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Apresentação
Três amigos, desenvolvem diversas conversas, sobre assuntos
corriqueiros, e cada uma ao seu modo e entendimento discorre sobre o
tema do dia.
Mesmo que num primeiro momento, a conversa se revele informal, há nas
entrelinhas um ideal de informação.
Não obstante espera-se que a informação embutida que traduz o
pensamento de cada um dos participantes da conversa, sirva para quem
leia como um referencial de reflexão sobre crenças.
Alguns costumes que são comuns às pessoas, e que acarretam ao longo
da vida somente dissabores, podem ser evitados, quando se compreende
o que esses costumes representam.
O ser humano busca a felicidade, mas durante todo o tempo em que vive,
colabora para sua derrocada.
Trabalha contra si literalmente.
As conversas serão anexadas em um único texto com uma quantidade
máxima de cinquenta páginas e estrutura no formato ebook.
É um projeto singular que pretende criar um vínculo de camaradagem
entre as pessoas e os amigos.
É possível que se tenha curiosidade sobre quem são esses três
personagens, então neste primeiro exemplar segue informações sobre eles
também, breve apresentação individual.
Sumário
Apresentação
Quem são os amigos
Introdução
Primeira semana de 2021
O que fazer diante da situação indefinida
Amor, palavra interessante, mas desconhecida
Problemas, obstáculos, bloqueios
Amigos invisíveis, todos temos
O caminho de volta, ou jornada do autoconhecimento
O uso do livre arbítrio que acarreta uma situação futura
Lhe trouxe um regalo
Verdade e mentira
Por trás dos meus olhos fechados
Introdução
Mas ao mesmo tempo não avançam para saber o que é que está
incomodando tanto e por que está incomodando o mundo todo, onde
bilhões de outras pessoas também estão incomodadas.
Neste ponto ele para de falar e ela que até então estava prestando atenção
ao que ele falava, levanta-se e vem para meu lado, e diz:
-Você concorda com ele?
Não estava esperando que fosse inquirida, eu estava apenas como a
secretaria que vem fazer as anotações de uma ata de reunião. Tentei me
desvencilhar da pergunta apenas dizendo que não me cabia opinar,
somente auxiliar para que a conversa fosse transcrita.
Ela olhou-me com espanto e balançando a cabeça rapidamente num
sentido de desaprovação do que eu havia dito, e falou:
-Para mim as pessoas estão fazendo o que é esperado. Primeiro cuida de
si e depois pensa nos demais, e neste momento diante do perigo que se
apresenta, deve-se querer a cura.
Voltando a sentar, fez um gesto de quem passava a palavra novamente
para ele, que continuou:
-Este tem sido o comportamento das gentes por séculos e séculos e veja
onde chegaram.
Se ao surgir um problema todos compartilham seus anseios, seus medos,
opiniões e ideias, mais facilmente se consegue resolver. Porque é a
somatória que faz a diferença. Quanto mais escondidos mais temerosos e
quanto mais quietos menos conseguem alcançar a solução.
Não estou falando de confusão. Falo de ideias para resolver, falo de
pessoas dispostas ao entendimento, que pesquisem em fontes diversas,
desde as tradições e clássicas literaturas, até os antigos conhecimentos
perdidos no tempo, aliando-se tudo isto à modernidade dos dias com toda
a tecnologia existente e por fim perscrutar o oculto.
Não seja por demais orgulhosa oh filha da grande estrela. Toma a charrua
que há muita terra para ser arada e muita semente a ser lançada por todos
que são trabalhadores da última hora.
Terminei de digitar e olhei para eles, arrependida, mas contente, se os
tenho comigo, compartilhando, assim também eu farei.
Retomo a via e saio a compartilhar, começando por esta conversa.
Pensei comigo, ela é muito atrevida, parece que sabe tudo. Vou dar um
pouco de trabalho para eles desta vez.
Então coloquei uma questão para desenvolvermos.
-O que nos orientam a fazer para que nosso futuro, o futuro dos terrestres
não seja de total aniquilação?
Esperei que algum deles respondesse, mas simplesmente ignoraram.
Insisti no questionamento e foi Lady Shin quem falou.
-Você está querendo brincar, mas deveria mudar a postura e diante do
que viu no seu voo, o que você própria orientaria que fosse feito pelo
povo?
Ela transferiu-me a pergunta. E percebi que realmente eu estava com um
humor bastante sarcástico e resolvi respirar profundamente e mudar
minha vibratória.
Depois de pensar por alguns segundos respondi.
-Cara Lady Shin, nem daria uma sugestão mais, penso mesmo, que não
há redenção para o povo, do qual eu faço parte.
Notei que ambos ficaram indignados com minha declaração. E então
Lorde Anju resolveu puxar o fio para ver até onde eu iria.
-Viver em meio a uma guerra, não significa que precise participar dela,
pelo contrário pode usar de seus atributos para promover paz, em
ambientes possíveis, dando assim um alento para aqueles que sintam-se
desolados, mas na condição em que se encontra, dizer que não há
redenção, parece-nos, demasiado e fora de propósito.
Pelo que sabemos, há muito tempo está se preparando para o momento
de agora, e como ficam todos que lhe acompanharam na jornada, que se
dedicaram para seu treinamento, que tantas horas se dispuseram consigo,
quando poderiam estar tratando com outros, que não estão esmorecidos.
Sem que lhe pareça uma exigência solicitar que se mantenha firme no
trabalho, será de bom alvitre que se anime, porque é quase impossível que
consiga sensibilizar alguém com o que lhe campeia o íntimo neste
momento.
Mas também lhe conhecemos a natureza e sabemos que do mesmo tombo
que levas, além de chorar no chão, levanta-se rapidamente e põe-se a rir,
não é mesmo assim?
Eu acabei rindo porque sou assim exatamente.
A janela estava aberta e entrava uma aragem fresca, o dia estava muito
quente, então o contraste causava bem estar em mim pelo menos, neles
não digo pois que estão em outra esfera, onde não há incomodo
ambiental.
Agora de fato a conversa entraria para a seriedade que o trabalho exigia,
então eu mesma cuidei de reformular o argumento do meu
questionamento.
-Peço que esqueçam o que falei, foi sim, um desabafo sem sentido, mas é
que me desgosta ver como nós, perdemos nosso tempo, como não
agregamos nada de bom, e vivemos feito débeis, achando graça de tudo,
sem buscar profundidade em nada.
Eles se olharam e vi que Lord Anju levantou as sobrancelhas, isso é um
claro sinal de desacordo, assim é que eu sabia que a bronca continuaria.
-Não deve colocar-se desta forma. Quando diz me desgosta ver como nós,
perdemos tempo e etc... Não há necessidade de demonstrar humildade
neste nível, sabemos que não está inserida neste contexto e acaba sendo
piegas para nós ouvir essa colocação.
É natural que não se sinta afetada por nada do que acontece e por nada
do que a grande maioria faça, porque está para além de alguns portais, já
desenvolveu capacidades e dons que outros ainda não vislumbram, então
mesmo para não se elevar e demonstrar orgulho há que saber-se colocar
em seu devido lugar, que não é de modo algum no chão, tanto quanto não
é no alto, está no intermédio.
Mas sabe de tudo isto, não vou continuar porque torna-se cansativo e
fugindo do que estamos fazendo que é tentar destrinchar assuntos
obscuros temas para que se tornem esclarecimentos à outras pessoas que
estejam interessadas.
Digo que perdem tempo sim, grande parte da população para não dizer
que a maioria perde tempo, está como disse achando graça, assistindo a
desconstrução do mundo onde vivem, estão acolhendo as imposições que
são feitas com intenções escusas achando que estão sendo protegidas, isto
acontece tão somente pelo desconhecimento, e o desconhecimento é
nascido da ignorância.
Quando uma criança está brincando na rua, correndo para lá e para cá, e
de repente surge um grande buraco que não estava ali até então, a
tendência da criança é correr para o buraco, para ver, por que é curiosa,
não tem senso de perigo, não observa se poderá aumentar e lhe engolir.
Assim está agindo os seres humanos neste tempo, estão fascinados pelos
brinquedos possíveis de comprar, estão contentes por terem garantidos
seus direitos e porque a vida lhes será longa.
No entanto, não sabem que brinquedos são esses, que lhes tornaram
completamente dependentes de suas posses; não sabem que direitos são
os que estão garantidos, porque sequer conhecem seus direitos como
cidadãos e como seres humanos; não sabem nada sobre a longevidade da
vida, por que não prestam atenção ao tanto de falsidade está envolvendo
as informações que recebem.
São crianças com idade adulta.
E como falar com crianças, se não for com uma linguagem simples,
cordata, que lhes atraia, assim como o buraco na rua lhes atraiu?
A novidade é algo que a criança gosta, algo que não havia antes, se for
colorido, alegre, se trouxer encaixado uma música ainda mais atrativa se
tornara.
Mas não é para estas crianças que pretendemos falar. Para estas já existem
muitos contadores de histórias e estão fazendo um trabalho apreciável
pelo qual responderão na hora devida.
Nossa conversa é para aqueles que já não estão crianças tanto, mas para
aqueles que se sentem abandonados, que estão descrentes, que perderam
a esperança, que revoltaram-se contra a fé.
Porque estes sim, sofrem, estes sim precisam de amparo e de informação
séria, para que saibam que nada está perdido, o que acontece é um
processo natural de crescimento dos povos.
Para que um ser amadureça ele precisa aprender a lidar com tudo que
existe a sua volta, e para que ele consiga administrar tudo isto sem se ferir,
sem se decepcionar e jogar a toalha, é preciso que ele se reconheça em
meio a tudo que existe.
Que ele saiba quem é, saiba seu potencial, mantenha-se firme mesmo em
meio ao vendaval e mire sempre adiante, mesmo que as vezes precise se
proteger escondendo-se em redutos escuros e sujos, ainda assim tem
dentro de si a certeza que é um estado passageiro.
É para este a nossa conversa, para que saiba inclusive que outros já
passaram por estes momentos e saíram adiante mais fortes e mais
resolutos, e agora se dispõem a compartilhar o que foi aprendido por eles.
Não é uma conversa erudita, cheia regras para que a pessoa se emoldure,
não é, estamos apenas, dizendo que nós estamos aqui.
Estamos vendo tudo e podemos ajudar com nossa experiencia.
Que não se furtem a nos procurar, e essa procura acontecerá através do
que entenderem do que estamos falando.
Aprender conosco talvez não vão, mas vão ter a certeza de que ficar o
mais alto possível em seus níveis de pensar e sentir é a chave para que
consigam avançar e sair ilesos.
Sabemos que milhares falam sobre isto, milhares e há muito tempo, mas
nós começamos agora e vamos falar também, sem intenção de salvamento
geral porque não há do que se salvar, o que há é a necessidade de cada
pessoa, individualmente cuidar-se, e não tem como ser diferente.
Mesmo que se viva em sociedade, em uma cidade, em um estado, em um
país, certas decisões cabem particularmente a um ser humano, e ele não
pode agregar nestas decisões outros, pois não haverá sustentação, não
poderá prometer porque não tem esse direito e não poderá sequer tentar
dizer que fará, porque não tem esse poder.
Por isso, é que se fala em amor incondicional, o amor que é vibracional,
sem apegos, sem condicionamentos, sem restrições, sem divisões.
Parou de falar, respirou e encerrou deixando já engatilhado o tema par a
próxima conversa.
-Vamos tratar sobre esse assunto da próxima vez, será sobre amor
incondicional, o que é como se alcançar.
Não há como uma pessoa viver uma vida sem ter que resolver problemas.
O primeiro deles é a sobrevivência, assim que nasce o ser, para sobreviver
torna-se problema para quem o tem perto, como os familiares.
A medida que cresce os problemas surgirão para ele resolver, é o
programa de aprendizado, se não for por falta será por excesso de
qualquer coisa.
Mas precisará aprender a lição de resolver problemas. Lembrando
inclusive que não será um problema de cada vez, não, eles simplesmente
surgem, e se não forem resolvidos se acumularão.
Todos sonham em não ter problemas, ilusão que deve ser banida
completamente da vida, evita, decepções, desespero e até doenças.
Problema é problema, carece de solução, entender esse conceito ajuda
muito.
Obstáculos, outra modalidade de situação que gera impedimento.
Um exemplo simples é uma estrada com buracos, já notaram que
gostamos de usar buracos como exemplos, por que são fáceis de imaginar.
O obstáculo é algo que surge em determinada situação que está em
andamento.
Não há um obstáculo solto, que venha de encontro a pessoa que esteja
parada, sem fazer nada, sempre pega a pessoa em uma situação de
realização de alguma atividade. Seja essa atividade correta ou não isso
não vem ao caso.
O obstáculo não deve permanecer ele precisa ser transposto, contornado,
descontruído ou destruído.
Porque do contrário a atividade corrente sofrerá um abalo e normalmente
uma parada.
Assim quando surgir um obstáculo ele deverá ser analisado com calma
para se encontrar a maneira mais adequada para que desapareça.
De repente me dei conta que era hora deles chegarem para a conversa de
hoje e respirei fundo, voltando ao momento presente.
Logo chegaram, estavam com olhares alegres, trouxeram flores e
depositaram no vaso.
Eu liguei o notebook para os trabalhos de hoje, esperando seja algum
assunto inerente ao nosso mundo e às nossas necessidades.
Assim encerrei meu devaneio, mas garantindo em pensamento, para
quem me ler, que todos temos amigos invisíveis, deem uma chance a eles.
E se posso hoje pensar assim, é porque também fiz por longo tempo o
modo que gasta mais tempo e energia.
Ela riu de si, e ele também riu, e eu acabei rindo também, mesmo sem
saber do que ela falava.
-Conte-nos Shin, como é esse caminho tão trabalhoso.
Ela se levantou, andou até a janela e saiu para o jardim, eu pensei,
começou o charme.
Pegou uma borboleta que estava pousada num galho e trouxe com o
indicador esticado segurando o inseto, era bem bonito, todo azul com
partes douradas, mas o pozinho característico já estava esparramado pela
sua branca mão.
Mostrou para ele que riu, encaminhou-se para a mesa onde eu estava e
disse:
-Olhe que linda, transformou-se de uma lagarta sem graça nesta beleza
toda. Não perdeu tempo dando voltas, fez conforme é sua natureza.
As pessoas não agem assim, esticam muito o caminho de volta, esse
caminho que todos chamam autoconhecimento, é disto que estou falando.
Andou até a janela e soltou a borboleta, ou antes instou para que ela
voasse já que estava acomodada ao dedo de Lady Shin.
Retomou seu lugar de costume, sentando-se e eu já com coceira, ela me
provocava a paciência em toda conversa, uma hora destas teríamos que
conversar sobre isto.
-Calma menina. Disse ela me olhando diretamente.
-Essa sua impaciência é um dos lados dos quais falei, estão sempre com
pressa de alcançar algo que não sabem o que seja.
Mas vamos ao que interessa, sei que seu tempo é escasso.
Novamente ela dizia entre linhas que eu não estava valorizando esses
encontros, eu senti dentro de mim a sua verve provocativa.
Liguei o notebook e comecei a abrir uma página para digitar quando ele
falou sobre o tema do dia.
-Falaremos sobre livre arbítrio, é um tema batido eu sei, mas precisamos
trabalhar nele um pouco mais, principalmente quando estamos lidando
com finais, com situações que se desencadeiam porque anteriormente se
tomou decisões sem saber que haveria resultados futuros.
Pensei eu, realmente um tema mais que batido, nem quero imaginar o que
vai levantar hoje, por favor seja novidadeiro, tudo que tinha para se falar,
foi falado milhares de vezes.
-Nem tudo. Ouvi a voz de Lady Shin, falando sobre o que eu estava
pensando. Apenas levantei os olhos e deparei com seu olhar firme que me
fixou por alguns segundos.
-Estou pronta. Foi o que falei, dando assim o sinal para que ele falasse.
Sempre há um momento de silêncio. Hoje também houve.
Lady Shin levantou-se pegou a mão do Lord, passou em seu rosto, e
depois saiu, percebi que não participaria.
-Livre arbítrio para o jovem é completamente diferente do livre arbítrio
para o velho.
O velho, e digo aquele que tem o corpo alquebrado, que já viveu décadas
e andou léguas, não domina mais suas vontades, e, portanto, seu livre
arbítrio não vai além do que vai comer no almoço ou no jantar, as vezes
sequer escolhe a roupa que vai usar.
Então, é melhor não me ater sobre esse livre arbítrio, porque não é mais
relevante. Aquele que se encontra nesse estado, deve ao máximo
aproveitar o pouco que lhe resta de dias, no entanto que o faça com a
consciência de que algumas consequências lhe alcançarão ainda, nem que
seja nas suas últimas horas no seu último suspiro.
Começou tão agourento, o tema que não tive vontade argumentar, apenas
continuei digitando, o que ele falava, como se estivesse falando com
alguém que não estava na sala, ou que pudesse ouvir de longa distância.
Por alguns segundos ele parou de falar e seu olhar perdeu-se em algum
lugar invisível para mim.
Depois piscando como se voltasse de um sonho, retomou o assunto.
-O que está jovem de corpo, não acredita que um dia será velho de corpo,
sim de corpo, por que de alma ninguém envelhece, se não quiser.
E estando jovem tudo que faz, faz além da conta. Se come, come mais do
que precisa, se bebe, bebe mais do que devia, se acasala, acasala de modo
desequilibrado e irresponsável, apenas preocupando-se com a
momentânea satisfação.
Assim também ele age com as questões que não são de primeira grandeza,
como as aquisições, que muitas vezes faz sem que fosse de sua
competência manter o padrão que deseja e mete-se em dívidas de toda
monta.
Quando a questão é a estética seja em que modalidade for, o exagero
percorre todos seus caminhos para que marque sua presença.
Do mesmo modo age como a ética, mas não pelo exagero de postura e sim
pela falta, pela imprudência ou pela amoralidade da qual pensa que não
responderá.
Seus negócios devem ser os mais lucrativos, nem que para isso precise
falir meia dúzia de outros ao seu redor.
O rigor, a ordem, a disciplina, a limpeza, o luxo, tudo é levado ao extremo
para mais ou para menos.
Vive a vida como se ela nunca fosse acabar, como se os dias não lhe fossem
somados, como se suas células permanecessem em reprodução
eternamente.
Vive como se estivesse dotado de poder suficiente para comandar o
destino, este que é determinado, pois que o jovem não sabe quanto vai
durar sua aventura.
Fosse regrado e evitaria as consequências que lhe alcançarão sem que ele
possa correr delas.
Livre arbítrio tão desejado é uma faca de dois gumes. O gume conhecido
é somente aquele que realiza as vontades, o outro fica oculta para o futuro,
é este o que corta de verdade.
Porque um dia, haverá de sofrer pelo exagero de tudo que fez, pelo
exagero de não fazer o que deveria fazer.
Enquanto está no caminho e suas pernas são fortes, anda mais devagar,
reconheça a fartura da mesa, mas não se lambuze de modo que contamine
seus tecidos de toxinas, gorduras e açucares.
Enquanto está no caminho e seus braços são fortes, abraça menos corpos,
abraça mais os mesmos corpos, e procura conhecer a largura do seu
próprio peito para que não falte espaço aos que estarão em sua cabeceira
em dias que virão.
Enquanto está no caminho e seus olhos podem ver com clareza, olhe mais,
olhe as naturais belezas, afasta sua visão das telas reprisadas que lhe
prendem de ver o que está acontecendo na realidade dos dias, para que
assim no futuro, suas previsões se concretizem mas não lhe preguem
peças como fosse uma criança.
Enquanto está no caminho e suas palavras são audíveis, fala mais de bons
assuntos, de felicidade de alegria, do que de cifrões e contratos, de lucros
e prejuízos para que quando for sua hora de prestar contas saiba se
defender, se for acusado de ter feito algo errado.
Enquanto está no caminho e suas mãos são ágeis e capazes, faz a sua
melhor obra, seu maior legado, sua marca no mundo, faz o simples ser
espalhado e não esconde nada, não retem nada, não acumulada nada,
para que quando sua hora estiver chegando, não lhe acometa falências de
órgãos enquanto sua alma está presente.
Livre arbítrio é tão somente, medir com a menor medida, para que o
excesso não seja pesado, quando a terra ainda não lhe for leve.
Aspirei e o perfume envolvente, mexeu com meu ser de dentro para fora,
senti vontade fechar os olhos para sentir mais integralmente. Assim eu
fiz.
Virei e deixei cair uma gota oleosa, de tonalidade verde claríssimo, passei
na mão e parecia que renovava, nutria, tornava viçosa a pele.
-Muito obrigada, é um presente muito especial.
Falei, ainda investigando o vaso que mesmo tão pequeno era de muito
requinte, com nervuras em sua extensão.
-Gosta de poesia, eu soube.
Novamente me surpreendeu, desta vez com a pergunta, quase afirmação.
-Sim gosto, embora não entenda muito a respeito, mas gosto de como as
palavras são vivas e das muitas composições que se pode criar com elas.
Não sei dizer por que, mas, algo estava acontecendo, parecia que a
maneira como Lady Shin falava comigo, não era a mesma de sempre.
Ou era eu quem estava meio comovida por causa do presente.
-Se policia muito, menina, não tem necessidade de ser assim tão formal
comigo, perto do Lord, é uma coisa, mas eu não sou igual a ele, não sou
cheia de normas.
Ela tem razão, tomo bastante cuidado quando ele está por perto, procuro
não ser intrometida, nem falar do que não sei, e tento ao máximo
aproveitar o tempo que é oferecido para os trabalhos, são diversos e bem
diferentes um do outro, demorei um pouco a entender, mas agora, me
movo bem.
-Mas o que eu quero é lhe propor fazermos poesias juntas, o que acha¿
Eu fazer poesia com Lady Shin, não me pareceu muito coerente, no
mínimo eu ficaria me sentindo inferiorizada.
-Estou querendo fazer amizade com você, do mesmo jeito que você ensina
que as pessoas devem fazer, vai me rejeitar¿
Não tinha como escapar eu pensei, então o melhor seria não contrariar.
-Não sou tão capaz assim, mas posso tentar.
-Ótimo, sei que vamos nos dar muito bem. Trouxe alguns versos para
você, e espero que me responda, não precisa se preocupar ninguém vai
saber, quando tiver feito, coloca ali fora, dentro daquele vaso que está
virado no canteiro, eu pegarei para ler, agora vou embora.
E saiu sem fazer barulho ao andar, exatamente como chegou, e eu com o
papel na mão, fiquei olhando e pensando, qual seria sua idade¿
Li e reli, uma vez após a outra, parecia que falava de mim, por que eu não
sei, mas ecoava as palavras que se juntaram a frente do meu ser e uma
imagem formara.
Via a varanda e a montanha como fosse eu ali acordada, sempre acordada.
Balancei a cabeça para sair daquele fluxo e pensei, é uma poesia, devo
responder, e ao mesmo tempo já sabia o que dizer.
É interessante como memórias são presentes, por isso demoramos tanto
para mudar, por que vivemos o tempo todo o mesmo momento.
Para fechar as palavras que deixei fluir, por que não são versos, não tem
rima nem métrica, uma resposta e só o que é.
Verdade e mentira
Três não é demais
Depois de terminar minhas tarefas desse mundo, respirei o outro mundo,
onde outra tarefa me aguardava.
As vezes penso que minha vida toda transitei de cá para lá e de lá para cá,
porque é natural esse movimento, que não necessita exatamente de um
movimento, apenas de um foco.
Assim enquanto fui pensando, cheguei no mundo de lá, respirei
profundamente como me apraz fazer.
Sinto-me muito confortável aqui, fechos os olhos e lembrar de onde
estava, segundos antes, parece difícil, por incrível que pareça.
Mas não estou aqui para divagar e sim para desenvolver mais um texto,
um texto que será ditado ou resultará de uma conversa, ainda não está
definido, e isto é algo que me agrada, não saber como pensam os
protagonistas, ou se até eu serei protagonista.
Ouço risos e sei que estão chegando. Me aprumo na mesa e fico à espera,
olhando a grande janela que previamente abri.
Alguns poucos minutos e apontam no corredor ladeado de flores, choveu
um pouco a noite e então a natureza esmerou-se na exuberância para
receber nossos convidados ou seria anfitriões, não sei, até porque aqui não
é a casa de nenhum de nós.
-Salve criaturinha como está hoje seu humor¿
Lady Shin não esperou o gesto cavalheiro de Lord Anjú e entrou
rapidamente vindo até minha pessoa com um sorriso mordido e os olhos
apertadinhos, demonstrando que estava tinhosa hoje, mais que outros
dias.
Mas eu estava tão feliz, que sorri de volta e lhe falei:
-Lady Shin, estou muito bem e sinto que você também está muito
animada.
Ela abriu a mão e me deu uma das flores do jardim, falando em seguida,
enquanto eu pegava a for.
-Peguei só uma, não fique brava comigo.
-Está bem, não ficarei. Respondi e coloquei a florzinha meio amaçada
sobre a mesa bem no canto para não sofrer mais que o que já havia sido
sacrificada.
Atrás de Lady Shin o Lord também veio sorridente, e me entregou um
papel dobrado, pediu que lesse, enquanto se acomodavam.
Abri o papel e li.
-Querida, estou usando da bondade do meu amigo para lhe pedir um
favor. Gostaria muito que escrevesse sobre nossa conversa de outro dia,
quando o tema foi verdade e mentira. Somente esse o texto, mas a
assinatura foi significativa, nunca havia lido assim tão presentemente, é
sempre etérea ou distante, mas hoje estava aposta no papel que eu lia.
Simplesmente Sananda.
Será que eu teria cabedal para escrever sobre aquela conversa e sua fala
tão inesperada e envolvente, meu pensamento voou, mas logo voltou pelo
chamado que ouvi.
-Podemos começar¿ Era Lord Anju, requisitando.
-Sim podemos, desculpe, deixei o pensamento voar. Falei.
-Bom, sendo assim, também queremos saber o que pensava. Lady Shin já
se enfiara na conversa.
-Ah! Não é nada importante, lembrei sobre uma conversa de dias antes, e
que agora o interlocutor pediu para escrever sobre, e eu não sei se tenho
essa competência.
Eles se olharam e foi o Lord quem comentou:
-Tem competência para conversar com ele, mas não para escrever o que
ele pede¿
Fiquei acuada porque ele estava certo, o que eu estava fazendo afinal, não
será minha fala, nem palavras minhas, eu cederei e isto sim eu posso fazer.
Sorri e assenti com a cabeça pois o Lord mais uma vez está certo.
-Ele comentou comigo sobre o assunto tratado e pediu que fosses motivo
desta conversa, mas preferi que ele requisitasse, porque assim você
poderá discorrer como quiser, ou ele mesmo virá para tratar.
O Lord é muito bem relacionado como pode-se perceber, e não fazem
alarde do quanto são evoluídos na espiritualidade.
Fiquei um pouco apreensiva, mas respirei e deixei que tudo se
encaminhasse, o que tivesse que ser, seria.
-Quer um pouco de água aromatizada querida¿
Aceitei e Lady Shin me serviu um copo de água fresca, caiu como uma
luva, me fez bem, acalmou por assim dizer.
Dentro do meu coração sentia que não seria um trabalho igual aos outros,
algo aconteceria, olhava para eles e sentia emoção e eles sorriam, fazendo
de conta que não liam o meu estado alterado.
-Posso entrar¿
Estava entrando já, com seu passo largo e suas vestes batendo nos
tornozelos, e tudo se iluminou sem ter mudado a claridade de nada.
Chegou próximo de Lady Shin e Lord Anju, e colocou as mãos nos ombros
deles, ficando no meio e seu sorriso e olhar arrebatadores me envolveu,
impossível por mais se lute, impossível não deixar verter uma lágrima
sequer.
Como explicar essa sensação senão que sua energia seja tal que nos toca
ainda que não queiramos ou tenhamos tempo de tentar qualquer reação.
Nada impede que abruptamente ele nos faça bem.
Só consegui falar:
-Mestre Sananda, mestre irmão Jesus.
E tive a impressão que uma corrente elétrica passou pelo meu corpo, indo
localizar-se no meu cérebro e lá permanecendo como um foco de luz
iridescente que acomoda-se em azul prateado.
-Sou Eu! Sua fala é clara e forte sem ser autoritária, é como uma luz num
ambiente escuro, fica alterado de imediato.
Olhei para os três, em atitude de pura amizade e felicidade, e me condoí
de mim, que posso saber destas existências, mas não posso permanecer
com eles, ainda não posso. E assim toda a humanidade ainda não pode.
Mas eles sorriam para mim e eu ali parecendo uma abelha numa colmeia
cósmica, sem poder me mexer por absoluta inaptidão, porque
oportunidade eu tinha, estava sendo dada.
O próprio Sananda quebrou minha cristalização dizendo:
-Vamos trabalhar¿
Lembro que falamos sobre verdade e mentira e essas poucas palavras que
foram ditas deveriam receber luz, para que outros as ouçam também, não
concorda¿
Eu respondi que sim, com voz sumida. Sei que ele entendeu pois
continuou.
-Exatamente igual falamos, não vou mudar nada, é somente para
registrar.
A verdade por si existe e sobressai, permanece, mantém, sobrevive e vive
naquele que pratica no seu dia.
Diria que diante da lei natural a verdade permeia cada coisa, cada ser,
cada grão de areia e cada universo.
A verdade é a ordem de tudo, é infinito que abriga o finito, é a plenitude
que abriga a limitação.
Quando o ser entende que a verdade tem o poder de libertar, ele desfaz
seus grilhões, sejam de que ordem for, de que sentido for, de que espécie
for.
Mesmo que lhe doa no princípio pelo tanto que a verdade foi mutilada
por ele, haverá em breve espaço a aragem da paz que a verdade
proporciona.
E mesmo que seja um ser que nunca conheceu a verdade completamente,
ainda assim será alcançado, pela consequência de aprender e conhecer.
Assim é que chegamos ao ponto da questão de quando falta a verdade,
não por que ela não esteja no lugar ou na pessoa, ou na situação, mas
porque foi mutilada, adulterada, dividida, e tem-se a mentira tomando a
cena.
O que desejo ressaltar é que convém entender que a mentira não existe.
Se não houver a verdade para dar sustentação a mentira não tem como
ser inventada.
Não há mentira sem a verdade que a tenha antecipado.
Perder tempo precioso contaminando a verdade, para ter pequeno espaço
tempo de liberdade, de satisfação, de alegria, é mais que imprudência,
somente a ignorância leva o ser por este caminho.
Então, a verdade é amola mestra da paz, compreenda.
Se quer ser feliz, leva a verdade a frente de tudo, vá, onde for.
Se quer ser um ser visto com bons olhos, carrega a verdade na ponta da
língua.
Se quer receber amor tanto quando oferece, mantenha a verdade no olhar.
Conhece a verdade e liberte-se, nada mudou!
Eu Sou o que Eu Sou.
Tirou as mãos dos ombros deles sorrindo saiu apressado, não se voltando
mais para nós, até sumir.
Eu estava feliz e com medo.
Fiquei em silêncio enquanto relia o texto.
Lady Shin e Lord Anju continuaram a minha frente bem próximos da
mesa, também silenciosos, seus olhos faiscavam, pareciam orgulhosos.
Terminei e levantei a cabeça para eles.
-Estamos sim orgulhosos, valeu a preparação que fizemos, para que
fossem quebradas as barreiras e bloqueios e assim termos momentos
intensos e fascinantes como este.
Se pensar direito, é para nós uma meta alcançada, porque um ser desta
envergadura não se apresenta a toda hora nem para todo mundo.
Continuemos assim, que desejamos privar de tais companhias.
Lady Shin bateu palmas para ele e se virou para mim.
-Minha menina você está se saindo melhor do que esperava, e muitos
caminhos ainda vamos percorrer juntos.
O que tem a dizer¿
Me perguntou.
-No momento minha cabeça está dando choque, e tudo que disser não
será suficiente, mas estou consciente completamente de que sem vocês
não viveria tal experiencia, jamais, muito obrigada.