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POR UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO

GEOGRÁFICO NO BRASIL

Manoel Fernandes de Sousa Neto*

Em 1996 no Encontro Nacional de Geógrafos promovido pela AGB –


Associação dos Geógrafos Brasileiros, ocorrido em Recife/PE, um dos eixos
temáticos foi denominado Geografias Puras e Impuras. O intuito foi o de
agregar uma série de temáticas da produção geográfica brasileira que não se
encaixavam nos eixos temáticos tradicionais. Entre as Geografias Puras e
Impuras, ocorreu uma mesa redonda organizada pela Prof.ª Alexandrina Luz
Conceição, que tratou do Pensamento Geográfico Brasileiro antes de 1930.
O fato é ao mesmo tempo importante e representa uma espécie de ato
inaugural. Importante por denunciar a maneira tardia como os geógrafos bra-
sileiros se preocuparam pouco com a institucionalização de sua disciplina no
Brasil e ao mesmo tempo, como, ao tratar da institucionalização buscava-se
apenas a partir da década de 1930 e dos primeiros cursos de formação de
geógrafos no País as origens dessa institucionalização.
Em razão disso, quando estava a se preparar o Encontro Nacional de
Geógrafos que aconteceria em 1998, na cidade de Vitória da Conquista/Ba,
um grupo de jovens pesquisadores, todos fazendo pós-graduação em institui-
ções universitárias de São Paulo (Universidade de São Paulo e Pontifícia
Universidade Católica), em nível de mestrado ou doutorado, resolveram pro-
por um curso de curta duração que seria em verdade um seminário sobre as
pesquisas desenvolvidas em História da Geografia e do Pensamento Geográ-
fico no Brasil.
Dessa maneira, em Julho de 1998, em Vitória da Conquista, apresenta-
ram-se os resultados de pesquisa de mestrado de Genylton Rocha, Manoel
Fernandes, Sergio Nunes e Silvia Lopes. Em torno dessas apresentações dis-
cutiram-se os aportes teóricos metodológicos das pesquisas realizadas ou em
realização e, além disso, foi traçado o objetivo de criar uma rede de interlo-
cução entre os poucos pesquisadores brasileiros que trabalhavam com a
temática da história do pensamento geográfico no Brasil. Como decorrência

* Departamento de Geografia. Universidade Federal do Ceará.

Inforgeo, 18/19, Lisboa, Edições Colibri, 2006, pp. 155-158


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desse processo, marcou-se para Outubro de 1998, na cidade do Rio de Janei-


ro, nas salas da Pontifícia Universidade Católica, um seminário de dois dias
que discutiria o estado da obra de arte e apontaria os caminhos para a consti-
tuição de um grupo de trabalho permanente em história do Pensamento Geo-
gráfico no Brasil.
A proposta era buscar a realização de três tarefas: recensear os investi-
gadores e suas pesquisas, fazer dialogar de maneira permanente esses pes-
quisadores a partir da constituição de periódicos e eventos que possibilitas-
sem tal coisa e, por fim, consolidar a área de História do Pensamento
Geográfico no âmbito da produção geográfica brasileira. Antes uma coisa é
necessário que se diga: todos os participantes do Grupo de Trabalho que se
buscava constituir eram jovens acadêmicos, nenhum dos quais havia ainda
concluído o doutorado e muitos não eram professores universitários.
A reunião de Outubro aconteceu no Rio de Janeiro, durante os dias 18 e
19. O dia 18, um Domingo, pela manhã, foi aberto com a palestra da Prof.ª
Lia Osório Machado que tratou do tema História do Pensamento Geográfico
no Brasil: elementos para um programa de pesquisa. Nesta palestra, que
acabou sendo publicada no número 1 da Revista Terra Brasilis, a Prof.ª Lia
Osório traçou um amplo panorama da História da Geografia no Mundo e no
Brasil, seus métodos, as grandes contribuições teóricas e advertiu para neces-
sidade de tratar-se da área com o rigor investigativo que a mesma merecia.
O seminário de Outubro contou com a participação daqueles que viriam
a conformar o grupo de trabalho História do Pensamento Geográfico e se
tornariam os organizadores do I Encontro Nacional de História do Pensa-
mento Geográfico, que ocorreria na Universidade Estadual de São Paulo
(UNESP), de Rio Claro, e que foi realizado graças ao aporte material e inte-
lectual oferecidos pelo Prof. Silvio Bray, à época diretor da UNESP, e um
dos que mais havia orientado na área de História do Pensamento Geográfico
no Brasil. Foi nessa reunião de Outubro de 1998 que Rita Anselmo, orien-
tanda de doutoramento do Prof. Silvio Bray, apresentou a proposta de reali-
zação de um I Encontro da História do Pensamento, na cidade de Rio Claro.
O I Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico seria
organizado mediante uma série de reuniões ocorridas todas em Rio Claro,
durante Dezembro de 1998 e Dezembro de 1999, quando então o evento foi
realizado.
Um evento de magnitude nacional ofereceria a possibilidade de realizar
aquilo que havia se desenhado como desejo em 1998, recensear os pesquisa-
dores na área e ao mesmo tempo criar a necessária ambiência para a realiza-
ção de um diálogo permanente. As reuniões entre Dezembros definiram que
o I Encontro teria quatro (4) eixos (Pensamento Social Brasileiro, Viajantes,
Disciplina Escolar Geografia e Instituições do Saber Geográfico), um quinto
(5) eixo viria aparecer para comportar alguns trabalhos que se aproximavam
das pretensões do evento, no caso, o eixo Epistemologia.
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Além dos eixos o evento definiu-se com uma estrutura que continha
apenas uma conferência de abertura, proferida pelo Prof. Carlos Augusto
Figueiredo Monteiro e duas mesas redondas. A primeira das mesas redondas
contou com a participação de geógrafos e historiadores da ciência e das dis-
ciplinas escolares, tendo como perspectiva a realização de um diálogo que
dar-se-ia fora dos estritos muros da Geografia. A segunda mesa contou com
a participação dos pesquisadores que mais haviam orientado na área de his-
tória do pensamento geográfico no Brasil e sem os quais o encontro não teria
ido adiante, no caso os professores (as) Antonio Carlos Robert Moraes, Lia
Osório Machado e Silvio Bray.
O ponto alto da estrutura do encontro, entretanto, estava na idéia de
fazer chegar aos sessenta e cinco escritos (65) no evento, em três tomos e
com quarenta dias de antecedência, todos os trabalhos completos, para que
os mesmo pudessem ser lidos e tornarem-se desse modo objeto de discussão
quando da realização dos cinco eixos temáticos, durante o período de 9 a 12
de Dezembro de 1999. Realizadas as tarefas de impressão e envio antecipado
do material, o debate acabou apontando para a necessidade de um sem núme-
ro de temáticas e investigações.
Em 2000, no Encontro Nacional de Geógrafos que realizou-se em Flo-
rianópolis, foi lançado o primeiro número da Revista Terra Brasilis e o Gru-
po de Trabalho em História do Pensamento Geográfico foi responsável por
coordenar o eixo temático: História do Pensamento Geográfico, contribuindo
com a Associação dos Geógrafos Brasileiros, no sentido de selecionar os tra-
balhos e organiza-los por temas. Além disso, o Grupo de Trabalho realizou
uma mesa redonda, coordenada pelo Prof. Sérgio Nunes, com o tema Histó-
rias do Pensamento Geográfico: Instituições, Institucionalização e Produ-
ção do Conhecimento.
Durante o período de 2000 a 2005, o Grupo de Trabalho de História do
Pensamento publicou seis (6) números em cinco (5) volumes da revista Ter-
ra Brasilis, todos temáticos: (1) Geografia Disciplina Escolar; (2) Geografia
e Pensamento Social Brasileiro; (3) Dossiê América Latina; (4/5) Território e
(6) Representações Geográficas. Neste mesmo interregno, a maior parte dos
componentes do Grupo de Trabalho e editores da Terra Brasilis, concluíram
seus doutoramentos, ingressaram em instituições de pesquisa e colaboraram
com a Associação dos Geógrafos Brasileiros, no sentido de consolidar a área
de investigação em História do Pensamento Geográfico no Brasil.
A revista Terra Brasilis, tornou-se rapidamente conhecida e aceita pelo
público nacional e ganhou projeção internacional na medida em que abriu
um diálogo com investigadores em História da Geografia de diversos países,
nomeadamente os países latino-americanos. O periódico, por outro lado, fez
dialogar a História da Geografia com outras disciplinas científicas e tem
resultado em uma experiência que tirou no Brasil a História da disciplina da
sua impureza geográfica para fazê-la uma temática cada vez mais recorrente
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nos eventos da Associação dos Geógrafos Brasileiros e, em larga medida,


aceita pelos demais historiadores da ciência no País.
A aposta para logo mais é de editar dois números da revista Terra Bra-
silis agora com editores convidados, sendo os próximos números sobre Insti-
tuições e História da Cartografia/Cartografia Histórica. Ademais, o mais fun-
damental foi o fato de o periódico possibilitar o diálogo sobre métodos,
teorias, temas de investigação, entre estudiosos da área de História da Geo-
grafia e Geografia Histórica.

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