Você está na página 1de 44

Estruturas de Concreto e Fundações

Estruturas Especiais
Muros de Arrimo
Prof. M.Sc. Antonio de Faria
Prof. D.Sc. Roberto Chust Carvalho

1
Muros de Arrimo

• Estruturas utilizadas principalmente


para manter (conter) taludes em
equilíbrio;
• É necessário quando se efetua um
corte no terreno, conforme mostra a
figura ao lado;
• É necessário também aterros, quando
se deseja nivelar um trecho do
terreno e evitar um talude extenso na
parte mais alta do mesmo;
Muros de Arrimo
• Esquema geral de um muro de
arrimo;
– a) trecho AB – muro
propriamente dito (cortina ou
tardoz);
– b) trecho CF – sapata de
fundação;
– c) trecho CD – ponta da sapata,
que é a parte que se projeta fora
da terra (talude);
– d) trecho EF – talão da sapata,
que é a parte que se projeta do
lado da terra (talude);
– e) trecho DG – dente de
ancoragem.
Muros de Arrimo – Considerações gerais

• São estruturas caras, alguma vezes com custo maior que o da própria
edificação e de difícil execução;
• É oportuno destacar que um dos maiores índices de acidentes com
operários em obras se deve a soterramento;
• O projetista deve sempre questionar se não existem soluções
alternativas de projeto, que evitem ou minimizem o corte ou aterro e
portanto os muros de arrimo;
• Antes de decidir sobre a melhor solução, deve-se:
– conhecer a natureza e características geológicas da região;
– observar o comportamento de construções similares existentes verificar se
não há ocorrência de movimentos lentos da encosta, manifestado pela
fissuração da superfície e inclinação de árvores, e rupturas de canalização de
esgotos e águas pluviais;
– importante minimizar os efeitos das águas pluviais atuando no solo próximo
à obra de contenção.
Muros de Arrimo – Considerações gerais

• Maior dificuldade para se dimensionar muro de arrimo é a definição dos


parâmetros do solo, que dependem da realização de ensaios
relativamente sofisticados;
• A quantidade de ensaios necessários pode ser grande se o solo for
heterogêneo;
• Fatores a considerar em um projeto de muro de arrimo:
– relacionados às propriedades físicas e mecânicas do solo: densidade,
estrutura (coesivo, não coesivo), ângulo de atrito interno, resistência,
possibilidades de recalques;
– relacionados ao elemento vertical (muro), altura, deformabilidade,
rugosidade e inclinação;Em muitas situações empregam-se valores
extremos para esses parâmetros, a favor da segurança, que pode
levar a estruturas caras e que até inviabilizam a obra;
– Relacionados ao elemento horizontal (sapata): rotação, translação.
Muros de Arrimo – Considerações gerais

• Os relacionados com as condições da região em que será implantado o


muro: umidade, chuvas, lençóis freáticos, trepidações, cargas no
terrapleno;
Muros de Arrimo – Considerações gerais
• O projeto, de maneira geral, é constituído das etapas abaixo
relacionadas, admitido-se aqui que a estabilidade global do talude está
garantida, ou seja, não se discute a estabilidade do entorno da obra, mas
apenas a do muro de arrimo:
– caracterização do solo através de ensaios – (cabe ao projetista definir
até que ponto é possível, ou econômico, evitar esses ensaios);
– estimativa das dimensões: experiência, observação, fórmulas
empíricas;
– cálculo dos esforços: empuxo, peso próprio, cargas no topo, reações
do solo;
– verificação da estabilidade (rotação e translação) aos esforços
atuantes;
– determinação das armaduras (dimensionamento);
– dimensionamento das fundações.
Muros de Arrimo – Considerações gerais

• Empuxo do solo em muros de arrimo:


• O empuxo exercido pela terra contra o muro pode ser:
– Ativo;
– Passivo;
– Em repouso;
• O empuxo depende do tipo de solo, da existência ou não de água no
solo e da superfície de contato solo-muro;
• A teoria de Coulomb;
• O empuxo que está sendo aqui estudado é para solos não coesivos, isto
é, para solos arenosos.
Muros de Arrimo – Considerações gerais
• Seja um muro de arrimo, representado na figura abaixo:
• Na situação apresentada, a terra pressiona a parede do muro, fazendo
com que ela se deforma da direita para a esquerda;
• Neste caso, surge o empuxo ativo, caracterizado pela pressão exercida na
parede pelo solo (pressão da terra contra o muro);
Muros de Arrimo – Considerações gerais
• Seja agora o muro se
deforma da esquerda
para a direita (figura 4), é
ele que pressiona a terra,
e o empuxo que surge é
chamado de empuxo
passivo (pressão do
muro contra a terra). É
comum no caso de
escoramentos de valas e
galerias.
Muros de Arrimo – Considerações gerais
• No caso intermediário, conforme figura abaixo, em que o muro não sofre
qualquer deformação, o que inclusive é difícil de ocorrer, tem-se o
empuxo em repouso. Por esse empuxo ser muito pequeno, na sequência
admitir-se-á que ele não altere as forças em ação;
Muros de Arrimo – Considerações gerais

Empuxo
Ativo

Empuxo Passivo

Repouso
Muros de Arrimo
Determinação do empuxo ativo
• A pressão do solo no muro (Pa), a uma profundidade h, é dada por:

Pa = k a ⋅ γ s ⋅ h

O empuxo ativo (Ea) é obtido multiplicando-se a área da distribuição


de pressões (triangular com altura h e base Pa) pela largura do muro,
considerando-se nulo o atrito solo-muro. Para um muro de
comprimento unitário (1,0 m), resulta:

h h
E a = A∆ ⋅1,0 = Pa ⋅ ⋅1,0 = k a ⋅ γs ⋅ h ⋅
2 2
1
Ea = ⋅ ka ⋅ γs ⋅ h 2
2
Muros de Arrimo
Determinação do empuxo passivo
• A pressão do solo no muro (Pp), a uma profundidade h, é dada por:

Pp = k p ⋅ γ s ⋅ h
O empuxo passivo (Ep) é determinado da mesma maneira que o
empuxo ativo, apenas com o coeficiente de empuxo correspondente.
A pressão do muro sobre o solo (Pp), a uma profundidade h, sendo
Kp o coeficiente de empuxo passivo, é dada por:
Para um muro de comprimento unitário (1,0 m), também admitindo
nulo o atrito solo-muro, o empuxo passivo fica:
h h
E p = A∆ ⋅1,0 = Pp ⋅ ⋅1,0 = k p ⋅ γs ⋅ h ⋅
2 2
1 2
Ep = ⋅ kp ⋅ γs ⋅ h
2
Muros de Arrimo – Determinação do
momento atuante na base do muro
• O momento atuante na base do muro, devido ao empuxo ativo, é
encontrado multiplicando o valor do empuxo pela distância do seu ponto
de aplicação até a base, que no caso de distribuição triangular de
pressões é igual a um terço da altura h do muro;

h 1 2 h 1
M = Ea ⋅ = ⋅ K a ⋅ γs ⋅ h ⋅ = ⋅ K a ⋅ γs ⋅ h 3
3 2 3 6
Muros de Arrimo – Crescimento do
Momento Fletor, na base do muro
Mbase do muro em função da altura

100
M - Momento kN.m 80

60

40

20

0
0 1 2 3 4
h - altura (m)

h 1 2 h 1
M = E a ⋅ = ⋅ Ka ⋅ γ s ⋅ h ⋅ = ⋅ Ka ⋅ γ s ⋅ h3
3 2 3 6
Muros de Arrimo – Coeficiente de empuxo
ativo – caso geral
ϕ - ângulo de repouso ou de atrito interno do solo;
ϕ1 - ângulo de atrito entre o solo e a superfície da parede do muro (ângulo de rugosidade);
θ - ângulo de inclinação do paramento interno do muro com a vertical;
β - ângulo de inclinação do paramento interno do muro com a horizontal (β = 90 - θ);
α - ângulo de inclinação do solo acima do muro com a horizontal.

ϕ1 = 0 para muro liso (cimentado ou pintado);


ϕ1 = 0,5 ϕ para muro parcialmente rugoso;
ϕ1 = ϕ para muro rugoso.

sen 2 (β + ϕ )
Ka = 2
 sen (ϕ − α ) ⋅ sen (ϕ − ϕ1 ) 
sen 2β ⋅ sen (β − ϕ1 ) ⋅ 1 + 
 sen (β − ϕ1 ) ⋅ sen (β + α ) 
Muros de Arrimo – Coeficiente de empuxo
ativo – casos particulares
• Paramento interno liso e vertical e terreno inclinado;

ϕ1 = 0
θ = ϕ1
β = 90o

cos2 ϕ ⋅ cos α
Ka = 2
[ cos α + sen( ϕ − α ) ⋅ senϕ ]
Muros de Arrimo – Coeficiente de empuxo
ativo – casos particulares

cos2 ( θ + ϕ )
Ka = 2
3
cos θ K a = cos ϕ

cos2 ( θ + ϕ )
Ka = 2 o ϕ
2 K a = tg  45 − 
cos θ ⋅ ( cos θ + senϕ )  2
Muros de Arrimo – Coeficiente de empuxo
passivo
• Para solos não coesivos, a favor da segurança, com terrapleno horizontal
e parede do muro vertical sem atrito, o coeficiente de empuxo passivo é
obtido também de acordo com a solução de Rankine, conforme a
equação seguinte;

2 ϕ o 2ϕ
K p = tg  45 +  K a = tg  45 −  o
 2  2

1
Kp =
Ka
Muros de Arrimo – Sobrecarga sobre o
terrapleno
• Geralmente, as sobrecargas que são consideradas provêm de máquinas,
construções, multidões, etc., e devem ser admitidas como uniformemente
distribuídas.
• Foi visto que o empuxo é função, entre outras grandezas, do quadrado da altura
do muro. Já as sobrecargas distribuídas (q) sobre o terrapleno causam um
empuxo ativo, por unidade de comprimento, de distribuição uniforme, que é
proporcional apenas à altura h, ou seja, causando um empuxo muito menor que
o produzido pelo terrapleno (Ka é o coeficiente de empuxo ativo).
• Observa-se que as sobrecargas são importantes apenas nos muros com pequena
altura, pois o empuxo devido ao terrapleno pode ser da mesma ordem de
grandeza que o produzido pela sobrecarga. Para muros de grande altura, o
empuxo devido ao terrapleno é muito grande, e o empuxo causado por
sobrecargas pode ser desprezado.

E a,sobr = k a ⋅ q ⋅ h
Muros de Arrimo – Sobrecarga sobre o
terrapleno
• GUERRIN [ ] faz algumas considerações importantes a respeito das sobrecargas:
• uma sobrecarga de 5,0 kN/m2 é usualmente considerada para levar em conta
uma eventual ocupação do terrapleno
• sobrecargas da ordem de 10 kN/m2 a 15 kN/m2 correspondem a veículos de
200 kN a 300 kN;
• mesmo sobrecargas maiores, de 20 kN/m2 a 30 kN/m2, só devem ser
consideradas em muros de altura menor que 10 m;
• para muros muito pequenos, com altura menor que 2,0 m, a influência das
sobrecargas não deve ser desprezada; elas podem até ser responsáveis pelos
maiores efeitos sobre o muro;
• em muros muito grandes, acima de 15,0 m de altura, é possível desprezar
completamente o efeito das sobrecargas, mesmo aquelas extremamente
importantes.
• Nas situações em que as sobrecargas não podem ser desprezadas, é possível
considerá-las como uma altura suplementar equivalente h0 de terra do
terrapleno para o cálculo do empuxo total sobre o muro;
Muros de Arrimo – Sobrecarga sobre o
terrapleno

 kN 2 
q m = m
h 0 ⋅ γt = q → h0 =  
γt  kN 3 
 m 
Muros de Arrimo – Sobrecargas
• Para uma sobrecarga 1 e solo do terrapleno com peso específico γs, resulta para a
altura suplementar h0:
 kN 2 
q m 
h 0 ⋅ γt = q → h0 =  = m
γt  kN 3 
 m 
A altura total H a ser empregada na determinação do empuxo será a altura h
real do muro mais a altura suplementar equivalente h0, ou seja:

H = h + h0
O empuxo final Ea sobre a parede será o calculado com a altura total H menos o
empuxo do trecho de altura h0, pois esse último não atua sobre a parece,
resultando:

1 1 1
Ea = ⋅ ka ⋅ γs ⋅ H − ⋅ ka ⋅ γs ⋅ h0 = ⋅ ka ⋅ γs ⋅ H 2 − ho 2
2
2

2
2

2
( )
Muros de Arrimo – Perfis para muros de
arrimo por gravidade

a) perfil retangular b) perfil trapezoidal c) perfil escalonado

FIGURA 14. Perfis possíveis para muros de arrimo por gravidade


Muros de Arrimo – Muros de arrimo de
concreto armado
Formas gerais de muro de arrimo em concreto armado:
Muros de Arrimo – Muros de arrimo de
concreto armado
• Muros de arrimo mistos;
Muros de arrimo com gigantes
(contrafortes) ou vigas intermediárias

a) gigantes do lado da terra b) gigantes/ vigas do lado da terra c) gigantes do lado externo
Muros de arrimo atirantados
Muros de arrimo com fundação profundas
Dimensionamento de muros de arrimo
• O dimensionamento de muros de arrimo, consiste em:
– Verificar a estabilidade contra o tombamento e translação;
– Verificar as tensões no solo;
– Executar a fundação;
– Dimensionar os diversos elementos contituíntes do muro;
Muros de Arrimo – Verificação do
tombamento

• A ação do empuxo de terra Ea


sobre a parede vertical do
muro causa, em relação ao
ponto A, o momento de
tombamento do muro e vale:

h 1 2 h 1
Mtomb = Ea = ⋅ ka ⋅ γs ⋅ h ⋅ = ⋅ ka ⋅ γs ⋅ h 3
3 2 3 6
Muros de Arrimo – Verificação do
tombamento
• O momento das forças que
tendem a impedir que o muro
tombe (peso da terra e peso
do próprio muro), é
denominado de momento de
restituição, e em relação ao
mesmo ponto A, vale:

Mrest = Ps ⋅ xs + Pg ⋅ xg

sendo:
Ps  peso da solo;
Pg  peso próprio do muro;
xs  distância entre o ponto A e a linha de ação de Ps;
xg  distância entre o ponto A e a linha de ação de Pg;
Muros de Arrimo – Verificação do
tombamento
• É fácil perceber que a parcela do solo é bastante importante, pois o braço
de alavanca é grande, e quando não for possível utilizar a aba do lado
direito do muro (atrás, ou seja, do lado da terra a ser contida), fica difícil
seu equilíbrio;
• Para que seja garantida a estabilidade quanto à rotação em relação ao
ponto A, da figura anterior, com uma adequada segurança, é necessário
que:

M rest ≥ 1,5 ⋅ Mtomb


Muros de Arrimo – Translação
• Ainda quanto à estabilidade do muro:
– Verificar a possibilidade dele transladar;
– Para não ocorrer, a força de atrito estático máxima possível deve ser,
pelo menos, 1,5 vezes maior que a força horizontal atuante que é,
geralmente, igual ao empuxo ativo;
– Não sendo atendida, utiliza-se o empuxo passivo desenvolvido pelo
“dente”do muro.

Fa ≥ 1,5 ⋅ Ea
ou
Fa + Ep ≥ 1,5 ⋅ Ea
Muros de Arrimo – Translação

Fa ≥ 1,5 ⋅ Ea
ou
Fa + Ep ≥ 1,5 ⋅ Ea

Fa = µ ⋅ N = µ ⋅ (Ps + Pg ) → máxima força de atrito estático possível;


Ps e Pg → são os pesos do solo e do muro, respectivamente;

E a → empuxo ativo;
Ep → empuxo passivo devido ao " dente" do muro;

µ coeficiente de atrito entre o solo e a base do muro, que pode ser tomado entre
0,50 a 0,55 para solo seco e igual a 0,30 no caso de solo saturado;
Muros de Arrimo – Verificação das tensões
no solo

N M
σmáx = + ≤ σs, adm
A w
N M
σmín = − ≥ 0
A w

sendo:
N = Ps + Pg;
M  Momento fletor atuante, calculado em relação à linha de ação de N;
A e W  Área da sapata e módulo de resistência da seção transversal, considerando que
a sapata tenha largura b e comprimento unitário;
Muros de Arrimo – Verificação das tensões
no solo
Se a tensão mínima do solo for negativa , isso indica tensões de
tração no solo;

d b b  σA ⋅ d 2⋅ N
e+ = → d = 3⋅ − e R= σA' = ≤ σs, adm
3 2 2  2 d
Muros de Arrimo – Determinação das
armaduras
h 1 h 1
MA = Ea ⋅ = ⋅ K a ⋅ γs ⋅ h 2 ⋅ = ⋅ K a ⋅ γs ⋅ h 3
3 2 3 6

s s s s s2  σ 
M B = σ1 ⋅ s ⋅ + σ 2 ⋅ ⋅ − γ s ⋅ h ⋅ s ⋅ = ⋅ σ1 + 2 − γ s ⋅ h 
2 2 3 2 2  3 

2 1 2 ⋅ hd 1
M C = E p ⋅ ⋅ h d = ⋅ K p ⋅ γ s ⋅ h d2 ⋅ = ⋅ K p ⋅ γ s ⋅ h 3d
3 2 3 3

r r 2⋅r r2 r2
M D = σ3 ⋅ r ⋅ + σ 4 ⋅ ⋅ = σ3 ⋅ + σ 4 ⋅
2 2 3 2 3
Muros de Arrimo – Disposições
Construtivas e Recomendações
Drenagem nos muros de arrimo no lado do terrapleno

a) Dreno e barbacãs [GUERRIN] b) Saída na parte inferior [MOLITERNO]


Muros de Arrimo – Disposições
Construtivas e Recomendações
Drenagem nos muros de arrimo no lado do terrapleno

FIGURA 27. Drenagem com areia [MOLITERNO]


Muros de Arrimo – Disposições
Construtivas e Recomendações
Drenagem nos muros de arrimo no lado do terrapleno

a) Saída na parte da frente b) Saída no lado do terrapleno


FIGURA 28. Drenagem com tapete drenante e manta impermeável [GUERRIN]
Muros de Arrimo – Disposições
Construtivas e Recomendações
Muros de Arrimo – Compactação do aterro

FIGURA 30. Compactação do aterro [MOLITERNO]

Você também pode gostar