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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

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JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES E A AUTONOMIZAÇÃO DA


HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA NO BRASIL
JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES AND THE AUTONOMIZATION OF
THE HISTORY OF HISTORIOGRAPHY IN BRAZIL
géssiCa góes guimarães gaio1
Resumo: Abstract:
José Honório Rodrigues foi autor de uma obra José Honório Rodrigues was the author of
monumental, mas que ainda continua desconhe- a monumental work which is still largely
cida por grande parte na nova geração de histo- unknown to the new generation of historians in
riadores no Brasil. Contudo, na última década, Brazil. In the last decade, however, the number
o número de dissertações, de teses e de artigos of dissertations, theses and scientific articles
científicos que tomaram sua obra como objeto dedicated to work increased considerably. We
de estudo teve um considerável acréscimo. Per- seek in this article the reason for this growing
guntamo-nos: qual seria a razão dessa demons- academic interest in the author and his ideas.
tração de interesse da academia pelo autor e The hypothesis we defend is not unexpected,
pelas suas ideias? A hipótese que defenderemos but it reveals a sensitive transformation
aqui não é inesperada, mas ainda assim revela- in historiographic research, namely the
dora de uma transformação sensível na pesquisa consolidation of the field of theory of history
historiográfica, a saber: a consolidação da área and, in particular, the autonomization of
de Teoria da História e, em especial, a autono- history of historiography as a field of research
mização da História da historiografia como um in Brazil. The focus of this article is, therefore,
campo de pesquisa no Brasil. Sendo assim, este both on Rodrigues as a pioneer in advancing
artigo terá como tema principal o pioneirismo knowledge and methods for the development of
de Rodrigues na construção de saberes e de the theory of history and the history of Brazilian
métodos para o desenvolvimento da Teoria da historiography, and on the reception of his work
História e da História da historiografia brasileira in the academic realm.
e a recepção de seu trabalho no universo aca-
dêmico.
Palavras-chave: José Honório Rodrigues; His- Keywords: José Honório Rodrigues; history
tória da Historiografia; Teoria da História; His- of historiography; theory of history; Brazilian
toriografia Brasileira. historiography.

O historiador e sua obra


O corpo do tempo deve entender-se como a História. [...] Cena indi-
visível, poema ilimitado, a História compreende tudo que é humano,
toda a criação2.
Nunca combati por partidos, mas a história me ensinou as mazelas, os
erros, os equívocos do processo histórico brasileiro. [...] A história é
uma arma de combate do homem e é nisto que ela revela sua relação
dinâmica com o passado3.

1 – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: gessicagg@yahoo.com.br.


2 – RODRIGUES, José Honório. História Corpo do Tempo. São Paulo: Perspectiva,
1976, pp. 12-13.
3 – RODRIGUES, José Honório. História Combatente. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

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José Honório Rodrigues nasceu em 20 de setembro de 1913, no Rio


de Janeiro. O menino José fez o curso primário no Colégio Santo Antônio
Maria Zacarias e concluiu o curso secundário no Colégio São Bento. Aos
19 anos, em 1933, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro,
formando-se Bacharel em 1937, mesmo ano em que conquistou o Prêmio
de Erudição da Academia Brasileira de Letras, por sua colaboração no
livro Civilização Holandesa no Brasil, de Joaquim Ribeiro.

Em 1935, José Honório e Lêda Boechat se conheceram em uma


“embaixada de estudantes” na Bahia e iniciaram o namoro que, em 03 de
março de 1941, foi oficializado pelos laços do matrimônio. Companhei-
ra também na vida intelectual, Lêda Boechat acompanhou o marido em
viagens de trabalho e colaborou em várias publicações do autor. O casal,
que esteve unido por 46 anos, deixa para a posterioridade dezenas de
livros publicados e quase meio século dedicado ao pensamento crítico da
história do Brasil.

A vida profissional de Rodrigues foi marcada não só pela inserção


em importantes instituições de arquivo e de produção de conhecimento,
mas também pelas inúmeras viagens ao exterior, seja para a formação
ou como professor convidado. De 1939 a 1944, Rodrigues trabalhou no
Instituto Nacional do Livro como assistente na Seção de Publicações,
então dirigida por Sérgio Buarque de Holanda. No período de 1943-44,
José Honório Rodrigues recebeu uma bolsa de estudos da Fundação
Rockfeller para investigar documentos relativos aos holandeses na Amé-
rica e para estudar crítica histórica. Na Universidade de Columbia, em
Nova York, deparou-se com discussões sobre metodologia e teoria da
história como ainda não eram exploradas no Brasil. Desde então, José
Honório se envolveu no propósito de trazer para o seu país tal estrutura
universitária, que permitiria incorporar ao currículo uma cadeira de In-
trodução aos Estudos Históricos, bem como a compilação de um manual
que cumprisse a função de apoio a todos os estudiosos da matéria: “uma
visão de conjunto dos principais problemas de metodologia da história”4.
1982, p. 7.
4 – RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: introdução metodológi-

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Além disso, o historiador exerceu o cargo de Diretor da Divisão


de Obras Raras da Biblioteca Nacional, de 1946 a 1958, sendo respon-
sável pela catalogação e pela publicação de documentos em nove volumes
dos Anais da Biblioteca Nacional e 40 volumes da coleção Documentos
Históricos. Segundo Francisco Iglésias, foi durante sua passagem pela
Biblioteca, lendo tudo o que estava ao seu alcance, que se formou o eru-
dito e grande conhecedor da historiografia nacional. Ainda por indicação
de Victor Nunes Leal, então Chefe da Casa Civil do Presidente Juscelino
Kubitschek e amigo íntimo de José Honório, este assumiu a direção do
Arquivo Nacional no período de 1958 a 1964, realizando grande reforma
que tencionava modernizar a instituição brasileira, aos moldes de seus
pares na Europa e nos Estados Unidos. Sua seriedade e seu compromisso
nessas duas instituições lhe garantiram grande conhecimento em arqui-
vística e sua preocupação em conservar a matéria-prima da história fez de
sua direção do Arquivo Nacional uma das mais contundentes que o órgão
já teve.

Enquanto sua carreira em órgãos públicos foi coroada de sucesso,


o mesmo não se pode dizer frente às suas pretensões nas universidades
brasileiras. José Honório chegou a lecionar em universidades como a
Universidade Federal Fluminense e a Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, mas nunca se tornou catedrático, embora as passagens
em Universidades norte-americanas – a do Texas (1963-64 e 1966) e a de
Columbia (1970) – lhe rendessem o convite da Universidade de Nova
York para ocupar uma cátedra vitalícia. No Brasil, outra academia o aco-
lheu: em 04 de setembro de 1969, fora eleito para a cadeira número 35 da
Academia Brasileira de Letras.

José Honório foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro


desde 1948, tornando-se sócio benemérito e participando de comissões
permanentes por quase todo o período de sua passagem pela instituição.
Publicou inúmeros artigos na Revista do Instituto, bem como seu necro-
lógio também foi registrado por ela. Antônio Pimentel Winz, em sessão

ca. 3ed. São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1969, p.11.

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seguinte ao falecimento de José Honório, proferiu algumas considerações


acerca do pensamento de Rodrigues e dizia que sua história era “uma
história viva, dinâmica, abrangente, na qual os velhos documentos rees-
tudados nos fornecem novas lições. Contrapunha-se à história oficial, an-
tiquada, tradicionalista e elitista”5.

Autor de uma vasta bibliografia, em sua grande maioria sobre teo-


ria, pesquisa e metodologia da história, mas também de estudos sobre
episódios da história pátria – como a independência – podemos elencar
algumas dessas obras: Civilização holandesa no Brasil (1940); Teoria da
História do Brasil: introdução metodológica (1949); O continente do Rio
Grande (1954); Aspirações Nacionais (1962); Conciliação e reforma no
Brasil: um desafio histórico-cultural (1965); História e historiadores do
Brasil (1965); Vida e história (1966); História e historiografia (1970);
Independência: revolução e contrarrevolução, 5 vols. (1976); História,
corpo do tempo (1976); O Conselho de Estado. O Quinto Poder? (1978);
História da História do Brasil. 1a Parte: A historiografia colonial. (1979).

Em 06 de abril de 1987, faleceu no Rio de Janeiro.

O autor como objeto de pesquisa


O encontro entre minha história e a história de José Honório Rodri-
gues remonta aos anos de graduação na UERJ e à exigência da elaboração
de uma monografia de conclusão de curso, em 20046. Foi então que, ao
buscar referências sobre o estudo da Teoria da História no Brasil, me de-
parei com sua obra monumental7.
5 – WINZ, Antônio Pimentel. “Recordando José Honório Rodrigues e Haroldo Vala-
dão”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, 148 (su-
plemento): p. 6, 1987.
6 – GUIMARÃES, Géssica Góes. José Honório Rodrigues: Por uma História Comba-
tente. Monografia de conclusão do bacharelado, orientada pela professora Lúcia Maria
Paschoal Guimarães. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2005.
7 – A pesquisa foi realizada sob a orientação da professora Lúcia Maria Paschoal Gui-
marães. Por meio do trabalho de conclusão de curso, tive acesso a uma bibliografia e
a um universo de referências que, até então, não havia feito parte de minha formação
como historiadora. O pioneirismo da professora Lúcia Guimarães e do professor Manoel
Guimarães (in memorian) nos estudos sobre a historiografia brasileira e sobre a formação

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Naquela oportunidade, um dos maiores desafios encontrados para


a efetivação da pesquisa consistiu na dificuldade em estabelecer interlo-
cução com outros autores. De certo, os trabalhos de Francisco Iglésias, de
Raquel Glezer e de Amaral Lapa já figuravam como referência obrigató-
ria para quem quisesse se aproximar do pensamento de Rodrigues, bem
como a dissertação de mestrado de Ana Luíza Marques, que também nos
forneceu uma excelente oportunidade de ampliação do diálogo. Contudo,
nos manuais então recém-publicados sobre historiografia e pensamento
brasileiro, JHR8 era, no mínimo, obliterado e as novas gerações de histo-
riadores desconheciam quase por completo sua imensa contribuição para
a escrita da História no Brasil.

Alguns anos após aquela experiência, retorno ao autor e a sua obra,


desta vez com outra finalidade, mas ainda bastante interessada em enten-
der sua inserção na órbita dos historiadores brasileiros. Agora, contudo,
o cenário é sensivelmente diferente. De 2005 até nossos dias, é possível
perceber uma grande transformação na recepção da obra do historiador
carioca. Seria plausível, inclusive, afirmar que este se tornou um autor
incontornável nas últimas tentativas de construção de balanços historio-
gráficos ou nas escritas memorialísticas sobre a História da historiografia
brasileira. Embora a produção historiográfica de Rodrigues tenha sido
profícua e diversificada, hoje, sua memória está associada ao seu empe-
nho na constituição de um campo teórico e historiográfico para a forma-
ção dos historiadores em nosso país.

O ponto que pretendo destacar aqui consiste em notar que a mudança


da produção historiográfica, há pouco mais de uma década, em relação
ao trabalho de Rodrigues, não se associa efetivamente a uma reavaliação
de sua obra, ou ao interesse em um movimento interpretativo acerca de
nossa história pregressa que pudesse ser encontrada em sua vasta produ-
ção. Tal mudança se inscreve na atual configuração dos estudos acerca da
escrita da História, sobretudo, no processo que tem sido compreendido

teórica através do estágio de iniciação científica, realizado sob a supervisão do professor


Carlos Maia, me forneceram o suporte necessário para que o trabalho fosse realizado.
8 – Adotaremos a abreviação do nome José Honório Rodrigues ao longo do texto.

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como “autonomização” da História da historiografia como uma congre-


gação de interesses, de objetos e de procedimentos particulares para pen-
sar o passado a partir da escrita da história e da sua própria historicidade9.

Manoel Guimarães assinalou que


[...] a História disciplinar refaz sua trajetória apresentando este percur-
so como um desenvolvimento natural do conhecimento em busca de
cientificização, apagando os traços que inscrevem esse procedimento
no mundo histórico, tornando-se a própria memória da disciplina10.

Dessa maneira, podemos entender que, ao mesmo tempo em que o


surgimento da história da historiografia pode ser associado a um momen-
to de maturidade do ofício do historiador11 – que percebe a necessidade
de analisar a feitura do seu trabalho, suas prerrogativas e seus métodos
–, a eminência deste tipo específico de pesquisa também pode ser indício
de uma estabilização do discurso historiográfico através da construção de
sua própria memória. Para Fernando Catroga, ainda que a história con-
sista em uma operação intelectual, dotada de método crítico, a história da
escrita da história pode ser pensada como uma espécie de rito de recorda-
ção, em um limiar no qual a narrativa acerca da história da disciplina tam-
bém exerce uma função memorialística, através da qual autores e obras

9 – Segundo Lúcia Maria Paschoal Guimarães, a expressão “História da Historiografia”


teria sido utilizada pela primeira vez por Hegel, nas Lições sobre a filosofia da História,
mas tal expressão só alcançaria novo status entre os historiadores por volta da segunda
metade do século XX, “na esteira dos embates entre tendências e metodologias às vezes
antagônicas, mas que demonstravam, cada qual a seu modo, a relatividade do conheci-
mento histórico [...]”. GUIMARÃES, Lúcia Maria P. “Sobre a história da historiografia
brasileira como campo de estudos e reflexões”. In: NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira
das; GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal; GONÇALVES, Márcia de Almeida; GONTI-
JO, Rebeca. (Orgs). Estudos de Historiografia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV/
Faperj: 2011, pp. 20-21.
10 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. “Entre amadorismo e profissionalismo: as
tensões da prática histórica no século XIX”. In: Topoi, Rio de Janeiro, dez. 2002, p. 185.
11 – Para melhor compreensão do surgimento da História da Historiografia, sobretudo
em solo germânico, ver: BENTIVOGLIO, Julio. “A Historische Zeitschrift e a historio-
grafia alemã do século XIX”. In: Historia da Historiografia. Ouro Preto, n. 6, março,
2011, pp.81-101.

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tornam-se referências para a prática de novas gerações12. Bem como, de


acordo com a historiadora brasileira Maria da Glória de Oliveira,
A historiografia como corpus de textos dados à leitura de uma cole-
tividade como parte de seu próprio esforço de construção identitária,
seria a evidência mais tangível das operações intelectuais que trans-
formam os tempos pretéritos em narrativa e objeto de conhecimento,
visando às demandas de um tempo presente e aos anseios de projeção
do futuro13.

Assim sendo, a história da historiografia correria o risco de ora legi-


timar sua tarefa através de uma genealogia que lhe conferiria autoridade;
ora lançar-se em busca dos modelos e dos exemplos que orientariam a
escrita do passado. A fim de evitar que os estudos de história da historio-
grafia se transformem em mera compilação de listas de títulos, ou ainda
em produção de manuais do bom exercício do ofício, Manoel Salgado nos
asseverou que
Se a prática historiográfica requer uma interrogação dos procedimen-
tos de construção da memória, por que não submetermos a própria
disciplina a esta investigação, como forma de compreendê-la como
uma produção temporal das sociedades humanas?14.

Mantendo as considerações aventadas por Manoel Salgado como


horizonte de reflexão, Valdei Araujo, em artigo publicado em 2006 e na
sequência do debate em nova publicação em 2013, defendeu o lugar da
história da historiografia como uma disciplina autônoma entre as possi-
bilidades de pesquisa dos historiadores. Mais uma vez, é reconhecida a
relação próxima entre o processo de disciplinarização da história e o apa-
recimento dos primeiros estudos sistemáticos que elegeram a escrita da
história como seu objeto de investigação no final do século XIX europeu.
Mas não só isso, Valdei Araujo defende uma nova visada sobre essa va-
riação do discurso historiográfico a partir de uma abordagem que permita
12 – CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Coimbra: Quarteto,
2001, p. 42.
13 – OLIVEIRA, Maria da Glória. “A História da Historiografia Brasileira e suas evi-
dências”. In: Historia da Historiografia. Ouro Preto, n. 10, dezembro de 2012, pp. 275-
276.
14 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Op. cit., 2002, p. 185.

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que as escritas sobre o passado sejam analisadas a partir de uma “analítica


da historicidade”15.

Ou ainda, nas palavras de Lucia Guimarães, Lucia Pereira das Neves,


Marcia Gonçalves e Rebeca Gontijo – organizadoras da publicação que
reuniu algumas das reflexões compartilhadas no I Seminário Nacional de
História da Historiografia Brasileira, realizado em 2008, na UERJ – que,
ao enfatizar as possibilidades em disputa do “como lembrar” no interior
de uma tradição historiográfica, destacaram que no estudo da História da
Historiografia
atenta-se para a própria historicidade das práticas e valores que infor-
mam a historiografia, nos seus fartos e necessários desdobramentos
quanto a produção de saberes relativos às figurações do tempo, do
passado, do presente, do futuro, da condição humana e suas ações, de
uma imagem de si e do outro, de identidades e alteridades, de indiví-
duos, sociedades e culturas16.

Aproximando as propostas acima, percebemos que, na última década


houve uma intensa mobilização em torno do reconhecimento da historio-
grafia como uma fonte de estudos do passado. Ao estabelecer as prerro-
gativas dos trabalhos dessa comunidade de historiadores, Valdei Araujo
sugere que a escrita da história seja analisada através de uma atitude críti-
ca de seu historiador, sobretudo ao atentar para o caráter histórico de toda
produção intelectual que, inevitavelmente, é tão pertencente ao seu tempo
quanto qualquer outro produto da ação humana. E, com o reconhecimento
desta condição histórica inexorável, “a história da historiografia assumiu
a nova tarefa de verificar os lugares, as instituições, as determinações
extracientíficas que definiram as condições de produção do discurso da
história”17. Dito de outra forma, as pesquisas que privilegiam a história da

15 – ARAUJO, Valdei Lopes de. “História da Historiografia como analítica da historici-


dade”. In: Historia da Historiografia. Ouro Preto, n. 12, agosto, 2013, pp. 34-44.
16 – NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira das; GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal;
GONÇALVES, Márcia de Almeida; GONTIJO, Rebeca. (Orgs). Estudos de Historiogra-
fia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV/Faperj: 2011, p. 8.
17 – ARAUJO, Valdei Lopes de. “Sobre o lugar da História da Historiografia como dis-
ciplina autônoma”. In: Locus: Revista de História de Juiz de Fora. Vol. 12, n. 1, 2006, p.
80.

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historiografia podem oferecer a oportunidade de aproximação com o am-


biente intelectual e com as formas de pensar e de agir em um dado perío-
do – por meio do exame da escrita da história; da compreensão da noção
de passado, presente e futuro inerente às obras; da análise da forma e do
estilo das narrativas; da crítica do paradigma vigente para a disciplina; da
investigação acerca das condições concretas de realização da pesquisa e
elaboração das conclusões dos autores, entre outros aspectos.

O crescente interesse na constituição de uma comunidade de histo-


riadores que comungam de preocupações semelhantes, embora existia di-
versidade de inclinações teóricas, metodológicas e políticas, pode ser ve-
rificado na criação do Seminário Nacional de História da Historiografia,
em 2007, no lançamento da Revista Eletrônica História da Historiogra-
fia, em 2008, e na fundação da Sociedade Brasileira de Teoria e História
da Historiografia, em 2009. E, aqui, retornamos ao nosso historiador em
análise, pois, na carta de criação da Sociedade, apenas um nome é citado
com o objetivo de legitimar a existência da agremiação: Rodrigues que
é invocado como o pioneiro nos estudos, cuja associação se destina, por
“definir a arquitetura disciplinar da área teórico-metodológica no campo
da Historiografia no Brasil”18. Tendo o Seminário e a Sociedade como
aglutinadores dos estudos de história da historiografia, mas não os úni-
cos pólos de produção de pesquisas nesta área19, muitos trabalhos surgem
nesse período, contribuindo para a ampliação dos saberes acerca da escri-
ta da história no Brasil e em terras estrangeiras.

18 – Carta de Mariana. Disponível em: http://www.sbthh.org.br/conteudo/view?ID_


CONTEUDO=532, último acesso em 01 de julho de 2017.
19 – Destaco aqui a referência aos principais núcleos e grupos de pesquisa e produção de
conhecimentos em Teoria da História e História da Historiografia no Brasil e que foram
sistematizados por Fernando Nicolazzi e Valdei Araujo em “A História da Historiografia e
a atualidade do historicismo: perspectivas sobre a formação de um campo”. In: ARAUJO,
Valdei Lopes de [et. al.] (Orgs). A dinâmica do Historicismo: revisitando a historiografia
moderna. Belo Horizonte: Argvmentum, 2008, p. 12. Também se faz importante lembrar
os esforços recentes dos historiadores brasileiros em construir diálogos com a produção
estrangeira, notadamente através da International Network for Theory of History (http://
www.inth.ugent.be/) e da recém-criada Rede Latino-Americana História Pensada (http://
hpensada.wixsite.com/historiapensada).

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Foi, nesse cenário, que ocorreu o grande aumento do interesse dos


historiadores brasileiros pela obra de JHR, sobretudo no âmbito de sua
militância pela constituição de conhecimentos e de práticas para a for-
mação dos pesquisadores brasileiros. Seu pioneirismo nos estudos de
Teoria da História e História da Historiografia não poderia ser negado e
a referência ao seu trabalho tornou-se mais recorrente. Podemos elencar
desde trabalhos que privilegiam a obra de JHR em suas análises como as
pesquisas de doutoramento de André de Lemos Freixo e de mestrado de
César Saad, Ítala Byanca Silva e Érika Uhiara; bem como aqueles que
seguem suas pistas para pensar a história da historiografia no Brasil. Entre
estes se destaca o artigo de Mateus Pereira e Pedro Afonso dos Santos,
que propõe estudar os primórdios da história da historiografia brasileira
seguindo as sugestões de quatro notas de rodapé de Teoria da História do
Brasil20.

Como podemos ver acima, e para minha grata surpresa, retomar os


estudos sobre a contribuição intelectual de JHR tornou-se tarefa ainda
mais complexa e menos solitária.

O projeto de Rodrigues para a formação do historiador


Após o período de estudos nos Estados Unidos, graças à bolsa re-
cebida pela Fundação Rockfeller, entre 1943-1944, Rodrigues retornou
ao Brasil cônscio de que, para a constituição de uma robusta tradição
historiográfica nacional, a formação dos historiadores – neste momento
já no âmbito universitário, nos cursos de Filosofia, Humanidades e Letras
– não poderia prescindir do treinamento dos profissionais para o exercí-
cio da pesquisa de novas fontes, da reflexão teórica e da análise crítica
da historiografia. Como bem assinalou André Freixo, o seu projeto para
a construção de um Instituto de Pesquisa Histórica e a elaboração de um

20 – SANTOS, Pedro Afonso Cristovão dos; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria.


“Mutações do conceito moderno de história? Um estudo sobre a constituição da categoria
“historiografia brasileira” a partir de quatro notas de rodapé (187801951)”. In: SILVA,
Ana Cloclet da; NICOLAZZI, Fernando; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Contri-
buições à História da Historiografia Luso-Brasileira. São Paulo: Hucitec/ Belo Horizon-
te: Fapemig, 2014, pp. 15-73.

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“tríptico” sobre a teoria, a pesquisa e a historiografia no Brasil conferem


ao seu trabalho o vulto de uma “arquitetura da historiografia brasileira”21.
Se, por um lado, o Instituto idealizado por ele jamais tenha saído do pa-
pel, em outra medida, o historiador nos legou uma significativa produção
escrita e é dela que nos aproximaremos agora.

Entre tantos aspectos da obra de nosso historiador que poderiam ser


tematizados aqui, nos interessa lançar o olhar, mais uma vez, para sua re-
lação com Capistrano de Abreu. Nossa escolha se justifica não apenas por
esta consistir em uma das características mais marcantes da concepção
de história de Rodrigues, mas, sobretudo, porque nos auxilia a entender a
retomada do interesse dos historiadores brasileiros por sua obra.

Embora Rodrigues não tenha sido o único discípulo ilustre e dedica-


do de João Capistrano de Abreu, certamente, o seu empenho em organi-
zar, prefaciar, anotar e publicar correspondências, artigos, ensaios e livros
do mestre contribuiu para a construção de uma interpretação da obra do
autor de Capítulos de História Colonial a partir das lentes de seu princi-
pal prefaciador22. Por esse motivo, além de conhecermos muito de Capis-
trano através de José Honório, também acreditamos que, na via oposta,
seja possível reconhecer, no retrato que Rodrigues elabora do mestre, a
construção de sua própria persona. O elogio a Capistrano de Abreu é
também uma defesa da história que o próprio José Honório defendia para
o Brasil: uma historiografia que deveria ser nacional, uma historiografia
brasileira como “experiência histórica” e “horizonte a ser perseguido”,
como concluiu André Freixo23, pois, para José Honório Rodrigues,

21 – FREIXO, André de Lemos. “Um “arquiteto” da historiografia Brasileira: história e


historiadores em José Honório Rodrigues”. In: Revista Brasileira de História. São Paulo,
vol. 31, n. 62, pp. 143-172, 2011.
22 – GONTIJO, Rebeca. O Velho Vaqueano: Capistrano de Abreu (1853-1927): memó-
ria, historiografia e escrita de si. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013, p. 326. SILVA, Ítala Byan-
ca de M. “Anotar e prefaciar o “mestre”: reflexões de José Honório Rodrigues sobre Ca-
pistrano de Abreu. In: História da Historiografia. Ouro Preto, n. 3, pp.83-105, set. 2009.
23 – FREIXO, André de Lemos. “Um “arquiteto” da historiografia Brasileira: história e
historiadores em José Honório Rodrigues”. In: Revista Brasileira de História. São Paulo,
vol. 31, n. 62, 2011, p. 149.

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a história não é o passado. A história é uma criação dos historiadores,


que sempre selecionam e julgam por conta própria, de acordo com sua
concepção do mundo. Os fatos básicos não são senão matéria-prima,
os tijolos da construção. Eles não falam por si. Eles são, como dizia
uma personagem de Pirandelo, um saco, que se enche como se quer.
Não propriamente como se quer, pois mesmo desrespeitando o feti-
chismo dos fatos e dos documentos, o historiador tem obrigações para
com os fatos: exatidão, seleção, relevância24.

Rebeca Gontijo assinalou que JHR foi um dos responsáveis para a


constituição de uma “moderna tradição” na historiografia brasileira25. De
acordo com a historiadora, ao se aproximar de Capistrano e destacar suas
qualidades, Rodrigues propunha um afastamento em relação à obra de
Varnhagen e uma instituição de uma tradição que se alicerçava na práti-
ca historiográfica “revisionista”, a fim de romper com uma historiografia
conservadora e consolidar uma visada “nacional” sobre os acontecimen-
tos pretéritos. Em Filosofia e História, de 1981, portanto últimos anos da
produção intelectual de Rodrigues, podemos, portanto, encontrar a se-
guinte afirmação:
Não se deve sustentar o fetichismo dos fatos e dos documentos, mas
saber que os fatos selecionados, no oceano dos meros fatos, devem
sua escolha ao julgamento do historiador, criador da historiografia e
da própria história nos seus efeitos futuros26.

São os “efeitos futuros” que interessam a JHR quando este pensa e


articula uma tradição historiográfica para o Brasil. André Freixo, por sua
vez, assinala que a construção de uma tradição por José Honório não se
caracterizaria como a defesa de um tradicionalismo, pois a tradição que
o autor de Teoria da História do Brasil propõe seria mais bem compreen-
dida a partir da perspectiva gadameriana, como um longo diálogo dentro
de uma comunidade intelectual, no qual as questões são formuladas e
24 – RODRIGUES, José Honório. História Corpo do Tempo. São Paulo: Perspectiva,
1976, p.135.
25 – GONTIJO, Rebeca. “José Honório Rodrigues e a invenção de uma moderna tra-
dição”. In: NEVES, Lúcia M. B. Pereira das [et al.] (Orgs.). Estudos de Historiografia
Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011, p. 277-292.
26 – RODRIGUES, José Honório. Filosofia e História. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1981, p.14.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

reformuladas não só à luz da historicidade dos autores, mas também por


intermédio da conversa que os atravessa27. No livro de artigos História
Combatente, José Honório apresentou as seguintes considerações sobre a
tessitura do conhecimento sobre o passado:
A história é uma estrutura cultural carregada de valores, e para orga-
nizar a percepção do passado, a nossa lembrança cognoscitiva, temos
que articular o inarticulado, estabelecer a interação dialética entre o
que aconteceu e o que significou o acontecido. A história é uma pode-
rosa construção ideológica que pode modelar nosso sentido de iden-
tidade social, o nosso futuro nacional ou o nosso propósito social28.

Ao afirmar que “nunca vivemos em um presente, mas sempre num


gerúndio”29, JHR nos revela como concebia temporalmente a história: a
história, como corpo do tempo, estaria sempre marcada pelo seu devir,
pelo fluxo ininterrupto entre o que foi e o que há de ser, mediado pelo
instante fugaz do presente. Nesse tecido, no qual o tempo é o tear e a
história o fio, a sua escrita não poderia ser melhor representada do que
como a ação do tecelão, que tem em suas mãos a tarefa de unir fio a fio, e
construir a malha que confere sentido a toda vontade e esforço envolvidos
nesta arte. Nessa “estrutura cultural carregada de valores”, falam os ho-
mens de ontem e os de hoje, conversa a humanidade, preparando os dias
vindouros. Neste diálogo, a tradição se anuncia como a manutenção de
questões e problemas que conferem caráter a uma cultura, um povo, uma
historiografia. Na concepção de Rodrigues, “A vida humana é vivida na
profundidade dos tempos; a ação do presente tem lugar não só como uma
antecipação do futuro, mas à luz do passado”30.

E na formulação desta tradição moderna para a historiografia bra-


sileira, destaca-se a produção de João Capistrano de Abreu. Rodrigues
encontrou em Capistrano um referencial para sua própria experiência
profissional: tanto o pesquisador quanto o pensador crítico inspiraram sua
27 – FREIXO, André de Lemos. “Corpo e alma: História e Tradição no pensamento de
José Honório Rodrigues”. In: Revista do Instituto Histórico Brasileiro. Rio de Janeiro, a.
174 (461): pp. 329-354, out/dez, 2013.
28 – RODRIGUES. Op. cit., 1982, p. 111.
29 – Idem, ibdem.
30 – Idem, p. 15.

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trajetória intelectual e o modelo de análise da história do Brasil, inaugu-


rado por Capistrano, tornou-se o grande paradigma de interpretação his-
toriográfica que norteou o seu pensamento31. Capistrano foi mais do que
o mestre, foi a bússola e o termômetro da escrita do historiador carioca e
este foi dos mais expressivos continuadores de sua obra: a preocupação
em escrever uma história que tivesse como personagem principal o povo
brasileiro, presente de maneira tão altiva nas ideias de José Honório e
incentivadora de sua historiografia combatente, resulta da influência da
interpretação que Capistrano elaborou de nossa história.

Para Rodrigues, o mestre cearense era o maior historiador brasileiro,


exatamente, porque ousou deslocar sua narrativa, dando voz aos despri-
vilegiados e anunciando sua bravura. Com a inversão de seu olhar, sua
história pôde enxergar, em primeiro plano, os indígenas e a natureza que
cercava nosso território, em despeito da tradição historiográfica que havia
apresentado a história do Brasil como continuidade da história portugue-
as – de onde se pode deduzir que a inquietação de José Honório Rodri-
gues, face às mazelas que têm assolado o povo deste país por toda sua his-
tória, em grande parte, foi motivada pela narrativa crítica de Capistrano.
[...] os Capítulos de História Colonial foram, na verdade, o primeiro
estudo a ir além do que os franceses chamam évènement, para conse-
guir uma visão interpretativa liberta dos fatos, usando somente os es-
tritamente necessários para localizar desenvolvimentos importantes.
Também explorou aspectos da história social que simplesmente não
existiam nas histórias brasileiras da época – a formação da família, a
vida diária do povo comum32.

31 – Faz-se importante lembrar que a Sergio Buarque de Holanda também havia con-
ferido centralidade à obra de Capistrano de Abreu. Além disso, Sergio Buarque também
era um inegável referencial para JHR. HOLANDA, Sergio Buarque de. “O pensamento
histórico no Brasil nos últimos 50 anos”. In: MONTEIRO, Pedro Meira; EUGÊNIO, João
Kennedy. Sergio Buarque de Holanda: Perspectivas. São Paulo: Unicamp; Rio de Janeiro:
EdUERJ, 2008.
32 – RODRIGUES, José Honório. “Hispanic American Historical Review (HAHR)”.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, 344: pp. 157-172,
jul.-set., 1984. Entrevista concedida ao professor John D. Wirth, em 1982 e traduzida por
Lêda Boechat Rodrigues.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

A historiografia brasileira é especialmente marcada por dois momen-


tos notáveis e que a história desta mesma historiografia, por vezes, sugere
como totalmente opostos33. O primeiro corresponde à compilação da mo-
numental História Geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Varnhagen,
nos anos 1850, enquanto o segundo refere-se à publicação de Casa Gran-
de e Senzala, de Gilberto Freyre; de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque
de Holanda e Evolução Política do Brasil, de Caio Prado Júnior, na dé-
cada de 1930. Capistrano de Abreu e sua obra são compreendidos como
uma espécie de “elo” entre esses dois momentos, quando é considerado
por seus analistas como mediador entre os marcos da interpretação da
história nacional acima referidos, já que, se por um lado, Capistrano dia-
logou diretamente com Varnhagen e, por outro, inaugurou uma vertente
historiográfica que foi muito frequentada pelos autores pós-trinta.

Assim sendo, a escrita da história de Capistrano de Abreu conferiria


ao conjunto de histórias e de interpretações sobre o Brasil o caráter de
uma “tradição”, uma vez que, muito mais do que representante de uma
ruptura epistemológica ou ideológica, a obra de João Capistrano simboli-
zaria a modernização de uma tradição historiográfica que começou com o
grande mestre descobridor de fontes, que foi o Visconde de Porto Seguro,
avançando, no final do século XIX, para uma historiografia crítica, sobre-
tudo a partir do diálogo com as ciências sociais que se afirmavam no meio
acadêmico e, por fim, alcançando na década de 1930, uma interpretação
sobre o passado brasileiro que buscava a superação das mazelas de seu
próprio processo histórico.

José Honório considerava Capistrano o primeiro historiador mo-


derno do Brasil – utilizando-se do conceito “moderno” com o signifi-
cado semelhante ao empregado por Ricardo Benzaquen posteriormente
em “Ronda Noturna”34– e progressista, tanto porque foi o historiador da
33 – REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro:
Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999.
34 – Isto é, como expressão de uma historiografia marcada pelo realismo, a crítica das
fontes e a tensão entre objetividade e “ponto de vista”, desde a construção do objeto até
a apresentação da narrativa. ARAÚJO, Ricardo Benzaquem “Ronda noturna: narrativa,
crítica e verdade em Capistrano de Abreu”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 1: pp.

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mudança, como pela inovação teórica e ideológica que empreendeu. A


questão da periodização da história e de sua escrita foram temas centrais
na obra de JHR e, neste aspecto, Capistrano de Abreu ocupa, novamente,
uma função paradigmática, uma vez que representa uma inflexão para a
escrita da história no Brasil. Capistrano é o “antes” e o “depois” do enre-
do que JHR apresenta sobre a historiografia nacional.

Ainda assim, existe outra razão para tamanha predileção. Em arti-


go de 1953, que integrou o Seminário promovido pelo IHGB pelos cem
anos de nascimento de Capistrano35, José Honório afirmou que o mestre
cearense “foi a mais lúcida consciência da historiografia brasileira”36 e
em História da História do Brasil (1970), afirmou que o necrológio de
Varnhagen foi o primeiro escrito de análise de história da historiografia
no Brasil.

Motivos para o elogio a Capistrano não faltavam. Entre eles, pode-


mos destacar aqueles aspectos que fazem do Capistrano de José Honório
um exemplo de historiador que pode inspirar admiração até nas mais jo-
vens gerações: exímio descobridor de fontes; modelo para o trabalho crí-
tico com o corpus documental a partir de métodos da escola histórica ale-
mã37; mestre que manteve um relacionamento próximo com as ciências
sociais, articulando saberes que seriam úteis a uma nova interpretação do
processo histórico; além de ser autor do primeiro esboço crítico de uma
história da historiografia no Brasil, a partir do Necrológio de Varnhagen.
Todas essas virtudes fizeram dele a principal referência para as três opera-

29-54, 1988.
35 – Para André de Lemos Freixo este texto significou uma inflexão na apropriação que
JHR fez da obra de Capistrano de Abreu. FREIXO, André de Lemos. “Um “arquiteto” da
historiografia Brasileira: história e historiadores em José Honório Rodrigues”. In: Revista
Brasileira de História. São Paulo, vol. 31, n. 62, pp. 143-172, 2011.
36 – RODRIGUES, José Honório. “Capistrano e a historiografia brasileira”. In: Revista
do Instituto Histórico Brasileiro. Rio de Janeiro, 221, out.- dez., 1953, p. 138.
37 – FREIXO, André de Lemos. ““Ein Freund Deutschlands”: ou o Capistrano de Abreu
de José Honório Rodrigues”. In: MEDEIROS, Bruno Franco; SOUZA, Francisco Gou-
vea; BELCHIOR, Luna Halabi; RANGEL, Marcelo de Mello; PEREIRA, Mateus H. F.
(Orgs). Teoria e Historiografia: Debates Contemporâneos. Jundiaí: Paco Editorial, 2015.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

ções do “tríptico” defendido por Honório Rodrigues e uma etapa impres-


cindível para a modernização da escrita da história no Brasil.

As camadas das escritas da história


Podemos perceber que existem algumas camadas na história da re-
cepção e apropriação da obra de JHR pelos historiadores brasileiros. En-
tre elas, percebemos três estratos38 particularmente significativos: um pri-
meiro momento, no qual se destaca a compilação de uma narrativa acerca
da história da historiografia do Brasil, elaborada por Rodrigues, e que al-
çara Capistrano de Abreu a uma posição basilar; mais adiante, o processo
de profissionalização do ofício de historiador, a partir da consolidação das
pós-graduações nas décadas de 1970 e 1980 e certo silenciamento acadê-
mico sobre a produção intelectual de Rodrigues; e, por fim, a organização
de uma comunidade de historiadores interessados na autonomização da
história da historiografia, como área específica de pesquisa e reflexão, e o
reconhecimento do pioneirismo de José Honório nesses estudos.

Se, ao seguirmos a sugestão de Valdei Araujo, assumimos que a his-


tória da historiografia deve conferir maior densidade temporal aos traba-
lhos analisados, então será nosso compromisso assegurar que a dimensão
da escrita que é anterior à narrativa apresentada ao leitor – na qual há de
ser levada em conta a historicidade daquele que escreve sobre o passa-
do, bem como os acontecimentos envolvidos nesta complexa dinâmica
– seja considerada como elemento constitutivo das interpretações sobre
as ideias e obras em estudo. Se, assim for, podemos então concluir que a
superfície da questão apresentada neste texto pode ganhar nova feição se
adentrarmos nas camadas mais profundas desta história.

A operação que proponho aqui não é nenhuma acrobacia teórica,


mas a suposição de uma interpretação acerca dos movimentos internos
de uma tradição historiográfica e aos desafios que são apresentados aos
38 – Aqui fazemos referência à teoria de Reinhart Koselleck sobre os “estratos do tem-
po” e à noção desses estratos como “vestígios da experiência”. KOSELLECK, Reinhart.
Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto: PUC-Rio, 2014,
p. 20.

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membros de sua comunidade. Ao historicizarmos a presença de JHR


como referência para a formação de historiadores no Brasil nas três últi-
mas décadas, percebemos que a recorrência à sua obra foi crescente nos
últimos dez anos39. Tal mudança se deu, quase na totalidade, em razão da
declarada filiação de Rodrigues à historiografia de João Capistrano. Não é
apenas ao José Honório Rodrigues prefaciador, anotador e continuador de
Capistrano de Abreu que faço alusão aqui, mas também ao historiador ca-
rioca, cuja obra contribuiu para a consolidação de uma narrativa acerca da
historiografia brasileira, que se assenta muito mais na identidade do que
na outra face da historicidade, segundo François Hartog, a alteridade40.

Não que a obra de Rodrigues não nos instigue a tal, nem mesmo que
a historiografia, como campo de pesquisa, não tenha apresentado ques-
tões das mais pertinentes para pensar o Brasil, a escrita da história e o
ofício do historiador.41 Apenas faço lembrar que obra de JHR tem ainda
mais a nos oferecer. E, me valendo ainda da sugestão de Reinhart Kose-
lleck, acerca dos estratos do tempo e da longa e imprevisível operação
de sedimentação das formas de viver e de pensar em uma sociedade – de
maneira que os períodos não apenas se sobreponham, mas também que
39 – Apenas a guisa de exemplo, cito o artigo de Renato Lemos, “Anistia e crise política
no Brasil pós -1964”, publicado na edição de dezembro de 2002, na revista eletrônica
Topoi. Nele consta uma única referência a Rodrigues, na página 289, a saber: “José Honó-
rio Rodrigues, um historiador atualmente um tanto fora de moda nos meios acadêmicos,
dedicou boa parte de sua energia intelectual a denunciar o caráter contrarrevolucionário
da prática conciliatória das elites políticas brasileiras. Para ele, a “política de conciliação”
é sempre a “conciliação das divergências da minoria dominadora”, seu objetivo principal
é mais contornar as contradições entre os grupos dominantes que “conceder benefícios
ao povo” e embora sempre se fale “em pacificação, confraternização”, a ordem é o seu
alvo”. Além de atestar a pouca popularidade das ideias e livros de José Honório no âmbito
acadêmico em 2002, o trecho nos revela que a referência em questão nem mesmo estava
associada ao seu pioneirismo no campo da Teoria da História e História da Historiografia.
40 – HARTOG, François. “Primeiras figuras do historiador na Grécia: historicidade e
história” In: Os antigos, o passado e o presente. Brasília: Editora Universidade de Brasí-
lia, 2003. Neste capítulo Hartog discorre sobre o surgimento da historicidade como cate-
goria poética na Odisseia, sobretudo através de sua concepção como a “não coincidência
de si consigo mesmo”, ou seja, por meio do entrelaçado jogo entre identidade e alteridade.
41 – O artigo de Pedro Afonso Cristovão dos Santos, Thiago Lima Nicodemo e Mateus
Henrique de Faria Pereira, “Historiografias periféricas em perspectiva global ou transna-
cional: eurocentrismo em questão”, publicado em 2017 na Revista Estudos Históricos é
uma excelente exemplo dessa historiografia.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

se confundam em movimentos de recorrência, soterramentos e ressurgi-


mentos ao ritmo de transformações que não controlamos objetivamente
– proponho adicionar outra camada as nossas considerações. Dessa vez,
se torna muito nítido o tempo que é atravessado por contextos históricos
diversos e que é sobrecarregado por eles.

Minha proposta consiste em pensar o historiador idealizado por JHR


não a partir de sua relação com o historiador caboclo, mas com o grande
historiador do Império: Francisco Adolfo de Varnhagen. Para tal, utiliza-
rei um artigo de Rodrigues publicado em 1978, em lembrança dos cem
anos de falecimento do Visconde de Porto Seguro42. Conscientemente,
atravesso aqui camadas em formas de décadas e de gerações, que marca-
ram a formação e a obra de JHR. No final da década de 1970, já historia-
dor maduro43, engajado no debate acerca da redemocratização do Brasil,
tendo assistido ao surgimento dos primeiros cursos de pós-graduação no
país, Rodrigues escreveu novamente sobre Varnhagen, aquele que nunca
deixou de ser a referência obrigatória para a escrita da história do Brasil.

Se, num primeiro olhar, pudéssemos pensar que o autor da História


Geral do Brasil e a sua obra servissem de espelho invertido para José
Honório, em uma leitura mais atenta, contudo, é possível perceber que
Rodrigues, como um exemplar historiador da historiografia, preocupa-se
em preservar na crítica o valor da tradição. De certo, ele não se eximiu em
elencar as diversas razões de seu dissídio com aquela historiografia que
considerava inegavelmente conservadora, sobretudo, porque apanágio de
um discurso oficial e aportuguesado do passado colonial. Contudo, não
só questionou o elogio à colonização portuguesa. Analisou outras obras
de Varnhagen e averiguou nelas a boa prática do ofício historiográfico.
Como já havia sido realizado por Capistrano de Abreu no necrológio de
Varnhagen, em 1878, publicado no Jornal do Commercio, JHR também
reconheceu o trabalho extraordinário realizado pelo Visconde de Porto

42 – RODRIGUES, José Honório. Op. cit., 1982, pp. 191-225.


43 – José Honório Rodrigues publicou até 1982, quando, acometido por uma enfermida-
de, foi obrigado a se reservar aos afazeres particulares.

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Seguro e ratificou sua obra como referência incontornável para os estudos


sobre os três primeiros séculos do Brasil.

Talvez JHR não estivesse apenas contribuindo para as efemérides


em torno do autor da primeira História Geral do Brasil, mas sim refazen-
do, um século depois, os passos de Capistrano de Abreu44. Se o Necroló-
gio de Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro (1878)
figura como texto inaugural de uma reflexão sobre a escrita da história
no Brasil, no qual Capistrano “apresentou considerações a respeito dos
escritos históricos produzidos durante o século XIX e estabeleceu os ru-
mos que a disciplina deveria tomar”45, José Honório, por sua vez, não de-
sejava menos. Seu tom assertivo mostrava a preocupação com os rumos
da historiografia no Brasil, pois lhe era importante que os historiadores
compreendessem a função social que deveria orientar sua escrita. Assim
sendo, podemos imaginar que o exemplo de historiador, o qual José Ho-
nório desejara para o país, deveria seguir a boa tradição de descobridor de
fontes, que se iniciou com Varnhagen, mas que encontrou em Capistrano
traços modernos, aliando a compilação à crítica dos vestígios do passa-
do. Poderíamos imaginar que terminava aqui a reminiscência elogiosa e,
na sequência, teria início os apontamentos discordantes, desde ao caráter
elitista desta historiografia, até aos erros interpretativos que o Visconde
de Porto Seguro haveria cometido46.

44 – JHR sobre o Necrológio de Varnhagen: “[...] tal como era esse artigo de Capistrano
de Abreu, o primeiro grande artigo da historiografia brasileira, cujo centenário também
comemoramos este ano”. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., 1982, p. 201.
45 – ANHEZINI, Karina. “Na entrecena da construção da História no Brasil”. In: ME-
DEIROS, Bruno Franco; SOUZA, Francisco Gouvea; BELCHIOR, Luna Halabi; RAN-
GEL, Marcelo de Mello; PEREIRA, Mateus H. F. (Orgs). Teoria e Historiografia: Deba-
tes Contemporâneos. Jundiaí: Paco Editorial, 2015, p. 246.
46 – No seguinte trecho podemos verificar algumas críticas de JHR a Varnhagen: “Real-
mente, como já escrevi, a História Geral do Brasil contém como revelação de fatos mais
do que pode esperar o leitor desavisado. Por outro lado, a distribuição da matéria não
obedece a critérios rigorosos; segue mais a cronologia que a temática; a intitulação dos
capítulos é inexpressiva, pois mais esconde que revela as novidades que contém. Porque
é mais cronológica do que temática, na concepção geral, é também expressão de um pro-
cesso construtivo mais estático que dinâmico. [...] O grande tema da obra é a colonização
portuguesa”. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., 1982, p. 205.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

Mas o comentário não para por aí. No artigo, cujo título reconhe-
ce em Varnhagen o “Primeiro mestre da Historiografia Brasileira”, José
Honório destacou uma característica da análise de Varnhagen que outros
críticos já haviam conferido realce, mas as intenções de Rodrigues são
distintas: “Varnhagen [...] exerce, como nos demais (livros e textos), com
o maior rigor seu julgamento histórico sobre as personalidades”47. Ora, o
que seria tal “julgamento histórico”? O tom adotado revela uma ironia ou
uma congratulação? Afinal, remonta ao processo de profissionalização do
ofício a máxima de que os historiadores não devem exercer julgamentos
sobre o passado48. Marc Bloch também nos exortara a compreender os
acontecimentos e indivíduos de outrora49. Os manuais de Iniciação aos
Estudos da História tem repetidamente desaconselhado os historiadores a
julgar seus objetos de estudo50. Então qual seria o sentido desta avaliação
do trabalho de Varnhagen?

Primeiramente, se faz importante notar como Rodrigues compreende


esta operação na historiografia de Varnhagen. Para ele, a capacidade de
elaborar julgamentos estaria associada, por um lado, a um cabedal crítico
que só há de ser capaz de mobilizar o historiador que domine as fontes e
os fatos a respeito do acontecimento em questão. Levar a cabo um “julga-
mento histórico” significaria, nesses termos, apreciar a matéria por meio
de amplo conjunto de provas e estabelecer conexões entre os vestígios
encontrados. Em outra medida, José Honório não deixou de assinalar que
até mesmo o mais alemão dos historiadores também era movido por suas
ideias, preferências políticas, costumes, perspectiva de mundo, enfim, por
sua ideologia51.

47 – RODRIGUES, José Honório. Op. cit., 1982, p. 208.


48 – RANKE, Leopold von. “O Conceito de História Universal”. In: MARTINS, Este-
vão Rezende (Org.). A História pensada: teoria e método na historiografia europeia do
século XIX. São Paulo: Contexto, 2010, pp. 202-215.
49 – BLOCH, Marc. Apologia da História. Rio de Janeiro: Zahar , 2001.
50 – SCHAFF, Adam. Historia e verdade. 2. ed. São Paulo : Martins Fontes, 1983.
51 – As dimensões deste trabalho não nos permite tratar do tema da ideologia com o cui-
dado que ele requer. Contudo, indico como referência para o leitor o conjunto de preleções
de Paul Ricœur sobre o tema: RICŒUR, Paul. A ideologia e a utopia. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2015.

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géssiCa góes guimarães gaio

Esta ideologia de Varnhagen, que sempre o guiou na própria seleção


dos fatos, e na sua apreciação crítica. Seu horror a todo inconformis-
mo, fosse mais rebelde ou não, a facilidade com que denomina todo
movimento mais exaltado de anarquista, sua condenação aos princí-
pios democráticos republicanos – são várias as suas censuras às ma-
caqueações dos princípios dos Estados Unidos –, sua decidida repro-
vação a todos os movimentos revolucionários, de gente qualificada ou
não, sua ojeriza ao outro lado, à oposição radical, sua inata repulsa às
ideias de Frei Caneca, haviam de guiá-lo, como o guiaram, a susten-
tar certos princípios fundamentais que estão sempre presentes em sua
obra histórica: o colonialismo, o oficialismo e a rejeição do naciona-
lismo caboclo. O contexto social de sua ideologia é, como o da sua
obra, extremamente limitado52.

Sem receio de afirmar a relação intrínseca entre ideologia e inter-


pretação do passado, JHR não desqualifica a obra de Varnhagen porque é
ideológica, mas aponta os limites de sua escrita em razão de sua ideolo-
gia. A ideologia não é um impedimento ao historiador, mas sim elemento
constitutivo de sua visão sobre os acontecimentos pretéritos. Rodrigues
entende que a ideologia de Varnhagen limita seu horizonte analítico não
porque falseia a realidade, ou esconde a verdade, mas porque representa
um grupo social – e seus interesses – bastante restrito. Temístocles Cezar
notou que “A distinção entre sujeito e objeto da pesquisa, fundamento
teórico da emergente ciência histórica, era uma premissa que Varnhagen
tinha muita dificuldade em respeitar”, também em sua carreira diplomá-
tica a imparcialidade parece um valor menor do que a tarefa de ser “justo
e verdadeiro”, e, segundo Cezar, tais qualidades estavam intrinsecamente
associadas a sua formação erudita53.

Quando julgava o passado, Varnhagen o fazia através de duas opera-


ções: uma epistemológica, ao criticar as fontes os e vestígios pretéritos,
bem como a historiografia a sua disposição; outra ideológica, sempre que
operava sua análise a partir de uma visada carregada das tintas de seu
próprio pertencimento histórico, de seu lugar de fala, da interação com os
52 – RODRIGUES, José Honório. Op. cit., 1982, p. 217.
53 – CEZAR, Temístocles. “Varnhagen em movimento: breve antologia de uma existência”. In:
Topoi. Vol. 8, n. 15, jul-dez 2007, p. 161 e 177.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

seus leitores. O que me chama atenção consiste em que essa característica


não é apontada por JHR como um problema, ao contrário disso:
O que em Varnhagen admiro, embora dele divirja, é seu constante
julgamento histórico. Ele julga tudo e todos, distribui galardões, faz
menções honrosas, atribui qualificações, sem nenhum embaraço. Nis-
so ele cumpriu também sua missão de historiador, a que tantas vezes
se referiu em vários trabalhos. Com um grande senso de responsabili-
dade, ele pode errar, mas julga com suas convicções e sua concepção
de mundo54.

Não é de meu interesse defender aqui o livre julgamento como prá-


tica historiográfica, todavia, me aproprio das palavras de JHR para lançar
uma provocação: afinal, ainda consiste em um embaraço para nós o reco-
nhecimento da escrita dos historiadores como um ato político? Ao esca-
var e confundir camadas da obra e recepção das ideias de Rodrigues en-
tre historiadores brasileiros, sugiro que Rodrigues possa nos inspirar não
apenas como pioneiro nos estudos de história da historiografia brasileira,
mas também como um historiador irônico, disponível a tratar questões
da “ordem do dia” e que não se exime em perceber na escrita na história
o jogo de interesses entre os que dominam e aqueles que precisam lutar
pelos seus direitos.

E, neste momento em especial, talvez a disposição de José Honório


para o combate seja uma trilha a ser seguida na busca pela diferença.
Entendendo os combats pour l’histoire não apenas como uma atitude do
historiador frente ao passado, tal como foi defendido por Lucien Fevbre e
Marc Bloch, ou seja, como uma história-problema que tomasse o passado
a partir das questões de seu próprio tempo, mas sim com um combate pela
história como uma decisão do historiador com a sua sociedade, uma de-
cisão pelo enfrentamento com sua historicidade. Uma atitude que faça de
nossa escrita da história compreensão e transformação de si no pêndulo
entre identidade e alteridade. Que nossa história da historiografia possa
continuar a ser também a “não coincidência de si consigo mesmo”55.
54 – RODRIGUES, José Honório. Op. cit., 1982, p. 222.
55 – HARTOG, François. “Primeiras figuras do historiador na Grécia: historicidade e
história” In: Os antigos, o passado e o presente. Brasília: Editora Universidade de Brasí-

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Outras considerações – doze anos depois


Sabemos que José Honório Rodrigues não deteve o monopólio sobre
os estudos de Teoria da História, Pesquisa Histórica e Historia da Histo-
riografia no Brasil. Se nas décadas de 1950 e 1960 seu trabalho pioneiro
aponta para uma autonomização da história da historiografia em relação
à história literária; na década de 1970, já no âmbito universitário, traba-
lhos como os de Alice Canabrava, Carlos Guilherme Mota, Pedro Moacyr
Campos, Pedro de Alcântara Machado entre outros, também assinalam
preocupações acerca da produção de interpretações sobre o passado brasi-
leiro e a constituição de uma historiografia nacional, como nos diz Lúcia
Guimarães56.

A atual reaproximação dos historiadores em relação à obra de José


Honório é muito oportuna, mas não podemos deixar de atentar para os
perigos de uma prática histográfica que, no ímpeto de consolidar uma
narrativa sobre sua própria história, incorra na naturalização de uma tra-
dição, através da afirmação de cânones e da constituição de caminhos
interpretativos obrigatórios para compreender um complexo cultural e de
experiências tal qual a escrita da história em um país. Voltando ao projeto
de uma história da historiografia como “analítica da historicidade”, pode-
mos lembrar as palavras do próprio Rodrigues, para quem
[...] a historiografia brasileira é um espelho de sua própria história. A
historiografia, como outros ramos do pensamento e da atividade hu-
manos, está inegavelmente integrada na sociedade de que é parte. Há,
assim, uma estreita conexão entre a historiografia de um período e as
predileções e características de uma sociedade. O nexo é econômico
e ideológico57.

lia, 2003, p. 26.


56 – GUIMARÃES, Lúcia Maria P. “Sobre a história da historiografia brasileira como
campo de estudos e reflexões”. In: NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira das; GUIMA-
RÃES, Lucia Maria Paschoal; GONÇALVES, Márcia de Almeida; GONTIJO, Rebeca.
(Orgs). Estudos de Historiografia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV/Faperj: 2011.
57 – RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: introdução metodológi-
ca. São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 4ª ed., 1978, p. 32.

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José Honório rodrigues e a autonomização da História da Historiografia no Brasil

Analisada a crítica de José Honório à historiografia brasileira e enu-


meradas as qualidades de uma história por ele idealizada, podemos con-
cluir que seu objetivo era dotar a história de poder de intervenção política
na sociedade, de tal forma que o historiador, em sua prática, fosse um
perpétuo protetor do povo, reservando para este o mais digno e honroso
lugar em sua escrita. José Honório acreditava que o caminho para o aces-
so irrestrito aos direitos políticos e sociais passava obrigatoriamente pela
democratização da narrativa da história. Somente através de um revisio-
nismo historiográfico, que conduzisse o povo a um lugar de destaque em
nossa história, poderiam ser reparadas as injustiças responsáveis pelo ca-
ráter cruento da história do Brasil, bem como as “verdades” naturalizadas
pela ideologia conservadora poderiam ser desmistificadas.
Quando se vê a história assim, as virtudes do povo e a deliberada mal-
dade da minoria dominante, a verdadeira missão da história torna-se
subversiva, no sentido de combater pela transformação desse quadro
opressivo e deformado. [...] Assim, a missão do historiador é mostrar a
necessidade de derrotar a opressão, as ditaduras, as minorias elitistas,
que querem tudo para si e nada dar ao povo. [...] Se estamos interessa-
dos na capacidade do povo de fazer história, devemos reformar nossa
pesquisa, nosso método, nossa história58.

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