele e coloquei a mão em sua testa, ele estava quente como
fornalha. Voltei para o banheiro correndo e molhei uma toalha de
rosto com água fria. Voltei e pressionei sobre sua testa, ele estava
ardendo em febre.
— Catharine. — Ouvi-o murmurar.
— Estou aqui.
— Não me abandona, não me deixa, eu preciso de você.
— Eu não vou.
— Preciso de você, meu amor.
Afastei-me dele e olhei sua expressão, ele estava delirando,
sua cabeça movia de um lado para o outro.
— Tenta se acalmar. — Eu pressionava a toalha, mas com o
movimento dele não ficava no lugar. Ele estava muito agitado. — Eu
vou chamar um médico.
Já estava preparando para me levantar, porém ele me
segurou e abriu os olhos, olhou diretamente para mim, mas seus
olhos pareciam vagos, como se não estivesse realmente acordado.
— Não vá, fica comigo, me abraça, eu tenho medo de te
perder de novo, de você ir embora.
Meu coração doeu. Meu Deus! Nunca o vi tão fraco daquele
jeito, ele parecia um menino perdido. Abracei-o, não o deixarei. Ele
se aninhou em meu peito e eu me deitei do seu lado. Senti que sua
respiração voltava a ficar calma, seus braços enlaçaram a minha
cintura como se fossem correntes. Fiquei quieta. Ele moveu-se para
se ajustar melhor ao meu corpo. Ouvi sua voz baixa, quase
inaudível, mas entendi cada palavra:
— Eu te amo.
Estava brilhante o final da tarde, e o sol do final do outono
tentava mostrar seu esplendor com seus raios tímidos penetrando a
janela do quarto. Em breve, o inverno chegaria e o sol ficaria
ofuscado pelos sombrios dias de inverno. Eu amava o inverno, era
uma das minhas estações preferidas, eu gostava da neve caindo
com seus flocos branquinhos. Eu lembrava-me de que, quando
morava na casa dos meus pais, ficava horas na janela olhando a
neve cair. Eu queria brincar lá fora quando a neve ainda estava
fofinha, mas meus pais nunca deixavam.
Casei-me e continuava uma prisioneira, como aquela
princesa Frozen, ela era presa por causa do seu poder de
transformar tudo em gelo. Ficava reclusa em seu castelo de gelo.
Sentia-me como ela, porém o meu castelo de gelo mais se
assemelhava ao inferno. E não estava sozinha nele, dividia-o com
aquele que fazia meu sangue esquentar, a princesa de gelo se
derretia ao toque dele.
Ouvi uma sutil batida na porta.
— Entra!
Uma empregada uniformizada entrou com uma bandeja, eu
me aproximei e pedi para ela deixar em cima da mesa, a mulher fez
o que pedi e, em seguida, se retirou. Olhei para a cama onde meu
marido dormia. Já não tinha mais febre, porém parecia que estava
em um sono profundo, talvez o corpo estivesse apenas se
resguardando para se recuperar. Terei que acordá-lo para comer, já
que está dormindo há mais de 24 horas.
Aproximei-me da cama e sentei do lado dele, observei sua
feição, ele realmente era muito bonito, uma beleza diferente. Uma
testa larga e viril, cabelos castanho-escuros que, na maioria das
vezes, ele os usava escovado para trás, apesar de naquele
momento ter alguns fios caídos na testa, o que deixa um charme.
Seu nariz era fino e as sobrancelhas grossas. Uma mandíbula
quadrada que, mesmo dormindo, mostrava arrogância e
superioridade encoberta por uma barba rasa. Os olhos que naquele
momento estavam fechados eram de um azul pálido e frios.
Classicamente bonito, como um modelo, o confundiriam se não
fosse quem era. Era alto, poderoso e musculoso, embora não de
uma forma exagerada, mas proporcional à sua altura.
Nunca o observei tão abertamente assim, nunca ousei na
verdade olhá-lo com curiosidade feminina. Ele nunca dormia,
parecia que tinha um sono leve. Mas agora parecia um príncipe
adormecido. Ri por dentro, ele não tinha nada de príncipe, talvez o
príncipe das trevas se enquadrasse melhor a ele. Precisava verificar
o ferimento, esse seria o momento para acordá-lo.
Pensei sobre o que ele falou em delírio, confesso que fiquei
abalada e surpresa, não percebi o quanto ele era inseguro, era até
estranho pensar que Viktor Russell tinha medo ou receio de alguma
coisa, mas foi exatamente isso que ele transmitiu para mim,
contudo, ainda pensava que ele falou isso porque estava delirando,
tinha certeza de que, quando acordar, nem lembrará o que disse,
muito menos a última frase “Eu te amo”. Se realmente ele disse isso
é porque tinha esse sentimento por mim, dispenso, não queria esse
amor, não era um amor saudável, portanto, fingirei que não escutei
nada. Dei de ombros. Vamos acordar a fera adormecida.
Debrucei-me sobre ele e pressionei um pouco o ferimento,
ele se mexeu.
— Viktor, você precisa acordar para trocar o curativo e comer
alguma coisa.
Ele resmungou, estendeu os braços e pegou na minha
cintura.
— Fica aqui comigo — murmurou.
— Eu estou aqui, mas você precisa acordar.
Ele abriu os olhos e, no primeiro momento, nossos olhares
se cruzaram. Senti uma ligação, uma conexão forte. Ficamos nos
encarando, não percebi se ele também sentiu o mesmo que eu; ele
simplesmente ficou me olhando, não de uma forma branda, mas
com olhar flamejante, porém contido. Não tinha certeza sobre seus
sentimentos naquele momento, se era raiva, paixão, desejo. Apenas
estava prestando atenção na minha própria reação, meu corpo
arrepiou-se todo com aquele olhar. Nunca olhei para ele com
desejo, mas naquele momento sim, eu o desejava. O cabelo caído
despretensiosamente e o peito musculoso desnudo o deixava muito
sexy. Tive ímpeto de levantar a mão e afastar o cabelo da sua testa,
mas me contive e colocando um tom firme na voz falei:
— Desculpa te acordar, mas já tem muito tempo que está
dormindo. — Minha voz saiu insegura.
Ele estreitou os olhos, percebi que estavam mais escuros, no
entanto sua tez morena estava pálida. Ele se ergueu e sentou na
cama, encostou na cabeceira, eu queria ajudá-lo, mas fiquei com
receio. Depois que ele estava acomodado me olhou novamente,
seus olhos agora demonstravam-se obsessivos, frios e insensíveis.
— Então a minha esposinha está cuidando do marido, hum!
— falou cínico.
Senti um arrepio de medo na espinha, mas a expressão dele
me deixou intimidada. Ele estava de volta, percebi. Ignorei sua
arrogância e me aproximei.
— Preciso verificar seu machucado.
Já estava com as mãos estendidas, porém ele segurou meu
pulso antes que eu pudesse fazer alguma coisa. Senti sua mão
gigantesca apertando-o, ele estava me machucando, mal conseguia
respirar. Estava assustada, a intensidade com que ele me olhava
incandescente, as chamas ardentes queimavam a minha pele. Ele
me soltou.
— Faça isso depois, linda esposa. Agora só quero um
cigarro.
Sem hesitar, abri a gaveta da mesa de cabeceira e peguei
um dos maços, entreguei a ele junto com o isqueiro. Ele pegou um e
acendeu, tragou longo e soltou a fumaça pelas narinas. O cheiro da
nicotina como sempre me sufocou. Eu levantei-me para sair dali, no
entanto ele me segurou.
— Vai aonde?
— Preparar um banho para você.
— Não tomarei um banho de banheira, a não ser que você
esteja comigo dentro — falou malicioso.
Ele encostou o nariz no meu cabelo e os cheirou
profundamente.
— Você tem cheiro de flores da primavera — falou enquanto
beijava entre meus cabelos. — E eu sonhei com você.
Seus braços musculosos enlaçaram a minha cintura e ele me
trouxe para junto dele, meu corpo arrepiou-se todo.
— Por que não me matou quando teve a chance, tesouro?
A pergunta dele me pegou de surpresa, eu tentei me desviar
do seu aperto, mas seus braços estreitaram-se ainda mais na minha
cintura.
— Não foge não, baixinha assustada.
Eu era incapaz de falar, incapaz de qualquer coisa, a não ser
sentir o medo que me sufocava, porém algo mais potente também
se apoderou de mim: o desejo; e esse sentimento era muito
poderoso. Senti que ele afastou meus cabelos, deixando meu
pescoço livre. Depositou pequenos beijos na curva, seus lábios
estavam quentes.
— Se você não se livrou do lobo mau quando teve a
oportunidade, anjo, não reclama em ser devorada por ele.
Ele me liberou. Sem nenhuma delicadeza, arrancou o
curativo e jogou para o lado. Tragou mais uma vez e apagou o
cigarro no cinzeiro, eu estava rígida e temerosa, ainda sentada na
cama. Ele levantou-se, percebi que cambaleou ao fazê-lo, levantei-
me e o segurei no braço.
— Está tudo bem?
— Ora, ora, ora! O que temos aqui? Uma esposa
preocupada.
— Sinto muito.
Viktor me trouxe para junto dele e falou com a voz gélida:
— Se pensa que me fará esquecer que mentiu para mim
com essa atitude de esposa dedicada, engana-se.
— Não estou fazendo isso — disse alarmada.
— É claro que não. Você é apenas um anjo que pensa que
pode manipular o demônio.
Ele me soltou e seguiu para o banheiro. Ouvi o barulho do
chuveiro, sentei-me em uma das poltronas. Lutei contra as lágrimas,
meus lábios estavam trêmulos. Tudo que ele falou enquanto
delirava era apenas uma ilusão, ele não me amava, não tinha
nenhum sentimento bom com relação a mim, talvez desejo, mas
esse não era um sentimento sólido. Eu não sabia quais eram os
planos dele agora, ele me parecia muito bem, distribuindo vitalidade.
Pensava que ele terminaria o que iria fazer comigo no dia da queda.
Levei um susto quando retornou para o quarto, usava um roupão
aberto que revelava seu físico maravilhoso, os cabelos estavam
úmidos despenteados, como se ele os tivesse enxugado com vigor.
— Vamos ver o que minha esposa dedicada mandou
preparar para mim.
Havia uma inflexão esquisita na voz dele e uma expressão
nos olhos azuis que provocou um arrepio de alarde. Ele tirou a
tampa do prato e torceu o nariz.
— Sopa?
— Achei melhor pedir para preparar algo leve.
Ele riu sardônico e seguiu para o bar, encheu um copo com
vodca e bebeu tudo de uma vez. Eu acompanhava seus
movimentos com os olhos arregalados, não queria sentir medo, mas
não tinha como. Contorcia as mãos uma na outra e aquela
sensação que faltava oxigênio deixava tudo pior.
Após ingerir a bebida, ele seguiu para a cama e sentou-se
encostado na cabeceira, ajeitou a colcha e olhou para mim.
— Estou pronto para que você me alimente — ironizou.
No primeiro momento não entendi o que ele queria dizer,
mas logo compreendi que esperava que eu lhe desse a sopa na
boca. Ele estava brincando comigo como um gato com o rato,
atormentando-me de propósito. Sei que deveria me deixar com
raiva, mas por um motivo que não sabia qual era, aquela atitude
dele me esvaziou de toda energia para qualquer coisa, exceto sentir
medo. Por isso pulei da cadeira quando ouvi sua voz:
— Está esperando o quê, Catharine? — Sua voz tinha um
tom de ameaça.
Levantei-me da poltrona e segui até a mesa, peguei e
bandeja e a levei até a cama. Tirei a tampa e peguei a colher,
mergulhei na sopa cremosa. Minhas mãos estavam trêmulas, mas
tentei controlar ao levar a colher a sua boca. Ele me olhava com
sarcasmo e abriu a boca como se fosse um menino. Os minutos
seguintes, eu o alimentei, não falamos nada, mas eu sabia que ele
podia muito bem comer sozinho.
Ao finalizar, levantei-me para colocar a bandeja sobre a
mesa, mas não pude, ele me agarrou e me jogou na cama, a
bandeja caiu no chão e tudo se espalhou no carpete. Fiquei
assustada, ele segurou meus pulsos contra o colchão enquanto,
quase como uma reverência, abaixou-se e tomou meus lábios.
Uma sensação ardente invadiu meu corpo, seguida por
excitação. Gemi quando senti os lábios dele em meu pescoço. Ele
ainda segurava meu pulso muito forte, tão forte, que já estava
sentindo formigamento na mão. Ele então soltou um dos meus
pulsos e desceu a mão até a minha calça, eu usava uma roupa de
moletom e não foi difícil ele se livrar da peça. Em seguida, ele me
fez arquear as costas e puxou o suéter. As peças íntimas foram as
próximas, em poucos minutos estava nua embaixo de seu corpo
poderoso.
Estremeci quando senti sua pele morena, úmida e quente, o
corpo dele retesou a tocar em minha pele nua. Estava anoitecendo
e a luz do crepúsculo entrava através da janela que eu havia
deixado aberta e a luz laranja banhava os músculos de Viktor sobre
mim, se mexendo de forma sensual.
Abri as pernas o máximo que pude para acomodá-lo melhor,
alguma coisa mudou em mim, nunca me senti tão bem em seus
braços. Gemi quando senti os lábios dele em meu seio. O prazer e o
medo se misturavam, eu introduzi meus dedos em seus cabelos
sem perceber e os puxei levemente, ele continuou explorando meus
botões rosados até deixá-los enrijecidos e sensíveis. Agora ele
percorreu meu abdome beijando cada pedacinho até chegar na
minha vagina, que já estava molhada e quente.
Sua língua experiente deslizou entre as minhas dobras, ele
sugou meu clitóris e eu me deleitei de prazer, meus gemidos íntimos
estavam cada vez mais ousados.
— Viktor — falei ofegante.
Quando ele sentiu que eu estava pronta para recebê-lo,
surpreendentemente ele inverteu as nossas posições, ele me fez
sentar em seu quadril. Nunca fiquei naquela posição antes, a gente
nunca transou assim, eu nem sabia o que fazer.
— Sou todo seu, anjo — falou exalando sensualidade em
cada palavra.
Ele guiou meu quadril até que senti toda sua ereção, ele me
suspendeu e me fez sentar em seu pau duro. Como por instinto,
movimentei meu quadril até que a cabeça se alinhasse a minha
entrada. Eu forcei para que entrasse e senti todo seu comprimento
me alargando, meu corpo entrou em chamas, meu coração
acelerou, comecei a mover o quadril subindo e descendo em seu
pau, espalmei as mãos em seu peito, ele agarrou meus pequenos
seios o massageando enquanto cavalguei livre em cima dele.
Nossas respirações estavam ofegantes, agitadas. As mãos dele
apoderavam-se dos meus seios inchados, enquanto todo meu corpo
correspondia a sua posse. Eu estava me sentindo poderosa, inclinei
a cabeça para trás e gemi de prazer, aquilo era incrível, era desejo,
tesão. Sentia-me como se estivesse ao redor de ondas violentas de
um mar revolto, numa excitação deliciosa e perigosa.
Ele me puxou e caí sobre o seu corpo, ele me beijou
enquanto guiava meu quadril para continuar fodendo sem perder
ritmo, sua língua introduzia na minha ao sabor dos nossos
movimentos. Gritinhos selvagens, abafados, saíam da minha
garganta sob a pressão dos lábios dele. Qualquer pensamento
consciente estava paralisado, somente existia seu corpo e o fato de
pertencer inteiramente a ele.
Então o prazer começou a vir, em ondas que se avolumavam
enquanto meu corpo correspondia aos movimentos dele, entre
gemidos febris. Eu gemia cada vez mais alto, não aguentava mais,
minha vagina estava tão sensível, eu sentia vontade de fazer xixi e
foi exatamente o que aconteceu, junto com o meu prazer, eu liberei
líquido como se fosse urina, gritei e me contorci em cima dele, não
parava de receber ondas de prazer. Eu já senti prazer no sexo com
ele, mas nada como aquilo, eu estava em êxtase, parecia que havia
saído do meu corpo. Nem percebi quando ele também gozou e
gritou meu nome me chamando de amor por várias vezes.
Ao terminar, deitei sobre ele exausta, mas satisfeita. Encostei
minha cabeça em seu peito e fiquei parada tentando assimilar tudo
o que havia acontecido. Esse foi um dos sexos mais incríveis que
tive com ele, aliás, ultimamente o sexo era a única coisa em nosso
relacionamento que era bom para mim.
Acabei dormindo em seus braços, mas fui acordada para
mais uma vez, assim foi o resto da noite.
Passamos alguns dias nesse clima de romance e em
nenhuma delas o ouvi dizer que me amava.
Poucas horas depois de deixar minha esposa na nossa
cama, fui ao Hell Bloods. Tinha uma reunião com alguém de meu
interesse. Hoje irei descobrir tudo sobre os sentimentos do Ramon
pela minha esposa. Ele estava se saindo bem no treinamento,
segundo o Fred. Se não fosse matá-lo até que daria um bom
membro, mas não deixava vivo quem cobiçava o que era meu,
principalmente a Catharine, ela era minha e somente minha.
Esses dias que passamos juntos, nos amamos sem parar, na
verdade eu não parei de fazer sexo com ela, parecia um vício.
Quanto mais a tinha, mais a queria. Só de pensar nela, já me
deixava cheio de tesão, imaginá-la deitada na nossa cama com as
marcas da minha posse em seu corpo de pele alva deixava meu pau
duro como mármore. Não queria deixá-la hoje, antes de sair a
possuí mais uma vez, e ela me correspondeu. Ainda era tímida, um
anjo delicioso, nunca queria que ela perdesse esse jeitinho inocente.
Cada osso do meu corpo possessivo vibrava quando estava com
ela, quando penetrava seu corpo maravilhoso, seus pequenos seios
que cabiam todo em minhas mãos, suas curvas femininas delicadas.
Seus olhos azuis e seus cabelos perfumados.
Adorei quando ela cuidou de mim durante esses dias, até
comi sopa, alimento que odiava, somente para que ela me desse na
boca. Catharine era a coisa mais pura que já tive em minhas mãos
calejadas. No entanto, ela fugiu de mim e isso ainda estava entalado
em minha garganta. Por isso queria testá-la, dar uma ótima
oportunidade para ela ir embora com o Ramon e, de quebra, ainda
saberei seus sentimentos por ele. Mas confesso que isso me
deixava inseguro, claro que não a deixaria ir, ela ficaria comigo,
querendo ou não. Ela era minha esposa, eu a desejava, me
importava com ela, gostava dela como pessoa, mas ainda não
confiava nela. Como poderia? Ela não veio para mim
voluntariamente; se eu não descobrisse que havia fugido, talvez
nunca mais voltasse.
Fechei a cara e passei a mão nos cabelos várias vezes, o
pensamento me deixava com raiva e no limite, essa criatura me
fazia ter sentimentos que nunca pensei ter na minha vida e eu ficava
puto com isso. Por esse motivo, se ela realmente aceitasse fugir
com o Ramon, eu saberia colocá-la em seu lugar. O quarto de vidro
estaria prontinho para ela e, dessa vez, não ficaria somente
algumas horas, mas dias.
Suspirei fundo para tentar controlar minha raiva. Pensei
nesses dias que passamos juntos, somente em um clima mais
romântico. Percebi um lado da Catharine que não se sobressaiu
desde que me casei com ela: a submissão; não uma submissão
forçada como tínhamos agora, mas ela queria se submeter, ela
precisava se submeter. Era como se ela tivesse nascido para isso e
obviamente eu, como um bom dominador, consegui captar os sinais
do seu corpo, do seu jeito de cuidar de mim, principalmente na hora
do sexo. Ficamos tão próximos um do outro, não só fisicamente,
mas uma ligação muito mais que carnal, eu pude ver dentro da
janela de sua alma, ver através dela.
Observei que chegamos no meu submundo, ajeitei meu
pênis dentro das calças, pensar na Catharine me deixava excitado.
Arrumei o terno e vesti o sobretudo, um dos meus homens abriu a
porta e desci. Segui em frente e já entrei através do corredor
sombrio. Vários soldados meus estavam contra a parede do
corredor, carrancudos, flexionando seus músculos. Isso era mais
questão de status do que necessidade de proteção, eu não tinha
medo de ninguém, era um homem ágil, sabia me defender, não só
em uma luta corporal como também sabia manusear uma arma,
meu ar de ameaça era genuíno, só isso já afugentava qualquer um
que tentasse algo contra mim, contudo, gostava de mostrar poder,
de ver que eu era o chefe, o líder, o todo-poderoso. Aqueles homens
eram preparados para agir a um comando meu, sem ao menos
pestanejar e isso me satisfazia.
Cheguei até minha sala, entrei e meu subchefe já estava me
esperando.
— Chefe! — Ele se levantou da cadeira assim que entrei na
sala.
Eu apenas prossegui até a minha mesa e sentei na cadeira
de couro preto. Fiz um sinal para que Fred voltasse a sentar.
— Soube que se acidentou — Fred falou olhando para a
ferida na minha testa.
— Apenas um acidente doméstico, nada que uma esposa
dedicada não consiga resolver.
— E como está Catharine?
— Muito bem — respondi pegando um charuto e acendendo.
Fred era o único homem que eu permitia que falasse o nome
da minha mulher, ele estava no meu casamento e foi um dos
padrinhos. Ele sabia até onde chegar com relação a alguma
curiosidade sobre ela. Nos conhecíamos havia muito anos e ele
sabia perfeitamente como eu era e da minha obsessão por ela,
desde que ela tinha dez anos.
— Receberá o Ramon agora?
— Daqui a pouco, me conta o comportamento dele.
— Ele está completamente iludido com tudo que os
oferecemos. Realmente pensa que assumirá uma das nossas
instalações na América do Sul, e levará a Catharine junto.
— Hum... Ele falou alguma coisa sobre ela?
— Não muito, somente quando lhe pergunto.
— Ótimo! Mande-o até aqui.
Fred levantou-se e saiu da sala. Inclinei-me na cadeira e
olhei para a fumaça do meu charuto que desenhava círculos no ar.
Vamos ver o que meu amigo revelará sobre a Catharine.
Desde que nós fizemos o acordo, ele não teve contato comigo, tudo
foi organizado pelo Fred, o primeiro bilhete, o acesso dele a boate, o
momento que apareceria para ela e o encontro secreto. Rangi os
dentes, só em pensar que ela aceitou se encontrar com ele e ainda
mentiu e escondeu o primeiro bilhete me deixou borbulhando de
ódio. Se não fosse pela queda naquele dia, eu teria acabado com
ela. Mas agora já conseguia raciocinar melhor, tinha que agir nesse
caso com frieza, como sempre agi em todos os casos, contudo, não
via a hora de acabar com a raça desse Ramon.
Uma batida na porta e, em uma ordem para que entrasse,
Ramon estava em minha frente. Fiz um sinal para ele se sentar. O
observei enquanto se ajeitava na cadeira, em seguida ele levantou
seus olhos para mim, apenas o encarava sério. Seus olhos
mostravam curiosidade, ele queria saber sobre o homem que o
estava ajudando, porém só revelaria aquilo que queria que
soubesse.
— Então, Ramon, está pronto para tirar a Mia do Viktor?
— Prontíssimo, chefe.
— Fred te passou tudo que você terá que fazer?
— Sim.
— Você acha que ela irá com você? Não teve muito sucesso
em convencê-la a ir ao último encontro de vocês.
— Ela está assustada, tenho certeza de que aceitará deixar
o marido.
— Como tem tanta certeza? Por acaso, ela te falou alguma
coisa quando vocês moravam juntos? Ela disse alguma coisa sobre
o marido dela?
— Não para mim, ela nunca tocou no nome do marido, nem
ao menos sabíamos que ela era casada, porém eu e minha mãe...
Percebi que ele se engasgou, falar sobre a mãe ainda o
abalava. Ele continuou:
— Eu e minha mãe desconfiávamos que ela escondia
alguma coisa. Confirmei isso quando entrei em seu quarto sem que
soubesse e vi sua caixa de joias, vi o anel de noivado e casamento,
então deduzi que ela havia fugido do marido.
— Quais seus sentimentos com relação a ela?
— Eu a amo, sempre a amei, desde que nos conhecemos.
Meu sangue ferveu, a minha vontade era de agarrar no
pescoço dele e esganá-lo.
Minha vista escureceu, apertei o charuto entre os dedos,
todos os meus gestos eram imperceptíveis para ele, sabia muito
bem guardar minhas emoções, porém estava como um vulcão
prestes a entrar em erupção.
— E ela? Sente alguma coisa por você?
— Ela nunca me disse nada abertamente, eu é que a
cortejava, mas ela também nunca negou, eu sei que um dia ela
cederia. Eu tenho a certeza de que ela resistia por causa do que
sofreu do ex-marido, ela ficou traumatizada.
— Mas vocês já tiveram alguma coisa, um beijo, ou algo a
mais? Afinal de contas, vocês moraram na mesma casa.
— Apenas beijos castos no rosto, mãos. Mia é muito doce,
generosa e educada, mas não passou disso.
— Se você tivesse uma oportunidade a levaria para a cama?
Ele parecia meio incomodado, se mexeu na cadeira, passou
as mãos pelo cabelo.
— Qual homem não queria? Ela é linda, tem um coração
enorme, é o sonho de qualquer homem, não sei como tem um
marido que a maltrate.
— O Viktor é um filho da puta egoísta, só pensa nele, por
isso vou destruí-lo. Poderia meter uma bala na cabeça dele, mas o
atingirei em seu ponto fraco, ou seja, tirando a esposa dele.
— Eu o ajudarei, chefe, tenho certeza de que ela aceitará
fugir. E depois que eu fizer a cirurgia plástica que me prometeu, ela
me aceitará e vamos nos casar.
Traguei forte meu charuto e soltei a fumaça.
— Muito bem, Ramon, conto com isso, tudo estará pronto
para que você a leve para bem longe do Viktor Russell. Depois eu
dou um jeito para que ele não a encontre nunca mais.
— Não vejo a hora chefe.
— Nem eu.
Levantei-me e segui até o bar.
— Vamos brindar!
Enchi duas taças de vodca, a bebida era pura e suave como
a neve. Estendi para ele e levantei em um brinde.
— Ao fim do Viktor Russell.
— Ao fim do Viktor Russell — repetiu.
A beleza do outono sempre me encantou, observava
atentamente as folhas secas alaranjadas. E elas caíam uma a uma
ou em conjunto soltando-se das árvores e dançavam ao ritmo do
vento e caíam sobre o chão. As árvores ficavam feias, pareciam
mortas, mas apenas estavam adormecidas à espera do inverno
rigoroso e os dias sombrios.
Andava distraidamente pelo quintal, na verdade não era um
quintal simples, mas uma imensidão quase sem fim com sua grama
verde bem cuidada. O vento frio batia em meu rosto, ajustei o
casaco mais ao corpo. O barulho do cortador de grama era meu
companheiro. Sentei-me em um dos bancos de mármore do jardim,
os jardineiros faziam seu trabalho e não prestavam atenção em
mim. Talvez eles tivessem achado estranho eu estar aqui fora, não
era algo que costumava fazer, mas decidi sair um pouco da mansão.
Peguei o bilhete no bolso do casaco, já li várias vezes e
ainda não assimilei seu conteúdo, na verdade não sabia o que fazer.
A manicure veio hoje pela manhã, logo após Viktor sair para o
“trabalho”. Questionei-a sobre como ela conhecia o Ramon, mas ela
disse que era somente uma intermediária e nada mais, estava
fazendo isso porque a estavam pagando bem e ela não sabia quem
era o mandante do bilhete, disse que não fazia a mínima ideia quem
era Ramon.
Tudo aquilo era tão absurdo, esse homem que estava
ajudando o Ramon parecia ser alguém muito rico e influente
também e, pelo que pude perceber, conhecia o Viktor. Quem será
esse homem e qual o interesse dele? Talvez o Viktor tivesse
inimigos, um homem como ele e na posição que ocupava, devia ter,
porém ele era muito esperto, não deixaria se enganar assim, essa
pessoa devia ser alguém de confiança dele, para conseguir enganá-
lo dessa maneira.
Reli o bilhete, a fuga seria amanhã à noite, em um leilão.
Viktor já me falou desse leilão, uma família de nobres na Suíça
colocou o castelo e todos os objetos de artes, móveis e joias a
leilão. Ele queria adquirir a maioria das peças e o castelo também,
segundo ele, tínhamos que ter nossa casa de inverno na Suíça, mas
para o Viktor não bastava ser só uma casa, tinha que ser um
castelo. Ele disse que uma princesa tinha que ter seu próprio
castelo.
Se não fosse toda essa situação, acharia até fofo o que ele
falou, esses dias que passamos juntos foi tão maravilhoso. Ele foi
carinhoso, pela primeira vez não fiquei apavorada na presença dele,
sim ele ainda me intimidava e eu sabia que, se fizer qualquer coisa
que o deixasse irritado, pagaria caro, contudo nós nunca tivemos
momentos como esse, nem na nossa lua de mel. Agora que tudo
estava entrando nos eixos, vinha esse problema com Ramon.
Sentia que isso não acabaria bem, mas não podia deixar que
o Viktor fizesse alguma coisa com o Ramon, eu precisava evitar
uma tragédia.
Mas como fazer isso? Como avisar para o Ramon que não
irei com ele? Terei que encontrá-lo nesse leilão, no bilhete diz que o
homem que o está ajudando distrairá o Viktor.
Ponderei todas as minhas possibilidades, tinha que contar ao
Viktor tudo isso, mas primeiro precisava que o Ramon estivesse
seguro. Porém, se o homem que o estava ajudando planejava algo
contra o Viktor, ele não deixaria barato quando percebesse que não
aceitei ir com o Ramon, poderia tentar alguma coisa contra ele, por
esse motivo, levarei uma boa quantia de dinheiro e o entregarei,
assim ele poderia sumir de tudo isso. Já me sentia culpada pelo que
acontecera com a Sra. Pérez, não deixaria que acontecesse o
mesmo com o Ramon.
Decidida, entrei na casa e subi até meu quarto, fui até o
closet do Viktor, eu sabia que ele tinha um cofre com muito dinheiro.
Ele me ensinou a senha. Segundo ele, esse dinheiro era para
alguma emergência, caso acontecesse alguma coisa com ele. Olhei
para a porta, os botões digitais estavam a minha frente, era só
digitar e pronto, a porta abria. Suspirei fundo, fechei os olhos e
apertei. O que estava prestes a fazer era algo tão arriscado quanto
ter fugido dele, sei que ele saberá e, com certeza, pagarei por isso,
mas não recuarei, eu irei em frente.
Com os dedos trêmulos, apertei os botões, a cada toque a
luz verde acendia. Agora só faltava o último, apertei e escutei o
click, a porta estava aberta. Girei a maçaneta e abri. O cofre era
grande, podia entrar dentro dele. Havia muitos papelotes de
dinheiro, eram tantos que, com certeza, Viktor não perceberia
rapidamente que alguns sumiram. Peguei um montante, e mais
alguns. Olhei em volta à procura de uma sacola para colocar, achei
alguns envelopes pretos, agarrei um e guardei o dinheiro. Quando
me virei para sair, vi uma prateleira com armas. Cheguei perto, tinha
algumas armas grandes, mas também tinha pistolas. Peguei uma,
meu coração batia muito rápido. Meu Deus! O que penso que farei
com isso? Não sei, mas levarei uma para o Ramon, ele pode
precisar. Também havia munições. Olhei a marca da arma e
procurei as balas para aquela arma específica, logo achei, apanhei
algumas caixinhas e coloquei tudo no envelope junto com a arma e
o dinheiro.
Saí do cofre e fechei, coloquei a senha para travar. Andei
rápido para o quarto e entrei no meu closet, escondi o envelope em
uma das minhas gavetas. Pronto! Já está feito, só espero que
amanhã tudo dê certo.
O resto do dia foi monótono, almocei sozinha na grande
mesa, depois assisti um pouco de televisão, mas nada prendia
minha atenção, eu só pensava no dia de amanhã. Acabei pegando
no sono.

***

Senti seu perfume másculo, um cheiro distintamente viril,


seus lábios firmes pressionados na pele do meu rosto, seu hálito
perfumado adentrou as minhas narinas, meu corpo arrepiou-se.
Mexi-me, pensei que estava sonhando. Ele varreu meu rosto com
beijos e na curva do meu pescoço, sorri e me virei para ele. Abri os
olhos e o encarei, ele tomou meus lábios e me beijou com paixão,
eu acompanhei entrelaçando a língua na dele. Eu queria tocá-lo,
então espalmei as mãos em seu peito musculoso e deslizei. Ele já
estava sem camisa. Explorei aqueles músculos perfeitos, aquela
pele quente e firme. Nunca senti tamanho desejo por ele, em pouco
tempo estava molhada somente com seus beijos eróticos. Ele
suspendia o tórax com os braços e as mãos apoiadas no colchão.
Ele ajoelhou-se e me trouxe junto, fiquei sentada em cima do meu
próprio joelho dobrado, ele começou a tirar minha roupa.
— Tira a roupa — pediu rouco.
Eu o ajudei e em pouco tempo estava só de calcinha. Ele me
deitou novamente e inclinou-se para outro beijo na boca suave e
úmido. O beijo dele enviava formigamentos na minha espinha. Seus
lábios eram firmes e muito prazerosos ao toque, ele esmagou meus
lábios suavemente, afastou-se depois de alguns segundos. Eu
suspirei, ele agora começou a envolver meus lábios individualmente,
brincando, mordiscando sem machucá-los.
Cada centímetro quadrado do meu corpo vibrava por sua
exploração, mexi os quadris querendo sentir sua ereção. Ele
entendeu meu apelo silencioso, liberou meus lábios e usou-os para
viajar por todo meu corpo, eu estava tão excitada que o agarrei nos
ombros e abri a boca como se estivesse me afogando, eu queria
falar como ele era incrível e maravilhoso, mas as palavras não
saíam, somente gemidos de prazer.
— Meu Deus! Sim... — exclamei quando ele sugou meus
seios, agarrei em seus cabelos e puxei. Eu queria falar tantas
coisas, mas ainda não me sentia segura em expressar com palavras
como ele me fazia sentir, o quanto eu gostava de seu toque ou de
sua posse, tudo era tão novo, tão complicado, em breve esse
paraíso acabaria, mas não queria pensar sobre isso, apenas queria
sentir o agora, o momento, meu homem, meu marido estava me
levando à loucura com sua boca maravilhosa.
Senti sua protuberância no centro do meu núcleo molhado
ainda escondido dentro da calcinha, ele moveu os quadris
flexionando o pau em minha boceta em um frenesi, eu sabia que
estava gemendo e ofegante. Ele separou-se de mim e quase tive
um ataque, eu o segurei pedindo para ele voltar.
— Não, não, continua.
— Calma, meu bichinho, você me terá, todo seu, mas agora
quero sentir essa boceta deliciosa em meus dedos.
Sua mão viajou entre minhas coxas até chegar na minha
boceta pulsante. Ele passou a mão espalmada e massageou meu
núcleo, eu queria sentir sua pele, queria que ele tirasse a calcinha,
levei a mão até as tiras laterais para tirá-las, ele segurou minhas
mãos e me fez parar. Com os olhos cravados em mim, pegou com
os dentes a tira e começou a deslizá-la perna abaixo, o gesto era
tão erótico que meu corpo estava em chamas de desejo. Ele tirou a
calcinha e jogou longe. Minha insegurança foi esquecida quando
seus dedos deslizaram no interior do meu músculo molhado, eu
arqueei a bunda ao sentir os dedos me invadirem.
— Isso, preciosa, sente meus dedos te fodendo, te
preparando para o meu pau.
— Viktor — eu falava arfante.
— Você gosta?
— Sim...
Ele empurrou mais fundo, agora sentia mais dedos me
introduzindo.
— Ahhhhh!
— Quer mais?
— Sim. Sim.
Ele tirou os dedos e entrou com a cabeça entre minhas
pernas. Logo uma nova sensação apoderou-se de mim quando senti
a pressão quente e úmida dos seus lábios contra o meu interior. Sua
língua subiu e dançou ao redor do meu clitóris. Aquele movimento
me deixou louca, ele fez esse movimento até eu não aguentar mais.
Sentindo que eu já estava no limite, ele desceu e forçou a língua na
minha fenda estimulada, eu flexionei meus músculos e me abri e
agarrei seu cabelo. Ele moveu a língua freneticamente, eu estava
completamente à sua mercê, à espera que ele me desse o alívio
que tanto desejava. A sensação esmagadora de um orgasmo
inundou meus membros, meu corpo parecia gelatina, eu gritei e
gemi alto enquanto me derretia em sua boca maravilhosa. Viktor
bebeu todos os meus fluidos sem deixar uma gota derramar.
Meu corpo, ainda recebendo ondas de prazer, reagiu de
forma diferente a esse orgasmo, eu quase podia ver as ondas de
prazer dançando em minha frente. Eu não tinha mais controle sobre
o poder que ele tinha sobre mim, antes eu não sentia nada, ele
nunca me proporcionou prazer, mas agora eu estava viciada nele.
Eu não sabia se isso era bom ou ruim, mas todas essas sensações
que ele me fazia sentir, me deixavam leve e, por incrível que possa
parecer, eu respirava melhor quando tinha um orgasmo.
Seu movimento foi rápido e determinado quando ele deslizou
seu corpo entre as minhas pernas, eu podia sentir seu membro duro
bater no interior da minha coxa. Eu ainda contraía, mas meu corpo
reagiu positivamente a ele. Então aconteceu, senti seu pau bem-
dotado empurrar dentro de mim. Sua penetração foi incrível e meu
corpo respondeu adequadamente, eu não podia acreditar que ainda
havia espaço para o prazer, mas lá estava, sentia prazer com sua
penetração potente. Ele empurrou seu pau prazeroso em mim com
intensidade crescente.
— Você quer mais forte?
— Sim... Mais... Mais, oh, mais!
— Implora para eu te foder.
— Me fode... — Choraminguei.
Ele agarrou meus cabelos enquanto me fodia com muita
força, podia ouvir e sentir os ossos pélvicos colidindo um no outro, o
barulho molhado do seu pau enterrando em minha carne. A dor que
ele provocava no meu couro cabeludo me fez ter lágrimas nos
olhos. Ele estava acabando comigo, meu corpo magro e frágil
parecia que iria se quebrar tamanha era a voracidade da sua posse.
— Fugirá de mim novamente, Catharine?
A pergunta dele me pegou de surpresa e fez meu sangue
quente gelar em segundos. Por que ele está perguntando isso
agora? Estava indo tudo bem, agora veio com isso novamente, ele
jamais esquecerá, eu não sei o que fazer para convencê-lo de que
não o deixarei nunca mais. Ele puxou meu cabelo com mais força e
perguntou entredentes:
— Fugirá de mim, Catharine?
— Não!
A resposta parece que não o agradou, pois ele agora se
movia para me machucar, não para me dar prazer, eu pensei que
não aguentaria, as lágrimas desciam agora em cascatas, eu só
queria que tudo acabasse. Quando pensei que não aguentaria mais,
ele gozou, gritou como um animal enquanto se derramava dentro de
mim. Ele me abraçou forte como se não quisesse me perder, como
se eu fosse para algum lugar.
— Eu vou te matar, Catharine, se você ousar até pensar em
me deixar de novo.
— Eu não vou — falei baixo.
Ele desfez o abraço e me encarou feroz, pegou em meu
rosto com fúria.
— Eu espero que não, docinho.
— Por favor, Viktor, acredite em mim.
Ele me soltou bruscamente e saiu de dentro de mim. Sentou-
se na beirada da cama e pegou um cigarro, acendeu. Eu apenas
fiquei de barriga para cima puxando o ar para os pulmões com
força. Eu estava trêmula e com dor, tanto nos pulmões como em
minha intimidade.
Viktor apagou o cigarro e voltou-se para mim, como um
menino aninhou-se em meu peito e beijou a curva do meu pescoço.
— Eu te adoro, você me deixa fraco, inseguro. Você sabe o
que faz comigo? Sabe?
— Eu não entendo...
— Foda-se!
Ele levantou-se e entrou no closet, me encolhi na cama
como um bichinho. Chorei baixinho. Ouvi quando ele voltou.
— Olha para mim! — ordenou frio. O tom da sua voz
anunciava que algo não estava bem.
Levantei meus olhos e o vi parado do lado da cama, sua
expressão era aterrorizante. Meu Deus! Será que ele percebeu que
entrei no cofre?
Cada centímetro do meu corpo estava tensionado, não
movia nenhum músculo. Ele manteve seu olhar em mim. Eu queria
perguntar o que havia acontecido, mas não conseguia, apenas o
encarava horrorizada. Ele olhou para mim por longos minutos, e
logo depois suavizou a feição. Então, sem que eu esperasse,
sentou-se do meu lado, eu estava tão tensa que segurava a
respiração.
— Isso é seu, benzinho?
Olhei para a mão dele e vi meu celular, franzi a testa, não
lembrava que havia deixado o aparelho no closet. Engoli em seco e
respondi apreensiva:
— Sim.
— Percebo que fez uma visita ao meu closet hoje. Procurava
alguma coisa em especial?
— Não — respondi rápido demais. — Eu fui apenas guardar
uma camisa sua, devo ter esquecido o celular. — Não era boa em
mentiras e minha voz saiu trêmula.
— Hum... Então aqui está.
— Obrigada!
Estendi a mão para pegar o aparelho e essa estava trêmula.
Ele apenas observava meus movimentos. Eu poderia lhe contar
sobre o que fiz e porque o fiz, mas não farei isso, o meu medo de
sua reação era mais forte que esconder tudo, além do mais ainda
tinha o Ramon. Isso tudo estava se tornando uma bola de neve
enorme e eu não sabia mais o que fazer, eu já menti sobre tudo, e
cada vez mais precisava mentir e as coisas só pioravam. Nesse
momento, queria sumir de tudo isso, talvez aceitasse fugir com o
Ramon, era algo que não pensava em fazer, mas naquele momento
senti vontade de fazê-lo.
Assustei-me ao senti-lo aproximar-se de mim, ele segurou
meu rosto e me fez encará-lo.
— Está assustada? Por quê?
— Você... Você me deixa nervosa.
— A deixo? Por quê?
Ele ajeitou meus cabelos atrás da orelha e passou as mãos
em meu rosto.
— Você sabe — falei em um fio de voz.
— Sei o quê?
— De tudo.
— A única coisa que sei, Catharine, é que não importa o que
você faça, mas não minta para mim.
— Viktor...
Ele me silenciou.
— Shhh! Nada que me fale agora mudará as coisas.
Portanto, não tente. Agora, vem comigo tomarmos um banho juntos.
Amanhã a quero linda no leilão.
Assim ele me puxou e passamos o resto da tarde transando
e eu não consegui confessar nada.

***

O salão de baile do hotel do Viktor, The Palace, estava cheio,


fiquei surpresa em constatar que o leilão seria no hotel, que agora
estava completamente renovado. Olhei admirada as paredes
espetaculares inspiradas em Versalhes, pomposo teto de cúpula alta
e enorme candelabros pairavam sobre a cabeça de ricos e famosos.
O hotel estava espetacular, não tinha ideia de que ele havia o
reformado.
— Então, gostou, amor? — Viktor perguntou no pé do meu
ouvido.
— Sim, está lindo.
— Lembra a última vez que esteve aqui?
— Sim.
Um nó na minha garganta se formou, senti um déjà vu.
Estava no hotel e de novo uma oportunidade de fuga em minhas
mãos. Só que, dessa vez, provarei de uma vez por todas ao Viktor
que não pretendia fugir, a única coisa que queria era salvar a vida
do meu amigo e iria até o fim, custe o que custar.
Apertei a alça da bolsa, dentro havia o envelope com o
dinheiro e a arma. Eu não tinha certeza se o Viktor sabia de todo o
plano, mas certamente ele sabia que menti, acredito que, se ele
soubesse de tudo, não me deixaria seguir em frente, afinal de
contas tratava-se de um traidor no meio dele.
Eu já tinha um plano, assim que convencesse o Ramon a ir
embora, contaria tudo para o Viktor, inclusive que ajudei o Ramon a
fugir. De qualquer maneira, estava apreensiva por essa noite e sabia
que haveria consequências.
Viktor colocou a mão na base inferior das minhas costas e
gentilmente me guiou para uma das mesas reservada para nós. Um
senhor elegante em seu smoking cinza, cabelos grisalhos e um
enorme bigode, aproximou-se de nós. Ele estava acompanhado de
uma mulher, igualmente elegante em um longo preto e ostentando
joias espetaculares.
— Senhor Russell, agradeço por ter cedido o seu hotel para
a realização desse leilão.
— Tinha meus interesses nesse negócio, pretendo adquirir a
maioria das suas peças, inclusive o castelo.
— Temos certeza de que faremos grandes negócios, Sr.
Russell.
O homem votou-se para a mulher e a apresentou.
— Essa é minha esposa, Lena. — Ele voltou-se para a
esposa — Esses são Viktor Russell e sua adorada esposa.
A mulher estendeu a mão para o Viktor, ela era muito bonita,
alta, magra, típica modelo, muito mais jovem que o marido.
— É um prazer conhecê-lo, Sr. Russell. — Percebi uma voz
maliciosa.
Viktor a cumprimentou seco, ele a olhava como se fosse uma
coisa insignificante. Não estranhei, ele sempre olhava para as
pessoas com aquele ar de soberba, porém isso o deixava mais
bonito e misterioso e, em vez de afugentar as pessoas,
especificamente as mulheres, o deixava mais atraente.
Em um movimento deliberado, ela voltou-se para mim, me
senti um patinho feio perto do pavão, não que eu estivesse mal
arrumada, muito pelo contrário, usava um vestido tão pomposo
quanto o da mulher, um elegante longo azul pavão que acentuava
minhas curvas modestas, que ultimamente percebi estavam mais
vistosas, penso que engordei um pouco. De qualquer maneira, as
curvas extras salientavam a delicadeza feminina. As joias eram de
diamantes. Meus cabelos estavam soltos, as cascatas douradas
desciam em ondas sedosas e a maquiagem, apesar de dramática,
estava o mais natural possível; a maquiadora marcou os olhos
fazendo o azul sobressair. Contudo, me sentia inferior àquela
mulher, não pela beleza física, mas por ela parecer tão dona de si,
alta, pelo menos uns cinco centímetros a mais que eu e isso me
intimidava e sentia minha frágil feminilidade. Porém, fui treinada
para ser uma excelente anfitriã. Colocando um sorriso no rosto,
estendi a mão para a mulher.
— Catharine Russell.
— É um prazer conhecê-la, Sra. Russell. Lindas joias.
— Ah! Obrigada!
— As joias que estamos leiloando hoje muitas são da
coleção pessoal da família real da Suécia da qual sou membro — o
homem falou animado.
— O que minha esposa quiser, eu adquirirei — Viktor falou.
O casal sentou-se à nossa mesa e Viktor conversou sobre as
peças que seriam leiloadas com o homem. Pelo que pude perceber,
o homem era herdeiro de um nobre sueco pertencente à casa
Bernadotte, mas a crise os havia atingido e estavam se desfazendo
de sua riqueza. Ele havia se mudado para a Suíça e vivia no
castelo, mas as despesas eram altas, por esse motivo o colocou a
leilão. Algumas das peças datavam de 1818, desde que a família
real se estabeleceu na Suécia, eram verdadeiras relíquias.
Eu não falava muito, apenas quando me era dirigido a
palavra, sabia como devia me comportar. A mulher também falava
bastante, mas só sobre a fama do Viktor no mundo dos negócios.
Ela claramente estava interessada nele. Nem ao menos disfarçava
com a presença do marido e a minha. Tinha até a impressão de que
o homem não se importava.
Viktor por sua vez a ignorava. Isso me fez refletir sobre o
último ano que estive longe. Será que o Viktor se relacionou com
alguém durante esse período? Provavelmente sim, não o imaginava
tendo privação de sexo, era algo simplesmente impossível. Aquele
pensamento me fez ter um sentimento estranho dentro de mim,
nada agradável.
Balancei a cabeça negativamente. Não, eu não posso sentir
isso em relação a ele, não posso. Percebendo meu gesto, Viktor
perguntou:
— Você está bem, querida?
— Hum... Oh sim, eu só estava pensando.
— Espero que em mim. — Riu cínico.
Corei, realmente estava pensando nele.
— Tenho certeza de que sua esposa estava pensando em
sua pessoa, Sr. Russell. Não tem uma mulher nesse salão que não
esteja. Você tem sorte, querida Catharine.
— Sim, ela tem. Principalmente porque ela tem um marido
que não pensa em mais ninguém a não ser nela — Viktor falou rude.
O silêncio pairou na mesa. O marido dela parecia
constrangido e a mulher envergonhada. Para quebrar o clima, o
homem pigarreou e anunciou:
— Temos que ir, Sr. Russell, o leilão iniciará em poucos
minutos e estaremos do lado do leiloeiro.
Eles se levantaram, Viktor nem ao menos saiu da sua
cadeira para se despedir, eu também fiquei sentada de cabeça
baixa.
— Vamos, querida! — ele falou para a esposa.
Os dois se afastaram rapidamente. Poucos minutos depois, o
leilão iniciou. A primeira peça que foi mostrada no telão era uma
coroa datada do século XIX. A peça era tão linda. O lance inicial foi
de cinco milhões de dólares.
— Você gostou, amor?
— É linda, mas é tão cara.
Ele apenas sorriu.
Os lances começaram, Viktor não lançava nenhuma vez.
Quando a joia alcançou o valor de sete milhões de dólares, o
leiloeiro já fazia a contagem e ele lançou:
— Dez milhões de dólares.
Todos ficaram em silêncio. Eu segurei o ar. O leiloeiro fez a
contagem.
— Dá lhe uma, duas, três. Vendido para o cavalheiro.
Todos aplaudiram. O leilão correu, todas as peças de
interesse do Viktor ele lançava o maior valor e adquiria. Por último
foi o castelo, ele o queria e não se importava com o preço a pagar.
No final ele conseguiu o castelo com toda a mobília pela bagatela,
segundo ele, de cem milhões de dólares. Eu sabia que o Viktor era
rico, mas, às vezes, me surpreendia o quanto ele era rico. Contudo,
me sentia mal por isso, uma boa parte de sua fortuna vinha do
crime, negócios ilegais geravam muito dinheiro, principalmente por
não precisar declarar nada.
Nunca pensei muito sobre esse lado do Viktor, na verdade
quando ele me mostrou o que fazia além de ser empresário, não
entendi muito bem.
Quando ele me levou para o submundo, eu percebi o quanto
aquilo era grande e perigoso. Porém, eu não tinha uma dimensão
exata de tudo aquilo, a única coisa que sabia é que ele era quase
inatingível e praticamente nenhum oponente demasiado intimidador
para desafiá-lo.
Estremeci ao pensar no Ramon, tinha certeza de que ele não
fazia a mínima ideia com quem estava se metendo, por isso
precisava ajudá-lo, talvez somente com a minha ajuda ele
conseguisse sair dessa enrascada.
Com o passar das horas, estava ficando genuinamente
agitada, tentava manter o tremor das mãos em controle, mas me
encontrava em um estado de nervos abalado.
Não sei que horas tudo aconteceria e essa expectativa já
estava me deixando abalada. Olhava para todos os lados à procura
de um sinal do Ramon em meio aos garçons. Viktor, por sua vez, se
mantinha firme como sempre, conversando com um e outro, nada
indicava que ele esperava algo acontecer. Uma certa altura, alguém
se aproximou dele e comunicou:
— Senhor Russell, está tudo pronto para o pagamento das
peças e a entrega das escrituras e a chave do castelo.
Ele voltou-se para mim e, para a minha surpresa ou não,
pegou minhas mãos e falou:
— Irei resolver isso, daqui a pouco estarei de volta.
Ele afastou-se com o homem, eu levei a mão no estômago e
apertei, chegou a hora. Agora era só esperar algum contato do
Ramon. Para disfarçar meu estado de espírito, apenas continuei
conversando com as pessoas e bebericando água.
Não demorou muito, uma mulher aproximou-se e começou a
conversar comigo, não a conhecia, mas ela sabia quem eu era. Não
prestava muita atenção no que ela falava, a única vez que
realmente a conversa dela me chamou a atenção foi quando ele
falou um nome.
— Meu sobrinho Ramon está aqui. É um excelente rapaz.
Olhei para ela com os olhos arregalados. Ela chegou perto
do meu ouvido e falou:
— Ele a está esperando. O sótão fica à direita, há uma porta,
é só empurrá-la e descer as escadas. Boa sorte.
Com isso, ela afastou-se. Olhei para os lados à procura do
Viktor, nem sinal dele, as pessoas mantinham suas conversas
alheias ao que viria a seguir. Respirei fundo, estreitei os olhos.
Precisava fazer isso. Andei na direção que a mulher indicou.
Procurei a porta, por sorte estava sinalizada. Inspecionei mais uma
vez todos os lados antes de empurrar a porta e entrar. Uma luz fraca
acendeu-se automaticamente. Havia setas nas paredes indicando a
direção. Desci com cuidado, segurando firmemente no corrimão, por
sorte não eram muitos lances de escada. Respirei aliviada quando
cheguei embaixo. Olhei em volta, não havia nada ali, apenas uma
imensidão do chão cinza brilhante. Havia luzes discretas.
— Ramon — chamei baixo.
Ouvi alguém se mover, arregalei os olhos ao fitá-lo.
Eu não deveria estar aqui, não deveria estar nesse lugar com
ele, mas aqui estava. Antes que eu tivesse um colapso nervoso, ao
imaginar que a figura que vi nas sombras era o Viktor, Ramon
apareceu sobre a pouca luz. Ao mesmo tempo fiquei aliviada e
apreensiva, mas precisava agir, tinha que convencê-lo a ir embora.
— Ramon.
— Mia, você veio!
— Sim, eu vim, mas não irei com você. Como te disse antes,
não deixarei meu marido.
— Mia, eu sei que está assustada. Seu marido é um homem
poderoso e tem dinheiro, porém ele não fará nada contra nós.
Estamos sob a proteção de um homem tão poderoso quanto ele.
— Ramon, você não entende, esse homem que está te
ajudando provavelmente é um inimigo do meu marido infiltrado,
essa gente não se deve confiar, por favor, vai embora. Eu não posso
ficar muito tempo aqui.
— Mia, tudo já está pronto, o carro está nos esperando, há
uma saída pelos fundos. Vamos direto para o aeroporto, tem um
avião a nossa disposição para partirmos para a América do Sul,
Bolívia.
— Para, Ramon! — gritei.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, ele voltou a falar:
— Não quer vir comigo por causa da minha aparência, não
é?
— Não é nada disso, Ramon, eu só quero que você saia
dessa vivo.
Abri a bolsa e peguei o envelope.
— Olha, aqui tem dinheiro. — Engoli em seco antes de
continuar. — Também tem uma arma, vai embora, Ramon, por favor.
O meu marido não é só um empresário poderoso, ele é muito mais.
Se você não sair agora, ele vai te matar.
Ramon me encarava incrédulo, percebi que ele não
acreditava que não queria partir, tendo em vista que não hesitei em
fazê-lo antes, mas agora as coisas mudaram, percebi que não podia
fazer isso com o Viktor, eu era dele, ele me escolheu para ser sua
esposa e nada que eu fizesse mudaria isso. Eu apenas queria
compreendê-lo, percebi que se eu fizesse exatamente o que ele
queria, nossa convivência ficaria melhor. Também concluí que,
apesar de ter fugido e ser punida por ele por conta disso, essa
minha ousadia mexeu com o Viktor de alguma maneira, eu consegui
arranhar sua arrogância e isso me deu uma vantagem sobre ele.
Sabia que o que ele sentia por mim não era amor, mas seja lá o que
fosse, esse sentimento era muito forte, chegava a arriscar que era
doentio. Por isso eu só precisava saber usar esse sentimento ao
meu favor.
Ramon falou claramente irritado:
— Você está mentindo.
— Não! — Havia um caroço na minha garganta.
— É claro que está, não é possível querer ficar com um
homem que te bate e a faz prisioneira.
— Pois quero, e você não sabe nada sobre a minha relação
com o meu marido.
Ramon me puxou com violência para junto do seu corpo, me
apertou e falou com ódio:
— Se você o ama, eu a farei esquecê-lo. Eu te amo, Mia, e
jamais desistirei de você.
— Me solta, eu nunca o amei como homem e nunca o
amarei. Sempre tive um sentimento fraterno por você, como a um
irmão. Nunca te dei esperanças para ser o contrário.
— Não importa, Mia, meu amor é suficiente para nós dois.
Se você quer ficar com um homem violento, eu também posso ser.
Pelo jeito, você gosta disso.
Ele continuou me puxando e eu tentava me soltar, não
acreditava que o Ramon se tornou tão cínico, nunca imaginei que
ele usaria a força para me obrigar a fazer algo que não queria, ele
sempre foi gentil, um cavalheiro. Mas agora parecia um homem
transformado. Talvez por tudo que ele passou se transformou e, de
certa forma, sentia-me culpada, mas não podia fazer o que ele
queria, muito mais pela integridade física dele do a minha própria.
— Ramon, me escuta, por favor, o Viktor é um criminoso
perigoso, ele vai te matar.
Ele parou de novo. O local se iluminou de repente. Ouvi
palmas, virei-me para a direção do som e empalideci. A uma
distância de mais ou menos um metro, sentado em uma cadeira,
com as pernas cruzadas, estava o Viktor. Ele nos encarava com
olhar sarcástico. O ar parecia ter sumido da sala, meu coração batia
como tambores, puxei o pouco de oxigênio que conseguia. A minha
angústia era enorme. Meu Deus! Ele sabia de tudo. A confirmação
de que ele planejou aquilo veio com a fala do Ramon.
— Chefe?
Olhei para o Ramon, assustadíssimo. Chefe? O que significa
isso? Ramon também parecia confuso.
— Viktor Russell, Boris, chame-me do que quiser — ele
falou.
— O que significa isso? — Ramon parecia assustado.
— Significa que eu sou Viktor Russell, marido da Catharine e
o chefe da Hell Bloods.
— Você, você... O Boris e você são as mesmas pessoas? —
Ramon perguntou incrédulo.
— Exatamente!
Eu estava tão confusa, olhava alarmada para o Viktor, seus
olhos cravados em mim brilhavam, porém não percebi através deles
quais eram suas intenções e muito menos seus sentimentos. Não
via raiva neles, mas também não via algo bom, ele estava
indecifrável e eu literalmente ferrada. Senti uma pequena vertigem e
cambaleei, Ramon me segurou com firmeza. Eu não podia acreditar
que não conseguiria salvar a vida do Ramon, Viktor acabaria com
ele.
Nesse momento, Viktor levantou-se, sua presença física era
tão ameaçadora e poderosa, que me deixou sem ar. Ramon parecia
um fantasma, os olhos arregalados e a pele pálida. Viktor não fez
nenhum gesto para se aproximar, claramente intencional, ele
mantinha as mãos nos bolsos da calça, porém sua voz era fria e
autoritária, e entrou em meus ouvidos como navalha:
— Eu planejei esse encontro de vocês. Te tirei da cadeia,
Ramon, do lugar aonde eu mesmo o coloquei. Só está vivo até
agora, graças a minha linda esposa Catharine.
Olhou em minha direção com o olhar austero, ele havia feito
tudo isso para me testar.
— Precisava saber se fugiria, baby, e fiz tudo para facilitar.
Queria saber até onde chegaria, e aqui estamos.
Eu literalmente estava com a boca aberta, não acreditava
que ele havia armado tudo isso somente para me testar e usou o
Ramon. Precisava interceder por ele. Mesmo apavorada e com
dificuldade para respirar, eu lutava para tentar controlar o mal-estar
que toda aquela situação me causava. Olhei para o Viktor suplicante
e pedi:
— Deixe-o ir embora, Viktor, por favor, não faça nada contra
ele, te imploro. Já basta a mãe dele ter morrido.
Nesse momento, o Ramon soltou minha mão e puxou o
envelope, ele o abriu e pegou a arma. Apontou para mim.
— Me deixa sair daqui. Caso contrário, eu a mato.
Fiquei paralisada, Ramon se encontrava a poucos
centímetros de mim, a arma apontada para a minha cabeça. Viktor
por sua vez nem ao menos se abalou. Ele pegou um cigarro no
bolso, acendeu tranquilamente e tragou profundamente. Eu estava
tão abalada que respirava rápido e em pequenas quantidades.
Ramon suava muito e parecia nervoso, os olhos esbugalhados.
A tensão entre os dois homens era tão espessa como uma
densa neblina. Ambos olhavam um para o outro: Ramon, a
incredulidade apavorada irradiava de seus olhos; Viktor, com uma
expressão solene, nada o abalava. Eu olhava perplexa toda a
situação, mas foi Viktor que quebrou a tensão primeiro.
— Você vê, benzinho, como seu querido Ramon aponta uma
arma para a sua cabeça? Tenho certeza de que ele não hesitará em
atirar em você — Falou despreocupado.
— É isso, vocês dois estão juntos nessa, planejaram tudo
contra mim e minha mãe.
— Não, Ramon, não é verdade — clamei.
— É claro que é verdade, Mia. Ele é seu marido, você
envolveu a minha família nisso tudo.
— Eu sinto muito, não queria ter envolvido vocês nisso, mas
não fiz deliberadamente.
— Vamos acabar com essa baboseira. Catharine é a mais
inocente nessa história toda. Ela apenas pensa que pode me
manipular e por isso faz essas besteiras.
— Não me importo, quero sair daqui, e ela virá comigo. Se
você nos seguir, acabo com ela.
Com isso ele agarrou a minha mão e me puxou. Lágrimas
ameaçaram derramar, mas eu as segurei, eu tinha que encontrar
uma saída. Viktor, por sua vez, apenas gargalhou e tirou sua própria
arma da cintura e apontou para o Ramon.
— É melhor você parar e largar a minha esposa.
— Eu vou atirar, me deixa sair daqui — Ramon falou muito
alterado.
Ele agora agarrou em meu pescoço e encostou o cano da
arma em minha cabeça. Eu queria lhe falar, mas não conseguia; a
atitude dele era desesperadora, eu queria entendê-lo, mas era duro
constatar que ele estava me fazendo de refém. Eu não queria
acreditar que o Ramon, tão doce, seria capaz de tirar a minha vida.
— Eu vou atirar, não chega perto.
Viktor o ignorou e começou a avançar em nossa direção,
Ramon me puxava à medida que ele andava para a saída. Gritava o
tempo todo que atiraria. Viktor não recuava. Quando Ramon viu que
não tinha saída, ele gritou que me mataria. Então ouvi o clique do
disparo e fechei os olhos, porém nada aconteceu. Desesperado,
Ramon ainda me segurava forte no pescoço.
— Você é um amador nesse mundo, Ramon. Pensa que não
planejei cada detalhe? Pensa que não sei que Catharine lhe traria
uma arma? Eu apenas a descarreguei. Agora solta a minha mulher.
Ainda tenho algo para te mostrar antes de mandá-lo para o inferno
de vez.
— Não, Viktor, não faz isso — pedi desesperada.
— Cale a boca, Catharine, esse homem estava disposto a te
matar e ainda roga por ele?
— Deixa-o ir, é só o que te peço. Ele não teve culpa.
— Basta, Catharine!
Viktor fez um gesto com a mão e um par de portas de metal
começaram a deslizar sobre os trilhos e abriu-se. Não acreditei no
que se revelou a minha frente. Ramon afrouxou o aperto e, nesse
momento, eu me liberei dele. Afastei-me um pouco e encostei na
parede.
Meu coração batia acelerado. Todo o ambiente rodou a
minha volta. Olhei na direção do Ramon e ele estava
completamente estático, assim como eu, não acreditando no que via
a sua frente. Em uma redoma de vidro, se encontrava a última
pessoa que imaginei encontrar com vida, apertei os olhos para
tentar assimilar aquilo, não era possível. Qual o jogo do Viktor? Abri
os olhos novamente e constatei que era real, não era uma miragem.
— Mãe?! — Ramon falou emocionado.
O espaço e o tempo pareciam ter parado, as coisas à volta
aparentavam estar em câmera lenta. Eu não conseguia raciocinar
direito. Olhava para a redoma de vidro, a Sra. Pérez estava dentro,
ela batia no vidro e gritava, mas eu não podia ouvi-la, aquele vidro
parecia muito espesso.
Encontrava-me em um grande destroço nervoso, que tinha a
sensação de que vomitaria a qualquer momento. Quais as intenções
desse homem, meu Deus?! Minha cabeça não parava de pensar. O
que o Viktor planeja. Eu não conseguia enxergar nada claramente,
meu peito chiava, o ar me faltava, aquilo era um pesadelo.
Viktor andou até a redoma de vidro, a Sra. Pérez recuou
assustada. Ele voltou-se para mim e o Ramon, que ainda estava
estático no mesmo lugar.
— Aqui está a sua mãe, Ramon, viva. Não ficará por muito
tempo e sabe por que a matarei? Por você ter ousado cobiçar o que
é meu e, principalmente, por tentar matá-la.
— Eu não queria matá-la, você me obrigou a isso.
— Sabe, Ramon, até que você se saiu bem no treinamento,
daria um bom soldado, mas não ficará vivo. Acabarei com você,
mas não farei de modo rápido, quero vê-lo sofrer, quero ver o
sangue saindo dos seus poros.
Ele apontou para mim e me olhou diretamente nos olhos.
— Essa mulher me pertence desde que ela tinha apenas dez
anos de idade. Não, não a desejei sexualmente, mas no momento
que a vi tracei seu destino, ela seria minha e assim fiz. Nunca
permiti que nenhum macho chegasse perto dela enquanto a
esperava crescer, os que ousaram até olhá-la com cobiça, eu
eliminei. Ela é minha e de mais ninguém.
Respirava pesado, confusa com tudo que o Viktor falava,
para mim aquela revelação era nova, nunca imaginei que ele me
conhecia desde que eu tinha dez anos, não lembrava de tê-lo visto
antes, nem entre os homens de negócios do papai. Forcei minha
mente a lembrar de algo, mas não vinha. Definitivamente não
lembrava dele, tinha certeza de que, se o tivesse visto em algum
momento da minha vida, lembraria, ele não era uma pessoa que se
esquecia facilmente.
Viktor continuou falando:
— Planejei cada detalhe para tê-la exatamente aqui, na
palma da minha mão.
Ele deixou a palma da mão para cima e a fechou em um
gesto como se estivesse me segurando. Na verdade, o gesto
simbolizou exatamente isso, eu estava presa, em suas mãos.
— Por isso, Ramon, não será qualquer babaca apaixonado
que tirará ela de mim. Aliás, nada nem ninguém nunca conseguirá
isso. Catharine me pertence até o último dia de vida do meu corpo.
— Mas ela fugiu de você — Ramon ousou falar.
Viktor gargalhou sem humor.
— É, ela ousou fazê-lo e por esse motivo tive que capturá-la
de volta. Porém, o período que ela ficou com vocês os sentenciou à
morte. Cedo ou tarde, eu a encontraria e a capturaria. Ela sabia
disso, mas preferiu não voltar para mim, por isso, todos irão morrer.
Ele virou-se para mim, e abrandou o olhar.
— Menos você, benzinho, para você tenho a punição
perfeita.
As lágrimas já desciam pelo meu rosto descontroladamente,
eu sempre me senti culpada por ter colocado a vida deles em risco e
agora nada do que eu falasse mudaria isso. Eu ainda precisava
tentar, pelo menos a vida da Sra. Pérez eu precisava salvar. Do
Ramon eu sabia que jamais conseguiria, o Viktor ia matá-lo. Mas da
mãe dele ainda havia uma chance, já que ele a deixou viva até
agora. Engolindo mil vezes para tentar conseguir formular as
palavras, juntei as mãos e pedi:
— Viktor, eu não fugirei mais, você me testou e eu não
aceitei ir embora com o Ramon. Agora entendo que sou sua esposa
e nada vai nos separar, eu quero ficar com você. Dê uma chance
para eles, principalmente para a Sra. Pérez. Te suplico.
— É claro, benzinho, que ficará comigo, querendo ou não.
Agora, Catharine, fique quietinha, isso aqui não é sobre você, mas
ele. Eu vou matar a mãe dele em sua frente, mas não será uma
morte rápida, ela morrerá aos poucos.
— Não! — Ramon gritou.
— Sim, e não pense que, dessa vez, será apenas um
holograma como da outra vez. Claro que a tecnologia que uso é
avançada e a imagem nada se diferencia de uma imagem real, mas
aquela mãe que você viu sendo assassinada era apenas uma
imagem tridimensional dela mesma. Os efeitos do tiro eram apenas
uma ilusão de ótica com efeitos especiais de cinema.
Viktor aproximou-se do vidro e bateu.
— Isso aqui é bem real, e sua mãe é de carne e osso.
Viktor fez um sinal e um homem enorme apareceu e abriu
uma porta na redoma, entrou. A mãe do Ramon levantou-se
aterrorizada e tentou correr, mas o homem a pegou e deu um soco
em sua face, ela caiu com o nariz sangrando.
— Está vendo, Ramon, dessa vez é ela, e irá morrer.
Ele de novo levantou a mão e o homem saiu, ele trancou a
porta com uma válvula. A Sra. Pérez levantou-se com o rosto
ensanguentado e encostou no vidro. Ela chorava e pedia pela sua
vida, batendo no vidro. Eu podia ver as marcas do sangue conforme
ela espalmava a mão no vidro.
Eu não conseguia olhar mais, aquilo era horrível, eu estava
completamente sem ação tamanha a violência contra uma senhora
que não fez absolutamente nada para ninguém. Olhei para o Viktor
e não vi nenhuma piedade em sua face, suas pupilas mostravam
uma aura de escuridão impenetrável. Meu peito subia e descia com
dificuldade para respirar devido ao pânico. Para piorar, Viktor
ordenou com um comando da mão que algo acontecesse, e meus
olhos arregalaram quando o grande tanque de vidro começou a
encher de água oriundo de saídas do teto. Os jatos de água eram
muito fortes, a Sra. Pérez abaixou-se ao receber as rajadas de
água. Deus! Ele a matará afogada.
— Não! Por favor, não faz isso, Viktor! — gritei.
O tanque enchia muito rápido, a Sra. Pérez andou contra os
jatos de água e foi até a porta tentando abrir, sem sucesso. Viktor
tranquilamente voltou-se para mim e andando em minha direção,
ordenou:
— Vem aqui, meu bem!
Nesse momento, o Ramon, que estava em estado de
choque, reagiu. Antes que eu pudesse sair de onde estava, ele
avançou sobre mim e me agarrou pelos cabelos. Viktor sacou a
arma novamente e apontou para ele, Ramon gritou.
— Solta a minha mãe, senão a mato.
Ele estava com a coronha da arma virada para a minha
cabeça, ele não atiraria, mas me atingiria na cabeça com aquilo. Eu
já não conseguia respirar, ia morrer de qualquer jeito. Não
conseguia mais puxar o ar, entrei em crise.
Tudo aconteceu rápido, Viktor avançou para o Ramon, ele
fez o gesto para me atingir com a coronhada na minha cabeça,
escutei o disparo e o sangue espirrar na minha cara. Ramon me
soltou e eu caí no chão de lado. Eu já estava tão fraca que não
conseguia pegar a bombinha. A única coisa que vi foi o Ramon
caído do meu lado e o sangue jorrando através do furo em sua
cabeça. Viktor aproximou-se de mim rapidamente e pegou minha
bombinha, borrifou várias vezes na minha boca. Ele me abraçou
contra o seu corpo forte.
— Reage, meu amor, reage. Você não pode me deixar
agora.
Mesmo com falta de ar, o remédio abriu minhas vias
respiratórias, puxei o oxigênio o máximo que pude.
— Não deixe a Sra. Pérez morrer, por favor —pedi.
Senti que Viktor tensionou o corpo, ele beijou os meus
cabelos no alto da cabeça e falou com um ar aliviado:
— Meu anjinho está bem, pedindo pelas pessoas.
Ele me fez olhá-lo, eu puxava o ar pela boca. Mas já não
tinha risco de morte. Ele passou as mãos em meus lábios e riu.
— Eu nunca conseguirei corromper você, não é?
— Ela não teve culpa, Viktor, não me faça sentir culpada o
resto da minha vida.
— Você mentiu para mim, Catharine, o que acha que devo
fazer com você?
— Faça o que quiser comigo, mas não mate a Sra. Pérez,
por favor.
— Você lamenta a morte do Ramon?
— Não, ele tentou me matar.
— Continua mentindo para mim, benzinho, mas eu gosto
disso, me dá motivos para te punir.
Ele me ajudou a levantar, olhei para a redoma de vidro e a
Sra. Pérez estava segurando em uma barra de ferro, somente uma
parte da cabeça dela estava fora da água, em poucos minutos o
tanque encheria e ela não teria nenhum espaço para respirar, iria
morrer afogada.
Voltei-me para o Viktor com os olhos suplicantes. Ele não fez
nenhum gesto para que a água fosse desligada. Eu não podia olhar
a Sra. Pérez morrer assim, então o abracei, enterrei meu rosto em
seu peito e pedi com a voz embargada pelo choro:
— Me tira daqui.
— Não pedirá mais por ela, benzinho?
— Não, somente me tira daqui.
Viktor me afastou dele e me virou para o tanque, eu tentei
não olhar, mas ele me fez olhar, já não tinha mais nenhum espaço
para ela respirar e seu corpo começou a afundar na água, eu
intensifiquei o choro e pedi para ele me tirar dali. Viktor fez um gesto
com as mãos e a água começou a ser drenada do tanque, meu
coração estava acelerado, olhei para a expressão dele, mas não
consegui decifrar nada.
Olhei para o tanque com esperança. A água saía
rapidamente, mas o corpo da Sra. Pérez continuava parado, acho
que ela não conseguiu. Quando toda a água saiu do tanque, andei
até lá. Viktor não me impediu, ele apenas observava meus
movimentos. Espalmei as mãos no vidro e observei para ver se ela
respirava. Para o meu alívio, ela começou a tossir.
Olhei para o Viktor e pedi com o olhar para ele me deixar
entrar lá. Para minha surpresa, ele ordenou que abrissem a porta. O
mesmo homem que trancou antes, aproximou-se e girou a válvula, a
porta abriu-se.
— Eu posso ir? — perguntei.
— Vai.
Não esperei mais nada, corri até a porta e entrei, me
aproximei dela e a ajudei a se sentar.
— Está tudo bem, Sra. Pérez, está tudo bem.
— Mia? — perguntou com dificuldade em falar.
— Sou eu, a senhora ficará bem.
— Ramon...
Engoli em seco, eu não sei o que ela viu, mas não queria
alarmá-la, então apenas pedi para que não se preocupasse.
— Não pense nele agora, a senhora precisa se recuperar.
Percebi que ela tremia muito, estava frio, ela precisava ser
aquecida. Então gritei:
— Tragam uma toalha.
Percebi que o Viktor fez um gesto positivo com a cabeça e
um homem trouxe algumas toalhas, enxuguei os cabelos da Sra.
Pérez e embrulhei seu corpo com as outras. Ela começou a ficar
mais calma. Eu a ajudei a sentar em um elevado que tinha dentro do
tanque. Ela olhou para mim e perguntou:
— Ele morreu, não é?
— Eu sinto muito — falei com o coração em migalhas,
sentindo-me muito culpada.
— Eu te entendo, Mia, não se sinta culpada.
— Eu os coloquei nessa situação, não deveria ter ficado com
vocês.
— Você fez o que deveria ser feito, não a culpo, você apenas
tentou.
— Me desculpa.
— Não tem nada para se desculpar, você é boa e não
merece o marido que tem. No seu lugar, eu faria o mesmo.
Olhei através do vidro e vi o Viktor, que estava sentado na
mesma cadeira de antes, com as pernas cruzadas e fumando. Ele
nos observava. Não tinha certeza se ele podia escutar o que
falávamos, por isso apenas comuniquei:
— Por favor, Sra. Pérez, não fale nada, ele a deixará sair
daqui.
— Não importa mais, perdi meu filho.
Nesse momento, Viktor levantou-se e fez um sinal para eu
sair do tanque. Beijei a Sra. Pérez e pedi:
— Não faça nada, apenas obedeça a tudo. Sinto muito pelo
Ramon. Fique bem.
— Mia, não me deixe.
— Eu preciso ir, Sra. Pérez.
Ela me segurou.
— Se você sair, ele vai me matar.
— Se você não largar a minha esposa, morrerá agora sem
uma segunda chance. Agradeça a minha esposa por salvar o lixo da
sua vida.
A voz do Viktor foi ouvida dentro do tanque. Ela me soltou e
ficou de cabeça baixa, encolhida no canto. Saí sem olhar para trás e
me aproximei do Viktor. Ele estendeu a mão para mim e eu a
segurei.
— Vamos, meu bichinho assustado, deixa essa velha aí.
Agora sou eu e você.
Saímos do local, meu coração estava apertado, eu queria lhe
perguntar o que ele faria com a Sra. Pérez, mas não tive coragem.
Observei que ele me levou para um estacionamento e um carro já
estava nos esperando. Sentei no banco macio e afundei, encostei a
cabeça no vidro. Viktor sentou-se do meu lado e as portas se
fecharam. O carro moveu-se e seguiu seu destino que eu não fazia
a mínima qual era.
Viktor abriu um compartimento do carro e pegou uma bebida,
ele encheu um copo e, em seguida, virou-o de uma vez. Encheu
novamente. Olhou para mim, eu parecia uma estátua, estava muito
nervosa e tensa.
— Gostei da sua atitude, docinho, adorei ouvi-la dizer que
não queria fugir de mim.
— E não estava mentindo, eu realmente não quero ir
embora.
— É mesmo, benzinho? Está preparada para o que farei com
você?
— Sim.
— Que menina corajosa. — Ele riu com sarcasmo.
Nesse momento, percebi que chegamos em uma pista de
pouso e decolagem. Havia um avião nos esperando, na verdade era
um Boeing. Os homens do Viktor abriram as portas e eu saí. Viktor
me guiou e subimos as escadas da aeronave, eu estava confusa,
não fazia ideia para onde iríamos. Dentro do avião, Viktor me
conduziu a uma suíte, ele instruiu:
— Decolaremos em meia hora, tempo suficiente para você
tomar um banho e tirar o sangue daquele lixo da sua pele.
Ele virou-se para sair e eu perguntei rápido:
— Para onde vamos?
— Suíça.
Com isso, ele virou-se e sumiu. Suspirei fundo. O que
esperar na Suíça?
Acabei de sair do banho, enrolei-me em um roupão enorme,
acho que pelo tamanho pertencia ao Viktor, mas não tinha outra
opção, pelo visto não havia um menor a disposição. Entrei no quarto
suntuoso. Olhei em volta impressionada.
Como conseguem fazer um quarto tão luxuoso em um
avião?
A suíte nada perdia para a de um apartamento luxuoso.
Havia móveis de madeira brilhante e estofados de couro. A cama
king size coberta com uma colcha branca impecavelmente
organizada, com almofadas sincronizadas, estendia-se no meio do
ambiente majestosamente. A tecnologia também era a mais
moderna, tudo era controlado através de tablets posicionados em
lugares estratégicos. Havia também um bar no quarto, muito bem
equipado com bebidas e taças.
Sentei-me na beirada da cama, meus pensamentos ainda
estavam voltados para tudo o que aconteceu, eu queria relaxar e
curtir todo aquele esplendor de requinte e luxo, mas não sabia o que
aconteceria daqui para a frente. No entanto, de uma coisa tinha
certeza: o Viktor saberia me cobrar direitinho por ter mentido para
ele. Uma dor na minha barriga me fez curvar sobre meu próprio
corpo, estava nervosa e com medo, o Viktor era imprevisível, ele
podia fazer qualquer coisa comigo, eu não tinha saída.
As lágrimas quentes inundaram meu rosto, toda aquela
tensão mais cedo, se manifestou agora em meus nervos, tudo doía:
cada músculo, cada terminação nervosa. Estava tão abalada e
perdida sobre tudo. Deitei-me na cama e me encolhi. Estava
exausta, meus pulmões frágeis pediam para eu me desligar um
pouco. Todavia, minha mente não estava cooperando. Em vez
disso, revivia todas as imagens na minha cabeça. Os pensamentos
turbulentos giravam em minha mente. Ouvia o disparo que tirou a
vida do Ramon como se fosse um bumerangue, indo e vindo.
Mexi-me de um lado para o outro tentando esvaziar a minha
mente de todos aqueles acontecimentos. Talvez por exaustão pura,
comecei a sentir minhas pálpebras fecharem, elas pesavam, não
conseguia controlar. Quando já estava entrando no primeiro estágio
do sono, ouvi uma movimentação no quarto. Abri os olhos, Viktor
estava do meu lado. Ele me sacudiu.
— Não dorme agora, vamos decolar.
Levantei-me com sua ajuda, ele me fez sentar em uma das
poltronas e afivelou o cinto. Ele sentou-se na poltrona próxima a
minha e fez o mesmo. O comandante anunciou que estava pronto
para a decolagem, Viktor autorizou através de uma tela na parede
de onde podia ver a cabine de comando. Após o comunicado, a tela
desligou e o avião começou a se mover. Como sempre, fiquei tensa,
só de imaginar que em poucos minutos estaríamos a milhares de
quilômetros do solo e com frio na barriga. Graças a Deus, as janelas
estavam fechadas.
O avião levantou voo e logo se estabeleceu no ar. O
comandante anunciou que já podíamos desafivelar o cinto.
Viktor me ajudou como sempre. Ele me pegou no colo e
levou para a cama. Me deitou delicadamente. Olhei para o seu rosto
próximo ao meu, não vi raiva em seu olhar, mas o mais puro e
incandescente desejo. Porém, seus olhos também demonstravam
algo selvagem, dominador, predador. Viktor segurou meus pulsos
contra o colchão fortemente, liberei um gemido de dor e meus lábios
tremeram.
— O que faço com você, Catharine?
— Não me pune! — pedi alarmada.
— Mas eu vou punir você, meu amor, aqui, embaixo de mim.
Ele avançou sobre mim como um predador buscando sua
presa, tomando a minha boca em um beijo lento e preciso no início.
E então, sem que eu percebesse, ele fez seu ataque surpresa.
Arrebatando minha cabeça para trás, ele enfiou os dedos entre
meus cabelos, puxando o meu rosto para a frente e aprofundando o
beijo. Ele não era gentil, era áspero, cru, letal, a ponto de machucar
meus lábios. Eu liberei um gemido de dor e angústia.
Viktor desatou o nó do meu roupão, e desceu seus lábios até
os meus seios, ele começou a sugá-los com vigor, meus mamilos
ultimamente estavam sensíveis ao toque e a maneira que ele estava
fazendo me faziam sentir dor. No entanto, ao mesmo tempo, meu
corpo acendeu-se em uma chama ardente. Eu não queria sentir
nada, mas, involuntariamente, minha vagina começou a lubrificar.
Ele levantou-se, de repente, e ficou de pé do lado da cama,
eu olhava para sua figura poderosa ofegante. Uma a uma, ele tirou
as roupas e ficou somente com a cueca boxer preta, fiquei pálida e
com a garganta seca ao ver sua protuberância pétrea através do
tecido. Suas coxas eram tão grossas e musculosas assim como
seus braços. Ainda me sentia impressionada e intimidada com seu
físico impecável. Ele levou as mãos no membro e o segurou através
da cueca apertando levemente.
— Você quer ser punida agora, benzinho? Você quer essa
punição?
Não conseguia falar; ao mesmo tempo que estava em
pânico, estava excitada. Ele desceu e cueca e liberou seu pênis
perfeito. O pau era tão grande e assustador, que eu engoli várias
vezes tentando controlar meu temor. Eu queria que ele fizesse isso
sem punição, sem me machucar, mas sabia que ele estava zangado
comigo por ter mentido, mas precisava tentar persuadi-lo a não me
machucar.
— Por favor, Viktor, não precisa ser assim.
— Assim como? Forte? Rude? Potente?
— Eu sinto muito por ter mentido. Eu... eu... só queria ajudar
as pessoas que me ajudaram.
Viktor praticamente pulou em cima de mim, eu recuei
assustada, mas ele me segurou firme, eu não tinha saída. Apertei os
olhos, eu precisava lutar, mas não tinha forças. Ele pegou no meu
rosto e apertou.
— Abre os olhos e olha para mim.
O fiz imediatamente, encarei aqueles olhos que não tinham
misericórdia.
— Eu vou te foder, Catharine, até fazê-la entender que você
está sob o meu comando. Nada estará entre nós, absolutamente
nada, somente eu e você.
Ele deslizou a boca em meu pescoço e passou a mão áspera
em minha boceta. Eu arqueei o quadril tentando fazer com que
aquele contato não fosse doloroso. À medida que ele me beijava e
explorava com a mão, eu sentia dor e prazer que se misturavam e
inundavam meu cérebro com mensagens confusas.
Sua boca se moveu para a minha orelha, primeiro lambendo,
em seguida sugando o lóbulo. Eu respirei fundo sentindo seu cheiro
almiscarado e seu pau quente e duro entre as minhas coxas. Ele
sussurrou em meu ouvido:
— O que você quer menina? O que você deseja?
Sua respiração quente em minha pele enviou arrepios em
minha espinha, eu não sabia o que falar, o medo e todos aqueles
sentimentos contraditórios flutuavam em minha mente. Senti que ele
puxava meu cabelo.
— Você quer meu pau te fodendo sem piedade? Hum?
Ele puxava meu cabelo em solavancos, fazendo minha
cabeça balançar de um lado para o outro. Fechei os olhos tentando
suportar a dor. Eu não tinha forças nem física e mental para lutar
contra ele, não conseguia me defender, queria ser forte, queria ter
coragem, mas não tinha, então sofria calada. Viktor não satisfeito
com o meu silêncio, me deu um tapa no rosto e segurou com força.
— Você quer? — perguntou entredentes.
— Si-sim. — Choraminguei.
Ele alinhou a cabeça do pau na minha entrada e empurrou
com força, a dor aguda me atingiu. Sempre sentia dor quando ele
me penetrava, mas logo o músculo cedia ao seu pau enorme. Eu
não tinha tempo para me recuperar, ele iniciava os movimentos,
lascivo, forte, luxurioso. Sem carinho, sem preocupação se estava
me machucando. Eu segurei em seus ombros fortes apertando sua
carne rija.
— Olha para mim — pediu baixo e ofegante.
Eu não consegui abrir os olhos, senti ele agarrando meus
cabelos e puxando.
— Eu disse para olhar pra mim.
Abri os olhos, as lágrimas não me deixavam, olhei para
aquele rosto desfigurado pela raiva, paixão, luxúria, eu não sabia
definir, mas era uma expressão aterrorizante para mim. Ele
intensificou os movimentos de seu quadril, tirando e colocando toda
a potente ereção. Ele fez esse movimento por várias vezes, até que
parou a cabeça na entrada antes de introduzir de novo.
— É isso que você quer?
— Sim. — Não podia dizer o contrário.
Mais uma vez, ele entrou em mim, soltei um gemido abafado,
eu não senti dor, apesar da brusquidão do gesto, mas aqueles
movimentos dele estavam me fazendo sentir prazer com sua
penetração. Apertei ainda mais seus ombros e cravei as unhas em
sua carne, enquanto ele movia forte sem parar.
— É isso que minha menina precisa, meu pau te fodendo, te
mostrando a quem você pertence.
Ele voltou a me foder rapidamente, as molas do colchão
cediam a pressão da posse. Meu corpo frágil cedia aos seus
movimentos frenéticos.
— Que boceta gostosa, que menina deliciosa você é anjo.
Eu sou louco, louco por você. Sua feiticeira maldita, eu quero
destruí-la, mas você com esse corpo maravilhoso me reduz a um
homem rendido, rendido aos seus encantos, a sua pureza, ao seu
amor.
Todas aquelas palavras dele me deixavam em um abismo de
confusão. Ele nunca seria um homem rendido. Nem que eu
conseguisse tal proeza, ele jamais se curvaria a minha vontade,
mas naquele momento eu o estava deixando louco de desejo, eu o
tinha completamente. Eu gostei disso. Ele me penetrou mais fundo,
totalmente rendido ao meu corpo acetinado.
Eu podia fazê-lo, eu tinha o poder de deixar o poderoso
Viktor Russell totalmente à minha mercê. Talvez esse sentimento de
poder sobre ele era somente uma ilusão, mas era bom saber que eu
o deixava daquele jeito, completamente louco.
O homem rosnava e gemia como um selvagem, sentia cada
vez sua ereção aumentar dentro de mim, ele estava chegando. Ele
quase gritou quando atingiu o seu orgasmo, o alívio vindo do seu
pau em jatos quentes me preencheu. Uma mistura de dor e êxtase
apoderou-se em mim. Eu não gozei, mas todos os acontecimentos
daquela posse me fizeram sentir satisfeita, eu não me importei em
gozar, não era tão importante para mim, mas ver aquele homem
poderoso, fraco pelo orgasmo, era um triunfo para mim.
Eu me sentia estranha, sabia que ele me machucou, me
bateu, eu não gostava disso, mas um sentimento estranho se
apossou de mim. Eu gostava de sentir que ele era meu dono, me
possuía, me tomava, me tornava sua. Eu gostava de ser sua
submissa. Eu nunca havia parado para pensar, mas sentia
necessidade de me submeter a ele. Não que eu gostasse da dor, de
ser violentada ou espancada por ele, mas eu me sentia bem com a
sua masculinidade alfa, com seu poder, seu comando. Talvez eu
fosse doente por me sentir assim, mas era algo mais forte do que
eu.
— Diz que você é minha, anjo, diz.
— Eu sou sua, sua, sua. — Eu não falava aquilo da boca
para fora, naquele momento eu me sentia totalmente dele.
Ele sorriu triunfante, reconhecendo a minha submissão, ele
já havia percebido esse meu lado. Não me importava, eu realmente
queria me submeter a ele.
Abraçando-me bem apertado, ele traçava beijos apaixonados
em meu rosto, na bochecha que ainda ardia pelo tapa, na curva do
meu pescoço. Seu pau ainda dentro de mim contraía, soltando os
últimos vestígios de gozo. Eu estava quente e bem apertada contra
seu músculo. Nossos corpos pareciam apenas um. Eu era dele e
nada faria mudar isso.
A satisfação plena de ter aquela mulher era tão poderosa,
que eu me sentia fraco. Como uma menina tão pura, tão pequena
me fazia sentir assim? Eu não queria admitir nem para mim mesmo
que estava rendido, arrebatado por essa criatura linda. Isso me
deixava possesso, mas ao mesmo tempo fazia meu coração
acelerar e não era de êxtase, mas algo muito mais letal e perigoso.
Fechei os olhos e enterrei minha cabeça no peito dela.
Estava excitado depois do orgasmo avassalador que tive, era o que
ela fazia comigo e eu nunca me cansarei dela.
Relutantemente, saí de dentro dela cortando a nossa ligação,
eu já podia sentir que ela respirava com dificuldade por causa do
meu peso. Rolei para o lado e a trouxe junto, beijei seus cabelos
macios, perfumados e úmidos, enquanto a aninhava em meus
braços poderosos.
Daqui a pouco estaria pronto novamente e a possuiria, mas
naquele momento só queria ficar juntinho dela, desfrutando seu
corpo maravilhoso.
Senti que ela soluçava, talvez estivesse chorando e eu
realmente não me importava. Ela mentiu para mim, eu deveria puni-
la, não com sexo, mas eu não queria. No castelo ensinarei umas
coisinhas novas a ela, essa seria a minha punição. Muito sexo, bruto
e cru.
Movi-me e peguei um controle remoto na mesa de cabeceira,
apertei alguns botões e um painel no teto se abriu. Contemplei a
imagem escura e as estrelas que brilhavam intensamente. Era uma
imagem virtual que nos dava a impressão de estarmos debaixo do
firmamento. Ela também olhou para imagem admirada.
— Gostou? — perguntei para ela.
— Sim, é lindo!
Ela era doce, parecia uma menininha. Sentindo-me
novamente pronto novamente subi em cima dela. Seus olhos azuis
me encararam assustados e, ao mesmo tempo, submissos. Reiniciei
minha posse. Passamos a longa viagem transando, só a deixei
quando o comandante avisou que pousaríamos em Zurique em uma
hora.
Chegamos na cidade, que estava frio. No avião havia roupas
apropriadas para a baixa temperatura. Catharine vestia um casaco
de vison bege. Em seu delicado pescoço havia um cachecol, calça
de veludo, botas de couro e luvas. Somente seu rosto lindo estava
de fora. Seguimos para o carro que nos esperava na pista de pouso
e seguimos para o nosso castelo. Tinha muitos planos prazerosos
para a minha princesa em seu castelo.
Olhei em volta encantada, o lugar era impressionante. O
carro seguiu por um caminho arborizado e, ao avistar o castelo à
frente, fiquei de boca aberta. Eu imaginava que seria uma
construção majestosa, porém imaginei algo mais medieval. Aquele
castelo assemelhava-se ao de Buckingham, na Inglaterra. Ao fundo,
montanhas encobertas de neve davam um ar mais encantador. Em
frente ao castelo havia um lago enorme. Eu estava impressionada.
Assim que o carro parou na entrada do castelo, descemos, e
um homem em um fraque impecável e sobretudo negro veio nos
receber.
— Senhor Russell, seja bem-vindo! — Ele virou-se para mim
e apenas inclinou o corpo ligeiramente. Continuou falando com
Viktor: — Tudo foi providenciado conforme suas ordens, senhor.
— Ótimo!
Subimos as escadas e logo me encontrava no hall de
entrada mais lindo que já tinha visto na vida. O piso preto em branco
de mármore, que arrisco a dizer que era o original do mais puro
mármore grego, se estendia no chão. Olhei o teto onde havia
pinturas renascentistas, de anjos nus. Tudo era grande e imponente.
O homem nos conduziu ao andar superior e abriu uma porta
dupla toda esculpida em desenhos em relevo ornamentais e
pintados com tinta de ouro. O aposento que entramos era
encantador. Havia flores em estufas por todo ambiente, móveis
estofados de brocado e filetados de ouro e pequenas mesas
exibindo variadas coleções de objetos de adorno. Reconheci,
inclusive, muitas peças da mais pura porcelana chinesa. No
ambiente também havia uma grande lareira, estava acesa e aquecia
o cômodo. Estendido à frente da lareira, um lindo tapete persa bege
com motivos florais.
— Esses são seus aposentos particulares, Sr. Russell, assim
como nos solicitou. Na próxima porta fica a suíte; e na outra, uma
sala particular para as refeições e uma cozinha com tudo que
necessita.
— Ótimo! Pode dispensar todos os empregados, não quero
ninguém aqui esses dias. Você também está dispensado.
— Sim, senhor. Com licença.
O homem saiu e ficamos sozinhos, Viktor aproximou-se de
mim e parou as minhas costas. Ele me ajudou a tirar o casaco e
jogou em um dos sofás, em seguida me abraçou por trás e
perguntou com os lábios encostados em meu ouvido:
— Gostou do seu castelo, amor?
— Sim, é impressionante.
— Ficará mais impressionada quando ver as joias. Vem aqui.
Ele segurou minhas mãos e me puxou até a suíte. Havia
várias joias em cima de uma penteadeira antiga da era vitoriana e
tive certeza de que era um original da época. Havia um lindo
espelho e uma banqueta acolchoada também.
Ele me fez sentar. Havia muitas joias, peças lindas, muitas
delas antigas. Ele pegou a pequena coroa, a primeira peça que ele
comprou no leilão, e colocou em minha cabeça. A joia era
lindíssima, de ouro com anéis entrelaçados com diamantes e em
cada anel pendia uma pedra de safira em formato de gota. Para
mim, tinha um significado único, representavam lágrimas.
— Linda! Combinou perfeitamente com você — ele sorriu
com sarcasmo. Ele pensou o mesmo que eu.
Em seguida, ele pegou mais joias e colocou em mim, havia
colares, broches, braceletes, anéis. Todos das mais variadas pedras
preciosas.
— São todas lindas, obrigada. — Sorri, mas por dentro
aquelas joias não representavam algo positivo para mim, mas ele
não precisava saber disso. Encarei-o através do espelho, ele me
olhava com sarcasmo, tinha certeza de que ele sabia que somente
agradeci por educação.
Fiz menção de tirar a coroa, mas ele me impediu.
— Fica com ela. As outras joias você usará durante o tempo
que estivermos aqui.
— Quanto tempo vamos ficar?
— Alguns dias, mas não preocupe sua linda cabecinha com
isso. Agora vem aqui.
Ele me pegou pela mão e me levou até uma cozinha, o
cômodo ainda seguia o mesmo estilo de todo o resto do castelo,
mas entre os gabinetes e mesas antigos, tinha tudo que a
modernidade poderia oferecer.
— A cozinha é somente para você preparar algo em casa
para a gente comer, não sairemos muito daqui. Por isso, você pode
preparar as nossas refeições.
Não disse nada, eu nem sabia se conseguiria cozinhar,
nunca precisei fazê-lo. Mas gostei, pelo menos me sentirei útil.
Senti seus lábios em meus cabelos, ele me abraçou e
sussurrou:
— Quero ver suas habilidades de submissa.
— Cozinhar não torna alguém submisso — ousei falar.
— Para mim sim, quero sua submissão total, não só na
cama, mas em tudo.
Ele pegou em meu queixo e me fez olhá-lo, passou o polegar
em meus lábios trêmulos, depois no cabelo. Enrolou entre os dedos
os fios dourados. Ele me encarava como se estivesse fascinado.
Seus olhos expressavam admiração, paixão, amor? Não, com
certeza não, acho que no lugar de amor, podia colocar obsessão.
— Minha princesa submissa — murmurou antes de me
arrebatar em um beijo quente e possessivo.
Seus lábios eram rudes e me machucava. Eu suspirei fundo
tentando manter o fôlego. Ele me abraçou na cintura e me
suspendeu. Como instinto, enlacei minhas pernas em sua cintura e
os braços no pescoço. Rodopiamos pela cozinha entre beijos
apaixonados. Ele parou de repente e me soltou. Fiquei um pouco
perdida, apesar dele me beijar de maneira áspera, eu gostei. Fiquei
envergonhada, era estranho sentir essas coisas com ele, afinal de
contas ele era um tirano.
— Já esquiou? — perguntou.
— Sim, mas não tenho muita prática.
— Amanhã vamos esquiar. Agora te deixarei por algum
tempo. Se familiarize com o ambiente. Antes de voltarmos para
Chicago, te mostro todo o castelo, agora concentre-se somente
nessa parte.
Voltamos para a sala e me sentei em um dos sofás.
— Seus remédios estão em todas as gavetas. Em qualquer
cômodo que estiver, se precisar usar e não ter um em mãos, basta
abrir qualquer gaveta.
— Obrigada.
Fiquei tocada por ele saber que sempre tinha que manter a
bombinha em vários lugares da casa de fácil acesso.
Ele curvou-se sobre mim e beijou minha bochecha.
— Comporte-se, benzinho, volto mais tarde.
Ele andou até a saída sem olhar para trás e sumiu, eu o
acompanhei com os olhos um tanto surpresa, na verdade a atitude
dele me surpreendeu. Ele estava agindo de maneira bem diferente
do que pensei. Apesar dele ter feito sexo bruto comigo no avião, das
outras vezes foi gentil, até carinhoso. Franzi a testa em confusão,
realmente eu não entendia esse homem.
Decidi me banhar e colocar uma roupa mais confortável.
Entrei na suíte e olhei em volta. Havia um armário vitoriano
seguindo o estilo da penteadeira. Abri e vi várias roupas dobradas
de moletom. Pelo tamanho e estilo só podiam ser para mim. Separei
um conjunto e abri gavetas à procura de roupa íntima, também
havia várias.
Depois de uma ducha quentinha, voltei para a cozinha.
Explorei a geladeira e percebi que havia comidas semiprontas,
assim não teria muito trabalho de cozinhar, era somente seguir as
instruções. Olhei os armários, também procurando as louças para
pôr à mesa. Logo encontrei tudo que precisava.
Preparei o jantar e esperei o Viktor retornar. Encontrava-me
tensa, eu não sabia o que esperar desses dias que ficaríamos aqui,
ele não demonstrava que me puniria, colocando-me em algum
quarto horrível. Essa incógnita de não saber quais eram os seus
planos me deixava angustiada. Dei um pulo ao escutar a porta. Ele
adentrou e tirou o sobretudo. Percebi que usava roupa de montaria.
— Temos um estábulo com cavalos puro-sangue, fui verificá-
los.
— Ah!
Ele me beijou no rosto e comunicou:
— Vou lavar as mãos para o jantar, já volto.
Eu estava completamente perdida, o Viktor estava agindo
como um marido normal, me comunicando as coisas e até seus
atos, realmente ele estava agindo de uma maneira que jamais
imaginei. Agitei a cabeça de um lado para o outro confusa. Algo ele
planejava, tinha certeza disso.
Jantamos e não falamos muito. Apesar de estar agindo
diferente, Viktor continuava arrogante como sempre. Ele nem ao
menos serviu-se sozinho, apenas me olhou e eu entendi que
deveria servi-lo. Ele não me dava atenção, apenas verificava algo
em seu iPad, dirigindo-me a palavra apenas para ordenar. Ao final,
simplesmente saiu da sala e fiquei para tirar a louça e limpar a
cozinha, por sorte havia todos os equipamentos necessários.
Voltei para a sala com uma xícara de chá e sentei-me em
frente à lareira, fiquei olhando o fogo crepitar pensativa com a xícara
entre as mãos bebericando o chá quente. Não percebi de imediato
quando ele se aproximou, assustei-me ao sentir sua presença
poderosa.
Olhei para o alto, ele estava lindo, usava um suéter de gola
alta e calça de brim, estava descalço. Fumava um cigarro. Os
cabelos não estavam penteados como ele usava regulamente, mas
estavam úmidos jogados para o lado com alguns fios sobre a testa.
Ele estava muito sexy. Para minha surpresa, ele sentou-se de frente
para mim, eu o olhava com os olhos arregalados. Como sempre a
fumaça do cigarro me incomodou, contudo tentei não demonstrar
meu desconforto. Então lhe perguntei somente para disfarçar meu
nervosismo:
— Você quer chá?
Ele sorriu de lado, levou o cigarro à boca e tragou profundo,
sem nenhum momento desviar os olhos dos meus. Então, estendeu
a mão e passou nos meus cabelos, brincando com os fios.
— Você é tão inocente, Catharine, doce, uma menina,
exatamente como era quando a conheci, somente com a diferença
que agora é uma mulher, a minha mulher.
— Eu não lembro de ter te conhecido quando era criança.
— Não, não lembra. Você não me via, eu estava nas
sombras, esperando você crescer. Participei de todo o seu
crescimento, desde a idade de dez anos. Em todas as suas
performances da escola, eu estava lá, na sua formatura. Até que
você foi para a High School, já era uma moça linda. A partir daí, já
não a via como uma menina, por isso a vigiava de perto, mandei
alguém de minha confiança infiltrar-se no seu meio. Ah! E todos os
rapazes que se aproximaram de você, sumiram misteriosamente.
— Não! — Meu Deus! Eu não podia acreditar nisso. Estava
chocada com um nó na garganta.
— Sim, Catharine, eu matei e matarei qualquer um que
aproximar-se de você com boas ou más intenções.
Ele aproximou-se mais de mim e tirou a xícara das minhas
mãos, colocou do lado, apagou o cigarro também. Eu respirava
acelerado, estava com medo. Ele era muito mais doente do que
imaginei. Suas mãos grades apertaram meus ombros, alcançou
meu rosto, ficamos cara a cara, as lágrimas já escorriam em meu
rosto.
— Você não tem ideia, Catharine, de como me sinto em
relação a você. É muito mais que desejo, muito mais que prazer,
você me fascina, me desestabiliza, me faz sentir...
Ele pegou minha mão e colocou em seu peito, o coração
dele batia forte, eu podia senti-lo. Tudo que ele falava era muito
intenso e assustador ao mesmo tempo. Não sabia o que pensar,
estava em choque.
Será que esse sentimento que ele tem por mim é amor?
Viktor começou a enxugar minhas lágrimas com as mãos e
falou como se lesse meus pensamentos:
— Não pense que é amor, não é, esse é um sentimento
estúpido que inventaram para os tolos. O que sinto por você,
Catharine, não tem nada de altruísta, muito pelo contrário, eu não
sou nobre, gentil e compreensivo. Eu decidi que seria minha e você
é, porém quero muito mais de você, não só seu corpo, eu quero sua
alma.
Enquanto Viktor falava, sua face se transformou, ele
apertava meu rosto entre suas mãos e eu chorava desesperada.
Tinha que acalmá-lo de alguma maneira.
— Eu entendo você, agora entendo.
— Entende mesmo, Catharine? Você pensa que me engana,
benzinho? Apesar de ter essa carinha inocente, você mentiu para
mim. Catharine, não só uma, mas várias vezes.
Ele estava transtornado, seus olhos agora não mostravam
chamas de desejo, mais de raiva. Ele me sacudia e me machucava.
Eu precisava me defender dele. Minha única arma era o argumento.
— Você me machuca, me pune. Eu sei que errei por ter ido
embora, mas só fiz por medo, medo de você.
— Eu te desejo e te quero demais, menina, mas você
consegue fazer coisas que ninguém ousou fazer. No entanto, eu
estou aqui querendo esmagar seus lindos lábios com os meus,
possuir seu corpo, fundir-me a você e deixar minha marca em sua
pele linda e macia.
Enquanto ele falava, apertava meus braços com tanta força
que pensei que iria quebrá-los, ele me deitou no carpete e me
beijou, era um beijo urgente, faminto, dominador. Apesar dele estar
me machucando, eu tentei acompanhá-lo. Logo ele nos livrou das
roupas. Nossos corpos nus fundidos um no outro, contrastavam com
as chamas da lareira. Minhas mãos deslizavam em suas costas e
ombros musculosos. De repente, ele levantou-se e sentou me
trazendo junto, fiquei sentada sobre ele e já sentia sua ereção. Nos
encaramos dentro daquela chama ardente de paixão, fogo e dor.
— Me beija, Catharine.
Pisquei as pestanas, confusa, eu não sabia como fazer isso,
nunca o beijei, sempre foi ele que me beijou. Mas seguindo um
instinto, levei a palma das mãos em seu rosto e acariciei, ele fechou
os olhos e suspirou fundo, isso me incentivou a continuar. Passei o
polegar em seus lábios, em seguida encostei os meus nos dele,
comecei tímida, ele não me ajudou, permaneceu com os olhos
fechados esperando que eu aprofundasse o beijo. Então, emaranhei
os dedos em seus cabelos e introduzi a língua em sua boca em
busca da dele. Senti que ele sorriu e me acompanhou em meu beijo
ousado.
Sentindo-me confiante, deixei seus lábios e beijei a curva do
seu pescoço. Nesse momento, ele assumiu o comando de
dominador e, sem paciência, me deitou no carpete e com as mãos
livres, abriu minhas pernas violentamente e me penetrou forte e
profundo, antes mesmo que eu conseguisse respirar. Para minha
surpresa, não senti dor, mas prazer que explodiu dentro de mim ao
senti-lo duro e grosso.
Ele prendeu meus pulsos contra o carpete fortemente e
começou os impulsos. Eu fechei os olhos e só o que podia fazer era
sentir seus poderosos movimentos. A apropriação do meu corpo.
Ele me segurava de uma maneira que impossibilitava qualquer
movimento meu.
— Tão doce — murmurou entre gemidos de prazer.
Repentinamente, sem que eu ao menos soubesse o que
estava acontecendo, ele tirou o pênis da minha vagina e me virou de
costas. Pegando-me por baixo ele me suspendeu me fazendo ficar
com a bunda empinada. Eu respirava entrecortado, estava
assustada. Ele começou a massagear com as duas mãos cada uma
das nádegas, seu gesto era firme e rude, ele apertava e
massageava ao mesmo tempo.
— Linda bunda, deixarei minha marca nela.
Com isso ele deu um tapa forte em um dos lados, eu gritei e
tentei sair, porém ele agarrou meus cabelos e me mandou ficar onde
estava.
— Fica paradinha, Catharine.
De novo ele bateu no outro lado. Eu levei a mão à boca e
mordi, apertando os olhos. Mais uma vez ele bateu, bateu e bateu, a
cada tapa aumentava a intensidade e eu chorava de soluçar.
Quando ele parou, senti seus dedos deslizarem do ânus para a
vagina, em seguida começou a massagear e entrada do meu ânus
com os polegares de maneira vigorosa. Um pensamento sombrio
correu por minha mente e me fez estremecer. Será que ele vai fazer
sexo anal? Ele nunca fez e essa ideia me deixou aterrorizada.
Entendendo minha linguagem corporal, ele passou o pau em
toda a extensão da entrada da vagina trazendo meus fluidos
lubrificantes para o ânus. Forçou o pênis e só aquele pequeno
contato me fez sentir dor, abafei o grito com a mão na boca. Ele
continuou introduzindo aquela vara enorme e dura por trás e eu vi
estrelas, tamanha era a dor. Quando ele estava alojado, começou a
se mover vigorosamente. Seus impulsos eram ferozes e eu pensei
que morreria.
— Ah! Minha linda gostosa, que tesão essa bunda apertada
— murmurava me penetrando tão rápido e profundamente quanto
ele podia.
Enterrei os dedos nas cerdas do tapete praticamente as
arrancando. Ele estocou mais algumas vezes e saiu, deixei os
quadris caírem, mas ele me fez ficar na posição novamente, e me
penetrou mais uma vez só que na vagina. Assim sentia seu pau
grande me penetrando mais fundo. A sensação era um misto de
prazer e dor.
Ele estava me esfolando, enfiava o pau e tirava, provocando
e atormentando a minha carne sensível. Ele fez isso até que
finamente gozou e deitou sobre o meu corpo, esmagando-me.
Quando terminou de implantar sua semente, ele permaneceu dentro
de mim ainda ofegante, seu pau ainda pulsando, podia sentir seu
peito em minhas costas respirando acelerado. Ele começou a beijar
meus cabelos e desceu os lábios até as minhas costas, trilhando
beijos carinhosos.
Depois de alguns minutos na mesma posição, ele tirou seu
pênis, me pegou no colo e me levou para o banheiro. Ligou a ducha
e tomamos um banho juntos, ele ainda me possuiu mais uma vez.

***

Na manhã seguinte, não conseguia me mover, minha bunda


estava muito dolorida e inchada, me movi com dificuldade na cama.
Olhei para o lado e Viktor não estava, respirei aliviada. Levantei-me
e fui até o banheiro, havia um espelho de corpo inteiro para ver
como estava a minha bunda. Fiquei horrorizada, havia marcas
vermelhas de tapas e até algumas partes arroxeadas.
Agora entendi que tipo de punição ele aplicaria em mim.
Meu olhar atravessou a vidraça do quarto e se perdeu no céu
azul sem nuvem. Sentia uma tristeza em meu peito, medo e
angústia. Abracei-me como se necessitasse de acalento e fechei os
olhos, lágrimas brotaram e rolaram em minha face.
A dor física era cálida e um aviso claro de quem mandava.
Meu corpo todo estremeceu ao imaginar o que ele me falou na noite
passada. Era assustador pensar que ele me observava, sondava.
Isso era muito mais que obsessão, era algo doentio e eu só
conseguia sentir medo.
Cobri o rosto com as mãos, tudo isso era horrível, a minha
vida foi praticamente planejada por ele. Eu não tive nem a chance
de escolher por mim mesma e nem teria, como ele disse, tirava do
caminho qualquer um que se aproximasse de mim. Uma sensação
de mal-estar me fez levar a mão ao estômago e apertar levemente,
parecia que uma faca o atravessava.
Aprumei os ombros e fiquei em alerta ao ouvir o barulho da
porta, não olhei para trás, mas já conseguia sentir sua presença,
seu magnetismo, sua força. Sua aura de poder dominou o ambiente.
Eu podia ouvir seus passos como se estivessem dentro da minha
cabeça. Naquele momento me sentia frágil, não queria que ele me
tocasse, queria ficar sozinha, mas era impossível. Senti suas mãos
grandes em meus ombros, ele encostou a boca no alto da minha
cabeça em um beijo leve.
— Bom dia! — cumprimentou-me.
— Bom dia! — disse com uma voz baixa, que quase não
saiu.
Ele me virou e me fez olhá-lo, nossos olhos se encontraram
e ficamos nos encarando em uma aura de magia. Nos olhamos
como se quiséssemos desvendar todos os nossos segredos da
alma. Eu não conseguia penetrar nele, eu tentava, mas era difícil
transpassar aquela armadura de frieza, porém seus olhos eram uma
pequena porta de entrada, através deles eu conseguia ver algum
vestígio de humanidade, mas era algo sutil. No entanto, ele
conseguia me enxergar claramente, era uma pessoa que
demonstrava os sentimentos através do olhar e das feições, eu não
conseguia me esconder em uma máscara fria e austera. Era muito
transparente e Viktor sabia usar isso ao seu favor.
Segundos se passaram naquela atmosfera silenciosa de
avaliação, os olhos de Viktor estavam brilhantes. Eles transmitiam
força, firmeza, astúcia, tudo estava inexoravelmente impresso nas
pupilas azuis.
Inesperadamente, ele me segurou nas nádegas e apertou,
abafei um grito de dor, minha bunda ainda estava muito sensível
pelos tapas que ele deu. Ele me puxou para junto do seu corpo.
Estava sem camisa, usava apenas uma calça de moletom e, pelo
volume que senti ao me moldar ao seu corpo, ele não usava uma
cueca. Parecia que havia acabado de fazer exercícios físicos, pois
sua pele estava suada e brilhante, os cabelos úmidos e os músculos
mais salientes e veias sobressalentes. Não me surpreenderia se ele
realmente estivesse se exercitando, ele fazia isso regularmente,
sempre pela manhã, acordava com as primeiras horas e treinava
para manter seu físico impecável. Contudo, na mansão em Chicago,
ele tinha uma academia particular enorme com tudo que
necessitava, mas aqui, não vi nada parecido. Provavelmente
estivesse em uma área que eu ainda não conhecia, na verdade não
conhecia nada naquele castelo que não fosse os aposentos onde
passamos a noite.
— Pensei que encontraria minha esposinha linda preparando
o café da manhã para o marido.
— Oh! Me desculpe, eu posso ir prepará-lo agora.
Fiz menção de me afastar, mas ele me impediu e me
segurou no braço forte.
— Negativo, benzinho, você ficou aqui no quarto me
aguardando e não recusarei uma oferta tão tentadora. Antes de
degustar um desjejum preparado por suas mãozinhas, degustarei
você.
Ele me puxou pelo pulso até o banheiro, ligou a ducha e,
enquanto a água esquentava, ele tirou a minha camisola, estava
sem calcinha, tentei usar uma, mas minha pele ardia tanto, que me
incomodou. Ele me abraçou de novo e espalmou as mãos na minha
bunda, me beijou de maneira erótica, eu tentava não demonstrar
que seu contato me fazia sentir dor, apenas tentava segui-lo em
suas investidas.
Entre um beijo e outro, ele me empurrou para dentro do
boxe, logo nossos corpos estavam molhados e meu cabelos
agarrados a pele. Viktor me encostou no mármore frio e espalmou
as duas mãos do lado da minha cabeça me prendendo ali.
Respirava rápido e descompassado, sentimentos
contraditórios entre medo e desejo, dor e paixão afloravam em mim.
Viktor me avaliava, ele parecia que me devorava com o olhar que
agora estavam escuros em um azul-cobalto.
— Que feitiço é esse que você me lançou?
Viktor pegou no meu pescoço delicado e deslizou a enorme
mão, ele a fechou ali sem apertar. Engoli várias vezes para controlar
o pânico. Senti que a mão se fechava em meu pescoço mais forte,
as lágrimas grossas misturavam-se a água que escorria. Ele
deslizou a mão um pouco mais para baixo do meu queixo e me
suspendeu, deslizando minhas costas no mármore. Meu rosto ficou
na altura do dele. Eu o olhava completamente amedrontada.
— Eu consigo sentir seu medo, ouvir seu sangue correr mais
rápido em suas veias e isso me deixa em êxtase.
Ele me largou e eu tive um instinto de correr, sem pensar foi
o que eu fiz, porém ele me agarrou pelos cabelos e me fez voltar
para a posição de antes, bati forte na parede. Senti gosto de sangue
na boca e, ao mesmo tempo, seus lábios cobriram o meu.
Eu perdi o fôlego, ele me devorava, suas mãos poderosas
seguraram meus pulsos acima da minha cabeça enquanto me
beijava nos lábios, olhos, bochechas, pescoço. Em seguida, ele
largou meus pulsos e segurou minha coxa esquerda me fazendo
levantar a perna, ele suspendeu meu corpo e me penetrou.
Segurei em seus ombros enquanto ele me estocava
rapidamente, podia ouvir meus ossos baterem no mármore à
medida que ele me penetrava. Tão rápido quanto começou, ele tirou
o pau e me virou de costas, imprensou-me no canto e de novo me
penetrou na vagina por trás. Espalmei minhas mãos na parede
enquanto recebia seus impulsos fortes. Com as mãos, ele
massageava meus pequenos seios e os esmagava.
Finalmente ele gozou, seu corpo estremeceu e regozijou
gemendo até liberar a última gota de sêmen. Depois pegou a
esponja, colocou sabonete líquido perfumado e começou a
massagear meu corpo, com carinho. Eu não sabia por que chorava
de soluçar enquanto ele fazia isso. Viktor parecia não se importar,
ele continuou me lavando. Quando terminou, entregou a esponja
para que eu o lavasse também. Eu fiz e já não chorava mais. Ao
final, saímos do banheiro e ele me deixou à vontade para vestir-me
e terminar minha toalete.
Já eram por volta de dez da manhã, entrei na cozinha e
comecei a preparar o nosso dejejum. Resolvi preparar ovos
mexidos, panquecas e bacon. Estava distraída mexendo os ovos,
quando senti ele me abraçando por trás.
— Vejo que tenho uma esposa prendada.
— Não é difícil preparar ovos mexidos.
— Pensei que, para um dondoca como você, não saberia
nem quebrar os ovos.
— Eu fiz acampamento para moças quando tinha dezesseis
anos, foi a primeira vez que meus pais deixaram em fazer algo
assim e lá aprendi o básico — falei indignada.
— Eu sei, eu estava lá.
Desliguei o fogo e me virei para ele, meu corpo estremeceu
diante de mais essa revelação.
— Você sabia do acampamento?
— É claro, benzinho, acho que você ainda não entendeu, eu
a vigio desde que tinha dez anos.
Eu o olhava completamente pasma, era muito assustador
saber que tudo que fiz era de seu conhecimento.
Viktor mergulhou o rosto nos meus cabelos e os cheirou.
Depois deu um selinho em meus lábios.
— Agora vamos parar de papo furado, leve a refeição para a
sala de jantar, vamos comer e em seguida te mostrarei o castelo,
pretendia te levar para esquiar hoje, mas faremos isso amanhã.
Quero passar o dia inteiro com você, te amando — sussurrou a
última palavra e, antes de sair, deu um tapa na minha bunda.
Sem opção, fiz o que mandou. Comemos em silêncio, Viktor
estava ocupado no tablet e falava ao celular ao mesmo tempo
enquanto comia.
Após a refeição, limpei a cozinha e ele me levou para fazer o
tour no castelo. Era tudo muito grande e impressionante, percebi
que todos os cômodos passaram por restauração, as mobílias em
sua maioria eram peças genuínas de séculos passados. No castelo
havia vinte quartos e cinco suítes, onze banheiros, um salão para
festas e muitas salas, inclusive uma delas foi transformada em uma
academia, então deduzi que foi ali que ele se exercitou pela manhã.
Havia também uma cozinha. Tudo era muito grande e ricamente
decorado. Ao final do tour, voltamos para os nossos aposentos.
Viktor praticamente me agarrou e jogou na cama, ele puxou
a minha calça e a calcinha e arrancou do meu corpo, eu estava
assustada e excitada ao mesmo tempo. Ele afastou minhas coxas e
enfiou a cabeça entre minhas pernas e começou a me lamber, eu
arqueei o quadril dando-lhe mais acesso, fechei os olhos sentindo
minha boceta ser devorada por ele, eu estava gostando daquilo, era
tão bom. Gritei estrangulado quando ele lambeu e mordeu de leve
meu clitóris, a sensação de dor e prazer era maravilhosa.
Então ele parou, eu fiquei desesperada, queria que
continuasse, porém ele levantou-se, estava completamente vestido,
apoiei o cotovelo no colchão para ver melhor o que ele estava
fazendo, me encontrava ofegante e muito excitada. Vi ele pegar algo
em uma gaveta da cômoda, virou-se para mim e olhei para aquilo
com olhos arregalados.
— Vamos fazer uma coisinha diferente hoje.
— O que é isso? — perguntei preocupada.
— Não pergunte, você saberá.
Ele aproximou-se de mim e ordenou:
— Vire-se e fique de joelhos.
Meu coração batia acelerado, mas fiz o que ele mandou.
— Acho que você precisa de um pouco de disciplina, você
não acha, benzinho? — sussurrou no meu ouvido.
— Eu não sei.
Senti quando ele fixou algo nos meus olhos, coloquei a mãos
em desespero e pedi:
— Eu não quero isso, Viktor.
— Silêncio! Não te dei opção, portanto fará o que eu mandar.
Fiquei quieta, mas o medo do que vinha adiante era enorme,
não sabia o que ele ia fazer, mas sabia que não era algo agradável.
Ele apertou a venda forte, eu não conseguia enxergar nada, senti
falta de ar e respirava acelerado para controlar aquele mal-estar.
Percebi que ele se afastou, ouvi farfalhar de roupa sendo
tirada. Em seguida ele moveu-se no quarto, a sensação de não
poder saber o que ele estava fazendo era horrível, eu queria tirar
aquela venda, mas meu medo era muito grande e meus braços
pareciam paralisados. Senti quando ele subiu na cama. Ele me
apertou por trás, seu poderoso peito pressionou contra minhas
costas. Ele passou a mão na minha vagina, suspirei fundo, meu
corpo estava rígido.
— Relaxa — sussurrou.
Ele afastou meus cabelos e colocou-os sobre os ombros,
deixando a parte de trás exposta. Ele beijou a parte de trás do
pescoço e foi fazendo uma trilha de beijo pelas minhas costas até a
altura do bumbum. Gentilmente ele me fez ficar de quatro e logo
senti dois tapas fortes em cada lado da minha bunda. Segurei o
grito.
— Linda bunda, mas agora quero comer sua boceta.
Então ele me fez ficar de frente para ele, me deitou próximo
a cabeceira, levantou meus braços. Ouvi barulho de metal,
estremeci quando ele colocou aquilo em volta do meu pulso e
fechou, entrei em pânico e pedi:
— Não, por favor!
Senti sua mão em cheio estapear um lado do meu rosto, as
lágrimas saíram inundando o tecido da venda.
— Cale a boca, se falar mais, a próxima será pior.
Engoli as palavras e o choro, eu era uma boneca nas mãos
dele e nada podia fazer. Viktor prendeu meus pulsos na grade da
cama, o objeto que ele usou parecia algema. Estava totalmente à
mercê dele.
Ouvi barulho de gelo sendo retirado de algum lugar, em
seguida, senti o gelado em meus lábios, ele deslizou a pedra de
gelo na minha boca e desceu pelo pescoço, meu corpo arrepiou-se
e os bicos dos meus seios intumesceram de tal maneira que até
doeu. Ele deslizou o gelo nos seios e mamilos fazendo círculos em
volta da aréola. Aquilo era bom, comecei a substituir o medo por
prazer, minha vagina começou a lubrificar. Viktor continuou
deslizando o gelo por todo o meu corpo, no abdômen, entre as
coxas, até a ponta dos pés.
Logo ele afastou minhas pernas, podia sentir seu hálito
quente contra minha pele, mas ele ainda não me tocou. Não
demorou muito, logo senti sua língua passando em meu clitóris, ele
alternava entre meu clitóris e a boceta, mergulhando mais fundo a
cada investida. A falta de visão me fez focar na aspereza da sua
barba na pele sensível das minhas dobras e aquilo era bom. Senti
uma vontade louca de fazer xixi e a sensação era maravilhosa. Ouvi
o barulho molhado dos meus fluidos se misturando a saliva dele. De
repente, ele parou e se afastou, gemi em protesto praticamente
pedindo para ele não parar. Para meu deleite, ele voltou, mas dessa
vez não com a língua, mas com um, dois, três dedos e introduziu na
minha entrada. Arqueei o quadril e gritei de tesão. Ele investiu os
dedos muito rápido e forte, causando dor e prazer.
— Você gosta disso?
— Sim... Oh, sim!
— Quer mais forte?
— Sim.
Ele investiu mais algumas vezes e tirou os dedos, mas sem
demora reiniciou a posse com a boca. No fundo das minhas
entranhas, eu podia sentir o pulsar da excitação. Ele me sugou com
vigor e estimulou o clitóris até que explodi de prazer. Meu corpo
estremeceu e gritei tão alto que nem eu mesmo acreditei que estava
fazendo aquilo. O prazer foi tão intenso que puxava os braços
presos e o metal machucava a minha pele, mas nem percebi. Minha
boceta pulsava vigorosamente, enquanto Viktor ainda me lambia.
Viktor deixou minha boceta e posicionou seu quadril entre as
minhas pernas, agora podia sentir toda a sua ereção batendo na
minha entrada que ainda contraía, ele beijou meus seios os
sugando e apertando entre as mãos. Eu me abri ainda mais para
ele, por incrível que pareça eu ainda o queria dentro de mim, com
urgência.
— Por favor! — supliquei.
Senti que ele sorriu contra a minha pele, eu estava
completamente entregue, nada mais importava, eu só queria aquele
homem me fodendo, forte e sem piedade. Ele tirou a minha venda e
eu pude ver a penumbra do quarto, demorei alguns segundos para
me acostumar com a pouca claridade.
Em seguida, ele empurrou duro e enterrou o pau até a raiz.
Todo meu corpo tremeu e movi a cabeça de um lado para o outro
com gemidos de luxúria saindo da minha garganta e preenchendo
todo o quarto. Ele iniciou os impulsos poderosos, eu entrelacei as
pernas em torno dos seus quadris e ele aumentou a velocidade dos
movimentos, literalmente ele estava me quebrando ao meio, meu
corpo recebia sua potência muscular como se eu fosse uma boneca.
Minha mente mergulhou em um estado de delírio embriagado de
êxtase por sua posse.
Os músculos dele estavam brilhantes pela transpiração, olhei
para o seu rosto transfigurado de prazer e sua testa pingava suor,
era prazeroso vê-lo daquele jeito, completamente forte, dominador,
poderoso, me fodendo, me destruindo, me quebrando. Os cabelos
dele estavam úmidos agarrados na testa, tive vontade de afastá-los,
mas meus pulsos ainda estavam presos, eu queria passar as mãos
em seus músculos, sentir sua pele úmida e quente, mas não podia.
Meus pulsos moviam-se enquanto ele investia; a cada impulso, o
metal movia-se e machucava a minha pele. Mas não sentia dor.
— Ah, anjo... minha princesa... eu estou chegando, linda.
Viktor bombeou mais forte, senti seu pau inchar ainda mais,
ele iria esvaziar sua carga quente de seu orgasmo explosivo
profundamente dentro de mim. E eu queria ser preenchida por ele,
eu queria seu líquido me invadindo. Enfim, ele ejaculou, a
intensidade do seu orgasmo volátil o fez grunhir e gemer, ele
parecia um leão raivoso. Ele levou as mãos as minhas nádegas e
me puxou para cima enquanto contraía dentro de mim. Nossos
corpos estavam em perfeita sintonia de êxtase e paixão.
— Ahhh... Caralho! Que delícia, como você é doce e me dá
prazer como nunca ninguém me deu. Minha linda, minha menina,
meu anjo.
Ele me beijou nos lábios, pescoço, rosto. Estava
completamente rendido. Ficamos abraçados por um longo tempo,
meu corpo agora sentia os efeitos daquele sexo selvagem, ele ainda
estava dentro de mim, meus pulsos latejavam, minha bunda ardia,
minha intimidade latejava.
Viktor moveu-se e saiu de dentro de mim, suspirei fundo.
Meus pulsos foram liberados e eu o deixei cair sobre a cama. Virei-
me de lado e olhei para os pulsos, estavam feridos, havia um filete
de sangue em cada um. Fechei os olhos, eu estava exausta e
naquele momento só queria dormir. Viktor se acomodou atrás de
mim e me abraçou. Nossas respirações entraram em sintonia e logo
estávamos dormindo, cada qual nocauteado pelo sexo mais quente
que já tivemos.
Acordei e sorri, mergulhei o rosto entre os cabelos lindos e
perfumados da minha esposa. Meu pau já estava duro, mas agora
não iremos transar, mais tarde com certeza, agora tinha uma
surpresa para ela.
— Acorda, preguiçosa.
Ela moveu-se e gemeu, abriu seus lindos olhos azuis e me
encarou, sorri e lhe dei um beijo na boca.
— Já é manhã? — perguntou.
— Não, agora são oito da noite — respondi olhando o relógio
na cabeceira.
— Ah!
— Levanta, tenho uma surpresa para você.
Levantei-me e a ajudei segurando em suas mãos, ela fez
uma expressão de dor, observei seus pulsos feridos. Avaliei-os.
— Vai tomar um banho, quando terminar me espera aqui no
quarto.
Ela seguiu para o banheiro e eu peguei um roupão e cobri
meu corpo. Abri um armário e tirei de lá um vestido preto. Separei-o
e deixei estendido na cama.
Enquanto ela tomava banho, segui para o outro banheiro,
não tomaria banho com ela agora, não que eu não quisesse, mas
naquele momento se eu entrasse no mesmo banheiro que ela, não
sairíamos de lá tão cedo e agora precisava alimentar a minha
esposa.
Liguei a ducha forte e fria. Eu gostava de banhos frios,
apenas deixava a água esquentar quando tomava banho junto com
a Catharine, mas quando estava sozinho era frio. Inclinei a cabeça
para trás e fechei os olhos. A água gelada bateu em minha pele
quente, deixei-a escorrer entre meus lábios.
Pensei na minha menina, ela não sabia como me deixava,
acabamos de fazer muito sexo, mas ainda a desejava como louco. A
memória da sua pele quente e macia ainda permanecia nas pontas
dos meus dedos. Seus suspiros ecoavam na minha mente, a visão
do seu pulso machucado me fez ter um espasmo de prazer. Segurei
meu pau, o desgraçado já estava duro novamente, estava embaixo
de um jato de água fria e ainda conseguia ter uma ereção só de
pensar nela.
— Catharine, Catharine. — murmurei.
Suspirei fundo e me ensaboei, terminei rápido, só pensava
em mais tarde sentir sua boca deliciosa em volta do meu pau. Saí
do box e coloquei o robe. Penteei o cabelo para trás e aparei a
barba. Escovei os dentes. Borrifei meu perfume favorito, de uma
fragrância amadeirada e almiscarada.
Ao focalizar voltei para o quarto, encontrei Catharine sentada
em frente à penteadeira escovando os cabelos. Ela usava também
um robe. Entrei e peguei a escova de suas mãos, comecei a pentear
seus cabelos. Passei a escova vagarosamente pelos fios úmidos.
Ela me olhou com seus expressivos e grandes olhos azuis. Penteei
os cabelos até desembaraçar todos os fios dourados e a fiz se
levantar. Olhei seus pulsos, estavam com arranhões em toda a
volta.
— Acho que precisa de algo especial aqui.
Puxei-a até a frente de um grande espelho de corpo inteiro.
Deixei-a ali e segui para as caixas de joias.
— Deixa-me ver o que temos aqui.
Escolhi dois braceletes lindíssimos, um de prata cravejado
de rubis e o outro de esmeralda. Aproximei-me dela por trás, ela me
olhava assustada através do espelho. Segurei em seus pulsos
delicados, ela queria puxá-los, podia sentir, mas ela sabia que não
podia fazer isso. Aproximei os lábios e beijei cada pulso machucado,
sempre mantendo meus olhos em seu rosto. Em seguida, cobri-os
com os braceletes.
— Tem a pele muito sensível, amor.
Afastei-me dela e peguei o vestido que já estava separado,
tirei o robe que cobria seu corpo e a fiz levantar os braços e deslizei
a peça. O vestido ajustou-se as suas curvas esguias perfeitamente.
— Pronto, linda e perfeita. Não use maquiagem, a quero
assim, natural.
Afastei-me dela e peguei minhas roupas, percebi que ela foi
até a gaveta e pegou uma calcinha, vestiu-a. Sorri, era perda de
tempo usar essa peça, mas ela insistia. Acabei de me vestir e a
segurei nas mãos e a levei para uma sala que mandei preparar. O
cômodo estava aconchegante, mandei colocar velas nos
candelabros pendurados nas paredes, original da época em que o
castelo foi construído. Havia também uma mesa posta com castiçais
de cristal e louças de porcelana. Afastei a cadeira para ela se
sentar. Em seguida sentei-me de frente para ela.
— Hoje não precisa preparar o jantar.
Peguei uma sineta e balancei. Vários criados apareceram e
serviram a comida, Catharine olhava encantada para tudo, eu
reconstruí um jantar típico de uma família de nobres do século XIX,
na época que o castelo foi construído. Até os empregados vestiram-
se a caráter.
— Então, gostou?
— Sim, estou encantada.
— Uma princesa merece um jantar de princesa.
Percebi que ela corou, adorava esse jeitinho dela. Sua face
estava levemente vermelha pelo tapa que lhe dei mais cedo e isso a
deixava mais linda, eu gostava de ver minha marca nela, a sua
vulnerabilidade e submissão.
Jantamos em uma atmosfera de paixão, quase não
falávamos.
Terminamos de comer e seguimos para uma outra sala, que
também só estava iluminada com velas nos candelabros que
deixavam o ambiente com um brilho relaxante e pálido. Havia um
sofá meia-lua preto de couro, em cima de um tapete preto e branco
e um pequeno bar, essas eram as únicas peças de mobília do
cômodo.
Segui até o bar e coloquei whisky com gelo em um copo.
Sentei-me e a deixei em pé no meio da sala, ela não sabia o que
fazer. Eu a observei por alguns minutos, sorvi a bebida e mantive o
copo nas mãos. Estendi os braços no encosto do sofá.
— Vem aqui! — ordenei.
Minha ordem saiu rouca, ela me obedeceu bem treinada,
submissa. Seus olhos puros estavam fixos nos meus, o medo ainda
espelhado naquelas órbitas cristalinas. Aquela maneira de me olhar
me deixava inquieto, era como se ela olhasse para dentro de mim e
tentava desvendar ou entender toda a escuridão que dominava
minha essência. Não vi raiva, repulsa e muito menos triunfo, mas vi
compreensão, medo e tristeza.
Perguntei-me se ela conseguia ver a besta em mim por cima
do verniz. Ela pensava que podia me moldar ou me mudar conforme
a sua vontade. Se ela pensava assim, só serviria para fazê-la sofrer.
Certamente ela era a coisa mais pura e a única que me desafiou e
ainda continuava viva para contar a sua história.
Catharine aproximou-se e eu mandei que se ajoelhasse.
Coloquei a mão no pau que já estava enorme dentro das calças e
ordenei:
— Me dê prazer!
Tímida, ela começou a desafivelar o cinto da calça em
seguida desabotoou o botão e a desceu pelas pernas sem tirar, eu
mesmo o fiz junto com os sapatos. Fiquei só de cueca. Ela começou
a deslizar a peça como se estivesse abrindo um presente, meu pau
latente e duro foi liberado do aperto. Ela deslizou até meus
tornozelos e eu fiz o resto do trabalho de tirar.
A ponta do meu pau estava brilhante e do pequeno orifício o
pré-sêmen já se formava. Ela segurou com uma das mãos o
comprimento rochoso e passou o polegar limpando o líquido, eu
sorri e, antes dela limpar o dedo, segurei firme em sua mão e
ordenei:
— Lambe.
Ela então levou o dedo à boca e chupou até tirar todo o
líquido. A visão era extremamente erótica e excitante. As bochechas
coradas dela e os cabelos secos naturalmente a deixavam mais
linda ainda.
— Me devora!
Ela pegou o pau com as duas mãos e apertou, gemi e fechei
os olhos, só queria senti-la. Ela correu as mãos para cima e para
baixo e meu pau contraiu-se e pulsou em suas mãos. Mais líquido
se formou e pingou deslizando por sua pele. Eu queria senti-la,
queria sua boca me segurando.
— Vai, baby, me engole.
Ela aproximou a boca da cabeça enorme e começou a
lamber timidamente. À medida que tomava confiança, ela explorava
mais e mais. Logo ela chupava o pau até a metade. Ela circulou a
língua na cabeça do pênis e fez isso por várias vezes. Em seguida,
sugou como se estivesse chupando um pirulito.
Eu queria que ela fosse mais profundamente e segurei em
seus cabelos e a empurrei para que ela afundasse tudo. Ela parecia
sufocada, mas conseguiu continuar, até que soltei sua cabeça e ela
afastou-se para tomar fôlego. Logo depois voltou a me chupar com
força, puxando o prepúcio para a frente e para trás sobre a cabeça
do pau escorregadio. Eu já podia sentir o prazer se formando, o
sangue correr mais rápido nas veias e irrigando meu pau para o
momento da ejaculação. Forcei-a a acelerar, e quando esguichei o
líquido quente, tirei o pau e uma boa parte bateu em seu rosto, eu
gemia e segurava o pênis balançando em seu rosto. O sêmen
escorreu pela lateral da boca e pelo rosto e caiu no colo molhando
seu vestido. Apesar de fazer aquilo timidamente, ela sempre me
proporcionava o melhor boquete. Após limpá-la com um papel
toalha, voltamos para a suíte e passamos a maior parte da noite nos
amando.

***

Na manhã seguinte, após o desjejum, comuniquei:


— Vamos esquiar.
— Ah, não! Gostaria de não ir! — ela protestou.
— Não te dei uma opção, amor.
— Eu não sei esquiar muito bem e, além do mais, não subo
a montanha, tenho medo de altura.
— Eu sei disso, mas você estará comigo, não se preocupe.
— Por favor, Viktor, não me faça ir até o topo da montanha.
— Catharine, quem decide sou eu. Agora vai aprontar-se.
Percebi que ela deixou os ombros caírem, derrotada, mas
não discutiu mais, seguiu para o quarto onde já havia roupas de
esqui separadas para ela.
Estávamos no carro seguindo para a estação de esqui. O
veículo era um SUV preto e no porta-malas estava o nosso
equipamento. Eu mesmo estava dirigindo. Olhei para a Catharine e
ela estava com a cara fechada.
— Desfaz essa cara de gata borralheira.
— Você poderia atender um pedido meu uma única vez na
vida — falou com um tom elevado na voz.
Voltei a olhar para ela irritado, era a primeira vez que ela
falava comigo naquele tom. Pela sua expressão, ela já havia se
arrependido do que disse, mas decidi deixá-la mais assustada. Parei
o carro abruptamente no acostamento, ela ficou tão apavorada que
perdeu toda a cor. Segurei em seu rosto com violência e avisei:
— Não levanta o tom da voz para falar comigo. As asas do
anjo precisam ser aparadas novamente? O quarto de vidro te
espera. Entendidos?
— Sim.
— Ótimo, agora coloque um sorriso nessa cara e mostre
para todos que é uma esposa muito feliz.
Soltei-a e ela não sorriu, mas também não chorou, apesar de
perceber que ela segurava o choro a todo custo. Seguimos o resto
da viagem em silêncio.
Assim que chegamos, nos identificamos e seguimos para
uma área mais reservada. Havia outros esquiadores, mas
estávamos afastados da multidão.
Colocamos os esquis e fiz Catharine se levantar, treinamos
um pouco para ela pegar o ritmo. Apenas ficamos na parte baixa,
sem subir a montanha. Estávamos até nos divertindo e vi algo raro
no rosto dela: um sorriso aberto quando ela quase caiu e eu a
segurei.
— Cuidado! Não quero que se machuque.
Continuamos até sentir que ela estava pronta para escalar a
montanha.
— Vamos fazer algo ousado.
— Viktor, eu não quero ir, você sabe que tenho medo.
— Não precisa ter medo, eu estarei com você. Não te
largarei, jamais te deixarei cair.
— Eu não consigo, Viktor. Por favor, não me faça ir, por favor.
— Não atenderei seu pedido, você precisa perder esse
medo.
Derrotada, ela me seguiu e esperamos um dos teleféricos.
Ela ficou tão nervosa, que fechou os olhos e segurou forte em
minhas mãos. Seguimos para uma pista em uma montanha não tão
grande, mediana. Quando chegamos, ela estava completamente
rígida, seus lábios tremiam. Abracei-a apertado lhe passando
coragem.
— Não tenha medo, você está comigo.
— É muito alto, não me faça descer, por favor.
Não lhe dei atenção, segurei seu rosto entre as duas mãos e
a beijei na boca, em seguida a puxei para a descida. Arrumei o
equipamento. Aquele era um dia perfeito.
— Está pronta?
Ela balançou a cabeça e me segurou como se sua vida
dependesse de mim. Apoiei a cana na neve e a segurei com
firmeza. Impulsionei e começamos a deslizar, não pegamos
velocidade, descíamos devagar.
Catharine me segurava forte e, em um momento, ela entrou
em pânico e começou a se debater, percebi que ela estava tendo
um ataque asmático. Ela puxou o braço de mim e eu a perdi, vi seu
corpo rolar na neve e gritei:
— Catharine!
Desci a montanha rapidamente até chegar onde Catharine
parou. Estremeci, ela não se movia. Abaixei-me e a segurei, ela
estava com os lábios roxos e a respiração entrecortada. Respirei
aliviado, ela não estava morta. Procurei rapidamente a bombinha no
bolso do seu casaco. Encontrei e borrifei. Ela ainda tinha dificuldade
de respirar.
— Por favor, Catharine, não faz isso, não me deixa — pedi
em um sussurro cru, com a voz oscilante.
Borrifei mais vezes e ela tossiu e conseguiu respirar melhor,
mas não estava completamente restabelecida. Desabotoei seu
casaco e tirei o capacete e a viseira, observei o resto do seu corpo,
parecia que estava tudo bem. Ela começou a se mover e gemer,
colocou a mão na barriga e contorceu de dor.
— O que foi? O que você está sentindo?
Ela não falava nada, somente se contorcia e chorava
demonstrando sentir muita dor. Decidi tirar todo o casaco e verificar
se havia algum ferimento na barriga. Ao terminar me deparei com
uma mancha de sangue em sua calça e já esvaindo até a neve. Meu
coração acelerou e senti algo muito perturbador: medo. Ela não
pode, não aceito isso.
— Catharine, fale comigo.
— Dói muito — murmurou.
Nesse momento uma equipe de resgate já descia a
montanha. Havia também um helicóptero que pousou.
— O que aconteceu, senhor?
— Ela teve uma crise de asma e caiu.
— Ela tem algum outro problema além da asma?
— Não.
— O senhor pode se afastar, precisamos atendê-la.
Relutante, fiz o que ele mandou. Senti-me completamente
impotente, nunca ninguém me ordenou alguma coisa e isso me
deixou irritado, mas naquele momento não podia fazer nada. A
única coisa que queria é que ela ficasse bem. Os dois paramédicos
fizeram todos os procedimentos e um deles voltou-se para mim e
fez uma pergunta, que me deixou completamente sem ação.
— Ela está grávida, senhor?
— O quê? — perguntei franzindo a testa.
— Estou perguntando se ela está grávida.
— Não — falei com convicção.
— Tem alguma possibilidade, senhor?
Olhei para o homem e vi tudo vermelho. Que porra do
caralho esse homem quer saber? O ódio já reluzia nos meus olhos.
Eu não gostava de não saber o que diabos estava acontecendo e
esse imbecil devia fazer o trabalho e salvar a vida da minha mulher.
— Ela não está grávida, agora faça seu trabalho e não
pergunte idiotice.
O homem pareceu constrangido e o outro, que também
ajudava no resgate, levantou-se e chegou perto de mim.
— Senhor, presidamos saber essas informações para melhor
atender sua companheira.
— Ela é minha esposa! — gritei rude.
— Sua esposa, senhor. Ela apresenta uma hemorragia, tudo
indica que está sofrendo um aborto.
Pisquei os olhos algumas vezes, fiquei atordoado. Pela
primeira vez não sabia o que pensar. Apertei os olhos, claro que
essa possibilidade existia, desde que a capturei não usávamos
nenhum método contraceptivo, antes ela tomava anticoncepcional
sem intervalos, mas provavelmente parou de usá-los quando fugiu
de mim. Droga! Eu estava tão puto com ela, que nem me toquei
sobre isso! Merda! Não queria uma criança entre a gente. Abri os
olhos novamente e encarei o homem, falei sem pestanejar:
— Se houver uma criança dentro dela, não a salve. Salve a
vida da minha mulher.
— Nós faremos de tudo para salvar a vida dos dois.
Agarrei o homem pelo colarinho e o fuzilei com os olhos, falei
com a voz ameaçadora:
— Eu disse para salvar apenas a vida da minha mulher,
entendeu?
— Sim, senhor, daremos prioridade para a sua esposa.
Soltei o homem e esse se afastou praticamente correndo.
Tudo já estava pronto para a transferência dela até o helicóptero. Eu
os segui.
Minha cabeça não parava de pensar sobre essa possível
gravidez da Catharine.
Será que ela percebeu que estava grávida?
Provavelmente sim e estava me escondendo. A raiva
apossou-se de mim como um vulcão prestes a explodir. Mais uma
vez, ela me enganou. Eu não sabia o que pensar sobre aquilo.
Caralho! Um filho, Catharine esperava um filho meu.
Observei-a, ela estava imobilizada, usava uma máscara para
ajudá-la a respirar. Aproximei-me e segurei sua mão fria, ela abriu
os olhos e me encarou.
— Ficará tudo bem, benzinho.
Ela voltou a fechar os olhos. Ouvi sua respiração pesada, o
peito chiando. Ela murmurava de dor. Às vezes parecia que a dor
piorava, outras que diminuía e ela ficava quietinha. Em poucos
minutos estaríamos no hospital.
Passei as mãos entre os cabelos algumas vezes e os puxei
tentando ordenar meus pensamentos. Só o fato de pensar que ela
não conseguiria, me deixava fora de mim.
O helicóptero pousou e uma equipe médica já a esperava, eu
desci sem nem ao menos esperar as hélices da aeronave
diminuírem a velocidade. Uma médica já começou o atendimento.
— Mulher entre 20/30 anos, asmática e possivelmente
grávida. — O paramédico passou as informações à equipe.
— Ela tem 24 anos — comuniquei.
— O senhor é o marido dela?
— Sim.
— Nós faremos de tudo para salvar a vida deles.
— Salve a vida da minha mulher.
— Vamos tentar, senhor! Agora afaste-se, por favor.
Eles a levaram para dentro e eu corri para segui-los, mas
alguém me segurou.
— Ela ficará bem, senhor!
Virei-me para o homem que me segurava, era um segurança.
Coloquei o tom de voz frio e ameaçador:
— Tira suas patas de mim.
O homem me soltou imediatamente, porém já não sabia para
onde a haviam levado. Olhei os corredores e nada. Sem ter o que
fazer, sentei-me em um dos bancos e fiquei de cabeça baixa. Eu
realmente me sentia perdido, impotente e com a situação fora dos
meus domínios. Pela primeira a vez na vida, havia perdido o
controle. Uma mulher aproximou-se cautelosa.
— Senhor, precisamos de algumas informações.
Levantei-me e a segui até a recepção. Os minutos seguintes
preenchi todos as papeladas necessárias.
Algumas horas haviam se passado e nada deles darem
notícias da Catharine, eu já estava no limite, minha vontade era de
exigir que me dissessem algo de maneira nem um pouco civilizada.
Quando já estava pronto para me levantar, a médica que a havia
atendido ao chegarmos se aproximou.
— Senhor Russell, sou a doutora Anna.
— Vá direto ao assunto, doutora. Onde está a minha mulher?
— Sua esposa está bem, exceto por algumas contusões. Ela
não quebrou nenhum osso, a falta de ar já foi controlada. No
entanto, ela passou por uma cirurgia.
— Que espécie de cirurgia?
— Tivemos que fazer uma cesariana de emergência.
Olhei para a médica atordoado. Ela prosseguiu:
— Sua esposa estava grávida de quase sete meses. Ela deu
à luz a uma menina. Parabéns, Sr. Russel!
Tempo e espaço pareciam ter parado para mim, eu não
conseguia assimilar aquela informação. Sete meses? Como é
possível? Fiz um cálculo mentalmente rápido. O tempo batia quando
a capturei, mas com certeza ela engravidou na nossa primeira
relação. Ouvi a voz da médica ao longe, mas algo que ela me falou,
chamou minha atenção.
— Sua esposa tinha o que chamamos de gravidez
silenciosa.
— Gravidez silenciosa? — perguntei juntando as
sobrancelhas.
— Sim, não é algo tão raro. Uma mulher pode engravidar e
nunca perceber que está grávida até o dia do trabalho de parto.
Nesses casos, a barriga não aparece, mas o bebê é completamente
saudável e desenvolve normalmente. No caso da sua filha, a queda
adiantou seu nascimento, ela nasceu prematura e ficará no hospital
até ganhar um pouco mais de peso, porém ela está perfeitamente
bem.
Ponderei todas aquelas informações, Catharine esteve
grávida todo esse tempo, mas, segundo a médica, ela também
poderia não ter percebido a gravidez. Preciso saber isso.
— É possível ela não ter percebido que estava grávida?
— Ela não sabia, Sr. Russell. Quando a comunicamos que
faríamos uma cesárea, ela ficou tão chocada quanto o senhor.
— Quero vê-la agora.
— Nesse momento, ela está dormindo. Nós tivemos que
aplicar anestesia geral nela, mas o senhor pode ir até o quarto.
Pode ficar o quanto quiser, ela não demorará a acordar.
— Em que quarto ela está?
— Um enfermeiro o levará até lá. Se quiser ver a sua filha
também, ela está na Unidade de Terapia Neonatal.
— Só quero ver a minha esposa.
— Tudo bem.
Segui o enfermeiro e entrei no quarto dela. Observei-a
dormindo, tão linda e serena. Sentei-me na cadeira do lado da sua
cama e não tirava os olhos de seu rosto.
Ainda estava digerindo que ela teve uma criança, uma
menina. Aquilo parecia irreal. Isso não me agradou em nada, não
que nunca pensei em ter um filho com ela, eu teria um dia, mas não
agora, muito menos nesse momento em que nos encontrávamos,
onde não havia espaço para mais ninguém dentro da nossa relação,
nem mesmo um filho.
Mexi-me na cadeira, mudei de posição, cruzei e descruzei as
pernas. Respirei fundo. Essa era uma situação que não estava
aguardando, me pegou completamente de surpresa, contudo agirei
como sempre agi em qualquer situação: com frieza e eficiência.
A maioria das coisas na minha vida estavam sob meu
controle e não seria dessa vez que sairiam. O meu casamento com
Catharine foi minuciosamente planejado por mim, filhos era algo fora
de questão, até quando estivesse preparado para dividi-la com
alguém. Essa criança agora só veio para atrapalhar.
Ouvi Catharine mover-se, aproximei-me dela e falei baixo:
— Oi. Como se sente?
Ela abriu os olhos, pareciam vagos, como se estivesse
tentando registrar o que acontecia em volta. Ela não os movia,
apenas os mantinha abertos em um ponto fixo.
— Catharine! — chamei-a.
Seus olhos desviaram-se para mim, os lábios pálidos
moveram-se e liberou um suspiro quase inaudível. Ela voltou a
fechá-los, inclinei-me sobre ela.
— Acorda, amor, você está no hospital.
Ela abriu os olhos novamente e percebi que queria falar
alguma coisa, voltei-me a inclinar-me e ouvi-a falar em um murmúrio
rouco e fraco:
— Meu bebê... Onde está o meu bebê?
Senti um baque, como se alguém tivesse me atingido com
um soco na cara. Afastei-me dela e fechei os punhos cerrando aos
braços ao longo do corpo, minha expressão tornou-se tensa e
fechada. Ela acabou de acordar e a primeira coisa que perguntou
era sobre a maldita criança. Enfiei as mãos no bolso da calça
tentando não perder o controle. Naquele instante, a porta do quarto
abriu-se e a médica e uma enfermeira entraram.
— Que bom que acordou, Sra. Russell — a médica falou
aproximando-se dela.
— Onde está meu bebê? — perguntou novamente.
— Não precisa preocupar-se agora, ela está bem, em breve
poderá vê-la.
— Ela?
— Sim, é uma menina.
Escutava o diálogo entre a médica e Catharine. Estava de
costas para elas olhando através da janela, ainda com as mãos no
bolso, as apertava como se quisesse usá-las para socar alguém.
Em nenhum momento, ela perguntou algo sobre mim, ou ao menos
me dirigiu a palavra, apenas seu interesse era para com a criança.
Aquilo me irritou, estava prestes a explodir de ódio, mas nada fiz, eu
sabia esconder meus sentimentos muito bem. Agiria com cautela
nesse caso. Apenas uma coisa tinha certeza: essa criança não
ficaria entre a gente e Catharine saberia disso muito em breve...
Muito em breve!
Encontrava-me em um estado de euforia como nunca senti
antes, a enfermeira e a médica cuidavam de mim, mas meus
pensamentos só estavam voltados para o meu bebê. Deus! Eu tinha
uma filha, uma filha! A ficha ainda não havia caído completamente.
Quando fui informada de que teria que fazer uma cesárea
para a retirada do bebê, levei um choque, fiquei tão estupefata que
não sabia o que falar. Eu não tinha ideia de que carregava uma
criança, aquilo era tão fora da realidade que parecia impossível.
Mas não era, ela nasceu e bem. Meu bebê.
— Por favor, quando poderei ver minha filha?
— Ela está na unidade de terapia intensiva, não podemos
trazê-la aqui por enquanto. Mas a senhora poderá ir vê-la após 24
horas da sua cirurgia.
— Eu quero vê-la agora — pedi já com a voz embargada
pela vontade de chorar.
— Por enquanto ainda usa a sonda e não podemos tirá-la
agora, mas amanhã cedo, se tudo estiver bem, já poderá ver sua
bebê.
— Ouve a médica, benzinho.
Uma voz poderosa ecoou no cômodo, olhei em direção a ele,
alto, másculo, com as mãos nos bolsos, sua figura delineava contra
a claridade da luz vindo da janela. Encarava-o com os olhos
arregalados, seus traços exprimiam uma arrogância e distinção
jamais vista em outros homens. Nem havia me dado conta de sua
presença, não sabia o que pensava sobre tudo isso. Pela sua
expressão, não dava para saber, Viktor conseguia manter sempre
uma máscara fria, porém seus olhos me avaliavam atentamente,
neles podia perceber um certo descontentamento, uma severidade.
Ele aproximou-se da cama e sentou em uma cadeira, seus olhos
sempre nos meus.
Desviei os olhos, não consegui mantê-los, ele foi o
responsável por quase perder minha filha. Só de imaginar que ela
podia ter morrido por causa da estupidez dele me fez sentir uma
raiva que nunca senti antes. Alguma coisa dentro de mim mudou,
agora tinha minha filha e por ela eu era capaz de tudo.
— Pronto, Sra. Russell, está bem confortável?
— Sim.
— Tem alguma dúvida? Quer fazer alguma pergunta?
— Sim, primeiro quero saber como está a minha filha e
depois como foi possível eu estar com uma gravidez tão avançada e
não ter percebido?
— Bom, sua bebê, apesar de prematura, encontra-se em
ótima saúde. Ficará na incubadora por algumas semanas, mas no
geral esbanja vitalidade.
Suspirei aliviada, olhei para o Viktor que não falava
absolutamente nada, apenas observava com seu olhar insondável.
A médica voltou a falar:
— Agora sobre a questão da gravidez, isso acontece
algumas vezes, não é algo comum, na verdade é considerado raro,
contudo é possível.
— Doutora, eu não senti nada, aliás, às vezes sentia enjoos
e alguns movimentos na barriga, porém confundia com gases ou
coisa assim.
— Exatamente assim que acontece, a gravidez silenciosa
tem todos os sintomas de uma gravidez normal, porém muitas vezes
passam imperceptíveis para a mãe. Muitos fatores podem contribuir
para que isso aconteça, uma vida muito corrida, conturbada, alguns
problemas que ocupam a cabeça da mãe. Confundir alguns
sintomas com algum desconforto pré-menstrual, também é comum
se a mulher tem um ciclo desregulado. Enfim, várias coisas que
fazem com que não perceba que há uma vida crescendo dentro de
si.
— Mas e a barriga? Não apareceu nada, apenas percebi que
havia engordado um pouco.
— Isso é uma incógnita até para nós médicos e cientistas,
porém nem sempre uma gravidez apresenta uma barriga tão
acentuada. Por exemplo, você percebeu que ganhou peso, então
sua barriga estava lá, talvez a sua anatomia não permite que o
abdômen se expanda. Também algumas vezes a barriga iria
aparecer nos oito e nove meses, muitas mulheres descobrem a
gravidez silenciosa nos dois últimos meses. No seu caso, você iria
entrar para o sétimo mês, então não deu tempo para aparecer o
volume característico de uma grávida.
— Obrigada, doutora. Fico muito agradecida por ter salvo a
vida da minha filha.
— Estamos aqui para isso.
A médica saiu da sala e o silêncio tomou conta de tudo. Era
tão pesado que parecia que uma bomba explodiria a qualquer
momento. O único som vinha do monitor cardíaco. Não tinha
coragem de olhá-lo, mas minha pele queimava com a intensidade
do olhar que, com certeza, estava cravado em mim. Ouvi o barulho
dele movendo-se na cadeira. Com um arrepio, olhei em sua direção.
Observei-o atentamente, ele ainda usava a calça de esqui e botas,
havia apenas tirado o casaco, as luvas, a viseira e o capacete.
Usava um suéter de gola alta. Seus cabelos estavam bagunçados,
como se tivesse passado as mãos várias vezes entre os fios. E os
olhos... diabolicamente hipnotizantes.
Desviei o olhar e engoli algumas vezes para tentar respirar
melhor, eu precisava lhe perguntar algo. Voltei a olhá-lo, ele
continuava parado com o semblante arrogante e ar de poucos
amigos.
— Você a viu? — perguntei baixo procurando ostentar uma
calma que estava longe de sentir.
— A quem se refere? — perguntou cínico.
Fiquei encarando-o assustada, obviamente ele sabia que
perguntava sobre o bebê, mas mantinha a pose prepotente e
incessível. Um medo atingiu-me, ele claramente demonstrava que
não estava feliz com a notícia de que era pai. Contudo, ele não
podia fazer nada, o bebê nasceu e era real e ele teria que aceitá-la.
— O bebê — falei com cautela.
— Ah! O bebê!
Ele levantou-se abruptamente e andou até a janela, tirou um
cigarro do bolso e acendeu. Decidi protestar:
— Não pode fumar aqui.
Ele voltou-se para mim e sorriu maquiavélico.
— Só estou comemorando, afinal de contas sou pai —
ironizou. — Não tenho um charuto aqui, portanto usarei um cigarro
mesmo.
Ele tragou profundamente e liberou a fumaça no ar, seus
gestos eram friamente calculados, no entanto, escondia uma fúria
contida. Eu não entendia por que ele estava com raiva, não tive
culpa, ele era o maior responsável por essa gravidez e, pelo tempo
de gestação, engravidei logo após ele ter me capturado, talvez no
dia que me violentou.
Estremeci só de imaginar que todo esse tempo havia um
bebê dentro de mim, e toda a violência que sofri nas mãos dele.
Esse bebê era um milagre, uma guerreira, os anjos a protegeram,
ela podia ter morrido.
Quem deveria estar com raiva era eu, não por ter minha
neném, estava muito feliz por ter tido ela, meu coração já
transbordava de amor, mesmo antes de conhecê-la, mas raiva dele,
por sua arrogância e por ter colocado a vida dela em risco esse
tempo todo. Olhei-o e ousei perguntar:
— Está feliz?
Ele riu sardônico.
— Feliz com o quê, Catharine? Com essa criança que não
estava em meus planos?
— Sim, ela é sua filha, deveria estar feliz. Além do mais, se
não estava nos seus planos, por que não pensou nisso antes de me
violentar?
Ao terminar de falar já havia me arrependido, a expressão do
Viktor, que antes estava irônica, agora havia se transfigurado no
próprio diabo. Seus olhos escureceram, seu maxilar travou, seus
lábios formaram uma linha fina. Ele jogou o cigarro no chão e pisou
o esmagando como se estivesse fazendo isso com a minha própria
pessoa. Andou até mim em passos largos e parou a minha frente.
Seus olhos soltavam faíscas de ódio. Ele segurou em meus braços
e apertou, falou com uma voz diabólica:
— Está muito petulante, Catharine, você pensa que ficará
assim por muito tempo, engana-se, saberei cobrar direitinho por
tamanha insolência.
— Me solta, está me machucando.
— E machucarei muito mais se não abaixar o tom da voz.
Essa criança é minha, como diz com a boca cheia, portanto, eu
decidirei o destino dela.
— O que você vai fazer com a minha filha? — gritei.
— Já mandei abaixar o tom da porra da voz ao falar comigo.
— Vai se foder! Se você encostar na minha filha para lhe
fazer algum mal, eu te mato.
Ficamos nos encarando como em um duelo, eu não sabia de
onde tirei força e coragem para desafiá-lo daquele jeito, mas o fiz.
Pagaria por isso, tinha certeza, contudo não me arrependia. Ele
podia fazer o que quisesse comigo, mas com a minha filha não,
lutaria por ela. Ele não sabia o que uma mãe era capaz para
proteger a cria.
Ele afrouxou o aperto do meu braço até soltá-lo
completamente, liberei a respiração que estava suspensa, seus
olhos estavam fixos em mim, ele me avaliava de maneira diferente,
percebi um ar de escárnio.
— Muito bem, Catharine, eis que temos uma mãe leoa aqui.
— É isso mesmo, não ouse chegar perto da minha filha. Se
você não a quer, o problema é seu. Eu vou amá-la e cuidar dela; e,
se for preciso, darei minha vida para protegê-la. Ela não precisa de
um pai déspota como você.
Viktor não desgrudava os olhos de mim, porém suas feições
mudaram, não via mais raiva e nem deboche, mas admiração, sim,
ele me olhava com admiração. Observei um meio sorriso desenhar
em seus lábios. Ele voltou a colocar as mãos nos bolsos e andou
pelo quarto como se estivesse pensando. Então parou e me dirigiu a
palavra:
— Estou surpreso, benzinho. Vamos ver até onde vai sua
coragem.
— Vai muito além do que você possa imaginar.
Empinei o nariz. Ele sorriu e apontou o dedo na minha
direção movendo para cima e para baixo, como se estivesse me
advertindo.
Nesse momento, alguém bateu na porta e as enfermeiras
entraram quebrando a tensão.
— Boa noite, Sra. Russell, sou a enfermeira Verônica e essa
é minha ajudante Brianna. Vamos olhar sua cirurgia e trocar a bolsa
da sonda. Mais tarde traremos seu jantar. Logo após, tenta dormir
um pouco. Amanhã, se tudo estiver bem, nas primeiras horas
poderá ver a sua filha.
— Obrigada! Estou tão ansiosa.
— Ela é linda, Sra. Russell. É muito pequena, mas forte e
muito valente.
— Tenho certeza de que sim.
— O senhor pode ir vê-la se quiser, Sr. Russell.
A enfermeira falou se dirigindo ao Viktor, mas ele nem ao
menos lhe deu atenção, continuou com seu ar arrogante e braços
cruzados na frente do peito.
A mulher continuou seus afazeres. Ao final, elas trouxeram o
jantar: era uma sopa. Viktor estava no celular enquanto eu comia;
pela conversa, ele estava dando ordens para os empregados do
castelo. Não sei o que ele faria, se dormiria aqui ou iria para o
castelo, não me importava. Meus pensamentos estavam
exclusivamente em minha filha.
Depois de me alimentar, acabei dormindo e não percebi
quando o Viktor saiu do quarto.

***

Acordei com os movimentos no quarto, a mesma médica que


havia me atendido no dia anterior, me olhava com um sorriso
acolhedor.
— Bom dia, Sra. Russell. Está preparada para conhecer sua
filha hoje?
— Sim, muito.
— Então vamos verificar sua cirurgia, tirar a sonda. A
senhora pode fazer a sua higiene e comer o desjejum antes de
irmos. A enfermeira irá te ajudar.
— Obrigada.
Vaguei os olhos pelo quarto e não vi o Viktor, suspirei
aliviada, não queria que ele estivesse aqui mesmo.
Quando tudo estava pronto, trouxeram uma cadeira de rodas
e me levaram para conhecer o meu bebê. Meu coração ao mesmo
tempo alegre também estava apreensivo, ela era tão pequena,
vários fios ligados ao seu peitinho, sonda em seu nariz. Ela
respirava rapidamente. As lágrimas rolaram soltas em meu rosto,
por mais que eles falavam que ela estava bem, não consegui conter
a emoção.
— Quer segurar na mãozinha dela?
— Sim.
Eles abriram a incubadora e eu peguei em suas mãozinhas
tão miúdas, sua pele era tão fina, que parecia que se arrebentaria.
Eu conseguia ver todas as veias do seu corpinho.
— Minha filha, meu bebê — falei com emoção.
— Assim que pudermos tirá-la do respirador, a senhora
poderá pegá-la.
— Em quanto tempo?
— Em poucos dias, ela é uma menina forte.
Observava cada pedacinho dela, em nenhum momento
desviei os olhos. Estava tão absorta, que não percebi a chegada
dele, apenas quando falou que me dei conta de que ele estava ali.
— Igual a você, pequena e frágil.
Arrepiei-me e tensionei o corpo, porém nem me virei para
olhá-lo, continuei concentrada na minha filha. Ele puxou uma
cadeira e sentou-se do meu lado. Cruzou as pernas como sempre
fazia.
— O que está fazendo aqui, Viktor? — perguntei.
— Conhecendo a minha filha.
— Você não quis conhecê-la antes.
— Agora quero. A propósito, o nome dela é Cathryn.
Virei meu rosto para encará-lo surpresa, com minha boca
completamente aberta. Não acreditava que ele havia escolhido um
nome quase parecido com o meu. Porém, precisava mostrar que ele
não decidiria o nome dela sozinho, apesar de me sentir feliz por ele
ter pensado em um nome para ela.
— Deveria me consultar primeiro para escolher o nome.
— Ela já foi registrada aqui e nos Estados Unidos como
Cathryn Viktoria Russell.
Pisquei algumas vezes sem acreditar, o nome era lindo, no
entanto, para alguém que não queria nem ao menos ver a filha, me
surpreendi por ele tê-la registrado e com nomes que lembravam os
nossos próprios nomes. De qualquer maneira, ainda não confiava
nele, ficaria sempre na defensiva.

***

As semanas se passaram e Cathryn se tornava cada vez


mais forte e ganhava peso. Em poucos dias após seu nascimento
eu já estava a amamentando no peito e aninhava ela no meu colo
como uma mãe canguru, o contato pele a pele ajudava no
desenvolvimento. Com uma semana, eu já podia ir para casa, mas a
Cathryn não, então implorei para a médica me deixar ficar com ela,
nunca conseguiria ir embora e deixá-la no hospital. A médica
entendeu e atendeu ao meu pedido. Viktor não se impôs, porém
percebi que ele não gostou daquilo, contudo não disse nada.
Percebi que ele agia estranho, mal falava comigo, e nem ao menos
me olhava, mas percebia uma raiva e descontentamento.
Em um mês, ela recebeu alta e estávamos prontas para ir
para casa. Viktor em todo esse período, acompanhou todos os
procedimentos, mas não demonstrou ter nenhum sentimento para
com ela, ele simplesmente a tratava como uma obrigação, em
nenhum momento a pegou ou ao menos encostou nela. Mas todas
as coisas burocráticas ele resolveu com precisão.
Ao deixarmos o hospital, toda a equipe se despediu de nós
com aplausos e desejos de boa sorte. Eu estava feliz como nunca
estive antes.
No carro, após acomodar a cadeirinha da Cathryn, sentei-me
do lado dela e não parava de admirá-la. Viktor assumiu o volante.
Ouvi sua voz de aço:
— Capturada novamente, linda esposa.
Olhei para o espelho retrovisor e encontrei seu olhar.
Estremeci com a intensidade com que me fitava e a ameaça velada
de suas palavras.
A vida nos surpreendia a cada amanhecer, a cada raio de sol
que aquecia a nossa pele.
Um mês atrás eu jamais imaginaria que estaria diante de
minha filha, a carregando no colo, cuidando dela. Sorri a admirando,
seu pequeno rostinho rosado era a única parte de seu corpo
exposto. Ela era tão miúda, mas ao mesmo tempo tão forte. Estava
simplesmente encantada com ela que não percebia nada a minha
volta, meus olhos sempre focados nela, em sua pele quase
translúcida, sua boquinha perfeita, os olhos que quase não se
mantinham abertos. Observei sua manta rosa de algodão e náilon
entrelaçados em desenhos geométricos e com laços de cetim, todas
as roupas dela foram compradas por empregados do Viktor. Sua
cabecinha estava encoberta por um gorro seguindo o mesmo estilo
da manta. Passei a mão em seu rostinho, e meu coração bateu forte
de tanto amor por aquele ser que agora fazia parte da minha vida.
Estava tão distraída admirando a minha filha que nem
percebi que o carro havia parado. Só me atentei quando o Viktor
abriu a porta e me ajudou a sair, percebi que estávamos em uma
pista de decolagem e o avião dele pronto para embarcarmos.
Reparei também que havia vários dos seus homens em sentinela.
Suspirei fundo, estávamos de volta ao mundo dele.
Achei estranho que iríamos voltar para os Estados Unidos
agora, pensei que passaríamos mais um tempo no castelo até que a
Cathryn estivesse mais forte. Decidi questioná-lo sobre isso.
— Viktor, não seria melhor voltarmos para os Estados Unidos
quando a Cathryn estiver um pouco maior? Essa é uma longa
viagem para ela.
Ele nem ao menos me respondeu, continuou desatando a
cadeirinha da Cathryn. Ao finalizar, ele a tirou do carro e um de seus
homens aproximou-se, sem eu perceber de imediato as suas
intenções, o vi entregando o bebê para ele. Nesse momento, meu
corpo todo gelou. Não deixarei que levem meu bebê.
— Para onde irão levá-la? — perguntei.
— Não se preocupe com isso, ela ficará bem.
— Não! Eu quero a minha filha comigo.
Fiz um gesto para pegar o bebê conforto da mão do
segurança, mas o Viktor me segurou na cintura e fez um sinal para
o homem prosseguir. Nesse momento entrei em pânico e comecei a
lutar contra ele, praticamente esperneando para me libertar dele e
correr para pegar a minha filha.
— Me solta, eu quero a minha filha.
— Pare de lutar, já disse que ela ficará bem.
— Não, eu vou lutar contra você, Viktor. Não permitirei que
me separe da minha filha.
— Vai lutar contra mim, Catharine? Você sabe que perderá
todas.
— Não me importo! — gritei alterada.
Comecei a socar o peito dele com as duas mãos fechadas
descontroladamente, eu já não tinha mais nada a perder.
— Eu te odeio, te odeio, te odeio, seu monstro insensível!
Jamais permitirei que me afaste da minha filha.
Ele me dominou facilmente e me prendeu entre a lateral do
carro e seu corpo me imobilizando. Eu tentei me soltar, mas foi inútil,
não tinha chance em uma briga corporal com ele, então comecei a
chorar e suplicar:
— Não faz isso, Viktor, não tira a minha filha de mim.
— Eu decidirei como serão as coisas, Catharine, e você não
poderá fazer nada sobre isso. A menina apenas está sendo
colocada no avião, você ficará com ela durante a viagem.
— Eu mesmo posso fazer isso, não quero ninguém cuidando
dela, não quero pessoas pegando na minha filha, não quero babá,
não quero nada disso, eu mesmo cuidarei dela — falava de maneira
afobada e desesperada.
— Não é você que decidirá isso, Catharine, eu sou o chefe
dessa porra toda e quem decide sou eu.
— Eu sou a mãe dela.
— E eu sou o pai.
— Vai para o inferno, seu déspota, desprezível e desprovido
de sentimentos.
Ele me calou com um beijo furioso, eu tentei lutar, mas meus
esforços foram em vão, ele me pressionou ainda mais ao carro e
seu corpo enorme esmagou o meu, podia sentir sua ereção potente,
ele estava tão duro que parecia uma rocha de encontro ao meu
corpo. Parei de lutar e ele liberou meus lábios, olhou para mim com
os olhos flamejantes de desejo.
— Sente o quão desprovido de sentimentos eu sou,
Catharine.
Ele esfregou o quadril e seu pênis roçou em mim. Eu apenas
senti repulsa.
Se ele pensa que me dobrará com essa coisa odiosa dele,
mas não vai mesmo! Dessa vez lutarei.
Continuei calada e de cabeça baixa com os olhos cheios de
lágrimas, mas as estava segurando o máximo que eu podia. Ele
segurou em meu maxilar com violência e me fez encará-lo.
— Sente essa porra? Sente como você me deixa, caralho.
Não tem nada de insensível aqui, Catharine.
— Sinto e odeio isso, odeio que me toque, odeio essa coisa
nojenta sua.
— Pois se prepare, meu amor, você vai sentir essa coisa
nojenta muitas vezes, e essa criança ficará longe, não quero nada
entre a gente. Espero, benzinho, que esteja protegida, porque, caso
contrário, eu vou engravidar você de novo.
— Me solta, eu quero a minha filha! — gritei em prantos.
Deus! Eu não suportarei que ele me afaste dela, eu vou
morrer se ele fizer isso.
— Por favor, Viktor, não faz isso comigo, te imploro.
— Cadê a valentia agora, Catharine, hã? No hospital me
ameaçou porque estava em vantagem. Agora acabou, você já fez
muito mais do que qualquer um ousou fazer.
Eu não disse nada, a única coisa que queria naquele
momento era minha filha, por isso engoli toda a minha raiva e pedi
brandamente:
— Eu posso ver minha filha?
— Nós entraremos juntos no avião, calmamente, você não
precisa correr e nem ficar desesperada. O momento que eu achar
que deve, a menina voltará para você.
Arrasada, fiquei em silêncio. Ele me soltou do aperto e
segurou em minha mão, caminhamos juntos, olhei em volta
disfarçadamente e percebi vários de seus homens em fileiras. Meu
rosto pegou fogo, todos presenciaram a nossa discussão. Abaixei
minha cabeça o máximo que eu pude sem ousar olhar para os
lados.
Subimos as escadas, Viktor me segurava firme, ao entrarmos
na aeronave, um dos tripulantes aproximou-se e ofereceu algo para
beber.
— Somente água, por favor.
Olhei para todos os lados à procura dela, mas não a vi, meu
coração estava apertado, assim como o medo, a angústia, a tristeza
e a insegurança. Tudo era um turbilhão dentro de mim.
Senti a mão do Viktor em minhas costas, ele me empurrou
para que eu sentasse em uma das poltronas luxuosas. Sentei-me e
peguei o copo de água que a mulher oferecia. Estava tão nervosa
que não conseguia parar de tremer. Viktor sentou à minha frente e
me observava atentamente com seus olhos diabólicos.
Encarei-o suplicante, pedindo silenciosamente que ele
tivesse um pingo de misericórdia, mas nada em sua feição
demonstrava que ele cederia. Minha raiva por aquele ser asqueroso
só aumentava, algo que nunca senti por outra pessoa em toda a
minha vida crescia como uma doença incurável.
Eu iria embora com minha filha, na primeira oportunidade
sumiria e, dessa vez, ele jamais me acharia. Ouvi a voz do
comandante anunciando para afivelar o cinto, rapidamente o fiz,
meu coração estava sangrando por não saber se o bebê realmente
estava dentro do avião.
Minutos depois de ter decolado, quando já podíamos soltar o
cinto, a mesma aeromoça que havia me servido, aproximou-se com
o bebê.
— Aqui está sua filha, Sra. Russell, já trocamos a fralda dela
e a roupa.
— Obrigada.
Peguei-a e cheirei sua cabecinha, meus olhos encheram-se
de lágrimas, meu bebê, meu bebezinho. Segurei-a forte com medo
de perdê-la. Meu coração doía só de pensar em ficar longe dela
novamente.
— Oi, meu amor. — Ela abriu seus olhinhos azuis e começou
a fazer caretas e se contorcer, provavelmente estava com fome.
— A mamãe já vai te alimentar, princesinha.
— Se quiser que eu a segure para se ajeitar. — A aeromoça
se ofereceu.
— Não, obrigada. — Agarrei-me a ela assustada. Viktor fez
um sinal com a mão, dispensando a mulher. Ela se afastou-se e o
silêncio reinou, eu ainda segurava a Cathryn como se a qualquer
momento alguém viesse arrancá-la de mim. Viktor apenas
observava a cena com seu ar soberbo e cruel, parece que ele
gostava de ver minha angústia.
O bebê começou a resmungar e fazer ensaios para chorar.
Então a ajeitei e a coloquei no seio para mamar, sua boquinha
encaixou perfeitamente e ela sugou com vigor. Sorri, esse era o
momento mais sublime entre mim e ela, eu sentia uma conexão
muito forte com ela e uma necessidade de protegê-la. Vê-la se
alimentando do meu leite me deixava tão feliz, sentia-me completa,
nunca pensei sentir um amor tão forte. Não levantei a cabeça em
nenhum momento, sabia que o Viktor estava me avaliando, com
seus olhos de águia cravados em mim, mas não queria lhe falar e
nem ao menos compartilhar aquele momento com ele. Por sorte
parece que ele também não queria falar.
Após amamentá-la, fiquei com ela o tempo todo no colo.
Comecei a sentir sono, e lutava para não dormir, levei um susto
quando ouvi a voz dele:
— Temos uma suíte, você pode dormir lá.
Sem que eu esperasse mais, a aeromoça aproximou-se e
me ajudou com a bebê. A segui até a suíte, haviam colocado um
berço portátil para a Cathryn. Após deixá-la no berço, deitei-me e
dormi quase que automaticamente.
Acordei um pouco desorientada e levei um susto ao ver o
Viktor de pé do lado do berço da Cathryn, ela havia acordado, mas
não chorava.
— Ela acordou há muito tempo?
— Não, agora mesmo.
— Hã!
— Vamos pousar em meia hora, faça o que tem que fazer
com ela e prepare-se.
Ele caminhou a passos largos, o acompanhei com o olhar
até vê-lo saindo. Balancei a cabeça de um lado para o outro, esse
homem era muito difícil e estranho, eu jurava que ele estava
olhando para a bebê com interesse. Suspirei fundo e aproximei-me
do berço, peguei minha princesinha.
— Seu papai é um enigma, filhinha.
O resto da viagem foi tranquilo até chegarmos em Chicago.
Algumas horas depois, estávamos em casa, já havia jantado
e estava no quarto com a Cathryn, ela dormia no berço após mamar.
Resolvi tomar um banho rápido e fazer a higiene noturna. Usei uma
camisola longa de algodão e prendi os cabelos em um coque.
Estava pronta para voltar para o quarto e já na porta dei de encontro
com o Viktor. Sem ao menos ter nenhuma reação, ele me pegou no
braço e me puxou para a cama, já me beijando e tirando a minha
camisola. Virei a cabeça para olhar o berço da Cathryn e me
certificar de que ela estava dormindo e não a vi, entrei em pânico e
o empurrei.
— Onde está a Cathryn?
— Em um lugar seguro.
— Não, eu quero a minha filha.
— Cale a boca, Catharine, eu já te avisei que essa menina
não ficará entre nós.
— Mas ela é sua filha.
— Eu sei que é, por isso ainda tem uma chance.
— Me solta, não transarei com você enquanto não me dizer
onde ela está.
O tapa que ele me deu foi tão forte que pensei que minha
alma saiu do corpo e voltou, ele segurou em meu rosto e rosnou.
— Presta atenção, Catharine, se ouvir mais algum protesto
da sua boca, não verá mais essa criança, entendeu?
Apenas balancei a cabeça positivamente.
— Ótimo, agora fica quietinha, amor, um mês sem você
estava me deixando louco.
Ele começou a beijar a curva do meu pescoço e eu apertei
os olhos segurando as lágrimas, mas de nada adiantou, elas
transbordaram enquanto ele me despia.
Seus lábios bloquearam os meus em um beijo quente, sua
língua girou dentro da minha boca de maneira que parecia que ele
queria tirar minha força vital. Depois ele deslizou sua língua pelo
meu corpo lambendo cada centímetro da minha pele. Eu não queria
sentir nada, mas não conseguia, meus mamilos já estavam duros e
minha pele arrepiada. Ele beijou meu queixo, minha garganta,
minha clavícula, brevemente parando em um dos meus seios. Eles
estavam duros e cheios de leite, ele apertou e soltei um gemido de
protesto.
— Seus seios estão maiores — sussurrou.
Ele abocanhou um deles e começou a sugá-lo, parou de
repente e cuspiu para o lado.
— Que caralho!
Aproveitei esse momento e me sentei na cama me afastando
dele. Encolhi as pernas e as segurei pelos joelhos. Percebi que ele
limpava a boca com o dorso da mão.
— Isso é leite — comuniquei.
Ele voltou-se para mim meio que surpreso, senti vontade de
rir, porém me segurei. Ele, por sua vez, sorriu, estendeu os braços,
me pegou pelas pernas e me puxou me fazendo deitar de novo.
— Não será isso que me impedirá de te possuir.
Com violência, ele abriu as minhas pernas e inseriu a ponta
do seu pau na junção da minha entrada e com um empurrão forte
entrou todo em mim até a base.
Minha cabeça bateu na cabeceira com seu movimento
brusco. Ele iniciou sua posse me pressionando com vigor. Suas
mãos grandes puxaram minha bunda para que ele se aprofundasse
cada vez mais.
— Que saudade estava de você — falou entre gemidos de
posse.
Eu não participei de nada, apenas fiquei parada recebendo
suas estocadas. Olhei fixo para o teto e as lágrimas desciam. Senti
uma ligeira dor no corte da cesariana e gemi chorando. Levei a mão
em seus ombros o empurrando.
— Está me machucando — resmunguei.
Ele não disse nada e tampouco abrandou os movimentos.
Finalmente gozou e me libertou. Virei de lado, estava sentindo dor.
Ele levantou-se e foi ao banheiro, eu apenas chorava com saudade
do meu bebê. Ele retornou e não demorou muito para iniciar tudo de
novo. Tudo havia retornado.
Na manhã seguinte, cuidava da Cathryn quando Viktor
entrou no quarto acompanhado de uma mulher, quase caí para trás
quando a vi: era a Sra. Pérez.
Eu não sabia o que pensar, era tão absurdo ver a Sra. Pérez
no meu quarto, que passou por minha cabeça rapidamente que eu
estava imaginando coisas, mas não, era ela de carne e osso.
Encarei o Viktor o questionando silenciosamente, que se aproximou
de mim beijando o meu rosto e comunicou:
— Trouxe a babá da nossa filha. Acho que dispensa
apresentações, já que se conhecem muito bem.
Percebi o tom cínico em sua fala, ele estava fazendo um
jogo, era típico dele brincar com a vida das pessoas, algo me dizia
que alguma coisa havia por trás de tudo isso, no entanto não
conseguia adivinhar e temia pela vida da Sra. Pérez.
Olhei em direção a ela, percebi-a abatida e muito magra.
Seus cabelos já grisalhos antes agora estava quase todo branco, no
rosto havia as marcas do sofrimento. Eu era a responsável por ela
estar naquela situação, à mercê de um demônio. Eu a coloquei
nisso tudo e esse era o maior arrependimento da minha vida.
Decidi recebê-la e com um sorriso acolhedor aproximei-me
dela e a abracei.
— Seja bem-vinda, Sra. Pérez! Quer conhecer a minha filha?
O nome dela é Cathryn.
— Muito obrigada, Sra. Russell. Será um prazer ajudá-la com
o bebê.
Achei estranho ela me tratar formalmente, porém entendi,
provavelmente agia assim porque Viktor se encontrava no quarto
observando-nos com seus olhos astutos. Conduzi-a para perto do
berço, a bebê dormia tranquilamente, ela havia acabado de mamar.
Durante a noite, ela não veio para mim, somente pela manhã
quando o Viktor saiu do quarto depois de passar a maior parte da
noite em cima de mim. Eles deram mamadeira para ela, não gostei
disso, queria que ela amamentasse do meu leite o tempo
necessário, mas se o Viktor pretendia me separar dela todas as
vezes que achasse conveniente para ele, precisava deixar meu leite
na mamadeira para que dessem para ela. Agora, com a Sra. Pérez,
ficaria mais tranquila, tinha certeza de que ela cuidaria bem da
Cathryn.
— Está dispensada — Viktor falou.
A Sra. Pérez pediu licença e saiu do quanto. Decidi
questioná-lo sobre a presença dela.
— Viktor, qual o seu jogo? Por que a trouxe?
— O que você preferia, que eu a matasse?
— Não! — exclamei horrorizada.
— Então, ela será útil, por enquanto.
— Viktor, você não planeja fazer mal a ela, por favor. Você
poderia deixá-la ir embora e viver sua vida em paz.
— Ninguém que atravessa o meu caminho anda por aí vivo e
feliz.
— Mas a culpa não foi dela, fui eu que a coloquei nessa
situação.
Ele sorriu diabolicamente e aproximou-se de mim, me
abraçou na cintura e falou próximo ao meu rosto:
— Então vou reformular para que entenda, esposinha.
Qualquer um que VOCÊ envolver entre a gente, será eliminado.
— Inclusive sua filha?
— Ela foi algo inesperado, confesso que me pegou de
surpresa, mas as coisas serão exatamente como eu quero para
manter sua integridade física intacta. Porém, ela é um pedacinho de
você e, por isso, ainda está aqui. Além do mais, ela é só mais um
problema, você não tem ideia de quanto vale a vida dela para os
meus inimigos. É só mais uma para proteger.
— Você é um monstro! — falei com asco.
— Eu sou Viktor Russell, o seu marido, e você, Catharine, é
a única que me desafiou e que ainda me desafia, que continua viva.
— O que eu te fiz para me odiar tanto? — perguntei com
angústia e desespero. Queria entendê-lo.
Ele segurou meu rosto, e passou o polegar em meus lábios,
seu olhar estava cheio de desejo. Ele beijou meu rosto onde havia a
marca dele do tapa que me deu na noite passada. Senti dor, aliás,
precisei tomar remédios para a dor essa manhã. O corte da
cesariana latejava e ardia, após o Viktor transar comigo, ele não foi
nem um pouco cuidadoso, nem mesmo quando disse que a cirurgia
estava doendo.
— Você acha que te odeio? Se eu te odiasse, Catharine, a
essa altura estaria morta — sussurrou.
Ele iniciou beijos leves na minha boca, deslizou os lábios
para o meu pescoço, seu hálito quente aqueceu a minha pele, meu
corpo todo derreteu.
Quando ele era gentil, inevitavelmente sentia coisas que não
gostaria de sentir. Minha vagina lubrificou, meu corpo arrepiou-se,
meus seios sensíveis por causa do leite, intumesceram, causando
incômodo.
Talvez eu precise calar essa parte de mim, precisava extrair,
me desligar. Ele era um monstro insensível e deixou claro que faria
mal ao bebê, se assim achasse que devia. Isso era abominável e
não queria mais viver com ele, não queria ser um objeto sexual,
uma boneca sem vida que ele fazia o que queria. Mas era difícil
reagir, ele sabia me dominar, me subjugar, no entanto, agora tinha a
minha filha e por ela eu seria capaz de tudo. Ele continuou me
explorando com as mãos e os lábios.
— Você é como uma droga, minha droga particular —
murmurou rouco, cheio de luxúria.
Ele tocou meus lábios outra vez, mas não se moveu, seu
hálito pesado e quente invadiu minha boca que estava entreaberta
para que o ar fluísse melhor. Senti uma excitação, ele me hipnotizou
prendendo meu olhar com o dele.
— Linda, perfeita, é isso, Catharine, que você faz comigo,
me deixa completamente entregue a você. Faz um homem escuro e
sombrio ver a luz. Você é minha luz e, às vezes, me ofusca. Eu
quero quebrá-la, mas não sou capaz. Você me faz querer, me faz
ser qualquer coisa por você, até um homem fraco e apaixonado.
Seus lábios pressionaram os meus me tomando com
ganância, nossas línguas se tocaram, misturaram, criando uma
dança. Ele soltou a minha boca e praguejou. Suas palavras eram
confusas. Pensava que ele me maltratava porque pensava que eu o
deixava fraco, mas eu não era capaz disso, esse homem era uma
rocha.
— Caralho! Eu não vim aqui transar com você, na verdade
eu tenho um compromisso, mas não resisto, faz um boquete agora.
Ele me forçou a ajoelhar, com seu volume enorme querendo
ser liberado da prisão. Eu não queria fazer aquilo, principalmente
porque a Cathryn estava dormindo próximo de nós.
— Não devemos, Viktor, o bebê...
Ele pegou nos meus cabelos e puxou.
— Foda-se, faz essa porra agora! — rosnou. Todo o desejo
em seus olhos se transformou em raiva.
Por isso, decidi não protestar mais. Comecei desatando o
cinto e logo depois a calça dele. Ele usava um terno preto que lhe
vestia perfeitamente. Deslizei tudo junto com a cueca. Agarrei o
pênis e o levei todo a boca. Se tinha que fazer isso, faria rápido para
que ele gozasse e fosse embora, não queria que a Cathryn
acordasse enquanto estava entalada com o pau dele na boca. Tinha
certeza de que ele a deixaria chorando e não me permitiria pegá-la.
Ele deixou escapar um gemido alto e fechou os olhos, eu
deslizei quase tudo aquilo na minha boca. Suguei-o sem parar, sua
mão agarrada em meus cabelos puxava-os à medida que eu lhe
dava prazer. Ele gemia sem parar e xingava ao mesmo tempo.
Comecei a sentir cansaço e falta de ar, ele não gozava rápido.
Afastei um pouco a boca para tentar buscar ar, mas ele me
empurrou de novo.
— Continua, caralho! Continua.
Então continuei, até que ele gozou tudo na minha boca.
Tentei puxar, mas ele me impediu e tive que receber todo o sêmen e
engoli. Ele puxou o pau e ainda ejaculou alguns jatos nos meus
lábios. Quando terminou, ajeitou a roupa, continuei no mesmo lugar
o observando. Ele olhou para o relógio Rolex no pulso e falou:
— Tenho que ir.
Aproximou-se de mim e me fez levantar, beijou minha
bochecha.
— Excelente boquete.
Com isso, ele saiu e olhei para o berço da Cathryn, ela ainda
dormia. Corri para o banheiro, segurei na pia com as duas mãos e
me encarei no espelho. Eu era apenas uma boneca para ele, um
corpo onde ele depositava seu sêmen.
Uma lágrima escorreu, liguei a torneira e lavei a boca. Em
seguida, limpei o rosto e reapliquei a maquiagem para disfarçar o
tapa. Ouvi o choro da Cathryn e voltei para o quarto. Comecei a
cuidar dela.
Um tempo depois, fui à procura da Sra. Pérez, ela devia
estar na ala dos empregados. Precisava lhe falar. No caminho
encontrei uma das empregadas.
— Precisa de alguma coisa, Sra. Russell?
— Estou à procura da empregada nova.
— Ah, sim. A Sra. Pérez, irei chamá-la.
— Obrigada.
Minutos depois ela apareceu, abri um sorriso.
— Sra. Russell, precisa dos meus serviços?
— Sim, vamos até o meu quarto.
— Sim, senhora.
Assim que chegamos, já fui logo perguntando:
— Sra. Pérez, o que está acontecendo? Eu não quero que
nada de mau lhe suceda.
— Mia, eu vim para cuidar da sua bebê, essa foi a chance
que seu marido me deu.
— Ele a mantinha presa?
— Sim.
— Eu sinto muito, Sra. Pérez, por ter envolvido você e o
Ramon...
Não consegui completar a fala por causa da voz embargada.
A Sra. Pérez sorriu e me fez sentar em uma poltrona, ela sentou
próximo a mim.
— Você não teve culpa, Mia. Já te falei isso, não se sinta
culpada.
— É claro que tenho.
Não consegui conter as lágrimas.
— Não fica assim, fará mal para o seu leite.
Olhei-a entre a névoa das lágrimas.
Deus! Ela não merecia passar pelo que está passando, é
uma pessoa boa e generosa; e além de tudo, não guarda rancor.
Ela estendeu a mão e passou pelo meu rosto, encolhi.
— Ele te bate?
— Não se preocupe com isso.
Afastei a mão dela e virei o rosto.
— Eu entendo porque você fugiu dele.
— Eu nunca deveria ter feito isso, principalmente envolver
pessoas inocentes.
— Esquece, já foi feito. Posso pegar o bebê?
— Claro!
Entreguei a Cathryn, ela estava acordada.
— Ela é linda e tão pequena. Parece com você.
— Sim, tem meus olhos e acho que os cabelos loiros
também, apesar de que agora ela tem muito pouco cabelo, mas
percebe-se que são bem clarinhos.
— Sinto-me honrada em cuidar dela, suprirá a falta que meu
filho me faz.
Senti-me tão culpada, mas diante do sorriso que ela lançou
para o bebê, confortei-me. Pelo menos, uma coisa boa Viktor fez ao
trazê-la, dar um pouco de conforto a ela. Não sabia quais eram os
planos diabólicos dele, talvez não tivesse um afinal, mas naquele
momento me senti feliz por tê-la conosco.

***

Os dias foram passando e nossa rotina voltou, meus pais


vieram visitar a Cathryn, minha mãe ficou contente e ofereceu-se
para ajudar na decoração do quarto dela. Meu pai mostrou-se
ríspido, ele quase não falava comigo e apenas desejou saúde para
a Cathryn. Percebi que ele estava bastante abatido e, segundo
minha mãe, ele andava bebendo muito. Eles já não tinham aquela
vida de festas e glamour.
Viktor apenas os mantinha com o mínimo para viverem e
pagava as despesas da casa, o questionei sobre isso e ele, como
sempre, apenas disse que eles só estavam vivos por causa de mim.
Percebi que vidas de pessoas estavam em minhas costas, A Sra.
Pérez, meus pais e até do bebê, por isso, qualquer coisa que eu
fizesse, como fugir com a Cathryn por exemplo, só colocaria a vida
dessas pessoas em risco, inclusive da minha filha. Ele poderia até
não matá-la, mas com certeza me separaria dela. Então, decidi viver
um dia de cada vez.
A relação do Viktor com a bebê permanecia a mesma, ele
não interagia com ela, a tratava como mais um dos seus negócios,
obviamente que nada faltava a ela, Cathryn tinha até coisas demais
para um bebê tão pequeno, no entanto, a atenção do pai era zero.
Seis meses depois, eu e a Sra. Pérez estávamos voltando da
consulta médica da Cathryn no pediatra, estava distraída e não
percebi que estávamos seguindo para um caminho diferente do
habitual. A Sra. Pérez que chamou atenção para esse fato.
— Mia, tem algo errado, estamos indo para um caminho
diferente.
Olhei através da janela e constatei que estávamos em uma
estrada quase sem carros. Meu coração acelerou. Decidi bater no
vidro da divisória para perguntar alguma coisa aos seguranças que
nos acompanhavam. Nesse momento, senti o carro frear
bruscamente, olhei pela janela assustada e vi muitos carros nos
fechando. Os homens do Viktor, que estavam nos outros carros
fazendo a escolta, abriram fogo. Eu e a Sra. Pérez nos abaixamos,
debrucei sobre a cadeirinha do carro da Cathryn para protegê-la, no
entanto, nenhum tiro atingiu nosso carro. A divisória do carro foi
aberta naquele momento e, para meu horror, os seguranças que
estavam no carro conosco, apontaram armas para nós e ordenaram:
— Quietas.
Entrei em pânico, não acreditava que aquilo estava
acontecendo. Estávamos sendo sequestradas pelos próprios
seguranças do Viktor?
Os homens provavelmente já tinham tudo planejado. Olhei
para a Sra. Pérez alarmada, ela também tinha uma expressão
assustadíssima. Temi pela vida do meu bebê, não sabia que atitude
tomar. Lá fora, ainda se ouvia tiros, alguns atingiram a lataria do
nosso carro e os vidros, mas não quebrou, era tudo blindado. Os
homens haviam fechado a divisória, mas consegui perceber que
eles também atiravam, contudo não saberia dizer se atiravam para
nos proteger ou se atiravam nos próprios seguranças do Viktor.
O carro então avançou em alta velocidade. Muito tiros ainda,
mas, pelo que pude perceber, o carro estava se distanciando da
zona de conflito. Também observei que alguns seguranças do Viktor,
estavam dando cobertura para o nosso carro. Então uma esperança
ressurgiu, talvez não fosse um sequestro.
— Mia, você acha que eles irão nos levar de volta para
casa?
— Eu não sei, Sra. Pérez, eu não sei.
Meu peito estava dolorido, tentava respirar, mas toda aquela
tensão estava me deixando sem ar. Coloquei a mão no bolso para
pegar a bombinha e senti o celular. Uma coisa louca passou pela
minha cabeça, poderia enviar uma mensagem de texto para o Viktor
e dizer que estávamos sendo sequestradas. Tirei o celular do bolso,
a Sra. Pérez arregalou os olhos, mas fiz um sinal com o dedo para
ela ficar quieta. Ao olhar a tela, percebi que havia uma mensagem
do Viktor. Rapidamente abri e li, em poucas palavras ele disse:

“Não fique apavorada, já estou a caminho.”

Meu coração se aqueceu e ao mesmo tempo palpitou, ele já


sabia que estávamos sendo sequestradas, não sabia como, mas ele
já sabia. No entanto, esse fato não me tranquilizou, isso só provava
que realmente estávamos sendo sequestradas. Essa constatação
me fez ficar mais angustiada.
Guardei o celular no bolso novamente e peguei a bombinha.
Porém, antes de eu conseguir usá-la, ela caiu da minha mão
quando o carro deu um solavanco forte e bateu, como se tivesse
passado por um buraco, segurei na maçaneta. Entrei em pânico. O
bebê começou a chorar, a Sra. Pérez também ficou meio atordoada,
mas abriu a bolsa do bebê para pegar a outra bombinha. Fechei os
olhos em desespero, senti um nó na garganta como se estivesse me
estrangulando, ainda tentei acalmar a Cathryn, mas meus esforços
foram em vão. Aquilo tudo parecia um pesadelo.
Nesse momento, o carro parou bruscamente, um dos
homens desceu e abriu a porta do lado da Sra. Pérez, ela não teve
tempo de me entregar o remédio, o homem a pegou pelos braços e
a puxou com violência para fora, praticamente a lançando longe.
Gritei em desespero, tirando fôlego de onde já não tinha mais, o
homem apontou a arma para o corpo dela caído no chão, ele ia
matá-la. Não podia deixar fazerem isso com ela. Com uma coragem
que não sei de onde tirei, pulei do carro e empurrei o homem, que
se desequilibrou e caiu, a arma disparou, mas saiu da mão dele
caindo a poucos metros.
O outro homem então pegou a arma e apontou para mim,
porém o outro gritou:
— Não pode matá-la agora, ela é a peça mais importante, o
Viktor fará tudo que quisermos para tê-la de volta.
O homem levantou-se e pegou a arma novamente, mas eu já
não conseguia respirar, entrei em crise, meus pulmões fecharam e
nenhum oxigênio entrava. Tentei voltar para o carro e pegar a
Cathryn, me arrastei até conseguir me segurar no banco, mas o
homem foi mais rápido e me segurou. Porém, naquele momento, eu
já não tinha forças, meus lábios estavam roxos e respirava como um
peixe que foi tirado para fora da água. Percebendo o meu estado, o
homem falou para o outro:
— Ela está morrendo.
— O quê? Pega o remédio dela, porra!
— Eu não vejo nenhum aqui.
— Droga! — o homem esbravejou.
Nesse momento ouvi tiros, o homem me soltou, eu caí perto
da porta do carro, o choro da Cathryn era muito alto, ela estava se
esgoelando. Eu ainda tentei entrar, mas havia troca de tiros. Um dos
homens gritou:
— Joga ela dentro do carro.
O homem tentou me levantar, mas um tiro atingiu seu braço,
ele me soltou de novo, caí e bati a cabeça. Olhava tudo o que
estava acontecendo como uma névoa, as coisas pareciam em
câmera lenta, o homem que foi baleado entrou no carro, ouvia-o
falar como se estivesse muito longe, mas eu conseguia entendê-lo:
— Vamos embora, não podemos mais ficar aqui, atira na
velha e deixa essa aí, vai morrer mesmo. O bebê nos servirá.
Ouvi alguns disparos próximo, batidas de portas e o carro
arrancou. Ainda com um resto de força que consegui unir, gritei:
— Minha filha, eu quero a minha filha!
Mas o carro adentrava o local que se assemelhava a uma
fábrica abandonada. Eu já não conseguia respirar, ia morrer e eles
iriam matar o meu bebê. Não posso deixar que matem o meu bebê.
Ainda tentei levantar-me, mas não consegui, tudo parecia distante, o
pouco de oxigênio que tinha em meus pulmões estava acabando.
Deixei meu corpo cair no chão. A vida deixava-me, já não havia
mais salvação para mim. Morrerei.
Naquele momento, senti que alguém me segurava, sua voz
era familiar, ele gritava desesperado, então senti que borrifaram o
remédio em minha boca. Mas ainda não conseguia respirar. Senti
meu corpo sendo suspendido, ele corria comigo no colo, o remédio
que ele havia colocado na minha garganta começou a fazer efeito e
um pouco de oxigênio entrou. Tossi várias vezes. Percebi que
estava sobre algo macio, era cheiro de couro, talvez um banco de
carro, não sabia.
Novamente, borrifaram remédio em minha boca. Eu ouvia a
voz dele, parecia que estava estrangulada, muito nervoso. Era a voz
do Viktor, tinha certeza.
— Catharine, meu amor, fala comigo, não faz isso, volta para
mim, volta para mim, não suportarei te perder.
Ele me abraçou junto ao seu peito, senti seu perfume
másculo, era o cheiro dele que conhecia muito bem, ele sussurrava
e falava no meu ouvido. Sua voz trouxe de volta memórias, a
maioria ruins, mas algumas boas.
Eu queria gritar, mas não conseguia encontrar minha voz.
Era tudo doloroso e distorcido na minha cabeça. Eu queria voltar,
havia alguém por quem precisava voltar, mas estava sonolenta, meu
cérebro não reagia. Puxei o ar, esse entrava aos poucos. Ouvia
sirenes ao longe. Ele me deitou no macio do couro e colocou o
ouvido no meu peito. Percebi que ele soluçava. Será que está
chorando? Não podia acreditar em algo assim.
— Benzinho, fala comigo.
Apertei meus olhos, senti meu peito apertar, minha garganta
fechar. Percebi movimentação, alguém entregou algo a ele. Sua voz
mudou para de comando, ele gritava para as pessoas à volta,
ordenando como ele sempre fez. Ninguém ousava desobedecê-lo,
ele era o chefe, ele era o demônio, ele era o meu marido, ele era o
meu salvador.
A máscara fechou-se em meu rosto, a fumaça da
nebulização rapidamente adentrou minha boca e nariz. Os braços
fortes dele apertaram a minha cintura.
— Anjo, abre os olhos, olha para mim.
— Meu bebê.
Abri os olhos, ele estava próximo, porém afastou-se um
pouco, percebi seu descontentamento, ele apertou mais forte a
minha cintura, parecia uma reação de desagrado, mas logo assumiu
uma postura branda e aproximou-se do meu rosto falando
calmamente, sem esbravejar:
— Eu a trarei de volta para você, meu amor.
— Viktor, levaram a nossa filha.
— Eu sei, e você a terá de volta, mas fique calma, agora
precisa se recuperar.
— Vai buscá-la, eles vão matá-la.
— Já está tudo sob controle.
— Eu ficarei bem, só preciso do meu bebê aqui. Resgate a
nossa filha, não se importe comigo, somente com ela.
Já me mostrava histérica.
— Calma! Deixa eu tirar a máscara e me certificar de que
está tudo bem.
Ele o fez, eu ainda sentia uma dificuldade de respirar
normalmente, por conta de todo o estresse e da preocupação com a
Cathryn, contudo, precisava mostrar para o Viktor que eu estava
perfeitamente bem. Respirei fundo e com a ajuda dele me sentei no
banco. Fechei os olhos, as lágrimas escorreram. Ele passou a mão
no meu rosto, seu toque era gentil.
— Se sente melhor?
Olhei para os seus olhos azuis, ele estava diferente, não via
raiva, frieza e tampouco desprezo em seu olhar, mas preocupação.
Não queria sentir afeto por ele naquele momento, mas meu coração
encheu-se de sentimentos bons, de carinho por ele. Eu estava
louca, não sei! Tudo era tão confuso. Levantei a mão e coloquei em
seu rosto, acariciei-o, passei os dedos entre seus cabelos.
— Está tudo bem, ficarei bem.
— A tirarei daqui, melhor você esperar em um lugar seguro.
— Não! Me deixa ficar aqui, morrerei se me mandar embora.
Ele aproximou-se de mim e beijou minha bochecha. Afastou-
se e falou com determinação:
— Trarei nossa filha de volta.
Com isso, ele saiu rapidamente do carro, somente ouvi sua
voz ordenando coisas para as pessoas. Voltei a máscara para o
meu rosto. Meu coração sangrava com a possibilidade de não ver a
Cathryn nunca mais com vida. O choro veio violento, já não tinha
mais como segurar.
Algum tempo depois, já me sentia forte o suficiente para sair
do carro. Olhei para a movimentação, havia alguns homens do
Viktor a postos. Ouvi tiros, abaixei-me, o barulho vinha de dentro da
fábrica abandonada. Meu Deus, eles vão matar a minha filha, a
minha filha!
— Cathryn! — gritei.
Rapidamente um dos seguranças aproximou-se, reconheci,
era o Fred, pediu para eu ter calma que tudo estava sob controle.
— Catharine, volte para o carro.
— Minha filha — falei entre choro de desespero.
— Precisa manter a calma, Catharine, o Viktor sabe o que
faz.
— Não! Eles irão matá-la.
— Confie no seu marido, ele trará o bebê a salvo. Acredita
nisso?
Eu queria acreditar, mas era difícil, ela era tão pequena,
ainda ouvia seu choro desesperado. Mais disparos, coloquei as
mãos no ouvido.
Curvei-me, meu estômago revoltou, sentia vontade de
vomitar tamanho era meu nervoso. Definitivamente não podia ficar
parada esperando, precisava resgatar a minha filha. Meus pés
correram em direção ao portão, mas fui impedida pelos seguranças.
— Me solta!
Já não tinha forças para lutar, Fred me levou de volta para o
carro. Eu estava em um estado tão alterado que parecia um zumbi.
Meus olhos vagavam pelo chão, lembrei da Sra. Pérez, o que tinha
acontecido com ela. Deus! Coloquei duas mãos sobre os ouvidos e
balancei o corpo para a frente e para trás para tentar me acalmar.
— A Sra. Pérez.
— Ela foi para o hospital — Fred informou.
Os minutos passaram lentamente, os seguranças e o Fred
estavam a postos para qualquer eventualidade. Percebi que em
alguns momentos o Fred recebia algum comunicado em seu ponto
de ouvido. Ele também não saía do celular dando instruções. Eu
realmente não sabia o que acontecia, mas percebi que eles tinham
uma estratégia.
Em certo momento, os seguranças se moveram rapidamente
e entraram nos carros. Olhei para a direção da fábrica abandonada
e uma esperança renasceu. Não consegui ver muito bem, mas era o
Viktor com a nossa bebê no colo. Meu coração palpitou forte,
porém, antes de eu conseguir assimilar tudo aquilo, o prédio da
fábrica explodiu. Em poucos segundos tudo estava em chamas.
— Nãoooooo! — gritei.
Horas antes...

A adrenalina passando pelas minhas veias me fez sentir


como se eu pudesse fazer tudo que quisesse. E de fato eu podia.
Não nasci para ter medo, eu não podia ter, principalmente na
situação que me encontrava agora. Eu precisava manter a frieza
para que pudesse agir. Esse tipo de situação era algo esperado;
sequestro, traição, assassinato, violência, isso fazia parte da minha
vida há muito tempo. Por esse motivo, eu já tinha tudo preparado
para lidar com essa porra toda.
Meus inimigos pensavam que conseguiriam me pegar
sequestrando a minha esposa e filha, mas estavam enganados, eles
podiam estar em alguma vantagem, mas já coloquei meu plano em
prática. Antes mesmo de eles executarem seus planos, eu já sabia
que a Catharine estava sendo sequestrada. Percebi na hora quando
o carro que a estavam levando para casa desviou o caminho, eu o
estava monitorando, na verdade, eu monitorava a Catharine.
Quando Catharine ficou doente, após a sala de vidro, eu
implantei um chip rastreador na pele dela, em seu braço;
absolutamente ninguém sabia disso, nem ao menos ela sabia que a
monitorava o tempo todo. Apenas eu tinha o controle desse
dispositivo. Por isso, antecipei o sequestro e coloquei meu plano de
resgate em prática.
Antes, enviei uma mensagem de texto para o seu celular
para tranquilizá-la. Precisava que ela ficasse calma e confiante de
que nada de mau aconteceria a elas.
Um homem como eu não podia ser pego de surpresa, já
tinha que estar preparado. Por isso, desenvolvi um sistema de
resgate imbatível.
Nesse mundo do crime não havia negociação. Se eu não
fosse resgatá-las, eles a matariam, mesmo que eu fizesse o acordo
que os sequestradores exigiriam. Eu sabia como esse negócio
funcionava, por isso já tinha toda a estratégia preparada.
Olhava atentamente para a tela do computador esperando o
momento de agir, Fred estava comigo.
— Eles saíram da zona de conflito, chefe.
— Ótimo!
Esse tipo de sequestro era previsível, eles iriam negociar,
porém eles não sabiam que não negociariam comigo, na verdade
seria eu, mas não eu de verdade. Apenas o meu holograma em 3D.
O contato seria por vídeo, por isso eles não saberiam que não
negociavam comigo em carne e osso. Essa era uma tecnologia
avançada que usava para manipular as pessoas, era tão avançada
que nem mesmo o governo tinha algo parecido. Uma imagem minha
tridimensional estaria negociando com os sequestradores, enquanto
isso iria para o local onde as levaram. Meus cientistas negociariam
com eles, manipulando a imagem de holograma e eu os pegaria de
surpresa. Enquanto eles pensavam que estavam falando comigo, eu
de verdade entraria no local e resgataria Catharine e minha filha.
Fred já havia feito o levantamento dos sequestradores, os
dois seguranças que estavam com elas eram, na verdade, dois
soldados enviados por um mandante. Ele já era um velho
conhecido, também chefe de um Cartel. Foi ousado em se meter
comigo, mas o fez não para tomar poder, mas vingança, afinal de
contas, eliminei sua família, ele queria fazer o mesmo com a minha.
Obviamente que ele negociaria primeiro antes de matá-las, porém
os mataria antes mesmo deles saberem quem os atingiu.
— Vamos, Fred, preciso de você lá.
Voltei-me para os meus homens. A forma como eu reagia a
tudo aquilo fazia a diferença, não havia tempo para lamentações,
uma falha e o inimigo agia.
— Me mantenham informados de tudo.
— Sim, senhor!
Eu e Fred saímos do Hell Bloods de helicóptero, não podia
perder tempo. Eu estava preparado para a guerra, mas não seria
algo afrontoso, não podia arriscar a vida da Catharine e da Cathryn,
por isso entraria no local sorrateiramente.
A roupa que usava era de um material especial, não me
deixava invisível, mas me fazia ficar camuflado, como um camaleão,
a roupa se ajustava ao ambiente me tornando praticante
imperceptível. No pulso, tinha uma pulseira para projetar uma
imagem de mim mesmo tridimensional, usava isso para confundir o
opositor. Obviamente que levarei armas, duas pistolas automáticas
de calibre grosso. Mataria e todos, não restaria ninguém. Também
tinha explosivos, no momento certo tudo iria para os ares.
— Eles ainda não entraram em contato, Viktor.
— O carro parou agora, nossos homens os estão
perseguindo. Em menos de cinco minutos chegaremos lá.
Olhava atentamente para a tela, o sinal vermelho era a
Catharine, ela estava se movendo e saiu do carro. Algo estava
errado, era para eles entrarem com ela no prédio. Percebi que ela
ficou parada fora do carro.
— Nossos homens estão atirando. Atingiu um deles.
— Manda cessar fogo.
Fred deu a ordem, mas eu já sabia que alguma coisa havia
acontecido com a Catharine.
— Droga! — esbravejei.
— O que foi?
— Alguma coisa aconteceu e a Catharine não entrou com
eles.
— Você acha que eles a mataram?
Uma dor aguda atingiu meu peito, apertei os olhos, isso era
uma possibilidade real, por algum motivo eles a mataram sem
negociar antes. Não podia acreditar nisso. O helicóptero pousou, eu
desci rapidamente, corri para o local e a vi caída no chão, meus
olhos ficaram turvos, o tempo parecia ter parado. Estremeci, seu
corpo estava parado, ela parecia não respirar. Saí do meu estado
catatônico e continuei correndo e a alcancei, segurei seu corpo
fraco.
— Tragam o carro — ordenei.
Peguei seu remédio no meu bolso, jamais ia a qualquer lugar
se não tivesse seu remédio junto comigo, borrifei em sua garganta,
ela estava com os lábios roxos, o peito não se movia. Ela estava
morrendo. Peguei-a no colo e corri, ela tossiu algumas vezes e isso
reacendeu a esperança de que a conseguiria salvar, cheguei até o
carro e a deitei no banco. Borrifei mais remédio em sua garganta.
Eu estava nervoso, e algo que nunca pensei que aconteceria
comigo, aconteceu. Senti lágrimas minarem meus olhos. Falei com
a voz embargada:
— Catharine, meu amor, fala comigo, não faz isso, volta para
mim, volta para mim, não suportarei te perder.
Abracei-a junto ao meu peito, eu sabia que não podia
demonstrar emoções, mas a possibilidade de perdê-la me deixava
impotente, lutei contra isso, tentei me mostrar frio, mas não podia
mais. Eu a amava, a amava mais do que a minha vida e não podia
perdê-la para sempre. Antes era uma obsessão doentia o que eu
sentia por ela, hoje era amor, não um amor normal, não era capaz
de sentir esse amor, mas o amor que podia lhe dar.
Sussurrei palavras de carinho em seu ouvido, palavras de
coragem. Eu chorei, deixei uma lágrima escorrer no meu rosto.
Deitei-a no banco novamente, precisava verificar se sua respiração
se regularizou, encostei o ouvido em seu peito e solucei alto.
— Benzinho, fala comigo.
Percebi que ela mexeu os olhos, ela estava reagindo.
Naquele momento, o Fred aproximou-se com o inalador.
— Fred, eles já entraram em contato.
— Sim, nesse momento estão negociando com você.
— Mande os homens se posicionarem, assim que Catharine
estiver melhor, entrarei.
Voltei-me para ela e coloquei a máscara em seu rosto.
Percebi que estava melhorando, seus olhos mantinham-se
fechados, mas ela estava reagindo. Respirei aliviado e a abracei.
— Anjo, abre os olhos, olha para mim.
— Meu bebê.
Ela abriu os olhos e me focou diretamente, me retraí e
afastei-me dela. Não queria sentir aquilo, mas o fato dela chamar
pela nossa filha no primeiro momento em que abriu os olhos, me
incomodou. Era difícil para admitir, mas esse amor dela pela menina
era algo com a qual não podia lutar, era forte, inquebrável e eterno.
Por isso a ideia de uma criança entre a gente não me agradava,
porque eu sabia que seria assim. Olhei-a, ela era linda e uma mãe
maravilhosa e era por esse motivo que a amava tanto. Não podia
lutar contra um amor de mãe. Voltei a abraçá-la e prometi:
— Eu a trarei de volta para você, meu amor.
Depois de me certificar de que ela estava realmente bem,
era a hora de buscar nossa filha. Ela como sempre se mostrou
corajosa, amorosa e compreensiva.
— Entrarei sozinho, Fred. Cuida da Catharine, ela quer ficar,
mas não a deixe sair do carro.
— Pode deixar, chefe.
Ativei o mapa virtual da fábrica e Fred me apontou de onde
eles estavam negociando.
— Eles fizeram alguma exigência?
— Pediram dinheiro, disseram que já haviam matado a
Catharine como aviso de que não estavam brincando, mas sabemos
que é só blefe. A menina está viva, porém você tem que agir logo.
Eles sabem que tem homens nossos cercando o local, mas não
fazem ideia de que você está aqui.
— Ótimo, os pegarei de surpresa. Eles não sabem com
quem se meteram ao sequestrar a minha família.
Com determinação, então no local, tinha que ser cauteloso,
já sabia que havia dois deles fazendo a vigia na entrada. Usava um
colete à prova de balas e antifogo, não podia arriscar. Mesmo com
toda tecnologia, essa missão era perigosa, esses homens entraram
nessa para vencer e estavam preparados, mas eu estava mais.
Precisava tirar o bebê intacto das mãos deles, por isso eles não
podiam desconfiar que eu estava no prédio.
Entrei em um corredor estreito, andei cuidadosamente
tentando não fazer barulho. Vaguei os olhos por todo o local, avistei
os dois homens, que faziam a patrulha, movendo-se por todos os
lados.
Era uma estratégia, mas eles não sabiam que não lidariam
com alguém de carne e osso. Era hora de confundir os babacas.
Acionei o dispositivo do pulso e uma imagem minha apareceu no
outro canto. Precisava de controle e precisão. Movi o braço e a
minha imagem apareceu para os homens, eles se assustaram e
atiraram. Minha imagem tridimensional correu e os homens
correram atrás. Nesse momento saí do meu esconderijo e fiquei
atrás deles. Dupliquei a minha imagem, eles atiraram e se
assustaram.
— Que porra é essa? — Ambos ficaram confusos com duas
imagens da mesma pessoa.
— Morram, seus babacas!
Atirei com precisão na nuca de um deles e, quando o outro
não soube o que aconteceu, recebeu um tiro na testa. Pronto, dois
eliminados. Agora corri para o segundo pavimento. Eu sabia que
havia mais deles, provavelmente com o barulho dos tiros eles já
estavam em alerta. Novamente encontrei mais deles. Me escondi e
acionei a pulseira. Fiz três de mim. Os homens atiraram, mas
ficaram confusos, pois quanto mais eles atiravam, mais de mim
aparecia. Mirei em um deles e atirei, o homem caiu morto, os outros
se abaixaram, havia pelo menos cinco deles. Precisava eliminar
todos e chegar no terceiro pavimento. A essa altura, eles já sabiam
que estavam sendo atacados e, provavelmente, estavam
ameaçando a vida da Cathryn, isso se confirmou quando Fred falou
no ponto comigo:
— Você tem cinco minutos, chefe, eles não vão esperar.
— Segura um pouco mais, já estou chegando.
Saí do esconderijo e atirei em todos. Corri para o terceiro
pavimento. Homens correram, eu acionei a pulseira, eles atiraram
confusos. Fiz eles atirarem uns nos outros, fazendo várias imagens
minhas correndo para todos os lados. Então, corri no corredor
atirando em todos. Consegui chegar ao local onde estavam
mantendo a Cathryn. Não havia mais ninguém fora com vida. Vi o
homem com ela no colo, ameaçando matá-la, ele falava comigo, na
tela, ele pensava que eu estava negociando, mas não era eu
realmente.
— Tira seus homens daqui senão acabo com a vida dela,
Russell.
— Já mandei recuarem. Fica calmo, vamos negociar.
— Eu vou matá-la, não estou brincando, Russell.
Ele está muito alterado, preciso agir logo. Então acionei a
pulseira e vários de mim apareceram apontando a arma para ele.
— Que diabos! — O homem ficou desorientado, então
ordenei:
— Coloque a criança no chão.
— Vai se foder, Russell, eu vou matá-la.
O homem recuou sem saber o que fazer, ele não sabia quem
era o verdadeiro, então atirou a esmo. Aproveitei esse momento e o
rendi por trás. Coloquei a arma em sua cabeça e ordenei:
— Coloque a criança no chão, calmamente.
— Não atira, vou colocá-la no chão.
Ele se abaixou para colocá-la no chão, mas antes de fazer,
ele mirou a arma para ela e estava pronto para atirar. Não esperei
mais, atirei em sua nuca, ele caiu sem vida e o bebê caiu do lado.
Ela não se moveu. Abaixei até ela e a peguei. Verifiquei se estava
respirando. Sim, parecia que estava sob efeito de algum sonífero.
— Vamos, pequena, te levarei para a sua mãe.
A aninhei em meu peito e saí do lugar. À medida que
caminhava, coloquei explosivos na parede, não sobraria nada
desses vermes. Observei que outros estavam dentro do local. Saí e
caminhei uma boa distância. Peguei o dispositivo, ajustei bem a
Cathryn junto a mim e apertei. Tudo explodiu, as chamas altas logo
tomaram conta de todo o local. Continuei caminhando, nunca
deveriam ter mexido com Viktor Russell.
Avistei Catharine ao longe, ela estava em prantos,
provavelmente pensava que morremos na explosão. Quando viu a
minha imagem em contraste com as chamas ao fundo, percebi em
seus olhos que ela não acreditava no que via. Sem mais, ela
desviou do Fred e correu em nossa direção.
— Viktor! — gritou de felicidade.
Ela nos abraçou em prantos.
— Trouxe a nossa filha de volta para você.
Naquele momento, o bebê começou a chorar, ela desfez o
abraço e eu a entreguei para ela. Observei a cena, as duas
mulheres da minha vida. Não sei se merecia isso. Catharine olhou
para mim com ternura, ela era tão linda e doce, que chegava a doer.
— Obrigada.
Nos abraçamos e nos beijamos. Aquela era a cena perfeita,
os três juntos para sempre. Minha família.
Acordei de súbito, meus olhos se ajustaram a luz da manhã
com grande esforço enquanto eu piscava sonolenta. Alguém havia
aberto as cortinas permitindo que os raios de sol invadissem o
quarto. Estiquei-me e olhei para o lado. A cama estava vazia.
Levantei-me rápido e sentei. Olhei em volta, ainda não trouxeram a
Cathryn, ela já deve ter acordado, provavelmente estava em seu
quarto assistida pela enfermeira que Viktor contratou para cuidar
dela enquanto a Sra. Pérez se recuperava.
Senti-me culpada por dormir tanto, mas quase não dormi à
noite, Viktor como sempre era insaciável. Pulei da cama e vesti um
robe de seda que estava sobre a poltrona, me encontrava
completamente nua. Corri no banheiro fiz uma higiene rápida,
embrulhei os cabelos e os prendi com um coque desorganizado.
Precisava ver a minha filha, tudo aconteceu havia dois dias e ainda
não conseguia aceitar que ela esteve à mercê de sequestradores.
Já estava pronta para deixar o banheiro, mas antes decidi
tomar o anticoncepcional, todas as manhãs era a primeira coisa que
fazia para não esquecer, até me arrepiava só de pensar em
engravidar novamente. Abri a gaveta e peguei a cartela, ao levantar
o rosto assustei-me, Viktor estava atrás de mim. Fiquei petrificada o
encarando, ele aproximou-se e segurou em meus braços, beijou
meus cabelos. Decidi continuar o que estava fazendo, peguei um
comprimido e coloquei na boca engolindo, ele agora beijava a curva
do meu pescoço. Seus braços fortes fecharam-se em minha cintura
e senti sua ereção. Fechei os olhos. Deus! Esse homem não pensa
em outra coisa, não quero transar agora, quero ver minha filha.
Decidi quebrar o clima:
— Pensei que você havia saído.
— Pensou errado — falou rouco me virando e me fazendo
sentar no mármore da pia.
— De novo? — protestei.
— Sim, de novo, de novo e de novo — falou com a voz
carregada de tesão.
— Eu preciso ver a Cathryn, podemos fazer isso mais tarde.
— Ela está ótima.
— Você a viu?
— Fui até o quarto dela.
— Você foi? — perguntei surpresa.
— Para de falar, Catharine, já está me irritando.
— Me deixa ir cuidar...
Ele me interrompeu tapando a minha boca com toda sua
mão. Em seguida desceu-a para o meu pescoço e ombros,
empurrando o robe para o lado. Ele beijou a pele nua do ombro me
fazendo arrepiar, enquanto me deixava nua. Eu inclinei a cabeça
para trás dando liberdade para ele explorar meu pescoço. Porém,
ele afastou-se de mim, olhei-o, ele usava uma camiseta preta e uma
calça também da mesma cor. Meus olhos o percorreram, enquanto
tirava a camisa. Suspirei, ele era perfeito. Passei a língua nos
lábios, meu coração saltitava como louco.
Segui seus movimentos, ele agora desabotoava o botão da
calça. Eu podia ver a presença da sua masculinidade de pé, grande
e orgulhoso dentro de suas calças. Observei-o puxar o zíper para
baixo e deixar a peça deslizar perna abaixo. O pau estava latejando
com veias longas pronunciadas. A cabeça pulsava com a força vital
correndo pelas veias. Desviei os olhos do seu membro e o encarei,
ele me olhava como um predador, pronto para devorar sua presa.
Meus fluidos vaginais já escorriam da minha abertura, meu
corpo não conseguia ser indiferente a ele, não mais.
Viktor aproximou-se e passou dois dedos entre a fenda, eu
gemi, meu corpo aqueceu-se, minha boceta piscou com um sinal
claro que queria ser possuída. Eu estava confusa, desejosa, louca,
viciada nele. Gritei quando ele massageou meu clitóris, as
sensações agradáveis corriam em meu corpo rápido. Ele me fez
inclinar o corpo para trás e puxou meu cabelo, segurei-me firme na
borda da pia e comecei a sentir seus impulsos, ele ainda não havia
me penetrado inteiramente, lançou algumas vezes, brincando com
minha boceta; quanto mais ele fazia, mais molhada ficava.
Quando ele decidiu introduzir seu comprimento, a vara
entrou rapidamente, ele gemeu e xingou:
— Ah, porra! Baby, anjo da minha vida.
Ele iniciou os golpes precisos, seu quadril movia-se rápido,
aquilo entrava e saía me fazendo sentir ardência, mas ao mesmo
tempo prazer. Respirava rápido e gemia, gemia, gemia, enquanto
ele se lançava sem parar. De repente, ouvi um choro de criança, era
a Cathryn, abri os olhos e tentei tirá-lo de mim.
— A Cathryn.
Porém, ele não me deixou sair. Com raiva, me empurrou
mais e agarrou meu pescoço com uma das mãos, ele começou a
apertar enquanto me fodia com fúria. À medida que ele bombeava,
mais seu aperto aumentava. Levei uma das mãos tentando tirá-la,
mas aquele braço era de aço.
— Viktor! — clamei já quase não conseguindo falar.
Subitamente, ele me soltou e saiu de dentro de mim, me fez
descer da pia e me virou de costas com violência. Ele me inclinou
sobre a pia e novamente me introduziu. Seus golpes eram
vigorosos, suas mãos apertavam meus seios. Olhei para o espelho,
seu rosto uma máscara de fúria e desejo se misturavam. Viktor
agarrou meus cabelos e puxou-os. Com a outra mão, levou até meu
clitóris e começou a massagear. Apertei os olhos. Não consegui
conter gemidos de angústia e prazer. À medida que me fodia, ele
fazia círculos com os dedos em meu ponto de prazer.
— Ahhh!
Gemi, não conseguia mais me conter, o pênis entrava e saía
fazendo um barulho molhado, me comendo, destruindo minha
entrada, sua pélvis batia nas minhas nádegas. A profundidade, o
ritmo, tudo era tão intenso que me deixava em um estado de
completa luxúria. Meu corpo estava pronto para o orgasmo, era só
uma questão de tempo, o que veio logo, em ondas avassaladoras
de prazer. Eu não podia acreditar como era bom, meu clitóris
sensível liberava ondas de prazer e êxtase. Não parava de gemer e
falar o nome dele.
Ele continuou bombeando mais fundo até que se esvaziou
dentro de mim. Seu orgasmo atingiu fundo, ele também gemia alto,
ainda bombeando até parar de liberar seu líquido quente. Sentia seu
pau pulsar dentro de mim. Após acabar, ele me liberou. Saí da
posição, e fiquei parada esperando o que ele faria em seguida. Vi
ele ligar o chuveiro. Em seguida entramos juntos e tomamos um
banho, não apenas banho. Viktor era insaciável. Quando ele
terminou, decidi pedir para ele me deixar ir.
— Eu posso sair?
Ele não disse nada, ficou embaixo do jato quente deixando a
água escorrer pelo seu corpo. Decidi sair, virei-me e abri o boxe,
porém antes de dar mais algum passo, ele me segurou no braço e
me puxou para junto dele, bati em seu corpo forte. Ele segurou em
minha nuca e me beijou profundamente.
Deus! Esse homem tem alguma coisa, não é possível que
ele já quer novamente.
O beijo se intensificou, nossos corpos molhados moldavam
um no outro: o meu, pequeno e frágil; o dele, rochas de músculos
definidos, era um contraste, porém parecia que nos completávamos.
Seus braços fortes me circulavam por completo e me apertavam
quase me tirando o suplemento de ar.
Então, ele parou de me beijar e me olhou diretamente.
Segurou meu rosto com as duas mãos.
— Quando estiver comigo, Catharine, quero-a apenas
concentrada em mim — falou em tom de ameaça. — Entendeu?
— Sim.
Deu-me outro beijo erótico e molhado, até que satisfeito, ele
me deixou ir.
— Vai cuidar da nossa filha.
Deixei o boxe imediatamente, peguei um roupão e vesti-o.
Viktor continuou no banho. Entrei no closet e me vesti rapidamente.
Usei uma roupa simples de moletom. Os cabelos deixei soltos para
secarem naturalmente.
Saí do quarto e não vi se Viktor terminou, corri até o quarto
da Cathryn. A enfermeira estava sentada em uma poltrona e o bebê
brincava no cercadinho. Ao me ver, a bebê começou a chorar.
— Vem aqui, meu amor.
Peguei-a e a abracei apertado. Voltei-me para a enfermeira.
— Senhora Cuts, se quiser fazer alguma coisa, fique à
vontade. A partir de agora, eu fico com ela.
— Claro, senhora, estarei na ala dos empregados. Qualquer
coisa que precisar é só me chamar.
— Obrigada.
A mulher saiu do quarto e olhei para a minha filha. Sorri, ela
era tão linda, não conseguia parar de admirá-la. Sentei-me no chão
com ela e a coloquei no tapetinho de atividades emborrachado. Ela
já estava com seis meses e treinava para engatinhar. Cathryn era
muito esperta para alguém que nasceu prematura, uma menina
incrível.
— A mamãe te ajuda, princesa.
— Duas crianças.
Olhei para a direção da voz e o Viktor estava no batente da
porta. Usava um termo cinza escuro e um sobretudo negro. Os
cabelos escovados para trás e sapatos brilhantes de couro italiano.
O olhar, como sempre, diabolicamente sedutor. Lembrei-me de que
pouco tempo atrás estava gemendo em seus braços. Corei e desviei
os olhos, ele deixava qualquer um desconcertado com tamanha
beleza e masculinidade. Ouvi seus passos. Ele parou próximo a
nós. Peguei a Cathryn e levantei-me, ele me ajudou. De pé, voltei a
fitá-lo. A Cathryn começou a resmungar e estendeu os bracinhos
para ele. Fiquei surpresa, meu coração acelerou, ele a olhava
friamente. Será que ele vai pegá-la?
— O que você quer, pequena?
— Eu acho que ela quer que você a pegue. — respondi com
esperança.
Então, ele estendeu os braços e a suspendeu, ela parou de
choramingar e lhe presenteou com seu sorriso sem dentes. Meu
coração derreteu. Ele a segurava suspensa e a olhava atentamente,
acho que era primeira vez que ele realmente a contemplava. Nesse
momento, ela fez algo que me fez quase cair para trás. Ouvi o
barulho dela enchendo a fralda. Viktor franziu a testa.
— Ops! Acho que ela não te presenteou somente com um
sorriso.
— Oh, merda! Toma ela.
Peguei-a e não parava de rir, só minha filha para fazer suas
necessidades fisiológicas justo na hora que o pai a pegava
espontaneamente.
— Por isso não gosto desses seres minúsculos — ele falou.
— Isso não é nada de mais, Viktor, ela é só um bebê.
— Eu sei, por isso quero distância.
— Você já foi assim um dia.
— Tenho certeza de que não por muito tempo.
Não sorri mais, ele era difícil, a menina nem ao menos o
sujou. Dei de ombros e a levei para trocar. Ele se manteve no lugar
com as mãos no bolso. Após trocá-la, eu a peguei, ele comunicou:
— Vamos tomar o café tardio hoje, terei que viajar, só voltarei
em uma semana.
Encarei-o surpresa. Achei estranho ele não nos levar,
sempre que ele fazia uma viagem longa me levava. Ele percebeu
minha dúvida e esclareceu.
— Não a levarei comigo. O que aconteceu não pode ficar
assim. Estou indo para o México acabar com o homem que mandou
te sequestrar, não só ele, mas toda a sua família e aliados.
Destruirei a todos.
— Mas, Viktor, você fará o mesmo que ele fez.
— Não, não farei, não sou estúpido como ele.
— Mas isso é perigoso.
— Perigoso é deixá-lo vivo. Isso servirá também de aviso
para pensarem bem antes de se envolverem com Viktor Russell.
Não disse mais nada, o Viktor era um homem determinado e
não se afugentava diante do inimigo. Sei que sou uma boba, mas
rogo que Deus lhe proteja.

***

Alguns dias depois...

Estava no quarto do hospital com a Sra. Pérez, ela já havia


saído da unidade de terapia intensiva e se encontrava no quarto.
Sentei-me perto de seu leito com a Cathryn nos braços.
— Como se sente, Sra. Pérez?
— Muito bem, para alguém que levou dois tiros.
— Me sinto tão culpada.
— Já disse para não se sentir, estou tendo um ótimo
tratamento aqui.
— A senhora não sente mágoa do Viktor, pelo que fez com
Ramon?
Ela ficou em silêncio, abaixou a cabeça, percebi que
derramou algumas lágrimas, meu coração se apertou. Já estava
pronta para me desculpar novamente, quando ela levantou a cabeça
e me encarou, enxugou as lágrimas e sorriu.
— Não direi que sinto algo positivo por ele, não, eu o vejo
como um assassino, um monstro, sem coração. Mas entenda, Mia,
eu não tenho saída. Se quero continuar viva, apenas obedeço e
agradeço por essa oportunidade. Além do mais, tenho você e a
pequena Cathryn, vocês preenchem meu coração quebrado.
— Obrigada, Sra. Pérez, eu sabia que podia contar com
você.
— Sempre, Mia, eu quero cuidar de você e da sua filha,
assim como fiz nos últimos seis meses.
Peguei em sua mão e apertei em agradecimento. Ela
realmente era uma mulher de coração nobre.
Os dias passaram rápido, Viktor demorou mais de uma
semana para voltar, porém me mandava mensagens e nos
falávamos no Facetime todos os dias. Supreendentemente ele sabia
todos os lugares da casa que fui. Se fui ao quintal ou a cozinha, ele
sabia. Às vezes, eu pensava que ele me monitorava de alguma
maneira.
Quase duas semanas depois, ele retornou triunfante em sua
vingança. Nossa rotina voltou ao normal.
Sentia uma brisa leve em meu rosto, abri os olhos
lentamente, não conseguia me situar onde estava imediatamente.
Não estava em casa.
Olhei em volta, o lugar parecia sombrio. Preparei-me para
levantar-me, mas algo me impediu. Olhei para os meus braços e
esses estavam presos em correntes pelos pulsos. Entrei em pânico
e tentei me soltar, mas meus esforços eram inúteis. Minha
respiração acelerou, um medo apoderou-se de mim. Quem será que
me prendeu aqui? Forcei minha mente a lembrar a última coisa que
fiz. Lembrei-me de que deitei na minha cama com a Cathryn hoje à
tarde, pensei que dormiria e, depois disso, não recordei-me de mais
de nada.
Puxei os braços mais uma vez e nada de conseguir me
soltar, o gesto só me machucava. Olhei para o meu corpo, usava um
vestido leve, parecia de tafetá, não lembro de tê-lo usado. Meus pés
estavam descalços. Penso que fui sequestrada, só pode ser isso.
Contemplei o lugar, eu conseguia ver o céu e as estrelas no
firmamento, a lua estava cheia e brilhava intensamente, porém não
parecia que estava ao ar livre, não sentia vento e nem barulho,
apenas algumas vezes uma pequena brisa morna vindo de algum
lugar. Mexi os pés, os lençóis que encobriam a cama eram de cetim
macio branco. Fiquei intrigada.
Pensei no Viktor, essa manhã ele me acordou cedo e me
presenteou com um lindo colar de safiras em comemoração ao Dia
dos Namorados. Logo depois tomamos um café da manhã
romântico na varanda do nosso quarto e claro, ao final, transamos.
Então, ele precisou sair para cuidar dos seus negócios.
Passei o resto da manhã com a Cathryn e, após o almoço, fomos
descansar. Agora estou nesse lugar presa e assustada.
Quando pensei que nada ficaria pior, tudo escureceu.
Simplesmente não conseguia enxergar nada, o céu também havia
desaparecido. Nesse momento entrei em desespero, meu peito
chiou, respirei fundo várias vezes para tentar controlar o mal-estar.
Decidi chamar por alguém.
— Por favor, quem está fazendo isso?
Somente o som da minha voz ecoava no breu.
De repente, ouvi passos no assoalho, a pessoa andava
lentamente e a cada passo meu coração acelerava loucamente.
— Por favor! — supliquei.
Senti seu peso no colchão e mãos ásperas deslizarem em
minhas pernas. Apertei as coxas e não consegui conter as lágrimas.
— Deus! Não. — Choraminguei.
Agora as mãos estavam na parte interna das minhas coxas e
forçou a abertura. Tentei lutar, me debati e cruzei as pernas, mas a
pessoa era forte e as separou com violência.
— Não, não, meu marido irá matá-lo! — gritei.
A pessoa, que já deduzi ser um homem pelo tamanho da
mão, não parou, muito pelo contrário, puxou minha calcinha com
força e a rasgou arrancando. A essa altura, eu já não conseguia
respirar bem. Serei violentada por um estranho sem nenhuma
chance de se defender. Meu Deus! Eu quero o Viktor.
— Viktor... — chamei-o desesperada.
O homem então, saiu da cama e andou pelo quarto. Senti
que ele parou do meu lado. Ele colocou algo nos meus olhos. Era
uma máscara? Uma venda? Precisava do meu remédio, o pânico
estava me deixando sem ar.
Tudo ficou em silêncio, só ouvia o som da minha respiração
apressada e meu choro angustiado. Percebi através da máscara
que a luz havia voltado, no entanto, ainda não conseguia enxergar
com clareza, a máscara não bloqueava totalmente minha visão, mas
não conseguia ver as coisas em volta claramente, percebia tudo
como vultos. O homem voltou a explorar meu corpo, arregalei os
olhos para tentar ver, mas apenas via um vulto distorcido. Então ele
deslizou as mãos na minha barriga e subiu até a alça do vestido e o
rasgou de alto a baixo.
— Não! Por favor.
Agora estava completamente nua. Suas grandes mãos
massagearam meus seios. Alguma coisa naquele gesto era familiar
para mim. Prestei atenção a maneira como ele apertava meus
mamilos. Ele agora abocanhou-os e começou a sugá-los. Não havia
mais dúvida.
— Viktor? — questionei ainda em dúvida.
O homem nada disse e continuou sua explosão. Percebi que
ele ainda estava vestido. Contudo, sua protuberância roçava minha
pele, percebi que ele era grande. Queria muito acreditar que era o
Viktor. Mas por que está fazendo isso?
— Viktor, está me assustando.
Silêncio. Senti seus lábios roçando os meus, aquele contato
me fez ter certeza de que era o Viktor, eu sabia que era ele. Suspirei
e liberei um gemido entrecortado. Ele deixou meus lábios e
levantou-se. Ainda tinha medo de não ser ele, mas precisava me
concentrar em seus gestos, em cada movimento. O percebi de pé
do lado da cama. Havia algo em sua mão, parecia uma chama, senti
cheiro de parafina sendo queimado. Meu coração batia forte como
tambor.
Senti o pingo quente em minha pele e assustei-me. O
segundo pingo caiu no bico do meu peito e doeu, gritei em protesto.
De novo um pingo no outro bico. Puxei os braços tentando me
soltar. A dor era intensa, mas passava rápido. Na sequência, senti
um líquido gelado sendo derramado nos seios e barriga, o aroma do
vinho adentrou minhas narinas. Percebi sua língua deslizando todo
meu corpo, limpando minha pele. Ele deslizou até a minha entrada.
Forçou minhas pernas abrirem, eu resisti, ainda não tinha absoluta
certeza de que era o Viktor, porém ele era forte e afastou minhas
pernas com facilidade. Senti o líquido gelado sendo derramado em
minhas dobras, a sensação era agradável, não queria sentir isso,
mas estava gostando.
Sua língua começou a me devorar como um homem
sedento; assim que ele me lambeu, tive a certeza de que era o
Viktor, porque ninguém tinha uma língua como a dele.
Arqueei meu quadril para que ele explorasse cada vez mais.
Ele segurou minhas coxas e suspendeu-as enquanto introduzia a
língua na minha entrada. A sensação era maravilhosa. Agora os
dedos escorregaram para dentro da minha boceta, o ar correu em
meus pulmões em um grito sem som, seus dedos se moveram
suavemente a princípio, mas logo intensificaram. Enquanto ele
introduzia os dedos no meu mistério carnal, com a outra mão
massageava meu clitóris. Aquilo me deixou ardente, meu corpo
recebeu correntes de fogo líquido em minhas veias.
Seu corpo debruçou sobre mim e sua boca encostou em
meus seios o sugando enquanto seus dedos trabalhavam em minha
vagina. Eu não conseguia mais me controlar, os dedos se moveram
para dentro e para fora do meu buraco. A boca agora encontrou
meu pescoço, minhas bochechas, meus lábios, minha orelha e
voltou para os meus mamilos.
Ele ainda se mantinha vestido, podia sentir suas roupas,
então deduzi que ele apenas queria me proporcionar prazer e
estava fazendo isso com maestria, eu estava completamente
entregue as suas investidas, já não tinha mais controle.
— Viktor, Viktor, Viktor! — gritei descontroladamente.
Sua língua novamente passou pela minha entrada, agora ele
circulou freneticamente até eu gritar de prazer e contorcer-me em
total entrega. Ele ainda lambeu minha lisura me fazendo ter
espasmos. O orgasmo foi tão intenso que pensei que desfaleceria,
meu corpo flutuava nas ondas do mais puro êxtase.
Quando tudo terminou, ele levantou-se e ouvi seus passos
pelo cômodo. Novamente tudo ficou escuro. Eu o chamei assustada
quando percebi-o afastar-se.
— Viktor, não me deixa aqui, por que está fazendo isso?
Nenhuma resposta. Já não ouvia seus passos. Senti as
algemas abrirem-se. Imediatamente espalmei as mãos no colchão e
me suspendi sentando na cama. Tentei enxergar alguma coisa, mas
o blecaute impedia. Naquele momento, as luzes se acenderam de
novo, levei as mãos desesperadas na máscara e a arranquei, olhei
em volta à procura dele. Nem um sinal. Levantei-me, meus pés
descalços encontraram o mármore frio. Andei em passos vacilantes.
Observei algo estendido em uma poltrona reclinável, era um vestido,
havia também um par de sapatos. Peguei o bilhete que havia junto a
roupa e li apenas uma palavra impressa:

“Use-o.”

Peguei a peça e olhei-a. Era linda, um vestido preto de seda


liso, não havia muitos detalhes, apenas um longo decote frontal.
Vesti-o e finalizei com o sapato. Andei pelo cômodo e observei velas
acesas sobre o piso fazendo um caminho com pétalas de flores
cobrindo o chão como um tapete. Segui toda a extensão até chegar
em outro cômodo.
De repente, tudo se apagou, o local ficou na penumbra, uma
música romântica tocou ao fundo, senti sua presença atrás de mim,
virei-me e me deparei com ele, alto, poderoso, lindo. Seus olhos
azuis me observavam através de uma máscara negra em seus
olhos. Ele estendeu as mãos e eu a segurei sem medo. abraçou-me
e começamos a dançar ao som da balada. Deitei minha cabeça em
seu ombro e me deixei levar por aqueles braços fortes. Dançamos
sem falar absolutamente nada até que ele começou a deslizar seus
lábios na curva do meu pescoço e a sussurrar palavras em meu
ouvido. Em meio àquela atmosfera de paixão, ouvi-o declarar-se:
— Eu te amo, Catharine.
Eu não disse nada, mas meu coração batia como louco, de
novo ele repetiu, não uma, mas várias vezes:
— Eu te amo, te amo, te amo.
Ele tomou minha boca e beijou-a. Eu não podia acreditar que
era verdade, ele estava afirmando que me amava.
Nos afastamos e ele tirou a máscara, meu coração batia tão
forte que pensei que desmaiaria. Meus olhos buscavam os dele,
precisava lhe chamar atenção pelo que fez.
— Por que fez isso? Quase me matou do coração.
— Essa noite é sua, queria te proporcionar prazer.
— Mas não deveria ter feito assim, pensei que havia sido
sequestrada.
— Mas você foi, por mim. Ficaremos aqui nos amando por
uma semana.
— Uma semana? Onde estamos?
— Na nossa casa da colina, não lembra?
Arrepiei-me, essa casa não me trazia boas recordações. No
entanto, ele pegou em minhas mãos e me conduziu a uma mesa
linda, posta para dois. Tudo era tão romântico que aquiesci
rapidamente de onde estava. Não acreditava no quanto o Viktor
podia ser romântico.
Um empregado apareceu assim que estávamos acomodados
e nos serviu a deliciosa refeição. Não falamos muito, ele apenas me
observava sempre mantendo seus olhos sedutores em mim,
mastigava como se estivesse saboreando minha carne. Ao final da
refeição, ele anunciou:
— Tenho um último presente para você.
— Outro?
— Esse lhe surpreenderá.
O empregado trouxe uma caixa de tamanho médio que
estava sobre uma mesa com rodinhas. Ele a deixou próximo a mim
e saiu. Viktor encorajou-me a abri-la. Levantei-me e me aproximei,
havia um laço, desatei e tirei a tampa. Lágrimas inundaram meus
olhos no momento que o vi. O pequeno cãozinho pulou em mim
alegre. O peguei e ele começou a lamber o meu rosto. Ele era ainda
um filhote da mesma raça do Amendoim. Não aguentei tamanha
emoção e desabei em um choro compulsivo abraçando o pequeno
filhote entre meus braços.
Viktor aproximou-se de mim e pegou o cachorro dos meus
braços, não protestei, estava extremamente abalada. Ele entregou o
filhote para o empregado. O olhei sem acreditar que ele havia feito
isso.
— Feliz Dia dos Namorados — ele falou.
— Por quê?
— Dei-lhe esse presente para demonstrar a grandiosidade
do meu amor por você, Catharine. — Ele me abraçou e continuou:
— Não posso mais esconder esse sentimento de você, meu amor.
Mas entenda, Catharine, o amor que tenho para te oferecer, não é o
amor de conto de fadas, não é o amor de filmes e nem de livros de
romance. O amor que tenho para te oferecer não é para te libertar,
mas sim te acorrentar mais ainda. Eu não sou capaz de te oferecer
outro tipo de amor. Não se iluda e pense que serei um homem
apaixonado que farei tudo o que você quer, as coisas não mudarão
entre a gente. Se você me desafiar, haverá consequências, você
entende?
— Sim, eu entendo que não tenho escolha.
— Enquanto eu viver, você jamais terá uma escolha.
Suspirei fundo, não havia mais o que falar, eu era dele: sua
mulher, amante e prisioneira.
— Faça amor comigo — pedi.
Ele me suspendeu nos braços e me levou para o leito. Nos
amamos loucamente ao longo da noite.

***

Na manhã seguinte, brincava com o cachorrinho. Decidi


chamá-lo de Brown, por causa de sua cor.
— Você parece uma criança — Viktor falou.
Sorri feliz, porém minha felicidade não estava completa,
queria que a Cathryn estivesse conosco. Disse isso a ele.
— Estou com saudades da Cathryn, eu adorei tudo, mas não
quero ficar uma semana aqui, vamos voltar para casa.
Ele suspirou forte, percebi seu descontentamento. Decidi me
desculpar.
— Me desculpa, eu... eu... não queria estragar as coisas.
Ele me olhou, não vi raiva em seu olhar, mas ternura. Pegou
uma mecha dos meus cabelos e enrolou nos dedos. Depois deslizou
a mão pelas minhas bochechas.
— Eu sei que não posso lutar contra isso, Catharine, você é
uma mãe maravilhosa e não esperava menos de você. Por isso a
escolhi para ser a minha esposa e mãe dos meus filhos.
— Só temos uma filha.
— Por enquanto.
— Você quer outro filho?
— Filhos não era algo fora dos meus planos, é claro que os
teria com você e, sim, mais de um. A Cathryn veio no momento
errado...
Abri a boca para protestar, mas ele me fez calar e falou
enérgico:
— Mas ela é nossa filha, um pedacinho de você e eu não
posso e não quero rejeitá-la. Por isso, para te provar o quanto a
quero junto de nós...
Ele fez um sinal e a babá entrou na sala com a Cathryn no
colo. Levantei-me e a peguei. Meu coração transbordava de tanta
alegria.
— Obrigada.
Ele aproximou-se e abraçou nós duas. Brown também correu
em nossos pés alegremente. Tudo era tão perfeito, que tinha até
medo de ser um sonho.
Aquele foi o melhor Dia dos Namorados da minha vida, na
verdade não lembrava de comemorar essa data, eu e o Viktor não
chegamos a celebrar nosso primeiro 14 de fevereiro juntos, pois eu
havia fugido dele.
Naquele momento, para a minha total surpresa, o Viktor
pegou a Cathryn dos meus braços e a segurou junto a ele. O bebê
gargalhou de alegria, meus olhos encheram-se de lágrimas. Aquela
era a cena mais linda que vi na minha vida.
— Você, pequena, é como sua mãe, me enfeitiçou com esse
jeitinho doce e inocente. Vocês são duas feiticeiras.
Ri, ele me beijou com ternura, eu estava. completamente
encantada.
Sabia que nossa vida não era perfeita e nunca seria, mas
naquele momento me sentia a mulher mais feliz do mundo.
Um ano depois...

Agora tudo era perfeito. Ri. Não tão perfeito, se eu não


fizesse tudo exatamente como ele queria, como ele determinava,
essa harmonia acabava.
No entanto, me dispus a tentar. Sabia que continuava
vivendo como em um campo minado com relação ao Viktor, mas,
dessa vez, sabia como lidar com ele. Para o Viktor não bastava ser
somente submissa, ele queria ter o controle total, do meu corpo e
pensamentos e assim ele o tinha.
Esse último ano aprendi a conviver com suas torrentes de
raiva, seus ciúmes, sua obsessão e seu amor doentio. Era assim
que via e sentia esse amor. Ele ainda exigia exclusividade, inclusive
com relação a nossa filha. Eu sabia o momento que ela não devia
estar entre nós. O cachorro também tinha seu espaço, Viktor não
era chegado a ele, então eu e Cathryn só brincávamos com Brown
quando meu marido não se encontrava em casa, do contrário, ele
ficava no canil na área dos empregados. Pensava que ele apenas
me deu o cachorro para me pedir desculpas por ter matado o
Amendoim, porém essas palavras nunca saíram da sua boca e eu
tinha plena consciência de que nunca sairiam, então deduzi que foi
apenas essa maneira que ele encontrou para se redimir, em gesto.
Podia parecer uma boba sentimental, mas me tocou profundamente.
No entanto, estava longe dele sentir apego ou demonstrar
algum carinho com o animal, ele odiava vê-lo andando pela casa.
Não, ele não machucava o bichinho, apenas mandava tirá-lo da sua
frente caso se deparasse com ele. Contudo, eu já sabia como as
coisas deviam ser e, antes mesmo dele chegar em casa, enviava o
cachorro para o seu lugar. Graças a Deus, os empregados
cuidavam dele muito bem, inclusive a Sra. Pérez.
Essa noite iríamos em uma festa, estava apreensiva, sempre
ficava assim quando íamos a eventos, mas não podia protestar. Era
assim que ele queria e eu apenas o obedecia.
Apertei o cinto do robe que estava usando, nesse momento a
Sra. Pérez entrou no quarto.
— Como ela está? — perguntei de imediato.
— Dormindo como um anjo.
Sorri, Cathryn era muito tranquila, apesar das traquinagens
que fazia pela pouca idade. Agora com um ano e meio, ela tinha
uma rotina bem organizada, planejada por mim juntamente com a
Sra. Pérez. Decidi assim para ela se acostumar desde cedo a
obedecer. O Viktor partilhava com ela alguns momentos, nas
refeições, em momentos de lazer, mas não era um pai amoroso, ele
a tratava bem, brincava com ela e, às vezes, a pegava no colo,
contudo, agia com severidade também. Não, ele não batia nela,
nunca a tocou com violência, mas a repreendia com vigor. Já tentei
explicar para ele que, por ela ser muito pequena, cometia erros
normal de crianças, mas o Viktor não entendia. Para ele, logo ela
cresceria e precisava aprender a agir como adulta o quanto antes.
Comigo era o contrário, eu era amorosa e brincava com ela
como se fôssemos duas crianças, esses momentos eram os mais
preciosos da minha vida.
Entre mim e Viktor, as coisas não mudaram muito desde
quando ele confessou que me amava. Na verdade, essa declaração
só potencializou sua obsessão doentia por mim. Claro que, alguns
pontos melhoraram na nossa convivência. Talvez a mudança tenha
vindo mais de mim, eu que aceitei essa relação e,
consequentemente, ele agiu de maneira adequada.
A nossa vida sexual ainda continuava do mesmo jeito, Viktor
como sempre insaciável, enérgico, com um apetite sexual
excessivo, e eu era o objeto para sua satisfação. Confesso que
gostava da maioria das vezes que tínhamos sexo, algumas não,
mas não tinha escolha. Contudo, me tornei uma pequena viciada em
sexo como ele, claro que não no mesmo nível, mas me sentia bem
quando estávamos transando. Estava tão acostumada com a
maneira de como ele fazia sexo que não conseguiria ter outro tipo
de relação. Eu amava esse jeito dele me possuir. Tornei-me uma
pequena ninfomaníaca, mas somente o toque dele despertava isso
em mim.
— Mia, sua massagista já chegou. Ela está te aguardando na
sauna.
— Obrigada, Sra. Pérez.
Dirigi-me até o local. Minha rotina de tratamentos voltou,
antes de eu fugir do Viktor, sempre mantive uma alimentação
saudável, cuidados com a pele, cabelos e unhas. Depois, devido a
tudo que aconteceu, desleixei um pouco, no entanto agora
continuava exatamente como era antes, até aula de yoga eu tinha,
estava me ajudando a controlar a respiração. Viktor não se opunha,
contanto que todas as pessoas que faziam esses serviços fossem
mulheres, como sempre foi.
— Bom dia! — cumprimentei a massagista.
— Bom dia, Sra. Russell, como está hoje?
— Muito bem, com um pouco de dor nas costas. A Cathryn
está bem pesada e eu não consigo negar colo a ela, o que reflete
em meus músculos.
— Não tem problema, vou fazer uma massagem ótima para
melhorar, ficará novinha em folha.
— Confio em suas mãos de anjo.
Deitei-me de costas sobre a mesa, ela colocou um fone de
ouvido com som de uma música relaxante. Fez a massagem
durante uma hora. Logo depois, os cuidados com a pele do rosto,
depilação e cabelo. Todos esses tratamentos aconteciam em casa,
eu tinha tudo que precisava. Sempre foi assim, o Viktor jamais me
permitiu ir em salões de beleza ou em lugares que ofereciam esses
serviços, e isso não mudaria agora, com uma diferença: sentia
confiança em mim mesma, mais fortalecida para lidar com o Viktor e
ser a esposa dele.
Após todos os cuidados, fui à procura da Sra. Pérez no
quarto de brinquedos da Cathryn, as encontrei e assim que ela me
viu, correu em minha direção alegre.
— Mama — me chamou com sua vozinha infantil.
Peguei-a e a abracei forte, meu coração transbordava de
amor e alegria, às vezes olhava para ela e não acreditava que a
tinha, parecia um sonho. Seus olhinhos azuis cristalinos me
focaram, ela balbuciou palavras que somente eu conseguia
entender. Cathryn era uma menina linda e carinhosa, muito parecida
comigo na mesma idade.
Passamos o resto do dia juntas, eu adorava cuidar dela: a
alimentei, lhe dei banho, brincamos com o Brown. Levei-a para o
meu quarto, ela adorava brincar na minha cama. Dormimos a tarde
juntas.
Acordei assustada, olhei para o lado e não vi a Cathryn, meu
coração quase saiu pela boca. Levantei-me correndo, tropeçando
em minhas próprias pernas e praticamente voei para o quarto dela.
Observei que a porta estava aberta, porém antes de entrar, escutei
a voz inconfundível do Viktor, parei no corredor e tentei escutar.
— Precisa ser uma menina forte, nada de chorar. Amanhã
você vê sua mãe, agora ela é minha.
Pé ante pé, olhei através do batente. O Viktor estava próximo
ao berço, Cathryn em pé segurando na grade. Ele afastou-se sem
se virar e ela começou a chorar. Viktor suspirou fundo e voltou, falou
como se conversasse com um adulto:
— Você é tão parecida com sua mãe em tudo, Cathryn, até
com esse chororô sem fim. Droga! E me enfeitiça com esses
olhinhos marejados em lágrimas.
Ele a pegou e tirou do berço, Cathryn sorriu e deu um
gritinho. Percebi que ele sorriu para ela.
— Não me dobrará com esse sorriso e seu jeitinho doce,
pequena. Sua mãe não conseguiu, você também não conseguirá.
— Papa — Cathryn balbuciou.
Meu coração se derreteu, era a primeira vez que ela falava
essa palavra, meus olhos encheram de lágrimas. Viktor parecia
baqueado, ele a olhava sem dizer nada. Cathryn, com sua
inocência, estendeu os braços para que ele a abraçasse; por
enquanto a segurava suspensa, ele sempre a segurava assim.
— Maldição! — esbravejou, mas não deixou de atender ao
pedido do bebê, ele a trouxe para junto dele. Virou-se para a porta e
deparou-se comigo. Nos encaramos. Logo ele se recompôs e disse:
— Toma ela, essa coisinha gosta de lançar seus feitiços, igual a
você.
— Não seja durão, Viktor, ela é sua filha, é natural que sinta
afeto por ela.
— Não se iluda, Catharine, ela é uma Russell, por isso
precisa aprender que sentimentalismo tolo não é permitido por aqui.
Por esse motivo a trato assim, para perceber logo.
— Você não gostou por ela ter te chamado de papai?
— É só um título, Catharine, nada mais. Agora chame a babá
e deixa-a cuidar dela. Voltei cedo para ficar com você.
— E a festa?
— Nós vamos, mas antes eu a quero — ele sussurrou com a
voz rouca.
Suspirei fundo e peguei o comunicador para chamar a Sra.
Pérez. Enquanto ela não chegou, coloquei a Cathryn no berço e a
entretive com alguns brinquedos. A Sra. Pérez logo apareceu e
assumiu as coisas, porém, quando a Cathryn percebeu que nos
afastávamos, começou a chorar. Fiz menção de voltar, mas o Viktor
me segurou firme.
— Deixa-a.
— Viktor...
Ele me encarou e suspendeu uma das sobrancelhas
claramente me alertando a não protestar. Baixei a cabeça e o segui.
O choro da Cathryn intensificou. Assim que entramos no quarto, ele
me agarrou e jogou na cama, me possuiu como se não fizéssemos
isso todos os dias.
À noite, estava pronta para a festa, com um lindo vestido
longo vermelho de cetim com uma grande abertura nas costas. Uma
maquiagem elaborada e cabelos soltos.
Viktor também estava maravilhoso em um terno de três
peças e cabelos penteados para trás. Um retrato do homem
poderoso e elegante. Ele parou nas minhas costas e olhei-o através
do espelho. Lembrei-me do dia em que fugi dele, naquela ocasião
tinha muito medo, não que ainda não tivesse, mas, dessa vez, sabia
lidar com o medo e com ele. Fechei os olhos quando ele deslizou as
mãos em meus braços.
— Está linda — falou junto ao meu ouvido.
— Obrigada.
— Quer que te ajude com o colar?
— Sim.
Entreguei a joia para ele para que colocasse em meu
pescoço. Ele o fez e, ao finalizar, circulou os braços em minha
cintura.
— Se não tivéssemos que sair...
— Viktor, nós transamos a tarde toda.
— Para mim não é suficiente. Nunca é com você, nunca —
sussurrou beijando meus cabelos afastando-os para o lado e
encostou seus lábios na pele do meu pescoço lançando arrepios em
todo meu corpo.
— Viktor... — Suspirei em um pequeno protesto.
— Está pronta para ir?
— Sim.
— Então Vamos logo, antes que eu desista. Já sabe o que
espero de você.
— Eu sei.
— Ótimo.
Estávamos no corredor, olhei para a porta do quarto da
Cathryn, voltei meu olhar para o Viktor fazendo um pedido
silencioso.
— Vai, Catharine.
Sorri e fui até o quanto, abri a porta vagarosamente e vi a
Sra. Pérez sentada na cadeira. Ao me ver levantou-se.
— Ela está dormindo? — perguntei cochichando.
— Sim.
Aproximei-me de seu berço e a contemplei. Ela estava
dormindo agarrada ao seu cobertor preferido. Seu rostinho
rechonchudo com as bochechas rosadas era tão encantador, que
minha vontade era de admirá-la a noite inteira. Estendi o braço e
passei a mão em seus cabelos.
— Mamãe te ama.
Voltei-me para a Sra. Pérez.
— Cuida do meu anjinho.
— Com certeza.
— Qualquer coisa, me liga, sem hesitar.
— Vai tranquila, Mia, ela ficará bem.
— Obrigada.
— Curta a festa.
— Tentarei.
Saí do quarto e o Viktor me aguardava no corredor, ele
estava com as mãos nos bolsos. Ao me ver, estendeu uma das
mãos e seguimos para a festa.

***

O local era barulhento, muita gente vestida elegantemente


circulava pelo salão luxuoso. Assim que chegamos, havia muitos
fotógrafos que não paravam de tirar fotos da gente. Viktor andava
sempre com seu porte arrogante, sem nem ao menos olhar para os
lados, muitos seguranças a nossa volta. Ele segurava minha mão
forte enquanto caminhávamos no tapete vermelho. Eu como sempre
mantive minha cabeça baixa, não só por causa dos paparazzis, mas
porque sabia como devia me comportar nesses lugares.
Agora estava em pé, com uma bebida na mão, apenas um
coquetel leve, não era de beber álcool, esse seria o único drink da
noite. Viktor não estava próximo a mim, mas sentia seu olhar a todo
momento, virei-me para procurá-lo. Ele estava parado, encostado
em uma bancada, bebendo e com os olhos fixos em mim. Decidi ir
ao seu encontro, não gostava quando ele fazia isso. Sabia que só
se afastava para avaliar melhor meu comportamento, como sempre
foi.
Uma música romântica começou a tocar, aproximei-me dele
e fiz algo que nunca fiz antes: o convidei para dançar.
— Vamos dançar?
— Claro, anjo.
Seguimos para a pista, ele me enlaçou junto ao seu corpo e
dançamos em clima de romance. Estávamos tão absortos um no
outro, que parecia que somente nós dois estávamos no local.
— Te amo — ele sussurrou.
Meu coração bateu loucamente, ele sempre dizia que me
amava, mas eu não conseguia dizer o mesmo. Não sabia identificar
o que sentia por ele. Nesse momento, pensava que o amava; em
outros, que somente sentia desejo sexual; no entanto, nunca
consegui verbalizar nenhum desses sentimentos.
— Vamos embora! — ele decretou.
Na limusine, ele me segurou firme, encostei-me nele, seus
braços fortes me enlaçaram e ele beijou o alto da minha cabeça.
Senti sua mão deslizando entre as minhas pernas, respirei fundo
quando atingiu minha vagina, ele explorou-a ainda encoberta pela
calcinha. Em seguida, segurou nas tiras e a deslizou perna abaixo.
Eu já estava molhada. Ele me virou e me fez sentar em cima dele,
sua ereção pétrea estourava nas calças.
— Abuse-me — pediu rouco.
Sorri e levei as mãos ao cinto da calça e desatei, em seguida
foi a própria peça. Apenas libertei aquela obra da natureza perfeita.
Ajoelhei-me no chão do carro entre suas pernas. O pênis dele era
lindo, reto, grande e cilindricamente perfeito, a cabaça robusta
brilhante era uma tentação. Eu queria lamber como um sorvete,
nunca senti tanta necessidade de fazer isso.
Segurei o pau com as duas mãos e comecei chupando
primeiro a ponta, girei a língua em torno, depois introduzi até o meio.
Ele fechou os olhos e gemeu, suas mãos em meus cabelos o
puxavam à medida que eu lhe dava prazer. Ele abriu os olhos e me
fez olhá-lo. Nos encarávamos enquanto eu o tinha todo dentro da
minha boca. Estava tão acostumada a fazer aquilo que já não me
incomodava, eu gostava de lhe dar prazer.
Quando ele percebeu que estava pronto para gozar, tirou o
pênis da minha boca e me fez sentar em cima daquela obra de arte
da natureza. O pau entrou com tudo e eu gemi entrecortado.
Comecei a cavalgar livremente enquanto ele apertava a minha
bunda.
Era tão gostoso que gemi alto, gritei o nome dele como uma
louca, até que atingimos juntos o ápice do ato: o gozo liberador, o
momento sublime da entrega dos corpos ardentes. Deitei-me sobre
ele enquanto contraía e recebia todo seu líquido viscoso.
Após o ato, nos vestimos e seguimos o resto do caminho
abraçados. Acabei dormindo em seus braços.
O sol refletia seus lindos cabelos loiros, contemplava-a
enquanto dormia em nosso leito e os primeiros raios do dia
iluminavam sua aura angelical.
Não era um homem sentimental, longe disso, mas Catharine
era a única que conseguia me fazer sentir amor, e aquela coisinha
pequena também. A danadinha me chamou de papai e derrubou
minha última barreira. Essas duas eram uma tentação, perdição em
minha vida, um problema maior do que qualquer um que tive que
enfrentar.
Suspirei e deitei-me de costas na cama colocando as mãos
na nuca. Olhei para o teto pensativo. Catharine se tornou aquilo que
eu queria, minha esposa completamente submissa e sem ideias de
me deixar.
Contudo, mesmo se ela fizer isso, dessa vez a acharei antes
que ela pense em chegar em qualquer lugar. O rastreador a
encontrará em segundos, onde quer que esteja nesse mundo.
Ela ainda não sabe que tem o dispositivo, e não saberá a
não ser que ela descubra, aliás ninguém sabe, nem mesmo o Fred.
Quando Cathryn estiver maior também usará um.
Não faço isso somente para controlá-las, mas protegê-las
também. Se eu tivesse pensado nisso antes, Catharine não teria
ficado longe de mim por um ano, mas na época jamais imaginei que
ela teria a ousadia de fugir. A subestimei. Agora, isso será
impossível.
Claro que não quero que ela tente, nossa convivência está
ótima para mim e para ela, não tenho mais necessidade de puni-la,
ela não faz nada para me aborrecer, aprendeu muito bem como tudo
deve funcionar na casa e na nossa vida. No entanto, se ela fizer
algo que não me agrade, saberei colocá-la em seu lugar. Não sou
um homem bom e nunca o serei, muito menos tenho pretensão de
ser. Eu vivo para ganhar e dominar todos ao meu redor, foi assim
que cheguei onde estou, não sendo gentil e amoroso, mas cruel e
implacável.
Muitos dizem que tenho sorte, tenho mais dinheiro que possa
gastar por toda a vida, poder e, para completar, uma esposa linda,
submissa, e uma filha. Mas digo que tudo isso que possuo não é
sorte, não existe isso, o que existe é determinação de adquirir tudo
que possuo, eu quero, eu tenho. Tudo em minha vida foi e sempre
será assim.
Catharine moveu-se e virou de lado, olhei-a com um meio
sorriso, seus contornos perfeitos emolduravam o lençol de cetim.
Ela estava nua e já imaginei a fonte do meu prazer escondido entre
suas pernas. Meu pau se manifestou. Eu queria transar com ela,
deslizar meu pênis grosso dentro da sua boceta.
Deslizei minhas mãos em suas formas tirando o lençol.
Porra! Tudo nela fazia meu sangue esquentar, sua pele lisa bem
cuidada, Catharine sempre se cuidou, mas ela não precisava de
muito para ficar linda, adorava vê-la sem maquiagem, seu rosto
limpo e angelical me fascinava. Ela era fascinante, sexy e
inteligente. Seu corpo bem-feito aos meus olhos, mesmo depois que
teve nossa filha e adquiriu uma cicatriz. Para mim ela era perfeita.
Percebi-a movendo-se e esticar os braços, abriu os olhos
lindos e me encarou. Seus olhos eram tão expressivos, eles
demonstravam toda sua pureza. Por mais que estivesse casada
comigo havia um tempo, ainda assim, mantinha sua ingenuidade.
Eu jamais conseguirei corrompê-la, na verdade não queria fazer
isso, amava-a desse jeito.
— Bom dia, princesa!
— Bom dia! — falou sonolenta.
Aproximei-me e a abracei, beijei a curva do seu pescoço.
Mexi os quadris deixando-a sentir minha ereção. Ela suspirou fundo
e liberou um gemido tímido. A fiz deitar-se de barriga e subi em cima
dela. Beijei seu rosto, desci por seu pescoço, colo, seios até a
barriga. Continuei beijando até encontrar sua boceta.
Suspirei fundo saboreando seu cheiro, o aroma feminino
inebriante que era capaz de virar a cabeça de qualquer homem.
Beijei sua boceta, passei a língua por toda sua extensão, ela
arqueou o quadril e falou meu nome:
— Viktor...
Ela estava molhada e cada vez mais me deliciava em seus
fluidos. Olhei para ela enquanto passava a língua em seu clitóris,
desfrutando de seu gosto doce. Ela fechou os olhos e jogou a
cabeça para trás cheia de excitação. Deslizei dois dedos fundo em
sua entrada e ela suspirou fundo. Continuei lambendo-a,
mordiscando, introduzindo os dedos para dentro e fora.
Os gemidos dela ficaram mais altos e seus dedos enrolaram
em meus cabelos os puxando. Eu a fodi com os dedos e ela gemeu
e gritou meu nome, uma, duas, três vezes. Meu pau estava duro
demais e dolorido. Então parei de fodê-la com os dedos e peguei
em suas pernas a puxando para a beirada da cama, ela se
assustou. Eu a fiz abrir bem as pernas e fiquei entre elas.
Comecei a brincar, deslizei o pênis em sua lisura, passando
pelo clitóris inchado e deslizando por toda a fenda até sua abertura
quente e pulsante. Fiz isso algumas vezes e ela já não aguentava
mais. Olhei para o seu rosto, suas bochechas estavam coradas e a
respiração ofegante.
— Viktor — ela gemeu. — Por favor...
— Por favor, o quê, anjo?
— Me fode!
Sorri e a penetrei, juntos viajamos nas delícias do prazer e
entrega, eu a tinha de corpo e alma para sempre. Chegamos ao
culminar do desejo e prazer em uma explosão de êxtase de dois
corpos que se completavam.
Após o sexo da manhã, Catharine foi para o quarto da
Cathryn, depois da higiene matinal.
Na hora do café da manhã, tomamos juntos, na varanda da
nossa suíte. Hoje não ia sair, ficaria em casa curtindo minha família.
A Cathryn também nos acompanhava no desjejum sentada em seu
cadeirão.
Olhava para as duas enquanto Catharine alimentava a
Cathryn. Elas eram parecidas em tudo, até no jeito de lidar com as
coisas, sempre com delicadeza. Catharine era uma mãe completa,
sempre preocupada com os mínimos detalhes. O bebê sempre
estava impecável, parecia uma pequena bonequinha assim como a
mãe. Sorri de lado, ela me olhou intrigada e perguntou:
— O que foi?
— Ainda não acredito que temos uma filha, que é sua cópia.
— Você acha que ela é tão parecida comigo, às vezes acho
que se parece com você.
— Não, ela é toda você, talvez os olhos puxaram mais os
meus, um azul pálido.
Catharine sorriu e balançou a cabeça de um lado para outro.
— Você reparou isso? Os olhos dela são todos seus.
— Sim, eu reparei. Não tem como ignorar um pedacinho de
você em forma de bebê.
— Papa.
Olhei para Cathryn, ela estendia os bracinhos para que eu a
pegasse. Levantei-me e tirei-a do cadeirão. A menina fazia festa nos
meus braços. Andei com ela pela varanda e mostrei a paisagem. A
suspendi para que ela pudesse olhar melhor.
— Viktor, toma cuidado! — Catharine falou aflita.
— Sua mãe tem medo de altura, por isso não chega perto —
falei para ela. O bebê riu.
Passamos o dia juntos, como uma família feliz.

***

Dias depois, eu e Catharine fizemos uma viagem para um


lugar tranquilo à beira-mar. Somente nós dois, para comemorarmos
uma data um tanto inusitada, mas que, para nós, principalmente
para mim, significava muito. Dois anos após a ter capturado. Fazia
questão de comemorar essa data. Catharine não gostava muito,
mas não protestava, ela sabia que não podia fazê-lo.
Estava nu, podia ouvir o oceano através da varanda do
quarto. Minha linda esposa dormia como um anjo.
Decidi nadar um pouco. Andava pela areia branca e seguia
para as ondas que se quebravam à margem. Entrei no mar frio e
nadei até onde consegui, depois voltei quebrando as ondas com
meu corpo. Era um ótimo nadador e não tinha dificuldade. Após me
sentir satisfeito, saí do mar e andei pela areia. A água deslizava pelo
meu corpo musculoso e bronzeado. Balancei a cabeça de um lado
para o outro até tirar o excesso de água. Levantei a cabeça e a vi,
linda com sua camisola fina esvoaçante. Senti um baque no meu
coração. Essa mulher me tirava o ar, sua beleza me deixava
embriagado, não conseguia parar de desejá-la.
Ela nunca me disse que me ama, nunca ouvi essa frase sair
pela sua boca. Me incomodo com isso? Não, eu a tinha do jeito que
sempre quis.
Ela andou em minha direção, eu continuei andando devagar.
Ela agora corria e eu parei, porque percebi que ela estava chorando.
Ela se aproximou e me abraçou em prantos. Eu também a abracei e
a deixei chorar. Sentia seus soluços fortes contra meu tórax, os
dedos crispando em minha pele. Não primava pela paciência, mas
não movi um músculo sequer até que ela se acalmasse. Ficamos
assim, abraçados, somente ao som das ondas e dos pássaros ao
longe. Então ela se desfez do meu aperto e olhou diretamente para
mim. Seus olhos marejados de lágrimas me encaravam com dor,
mas, ao mesmo tempo, com alívio.
Ela pegou em minha mão e me fez encostar em seu peito.
As lágrimas ainda escorriam em seu rosto lindo.
— Viktor, sente meu coração. Ele é seu, você o capturou.
— Tem certeza disso, Catharine?
— Sim, eu fui capturada para sempre pelo seu amor.
Abracei-a e a suspendi girando com ela nos braços. Selei o
nosso amor com um beijo apaixonado.

FIM
Capturada pelo amor

Dois corações que palpitam como um.


Dois corpos que se amam como um.
Duas vidas que se unem como uma.
Duas amarras que se prendem como uma.
Amor que prende,
Amor que machuca,
Amor que acorrenta.
Amor que ama,
Amor que se entrega,
Amor que se derrama.
Amor, palavra pequena com grande significado.
Amor, que é capaz de fazer coisas inimagináveis.
Amor, que entra e penetra sem permissão.
Amor, que prende para sempre.
Amor, que captura e nunca mais deixa escapar.

(Jacque Dark)
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