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AERODINÂMICA f
INCOMPRESSÍVEL: . f
FUNDAMENTOS
VASCO DE BREDERODE X

V. Í/ =0
COLEÇÃO • ENSINO DA CIÊNCJA E DA TE C N O LO G IA

TÍTULOS PUBLICADOS

41 Hidrologia e Recursos Hídricos, 2aED


João Reis Hipótito e Álvaro Carmo Vaz

42 Química Orgânica Volume í, 2aED


Pedro Paulo Santos

43 Vibrações e Ondas
João Paulo Silva

44 Sistemas Dinâmicos: uma introdução


Luís Barreira e Cláudia Valls

45 Cálculo Diferencial e íntegra! em Rn, 2aED


Gabriel E. Pires

46 Ciência e Engenharia de Materiais de Construção


M. Clara Gonçalves e Fernanda Margarido (Eds)

47 Introdução à Teoria da Microeconomia


João J.E. Santana

48 Análise de Circuitos
J. A. Brandão Faria

49 Cálculo numa Variáve! Real


João Paulo Santos

50 Mecânica Quântica - Volume 1


Pedro Sacramento e Pedro Bicudo (Eds)

51 Química Orgânica Volume ÍI


Pedro Paulo Santos

52 Elementos de Eíetrodinâmica Clássica


João Loureiro

53 Análise Complexa, Séries de Fourier e Equações Diferenciais


Pedro Martins Girâo
A E R O D I N A MI C A I N C O M P R E S S I V E L

P R E F Á C I O

O texto base do presente trabalho, intitulado “Fundamentos de Aerodinâmica


Incompressível”, da autoria de Vasco de Brederode, foi primeiro publicado em 1997 e
tem, desde então, sido continuamente disponibilizado ao público como ‘Edição de Autor’.

O interesse manifestado por diversos colegas, professores universitários, em que o livro


passasse a incluir claras secções de “exercícios”, na sua concepção tradicional, levou os
presentes dois autores, íntimos colaboradores de há muitos anos, a avançar com esta obra
conjunta, convenientemente publicada em dois volumes:

- um primeiro volume, da autoria de Vasco de Brederode, contendo o texto base


“Aerodinâmica Incompressível: Fundamentos” e

- um segundo volume, da autoria de Luís da Cunha Eça e intitulado “Aerodinâmica


Incompressível: Exercícios”, com exercícios resolvidos e propostos, correspondentes
aos diversos capítulos em que está organizado o texto base.

O conjunto é apresentado nos clássicos módulos de:


- Conceitos e equações fundamentais
- Escoamento de fluido real/viscoso a uma, duas e três dimensões
- Bases de trabalho para escoamentos de fluido perfeito
- Perfis alares e asas finitas
- Corpos não-fuselados

Naturalmente que é com muito prazer que os dois autores assumem uma responsabilidade
conjunta por esta obra.

A edição dos dois volumes, disponíveis separadamente, foi tomada a


cargo da editora do Instituto Superior Técnico “IST Press”.

Vasco de Brederode
Luís da Cunha Eça
Lisboa, Setembro de 2014
f i c h a t é c n i c a

Editora: IST Press


Diretor: Pedro Lourtie

Coleção: Ensino da Ciência e da Tecnologia


Coordenador Editorial: F. Miguel Dionísio

Título: Aerodinâmica Incompressível: Fundamentos


Autor: Vasco de Brederode

Produção: Manuela Morais


Design: Golpe de Estado - Produções Criativas. Lda.
Design da Edição de Autor Fac-Simile (vii -735): Pedro Patriarca

Pré-Impressão e Digitalização Fac-Simile (vii -735): Guide-Artes G ráficas. Lda


Impressão/Acabamento: Sereer. Unipessoal. Lda
ISBN: 978-989-8481-32-0
Depósito Legal: 378955/14
Ia Edição: Setembro 2014
Tiragem: 1000 exemplares

Copyright © 2014, Vasco de Brederode e Instituto Superior Técnico

Reservados todos os direitos. Nos termos do Código de Direito do Autor, é expressamente


proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer processo electrónico.
mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora.
TÉCNICO
LISBOA

CO L E Ç Ã O E N S I N O DA C I Ê N C I A E DA T E C N O L O G I A

AERODINÂMICA INCOMPRESSÍVEL: FUNDAMENTOS


VASCO DE BREDERODE

01. Aerodinâmica: uma visão geral


02. Conceitos e equações fundamentais da mecânica dos fluidos
03. Escoamentos tipo vórtice
04. Escoamento laminar
05. Transição laminar / turbulento
06. Escoamento turbulento
07. Camada limite tri-dimensional
08. Escoamento potencial, incompressível, bi-dimensional
09. Perfis alares
10. Asas finitas
11. Corpos não-fuselados

C O L E Ç Ã O A P O I O AO E N S I N O

AERODINÂMICA INCOMPRESSÍVEL: EXERCÍCIOS


LUÍS DA CUNHA EÇA

0 1. Equações Fundamentais da Mecânica dos Fluidos


02. Escoamento Laminar
03. Escoamento Turbulento
04. Escoamento Potencial Incompressível Bidimensional
05. Perfis Alares
06. Asas Finitas
07. Utilização de Soluções Numéricas em Aerodinâmica
(compare-se com Fig. 1.46.a, pág. 57)
ÍN D IC E

PR EFÁ C IO DA P R IM E IR A EDIÇÃO xm

1. A ER O D IN Â M IC A : U M A VISÃO GERAL 1
1.1. Equilíbrio de forças em diversas situações de voo de uma aeronave 4
1.2. Mecanismo físico de produção da sustentação 8
1.3. Efeitos da viscosidade 38
1.4. Efeitos de compressibilidade 70
1.5. Apresentação geral do texto 92

2. C O N C E ITO S E EQUAÇÕES FU N D A M EN TA IS
DA M E C Â N IC A DOS FLU ID O S 94

2.1. Descrição do campo do escoamento 95


2.2. Conservação da massa; noção de função de corrente 102
2.3. Transporte da quantidade de movimento; equação de Navier-Stokes 106
2.4. Transporte da energia mecânica; equação de Bernoulli;
noção de potencial de velocidades 117
2.5. Equação da pressão 124
2.6. Exemplos de aplicação do método do volume de controlo 125
2.6.1. Perda de carga em linha numa conduta 125
2.6.2. Perda de carga concentrada numa expansão abrupta numa conduta 127
2.6.3. Esforços numa curva numa conduta 129
2.6.4. Avaliação da resistência de um corpo bi-dimensional
por exploração da esteira; método de Jones 131
2.6.5. Hélices, rotores de helicóptero e turbinas eólicas 138
2.6.6. Esforços nas pás de uma turbomáquina axial 144

3. E S C O A M E N T O S T IP O V Ó R TIC E 149
3.1. Significado físico de vorticidade e de circulação 149
3.2. Vórtices livre, forçado e real 150
3.3. Teoremas de conservação de escoamentos tipo vórtice 153
3.3.1. Teorema de Kelvin 153
3.3.2. Permanência do escoamento irrotacional 155
3.3.3. Conservação de circulação no espaço 157
3.4. Campo de velocidades induzido por uma distribuição
espacial de vorticidade; lei de Biot-Savart. 158
3.5. Equação de transporte da vorticidade — equação de Helmholtz 162
3.6. Difusão de vorticidade num vórtice real 165
4. ESCOAMENTO LAMINAR i67
4.1. Escoamentos lam inares un i-d im e n sio n a is 16g
4.1.1. Escoamento de Couette 169
4.1.2. Escoamento de Hagen-Poiseuille 174
4.2. Aproxim ações e equações de camadas de co rte delgadas
bi-dim ensionais em regim e lam inar 175
4.2.1. Equações diferenciais 176
4.2.2. Equação integral de von-Kármán; parâmetros integrais 104
4.2.3. Camada limite axi-simétrica ig 0
4.3. Escoamentos semelhantes de camada limite laminar 192
4.3.1. Condições de semelhança 193
4.3.2. Evolução de uma camada limite laminar em gradiente de pressão nulo 195
4.4. Evolução de camadas limites laminares num qualquer gradiente de pressão 200
4.4.1. Efeitos qualitativos de gradientes de pressão 201
4.4.2. Método de Thwaites 204
4.5. Controlo de camada limite 210
4.5.1. Técnicas de controlo de camada lim ite 211
4.5.2. Camada limite laminar com sucção uniforme 212
4.6. Escoamentos secundários de Prandtl de1* espécie 214
4.7. Camadas de corte livres lam inares 216
4.8. Interacção fraca viscosa / invíscida 220
4.8.1. Escoamentos exteriores 221
4.8.2. Escoamentos interiores 223

5. TRANSIÇÃO LAMINAR / TU R BU LEN TO 226


5.1. Mecanismos envolvidos; estabilidadehidrodinâmica 227
5.2. Previsão de transição 236
5.3. Transição forçada 239

6. ESCOAMENTO TURBULENTO 242


6.1. Características do campo turbulento; efeito Coanda 242
6.2. Equações do campo turbulento 260
6.2.1. Equação da continuidade 262
6.2.2. Equação de transporte da quantidade de movimento
do campo médio 262
6.2.3. Equação de transporte da energia cinética do campo médio 265
6.2.4. Equações de transporte das tensões de Reynolds
e da energia cinética turbulenta 266
6.3. Aproximações e equações de camadas de corte delgadas
bi-dimensionais em regime turbulento 268
6.4. Modelos de turbulência 271
6.5. Estrutura multi-camada de uma camada limite turbulenta bi-dimensional 280
6.5.1. Camada interior 283
6.5.2. Camada exterior 291
6.5.3. Descrição analítica dos perfis de velocidade média 299
6.6. Evolução de camadas limites turbulentas 302
6,6.1. Evolução em gradiente de pressão nulo 303
6.6.2. Evolução num qualquer gradiente de pressão; método de Head 308
6.6.3. Critério de separação de Stratlord 314
6.6.4. Técnicas passivas de redução da resistência de atrito 315
6.7. Escoamentos turbulentos completamente desenvolvidos 316
6.7.1. Escoamentos emtubos 317
6.7.2. Escoamentos em condutas não circulares 323
6.7.3. Escoamentos em redes de condutas 325
6.8. Camadas de corte livres turbulentas 334
6.9. Técnicas de medida com sondas de pressão 339
6.9.1. Medição de perfis de velocidade média 339
6.9.2. Medição da tensão de corte superficial 342

C A M A D A L IM IT E TR I-D IM E N S IO N A L 348
7.1. Aproximações e equações de camada limite tri-dimensional 348
7.2. Descrição do campo médio 352
7.3. Campo turbulento 358
7.4. Separação e recolamento 359
7.5. Exemplos de configurações de linhas de corrente limites 363
7.6. Camada limite atmosférica 368

ESC O A M EN TO PO TEN CIAL


IN C O M P R E S S ÍV E L B I-D IM E N S IO N A L 389
8.1. Introdução 389
8.2. Potencial e velocidade complexos; escoamento ao longo de diedros 398
8.3. Escoamentos induzidos por singularidades 406
8.3.1. Linhas de singularidades 406
8.3.1.1. Linha de fontes e poços 407
8.3.1.2. Linha de vórtices 408
8.3.1.3. Linha de dipolos 409
8.3.2. Singularidades pontuais 413
8.3.2.1. Fonte pontual 413
8.3.2.2. Dipolo pontual 414
8.3.3. Folhas de singularidades 415
8.3.3.1. Folha de vórtices 415
8.3.3.2. Folha de fontes 419
8.3.3.3. Folha de dipolos 419

IX
8.5 Tipos de equações às derivadas parciais 666
86 Figuras de Lissajous 668

APÊNDICE C: Equações do campo cinemático de um escoamento a


propriedades constantes em coordenadas cartesianas,
cilíndricas e esféricas 67o

APÊNDICE D: Simulação da fronteira de um corpo com distribuições


superficiais de singularidades 674

APÊNDICE E: Códigos FORTRAN 677


E.1. Programa ISA 677
E.2. Programa Thwaites 679
E.3. Programa Head 683
E.4 Programa Moody 687
E.5. Programa painéis 689
E. 6. Programa VLM 695

APÊNDICE F: Programas MAPLE 701


F. 1. Fonte em escoamento uniforme 701
F.2. Oval de Rankine 701
F.3. Escoamento ao longo de diedros 702
F.4. Dipolo em escoamento uniforme 702
F.5. Cilindro circular com circulação 702
F.6.Dipolo na presença de um cilindro circular 703
F.7. Geometria de um perfil de Joukowski 703
F.8. Distribuição de C„ vs. x / c para um perfil de Joukowski 703

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 705

DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS INGLÊS-PORTUGUÊS 713

ALFABETO GREGO 718

ÍNDICE REMISSIVO 719

XII
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

O presente livro-texto é fruto de largos anos dc actividade profissional no


domínio da aerodinâmica incompresstvcl e dc alguma experiência como piloto
amador. Tem por base os apontamentos que elaborei para a disciplina de
A erodinâm ica, da licenciatura em E ngenharia M ecânica - ram o de
Term odinâm ica Aplicada, do Instituto Superior Técnico da Universidade
Técnica de Lisboa, na forma como têm sido ultimamente editados pelo Centro
de Documentação da Associação dos Estudantes do I.S.T.
Embora agora dirigido a um público mais vasto que a classe restrita de
alunos para que foi originalm ente concebido, o texto continua a ser
predominantemente vocacionado para estudantes de engenharia, pressupondo,
da parte do leitor, uma formação de nível superior em análise matemática, uma
sólida preparação em mecânica geral e alguns conhecimentos de termodinâmica,
mas não requer qualquer formação prévia na área da mecânica dos fluidos. Por
esta razão o texto inicia-se com um capítulo dando uma visão geral das questões
de aerodinâmica e em que são abordadas as noções e os mecanismos físicos mais
fundamentais, o qual poderá ser usado como suporte para um curso introdutório
de aerodinâmica. Seguem-se então os verdadeiros capítulos em que se organiza
a disciplina de Aerodinâmica do I.S.T. e nos quais considerei, para a população
mais vasta a que o texto agora se dirige, não deixar de incluir um ou outro
aspecto normalmente não contemplado na referida disciplina.
O texto mantém o seu carácter vincadamente formativo, e não apenas
informativo, tentando contribuir para despertar no leitor o interesse e o gosto
por uma verdadeira cultura aerodinâmica, entendida como uma real capacidade
para apreciar, abordar e resolver questões de aerodinâmica, não constituindo, de
modo nenhum, um mero repositório de técnicas para resolver problemas
específicos; tal desiderato, conjugado com a pretendida índole de engenharia do
texto, fazem porém com que no seu decurso nunca sejam descuradas técnicas de
resolução de problemas de engenharia, para o que, sempre que considerado
possível e oportuno, são apresentados códigos simples de cálculo numérico.
Vários agradecimentos são devidos tanto a nível institucional como
individual; em particular:
- ao Centro de Documentação da Associação dos Estudantes do I.S.T. pelo
seu primeiro convite a uma conveniente execução gráfica de um texto de
apoio para a disciplina de Aerodinâmica — o que veio a despoletar todo o
processo de elaboração do presente livro — , pelos meios humanos e
materiais sempre postos à disposição na feitura das sucessivas versões dos
apontamentos e pela sua continuada participação na produção desta obra;

Xill
-ao Programa Fundo de Apoio à Comunidade Científica, da Junta Nacional
de Investigação Científica e Tecnológica, e ao Instituto de Engenharia
Mecânica - IDMEC, pelas suas comparticipações nos encargos da presente
edição;
- aos projectos ARMOR e SARA, de Aeronaves R obotizadas, e aos meus
Colegas Profs. Caídas Pinto e João Ventura, pelas infraestruturas tornadas
disponíveis;
- aos meus Colegas Profs. H eitor Pina, Margarido Ribeiro, Barradas Cardoso,
Luís Gato, João Ventura, Luís Eça, João Sousa e Eng° A ntónio Santiago, a
quem solicitei apreciações críticas sobre aspectos específicos do texto e que
tiveram a atenção de me transm itir os seus com entários, sem pre muito
pertinentes;
- ao Aluno N elson Bouças que se encarregou de 'bater' em processador de
texto as diversas versões por que este documento foi passando, de lhes dar
forma final e de com plem entar e aprimorar todas as figuras que o ilustram;
- ao Desenhador da STA/DEM/IST, Sr. Jorge Coelho, que produziu todos os
desenhos originais;
- ao A dm inistrador de Sistem as do LEM AC - L aboratório de Engenharia
Mecânica Assistida por Computador, Eng° Nuno Pires, pelo apoio prestado;
- a sucessivas gerações de Alunos que m e ensinaram a ensinar e m e alertaram
para inúmeras gralhas em anteriores versões do documento.

Agradeço ainda às seguintes individualidades, editoras, entidades e empresas


a cedência e/ou a autorização para reproduzir as figuras abaixo discriminadas;
Dr. Dale E. Berg, Sandia National Laboratories: Fig. 9.58 de [11]
Dr. Hans Bippes, DLR - Institut fiir Strõmungsmechanik: Fig. 1.30.b) de [168]
Aluno Nelson Bouças: Fig.l0.5.d)
Prof. Peter Bradshaw, Stanford University: Fig. 1.7.a) de [19] e Fig. 5.3 de [18]
Dr. Alexander Charters: Figs. 1.73 e 1.78 de [168]
Mr. J. Délery, ONERA: Fig. 5.7 de [74] e Figs. 10.44.a)-b) de [168]
Prof. Luís Eça, STA/DEM, Instituto Superior Técnico: Figs. 9.16-19
Prof. Richard Éppler, Universitãt Stuttgart: Figs. 9.80.a)-b) de [44]
ex-Aluno Ricardo Gomes: Fig.l0.5.c)
Dr. Klaus Huenecke, DASA Airbus: Figs. 10.45 e 10.46.a) de [77]
Prof. Mareei Lesieur, LEGI, Institut de Mécanique de Grenoble: Fig. 6.17 de [99]
Prof. Hans W. Liepmann, GALCIT, Caltech: Fig. 1.84 de [168]
Prof. Michael Selig, University of Illinois at Urbana-Champaign: Figs. 9.72.a)-b) de [151]
Engs. Jorge Sobral, Almeida Santos e Francisco Amaral, TAP-Air Portugal: Figs. 9.100 e
10.33
Dr. Milton Van Dyke: Fig. 1.58.b) de [168]
Prof. João Ventura, STA/DEM, Instituto Superior Técnico: foto pág. II e Fig. 1.60
A.A. Balkema Publ.: Figs. 11.46.a)-b) e 11.49.a)-b)de [119]
Cambridge University Press: Figs.l.31.a)-b) de [8], Fig. 5.10.b) de [163], Fig. 6.8 de [50],
Fig. 6.56 de [126], Figs. ll.l.b ) e 11.56.a)-b) de [56], Figs. 8.25 e 11.24 de [145],
Fig. 11.27 de [2] e Fig. 11.52 de [9]
•over Publications, Inc.: Figs. 9.8-10 de [134]; Fig. 9.59 de [116], Figs. 9.61 e 9.63-65 de
[1] e Fig, 11.41 de [54]

V
Edward Amold (Publishers) Ltd.: Figs. 1.83 a)-e) de [42]
Elsevier Science Ltd.: Fig. 1.7.a) de [19] e Figs. 9.43 e 9.45.a)-b) de [159]
Forschung im Ingenieurwesen: Fig. 11.22 de [8]
Jane's Information Group: Fig. 10.8.a)
McGraw-Hill Book Comp.: Figs. 1.46.a) e b), 5.4, 5.6.b), 6.14, 6.21, 6.31.a) e b), 6.39,
6.40, 6.42 e 11.4.b) de [147] e Figs. 9.70 e 10.25.b) de [87]
Prentice-Hall, Inc.: Fig. 10.46.b) de [12]
Springer-Verlag: Figs. 9.80.a)-b) de [44]
Taylor & Francis, Inc.: Fig. 1.76 de [168] e Figs. 4.15,4.29 e 6.9 de [28]
Verlag Vieweg: Figs. 9.67.a)-c) de [3]
American Institute of Aeronautics and Astronautics: Fig. 5.11 de [130], Figs. 6.27 a) e b) de
[30], Figs. 7.23.a) e b) de [71], Fig. 9.48 de[87] e Figs. 9.68-69 de [101]
The American Society of Mechanical Engineers: Fig. 11,38.b) de [124]
British Hydromechanics Research Group, Ltd.: Fig. 6.43 de [113]
Building Research Establishment: Fig. 6.11 de [128]
Education Development Center: Figs. 1.50.a)-d) e 4.6 de [177], Fig. 1.52.a) de [175],
Fig. 5.l.a) de [174], Figs. 5.1.b)-d) de [182], Fig. 5.10.a) de [176], Fig. 9.38.a) de [180],
Figs. 9.42.a), 9.82.a), 9.88.a), 9.91.a) e 9.96 de [181], Figs. 9.95.a)-b) de [178] e
Fig. 10.6.b) de [179]
Her Majesty's Stationery Office: Fig. 1.56 de [164] e Fig. 11.4.a) de [141]
Imapress: Fig. 9.102
The Japan Society of Mechanical Engineers: Figs. 2.1, 2.21, 4.28.a), 9.44.a)-d), 9.46,
9.88.b), 9.89, 10.40 e 11.l.a) de [169]
von-Kármán Institute for Fluid Dynamics: Fig. 4.25 de [153], Figs. 6.22.b) e 7.22 de [33],
Fig. 7.18 de [40], Fig. 9.50 de [171] e Fig. 11.33 de [48]
Laboratório Nacional de Engenharia Civil: Fig. 11.55.b)
National Aeronautics and Space Administration: Figs. 9.66.a)-c) de [111], Figs. 11.25-26 de
[144] e Fig. 11.34 de [142]
National Renewable Energy Laboratory: Figs. 9.56-57 de [121]
The Royal Collection © Her Majesty Queen Elizabeth II: Fig. 6.2
U.S. Department of Energy: Figs. 7.26.a)-e) de [127]
Dassault Aviation: Fig. 1.28.a)
Opel Portugal, S.A.: Fig. 1.8.b)
Piaggio, Industrie Aeronautiche e Meccaniche Rinaldo Piaggio SpA: Fig. 1.28.c)
PowerGen PIc: Figs. 1.7.b) e 1.8.c) de [140]
Raytheon Aircraft Company: Figs. 1.28.b) e 1.44.b)

I.S.T., 1997

Vasco de Brederode

XV
CAPITULO
1
AERODINÂMICA:
UMA VISÃO GERAL
Quando se fala em "aerodinâmica" há uma natural tendência em logo
associar o tem a ao mundo aeronáutico, onde a aerodinâmica efectivam ente
encontra o seu campo de aplicação por excelência. O mesmo tipo de fenómenos
e efeitos ocorrendo em aerodinâmica de aviões se verifica porém em situações
bem diversas das aeronáuticas, como nos domínios da aerodinâmica automóvel e
da chamada aerodinâm ica industrial: escoamento em tom o de um veículo
automóvel e suas im plicações no consumo e na estabilidade do veículo,
escoamento do vento atmosférico em tomo de um edifício, que interessa tanto à
determinação dos esforços exercidos pelo vento sobre a estrutura com o a
questões am bientais de clim atização, de poluição local, de conforto dos
pedestres circulando na base do edifício, escoamentos em redes de condutas de
distribuição de fluidos, com os problemas associados de consumos de energia,
de regularização dos caudais, dos níveis de ruído, etc.
Todos os principais fenómenos e efeitos ocorrendo em aerodinâm ica de
baixa velocidade serão apreciados e, na medida do possível, quantificados no
presente texto. Rapidamente se aperceberá o leitor que qualquer situação de
escoamento, seja ela do foro da aerodinâmica aeronáutica ou da aerodinâmica
industrial, seja de escoamento exterior a um qualquer corpo ou de escoamento
no interior de um sistema de condutas ou de um motor de combustão interna, é
globalm ente controlada por um reduzido núm ero de sem pre os m esm os
mecanismos físicos, m uitos deles consequência directa dos princípios de
conservação da m ecânica dos m eios contínuos: conservação da m assa,
conservação da quantidade de movimento — balanço de forças: variação da quantida­
de de movimento (simétrico da força de inércia) igual à resultante das forças aplicadas
— e conservação da energia, se bem que esta últim a seja de aplicação restrita
num contexto de aerodinâm ica incompressível. H á assim todo o interesse, e
mesmo necessidade, em com eçar por apreciar uma qualquer situação de modo a
identificar os principais factores intervenientes e seleccionar o m odelo
simplificado da realidade que m elhor se adapte a um a descrição m acroscópica

1
2 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

do fenómeno em estudo. Só depois de macroscopicamente situado o problema


será lícito elaborar sobre qual o modelo físico-matemático mais adequado para o
descrever e sobre qual o procedimento analítico ou numérico necessário para o
quantificar, ou se se impõe recorrer à experimentação em modelo físico em
laboratório e, neste caso, quais os constrangimentos a impor e quais as variáveis
de semelhança a respeitar.
Esta necessidade de perspectivação global levou a estruturar o presente texto
de modo a colocar a sua principal ênfase na interpretação física dos diferentes
fenómenos intervenientes nas muitas diversas situações a considerar, embora
nunca descurando nem o rigor do tratamento analítico nem a possibilidade de
formulação numérica dos diferentes problemas.
A fim de bem situarmos a óptica do texto e apresentarm os o seu
desenvolvimento comecemos, a título de exemplo, por considerar, na secção 1.1.
o equilíbrio de forças actuantes numa aeronave em diferentes configurações de
voo, após o que apreciaremos o mecanismo físico de geração da sustentação
necessária para, e.g.(*) numa situação de voo rectilíneo horizontal, equilibrar o
peso da aeronave. Iniciaremos esta abordagem, na Sec. 1.2., elaborando em
termos de um modelo simplificado de fluido perfeito, i.e.(t) não considerando
influências da baixa viscosidade do ar; efeitos viscosos serão seguidamente
apreciados na Sec. 1.3.
Trabalharemos sempre na assumpção de um modelo de m eio contínuo e,
como o próprio título do texto o indica, de escoam ento incompressível.
Justifiquemos estas duas hipóteses simplificativas:
• Admitir que o meio fluido se pode m odelar com o um m eio contínuo
corresponde a ignorar a estrutura (efectivamente) molecular / corpuscular do
meio e concebê-lo como se de uma 'nuvem' contínua de matéria se tratasse, o
que parece razoável pois que, por mais que necessitemos detalhar qualquer
descrição do escoamento, tanto em termos de cálculo analítico ou numérico
como em termos experimentais, não é previsível que alguma vez possamos
estar interessados em porm enorizar variações de quaisquer propriedades
características do escoamento a menos de distâncias da ordem, digamos, do
centésimo de milímetro, e, e.g. para o ar em condições de Pressão e
Temperatura Normal (PTN), esta dimensão de 1CT2 mm é cerca de 104 vezes
m aior que a distância interm olecular; tal im plica que no mais pequeno
volume 'elem entar' de observação em que algum a vez possam os estar
interessados coabitam (lO4) = um milhão de milhões de moléculas de gás, o
que intuitivam ente parece perm itir validar um m odelo macroscópico de
'nuvem ' contínua de fluido, i.e. m odelar o m eio fluido discreto,

e.g., exempli gratia, por exemplo


(t) i.e., id est, isto é
PREÂMBULO 3

efectivamente constituído por moléculas a uma 'grande' distância umas das


outras — 'grande' comparativamente à dimensão de cada molécula —, como
se de um meio contínuo se tratasse. Só no caso de trabalharmos com
situações de gases rarefeitos ou de pretendermos descrever evoluções do
escoamento ao longo de distâncias extremamente pequenas necessitaríamos
considerar a estrutura molecular do meio fluido. A validade deste modelo de
meio contínuo é consubstanciada pela excelente concordância obtida entre
resultados experimentais e resultados teóricos (quer analíticos quer
numéricos) baseados nesta hipótese de continuum. É um tal modelo de meio
contínuo que iremos admitir ao longo de todo o presente texto, o que nos vai
permitir definir e trabalhar em termos de características 'locais' do fluido e
do escoamento, e.g. massa específica, velocidade, etc.
• Quanto à hipótese de escoamento incompressível, i.e. escoamento em que as
variações de pressão sejam suficientemente pequenas para não produzirem
variações da massa específica p que se justifique contabilizar, caso em que
será lícito admitir p constante, justifiquemo-la com recurso a um exemplo: a
determinação da velocidade de um escoamento de ar em condições PTN
com uma sonda de pressão (tubo de Pitot) a uma velocidade de 0,3 vezes a
velocidade do som (aproxim adam ente 100 m /s = 360 k m /h ) apenas
acarreta um erro de cerca de 1% se se admitirem condições de escoamento
incompressível, em vez de compressível; em trabalho de precisão já se
recom enda não desprezar efeitos da com pressibilidade do ar para
velocidades tipicamente superiores aos 60 m /s: este será assim o lim ite
superior de validade de toda a análise que iremos desenvolver.
A fim de dar ao leitor deste texto consagrado a aerodinâmica incompressível
uma visão mais alargada das questões de aerodinâmica, na Sec. 1.4., e apenas na
Sec. 1.4., é feita uma breve explanação de efeitos de compressibilidade, tanto em
regime subsónico como supersónico — respectivamente, a velocidades inferiores
e superiores à velocidade do som: 340 m /s = 1220 km /h para o ar em
condições PTN ; é usada a circunstância para bem realçar diferenças
fundam entais entre o com portam ento de escoam entos sub só n ico s e
supersónicos.
Esta panorâmica geral de situações do foro da aerodinâmica termina com a
apresentação, na Sec. 1.5., da estrutura do presente texto e da forma como os
diversos aspectos de escoamentos a considerar estão organizados em capítulos
não-estanques.
Listam-se seguidamente as mais significativas convenções de grafismo e de
nomenclatura que iremos sistematicamente utilizar:
- quando um qualquer term o técnico for pela primeira vez referido será
apresentado em negrito — ex. perda; a partir dessa primeira apresentação o
termo passará a ser escrito no mesmo tipo de letra do grosso do texto;
4 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

- sendo a terminologia inglesa a mais corrente na comunidade técnico-


científica internacional e em textos técnicos, quando um qualquer termo
técnico for pela primeira vez apresentado será referido a seguir, em itálico e
entre parêntesis rectos, o termo equivalente em inglês — ex, perda [stall];
- as entidades vectoriais são encimadas por uma seta e o seu módulo
representado pela correspondente letra em negrito — ex. para o vector
velocidade num referencial cartesiano será U(U,V,W ) e U - |{/|;
- para facilidade de pesquisa, os elementos bibliográficos estão listados no fim
do volume por ordem alfabética do(s) autor(es) e sequencialmente
numerados, sendo referidos no corpo do texto por esse número de ordem
entre parêntesis rectos.

1.1. Equilíbrio de forças em diversas situações de voo


de uma aeronave
Comecemos por considerar a situação simples de voo rectilíneo, horizontal
em regime estabilizado, i.e. a velocidade constante, [steady and levei flight]
ilustrado na Fig. 1.1.
L

Fig. 1.1 Forças actuantes numa aeronave em voo rectilíneo, horizontal, estabilizado.
O peso W da aeronave — W para inicial de Weight — terá de ser equilibrado
por uma sustentação [Lift] L produzida pela asa [wing], o principal elemento
sustentador; a sustentação é, por definição, a componente da força aerodinâmica
perpendicular à velocidade segundo a trajectória Pelo facto de se deslocar
a uma certa velocidade Uaij, no seio do ar, a aeronave fica sujeita a uma dada
resistência ao avanço D [Drag]\ resistência é, por definição, a componente da
força aerodinâmica segundo a trajectória. Esta resistência terá de ser
rigorosamente equilibrada por uma tracção T [Thrust] fornecida pelo sistema
moto-propulsor. As relações de equilíbrio de forças escrevem-se assim:
L=W

íT = D.
(U )

Naturalmente que, decompondo o movimento do corpo sólido 'aeronave' em


movimento do centro de gravidade — expresso por (1.1) — e em movimento
SEC.1.1. EQUILÍBRIO DE FORÇAS EM VOO 5

em torno do centro de gravidade, completo equilíbrio requer ainda que seja nulo
o momento resultante em torno do centro de gravidade: MCG= 0.
Se o voo rectilíneo horizontal for executado a uma velocidade não constante
a relação de equilíbrio de forças na direcção do movimento escrever-se-á
T —D + Fm
onde Fjn representa a força de inércia, seja o movimento acelerado ou
desacelerado. O balanço de forças na direcção vertical todavia manter-se-á: a
sustentação terá sempre de equilibrar o peso da aeronave, seja o movimento
uniforme, acelerado ou desacelerado.
No caso de voo rectilíneo, ascensional, estabilizado [steady clitnb], com um
ângulo de subida 7 relativamente à horizontal, como representado na Fig.
1.2.a), a força propulsora terá de prover cancelamento não só da resistência D
como da componente do peso Wseny, do que resulta para as relações de
equilíbrio:
ÍL = W cosy
( 1. 2 )
[T = D + W sen 7.
T

Fig. 1.2 Voo rectilíneo, ascensional, estabilizado.


O caso limite de subida estabilizada na vertical ( 7 = 90°), ilustrado na Fig.
1.2.b), é conseguido na condição (simplificada)
L=0
\T = D + W.
No caso estabilizado de voo sem motor, ou voo planado (característico de
planadores) [gliding], em que não existe força propulsora T, equilíbrio das três
únicas forças actuantes W, L z D só pode ser conseguido na condição de voo
descendente ilustrada na Fig. 1.3. Neste caso energia potencial gravítica é
6 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

dispendida para compensar o trabalho da força de resistência aerodinâmica,


resultando:
ÍL = W cosr (U )
[D = W seny.
Tais relações de equilíbrio podiam ter sido obtidas directam ente de (1.2)
fazendo 7 = 0 e notando que coseno é uma função par — c o s (-y ) = co sy — e
que seno é uma função ímpar — sen ( - y) = - sen y .

Fig. 1.3 Voo planado.


Máximo raio de acção [range] em voo planado — i.e. máxima distância d
que seja possível percorrer vencendo um determinado desnível h — é assim
conseguido, em atmosfera calma [still air], à atitude de voo a que corresponda
um ângulo de planeio [glide angle] y mínimo:

y min (1-4)

i.e. um coeficiente de planeio ou finesse L /D [glide ratio ou lift-to-drag ratio]


máximo.
Tal quociente pode ser interpretado em termos económicos como uma razão
benefício / custo sendo, neste caso, o 'benefício' a distância d que se pode vencer
ou a sustentação L que se tem capacidade para gerar e o desnível h ou a
resistência D o 'preço' que se tem de pagar para percorrer essa distância ou para
produzir essa sustentação. A título ilustrativo: a maior finesse de planadores de
alta performance hoje em dia existentes é cerca de 60:1 — 60 km percorridos
na horizontal para uma perda de altitude de 1 km em atm osfera calma; para um
transporte de passageiros a finesse máxima é cerca de 15 - 20.
Casos há em que o objectivo últim o da m issão não é vencer uma
determ inada distância — como no caso de um avião que tenha de penetrar
SEC.1.1. EQUILÍBRIO DE FORÇAS EM VOO 7

profundamente em território inimigo, levar a cabo uma determinada missão e


regressar à base — , i.e. maximizar raio de acção, mas sim maximizar tempo de
permanência no ar para uma determinada capacidade de combustível nos
depósitos, i.e. maximizar au to n o m ia [endurance]; a função objectivo passa
então a ser tempo de voo e não distância percorrida, como é típico de uma
missão de patrulhamento; a melhor atitude de voo é neste caso diferente da
recomendada para máximo raio de acção. Embora o tema de d e s e m p e n h o
(perform ances] caia mais rigorosamente no contexto de um curso de Mecânica
do Voo, não deixaremos de fazer uma breve referência a estes aspectos sempre
que a sua interligação com a aerodinâmica o recomendar. Notaremos, em
particular, que para uma aeronave cujas características moto-propulsoras sejam
expressas em unidades de potência, como p. ex. uma aeronave dotada de
motores alternativos e hélices, máximo raio de acção é conseguido à atitude de
máximo L /D mas que para uma aeronave dotada de um sistema moto-
propulsor de características expressas em termos de força propulsora, como um
turbo-reactor, (L / D ) corresponde não à condição de máximo raio de acção
mas à de máxima autonomia.
Consideremos, por último, o caso do voo horizontal em volta co o rd en ad a
[coordinated turn] ilustrado na figura 1.4.

Fig. 1.4 Volta horizontal coordenada.


Neste caso as relações de balanço de forças nas direcções vertical e radial
escrevem-se

ÍL c o s(p = W
{Lsen<p = Fcmu

onde (p é o âng ulo de p ran ch am en to [bank angle] e Fcam = m U ^ f R a força


centrífuga, sendo m a massa do aparelho e R o raio de curvatura da trajectória.
Conclui-se neste caso, e com parativamente à situação de voo rectilíneo
também horizontal, que a sustentação terá de aumentar de modo a equilibrar
não apenas o peso da aeronave mas a resultante do peso e da força centrífuga.
8 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

Por exemplo, no caso de uma volta pranchada a 60°, a sustentação requerida


para equilíbrio, por parte do sistema sustentador, equivaleria à necessária para,
em voo rectilíneo, equilibrar uma aeronave com o dobro do peso:
sec 60° = 2 =* ^resuit= w,sec 60° = 2 W = 2mg = (2g ) m . Diz-se, neste caso, que a
estrutura e o piloto estão sujeitos a uma aceleração de 2g's ou que o factor de
c a rg a [load factor] Fm^ J W é de 2. Constata-se também a impossibilidade
física de execução de uma volta estabilizada com um pranchamento de 90° —
sec 90° = eo. Se a volta for efectuada com um ângulo de pranchamento inferior
ao requerido para uma volta coordenada — e.g. com um pranchamento nulo —
a força centrífuga não será exactamente equilibrada e a aeronave deslizará para
o exterior da volta: volta em d e r r a p a g e m [sideslip]; se, inversamente, o
pranchamento for exagerado, a aeronave tenderá a deslizar para o interior da
volta: volta em glissade — caso extremo corresponderá a um voo rectilíneo
(^centr = 0) com pranchamento.
Pergunta-se agora: qual o mecanismo físico de geração desta força de
sustentação essencial ao voo? Resposta a esta questão é objecto da próxima
secção.

1.2. Mecanismo físico de produção da sustentação


Exploremos as características globais do escoam ento [flow] em tomo de uma
aeronave deslocando-se a velocidade e a atitude constantes relativamente ao solo,
como ilustrado na Fig. 1.5.

' / / / / / / / / / / / / / / / / / / / — x
Fig. 1.5 Aeronave em voo rectilíneo, horizontal, estabilizado.

Num qualquer ponto P do espaço, fixo relativamente a um referencial x, y


solidário com o solo, a perturbação introduzida pela passagem da aeronave
variará ao longo do tempo pelo facto da fonte de perturbação (a aeronave, neste
caso) se encontrar mais próxima ou mais afastada do ponto de observação. Para
caracterizar o escoamento em tomo da aeronave, que, por hipótese, se desloca a
velocidade e a atitude constantes, tal dependência tem poral não terá, porém,
qualquer significado: o escoamento em torno da aeronave será sempre do
mesmo tipo, encontre-se a aeronave m ais recuada ou m ais avançada
relativamente ao referencial fixo ao solo. N este caso terá significado, sim,
trabalhar num referencial fixo relativam ente à aeronave, e não ao solo,
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 9

referencial este em que as características do escoamento serão constantes no


tempo — escoam ento p erm an en te [steady flow ] — , variando só de ponto para
ponto no espaço. Num tal referencial, fixo relativam ente ao corpo, o
deslocamento da aeronave com uma velocidade Utni relativamente à atmosfera
em repouso m anifesta-se como uma velocidade U^= - U mi = const. de
aproximação de um escoam ento uniform e, n ão -p ertu rb ad o [uniform flow, free
stream ], como ilustrado na Fig. 1.6, em que com o índice 'infinito' °° se
pretende significar a distâncias suficientemente grandes da fonte de perturbação
para que a perturbação se não propague até essas grandes distâncias, deixando o
escoamento de aproximação inalterado.

Fig. 1.6 Aeronave em escoamento uniforme.


É esta questão de movimentos relativos, em que a dinâmica do processo se
mantém, que valida a realização de ensaios em tú n el a e ro d in â m ic o [wind
tu n n el ], em que o modelo a testar está fixo relativam ente à instalação
experimental mas imerso no seio de um escoamento uniforme de aproximação
promovido por um ventilador e uma conveniente configuração da instalação.
A presentam -se, na Fig. 1.7, diferentes configuraçõ es de tú n eis
aerodinâmicos usuais na gama do baixo subsónico: um túnel de c ir c u ito
fec h ad o [closed Circuit], na Fig. 1.7.a) [19], em que o ar é feito percorrer um
circuito fechado sensivelmente rectangular, e dois túneis de c irc u ito a b e rto
[open Circuit], em que o ar, aspirado da atmosfera ambiente, é descarregado para
essa mesma atmosfera depois de percorrer a instalação experimental; nestes
últimos distinguem -se os túneis tipo su c ç ã o [suctioti], com o ventilador na
extremidade de ju s a n te [downstream] da instalação — Fig. 1.7.b) [140] — , e os
tipo so p ro [blow-down], com o ventilador instalado a m o n ta n te [upstream ] —
Fig. 1.7.c).
A preciem os vantagens e inconvenientes relativos destas d iferen tes
configurações de túneis aerodinâmicos. Vantagem óbvia de um túnel de circuito
fechado comparativamente a um de circuito aberto é que, no primeiro caso, uma
vez acelerado o ar até à velocidade de operação, o grupo moto-propulsor apenas
tem de continuam ente com unicar ao escoam ento a energia necessária para
vencer as perdas na instalação, enquanto que, no segundo, para além desta
parcela de energia para vencer as (comparativamente menores) perdas — pois
que não só é menor a extensão do circuito a percorrer como em m enor número
10 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

11 \-^j ___
a) Túnel de circuito fechado 36 x27 in do National Physical Laboratory, U.K.
22,5 m

geradores de
Counihan

barreira
castelar

b) Túnel de circuito aberto tipo sucção 9,1 x2,7 m da PowerGen Plc, U.K.

ventilador
centrífugo

c) Túnel de circuito aberto tipo sopro 1,35 x0,80 m do Dept° Eng* Mecânica
do Instituto Superior Técnico
Fig. 1.7 Diferentes tipos de túneis aerodinâmicos de baixa velocidade.
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 11

são os acidentes nesse percurso — , toda a energia dispendida para com unicar
m ovim ento ao ar na adm issão, ar que estava em repouso na atm o sfera
circundante, é 'perdida' quando esse mesmo ar é ultim am ente descarregado para
a atmosfera ambiente; assim se infere que são menores os custos de operação de
um túnel de circuito fechado, por serem menores os consumos de energia, para
além de serem m enores os custos de instalação de um grupo m oto-propulsor
necessariamente menos potente. Um dos inconvenientes de um túnel de circuito
fechado é, no entanto, o de apresentar custos de instalação substancialm ente
mais elevados que um túnel de circuito aberto: não só é m aior o custo da
instalação experim ental em si, exigindo um circuito de retorno e dispositivos
acessórios para garantir a qualidade do escoam ento — e.g. p á s d ir e c tr iz e s
[turning vanes] nos cantos — , como m aior é a área requerida para instalar uma
montagem experimental de maior vulto e m aior é o custo do edifício necessário
para a albergar. C onclusão natural é que um túnel de circuito fechado se
justifica para situações de ensaios sistem áticos e intensivos, enquanto que um
túnel de circuito aberto é mais adequado e.g. para laboratórios de investigação,
em que a m aior parte do tempo de ocupação do túnel é dedicada a afinação e
calibração da cadeia de m edida e a alterações das montagens experimentais.
Quanto à opção entre túneis de circuito aberto tipo sucção e tipo sopro?
V antagem de um túnel de sucção é que é m elhor a reg ularidade de um
escoam ento directam ente aspirado da atm osfera em repouso do que a do
escoamento produzido por um ventilador, como no caso de um túnel tipo sopro,
seja esse ventilador axial ou centrífugo, pelo que menores são os custos com os
dispositivos necessários para uniform izar o escoam ento de aproxim ação à
secção de tra b a lh o [working section] onde está instalado o modelo a ensaiar.
Um dos inconvenientes de um túnel de sucção é que, sendo o ar aspirado à
pressão atm osférica e ocorrendo perdas de energia de pressão ao longo da
instalação experim ental, a pressão reinante na secção de trabalho é sub-
atmosférica, pelo que através de quaisquer pequenas fendas ou orifícios sempre
existentes nas paredes da secção (ou devido a uma não perfeita estanquecidade
entre diferentes m ódulos da secção de trabalho ou a orifícios ou rasgos
propositadam ente abertos para a introdução de sondas ou de fixações) se
manifestem jactos de ar — do ambiente exterior, à pressão atmosférica, para o
interior da secção de ensaio, a uma pressão m enor que a atmosférica — que vão
perturbar o escoamento; no caso de túneis tipo sopro, ocorrendo o mesmo tipo
de perdas de energia de pressão ao longo da instalação experimental e sendo a
pressão de saída a atm osférica, a pressão reinante na secção de trabalho é
superior à atmosférica, sobre-pressâo esta assegurada pelo ventilador à entrada
da instalação, pelo que esses jactos de ar manifestando-se através de quaisquer
fendas ou orifícios são dirigidos para o exterior da secção de trabalho, não
perturbando assim o escoam ento no interior do túnel. Outra vantagem dos
12 CAP 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

túneis tipo sopro advém do facto de não requererem qualquer componente a


seguir à secção de trabalho, pelo que, sem se alterar a instalação base, facilmente
se montam diferentes secções de trabalho ou se opera cm jacto livre
descarregando para a atmosfera.
Nota-se que, qualquer que seja o tipo de túnel, a secção de trabalho é sempre
precedida dos mesmos elementos e dispositivos tendentes a uniformizar o
escoamento de aproximação ao modelo a testar: uma câm ara de estabilização
[.settling chamber], dotada de favos de abelha [honeycomb] e de redes [screens],
e uma co n tracção [contraction]', para se assegurar um escoamento de qualidade
na secção de trabalho são geralmente empregues um favo de abelha, três redes e
uma contracção com uma razão de áreas não inferior a 9:1 — contraindo 3:1
tanto na horizontal como na vertical, no caso de uma contracção tri-dimensional
de geometria rectangular.
Ilustram -se na Fig. 1.8 três situações típicas de ensaios em túnel
aerodinâmico. Na Fig. 1.8.a): ensaio de um caça MiG-29 em tamanho real num
dos túneis aerodinâmicos do TsAGI — Instituto Central de Aerohidrodinâmica

a) Caça MiG-29 num túnel do TsAGI b) Automóvel Opel Tigra no túnel da Pininfarina

c) Simulação do escoamento do vento atmosférico ao longo de um modelo


à escala 1:300 de uma região urbanizada, no túnel da PowerGen
Fig. 1.8 Ensaios em túnel aerodinâmico.
SEC.1.2. MECANISMO FlSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 13

—, na região de Moscovo; na Fig. 1.8.b): visualização do escoamento em tomo


de um automóvel Opel Tigra, no túnel aerodinâmico da Pininfarina SpA; na Fig.
1.8.c): simulação do escoamento do vento atmosférico ao longo de um modelo
à escala 1:300 de uma região urbanizada, no túnel aerodinâm ico dos
Laboratórios de Engenharia de Marchwood da PowerGen Plc, no Reino Unido
[140], Neste último exemplo, as 'barbatanas de tubarão' instaladas à entrada da
secção de trabalho, e também representadas no esquema da Fig. 1.7.b), são os
chamados gerado res de C ounihan, destinados a simular o comportamento do
vento atmosférico junto ao solo [35].
Com ecemos então, por uma questão de sim plicidade, por apreciar
características gerais do escoamento em torno de uma secção de asa de avião:
um perfil a la r [aerofoil, em inglês, airfoil, em americano]. E uma situação que
poderemos caracterizar como bi-dimensional cartesiana ou rectangular, em que
características do escoamento variam só segundo as coordenadas r e y e a
velocidade U (U ,V ,W ) exibe só componentes U e V não nulas, sendo nula a
componente W de velocidade e igualmente nulas as variações de quaisquer
propriedades do campo segundo z. Neste caso o escoamento pode ser tratado
como processando-se entre dois planos z = const. a uma distância unitária, pelo
que todas as características do escoamento devem ser entendidas 'por unidade de
largura'.
Com referência à Fig. 1.9, em que está ilustrado um perfil alar imerso no
seio de um escoamento uniforme de velocidade f/M, comecemos por assinalar
algumas questões de terminologia técnica:

bordo de
ataque extradorso

- a extrem idade anterior do perfil, que prim eiro 'ataca' o escoam ento, é
designada bordo de ataque [leading edge]
- a extrem idade posterior, por onde o escoam ento 'abandona' o perfil, é
designada bordo de fuga [trailing edge]
- o segm ento de recta unindo o bordo de ataque ao bordo de fuga é
designado corda [chorã] c do perfil
- a superfície superior do perfil é designada extradorso [upper surface]
- a superfície inferior é designada intradorso [lower surface]
14 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

— a linha média entre as superfícies do extradorso e do intradorso é designada


linha de curvatura [camber line]
— o desvio máximo da linha de curvatura relativnmente à corda é a fle c h a /d o
perfil [maximum camber]', valores máximos da flecha re la tiv a f/c
encontrados em perfis alares são da ordem dos 4%
- o distanciamento máximo entre as superfícies do intradorso e do extradorso
é a espessura [thickness] t do perfil; valores máximos da espessura relativa
[thickness-to-chord ratio] t/c são da ordem dos 18%
- o ângulo a entre a direcção do escoamento uniforme de aproximação £/_ e
uma direcção de referência no perfil (geralmente a da corda) é designado
por ângulo de ataque [angle ofattack].
Apreciemos então a configuração do escoamento em torno de um perfil alar,
como ilustrado na Fig. 1.10, e estabeleçamos as relações de equilíbrio de forças
para os elementos de fluido A, B e C assinalados na figura — por "elemento de
fluido" entendemos um corpo de fluido de dim ensões elem entares ou
infinitesimais mas suficientemente grandes com paradas com a distância
intermolecular de modo que, mesmo a nível destas distâncias elementares, o
meio fluido se pode continuar a considerar como um meio contínuo.

ponto de

Fig. 1.10 Escoamento em tomo de um perfil alar.

Como ilustrado na figura, parte do escoamento contorna o perfil pelo


extradorso, parte pelo intradorso e ambas estas regiões estão separadas por
trajectórias divisórias [dividing paths], uma incidindo no corpo junto do bordo
de ataque e outra partindo do bordo de fuga; no ponto de impacto da trajectória
divisória anterior no perfil a velocidade do escoamento deverá ser nula: é um
chamado ponto de estagnação [stagnation point]. A velocidade do elemento de
fluido A deverá assim continuamente diminuir ao longo da trajectória divisória
anterior desde U„, a infinito a montante, até zero, no ponto de estagnação, o que
precisamente requer que a resultante das forças exteriores actuando sobre o
S EC .1.2. M EC A N ISM O FÍSICO OE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 15

elemento de fluido, segundo a sua trajectória, actue em sentido contrário ao


movimento — com o uma força de 'travagem'.
Ora as forças exteriores podem ser de dois tipos:
- forças m ássica s ou volúm icas [body fo rces], p. ex. o peso do elemento; a
fim de simplificarmos este primeiro balanço de forças suponhamos, de
momento, que a trajectória é horizontal, de modo a que o peso não tenha
componente segundo a trajectória, como assinalado na Fig. l .ll.a)
- fo rças de su p erfície [surface fo rc e s ] ou de contacto, exercidas sobre o
elem ento de fluido pela matéria circundante: forças de pressão [pressure]
(esforços normais) e de atrito ou de fricção [fricíion] (esforços tangenciais),
caso das forças Fp e Fa, respectivamente, indicadas na Fig. 1.11 .b) (*).
F.

a) Força mássica b) Forças de superfície


Fig. 1.11 Forças exteriores actuando sobre um elemento de fluido segundo a trajectória.
Como o ar é um fluido pouco viscoso, é intuitivamente de prever que a força
de atrito não possa dar uma contribuição significativa para a requerida redução
de velocidade do elemento A ao longo da sua trajectória; para este balanço
global de forças poderemos então, em princípio, ignorar a força de atrito e
considerar apenas forças de pressão. Tal corresponde a admitir um modelo
ainda mais simplificado da realidade, em que o fluido se comporta como não-
viscoso: um modelo de fluido perfeito ou ideal [ideal fluid] — veremos já na
próxima secção, quando considerarmos efeitos da viscosidade, quais os limites
de validade de um tal modelo de fluido perfeito.
Sendo então, dentro do grau de aproximação considerado, as únicas forças
actuantes as de pressão, para que a velocidade do elemento de fluido diminua ao
longo da trajectória terá a resultante das forças de pressão de actuar em sentido
contrário ao movimento, o que precisamente requer Fp2> F p| ou p 2 > p v
L ogo concluím os que para que a velocidade diminua terá a pressão de
aumentar ao longo do escoamento. A pressão aumentará então continuamente
ao longo da trajectória divisória anterior, vindo a atingir o seu valor máximo no
ponto de estagnação na vizinhança do bordo de ataque.

( 1 Estas forças são na realidade de nível molecular, resultando tanto do movimento desordenado
das moléculas do fluido através da fronteira (fictícia) que, numa óptica de meio contínuo,
designamos como interface entre elementos de fluido contíguos — transporte de quantidade de
movimento — como de forças intermoleculares de atracçâo e repulsão; prefiguram-se aqui
como forças de superfície devido, exclusivamente, ao modelo macroscópico de meio contínuo
assumido para a complexa realidade.
16 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

Idênticas considerações nos levariam a concluir que, inversamente, para que


a velocidade de um elemento de fluido aumentasse segundo a trajectória teria a
pressão de diminuir ao longo do escoamento. Conjugando os dois resultados
poderemos (cautelosamente) afirmar que, pelo menos em condições de fluido
perfeito, pressão e velocidade evoluem em sentidos opostos ao longo do
escoamento.
Um gradiente de pressão negativo dp/ds< 0 — pressão a diminuir no
sentido do escoamento —, por produzir uma força elementar resultante no
sentido do escoamento, por tender a favorecer o movimento, é designado por
grad ien te favorável \favourable pressure gradient)\ inversamente um gradiente
positivo dp/ds> 0 — pressão a aumentar ao longo do escoamento —, por
produzir uma força elementar resultante em sentido contrário ao do escoamento,
por se opor ao movimento, é designado por g ra d ie n te ad v e rso [adverse
pressure gradient] (*).
Aprofundemos um pouco mais este balanço de forças até conseguirmos
estabelecer a forma da relação entre velocidades e pressões ao longo do
escoamento em condições de fluido perfeito. Façamo-lo a partir do equilíbrio de
forças expresso pela 2* lei de Newton da mecânica dos meios contínuos: variação
da quantidade de movimento de um corpo material (simétrico da força de inércia
igualà resultante das forças exteriores (mássicas e de superfície) actuando sobre
esse corpo de matéria.
Continuemos a elaborar em termos de um modelo de fluido perfeito mas
aliviemos o constrangimento de trajectória horizontal, considerando um troço
rectilíneo de trajectória de ângulo de inclinação /) relativamente à horizontal de
modo a contabilizarmos também o efeito da com ponente do peso de um
elemento de fluido de volume ÕV = ÕA.ôs e m assa especifica [density] p como
ilustrado na Fig. 1.12.

Fig. 1.12 Balanço longitudinal de forças para um elemento de fluido.

A equação de equilíbrio escreve-se:

( ) Dado que gradp é um vector, formalmente correcto seria designar âp/ds como componente
longitudinal do gradiente de pressão, o que só não é usual fazer-se por uma questão de
economia de linguagem.
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 17

_ 77 =r .p
"in érc ia r mássica ' " p ^ e s s io ,

Contabilizemos as diversas forças em presença:


• Força de inércia:

- Finérda= massa x aceleração = ( p ô v


dt
• Força mássica (componente do peso segundo a trajectória):
^ m á ssic a =- SW se np = - p g S V s t n p
onde j é a aceleração da gravidade.
• Força de superfície resultante (apenas esforços de pressão):

Fpmsi,= p S A - [ P + ^ S sy A = - ^ 8 s 8 A = - ^ 8 v .

A equação de equilíbrio supra escreve-se então:


dU dp
p S v --- = ~ p g ô v senP— —Sv
dt ds
ou, dividindo pela massa do elemento p S v :
dU „ Id p
— = - p s e n p -------- .
dt pds
Em condições de escoamento permanente, em que Ú (s,t) = Ú (s) só, o
primeiro membro escreve-se:
dU _ dU ds _ j j d U
(1.5)
dt ds dt ds
do que resulta para a anterior relação:
dU n 1 dp
U— + PsenÔH------- = 0.
ds p ds
Integrando segundo a trajectória, i.e. ao longo do escoamento, obtém-se:

f —— ds+ [ ( / — ds+ í g stn p d s = const. segundo s


J p ds J ds J

J — + ^JJdU + g j d z = const. segundo ? (1.6.a)

onde dz = ds sen p é o diferencial de cotas; finalmente:


r dp 1 2
-----\--kU + g z = const. segundo s . (1.6.b)
j p L
18 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

Para resolvermos o integral do primeiro termo precisamos de relacionar p


com p. O resultado é imediato em escoamento incompressível, em que
p(p,T)= p(T) apenas. Neste caso, sendo p constante em pressão, pode passar
para fora do integral e obtém-se imediatamente:
p + jfpU +pgz = const. ao longo do escoamento. (1.7)
Este resultado, válido em condições de escoam ento permanente,
incompressível, de fluido perfeito é conhecido por equação de Bernoulli e
constitui uma das relações basilares da mecânica dos fluidos.
Os três termos de (1.7), tendo unidades de pressão, são respectivamente
designados por:
p - pressão estática [static pressure], correspondente aos esforços
normais de pressão que se exerceriam sobre o elemento de fluido
quando em repouso
1 o v
jp U - pressão dinamica [dynamic pressure], associada ao movimento a
velocidade U
pgz - pressão hidrostática [hydrostatic pressure], resultante do peso da
coluna de fluido e, por razões históricas ligadas à hidráulica, ainda
hoje designada por hidrostática.
A soma das três referidas formas de pressão, também naturalmente com
unidades de pressão, é designada pressão total [total pressure] p T, verifiquem-
se ou não as condições requeridas para p T =const.:

P t = P + \ p U 2 +pgz. (1-8)

Notemos, por exemplo em relação à pressão dinâmica, que estes termos têm
também unidades, e significado, de energias por unidade de volume:

—mU2
i P u%=1 V
a pressão estática corresponderá assim a uma energia potencial de pressão por
unidade de volume, a pressão dinâmica a uma energia cinética / unid. vol., a
pressão hidrostática a uma energia potencial gravítica / unid. vol. e a pressão
total a uma energia (mecânica) total / unid. vol.
Em termos de energia a equação de Bernoulli (1.7) tem o significado de
uma equação de conservação de energia, razão porque a sua aplicabilidade está
restrita a campos conservativos / não-dissipativos, i.e. a condições de fluido
perfeito; lê-se, nestes termos: em condições de escoam ento perm anente,
incompressível de fluido perfeito, a energia (m ecânica) to ta l m antém -se
constante ao longo do escoamento, podendo apenas ocorrer trocas entre as
diferentes formas de energia.
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 19

Em fluido em repouso (17 = 0) a eq. (1.8) degenera em:


p T = p + pgz = p0 (l-9.a)
onde este p0 deve ser interpretado como o valor de p à cota z = 0 tomada para
referência das alturas. A equação da estática na forma (1.9.a) ou na forma
diferencial

~ = ~Pg (1.9.b)
dz
permite resolver problemas de altim etria [altimetry], para e.g. determinação da
altitude de voo de um avião, quando complementada com uma equação de
estado, p. ex. a equação dos gases perfeitos
p = pRT com R ^ = 287 J.kg-1.K-1 (1.10)
e com informação quanto à evolução vertical de temperatura na atmosfera.
Tomemos, como exemplo, a atmosfera padrão internacional [International
Standard Atmosphere ISA] (*), aplicável para condições prevalecendo na maior
parte do ano a latitudes temperadas, em que:
- o g ra d ie n te ad iab ático de te m p e ra tu ra [adiabatic lapse rate] é
/Jad = - 6 ,5 °C/km = const. nos primeiros 11 km da atmosfera, decrescendo a
temperatura linearmente de T0 = 15 °C ao nível médio da água do mar,
tomado como referência de cotas, até cerca de -5 6 °C a 11 km de altitude
— é a chamada tro p o sfera [troposphere], cujo nível superior (a 11 km) é
designado tropopausa [tropopause]
- na e s tr a to s f e r a [stratosphere], entre os 11 e os 20 km, a temperatura
mantém-se constante Tn_w = - 5 6 °C = const., após o que passa a aumentar
ligeiramente com a altitude
- à cota de referência a pressão atmosférica é p0 =101,3 kPa e a massa
específica do ar p0 = 1,225 kg/m 3.
Conjugando (1.9.b) com (1.10) obtemos então
dp g
dz
P RT
pelo que para a troposfera, onde T = T0 +/?z:
dp _ g dz
T ~ ~ R T 0+ p z’
que integrada entre z = 0 e uma altitude z produz

(*) Apresentam-se, no Apêndice A, as leis de evolução das propriedades físicas do ar em altitude


para a atmosfera padrão internacional e, na Sec. E.I., um programa para determinação destas
propriedades entre 0 e 80 km de altitude.
20 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

, P S , Tp+Pz
ln — = - - r — In
Po PR To
OU

p ( r a+ P z ^
Po 1 T0
explicitando z obtém-se finalmente:
r PR/g
z= ^ r I— ) -1
P Po
Um altímetro barométrico, calibrado para a ISA, indicará de acordo com
esta relação e num ponto onde a pressão registada seja de p = 26436 Pa, uma
altitude de pressão [pressure altitude] de 10000 m. Claro que correcçoes
deverão ser introduzidas na determinação da altitude sempre que as condições
prevalecentes não correspondam às da atmosfera padrão.
A equação da estática (1.9.a) constitui também a base para medições com
manómetros de líquido, como por exemplo o manómetro em U indicado na
Fig. 1.13.

í r P1<P'

Az z2>z,
zero da escala
(z=0)
w 7
Fig. 1.13 Manómetro em U.

Igualdade das pressões reinantes nos dois ramos do manómetro à cota de


referência

A ) = / ?l + 7 l . m Z i = P 2 + 7l.m.Z2’

onde 7lra = p lm g é o peso específico do líquido manométrico, conduz a

P 2 - P l = - r i . m .( z 2 - Z |)

ou

A P = - r i . n . A Z-
Para aumentar a precisão quando se pretendem medir pequenos diferenciais
de pressão podem-se utilizar:
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 21

- líquidos manométricos de baixa densidade, e.g. água ( p = l) ou álcool


desnaturado ( p » 0 ,8 ) em vez de mercúrio ( p = 13,6)
- manómetros inclinados, como ilustrado na Fig. 1.14, em que a diferença de
com primentos molhados nos tubos manométricos está relacionada com a
diferença de cotas dos meniscos por A z - A l sen)3, resultando para o
diferencial de pressões
A p = - Y lm A lse n P

Fig. 1.14 Manómetro de tubos inclinados.


- métodos ópticos para ampliar a escala.
Retomemos a equação (1.8) de definição de pressão total para um fluido em
movimento e notemos que, com excepção de escoamentos com uma superfície
livre, e.g. escoamento de água num canal de rega, a pressão hidrostática não dá
qualquer contribuição para o movimento.
Consideremos, como exemplo, o caso de um avião voando a diferentes
altitudes ou de um submarino navegando a diferentes profundidades, como
ilustrado na Fig. 1.15.

Fig. 1.15 Submarino a diferentes profundidades.

(*) Dada a simples e comum utilização da água como líquido manométríco, pressões são muitas
vezes expressas nas unidades milímetros de coluna de água; sendo o peso específico da
água pura, à pressão de 1 atm e à temperatura de 4°C, de 1 kgf/dm3 — a 4°C a massa
específica da água exibe um máximo, característica esta designada de 'comportamento
anómalo da água’ — e podendo esse volume de 1 dm3 ser entendido como 1 m2 x 1 mm, i.e.
como correspondendo a uma película de água de 1 mm de altura num vaso de paredes verticais
e 1 ra2 de área em planta, imediatamente resulta a seguinte correspondência entre unidades:
1 mmc.a.= 1 kgf/m a =9,8 Pa.
22 CAP. 1 AERODINÂMICA UMA VISÃO GERAL

Com ecem os por considerar o caso hidrostático do subm arino parado, i.e. de
velocidade do escoam ento nula relativam ente ao corpo. A pressão hidrostática
reinante à profundidade z2 será maior do que à profundidade z, < z2 visto ser
m aior o peso p g z da coluna de líquido, e este facto é im portante em termos do
d im ensionam en to da estrutura. Porém , em m ovim ento, se o submarino se
d e slo c a r à m esm a atitude e à m esm a velocidade às duas profundidades, o
escoam ento em tom o do subm arino deverá ser o m esm o e tam bém as mesmas as
alterações do cam po de pressão induzidas pelo m ovim ento relativamente à
pressão (hidrostática) registada em repouso.
N ão contribuindo o term o g rav ítico p ara o m o v im en to , no estudo do
esco am en to não haverá q ualquer in te resse em esta rm o s constantem ente a
co n sid erar a sua inclusão em equações com o, p. ex ., a eq u ação anterior de
definição de pressão total; a escrita destas equações tornar-se-á obviam ente mais
sim ples com a exclusão deste term o, i.e. se p u d erm o s não o considerar
explicitam ente, e tal é efectivam ente possível.
Notem os que, em bora não o tivéssem os declarado, todos os diferentes termos
de pressão considerados na equação de definição de p T devem ser entendidos
com o pressões m edidas em relação a u m a dada p ressã o de referência. E o
equivalente a dizerm os que um a qu alq u er tem p eratu ra é d e u n s tantos graus;
m as m edida em relação a que tem p eratura de referên cia? em relação ao zero
absoluto (graus K elvin)? à tem peratura de congelação d a água (graus Celsius)?
A equação de definição de p 1 deve assim ser in te rp re ta d a co m o realmente
significando

[ P r - P r * ) := [p - P « t )■+( j p v 2 - P n f )+ {pgz - Pref)

onde, naturalm ente, a referên cia deverá ser a m esm a p ara todas as diferentes
form as de pressão. L ogo co n clu ím o s que se e sco lh e rm o s co m o pressão de
referência a h id ro stá tic a local, i.e. se tom arm os p Tef= P g Z * a contribuição
gravítica autom aticam ente se anula e os restantes term os passam a contabilizar
apenas os desvios do cam po de p ressão rela tiv a m en te à p ressã o reinante à
m esm a cota em fluido em repouso.
Será esta convenção que sem pre irem os adoptar ao longo do presente texto,
p e lo que a fo rm a m ais geral d a eq u a çã o de d e fin iç ã o de p T com que
trabalharem os será;

pt = p +± pu 2. (ui)
R e fo rça-se que a ’não inclusão' do term o de p ressã o h id ro stática na eq.
(1 .1 1 ) n ão sig n ifica de m odo nenhum q u e se te n h a d esp re za d o o termo
g ra v ític o ; o efeito gravítico está tão considerado em (1.8) com o em (1.11), só
q u e em (1 .1 1) não figura explicitam ente devido exclusivam ente à nossa escolha
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 23

da hidrostática local para pressão de referência, o que permitiu aligeirar a forma


da equação.
Se estivermos em condições de aplicar Bernoulli — pT - const. ao longo do
escoamento — a eq. (1.11) constitui a relação que há muito procurávamos entre
as evoluções de pressão (estática) e de velocidade: se V variar, p variará também
mas em sentido oposto e variará proporcionalmente a U2 de modo a manter
p T = const.
Com referência à Fig. 1.10, no ponto de estagnação anterior na vizinhança
do bordo de ataque do perfil a pressão estática assumirá assim o seu valor
máximo e igual à pressão total
17=0 => T^eslagn “ P t ~ Pm ax*

correspondendo a uma conversão integral de energia cinética em energia


potencial de pressão.
Torna-se conveniente trabalharmos o campo de pressões em termos
adimensionais em vez de em termos de pressões medidas numas quaisquer
unidades; vejamos porquê. Definamos então um coeficiente de pressão
[pressure coefficient] Cp como uma pressão medida em relação a uma dada
pressão de referência e convenientemente adimensionalizada por uma dinâmica
de referência, i.e.

C —^ -Pref ( 1 .1 2 .a )

Para o caso de um perfil imerso num escoamento uniforme de aproximação terá


todo o significado escolher como referência condições no escoamento não
perturbado a infinito a montante, do que resulta

c- p r (L12b)
Se fizermos, p. ex., a determinação da distribuição de pressões em tomo de
um perfil alar a uma dada velocidade podemos, conhecidos p , p p e
construir a evolução de Cp . Em seguida o efeito de qualquer variação de
altitude (de p ) ou de velocidade de voo (U„) à mesma atitude (mesmo ângulo
de ataque a ) — mais propriamente o efeito de quaisquer variações de pressão
dinâmica — e obtido directamente da evolução de Cp através de uma
proporcionalidade directa.
Se estivermos em condições de aplicar Bernoulli, escrevendo o diferencial de
estáticas no numerador de (1.12.b) como um diferencial de dinâmicas

PT = p + ± p U 2 = p „ + ± p U l -» p - p „ = ± p ( u l - u 2)
24 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

obtemos para C_. em termos do campo de velocidades


f U_
v_ (U 3)

pelo que:
• a infinito: p = px , C =0
• num ponto de estagnação: f/ = 0 —» Cp = + 1 =
• se U>U„ Cp <0.
Realça-se que a forma (1.12) para Cp é sempre válida; é apenas uma
equação de definição. Porém a forma (1.13) é válida apenas se estivermos em
condições de aplicar Bernoulli, i.e. em condições de escoamento permanente,
incompressível de fluido perfeito.
A equação de definição de pressão total — p T = p + -^pU„ — e a equação
de Bernoulli — pT = const, ao longo do escoamento — servem de base à
operação de sondas de pressão para medir a velocidade de um escoamento ou a
velocidade de voo de uma aeronave. Consideremos duas destas sondas; o tubo
de Pitot [Pitot tube] e o Venturi [Venturi meter].

Tubo de Pitot
Consideremos o tubo de Pitot representado na Fig. 1.16, imerso no seio de
um escoamento uniforme de aproximação alinhado com o eixo da sonda e com
as duas saídas ligadas aos dois ramos de um manómetro em U [26, 132].
Uma vez que o sistema tenha estabilizado, todo o fluido no interior da sonda
e do manómetro se encontrará em repouso, quer seja ar quer seja fluido
manométrico, e a sonda, apesar do orifício no nariz, oferece-se ao escoamento
exterior como um corpo sólido. No nariz da sonda registar-se-á assim um ponto
de estagnação e a pressão transmitida ao manómetro pelo tubo interior será a
pressão de estagnação, igual à pressão total a infinito a montante, por Bernoulli.

Az cc

A partir do ponto de estagnação anterior o escoamento acelerará ao


contornar o nariz da sonda, tenderá a estabilizar e será subsequentemente
desacelerado pela presença do suporte — o troço vertical da sonda, na Fig. 1.16.
SEC.1 2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 25

Os efeitos de aceleração e de desaceleração praticamente compensam-se a uma


distância de 6 a 8 diâmetros do nariz, onde a velocidade terá atingido um valor
igual a e a pressão estática um valor igual a pm. Através de um orifício
realizado na parede do tubo exterior a essa cota será assim possível transmitir ao
manómetro o valor da pressão estática a infinito; para reduzir a sensibilidade da
sonda a pequenos desalinhamentos com a direcção do escoamento de
aproximação, em vez de uma única tomada de estática \pressure tapping)
utiliza-se uma coroa de tomadas de pressão, pelo que o sinal transmitido ao
manómetro é o do valor médio da estática local. O diferencial de pressões
registado p T —p m = -^p£/Í permite determinar a velocidade do escoamento de
aproximação U„ uma vez calculado p {p ,T ) a partir da equação dos gases
perfeitos (1.10) e conhecidos os valores da pressão ('hidrostática' / atmosférica) e
da temperatura locais.
Porém, se a sonda não estiver correctamente manufacturada ou não estiver
correctamente posicionada, e.g. numa aeronave, o instrumento fornecerá um
valor de velocidade — a velocidade - ar indicada [indicated air-speed] (*) —
diferente do valor correcto, que se designa velocidade - ar calibrada
[calibrated air-speed]. Tais eventuais erros podem ser tomados em consideração
através de uma prévia calibração do aparelho. Mas suponhamos que o
instrumento é calibrado ao nível do solo, onde p = p0, e o voo se processa a uma
altitude a que corresponde um p diferente — em geral menor; então o mesmo
diferencial de pressões A p , que é apresentado no velocímetro em termos de
velocidade, corresponde a duas velocidades diferentes
A p = ^ p U l = \ p a U 2c

sendo a velocidade - ar verdadeira [true air-speed TAS] Vv diferente — em


geral maior, devido à diminuição de p em altitude — da velocidade corrigida
Uc (assumindo que a velocidade indicada tenha sido já corrigida através de
calibração no solo):

Esta questão de determinação rigorosa da velocidade de voo é importante


tanto em termos de navegação aérea como de testes em voo de uma aeronave.
A designação de "tubo de Pitot" não mais irá ser empregue neste texto de
aerodinâmica para evitar possíveis confusões de terminologia, pois que tanto na
gíria aeronáutica portuguesa como na literatura francesa a designação "tubo de
Pitot" se refere ao tipo de sonda até agora considerado, enquanto que em

(*) A explicitação ar" em todas estas designações de velocidade justifica-se pela necessidade
em especificar o referencial relativamente ao qual a velocidade é medida: em relação à massa de
ar na qual a aeronave se desloca, não em relação ao solo.
26 CAP. 1 AERODINÂMICA; UMA VISÃO GERAL

literalura inglesa "tubo de Pitot" respeita apenas à sonda de pressão total. Em


prol da precisão de linguagem passaremos assim a utilizar as designações de
"tubo de (pressão) total", de "tubo de estática" e de "tubo de total-estática",
ignorando qualquer menção a "tubo de Pitot".
Venturi
Comecemos por estabelecer a forma da equação de conservação da massa,
conhecida por equação da c o n tin u id a d e [co ntin uity eq u a tio n ], que
simplesmente exprime que o caudal mássico [mass flo w rate] entre quaisquer
duas superfícies impermeáveis permanece constante.
Consideremos, por exemplo, o caso do escoamento numa co n d u ta [duct] de
secção variável ilustrado na Fig. 1.17.

Fig. 1.17 Constância de caudal no escoamento numa conduta.

Estabelece a equação de conservação da massa que é a mesma a massa de


fluido que atravessa qualquer secção de passagem por unidade de tempo. Ora
caudal mássico = massa/unid. tempo = p x (volum e/unid. tempo)
= pxcaudal volumétrico
e o caudal volumétrico [volume flow rate] pode ser expresso como:
volume /unid. tempo = secção de passagem x comprimento /unid. tempo
= secção de passagem x velocidade
do que resulta para o caudal mássico Q :
Q = pAU (1.14.a)
em que este U deve ser entendido como a componente do vector velocidade U
normal à área de passagem A — a componente tangencial não opera qualquer
transporte através de A. Ainda se U não for constante ao longo de A, o factor U
em (1.14.a) deve ser considerado como o valor médio í/med das componentes de
U normais a A. Designando por n o versor da normal a um elemento da secção
de passagem, i.e. dA = tid A , a equação de definição de caudal mássico deve ser
rigorosamente escrita como

Q = ^ p Õ .n d A . (1.14.b)

J
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 27

A equação da continuidade exprime então que, através das três secções de


passagem assinaladas na Fig. 1.17:
Q “ P \A lU i —p 2 ^ 2 ^ 2 =
OU
pA U = const. (1.15.a)
Em condições de escoamento incompressível, o factor p = const. pode ser
absorvido no segundo membro constante de (1.15.a) e a equação da
continuidade escreve-se, em termos de constância do caudal volumétrico:
AU = const. (1.15 .b)
Exprime esta relação que se a secção de passagem A variar num determinado
sentido (aumentar / diminuir) a velocidade U variará em sentido contrário
(diminuirá / aumentará) de modo a manter constante o produto A x U — estas
evoluções serão do tipo hipérbole equilátera: x x y = const.
Suponhamos então um Venturi — um instrumento constituído por uma
contracção - difusão — instalado num troço de conduta, com as duas tomadas
de pressão estática indicadas na Fig. 1.18 ligadas a um manómetro diferencial.

Fig. 1.18 Venturi instalado num troço de conduta.


Por continuidade (1.15.b) será
A, Ui = A 2U2,
atingindo a velocidade do escoamento o seu valor máximo U2 na g a rg a n ta
[throat] do aparelho — secção de passagem A2 mínima. Por Bemoulli — (1.7)
e (1.11) — e admitindo condições uni-dimensionais (i.e. características do
escoam ento variando apenas segundo uma direcção — a direcção do
escoamento geral segundo o eixo da conduta, não na direcção transversal):

p i +2^pUl = p 2 +-^pU 2

a pressão registará o seu valor mínimo na garganta.


28 CAP. 1 AERODINÂMICA; UMA VISÃO GERAL

O diferencial de pressões indicado no manómetro escreve-se então;

uma razão de áreas

U1 A2

obtém-se a forma alternativa


CM

ÍV
1

(U J
do que finalmente resulta, para a velocidade do escoamento na conduta (ou
velocidade de voo de um avião);

Esta relação permite determinar a velocidade do escoamento a partir do


conhecimento da massa específica p do fluido, da geometria do instrumento —
da razão de áreas Ax/ A 2 — e do diferencial de pressões registado p x- p 2* C°m
o Venturi verificam-se os mesmos problemas anteriormente referidos para o
Pitot com calibração e variação de p .
O Venturi constitui ainda o órgão fundamental de um carburador ou de um
pulverizador, como indicado na Fig. 1.19. A baixa pressão (sucção) na garganta
promove uma aspiração da gasolina, que é então pulverizada (separada em
gotículas) pela corrente de ar.

gasolina

Fig. 1.19 Operação de um carburador.

Nota-se, a finalizar estes comentários sobre o Venturi, que as fronteiras entre


as quais se processa o escoamento e nos conduziram à equação da continuidade
(1.15) não têm de ser paredes sólidas, como as da conduta da Fig. 1.17,
bastando que sejam impermeáveis à matéria, i.e. que não haja fluxo de massa
através dessas fronteiras. Será, como assinalado na Fig. 1.20, o que acontece no
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 29

domínio interior às trajectórias que ladeiam a trajectória divisória anterior da


Fig. 1.10: progredindo em direcção ao ponto de estagnação a velocidade
diminui, pelo que, para conservação de massa, a secção de passagem terá de
aumentar A2 > A ,, implicando que as trajectórias divirjam.

Fig. 1.20 Trajectórias divergentes no escoamento de aproximação a um perfil.

Revertendo a essa mesma Fig. 1.10 ocupemo-nos agora do equilíbrio de


forças na direcção radial para os elementos de fluido B e C , que descrevem
trajectórias com uma determinada curvatura.
Tendo esses elementos de fluido uma dada massa Sm e descrevendo
trajectórias com um certo raio de curvatura local r a uma determinada
velocidade U f ficarão sujeitos a uma força centrífuga (força de inércia na
direcção radial) <5/cemr = Sm U2/r que, de acordo com a 2a lei de Newton, terá
de ser exactamente equilibrada por uma força exterior resultante da aplicação de
esforços normais de pressão.
Suponhamos a situação simples ilustrada na Fig. 1.21 de um elemento de
fluido de massa S m - p S V descrevendo um movimento circular uniforme de
raio r a uma velocidade U = const.

Fig. 1.21 Equilíbrio radial de forças para um elemento de fluido.

A equação de equilíbrio radial de forças escreve-se neste caso:

do que resulta:

dp _ p U 2
(1.16)
dr r
30 CAP ' AERODINÂMICA UMA VISÃO GERAL

Ksic resultado, a que acabamos de chegar através de um simples equilíbrio de


tornas na Jirecçào radial, revelar-se-á de extrem a im portância nas muitas
diversas apreciações que desenvolveremos ao longo de todo este texto de
aerodinâmica. Sendo p U '/ r uma quantidade essencialm ente positiva, (1.16)
revela que será dp/dr > 0 sempre, pelo que se õ r< O então também ôp<0
implicando que a pressão estática te rá de d im in u ir se m p re em direcção ao
centro de cu rvatura de modo a g a ra n tir eq uilíb rio com a fo rça centrífuga.
No caso do escoamento em torno de um perfil alar, prim eiro ilustrado na
Fig. 1.10. concluímos, com referência à Fig. 1.22, e dado que a curvatura das
trajectórias se deverá ir esbatendo à medida que nos afastam os do perfil — i.e.
da perturbação introduzida no escoamento uniform e — , de modo que a grandes
distâncias deveremos ter recuperado as co n d içõ es de escoamento não-
perturbado, que deverá ser p c < p i < px , o que revela a instalação de uma sucção
— i.e. de uma pressão p t <p„ — no extradorso, e p { > p 2 > de uma
sobrepressão no intradorso.

P.»

Fig. 1.22 Geometria e campo de pressões para o escoamento em torno de um perfil alar.
Em resultado destes diferenciais de pressão — sucção no extradorso,
sobrepressão no intradorso — surge a força de sustentação L indicada na Fig.
1.22 .
Uma evolução típica do coeficiente de pressão C , definido por (1.12.b) ou
(1.13), está representada na Fig. 1.23, onde as setas indicam o sentido do vector
força resultante da distribuição de pressão num elem ento de superfície
d f = pixdS, dando assim informação sobre se nos encontram os num a região de
sobrepressões ou de sucções. Cp exibe o seu valor m áxim o no ponto de
estagnação anterior. Cp = +1. O escoamento acelera intensam ente ao contornar
o bordo de ataque, Cp anula-se no ponto onde for U = Um e exibe um valor
mínimo no extradorso na vizinhança do bordo de ataque; o gradiente de pressão
favorável instalado é extremamente intenso, diminuindo a n r« M n do
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 31

m áxim o fisica m en te p o ssív e l, no ponto de estagnação, até ao valor m ínim o no


p ico de su cçã o, ao lo n g o de um a distância extrem amente pequena. A partir do
p ico de su cç ã o e até ao bordo de fuga a pressão recupera, embora por valores
n e g a tiv o s, p elo q u e o grad ien te de p ressão instalado é adverso. A o lon go do
in tra d o rso, e a partir d o p o n to d e esta g n a çã o , o gradiente de pressão é
gen erica m en te fa v oráv el e p ou co intenso.

F ig . 1.23 Evolução polar de Çp num perfil.

Para aumentarmos a sustentação teremos de aumentar o diferencial de


pressões entre intradorso e extradorso, i.e. aumentar sucções no extradorso e
sobrepressões no intradorso, ao que está associado um aumento do gradiente
radial de pressão e um igual aumento da força centrífuga a que ficam sujeitos os
elementos de fluido ao descreverem trajectórias com uma dada curvatura a uma
certa velocidade. Ora aumento da força centrífuga por unidade de volume
/centr = p U 2/V pode ser conseguido ou:
- aum entando Í7, o que é muito eficiente dada a dependência quadrática
/centr OU
- aumentando a curvatura das trajectórias, i.e. diminuindo o seu raio de
curvatura r, através de um aumento do ângulo de ataque, como ilustrado na
Fig. 1.24.

a) a pequeno b) a elevado
F ig . 1.24 Geometria do escoamento em torno de um perfil alar
a dois ângulos de ataque diferentes.

A v a r ia ç ã o d e L c o m a v e r ific a -s e s er m u ito a p ro x im a d a m e n te lin e a r na


g a m a d o s p e q u e n o s â n g u lo s d e a ta q u e , e .g . | a | < 1 0 ° .
32 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

Separemos as contribuições dos diversos parâmetros p, U e a para i


trabalhando em termos de um coeficiente de susten tação [Lift coefficient] c
adimensional em vez de em termos da força de sustentação. 1
Ora acabámos de ver que a sustentação resultava da distribuição de pressões
ao longo da superfície do corpo, a qual era controlada por um equilíbrio com a
força centrífuga actuando sobre os elementos de fluido e esta última é
proporcional a pU 2. Dado que p U 2 tem unidades de pressão, e por um
procedimento análogo ao seguido na definição (1.12.b) do coeficiente de
pressão, terá todo o significado adimensionalizar L pela pressão dinâmica a
infinito I p t/* , escolhendo a velocidade do escoamento não perturbado como
velocidade de referência ou como escala de velocidades [velocity scale] para o
escoamento como um todo. Tendo a pressão (dinâmica) unidades de força /
unid. superfície, para obtermos as dimensões da força de sustentação teremos
ainda de incluir uma superfície de referência, e no caso em apreço essa
naturalmente será a área alar [wing area] S — área da asa em planta , do que
finalmente resulta para o coeficiente de sustentação adimensional
(1*17.a)

Em bi-dimensional cartesiano qualquer escoam ento é entendido como


processando-se entre dois planos à distância unitária, pelo que parâmetros como
a sustentação são então entendidos como 'por unidade de largura', do que resulta
S = c x l = c e, para o coeficiente de sustentação

(1-17.b)

A expressão de L em termos de CL é assim

L = ± p V lS C L ou L = íp U Í c C L, (1.18)

relação esta onde está explicitado o efeito de p, de Um, de S ou de c e de a e da


forma do corpo, últimas influências estas manifestadas através de CL.
Evoluções típicas de CL com a estão ilustradas na Fig, 1.25 para perfis
simétricos e para perfis com curvatura na gama dos pequenos ângulos de ataque,
onde o andamento é linear.
perfil com curvatura

perfil simétrico

Fig. 1.2S Evolução de CL vs. a para perfis alares simétricos e com curvatura.
SEC.11. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 33

Para perfis simétricos operando a a = 0° as distribuições de pressão serão


iguais no extradorso e no intradorso e a força resultante nula, o que leva a curva
CL vs. a (*) a passar pela origem. Para perfis com curvatura, já a a = 0° é
CL>0, anulando-se a sustentação só a um ângulo de ataque negativo a = -/3,
por isso mesmo designado ângulo de sustentação nula [zero-lift angle]. A taxa
constante de variação de CL com a é, nesta gama de ângulos de ataque e para
qualquer forma de perfil alar, tipicamente:
dC
— - = 2 ?r rad”1 * 0,11 grau-1;
da
a evolução linear de CL com a na gama dos pequenos ângulos de ataque pode
assim ser genericamente descrita por
CL = 2 n (a + p). (1.19)
Este efeito de curvatura do perfil ao promover uma translação da curva
CL vs. a está na base da operação das superfícies móveis de uma aeronave,
deflectidas para controlo do voo. Como ilustrado na Fig. 1.26, deflexão de uma
superfície móvel produz um efeito equivalente ao de uma alteração da curvatura
do perfil, operando uma translação da característica CL vs. a do que resulta,
comparativamente à configuração perfil limpo — sem a superfície móvel
deflectida —, uma alteração de CL ao mesmo a .

Por alteração da força de sustentação produzida pelo elemento sustentador,


residente a uma certa distância do centro de gravidade da aeronave, é destruído o
equilíbrio de momentos em relação ao centro de gravidade, do que resulta uma
alteração da atitude de voo.
Os três tipos clássicos de superfícies de controlo, ilustrados na Fig. 1.27, são:
a) o leme de profundidade ou elevador do estabilizador [elevator] que em
conjunto com o elemento fixo onde faz charneira — a em p en ag em
horizontal — constitui o estabilizador (horizontal) [horizontal stabilizer);
deflexão do elevador produz um momento de picada [pitching moment] —
nariz do aparelho em baixo [nose-down] — ou de cabragem — nariz em

(*) vs., ve rsu s , contra; no presente contexto; "em função de’


34 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

cima [nose-up] — em tomo do eixo transversal da aeronave, o que permite


alterar a altitude — 'profundidade' — a que o voo se processa, como
ilustrado na Fig. 1.27.a); quando o estabilizador é constituído por um único
elemento, em vez de dois, e roda com o um todo, designa-se pot
estabilizador integral [stabilator o stabilizer + elevator]. Se o estabilizador
estiver colocado à frente, em vez de atrás, do centro de gravidade, diz-se que
se está perante uma configuração canard. Ilustram-se na Fig. 1.28 estas duas
diferentes configurações, para aeronaves da cham ada classe executiva
[busirtess aircraft], e ainda uma configuração mista de 3-superfícies [three*
surface] constituída por asa, estabilizador e canard.

a) Elevador do estabilizador

b) Leme de direcção c) Ailerons

F ig. 1.27 Actuação das superfícies móveis de uma aeronave


e respectivos momentos em torno dos três eixos.

b) o leme de direcção [rudder], que em conjunto com a em p en ag em vertical


ou d e riv a |fin], onde faz charneira, constitui o e s ta b iliz a d o r vertical
[vertical stabilizer]\ deflexão do leme de direcção produz um a força de
sustentação horizontal, do que resulta um m om ento d e g u in a d a [yawing
moment] em torno do eixo vertical da aeronave prom ovendo um a alteração
do rumo do voo.
c) os ailerons, instalados nas regiões extremas da asa, deflectem em sentido
oposto, de modo que a sustentação aumenta na semi-asa em que o aileron é
deflectido para baixo — correspondendo a um aum ento da curvatura dos
perfis — e diminui na semi-asa em que é deflectido p ara cima —
correspondendo a uma inversão da curvatura — com o ilustrado na Fig.
1.27.c) <*); em resultado desta assimetria na distribuição de sustentação ao

( * ) Nestas representações a aeronave é considerada sempre vista de trás, de modo a que asa direita
e asa esquerda correspondam às que seriam tomadas por um piloto sentado aos comandos.
SEG.1.2. MECANISMO FÍSICO OE PRODUÇÃO Of\ SUSTENTAM) 35

longo da envergadura [s p a n ] da asa instala-se um momento de rolamento


[ro llin g m o m e n t ] em torno do eixo longitudinal da aeronave, que altera o
prancham ento.

a) Convencional: Dassault Aviation Falcon 900 EX

b) Canard; Beechcraft Stárship 2000A c) 3-superfícies: Piaggio P.180 Avanti


Fig. 1.28 Diferentes configurações de aeronaves da classe executiva.
Outros tipos de superfícies móveis — e.g. os flaps, os spoilers — e elementos
com mais de uma função — e.g. os elevons, actuando como elevadores e como
ailerons, os flaperons, actuando como flaps e como ailerons — são por vezes
utilizados.
Até agora raciocinám os em termos meramente bi-dimensionais,
considerando apenas o escoamento plano em torno de um perfil alar. E no caso
de uma asa finita, quais os efeitos das extremidades da asa, dos designados
bordos marginais [wing tips]?
Consideremos a situação reportada na Fig. 1.29. Como já sobejamente
referido a sustentação resulta do diferencial de pressões instalado entre as
superfícies do intradorso (p^> /?M) e do extradorso (pt < #*) da asa. Nos bordos
marginais, quando termina a barreira sólida capaz de suportar o diferencial de
pressões, vai haver tendência a uma igualização das pressões, a sustentação local
cai a zero e geram-se escoamentos transversais no sentido das altas para as
baixas pressões, i.e. do intradorso para o extradorso, imprimindo um movimento
circulatório na esteira [wake] da asa; são os chamados vórtices marginais [tip
vórtices], ilustrados na Fig. 1.29 e visualizados na Fig 1.30 [168].
36
CAP.1 AERODINÂMICA; UMA VISÀO GERAL

Fig. 1.29 Vórtices marginais numa asa finita.

a) Vista de cima b) Secção da esteira


Fig. 1.30 Vórtices marginais numa asa rectangular.

Em determinadas condições de temperatura e de humidade estes vórtices


aparecem visualizados sob a forma de rastos de condensação saindo dos bordos
marginais das asas de aviões manobrando a baixa altitude e dos ailerons traseiros
dos Fórmula 1: para equilíbrio da força centrífuga induzida pelo movimento
circulatório a pressão terá (como sempre) de diminuir em direcção ao centro de
curvatura, implicando que no centro do vórtice se instale um campo de baixas
pressões, sob acção do qual o ar expande, arrefece e pode promover
condensação do vapor de água existente na atmosfera ( ). Documenta-se, na Fig.
1.31 [8], a situação ‘inversa1de formação de bolhas de vapor num escoamento
em água, em que os vórtices marginais de forma helicoidal produzidos por um
hélice propulsor marítimo [marin propeller] — as pás [blades] do hélice
funcionam como asas finitas, em rotação — são visualizados devido a cavitação
[cavitation] — formação de bolhas de vapor de água por a pressão no núcleo
do vórtice se tomar inferior à tensão de vapor.

Nota-se que os extensíssimos rastos de condensação [condensation trails ou contrails]


por vezes deixados no céu pela passagem de aviões a grande altitude, e com tempos de
residência que podem atingir as várias dezenas de minutos, são formados, não por acção dos
vórtices marginais, mas por condensação do vapor de água resultante do processo de
combustão nos motores, dando origem a um rasto de cristais de gelo — agradeço aos meus
Colegas Prof. Xavier Viegas, da Universidade de Coimbra, e Cor. Sequeira Cardoso as suas
apreciações sobre este ponto.
SEC.1.2. MECANISMO FÍSICO DE PRODUÇÃO DA SUSTENTAÇÃO 37

a) Hélice pouco carregado b) Hélice muito carregado


Fig. 1.31 Vórtices marginais num hélice propulsor marítimo visualizados por cavitação.
Vários são os efeitos destes vórtices marginais:
Estando os vórtices marginais a ser constantemente gerados pelo sistema
sustentador finito, energia terá de ser continuamente comunicada ao fluido
para formar esses mesmos vórtices; esta energia dispendida para formação
dos vórtices marginais, que não é requerida numa situação bi-dimensional,
pode ser interpretada em termos do trabalho de uma força de resistência
adicional: a resistên c ia ind u zida [induced drag] pelos vórtices marginais,
que será tanto maior quanto maior for a sustentação, pois para aumentar a
sustentação terá de aumentar o diferencial de pressões entre intradorso e
extradorso, aum entará a intensidade dos escoamentos transversais em tomo
dos bordos m arginais, aumentará a intensidade dos vórtices e maior será
então a energia requerida para os gerar.
Os extensos vórtices marginais, de sentido contrário nas asas direita e
esquerda, com o ilustrado na Fig. 1.29, induzem, no plano da asa, um campo
de velocidades d escen d en tes [downwash] no domínio inter-vórtices e um
campo de v elo cid a d es ascen d en tes [upwash] no domínio exterior. Estas
velocidades induzidas não só alteram características do escoamento a nível do
próprio sistem a sustentador, comparativamente às características registadas
numa situação bi-dim ensional, como afectam o comportamento de outros
elementos da aeronave, de que exemplo típico é o do comportamento do
estabilizador colocado numa posição mais recuada em relação à asa, como
ainda o com portamento de outras aeronaves ou voando em voo de formação
ou operando do mesmo aeródromo. Em voo de formação, benefício pode
ser retirado da interferência mútua entre as diversas aeronaves, o que justifica
a característica formação em V de um bando de aves migratórias, caso em
que os campos de velocidade ascendente induzidos pelos vórtices marginais
das diferentes aves permitem reduzir a resistência induzida e assim a energia
que cada um a tenha de dispender para voar. Em operações aeroportuárias,
os intensos cam pos circulatórios de velocidade induzidos pelos vórtices
marginais de aeronaves de grande porte a descolar ou a aterrar, vórtices estes
38 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

de grande intensidade e com grande tempo de residência, levantam


problemas de segurança de operação a outras aeronaves utilizando o mesmo
aeródromo e impõem um intervalo mínimo de tempo que pode atingir os
vários minutos entre, por exemplo, a aterragem de um avião pesado e a
aterragem de um avião ligeiro.
Exemplificámos até agora apenas situações de escoamentos incompressíveis
de fluido perfeito. Efeitos da viscosidade serão apreciados na próxima secção.

1.3. Efeitos da viscosidade


A fim de apreciarmos como a viscosidade [Wjctfííty] afecta as características
de um escoamento, comparativamente à condição de referência de fluido
perfeito, comecemos por considerar a situação muito simplificada de uma placa
plana [flat plate] de espessura desprezável alinhada com um escoamento
uniforme de aproximação de velocidade ÍJso.
Em condições de fluido perfeito as características geométricas e cinemáticas
de um tal escoamento seriam, como ilustrado na Fig. 1.32:
- trajectórias rectilíneas e paralelas, em particular a placa coincidindo com um
fragmento de trajectória
- perfil de velocidades constante: U = UOB= const. para todo o campo do
escoamento
- perfil de pressões (estáticas) constante: p = p„ = const. para todo o campo.

y U=U„=c onst. p = p„ = const.


1 1
1 i

l 1

i
Fig. 1.32 Placa plana de espessura desprezável alinhada com
escoamento uniforme de fluido perfeito.

Em condições de fluido real viscoso [real viscous flow] verifica-se, porém,


que os elementos de fluido imediatamente em contacto com uma parede sólida
aderem a esta, condição fronteira designada por de não-escorregamento [no-
slip]\ a validade desta condição foi contestada no passado, mas está hoje
amplamente confirmada não só por observação directa como pela exactidão de
análises teóricas que nela se baseiam.
Assim, e como ilustrado na Fig. 1.33, na estação [station] do bordo de
ataque da placa a velocidade do elemento de fluido que primeiramente entra em
contacto com a placa abruptamente cai a zero, num referencial fixo
SEO. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 39

relativamente à placa: = O — o índice W será sistematicamente utilizado para


designar condições na parede: V como inicial de wall.

Um

T I__ ^ " t I — I— u < u m


C~ I X - u*= °

Fig. 1 .3 3 Velocidade e tensões de corte entre elementos contíguos


num escoamento de fluido real.

N a interface entre este elem ento de fluido, solidário com a placa, e o


elemento im ediatam ente 'acima', deslizando à velocidade t/^ , pois que ainda se
não 'apercebeu' de (ainda não reagiu / ainda não foi perturbado por) a presença
da parede — m anifestada pela introdução da condição de não-escorregamento
— , desenvolvem-se esforços de atrito viscoso / tensões de corte [shear stresses]
r acarretando um a dim inuição da velocidade deste elemento de fluido a uma
cota superior relativam ente à velocidade não perturbada de que vinha
animado (*). N a estação im ediatam ente a seguir, no sentido longitudinal: i) um
outro elem ento de fluido em contacto com a parede sólida encontrar-se-á em
repouso relativam ente à parede e ii) o elemento imediatamente 'acima', que neste
processo foi desacelerado, fluirá a um a velocidade U < U ^ , o que iii) irá
introduzir novos esforços de corte na interface com um terceiro elemento ainda
mais afastado da parede, iv) ulteriorm ente conduzindo a uma diminuição da
velocidade deste terceiro elemento.
O efeito da condição de não-escorregam ento, im posta pela presença da
parede sólida, vai-se assim continuam ente propagando a elementos de fluido
cada vez mais afastados da parede pela sucessiva instalação de tensões de corte
de nível viscoso entre elem entos deslizando uns sobre os outros a diferentes
velocidades. E m resultado, a região junto à parede sólida onde se manifestam
efeitos quantificáveis de tensões de corte de nível molecular, induzidos pela
condição de não-escorregam ento na superfície, vai continuamente aumentando
de espessura ao longo do escoam ento: é a chamada ca m a d a lim ite [boundary
layer], ilustrada na Fig. 1.34.

Velocidade, neste contexto, deve ser mais propriamente entendida como quantidade de
movimento / unid. massa mÕ/m = Ut pois que, de acordo com a 2“ Lei de Newton, forças
exteriores $âo os entes capazes de operar uma variação da quantidade de movimento.
40 CAP. 1 AERODINÂMICA; UMA VISÃO GERAL

x
L

F ig . 1 .3 4 C am ad a lim ite cm p la c a p la n a .

Em lennos analiticamente exactos dever-se-á considerar que este efeito de


contínua desaceleraçao dos elementos de fluido em direcçào â parede, requerido
para sempre garantir satisfação da condição de não-escorregamento, se esbate
assimptoticamente com a distância à parede, i.e. que a velocidade tende
assimptoticamente para a velocidade U_ do escoamento não-perturbado. Em
termos práticos podemos arbitrariamente considerar que os efeitos de tensões de
corte se tomam desprezáveis, comparativamente a outros efeitos em presença, a
partir de distâncias y da parede para as quais o deslocamento relativo entre
elementos de fluido contíguos seja muito pequeno, p. ex. a partir de distâncias y
da parede para as quais seja U (y)/U m = 99%, ou 98% ou 99,?% . dependendo do
grau de aproximação com que se pretenda trabalhar, o que nos permite definir
uma espessura finita S para a camada limite. A partir de v = Ô os efeitos de
tensões de corte, se bem que presentes, tornam-se desprezáveis
comparativamente a outros efeitos em presença e o escoamento passa a poder
ser tratado como de fluido perfeito, não-viscoso.
Estabeleçamos a relação entre os campos de velocidade e de tensões de corte
de nível viscoso recorrendo a uma experiência muito simples, a experiência de
Stokes: escoamento entre duas placas planas paralelas animadas de movimento
relativo, como ilustrado na Fig. 1.35.a); esta situação corresponde ao extremo de
simplificação para o escoamento num filme de óleo lubrificante entre uma
chumaceira e um veio em rotação — Fig. 1.35.b) — , caso em que, sendo a
espessura do filme de óleo muito menor que o raio de curvatura das superfícies
sólidas, se poderá admitir, em termos relativos, que estas têm um raio de
curvatura 'infinito', podendo ser modeladas como paredes planas paralelas.
y U

a) Placas paralelas animadas de movimento relativo b) Conjunto veio-chumaceira


F ig . 1 .3 5 Experiência de Stokes.
SEC. 1.3. EFEITOS OA VISCOSIDADE 41

Suponhamos, como indicado na Fig. 1.35.a), as duas placas a uma distância


/i = const. e que a placa de 'cima’ se desloca com uma velocidade U
relativamente à de 'baixo', fixa no referencial x,y assinalado. Dada a condição
de não-escorregamento numa parede sólida, a velocidade dos elementos de
fluido em contacto com a parede de 'baixo' será U{y = 0) = 0 e a dos elementos
de fluido em contacto com a parede de 'cima' será U(y = h) = U . Por atrito
viscoso entre elementos contíguos de fluido animados de diferentes velocidades,
o movimento do elemento superior ir-se-á transmitindo a todos os elementos de
fluido compreendidos no espaço 0 <y <h , de modo que, uma vez que tenha
decorrido tempo suficiente para que o escoamento estabilize, a velocidade dos
elementos de fluido a diferentes cotas continuamente variará desde U = U na
parede superior até V = 0 na parede inferior.
Mas este campo de velocidades U(y), apenas induzido por efeito das tensões
de corte T, que configuração assume?
Verifica-se experimentalmente, através desta experiência de Stokes, que no
caso de fluidos 'simples', e.g. como o ar e a água — exceptuam-se fluidos de
comportamento mais elaborado como materiais com memória, soluções
concentradas de polímeros com longas cadeias moleculares, etc. —, a tensão de
corte entre elem entos de fluido em deslizamento relativo é directamente
proporcional ao diferencial de velocidades entre esses elementos de fluido,
sendo a constante de proporcionalidade uma propriedade física (de natureza
molecular) do fluido, designada viscosidade dinâmica [dynamic viscosity] fi.
Para estes fluidos, denominados fluidos newtonianos, a relação constitutiva entre
os campos de velocidade e de tensões de corte escreve-se então, nesta situação
simplificada de escoamento:

t= (1.20)
dy
Para o elem ento paralelipipédico de fluido assinalado na Fig. 1.36
estabeleçamos um balanço de forças, equivalente ao da Fig. 1.12 em termos de
esforços de pressão e que nos conduziu à equação de Bernoulli, admitindo as
seguintes hipóteses simplificativas:
• que as duas placas sejam suficientemente grandes, comparativamente à
distância h entre elas, que a velocidade de translação da placa de cima U seja
constante e que tenha decorrido já tempo suficiente, desde que o movimento
relativo tenha sido iniciado, para que o escoamento no espaço inter-placas
tenha assumido uma configuração estabilizada, i.e. que para além de não
variar no tempo (escoamento permanente) também já não evolua segundo a
direcção x, de modo a que o campo cinemático a diferentes x's seja o
mesmo; um tal escoamento é designado completamente desenvolvido \fully
developed]
42 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

• iguais pressões estáticas a 'infinito' a m ontante e a ju san te, i.e. p = const para
todo o campo (gradiente de pressão n u lo), de m odo a que seja nula a
resultante dos esforços norm ais de pressão exercid o s sobre os elementos de
fluido.
y

SA
h
õyY' Sx
TSA
) / y v ; - y 7"

Fig. 1.36 Experiência de Stokes: esforços sobre um elemento de fluido.

Não evoluindo o escoamento segundo x , será nula a variação da quantidade


de movimento, pelo que terá tam bém de se r n u la a resu ltan te dos únicos
esforços de atrito viscoso aplicados, e esta escreve-se, com referência à Fig. 1.36:

- r SA + T+— ôy 8A = 0
dy '
ou, por unidade do volume elementar:

^ =0
dy
que integrada produz
T = const. ( 1. 21)
Atendendo à equação (1.20) de definição de t e abso rven d o o factor // na
constante de integração, i.e.
dU J J dU „
T = u. — = const. de onde — = C ,,
* dy dy 1
sob nova integração obtemos, para o perfil de velocidades,
u =c iy+c2.
A condição fronteira U(y = 0) = 0 conduz então a C2 - 0 e a condição
fronteira U{y- h) = U produz C ^ Ú / h , do que finalmente resulta, para o
perfil de velocidades, a variação linear expressa por:

( 1.22)
V h
onde o campo de velocidades U(y) vem convenientemente adimensionalizado
pela escala de velocidades U e as distâncias y figuram adimensionalizadas pela
escala de comprimentos [length scale] h.
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 43

x
Fig. 1.37 Experiência de Stokes: perfis de tensão de corte e de velocidade.

Em face destes resultados imediatamente se conclui que a geometria de um


elemento de fluido (new toniano), inicialmente rectangular, deverá
continuamente evoluir ao longo do tempo (ao longo do escoamento) da forma
ilustrada na Fig. 1.38.

Fig. X.38 Experiência de Stokes: evolução, ao longo do tempo,


da forma de um elemento de fluido newtoniano.

Esta evolução de forma de um elemento de fluido sugere uma possível


definição de um fluido 'sim ples1 como um m aterial que continuamente se
deforma sob aplicação de esforços convenientes, por mais pequenos que estes
sejam . Tal não significa que o material não ofereça resistência à deformação —
de facto geram-se tensões de corte que produzem uma resistência de atrito
(friction drag] — , mas apenas que essa resistência à deformação não consegue
evitar que a deformação ocorra ou, equivalentemente, que a força de resistência
se anula com a tax a de deform ação [strain rateJ. Mostra, de facto, a eq. (1.20)
de definição da tensão de corte para um fluido newtoniano que a tensão r se
anula com anulamento da taxa de deformação dU /dy.
Tal comportamento é diferente do registado em sólidos elásticos, para os
quais, como referenciado na Fig. 1.39 e de acordo com a Lei de Hooke, a tensão
é directamente proporcional à deformação (e não à taxa de deformação, i.e. à
deformação / unid. tempo), sendo a constante de proporcionalidade G o módulo
de elasticidade transversal do material — notar as diferentes unidades do
numerador das diferenciais ocorrendo nas relações constitutivas: [*]==£, para
um sólido elástico, e [£/] = L T _1, para um fluido newtoniano.
44 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

x
Fig. 1.39 Deformação em sólidos elásticos.
A tensão de corte r está associado um significado físico de fluxo de
quantidade de movimento [momentum flux]; interpretem o-lo. Admitamos então
a situação reportada na Fig. 1.40 de dois elem entos de fluido em contacto,
animados de diferentes velocidades.

Fig. 1.40 Tensão de corte entre dois elementos de fluido.


Sob acção da tensão de corte de nível molecular x gerada na interface dos
dois elementos de fluido em movimento relativo, o elem ento de fluido 2,
animado de menor velocidade do que o elemento 1, é por este arrastado — i.e. a
sua quantidade de m ovim ento / unid. m assa = v elocidade aum enta — e,
reciprocamente, o elemento 1 é retardado pelo elemento 2 — a sua 'velocidade'
diminui — , pelo que na estação x seguinte as velocidades dos elementos 1 e 2
estarão mais igualizadas: por acção da tensão de corte T, dim inuiu a 'velocidade'
do elemento 1 (inicialmente mais veloz) e aumentou a 'velocidade' do elemento
2 (inicialm ente mais lento). Tal significa que, por efeito d a tensão de corte X
instalada na interface entre os dois elementos de fluido anim ados de diferentes
velocidades, a quantidadede movimento segundo x foi transportada na direcção
y, tendendo a uniformizar o campo de velocidades.
Idêntica tendência para uma uniform ização espacial ocorre quando dois
corpos, com diferentes concentrações de um qualquer contam inante, são postos
em contacto: ou um fluxo de calor de um corpo a uma dada tem peratura para
um outro a uma temperatura inferior — e.g. de água quente para água fria,
originando um corpo uniforme de água m orna — ou um fluxo (migração) de
um dado contaminante de um corpo com maior concentração para outro com
menor concentração do contaminante — e.g. fluxo de sal de água salgada para
água doce, resultando numa massa uniforme de água salobra.
Em todos estes processos se verifica um fluxo difusivo da propriedade dos
níveis de maior para os de menor valor da propriedade, tendendo a uma
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 45

uniform ização da distribuição espacial dessa propriedade, seja a propriedade em


causa quantidade de m ovim ento, temperatura ou concentração de um qualquer
contam inante.
V ejam os en tão co m o este flu x o d ifu sivo tem capacidade para alterar a
quantidade de m ovim en to de um elem en to de fluido. Tom em os com o exem plo
a situação ilustrada na F ig . 1.41 d e três elem en tos de fluido em contacto,
anim ados de d iferen tes v elo cid a d es. D o ponto de vista do elem ento de fluido
interm édio 2, im ediatam ente con clu ím os que a sua quantidade de m ovimento só

Fig. 1.41 Tensões de corte entre três elementos contíguos de fluido.

poderá ser alterada por via desta interacção com os elementos contíguos 1 e 3 se
a aceleração que lhe é impressa pela tensão de corte z 2v na interface com o
elemento 1 animado de maior velocidade, for diferente da desaceleração
introduzida pela tensão de corte t 23, na interface com o elemento 3 animado de
menor velocidade. Tal é equivalente a requerer a instalação de um gradiente
transversal de tensão de corte não nulo

^ =^ 0 , por (1.20) (1.23)


dy dy
ou de uma curvatura no perfil de velocidades — 2“ derivada em ordem à mesma
coordenada espacial — resultado a que se poderia ter altemativamente chegado
a partir do balanço de forças indicado na Fig. 1.36 e que, para um escoamento
completamente desenvolvido, conduziu à eq. (1.21). Este efeito resultante de
fluxos difusivos é designado transporte difusivo de quantidade de movimento.
No caso de um perfil de tensões de corte constante, a que corresponde um
perfil de velocidades linear, como na situação da experiência de Stokes ilustrada
na Fig. 1.37, embora se continue a processar um fluxo difusivo dos níveis de
maior para os de menor quantidade de movimento, i.e. da placa superior
animada de velocidade U para a placa inferior em repouso no nosso referencial
U = 0 — a qual actua como um poço [sink] de quantidade de movimento — , o
transporte difusivo é nulo, pois que sendo os fluxos para o interior e para o
exterior do elemento intermédio iguais e opostos, os seus efeitos se cancelam.
A capacidade de uma determinada força resultante de atrito em produzir
uma dada força de inércia (variação de quantidade de movimento) mede-se
naturalmente por um balanço ou uma razão entre força de inércia e força de
46 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÀO GERAI

atrito — ou o inverso; obtenhamos a forma desse parâm etro adimensional


que se trata <ie força / força. ’
Ora verificámos já que. para escoamento permanente segundo x , a força de
inércia / unid. volume pode ser expressa, por ( 1.5), como:
dU dU
^ . / u n i d v o l = P ' ^ = P C/“

e acabámos de escrever, por (1.23), a força viscosa resultante / unid. volume na


forma:

d 2U
f «s»»/unid- vo1-
dy2 ’
do que resulta, para a razão entre estas duas forças,
„dU
Finércia ^ j
uX
Fviscosa
. d2u
dy
Exprimamos esta relação em termos de o rd e m d e g r a n d e z a [order of
magnitude] das variáveis intervenientes, considerando, a títu lo de exemplo, o
caso de um escoamento de velocidade em tom o de um perfil alar de corda
c. O interesse de uma tal avaliação em termos de ordem de g ran d eza relativa
reside na necessidade em apreciar a física de um qualquer processo de modo a
identificar os efeitos mais determinantes e os parâmetros m ais característicos em
cada situação. De facto não é previsível que quaisquer alterações significativas
ocorram, em geral, na física de um determ inado esco am en to enquanto se
mantiver a ordem de grandeza das variáveis controladoras do processo, p. ex.
nas características de voo de uma aeronave se a velocidade de voo passar de 100
para 200 km/h — são ambos valores de ordem de grandeza 100 — , m as pode já
a física do processo revelar-se substancialmente diferente se a velocidade de voo
passar e.g. de 100 para 1000 ou para 10000 km /h — estas diferentes
velocidades de voo correspondem, respectivamente, a casos de escoamento
subsónico incompressível, de escoamento transónico e de escoam ento
hipersónico, última situação esta característica da reentrada de cápsulas na
atmosfera. Em termos de dimensões lineares: as dim ensões em cau sa são da
ordem de grandeza do décimo ou do centésimo de m ilím etro ( 10~4 - 10~5 m),
com o num problema de despoeiramento? da ordem de gran d eza do metro,(*)

(*) Por "ordem de grandeza decimal" entendemos, e.g., que 0,9 e 4 são valores de ordem de
grandeza 1, que 7 e 30 são de ordem de grandeza 10, que 8 x l 0 5 é de ordem de grandeza 106,
etc.
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 47

como no caso do escoamento em torno de um perfil de asa de avião ou de um


veículo automóvel? da ordem de grandeza da dezena de quilómetros (104m),
como numa situação de dispersão de poluentes na atmosfera?
Tomemos então o caso do perfil de corda c num escoamento de velocidade
Uj. as velocidades serão de ordem de grandeza — que simbolizaremos por
0[—] — 0 [ u ] = e as dimensões lineares de ordem de grandeza 0[x,y] = c; a
anterior relação entre força de inércia e força viscosa pode-se então escrever, em
termos de ordem de grandeza, como:
o\u]
P0[U] p t/„ —
0[x] C pU„c
0
°{U} P

Este parâmetro adimensional


pU c
= ( 1 .2 4 .a)
P
com o significado físico de ordem de grandeza relativa entre forças de inércia e
forças de atrito viscoso ou de efeitos de transporte convectivo [convective] e
difusivo de quantidade de movimento, é denominado número de Reynolds, em
homenagem a O sborne Reynolds, o percursor da investigação sobre
escoamentos de fluidos viscosos.
O número de Reynolds pode ser escrito na forma alternativa
pU c U c U c
Re = y = —= - (1.24.b)
P p /p v
onde

v= — (1.25)
P
com unidades [v] = L27’~ ', e apenas envolvendo quantidades cinemáticas L e T ,
é designada viscosidade cinem ática [kinematic viscosity] em contraposição a p
— viscosidade dinâmica —■com unidades [p\ = que envolve também
a grandeza massa M.
Note-se, desde já, que é o valor do grupo adimensional U ^c /v que controla
a evolução do escoamento e não, isoladamente, o facto de este se processar a
uma determinada velocidade , ou de o perfil alar ter uma dada corda c, ou de
o fluido ter uma certa viscosidade v .
Dois escoamentos a diferentes velocidades Í/M em tomo de corpos com
diferentes dimensões lineares c e, eventualmente, operando em diferentes fluidos
com diferentes propriedades p e p ou, simplesmente, diferente v = p jp , dizem-
48 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

se dinamicamente semelhantes se for a mesma a relação entre forças de inércia


e forças de nível viscoso, i.e. se for o mesmo o numero de Reynolds a que se
paxessam. Aplicação imediata e importante do conceito respeita a ensaios, em
modelo reduzido em laboratório, de um dado protótipo à escala real: para
garantir validação dos resultados obtidos nos ensaios em modelo reduzido é
necessário que seja a mesma a dinâmica dos escoamentos no modelo e no
protótipo, pelo que. por exemplo, se a questão respeitar ao estudo do
comportamento de um perfil de asa de avião de corda c = 3 m que deva operar
a í/w= 100 km/h no protótipo e se o maior modelo de perfil que seja possível
instalar no túnel aerodinâmico tiver uma corda c = l m , i.e. 3 vezes inferior,
então os ensaios deverão ser realizados a uma velocidade 3 vezes superior,
{/. = 300 km/h, de modo a garantir igualdade dos Reynolds's Re = í/^ c /v .
Esta obtenção de grupos adimensionais, formados com base nas variáveis e
escalas características dos escoamentos, podia ter sido directamente conseguida a
partir de uma poderosa ferramenta da análise dimensional conhecida por
teorema dos /7 ’s de Buckingham , em que cada produto ÍJ corresponde a uni
grupo adimensional; não iremos demonstrar o teorema mas apenas apresentá-lo
simplificadamente e aplicá-lo.
Consideremos, a título de exemplo, a situação bi-dimensional do escoamento
em tomo de um perfil alar de corda c imerso no seio de um escoamento de
aproximação de velocidade JJm>sendo ainda p e /i as propriedades físicas do
meio fluido. Pergunta-se: em termos de que parâmetros característicos
adimensionais deverá ser expressa a força F (por unidade de largura, visto
estarmos perante uma situação bi-dimensional) a que o referido corpo fica
sujeito:
F =f ?
Notando que, numa qualquer relação funcional, os diferentes termos
intervenientes deverão ser dimensionalmente congruentes e que uma tal relação
poderá ser analiticamente expressa como uma série de termos envolvendo
potências das variáveis características, poderemos escrever

f = e c , ( i / : cW )

onde os C.'s são constantes de proporcionalidade.


Para cada grupo adimensional II deverá então verificar-se

ou, explicitando as dimensões de cada uma das variáveis:

M LT~2 / L = ( L 7 ■' y (L)b[m r 3)c [m r 1T )*.


SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 49

Igualdade de dimensões, ou seja, igualdade dos expoentes das três


quantidades características M, L, T, conduz ao seguinte sistema de 3 equações a 4
incógnitas:
M c +d = 1
L a +b - 3 c - d = 0
T —a —d = —2.

Dada a forma da primeira e da terceira equações exprimamos c e a em


função de d, i.e. c = \ - d e a = 2 - d , de onde, pela segunda equação, se obtém

(2-d) +b - 3 ( \ - d ) - d = 0
do que resulta b = \ - d .
Virá assim, para a dependência funcional de F:

F = C (ul~dc '~dp'~àjÀd)

OU

F _ r ( p U - c X d_ f ( p v ~ c )
p V lc { n j f { M J
No caso da com ponente de força aerodinâmica F a considerar ser, e.g., a
sustentação L, mais significativo seria incluir no denominador do primeiro
membro da relação supra o factor 1/2, de modo a explicitar a influência da
pressão dinâmica de referência do que logo teria ressaltado o coeficiente
de sustentação CL expresso por (1.17.b) ... mas mais se não pode exigir de uma
simples técnica de análise dimensional! Todavia, esta técnica já demonstrou ser
CL função do número de Reynolds Re = pU^cfoi, para além de, para cada
forma de perfil, ser também função do ângulo de ataque a , como discutido na
secção anterior.
Se, num qualquer processo, considerássemos significativo contabilizar
influências gravíticas, expressas através do parâmetro aceleração da gravidade g,
como é o caso de ondas de superfície num escoamento de água, então a
dependência funcional m anifestar-se-ia, ignorando efeitos viscosos, como
F = / ( t / oo,/,p ,g ). Uma análise em tudo análoga à acabada de desenvolver faria
agora ressaltar a dependência no grupo adimensional

F r= W g (1,26)
designado núm ero de F ro u d e, com o significado de ordem de grandeza relativa
entre forças de inércia (por unidade de massa: U2/l) e forças gravíticas (também
por unidade de massa: g). É este o parâmetro adimensional mais caracterísdco
50 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

quando se trabalha com escoamentos de su perfície livre, com o p. ex. o


escoamento de água em torno da carena de um navio.
Finalmente no caso de um escoamento com pressível de fluido perfeito, a
apreciar na próxima secção, em que variações de pressão p induzem variações
da massa específica p que é necessário contabilizar, a dependência funcional
escreve-se F = /(£ /„,/, p,p) e aplicação do teorem a dos 77's faz surgir um novo
grupo adimensional U„/-~fpjp; sendo, com o verem os, o denom inador deste
grupo proporcional à velocidade do som no meio a , o parâm etro adimensional
pode altemativamente ser escrito como
U
M =— \ (1.27)
a
é o chamado núm ero de M ach, razão entre a velocidade do escoamento e a
velocidade do som no meio.
No caso geral de um qualquer corpo a operar num escoam ento compressível
de fluido real obteremos então, para um coeficiente de força
CF = f( a ,R e ,M ) .

Este último caso de escoamento compressível é um bom exem plo de como a


técnica de análise dimensional, expressa pelo teorema dos 77's, em bora seja uma
ferramenta poderosa não é um a ferra m en ta 'c e g a ', i.e. não fornece
necessariamente ao utilizador logo a inform ação que fisicam en te este estaria
interessado em extrair, pelo que sempre requer um a ap reciação judiciosa da
parte do utilizador. Justifiquemo-lo, partindo da dependência funcional

F =f K . l , p . p )
que, em termos das dimensões M, L, T, se escreve:

M L T ~ l = ( L T ^ ) a{L)h{ M L '1T ' 2)c { M r 3)d.

Igualdade de expoentes conduz ao sistema:

M: c +d = 1
L. a + b - c - 3 d =1
T: - c t - 2 c = ~ 2.

A primeira equação pode ser reescrita como


c= l-d
do que resulta, para a terceira equação:
<z = 2 - 2 c = 2 - 2 ( l - d ) = 2 d ;

v e m então, para a segunda equação:


SEC. 1.3. EFEITOSDAVISCOSIDADE 51

2d + b ~ l + d - 3 d = 1, de onde b = 2.
A dependência funcional para F escreve-se assim:
F = CU ld l 2p'~dp d.
É nesta fase que é requerida a tal "apreciação judiciosa" por parte do
utilizador. Devendo, expectavelmente, um coeficiente de força figurar
adimensionalizado por p l/f ,/2 e atendendo ao expoente (1 -á ) que afecta o
termo em p na relação supra, esta relação pode, alternativamente, ser escrita na
forma:

F = C U J2 d-')+2l 2p-{d- l)p {d-')+l


2(d-\)
=C p U Íl2
,4 p í p
que logo faz ressaltar a ocorrência do termo y jp /p , proporcional à velocidade
do som.
Voltemos ao caso da camada limite sobre placa plana ilustrado na Fig. 1.34
e tentemos quantificar a extensão da região na vizinhança da parede sólida em
que os efeitos viscosos sejam significativos, i.e. estabelecer a relação entre a
espessura <5 da camada limite e as variáveis ou parâmetros que a determinam.
Podemos, já à partida, inferir que <5 deva ser pequeno comparado com a
distância x ao longo da qual a camada limite se desenvolve. Para tal
suponhamos, por simplicidade, uma situação quasi uni-dimensional em que
T ~ p d U / d y , apenas; ora dado que para muitos fluidos a viscosidade p é muito
baixa (e.g., para o ar, em condições PTN, p ~ l.B xlO ^ kg.m"1^ " 1 e para a água
p ~ IO”3 kg.m _1.s _1), a ocorrência de tensões de corte significativas requer
gradientes de velocidade dU/dy elevados, isto é, requer que grandes variações
de velocidade AU (numerador grande) se verifiquem ao longo de distâncias Ay
pequenas (denominador pequeno), 'pequenas' comparativamente à extensão de
desenvolvimento da camada de corte, implicando que a camada de corte deva
ser delgada. Fora destas regiões de elevados gradientes transversais de
velocidade, um pequeno dU/dy multiplicado por um também pequeno p
produz um r tão pequeno que se não justifica contabilizar os efeitos viscosos
comparativamente a outros efeitos em presença, pelo que o escoamento pode ser
modelado como de fluido perfeito ( p = 0).
Camadas de corte são sempre formadas em contacto com uma superfície
sólida, por efeito da condição de não-escorregamento, e, consoante o seu
ulterior desenvolvimento, tomam, em escoamentos exteriores, as designações
indicadas na Fig. 1.42 de cam adas limites — camadas de corte adjacentes a uma
superfície sólida — e de cam adas de corte livres (de uma superfície sólida) |free
52 CAP 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

shear layers] e nestas ultimas distinguimos os ja cto s f/V/r], as este ira s (wakes]e
as cantadas de mistura [mixing layers].


Camada Camada de
limite Jacto Esteira mistura

F ig . 1.42 Tipos de camadas de corte delgadas.

Crescendo, estas camadas de corte, por difusão transversal de quantidade de


movimento à medida que os elementos de fluido vão sendo convectados pelo
escoamento, a ordem de grandeza da sua taxa de crescim ento irá ser ditada por
um balanço entre as ordens de grandeza dos efeitos de transporte convectivo e
difusivo de quantidade de movimento, o qual não é mais do que o número de
Reynolds Re definido por (1.24). Ora, qual a ordem de grandeza dos R e's em
que estamos interessados? Tomemos como exemplo um perfil alar com c = 3 m
operando num escoam ento de aproxim ação de v elo cid ad e í/„ = 100m/s
= 360 km /h; sendo, para o ar em condições PTN, v = 1,46x 10~5 m 2/s , obtém-se
para valor de Re:

_ U„c 10 0 x 3
Re = ------= --------------r 2 x l 0 7.
v 1.46X10-3
Aos elevados R e 's em que estam os interessados os efe ito s convectivos
predom inarão largam ente sobre os d ifu siv os e é de p re v e r que seja
0[dS/dx] = S /L « 1, i.e. que a camada limite seja efectivam ente um a camada de
corte delgada, sendo ainda de prever, atendendo aos argum entos de natureza
física apresentados, que quanto maior for Re menor seja 8 / L.
Tentemos quantificar esta evolução, previsivelm ente em sentido contrário, de
8 / L com Re considerando, por sim plicidade, o caso quasi uni-dim ensional do
escoamento permanente de um a cam ada limite desenvolvendo-se num campo de
pressões constante (gradiente de pressão nulo), em que os únicos efeitos em
presença são os convectivos e os difusivos; a equação de balanço de forças,
exprimindo a 2a Lei de Newton, escreve-se neste caso:

^inércia ~ ^viscosa' (1.28.3)


Atendendo à forma destes termos, já avançada, p. ex., aquando da obtenção
da equação de definição de Re (1.24.a), vem:
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 53

Exprimamos esta relação em termos de ordem de grandeza das variáveis


intervenientes. Ao longo da espessura da camada limite a velocidade
continuamente evolui desde U = 0 na parede (condição de não-escorregamento)
até Ut , na interface com o escoamento exterior, pelo que será, para ordem de
grandeza da velocidade no interior da camada limite, 0[U] = Ue. Quanto a
ordens de grandeza ou escalas de comprimento no seio da camada limite:
evoluindo a camada limite desde x = 0, no bordo de ataque da placa, até x = L
será 0[x ]= E ; para y, variando de y = 0 até y = 8, será 0[y] = 8. A relação de
balanço (1.28.b) escreve-se então, em termos de ordem de grandeza:
om qw \
pO[U] =p
0[x] o[y ]2
OU

82
do que imediatamente resulta

8= E L
pu<
ou

í = p “~ - 1 (1.29)
L ]] pU cL 4 R e ’
pelo que se Re » 1 efectivamente será 8 /L « 1, como fisicamente previsto. Como
exemplo, a Re = 105 deverá ser 5/L = (l0 5) ^ S x l O ^ m / m ^ S mm/m,
significando que, em gradiente de pressão nulo e a um número de Reynolds
Re = 105 uma camada limite deverá ter atingido uma espessura da ordem do
milímetro ao fim do desenvolvimento ao longo de 1 m de superfície. Este é um
resultado apenas de ordem de grandeza, mas dá-nos já uma boa noção de quão
delgada efectivamente é uma camada limite.
Notemos que não existe incompatibilidade entre a relação de partida
(1.28.a) e a hipótese de número de Reynolds elevado, com Re » 1 como sempre
entendido como uma relação Fjab<áli/ F yjíCoa. A aparente incongruência resulta
da utilização, neste último caso, de duas escalas de comprimento, L para efeitos
convectivos e <5 para efeitos difusivos, enquanto que Re é definido através de
uma única escala L. De facto:

0 =i
um í
e se Re = Uc L / v » 1 deverá ser S / L « 1.
54 CA? i A f f i O O M W A t:M A V IS Ã O ó t'K .A [

Scmio nunío pequena a u v a de crescim ento de uma cam ada limite é de


prrver que se u lamhem muito pequena a alteração in tro d u /id a na forma das
rraieeionas dos elementos de flutdo com parativam ente a uma situação de fluido
perfeito Para o caso do escoamento ao longo de uma placa plana alinhada com
â direcção da corrente uniform e a infinito, com que iniciam os esta secção
devotada à apreciação de efeitos da viscosidade, é assim de prever que seja
pequena a alteração, induzida por efeitos viscosos, na fornia das trujectórias
registada numa situação de fluido perfeito, e estas eram rectas paralelas à
direcção do escoamento não perturbado. Sendo então, num a situação de fluido
real / viscoso, praticamente desprezável a curvatura das trujectórias induzida por
efeitos viscosos, é de prever, de acordo com a relação de equilíbrio (1.16), que
seja também desprezável o gradiente radial de pressão necessário para equilibrar
uma força centrífuga praticam ente nula. Na d irec çã o tran sv e rsal a um
escoamento de camada limite — direcção dos vrs. de acordo com o referencial
que temos vindo a utilizar — é assim de prever que seja àp, J y 0 , i.e.
p -c o n s t. em v, = p t (1.30)

significando que a pressão instalada no seio do escoam ento de cam ada limite é
sensivelmente igual à pressão localm ente reinante no esco am en to exterior de
fluido perfeito; tal facto é usualm ente designado co m o sig n ific an d o que a
pressão exterior é imposta [impressed] sobre o escoam ento de cam ada limite.
Resulta que, sendo, nesta região, d U /dy m uito elev a d o e p = const., a
pressão total p T = p + l p t / 2, com o d efin id a p o r (1 .1 1 ). d e v e rá variar
grandemente de trajectória para trajectória, em bora, ao lo n g o de pequenas
distâncias segundo uma mesma trajectória. se possa assum ir p T« c o n s t., o que
equivale a considerar desprezável a dissipação de energia ocorrendo ao longo de
pequenas distâncias na direcção convectiva por via do trabalho das forças de
origem viscosa r . Iremos, já de im ediato, lançar m ão deste resu ltad o para
qualitativamente apreciarmos a influência de um gradiente de p ressão não-nulo
no desenvolvimento de uma cam ada lim ite, com parativam ente à situação de
gradiente nulo, tomada como referência.
Apesar da sua muito pequena espessura relativa a cam ada lim ite influencia
de forma determinante as caracterfsticas do escoam ento em torno de qualquer
corpo, não só pela introdução de uma resistência de atrito — efeito integrado da
distribuição contínua de tensões de co rte superficiais [wall shear stresses] r w ao
longo da extensão L do corpo — como pelo facto de, em gradiente de pressão
adverso (como ocorre no extradorso de um perfil alar a seguir ao pico de
sucção — vidé Fig. 1.23) se poder separar da superfície do corpo, alterando
substancialmente a configuração do escoam ento e introduzindo um grande
acréscimo de resistência e uma eventual perda de sustentação: diz-se neste caso,
SEC. 1.3. EFEITOS OA VISCOSIDADE 55

por economia de linguagem, que o perfil, a asa ou a aeronave entrou em perda


[stall].
Vejamos então como um gradiente de pressão adverso pode provocar
separação (separation] da camada limite. Ora sendo o efeito de um gradiente
de pressão essencialm ente invíscido, para o apreciarmos qualitativamente
podemos, em primeira aproximação e como há pouco argumentado, desprezar a
fraca dissipação de energia ocorrendo ao longo de pequenas distâncias na
direcção convectiva, o que equivale a admitir que, ao longo dessas pequenas
distâncias segundo as trajectórias, a energia total se conserva. Assim,
diferenciando Bernoulli — eqs. (1.7) e (1.11) — segundo uma trajectória
interior à camada limite, a evolução de velocidade a uma cota y = const. virá,
dado que as trajectórias pouco divergem relativamente à parede (dÔ/dx
pequeno):

(13U
dx 3s p U ~ds p U dx
para o que se recorreu ao resultado (1.30).
Assim, um gradiente de pressão adverso (d p ç/ d x > 0) vai provocar uma
desaceleração ( d U /d x < 0 ) dos elementos de fluido às diversas cotas y = const.,
mas vindo o efeito de dp/dx ponderado por um factor 1/C/ a desaceleração
imposta será tanto maior quanto menores forem as velocidades locais, e portanto
maior para os elementos de fluido mais próximos da parede sólida.
Se o gradiente adverso for 'suficientemente intenso’ e actuar durante tempo
suficiente, os elem entos de fluido junto à parede serão tão desacelerados que
podem inclusivamente passar a fluir em sentido contrário ao do escoamento
exterior, como ilustrado na Fig. 1.43; diz-se neste caso que ocorreu uma
reversão do esco am en to \flow reversal] ou que a camada limite se separou.

dpt f dx> 0

separação

F ig . 1 .4 3 Separação do escoamento.

O ponto de se p aração [separation point] é identificado com o ponto de tensão


de corte superficial
56 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

nula, a montante e a jusante do qual é, respectivamente, r w > 0 e r w <0; a


forma da linha partindo do ponto de separação — linha de separação — é
escolhida de modo a garantir continuidade no domínio com preendido entre essa
linha e a parede: compensação de áreas (caudais) para os elem entos de fluido
com velocidade U num e noutro sentido. Devido a esta com pensação de áreas,
do ponto de vista do escoamento acima da linha de separação tudo se passa
como se a parede sólida tivesse sido deslocada da sua posição real para uma
posição fictícia no seio do escoamento e coincidente com a linha de separação; a
distância de que a parede tenha sido ficticiamente deslocada designa-se por
espessura do deslocamento [displacement thickness] 5* da zona separada.
Quando acima referimos que ocorrência desta separação se manifestava
quando o gradiente de pressão adverso fosse "su ficien tem en te intenso"
pretendíamos naturalmente reportar-nos a situações em que a distorção imposta
no perfil de velocidade pelo efeito invíscido do g rad ie n te de pressão
prevalecesse sobre a capacidade de uniform ização asso cia d a à difusão
transversal de quantidade de movimento. A actuação de um gradiente adverso é
assim condição necessária, mas não suficiente, para ocorrência de separação,
resultando ou não esta última de um balanço entre a intensidade do gradiente de
pressão e a de efeitos difusivos. A capacidade de u n ifo rm ização , e o
consequente protelar da ocorrência de separação, pode ser increm entada, por
exemplo, através da instalação de pequenas alhetas sobressaindo da camada
limite, como ilustrado na Fig. 1,44.a).

a) Princípio de operação b) Canard do Starship 2000A

Fig. 1.44 Geradores de vórtices.


Estas pequenas placas metálicas instaladas a ângulo de ataque comportam-se
com o asas finitas, de cujos bordos marginais em anam vórtices arrastados
promovendo uma eficiente mistura no seio da camada limite: fluido de baixa
quantidade de movimento junto à parede, em risco de reversão, é transportado
para as regiões exteriores e fluido de maior quantidade de m ovim ento é
transportado para junto da parede. Estes dispositivos são assim conhecidos como
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 57

geradores de vórtices [vortex generators]', a Fig. 1.44.b) documenta a sua


instalação no canard do Beechcraft Starship 2000A.
Qual a influência destas separações do escoamento nas características
aerodinâmicas de um perfil alar? Como descrito na secção anterior, aumentando
o ângulo de ataque aumenta o pico de sucção e aumenta a intensidade do
gradiente de pressão adverso que se segue, pelo que, a elevados ângulos de
ataque, ocorrerão separações massivas da camada limite alterando a geometria
do escoamento, comparativamente à situação de fluido perfeito, como ilustrado
na Fig. 1.45.

Fig. 1.45 Escoamento em torno de um perfil alar a elevados ângulos de ataque.

Em resultado destas separações verifica-se:


- primeiro uma diminuição da sustentação comparativamente à sustentação
que seria possível produzir em fluido perfeito, devido às mais baixas sucções
no extradorso associadas a uma menor curvatura das trajectórias imposta
pelas superfícies de deslocamento das camadas de corte separadas, e em
seguida uma diminuição mesmo de sustentação (em valor absoluto) com
aumento do ângulo de ataque;
- uma elevada resistência ao avanço em resultado de uma esteira de grande
espessura a que estão associados elevados déficits de quantidade de
movimento.
Esta evolução do escoamento em torno de um perfil alar com aumento do
ângulo de ataque está bem patente na Fig. 1.46 de visualização do escoamento
com filetes de fumo (vapor de querosene) [147].

a) Pequeno ângulo de ataque: escoamento b) Grande ângulo de ataque: escoamento


contornando toda a superfície do perfil completamente separado no extradorso
Fig. 1.46 Escoamento em torno de um perfil alar a diferentes ângulos de ataque.
58 C4P 1 AERODINÂMICA UMA VISÃO GERAL

As curvas caracieristicas de Ct vs. « e de CD vs. a para um perfil


operando em fluido real estão ilustradas na Fig. 1,47. A um entando o ângulo de
ataque vai aum entando a influencia relativa dos e leito s viscosos o que, em
term os de Ct , sequencialm ente produz i) uma evolução ainda aproximadamente
linear na gam a dos pequenos ângulos de ataque, mas a um a taxa ligeiramente
interio r à prevista com base num m odelo de fluido perfeito tipicamente 10%
inferior, i.e. dCL/ d a * 0,1 g r a u '1 em vez dos cerca de 0 . 11 g r a u '1 da eq. (1.19)
— . ii) um progressivo afastam ento da evolução linear até iii) se atingir a ^ ,
ângulo a que CL exibe o seu valor m áxim o, e iv) a partir deste ângulo de ataque
uma dim inuição de CL com subsequentes aum entos de a ; no que respeita a CD,
o m ín im o ocorre a ângulos de ataqu e próxim os do s 0 g rau s e CD passa a
au m en tar ligeiram ente com a até se ating ir a perda. ap ó s o q u e o contínuo
aum ento se tom a m uito intenso.

F ig . t . 4 7 C urvas características para um p e rfil alar:


CL vs. a . C D vs. a C p o lar CL vs. CD.

A c u rv a CD vs. a não é g era lm en te a p re se n ta d a ; em su a substituição


apresenta-se, sim , a m uito significativa p o la r [polar] do p erfil, cu rv a de pares de
valores CL vs. CD, graduada em a ' s e co n stru íd a co m o in d ic ad o na figura, Na
po lar é im ed iatam ente identificável o âng ulo d e ataq u e de m á x im o coeficiente
de planeio ( L / D ) ^ ou ( ^ / C ^ ) , referido na eq. (1.4).
E m b o ra n ão o tivéssem o s declarad o, os a rg u m e n to s e x p a n d id o s no início
d esta secção , n o co n tex to dos efe ito s d as te n sõ es d e co rte d e nível viscoso
geradas n a in terface en tre elem en to s co n tíg u o s d e flu id o , p o d em levar a supor
que, n o in te rio r d e um a cam ad a lim ite ou de q u a lq u e r o u tra cam ad a de corte
d elg ad a , o s elem e n to s d e flu id o ten d am sem p re a d e s liz a r un s sobre os outros
co m o q u e o rg a n iz a d o s em d ife re n te s su b stra c to s o u la m e la s: é o chamado
re g im e la m in a r [laminar], ca racterístico de esco a m en to s a b aix o s números de
R eyn olds; q u an tifica n d o , e a títu lo de ex em p lo , tra ta -se d o tip o d e escoamento
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 59

que ocorre numa camada limite em gradiente de pressão nulo até Reynolds'»
R e - V t L / v da ordem dos 106. A estes baixos números de Reynolds, a
intensidade relativa dos efeitos dissipativos induzidos por tensões viscosas é
suficiente para am ortecer quaisquer pequenas perturbações naturalmente
existentes no ambiente e impostas sobre a camada de corte, sejam elas vibrações
mecânicas da estrutura, irregularidades da superfície do corpo, ondas de pressão
associadas a ruído acústico, etc., e o regime mantém-se organizado, laminar. A
números de Reynolds mais elevados já algumas destas pequenas perturbações
têm capacidade para entrar em sintonia com o escoamento e, semelhantemente a
um fenómeno de ressonância, serem por este amplificadas, conduzindo, ao cabo
de um processo altam ente não-linear, a uma degenerescência do escoamento
num regime caótico, tu r b u le n to [turbulent). Diz-se então que ocorreu uma
transição [transition] de regime laminar a turbulento.
Escoamentos em regime turbulento constituem a regra, e não a excepção, em
questões de aerodinâmica, dados os elevados Reynolds's de operação resultantes
de uma muito baixa viscosidade cinem ática do ar e as inúmeras fontes de
perturbação sem pre presen tes, m orm ente no dom ínio da aerodinâmica
industrial.
Um regim e tu rb u le n to é fundam entalm ente caracterizado pela sua
irregularidade e tri-dim ensionalidade, em que flutuações de velocidade de
diferentes intensidades e de diferentes comprimentos de onda, em tomo de um
valor médio, prom ovem o transporte de corpos de fluido de umas para outras
regiões do espaço, do que resulta um a grande capacidade de mistura ou de
uniformização, várias ordens de grandeza superior à difusão de nível molecular,
única presente em regim e lam inar. Estes corpos de fluido em movimento
desordenado são designados tu rb ilh õ e s [eddies]', correspondem às raja d as de
vento [gM ífj], em escoam entos atm osféricos. Em resultado desta grande
capacidade de m istura, perfis de velocidade m édia de camadas de corte em
regime turbulento são m uito m ais 'cheios', mais uniform es, do que os
correspondentes perfis em regim e lam inar, com o ilustrado na Fig. 1.48 para
dois perfis de camada lim ite em gradiente de pressão nulo, um correspondendo
a regime laminar e o outro a regim e turbulento.

F ig . 1 .4 8 Perfis de velocidade de camadas limites laminares e turbulentas


em gradiente de pressão nulo.
60 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

Duas fundamentais consequências logo ressaltam desta diferença de forma


dos perfis de velocidade; para o perfil turbulento:
- é mais elevado o gradiente transversal de velocidade na parede (dUjdy) t
pelo que maior é a tensão de corte superficial r w definida por (1.32) e
maior será a resistência de atrito oferecida pelo escoamento;
- é maior a quantidade de movimento dos elementos de fluido próximos da
parede sólida, pelo que mais capacidade terão estes para resistir ao efeito de
desaceJeraçao imposto por um gradiente de pressão adverso; segue-se que,
com parativamente ao caso lam inar, um escoam ento turbulento tem
capacidade para suportar gradientes de pressão adversos mais intensos sem
se separar ou, altemativamente, que sob acção do mesmo gradiente adverso,
uma camada limite turbulenta se separa mais tarde do que uma camada
limite laminar.
Esta última é, por exemplo, a razão por que bolas de golfe e de ténis são
feitas rugosas: a rugosidade da superfície induz perturbações que forçam a
transição de regim e laminar a turbulento, e a cam ada lim ite turbulenta,
separando-se mais tarde do que se separaria em regime laminar, dá origem a
uma esteira de menor espessura a que está associado um m enor déficit de
quantidade de movimento, de onde uma menor resistência ao avanço, pelo que a
bola adquire capacidade para vencer maiores distâncias perante uma mesma
pancada. Se não houver o perigo de ocorrerem separações, ou porque o
gradiente de pressão instalado não é adverso ou, se adverso, não é
suficientemente intenso, então será detrimental um regim e turbulento, dada a
maior resistência de atrito produzida; nestas situações justifica-se tentar manter
regime laminar durante a maior extensão de desenvolvimento possível, como é o
caso de planadores de alta performance dotados de perfis alares ditos laminares.
Apreciemos, em seguida, outras situações de escoam entos inteiramente
diferentes da do perfil alar operando a grandes ângulos de ataque, como
considerado um par de páginas atrás, mas em que ocorrem os mesmos tipos de
separações de camada limite, também necessariamente induzidos por gradientes
de pressão adversos e produzindo interacções com o escoam ento exterior de
fluido perfeito por via de Õ* — a chamada in te ra c ç ã o v isco sa / ínvíscida
[viscous / inviscid irtteraction].
Tomemos, com o primeiro exemplo, o caso representado na Fig. 1.49 do
escoamento num d ifu so r [diffuser] — expansão prom ovendo um a transição
mais ou menos gradual de uma conduta com uma dada secção para outra de
maior secção.
Associado ao aumento da secção de passagem A no difusor, a velocidade
média do escoamento U deverá diminuir, de modo a garantir conservação de
massa — eq. (1.15.b) — , o que requer a instalação de um gradiente de pressão
adverso, como logo considerado no contexto da Fig. 1.11. Se a taxa de aumento
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 61

de área for elevada, i.e. se o ângulo de abertura do difusor for elevado, será
também elevado o gradiente de pressão adverso resultante, o qual, numa situação
de fluido real, poderá originar separações das camadas limites desenvolvendo-se
ao longo das paredes sólidas.

de separação
a) Esforços de pressão b) Separações
F ig . 1.4 9 Escoamento num difusor.

0 escoamento principal reage agora à ocorrência de separações como se a


área de passagem efectiva se tivesse alterado, na realidade diminuído do valor
A,, entre as paredes sólidas da conduta, para um valor A2 <Aj, compreendido
entre as superfícies de separação indicadas na figura, pelo que não sendo o
aumento da área efectiva de passagem tão acentuado, a velocidade do
escoamento principal não diminuirá tanto, o gradiente de pressão adverso não
será tão intenso e, em consequência, a separação tenderá a ocorrer mais tarde
(mais para jusante). Tal im plica que se vai continuamente verificando um
ajustamento entre o cam po exterior e o escoamento de camada limite, com as
consequentes separações, até que, desta interacção, resulte uma configuração
estabilizada para o escoamento.
Apreciemos, numa geometria simples bi-dimensional cartesiana, as diferentes
configurações que pode assum ir o escoamento num difusor para diferentes
ângulos de abertura e assim para diferentes intensidades do gradiente de pressão
adverso e diferentes graus de interacção camada de corte / escoamento exterior.
Faremos esta apreciação com recurso à sequência de Figs. 1.50 de visualização
de um escoamento de água com bolhas de hidrogénio produzidas por electrdlise
aplicando pulsos de corrente, de duração controlável, a finos arames com troços
isolados, usados como cátodo e mergulhados no meio aquoso [177]:
* até ângulos totais de abertura da ordem dos 15° o gradiente de pressão
adverso instalado não é suficientemente intenso para produzir separações da
camada limite, e o escoamento processa-se ao longo das paredes sólidas do
difusor, como documentado na Fig. l.50.a);
62 CAP 1 AEfiOOINÂMICA; UMA VISÃO GERAL

Separação instantânea numa parede Escoamento instantâneo nao separado

b) Alternância de estados de escoamento completamente


recolado e parcialmente separado num difusor

Separação instalada na parede de 'baixo' Separação instalada na parede de 'cima'

c) Situação bi-estável de escoamento parcialmente separado num difusor

F ig . 1 .5 0 Configurações de escoamentos em difusores.


SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 63

, aumentando o ângulo de abertura aumenta a intensidade do gradiente


adverso e uma separação primeiramente ocorre numa das paredes do difusor
— numa parede ou na outra dependendo de uma qualquer não perfeita
simetria da geom etria, ou devido a uma qualquer irregularidade na
superfície, ou pelo facto do escoamento de aproximação não ser
exactamente simétrico, em resultado desta separação a área de passagem
efectiva do escoamento já não aumenta a uma taxa tão elevada, o gradiente
de pressão adverso torna-se menos intenso e já não é capaz de manter a
separação, a qual é varrida pelo escoamento que volta assim a desenvolver-se
ao longo das paredes do difusor; em consequência, o gradiente adverso
aumenta novam ente de intensidade e a separação reinstala-se. Como
documentado nas Figs. 1.50.b) o processo desenrola-se através de uma
alternância de estad o s de escoam ento com pletam ente recolado e
parcialmente separado, m esm o para um escoamento de aproximação
perfeitamente constante no tempo — escoamento que designamos por
permanente;
• aumentando ainda mais o ângulo de abertura do difusor o efeito aliviador da
superfície de deslocam ento já não é suficiente para que o gradiente de
pressão adverso dim inua até valores que deixem de produzir separação da
camada limite; uma configuração estável é assim atingida com separação
residente num a das paredes e escoamento aderente na outra. Trata-se da
situação bi-estável docum entada nas Figs. 1.50.c), em que a separação tanto
pode ter ocorrido e se ter instalado primeiro numa parede como na outra;
não é possível prever qual das duas situações igualmente estáveis irá ocorrer,
pelo que não será possível prever eventuais consequências a jusante de uma
não uniformidade do escoam ento à saída do difusor;
• para grandes ângulos de abertura duas separações ocorrem nas duas paredes,
produzindo um ja c to que eventualm ente recolará mais a jusante: Fig.
1.50.d).
E no caso aparentem ente inofensivo de uma contracção (redução de área em
vez de aumento) em que o gradiente de pressão genérico é favorável, não
havendo assim o perigo de induzir quaisquer separações, ainda menos na
situação tranquilizante representada na Fig. 1.51 de uma superfície de contornos
suaves e com continuidade tangencial?
Admitamos, em prim eira aproxim ação, um modelo simplificado de fluido
perfeito e sejam Um, p m e U},p } os valores constantes de velocidade e de pressão
nos escoamentos não p erturbado s a (infinito a) m ontante e a jusante da
contracção.
O elemento de fluido assinalado na secção E de entrada na contracção evolui
ao longo de um a trajectó ria com um a determ inada curvatura, pelo que do
equilíbrio de forças na direcção radial expresso por (1.16) resulta que a pressão
64 CAP. 1 AERODINÂMICA; UMA VISÃO GERAL

estática p, na parede da conduta tenha de ser superior à pressão p 2 reinante no


plano de simetria. Como a conduta de montante é suposta ser de área constante
até à secção de entrada E na contracção, segue-se que a velocidade média na
secção de entrada deverá ser igual à velocidade Um =const. do escoamento de
aproximação e que a pressão média em E seja também ela igual a pm, pelo que
do necessário equilíbrio radial de forças resulta que, na secção de entrada, seja
p| > p m> p 2. Conclui-se assim que na conduta de aproximação de secção
constante se instala ao longo da parede sólida, antes da contracção, uma
evolução de pressão desde pm até um valor /?, > p m, i.e. um gradiente adverso
no sentido longitudinal; embora o gradiente de pressão genérico na contracção
seja favorável, por acção da diminuição da área de passagem, houve
oportunidade de localmente se instalar um gradiente adverso ao longo da parede
da conduta por acção do requerido equilíbrio de forças na direcção radial,
Assim, mesmo mantendo a continuidade tangencial da superfície, se a curvatura
da parede for suficientemente acentuada para que a força centrífuga (por
unidade de volume) seja grande, o gradiente radial de pressão será igualmente
grande, o gradiente longitudinal adverso será intenso e, em condições de fluido
real, poderá originar separação da camada limite antes da contracção, separação
esta seguida de recolamento e encapsulando uma bolha de recirculação
[recirculation bubble], como assinalado na metade superior da Fig. 1.51.

Fig. 1.51 Escoamento numa contracção: balanço radial de forças e eventuais separações,

Idênticos efeitos terão lugar na secção de saída S: a curvatura das trajec-


tórias é em sentido contrário ao verificado na secção de entrada, a força
centrífuga é agora dirigida no sentido do plano de sim etria (naturalmente,
sempre para o exterior das trajectórias) e a força resultante do gradiente radial
de pressão necessária para equilibrar será de sentido tal que p y < pv
como, em média, a pressão será igual à pressão constante a infinito a jusante, i
saída da contracção instala-se um gradiente longitudinal de pressão adverso
SEC. 1.3. EFEITOS OAVISCOSIDADE 65

desde p 3 <py até p}, o qual, se suficientemente intenso, poderá, em fluido real,
promover uma separação de camada limite seguida de recolamento, do que
resulta uma nova perda concentrada de energia.
Se em vez de uma contracção de contornos suaves a situação respeitasse a
uma redução abrupta da secção de passagem, imediatamente se ficaria de
sobreaviso para a possibilidade de ocorrerem as bolhas de recirculação ilustradas
nas Figs. 1.52.a) [175] e b), originando uma vena contracta. São porém
situações aparentemente inocentes, como a anteriormente apresentada de uma
contracção de contornos suaves, em que podem eventualmente ocorrer
separações do mesmo tipo (embora menos gravosas) produzidas por
exactamente os mesmos mecanismos físicos, que por vezes induzem o projectista
em erro.

a) Visualização do escoamento b) Configuração esquemática


F ig. 1.52 Escoamento numa contracção abrupta numa conduta.

A preciem os, a títu lo de exem plo, mais algumas situações


fenomenologicamente análogas, começando já por recorrer ao ultimo caso
referido de contracção abrupta num sistema de condutas, mas agora visto na
óptica de um motor de combustão interna, em que os gases de escape são
expelidos devido ao movimento do êmbolo em direcção ao ponto morto
superior. Para garantir uma boa lavagem do cilindro a câmara de combustão
tem de ser desenhada de modo a minimizar a formação das bolhas de
recirculação assinaladas na Fig. 1.53 junto à cabeça do motor, onde os gases de
escape teriam tendência a residir.

F ig. 1.53 Separações junto à cabeça de um motor alternativo no tempo de escape.

Insistamos na geometria da contracção abrupta mas agora considerando que


temos apenas a parede inferior, não sendo o escoamento constrangido
superiormente, como representado na Fig. 1.54.
66 CAP 1 AERODINÂMICA UMA VtSAO GFflAL

Fig. 1.54 SeparaçOcs num degrau ascendente.

Esta configuração geométrica respeita, p.ex., a duas situações de dimenslo


caracterísdca muito diferente:
- escoamento ao longo de uma superfície construída com chapas metálicas
sobrepostas de pequena espessura {0,5 mm, digam os) em que o efeito da
perturbação tipo degrau ascendente [upstream fa< in# sirp\ é extremamenie
localizado:
- escoamento do vento atmosférico ao longo de um a planície ou do mar e
atacando uma falésia de contornos abruptos; para alem da camada limite
atmosférica ser inerentemente tri dim ensional em resultado de um
balanço de forças em que intervém a força de C oriolis a única' diferença,
comparativamente ao caso anterior das chapas sobrepostas, é 'apenas' uma
diferença de escala: a encosta pode ter um desnível de 500 metros, em vez de
uma espessura de 0,5 milímetros, e a cam ada lim ite atm osférica tem urna
altura típica da ordem dos 600 m em condições de estabilidade neutra,
podendo variar de 100 a 1000 m. digam os. E ste tip o dc escoamento
interessa, p.ex., à escolha de um local de im plantação dc turbinas eólicas no
topo de uma falésia, de modo a tirar o m áxim o p artid o das elevadas
velocidades do vento aí registadas — nunca instalar um a turbina eólica do
interior da bolha de recirculação, devido não só às m enores velocidades do
vento como às maiores intensidades de turbulência de que resultam elevados
esforços dinâmicos na estrutura.
Suponhamos finaJmente que o planalto no topo d a falésia não tem extensão
suficiente para a camada limite recolar. com o esq u em a tiz ad o na Fig. 1.55.
Estamos agora perante um caso típico de escoam ento em torno de um edifício
alto imerso na camada limite atmosférica — e só estam o s a considerar o caso
simples do escoamento num plano central de sim etria, digam os, não atendendo
ao escoamento que contorna lateralm ente o edifício. D uas situações distintas,
embora controladas pelo mesmo mecanismo:
- uma de poluição local, em que o fumo em itido p ela cham iné instalada no
topo do edifício alto pode não ter capacidade p ara 'rom per' a superfície de
separação, aumentando a concentração de poluentes no interior da bolha de
recirculação, ou do fumo em itido pela ch am in é de um edifício baixo e
imerso na bolha de recirculação que pode ser asp ira d o pelo sistema de
ventilação do edifício alto;
SEC 1 3 EFEITOS DA VISCOSIDADE 67

F ig. 1.55 Separações no plano de simetria de um edifício alto


imerso na camada limite atmosférica.

- outra de conforto de pedestres circulando na base do edifício alto: uma


protecção aos pedestres deverá ser conseguida com um alpendre e nunca
tentada (infrutiferamente) com, p.ex., um renque de arbustos, já que na face
do edifício voltada ao vento o escoamento junto ao solo se processa de cima
para baixo e não no sentido do vento geral incidente — Fig. 1.56 [164].

F ig. 1.56 Separaçao a montante de um troço de cilindro circular encastrado


numa parede — escoamento de aproximação laminar.

Este último caso de escoamento em tomo de um edifício é perfeitamente


análogo ao da actuação de spo ilers e de freios aerodinâmicos [air-brakes],
utilizados em aeronáutica e deflectidos para diminuir a sustentação e aumentar a
resistência pelos mecanismos já descritos — vidé Fig. 1.57.

F ig . 1.57 Actuação de spoilers e de freios aerodinâmicos.

Note>se que a física subjacente às muitas diversas situações que temos


apresentado, desde escoamentos em tomo de perfis alares, a escoamen­
tos interiores a condutas, em motores alternativos, em tomo de edifícios, tem
sido sempre a mesma: i) trajectórias com curvatura, ii) que requerem a
instalação de um gradiente radial de pressão, iii) induzindo um gradiente
68 CAP. 1 AERODINÂMICA UMA VISÁO GERAI

longitudinal do pressão adverso, iv) capaz de produzir separação da camada


limite, v) seguida de eventual recolamento e encapsulando uma bolha de
reoireulaçào. vi) dando origem a uma superfície de deslocamento que, em maior
ou menor grau. vem afeetar características do escoamento exterior.
Escoamentos característicos de corpos não-fuselados [bluff bodies], como os
referidos no caso do edifício e do perfil alar a grandes ângulos de ataque ou
com spoilers deflectidos. constituem a regra e não a excepçào no domínio da
aerodinâmica industrial. O caso do escoamento em torno de um cilindro
circular, representativo do escoamento em torno de uma chaminé ou de um tubo
de um permutador de calor, constitui um exemplo típico.
Características marcantes deste tipo de escoamento, ilustrado nas Figs.
1.58.a) e b) [168], são:
- a produção de uma esteira de grande espessura (uma espessura da ordem de
grandeza da dim ensão transversal do corpo), induzindo grandes
deformações no escoamento exterior, comparativamente à configuração que
se registaria em condições de fluido perfeito, e a que estão associados
grandes déficits de quantidade de m ovim ento, de onde uma grande
resistência;

a) Configuração esquemática b) Separações e estrada de vórtices


(/te = 140)

F ig. 1.58 Escoamento em tomo de um cilindro circular.

- na região da esteira imediatamente a jusante do corpo, na denominada


esteira próxim a [near wake] da b a se [base] do corpo, a velocidade do
escoamento é extremamente baixa e de carácter aleatório — característica
esta bem visualizada p.ex. no caso do escoamento em tom o do pilar de uma
ponte imerso num curso de água em que, imediatamente 'atrás' do pilar, se
tendem a aglomerar folhas e outros detritos flutuantes — , e a pressão de
base é inferior à pressão no escoamento não perturbado p b < — é aquilo
a que, em gíria de Fórmula 1, por vezes se chama o 'cone de aspiração’. É
esta sucção na base a principal responsável pela elevada resistência exibida
pelos corpos não-fuselados com parativamente aos de form a fuselada ou
aerodinâm ica; ilustra-se este resultado na Fig. 1.59 com parando as
dim ensões relativas de formas características de corpos fuselados e não-
fuselados produzindo a mesma resistência aerodinâmica à mesma velocidade
SEC. 1.3. EFEITOS DA VISCOSIDADE 69

do escoamento de aproximação: um perfil alar NACA 644-021, com uma


espessura relativa de 21%, operando a « = 0° a um número de Reynolds
í/wc /v = 9 x IO 6 — CD = 0,0050 [1] —, e um cilindro circular a um
Reynolds d/ 4 x 104 — CD = 1,2 [72); para que ambos produzam a
mesma resistência terá o cilindro circular de ter um diâmetro de apenas
0,4% da corda ou de 2% da espessura do perfil.

F ig .1 .5 9 Dimensões relativas de dois corpos produzindo a mesma resistência


aerodinâmica à mesma velocidade do escoamento de aproximação:
perfil NACA 644 - 021 a t o = 9 x l 0 6 e cilindro circular a /?c = 4 x l0 4.

É ainda esta mesma sucção na base a responsável por, num incêndio


florestal, manter as chamas capturadas na região de recirculação a jusante
dos troncos, relativamente ao sentido de avanço das chamas, o que permite,
por simples inspecção das zonas queimadas dos troncos, identificar o sentido
de progressão do incêndio — vidé Fig. 1.60 (*);

na região da e ste ira a fa sta d a \far wake] o escoamento é caracterizado por


uma organização discreta de vórtices alternadamente distribuídos de um e
outro lado de um plano central de simetria; é a chamada estrada de von-
K árm án [von-Kármán Street].
Qual a consequência desta libertação alternada de vórtices discretos em
rmos de esforços exercidos sobre a estrutura do corpo não-fuselado?I

I Fotografia obtida num dos túneis aerodinâmicos da STA / DEM / IST.


70 CAP ) Af RODINÁMICA UMA VISÃO GfRAl

Suponhamos o estágio do pnvesso periodico. representado na Fig. 1.61, cm


acaN>u do ser liberiuiio um vórtice do lado de baixo e está em formação, junto)
superfície do corpo, um vdrticc i|uc será libertado do lado de cima na etapa (n0
meio peruvio) seguinte. Residindo, neste instante, um vórtice perto da superfícje
superior do corpo, será esta 'contaminada1 pelo campo de baixas pressões
associado ao vórtice, do que resulta, instantaneamente, uma força dirigidj
(fundamentalmente) de baixo para cima — uma sustentação instantânea. Na
etapa seguinte do processo, quando já foi libertado o vórtice do lado de cimae

Fig. 1.61 Produção de esforços pulsatórios num corpo não-fuselado.

estará em formação um novo vórtice do lado de baixo, a sustentação instantânea


será dirigida para baixo. Daqui resulta que, devido a esta libertação alternada de
vórtices de um e outro lado do plano de simetria, o corpo não-fuselado irá estar
sujeito a esforços pulsatórios actuando (fundam entalm ente) numa direcção
perpendicular à do escoamento de aproximação; se a frequência de libertação
de vórtices coincidir com uma das frequências de vibração natural da estrutura
esta entrará em ressonância, a oscilação tenderá a aumentar de amplitude e tanto
pode resultar apenas o característico assobiar dos fios telefónicos em dias de
vento como pode a estrutura fracturar por fadiga. E este é um caso simples,
envolvendo apenas um grau de liberdade: vibração em flexão; no caso de uma
estrutura complexa, como por exemplo o tabuleiro de uma ponte suspensa ou
uma asa de avião encastrada na fuselagem, pode-se verificar um acoplamento
entre modos de vibração em flexão e em torção com eventual amplificação da
amplitude das oscilações: é o chamado flutter.

1.4. Efeitos de compressibilidade


Já no fim da Sec. 1.2. fizem os uma prim eira referência a efeitos de
compressibilidade, ao falarmos nos rastos de condensação produzidos pelos
vórtices marginais de aeronaves em determinadas condições de temperatura e de
humidade; argumentámos então que, devido ao cam po de baixas pressões
associado ao núcleo dos vórtices, o ar expande, arrefece e o vapor de água
existente na atmosfera pode condensar.
Desta sequência de argumentos se conclui que, a fim de tomar em conta o
trabalho de com pressão / expansão dos esforços de pressão, produzindo
alterações da massa específica ou do volume específico v = 1/p do fluido, e as
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBILIDADE 71

variações de temperatura T associadas, para descrever um campo de escoamento


compressível as equações da continuidade e de balanço de forças ou da
quantidade de movimento, que integrada conduziu à equação de Bemoulli,
deverão ser complementadas com uma equação de energia (Ia Lei da
Termodinâmica)
dET = 8Q + SW (1.33.a)
e uma equação de estado: a equação dos gases perfeitos (1.10).
As equações base para descrever um escoamento compressível, uni­
dimensional de fluido perfeito são assim:
• Equação da continuidade
(1-15.a)

(1.34)
p U A
• Equação da quantidade de movimento

(l.ó.a)
P
• Equação da energia
A Ia Lei da Termodinâmica — eq. (1.33.a) — enuncia-se "a variação da
energia total £ T de um sistema (soma das energias interna, cinética e
potencial) é igual à soma do calor e do trabalho trocados com o exterior
através da fronteira do sistema" e escreve-se, em termos de energias por
unidade de massa:

deT = Sq + ôw com de7 =de + d{^-V2^ +gdz (1.33.b)

• Equação dos gases perfeitos


p-pR T ( 1. 10)

valendo a constante dos gases perfeitos para o ar: *=287 J.kg '.K"1 ou

1*1 A forma (1.34) pode ser obtida ou aplicando a regra de derivação de um produto e dividindo
pelo próprio produto de factores
U Adp | p A d U | p U d A
pU A + p U A + pU A
ou, mais facilmente para cálculo mental, através de uma prévia aplicação de logaritmos
ln (pU A ) = lnp + ln U + ln A = ln (const.)
e só depois diferenciando.
'2 CAP 1 AEROOIWÂWICA UMA VISÃO GERAL

Antes de avançarmos apresentemos duas outras situações ressaltando efeitos


de compiessihilidade em escoamento suhsónico: valor da sustentação produzi^
por um perfil alar e medição de velocidades com um tubo de total / estática.
Na Fig. l.tO está ilustrada a previsível alteração de forma das trajectórias de
elementos de fluido escoando-se ao longo do extradorso de um perfil alar a um
certo ângulo de ataque em escoam ento incom pressível e em escoamento
eompressível. Em escoamento eom pressível as baixas pressões instaladas no
extradorso levam o fluido a expandir, pelo que p diminui. Constância do caudal
mássieo pUA entre duas quaisquer trajectórias obriga então a que a área de
passagem A aumente, o que faz com que aumente a curvatura das trajectórias,
aumente o gradiente radial de pressão e aumente a sustentação, relativamente à
situação de referência de escoamento incompressível. Assim o mesmo perfil ao
mesmo ângulo de ataque exibe, em escoamento eom pressível, um maior CL,t
por conseguinte um maior d C J d c t, do que em escoam ento incompressível. Em
resultado de um maior pico de sucção e de um gradiente adverso mais intenso
também a perda ocorre a menores ângulos de ataque.

------ eompressível
----- incompressível

Fig. 1,62 Trajectórias de elementos de fluído em escoamento incompressível e eompressível.

No caso da medição de velocidades com um tubo de total / estática, como o


da Fig. 1.16, ou da simples medição de uma pressão total com um tubo de total,
o aumento de pressão em direcção ao ponto de estagnação no nariz da sonda é
acompanhado de um aumento de p . pelo que a energia cinética que,
neste processo de desaceleração, é convertida em energia de pressão, é superior à
energia cinética no escoamento não perturbado j P ^ U l ,. Em consequência, a
velocidade medida é superior à velocidade verdadeira e o valor máximo de Cp,
se entendido adimensionalizado por valores a infinito, torna-se superior a 1, o
que em escoamento incompressível se revelaria uma impossibilidade física. Este
mesmo efeito de compressão é responsável pela tem peratura de estagnação íx
ser superior a 7^.
Elaboremos um pouco sobre a equação da energia (1.33.b) admitindo a
situação simplificada de escoam ento ad iab á tic o ( S q = 0) e reversível
( £ * ♦ ^ = 0 ) , i.e. isentrópico, até estabelecerm os a form a da equação de
BemoulJi para escoamento eom pressível; o segundo membro da eq. (1.33.b)
reduz-se assim a trabalho dos esforços normais de pressão. Ora com referência à
Fig. 1.63 concluímos que o trabalho dos esforços de pressão se pode decompor
num efeito médio (trabalho de compressão ou de expansão) e num diferencial
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBILIDADE 73

em relação ao valor médio, último efeito este que é o único contribuindo para o
movimento:

* v ^ = ( S " pL + ( H L -

Fig. 1.63 Decomposição de esforços de pressão em efeito médio e desvio em relação à média.
Convencionemos considerar como positivo o trabalho desenvolvido sobre o
sistema e como negativo o trabalho desenvolvido pelo sistema; virá então, para
estas duas contribuições, que:
• ( H L é o termo - v d p = - d p j p obtido quando se deduziu Bemoulli —
eq. (1.7) — a partir do balanço de forças ilustrado na Fig, 1.12, resultando o
sinal menos do facto de a quantidade de movimento, e portanto da energia
cinética e da energia total, aumentarem (<ieT> 0 ) em gradiente favorável
(dp < 0);
* (£wp)med é o clássico - p d v [=-(pdA)ds) da 'termoestática', resultando o
sinal menos do facto de, se a tensão for de compressão ( p > 0), o volume
específico diminuir (d v c O ) mas trabalho ser realizado sobre o sistema
(Sw, der > 0 ); este term o anula-se naturalmente em escoamento
incompressível: dv = 0.
Obtém-se assim:

deT = de + d ^ U 2)j + g dz = - p d v - v d p - - d ( p v )
ou
d(e + pv) + d l^-U2^ + g dz = 0.

Sendo h = e + pv a entalpia específica (por unidade de massa) resulta então,


integrando ao longo do escoamento:

h + ^ U 2 +gz =const. ao longo do escoamento (1.35.a)

onde a constante de integração tem o significado de uma entalpia total hj.


É esta a forma da equação de Bernoulli p ara escoamento isentrópico
compressível.
Em escoamento a p = const. tinha-se revelado possível, escolhendo como
pressão de referência a hidrostática local, não explicitar o termo potencial
gravítico de pressão hidrostática na equação de definição de pressão total pT; tal
já não é possível em escoamento compressível, pelo que se se escrever para hT
apenas
(1.35.b)
74 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

fica implícito que se assume a hipótese simplificativa suplementar de considerar


as variações de energia potencial desprezáveis face às variações de entalpia e de
energia cinética.
Considerando o ar como um gás perfeito, para o qual é h = h(T) só e
dh/dT = cp — calor específico a pressão constante —, sendo cp ~ const. numa
vasta gama de temperaturas e tomando como zero da escala de entalpias
h{T = 0 K) = 0, pelo que h ~ c pT , a relação anterior produz:

(1.36)

A temperatura total ou temperatura de estagnação Tt é a temperatura que


se regista num ponto de estagnação quando a velocidade do escoamento é
adiabaticamente levada a zero, como no caso anteriormente referido da medição
com um tubo de total. Nota-se que esta redução de velocidade não precisa de ser
isentrópica, i.e. adiabática reversível; de facto, se efeitos viscosos ou outros
efeitos irreversíveis tiverem lugar, parte da energia cinética do fluido será
convertida irreversivelmente em energia térmica, mas a temperatura de
estagnação atingida será a mesma, visto não haver trocas de calor com o exterior
_por hipótese, o processo foi suposto adiabático.
Embora a mesma temperatura de estagnação seja atingida quer o processo
adiabático de desaceleraçâo seja reversível ou irreversível, os valores finais de
pressão e de massa específica alcançados vão depender do grau de
irreversibilidade do processo. Tal é fácil de ilustrar num diagrama T - S para a
evolução de pressão num difusor de paredes adiabáticas e admitindo condições
sem e com atrito — vidé Fig. 1.64.

T
\ p crescente

Fig. 1.64 Evolução de pressão num diagrama T - S


para escoamento sem [1] e com [2] atrito.

Por esta razão a pressão total e a massa específica total são definidas para
condições de escoamento evoluindo isentropicamente até à estagnação.
A maior ou menor compressibilidade de um fluido é caracterizada por uma
sua propriedade física, a elasticidade [elasticity] £, definida como a variação de
pressão necessária para produzir uma variação unitária de volume específico:
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSI6IUDADE 75

= (L37)
^ d v /v dp
p a ra o a r e m c o n d i ç õ e s P T N é E~ 1 ,4 2 x 1 0 Pa.
A p re c ie m o s o s ig n i f ic a d o f í s i c o d o f a c to r dp/dp q u e f ig u r a n a e q u a ç ã o d e
definição d e E. P a r a ta l, c o n s i d e r e m o s a s e g u i n te s i tu a ç ã o m u ito s im p le s :
propagação u n i- d im e n s io n a l ( d a d i r e i t a p a r a a e s q u e r d a ) e m flu id o p e rfe ito , e m
repouso, lim ita d o p o r d u a s p a r e d e s p l a n a s , p a r a le la s , a d ia b á tic a s , d e u m a o n d a
de p re ssã o i n f i n i t e s i m a l , g e r a d a , e .g . c o m o i lu s tr a d o n a F ig . 1 ,6 5 .a ), p e lo
m ovim ento im p u ls iv o d e u m ê m b o l o n a e x tr e m id a d e d ir e ita d a c o n d u ta .

p p + dp
Cl
a +da
X

p p+ dp

a) Geometria do cam po b) O corrências num referencia! solidário com a onda


F ig . 1 .6 5 O nda de pressão g era d a pelo m ovim ento im pulsivo de um êmbolo.

T ra b a lh a n d o , p o r c o n v e n i ê n c i a , n u m r e f e r e n c i a l s o l i d á r i o c o m a o n d a d e
pressão (e m q u e o e s c o a m e n t o é p e r m a n e n t e ) o c o r r ê n c ia s m a n if e s ta m - s e c o m o
se a o n d a e s tiv e s s e f i x a e o e s c o a m e n t o , n a r e g iã o a in d a n ã o a f e c ta d a p e la o n d a ,
se d e slo c a ss e d a e s q u e r d a p a r a a d i r e i t a c o m a v e lo c id a d e a d e p r o p a g a ç ã o d a
onda em f lu id o e m r e p o u s o , c o m o r e p r e s e n t a d o n a F ig . 1 .6 5 .b ). A s a lte ra ç õ e s
in fin itesim ais p r o d u z id a s e m p, p e a p e l a o n d a d e p r e s s ã o , i.e . as re la ç õ e s e n tre
P' P e a a m o n t a n t e e a j u s a n t e d a o n d a , p o d e m s e r o b tid a s d a s e q u a ç õ e s
d ife re n c ia is a n t e r i o r m e n t e e s t a b e l e c i d a s d a c o n ti n u i d a d e e d a q u a n tid a d e d e
m o v im en to .
C om U = a e A, z = c o n s t . , d e ( 1 .3 4 ) s e o b té m

da = 0n
dP +L —
— dj e o n d,1e . = —a ——,
da dP
p a p

sig n ifican d o e .g . q u e u m a o n d a d e c o m p r e s s ã o ( d p > 0 ) in d u z u m a d im in u iç ã o


de v e lo c id a d e d o e s c o a m e n t o ( d a < 0 ) ; s e m e lh a n te m e n te , d e ( 1 .6 .a ) s e o b té m :
dp „ , 1 dp
~ +ada- 0 de onde da ----------- .
P a p

Ig u a la n d o a s d u a s a n t e r i o r e s r e l a ç õ e s p a r a o d if e r e n c ia l da r e s u lta

dp
76 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

O termo dpfdp é assim igual ao quadrado da velocidade de propagação dt


uma onda de pressão [pressure wave] infinitesim al, de que exemplo é unu
onda sonora [sound wave], razão por que a velocidade de propagação de
pequenas perturbações é usualmente designada v elo cid a d e do som [speed 0f
sound] a.
É de notar que sendo a situação adiabática e a perturbação infinitesimal, 0
processo será também reversível, i.e. isen tró pico , pelo que, estritamente,
deveríamos escrever:

(1.38.a)

Ora um processo isentrópico é regido pela relação


p
= const.
Pr
onde Y = cp/ c v, =1,4 para o ar, é a razão de calores específicos a pressão ea
volume constante; diferenciando esta relação obtem os para a a form a alternativa

a=Jy— (1.38.b)
V P
ou ainda, atendendo à equação dos gases perfeitos (1.10)

a = ^yRT. (1.38.C)

Verificamos, desta última relação, que a velocidade do som diminui com T,e
assim com a altitude na troposfera: p. ex. para a ISA é a ( z = 0) = 340 m/s e
a(z = l l km )= 295 m/s.
Vejamos como estas pequenas perturbações ou ondas de pressão emitidas
por uma fonte móvel em fluido em repou so se p ro p ag a m ao campo do
escoamento, em particular como é que a relação entre a velocidade de translação
da fonte de perturbação U e a velocidade de p ro pagação da perturbação a
determina o domínio do escoam ento afectado. S u p o n h am o s então, como
ilustrado na Fig. 1.66, uma fonte de perturbação pontual deslocando-se em
fluido em repouso e apreciemos a extensão do cam po perturbado nos casos
£7 = 0 , U < a , U = a t U > a :

£7 = 0 : As ondas de pressão propagam-se radialm ente a p artir da fonte de


perturbação, fixa em fluido em repouso.
U<a: As ondas de pressão tendem a adensar-se à fre n te da fonte de
perturbação.
V = a : M ovendo-se tanto as ondas como a fonte de perturbação à velocidade
U = a elas m ovem-se em conjunto, dando origem a um a frente-de-
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBIUDADE 77

onda [wave front], resultante do facto de, ao longo da frente, cada nova
onda vir reforçar as anteriormente geradas.
Neste caso a perturbação só se propaga ao domínio a jusante da fonte,
permanecendo o fluido a montante não-perturbado até à chegada da
frente-de-onda, visto que a velocidade com que informação quanto à
existência da perturbação é 'transmitida' ao fluido (velocidade de
propagação da onda de pressão) é igual à velocidade a que avança a
própria fonte de perturbação.

o n d a gerada
no in stan te 10

' i =ío+4í
í 2 = t l + Á{

env olv en te das

zona
perturbada

d) U > a

F>g. 1 .6 5 S istem a de o nd as de pressão para fontes de perturbação pontuais


d e slo c an d o -se em fluido em repouso.
78 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

V > a: Nesta situarão a influência da perturbarão só se estende a uma região


restrita do espaço a jusante da fonte e delim itada pela envolvente das
sucessivas ondas de pressão.
A razão de velocidades de progressão da perturbação U e de propagação da
perturbação a é designada número de Mach M = U /a, já apresentado na eq.
(1.27), e acabámos de verificar ser este o parâmetro adim ensional determinante
da extensão da região perturbada.
A superfície fronteira entre as regiões perturbadas e não-perturbadas nas
Figs. 1.66.c) e d) é designada cone de M ach, cujo ângulo de abertura é

/i= se n '* — ; (1.39)


M
naturalmente que quanto maior for o Mach m enor será a extensão da zona
perturbada: menor será p , mais fechado será o cone de Mach.
Em conclusão:
- em escoamento subsónico ( A i d ) ocorrências num q u alq u er ponto do
escoamento repercutem-se a todo o cam po — em incom pressível, essa
adaptação do campo a uma q u alq u er p e rtu rb a ç ã o processa-se até
'instantaneam ente', pois se p = const. se rá a = ->Jdp/ dp - °°, a que
corresponde M = 0;
- em condições sónicas (A/ = l), ocorrências num q u alq u er ponto afectam
apenas todo o campo a jusante da fonte de p ertu rb ação , não havendo
propagação das perturbações para montante:
- em escoamento supersónico (A Í> 1 ), o corrên cias num qualquer ponto
afectam apenas parte do campo a jusante da perturbação: a região interior ao
cone de Mach.
As equações da continuidade e da quantidade de m ovim ento sob forma
diferencial, quando aplicadas ao escoam ento p erm an en te isentrópico numa
conduta de secção variável — ou uma tu b e ira [nozzle] convergente-divergente,
como o Venturi da Fig. 1.18, ou uma d ifu são -co ntracção — permitem já
salientar, mesmo numa abordagem uni-dim ensional sim p lificad a, uma outra
diferença fundamental entre o comportamento de esco am en to s subsónicos e
supersónicos.
Desprezando variações de energia potencial ( z = co n st.) a equação da
quantidade de movimento (l,6.a) pode-se escrever:

0
dp p
ou, atendendo a (1.38.a):

a 2 — + UdU = 0.
P
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBILIDADE 79

Substituição desta relaçao para dpjp na equação da continuidade (1.34)


conduz a
UdU d V dA n
----- j - + ---- + — = 0
a2 U A
de onde
_dU,,
_ (l _ Mw2s^ + _dA = °„ (1.40)

atendendo à equação de definição de M.


Assim, e.g. num difusor (dA/A> 0):
- se o escoamento for subsónico ( M < 1) a velocidade diminui ao longo do
escoamento (dU/U < 0 );
- se o escoamento for supersónico (M > 1) a velocidade, pelo contrário,
aumenta ( d U / U > 0); neste caso, conservação de massa — eq. (1.34) —
impõe uma grande expansão do gás {dpjp « 0) de modo a compensar os
aumentos tanto da área de passagem (dA/A> 0) como de velocidade
( dU/U>0)\
- condições sónicas nunca se poderão verificar, pois M = 1 implica dA/A = 0,
independentemente do valor de dU /U , e, por hipótese, é d A /A * 0.
Concluímos assim que condições sónicas só se podem verificar quando
dA = 0, i.e. ou na garganta de uma tubeira ou na maior secção de uma difusão-
contracção. Mas se o escoamento à entrada for subsónico, a segunda hipótese
fica eliminada pois, por (1.40), se no primeiro troço de difusão <M>0 for
M< 1 será dU < 0 , i.e. o escoamento, já de si subsónico, ainda diminuirá mais
de velocidade, pelo que nunca poderá atingir condições sónicas na secção Amax.
Assim, a única maneira de acelerarmos um escoamento interior de subsónico
a supersónico será, como ilustrado na Fig. 1.67:
1. acelerá-lo, em subsónico, numa contracção, até
2. atingir condições sónicas na garganta, e em seguida
3. continuar a acelerá-lo, agora já em supersónico, num difusor.

M< 1 ' Aí >1

F i g . 1 .6 7 P ro d u ç ã o d e u m e s c o a m e n to supersónico num a tubeira.

E esta a configuração base de um túnel aerodinâmico supersónico.


Analisemos mais detalhadamente esta evolução do escoamento numa tubeira,
considerando, em termos uni-dimensionais, o escoamento de um fluido perfeito
numa tubeira de paredes adiabáticas instalada entre dois reservatórios infinitos a
80 CAP. 1 AEROOINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

pressões p m, a montante, e p j , a jusante, como representado na Fig. 1.68 rv,


modo a conseguirmos condições de referência sim ples para o escoameot
suponhamos ser a secção de entrada infinita Ae = » , o que conduz a Ut =o e°
pc = pT = p m. a chamada pressão de reservatório [reservoir pressure], 8

Fig. 1.68 Geometria de tubeira entre dois reservatórios 'infinitos*.

Partindo da situação de repouso p m= p j analisem os a evolução do


escoamento à medida que p } vai continuamente diminuindo em relação a pm:
1. Com pj < p m, e enquanto o escoamento se processar, todo ele, a Af<l,na
contracção a velocidade aum enta e a pressão dim inui, na garganta é
í/g = UmM e p g = p m,n e no difusor U diminui e p aumenta, situação esta que
já sobejamente apreciamos na Sec. 1.2; na garganta as evoluções de í/edep
apresentam continuidade tangencial pois, por (1.40), para e 4/1 = 0 é
dU = 0; na secção de saída é p s = p } < p m = p T = const- e P m = í s>a
pressão dinâmica à saída. Continuando a diminuir relativamente a pm,t
enquanto todo o regime se mantiver subsónico, t/g torna-se cada vez maior,
p g cada vez menor e qs também aumenta, como ilustrado na Fig. 1.69.a).

4./P T
,/Pt

a)Aíg < l b)Mg = l


Fig. 1.69 Evolução de p /p T numa tubeira em regime subsónico.

2. Continuando a diminuir Pj relativamente a p m chega-se a um diferencial


Pm~Pi Para 0 qual condições sónicas são m arginalm ente atingidas na
garganta, voltando o regime a subsónico no difusor; neste caso de Mg =1 jí
não é requerido, de (1.40), que as evoluções de U e de p na garganta exiba»
continuidade tangencial, como ilustrado na Fig. 1.69.b). A esta pressão de
saída, para que condições sónicas são pela prim eira vez atingidas na
garganta, chama-se I a pressão crítica p Ci.
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBIUDADE 81

É de notar que subsequentes reduções de p; abaixo de pCi são incapazes


de produzir qualquer aumento de caudal mássico na tubeira, pois que
informação quanto à pressão de saída, transmitida através de ondas de
pressão que se propagam à velocidade do som, não consegue progredir para
montante da garganta, onde a velocidade do escoamento é sónica. Diz-se
então que a tubeira ficou sa tu ra d a [choked]\ uma tubeira operando em
condições de saturação constitui assim um excelente instrumento para o
controlo de caudais.
3. Diminuamos agora p s para um valor bem menor que pC) de modo a que o
escoamento, já sónico na garganta, possa evoluir isentropicamente em
supersónico no difusor, sendo a pressão no reservatório de jusante a ajustada
para corresponder exactamente à pressão de saída requerida para que o
processo seja isentrópico para todo o campo do escoamento, como ilustrado
na Fig. 1.70.a). A este novo valor de p s = pj chama-se 3a pressão crítica
ÍV
Note-se a necessidade de um perfeito ajustamento de pj ao valor de ps
requerido para que se verifiquem condições isentrópicas ao longo de todo o
escoamento supersónico, pois que, p. ex. no caso de ser ps inferior a pC|
mas superior ao requerido p Cj — p's , na Fig. 1.70.a), digamos — o
escoamento no difusor, começando a evoluir em supersónico, não tem
antecipadamente conhecimento de qual o valor da pressão instalada mais a
jusante (não há propagação da informação para montante), não se podendo
ajustar às condições impostas na secção de saída; será assim forçada a
ocorrência de uma qualquer descontinuidade no escoamento, com a
consequente violação das condições isentrópicas. Analisemos então
ocorrências nas gamas de pressões no reservatório de jusante pC[ > p ;. > p Cj
e Pj < Pcy ■

Pc,>Pi>Pc3
Suponhamos a situação da pressão de saída p's referida na Fig. 1.70.a).
Sendo p ' < p C) o escoamento começa a evoluir em regime supersónico no
difusor, não tendo porém 'conhecimento' de que a pressão instalada à saída é
superior à requerida para uma expansão isentrópica. Segue-se que, na secção
de saída e por acção do diferencial de pressões p ' - p c} > 0, vai ocorrendo
uma acumulação de massa que aumenta continuamente de intensidade ao
longo do tempo. Este 'muro', esta perturbação não mais pequena, adquire
capacidade para progredir para montante através da região supersónica até
que todo o campo atinja uma configuração estabilizada, em que o
escoamento no difusor i) começa, a partir da garganta, a desenvolver-se em
supersónico, ii) através da forte descontinuidade a pressão e a massa
82 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

A/ = l

a) Escoamento isentrópico b) Escoamento com onda de choque

Fig. 1.70 Evolução de p j p y numa tubeira com escoamento supersónico no difusor.

específica aum entam abruptam ente e a velocidade, tam bém abruptamente,


passa a subsónica; iii) a restante evolução processa-se em regim e subsónico
até à secção de saída à pressão p 's .
A esta intensa onda de pressão, não mais um a pequena m as sim uma muito
forte perturbação, chama-se on d a de ch o q u e [shock w ave].
A través da onda de choque o p rocesso te rm o d in âm ico deixa de ser
isen tró p ico , en vo lvend o fo rç o sam en te, de ac o rd o co m a 2‘ Lei da
Termodinâmica, um aum ento de entropia. O p rocesso é, porém , tão rápido
— espessuras típicas de um a onda de choque são d a o rd em dos poucos
m icrom etros — que, em bora não isentrópico, as tro cas de calor com o
exterior são desprezáveis, pelo que se pode considerar adiabático.
Reforça-se que a velocidade de propagação destas grandes perturbações não
está condicionada à velocidade do som. A título de exem plo: a onda de
choque gerada no nariz de um a aeronave voando a M = 2 é 'transportada'
pela aeronave (i.e. propaga-se) a M ach 2, a duas vezes a velocidade do som.
A distribuição de pressão ao longo de um a tubeira com onda de choque está
ilustrada na Fig. 1.70.b).
À m edida que continuam ente dim inui (e.g. passando de p's para p " na
figura) a onda de choque vai-se continuam ente deslocando para jusante na
tubeira até que a p j = p Cj se encontra à saída do difusor; a p C} chama-se 2"
p re s s ã o c r ític a . N este últim o caso todo o esco am en to no difusor se
desenrola em regim e supersónico e em condições isen tró p icas, sendo a
adaptação à pressão p } — p Cj > p s = p Cj conseguida através de um processo
dissipativo ( A S > 0 ) de onda de choque à saída.
U lteriores reduções de p i desde p Ci até p Cj obrigam a que o reajustamento
(não isentrópico) de pressão de p Cj a p } ocorra depois do difusor, no jacto
liv re exaurindo no reservatório de jusante, através de um a sequência de
o n d a s de com pressão e de expansão.
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBIUDADE 83

Dado que para p Cl> Ps > PCJ o escoamento no difusor começou por se
expandir mais do que o necessário para atingir isentropicamente uma
pressão p s = pj — por 'falta de informação1quanto à pressão no reservatório
de jusante — diz-se que o escoamento está sobre-expandido [over-
expanded].

Pl<P<,
Neste caso, e tal como já se verificava desde ps = pCj, o escoamento no
difusor é isentrópico supersónico, ocorrendo a expansão ainda requerida
para evoluir de p s = p C3 a p t < p C3 no jacto exaurindo da tubeira. O regime
qualifica-se de sub-expandido [under-expanded].
Condições de projecto respeitam, naturalmente, a p. = pCj.
Sumarizam-se, na Fig. 1.71, estes diferentes regimes de operação de uma
tubeira convergente-divergente.

F ig . 1.71 Diferentes regimes de operação numa tubeira.

Considerámos até agora apenas situações uni-dimensionais, em que a


ocorrência de ondas de choque estava limitada ao caso de estas se constituírem
normalmente ao escoamento: ondas de choque normais [normal shock waves].
Estendamos um pouco esta apreciação ao caso bi-dimensional, como o do
escoamento supersónico em tom o do perfil em diamante ilustrado na Fig. 1.72,
em que se manifestam ondas obliquas de compressão — ondas de choque
oblíquas [obliqúe shock waves] — e de expansão [expansion waves].

/
/
M„>1 /
*
\
\
Fig. 1.72 Sistema de ondas oblíquas de compressão e de expansão num
perfil em diamante operando em escoamento supersónico.
84 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

Estes tipos de ondas estão assin alados na F ig. 1.73 [ ) 6 8 | d e visualização d0


escoamento pela técnica de s o m b r o g r a fia [ s h a d o w g r a p h | e m q u e a combinação
de claros / escuros resulta de sensib ilid ad e à seg u n d a d eriv a d a esp acial da massa
específica do fluido.

Fig. 1.73 Corpo axisiméirico cone / cilindro a = 1,84.

Começamos por notar que, em princípio, não deverá haver uma grande
diferença entre ocorrências num choque normal e num choque oblíquo, já que
estas diferenças podem, em princípio, ser simplesmente interpretadas como se a
mesma ocorrência fosse observada de diferentes referenciais. Salientemo-lo,
considerando a situação ilustrada na Fig. 1.74 de um observador que se desloca
ao longo de uma onda de choque normal com uma velocidade í7|(rajecIlSria).

Fig. 1 .7 4 O bservad or d eslo c an d o -se a o lo n g o d e u m c h o q u e n o rm a l.

Para esse observador a situação prefigura-se com o se o choque fosse


oblíquo, relativamente à direcção do escoamento de aproxim ação; ao atravessar
a onda de choque (agora 'oblíqua'): i) as componentes tangenciais da velocidade
de um e de outro lado da onda de choque são iguais: Uu = í/2t = e ii)
a componente normal sofre uma descontinuidade de super para subsónicc
í/,„ > « > í/2n, pelo que a velocidade resultante:
- diminui em módulo, embora não necessariamente para M < 1
- varia em direcção, ficando, depois da onda, menos inclinada em relação ao
choque.
Esta situação é semelhante à verificada num diedro côncavo, como o da Fig.
1.75.a); é apenas uma questão de rotação do referencial. É o mesmo tipo de
situação que se verifica para os choques oblíquos form ados nos bordos de
ataque e de fuga do perfil em diamante da Fig. 1.72.
SEC 1 A EFEITOS OE COMPRESSIBILIDADE 85

i onda de choque______ /

a) Onda de choque oblíqua no vértice b) Coalescência de ondas de Mach


Fig. 1.75 Escoamento supersónico ao longo de um diedro côncavo.

Aproximemos esta situação de uma deflexão 6 através de uma sucessão de


deflexões elementares A S , cada uma delas induzindo uma onda de Mach
(isentrópica), as quais, como ilustrado na Fig. 1.75.b), tendem a coalescer numa
frente única.
E desta coalescência de ondas de Mach isentrópicas elementares que resulta
a onda de choque oblíqua dissipativa, tal como ilustrado na Fig. 1.76 {168].

Fig. 1.76 Coalescência de ondas de Mach numa superfície côncava a = 1,96.

Para cada número de Mach do escoamento de aproximação M x:


* e para cada ângulo de deflexão 8 imposto pela geometria do escoamento,
como ilustrado na Fig. 1.75.a), verificam-se duas soluções possíveis para o
ângulo de onda 9: um a delas correspondente a um choque fraco [weak
shock], a jusante do qual o escoam ento é em geral supersónico, e a outra
correspondente a um ch o q u e fo rte [strong shock], de maior ângulo de onda
9 — o limite 9 = 90° corresponde a um choque normal — , a jusante do
qual o escoamento é sempre subsónico; não existe porém qualquer relação
determinística capaz de prever qual das duas possíveis ocorrências, de choque
fraco ou de choque forte, se poderá verificar numa qualquer situação, mas a
de choque fraco, com m enor ângulo de onda, menor dissipação, menor
aumento de entropia, é efectivam ente a mais provável, o que está em
consonância com o princípio do m ínim o de produção de entropia, de
Prigogine, da term odinâm ica dos processos irreversíveis;
86 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

• há um ângulo de deflexão S m áxim o, im posto p ela geometria, que 0


escoamento tem capacidade para negociar: para A/, = © o (!) é Ô «46°, a quç
corresponde um ângulo de onda 0 « 6 8 ° ; para deflexões superiores a este
ângulo lim ite, com o, por exem plo, as im postas p o r um perfil subsórúCo
operando em supersónico — Fig. 1.77.a) — , ou p o r um tubo de pressão
total — Fig. 1.77.b) — ou ainda por uma tom ada de ar para um motor, em
condições o ff-d e s ig n , a onda destaca-se da su perfície do corpo, dando

a) Perfil subsónico b) Tubo de total

Fig. 1.77 Ocorrência de ondas de choque destacadas.

origem a um choque destacado [bow shock] — Fig. 1.78 [168]; no caso do


perfil da Fig. 1.77.a), ao salto em pressão através do choque destacado está
associado um cam po de sobrepressões na re g iã o d o bordo de ataque
produzindo um muito apreciável acréscim o em CD.

Fig. 1.78 Choque destacado a montante de uma esfera a = 1.53.

E se em vez de um a com pressão, com o ocorre no caso d o s diedros côncavos


até agora considerados, estivéssem os perante um a expansão, com o a verificada
com o diedro convexo no extradorso do perfil em diam ante da Fig. 1.72? Uma
apreciação form ulada em term os equivalentes aos an terio rm en te explanado*
p ara o diedro côncavo, sub-dividindo o diedro co n v ex o ô em diedros de
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBIUDADE 87

abertura elementar Aô> como ilustrado na Fig. 1.79, levar-nos-ia a concluir que
as ondas de Mach isentrópicas tendem agora a divergir, tanto mais que, por
(1.39), aumentando o número de Mach através de cada uma destas ondas
isentrópicas de expansão, diminui o ângulo de Mach p . As ondas de Mach
isentrópicas, em vez de tenderem a coalescer numa onda de choque dissipativa,
como no anterior caso de diedros côncavos, tendem agora a divergir, dando
origem a uma expansão ce n tra d a de Prandtl-M eyer [centered Prandtl-Meyer
expansion] ou leq ue de P ra n d tl-M e y e r [Prandtl-Meyer fan] isentrópico
centrado no vértice do diedro convexo.
ondas de Mach
divergentes

P2<Pl

F ig. 1.79 Divergência de ondas de Mach no escoamento supersónico


ao longo de um diedro convexo.

O comportamento descrito do escoamento supersónico através de sistemas


de ondas de compressão e de expansão permite-nos interpretar o mecanismo de
geração de sustentação num perfil alar em supersónico, como no caso simples
de uma placa plana a ângulo de ataque, ilustrado na Fig. 1.80:
• comparativamente ao caso subsónico (incompressível) descrito na Sec. 1.2.,
em que a influência do perfil se propaga a todo o campo do escoamento e
em que as trajectórias dos elementos de fluido deflectem já antes de atingir a
estação do bordo de ataque da placa, na presente situação supersónica o
escoamento só toma conhecimento da existência da perturbação até com ela
ou com os seus efeitos se confrontar, leia-se até atingir ou o bordo de ataque
da placa ou o sistema de ondas formado no bordo de ataque: ou o leque de
Prandtl-Meyer (expansão) no diedro convexo do extradorso ou a onda de
choque (compressão) no intradorso;

a) Geometria do escoamento b) Campo de forças

fig* 1.80 Escoamento supersónico em tomo de uma placa plana a incidência.


88 CAP. 1 AERODINÂMICA UMA VISÃO GERAL

• entre estes dois sistemas de ondas, e até ã recuperarão de pressão no bordo


de fuga através de inversas ondas de com pressão / expansão, as trajectórias
permanecem paralelas à placa, no extradorso instala-se um campo constante
de sucções e no intradorso um cam po, igu alm en te constante, de
sobrepressões;
• destes dois campos de pressão constante resulta uma força normal à placa,
com uma com ponente de sustentação L — por definição, normal à
velocidade do escoam ento de aproxim ação — e um a componente de
resistência £>w, segundo a direcção do escoamento: uma resistência de onda
[wave drag] cujo trabalho corresponde à energia que constantemente é
necessário com unicar ao fluido para continuam ente form ar o sistema de
ondas. T rata-se de uma resistência de natureza invíscida, semelhante à
resistência induzida que. num a asa finita, é necessário continuamente
com unicar ao fluido para constantem ente m anter o sistem a de vórtices
arrastados, com o descrito no fim da Sec. 1.2.
Destas breves considerações sobre escoam entos supersónicos imediatamente
ressaltam duas implicações, uma do foro invíscido e outra do foro viscoso:
- do foro invíscido: para controlo de uma aeronave em picada, em subsónicoé
usualm ente utilizado um plano de p ro fu n d id ad e co n stitu íd o por um
elemento fixo e um elemento móvel; em supersónico um tal conjunto de
dois elem entos reagiria com o ilustrado na Fig. 1.81.a), em que só a
superfície móvel trabalhava; revela-se, neste caso, mais eficiente utilizar um
estabilizador integral, em que todo o conjunto trabalha: Fig. 1.81.b).

b) Estabilizador integral

Fig. 1.81 Operação de um estabilizador em escoamento supersónico.


- do foro viscoso: um diedro convexo induz i) em escoam ento subsónico, um
gradiente de pressão adverso produzindo, com o ilu strado na Fig. 1.82,a),
uma separação da camada lim ite e a eventual ocorrência de uma bolha de
separação, ao que estão associadas grandes perd as lo cais de energia,
enquanto que ii) em supersónico, no vértice do d iedro é produzida uma
expansão centrada de Prandtl-M eyer, a que está associado um acréscimo de
velocidade e uma correspondente dim inuição de pressão, i.e. a instalação de
um gradiente de pressão favorável (em vez de adverso), pelo que geometrias
deste tipo, com pletam ente inadequadas em subsónico, são perfeitamente
aceitáveis em aeronaves essencialmente supersónicas.
SEC. 1.4 EFEITOS DE COMPRESSIBILIDADE 89

l M_> I

a) Escoamento subsónico b) Escoamento supersónico

F ig. 1.82 Escoamento de fluido real ao longo de um diedro convexo.

A finalizar esta secção devotada a efeitos de compressibilidade, e depois de


termos apreciado ocorrências no domínio só subsónico e no domínio só
supersónico, façamos uma breve descrição do comportamento de perfis na gama
transónica, tipicamente entre 0 ,7 < M CO<1,2, em que parte do escoamento se
processa em regime subsónico e parte em supersónico. Façamo-lo com
referência à Fig. 1.83 [42] em que estão assinalados, numa curva típica de
evolução do coeficiente de sustentação CL do perfil com o número de Mach do
escoamento de aproximação a um ângulo de ataque fixo, os pontos a que
cada configuração do escoamento se refere.
A evolução assinalada de CL vs. mostra que, com aumento de M C L
tão depressa aumenta como diminui, o mesmo acontecendo com CD e com o
coeficiente de m om ento CM. Estas evoluções 'complicadas' e 'estranhas',
associadas à tendência assimptótica prevista ocorrer a Mx- 1 para CL, CD e Cw
com base em teorias lineares aplicáveis a subsónico e a supersónico, conduziram
ao mito da b a rre ira do som [sound barrier].
a) No exemplo citado é M„= 0,7 o número de Mach do escoamento de
aproximação a que prim eiro são localmente atingidas condições sónicas
(M i0cai = 1) no perfil; este é por isso designado número de Mach crítico
[criticai Mach number].
b) Aumentando M„ instala-se no extradorso uma região supersónica; o retomo
a subsónico é feito através de um choque fraco, ao que está associado um
pico em CL e tam bém um aumento em CD — número de Mach de
divergência [drag divergence Mach number].
c) Aumentando ligeiram ente A/„ instala-se uma região supersónica no
intradorso, também ela term inada por um choque; em geral o choque do
intradorso desloca-se mais rapidamente para o bordo de fuga do que o
choque do extradorso, pois os gradientes de pressão menos intensos no
intradorso têm m enor capacidade para fixar a localização do choque. Em
resultado das sucções agora reinantes tanto no extradorso como no
intradorso o coeficiente de sustentação regista o seu valor mínimo: diz-se
que ocorreu uma p e rd a p o r choque [shock stall\\ o momento associado é de
cabragem.
d) A próximo de 1 ambos os choques se deslocam para o bordo de fuga e
o perfil recupera alguma sustentação.
90 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

0 0,5 1.0^1.5

a) A í. = 0 ,7 5

b) Aí„=0,81

c) Aí„=0,89

e) AÍ_=L4
crans^n'ca
na gama
Fig. 1.83 E v o lução do escoam en to em to rn o d e u m p e rfil subsónico
SEC. 1.4. EFEITOS DE COMPRESSIBIUDADE 91

e) Ultrapassada a fronteira M„= 1 forma-se, a montante do perfil, um choque


destacado que rapidamente progride em direcção ao bordo de ataque,
aumentando gradualmente de intensidade; CD regista agora o seu valor
máximo. A gama transónica termina quando o choque destacado está
praticamente colado ao perfil, diminuindo C0 com sucessivos aumentos de
pois o choque destacado vai ficando cada vez mais fechado —
diminuição do ângulo de Mach.
Ao abrupto salto positivo de pressão através de uma onda de choque
incidindo sobre uma camada limite desenvolvendo-se ao longo de uma parede
está associado um gradiente adverso local de tal modo intenso que o escoamento
se separa, vindo ou não a recolar posteriormente. Trata-se da chamada
interacção choque-cam ada lim ite [shock-boundary layer interaction], a qual
produz uma elevada penalização em termos de CD. Tal como ilustrado na
Fig. 1.84 [168] o sistema de ondas resultante assume uma forma semelhante à
da letra grega minúscula X, de onde a designação de choque em X [lambda
shock].

Fig. 1.84 Choque em X num perfil bi-convexo a M_ = 0,9.


Os detrimentais efeitos transónicos podem ser relegados para Mach's mais
elevados imprimindo à asa alguma flecha [sweep], quer positiva [sweepback]
quer negativa [sw eep fo rw a rd ]; como ilustrado na Fig. 1.85.a), embora a

a) Velocidade efectiva Af_cos/l b) CD vs. Aí. para asas sem e com flecha
Fig. 1.85 Operação de asas em flecha.
92 CAP. 1 AERODINÂMICA: UMA VISÃO GERAL

aeronave se esteja a deslocar a A/„ os perfis reagem com o se a velocidade


escoamento de aproximarão fosse A/_ eos. V< A/_, onde A é o ângulo de f|ecjj°
[íHeep li/ig/c]. Passada a fase transónica uma asa em flecha produz poré *
como ilustrado na Fig. I.85.b). maiores CD's do que um a asa sem flecha, ra^
porque asas com flecha não são utilizadas para operação em alto supersónico

1.5. Apresentação geral do texto


Nas secções anteriores apreciám os, em term o s gerais, as questões de
aerodinâmica que. com excepção das de e sc o a m e n to compressível, irão
seguidamente ser objecto de análise detalhada. V ejam os com o, por uma questão
de sistematização, o texto que se segue está o rg an izad o em capítulos não
estanques:
• nos Caps. 2 e 3, de natureza fundam ental e respectivam ente intitulados
"Conceitos e E quações F u n d am en tais da M e c â n ic a dos Fluidos" e
"Escoam entos Tipo V órtice", são a p re se n ta d o s os conceitos básicos
associados às equações de conservação da m ecânica dos meios contínuos e
desenvolvidas as principais noções relativas a escoam entos tipo vórtice, dada
a sua relevância em todos os aspectos de aerodinâm ica;
• o conjunto de capítulos 4 a 7 respeita a esco am en to s incompressíveis de
fluido real (viscoso), com especial ênfase no estu d o de escoamentos tipo
camada limite, embora situações de escoam entos interiores e de camadas de
corte livres não deixem de ser d ev id a m e n te co n sid erad as; o Cap. 4
"Escoamento Laminar" é dedicado ao estudo de escoam entos de fluido real
em regime laminar, o Cap. 5 "Transição L am inar / Turbulento" ao complexo
processo de transição regim e lam inar / reg im e tu rb ulen to e o Cap. 6
"Escoamento Turbulento" ao estudo de escoam en tos em regim e turbulento,
todos estes, basicamente, para situações bi-dim ensionais; o Cap. 7 "Camada
L im ite tri-D im ensional" é então dedicado a u m a brev e apreciação de
escoamentos tri-dimensionais de cam ada lim ite, no qual é dada justificada
relevância à situação característica da cam ada lim ite atm osférica;
• os três capítulos seguintes são dedicados ao estu d o de escoamentos numa
óptica sim plificada de fluido perfeito, respeitando os Caps. 8 e 9 a situações
bi-dim ensionais e contem plando o Cap. 10 u m a b rev e extensão desses
re su lta d o s p ara tri-dim en sio n al: no C ap. 8 "E sco am en to Potencial
Incom pressível bi-Dimensional" são apresentadas as bases para análise deste
tip o de escoam entos, no Cap. 9 "P erfis A lares" é um tal modelo bi-
d im e n sio n a l de fluido perfeito ap licad o ao c a so de excelência do
e s c o a m e n to em to m o de perfis alares, o q u al é assim razoavelmente
d esenvolvido, e no Cap. 10 "Asas Finitas" é esse estudo estendido à situação
SEC. 1.5. APRESENTAÇÃO GERAL DO TEXTO 93

tri-dimensional de asas finitas, analisando as alterações introduzidas no


comportamento bi-dim ensional pelo facto do corpo sustentador ter agora
uma envergadura finita;
• finalmente o Cap. 11 "C orpos não-Fuselados" é dedicado ao estudo do
escoamento em torno de corpos não-fuselados e das vibrações induzidas
pela libertação alternada de vórtices, característica de escoamentos deste tipo.
Nota-se que, em m uitos liv ro s-te x to de m ecânica dos fluidos e de
aerodinâmica, os au to re s p ed a g o g ic am e n te fazem um a abordagem de
complexidade crescente dos vários fenóm enos, com eçando por apresentar um
modelo sim plificado de fluido perfeito e só depois considerando efeitos de
fluido real, em particular de cam ada lim ite. Foi diferente a estratégia adoptada
no presente docum ento; consideran d o-se que é fundamental conhecer bem a
realidade e ter uma m uito clara percepção da física dos diferentes efeitos em
jogo e dos principais parâm etros controladores do processo para, só depois, o
podermos analisar recorrendo a m odelos sim plificados, de modo a que se esteja
sempre perfeitamente seguro da adaptabilidade, da validade e das limitações dos
modelos escolhidos p ara d e sc re v e r uns ou outros aspectos da com plexa
realidade, optou-se por prim eiro situar o leitor, dando-lhe uma visão geral das
questões de aerodinâm ica através deste 'extenso' prim eiro capítulo, para então
começar por analisar escoam entos de fluido real — Caps. 4 a 7 — e só depois
abordar a teoria de fluido perfeito — Caps. 8 a 10.
No índice rem issivo apenas são referidas as páginas em que cada assunto seja
apresentado quer pela p rim eira vez quer de form a considerada suficientemente
relevante. In clu i-se um p e q u e n o 'D ic io n á rio de term os técnicos inglês-
português', da áre a d a m e c â n ic a d os flu id o s / aerodinâm ica, com a
correspondente term inologia em 'brasileiro', quando forem diferentes os termos
técnicos utilizados em P ortugal e no B rasil.
CAPÍTULO
2
CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS
DA MECÂNICA DOS FLUIDOS
No capítulo introdutório foram apresentad os, em term os formalmente
correctos mas deJiberadamente restritos a situações muito simples, os conceitose
as equações mais fundamentais da m ecânica dos fluidos: conservação da massa,
apenas para escoam entos u ni-dim ensionais, co n serv ação da quantidade de
m ovim ento (balanço de forças), tan to ao longo do escoamento como
normalmente a essa direcção, e conservação da energia, esta também só para
situações uni-dimensionais. E objectivo do presente capítulo apresentar esses
diferentes conceitos e equações de um a form a geral e estruturada, de modo a
estabelecer uma sólida base em que possam assen tar todos os requeridos
desenvolvim entos do texto. C on ceito s e eq u a çõ e s de aplicação ou de
im portância não tão fundam ental serão apresentados à m edida que se forem
revelando necessários, sendo por isso relegados para os capítulos seguintes.
A ordenação dos termos no título do capítulo — "Conceitos e Equações" em
vez de "Equações e Conceitos" — é intencional e pretende exactamente
sublinhar a ênfase que sempre será dada à interpretação física dos diferentes
fenóm enos em jogo, em bora nunca descurando a correcção da sua descrição
formal.
Os conceitos e equações fundam entais que se apresentam constam de
praticamente todos os livros-texto de m ecânica dos fluidos e de aerodinâmica,
como p.ex. das referências [8, 12, 13, 28, 42, 74, 95, 96, 114, 133, 137] listadas
na bibliografia. A form a como esta m atéria é aqui tratada constitui apenas um
apuram ento, com alguns co m p lem entos, da fo rm a com o foi primeiro
apresentada na ref1 [22].
O capítulo inicia-se por uma exposição das possíveis metodologias a seguir
na descrição de um campo de escoam ento e pela apresentação da forma geral
da equação de conservação de um a qualquer propriedade característica do
cam po na óptica considerada mais apropriada — Sec. 2.1. — , após o que estes
conhecim entos são aplicados ao estabelecim ento, sob form a diferencial e
integral, dos três princípios fundamentais de conservação da mecânica dos meios

94
SEC.2.1. DESCRIÇÃO DO CAMPO DO ESCOAMENTO 95

contínuos: conservação da massa, da quantidade de movimento e da energia:


Secs. 2.2. a 2.4., respectivamente; na Sec. 2.5. é feito um breve apontamento
sobre a equação que rege o campo de pressão. O capítulo termina com diversos
exemplos de aplicação de balanços globais de massa, de quantidade de
movimento e de energia a situações características de escoamentos interiores e
exteriores, permitindo quer apresentar informação importante para validar a
realização e corrigir resultados experimentais obtidos tanto em ensaios em túnel
aerodinâmico como em voo quer fazer a ponte para questões a abordar em
capítulos seguintes: Sec. 2.6.

2.1. Descrição do campo do escoamento


Pretendemos descrever o comportamento de um meio fluido recorrendo aos
clássicos princípios e equações de conservação da mecânica dos meios
contínuos: conservação da massa, da quantidade de movimento e da energia.
Este tipo de descrição, muito inspirado e adaptável a uma mecânica dos sólidos,
permite contabilizar a evolução de uma qualquer propriedade característica de
um corpo identificável de matéria ao longo da sua tra je c tó ria [pathline] —
lugar geométrico das sucessivas posições ocupadas por esse corpo de matéria no
espaço ao longo do tempo.
Provavelmente não será esta óptica de "corpo identificável de matéria",
perfeitamente lógica e natural em mecânica dos sólidos, a mais ajustada num
contexto de mecânica dos fluidos. Não é, de facto, previsível que nos interesse
muito saber como qualquer propriedade do meio, associada a um determinado
corpo de matéria, e.g. identificado através de um dado corante — encarnado,
verde ou amarelo — , possa evoluir ao longo da trajectória que esse corpo venha
a descrever. Será talvez mais significativo determinar, numa dada região fixa do
espaço, constituída em torno de um dado ponto, como evoluem as características
do escoamento ao longo do tempo, independentemente de, em cada instante, ser
essa região ocupada pelo elem ento de fluido identificado com o corante
encarnado, verde ou am arelo. Suponham os então, em termos de técnica
cinematográfica, a seguinte situação:
- coloquemos uma 'máscara' sobre o nosso campo de escoamento;
- abramos, nessa 'm áscara', uma janela permitindo-nos observação de uma
dada região fixa do espaço;
- observemos, 'filmando' através dessa janela de observação, a evolução ao
longo do tem po das propriedades do escoamento em que estejamos
interessados, i.e. analisemos, numa dada região fixa no espaço onde estamos
a controlar o com portam ento do nosso meio fluido, como evoluem, ao
longo do tempo, as propriedades características desse mesmo meio,
independentemente de ser o corpo fluido identificado com o corante
96 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

encarnado, verde ou amarelo que, num dado instante, ocupe o volume de


observação.
Esta técnica, ou metodologia de observação ou de descrição do campo de
escoamento, não só:
- nos permite controlai' como evoluem, ao longo do tem po, as características
do escoamento num qualquer volume de observação fixo no espaço — o
volume de controlo [control volume] circundado por um a superfície de
controlo [control surface] permeável à matéria fluida — como,
- sabendo como neste, naquele e naqueloutro volum e de controlo evoluem as
características do escoamento ao longo do tem po, nos perm ite identificar,
num determinado instante, como evoluem as propriedades características do
escoamento de ponto para ponto no espaço: tal corresponde, em termos
cinematográficos, a tirar uma fotografia a todo o cam po do escoamento,
num dado instante.
Esta metodologia de observação, devida a Euler e por isso mesmo designada
como metodologia euleriana, permite-nos assim destrinçar com o evoluem as
propriedades características do escoamento:
- ao longo do tempo, num dado ponto fixo do espaço, e
- num dado instante, de ponto para ponto do espaço.
Na óptica devida a Lagrange — m eto d o lo g ia lagrangeana —,
primeiramente referida e perfeitamente ajustável ao estudo do comportamento
das propriedades características de um corpo (sólido) identificável de matéria ao
longo da sua trajectória, apenas poderíamos avaliar da variação total dessas
propriedades, independentemente dessa variação poder ser em parte devida à
evolução, ao longo do tempo, das características do escoam ento como um todo
- variação temporal, num ponto fixo do espaço — com o à variação, num
dado instante, dessa propriedade, pelo facto do corpo de m atéria ter sido
transportado de uma região do espaço em que essa propriedade tivesse um dado
valor, para outra região do espaço em que a propriedade tivesse um valor
diferente — variação convectiva, associada ao movimento — , i.e. não teríamos
possibilidade de destrinçar entre a contribuição de um a variação no tempo, num
ponto fixo do espaço, e de uma variação no espaço, num instante fixo.
Tal destrinça é possível, e desejável, numa óptica euleriana, pelo que será esta
a metodologia que iremos adoptar ao longo de todo o presente texto de
aerodinâmica.
Numa óptica euleriana não terá porém significado descrevermos a geometria
de um qualquer campo de escoamento em term os da configuração das
trajectórias, já que não estaremos a acompanhar a evolução de nenhum corpo
identificável de matéria ao longo da sua trajectória; estarem os sim a estudar a
evolução, num volume de observação fixo no espaço — o volume de controlo
— , das propriedades características do meio fluido, entre elas a sua velocidade.
SEC. 2.1. DESCRIÇÃO DO CAMPO DO ESCOAMEMTO 97

peio que, em cada instante, teremos capacidade para identificar a organização


espacial dos vectores velocidade local e assim traçar a configuração das linhas
instantaneamente tangentes aos vectores velocidade local, as denominadas linhas
de corrente [streamlines]. Segue-se que, no que respeita à configuração
geométrica do campo do escoamento, não mais iremos falar em termos de
trajectórias no presente texto, mas sim em termos de linhas de corrente.
A geometria de um campo de escoamento pode ainda ser descrita em termos
de linhas de emissão ou linhas filam ento [sireaklines], entendidas como o lugar
geométrico dos elementos de fluido que, ao longo do tempo, passaram por um
ponto fixo do espaço; tal corresponde, por exemplo, à configuração que, ao
longo do tempo, assume um filamento de fumo emitido por uma chaminé (fixa
no espaço), de onde advém a designação "linha de emissão" ou "linha
filamento".
Tomemos este caso da pluma [plume] de fumo emitida por uma chaminé
pata, com recurso à Fig. 2.1 [169], bem vincarmos a destrinça entre trajectórias,
linhas de corrente e linhas filamento. No exemplo ilustrado supõe-se que em a),
quando foi emitida a partícula A, o vento 'soprava' paralelamente ao terreno, que
emb), após emissão da partícula B, exibia uma componente descendente e que
em c), instantes depois de ter sido em itida a partícula C, acusava uma
componente ascendente; admite-se que todas estas sucessivas alterações de
direcção do vento incidente tenham ocorrido abruptamente. Na figura estão
traçadas as trajectórias das partículas A, B e C e as sucessivas configurações da
linha filamento; as linhas de corrente serão, por definição, instantaneamente
tangentes aos vectores velocidade: família de rectas paralelas e horizontais em a),
com inclinação negativa em b) e com inclinação positiva em c).

A
vent o

a) b)

--------- Trajectória da partícula A


---------Trajectória da partícula B
---------- L in h a fila m e n to

Fig. 2.1 Trajectórias, linhas de corrente e linhas filamento para a pluma de fumo emitida
por uma chaminé em escoamento de aproximação não-permanente.

Este exemplo ilustra bem que, em bora em escoam ento permanente,


trajectórias, linhas de corrente e linhas filamento coincidam, em escoamento
98 CAP 2 CONCEITOS E EOUAÇdFS fUNHAM!N TAIS

não-perm anente (variavel no tempo) lu n steo d y l todas elas assumen)


configurações distintas. Referir-nos-emos a linhas filamento apenas no último
capitulo quando abordarmos a situação do escoamento periódico associado 3
corpos não-fuselados; ate lã raciocinaremos sempre em termos de escoamentos
permanentes numa óptica eulenana, pelo que sempre nos referiremos j
geometria de um qualquer campo de escoamento em termos da configuração
das linhas de corrente.
Estabeleçamos então, nesta óptica euleriana que temos vindo a advogar, a
forma geral da equação característica de uma qualquer propriedade conservativa
do meio fluido, seja ela massa, quantidade de movimento ou energia.
Apenas dois comentários prévios:
1. Estas leis ou equações de conservação são exactamente designadas por "de
conservação” por contemplarem a propriedade em causa sob todas as suas
múltiplas formas. A título de exemplo consideremos a lei de conservação de
energia — 1* Lei da Termodinâmica, eq. (1.33.a) — dEr = SQ + SW que
estabelece um balanço entre a variação da energia total (interna, cinética e
potencial) dET associada a um dado corpo de matéria com o calor trocado
com 0 corpo SQ e 0 trabalho realizado pelas forças externas actuando sobre
esse corpo õlV. Designaremos por fontes [sources] da propriedade cuja
variação é objecto de análise, os efeitos externos que tendem a alterar a
quantidade da propriedade; no caso do exemplo considerado, calor e
trabalho desempenham o papel de fontes da propriedade energia total.
2. Da interacção de dois corpos de matéria com diferentes valores de uma certa
propriedade, satisfazendo uma lei de conservação, resultam, em geral, efeitos
de transferência da propriedade de um corpo para o outro, de tal modo que
0 corpo exibindo menor valor da propriedade tende a aumentar esse valor à
custa de uma diminuição da quantidade da propriedade no outro; exemplo
típico é 0 fluxo de calor de um corpo a uma dada temperatura para outro a
uma temperatura inferior. Estes efeitos de transferência são conhecidos por
fenómenos de transporte [transport phenomena] e as equações de
conservação, dado que incluem também estes efeitos, são por isso muitas
vezes apelidadas de equações de transporte, designação alternativa que
também utilizaremos. Geralmente reserva-se "conservação" para massa e
utiliza-se "transporte" para quantidade de movimento e energia, 0 que
faremos.
Consideremos então uma propriedade qualquer por unidade de volume T,
digamos, com uma intensidade por unidade de massa y, i.e. F = p y , em que p
é a massa específica; para massa teremos y = l, para quantidade de movimento
será y = U, onde Õ é 0 vector velocidade, e para energia cinética y = 1 U2 com
<M0|. 2 '
SEC. 2 1 DESCRIÇÃO DO CAMPO DO ESCOAMENTO 99

A variação, por unidade de tempo, da quantidade da propriedade contida no


volume de controlo será devida tanto ao fluxo resultante da propriedade através
da superfície de controlo fechada como à acção das fontes da propriedade
actuando no interior do volume de controlo, cuja intensidade por unidade de
massa representaremos por f y — e.g., no caso da propriedade em estudo ser a
quantidade de movimento, f y corresponderá à resultante das forças aplicadas,
pois, de acordo com a 2“ lei de Newton (variação da quantidade de movimento
igual à resultante das forças aplicadas), forças são os entes com capacidade para
alterar o valor da propriedade quantidade de movimento. Podemos exprimir
analiticamente esta lei de conservação por

( 2 . 1)
J , l c PYdV ^ + '

resultando o sinal menos, que afecta o integral de superfície, do facto de se


considerar n como a norm al exterior; de facto, se o fluxo resultante da
propriedade for positivo (para o exterior, de acordo com esta nossa convenção
de sinais para sentido da normal n ), tal significará que 'sai' mais propriedade do
que 'entra', pelo que a quantidade total da propriedade no interior do volume de
controlo (cuja variação é representada pelo primeiro membro da equação supra)
diminuirá, i.e. esse cômputo será negativo, o que requer o sinal menos.
Dado que o volume de controlo é fixo no espaço podemos, no primeiro
membro, permutar os operadores derivada em ordem ao tempo e integração no
volume; transformando ainda o integral de superfície do segundo membro em
integral de volume com base no teorema da divergência de Gauss — Sec. B.4 —
vem:

f f V.(pyÚ)dv + í P f 7ydv, ( 2 - 2)
JVC St JvC V / JVC

onde V (nabla) representa o operador vectorial

aqui escrito em coordenadas cartesianas, sendo êx, êy, êz os versores das


direcções x,y,z.
Para que esta relação integral de conservação da propriedade p y seja válida
independentemente da escolha do volume de controlo arbitrário (eventualmente
elementar) deverá ela mesma verificar-se entre as integrandas, i.e.:

Desenvolvendo e reagrupando termos obtém-se


100 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

■Jy + ^ ± + V .(p ( y J = p f r

A equação de conservação da propriedade massa específica pode ser obtiía


directamente desta relação geral fazendo y = 1; supondo ainda que não existem
fontes de massa — f r = 0, i.e. não estamos nem a criar nem a destruir fluido^
obtém-se:

(2.3)

visto ser j' = const. no tempo e no espaço, do que resulta o anulamento do


primeiro termo do primeiro membro na equação anterior.
Esta equação de conservação da massa ou equação da continuidade será
objecto de análise mais detalhada na secção seguinte.
Concluímos então que, não havendo fontes de massa, o segundo termo do
primeiro membro da equação genérica de con serv ação se anula por
continuidade, pelo que a relação se reduz a

(2.4)

forma diferencial da equação de conservação da propriedade intensiva y na


ausência de fontes de massa. A equação de conservação para a propriedade py
obtém-se directamente da anterior multiplicando ambos os membros pela massa
específica.
É de notar que, de acordo com a descrição de Euler, a variação do valor da
propriedade intensiva y no volume elementar de observação fixo no espaço
figura explicitamente na equação de conservação (2.4) como devida a duas
contribuições distintas:
i) variação ao longo do tempo da propriedade para o escoamento como um
todo: variação temporal representada analiticamente por dy/dt-, quando esta
variação temporal (local) for nula diz-se que o escoam ento é permanente,
querendo-se significar que as características do cam po não evoluem ao
longo do tempo.
ii) mesmo que o escoamento seja permanente, o elem ento de fluido que no
instante considerado passa pela 'janela' de observação, fixa no espaço, pode
acusar uma variação da propriedade em causa pelo facto de se deslocar de
um ponto do campo em que a propriedade tenha um dado valor para outro
ponto em que o valor da propriedade seja diferente. Esta variação,
intrinsecamente associada ao movimento, diz-se convectiva e implica a
existência de uma variação espacial da propriedade no sentido do
escoamento. Sendo, no ponto e no instante de observação, Õ o vector
SEC. 2.1. DESCRIÇÃO DO CAMPO DO ESCOAMENTO 101

velocidade e Vy o vector variação espacial da propriedade, a variação


convectiva virá dada por U .Vy, o que requer que exista não só (velocidade
do) escoamento 0 como variação espacial da propriedade Vy como ainda
que o escoamento se processe transversalmente às superfícies y = const.: de
facto, mesmo que houvesse velocidade 0 do escoamento e variação espacial
da propriedade Vy, se o elemento de fluido se deslocasse ao longo de uma
superfície y constante não 'sentiria' variação da propriedade; a variação
máxima será, naturalmente, registada na direcção normal às superfícies
y= const., do que resulta o operador produto interno no termo
correspondente à variação convectiva.
Representaremos abreviadamente o operador derivada total [total
derivative], soma das derivadas tem poral (local) [time derivative] e convectiva
[convective derivative\ por
D d - „
— = — + 1/.V. (2.5)
Dt dt
Temos até agora utilizado exclusivamente notação vectorial. Dado que a
notação indiciai é também muito comum e uma forma de representação
conveniente em diversas situações, listamos a seguir as principais relações que
referimos escritas de acordo com esta última notação. Em notação indiciai,
índices repetidos envolvem soma nesse índice (notação de Einstein); a título de
exemplo, o operador divergente aplicado ao vector velocidade U(U,V,W)
escreve-se nas duas notações;
dU | dV | dW
diví/ =
dx dy dz
= V.U em notação vectorial
àU: _
=— - em notaçao indiciai.
dxi
Virá então, pela ordem em que as relações foram sendo apresentadas:
Equação integral de conservação da propriedade py (equação do volume de
controlo)

(2.1.a)

(2.2.a)
= ~ L i t : ( p rU J d v + L p f yd v
Equação da continuidade sob forma diferencial

(2.3.a)
102 CAP, 2 CONCEITOS E EQUACÚES FUNDAMENTAIS

- Equação diferencial de conservação da propriedade y


£r ÈL
Dt ávy (2.4,a)

2.2. Conservação da massa; noção de função de corrente


A forma diferencial da equação da continuidade foi já estabelecida na
secção anterior — eqs. (2.3) ou (2.3.a)

Desenvolvendo o divergente e atendendo à equação de definição do


operador derivada total, eq. (2.5), obtém-se a forma alternativa
Dp dUi
~+P = 0. ( 2. 6)
Dt dx.
Em escoamento isotérmico incompressível, para o qual é p (p . T) = const. no
tempo e no espaço, a equação reduz-se a
dU,
0. (2 .7 )
dx.
Vejamos qual o significado físico desta relação. Consideremos um volume
material V que varia no tempo em consequência do movimento de cada
elemento ndS da superfície material limítrofe (sendo n a normal exterior); a
taxa de variação temporal de V será dada por
dV
I U- n, dS = í ^ - d V ,
dt JSM JVM dx

pelo teorema da divergência, e, para um volume material elementar, a taxa


percentual de variação será:
1 dV I r dU, J dUj_
h m --------- = h m — - — dV =
V dt V J vm 0X- 3x, '
Por esta razão, o termo d\Jijd xi é muitas vezes designado por taxa de
dilatação ou tão só, por economia de linguagem mas impropriamente, por
dilatação [dilatation]. A equação da continuidade na forma (2.7) pode assim
ser interpretada como uma simples declaração de que a taxa de dilatação de um
volume material elementar é nula em escoamento a p constante.
Quanto à forma integral da equação da continuidade, ela pode, como já
referimos, ser obtida directamente de (2.1.a), p.ex., fazendo y ~ 1. Supondo
serem nulas as fontes de massa e particularizando para escoamento permanente
vem, conforme já assinalado na Sec. 1.2 — eq.(1.14.b) :
SEC. 2.2. CONSERVAÇÃO DA MASSA 103

I p U ,n l d S = i) (2.8)
Jsc 11

A finalizar esta su b -secçã o exp lorem os a forma diferencial da equação da


continuidade para escoam ento bi-d im en sion al incom pressível — eq. (2.7):
dU âV „
& +l T *
de modo a introduzirmos a noção do escalar função de corrente [stream
function] y , cuja importância imediatamente assinalaremos.
Para tal reescrevamos esta equação como:
d U _ a (-V ')
dx dy
interpretando a relação supra em termos da condição necessária e suficiente de
existência de uma diferencial exacta, relembrada no Apêndice B, Sec. B.I., e
fazendo a correspondência com a nomenclatura utilizada no referido apêndice:
YoU ; X o -V
imediatamente concluímos que a equação da continuidade na forma acima
indicada pode ser interpretada como estabelecendo a condição necessária e
suficiente de existência de uma diferencial exacta d y tal que:
dy d y
dy = — dx + ——dy = (-V ) dx + U dy
dx dy
de onde:
[U = dy/dy
[v=-dy/dx. (2,9)
Notamos já uma grande vantagem de trabalhar em termos de *P, em vez de
em termos de U(U,V), para descrever as características cinemáticas de um
campo de escoamento bi-dimensional incompressível: o problema reduz-se de
duas incógnitas — componentes U e V do vector U — a uma incógnita — o
escalar y .
Qual a configuração das linhas y = const. (ou d y = 0) ?
Impondo então:
dy=-Vdx + Udy = 0
de onde
dx dy
H~~v’
condição de paralelismo entre os vectores ds(dx,dy) e U(U, V), imediatamente
concluímos que as curvas y = const. coincidem com as linhas de corrente
104 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

(fa m ília d e c u rv a s ta n g e n te s a o s v e c t o r e s v e l o c i d a d e ) , o q u e c o n d u z
d e sig n a ç ã o d e "fu n ção d e c o rre n te " p a ra *f'. UZ ^
S e n d o T = c o n st. p a ra c a d a lin h a d e c o r r e n t e ( i .e . c o r r e s p o n d e n d o a uma
d a d a lin h a d e c o rre n te u m v a lo r c o n s ta n te f ' = *#/0 e s e n d o o u t r a lin h a de
c o r re n te id e n tif ic a d a p o r o u tr o v a lo r c o n s t a n t e + A ' F , d ig am o s)
p e rg u n ta -se q u a l o s ig n ific a d o fís ic o d o a c r é s c im o d e (A xíJ) d e lin h a de
c o rre n te p a ra lin h a d e c o rre n te ?
C o n s id e re m o s a s itu a ç ã o tip if ic a d a n a F ig . 2 .2 o n d e e s t á a s s in a la d a uma
lin h a d e c o r re n te c a r a c te r iz a d a p o r u m d a d o v a l o r *P0 e u m a o u tr a a que
c o rre sp o n d e o v a lo r * P = ’f/0 + d f / . O a c r é s c im o d e u m a l in h a d e corrente
p a ra a o u tra p o d e s e r e x p r e s s o c o m o o i n t e g r a l d e d*F a o l o n g o d e um

F ig . 2 . 2 Configuração de escoamento para interpretação do sig n ificad o físico de A Y -

q u a lq u e r tra je c to u n in d o u m p o n to A s o b r e a l in h a d e c o r r e n t e *^o a ura


p o n to B so b re a lin h a d e c o rre n te = xf/0 + A*F:

A 'r = j\ t 'r = Ç - V d x + Udy.

O ra , d e

U = Uêx + Vêy ede

ds =dx ex + dy ey, d e o n d e dn-dyex -d x ey


c o n clu ím o s q u e

-Vdx + Udy- Ú. dn
p e lo q u e

[B U.dh,
*a

o q u e c o r re s p o n d e a o c a u d a l ( v o lu m é tr ic o ) e s c o a d o a t r a v é s d a se c ç ã o
passagem A B .
D o a n te r io r m e n te e x p o s to im e d ia ta m e n te r e s s a l t a o g r a n d e in te re s s e
d e s c r e v e r m o s o c o m p o r ta m e n to d e u m q u a lq u e r c a m p o d e e s c o a m e n to
d i m e n s i o n a l in c o m p r e s s ív e l e m te rm o s d a f u n ç ã o d e c o r r e n t e 'íJ\ c o n h ec i
e v o l u ç ã o e s p a c i a l o u f o r m a a n a lític a d o e s c a l a r *F, n ã o s ó o cam p
SEC. 2.2. CONSERVAÇÃO DA MASSA 105

velocidades fica definido, diferenciando convenientem ente T em ordem às


coordenadas espaciais ( U = d 'i//d y , V = —d T / d x), com o a geo m etria do
escoamento fica descrita em term o s das lin h a s de corren te 'V = const.,
correspondendo o acréscimo de T de linha de corrente para linha de corrente
ao caudal (volumétrico) escoado no tubo de corrente [stream tube] — feixe de
linhas de corrente — delim itado por essas linhas de corrente.
Tendo a noção de *P surgido através da condição necessária e suficiente de
existência de uma diferencial exacta d T e tendo apenas significado físico o
acréscimo do valor de T de u m a lin h a de co rren te para outra, tam bém
concluímos que *P será sem pre definido a m enos de um a constante aditiva
perfeitamente arbitrária, im plicando que, con soante a física do escoamento que
estivermos a tratar, poderemos sem pre alocar o valor ¥ ' - T nf ( V7 = 0 ?) à linha
decorrente que pretenderm os — p.ex. f / = 0 para um a linha de corrente de
estagnação ou de simetria.
É ainda fundamental definirm os quando o acréscim o do valor numérico de
f de uma Unha de corrente para outra é considerado positivo ou negativo, o
que requer o estabelecimento de um a convenção de sinais; p.ex. referindo-nos à
Fig. 2.2, porquê termos rodado d s no sentido horário para obterm os d n , do
que resultou um A T > 0 , e não term os ro d ad o d s no sentido directo (anti-
horário) do que resu ltaria um A T < 0 , e m b o ra o v alo r absoluto |^*Pj
correspondesse sempre ao caudal (volum étrico) escoado no tubo de corrente?
Estabelece-se assim a seguin te convenção d e sinais: o acréscim o de T é
considerado positivo se, 'o lh an d o 1 no sentido de integração, o escoam ento se
processar da esquerda p ara a d ireita. D aqui resu lta, p.ex. para a configuração
simétrica de escoamento rep ortada na F ig. 2.3, a natural configuração simétrica
dos valores numéricos assignados a T .

Fig. 2.3 Escoamento de fluido perfeito em tom o de um cilindro circular


e correspondentes valores de ‘F .

Numa situação bi-dim ensional axi-sim étrica obteríam os, para relação entre
V — a denominada função de corrente de Stokes — e as componentes de V :
* em coordenadas cilíndricas polares
1dT
(2 .1 0 .a)
r dx
106 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

• em coordenadas esféricas

U - .1 v = ____ ( 2 .10.b)
* f?2sen 6 dô ’ e R sen O dR
Notamos, a finalizar, que esta noção de ¥', se bem que perfeitamente
aplicável, é pouco interessante em situações de:
i) escoamento compressível permanente, em que a equação da continuidade
reveste a forma div (p t/j = 0 em vez de div £/ = 0;
ii) escoamento tri-dimensional (incompressível ou compressível permanente)
onde a cada valor f ' = const. corresponde uma superfície de corrente,
resultando a configuração do escoamento, em termos de linhas de corrente,
da intersecção de duas superfícies de corrente •— em bi-dimensional
cartesiano uma das superfícies de corrente é o próprio plano do escoamento
z = const.

2.3. Transporte da quantidade de movimento;


equação de Navier-Stokes
A equação de transporte da quantidade de movimento — T lei de Newton
— relaciona a taxa de variação da quantidade de movimento de um corpo
material com a resultante das forças aplicadas sobre esse corpo. Numa óptica
euleriana esta lei será descrita analiticamente sob forma diferencial por uma
equação do tipo (2.4); dado que a quantidade de m ovim ento é um ente
vectorial, esta equação desdobrar-se-á nas equações de transporte dos escalares
componentes da quantidade de movimento segundo as direcções do referencial
em questão.
Analisemos a forma do termo fonte que envolve a resultante das forças
mássicas e das forças de superfície (esforços norm ais e tangenciais).
Convencionaremos designar por a it um elemento genérico do tensor das
tensões [stress tensor], representando a componente segundo a direcção i da
força por unidade de superfície exercida numa face plana do elemento de fluido
orientada normalmente à direcção j. Com base na Fig. 2.4, em que estão
representadas, a título meramente exemplificativo, as componentes segundo

dx2

pdx2dx3 dp . dx2dx 3
*2 " 'S T * '

(*3)
Fig. 2.4 Forças elementares actuantes num corpo paralelipipédico de fluido real.
SEC. 2.3. TRANSPORTE DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO 107

a direcção 1 das forças actuantes nas faces normais à dirccção 2 de um elemento


paralelipipédico de fluido de volume dxl dx2dxi , concluímos que a componente
segundo a direcção 1 da resultante das forças de superfície em causa por
unidade de volume virá dada por

generalizando este resultado im ediatam ente obtemos para a componente i da


força de superfície resultante por unidade de volume: d a y /d x j.
Mas, qual a forma geral do tensor das tensões a tjl em particular, como é
que ff,; está relacionado com o campo de velocidades? Se estivéssemos numa
situação de fluido em repouso, os únicos esforços actuantes seriam esforços
normais de pressão (entendida no sentido termodinâmico como uma tensão de
compressão) e o ;j seria apenas descrito por = —p 8^, onde 8t] é o tensor de
Kronecker (*). Para fluidos em movimento não há qualquer razão para supor
que uma relação deste tipo continue a ser válida. Havendo contudo
conveniência, do ponto de vista formal, em definir uma quantidade escalar de
algum modo análoga à pressão 'estática' (isotrópica) reinante em fluido em
repouso, decomponhamos <7^ num term o isotrópico (de simetria esférica) e
num outro representando o desvio do cam po de tensões em relação à situação
de simetria esférica e intrinsecam ente associado ao movimento, isto é, para
fluido em movimento, escrevamos <y,j como

Oí = - p 8 t + Tg ( 2 . 11)

onde a pressão estática p é agora entendida como a média dos esforços normais
tomada com sinal menos

P = -Ciil 3
e %jj representa o desvio do campo de tensões, induzido pelo movimento, em
relação à situação isotrópica de fluido em repouso, e é por isso designado tensor
desviador das tensões [deviatoric stress tensor].
E de notar já duas propriedades importantes do tensor :
1. Sendo a média das tensões normais [normal stresses] (tomada com sinal
menos) igual à pressão estática, deverá ter traço ($) nulo, i.e.
ru = T,, + t22 + t33 = O, significando que, devido ao movimento, algumas das
tensões normais poderão acusar desvios num sentido e outras noutro sentido,
em relação à média, mas que o côm puto global destes desvios individuais
deverá ser nulo.

^ íji = 1 para / = j e 8 tj — 0 para i r- j


($) Traço de um tensor: soma dos elementos da diagonal principal
108 CAP 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

2. O tensor é simétrico, o que podemos verificar na situação simples ilustra^


na Fig. 2.5 de um corpo de fluido livre de rodar em torno do eixo jc3tp^
exemplo, por acção dos momentos produzidos pelas tensões de corte
srresses) Tu e z\, — as tensões normais não produzirão momento
relativamente ao eixo de rotação.
O momento em torno do eixo x 3 virá dado por:

A/3= —( r I2<S*, <5* 3) <5*2 + ( r 2l S x 2 S x $ )õ x x = ( t 2, — t 12)<5 v

pelo que o momento resultante por unidade de volume virá


M i/ 5 v — r 2, —r,2.

Fig. 2.5 Campo de tensões imprimindo rotação a um elemento de fluido.

Ora, dado que a variação do momento angular é igual à resultante dos


momentos aplicados, se, no caso vertente, o momento resultante não fosse
nulo, a aceleração angular dQy^jdt seria não nula, o que implicaria que a
velocidade angular fosse continuamente aum entando (em módulo)! Deste
absurdo concluímos que o momento resultante deverá ser nulo, o que requer
T\2 = T 2 i ou’ generalizando, r ij = Tjl, isto é, que o tensor desviador das
tensões seja sim étrico, reg istan d o assim apenas 6 componentes
independentes de um total de 9 numa situação tri-dimensional.

Tentemos então exprimir ty em função do campo de velocidades.


Comecemos por raciocinar em term os do caso uni-dimensional da
experiência de Stokes para um fluido newtoniano, referido na Sec. 1.3., em que
r = pdU/dy apenas — eq. (1.20) — , onde /t é a viscosidade dinâmica e
devendo agora este T ser interpretado com o um t 12. É de notar, porém, que,
num referencial em translação solidário com um corpo de fluido, a evolução de
forma desse elemento de fluido pode ser decom posta num a rotação (como
corpo sólido, i.e. sem deformação) e numa d e fo rm a ç ã o [strain] (sem rotação),
como ilustrado na Fig. 2.6 para o caso vertente de co rte p u ro [simple shear].
Interpretando os acréscimos das com ponentes de velocidade referidos na
Fig. 2.7 SU = (dU/dy) 8 y e 8V - (dV /dx) Ôx, por analogia com a relação
v - m r aplicável a rotação sólida, im ediatam ente concluím os que dU/èy c
SEC. 2.3. TRANSPORTE DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO 109

deform ação
(sem rotação)

Fig. 2.6 Decomposição da alteração de forma de um elemento de fluido


em rotação (sem deformação) e deformação (sem rotação).

dV/dx têm o significado de velocidades angulares dos segmentos do contorno


do elemento de fluido inicialmente coincidentes com as direcções do nosso
referencial.
Arbitrando o sentido directo como sentido positivo para estas velocidades
angulares, a velocidade angular média dos dois segmentos inicialmente
perpendiculares, com o significado de velocidade angular do elemento de fluido
como corpo sólido, escrever-se-á então

3V
( 2 . 12)
dx

Fig. 2 .7 Interpretação de acréscimos de velocidades lineares


em termos de velocidades angulares.

A maneira de explicitarm os em dU /dy os efeitos de rotação e de


deformação será escrever dU jdy como:

dy ^ \d y dx J 2 $y j
rotação deformação
(sem deformação) (sem rotação)

Escrevamos esta relação em notação indiciai para depois, com facilidade,


generalizarmos os resultados para o caso tri-dimensional:
110 CAP.2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTA IS

dUl
dx2 I 2 [ dx2 <2v, J 2 ( <?r2 <?*, JJ
rotação deformação
(anti-simétrico) (simétrico)

Mas é de notar, fisicamente, que a rotação não contribui para induzir tensões
de corte; estas estão só associadas à (taxa de) deformação, pelo que o termo
referente a rotação não deverá figurar na relação para r l2. À mesma conclusão
poderíamos ter chegado por via formal, notando que o requisito de que o tensor
das tensões seja simétrico ( r l2 = t2I ) não é compatível com a existência de uma
parcela anti-simétrica.
Assim, rl2 dever-se-á reduzir à segunda contribuição:

1 ( dU, dU2V
*12=1!
2 ( dx2 + <&i j . '
Porém, para que esta relação degenere em r = tid U /d y no caso uni­
dimensional em que U -U (y) só e V = 0, precisaremos entender íj2 como
valor duplo do acima apresentado, i.e.:

'du_I | du2'
712 ~i1
>2 dxl y '
Em tri-dimensional verifica-se que, para fluidos isotrópicos newtonianos, a
relação constitutiva continua a ser do tipo da anteriormente apresentada, pelo
que generalizando o resultado acabado de obter para tri-dimensional
poderemos escrever

hi HL] (2.13.a)
dxi ,

Há, porém, uma propriedade do tensor desviador das tensões que ainda não
verificámos se é ou não satisfeita: a de que deve apresentar traço nulo. Ora,
operando uma contracção do tensor desviador das tensões na forma acima
referida, i.e. fazendo i = j na eq. (2.13.a), obtemos:
dU,
7« = 2 li
dx,
valor este que se anula, por conservação de massa, em escoamento
incompressível — equação da continuidade (2.7): dUJdx-, = 0 — mas que é
diferente de zero em escoamento compressível devido à dilatação dos elementos
de fluido. Esta contribuição para o campo de tensões em escoamento
compressível, associada ao movimento molecular induzido pela dilatação dos
SEC. 2.3. TRANSPORTE DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO 111

elementos de fluido, é de prever seja apenas responsável pela geração de tensões


normais. Para que r fJ contraia a zero, e admitindo que o efeito se reparte
igualmente pelas 3 direcções do espaço, haverá então necessidade de, a cada um
dos termos de tensões normais, subtrair 1/3 do efeito (*), o que finalmente
conduz à seguinte relação geral para t y :

j dU, t dU j'
- 1 ^ 6 .. ( 2 . 1 3 .b )
dx, 3 d x t "J

0 termo do^jdx. de força de superfície resultante por unidade de volume,


que figura na equação de transporte da quantidade de movimento, assumirá
assim a forma:

dU, dU,
“ - — (- P â y + T#) = ~ | - P S V + /i — L+ — L - l O L s
dxj dxj d xj dx. 3 dXk ô<

e admitindo p - p ( T ) = const.:

d 2U, d 2U dU,
d p +u
dx, dx2 dx, dXj \ dxk

\ d 2U, t d í dU± (2 .1 4 )
dp +U
dx, P dx2 3 d x. ^ dx.

Obtemos finalmente, para equação diferencial de transporte da quantidade


de movimento de fluidos isotrópicos newtonianos em condições de temperatura
constante — equação de Navier-Stokes

E L ^ +UM 1 dp \ d 2U, , d í ^ j l
---- - T - + V +fi
Dt dt ’ dxj P dx, d x2 3 dx, l * * J.

em que v = p /p é a viscosidade cinemática e / , a componente da força mássica


por unidade de massa segundo a direcção i.
No caso particular de escoam entos a p ro pried ad es constantes [constant
property flows] — escoamentos isotérmicos incompressíveis: p (p ,T ) e p (T )
constantes — esta equação degenera em:

E i M l +u M 1 dp
+ (2 .1 5 .3 )
Dt dt 1 dxj P dx,
ou, em notação vectorial:

(*) Esta questão será mais pormenorizadamente apreciada em Nota no fun da presente secção.
112 CAP.2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

DU dV - - 1 _
— = - ^ + U.VU = - - V p + v V 2U + f (2.15,b)

onde V2 representa o operador Iaplaciano.


Analisemos o significado físico de cada um dos termos da equação de
transporte da quantidade de movimento.
O primeiro membro, tal como referido na Sec. 2.1., representa a variação
total da quantidade de movimento por unidade de massa (aceleração) de um
elemento de fluido, efeito para que contribuem tanto a variação, ao longo do
tempo, do escoamento como um todo (variação temporal) como a variação
convectiva, associada ao transporte do elemento de fluido de um ponto do
espaço para outro em que a velocidade seja diferente.
No segundo membro figuram as forças aplicadas sobre o elemento de
fluido, fontes de quantidade de movimento: forças mássicas — último termo —
e forças de superfície. Nestas últimas explicitámos a contribuição invíscida
(independentemente da viscosidade) do gradiente de pressão estática —
primeiro termo — e a contribuição viscosa — segundo termo.
0 efeito do gradiente de pressão é de interpretação imediata: conforme
assinalado na Fig. 2.4, e primeiro discutido na Sec. 1.2. com referência à Fig.
1.11 -b), um gradiente favorável (dp/dxx< 0) produz um acréscimo de
velocidade dos elementos de fluido — mais propriamente, da sua quantidade de
movimento por unidade de massa m í//m — e, inversamente, um gradiente
adverso induz uma diminuição de velocidade.
O efeito do termo viscoso
1 dxu _ v d 2V,
p dxj dxj
foi também já sobejamente apreciado na Sec. 1.3., onde a foi atribuído o
significado de fluxo difusivo da quantidade de movimento e a dXy/dxj o
significado de transporte difusivo da quantidade de movimento. Os análogos
em condução de calor em meios isotrópicos estacionários são, respectivamente, a
relação entre fluxo de calor e campo de temperaturas, dada pela lei de Fourier
q = - K VT,
onde K é a condutibilidade térmica (*), e a equação de condução

(*) Por analogia com o caso de condução de calor exemplificado, alguns autores — e.g. [131 —
preferem definir como o simétrico da relação (2.13.a), i.e.
T if = - M [d V i/d x j + d U jld x , )
exactamente para realçar que este fluxo de quantidade de movimento se processa dos níveis de
maior para os de menor valor da propriedade, assim em sentido contrário ao do gradiente. Não
invertendo a física do processo, continuaremos porém a usar a nomenclatura assinalada a“
corpo do texto, por ser a mais usual.
SEC. 2.3. TRANSPORTE DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO 113

— =k v2r
dl
em que k = K/pcp é a difusividade térmica, sendo cp o calor específico a
pressão constante.
Dado que o termo de transporte difusivo d z jjjdxj envolve uma contracção
do tensor concluímos, por aplicação do teorema da divergência a uma
superfície fechada através da qual o fluxo da quantidade de movimento seja
nulo, que este termo não altera o valor global da quantidade de movimento no
volume encerrado pela superfície, operando tão só uma redistribuição dessa
quantidade de movimento. Assim , de aqui em diante imediatamente
associaremos um significado redistributivo de transporte difusivo a um qualquer
novo termo da forma do que agora interpretámos, envolvendo uma contracção.
Finalmente no que respeita ao termo de forças mássicas, supondo que este
efeito resulta exclusivamente da acção do campo gravítico, caso em que a força
mássica por unidade de massa é igual à intensidade do campo / = £, aceleração
da gravidade, e em que o potencial gravítico se escreve <l>= - g . x = gh, onde h
representa altura em relação a uma cota arbitrária, pelo que a força mássica por
unidade de massa vem dada por

f = -V(j> = - V g h ,

obtém-se, agrupando os dois termos gradiente na equação de transporte da


quantidade de movimento (2.15.b)

DÚ 1 . , ,-
-j^- = — V ( p + p g h ) + v V 2U .

Também desta equação se conclui que, em fluido em repouso 0 = 0, a relação


de equilíbrio se red u z a V ( p + p g h ) = 0 , que integrada produz
p+pgh = const., = p0, digamos, com p0 = (p ) — equação da estática (1.9.a)
—pelo que, para o escoamento, contribuem só os desvios da pressão em relação
à pressão hidrostática; assim , escolhendo como pressão de referência a
hidrostática local, os efeitos gravíticos deixarão de figurar explicitamente na
equação de transporte da quantidade de movimento, que tomará a forma
abreviada

— = — + Ú.VÚ = - - V p + v V 2Ú. (2.16.a)


Dt dt p
Desenvolvendo o termo convectivo, de acordo com a igualdade vectorial

(ãv)t/=v(Ií/2)-t/x(vxi7),
114 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

a equação do movimento escrever-se-á na forma alternativa, que também


utilizaremos,

~ ~ Õ x Õ = - - V p T + v V 2U, (2.16.b)
dt p
em que o vector

£2= VxU (2.17)


i 2
se designa por vorticidade [vorticity] e p T = p + ^ p U representa a pressão
total — eq. (1.11). Analisaremos, na Sec. 3.1., o significado deste novo
parâmetro "vorticidade".
Formas simplificadas da equação de N avier-Stokes para escoamento a
propriedades constantes (2.16) podem ser obtidas supondo que o fluído se
comporta como perfeito e ainda que o escoamento é permanente.
Em condições de fluido perfeito ( v = 0) o termo de transporte difusivo de
quantidade de movimento anula-se, independentemente da forma do perfil de
velocidades, e a equação do movimento reduz-se a

— s — +Õ.VÚ = - - V p (2.18.a)
Dt dt p
ou

~ - U x £ 2 =- - V p r , (2.18.b)
dt p
relação conhecida por equação de Euler.
Se ainda o escoamento for permanente, esta equação degenera em

VpT = p Õ x Õ , (2.19)

Para referência futura apresentam-se, no A pêndice C, as equações da


continuidade e de Navier-Stokes, no caso particular de escoamento a
propriedades constantes, escritas por extenso em coordenadas cartesianas,
cilíndricas e esféricas.
Depois de termos estabelecido a forma diferencial da equação de transporte
da quantidade de movimento e analisado o significado físico dos seus diferentes
termos, ocupemo-nos da forma integral desta equação. Embora a avaliação da
maioria das situações que ocorrem em mecânica dos fluidos requeira a
utilização das equações do movimento sob forma diferencial, casos há em que
um balanço global de quantidade de movimento para um volume de controlo é
suficiente para nos fornecer a informação desejada; nestes casos, a utilização da
equação integral será preferível por conduzir muito mais simples e rapidamente
à solução do problema. Na Sec. 2.6. apresentaremos diversos exemplos de
SEC. 2.3. TRANSPORTE DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO 115

aplicação deste método do volume de controlo; por agora limitar-nos-emos a


estabelecer a equação que o rege.
A equação de balanço de uma qualquer propriedade p y (por unidade de
volume) aplicada a um volume de controlo foi já obtida na Sec. 2.1.: eq.
(2.1.a). No caso particular da propriedade a transportar ser a quantidade de
movimento por unidade de volume será y = Ui e a equação integral de
conservação escrever-se-á

f Ík E à d v = ^ i pU ,U ,n, dS + í p f u dv
Jvc dt JscK ' 11 Jv c yJui
em que f u. representa a intensidade das fontes de quantidade de movimento
por unidade de massa.
Usando para estas fontes por unidade de volume a anterior forma

dp |
Pfu, =
dXj dXj dxj

e admitindo que o escoamento é permanente e que o termo de forças mássicas


está englobado no de pressões estáticas, para o que se escolheu como pressão de
referência a hidrostática local, obtém-se, com recurso às relações integrais
envolvendo operadores vectoriais relembradas na Sec. B.4:

| pUl U,nj d S = \ - ~ d V + \ dV
Jscr 11 Jvc dx, Jvc dxj

= <£ - p n ,d S + í Tnn,dS. ( 2 .20)


Jsc Jsc 1 1
Esta relação é muitas vezes designada por teorem a da quantidade de
movimento, e estabelece que o fluxo convectivo da quantidade de movimento
para o exterior do volume de controlo é igual à soma (vectorial) das forças de
contacto — de natureza invíscida e viscosa — exercidas sobre a superfície de
controlo pela matéria circundante. Revela esta equação que para o
estabelecimento de um balanço global de quantidade de movimento a um dado
volume de controlo apenas é necessário atender a ocorrências na fronteira desse
volume, não se requerendo informação quanto a eventualmente delicados e
complexos processos físicos desenrolando-se no seio do volume de controlo.

Nota: Considerações sobre a forma geral de para


escoamento isotérmico compressível

A eq. (2.13.b) estabelece a relação constitutiva para um fluido isotrópico,


newtoniano, compressível, como:
11 6 CAP. 2 CONCEITOS E EGUAÇflES F U N D A M tN IA IS

Em escoam ento b i-d im en sio n al, as trê s c o m p o n e n te s de


tensà0
escrevem-se assim: <10‘i■Dl

dU x { (dU x d l/,] .. dU,


= 0.

dU ^
?22 ~ 2t*
dx. \d x x dx2 (2.21,

r dU. dU 2 ^
h i = 2M - 1+ 2
d xx dx2 yj

O traço Ttí é nulo, como requerido:

ÊHi + * h - . l ( M ± + d u * =0.
^11 "*■^22 ^33 —2f^
dx, dx *1 d x x dx
2
r 33, em bora não nulo, não co n trib u i p a ra o m o v im e n to , anulando-se a
respectiva contribuição em N avier-Stokes:
\
^ r 33 _
dx-,
2 ii d [ dU x
3 gx
dU2
= - i3f ^l ’ d ' dux\ d ( = 0,
dxx dx2 dx | ç d x 3 j d x 2 [ ãx3 j
y
pois, em bi-dim ensional, nem Ux nem U2 variam co m x 3.
D iferentes resu ltad o s seriam obtidos se, lo g o n a fa se d e construção da
relação co nstitutiva p ara x ijy tivéssem os p a rtic u la riz a d o p ara escoamento bi-
dim ensional.
A rgum entámos anteriorm ente, adm itindo que o efeito da dilatação de um
elemento de fluido ao p ro d uzir tensões n orm ais v isc o sas se deveria repartir
igualmente pelas 3 direcções do espaço, que a cad a um dos term os da diagonal
principal de x xj haveria que subtrair 1/3 deste efe ito , i.e. 1/3 {dUk/dxl ). Por
analogia poderíamos ser levados a pensar que, em bi-dim ensional, o efeito da
dilatação se devesse repartir igualm ente apenas pelas 2 direcções do plano do
escoamento, pelo que a Tn e t 22 haveria que su b trair 1/2 do efeito total, i.e.
\/2 (d U k/ d x k); obteríamos então:
SEC. 2A TRANSPORTE OA ENERGIA MECÂNICA 117

e para as com ponentes de ten sõ es no rm ais:

1.. O 3.. (2 .2 1 .b)

t33 s 0 , c o m o p o r h ip ó te s e .

Mais uma vez o req u isito r (í = O seria satisfeito e a contribuição de T}3 não
figuraria em N avier-S tokes, até p ela razão adicional de ser r 33 = 0. Porém, não
só as relações (2 ,2 1 .a) e (2.21 .b) p ara cada um a das componentes de tensões
normais viriam d iferentes com o agora todo o efeito da dilatação desapareceria
de Navier-Stokes:

apenas.

Estes últimos resultados e o raciocínio que a eles conduziu estão obviamente


incorrectos (!) e serviram apenas para ilustrar que, sendo o universo tri­
dimensional, uma situação bi-dimensional não é um caso em si mas apenas um
caso particular do caso geral obtido quando for nula a variação do campo
cinemático segundo uma qualquer direcção — por conveniência tomada normal
ao plano do escoamento, na situação cartesiana escolhida para exemplificação.

2.4. Transporte da energia mecânica; equação de Bernoulli;


noção de potencial de velocidades
Dado que a variação de energia cinética de um elemento de fluido é igual ao
trabalho das forças de volume e de superfície actuando sobre esse elemento e
que dispomos já da equação de transporte da quantidade de movimento, a via
mais expedita para obter a equação de transporte da energia cinética, no caso de
escoamento a propriedades constantes, será operar o produto interno da eq.
(2.16.a) pelo vector velocidade:
»18 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

Dt dt 1 dxj p dx, dx)


Manipulação dos diferentes termos para obtenção da equação de transporte
da energia cinética por unidade de massa na form a habitual é imediata.
Concretamente:

u .S !L =£ j t u U \ . S &
' Dt dM ' D Dt
onde (J representa o módulo do vector velocidade, i.e. U2 = U, U,

= p atendendo à regra de derivação de um produto


dx, dx, dx.

(pU,) só, por continuidade: d U J d x , = 0, eq. (2.7)


dx,

' dx) ' dxj { dXj j dxj { ' dxj J dXj dxj

*? (
obtendo-se:

D(íT2/2) _ d(u2/ 2) d(u2/ 2 )


Dt dt J dxj

O significado físico de alguns dos term os que figuram nesta equação pode
ser directam ente obtido por analogia com term os form alm ente análogos da
equação do movimento. Assim, os dois term os do prim eiro membro da eq.
(2.22) referem, respectivam ente, a variação tem poral (local) e o transporte
convectivo (*) de energia cinética, enquanto que os dois primeiros termos do
segundo membro, envolvendo 'divergências', representam uma redistribuição de
energia cinética devido ao trabalho das forças de superfície de natureza invíscida
— primeiro termo — e viscosa — segundo term o. Q uanto ao último termo,
dado que envolve um quadrado e está afectad o de um sinal menos é
essencialmente negativo, actuando, portanto, como um poço de energia cinética;

(*) A convecção de energia cinética é usualmente designada ad vecção [ a d v e c tio n ] .


SEC. 2.4. TRANSPORTE DA ENERGIA MECÂNICA 119

este termo representa, assim, a taxa de dissipação [dissipation rateJ de energia


cinética (*). Notamos que o termo dissipativo não contribui para a taxa de
variação da energia total, pois desempenhando um papel de poço de energia
cinética actuará simultaneamente como uma fonte de energia interna.
Sendo o campo de pressões permanente, podemos agrupar na eq. (2.22) o
respectivo termo redistributivo com o de variação total de energia cinética.
Supondo condições de fluido perfeito obtemos então:

Integração desta equação segundo o movimento, ou segundo uma linha de


corrente, pois que sendo o campo de pressões permanente o de velocidades em
geral também o será, conduz à equação de Bernoulli (1.7):
I 2
pT= p + j p U =const. ao longo de uma linha de corrente (2.23.a)
ou
pT= p + ^ p í / 2 +pg/i = const., (2.23.b)

o que mais uma vez reforça o significado desta relação como uma equação de
conservação da energia mecânica em condições de escoamento permanente,
incompressível de fluido perfeito.
Dizendo a eq. (2.23) respeito à evolução da pressão total ao longo de uma
linha de corrente, ela poderia também ter sido obtida a partir da eq. (2.19), que
nos fornece, num dado ponto, o valor do vector variação espacial de p T. A
variação segundo a direcção da linha de corrente será então dada pelo produto
interno de VpT com o versor da linha de corrente ês :

VpT.êJ = pÚx£2.ês = 0 ,

quantidade identicamente nula já que o segundo membro envolve um produto


misto com dois vectores paralelos — Ú e ês — , de onde:
pT = const. ao longo de uma linha de corrente.

A pressão total será constante para todo o campo do escoamento, e não só


ao longo de uma linha de corrente, quando o vector U x Q que figura no
segundo membro de (2.19) for nulo, o que se verificará numa das três seguintes
situações:
i) 0= 0, fluido em repouso
ii) (2 = 0, escoamento irrotacional [irrotational], assim designado por ser (2,
o rotacional da velocidade, nulo neste caso

17 A dissipação é muitas vezes associada a um termo formalmente diferente do aqui apresentado;


esta questão é discutida em Nota no fim da presente secção.
120 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

iii) U e Q paralelos, situações conhecidas por escoam entos de Beltrami


que apresentaremos um exemplo importante no Cap. 10.
Os escoamentos irrotacionais são também muitas vezes designados ^
po ten ciais [potential], pois que sendo LI = rot0 - 0 , atendendo à identida(j;
vectorial rotgrad 0 = 0, se pode escrever Ú como o gradiente de uma funçã0
escalar
U =V 0 , (2.24)
o potencial de velocidades (*).
Em escoamento bi-dimensional este conceito de potencial de velocidades 0
é muitas vezes apresentado de forma análoga à utilizada na Sec. 2.2. pari
introduzir a noção de função de corrente i.e. encarando a condição fc
irrotacionalidade

ê> ‘t
d dV_ d u \_ „
1
1

í2= V x£/ = 1—
dx dy
0
dx
(2.25)
\u V 0

de onde
dV_dU_
dx dy
como estabelecendo a condição necessária e suficiente de existência de uma
diferencial exacta d& tal que
d@ d&
d<P = ——d*: + - — dy = Udx + Vdy
dx dy

[U = d 0 /à x
(2.26)
[v = d4>/dy.
Nesta dedução, a relação acima referida para d<P foi estabelecida, à
semelhança do anteriormente praticado para d*F, através da correspondência
X o U ; Y o V
com a notação utilizada no Apêndice B, Sec. B .l.

A lgu ns au to res — e .g . [1 1 5 ] — , s e g u in d o a c o n v e n ç ã o u s u a lm e n te a d o p tad a em físi«


m atem ática para ca m p o s v e c to ria is d e riv a d o s d e f u n ç õ e s p o te n c ia is , estab elecem a relação
entre V e <S> com o U ~ - V 0 , s e m e lh a n te m e n te a o q u e f iz e m o s n a a n te rio r secção p au 0
p o te n cial g rav ítico . D ad o q u e n o p re s e n te c a s o n ã o h á lu g a r a in te r p r e ta r 0 como un»
en erg ia p o te n cial, u tiliz arem o s a n o m e n c la tu ra e x p r e s s a p o r (2 .2 4 ) p o r s e r a m ais usual"
e.g. [8, 12, 46, 7 4 , 86, 133] — e de e s c rita m a is s im p le s .
SEC. 2,4. TRANSPORTE DA ENERGIA MECÂNICA 121

Notamos porém que, neste caso, não temos qualquer necessidade de


particularizar para bi-dimensional um resultado directamente obtenível para três
dimensões a partir da simples identidade vectorial rotgrad = 0.
Sendo 0 designado potencial de velocidades, as superfícies (em 3D) ou
linhas (em 2D) 0 = const. têm naturalmente a designação de equipotenciais
[equipotential].
Tal como fizemos para 0 , analisemos o significado físico do acréscimo de
0 (A0) de uma equipotencial <P0 = const. para outra a que corresponda um
outro valor 0 O+ A 0 = const., para tal integrando d 0 ao longo de um qualquer
trajecto entre um ponto A sobre a primeira equipotencial e um ponto B na
segunda equipotencial. Virá:

A0 = = Ç^Udx + Vdy = Ú.ds

sendo ds(dx,dy) um elemento do trajecto AB.


Ora define-se circulação [circulation] de velocidade F ao longo de um
contorno fechado [C] como:

r =f U.ds, (2.27)

considerada positiva no sentido directo.


Daqui concluímos que o acréscimo de 0 , de uma equipotencial para outra,
corresponde à contribuição A r do elemento de trajecto AB para a circulação
em torno de um qualquer circuito fechado que contenha AB. Veremos já no
capítulo seguinte, dedicado a escoamentos tipo vórtice, o significado físico e o
interesse destes conceitos, até agora apenas enunciados, de vorticidade e de
circulação.
Vejamos, a finalizar, num caso de escoamento irrotacional, incompressível,
bi-dimensional, em que os conceitos de O e de são ambos válidos, qual a
posição relativa das equipotenciais e das linhas de corrente.
Dado que:
„ d0 30 _
V t’
e
„ dY dW

obtém-se:
V 0 .V 'F = -U V + U V = O
de onde Vd>_LV¥/, significando que as duas famílias de curvas 0 = const. e
Vtz const. são mutuamente ortogonais.
N

122 CAP.2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

Concluímos assim que são equivalentes as vantagens de trabalharmos um


qualquer campo de escoamento irrotacional, incompressível, bi-dimensiona] em
termos dos escalares potencial de velocidades í> ou função de corrente V em
vez de em termos do vector velocidade Ú(U, V):
i) o número de incógnitas reduz-se de duas — componentes U e V do vector
U — a uma — o escalar d> ou o escalar V
ii) as curvas f / = const. são directamente as linhas de corrente; as linhas
0 = con.st. permitem-nos, indirectamente, obter a configuração geométrica
do campo do escoamento, dada a relação de ortogonalidade entre
equipotenciais e linhas de corrente.
iii) tanto 0 como f , convenientemente derivados em ordem às coordenadas
espaciais, nos fornecem as componentes do campo cinemático Ú :
ÍU = d0/dx = d'f,/dy
[V=d0/dy = -d'F/dx.
A existência de um potencial de velocidades permite-nos generalizar
imediatamente, para escoamento não-permanente, a forma (2.23) da equação de
Bernoulli, restrita a situações constantes no tempo. De facto, se em condições de
escoamento irrotacional (12 = 0) incompressível escrevermos U na equação de
Euler (2.18.b) como Ví>, directamente obtemos, agrupando os dois termos
gradiente e integrando:

^ - + —+ i t / 2 =const. (2.28)
dt p 1
forma generalizada da equação de Bernoulli p a r a escoamento não-
permanente.

Nota: Considerações sobre a forma do termo de


taxa de dissipação de energia cinética
Na eq. (2.22) o termo de taxa de dissipação de energia cinética foi
apresentado simplesmente como:

<j>= - v

Outros autores — e.g. [8, 160] — advogam para <p a forma simétrica:

>= - I v <E l
dx, dx:

A sequência de raciocínio é a seguinte:


i
SEC. 2.4. TRANSPORTE DA ENERGIA MECÂNICA 123

prevendo Navier-Stokes como:


T
m __ dP j dTo t
P P , ~ dx, dxj ’
\
dUi | dUj
onde =I* — eq. (2.13.a)
, dxj dx,
=2/zS,
t \
_ 1 dU, dUj
com S-. o tensor das taxas de deform ação, e
dxj dxi

1 operando o produto interno U. (Navier-Stokes), tal como fizemos:


DU- dp
Dt dx, dxj
obtém-se:

D{U2/2) d{pUt) ^ d ( u , x„) t dU


Dt dx, dxj '' dxj

3. 0 segundo termo do segundo m em bro parece ter apenas carácter


redistributivo, em vista da contracção que envolve em j\
4. quanto ao último termo:

dU , 1 ' dUi + d U j " , 1 ' d u , 5 t/yy


2 , dxi dxi , 2 âXj dxt J

dU, dU.
- 2 To apenas, pois é simétrico
v dxj dxi
= Tij ^ij ~ 2^. Sy
sendo essencialmente positivo e estando afectado de um sinal menos na
equação de transporte da energia cinética parece ter apenas carácter
dissipativo.
Porém, se trabalharmos a form a destes term os apelidados 'difusivo' e
dissipativo' obtemos:

. ^ T») „ » u, ' dU, | dUj"


dxj dxj
sdxJ dx‘ ,
d 2( u 2/2)
=n +M
~ W ~ dx- dxj
124 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

dU, ^ dUj W l
- r . * L = -M
» dx, dx, dx,i 2 dx,

<9U?
= -M ~P
KdxJJ dx: dx-
Verificamos assim que, para garantir simetria da dissipação, uma mesma
contribuição redistributiva p d 2[lfi Uj>
j fd x i dXj é incluída, com sinais contrários,
em dois termos com diferente significado físico — um deles difusivo e o outro
dissipativo —, formulação esta com que o presente autor não concorda,
preferindo associar carácter difusivo apenas a p d 2(U2 dx2 e carácter
dissipativo apenas a - / i ( dUjdXj) .

2.5. Equação da pressão


Exprimamos o campo de pressões em termos do campo de velocidades, para
tal aplicando o operador divergente à equação de Navier-Stokes já na forma
(2.16.a) para escoamento a propriedades constantes. Obtemos:

d_ B dU, _d_ 1 dp
u,
dXj dt dX: V dx, P dxt dx, dx] J

de onde:

d fd u P ( d ’ dU ,U , 1 d 2p _ w d 2 f d u A
1 J rr í d u i '
1
j:

dt l dx. J dxi p dxf d x 2 l d x >)


l dxj ) .
Anulando-se as diversas contracções dUij d x i por continuidade, resulta:

1 d 2p d 2Uj Uj
p dx2 dx{ dxj

A solução desta equação de Poisson para a pressão é, directamente:

p(r) = — í -—?—r— — U- £/■(s) d v (s) , (2.29)


} 4n*v \ r ~ s \ d x ;dxj ' ; W w

denotando que a pressão, num qualquer ponto r , é função do campo de


velocidades em todos os pontos correntes do espaço J , mormente na situação
considerada de escoamento incompressível em que, através de ondas de pressão
que se propagam a velocidade infinita (Mach = 0), é instantânea a transferência
de informação de ponto para ponto no espaço. Em escoamento compressível
uma relação equivalente à eq. (2.29) faria intervir um tem po retardado
f —|r —s\/a, em que a é a velocidade do som no meio.
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 125

2.6. Exemplosdeaplicaçãodométododovolumedecontrolo
Por aplicação do teorema da quantidade de movimento, expresso por (2.20),
a um conveniente volume de controlo, quantifiquemos efeitos ou parâmetros
globais de escoamentos em diversas situações características, umas respeitantes a
escoamentos interiores, outras a escoamentos exteriores e a escoamentos em
turbomáquinas.

2.6.1. Perda de carga em linha numa conduta


Comecemos por considerar o caso ilustrado na Fig. 2.8 do escoamento
completamente desenvolvido num tu bo \pipe) — conduta de secção circular;
quando a conduta não for de secção circular designá-la-emos simplesmente por
conduta [duct].

Fíg. 2.8 Balanço de forças no escoamento completamente desenvolvido num tubo.

Dado que o escoamento é completamente desenvolvido, será nulo o fluxo


resultante da quantidade de movimento através das faces de montante e de
jusante da superfície de controlo indicada na figura; a equação de balanço
(2,20) reduz-se neste caso a

0 = <f> -pn;dS + Í 'tjin id S .


Jsc Jsc J 1
Sendo, no referencial assinalado, n lm= - e x, e /?2 =£r, onde ex e êr
são os versores das direcções x e r , resulta:

p xR2- j p +~ Ax j x R 2 + r w2 n R A x = 0

onde R é o raio do tubo, do que advém, para a relação entre a tensão de corte
superficial e o gradiente longitudinal de pressão:
Rdp
= 2 ~dx
Ora atrito na parede produz, sobre o corpo de fluido interior à superfície de
controlo, uma força de sentido contrário ao do escoamento, a que corresponde
126 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

um rw<0 nas coordenadas cilíndricas da Fig. 2.8. Tal implica que, para vencer
atrito na parede, tenha a pressão (estática) de dim inuir no sentido do
escoamento: dpjdx < 0 ; sendo as características do escoam ento independentes
da coordenada longitudinal x , será ainda dp/d x - con st., significando que a
pressão decresce linearmente com x. Esta constante perda de energia mecânica,
sob a forma exclusivamente de energia potencial de pressão (pois a energia
cinética se mantém constante, visto ser o esco am en to completamente
desenvolvido), designa-se por perda de ca rg a em lin h a |friction head loss] por
ocorrer continuamente ao longo da linha de transporte de fluido.
Elaboremos um pouco mais sobre a anterior relação entre rw e dp/dx
Começamos por notar que este r w deve ser entendido como o valor, na parede,
da componente r l2 = r AT do tensor das tensões, a qual, conforme assinalado na
sub-Sec. C.2.3., é expressa num caso geral por

dr d x )'
no presente caso de escoamento com pletamente desenvolvido e ainda supondo
não haver rotação em tomo do eixo longitudinal do tubo nem o campo variar
com a coordenada angular 6, é Ue = 0 e d(...)/dx, d{...)/dd = 0 para qualquer
quantidade cinemática, pelo que a relação supra para tjt se reduz a

Acresce que é t/r = 0 para todo o esco a m en to , i.e. Ú[Ux,Ur,U9]-


= U{U, 0,0) só, pelo que o escoam ento é efectiv am en te uni-dimensional;
comprovemo-lo.
Para o escoamento em consideração a equação d a continuidade apresentada
em C.2.1.
1 d , T1, \ d U e dUx
rdrx 1 r dd dx
reduz-se a

— (rí/r) = 0 de onde rUr = const.;

ora na parede (impermeável) é Ur(r = R) = 0 , de onde rU r ( r ~ /?) = const.$0,


pelo que anulamento da constante de integração, independentem ente do valor
de r, obriga a Ur = 0 para todo o campo.
Para qualquer escoamento evoluindo ao longo de um a parede sólida a
tensão de corte superficial é usualmente entendida num referencial x, y solidário
com a parede, contabilizando r w o efeito do escoamento sobre a parede e não o
efeito da parede sobre o escoamento, como no caso da Fig. 2.8 adaptado a um
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 127

balanço para o corpo de fluido interior a uma superfície de controlo.


Correspondência entre referenciais conduz assim a
dU
dr I
r-K

jáqueyer variam em sentidos contrários — dr = - d y \ tal troca de sinal na
equação de definição de Tw faz com que a anterior relação entre tw e dp/dx
seja geralmente apresentada na forma
dp 4
(2.30.a)
& ~~z>Tw
em que, como escala de comprimentos, se escolheu o diâmetro D e não o raio R
do tubo.
A perda de carga A p ocorrendo ao longo de um comprimento L de
conduta escreve-se então

=- 4 ^ r w (2.30.b)

ou, adimensionalizando esta relação por uma pressão dinâmica de referência


baseada na velocidade média na conduta, como:

k — A1 - = X - (2.31)
D

onde k é o coeficiente de perda de carga [head loss coefficient] e o coeficiente


de fricção \friction coefficient] X é definido por:
1_ 4Tw (*)
(2.32)

A expressão (2.31) de k em função de Á é usualmente designada por


equação de Darcy-Weisbach.

2.6.2. Perda de carga concentrada numa


expansão abrupta numa conduta
Consideremos a situação ilustrada na Fig. 2.9 de uma expansão abrupta
numa conduta, em que o escoamento se separa na descontinuidade da superfície

(*1 Alerta-se o leitor para que a definição (2.32) do coeficiente de fricção A, englobando o factor
4 , embora seja a mais usual não é normalizada; em diversas referências o coeficiente de
fricção é apenas definido como / = -— não observância a esta diferença de
nomenclaturas pode induzir o projectista a dimensionar uma bomba 4x mais potente ou 4x
menos potente do que o necessário para promover uma dada movimentação de fluido mim
sistema de condutas.
128 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

e vem a recolar na conduta de jusante, encapsulando as bolhas de recirculaçâo


assinaladas; em resultado destas separações e recirculações ocorre uma
apreciável perda localizada de energia: uma perda de carga concentrada ou
perda de carga singular [minor head loss].
Calculemos, com base no teorema da quantidade de movimento aplicado ao
volume de controlo assinalado, o valor dessa perda de carga concentrada
comparativamente à evolução prevista numa expansão suave, em que não
ocorram separações e em que seja válido modelar o escoamento como se de
fluido perfeito.
Admitamos, simplificadamente, que:
i) as secções rectas ÁA' e DD7 estejam suficientemente afastadas da expansão
abrupta para que perturbações associadas à descontinuidade de superfície se
não propaguem até estas secções;
ii) a distribuição de velocidades seja muito aproximadamente constante ao
longo de AA' e de DD';
iii) os efeitos viscosos, em particular as tensões de corte superficiais actuando
nas porções da superfície de controlo coincidentes com as paredes da
conduta, sejam desprezáveis comparados com os efeitos resultantes da
distribuição de pressões;
iv) a distribuição de pressões seja muito aproximadamente constante na secção
recta da expansão, i.e. em C C ', hipótese que está de acordo com o facto de
serem muito pequenos os valores locais da força centrífuga por unidade de
volume p í/2/r , ou por ser muito pequena a curvatura das linhas de correnie
no 'jacto’ emergindo na expansão ou por serem muito baixas as velocidades
na zona do canto da bolha de separação.

Fig. 2.9 Escoamento de fluido real numa expansão abrupta.

Designando pelos índices 1 e 2 condições nas secções de montante e de


jusante, respectivamente, obtemos, de (2.20);
- fluxo resultante de quantidade de movimento para o exterior da superffc’e
de controlo
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME OE CONTROLO 129

| pU, Uj nj dS = - p U fA l +pU2
2A2 = p U2A2 {U2 - Ut),
Jsc
pois, Por continuidade — equação (1.15.b) — , í/l Â, = U2 A 2\
força resultante da distribuição de pressões ao longo da superfície de
controlo
^ -pnldS=piAl + p i(A1- A í) - p 2A 2.

Igualdade destas duas expressões conduz à seguinte relação para p 2:

Pi~Pl+P^2Í^i ~ ^2 ) *

Numa situação de fluido perfeito o valor da pressão estática a jusante p 2


seria, por Bemoulli,

p^ P l + l p ( u 2 - u l ) .

Verificamos assim que, numa expansão abrupta, o acréscimo de pressão é


inferior ao máximo teórico obtenível numa expansão suave, de uma quantidade

( A Y
A p ^ p ^ - p ^ p i U . - u J = \ p U 2 1 -^ i- .
V A2,
0 diferencial Ap corresponde portanto à dissipação de energia que ocorre
na expansão abrupta. Adimensionalizando esta perda de energia potencial de
pressão pela pressão dinâmica do escoamento de aproximação obtém-se, para o
coeficiente de perda de carga:

(2.33.a)
l AJ
Para um jacto descarregando em meio infinito é A2 = °°, de onde k = 1,
significando que toda a energia cinética é perdida.
Se se tivesse escolhido como pressão dinâmica de referência a do
escoamento a jusante da perturbação viria para k:

Ap
k= (2.33.b)
\PU]
em vez de (2 .3 3 .a).

2.6,3. Esforços numa curva numa conduta


Apliquemos agora o método do volume de controlo à determinação dos
esforços exercidos pelo escoam ento num a curva numa conduta; tal
130 CAP 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

determinação interessa, por exemplo, para dimensionar a estrutura de fixa -


conduta.
Com referência à Fig. 2.10 seja F(X, Y) a força exercida pelo
sobre a conduta, para a qual contribuem esforços de natureza invfscida
e de natureza viscosa (atrito na parede).

Supondo os campos de velocidade e de pressão constantes nas secções 1e2


de montante e de jusante, respectivamente, a eq. (2.20) desdobra-se nas duas
seguintes relações de balanço para as com ponentes segundo as direcções
cartesianas x e y:

( - p u f Ai +pUfco&6A2 = Pi Ai —p 2 A 2 c o s 0 - X

[pUf sen0A 2 = - p 2 A2s e n 0 - Y

de onde

í X = pi Ai - p 2 A2 cos 0 + m (U l - U 2 cos 0)
\Y ~ - p 2A 2s e n 0 - m U 2sQn6

sendo m = p t/1A1 = pU2A 2 o caudal mássico.


Para o caso de uma curva a 90° ( 6 = k /2 ) numa conduta de secção
constante (A j = A 2) e admitindo condições de fluido perfeito (p1=p2=p((.
visto não haver perdas de energia) obteríamos
\X ~ rhU
[Y = - m U t
significando que a força exercida no canto resultava apenas do anulamentoda
quantidade de movimento segundo x e da comunicação ao fluido da mesma
quantidade de movimento mas segundo a nova direcção y, sendo as
componentes da força resultante naturalm ente independentes do raio d«
curvatura do canto.
Exactamente o mesmo tipo de mecanismo físico é responsável pela acção
estabilizante / destabilizante de um hélice, dependendo da sua localização
longitudinal relativamente ao centro de gravidade de uma aeronave; héli^
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 131
1
tractor [tractor propeller], se à frente do CG, ou hélice impulsor \impelter ou
pusher propeller], se atrás do CÍ3. Descrevamos este efeito com referência à Fig.
2 n, em que está ilustrado o caso de um hélice impulsor instalado na cauda
[tail] de uma aeronave, suposta em derrapagem para a direita.
w

Fig. 2.11 Efeito estabilizante em guinada de um hélice impulsor.


Ao produzir a força propulsora 7 \ o hélice induz uma variação, tanto em
módulo como em direcção, da quantidade de movimento do escoamento
interior ao tubo de corrente encerrando o disco varrido pelo hélice, pelo que o
vector velocidade deste escoamento não só i) aumenta em módulo U->Ua,
como ii) varia de direcção, ficando mais alinhado com o eixo longitudinal da
aeronave. Em consequência desta alteração de direcção é instalada, a nível do
hélice e tal como no anterior caso da curva numa conduta, uma força lateral Fu
com o sentido indicado na figura e que, quando aplicada atrás do CG, produz
um momento de guinada em torno do CG tendente a aproar a aeronave ao
'vento relativo', assim tendendo a eliminar a velocidade lateral de perturbação; o
efeito do hélice impulsor é então estabilizante em guinada, e analogamente será
estabilizante em picada, em resposta a uma rajada vertical. Inversamente um
hélice tractor (e.g. no nariz da fuselagem) produz um efeito destabilizante tanto
em picada como em guinada, o que, para garantir as mesmas características de
estabilidade da aeronave, obriga a maiores volum es de profundidade e de
direcção, definidos como o produto das áreas dos estabilizadores horizontal ou
vertical pelas respectivas distâncias ao centro de gravidade: ou maiores
superfícies ou maior braço de cauda [tail arm].

2.6.4. Avaliação da resistência de um corpo bi-dimensional


por exploração da esteira; método de Jones
Suponhamos o corpo bi-dimensional ilustrado na Fig. 2.12 imerso no seio
de um escoamento permanente e uniforme de fluido real de velocidade 0
132 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

As camadas limites desenvolvendo-se ao longo da superfície do corpo


abandonam-no dando origem a uma esteira, na qual se manifesta um déficit de
quantidade de movimento relativamente à que ocorreria numa situação de
fluido perfeito; ora, pela 2a lei de Newton, a um déficit de quantidade de
movimento na direcção longitudinal está associada uma força de resistência ao
avanço Z). Obtenhamos a relação entre estas duas variáveis.
Comecemos por trabalhar com base na superfície de controlo rectangular
[ABCD] ilustrada na figura, supondo que essa superfície é de sufícientemente
grandes dimensões para que, ao longo das suas fronteiras, o escoamento
aproximadamente assuma as características U p „ do campo não perturbado,
com natural excepção do troço interior à esteira. Neste troço:
- a velocidade é U(y)<U„
- a pressão estática é p = con st.» /k , conforme argumentos expandidos na
Sec. 1.3. para camadas de corte delgadas e que provaremos no próximo
capítulo
- a única componente do tensor das tensões intervindo em (2.20) é
r n = 2p dU/dx, e esta contribuição pode ser considerada desprezável pois, a
grandes distâncias a jusante, é muito lenta a evolução do escoamento por
efeitos difusivos.

Fig. 2.12 Corpo em escoamento uniforme.

A eq. (2.20) conduz assim à seguinte relação de balanço segundo x:

UJVdx = - D
BC+DA

pois o campo de pressões p w = const. ao longo de [ABCD] não dá qualquer


contribuição para a variação da quantidade de m ovim ento do corpo de fluido
interior ao volume de controlo e, ao longo da superfície interior — o contorno
do próprio corpo —, a força exercida pelo corpo sobre o escoamento é o
simétrico da resistência D.
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 133

Quanto ao fluxo de quantidade de movimento através das faces inferior e


superior do contorno segue-se que, por conservação de massa no interior da
superfície de controlo, é

í____V d x - V ^ H - Jdy,
J BC+D A JC

pelo que:

f___ U Vdx = U Í H - [ DU JJ d y.
J bc+d a Jc

Resulta assim para D:

D = p f c U (U „ -U ) d y = p U l £ ^ - ( l - Í L J dy = p U l e (2.34)

com

fD J L U_
dy. (2.35)
lc U

Em termos adim ensionais, e sendo í uma escala de comprimentos


característica do corpo, virá:

(2.36)

Esta a relação que procurávamos entre D ou CD e uma variável exprimindo


o déficit de quantidade de movimento na esteira; essa variável é 6, com
dimensões de comprimento e designada por espessura do déficit da quantidade
de movimento ou, im propriam ente mas por economia de linguagem, por
espessura d a q u a n tid a d e de m ovim ento [momentum thickness] —
aprofundaremos esta noção logo no Cap. 4 de fluido real; é de notar que a
integranda na equação de definição de $ praticamente se anula fora da esteira,
onde U « t/w, pelo que o integral apenas necessita abranger a região da esteira.
Assim como exprimimos a resistência de um corpo em termos do déficit da
quantidade de movimento na sua esteira, inversamente obteríamos, para o
impulso de um jacto descarregando num meio em repouso:

J = p ^ U 2dy (2.37)

agora em termos do excesso, em vez do déficit, da quantidade de movimento.


A relação acabada de estabelecer entre D ou CD e 6, por um balanço ao
volume de controlo [ABCD], podia, alternativamente, ter sido obtida através de
um balanço ao volume de controlo [abcd] assinalado na mesma Fig. 2.12, em
que os segmentos ad e bc coincidem com linhas de corrente exteriores a corpo
134 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

e esteira. A vantagem seria a de ser nulo o fluxo de qualquer propriedade


através destes segmentos — visto, por definição, ser Ú.n = 0 ao longo de unta
linha de corrente — , o que permitiria reduzir a equação de partida a um balanço
entre fluxos através das secções de entrada ab e de saída cd; inconveniente seria
o de (eventualmente) já não ser nula a com ponente X da força exercida sobre os
segmentos ad e bc pela matéria circundante, como o é no caso dos segmentos
AD e BC paralelos ao eixo dos x's, pelo que esta contribuição de força exterior
precisaria de ser também contabilizada.
Comecemos então por contabilizar este efeito nuns termos que interessam
directamente à correcção dos resultados experim entais obtidos no ensaio de um
qualquer corpo em túnel aerodinâmico (*X
Suponhamos, para tal, que os segm entos AD e B C , da primeira superfície
de controlo considerada, coincidem agora com as paredes sólidas da secção de
trabalho do túnel onde está instalado o m odelo cuja resistência se pretende
medir. A situação de escoamento não-confinado pode ser obtida desta operando
o limite / / —»oo. A configuração e o distanciam ento das linhas de corrente ad e
bc expectavelmente também se alterarão, devido ao constrangimento imposto
pelas paredes sólidas, passando o contorno de [abcd] para, digamos, [a'bVd'],
mas no limite H - » °° ambos os contornos coincidirão.
Apliquemos a relação de balanço (2.20) ao corpo de fluido potencial
compreendido entre as paredes do túnel e a superfície de controlo [a'b'c'd'],
Dado que a secção de saída ( H - h ' 2) é m enor que a secção de entrada
por continuidade deverá a velocidade à saída U' ser m aior que U j. U' = U„+w,
digamos, com u > 0 ; mais precisamente será:
h '- h [
de onde u = U00-------- -
H -tí2

A um entando a v elo cid ad e d ev erá a p ressã o à saída p diminuir


relativam ente a p TO; por B ernou lli o b tém -se para o desvio de pressão
A p' = / / - p „ :

Ap' = ± p ( u l - U ' 2) = - ± p ( 2 U „ u + u2) = - p u { u „ + ± u )l.

A eq. (2.20) escreve-se então, m edindo pressões relativam ente a p„ ou,


altemativamente, sobrepondo a todo o cam po um a pressão constante -p„}o
que mantém a dinâmica do sistema inalterada:

- p U l ( H - h [ ) + p U '2( H - h ' 2) = - X - A p ' ( H - h ' 2)

A metodologia a seguir apresentada para obtenção da componente de força X foi adaptada da


exposta na ref8 [115] para o caso de um hélice operando no interior de um tubo cilíndrico,
equivalente a um túnel aerodinâmico de secção circular.
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APUCAÇAO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 135

pelo que, atendendo às relações anteriorm ente estabelecidas a partir da


continuidade e de Bemoulli:

X =pu[u„ + ^ u j { H ~ t i 2) - p u ( U „ + u )(H ~ h '2)

=- ± p u 2( H - h ' t )

Duas conclusões importantes se extraem deste resultado:


i) o efeito anula-se em meio infinito Um X = 0 , pelo que nesta situação só há
que contabilizar balanços entre secção de entrada e secção de saída da
superfície de controlo;
ii) a componente longitudinal dos esforços de pressão exercidos sobre a
superfície de controlo [ a / b/ c / d '] pela matéria circundante é negativa X < 0 ,
implicando que, devido ao constrangim ento imposto ao escoamento pelas
paredes sólidas da secção de trabalho, a quantidade de movimento do fluido
interior ao volume de controlo dim inua mais do que em meio infinito só por
acção de D, ou, equivalentem ente, que a resistência (aparente) medida em
túnel seja maior que a resistên cia (real) registada em meio infinito; é o
chamado b lo q u e a m e n to d e e s te ira [wake blockage], efeito este que é
necessário contabilizar e corrigir em ensaios em túnel aerodinâmico [132];
compreende-se o efeito: as m enores pressões na secção de jusante p' < p„
criam como que um a im p u ls ã o [buoyancy] que produz um acréscimo de
resistência.
Com o anulamento, em m eio infinito, desta suposta componente X de força
exterior, a relação (2.20) ap lica d a ao volum e de controlo [abcd] para
determinação da resistência D reduz-se a:

£ U1dy -D

e dado que, por continuidade, é

directamente resulta:

D=p f c U {U „ -U )d y ,

relação esta necessariam ente igual à (2.34) — a resistência de um corpo é


naturalmente in dep en dente da esco lh a arbitrária do volume de controlo
requerido para a quantificar!
136 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAM ENTAIS

O perfil de velocidades na esteira U ( y ) necessário p ara contabilizar D ^


ser experim en talm ente o btido ou p o r a t r a v e s s a m e n t o [trav erse] com ^
sim ples tubo de pressão total ou com um p e n te d e tu b o s de total [tube raie] ^
um a fiada d e tubos de pressão total ou ligados a um multimanómetro ou a U|)|
único m anóm etro e activados p o r um a v á lv u la s e le c to ra [scanny-valve].
D ado q u e co m este s tu b o s se m e d em p re ssõ e s totais, definindo m,
coeficiente adim ensional de pressão total com o:

virá para CD, por (2.35) e (2.36):

onde com a designação W_ para o integral nos referim o s a dados na esteira a


infinito a jusante do corpo, i.e. a regiões d a esteira suficientem ente a jusante do
corpo para que a pressão estática tenha j á re c u p erad o o valor não perturbado
p„. O ra não é prática nem p recisa a re a liz a ç ã o d estas medições a grandes
distâncias a jusante do corpo — m orm ente em testes em voo! — pois tendo a
esteira aum entado já m uito de e s p e ssu ra e a d istrib u içã o de velocidades
concom itantem ente uniform izado por d ifu são , av a lia ç ã o do perfil de esteira
requereria a m edição de p eq u e n as d ife re n ç a s e n tre valores elevados de
velocidade ou de pressão, o que é sem pre p ouco rigoroso.
T om a-se assim necessário com p arar ca ra c te rístic a s do escoamento numa
estação a infinito a ju sante com ca racterísticas n u m a conveniente estação de
m edida M, próxim a do bordo de fuga, com o assin alad o na Fig. 2.13 para a
esteira de um perfil alar. A presentem os en tão um m étodo simples de o fazer,
m étodo este avançado po r Jo n e s em 1936 [42, 7 4], aproximado mas
produzindo bons resultados e que continua, p or isso, a ser hoje em dia ainda
adoptado.

© -©
F ig . 2 .1 3 Estações de medida e a infinito na esteira de um perfil alar.
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 137

Consideremos então a estação de medida M próxima do bordo de fuga e


normal à linha de corrente central da esteira, sendo assim aproximadamente
normal às linhas de corrente na esteira. Jones assume desprezável a dissipação
de energia ocorrendo na esteira entre as estações de medida e de infinito a
jusante, pelo que
pTm = pT ao longo de cada linha de corrente da esteira.
Esta hipótese, se bem que não estritamente correcta, conduz na prática a
valores de D ou CD, obtidos pelo método, muito próximos dos valores reais.
Ora a relação para D anteriormente obtida escrevia-se, na estação 2 a infinito
a jusante:

D ~ p j^ ^ U 2{U „ -U 2)dy2;

por continuidade, para um tubo de corrente elementar na esteira, é

pelo que D se pode reescrever como:

0 = P Í UM{ U „ -U 2)dyM,
•'"M
devendo UM e U2 ser entendidos como velocidades na mesma linha de corrente
da esteira.
Adimensionalizando velocidades por [/„ esta relação escreve-se:

Um 1- - u ,
)=PU- J. WMt/_ U„
dyM

Mas, por definição de pressão total:

^ m Y _ P t m - P m _ ( p t m —P ~ ) ~ ( p m —P~) _c
W \ Pul \pUl PM
e, por hipótese, é
UM
P t, = P tm de onde C pt 2~ t/_
=c,ptm
Segue-se que, com todos os parâmetros referidos à estação de medida M,
próxima do bordo de fuga, onde p M ^ CD se pode escrever na forma:

Cp, embora não nulo, é, de acordo com o comportamento esperado para


uma camada de corte delgada, muito aproximadamente constante ao longo da
138 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

secção de medida, bastando por isso m edi-lo num único ponto, digamos
linha central. V erifica-se e x p e rim e n ta lm e n te se r esta aproximação
suficientemente boa a partir de distancias do bordo de fuga de cerca de 1'CÇ'
A técnica de medida requer assim, tipicam ente, recurso a uma sonda do
tjPo
da ilustrada na Fig. 2.14: um pente de tubos de total com dois tubos de estátie
laterais na região central.

F ig. 2 .1 4 Sonda de pressão para exploração da esteira.

2.6.5. Hélices, rotores de helicóptero e turbinas eólicas


Contabilizámos, na sub-secção an terio r, um d o s efeito s globais de um
escoamento uniforme de fluido real em torn o de um qualquer corpo: o de
manifestação de uma resistência ao avanço, do q u e resultava um déficit de
quantidade de movimento na esteira do co rp o. C o m ecem o s esta nova sub­
secção por apreciar a situação inversa de um h élice propulsor, como por
exemplo um hélice de avião, em que energia é co m u nicad a ao fluido, em que é
produzida uma força propulsora T (no sentido do m ovim ento) em vez de uma
força de resistência D (opondo-se ao m o v im en to ), em que se verifica um
excesso de quantidade de movimento na esteira, em vez d e um déficit, e em que,
por consequência e para conservação de m assa, a ‘esteira' — sopro do hélice
\propeller slipstream] — contrai em vez de expandir.
Um tubo de corrente encerrando o disco v arrid o p elo hélice tem assim a
configuração ilustrada na Fig. 2.15.

F ig. 2 .1 5 Tubo de corrente encerrando um disco actuador.

Trabalhemos este caso admitindo um m odelo sim p lificad o perfeitamente


axi-simétrico, em que o hélice real, com um núm ero finito de pás, é modelado
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 139

como um disco com um número infinito de pás, cada uma delas produzindo
uma contribuição elementar para a força propulsora; é o chamado modelo do
disco actuador [actuator disk], em que o escoamento redunda quasi-uni-
dimensional [62].
Através do disco, a evolução de velocidade Ud é contínua, por conservação
de massa; a pressão estática acusa, porém, uma descontinuidade de p t para
p2> pp correspondendo à energia que, localmente, é comunicada ao fluido.
Exprimamos a força propulsora T tanto em termos da variação da
quantidade de movimento no tubo de corrente assinalado na Fig. 2.15 como do
salto de pressão através do disco actuador, sempre admitindo um modelo
simplificado de fluido perfeito:
i) Supondo as secções de montante e de jusante do tubo de corrente
suficientemente afastadas do disco actuador para que, na secção de
montante, seja Um =Uco e p m = p^ e, na de jusante, U- > U„ interiormente
ao tubo e U = no exterior, mas sempre com pj = pM, e dado que,
analogamente ao expresso por (2.38), a força actuando sobre os segmentos
laterais da superfície de corrente exibe uma resultante nula em meio infinito,
a eq. (2.20) conduz a:

-p U X + p U jS ^ -T

onde Sm e S} são, respectivamente, as áreas das secções rectas do tubo de


corrente a infinito a montante e a jusante do disco actuador.
Por continuidade é
Í7„5m= í/J5J = C/d5d

pelo que a relação para módulo de T pode ser reescrita como:

T = pUi Si (ui - £ / . ) .

ii) Em termos do salto de pressão através do disco, T escreve-se como:

T = ( p 2 ~Pi)$d-
Através do disco, havendo trocas de energia com o exterior, não é aplicável a
equação de Bernoulli; o par Ud>p l pode porém ser relacionado, através de
Bernoulli, com as condições a infinito a montante L/^p^,, assim como
Uà,p2 é relacionável com Obtém-se então para T:

r = { [ p „ + \ p {u ] - c / d2) ] - [ ^ + i p { u l - t/d2)]} s d

^ p { v f- u l) Si.
Igualando as duas expressões de T:
140 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

r = p t/d^ - c /_ )= l P [u , + )(í/j - u _ )s a

imediatamente resulta:

u~ +ui
U* -----------\ ’ (2.40)

denotando que a velocidade através do disco é a média aritmética das


velocidades a infinito a montante e a jusante.
A potência propulsiva ou a potência útil do hélice exprime-se como o
trabalho da força propulsora por unidade de tempo, i.e.

Pm = T U ^ p U áSi (Ur U ^ U ^

a potência que, neste processo, o hélice precisa de dispender sobre o meio fluido
é expressa pelo diferencial dos caudais de energia cinética:

Pt m = P ^ S d [ ^ - U l ) ] .

Resulta assim, para eficiência do hélice [propeller efficiency]:

f ,„ P l W » , - ! '- ) ! '- U.

~vt '
Para um rendimento típico de 80% é:

Uá = —— — = 1,25 í/„ e U, = 1,5 U^.


d 7] = 0,8 J
As relações acabadas de obter são aplicáveis tanto ao caso de hélices
propulsores de aviões e de navios como a rotores de helicópteros [helicopter
rotors} em voo ascensional.
Para um helicóptero a pairar em voo estacionário [hovering flight], como
representado na Fig. 2.16, a força propulsora tem apenas de equilibrar o peso W
da aeronave, a velocidade do escoam ento de aproxim ação é agora nula, t
obtém-se directamente das anteriores relações, fazendo U„ = 0:

W = T = pUi Si {u r Vx ), com í/„ = 0

= p U i Si Ui

= 2 p U \ S á pois Ui ~ 2 U d.
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME OE CONTROLO 141

Fig. 2.16 Escoamento induzido por um rotor de helicóptero em voo estacionário.


Ref.: Sparenberg, J.A : Hydrodynamic Propulsion and Us Optimizalion,¥.]nwer Academic Publ. 1995

Para um helicóptero ligeiro, como um Alouette III com W= 2ton e


tor =11 m, obtemos, sendo PpjN =1,225 kg /m 3:
W 2000x9,8
* 9,2 m / s
ppSd ^ 2 x 1,225 x «r x (l l2/4)

e
Uj = 2t/d = 18,4 m/s = 66 km /h.
Suponhamos, por último, o caso de um helicóptero em auto-rotação [auto-
rotation} — voo descendente com o rotor livre, i.e. desacoplado do motor —,
em que o rotor extrai energia do escoamento, em que oferece uma resistência ao
escoamento em vez de produzir uma força propulsora; a situação, ilustrada na
Fig. 2.17.a), é agora inversa da referida na Fig. 2.15, e equivalente à de um
rotor de autogiro [gyrocopter] ou ao de uma turbina eólica [wind turbine],
representado na Fig. 2.17.b).

5,

a) Helicóptero em auto-rotação b) Turbina eólica


Fig. 2.17 Situações de rotores oferecendo resistência ao escoamento.
As relações de balanço são equivalentes às anteriormente obtidas para um
hélice propulsor; apenas os sinais aparecem invertidos [170], Em particular,
resulta agora;

D = \ p { u l - U]) Sá = p Uà Sd (U„ - £/j)

de onde, e tal como anteriormente — eq.(2.40):


142 CAP 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

t7„ + r
f

A eficiência de extracçáo de energia do vento por uma turbina eólica ^


geralmente expressa ent term os de um co e ficie n te de potência [p0M,c
coefficient] definido como a razão entre a potência captada

e a potência disponível num tubo de corrente do escoamento de aproximação


com a mesma área do disco varrido pelo rotor da turbina

resulta assim:

rLp — <•- jp v .s ,(u i-u ;) U,


p \p u ls . í/_
r dl5p
O máximo de Cf é conseguido para l/d/í/ _ = 2/3, a que corresponde
Uj/Um - 1/3, resultando:

c ' - , - 3 [ | - B ) ’] - Í I = 5 7 - 59% -

Este limite máximo teórico é conhecido com o lim ite de Betz. Conclui-se que
a principal causa para o limitado valor de C/>mM é a de diminuição de caudal
através do rotor, associado à expansão do tubo de corrente factor 2/3 na
relação supra — , e não tanto a de um a incom pleta absorção de energia na
esteira — factor 8/9.
O rendimento máximo de turbinas eó licas hoje em dia utilizadas paia
accionar geradores produzindo energia eléctrica é da ordem de 40%, já
tendo em conta perdas no rotor, no m ecanism o de m ultiplicação de velocidade,
perdas eléctricas, etc.; tal valor de eficiência corresponde a cerca de 2/3 do
máximo teórico: 0,40/0,59.
Revela-se oportuno justificar a razão da grande diferença de configuração
entre o clássico moinho português u tiliza d o p ara m oagem de cereais,
tipicamente com 4 velas e uma grande área de pano, o moinho 'tipo americano'
utilizado para accionar uma bomba m ecânica aspirante-prem ente para captação
de água para rega, com cerca de umas 20 pás m etálicas, e uma moderna turbina
eólica bi ou tri-pá, com pás de grande 'esbeltez', u tilizada para accionar um
gerador eléctrico; estes três tipos de m oinhos de vento ou de turbinas eólicas
estão ilustrados na Fig. 2.18.
A grande diferença entre estes tipos de turbinas reside na razão entre área
das pás (número de pás vezes corda média) e área varrida pelas pás ( jrR1, onde
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 143

r é o raio máximo das pás); esta razão é denominada solidez [solidity ratio). Os
dois primeiros tipos (moinho português e moinho 'tipo americano') apresentam
uma elevada solidez — ou poucas pás x uma grande corda média ou muitas pás
x uma corda baixa — e o último uma pequena solidez — poucas pás de
pequena corda.

c) Montagem da turbina AEROMAN 12/20, de 20 kW, do DER / INETI


Fig. 2.18 Diferentes tipos de turbinas eólicas de eixo horizontal.

Exprimindo potência como binário x velocidade angular se constata que o


accionamento mecânico requerido dos dois primeiros tipos exige grandes
binários, de onde uma 'pequena' velocidade angular, ou mais propriamente e em
termos adimensionais, uma pequena velocidade específica [tip-speed ratio],
definida como a razão entre a velocidade tangencial no extremo da pá e a
velocidade do vento incidente À = ú)R/U, enquanto que ao último interessam
um pequeno binário e grandes A's, de modo a permitir reduzir a razão de
multiplicação necessária para levar as 'poucas' r.p.m. do rotor — valores típicos
144 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

da velocidade específica destas turbinas são de cerca de 6, o que para um rotor


de 60 m de diâmetro em ventos de 12 m/s (potência ~ 1 MW) corresponde a
cerca de 25 r.p.m. — às, digamos, 1500 r.p.m. de um altemador assíncrono com
dois pares de polos instalado na rede europeia de 50 Hz: neste exemplo, uma
razão de m ultiplicação de 60:1, norm alm ente conseguida com um trem
epicicloidal.
Ora sendo a variação de momento angular igual à resultante dos momentos
aplicados, para que uma turbina apresente um binário elevado torna-se
necessário que imprima ao escoam ento um a grande variação de momento
angular, i.e. uma apreciável velocidade de rotação na esteira, o que requer que
apresente uma elevada solidez de m odo a co nseg uir re-direccionar o
escoam ento; a energia dispendida neste processo, não contribuindo para o
accionamento do rotor, manifesta-se com o um a perda adicional de energia. Por
esta razão, turbinas lentas — no sentido de baixa velocidade específica —, de
grande solidez, são bem menos eficientes que turbinas rápidas, de pequena
solidez. Apresenta-se, na Fig. 2.19, a evolução do Cp^ teórico com l,
admitindo um modelo simplificado de fluido perfeito [63]; nesta figura é bem
notória a perda de energia por rotação na esteira.
limite de Betz

F ig . 2.1 9 Evolução de C e vs. A para rotores de turbinas eólicas


em condições de fluido perfeito.

2.6.6. Esforços nas pás de uma turbomáquina axial


Determinemos, no caso de uma turbom áquina axial, como o ventilador
representado na Fig. 2.20, os esforços exercidos pelo escoam ento sobre as pás.
Para tal, intersectemos a coroa de pás por um a superfície cilíndrica de revolução
de geratriz paralela ao eixo de rotação (d irecção axial); planificando essa
superfície obtemos uma série de perfis em c a s c a ta [cascade], como também
representado na Fig. 2.20.
Sendo o escoamento em torno d a co ro a d e pás axi-simetricamente
periódico, a cascata deverá apresentar um núm ero infinito de perfis idênticos,
com a mesma orientação em relação ao escoam ento de aproximação e com o
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 145

mesmo espaçamento transversal; designaremos por passo [pitch] í a distância


entre pontos homólogos de dois perfis consecutivos.

F ig. 2.20 Geometria de um ventilador axial.

Tal cascata infinita de pás produz uma alteração tanto da grandeza como da
direcção da velocidade dos escoamentos não perturbados a infinito a montante e
ajusante do sistema de perfis. Esta característica justifica a utilização de cascatas
de pás como deflectores do escoamento; uma aplicação típica em escoamentos
interiores, ilustrada na Fig. 2.21 [169], é a instalação de placas directrizes
[guiding vanes] em curvas abruptas em condutas, com o fim de reduzir a
extensão de regiões de separação e assim uniformizar o escoamento e reduzir a
perda de carga, como no caso do túnel aerodinâmico de circuito fechado da
Fig. 1.7.a).

Fig. 2.21 Redução de separações com a instalação de placas


directrizes numa curva abrupta numa conduta.

Dado que o escoamento na cascata é periódico no espaço, a determinação


das forças actuantes pode ser feita considerando só o escoamento em tomo de
um dos perfis da série infinita.
Suponhamos, como hipótese simplificativa, uma situação de escoamento
permanente bi-dimensional de fluido perfeito.
Consideremos então uma superfície de controlo cilíndrica com a directriz
indicada na Fig. 2.22 em que os segmentos AB e CD coincidem com linhas de
corrente homólogas. A vantagem desta escolha reside no facto de, sendo, por
definição, as linhas de corrente tangentes ao vector velocidade, ser nulo o fluxo
tanto de massa como de quantidade de movimento através dos segmentos AB e
CD, pois Ú.n= 0; também as forças resultantes da distribuição de pressões
sobre elementos homólogos nas duas linhas de corrente se equilibram duas a
146 CAP. 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

duas (já que as respectivas normais exteriores n são simétricas) produzindo ^


efeito global nulo. Sejam UI>P[ e U2, p 2 os valores constantes da velocidade
da pressão estática dos escoamentos não perturbados a infinito a montante e
jusante da cascata, respectivamente, o que requer que as secções de entrada
e de saída BC sejam consideradas suficientemente afastadas da cascata para q„e
a esses níveis o escoamento assuma características uniformes.

Fig. 2.22 Escoamento numa cascata de pás.

Designando por X e Y as componentes da força resultante exercida pelo


escoamento sobre o perfil obtemos, com base na eq. (2.20), as seguintes
relações de balanço para as com ponentes axial (segundo x) e tangencial
(segundo y):

\ p u „ { - u ^ ) + p v 2í{ v j ) = - p u l t + pU*at = P l t - p 2t - X

| p ( - C / | t) ( - í / laí ) + p ( —(/2t)(íÍ2aO — p U 11U \ J ~ p ^ 2 t ^ 2 a í = —^

em que os diversos U's representam os módulos das componentes dos vectores


velocidade.
Por continuidade é Ulzt = U2at, donde U^ = U2a, implicando que, para
satisfazer conservação de massa, as com ponentes axiais dos escoamentos não
perturbados a infinito a montante e a jusante são iguais, pelo que:

\ x = {P l - p 2) t

{Y = pUu t{U2l- U lt).

Relacionando pressões estáticas e velocidades nas secções 1 e 2 por


Bemoulli — o que é válido pelo menos ao longo de uma linha de corrente, visto
termos admitido, como hipóteses simplificativas, uma situação de fluido perfeito
e escoamento permanente — e atendendo a que são iguais as componentes
axiais de Ul e Ú2 vem:
SEC. 2.6. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DO VOLUME DE CONTROLO 147

/>, - p 2= \ p [v ; - u ? ) = \ p K - u D = p - v u) .
Definindo um vector velocidade média como Úm= (Ú] + — vidé
esquema auxiliar na Fig. 2.22 — obtém-se para X e T:
| x = pC/mtí(C/2 t - í 7 lt)
j y = p L / mat ( i / 2 l - í / 1I).
Em termos de circulação do vector velocidade ao longo do contorno
fechado da directriz,

J IABCDJ

só, pois as contribuições ao longo de AB e de CD se cancelam mutuamente, as


relações anteriores escrevem-se
fx=-pumr
(2.41.a)
[Y=-pu„r.
Notamos que a circulação tem um valor negativo — r= ((7lt- f /2t)í< 0
pois U2t > Uu — pelo que X e Y são ambos positivos, como indicado na figura.
Concluímos ainda que o módulo do vector força resultante por unidade de
largura F(X,Y) é F = pUm\r\ e a sua direcção perpendicular à da velocidade
média, pois que F.Um= 0.
Os resultados acabados de obter podem ser particularizados para o caso de
um perfil isolado fazendo o passo da cascata tender para infinito. Nestas
condições as velocidades dos escoamentos a infinito a montante e a jusante
serão iguais, i.e. Ul = U2 =U x , digamos, e as componentes da força resultante
segundo a direcção do escoamento não perturbado (resistência) e
perpendicularmente a essa direcção (sustentação) virão dadas por
ÍD = 0
(2.41.b)
{L=-pu„r.
Este importante resultado da teoria dos perfis alares é um caso particular do
teorema de Kutta-Joukowski, segundo o qual a resultante da distribuição de
pressões ao longo do perfil é normal à direcção da corrente não perturbada. O
facto de em escoamento permanente e bi-dimensional de fluido perfeito ser
nula a resistência de um qualquer corpo finito — primeira equação do sistema
(2.41.b) — é conhecido por paradoxo de d'Alembert.
É fácil compreender como a existência de uma força de sustentação L está
associada a uma circulação r . Na Sec. 1.2. justificámos a produção de uma
sustentação através do diferencial de pressões instalado entre o intradorso e o
148 CAP 2 CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

extradorso de um perfil sustentador em resultado da curvatura que assumem as


linhas de corrente ao contornar o perfil e pela relação de equilfbrio de forças
normalmente às linhas de corrente: força centrífuga a ser localmente equilibrada
por uma força resultante do gradiente transversal de pressões, Tal equilíbrio
produzia uma zona (tipicamente) de sobrepressões no intradorso e uma região
de sucções no extradorso, do que resultava uma sustentação com o sentido
indicado na Fig. 2.23.

Fig. 2.23 Interpretação da sustentação gerada num perfil alar


em termos de circulação do vector velocidade.

Raciocinando em termos do campo de velocidades, em vez de em termos do


campo de pressões, imediatamente se conclui que se ao longo do intradorso é
(fundamentalmente) p, > p_ deverá ser Ui < {/„ e que, ao longo do extradorso,
a um pe < p„ estará associado um Uc > t/_, pelo que calculando a circulação ao
longo de um qualquer contorno fechado envolvendo o corpo — como o
contorno [C] indicado na figura — se obterá um F < 0, escolhendo para
sentido positivo de circulação o sentido directo.
Apreciaremos todos estes aspectos em detalhe no Cap. 9 de perfis alares.
CAPITULO
3
ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE
Escoamentos tipo vórtice, os conceitos a eles associados e as equações que os
regem são de aplicação recorrente em qualquer assunto de aerodinâmica, razão
que nos levou a destacar a im portância que efectivam ente assumem dedicando-
lhes este capítulo ainda de cariz fundam ental. O capítulo inicia-se com a
interpretação física dos conceitos de vorticidade e de circulação, anteriormente
apenas enunciados por via form al, e desenvolve-se analisando os campos de
escoamento associados a diferentes tipos e a diferentes distribuições espaciais de
vórtices directamente relevantes para os capítulos que se seguem.

3.1. Significado físico de vorticidade e de circulação


Nas eqs. (2.17) e (2.27) apresentám os as definições formais de vorticidade
Q e de circulação F ao longo de um circuito fechado, respectivamente:
Í2 = rot t7 e r = Ú.ds . Estes dois conceitos estão intimamente relacionados
•'(Cl
através do teorema de S tokes da análise vectorial, que estabelece que a
circulação de um vector (neste caso o vector velocidade) ao longo de um
contorno fechado é igual ao fluxo do rotacional desse vector (neste caso o
vector vorticidade) através de qualquer superfície que se apoie sobre o contorno

r = 4 V.ds = í ( V x ( J ) .n J S
7 [cl Js
(3.1)
em que o sentido da norm al n ao elem ento de superfície dS está relacionado
com o sentido de circulação pela 'regra do saca-rolhas'.
A fim de interpretarmos fisicam ente o significado de Q = V x & apliquemos
o teorema de Stokes a um a superfície material elementar que, por conveniência,
suporemos plana e lim itada por um círculo de raio S r [8], Sendo a superfície
constituída por elementos de fluido, ela rodará e deform ar-se-á ao longo do
escoamento; a fim de isolarm os a com ponente de rotação da de deformação
teremos de definir velocidade ang u lar a> (com o corpo sólido) a partir da
velocidade tangencial m édia dos elem entos de fluido; analiticamente virá:

149
150 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

(£■ U.ds/lKÒr j
(y -J Q = ■■■ j U.ds = k o . n
ôr 2}t(8r) * (cj 2
pelo teorema de Stokes, para o que admitimos uma distribuição constante de
vorticidade ao longo da superfície material elementar de área 7t(Sr)2. Dado que
o escoamento é bi-dimensional os vectores Õ e h serão paralelos, pelo que esta
relação se pode escrever:

t f = 2a> = ^ (3,2)

Concluímos assim que;


i) a vorticidade é igual ao dobro da velocidade de rotação do elemento de
fluido como corpo sólido;
ii) para uma superfície elementar, ao longo da qual seja possível admitir
&n = const., a intensidade da componente de vorticidade normal ao
elemento de superfície é igual à circulação por unidade de área.
À primeira conclusão poderíamos também ter chegado atendendo a que,
nesta situação de geometria plana, a velocidade angular de um elemento de
fluido como corpo sólido é dada por (2.12) e que Q se reduz à forma (2.25),
i.e.
l(dV dU\ ^ dV dU
cu= ± ----------e Q ----- ----------- , respectiv amente.
^\dx dy) dx dy

3.2. Vórtices livre, forçado e real


Notemos que o facto de um dado campo de escoamento ser irrotacional não
implica que os elementos de fluido, embora não rodem sobre si próprios, não
possam descrever trajectórias fechadas, e.g. circulares — como analogia
referimos o movimento dos carros da roda grande de uma feira. Determinemos
a forma do campo de velocidades necessária para que tal situação se verifique.
Suponhamos, por simplicidade, que o escoamento é bi-dimensional e que as
trajectórias são circulares; trabalhando, por conveniência, em coordenadas
cilíndricas virá para fí(í2r,í2e,í2A
.), como apresentado na sub-Sec. C.2.2.;
1 dUx dU6 - ( M r * 0 , i
tf = V x í/ = 4 ~ (rU 9) - &
r d6 dx 6r4\ dx b + 7 d r K 01 de
que, de acordo com as hipóteses simplificativas mencionadas, se reduz a
1d
SEC. 3.2. VÓRTICES UVRE, FORÇADO E REAL 151

O requisito de irrotacionalidade implica então rU0 = const., pelo que a


velocidade £?(O,l/0,O) deverá evoluir radialmente segundo uma hipérbole
equilátera.
Relacionemos o campo de velocidades com a circulação em tomo de um
qualquer circuito envolvendo o ponto r = 0; considerando, por simplicidade
analítica, um circuito circular de raio r centrado na origem virá então

r = 4 O.ds = 2izrU0
J (cl
valor constante pois r íld = const. Obtém-se assim para a relação entre U6 e r
r
Ve- 2K r (3.4)

A um escoamento com estas características — irrotacional e linhas de


corrente circulares — dá-se o nome de vórtice livre \free vortex].
Notemos que existe uma aparente incongruência entre a condição imposta
de irrotacionalidade e as relações (3.2) e (3.4), porquanto por (3.2) se a
vorticidade fosse nula a circulação também o seria, pelo que, atendendo a (3.4),
a velocidade deveria ser nula para todo o campo! Dado que o contorno circular
escolhido para determinar T é de dimensão arbitrária, sendo a única exigência
que envolva a origem, compatibilidade dos diversos pontos levantados requer
então a existência de uma singularidade na origem com um valor infinito de
vorticidade tal que
lim QdS = r .
£->0

Concluímos assim que, no centro de um vórtice livre, deverá forçosamente


existir um núcleo em rotação sólida, com uma velocidade angular e uma secção
tais que o seu produto seja igual a F /2 (pois 0)~Í2/2). Dado que o valor da
circulação é independente do circuito fechado escolhido para o definir, com a
ressalva de que encerre completamente o núcleo central, r é o parâmetro
adoptado para caracterizar a intensidade do vórtice.
No núcleo, a distribuição radial de velocidade tangencial deverá ser da
forma Ue/r = const. = o>, característica de rotação sólida, pelo que se obtém para
a vorticidade, de (3.3),

Q‘ = 7 Í ( rU^ 7 T Á a r > 2ú)


como seria de esperar. Designa-se este escoamento em rotação sólida por
vórtice forçado {forced vortex].
Notamos que escoamentos tipo vórtice forçado e vórtice livre não podem
ocorrer isolados pois que, no primeiro caso, chegar-se-ia à situação irreal da
152 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

influencia de uma perturbação a u m e n ta r à m ed ida que nos afastamos da


perturbação e, no segundo, com o já vim os, a existência de circulação requer
uma zona central vorticosa. Um v ó rtic e r e a l [combined vortex] resulta assim de
uma associação vórtice forçado / vórtice livre, sendo portanto constituído por um
núcleo [core] central em ro tação só lid a , em q u e a velocidade tangencial
aumenta linearmente com o raio, e po r um a zona exterior potencial, em que a
evolução radial de velocidade é do tipo hipérbole equilátera.
Representam os na Fig. 3.1 as v ariaçõ es, segu n do a direcção radial, da
velocidade tangencial, da vorticidade e d o coeficiente de pressão estática para
um escoamento tipo vórtice real; o co eficien te de pressão indicado é definido
tom ando com o referência co n d içõ es n a fro n teira do núcleo de raio r=u;
Cp = ( p - pa) j l ^ p u i y As leis de variação dos diversos parâmetros são do tipo:
Núcleo central: r/a < 1 Região exterior: r/a > 1
U0 - (or com <ú = £2/2 U0 = r / l T t r

£2 = r f Ka2 = const. £2 = 0

Cp = { r l a f - 1 Cp = l - ( a / r f

F ig . 3.1 Distribuição de vorticidade, de velocidade e de coeficiente de pressão num vórtice real.

A referida distribuição de pressões pode ser obtida, por integração na


direcção radial, tanto

i) a partir da equação de definição de pressão total, pela qual é


dp dpr dUa
— = — - p U , — -9
dr dr dr
com
SEC. 3.3. TEOREMAS DE CONSERVAÇÃO 153

e = pU x Í2.ér - pU£2 no núcleo central, para o que se utilizou


dr
a relação (2.19), como
ii) directamente a partir do equilíbrio de forças na direcção radial

dp j U l
dr r '
forma a que, no caso vertente, se reduz a equação de Navier-Stolces para a
componente radial apresentada na sub-Sec. C.2.4 e conforme primeiramente
expresso na eq. (1.16).
A igualdade entre força centrífuga por unidade de volume e força resultante
do gradiente radial de pressão permite compreender a razão por que a
distribuição de Cp tem continuidade tangencial, embora a de velocidade a não
tenha, e reforçar o facto de que, havendo curvatura das linhas de corrente, a
pressão estática diminui sempre da periferia para o centro de curvatura,
independentemente da forma do campo de velocidades.
Sempre que a dimensão do núcleo de um vórtice real for muito menor que
uma dimensão característica do campo do escoamento como um todo, será lícito
ignorar o valor não nulo da área da secção em rotação sólida e modelar o
vórtice real como se de um vórtice livre irrotacional se tratasse; está no entanto
subentendido que um valor não nulo de circulação requer sempre a existência
de um núcleo central em rotação sólida, pelo que, mesmo nesta situação
simplificada, o escoamento poderá ser tratado como potencial em todo o campo
excepto num ponto singular coincidente com o eixo do vórtice.

3.3. Teoremas de conservação de escoamentos tipo vórtice


Nesta secção iremos apresentar três teoremas de conservação de escoamentos
tipo vórtice tanto no tempo, ao longo do escoamento, como no espaço, num
instante fixo [8, 86].

3,3.1. Teorema de Kelvin


Este primeiro teorema de conservação que apresentaremos é por vezes
referido como 4 o teorem a de H elm holtz mas é geralmente mais conhecido por
teorema de Kelvin, designação esta que utilizaremos ao longo de todo o texto.
0 teorema respeita à variação, ao longo do tempo, da circulação em tomo de
um circuito m aterial, i.e. um circuito constituído por partículas de matéria e
que, portanto, se deforma à medida que é convectado pelo escoamento. O
teorema interessa, por exemplo, para determinar a circulação em torno de um
dado contorno conhecido o valor da circulação em tomo desse mesmo circuito
154 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

material numa outra região eventualmente menos perturbada do escoamento


onde se tome mais fácil a determinação, quer analítica quer numérica, do valor
da circulação.
Por definição, eq. (2.27), será

T cm = (j> O.Ss
•>CM
significando S diferenciação ao longo de s a tempo constante. Virá para a
variação de ■^cm ao longo do escoamento:

Drm d D
- — 4 U.ôs =íf» DU U .-^ {ô s),
Dt Dl J CM J Cc M Dt Jc
CM Dt
por permutação dos operadores diferenciação no tempo, ao longo do
escoamento, e integração no espaço, a tempo constante.
Ora o termo DÕ/Dt que figura no primeiro integral é dado directamente
por Navier-Stokes, eq. (2.16.a):

£ E = A s 7 p + v V2U.
Dt p
Quanto à segunda integranda, é:

Õ . A íõs ) = Ú .8(— ] = Ú.5Õ = Ô


Dc } \D t J l
2a
onde mais uma vez permutámos diferenciação no tempo, ao longo do
escoamento (D/Dr), com diferenciação no espaço, a tempo constante (S);
refere-se que poderíamos ter passado directamente da primeira relação escrita
para a segunda igualdade, apenas notando que a variação, ao longo do
escoamento, do comprimento de um elemento rectilíneo do circuito é
simplesmente igual ao diferencial de velocidades aos seus extremos, i.e.

— lSs) = SÕ.
Dr ’
Obtemos então

É de notar que o segundo integral, ao longo de um circuito fechado, se anub


pois que p, p e U são funções unívocas da posição, pelo que se obtém
finalmente
SEC. 3.3. TEOREMAS DE CONSERVAÇÃO 155

significando que variações de circulação ao longo do contorno material


segundo o escoamento serão devidas apenas à actuação de efeitos difusivos ao
longo desse contorno.
Numa situação de fluido perfeito ( v = 0), em que os efeitos difusivos são
nulos, obteremos

=0 ou r CM = const. ao longo do escoamento. (3.5)


Dl
A leitura deste resultado será então que, em condições de fluido p erfeito
(campo de forças conservativo), a circ u laç ão em to rn o de um q u a lq u e r
circuito material se conserva constante ao longo do escoamento.

3.3.2. Permanência do escoamento irrotaciorta!


0 teorema de Kelvin acabado de enunciar produziu D r cM/Dt = 0. Dado
que, de acordo com o teorema de Stokes, a circulação em torno de um circuito
fechado pode ser expressa em termos do fluxo de vorticidade através de uma
qualquer superfície que se apoie sobre esse contorno, o teorema de Kelvin pode
ser altemativamente escrito na forma

— í Ãã<SS = 0 ,
Df JSM
significando que o fluxo de vorticidade através de uma qualquer superfície
material se mantém constante ao longo do tempo, i.e. à medida que essa
superfície material é transportada / convectada com o escoamento, o que permite
enunciar este resultado como implicando que a vorticidade é convectada com
o fluido. De facto se, de acordo com Kelvin, a circulação em torno de um
qualquer circuito material se conserva (i.e. se mantém constante) ao longo do
escoamento, tal implica que todos os filam entos de vórtice interiores ao
contorno — e que, à semelhança de um tubo de corrente, constituído por um
feixe de linhas de corrente, poderemos agora designar como um tu b o de
vórtices [vortex tube] — permanecerão interiores ao contorno material; como a
superfície considerada é uma superfície material, constituída por elementos de
fluido que são convectados pelo escoamento, então também a vorticidade a eles
associada é convectada pelo escoamento. Tal resultado, válido em fluido
perfeito em que são nulos os efeitos difusivos, pode ainda ser parafraseado
como exprimindo que:
• um tubo de vórtices é constituído sem pre pelas mesmas partículas de fluido
—nestes termos o resultado é conhecido como 3" teorem a de Helmholtz;
* se a vorticidade for nula num dado instante, perm anecerá igual a zero
sempre — tal enunciado do teorema, em termos de p e rm a n ê n c ia do
escoamento irrotacionai, é devido a Lagrange; ainda
156 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

• escoamentos de fluido perfeito iniciados do repouso são irrotacionais po,s


que se em r = 0 for 0 = 0 . donde Õ = 0, então Q s; 0 sempre. S
Um comentário é devido para bem vincar a fundamental destrinça entre
escoamentos de fluído perfeito e esco am ento s potenciais e assim bem
caracterizar as situações em que sejam aplicáveis estes dois diferentes níveis de
modelação do campo.
Suponhamos, por sim plicidade, condições de escoamento permanente, em
que a equação de Navier-Stokes (2.16.b) se escreve:

-C /x f2 = - i V p T + v V 2Ú .
P
Em condições de fluido perfeito ( v = 0 ) esta relação degenera na equação
de Euler (2.18.b) ou (2.19):

VpT = p U x Ú ;

se ainda o escoamento for irrotacional / potencial ( i2 = 0), então:

VpT = 0 .
O ra acabámos de demonstrar que "escoam entos de fluido perfeito iniciados
do repouso são irrotacionais". De facto, só pela actuação de tensões de cone
(esforços tangenciais) temos capacidade para com unicar vorticidade a elementos
de fluido — notemos que só podemos im prim ir rotação a uma bola 'dando-lhe
efeito' — e em fluido perfeito é 1 ^ = 0 por ser v = 0, pelo que deverá ser
Í2 = Í2(í = 0) = 0.
Suponhamos porém uma situação de desenvolvim ento de um escoamento de
fluido real em que, numa dada região, tenham actuado tensões de corte
produzindo vorticidade e que, num a reg ião m ais a jusante que estejamos
interessados em analisar, os efeitos de te n sõ es de corte sejam pouco
significativos para interpretar ou quantificar o processo em apreciação, Terá
então validade, para a nossa análise, desprezar os efeitos viscosos e tratar o
escoamento como de fluido perfeito; não podem os porém esquecer que a
vorticidade gerada a montante, e que é co n v ectad a pelo escoamento, pode
induzir, na região em análise, efeitos even tualm ente significativos que não
devam deixar de ser considerados. Se for esse o caso, haverá que modelar o
escoamento como de fluido perfeito ( v = 0) mas rotacional (X 2^0), recorrendo
a Euler.
Exemplo clássico é o do escoam ento induzido po r um hélice propulsor,
ilustrado na^Fig. 1.31 e esquem atizado na Fig. 2.15 num a modelação uni­
dimensional.
SEC. 3.3. TEOREMAS OE CONSERVAÇÃO 157

3.3.3. Conservação de circulação no espaço

Consideremos o troço de tubo de vórtices representado na Fig. 3.2


encerrado por uma superfície fechada S — constituída pela superfície da base
Sp pela superfície do topo S2 e pela superfície lateral Slat — e calculemos o
fluxo de vorticidade através dessa superfície fechada, para tal recorrendo ao
teorema da divergência de Gauss. Obtemos directamente

| ã.n«iS = J vV.í 2 íí V = 0

pois que divG = d iv ro tí/sO , denotando que a vorticidade é um vector


solenoidal. Assim concluímos que o fluxo resultante de vorticidade para o
exterior (visto ser esse o sentido das normais consideradas no teorema de Gauss)
de uma superfície fechada é nulo em todos os instantes.

Fig. 3.2 Troço de tu b o d e v ó rtic e s e c o rre sp o n d e n te o rg an ização dos vectores vorticidade.

Escrevamos separadamente o fluxo através de cada um dos elementos


constituintes da superfície fechada 5; como jQlat± n Iat, a condição anterior
reduz-se a:

í 42|.nl< tf+ [ Í22.n2dS = 0


JS\ Js 2

ou, atendendo ao sentido das normais consideradas nos teoremas de Gauss


(normais exteriores à superfície fechada) e de Stokes (normais à superfície com
o sentido associado ao sentido da circulação) este resultado pode ser
alternativamente escrito como implicando que

de onde se concluí que a circulação em torno de qualquer circuito que envolva


um tubo de vórtices, e que define a intensidade do tubo, permanece constante
no espaço, i.e. que a intensidade dum tubo de vórtices se mantém constante no
espaço — este resultado é conhecido como 2o teorema de Helmholtz.
158 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

Com base neste resultado indaguem os da possibilidade de um tubo de


vórtices terminar no seio do fluido. Suponhamos que pode terminar e avaliemos
a sua intensidade com recurso à Fig. 3.3, em que a circulação é calculada tanto
ao longo do contorno fechado [C] que envolve o tubo como em termos do
fluxo de vorticidade através de um a qualquer superfície apoiando-se nesse
contorno, seja essa a superfície 5, ou a superfície S2> ambas indicadas na figura,
Intersectando a superfície 5, o tubo de vórtices, o fluxo de vorticidade através
de deverá ser, de acordo com Stokes, igual à circulação T em torno do
circuito [C] e que define a intensidade do tubo de vórtices; semelhantemente,
mas agora em termos da superfície S 2, dado que esta não intersecta o tubo de
vórtices iríamos obter um fluxo nulo. Tal incompatibilidade resulta apenas da
hipótese de partida de admitirmos que o tubo de vórtices pode terminar no seio
do fluido, pelo que, por absurdo, concluímos que um tubo de vórtices nâo pode
terminar no seio do fluido, podendo então só constituir-se em anéis fechados
ou terminar numa descontinuidade do fluido.

Fig. 3.3 Hipotética configuração Fig. 3.4 Ramificação de um tubo de vórtices,


de um tubo de vórtices
terminando no seio do fluido.

Podemos também afirmar, com recurso à Fig. 3.4, que a intensidade de um


tubo de vórtices só poderá então variar entre duas secções se filamentos de
conveniente intensidade se unirem ou deixarem o tubo. É este resultado que,
numa óptica de fluido perfeito, justifica a formação dos vórtices marginais
numa asa finita, a que fizemos referência no fim da Sec. 1.2. e cujos efeitos
apreciaremos e contabilizaremos no Cap. 10.

3.4. Campo de velocidades induzido por uma distribuição


espacial de vorticidade; lei de Biot-Savart
Dado um campo de velocidades sabemos já como determinar a vorticidade
num qualquer ponto desse campo: Q = votU , o que requer apenas informação
quanto à distribuição de 0 na vizinhança imediata do ponto onde pretendemos
calcular Q, Suponhamos agora a situação inversa de, dado um campo de
vorticidade, determinarmos o correspondente campo de velocidades induzido
[86]. A situação parece à partida mais complexa pois que, esbatendo-se a
SEC. 3.4. LEI DE BIOT-SAVART 159

velocidade induzida por um filamento de vórtices assimptoticamente com a


distância — vidé eq. (3.4) — , para calcularmos a velocidade num qualquer
ponto precisaremos de contabilizar a influência, nesse ponto, da vorticidade
distribuída em todo o espaço.
Partamos do conceito de potencial vector Y definido nos seguintes termos
em escoamento incompressível: um escoamento incompressível satisfaz
continuidade na forma div f? = 0 ; dado que d i v r o t ^ O para um qualquer
campo vectorial *f/ , em condições de escoamento incompressível o campo de
velocidades pode ser sempre expresso como U = rot ÍF, onde ¥ desempenha o
papel de um potencial vector do campo de velocidades. Esta noção de potencial
vector ¥ , embora bem menos interessante que a de potencial escalar <P, revela-
se por vezes conveniente em termos formais, como no caso vertente.
Dado que rotgradsO , será sempre definido a menos do gradiente de um
qualquer campo escalar X . Assim, atendendo à definição de laplaciano;

fl = V x í/:= V x (V x « p ) = v (v .

como é sempre possível im por V. *f' = 0 jogando com a distribuição


perfeitamente arbitrária de V X , vem:

t W =- Q .

k solução desta equação de Poisson para é:

do que resulta para o campo de velocidades induzidas:

onde para cálculo de ou de U num qualquer ponto r a integração se


estende a todo o volume varrido pelo ponto corrente s e o rotacional é
calculado em r .
Apliquemos o resultado acabado de obter à determinação da velocidade
induzida por um elemento de um filamento de vórtices. Com referência à Fig.
3.5 contabilizemos então a contribuição para a velocidade induzida num ponto
r, $t/(r), do elemento de um tubo de vórtices de volume ÔV ^nSS.ôl
organizado em tomo de um ponto s . Com base no resultado anterior virá
160 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

Fig. 3.5 Construção geométrica para determinação da velocidade induzida


por um elemento de filamento de vórtice.

Atendendo a que ê{ - e Q^ pelo q u e Ôl se pode escrever como 5 Í~ — $/


que Q .n ô S - T» por Stokes, vem: ^ a

v' 4 tt t

Ora V- x 51 (J) = 0, pois que para rot em r é S l ( I ) = const.,e

Vs = _ ->i vV-1
— — -> x

pelo que
r íxôi
ÔU(r) = -
4n t3
ou
r sí xT
ÔU(r) = (3.6)
4n f3
Esta relação é perfeitamente análoga à lei de Biot-Savart do campo
electromagnético, caso em que ao vector velocidade U corresponde o vector
indução magnética B e à circulação r corresponde a intensidade / da corrente
que percorre o condutor. Por esta razão, tam bém no caso em estudo da
velocidade induzida por um filamento de vórtices esta lei continua a ser
designada como lei de Biot-Savart.
A título de exemplo apliquemos a lei de B iot-Savart à determinação da
velocidade induzida por um segmento finito rectilíneo de vórtice, como, e.g., o

grad/(/) = f* grad t
SEC. 3.4. LEI OE BIOT-SAVART 161

troço rectilíneo compreendido entre os pontos com vectores de posição s, e s2


ilustrado na Fig. 3.6. Este resultado vai ser directamente aplicável ao estudo do
escoamento induzido por asas finitas, que desenvolveremos no Cap. 10.
Embora tenhamos anteriormente concluído que um vórtice não pode
terminar no seio do fluido, esta contabilização de apenas um troço finito
rectilíneo é de aplicação geral, por exemplo, no caso da determinação da
velocidade induzida por um filamento fechado de vórtices com uma qualquer
configuração geométrica no espaço, o qual, para efeitos de cálculo numérico,
pode ser sempre discretizado em troços rectilíneos.

Fig. 3.6 Construção geométrica para determinação da velocidade induzida


por um segmento finito rectilíneo de vórtice.

0 resultado da lei de Biot-Savart escreve-se então

ds xF
~ r
A partir da Fig. 3.6 imediatam ente concluímos que o numerador da
integranda se pode escrever como
dsxt =ev t sendds com * = /icosec0;
atendendo ainda a que

ío-? = Fcos0 = /i cot0, de onde d s ~ h cosec20 dO

obtém-se para U:
r t sen0
U(r) h cosec 20QdO
d 0 = ên - ^ — [ 2 senQdO
f
4 K h \ th 1 cosec20 Anh J0i
do que finalmente resulta
162 C AP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

O resultado anteriormente obtido para um filam ento infinito — eq. (34)


pode ser deduzido desta relação geral fazendo 0 , = 0 e 02 = n :
r
V=
2jth'
Para um filamento semi-infinito de vórtice e no caso do ponto r residir no
plano 0 ,, = n /2 , o que é conseguido nos casos 0, = rc/2 e 02 = n ou ô1=(je
0, = n/2, obtém-se

Tal resultado podia ter sido obtido directamente do conhecimento da velocidade


induzida por um filamento infinito de vórtice, notando que um filamento
infinito pode ser considerado como constituído por dois filamentos simétricos
semi-infinitos e que cada filamento semi-infinito deverá produzir, para t
velocidade induzida total, metade da contribuição de um filamento infinito. A
velocidade induzida, ao longo da linha x = h = const., pelo filamento rectilmeo
semi-infinito representado na Fig. 3.7 e coincidente com o semi-eixo positivo

Fig. 3.7 Campo de velocidades induzido por um filamento semi-infinito de vórtice.

dos v 's deverá ser então do tipo indicado na figura, esbatendo-se


assimptoticamente para y —v—°°, tendendo assimptoticamente para r/2tr/tpan
y -v e assumindo o valor rjAnh em y = 0.

3.5. Equação de transporte da vorticidade:


equação de Helmholtz
Estabeleçamos a equação de transporte da vorticidade, conhecida por
equação de Helmholtz, fundamentalmente para analisarmos o efeito de
intensificação de vorticidade por estiramento de um tubo de vórtices, efeitoest
que, como veremos, desempenha um papel primordial no processo de
transferência de energia em escoamentos turbulentos.
Dado que dispomos já da equação de transporte da quantidade di
movimento por unidade de massa (velocidade) e que a vorticidade é defini^
como o rotacional da velocidade, a equação de Helmholtz pode $
SEC. 3.5. EQUAÇÃO DE HELMHOLTZ 163

imediatamente obtida [8] aplicando o operador rotacional V x à equação de


fJavier-Stokes na forma (2.16.b) para escoam ento a propriedades constantes

~ ~ Ú x Q = —- V p T + v V 2Õ
dt p
Jo que resulta

— - V x ( í / x à ) = v V x ( V JÊ/) .

0 termo de pressão total an u la-se identicam ente nesta operação pois que
rotgradsO.
Aplicando a igualdade vectorial [157]

Vx(Ãxb ) = (b .V )Ã - b (V .Ã )-( a .V )5+Ã (V .5)


aos vectores U o A e Ú o B vem
V x ( y x ã ) = ( f l .v ) y - ã ( v .í / ) - ( í / .v ) ã + í/(v .Ã )

= (Í2 .v ){ /-(Í/.v )í2 ,


pois que V.Í7 = 0 e também V.í2 = 0.
Quanto ao termo viscoso do segundo membro obtém-se, atendendo à
equação de definição de laplaciano e a que V. U = 0:
v2ú = v(v. u \ - v x (v x 0 ) = - v x n
e por aplicação do operador rotacional:
v x (v 2è;) = - v x (v x ã ) = v 2ã - v (v . ã ) = v 2,ã ,
para o que novamente se recorreu à equação de definição de laplaciano e se
atendeu a que (2 é um vector solenoidal.
Obtém-se finalmente

— = ^ -+ ( ú .v ) q = ( q .v ) u + v V 2q (3.9.a)
Dt dt 1 ; v >
emnotação vectorial, e em notação indiciai
DQ, díi, díi, _ dU<
— Ls — t + f/j—- i (3.9.b)
Dt dt 1 dxj
0 primeiro membro desta equação de Helmholtz diz respeito à variação total
de vorticidade segundo o movimento, soma das variações temporal (local) e
convectiva, e o segundo termo do segundo membro representa o transporte
difusivo de vorticidade por acção da viscosidade cinemática. Fazendo o paralelo
com a equação de Navier-Stokes (2.16.a) verificamos que o termo de pressão
164 CAP. 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

não figura na equação de Helmholtz e que, por outro lado, surge um novo
termo, (Õ.V)U — primeiro termo do segundo membro —, que não tem
correspondente na equação do movimento. Analisemos em pormenor estes dois
factos.
Analiticamente é fácil justificar o desaparecimento do termo de pressão, pois
este figura na equação do movimento sob a forma de um gradiente que, por
aplicação do operador rotacional, se anula identicamente — rotgradsO.
Fisicamente compreende-se que a pressão não contribua para uma variação de
vorticidade, pois que, sendo um esforço normal, o momento produzido em
tomo do eixo de rotação será nulo — relembramos o argumento expandido na
sub-Sec. 3.3.2. de que a vorticidade só pode ser alterada por aplicação de
esforços tangenciais.
A interpretação do termo ílj dUi/d x j será feita com referência à Fig. 3.8
em que assinalamos o vector Q . associado a um dado troço de tubo de vórtices
de comprimento Sxj e de secção ô S . Consideremos separadamente as situações
i # j e i =j m
.
i) no caso i * j , o vector Qj é rodado sob acção da variação longitudinal (no
referencial da página) da componente transversal da velocidade, pois que
vorticidade é convectada pelo fluido, do que resulta a criação de vorticidade
segundo i a partir dum campo originalmente só com componente j; o termo
pode assim ser interpretado como uma produção (positiva ou negativa) de
vorticidade por rotação do filamento de vórtice [vortex slewing].
Í2,

dU, r
dU . U>+1 T , ÔX>

Fig. 3.8 Rotação e estiramento de um filamento de vórtice.

ii) no caso i - j , a variação longitudinal da componente longitudinal da


velocidade produzirá um estiram ento do elem ento de fluido; para
conservação do volume, este acréscimo do comprimento ôxj deverá ser
acompanhado de uma correspondente diminuição da secção ÔS. Sendo o
termo (Q .V )U essencialmente invíscido, esta alteração de forma do
elemento de fluido processar-se-á a momento angular constante; dado que o
momento de inércia / em relação ao eixo de rotação diminui, devido à
redução de S S , a velocidade angular ca deverá correspondentemente
aumentar de modo a manter constante o produto a>l (*). O gradiente

(*) Refere-se, por analogia, o caso dos bailarinos de patinagem no gelo, que quando aproximam
os braços do eixo de rotação (diminuindo o momento de inércia polar 7) aumentam a
velocidade de rotação a>.
SEC. 3.6. DIFUSÃO DE VORTICIDADE NUM VÓRTICE REAL 165

longitudinal de velocidade produz assim uma intensificação da vorticidade


por estiramento do tubo de vórtice [vortex stretching].
0 termo Qj r)UljdxJ representa portanto uma produção de vorticidade
tanto por rotação como por estiramento de filamentos de vórtice. Notamos que
este termo se anula em escoamento bi-dimensional, visto que o vector
vorticidade só tem componente normal ao plano do escoamento e que
gradientes de velocidade são nulos segundo essa direcção.

3.6. Difusão de vorticidade num vórtice real


Com base na equação de Helmholtz acabada de estabelecer exploremos o
processo de difusão de vorticidade num vórtice real, para tal recorrendo a uma
situação bi-dimensional simples em que o filamento de vórtices é rectilíneo,
perpendicular ao plano do escoamento (pelo que £2 terá apenas componente
segundo a direcção x , cujo módulo designaremos por Q), e U tem apenas
componente tangencial, digamos Ue utilizando coordenadas cilíndricas [8].
E de notar que na equação de Helmholtz não só o termo de produção se
anula pelo facto de estarmos numa situação bi-dimensional, como referido no
fimda anterior secção, como também o termo convectivo é nulo pois que Í2 é
constante em 6. Nestas condições a equação de Helmholtz (3.9.a) reduz-se a
(<Pq_ i d n '
dl ^ dr1 r dr
equação análoga à de condução de calor em duas dimensões.
Admitindo no instante inicial t = 0 um filamento de vórtice de intensidade
r em r = 0 (difusão a partir de uma fonte pontual), a solução é:

Atendendo a que a circulação em tomo de um qualquer circuito circular de


raio r centrado em r = 0 é

T, = IrcrUg = f 2 n rQ dr, por Stokes,


lo
obtém-se, para o campo de velocidades

• Para rz/4ví » 1 o termo exponencial tende para zero e

característico de vórtice livre.


166 CAP 3 ESCOAMENTOS TIPO VÓRTICE

• Para r74\7 « 1 obtém-se, desenvolvendo em série o termo exponencial (*)

(
de onde
■)

r
■r<*r
87rvr
significando que nas regiões interiores do núcleo o escoamento assume
características de rotação sólida.
Concluímos assim que o núcleo central de um vórtice real tende a aumentar
progressivamente de dimensões ao longo do tempo por difusão radial de
voracidade, como ilustrado na Fig. 3.9, sendo a principal contribuição para este
efeito a da zona de transição vórtice forçado / vórtice livre. Associado a este
aumento de área do núcleo ocorre uma correspondente diminuição de
vorticidade, de tal modo que a intensidade do vórtice se mantém constante, i.e.
r = jí2dS=const.; esta é, de resto, uma característica inerente a um qualquer
processo difusivo, em que a quantidade total da propriedade se conserva embora
haja uma suavização da distribuição espacial da propriedade.

Fig. 3.9 Difusão de vorticidade num vórtice real.


CAPITULO
4
ESCOAMENTO LAMINAR
O campo cinem ático de escoamentos de fluido real a propriedades
constantes fica completamente descrito pelas equações do movimento (2.16.a) e
da continuidade (2.7):

^ L 5 Í ^ + í / .f^ L 1 dp d 2Uj
Dt dt 7 dxj p dXf oXf
(4.1)

sistema de 4 equações a 4 incógnitas U, V, W, p , num espaço tri-dimensional.


Trata-se de um sistema de equações simultâneas às derivadas parciais, não
lineares (devido à forma do termo convectivo), de segunda ordem (por efeito do
termo difusivo), do tipo elíptico (*), não susceptível de solução analítica num
caso geral e caro de resolver numericamente, dados os elevados tempos de
computação e capacidades de memória requeridos.
Soluções analíticas exactas de (4.1) são conhecidas apenas num reduzido
número de casos, muitos dos quais de interesse quase que só académico, e só
recentemente com eçaram a ser abordadas numericamente situações tri­
dimensionais e não-permanentes. Programas já suficientemente testados para se
poderem considerar de aplicação em exigente projecto de engenharia
concernam só configurações bi-dim ensionais; mesmo estes requerem
apreciáveis meios computacionais e formação específica do utilizador, pelo que
há conveniência, sempre que possível, em utilizar formas simplificadas do
sistema (4.1) que permitam aligeirar o esforço de cálculo.
Ora, conforme argumentado na Sec. 1.3., efeitos de tensões de corte estão,
em geral, restritos a camadas de corte delgadas, de que exemplo típico é um
escoamento de camada limite; nestas regiões do escoamento, com elevados
gradientes transversais de velocidade e de muito pequena espessura em relação
ao seu comprimento, o sistema (4.1) é passível de um tipo de simplificações

(*) Na Sec. B.5. do Apêndice B são relembrados os diferentes tipos de equações às derivadas
parciais e as respectivas exigências em termos de esforço de cálculo numérico.

167
166 CAP A ESCOAMENTO LAMINAR

atontado por P rsinfdl em Í904 para o caso de uma camada limite laminar bi-
dimensional e. por isso, ainda hoje conhecidas por aproxim ações de cam ada
lim ite [boundary la y e r a p p r o x i m a t i o n s ]. em bora o seu domínio de
aplicabilidade abranja todas as camadas de corte delgadas. Para esta situação,
argumentos de ordem de grandeza relativa dos vários termos que figuram na
equação do movimento perm item desprezar alguns termos face a outros de
maior ordem de grandeza e sim plificar substancialm ente as equações, como
veremos na sub-Sec. 4.2.1.
Embora as equações de cam ada lim ite sejam , hoje em dia, de resolução
quase trivial usando métodos de diferenças finitas, em numerosas situações de
projecto não será n ecessário ou p o ssív e l reso lv ê -las, ou porque a
responsabilidade do trabalho o não justifica, ou porque o programa de cálculo
não está acessível e / ou ainda porque os escoam entos em causa não permitem
este tipo de aproximações; nessas circunstâncias será suficiente, ou só possível,
fazer uma primeira determinação da evolução dos parâmetros característicos do
campo com base em expressões sim ples obtidas da análise de escoamentos
permanentes de camada limite bi-dim ensional em gradiente de pressão nulo,
digamos, estimando em seguida, qualitativam ente, a influência, nesta evolução,
de outros factores eventualmente presentes, tais com o gradientes de pressão
diferentes de zero, curvatura da superfície, etc.
É sob esta óptica que se estrutura a presente série de quatro capítulos
dedicados ao estudo de escoam entos in c o m p ressív eis de fluido real.
Estabeleceremos, em escoamento perm anente bi-dim ensional a propriedades
constantes, a forma simplificada das equações de cam ada limite, a fim de
detalharmos o seu domínio de validade e obterm os as relações simples que
controlam a evolução dos parâmetros característicos globais em gradiente de
pressão nulo, após o que analisaremos os efeitos de gradientes de pressão, de
rugosidade da parede, de curvatura suave e abrupta da superfície, etc., tanto em
escoamentos exteriores como interiores. Abordarem os inicialm ente escoamentos
laminares — Cap. 4 —, a fim de sim plificar um prim eiro contacto com os
diferentes fenómenos e efeitos, descreverem os sucintam ente o processo de
transição de regime laminar a turbulento — Cap. 5 — e analisaremos, com
relativo detalhe, as diversas configurações de m aior interesse para engenharia
em regime turbulento — Cap, 6; serão apresentados program as simples para
cálculo destas três situações. Esta sequência de capítulos sobre fluido real
finaliza com uma breve extensão para tri-dimensional dos resultados obtidos em
duas dimensões — Cap.7.
O presente capítulo sobre regime laminar inicia-se com uma apreciação de
escoamentos uni-dimensionais — Sec. 4.1. — para realçar, de forma simples,
aspectos fundamentais no importante processo de separação de uma camada
limite e termina com o tratamento de questões de interacção viscosa / invíscida
SEC. 4.1. ESCOAMENTOS LAMINARES UNI-DIMENSIONAIS 169

— Sec. 4.8. As seis secções intermédias 4.2. a 4.7. são dedicadas ao estudo de
camadas de corte delgadas bi-dimensionais. Na Sec, 4.2. analisaremos em
pormenor as aproximações de que o sistema de equações exactas de Navier-
Stokes é passível no caso de escoamentos de camadas de corte delgadas [8, 28,
147]; começaremos então por avaliar, na Sec. 4.3., situações simples em que a
forma dos perfis de cam ada lim ite se mantém constante ao longo do
escoamento, de que a evolução em gradiente de pressão nulo, que
pormenorizaremos, é um caso particular, após o que, na Sec. 4.4., apreciaremos
qualitativa e quantitativamente a evolução de camadas limites laminares num
qualquer gradiente de pressão, para o que é apresentado um método de cálculo
numérico; na Sec. 4.5. referir-nos-emos a técnicas de controlo de camada limite
para, em particular, inibir separação, e na Sec. 4.6. faremos um apontamento
sobre efeitos de g radien tes tran sversais de pressão induzindo tri-
dimensionalidade; é então analisada a evolução de um jacto livre axi-simétrico,
como exemplo de camada de corte livre — Sec. 4.7.

4.1. Escoamentos laminares uni-dimensionais


Iremos, nesta secção, descrever duas situações de interesse para a análise que
se segue, nas quais o sistema de equações da continuidade e de Navier-Stokes
para escoamento a propriedades constantes (4.1) é passível de solução analítica
[8, 13, 28, 147], Estas situações referem -se a escoamentos laminares
permanentes em tubos e em condutas de secção rectangular constante, sendo,
neste último caso, um a das dimensões da secção muito maior que a outra, de
modo que o escoamento se com porta como aproximadamente bi-dimensional;
admitiremos ainda que a região de interesse está localizada suficientemente
longe da secção de entrada na conduta para que o campo cinemático tenha já
assumido uma configuração estabilizada, de escoamento completamente
desenvolvido.

4.1.1. Escoamento de Couette


Comecemos por analisar a situação de geometria rectangular apresentada na
Fig. 4.1 em que, sendo a dimensão da secção recta da conduta normal ao plano
da página muito maior que a outra dimensão, o escoamento se processa como
entre duas placas paralelas distando de h. A fim de obtermos já informação
relevante para escoamentos de cam ada limite admitamos que as duas placas
estão animadas de movimento relativo, deslocando-se a placa superior com uma
velocidade Ú constante em relação à inferior, fixa no nosso referencial, e que,
entre as regiões de montante e de jusante, está instalado um qualquer diferencial
de pressões; esta situação é conhecida por escoamento de Couette. O caso da
experiência de Stokes, apreciado na Sec. 1.3., constitui um caso particular deste
170 CAP 4 ESCOAMENTO LAMINAR

em que é nulo o diferencial de pressões; o caso do escoamento numa conduta


rectangular constitui um outro caso particular, em que agora é Ú = 0.

77777777777777777777.7 I
Fig. 4.1 Geometria de escoamento de Couette.

Sendo o escoamento bi-dimensional, a equação da continuidade (2.7)


reduz-se a
dU dV _
dx + dy '
como estamos em condições de escoamento completamente desenvolvido será,
por definição, dU/dx nulo donde, por continuidade, dV/dy terá também de ser
igual a zero; no caso de paredes não porosas será P = 0 na parede, e como Vé
constante ao longo de y, deverá ser V constantemente nulo para todo o
escoamento. Concluímos assim que, com paredes sólidas, um escoamento bi-
dimensional completamente desenvolvido forçosam ente redunda uni­
dimensional, i.e. U = ([7,0,0) só.
Nestas condições, os únicos elementos não nulos do tensor desviador das
tensões são ra = t u =tidUldy=X, digamos, e a equação do movimento
(2.16.a) degenera em
dp__ d2U _ dz
dx ^ dy2 dy
Verificamos desta relação que constância da quantidade de movimento de
um elemento de fluido requer, evidentemente, um equilíbrio perfeito dos
diversos termos fonte; gradiente longitudinal de pressão e gradiente transversal
de tensão de corte.
Atendendo às condições fronteiras í/(y = 0) = 0 e U (y = h) = U , obtém-se,
por uma primeira integração da equação anterior, a distribuição de tensões de
corte

(4.2.a)

e, sob nova integração, a distribuição de velocidades

(4.2.b)
SEC. 4.1. ESCOAMENTOS LAMINARES UNI DIMENSIONAIS 171

Qualquer destas distribuições é dada pela soma de dois termos,


representando o primeiro a influência do movimento relativo das duas placas
(U) e o segundo o efeito do gradiente de pressão ( dp/dx) — seria de prever
uma formulação do tipo da obtida, pois que, sendo a equação diferencial de
partida linear, uma sua qualquer solução geral deveria resultar de uma
combinação linear de soluções particulares. As contribuições referidas são,
respectivamente, constante e linear para o perfil de tensões de corte, e linear e
parabólica para o perfil de velocidades. Na situação [) = 0, equivalente à do
escoamento no interior de uma conduta, os perfis de tensão de corte e de
velocidade têm então a forma indicada na Fig. 4.2 e a relação entre velocidade

Fig. 4.2 Perfis de tensão de corte e de velocidade para escoamento completamente desenvolvido
entre duas placas paralelas estacionárias.

máxima, que ocorre no plano central da conduta, e gradiente de pressão vem


dada por
h2 dp
Vma = U{y = h/2) = -
8 ^ dx
Concluímos, tanto desta equação como da que descreve a forma do perfil de
velocidade, que a um valor constante e positivo de velocidade está associado um
gradiente longitudinal de pressão dp/dx constante e negativo. Este é o tipo de
perda de energia mecânica, sob a forma exclusivamente de energia potencial de
pressão, que já na sub-Sec. 2.6.1. designámos por "perda de carga em linha".
No caso geral das duas placas estarem animadas de movimento relativo e
escolhendo, como escala de velocidades característica do campo, a velocidade U
de translação da placa superior em relação à inferior, obtém-se para o perfil de
velocidade, em termos de parâmetros adimensionais,
U 1
Ú h ,+ a H ) .

com A definido por


n dp
A -- (4.3.a)
2p U dx
Na Fig. 4.3 estão representados vários perfis adimensionalizados de
velocidade correspondentes a diferentes valores do parâmetro de gradiente de
172 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

pressão A . Verificamos que em bora as distribuições de velocidade depend


do gradiente de pressão, a sua form a é ditada, não isoladamente pelo valor
dp/dx, mas sim pelo valor da relação e

_ Ã2 dp l dp J Ú
p Ú d x ^ ^ p d x / Vh T ' (4'3'b)

Fig. 4.3 Perfis de velocidade em escoam ento de Couette para diferentes valores
do parâmetro A de gradiente de pressão.

Dado que v Ú / h 2 tipifica a o rd em d e g ra n d e z a do s efeitos de difusão


transversal de quantidade de m ovim ento ex pressos p o r v d 2U /d y2y concluímos
que a forma do campo de velocidades d epen d e da influência relativa do efeito
de distorção imposto pelo gradiente d e p ressã o e do efeito uniformizante de
difusão molecular. Para valores de A < - l m o stra a figura anterior a existência
de escoamentos com sentidos opostos: ju n to à p ared e fixa (no referencial
escolhido) o efeito de um gradiente de p ressão actuando em sentido contrário
ao do deslocamento relativo das duas placas —- g rad ien te de pressão adverso
dpjdx> 0 — prevalece sobre o efeito d e 'a rra sta m e n to 1 resultante do fluxo
transversal de quantidade de m ovim ento e d á o rig em a uma reversão do
escoamento.
Tivemos assim oportunidade de q u a n tific a r, p a ra o caso particular de
escoamento de Couette, a situação já fisicam ente assinalad a na Sec. 1.3. e que,
pela sua relevância, continuamos a destacar, de qu e e m b o ra seja condição
necessária para a ocorrência de se p a ra ç ã o a e x istê n c ia d e um gradiente de
pressão adverso, esta condição n ão é su fic ie n te , p o is o verificar-se ou não
separação depende da influência rela tiv a d os efeito s d o g rad ie n te de pressão e
da difusão transversal de quantidade de m ov im en to.
Efeitos análogos ocorrem em escoam entos de cam ada lim ite, dos quais a
situação do difusor representada na Fig. 4.4 é ex e m p lo típico. Dado que a
intensidade do gradiente de pressão adverso é fundam entalm ente controlada
pela taxa de variação de área da secção, para ev itar a ocorrência de separações
há necessidade de manter o ângulo de ab ertu ra to ta l do difusor abaixo de
valores críticos da ordem dos 10°, d ifu so res lo n g o s requerendo menores
SEC. 4.1. ESCOAMENTOS LAMINARES UNl-DiMENSlONAIS 173

F ig . 4.4 E s c o a m e n to co m sep araçõ es num difusor.


ângulos d e a b e r t u r a q u e d i f u s o r e s c u rto s . U m a das técnicas usuais para
m inim izar e fe ito s d e s e p a r a ç õ e s e m d ifu so re s de grande ângulo de abertura é
d iv id i-lo s e m d i f u s o r e s d e m e n o r â n g u lo p o r m eio de placas directrizes
dispostas r a d ia lm e n te a p a r t i r d a o r ig e m v ir tu a l [virtual origin] do difusor,
como ilu s tra d o n a F ig . 4 .5 . H d e n o ta r q u e este dispositivo não opera, porém,
por re d u ç ã o d a i n t e n s i d a d e d o g r a d ie n te d e pressão adverso associada à
d im in u iç ã o ' d o â n g u l o d e d iv e r g ê n c ia , co m o m uitas vezes (erradamente)
referido (!); d e f a c to , é f á c il v e r if ic a r, p o r exem plo simulando o escoamento
com u m a fo n te c e n tr a d a n a o r ig e m v irtu al, que, na ausência de separações, em
que é v á lid o s u p o r o e s c o a m e n t o c o m o d e flu id o perfeito, o gradiente de
pressão é o m e s m o c o m e s e m p la c a s d irectrizes; na prática, estas limitam-se a
evitar a p r o p a g a ç ã o d e z o n a s d e e s c o a m e n to separado e a uniformizar a

d istrib u iç ã o d e v e lo c id a d e s , r a z ã o p o r q u e a p erd a de carga diminui. Reduções


da p erda d e c a r g a e m r e la ç ã o à s itu a ç ã o sem p lacas directrizes são da ordem dos
35% p a ra a s r e la ç õ e s â n g u lo s d e a b e rtu ra to tal cc, núm ero de placas divisórias n
in d icad as n o q u a d r o d a F ig . 4 .5 [78], O e fe ito destas placas directrizes no
esc o a m e n to n u m d i f u s o r e s tá d o c u m e n ta d o na Fig. 4.6 [177].

F ig . 4 . 6 R e d u ç ã o d e s e p a ra ç õ e s c o m a in stala çã o d e placas directrizes num difusor.


1 74 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

4.1.2 . Escoamento de Hagen-Poiseuille

Consideremos agora o caso de geom etria cilíndrica do escoameoto


com pletam ente desenvolvido num tubo de raio R. Trabalhando, por
conveniência, em coordenadas cilíndricas e seguindo uma metodologia
semelhante à utilizada na situação de geom etria rectangular, concluímoí
também, a partir da equação da continuidade na forma expressa na Sec. C.2.I. t
conform e já dem onstrado na sub-Sec. 2 .6 .I., que o escoamento será
forçosam ente uni-dim ensional, i.e. que U(Ur,Ue,Us ) * Ú(0,Q,U) só; a
equação do movimento apresentada em C.2.4. reduz-se a

pois T = —fid U ld r — lembrar, com o referido na sub-Sec. 2.6.1., que r


(distância radial a contar do eixo do tubo) e v (distância a contar da parede para
o interior do escoamento) variam em sentidos opostos.
A sem elhança do praticado no caso anterior de geometria rectangular
pretenderíamos agora obter, sob uma primeira integração, o perfil de tensões de
corte e, sob nova integração, o perfil de velocidades, para o que requcrcríanMH
duas condições fronteira para determ inar as duas constantes de integração,
acontece que, no presente caso, apenas dispomos de uma condição fronteira e
não de duas: a condição de não-escorregam ento í/( r = /? ) = 0. Precisamos,
assim, de recorrer a uma qualquer outra relação suplementar, inspirada na física
do processo, não uma verdadeira condição fronteira.
Integrando então a relação anterior
dp
r—
dx
obtemos:
r2 dp
Tr = ----------+ const.
2 dx
Ora um valor co n st.* 0 para a constante dc integração requereria, no centro
do tubo ( r = 0), um r = i.e. um fluxo infinito de quantidade de movimento a
que estaria associada uma descontinuidade infinita de velocidade, o que não t
fisicamente aceitável; assim, deverá ser const.= 0.
Sob nova integração obtém-se a forma do perfil de velocidades, podendo *
nova constante de integração, essa sim. ser determinada a partir da verdadeira
condição fronteira de não-escorregamento na parede sólida do tubo. Obtém-*
finalmente:
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES DE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 175

(4.4.b)

Til como no caso anterior, a distribuição de tensão de cone é linear e a de


tctocidade parabólica. A velocidade máxima na secção é

4 p dx
t o caudal volumétrico

kR4 dp
Q= 2/r £ V r dr - - 8 p dx

A velocidade média na secção vem então dada por

V. =i u (4.5)
nRl dx 2

Igualando as relações para dp/dx expressas por (4.4.a) — para r = tf, onde
Tf r s K) = rw é a tensão de corte na parede — e por (4.5) obtém-se
. 64
A“ * (46)
ooòc o coeficiente de fricção X é definido, por (2.32), como

4 r.
A=
\pvL
e R e ^ U ^ O / v é o número de Reynolds característico do escoamento. A
relação (4.6) entre X e Re — relação linear cm escalas logarítmicas — é
conhecida por equação de H ageivPoiseuille e verifica-sc cxpehmcntalmentc
%ilida ate Reynolds‘s da ordem de 2300; a partir desse valor de Re o
escoamento é normalmente turbulento.

42 Aproximações e equações de camadas de corte


delgadas bi-dimensionais em regime laminar
Depois de termos analisado na secção anterior casos de escoamentos
permanentes uni dimensionais, consideremos agora a situação mais complexa
de escoamentos bi-dimensionais (também permanentes), na qual o sistema (4.1)
« reduz a:
C.AV 4 fSCOAMlNIO LAMINAR

:l +t -- --+ t
«b «A- f íív

>/ --- + 1 - = -
' <^v dy (4.7)

Na sub-Sec. 4.2.1. deduziremos, com base em argumentos de ordem de


grandeza relativa, segundo os quais um termo de uma dada ordem de grandeza
(decimal) pode. para efeitos de cálculo, ser desprezado perante outros de muito
maior ordem de grandeza — digamos, um milhão (106) de vezes m aior—, a
torma sim plificada que assumem as equações diferenciais do campo cinemático
de escoamentos de fluido real em regime laminar (4.7) no caso do escoamento
se processar a números de Reynolds elevados, em que é de prever, com base nos
argumentos de natureza física apresentados na Sec. 1.3., que a camada de corte
seja delgada: enunciarem os implicações destas aproximações em termos de
esforço de cálculo e realçaremos limitações à sua utilização. Na sub-Sec. 4.2.2.
apreciaremos efeitos globais induzidos pela presença de uma camada limite e
estabeleceremos a forma da equação que rege o seu desenvolvimento em termos
destes parâm etros integrais característicos. Estas duas primeiras sub-secções
referem -se a situações de geom etria bi-dim ensional cartesiana; na sub-Sec.
4.2.3. faremos um apontamento sobre o caso bi-dimensional axi-simétrico.

4.2.1. Equações diferenciais


Determinemos, com base em argumentos de ordem de grandeza relativa dos
diversos termos, a forma sim plificada que assumem as equações exactas de
Navier-Stokes e da continuidade, expressas em (4.7), no caso de escoamentos de
camadas de corte laminares processando-se a números de Reynolds elevados.
Suponhamos, por uma questão de simplicidade, a situação representada na
Fig. 1.34 de uma camada limite desenvolvendo-se ao longo de uma placa plana
sob a acção de um escoamento exterior de velocidade £/c e admitamos, como
única hipótese simplificativa, que Re = Uex / v » 1, em que x é o comprimento
de desenvolvimento ao longo da placa (*).

(*) Salienta-se que em diversos textos são referidas, como hipóteses simplificativas para
aplicação das aproximações de camada limite, i) Reynolds elevado e ii) camada de corte
delgada, o que é redundante, pois que se a representação formal do nosso processo físico
estiver correcta, o facto da camada de corte ser delgada deve naturalmente surgir em resultado
da hipótese R e » 1.
SEC 4.2. APROXIMAÇÕES DF CAMADAS DE C O R lt DtlCiADAS 177

Para o escoamento de velocidade exterior Ue sobre uma placa plana de


comprimento L, a componente longitudinal de velocidade a uma distância x do
bordo de ataque da placa variará, no interior da camada limite, de 0 na
superfície a praticamente Ut a uma distância Ô da parede sólida. Estabelecendo
como ordem de grandeza de um dado parâmetro o limite superior de variação
desse parâmetro (tal como primeiro fizemos na Sec. 1.3.), teremos que a
coordenada x, variando de 0 a L, será de ordem de grandeza L, o que
representaremos por 0 [ x ]= L , e analogamente para y e U virá ô[y] = 5 e
0[U]~Ue. A equação da continuidade

dx dy
escrita em termos de ordem de grandeza

fornece-nos imediatamente, para ordem de grandeza da componente V,

Notamos que ao trabalhar com ordens de grandeza não nos preocupamos sobre
se um dado termo é positivo ou negativo.
Quanto à ordem de grandeza das componentes do gradiente de pressão que
figuram na equação do m ovim ento temos que, no escoamento potencial
exterior, a pressão estática e a velocidade estão relacionadas pela equação de
Bemoulli (2.23.a), pelo que fora da camada limite é dps/dx = - p U edUe/dx. O
termo equivalente para o escoam ento de camada limite deverá então ser da
mesma ordem de grandeza, i.e.

p dx J |_ p dx J L
Embora seja de prever que o gradiente transversal de pressão estática seja
pequeno, pois sendo baixa a taxa de crescimento de camada limite a curvatura
das linhas de corrente será pouco acentuada, não é possível fazer a priori uma
estimativa da sua ordem de grandeza; esta terá de ser obtida por comparação
com a ordem de grandeza dos outros termos da componente segundo y da
equação do movimento.
Escrevamos então a prim eira equação de transporte de quantidade de
movimento (4.7)
1 7S C \r. 4 ESCOAM ENTO LAMINAR

em termos de ordem de grandeza; vira:


r U.
+U + V’

de onde

Í1 Ei v; ( u; v
L L i + l u l

Concluímos então que os diversos termos são, quanto muito, de ordem de


grandeza U’ jL , o que justifica a nossa hipótese para ordem de grandeza de
dp:'dx. Dividindo ambos os membros da equação por U \ j L verificamos que a
primeira contribuição do termo difusivo, resultante de v d 2U/d;t2, é da ordem
do inverso do número de Reynolds; dado que admitimos como hipótese de
partida R e»l, esta contribuição será desprezável comparada com os outros
termos de ordem unitária em presença, significando que, no sentido
longitudinal, o tra n s p o rte d ifusiv o é d esp re zá v el com parado com o
convectivo. Quanto à segunda contribuição difusiva, sendo obtida por soma ou
diferença de um reduzido número de term os de valor unitário, será quanto
muito de ordem 1, i.e.

-í-fíV -,
U L{Ô
de onde

L V Re
resultado já obtido como eq. (1.29).
Ainda um comentário sobre os argum entos que conduziram a este último
resultado. Invocámos que sendo a única contribuição difusiva obtida por soma
ou diferença de um reduzido número de term os de ordem unitária ela seria
quanto muito de ordem unitária. Notemos, exem plificando numericamente, que
duas situações extremas podem ocorrer consoante esses poucos termos de
ordem unitária estejam a som ar ou a subtrair. Suponhamos,, então, o caso
simples de apenas dois termos de ordem unitária, um deles valendo 1,001 eo
outro 0,999:
a) se os termos estiverem a somar, obtem os com o resultado 1,001+0,999 =2,
que é um termo de ordem unitária — claro que se somarmos 1000 termos
de ordem 1 obtemos um resultado de ordem 103 !
b ) se os termos estiverem a subtrair, obtemos 1,001 - 0,999 = 2 x 10~3, um termo
3 ordens de grandeza inferior a qualquer dos outros e, portanto, desprezável
quando comparado com eles.
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES DE CAM ADAS DE CORTE DELGADAS 179

Qualquer destas duas situações pode ocorrer e ambas tôm interesse do ponto
de vista de simplificação das equações de Navier-Stokes. Porém, no caso
ilustrado em b), tendo nós já eliminado uma das duas contribuições difusivas
o[v32l//á*2j= l//te « 1, se também eliminássemos a outra v d 2U/ dy2 cairíamos
numa situação de fluido ideal, perfeitamente válida para descrever o
comportamento do escoamento exterior à camada de corte, mas não a camada
de corte em si, que é a região do escoamento agora objecto de análise.
Concluímos então que, para apreciar o caso em que estamos interessados, onde
os efeitos de corte não são nada desprezáveis, devemos, sim, considerar uma
situação do tipo da exemplificada na alínea a) acima, na qual, em resultado da
soma e da diferença de um reduzido número de termos de ordem unitária,
obtemos um termo quanto muito de ordem de grandeza unitária.
Apliquemos finalmente o mesmo tipo de apreciação, em termos de ordem
de grandeza relativa, à equação restante de transporte da componente V:

n d v A âv 1 dp ( d 2V dM
dx dy p dy ^ dx2 dy2 J
virá*.

• i l j - 0L P * r vr i r +“ s H -

U2J U28 (
1 dp V U]8
Ú + Ú pdy vA L1

pois que a ordem de grandeza de dpjdy ainda não é conhecida.


Dividindo ambos os membros por U l ô / â e atendendo a que (L/Õ)2 - R e y
por (1.29), vem:

1 dp
1+1 = - 7 - 0 + — + 1
u lô P dy Re
pelo que

dp
= 1
UlJ p dy
de onde

o [ - I ^ l = í£ £ .
L Pdy\ Ú

a ordem de grandeza da variação de pressão estática através da espessura da


camada limite será assim
180 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

variação desprezável comparada com a pressão dinâmica no escoamento


potencial exterior j p U 2, aqui tomada como base de comparação, pelo que
podemos escrever

JJ-°.
ây
(4.8)

Tentemos ganhar sensibilidade para a intensidade deste gradiente transversal


de pressão associado a efeitos viscosos numa placa plana, que acabámos de
considerar desprezável, determinando, em condições de fluido perfeito, a flecha
de uma placa de raio de curvatura R = const. requerida para, a fim de equilibrar
a força centrífuga, induzir um gradiente radial de pressão da mesma intensidade
[28]:
dp_
i) contribuição viscosa em superfície plana: 0 = p u ; ^ r2 »
dy

^ . dp p U 2
ii) contribuição invíscida em superfície curva: — = —— com U o (/„.
ay R
Igualdade das duas contribuições:

conduz a:
L_6
R~ L
Ora mesmo no caso bastante severo de uma camada limite turbulenta
desenvolvendo-se em gradiente de pressão adverso — oportunamente veremos
que uma camada limite turbulenta cresce a uma taxa superior a uma camada
limite laminar e que essa taxa de crescimento aumenta ainda em gradiente de
pressão adverso — temos, tipicamente:
~dy
0 = — - 20 mm/m = 0,02
_dx _ L
de onde R = 50L.
Tal relação verifica-se, p.ex., no caso ilustrado na Fig. 4.7 de um perfil em
arco de círculo, onde de
/
e de 2)3 =sen2j8 = h !2 i
R
dentro de uma aproximação de pequenos ângulos segundo a
sen/3 * tan/3 - /3, com /3 em radianos — se obtém:
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES DE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 181

Fig. 4.7 Parâmetros geométricos para uma placa curva em arco de círculo.

4R
epara R -5 0 L :

L .L = 0,25%.
l 400
Esta flecha relativa de 0,25%, obtida num caso extremo de camada limite
turbulenta em gradiente de pressão adverso, corresponde, por exemplo, a um
perfil em arco de círculo com 1 m de corda e uma flecha de apenas 2,5 mm, o
que nos dá bem noção de quão desprezável efectivamente é a intensidade do
gradiente transversal de pressão induzido por efeitos viscosos numa superfície
plana, Podemos assim adm itir, com grande aproximação, que para o
escoamento sobre uma superfície plana é dp/dy = Q pelo que o gradiente
longitudinal de pressão é muito aproximadamente o mesmo para o escoamento
de camada limite e para o escoamento potencial exterior, sendo este último
ditado por condições de fluido perfeito; em superfícies curvas podemos, pela
mesma razão, considerar que dpjSy é controlado só por efeitos invíscidos, i.e.
Bp _ pU1
dy R
Embora aparentemente pacífico, o efeito de dp/dy na diferença entre os
valores de dp/dx a y = 0 e a y = Ô depende de d(l/R)/dx, e este exibe uma
descontinuidade infinita quando, por exemplo, uma superfície plana encontra,
mesmo com continuidade tangencial, uma superfície com uma dada curvatura,
caso em que uma avaliação de ordens de grandeza relativa se toma complicada
[28] — é o tipo de efeito que, nos primórdios dos caminhos de ferro, provocava
sistemáticos e inexplicáveis (!) descarrilamentos em zonas em que, a um troço
rectilíneo, se seguia uma curva a R = const.
Dado que a única informação que nos fornece a equação de transporte
segundo y é a de que d p /B y ^O , podemos ignorar esta equação e injectar a
respectíva informação na equação de transporte segundo x, escrevendo dp/Bx
como dpt j d x y i.e. dentro deste grau de aproximação a pressão no interior da
182 CAM ESCOAMENTO LAMINAR

camada de corte só varia na direcção longitudinal, exibindo, em cada estação, o


mesmo valor que no escoamento potencial exterior, tal como já expectavelmente
notado na Sec. 1.3.; este facto é geralmente referido declarando que a pressão é
imposta sobre o escoamento de camada limite. As equações simplificadas de
camada limite assumem então a forma

„dU SU 1 dp, d*U


U— +V— =---- — + v — T
dx dy p dx dy
(4.9)
dU dV A
— +— =0
dx dy

sistema de duas equações a duas incógnitas U c V .


A pressão estática deixou assim de ser incógnita para passar a ser um dado
determinado por condições do escoam ento exterior. A fim de resolver as
equações de camada limite há, então, necessidade de se fazer um cálculo prévio
do escoamento potencial exterior para obter inform ação quanto ao gradiente de
pressão sob o qual se desenvolve o escoam ento de corte. Estas equações são
substancialmente mais fáceis de resolver que as equações exactas originais (4.7)
pois, por eliminação da contribuição difusiva v d 2U / d x 2 e de p como incógnita,
o tipo das equações foi alterado de elíptico para parabólico em x, o que permite
resolução por um processo de marcha, exigindo muito menores tempos de
computação e capacidades de memória que o sistema elíptico inicial — vidé Sec.
B .5 .
Nota-se, a propósito, que embora esta forma aproxim ada das equações de
camada limite tenha, por uma questão de sim plicidade, sido estabelecida para
escoamento permanente, tal não é um im perativo ou uma condicionante,
bastando que

dU
dt 4
isto é, que a escala de tempos característica do processo não seja menor que o
quociente entre as escalas globais de comprimento e de velocidade adoptadas:

0 [tU L IU e .

Um alerta importante sobre um cuidado óbvio a ter na utilização das


equações aproximadas de camadas de corte delgadas. Salientámos que os
resultados das aproximações podiam ser lidos como implicando i) que no
sentido longitudinal (no sentido do eixo dos x's) o transporte difusivo era
desprezável comparado com o convectivo e ii) que o gradiente transversal de
pressão (no sentido dos y's) era desprezável. Tal implica que para utilizarmos as
aproximações de camada limite precisemos de estar sempre a raciocinar em
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES DE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 183

termos de um referencial local em que o eixo dos x’s esteja alinhado com a
direcção convectiva. É a situação que se assinala na Fig. 4.8 do escoamento em
tomo de um perfil alar (em que as espessuras das camadas limites
desenvolvendo-se ao longo do extradorso e do intradorso a partir do ponto de
estagnação anterior e prolongando-se numa esteira estão largamente
exageradas).

Fig. 4.8 Referenciais locais e geral para cálculo do escoamento de fluido real
em tomo de um perfil alar.

Recurso às equações aproximadas de camada limite (4.9) exige utilização


dos referenciais locais (.xty ) assinalados; cálculo do escoamento com base nas
equações exactas de Navier-Stokes (4.7) poderia ser feito, todo ele, num único
referencial, como, p.ex., o referencial geral (X, F) indicado, com origem no
bordo de ataque do perfil e com o eixo dos X's alinhado com a corda, ou,
alternativamente, num referencial em que o eixo dos X's estivesse alinhado com
U„ — referencial aerodinâmico. Utilização das aproximações de camada limite
não é, assim, independente da escolha do referencial.
As equações de camada limite (4.9) deixam de ser aplicáveis em zonas do
escoamento em que a curvatura das linhas de corrente seja apreciável ou em que
os gradientes de tensões normais viscosas não sejam desprezáveis, como, por
exemplo, na vizinhança de um ponto de separação. As equações, sendo do tipo
parabólico, não poderão, logicamente, descrever a propagação de perturbações
para montante que ocorre na zona de reversão do escoamento depois da
separação, mas mesmo antes da separação já dp/dy e v d 2Ufdx2 não serão
desprezáveis comparados com outros termos em presença; como teremos
oportunidade de quantificar na sub-Sec. 4.4.2., a evolução de forma do perfil
de velocidades de uma camada limite é muito rápida em direcção a um ponto de
separação, i.e. tanto dU/dx como d 2U fdx2 são grandes, do que resulta que a
componente de transporte difusivo v d 2U /dx2 deixe de ser desprezável
comparativamente ao transporte convectivo.
Trata-se do mesmo tipo de efeito que ocorre no caso aparentemente
inofensivo, ilustrado na Fig. 4.9, da porção inicial da esteira formada a jusante
de uma placa plana alinhada com o escoamento de aproximação. Sendo
dU/dx » 0 nesta região, será dV/dy « 0, por continuidade, o que implica um
dp/dy não desprezável numa extensão, digamos, de aproximadamente 2Ô, em
184 CAP 4 ESCOAMENTO LAMINAR

que se verifica urna interaeção forte camada de corte / escoamento exterior; tal
região de transição camada limite / esteira terá então de ser trabalhada ou com
Navier-Stokes ou recorrendo a correlações mais ou menos empíricas.

F i g . 4 .9 C am ad as lim ites e e s te ira nu m esco am en to de placa plana.

Entre o extremo, computacionalmente pesado, das equações exactas de


Navier-Stokes (4.7) e o extremo, computacionalmente muito mais ligeiro, das
equações de camadas de corte delgadas (4.9), que acábamos de apresentar,
outros graus de simplificação intermédios podem ser formulados [146]. A
ReynoIds’s elevados e em escoamentos com uma direcção convectiva dominante
a difusão longitudinal pode ser desprezada; na equação de transporte segundo y
também os termos de difusão transversal são desprezáveis, pelo que esta equação
assume uma natureza invíscida. Embora as três equações do sistema exacto (4.7)
permaneçam inteiramente activas e mantenham o seu carácter elíptico, esta
eliminação de algumas das contribuições difusivas permite aligeirar o esforço de
cálculo: são as chamadas equações de N avier-Stokes reduzidas [Reduceâ
Navier-Stokes equations RNS]. Se, num grau de simplificação seguinte, dpjdx
for ainda prescrito por condições do escoamento exterior, em vez de ser
calculado, então as equações tornam -se do tipo parabólico, podendo ser
resolvidas por um processo de marcha na direcção convectiva: equações de
N avier-S to kes p a ra b o liz a d a s [Parabolized Navier-Stokes equations PNS];
neste caso, porém, a aproximação fica restrita a escoamentos permanentes e
requer que a componente de velocidade na direcção convectiva seja sempre
positiva, o que não permite contemplar situações de reversão do escoamento.

4.2.2. Equação integral de von-Kármán; parâmetros integrais


Em muitas situações pretende-se obter exclusivamente informação quanto
aos efeitos globais produzidos, ao longo da superfície sólida, por um
escoamento de camada limite. Esta informação pode ser conseguida tanto por
integração segundo y e a x constante dos resultados obtidos para todo o campo
através das equações diferenciais (4.9) como, muito mais economicamente,
partindo já das equações de camada limite integradas na direcção transversal,
caso em que as equações às derivadas parciais em x e y degeneram em equações
diferenciais ordinárias em x. A equação integral de camada limite é conhecida
por equação integral de von-K árm án.
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES DE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 185

Antes de integrar a única equação da quantidade de movimento (4.9) obtida


de acordo com as simplificações de camada limite torna-se conveniente
trabalhar a forma de alguns dos seus termos. Assim, e dado que o escoamento é
quase uni-dimensional, o transporte difusivo pode ser escrito na forma
fv 1 dt du
vW *~p^ com
o gradiente longitudinal de pressão pode ser relacionado com o gradiente de
velocidade exterior diferenciando a equação de Bernoulli (2.23.a), de onde

pdx t dx
e a componente transversal de velocidade a uma distância y da parede vem dada,
a partir da equação da continuidade, por

Obtém-se então para a equação do movimento, integrando entre y = 0 e


uma cota y ~ h ~ const. > 6 :

tr)U W. ph 1 ( 9 t t

dx dy J . - r * ’- 1'' dx J0 p dy p

onde rw representa a tensão de corte superficial definida em (1.32).


Integração do segundo termo do primeiro membro por partes conduz a:

que, revertendo à equação de partida, produz:


th( dU dU dU \ Iw
dx dx p
2\ T
(I« . ^ V iv - M
dx dx dx P
Somando e subtraindo na integranda vem:
dx
186 i'4 P 4 ESCOAMENfO LAMINAR

Permutando diferenciação em v com integração em y , o que é váJido visto os


limites Je integração serem independentes de ç, vem finalmente:

ou, adimensionalizando velocidades por Ue :

Dado que as integrandas se anulam praticamente para y>Ô< o limite de


integração pode ser convenientemente tomado, embora de forma aproximada,
como h = Õ.
Investiguemos o significado físico de cada um dos termos integrais,
começando pelo segundo por ter uma forma mais simples:

£ ( U , - U ) d y = £ u t < fy-£u< fy.

Sendo U d y o caudal volumétrico através de um elemento de área dyx 1, a


diferença dos dois termos integrais equivalerá à diferença entre os caudais
volumétricos escoados através de uma secção <5x1 em condições de fluido
perfeito — velocidade E/e = const. — e em condições de fluido real —
velocidade continuamente variável de f/(>, = 0) = 0 a U (y= Ô )*U c sendo
assim representativa do déficit de caudal associado à presença da camada limite
e induzido pela condição de não-escorregam ento numa parede sólida. Tal
déficit de caudal corresponderia ao caudal que, em condições de fluido perfeito,
seria escoado num tubo de corrente de dimensão transversal (segundo y) 5* tal
que:

S * U '= f0 {U '-U )d y ,

como ressalta da compensação de áreas (caudais) ilustrada na Fig. 4.10.

Fig. 4.10 Compensação de áreas para definição de £*•

Obtemos assim, para definição de ô* :


SEC . 4 .2 . A PRO X IM A ÇÕ ES DE CAM ADAS D t CORTE DELGADAS 167

Esta dimensão linear equivale à distancia de que as linhas de corrente do


escoamento potencial são deslocadas, por acção deste déficit de caudal, para o
seio do escoamento e é por isso designada, como primeiro referido na Sec. I.3.,
por espessura do deslocam ento. A escala de comprimentos <5*. fornecendo
uma medida do efeito da camada limite sobre o escoamento exterior e sendo
definida sem ambiguidades, constitui claramente uma escala fisicamente mais
significativa, para caracterizar ocorrências locais, que a espessura de camada
limite 8.
Semelhantemente, o primeiro termo integral

representa o déficit de quantidade de movim ento que, para o caudal


efectivamente escoado no interior da camada limite — a que corresponde uma
contribuição elementar Udy — , se regista em condições de fluido real —
U=U(y) — comparativamente ao que se registaria em condições de fluido
perfeito — U ~U t — e, analogamente a 5*, pode ser tomado como o que
ocorreria em condições de fluido perfeito num tubo de corrente de espessura 6
tal que:

de onde

(4.11)

0 parâmetro 9, primeiramente apresentado na eq. (2.35) da sub-Sec. 2.6.4.,


é designado por espessura do déficit da quantidade de movimento ou
simplesmente por e sp e ssu ra d a q u a n tid a d e de m ovim ento. Notemos a
conveniência em definir 6 em termos do caudal efectivo no interior da camada
limite e não em termos do caudal ideal, pois que o déficit de caudal já está
contemplado em Ô*.
Conhecido o perfil de velocidades, os parâmetros integrais $* e 0 podem
ser obtidos por integração como indicado na Fig. 4.11.

ô
F ig . 4 .1 1 Áreas correspondentes a <5*ea 6,
168 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

Em termos destes novos parâmetros integrais a equação de von-Kárm$


escreve-se n

~ l u e2 e )+ u e ô * ^ - = ^
dxK e 1 e dx p
ou ainda, desenvolvendo e reagrupando termos, como
d9 n H +2 dUt C(
— + 0 ---------- - = — (4.12)
dx Uc dx 2

onde Cf é o coeficiente de tensão de corte superficial [skin friction coefficient]

definido como o quociente entre os déficits de caudal e de quantidade de


movimento, quantifica a forma do perfil de velocidades, sendo por isso
designado por factor de forma \form factor}.
É fácil constatar que o valor numérico de H — número adimensional, já que
se trata de comprimento (<$*) a dividir por comprimento (0 ) — permite
quantificar a forma do perfil de velocidades, ou seja, a intensidade dos déficits
de caudal e de quantidade de movimento. De facto, atendendo à equação de
definição (4.14) e notando que o mesmo termo nas integrandas (1 -t//[/e)é
ponderado, no denominador, por um factor U/Ut < 1 sempre, e no numerador
por um factor = 1, digamos, logo concluímos que o denominador será sempre
menor que o numerador e que, portanto, a fracção será sempre maior do que a
unidade, i.e. H>1 sempre, e tanto maior quanto menor for U/UQ, ou seja,
quanto maiores os déficits no interior da camada limite.
Em gradiente de pressão nulo a equação integral de von-Kármán (4.12)
reduz-se a
d0_C L
(4.15)
dx 2
relação a que iremos várias vezes recorrer.
Levando uma ordem acima este estabelecimento de escalas de comprimento
caracterizadoras de déficits no interior da camada limite, define-se por vezes, no
contexto de uma equação integral de energia e à semelhança das espessuras do
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES DE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 189

deslocamento e da quantidade de movimento, uma espessura da energia |I47J


como

Para bem identificar os diferentes níveis das quantidades em jogo, as espessuras


do deslocamento (caudal), da quantidade de movim ento e da energia são então
referidas por <5,, Õ2 e respectivam ente, resultando, para o factor de forma
H m (4.14), a explicitação Hn = ; sem elhantem ente se define um outro
factor de fornia Hn ~ S %j S 2 , cuja evolução é preferida por alguns autores,
comoe.g. no método de Eppler de projecto de perfis alares [44]. No presente
texto não iremos utilizar Hn ; fica apenas esta sua referência.
Um efeito importante de convergência ou divergência lateral do escoamento
ressalta imediatamente na equação integral de von-Kármán quando aplicada ao
desenvolvimento de uma camada lim ite no plano de simetria de uma conduta
com paredes laterais convergentes ou divergentes, como ilustrado na Fig. 4.12
para o caso estilizado de paredes laterais planas [147].

a)Paredes divergentes: x ~ x 0 >0 b) Paredes convergentes: x - x 0 < 0

Fig, 4,12 Geometria de conduta com paredes laterais planas convergentes / divergentes.

No plano central, embora seja W = 0 , por sim etria, é d W / d z * 0, i.e. o


escoamento é geométrica embora não aerodinamicamente bi-dimensional. Tal
implica que a equação de quantidade de movim ento a integrar, dentro das
aproximações de camada limite, assuma a mesma forma que em escoamento bi-
dimensional puro mas que na equação da continuidade intervenha um termo
extra tri-dimensional:
du dv dw
* +^ + * ' = 0 -
Em resultado, a componente V a uma qualquer cota y escreve-se agora

do que resulta para o integral da segunda contribuição convectiva nas equações


de camada limite, procedendo para o termo em dW /dz à mesma integração por
partes que a anteriormente praticada para o termo em dU/dx:
190 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

f* „ d U _ r* d U ^ rfi r d U , eh d W r'-
LV** -U-L-£*+1 U**-U-L * - H l T 1—
U dW A
az
d y\

os dois últimos termos estão agora associados à convergência / divergência


lateral do escoamento.
Para convergência / divergência colateral, i.e. efeito da convergência /
divergência independente da cota y, considerações geométricas — vidé Fig. 4.12
— conduzem a:
W_ V
de onde
U" * Lo
Os dois termos adicionais podem-se então escrever
eh d W ri* dW 1 eh . .
eJoÍ 3dr.7 ífy+ lnC/3az- ^ = --------
x - x n 1Jo V{Vt - U ) d í

= - í / c2— — por (4.11).


x-x0
A equação integral de von-Kármán (4.12) adquire assim, por efeito da
convergência / divergência colinear, um termo extra 9 —
dO 'c , ( j H + 2dUc '\ 0
(4.16.a)
dx 2 Ut dx J x - x Q
revelando que, comparativamente ao caso de referência de escoamento bi-
dimensional puro, 9 cresce agora a uma taxa maior / menor numa situação de
convergência ( x - x 0 < 0 ) / divergência ( x - x 0 > 0 ) lateral, como fisicamente
expectável.
Generalizando este resultado para uma conduta com uma taxa de variação
de largura não necessariamente constante, tal que
«fep = Zq
dx x - X q
onde z0(x) descreve a forma da parede lateral, obteríamos [21]:
d9 „ H +2dU, 9 dz0 Cf
(4.l6.b)
dx Ut dx z0 dx 2

4.2.3. Camada limite axi-simétrica

Depois de termos analisado, tanto em termos diferenciais como integrais, a


forma das equações de camada limite em escoamento bi-dimensional cartesiano,
façamos uma breve apreciação do caso bi-dim ensional axi-simétrico,
representado na Fig. 4.13, de uma camada limite laminar desenvolvendo-se ao
SEC. 4.2. APROXIMAÇÕES OE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 191

Fig. 4.13 Camada limite numa situação bi-dimensional axi-simétrica.

Equações diferenciais
Nas coordenadas curvilíneas (x,y), representadas na figura, as equações de
camada limite tomam a forma

JU x,dU 1 dp v d ( dU\
dx ay p dx r dy\ ay)

| W .|( r V ) - 0 •

onde a distância radial r está relacionada com o raio r0 da superfície y = 0 por


r(jt,;y) = r0(x) + y cos (p(x) com (p = tan"1drQ/ d z .
Adimensionalizando por r0, a relação supra pode-se escrever
r
“ =l+í com r = ycos<p/r0
ro
onde r, o parâmetro de c u rv a tu ra tran sv e rsal, representa o desvio de r em
relação a r0.
Quando Ô/rQ« 1 é r = r 0 e as equações de camada limite axi-simétrica
degeneram em:

7IdU „du I dp d2U


U— +V— = ----- - + v — y
dx ay p dx ay

caso em que a equação da quantidade de movimento assume a mesma forma


que em escoamento bi-dimensional cartesiano — eq. (4.9).
Uma transformação de coordenadas, devida a M a n g ler — vide e.g. [147]
—, permite transformar as equações de camada lim ite axi-simétrica nas
192 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

equações do caso de geometria rectangular quando o parâmetro de curvatura


transversal for desprezável e. quando o não for, transformá-las numa fornia
quasi bi-dimensional cartesiana, em que o efeito de curvatura transversal fica
restrito ao termo difusivo.

Equações integrais
Em escoamento axi-simétrico os parâmetros integrais 8* e 9 são definidos
pelas áreas:

e a equação de von-Kármán toma a forma:


dd n H +2 d U e Cf
dx U. dx 02
(4.17,a)
Quando o efeito de curvatura transversal for desprezável, i.e. <5/r0« 1, 8*t
d passam a ser definidos como em bi-dimensional cartesiano e a equação
integral reduz-se a:
dd n H+2dU. 9 dr0 C{
dx U,. dx r0 dx 2
forma equivalente à da eq. (4.16.b) com efeito de convergência / divergência
colinear.

4.3. Escoamentos semelhantes de camada limite laminar


Em geral a solução das equações de camada limite, para uma dada evolução
da velocidade exterior Ue(x), é da forma

â iír f M -
Casos há em que:
U
= F(i,)
tf .to
/ y/z
y y r vx
apenas, com q = — , ou melhor tj = e j= por (1.29).

Tal corresponde a um caso de separação de variáveis em que


E / M = t/£(*)xE (y/0[á]).

Nestas circunstâncias, em que a forma dos perfis não evolui e m r " he


perfis a diferentes x's coincidem nas coordenadas adimensionais U/Ut vs> 7'
SEC. 4.3. ESCOAMENTOS SEMELHANTES 193

pdo que í H = const. —, diz-se que os perfis são sem elhantes [similarJ ou que
o escoamento se processa em condições de semelhança. O número de variáveis
independentes reduz-se de duas (x t y ) a uma (77) e as equações de camada
limite, originalmente às derivadas parciais, transform am -se em equações
diferenciais ordinárias.
Numa época pré-computador este tipo de sim plificações foi muito
significativo; hoje em dia é pouco relevante, revestindo-se estas soluções de
escoamentos semelhantes apenas de interesse como casos teste de programas
mais gerais de camada limite. Limitar-nos-emos assim à determinação de quais
os escoamentos de camada limite laminar que se desenvolvem em condições de
semelhança — sub-Sec. 4.3.1. — , após o que quantificaremos a evolução dos
parâmetros integrais de uma camada limite em gradiente de pressão nulo —
sub-Sec. 4.3.2. — que, como veremos, é um caso particular de escoamento
semelhante.

4.3.1. Condições de semelhança


Determinemos então as condições necessárias para a existência de
escoamentos semelhantes de camada limite laminar [28].
Seguindo Falkner-Skan utilizemos a variável de semelhança

4= r, (4.18)
vx

dado que em bi-dimensional cartesiano as unidades da função de corrente são


[ caudal volumétrico/ unid. largura = Ú T Xj L ~ Ú T ' , com as escalas x e
í/t e a propriedade v introduzamos uma função de corrente adimensionalizada
/(x, tj) tal que:

f (x’y)=(uevx)V2f ( x , n ) . (4.19)

Operemos a mudança de variáveis de ( x, y ) para (x, 77):

— - Í È . + ** d1! d dt] d _ d 77 d
(4.20.a)
ix dx dx dt] dx dx dx dt] dx 2x dt]

u t Y/2 <? (4.20.b)


dy dx dy dt] dy ( v x ) dt]
Com base em (4.18), (4.19) e (4.20), as relações U = d T /d y e V = - d '¥ / d x
conduzem a:

(4.21)

onde f= d f/d t].


194 CAP 4 ESCOAMENTO LAMINAR

Substituindo (4.20) e (4.21) nas equações de camada limite obtém-se

. r + ^ / r + m ( i - / ' 2)= .v | ' r i f - r í L )


^ dx dx) (4.22)
com
_ v dV e
m ~ U e dx (4.23)
sujeita às condições fronteiras

rç = 0 : £/ = 0 < > / ; = 0 ; V = V K < > f „ = - ( U ' V Xy ' l2fo v wdx


(4.24.a)
77= 00 : E/ = í7e < > / ' =1
(4.24.b)
Para que ocorram condições de semelhança deverá verificar-se:
1 ■ /(* , rç) = / ( rç) apenas, pelo que (4.22) degenera em:

r + ^ / r + m ( i - r 2) = o

2. Condições fronteiras independentes de x, pelo que em (4.24.a) / w=const.


( / w = 0 se parede não porosa, Vw = 0 )
3. Parâmetro de gradiente de pressão m independente de x, i.e. m = const.,pelo
que, por (4.23), o campo de velocidades exterior deverá ser da forma:
Ue = C x m.
N ota: Veremos no Cap. 8 de fluido perfeito — Sec. 8.2. — que uma
distribuição de velocidades exteriores deste tipo é conseguida no caso
ilustrado na Fig. 4.14 do escoamento simétrico em torno de uma cunha
com um ângulo de abertura p n tal que

Fig. 4.14 Escoamento simétrico em tomo de uma cunha.


Na Fig. 4.15 [28] estão representados perfis de velocidade nas escalas
U/Uc vs. ?) para diferentes valores do parâmetro de gradiente de pressão m,
Algumas destas situações merecem uma referência especial:

• m = 0 , correspondendo a um escoamento de velocidade exterior constante


ao longo de uma placa plana (diedro com um ângulo de abertura j}=0)
alinhada com o escoamento uniforme de aproximação; esta situação de
S tc 4.3 fcSCQAMENlOf^MnHMIir. 1W

gradiente de pressão nulo é muitas vezes referida, cm literatura inglcta.


como escoamento de placa plana [flat pluie flo w |. A fornia resultante para
a equação de transporte de quantidade de movimento cm termos da função
de corrente adimensionalizada / : / '" + ^ / / " = 0 dá origem a conhecida
solução de Blasius para camada limite laminar em gradiente nulo.

o
F ig . 4 .1 5 Perfis de velocidade em camadas limites
desenvolvendo-se em condições de semelhança.

• m=+1, correspondendo ao caso do escoam ento em tom o de um diedro


com um ângulo de abertura rty isto é, ao escoamento em tomo de uma placa
plana normal ao escoamento de aproximação, em que a linha de corrente de
simetria encontra a placa num ponto de estagnação, como ilustrado na Fig.
4.16; por esta razão, um tal escoam ento em que a velocidade exterior
aumenta linearmente com a distância ao ponto de estagnação Uc = C x é
correntemente designado por e s c o a m e n to de p o n to de estag n ação
[stagnation point flow].

F ig . 4 .1 6 Escoamento de ponto de estagnação.

Notamos que esta situação é de aplicação muito mais geral do que possa à
primeira vista parecer: trata-se, efectivam ente, do tipo de escoamento que
ocorre sempre na vizinhança im ediata de um ponto de estagnação anterior
para o escoamento em torno de um qualquer corpo com continuidade
tangencial, como facilmente se constata discretizando a superfície do corpo
em painéis planos, eventualmente de dim ensão elementar; neste caso geral a
constante C acima referida deverá ser interpretada como C = (dUe/dx) —
196 CAP.4 ESCOAMENTO LAMINAR

recorreremos a este resultado já na sub-Sec. 4.4.2. quando apresentarmos


um método numérico para cálculo do desenvolvimento de uma camada
limite laminar num qualquer gradiente de pressão.
• m = -0,0904, correspondendo a um perfil de velocidades num ponto de
separação r w = 0 .

4.3.2. Evolução de uma camadalim itelaminar


em gradiente de pressão nulo
Apliquemos os resultados acabados de obter ao estudo aproximado da
evolução de uma camada limite laminar em gradiente de pressão nulo, caso
particular de um escoamento em condições de semelhança e que tomaremos
como referência para, em seguida, apreciarm os qualitativamente e
numericamente quantificarmos efeitos de gradientes de pressão diferentes de
zero.
A pretendida quantificação da evolução em gradiente de pressão nulo pode,
em termos dos parâmetros integrais, ser feita igualando as relações para tensão
de corte superficial Tw obtidas da equação integral de von-Kármán -
conjugando (4.15) com (4,13):

e da própria equação de definição (1.32):

e admitindo uma forma plausível para o perfil de velocidades — e.g. [147].


Ora, tanto de acordo com os resultados teóricos de U/Ut vs. t|
representados na Fig. 4.15 como de acordo com resultados experimentais, se
verifica que a velocidade evolui de uma forma muito aproximadamente linear
ao longo de grande parte da espessura da camada limite, tendendo depois, com
continuidade tangencial, para a velocidade Uc =con$t. no escoamento potencial
exterior. Uma possível descrição analítica aproximada do perfil de velocidades
poderá então ser conseguida sobrepondo uma evolução linear com um termo
correctivo, de ordem superior, necessário para garantir continuidade tangencial
na interface; é usual utilizar para este fim um termo correctivo de terceira
ordem, do que resulta, para descrição analítica aproximada do perfil de
velocidades, a forma:
SEC. 4.3. ESCOAMENTOS SEMELHANTES 197

para cálculo dos três p arâ m etro s a , b e c p o d em o s rec o rrer às duas


-ondições fronteira /(O) = O e / ( 1) = 1 e à propriedade da solução / ' ( 1) = 0 (*);
^ternos assim, para descrição analítica do perfil d e velocidades:

/ ( r |) = |j 7 - ^ r ) 3.

Os parâmetros integrais adim ensionalizados ô*/Õ e 6 / 6 tom arão os valores


^ vidé eqs. (4,10) e (4.11), respectivam ente:

f í [ w w H ' 0-™

^ ( / ( ^ [ l - Z í n ) ] dr7 = 0,139

de onde
tf=2,70 .
A equação integral de von-K árm ãn p o de-se então escrever
odO ? dÕ
r.= pU — ~ 0 , l 3 9 p U c2 ~
dx dx
e a equação de definição de t w:
'
- u v * 'd { U /U .)‘
^ X
y=o 5 . d(y/s ) .
Igualando estas duas expressõ es p a ra Tw e in te g ran d o a equação resultante
em ordem a x obtém-se

Iv x
5 = 4,64 — + const. com co n st. = ( 5 ) ;c=0.
U.
Se o limite inferior de integração fo r referid o ao bordo de ataque da placa, a
partir do qual a cam ada lim ite se c o m e ç a a d e sen v o lv e r, será const.= 0 e a
relação supra pode-se escrever

á I v 4 ,6 4
—“ 4,64 ------= - , - ■,
x lju t x

resultado que está em c o n c o rd ân cia co m a o rd em d e gran d eza anteriorm ente


estabelecida para õ / x e expressa p o r (1.29).

(*) Oportunamente veremos que, para descrever analiticamente a forma aproximada de um perfil de
velocidades, só terá significado recorrer a relações suplementares, inspiradas na física do
processo, se estas respeitarem a efeitos repercutindo-se a grandes regiões do escoamento, e
não apenas a influências localizadas.
198 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

É porém de notar que, em bora os argum entos de natureza física que


conduziram a esta Ultima relação estejam correcto s, em particular que
£(jr = 0 ) = 0 , não é lícito utilizar, para quantificar a taxa de crescimento da
camada limite a partir do bordo de ataque, expressões do tipo equação integral
de von-Kármán, pois que esta é uma equação de camada limite e aplicação das
aproximações de camada limite está restrita a ReynoIds's elevados, o que se não
verifica na vizinhança imediata do bordo de ataque onde x, e por conseguinte
Res , são necessariamente baixos — em x = 0 até é Rex = 0 ! O resultado obtido
deve ser assim encarado com alguma precaução.
As evoluções de õ * e de 6 com Rex são directam ente obteníveis da de <5
através de uma sim ples proporcionalidade com os factores 0,375 e 0,139
anteriormente estabelecidos.
Substituindo a expressão de S / x em função de Rex na equação de
definição de rw obtém-se, para o coeficiente de tensão de corte superficial, a lei
de variação
rw 0.646

e, para o coeficiente de resistência de atrito CD sobre um a face de uma placa de


comprimento l e largura unitária,

c . , t f Í Q ^ - - - r = -
^pUl(lxl) \ p U 2t l l 4 * ei

Comparam-se, no quadro seguinte, os resultados acabados de apresentar


com os da solução exacta de Blasius •— vidé sub-Sec. 4.3.1., "solução de
Blasius" — obtidos através da com patibilização da descrição analítica do perfil
de velocidades por um desenvolvimento em série, próxim o da parede, e por um
desenvolvimento assimptótico para as regiões exteriores. Indicam -se ainda, a
título informativo, os resultados obtidos pela técnica apresentada mas admitindo
uma forma ainda mais simples para o perfil de velocidades: f ( t j ) = rj.

Ô* ---
K

Perfil de velocidade H C{ ^ Rex


|
H

/('?)='? 3 ,4 6 1,73 0 ,5 7 8 3 ,0 0 0 ,5 7 8 1,16

/(n )= f* í-£ » j3 4 ,6 4 1,7 4 0 ,6 4 6 2 ,7 0 0 ,6 4 6 1,29

Solução de Blasius — 1,72 0 ,6 6 4 2 ,5 9 0 ,6 6 4 1,33


SEC. 4.3. ESCOAMENTOS SEMELHANTES 199

Nota-se que, embora verificando as duas condições fronteira, esta última


evolução linear não satisfaz à propriedade fisicamente correcta da solução das
equações de camada limite que garante tendência para a velocidade constante
no escoamento exterior com continuidade tangencial. De facto, se admitíssemos
como possível a ocorrência instantânea de uma descontinuidade tangencial no
perfil de velocidades em escoamento de fluido real, nesse ponto de
descontinuidade o raio de curvatura seria nulo, a curvatura infinita e também
infinita a intensidade local do transporte difusivo de quantidade de movimento
que, no instante imediato, teria já suavizado essa descontinuidade; fica assim
provado que, em fluido real, não é fisicamente realizável uma configuração
estável de um perfil de velocidades exibindo descontinuidade tangencial.
Concluímos, da comparação de resultados reportada no quadro anterior, que
recurso à equação de von-Kármán permite obter rapidamente leis de variação
dos parâmetros integrais relativamente correctas mesmo admitindo formas
extremamente simples para o perfil de velocidades — mesmo formas
analiticamente tão simples que fisicamente incorrectas!
Claro que, conhecidas as constantes numéricas fornecidas pela solução
exacta de Blasius, não será lógico recorrer, para cálculo da evolução dos
parâmetros integrais de uma camada limite laminar em gradiente de pressão
nulo, aos valores mais grosseiros obtidos pela técnica exemplificada. Para a
solução de Blasius não foi naturalmente incluída, no quadro anterior,
quantificação da evolução de Ô, já que a tendência é assimptótica ( 5 = oo);
utilizando para ô o critério de 99%£/e ter-se-ia obtido, na primeira coluna, o
valor 5,0.
Aproveitemos este caso do desenvolvimento de uma camada limite laminar
em gradiente de pressão nulo, em que é fácil descrever qualitativamente a forma
dos perfis de velocidade, para melhor conceptualizarmos o mecanismo de
crescimento de uma camada limite.
Logo na Sec 1.3. avançámos que, neste caso, a camada limite crescia apenas
por difusão transversal de quantidade de movimento. Ora num qualquer
processo difusivo se verifica um fluxo da propriedade dos níveis de maior para
os de menor valor da propriedade, pelo que, no caso vertente, o fluxo de
quantidade de movimento se deverá processar do escoamento exterior, onde a
quantidade de movimento é máxima, em direcção à parede, onde a quantidade
de movimento se anula em satisfação da condição de não-escorregamento; a
parede actua assim como um poço de quantidade de movimento, por via de Tw.
Parece então haver, na interpretação física deste mecanismo de crescimento, um
possível antagonismo: a camada limite cresce, por difusão, no sentido dos y's
crescentes, mas o fluxo difusivo de quantidade de movimento efectivamente
processa-se em sentido oposto, no sentido dos y's decrescentes!
200 CAF 4 ESCOAMENTO IAM i MAR

Menos sujeito a interpretações dúbias sera, talvez, raciocinarmos em termos


Je fluxo de vorticidade, em vez de fluxo de quantidade de movimento. Nesta
situarão bi-dimensional tanto a vorticidade como a tensão de corte se escrevem,
dentro de uma aproximação de camada limite, como:
BV BV BU_
apenas (4.25.a)
Bx Bx'

BU áV
r=p também só. (4.25.b)
, By Bx
Os respectivos perfis estão qualitativamente representados na Fig. 4.17: tanto Q
como r são aproximadamente constantes na região mais interior da camada
limite, onde a evolução de U vs. y é sensivelmente linear, e ambos tendem com
continuidade tangencial para zero no escoamento exterior.

Fig. 4.17 Perfis de velocidade, de vorticidade e de tensão de corte


numa camada limite laminar sobre placa plana.

A interpretação do mecanismo físico de crescimento de uma camada limite


laminar sobre placa plana em termos de difusão da vorticidade não dá assim azo
a quaisquer ambiguidades: o fluxo de vorticidade efectivamente processa-se da
parede, onde a vorticidade é gerada por acção da condição de não-
escorregamento — actuando a parede como uma fonte de vorticidade —, para o
escoamento exterior, onde £2 = 0, o que conduz até à explicitação de
escoamento 'potencial' exterior.

4.4. Evolução de camadas limites laminares


num qualquer gradiente de pressão
Nesta secção iremos desenvolver a apreciação, aflorada na Sec. 1.3., dos
efeitos qualitativos de um gradiente de pressão diferente de zero no
desenvolvimento de uma camada limite laminar, comparativamente ao caso
acabado de descrever de desenvolvimento em gradiente de pressão nulo, que
tomaremos coroo referência —- sub-Sec. 4.4.1. — , e apresentar um método
numérico expedito para cálculo da evolução dos parâmetros integrais de
camadas limites laminares num qualquer gradiente de pressão — sub-Sec. 4.4.2.
SEC. 4.4. EVOLUÇÃO DE CLL's EM GRADIENTE DE PRESSÃO 201

4.4.1. Efeitos qualitativos de gradientes de pressão

Apreciemos qualitativamente a influência de um gradiente de pressão não


nulo primeiro sobre a forma dos perfis de velocidade e depois sobre a taxa de
crescimento de camadas limites laminares, comparativamente ao caso de
referência de gradiente de pressão nulo.
Efeito sobre a forma dos perfis de velocidade
Na Sec. 1.3. fizemos uma primeira análise da influência de um gradiente de
pressão não-nulo sobre a forma dos perfis de velocidade, tendo para tal
argumentado que, sendo esse efeito de natureza essencialmente invíscida,
poderíamos, para fins qualitativos, considerar aproximadamente um escoamento
de camada limite como um campo de fluido perfeito mas rotacional, o que
correspondia a ignorar a pequena dissipação de energia ocorrendo ao longo de
distâncias elementares dx, não esquecendo, porém, que a energia total se não
conserva de linha de corrente para linha de corrente — relembra-se o resultado
expresso pela eq. (2.19). Nestas condições, diferenciação da equação de
Bernoulli (2.23.a) ao longo de uma linha de corrente produziu o resultado
(1.31), de acordo com o qual o efeito de um gradiente de pressão vem
ponderado por um factor 1/U, implicando que um dado gradiente
dpe/dx = const. em y produza, a uma qualquer cota y = const., uma variação de
velocidade tanto mais significativa quanto menores forem as velocidades locais,
do que resultam perfis de velocidade com a forma qualitativamente indicada na
Fig. 4.18.

Fig. 4.18 Efeito qualitativo de um gradiente de pressão na forma de


perfis de velocidade de camadas limites laminares.

Gradientes favoráveis tendem, assim, a produzir um decréscimo do factor de


forma H e um acréscimo do coeficiente de tensão de corte superficial Ct em
relação à situação de gradiente de pressão nulo; inversamente, a um gradiente de
pressão adverso estarão associados maiores valores de H e menores valores de
Cr
Um gradiente de pressão adverso poderá então, se suficientemente intenso
comparativamente ao efeito uniformizante da difusão transversal de quantidade
de movimento, provocar uma reversão do escoamento junto à superfície e uma
202 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

separação da camada limite. O análogo do parâm etro A de gradiente de


pressão definido no caso de escoamento de Couette através da eq. (4.3) será,
atendendo à ordem de grandeza estabelecida na sub-Sec. 4.2.1. para o termo
difusivo da equação do movimento

1 dp 8 2 dUc
A -- = t/. d
JL I (4.26.a)
p dx dx / v dx

Definindo ponto de separação como o de Cf = 0 , i.e. (dU/dy) = 0,


verifica-se que separação em regime laminar ocorre para valores de A = -1 0 ;
-12. Um parâmetro de gradiente de pressão mais significativo que A poderia
ser definido utilizando como escala de com prim entos característica, por
exemplo, 6 em vez de 5 — relembrar argumentos expandidos na sub-Sec.
4.2.2.:

(4.26.b)
v dx
recorreremos já a este parâmetro X de gradiente de pressão na sub-secção
seguinte para numericamente quantificarmos a evolução de um a camada limite
laminar num qualquer gradiente de pressão.
É ainda de notar que um perfil de velocidades em gradiente de pressão
adverso exibe forçosamente um ponto de inflexão, característica esta que, como
veremos na Sec. 5.1., tem uma influência determinante no processo de transição
de regime laminar a turbulento. Este resultado é fácil de obter atendendo a que
• na parede (y = 0), a equação de camada limite (4.9) se reduz a

V cO _\_àp_
Pd*’
pois que = 0 (condição de não-escorregamento) e Vw = 0 (parede não
porosa), significando que a curvatura do perfil de velocidades na parede é
controlada exclusivamente pelo gradiente de pressão local, pelo que, em
gradiente adverso será [d2u / d y 2} > 0 ;
• na zona de interface camada limite / fluido exterior a velocidade tende para
Uc por valores inferiores, zona onde será então d2U /d y 2 < 0 ;
• deverá portanto existir, no interior do perfil, um ponto onde d 2U /dy2 se
anula, i.e. um ponto de inflexão; a situação de gradiente de pressão nulo é
um caso particular em que o ponto de inflexão se situa na parede.
Efeito sobre a taxa de crescimento da camada limite
Analisemos agora a influência de um gradiente de pressão diferente de zero
sobre a taxa de crescimento de uma camada limite laminar que, em gradiente de
pressão nulo, aumenta de espessura exclusivamente por difusão molecular de
SEC. 4.4. EVOLUÇÃO DE C ll's EM GRADIENTE DE PRESSÃO 203

quantidade de movimento. A equação da continuidade fornece para valor da


componente V da velocidade a uma distância y da parede

resultado este a que primeiramente recorremos aquando da dedução da equação


integral de von-Kármán na sub-Sec. 4.2.2.
Sendo de prever que dU/dx e d U j d x tenham o mesmo sinal — isto é, que
quando Uc aumente / diminua que U, a uma qualquer cota y = const. no interior
da camada limite, aumente / diminua também — concluímos que um
escoamento acelerado produzirá, em geral, uma contribuição negativa para V e
um escoamento desacelerado uma contribuição positiva. Assim, em gradiente de
pressão adverso a taxa de crescimento de uma camada limite deverá ser maior
que em gradiente nulo, pois que a convecção transversal se soma à difusão, e em
gradiente favorável, em que os dois efeitos se opõem, a taxa de crescimento será
menor (que em gradiente nulo). Se o gradiente de pressão favorável for
suficientemente intenso a convecção para a parede poderá, inclusivamente,
prevalecer sobre a difusão, e a camada limite diminuir de espessura ao longo do
escoamento.
Os dois efeitos (convecção para a parede e difusão para o exterior)
compensam-se exactamente para um campo de velocidades exteriores do tipo
í/e =* x , característico de escoamento de ponto de estagnação, como salientado
na sub-Sec. 4.3.1. É fácil verificar tal resultado: de facto, para que o perfil de
velocidades U/Uc = /(? )), apenas, com 7) = (Uc/ v x 'fl2y como dado por (4.18),
se mantenha inalterável em x deverá ser tj independente de x, o que obriga a
Uc ocX .
Pergunta-se então: se para um escoamento de ponto de estagnação é
S = const., como S = 0 na origem será que ô & 0 para todo o escoamento? i.e.,
será que não existe camada limite?! Existe. E de realçar que os resultados com
que temos vindo a trabalhar foram conseguidos através das equações de camada
limite que requerem, para validade da sua aplicação, Reynolds's elevados e que,
na vizinhança imediata de um ponto de estagnação, os Reynolds's locais são
baixos. Acontece assim que, na vizinhança do ponto de estagnação em que não
são aplicáveis as aproximações de camada limite, a camada limite aumenta de
espessura devido ao intenso efeito difusivo; a partir do ponto em que o
Reynolds já seja suficientemente elevado para que as aproximações de camada
limite se tornem válidas, a camada limite passa a exibir uma espessura constante,
não-nula. Processando-se o escoamento em condições de semelhança,
correspondendo a H = const., pelo que ô*/ô e 6/8 são constantes, e sendo
8 = const. será, neste caso, também 5 *= const. e 6 = const.; só Cf varia com x:
tanto da própria equação de definição de Cf como da equação de von-Kármán
204 CAP 4 ESCOAMENTO LAMINAR

direeiamente se obtém a proporcionalidade C’( oc l/.v. Faremos referência a estes


resultados já na sub-secção seguinte quando quantificarmos a evolução de uma
camada limite laminar num qualquer gradiente de pressão.
Para gradientes de pressão mais intensos que os correspondentes a uma
evolução linear de t/c com .v a camada limite diminuirá então de espessura ao
longo do escoamento.

4.4.2. Método de Thwaites

O método de Thwaites é um método numérico extremam ente expedito e


fidedigno de cálculo da evolução dos parâmetros integrais de uma camada
limite laminar (5*, 6 , H e Cf) num qualquer gradiente de pressão. A menos
que se esteja interessado em muito detalhar a fase inicial do desenvolvimento de
uma camada limite em regime laminar (antes da transição e subsequente
desenvolvimento em regime turbulento), o método integral de Thwaites revela-
se suficientemente poderoso para ser, ainda hoje em dia, utilizado em
elaborados esquemas numéricos de análise e projecto de equipamentos.
Como todo o método integral de cálculo da evolução de uma camada limite,
o método de Thwaites tem a sua base na equação integral de von-Kármán (4.12)
dd H +2 dU. C,
— + 0 ------------s- = - L,
dx Uc dx 2
uma equação com três incógnitas 0, H e Cf , para um a dada evolução
necessariamente conhecida de Ut (x). Se H e Cf forem conhecidos como
funções de 8 , ou de uma combinação entre 6 e Ut , então a equação de von-
Kármán pode ser integrada, pelo menos numericamente [28],
Thwaites estabelece estas dependências fu n cionais com eçando por
adimensionalizar ocorrências na parede com as escalas 6 e Ue :

dU ^1 u. V.
® l-
II

dy K*y2 )
í

Dado que, por definição, r w = n (dU/dy)v , o parâm etro i deverá estar


relacionado com, e ser uma medida de, r w ou Cf ; quanto a A, dado que a
curvatura do perfil de velocidades na parede é controlada exclusivamente pelo
gradiente de pressão local, como salientado na sub-secção anterior:

|W | =l ± = _ l u dUx
{ <?y2 ]„ P dx V e dx ’

igualando as duas anteriores relações para (d 2U /d y 2) im ediatam ente se


conclui que este A não é mais que o parâmetro de gradiente de pressão
expresso por (4.26.b).
SEC. 4.4. EVOLUÇÃO DE CLL's EM GRADIENTE DE PRESSÃO 205

Admitindo, em primeira aproximação, que os perfis de velocidade


constituem uma família uni-paramétrica em A — o que equivale a admitir
condições de quasi-semelhança, constrangimento este que deverá ser
posteriormente aliviado — escrevamos i = i{X) e H = H( A).
Cf exprime-se assim, em termos de é(A), como
Tw ^ n{dU/dy)v = 2vl(A)
(4.27)
f \p U l \p U \ ute
Multiplicando a equação de von-Kármán por 2Uc0 /v vem:

EA ±
d +1 [H+2)Q
l Jd L =£iEA
v dx v dx v
e recombinando:

^ ^ = 2 {-A [//(A ) + 2] + ^(A )] s F(A)

onde F(A) é uma função universal de A, já que o segundo membro é apenas


função de A.
Thwaites descreve F(A) por uma relação simples produzindo um bom
ajustamento aos resultados teóricos e experimentais de camada limite laminar à
época conhecidos:

F(A) = 0 ,4 5 -6 A = 0 ,4 5 - 6 — ^ .
v dx
Substituindo esta relação empírica para F(A) na expressão anterior e
multiplicando por U\ vem:

dU,
----- = 0,45 U l ------ 6 u :
dx e v dx
de onde

— (0 2í/e6) = O,45 v í/e5


dxv '
que integrada em x produz

e2[ / 6 = 0,45 v r [// dx + ( 62 u l ) . (4.28)


C Jx0 V /xs=Jf0

A constante de integração (02u l ) anula-se em duas situações importantes:


\ '*0
i) escoamento de placa plana, onde em * 0 = 0 (ponto de início do
desenvolvimento da camada limite) é 6 = 0 ;
ii) escoamento de ponto de estagnação, onde em r 0 = O é £/e = 0, para além de
fisicamente dever ser 6 = 0.
206 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

É porém de notar, e de realçar, que dentro deste grau de aproximação de


camada limite o valor inicial de 6 não é nulo! Deduzamo-lo então.
Substituindo em (4.28) a lei de variação de velocidade característica de
escoamento de ponto de estagnação Uc = Cx obtém-se:

92C6x 6 = 0,45 v \ c 5x 5dx = ^ v C V


J 6
de onde
02 0,075 v
0 C
0,075 v
(4.29)

pois, como salientado na sub-Sec. 4.3.1., a constante C deve ser entendida, num
caso geral de um escoamento não forçosam ente sem elhante, como
C o ( d' U Jc /d x )'estagn
O valor não-nulo (e fisicamente incorrecto) de 6 na origem, dado por
(4.29) , resulta assim de uma extrapolação para a origem de resultados de
camada limite, apenas válidos a Rex elevados.
Conhecida a distribuição de velocidade exterior Ue(x) e uma vez
determinada a evolução de 6 a partir de (4.28), eventualmente recorrendo a
(4.29) , os valores H( X) e f(A) podem ser calculados a partir das seguintes
relações universais propostas por Thwaites e optimizadas por Curle e Skan

J> = 0,22+ 1,57)1-1,8 A2


para 0 < A < 0,25 (4.30.a)
j/7 = 2,61 - 3,75 A + 5,24 A2
0,018 A
f = 0,22 +1,402 A +
A + 0,107
para -0,09<A <0 (4.30.b)
0,0731
H= + 2,088
A + 0,14
A forma das relações (4.30) para f(A) e 77(A) é escolhida de modo a
minimizar o erro resultante de se admitir que os perfis constituem uma família
uni-parametrizada em A, o que introduz uma certa imprecisão na satisfação da
equação de F(A).
Os limites das gamas de valores de A assinalados em (4.30) resultam de:
i) para gradiente de pressão favorável estarem, à época do estabelecimento das
correlações empíricas de Curle e Skan, apenas disponíveis resultados até
A = 0,25
ii) para gradiente adverso, um valor A = -0 ,0 9 implicar, por (4.30.b), um
£ = 0, donde Cf = 0 por (4.27), o que corresponde a um ponto de
SEC. 4.4. EVOLUÇÃO OE CLL's EM GRADIENTE DE PRESSÃO 207

separação; por esta razão, prospecção da separação utilizando o método de


Thwaites é normalmente logo feita em termos de A, e não de Cf,
simplesmente pesquisando o ponto onde A = -0,09.
Como decorre então o cálculo da evolução de uma camada limite laminar
utilizando o método de Thwaites?
1. conhecida a distribuição de velocidade exterior Ue(x), a evolução de 9 é
calculada através de (4.28), por uma simples integração de E/f, e
eventualmente recorrendo à condição inicial (4.29)
2 . conhecidos 9 e E/e, o parâmetro A de gradiente de pressão é calculado por
(4.26.b), após o que
3. í e H são determinados por (4.30.a) ou (4.30.b), consoante nos
encontremos numa situação de gradiente favorável (A > 0 ) ou adverso
( A < 0), sendo Cf então determinado por (4.27)
4. conhecidos 9 e / í , 8* é determinado por ô * = 9 H .
Ficam assim conhecidas as evoluções de todos os parâmetros integrais de
camada limite: 8*, 9 , H e Cf . A pesquisa de separação é feita através do
critério A = -0 ,0 9 .
No Apêndice E são apresentadas listagens de programas de cálculo de
diversos tipos de escoamentos; o programa para cálculo do desenvolvimento de
camadas limites laminares pelo método de Thwaites constitui a secção E.2. Este
program a foi propositadam ente escrito da forma mais simples, com
diferenciações lineares e integrações trapezoidais. Inclui, porém, já um critério
semi-empírico para determinação do ponto de transição regime laminar / regime
turbulento — a que faremos referência no capítulo seguinte —, o que obriga a
uma determinação das localizações relativas da separação e da transição, para
definição do ponto onde deva terminar o cálculo em regime laminar. A
detecção do ponto de separação é feita de uma forma expedita mas pouco
correcta: é identificada ocorrência do primeiro valor A < -0 ,0 9 e determinada,
por interpolação linear com o ponto imediatamente anterior, a coordenada x
para a qual A = -0 ,0 9 ; naturalmente que não é válido pretender levar um
método de camada limite para além da separação! Mais correcto seria aproximar
separação sempre por valores a montante, o que poderia ser feito com um
pequeno ciclo de cálculo.
Na Fig. 4.19 apresentam-se resultados de cálculos da evolução dos
parâmetros integrais de camadas limites laminares obtidos com este programa
para diferentes situações características.
As evoluções reportadas a título de exemplo referem-se apenas a
andamentos lineares da velocidade exterior e a um Reynolds Ret da ordem de
105 (obtido com Ut = 1 m/s, l = \ m e v = 10_5m: /s). São apresentados quatro
casos típicos; i) gradiente de pressão nulo (t/c s l m / s ) , tomado como
referência, ii) gradiente de pressão adverso conduzindo a separação, o que foi
208 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

conseguido com dUJdx = - 0,2 s-1, iii) gradiente favorável, de intensidade


simétrica da do adverso, e iv) escoamento de ponto de estagnação — para evitar
problemas numéricos (overflow) na aplicação da eq. (4.27), foi sempre imposto
Cf (a: = 0) = 0.

: : . / r '" :

—— n la
vordve!
------- ãc verso
-------p o. estagn.

0 200 400 600 800 1000


,r (mm) x (mm)

Fig. 4.19 Resultados do método de Thwaites para evolução dos parâmetros integrais de camadas
limites laminares em diferentes gradientes constantes da velocidade exterior.

Os resultados apresentados quantificam efeitos importantes de gradientes de


pressão, que já anteriormente referimos em termos qualitativos:
• um escoamento em gradiente nulo processa-se em condições de semelhança
( H = const., =2,61 de acordo com as relações empíricas de Curle e Skan)
• comparativamente à situação de referência de gradiente nulo, H e Cf
evoluem em sentidos contrários por acção do efeito invíscido de um
gradiente de pressão: em gradiente favorável / adverso H diminui / aumenta e
Cf aumenta / diminui — aumentam / dim inuem com parativamente à
situação de referência, não necessariamente em valor absoluto!
• é muito rápida a evolução de uma camada limite em direcção a um ponto de
separação, como bem patente nos gráficos de H e de S* ( H = 3,55 no ponto
de separação)
• para um escoam ento (sem elhante) de ponto de estagnação é
H, 8, ô*, 6 = const.; no caso testado verifica-se que, depois de algumas
oscilações iniciais, H e <5* tendem, respectivam ente, para os valores
constantes 2,36 e 1,45 mm.
Nos gráficos de ô* e H podemos bem apreciar como a forma do perfil de
velocidades é influenciada pelo gradiente de pressão. Assim, escrevendo S*
com o S* = (S*/S)S imediatamente concluímos que o andamento de 5* é
SEC. 4 .4 . EVOLUÇÃO DE CLL's EM GRADIENTE DE PRESSÃO 209

dependente tanto da evolução da forma do perfil de velocidades (através do


factor 8*18) como, mais acentuadamente, da taxa de crescimento da camada
limite (através de 8); o mesmo tipo de argumento se aplica para interpretar a
evolução de 6.
É tentador procurar extrair de um método de cálculo expedito, como o
presente método integral de camada limite, mais informação do que esse
método é suposto ter capacidade para fornecer, em particular detalhar a
evolução da velocidade ao longo do perfil de camada limite. Esta informação
pontual é, por vezes, aproximadamente conseguida descrevendo o perfil de
velocidades por uma forma polinomial do 3o grau

do tipo da utilizada na sub-Sec. 4.3.2. em gradiente nulo, mas agora incluindo


um termo adicional (o de 2a ordem) que, dando mais flexibilidade a /( tj) ,
permite ter em conta as alterações de forma introduzidas no perfil de
velocidades por acção de um gradiente de pressão não-nulo. Introdução de mais
uma incógnita exige estabelecimento de mais uma equação para determinar os
coeficientes dos termos de / ( t j ) , o que pode ser conseguido, à semelhança do
anteriormente praticado, recorrendo a mais uma propriedade da solução das
equações de camada limite, em particular à condição de que a curvatura do
perfil de velocidades na parede é controlada apenas pelo gradiente de pressão
local, como demonstrado no ponto i) da sub-Sec. 4.4.1. Os coeficientes da
forma polinomial vêm então expressos em termos do parâmetro A de gradiente
de pressão dado por (4.26.a), relacionável com o A de (4.26.b), utilizado no
método de Thwaites, uma vez conhecida a descrição analítica do perfil de
velocidades.
Estes perfis de velocidade assumem, para diferentes valores do parâmetro de
gradiente de pressão A , as formas indicadas na Fig. 4.20, características de
camadas limites em regime laminar. O valor | / i | mB é muito sensível ao grau da

1.0

0,8
U/V,
0.6
0,4

0.2

°0 0,2 0.4 0.6 0,8 1.0

F ig . 4 .2 0 F o rm a s d e p e rfis d e v elo cid ad e d e ca m ad as lim ites lam in ares para


d ife re n te s v alo res d o p a râm etro A d e g rad ien te d e pressão.
210 CAP.4 ESCOAMENTO LAMINAR

forma polinomial escolhida para descrever o perfil de velocidades. Para o


polinómio do 3o grau em apreço o valor mínimo de A é - 6 , correspondendo a
um perfil no pomo de separação, e o valor máximo, para que U/Uc não exceda
I no interior da camada limite, é A = + 6. Os valores equivalentes para uma
descrição do 4o grau. obtida com a condição suplementar f " ( i j= 1) = 0 e que
estão em melhor concordância com resultados experimentais, são A = -1 2 e
A =+12. respectivamente.
É de salientar que. embora as duas (verdadeiras) condições fronteira e as
duas propriedades da solução das equações de camada limite utilizadas para
determinar os quatro coeficientes a, í>, c e d e m causa sejam igualmente válidas
em regime laminar e em regime turbulento, os perfis agora obtidos têm uma
forma típica de regime laminar e não de regime turbulento, em que, como
referido na Sec 1.3. e desenvolveremos no Cap. 6, devido a uma muito maior
capacidade de mistura os perfis são muito mais 'cheios' que em regime laminar,
acusando muito menores déficits de caudal, de quantidade de movimento, etc. O
presente resultado ilustra bem e justifica o argumento expandido na sub-Sec.
4.3.2. de que só terá algum suporte recorrer a propriedades (mesmo que
fisicamente correctas) do escoamento para descrever efeitos globais se o reflexo
dessas propriedades não se restringir a ocorrências muito localizadas; e esse é,
como teremos oportunidade de salientar, o caso do efeito de um gradiente de
pressão local sobre a forma de um perfil de camada limite turbulenta: o efeito é
exactamente o mesmo que em regime laminar e descrito exactamente pela
mesma relação analítica, acontecendo apenas que, em regime turbulento, a sua
influência está circunscrita à vizinhança imediata da parede.

4,5. Controlo de camada limite


Separação de camada limite ocorre sempre em resultado da actuação de um
gradiente de pressão adverso suficientemente intenso (comparativamente ao
efeito uniformizante de transporte difusivo) para provocar reversão do
escoamento de baixa quantidade de movimento registado na vizinhança de uma
parede sólida, pelo mecanismo qualitativamente descrito na Sec. 1.3. e na sub-
Sec. 4.4.1. Técnicas activas de controlo de cam ad a lim ite [boundary layer
controC] para atrasar, ou mesmo inibir, ocorrência de separação fundamentam-se
assim ou num suplemento de energia a esse corpo de fluido de baixa
quantidade de movimento — controlo por so p ro [blowing] — ou numa pura e
simples extracção, do seio do escoamento, dessa massa de fluido mais susceptível
a reversão — controlo por sucção [suction]; controlo passivo da separação
requereria liberdade suficiente na definição da geom etria do corpo de modo a
que os gradientes de pressão instalados por um mecanismo de fluido perfeito
fossem ou favoráveis ou, se adversos, não suficientem ente intensos para
provocarem separação.
SEC 4.5. CONTROLO DE CAMADA LIMITE 211

Organiza-se em duas sub-secções esta secção devotada a técnicas de controlo


de camada limite:
. na sub-Sec. 4.5.1. é qualitativamente apreciada a fundamentação das
técnicas de controlo de camada limite por sopro e por sucção;
• na sub-Sec. 4.5.2. é quantificado o desenvolvimento de uma camada limite
laminar com sucção uniforme, caso em que as equações de Navier-Stokes
admitem uma solução analiticamente exacta; é utilizada a circunstância para
primeiro apresentar um mecanismo invíscido de geração de resistência, a
detalhar na sub-Sec. 8.5.2. de fluido perfeito no contexto do teorema de
Kutta-Joukowski e que permite relevar o paradoxo de d'Alembert referido
na sub-Sec. 2.6.6., quando os resultados do exemplo de cálculo dos esforços
nas pás de uma turbomáquina axial foram particularizados para o caso de
um perfil isolado — eq. (2.41.b).

4.5.1. Técnicas de controlo de camada limite


Como acabámos de referir, técnicas activas de controlo de camada limite
para inibir ou, pelo menos, atrasar a ocorrência de separação revestem uma das
duas seguintes form as: ou um suplemento de energia ao fluido de baixa
quantidade de movimento próximo da parede ao longo da qual se desenvolve a
camada limite (controlo por sopro) ou simples extracção dessa mesma massa de
fluido do seio do escoamento principal (controlo por sucção). Em termos da
exigente indústria aeronáutica só a técnica de controlo por sopro se tem, desde
há muitos anos, revelado exequível e se encontra bem firmada; dificuldades
tecnológicas na realização e manutenção de superfícies com orifícios para
sucção com diâm etros da ordem dos 0,05 mm, dificuldades estas só
recentemente ultrapassadas com furação por laser, levaram a que a técnica de
controlo por sucção só agora se encontre a dar os primeiros passos.
Como ilustrado na Fig. 4.21, a técnica de controlo por sopro baseia-se na
injecção de ja cto s p arie tais [wall jets] de elevada quantidade de movimento que,
por mistura, tendem a uniform izar o perfil de camada limite em risco de
separação.

Fig. 4 .2 1 Controlo de camada limite por sopro.

É por este processo que, em perfis alares, se garante a eficiência de dispositivos


hiper-sustentadores do tipo fe n d a (de bordo de ataque) [slot, slat] e flap (de
bordo de fuga), ilustrados na Fig. 4.22 e que descreveremos no Cap. 9.
212 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

jactos parietais

Fig. 4.22 Perfil alar com hipersustentadores tipo fenda e flap deflectidos.
Injectando fluido a baixa temperatura esta técnica de sopro pode ser, e
correntemente é, utilizada para assegurar a necessária refrigeração das pás
metálicas de turbinas a gás funcionando em ambientes de muito elevada
temperatura.
Quanto ao controlo por sucção, ilustrado na Fig. 4.23, ultrapassado (?) o
problema da sua realização tecnológica e apesar de requerer um sistema de
tubagens / bomba dedicados, está a ser investigada a rendibilidade económica da

Fig. 4.23 Controlo de camada limite por sucção.


sua aplicação não só para inibir separação como, fundamentalmente, para
atrasar transição para regime turbulento, deste modo beneficiando-se de uma
larga extensão de desenvolvimento de camada limite em regime laminar, a que
estão associadas muito menores resistências de nível viscoso e invíscido, como já
referido na Sec. 1.3. e teremos oportunidade de mais detalhar no decorrer do
texto — consequências tanto a nível de C, como de 5*.

4.5.2. Camada limite laminar com sucção uniforme


Analisemos a situação de escoamento laminar em gradiente de pressão nulo
com sucção uniforme, caso em que as equações de Navier-Stokes (4.7) admitem
uma solução particular analiticamente exacta [28].
Exploremos o caso simples de campo cinemático independente de x, o que
equivale à situação anteriormente designada de 'escoamento completamente
desenvolvido'. Tal situação não é exequível com parede impermeável (não-
porosa), em que a camada limite laminar continuamente cresce por difusão
viscosa de vorticidade; ajuizemos da viabilidade, ou não, deste seu
comportamento com sucção uniforme. Por hipótese adm itamos então
dU/dx = Q de onde, por continuidade, deverá também ser dV/dy = 0, do que
resulta
V (x, y) = const. = Vw < 0.
SEC. 4.5. CONTROLO OE CAMADA LIMITE 213

Sendo V constante em x e y, a equação de transporte de V conduz a


p - const. segundo y, pelo que sendo também, por condição de partida, p
constante em x , a equação de transporte de U degenera na equação diferencial
ordinária:
£u
=v
dy2
cuja solução é
U , ,
~ = l- e x p ( V wy /v ).

Fica assim provado que a hipótese de partida de campo cinemático constante


em x com sucção uniforme é não só realizável como dá até azo a uma descrição
analítica exacta a partir das equações de Navier-Stokes (*); tal perfil de sucção
assimptótico só é atingido em regiões suficientemente afastadas do início da
aplicação de sucção, tipicamente para valores (Vv /Ue) Rex > 4 .
Resulta então, para os parâmetros integrais de camada limite,

S* = — — e 0 = - i — , de onde H = 2,
Vw 2 Vw
em vez do valor típico H = 2,6 da solução de Blasius para Vw= 0, equivalendo
assim a um perfil 'mais cheio'.
Quanto aos parâmetros de atrito na parede obtém-se:

Tw=/i( ^ J =~pV*U*'
independente da viscosidade, e

onde Cq = - Vw/ t / e é o coeficiente de sucção.


Este é um resultado importante de uma resistência (de atrito?) originada por
um mecanismo de nível não-viscoso e constitui (talvez) a principal razão para
não se ter deixado de incluir o caso do escoamento de camada limite laminar
com sucção uniforme no presente texto de aerodinâmica.
Calculemos então a resistência de um corpo simples tipo placa plana de
comprimento l com sucção uniforme nas duas faces. Atendendo à anterior
relação para Tw resulta:

(*) Não deixa de ser curioso notar que esta situação de escoamento rigorosamente constante em x
não é contemplada na família de escoamentos semelhantes de Falkner-Skan, pois as
distâncias transversais deixam de ser escaladas em (vx/t/e)'/2— eq. (4.18). De acordo com
Falkner-Skan semelhança requereria Vlv « jT1/2, por (4.24.a).
214 CA P. 4 ESCO A M EN TO LAMINAR

E>=2jo/ rw<&= 2 /r w= 2 / ( - p V wí/e) ;

sendo Q = 2 I V W o caudal total de sucção, virá:


D = - p U cQ .
Esta é uma resistência tipo poço de n a tu re z a in v íscid a , equivalente ao
L = -pU „r da eq. (2.41.b) e que analisarem os detalhadam ente no Cap. 8. É
fácil justificar o mecanismo físico de geração desta resistên cia de natureza
invíscida: por extracção de m assa fluida dim inui caudal, donde diminui
quantidade de movimento, ao que está associada uma força de resistência.
Quanto aos efeitos qualitativos da sucção nos processos de separação e de
transição de uma camada limite laminar:
• da equação do movimento na parede (y = 0)

im ediatam ente se conclui que aplicação de sucção ( Vw < 0) atenua a


curvatura ( d2U/dy 2) imposta no perfil de velocidades por um gradiente de
pressão adverso (dp/cLt > 0 ) , d este m odo atra san d o a ocorrência de
separação
• em resultado de um m enor valor de H, tam bém a transição é relegada para
Reynolds's m ais elevados, com o terem os oportunidade de realçar na Sec.
5.1.

4.6. Escoamentos secundários de Prandtl de 1ã espécie


A preciem os qualitativam ente com o um g rad iente tran sv ersal de pressão
actuando sobre um escoam ento de cam ada lim ite tem capacidade para gerar
vorticidade longitudinal; estes escoam entos se cu n d ário s in d u zid o s por um
mecanismo invíscido de gradientes de pressão são conhecidos por escoam entos
secundários de P ra n d tl de I a espécie [secondary jlo w s o f PrandtVs first kind\.
T om em os com o exem plo a situ ação re p re se n ta d a na Fig. 4.24 do
escoamento de fluido real num a conduta de secção rectangular constante, com
uma curva suficientem ente suave para não provocar separações, apenas para não
d ificu ltarm o s apreciação do m ecanism o q u e ag o ra n os in teressa pôr em
evidência; adm itam os tam bém (o que não é restritivo) um a situação inicial de
desenvolvim ento do escoam ento em que as cam adas lim ites ainda não atingiram
a região central, ocupada por um núcleo potencial.
A n alisem o s, n a zona da curva na conduta, con seq uên cias do necessário
eq u ilíb rio radial de forças d p /d r = p U 2 f r válido tanto para o elem ento de fluido
a s s in a la d o no p la n o ce n tral com o (ap ro x im a d am e n te) p ara o elemento
SEC. 4.6. ESCOAMENTOS SECUNDÁRIOS DE PRANDTL DE 1s ESPÉCIE 215

identificado à m esm a distância radial mas imerso na camada limite


desenvolvendo-se ao longo da parede lateral plana:
• dado que, dentro das aproximações de camada limite, é dp/dy-O, o
gradiente radial de pressão dpjdr actuando sobre os elementos de fluido no
núcleo potencial e no interior da camada limite desenvolvendo-se ao longo
da parede lateral plana deverá ser o mesmo
• a força centrífuga p U 2/ r , que equilibra a força resultante do gradiente
radial de pressão, deverá então ser também a mesma

Fig. 4.24 Escoamentos secundários numa curva numa conduta.


• dado que, no interior da camada limite, é U <11,,, igualdade de forças
centrífugas requer então r < r t , implicando que os elementos de fluido no
interior da camada limite devam curvar mais que os elementos de fluido no
escoamento potencial exterior, e tanto mais quanto menores forem as
velocidades locais, i.e. tanto mais quanto mais próximos estiverem da parede
• é assim induzida, no seio das camadas limites nas paredes laterais, uma
componente radial de velocidade em direcção ao centro de curvatura, que,
para conservação de massa na secção recta, terá de ser compensada com uma
componente radial dirigida para o exterior na região central, do que
resultam as recircu laçõ es ('vórtices longitudinais' contra-rotativos)
assinaladas na figura.
Nota-se que este efeito estará presente sempre que as linhas de corrente do
escoamento potencial exterior exibirem curvatura; para conservação do valor da
força centrífuga, à medida que penetramos no interior da camada limite e que as
velocidades locais se reduzem, o raio de curvatura local das trajectórias deverá
também diminuir, pelo que a torção do perfil de velocidades, em relação à
orientação do escoam ento potencial exterior, deverá aumentar em direcção à
parede. Os perfis de velocidade resultantes são assim não-colineares e
inerentemente tri-dimensionais, porquanto a velocidade no interior da camada
limite varia continuamente não só em módulo como também em direcção.
Estes mesmos escoamentos secundários de Prandtl de Ia espécie são os
responsáveis, p. ex., pelo assoreamento verificado junto à margem interior numa
216 CAP.4 ESCOAMENTO LAMINAR

curva de um rio. pelas folhas de chá se tenderem a aglomerar no centro do


fundo da chávena, pela formação dos vórtices de passagem [passage vórtices]
do lado do extradorso na região de encastramento de pás de turbinas, como
ilustrado na Fig. 4.25 [153], etc.

Fig. 4.25 Vórtices de passagem em cascatas de pás.

Voltaremos a referir este efeito no Cap. 7 de camada limite tri-dimensional.

4.7. Camadas de corte livres laminares


Soluções analiticamente exactas das equações aproximadas de camadas de
cone delgadas (4.9) para quaisquer situações de camadas de corte livres —
sejam elas jactos, esteiras ou camadas de mistura, bi-dimensionais cartesianas ou
axi-simétricas — só são obteníveis nos casos em que o escoamento já tenha
evoluído o suficiente para assumir uma configuração adimensionalmente
estabilizada; denominámos anteriormente estas situações como correspondendo
a escoamentos desenvolvendo-se em condições de semelhança. Tendo-nos, até
agora, quase que cingido à apreciação de camadas lim ites bi-dimensionais
canesianas, quantifiquemos, a título de exemplo de camadas de corte livres, o
desenvolvimento de um jacto axi-simétrico descarregando em atmosfera em
repouso [28]; o tratamento de quaisquer outras situações de camadas de corte
livres segue a mesma metodologia que a aqui exemplificada e os respectivos
resultados, reportados nos muitos livros-texto referidos na bibliografia, são
sumarizados no fim da presente secção.
Reportemo-nos à situação de ja c to livre ax i-sim étrico laminar,
descarregando em atmosfera em repouso, ilustrada na Fig. 4.26. Condições de
semelhança verificam-se, tipicamente, para distâncias superiores a 20 diâmetros
do bocal de saída.

F ig . 4.26 Jacto livre em atmosfera em repouso.


SEC. 4.7. CAMADAS DE CORTE LIVRES LAMINARES 217

Atendendo à forma das equações do campo cinemático apresentada na Sec.


C.2., as equações aproxim adas de camada limite escrevem-se em coordenadas
cilíndricas e para dp/dx = 0, pois que o jacto descarrega num meio a pressão
constante:
„3 V u dU 1 1 3 , ,
— ~ r ( Tr) (4.3 La)
àx dr p r dr
dU 1 d , v
+ - — (r V = 0 . (4.3Lb)
dx r dr
A única condição fronteira é E/(r = °°) = 0, pelo que para determinarmos as
duas incógnitas U t V precisarem os recorrer a qualquer característica física do
processo, à sem elhança do praticado na sub-Sec. 4.1.2. para o escoamento de
Hagen-Poiseuille (*) .
Dado que dpldx = 0, a quantidade de movimento manter-se-á constante, i.e.:

J =2 n p \ U2rd r = const. (4.32)

Em condições de sem elhança deverá ser, tal como referido na sub-Sec.


4.3.1,
U(x,r)
(4.33)
Uc(x) F(í?)
com Uc(x) = U (x ,r = 0)

e 77= (4.34)

em que, em regim e lam inar, é de prever para a escala õ(x):


( Y/2
5(jt) = OU oc I (4.35)
[ u j
Com as escalas Uc e ô introduzam os uma função de corrente adimensional
/(77), notando que [ ¥'] = Ú T :
Y ix.r)
f{tf) 'ff l \ C2, \ ' (4.36)
U c( x ) S (a:)

Usando (4.33) e (4.34), (4.32) pode-se escrever

J = 2n p M 2 r F 2ridri (4.37)
JQ
com M = U c ô (4.38)

(*) Em alguns textos aparece referida uma outra 'condição fronteira': em r = 0 deverá ser, por
simetria, V = 0 e dU/dr = 0 , o que, embora seja um resultado fisicamente correcto, não é uma
verdadeira condição fronteira mas sim um resultado que deverá surgir da solução das equações.
218 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

e dado que J = const. deverá tam bém ser M = const.


De

como notado na Sec. 2.2. para a função de corrente de Stokes — eq. (2.10.a)
—. vem, atendendo a (4.33) e a (4.34)

Em termos das novas variáveis e funções a equação de quantidade de


movimento (4.31.a) assume a forma

(4.39)

com condições fronteiras:


em 77= 0: / =0 e /' =0
em 77= °°: / ' finito.
Apreciemos o porquê destas condições fronteiras. Em termos das variáveis
acima introduzidas, as componentes da velocidade escrevem-se
U sV 1 d {M 5f) _ M
r dr r]S d(r)ô) 770

r dx T]ô dx
no eixo do jacto (77 = 0), o requisito físico de Í7 e V finitos obriga a /'(O ) = 0 e
a /(0 ) = 0, já que dô/dx será não-nulo; a condição fronteira a infinito
v { n = o») = 0 implica finito.
A equação da quantidade de movimento na forma (4.39) é válida tanto para
regime laminar como turbulento — voltaremos a usá-la em campo turbulento
na Sec. 6.8.
Em regime laminar, com r = /J.dU/dr obtém-se

(4.40)

A existência de condições de semelhança requer então

------- independente de x = const. = C (4.41)


v dx
com C > 0, pois M = const. e deverá ser dS/dx> 0.
SEC 4 7. CAMADAS OE CORTE LIVRES LAMINARES 219

Integrando (4.41) e atendendo a (4.3K) vem:


1/2

A escala de comprimentos local ô(x) assume assim a forma prevista em


(4.35). O factor de proporcionalidade pode convenientemente ser feito C = 1. É
de notar que, para facilidade de representação formal desta lei de variação de S
com x, a constante de integração foi tomada igual a zero, do que resultou
8(x = 0) = 0. Ora dado que a lei de variação só é aplicável à região do
escoamento em condições de semelhança, tal implica que a origem do eixo dos
x's seja tomada no ponto a partir do qual o jacto se começaria a desenvolver
logo em condições de semelhança, i.e. que a origem do referencial seja obtida
extrapolando para montante, até S = 0, a zona de desenvolvimento em
condições de semelhança: é a chamada origem virtual do jacto.
Integração da equação (4.40) com C= 1 conduz a:

do que resulta, para o perfil de velocidades:

(4.42)

Em tj = 1 obtém-se t /( r = 5 ) /[ /c =0,79, o que é um critério sem qualquer


lógica para definição da espessura do jacto! Tal resultado advém apenas de, para
facilidade analítica, termos feito a constante em (4.41) C = l. O resultado,
embora perfeitamente ilógico, não traz em si qualquer inconveniente; é apenas
necessário que se esteja alertado para a consequência.
Que critério, fisicamente significativo, poderemos então adoptar para ô ?
Por analogia com o critério 5 M5 utilizado em camada limite, em que 'só falta'
0,5%Ue para atingir a velocidade exterior, poderíamos agora, para um jacto,
definir 6 como a distância radial (ou o dobro da distância radial) para a qual
U(r = ô) = 0,5%Uc. Tal critério, embora fisicamente com significado, não é o
utilizado devido à dificuldade em avaliar com precisão, tanto em termos
numéricos como experimentais, uma região do escoamento com velocidades
extremamente baixas. Boa precisão é conseguida numa região com velocidades
e gradientes dU/dr elevados, o que faz com que o critério normalmente
adoptado seja o de m e ia -e s p e ssu ra do jacto [half-width] definida como a
distância radial a que a velocidade é metade da velocidade na linha central:
u ( S l/2) = ± U c. É um critério sem qualquer significado físico, mas permite
grande precisão na determinação do parâmetro.
220 CAP 4 ESCOAMENTO LAMINAR

Substituindo (4.42) em (4..17) obtém-se:


i/-'
A/ = A . í
Sn p
de onde

v.v ( 3 j X in 1
v- ' “ * ' 7 7
e
rr M 3 7, N-i 1 ,
O Õ K p X

O caudal volumétrico em cada secção é

Q = 2 i t \ U r d r = & n v x °c x e independente de J.
Jo
No quadro abaixo [28] sumarizam-se as leis tipo potência obtidas, por uma
metodologia análoga à apresentada, para variação da espessura e da velocidade
na linha central nos casos de jactos, esteiras e cam adas de mistura bi-
dimensionais, tanto de geometria rectangular como axi-simétrica; para o caso
das esteiras a escala de velocidades é o déficit de velocidade na linha central
comparativamente à velocidade no escoamento exterior.

„ Velocidade na
Escoamento Espessura
linha central

Jacto plano x 113 X - ,/3

Jacto axi-simétrico xx x~l

Esteira plana X 1/2 x - ' 12

Esteira axi-simétrica x ' 12

Camada de mistura x 112

4.8. Interacção fraca viscosa / invíscida


De acordo com as aproximações de camadas de corte delgadas, de que nos
temos vindo a ocupar, o domínio do escoamento é dividido em duas regiões
características: uma, formada em contacto com um a parede sólida, onde
gradientes de velocidade são intensos e os termos viscosos importantes, e que em
S tC .4 .8 INltRACÇÂO VISCOSA / INVlSClDA 221

muitos casos é de pequena espessura relativa e pode ser tratada com as equações
aproximadas de cam adas de corte delgadas, e outra, toda a região exterior, em
que gradientes de velocidade são suficientem ente pequenos para que efeitos
viscosos sejam desprezáveis com parados com efeitos de nível invíscido e onde o
escoamento pode ser m odelado com o de tluido perfeito.
Mas estas duas reg iõ es não têm com portam entos independentes, antes
interaccionando uma com a outra. A título de exemplo, salientámos na sub-Sec.
4.2.1. que uma cam ada lim ite se desenvolve sob a acção de um gradiente de
pressão imposto por condições do escoam ento potencial exterior e referimos na
sub-Sec. 4.2.2. que, devido ao déficit de caudal induzido no interior da camada
limite por acção da condição de não-escorregam ento, as linhas de corrente do
escoamento exterior eram deslo cad as de um valor que podia ser quantificado
por S*.
Assim, devido ao fac to de, para facilidade de tratamento, termos
ficticiamente subdividido o escoam ento global em duas regiões possíveis de
descrever com d ife re n te s m od elo s sim plificados da complexa realidade,
compatibilidade de com portam entos nestas duas regiões distintas acarreta uma
já designada interaeção viscosa / invíscida.
Apreciemos com o se m anifesta e pode ser contabilizada esta interaeção
viscosa / invíscida em casos de escoam entos exteriores e interiores, admitindo
sempre que esta interaeção é fraca; realçaremos, em particular, a destrinça entre
uma interaeção fra c a [w e a k ] e um a interaeção fo rte [sfrongj.

4.8.1. Escoamentos exteriores


Tomemos co m o e x e m p lo a situ ação representada na Fig. 4.27 do
escoamento em to rn o de um p erfil alar operando a um ângulo de ataque
suficientemente longe d a p erd a para que os gradientes de pressão adversos
gerados não tenham ainda intensidade suficiente para provocar separações. Os
efeitos viscosos m anifestam -se só nas camadas limites — "camadas limites" na
verdadeira ac ep ç ão do te rm o , p ois que não ocorrendo separações as
aproximações de cam ada lim ite serão aplicáveis em todas as camadas de corte
— que se desenvolvem ao longo d a superfície do corpo a partir do ponto de
estagnação anterior e se prolongam para jusante sob a forma de uma esteira; em
todo o restante cam p o o esco am en to com porta-se como de fluido perfeito
irrotacional.

Fig. 4.27 Escoamento de fluido real em tomo de um perfil alar


( S * muito exagerado).
222 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

Nas camadas de corte delgadas são então aplicáveis as aproximações de


camada limite. Dado que resolução do sistema (4.9) requer conhecimento
prévio da distribuição de pressões ou de velocidades exteriores, haverá
necessidade de primeiro se proceder a uma análise de fluido perfeito para
cálculo desta distribuição; determinado Ue(x) pode-se então calcular o
desenvolvimento das camadas limites. Porém, dado que as camadas limites vão
interaccionar com o escoamento exterior deslocando as linhas de corrente de
uma distância que pode ser quantificada por ô*, a distribuição de velocidades
no escoamento potencial irá ser alterada em relação à primeiramente obtida;
depois de conhecida a evolução S*(x) haverá então necessidade de se proceder
a novo cálculo de fluido perfeito, já não em torno do corpo sólido mas sim em
tomo de um corpo fictício com a forma do corpo original mais espessura do
deslocamento, para se determinar uma nova distribuição U j x ) , após o que nova
evolução de camada limite deverá ser calculada.
Dada a interacção dos campos viscoso e invíscido, que são calculados
separadamente, o processo de cálculo revela-se necessariamente iterativo.
Um cálculo único de todo o campo do escoamento poderia ser feito
recorrendo às equações exactas de Navier-Stokes, mas sendo estas equações do
tipo elíptico a sua resolução é com putacionalm ente pesada, conforme
argumentado na Sec. B.5., pelo que se revela mais expedito iterar entre soluções
de fluido perfeito e de camada limite do que resolver Navier-Stokes para
simultaneamente determinar as três incógnitas U, V e p.
Claro que esta metodologia de iteração entre um modelo simplificado de
fluido perfeito e um modelo sim plificado de cam ada lim ite só será
computacionalmente interessante se qualquer nova solução for suficientemente
próxima da determinada na iteração anterior para que o processo rapidamente
atinja convergência, isto é que a interacção viscosa / invíscida seja fraca. Caso a
interacção fosse forte, como no exemplo extremo do escoamento em torno de
um corpo não-fuselado em que a configuração final do escoamento de fluido
real é substancialmente diferente da de fluido perfeito, dada a esteira de grande
espessura (e, por conseguinte, grande õ*) característica deste tipo de
escoamentos, ou o número de iterações requerido para que o processo atingisse
convergência seria proibitivamente elevado ou nos arriscaríamos mesmo a que o
processo não convergisse. Neste caso a metodologia de abordagem do problema
terá de ser diferente da acima proposta, considerando logo em simultâneo os
efeitos de corpo mais esteira, como veremos no Cap. 11.
Notamos que mesmo o caso metodologicamente simples de interacção fraca
acima apresentado é caro de resolver em termos computacionais. De facto
precisamos de primeiro efectuar um cálculo do escoamento potencial em torno
do corpo sólido real, modelando-o através de uma qualquer das técnicas que
apresentaremos nos capítulos seguintes de fluido perfeito, após o que
SEC. 4.8. INTERACÇÃO VISCOSA /INVÍSCIDA 223

procederemos a um prim eiro cálculo de cam ada lim ite para determinarmos a
evolução de 8*. C onhecido 8 * voltam os à estaca zero, calculando novo campo
de fluido perfeito já não em torno do corpo real mas sim em tomo de um corpo
fictício: corpo + espessura do deslocam ento. Quer dizer, em cada nova iteração
precisamos de refazer tudo, d esde o princípio. Seria mais interessante, e
computacionalmente m uito m ais ligeiro, se para cada nova iteração pudéssemos
trabalhar sempre com a m esm a form a de corpo, apenas simulando o efeito de
deslocamento das linhas de corrente do escoam ento potencial através de uma
conveniente velocidade de tran sp ira çã o ; tal corresponderia apenas a uma
alteração das condições fronteiras na superfície do corpo, passando de superfície
impermeável (V w = 0 ) a um a superfície porosa com sopro ( Vw > 0 ), mantendo
constante a forma do corpo.
Determinemos então a v elo cid a d e d e tra n sp ira ç ã o [transpiration velocity]
necessária para sim ular um dado valor local de 8* [102]. Imediatamente fora
da camada lim ite, i.e. a um a d istân cia h = const.= 8 , a componente V de
velocidade é, por continuidade e com o regularm ente temos vindo a fazer:

ou, somando e subtraindo Ut na integranda:

A primeira contrib uição é de natureza invíscida / irrotacional e a segunda


resulta do efeito de deslocam en to , o qual pode ser assim simulado por uma
velocidade de sopro:

(4.43)

É esta a técn ica no rm alm en te utilizada num processo iterativo viscoso /


invíscido, em que o efeito de 8 * é sim ulado por uma conveniente velocidade de
transpiração, m antendo-se a form a do corpo sólido em estudo.

4.8.2. Escoamentos interiores


Como exem plo de escoam ento interior em que se verifica uma interacção
viscosa / invíscida e o nde há p o r conseguinte necessidade de se proceder a um
cálculo iterativo, considerem os a situação representada nas Figs. 4.28.a) [169] e
224 CAP. 4 ESCOAMENTO LAMINAR

b) de um escoamento na região de entrada de uma conduta. Nesta região a


espessura das camadas limites é inferior a meia altura da conduta, pelo que a
zona central é dominada por um núcleo de escoam ento potencial; é de notar
que condições de escoamento com pletam ente desenvolvido não se verificam
logo que as camadas limites atinjam o eixo central mas tão só depois das duas
camadas limites terem, por interacção — leia-se, por mistura, por difusão —,
perdido a sua individualidade e assumido um a configuração estabilizada.

a) Visualização do escoamento

b) Representação esquemática

Fig. 4.28 Região de entrada do escoamento numa conduta.


A pressão estática diminui no sentido longitudinal p or efeito do crescimento
da espessura do deslocamento; a taxa de variação é m áxim a na região inicial
onde dõ*fdx é maior e tende para um valor constante na zona de escoamento
com pletam ente desenvolvido, com o vim os na Sec. 4.1. A distribuição de
velocidades exteriores Ue(x), necessária para calcular a evolução das camadas
limites, não pode ser agora obtida através da teoria de fluido perfeito, como o
era no caso de escoamentos exteriores, mas através da condição de conservação
do caudal j U d S = const.,= Ue(h —2Ô*) p a ra um esco a m en to en tre placas
paralelas a uma distância h. O gradiente de pressão deixa, neste caso, de ser um
dado do problem a para p assar a c o n stitu ir um resu ltad o da solução das
equações de camada limite. A m etodologia a seguir será então do seguinte tipo:
i) arbitrando, com o condição inicial, um g rad ien te de velocidade exterior
plausível (eventualmente nulo), determ inar o desenvolvim ento da camada limite,
do que se obtém a evolução de Ó*; ii) com base no conhecim ento de 5*(x)
calcular novo campo de escoam ento potencial de m odo a satisfazer conservação
de massa; iii) repetir iterativamente os passos i) e ii).
Na Fig. 4.29 apresenta-se u m a sequência de perfis de velocidade para o
escoam ento lam inar na reg ião de en tra d a de um tub o [28]; verifica-se
SEC. 4.8. INTERACÇÃO VISCOSA /INVÍSCIDA 225

experimentalmente que o comprimento de entrada Lmir está aproximadamente


relacionado com o número de Reynolds R e ^ í / ^ D / v por
^entr __ ^
~ w
Dado que o escoam ento se mantém laminar até cerca de Re = 2300,
verificamos» da relação acima, que para um número de Reynolds de 2000, perto
do valor máximo, a região de entrada abrange, tipicamente, os primeiros 100
diâmetros do tubo.

ê h
2.0
0,133
u
t/*-
1.5

1.0

0,5

0
0 0.2 0,4 0.6 0.8 1,0
rlR
Fig. 4.29 Perfis de velocidade na região de entrada do escoamento num tubo.
Para escoamento entre placas paralelas estacionárias é, aproximadamente,

^entr Re
CAPÍTULO
5
TRANSIÇÃO
LAMINAR/TURBULENTO
A números de Reynolds elevados, escoamentos de fluido real são em geral
turbulentos, processando-se a transição de regim e lam inar a turbulento por
amplificação de pequenas perturbações naturalmente existentes no ambiente e
impostas sobre a camada de corte, sejam elas vibrações m ecânicas da estrutura,
irregularidades da superfície do corpo, ondas de pressão associadas a ruído
acústico, etc. Se, semelhantemente a um fenómeno de ressonância, o escoamento
denotar r e c e p t i v i d a d e [r e c e p t i v i t y ] à pequena p ertu rb ação — o que
naturalmente dependerá das características do escoamento, digamos, do número
de Reynolds e da forma do perfil de velocidades, e das características da
perturbação, os seus comprimento de onda e frequência angular ou velocidade
de propagação — a perturbação poderá ser de tal modo am plificada que, ao
cabo de um processo altamente não-linear, conduza a um a degenerescência do
escoamento num regime caótico, turbulento; alternativam ente, se a perturbação
for amortecida o regime permanecerá organizado, laminar. Caso a perturbação
seja forte, todas as sucessivas e muito rápidas etapas do normal processo de
transição são ultrapassadas e transição ocorre abruptamente [by-pass],
O conjunto de Figs. 5.1 documenta situações bem diversas deste processo de
instabilização:
- a Fig. 5.1.a) [174] reporta o fraccionamento do vórtice tórico originado
pela queda de uma gota de leite num recipiente com água;
- a Fig. 5.1 .b) [182] ilustra a propagação para m ontante da perturbação
introduzida num jacto lam inar de água pela presença do dedo do
experimentalista, equivalendo a um processo de encurvadura [buckling]
numa viga à compressão [10];
- a Fig. 5.1.c) [182] ilustra a instabilização da pluma de fumo de um cigarro;
- a Fig. 5.1.d) [182] reporta a formação de células de Bénard resultantes de
instabilidade térmica numa fina camada líquida aquecida.
Na Sec. 5.1. são apresentados e discutidos resultados de estabilidade
hidrodinâmica obtidos pelo método das pequenas perturbações e apreciados os

226
SEC. 5.1. MECANISMOS ENVOLVIDOS 227

a) Fraccionamento de um vórtice tórico

b) Jacto laminai' de água c) Pluma de fumo d) Células de Bénard


de um cigarro
F ig . 5.1 Exemplos de processos de instabilização.

diferentes mecanismos envolvidos no processo de transição; a teoria linearizada


das pequenas perturbações naturalmente não permite determinação dos detalhes
do processo altamente não-linear de transição mas é capaz de estabelecer as
formas dos perfis mais instáveis, de identificar as características das perturbações
mais susceptíveis de serem amplificadas e de indicar quais os parâmetros
controladores do processo. Na Sec. 5.2. é apresentado um método semi-
empírico de previsão da transição e na Sec. 5.3. referem-se sucintamente
técnicas utilizadas em laboratório para forçar a ocorrência de transição.

5.1. Mecanismos envolvidos; estabilidade hidrodinâmica


Decomponhamos o campo cinemático instantâneo («,,/>) num campo
médio não perturbado P) e num campo de perturbação ãt = [/(+«,
e p = P + p [28, 147].
Instantaneamente o campo cinemático é descrito pelas equações de Navier-
Stokes e da continuidade na forma (4.1):
228 CAP. 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

Utilizando a decomposição acima indicada e subtraindo, da equação para o


campo instantâneo, a equação do campo médio — detalharemos no capítulo
seguinte, de escoamento turbulento, os pormenores destas manipulações —
obtemos, para equação de transporte do campo de perturbação:
ídu. cfoj dUi 1 dp d 2ut d / \
I * * V' ãxj “' 5 Í dXj M
dXj

dut
i = 0.
dx;
Admitindo:
i) que as componentes de perturbação são suficientemente pequenas para que
termos de segunda ordem, tais como utuj%sejam desprezáveis
ii) que o campo médio e as perturbações são bi-dimensionais
iii) que o campo não perturbado é quasi-paralelo, i.e. V » 0
obtém-se, por aplicação de rotacional à equação acima depois de simplificada
— de modo a eliminar o termo de pressão, tal como fizemos na Sec. 3.5. para
obter a equação de transporte da vorticidade — e exprimindo as componentes
da velocidade de perturbação em termos de uma função de corrente y/(x,y,t):

| ( V 2||í ) + í / | - ( v V ) — com V4 = V2 V2;


d tv ' dxx ' dx dy
dado que - V2yr = dvjdx - du/dy = mz, esta equação representa o transporte da
perturbação de vorticidade ao longo de uma linha de corrente do escoamento
médio.
Escrevamos a função de corrente de perturbação, em notação complexa, na
forma ondulatória:
w{x,y, t) = <p(y) exp [i(kx - cot)} = q>(y) exp [ik { x - c t ) \ (5.1)
onde:
- (p(y) é a amplitude complexa da função de corrente de perturbação
™ (ú é a frequência angular — número de ‘ciclos’ (adimensionais: rad) por
unidade de tempo, com unidades rad /s — , relacionada com o período T por
ú) = 2x/T
- k é o número de onda [wave number] — número de 'ondas' por unidade de
comprimento em rad/m — , relacionado com o com prim ento de onda
[wave length] A por k - l n j A
- c = (ú/k é a velocidade de propagação.
Se k for complexo ( k = k[ + iki) será | ^ ( x ) |«=exp(-fcix) e estaremos perante
um problema de amplificação espacial; se a) for complexo ( (ú = coY+ i co{) será
\w(t)\ocexp((ú{t) e o problema denota-se de am plificação tem poral; se k c (ú
SEC. 5.1. MECANISMOS ENVOLVIDOS 229

forem ambos reais, então a perturbação propaga-se ao longo do escoamento


médio paralelo com am plitude constante |<p(y)|; se k e co forem ambos
complexos, a amplitude da perturbação variará tanto no espaço como no tempo.
Com esta form a para yr, a equação anterior escreve-se, em termos de
variáveis adim ensionais e adm itindo com o escalas de velocidade, de
comprimento e de tempo, respectivamente, w0, / e //« 0 :

( u - c ) { ç " = - 2 k 2<p" + k 4<p} (5.2.a)

onde c ~ c / u 0 >ít = w/u0 > k = k l , Re —u ^ l j v e as diferenciações são referidas a


y ~ y /l. Em trabalho de cam ada lim ite é usual utilizar como escalas de
velocidade e de com primento, respectivamente, «0 = Uc e l - 5*.
Esta equação fundam ental da teoria da estabilidade hidrodinâmica é
designada por eq uação d e O rr-S om m erfeld.
No limite k R e - ^ °° (estabilidade invíscida) esta equação degenera em:

{u -c)(< p"-P (p)-u"< p = 0 , (5.2.b)

denominada equação de R ayleigh.


O problema de determ inação das maiores taxas de amplificação das
perturbações, i.e. dos m aiores fc. ou cq, com todos os outros parâmetros
constantes, traduz-se num problem a de valores próprios e de funções próprias.
Para uma situação de am plificação espacial ( coE= 0 ) e com Re e dados, a
solução da equação de Orr-Som m erfeld fornece uma função própria (p(y) e um
valor próprio c = cr + i q . Os valores próprios são geralmente representados num
diagrama k vs. Re em que cada ponto corresponde a um par q , q ; o lugar
geométrico dos pontos q - 0 (curva de estabilidade neutra) separa as regiões
amortecidas estáveis ( q > 0 ) das instáveis de amplificação ( q < 0).
Na Fig. 5.2 são qualitativam ente apresentadas curvas típicas de estabilidade
neutra, produzidas pelo método das pequenas perturbações, para escoamentos
com perfis de velocidade m édia exibindo ou não ponto de inflexão; o domínio
interior às curvas corresp on d e à gam a de instabilidade. Estes resultados
permitem-nos extrair im ediatam ente as seguintes conclusões:
• As curvas de estabilidade neutra apresentam formas completamente distintas
em escoam entos exibindo perfis de velocidade com e sem ponto de
inflexão. Para perfis sem ponto de inflexão, os ramos superior e inferior da
curva tendem assim ptoticam ente para k - 0 quando para perfis
com ponto de inflexão o ramo superior tende para um valor de k diferente
de zero, pelo que, m esm o na situação limite R e ~ ^ ^ y entendida como
correspondendo a escoam ento de fluido perfeito, existe uma gama não nula
de com primentos de onda de perturbações que podem ser amplificadas. O
primeiro tipo de instabilidade designa-se por viscoso, visto só ocorrer a
230 CAP. 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

Re<oo, e o segundo por invíscido, por se poder verificar mesmo no limite


Re oo. Camadas de corte livres (jactos, esteiras, camadas de mistura) e
camadas limites em gradientes de pressão adversos apresentam perfis de
velocidade com ponto de inflexão — vidé sub-Sec. 4.4.1. —, pelo que
verificam a uma instabilidade invíscida; camadas limites em gradientes de
pressão nulo e favoráveis têm características de instabilidade viscosa.
E estranho que a viscosidade, que intuitivamente se espera tenha sempre uma
acção estabilizante, de amortecimento, possa, em alguns casos, vir a
despoletar um processo de instabilizaçao; tal mecanismo será justificado na
sub-Sec. 6.2.3. de escoamento turbulento.
• A baixos números de Reynolds, efeitos dissipativos são de tal modo
pronunciados que todas as perturbações são amortecidas e o escoamento se
mantém em regime laminar.•

Fig. 5.2 Curvas de estabilidade neutra para perfis de velocidade com e sem ponto de inflexão.

• A Reynolds’s elevados existe uma gama restrita de comprimentos de onda de


perturbações que podem ser am plificadas; tratar-se-á naturalmente de
perturbações com uma escala de comprimentos e uma escala de tempos
próximas das correspondentes escalas locais características da camada de
corte como um todo.
É uma situação equivalente à de ressonância num sistema mecânico, em que
só uma força exterior pulsatória, oscilando a uma das frequências naturais
do sistema, tem capacidade para excitar a estrutura. A estes Reynolds's
elevados, uma perturbação de muito pequeno comprimento de onda, a que
corresponda um valor k elevado residindo na região estável acima da curva
de estabilidade neutra — ponto A na figura — , não terá capacidade para
despoletar o processo de transição pois que, dada a inércia do sistema fluido,
este não tem 'tempo' para acompanhar a perturbação, entrando em sintonia
com ela e sendo por ela excitado, e, por conseguinte, a ela não reage;
inversamente, para uma perturbação de grande comprimento de onda, a que
corresponda um valor k residindo abaixo da curva de estabilidade neutra —
SEC. 5.1. MECANISMOS ENVOLVIDOS 231

ponto B na figura — , o escoamento» apesar da sua inércia, tem 'todo o


tempo' para a acom panhar, a ela respondendo mais como se de uma
flutuação do cam po médio se tratasse. Só numa gama intermédia tem o
escoamento capacidade para entrar em uníssono com a perturbação,
amplificando-a, com o num fenóm eno de ressonância — é o efeito que, logo
na introdução ao presente capítulo, designámos por "receptividade".
Ao número de Reynolds que define a fronteira entre a situação de baixos
Re's, em que todas as perturbações são amortecidas, e a de elevados Re's, em
que algumas delas podem ser am plificadas, dá-se o nome de R ey n o ld s
crítico. A Recúi só perturbações de um comprimento de onda bem definido
(correspondente ao ponto da curva de estabilidade neutra de tangente
vertical) podem ser am plificadas. Este facto está bem ilustrado na Fig. 5.3
[18] de um jacto axi-sim étrico de baixa velocidade emergindo de uma
contracçào em regim e Laminar; perturbações geradas na camada de corte
livre im ediatam ente a jusan te da contracção aparecem visualizadas sob a
forma de v ó rtic e s tó ric o s com um com prim ento de onda muito
aproximadamente constante.

Fig. 5 .3 Transição num jacto axi-simétrico.

• Camadas de corte p ara as quais os perfis de velocidade apresentem um


ponto de inflexão são altam ente instáveis; comparando esta situação com a
de instabilidade viscosa v erifica-se que não só o valor de Recút é muito
menor com o ainda que, para qualquer Reynolds superior ao crítico, a gama
de c o m p rim en to s d e o n d a de p ertu rb açõ es susceptíveis de serem
amplificadas é m uito m aior. Em escoam entos de camada limite, gradientes
de pressão adversos tendem assim a am pliar o domínio de instabilidade e,
inversamente, gradientes favoráveis produzem uma acção estabilizante, como
ilustrado na Fig. 5.4 [147] p ara diferentes valores do parâmetro de gradiente
de pressão A defin id o por (4.26.a).
Fica assim tam bém ju stificad o o com entário feito no fim da sub-Sec. 4.5.2.
que aplicação de sucção tende a retardar a ocorrência de transição; de facto,
232 CAP. 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

IO2 103 IO4 IO5 IO6


Re0;
Fig. 5.4 Curvas de estabilidade neutra para escoamentos de camada limite
em diferentes gradientes de pressão.

aplicação de sucção produz perfis de velocidade com menores déficits, mais


'cheios' e mais estáveis, pois que mais afastados da configuração
inerentemente instável de ponto de inflexão, semelhantemente a um efeito
invíscido de gradiente de pressão favorável. Tal como para inibir separação,
duas técnicas se revelam então com capacidade para atrasar a ocorrência de
transição: uma técnica passiva de instalação de um gradiente favorável e uma
técnica activa de aplicação de sucção.
O tipo mais instável de perturbações reveste, em escoamentos de camada
limite, a forma de uma onda progressiva bi-dimensional com uma velocidade de
propagação próxima da velocidade média no interior da camada de corte (cerca
de 0,4£/e no caso de uma camada limite em gradiente de pressão nulo) e com
um comprimento de onda de 5 - 1 0 5 , conhecida por o n d a de Tollmien-
Schiichíing. Quando as flutuações de velocidade atingem uma amplitude da
ordem de l% í/e surgem instabilidades secundárias, de menor intensidade que a
fundamental, que aparecem sob a forma de estrias (vórtices longitudinais) na
Fig. 5.3. A onda progressiva é distorcida pelas perturbações secundárias, toma
uma forma sinuosa tri-dimensional e produz alterações também tri-dimensionais
no perfil de velocidades. Simulando a onda progressiva de perturbação por
filamentos de vórtices que são convectados pelo fluido, esta sua configuração
distorcida poderá assumir a forma ilustrada na Fig. 5.5; tais filamentos de
vórtices são correntemente designados por vórtices em (forma de) gancho de
cabelo [hairpin vórtices]. Suponhamos o ponto A do vórtice em gancho de
cabelo residindo, num dado instante, a uma cota superior à do ponto B, como
assinalado na figura. Dado que, a uma maior distância da parede, a velocidade
do campo médio na camada limite será mais elevada que a uma menor cota, o
troço de vórtice organizado em torno do ponto A, sendo convectado pelo
SEC. 5,1. MECANISMOS ENVOLVIDOS 233

fluido, tenderá a afastar-se do troço em torno do ponto B, isto é, o segmento de


vórtice AB tenderá a ser estirado pelo campo médio e, por consequência, a
vorticidade tenderá a aum entar — produção de vorticidade por estiramento de
filamentos de vórtice, com o apresentado na Sec. 3.5. — , aumentando, na
vizinhança, a intensidade das com ponentes da velocidade de perturbação.

F ig . 5 .5 Vórtices em gancho de cabelo.

Em consequência, a distorção da perturbação fundamental terá tendência a


tornar-se cada vez m ais acentuada, por acção do campo de velocidades auto-
induzido pelo filam ento de vórtice, e a aumentar de intensidade, produzindo
localmente bolsas de elevadas tensões de corte, aleatoriamente distribuídas no
espaço e no tem po, que tendem a detonar dando origem a erupções caóticas,
altamente tri-dim ensionais (turbulentas) que se expandem com grande ângulo
de abertura, coalescem , vindo posteriorm ente a afectar todo o campo, o qual
assume características estatisticam ente estacionárias correspondentes a um estado
turbulento com pletam ente estabelecido. A distorção dos vórtices em gancho de
cabelo e o crescim en to de um a erupção turbulenta estão documentados,
respectivamente, nas Figs. 5.6.a) [12] e b) [147].

a) Vórtices em gancho de cabelo b) Crescimento de uma erupção turbulenta

F ig . 5 .6 Fases do processo de transição num escoamento de placa plana.

Seja o m ecanism o de instabilidade do tipo viscoso ou invíscido, o processo


de transição pode, de acordo com a descrição acabada de apresentar, supor-se
constituído pelas seguintes quatro fases: i) instabilidade da camada de corte a
perturbações essencialm ente bi-dim ensionais, ii) aparecimento de perturbações
secundárias p ro d u zin d o tri-d im e n sio n alid ad e , iii) form ação aleató ria de
234 CAP. 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

erupções turbulentas e iv) degenerescência em regime turbulento. A Fig. 5.7


[74J documenta esta sequência de fases ao longo da região de transição numa
camada limite em placa plana.

Fig. 5.7 Sequência de fases do processo de transição num escoamento de placa plana.

O método das pequenas perturbações só é capaz de produzir informação


relativa à primeira fase, estabelecendo, em particular, o valor de Reait. O
número de Reynolds a partir do qual o escoamento está já estabelecido em
regime turbulento designa-se por Reynolds de transição Rea . Dado que uma
certa distância é percorrida durante o processo de transição, desde que este se
inicia até que termina, será Rea > Recnt; para camadas limites em gradiente de
pressão nulo é, tipicamente, Res. = 420 e Res. = 950, a que corresponde, de
acordo com as leis de evolução dos parâmetros integrais obtidas na sub-Sec.
4.3.2, Re•*tr = 3 x l 0 5 a 106.
Noutras situações de escoamento, outros m ecanism os poderão ser
responsáveis pelo despoletar do processo de transição. A título de exemplo
abordemos apenas os casos bi-dimensionais de um escoamento de camada
limite ao longo de uma superfície com curvatura no sentido longitudinal e de
uma camada de mistura.
Admitamos então um escoamento de camada lim ite ao longo de uma
superfície côncava e suponhamos que, devido a uma qualquer pequena
perturbação localizada, um elemento de fluido seja ligeiramente deslocado em
direcção à parede, conservando o seu momento angular U r em torno do centro
de curvatura. Se a velocidade do escoamento exterior for suficientemente
elevada e a camada limite suficientemente delgada para que a diminuição de U
em direcção à parede prevaleça sobre o aumento de r, de tal modo que, para o
cam po m édio, o momento angular diminua com o aum ento do raio de
curvatura, o elem ento de fluido perturbado chegará à nova cota com uma
velocidade superior à velocidade dos elementos de fluido na sua vizinhança. O
gradiente radial de pressão reinante à nova cota não será então suficientemente
intenso para equilibrar a força centrífuga a que está sujeito este elemento de
fluido perturbado, o qual terá então tendência a afastar-se ainda mais da sua
posição inicial. Situação inversa semelhantemente ocorrerá para um elemento de
SEC 5 1 . MECANISMOS ENVOLVIDOS 235

fluido deslocando-se em direcção ao centro de curvatura. Para conservação de


massa num plano transversal, um sistem a de vórtices longitudinais contra-
rotativos resulta assim desta situação instável, como representado na Fig. 5.8
[95]: são os chamados v órtices de G o rtler.

F ig . 5 .8 Vórtices de Gortler.

A intensidade destes vórtices irá aumentando ao longo da superfície côncava


e eventualmente serão excitadas instabilidades secundárias conduzindo a uma
degenerescência em regim e turbulento. Inversamente, uma superfície convexa
produz um efeito estabilizante, atrasando a ocorrência de transição.
Suponhamos, a finalizar esta secção, um escoamento de camada de mistura e
que, a um qualquer nível no interior da camada, se desenvolve uma ligeira
ondulação, como representado na Fig. 5.9.

Fig. 5.9 Origem da instabilidade de Kelvin-Helmholtz numa camada de mistura.


Associada à variação da secção recta de um tubo de corrente delimitado por essa
linha de corrente instantânea, instala-se uma sobrepressão do lado côncavo e
uma sucção do lado convexo, com o assinalado na figura com os sinais + e —.
Não tendo o fluido cap acid ad e para suportar o diferencial de pressões na
direcção radial, vai este provocar um aumento da amplitude da oscilação inicial
e conduzir, ultim am ente, a um a configuração de vórtices transversais do mesmo
sentido, como ilustrado na Fig. 5.10.a) para a camada de mistura emergindo de
um bocal circular [176] e na Fig. 5 .lO.b) na interface estratificada entre dois
fluidos [163], É a cham ada in sta b ilid a d e de Kelvin-Helmholtz.

a) Escoamento emergindo b) Escoamento na interface de dois fluidos de


de um bocal circular diferentes densidades (salmoura e água)
F ig . 5 .1 0 Instabilização em camadas de mistura.
236 CAP. 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

5.2. Previsãodetransição
A complexidade do processo de transição descrito na secção anterior faz
com que, hoje em dia, ainda não haja, sequer, nenhum modelo matemático
capaz de prever o Reynolds de transição num simples escoamento de placa
plana. Não quer isto dizer que, utilizando os potentes meios de computação
actualmente disponíveis, não seja, por exemplo, possível prever com sucesso a
evolução de C( ao longo da região de transição num escoamento de placa
plana, resolvendo as equações tri-dimensionais e não-estacionárias de Navier-
Stokes, como bem patenteado na Fig. 5.11 [130],

Fig. 5.11 Comparação entre previsões numéricas e resultados experimentais para a evolução de
C, ao longo da região de transição num escoamento de placa plana.

Só que este cálculo requereu 400 horas de CPU num processador Cray-YMP, e
dividindo 400 por 24 horas se conclui que envolveu mais de duas semanas de
cálculo num supercomputador dedicado (!!!), o que está completamente fora de
causa para resolver qualquer problema de engenharia.
Pergunta-se então: em termos de engenharia, como se pode prever
ocorrência de transição?
Ora a fase mais extensa do muito rápido processo de transição é
indubitavelmente a de amplificação de pequenas perturbações bi-dimensionais,
sendo depois quase imediata a ocorrência de perturbações secundárias, a
erupção de bolsas turbulentas e a com pleta degenerescência em regime
turbulento. Segue-se que previsão da transição poderá ser conseguida
extrapolando, até ao ponto de transição, resultados da teoria linear das pequenas
perturbações, sendo uma das conjecturas comummente aceites que existe uma
amplitude crítica das ondas de T ollm ien-Schlichting na transição. Esta
conjectura constitui a base do muito divulgado critério e" de Sm ith-van Ingen
que passamos a expor de forma sumária [4],
Admitamos então, com base na Fig. 5.12, uma perturbação do tipo onda
progressiva de Tollmien-Schlichting com um comprimento de onda k t que, ao
SEC. 5.2. PREVISÃO DE TRANSIÇÃO 237

longo do escoamento (ao longo de x), é primeiramente amortecida até que, no


ponto P do ramo I da curva de estabilidade neutra, atinge a amplitude crítica A0
a partir da qual é am plificada até ao ponto Q no ramo II, sendo, a seguir,
novamente am ortecida.

F ig . 5 .1 2 Construção da envolvente para o critério e".

A razão de am plitudes A / A 0 do crescim ento exponencial dado por (5.1)

A
— = exp
A0
ou

' _A_
n = ln —kt dx

pode ser determ inada por solução de (5.2.a) para k , fixo; a envolvente da
família de curvas n vs. x para diferentes k's corresponderá ao lugar geom étrico
das maiores taxas de am plificação das perturbações.
Aferição deste critério com resultados experim entais leva a concluir que
melhor concordância é obtida, no caso de transição numa cam ada lim ite bi-
dimensional, com um factor de am plificação n = 9, isto é que transição ocorre
quando a am plitude da perturbação inicial tenha sido amplificada de e9 = 8000
vezes, de onde a com um designação de 'critério e9'. M esm o esquecendo a
miríade de factores de que depende o valor mais ajustado do expoente n, este
critério e ” rev ela-se com putacionalm ente pesado para trabalho corrente de
engenharia, pois que envolve:
i) cálculo preciso dos perfis de velocidade laminares ao longo do escoam ento
ii) cálculo das características de estabilidade para cada um destes perfis
238 CAP 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

ui) integração das taxas do am p lifica n d o lo c a is para d e fin in d o da curva


envolvente
iv) adopçáo de um faetor empírico de amplificando n para localizando do ponto
de transindo— n = 9, a falta de outra informando.
Continua assim de pé a questão: como proceder para trabalho expedito de
engenharia? Só há uma resposta: recorrer ou a correlanões empíricas ou semi-
empíricas. 'empíricas” significando apenas baseadas em resultados experimentais
e "semi-empíricas" referindo-se a evoluções com algum suporte teórico mas em
que factores numéricos tenham sido ajustados de modo a produzirem melhor
concordância com resultados experimentais. Claro que a aplicabilidade de
qualquer correlação empírica ou semi-empírica estará restrita à gama de
escoamentos a que se tenha recorrido para estabelecer as constantes numéricas,
mas também num método mais flexível tipo critério en o valor do expoente n
terá de ser o ajustado ao caso em estudo.
Uma correlação deste último tipo é a proposta por Cebeci e Smith [28],
segundo a qual transição ocorre quando os R eynolds’s de transição
Reg ~Ue9 / v e Rex = Ucx / v estiverem relacionados por:

22400
Re» =1,174 1+ W - 46. (5.3)
Re•rtr J

relação esta válida na gama 105 < /?ev < 4 x l 0 7.


E este expedito critério de transição que está implementado no código de
camada limite laminar listado na Sec. E.2. Na Fig. 5.13 ilustram-se previsões da
localização da transição obtidas com este programa do método de Thwaites e
com o critério de Cebeci e Smith para diferentes gradientes de pressão e a um
Reynolds médio Re( - l , 5 x l 0 6, onde está bem patente o efeito de um gradiente
de pressão ao determinar a ocorrência de transição.

Fig. 5.13 Ocorrência de transição em escoamentos de camada limite para diferentes


intensidades constantes do gradiente de velocidade exterior.

Levanta-se agora a seguinte questão: conhecido o desenvolvimento de uma


camada lim ite em regime laminar (recorrendo, p. ex. ao método integral de
>EC í>2 TRANSIÇÃO FORÇADA 239

Thwaites) e dcieiminada a ocorrência dc transição íp. cx , através do critério


seno-empírico dc Cebeci e Smith), como calcular a evolução dos parâmetros
caractcrísticos da camada limite através da região de transição de modo a
estabelecer as condições iniciais para o subsequente cálculo do desenvolvimento
da camada limite em regime turbulento?
O argumento normalmente empregue é o de que, embora o complexo
processo de transição envolva sucessivas fases, 'tudo' ocorre tão rápido (excepto
a baixos números de Reynolds) que as forças exteriores aplicadas sobre um
corpo de fluido pouco têm capacidade para evoluir ou actuar ao longo dessa
pequena distância, e isto no que concerna tanto a forças de natureza invíscida
(resultantes de um gradiente de pressão) como de natureza viscosa (devido à
aplicação de tensões de corte superficiais). Segue-se que, sendo a resultante das
forças exteriores praticam ente nula ao longo do processo de transição, será
também praticamente nula a variação da quantidade de movimento ou do déficit
de quantidade de m ovim ento, pelo que é de prever que o valor de 6 se
mantenha ao longo do processo. Significa isto que o valor de 6 com que, no
ponto de transição, termina o cálculo em regime laminar, deva ser o mesmo com
que, no mesmo ponto, se iniciará o cálculo em regime turbulento.
Porém, devido a uma muito maior capacidade de mistura, um perfil de
camada limite turbulenta é muito mais 'cheio1 que um perfil de camada limite
laminar — lem brar Fig. 1.48 — , pelo que, admitindo que transição ocorre
abruptamente, o factor de forma H deverá acusar uma descontinuidade (uma
queda) nesse ponto. Sendo então 0 = const. através da transição, a queda
abrupta de H = Ô*/8 deverá ser inteiramente atribuída a 8*. O valor de H até à
transição poderá ser determ inado por Thwaites; o novo valor de H — e, por
conseguinte, o novo valor de 8* — com que se deverá iniciar o posterior
cálculo em regim e turbulento pode ser determinado através da seguinte relação
empírica sugerida por Coles:
1 4754
H= ’ + 0 ,9 6 9 8 . (5.4)
•og R eett

5.3. Transição forçada


Há duas razões fundamentais para forçar ocorrência de transição: i) inibir
ou, pelo menos, atrasar separação do escoamento, dado que uma camada limite
turbulenta, exibindo m enores déficits de quantidade de movimento, é menos
susceptível a separação que um a cam ada lim ite laminar, como teremos
oportunidade de desenvolvidam ente apreciar no capítulo seguinte, ii) simular,
em modelo reduzido em laboratório, a mesma dinâmica do escoamento que no
protótipo à escala real. A preciem os este último caso com base em dois
MO CAP. 5 TRANSIÇÃO LAMINAR / TURBULENTO

exemplos, o primeiro de um corpo com pletum ente imerso num ineio fluido e o
segundo de unia situarão de superfície livre.
Suponhamos então que se pretende ensaiar em laboratório um perfil de asa
de aviào que. no panótipo. terá 3 m de corda e deverá operar a uma velocidade
de 200 km h e que o ninei aerodinâm ico disponível apenas perm ite instalação
de um modelo do perfil com unia corda de 30 cm. P ara sem elhança dinâmica
dos escoam entos deverá verificar-se ig ualdade dos núm ero s de Reynolds
Re = U„c/ v do protótipo e do m odelo, pelo que. se o m odelo for 10 vezes mais
pequeno que o protótipo, o en saio em túnel d ev erá ser realizado a uma
velocidade 10 vezes superior à de operação em escala real. a 2000 km /h no
caso v erten te. S im p le sm e n te, en q u a n to que a 200 km /h » 60 m /s nos
encontram os no lim iar em que o escoam ento ainda pode ser considerado como
incom pressível (Mach A/ = 0 ), a 2000 km /h estaríam os a operar a cerca de 1,6
vezes a velocidade do som (A í 1.6). pelo que o esco am en to seria dominado
por um sistem a de ondas de ch o q u e e de ex p an são e o núm ero de Mach
passaria a ser o parâm etro de sem elhança m ais significativo, não o número de
Reynolds. N ão podem os então garantir sem elhança dinâm ica e o m odelo terá de
ser e n sa ia d o a um R e y n o ld s m u ito m e n o r qu e n o p ro tó tip o : quais a
consequências? Sendo o R eynolds m enor, transição oco rrerá m ais tarde, pelo
que terem os um a m aior percentagem de d esen v o lv im en to do escoam ento em
regim e lam in ar do q u e no pro tó tip o , o que o casio n ará, a b aix o s ângulos de
ataque, i) um a m enor resistên cia de atrito, pois qu e Cf é m enor em regime
lam inar que em turbulento, ii) um a m aior sustentação e um a m enor resistência
de pressão, pois que Ô* é m en o r em regim e lam inar q u e em turbulento pelo
que é m enos intensa a interaeção viscosa / invíscida e m enor será a alteração do
cam po de pressões co m parativam ente a um a situação de flu id o perfeito, como
terem o s opo rtu n id ad e de d etalh a r ao longo do texto ; a elev ad o s ângulos de
ataque instalam -se gradientes de pressão adversos intensos que irão produzir iii)
um a se p araç ão p rem a tu ra da c a m a d a lim ite la m in ar, de o n d e um a maior
resistência e um a m enor sustentação que no protótipo. E m conclusão, os ensaios
em m odelo red u zid o seriam p erfeitam ente inúteis! Q ue fazer en tão ? Forçar a
que tran sição no m odelo ocorra no m esm o ponto em qu e é de p rever se venha a
v erific ar n aturalm en te no protótipo.
U m a situ ação ainda m ais crítica é a de ensaio em c a n a l h id ro d in â m ic o
[ ío w i n g tank] p ara d eterm in ação , por ex em p lo , d a re sistê n c ia ao avanço do
m o d e lo d e c a sc o de um navio. N esta situação de superfície livre o parâm etro de
s e m e lh a n ç a m a is sign ificativo é o núm ero de F roude F r - U / ^ f g L — eq. (1.26)
— e ig u a ld a d e d o s F ro u d e exige que, sendo m enor a dim ensão L do modelo, os
e n s a io s s e ja m re a liz a d o s a u m a v elo cid a d e U ta m b é m m en o r, pelo que o
R e y n o ld s s e r á m u ito m e n o r; p. ex. se o m odelo fo r feito à escala 1:100 — e.g.
r e d u ç ã o d a d im e n s ã o d e u m su p e r-p etro le iro de 3 0 0 p ara 3 m — os testes
SEC. 5.2. TRANSIÇÃO FORÇADA 241

deverão ser realizados a uma velocidade VR)<) = |0 vezes menor, pelo que o
Reynolds diminuirá de 103, i.e. dc três ordens de grandeza. Mais uma vez há
toda a necessidade em forçar transição no modelo.
Pergunta-sc então: como forçar transição? Uma técnica usual em
aerodinâmica de baixa velocidade consiste em utilizar o chamado arame de
transição |tr//> wire]. O arame produz, localmente, um escoamento do tipo do
representado na Fig. 5.14, semelhante ao escoamento em torno de um edifício
imerso na camada limite atmosférica, logo considerado no Cap. 1.

F ig . 5 .1 4 Escoamento induzido por um arame de transição.


Este tipo de perturbação força a ocorrência de transição pela actuação
simultânea de dois mecanismos: por induzir um perfil de velocidades com
ponto de inflexão, altamente instável, e com grandes déficits de quantidade de
movimento, produzindo localmente, i.e. a um dado Rex, um salto em Ree —
vidé eq. (5.3) do critério de Cebeci e Smith.
Não interessando utilizar um arame grande de mais, para não perturbar
desnecessariamente o escoamento, e não se podendo utilizar um arame pequeno
de mais, pois a perturbação introduzida pode não ser suficientemente intensa
para induzir transição, põe-se a questão: qual a dimensão mínima do arame
requerida para produzir transição ’no arame' ? Esta questão pode ser respondida
pelo c rité rio d e G ib b in g s [61], segundo o qual o 'Reynolds do arame' —
número de R eynolds construído com uma escala de comprimentos igual ao
diâmetro do arame — deverá ser igual ou superior a 826:

^ aram e
^arame >826.
V
Esta técnica não é utilizada em supersónico pois que, mesmo que a
velocidade no topo do arame seja subsónica, o deslocamento do escoamento
exterior pode p ro d u zir um choque. Tanto em supersónico como em
hidrodinâmica é mais usual forçar transição com uma faixa de elementos de
rugosidade: ou Carborundum (carboneto de silício) ou Ballotini (esferas de
vidro).
CAPÍTULO
6
ESCOAMENTO TURBULENTO
Escoamentos de camadas de corte em regime turbulento constituem a regra,
e não a excepção, em problemas de aerodinâmica, dados os elevados números
de Reynolds a que esses escoamentos se processam e as inúmeras fontes de
perturbação presentes, mormente em situações de aerodinâmica industrial.
Depois de. no Cap. 4. termos apreciado escoamentos de camadas de corte
em regime laminar e de. no Cap. 5, termos analisado o processo de transição
laminar / turbulento, dediquemos agora este capítulo ao estudo de escoamentos
em regime turbulento. Na Sec. 6.1. são descritas as características de um
escoamento turbulento e nas Secs. 6.2. e 6.3. são apresentadas a$ equações do
campo cinemático, primeiro num caso geral e depois dentro das aproximações
de camadas de corte delgadas; verificaremos que o número de incógnitas é
superior ao número dessas equações pelo que, para tornar o sistema
determinado, haverá necessidade de o complementar com relações adicionais
inspiradas na física do processo: os chamados m odelos de tu rb u lên cia
[turbulence models], a apresentar na Sec. 6.4. A semelhança da metodologia
seguida em regime laminar serão então aplicados estes resultados físico-
matemáticos ao estudo da estrutura de uma camada limite turbulenta, que, como
veremos, apresenta regiões com características distintas — Sec. 6.5. —, e à
quantificação da evolução tanto de escoamentos de camada limite, para o que
será apresentado um método integral de cálculo — Sec. 6.6. — , como de
escoamentos interiores completamente desenvolvidos — Sec. 6.7. —, como
ainda de um jacto axi-simétrico, como exemplo de camada de corte livre — Sec.
6.8. O capítulo termina com uma referência a técnicas de medida com sondas de
pressão — Sec. 6.9.

6.1. Características do campo turbulento; efeito Coanda


Até agora utilizámos a designação "escoamento turbulento" sem termos
definido o que entendemos por turbulência. Embora a noção de turbulência
seja quase intuitiva, uma sua definição precisa é deveras difícil de formular, e
mesmo que o conseguíssemos essa definição provavelm ente seria pouco
elucidativa para caracterizar todas as propriedades inerentes a um tão complexo

242
SEC.61 CARACTf RlSTICAS 00 CAMPO TtlfiBUUNIO 243

processo. Uma das boas dcíiiuçòcfc «jc turbulência é a apresentada por Peter
Bradshaw 114|, de que se segue uma tradução literal:

Turbulência é um movimento trt-dimensional dependente do tempo


no qual csríríWieMfo de vórtices faz com que flutuações de
velocidade se estendam a todos os comprimentos de onda, entre um
mínimo determinado por forças viscosas e um máximo determinado
pelas condições fronteira do escoamento, É o estado usual do
movimento de fluidos excepto a baixos números de Reynolds.
É uma definição extrem am ente precisa, embora quase ininteligível para quem
não tenha já uma muito clara noção do que é turbulência!
Contornem os esta dificuldade em definir turbulência de uma forma precisa
e clara, sem escam otear o problem a, descrevendo as características de um
processo que designam os por turbulento [160]; espera-se que no fim desta
descrição o leitor esteja apto a compreender e a apreciar a definição acima.
1. Talvez a caractcrística mais evidente seja a irregularidade de um campo
turbulento em que, sobreposto a um escoamento médio, se observam
flutuações caóticas com grandes gamas de dimensões (comprimentos de
onda) ou de frequências, com o representado na Fig. 6.1 para a evolução ao
longo do tem po de um a propriedade estatisticam ente estacionária. A
natureza a le a tó ria [random ] do escoamento obriga a que o seu tratamento

Fig. 6.1 Flutuações turbulentas em tomo de um valor médio constante.

analítico seja feito por métodos estatísticos em vez de determinísticos; há


assim necessidade de quantificar o processo através de parâmetros como o
valor m édio [mean value] de uma dada variável, o desvio p ad rão [root
mean square r.m.s.] para definir a intensidade das flutuações em tomo do
valor m édio, os co eficien tes de co rre la ç ã o [correlaíion coejficients]
espaciais e/ou tem porais a fim de determinar a interaeção de efeitos
ocorrendo em diferentes pontos do espaço e/ou em instantes diferentes, a
probabilidade de ocorrência de um dado valor, a distribu ição espectral
[spectrum] para identificar os comprimentos de onda ou as frequências
dominantes, etc.
2. É também um dado da observação a natureza essencialmente tri-dimensional
de um cam po turbulento, em que entes vulgarmente denominados
44 C4P 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

redemoinhos ou turbilhões [edtiies] altamente contorcidos e de diferentes


dimensões (diferentes comprimentos de onda) se entrelaçam e originam,
instantaneam ente, escoam entos com trajectórias circulares, como
magnificamente reportado na ilustração de Leonardo da Vinci aqui
apresentada como Fig. 6.2.

Fig. 6.2 Ilustração de Leonardo da Vinci.


Uma imagem menos artística mas mais gastronóm ica deste processo é a
assim ilação de um cam po tu rb u lento a um prato de esparguete,
representando cada esparguete um filam ento de vórtice instantaneamente
coincidente com o eixo do turbilhão (*). Como resultado de um campo
cinemático tri-dimensional em que gradientes de velocidade instantâneos são
elevados, a energia cinética associada às flutuações de velocidade — energia
cinética tu rb u le n ta [turbulent kinetic energy] — vai sendo transferida dos
turbilhões de grandes dimensões (grandes com prim entos de onda, baixas
frequências) para turbilhões de cada vez m enores dim ensões (alta
frequência) por um processo essencialm ente invíscido de estiramento de
vórtices.
Lembramos que, como descrito na Sec. 3.5., o mecanismo de produção de
vorticidade (aumento da frequência angular) por estiramento de vórtices só
pode ocorrer em campos tri-dim ensionais; quando referirmos escoamentos
turbulentos bi-dimensionais estará então im plícito que só o escoamento
médio será bi-dimensional, verificando-se instantaneamente, numa direcção
normal ao plano do escoam ento m édio, com ponentes não nulas de
velocidade e gradientes elevados das propriedades.
Declarámos que a energia cinética turbulenta era transferida dos grandes
para os pequenos turbilhões por um processo de estiramento de vórtices;

Reservaremos a designação vórtice para referir o ente induzindo um escoamento organizado


com linhas de corrente circulares, identificando como tu r b ilh ã o o ente produzindo um
escoamento análogo mas aleatório. Os termos equivalentes em inglês são v o r te x e e d d y ; os
franceses usam indistintamente to u r b illo n .
S E C . 6 .1 . CARACTERÍSTICAS DO CAMPO TURBULENTO 245

mas o que é que nos leva a supor que, num campo caótico em que,
instantaneamente, tanto pode ocorrer estiramento como compressão de
filamentos de vórtices, a probabilidade de ocorrência de etapas de
estiramento seja superior à de ocorrência de etapas de compressão, e que a
transferência de energia se não processe exactamente em sentido contrário,
i.e. dos pequenos para os grandes turbilhões? Tomemos como exemplo dois
indivíduos numa multidão que se movimenta de forma desordenada e que
cada um desses indivíduos segura a ponta de um elástico. A situação mais
provável é a de que, no meio da multidão, esses dois indivíduos se vão
afastando cada vez mais um do outro, e que portanto o elástico vá esticando,
esticando. Não quer isto dizer que, nessa movimentação desordenada, os
dois indivíduos não possam, casualmente, voltar a passar um pelo outro ...
mas entretanto já o elástico terá dado muitas voltas. É assim efectivamente
mais provável que, num campo turbulento, o número de etapas de
estiramento prevaleça sobre as de compressão e que o efeito final seja o de
produzir uma transferência de energia das grandes para as pequenas escalas
e não em sentido contrário.
3. A últim a característica que ressalta imediatamente da observação de
escoamentos turbulentos é a sua grande capacidade de mistura que produz
elevadas taxas de transferência de massa, quantidade de movimento e
energia, provocando uma rápida uniformização da distribuição espacial da
propriedade em causa. Esta grande difusão, resultante do transporte pelo
campo turbulento de largas massas de fluido ao longo de comprimentos
apreciáveis, é várias ordens de grandeza superior à difusão de nível
molecular, a única actuante em escoamentos laminares.
4. No term o do processo de transferência de energia das grandes para as
pequenas escalas por estiram ento de vórtices, i.e. a nível dos pequenos
turbilhões, a frequência angular e os associados gradientes de velocidade
instantânea são de tal modo elevados que tensões de corte de origem viscosa
se tornam significativas; estas tensões viscosas produzem trabalho de
deform ação que aum enta a energia interna do fluido à custa de uma
diminuição da energia cinética turbulenta. Um campo turbulento é assim
essencialm ente dissipativo, e para que possa sobreviver será necessário
fornecer-lhe continuam en te energia. Esta energia será retirada do
escoam ento médio (criação da desordem a partir da ordem, aumento de
entropia) pelos turbilhões com uma escala de comprimentos (comprimento
de onda) mais próxim a de um a dimensão característica do escoamento
médio, obviam ente pelos turbilhões de maiores dimensões. A repartição de
energia cinética no domínio dos números de onda ou das frequências —
espectro de energia, em que (p, a densidade espectral de energia [power
spectral density]> representa a contribuição fraccional para a energia total da
246 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

energia contida numa banda de numeros de onda dk ou de frequências dco


de largura elementar e centrada em k ou (o — deverá então ser do tipo
indicado na Fig. fO , em escalas logarítmicas, em que se identificam três
zonas com características distintas:
• A gama de baixos números de onda (grandes com prim entos de onda)
ou de baixas frequências correspondente aos grandes turbilhões que,
interaccionando com o escoam ento m édio, con trib u em com a maior
percentagem de energia cinética turbulenta para a en erg ia total do
campo; por esta razão, os turbilhões de grandes dim ensões são muitas
vezes designados por tu rb ilh õ e s c o n te n d o e n e rg ia [energy containing
eddies]. N otem os que estes turbilhões têm um a d im en são máxima
possível (limite inferior da gam a de números de onda ou de frequências)
ditada pelas condições fronteiras, i.e. pelas dim en sõ es d a cam ada de
corte: por exemplo, num escoam ento turbulento num a con d u ta não se
poderá constituir um turbilhão com um a dim ensão transversal superior à
largura da conduta (!) e as suas dim ensões segundo as outras direcções
deverão ser da mesm a ordem de grandeza, pois se trata de um ente
inerentem ente tri-dim ensional; tal não significa que, instantaneam ente,
não possa existir um turbilhão de form a m ais achatad a tipo pizza, com
uma escala de com prim entos segundo um a d irecção m uito m enor que
segundo as outras duas, mas esse será um turbilhão quasi bi-dim ensional
ou de um a tri-d im e n s io n a lid a d e in c ip ie n te e, p o r ta n to , não
verdadeiram ente característico de um cam po turbulento — voltarem os a
este argum ento na sub-Sec. 6.5.1.; é o cham ado p rob lem a da p a s t a : se é
pizza, se é esparguete! T am bém estes turbilhões co n ten d o en erg ia terão
tendência a adaptar-se ao escoam ento m édio a fim de prom overem uma
extracção de energia com a m áxim a e fic iê n c ia (te n d ê n c ia p ara um
estado de energia m ínim a) alinhando-se com as d irecçõ es principais do
tensor das taxas de d efo rm aç ão m édias, p elo q u e se rã o altam ente
an iso tró p ico s [anisotropic].

Fig. 6.3 Espectro de turbulência (escalas logarítmicas).


SEC. 6.1 CARACTERlSTICAS 0 0 CAMPO TURBULENTO 247

♦ A nível das pequenas escalas a que se processa a dissipação de energia —


gama dissipativa — os turbilhões têm uma dimensão de tal modo
inferior à distância ao longo da qual ocorrem variações significativas das
propriedades do campo médio que, não 'sentindo' gradientes médios,
apresentam características muito aproxim adam ente isotrópicas. A
dimensão mínima dos turbilhões (limite superior da gama de números de
onda) estará logicam ente condicionada pela sua capacidade de
sobrevivência num campo dissipativo. Dado que só nesta gama se fazem
sentir efeitos da viscosidade molecular, influências do número de
Reynolds num cam po turbulento estarão também restritas às pequenas
escalas, dim inuindo a frequência de corte com diminuição de Re, i.e.
'morrendo' a turbulência mais cedo; é fácil compreender o argumento: i)
uma diminuição do Reynolds está associada a um aumento da influência
relativa dos efeitos viscosos, o que pode ser simplistamente encarado
com o devido a um aum ento da viscosidade; ii) se aumenta f i , o
gradiente instantâneo du/ây necessário para produzir uma tensão de
corte m olecular T - i i d u / d y suficientem ente intensa para originar
dissipação não será tão elevado, pelo que os turbilhões dissipativos serão
de m aior dim ensão (m enor k) ou de menor frequência angular,
im plicando que term ina mais 'cedo' (a menor k ou (ú) o processo de
estiram ento de vórtices — lembramos, com referência à Fig. 2.7, que já
na Sec. 2.3. associámos a dufdy um carácter de velocidade angular.
• N a zona interm édia actua sim plesm ente um mecanismo de inércia
promovendo uma transferência de energia das grandes para as pequenas
escalas por estiram ento de filamentos de vórtices; esta gama é por isso
referida com o sub-dom ínio de in ércia [inertial sub-range].
A todo este processo de transferência de energia ao longo do espectro por
estiram ento de filam en tos de vórtices, conduzindo, em bora por um
m e can ism o fís ic o d ife re n te , a um resultado sem elhante ao do
fraccionam ento de turbilhões de grandes dimensões em turbilhões cada vez
mais pequenos, cham a-se cascata de energia [energy Cascade].
A proveitem os estarm os a lidar com espectros de energia para tentarmos
ganhar um pouco m ais de sensibilidade para este com plexo processo
turbulento.
C om eçam os por notar que em bora a dissipação de energia resulte da
actuação de um mecanismo de nível viscoso, a taxa de dissipação de energia
é independente da viscosidade do fluido. De facto, toda a energia que é
transferida ao longo da cascata para os turbilhões dissipativos é dissipada, à
mesma taxa, por acção da viscosidade, ou, por outras palavras, a quantidade
de energia que é dissipada por unidade de tempo é igual à quantidade de
energia que, por unidade de tempo, é transferida ao longo do espectro, para
24S CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

;i cama dissiputiva. por um processo essencialinente invíscido de estiramento


de vórtices, implicando que a taxa de dissipação seja igual à taxa de
transferência de energia no espectro e independente da viscosidade.
Justifiquemos agora a forma do espectro de energia apresentado na Fig. 6.3:
o aumento inicial de *p na gama dos turbilhões contendo energia, a contínua
diminuição a partir desse máximo e até ao termo da cascata e a evolução
linear (em escalas logarítmicas) característica do sub-domínio de inércia:
- o aumento inicial de <p com k corresponde â fase de adaptação dos
grandes turbilhões a gradientes do campo médio, fase durante a qual
aumenta a eficiência do processo de estiramento, aumenta a intensidade
das flutuações de velocidade, de onde aumenta a energia cinética
turbulenta, e. ocorrendo algumas etapas do processo de estiramento,
aumenta o número de onda;
- após atingido este máximo o valor de <p vai continuamente diminuindo
ao longo do processo de estiramento, o que pode parecer estranho
porquanto aumentando a vorticidade flutuante em resultado do
estiramento poder-se-ia ser levado a pensar que aumentaria a intensidade
das flutuações de velocidade e que consequentemente <p aumentasse;
porém se Au aumentasse à medida que dim inuía a escala de
comprimentos Ay, a razão Au/Ay aumentaria tanto que a viscosidade
'tomaria conta' do processo, através de T = fid u /à y , imediatamente
'matando’ (dissipando) turbilhões com essa característica; o conteúdo
energético dos turbilhões deverá assim diminuir continuamente ao longo
do processo de cascata, i.e. à medida que aum enta a frequência ou
diminui o comprimento de onda das flutuações, diminui também a sua
amplitude;
- quanto à evolução linear (em escalas logarítmicas) do espectro no sub-
domínio de inércia? Trabalhemos com o espectro não-normalizado, ou
não-adimensionalizado, <p* com dimensões
[ç?*] = energia / unid. massa / unid. n° onda
= ú r 2/ r l = ú r 1
e admitamos que nesta gama de inércia a dinâmica do escoamento, e
assim a forma do espectro, é apenas controlada pela taxa de transferência
de energia na cascata (igual à taxa de dissipação £ , como vimos) e pelo
número de onda k:

Sendo [£] = L2T~2/ T = Z ? r '3 e [k] = LTlt técnicas de análise dimensional


(o teorem a dos I7's de Buckingham — vidé Sec. 1.3.) fornecem
im ediatam ente
SEC. 6.1. CARACTERiSTICAS 0 0 CAMPO TURBULENTO 249

<p*(k) = const x e^kT*** (6.1)


de onde uma evolução linear (cm escalas logarítmicas) de (f>vs. k com
um declive de - 5 /3 ; um valor característico da constante de
proporcionalidade é const.» 0,5 [14].
Esta relação constitui o suporte de uma técnica experimental expedita
para determinação da taxa de dissipação de energia cinética turbulenta
num qualquer ponto do escoamento: admitindo um dado valor
numérico para a constante de proporcionalidade, medição da intensidade
das flutuações de velocidade através de um filtro passa banda [band-
pass filter] <p* centrado a uma qualquer frequência <tí na gama de
inércia permite, com recurso à relação supra, determinar e. Claro que
nunca se irá determinar £ através de um único par de valores
experimentais (p *, k \ o que se faz é operar uma regressão com uma
recta de declive - 5 /3 a um conjunto de pares de valores.
Referiu-se, a propósito dos turbilhões dissipativos, que estes teriam uma
constituição espectavelmente isotrópica; ora estes turbilhões são o resultado
final de um longo processo de estiramento que se iniciou a nível dos
turbilhões contendo energia, e estes têm uma configuração essencialmente
anisotrópica. Segue-se que algum processo de tendência para a isotropia
terá tido lugar durante as sucessivas etapas de estiramento ao longo da
cascata. Apreciemos esse mecanismo.
Suponhamos, com referência à 'árvore genealógica' esquematizada na Fig.
6.4 [14], um troço de filamento de vórtice orientado segundo a direcção z
que é estirado por acção de gradientes, segundo z, da componente da
velocidade flutuante w. Em resultado do estiramento, a energia cinética de
rotação aumenta, à custa da energia cinética associada à componente w, e a
escala do movimento no plano xy diminui; conclui-se então que estiramento
numa direcção (a direcção z, neste caso) produz uma diminuição das escalas
de comprimento e um aumento das componentes de velocidade nas outras

Frequência de símbolos
em cada geração
X y z
0 0 1
y z z x 1 1 0
/\ /\ /\ /\ i 2
z x x y x y y z
3 3 2
l\ /\ /\ l\ / \ / \ l\ l\ 5 5 6
x y y z y z z x y z z x z x x y 11 11 10

Fig. 6.4 'Árvore de Bradshaw'.


:5 0 f.4f ê í< i\'A V íN K ' ‘u S rV ltN T O

dua> JirrcçiVs (\ e v). as quais adquirem capacidade para, na geração1


seguinte, estirarem filamentos de vórtice com elas alinhados, e assim por
diante Verificamos assim que estiramento inicial numa direcçáo produz, ao
cabo de algumas etapas do processo de cascata, quase igual número de
ocorrências de capacidades de estiramento de menor escala segundo cada
uma das três direcções v. v, c. como ilustrado pela frequência de símbolos no
quadro da Fíg. 6.4, o que denota uma tendência para uma constituição
essencialmente isotropica do campo turbulento de menor escala à medida
que se desenrola o processo de cascata.
5. Quantifiquemos quão distantes se encontram os turbilhões contendo energia
dos turbilhões dissipativos, i.e. qual a extensão de urn espectro de energia, o
que pode ser conseguido comparando as escalas de comprimento e de
velocidade do campo nas duas gamas extremas do espectro.
Uma característica essencial dos grandes turbilhões é a de serem os
responsáveis pela maior contribuição para a energia cinética do campo
turbulento, de onde a designação de turbilhões contendo energia; ora dado
que a energia cinética turbulenta por unidade de massa k tem dimensões de
(velocidade)2, uma escala de velocidades fisicamente significativa para os
grandes turbilhões será w = \ £ . Quanto à escala de comprimentos, é de
prever que seja próxima de uma correspondente escala do campo médio,
mas não tendo nós, nesta fase, informação suficiente para a estabelecer,
designemo-la agora só por um L, a ser definido um pouco mais à frente.
Relativamente a escalas da gama dissipativa: admitindo que a estatística das
pequenas escalas é determinada exclusivamente pela taxa de transferência de
energia ao longo da cascata para os turbilhões dissipativos, i.e. pela taxa de
dissipação € , e pela viscosidade v — h ip ó te se d e K olm o g o ro v de
eq u ilíb rio univ ersal [universal equilibrium] — , dado que [f] = L27’"3 e
[ v ] = L T ~ x a análise dimensional fornece im ediatam ente para escalas da
gama dissipativa, as chamadas escalas d e K o lm o g o ro v [K olm ogorov
microscciles]
- escala de comprimentos: r/ = ( v 3/ f j / (6.2.a)
- escala de velocidades : u = ( v e ) 1/4 (6.2.b)
de onde um Reynolds das escalas dissipativas Re£ = J] v/v = l [14, 160].
Em termos das escalas dos turbilhões contendo energia, a taxa de dissipação,
com unidades de energia por unidade de tempo, poderá ser expressa como
*/(escala de tempos) e podemos construir uma escala de tempos para os
turbilhões contendo energia sim plesm ente div idindo a sua escala de
comprimentos L pela de velocidades u = V&, de onde:

L /u L '
SEC. 6.1 CARACTERÍSTICAS 0 0 CAMPO TURBULENTO 251

ig u a lan d o esta rela çã o à de t'. ex p resso em term os da escala de


com prim entos de K olm ogorov rj (0.2.a)

v3
e
v
obtém -se

n v
(6.3)
L KUl- )

onile Rek = ^fk L / v é o núm ero de Reynolds dos turbilhões contendo


energ ia, o qual d ev erá ser da ordem de grandeza do Reynolds do
escoam ento m édio e este, por sua vez, deverá ser elevado para que o
escoam ento se processe em regim e turbulento.
Concluím os assim que sem pre que Re » 1, e por conseguinte Rek » 1, será
?] « L y significando que é muito grande a diferença de ordens de grandeza
das escalas de com prim ento das gamas dissípativa e dos turbilhões contendo
energia, sendo m uito extenso o sub-dom ínio de inércia. Ora efeitos das
propriedades físicas do m eio fluido, em particular de v , estão restritos à
gam a d issíp ativ a e o escoam ento turbulento é dominado pelos grandes
turbilhões, que envolvendo grandes massas de fluido a que estão associadas
grandes flutuações de velocidade (m aior contribuição para k) são, por
exem plo, os p rincipais responsáveis pela elevada capacidade de mistura
característica de escoam entos turbulentos; dado que estes últimos têm um
co m p o rta m e n to esse n c ia lm e n te in v íscid o , podem os afirm ar que a
turbulência é um a propriedade do escoam ento e não uma propriedade do
fluido.
É esta independência do número de Reynolds que, por exemplo em cinema,
perm ite dar a sensação de um pavoroso incêndio num enorme arranha-céus
através da film agem de um mini-incêndio numa maquette à escala reduzida,
operando a um Reynolds muito menor.
Só a baixos núm eros de Reynolds ('baixos' em termos de campo turbulento,
em bora suficientem ente elevados para que o escoamento se processe em
regim e turbulento) a extensão do sub-domínio de inércia, servindo de gama
ta m p ã o [buffer] entre os turbilhões dissipativos e os turbilhões contendo
energia, não será suficiente para impedir que a viscosidade intervenha no
com portam ento do cam po. Falarem os de efeitos de baixos números de
Reynolds nas Secs. 6.5. e 6.6.
6. Tem os vindo a afirm ar que os turbilhões dissipativos são de muito pequena
dim ensão. Q u an to é 'p eq u ena'? será próxim a de uma escala de
com primentos característica da estrutura molecular do meio fluido, digamos
252 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

do percurso médio livre [mean free parti] das moléculas do fluido? nesse
caso nâo poderíamos continuar a usar um modelo de meio contínuo.
Comparemos as duas escalas. Ora a teoria cinética dos gases produz, para o
percurso médio livre X

X- i ^ - (6.4)
À ~y 2 a
onde y = cp/ c v é a razão de calores específicos ( y = 1,4 para o ar) e a é a
velocidade do som no meio.
De Ree = I vem v - rjv, peio que conjugando as duas relações obtemos:

X \y jz v
- = ------= 1 5 M £ « Mk « M
rt V 2 a £ * 650

onde Me = v/a é o número de Mach dos turbilhões dissipativos, muito


menor que o Mach dos turbilhões contendo energia (pois v « V&) que, por
sua vez, será menor que o Mach do escoamento.
Conclui-se então que, mesmo para tratar um campo turbulento a nível das
pequenas escalas, podemos continuar a usar um modelo de meio contínuo.
7. Realça-se, finalmente, que escoamentos turbulentos só podem ocorrer a
grandes números de Reynolds.
Tentando sumarizar as características dum campo turbulento, listemos as sete
palavras chave que o definem: a le a tó rio , tri-d im e n s io n a l, g ra n d e difusão,
dissipativo, propriedade do escoam ento, m eio contínuo, g ran d e s n ú m ero s de
Reynolds.
Quer-se crer que o leitor esteja agora em condições de apreender a definição
de turbulência dada por Peter Bradshaw e enunciada no princípio desta secção.
Há, porém, uma questão levantada no ponto 5. atrás que ainda não foi
respondida: qual, ou como definir, a escala de com prim entos L característica
dos grandes turbilhões? Esta questão pode ser respondida recorrendo ao
conceito de coeficiente de correlação, nos termos que passam os a expor.
Suponhamos que, num dado instante í, medimos a velocidade de flutuação
ã(t) em dois pontos P ( í ) e Q (x + r ) do campo turbulento, distando de r . Se os
dois pontos estiverem, nesse instante r, contidos na m esm a m assa turbilhonar,
como esquematizado na Fig. 6.5, será de prever que seja forte a correlação entre
ocorrências nos dois pontos e que, portanto, o coeficiente de correlação entre,
digamos, as componentes u da velocidade flutuante nos dois pontos

R (x ,r )= ^ - (6.5.a)
y u 2( x ) u 2( x + r)
SEC. 6.1. CARACTERlSTICAS DO CAMPO TURBULENTO 25 3

seja pouco menor que I ; se, por outro lado, os dois pontos estiverem contidos
em m assas turbilhonares diferentes, ocorrências nos dois pontos serão
determinadas por mecanismos manifestando-se a nível de turbilhões distintos e
será de prever que a correlação diminua, de tal modo que, à medida que a
distância r entre os pontos P e Q aumente, o que acontece num dos pontos tenha
cada vez menos a ver com o que acontece no outro, pelo que o coeficiente de
correlação deva cair a zero. É assim indicativo que uma escala de comprimentos
representativa da dimensão característica dos grandes turbilhões venha a ser
definida através de uma relação integral do coeficiente de correlação R — na
eq. (6.5.a) de definição de /?, as barras por cima dos símbolos das variáveis
representam o valor médio no tempo dessas variáveis; já na secção seguinte
analisaremos o significado e as consequências desta metodologia de análise em
termos de valores médios no tempo.

t+T)

F i g . 6 .5 V e lo c id a d e s in s ta n tâ n e a s e m p o n to s d ife re n te s d o e s p a ç o , n o m e sm o in sta n te,


e n o m e s m o p o n to , e m in s ta n te s d ife re n te s .

Em vez de, num dado instante, correlacionarmos ocorrências em dois pontos


do espaço podem os, alternativam ente, trabalhar em termos de correlações
temporais, correlacionando, num dado ponto fixo do espaço, ocorrências em
dois instantes diferentes í e í + T. Se o turbilhão, que é convectado pelo fluido,
for suficientem ente grande ou se o intervalo de tempo % for suficientemente
pequeno para que, em média, o ponto P esteja contido no seio do mesmo
turbilhão tanto no instante t como no instante seguinte t + T, então o coeficiente
de correlação temporal

u (x ,t) u ( x ,t + r)
R ( x ,r ) = (6.5 .b)
u(x)
deverá ser próxim o de 1; caso contrário deverá tender assimptoticamente para
zero.
Estes dois tipos de análise — no espaço, a tempo constante, e no tempo, num
ponto fixo do espaço — seriam perfeitamente equivalentes (hipótese ergódica)
se o cam po turbulento se m antivesse indeformável durante o transporte; é a
cham ada hipótese da vorticidade congelada \frozen vorticity hypothesis] de
G.I. Taylor, que é razoavelmente verificada em campos de baixa intensidade de
turbulência em que é lenta a taxa de deformação dos turbilhões.
254 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Desenvolvamos apenas um pouco estes dois tipos de análise temporal e


espacial até atingirmos o objectivo que nos fixámos de definir a escala de
comprimentos dos turbilhões contendo energia. Comecemos pela análise
temporal por ser, talvez, de mais simples percepção.
Consideremos então o coeficiente de auto-correlação entre as componentes
u segundo x:
u(t)u(t+T)
fl(r) = — —rr---- -
II2
para o qual contribuem flutuações de diferentes frequências a .
Lembramos que no ponto 4. atrás definimos densidade espectral de energia
no domínio das frequências <p(co) como a contribuição percentual para u2 das
flutuações contidas numa banda de frequências de largura d a , centrada em a,
pelo que:

<p(co)da = 1,

Será de prever que R ( t ) seja um integral ponderado de <p(a) em todo o


domínio das frequências, o que podemos ilustrar para um sinal simples do tipo
variação sinusoidal a uma frequência fixa a 0,
u = asenco0t
para o qual R(t) = cosa0r e <p(a) = $ é u m D ira ce m a = a 0 [14],
Será, neste caso

£(7) = ^ <p(a)cosarda

que é a forma de uma transformada coseno de Fourier.


Generalizando:

( 6 . 6)

de onde a transformada inversa:

ç>(<u) = — í R(T)e~'mdT. (6.7.a)


2 k
Não considerando frequências negativas e sendo R (r ) uma função par, será
apenas

(6.7.b)

de onde, em a = 0:

( 6.8)
SEC. 6.1. CARACTERÍSTICAS DO CAMPO TURBULENTO 255

Lz, representado na Fig. 6.6, claramente constitui uma escala de tempos


in teg ral [integral time scale] característica das grandes escalas do campo
turbulento.

F ig . 6.6 Construção da escala de tempos integral.

Desenvolvamos agora uma análise equivalente em termos espaciais.


O coeficiente de correlação entre as componentes «, em dois pontos do
campo distando r segundo a direcção 1 é:

u ^ u ^ x + r^
Ru[ri ) - i — _— --------

e a sua transformada de Fourier no domínio do espaço

*»W = [ +
> n ( M e“ ,r,^ 1 (6.9)

onde t j é o número de onda segundo a direcção 1; quanto à transformada


inversa (espectro uni-dimensional) obtém-se:

V " ( k ‘) = j ^ L R » ( r‘')e~,i'r'dr‘- (6,l0)


Por analogia com a definição de Lz,

Li=J0 Rn{rM r\ (611)


fornece a escala in teg ral de com primentos [integral length scale] para os
turbilhões contendo energia que há muito procurávamos.
Para generalizarmos estes resultados para três dimensões teremos de associar
ao número de onda um carácter vectorial k , obtendo-se:

Rii(r) = J__ ®y(k)elk r dkxdk2dk3

RU(?) e ' W J dridri dri ■

Nestas circunstâncias um espectro uni-dimensional, e.g. deverá ser


entendido como

11(^-i) = J <P u (kl, k 2,k ^ } d k 2d k 1


256 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

e não apenas como <PM(*i.O.OJ [I4J. já que, como iluscrado na Fig. 6.7, para a
intensidade das flutuações ao número de onda contribuem não só
flutuações de comprimento de onda Al =2/r/A,, propagando-se segundo x [t
como também flutuações de menor comprimento de onda A'< A, propagando-
se transversalmente a essa direcçao; o processo [a/Zoring] tem analogias com um
efeito Doppier.

Temos vindo a argumentar que um campo turbulento é dominado pelos


grandes turbilhões, visto serem aqueles que contêm maior fracção de energia e
cujo tempo de vida é maior, pelo que conseguem manter a sua individualidade
durante o transporte a grandes distâncias pelo campo médio e pelo campo
turbulento, i.e. conseguem subsistir a muitas etapas do processo de estiramento
até serem ultimamente dissipados por acção viscosa; segue-se que ocorrências
num dado ponto dum campo turbulento são fundamentalmente ditadas pelas
características dos turbilhões de grandes dimensões que, ao longo do tempo, vão
sucessivamente ocupando essa posição fixa no espaço. Ora esses grandes
turbilhões terão, normalmente, tido a sua génese em regiões completamente
diferentes do campo, pelo que apresentarão características distintas; dado que ao
passarem pelo ponto de observação ainda se 'lembram' de pormenores da sua
evolução, irão imprimir, nesse ponto, as características da sua região de origem.
Concluímos assim que, ocorrências num dado ponto dum campo turbulento
dependem fundamentalmente não de características locais mas da história
[ftistory] do escoamento; costuma-se referir este facto dizendo que um campo
turbulento tem memória [memory].
Para uma camada limite turbulenta de espessura local õ o efeito de memória
respeita a fenómenos que se verificaram numa extensão de 20 - 30 ô a montante
do ponto considerado, como teremos oportunidade de justificar na sub-Sec.
6.5.2. Esta característica de história ou de memória do escoamento vem
dificultar substancialmente a análise das condições locais de um campo
turbulento.
São ainda os grandes turbilhões que controlam o mecanismo de crescimento
de camadas de corte turbulentas. Como se verifica na Fig. 6.8 [50] de
visualização com fumo de um escoamento de camada limite turbulenta, a
SEC. 6.1. CARACTERlSTICAS DO CAMPO TURBULENTO 257

interface escoamento rotacional / irrotacional é altamente contorcida, devido a


erupções turbulentas envolvendo grandes massas de fluido que, geradas no
interior da camada dc corte, irrompem no escoamento exterior. A região da
camada de corte mais afastada da parede é assim intermitentemente ocupada por
fluido perfeito e por corpos turbilhonares de grandes dimensões.

F ig . 6.8 Interface instantânea camada limite / escoamento exterior.

Define-se, neste contexto, um factor de intermitência [intermittency factor]


y como a percentagem de tempo em que, num dado ponto, o escoamento é
turbulento, com parativamente ao tempo total de observação. Uma evolução
típica de y ao longo da espessura 8 de uma camada limite turbulenta em
gradiente de pressão nulo está representada na Fig. 6.9 [147],

F ig . 6 .9 Evolução do factor de intermitência numa camada limite turbulenta


em gradiente de pressão nulo.

Desta evolução se conclui que nos 40% interiores da camada limite o


escoamento é turbulento o tempo todo ( y = l) e que a intermitência escoamento
turbulento / escoamento potencial se começa a manifestar a partir dessa cota;
mesmo a nível da espessura da camada limite, definida de acordo com o critério
ô 995, é y = 5% . Nos 60% exteriores da camada limite a variação de y é
usualmente representada por uma evolução tipo erf — função erro [error
function}.
Vorticidade é comunicada, por acção viscosa, aos elementos contíguos de
fluido perfeito que são captados para o interior da camada limite e arrastados
pelo escoamento turbulento. É este, de resto, o único mecanismo possível de
‘56 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

geração de vorticid ad e, co m o rea lça d o n a eq . (3 .9 ). j á q u e p ro d u çã o quer por


rotação quer p o r estiram ento de filam en to s d e v ó rtic e p re ssu p õ e qu e vorticidade
já exista. V erifica-se p ortanto que o m e c a n ism o d e c re sc im e n to de cam adas de
c o n e lam inares e tu rb u len tas é s u b sta n c ia lm e n te d ife re n te : e n q u a n to qu e uma
cam ada lam inar cresce apenas por d ifu sã o m o le c u la r d e v o rtic id ad e . este efeito,
se bem que p rese n te em esco a m en to tu rb u le n to , é d e sp re z á v e l co m p arad o com
o de a r r a s t a m e n t o [e n tr a in m e n t] d e flu id o e x te rio r, ra z ã o p o r qu e a taxa de
crescim en to de u m a ca m a d a de c o rte tu rb u le n ta é m u ito m a io r que a de uma
cam ada lam inar. A títu lo d e e x e m p lo re fe re -se q u e , em g ra d ie n te de pressão
n ulo e a um n ú m ero de R ey n o ld s Rex = 1 0 6, a ta x a d e c re sc im e n to dÔ/dx de
um a cam ada lim ite lam inar é de 2 .5 ra m /m , co m o re ssa lta d a so lu ção de Blasius
referid a n a su b -S ec. 4 .3 .2 .. e n q u a n to q u e a d e u m a c a m a d a lim ite turbulenta é
de cerca de 18 m ra /m .
U m co n ceito asso cia d o é o de v e lo c id a d e d e a r r a s t a m e n t o [entrainm ent
velocity] VE% d efin id a co m o a tax a d e a u m e n to d e ca u d al v o lu m é trico ao longo
do escoam ento de cam ad a lim ite:

( 6 . 12)

R ecorrerem os a e sta n oção d e v elo cid ad e d e a rra sta m e n to no m éto d o integral de


cálcu lo d a ev o lu çã o de um a ca m a d a lim ite tu rb u le n ta a a p re se n ta r na sub-Sec.
6 .6 . 2.
V e ja m o s c o m o e ste m e c a n is m o d e a r r a s ta m e n to p o d e d e te rm in a r o
reco lam en to de u m a cam ad a de co rte se p a ra d a a um a p are d e só lid a adjacente,
fen ó m en o este co n h ecid o po r e fe ito C o a n d a [C o a n d a effect]. Suponham os
e n tão a situ a ç ã o re p re se n ta d a n a F ig . 6 .1 0 , de um e s c o a m e n to uniform e
ilim ita d o so b re u m a p ared e só lid a q u e a p re s e n ta u m a d e sc o n tin u id a d e de
superfície d o tip o d e g r a u d e s c e n d e n te [backw ard fa c i n g step]. A dm itam os que
o escoam en to é im pulsivam ente estab e lec id o a p a rtir do rep o u so e qu e a camada
lim ite é lam in ar no ponto d e separação.
N o in sta n te in ic ia l a ca m ad a d e c o rte se p a ra d a c o n fin a rá com zonas de
fluido perfeito com o m esm o valor de pressão estática ( a ») m as com diferentes
v elo cidades: na parte su p e rio r e z e ro n a p a rte in ferio r. Im ediatam ente a
se g u ir à separação a d istribuição tran sv ersal de v elo cid a d es na cam ada de corte
e v o lu ir á , r á p id a m a s c o n tin u a m e n te , d e U — 0 a U = U ^, ex ib in d o
n e c e ssa ria m e n te um ponto de inflexão, com o rep rese n tad o n a figura; o regime
s e rá a lta m e n te in stáv e l — in stab ilid ad e in v íscid a , v id é Sec. 5.1.— pelo que,
e x c e p to s e o n ú m e ro d e R eynolds fo r ex tre m am en te b aix o , tran sição ocorrerá
SEC. 6.1. CARACTERÍST1CAS DO CAMPO TURBULENTO 259

Fig. 6.10 Recolamento de uma camada de corte separada: efeito Coanda.

imediatamente após o ponto de separação. A partir desta estação a camada de


corte desenvolver-se-á em regim e turbulento, crescendo por arrastamento de
fluido potencial exterior; o caudal de arrastamento através da interface inferior
promoverá movim entação de fluido numa região anteriormente em repouso e
com uma pressão estática constante e igual a /?„, pelo que, aumentando
velocidades, o valor de p se tornará inferior a o gradiente transversal de
pressão assim gerado provocará uma deflexão da camada de corte separada em
direcção à parede, de modo a constituir-se equilíbrio entre força resultante do
gradiente radial de pressão e força centrífuga por unidade de volume. Na zona
de impacto da camada separada contra a parede sólida, o escoamento de corte
deverá subdividir-se de modo a devolver para o interior da bolha de separação
exactam ente a m esm a m assa de fluido que, continuamente, retirou por
arrastam ento ao longo da interface. O escoamento exterior pode então ser
considerado com o desenvolvendo-se ao longo de uma superfície de
deslocamento 5* — linha de corrente divisória — compreendida entre o ponto
de separação e o de r e c o la m e n to [reattachm ent] e com uma forma tal que
satisfaça continuidade no interior da bolha; o escoamento de recirculaçao pode,
sem elhantem ente, adm itir-se como constituído sempre pela mesma massa de
fluido descrevendo trajectórias fechadas, da qual uma fracção é arrastada pela
camada de corte e recuperada na vizinhança do recolamento.
Comprimentos típicos da bolha são da ordem de 5 - 6 alturas do degrau. Se
o núm ero de Reynolds fosse de tal modo baixo que a camada de corte se
m antivesse lam inar, crescendo só por difusão transversal de quantidade de
movimento, viria a atingir a parede a distâncias da ordem de 20 - 30 alturas do
degrau a jusante da separação.
Notem os que esta configuração de escoamento é auto-estável: se, devido a
uma qualquer perturbação, a bolha de circulação tivesse tendência a aumentar
260 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

de comprimento, a camada de corte separada (leia-se, a linha de corrente


divisória 8*) teria tendência a incidir na parede a um m enor ângulo, a
percentagem de caudal devolvido para o interior da bolha de recirculação seria
menor e a bolha tenderia a reduzir-se de dim ensões; se, inversam ente, a bolha
tivesse tendência a contrair, o ângulo de incidência na parede aum entaria e
maior seria a fracção de caudal devolvida à bolha que, em consequência, teria
tendência a aumentar de extensão. Tal configuração auto-estável da bolha de
recirculação é assim controlada por um delicado eq u ilíb rio en tre caudal
constantemente arrastado através da interface inferior e caudal devolvido na
região de recolamento.
Estabilidade do escoamento pode então ser gran dem en te afectad a pela
ventilação lateral da cavidade induzida por efeitos tri-dim ensionais, com o na
situação representada na Fig. 6.11 da bolha de recirculação form ada a jusante
de um edifício alto [128].

Fig. 6.11 Edifício alto precedido de edifício baixo:


configuração do escoamento a nível do solo.

O comportamento de bolhas de separação, sendo co n tro lad o por um


mecanismo de arrastamento inerente a um processo turbulento, é altam ente
dependente do número de Reynolds a que ocorra um a eventual prim eira
separação em regime laminar. Tal processo e tal dependência são determinantes
ao controlar o comportamento de perfis alares, como terem os oportunidade de
pormenorizadamente apreciar na sub-Sec. 9.3.2.

6.2. Equações do campo turbulento


Estabeleceremos, nesta secção, as equações gerais do campo cinemático para
um escoamento turbulento em termos do transporte da entidade estatisticamente
mais fundamental num qualquer processo estocástico: o valor médio da variável
aleatória [28, 70, 147, 160].
D ado que para tratar um campo turbulento, mesmo a nível das pequenas
escalas, continua a ser aplicável um modelo de meio contínuo, conservação da
SEC. 6.2, EQUAÇÕES DO CAMPO TURBULENTO 261

massa e de quantidade dc movimento serão regidas instantaneamente pelas eqs.


(2.7) e (2.16); simbolizando valores instantâneos por letra minúscula com um
til, como primeiramente fizemos na Sec. 5.1, virá
dã-
=0 (6.13)
dXf

dãj Sã: 1 dp d2ã,


(6.14)
h t + Ul'dx. p ^ + V áxf'

Usemos para o campo instantâneo uma decomposição à Reynolds, segundo


a qual o valor instantâneo de uma variável é obtido como a soma do valor
médio no tempo e da flutuação em torno desse valor médio, como logo
indicado na Fig. 6.1, i.e.
ã, = U, + u, (6.15)
onde a média no tempo é entendida como
1 r'o+r
Ui = lim —f ãjdt. (6.16)
' r-»- T o
Designando médias no tempo por uma barra sobre o símbolo da variável,
será, por definição

Ui = lim - -U i)dt =0 (6.17)

i.e. é nula a média no tempo de uma componente de flutuação, pois que, devido
à forma como definimos valor médio, desvios (áreas) num sentido compensam
exactamente desvios em sentido contrário.
Notemos que a definição de um valor médio através da equação (6.16)
escamoteia a presença de flutuações que não sejam do tipo turbulento, como
ilustrado na Fig. 6.12 para um escoamento médio periódico; neste caso, para
filtrar apenas as flutuações associadas ao campo turbulento sem perder a
característica não permanente do campo médio, haverá que recorrer a uma outra
técnica de definição de valores médios: as chamadas médias de conjunto
[ensemble averages], A técnica consiste em realizar um conjunto de n ensaios

Fig. 6.12 Sinal turbulento num escoamento médio periódico.


262 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

idênticos e definir media de unta qualquer variável aleatória característica, ao


fim de cada intervalo de tempo r após o tempo de referência f0, através da
ntédia. em cada um desses instantes r, dos n valores recolhidos nos n ensaios
realizados. A definição (6.1b) só terá então significado desde que o valor do
integral seja independente da origem dos tempos f0, i.e. que o escoamento seja
estatisticamente permanente. d U ^ d t^ 0. É esta a única situação que iremos
considerar no presente texto, pelo que sempre elaboraremos em termos de
médias temporais.
Para estabelecermos as equações de conservação do campo médio notemos
primeiramente que a média no tempo da variação espacial de um valor
instantâneo é igual à variação espacial do valor médio, pois podemos permutar
os operadores integração no tempo e derivação no espaço:

c«L 1 r'o + f du: , d 1 M l


lim — ~ d t =~ hm — (6.18)
Ãc, Th, d.\j ã \j [ t-*- T dXj

Apliquemos, sucessivamente, este tipo de análise ao estabelecimento das


equações da continuidade e de transporte da quantidade de movimento e da
energia cinética do campo médio; apreciaremos ainda a forma das equações de
transporte da correlação u, uj e da energia cinética turbulenta k - -^uj apenas
para reforçarmos os processos físicos intervenientes num escoamento
turbulento.

6.2.1. Equação da continuidade


Aplicando o resultado (6.18) à equação da continuidade (6.13) obtemos
imediatamente

d“, = d u i _ Q
(6.19)
dxj dxj
e subtraindo (6.19) de (6.13)

( 6 . 20 )

i.e., a equação da continuidade, sendo linear, é satisfeita tanto para as


componentes médias como para as de flutuação.

6.2.2. Equação de transporte da quantidade de movimento do campo médio


Para obtermos a equação do movimento média, antes de aplicarmos o
operador valor médio no tempo adicionemos a (6.14) a equação (6.13)
multiplicada por wj., i.e. «, dãj fdx} , do que resulta
SEC. 6.2. EQUAÇÕES DO CAMPO TURBULENTO 263

dãl dãjãj ^ I dp ^ d 2ãj


dt dxj p dXj dx2
Manipulação do segundo termo do primeiro membro e dos dois termos do
segundo membro desta equação reduz-se ou, pelo menos, inicia-se com uma
aplicação directa do resultado (6.18).
O mesmo parece já não se passar com o primeiro termo do primeiro
membro, pois tratando-se da integração no tempo de uma variação temporal as
variáveis de integração e de diferenciação parecem não ser independentes, o que
requereria aplicação de uma das regras de Leibnitz para diferenciação de
integrais. É um falso problema, porquanto, embora as variáveis de diferenciação
e de integração se chamem ambas 'tempo', estamos na realidade a tratar com
duas escalas de tempo perfeitamente distintas: a escala de tempos para
diferenciação é elem entar {dt) e a escala de tempos para integração é
infinitamente grande ( Hm) . Podemos assim continuar a aplicar o resultado
(6.18), de onde advém anulamento do respectivo termo para um processo
permanente em valor médio:

dU, _ Q

dt dt
O segundo term o do primeiro membro envolve variações espaciais de
produtos de componentes da velocidade instantânea cujo valor médio é:

«i«, = (u, + «/) [Uj + «j ) = fW j +UdTj + uJJI'i +H^rj


= U t U j + Uj Uj + U j ^ + Uj Uj = Uj Uj + Uj Uj

por (6.17). A equação resultante é assim:

1 dP d 2Uj
■ (U jU j+ U jU j)^ —3 E V_TT'-
dx p dXj dXj

Subtraindo a esta equação a (6.19) multiplicada por Uj, i.e. U, dUj jdXj - 0,
e usando, como sempre temos feito, o símbolo p para referir a pressão estática,
agora em valor médio, em vez de P, por vezes usado para denotar pressão total,
pois que não há confusão possível, obtemos finalmente

dUj _ 1 dp d % '• 1 d i -—\


U + V' ( 6 . 21)
1 ãXj p dXj

Comparação desta equação com a (2.16), que rege escoamentos laminares,


mostra o aparecim ento de um termo adicional: último termo do segundo
membro. L em brando os diferentes passos da demonstração que fizemos
concluímos que, devido ao carácter não linear do termo convectivo, na equação
264 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

de transporte para o campo médio figura uma variável característica do campo


flutuante, -pu,»y, representando uma correlação entre componentes da
velocidade flutuante no mesmo ponto.
Analisemos o significado físico deste termo. Atendendo às regras de
aplicação do operador média no tempo expressas por (6.18) e à equação da
continuidade para as componentes flutuantes (6.20), o termo pode-se escrever
na forma

d ---- d duj dUj du,

que se verifica ser análoga à do transporte (convectivo) das componentes da


quantidade de movimento média pelo campo médio U -d U í/B x j ; ele dirá assim
respeito ao efeito médio no tempo do transporte da quantidade de movimento
flutuante pelas flutuações de velocidade e, dado que figura na equação de
variação da quantidade de movimento do campo médio, representará a
transferência de quantidade de movimento entre o campo turbulento e o campo
médio. Como, de acordo com a 2a lei de Newton, uma variação da quantidade
de movimento está associada à actuação de uma força aplicada, —pUjUj pode ser
interpretado como um tensor das tensões turbulentas [turbulent stress tensor]
— o tensor de Reynolds xijy cujo traço r„. está relacionado com a energia
cinética turbulenta k = ^ p u 1j por T;í = -2/c; envolvendo o termo respectivo uma
contracção de rs , ele representará uma difusão turbulenta de quantidade de
movimento, como facilmente se conclui com base nos argumentos
primeiramente apresentados na Sec. 2.3.
Vejamos como se processa esta transferência de quantidade de movimento
no caso de escoamentos tipo camada limite; consideremos só a contribuição do
termo tj2 = -p u ]u2 = -puv. Suponhamos então, com referência à Fig. 6.13, um
elemento de fluido a uma distância y da parede em que a velocidade média do
escoamento é U(y) e que, sob acção de uma flutuação de velocidade v>0, esse
elemento se desloca para uma cota superior y + Ay em que as velocidades
médias são mais elevadas; admitindo que o turbilhão associado a essa massa de
fluido mantém a sua individualidade durante o deslocamento Ay, ele chegará à
nova posição com uma quantidade de movimento que, em média, será inferior à

Fíg. 6.13 Mecanismo de produção da correlação uv num escoamento de camada limite.


SEC. 6.2. EQUAÇÕES 0 0 CAMPO TURBULENTO 265

quantidade de movimento dos elementos a y + A y, pelo que, em média, irá


introduzir a essa cota uma perturbação de velocidade u < 0; temos assim que a
uma flutuação v > 0 está associada, em média, uma perturbação u < 0 de onde
hv < 0, razão por que logo explicitámos o sinal menos na eq. (6.21). Este fluxo
difusivo turbulento, tal como o molecular, está relacionado com gradientes do
campo médio, em bora não através de uma proporcionalidade simples
envolvendo um parâmetro análogo à viscosidade dinâmica.

6.2.3. Equação de transporte da energia cinética do campo médio

A fim de melhor concretizarmos o mecanismo de produção de energia


cinética turbulenta k = -^u2i a partir do campo médio, estabeleçamos também a
equação de transporte da energia cinética média K = Usando uma
metodologia análoga à seguida na obtenção das equações (2.22) e (6.21) vem;

( 6 .22)

Comparação com a equação (2.22) mostra o aparecimento de dois novos


termos devido à interacção dos campos médio e turbulento; o penúltimo termo
do segundo membro, envolvendo uma divergência, representará um transporte
difusivo de energia cinética média pelo campo turbulento, enquanto que o
último, sendo essencialmente positivo — pois, como referimos na sub-secção
anterior, a um gradiente médio dUi/d x j > 0 corresponderá uma tensão de
Reynolds ~ p u tUj > 0 , e vice-versa — e estando afectado de um sinal menos,
actuará como um poço de energia cinética média. O último termo representa
assim a dissipação de energia cinética média em energia cinética turbulenta,
associada ao trabalho produzido pelo campo médio no estiramento dos
turbilhões contendo energia.
Concluímos assim que um campo turbulento só se pode manter com um
escoamento médio não uniforme. Num campo com 0 = const. a turbulência
decairia sempre ao longo do escoamento.
Estamos agora em condições de interpretar o mecanismo de instabilidade
viscosa referido na Sec. 5.1. Suponhamos então uma pequena perturbação tipo
onda sinusoidal de amplitude a e com uma frequência to, induzindo flutuações
u e v, respectivamente, do tipo coseno e seno. O valor médio da correlação wv
durante um período T será:
■T
266 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

A viscosidade parece intervir no processo induzindo uma certa desfasagem entre


as duas componentes de flutuação, do que resulta uma tensão de Reynolds
iõ*Q. O campo de perturbação adquire assim capacidade para extrair energia
do campo médio dU/dx). aumentando de am plitude e eventualmente
provocando ulterior disrupção em regime turbulento [28],
Notamos finalmente que os termos turbulentos são várias ordens de
grandeza superiores aos viscosos, pelo que as contribuições moleculares para o
transporte difusivo e para a taxa de dissipação se podem , em primeira
aproximação, desprezar em face dos correspondentes efeitos turbulentos.

6.2.4 Equações de transporte das tensões de Reynolds


e da energia cinética turbulenta
A equação de transporte da componente utUj do tensor de Reynolds pode
ser laboriosamente obtida pela metodologia a seguir indicada:

Z>u; Dú,
u ,— - + U -----
' Dt Dt Dt
i) multiplicar a equação de transporte da com ponente instantânea pela
componente de flutuação uj% ii) multiplicar a equação de transporte da
componente instantânea ãj pela componente de flutuação iii) adicionar os
dois anteriores produtos e iv) operar a média no tempo deste resultado. Obtém-
se então:

D u ^ _ dUjUj d u ,Uj ’___ dU, ._ dU,


Ujuk - + U.U,
i k
Dt dt 1 á t, dx. dx.* y

dtij d u ,' d , ------V 1 ' dp uj dpUj '


A “ \lt ll llL]
-------- (6.23)
<v ’ p \ dx, dx,
1 J

d2u,u, du: du,


+ v~ ^ r ' 2v^ X '
nesta equação designámos por p a flutuação de pressão, para a distinguir da
pressão média p.
A interpretação física dos diferentes termos é mais compreensível através do
transporte da contracção ui tç . Comecemos então por apreciar a eq. (6.24) de
transporte da energia cinética turbulenta k = ^ u j \
- o segundo termo do primeiro membro representa a advecção (convecção,
transporte pelo campo médio) de k
- o primeiro termo do segundo membro representa a p ro d u ç ã o [production]
de k a partir do campo médio; é um termo simétrico do que figura na eq.
SEC. 6.2. EQUAÇÕES DO CAMPO TURBULENTO 267

2 (6.24)

(6.22) de transporte de K = Uf /2: a mesma quantidade de energia é retirada


do campo médio e injectada no campo turbulento a nível dos grandes
turbilhões
- o segundo termo do segundo membro representa a difusão turbulenta
(redistribuição) de k devido a flutuações de pressão e de velocidade
- o terceiro termo é o de difusão molecular viscosa de k
- o último termo representa a taxa de dissipação de k (em energia interna): £.
À forma escolhida para o termo dissipativo

em vez de

aplica-se o mesmo tipo de considerações tecidas em Nota no fim da Sec. 2.4;


estas duas relações de definição de £ coincidiriam, porém, se os turbilhões
dissipativos fossem isotrópicos, o que é efectivamente o caso como argumentado
no ponto 4. da Sec. 6.1.
Dois comentários, que justificam a referência a estas equações de transporte:
• o termo p^p^duf/dxj + dujjdx^ na eq. (6.23) de transporte de içu,. não
figura na eq. (6.24) de transporte de k , pois contrai a zero; este termo
pressão-deform ação [pressure-strain] é o responsável por uma tendência
para a isotropia, interpretada no ponto 4. da Sec. 6.1. com recurso à imagem
de uma 'árvore genealógica'. De facto i) uma flutuação positiva de pressão
representa, de certo modo, um armazenamento de energia cinética, para o
qual a maior contribuição resulta da componente de velocidade flutuante de
maior intensidade, ii) sendo a pressão não-direccional, ao libertar esta
energia armazenada as menores flutuações de velocidade são incrementadas
à custa da mais intensa, de que resulta uma constituição mais simetricamente
esférica em torno de cada ponto.
• A taxa de dissipação s pode (depois de alguma álgebra tensorial) escrever-
se em termos da flutuação de vorticidade to,, pois que

com a, = £
268 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

sendo eijt o tensor altemante de onde:


— f <?'«, u,
^ ~ ’v~9x,àKj '
Em termos de ordem de grandeza e utilizando as escalas de comprimento e
de velocidade L e u características dos grandes turbilhões — ponto 5. da
See. 6.1. —. obtemos:

~£~
v 1 0 « 0
uL Rek V^

pelo que:

f=vú)-. (6.25)
Esta relação seria exacta em turbulência homogénea, í.e. campo turbulento
em que é nula a variação espacial de qualquer valor médio: d/dxj(....) = 0.
Recorreremos a este resultado na Sec. 6.4.

6.3. Aproximações e equações de camadas de corte


delgadas bi-dimensionais em regime turbulento
A semelhança do praticado na Sec. 4.2. em regime laminar, obtenhamos
agora as equações de camadas de corte delgadas bi-dimensionais em regime
turbulento pela técnica de avaliação da ordem de grandeza relativa dos diversos
termos. Admitamos, como dado, que os argumentos expandidos e os resultados
a que conduziram em regime laminar na sub-Sec. 4.2.1. continuam a ser válidos
em regime turbulento, caso em que as eqs. (4.9) deverão ser apenas
complementadas com os termos de difusão turbulenta representados em (6.21).
Obtemos então, para as equações de transporte das componentes U e V :

y dU dU 1 dp + v d 2U du2 duv
(6.26.a)
dx dy p dx dy2 dx dy

i f U - ^ - 4 ^ . (6.26.1»
p ay ax dy

(’ ) t p = 1 se os 3 índices forem diferentes e estiverem ordenados ciclicamente (ex. 1, 2, 3 ou 2,


3. I ou 3. 1, 2), t'i/TÍ = -1 se os 3 índices forem diferentes e não estiverem ordenados
ciclicamente (ex. 1, 3, 2). ejjk = 0 se algum dos índices estiver repetido (ex. 1, 2, 1).
SEC. 6.3. APROXIMAÇÕES DE CAMADAS DE CORTE DELGADAS 269

Notemos que, apesar da natureza essencialmente tri-dimensional de um


campo turbulento, os termos envolvendo a componente de flutuação w
(duw/dz e dvw/dz) não figuram nestas equações por duas ordens de razão:
sendo o escoamento médio bi-dimensional i) a probabilidade de ocorrência de
flutuações w positivas e negativas, em torno do valor médio IV= 0 , é a mesma,
pelo que uw = vw = 0 — voltaremos a invocar este argumento na Sec. 6.4.— e
ii) a variação segundo z de qualquer valor médio é nula.
Comecemos por avaliar a ordem de grandeza relativa dos dois termos de
difusão turbulenta figurando na eq. (6.26.a) de transporte segundo x. Sabemos
que a camada de corte será delgada e que, portanto, 0[x] = L » 0[y] = <5;
desconhecemos porém as ordens de grandeza das tensões turbulentas u2 e uv.
Precisamos assim de recorrer a resultados experimentais, do tipo dos
representados na Fig. 6.14 [147] para uma camada limite turbulenta bi-
dimensional em gradiente de pressão nulo.

Fig. 6.14 Perfis de velocidade média e de tensões de Reynolds numa camada limite
turbulenta bi-dimensional em gradiente de pressão nulo.

D estas ev oluções concluím os que, tipicamente, será 0,4 k2 = v2 =

~ - u v ~ U l x 1CT3. Tal resultado conduz a que

du2 S_
0
dx L'

pelo que, na eq. (6.26.a), podemos desprezar du2ldx face a duvjdy. Esta
aproximação é, no entanto, mais grosseira do que a correspondente às difusões
moleculares, para as quais é
2
ã 2U d 2U õ
0 =0
dx2 dy2 L
27 0 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

como \imo$ na sub-Sec. 4.2.1.; acresce o facto de, em regime turbulento, ser
dS dx maior do que em regime laminar, dado o muito eficiente processo de
crescimento por arrastamento de fluido potencial exterior.
Com base nos mesmos resultados empíricos concluímos que a eq. (6.26.b),
de transporte segundo v , se reduz a

1 dp
-0
p dy dy

pelo que a ordem de grandeza da variação de pressão ao longo da espessura da


camada limite será:

0[_ty>] = o|/>v2j = X 1 0 '\

variação esta desprezável comparada com a pressão dinâmica no escoamento


exterior. Podemos assim escrever, tal como em regime laminar — eq. (4.8):

Dentro das aproximações de camadas de corte delgadas as equações do


campo cinemático exibem então, em regime turbulento, a forma:

dU dU 1 dp d 2U
U— + V -------- — 4- V ------------
dx dy p dx dy2 v !< -h
(6.27)
d l ^ + dV
= 0.
dx dy

Trata-se porém, agora, de um sistema indeterminado. Tal como em regime


laminar, a pressão continua a ser imposta por condições do escoamento exterior,
o que requer um cálculo prévio de fluido perfeito e implica uma necessária
interacção viscosa / invíscida, mas enquanto que em regime laminar tínhamos
duas equações para determinar as duas incógnitas U e V , agora em regime
turbulento temos as mesmas duas equações para determinar três incógnitas: U, V
e - p u v . Precisamos assim de complementar o sistema (6.27) com condições de
fecho [closure conditions], i.e. com outras equações linearmente independentes
que permitam tomar o sistema determinado: número de equações igual ao
número de incógnitas. Debruçar-nos-emos sobre este problema na secção
seguinte. De acordo com o título da presente secção estabeleceremos agora
apenas a forma da equação integral de camada limite, i.e. o equivalente, em
regime turbulento, da equação de von-Kármán (4.12) apresentada na sub-Sec.
4.2.2. para regime laminar.
SEC. 6.4. MODELOS DE TURBULÊNCIA 271

Ora os dois term os envolvendo fluxos difusivos de quantidade de


movimento na equação de transporte do sistema (6.27), um de nível molecular
(laminar) e outro de nível turbulento, podem ser agrupados numa tensão de
corte total
3U —
T T = Tlam + ^tmb C O m e T ,urb=-pKV. (6.28)

Integração do termo resultante entre y = 0 e y = h > 5 continua a produzir,


tal como em regime laminar:

pois que a tensão de corte na parede continua a ser designada por Tw e a tensão
de corte total fora da camada limite continua a ser nula.
Segue-se que, embora as equações diferenciais de quantidade de movimento
expressas por (4.9) e (6.27) sejam diferentes para regime laminar e para regime
turbulento, a equação integral de von-Kármán (4.12) exibe a mesma forma nos
dois regimes. A aproximação é, no entanto, mais grosseira em regime turbulento
que em regim e laminar, já que o era na equação diferencial de partida.
Nota-se, como apontamento, que numa situação com convergência lateral,
como apreciado nas sub-Secs. 4.2.2. e 3. em regime laminar, o efeito de
convergência deve agora ser considerado não apenas em termos cinemáticos,
através da contabilização do termo d W /d z da equação da continuidade, como
numa 'transform ação tipo Mangler' e que conduziu às relações (4.16) e (4.17),
mas tam bém em term os dinâmicos pela sua influência na estrutura do campo
turbulento, produzindo um a com pressão de filamentos de vórtices, uma
diminuição das tensões de Reynolds e uma consequente diminuição de Cf, entre
outros efeitos [21].
A finalizar esta secção registemos apenas a forma que assume a equação de
transporte da energia cinética turbulenta (6.24) dentro de uma aproximação de
camada de corte delgada bi-dimensional e desprezando a difusão molecular, já
que vam os necessitar recorrer a um balanço dos seus diversos termos nas
próximas Secs. 6.5. e 6.8.:

(6.29)

6.4. Modelos de turbulência


Concluím os, na secção anterior, que o sistema de equações que rege o
campo cinem ático m édio de um escoamento turbulento, de que exemplo típico
é o de cam adas de corte delgadas bi-dimensionais a propriedades constantes
272 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

(6.27), e um sistema indeterminado, pelo que, para o fechar, haverá necessidade


de recorrer a relações suplementares inspiradas na física do processo; são os
chamados modelos de tu rb u lê n cia , que consistem em modelos físicos
simplificados da complexa realidade, passíveis de serem descritos em termos
computacionalmente interessantes. Naturalmente que o grau de aproximação da
realidade e a inerente complexidade dos modelos de turbulência que, ao longo
do tempo, têm vindo a ser propostos são uma função directa dos meios de
computação oferecidos aos fluido-dinam icistas. H á quem argumente
(cinicamente) que o tempo de cálculo de um qualquer processo é sempre o
mesmo e independente dos meios de computação, pois que, quanto mais
potentes forem esses meios, mais longe quererá chegar o projectista! Compete
ao engenheiro decidir, em cada circunstância, que meios deve utilizar e até onde
deve ir; compete ao engenheiro, não ao cientista: esse quer (e deve) ir sempre
mais longe. Tentemos situar a questão de modelos de turbulência numa óptica
de engenharia.
O cerne da questão reside no facto de, nas equações de transporte do campo
médio f/(. (6.21), intervirem quantidades do campo flutuante É tentador
pretender resolver então as equações de transporte para as correlações de 2a
ordem (6.23), só que, devido ao carácter não linear do termo convectivo,
nestas equações figuram correlações de 3a ordem resultado que,
semelhantemente, se propagará a correlações de ordem superior. Haverá assim
necessidade de, a um qualquer nível, travar o processo, modelando correlações
de uma dada ordem em termos de correlações de ordem inferior, tendo sempre
em mente que o objectivo primeiro é o de resolver as equações do campo médio
e que, quanto maior a ordem das correlações em causa, mais estas respeitarão a
detalhes do processo, sendo assim cada vez menos significativas para descrever
comportamentos globais. Claro que, independentem ente do nível a que se
considere dever travar o processo, haverá de ter sempre o cuidado em não se
pretender m odelar uma correlação de um a q ualqu er ordem através de
correlações da ordem imediatamente inferior, porquanto respeitam a processos
físicos diferentes: correlações de ordem par estão associadas ao achatamento e
correlações de ordem ímpar associadas à assimetria da distribuição de densidade
de probabilidade do processo estocástico; porém , será já lícito modelar
correlações de uma dada ordem em term os de gradientes de correlações da
ordem imediatamente inferior.
Mais ou menos elaborada, esta técnica de modelação é análoga à utilizada na
dedução das equações de cam ada lim ite, em que lançám os mão das relações
adicionais d p j d y - d e v d 2U /d x 2 ~ 0 validadas por resultados experimentais a
Re » l.
Vejamos, muito sucintamente, quais as técnicas mais com ummente utilizadas
para m odelar um campo de camada limite turbulenta bi-dimensional.
SEC. 6.4. MODELOS DE TURBULÊNCIA 273

O primeiro modelo de turbulência foi proposto por Boussinesq em 1877 —


e.g. [147], Argumentando que, dado que as tensões de Reynolds, tal como as
tensões de nível molecular, estão, como referimos na sub-Sec. 6.2.2.,
relacionadas com gradientes de velocidade média, Boussinesq escreve - p u v na
forma
— dU
-p u v = p t — (6.30)

em que a constante de proporcionalidade p, representa uma viscosidade fictícia


designada por viscosidade turbulenta [eddy viscosity]\ o fluxo difusivo total de
quantidade de movimento virá então dado por
dU — , ,d U dU

onde o efeito do campo turbulento é interpretado como um acréscimo aparente


da viscosidade do fluido, o qual reagiria como se dotado de uma viscosidade
efectiva p ef.
Dado que a viscosidade turbulenta é uma característica do campo e não do
fluido, p t variará, em princípio, de ponto para ponto, pelo que o problema só
ficará completamente resolvido depois de determinada a sua lei de variação
espacial; até agora, limitámo-nos a transferir a ignorância sobre -p u v para a
ignorância em p t.
Em 1925, P ra n d tl — e.g. [147] — sugere para /i, uma relação inspirada na
teoria cinética dos gases, segundo a qual a viscosidade molecular ji está
relacionada com a velocidade molecular média a e com o percurso médio livre
À por (6.4);

Prandtl escreve então


M ,= P V m
em que v c e £m são escalas de velocidade e de comprimento características do
campo turbulento. De acordo com a interpretação atrás apresentada para -p u v ,
£m deverá referir a distância segundo y ao longo da qual u e v estejam bem
correlacionados, e, por analogia com o significado de percurso médio livre,
corresponderá à distância transversal percorrida por um elemento de fluido até
trocar a sua quantidade de movimento com outro; £m é por isso designado por
comprimento de mistura [mixing length]; t), representará, por consistência de
argumento, a ordem de grandeza da perturbação introduzida pelo elemento de
fluido ao deslocar-se de uma cota y para y + £m, de onde v x = £m\dU/dy\, onde
aplicação do módulo se justifica para que a escala de velocidades do campo
turbulento seja independente da orientação do referencial. Obtemos assim:
274 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

(631)
Conjugando as hipóteses de viscosidade turbulenta (6.30) e de comprimento
de mistura (6.31) a tensão de Reynolds escreve-se

- ,2 dU d li
- p « » '= p L (6.32)
dv
relação algébrica de fecho entre o campo turbulento e o cam po médio.
Esta relação terá de ser suplem entada com inform ação em pírica sobre a
variação de f m transversalmente à cam ada de corte. A presentam -se a seguir
valores típicos do comprimento de m istura em várias situações bi-dimensionais
[98J:
• Camada limite em gradiente de pressão nulo
= Ky com K = 0,41 para y < 0 ,2 8

( m - 0 ,0 8 5 = const. para y > 0 .2 8


Esta evolução está representada na Fig. 6.15. O andam ento linear nos 20%
interiores da camada lim ite será ju stifica d o na sub-Sec. 6.5.1; o muito
rápido crescim ento de £m na vizinhança da in terface cam ad a lim ite /
escoamento exterior é devida ao facto de d U /d y ten d er p ara zero mais
rapidamente que - p u v .

Fig. 6.15 Evolução do comprimento de mistura ao longo da espessura de uma


camada limite turbulenta em gradiente de pressão nulo.

Camada de m istura plana

= 0 ,0 7 5

Jacto plano em vizinhança em repouso

= 0 ,0 9 8

onde 8 é a m eia espessura do ja cto definida na Sec. 4.7.


Jacto axi-sim étrico em vizinhança em repouso
SEC. 6.4. MODELOS DE TURBULÊNCIA 275

Embora o modelo de comprimento de mistura produza em muitas situações


simples resultados condizentes com os experimentais, ele é susceptível de críticas
de vária ordem:
i) a prim eira diz logo respeito à sua concepção por analogia com a teoria
cinética dos gases e ao mecanismo de transferência de quantidade de
movim ento implicado: moléculas trocam quantidade de movimento por
choques elásticos enquanto que, num campo turbulento, essa troca é
processada por estiramento de vórtices; voltando à imagem gastronómica, a
hipótese de comprimento de mistura assemelha um campo turbulento mais a
um prato de ervilhas que a um prato de esparguete. Esta crítica não é, no
entanto, a mais pertinente do ponto de vista físico, pois que (6.30) e (6.31)
podem ser encaradas com o simples equações dimensionalmente correctas de
definição dos parâmetros p t e i m, sem se pretender atribuir-lhes qualquer
significado físico;
ii) fenom enologicam ente m ais grave é que, de acordo com estas hipóteses,
valores locais do campo turbulento são definidos exclusivamente em função
de características locais do campo médio, pelo que o efeito de história do
escoam ento não é tido em consideração; como frisámos na Sec. 6.1.,
ocorrências locais são fundamentalmente determinadas por efeitos que se
verificaram a m ontante do ponto de observação, ao longo de distâncias
grandes com paradas com a espessura da camada de corte ( 2 0 - 3 0 S no
caso de um escoam ento de camada limite), e não por gradientes locais do
campo médio;
iii) estes m odelos im plicam ainda que - p u v se anule nos pontos em que
d U /d y = 0, a m enos que f i t e l m exibam descontinuidades infinitas (!); é
um tipo de problem a que se apresenta, por exemplo, no caso de um
escoam ento de jacto parietal, como o ilustrado na Fig. 4.21. Nesta situação
de escoam ento de ja cto parietal, e mesmo no caso aparentemente mais
sim ples de escoam ento com pletam ente desenvolvido numa conduta,
pode, até, instantaneam ente assumir valores imaginários; dado que, como
assinalado na Fig. 6.16, a interface instantânea entre as massas de fluido
escoando-se ao longo da parede de cim a e da de baixo é altam ente

Fig. 6.16 Interface instantânea entre massas de fluido no escoamento numa conduta.
;:6 CAP 6 iSCúAMfNTO lURBULfcNíO

contorcida. corpos turbilhonares com -puv > 0 podem penetrar regiões do


campo com d l y rA < 0, do que resulta

-MV . .
( _ ---------------- — imagmano;
* \ & !>dy\àl'ldy\

porem neste caso a produção - p u v d U / d y vem negativa, pelo que corpos


turbilhonares nestas condições são rapidam ente am ortecidos;
iv> a aplicação dos modelos de viscosidade turbulenta e de com prim ento de
mistura está restrita a escoamentos com um valor dom inante de - p u l ul e de
d ll/à x e requer que os vectores’ taxa de d eform ação m édia e tensão de
Reynolds sejam paralelos, o que definitivam ente não é o caso numa camada
lim ite tri-dim ensional. com o v erem o s na S ec. 7 .3 ., onde tam bém
justificaremos o emprego do termo 'vector' entre plicas em vez de tensor.
Estes modelos de turbulência muito sim ples, de viscosidade turbulenta e de
comprimento de mistura, perm item fechar o sistem a (6 .2 7 ) atrav és de uma
simples relação algébrica, ou (6.30) ou (6.32); são por isso designados m odelos
a lg é b ric o s [algebraic models]. A p resen tem o s su m a ria m e n tc , por ordem
crescente de com plexidade, alg u m as te n ta tiv a s p ara m in o ra r os seus
inconvenientes, em particular para contem plar o efeito de m em ória e modelar o
campo turbulento mais de acordo com a física do processo.
Uma primeira proposta foi avançada pelo próprio P r a n d t l , em 1945, na
seguinte base; dado que um cam po turbulento é dom in ad o pelos grandes
turbilhões, que sobrevivem ao transporte a grandes distâncias, um a escala de
velocidades fisicamente mais significativa que a anteriorm ente utilizada deverá
ser uma escala característica dos turbilhões contendo energia e ser transportável;
a escala proposta foi, obviam ente, ut =Vfc e foi reso lv id a a equação de
transporte de k. Fecho do sistema é assim conseguido com mais um a equação às
derivadas parciais, o que leva a designar este tipo de m odelos por m odelos a 1
equação [1 -equation models}. A hipótese base de com prim en to de mistura
Í6.31) mantém-se e como escala de com prim entos continua a ser usado i m.
Em 1967 B rad sh aw et al. (*) [17], argum entando que é experim entalm ente
bem verificado que ao longo da espessura de cam adas lim ites turbulentas
desenvolvendo-se em muitas diversas condições é, m uito aproxim adam ente,
- p u v = 0,3k e que o problem a de fecho do sistem a (6 .2 7 ) reside no
aparecim ento da nova incógnita - p u v , p ergu n tam -se p o rquê insistir num
modelo fisicam ente incorrecto de com p rim en to de m istu ra e não atacar
d irectam en te o p ro blem a de d e te rm in a ç ã o d e —p u v a te n d e n d o à
proporcionalidade acima e resolvendo a equação de transporte de k . E o que

i • i o i L e t a l i a . e outros
SEC. 6.4. MODELOS DE TURBULÊNCIA . 27 7

fazem, precisando porém de prescrever ainda uma escala de comprimentos, à


semelhança do praticado para £m. Este modelo, eliminando a dependência de
- p u v no dU/dy local, é fisicamente mais correcto que um modelo de
comprimento de mistura, mas a sua aplicabilidade deveria estar estritamente
limitada a escoamentos de camada limite.
C om preende-se a proporcionalidade -p«v«cfc experim entalm ente
verificada, pois que sendo os grandes turbilhões os responsáveis pela principal
contribuição para as tensões normais de Reynolds, ou para o traço do tensor
uf = 2k , deverão também eles ser os responsáveis pela maior contribuição para
as tensões de corte, apenas - p u v em duas dimensões.
Com o desenvolvimento das capacidades de cálculo, novos modelos mais
elaborados e mais exigentes em termos computacionais foram surgindo. Depois
dos modelos a 1-equação surgiram os modelos a 2 equações, de que exemplo
típico e bem sucedido é o modelo k - e de L au n d er [82].
Launder continua a insistir na hipótese de comprimento de mistura mas
tenta ultrapassar as suas limitações permitindo transporte das duas escalas. Como
escala de velocidades continua naturalmente a optar por 4 k \ em vez de uma
escala de comprimentos usa uma escala de tempos que, multiplicada pela de
velocidades, produz uma quantidade com unidades de comprimento, e uma
escala de tem pos característica dos turbilhões contendo energia pode ser
construída através da razão k l e .
Este m odelo requer assim , para além da resolução da equação de k,
resolução de mais uma equação de transporte para £. E difícil conceber o que
seja 'transporte de uma taxa de dissipação' (!), mas lembrando a relação (6.25)
concluímos que transporte de e não é mais do que transporte da vorticidade
flutuante, mais propriamente da sua variância.
Obtemos assim:

(6.33)

Valor típico da constante de proporcionalidade é Cj, = 0 ,0 9 , valor este que


justificaremos na Sec. 6.5.
Outros modelos a 2-equações têm sido propostos — k - L , onde L é uma
escala de com prim entos, k - c o — mas o mais difundido é, sem margem de
dúvida, o k - e .
O passo seguinte foi o de resolver as equações de transporte para todas as
com ponentes do tensor de R eynolds: u2, v w 2 e wv, já que em bi-
dimensional uw e vw deverão ser nulos, conforme argumentado na Sec. 6.3.; a
necessidade de introduzir uma escala de tempos leva ainda a resolver a equação
de transporte para e , do que resulta um m odelo a 5-equações [97].
278 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Em qualquer destes modelos apresentados para resolução das equações quer


exactas quer aproximadas de Navier-Stokes para o campo médio as diferentes
escalas de turbulêneia precisam sempre de ser modeladas. Uma multiplicidade
de problemas é resolúvel através destas eq uações u tilizan d o os
supercomputadores hoje em dia disponíveis, com tempos de computação
variando de alguns minutos a dezenas de horas, dependendo da complexidade,
da geometria e da física do escoamento. Não existe, porém, nenhum modelo de
turbulência universal capaz de reproduzir a verdadeira física do escoamento em
todas as situações. Alguns modelos fornecem resultados excelentes no caso de
escoamentos não muito complexos desenvolvendo-se ao longo de uma parede
sólida, poucos conseguem tratar adequadamente situações de separação e de
recolamento sem requererem ajustamentos empíricos no modelo de turbulência
e nenhum consegue modelar satisfatoriam ente o com plexo mecanismo de
transição de regime laminar para turbulento.
Pergunta-se: porque não tentar então prever o com portam ento tri­
dimensional e instantâneo de um campo turbulento, dispensando recurso a
qualquer modelo para valores m édios? Dois tipos de abordagem surgiram
[130],
Dado que um campo turbulento é fundam entalm ente determ inado pelos
grandes turbilhões e que os pequenos tu rbilh ões têm um a estrutura
essencialmente isotrópica e universal, uma primeira abordagem consiste numa
sim ulação dos g randes turbilhõ es [Large Eddy Simulation LES], capazes de
serem resolvidos pela malha computacional, e numa m odelação de apenas os
pequenos turbilhões; continuamos a trabalhar em term os de valores médios, à
semelhança do anteriormente praticado para resolver as equações de Reynolds,
só que, em vez de serem médias no tempo, agora são m édias ao longo de
pequenas regiões do espaço. Tal técnica de tratamento de um campo turbulento
é compatível com as capacidades de supercomputadores actuais tipo Cray.
O estágio mais avançado neste tipo de abordagem consiste numa simulação
do comportamento de todas as estruturas de um campo turbulento, resolvendo,
numericamente, as equações exactas de N avier-Stokes; os únicos erros são de
nível num érico e estes podem ser tornados m uito pequenos. T rata-se da
chamada sim ulação n um érica d ire c ta [Direct Numerical Simulation DNS], só
| possível com máquinas de processamento paralelo massivo. Exem plo do tipo de
inform ação obtenível com esta técnica é o apresentado na Fig. 6.17 [99] do
acoplamento de estruturas helicoidais de instabilidades tipo vórtice no processo
de transição de uma camada de mistura tri-dimensional periódica.
É neste caso particularm ente crítico o aum ento do esforço de cálculo
num érico com aum ento do núm ero de Reynolds do escoam ento. De facto
p reten de-se, num tratam ento D N S, reso lv er todas as escalas do campo
turbulento, desde as maiores escalas dos turbilhões contendo energia até às
SEC. 6.4. MODELOS DE TURBULÊNCIA 27 9

F ig . 6.17 Simulaçao numérica directa da transição numa camada de mistura.

menores escalas dos turbilhões dissipativos, e estas duas escalas de comprimento


estão relacionadas, por (6.3), através do factor Re3/4; segue-se que o número de
nós da malha tri-dimensional requerida para abarcar todas as escalas do campo
varia proporcionalmente a (Re3/4) = Re9/4. Em consequência, e a título de
exemplo, um duplicar do número de Reynolds obriga a um quase quintuplicar
do número de nós da malha computacional ( 2 9/4 =4,75).
Põe-se então ao engenheiro a seguinte questão: entre o extremo de
simplicidade de um modelo algébrico e o extremo de complexidade de uma
sim ulação directa, até onde ir, mesmo no caso de exigente projecto de
engenharia? Hoje em dia, a resposta pragmática é: até um modelo a 2-equações
tipo k —e. Modelos tipo LES ou DNS, apesar da sua grande relevância para
trabalharem casos teste e fornecerem resultados base capazes de melhor
perm itirem validar modelos de turbulência, não são compatíveis com as
exigências de um trabalho de engenharia, pelo menos num futuro previsível.
Até agora abordámos exclusivamente o problema e as técnicas de resolução
das equações diferenciais de camada limite. E quanto à resolução da equação
integral de cam ada limite, i.e. quanto a métodos integrais, equivalentes ao
método de Thwaites apresentado em regime laminar?
R elem brem os a m etodologia de cálculo de um escoamento lam inar
utilizando o método de Thwaites: i) a equação base era a equação integral de
von-Kárm án (4.12) e ii) conhecido o parâmetro de gradiente de pressão A,
tanto H como Cf eram determinados a partir de expressões empíricas.
Em escoamento turbulento:
- a equação base continua a ser a equação integral de von-Kármán, com a
mesma forma que em regime laminar;
- a evolução, ao longo do escoamento, de um parâmetro de forma — H ou
qualquer outro parâmetro com significado equivalente — é determinada por
uma equação diferencial em x ;
- Cf é obtido através de uma expressão empírica envolvendo, por exemplo, H
e Ree .
2 80 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

A diferença com o caso laminar é que agora resolvemos um sistema de duas


equações diferenciais ordinárias em vez de apenas uma equação diferencial
ordinária, o que permite, de certo modo. ter em conta a história da evolução da
camada limite. O método de Head, que apresentaremos na sub-Sec. 6.6.2., é um
bem sucedido método deste tipo.
Referimos, como apontamento, que as tensões de Reynolds, que tantas
dificuldades levantam na resolução das equações definidoras de um campo
turbulento, não têm existência física... Os elevados valores de capacidade de
mistura e de dissipação em escoam entos turbulentos são, na realidade,
produzidos por actuação de efeitos viscosos de nível molecular associados aos
grandes gradientes do campo de velocidades instantâneo. Estes efeitos
apresentam-se nas equações do campo médio como originados por tensões de
nível turbulento devido, exclusivam ente, ao tipo de análise utilizado:
decomposição de um campo instantâneo em cam po m édio e flutuante e
aplicação do operador média no tempo. Num tratam ento tipo LES, por
exemplo, as tensões de Reynolds apenas figuram a nível das pequenas escalas
modeladas [sub-grid scale]; a nível dos grandes turbilhões, cujo comportamento
se simula, surgem não as tensões de Reynolds mas uns term os tipo tensão,
denominados tensões de L eonard , resultantes da filtragem espacial dos termos
não lineares em Navier-Stokes e fazendo intervir a escala de comprimentos
requerida para obtenção das médias espaciais [139]. Levando o argumento um
pouco mais longe poderemos dizer que, de facto, tensões de nível laminar
também não existem (!) porquanto elas não constituem mais do que o reflexo
macroscópico das trocas de quantidade de movimento entre moléculas do fluido
através da fronteira (fictícia) que, numa óptica de m eio contínuo, designámos
como interface entre elementos de fluido contíguos. Trata-se, aos diversos níveis
de modelação da complexa realidade, de procurar a sim bologia mais adequada
à descrição de um qualquer processo físico, seja através de um modelo de
turbulência ou de qualquer outro tipo de modelo.

6.5. Estrutura multi-camada de uma camada limite


turbulenta bi-dimensional
A necessidade de modelar campos turbulentos, a fim de fechar o sistema de
equações que os regem , e a conveniência em sup lem en tar as equações
diferenciais com leis de variação que perm itam aligeirar a carga de cálculo
numérico (aumentar a dimensão da malha), justificam a prem ência em analisar a
física do processo. Dado que o com portam ento global de escoam entos
turbulentos é controlado pelos tu rbilhões de grandes dim ensões, cujas
características são altam ente dependentes das condições fronteiras, torna-se
im praticável, e mesmo não recom endável do ponto de vista de econom ia de
SEC . 6 .5 . ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 2D 281

cálculo, tentar estabelecer modelos de turbulência perfeitamente genéricos ou


procurar leis semi-empíricas de variação dos parâmetros definidores aplicáveis a
todo o campo. E assim mais funcional identificar as grandes zonas
características em que seja possível subdividir o escoamento e procurar
estabelecer, se não leis de variação, pelo menos relações, inspiradas na análise
dimensional, entre as propriedades físicas do fluido e as diferentes escalas de
comprimento e de velocidade do campo turbulento, com um domínio de
aplicabilidade necessariamente restrito a essas regiões.
Esta análise será logicamente facilitada em regiões do escoamento cujas
características sejam ditadas só por ocorrências locais, i.e. em que se não façam
sentir efeitos de história do escoamento. A existência de tais regiões implica que
a dimensão máxima possível dos turbilhões contendo energia (os grandes
responsáveis por esses efeitos de história) seja ainda de tal modo pequena que o
seu tempo de vida médio seja muito menor que uma escala de tempos global
(e.g. Uc/ 8 ), de modo a que transferência de informação para e dessas regiões
seja desprezável; em termos de conservação de uma qualquer propriedade
característica este requisito implicará que os termos de transporte se anulem na
respectiva equação, pelo que esta se reduz a produção local = dissipação local.
Regiões do escoam ento com as características indicadas dizem-se estar em
condições de equilíbrio local [local equilibrium\, os modelos de viscosidade
turbulenta e de comprimento de mistura, relacionando características locais do
campo turbulento com características locais do campo médio, só terão assim
algum suporte físico nestas regiões em equilíbrio local.
Grandes turbilhões de dimensões pequenas comparadas com uma escala
global de comprimentos característica da camada de corte (a sua espessura 8,
digamos) só poderão ocorrer em regiões do escoamento próximas de uma
parede sólida, em que a dimensão máxima possível dos turbilhões estará
forçosamente condicionada pela distância à parede. Pelo facto de ocorrer só na
proxim idade de uma parede, a região em condições de equilíbrio local é
designada por camada da parede [wall layer]. Este resultado está bem patente
na Fig. 6.18 [70] onde se ilustra a evolução, ao longo da espessura de uma
camada lim ite turbulenta em gradiente de pressão nulo, dos diversos termos da
equação de transporte de k (6.29).
Regiões em condições de equilíbrio local só terão assim existência em
escoam entos de cam ada limite, nunca em escoamentos de camadas de corte
livres onde não há qualquer barreira física capaz de constrangir a dimensão dos
turbilhões contendo energia.
Concluímos assim que uma camada limite turbulenta pode, para efeitos de
análise, co n sid erar-se com o que constituída por duas cam adas com
características distintas: uma camada interior [inner layer], em condições de
ÍS 2 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Fig. 6.18 Balanço dos termos da equação de transporte de energia cinética turbulenta
ao longo da espessura de uma camada limite em gradiente dc pressão nulo.

equilíbrio local, e uma camada exterior [outer layer] onde os efeitos de história
desempenham um papel determinante. Só a experimentação nos poderá dizer
até que cota y /ô da camada limite serão aplicáveis os argumentos de equilíbrio
local, sendo essa fronteira definida como a cota até à qual relações inspiradas
em argumentos de equilíbrio local produzam um bom ajustamento a resultados
experimentais. Analisemos então, respectivamente nas sub-Secs. 6.5.1. e 6.5.2.
seguintes, as caracteristicas do escoamento nestas duas camadas.
Antes, porém, justifiquemos o valor da constante Cj, = 0 ,0 9 figurando na eq.
(6.33) do modelo k - £ apresentado na secção anterior, pois que, para o
fazermos, apenas necessitamos invocar o conceito de equilíbrio local acabado de
apresentar. Conjugando então a eq. (6.30), de definição de viscosidade
turbulenta vt, com este resultado (6.33) do modelo k - e e recordando, como
referimos quando apresentámos o modelo de Bradshaw, que ao longo da
espessura de uma camada limite turbulenta é experimentalmente verificado que
-uv~Q,3k, obtemos:
r-sY
dU_ V 0 -3 J dU
-uv =
dy C" e dy

— dU

O último factor não é mais do que o quociente entre os termos de taxas de


produção e de dissipação de k , figurando na eq. (6.29), e valerá 1 em condições
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 2D 283

de equilíbrio local, do que imediatamente resulta o pretendido = 0,09. Este


valor deveria assim ser estritamente aplicado em condições de equilíbrio local, e
não o é! E este um exemplo de quão crítica e controlada sempre deve ser a
aplicação de um qualquer modelo simplificado de uma qualquer complexa
realidade, seja modelo de turbulência ou qualquer outro.

6.5.1. Camada interior


Comecemos então por analisar o comportamento de um escoamento de
camada limite na região da camada interior, em condições de equilíbrio local
[14, 28, 147],
Sendo o transporte entre a camada da parede e regiões circunvizinhas
desprezável — por definição de região em condições de equilíbrio local — , a
camada da parede deverá apresentar as mesmas características em qualquer
escoamento que se processe na presença de uma superfície sólida, seja este um
escoamento exterior tipo camada limite ou um escoamento interior tanto na
região de entrada como na completamente desenvolvida. Para analisarmos esta
situação escolhamos então, por simplicidade analítica, um escoamento
completamente desenvolvido tipo Couette, por exemplo, em que, como vimos na
sub-Sec. 4.1.1., os termos de inércia se anulam e a equação do movimento se
reduz a
dT _ dp
dy dx ’
mas agora, em regime turbulento, com este T entendido como o tt definido
em (6.28), i.e.:
dU —
T= TT = TIam+Ttu,b = íí -dy
:---- PUV-

Integração desta equação segundo y conduz imediatamente a

tt = Tw (6.34.a)
dx
A variação de tt ao longo da espessura da camada limite deverá então ser
do tipo linear para y / ô pequeno — mais propriamente, enquanto forem válidos
os argumentos de equilíbrio local — , com uma inclinação controlada pelo
gradiente de pressão, e tender para zero na interface escoamento turbulento /
escoamento potencial exterior; na Fig. 6.19 representam-se perfis expectáveis de
t t / t w v s . y / ô para diferentes gradientes de pressão. Para valores de dp/dx não
muito elevados poder-se-á escrever aproximadamente, na camada da parede,
r T = tw, razão porque esta região é por vezes designada por camada de tensão
constante [constant stress layer].
28 4 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

F ig . 6 .1 9 P erfis de ten são d e c o rte to tal e m c a m a d a s lim ite s tu rb u le n ta s


d e s en v o lv en d o -se e m d ife re n te s g r a d ie n te s d e p re s s ã o .

Um pequeno comentário para referir que a eq. (6.34.a) será exacta apenas
em escoamento completamente desenvolvido; numa situação de escoamento de
camada limite, em que os termos de inércia (convectivos) não são nulos, melhor
concordância com resultados experim entais parece poder ser conseguida
diluindo 'um pouco' o efeito do gradiente de pressão, e.g. empiricamente
reduzindo o efeito de dp/dx de cerca de 50%, do que resulta [16]:

= (6.34.b)

Na vizinhança imediata da parede a dimensão m áxim a possível dos grandes


turbilhões é de tal modo pequena que a contribuição turbulenta para a tensão de
corte total se torna desprezável comparada com a laminar; acresce que ambas as
componentes de flutuação u e v deverão cair a zero na parede. Nestas condições
(6.28) reduz-se a
dU
tt = tw - /í— (6.35)
dy
que, integrada em y , fornece para o perfil de velocidades

p )v'

envolvendo a última forma só grandezas cinem áticas. D ado que r w/p tem
dimensões de (velocidade)2, ^jxwj p desem penhará o papel de escala de
velocidades local; a velocidade característica, sim bolizada por wT para explicitar
que se trata de uma escala de velocidades construída a partir de x ,

é conhecida por velocidade de fricção {friction velocity] ou velocidade de


escorregamento [slip velocity], última designação esta bastante infeliz dada a
condição de não-escorregamento numa parede sólida. Adim ensionalizando U
por u%vem finalmente
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 2D 285

U_= u1 y
(6.37)
«r v
Esta lei de variação linear do campo de velocidades médias verifica-se
experimentalmente ser válida até valores do Reynolds local uxy / v cerca de 5; a
região em contacto com a parede, em que (6.37) é aplicável, designa-se por sub-
cam ad a lin e a r [linear sub-layer], pois que U varia linearmente com y, ou por
su b -c a m a d a la m in a r [laminar sub-layer], já que o escoamento se processa
como que em condições de regime laminar, como expresso por (6.35). Note-se
que, dentro deste grau de aproximação, a designação de sub-camada linear é
correcta, porquanto a velocidade efectivamente evolui de forma linear com a
distância à parede, conforme expresso por (6.37). A designação de sub-camada
lam inar é, no entanto, fisicamente incorrecta, pois que, embora os muito
pequenos turbilhões residentes na vizinhança imediata da parede dêem uma
contribuição desprezável para Tl = - p u v — único termo de natureza turbulenta
que figura nas equações de camada limite (6.27) — , a sua contribuição para k
(tensões normais em vez de tensões de corte) não é desprezável. Demonstremo-
lo, admitindo que nesta situação, nada típica de regime turbulento porquanto
muito condicionada pela vizinhança imediata da parede, os turbilhões podem
efectivamente assumir a forma achatada tipo pizza referida no ponto 4. da Sec.
6.1. aquando da m enção do problem a da p a s t a , em que a escala de
com prim entos segundo y (£ ) pode ser muito menor que uma escala de
comprimentos segundo x ou z, suponhamos segundo x (£x) a título de exemplo.
A equação da continuidade para as componentes flutuantes (6.20) escrever-se-á
então, em 'bi-dimensional':

om +çM =o

e se £y « £x deverá ser 0[v] « 0[w], do que resulta 0[«v] « o [m2].

Aumentando a distância à parede, a influência relativa das contribuições


viscosa e turbulenta para rT = const. irá variando de tal modo que a números de
Reynolds u t y / v elevados será de prever que o efeito viscoso deixe de ser
significativo; verifica-se experimentalmente que para uTy / v > 3 0 - 5 0 as tensões
de corte são efectivamente quase só de origem turbulenta, como indicado na
Fig. 6.20. N esta região, em que o escoam ento tem apenas uma escala de
c o m p rim e n to s y — com o característico de um ente turbilhonar já
verdadeiramente tri-dimensional — uma escala de velocidades ut e em que a
única propriedade relevante do fluido é a viscosidade cinem ática v — a
influência de p é já contemplada tanto em uT - -^Tw/ p como em v = p / p — , a
análise dim ensional fornece, para a distribuição de velocidades, a seguinte
dependência entre grandezas adimensionais:
286 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Fig. 6.20 E v o lu ç ã o d a s te n sõ e s d e c o rte d e n ív e l m o le c u la r e tu r b u le n to n a


su b -cam ad a v is c o s a d e u m a c a m a d a lim ite e m g r a d ie n te n u lo .

(6.38)

o gradiente transversal de velocidades virá assim

hl l f “ ry % hl l
dy v V v J y [ v V v

Verifica-se experimentalmente que na região considerada é g(MT> /v )« co n st.,


= ljK digamos, de onde
dU _ uT
(6.39)
dy Ky
resultado perfeitamente em concordância com os argum entos e hipóteses
apresentados: se para Reynolds's característicos elevados a tensão de corte é só
de nível turbulento, i.e. se t t = -p w v só, a viscosidade, ou m ais propriamente
wt y /v , não contribuindo para z T não poderá afectar o valor de d U /d y , pois,
como vimos atrás, tensões de Reynolds estão intim am ente relacionadas com
gradientes de velocidade média.
Integrando a expressão (6.39) de dU /dy e atendendo à form a (6.38) da
distribuição de velocidades sugerida pela análise dimensional obtém-se então

— = - l n ^ + C. (6.40)
uT K v

Valores usuais para as constantes empíricas K (constante de von-Kármán) e


C são £ = 0,41 e C = 5,2 [23]. A distribuição sem i-logarítm ica de velocidades
expressa por (6.40) é conhecida por lei da parede [wall law] ou lei logarítmica
[log law]; verifica-se experim entalm ente ser v álid a en tre valores de
ury / v = 3 0 -5 0 , como referimos atrás, e y/Ô = 0 ,1 0 -0 ,2 0 .
A camada interior de uma cam ada lim ite turbulenta pode assim ser
considerada como sub-dividida em três sub-camadas, como indicado na figura
anterior: i) uma sub-camada linear, entre 0 < w r y / v < 5 , em que as únicas
tensões de corte significativas são de nível laminar / molecular, ii) uma camada
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 2D 287

da parede, a partir de wTy /v = 3 0 -5 0 , em que as tensões de corte são quase


exclusivamente de nível turbulento, e iii) uma cam ada tam pão [buffer layer],
entre 5 <; ury / v < 3 0 -5 0 , em que coexistem tensões de corte de nível laminar e
turbulento. A sub-camada até «Ty /v = 30~50, em que as tensões de nível
viscoso são significativas, é designada como sub-cam ada viscosa [viscous sub-
layer].
A lei logarítm ica constitui uma poderosa ferram enta para trabalhar
escoamentos de camada limite turbulenta apesar de abranger só uma pequena
parcela da espessura da camada limite, tipicamente os 15% inferiores. De facto,
dados os elevados gradientes de velocidade junto à parede, a y / ô = 0,15 a
velocidade apresenta já valores cerca de 0,7 Ue, pelo que, na determinação do
perfil velocidades, a lei da parede 'resolve1 70% do problema, e não apenas 15%
como se poderia ter sido levado a supor. Um método numérico tendo como
suporte a relação (6.40) terá assim de ser capaz de prever 'apenas' os restantes
30% da evolução de velocidades, razão por que a maioria dos esquemas
numéricos e dos modelos de turbulência produz resultados que se aproximam
bastante bem dos experimentais em escoamentos de camada limite turbulenta;
configurações não envolvendo zonas em condições de equilíbrio local, e para as
quais não seja possível obter relações analíticas equivalentes à (6.40), são bem
mais selectivas.
O resultado (6.39) a que chegámos somente com base em argumentos de
análise dim ensional deverá ser congruente com a característica física de
equilíbrio local na camada da parede. Comprovemo-lo: a igualdade produção
local = dissipação local escreve-se, tal como já o fizemos na introdução a esta
secção:
— BU
-w v ——= £;
dy
ora como
. _ £ 2T~2 _ L2 T~2 _ {L T ~ ' f
6 _ T ~ L/[LT~')~ L
com escalas locais de velocidade e de comprimento, respectivamente, ux e y
vem:

designando por 1/ K a constante de proporcionalidade, pelo que a relação de


balanço supra se escreve, dado que -w v = Tw/p = w^,
288 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

de onde

Ky *
que não é mais do que a relação (6.39) que, integrada, conduziu à lei da parede
(6.40).
Estamos agora também em condições de interpretar a evolução linear do
comprimento de mistura nos 20% interiores de uma camada limite turbulenta,
que referimos na Sec. 6.4.: substituindo em (6.32) dU /dy dado por (6.39), e
atendendo a que -Hv = ur2, obtém-se im ediatam ente £m = Ky. Este
encadeamento é por vezes utilizado, em sentido inverso, para deduzir a lei
logarítmica a partir da hipótese de comprimento de mistura; é porém de notar
que, embora o conceito de £m, a ter alguma validade, será nesta região em
condições de equilíbrio local, não há necessidade de assentar numa base
fisicamente incorrecta para deduzir um resultado com um bom suporte físico.
Se nos encontrássemos numa situação de escoamento de Couette puro em
gradiente de pressão nulo, que em regime laminar acusa um perfil de velocidade
linear como representado na Fig. 4.3, agora em regime turbulento registaríamos
uma evolução semi-logarítmica de velocidade, conforme a lei da parede, na
vizinhança de cada uma das placas paralelas em deslocamento relativo. Este
resultado está documentado na Fig. 6.21 para três diferentes núm eros de
Reynolds, um deles correspondendo a regime laminar e os outros dois a regime
turbulento [147].

Fig. 6.21 E scoam ento de C o u ette em g ra d ie n te d e p r e s s ã o n u lo


entre d uas placas d eslo c a n d o -se em s e n tid o s o p o s to s .

A lei da parede e os argumentos de equilíbrio local que a ela conduziram


servem ainda de suporte a técnicas experimentais de medida da tensão de corte
superficial tw, que apresentaremos na sub-Sec. 6.9.2.
A lei da parede que deduzimos foi estabelecida para o caso de uma
superfície lisa. Se a superfície for ru g o sa a distribuição de velocidades será
naturalmente afectada pela dimensão, uniformidade, geom etria e densidade da
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 2D 289

distribuição de rugosidades. Dado o grande número de parâmetros necessário


para caracterizar completamente esta distribuição é usual referir todas as
rugosidades em termos de uma rugosidade p ad rão com uma dimensão tal que
produzisse os mesmos efeitos que a rugosidade em causa. Para rugosidade
padrão foi escolhida a utilizada por Nikuradse nos seus extensos ensaios sobre
escoamentos em tubos rugosos, realizados em 1933: rugosidade provocada por
grãos de areia de igual granolometria colados à parede do tubo juntos uns aos
outros [sand roughness].
Suponhamos a situação de uma parede muito rugosa e apreciemos
características globais do escoamento em torno de um elemento isolado de
rugosidade, como no caso ilustrado nas Figs. 6.22.a) e b) [33] de um edifício
imerso na camada limite atmosférica.

a) Vórtice em ferradura na região b) Visualização do escoamento


de encastramento no solo

F ig. 6.22 Escoamento em torno de um elemento de rugosidade / edifício.

Tal como característico de um qualquer corpo não-fuselado, instala-se uma


sobrepressão na face frontal da rugosidade e uma sucção na base, pelo que é de
prever que a resistência de natureza invíscida associada a este diferencial de
pressões prevaleça largamente sobre uma resistência de nível viscoso. Também a
camada limite se separa a montante da rugosidade dando origem a uma região
de recirculação que pode ser simulada por um vórtice; dado que um vórtice não
pode term inar no seio do fluido e que é convectado pelo escoamento —
lembrar teoremas de conservação apresentados nas sub-Secs. 3.3.2. e 3. — o
vórtice agora em causa deverá assumir uma configuração de v ó rtice em
f e r r a d u r a [horse-shoe vortex], contornando a rugosidade e prolongando-se
para jusante; a principal contribuição para a capacidade de mistura no interior
da camada limite resulta agora dos escoamentos circulatórios de natureza
invíscida induzidos pelos filam entos arrastad o s [trailing filaments] do vórtice
em ferradura.
Nestas condições a viscosidade deixa de ser um parâmetro controlador do
campo de velocidades, o qual passará a vir definido só em termos de uT, de y e
da dimensão característica da rugosidade padrão £ ; quando se verificam estas
290 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

condições, o regime do escoamento qualifica-se de com pletam ente rugoso


ffiilty rough]. A análise dimensional conduz neste caso a
U I v
— = — In- + B. (6.41)
ut K e
relação semelhante à lei da parede (6.40). A constante empírica K tem o mesmo
valor que em superfície lisa, pois que a tensão de Reynolds e o gradiente
transversal de velocidades, dado por (6.39), não dependem do mecanismo de
geração de rw; o valor da constante aditiva obtido por Nikuradse é # = 8,5.
A variação semi-logarítm ica (6.41) é universal nas coordenadas
U/uz vs. y/e> tal como o é (6.40) em U/uT vs. uTy / v para superfície lisa. Se,
em regime completamente rugoso, utilizarmos as coordenadas sugeridas pela
análise dimensional para superfície lisa, concluímos, igualando os valores de
U/uT dados por (6.40) e (6.41), que a ordenada C na lei da parede deixa de ser
constante (5,2 para superfície lisa) passando a depender do número de Reynolds
característico da rugosidade Ree = ure / v segundo

c = 5 _ I lnM .
K v
Como indicado por esta relação, e representado na Fig. 6.23, um acréscimo de
rugosidade produz, a uTy / v constante, maiores déficits de velocidade.

Fig. 6.23 Lei da parede para diferentes Reynolds's da rugosidade.

Quanto à influência no escoamento do valor do número de Reynolds da


rugosidade, verifica-se experimentalmente que:
i) rugosidades completamente imersas na sub-camada linear, para as quais é
Re£ < 5, não afectam o escoamento, pelo que este se comporta como se se
desenvolvesse ao longo de uma superfície lisa, i.e. a superfície embora
geometricamente rugosa comporta-se do ponto de vista do escoamento
como lisa, facto que leva a designá-la por h idro d in am icam en te lisa; este
facto tem importantes repercussões económicas pois que para se obter uma
superfície que se comporte como lisa em termos do escoamento não há
necessidade de proceder a um acabamento que produza valores de e
inferiores a 5v/ur
SEC. 6.5. ESTRUTURA MUITI-CAMADA DE UMA CLT 2D 291

ii) o regim e com p letam en te ru goso, em que os efeito s da rugosidade são de tal
m o d o e le v a d o s q u e o e sc o a m e n to se p ro cessa in d ep en d en tem en te da
visco sid ad e, ocorre para R e e > 70
iii) na gam a in term éd ia 5 < Ree <70 as características do esco a m en to são
d e p e n d e n te s ta n to da v is c o s id a d e m o le c u la r com o da r u g o sid a d e
eq u ivalen te, i.e. U - U ( u T, y , V, e ).
A p r e se n ta m -se n a F ig . 6 .2 4 as v a ria ç õ e s d e B e C co m R e e ob tid as
ex p erim en talm en te por N ik u rad se [1 47 ].

Fig. 6.24 Variação dos parâmetros da lei da parede com o Reynolds da rugosidade.

Vejamos como proceder para determinar a rugosidade padrão num caso de


regime completamente rugoso. Conhecido o perfil de velocidades para a
rugosidade em causa, os parâmetros £ e B podem ser obtidos por ajustamento
de (6.41) aos dados experimentais. Se se tratasse de rugosidade padrão, seria:
U 1 v
— = — ln— + BS com B =8,5.
«r K
Igualdade de efeitos, i.e. idêntica evolução de t//wT, exprime-se por:
1 V 1 V
ln—+ B = — ln — + £.
~K
e K £s 5
de onde

^ - = exp[tf(B s - B ) ].

6 .5 .2 . C am ada exterior

Como referimos na introdução da presente secção 6.5. a análise da camada


exterior de uma camada limite turbulenta é substancialmente mais difícil que a
da camada interior (em condições de equilíbrio local) pelo facto do
comportamento da camada exterior ser controlado por turbilhões de grandes
2 92 i> ' fSOOAMtNÍO lUrtBULENTO

dimcnsiVs que, subsistindo a muitas e sucessivas etapas do processo de


estiramento ao longo da cascata de energia, tèm capacidade para transportar
informação a grandes distancias, sendo assim responsáveis pelos significativos
efeitos de historia ou de memória que assinalamos na Sec. ô. I. Avançámos
então um valor de 2 0 -3 0 tf para a distancia ao longo da qual esses efeitos
locais teriam capacidade para se repercutir; justifiquem os esse valor 114).
Comecemos por construir uma constante tempo ou escala de tempos
caracteristica destes grandes turbilhões contendo energia, simplesmente
dividindo a energia cinética turbulenta pela sua taxa de produção e recordando
a proporcionalidade - u v » Q t} k referida aquando da apresentação do modelo
de Bradshaw na Sec. õ.4.; virá assim para esta escala de tempos:

r= _ * — j- .
- mvdU •'dy dl)! dy

Um valor médio plausível para o gradiente de velocidades na camada exterior de


uma camada limite turbulenta em gradiente de pressão nulo será de cerca de
d (U ! V ') jd ( y iS ) - 0 .S . como ilustrado na Fig. 6.25, do que resulta para T :
T * 10tf/í/e . Ora a duração de um fenómeno é tipicamente da ordem de 3 vezes
a sua constante tempo: notemos que para um decaim ento exponencial a
perturbação praticamente cai a zero ao fim de 3 Tt como assinalado na Fig. 6.26,
e lembremos também a Fig. 6.6 onde está representada uma evolução típica do
coeficiente de auto-correlação R T e assinalado o critério de definição da escala
de tempos integral Lz.

F ig. 6.25 Gradiente de velocidade na


camada exterior de uma CLT
em gradiente de pressão nulo.

Resulta assim para ordem de grandeza do 'tem po de vida' dos grandes


turbilhões = 3 7 ' = 3 0 tf/t/e , de onde o 'com prim ento de vida' anteriorm ente
avançado da ordem de 30 tf.
Uma implicação imediata é a de que, por exem plo, para estudarmos um
problema de poluição atmosférica e dado que a camada lim ite atmosférica pode,
em certas condições de instabilidade, apresentar um a espessura da ordem de
SEC. 6.5. ESTRUTURA MUITI-CAMADA DE UMA CLT 2D 293

I km, precisamos de correctamente modelar, quer em termos numéricos quer


experim entais em túnel aerodinâmico, a configuração do terreno e o
desenvolvimento da camada limite atmosférica num raio de cerca de 30 km em
torno da fonte de poluição.
Uma análise do comportamento da complexa camada exterior da camada
limite turbulenta só se revela assim possível em casos simples em que o
escoamento apresente uma memória adimensionalmente constante, o que, do
ponto de vista dos termos que figuram em equações de transporte de parâmetros
característicos do campo — como a eq. (6.29) de transporte de k — requer que
a relação entre um termo de transporte e um termo de produção, exprimindo
como que um balanço entre a influência de efeitos a montante e de efeitos
locais, seja constante, independente de x.
Nestas condições de escoam entos designados por au to-p reserv ad o s [self-
preserving] — conceito este análogo ao de semelhança apresentado em regime
laminar na Sec. 4.3. — , o efeito de memória, se bem que presente, não contribui
explicitamente para caracterizar o campo, o qual fica, para cada valor constante
de um parâmetro de história /3, completamente definido em termos de uma
escala de velocidades u e de uma escala de comprimentos /, i.e.

O p arâ m etro de história deverá exprimir a influência relativa dos efeitos


globais actuando sobre o escoamento de camada limite: o efeito invíscido do
gradiente de pressão, actuando sobre uma superfície significativa na direcção
transversal, e o efeito da tensão de corte superficial, aplicada na parede.
Reescrevendo a equação integral de von-Kármán (4.12) como [16]

imediatamente resulta para o parâmetro de história a possível forma [30]:


p = 8 * d p /d x = S * d p (6 4 2 )
Tvw x*w dx
Deste resultado se conclui que a situação simples de gradiente nulo é um
caso particular da fam ília de escoamentos em condições de auto-preservação,
pois que /J = 0 = const. independentemente das evoluções de 5 * e d e Tw.
Quais as escalas de comprimento e de velocidade características do campo?
Em regime lam inar o escoamento fica completamente caracterizado por uma
escala de com primentos ô e por uma escala de velocidades t/e; em regime
turbulento, porém, duas escalas de comprimento ( 5 e v/w T) e duas escalas de
velocidade (U e e wT) são definíveis, um par característico do escoamento na
região da cam ada da parede, em condições de equilíbrio local, e o outro
294 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

representativo do escoamento como um todo. No entanto, dado que o único


efeito da viscosidade nos turbilhões contendo energia é apenas m anifestado
através da condição fronteira na parede, i.e. pela introdução de um dado r w,
perfis medidos em relação à velocidade exterior devem ser sem elhantes fora da
sub-camada viscosa. Assim, é de prever para o déficit de veloçidades (déficit de
velocidade no interior da camada lim ite com parativam ente à velocidade no
escoamento potencial exterior):

V - U t = F f (Tw. p . y . S )

apenas, e não função nem de v nem de f/e, se excluirm os da região de


observação a sub-camada viscosa.
A análise dimensional conduz im ediatam ente à seguinte lei d e d éficit de
velocidade [velocity defect law], válida entre 30 v/(w T5 ) < y / S < 1:

significando que, em condições de auto-preservação ( f i = const.), p erfis de


camada limite devem vir a coincidir nas coordenadas de déficit de velocidade
{ U - U ' ) / u r vs. y /S .
Exemplo típico desta característica de auto-preservação é o apresentado na
Fig. 6.27 [30J de perfis de camada lim ite em gradiente de pressão nulo a
diferentes números de Reynolds e evoluindo ao longo de su p erfícies com
diferentes rugosidades, que, em regime laminar, seriam supostos coincidir nas
coordenadas U/Ue vs. y / S e que, em regim e turbulento, são dem onstrados só
virem a coincidir nas coordenadas do déficit de velocidade ( í / - Ue) / u r vs. y / S .

Fig. 6.27 P e rfis d e v e lo c id a d e d e c a m a d a s lim ite s tu r b u le n ta s e m g r a d i e n te d e p r e s s ã o n u lo .

Lembramos que, em termos da camada interior, fom os capazes de evoluir da


relação (6.38), equivalente à eq. (6.43) agora estabelecida, até chegarm os a uma
descrição analítica do perfil de velocidades, expressa pela lei logarítm ica (6.40).
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTl-CAMADA DE UMA CLT 2D 295

Na presente região em análise, englobando a camada exterior, devido ao


determ inante efeito de história do escoam ento o m ais que conseguim os
estabelecer é a form a dos parâm etros adimensionais em que terá significado
representar os perfis de velocidade e, mesmo estes, válidos apenas no caso
particular do escoamento se processar em condições de auto-preservação. É este
o muito pouco que conseguim os fazer relativamente ao tratamento analítico da
cam ada exterior.
M esm o nesta situação particular de escoam ento em condições de auto-
preservação pergunta-se qual deverá ser o parâmetro a escolher para caracterizar
a form a do perfil de velocidades, sem elhantem ente ao factor de form a H
expresso por (4.14):

Ora H pode ser interpretado com o a razão entre um momento de primeira


ordem ( 1 - Í 7 / Í 7 e ) , medido em relação ao eixo U/Ut = 1 (escoamento exterior) e
um m om ento m isto de segunda ordem t / / í / e ( l - í / / E / c) com um factor medido
em relação ao escoam ento exterior ( l - f / / t / e) e o outro medido relativamente à
parede (U/Ue- 0). No caso em análise, de que foi subtraída a região da sub-
camada viscosa adjacente à parede — y < 3 0 v / u r — e em que deixa portanto
de ter significado m edir qualquer parâm etro em relação a condições na parede
— fora do dom ínio em apreciação — , o único eixo relativamente ao qual será
lícito m edir m om entos corresponderá ao escoamento exterior que, em termos de
déficit de velocidade, se exprim irá com o o eixo ( U-Ue)/uz = 0 . Define-se
assim , por analogia a H , um factor de form a G com o o quociente entre um
mom ento de 2a ordem e um mom ento de Ia ordem, ambos medidos em relação
ao eixo (U —Ge)/w T = 0 [30]:

s U -U 5 U -U J~2~ H - 1
dy (6.44)
* /r u. K H '

E ste novo factor de form a G é conhecido como p a râ m e tro de eq u ilíb rio de


C la u s e r [Clauser's equilibrium parameter] e apresenta, em escoam entos de
cam ada lim ite turbulenta em gradiente de pressão nulo e a Reynolds elevados,
valores de cerca de G ~ 6,9 (*).
Em regim e lam inar, um escoam ento de cam ada lim ite em gradiente de
pressão n u lo p ro ce ssa-se em co n dições de sem elhança, en ten d id as nas

C l a u s e r in i c i a l m e n t e d e s i g n o u e s t e t i p o d e e s c o a m e n to s c o m m e m ó r ia c o n s ta n te c o m o
e s c o a m e n to s e m c o n d iç õ e s d e e q u ilíb r io , d e o n d e a d e s ig n a ç ã o d e " p a r â m e tr o d e e q u ilíb r io "
p a ra G , m a s e s ta d e s ig n a ç ã o fo i p o s te r io r m e n te a b a n d o n a d a e m fa v o r d a d e a u to - p r e s e r v a ç ã o ,
p a r a e v i t a r e q u ív o c o s c o m r e g iõ e s d o e s c o a m e n to e m c o n d iç õ e s d e e q u ilíb r io lo c a l: p r o d u ç ã o
= d is s ip a ç ã o .
296 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

coordenadas U/Ue vs. y/ô. a que corresponde H = const. — vidé sub-Sec.


4.3.1. Em regime turbulento este conceito de semelhança deverá ser
interpretado no sentido de auto-preservação, ao que está associado um valor
G = const. em vez de H = const. De (6.44) se conclui então que, por exemplo,
para uma camada limite turbulenta em gradiente de pressão nulo, o valor de H
deverá ir continuamente diminuindo ao longo do escoamento de modo a
compensar a expectável diminuição de Cf atribuível ao aumento do Reynolds
local, por forma a manter G constante. Tal implica que, em regime turbulento e
em gradiente de pressão nulo, tanto H como Cf diminuam devido ao aliviador
efeito viscoso de aumento de Re; qualquer influência invíscida de um gradiente
de pressão, que apreciaremos na sub-Sec. 6.6.2., deverá assim ser entendida
relativamente a esta situação de referência de gradiente de pressão nulo.
A lei de déficit de velocidade (6.43), acabada de estabelecer para
escoamentos em condições de auto-preservação fora da sub-camada viscosa,
deverá ser compatível com a relação (6.38), entre parâmetros adimensionais
característicos da camada da parede, na gam a de sobreposição
30v/wT<y <0,15ó\ Estabeleçamos compatibilidade entre estas duas leis de
evolução através de igualdade dos gradientes de velocidade, como praticado no
parágrafo anterior para fisicamente interpretarmos o resultado (6.39).
Diferenciando (6.38) obtemos

dy v J l, v J
com / ' entendido como / ,(y+) = d /(y +j/dy+ e y+= uTy /v; semelhantemente
diferenciando (6.43) resulta

^ =ÍÍ!F 'íT i
dy 8 lá j
com F' agora interpretado como F’(ri) = dF(ri)/dlj e tf = y/8 .
Igualando as duas anteriores relações, convenientemente multiplicadas por
yjuT, obtém-se
//'(/)= f]F'(7j),
resultado este que deverá ser igual à mesma constante universal, porquanto o
primeiro membro é só função de y* e o segundo membro só função de r/, e y*
e tj são variáveis independentes (*).

Notemos que embora o parâmetro y figure tanto na equação de definição de y* = ut y /v como


n a d e iJ = y /6 , o valor isolado de y não tem qualquer significado ffsico, pelo que y* e i|
efectivamente são variáveis independentes; trata-se de uma situação análoga à de definição de
um número de Reynolds Re = u l/v , em que nem u , nem /, nem v isolados têm qualquer
significado em termos da ffsica do escoamento, excepto quando integrados no parâmetro
conjunto Re.
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 2D 297

Integração destas relações, igualadas à mesma constante universal 1/K ,


digamos, produz

/ ( / ) 3 — = >n — + const- (6.45.a)


v ' ux K v
e

F{v) = —--- (6.45.b)


ur -- = T7ln
K o + C0nst-
A relação (6.45.a) não é mais do que a lei logarítmica (6.40). A expressão
(6.45.b) exprime, por seu lado, uma evolução também naturalmente semi-
logarítmica do perfil de velocidades na região da camada da parede, mas agora
em termos das variáveis do déficit de velocidade (U - U t ) /u r vs. y/Ô\ já na sub­
secção seguinte determinaremos o valor da constante figurando em (6.45.b).
Esta condição de compatibilidade entre gradientes de velocidade obtidos de
considerações de equilíbrio local e de déficit de velocidade em condições de
auto-preservação é por alguns autores utilizada para deduzir a forma semi-
logarítmica (6.40) ou (6.45.a) do perfil de velocidades na região comum da
camada da parede. É um tipo de dedução que o presente autor não advoga, pois
requerendo que (6.38) e (6.43) sejam simultaneamente válidas, restringe
validação da lei da parede (6.40) a situações de escoamentos em condições de
auto-preservação, o que é desnecessariamente limitativo; claro que, no caso
particular de escoamentos em condições de auto-preservação, ambas as
considerações (estando fisicamente correctas) deverão conduzir aos mesmos
resultados.
Temos vindo a argumentar que, numa camada limite turbulenta, os efeitos
da viscosidade estão restritos à vizinhança imediata da parede, mais
propriamente à sub-camada viscosa de espessura cerca de 40 v/wT, pois que o
comportamento de todo o restante campo é controlado por turbilhões de
grandes dimensões que têm uma constituição essencialmente invíscida. Trata-se
de um modelo simplificado do escoamento, perfeitamente adequado ao tipo de
análise que temos até agora desenvolvido mas que, como qualquer modelo
simplificado da realidade, não é capaz de ter em conta todas as características
dessa complexa realidade, e há uma característica determinante de uma camada
de corte turbulenta que não é compatível com um modelo invíscido: trata-se do
mecanismo de crescimento por arrastamento de escoamento exterior, a que
fizemos referência no fim da Sec. 6.1. e que nos permitiu, por exemplo,
explicar o efeito Coanda. Justificámos, na altura, que vorticidade só podia ser
comunicada por acção viscosa aos corpos do escoamento potencial arrastados
para o interior da camada de corte, pelo que, pelo menos para fisicamente
interpretarmos este mecanismo de geração de vorticidade, somos forçados a
2$t CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

adrmtir 3 existência de uma sobre-cam ad a viscosa |cmoH.v suptrr-ltiyer] na


fronteira altamente contorcida camada de corte / escoamento exterior
Aos baixos Reynolds'* de operarão caractensticos, por exemplo, das pás de
turbinas a gas de pequena dimensão - Reynolds s baixos em termos
turbulentos, mas sufieientemente elevados para que um a cam ada limite
turbulenta possa existir, i.e. Reê = Ue ê / v > 400, pelo m enos - esta sobre-
camada viscosa pode ocupar uma parcela significativa da cam ada exterior da
camada limite e produzir efeitos que c necessário não deixar de contabilizar no
desenvolvimento do escoamento. Referir-nos-emos a estes efeitos na sub-Sec.
6.6.2.; por agora justifiquemos apenas o porquê da significativa influência desta
sobre-camada viscosa.
Uma razão óbvia resulta logo da forma instantaneamente muito contorcida
da fronteira com o escoamento exterior — vide Fig. 6.7 — o que faz com que,
comparativamente à sub-camada viscosa, seja muito m aior a superfície de
contacto da sobre-camada viscosa com o fluido. Outra razão c a da espessura da
sobre-camada ser muito superior à espessura da sub-cam ada. tom ada como
referência [16]. É de facto expectável que a espessura destas cam adas onde se
manifestam efeitos viscosos seja proporcional à d im en são dos m enores
turbilhões locais, i.e. dos turbilhões dissipativos, cuja escala de com prim entos é a
escala de Kolmogorov dada por (6.2.a): r/ = ( v '7 f ) l/4 — a espessura da sub-
camada, por exemplo, é de cerca de 1 0 -1 5 vezes 0 valor de rj na sua fronteira
superior. Ora mostra a Fig. 6.18, de evolução dos vários term os da equação de
transporte de k, que a taxa de dissipação e é muito menor nas regiões exteriores
da camada limite do que junto à parede, pelo que rj deverá ser muito maior,
implicando que a espessura da sobre-camada deva ser muito superior à da sub-
camada viscosa. A título de exemplo: a razão entre a espessura da sub-cam ada
viscosa e a espessura da cam ada lim ite é cerca de 40 v / ( u rS ), ou
aproximadamente 100/Re0i para o que se recorreu a uma relação entre d e ô a
apresentar na sub-Sec. 6.5.3. e se tom aram , com o referên c ia, valores
caractensticos de t f e de Cf para uma camada limite turbulenta em gradiente de
pressão nulo a Ree ~ 500: tf = 1.5 e Cf = 0,005 — vidé Fig. 6.29 na próxim a
sub-Sec. 6.6.1.; segue-se que a este baixo Reynolds a espessura da sub-cam ada
viscosa é cerca de 20% da espessura da camada lim ite, pelo que a cam ada
exterior deve ser, toda ela, ocupada pela sobre-camada viscosa.
Uma implicação é que a extensão do espectro de en e rg ia d ev erá ser
extremamente reduzida, 0 sub-domínio de inércia praticam ente inexistente, e o
campo turbulento quase que só constituído por turbilhões contendo energia;
estes grandes turbilhões são os responsáveis por uma grande capacidade de
mistura, por uma grande tendência para uniform ização, pelo que é de esperar
que, nesta gama, tf diminua apreciavelmente. É um tipo de evolução de tf e de
Q contrária à induzida por um efeito invíscido de gradiente de pressão, de
SEC. 6.5. ESTRUTURA MUITI-CAMADA DE UMA CLT 20 299

acordo com a qual H e Cf evoluem em sentidos contrários; nesta situação de


baixos Reynolds, tanto H como C, diminuem fortementc com o aumento de
Red. Outros efeitos de baixos Reynolds's, e respectivas consequências, serão
apresentados na sub-Sec. 6.6.2.

6.5.3. Descriçãoanalíticados perfisdevelocidademédia


D ada a existência de uma cam ada da parede possível de descrever
analiticam ente de um a forma simples, perfis de camada limite turbulenta são
muito usualm ente representados nas coordenadas semi-íogarítmicas da lei da
parede f /+ vs. ln y +, onde U* = U /ut e y+ = u t y / v . A forma que assumem os
perfis de velocidade nestas coordenadas está representada na Fig. 6.28, onde
tam bém se identificam as várias camadas características da estrutura multi-
camada de uma camada limite turbulenta:
i) uma evolução exponencial na região da sub-camada linear expressa por
(6.37): t / + = / ( = e x p j l n / ] ) . ^
ii) uma evolução linear na região da camada da parede: U* = — lny++ C , eq.
(6.40) K
iii) uma transição contínua, de uma para outra evolução, ao longo da camada
tampão entre 5 < y+ < 30 - 50
iv) um desvio do perfil em relação à evolução semi-logarítmica na região da
cam ada exterior e tendendo para o valor constante U* ~ U ç/u T =^/2/Cf no
escoam ento exterior.

Fig. 6.28 Perfil de velocidades de uma camada limite turbulenta


nas coordenadas semi-logarítmicas da lei da parede.

Dada a analogia de situações na camada exterior e num escoamento tipo


esteira, em que em am bas se verifica um déficit de velocidade relativamente a
300 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

um escoamento potencial exterior, é usual designar o desvio acabado de referir


da distribuição de velocidades na camada exterior relativamente à evolução
semi-logarftmica como componente de esteira [wake component]:

aí/+SÍ/+~ ( í l n / + C] = f (6'46)
onde 77 é um parâmetro de forma do perfil, AT= 0,41 é a constante de von-
Kármán e a forma da evolução w(y/õ') é conhecida por função de esteira [31],
Coles [32] propõe para a função de esteira a seguinte expressão empírica tipo
coseno que se verifica produzir um bom ajustamento a resultados experimentais
em muitos escoamentos de camada limite:

(6-47)
onde y - S ' é a cota a que ocorre o desvio máximo da distribuição de
velocidades, por isso designado intensidade da componente de esteira [wake
intensity] d t/^ ax = 277/K ; ambos os parâmetros estão representados na Fig.
6.28.
Em gradiente de pressão nulo e a Reynolds's elevados ( Reg > 5 0 00-6000) o
valor típico de A U ^ é 2,85, a que corresponde 77=0,58. Referiremos na sub-
Sec. 6.6.2. a evolução de AU*ax na gama de baixos Reynolds's
400 < Ree < 5000 - 6000.
É assim muito usual descrever analiticamente a forma de um perfil de
camada limite turbulenta, fora da sub-camada viscosa, por:

t/+ = — lny+ + C + Y ^ l- c o s ^ - ^ - j. (6.48)

Realçamos que, nesta relação, a parcela relativa à evolução semi-logarítmica


tem fisicamente todo o significado na região da camada da parede mas que, na
camada exterior, (6.48) deve ser apenas encarada como uma boa mas
inteiramente empírica aproximação.
Com a forma (6.48) para o perfil de velocidades, a lei de déficit de
velocidade (6.43) escreve-se, admitindo 5 ' ~ 8 e U(y = 5 ) ~ U t ,

U -U , 1, 1 , «r <5 77 y_
-------e- = — In----------- ln------ + — - w ( l)
ur K v K v K

1 v 77
= — ln 4 + — w \ - |- w ( l)
K 8 K
de onde, naturalmente, desapareceu a dependência em v .
Na região da camada da parede deveria rigorosamente ser w (y/8 ) = 0, do
que resulta para a constante de integração em (6.45.b):
SEC. 6.5. ESTRUTURA MULTI-CAMADA DE UMA CLT 20 301

consl.= - — w(l) = = -AU* .


K w K ““
Relacionemos /7 com C(. Calculando U* dado por (6.48) em y = 5' * 5 e
admitindo ainda U(8) ~ Uc obtemos:

2 1 ut a „ 2/7
— = — l n - 5— + C + ---- (6.49)
1 C, K v K

Trata-se de uma chamada 'lei de tensão de corte', por respeitar a uma relação
entre o coeficiente de tensão de corte superficial Cf, um número de Reynolds
do escoamento ut 8 / v e um factor de forma do perfil de velocidades ÍJ. É
porém de notar que o Reynolds envolvido não tem qualquer significado, visto
ser construído com uma escala de velocidades uT, característica da camada
interior, e uma escala de comprimentos 5, típica da camada limite como um
todo.
O factor de forma TI é ainda relacionável com S*, 6 e H integrando (6.48)
entre y = 0 e y = 8 , embora, estritamente, (6.48) só seja aplicável para y* > 30
(!). Para 5*, por exemplo, obtém-se:
U 'ô * _ \ + n
uzô ~ K
Logo concluímos, recorrendo a esta última relação, que em (6.49) podemos
substituir ut 8 por í/eS*, do que resulta um Reynolds muito mais significativo e
fisicamente correcto para caracterizar o escoamento: C/eá * /v = Res..
Em cálculos prévios para obtenção das gamas de valores expectáveis dos
parâmetros globais do escoamento recorre-se muitas vezes à seguinte descrição
analítica simples do perfil de velocidades em escalas lineares:

U_
(6.50)

de acordo com a qual os parâmetros integrais vêm dados por

— 0 - n h - 1+- (6.51)
õ n + l ’ 8 (n + l)(n + 2) n

Nota-se que a distribuição tipo potência (6.50) não constitui mais do que
uma descrição grosseira do perfil de velocidades de uma camada limite
turbulenta, não respeitando nenhum requisito de natureza física: nem a evolução
linear na gama 0 < > +< 5, nem a semi-logarítmica em 3 0 -5 0 <y+< 0,15<S+ e
produzindo valores do gradiente transversal de velocidades ãU/ày = Uc/n8 * 0
em y = 8 e dU/dy = °® em y = 0, o que invalida a sua aplicação em qualquer
determinação de Cf .
302 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Apesar disso, a simplicidade analítica com que é expressa, aliada à relativa


correcção dos resultados a que conduz, faz com que, hoje em dia, continue a ser
utilizada para uma primeira estimativa rápida de gamas de valores. O factor n a
adoptar deverá naturalmente ser ajustado ao tipo de escoamento em estudo: i)
em gradiente de pressão nulo e a Rex ~ 106 melhor concordância com
resultados experimentais é obtida com n » 7, o que faz com que, em qualquer
situação e à falta de melhor informação, a relação (6.50) seja designada por lei
de expoente 1/7, ii) a ReynoIds's mais elevados ou devido à actuação de um
gradiente favorável, ao que está associado um perfil com menores déficits a que
corresponde um menor valor de H , o parâmetro n poderá ir até valores de cerca
de 10, iii) inversamente, em gradiente adverso ou para escoamentos ao longo de
uma superfície rugosa, induzindo maiores déficits, n poderá diminuir até cerca
de 3 - 4 .
Valores típicos obtidos de (6.51) para n = 7 são:

í! - l. z, ,, (6.52)
d 8 ’ s 72~10 ’
Estes valores devem ser comparados com os correspondentes valores da
solução de Blasius para uma camada limite laminar em gradiente de pressão
nulo apresentados no quadro da sub-Sec. 4.3.2.:
S* i 6 ]
T " 3 : rr- H'2A
Esta comparação de resultados bem reflecte a grande capacidade de
uniformização de um escoamento turbulento; a título de exemplo: em gradiente
de pressão nulo é H ~ 2,6 em regime laminar e H ~ 1,3 em regime turbulento.
Recorreu-se também a (6.51) para quantificar, na sub-secção anterior, a
razão 0 /Ô necessária ao estabelecimento da ordem de grandeza da espessura da
sub-camada viscosa: / f = ll 5 - * n = 4 —» 9/Ô = 1/7,5.

6.6. Evolução de camadas limites turbulentas


Nesta secção é apreciada a evolução de camadas limites turbulentas bi-
dimensionais, primeiro no caso de referência de gradiente de pressão nulo —
sub-Sec. 6.6.1. — e depois sob a actuação de um qualquer gradiente de pressão
— sub-Sec. 6.6.2. — , para o que é apresentado um método de cálculo integral.
É de seguida referido um método expedito para previsão da ocorrência de
separação — sub-Sec. 6.6.3. — e são finalmente descritas técnicas passivas para
redução da resistência de atrito — sub-Sec. 6.6.4.
Para obtenção de umas primeiras leis de evolução dos parâmetros integrais
de uma camada lim ite turbulenta em gradiente de pressão nulo torna-se
conveniente recorrer a algumas relações estritamente aplicáveis a escoamentos
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 30 3

turbulentos completamente desenvolvidos em tubos circulares lisos, pelo que


pareceria mais lógico apresentar primeiro esta última situação e só em seguida,
já de posse de todos os elementos necessários, considerar o caso da camada
limite em gradiente nulo. Optou-se porém pelo critério temático apresentado a
fim de não quebrar a sequência da exposição de escoamentos de camada limite:
primeiro a sua estrutura e, logo em seguida, o seu desenvolvimento.

6.6.1. Evolução em gradiente de pressão nulo

Na sub-Sec. 4.3.2. fomos capazes de estabelecer leis aproximadas de


evolução dos parâmetros integrais de uma camada limite laminar em gradiente
de pressão nulo atendendo à equação integral de von-Kármán (4.15), à equação
de definição de r w e admitindo uma descrição analítica plausível para o perfil
de velocidades, no caso uma forma polinomial do 3o grau. Pretenderíamos agora
seguir uma metodologia análoga em regime turbulento, o que pareceria possível
dado que a forma (4.15) da equação de von-Kármán é igualmente aplicável,
que r w é definido exactamente da mesma maneira e que dispomos, até, de duas
possíveis descrições analíticas para o perfil de velocidades: eqs. (6.48) e (6.50),
tendo a primeira já fornecido a lei de tensão de corte (6.49) e sendo a segunda
extremamente sim ples. A contece porém que, em regime turbulento e a
Reynolds elevados, a forma dos perfis de velocidade se conserva em gradiente
de pressão nulo mas nas coordenadas de d éficit de velocidade
( U - U t ) / u T vs. y / ô , não nas coordenadas lineares U/Ue vs. y / õ —- G = const.
e não / / = const., como salientámos na sub-Sec. 6.5.2. — , pelo que o expoente
n, em (6.50), deveria evoluir ao longo do escoamento. Mesmo 'ignorando* esta
realidade física e optando por uma descrição tipo potência com n = const., dada
a sua simplicidade analítica, (6.50) produz, em y = 0. *w= °°! Como proceder
então para, de uma forma expedita, determinarmos relações simples de evolução
dos parâmetros integrais equivalentes às obtidas no caso laminar e sumarizadas
na tabela da sub-Sec. 4.3.2.?
Uma hipótese um tanto 'tosca' será estabelecer um paralelismo entre um
escoamento de camada limite e um escoamento completamente desenvolvido
num tubo circular liso, para o qual seja conhecida uma lei de fricção X{Re) a
tomar como lei de tensão de corte fazendo a correspondência R o S e
í/max <> Ue [147]. Uma possível lei de fricção é a lei empírica de Blasius (6.58)
a apresentar na sub-Sec. 6.7.1.
A = 0,3164
com A e Re definidos, como terá significado em escoamentos completamente
desenvolvidos em tubos e foi referido na sub-Sec. 4.1.2., por
304 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

A = 4 t» /Í2 pU^ ) 6 Re = U^ D / V ,
a relação entre í/med e t/max no eixo do tubo é E/med = 0 ,8 í/mnx — eq. (6.59) —,
como também justificaremos na sub-Sec. 6.7.1. seguinte. Obtemos assim:
,1/4
v
= 0,0225
pul U'S
Sigamos então a mesma metodologia que em regime laminar na sub-Sec.
4.3.2.:
i) igualando o factor f„ /(p í/e ) expresso por esta lei de tensão de corte ao
mesmo factor obtido da equação integral de von-Kármán
tw = de = 7 dS
pUl d x ~ 7 2 dx'
para o que se recorreu a (6.52), válido para um perfil tipo potência de
expoente 1/7,
ii) obtém-se uma relação para dS/dx que, integrada em x e admitindo que a
camada limite se começa a desenvolver logo em regime turbulento a partir
do bordo de ataque da placa x = 0, produz:
-1 /5
— = 0,37^U’X = 0,37 R e?15;
x l v
iii) resulta então para a evolução dos outros parâmetros integrais

— = 0,046 Rex'115
x

- = 0,036 Rex 1/5 (6.53)

Cf =0,0576 R e;115

CD =0,072 Re;'15.
Verifica-se que estas leis são compatíveis com resultados experimentais no
domínio Rex, Ret entre 5 x l 0 5 e 107, sendo melhor concordância com valores
de Cf e CD obtida com coeficientes 0,0592 e 0,074 em vez de 0,0576 e 0,072,
respectivamente; este erro de menos de 3% nos valores de dois dos parâmetros
dá-nos uma certa segurança na utilização das leis de variação dos restantes.
É de notar, pelo valor do expoente de Re, a menor dependência no número
de Reynolds de um escoamento em regime turbulento do que em regime
laminar: 1/5 em turbulento e 1/2 em laminar.
Se em vez de uma descrição tipo potência tivéssemos optado por uma
descrição de base semi-logarítmica para o perfil de velocidades, após
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 305

ajustamento das constantes numéricas a resultados experimentais obteríamos


para C0 a seguinte lei empírica de Prandtl-Schlichting [147]:
„ _ 0,455
° ~ ( lo g R e ' ) ™ ’
expressão válida até Re( = 109 e que concorda com a obtida utilizando perfis
tipo potência até Ret ~ 107.
Uma lei de tensão de corte correntemente utilizada e de aplicação não
restrita a gradiente de pressão nulo é a lei empírica de Ludwieg-TiUmann [104]:
Cf = 0,246x IO -0678" Rea~0,268; (6.54)
a ela recorreremos no método integral de Head a apresentar na sub-Sec. 6.6.2.
Salienta-se que nenhuma das leis de evolução analiticamente simples até
agora apresentadas é capaz de descrever, com um mínimo de rigor, o
comportamento das variáveis características do escoamento na gama de baixos
Reynolds's 400 < Ree < 5000 - 6000 a que fizemos referência no fim da sub-
Sec. 6.5.2. Notámos nessa altura que f f e C , acusavam, de início, uma queda
muito acentuada, como representado na Fig. 6.29 construída com base em
resultados experimentais de Wieghardt para um escoamento de placa plana
reportados em [32]; nesta figura está também assinalada a evolução da
intensidade da com ponente de esteira AU*.àX, a qual aumenta muito
rapidamente de início e tende depois para um valor praticamente constante.

R ee x 10-3

F i g . 6 . 2 9 E v o lu ç õ e s d e H , C( e co m R ee para u m a cam ada lim ite


tu rb u le n ta b i-d im e n s io n a l e m g rad ien te d e p ressão nulo.

Os argumentos que, suplementados com resultados obtidos da analogia com


a situação de escoamento completamente desenvolvido num tubo, conduziram
às relações (6.53), pressupunham H = const. (n = const.= 7), em vez de
decrescente com Reg, e produziram uma evolução ténue demais de Cf,
comparativamente à experimentalmente obtida na faixa inferior da gama de
baixos Reynolds's.
306 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

A forma da lei empírica de Ludwieg-Tiilmann reflecte evoluções em sentido


contrário de Cf e de H , o que está de acordo com a influência invíscida de um
gradiente de pressão, mas embora a evolução de Cf dada por (6.54) seja
também dependente de Ree, o peso deste último factor não é suficiente para
produzir a grande diminuição de Cf inicialmente verificada. Em gradiente de
pressão nulo. a lei de Ludwieg-Tiilmann só é assim capaz de prever valores de
C( a menos de 2% dos resultados experim entais a partir de Ree ~ 2000.
Também, se a queda a zero de no extremo inferior da gama de baixos
Reynold$'s não for tomada em consideração, o valor de Cf dado pela lei de
tensão de corte (6.49) pode ficar subestimado em mais de 20%.
Estes, alguns exemplos de quão delicado é obter valores fidedignos de um
parâmetro tão crítico em termos de engenharia, como Cf , a partir de expressões
simples, nesta gam a inicial de desenvolvim ento de um a cam ada limite
turbulenta. A física do processo, os argumentos e os resultados que temos vindo
a apresentar também ilustram o grau de exigência de modelos de turbulência
capazes de correctam ente preverem o corrências nesta gam a de baixos
Reynolds's.
Depois destes comentários sobre a im portante gam a de baixos Reynolds's
retomemos a questão base de primeiras avaliações de efeitos globais de uma
camada lim ite em gradiente de pressão nulo. Tom em os com o exemplo a
determinação do coeficiente de resistência de uma placa plana, ao longo da qual
a cam ada lim ite norm alm ente ap re sen ta rá um a p rim e ira região de
desenvolvim ento em regim e lam inar, sofrerá transição ao fim de uma
determ inada distância e prosseguirá o seu d esen volvim en to em regime
turbulento, como representado na Fig. 6.30. Uma vez determ inada a localização
da transição, haverá que separadamente contabilizar as contribuições para CD
total da região laminar, expressa no quadro da sub-Sec. 4.3.2., e da região
turbulenta, dada por (6.53).

F i g . 6 .3 0 D e s e n v o lv im e n to d e u m a c a m a d a lim ite a o lo n g o d e u m a p la ca:


re g im e la m in a r, tr a n s iç ã o , re g im e tu r b u le n to .

Uma m aneira 'cega' de o conseguir, referida em m uitos textos elementares


de m ecânica dos fluidos, consiste em subtrair ao valor de D ou CD, calculado em
regim e turbulento para toda a placa, a contribuição turbulenta até x u e substituí-
Ja pela correspondente contribuição laminar, i.e.:
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 30 7

com (c D
\
) = 0 .0 7 4 R e* t'rys
U \uib I
e (c „L/lnm )I =1,33Re;1
\ x tt
12

Esta metodologia conduz a resultados que não são incorrectos de todo.


Tentemos perceber porquê.
Ao utilizar-se a relação (6.53) para calcular CD^ para toda a placa fica
implícito que se admite que a região de desenvolvimento em regime turbulento,
que se segue à porção laminar e à transição, tem o mesmo comportamento que
teria se o escoamento se começasse a desenvolver em regime turbulento logo a
partir do bordo de ataque da placa, o que equivaleria a que, se extrapolássemos
para montante a região de desenvolvimento em regime turbulento, a origem
virtual da camada limite turbulenta viesse a residir no bordo de ataque, ou, pelo
menos, próximo do bordo de ataque. E é o que normalmente se verifica. Tal
resultado deve-se à muito elevada taxa de crescimento da camada limite
turbulenta logo a seguir à transição, em que turbilhões organizados,
denominados e s tru tu ra s coerentes [coherent structures] do campo turbulento,
reminiscentes de um processo de transição que se inicia e desenrola a um
comprimento de onda dominante, são capazes de promover um arrastamento de
fluido exterior de forma muito mais efectiva que as estruturas caóticas mais
características de um campo turbulento já verdadeiramente definido; estas
estruturas coerentes estão claramente demarcadas na Fig. 5.3.
Para o caso de superfícies rugosas, uma análise semelhante à anteriormente
desenvolvida conduz às dependências de Cs e CD em Ut x / v ou U J / v e
Uçe / v representadas nas Figs. 6.31.a) e b) [147].
Nestes diagramas as curvas Uee / v = const. e x / e , l/£ = const. podem ser
utilizadas para determ inar as variações de C{ e de CD a e constante nas
seguintes circunstâncias:
- se Ue varia e r o u / permanecem constantes, Cf evolui ao longo de x / e ou
l/e = const.
- se x ou / variam e Ue permanece constante, Cf evolui ao longo de
t/e£ /v = const,
O regim e completamente rugoso, em que Cf e CD são independentes do
número de Reynolds, corresponde aos domínios dos gráficos à direita das curvas
a tracejado; neste regime são aplicáveis as seguintes fórmulas de interpolação:
-2 .5

Cf = (2,87 + 1,58 l o g |J ; CD

válidas na gama 102 < x /e , //£ < 1 0 6.


308 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

50
102
2
x/ e
5
IO3
2
5
IO4
2

Fig. 6.31 E v o lu ç ã o d e C f e d e C D c o m R e p a r a c a m a d a s lim ite s tu rb u le n ta s


e m g ra d ie n te d e p re s s ã o n u lo s o b r e s u p e r f íc ie ru g o s a .

É de notar que para uma superfície com rugosidade e constante, associado


ao crescimento da camada limite ao longo da placa ocorre um a diminuição do
efeito das rugosidades sobre o escoam ento, pelo que este pode passar de um
regime com pletam ente rugoso na região inicial da p laca a um regime de
transição mais a jusante; este facto é ilustrado no gráfico de C{ vs. Rex pela
curva Ues / v = \ 0 3.

6.6.2. Evoíução num qualquer gradiente de pressão; método de Head


Sendo o efeito de um gradiente de pressão de natureza essencialmente
invíscida, com o sobejam ente tem os argum entado, é de prever que a sua
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 3 09

influência sobre um escoam ento de camada lim ite seja do mesmo tipo
independentemente de o escoamento se processar em regime laminar ou em
regime turbulento.
Recordando os argumentos expandidos e as conclusões a que chegámos na
sub-Sec. 4.4.1. podemos desde já afirmar que o factor de forma H será maior
em gradiente adverso que em nulo e este por sua vez maior que em favorável,
que o coeficiente de tensão de corte superficial Cf será menor em gradiente
adverso que em nulo e este menor que em favorável e que a taxa de crescimento
d8/dx será m aior em gradiente adverso que em nulo e esta maior que em
gradiente favorável. Qualquer efeito de um gradiente de pressão será, porém,
muito menos pronunciado que em regime laminar, dado o forte poder
uniformizante da difusão turbulenta; este efeito é especialmente significativo em
termos do processo de separação da camada limite.
Efeitos de um gradiente de pressão específicos do campo turbulento
referem-se, naturalm ente, à evolução de variáveis características do campo
turbulento, por exemplo, à com ponente de esteira e à in te n sid a d e de
t u r b u l ê n c i a [turbulence intensity]. A preciem os separadam ente o
comportamento destas duas variáveis.
Analisemos o efeito de um gradiente de pressão sobre a intensidade da
componente de esteira com referência à Fig. 6.32, em que estão ilustrados perfis
de camada lim ite turbulenta nas escalas U/Ut vs. y/Ô e U+ vs. In y* para
gradientes de pressão nulo, favorável e adverso.

a ) E s c a la s lin e a re s b ) E s c a la s se m i-lo g a rítm ic a s

F i g , 6 . 3 2 P e rfis d e v e lo c id a d e d e c a m a d a s lim ites tu rb u len ta s


e m d ife re n te s g ra d ie n te s d e p ressão .

A alteração de forma em escalas lineares é equivalente à representada na Fig.


4.18 da sub-Sec. 4.4.1. para regime laminar; o argumento então expandido de
ser a curvatura do perfil de velocidades na parede exclusivamente controlada
pelo gradiente de pressão local, o que implicava a existência de um ponto de
inflexão numa situação de gradiente adverso, continua a ser inteiramente válido,
310 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

tanto mais que na sub-camada linear é wv«0, acontecendo simplesmente que


em regime turbulento a influência do gradiente de pressão local está restrita à
vizinhança imediata da parede, pelo que a existência de ponto de inflexão é
dificilmente detectável numa curva experimental. Quanto à influência do
gradiente de pressão na intensidade da componente de esteira tomemos, como
exemplo, o caso de um gradiente adverso. Em escalas lineares, a uma qualquer
cota y/S no interior da camada limite o déficit de velocidade A(U/Ut )
relativamente à velocidade exterior U/Ut =1 é maior em gradiente adverso do
que na situação de referência de gradiente nulo. O mesmo se deverá verificar
nas escalas da lei da parede U+ vs. l n / \ só que, nestas coordenadas, sendo a
recta da lei da parede universal, i.e. independente do gradiente de pressão, se o
déficit de velocidade relativamente ao escoamento exterior aumenta, deverá ser
o ponto U* - U J u t = -yj 2/Cf que se desloca para uma ordenada superior, o que
corresponde a um aumento da intensidade da componente de esteira e concorda
com a expectável diminuição de Cf em gradiente adverso. Inversamente, em
gradiente favorável a intensidade da componente de esteira diminui em relação
à situação de gradiente nulo.
Se simultaneamente actuarem efeitos de baixos Reynolds's e de gradientes
de pressão, as evoluções previsíveis de d£/*ax deverão assim ser do tipo ilustrado
na Fig. 6.33.

F ig . 6 .3 3 Evolução da intensidade da co m p o n en te d e e s te ira a b a ix o s R ey n o ld s's


para diferentes gradientes de pressão .

Perfis de tensões de Reynolds estão representados na Fig. 6.19 da sub-Sec.


6.5.1. Conjugando estes perfis com os anteriores perfis de velocidade em escalas
lineares U/Ut v s .y /5 e lembrando que, para uma cam ada lim ite bi-
dimensional, o termo de produção de energia cinética turbulenta é, por (6.29),
- puvdU/Sy, imediatamente concluímos que, em gradiente adverso, aumentando
o valor relativo de - p u v /r w e aumentando concomitantemente o gradiente de
velocidade d(U/Ut )/9{y/õ), deverá, por aumento simultâneo dos dois factores,
aumentar muito a taxa de produção de energia cinética turbulenta
comparativamente à situação de referência de gradiente nulo, pelo que
aumentará muito a intensidade de turbulência quer em termos de k quer em
termos do desvio padrão da componente longitudinal de flutuação V ? e
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 311

normalizada tanto com a velocidade exterior Uc como com a velocidade local


U: J k / U " -Jk/U, 4 ^ / U ' , y u ^ / u . Inversamente, em gradiente favorável a
intensidade de turbulência será menor que em gradiente nulo.
Hm gradiente adverso, por aumento conjunto da espessura da camada limite,
por acção da componente convectiva V, tal como em regime laminar, e por
aumento da intensidade de turbulência, aumenta tanto a dimensão como o
conteúdo energético dos grandes turbilhões, pelo que aumenta a sua capacidade
de arrastamento de fluido exterior e, em consequência, aumenta ainda mais a
taxa de crescimento da camada limite. Efeito contrário ocorre em gradiente
favorável.
Se o gradiente de pressão favorável for muito intenso, ou, equivalentemente,
se for muito grande a aceleração do fluido, a turbulência será de tal modo
amortecida que o escoamento pode reverter a um regime (quase) laminar: é a
chamada tra n s iç ã o in v e rsa [reverse transition) ou r e la m in a r iz a ç a o
[relaminarization] que ocorre para valores do p arâm etro de aceleração
[acceleration parameter]
v dUc
K
U] dx

da ordem de 3 X I0 -6 [5}.
O resultado médio no tempo é compreensível em termos do perfil de tensões
de Reynolds; instantaneamente o que de facto se verifica é uma intermitência
entre extensões do escoamento em regime laminar e bolsas turbulentas, como
representado na Fig. 6.34.b).

laminar
/rui*) rTWfcj
s r r r / / / ? / / / r ri r
ylô
a) P erfil d e te n sõ e s d e R ey n o ld s b) C o n fig u ra ção in stantânea d o esco am en to

F ig . 6 .3 4 R elam in ariza ç& o .

Refere-se. como apontamento, que curvatura longitudinal da superfície


produz, sobre o campo turbulento, um efeito semelhante ao descrito na Sec. 5.1.
a propósito do processo de transição: num escoamento de camada limite ao
longo de uma parede côncava / convexa a intensidade de turbulência aumenta /
diminui comparativamente à situação de referência de parede plana [15].
Cálculo da evolução dos parâmetros integrais de uma camada limite
turbulenta num qualquer gradiente de pressão pode ser feito, por exemplo,
através do método de H ead que passamos a expor [28] — ver também [65].
312 CAP 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

A equação base é, como em qualquer método integral, a equação de von-


Kármán (4.12):
dd ^H +2dU c Cf
dx Ut dx 2
O método baseia-se no conceito de velocidade de arrastamento, definida
pela eq. (6.12) da Sec. 6.1.
VE = f [ í / e (« 5 -* * )].

Head admite ser VE/ U e uma função universal do factor de forma


Ô-S*
(6 .5 5 )
u
isto é, VE/ U e = de onde

v E = ~ { u s ÔH ,) = Us F ( H t) ■, (6 .5 6 .a)

admite ainda que os dois factores de forma H e H l estão relacionados, i.e.


H X= G ( H ) . (6 .5 6 .b )
As funções F e G são determinadas empiricamente; melhor ajustamento a
vários dados é conseguido com:
.F = 0,0306 ( t f , - 3 ) " 0,6169

1 0,8234 ( H —l, l)-1-287 + 3, 3 p ara H < 1,6

[ 1,5501 ( t f - 0 ,6778)-3'064 + 3,3 p ara t f > 1,6.


Para se determinarem as 3 incógnitas 6, H e Cf que figuram na equação de
von-Kármán é necessária, para além das eqs. (6.56), mais uma relação entre C{
e Ô e/ou H: Head utiliza a lei empírica de Ludwieg-Tillmann (6.54), já
comentada anteriormente
Cf = 0,246 x 10~o m H R e '°-268.
O sistema de duas equações diferenciais ordinárias p a ra d Q /d x e p ara dS/dx
com S = Uc 0 H x pode, por exem plo, ser reso lv id o p o r u m m é to d o de Runge-
K utta de 4a ordem . D eterm inados 9 e 5 , H v é c a lc u la d o p o r tf , =.5/(17. fl),
obtendo-se então H de H = G e S * p or 5 * = H 6 .
A lei de Ludwieg-Tillm ann prevê separação (Cf = 0 ) só q u an d o //=<*>! ora
verifica-se experim entalm ente que, dependendo d a h istó ria d o escoam ento, na
separação H apresenta valores na gam a 1,8 — 2,4. P o r esta razão, quando se
utiliza (6.54) com o lei de tensão de corte no m étodo de H ead — o que não é
mandatório — , pesquisa da separação costum a ser feita em term os de H e não
de Cf ; o facto de na ‘separação’ não resu ltar Cf = 0 não in tro d u z grande
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 313

imprecisão pois dH/dx é muito elevado na aproximação ao ponto de separação,


como primeiro notado em regime laminar e agora ilustrado na Fig. 6.35 para
regime turbulento. Nesta figura comparam-se evoluções de 6*, H e Cf obtidas
pelo método de Head a um R e , » 3 x 106 para variações lineares de t/e(x)
correspondentes a gradientes de pressão nulo, favorável e adverso conduzindo a
separação — o respectivo programa de cálculo está listado na Sec. E.3. É
ilustrativo com parar as intensidades dos gradientes de pressão adversos
necessários para produzir separação em regime laminar (Fig. 4.19) e agora em
regime turbulento; embora a Reynolds's diferentes, separação a x * 700 mm foi
conseguida, em laminar, com um gradiente de velocidade dUt /dx = —0,2 s_1 e,
em turbulento, requereu um gradiente de - 3 0 s-1: 150 vezes mais intenso!

F ig. 6.35 Resultados do método de Head para evolução dos parâmetros integrais de camadas
limites turbulentas em diferentes gradientes constantes de velocidade exterior.

O presente código, reproduzido do publicado na r e f [28], está escrito de


forma mais cuidada do que o propositadamente muito simples apresentado em
regime laminar: por exemplo, em vez de grosseiras diferenciações lineares é
utilizada uma interpolação de Lagrange com 3 pontos. Foram porém mantidas
as condições iniciais para os três casos apresentados ( 6 0 = 0 ,2 mm; HQ=1,5), e
estas podem nem sempre ser as mais ajustadas, o que produziu as evoluções
iniciais pouco credíveis de H e de Cf no caso de gradiente fortemente favorável.
Se se pretender apenas indagar da eventual ocorrência de separação, i.e.
determinar se a intensidade do gradiente adverso instalado é ou não suficiente
para provocar separação, e, em caso afirmativo, prever a sua localização, será
mais expedito recorrer a um critério ou metodologia de cálculo requerendo
314 CAP. 6 ESCOAMENTO TUR8ULENT0

apenas informação quanto ao campo de pressões do que necessitar aplicar


qualquer código de cálculo completo de camada lim ite, mesmo um código
simples como o método de Head. Tal é efectivam ente possível através, por
exemplo, do critério de separação de Stratford a apresentar já em seguida.

6.6.3. Critériodeseparação de Stratford


Stratford [158] estabelece um critério de previsão de separação em termos
do máximo aum ento de pressão que uma cam ada lim ite turbulenta pode
suportar sem se separar.
A análise desenvolve-se nos seguintes pressupostos:
- Campo de pressões constante na fase inicial do desenvolvim ento seguido de
contínuo aumento conducente a separação, como ilustrado na Fig. 6.36.

F ig . 6J 6 C a m p o de pressões para e s ta b e le cim e n to d o c rité r io d e S tra tfo rd .

- Estrutura bi-camada da camada lim ite turbulenta: i) cam ada exterior de


comportamento quase-invíscido, cuja evolução é com parada com a obtida
em gradiente constantemente nulo admitindo perfis tipo potência (= 1/7), ii)
camada interior em condições de equilíbrio local, cuja análise é desenvolvida
com base num modelo de comprimento de mistura.
Compatibilidade das características do escoamento nas duas cam adas conduz
à seguinte relação analítica na separação:

f dC Y/2 / _6 \i/io
(6.57)
c4 v j = ‘ (10
\k = 0,39 em d 2p / d x 2 > 0 e C < 4 /7
com <
(& = 0,35 em d 2p j d x 2 < 0;
Cp e R e são definidos com base em condições de referên cia da região do
escoamento a pressão constante:

Cp = {p ~ P o) / j P U1 ; Re = U0x / v .

Se o escoam ento exibir uma região inicial em reg im e lam in ar ou se o


gradiente de pressão que antecede a gam a adversa não for constantem ente nulo,
equivalência de valores de x0, estabelecida com base em igualdade de 0 's em
x - x 0, pode ser obtida a partir de:
SEC. 6.6. EVOLUÇÃO DE CAMADAS LIMITES TURBULENTAS 315

*0 = 38,2

onde X é a distância contada a partir do início efectivo do escoamento, o índice


tr se refere a valores no ponto de transição e os valores de referência (índice 0)
respeitam à condição que se verificar mais a jusante de entre as de pico de
velocidade e de transição.
O critério de Stratford, embora tenha sido proposto numa época remota do
conhecimento dum campo turbulento (em 1959) bem revelada pelo uso de uma
descrição tipo potência para o perfil de velocidades médias e de um modelo de
comprimento de mistura, produz resultados de tal modo correctos que levam a
que, ainda hoje, seja utilizado no exigente projecto de perfis alares de alto
rendimento, como referiremos no Cap. 9.

N ota: O critério equivalente para separação em regime laminar é:

6.6.4. Técnicas passivas de reduçãoda resistênciadeatrito


A necessidade económica em reduzir a elevada resistência de atrito associada
a um escoamento de camada lim ite turbulenta tem levado à exploração de
diversas técnicas tanto passivas como activas de redução da tensão de corte
superficial tw: manipuladores de turbulência, paredes adaptáveis [compliant
walls] inspiradas no com portam ento da pele do golfinho, aquecimento /
arrefecimento da superfície, adição de polímeros, etc [27].
A título de exem plo mencionem os apenas duas técnicas passivas de
manipulação de turbulência, uma delas concebida para actuar sobre as estruturas
turbulentas próxim o da parede e a outra destinada a fraccionar os grandes
turbilhões na camada exterior.
O campo 'turbulento' na sub-camada viscosa é caracterizado por filamentos
serpenteantes de vórtices de baixa velocidade que tendem a crescer e a detonar,
irrompendo na cam ada im ediatam ente superior onde é m áxim a a taxa de
produção de energia cinética turbulenta, como representado na Fig. 6.18. Uma
possível estratégia para redução de tw consistirá então em dotar a superfície
com e s t r i a s [r ib le ts ] sensivelm ente alinhadas com a direcção local do
escoamento, tendentes a organizar esta configuração de vórtices ondulantes de
baixa velocidade e a constrangir o seu crescimento por aumento da influência
dos efeitos viscosos: Fig. 6.37 [74]. A Com panhia 3M fabricava um film e
adesivo de estrias de secção triangular com o qual se conseguiram reduções
máximas da resistência de atrito de quase 8%. É porém caro e delicado o
316 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

fabrico, o manuseamento e a manutenção de superfícies com estrias de menos


de 0.1 mm de altura (h* «10, em termos de unidades da parede) cujas arestas
devem permanecer afiadas, pelo que é duvidoso o interesse na aplicação da
técnica, mesmo no caso da exigente indústria aeronáutica.
Sendo os grandes turbilhões os responsáveis pela grande uniformidade do
perfil de velocidades médias na camada exterior, a que estão associados elevados
gradientes de velocidade próximo da parede de modo a satisfazer a condição de
nào-escorregamento. redução de rw pareceria ser possível reduzindo a
dimensão desses grandes turbilhões de modo a reduzir a sua capacidade de
uniformização. Explorou-se assim a instalação de pequenas e finas placas
montadas em série ou desfasadas na camada exterior de modo a fraccionar esses
grandes turbilhões: são o que poderemos chamar dispositivos fraccionadores
dos grandes turbilhões [Large Eddy Brake-Up devices LEBUs], esquematizados
na Fig. 6.38.

Fig . 6 3 7 Presumível efeito de estrias (riblets). F ig . 6 .3 8 L E B U s .

A técnica obviamente não resultou (!), pois que. a menos que a nossa actual
compreensão da física de um processo turbulento esteja com pletamente errada,
ocorrências junto à parede, numa região em condições de equilíbrio local,
deverão ser independentes do comportamento da camada exterior. Aponta-se
agora para a instalação, na camada interior, de LEBUs tipo asas em miniatura
com perfis de baixos Reynolds (laminares). É bastante duvidoso que esta
técnica, mesmo que resulte, alguma vez venha a ter aplicação.
A concluir, reproduz-se a frase 'lapidar’ com que Jean Cousteix, da ONERA,
há poucos anos (1992) encerrou um curso especial sobre 'R edução da
Resistência de Atrito’ realizado no Instituto von-Kármán, em Bruxelas, e de que
foi director [36]: Riblets do work, but we don't know why! LEBUs don’t work,
but if they did, we would be able to explain why!

6.7. Escoamentos turbulentos completamente desenvolvidos


A análise de escoamentos turbulentos anteriormente exposta é nesta secção
aplicada ao estudo de escoamentos interiores: escoam entos completamente
desenvolvidos em tubos lisos e rugosos —■sub-Sec. 6.7.1. — e em condutas de
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 317

secção não circular — sub-Sec. 6.7.2.; toda esta informação é então aplicada à
análise de escoamentos em redes de condutas — sub-Sec. 6.7.3.

6.7.1. Escoamentosemtubos
Para escoam entos lam inares com pletamente desenvolvidos em tubos
obtivemos, na sub-Sec. 4.1.2., a seguinte relação de equilíbrio entre tensão de
corte e gradiente de pressão expressa por (4.4.a):
r dp
T~ ~ 2 dx'
substituição de r em função do gradiente de velocidade T = - p d U / d r permitiu,
por integração, determinar o perfil de velocidades; com base nestes elementos
foi possível caracterizar completamente o escoamento.
Em regime turbulento a condição de equilíbrio (4.4.a) continua a verificar-
se, donde concluímos que o perfil de tensões de corte é ainda linear, mas agora
com este r entendido como a tensão de corte total, soma das contribuições
laminar e turbulenta, como expresso por (6.28). Prosseguimento da análise do
campo por uma via sem elhante à seguida em regime laminar obrigaria a
relacionar a tensão de Reynolds - p u v com o gradiente de velocidades médias
através de um modelo do tipo viscosidade turbilhonar ou comprimento de
mistura, o que requereria conhecimento empírico sobre a evolução de ou de
£m com r. Não sendo então possível resolver o problema sem lançar mão de
dados experimentais, a solução mais directa, numa óptica de engenharia em que
a informação mais relevante é a relativa à variação do coeficiente de fricção X
com o número de Reynolds R e - U ^ D / v , será recorrer a resultados de ensaios
em que ambos os parâmetros tenham sido medidos [147].
A primeira lei em pírica de X vs. Re, obtida por Blasius em 1911, é da
forma
A = 0,3164 Re"l/4 (6.58)
e concorda com resultados experimentais até /te * 1 0 5. Atendendo à equação
(2.32) de definição de A, substituição da fórmula de Blasius (6.58) em (4.4.a),
conduz a
dp
oc um
7 /4 .
ed ’
dx
em escoamento laminar era A = 64/R e — eq. (4.6) — e dp/dx « Umed — eq.
(4.5). Concluímos que, em regime turbulento, a grande mistura de origem não
viscosa produz, para os mesmos caudal, tubo e fluido, valores mais elevados do
coeficiente de fricção e da perda de carga e uma menor dependência no
número de Reynolds do que em regime laminar.
316 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

N ikuradse estendeu a análise de B lasius a R eynoíds'$ m ais elev ad o s (até


3,2 x1o6) ten d o e m p irica m en te d e s c rito os p erfis de v e lo c id a d e obtidos
ex p erinientalm ente em escoam entos turbu len to s co m p letam en te desenvolvidos
em tubos circulares lisos para diferentes núm eros de R eynolds, e representados
na Fig. 6.39 [147], por um a lei p o tência do tipo (6.50), em qu e as escalas de
velocidade e de com prim ento equivalentes a Ut e Õ são ag o ra Umax - U ( y = ^ R )
eR:

— J i T
UJ ■

F i g . 6 .3 9 Perfis de velocidade de escoam entos com pletam ente desenvolvidos


em tubos para diferentes R eynoldsrs: t / / t / inax vs. y/R .

N a Fig. 6.40 [147] representam -se esses m esm os perfis de velocidade, mas
nas coordenadas (U/Umzx) n vs. y / R . Os v alo res ap re sen tad o s d o expoente n
foram ajustados de m odo a produzirem um a ev olu ção lin e ar d o s perfis nestas
e sc a la s e v e rific a -se serem esses v a lo re s c re sc e n te s c o m o Reynolds,
correspondendo a perfis cada vez com m enores déficits.

R e m 4 , 0 x IO3 2.3x1o-1 1 .1 x 1 0 * 1 .1 x 1 0 * 2 . 0 x 1 0 '’ 3.2x10*

y/R
F ig . 6 .4 0 Perfis de velocidade de escoam entos com pletam ente desenvolvidos
em tubos para diferentes R eynolds1s: (U/UmiX)n vs. y/R.

É de notar que as rectas apresentadas na figura são as rectas de melhor


ajustam ento à porção linear dos perfis e não a recta correspondente à lei tipo
potência supra: esta seria um a recta passando sem pre pelos pontos (0,0) e (1,1).
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 319

O desvio da recta de melhor ajustamento em relação aos pontos experimentais


na região central do tubo, tipicamente na gama 0 ,8 < y //? < l, é devido ao facto,
já referido na sub-Sec. 6.5.3., de uma lei tipo potência não produzir um
gradiente transversal de velocidades nulo em y/R = 1.
A relação entre os parâmetros integrais Ô*/R, 6/R e H e o expoente n é
ainda dada por (6.51); para a razão entre velocidades média e máxima obtém-se

* 0 ,8 para n = 7. (6.59)
(tt + 1) (2n + l) ’

Nota: As eqs. (6.58) e (6.59) foram as relações de escoamento completamente


desenvolvido em tubos circulares lisos a que recorremos na sub-Sec.
6.6.1. para primeiro quantificarmos o desenvolvimento de uma camada
limite turbulenta em gradiente de pressão nulo.
Verifica-se, em escoamentos turbulentos completamente desenvolvidos em
tubos, que um perfil de velocidades semi-logarítmico do tipo (6.40) produz um
bom ajustamento a resultados experimentais ao longo de todo o raio.
Esta boa concordância justifica-se não porque os argumentos que levaram
ao estabelecimento da lei da parede sejam aplicáveis para valores de y / R > 0,15
mas porque, devido à interpenetração, na região central do tubo, de massas
turbilhonares oriundas de diferentes posições azimutais, como representado na
Fig. 6.41, a intensidade de turbulência e o gradiente da tensão de Reynolds são
maiores que em escoamentos de camada limite, donde se segue que o perfil de

F ig. 6.41 Interpenetração de massas turbilhonares na região central de um tubo.

velocidades será mais uniforme e a intensidade da componente de esteira


menor; em camada limite, como vimos, a interpenetração processava-se entre
corpos de fluido rotacional e potencial, dando origem a um efeito que
designámos por intermitência.
Admitindo então uma descrição empírica simples do tipo (6.40) para o
perfil de velocidades ao longo de todo o raio do tubo obtém-se, para expressão
da velocidade média na secção

^ed
v 2K
320 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Atendendo às eqs. (6.36) e (2.32) de definição de uT e d e A, respectivamente, a


relação anterior fornece para lei de variação de X com Re

- ^ = 21og(/teV I)-0,8 (6.60)

onde os valores das constantes numéricas foram ligeiramente ajustados, em


relação aos obtidos analiticamente, de modo a optimizar a concordância com
resultados experimentais até R e - 3 ,4 x 1 o 6. A expressão (6.60) é conhecida por
lei de Prandtl para tubos lisos. A lei equivalente para escoamento entre placas
paralelas apresenta uma constante aditiva de - 0 (41 em vez de - 0 ,8 .
No caso de tubos rugosos, uma análise idêntica à acabada de descrever para
tubos lisos fornece, com base na eq. (6.41), as seguintes relações válidas em
regime completamente rugoso

^ =- I n - +£ - —
ur K £ 2K
e

- ^ - = l,14 -21og-|; (6.61)

esta última relação é conhecida como lei de Prandtl p a ra tubos rugosos.


As leis de fricção de Prandtl para tubos lisos e rugosos podem ser
condensadas na seguinte fórmula única proposta por Colebrook e W hite [147]

£_ 9,35 '
(6.62)
7 T U 4 - 2Iog D /? e V Í,

Esta expressão degenera em (6.60) quando e/D~> 0 (tubos lisos) e em


(6.61) quando R e—>°° (regime completamente rugoso, em que o escoamento é
independente de Re); (6.62) tem a virtude de rep resen tar também
adequadamente a transição entre os casos de superfície hidrodinamicamente lisa
e de regime completamente rugoso, na qual ê X - X (R e,e/D ).
Na Fig. 6.42 [147] comparam-se os resultados experimentais de X vs. Re
obtidos por Nikuradse com as descrições analíticas anteriormente apresentadas;
as curvas referenciadas por (1), (2) e (3) correspondem, respectivamente, a:
(1) Equação (4.6) de Hagen-Poiseuille para escoamento laminar — Reynolds
de transição * 2300.
(2) Fórmula de Blasius (6.58) para escoamento turbulento em tubos lisos —
válida até Re = 105.
(3) Lei de Prandtl (6.60) igualmente para escoamento turbulento em tubos lisos
— válida até Re** 3 ,4 x l0 6.
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 321

F ig . 6.42 Evoluções de A com R e para escoamentos completamente desenvolvidos em tubos.

Na Fig. 6.43 apresenta-se um diagrama, semelhante ao de Nikuradse, obtido


por Moody em 1944 a partir de ensaios em tubos comerciais [113].

A constante utilização que se faz do d iagram a de Moody em trabalho


corrente de engenharia recomenda que esta informação seja implementada
numericamente. Por uma questão de sistematização sumarizam-se abaixo as
relações que até agora deduzimos e que constituem a base do diagrama de
Moody:
64
- Regime laminar ( Re < 2300): X = — (4.6)
Re
322 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

- Regime turbulento (AV> 2300)


• Superfície hidrodinamicamente lisa: - ?L = 2log(K<'V Ã )-0 ,8 (6.60)

1
• Regime completamente rugoso: = 1.14-21og — (6.61)
71 BD
£ 9,35
• Colebrook e White: (6.62)
7 T U 4 - 2l0g o + / te v T
A fronteira do regime completamente rugoso pode ser descrita pela seguinte
relação empírica sugerida por Pigott:
Re— = 3500.
D
A única dificuldade na implementação numérica destas expressões respeita
aos casos de superfície hidrodinamicamente lisa e de regime de transição entre
hidrodinamicamente lisa e completamente rugoso, i.e. à gama 2300<
Re<3500/(£/D), visto as eqs. (6.60) e (6.62) serem implícitas, o que exige uma
solução iterativa.
A metodologia a adoptar consistirá então em [81]:
a) obter uma estimativa inicial de A ou admitindo regime completamente
rugoso, visto a correspondente eq. (6.61) ser explícita, ou usando equações
explícitas aproximadas, por exemplo a proposta por Swamee e Jain:

A = ---------- ------------- - válidanagam a \l” (6.63.a)


' ͣ/D 5,74
l n ------ 1-----no
U ,7 ReM
ou a proposta por Wood:
a = 0,094 (e/D) °’225 + 0,53 (s/D)
A = a + b/ Rec com b = 88(£/D)0,44 (6.63.b)
c = 1,62 (e/D )0,134
b) utilizar um método iterativo, p. ex. Newton-Raphson que tem convergência
quadrática e em que o valor de A determinado na iteração n + 1 está
relacionado com o valor obtido na iteração anterior por:

com

/ (A) = ^ - U 4 + 21°g e , 9,35 ' = 0


D Re^X,
e
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 323

Na Sec. E.4. apresenta-se a listagem de um programa com a implementação


numérica do diagrama de Moody.

6.7.2. Escoamentos em condutas não circulares

Escoamentos em condutas não circulares são extremamente mais complexos


que escoamentos em tubos. A Fig. 6.44 ilustra, para o escoamento ao longo de
duas placas perpendiculares, a forma que tomam as linhas de igual velocidade
num plano normal à direcção do escoamento principal. A deformação das iso-
velocidade na região do canto é devida ao efeito de escoamentos secundários,
com o sentido indicado, que tendem a drenar fluido com maior quantidade de
movimento para o canto ao longo da bissectriz e, por continuidade, a transportar
fluido com menor quantidade de movimento para fora do canto ao longo das
paredes. Estes escoamentos secundários, produzidos por gradientes de tensões
normais de Reynolds [129], são designados por escoamentos secundários de
Prandtl de 2a espécie [secondary flows o f PrandtVs second kind]; a intensidade
da vorticidade longitudinal assim gerada é, tipicamente, uma ordem de grandeza
inferior à induzida por efeitos quase-invíscidos em configurações com curvatura
lateral — escoamentos de I a espécie descritos na Sec. 4.6. Escoamentos em
condutas não circulares são assim inerentemente tri-dimensionais enquanto que
escoamentos em tubos, se completamente desenvolvidos, são uni-dimensionais.

Fig. 6.44 Escoamentos secundários ao longo da região de intersecção de duas paredes planas.

A dificuldade em tratar escoamentos em condutas não circulares leva a


tentar estabelecer uma analogia entre esta situação e a de escoamento em tubos,
de modo a perm itir utilizar, no primeiro caso, todo o grande volume de
informação já existente para o segundo. Um tipo de analogia aplicável mesmo
em situações comuns em hidráulica de escoamentos de superfície livre (em
canais abertos e em condutas não completamente ocupadas por líquido), pode
ser estabelecido argumentando que, sendo as fontes de quantidade de
324 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

movimento para o escoamento como um todo i) o gradiente longitudinal de


pressão actuando sobre a secção recta da veia fluida e ii) a tensão de corte
superficial exercida na porção de parede em contacto com o 'líquido', um
parâmetro quantificando a analogia deverá fazer intervir a relação entre secção
recta da veia 'líquida' e o perímetro 'molhado'. Tendo esta relação unidades de
comprimento, o factor de proporcionalidade é escolhido de modo a que, no
caso de um tubo circular completamente ocupado por 'líquido', o parâmetro
tome um valor igual ao diâmetro do tubo, o que implica que seja definido como
4 vezes a razão entre a secção de passagem e o perímetro 'molhado', i.e.
4S '
(6.64)
P '
D h é designado por diâmetro hidráulico [hidraulic diameter] e a razão
S / P = D h/ 4 conhecida por raio (í) hidráulico.
Esta analogia, embora 'tosca', conduz na prática a bons resultados: verifica-se
experim entalm ente que escoam entos turbulentos em condutas com igual
diâmetro hidráulico, como as representadas na Fig. 6.45, produzem , para a
mesma velocidade média, e portanto para o mesmo Re = UmedDH/ v , valores de
 muito próximos. Concluímos assim que todas as leis de fricção estabelecidas
para escoamentos turbulentos em tubos são aplicáveis, com boa aproximação, a
condutas não circulares, desde que, nas respectivas expressões, o diâmetro do
tubo D seja substituído pelo diâmetro hidráulico D H.

A
/ \
/ \

F ig . 6.45 Diferentes secções de condutas com o mesmo diâmetro hidráulico.

Para condutas de secção rectangular, usuais em sistemas de ventilação e de ar


condicionado, o diâmetro equivalente do tubo que, para o m esm o caudal,
produzisse a mesma perda de carga, pode ser obtido a partir da seguinte
fórmula empírica proposta por Huebscher [76]

m l (6.65)
(a + b)2 ’

onde a e b são as dimensões da secção recta da conduta. É de notar que, sendo


este paralelo entre escoam entos em condutas rectan gulares e circulares
estabelecido para o m esmo caudal, a velocidade m édia do escoam ento na
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 325

conduta rectangular será menor que a velocidade no tubo equivalente;


trabalhando em termos de diâmetro hidráulico, seriam iguais as velocidades
médias e diferentes os caudais.
Determinado o diâmetro equivalente por (6.65) e conhecido o caudal de
passagem, a perda de carga em linha pode então ser directamente obtida a partir
de diagramas equivalentes ao de Moody e constantes de diversos manuais de
engenharia — e.g. [79].

6.7.3. Escoamentos em redes de condutas

Concluamos esta secção dedicada a escoamentos interiores com a


apresentação das metodologias de análise de escoamentos em redes de condutas,
de que exemplo de extrema complexidade é o de uma rede de distribuição de
água ou de gás a uma cidade. Apreciaremos, sequencialmente, o
comportamento de condutas em série, em paralelo e ramificadas, a forma mais
conveniente de contabilizar perdas singulares, os diferentes termos em que o
problema de análise de uma rede pode ser formulado e alguns esquemas
numéricos adaptados à sua resolução. As noções base que se apresentam
pressupõem condições estacionárias; não é sequer abordado o problema de
análise dinâmica de redes.
O texto que se segue é muito inspirado nas ref*s [81] e [123].
Para analisar o escoamento em redes de condutas torna-se conveniente
exprimir a perda de carga através de uma relação tipo potência

-A p =KQ” (6.66)
em vez de se utilizar a equação de Darcy-Weisbach (2.31)

- AP = X ^ P U L - (6-67)

Aproximando X , numa gama restrita de Re, por uma expressão da forma

X ( 6 . 68 )

em que a & b são determinados a partir de pares de valores X , Q na gama


considerada, substituição de (6.68) em (6.67) conduz, por comparação com
(6.66), a:
8p a L
n - 2 —b\
K =^ '
Se, por exem plo, a gam a em consideração correspondesse à de
aplicabilidade da fórmula de Blasius, igualdade entre (6.58) e (6.68) produziria:
326 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

f 7tvD\ 1/4
ú = 0,31641-^— J ; 6 = 1/4.

Comecemos por considerar um sistema de condutas em série, como o


representado na Fig. 6.46. A perda de carga total no sistema pode ser
interpretada como a que ocorreria numa conduta (de diâmetro) equivalente do
mesmo comprimento e tal que:

A p^àP i ou
Se para os diferentes expoentes ni nas N condutas do sistema for
i
Zn,
s * const.= n médio = i5^ - = ne,

então será simplesmente:


Keq= l K r

Para um sistema de condutas em paralelo, como o ilustrado na Fig. 6.47, o


diferencial de pressões entre os extremos do conjunto é o mesmo para qualquer
conduta no sistema, pelo que será:

Fig. 6.47 Perda de carga num sistema de condutas em paralelo.

Ap,= const. = Ap e Q = ZQ,


de onde

Ap V/n«! ( A
AP
= 1
)
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 327

Se rij' s * const.= n resulta:


\V«
' i Y"’
=X
vT »)
;
A situação de condutas ramificadas, ilustrada na Fig. 6.48, é de tratamento
análogo ao de condutas em paralelo, acabado de apreciar.

3
í
F ig . 6.4 8 Condutas ramificadas.

Para análise do escoamento em redes de condutas revela-se conveniente


exprimir as perdas singulares ocorrendo em acidentes em termos de um
co m p rim ento eq u iv ale n te de conduta a adicionar ao comprimento real e
produzindo a mesma perda de carga em linha que a perda concentrada, i.e. um
comprimento adicional fictício tal que:

onde este k é agora o coeficiente de perda de carga concentrada definido na eq.


(2.33).
Apreciemos então os diferentes termos em que pode ser formulado um
problema de análise de uma rede de condutas com base no diagrama simples
ilustrado na Fig. 6.49, em que se supõe que todos os eventuais conjuntos de
tubagens em série, em paralelo e ramificadas e a ocorrência de quaisquer perdas
concentradas foram já trabalhados conforme acabado de expor.

C, [1] (D [2] C2

Numa qualquer rede envolvendo N condutas, J junções e L circuitos


independentes verifica-se a seguinte relação topológica:
N = ( J - l ) + L. (6.69)
328 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Comecemos por admitir a situação em que se desconhecem os caudais nas N


condutas do sistema — equações Q.
Em cada nó ou junção será, por conservação de massa:

( X ô J ta- ( l í ? , ) 0u,= C (6.70)

onde C > 0 é o consumo no nó, pelo que para as J junções se obtêm,


conhecidos todos os consumos ou fornecimentos, ( 7 - 1 ) equações lineares
independentes — a J ésima equação pode ser obtida por combinação linear das
anteriores.
Em tomo de cada circuito será nulo o cômputo global dos diferenciais de
pressão — perdas e ganhos; 'perda' se a conduta for percorrida no sentido do
escoamento, 'ganho' se for percorrida em sentido contrário:

l A P i=0 ou S ^ 2 , Hí= 0 (6.71)


í i
do que resultam L equações não lineares em Q para os L circuitos
independentes.
Sendo incógnitas os caudais nas N condutas, combinando (6.70) e (6.71)
criamos, por (6.69), um sistema de N equações a N incógnitas. Conhecidos os
caudais podem-se calcular as perdas de carga por (6.66), pelo que conhecida a
pressão em qualquer junção — geralmente no nó fonte, onde a pressão é
imposta — se pode determinar a pressão em qualquer ponto da rede.
Por analogia com o caso dos circuitos eléctricos, as condições de
conservação expressas por (6.70) e (6.71) são, por vezes, denominadas Ia e 2a
leis de Kirchhoff, respectivamente.
Em termos matriciais (6.70) escreve-se:
AQ = C

ou, por extenso e para a rede simples ilustrada na Fig. 6.49:

fi.
1 -1 0 -1 0 “ Q i ^ 2

0 0 0 1 1 X Ô3 = c 3

0 1 1 0 -1 _ <u _C 4 _

fis
A matriz A, de que foi retirada a linha correspondente a condições no nó
fonte [1], é designada forma reduzida da m atriz de incidência conduta-nó
[branch-nodal incidence matrix] e exprime o esquema de interligações na rede;
o seu estabelecimento para redes elaboradas recomenda a utilização de técnicas
de pesquisa da teoria dos grafos.
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 329

Nota-se que em cada uma das relações (6.70) apenas intervém as condutas
que confluem em cada nó, pelo que em redes de grande dimensão a maior parte
dos elementos da matriz A são nulos. A título de exemplo: se, numa rede com
500 condutas, a razão do número de condutas para o número de nós for de 2:1,
a percentagem de elementos não-nulos na matriz de incidência conduta-nó será
inferior a 1%. Segue-se que considerável eficiência computacional é conseguida
com algoritmos para resolução de sistemas de equações com matrizes esparsas.
Se uma vez resolvida a rede alguns caudais advierem negativos, tal apenas
significa que, nas correspondentes condutas, o escoamento real se processa em
sentido contrário ao inicialmente arbitrado.
Suponhamos agora que, nos diferentes pontos da rede, são incógnitas não os
caudais Q mas as pressões estáticas p — equações p.
Designemos por Qy o caudal na conduta que liga o nó i ao nó j. Por (6.66)
virá
( A \ / \
P~Pj
Q ,= (6.72)
l K* J l ** J
onde p i é a pressão no nó i.
A eq. (6.70) de conservação da massa no nó j toma, em termos de p , a
forma:
’ f y«ff" ( „ „ \ y "til
I
P i - P i
__ I P i - P i
= Ct (6.73)
K , Ay
_ \ v J
In _ V v )

de onde, para as 7 junções, resulta um sistema de (7 —1) equações não lineares


independentes em p.
Conhecida a pressão numa qualquer junção, e dados os 7 consumos ou
fornecimentos, o sistema (6.73) permite determinar as restantes (7 -1 ) pressões
p. A partir do conhecimento do campo de pressões, os caudais são calculados
por (6.72).
O sistema (6.73) envolve, em geral, menor número de equações que o
sistema (6.70) + (6.71): A 7 -( 7 - l) = £ , por (6.69); porém, todas as (7 -1 )
equações p são não lineares enquanto que, das N equações Q> apenas L eram não
lineares.
Suponhamos um a última situação em que é oferecida uma distribuição
inicial de caudais satisfazendo continuidade nas 7 junções, i.e. satisfazendo as
( 7 -1 ) equações (6.70) de conservação da massa, mas que, em geral, não
satisfará as L equações de energia (6.71) em tomo de cada circuito. Neste caso o
objectivo é determinar, para cada circuito, um caudal correctivo AQ que não
viola continuidade mas permite satisfazer conservação de energia — equações
AQ.
ÍÍO CA? 6 fSOOAMtNíO riiRBULfNTO

A distribuição iniciai de caudais é relativamente simples de estabelecer


admitindo caudal nulo numa das condutas de cada circuito; tal é equivalente a
eliminar' uma conduta em cada circuito, pelo que os circuitos se não fecham e o
sistema de condutas resulta ramificado, o que permite o seu cálculo de uma
forma directa
Seja então Q0 a estimativa inicial de caudal na conduta i integrada no
circuito l e AQ{ a respectiva correcção do caudal. As equações de energia
tb.71) escrevem-se assim:

S * u ( í? o „ + J f t) " U= 0 (6.74)

em que o somatório em / se estende a todas as condutas que formam o circuito


/.
Para os L circuitos, (6.74) constitui um sistema de L equações não lineares às
L incógnitas AQ. Calculados os zl0's, os caudais exactos são determinados
adicionando à estimativa inicial os caudais correctivos; conhecidos os caudais
calculam-se as perdas de carga.
A título de exemplo apreciemos três possíveis métodos de resolução dos
sistemas de equações que descrevem o escoamento em redes de condutas: o
método de linearização, o de Newton-Raphson e o de Hardy-Cross.
O método de linearização, ao contrário dos outros dois, 'não requer
inicialização' — justificaremos, mais à frente, este não requisito de inicialização,
entre plicas; tem uraa convergência rápida mas exige maior capacidade de
memória que qualquer dos outros. A sua aplicação restringe-se, praticamente, à
resolução das equações Q, não se revelando recomendável para resolver nem as
equações p nem as equações A Q .
O método de Newton-Raphson pode ser utilizado para resolver qualquer dos
três sistemas de equações Q , p ou AQ. Requer, porém, uma inicialização
razoavelmente exacta para convergir.
O método de Hardy-Cross (equivalente a um Newton-Raphson aplicado a
uma equação de cada vez) é o mais antigo, desenvolvido num a era pré-
computador. Particularmente indicado para resolver as equações AQ, apresenta
problemas de convergência: ou convergência muito lenta ou mesmo não-
convergência; capacidades de memória são ligeiramente inferiores às requeridas
por um Newton-Raphson, questão que hoje em dia tem pouco significado.
Como exemplo apliquemos então i) o método de linearização à resolução
das equações Q, primeiramente considerando conhecidos todos os caudais
exteriores (consumos ou fornecimentos) e depois adm itindo a inclusão de
bombas e reservatórios na rede, ii) o método de Newton-Raphson à resolução
das equações p e iii) o método de Hardy-Cross à resolução das equações AQ.
SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIOOS 331

Comecemos pelo método de linearização.


As ( 7 -1 ) equações independentes de conservação da massa em cada junção
— eqs. (6.70) — são já lineares. Para linearizar as L equações de energia (6,71)
em cada circuito, a perda de carga em cada conduta do circuito é escrita na
forma:

onde Q0. é a estimativa inicial de caudal na conduta i.


'Inicialização é evitada' admitindo, para a primeira iteração, i.e.
todos os e 0/ s = 1 — nota-se que, com esta técnica, inicialização não é
exactamente evitada: escrever K ■= K t é, em si, já uma forma de inicialização.
As ( 7 - 1 ) equações de conservação da massa e as L equações de energia
linearizadas
1 ^ 2 ;= 0
constituem um sistema de N equações lineares em Qr
Para convergência monotónica, i.e. a fim de evitar oscilações da solução,
depois das duas primeiras iterações pode-se, como é técnica usual, tomar
sistematicamente

n - ^ ”- |f +
2
Analisada está a resolução do sistema de equações Q no caso em que todos
os caudais exteriores são dados do problema. Quando estiverem presentes
bombas e/ou reservatórios, os caudais por eles fornecidos irão depender dos
caudais e pressões registados na rede, não sendo, por conseguinte, conhecidos à
partida.
Com todos os caudais exteriores conhecidos, uma das equações da
continuidade era redundante, podendo ser obtida por combinação linear das
restantes ( 7 - 1 ) equações independentes.
Se uma só bomba ou reservatório estiver ligado ao sistema, essa 7 ésima
equação torna-se independente e permite calcular a incógnita adicional: caudal
na conduta de ligação da bomba ou reservatório.
Se mais de uma bomba ou reservatório estiverem presentes teremos de
lançar mão de equações adicionais para fechar o sistema. Tal pode ser
conseguido através de 'pseudo-condutas' com caudal nulo unindo os
reservatórios ou bombas e que criam 'pseudo-circuitos'. É de notar que num
pseudo-circuito o cômputo dos diferenciais de pressão não é nulo mas sim
função das cotas ou pressões nos reservatórios e do ganho de pressão produzido
pela bomba A p m = r}P/Q , onde P é a potência e rj o rendimento da bomba.
332 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO
i

Q
Curva característíca
de uma bomba

F ig . 6 .5 0 Rede de condutas com inclusão de bombas e reservatórios.

Para o pseudo-circuito ilustrado na Fig. 6.50 o balanço de energia escreve-


se:
P t2 ~ Á Ps ~ A p A + à p 3 + A p 2 + A pt - A p m = p Tl

e em geral, dado que - A p - KQ":


Z K lQ ; ‘ + A p m = A p T
o que fornece a equação suplementar necessária para fechar o sistema.
Uma forma possível para a relação A p m(Q) na gam a de funcionam ento da
bomba, ilustrada no esquema auxiliar da Fig. 6.50, é:
à p m =ccQp .
Dado que n * 2 e, tipicamente, * - 1 / 2 , convergência do m étodo iterativo é
seriamentc afectada, podendo mesmo não se verificar.
Alternativamente pode-se aproxim ar A p m por uma evolução quadrática
A p m = aQ i +bQ+c
e efectuar a mudança de variável:
b 2 b2
(r = Q + — , de onde A pm = aG +d com d — c -------.
2a 4a
A equação de energia assume assim a forma

XK ^ ^ + a G ^ A p i - d

em que os dois termos do primeiro membro têm agora evoluções semelhantes.


Km termos do método de Newton-Raphson, a solução da equação f ( x ) ~ 0
é obtida iterativamente a partir de

O mesmo método, aplicado a um sistema de equações, produz


SEC. 6.7. ESCOAMENTOS COMPLETAMENTE DESENVOLVIDOS 333

em que os vectores x e / correspondem à variável x e à f u n ç ã o /e o Jacobiano


D corresponde à derivada f'( x ) . Em vez de se calcular a matriz inversa D“\ é
prática determinar o vector z = D~l f , solução do sistema linear D z ~ f \ a
forma iterativa escreve-se assim: O método obtém portanto a
solução de um sistema não-linear resolvendo iterativamente um sistema de
equações lineares. Dado que o Jacobiano é uma matriz simétrica, maior
eficiência computacional pode ser conseguida utilizando um algoritmo para
resolução de um sistema de equações lineares com matriz simétrica.
Para o sistema de ( 7 - 1 ) equações p — i.e. omitindo a equação na junção
em que p é conhecido — é:

<?/i <?/i dfi_


<?Pi dp2 dpj
D=
àfj dfj dfj
dpt dp2 dpj

com f j dado por (6.70):


■ f V -/ r / >
I
Pi-Pi _ z í ^
\ K v- J í t Kay )
lo L v .
Finalmente, o m étodo de H ardy-C ross é uma adaptação do método de
Newton-Raphson no qual, em cada iteração, as equações vão sendo resolvidas
uma a uma em vez de todo o sistema em conjunto.
Assim, para o circuito / em que a equação de energia toma a forma (6.74):

/,(4G,)=zAru(eu +4a)'u=o
i
o algoritmo iterativo traduz-se por:

/.
à Q '. , = * Q .
d fJ d A Q '
É usual, no método de Hardy-Cross, aplicar só uma correcção iterativa a
cada equação antes de prosseguir para a equação seguinte; depois de aplicar
uma primeira correcção a todas as equações, o processo é repetido até se atingir
convergência. É ainda usual ajustar os caudais estimados em cada conduta
imediatamente após a determinação de cada AQ.
Assim sendo a equação anterior reduz-se a

dffdAQ
334 GAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Tam bém
apenas. = I A r <a | e , f ' ' 1

pelo que

dj
dAQ
e finalm cnte

x * ,e, l a p ' 1

6.8. Camadas de corte livres turbulentas


T a l com o fizem o s em re g im e la m in a r na S ec . 4 .7 . d e s e n v o lv a m o s a g o ra , em
regim e turbulento, apenas o estudo d e u m ja c to a x i-s im é tn c o d e s c a rre g a n d o em
atm osfera cm repouso. N o fim d a s e cção s e rã o s u m a r iz a d o s re s u lta d o s e
comentadas outras situações de cam adas de c o rte liv re s [2 8 ].
T a l com o em reg im e la m in a r in v e s tig u e m o s a e x is tê n c ia d e c o n d iç õ e s de
sem elhança, agora entendidas no s entido de a u to -p re s e rv a ç ã o , c m q u e

a p c n a s .c o m q = ( 4 . 3 3 ) , (4 .3 4 )
Ut {x) S(x)
C onstância da quantid ad e de m o v im e n to

7 = 2/rpJT í / V d r ^ / r p M 1] ^ F*i]di] ( 4 . 3 2 ) . (4 .3 7 )

conduz a

M =Ueô =const ( 4 .3 8 )

S eg uindo a m esm a fo rm u la ç ã o q u e e m la m in a r, in tr o d u z a m o s u m a função


de corrente adim cnsional

n * .r) ( 4 .3 6 )
A n)*

. , „ \à V
que. atendendo a q u e U- - , está re la c io n a d a c o m F( r?) por
r rh
F r
n
fim term os das no v a s v a riá v e is a e q u a ç ã o d a q u a n tid a d e d e m o v im e n to
escrevia *sc
SEC 6 J CAMADAS DE CORTE LIVRES TURBULENTAS 335

,2
pv; ( 4 .3 9 )
di
£xn re g im e la m in a r c m

êu v Kc t U ( f \

p e lo q u e a e q u a ç io a n te rio r c o n d u z ia a

í í Ií - ísJMí H - (4 .4 0 )

e p ara s e m e lh a n ç a

ATd S
* c o n s t.= C . (4 .4 1 )
V dx
P a ra fa c ilid a d e d e re p re s e n ta ç ã o tín h a m o s , na S ec. 4 .7 ., fe ito C « l , o que
fix a v a o c n té n o d e d e f in iç io d e S. S o lu ç à o d a c q . ( 4 .4 0 ) c o m C « l p ro d u z ia

(4 4 2 )
i'< n è ^ 1) *
h m re g im e tu rtH ile n to é:

rH.! - —
t ~p -------p irv * -p ir r
ÒT

- p l'l r f ) . d ig a m o s , c m c o n d iç õ e s d e s e m e lh a n ça ,

p e lo q u e p o d e m o s re e s c re v e r ( 4 . 3 9 ) c o m o

dS
dx rn- Á l rn])
P ara s e m e lh a n ç a d e v e rá ser

dS
= c o n st- B

ou

6 = i!r« jr
c o m r m e d id o e m re la ç à o à o n g e m v irtu a l d o ja c to — ô ( x * 0 ) a 0 — e, por
Í4 3 8 )

Aí I
---- K —
Bx x
336 C A P .6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Tal como em regime laminar é, em turbulento, 5 «c x e Uc <*=l / x , embora as


taxas de evolução sejam naturalmente diferentes.
Foi possível estabelecer as leis potência para taxa de crescim ento do jacto e
de evolução da velocidade na linha central sem introduzir qualquer modelo de
turbulência; este toma-se no entanto necessário para relacionar f ( r j ) com g(rj)
e definir a forma do perfil de velocidades.
Admitindo um modelo simples mas grosseiro de viscosidade turbulenta, tal
que
- dU
r = -p « v = /tt— ,
e notando que experim entalm ente se verifica ser m uito aproxim adam ente
constante em r, bastará então em (4.40) substituir v por vt :
/ r
f
— + / 't i + 1 = 0

Para semelhança deverá ser


MB
----- = const.= C ;
vt
como M, B , C são constantes, será v( constante para todo o cam po.
Semelhantemente a (4.42) resulta agora:

As constantes B e C são determ inadas a partir de resultados experimentais.


Definindo <5 com o a meia espessura do jacto , dados obtidos p o r Reichardt
conduzem a £ = 0,0848 e C = 3,31, pelo que
S = Bx = 0,0848* (6.75)

v, = ® í/c <5= 0 ,0 2 5 6 l/c<5. (6.76)

Com este valor empírico de C a expressão para o perfil de velocidades vem


jy
= (l + 0,414772) _2 (6.77)
t/.
que, substituída em (4.37), conduz, por (4.38), a

M = 0,629 ' f J j p

(6.78)
Bx x
SEC. 6.8. CAMADAS DE CORTE LIVRES TURBULENTAS 33 7

ou, em termos das condições iniciais, admitindo um perfil de velocidades


uniforme Us = const. e um diâmetro da secção de saída d de tal modo que

produz:

(6.79)

Quanto ao caudal volumétrico é:

Q = 2% f U rdr = 0,404 x ^ J / p x e função de J.

Praticamente desde o início deste extenso capítulo dedicado a escoamentos


turbulentos temos vindo a argumentar que a 'mistura' (difusão) de natureza
turbulenta é várias ordens de grandeza superior à mistura de nível molecular,
sem nunca o termos quantificado. Façamo-lo agora, estabelecendo a ordem de
grandeza relativa (a razão) entre as viscosidades turbulenta e molecular no caso
de um jacto axi-sim étrico de ar emergindo de um bocal com um diâmetro de
saída de 1" (25,4 mm) a uma velocidade de 40 m/s.
Conjugando (6.76), (6.79) e (6.75) obtemos neste caso

~ l , 4 x l 0 “2 m 2/s.
Sendo ( var) ® 1,46 x 10 "5 m 2/s resulta assim

vt . *>4xl0~2 3
v 1,4 6 x l0 ~ 5
uma diferença de 3 ordens de grandeza.
Semelhantemente à Fig. 6.18 da Sec. 6.5. apresentam-se na Fig. 6.51 [165]
as evoluções dos diferentes termos figurando na eq. (6.29) de transporte de k
para dois casos típicos de camadas de corte livres de geometria cartesiana: um
jacto plano e a esteira de um cilindro circular.
Em am bos os casos se verifica a inexistência de qualquer região do
escoamento em que os transportes convectivo e difusivo sejam desprezáveis
com parativamente à produção e à dissipação locais, i.e. a inexistência de
qualquer região em condições de equilíbrio local equivalente à camada da
parede num escoam ento da camada limite. Num escoamento de jacto plano,
produção e dissipação dominam, mas são apenas cerca do dobro da convecção e
da difusão; no caso da esteira, todos os termos são muito sensivelmente da
338 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

a) Jacto plano b) Esteira de cilindro circular

F ig . 6.51 Balanço dos termos da equação de transporte de energia cinética turbulenta


em camadas de corte livres.

mesma magnitude, chegando a convecção a registar, n a reg ião central, valores


de cerca do dobro da produção, da dissipação e d a difusão. D estas evoluções se
conclui que, em escoamentos de cam adas de corte livres, o efeito de história ou
de m emória é extrem am ente significativo, o que co lo ca gran d es exigências no
modelo de turbulência a adoptar, m o rm en te no c a so d e esco am en to s tipo
esteira.
S em elh an tem ente ao ap re sen ta d o na Sec. 4 .7 . em re g im e laminar,
sum arizam -se no quadro abaixo [28] as leis tipo p o tên cia o b tid as, em regime
turbulento, para as evoluções da esp essu ra e da v elo cid a d e (ou déficit de
velocidade) na linha central nos diversos casos de cam ad as d e corte livres,
equivalentes às relações (6.75) e (6.78) acabadas de deduzir.

Velocidade na
Escoamento Espessura .. ,
linha central

Jacto plano X -'12


Jacto axi-simétrico x'

Esteira plana x <0 * - /2

Esteira axi-simétrica A 1/3 * - 2/3

Camada de mistura X1
SEC. 6.9. TÉCNICAS DE MEDIDA COM SONDAS DE PRESSÃO 339

6.9. Técnicas de medida com sondas de pressão


Nesta última secção dedicada a escoamentos de camadas de corte delgadas
bi-dimensionais em regim e turbulento são sequencialmente apresentadas, na
sub-Sec. 6.9.1., a técnica de medida de perfis de velocidade média com sondas
de pressão, colocando especial ênfase nas principais fontes de erro de medida e
nas correcções e introduzir na leitura de um tubo de total, e, na sub-Sec. 6.9.2.,
diferentes técnicas de medida de tensão de corte superficial numa camada limite
turbulenta.

6 .9 .1 . M edição de perfis de velocidade m édia

Tomemos, como exemplo, a medição de um perfil de velocidades médias


num escoamento de camada limite turbulenta ao longo de uma placa plana, em
que a velocidade, em cada ponto, é obtida do valor local medido para a pressão
dinâmica com o um diferencial total - estática: ^ p U 2 = p T - p . Dado que,
dentro de um a aproximação de camada de corte delgada, é p ( y ) » const., será
suficiente medir, com um tubo de total, o perfil de pressões totais em relação ao
valor da pressão estática registado por uma tomada de estática na parede.
Para efeitos práticos pode-se admitir que o valor da pressão estática medido
através de um orifício, tipicam ente, de menos de 1 mm de diâmetro, como
indicado na Fig. 6.52.a), é isento de erros desde que haja o cuidado de garantir
que o furo não apresente rebarbas e que tenha arestas vivas / não-boleadas.
Devido à deflexão das linhas de corrente na vizinhança imediata do orifício,
ilustrada n a Fig. 6.52.b), a pressão m edida será sempre maior que a pressão
verdadeira [53], e este desvio aumentará naturalmente com o diâmetro do furo,
mas para os pequenos diâm etros de furos normalmente utilizados o erro é
perfeitamente desprezável.

x \\\

manómetro

a) Solução construtiva b) Hipotética configuração do escoamento

F ig . 6 .5 2 Tomada de estática numa parede.

O valor de pressão total medido com um simples tubo de total pode, porém,
estar im buído de erros devido i) à não uniform idade do escoamento de
aproximação, ii) ao cam po turbulento e iii) à proximidade de uma parede
sólida; eventuais desalinham entos do eixo da sonda com a direcção do
340 CAP, 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

escoamento não introduzem qualquer erro mensurável num a gam a. tipicamente,


de ± !0*\ aumentando a gama de insensibilidade Jireeeional com o aumento da
razão de diâmetros Í-6J. Apreciemos então as três possíveis fontes de
erro enunciadas.
Devido à não uniformidade do escoamento de aproxim ação, o escoamento
em torno da sonda não é simétrico e a deform ação introduzida é tal que a
pressão total medida é superior à pressão total ocorrendo á mesma cota em
escoamento não-perturbado pela presença da sonda: tal significa que a linha de
corrente de estagnação no nariz da sonda é oriunda de uma cota a que a
velocidade é maior do que à cota a que está localizado o eixo da sonda, como
ilustrado na Fig. 6.53.

F ig . 6 .5 3 Hipotética deformação da um escoamento


de corte em tomo de um tubo de total.

O correspondente erro pode ser expresso quer em term os de um acréscimo


de velocidade quer em termos de um deslocam ento aparente do eixo da sonda
no sentido das velocidades crescentes, sendo geralm ente favorecida esta última
maneira de apresentar a correcção. O deslocam ento aparen te 5 pode ser
imaginado como dependendo do gradiente de velocidades, da curvatura do
perfil de velocidades, do diâmetro exterior da sonda, da razão de diâmetros
dmt/d axl, do número de Reynolds da sonda, etc., mas dentro da precisão dos
cuidados ensaios efectuados para contabilizar estas d ife re n te s eventuais
influências concluiu-se que, para os tubos h ip o d é rm ico s de aço inox
nonnalm ente utilizados, com uma razão de diâm etros d inl/d ext=* 0,6 e para
Reynolds's da sonda não exageradam ente baixos, Ô d ep e n d ia apenas do
diâmetro exterior do tubo: <5 = 0,15dcxt, segundo M a c M illa n [106].
A correcção do erro introduzido pelo gradiente de v elo cid ad es reduz-se
assim simplesmente a increm entar as diferentes cotas y, a que o eixo do tubo
tenha sido geom etricam ente posicionado, de um v alo r co n stan te e igual a
0 ,\5 d eu no sentido das velocidades crescentes.
Quanto ao efeito do campo turbulento? No ponto de estagnação no nariz da
sonda ocorre uma conversão integrai de energia cinética em energia de pressão,
devendo, num cam po turbulento, esta energia cinética ser en ten d id a como a
soma das energias cinéticas média e turbulenta, pelo que o valor de p T medido
advirá:
SEC. 6.9. TÉCNICAS DE MEDIDA COM SONDAS DE PRESSÃO 341

= P + ^ p [ u l + u2 + v1 + w2y

supondo o eixo da sonda alinhado com o eixo dos x's do referencial. Claro que
esta relação só se aplicará a escalas do campo turbulento resolúveis pela sonda;
para escalas muito maiores a sonda responderá de uma forma quasi-permanente
como se em escoamento lentamente variável em módulo e em direcção, e a
resposta em direcção é insignificante, como referimos.
Integrando a equação (6.26.b) de transporte da quantidade de movimento
segundo y , já dentro de uma aproximação de camada de corte delgada, obtém-
se p e = p + pv5 , onde p t é a pressão no escoamento exterior; notando ainda,
com base nos resultados experim entais reportados na Fig. 6.14, que é
sensivelmente v7 * , a anterior relação pode ser reescrita como:

í’Tnrf= P e + ^ p ( ^ 2 + « 2)-

Ora a pressão total que verdadeiramente se pretenderia medir para deduzir o


valor local de U seria P Tverd= p e apenas, pelo que o efeito do campo
turbulento é no sentido de produzir um P j med> p Tverd* O valor da velocidade
média obtido de um tubo de total em escoamento turbulento vem assim
afectado de um erro por excesso, tanto maior quanto mais elevadas forem as
intensidades de turbulência locais, e, para um escoamento de camada limite,
estas verificam-se próximo da parede, como também ilustrado na Fig. 6.14.
Finalmente quanto à influência da proximidade da parede, é geralmente
aceite que a distorção imposta pela presença de uma sonda de secção circular no
escoamento perto da parede actua no sentido de produzir uma PTmtd< /,TVird>
pelo que o valor medido de velocidade enferma agora de um erro por defeito.
A correcção proposta por M acMillan [106] está apresentada na Fig. 6.54 em
termos de um acréscimo de velocidade a incluir na velocidade obtida da pressão
dinâmica directamente registada pela sonda.

F ig . 6 .5 4 Correcção da proximidade da parede


para um tubo de total circular.
342 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Desta figura se concJui que o erro máximo, registado com a sonda encostada à
parede y = dm /2> é cerca de -1,5% e que o erro se esbate para distâncias
superiores a dois diâmetros: ^ > 2 ^ , .
Em medições de camada limite dá-se então a feliz coincidência de, junto à
parede, actuarem duas fontes de erro com efeitos em sentidos opostos: o efeito
da própria vizinhança imediata da parede, produzindo PTtned < /?Tvert, e o do
campo turbulento, produzindo P imvi> P t ^ ' pelo 9ue ° err0 conjunto será
sempre menor que qualquer dos erros parciais. Por esta razão é muito usual, em
ensaios de camada limite, ignorar o efeito do campo turbulento e o efeito de
proximidade da parede e corrigir apenas o erro resultante do gradiente
transversal de velocidade primeiramente apreciado.
Situações bem mais exigentes são, por exemplo, as de medição de perfis de
velocidade média em camadas de corte livres, de que caso extremo é o de um
escoamento de esteira, em que intensidades de turbulência são bastante mais
elevadas que numa camada limite e onde não existe o efeito aliviador da
presença de uma parede sólida.

6.9.2. Medição da tensão de corte superficial

Apreciemos agora possíveis técnicas de medida da tensão de corte superficial


Tw numa camada limite turbulenta bi-dimensional:
• Uma estratégia imediatista consistiria em recorrer à própria equação de
definição de Tw

válida tanto um regime laminar como turbulento, e determinar o gradiente


de velocidades na parede, o que pareceria praticável dada até a feliz
existência de uma sub-camada linear: em princípio seria apenas necessário
medir, nesta região, um único par de valores U, y que, unido com o ponto
í/(_y = 0) = 0, forneceria o pretendido (dU /dy)w. Qual a dimensão da sonda
necessária para medir esse único par de valores, admitindo que o faríamos
com um tubo de pressão total? Suponhamos uma situação típica de ensaios
em túnel aerodinâmico de uma camada limite turbulenta em gradiente de
pressão nulo, com Ut =30 m/s, Cf =0,003 e v = l , 5 x l 0 -5 m 2/s; neste caso
será, de acordo com (6.36):

e a espessura da sub-camada linear seria de


SEC. 6.9. TÉCNICAS DE MEDIDA COM SONDAS DE PRESSÃO 343

„ v l , 5 x l 0 '5
= 5 — = 5 ------------ ~ 0,06 mm.
u7 1,2

A sonda (tubo de total) requerida para medir este único par extremo de
valores {/, y necessitaria assim de ter um diâmetro da ordem do décimo do
milímetro... e simplesmente acontece que não existem tubos hipodérmicos
de diâmetro tão diminuto; acresce que, para determinarmos o gradiente de
velocidades na parede com um mínimo de rigor, necessitaríamos não apenas
de medir um par de valores (/, y mas, pelo menos, de três ou quatro pares de
valores nesta zona, a que aplicaríamos uma regressão linear, o que implicaria
uma sonda de ainda menores dimensões! a técnica revela-se assim
impraticável.
Uma outra possibilidade, válida tanto em regime laminar como em regime
turbulento, consiste em recorrer à equação integral de von-Kármán na forma
(4.12) : m edindo, pelo menos, dois perfis de velocidade, teríamos
possibilidade de contabilizar Ue>B> H, dUc/dx e dOjdx, e assim determinar
Cf através de um balanço dos termos figurando no primeiro membro da eq.
(4.12) . Acontece que, para além de muito trabalhosa — para determinarmos
um único valor de Cf precisaríamos de medir, pelo menos, 60 pares de
valores U vs. y: pelo menos 2 perfis de velocidade com, pelo menos, 30
pontos por perfil — , esta técnica é extremamente imprecisa, porquanto todos
os erros de medida e de análise, tanto na determinação integral de ô* e de d
como na avaliação de dÔ/dx e de dUt /d x t se vêm a reflectir no valor final
de Cf . A metodologia é assim apenas utilizada como comprovação, com
valores de r w ou de Cf determinados por outros processos, do rigor das
técnicas de medida e de análise utilizadas na campanha experimental.
Atendendo à eq. (6.36) de definição de uT, reescrevamos a lei logarítmica
(6.40) como:

(6.80)

Trata-se, tal como para a lei da parede (6.40), de uma evolução também
linear do perfil de velocidades, mas agora nas coordenadas semi-logarítmicas
U/Ue vs. ln (t/ey /v ), do que resulta uma fam ília de rectas com uma
inclinação e uma ordenada na origem controladas pelo valor de Cf, i.e. uma
família de rectas parametrizadas a Cf como representado na Fig. 6.55, em
vez de uma única recta universal nas coordenadas U/uT vs. ln(ur>/ v).
344 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Medidos alguns pares de valores U vs. y na região da camada da parede do


perfil de velocidades na estação x em que se pretende determinar Cf e
trabalhando esses valores na forma (J/U€ vs. Uey / v t esta técnica permite,
como assinalado na figura, calcular o valor local de Cf através de uma
regressão linear aos pontos experimentais de uma recta da família K, C
utilizada (*).
Esta técnica de medida de Cf, muito mais expedita e mais rigorosa do que a
anteriormente apresentada com base na equação integral de von-Kármán, foi
inicialmente proposta por Clauser [30], o que leva a designar a figura de
suporte como diagrama de Clauser [Clauser chart].

C { = 0,004

Cf *0,00335
0,003

0,002

0,001

Fig. 6.55 Diagrama de Clauser para K = 0,41 e C = 5,2.

• A técnica de determinação de Cf a partir da equação integral de von-


Kármán requer, como referimos, a medição e o processam ento de, pelo
menos, uns 60 pares de valores e a técnica do diagrama de Clauser requer a
medida e o processamento de, pelo menos, uns 6 pontos na região da
camada da parede; mais expedito seria medirmos o pretendido valor de Cf a
partir de um único valor experimental e tal é possível utilizando, entre outras

Alerta-se o leitor para que os códigos de regressão linear implementados em muitas das
máquinas de calcular hoje em dia disponíveis (ano de 1997) não são adaptáveis a esta técnica
de medida de Cf . Esses códigos são concebidos para determinação da recta de melhor
ajustamento a um conjunto de pontos, isto é, à determinação da inclinação e da ordenada na
origem da recta que produza o melhor ajustamento a esse conjunto de pontos. No caso vertente
não temos dois graus de liberdade disponíveis — inclinação e ordenada na origem — mas
apenas um: o valor de Cf ; o que procuramos não é a melhor recta de todas as possíveis rectas
de regressão, mas a melhor recta de entre a família de rectas com parâmetros K e C pré-
estabelecidos.
SEC. 6.9. TÉCNICAS DE MEDIDA COM SONDAS DE PRESSÃO 345

técnicas — tubo de Stanton, lâmina de barbear, barreira na sub-camada,


elemento flutuante — , o chamado tubo de Preston [Preston tube]: um
simples tubo de pressão total encostado à parede e completamente imerso na
camada interior [135].
A pressão dinâmica medida com este tubo de total — diferença entre a
pressão registada pelo tubo de total e a pressão estática local obtida através
de uma tomada de estática vizinha — deverá ser função das características do
escoamento junto à parede, controladas pelo valor local de rw, do diâmetro
do tubo d e das propriedades do fluido p e fi:

q„=f{'C*,d,p,Li)-
Técnicas de análise dim ensional fornecem imediatamente a seguinte
dependência funcional entre variáveis adimensionais, à semelhança da
relação (6.38) obtida aquando do tratamento da camada da parede:

ou Í M 2) (*)
qw V V
É porém de notar que, contrariamente ao que foi possível evoluir na
definição da forma do perfil de velocidades na região da camada da parede,
partindo de (6.38) e chegando à lei logarítmica (6.40), o valor de qw agora
medido pelo tubo de Preston depende de todo o campo do escoamento em
torno da sonda, pois o escoamento original foi perturbado pela introdução
da sonda, o que faz com que a dependência f 2 só possa ser determinada
experimentalmente.
Requer-se assim uma prévia calibração do tubo de Preston numa situação de
escoamento em que rw possa ser medido com rigor por um processo
diferente. Dado que o tubo de Preston deverá estar inteiramente contido na
camada interior da camada limite e que o escoamento nesta região em
condições de equilíbrio local é controlado apenas pela presença imediata da
parede, sendo independente de condições fronteiras globais, uma
configuração controlada de escoam ento óbvia para proceder a esta
calibração do tubo de Preston será a de escoamento completamente
desenvolvido num tubo, em que Tw pode ser directamente obtido a partir do
conhecimento do gradiente de pressão constante dp/dx, como indicado
através da relação de balanço (2.30.a):
D dp
~A~dx'

É usual absorver o factor numérico 4 nesta relação adimensional, como que em homenagem ao
Prof. Preston — o autor da técnica — que obteve esta dependência por uma via diferente da aqui
apresentada e segundo a qual tinha todo o significado incluir o factor 4.
346 CAP. 6 ESCOAMENTO TURBULENTO

Para se proceder à calibração haverá que medir os valores qw registados por


tubos de Preston de diferentes diâmetros d imersos na camada interior de
escoamentos completamente desenvolvidos em tubos circulares lisos de
diferentes diâmetros operando a diferentes velocidades (e eventualmente
com diferentes fluidos) — operando, mais propriamente, a diferentes
números de Reynolds. Uma das mais fidedignas calibrações de tubos de
Preston é devida a V.C. Patel [126], que aproximou os seus resultados
experimentais pelas seguintes relações analíticas entre as variáveis
adimensionais

.r*= lo g í|^ r ) e J ^ l o g í j ^
l,4pv J {4pv
nas três diferentes gamas em que subdividiu o domínio de y* que explorou:
[1] >'*<1,5 : >■*= ^**+0,037
[2] l,5<y*<3,5 :y* = 0,8287-0,1381jr*+0.1437jr*2-O.OOóx*3
[3] 3,5<y*<5,3 :x*=y*+21og(l,95y*+4,10)
Estas curvas de calibração estão apresentadas na Fig. 6.56.

2 4 5 5 6 8
X’
Fig. 6.56 Calibração de Patel nas coordenadas y * vs. x * .

Para determinação de r w em trabalho de camada limite é, talvez, mais


cómodo utilizar a calibração de Patel nas coordenadas Tw/q w vs. **, como
representado na Fig. 6.57. Na transição de uma para outra das evoluções
analíticas aproximadas acima referidas dever-se-á recorrer a uma curva de
interpolação, como indicado na figura. Medido <?w e conhecidos d, p e V , o
pretendido valor de r w obtém-se directamente da curva de calibração.
Vem a propósito referir a dificuldade em determinar, com rigor, as
gspessuras 6* e 0 por integração de pares de valores experimentais
l/e vs. y/S , dados os muito elevados gradientes de velocidade na parede e os
SEC. 6.9. TÉCNICAS DE MEDIDA COM SONDAS DE PRESSÃO 347

F ig. 6.57 Calibração de Patel nas coordenadas tw/<?wvs. x * .


erros de medida de que estão imbuídos pontos próximos da parede. Maior
precisão pode ser conseguida com a seguinte metodologia, após determinado
Cf através do diagrama de Clauser ou medido com um tubo de Preston:
i) determinação das contribuições para Õ* e para 6 da região 0 < y+< 50
através das seguintes relações propostas por Coles [32] e obtidas por
ajustamento a dados experimentais:

[ U+dy* = 540,6 e U* dy* =6546


Jo Jo
ii) determinação da contribuição da camada da parede por integração analítica
da lei logarítmica (6.40)
iii) determinação da contribuição da camada exterior por integração numérica
de uma curva suave criteriosamente adaptada aos pontos experimentais.
CAPITULO
7
CAMADA LIMITE
TRI-DIMENSIONAL
A concluir esta sequência de quatro capítulos dedicados ao estudo de
escoamentos de fluido real a propriedades constantes, façam os uma breve
extensão para tri-dimensional dos resultados anteriormente obtidos em situações
bi-dimensionais. A presentarem os sequencialm ente os diferentes graus de
simplificação de que são passíveis as equações exactas de Navier-Stokes — Sec.
7.1. — e os possíveis modos de descrição do campo médio — Sec. 7.2. —■e do
campo turbulento — Sec. 7.3. Especial atenção será dedicada à apreciação das
muito diversas configurações que pode assum ir um escoam ento de camada
limite tri-dimensional na vizinhança da separação e do recolamento — Sec. 7.4.;
várias destas configurações são documentadas e com entadas na Sec. 7.5. em
duas situações de escoamentos nom inalm ente bi-dim ensionais. O capítulo
termina com uma apreciação de escoamentos de camada lim ite atmosférica: suas
características e aplicações a aproveitamentos de energia eólica, à determinação
dos esforços exercidos sobre edifícios e estruturas e em problemas de dispersão
de poluentes — Sec. 7.6.
O texto das Secs. 7.1. - 3. é muito inspirado na reP [117].

7.1. Aproximações e equações de


camada (imite tri-dimensional
Por uma questão de simplicidade de apresentação das equações que regem
um campo de camada lim ite tri-dim ensional a propriedades constantes,
admitiremos sempre que a superfície ao longo da qual se desenvolve a camada
limite é planificável (i.e. que um dos raios de curvatura principal é infinito) e
utilizaremos coordenadas cartesianas; suporemos ainda escoamento permanente.
Estas simplificações não são restritivas; apenas se lim itam a tom ar mais fácil a
apresentação e a leitura das equações do campo cinemático, sem que os diversos
termos das equações venham afectados das componentes do tensor da métrica
— símbolos de Christoffel.
SEC. 7.1. APROXIMAÇÕES E EQUAÇÕES DE CL 3D 349

As equações do campo cinemático são assim Navier-Stokes e continuidade


na forma (4.1):

DU-, m^ i + u dUi = _ \ d p + J.
Dt /d t J dxj p 3xi p dxj

W =0
dx(

f dUt dUj
com Ty = p. - p u ,U j
dxj dXj
ou, por extenso:

DU TJdU dU dU 1 dp \ ( d z xx d zxy d t xA
Dt dx dy dz p dx p y dx ay az )

1 dp 1 A f dU —\
~ +- -p u
p dx p dx ^ dx puw )

DV _ _ i i p + i í A * , A . A
( 7 .1 )
Dt p dy p l , dx dy *
DW _ A , 1A | A
Dt P dz p \ K àX dy dz
dU | dV | dW _
dx dy dz

Uma primeira simplificação destas equações exactas é possível nas chamadas


regiões limites [boundary regions] correspondendo ou à região de intersecção
de uma asa com uma fuselagem, ou à região do canto numa conduta não
circular, etc. Recorrendo ao mesmo tipo de argumentos que utilizámos na sub-
Sec. 4.2.1. para obter as equações aproximadas de camada limite laminar bi-
dimensional concluímos que, nestas regiões limites, as diferentes escalas de
comprimento do campo têm ordens de grandeza:

0\x\=-L e 0[y] = 0 [z] = 5

pelo que gradientes longitudinais de Zy serão desprezáveis em face de outros


termos em presença, i.e.
d
dx ^xx* ^yx' ^zx **^
350 CAP 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

J o q u e r e s u lta

Dr dx dy dz p d.x p \ dy dz J

1 dp 1 d ( du —] d ( du —
=— - f+ -
pàx p * * * - H + * r * " pmh'

DV 1 dp 1 } ( dV - i ) d ( àV —V
+- (7.2)
Dl P dy p ^ dy
- pv r ú ^ ~ pvw ).

DW
Dt
1 dp | 1
p dz p
^^__pw
—)J+_^__p
dW d ( dW w

du | dV t
ãx dy dz

O grau de simplificação seguinte corresponde às denominadas folhas limites


[boundary sheets] de que é exemplo o caso apresentado na Fig. 7.1 do
escoamento de camada limite tri-dimensional ao longo da asa em flecha e da
fuselagem de uma aeronave, com excepção da região de encastramento asa-
fuselagem e da região do bordo marginal da asa, onde as aproximações deverão
ser do tipo regiões limites.

Fig. 7.1 Regiões e folhas limites num conjunto asa / fuselagem.

Neste caso é, para ordem de grandeza das escalas de comprimento,


0 [jt] = 0 [ z] = L e 0[;y] = <5

pelo que gradientes transversais de serão também desprezáveis, i.e.

e a equação segundo z se simplifica do mesmo modo que a equação segundo x,


a qual, aparte a contribuição convectiva W dU /dz, assume a mesma forma que
em camada limite bi-dimensional. A equação segundo y degenera, também, na
forma bi-dimensional:
SEC. 7.1. APROXIMAÇÕES E EQUAÇÕES DE CL 3D 351

dU ,ãU ..,dU 1 dp 1 ã ( dU —
U-— + V— + W—- = — +
dx dy dz p dx p d y \ ày

dp . O.u
- f = 0 ou = p -----
dy r
(7.3)
7 dW x dW xudW 1 dp 1 d f dW —-
U-— + V— + W -— ■ — f +~ - r - U - r - ~PVW
dx dy dz p dz p à y { dy
dU dV dW n

O extremo de simplificação corresponde ao caso da asa em flecha de corda


constante e envergadura infinita ilustrado na Fig. 7.2.

F ig . 7 .2 A sa em flech a de co rd a constante e envergadura infinita.

Nesta situação, embora seja W * 0 é — (...) = 0, do que resulta:


dz
TtdU xrdU 1 dp d2U duv

r dW ,,d W d2W oW
(7.4)
í' i r + v i r v^ _T ^

dU dV „

Para o escoamento exterior, sendo nula a componente de vorticidade segundo y,


é também We independente de x.
Notemos que a primeira e a terceira equações (transporte de U e
continuidade) assumem, nesta situação particular, exactamente a mesma forma
que em bi-dimensional — eq. (6.27). Segue-se que, no caso de
T = jl dU/ dy - puv ser independente do perfil W — o que é verificado
exactamente em regime laminar e de um modo aproximado em escoamentos
turbulentos dominados por gradientes de pressão —, estas duas equações
podem, tal como em bi-dimensional, ser resolvidas ao longo de x para
352 CA* ■ C4MAQA UMlJE fflEtyMENSlONAL

determ inar i s í u >Ii\ iV s J c í í l , com U c \> ctK ihctulos. W é calculado a panir


da secunda equação, que e linear
Este p r in c ip io de in d e p e n d ê n c ia in d e p en d ê n cia " das equações
longitudinal e transversal - p o dera sei ainda u sa d o em escoamentos
turbulentos dominados por tensões de R eynolds te.e placa plana) desde que o
conteúdo em pírico do modelo de turbulência tenha em conta a dependência de
jo em W'(v).
O grau de sim plificação a seguir redundaria no c a so bi dim ensional puro.
De resto, esta última situação m -dim cnsum al referida e já tào estilu a d a que, por
piada, e por vezes designada de situação a 2 1 d im e n sõ e s’

7.2 Descrição do campo médio


Em geral, perfis de velocidade dc cam adas lim ites tri dim ensionais são não-
colineares. variando a velocidade não só em m ódulo co m o tam bém em direcção
ao longo da espessura da cam ada lim ite Este tacto, ilustrad o na Fig. 7.3, deve-
se, fundamentalmente, à m aior deflexão das linhas de co rren te nas regiões de
m enor quantidade de movimento, de modo a garantir equ ilíb rio entre gradiente
radial de pressão e força centrífuga por unidade de volum e efeito invíscido
de Prandtl de Ia espécie, referido na Sec. 4.6. O m aior d esvio em relação à
direcção do escoam ento exterior ocorre assim norm al m ente ’na parede*.

a ) L in h a s d e c o r r e n te e x te r io r e s e b ) P e r f il d e v e l o c id a d e s
lin h a s d e c o r r e n t e lim ite s

F i g . 7 3 T o r ç ã o d o p e rf il d e v e lo c id a d e s d e u m a c a m a d a li m it e tr i- d im e n s io n a l.

Suponham os que, a um a distância y da parede, o v ecto r velocidade faz um


ân g u lo p com o eixo dos x's> alin h ad o co m o e s c o a m e n to exterior; será
tan/J(y) = W (y )/U (y ). Para uma linha de corrente a u m a distância infinitesimal
£ da superfície, um a denom inada lin h a d e c o r r e n te lim ite [limiting streamline],
será, devido à condição de não-escorregam ento

onde n é a ordem da prim eira derivada não-nula de W ou de U .


SEC. 7.2. DESCRIÇÃO DO CAMPO MÉDIO 353

Para n - 1 vem, aproximadamente

W(£) (dW /dy)" T»,


tan p (e ) — - = lan/3w (7.5)
U(£) (M Íà yl u

que é o ângulo do vector í w( r w ,0, tW(j com o eixo dos x's.


Devido a esta relação as linhas de corrente limites são muitas vezes
identificadas com as linhas de tensão de corte superficial, identificação esta que
fundamenta técnicas de visualização do escoamento na superfície. Esta
identificação perde porém precisão perto da separação ou do recolamento,
regiões onde os termos de ordem e 2 deixam de ser desprezáveis.
Possíveis representações do perfil de velocidades de uma camada limite tri­
dimensional estão ilustradas na Fig. 7.4.

a) C o m p o n e n te s o rto g o n a is b ) C o m p o n e n te s o rto g o n ais


q u a is q u e r V , W c o m x e 0 t co m p lan ares

c) Velocidade resultante |( 7 d ) R ep re sen taçã o p o la r


e ângulo de torção /? p a ra x e Út co m p lan ares

F i g . 7 . 4 P o s s ív e is r e p re s e n ta ç õ e s d o p e rfil d e v elo cid ad e s


d e u m a c a m a d a lim ite tri-d im e n sio n al.

Em a) apresenta-se a evolução das componentes ortogonais V e W num


qualquer referencial cartesiano com origem na parede e o eixo dos y 's normal à
superfície. Mais significativa seria a escolha de um referencial com o eixo dos
x'$ complanar com o vector velocidade do escoamento exterior, como em b), em
que V e W equivaleriam directamente às componentes longitudinal [streamwise]
e transversal [crossw ise] de U . Outra possibilidade consiste em representar a
354 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

evolução, segundo y , do módulo do vector velocidade |i/| e do âng u lo de


torção p [cross-flow angle). Um último tipo de representação, correspondente
a uma vista em planta da evolução de U y é um diagram a polar de
VF(y) vs. U(y) com x e Út complanares, como em d).
Nota-se que o perfil transversal representado em b) exibe forçosamente um
ponto de inflexão, pelo que, lembrando as considerações tecidas na Sec. 5.1.
sobre a natureza inerentemente instável de perfis com esta característica, é de
prever que o processo de transição numa camada limite tri-dimensional possa
também ser despoletado por uma onda de perturbação progressiva propagando-
se a quase 90° com o escoamento exterior: é a chamada in stab ilid ad e de
corrente cruzada [cross-flow instability].
Ajuizemos, com referência à Fig. 7.5, da forma que podem assumir os perfis
transversais de velocidade no caso simples de uma asa em flecha de corda
constante e envergadura infinita. Desconhecendo nós, à partida, a forma das
linhas de corrente do escoamento exterior, comecemos por adm itir que, em
planta, podem permanecer rectilíneas e paralelas a U„ , como representado em
a), onde está também assinalada, a tracejado, a linha dos pontos de pressão
mínima (pico de sucção) no extradorso da asa; logo concluímos que tal forma
não é viável, pois não é compatível com a existência de nenhuma força capaz de
equilibrar a força resultante da componente transversal do gradiente de pressão.

b) c)
Fig. 7.5 Asa em flecha de corda constante e envergadura infinita: linhas de corrente
do escoamento exterior e perfis de velocidade transversal.

As linhas de corrente do escoamento exterior deverão assim exibir a dupla


curvatura ilustrada em b), associada à alteração de sentido do vector gradiente
de pressão antes e depois do pico de sucção, de modo a constituir-se sempre o
necessário equilíbrio entre força centrífuga e força resultante da componente
radial do gradiente de pressão. Os perfis transversais de velocidade na região do
bordo de ataque, antes do pico de sucção — e.g. estação 1 — , deverão ser da
forma assinalada na Fig. 7.5.c); os perfis transversais depois da linha de pico de
sucção e em direcção ao bordo de fuga — e.g. estação 2 — virão, porém, a
SEC. 7.2. DESCRIÇÃO DO CAMPO MÉDIO 355

exibir uma forma em S [cross-over], como também indicado na Fig. 7.5.c),


devido ao mais rápido ajustamento, ao gradiente de pressão local, das linhas de
corrente mais próximas da parede, zona onde os efeitos de inércia são menores.
O transporte, por estes escoamentos transversais, de fluido de baixa quantidade
de movimento no interior da camada limite em direcção aos bordos marginais
de asas em flecha tem um efeito determinante no desenvolvimento da perda
nestas asas, como veremos no Cap. 10.
Merece especial atenção a escolha de um critério de definição da espessura
de camadas limites tri-dimensionais. Em bi-dimensional definíamos espessura 8
como a cota y a que a velocidade no interior da camada limite atingia uns tantos
k por cento da velocidade no escoamento exterior: <5= {y)u=ku , com e.g.
= 0,995. Generalizações possíveis para tri-dimensional são:
A. definir espessura 8 como a cota y a que a componente longitudinal de
velocidade U atinge k% da velocidade do escoam ento exterior:
5 = M i/=*|t/e|
B. definir espessura como a cota a que o módulo do vector velocidade |t/|
atinge k% de |t/c |: S = W |y |=t|út |
C. definir espessura, em termos de déficit de velocidade, como a cota a
que o d éfic it de velocidade é (1—k)% da velocidade exterior:

Consequências da adopção destes três critérios de definição — que, em bi-


dimensional, conduziriam a iguais valores para Ô — estão assinaladas na Fig.
7.6 para três diferentes perfis de camada limite tri-dimensional: i) um
escoamento sim ples representado por um diagrama polar sensivelmente
triangular, ii) um escoamento exibindo um excesso de velocidade no interior da
camada limite comparativamente à velocidade exterior e iii) um perfil espiral
característico de escoamentos em referenciais não de inércia em que actuam
forças de Coriolis, de que exemplo típico é o da camada de Ekman em
escoamentos atmosféricos, a apresentar na Sec. 7.6.

Fig. 7.6 Consequências de diferentes critérios de definição da espessura


de uma camada limite tri-dimensional.

No primeiro caso todos os três critérios conduzem a valores próximos para


d; no segundo caso só o valor determinado através do critério C tem significado
356 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI DIMENSIONAL

físico; no terceiro caso também só o critério C produz um valor único e


significativo. For tal razão, o critério C é o escolhido para definir ô numa
situação de camada limite tri-dimensional.
A finalizar esta secção, e à semelhança do praticado na sub-Sec. 6.5.3.,
procuremos descrições analiticamente simples da forma dos perfis torsos de
velocidade média numa camada limite tri-dimensional.
Uma metodologia muito utilizada consiste em descrever separadamente a
forma dos perfis longitudinal e transversal. A dm itam os então eixos
aerodinâmicos, i.e. i e Úe complanares, e comecemos por uma descrição do
perfil longitudinal.
A descrição mais elementar consiste numa família uni-paramétrica do tipo

onde n é um parâmetro caracterizador da forma do perfil.


O caso mais simples corresponde a um perfil tipo potência, como o
representado pela eq. (6.50). Admitindo n variável, i.e. permitindo a formado
perfil evoluir ao longo do escoamento, e trabalhando em termos do factor de
forma H a ser determinado pelo método de cálculo, vem, atendendo à relação
(6.51) de H(n):

(7.6)

Uma descrição mais flexível será conseguida com uma família bi-
paramétrica

Exemplo típico é o dos perfis de Coles (6.48) — lei logarítmica + função de


esteira — em que os dois parâmetros que identificam cada membro da família
são u J U t e Res = UeÔ /v, admitindo Ô '~ S e U (Ô )~ U C. D ado que em camada
limite turbulenta tri-dimensional a componente longitudinal de velocidade não
satisfaz, em geral, a lei da parede de escoamento bi-dimensional, o parâmetro ut
não estará relacionado nem com o vector í w nem com a sua componente
longitudinal r Wí; ut deve agora ser simplesmente encarado com o um parâmetro
definidor da forma do perfil, sem se pretender atribuir-lhe qualquer significado
físico especial.
Quanto ao perfil transversal, o primeiro modelo foi sugerido por Prandtl na
forma

(7.7)
SEC. 7.2. DESCRIÇÃO DO CAMPO MÉDIO 357

em que g(;y/<5) é uma função universal tal que g(0) = l e g(l) = 0 , estando os
perfis longitudinal e transversal interligados; esta é, de resto, uma característica
comum a muitas das propostas existentes para descrição dos perfis transversais.
(ângulo de torção das linhas de corrente limites em relação à direcção de
Ue) é o parâmetro a determinar pelo método de cálculo.
A forma mais simples e muito corrente para g(y/Ô) é a sugerida por Mager:
/ \ / \2

(7.8)

Tal forma simples não consegue, porém, representar perfis em S, o que


exige maior flexibilidade, de onde um maior número de parâmetros definidores
da forma do perfil. Neste sentido, são oferecidas formas polinomiais do tipo:

W_ 1 V + bi
l+a—
V. k J
Atendendo a que diagramas polares de muitos perfis experimentais de
camada limite tri-dimensional apresentam uma forma sensivelmente triangular,
como estilizado na Fig. 7.7, Johnston escreve

w _ u U ' u '
— tan/3 para — <
v. V* l ^ e j vén
(7.9)
w _ u (
fi U \ para
Vt ~ l V J 0 / vén
em que a razão U/Ue no vértice do triângulo é dada por

f u ' tanjS^ 1

M j ; ( 1+ ta n a I

Estes perfis de Johnston fundamentam-se assim na existência de duas zonas


de escoamento colinear: uma junto à parede e outra na região exterior, esta
última em termos de déficit dè velocidade; verifica-se experimentalmente o
vértice do triângulo ocorrer para valores U/ux ** 14.
Modelos para o perfil completo £/(?), em vez de separadamente para os
perfis de U e de W, baseiam-se numa metodologia de adição vectorial.
358 CAP ? CAMADA LIMITE TRI DIMENSIONAL

C o le s [3 1 ]. p o r e x e m p lo , g e n e ra liz a p ara trè s d im e n s õ e s o p erfil (6.48),


estab e lec id o em bi-ditn en sio n al. som am lo veccorialm em e as co n trib u içõ e s da lei
d a p ared e e da com ponente de esteira, i.e.

com u t defin id o p o r Ttv —p u t iit .


Id ê n tic a m e to d o lo g ia é p o r v e z e s e m p re g u e p a ra a re g iã o ex terio r da
cam ada lim ite usando um a lei vectorial de d éficit de v elo cid ad e.

7.3. Campo turbulento


R estringirem os estas co n sid eraçõ es ao ca so de fo lh as lim ite s e de modelos
sim ples tip o viscosidade tu rb u len ta e c o m p rim e n to de m is tu ra , m odelos estes
definidos em bi-dim ensional, respectivam en te. por
__ du
-p u v = p — eq. (6.30)
ày

„5 du
eq. (6 .31 )
dy
de onde

d U dU
- p u v = p í 2m eq. (6.32).
dy dy

E m escoam entos tri-dim ensionais de folhas lim ites v erificám o s que as únicas
com ponentes dos tensores das taxas de d efo rm aç ão e d a s ten sõ es de Reynolds
que figuravam nas equações do m ovim en to (7.3) eram d U / d y , d W Jd y e -p u v,
—p v w , donde p o r vezes se falar, neste caso, em 'v e d o r e s 1 ta x a de deformação e
tensão de R eynolds, respectivam ente (d U /d y , 0, d W fd y ) e {—p u v , 0, -p v w ).
Foi a estes 'vedores* entre plicas que nos referim o s no p o n to iv ) d a crítica aos
m odelos p ( e na Sec. 6.4.
A fim de se ter em conta a não-coincidência, co n statad a experimentalmente,
d a direcção dos vectores tensão de corte e gradiente de velo cid ad e — na camada
ex terior de um a cam ada lim ite tu rb u len ta tri-d im ension al ch e g am a verificar-se
experim entalm ente ângulos, entre estas duas direcções, d a o rd em de /0W — , um
m odelo de viscosidade turbulenta, p o r exem plo, deveria co n sid erar estritamente
com o um tensor de 2a ordem .
É porém usual adm itir, relevando esta não-coincidência de direcções, que:
SEC. 7.4. SEPARAÇÃO E RECOLAMENTO 3S9

- OU — OW
~ puv = p. — e - p vw = p —
' ày
ou, ainda mais simplesmente, que p t - ju, , isto é, que a viscosidade turbulenta é
isotrópica; nestas condições obtém-se para o comprimento de mistura

(7.11)

Resultados experimentais de East mostram no entanto que a componente de


p t normal à velocidade média local é cerca de 60% da componente na direcção
de U . Notemos ainda, a título de exemplo, que um modelo com p K isotrópico
não consegue prever a geração de escoamentos secundários de Prandtl de 2*
espécie.
Apesar de todas as objecções, em tri-dimensional ainda em maior número
que em bi-dim ensional, quanto à utilização dos modelos de viscosidade
turbulenta e de com primento de mistura, comparação das previsões a que
conduzem com resultados experim entais são surpreendentemente boas em
muitas circunstâncias. Tal facto é muito provavelmente devido a que os casos
teste são obtidos ou em situações próximas da auto-preservação, em que p t e
£m têm um comportamento quase universal, ou em escoamentos dominados por
gradientes de pressão (i.e. em que os efeitos dos gradientes de pressão
prevalecem sobre os dos gradientes de tensões de Reynolds) e em que erros no
cálculo das tensões turbulentas acarretam pequenas consequências.
Outros modelos de turbulência utilizados em tri-dimensional são também,
em geral, extrapolações dos correspondentes modelos estabelecidos para duas
dimensões, com o argumento explícito ou implícito (com a desculpa?) de que a
turbulência, sendo um fenómeno essencialmente tri-dimensional, não deverá ser
seriamente afectada pela tri-dimensionalidade do campo médio.

7.4. Separação e recolamento


Em bi-dimensional, o ponto de separação — ponto, na superfície, fronteira
entre os elementos adjacentes à parede que fluem no sentido do escoamento
principal e no sentido contrário a este — identifica-se com o ponto de tensão de
corte superficial nula, t w o u Cf = 0 , com o assinalado na Fig. 1.43, o que
permite definir separação de uma forma clara, sem ambiguidades.
Em tri-dimensional, separação está raramente associada ao anulamento do
vector t w ( t w , t w ); em particular, separação — entendida no sentido de
escoamento destacando-se da superfície do corpo — não produz, muitas das
vezes, qualquer configuração característica do escoamento junto à parede.
Seguindo Maskell [109] definamos ponto de separação como o ponto em
que um a lin h a de co rren te lim ite ab an d o n a a superfície ou, altemativamente,
360 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

como o ponto em que duas linhas de co rrente lim ites distin tas, um a oriunda
de montante e a outra de ju san te do ponto de separação , confluem , partindo
da superfície como uma linha de corrente de separação única.
Exploremos as circunstâncias em que uma linha de corrente limite pode
aumentar a sua distância à superfície [103]. Considerem os então um tubo de
corrente de secção rectangular cuja base é a porção de superfície delimitada por
duas linhas de tensão de corte superficial a uma distância £, variável, e com uma
altura h, também variável. Constância do caudal volumétrico através da secção
recta do tubo de corrente escreve-se:

(7.12)

Em bi-dimensional é = 0 e ^ = const., pelo que aum ento de h só pode


ocorrer com xm —>0; neste caso o conceito de linhas de corrente limites pode
ser perfeitamente dispensado e o ponto de separação definido simplesmente
como o ponto de tensão de corte superficial nula.
Em tri-dim ensional, por outro lado, a a ltu ra h pode aumentar
consideravelmente quando | tw| —»0 e/ou quando £ —» 0 , i.e. ou quando ambas
as componentes de í w se anularem e/ou quando as linhas de tensão de corte
superficial se aproximarem muito.
r w e r w anulam-se simultaneamente só em condições m uito particulares;
pontos em que r Wr = t = 0 são designados pontos críticos.
Em geral a componente de Tw ao longo de uma linha de separação é não-
nula e separação processa-se com i —¥ 0 . Para uma linha de separação orientada
segundo z, por exemplo, é r w = 0 e, por (7.5):

tan0„
x

produzindo a configuração de linhas de tensão de corte superficial ilustrada na


Fig. 7.8. Estas configurações sugerem a definição altern ativ a de linha de
separação ou de recoiam ento como a envolvente d as lin h as de tensão de corte
superficial.
E quanto à topologia das Unhas de tensão de corte superficial em pontos
críticos [85]?
Suponhamos um ponto crítico localizado em s = s0, com s medido ao longo
de uma linha de tensão de corte superficial e JoC ^ Z q)* E m s = sQ o ângulo
SEC . 7,4. SEPARAÇÃO E RECOLAMENTO 361

separação recolamento

F ig . 7 .8 Configuração de linhas de corrente limites na vizinhança de


uma linha de separação ou de recolamento.

entre twe o eixo dos x's é dado por:

lim —
s-»j0 T,
K , M " L '
Diferentes situações ocorrem consoante as derivadas de Tw através do ponto
crítico sejam contínuas (ponto de equilíbrio) ou descontínuas (ponto singular) e
lineares ou não-lineares. Analisemos o caso linear contínuo, caso geral em que
os restantes podem ser transformados.
A equação de primeira ordem
dz _ Tw;
& Tw,

pode ser substituída pelo seguinte sistema de duas equações paramétricas:

dx
T,„ =—;— Ax + — — Az
ds dx dz
dz
T„. = Ax + Az ,
ds dx ~dT
onde A x = x —x Qi A z = z - Z q e as derivadas parciais de tw e x. são
constantes.
A equação característica é:
dxa dxu
-A
dx dz
dx.. dx„
-X
dx dz
ou
A2 - A div rw+ J(rw) = 0
com valores próprios A, e X2.
362 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSJONAL

As diferentes configurações das linhas de tensão de corte superficial podem


agora ser descritas em termos do Jacobíano de t w

dT^ _ 3 3
w dx dz dz dx 12
do divergente de Tw
d tw d tw
divTw= - ~ + ~ £ - = stJ+Z2

e do discriminante da equação característica

A=(divrw)2- 4 J ( r w). ;
O domínio divrw,J(fw) é dividido em 3 regiões principais pelas rectas
divrw =0, j ( r w) = 0 e pela parábola A = 0. Três configurações principais ;-
ocorrem nestas regiões, como ilustrado na Fig. 7.9: i
I. j( r w)<0 ponto sela [saddle point] i
II. J(rw)>0, A>0 ponto nodal [/iode]
III. A < 0,divrw* 0 foco [focus] ou ponto espiral [spiral point]

i
i
i
■<

Fig. 7.9 Configurações de linhas de corrente limites em pontos críticos.


Ao longo das linhas limítrofes ocorrem as seguintes quatro configurações i
fronteira:
i) A = 0, div Tw * 0 nodo
ii) J( t„ )> 0, divrw=0 centro [center]
J(Tw)=0, divTw*0 linha de pontos singulares
iv) J(í« )= 0 ,divTw=0 linha de deslizamento
i
SEC. 7.5. EXEMPLOS DE CONFIGURAÇÕES DE UNHAS DE CORRENTE LIMITES 363

Estas q u a tro c o n fig u ra ç õ e s e s tã o rep re s e n ta d a s n a F ig . 7 .1 0 .

i) Nodo ») Centro

iii) Linha de pontos singulares iv) Linha de deslizamento


F ig. 7.10 Configurações fronteira de linhas de corrente limites.

Quando J ( t w ) = 0 existe uma linha de pontos singulares, em vez de um


ponto singular isolado. A situação bi-dimensional é um caso particular da
configuração fronteira iii) que ocorre quando tw s 0 ,
E d e n o ta r q u e a m e n o r a lte r a ç ã o n u m a das d e riv a d a s p a r c ia is d e Tw
tra n s fo rm a u m a c o n fig u r a ç ã o f r o n te ir a n u m a c o n fig u ra ç ã o p r in c ip a l, p e lo q u e
aquelas ra r a m e n te se v e r if ic a m n a p rá tic a .

7.5. Exemplos de configurações de linhas de corrente limites


Algumas das configurações de linhas de corrente limites referidas na secção
anterior estão ilustradas nas Figs. 7.12 de visualização da região de reseparação
[reseparation] do escoam ento nominalmente bi-dimensional num degrau
descendente delimitado por paredes laterais ajustáveis de modo a permitirem
variação da relação largura da secção de teste / altura do degrau [21].
Como esquematicamente representado na Fig. 7.11, a camada limite de
aproximação separa-se no topo do degrau de altura h, recola a uma distância de
cerca de 5 - 6 h e o escoamento de reversão, no interior da bolha de
recirculação, volta a separar aproximadamente a Ih do degrau — como no caso
do escoamento a m ontante de um edifício, logo considerado no Cap. 1.
Velocidades são extremamente baixas na vizinhança da reseparação, pelo que

F ig . 7 .1 1 Bolhas de recirculação no escoamento num degrau descendente.


364 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DJMENSIONAL

quaisquer pequenas perturbações induzem efeitos tri-dim ensionais bem


pronunciados nesta região. Visualização do escoam ento foi conseguida
aplicando, na superfície pintada de preto da secção de trabalho, um filme de
óleo com partículas de um pigmento branco em suspensão (dioxido de titânio);
as linhas de pigmento que se observam nas fotografias correspondem às
linhas de tensão de corte superficial, pelo que permitem visualizar a configu­
ração das linhas de corrente limites. .
A largura da secção de trabalho é de 15A, na Fig. 7.12.a), e de 7,5h nas '
Figs. 7.12.b) e c). Observa-se, em a), a ocorrência de dois pontos espirais
(vórtices) de separação na região central da secção de trabalho e, tanto em b)
como em c), de dois vórtices contra-rotativos nos cantos; as restantes porções
das linhas de reseparação são caracterizadas por uma confluência de linhas de
tensão de corte superficial, revelando, em a), a formação incipiente de dois
vórtices contra-rotativos nos cantos.

a) Largura 15 h : separação laminar

b)Largura 1 ,5 h: separação laminar c)Largura 7 ,5 A: separação turbulenta

Fig. 7.12 Região de reseparação a jusante de um degrau descendente


(escoamento de baixo para cima).

Conquanto fosse de prever que quaisquer escoam entos complicados


pudessem ocorrer nos cantos devido à interacção das cam adas limites sobre as
paredes laterais, o aparecimento, em a), dos dois vórtices contra-rotativos
centrais é inesperado e demonstra que, para grandes valores da relação largura
da secção / altura do degrau, a bolha de separação tem tendência a fraccionar-se
em diferentes células; para uma secção de trabalho de largura 30h foram
observadas três células. Este resultado co n stitu i um alerta para os
experimentalistas, que tendem a sim ular condições de escoam ento bi-
dimensional utilizando uma secção de trabalho com a m aior largura possível, de
modo a que influências das paredes laterais se não propaguem até ao plano
central de medida.
SEC. 7.5. EXEMPLOS DE CONFIGURAÇÕES DE UNHAS DE CORRENTE LIMITES 365

A configuração de escoamento reportada em a) foi obtida com uma camada


limite laminar na separação no topo do degrau; com uma camada limite
turbulenta na separação não foi observada qualquer tendência para a bolha de
recirculação se fragmentar em diferentes células, pelo que estas deverão ter sido
induzidas por vorticidade longitudinal gerada ao longo da transição na camada
de corte separada (tipo vórtices de Gõrtler ?).
Para uma largura da secção de trabalho de l,$ h foi também observado que,
com uma camada limite turbulenta na separação — caso c) — , os vórtices no
canto tinham sentido contrário aos obtidos com separação laminar — caso b):
esta alteração do sentido de rotação dos vórtices no canto ainda hoje permanece
por explicar.
Um último exemplo [21, 28] respeita a uma configuração idealizada de
intersecção asa-fuselagem, obtida encastrando uma asa de corda constante numa
placa te rm in al [end-plate]\ a montagem experimental está ilustrada na Fig.
7.13 de visualização do escoamento de superfície sobre a placa terminal. As
visualizações reportadas foram obtidas pela técnica do filme de óleo, com a asa
montada a um pequeno ângulo de ataque e para os casos de camada limite
laminar — caso a) — e de camada limite turbulenta na placa terminal — caso
b); neste último caso, transição foi forçada com um arame dimensionado pelo
critério de Gibbings e instalado perto do bordo de ataque da placa.
Características mais marcantes destes escoamentos são:
i) a formação de um vórtice em ferradura desenvolvendo-se ao longo da
região de encastramento asa / placa, à semelhança do vórtice na base de um
edifício reportado na Fig. 6.22; a extensão da zona separada é muito maior
no caso da camada limite de aproximação ser laminar, o que bem demonstra
a maior capacidade de uma cam ada lim ite turbulenta em resistir a um
gradiente de pressão adverso; um ponto sela ( f w = 0) ocorre na região
frontal da linha de corrente de separação, estando toda a restante
configuração associada a uma confluência de linhas de corrente limites; a
concentração de pigmento produzindo a faixa mais esbranquiçada e difusa
no troço frontal da linha de corrente de separação resulta dos baixos valores
locais de r w.
ii) a deflexão das linhas de corrente limites em direcção ao extradorso da asa é
muito mais acentuada no caso de camada lim ite laminar que no caso
turbulento e esta, por sua vez, deverá ser maior que no escoamento potencial
exterior; esta deflexão é produzida por um efeito invíscido de Prandtl de Ia
espécie induzido pelo gradiente transversal de pressão instalado na placa
terminal em resultado do campo de sucção no extradorso da asa; é esta
grande deflexão das linhas de corrente limites em direcção ao extradorso a
responsável pela linha de separação se aproximar do bordo de fuga da asa
em vez de se afastar, com o seria de prever atendendo ao sentido de
3 66 C AP ' CAMADA LIMITE TRl-DIMENSIONAL

circulação do vórtice em ferradura; o facto da linha de separação quase


tocar o bordo de fuga é indicativo de que o escoamento secundário levou o
filamento arrastado do vórtice em ferradura a destacar-se da zona do
encastramento para o seio do escoamento principal. T rata-se de uma
situação em tudo análoga à que. em cascatas de pás. dá origem ao vórtice de
passagem ilustrado na Fig. 4.35.
iii) na Fig. 7.13.a) observa-se, na zona de meia corda, uma fronteira nítida,
inclinada a cerca de 45°. entre a região de montante da placa, com grandes
deflexões das linhas de corrente limites, e a zona de jusante, estriada e em
que a deflexão das linhas de pigmento é muito menor, quase como no caso
turbulento da Fig. 7.13.b); esta nítida fronteira corresponde à linha de
transição camada limite laminar / turbulenta, conforme detectado através de
posterior exploração com um esteto scó pio dois dados da observação
merecem especial referência: a existência das grosseiras estrias, bem
definidas por um contraste claro / escuro, e o facto de estas serem, aqui e ali,
cruzadas por finas linhas de pigmento: i) as estrias grosseiras, de maior
escala, são provavelmente resultantes de in stab ilidades tipo vórtice
longitudinal, formadas à cota do ponto de inflexão no perfil transversal de
velocidades onde a direcção do escoamento será mais próxim a da do
escoamento exterior, embora possam ter também algum a contribuição de
filamentos de vórtices arrastados produzidos por aglomerações de pigmento,
ii) as finas linhas de pigmento que cruzam estas estrias deverão mais
corresponder às linhas de tensão de corte superficial, m ais deffectidas em
relação à direcção do escoamento exterior; o facto de ambas as linhas serem
visualizadas atesta a natureza intermitente do processo de transição; o filme
de óleo naturalmente só reflecte um efeito médio de longo prazo — até
estabilização, cada ensaio requereu um tempo de operação do túnel entre 3
e 5 minutos.
iv) uma grande concentração de pigmento é observada (fundamentalm ente) no I
caso laminar na vizinhança do bordo de fuga, o que reflecte baixos valores ■'*
de rw nessa zona; tal é devido a separações incipientes na região, resultantes J
do transporte, pelos escoamentos secundários, de massas de fluido de baixa f
quantidade de movimento, incapazes de resistirem aos gradientes adversos |
locais. |

|
’ ' Um simples tubo de pressão total ligado a um estetoscópio permite detectar transição numa &
camada de corte pelo seguinte processo simples e expedito: i) em regime turbulento, as 't
flutuações de pressão associadas às flutuações de velocidade, cobrindo uma vasta gama do 1
espectro, ouvem-se como um ruído fundamentalmente de baixa frequência, por efeito dos A
grandes turbilhões: ii) em regime laminar, não havendo qualquer flutuação de pressão, não se «j
ouve nenhum som; iii) na transição ouve-se um silvo agudo a uma frequência bem definida, j
induzido pela perturbação que primeiro pode ser amplificada ao Reynolds crítico. |
SEC. 7.5. EXEMPLOS DE CONFIGURAÇÕES DE UNHAS DE CORRENTE LIMITES 367

a) Escoamento de aproximação laminar

b) Escoamento de aproximação turbulento

Fig. 7.13 Escoamento na superfície de uma placa onde está


encastrado um perfil alar.

) uma estrutura em form a de leque, com grande ângulo de abertura e o


vértice localizado próximo do bordo de fuga, é observável nos dois casos;
tal configuração de linhas de corrente limites está associada à difusão dos
vórtices a rra sta d o s [trailing vórtices] induzidos pela asa sustentadora.
E a seguinte a física do processo:
a) na sub-Sec. 2.6.6. interpretámos a ocorrência de sustentação num perfil
alar em term os da circulação r do vector velocidade, a qual pode ser
m odelad a p o r um v ó r tic e lig a d o ao perfil [bound v o rte x ) ;
demonstrámos, na sub-Sec. 3.3.3., que um vórtice não pode terminar no
seio do fluido, na sub-Sec. 3.3.2. que a vorticidade é convectada pelo
escoam ento e já sobejam ente referim os que só podemos comunicar
vorticidade a corpos de fluido pela actuação de tensões de corte de nível
m olecular
368 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-OIMENSIONAL

b) segue-se que, num sistema sustentador finito, com o uma asa, o vórtice
ligado associado à sustentação não pode term inar nos bordos marginais,
uma vez terminado o corpo sólido que lhe serve de suporte, devendo
sim prolongar-se para algures de modo a constituir-se num anel
fechado; com base num modelo de fluido perfeito som os levados a
concluir que se deva prolongar para infinito a jusante, seguindo a
orientação das linhas de corrente, já que vorticidade é convectada pelo
fluido; em termos de fluido real com preendem os tam bém que se deva
organizar segundo a camada de corte que constitui a esteira, pois só
efeitos viscosos têm capacidade para com unicar vorticidade a elementos
de fluido; assim, de uma asa finita deve em anar um sistem a de vórtices
arrastados, de que alguns dos principais efeitos foram logo apresentados
em termos muito gerais no fim da secção introdutória 1.2,
c) no caso em apreço de um a asa encastrada num a parede sólida em
condições de fluido real: a circulação r = <^ U .ds — eq. (2.27) —
deverá cair a zero na parede po r e f e ití? da co n d ição de não-
escorregamento (í/w = o) pelo que, tal como no caso de uma asa finita,
da asa em estudo deverá em anar um sistem a de vórtices arrastados,
orientados segundo as linhas de corrente locais e mais concentrados na
vizinhança imediata da parede onde d U jd y é elevado, leia-se, no seio da
camada limite sobre a placa lateral, onde serão difundidos por acçao
viscosa e efeitos turbulentos.
Este exemplo com que termina a presente secção de fluido real ilustra bem
quão interessante e complicado é um escoamento de cam ada de corte e como
devem andar sempre a par as apreciações em term os de regim e laminar e
turbulento, de transição, a duas e a três dimensões, de escoam entos tipo vórtice,
de efeitos invíscidos de gradientes longitudinais e transversais de pressão, etc.,
etc., etc. Este é o desafio da aerodinâmica.

7.6. Camada limite atmosférica


A quecimento não uniform e do globo te rrestre o rig in a diferenciais de
pressão atmosférica do que resulta a circulação geral em altitude; junto ao solo
desenvolve-se uma ca m a d a lim ite a tm o sférica CLA [atm ospheric boundary
layer], turbulenta, inerentemente tri-dim ensional, com um a espessura variando
entre os 100 e os 1000 m dependendo da ru gosidade do terreno e das
condições de estabilidade / instabilidade da atmosfera.
Dedicaremos esta última secção a um estudo sum ário d a CLA.
Para descrever escoamentos atm osféricos revela-se conveniente trabalhar
num referencial fixo ao solo, referencial este em rotação, não d e inércia, o que
faz intervir efeitos até agora não considerados.
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 369

Para um ponto com um vector de posição x no referencial não de inércia,


este último com origem O relativamente ao referencial de inércia e animado de
uma velocidade angular ãt, a relação geral entre as acelerações absoluta ã A e
relativa « R escreve-se — vidé textos sobre mecânica racional, mecânica dos
sólidos, mecânica dos fluidos, e.g. [8]:

aA = a R + a0 + — x * + (o x (cu x jc) + 2co x t/R,

onde a 0 e d<ò/dt são, respectivam ente, as acelerações linear e angular do


referencial não de inércia, t ó x ( é x x ) é a aceleração centrífuga no ponto x e
2còxUR é a aceleração de Coriolis, sendo UR a velocidade relativa. No caso em
apreço de um referencial fixo relativamente ao solo, são nulas as acelerações
linear e angular do referencial. Por seu turno, a aceleração centrífuga num
ponto à distância r do eixo de rotação da Terra é independente de haver ou não
escoamento no referencial relativo, e dado que se pode escrever

a respectiva contribuição pode, na equação de Navier-Stokes, ser englobada no


termo de gradiente de pressão; à sem elhança do que sempre fizemos para o
efeito gravítico expresso através da pressão hidrostática, este efeito de força
centrífuga induzido pela rotação da Terra pode assim ser 'ignorado' com o
proviso de que o escoam ento seja incompressível e de que a pressão não figure
nas condições fronteiras [166]. Concluím os então que a única diferença entre
escoamentos num referencial absoluto e no referencial em rotação constante
ligado ao solo reside na actuação da força de Coriolis.
Dado que a aceleração absoluta é a aceleração a que de facto um elemento
de fluido está sujeito, pelo que a A deve ser igualado à resultante, por unidade
de massa, das forças externas actuando sobre o elemento de fluido, e que a
aceleração relativa a R se pode desdobrar, numa óptica euleriana, em variação
temporal e variação convectiva da quantidade de movimento, a equação de
Navier-Stokes (2.16.a) escreve-se, no referencial em rotação:

— = — +{7.Vf7 = - - V p - 2 © x t 7 + v V 2Õ. (7.13)


Dt dt p

Comecemos por considerar um a situação limite de escoamento permanente


em que forças de in é rc ia d o m ovim ento relativo e forças viscosas sejam
desprezáveis com parativam ente à força de Coriolis, i.e.

|t/.VÊ/| « \ õ x U \ e |v V 2f/| «

ou, em termos de escalas de com primento e de velocidade:


370 CAP, 7 CAMADA LIMITE TRI-DfMENSIONAL

U2 V
— « (oU e v —5- « (ú U
L L2
ou ainda:

V 2I l V , . v u j 1} v ,
------- ----- «1 e ----------- = — - « 1. (7.14)
CúU (úL (úU (ôL~
O grupo adimensional R o - U / ( ú ) L ) y designado n ú m e ro d e Rossby,
estabelece um balanço entre forças de inércia e forças de Coriolis e o grupo
Ek = vf{ú)L2'j, designado núm ero de E k m an, define um a relação entre forças
viscosas e forças de Coriolis. Quando, como no caso em apreço, forem ambos
Roy Ek « 1 a equação de Navier-Stokes reduz-se a:

2 (ò x U = — Vp. (7.15)
P
Escoamentos com estas características designam -se p o r g eo stró fic o s
[geostrophic] e são característicos das camadas altas da atm osfera, fora da CLA;
a espessura da CLA designa-se por a ltu ra geostrófica e o vento em altitude por
vento geostrófico.
Nota-se já uma característica importante destes escoam entos: sendo a força
de Coriolis normal ao vector velocidade, 0 gradiente de pressão também 0 será,
denotando que 0 escoamento geostrófico se p ro cessa ao longo d as isobáricas
(e não das regiões de maior para as de menor pressão). O equilíbrio de forças
ilustrado na Fig. 7.14.a), entre as componentes paralelas ao solo da força de
Coriolis e da força resultante do gradiente de pressão, escreve-se:

pdy

onde 0 é a latitude; o factor / = 2 (ú sen 0 é designado p a r â m e tr o de Coriolis.


Daqui segue a lei de Buys B allot da m eteorologia [112]: no hemisfério
Norte um observador de costas para 0 vento tem altas pressões à sua direita; no
hemisfério Sul ( 0 < O ) a situação inverte-se. E sta tam bém a razão por que
circulações associadas a centros de alta e baixa pressão são em sentidos opostos
nos dois hemisférios; por exemplo, para um an ticiclo n e (núcleo de altas
pressões): rotação no sentido dos ponteiros do relógio no hem isfério Norte —
altas pressões à direita, para um observador de costas para o vento — e no
sentido directo no hemisfério Sul — altas pressões à esquerda.
Se houver curvatura das isobáricas, no equilíbrio transversal de forças
intervém ainda a força centrífuga, como ilustrado na Fig. 7.14.b); o vento em
altitude designa-se neste caso por vento g rad ie n te [gradient wind] e a espessura
da CLA por a ltu ra gradiente [gradient height].
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 371

(0 = 3 O ° N ) ----------------------- 7 — P = const. -

Equador --------------------------------------------

a ) V e n to g e o s tr ó f ic o b ) V e n to g rad ien te

F i g . 7 . 1 4 E q u ilíb r io d e f o r ç a s e v e n to e m a ltitu d e n o h e m is fé rio N o rte.

Este é, em term os gerais, o com portam ento do escoamento em altitude;


quanto ao com portam ento nas cam adas baixas da atmosfera, no interior da
CLA, em que entram em actuação tensões de corte, fundamentalmente de nível
turbulento, produzindo um a resistência à progressão do fluido? Ilustra-se na
Fig. 7.15 o novo equilíbrio de forças, em que a força devida ao gradiente de
pressão tem agora de eq u ilib rar a resu ltan te da força de Coriolis (e
eventualmente da força centrífuga) — actuando normalmente ao escoamento —
e da força de resistência — actuando na direcção do escoamento.

F i g . 7 . 1 5 E q u ilíb r io d e f o rç a s e v e n to n o in te rio r d a C L A .

Concluímos assim que, no interior da CLA, não só a velocidade diminui em


módulo relativam ente à velocidade do escoamento exterior (como característico
de uma qualquer cam ada lim ite) com o ainda U roda — e para a esquerda, no
hem isfério N orte — relativam en te à direcção de t/g: a cam ada lim ite
atmosférica é assim inerentem ente tri-dimensional.
Exploremos esta situação de escoamento num referencial não de inércia, em
que tensões de corte não sejam desprezáveis com parativam ente à força de
Coriolis, através do caso estilizado de um corpo de fluido a rodar, em regime
laminar e permanente, em torno de Oz com uma fronteira sólida no plano x,y
[166]; trata-se de um a situação em que o número de Ekman E k ~ v/(ó)L2) já
não é desprezável: um a chamada c a m a d a de E k m a n [Ekman layerJ.
No corpo de fluido exterior à cam ada de Ekman ocorre um escoamento
geostrófico, suposto unidireccional de velocidade t/g segundo Ox; as equações
do movimento são assim, por (7.15):
372 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

0=- l ^
p dx
(7.16) í
2(oU = _ I ^ i
g P dy
À semelhança da situação que explorám os na sub-Sec. 4.5.2. de camada
lim ite laminar com sucção uniforme, indaguemos agora da possibilidade de
ocorrência» na camada de Ekman, de um escoam ento uniforme segundo xey,
i.e. escoamento para o qual
dU dU dV _ d V _ 0
dx dy dx dy
pelo que, por continuidade e impermeabilidade, será W = const.= 0.
No interior da camada de Ekm an a equação da quantidade de movimento
desdobra-se nas três seguintes relações:

' „ „ 1 dp d 2U
- 2 ú)V = ---- -Z-+V-
p dx dz
1 dp d 2V
= — -f+ v a
p dy dz
dp
=0 deonde p{x,y,z) = p A y) apenas, por (7.16).
dz
Atendendo a (7.16) o sistema acima reescreve-se

d2U
-lú)V= v
dz2
(7.17)
-2 a)(ug- u ) = v ^

com condições fronteira:


U=V=0 em z = 0
U - J>Ug e V —>0 cora z —

Elim inação de U ou de V produz uma equação diferencial solúvel de 4a


ordem; a equação pode porém ser m antida de 2a ordem trabalhando em termos
da variável complexa
Z = (U + iV)/Ut .
S om ando então a p rim eira eq u ação de (7 .1 7 ) à segunda equação
m ultiplicada por i obtém-se
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 373

2 iO)(U + i V ) - V-^p-(U + iV )-2 ic o U g = 0

isto é
v ^ - f - 2 if i > ( Z - l) = 0
dz
com
fZ = 0 em z=0
[Z -* l com z
A solução é
1/2 "
2ico
Z = 1- exp 2
v

ou, desdobrando em parte real e parte imaginária:

\u/U = \ - e ~ kz cos (kz)


(7.18)
[V/Ug - e *zsen (kz)

com k = (co/v)l/2.
A solução está ilustrada nas Figs. 7.16.a) e b), respectivamente, sob a forma
de perfis adimensionais de velocidade longitudinal e transversal e de diagrama
polar, conhecido como espiral de Ekm an [Ekman spiral\.

a) P erfis lo n g itu d in a l e tra n sv e rsal b ) Espiral d e Ekm an

F i g . 7 . 1 6 C am p o d e v elo cid ad e s n u m a cam ad a d e Ekm an.

Conclusões a extrair destes resultados são que:


i) a solução de escoamento uniforme segundo x e y existe para fluido em
rotação — a situação de escoamento sem rotação não pode ser obtida como
caso particular desta, pois ocorre um colapso da presente solução quando
6),k —>0: U, V —^0;
ii) sendo W = 0 será dÔ/dx = 0, significando que a camada de Ekman não
varia de espessura ao longo do escoamento em resultado de um equilíbrio
3 '4 CAP 7 CAMADA LIMITE TRIDIMENSIONAL

entre tensão de corte superficial e efeito integrado da força de Coriolis, a


que está associada uma constância da quantidade de movimento;
iii) na vizinhança imediata da parede z —>0 é U / V 1, pelo que a linha de
corrente limite apresenta um ângulo de torção /Jw = 4 5 ° relativamente ao
vento geostrófico;
iv) a velocidade resultante no interior da camada de Fkman pode exceder a
velocidade do vento geostrófico: e.g. ( U /U ^ -1 ,0 7 e, à cota k z - J i t é
j8 = 0° (escoamento alinhado com o vento geostrófico) e U/U$ «1.04.
Como apontamento refere-se um significativo efeito de transporte de corpos
de fluido entre um escoamento geostrófico de velocidade não uniforme
(vorticidade não nula) e a camada de Ekman subjacente [166]. Tomemos como
exemplo a situação ilustrada na Fig. 7.17.a) de um vento geostrófico de
velocidades Ul e V2 (vorticidade Í 2 .< 0 ) num referencial em rotação com
velocidade angular (úl > 0 , sendo ainda V{ e V2 as correspondentes velocidades
transversais a uma qualquer cota no interior da camada de Ekman; o aumento
de caudal volumétrico no interior da camada de Ekman, associado a um
V] > V2, obriga a uma sucção de fluido geostrófico para o interior da camada de
Ekman [Ekman layer suction]. Na situação inversa, ilustrada na Fig. 7.17.b), de
a vorticidade no escoamento geostrófico ser no mesmo sentido da velocidade
angular do referencial, i.e. Q t j(Oz > 0 , ocorre uma ejecção de fluido da camada
de Ekman para o escoamento geostrófico [Ekman layer injection].

í / , > t /2 ( / , > t /2

a) S ucção b ) E je c ç ã o

Fig. 7.17 S u cçã o / e je c ç ã o n u m a c a m a d a d e E k m a n .

Este é, por exemplo, o mecanismo porque o corpo de fluido contido num


vaso cilíndrico em rotação em torno do seu eixo é 'rapidamente' levado à
velocidade angular da fronteira sólida, passando a processar-se o escoamento
como se em rotação sólida, com o consequente anulamento das tensões viscosas
por anulamento da velocidade relativa entre elementos de fluido contíguos; o
processo de transporte de vorticidade por transferência de massas de fluido
entre a camada limite e o escoamento geostrófico é muito mais eficiente que
uma simples difusão de nível molecular.
Apreciemos então características dos campos médio e flutuante numa CLA,
tomando em conta influências da rugosidade do terreno e da estabilidade
SEC. 7 6 CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 375

térmica da atmosfera e tendo em mente aplicações no domínio dos


aproveitamentos da energia eólica, da avaliação de esforços em edifícios e
estruturas, do voo de aeronaves em turbulência e da dispersão de poluentes.
Variando a velocidade do vento de instante para instante, a primeira questão
que se põe é como definir velocidade média do vento, i.e. média tomada ao
longo de quanto tempo?
Apresenta-se na Fig. 7.18 um espectro típico do vento atmosférico perto do
solo [40], em que são imediatamente identificáveis três gamas de elevado
conteúdo energético:
- a gam a m a cro m eteo ro ló g ic a [macrometeorological range], com um
período de 1 ano, correspondendo ao ciclo de estações no ano;
- a gama m esom eteorológica, com um pico a períodos de cerca de 4 dias,
correspondendo à ocorrência de ciclones / anti-ciclones e à passagem de
frentes frias / quentes, e outro a 24 horas, correspondendo às variações
diurnas da velocidade do vento;
- a gam a m icrom eteorológica, correspondendo à ocorrência de rajadas e
equivalendo à turbulência atmosférica.

F i g . 7 . 1 8 E s p e c tro d o v e n to atm o sférico , seg und o V an d e r H oven.

A quase lacuna espectral [spectral gap] verificada entre as gamas meso e


micrometeorológica faz com que seja praticamente a mesma a velocidade média
do vento tomada ao longo de tempos de integração entre 10 min. e 1 hora,
digamos; tal é a razão porque, para testes em campo [field tests] de turbinas
eólicas, seja recomendada pela Agência Internacional de Energia uma avaliação
das respectivas curvas de potência a partir de conjuntos de valores médios de 10
minutos [52].
Dado que, relativamente a muitas estações da rede meteorológica, está
apenas disponível informação quanto à velocidade média anual do vento,
pergunta-se como adaptar esta informação à avaliação do recurso eólico, i.e. à
determinação da energia média disponível no vento?
Decompondo o campo instantâneo em campo médio e campo flutuante
obtemos para a potência média disponível no vento ao longo de um intervalo de
tempo T:
376 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

+3U2u +3U ii2 + « 3

= t/ 3 +3í/w 2 + « \ pois u = 0 ,
com U igual à velocidade média no intervalo T.
A potência avaliada apenas a partir do conhecimento da velocidade média
seria P^ « t / \ pelo que dividindo os dois resultados se obtém:

jL = * = 1+3“ + “ ; (7.19)
med w u

o parâmetro K> com o significado de razão entre a energia média efectiva e a


energia (erroneamente) estimada através do campo de velocidades médias, é
conhecido como factor de configuração de energia [energy pattern factor]zé
função do achatamento e da assimetria da distribuição de densidade de
probabilidade (ddp) da velocidade do vento.
Para pequenos tempos de integração a ddp é sensivelmente simétrica
(w3 = 0) e, já para uma intensidade de turbulência apreciável 20%,
resulta:
AT= l + 3 x (0 ,2 )2 = 1,12;
para tempos de integração da ordem do ano a assim etria da ddp toma-se
significativa e K pode assumir valores cerca de 3 - 4 [170], o que faz com que a
não consideração deste facto possa resultar numa subestimação da energia
disponível em 200 - 300 % — logo economicamente 'inviabilizando' qualquer
aproveitamento de energia eólica!
A ddp da velocidade do vento é naturalmente assimétrica, dada a existência
de períodos de calmaria ou de velocidades do vento inferiores a um certo limiar
[threshold] perceptível e a não ocorrência de velocidades superiores a um
qualquer valor máximo, como ilustrado na Fig. 7.19.a).

a) Distribuição expectável b) Distribuições de WeibulI


F ig , 7 ,1 9 Distribuições de densidade de probabilidade
da velocidade do vento a tm o sférico .

Desta figura se conclui que i) a velocidade média do vento é sempre


superior à velocidade mais provável — correspondente a p ( u ) máximo — e que
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 377

ii), dado que j p(u)du = 100%, quanto maior for a velocidade média, maior é a
variabilidade do vento — menor é p(u) para cada u.
Para tratamento analítico a ddp da velocidade do vento é geralmente
representada por uma distribuição de Weibull

it
(7.20)
p^ = l u l exp
onde A é uma escala de velocidades, proporcional à velocidade média anual do
vento, e k é um factor de forma da distribuição, apresentando valores extremos
entre 1,1 e 2,8; para o clima europeu é sensivelmente fc» 2. Diferentes formas
da distribuição de Weibull estão representadas na Fig. 7.19.b), correspondendo
a diferentes valores de k [167]. Para k = 1 a relação (7.20) degenera na
distribuição exponencial e para k = 2 na distribuição uni-paramétrica de
Rayleigh:
- \2
/ -\ U u n\ u
p[u) = ------- exp (7.21)
yK ] 2 U U 41 U

onde os factores num éricos foram ditados pelo requisito j p f y d u - 1,


implicando A = ^j A[ k U .
Para a distribuição de Weibull, a probabilidade de ocorrência de velocidades
do vento iguais ou superiores a um dado valor «0, i.e. a probabilidade
cumulativa p (w > h0), advém:

= J^° p(ú)<#t = exp (7.22)

Determinação dos parâmetros k t A que produzem melhor ajustamento a


dados observados pode ser conseguida através da seguinte metodologia [83]:
i) sob duas aplicações de ln e operando a transformação de coordenadas

* ;= ln u, e y, = In [-ln (/>, («>«,))]

a probabilidade cumulativa escreve-se na forma y = a + bx, o que permite


determinação dos coeficientes a e b através de uma simples regressão linear,
ponderada ou não pela frequência de ocorrência;
ii) os parâmetros k e A da distribuição de Weibull ficam então relacionados
com os coeficientes lineares a e b por
k-b e A = e x p (-a /6 ).
O interesse na realização deste ajustamento, mesmo quando se dispõe de
medições locais da ddp da velocidade do vento, resulta da existência de
informação empírica permitindo a extrapolação de k e A em altura, o que se
378 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRl-DlMENSfONAl

revela necessário porquanto as medições são usualmente electuudus à altura


normalizada de 10 m para fins meteorológicos, enquanto que, para
aproveitamentos de energia eólica, se requer conhecimento da ddp nào a 10 m
mas sim à altura do rotor da turbina, que pode estar instalado a 50 m ou a
100 m acima do solo, Apresentam-se as relações empíricas para este fim
propostas por Justus e Mikhail (84J baseadas numa descrição tipo potência para
o perfil de velocidades médias do vento e válidas para rugosidades do terreno na
gama 0,05 m < z 0 <0,5 m — valores com o índice a reportam-se à altura do
anemómetro:
( T \ 1/«
A(z) = A&
<Z*J
1,203-0,088 lr u (
n = ----------------------- coi [ ja]= m e [Aa] = m /s (7.23)
0,37-0,088 In Aà

, x 1,203-0,088 ln z a
k(z) = ka----------------------- com [z,za] = m.
v' a 1,203-0,088 ln*
Em vez de uma descrição tipo potência para o perfil longitudinal de
velocidades médias na CLA UjU%= (z/zg)1/H, onde Ug e zg têm,
respectivamente, o significado de velocidade do vento gradiente e de altura
adiente, físicamente mais significativo seria utilizar, nas camadas baixas da
E nosfera, uma descrição semi-logarítmica do tipo

—=- ln — (7.24)
uT K z0
equivalente a (6.41) e estando agora a constante aditiva B englobada no factor
z0: z 0 = £sq~kb «0 ,03 es para £ = 0,41 e B = S,5.
Apresentam-se, na tabela abaixo [29, 33, 127], valores típicos da altura
gradiente zg, do expoente n e do parâmetro de rugosidade z 0 para diferentes
configurações do terreno em condições de vento forte, em que efeitos
mecânicos prevalecem largamente sobre efeitos térmicos — o que é entendido
verificar-se quando í/(z = 10m)>10m/s:

Tipo de terreno z g (m) n z o (m)

Zona rural, campo aberto 270 1 0,01 - 0,15

Pequeno aglomerado habitacional 400 3,5 0 ,5 - 1

Cidade com edifícios altos 520 2,5 2 -3


SÊC. 7 6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 379

Alguns autores propõem usar indistintamente. para espessura da CLA,


=600 m, significando que todos os nossos edifícios e estruturas estio
contidos na camada da parede: 0,15zt » 100 m .
Especial atenção deve ser dedicada às duas seguintes situações:
♦ Escoamento ao longo de uma cidade com edifícios altos c arranha-céus, em
que, devido às baixas velocidades do vento reinantes no espaço inter-
edifícios, o escoamento a níveis superiores se desenvolve como se o solo
tivesse sido deslocado de uma altura d equivalente à altura média das
edificações [29] — vidé Fig. 7.20.
Nas relações supra de descrição tipo potência e tipo semi-Iogarítmico do
perfil de velocidades médias, a cota z deve então ser substituída por ( z - d ) .

Fig. 7.20 Perfil do vento atmosférico ao longo


de uma cidade com edifícios altos.
• Transição da evolução da CLA de um terreno com uma certa rugosidade
para outro terreno com uma rugosidade diferente (maior ou menor), caso
em que, a partir da fronteira de transição, se começa a desenvolver uma 'sub-
camada limite', como ilustrado na Fig. 7.21.

Fig. 7.21 Desenvolvimento de uma 'sub-camada limite1na


transição entre terrenos com diferentes rugosidades.
Métodos empíricos permitindo contemplar estas situações são apresentados
em diversos manuais de engenharia e códigos de construção — e.g. [120].
Na avaliação dos esforços exercidos pelo vento sobre edifícios e estruturas,
para além do conhecimento do campo médio interessa, e muito, informação
quanto ao campo turbulento, em particular quanto ao espectro de turbulência
atmosférica.
380 GAP 7 CAMADA LIMITE TRI-OIMENSIONAL

Dada a usual representação de um especiro de turbulência em escalas


logarítmicas ou senii-logarítmicas, de tal modo que para o espectro longitudinal
é
w“ = j p ( n ) d n = j n < p ( n ) í / ( l n /»),

onde $(n) é a densidade espectral de energia à frequência n (Hz) — com


unidades de velocidade 2/unid. frequência — , estes espectros são muitas vezes
apresentados na forma adimensional n ^ ( n ) / U ^ f vs. n / í / ref, onde a abcissa
nfUKf é proporcional ao número de onda.
Uma forma analítica muito utilizada para descrever o espectro longitudinal
de turbulência atmosférica nas camadas baixas da CLA é a proposta por
D avenport [39, 105], independente da altura z e válida para condições de vento
forte:
n<p(n) 4n2
(7.25)

com n = nL/Ul0, n em Hz e a escala de com primentos tomada com o valor


1 = 1200 m; o parâmetro ^ é um coeficiente de resistência da superfície
adimensionalizado pela pressão dinâmica média do vento à altura de referência
(geralmente 10 m do solo: j p í f f 0) e exibindo valores entre 0,001, para um
escoamento sobre o mar, e 0,05, num centro urbano.
Ilustra-se na Fig. 7.22 o ajustamento desta descrição analítica a resultados
experimentais [33].

F ig. 7 .2 2 Espectro de Davenport.

Desta figura se conclui que o máximo de n <p(ri) ocorre para valores de «


cerca de 2, o que, e.g. para Ul0 = 30 m /s conduz a frequências « = 2x30/1200
= 0,05 Hz e a períodos de 1/0,05 = 20 segundos, bem superiores a períodos de
oscilação típicos de edifícios e estruturas.
A maiores alturas do terreno, interessantes para aplicações aeronáuticas, o
espectro de turbulência <j>(k), onde k (rad /m ) é o núm ero de onda, é
normalmente aproximado por uma das duas seguintes descrições analíticas
conhecidas por espectro de von-K árm án e espectro de D ryden [71]:
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 381

E sp ectro Espectro
vertical / lateral longitudinal

* (* ) 1 l+ f(U 3 9 U )J
von-K árm án
K[l + (1.339Z.A:)2] (T2L nl 1

0 (* ) 1 1 + 3 (L * )2
Dryden
ff2*. T [l + ( U ) 1] 2 o2L 1

Nestas expressões L é uma escala integral de comprimentos — vidé eq.


(6.11) —, geralmente tomada como L = 760 m (2500 ft) (*), e a o desvio
padrão das flutuações u, v ou w. Os respectivos andamentos estão ilustrados na
Fig. 7.23.

\
>n - Kármán
\ \ (d<
Víclive -5 /3 )

\ 1 /
\
Dry den
(declh e - 2 )
A\ \
\ \

; \ \
\ \
\ \
\
...... .................
1 0 '5 IO*4 1 0 -' IO '2
k 1 k / 2 n (ciclos/ft)
— — (ciclos/ft)
2n X

a) Espectros vertical / lateral de b) Espectros vertical / lateral e


von-Kármán e de Dryden longitudinal de von-Kármán
Fig. 7.23 Espectros de von-Kármán e de Dryden (L = 2500 ft; a - lft/sec).

O espectro de von-Kármán produz melhor ajustamento a dados atmosféricos


e satisfaz ao previsto declive de -5/3 no sub-domínio de inércia — eq. (6.1). A
vantagem do espectro de Dryden reside na facilidade em derivar um filtro
exacto para o obter a partir de ruído-branco [white-noise] — (j>(k)~ const.
Conhecido o espectro de turbulência pergunta-se como prosseguir até
determinar a resposta da estrutura (edifício ou aeronave)? A metodologia de
cálculo está esquematizada na Fig. 7.24 [75]:

(*) É de notar que o factor L k figurando nestas relações é adimensional:


m x rad/m = ft x rad/ft = rad.
382 CAP ' CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAl

11 -i partir do espectro de turbulência <p'(n) determina-se o espectro de força


o que requer conhecimento da a d m itâ n c ia aerodinâmica
[acrodynamic admittance] |.V,(n)|* — a admitância é uma medida da razão
entre forças produzidas pelo campo turbulento e forças que ocorreriam em
escoam ento permanente: a estrutura reage a um grande turbilhão,
completamente envolvendo o corpo, de uma form a quasi-permanente,
enquanto turbilhões de menores dim ensões podem produzir uma
contribuição para força resultante num certo sentido numa região da
estrutura e uma contribuição diferente noutra região, pelo que deverá ser
| A’, (n)|" = 1 para n pequeno, caindo em seguida a^ zero para n's elevados; na
falta desta informação poder-se-á admitir j (n)| = 1, pois a diminuição do
valor da admitância aerodinâmica em geral ocorre já para frequências
superiores à primeira frequência de vibração natural da estrutura;
espectro de admitância espectro de adm itância espectro de

log n log n log n log n logn

Fig. 7.24 Metodologia de cálculo da resposta de uma


estrutura à turbulência atmosférica.

ii) semelhantemente, a partir do espectro de força e conhecida a admitância


mecânica jXm(/i)| se determina o espectro de resposta da estrutura 0 r(/i);
| X » | naturalmente apresentará máximos às frequências de ressonância,
picos menos pronunciados nas harmónicas superiores e cairá em seguida a
zero para frequências elevadas.
A relação entre os espectros de turbulência e de resposta da estrutura
escreve-se então, para um escoamento médio de aproximação uniforme:
0'(n) 2 0 l (n)
= X. («)|2X ( ' ,)| ( 7 .2 6 )
U,
onde Y é a deflexão média da estrutura segundo y à velocidade média do
escoamento.
Até agora ocupámo-nos apenas de situações de vento forte, em que efeitos
mecânicos predominam largamente sobre efeitos térm icos, pelo que estes
últimos podem ser desprezados e a atm osfera considerada como que em
condições de estabilidade neutra, correspondente ao gradiente adiabático de
temperatura —= -6 ,5 °C/km referido na Sec. 1.2. para a atmosfera padrão.
Em problemas de dispersão de p o lu en tes n a a tm o s fe ra , mormente em
condições de vento fraco e dependendo do grau de insolação, da nebulosidade e
da natureza do solo, efeitos té rm ic o s podem d esem pen h ar um papel
determinante, promovendo ou dificultando essa dispersão do poluente.
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 383

Exemplifiquemos estas diferentes situações admitindo que, p. ex. sob acção


da turbulência atmosférica, uma determinada massa de ar é deslocada de uma
certa cota para um nível superior, a que a pressão atmosférica é menor, pelo que
a massa de ar expande e arrefece; se o processo for suficientemente rápido,
trocas de calor com o exterior podem admitir-se desprezáveis e o processo
considerado adiabático. Apreciemos então posteriores evoluções com referência
aos diferentes gradientes verticais de temperatura ilustrados na Fig. 7.25;

1 T/Tw
F ig. 7.25 Diferentes evoluções verticais de temperatura na CLA.

i) se o gradiente vertical de temperatura na atmosfera /3aIm = r)Tjdz for igual


ao gradiente adiabático /3ad, como ilustrado pela curva 1, a massa de ar
deslocada en con trar-se-á sem pre em equilíbrio com a atmosfera
circundante; trata-se de uma situação de estabilidade neutra;
ii) se j8atm < ]3ad, corno Para a curva 2, típica de uma situação diurna com forte
insolação e vento fraco sobre uma superfície radiante (e.g. pedras, asfalto,
grupo de edifícios), à nova cota será r massaar > Txm e p massaar < p alm, pelo
que, por impulsão, a massa de ar tenderá a prosseguir o seu movimento
ascensional, afastando-se cada vez mais da posição de equilíbrio: trata-se de
J" uma situação de atmosfera instável;
lii) se /Jatm > /)ad encontramo-nos perante uma situação de atmosfera estável;
ilustram-se, na figura, três situações deste tipo; a curva 3a corresponde ao
caso de uma atm osfera moderadamente estável, a curva 3b à situação
isotérmica muito estável e a curva 3c, com /3atm > 0 , i.e. com a temperatura a
aumentar em altitude em vez de diminuir, a uma situação de in v e rsã o
térm ica, típica de noites límpidas de inverno em que o solo fortemente radia
e arrefece muito; com o nascer do dia o solo absorve a radiação solar,
aquece e a inversão térmica ocorre em altitude, situação comum no fundo
dos vales ao am anhecer — situações deste tipo conduzem a uma
concentração de nevoeiro e de poluentes nas camadas baixas da atmosfera.
Ilustram-se na Fig. 7.26 as configurações que pode assumir a pluma de
fumo emitida por uma cham iné nestas diferentes condições de estabilidade
atmosférica [127].
Condições de instabilidade térmica tendem assim a favorecer a difusão de
nível turbulento e a aum entar a intensidade de turbulência e, inversamente,
384 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

b) F a n n i n g (estável)

K
J
u
l
\
u
\V
* J 1
T
c) L o o p i n g (instável)

r
d) L o ft in g (ao anoitecer)

1 r
r 7-
e) F u m ig a tio n (ao amanhecer)

Fig. 7 .2 6 Configurações da pluma de fumo emitida por uma chaminé


para diferentes evoluções verticais de temperatura.
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 385

condições de estabilidade térm ica tendem a diminuir a intensidade de


turbulência comparativamente à situação adiabática de referência.
Obtenhamos a forma do termo de interacção campo cinemático / campo
térmico afim de identificarmos os grupos adimensionais determinantes do
processo e estabelecermos as escalas que o caracterizam [20, 160].
Admitamos, de acordo com a aproximação de Boussinesq, que as variações
de temperatura e de massa específica ocorrendo neste problema de convecção
térmica se processam a pressão praticamente constante, consequentemente
manifestando-se, em Navier-Stokes, apenas através do termo de forças mássicas.
Nestas condições, desdobrando a tem peratura T da massa de fluido
deslocada em temperatura da atmosfera adiabática 0 e em desvio 9 em relação
a essa situação de referência e admitindo ainda o ar comportar-se como um gás
perfeito — eq. (1.10) — , a força de impulsão por unidade de massa (segundo z,
tomado na direcção vertical) escreve-se:
dv dp 9

para p - const. e desvios $ pequenos e onde v é o volume específico.


Ao aplicarmos a metodologia exposta na sub-Sec. 6.2.4. para obtenção da
equação de transporte da energia cinética turbulenta, resultam agora, já dentro
de uma aproximação de camada limite bi-dimensional, duas contribuições para
o termo de produção de k\

Prod. = —hw +
* dz 0
onde 6' é a flutuação turbulenta de temperatura; o primeiro termo corresponde
à produção m ecânica de k , por acção das tensões de Reynolds, e o segundo à
produção térmica de k, por efeito da impulsão.
A relação entre estes dois termos

Ri ^ Í 8 / e ) ° ' w (7.27)
f u w (dU /dz)
é designada n ú m e ro d e R ich ard so n do fluxo {flux Richardson number]. Em
condições de atmosfera neutra, estável e instável é, respectivamente, Rif = 0 , > 0
e < 0 — atenção aos sinais no num erador e denom inador da equação
convencional de definição de Rif \ resultados experim entais indicam que
turbulência é inibida para, aproximadamente, Rif > 0,2.
Se, sem elhantem ente a v t — —mw>= v , d U /dz, eq. (6.30) — , definirmos
uma condutividade turbulenta y t como
— dd (7.28)
- 0 'w = y t
dz
386 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRI-DIMENSIONAL

o número de Richardson do fluxo escreve-se:

Ri - r > g d6! dz
v . 9 (d U / d z f '
Para além de y t e v t, esta equação envolve quantidades que podem ser
medidas com relativa facilidade, o que sugere a introdução de um parâmetro
diferente, o nú m ero de R ich ard so n do g rad ie n te [gradient Richardson
number]:

Ri (7.29)
9 (dU/dz)2
relacionado com Ri{ por

R i,= — Ri.
vt 1
Quanto a escalas características do campo?
Para um corpo de fluido deslocando-se na direcção vertical em atmosfera
estável, a força de restituição, por unidade de massa, é -(g/@ )(dd/dz) e igual à
aceleração d 2z / d t 2 do corpo de fluido, do que resulta para a frequência do
movimento oscilatório induzido

g dO
N= (7.30)
& dz
O parâmetro N 7 designado frequência de B runt-V áisãlã, é a frequência das
ondas gravíticas numa atmosfera estável; numa atmosfera instável as ondas
gravíticas instabilizam e degeneram num movimento turbulento; em condições
de estabilidade neutra é N = 0. O inverso de N claramente constitui uma escala
de tempos característica do processo de impulsão [buoyancy time scale].
A escala de comprimentos mais comummente utilizada na camada da parede
é o com prim ento de M onin-O bukhov L definido como a cota a que a produção
mecânica iguala a produção térmica, i.e. R i{ - 1:

-

u
dU
w = —
g 7p—
O w .
dz e
Dado que na camada de tensão constante é
dU Ôw
■uw = u. 6'w =
dz Kz PCD
sendo Qw o fluxo de calor à superfície, resulta para L:

u le
(7.31)
Kg 0 'w K g £)w
SEC. 7.6. CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA 387

L tem a vantagem de requerer apenas medições à superfície para a sua


determinação: uT e Qw. A uma qualquer cota z o número de Richardson do
fluxo escreve-se então, em termos do comprimento de Monin-Obukhov:

Ri, = ~ . (7.32)

Meteorologistas de pendor mais aplicado em vez de trabalharem em termos


do comprimento de Monin-Obukhov introduziram "classes de estabilidade" para
caracterizar as diferentes condições atmosféricas. Uma classificação
generalizada é a de Pasquill-Gifford [38, 149] que toma em conta a velocidade
do vento junto ao solo í / l0, o grau de insolação e a cobertura de nuvens — a
cobertura de nuvens é definida como a fracção do céu coberta por nuvens
acima do horizonte aparente local. São 6 as classes de estabilidade de Pasquill-
Gifford:
A - atmosfera extremamente instável D - neutra
B - moderadamente instável E - ligeiramente estável
C - ligeiramente instável F - moderadamente estável
Estas diferentes classes de estabilidade verificam-se para as conjugações de
velocidade do vento, de insolação e de nebulosidade indicadas no quadro
abaixo.
CONDIÇÕES DIURNAS CONDIÇÕES NOCTURNAS

í/,0 (m/s) Insolação Nebulosidade

Forte Moderada Fraca £ 4/8 < 4/8

<2 A A -B B — —

2 -3 A -B B C E F

3 -5 B B -C C D E

5 -6 C C -D D D D

6 c D D D D

A título ilustrativo apresentam-se, na tabela seguinte, valores típicos de


parâmetros característicos da CLA para as diferentes classes de estabilidade de
Pasquill-Gifford e para escoamento em terreno aberto com uma rugosidade
equivalente z0 = 0,1 m . Realça-se que em face da grande variabilidade destes
parâmetros reportada na literatura, variabilidade esta resultante dos inúmeros
factores determinantes das condições atmosféricas e não contemplados na
tipologia simples considerada, da subjectividade da avaliação de alguns dos
parâmetros — e.g. insolação forte, moderada e fraca, com 'forte' respeitando a
condições prevalecendo em Inglaterra no verão, ao meio-dia —, de erros
388 CAP. 7 CAMADA LIMITE TRl-DIMENSIONAL

associados a diferentes técnicas de medida e de processamento de dados 4


precisão dos instrumentos disponíveis em diferentes épocas, etc., os valorts
numéricos tabelados devem ser vistos com precaução e tomados a títui0
meramente indicativo. Os valores tabelados são:
- as intensidades de turbulência junto ao solo nas direcções transversal i t
vertical iz [38]; ’
- 0 desvio padrão das flutuações angulares na horizontal a Q [7], relacionado
com a intensidade de turbulência segundo y por

a vantagem de c B e de cr^ — o desvio padrão das flutuações angulares n


vertical — reside no facto de estes serem parâm etros facilmente mensuráveis
com um simples catavento [wind-vcine] bi-direccional [127];
- o inverso do comprimento de M onin-Obukhov 1/ L [136];
— os expoentes para projecção em altura, segundo um a lei tipo potência

das variáveis í/, Ge e cr^ [127] — p v corresponde assim ao expoente 1/n


da eq. (6.50).

C lasse P - G í, <%) iz <%) a9 (g ra u s) l/L ( m_l) Pu POQ p,f

A 40 55 15 - 55 25 - 0 ,1 4 0 ,0 8 - 0 ,0 6 0,02

B 2 5 -4 0 1 0 - 15 20 - 0 ,0 6 0 ,1 0 - 0 ,1 5 0,04

C 15 - 0 ,0 2 0 ,1 1 - 0 ,1 7 0,01

D 1 0 -2 5 5 -8 10 0 0 ,1 8 - 0 ,2 3 - 0,14

E 5 0 ,0 2 0 ,3 1 - 0 ,3 8 - 0 ,3 1

F 8 -2 5 3 -7 2 ,5 0 ,0 6 0 ,4 2 - 0 ,5 3 -0 ,4 9

É claro o efeito térm ico de instabilidade / estabilidade em aumentar


/diminuir intensidades de turbulência atm osférica e, em consequência, aumentar
/diminuir também a espessura da CLA. M ostram ain d a as três últimas colunas
que enquanto que U aumenta sempre ( p u > 0 ) e a d dim in u i sem pre ( p flfl<Q)
com a altura ao solo, em condições de instabilidade — classes A, B, C — 0^
aum enta e em condições estáveis — classes E, F — dim in u i com a altura; os
expoentes são máximos para condições m oderadam ente estáveis: e.g. entre os
10 e os 100 m , U aumenta de um factor de 2,6 e g q dim in u i de um factor de
0,30.
CAPITULO
8
ESCOAMENTO POTENCIAL
INCOMPRESSÍVEL
BI-DIMENSIONAL
Argumentámos anteriormente que o estudo de um escoamento de fluido
real em torno de um corpo sólido podia, num caso de interacção fraca viscosa !
invíscida, ser convenientemente sub-dividido no estudo das camadas de corte
delgadas formadas em contacto com a superfície sólida e no estudo do
escoamento potencial exterior. Desenvolvemos já a análise de camadas de corte
delgadas; ocupemo-nos agora do estudo do escoamento exterior, a duas
dimensões neste e no próximo capítulo e a três dimensões no seguinte.
Para que um modelo de fluido perfeito tenha validade será necessário que a
interacção viscosa / invíscida seja fraca, o que precisamente requer espessuras do
deslocamento 5* pequenas comparativamente a uma dimensão característica do
corpo. É o que se verifica, por exemplo, no caso de escoamentos em torno de
perfis alares e de asas finitas a pequenos ângulos de ataque, em que os
gradientes de pressão adversos instalados não são suficientemente intensos para
provocarem separações massivas.
Nesta sequência de três capítulos dedicados a fluido perfeito colocaremos
assim a principal ênfase no estudo do escoamento em torno de perfis alares e de
asas finitas. No presente capítulo são apresentados os fundamentos e as
ferramentas base para tratam ento de um tal modelo simplificado de fluido
perfeito em situações bi-dimensionais, as quais são então aplicadas ao estudo do
escoamento em tomo de perfis alares no Cap. 9; o Cap. 10 é dedicado ao estudo
do escoamento tri-dimensional em torno de asas de envergadura finita. No fim
destes dois últimos capítulos da sequência sobre fluido perfeito são apreciadas as
questões de interacção viscosa / invíscida e analisadas, em especial, as
caracteristicas de perda destes corpos sustentadores.

8.1. Introdução
Escoamentos potenciais incom pressíveis, por definição, satisfazem
simultaneamente a equação da continuidade na forma divC/ = 0 e a condição de

389
390 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

irrotacíonalidade &*=rotÚ = 0, do que resultou a introdução de um potencial


de velocidades 0 expresso por (2.24): É/ = gradtf>; substituição de 0 em
termos de 0 na equação da continuidade produz divgrad<£slap<P = 0,
significando que o potencial de velocidades satisfaz a equação de Laplace.
O problema do estudo de um escoamento potencial incompressível de
velocidade uniforme 0 m a infinito a montante de um corpo sólido de fronteira
descrita por / ’(r) = 0 traduz-se assim na determinação de uma função escalar 0
satisfazendo a equação de Laplace e as seguintes condições fronteira:
i) condição de impermeabilidade sobre a superfície do corpo
Vw =Õw.VF = ( V 0 ) vi.VF = O, e
ii) condição de regularidade a infinito
(V 0 )„ = e7_.
Uma das técnicas clássicas de solução da equação de Laplace é a técnica da
sobreposição ou das singularidades, que se fundamenta no facto da equação de
Laplace ser linear, pelo que uma sua qualquer solução geral pode ser obtida por
sobreposição (por combinação linear) de soluções particulares. Esta técnica vai-
nos assim perm itir obter a solução de qualquer escoam ento potencial
incompressível, por mais complicado que seja, através de uma simples
sobreposição de escoamentos elementares induzidos por singularidades.
Até agora referimos apenas um único tipo de singularidade; o filamento de
vórtice livre — Sec. 3.2. — induzindo um campo de velocidades puramente
tangenciais expresso por (3.4):
r
va= ( 8. 1)
2 nr
a velocidade evolui com a distância radial segundo uma hipérbole equilátera e o
centro do vórtice é um ponto singular do escoamento, em que a velocidade
exibe uma descontinuidade infinita: í/9(r = ()) = ■*>.
Outro tipo de singularidade é a linha de fontes, linha em itindo um caudal
volumétrico de fluido m por unidade de com prim ento; um a fonte de
intensidade negativa - m , absorvendo em vez de emitir fluido, é designada por
poço. Neste caso a velocidade é puramente radial Ur e um balanço de massa
através de uma superfície de controlo cilíndrica de raio r, de altura unitária e de
eixo coincidente com o filamento de fontes produz directam ente

m = (f Ú.ndS = 2 n r U r

pelo que
m
V = ( 8 .2)
2nr
SEC.8.1. INTRODUÇÃO 391

Semelhantemente ao caso do vórtice livre, também agora a velocidade (radial


em vez de tangencial) varia directamente com a intensidade da singularidade (m
em vez de T ) e inversamente com a distância r.
Exploremos a sobreposição de uma linha de fontes de intensidade m e de
um escoamento uniforme de velocidade £/„. A configuração geométrica do
campo resultante está representada na Fig. 8.1.
A uma distância a montante da fonte r = m j[ l K U j ) segundo o eixo dos x's
a velocidade induzida pela fonte cancela exactamente a velocidade do
escoamento não perturbado e regista-se um ponto de estagnação. Os ramos da
linha de corrente de estagnação não coincidentes com o eixo dos x's dividem o
campo do escoamento em duas regiões: uma ocupada só por escoamento
emitido pela fonte e outra ocupada só pelo escoamento de aproximação.
Designamos estes ramos da linha de corrente por linha de corrente divisória
[dividing streamline], reservando a designação de linha de corrente de
estagnação [stagnation streamline] para o ramo no seio do escoamento de
aproximação; não utilizamos a designação de 'linha de corrente de separação',
também comum, para a distinguir de uma linha de corrente partindo de um
ponto de separação — que não existe em fluido perfeito: não há qualquer
camada limite que se possa separar!

Fig. 8.1 Fonte em escoamento uniforme.


Dado que a velocidade induzida pela fonte se esbate com a distância r, os
ramos superior e inferior da linha de corrente divisória deverão tender
assimptoticamente, a infinito a jusante, para uma distância d = m/U„, pois que
todo o caudal m em itido pela fonte se deverá escoar a uma velocidade
U„ = const. (Ur anulou-se assim ptoticam ente) através de uma secção de
passagem d x 1 interior à linha de corrente divisória e tal que m = UBOd.
Ora, em fluido perfeito, qualquer linha de corrente, ou segmento de linha de
corrente, pode ser substituído por uma parede sólida, já que não tem existência
uma condição de não-escorregamento. Segue-se que o campo de escoamento
exterior à linha de corrente divisória será exactamente o mesmo se substituirmos
o domínio interior à linha de corrente divisória por um corpo sólido com a
392 CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, iNCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

forma dessa linha de corrente, i.e. serão coincidentes os campos do escoamento


exterior obtidos colocando no seio do escoamento uma fonte ou um corpo
sólido com a forma dessa linha de corrente divisória.
E é esta a base da modelação, em fluido perfeito, do escoamento em torno
de um qualquer corpo sólido; simular a forma da fronteira sólida por uma
conveniente sobreposição de escoamentos elementares induzidos por
singularidades.
Se, no caso em apreço, alterássemos as intensidades relativas do escoamento
de aproximação e da fonte operaríamos apenas uma homotetia: aumento ou
diminuição das dimensões do corpo semi-infínito, conservando, contudo, a sua
forma. Se em vez de uma fonte considerássemos um poço, a configuração
resultante seria simétrica da apresentada em relação ao eixo dos / s; o poço seria
'alimentado' com fluido retirado do escoamento de aproximação; seria apenas
questão de uma inversão de sinais
Se, a jusante da fonte e sobre o eixo dos x's, colocássemos um poço de
intensidade simétrica -m ? Então todo o caudal emitido pela fonte seria
absorvido pelo poço, a linha de corrente divisória fechar-se-ia e obteríamos a
configuração de escoamento representada na Fig. 8.2. A linha de corrente
divisória assume, neste caso, a forma de um cilindro oval; a oval de Rankíne —
em escoamento bi-dimensional cartesiano todos os corpos são cilíndricos e é
usual designá-los só pela forma da directriz: ex. oval, em vez de cilindro oval.

Fig. 8.2 Par fonte-poço em escoamento Fig. 8.3 Fonte / dois poços em
uniforme: oval de Rankine. escoamento uniforme.

Se em vez de um único poço tivéssemos colocado dois poços, ainda a


jusante da fonte e sobre o eixo dos xTs, com uma intensidade tal que
=0? Então, parte do caudal emitido pela fonte seria absorvido pelo
primeiro poço e o restante absorvido pelo segundo, como ilustrado na Fig. 8.3.
Somos assim levados a concluir que, em princípio, podemos modelar o
escoamento em torno de qualquer corpo sólido simétrico e finito, com uma(*)

(*) Aieita-se o leitor para que quando, numa situação bi-dimensional cartesiana e por uma questão
de economia de linguagem, tios referirmos a fontes / poços, estamos na realidade a pretender
significar linhas de fontes / poços.
SEC. 8.1. INTRODUÇÃO 393

fronteira suave com continuidade tangencial, operando a 0 o de ângulo de


ataque — escoamento de aproximação alinhado com o eixo de simetria —
através de uma simples distribuição de fontes e poços ao longo do eixo de
simetria e com uma intensidade resultante nula, para que a linha de corrente
divisória seja fechada.
Se pretendermos simular esse corpo com n singularidades e se, por exemplo,
fixarmos as suas localizações (coordenadas x ), o problema reduz-se à resolução
de um sistema de n equações lineares a n incógnitas: intensidades das n
singularidades necessárias ou i) para satisfazer a condição fronteira de
impermeabilidade em n pontos de controlo na superfície do corpo ou ii) para
apenas a satisfazer em n - \ pontos de controlo mas respeitar também o
requisito de que a linha de corrente divisória seja fechada: Xm,. = 0 .
Retomemos o caso da fonte e do poço de intensidades simétricas — um
chamado p a r fonte-poço — em escoamento uniforme orientado segundo a
linha que une as duas singularidades e com a fonte a montante do poço;
referimos então que a linha de corrente divisória tinha a forma de uma oval. Se
aumentarmos a distância d entre as duas singularidades (mantendo os outros
parâmetros constantes) a oval ficará mais alongada; se, inversamente,
diminuirmos d , as dimensões dos semi-eixos maior e menor aproximar-se-ão e
será de prever que no limite d —>0 a oval degenere num círculo. Não! pois que
na situação limite em que as duas singularidades coincidirem, os seus efeitos se
cancelarão mutuamente: todo o caudal localmente radiado pela fonte será, no
mesmo ponto, absorvido pelo poço. Para obtermos o escoamento em tomo de
um cilindro circular precisaremos então que, à medida que a distância d do par
fonte-poço tenda para zero, a intensidade m das singularidades tenda
simultaneamente para infinito, de modo a que se mantenha constante o produto
lim md = n = const. (8.3)
rf-»0

A singularidade resultante é designada por dipolo [doublet] e caracteriza a


sua intensidade.
Contrariamente a uma fonte ou a um poço, e semelhantemente a um vórtice,
um dipolo não transfere m assa (não em ite nem absorve fluido), mas,
promovendo movimentação do fluido, comunica-lhe quantidade de movimento.
Uma imagem de um dipolo, embora não de geometria rectangular, é a de
uma ventoinha numa sala fechada: a massa de ar dentro da sala conserva-se mas
esse ar é posto em movimento. Para uma dada velocidade de rotação da
ventoinha (correspondendo a uma dada intensidade do dipolo) o campo de
velocidades dentro da sala depende, porém, da orientação da ventoinha, como
ilustrado na Fig. 8.4.
394 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Fig. 8.4 Ventoinha ('dipolo') em sala fechada.

Tal significa que» para caracterizar completamente um dipolo, é preciso definir


não só a sua intensidade como também a sua orientação. O escoamento em
tomo do cilindro circular, por exemplo, foi obtido como a situação limite de um
par fonte-poço com a fonte a montante do poço; para qualquer outra orientação
do dipolo, relativamente à direcção do escoamento de aproximação, a linha de
corrente divisória não seria circular.
Fontes / poços, vórtices e dipolos são os três tipos de singularidades
necessários para simular o escoamento de fluido perfeito em torno de um
qualquer corpo sólido.
No caso do cilindro circular, o escoamento é perfeitamente simétrico em
relação tanto ao eixo dos x'$ como ao eixo dos / s , como representado na Fig.
8.5. Segue-se que serão nulas ambas as componentes da força resultante da
distribuição de pressões na superfície do corpo: tanto a componente de
resistência D, segundo a direcção do escoamento de aproximação £/_, como a
componente de sustentação L, normal a Ú„.

Fig. 8.5 Cilindro circular em F ig. 8.6 Cilindro circular com circulação
escoamento uniforme. em escoamento uniforme.

Sobreponhamos a este escoamento um vórtice de circulação horária F < 0


centrado na origem do referencial, como ilustrado na Fig. 8.6. Dado que as
linhas de corrente associadas a um escoamento tipo vórtice são círculos
concêntricos, a linha de corrente divisória permanece circular. É porém
destruída a anterior simetria do escoamento em relação ao eixo dos x's, pois a
velocidade induzida pelo vórtice é no sentido do escoamento de aproximação
na face superior do cilindro e em sentido contrário na face inferior.
Comparativamente à situação simétrica de referência, a velocidade resultante
aumenta assim ao longo da face superior e diminui ao longo da face inferior; é
SEC. 8.1. INTRODUÇÃO 395

também alterada a localização dos pontos de estagnação sobre a superfície do


cilindro. Sendo a situação de escoamento potencial, a estas alterações do campo
de velocidades estarão associadas, por Bernoulli, uma diminuição de pressão na
face superior do cilindro e um aum ento de pressão na face inferior, do que
resulta uma componente de força não nula normal à direcção do escoamento de
aproximação: uma sustentação L> 0 , naturalm ente relacionada com a
circulação T < 0 por L - ^ p U ^ r — teorema de Kutta-Joukowski (2.41 .b).
Este mecanismo de geração de sustentação num cilindro circular com
circulação (em rotação) é designado por efeito M agnus.
Nota-se, como parêntesis, que a criação da força lateral responsável por
imprimir curvatura à trajectória de uma bola com efeito (em rotação) não pode
ser modelada por esta técnica:
- simulámos a fronteira do cilindro circular sobrepondo um escoamento
uniforme e uma linha de dipolos, resultante da passagem ao lim ite da
configuração par linha de fontes / linha de poços, e modelamos o efeito
sustentador através de uma linha de vórtices.
- no caso da bola com efeito:
• podemos ainda sim ular a fronteira da esfera sobrepondo um escoamento
uniforme e um dipolo pontual, resultante da passagem ao limite de um
par fonte pontual / poço pontual
• não podemos, porém, m odelar o efeito sustentador através de um vórtice
pontual... que é ente que não tem existência! um vórtice constitui-se
sempre em anéis fechados, com o vimos na sub-Sec. 3.3.3.
• a geração da força norm al à trajectória, não passível de simulação com
um modelo de fluido perfeito, só poderá então ser interpretada em
termos de fluido real, e resulta da destruição da simetria do escoamento,
que se verificaria no caso da bola sem efeito, por acção da condição de
não-escorregamento, a qual faz recuar a separação de um dos lados da
bola — do lado em que a velocidade tangencial da superfície sólida seja
no mesmo sentido do escoam ento geral — e avançar a separação do
outro lado, com o ilu stra d o na Fig. 8.7.; associado a diferentes
configurações das linhas de corrente, instalam -se diferentes campos de
pressão de um e do outro lado da bola, do que resulta a força lateral.

F ig . 8 .7 'Bola com efeito': configuração de fluido real.


396 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

No caso do escoamento em torno de um perfil alar é também produzida


uma sustentação que podemos interpretar em term os de circulação, como
fizemos com referência à Fig. 2.23 na sub-Sec. 2.6.6. Os mecanismos de
geração de sustentação são, todavia, perfeitamente diferenciados no caso do
cilindro com circulação e no caso do perfil alar: no primeiro caso, a sustentação
é conseguida imprimindo rotação ao cilindro e, no segundo, é originada pela
forma e atitude (ângulo de ataque) do perfil em relação ao escoamento de
aproximação; porém, embora os mecanismos físicos sejam diferentes, o
resultado final é o mesmo: é produzida uma sustentação que podemos descrever
em termos de uma circulação.
Dado que, para estudar o escoamento em torno do perfil, será provavelmente
difícil determinar a distribuição espacial de singularidades requerida para
simular uma linha de corrente divisória com a forma da fronteira do perfil e
que, por outro lado, é extremamente simples descrever o escoamento em tomo
de um cilindro circular com circulação — basta sobrepor um escoamento
uniforme, um dipolo e um vórtice — revela-se tentador procurar estabelecer
uma correspondência entre as duas situações, isto é, procurar uma
transformação do escoamento no domínio do cilindro circular com circulação
para o escoamento no domínio do perfil alar, como ilustrado na Fig. 8.8. Tal é
efectivamente possível recorrendo a técnicas de tra n s fo rm a ç ã o conforme
[conformai mapping], definíveis em espaço complexo.

Fig. 8.8 Transformação do plano do cilindro circular


com circulação para o plano do perfil.

Uma transformação conforme é uma transformação em que se mantém a


forma de figuras elementares; tal não implica que essas figuras elementares não
possam ser ampliadas ou reduzidas e rodadas em relação à sua orientação inicial
— um quadrado é um quadrado, seja maior ou mais pequeno, esteja ou não
rodado em relação a uma posição de referência. Embora se mantenha a forma
das figuras elementares, se os factores de ampliação linear e de rotação variarem
de p on to para ponto a figura m acroscópica transfo rm ad a pode ser
com pletam ente diferente da figura de partida. E o que acontece no caso em
apreço do círculo e do perfil: i) tendo ambos continuidade tangencial, um
pequeno troço da superfície pode ser discretizado como dois segmentos de recta
elem entares fazendo entre si um ângulo de 7 t, ii) um a figura elementar
SEC. 8 .1 . INTRODUÇÃO 397

constituída por esses dois segmentos de recta no plano do círculo é


transformada, no plano do perfil, numa figura elementar com a mesma forma,
organizada em torno do ponto transformado e geralmente ampliada e rodada
em relação à figura elementar original, iii) apenas no bordo de fuga pontiagudo
do perfil se não verifica essa conservação de ângulos: trata-se de um ponto
singular da transformação.
É de notar que, em fluido real, um perfil alar operando a pequenos ângulos
de ataque é um corpo fuselado, um corpo aerodinâmico por excelência, e que
um cilindro circular constitui, até, um exemplo típico de corpo não-fuselado.
Tem assim todo o significado descrever o comportamento de um perfil alar em
fluido real através de um modelo de fluido perfeito, mas não terá qualquer
validade utilizar um modelo de fluido perfeito para caracterizar o
comportamento de um cilindro circular em fluido real. O modelo de
escoamento de fluido perfeito em torno do cilindro circular com circulação, a
que vamos recorrer neste capítulo, deve assim ser encarado apenas como um
instrumento idealizado para construir o modelo do escoamento em torno do
perfil.
Transformações conformes são o último instrumento genérico de tratamento
de escoamentos potenciais incompressíveis que apresentaremos no presente
capítulo e que nos vai permitir fazer a ponte com o capítulo seguinte dedicado a
perfis alares, a iniciar com o estudo de perfis obtidos a partir de cilindros
circulares com circulação através de uma transformação conforme devida a
Joukowski: a transformação de Joukowski e os perfis de Joukowski.
É assim esta a estrutura base do presente capítulo: na Sec. 8.2. são
apresentados os parâmetros necessários ao estudo de escoamentos potenciais
incompressíveis, mormente em espaço complexo numa situação bi-dimensional
cartesiana; na Sec. 8.3. são descritos os campos de escoamento induzidos por
diferentes distribuições de singularidades, que são sobrepostas na Sec. 8.4. até se
chegar ao caso do cilindro circular com circulação em escoamento uniforme;
estes resultados são generalizados na Sec. 8.5. para o caso do escoamento em
tomo de um corpo de geometria arbitrária; na Sec. 8.6. são então apresentadas
transformações conformes, muito em especial a de Joukowski que, aplicada ao
cilindro circular com circulação, nos vai permitir obter, logo na primeira secção
do capítulo seguinte, as principais características geométricas e aerodinâmicas de
perfis alares.
Dada a possibilidade de descrição analítica exacta em espaço complexo da
generalidade das configurações de escoamentos a apresentar neste capítulo,
muitas das figuras que ilustram o texto foram deliberadamente obtidas com o
código de computação simbólica MAPLE; logo a Fig. 8.1 constitui o primeiro
exemplo de aplicação deste código. Listagem dos mais significativos programas
MAPLE utilizados é apresentada no Apêndice F.
398 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSlVEl, BI-DIMENSIONAL

8.2. Potencial e velocidade complexos;


escoamento ao longo de diedros
Como referido na Sec. 2.4., na presente situação de escoamento potencial,
incompressível, bi-dimensionai são simultaneamente válidos os conceitos de
potencial de velocidades 0 e de função de corrente o primeiro obtido a
partir da condição de irrotacionalidade e o segundo obtido a partir da equação
da continuidade. •
Por uma questão de facilidade de consulta sumarizam-se no quadro a seguir
as expressões anteriormente obtidas das componentes da velocidade em termos
de 0 e de tf' para diversas situações.

1 Escoamento plano Escoamento axi-simétrico

Coordenadas Coordenadas Coordenadas Coordenadas


cartesianas cilíndricas esféricas cilíndricas

í/= i£ ur = ™
dx dr * dR
m
V=Ê ± u - I " i /r= i *
dy U,~ r d 9 9 R dd dr

V = 1 w
' r ãO R f?2sen0 d$

u v - 1 w ur-
9 dr B Ksen0 dR r dx

Substituição de U{0) em V.Ú = 0 e de U(0 ) em V x Ú = 0 produz:


• em escoamento plano e trabalhando, por exemplo, em coordenadas
cartesianas:
9U dV d20 d20 A
*•*• y *

' ' dx dy dx2 dy


isto é, tanto 0 como satisfazem a equação de Laplace;
em escoamento axi-simétrico e, por exemplo, coordenadas cilíndricas:
d20 d20 1 90 2
— =- + — ^- + ------ = 0 = V 0
dx2 dr2 r dr
d 2v ã 2ir 1 d Y
= O ^ V 20
dx2 + d r 2 ' r dr
SEC. 8.2. POTENCIAL E VELOCIDADE COMPLEXOS 399

isto é, <f> ainda satisfaz a equação de Laplace mas 0 não a satisfaz; 0


satisfaz uma equação tam bém linear, mas não a de Laplace — o sinal do
último termo está trocado.
Atendendo à condição necessária e suficiente para que uma função
f ( z ) - a ( x , y ) + ib ( x , y ) da variável com plexa z = x + iy seja analítica —
relembrada na Sec. B.2. — e fazendo a correspondência a < > 0 e b o 0
verificamos que, em escoam ento bi-dimensional plano, todos os requisitos para
existência de uma função analítica são satisfeitos, i.e.
50
V 20 = 0 ; V 20 = O,
dx dy dy
o que nos permite condensar toda a informação separadamente contida em 0 e
em 0 numa única função analítica
W(z) = 0 + i 0 (8.4)
denominada potencial com plex o [8, 46, 86, 114].
A derivada d W /d z deverá estar relacionada com o campo de velocidades;
obtenhamos essa relação;
(9 0 90 \ (90 90 'l
dW = d 0 + i d 0 = \ - ~ d x + — dy +i - ~ d x +— dy
L_ 9x dy ) \ 9x 9y )
~ U d x + V d y —i V dx + '\ U d y - U(dx + i dy) —i V(dx + i dy)

= (U - i V ) d z
ou seja
dW —
— =U -iV = U (8.5)
dz
onde U , o com plexo co n ju g ad o (*) da velocidade U + i V , é designado
velocidade com plexa.
Notemos a sim plicidade m etodológica de trabalhar, em termos do potencial
complexo, um qualquer cam po de escoam ento potencial, incompressfvel, numa
situação bi-dim ensional cartesiana: i) estabelecido o potencial complexo W do
campo, ou por com binação linear dos potenciais complexos das singularidades
necessárias para sim ular a fronteira sólida do corpo em estudo ou através de
uma transformação conform e, ii) o coeficiente da parte imaginária de W é
directamente a função de corrente 0 , a partir da qual podemos determinar a
configuração das linhas de corrente 0 = const., iii) W derivado em ordem a z
fornece as com ponentes U e V do campo cinemático, iv) conhecido U 1 = UU o

(*) Neste contexto de espaço complexo» e de acordo com a notação usual, uma barra por cima do
símbolo de uma variável representa o seu complexo conjugado.
400 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

campo de pressões é obtido através de Bernoulli, pois p T = const. para todo o


escoamento, v) integração da distribuição de pressões ao longo da superfície do
corpo fornece os valores da força e do momento resultantes.
O potencial complexo não é definível em escoamento axi-simétrico, pois
¥' não satisfaz a equação de Laplace, o que implica que, neste caso, tenhamos
de trabalhar separadamente ou em termos de <P ou em termos de 'F.
Duas classes de problemas se podem por:
• um problema directo, em que dada uma forma de função analítica se
pretende determinar qual o campo de escoamento de que essa função seja
potencial complexo;
• um problema inverso, em que definida uma situação de escoamento (p. ex.
um escoamento tipo fonte, ou a forma e atitude de um perfil alar cujas
características aerodinâmicas se pretendam analisar) o objectivo é determinar
qual o potencial complexo que o representa.
Embora o segundo tipo de problema seja aquele que efectivamente nos
preocupa — não é realmente crível que possamos alguma vez estar interessados
em 'inventar1 formas para uma função analítica e depois indagar se o
escoamento de que essa função seja potencial complexo tem ou não alguma
relevância! — consideremos de seguida apenas duas situações de problemas
directos, em que funções analíticas muito simples correspondem a dois tipos de
escoamentos de grande importância — e.g. [8, 46].
Comecemos então por considerar uma descrição do potencial complexo da
forma:
W = az com a real. (8.6)
Explicitando as relações de definição de W — eq. (8.4) — e de z
W = tf>+ i F = az = a(x + iy) = (ax) + i(ay)

e igualando partes reais e coeficientes de partes imaginárias imediatamente


obtemos
4>= a x \ f = ay,
pelo que as linhas equipotenciais <f>= const. são a família de rectas x = const.,
paralelas ao eixo dos y's, e as linhas de corrente 9* = const. são a família de
rectas y ~ const., paralelas ao eixo dos j c ' s , como representado na Fig. 8.9.
Equipotenciais e linhas de corrente são, como referido na Sec. 2.4.,
mutuamente ortogonais.
Quanto ao campo cinemático? atendendo a (8.5):
_ dW
U = U - 1V = ---- = a real
dz
SEC. 8.2. POTENCIAL E VELOCIDADE COMPLEXOS 401

y\
= const.

= const.
n

Fig. 8.9 Linhas de corrente e equipotenciais para um


escoamento uniforme segundo O x .

de onde U = a e V = 0, correspondendo a um escoamento uniforme de


velocidade U = a = const., alinhado com o eixo dos j c ' s . Dado que, em fluido
perfeito, podemos substituir qualquer troço de uma linha de corrente por uma
parede sólida, esta situação corresponderá também à de "escoamento de placa
plana" (gradiente de pressão nulo) considerada nos capítulos anteriores de
fluido real.
Para um escoamento uniforme de aproximação de velocidade Ux a um
ângulo (de ataque) a com Ox virá então para o potencial complexo, atendendo
a que dW/dz é o conjugado do vector velocidade — eq. (8.5):

W= l/„e”iaz. (8.7)
Consideremos, por último, apenas a seguinte generalização do anterior caso
( 8. 6):

W=- z ' (8-8)


n
com a ainda real [8, 46, 86, 133]; a complexo da forma ae,lí> apenas envolve
uma rotação do referencial de um ângulo p .
Trabalhando em coordenadas cilíndricas polares z = r e 'e obtemos:

W - - r " e ' " e = —r"(cosn 0 + isenn0)


n n
de onde:
Q
'V=—r sen«0.
n
Indaguemos da forma da linha de corrente 'P = 0:

'P = — r"senn 0 = 0 => r = 0 ou sennâ = 0 => d = k 7tjn .


n
A conclusão é que a linha de corrente >p = 0 é constituída pela família de rectas
radiais 6 = k x /n = const., todas elas passando pela origem do referencial r = 0 .
402 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Diferentes configurações de escoamento são obtidas para diferentes valores


do parâmetro n. Exploremos essas diferentes configurações, ilustradas no
conjunto de Figs. 8.10:
n > 2 (e.g. n=3): Fig. 8.10.a)
Este caso corresponde ou ao do escoamento ao longo de um diedro de
ângulo de abertura K/n ( tt/ 3 = 60°) ou ao do escoam ento incidindo
segundo a bissectriz de um diedro de abertura 2 n/n (120°); o facto de o
escoamento se processar no sentido indicado na figura ou em sentido
contrário depende apenas de o valor de a em (8.8) ser positivo ou negativo.
#i = 2: Fig. 8.10.b)
Neste caso o diedro terá um ângulo de abertura de 7T/2; a segunda situação
corresponde ao caso de uma placa plana (infinita) colocada normalmente a
um escoamento uniforme de aproximação, que, em termos de escoamentos
semelhantes de camada limite laminar, designámos na sub-Sec. 4.3.1. como
"escoamento de ponto de estagnação" — já voltaremos a este aspecto.
l< # i< 2 ( e .g . n = 3 / 2 ) : Fig. 8 .1 0 .C )

n=1
Este é o caso do "escoamento de placa plana" (diedro de ângulo de abertura
K) considerado no primeiro exemplo: eq. (8.6) e Fig. 8.9
1 /2 < « < 1 (e.g. n = 2/3): Fig. 8.10.d).
Passamos agora para o caso de diedros convexos (ângulo de abertura > n \
em vez de diedros côncavos (ângulo de abertura < 7r); para descrevermos o
escoamento exterior a este diedro teremos assim, em (8.8), de considerar
#i = 2/3, enquanto que, para descrevermos o escoam ento interior, devemos
tomar #i = 2 — ver caso anterior.
#i = l/2 : Fig. 8.10.e)
Este é o caso limite de um diedro com um ângulo de abertura de 2 n que
nos vai interessar, por exemplo, na sub-Sec. 9.1.1. para interpretarmos as
características aerodinâmicas da forma mais rudim entar de perfil alar: uma
placa plana a incidência (como num simples papagaio de papel).
É particularmente simples a identificação da fam ília de linhas de corrente
nos casos n = 2 e n = 1/2:
- Para n - 2 a relação analítica para *F escreve-se:

KF = ~ r 2 sen20;

atendendo a que sen20 = 2 se n 0 c o s0 obtém-se, reagrupando termos:


(rcos 0) (rsen 0 ) = const.
SEC. 8.2. POTENCIAL E VELOCIDADE COMPLEXOS 403

c) abertura 2;r/3

d) abertura 3;r/2 e) abertura 2 n

Escoamentos ao longo de diedros de diferentes ângulos de abertura.


404 CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSlVEL. BI-DIMENSIONAL

OU
.tys=const.,
e q u a ç ã o d e u m a f a m ília d e h ip é r b o le s e q u ilá te r a s .
- Para n = 1/2 obtém-se para *P:

¥ ' = 2<jrl/2s e n —;
2
atendendo a que sen (0/2) = [ ( l- c o s 0 ) /2 ] I/2 e quadrando a expressão
resultante advém:
r ( l- c o s 0 ) = const.,
equação de uma família de parábolas com foco na origem — vidé e.g,
[157].
Quanto ao campo cinemático, obtemos de (8.8):
rr dW ji-I N-l i(n-l)0
U s ---- —az —a r e'
dz
de onde
U = \U\ = ar"-', (8.9)

implicando que o módulo da velocidade seja co n stan te ao longo de


circunferências r = const. No lim ite /■—» 0 , i.e. na origem do referencial,
conespondendo ao módulo da velocidade no vértice do diedro:
U(r = 0) = 0 sen > 1 (diedro côncavo)

V ( r = Q) = a sen = l (placa plana) (8.10)

l/( r = 0) = °o se n < l (diedro convexo).

Estes resultados levam-nos a concluir que i) o cam po de velocidades ao


longo da parede de um diedro é controlado pelo seu ângulo de abertura,
m anifestado em (8.9) através do parâmetro n , ii) no vértice de um diedro
côncavo ocorre um ponto de estagnação {U - 0 , p = p T <>Cp - 1) e iii) a
velocidade exibe uma descontinuidade infinita ( t / = °o, c = -« > ) no vértice de
um diedro convexo.
A pliquem os estes resultados ao caso do escoam ento num canto abrupto
num a conduta, exemplificado na Fig. 8.11.
N o contexto da Fig. 1.51 do Cap. 1. e da Fig. 4.24 do Cap. 4. interpretámos
os g rad ie n tes lon gitudin ais de pressão instalados na região do canto e
co ndu zin do a eventuais separações da camada lim ite com o resultantes do
necessário equilíbrio radial de forças dpjdr ~ p U 1 / r . Podem os agora interpretá-
los em term os do escoam ento invíscido ao longo de diedros: i) ao longo da
SEC. 8.2. POTENCIAL E VELOCIDADE COMPLEXOS 405

/
F ig. 8.11 Separações do escoamento de fluido real
num canto abrupto numa conduta.

parede exterior e em direcçao ao canto instala-se, antes do canto, um gradiente


adverso conduzindo a separação, já que, no vértice do diedro côncavo, a pressão
deverá evoluir até ao seu valor máximo p = = pT = ii) ao longo da
parede interior e depois do canto, a pressão deverá ter recuperado do seu valor
mínimo no vértice do diedro convexo p mi0 = -© °(f/ = oo), produzindo um
gradiente longitudinal de pressão adverso que, em fluido real, conduzirá a
separação seguida de recolamento por efeito Coanda.
Na sub-Sec. 4.3.1. de escoam entos semelhantes de camadas limites
laminares, e com referência à Fig. 4.14, avançámos que um escoamento exterior
do tipo Uc = C xm se verificava no caso do escoamento ao longo de um diedro
de ângulo interno pK tal que P = 2m /(m + 1). Estamos agora em condições de o
comprovar.
Compatibilização de nomenclaturas:
Ut = Cxm e U = a r "~1
conduz a
Ut o U ; C <> a ; x o r ; m o n —1
pois, numa óptica de camada limite, x deve ser entendido como o comprimento
ao longo do qual se desenvolve a camada limite, agora tomado como r, como
ilustrado na Fig. 8.12.

Fig. 8.12 G e o m e tria d e u m d ie d ro d e ab e rtu ra .

V irá assim:

ou, dado que m = n - 1:


406 CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

2 m
fi m + l ou m =
2-fi'
Para escoamento de placa plana será /3 = 0, m = O e n s l ; para escoamento
de ponto de estagnação — placa normal ao escoamento: p T t ^ x — será
=l m= l e n =2 .

8.3. Escoamentos induzidos por singularidades


Nesta secção vamos caracterizar os campos de escoamento induzidos por
diferentes tipos de singularidades: i) linhas de singularidades, situação bi-
dimensional cartesiana a apresentar na sub-Sec. 8.3.1. e que fornecerá a
informação necessária para descrever, e.g., o escoamento em torno de um
cilindro circular com circulação, ii) singularidades pontuais — sub-Sec. 8.3.2.
—, requeridas numa situação bi-dimensional axi-simétrica, como, por exemplo,
a do escoamento em tomo de uma esfera, e numa situação tri-dimensional, e iii)
superfícies ou folhas de singularidades, a descrever na sub-Sec. 8.3.3., cujo
significado então realçaremos.

8.3.1. Unhas de singularidades


Pretendemos, nesta sub-secção, resolver o problema inverso de determinação
da forma da função analítica potencial com plexo W representativa do
escoamento induzido por uma linha de fontes, por uma linha de vórtices e por
uma linha de dipolos [8, 46, 114].
Para bem situarmos a questão comparemo-la com a do problema directo
considerado na anterior secção, em que, oferecida a forma W = az com a real
— eq. (8.6) —, verificámos esta função analítica representar o potencial
complexo de um escoamento uniforme de velocidade a constante segundo o
eixo dos x's. Em termos de problema inverso o que pretendemos é determinar a
forma analítica da função potencial complexo representativa de um escoamento
uniforme segundo Ox com velocidade a = const.
Comecemos por elaborar em termos de 0 e depois em termos de
conjugando em W ambos os resultados obtidos:
• em termos de <t>:

ox ày
pelo que
d<P
U - ---- = a
dx
que integrada em x produz
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 407

<í>= ajt,
já que 0 é sempre definido a menos de uma constante aditiva arbitrária
(eventualmente zero).
• em termos de H*:
<W_ 9Y
l/ = =a V =0
dy 9x
pelo que
dV
t/ = a
dy
que integrada em y produz

pois que é, também, definido a menos de uma constante aditiva arbitrária


(zero também, digamos);
• daqui resulta
W=& + i ¥ = ax + ia y = a ( x + iy ) = az*
forma da eq. (8.6).
É esta metodologia de problem a inverso com que iremos elaborar na
presente sub-secção.

8.3.11 Linha de fontes e poços


Seja m o caudal volumétrico emitido por unidade de comprimento da linha
de fontes (*); trabalhando, por conveniência, em coordenadas cilíndricas polares,
obtém-se para 0 , XF, W e U , atendendo à expressão do caudal volumétrico
através de uma superfície de controlo cilíndrica com o eixo coincidente com a
linha de fontes, de raio r e comprimento unitário, como ilustrado na Fig. 8.13.

♦ em termos de 0 :

m = bU .n d S = 2 n rU r —2 n r
Ih d0 _ m
0 ~ — lnr (8.11)
190 dr 2 Kr 2n
96

(*) Esta é um a das d u a s d e fin iç õ e s u s u a is d e in te n s id a d e d e u m a lin h a de fontes; outros autores —


e.g, [46, 1141 — d e fin e m -n a c o m o o c a u d a l e m itid o a p e n a s n u m arco d e ab ertu ra 1 rad , pelo
que o caudal to tal s e rá 2 n m . A d if e r e n ç a d e n o ta ç õ e s im p lic a a e x c lu sã o d o facto r 2 /r nas
relações a s e g u ir a p r e s e n ta d a s p a r a W e U. O p re s e n te a u to r é a p o lo g is ta da
definição in d ic a d a n o c o rp o d o te x to p a r a b e m v in c a r a a n a lo g ia fo rm al en tre o s caso s de
fontes e d e v ó rtices, c o m o e x p r e s s o p e la s re la ç õ e s (8 .1 ) e (8 .2 ) an terio rm e n te en unciadas.
408 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Fig. 8.13 Escoamento radiando de uma linha de fontes.

• em termos de f':

m = 2nrU,
' { rdO ) dY _ m
de ~ 2 n 2n ( 8 . 12)
dY

para forma de W:

W= 0 +i ¥ = — (\nr + ie) = — ( l n r + l n e ,8 ) = — ln ( r e 'e )


2 ln. ' ' 'Prr v 1
= — ln z (8.13)
2 n
• e para U :
—_ dW _ m
(8.1 4 )
dz 2 nz ’
forma equivalente à da eq. (8.2).
Tendo a velocidade só componente radial as linhas de corrente são rectas
radiais 0 = const., como dado por (8.12), e as equipotenciais, normais às linhas
de corrente, são círculos concêntricos r = const. — eq. (8.11); a velocidade
decai com a distância segundo uma hipérbole equilátera: 1/ <=1/r — eq. (8.14).
Estas expressões respeitam ao caso de uma fonte na origem do referencial
z = 0. Para uma fonte em z = z0, operando uma translação de eixos virá, por
exemplo, para W:

W,= -^ ;ln(z -Z l))- (8.15)

8.3.1.2. Linha de vórtices


Para um vórtice livre irrotacional, a sua intensidade é definida como a
circulação r em torno de um qualquer circuito fechado que o envolva — f
considerada positiva no sentido directo — e a velocidade induzida é puramente
tangencial. Por um procedimento análogo ao seguido no caso anterior de uma
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 409

fonte, obtém-se agora para 0 , K F, W e U , tomando como circuito de


integração um circuito circular centrado na singularidade, respectivamente
r - _ [ 1 d&
• r = fU .d s = ln r U e = 2 n r \ - - ^
d® r r
— =— -> 0 =—e (8.16)
dd 2 n 2 n
v' = i = \
dV
• r = 2KrUa =27Cr -
dr dV r
-» '¥ = ----- lnr (8.17)
dr 2 itr 2 n

IV= 0 + i y = J L (e _ i In r) = - — (ln r + i 0)
2n 2n
ít
lnz (8.18)
2 n

y- — (8.19)
dz 2 nz
Sendo a velocidade puramente tangencial (em vez de puramente radial,
como no caso da fonte), as linhas de corrente são círculos concêntricos
r = const. — eq. (8.17) — (em vez de rectas radiais) e as equipotenciais são
rectas radiais 8 = const. — eq. (8.16) — (em vez de círculos concêntricos); a
velocidade decai inversamente com a distância — eq.(8.19) —, tal como num
escoamento tipo fonte — eq. (8.14). Para uma circulação positiva — no sentido
directo, anti-horário — a velocidade Ue aparece rodada de ?:/2 no sentido
directo relativamente à velocidade Ur induzida por uma fonte positiva —
operador - i em (8.19), comparativamente a (8.14), em vez de + i, pois que U
é o conjugado do vector velocidade, o que faz com que qualquer rotação no
semi-plano superior apareça, no semi-plano inferior, como que reflectida num
espelho coincidente com o eixo real.

8.3.1.3. Linha de dipolos


Na Sec. 8.1. de Introdução ao presente capítulo definimos uma
singularidade tipo dipolo (de fontes — justificaremos, no fim do presente
parágrafo, a especificação dipolo 'de fontes') como resultante do limite de uma
configuração par fonte-poço quando a distância d entre as duas singularidades
tendesse para zero e simultaneamente as respectivas intensidades m fossem feitas
tender para infinito, de tal modo que se conservasse constante o valor do
produto md — eq. (8.3).
410 CAP.8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Dispondo nós já da expressão do potencial complexo para uma fonte


localizada num qualquer ponto do espaço — eq. (8.15) — a maneira mais
expedita de obtermos a expressão de W para um dipolo é construir a relação de
W para o par fonte-poço indicado na Fig. 8.14 e em seguida operar a passagem
ao limite:

Fig. 8.14 Configuração geométrica de um par fonte-poço centrado na origem.

■ r
m , , m , , \ m ae
ln i — - l n 1+
l z )
Desenvolvendo esta expressão em série para a/z pequeno (*), pois no lima -r 0
estaremos sempre a avaliar o comportamento do campo a distâncias |z| » a,
vem:
2m ae'a 2m a3e 3l“
w = ----------------------- 5— ...
2 itz 2 %?>z

No limite, e absorvendo o factor 2n na eq. (8.3) de definição da intensidade do


dipolo:
2ma ...
ltm ----- = const.=)t (8.20)
o->0 2 K

resulta para W e para U

W =- Z — (8.21)
z
— íte 'a
U= (8.22)
z
Para completa caracterização do dipolo intervêm, por exemplo na eq. (8.21)
para W, tanto a sua intensidade H como o seu ângulo de orientação a . É de
notar, com referência à Fig. 8.14, que a é definido, antes da passagem ao
limite, como o ângulo medido do semi-eixo real positivo para a parte do
segmento de recta que une as duas singularidades e se encontra do lado da
fonte. A situação do cilindro circular em escoamento uniforme, que

(*) ln(l + e) = e - ^ - + ^ — ... para |e [< l.


SEC . 8 .3 . ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 411

qualitativamente apreciámos na Sec. 8.1. e que desenvolveremos na sub-Sec.


8.4.1., foi obtida como limite de uma configuração par fonte-poço com a fonte
a montante do poço; o correspondente dipolo terá assim um ângulo de
orientação a = n .
Fazendo z = r e ,e em (8.21) e desdobrando W em parte real e parte
imaginária obtém-se para 0 e para 'f ':

<P=-—c o s ( 0 - a ) ; lf/ = — s e n ( O - a ) . (8.23)


r r
Para investigarmos a configuração das linhas de corrente f / = const. torna-
se mais conveniente trabalharmos num referencial (X, Y) com X alinhado com o
eixo do dipolo, como representado na Fig. 8.15.

Fig. 8.15 Orientação relativa dos referenciais geral e segundo o eixo do dipolo.

No referencial {x, y) *F é expresso por (8.23); em (X, Y) virá:

'Y = — senj3 com /3 = 6 - a .


r
Explicitando r :

r = — seno

ou

r2~ — rsenfl = 0.
V
Dado que r 1 ~ X 2 + Y 2 e r sen/3 = Y obtém-se:

x2+ r 2— y =0
w
ou, rearranjando

equação de uma fam ília de círculos tangentes ao eixo do dipolo (eixo dos X’s)
na origem e parametrizada a *P: círculos de centro Xc = 0 ; Kc = /i/(2 f ') e raio
R =ti/( 2 T ) .
412 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

As equipotenciais, sendo definidas através de uma função coseno em vez de


seno, como expresso por (8.23), consistirão de uma família de círculos rodada
de k/ 2 em relação à família das linhas de corrente: família de círculos tangentes
ao eixo dos K's na origem, como representado na Fig. 8.16.

Fig. 8.16 Linhas de corrente e equipotenciais associadas a um dipolo.

Assim como construímos um dipolo de fontes associando uma fonte de


intensidade positiva +m com uma fonte de intensidade negativa - m (um
poço), poderíamos construir um dipolo de vórtices conjugando um vórtice de
circulação + rco m um vórtice de circulação simétrica - T . Lembrando a
ocorrência do operador - i em (8.18), comparativamente a (8.13), logo
concluímos que, para que os dois tipos de dipolos produzam o mesmo
escoamento, terá o dipolo de vórtices de estar rodado de zr/2 no sentido directo
relativamente ao dipolo de fontes. Daqui em diante, e por economia de
linguagem, fica entendido que quando mencionarmos simplesmente "dipolo"
nos estaremos a referir a um dipolo de fontes.
Como parêntesis, levemos só esta associação de singularidades uma ordem
acima. Conjugando uma fonte com uma fonte simétrica (um poço) obtivemos
uma singularidade (dipolo) que não operava transferência de massa m, apenas
de quantidade de movimento mU; se associarmos um dipolo com um dipolo
simétrico, obtemos uma singularidade que não transfere quantidade de
movimento m U , apenas energia mU.U = m U 2: um te tra p o lo ou quadripolo.
Tetrapolos são os entes responsáveis pela geração de ruído num campo
turbulento; som pode, porém, ser também produzido por transferência de massa
(um instrumento de sopro, a voz humana, o escape de um motor) e de
quantidade de movimento (uma corda vibrante, um tambor, um bater de
palmas).
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 413

8.3.2. Singularidades pontuais

Como referido na Sec. 8.1. esta situação de singularidades pontuais [74,


114] interessa, por exemplo, para modelar um escoamento bi-dimensional axi-
simétrico, em vez de bi-dimensional cartesiano modelado com as linhas de
singularidades apresentadas na anterior sub-secção. Torna-se, neste caso, mais
conveniente trabalhar em coordenadas cilíndricas (x, r) ou em coordenadas
esféricas (R,0), relacionadas entre si, como ilustrado na Fig. 8.17, por
x = Rcos 6 , r = /?|sen0|:

Fig. 8.17 Relação entre coordenadas cilíndricas e esféricas.

Para um escoamento uniforme de velocidade segundo x virá então para


0 e lf/, em coordenadas cilíndricas

-> & = Umx (8.24)


ox dx

1 ^ 1 ^
-> >
r= ju y . (8.25)
r dr r dr
Em coordenadas esféricas obtém-se imediatamente, recorrendo às anteriores
relações entre os dois sistemas de coordenadas:
0 = U„ R cos 0 (8.26)

'F = ±U„R 2 sen20. (8.27)

8.3.2.1. Fonte pontual


Seguindo a mesma m etodologia que no §8.3.1.1. em bi-dimensional
cartesiano, mas agora em termos de uma superfície de controlo esférica em vez
de cilíndrica de altura unitária (área 4 k R 2 em vez de 2 ;r rx l), obtém-se para
expressões de d> e de em coordenadas esféricas, respectivamente:

m = 4 n R 2 UR = 4 K R 2 — = 4 itR 2 — -> (2>= — — (8.28)


* dR dR 4k R

1 dY An d Y
m = 4 n R 2 UR = 4 n R 2 *P = - — cosé» (8.29)
R 2 senB dO sen0 dd An

As equipotenciais são esferas R = const. centradas na singularidade — por


(8.28) — e, as linhas de corrente, rectas radiais Ô = const. — eq. (8.29). A
414 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEl. BI-DIMENSIONAL

p e rtu rb a ç ã o ( v e lo c id a d e ) in d u z id a p e la s in g u la r id a d e a te n u a -s e a g o ra com / r 2
c o m o e x p re s s o p o r ( 8 . 2 8 ) , e m v e z de com r " 1, c o m o em bi-dim ensional
c a rte s ia n o — e q s . ( 8 . 1 1 ) e ( 8 . 1 4 ) . C o m p r e e n d e -s e a r a z ã o : a fo n te pontual tem
a g o ra d e 'a lim e n ta r * to d o o e s p a ç o , e n q u a n to q u e o c a u d a l e m a n a d o de uma
lin h a de fo n te s ra d ia a p e n a s n u m p la n o n o r m a l a o fila m e n t o .

8.3.2.2. Dipolo pontual

Procedim ento análogo ao seguido em b i-dim ensional cartesiano no


§83.1.3. — construção de d> e de ¥* para um par fonte-poço e passagem ao
limite — produz, com ângulos medidos a partir do eixo do dipolo:

0 =—í cos$ (8.30)


R2

V ^ s e n 2S (8.31)
R
com
.. 2 a m
\í = l i m ------- . (8.32)
a- * 0 AK
/n—

Também neste caso a perturbação se esbate mais rapidamente com a


distância à singularidade que no caso bi-dim ensional cartesiano: com R~\ em
vez de com r ~2.
Há uma relação entre potenciais de velocidade de dipolos e de fontes
pontuais a que vam os precisar recorrer no A p ên d ice D; obtenhamo-la.
A dm itindo sing ularidades de inten sidad e u n itá ria virá, para o dipolo,
p ~ fxeu = eM, onde ^ é o versor do eixo do dipolo, pelo que por (8.30):

0 . = -----5- COS 0 = - ê ... —t .


d R2 " R3
Dado que - R / R 3 se pode escrever com o V (1//?) — pois grad/(?) = /'gradf
como já recordado em nota-de-pé-de-página na pág. 160— obtém-se:

= - 4 ff ^ .V < P f por (8.28). (8.33.a)

Se, em (8.32), tivéssemos definido /i sem englobar o factor 4 n , teríamos a8°ra


obtido:
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 415

8.3.3. Folhas de singularidades

8.3.3.1. Folha de vórtices

Até agora considerámos apenas campos de escoamento induzidos por


distribuições espaciais de vorticidade organizadas em tomo de um eixo, isto é,
organizações como que constituindo um feixe de filamentos de vórtices, que
designámos por tubo de vórtices, circundado por um escoamento potencial
exterior, e que, no limite, modelámos como um vórtice livre irrotacional — Fig.
8.18.a). Outro tipo de organização espacial de vorticidade diz respeito a uma
distribuição entre duas superfícies, como a correspondente à organização de
vorticidade numa camada de mistura, com um escoamento potencial exterior de
uma certa velocidade de um dos lados da camada de corte e com uma
velocidade diferente do outro lado — Fig. 8.18.b) —, ou numa camada limite
subjacente a um escoamento potencial exterior (U = Ue) e com uma fronteira
sólida no lado oposto ( Ú = 0).

a) Tubo (filamento) de vórtices b) Camada de corte (folha de vórtices)


Fig. 8.1 8 Diferentes organizações espaciais de vorticidade.

No primeiro caso falamos em filamentos de vórtices na situação limite de a


dimensão do núcleo em rotação sólida tender para zero (dS-> 0) e
simultaneamente a vorticidade tender para infinito de tal modo que
lim Í2 dS = r = const.
o

No segundo caso falamos em folhas de vórtices [vortex sheets] na situação


limite em que a espessura 8 da cam ada de corte seja desprezável
comparativamente a uma escala de comprimentos característica do escoamento
(Ó->0) e a vorticidade concomitantemente tenda para infinito ( 4 2 ^ ° ° ), de tal
modo que, sendo Q d V = Q ô d S - f d S y o parâmetro Q 8 = y se mantenha
constante no limite:
lim Í2<S = 7 = const. (8.34)
Ó-»0
O— >°°
Tudo se passa como se, em vez de uma variação contínua e muito rápida de
velocidade através da cam ada de corte, tivéssemos uma superfície de
416 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSlVEL, 8I-DIMENSI0NAL

descontinuidade, na qual a velocidade do escoamento transitasse abruptamente


de um determinado valor no escoamento potencial de um dos lados da camada
de corte para outro valor do outro lado.
O parâmetro y (= const.) designa-se por in t e n s id a d e d a f o lh a d e vórtices;
vejamos qual o seu significado físico. Para tal calculemos a intensidade de um
tubo de vórtices envolvendo uma região da folha, como, por exemplo, o tubo de
vórtices de secção fABCD] indicado na Fig. 8.18.b):
^"[ a b c d j — 0 . 8 b = yb.
Concluímos assim que y (= r [ABCD]/b) tem dimensões e significado de
c irc u la ç ã o p o r u n id a d e d e c o m p r im e n to a o lo n g o d a fo lh a .
Calculemos a forma do campo de velocidades associado à folha de vórtices:
• De acordo com o teorema integral para o operador rotacional

J Q d V = £ V x Od V = £ h x UdS

conforme recordado na Sec. B.4.


Para o cilindro elementar considerado [86]:

Q d V = ydS = lim Q 8 dS = lim <J>n x UdS


<5->o s-> Js 0
í2—*®o

= lim f nx x UdSx+ f n 2 x U d S 2 + í n lat x U dSXsA ;


<5-»0 J^JSi "S2

no limite 8 —>0: i) a superfície lateral tende para zero, pelo que se anula a
respectiva contribuição integral, ii) a normal nx tende para a normal m à
superfície média e n2 —>-in e ainda iii) dSx e dS 2 tendem ambas para dS,
obtendo-se
fd S = m x{Ú 1 - U 2)dS
ou seja
y = m x ( t / 1- Ê /2) (8.35)

o que implica que a existência de y esteja associada a uma descontinuidade


nas componentes tangenciais de 0 de um e de outro lado da folha.
• E quanto às componentes normais? Uma metodologia análoga, mas agora
em termos do operador divergente, conduz a

V. U d V = ® n. UdS = 0 por continuidade

= lim \ hv ÚdSx+ \ n 2 .ÚdS2 + \ n lat.ÚdS


5 —»0 JS , * * JS2
JS 2 JS\ax
no limite 8 - ^ 0 obtém-se
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 417

(í?! - U2). m ~ O
implicando que, para conservação de massa, haja continuidade nas
componentes normais de D ao atravessar a folha de vórtices.
Podemos assim concluir que, ao atravessar uma folha de vórtices, o campo
de velocidades exibe uma descontinuidade de intensidade |í/( —1/21= y na
componente tangencial, sendo o vector descontinuidade (t/,-È /2) normal ao
plano y,ih.
E esta a forma do campo de velocidades induzido por uma folha de vórtices
num referencial solidário com a própria folha. É porém de notar, com base nos
argumentos expandidos na sub-Sec. 3.3.2., que uma folha de vórtices deverá ser
convectada pelo fluido, o que corresponde, na situação limite aqui considerada,
a ser convectada com uma velocidade igual à média das velocidades de um e do
outro lado da folha. Continuando a designar estas velocidades por Ul e U2,
respectivamente, tal corresponderá a afirmar que a folha de vórtices é
convectada com uma velocidade:

É L ,= t f * d = £ ( t f . + v a) (8.36)

A título de exemplo apliquemos este modelo de folha de vórtices ao caso da


camada limite bi-dimensional representada na Fig. 8.19: uma camada limite de
espessura Ô desenvolvendo-se ao longo de uma pequena distância na direcção
longitudinal Ax sob a acção de um escoamento potencial exterior de velocidade
w,-

Fig. 8.19 Circuito para determinação da circulação associada


a um escoamento de camada limite.

Calculemos a circulação ao longo do contorno [ABCD] representado. Dado


que:
- a contribuição para a circulação ao longo do trajecto AB é nula, devido à
condição de não-escorregamento na fronteira sólida,
- as contribuições ao longo dos segmentos BC e DA praticamente se
cancelam m utuam ente, devido ao facto da evolução do campo de
velocidades ser pequena ao longo da distância Ax considerada e de as
integrandas terem sinais contrários ( d s tem sentidos contrários) ao longo
destes dois segmentos,
4 )8 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. INCOMPRESSlVEL, BI-DIMENSIONAL

- ao longo do segmento restante CD, na interface com o escoamento exterior,


a velocidade Ue e o elemento do trajecto ds têm sentidos contrários,
obtém-se

r = J> U.ds = - U . A x .
J (ABCD]

O valor médio da vorticidade na superfície AS interior ao polígono [ABCD]


será
. r - u t Ax Li,
”K'i AS SAx 8 ’
assumindo assim, independentemente da forma do campo de velocidades no
interior da camada limite — i.e. independentemente do regime do escoamento,
do Reynolds, do gradiente de pressão, de haver ou não reversão —, o valor
necessário para anular a velocidade Ut ao longo de uma distância (transversal)
igual a ô , de modo a satisfazer a condição de não-escorregamento na parede
sólida.
A intensidade da folha de vórtices equivalente será:
~UeAx
r = - Ax

Um tal modelo de folha de vórtices será então equivalente a substituir a


evolução contínua, mas muito rápida, de velocidade ao longo da espessura S da
camada limite por uma folha de vórtices de intensidade y = - f / e, produzindo,
num referencial solidário com a folha, uma velocidade constante e igual a UJ2
dum lado da folha e uma velocidade constante e igual a -£ /e/2 do outro lado,
folha esta que é ainda convectada com uma velocidade igual à média das
velocidades de um e do outro lado (í/e + 0 )/2 = £/e/2 , do que resulta a
configuração assinalada na Fig. 8.20.

u/2

-h ) W " V >-y + i---- 1 =


i r= -í4 u „ = u ji
r

-u ji '
Fig. 8.20 Modelação de um escoamento de camada limite
através de uma folha de vórtices.

Conforme expandido nos capítulos de fluido real, terá todo o significado


físico localizar esta folha de vórtices a uma distância da parede igual à espessura
do deslocam ento õ*. A vantagem desta simulação, comparativamente a um
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 419

modelo puro de fluido perfeito, é a de, embora ignorando detalhes do campo de


velocidades no interior da camada limite, permitir satisfazer o requisito físico de
não-escorregamento numa fronteira sólida.
Este modelo de folha de vórtices vai-nos interessar, particularmente, para
simular o efeito sustentador de um perfil alar distribuindo uma folha de vórtices
ao longo da superfície do perfil, única região do escoamento onde (fisicamente)
está contida a vorticidade necessariamente gerada por uma condição de não-
escorregamento.

8.3.3.2. Folha de fontes


Lembrando o paralelismo entre os campos de escoamento induzidos por
filamentos de fontes e de vórtices — a mesma descrição formal, só que um em
termos de velocidade radial e o outro em termos de velocidade tangencial — e
atendendo aos resultados obtidos no parágrafo anterior para uma folha de
vórtices, imediatamente concluímos que uma folha de fontes [source sheet] de
intensidade cr produzirá uma descontinuidade nas componentes normais (em
vez de tangenciais) de U de um e do outro lado da folha: <7/2 de um dos lados,
“ <7/2 do outro, como assinalado na Fig. 8.21; por analogia com y, a densidade
da distribuição de fontes a tem o significado de caudal volumétrico emitido
por unidade de comprimento ao longo da folha.

o
-<7/2 |

F ig. 8 .2 1 Escoamento induzido por uma folha de fontes.

8.3.3.3. Folha de dipolos

Consideremos uma distribuição de dipolos de intensidade fl por unidade de


área sobre uma superfície S limitada por um contorno [C], como indicado na
Fig. 8.22 [47]; sejam a direcção e sentido dos dipolos num ponto corrente de 5
os da normal positiva n nesse ponto.
O potencial em P devido à folha de dipolos é, por (8.30)

• Comecemos por considerar o caso \i = const. sobre S e caindo a zero


abruptamente ao longo de [C]. Sendo \l = const., virá para 0
í2 0 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

F ig . 8 .2 2 Geometria de folha de dipolos.

Ora cos OdS é a área da projecção do elemento dS num plano


perpendicular a Ã, pelo que cosOdS/R2 = d 0 é a projecção central de dS
sobre uma esfera de raio unitário centrada em P, i.e. o ângulo sólido
subtendido por dS em P — será d O > 0 se O < 0 < 7 t/ 2, i.e. se a face
positiva de dS estiver voltada para P. Assim:

' Js
em que G é o ângulo sólido total subtendido por S em P — é de notar que
0 depende apenas da forma da fronteira [C].
Consideremos agora um circuito [A'] que intersecta a superfície S num
ponto A; sejam B e C dois pontos vizinhos de A, respectivamente do lado
das faces positiva e negativa de S. A circulação ao longo de [K]y medida da
face positiva para a face negativa de S, virá, atendendo ao significado do
acréscimo de circulação A r de uma equipotencial para outra apresentado
na Sec. 2.4.:

r = lim f _U .d s= lim í d 0 - lim ( 0 r - 0 B) = dm /* ( # b “ ® c)-


B .C —> A V l - C B B ,C —» A *J b C B .C -» A V C B / B ,C - * A ' B *

Mas, no limite, a diferença dos ângulos sólidos é 47T (área da esfera de raio
unitário), pelo que:
r= 4 ^ jU (* > . (8.37)

Concluímos assim que uma folha S de dipolos de intensidade /j constante,


limitada por um contorno [C], é equivalente a um vórtice anelar coincidente
com [C] e de circulação r - 4 Kfi.
• O caso da intensidade da distribuição de dipolos jU ser continuamente
variável sobre S pode ser obtido, com base no resultado anterior, como
limite da configuração correspondente à sobreposição de diversas
distribuições de intensidade constante, como indicado na Fig. 8.23, onde,
por exemplo:

(*) Se, em (8.32), tivéssemos definido f i sem englobar o factor 4 n , teríamos agora obtido
SEC. 8.3. ESCOAMENTOS INDUZIDOS POR SINGULARIDADES 421

Fig. 8.23 Sobreposição de folhas de dipolos de intensidade constante


e equivalente constituição de anéis de vórtices.

Assim, uma distribuição contínua de dipolos é equivalente a uma


distribuição contínua de vórtices tal que y = dF/d/, sendo o vector / ( a
intensidade da folha de vórtices) paralelo às linhas F ou (j, constante e dl a
distância entre as linhas F e F + d F — Fig. 8.24.

Fig. 8.24 Organizações espaciais do vector y e das isolinhas F = const.


para a folha de vórtices equivalente a uma folha de dipolos.

Este resultado pode, altemativamente, ser escrito como:

por (8.37), em que grad2D representa o operador gradiente bi-dimensional


sobre a superfície S.
Dado que y ± grad2DF virá finalmente:
«X7 = 4 ^ g ra d 2Diu . (8.38)

Concluímos então que um a folha de dipolos de intensidade continuamente


variável é equivalente a um a folha de vórtices, de intensidade proporcional à
taxa de variação da intensidade d a folha de dipolos, e a um vórtice anelar ao
longo do contorno d a fo lh a, com u m a intensidade proporcional à
descontinuidade da intensidade da folha de dipolos.
A vantagem de, em tri-dimensional, se modelar um efeito sustentador através
de uma folha de dipolos, em vez de através de uma folha de vórtices, reside no
facto de fi ser um escalar — uma incógnita — , enquanto que y é um vector —
42: CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-OIMENSIONAL

du.is componentes sobre a superfície, duas incógnitas; esta economia de cálculo


paga-se' depois ao avaliar o campo de velocidades por aplicação do operador
gradiente — um vector —, o que envolve diferenciações sobre a superfície, mas
que. mesmo assim, se revela mais económico, embora eventualmente menos
preciso, em termos de esforço de cálculo.
Ê assim usual modelar um efeito sustentador:
- em bi-dimensional. através de uma folha de vórtices, pois que y é normal ao
plano do escoamento, o que requer avaliação de apenas uma incógnita: |y|
- em tri-dimensional, através de uma folha de dipolos.

8.4. Sobreposiçãodesingularidades
De acordo com a linha condutora traçada na introdução a este capítulo,
depois de na anterior secção termos estabelecido a forma dos campos de
escoamento induzidos por diferentes tipos de singularidades, sobreponhamos
agora esses campos até chegarmos ao caso do cilindro circular com circulação
que, por aplicação de uma conveniente transformação conforme, nos permitirá
atingir um primeiro objectivo de escoamento em tomo de um perfil alar.
Consideremos então, primeiro, o caso de um cilindro circular (sem
circulação) em escoamento uniforme — sub-Sec. 8.4.1. —■, após o que
trabalharemos o caso do cilindro circular com circulação — sub-Sec. 8.4.3.
Faremos, entretanto, o paralelo com o caso axi-simétrico da esfera em
escoamento uniforme — sub-Sec. 8.4.2. — e ultimaremos a secção com o
tratamento de um "método das imagens" que, a seu tempo, justificaremos —
sub-Sec. 8.4.4.

8.4.1. Cilindro circular em escoamento uniforme


Qualitativamente argumentámos, na Sec. 8.1., que poderíamos modelar o
escoamento em tomo de um cilindro circular imerso numa corrente uniforme
através de uma simples sobreposição de um escoamento uniforme com um
dipolo convenientemente orientado; argumentámos ainda, no §8.3.1.3. anterior,
dever essa orientação do eixo do dipolo ser em sentido contrário à do
escoamento de aproximação. Exploremos uma tal situação [114],
Adicionemos, então, o potencial complexo de um escoamento uniforme de
velocidade segundo 5c, dado por (8.6, 7), com o de um dipolo na origem
orientado a a = k , dado por (8.21);

W(z) = U „ z - ^ ~ = U„z + ^
Z z
(8.39)
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 423

Escrevendo z na forma polar z = r e 'e e desdobrando W{z) cm parte real e


parte imaginária obtém-se:

W (z)=0 + i 0 = (/..^ re '" + ^ e

= U„cos0 + - 1 + i Í7_ sen 0


-É )
de onde

0 = U cos 9 ( (8.40.a)
r + £r )

(8.40.b)

Avaliemos a forma da linha de corrente divisória (passando pelos pontos de


estagnação) que, qualitativamente, argumentámos na Sec, 8.1. dever ser circular.
Tal avaliação sistematicamente requer: i) determinação das coordenadas dos
pontos de estagnação, ii) determinação do valor 0 Kt da linha de corrente que
passa pelos pontos de estagnação, iii) determinação da forma da linha de
corrente 0 = 0 ^ ,. Sigamos então este procedimento sistemático:
i) Localização dos pontos de estagnação:
Impondo U =dW/dz = 0 obtém-se, de (8.39):
_ dW ( c \ r

0 que, em coordenadas cartesianas, corresponde a x = ±-Jc e y = 0, e, em


coordenadas cilíndricas polares, equivale a r = Vc e 0 = 0 ou n.
ii) Determinação do valor numérico de 'Fcst\
Substituindo na expressão de 0 (8.40.b) os valores de r e 9
correspondentes às coordenadas dos pontos de estagnação,
r = 4 c e 0 = 0 ou k , resulta 0 cst= 0.
iii) Determinação da forma da linha de corrente divisória 0 K1:
Impondo em (8.40.b) o valor 0 = 0 est=O:

0 = {/„ sen 0 ^= 0

conclui-se que a linha de corrente de estagnação é constituída:


• pelas linhas sen 0 = 0 < > 0 = 0 e d - n , isto é, pelos segmentos positivo
(0 = 0) e negativo ( 0 = k ) do eixo real;
• pelo círculo centrado na origem e de raio r = ±Vc, = 4 c só, pois r é
uma quantidade essencialmente positiva.
424 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOM PRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Fica assim provado que desta associação escoamento uniforme segundo Ox


e dipolo orientado a a = n efectivamente resulta uma linha de corrente divisória
circular. Conclui-se ainda que o parâmetro c = /i/L/00, figurando em (8.39),
equivale ao quadrado do raio a do cilindro circular que por este processo se
modelou, pelo que, de aqui em diante, sem outras considerações imediatamente
escreveremos, para expressão do potencial complexo W representativo do
escoamento uniforme de velocidade f/„ segundo x em torno de um cilindro
circular de raio a:

w = v - ^ z+~ j ■ (8-41)

Calculemos a distribuição de pressão ao longo da superfície do cilindro,


trabalhando, por conveniência, em term os do coeficiente de pressão
adimensional:

u_
C ^ . = 1- (8.42)
' w : U

por Bemoulli — eqs. (1.12) e (1.13).


De (8.41) obtemos para a velocidade complexa num ponto corrente sobre a
superfície do cilindro z = a e i 0

u = — =u, \ - -a
dz

= í / . e - ,9( e ie - e - i0) = 2 i[ /„ e - iôsen6>

de onde
U/U„ = 2 sen 0 (8.43)
e
C„ = l - 4 s e n 20 (8.44)

Concluímos assim que a velocidade tangencial é independente do raio a do


cilindro e apresenta uma evolução tipo seno, anulando-se naturalmente nos
pontos de estagnação anterior ( 0 = k ) e posterior ( 0 = 0) e atingindo um valor
máximo Vm&x = 2 1 ]^ em 9 = n/2 e 3 tt/ 2 onde Cp = - 3.
Compara-se na Fig. 8.25 a evolução de Cp em fluido perfeito dada por
(8.44) com uma evolução típica em fluido real a Re ~ 105 [145], caso em que as
camadas limites se separam ainda em regime laminar.
É de notar a grande alteração do campo de pressões produzida por uma
esteira de grande espessura (elevado 5*), que inclusivamente leva as camadas
limites a separarem-se em pontos onde, de acordo com um modelo invíscido,
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 425

+1

-2

-3
Fig. 8.25 Distribuição de C p ao longo da superfície de um cilindro circular
em condições de fluido perfeito e de fluido real { R e ~ 105).

seria de prever que o gradiente de pressão fosse ainda favorável (!):


£/max(é) ~ 70°)(*) = em regime turbulento é 0sep «110° (*).
Um cilindro circular com duas tomadas de pressão estática ligadas a um
manómetro diferencial, como indicado na Fig. 8.26, é por vezes utilizado como
sonda para determinar a direcção do escoamento: o cilindro vai sendo rodado
em tomo do seu eixo até se anular o diferencial de pressões, caso em que o
escoamento estará a incidir segundo a bissectriz do ângulo de posição das duas
tomadas. Para maior sensibilidade da sonda as tomadas de pressão são
localizadas nos pontos onde dp/dO for máximo: tipicamente a ±45°, como se
constata da distribuição de Cp vs. 0 na Fig. 8.25.

F ig. 8.2 6 Cilindro circular com duas tomadas de pressão estática


utilizado como sonda direccional.

Outros tipos de so n d as d ireccio n ais são baseados no mesmo princípio de


operação, como as ilustradas na Fig. 8.27 com tubos chanfrados a 45° [26]; as
duas primeiras são usadas em escoamento bi-dimensional e a terceira em
escoamento tri-dimensional. A sonda de 2 tubos é simplesmente uma sonda
direccional; a de 3 tubos permite, uma vez alinhada com o escoamento por

F ig. 8 .2 7 Diferentes tipos de sondas de pressão direccionais.

(*) Ângulos medidos no sentido do escoamento ao longo da superfície do cilindro e a partir do


ponto de estagnação anterior (onde se começa a desenvolver a camada limite), não no sentido
directo a partir do ponto de estagnação sobre o semi-eixo real positivo.
426 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

igualização das pressões nos tubos extremos, medir a pressão total com o tubo
central; a sonda de 5 tubos permite alinhamento primeiro num plano e depois
num plano perpendicular a esse, sendo finalmente medida a pressão total com o
tubo central. Considerável simplificação do complexo e preciso mecanismo tri­
dimensional requerido para suporte e rotação fina e continua da sonda em dois
planos, em tomo do ponto do nariz, pode ser conseguida efectuando esta
determinação local da direcção e da pressão total do escoamento de acordo com
a seguinte metodologia alternativa; i) primeiro fixando a sonda numa orientação
próxima da estimada para o escoamento e ii) depois processando os diferenciais
de pressão medidos nos diferentes tubos, nessa única posição fixa, através de
uma matriz de calibração — construída, numa fase prévia de calibração em
escoamento uniforme, com os dados de resposta da sonda numa gama restrita
de velocidades e de ângulos de ataque e de guinada — , o que permite
quantificar os desvios da direcção do escoamento relativamente à posição a que
o eixo da sonda tenha sido colocado e determinar o valor local da pressão total.
Solução intermédia, e mais interessante, consiste em identificar o ângulo de
guinada por rotação da sonda em tomo do eixo da sua haste de suporte — o
que apenas requer um mecanismo de rotação facilm ente instalável — e
determinar o ângulo de ataque por uma simples calibração em picada.
Deixámos claro que uma linha de corrente divisória de forma circular só
seria obtenível com um dipolo de orientação a = 7t. A título de exemplo
ilustram-se na Fig. 8.28 as configurações de escoam ento que resultam da
sobreposição de uma corrente uniforme segundo Ox com dipolos orientados a
a - 0o e a n /2 . Atendendo à forma das linhas de corrente induzidas por um
dipolo toma-se óbvio que os pontos de estagnação tenham de residir, no
primeiro caso, sobre o eixo imaginário e, no segundo, sobre uma recta orientada
a 3tt/4.

a)Orientação a - 0 ° b) Orientação a = x/2


Fig< 8.28 Dipolos em escoamento uniforme segundo Õx.
SEC. B.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 427

8.4.2. Esfera em escoamento uniform e

Para apreciarmos o caso da esfera em escoamento uniforme [74], em vez de


fazermos uma análise sistemática e completa recorramos já a resultados que
conhecemos do caso anterior do cilindro circular. Verificámos, por exemplo,
que o facto de a linha de dipolos estar orientada a a = n produzia uma
mudança de sinal no correspondente termo do potencial complexo. Aplicando
este resultado ao caso em estudo obtemos, para a sobreposição escoamento
uniforme de velocidade U„ segundo Ox e dipolo pontual orientado a a = ;r,as
seguintes relações para <J> e ¥* conjugando (8.26) com (8.30) e (8.27) com
(8.31):

*— R cos 0 + cos @= I Ur0R + —r COS0 (8.45)


R2

Y = j U „ R 2 &n 2 0 - j s e n 2d = ^ U „ R 2 - ^ s e n 2 e. (8.46)

Sobre a esfera R = a os pontos de estagnação estarão localizados a


0 = 0 e K, pelo que o valor numérico de será zero. A esfera será assim
descrita pela superfície de corrente:

^ = ( £ t f . a 2“ )sen l 0 = O

do que resulta, para que o valor = 0 se continue a verificar mesmo fora dos
pontos de estagnação:

ll = ^ u y - (8.47)

a eq. (8.45) pode assim ser reescrita como:


„3 \
<£>= £/ R +\ ^ COS d .

. 2r J
A velocidade (tangencial) sobre a superfície da esfera virá então dada por:

(£/,)^=(iHL=“i,5t/“sen® (8-48)
resultando o sinal menos apenas do facto de Ú , sobre a superfície da esfera no
semi-plano superior, ter sentido contrário ao sentido tomado como positivo para
os ângulos — o mesmo sinal menos teria aparecido em (8.43) se tivéssemos
calculado U na superfície do cilindro a partir de <P.
A evolução da velocidade tangencial continua a ser do tipo seno, como no
caso do cilindro — eq. (8.43) — mas o pico de velocidade é agora de apenas
1,511^, em vez de pelo que gradientes de pressão são quase metade dos
428 CAP. 8 ESCO A M ENTO POTENCIAL, JNCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

instalados no caso do cilindro: um factor de 1,52 = 2 ,2 5 em vez de 22 = 4 . Dois


exemplos desíes efeitos:
i) em resultado de um gradiente de pressão adverso menos intenso no caso da
esfera, separação ocorre m ais tarde, a esteira é de menor espessura e a
resistência inferior; tipicam ente a R e ^ l O 5 é, para um cilindro circular,
CD ~ 1,3 e, para uma esfera, CD = 0 ,5 ;
ii) sim ulando uma elevação isolada num a planície através de um meio cilindro
ou de uma m eia esfera assentes sobre uma placa plana — a superfície de
corrente m édia, no plano j = 0, nos casos considerados — , e atendendo a
que a potência disponível no escoam ento é «<=t / 3 imediatam ente se conclui
que, p ara aproveitam entos de energia eólica, uma elevação com uma frente
am pla virada ao vento dom inante (tipo cilindro: 2 3 = 8) é muito mais
interessan te qu e um a elevação tipo 'pudim ' (género esfera; 1,53*3,4).
C om preende-se o porquê da m aior perturbação introduzida por um corpo
de geom etria rectangular com parativam ente a um axi-simétrico: enquanto
que no caso do m eio cilindro todo o escoam ento tem de o contornar 'por
cim a', no caso da m eia-esfera parte do escoam ento contorna-a também
'lateralmente*.

8 .4 .3 . C ilin d ro c irc u la r c o m circu lação

A o cilin d ro circ u la r em escoam ento uniform e considerado na sub-Sec.


8.4.1. sobreponham os agora um vórtice na origem de circulação T no sentido
horário, i.e. intensidade - C com r > 0 — e.g. [46, 114]. O potencial complexo
resultante escreve-se, conjugando (8.41) com (8.18):

(8.49)

Para explorarm os as diferentes configurações que este escoamento pode


assumir, partamos do caso já conhecido de J" = 0 , representado na Fig. 8.29.a),
e aumentemos gradualm ente a intensidade do vórtice comparativamente à do
escoamento uniform e e à do dipolo, m anifestada através do valor do raio a
do cilindro.
Seguindo e sta m e to d o lo g ia , co m ec em o s po r d eterm in a r as novas
localizações dos pontos de estagnação, isto é, os valores da variável z que
satisfazem U = 0. Derivando (8.49) e im pondo U = 0 , obtém-se:

(8.50)

ou, em termos adimensionais e utilizando com o escala de comprimentos o raio


a do cilindro:
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 429

í i Y +- 1- - í - j - 1 = 0
V ,íí/e s t 2 T tC lU ^ \ f l / c s t

cuja solução é:

,- í (8.51)
4naU„ \ { 4 naV„

Verificamos assim que o tipo de raízes é controlado pelo valor do grupo


adimensional r/(4naUj).

a) r j { 4 n a V j ) ^ 0

c) rj{4naUm) = \ d) rj(4KaVj)>\
Fig. 8.29 Cilindro circular com circulação.
A, Comecemos por explorar o caso rj(4naUj)<\ que, convenientemente,
podemos tomar como

— — = sen/3 . (8.52)
4naUaa
Esta identificação permite-nos partir do caso já conhecido de T = 0 (/í = 0)
e avançar até ao caso fronteira rj{4itaUj)=\ =tt/2).
Substituindo então (8.52) em (8.51) obtém-se

= - i senp ± cosp
430 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL. BI-DIMENSIONAL

de onde as coordenadas dos dois pontos de estagnação: (z/a)est = e


- e 1^, simetricamente localizados relativamente ao eixo imaginário, como
assinalado na Fig. 8.29.b).
E de notar que, por aplicação da circulação —F, os pontos de estagnação
anterior e posterior, inicialmente sobre o eixo real em x/ a = ± 1, baixaram
simetricamente ao longo da superfície do cilindro.
E importante notar que as linhas de corrente de estagnação incidem ou
abandonam o cilindro normalmente à superfície. Em vez de laboriosamente
tentarmos obter este resultado trabalhando a forma analítica de f est,
obtenhamo-lo apreciando características do escoamento na vizinhança
imediata de um ponto de estagnação. Para tal discretizemos um segmento da
superfície e um segmento da linha de corrente de estagnação em elementos
rectilíneos e admitamos que o ângulo de contacto não era de /r/2, como
assinalado na Fig. 8.30.

Fig. 8.30 Configuração (fisicamente incorrecta) do escoamento


na vizinhança de um ponto de estagnação.

Interpretemos os escoamentos dos lados A e B da linha de corrente de


estagnação, referenciados na figura, em termos dos escoamentos ao longo de
diedros que analisámos na Sec. 8.2. e que nos levaram a concluir, com
referência à eq. (8.9), que o campo de velocidades num diedro era
controlado pelo seu ângulo de abertura. Assim sendo, se os ângulos de
abertura dos diedros A e B fossem diferentes, chegaríamos ao resultado
absurdo de, consoante a análise fosse feita em termos do diedro A ou do
diedro B, obtermos diferentes evoluções de velocidade ao longo de uma
mesma Unha de corrente de estagnação! Assim se prova que os dois diedros
terão de ter o mesmo ângulo de abertura n / 2 , pelo que a linha de corrente
de estagnação incidirá normalmente à parede.
Este mesmo tipo de considerações em termos do escoamento ao longo de
diedros vai-nos permitir obter resultados de grande relevância na teoria dos
perfis alares, em particular vai-nos fo rnecer inform ação para
implementarmos numericamente, na sub-Sec. 9.2.2., uma condição — a
condição de Kutta, sub-Sec. 9.1.1. — necessária à quantificação da
sustentação gerada por um perfil.
B. Continuando a aumentar F j ^ n a U j ) , mas ainda por valores inferiores a í,
os dois pontos de estagnação vão simetricamente baixando ao longo da
superfície inferio r do cilindro até que para r / ( 4 ^ a t / „ ) = senj9=l
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 431

=$ f i - n j 2 os dois pontos coincidem em z/a = ~ i, como ilustrado na Fig.


8.29.c).
É de notar que, constituindo-se agora 3 diedros na vizinhança do ponto de
estagnação, as linhas de corrente se intersectarão a 7T/3, como ilustrado na
Fig- 8.31.

Fig. 8.31 Configuração do escoamento na vizinhança do ponto


de estagnação duplo na Fig. 8.29 c).

C. Aumentando ainda mais r / ^ n a U ^ ) , agora por valores superiores a 1,


deixamos de poder fazer a identificação (8.52) com uma função seno;
devemos sim fazê-la com uma função exibindo valores >1 sempre: um
coseno hiperbólico, digamos. Fazendo então r / { 4 7 taUOB) = co&hy obtemos
de (8.51):

- = - i (cosh y ± senh y)

pelo que as coordenadas dos pontos de estagnação vêm (zla)^ = - i e y e


-ie~y. Os dois pontos de estagnação estão agora sobre o semi-eixo
imaginário negativo ( - i ) e, dado que e ye~y = l, um deles será interior e o
outro exterior ao círculo; só este último terá para nós significado. O
escoamento resultante está representado na Fig. 8.29.d).
Nota-se que o escoamento compreendido entre a superfície do cilindro e a
linha de corrente de estagnação apresenta linhas de corrente fechadas e que
fica capturado nessa região.
Como instrumento de cálculo para uma teoria de perfis alares esta possível
configuração de escoamento não tem qualquer interesse; é, no entanto, a
mais significativa para os meteorologistas! Um valor r /( iK a U co)>\
imediatamente resulta com um dipolo de intensidade ,u pequena
comparativamente a Uw e a í \ i.e. um cilindro de pequeno raio relativo a: o
'olho' de um furacão; trata-se de um cilindro em rotação sólida, constituído
por matéria fluida em vez de por matéria sólida. No limite jj, ou a = 0 esta
configuração degenera no caso de um vórtice livre em escoamento
uniforme.
Em qualquer das situações acabadas de descrever constatámos que
introdução de uma circulação destruía a simetria do escoamento relativamente
ao eixo dos ^'s, conservando-a, porém, relativamente ao eixo dos y's. É assim
de esperar que a componente da força resultante na direcção do escoamento —
resistência D — continue a ser nula mas que surja agora uma componente da
432 CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. INCOMPRESSlVEL. BI-D1MENSI0NAL

força resultante diferente de zero numa direeção perpendicular à do escoamento


de aproxim ação — uma sustentação L. Obtenhamos estas relações.
Integração das componentes da força elementar resultante da distribuição de
pressões na superfície do cilindro d f ——p n d s = ~ p f i a d d com ii(cos©,sen0)
produz, de acordo com a Fig. 8.32:

D= p a c o s B d d ; L= -J pcts& ndd9.

F ig . 8 .3 2 Componentes da força elementar de pressão actuando na


superfície de um cilindro circular.

R ecorrendo a B ernoulli, o cam po de pressões pode ser obtido a partir do


cam po de velocidades: p = p T —^ p l / 2 com U dado por (8.50).
Sobre a superfície do cilindro z — a e ' e virá:

U = í / „ ( l - e " 2i9) + - ^ e ~ ie = i e ~ ia { l U „ sen 0 + - ^ - l


' ’ 2na l 2 Ka)

O btém -se assim para o cam po de pressões:

r V p u .r
P= - l p ( 2 í / 0Osene)2 sen©
2n a , 7t a

i) o prim eiro term o entre parêntesis rectos envolve só factores constantes, pelo
que não d á qualquer contribuição para força resultante;
ii) o seg u n d o term o en v o lv e um sen2, cu jo p erío d o é K — sen2©=
sen2 ( 6 + k ) — , pelo que contribuições diam etralm ente opostas se cancelam
m utuam ente;
iii) quanto ao últim o termo:
• a sua contribuição para com ponente de força resultante segundo x é
nula, pois a respectiva expressão envolve Jo sen 6 cos B d S —Q.
• a sua contribuição^joara com ponente de fo rça resultante segundo y é
porém não nula: Jq sen2© d© = Tf (*).

(*) Foi finalidade destes comentários apenas exem plificar com o uma prévia apreciação crítica
permite poupar esforço de cálculo.
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 433

Resulta então
JD = 0

t
\ L = p U mr .

Este resultado não é mais do que o caso particular do teorema de Kutta-


(8.53)

Joukowski apresentado no exemplo da sub-Sec. 2.6.6.: eq. (2.41.b). Na


próxima secção generalizaremos este resultado para um corpo de geometria
arbitrária.
Estudámos, numa modelação de fluido perfeito, o escoamento em tomo de
um cilindro circular com circulação. Ora a existência de circulação pressupõe a
existência de vorticidade, a qual só pode ser gerada pela actuação de tensões de
corte de nível viscoso resultantes de uma condição de não-escorregamento numa
parede sólida... que não se manifesta em fluido perfeito! Pergunta-se assim qual
o mecanismo de geração desta circulação F que modelámos através de um
vórtice livre irrotacional e que acabou de produzir o resultado (8.53) para a
força de sustentação?
Vorticidade, de facto, só pode ser gerada pela actuação de efeitos viscosos,
que serão tanto mais significativos quanto menor o Reynolds, digamos, numa
fase de arranque do escoamento a partir de uma situação de repouso. Se, numa
fase posterior já estabilizada, os valores relativos das espessuras de deslocamento
induzidas por camadas limites e zonas de separação forem muito pequenos,
então será lícito modelar essa configuração estabilizada do escoamento através
de um modelo simplificado de fluido perfeito; não podemos porém esquecer
que vorticidade, com uma resultante F não nula, poderá ter sido gerada na fase
de arranque, pelo que a sua influência não poderá deixar de ser contabilizada
no modelo de fluido perfeito através ou de uma folha de vórtices ou, mais
simplesmente, através de um vórtice concentrado. Foi o que fizemos, sem
todavia o termos explicitado nem justificado.
Apreciemos então esse m ecanism o de geração de circulação supondo que
a configuração estabilizada do escoamento é atingida em duas etapas: num meio
fluido em repouso imprimamos primeiro rotação e depois translação ao cilindro
circular. Precisamos, naturalmente, de elaborar em termos de fluido real.
1. Suponhamos então um cilindro circular de raio a, imerso em fluido real em
repouso, ao qual imprimimos uma velocidade de rotação © < 0 . Tal como
indicado na Fig 8.33.a), vorticidade é gerada junto à parede sólida do
cilindro por acção da condição de não-escorregamento e, à medida que o
tempo decorre, irá sendo difundida radialmente.
O perfil de velocidades no interior da camada limite assumirá, num
referencial solidário com o meio fluido em repouso, uma configuração tipo
déficit de velocidades — vidé sub-Sec. 6.5.2. O campo de vorticidade
43 4 CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

poderá ser modelado por uma folha de vórtices de intensidade


Y = U B [=E/0 -O ] que irá sendo eonvectada em torno do cilindro com uma
velocidade Uej 2 [(f/0 + 0)/2]; a circulação total será F - l n a y ^
2xaU e >0.
2. Imprimamos agora translação, com uma velocidade {/_, ao cilindro em
rotação. Ao campo de velocidades associado à folha de vórtices adiciona-se
agora o campo de velocidades induzido pela translação, do que resulta,
como ilustrado na Fig. 8.33.b), um acréscimo de velocidade na face superior
do cilindro e um decréscimo na face inferior. Em resultado desta assimetria
do escoamento, vorticidade (positiva) vai sendo eonvectada ao longo da
superfície para a vizinhança do ponto de estagnação posterior onde, dadas as
muito baixas velocidades locais, tende a residir. Ao longo do tempo — 'tudo'
ocorre em fraeções de segundo! — , essa concentração de vorticidade vai
sendo continuamente alimentada com vorticidade do mesmo sinal, aumenta
de dimensões, estende-se a regiões do escoamento de maiores velocidades e
é eonvectada, destacando-se da superfície do cilindro, como representado na
Fig. 8.33.c). Num referencial solidário com a massa de fluido em repouso,
tal sequência de eventos lê-se como significando que uma vez que essa
concentração de vorticidade — esse vórtice de a rra n q u e [starting vortex] —
se tenha destacado do corpo, ficará residente no fluido em repouso
(convectado com uma velocidade nula) à medida que o cilindro se vai
afastando.

a) Cilindro animado só de rotação b) Rotação mais translação


em fluido em repouso

c) Formação da concentração de vorticidade d) Libertação do vórtice de arranque

F ig. 8.33 Geração de circulação num cilindro circular.

3. Envolvamos o sistema constituído pelo cilindro em movimento e pelo vórtice


de arranque por um contorno material de grandes dimensões, de tal modo
SEC. 8,4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 435

que qualquer perturbação induzida pelo cilindro ou pelo vórtice de


arranque se não propague até essas grandes distâncias — Fig. 8.33.d).
A nível desse circuito material de grandes dimensões o fluido permanece em
repouso pelo que, embora nos encontremos numa situação de fluido real,
tensões de corte serão nulas. Podemos assim tratar o escoamento a essas
grandes distâncias com base num modelo de fluido perfeito, o que valida,
em particular, aplicação do teorema de Kelvin (3.5): r cM=const. ao longo
do escoamento. Ora, antes de se ter iniciado o movimento, era L/ = 0 para
todo o campo do que resultava pelo que a circulação ao longo
desse contorno material de grandes dimensões deverá permanecer r cM = 0.
Mas, interiormente ao contorno, foi entretanto libertado um vórtice de
arranque de intensidade + T pelo que, para garantir r CM = 0 , somos levados
a concluir que em torno do cilindro circular terá ficado instalada uma
circulação simétrica - J \ a qual, para efeitos de cálculo, modelámos como
um vórtice ligado. Dado que a velocidade induzida por um vórtice livre se
esbate assimptoticamente com a distância, numa situação de escoamento
estabilizado em que o cilindro já se tenha afastado 'muito' do vórtice de
arranque — que ficou residente no fluido em repouso enquanto o cilindro
prosseguia a sua translação — será lícito analisar o escoamento em tomo do
cilindro 'esquecendo' o vórtice de arranque e contabilizando apenas a
influência do vórtice ligado.
Foi este o modelo de escoamento em torno de um cilindro circular com
circulação com que trabalhám os na presente sub-secção. O mecanismo de
geração de sustentação num cilindro circular em rotação e translação designa-se,
como anteriormente referido, por efeito Magnus.

8.4.4. Método das im agens; teorem a do círculo de M ilne-Thom son

Suponhamos o sistema constituído por duas fontes de igual intensidade m


localizadas nos pontos z = ± id do eixo imaginário — e.g. [46, 114]; a
configuração do escoamento resultante está representada na Fig. 8.34.
O escoamento é simétrico em relação ao eixo dos x's, o qual é uma linha de
corrente do escoamento resultante, como facilmente se constata da adição
vectorial, ilustrada n a figura, das velocidades induzidas pelas duas
singularidades.
Como, em fluido perfeito, qualquer linha de corrente pode ser sempre
substituída por uma parede sólida, concluímos que o escoamento no semi-plano
superior pode, alternativamente, ser interpretado como o escoamento induzido
por uma fonte de intensidade m, localizada em z ~ i d , na presença de uma
parede plana coincidente com o eixo dos jc ' s . Nestas circunstâncias, a fonte em
436 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSIVEL, BI-D IM EN SIO N A L

F ig . 8.34 Fonte na presença de uma parede plana.

z ~ ~ \‘ d não constitui mais do que o instrumento utilizado em fluido perfeito


para simular a parede plana y = 0; se a parede fosse espelhada, essa fonte fictícia
em z = - i d seria a imagem da fonte objecto em z = id . O potencial complexo
do escoamento induzido por uma fonte na presença de uma parede plana pode,
assim, ser simplesmente obtido por sobreposição dos potenciais complexos da
fonte objecto e da fonte imagem; no caso vertente e recorrendo a (8.15):

W = — ln ( z - i d ) + — ln (z + id ) = — \n U 2 + d 2).

É através deste método das imagens que, em fluido perfeito, se modela


qualquer escoamento processando-se na presença de um a fronteira sólida, em
que o escoamento de um dos lados da fronteira pode ser sempre interpretado
como a imagem, nessa fronteira, do escoamento real ocorrendo do outro
lado.
No caso apresentado da fonte de intensidade m localizada a uma distância d
da parede, im ediatam ente se constata que no lim ite d —» 0 , e por aproximação
dos sistemas objecto e imagem, essa fonte de intensidade m se comporta como
uma fonte de intensidade dupla 2m:

lim — In ( z 2 + rf2) = ^ - l n Z* = -(2m) lnz ;


d->o 2 7T v ' 2K 2 7T
compreende-se esta duplicação do efeito: a fonte tem agora de fornecer fluido
apenas a um m eio domínio, em vez de ao domínio com pleto, pelo que, com a
mesma intensidade, velocidades induzidas são duplicadas.
Exemplo típico é o da boca de aspiração de um sistem a de ventilação numa
nave industrial, como ilustrado na Fig. 8.35; essa boca de aspiração, localizada
na parede e absorvendo um caudal /n, pode ser modelada, em termos de fluido
perfeito, com um poço de intensidade - 2 m.
É o tipo de configuração de escoam ento que interessa, por exemplo, numa
situação de despoeiram ento, em que, aos muito baixos Reynolds's de operação
das partículas de poeira ( Re = U ^ D / v « 1), o escoamento é regido pela equação
dos movimentos lentos [creeping flo w ] — Navier-Stokes com termos de inércia
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 437

desprezados c o m p a ra tiv a m e n te ao s v isco sos; nesta gam a, a solução de Stokes


para o coeficiente de re sis tê n c ia d e u m a esfera é [8, 147]:
24
CD (8.54)
Re
em que se to m o u a á r e a f ro n ta l da e s fe ra com o área de referência; as
contribuições das re sis tê n c ia s d e p ressã o e de atrito para este valor de CD são,
respectivamente, de u m te rç o e d e dois terços.

V //7 /A
F ig . 8 . 3 5 P o ç o n u m a p a re d e . F ig . 8 .3 6 'Fonte' numa parede em
fluido real: jacto livre.

Porém a m o d e laç ão d o efe ito sim étrico tipo fonte, em vez de poço, já não é
válida em fluido p erfeito :
- em fluido p e rfe ito , u m a fo n te n a p are d e pro duziria um escoamento com
linhas de c o rre n te r a d ia is se m e lh a n te ao representado na Fig. 8.35 para um
poço, apenas o se n tid o d o esco a m en to seria revertido;
- em fluido re a l, o e s c o a m e n to e m a n a n d o d e um a boca de exaustão exibiria,
porém, u m a c o n f ig u r a ç ã o tip o ja c to — F ig. 8.36 — , em resultado da
separação d a s c a m a d a s lim ite s n o e x tre m o d a conduta de exaustão,
co nfig uração d e e s c o a m e n to e s ta in trín se c a de fluido real e que não é
passível d e m o d e la ç ã o e m flu id o perfeito .
A construção dos sis te m a s im a g e m é in tu itiv a se a parede for plana:
• no caso de u m v ó rtic e d e in te n sid a d e + T à distância d de uma parede plana
a im agem s e rá u m v ó r tic e d e in te n sid a d e sim étrica - F , simetricamente
localizado re la tiv a m e n te à fro n te ira — F ig. 8.37.a).

F ig . 8 .3 7 .a ) Im a g e m d e u m v ó rtic e Fig. 8.37.b) Imagem de um dipolo


n u m a p a red e p la n a . numa parede plana.

* no caso d e u m d ip o lo d e in te n s id a d e fi e ângulo a a imagem será um


dipolo d a m e sm a in te n s id a d e , d e o rien taçã o sim étrica ~ a , simetricamente
localizado — F ig . 8 .3 7 .b ).
438 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL. BI-DIMENSIONAL

♦ no caso de um avião em voo rasante — Fig. 8.38.a):

Fig. 8.38.a) Imagem de um avião Fig. 8.38.b ) Imagem de um automóvel


em voo rasante. na estrada.

• no caso de um veículo automóvel — corpo não-fuselado, não passível de


simulação com um modelo de fluido perfeito, mas em que, mesmo assim, a
imagem será a do próprio veículo reflectido na estrada — Fig. 8.38.b).
Esta configuração de dois modelos de veículo automóvel invertidos é
clássica em ensaios em túnel aerodinâmico para simular o efeito da estrada.
É de notar que se fosse simplesmente utilizado um modelo assente ou quase
a tocar o chão do túnel, como representado na Fig. 8.39.a), a camada limite
desenvolvendo-se ao longo do chão (grandemente exagerada na figura)
tenderia a separar-se a montante do modelo, assim falseando os resultados;
no caso real, que se pretende simular em túnel, de um veículo automóvel
deslizando numa estrada, não ocorre qualquer camada limite na estrada.

a) Veículo assente no chão do túnel: b) Tapete rolante e sucção


solução incorrecta. de camada limite.
Fig. 8.39 Ensaio de um veículo automóvel em túnel aerodinâmico.

Outra solução corrente em ensaios em túnel consiste em utilizar um tapete


rolante deslizando à velocidade do escoamento principal e geralmente
antecedido de uma fenda para sucção da camada limite à saída da
contracção; contacto das rodas com o tapete rolante flexível é assegurado
com os tambores doidos representados na Fig. 8.39.b).
No caso da parede não ser plana a imagem pode resultar de tal modo
distorcida relativamente ao objecto — lembrar as imagens deformadas na 'casa
dos espelhos', numa feira — que a sua determinação analítica se revele difícil, se
não mesmo impossível; neste caso haverá que recorrer a um método numérico,
discretizando e distribuindo singularidades sobre a própria parede sólida.
Exemplifiquemos, porém, uma situação de parede não plana passível de
tratamento analítico: o caso do escoamento uniforme de velocidade Ux //Ox em
torno de um cilindro circular de raio a , tratado na sub-Sec. 8.4.1.
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 439

Demonstrámos, na altura, que esse escoamento podia ser simulado pela


sobreposição de um escoamento uniforme com o escoamento induzido por um
dipolo de intensidade f s - U ^ a 2 orientado a a = n. Numa óptica de método das
imagens, o dipolo na origem pode então ser interpretado como a imagem de um
escoamento uniforme num (espelho com a forma de um) cilindro circular.
Exploremos esta situação através do denominado teorema do círculo de
Milne-Thomson [8, 114] que interessa à determinação da perturbação operada
num dado escoamento pela introdução de um cilindro circular. Não iremos
demonstrar o teorema, limitando-nos a enunciá-lo, a verificá-lo e a exemplificar
a sua aplicação num caso que nos vai interessar no Cap. 11 de corpos não-
fuselados.
1. Enunciado
Consideremos um escoamento irrotacional incompressível no plano dos z's.
Suponhamos que não existem fronteiras rígidas e seja f(z) o potencial
complexo do escoamento, sendo ainda todas as eventuais singularidades de
f(z) exteriores ao círculo \z\ = a. Se colocarmos um cilindro circular de raio
a na origem do campo do escoamento, o potencial complexo resultante
vem expresso por:
2 *\
W(z) = f ( z ) + f (8.55)
\V c j

onde / ( a 2/z) é o potencial complexo do sistema imagem.

Nota: i) os pontos z e a2/z designam-se por pontos inversos em relação


ao círculo |z| = a; a sua localização relativa está exemplificada na
Fig. 8.40: se z = r e l6 será a2/z = (a2/r)Q~ie;
P ( r e w)

R I—

Fig. 8.40 Pontos inversos em relação a um círculo: pontos P e R.


ii) /(...) é a função que se obtém substituindo em /(...) todas as
constantes complexas pelo seu conjugado.
2. Verificação
Sobre o círculo \z\ = a é z z = a2 ou a2/z = z, donde, atendendo a que f( z )
é o complexo conjugado de f{z):
W(z)s 0 + i *p = / ( z) + /( ^ ) = quantidade re a l;
440 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. INCOMPRESSÍVEL. B I-D IM EN SIO N A l

conclui-se assim que "/"«O sobre o círculo, o qual será portanto uma linha
de corrente do escoamento resultante.
Para qualquer ponto z exterior ao círculo é \a2/z \ < a \ como, por hipótese,
todas as singularidades de f ( z ) estão localizadas em pontos tais que | z|> íi
conclui-se que todas as singularidades de f [ a 2/z) caem no interior do
círculo, i.e. fora do campo do escoamento.
Como f { a 2/z) tende para o valor constante /(O ) quando z -» 00, conclui-se
ainda que o escoamento a infinito será o mesmo para os potenciais
complexos W e f ( z ) — um potencial é sempre definido a menos de uma
constante aditiva —, i.e. que o escoamento a infinito não é perturbado pela
introdução do círculo na origem.
3. Exemplos de aplicação
Tomemos, como primeiro exemplo, o caso simples do cilindro circular em
escoamento uniforme acima referido. Para {/_ / / x virá, por (8.6) e (8.7):
f( z ) = U„z
de onde
f( z) = U_z

= t/ -

pelo que
X 2
í a 2>)
W (z ) = / ( z ) + / a = U„z + U_ — = U„ z + —
J z l 2)
que nao é mais do que a eq. (8.41) obtida na sub-Sec. 8.4.1.
Se o escoamento de aproximação incidisse a um ângulo a seria, por (8.7):

f{z) = U„e~'az
e

V '
/ =u (8.56)

compreende-se o ângulo ( n + a ) do dipolo, pois que o seu eixo tem de estar


alinhado com o escoamento de aproximação. Este resultado, que nos vai
interessar na sub-Sec. 9.1.1., poderia também ter sido obtido de (8.41)
operando uma simples rotação do referencial.
Como último exemplo consideremos o caso de uma fonte de intensidade
+ m localizada em z0 = b e ^ com b > a . Será:
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 441

/(z) = ^ ln(z- Èei'í)

^ = J5Lln( £ l _ fre-«
V z I 2n \ z
mas o termo logarítmico em f ( a 2/z} pode ser reescrito como:
,2
ln| - — bQ~lp | = ln
b

= ln z —— e l/J | - l n z + l n ( - 6 e

do que resulta:

m ( 2 >
W( z) = l n ( z - f c e '^ + ln( z - — e 1^ - l n z + ln (-b e (8.57)
2K

A última contribuição pode ser ignorada, visto ser uma parcela constante. O
primeiro termo corresponde à fonte real, fora do cilindro, no campo do
escoamento; os dois termos a seguir reflectem o sistema imagem: uma fonte
de igual intensidade em {a2fb } e lp e um poço de intensidade simétrica na
origem, requerido para absorver todo o caudal emitido pela fonte
interiormente à fronteira cilíndrica, assim satisfazendo conservação de massa.
A configuração do escoamento resultante está representada na Fig. 8.41;
recorreremos a este resultado no Cap. 11.

F ig. 8.4 1 Fonte na presença de um cilindro circular.

A título ilustrativo apresentam-se ainda na Fig. 8.42 as configurações de


escoamento correspondentes a um vórtice e a um dipolo orientado a
a ~ n j A na presença de um cilindro circular.
442 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSlVEL, BI-DIMENSIONAl

Fig. 8.42 Escoamentos induzidos por singularidades


na presença de um cilindro circular.

Conhecida a solução para a fonte na presença do cilindro circular, a solução


para o vórtice revela-se imediata. É também facilmente compreensível a
forma do sistema imagem para o dipolo orientado a a em zQ-b \ um
dipolo orientado a f f - a em a 2/b\ concebendo o dipolo como o caso
limite de um par fonte-poço. o poço e a fonte imagem na origem cancelara-
se mutuamente e resta o par fonte-poço em a 2/b orientado a f f - a , e com
menor intensidade que o par objecto dado o menor distanciamento entre a
fonte e o poço imagem. Analiticamente viria:

z-b (a2/ z ) - b

pelo que trabalhando a forma do termo imagem:


1 z 1 z - { a 2/b) + ( a y b)
(a2/ z ) - b a 2- b z b z - [ a 2/b )
1 a 1 _a2 1
b b 2 z - { a 2fb) b 2 z - ( a 2/b ) b
o termo final se pode reescrever, desprezando a parcela constante -1 /&,
como:
e i(jT-«)
r a 2^
W... P T2
h J
correspondendo a um dipolo de intensidade fj, a 2/ b 2 < /x, orientado a n-a
em a 2lb.
Exploremos, por último, o caso de sucessivas reflexões em duas paredes
planas p aralelas; exemplo típico é o do aileron traseiro de um Fórmula 1,
esquematizado na Fig. 8.43.
SEC. 8.4. SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 443

F i g . 8 .4 3 A ile ro n tra se iro d e F ó rm u la 1.

Consideremos os dois espelhos de dimensão infinita e, a título de exemplo,


apenas uma singularidade no plano de simetria, como representado na Fig.
8.44. A singularidade objecto (a singularidade real, no domínio do escoamento)
dará origem a uma imagem primária tanto na parede da direita (1D) como na
parede da esquerda (1E); cada uma das imagens primárias reflectir-se-á na outra
parede, dando origem a imagens secundárias (2D e 2E) que, por sua vez,
produzirão imagens terciárias (3D e 3E), repercutindo-se o processo a d
infinitum.
Dependendo do grau de aproximação com que se pretender trabalhar
poder-se-á considerar apenas a influência, no campo do escoamento real, do
escoamento induzido pelas imagens primárias, ou pelas imagens primárias e
secundárias, etc. Há porém situações em que consideração do efeito de todas as
infinitas imagens produz, até, um resultado mais facilmente manipulável em
termos analíticos: trata-se dos casos em que esse conjunto infinito de termos
corresponda ao desenvolvimento em série (de somas ou de produtos) de uma
função analiticamente simples; exemplos típicos são os de uma cascata (infinita)
de pás, representativa de uma turbomáquina axial — vidé exemplo da sub-Sec.
2.6.6. —, e da organização periódica de vórtices discretos numa estrada de von-
Kármán, que apreciaremos na sub-Sec. 11.2.2. [114].
e yt D
; ; /
; /J i tk>
* ! 7 */
)/
i i í
* : v
!" / T ! ’
0 o 0 0 O
3E 2E 1D 2D
h
“ 2 h /
~^2k 1
3h 1
Fig. 8.44 Infinitas imagens de uma singularidade entre duas paredes planas.

A título de exemplo suponhamos o caso ilustrado na Fig. 8.44 de uma fonte


de intensidade m na origem do referencial à distância h/2 de duas paredes
paralelas ao plano x = 0 . O potencial complexo resultante será:

W= ~~\nz + Y~[ln (z - A) + in(e-2A)+...] + ^.[ln(z + A) + In(í + 2A )+ 4


444 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSlVEL, BI-DIMENSIONAL

Recombinando termos, W pode-se escrever:


W =— \n[z(z-h)(z-2h)...(z+h)(z + 2h)..,]
2k

= è ln K z2 ^ ■
“ 4/,2) - ] =5 ln ^_z v ).
K 7 00
= f < l n ~ n 1— +ln
2K h i n2h2 ^ iv .
onde o segundo termo se pode desprezar por ser um valor constante; resulta
assim

itz a
í—Tl
l h)
W=— ln T n
2n h i n2n2
_
m . ( kz\ (*)
= — ln sen— (8.58.a)
2n \ h )
Quanto à velocidade complexa:
dW m nz
— = — cot — . (8.58.b)
dz 2h h
A título ilustrativo quantifiquemos o acréscimo de velocidade induzida, por
exemplo, no ponto z = i/i/2, comparativamente à velocidade induzida por uma
fonte isolada, em meio infinito:
- para a fonte isolada virá, de (8.14):
77 m .m .h
u n= -— , = - i — para z = i -

para a série infinita de imagens, a solução exacta (8.58.b) fornece:


77 m .it .m , n (±)
Vn=oa~ — cot í—= —i— coth— w
" 2h 2 2h 2
de onde um quociente:

u n=~ m/(2h) tI % 71 ,, n ,
- = —= —t;—^ coth—= —coth —*=1,71,
UQ mj{nh) 2 2 2
isto é, um acréscimo de velocidade de cerca de 71%.

(*) s e n a = « n | ^ l - ^ j — e.g. [157].

($) tan(i*)=itanh.x — e.g. [157].


SEC. 8.4, SOBREPOSIÇÃO DE SINGULARIDADES 445

Considerando apenas as primeiras imagens teríamos obtido um acréscimo de


40% e, com as imagens primárias e secundárias, um acréscimo de
aproximadamente 48%.
É de notar que, só com as imagens primárias, o ponto sobre a parede
z = /i/2, por exemplo, não seria um ponto de estagnação, como fisicamente
requerido: nesse ponto cancelar-se-iam os efeitos da fonte objecto e da imagem
1D, mas restaria ainda a velocidade não nula induzida pela imagem 1E.
Retomemos o caso do aileron do Fórmula 1 mencionado um par de páginas
atrás, admitindo um modelo simplificado de asa rectangular (corda constante),
toda ela com o mesmo perfil (mesma secção recta), ao mesmo ângulo de ataque,
encastrada entre placas planas paralelas de dimensão infinita. Tal configuração
permite-nos, em termos de fluido perfeito, simular um escoamento bi-
dimensional, pois, como representado na Fig. 8.45, devido às infinitas reflexões
nas paredes laterais, a asa geometricamente finita se comporta, do ponto de vista
aerodinâmico, como de envergadura infinita, i.e. bi-dimensional.

1= =t = = 4 = 1= =1

Fig. 8.45 Simulação de uma asa de envergadura infinita (perfil).

Este modelo de fluido perfeito constitui, assim, a fundamentação para a


simulação de configurações bi-dimensionais em ensaios em túnel aerodinâmico
e para a instalação de placas terminais nos ailerons dos Fórmula 1. Em termos
de fluido perfeito, qualquer distanciamento mínimo entre as placas terminais
seria suficiente para simular uma situação bi-dimensional, dadas as infinitas
reflexões; em ensaios em fluido real procura-se, naturalmente, o maior
distanciamento compatível com a dimensão da instalação experimental, de modo
a minimizar, no plano central de medida, a influência dos escoamentos
secundários gerados por efeitos viscosos ao longo das paredes laterais, a que
fizemos referência na Sec. 7.5. Apreciaremos mais detalhadamente estes efeitos
no Cap. 10 de asas finitas.
Em ensaios na secção rectangular fechada de um túnel aerodinâmico, o
encastramento de um modelo geometricamente bi-dimensional nas paredes
laterais permite-nos, pelo mecanismo de sucessivas reflexões acima descrito,
simular uma configuração bi-dimensional em termos aerodinâmicos. E quanto
às reflexões nas paredes paralelas à envergadura, paredes superior e inferior da
secção de trabalho na Fig. 8.46?
• Em termos de sustentação: o vórtice imagem na parede superior induz um
aumento de velocidade ao longo do extradorso do perfil (de onde um
aumento da sucção) e o vórtice imagem na parede inferior induz uma
446 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

diminuição de velocidade ao longo do intradorso (de onde um aumento da


sobrepressão); resulta assim um aumento do diferencial de pressões e um
aumento da sustentação» comparativamente ao caso do escoamento em
atmosfera não limitada.

a) Sistema de imagens b) Efeitos de bloqueamento


Fig. 8.46 Ensaio de um modelo bi-dimensional em túnel aerodinâmico.

No caso de uma turbomáquina axial / cascata de pás ocorre um efeito de


sentido contrário conduzindo a uma diminuição da sustentação, pois todas
as circulações são do mesmo sentido, como ilustrado na Fig. 8.47.

Fig. 8.47 Sentidos de circulação numa cascata de pás.

Tais efeitos de b lo q u e a m e n to [blockage] podem ser modelados, ou


corrigidos, através de um simples método das imagens.
• Em termos de resistência: a introdução, em fluido real, de uma espessura de
deslocamento 5* da esteira faz com que diminua a área de passagem
efectiva a jusante do corpo em estudo, pelo que a velocidade geral do
escoamento deverá aumentar e a pressão diminuir relatívamente a do
que resulta o efeito de "bloqueamento de esteira" já referido e contabilizado
na sub-Sec. 2.6.4.
Para reduzir estes efeitos de Ô* da esteira do corpo em estudo e das camadas
limites ao longo das paredes, secções de trabalho de túneis aerodinâmicos
apresentam em geral uma área de passagem crescente; ficam, porém, outros
efeitos por corrigir!
SEC. 8.5. FORÇA E MOMENTO ACTUANTES NUM CORPO 447

8.5. Força e momento actuantes num


corpo de geometria arbitrária
Generalizemos» para o caso de um escoamento permanente e uniforme em
torno de um corpo cilíndrico de directriz arbitrária, os resultados obtidos na
secção anterior para um cilindro circular com circulação — eq. (8.53).
Comecemos por estabelecer as form as analíticas da força e do momento
resultantes aplicados sobre esse corpo de forma arbitrária para o caso do
escoamento ser permanente e irrotacional, o que permite relacionação de
pressões e de velocidades através de Bernoulli e expressão do campo cinemático
em termos da velocidade com plexa, conduzindo às fórmulas de Blasius; em
seguida particularizemos para o caso do escoamento de aproximação ser
também uniforme, do que resulta o teorema de Kutta-Joukowski (*) [8, 114].

8.5.1, Teorema de Blasius


A dedução do teorema de Blasius desenvolve-se nos seguintes três passos:
- formulação das contribuições para força e momento em torno da origem
devido aos esforços de pressão exercidos num elemento da superfície do
corpo;
- reescrita dessas contribuições elem entares em termos do campo de
velocidades (complexas), para tal recorrendo a Bernoulli;
- integração das contribuições elementares ao longo do contorno do corpo.
Pretendendo-se exprim ir a força F = X + iY e o momento M0 em função da
velocidade complexa U = U - i V com ecemos já por trabalhar em termos do
conjugado F ~ X - \ Y .

F ig. 8.48 Forças elem entares actuantes num corpo de geometria arbitrária.

Da Fig. 8.48 se conclui que:


dF = âX ~ id Y = - p d y - i p d x = - p (dy + idx) ;
dado que o termo entre parêntesis se pode escrever
dy + i dx = i (dx - i dy) = i dz

(*) A este teorema estão geralm ente associados os nomes do alemão Kutta (ano de 1902) e do
russo Joukowski (1906), m as em livros de origem russa é muitas vezes apreseotado como
teorema de Joukowski-Tchaplyguine.
448 CAP 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. INCOMPRESSlVEL. Bl-D\MENS\ONAL

obcém-se para d F :
d F ——i p d z .
Semelhantemente virá para a contribuição elementar para o momento (jy0
sentido directo) em tomo da origem:
d M 0 = x d Y + y { —d X ) = p ( x d x + y d y )
e dado que:
x d x + ydy = + iy ) (íiv —i €/;>>)} = ^ ( z d z )
onde o operador $!(...) representa ‘parte real de (.•••)'•
dM0 = p ¥Í {z d z) .
Exprim am os dF e dM0 em term os d o cam p o d e v e lo c id a d e s em v ez d e em
termos do cam po d e p ressões, para tal recorrendo a B e m o u lli, i.e.:

P ~ P t ~~ ^ P ^
com V 2 en ten did o com o:

u 2 = u* + v* = (u + í v ) ( u - í v ) = ^ - ^ - .
az az
E m b o ra as c o n trib u iç õ e s p a ra f o r ç a e m o m e n to r e s u lta n te s dos termos
asso ciad o s a p T = co nst. se v e n h a m a a n u la r q u a n d o in te g r a r m o s ao longo do
c o n to rn o fe c h a d o d a d ire c triz d o c o rp o , s ó s e rá f o r m a lm e n te c o n e c to não as
c o n s id e ra rm o s q u a n d o e fe c tu a d a e s s a in te g ra ç ã o ; a té l á c o n tin u a re m o s a incluí-
las n a s e x p re s s õ e s p a r a as c o n trib u iç õ e s e le m e n ta re s , s e b e m q u e en tre chaveto
p a ra r e a lç a r e x a c ta m e n te o f a c to d e q u e n ã o ir ã o p r o d u z ir e f e ito g lo b al.
V irá e n tã o ,

d F = - i p d z = X i p U 2d z =
^ J L dz dz v
e

dM0 = p X ( z d z ) = - ± p U 2<X(zdz) + {pT<!fi(z dz)}

= + p o is U2 é r e a i

= ~ i p* l l k l i r zdz) +{p' * ( zdr>}-


Ora sobre a superfície do corpo ^ = U + i V e dz = dx + id>> são c
com o mesmo argumento — condição fronteira de impermeabilidade
implica que o produto ^ - d z seja real, pelo que pode ser igualm
SEC. 8.5. FORÇA E MOMENTO ACTUANTES NUM CORPO 449

como ^3z'dz- Assim, integrando ao longo da fronteira do corpo [C], obtém-se


finalmente:
2
(8.59.a)

2
zdz. (8.59.b)

De acordo com estas fórm ulas de Blasius, a força e o momento resultantes


vêm expressos em termos de integrais cíclicos de funções que são analíticas
excepto em pontos coincidentes com as singularidades (fontes / poços, vórtices e
dipolos) necessárias para simular a fronteira do corpo, pontos estes onde dW/dz
exibe descontinuidades infinitas. Dado que estas singularidades estarão
distribuídas apenas n<5 espaço interior ao contorno do corpo, as funções
integrandas deverão ser analíticas em todo o domínio do escoamento. Com base
no 2o teorema de Cauchy — sub-Sec. B.3.2. — se conclui então que os integrais
cíclicos podem, alternativamente, ser calculados ao longo de um qualquer outro
contorno encerrando o corpo e residindo, todo ele, no seio do escoamento; a
escolha de um círculo de grande raio revela-se especialmente útil quando se
conhece a forma de W(z) a grandes distâncias do corpo. Desenvolvendo as
integrandas em série de Laurent — sub-Sec. B.3.3. — no domínio
compreendido entre os dois contornos (directriz do corpo e círculo de grande
raio) e identificando os resíduos, o cálculo dos integrais cíclicos figurando nas
fórmulas de Blasius reduz-se então a uma aplicação directa do teorema dos
resíduos — sub-Sec. B.3.4. Será este o procedimento que iremos adoptar na
sub-secção seguinte para obter os resultados do teorema de Kutta-Joukowski.

8.5.2. Teoremade Kutta-Joukowski


Apliquemos o teorema de Blasius ao caso do escoamento em torno de um
cilindro colocado no seio de uma corrente uniforme a infinito a montante.
Desenvolvendo a função velocidade complexa em série de Laurent na região
exterior a um círculo com centro na origem e envolvendo o corpo obtém-se:

0 requisito de que a velocidade do escoamento seja uniforme a infinito


(condição de regularidade a infinito) implica que:
A o * í/-"iV .
An = 0 para n > 1 ,
450 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

peío que a forma mais geral de expansão de U em série de Laurent que se


adapta ao caso em estudo é:

Tomando como contorno de integração o círculo |z| = fi, com R grande


comparativamente a uma dimensão característica do corpo» e atendendo às
formas da velocidade complexa obtidas para os diferentes tipos de
singularidades — eqs. (8.5), (8.14), (8.19) e (8.22) —, os termos dominantes do
presente desenvolvimento em série de Laurent serão:

(8.60)

onde:
Q - representa a intensidade resultante da distribuição de fontes e poços
interiores ao contorno do corpo
r - representa a intensidade resultante da distribuição de vórtices
M • representa o momento complexo resultante da distribuição de dipolos.
É de notar que, a grandes distâncias do corpo, os efeitos dominantes da
distribuição espacial das singularidades necessárias para o simular respeitam
apenas ao seu valor resultante, i.e. a distâncias grandes comparadas com a
distância entre as diversas singularidades 'tudo' se passa, em primeira
aproximação, como se singularidades da mesma família estivessem concentradas
num único ponto (na origem); efeitos associados ao detalhe da distribuição
espacial das singularidades figurariam nesta expansão em série como termos de
ordem superior, não explicitados num desenvolvimento a menos de R~3.
O termo (d W /d z f que figura nas fórmulas de Blasius (8.59) para força e
momento pode-se então escrever:

com:
^-i ~ 2 í40A_j; B_2 — + 2A 0A_2; etc.

Trabalhemos primeiro a expressão referente a força resultante.


Atendendo ao teorema dos resíduos virá, para o integral cíclico:

e finalmente:
SEC. 8.5. FORÇA E MOMENTO ACTUANTES NUM CORPO 451

de onde:
lx=-pu„Q+pv„r
\Y~-pU„r-pV„Q .
Num referencial aerodinâmico, i.e. com o eixo dos x's alinhado com a
direcção do escoamento não perturbado, em que as componentes de força X e Y
têm directamente o significado físico de resistência D e de sustentação Lt
obtemos:

o = |j] i""1, = |^| {-pulQ +pu^r-pu^r-pvlQ )

=-p\uJr
|i/-| \um\
ou, associando carácter vectorial a estas diferentes entidades:

D = -pU„Q
( 8. 61)
L^-pu^xf com r= rêz

Destas expressões para componentes da força resultante se conclui que:


i) é nula a resistência de qualquer corpo bi-dimensional finito mergulhado no
seio de um escoamento potencial, permanente e uniforme, pois que 2 = 0:
paradoxo de d'Alembert — eqs. (2.41.b) e (8.53);
ii) a direcção e sentido da sustentação obtêm-se rodando o vector velocidade
da corrente não perturbada de 90° no sentido contrário ao da circulação;
iii) tanto a resistência como a sustentação são independentes da forma do corpo,
pois dependem apenas da intensidade resultante das fontes e vórtices
necessários para o sim ular e não da organização espacial destas
singularidades.
É de notar (e de realçar) que, mesmo numa óptica de fluido perfeito, um
qualquer corpo bi-dimensional finito imerso num escoamento permanente e
uniforme de fluido real produz já uma resistência não nula. De facto, perante o
escoamento potencial exterior às camadas limites que se desenvolvem sobre a
sua superfície e que subsequentemente se prolongam sob a forma de uma
esteira, o corpo sólido finito apresenta-se como um corpo fictício constituído
por corpo+5 * das camadas limites e da esteira, i.e. como um corpo semi-
infinito, ao qual corresponde um 2 ^ 0 e assim um D # 0 pelo teorema de
452 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Kutta-Joukowski (8.61), o que permite relevar o paradoxo de d'Alembert. Na


óptica de fluido perfeito, subjacente ao teorema de Kutta-Joukowski, esta
resistência advém apenas da aplicação de esforços de pressão, de natureza
invíscida; é assim denominada resistência de pressão [pressure drag] e resulta
da alteração do campo de pressões associada à 'alteração de forma1do corpo
real induzida pela introdução de uma superfície de deslocamento 8* das
camadas limites e da esteira. A soma desta resistência de pressão (de natureza
'invíscida') com a resistência de atrito (de natureza 'viscosa'), resultante do efeito
integrado de rw ou de Cf ao longo da superfície do corpo sólido, é usualmente
designada como resistência de forma \form drag] ou resistência de perfil
(profile drag]
É ainda de notar que para modelarmos, em fluido perfeito, um corpo
(fictício: corpo + <5*) prolongando-se para infinito a jusante requeremos uma
intensidade resultante de fontes e poços positiva, i.e. um Q> 0 na fórmula de
Kutta-Joukowski (8.61), do que resulta um D < 0 , i.e. uma força propulsora em
vez de uma resistência! Tal (não só aparente como de facto) incongruência
advém apenas do tipo de modelação adoptado para simular a superfície de
deslocamento da esteira: enquanto que, em fluido real, a uma esteira está
associado um déficit de quantidade de movimento, de onde uma resistência,
nesta modelação de fluido perfeito, para que a 'esteira' se prolongue para
infinito a jusante, requeremos um excesso de caudal produzido pelas fontes
comparativamente aos poços, do que resulta Q > 0 e portanto um excesso de
quantidade de movimento (uma impulsão, um 'jacto') em vez de um déficit.
E interessante notar [160] que a força de sustentação por unidade de
comprimento L = - p U oax r dada pelo teorema de Kutta-Joukowski (8.61),
quando entendida por unidade de volume para um vórtice real de secção de
núcleo dS, i.e. -p U ^ x ^ t / d S ^ - p U ^ x Q , não é mais do que a força -pÉ/xí3
figurando na equação de Navier-Stokes (2.16.b). A mesma forma assume a
força de Coriolis 2 Uxco para o escoamento num referencial não de inércia
animado de uma velocidade angular cò, como é o caso de escoamentos
atmosféricos — eq.(7.13); o factor 2 naturalmente não figura no termo de
vorticidade, pois Q = 2 cò para um elemento de fluido.
Resolvida a questão da força resultante ocupemo-nos agora do momento
resultante em tomo da origem. Com base no teorema dos resíduos o integral
cíclico que figura na fórmula de Blasius para momentos (8.59.b) advém:

(*) É de notar que a resistência (invíscida) de pressão e a resistência (viscosa) de atrito são apenas
duas manifestações do mesmo efeito de fluido real: produção de uma camada limite a que está
associado um dado S * e um dado rw ou Cf .
SEC. 8.6. TRANSFORMAÇÕES CONFORMES 453

de onde
z d z ~ - ~ ^ - + 27tp[VoeZ{M)~V„<
^ (M)\

ou, associando carácter vectorial às diferentes entidades:

ú~-.£Q H + 27t p U ^ x M com M=Me..


0 2K
Alternativamente, dado que:
í/.3(M )-V „9t(/W )=9í{-i(í;TC-iV„)[9í(yW)+i3(/M)]}=3l(-it/„e-iílM)

onde a é o ângulo de ataque — ângulo entre t/„ e uma direcção de referência


no corpo, neste caso escolhida como a do eixo dos x's —, a expressão do
momento em torno da origem pode-se escrever como:

M0= - ^ + 9 ? ( - 2 7 r i p l / „ e i“/W) (8.62)


2K v
forma esta a que iremos recorrer na sub-Sec. 9.1.3.
É de notar que, contrariamente à força resultante, o momento resultante
depende já da forma do corpo através de M .

8.6. Transformações conformes


Depois de analisada, na sub-Sec. 8.4.3., a configuração do escoamento em
tomo de um cilindro circular com circulação, abordemos agora a técnica das
transformações conform es, em especial a transformação de Joukowski que,
aplicada ao cilindro circular com circulação, nos vai permitir obter, no próximo
capítulo, primeiras características geométricas e aerodinâmicas de perfis alares.
Na sub-Sec. 8.6.1. enunciaremos e exemplificaremos as principais
características de uma transformação conforme, após o que estudaremos a sua
aplicação aos escoam entos irrotacionais de geometria cartesiana —
demonstração rigorosa das propriedades de uma transformação conforme pode
ser encontrada em bons livros-texto sobre funções de variável complexa; a
transformação de Joukowski é então analisada na sub-Sec. 8.6.2.

8.6.1. Definição e principais características;


aplicação aos escoamentos irrotacionais planos

Na Sec. 8.1. referimos uma transformação conforme ser uma transformação


perante a qual era conservada a forma de figuras elementares, embora estas
pudessem apresentar-se, no plano transformado, ampliadas e rodadas em relação
à figura elementar original no plano de partida. Mais exactamente, uma
transformação conforme pode ser definida nos seguintes termos [131]:
454 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL, INCOMPRESSÍVEL, BI-DIMENSIONAL

Suponhamos a relação z = / ( f ) que transforma o domínio D do plano


£(£■ rç) no domínio D ' do plano zfx.y). A transformação definida por
z = / ( f ) diz-se conforme se, dadas duas curvas S, e S2 em D que se
intersectam no ponto segundo um ângulo 0 , as curvas S\ e SJ,
transformadas de 5, e S2 no plano D \ se intersectarem no ponto P/(^0(),0)1
transformado de P, segundo o mesmo ângulo 0 em módulo e sentido, como
ilustrado na Fig. 8.49 (*); se se mantiver apenas o módulo mas for alterado o
sentido do ângulo de intersecção, a transformação diz-se isogonal.

W (C)

í
Fig. 8.49 Transformação conforme de um plano para outro.

Consideremos então a transformação conforme muito simples £ = =


com a complexo. Perante esta transformação, qualquer figura em f é
transformada em z numa figura semelhante mas ampliada de \a\ e rodada de
arg(fl) em relação à figura original. É de notar que nesta transformação simples
o parâmetro a desempenha o papel de f'(Ç)> o que revela já uma característica
geral de uma transformação conforme: numa qualquer transformação conforme
z = f(Ç) o factor de ampliação linear é \f'(C)\ e a rotação é de arg[/'(£)]. É
então de prever que comportamentos anómalos se possam verificar nos pontos
onde / /(C) = 0.
Dado que, para o desenvolvimento da teoria dos perfis alares, vamos estar
primeiro interessados em aplicar a transformação de Joukowski ao escoamento
em torno de um cilindro circular com circulação, exemplifiquemos
consequências deste previsível comportamento anómalo nos pontos /'(f)= 0
aplicando a transformação de Joukowski

z - / ( 0 = C + -^r com a real (8.63)

a um cilindro circular de raio a centrado na origem, descrito por um ponto


corrente Ç = a t ie. Virá então, de (8.63)

Z= x + i y = a e l6+— e~íd = a[e1$+erie)


a x 1
= 2acos0
quantidade real, de onde

(*) A título de exemplo, a projecção de Mercator é o resultado da transformação conforme da


superfície terrestre num plano [88].
SEC. 8.6. TRANSFORMAÇÕES CONFORMES 455

x = 2acos0
(8.64)
Ly = 0 .
Concluímos assim que a figura transformada é, como ilustrado na Fig. 8.50,
o segmento do eixo real compreendido entre os pontos jc(0 = 7t) = ~2a e
x{d=Q )-+2a.

Fig. 8.50 Transformação de um cilindro circular para uma placa plana.

Verificamos que a transformação é de facto conforme: os segmentos


elementares da superfície do círculo e S2 intersectam-se no ponto P, do
plano f , segundo um ângulo k , medido de Sl para S2\ os elementos
transformados S| e S2 do segmento de recta em z intersectam-se no ponto
transformado P ' segundo o mesmo ângulo n , também medido de S[ para S2.
A correspondência entre as figuras nos dois planos não é porém bi-unívoca,
pois a cada ponto do círculo corresponde um só ponto do segmento de recta,
enquanto que a cada ponto do segmento de recta correspondem dois pontos
sobre o círculo, como ilustrado na figura para os pontos P e Q. Tal não
correspondência um-a-um resulta do facto da transformação não ser conforme
nos pontos A(0 = O) e B (0 = 7t): o ângulo entre dois elementos da superfície
do cilindro constituídos em tomo dos pontos A e B aparece duplicado no plano
transformado — n no plano original e 2 n no plano transformado. Os pontos
A e B, em que é violada a conservação de ângulos entre figuras elementares, são
assim pontos singulares d a transform ação.
Notemos que estes pontos correspondem aos zeros de /'(£ ) ; derivando
(8.63) obtém-se

que se anula nos pontos £ = + a (ponto A) e Ç - - a (ponto B). Nestes pontos


em que f ( Ç ) admite zeros simples — e.g. ( l - a / f ) — os ângulos entre
segmentos elementares aparecem duplicados — (1+1) vezes maiores — no
plano transformado. Generalizando, se, num ponto singular, uma transformação
conforme exibir um zero de ordem n, ângulos entre figuras elementares nesse
ponto aparecem (n+1) vezes maiores no plano transformado.
456 CAP. 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. IN C O M P R E S S ÍV E L B I-D IM E N SIO N A L

Uma característica de transform ações conform es im portante para o nosso


estudo resp e ita a funções h a rm ó n ic a s, p o is ta n to <P com o H* satisfazem
a e q u a ç ã o d e L a p la c e . D e m o n s tr a - s e e f e c t i v a m e n t e q u e o carácter
harmónico de um a função se conserva p erante um a transform ação conforme
[131], i.e. que se F(£, rj) for um a função harm ónica em D então, por aplicação
de um a transform ação conform e z = /(£ )> a fu n çã o transform ada
mantém esse carácter harmónico em D ':
d 2F d 2F „ d 2F ' d 2F ’ .
se — pr + — = 0 então também - - ^ - y = 0.
dç dry * dx dy
Este resultado imediatamente im plica que se for W(Ç) o potencial complexo
do escoam ento no plano o rigin al en tão , por a p lic a ç ã o da transformação
conform e z = /(£ )> de onde a transform ação in v ersa Ç —f ~'(z), a função
analítica t v ( / -1(z)j = W '(z) representará o potencial com plexo do escoamento
no plano transform ado [46]. N aturalm ente que serão os mesmos os valores
num éricos de W, de 0 e de em p o n to s c o rre sp o n d e n te s dos dois
domínios, já que será o mesmo o valor num érico de Ç ou de / ~ ’(z) em pontos
homólogos; a descrição analítica ou representação g eom étrica destas funções
será, porém, com pletamente diferente nos dois planos. T om ando como exemplo
o caso do escoamento em torno do cilindro circular, anteriorm ente considerado,
que é transform ado no escoam ento em torno d e um a placa plana, no caso
U ^ / fx as Linhas de corrente do escoam ento de aproxim ação deformar-se-ão de
modo a contornarem o cilindro mas perm anecerão rectas paralelas a x no plano
da placa.
Quanto à relação entre velocidades com plexas no plano de origem e no
plano transformado, imediatam ente obtemos:
dW _ dW dÇ _ dW/dÇ
dz dÇ dz dz/dÇ
ou
U = U jf% ). (8.65)
C o m p o rta m e n to s an óm alo s o c o rre rã o no s p o n to s singulares da
transfo rm ação a m enos que U^ tenda para zero tão depressa ou mais
rapidam ente do que / '( £ ) , caso em que a indeterm inação Uz - 0 / 0 produzirá
um resultado finito.

8 .6 .2 . T ra n s fo rm a ç ã o de Jo ukow ski

A transform ação de Joukowski é definida por:


SEC. 8.6. TRANSFORMAÇÕES CONFORMES 457

Comecemos por identificar os pontos singulares da transformação:

/ '( 0 = 1 - ^ = 0 -» Ç = (8.67)

concluímos que a transformação exibe zeros simples nos pontos f = ± b do eixo


real.
Também:
}im/'(Ç) = l (8.68)

significando que, em face de (8.65), serão as mesmas as velocidades dos


escoamentos a infinito nos planos dos Ç's e dos z's (*).
Procuremos as curvas transformadas em z de círculos em £ com centro na
origem e raio a > b , de modo a que o campo do escoamento (domínio exterior
ao círculo |f | = a) não contenha os pontos singulares [114].
Para um ponto corrente sobre o círculo |£| = a é f = a e ‘e, pelo que (8.66)
produz:

z =x + iy = a e 'e + — e",e
a
de onde:

x = fl + — |COS0
a
(8.69)
.2^
sen0.

Comecemos por explorar o caso a > b . Dividindo a expressão de x por


(a+b2laj, a expressão de y por quadrando e somando ambas as
relações obtém-se:

■= í (8.70)
b2 \ 2 . 2\ 2
a+—
a
equação de uma elipse de semi-eixos

r b1
p =a + — ; q - a ------
a a

(*) Nota-se que esta preservação das velocidades dos escoamentos a infinito nos dois planos não
é um requisito ou uma característica de uma qualquer transformação conforme; no caso da
transformação ser a de Joukowski uma ta) preservação apenas se verifica em consequência do
resultado (8.68).
45 8 CAR 8 ESCOAMENTO POTENCIAL. INCOMPRESSÍVEL. BI-DIMENSIONAL

e distância focal

c - y P 2 - Q 2 = 2fc = const.
Verificamos assim que a transformação de Joukow ski transforma círculos de
raio a > b e centro na origem do plano dos Ç s num a fam ília de elipses
confocais no plano dos z's, como ilustrado na Fig. 8.51. Os graus de liberdade
para se obter uma elipse de forma dada são o raio do círculo gerador
a=(p+q)/2 e o parâmetro b = c/ 2 da transformação.

Fig, 8,51 Transformação de círculos concêntricos em elipses confocais.

No caso a = b, em que o círculo gerador contém os pontos singulares da


transformação, a elipse transformada degenera, por (8.69), no segmento do eixo
real compreendido entre os pontos x = - 2 a e x = + 2 a t com o dado por (8.64).
Esta placa plana de corda c = 4a é a forma mais sim ples de corpo sustentador.
um perfil alar sem espessura e sem curvatura, que a um ângulo de ataque a*0
produz já sustentação. Exploraremos esta form a rudim entar de perfil alar já na
sub-Sec. 9.1.1.
CAPITULO
9
PERFIS ALARES
Iniciaremos este cap ítu lo d ed icad o a p erfis alares com o estudo de perfis
obtidos a p artir de c ilin d ro s c irc u la re s com c irc u la ç ã o através de um a
transformação conform e d ev id a a Jo u kow sk i: a transform ação de Joukowski e
os perfis de Joukow ski — Sec. 9.1.
Para qualquer ou tra fo rm a de p erfil a la r to m a -se difícil determ inar qual a
transformação conform e req u e rid a p ara o rep ro d u zir a partir de um cilindro
circular. Duas estratégias se revelam então possíveis:
i) uma estratégia de base an alítica n a qual, atendendo a que qualquer perfil alar
nunca terá um a form a inteiram ente diferente da de um perfil de Joukowski,
se recorre prim eiro à tran sfo rm ação de Joukow ski e depois a uma série de
transformações de influ ên cia lo c aliza d a até se obter a geom etria pretendida
— método de T h eodorsen , a q u e é fe ita um a breve referência na sub-Sec.
9.2.1.;
ii) uma estratégia de in sp ira çã o n u m érica, extensível a três dimensões e que
permite, por ex e m p lo , c a lc u la r o e sc o a m e n to em torno de um avião
completo ou da ca ren a d e um navio, em que a superfície do corpo em
estudo é d iscretizad a em p a in é is ao lon g o dos quais são continuam ente
distribuídas s in g u la r id a d e s (s in g u la rid a d e s su p e rfic iais em vez de
singularidades in te rio re s ao co n to rn o ): o m é to d o d o s p a in é is [panei
method] — sub-Sec. 9.2.2. — d e que é apresentado um código de cálculo.
Fora da gam a d os pequenos ângulos de ataque, efeitos de fluido real são
significativos na determ inação das características aerodinâm icas de perfis alares:
desvio da e v o lu ç ã o d a s v a r iá v e is a e ro d in â m ic a s em f luido real
comparativamente à evo lu ção p rev ista com base num modelo simplificado de
fluido perfeito, devido tanto a um efeito de <5* com o de r w, rebentamento de
pequenas bolhas de recirculação e separação da cam ada lim ite que culmina com
a entrada em perda dos perfis. O com portam ento de perfis alares em fluido real,
e em especial as suas características de perda, são analisados na Sec. 9.3.
Na Sec. 9.4. são apresentados d iferentes tipos de perfis alares utilizados na
gama do baixo subsónico e na Sec. 9.5. são descritos tipos e mecanismos de
actuação de disp ositivos h ip e rs u s te n ta d o r e s [high-lift devices], accionados para

459
460 CAP.9 PERFIS ALARES

incremeníar o coeficiente de sustentação CL acima do CL produzido por um


perfii limpo.
O capítulo termina com a exposição da metodologia de processamento de
dados experimentais da distribuição do coeficiente de pressão Cp em tomo de
um perfil alar para determinação das variáveis aerodinâmicas CL, CD e Cw-
Sec. 9.6.

9.1. Perfis de Joukowski


Estamos agora em condições de começar a desenvolver a teoria dos perfis
alares aplicando a transformação de Joukowski (8.66) à situação do cilindro
circular com circulação, considerada na sub-Sec. 8.4.3. Iniciaremos o estudo
com a análise da configuração maís simples de perfil alar: uma placa plana a
incidência (*), na sub-Sec. 9.1.1. Na sub-Sec. 9.1.2. veremos como é possível,
através da transformação de Joukowski, imprimir curvatura e espessura a um
perfil alar e como esses parâmetros geométricos controlam as características
aerodinâmicas do perfil em termos de sustentação; a análise da característica de
momento de picada será feita na sub-Sec. 9.1.3. Na sub-Sec. 9.1.4. será
finalmente apresentada uma generalização imediata da transformação de
Joukowski permitindo obter resultados importantes para tratamento das
características aerodinâmicas de qualquer tipo de perfil alar.

9.1.1. Placa plana a incidência; condição de Kutta

Nas anteriores sub-Secs. 8.6.1. e 8.6.2. obtivemos a geometria de uma placa


plana de corda c = 4a, alinhada com o eixo real do plano dos z's, por aplicação
da transformação de Joukowski (8.63), ou (8.66) com o parâmetro b - a , a m
cilindro circular de raio a centrado na origem do plano dos £'s. Exploremos
agora a configuração do escoamento no plano da placa plana quando instalada
a um ângulo de incidência a relativamente a um escoamento uniforme de
aproximação de velocidade U„. Para tal, o cilindro circular deverá ser instalado
num mesmo escoamento de aproximação — mesmo Uw) mesmo a — pois,
como vimos na sub-Sec. 8.6.2., uma transformação de Joukowski não altera a
velocidade a infinito — eqs. (8.65) e (8.68).
Conhecendo nós já a configuração do escoamento tanto no plano £ do
círculo gerador como no plano z da placa plana para a situação particular a=0
— sub-Sec. 8.4.1. e Sec. 8.2., respectivamente — prossigamos para o caso geral

(*) No meio aeronáutico os termos ângulo de ataque e ângulo de incidência são por vezes
utilizados com significado diferente, embora esta diferença de terminologia não esteja
normalizada; no presente documento utilizaremos os dois termos indístintamente. No caso
vertente estamos apenas a seguir a designação mais comum em livros-texto de aerodinâmica:
tradução literal de f l a t p la te a t in cidence.
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 461

a * 0 tomando como base esta situação de referência e simplesmente


indagando das novas localizações dos pontos de estagnação; será uma
metodologia de abordagem do problema em tudo análoga à seguida na sub-
Sec. 8.4.3. quando explorámos as diferentes configurações do escoamento em
tomo de um cilindro circular com circulação.
Ora a localização dos pontos de estagnação no plano da placa plana é, por
(8.65), dada por solução de

= 0,

relação esta que é satisfeita ou quando = 0 , nos transformados dos pontos de


estagnação no plano do círculo, ou quando /'( £ ) = o que, por (8.67), só se
verifica na origem do plano dos £ ’s, ponto este (interior ao círculo gerador) que
está fora do nosso domínio do escoamento. Arredada a segunda hipótese, resta-
nos a primeira.
Como se conclui por simples inspecção da Fig. 9.1, os pontos de estagnação
para um escoamento de aproximação a um ângulo a em torno de um cilindro
circular estão localizados em Ç - ~ a e l{X — ponto A na figura — e em

Fig. 9.1 Escoamento sem circulação em torno de um cilindro circular e da placa transformada.

£= + ueia — ponto B; a tal conclusão se poderia ter chegado por via formal
recorrendo às considerações tecidas em torno da eq. (8.56), que produzem, para
o potencial complexo deste escoamento;

W = U e* 1C + U„eia - ç = U " Ç + -p-elia (9.1)


^ £ J

Os pontos de estagnação no plano z da placa plana serão assim os transformados


dos pontos Ç = ± a e l0C, i.e. os pontos jc = + 2íicosa, conforme dado por (8.64)
— pontos A' e B' na figura.
É de notar que as linhas de corrente de estagnação incidem na placa a um
ângulo de 90° com a superfície, pois este é o ângulo que se verifica para as
linhas de corrente homólogas no plano do círculo gerador e os pontos de
462 CAP.9 PERFIS ALARES

estagnação A e B em ç são pontos regulares da transformação conforme.


Pontos singulares, em que f'(Ç ) admite zeros simples, correspondem aos pontos
ç = ± a no plano do círculo, transformados nos pontos z = ±2a no plano da
placa plana. Nestes pontos é / ' ( f ) = 0 e 0 — mais precisamente
Uç = 2 í/„ s e n a , por (8.43) — do que resulta, por (8.65):

é este, de resto, o resultado previsto para o escoamento em torno de diedros


convexos, como o são, neste caso, os bordos de ataque e de fuga da placa;
diedros com um ângulo de abertura de 2 k — eq. (8.9) para n = l/2.
Em condições estabilizadas o modelo de escoamento acabado de apreciar
não tem, porém, realidade física. De facto, verifica-se em fluido real que:
• o escoamento assume uma configuração do tipo da representada na Fig. 9.2,
em que:
i) na vizinhança do bordo de ataque a geom etria é ainda semelhante à
anteriormente obtida, embora, a baixos ângulos de ataque — tipicamente
até a a 5o —, se forme no bordo de ataque, do lado do extradorso, unta
pequena bolha de separação que, a ângulos mais elevados, rebenta e vem
a controlar as características de perda da placa — apreciaremos estes
efeitos na sub-Sec. 9.3.2.
ii) na região do bordo de fuga o escoam ento é, no entanto,
substancialmente diferente: as camadas limites que se desenvolvem ao
longo do extradorso e do intradorso abandonam a placa com suavidade
(tangencialmente) pelo bordo de fuga o que, em termos de um modelo
de fluido perfeito, obriga a deslocar a linha de corrente divisória desde o
ponto de estagnação posterior, sobre o extradorso, para o bordo de fuga,

Fig. 9 .2 Escoamento de fluido real em torno de uma placa plana a incidência.

• a placa fica sujeita a uma força de sustentação positiva a que, pelo teorema
de Kutta-Joukowski, está associada uma circulação no sentido horário.
O modelo de escoamento em torno da placa anteriormente considerado
precisará assim de ser complementado com uma circulação - 7 \ o que nos
conduz ao caso do cilindro circular com circulação. A intensidade dessa
circulação será a estritamente necessária para fazer deslocar a linha de corrente
divisória posterior para o bordo de fuga do perfil, o que, em termos do plano do
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 463

círculo gerador, corresponde a deslocar a linha de corrente homóloga para o


ponto que, transformado, dê origem ao bordo de fuga: o ponto singular Ç=+o.
Tal configuração de escoamento está representada na Fig. 9.3.

F ig . 9 .3 E scoam entos em torno do círculo e da placa plana


' com circulação satisfazendo a condição de Kutta.

Esta condição que, em fluido perfeito, nos permite quantificar a sustentação


gerada por um perfil alar com um bordo de fuga pontiagudo é conhecida por
condição de K utta [Kutta condition] e pode ser formulada nos seguintes
termos, tanto na óptica do escoamento em torno do perfil como na do
escoamento no plano do círculo gerador [8, 46, 114]:
• a circulação g era d a é a estritam ente necessária para evitar
descontinuidades infinitas de velocidade no bordo de fuga do perfil, o que
corresponde a impor que a linha de corrente divisória posterior saia do
bordo de fuga;
• a circulação gerada é a estritam ente necessária para fazer com que o
ponto que, transformado, dê origem ao bordo de fuga do perfil, seja um
ponto de estagnação do escoamento no plano do círculo gerador.
Vários comentários se impõem antes de determinarmos o valor da
sustentação produzida pela placa plana a um dado ângulo de ataque:
A. A condição de Kutta só nos permite determinar, em fluido perfeito, o valor
da sustentação gerada por um perfil com um bordo de fuga pontiagudo a
um certo ângulo de ataque porque sabemos que, em fluido real, é nesse
ponto que o escoamento abandona o corpo; somos assim capazes de, em
fluido perfeito, determinar rigorosa e univocamente a intensidade da
circulação necessária para que a linha de corrente divisória posterior saia
precisamente desse ponto. Se se tratasse de um corpo com um bordo de
fuga arredondado não seria possível determinar, através de um modelo de
fluido perfeito, o valor da sustentação produzida, pois não conheceríamos a
localização das linhas de separação posteriores que ocorreriam em fluido
real e que, em fluido perfeito, poderiam ser modeladas por uma linha de
corrente de estagnação intermédia.
464 CAP.9 PERFIS ALARES

B. A sustentação produzida é a mesma no plano do círculo e no plano da placa.


De facto L = p U „ r e conserva-se na transformação; quanto a F :
Quando, na Sec. 2.4., introduzimos o conceito de potencial de velocidades,
interpretámos o acréscimo A 0 de uma equipotencial para outra como a
contribuição á r y para a circulação ao longo de um circuito fechado, de um
segmento do circuito unindo dois quaisquer pontos dessas equipotenciais,
i.e. A r = Ja d&; para todo o circuito fechado virá então = À
mesma conclusão poderíamos ter chegado integrando, ao longo de um
contorno fechado, a relação (8.16) para o potencial de velocidades de um
filamento de vórtice. Calculemos então r , nos dois planos, integrando 0 ao
longo de dois contornos homólogos envolvendo o círculo gerador e a placa
plana; imaginemos, por conveniência, a geometria representada na Fig. 9.4
de um circuito circular no plano do círculo gerador que, como vimos na
sub-Sec. 8.6.2., é transformado num circuito elíptico no plano da placa
plana — eq. (8.70).

Fig. 9.4 Circuitos transformados nos planos do círculo e da placa plana.

Dado que 0 assume os mesmos valores numéricos em pontos homólogos


dos dois planos virá:

Conservando-se [/„ e J \ a sustentação apresenta o mesmo valor nos dois


planos.
C. A linha de corrente divisória anterior incide normalmente à placa num
ponto de estagnação; é de notar que os pontos de estagnação anteriores,
tanto no plano do círculo como no da placa, se deslocaram relativamente à
posição em que se encontravam no caso sem circulação pois, ao imprimir
circulação ao cilindro, os pontos de estagnação anterior e posterior descem
ambos simetricamente na superfície de um valor angular expresso pela eq.
(8.52), neste caso de um ângulo a .
A linha de corrente divisória posterior abandona porém a placa com
continuidade tangencial, pois o ângulo de n f 2 manifestado no ponto
homólogo do plano do círculo, que é um ponto singular onde a
transformação exibe um zero simples, é duplicado no plano da placa: o
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 465

bordo de fuga da placa não é assim um ponto de estagnação. Trata-se de


um ponto onde, levantada a indeterminação Ul = Uçj/'(£ ) = 0/0, se obtém
um resultado finito, não nulo, que iremos determinar um pouco mais à
frente.
). Aceita-se que a distribuição de pressões ao longo de um qualquer corpo
finito, imerso num escoamento permanente e uniforme de fluido perfeito,
possa dar origem a uma força apenas com componente normal à velocidade
do escoamento a infinito: uma sustentação L, de acordo com Kutta-
Joukowski (8.61). Este resultado deverá continuar a verificar-se no caso
vertente, o que é estranho, porquanto sendo a pressão uma tensão normal, a
distribuição contínua de pressões ao longo das faces inferior e superior da
placa plana só poderá dar origem a esforços normais à placa, cuja resultante
será uma força F também normal à placa, e não normal ao escoamento a
infinito, como, por definição, o é a sustentação! Não estando o teorema de
Kutta-Joukowski errado, somos levados a concluir que estará forçosamente
presente uma outra força, até agora não considerada, também ela resultante
da distribuição de pressões e que adicionada vectorialmente a Fp produzirá
I.
Consideremos o escoamento em torno do bordo de ataque de uma placa
plana de espessura h não nula a um certo ângulo de ataque, como
representado na Fig. 9.5.a):
F\>a

a) Placa de espessura h
Fig. 9.5 Escoamento subsónico em torno do bordo de ataque de uma placa plana.

A distribuição de pressões ao longo da face frontal da placa p t < pM dará


origem à força Zba = Jq pçfids representada na figura. O caso em estudo da
placa plana sem espessura constitui apenas uma situação limite da anterior
em que, simultaneamente, h —>0 e p f como é característico do
escoamento em torno de um diedro convexo. Resulta assim no bordo de
ataque uma força:

alinhada com a placa e com uma grandeza tal que, adicionada


vectorialmente a F , produza Z , como indicado na Fig. 9.5.b).
466 CAP. 9 PERFIS ALARES

Tal efeito só ocorre em escoamento subsónico, de que escoamento


incompressível é um caso limite, pois que sendo a velocidade de propagação
de pequenas perturbações (a velocidade do som a) superior à velocidade do
escoamento de aproximação — Aí_ = t / „ / a < l , onde M é o número de
Mach —, informação quanto à presença da placa tem capacidade para se
propagar para montante, do que resulta o escoamento de aproximação já ser
deformado pela presença da placa e permite, em particular, que o
escoamento contorne o bordo de ataque dando origem à força
Em supersónico, e tal como descrito na Sec 1.4. com referência à Fig. 1,80,
pequenas perturbações só se propagam para jusante da fonte de perturbação,
interiormente a uma região delimitada pelo cone de Mach, o escoamento
não contorna o bordo de ataque da placa, esta força não tem existência
e, em resultado, surge uma resistência de onda de natureza invíscida.
Calculemos então a sustentação produzida pela placa plana a uma dada
incidência. Atendendo a que, por Kutta-Joukowski, é L = pU„F e que o valor
da circulação necessário para que o ponto de estagnação posterior se tenha
deslocado de um ângulo a é, por (8.52), F = AnaU^ se n a , obtém-se para L:

dentro de uma aproximação de pequenos ângulos — sena=a;


adimensionalizando esta relação pela pressão dinâmica a infinito e pela corda da
placa c = 4a resulta para o coeficiente de sustentação:
CL = 2 na. (9.2)
Concluímos assim que na gama dos pequenos ângulos de ataque —
tipicamente até a ~ 10° — CL v aria lin earm en te com a a uma taxa
dCL/d a = 2n rad _I = 0,11 grau"1.
Determinemos finalmente o valor não nulo da velocidade no bordo de fuga
da placa com base em (8.65)

Conjugando (9.1) com (8.18) e atendendo a que, para satisfazer a condição


de Kutta, é F = 4 ;rat/„se n a, vem para W(Ç):
2
4naU„se.na.
W(C) = C/„ í e - ia+ y e io
\ * ----- lní
pelo que
SEC .9.1. PERFIS OE JOUKOWSKI 467

pois 2isena se pode escrever como (e'“ -e ~ '“); quanto a f'(Ç) é, por (8.67)
com fc= a:

Resulta assim para U ( z - 2 a ) uma indeterminação do tipo 0/0. Levantando


a indeterminação obtém-se:

(9.3)

valor finito e não nulo.


Fica também ilustrado que só será válido enunciar a condição de Kutta
referindo que a linha de corrente divisória posterior deverá abandonar o corpo a
partir de um ponto de estagnação (linha de corrente de estagnação) em termos
do escoamento no plano do círculo gerador. Para o escoamento no plano do
perfil, o facto de o bordo de fuga ser ou não um ponto de estagnação depende
das características da transformação nesse ponto, que se reflectem no resultado
da indeterminação 0/0. Veremos na sub-secção seguinte que, para qualquer
perfil de Joukowski, o bordo de fuga nunca é um ponto de estagnação.
Investiguemos o mecanismo físico de geração de circulação numa placa
plana a incidência, como exemplo estilizado de perfil alar, seguindo a mesma
metodologia que no fim da sub-Sec. 8.4.3. para o caso do cilindro circular com
circulação: condições de fluido real, placa a deslocar-se em fluido em repouso,
formação do vórtice de arranque, aplicação do teorema de Kelvin e instalação
de um vórtice ligado responsável pela sustentação [8, 12, 114].
Suponhamos então a fase de arranque de uma placa plana a um
determinado ângulo de ataque que, em fluido real em repouso, se começa a
deslocar até atingir uma velocidade estabilizada correspondente a U„.
Imediatamente a seguir ao início do movimento, quando a vorticidade gerada
por acção da condição de não-escorregamento ainda não 'teve tempo' para se
difundir para o exterior, o escoamento pode ser modelado como de fluido
perfeito e simulado como o transformado do escoamento induzido por apenas
um dipolo em corrente uniforme, como representado na Fig. 9.6.a) e primeiro
considerado nesta sub-secção. Vorticidade de sentido positivo gerada na
'camada limite’ ao longo do intradorso — mais propriamente na camada de
corte, pois que a baixos R e‘s as aproximações de camada limite ainda não são
468 CAP.9 PERFIS ALARES

aplicáveis — é conveetada para a vizinhança do ponto de estagnação posterior


no extradorso perto do bordo de fuga, aí crescendo por continuado
fornecimento de vorticidade e dando lugar à concentração de vorticidade de
sinal positivo representada na Fig. 9.6.b).
Esta concentração de vorticidade é então varrida pelo escoamento, dando
origem a um vórtice de arranque e a uma configuração estabilizada do
escoamento com um vórtice ligado ao perfil, por Kelvin, de onde a sustentação
positiva — Fig. 9.6.c).

a) Fase de arranque b) Formação da concentração de vorticidade

U
+r
c) Configuração estabilizada do escoamento com vórtice ligado

Fig. 9.6 Geração de circulação numa placa plana a incidência.

Se, numa fase posterior, cessar a translação do perfil, este vórtice ligado será
deixado, em fluido em repouso, como um vórtice de travagem [stopping
vortex], deslocando-se então os dois vórtices (de arranque e de travagem), de
circulação simétrica, para 'baixo', no referencial da Fig. 9.7, por acção dos
campos de velocidade mutuamente induzidos.
-r +r
O ...................... o

Fig. 9.7 Vórtices de arranque e de travagem.

Concentrações de vorticidade, equivalentes aos anteriormente mencionados


vórtices de arranque e de travagem, serão libertadas sempre que r variar, quer
por acção de uma variação de velocidade U„ quer de ângulo de ataque a :

L =pU_r =± p U l c C L(a) => r = I í/„ c C t (a). (9.4)


Estas sucessivas etapas do processo de geração de circulação num perfil
sustentador estão bem reportadas nas Figs. 9.8 a 9.10 de visualização de
escoamento obtidas por Prandtl no Instituto Kaiser Wilhelm para Investigação
de Escoamentos, em Gõttingen, por volta de 1930 [134]:
- Na Fig. 9.8.a), tirada imediatamente após o arranque do perfil, é visível a
linha de corrente de estagnação posterior saindo do extradorso na
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKl 469

vizinhança do bordo de fuga; na Fig. 9.8.b) nota-se o crescimento da


concentração de vorticidade e, na Fig. 9.8.c), a libertação do vórtice de
arranque.
- A Fig. 9.8.d) é equivalente à 9.8.c) mas tirada com a câmara fixa em vez de
acompanhando o perfil em deslocação; neste referencial fixo em relação ao
fluido em repouso, de que foi eliminada a componente de translação 0
são bem visíveis os escoamentos circulatórios induzidos pelo vórtice ligado e
pelo vórtice de arranque.

c) Libertação do vórtice de arranque d) Equivalente a Fig. 9,8.c) mas com câmara


fixa relativamente ao fluido

Fig. 9.8 Geração de circulação num perfil alar.

- Na Fig. 9.9 do escoamento em torno da extremidade em gume de um corpo


que arrancou a a = 90° é mais claro o tipo de concentração de vorticidade
referido a propósito da Fig. 9.8.b).
- Os vórtices de arranque e de travagem assinalados na Fig. 9.10 foram
produzidos por um arranque abrupto seguido de travagem também abrupta
de um perfil.

Fig. 9.9 Escoamento em torno de uma Fig. 9.10 Vórtices de arranque e de travagem,
extremidade em gume.
47 0 CAP 9 PERFIS ALARES

9.1.2. Características geométricas e de sustentação


À placa plana sem espessura considerada na anterior sub-secção não é
realizável na prática: temos sempre de lhe imprimir uma certa espessura para
prover resistência mecânica. A placa plana tem porém uma virtude: a de
apresentar um bordo de fuga sem espessura que, em fluido real, permite às
camadas limites desenvolvendo-se ao longo do extradorso e do intradorso
abandonarem o corpo com o máximo de suavidade, assim dando origem a uma
esteira de pequena espessura a que está associado um pequeno déficit de
quantidade de movimento, de onde uma pequena resistência ao avanço. Tem
um inconveniente: o de apresentar um bordo de ataque também sem espessura,
que induz uma separação local da camada lim ite e origina uma bolha de
recirculação cujas dimensões dependem do ân g u lo de ataque; este
inconveniente pode ser ultrapassado arredondando o bordo de ataque.
Um perfil alar é assim requerido ter uma certa espessura, um bordo de
ataque arredondado e um bordo de fuga o mais pontiagudo possível, compatível
com a sua resistência mecânica. Lembrando, como referido na sub-Sec. 8.6.2.,
que a transformação de Joukowski (8.66) transforma uma família de círculos
centrados na origem do plano dos f ‘s e raio a > b num a família de elipses
confocais — 'bordo de ataque' arredondado — e transform a um círculo de raio
Q - b numa placa plana — 'bordo de fuga' pontiagudo — somos levados a
concluir que, para satisfazer os requisitos acima enunciados para um perfil alar
obtido aplicando a transformação de Joukowski a um círculo gerador no plano
dos f s , esse círculo deve estar descentrado no sentido do semi-eixo real
negativo, de modo a conter o ponto singular da transform ação £ = - b no seu
interior e passar pelo ponto singular Ç = +b; o centro do círculo poderá,
eventualmente, estar também deslocado sobre o eixo imaginário, como
exemplificado na Fig. 9.11.

F ig. 9.11 Círculo gerador descentrado segundo os eixos real e imaginário


e respectivo escoamento satisfazendo a condição de Kutta.
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 471

De modo a satisfazer a condição de Kutta — ponto de estagnação posterior


coincidente com o ponto singular £ = + 6 que, transformado, vai dar origem ao
bordo de fuga do perfil — o ponto de estagnação posterior deverá ser rodado
de um ângulo ( a + /J) relativamente à posição que assumiria no caso T = 0 , o
que requer a instalação de uma circulação - T tal que, por (8.52),

r = 47ra£/„sen(a + /?).

Resulta assim para L\

L - p U „ r = 4 /rp a £ /^ s e n (a + /?)
e para CL:

CL = - - - - - - - = 8;r - sen ( a + /3). (9.5)


\p V lc

Vejamos como o raio a > b do círculo gerador e o ângulo de posição do seu


centro na Fig. 9.11 controlam a form a geom étrica de perfis de Joukowski e
as suas características de sustentação expressas por (9.5). Façamo-lo em duas
etapas, primeiro descentrando o círculo gerador só sobre o eixo real e depois só
ao longo do eixo imaginário [46]; se esses descentramentos forem pequenos, de
tal modo que o problema possa ser linearizado, qualquer solução geral poderá
ser obtida por sobreposição destes dois casos particulares.
Descentramento segundo o semi-eixo real negativo
Tal como indicado na Fig. 9.12, em que se sobrepõem os planos do círculo
e do perfil, consideremos o círculo gerador centrado em Ç = - b e e com um
raio a = b( 1+ e) de modo a passar pelo ponto singular | = +/7.

Fig. 9.12 Descentramento do círculo gerador segundo o eixo real


e correspondente perfil (simétrico) transformado.

Um ponto corrente sobre o círculo será definido por

Ç= ~be + b(\ + e ) c ie
que substituído em (8.66) fornece, para a figura transformada:
472 CAP.9 PERFIS ALARES

z = - ^ + Ml + e ) e i9 + _ e + (I; j ) ? J .

Desenvolvendo a fracção em série de potências de e (*) obtém-se:


ZE;t + i>’= [2&cos0 + è £ (c o s2 0 -l)] + i [6 e(2 sen 0 -se n 2 0 )] + 0(£2)

de onde

x = 2bcos$+be (c o s2 0 -l) + #(£2)


, . / 2\ (9'6)
y = &£(2sen0-sen20J + 0(£2J .

Dado que a abcissa x da figura transformada é expressa em termos de uma


função coseno, que é par» e a ordenada y em termos de uma função seno, que é
ímpar, conclui-se que pontos conjugados sobre o círculo gerador são
transformados em pontos conjugados no plano dos z's, do que resulta um perfil
simétrico, como representado na figura.
A corda do perfil será c = x ( 0 = 0 ) - x ( 0 = 7r) = 4 b + 0^e2j por (9.6). É de
notar que forçosamente será c> 4 b , pois que, sendo o ponto singular
interior ao círculo, será o ponto transformado x = - 2 b interior ao perfil; mais
precisamente é x(6= n) = - 2 b - 3 b £ 2 + fl(£3).
Quanto à espessura / do perfil ou espessura relativa //c, com t = 2ymax: de
(9.6) obtém-se que dy/d9 = 0 ocorre para B - 2 n j 3 de onde;

- =— e = l,3 e (9.1.i)
c 4
a
x
(9.7.b)
c
concluindo-se que, para espessuras relativas típicas de perfis alares de baixa
velocidade entre 9 e 18%, a espessura máxima de um perfil de Joukowski se
verifica entre 20 e 22% da corda a contar do bordo de ataque.
Dado que o ângulo n entre dois segmentos elementares da superfície do
círculo gerador em tomo do ponto singular Ç = +b aparece duplicado em
z = 2b, um perfil de Joukowski apresenta um bordo de fuga tipo aresta de
rev e rsã o [cusp\, com um ângulo interno nulo, ou uma tangente comum ao
extradorso e ao intradorso; tal como para o caso da placa plana considerado na
anterior sub-secção, a linha de corrente divisória posterior abandona o bordo de
fuga com continuidade tangencial, pelo que este não é um ponto de estagnação.

(*) — =l-cc+a2- a 3+ para jce| < 1


l +a
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 473

Ora não é exequível uma aresta sem espessura, pelo que qualquer perfil
realizável na prática deverá apresentar um bordo de fuga com um ângulo
interno pequeno mas não nulo; nesse caso, e comparando com a situação de
aresta de reversão também ilustrada na Fig. 9.13, se conclui que os ângulos de
abertura dos diedros A e B assinalados na figura deverão ser iguais, pelo que a
linha de corrente divisória posterior deverá apresentar, no bordo de fuga, uma
tangente segundo a bissectriz do ângulo do bordo de fuga. Sendo os diedros
côncavos, o bordo de fuga será forçosamente um ponto de estagnação, como
dado por (8.10); a recuperação de pressão até Cp = + 1 no bordo de fuga, se
bem que muito localizada, produzirá uma separação não realista da camada
limite, situação esta que será preciso tornear num qualquer método de cálculo
viscoso / invíscido e a que faremos referência no fim da sub-Sec. 9.2.2.

®
a) Bordo d e f u g a em a resta d e re v e rsã o b) B ordo d e fuga anguloso

F i g . 9 .1 3 P o rm e n o r d o e s c o a m e n to n a vizin h an ça d o
b o rd o d e fu g a d e u m p erfil alar.

As conclusões a que acabámos de chegar quanto à configuração da linha de


corrente divisória na vizinhança imediata do bordo de fuga vão-nos servir como
instrumento para numericamente implementar a condição de Kutta na sub-Sec.
9.2.2.
Quanto à característica CL vs. a obtém-se, substituindo em (9.5) /? = 0 e
a
c : +è c ) = 4 +a 77 c ) ’ como dad0 por (9'7-a):
Ci = 2w^l + 0 , 7 7 - j a , (9.8)

concluindo-se que a evolução de CL com a é ainda linear na gama dos


pequenos ângulos de ataque, tal como para uma placa plana — eq. (9.2) —, mas
agora com uma taxa de variação ligeiramente superior e controlada pela
espessura relativa: e.g. 10% superior para um perfil com t/c ~ 13%.
Descentramento segundo o eixo imaginário
No caso do círculo gerador estar descentrado segundo o eixo imaginário,
para se deduzir a forma da figura transformada toma-se conveniente recorrer a
uma diferente formulação da transformação de Joukowski; obtenhamo-la
primeiro. Reescrevendo (8.66) como
474 CAP.9 PERFIS AlARES

recombtnando e dividindo as expressões resultantes obtemos a relação


alternativa

(9.9)

Reportemo-nos à Fig. 9.14 em que, tal como no caso anterior, estão


sobrepostos os planos do círculo e da figura transformada.
Para o ângulo 6 no ponto P sobre o círculo gerador é 0 ~ a 2- a i com

semelhantemente, para o ângulo 6P no ponto transformado P ', é

pelo que, atendendo à relação (9.9), será 6' = 26.


Como P existe sobre o círculo gerador é 0 = const., pelo que, sendo
0' = 20 = const., P' deverá também existir sobre um círculo. Concluímos assim
que a figura transformada do arco de círculo no semi-plano superior dos fsé
um arco de círculo no plano dos z's. O transformado do arco do círculo
gerador no semi-plano rj negativo será, obviamente, um arco de círculo
coincidente com o anterior no plano dos z's, pois se tratará de um arco de
círculo passando pelos mesmos pontos A' e Fr e com a mesma tangente nesses
pontos — transformados dos pontos singulares A e F, respectivamente.

-2

Fig. 9.14 Descentramento do círculo gerador segundo o eixo imaginário


e correspondente perfil (arco de círculo) transformado.
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 475

Para que o arco de círculo transformado fique completamente definido


precisamos de localizar mais um seu ponto; seja esse novo ponto o
transformado dos pontos C e B do círculo gerador, de coordenadas i (d +a) e
i(d-a), respectivamente. Dado que
b2 - a 2 - d 2 =~(d + a)(d —a)
obtém-se, de (8.66), para coordenadas dos pontos transformados C' e B':
, . (d + a ) ( d - a )
zr,R,= i(d±cO + i ---------------- '
CB d±a
= i(d±fl) + i(</Ta) = i2d ,
significando que a flecha / da placa curva transformada é dupla do
descentramento d operado no círculo gerador:
/ = 2d. (9.10)
Quanto à característica aerodinâmica CL vs. a desta placa curva obtém-se,
de (9.5) e atendendo a que ajc = b s e c /(46) = 1/4:
Ct = 2 * ( a + /8). (9.11)
A evolução de CL com a é ainda linear com uma taxa de variação de
2n rad , mas a recta passa agora, já não pela origem, mas pelo ponto de abcissa
a = -j8, como já representado na Fig. 1.25. O ângulo a = -/3 é, como então
referimos, designado ângulo de sustentação nula; a cada ângulo de ataque o
coeficiente de sustentação é superior ao produzido por uma placa plana de uma
quantidade 2;r/3, correspondente a CL( a = 0o). O ângulo de sustentação nula
pode, neste caso, ser determinado por simples inspecção da geometria da placa
curva, unindo o ponto de flecha máxima, a meia corda, com o ponto do bordo
de fuga, como ilustrado na Fig. 9.14.
Os ângulos de ataque medidos a partir do ângulo de sustentação nula são
denominados ângulos de a taq u e absolutos [absolute angles of attack]:
«*, = a+/8-
Perfil com espessura e com curvatura
Sobrepondo as duas anteriores soluções particulares concluímos que o caso
geral de um perfil de Joukowski com espessura e com curvatura pode ser obtido
por transformação de um círculo descentrado segundo os eixos real e
imaginário de quantidades dadas, respectivamente, por (9.7.a) e (9.10). Ilustra-
se na Fig. 9.15.a) a forma de um perfil de Joukowski obtido com um
descentramento de 10% b tanto sobre o eixo real como sobre o eixo imaginário;
a correspondente distribuição de Cp vs. x/c a a = 6°, obtida com o código
MAPLE — listagem na Sec. F.8 — , está representada na Fig. 9.15.b).
476 CAP.9 PERFIS ALARES

a) Geometria do perfil

F ig. 9,1 5 Perfil de Joukowski com espessura e com curvatura.

A característica aerodinâmica de CL vs. cc vem, por (9.8) e (9.11), expressa


por:

CL = 27T^l + 0 ,7 7 —j ( a + jS). (9.12)

D evido a diferentes gradientes de pressão actuando ao longo do extradorso


e do intradorso que produzem diferentes evolu ções de Ô* — efeitos que
abordarem os na sub-Sec. 9.3.1. — o andamento de CL vs. a em fluido real
verifica-se ser ainda m uito aproximadamente linear na gama dos pequenos
ângulos de ataque, mas a uma taxa cerca de 10% inferior a 27rrad'J em vez de
superior por efeito da espessura, com o previsto por (9.8) e reflectido em (9.12).
A proxim ando a realidade é assim usual, para qualquer tipo de perfil alar,
desprezar o aparente aumento de dCL/d c t induzido pela espessura relativa e
descrever a variação de CL com a por (9.11), tomando apenas em conta o
efeito da curvatura.
A concluir esta sub-secção, e com recurso à sequência de Figuras a seguir
apresentadas, façam os uma apanhado dos principais resultados a que até agora
ch eg á m o s quanto às característícas geométricas e aerodinâmicas de perfis de
J o u k o w sk i. Para bem realçar os diferentes efeitos, valores redondos dos
p arâm etros de espessura relativa e de curvatura escolhidos para os casos
a p resen ta d o s estão propositadam ente exagerados: £ = 0,3 <> t/c*=39%, e
<> / / c ~ 9 % quando os valores máximos de espessura relativa e de
curvatura en con trados em perfis alares são cerca de f / c » 18% e /?»5° ou
SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 477

[t A Fig. 9.16 ilustra o caso do cilindro circular centrado na origem do plano


dos Ç's e passando pelos pontos singulares da transformação, que dá origem
a uma placa plana no plano dos z 's; o ângulo de ataque escolhido é
a = 10°.
A Fig. 9.16.a) corresponde ao caso irreal sem circulação em que, no plano
da placa, os pontos de estagnação anterior e posterior se situam,
respectivamente, no intradorso, perto do bordo de ataque, e no extradorso,
perto do bordo de fuga, sendo as linhas de corrente de estagnação normais à
placa nesses pontos — pontos regulares da transformação.
Na Fig. 9.16.b), e em todas as Figuras seguintes, a intensidade de circulação
é já a requerida para satisfazer a condição de Kutta: ponto de estagnação
posterior, no plano do círculo gerador, coincidente com o ponto singular
f= que, transformado, dá origem ao bordo de fuga do perfil z = +2b,
ou linha de corrente divisória posterior abandonando o perfil pelo bordo de
fuga, e abandonando com continuidade tangencial — velocidade não-nula
nesse ponto — visto, num perfil de Joukowski, o bordo de fuga ser sempre
uma aresta de reversão; associada à deslocação do ponto de estagnação
posterior, também o ponto de estagnação anterior retrocede relativamente ao
bordo de ataque da placa.

1. Descentrando o círculo gerador segundo o semi-eixo real negativo obtém-se


um perfil simétrico com espessura. Os casos ilustrados nas Figs. 9.17.a) e b)
correspondem, respectivamente, a ângulos de ataque a = 0° e a = 10°.
1. Descentrando o círculo gerador segundo o semi-eixo imaginário positivo
obtém-se um perfil com curvatura mas sem espessura: uma placa curva com
a forma de um arco de círculo e uma flecha dupla do descentramento
imprimido no círculo gerador. Os casos apresentados nas Figs. 9.18.a), b) e
c) correspondem, respectivamente, a ângulos de ataque a = 0o, a = 10° e
o: = -j3 = -1 0 o.
E de realçar a configuração simétrica do escoamento, em relação ao eixo
imaginário, obtida para a = 0o, em que a linha de corrente divisória anterior
encontra o círculo no ponto de estagnação singular Ç = - b , tal como a linha
de corrente divisória posterior o abandona pelo ponto de estagnação
singular Ç = +b; as respectivas linhas transformadas em z encontram e
abandonam a placa curva com continuidade tangencial nos bordos de
ataque e de fuga — ângulo de contacto k / 2, em Ç, duplicado em v. a linha
de corrente divisória anterior deixou assim de ser uma linha de estagnação.
Para a = 10° o ponto de estagnação anterior reside no intradorso e para
ct ——f$ ~ —10° ( T = 0 ) reside no extradorso; sem circulação, as linhas de
corrente de estagnação são naturalmente rectilíneas no plano do círculo.
478 GAP. 9 PERFIS ALARES

b) Escoamento satisfazendo a condição de Kutta


Fig. 9.16 Placa plana a a = 10°.

a) a = 0°
SEC. 9,1, PERFIS DE JOUKOWSK! 479
480 CAP.9 PERFIS ALARES

Apreciemos as correspondentes distribuições do coeficiente de pressão q


ao longo do intradorso e do extradorso apresentadas na Fig, 9.20: '

Fig. 9 .2 0 Distribuições de Cp vs. * / c para placas em arco de círculo


a a =0°. a =10°e a =-/J =-lO°.
• Para a = 10°:
i) o ponto de estagnação (Cp = +l) encontra-se no intradorso;
ii) no bordo de ataque (x/c = 0) — diedro convexo de abertura 2ff -
o coeficiente de pressão exibe uma descontinuidade infinita:
c p = - ° ° '<
iii) Cp< 1 no bordo de fuga (x/c = 100%), indicativo de que o bordo de
fuga não é um ponto de estagnação;
iv) a área compreendida entre as curvas C e C equivale ao
coeficiente de força resultante normal à placa, aproximadamente
igual a CL dentro de uma aproximação de pequenos ângulos —
c o sa« l.
• Para a = -10°:
i) o ponto de estagnação encontra-se no extradorso;
ii) no bordo de ataque é Cp = - ° ° ;
iii) as curvas C„ e C„ cruzam-se a x /c * 25%, de tal modo que a
contribuição positiva para CL da área entre 0,25<x/c<l é
exactamente cancelada pela contribuição negativa da área
compreendida entre 0 < x /c < 0 ,2 5 , produzindo um CL resultante
nulo; a contribuição para momento é, porém, não nula, o que
quantificaremos já na sub-secção seguinte.
• Para a = 0°:
i) é positiva a contribuição para CL da área entre as curvas Cpm t
Cpinu: CL(a = 0°)>0 — CL( a = 0°) = 2 n p , como já referimos;
ii) a este ângulo de ataque particular deixou de se verificar Cp = +í ou
Cp ~ - ° ° na região do bordo de ataque: este resultado é da maior
importância; desenvolvamo-lo. Para qualquer ângulo de ataque, que
SEC.9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 481

não a = 0°, é, no bordo de ataque, Cp - - ° o e dCp/dí = +°o para a


recuperação de pressão que se segue. Embora estes sejam resultados
de escoamento irrotacional incompressível, não extrapoláveis para
fluido real, são contudo indicativos de que, para qualquer ângulo de
ataque que não a = 0°, no bordo de ataque se verifica uma sucção
extremamente intensa e que a recuperação de pressão (gradiente
adverso) que se segue é muito severa. Em consequência, para
qualquer ângulo de ataque, que não este ângulo particular, por
exemplo no caso de um escoamento de água em tomo do perfil de
um hélice propulsor marítimo verificar-se-á uma pressão local
inferior à tensão de vapor, de onde a ocorrência de cavitaçâo, e, num
escoamento de ar em torno de qualquer perfil alar, o intenso
gradiente adverso local inevitavelmente produzirá uma indesejável
separação laminar eventualmente seguida de recolamento turbulento
por efeito Coanda — "separação laminar" pois que, por acção do
intenso gradiente favorável a seguir ao ponto de estagnação
(velocidade a evoluir de zero a 'infinito' ao longo de uma muito
pequena distância) a camada limite forçosamente atingirá o pico de
sucção em regime laminar.
Segue-se que, para qualquer perfil alar, condições ideais de operação
se registam ao ângulo de ataque a que, para a distribuição de
curvatura (perfil sem espessura), a velocidade não exiba uma
descontinuidade infinita no bordo de ataque; este ângulo de ataque
particular é designado por ângulo de ataque de projecto ou ângulo
de ataque Ideal [ideal angle ofattack].
Concluiu-se, apenas a partir de considerações quanto à geometria do
escoamento, que, para um perfil de Joukowski, era ceideai= 0 o. À
mesma conclusão se poderia ter chegado por via formal, atendendo
a que: i) sendo o bordo de ataque um ponto singular da
transformação em que f'(Ç ) = 0, ii) para que a velocidade no bordo
de ataque da placa curva seja não-infinita: Uz = U ç f f J(Ç)*oot por
(8.65), iii) terá, esse ponto, de ser um ponto de estagnação do
escoamento no plano do círculo Uç= 0, iv) o que só se verifica
quando o ângulo de que o ponto de estagnação posterior precise
rodar para satisfazer a condição de Kutta seja igual ao ângulo de que
o ponto de estagnação anterior tenha de rodar para vir a coincidir
com o ponto que, transformado, dê origem ao bordo de ataque da
placa curva: a + ) 3 = ) 3, de onde a = 0°.
0 caso geral do perfil com espessura e com curvatura a a = 10° está
ilustrado na Fig. 9.19.
462 CAP.9 PERFIS ALARES

9.1.3. Momento de picada


Até agora apreciámos perfis de Joukowski apenas em termos de forma
geométrica e de caraeterísticas de força (sustentação) resultante. Analisemos o
aspecto de momento resultante: momento de picada, positivo ou negativo, que,
em termos estruturais, tem o significado de m om ento de torção no
encastramento asa / fuselagem ou pá / cubo de uma turbomáquina axial [115],
Para um corpo finito o momento resultante em torno da origem escreve-se,
de acordo com o teorema de Kutta-Joukowski — eq. (8.62) com Q~0:

Laurent a grandes distâncias do corpo.


A única dificuldade na determinação de M para o cálculo de MQ para um
perfil de Joukowski reside no facto, ilustrado na Fig. 9.21, de a transformação
de Joukowski (8.66) ser definida nos referenciais ( * ',> ') e (£ ',7 /'), enquanto
que o potencial complexo representativo do escoam ento em tomo do cilindro
circular com circulação, expresso por (8.49), é conhecido no referencial (£,r])
com origem no centro do círculo.
Toma-se assim conveniente trabalhar num referencial com origem no centro
do círculo gerador e, no plano do perfil, medir momentos em relação à origem
desse referencial. O ponto, no plano do perfil, coincidente com o centro do
círculo gerador quando se sobrepõem os dois planos, é conhecido por centro do
perfil. É um ponto sem qualquer significado e impossível de localizar quando se
considera apenas o plano do perfil, mas conveniente, em termos formais, na
transformação do plano do círculo para o plano do perfil. Como representado
na figura, a transformação de eixos apenas envolve uma translação de J.

y,n /. n'

Fig. 9.21 Localização do centro de um perfil obtido por


transformação de um círculo.

A metodologia de cálculo de M para determinação de Afc (momento em


relação ao centro do perfil) será então: i) conhecidos W (£), P°r sobreposição
de (9.1) com (8.18):
SEC. 9.1. PERFIS DE J0UK0WSK1 483

lV(n=y.e-i"Ç + l/„ei“ 4 + — InÇ, (9.14)


v' Ç 2 7t
e a transformação de Joukowski (8.66)

í '- / ( n = f '+ Ç .

ii) operar a translação do referencial de modo a escrever a transformação como


Z= F(£), iii) determinar a transformação inversa Ç = F ~ l(z), iv) relação esta
que, substituída em (9.14), fornecerá W(z) e Ut , v) assim permitindo
identificação do coeficiente M , vi) necessário ao cálculo de Mc .
A transformação de Joukowski (8.66) de Ç para z! escreve-se, entre £ e z
e atendendo a que Ç' = Ç + s e z' = z + s:

( z + í) = (ç + í)+ ( f e ]
ou

C+ s
r b2 ( s \ r b2

para |j / Ç | < 1 .

A transformação inversa, de z para Ç, vem então:

Ç= F~](z) = z ----- + ... = z l--j+


z
também a grandes distâncias do corpo — 'grandes' comparativamente ao
descentramento í , de modo a que |s /£ |, | j / z |< 1 .
Substituindo Ç = F ~ \z ) em W (f) dado por (9.14) resulta

b2 ) a2U„e,a b2 1 r ( b2 Y
— +... Inz+ln 1— 5-+...
* J z { z2 ) In L l z JJ
„ _io i r , a U ^ a - b 2U ^
= t/„e ,az + — lnz + -----=---------- - + ...
2K z

Para a velocidade complexa Uz virá então:

ir b2Ume i a - a 2U_ t ia
U, = Umt ia +
2 tíz z

de onde, por analogia com (8.60), se obtém


484 CAP. 9 PERFIS ALARES

M = b2U„e~'tt- a 2U„eia
(9.15)
que substituída em (9.13) produz
Aíc = 9? - a 2E/„e‘“ )]

= ~2 Jtpb2U i sen2 a

= ( i p ^ ) ( 4 t ) 2[ - | « ]

dentro de uma aproximação de pequenos ângulos. Sendo c = 4b obtém-se, para


o coeficiente de momento em tomo do centro de um perfil de Joukowski:
r .. Mc
(9.16)
Mc~ & U Í c 2

momento de cabragem para a> 0: CMr( a > 0 )< 0 .


Nota-se que, sem paralelo com a característica de sustentação (9,12), a
evolução de CMq v s . a dada por (9.16) é independente tanto da espessura
relativa como da curvatura do perfil e que C«c( a = 0°) = 0 sempre.

Nota: Alerta-se o leitor para que os sentidos (os sinais) de momentos indicados
neste texto são contrários aos usualmente adoptados em aerodinâmica de
perfis. Para que um perfil produza uma sustentação positiva setá
necessário que a circulação instalada seja no sentido horário, razão pela
qual o sentido usualmente adoptado como positivo para ângulos e
momentos, em textos específicos de aerodinâmica de perfis, é o sentido
inverso. No presente texto, que não é específico de aerodinâmica de
perfis e em que este assunto constitui apenas uma das partes do volume,
considerou-se que não se justificava alterar pontualmente a convenção
de sinais, pelo que se optou por continuar a considerar o sentido directo
como sentido positivo para ângulos e para momentos. Aqui fica o alerta
— o momento de cabragem referido no contexto da eq. (9.16)
continuará, no entanto, a ser de cabragem (nariz em cima), seja
considerado positivo ou negativo!

9.1.4. Generalização; centros aerodinâmico e de pressão

A transformação de Joukowski (8.66) permite-nos obter perfis alares no


plano dos z’s com dois graus de liberdade (t/c e )3) a partir de círculos no
plano dos Çs passando pelo ponto singular f = +b. As características
aerodinâmicas de força e momento destes perfis são expressas por (9.12), ou
simplesmente (9.11), e por (9.16).
SEC. 9.1 PERFIS DE JOUKOWSKl 485

A transformação de Joukowski pode-se considerar um caso particular da


transformação

Ç
obtido para a, = b , com b real, e an =0 para n > 1; os coeficientes aa serão em
geral complexos.
A fim de aliviarmos o constrangimento CMc(a = 0o) = 0 sempre e obtermos
uma evolução C«c vs. a aplicável a qualquer tipo de perfil alar, generalizemos
(8.66) permitindo apenas que o coeficiente do termo em 1/Ç possa ser
complexo, i.e. o1=fe2e“2,A e a„ = 0 para n > l [115].
Por analogia com a relação (9.15) anteriormente obtida para M virá agora:
M =al U„e~‘a - a 2U„e,a = b2e~ra l/„e_i“ - a2 U_e,a
de onde
Mc = 'R [-2^ipt/Me 'i“ 62e '2Ul/„ e 'i“ ]

= 9? j-27ripè21/2 e '2i(“+i)|

= -4 rcpb2U l(a + X)
e finalmente

CMc = — (« + *) (*}- (9.17)

CM(; anula-se agora para um ângulo de ataque a = - X , por isso designado


como ângulo de momento nulo em torno do centro do perfil.
Argumentámos, na sub-secção anterior, que o centro do perfil era um ponto
não identificável conhecido apenas o plano do perfil, mas que referir momentos
relativamente a esse ponto se revelava analiticamente interessante no contexto da
metodologia que temos vindo a seguir de obtenção de perfis alares por
transformação de um círculo gerador. Obtida a relação (9.17) para Cjic
determinemos então a expressão equivalente para Cu medido relativamente a
qualquer outro ponto mais significativo do perfil, por exemplo o bordo de
ataque.
Dado que os descentramentos operados no círculo gerador para obter um
perfil com espessura e com curvatura são sempre pequenos podemos, em
primeira aproximação, admitir que o centro do perfil estará localizado a meia
corda, pelo que, com base na Fig. 9.22, uma simples propagação de momentos
produz:

(*) Tomou-se a, = h2e 2,2 e não a, = fe2e 2'2 apenas para que (9.17) resultasse formalmente
análoga a (9.11): CMc=(a+ /l) assim como Ct «(a+/3).
486 CAP.9 PERFIS ALARES

Fig. 9.22 Propagação de momentos para determinação do


momento em tomo do bordo de ataque.

* Mr + - L cos a
c 2
ou em termos adimensionais e dentro de uma aproximação de pequenos
ângulos

£l
~ CMc +
2 '
Substituindo nesta relação CMq e CL dados, respectivamente, por (9.17) e
(9.11) obtém-se:

CMba= - j ( a + ^ ) + 7t(a + P)

K CL
= 2 y+T (9-18)
com Y = p - X.
Para tratamento analítico, em vez de trabalharmos com momentos medidos
em relação a um ponto para o qual CM = f ( a ) , como acontece com (9.18) em
que CWba varia com a por intermédio de CL, mais cómodo seria trabalhar com
momentos medidos relativam ente a um ponto para o qual fosse
CM = c o n s t.* /(a ). Tal ponto efectivamente existe e é designado por centro
aerodinâm ico [aerodynamic centre]', determinemos a sua localização e o
correspondente valor constante 86, 115].
Para um ponto sobre a corda e à distância x da origem é, como representado
na Fig. 9.23.a):

a) Momento em tomo de um ponto b) Centro aerodinâmico a 1/4 da corda


corrente sobre a corda

Fig. 9.23 Determinação da localização do centro aerodinâmico.


SEC. 9.1. PERFIS DE JOUKOWSKI 487

(9.19)

e o requisito dCMn/ d a = O, ou dCMeJ d C L = O pois que CL ~ a , conduz


directamente a
*c a _ dC**C
c dCL
e, por (9.11) e (9.17):
*ca „ d C « c _ dCMç l d<X 1
(9.20)
c dCL dCL/dcc 2n 4‘
Assim se conclui que efectivamente existe um ponto relativamente ao qual
o momento de picada é independente do ângulo de ataque e que esse ponto
está localizado (dentro do grau de aproximação adoptado) sobre a corda a
uma distância cj4 do bordo de ataque — Fig. 9.23.b).
Determinemos finalmente o valor CM "Jca
=const.:

Cmq = C«c + T (9-21)


=- |( a + A ) + |( a + /3 ) = y(^ -Â )

=|r - (9.22)
Para a generalidade dos perfis é p > A, de onde y > 0 e CM > 0 (*). Para
um perfil simétrico obviamente será p = X - 0 e CM^= 0; para um perfil com
curvatura (assimétrico) um valor já elevado de CM é CM =+0,1 ou -0,1,
dependendo do sentido considerado positivo para momentos.
Para qualquer tipo de perfil operando, em fluido real, a um qualquer
número de Reynolds, o centro aerodinâmico está geralmente localizado entre
24% e 26% da corda a contar do bordo de ataque, pelo que 25% c é uma
primeira estimativa já suficientemente precisa.
Para uma aeronave completa, e para distinguir do centro aerodinâmico dos
perfis ou da asa, o ponto relativam ente ao qual o momento de picada é
independente do ângulo de ataque é designado como ponto neutro [neutral
point].
O centro aerodinâmico é um ponto de referência da maior importância para
os aerodinamicistas; é, porém, um ponto perfeitamente irrelevante para quem
trabalha em estruturas! Quem tem de dimensionar uma asa, entendida como

(*) Alerta-se novamente o leitor para a convenção de sinais adoptada neste texto geral sobre
aerodinâmica, contrária à. usualmente utilizada em textos, tabelas e gráficos específicos de
aerodinâmica de perfis, onde geralmente $e regista
488 CAP.9 PERFIS ALARES

uma estrutura simplesmente eneastrada na fuselagem e submetida a esforços


principalmente, de flexão, por acçâo da distribuição contínua de sustentação ao
longo da envergadura, pretenderia poder calcular a viga mestra — a longarinj
principal [main spar] — dessa estrutura de modo a resistir, exclusivamente, a
esforços de flexão, tomando a casca conta dos restantes esforços de flexão ede
torção — momento de picada, para os aerodinamicistas. Essa longarina
principal deveria assim estar localizada no ponto relativamente ao qual o
momento 'de picada' fosse nulo, não no ponto relativamente ao qual seja
Cu = const.* 0, de modo a precisar de resistir apenas a esforços de flexão, não
de torção.
O ponto, sobre a corda, relativamente ao qual o momento de picada é
nulo ou, altemativamente, o ponto de intersecção da linha de acçâo da
sustentação com a corda, é designado por centro de pressão [centre cj
pressure]. Determinemos a sua localização [74, 86. 115].
Impondo ser igual a zero a expressão (9.19) do coeficiente de momento etn
tomo de um qualquer ponto corrente sobre a corda, a uma distância x do centro
do perfil

C- „ - C- c " ? Ci = 0 -
imediatamente obtemos:

*çp = C « c

c CL
de onde, por substituição de (9.21): CMc - C M^ - C L/ 4 resulta

*cp C»c 1
* CL 4

OU

( " 7 + ^ ) Cl = = const' (9'23)


expressão de uma hipérbole equilátera ( x y = const.) num referencial centrado
no centro aerodinâmico, como representado na Fig. 9.24.a) — jtc*/c=-I/4,
relativamente a um referencial com origem no centro do perfil.
Compreende-se a evolução assimptótica de jc^ / c quando Ct —»0, pois que
sendo momento = força x braço deverá o braço adimensional x quando
o coeficiente de força CL -> 0, de modo a garantir, para o coeficiente de
momento em tomo do centro aerodinâmico, Cu = const.* 0. O centro de
_ Mca
pressão residirá num ponto fixo, coincidente com o centro aerodinâmico
x^/c-F 1/4 = 0, quando for CM = 0 , o que se verifica, por exemplo, nocaso
simples de um perfil simétrico.
SEC. 9.2. MÉTODOS DE ANÁLISE DE PERFIS ALARES 489

a) Fluido perfeito b) Fluido real


Fig. 9.24 Passeio do centro de pressão.

Para qualquer outra situação de um perfil exibindo um CM * 0 pergunta-


se: qual o ponto fixo — o centro de pressão é um ponto corrente! — onde
deverá o especialista de estruturas localizar a longarina principal da asa? A
resposta óbvia é: no ponto onde esforços de flexão sejam máximos, com
momentos torsores mínimos.
Sendo irrealista a situação CL —»©©, pois que em fluido real e com aumento
de a o perfil terá entretanto entrado em perda, do que resulta a evolução de
CL vs. x^/c apresentada na Fig. 9.24.b), a solução construtiva normalmente
adoptada é a de localizar a longarina principal 'um pouco’ atrás do centro
aerodinâmico, digamos entre 30% e 35% da corda a contar do bordo de ataque.

9.2. Métodos de análise de perfis alares


Na secção anterior desenvolvemos o estudo dos perfis de Joukowski, por
aplicação da transformação de Joukowski ao escoamento em torno de um
cilindro circular com circulação — o círculo gerador. Na presente secção iremos
estender essa análise a qualquer tipo de perfil alar descrevendo, em termos
gerais, um método de inspiração analítica —■o método de Theodorsen, na sub-
Sec. 9,2.1. — e, com algum detalhe, um método de base numérica — o método
dos painéis, na sub-Sec. 9.2.2. — extensível a configurações tri-dimensionais e
para o qual será apresentado um código de cálculo.

9.2,1. Método de Theodorsen

0 método de Theodorsen [1, 161] permite análise das características


aerodinâmicas de um qualquer perfil alar em escoamento potencial
íncompressível, i.e. determinação da distribuição de Cp e dos parâmetros
integrais CL e CM.
490 C A P .9 PERFIS ALARES

Usando a transformação de Joukowski, o perfil em análise é primeiro


transformado num círculo deformado — o pseudo-círculo — que, em seguida, g
convertido, através de uma série de transformações de influência localizada
num círculo exacto centrado na origem, para cujo escoamento o potencial
complexo é expresso por (9.14). O resultado desta sequência de transformaçôçs
está ilustrado na Fig. 9.25.
A transformação T, de z em Ç é a transformação de Joukowski inversa:

X-1 Fi ^
r, ■
e a transformação T2 de Ç em é expressa por

Fig. 9.25 Sequência de planos utilizados no método de Theodorsen.

Um ponto corrente no plano Ç do pseudo-círculo é definido por

£ = a e #'l*,+i* (9.24.1)
e no plano f, do círculo exacto por

f ,= f l e r °+,T^ com r (0) = 0 + e (0 ). (9.24.b)


Verifica-se facilmente, por exemplo para o caso de um perfil simétrico de
Joukowski (com espessura mas sem curvatura), que o valor médio do parâmetro
em (9.24.a), ao longo do pseudo-círculo

está relacionado com a espessura relativa t/c do perfil, controlando portanto o


nível da distribuição de Cp, embora não a sua forma. Este resultado está
ilustrado na Fig. 9.26; recorda-se que o descentramento do círculo gerador em
f está relacionado com a espessura relativa por (9.7.a): e ~ 0,77 t/c.
Este valor y^médio é precisamente o do parâmetro y/0 em (9.24.b). Também
o valor de y/ no bordo de ataque controla o raio do bordo de ataque e os
valores na vizinhança do bordo de fuga controlam o ângulo do bordo de fuga e
a recuperação de pressão.
S E C .9 .2 . M ÉTODOS DE ANALISE DE PERFIS ALARES 491

Fig. 9.26 Análise de um perfil de Joukowski simétrico.

Semelhantemente se constata que a distribuição da diferença angular e(0),


em (9.24.b), entre pon tos hom ólo g os em Ç e em controla a evolução de
curvatura e, em particular, que o valor de £ no ponto 0 = 0, correspondente ao
bordo de fuga, é o ângulo de su stentação nula a = - p , o que facilmente se
verifica para um perfil de Joukow ski com curvatura mas sem espessura, como
ilustrado na Fig. 9.27 em que se sobrepõem os diversos planos; recorda-se que a
placa curva tem, neste caso, a form a de um arco de círculo de corda c ~ 4a e
flecha/dupla do descentram ento d do círculo gerador: f ~ 2 d , eq. (9.10).

Fig. 9.27 Análise de um perfil de Joukowski com curvatura mas sem espessura.

Estas características 'm á g ic a s' das fu n çõ es ^ ( 0 ) e e ( 0 ) , controlando


separadamente diferentes parâm etros característicos do perfil, aliadas ao facto de
se demonstrar ser Cp = c o n s t.xd€/d<p, d e tal m odo que pequenas variações de
Cp são aproxim adam ente p ro p o rc io n a is a variações locais de defdif), fazem
com que a técnica do m étodo d irec to d e T heod o rsen possa ser utilizada para
projecto de perfis [6, 162]. É a seg u in te a m etodologia de projecto:
i) como referên cia é e s c o lh id o u m p e rfil com form a e características
aerodinâmicas p róxim as das desejadas;
ií) analisando esse p erfil, fica m determ in ad as as correspondentes evoluções de
V(<t>) e d e £ ( 0 );
iii) essas distrib uições são e n tã o lig e ira m e n te ajustadas até se obterem as
características pretendidas;
iv) uma vez atingido o objectivo, p o r transform ações inversas determinam-se as
coordenadas do novo perfil.
492 CAP 9 PERFIS ALARES

9.2.2. Método dos painéis

No estudo do escoamento potencial incompressível em tomo de um corpo


imerso no seio de uma corrente de aproximação, simulação de uma superfície
de corrente divisória com a forma do corpo sólido pode ser conseguida com
distribuições de singularidades ao longo da fronteira do corpo em vez de no seu
interior, como demonstrado no Apêndice D com base no teorema de Green.
Para implementação numérica, a superfície do corpo é assim discretizada em
painéis com distribuições contínuas (com folhas) de singularidades, o que leva a
designar este método de simulação como método dos painéis. Depois de
diversos desenvolvimentos teóricos, a primeira implementação numérica do
método com verdadeiro sucesso foi conseguida por Hess e Smith da Douglas
Aircraft Corporation (actual McDonnell-Douglas) em 1966 [69] — A.M.0,
Smith é um aerodinamicista e John Hess um matemático aplicado. O método
dos painéis é, hoje em dia, de aplicação corrente nas indústrias aeronáutica,
naval e automóvel.
Na presente sub-secção apresentam-se os fundamentos do método para
situações bi-dimensionais cartesianas de escoamentos em tomo de corpos não
sustentadores e de perfis alares, contemplando-se já a situação de fronteiras
porosas de modo a permitir a eventual inclusão de uma velocidade de
transpiração necessária à simulação de um S* — eq. (4.43) — num processo
iterativo viscoso / invíscido. No capítulo seguinte será feita uma breve referência
à extensão do método para tri-dimensional.
Para um escoamento de velocidade a infinito a montante de um corpo
poroso a condição fronteira na superfície do corpo escreve-se
(9.25)

em que U = Ux + u é a velocidade resultante na superfície, soma das velocidades


do escoamento de aproximação Úm e do campo de perturbação (7, e vw é a
velocidade de transpiração — vw = 0 para superfície impermeável.
Admitindo o campo de perturbação irrotacional (*) vem:
u = V<p
em que (pé o potencial de velocidades do campo de perturbação, pelo que a
condição fronteira (9.25) se escreve, em termos de <p:

(*) Aplicação do método não está restrita a casos de escoamentos de aproximação irrotacionais,
apenas requerendo que o campo de perturbação seja irrotacional. Trata-se de uma não-restriçâo
quase que só filosófica! O único exemplo que o presente autor conhece de um escoamento
rotacionai de aproximação que produz um escoamento de perturbação irrotacional é o de um
cilindro circular no seio de um escoamento de corte puro: d U ^ jd y = const.
SEC. 9.2. MÉTODOS DE ANÁLISE DE PERFIS ALARES 493

Suponhamos que pretendemos simular a fronteira do corpo com uma folha


de fontes de intensidade cr variável distribuída sobre a fronteira, de tal modo
que para a velocidade induzida num qualquer ponto P da superfície contribuem
todos os elementos ds de fontes organizados em torno de um ponto corrente Q;
lembrando que, por (8.11), o potencial de velocidades de uma linha de fontes é
m.
ffl = — mr
lK
a condição fronteira anterior advém:

£ ÍS +i -tp-lnr(P.Q ) a(Q)ds = -Ú _ .n (P) + vw(P) (9.26)


2 2 n Js dn?
que reveste a forma de uma equação integral de Fredholm de 2“ espécie — a
incógnita a, intensidade local da folha de fontes necessária para satisfazer a
condição fronteira, figura não só na integranda como fora do operador integral.
Para tp em P contribuem todos os elementos ds da superfície, incluindo o
elemento constituído em torno do ponto Q = P: a chamada auto-indução; neste
casoé r(P,Q) = 0, o que introduz uma singularidade na integranda. O integral
de superfície é então calculado para todos os elementos ds constituídos em tomo
de pontos correntes Q tais que Q # P e a auto-indução é individualizada e,
conforme argumentos expandidos no §8.3.3.2., dada por cr(P = Q)/2 —
primeiro termo do primeiro membro, em (9.26).
Em termos numéricos, a formulação mais simples de (9.26) consiste em
discretizar a superfície do corpo em painéis planos compreendidos entre pontos
fronteira [boundary points] consecutivos, distribuindo, ao longo de cada painel,
uma folha de singularidades de intensidade constante [piecewise constant], e
satisfazer a condição fronteira em pontos de colocação coincidentes com os
pontos médios de cada painel: os pontos de controlo [control points].
Formulações de ordem superior respeitam a elementos quadráticos e
distribuições lineares, splines, etc.; deve porém, neste processo, ser sempre
assegurada compatibilidade entre a ordem de definição dos elementos da
superfície e a ordem da distribuição das singularidades, e.g. elementos lineares e
distribuições constantes, elementos parabólicos e distribuições lineares, etc. [66],
Exemplifiquemos aplicação do método com base na formulação mais
simples de painéis lineares e de distribuições constantes ilustrada na Fig. 9.28.
Sejam Av e B!jy respectivamente, as componentes normal e tangencial da
velocidade induzida no ponto de controlo do painel i por uma distribuição
constante e unitária de fontes no painel j, i.e. <7j =const.= 1; as matrizes
A~ e Bjjt que são só função da forma do corpo e do tipo de discretização
escolhido pelo utilizador, são denominadas m atrizes dos coeficientes de
influência [influence coeffícient matrices], Discretizando a superfície do corpo
494 CA P.9 PERFIS ALARES

0-

F ig . 9 .2 8 D iscretização de um co rp o em p ainéis planos


com folhas de fontes de in tensidade unitária.

em n painéis, a condição fronteira (9.26) reflecte-se assim no seguinte sistema


de n equações lineares a n incógnitas <y.

Í A „ a J = -U m.nl + vWl (9.27)


j‘ i
onde as componentes de auto-indução são Alt = 1/2 e = 0. Este sistema
pode ser resolvido por um simples método directo de eliminação de Gauss ou,
para grandes dimensões — tipicamente para n > 100 — , mais eficientemente por
um método iterativo tipo Gauss-Seidel. A matriz A(i é bem condicionaà,
embora não seja diagonalmente dominante. Os elementos Atj e Bt- das
matrizes dos coeficientes de influência são facilmente obteníveis no referencial
do elemento indutor j, como ilustrado na Fig. 9.29, do que resulta:

-ln-
4* r + r
(9.28)
X
(u.) = — tan — - tan —
-i -i

' v,y 2n Y Y
com X+= X +1/2 e X. = X - l / 2 .

y
y 0
/} (£ /„)
tf x
/
/
/
/

-112 j X 112 x
F ig . 9 .2 9 C om ponentes da v elo c id ad e in d u z id a num ponto
de controlo no referencial d o p ain el indutor.

Aplicação do método envolve duas fases computacionalmente pesadas: u®a


delas é a construção das matrizes dos coeficientes de influência e, a outra, *
resolução do sistema de equações lineares (9.27). Determinação dos n*'1
SEC. 9.2 MÉTODOS DE ANÁLISE DE PERFIS ALARES 495

elementos de A(j e de B. requer: i) determinação das coordenadas de cada


ponto de controlo i no referencial de cada elemento indutor j, o que envolve
uma translação e uma rotação a partir do referencial geral (X, K). ti)
determinação das componentes de Uy através de (9.28), o que requer avaliação
de um ln e de dois arctan, o que é computacionalmcntc pesado, e iii)
determinação das componentes A:j e Btj de Uu no referencial do elemento i, o
que exige uma nova rotação do referencial.
Assim calculadas as n intensidades constantes oj de fontes necessárias para
satisfazer a condição fronteira (9.27) nos n pontos de controlo, a distribuição de
velocidades na superfície do corpo é directamente determinada por

(9.29)
i
soma das componentes tangenciais do escoamento de aproximação e do campo
de perturbação nos n pontos de controlo.
É este o processo envolvido na determinação do escoamento em tomo de
qualquer corpo não sustentador.
Exemplifiquemos aplicação do método na determinação do escoamento em
torno de um cilindro circular de raio unitário a = 1 imerso no seio de uma
corrente uniforme de intensidade unitária E/„=I e discretizado em 4 painéis
planos, como representado na Fig. 9.30.

Fig. 9.30 Discretização de um cilindro circular em 4 painéis planos.

Dada a orientação escolhida para os 4 painéis e a simetria do escoamento em


relação ao eixo dos y's, no painel DA deverá ser instalada uma folha de fontes
de intensidade cr (a determinar), de modo a produzir um ponto de estagnação
anterior em P e, no painel BC, uma folha de poços de intensidade simétrica
-<J, de modo a produzir o ponto de estagnação posterior Q. A velocidade
resultante induzida nos pontos de controlo M e N por estes dois painéis de
fontes e poços é já paralela a Ox, como ilustrado na figura, satisfazendo
portanto a condição fronteira de impermeabilidade, o que implica que devam
ser nulas as intensidades das folhas de fontes a instalar nos painéis AB e CD.
Para que UrQ=0, a partir de (9.27) se obtém (7 = 2,84, do que resulta a solução
exacta UMK=2 — eq. (8.43); cr > 2 pois que, por exemplo em P, o painel de
49* CM' 9 W S A lá ífc S

lontes sv^rt DA devera prover não xo o Jiiu U in rn io <ir í/# * l como aindi
compensar a velocidade induzida pelo painel de poço^ nobre BC Em revuludo
da simetria do escoamento, qualquer d iv cteti/açáo «nnetrica do cilindro circul*
p nx lu i resultados co incid en tes co m os d a s o l u t o an alítica exacu ^
inclusivam ente no caso de se u tiliz a re m a p en as 3 pain éis um cilindro
discretizado num tnàngulo e q u ilá te ro ’
Dada a relação de ortogonahdadc entre velocidades induzidas por
filamentos e folhas de fontes e de vórtices, sim u la d o da mesma fronteira sólida
poderia ter sido conseguida com pameis de vórtices de circulação horária ca
CD e antt-horana (no sentido dtrecto, positivo 1 cm AB. com a mesma
intensidade em valor numérico y que a intensidade cr acima determinada pan
painéis de fontes
No estudo do escoamento em torno de um corpo sustentador. como um
perfil alar. estamos em geral interessados cm explorar o comportamento do
corpo para diferentes ângulos de ataque A plicação do método, como acima
descrito, requereria resolução do sistema 27) tantas vezes quantos os ângulos
de ataque a testar, o que é com putacionalmcntc pouco eficiente Dadoquco
tempo de CPU necessário para resolver um sistema de equações lineares por um
método directo para um único segundo membro ou para um reduzido número
de segundos membros diferentes é praticam ente o mesmo, a metodologia
normalmente adoptada consiste em
- resolver logo o sistema (9.27) para dois segundos membros diferentes,
correspondentes a escoamentos de aproxim ação dc intensidade unitária
segundo Ox e segundo O y %como ilustrado na Fig 9.31, calculando, em
simultâneo, as intensidades <r, e o : das distribuições dc fontes necessárias
para satisfazer as condições fronteiras para a = 0 ’ c para a = 90°:
11

I
a)cc = 0° b) a = 90°
F i g . 9*31 E s c o a m e n to s s e m c i r c u la ç ã o e m to m o d e u m p e r f il

- para qualquer outro ângulo de ataque, o cam po de velocidades é obtido por


combinação linear dos dois anteriores:
Uj = 1^ c o s a + í^ s e n a .
correspondendo à configuração ilustrada na Fig. 9.32.
A,. *: M ftO O O M * àV

H g. *iAZ hwiMMiMTHio kcin viicul^At» cii» ujttMt úr um perfil

Este último escoamento, sem ciicoU^áu. uàu tm itU / porém « condição dc


Kutta. Para a satisfazer teiem os ilc introdu/u circulação, o que pode Kr
conseguido dc varia* maneira*
* Através dc um unico vórtice concentrado, p cu. no centro aerodinâmico, o
que requer contabilização da* com ponentes normal e tangencial da
velocidade induzida por esse vórtice único em todo* o* n ponto* de
controlo.
* Através dc uma tolha dc vórtices organizada segundo a linha de curvatura
ou segundo a corda do perfil, ja que a curvatura relativa de perfis alares é
sempre pequena. F, uma modelando muito utilizada mas que. à semelhança
da hipótese anterior, envolve avaliação das velocidades induzidas nos pontos
de controlo por todos os painéis em que essa folha de vórtices tenha sido
discretizada. Esta técnica dc sim ulação do escoamento em torno de um
perfil alar, através de uma folha de vórtices distribuída ao longo da corda,
constituiu, dc resto, uma importante fase do desenvolvimento da teoria dos
perfis alares c deu origem à chamada te o ria dos perfis delgados [íhin
aerofoil theory], em que era desprezado o efeito da espessura relativa; foi
uma fase de desenvolvim ento interm édia entre a fase analítica das
transformações conformes e a fase actual, de grande pendor numérico mas
em que a componente analítica pode ganhar novo ímpeto graças ao
surgimento de códigos de computação simbólica.
* Através de uma folha de vórtices, de intensidade unitária yi = 1 constante,
distribuída segundo os painéis da superfície do corpo, ao longo dos quais
tinham já anteriormente sido distribuídas folhas de fontes de intensidade
também unitária Oj = 1. A grande vantagem em simular, por este processo,
um escoamento circulatório puro, reside no facto de a velocidade induzida
por um vórtice T = 1 num qualquer ponto ser igual à velocidade induzida,
nesse ponto, por uma linha de fontes coincidente com o filamento de vórtice
e de intensidade m = 1, apenas rodada de n/2 no sentido da circulação: as
componentes normal e tangencial Ay, B da velocidade induzida no ponto
de controlo i pela folha de fontes <Tj = 1 reflectem-se assim directamente nas
componentes Bijt - A y para a velocidade induzida pela folha de vórtices
y .~ 1, pelo que não é necessário calcular nem novas contribuições nem
novas matrizes de coeficientes de influência, deste modo aligeirando o
processo de cálculo.
498 CAP. 9 P E R F IS A L A R E S

0 sistema (9.27) é então, de uma única vez, logo resolvido para três
segundos membros diferentes, de modo a determinar as intensidades de fontes
necessárias para satisfazer as condições fronteiras perante i) um escoamento
uniforme |í/..| = l a a = 0°, ii) um escoamento uniforme |£/_| = 1 a a=90° e
iii) um escoamento circulatório puro induzido por uma distribuição unitária
constante de circulação Jj = 1 ao longo da superfície do perfil: ff,, o, e ct3,
respectivamente. Sendo l o comprimento de desenvolvimento do contorno do
perfil — soma dos comprimentos de todos os painéis — a circulação resultante
r = ly é determinada de modo a satisfazer a condição de Kutta em termos que
veremos um pouco mais à frente.
Apenas três comentários intermédios quanto à modelação de um
escoamento circulatório puro através de uma folha superficial de vórtices de
intensidade constante:
i) Este tipo de modelação levanta problemas numéricos no caso de perfis com
um ângulo interno de bordo de fuga muito pequeno, de que o caso de
perfis de Joukowski, com um bordo de fuga em aresta de reversão, é um
exemplo extremo: nos painéis adjacentes ao bordo de fuga, as folhas de
vórtices e de fontes a uma muito pequena distância produzem um efeito
local tipo dipolo de grande intensidade, que afecta a precisão do método; o
problema pode ser tomeado provendo uma distribuição parabólica, em vez
de constante, de y. ao longo do contorno do perfil, distribuição esta
aproximada por patamares ys = const. em cada painel, como ilustrado na
Fig. 9.33 [68].

Fig. 9.33 Discretização em patamares de uma distribuição


parabólica de circulação.

ii) Dado que, em fluido real, a vorticidade está apenas contida nas camadas
limites que se desenvolvem ao longo da superfície do perfil, uma simulação
de um escoamento circulatório puro através de uma folha de vórtices de
intensidade constante ou parabolicamente variável ao longo do contorno do
corpo poderia parecer fisicamente mais realista. É porém de notar que esta
simulação não tem, nem pretende ter, nada a ver com a realidade; trata-se
apenas de um meio para numericamente introduzir a circulação necessária
para satisfazer a condição de Kutta. Em fluido real, a vorticidade na camada
limite ao longo do extradorso é de sentido horário e de sentido anti-horário
na camada limite ao longo do intradorso, com uma resultante f < 0
SEC. 9.2. MÉTODOS DE ANALISE DE PERFIS ALARES 499

compatível com uma sustentação L > O; nesta m odelação em fluido perfeito,


é Jj sempre do mesmo sinal ao longo de todo o contorno do perfil,
ui) Lembrando as considerações tecidas no § 8 .3.3.3. quanto a escoam entos
associados a folhas de dipolos, considerações estas que se consubstanciaram
nos resultados (8.37) e (8.38 ), co n clu ím o s que o presente escoam ento
circulatório puro em vez de ser induzido por um a distribuição superficial
constante de vórtices podia, alternativam ente, ser sim ulado por uma folha de
dipolos de g radiente co n sta n te ao lo n g o do co n to rn o do perfil e
prolongando-se em patam ar segundo a esteira, com o ilustrado na Fig. 9.34.

Fig. 9.34 Evolução da intensidade de uma folha de dipolos equivalente a uma


folha de vórtices de intensidade constante ao longo de um perfil.

Em bi-dimensional este tipo de sim u laç ão não tem qualq u er vantagem


relativamente a um a folha de vórtices — antes pelo contrário, pois teríamos
de contabilizar a influência de /i = const. na esteira sem i-infinita — pelo
que não é utilizada; é porém o tipo de sim ulação a que recorrerem os já no
capítulo seguinte em tri-dim ensional.
As considerações avançadas no fim do p o n to A. d a sub-Sec. 9.1.1. quanto à
constituição da linha de corrente d iv isó ria p o sterio r n a vizinhança im ediata do
bordo de fuga de um perfil alar fo rn ecem -n o s dois possíveis instrum entos para
numericamente im plem entarm os a con d ição d e Kutta:
• dado que, progredindo tanto ao lo n g o do ex tra d o rso com o ao longo do
intradorso, no bordo de fug a d ev em o s re g ista r um v alo r finito único de
velocidade do escoam ento, a co n d içã o d e K u tta p ode ser im plem entada
requerendo que seja a m esm a, em m ó d u lo , a v elo cid ad e nos pontos de
controlo dos dois painéis que d elim itam o b o rd o de fuga; esses dois pontos
de controlo deverão então estar lo calizad o s tão próxim os do bordo de fuga
quanto possível, o q u e re c o m e n d a q u e a d im e n sã o dos p ain éis vá
continuamente dim inuindo em d irecção ao bordo de fuga;
• dado que a linha de corrente d iv isó ria p o sterio r dev erá abandonar o perfil
segundo a b issectriz do ân g u lo in te rn o d o b o rd o d e fuga, um a outra
possibilidade de im plem entar a co n d ição d e K u tta consiste em requerer que,
num ponto sobre a bissectriz e 'im ediatam ente a ju san te' do bordo de fuga, a
velocidade do escoam ento esteja alin h ad a co m a bissectriz; para além desta
técnica requerer avaliação do cam po de v elocidades em m ais um ponto, do
que nos n pontos de controlo na su p erfície do perfil, questiona-se também
5 0 0 C A P .9 P E R F IS A L A R E S

quanto à mais conveniente localização deste ponto de controlo extra na


esteira para melhor prestação da técnica — este ponto é usualmente
localizado a 3%c do bordo de fuga [67],
No programa do método dos painéis listado na Sec. E.5. a condição de
Kutta é implementada de acordo com a primeira técnica referida.
É de notar que resolvidas as duas partes computacionalmente pesadas do
método — a construção das matrizes dos coeficientes de influência e a
resolução do sistema de n x n equações lineares para os três escoamentos
incidentes — a obtenção do campo de velocidades ou de pressões na superfície
para qualquer ângulo de ataque é praticamente imediata, pois apenas envolve
resolução de uma equação algébrica para determinação da intensidade y = r]l
da folha de vórtices requerida para satisfazer a condição de Kutta.
Na Fig. 9.35 exemplifica-se a evolução de Cp vs. x /c obtida por este
método para um perfil NACA 2415, discretizado em 34 painéis — conforme
tabela na Fig. 9.61 —, operando a um ângulo de ataque a = 6°.

F ig . 9 .3 5 Evolução de C p vs. x / c obtida pelo método dos painéis


para o perfil NACA 2415 a a = 6o.

Se, num processo iterativo viscoso / invíscido, depois de termos determinado


uma primeira distribuição de pressões na superfície impermeável do corpo em
estudo e uma primeira evolução de S* com base nos métodos de camada limite
apresentados nos Caps. 4 a 6, quiséssemos progredir para a iteração seguinte,
haveria, de uma forma computacionalmente eficiente, de determinar, através de
(4.43), a velocidade de transpiração vw necessária para simular o efeito de 8*;
uma nova distribuição de pressões seria então obtida por resolução de (9.27)
agora com vw * 0 e satisfazendo a condição de K utta no bordo de fuga
original. Não haveria, neste caso, já interesse em resolver à partida (9,27) pata
três segundos membros diferentes, pois vw varia de ângulo de ataque para
ângulo de ataque. Porém, a construção das m atrizes dos coeficientes de
influência Ay e B. apenas precisa de ser feita uma vez, pois que a forma do
corpo em estudo se mantém; só as condições fronteiras se alteram de iteração
para iteração, por via de vw.
SEC. 9.3. PERFIS ALARES EM FLUIDO REAL 501

Assinala-se que no caso de um perfil com um bordo de fuga anguloso de


ângulo interno r não nulo, em que a solução invíscida produz C = + l
independentemente do valor não-nulo de T, a muito abrupta recuperação de
pressão na vizinhança do bordo de fuga, mesmo a pequenos ângulos de ataque,
inevitavelmente conduz a uma separação irrealista da camada limite, situação
esta que deverá ser corrigida em iterações posteriores se o método de cálculo
vier a convergir. Torna-se assim mais eficiente (e realista), logo no primeiro
passo do processo iterativo, oferecer para cálculo do desenvolvimento da
camada limite não o valor invíscido exacto C = + l mas um valor C <1
'enganoso' retirado, por extrapolação suave, da evolução de C vs. x/c até ao
bordo de fuga, como exemplificado na Fig. 9.36.

F lg . 9 .3 6 Extrapolação da evolução de Cp para o bordo de fuga. 1

9.3. Perfis alares em fluido real


Conjuguemos, n esta secção, os resultados acabados de obter do
comportamento de perfis alares em fluido perfeito com o comportamento de
camadas de corte anteriormente apreciado. O comportamento de perfis alares
em fluido real a pequenos ângulos de ataque, em que é de prever seja fraca a
interacção viscosa / invíscida, será primeiro descrito na sub-Sec. 9.3.1. Será em
seguida apreciado o comportamento de perfis a grandes ângulos de ataque, em
que os intensos gradientes de pressão adversos instalados no extradorso, a seguir
a um pronunciado pico de sucção, são capazes de promover separações massivas
da camada limite conduzindo a uma diminuição da sustentação com aumento
do ângulo de ataque — uma perda de sustentação ou, por economia de
linguagem, simplesmente uma perda do perfil — e a um acentuado aumento da
resistência, produzido por uma esteira de grande espessura a que está associado
um elevado déficit de quantidade de movimento; na sub-Sec. 9.3.2. são, com
algum detalhe, analisados os diferentes tipos de perda característicos de perfis
alares e na sub-Sec. 9.3.3. sumariamente descritas consequências de rápidas
variações de ângulo de ataque (situação de não-estacionaridade) conduzindo à
chamada perda din âm ica [dynamic stall], característica da operação de pás de
helicóptero, de pás de turbinas eólicas de eixo vertical (quer de pás rectas, quer
tipo Darrieus) e de pás de turbinas Wells para aproveitamento da energia das
ondas marítimas.
502 CAP.9 PERFIS ALARES

9.3.1. Comportamento a pequenos ângulos de ataque


Tomemos como exemplo o caso do perfil NACA 2415 operando a cu
ângulo de ataque a = 6o considerado na secção anterior e de que se apresei^
na Fig. 9.37, uma evolução polar de C obtida com o código XFOIL [41],

Fig. 9.37 Evolução polar de Cp obtida com o código XFOIL


para o perfil NACA 2415 a a = 6°.

E m resultado dos baixos Reynolds’s locais Ucs / v e do muito intenso


gradiente favorável de pressão instalado entre o ponto de estagnação anterior e
o pico de sucção no extradorso é de prever que a camada limite, desenvolvendo-
se a partir do ponto de estagnação, atinja a estação do pico de sucção em regime
laminar, após o que, por acção do gradiente adverso que se segue, transição
ocorrerá e o subsequente desenvolvimento se processará em regime turbulento;
ao longo do intradorso, e com excepção da zona de recuperação de pressão na
vizinhança imediata do bordo de fuga, o gradiente de pressão genérico é
favorável e pouco intenso. Em consequência as espessuras de camada limite
registadas ao longo do extradorso deverão ser muito superiores às registadas no
intradorso, como bem patenteado na Fig. 9.38.a) de visualização, com filetes de
fumo (*), do escoamento em torno de um perfil alar [180], Também, e mais
relevante em termos de interacção viscosa / invíscida, a evolução crescente da
espessura de deslocamento 5* ao longo do extradorso deverá ser muito mais
acentuada do que ao longo do intradorso, do que resulta a forma ilustrada na
Fig. 9.38.b) para o corpo fictício semi-infinito que se oferece ao escoamento
potencial exterior.
Trata-se de um corpo fictício (corpo sólido +5*) com menor curvatura e
operando a um menor ângulo de ataque efectivo do que o corpo sólido (perfil)
original, sendo agora, tal como anteriormente, a linha de curvatura entendida
como a linha média entre as superfícies 8* do extradorso e do intradorso e o
ângulo de ataque efectivo tomado em relação a uma corda definida entre o

(*) Embora os coeficientes de difusão de quantidade de movimento e do contaminante fumo não


sejam iguais — número de Prandtl do fumo não-unitário — , a espessura da camada de fumo
junto ao corpo dá uma noção da correspondente espessura da cam ada limite, mormente em
regime turbulento.
SEC. 9,3. PERFIS ALARES EM FLUIDO REAL 503

a) Visualização do escoamento b) Superfícies de deslocamento do corpo


com filetes de fumo e da esteira (grandemente exageradas)
F ig . 9 .3 8 Perfil alar em fluido real a pequeno ângulo de ataque.

bordo de ataque e um 'bordo de fuga' intermédio entre as superfícies


<S*!Xlr e <5*i[U( na estação do bordo de fuga original do corpo sólido.
Tanto por redução de ( / / c ) ef como de a tS se conclui que, em fluido real, o
coeficiente de sustentação CL produzido por um dado perfil operando a um
determinado a deverá ser menor que em fluido perfeito, e tanto menor quanto
mais intensos os gradientes de pressão adversos induzindo maiores <5*'s, i.e.
quanto maior o ângulo de ataque.
Uma evolução linear de CL com a é ainda bem verificada em fluido real na
gama dos pequenos ângulos de ataque, mas a uma taxa inferior à prevista com
base num modelo de fluido perfeito: tipicamente 10% inferior, do que resulta
dCL/d a = 5,6 rad-1 = 0 ,1 grau-1 em vez dos 2 n rad_l = 0 ,ll grau'1 referidos no
contexto da eq. (9.11); tam bém dCMcj d a é menos acentuado que os
- tt/ 2 rad-1 previstos pela eq. (9.17).
Note-se que enquanto um a evolução linear de CL com a tem todo o
suporte teórico para descrever o comportamento de perfis delgados operando
na gama dos pequenos ângulos de ataque (tais que se n a ~ a ) em fluido
perfeito, a correspondente evolução linear de CL com a adoptada em fluido
real não co n stitu i m ais do que uma aproximação empírica a dados
experimentais.
Comportamentos de perfis são assim dependentes do Reynolds de operação,
mesmo nesta gam a dos pequenos ângulos de ataque, através de diferentes
evoluções de 8* e de r,„. Ilustram-se, na Fig. 9.39, estas mesmas dependências
para o perfil N A C A 2415 a a = 6°, que temos vindo a escolher para
exemplificação, obtidas através do código PANDA — Program fo r ANalysis and
Design o f Aerofoils [93]; este código utiliza o método de Weber para cálculo do
campo de fluido perfeito, com folhas de fontes e de vórtices ao longo da corda,
e os métodos integrais de cam ada limite apresentados no capítulo anterior:
Thwaites, Head e critério de transição de Cebeci e Smith. São confrontados os
casos Re = U ^ c /v = 105, 106 e 107:
i) a distribuição Cp vs. x jc é a da solução de fluido perfeito, pelo que os
valores integrais Ct = 0,952 e CWc/4 = -0 ,0 5 8 são constantes;
c a p ,9 P E R F IS A L A R E S
504

Re = 106

F ig . 9 .3 9 Resultados do código PANDA para o perfil NACA 2 4 1 5 a a = 6°.


ii) as letras T, SL e ST acima e abaixo da linha de corda referem localizações
de transição (T), de separação laminar (SL) e de separação turbulenta (ST),
respectivamente, no extradorso e no intradorso; o código não contempla
qualquer critério do comportamento de bolhas de separação — que
discutiremos na sub-secção seguinte — , admitindo que, uma vez prevista
separação laminar, a camada de corte separada recolará imediatamente a
seguir em regime turbulento por efeito C oanda, processando-se o
subsequente desenvolvimento da camada lim ite em regime turbulento; a
perturbação introduzida pela pequena bolha de separação na distribuição de
pressões ao longo do perfil é assim considerada ser de influência tão
localizada que pode ser admitida como apenas promovendo uma transição
local de regime laminar a turbulento, tal com o o faria um arame de
transição; é importante notar como, sob a acção dos mesmos gradientes de
pressão, os desenvolvimentos das camadas lim ites, aqui manifestados pela
ocorrência e pela localização da transição e da separação laminar, são
controlados pelo Reynolds de operação;
iii) a variação obtida de CD com Re está documentada no quadro a seguir

Re 105 106 101

cD 0 ,0 1 8 7 0 ,0 1 0 6 0 ,0 0 7 9

O coeficiente de resistência de forma CD dim inui com aumento de Re


devido não só à diminuição (relativa) de 5* — resistência de pressão —
como de Cf — resistência de atrito.
SEC. 9.3, PERFIS ALARES EM FLUIDO REAL 505

CD é calculado de form a expedita, embora não extremamente precisa, pela


fórm ula de S q u ire e Young:

fU \^Hw+5^2
Cd = 2
®bf |
(9.30)
C [ u j

onde se som am as contribuições das camadas limites desenvolvendo-se ao


longo do extradorso e do intradorso, 6hí e Hbf são os valores de 6 e de H
no bordo de fuga para as duas camadas limites e £/ é o valor comum de
Ue no bordo de fuga, como implicado pela condição de Kutta.
Obtenhamos a relação (9.30) [42].
O m étodo do volum e de controlo aplicado ao circuito [ABCD]
esquematizado na Fig. 9.40 e de grandes dimensões de tal modo que, ao longo
de CD, seja p = p m e Ú - Ú „ fora da esteira, produziu, na sub-Sec. 2.6.4., os
seguintes resultados ■— eqs. (2.34) e (2.36), respectivamente:

D =p £/(l/„ - U ) d S = pUld„,

onde é a espessura da quantidade de movimento na esteira a infinito a


jusante, e
C„ = 2 d j c .

F ig. 9 .4 0 Superfície de controlo para cálculo de CD por exploração da esteira.

Relacionemos com 6hí calculando a variação de 6 ao longo da esteira


por integração da equação de von-Kármán (4.12) reescrita como:

Id e ^ + (H + 2) ^ Í M ^ =o
6 dx dx 1 ’ dx
de onde foi eliminado o termo em rw visto não haver tensões de corte externas
actuando sobre a esteira. Obtém-se:
50 6 CAP 9 PERFIS ALARES

É de notar que deverá ser H„ = 1. pois que à medida que aumenta a


espessura da esteira e o campo de velocidades se uniformiza por difusão, de tal
modo que t / / t / c —>1, a razão ( 4 .1 4 ) de definição de H deverá tender para a
unidade — invocaremos este resultado na sub-Sec. 1 1 .1 .2 . de estudo da região
da esteira próxima para o escoamento em torno de corpos não-fuselados.
Para calcularmos a relação <?„/(9bl precisam os de, no termo integral entre
parêntesis rectos na relação supra, exprim ir a evolução de Uc/U„ em função de
H . Squire e Young obtiveram esta dependência baseados em resultados
experimentais que sugeriram ser ln (í/e/í7M)°c( 1—H ), de tal modo que à medida
que U JU „ aumenta a partir de um valor inferior à unidade no bordo de fuga
até 1 a infinito a jusante, H diminui desde Hbf > 1 até = 1.
Resulta assim para o termo exponencial:

-u x M w )/2
exp J' 1ln dH
(/

do que imediatamente se obtém a fórmula (9.30) para CD.

9.3.2. Tipos deperda


A grandes ângulos de ataque, os intensos gradientes de pressão adversos
instalados no extradorso de perfis alares produzem separações massivas da
camada limite, do que resulta uma perda de sustentação e um grande aumento
de resistência. Apreciemos os três diferentes tipos de perda que podem ocorrer
em perfis alares, considerando, a título ex em plificativo, o caso de perfis
simétricos de baixa velocidade [110].
Comecemos por analisar o com portamento de um perfil espesso, entendido
como um perfil com uma espessura relativa, tipicam ente, m aior do que 12%. A
medida que aumenta o ângulo de ataque, a partir de a = 0°, o pico de sucção no
extradorso vai aumentando de intensidade e deslocando-se em direcção ao
bordo de ataque, pelo que o gradiente adverso que se segue se vai tornando
cada vez mais intenso e ocorrendo cada vez mais cedo; este tipo de evolução
está ilustrado nas Figs. 9.41 para o perfil simétrico N A CA 0015, com f/c = 15%,
operando a a = 0", 5o e 10°.
Em termos do desenvolvimento da cam ada lim ite, a consequência é que o
ponto de transição se vai deslocando em direcção ao bordo de ataque e que a
subsequente camada limite turbulenta se vai desenvolvendo num gradiente de
pressão cada vez mais adverso; tal implica que a taxa de crescim ento de 8* seja
cada vez maior e, pelo mecanismo descrito na anterior sub-secção, a taxa de
crescimento de CL com a seja cada vez menor, afastando-se gradualmente da
linearidade verificada a a 's pequenos. Aumentando mais o ângulo de ataque,
S E C . 9 .3 . P E R F IS A L A R E S E M F L U ID O R E A L 507

Fig. 9.41 Características aerodinâmicas do perfil NACA 0015


a diferentes ângulos de ataque.

por acção de um g rad ien te adverso ainda mais intenso a camada limite
turbulenta vem a separar-se na região do bordo de fuga; continuando a
aumentar a , o ponto de separação turbulenta vai progredindo do bordo de
fuga em direcção ao bordo de ataque e, em consequência, a taxa de variação de
CL com a vai sen d o cad a vez m enor, até que se atinge um ponto de
estacionaridade a p artir do qual CL passa a diminuir com posteriores aumentos
de a . Ao ângulo de ataque a que é atingido Ct chama-se ângulo de ataq u e
de perda.
Esta sequência final de eventos está ilustrada nas Figs. 9.42.a) [181] e b) [8];
na Fig. 9.42.b) é bem patente a grande escala dos entes turbilhonares em toda a
região separada do extrad orso , responsável por im prim ir vibrações de baixa
frequência e grande am plitud e na estrutura sustentadora que se reflectem em

a) Separação parcial no extradorso b) Escoamento turbulento de grande escala


na região separada do extradorso -

Fig. 9.42 Escoamento em torno de um perfil alar a grandes ângulos de ataque.


508 CA P. 9 P E R F IS A L A R E S

vibrações do manche de uma aeronave, assim dando ao piloto sensação da


situação de perda.
Como indicado na Fig. 9.43 [159] de CL vs. a para o perfil NACA 63r
018 com t/c = \%% — referiremos, na secção seguinte, o significado dos
diferentes dígitos na designação do perfil —, a perda de perfis espessos é suave,
em resultado de uma contínua progressão da separação turbulenta a partir do
bordo de fuga e em direcção ao bordo de ataque. Este tipo de perda é
designado por p e rd a tipo b ordo de fuga [trciiling-edge stall] e, a título
meramente indicativo, ocorre quando a separação se verifica a 40 - 50% c.

F ig , 9.43 Característica C L vs. a para perfis exibindo


diferentes tipos de perda.

Analisemos em seguida o caso oposto de um perfil delgado — tipicamente


com t/c< 9% — , de que exemplo extrem o é o de uma placa plana (sem
espessura) ilustrado nas Figs. 9.44.a) a d) [169]. A qualquer ângulo de ataque,
que não o ângulo de ataque ideal <2 = 0°, a solução de fluido perfeito é
C = - ° ° , implicando (como já avançado nas sub-Secs. 9.1.1. e 9.1.2.) que: i)
a camada limite desenvolvendo-se a partir do ponto de estagnação no intradorso
atinja o bordo de ataque necessariamente em regim e lam inar — ao longo de
uma distância extremamente pequena, a velocidade evolui de 0 a '°o', ou Cp de
+1 a -oo', ii) essa camada limite laminar se separe no bordo de ataque devido
ao grad iente adverso de intensidade 'in fin ita ' a í instalado — Cp
'assim ptoticam ente' recuperando de Cpbi= '-°°', iii) em resultado de um
Reynolds Res^ = ^esep^ % ,/ v extrem am ente elevado na separação — í/e(*)

(*) 'Manche': alavanca de comando manobrada para controlo em picada (manche para a frente ou
para trás) e em rolamento (manche para a direita ou para a esquerda). O termo usado em
português na gíria aeronáutica é um francesismo; o termo equivalente em inglês ê stick. Em
aviões com um sistema de controlo f l y - b y - m r e — como o transporte de passageiros de médio
curso Airbus A-320 — o manche é substituído por um jo y - s tic k ; a fim de transmitir ao piloto a
sensação de uma aproximação da perda a vibração do s t i c k é simulada por um sistema
automático s tic k - s h a k e r .
S E C . 9 .3 . P E R F IS A L A R E S E M F L U ID O R E A L 509

recupera de ’+°o' — transição ocorra, na camada de corte separada,


'imediatamente' após separação, iv) pelo que, a pequenos ângulos de ataque, a
camada de corte deva, por efeito Coanda, recolar à superfície logo a seguir à
separação, v) dando origem a uma bolha de separação curta [short separation
bubble)\ vi) a partir do ponto de recolamento a camada limite ao longo do
extradorso desenvolve-se em regime turbulento. Esta bolha de separação curta
tem uma extensão de cerca de l % c e uma espessura (5*) da ordem de 10% do
seu comprimento — digamos, 5*«1 mm num perfil com uma corda c = l m.
Sendo tão localizada a influência da bolha curta, esta praticamente apenas actua
como um arame de transição, promovendo, localmente, uma transição de regime
laminar a turbulento.

a) a = 3o: bolha curta no bordo de ataque b) a = 7o: bolha longa


cobrindo parte do extradorso

c) a = 9°: bolha longa d) a = 15°: separações massivas


cobrindo todo o extradorso
Fig. 9.44 Evolução da perda numa placa plana.

A mesma sequência de eventos se verifica em perfis delgados com uma


espessura não nula, como ilustrado na Fig. 9.45.a) para o perfil NACA 64A006,
com í/c = 6%, a /?e = 5 ,8 x l0 6 [159]. Como assinalado na figura — onde estão
referenciadas ocorrências de separação e de recolamento com setas dirigidas
para cima e para baixo, respectivamente —, associado à presença da bolha
manifesta-se um patamar de pressões, ocorrendo o recolamento já numa região
de recuperação de pressão. Um patam ar de pressão (negativa, Cp <0) é
sempre indicativo da ocorrência de uma separação, tendo, a eventual 'bolha'
de separação — a camada de corte pode ou não recolar, ou encapsulando uma
bolha de recirculação ou separando completamente, sem posterior recolamento
510 CAP 9 PERFIS ALARES

—, um comprimento cerca de 2 - 3 vezes a extensão do patamar. É de notar


que, à medida que aumenta o ângulo de ataque, o pico dc sucção aumenta ^
imensidade e se desloca em direcção ao bordo de ataque e que o Reynolds Ret
na separação aumenta, pelo que a bolha curta se vai deslocando em direcção ao
bordo de ataque e diminuindo de extensão: separação lam inar cada vez ocoite
mais a m ontante e transição na cam ada de corte separada e recolamento
turbulento cada vez mais a seguir à separação, pelo que a bolha contrai.

s /e (*>

a) a < 5o : bolha curta b) a > 5° : bolha longa

F ig . 9 ,4 5 Distribuição de C p no extradorso do perfil NACA 64A 006 a R e * 5,8x10*.

A um ângulo de ataque, tipicam ente, a = 5° a c o n tar do ângulo de


sustentação nula, dado o distanciam ento entre a cam ada de corte separada e a
superfície do perfil, recolam ento já não se tom a possível ocorrer quase que logo
a seguir à separação e a bolha curta subitam ente r e b e n t a [burst], vindo o
recolamento a verificar-se a distâncias da ordem de 30% c , como ilustrado na
Fig. 9.45.b) [159], onde é tam bém notória a qued a do pico de sucção de
Cp = - 5 , 8 , na Fig. 9 .4 5 .a) a a = 4.5°, para Cp = -1 ,8 , na Fig. 9.45.b) a
cr = 5 ,5o.
A bolha curta degenera então num a b o lh a lo n g a [long bubble] que, com
subsequentes aum entos do ângulo de ataque, vem a reco lar cada vez mais a
ju sa n te (m ais p ró x im o do b ordo de fuga), em b o ra sem pre pelo mesmo
m ecanism o físico. R ebentam ento da bolha curta ocorre, tipicam ente, quando o
Reynolds na separação lam in ar se torna in ferio r a Re*. = 4 5 0 ; a máxima
° *ep
recuperação de pressão que a bolha curta pode su p o rtar é, em termos de um
p a r â m e tr o d e r e c u p e r a ç ã o d e p r e s s ã o [p re ssu re reco v ery parameter\
CT= ( c ^ - c f>MP) A 1- c ^ ) ’ c e rc a d e c t= 0 ’35 t55i-
Evolução característica de CL vs. cr para estes p erfis exibindo uma perda
tipo p erfil d elg ad o [thin aerofoil stall] é a apresentada na Fig. 9.43 para o perfil
NACA 64A006, com um a descontinuidade dificilm ente discem ível a a *5°, no
ponto de rebentam ento da b olh a curta, e um a p erd a su av e associada a uma
extensão progressivam ente crescente da bolha longa; a perda ocorre quando,
SEC. 9.3. PERFIS ALARES EM FLUIDO REAL 511

tipicamente, a bolha longa ocupa toda a extensão do extradorso — ponto de


recolamento perto do bordo de fuga. O quase patamar de sucção verificado ao
longo de todo o extradorso a seguir à perda — Fig. 9.45.b) — é característico
do escoamento em torno de corpos não-fuselados, que apreciaremos no Cap.
11.
E para perfis com uma espessura relativa intermédia 9%<í/c<12%? Neste
caso, ocorrência de uma bolha curta é, tal como para perfis delgados, também
detectada a pequenos a 's na vizinhança do bordo de ataque, como assinalado
na Fig. 9.46 para o perfil NACA 4412 a Ke = 2 ,lx l0 5 [169], acontecendo
porém que, dada a curvatura mais suave do bordo de ataque associada a uma
maior espessura relativa do perfil, essa bolha curta se consegue manter sem

Fig. 9.46 Bolha curta num perfil NACA 4412 a fte = 2 ,lx l0 5.

rebentar até ângulos de ataque mais elevados. Quando rebenta, já a ângulos de


ataque muito elevados, rebenta sem qualquer hipótese de vir posteriormente a
recolar ao perfil, pelo que a perda que então resulta é perfeitamente abrupta,
como ilustrado na Fig. 9.43 para os perfis NACA 63-009 e NACA 63,-012.
Esta perda, manifestando-se com separação abrupta total da camada limite
laminar a partir do bordo de ataque, é designada por perda tipo bordo de
ataque [leading-edge stall] (*). Sendo a disrupção do escoamento completa, a
alteração da distribuição de Cp é tão drástica que a recuperação, por ângulos de
ataque decrescentes, só se verifica para OE<aperda, do que resulta o ciclo de
histerese ilustrado na Fig. 9.47 na região da perda [152].

Fig. 9.47 Histerese na região da perda de perfis


exibindo uma perda abrupta.

(*) Aeronaves dotadas com perfis deste tipo deverão forçosamente estar providas com os
chamados dispositivos avisadores de perda [stall waming], para precaver o piloto quanto
a uma eventual brusca entrada em perda.
512 CAP. 9 P E R F IS A L A R E S

São estes os três diferentes tipos característicos de perda de perfis simétricos:


perda tipo bordo de fuga, tipo perfil delgado e, intermediamente, tipo bordo de
ataque. M anifestação de um ou de outro tipo de perda concluímos
fundamentalmente depender do raio de curvatura do bordo de ataque e do
Reynolds de operação, conduzindo, ou não, a uma separação da camada limite
no extradorso em regime laminar ou turbulento e seguida, ou não, de eventual
recolamento. O tipo de perda exibido por um dado perfil depende assim não só
do Reynolds de operação como, para um perfil não simétrico, pode ser diferente
para ângulos de ataque positivos e negativos. A perda poderá, porém, ser sempre
classificada de acordo com um dos três tipos base acim a exemplificados,
embora situações de perda mista possam também ocorrer, dependendo da forma
do perfil, do Reynolds de operação e da rugosidade da superfície: perda
iniciando-se como de um determ inado tipo e depois evoluindo como de um
tipo diferente.
Exem plificação destas diferentes ocorrências está reportada na Fig. 9.48
para o perfil sim étrico NACA 0012 operando a R eynolds's de l,7 x l0 5 a
3,18x10® [87], A ângulos de ataque baixos é form ada um a bolha curta na

Re x IO'6
o 3,18
» 2.38
• 1,34
• 0,66
’ 0,33
<■ 0,17

Fig. 9.48 C a r a c te r ís tic a s


de p e r d a do p e rfil NACA 0012
a diferentes números de Reynolds.

região do bordo de ataque, a que se segue um desenvolvim ento da camada


limite em regime turbulento. A os dois m enores núm eros de Reynolds
reportados a camada limite turbulenta com eça a separar-se no bordo de fuga e
essa separação progride continuamente em direcção ao bordo de ataque;
contrariamente ao que a presença da bolha curta poderia indiciar a perda é
suave, tipo bordo de fuga. Para todos os outros Reynolds's mais elevados a
camada limite turbulenta consegue manter-se sem se separar e a perda ocorre, a
maiores ângulos de ataque, devido ao rebentamento súbito da bolha curta: perda
tipo bordo de ataque.
S E C . 9 .3 . P E R F IS A L A R E S E M F L U ID O R E A L 513

9,3.3. Perda dinâm ica

Embora sem o termos explicitado as situações de perda até agora


consideradas respeitaram ao caso quasi-permanente em que a evolução do
ângulo de ataque era suficientemente lenta para que o escoamento tivesse 'todo
o tempo' para se adaptar a cada uma das novas configurações geométricas do
campo. Apenas como apontam ento considerem os agora a situação não
permanente de ângulo de ataque rapidamente variável em torno de a ^ ,
situação esta primeiramente despoletada pela operação de pás de helicópteros e
depois verificada também ocorrer em turbinas eólicas de eixo vertical e de
turbinas tipo Wells para aproveitam ento da energia das ondas marítimas.
Exemplifiquemos estas três situações:
Pás de helicópteros
Suponhamos um rotor de helicóptero bi-pá rodando com uma velocidade
angular a e viajando o helicóptero a uma velocidade U j, a velocidade efectiva
a que cada elemento da pá está a operar (soma vectorial da velocidade
tangencial a r e da velocidade de translação (/„, num referencial solidário com
esse elemento de pá) será do tipo indicado na Fig. 9.49.

Fig. 9.49 Velocidade relativa ao longo de uma pá de helicóptero


em rotação e translação.

Concluímos que i) para equilíbrio de momentos transversais e longitudinais,


sendo L ^ U ] a , deverá o ângulo de ataque das pás variar ciclicamente ao
longo da órbita, ii) as secções centrais da pá que recua estão a trabalhar a
ângulos de ataque «<=180° — i.e. o escoamento efectivo incide segundo o
bordo de fuga, em vez de segundo o bordo de ataque —, pelo que os perfis
seleccionados deverão ter um adequado desempenho nesta situação inversa
daquela para que são projectados trabalhar, razão que levou a que, durante
muitos anos, os perfis escolhidos fossem sistematicamente do tipo NACA 0012,
que se verificou também operarem adequadamente nesta gama de ângulos de
ataque, iii) a ângulos de ataque médios elevados, e por acção da rápida variação
cíclica de Ucf, elementos das pás tanto poderão estar a operar a a > como
aa< , do que resulta uma situação instacionária de perda dinâmica.
514 CAP.9 PEflfIS AlARES

Turbinas eólicas de eixo vertical


Suponhamos a situação simples de tu rb in a s de eixo vertical de pás rectas
ilustrada na Fig. 9.50 [171].

venlo
incidente

F ig . 9 ,5 0 Turbina eólica de eixo vertical com pás rectas.

Com preende-se o princípio de funcionam ento d estas turbinas de eixo


vertical com base no diagrama de operação de um elem ento de pá, apresentado
na Fig. 9.51, segundo o qual a variação cíclica de a , de L e de D ao longo da
órbita é tal que a com ponente tangencial da força m otriz L s e n a - D c o s a
actua sempre no sentido do deslocamento da pá.

■L> 0

Fig. 9.51 Princípio de operação de uma turbina de eixo vertical.

Compreende-se tam bém o funcionam ento inerentem ente não estacionário


destas turbinas, conduzindo a situações de perda dinâm ica, e a razão por que,
para maiores potências e, por conseguinte, para m aiores dim ensões, às pás seja
dada uma forma troposkiana (*) em vez de recta, com o ilustrado na Fig. 9.52

(*) Troposkiana — do grego tropos, corda — é a forma que naturalm ente assume uma corda em
rotação, como a corda de 'saltar-à-corda', em que, não tendo os elem entos da corda capacidade
para suportar momentos flectores, estão apenas a trabalhar à tracção.
SEC. 9.3 PERFIS ALARES EM FLUIDO REAL 515

F ig . 9 .5 2 Parque eólico de turbinas FloWind 17 tipo Darrieus de 170 kW.

T urbinas W ells p a r a a p ro v e ita m e n to d a en e rg ia d as ondas m arítim as


Suponhamos o sislem a d e colun a de água oscilante para aproveitamento da
energia das ondas m arítim as esquem atizado na Fig 9.53.

/ S / / / / S S S / S / / / /
F ig . 9 .5 3 Sistem a de coluna de água oscilante para aproveitamento
da energia das ondas marítimas.
Pretende-se, n este ca so , q u e, qu er esteja o nível da água no interior da
câmara a subir ou a baixar, i.e., em term os da tu r b in a W ells de ar [57] que
estará a accio nar um g e ra d o r eléctrico , que quer o escoamento se esteja a
processar num se n tid o ou no outro, a força m otriz para accionam ento da
turbina actue sem pre no sentido do deslocam ento, como ilustrado na Fig. 9.54.

F ig . 9 .5 4 Operação periódica das pás de uma turbina Wells.

Tal sim etria do escoam en to recom enda a utilização de perfis sim étricos para
as pás da turbin a e a v aria çã o cíclica do ângulo de ataque leva a antever a
possibilidade de o corrência de situações instacionárias de perda dinâmica.
5T6 CAP.9 PERFIS ALARES

Depois de exemplificadas três situações de possível ocorrência de perda


dinâmica, apreciemos sumariamente o seu mecanismo de geração considerando
o caso estilizado de um perfil operando a grandes ângulos de ataque e
desenvolvendo oscilações cíclicas numa direcção perpendicular à do escoamento
de aproximação, como representado na Fig. 9.55.

F ig. 9 .5 5 Perfil oscilante.

Quando o perfil se desloca 'para baixo', no referencial da página, tal equivalerá,


num referencial solidário com o perfil, a um aumento do ângulo de ataque —
retomaremos este tipo de considerações na sub-Sec. 11.3.2. aquando da
apreciação da instabilidade de galope em corpos não-fuselados. Em
consequência desta deslocação instantânea, uma bolha de recirculação, que pode
ser modelada como um vórtice de sentido horário — lem brar Fig. 9.9 —, é
formada no extradorso na região do bordo de ataque, bolha ou vórtice este que
vai sendo convectado ao longo do extradorso, com o ilustrado na sequência de
Figs. 9.56 [121].

a -1 8 .9 7 ° a - 19.99° 0 = 19,44°

F ig. 9 .5 6 Convecção do vórtice formado no bordo


de ataque de um perfil oscilante.

Contaminação do extradorso pelo campo de baixas pressões associado a este


vórtice em deslocação em direcção ao bordo de fuga instantaneamente produz:
i) um aumento da sustentação, comparativamente aos valores previstos numa
situação permanente, ii) uma diminuição da resistência aos mesmos ângulos de
ataque, por inibição da 'perda' entendida no sentido estacionário, e iii) um
aum ento do mom ento de picada, efeitos estes bem ilustrados nos resultados
reportados na Fig. 9.57 [121].
SEC. 9.3. PERFIS ALARES EM FLUIDO REAL 517

Fig. 9 .5 7 Características estáticas e dinâmicas de um perfil.

A dificuldade em contabilizar as diversas influências destes efeitos não


estacionários faz com que, para facilidade de implementação computacional,
eles sejam por vezes tomados como simples modificações do ângulo de ataque
estático a que os perfis estão a operar; um método deste tipo é o de Gormond,
um Boeing-Vertol modificado [11]. O método foi desenvolvido para aplicação
a pás de helicóptero desenvolvendo oscilações de ângulo de ataque de pequena
amplitude em to m o do ângulo de perda estático e é baseado em dados
experimentais para perfis de espessura relativa t/c< 12%.
O ângulo de ataque modificado é calculado como:

^mod a -K y sig n (á)

onde a é o ângulo de ataque geométrico efectivo, à é a taxa de variação


instantânea de a , sig n (á ) é o sinal de á , K e y são constantes empíricas e
c e Unl são, respectivam ente, a corda do perfil e a velocidade relativa do
escoamento.
A constante em pírica K vale 1 para | a | crescente e 0,5 para |a | decrescente.
Os valores de y para sustentação ( yt ) e para resistência ( yD) são função da
espessura relativa do perfil e do número de Mach local; a evolução de y vs. Aí
é do seguinte tipo: / = 7max = const. para M < Aímjn, y = 0 para Af>MroM,e y
decrescendo linearm ente entre M min e Aímax. As relações empíricas para Aímin,
Mmn e ymax para sustentação e resistência são, respectivamente:
• Sustentação: Mmini = 0,4 + 5,0(0,0 6 -f/c )

= 0 ,9 + 2,5(0,0 6 - í/c )

W = 1 ,4 -6 ,0 (0 ,0 6 - t/c )

• Resistência: = 0,2

= 0 ,7 + 2,5(0,0 6 -f/c )

W = 1 ,0 - 2 ,5 ( 0 ,0 6 - t/c )
518 C A P .9 P E R F IS A L A R E S

Resulta então para os coeficientes de sustentação e de resistência em


condições dinâmicas:

c
Uidin= CW.esIV«mod£7
(a ) - a- - £ a-
a modL P

onde CLest( a moàL) e CDtsi( a moáD) são os valores estáticos de CL e de CD ao


ângulo de ataque modificado e p é o ângulo de sustentação nula.
Ilustram-se na Fig. 9.58 os ciclos de histerese produzidos por este método
para o perfil NACA 0015 usado na turbina Darrieus de 17 m dos Laboratórios
Sandia, no Novo México [11].

Fig. 9.58 Ciclos de histerese associados à perda dinâmica.

9.4. Tipos de perfis alares


Como curiosidade histórica ilustram-se na Fig. 9.59 [116] algumas formas
de perfis alares usadas nos primórdios da aviação: o perfil utilizado pelos irmãos
Wilbur e Orville Wright no avião em que efectuaram o primeiro voo motorizado
em 1903, perfis desenhados pelos aviadores franceses Farman e Antoinetteeo
perfil Go360, um de uma primeira série de perfis estudados no Instituto de
Investigação Aerodinâmica de Gottingen, na Alemanha, e publicados em 1920.

Wright (1903) Farm an (1906)

Antoineite (1907) G ottingen 3 60 (1915)

F ig. 9.59 Formas primitivas de perfis alares.

O desenvolvimento sistemático de séries de perfis alares teve lugar, porém, só


no início da década de 30, na NACA (National A dvisory Committee for
A eronautics) antecessora da actual NASA (National Aeronautics and Space
Administration ).
S E C . 9 .4 . T IP O S D E P E R F IS A L A R E S 519

Nesta secção começaremos por apresentar características geométricas e


aerodinâmicas de uma primeira série de perfis NACA, ditos convencionais —
sub-Sec. 9.4.1. — após o que elaboraremos sobre perfis mais eficientes, em que
é tirado partido de largas extensões de desenvolvimento do escoamento em
regime laminar — sub-Sec. 9.4.2.; a secção termina com um breve comentário
sobre perfis auto-estáveis, perfis utilizados em aeronaves tipo asa voadora que
não requerem uma superfície sustentadora suplementar (estabilizador ou
canard) para garantir condições de voo equilibrado — sub-Sec. 9.4.3,

9.4.1. Perfis convencionais


Tomemos como exemplo de perfil convencional, um perfil NACA da série
de 4-dígitos: o perfil NACA 2415; nesta designação:
- os dois últimos dígitos representam a espessura relativa, em percentagem:
t(c = 15%
- o primeiro dígito representa a flecha relativa, em percentagem: //c = 2%
- o segundo dígito representa a abcissa x/c a que ocorre a flecha máxima,
expressa em décimos da corda num referencial com origem no bordo de
ataque e com o eixo das abcissas segundo a corda: ( jc/ c ) / / c = 0,4;
um perfil simétrico desta família, com 15% de espessura, terá assim a designação
NACA 0015.
Como indicado na Fig. 9.60, a construção de um perfil NACA é, tal como
para um perfil de Joukowski, efectuada montando, sobre a linha de curvatura, a
distribuição simétrica de espessura, do que resulta [1]:

(9.31)

onde 9 é a inclinação local da linha de curvatura e os índices 'c' e 't' referem,


respectivamente, as ordenadas y correspondentes às distribuições de curvatura e
de espessura.

100% jc*

F ig. 9.60 Construção da geometria de um perfil NACA


com espessura e com curvatura.

Para estes perfis da série de 4 dígitos a distribuição de espessuras, inspirada


na de perfis Gõttingen, é dada analiticamente por:
= ±r*(l,4845^/x*-0,63x*-l)758x*2+l,4215jc*3-0,5075x*4) (9.32.a)
520 CAP. 9 PERFIS ALARES

onde os *’s designam valores adim ensionalizados pela corda c. A espessura


máxima ocorre a .r* = 30%; o raio de curvatura do bordo de ataque é
r = I.10I9/*2; a espessura no bordo de fuga é de 0,021/*. o que equivale a
um bordo de fuga praticamente em ângulo vivo.
A distribuição de curvatura consiste de dois arcos de parábola concordantes
no ponto de flecha máxima (x*f,y*f) e expressos por:

(9.32.b)

A localização mais usual da flecha máxima é a 40% c\


As coordenadas do perfil NACA 2415 estão listadas na tabela da Fig. 9.61 e
as suas caracterfsticas aerodinâm icas apresentadas na mesma figura para
diferentes números de Reynolds [1].
a) A evolução de Ct com a é praticam ente linear na gam a -10°;+6° com
um a inclinação dCLf d a ~ 0,105 grau"1; o ângulo de sustentação nula é
a = ~ p = - 2 ° t Ct ( a = 0 ° ) » 0 ,2 . Para ângulos de ataque positivos a perda é
relativ am en te suave, au m en tand o CL com o au m en io de Re:
C, ( a = 14°) ~ 1,4 a Re = 3 x l 0 6 e q "* ( a ~ 1 6 °)* 1,63 a t e = 9 x l0 6;
para ângulos negativos a perda é abrupta a a * -15 °.
b) O coeficiente de momento em relação ao ponto a l/4 c varia ligeiramente
com a , indicativo de que o centro aerodinâm ico se não situa exactamente a
25% c; situa-se, como indicado, a 24, l% c ou a 2 4 ,6% c dependendo de Re,
e relativamente a este ponto é CWct= - ° . 05 (*) e rigorosam ente constante,
como requerido pela própria definição de centro aerodinâm ico. O desvio de
CMcí4 de um quase patam ar para a en tre 14°;16° é resultante da
redistribuição de pressões induzida pela entrada em perda do perfil; o desvio
de CM para a entre -1 0 ° ;-1 2 ° , antes da perda a a = -15°, associado a
um a ligeira descontinuidade na evolução de CL, indicia o rebentamento de
uma bolha curta que possa ter antecedid o um a perda mista tipo perfil
delgado / bordo de ataque. N esta gam a de ân g u lo s de ataque deixa
naturalm ente de ter significado a noção de centro aerodinâmico, embora
tenha toda a validade continuar a m edir m om entos em relação ao ponto a
c/4; a curva CM vs. a abrange assim toda a gam a de ângulos de ataque
explorados enquanto que a curva CM = const. é traçada apenas na gama de
evoluções lineares para a ’s pequenos.

(*) Reforça-se o alerta feito em Nota na sub-Sec. 9.1.3. quanto à diferente convenção de sinais
para momentos adoptada neste documento e em textos, tabelas e diagramas específicos de
aerodinâmica de perfis.
j extradorso j inlradorso |


H
—.
—^

"h "
0 0
2.71 1,25 - 2 ,0 6
3.71 2.5 - 2 ,8 6
5,07 5,0 - 3 ,8 4
6,06 7.5 - 4 ,4 7
6,83 10 - 4 ,9 0
7,97 15 - 5 ,4 2
8,70 20 - 5 ,6 6
9,17 25 - 5 ,7 0
9,38 30 - 5 ,6 2
| 9,25 40 - 5 ,2 5
8,57 50 - 4 ,6 7
7,50 60 I - 3 ,9 0
6,10 70 - 3 ,0 5
4.41 80 - 2 ,1 5
2,45 90 - 1,17
1,34 95 -0 ,6 8
(0,16) 100 (-0 ,1 6 )1

#
o

e
O

ri
0
-o
S K . 9 .4 . T IP O S D E P E R F IS A U R E S
521

Fig« 9.61 C o ordenadas e característícas aerodinâm icas do p erfíi N A C A 2415.


522 CAP.9 PERFIS ALARES

c) Na quase totalidade das referências as polares são apresentadas com


CD e Ct , respectivamente, em abcissas e em ordenadas, como na Fig. 1,47;
na referência de que foi extraída a Fig. 9.61 esta orientação está invertida.
Da polar para o perfil NACA 2415 se conclui que, para superfície lisa e
dependendo do Reynolds, é CD « 0,00 6 5 a um CL « 0 ,2 ; 0,4 verificado a
a « 0 o; 2o. Introdução de rugosidade faz aum entar substancialmente CD\
e.g. CDm.n passa de «0,0065 para « 0 ,0 1 0 2 — um aum ento de quase 60%;
a evolução de CL vs. (X mantém-se, porém, na gam a dos pequenos ângulos
de ataque, tendo apenas dim inuído CL e p o r uma separação
prematura de uma cam ada lim ite tu rb u len ta com m aiores déficits:
C, ( a « 1 2 ,5 ° ) « l,2 .

9 .4 .2 . Perfis laminares

Comparativamente aos perfis convencionais (e.g. NACA de 4-dígitos), uma


menor penalização em CD numa gama restrita de CL's não muito elevados pode
ser conseguida recuando o ponto de espessura m áxim a, o que produz um
gradiente de pressão favorável prom ovendo um desenvolvim ento de camada
limite em regime laminar ao longo de uma m aior extensão do perfil. Perfis com
estas características são por isso designados perfis la m in a re s [laminar aerofoils].
Fora desta gama óptima de funcionamento, em torno do ângulo de ataque ideal
— vidé sub-Sec. 9.1.2. — a que é atingido o CL de projecto, estes perfis podem,
porém, acusar piores características do que perfis convencionais, devido a
separações prematuras ou em regim e laminar ou m esm o em regim e turbulento,
dados os baixos Ree 's locais. T rata-se assim d e p erfis indicados para
funcionam ento apenas num a gam a restrita de ân g u lo s de ataque e que
naturalmente requerem um acabamento cuidado da superfície, quer em termos
de ondulação quer de rugosidade, para tirar o m áxim o partido de regime
laminar.
Comparam-se, na Fig 9.62, polares características de perfis convencionais e
de perfis laminares. A gama de baixos CD's é designada por bossa laminar
[lam inar bucket ou low-drag bucket].

Fig. 9.62 Polares típicas de perfis convencionais e de perfis laminares.


SEC. 9.4. TIPOS OE PERFIS ALARES 52 3

Exem plifiquem os características geométricas e aerodinâmicas deste tipo de


perfis com base no perfil N A CA 652- 4 1 5 0 = 0,5 da série 6, uma das séries
NACA de p erfis lam in ares, com uma espessura e uma flecha relativas
equivalentes ao anteriorm ente considerado NACA 2415.
Comparam-se, na Fig. 9.63 [1], as evoluções de Cp para as distribuições de
espessura destes dois perfis — correspondendo aos perfis simétricos NACA
0015 e NACA 652 - 0 1 5 — a ce= 0°.

- 0.6

1,0 o 20 40 60 80 100
x /c {%)

a) Perfil convencional NACA 0015

F ig . 9 .6 3 Distribuição de C p para perfis simétricos


convencionais e laminares.

A espessura m áxim a do perfil convencional verifica-se a x/c = 30% e a do


perfil laminar a x /c = 4 0% ; em consequência, o gradiente adverso para o perfil
convencional in icia-se a x /c « 1 2 ,5 % enquanto que para o perfil laminar se
consegue m anter gradiente favorável até x/c ~ 47%. Ilustra-se na figura que um
gradiente lig eiram ente fav oráv el no extradorso e quase da mesma extensão é
ainda conseguido a um CL - 0,22.
E specifiquem os o sig n ific ad o dos vários dígitos na designação do perfil
NACA 652 - 4 1 5 0 = 0 ,5 :
- o primeiro dígito indica a série do perfil: série 6
- os dois últim os díg ito s representam a espessura relativa, em percentagem:
t/c = 15%
- o prim eiro d íg ito d ep o is do hífen indica o CL de projecto, em décimos:
C, prc>J = 0 , 4
- o índice refere, em décim os de CL, a extensão da bossa laminar em tomo de
C,1-pfOJ AC,L = ± 0 , 2
- o segundo díg ito in d ica, em décim os de corda, a localização do pico de
sucção para a distribuição de espessura a oc = 0°: x/c = 0,5
- a distribuição d e cu rv a tu ra é escolhida de modo a produzir, ao ângulo de
ataque ideal, u m a d istrib u içã o constante de c a r g a [load] — diferencial
Cp - Cp em cad a estação — do bordo de ataque até x/c - a e depois
52 4 CAP. 9 P E R F IS A L A R E S

Jinearmente decrescente até ao bordo de fuga: a = 0 ,5, como ilustrado na


Fig. 9.64 [1]; o valor de a não é especificado para carregamento constante
(a = 10).

X f c (% )

Fig, 9.64 Geometria e distribuição de carga para a linha de curvatura


NACA a = 0,5 a Q proj = 1 <> « ^ = 3 . 0 4 ° .

As coordenadas do perfil NACA 652 -4 1 5 a = 0,5 estão listadas na tabela


da Fig. 9.65 e as suas características aerodinâmicas apresentadas na mesma
figura para diferentes Reynolds’s [1]. Desta figura se conclui que:
a) A evolução de CL é praticam ente linear na gam a —8o; + 4° com uma
inclinação d C J d a ~ 0,1 lgrau“‘, maior do que para o perfil convencional de
comparação devido a menores £*’s; o ângulo de sustentação nula é
a = -f$ ~-2>5° e Q ( a = 0 ° )« 0 ,2 7 . Para ângulos tanto positivos como
negativos a perda é mais suave do que para o perfil convencional, com
Ç - m J ^ 17-50) " 1’37 a /?e = 3 x l 0 6 e Ctn)ax( a = 20o) = l,6 a /?e = 8,9xl06.
b) O centro aerodinâmico está localizado a 26,4% c e C mMca « - 0 ,0 5 .
c) CDmjn diminui de 0,005 a 0,004 com aumento do Reynolds de 3 x l0 6 a
8f9 x l 0 6; o valor registado para o perfil convencional era CD «0,0065.
Fora da bossa laminar e, e.g. para CL - 1 ,2 a /?e = 6 x l 0 6 é, para o perfil
laminar, CD ~ 0,016 e, para o perfil convencional, CD ~ 0,012.
Perfis laminares mais evoluídos continuam em constante desenvolvimento.
Apresentam~se alguns destes, com eçando pelo NASA GA(W )-1 — General
A viation ( W h itcom b ) — [111], representado na Fig. 9.66.a), cuja forma foi
inspirada na dos perfis W hitcomb supercríticos, desenhados para operação em
alto subsónico mas que se verificou apresentarem , a baixas velocidades,
características superiores às de muitos perfis projectados para essa gama de
funcionamento.
Foram os seguintes os requisitos de projecto do GA(W )-1, um perfil com
uma espessura relativa de 17%:
i) um generoso raio de bordo de ataque ( « 6 % c) para atenuar o pico de
sucção e assim atrasar ocorrência da perda;
® w , „ S0EPt(BS(i(iEs hs

a ~ 0,5.
Flg. 9.65 C oordenadas e característícas aerodinâm icas d o perfil N ACA 652 —415

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526 C A P .9 P E R F IS A L A R E S

ii) distribuição de carga aproximadamente constante perto de Q =0, 4, o que


é conseguido a a ~ 0o, como ilustrado na Fig. 9.66.b), jogando com a
distribuição de espessura e imprimindo maior curvatura na região posterior
do que em perfis NACA da série 6, do que resulta a concavidade no
intradorso do perfil em direcção ao bordo de fuga e um elevado momento
de picada: C* « -0,1;
iii) um bordo de fuga cortado a direito com inclinações sensivelmente iguais
nas superfícies do extradorso e do intradorso para moderar a recuperação de
pressão e assim atrasar a perda.
As características aerodinâmicas do NASA GA(W)-1 estão apresentadas na
Fig. 9.66.c) e comparadas com as dos NACA 652- 4 I 5 e 653-418. O
melhoramento é notório: a perda é suave, do tipo bordo de fuga, e Q “ 2,
naturalmente dependendo do Reynolds e da rugosidade da superfície.

x /c (%)
b) Distribuição de Cp vs. x /c ao
ângulo de ataque de projecto

o NASA GA ( W H . rugosidade NASA


o N A S A G A (W )-1, rugosidade NACA
-----------N ACA 6 5 , - 4 1 5 , rugosidade NACA
— N A C A 6 5 3- 4 1 8 , rugosidade NACA

- 0,8 - 0,4 0 0,4 0,8 1,2 1,6 V*


Q
c) Características aerodinâmicas

Fig. 9.66 Perfil NASA GA(W)-1.


SEC. 9.4. TIPOS OE PERFIS ALARES 527

Perfis lam inares consagrados para utilização em planadores de alta


performance foram desenvolvidos na década de 60 na Universidade de Stuttgart
pelo Prof. Franz Xaver Wortmann, de onde a designação FX para os p erfis
Wo r t m a nn ; estes perfis, caracterizados por uma extensa bossa laminar, são
ainda hoje em dia utilizados na maioria dos planadores de competição.
Exemplo é o perfil W ortmann FX 73-170, projectado em 1973 e com uma
espessura relativa de 17%; representam-se na Fig. 9.67 a forma do perfil,
evoluções de £//£/„ ao longo do extradorso e do intradorso a diferentes ângulos
de ataque e as suas curvas características para Reynolds's na gama 106 [3],

a) Geometria b) Distribuições de U /U m vs. x /c


a diferentes a's

F ig . 9 .6 7 Perfil Wortmann FX 73-170.

É particularm ente m elindroso o projecto de perfis laminares de grande


sustentação a baixos Reynolds's, em resultado do comportamento de bolhas de
recirculação e da p o ssív e l ocorrência de separações turbulentas. Um
reconhecido p rojectista neste campo é Robert L iebeck, da Douglas Aircraft
528 C A P .9 P E R F IS A L A R E S

Company, que desenha os seus perfis de modo a produzirem um patam ar de


sucção [flat rooftop] seguido de uma recuperação de pressão de Stratford [101]
— vidé sub-Sec. 6.6.3.; um exemplo de uma distribuição de velocidades
objectivo está indicado na Fig. 9.68.a), onde se representa a distribuição óptima,
de acordo com um método variacional, e a modificação necessária para se obter
um perfil fisicamente realizável — fechado e não-reentrante.
Um inconveniente de se escolher uma recuperação de Stratford como
função objectivo é que, perante um tal gradiente adverso, a camada limite
turbulenta se encontra constantemente na iminência de se separar ou, por outras
palavras, separação é constantemente apenas evitada por uma pequena margem.
Segue-se que com aumento do gradiente adverso por aumento do ângulo de
ataque, toda a camada limite turbulenta se separa em simultâneo, dando origem
a uma perda abrupta.

ópfirao de acordo com


análise variacional
modificação necessária para
obter perfil realizável

a) Distribuição de velocidades objectivo b) Família de distribuições de Cp no extradorso


com patamar laminar e recuperação de Stratford
Fig. 9.68 Condições de projecto de perfis Liebeck.

Para um dado número de Reynolds e uma dada pressão no bordo de fuga


pode ser gerada uma infinidade de distribuições de Cp do tipo em causa, como
ilustrado na Fig. 9.68 .b), as quais podem ser então usadas como distribuições
limites numa situação de projecto.
Ora um factor controlando o comportamento de bolhas de separação
laminares é o número de Reynolds Rep no pico de sucção, baseado na
velocidade Up e na extensão lp do patamar. M ostra a Fig. 9.68.b) que Uf
diminui à medida que lp aumenta; o produto Up /p, e por conseguinte Repi
aumentam porém neste sentido, do que resulta a extensão da bolha diminuir,
SEC. 9.4. TIPOS DE PERFIS ALARES 529

pelo q u e p a ta m a re s lo n g o s sã o d e s e já v e is p a ra perfis de baixos Reynolds's.


Com o a ssin a la d o n a fig u ra , p a ta m a re s lig eiram en te m ais extensos do que o que
produz a m á x im a c o n trib u iç ã o p a ra C t , patam ares estes m ais seguros em termos
do c o m p o rta m e n to d a b o lh a , p ro d u z e m a p en a s u m pequeno decréscim o na
con trib u ição p a ra CL, p e lo q u e d e v e m ser escolhidos.
U m re q u is ito f u n d a m e n ta l n o c rité rio d e sep aração de Stratford é que a
cam ada lim ite se d e s e n v o lv a j á e m re g im e tu rb u len to no ponto de aplicação do
severo g ra d ie n te a d v e r s o in ic ia l. O ra a R ey n o ld s'* tipicam ente superiores a
5 x 1 0 a c a m a d a lim ite la m in a r n o fim d o p atam ar de pressão encontra-se numa
situ ação j á s u fic ie n te m e n te in s tá v e l p a ra q u e transição local possa ser forçada
por um a p e q u e n a r a m p a d e t r a n s iç ã o [transition ramp], como assinalado na
Fig. 9 .6 8 .a). P o ré m , a R e y n o ld s ’s m a is b aix o s, u m a tal ram pa seria curta de mais
para p r o d u z ir tr a n s iç ã o , c o n d u z in d o a u m a com p leta separação da camada
lim ite em re g im e la m in a r . P ro m o ç ã o d e tran siç ão através de unta bolha da
m en o r d im e n s ã o p o s s ív e l r e q u e r e n tã o u m arred o n d am en to substancial da
d istrib u ição d e Cp e m to rn o d o p ic o d e sucção.
Ilu stra -se n a F ig . 9 .6 9 .a ) a d istrib u iç ã o d e Cp de projecto, com todos estes
in g re d ie n te s , p a r a o p e r f i l L ie b e c k L A 2 0 3 A d esen h ad o para C, = 1,4 a
Re = 4 x l O s .

Í f e 4 x JO* Re -2 .5 x l0 5

a) Perfil LA 203A b) Perfil auto-estável LA 2573A


F ig . 9 . 6 9 P e r fis L ie b e c k e m c o n d iç õ e s de pro je c to .

P a ra a p lic a ç õ e s a e ro n á u tic a s , a um p e rfil com o este, m uito carregado na


reg ião d o b o rd o d e fu g a e p ro d u z in d o , em consequência, um elevado momento
de p ic a d a — CMc= —0,\7 —- e s tá a sso c ia d a um a gran d e re s is tê n c ia de
e q u i l i b r a g e m [trim drag]f re s is tê n c ia e sta resu ltan te da sustentação que o
530 C A P.9 PERFIS ALARES

estabilizador ou o canard tenham de desenvolver apenas para equilibrar


momentos em torno do centro de gravidade da aeronave — referiremos esta
questão na sub-secção seguinte. Um CM quase nulo pode ser conseguido com
uma contribuição negativa para a sustentação da região do bordo de fuga, como
ilustrado na Fig. 9.69.b) pela distribuição de Cp de projecto para o perfil LA
2573A, com Qíca~ +0,015.
Tal evolução de Cp requer inversão da curvatura na região do bordo de
fuga, conduzindo aos chamados perfis com dupla curvatura ou em S [reflex ou
S-shaped]> que voltaremos a referir na próxima sub-secção. Para compensar esta
contribuição negativa para CL a zona frontal do perfil deverá ficar mais
carregada, o que exige um pico de sucção mais intenso e um patamar menos
extenso, do que resulta um menor Rep produzindo dificuldades acrescidas no
controlo do comportamento da bolha curta.
Concluímos assim que entram em conflito os requisitos de um CLmax elevado
e de um |cWcJ baixo. Uma aeronave dotada de perfis exibindo CLm^ 's elevados
apresenta uma grande resistência de equilibragem, mas a asa necessária para
equilibrar o peso W ^ L - j p U Í S C L pode ser feita mais pequena, produzindo
menor resistência e resultando numa aeronave mais leve.
Novos perfis são, em geral, desenvolvidos a partir não do zero absoluto mas
ajustando a forma de perfis de referência produzindo uma distribuição de Cp já
próxima da desejada; ilustra-se na Fig. 9.70 o efeito de aparentemente pequenas
alterações de forma do extradorso de um perfil na distribuição de Cp [87].

F ig . 9 .7 0 Efeito de pequenas alterações de forma de um perfil.

Realça-se que é particularmente crítico o comportamento de bolhas de


recirculação a baixos Re's. Na sub-Sec. 9.3.2. salientámos que, para um perfil
exibindo uma perda tipo bordo de ataque, a bolha curta rebentava a CL's
elevados sem posterior recolamento, o que originava, para a 's decrescentes, um
ciclo de histerese na região da perda. Semelhante tipo de ciclo de histerese pode
também ocorrer a CL's moderados, em resultado de uma alteração abrupta da
configuração da bolha de longa para curta, em consequência de um aumento de
SEC. 9.4. TIPOS DE PERFIS ALARES 531

F i g . 9 .7 1 Histerese a C L's moderados.

Ke5* na sep aração in d u z id o pelo aum ento da velocidade local associado a um


mais intenso pico d e sucção. E m resultado desta súbita contracção da bolha CL
aumenta e C D d rastica m en te dim inui, com o ilustrado na Fig. 9.71 [152], do que
resulta um 'jo e lh o ', a in c id ê n c ia s m oderadas, na polar do perfil. Exemplo
ilustrado n a F ig . 9 .7 2 é o do com portam ento do p e rfil E p p le r E 374 a
ReynoIds's de 6 x l 0 4 e d e 1 0 5 [151].

a) G eom etria b) Polares a diferentes R e' s

F ig . 9 .7 2 Perfil Eppler E374.

E ste tip o d e c o m p o rta m e n to po d e propagar-se a modelos completos de


aeronave, co m o é o c a so ilu stra d o n a Fig. 9.73 do salto em sustentação a um
ângulo d e a ta q u e a ~ 3o m a n ifesta d o no m odelo de túnel aerodinâmico da
aeronave ro b o tiz a d a A R M O R X I [37].

F ig . 9 .7 3 C aracterística C L vs. a. do modelo de túnel aerodinâmico ARMOR XI.


532 C A P .9 PERFIS ALARES

9.4.3. Perfis auto-estáveis


Perfis auto-estáveis são perfis com dupla curvatura, adaptados a asas
voadoras [flying wings ou tailless aircrafts], que dispensam recurso a qualquer
estabilizador ou canard para garantir condições de voo equilibrado e
estabilizado.
Para apreciarmos o porquê de perfis auto-estáveis consideremos, de ura
modo muito sucinto, os requisitos de estabilidade estática e de equilibragem de
uma aeronave em voo horizontal estabilizado — e.g. [80].
Suponhamos a aeronave sujeita a uma pequena perturbação do tipo rajada
vertical que, instantaneamente, produz um aumento do ângulo de ataque, como
ilustrado na Fig. 9.74. A aeronave será estável, perante esta perturbação, se em
resultado do aumento de a se instalar um momento em torno do centro de
gravidade que a faça regressar à posição de equilíbrio: um momento de picada
— positivo no sentido directo, de acordo com a notação que temos usado neste
texto. A condição de estabilidade escreve-se assim:

tl-^ , CG
^ ^ A a 1v
£/„
Fig, 9.74 Condição de estabilidade: e.g. á a > 0 = $ A M > 0 .

Comecemos por considerar só o caso de uma asa isolada. Num referencial


com origem no centro aerodinâmico e com o eixo dos j c ' s alinhado com o
escoamento de aproximação, como representado na Fig. 9.75, o coeficiente de
momento em tomo do centro de gravidade, suposto a uma distância xc0 do
centro aerodinâmico, escreve-se

Fig. 9.75 Propagação de momentos para determinação do momento


em tomo do centro de gravidade.
SEC. 9.4 . TIPOS DE PERFIS ALARES 533

Da condição de estabilidade obtemos então:

= _ Í £ 0 > 0 => Í££ -< 0 (9.34)


dCL c c
significando que, para que a aeronave seja estável, o centro de gravidade
deverá estar à frente (a montante) do centro aerodinâmico; quanto mais à
frente estiver, mais estável será a aeronave. A esta distância |x CG/c( chama-se
margem estática [static margin] e vale cerca de 20% para um avião de
passageiros.
A condição de equilíbrio de momentos em torno do centro de gravidade
[trim]

C«tca=CMc. - ~ Cr = ° (9-35)
com CMca > 0, em geral, e xCG/c < 0 conduz então a que o voo estabilizado
tenha de ser realizado a CL< 0: ora não é este o ponto de funcionamento em
que perfis alares sejam supostos operar eficientemente ou para que sejam
projectados! Haverá assim necessidade de operar uma translação na curva
CMcovs. Cl de modo a que, em condições equilibradas (C „CG= 0), seja CL>0,
como ilustrado na Fig. 9.76.

Fig. 9.76 Translação da curva CUcG vs. CL de uma configuração


estável, para equilíbrio a CL > 0.

Para esta nova curva CMcc vs. CL é CMco(CL = 0) = CMco< 0, o que requer a
intervenção de uma superfície sustentadora adicional produzindo, neste ponto
de sustentação total nula e em conjunto com a sustentação simétrica da asa, um
momento puro Aísup tal que Aísup + Mca = Mc o < 0, isto é, um momento de
cabragem prevalecendo sobre o momento em torno do centro aerodinâmico da
asa. Se for t a distância entre os centros aerodinâmicos da asa e desta nova
superfície, o momento Afsup = f x í,sup < 0 pode ser obtido ou com £>0 e
Líup <0, i.e. com um estabilizador produzindo uma sustentação negativa, como
ilustrado na Fig. 9.11.a), ou com f < 0 e Lsup> 0 , i.e. com um canard
produzindo uma sustentação positiva, como na Fig. 9.77.b).
Nota-se que ao introduzir mais uma superfície sustentadora o centro
aerodinâmico do conjunto, i.e. o ponto neutro mencionado na sub-Sec. 9.1.4.,
534 CAP 9 PERFIS ALARES

.«... L»>>0

(>0 £„,< 0

a) Conjunto asa / estabilizador

P™«d>0

í<0 £^<0

b) Conjunto asa ! canard


Fig. 9.77 Forças e momentos actuantes em configurações convencional e canard
na situação de sustentação total nula.

se desloca relativamente ao centro aerodinâmico da asa; calculemos a sua


localização com referência à Fig. 9.78 para uma configuração estilizada asa /
estabilizador.

Fig. 9.78 Configuração estilizada asa / estabilizador.

Desta figura se obtém para o momento em torno do ponto neutro, suposto a


uma distância xpn > 0 do centro aerodinâmico da asa e desprezando o momento
em tomo do centro aerodinâmico do estabilizador:

Mp, = M» - x!,nL** + l ’La<


ou, em termos adimensionais:

admitindo que é a mesma a pressão dinâmica dos escoamentos de aproximação


à asa e ao estabilizador. Admitindo ainda que é também a mesma a direcção
desses escoamentos de aproximação e seguindo a metodologia adoptada na sub-
Sec. 9.1.4. para pesquisar a localização do centro aerodinâmico de um perfil, a
abeissa do ponto neutro pode ser directamente obtida da condição de definição
dCM
w po __
x pn dCrLasa i'S
| c u e8t dCL
Lest _ Q
da c da da
o que conduz a
SEC. 9 .4 . TIPOS DE PERFIS ALARES 535

>0 (9.36)
c cSua dCLJ d a

como primeiro admitido.


Assim se conclui que o ponto neutro de uma aeronave convencional está
localizado atrás do centro aerodinâmico da asa e que, embora dependendo
dos valores das quantidades em jogo na eq. (9.36) e da margem estática
imposta, o centro de gravidade da aeronave pode estar também localizado atrás
do centro aerodinâmico da asa, estando, no entanto, sempre à frente do ponto
neutro, como requerido para estabilidade. Inversamente se concluiria que, numa
configuração canard, o ponto neutro está à frente do centro aerodinâmico da
asa e o centro de gravidade ainda mais à frente.
O parâmetro adimensional figurando nestas últimas relações:

(9.37)
CS«3 ’
em que o numerador e o denominador têm dimensões Ú , é designado
coeficiente de volum e de p ro fu n d id ad e ou coeficiente de volume do
estabilizador [horizontal tail volume coefficient]; nesta equação de definição de
Cv o factor i é geralmente tomado ou como a distância longitudinal entre os
quartos de corda da asa e do estabilizador ou como a distância do centro de
gravidade da aeronave ao quarto de corda do estabilizador — o braço de cauda.
Valor típico de Cv para um transporte de passageiros é <7^=1 [138],
Facilmente se verifica que, e.g. no caso de uma configuração convencional,
condições de estabilidade e de equilibragem podem ser conseguidas, a uma
velocidade ou a um ângulo de ataque específicos de voo, com uma carga nula
por parte do estabilizador, assim produzindo o mínimo de resistência de
equilibragem possível. Para tal admitamos a situação reportada na Fig. 9.79 de
uma aeronave convencional em que o centro de gravidade pode, como
acabámos de ver, estar localizado atrás do centro aerodinâmico da asa.

Fig 9.79 Configuração convencional com CG atrás do centro aerodinâmico da asa.

A condição de equilíbrio de momentos em tomo do CG escreve-se agora:


Mca ~ Mca —xca Lasa + i Lest = 0

ou, em termos adimensionais:


536 CAP. 9 PERFIS ALARES

Q#c0a C Mc, ~ C Lk , +C Vci, C L „ , - 0• (9 38)


Tal condição é satisfeita, com Ciea= O, quando

o que se verifica, e.g. com os perfis NACA das Figs. 9.61 e 9.65, com
CMoa=0,05, nos casos simples Jtca/c = 0,05 e CL^ = 1 ou jcca/c = 0,1 e
Ciaa = 0,5, correspondendo a centragens a 30 ou a 35% c, admitindo que o
centro aerodinâmico da asa está localizado a 25% c.
Controlo para voo equilibrado a qualquer outro ângulo de ataque, embora
seja conseguido com uma actuação convencional de comandos, terá de ser tal
que o estabilizador produza, para voo mais lento, uma sustentação positiva —
i.e. um momento de picada — e, para voo mais rápido, uma sustentação
negativa — um momento de cabragem. Comprovemo-lo com um pequeno
exemplo numérico, admitindo que partim os da situação Ct = 0, com
CWcj=0,05, xca/c = 0,1 e Citsa= 0,5, e que pretendemos passar para uma atitude
de voo mais lento a Ct = 1; a esta nova atitude e para um Cv =1 mostra a eq.
(9.38)
CuW CG = 0 ,0 5 -0 ,lx l + lx C ,L est = 0 -4 C,^ e s l = 0,05

que a condição de equilíbrio a este ângulo de ataque mais elevado é conseguida


com uma carga positiva por parte do estabilizador.
Ignorando a interferência asa / estabilizador e supondo que as duas
superfícies sustentadoras têm o mesmo comportamento aerodinâmico (o que em
geral não será o caso), o aumento de ângulo de ataque da aeronave que, para a
asa, produza um acréscimo de CL de áC L = 1- 0,5 = 0,5, produzirá um igual
acréscimo de CL para o estabilizador: áC L = 0 + 0,5 = 0,5, pelo que o valor
CÍK, = 0,05 requerido para voo equilibrado a este ângulo de ataque mais
elevado terá de ser conseguido com uma deflexão ji do elevador para cima (no
sentido usual para aumento de a), de tal modo que ACL^ ~ 0 ,0 5 -0 ,5 = -0 , 4 5 .
Condições de voo equilibrado e estabilizado podem ainda ser conseguidas,
dispensando recurso a qualquer estabilizador ou canard, utilizando um perfil
a u to -e s tá v e l, com dupla curvatura, produzindo um C.M^< 0 . Este tipo de perfis,
de que é exemplo o Eppler E 325 apresentado na Fig. 9.80 [44], sofre da
limitação em C, associada a um CM < 0 , como anteriormente referido —
atenção à diferença de notações.
O E 325 foi projectado para operação a /?e = 7 x l 0 5 perto de CL . Como
se verifica das curvas características é C, <1, a = ~ fí > 0 e C,, = -0 0 5 . Para
que a camada limite laminar no intradorso consiga negociar a recuperação de
pressão em direcção ao bordo de fuga é requerida a instalação de um
S E C . 9 .5 . H IP E R S U S T E N T A D O R E S 537

a) G eom etria e distribuições de Cp

turbulador [turbulator] a 74% c — um simples arame de transição ou uma fita


em zig-zag, mais eficiente por induzir perturbações tri-dimensionais.
Características auto-estáveis podem também ser conseguidas com perfis
convencionais mas em asas com flecha, como mencionaremos no próximo
capítulo.

9.5. Hipersustentadores
Aumentos de CL, para além do CL que um perfil com uma dada forma é
capaz de produzir, podem ser conseguidos ou simplesmente controlando o
desenvolvimento da camada limite a a 's elevados, de modo a atrasar a
ocorrência de separações, ou por deflexão de superfícies móveis, alterando a
forma do perfil, aumentando a sua curvatura de modo a aumentar o diferencial
de pressões p im e p tm mas simultaneamente inibindo separação por controlo
da camada limite.
Descreveremos, nesta secção, o princípio de actuação de dispositivos hiper­
sustentadores de bordo de fuga (flaps) — sub-Sec. 9.5.1. — e de bordo de
ataque tipo fenda fixa e móvel — sub-Sec. 9.5.2.; concluiremos com alguns
exemplos de aplicação destes dispositivos hipersustentadores — sub-Sec. 9.5.3.
538 CAP.9 PERFIS ALARES

9.5.1. Flaps
Suponhamos uma forma rudim entar de perfil tipo placa plana a a = 0°, em
que a região do bordo de fuga tenha sido deflectida de um determinado ângulo,
formando um flap. como ilustrado na Fig. 9.81. Tal configuração corresponde
a um perfil com uma certa curvatura que. a um ângulo de ataque nulo, já
produz sustentação, conforme (9.11).

Fig. 9.81 Distribuição de carga em fluido perfeito para uma placa plana
a a = 0o com a secção posterior deflectida.

Em fluido perfeito a distribuição qu alitativ a de carga deverá ser do tipo


apresentado, com um ponto de estagnação no intradorso na vizinhança do
bordo de ataque, Cp exibindo um a descontinuidade infinita no bordo de ataque
e ACp = 0 no bordo de fuga, com o im plicado para satisfação da condição de
Kutta; na charneira do flap deverá ser Cp^ ~ — (diedro convexo) e Cpjj =+1
(ponto de estagnação, diedro côncavo).
A distribuição de carga na região do flap produz um apreciável CMc> 0.
O gradiente adverso no extradorso do flap p ro d u zirá uma separação da
camada lim ite na charneira, seguida ou não de recolam en to ; para actuação
eficiente do flap esta separação deverá ser inibida, ou arredondando a zona da
charneira ou controlando a camada lim ite com injecção de um jacto parietal. 0
gradiente adverso no intradorso, antes da charneira, dará origem a uma bolha de
recirculação local. Estas situações estão docum entadas na Fig. 9.82.a) [181] e
esquematizadas na Fig. 9.82.b).

a) Visualização do escoamento b) Representação esquemática


Fig. 9.82 Separações na charneira de um flap sem controlo de camada limite.
S E C . 9 .5 . H IP E R S U S T E N T A D O R E S 539

Os tipos mais básicos de flap são o flap simples \plain flap] e o flap split. O
flap simples, ilustrado na Fig. 9.83, apenas envolve articulação da região
posterior do perfil, tendo a superfície móvel uma corda, tipicamente, de 20% -
30% e; CL é conseguido com uma deflexão de cerca de 40o- 45°.
,/ , ,

F i g . 9 . 8 3 F la p sim p les.

Dada a capacidade de deflexão do flap simples nos dois sentidos, este tipo
de superfície móvel é, em aplicações aeronáuticas, utilizado para controlo da
aeronave: elevador do estabilizador, ailerons, leme de direcção.
Comparam-se, na Fig. 9.84, características aerodinâmicas do perfil NACA
2415, que temos estado a usar como exemplo, obtidas com o código PANDA a
a = 6 ° e a /?e = 6 x l 0 6 para os casos de configuração limpa e com flap simples
de corda 20% c deflectido de 15°.

a) C o n fig u ra ç ã o lim p a b) Flap deflectido

Fig. 9 . 8 4 D is trib u iç ã o d e Cp vs. xjc p ara o N A C A 2415 a a =6°


s e m e co m fla p sim ples a 15°.

Devido à deflexão do flap:


- CL aumenta de 0,952 para 1,853
- CD aumenta de 0,0086 para 0,0109
- CM aumenta de 0,058 para 0,224
- o ponto de estagnação desloca-se para jusante e o pico de sucção avança em
direcção ao bordo de ataque, passando de Cp 1.9 para « - 4 ,3
- em resultado de gradientes adversos mais intensos: i) no extradorso transição
ocorre mais a montante, passando de x / c ~ l% para =4% , e uma separação
turbulenta começa a manifestar-se no bordo de fuga, ii) no intradorso
transição a x/c ~ 78% é substituída por uma separação laminar a = 57%.
O flap split, esquematizado na Fig. 9.85, consiste numa simples placa
embutida no intradorso e que, obviamente, só pode ser deflectida para o
exterior. Produz virtualmente o mesmo aumento de CL que um flap simples, um
maior ACD, devido a separações massivas, mas um menor
54 0 CAP 9 P E R F IS A L A R E S

principdlmente se estivei localizado numa região mais central do perfil do qUe


na do bordo de tuga. o que permite reduzir a resistência de equilibragem.

F ig . 9 . 8 5 Fiap split.

Maiores ganhos de CL exigem que o aumento da curvatura do perfil seja


acompanhado de controlo da camada limite. H o caso ilustrado na Fig. 9.86 de
um flap fenda [slotted flap], em que o escoamento compreendido entre as duas
linhas de corrente de estagnação do perfil principal e do flap é direccionado
pela fenda tangencialmente ao extradorso do flap, inibindo separação por
arrastamento e difusão turbulenta com a camada limite que se desenvolvia ao
longo do extradorso do perfil, como primeiro esquematizado na Fig. 4.22.

F ig . 9 .8 6 F lap fenda. F i g . 9 . 8 7 F la p F o w ler.

Ainda maiores ganhos de CL são possíveis se o flap, à medida que deflecte e


revela a fenda, deslizar para trás, aumentando a corda do perfil — a superfície
alar, numa asa; é o chamado flap Fowler, esquematizado na Fig. 9.87.
Os máximos aumentos de CL com este tipo de hipersustentadores de bordo
de fuga são conseguidos com flaps Fowler de fenda dup la [double slotted flap]
e de fenda tripla [triple slotted flap], respectivamente ilustrados nas Figs. 9.88.a)
[181] e b) [169].

a) Fenda dupla b) F en d a trip la e fe n d a m ó v e l de bordo de


ataq u e — e sq u e m a n a F ig . 9.89

F ig . 9 .8 8 F laps F o w le r com fe n d a .

Naturalmente que, para maiores deflexões, o elevado acréscimo de C,í'm ax é


acompanhado de uma grande penalização em CD. Em aplicações aeronáuticas,
SEC.95 HIPERSUSTENTADORES 541

e como ilustrado na Fig. 9.89 |169), i) uma deflexão intermédia do flap é


utilizada na descolagem: compromisso entre ganho em C, e uma não muito
grande penalizarão em Clt para, na fase de aceleração, rapidamente se atingir a
velocidade mínima de voo, tal que W = L - ^ p U ^ fíSCL ; ii) deflexão máxima
é utilizada na aterragem: objectivos são maximizar tanto CL como CD para que
t/min seja tão baixo em voo quanto possível de modo a encurtar o comprimento
de pista necessário para desaceleração.

F i g . 9 . 8 9 D e fle x ã o d e h ip ersu sten tad o res


em d ife re n te s situações de voo.

Maior capacidade de travagem é ainda conseguida com a deflexão de freios


aerodinâmicos que, como ilustrado na Fig. 1.57, actuam como corpos não-
fuselados.
Representa-se na Fig. 9.90 o efeito de cada um destes tipos de flaps na
evolução de CL vs. a .

F ig . 9 . 9 0 E fe ito d e d ife re n te s tip o s d e fla p s n a e v o lu ção CL vs. a de u m perfil.

Tomando como referência a corda c do perfil limpo — sem deflexão de


superfícies móveis — , o aumento de d C J d a com o flap Fowler é simplesmente
devido ao aumento da corda cf ilustrado na Fig. 9.87 [138]:

c - ^ ^ Cf - r £ t
L %pU2c \ p U 2c{ c if c ‘

A diminuição do ângulo de ataque de perda em geral verificado com deflexão


de flaps resulta dos mais intensos gradientes adversos originados pela maior
curvatura do perfil.
542 CAP. 9 PERFIS ALARES

Efeito equivalente ao de um flap mecânico pode ser conseguido injectando,


através do bordo de fuga, um jacto orientável de alta velocidade: o chamado
flap jacto Ijet flap], ilustrado na Fig. 9.91.a) [181] e esquematizado na Fig.
9.91.b). O 'anti-<5*' associado ao jacto provoca uma deflexão das linhas de
corrente equivalente à induzida por uma superfície mdvel sólida. Crescendo o
jacto turbulento por arrastamento de fluido exterior, a perda é relegada para a's
muito elevados; recuperação da perda só é assim conseguida com uma muito
apreciável diminuição do ângulo de ataque, o que pode tornar até perigosa a
utilização de um eficiente sistema hipersustentador deste tipo em aplicações
aeronáuticas.

a) Visualização do escoamento b) Princípio de operação


Fig. 9.91 Flap jacto.
Pequenos apêndices podem, por vezes, ter uma pequena mas significativa
influência. Tal é o caso, por exemplo, de um flap Gurney, uma simples placa
com uma altura de cerca de 1% c colocada no bordo de fuga
perpendicularmente à superfície do intradorso; o dispositivo foi primeiro
utilizado no carro que venceu as 500 milhas de Indianapolis em 1975. A um
dado ângulo de ataque o flap Gurney produz um pequeno aumento de CL e
uma pequena diminuição de Cc devido à alteração da configuração do
escoamento operada na vizinhança de um bordo de fuga de ângulo interno não
muito pequeno, como hipoteticamente ilustrado na Fig. 9.92 [100],

Fig. 9.92 Hipotética configuração do escoamento na vizinhança de um flap Gurney.


Vem a propósito referir, do ponto de vista de projecto aeronáutico, dois
aspectos respeitantes à deflexão de superfícies móveis numa aeronave; um deles
referente à opção entre um leme de profundidade constituído por duas
superfícies — estabilizador e elevador — e um estabilizador integral e o outro
respeitante a um efeito adverso associado à deflexão de ailerons.
SEC. 9.5. HIPERSUSTENTADORES 543

Comecemos por apreciar a opção entre um estabilizador de duas superfícies


e um estabilizador integral, com referência à l ig. 9.93 em que se ilustram as
curvas características para o perfil Wortmann simétrico FX 71-L-150/30, de 15%
de espessura relativa e com uma superfície móvel, tipo flap simples, com uma
extensão de 30% c [3], Apresentam-se, nesta figura, as características CL vs. a e
as polares CL vs. CD para diferentes ângulos de deflexão f) do flap simples, a
um Reynolds de 7 x l 0 5.

Fig. 9.93 Curvas características para o perfil FX 71-L-150/30 a Re = 7 x l 0 5


para diferentes deflexões de um flap simples de corda 30% c .

Assinalam-se duas situações respeitantes à geração de diferentes CL's, e.g.


por parte dos perfis de um leme de profundidade: uma correspondente a um
CL= 0,8 e a outra correspondente a um Ct = 0,4; comparam-se, em ambos os
casos, os valores dos ângulos de ataque requeridos e os valores de CD associados
a uma deflexão da superfície móvel de 0o — equivalendo a um estabizador
integral — e a uma deflexão do elevador de 15°.
Desta figura se conclui que:
i) um CL = 0,8 é conseguido, com um estabilizador integral, a um ângulo de
ataque a = 8,2°, e com um conjunto estabilizador / elevador com uma
deflexão de 15°, a a ~ -1, Io; os correspondentes valores de CD são,
respectivamente, de cerca de 0,0152 e de 0,0114, pelo que, em termos
puramente aerodinâmicos — i.e. não considerando quaisquer aspectos
mecânicos, estruturais ou de controlo —, um conjunto de duas superfícies se
revela mais favorável;
ii) para um CL = 0,4 um estabilizador integral exibe um CD~ 0,0085 e um
estabilizador de duas superfícies, com a deflexão de 15° que vem sendo
considerada, regista um CD = 0,0106, pelo que, neste caso, um estabilizador
integral se apresenta mais adequado.
544 CAP9 PERFIS ÀLAHES

Desta comparando dc resultados se pudera, em princípio, concluir que, para


pequenos estornos relativos requeridos por parte do plano de profundidade —
i.e. correspondendo a valores de CL na região da bossa laminar para o perfil
limpo —, um estabilizador integral se revela mais eficiente, enquanto que, para
maiores esforços relativos, um estabilizador de duas superfícies será mais
interessante. Claro que a opção final, em termos de projecto de engenharia,
dependerá de outros factores para além dos de natureza aerodinâmica.
Para apreciação do efeito adverso associado a uma deflexão de ailerons
tomemos como exemplo o caso documentado na Fig. 9.94 de uma volta para a
esquerda em que, para equilíbrio das forças actuantes. e como primeiro ilustrado
na Fig. 1.5, a aeronave deve pranchar sobre a esquerda. Devido à requerida
deflexão do aileron direito para baixo e do aileron esquerdo para cima, de
modo a aumentar a sustentação na asa direita e a diminuí-la na asa esquerda,
também a resistência aumenta na asa direita e diminui na esquerda, do que
resulta um momento de guinada para a direita, em sentido contrário ao
pretendido, fazendo com que a aeronave ‘meta o nariz para fora da volta': é a
chamada guinada adversa [adverse yaw] — este momento de guinada adverso
é ainda incrementado por acção do diferencial de resistências induzidas nas asas
direita e esquerda do sistema sustentador finito, efeito este já aflorado na Sec.
1.2. e que será objecto de análise pormenorizada no capítulo seguinte.

Fig. 9.94 Guinada adversa.

O efeito pode ser minimizado utilizando ailerons diferenciais, em que o


aileron que sobe defiecte mais do que o aileron que desce. Outra possibilidade
consiste em realizar o pranchamento com spoilers, em vez de com ailerons; um
spoiler actua semelhantemente a um freio aerodinâmico, como ilustrado na Fig.
S£C 9 5 HIPÊRSUSTEN1ADORES 54$

1.57, ‘estragando’ o escoamento na asa em que é dellcctulo — como a própria


designação o indica; to spoil, estragar — , i.e. produzindo uma diminuição de
sustentação e um aumento de resistência; no caso em apreço de uma volta para a
esquerda, spoilers seriam deflectidos na asa esquerda. Spoilcrs produzem assim
momentos de guinada no sentido requerido, embora, 'estragando' a
aerodinâmica, sejam, em lermos energéticos, menos eficientes que ailerons.

9.5.2. Hipersustentadores debordodeataque


Como referido na sub-secção anterior, com deflexão de flaps o ângulo de
perda geralmente diminui em relação à configuração limpa. Aumentos de
e também de CL podem ser conseguidos controlando separações no
extradorso quer com um bordo de ataque rebatível [drooped leading-edge],
alinhável com o escoamento local, como ilustrado na Fig. 9.95 [178], quer
através de uma fenda de bordo de ataque.

a) Configuração limpa; bolha no bordo de ataque b) Bordo de ataque rebatido


F ig. 9.95 Bordo de ataque rebatível.

Uma fenda fixa {slot] consiste de um canal entre a zona de altas pressões na
vizinhança do ponto de estagnação no intradorso e a zona de baixas pressões a
seguir ao pico de sucção no extradorso, através do qual é injectado um jacto
parietal para controlo da camada limite, como ilustrado na Fig.9.96 [181]. A
forma do perfil mantém-se; apenas a perda é relegada para a *s mais elevados.

F ig . 9.96 Fenda de bordo de ataque.

A fenda pode também ser do tipo m óvel [slai\. caso em que o nariz do
perfil i) se destaca, revelando a fenda para controlo da camada limite, ii) é
546 CAP.9 PERFIS ALARES

deflectido para baixo, aumentando a curvatura do perfil — s l a t o s l o t + fla p —


mas, simultaneamente, fazendo diminuir o ângulo de ataque efectivo, e iii)
avança ligeiramente, aumentando a corda, como esquematizado na Fig. 9.97.

Fig. 9,97 Fenda móvel.

O efeito destes hipersustentadores de bordo de ataque na evolução CL vs. a


está representado na Fig. 9.98. Para a fenda móvel, a translação da curva CL,a
no sentido dos a 's positivos é devida ao facto da diminuição de a ef prevalecer
sobre o aumento de curvatura e o incremento em d C J d a resulta do aumento
de c.
fenda

Fig. 9.98 Efeito de diferentes tipos de fendas na evolução CL vs. cc de um perfil.

Um tipo de flap usado em perfis com um pequeno raio de bordo de ataque


é o flap Kriiger, ilustrado na Fig. 9.99.

I y ~ ------------ \
Fig. 9.99 Flap Kriiger.
O dispositivo actua promovendo aumento da corda, do que resulta um
acréscimo em d C J d a , e diminuindo a intensidade do pico de sucção, pelo que
atrasa a ocorrência de separações.

9.5.3. Exemplosdeaplicaçãodedispositivos hipersustentadores


Concluamos esta secção dedicada a hipersustentadores com a apresentação
de quatro casos de aplicação destes dispositivos: em aviões, em veleiros, em
carros de Fórmula 1 e em aves, a máquina voadora por excelência.
A aplicação em aviõés está ilustrada na Fig. 9.100 para o transporte de
passageiros Lockheed L-1011 Tristar 500. Este avião de longo curso dispõe de
flaps Fowler de fenda dupla, de ailerons com capacidade de deflexão conjunta
SEC. 9.5. HIPERSUSTENTADORES 547

para baixo, assim actuando também como flaps simples, e de fendas móveis ao
longo de todo o bordo de ataque; tanto flaps, como fendas e freios
aerodinâmicos estão a deflexão máxima na figura.

Em veleiros navegando à bolina, a vela bujarrona actua como uma fenda


reduzindo separações junto ao mastro (bordo de ataque da vela grande): Fig.
9.101.

F ig . 9.101 Veleiro navegando à bolina.

Como exemplo de aplicação em carros de Fórmula 1 apresenta-se na Fig.


9.102 a configuração do 'aileron' dianteiro do Prost-Mugen-Honda, 1997. Nesta
situação o objectivo é conseguir aderência ao solo, pelo que tanto os 'ailerons'
traseiro como dianteiro são montados em posição invertida, produzindo uma
sustentação 'negativa'; a configuração multi-elemento destes componentes
sustentadores de grande curvatura é concebida de modo a promover sucessivo
controlo de camada limite por sopro.
Encastramento das superfícies sustentadoras traseiras entre placas terminais
destina-se, tal como explicado por um método das imagens, a aproximar uma
548 C A P.9 PERFIS ALARES

Fig. 9.102 'Aileron' dianteiro de três elementos


no Prost-Mugen-Honda, 1997.

operação bi-dimensional, muito mais eficiente que na situação tri-dimensional


de asa finita que apreciaremos no capítulo seguinte; dimensionamento destas
placas terminais naturalmente resulta, para além do espaço físico disponível, de
um compromisso entre ganho de sustentação por aproximação do caso da asa
de envergadura infinita (perfil) e de penalização em termos de resistência de
atrito, peso e vibrações mecânicas da estrutura. O posicionamento do 'aileron'
dianteiro muito próximo do solo é basicamente destinado a aumentar a
eficiência aerodinâmica dessa asa, aumentando a sustentação e reduzindo a
resistência induzida (de que falaremos no capítulo seguinte) por efeito solo,
explicável e quantificável pelo método das imagens.
Como último exemplo apreciemos a sequência de Figs. 9.103 da fase de
aproximação para aterragem de um papagaio do mar [156]. É de notar como:

Fig. 9.103 Sequência de aproximação para aten-agem de um papagaio do mar.


SEC. 9.6. AVALIAÇÃO DE C t . CD E CM POR INTEGRAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE Cp 549

- a asa bastarda (o 'polegar') está avançada em relação à asa principal, criando


uma fenda de bordo de ataque;
^ as penas das extremidades da asa assumem uma configuração tipo fenda-
múltipla, destinada, nas voltas apertadas de baixa velocidade da manobra de
aproximação, a evitarem a entrada em perda dos perfis da região do bordo
marginal, o que criaria grandes assimetrias na distribuição de sustentação ao
longo da envergadura, do que resultariam apreciáveis momentos de
rolamento em torno do eixo longitudinal da 'aeronave' difíceis de equilibrar;
- notam-se as penas já a vibrar nas secções interiores da asa, indiciando
ocorrência de separações a estes grandes ângulos de ataque;
- na última fotografia da fase terminal da aterragem, em que as asas estão no
batimento de recuperação, é notória a manobra de redução de sustentação e
de aumento de resistência por aumento do ângulo de ataque bem acima do
ângulo de perda e utilização das patas e cauda, aberta em leque, como freios
aerodinâmicos.

9.6. Avaliaçãode CL, CDe CMpor integraçãoda


distribuiçãode Cpaolongodeumperfil alar
A concluir este capítulo apresentemos a metodologia correntemente
adoptada no processamento de resultados experimentais da distribuição de
pressão em torno de um perfil alar para avaliação dos coeficientes de força e de
momento CL, CD e CM [74],
Consideremos o perfil alar ilustrado na Fig. 9.104.a) operando a um certo
ângulo de ataque a e trabalhemos no referencial Oxy com origem no bordo de
ataque e com Ox segundo a corda do perfil. Este referencial fixo ao perfil é
preferido relativamente ao referencial aerodinâmico, com O xJ /V ^ porquanto,
no primeiro, as coordenadas do perfil se mantêm constantes, independentemente
do ângulo de ataque; é imediata a correspondência entre os coeficientes de
força nos dois referenciais — vidé Fig. 9.104.b):

(9.36)

a) Força elementar b) Força resultante em


diferentes referenciais
Fig. 9.104 Esforços de pressão num perfil alar.
550 CAP.9 PERFIS ALARES

A resistência determinada por este processo é, naturalmente, apenas a


resistência de pressão; avaliação da resistência de atrito requereria medição da
distribuição de rw ou Cf ao longo da superfície do perfil, e.g. com um tubo de
Preston, e avaliação da resistência total seria conseguida por exploração da
esteira, como indicado na sub-Sec. 2.6.4.
Determinemos então os coeficientes de força segundo Ox e Oy e o
coeficiente de momento em torno do bordo de ataque resultantes da
distribuição do coeficiente de pressão ao longo do perfil.
Da Fig. 9.104.a) imediatamente obtemos para a força elementar segundo
Oy resultante dos esforços de pressão actuantes sobre um elemento de área ds
inclinado a um ângulo 0 com Ox, e semelhantemente à composição assinalada
na Fig. 8.32;
dY = —( p - P") ds cos0 = - { p - p j)d x \
a componente de força resultante segundo Oy vem então:

y = í> ~ ^ +r ~ p~)i *
onde o primeiro integral é calculado ao longo do extradorso e o segundo ao
longo do intradorso do perfil.
Em termos adimensionais obtém-se:

r Y (P~P-) j
y \p V tc \p U l ±pU l

(9 .3 7 )

onde (^Cp) representa a diferença entre os valores de Cp em pontos do


extradorso e do intradorso à mesma abcissa x /c .
CY corresponde assim à área entre as curvas CPc e C vs. x/c assinaladas na
Fig. 9.105.a).
Semelhantemente se obtém para o coeficiente de força segundo Ox:

(9.38)

onde ye e y { são as ordenadas máximas do extradorso e do intradorso, CPi e


C. são, respectivamente, os valores de Ca
r
em
i
pontos
v
anteriores e posteriores do
perfil à mesma distância y /c da corda e [ACp \ é o diferencial entre esses
mesmos valores de Cp.
Cx pode assim ser determinado a partir da curva y /c vs. Cp representada na
Fig. 9.105.b).
SEC. 9-6- AVALIAÇÃO DE CL, CD E CM POR INTEGRAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE C
551

X/C (%) x /c (%)


( C..
v ^ba ) =0,2967

c) Curvas Cp ( x / c ) vs. x / c e ( x / c ) vs. x / c para avaliação de |c,wba

d) Curvas y / c vs. Cp ( y j c ) e y f c vs. (4Cp) (y/c) para avaliação de (cWbfl)^

P*g. 9.105 Diferentes representações da distribuição de Cp em tomo de um perfil


para avaliação de Cx , C Y e CMba.
552 CAP.9 PERFIS ALARES

Especial atenção deverá, neste processo, ser dedicada à compatibilização do


traçado das curvas Cp vs. x/c e y /c vs. Cp> como tentativamente assinalado nas
Figs. 9,105.a) e b): mesmo que, a um qualquer ângulo de ataque, nenhuma
tomada de pressão resida no ponto de estagnação na vizinhança do bordo de
ataque, correspondendo a C = + l, nem no pico de sucção Cp^ ambas as
curvas experimentais deverão passar pelos mesmos pontos estimados de Cp^ e
c , m„ n° perfil-
Quanto à determinação do coeficiente de momento: dado que estamos a
trabalhar num referencial com origem no bordo de ataque do perfil, o mais
imediato será determinar o momento em relação ao bordo de ataque, passando-
se então para momento em relação a qualquer outro ponto através de uma
simples lei de propagação de momentos.
Calculemos então CWba contabilizando, separadamente, as contribuições das
componentes de força elementar segundo Ox e O ys do que resulta
CMba= (c Mba) . Com referência à Fig. 9.104.a) estas duas
contribuiçõe$yescrevení-se:

A parcela |CWbJ , por exemplo, corresponde assim tanto à área


j compreendida entre as^curvas C (x/c) e Cp (x/c) vs. x/c como à área sob a
curva \ cp ~Cp^(x/c) vs. x/c, como ilustrado na Fig. 9.105.c). Realça-se que,
nesta compatibilização de traçados, e.g. a curva y/c vs. (y/c) na Fig.
9.105.d) deverá cruzar o eixo das ordenadas, com continuidade tangencial, nos
pontos correspondentes tanto a =0 como a y/c = 0 — bordo de ataque,
na origem do referencial.
CAPITULO
10
ASAS FINITAS
Desenvolvemos, no capítulo anterior, o estudo do escoamento potencial
incompressível bi-dimensional em torno de perfis alares, entendido como o
escoamento em torno de um troço de largura unitária de uma asa de geometria
constante, sem flecha e de envergadura infinita — flecha é o ângulo entre uma
direcção transversal de referência (a linha do bordo de ataque, a linha do bordo
de fuga, a linha a 1/4 da corda) e um plano normal ao eixo de simetria da asa.
Dedicaremos o presente capítulo a um estudo sumário do escoamento em tomo
de asas de envergadura finita, analisando, em especial, as alterações tri­
dimensionais induzidas no comportamento bi-dimensional, já conhecido, pelo
facto do sistema sustentador ser agora finito na direcção transversal — os
extremos da asa, na direcção transversal, são designados por bordos marginais e
a secção central, ou de encastramento numa fuselagem ou cubo de
turbomáquina, por raiz [root].
Na secção introdutória 10.1. caracterizaremos o escoamento tri-dimensional
em tomo de uma asa finita e apreciaremos diferentes propostas para modelar o
respectivo campo de escoamento potencial, após o que serão estudados os
diversos tipos de modelação: a teoria da linha sustentadora, na Sec. 10.2., que
será desenvolvida com algum detalhe, o método da malha de vórtices, na Sec.
10.3., aplicável já a asas não planas e com flecha e de que será apresentado um
código de cálculo para configurações simples, e finalmente, na Sec. 10.4., o
método dos painéis tri-dimensional, em que serão sumariamente descritas
extensões para tri-dimensional do método dos painéis exposto na sub-Sec.
9.2.2. Serão seguidamente apresentados alguns exemplos de análise do
escoamento em torno de diversos tipos de asas, tanto em termos potenciais como
de fluido real — Sec. 10.5. O capítulo termina com breves considerações sobre
condições de voo para máxima autonomia e máximo raio de acção, em
aeronaves dotadas de diferentes tipos de sistemas propulsores, e sobre a resposta
de aeronaves a rajadas — Sec. 10.6.

553
554 CAP.10 ASAS FINITAS

10.1. Caracterização e modelação do campo do escoamento


Na alínea b) do ponto v) da Sec. 7.5. avançámos já argumentos que nos
levaram a concluir que "de uma asa finita deve emanar um sistema de vórtices
arrastados"; esse sistema de vórtices organizados segundo a esteira e orientados
segundo as linhas de corrente locais, sem existência no caso do escoamento bi-
dimensional em torno de um perfil, irá induzir um campo de velocidades que
deverá alterar o comportamento do corpo sustentador finito relativamente ao
caso de envergadura infinita apreciado no capítulo anterior. Relembremos os
argumentos a que então precisámos recorrer: um vórtice não pode terminar no
seio do fluido, vorticidade é convectada pelo escoamento, vorticidade só pode
ser impressa pela actuação de tensões de corte de nível viscoso. Elaboremos um
pouco mais sobre estes argumentos até fisicamente caracterizarmos o campo de
escoamento em torno de uma asa finita:
i) sustentação é produzida pelo diferencial de pressões instalado entre a
superfície do intradorso e a superfície do extradorso de um corpo
sustentador;
ii) esse efeito sustentador pode ser interpretado em termos da circulação de
velocidade ao longo de um circuito fechado envolvendo uma secção do
corpo sustentador;
iii) numa situação bi-dimensional cartesiana de um corpo sustentador imerso
no seio de um escoamento permanente, uniforme, incompressível de fluido
perfeito, as intensidades de sustentação por unidade de envergadura e de
circulação estão relacionadas pelo teorema de Kutta-Joukowski — (2.41 .b)
e (8.61): L=-pUmr\
iv) a circulação pode, simplistamente, ser modelada como produzida por um
filamento concentrado de vórtice ligado, alinhado segundo a direcção
transversal do corpo e geralmente localizado no centro aerodinâmico;
v) no extremo da envergadura da asa finita, uma vez terminada a barreira
sólida capaz de suportar o diferencial de pressões, a sustentação
forçosamente cairá a zero, pelo que, de acordo com Kutta-Joukowski, a
circulação deverá também cair a zero;
vi) ora a intensidade de um vórtice permanece constante no espaço, um vórtice
não pode terminar no seio do fluido constituindo-se sempre em anéis
fechados, vorticidade é convectada pelo escoamento, etc.
vii) segue-se que, uma vez atingida a secção do bordo marginal, o vórtice
ligado responsável pela sustentação deverá ser convectado como um
vórtice arrastado pelo sistema sustentador, alinhado com a esteira segundo
a direcção das linhas de corrente locais;
viii) não é, porém, fisicamente expectável que a sustentação ou a circulação
permaneçam constantes ao longo de toda a envergadura da asa finita,
SEC . 1 0 .1 . CARACTERIZAÇÃO E MODELAÇÃO DO CAMPO 555

vindo a cair abruptam ente a zero no bordo marginal e dando apenas


origem a um ú n ico fila m en to d e vórtice arrastado com uma intensidade
igual à do vó rtice lig a d o — na realidade, diferentes troços do mesm o
vórtice, apenas co m d iferen tes orientações;
ix) é, sim , fisica m en te m a is p la u sív el q u e o diferencial de pressões entre
intradorso e extradorso, que a contribuição para a sustentação, que o valor
local da circu lação, venham tod os a cair a zero no bordo marginal, mas de
forma con tínu a c o m o ilu strad o na F ig . 10.1, embora com uma evolução
dependente da geo m etria e atitude d o sistem a sustentador tri-dimensional;
nesta representação, a coordenada transversal z varia de z - 0 na raiz da asa
até z = s n o b ord o m argin al, o n d e s é a sem i-envergadura, e, para um
sistema sustentador sim étrico , a circulação diminui do seu valor máximo na
linha central F ( z ~ 0 ) —rc até r(z = 5) = 0 ;

o z s

Fig. 10.1 Evolução de circulação ao longo de uma asa finita


e possível discretização em patamares T = const.

x) discretizando a distribuição contínua de circulação em patamares


r=const. imediatamente concluímos que, do sistema sustentador finito,
deverá emanar não apenas um vórtice arrastado com uma intensidade
r = r c ~0 no bordo marginal, mas sim um sistema de vórtices arrastados,
cada um deles com uma intensidade igual ao salto de circulação de um
patamar para o patamar seguinte, como indicado na figura;
xi) ao caso limite da distribuição contínua de T(z) corresponderá a libertação
de uma folha contínua de vórtices arrastados com uma intensidade local

( 10. 1)

vórtices estes, como representado na Fig. 10.2, com um sentido de


circulação de um dos lados da asa e de sentido oposto do outro lado

z +s -s

F ig. 10.2 Sentidos de circulação dos vórtices arrastados.


556 CAP.10 ASAS FINITAS

idFidz troca dc sinal), dc intensidade nula no plano central (dr/dz^O) t


máxima nos bordos marginais {dF/dz máximo);
xii) os vórtices arrastados nascem a nível do vórtice ligado, prolongam-se para
infinito a jusante e fecham-se através do vórtice de arranque, constituindo-
se assim em anéis fechados; para efeitos de análise podem ser tomados
como semi-infinitos.
Nota-se, como apontamento, que a pressào total se conserva ao atravessar a
folha de vórtices arrastados, i.e., com referencia à Fig. 10.3, p Ta =
estando os filamentos arrastados organizados segundo as linhas de corrente da
esteira, é U//Q, do que resulta VpT= p Ú x Õ = 0 — eq. (2.19). Este é o caso de
escoamento de Beltrami referido na Sec. 2.4. Em vez de atravessar a esteira
ao mesmo resultado pT=const. se poderia ter chegado evoluindo de A para B
ao longo do circuito (C), todo ele residente em escoamento potencial.

Fig, 103 Escoamento de Beltrami e circuito para determinação da evolução de p7


de um para outro lado da folha de vórtices arrastados.

O modelo de asa finita com que temos estado a elaborar, em que o sistema
sustentador é simulado por apenas um filam ento de vórtice ligado de
intensidade continuamente variável do qual em ana uma folha contínua de
vórtices arrastados, é designado por modelo de linha su sten ta d o ra [lifting tine],
Mais correcto seria simular o sistema sustentador finito por uma folha de
vórtices ligados, distribuída sobre a superfície de curvatura ou da corda dos
perfis, e uma folha de vórtices arrastados; um tal m odelo de superfície
sustentadora [lifting surface] permitiria contemplar variações de circulação não
só ao longo da envergadura, como o da linha sustentadora, mas também
segundo a corda. Uma primeira implementação numérica pode ser conseguida
discretizando a superfície sustentadora em painéis planos e montando, em cada
painel, um filamento de vórtice ligado de intensidade constante, do qual
emanam filamentos arrastados semi-infinitos, como representado na Fig. 10.4.
A superfície sustentadora fica assim coberta por uma rede ou malha de vórtices
em ferradura, de onde a designação da técnica: m a lh a de vórtices [vortex
lattice).(*)

(*) Nota-se que esta designação de "esteira", usada num contexto de modelo de fluido perfeito de
ura sistema sustentador finito, deve ser entendida como referindo-se à folha de vórtices
arrastados; não é uma esteira entendida como camada de corte delgada, como nos capítulos de
fluido real.
SEC. 10.1. CARACTERIZAÇÃO E MODELAÇÃO DO CAMPO 557

1
1
1 1
1 1
1 1
1— =1
Fig. 10.4 Modelo de malha de vórtices.

A etapa de sofisticação seguinte consistiria num método dos painéis tri­


dimensional, distribuindo folhas de singularidades sobre as superfícies do
extradorso e do intradorso da asa. É de notar que os resultados produzidos por
um método de malha de vórtices se encontram mais próximos da realidade do
que resultados de escoamento potencial produzidos por um método dos painéis,
pois o primeiro, não contemplando o acréscimo de d C Jd a originado pela
espessura do perfil — vidé eq. (9.8) — produz valores de CL em melhor
concordância com os obtidos em fluido real por acção de $*. Modelação de
um sistema sustentador finito por um método dos painéis tri-dimensional só se
justifica assim se, em seguida, for efectuado um cálculo do escoamento de
camada limite também tri-dimensional ou, pelo menos, bi-dimensional mas
segundo as linhas de corrente do escoamento potencial exterior e tendo em
conta os efeitos de convergência e divergência lateral das linhas de corrente —
vidé eq. (4.16) da sub-Sec. 4.2.2.e Sec. 6.3. Abordaremos estes aspectos na Sec.
10.4.
A folha de vórtices arrastados revela-se instável a pequenas perturbações,
pelo que, a poucas cordas de distância a jusante da asa, vórtices do mesmo
sentido tendem já a enrolar, por acção do próprio campo de velocidades
induzido, num vórtice único de intensidade resultante igual à circulação máxima
ao longo da envergadura, como ilustrado na Fig. 10.5.a). Aumentando a
intensidade da folha de vórtices arrastados em direcção aos bordos marginais,
estes vórtices arrastados únicos estarão localizados perto, embora para o interior,
dos bordos marginais, como ilustrado na Fig. 10.5.b) através de uma simples
compensação de áreas; são por isso (impropriamente) designados por vórtices
marginais e estão bem visualizados nas Figs. 10.5.c) e d) do voo de um caça
General Dynamics F-16 (*).
Embora para descrever a influência dos vórtices arrastados a nível do
próprio sistema sustentador o modelo de esteira mais apropriado seja o de uma

(*) Fotografias obtidas no festival aéreo Tiger Meet, Beja, 1996.


558 CAP. 10 ASAS FINITAS

folha contínua de vórtices, preferencial mas não necessariamente deformável


[relaxed] — i.e. de configuração ajustável em sucessivas iterações —, um
modelo mais adequado, porque fisicam ente mais correcto, para descrever o
efeito da esteira a maiores distâncias — p. ex. para contabilizar a influência do
campo de velocidades induzido pela esteira de um avião noutro avião voando
em formação — é o modelo muito simples de um v ó rtic e em ferradura, de
intensidade constante, alinhado com a direcção do escoamento a infinito.

a) Enrolamento da folha de vórtices arrastados b) Compensação de áreas para localização


em dois vórtices marginais dos vórtices marginais

c) Escoamento a jusante do bordo marginal d) Inflexão dos vórtices marginais para o


à descolagem de um F-16 interior dos bordos marginais de um F-16

F ig . 10.5 Vórtices marginais numa asa finita.

A finalizar esta secção apreciem os o m ecanism o físico de geração da


vorticidade longitudinal, para o que necessariam ente precisarem os de considerar
actuação de efeitos de fluido real.
Devido ao diferencial de pressões entre o intradorso e o extradorso da asa,
responsável pela sustentação, e à tendência para igualização de pressões na
região dos bordos m arginais, são criad as co m p o n en tes transversais de
velocidade que fazem com que as linhas de corrente do escoamento ao longo
do intradorso tendam a divergir do plano central e as linhas de corrente ao
longo do extradorso tendam a co n v erg ir p ara o p lan o central, como
esquem aticam ente representado na Fig. 10.6.a) e docum entado na Fig. 10.6.b)
[179]. Estas com ponentes transversais são as responsáveis pela geração de
vorticidade longitudinal de sentido positivo (Í2 S> 0 ) nas cam adas limites tri­
dim ensionais desenvolvendo-se ao longo do extradorso e do intradorso da asa
direita e de sentido negativo na asa esquerda. É esta vorticidade longitudinal,
SEC . 1 0 .2 , TEORIA OA UNHA SUSTENTADORA 559

co m o s e m p r e g e r a d a p a r a s a t i s f a ç ã o d e u m a c o n d i ç ã o d e n ã o - e s c o r r e g a m e n t o
num a p a re d e s ó lid a , q u e é c o n v e c ta d a p e lo e s c o a m e n to a o lo n g o d a e s te ir a e s e
c o n fig u ra c o m o u m s i s t e m a d e v ó r t i c e s a r r a s t a d o s .

c . c«, c»
-5 - d s)

a) Representação esquemática

raiz bordo raíz bordo


marginal . marginal

l
bordo de
ataque

bordo de ____
fuga

Extradorso Intradorso

b) Visualização do escoamento (semi-asa direita)


Fig. 10.6 Geração da vorticidade longitudinal e configuração das linhas de corrente
ao longo do extradorso e do intradorso e de uma asa finita.

10.2. Teoria da linha sustentadora


A teoria da linha sustentadora de Lanchester-Prandtl que apresentaremos
nesta secção [62] é aplicável a asas planas, i.e. sem diedro, e sem flecha —
diedro [dihedral] é o ângulo entre uma direcção transversal de referência na asa
(e.g. a linha a 1/4 da corda) e um plano y=const. no referencial assinalado na
Fig. 10.7 e é considerado positivo se os bordos marginais estiverem maís
560 CAP. 10 ASAS FINITAS

eievados que a raiz da asa — em literatura inglesa é utilizado o termo anhedral


para diedro negativo. De acordo com este modelo de linha sustentadora a asa
finita é, como referimos na anterior secção, modelada por um único filamento
rectilíneo de vórtice ligado, de intensidade continuamente variável, do qual
emana uma folha de vórtices arrastados semi-infinitos, tal como representado na
Fig. 10.7.

Fig. 10.7 Sistema de vórtices associado a uma asa finita.


Após enunciadas, na sub-Sec. 10.2.1., as hipóteses simplificativas em que
assenta esta teoria e analisadas implicações dessas hipóteses, serão estabelecidas
as expressões gerais das variáveis aerodinâmicas para uma qualquer distribuição
de circulação ao longo da envergadura — sub-Secs. 10.2.2. a 10.2.4. Na sub-
Sec. 10.2.5. será então identificada a distribuição óptima de circulação, 'óptima'
no sentido de produzir a sustentação pretendida com um mínimo de penalização
em termos de um novo tipo de resistência de natureza invíscida que vamos ver
surgir, e na sub-Sec. 10.2.6. serão apreciadas as formas de asas capazes de
produzirem essa distribuição óptima de circulação. A secção termina com a
apresentação das metodologias a adoptar, de acordo com esta teoria da linha
sustentadora, para resolver o problema directo de análise e o problema inverso
de projecto de asas finitas — sub-Sec. 10.2.7.

10.2.1. Hipóteses simplificativas


A teoria da linha sustentadora assenta nas duas seguintes hipóteses
simplificativas:
1. Vórtice ligado rectilíneo, pelo que só é aplicável a configurações de asas
planas e sem flecha;
2. Esteira plana, indeformável, paralela a U„.
Esta imposição de forma da esteira — esteira ríg id a — permite linearizar
um problema que é efectivamente não linear, pois a forma da esteira depende
do campo de velocidades induzido pelos vórtices arrastados o qual, por sua vez,
depende da localização dos próprios vórtices arrastados, i.e. da forma da esteira.
SEC. 10.2. TEORIA DA LINHA SUSTENTADORA 561

Para q ue a e s te ir a se m a n te n h a in d e fo r m á v e l d e v e rá ser p e q u e n a a
intensidade d o s v ó r tic e s a rra s ta d o s , p a ra q u e s e ja p o u c o in ten so o c a m p o de
velocidades p o r e le s in d u z id o . O r a p a ra q u e Sy=dr/dzÔz> com o dado por
(10.1), seja p e q u e n o re q u e re -s e q u e , s im u lta n e a m e n te :
i) o n u m e ra d o r A r s e ja p e q u e n o , is to é , q u e a asa esteja pouco carregada;
ii) o d e n o m in a d o r Az s e ja g r a n d e , is to é , q u e as v a ria ç õ e s de r o c o rra m ao
longo d e u m a g r a n d e d is tâ n c ia n o s e n tid o tra n s v e rs a l, ou seja, que a asa
tenha u m a g ra n d e e n v e r g a d u r a b,
M as g ra n d e e n v e rg a d u ra c o m p a r a d a c o m q u ê ? N o caso d a asa m u ito esbelta
de um p la n a d o r d e a lta p e r fo r m a n c e , e m q u e a e n v e rg a d u ra é ce rc a de "20 - 3 0
vezes a co rd a m é d ia — F i g . 1 0 .8 . a ) — , p a re c e te r to d a a v a lid a d e m o d e la r o seu
efeito s u s te n ta d o r p o r u m f ila m e n t o ú n ic o d e v ó r tic e lig a d o , m as ta l tip o de
m odelo não s e rá c e r ta m e n te a p lic á v e l a u m a asa c o m a m e s m a e n v e rg a d u ra mas

a) Planador A kaflieg D arm stadt D*41 b) Caça Lockheed F-104 Starfighter


£ = 2 0 m ; A\ = 2 8 ,6 £ = 6,7 m ; 41 = 2 ,5

F ig . 1 0 .8 E xem plo de aeronaves com asas de grande e de pequeno alongamento.

uma corda apenas 2 ou 3 vezes menor que b — Fig. 10.8.b). Por conseguinte, o
que efectivamente se requer não é que b seja grande em termos absolutos, mas
sim que seja grande a razão b/c onde
1 rW S
c=- f cdz = ~ (10.2.a)
b J-t>J2 b
é a corda média geométrica [mean geometric chord] \ a esta razão

b b2
(10.3)
5
chama-se alongam ento [aspect ratio] (*), A teoria da linha sustentadora é
aplicável, tipicamente, para alongamentos maiores que 6.
Para adimensionalizar momentos e para definir a localização do centro
aerodinâmico da asa completa é usual escolher, como corda de referência, não

(* ) Embora o term o 'a lo n g a m e n to ' usado em português seja um francesismo ( allongement)


utilizaremos o sím bolo 41 (d o inglês Aspect Ratio) para o designar.
562 CAP 10 ASAS FINITAS

c m as u m a c o r d a m é d ia a e r o d i n â m i c a [mean aerodynamic chord\ definida


por
- l rw 2 ,
c c dz • (10.2.b)
S^br2
D e a c o rd o c o m as h ip ó te s e s s im p lific a tiv a s s u b ja c e n te s à te o ria da linha
s u s te n ta d o ra o ú n ic o e fe ito d a fo lh a d e v ó r tic e s a rra s ta d o s , a n ív e l do vórtice
lig a d o m o d e la n d o o c o rp o s u s te n ta d o r, tr a d u z - s e a s s im n a in d u ç ã o de um
c a m p o de v e lo c id a d e s des c e n d e n te s v < 0 , c o m o re p re s e n ta d o n a F ig . 10.9.

Fig. 10.9 Efeitos do sistema de vórtices arrastados dentro de uma


aproximação de linha sustentadora.

C a d a se c çã o d a asa, c a d a p e r f il, f ic a a g o ra a tr a b a lh a r n u m escoam en to com


u m a v e lo c id a d e e fe c tiv a s o m a v e c to r ia l d e C L e d e v , d o q u e re s u lta uma
a lte ra ç ã o d o â n g u lo d e a ta q u e d e u m a q u a n tid a d e

a : = t a n _l — <0 (1 0 .4 )
CL CL
d e s ig n a d a â n g u lo d e a t a q u e i n d u z i d o [induced angle o f attack]. C a d a perfil,
in s ta la d o a u m â n g u lo d e a ta q u e g e o m é tr ic o a r e la t iv a m e n t r e à d ire cç ã o do
e s c o a m e n to d e a p r o x im a ç ã o C L , re a g e a g o r a c o m o o p e r a n d o a u m â ngulo de
a ta q u e e fe c tiv o :

a ef = a + a i , < a. (1 0 .5 )

O m ó d u lo d o v e c to r v e lo c id a d e e fe c tiv a é s e n s iv e lm e n te ig u a l a | c l |, dentro
d e u m a a p r o x im a ç ã o d e p e q u e n o s â n g u lo s
Ucf = U00secai
p e l o q u e o ú n ic o e f e it o d o s v ó r tic e s a rra s ta d o s se tr a d u z , d e a c o rd o com as
h ip ó te s e s s im p lif ic a t iv a s a n te r io r e s , n u m a d im in u iç ã o d o â n g u lo d e ataque
e f e c t iv o , c o m o d a d o p o r ( 1 0 . 5 ) e ( 1 0 . 4 ) .
A d m i t i n d o q u e c a d a p e r f i l re a g e a a ef c o m o e m b i-d im e n s io n a l, e le irá
p r o d u z i r u m a s u s te n ta ç ã o L 2DJ _ t/e f, c o m u m a c o m p o n e n t e d e sustentação
e f e c t iv a n o r m a l a U„:
Lef = L2Dcos(xi ~ L 2d
SEC. 10.2. TEORIA DA UNHA SUSTENTADORA 563

e uma c o m p o n e n te s e g u n d o U„:
í ) i =1“ * -2 D S e n 0 ! l (1 0 .6 )

uma re s is tê n c ia i n d u z i d a [induced drag] .


C o n c lu ím o s a s s im q u e c o n s e q u ê n c ia s d a t r i- d im e n s io n a lid a d e d o s is te m a
sustentador s ã o , d e v id o à i n t r o d u ç ã o d e u m c a m p o d e v e lo c id a d e s in d u z id a s
descendentes v < 0 d o q u e r e s u lt a o s p e r fis fic a r e m a tr a b a lh a r a u m â n g u lo d e
ataque a e f< a ;

i) um a re d u ç ã o d a s u s te n ta ç ã o , p o is L 2 D ( a el) < L 2 D { a ) \
ii) a in tro d u ç ã o d e u m a r e s is tê n c ia in d u z id a .

0 tra b a lh o d e s ta fo r ç a d e r e s is tê n c ia d e n a tu r e z a in v ís c id a e q u iv a le à e n e rg ia
que é p re c is o f o r n e c e r a o f l u i d o p a r a c o n tin u a m e n t e f o r m a r o s is te m a d e
vórtices a rra s ta d o s . N o t e m o s q u e e m b i- d im e n s io n a l a p e n a s e ra fo r m a d o u m
vórtice n a fa s e d e a r r a n q u e , p e lo q u e 0 = 0 e m r e g im e e s ta b iliz a d o .
N a s p r ó x im a s s u b -s e c ç õ e s ir e m o s , p a r a u m a d is tr ib u iç ã o g e ra l d e c irc u la ç ã o
H z ) , o b te r as r e la ç õ e s p a r a o c a m p o d e v e lo c id a d e s d e s c e n d e n te s v ( z ) e p a r a as
variáveis g lo b a is L 3D e D x.

10.2.2. Distribuiçãogeral decirculação


T r a b a lh e m o s , p o r c o n v e n i ê n c i a , e m te r m o s d a c o o r d e n a d a a n g u la r 0,
relacionada c o m a c o o r d e n a d a tr a n s v e r s a l z, c o m o in d ic a d o n a F ig . 1 0 .1 0 , p o r:
Z = -s c o s 0 (1 0 .7 .a)

de onde

dz—sstn 9d 9 . (1 0 .7 .b )

Fig. 10.10 Relação entre a coordenada transversal z e a coordenada angular 9.


D e s c r e v a m o s u m a d is t r i b u i ç ã o g e r a l d e r(0) so b a fo r m a d e u m a s é rie d e
Fourier:

= ^ + 2 a„cosn0+X bRse n n ô .

U m r e q u is it o f í s i c o d a d is t r i b u i ç ã o d e c ir c u la ç ã o é q u e T c a ia a z e r o n o s
bordos m a r g in a is 0 = 0 e 6 =n, c o n d iç ã o e s ta q u e é a u to m a tic a m e n te s a tis fe ita
pela s é rie d e te r m o s e m s e n o , o q u e n o s l e v a a c o n c lu ir q u e a fo r m a m a is g e r a l
56 4 CAP. 10 ASAS FINITAS

d e s é rie d e F o u r ie r q u e r e q u e re m o s p a ra d e s c re v e r o n o s s o p ro b le m a fís ic o éa
d e u m a s é rie ím p a r an = 0 .
P ara q u e os c o e f ic ie n t e s dos te r m o s d a s é rie r e s u lt e m ad im e n s io n a is
e x p l i c it e m o s um a e s c a la d e v e lo c id a d e s e um a e s c a la d e c o m p rim e n to s
c a ra c te r ís tic a s d o p r o b le m a , e s, re s p e c tiv a m e n te , d o q u e a d v é m p ara a forma
m a is g e r a l d e r (ff) q u e p re c is a r e m o s c o n s id e ra r:

/'( 0 ) = 4 s t/_ 2 B „senn0. (1 0 .8 )

O f a c t o r 4 é in c l u í d o n a e q u a ç ã o d e d e s c r iç ã o d e r(6 ) a p e n a s p o r uma
f a c ilid a d e f o r m a l q u e a b a ix o s e rá ju s tific a d a .
N o t a - s e q u e p a r a u m s is te m a s u s te n ta d o r s im é t r ic o e m r e la ç ã o ao plano
c e n tra l z= 0 apenas p r e c is a m o s c o n s id e r a r o s te r m o s ím p a r e s d a série
( n = l, 3, 5 , . . . ) , p o is o s te r m o s p a re s (n = 2, 4, . . . ) dão u m a c o n tr ib u iç ã o anti-
s im é tr ic a e m r e la ç ã o a 0 = ; r / 2 — u m s e n o c o m p le to d e 0 a 2 te , u m d u p lo seno
de 0 a 4 n , e tc . — , c o m o ilu s tr a d o n a F ig . 10.1 1.

F ig . 1 0 . 1 1 Curvas senné) no domínio [O.ir] para n = 1,2 e 3.

10.2.3. Campodevelocidades induzidas


P a r a a v e lo c id a d e in d u z id a n u m q u a lq u e r p o n to z d a lin h a s u s te n ta d o ra vão
c o n tr ib u ir to d o s os fila m e n to s s e m i-in fin ito s de v ó r t ic e s a rra s ta d o s de
in te n s id a d e Sy lib e rta d o s em p o n to s c o r r e n te s z0 desde -s a + s , com o
indicado n a F ig . 1 0 .1 2 .

Fig. 10.12 Velocidade induzida por um filamento de vórtice arrastado a nível do vórtice ligado.

P a ra c á lc u lo d e v ( z ) p r e c is a m o s a s s im d e in te g r a r d e z 0 = -s a z 0 = + s as
c o n tr ib u iç õ e s e le m e n ta re s 5 v (z ) de fila m e n to s de v ó r t ic e s a rra s ta d o s de
in te n s id a d e 5 y ( z 0] e m p o n to s c o rre n te s z 0.
SEC. 10.2. TEORIA DA UNHA SUSTENTADORA 565

0 resultado (3.8 ) da lei de Biot-Savart fornece directamente

com

como dado p o r (1 0 .1 ). E m te rm o s d a coordenada angular 0 v irá então:

1 f1 àr{e0) ___ do.


v ( 0 ) = ---- — f
' ' 44rrs Jc
r rs Jo d6a c o s 0 o - c o s 0

1 r* 4 s U „ X íiB „ c o s n 0 o
— —— I ■■■■1 ■ 1 ■ UWn
4 ks Ji> cos0o -c o s 0

atendendo à fo r m a ( 1 0 . 8 ) p a ra r ( 0 ) . A s s im p lific a çõ es possíveis de operar


nesta ú ltim a r e la ç ã o — fa c to r 4 s e m n u m e ra d o r e em denom inador —
justificam a in c lu s ã o d o fa c to r 4 n a eq. (1 0 .8 ).
É de notar que a in te g ra n d a e x ib e u m a descontinuidade in fin ita em 0 = 0O>
correspondendo à te n d ê n c ia a s s im p tó tic a d a v e lo c id a d e no centro de um vórtice
livre. O v a lo r p r in c ip a l d e C a u c h y d o in te g ra l im p ró p rio , prim eiro determinado
por Glauert, é:

do que fin a lm e n te re s u lta p a ra fo r m a do cam p o de velocidades induzidas:

X nBnsennd
( 1 0 .9 )
sen0

10.2.4. Sustentação e resistên cia induzida

C alcu lem o s os v a lo re s g lo b a is d a sustentação e da resistência in d u zid a de


uma asa fin ita in te g ra n d o , a o lo n g o d a envergadu ra, as respectivas contribuições
de elementos ôz d a lin h a suste n ta d o ra .
Em b i-d im e n s io n a l é , p o r K u tta -J o u k o w s k i:

SL(z) = p U „r(z)ô z
pelo que ate n d e n d o a ( 1 0 .7 .b ) e a (1 0 .8 ):
566 CAP 10 ASAS FINITAS

= ^p U lb 2KBx
pois b = 2s. R e s u lta a s s im p a ra o c o e fic ie n te d e s u sten tação tri-dim ensional:

( 10. 10)

a te n d e n d o à eq. ( 1 0 .3 ) d e d e fin iç ã o d e A{ .
M o s tra esta re la ç ã o q u e o v a lo r d e CL d e p e n d e ap e n a s d o c o e fic ie n te B{ do
p r im e iro te rm o d o d e s e n v o lv im e n to d e r(9) e m s é rie d e F o u rie r, pelo que
te rm o s d e o rd e m s u p e rio r d e v e rã o d a r c o n trib u iç õ e s p o s itiv a s num as regiões e
n e g a tiv a s n o u tra s , a lte ra n d o a fo r m a m as n ã o a á re a sob a c u rv a r(0).
Q u a n to à c o n tr ib u iç ã o e le m e n ta r p a r a re s is tê n c ia in d u z id a , obtém -se de
( 10. 6 ):

ÕD, (z) = - a , ( z ) ÕL(z) = ~ ~ - p U~ r ( z ) Sz

e p o r (1 0 .7 .b ) , ( 1 0 . 8 ) e ( 1 0 .9 ) :

8Di{e)=-pv{e)r(e)sseneôe

■j(4sC/^X Bnsenn9 ) s s e n 0 Ô6

= 4 p £ /2 í 2X nBnsenn6 X BnSQnn6ô6 .
O p ro d u to dos d o is s o m a tó rio s p o d e -s e e s c re v e r c o m o u m som atório duplo,
pelo q u e se o b té m p a ra a re s is tê n c ia in d u z id a to ta l:

Di = ApUl>s2 f X X nBmBnsenm6 senn0 d9 ^ ^


*0 IM II

= %pUlb2n1nB*
e para o c o e fic ie n te de re s is tê n c ia in d u z id a

C D. = KM^nB* .

Í n senmfl s t n n ô d d = [•{n ! 2 para m=n

> [0 para m* n
SEC. 10.2. TEORIA DA UNHA SUSTENTADORA 567

E xp licitand o, neste s o m a tó rio , o te rm o em 6 , directam ente relacionado com


CL por (1 0 .1 0 ) o b té m -s e :

—~ (1 + ô) com (10.11.a)
nM
Esta relação é m u ita s v e ze s e s c rita com o:

C2
CD. = — com e= \/(\ + ô) (1 0 .1 l.b )
‘ nefa
onde e é d e s ig n a d o f a c t o r d e e fic iê n c ia d e O s w a ld [Oswald efficiency factor],
cujo sig n ific a d o a n a lis a re m o s m a is à fre n te .
C om p re e n d e -s e , fis ic a m e n te , o po rq u ê da d im in u iç ã o de C D. com aumento
de M. S u p o n h a m o s d u a s asas c o m ig u a l área e diferentes alongamentos,
produzindo a m e s m a sus te n ta ç ã o : i ) p e la 2 a L e i de N e w to n , produção da mesma
força de s u s te n ta ç ã o e s tá a s s o c ia d a à c o m u n ic a ç ã o , ao flu id o , da m esm a
quantidade d e m o v im e n to , e m s e n tid o c o n trá rio ao de L, ii) a asa de m aior
alongamento — m a io r e n v e rg a d u ra , pois a área a la r é a m esm a — , actuando
sobre um a m a io r m a s s a m d e flu id o in d u z irá menores velocidades U de m odo a
produzir a m e s m a q u a n tid a d e d e m o v im e n to mUt i i i ) pelo que será m enor a
energia c in é tic a ^ mU2 im p re s s a n a e s te ira e iv ) m enor será a resistência
induzida Dx. D a d o q u e a v e lo c id a d e in d u z id a p o r u m vórtice se esbate com a
distância, a u m e n ta n d o a e n v e rg a d u ra v o rtic id a d e é espraiada ao lon g o de
maiores d is tâ n c ia s , v d im in u i, d im in u i (e m m ó d u lo ) e Dx d im in u i.
V o ltarem o s a e s te m e c a n is m o d e e s p r a ia m e n t o de v o r tic id a d e [vortex
spreading] n a s u b -S e c 1 0 .5 .2 .
S alienta-se q u e e m b o r a e m te rm o s adim ensionais o coeficiente de resistência
induzida CD_ v a r ie c o m o a lo n g a m e n to , desem penhando este o papel de um a
'envergadura a d im e n s io n a l' blc= M , a fo rç a de resistência in d u z id a Dx
depende não d o a lo n g a m e n to m a s d a e n v e rg a d u ra fís ic a b, com o acabado de
argumentar. P a r a e .g . a s itu a ç ã o d e u m a aeron ave em voo rectilíneo h o rizo n ta l,
em que

W = L = íp U ^ S C ,, deonde C ,= t ------- — ,
2 \p u ls
obtemos p a ra Dit a te n d e n d o a (1 0 .1 l.b ):
568 CAP 10 ASAS FINITAS

[ w K \p u is ) ]
D =íp U * S -Ç ±-= yU ÍS
£ ne/B
tr* > JR *• iteb2!s
W
b ( 10. 12)
\p u lrte
o que m o s tra q u e , à p a rte a in flu ê n c ia das p ro p o rç õ e s d a asa no peso W e na
e fic iê n c ia e, a res is tê n c ia in d u z id a d e p e n d e n ã o d e >R m a s d o p a râm etro W/b,
que p o d e re m o s d e s ig n a r d e c a r g a p o r (u n id a d e d e ) e n v e r g a d u r a [span
loading], d im in u in d o Di c o m d im in u iç ã o de W/b.

10.2.5. Distribuiçãodecirculaçãopararesistênciamínima
Id e n tifiq u e m o s a fo r m a d a d is trib u iç ã o d e c irc u la ç ã o q u e , p a ra u m dado CL,
p ro d u z u m C0 . m ín im o .
D e (1 0 .1 0 ) c o n c lu ím o s q u e a p e n a s o c o e fic ie n te Bl d o desenvolvim ento
(1 0 .8 ) in te r v é m n a re la ç ã o de CL, in d e p e n d e n te m e n te d o n ú m e ro e valor dos
c o e fic ie n te s de o u tr o s e v e n tu a is te r m o s n e c e s s á r io s p a ra re p ro d u z ir a
d is trib u iç ã o de f ( 0 ) ; im p o s to o v a lo r d e CL p a r a u m a a s a c o m um dado
a lo n g a m e n to fic a a s sim e s ta b e le c id o o v a lo r d e Bp. B { =C,J( k A\) .
M o s tr a p o r é m ( 1 0 . 1 1 . a ) q u e os c o e fic ie n te s de to d o s os term os do
d e s e n v o lv im e n to d e r(0) c o n tr ib u e m p a ra CD , e c o n tr ib u e m d e forma
p e n a liza n te pois p ro m o v e m , todo s e le s, u m a c ré s c im o d o fa c to r 8.
S om os a s s im le v a d o s a c o n c lu ir q u e a d is tr ib u iç ã o d e r(6) q u e , para um
dado CL, p ro d u z a u m a re s is tê n c ia in d u z id a m ín im a , d e v e rá s e r ta l que, para um
Bl fix a d o , a p res e n te to d o s os o u tro s c o e fic ie n te s B„ n u lo s , i.e . Bn = 0 para
n > l . E ssa d is trib u iç ã o rev e s te e n tã o , p o r ( 1 0 .8 ) , a fo rm a :
r(0) = 4sU„Bl s e n f)
p a ra a q u a l
r aa= r { 0 = x/2) = r c = 4sumB1,
r no
on d e f c é o v a lo r m á x im o d e p la n o d e s im e tr ia c e n tr a l, p e lo que pode
ser re e s c rita co m o :
r (0 ) = r c sen0.
D e ( 1 0 .7 .a ) o b te m o s s e n 0 = - \ / l - z 2/ í2 , q u e s u b s titu íd o n a expressão acima
p ro d u z , e m te rm o s d a c o o rd e n a d a z em vez de 0:
r ( z ) = r c ^ - z 2/s2
OU

r 2(z) (1 0 .1 3 )
n
e q u a ç ã o d e u m a e lip s e d e s e m i-e ix o s f c e s .
SEC. 10.2. TEORIA OA UNHA SUSTENTADORA 569

C o n c lu ím o s a s s im q u e a d is tr ib u iç ã o d e c irc u la ç ã o ao lo n g o d a e n v e rg a d u ra
que, para u m a d a d a s u s te n ta ç ã o , p r o d u z u m a re s is tê n c ia in d u z id a m ín im a é u m a
d is trib u iç ã o e líp tic a .
Para essa d is tr ib u iç ã o ó p tim a d e F ( z) é , p o r (1 0 .9 )

-B | sen 0 C,
OCj(0) --- 1----- = -£ , = ------ L. = c o n s t. (1 0 .1 4 )
sen 0 rr/R
e por (1 0 .1 1 )

C2
CD. = (C 0. ) . = — t - . (1 0 .1 5 )
' n/B
C o m p re e n d e -s e a g o r a o g r a n d e a lo n g a m e n to , a n te rio rm e n te r e fe rid o , de
planadores d e a lta p e r fo r m a n c e , n o o b je c tiv o d e d im in u ir CD. p a ra u m dad o
CL. A d is tr ib u iç ã o e líp t ic a d e c ir c u la ç ã o n ã o é , p o r é m , a gerailm ente a d o p ta d a
nestes casos ( ! ) , p o is c a r r e g a n d o u m p o u c o m a is a asa nos p a in é is c e n tra is e
a liv ia n d o -a n o s e x tr e m o s d a e n v e r g a d u r a se c o n s e g u e m r e d u z ir m o m e n to s
flectores, o q u e p e r m it e u m a e s tr u tu r a m a is a lig e ir a d a e u m a c o n s e q u e n te
dim inuição d a c a r g a p o r e n v e r g a d u r a .
O fa c to r d e e fic iê n c ia d e O s w a ld e< 1 p a ra u m a asa p la n a — a p rec ia re m o s ,
na sub-S ec. 1 0 .5 .2 ., o p o r q u ê d e s ta r e s tr iç ã o a "asas p la n a s " — d e fin id o e m
( l O . l l . b ) e c o n ta b iliz a n d o o d e s v io d a d is tr ib u iç ã o d e c irc u la ç ã o e m re la ç ã o à
d is trib u iç ã o ó p tim a , fo rn e c e a s s im um a m e d id a d o re n d im e n to d a a s a
c o m p a ra tiv a m e n te à a s a c o m d is t r ib u iç ã o e líp tic a , to m a d a c o m o re fe rê n c ia :
e = 100% e m ( 1 0 . 1 5 ) .

10.2.6. Asasderesistênciamínima
P ro c u re m o s a fo rm a da asa, ou das a s a s , c a p a ze s d e p r o d u z ir e m a
distribuição ó p tim a d e c ir c u la ç ã o .
E m b i-d im e n s io n a l é

L=Pumr = ± p u ic C L70
com

^ L z o ~ a 2o { a + P ) e f l 2D = ^ ^ ^

por (9 .1 1 ); d a q u i r e s u lt a

r = \ a 10cU „{a+ P).


E m t r i-d im e n s io n a l, e c o m o im p lic a d o p e la s a p ro x im a ç õ e s da te o ria d a lin h a
sustentadora, o â n g u lo a d e v e s e r e n te n d id o c o m o o â n g u lo d e a ta q u e e fe c tiv o
U'S= a + ai d a d o p o r ( 1 0 . 5 ) , p e lo q u e :
570 CAP. 10 ASAS FINITAS

r(z) = 4-a2D(zMz)í/-[«(7) + /3(7) + o:i(z)] ( 10. 16)

- a2D, a taxa de variação de CÍ2D com a, poderá variar ao longo de z


dependendo do tipo de perfil e do Reynolds local, mas variará sempre muito
pouco;
- a corda c variará em geral ao longo da envergadura; só será c = const. no
caso de uma asa rectangular em planta;
- o ângulo de ataque geométrico a geralmente também varia ao longo de z;
diz-se, neste caso, que a asa tem torção geométrica [rvmí] ou, simplesmente,
torção; em geral a diminui da raiz para os bordos marginais por razões que
justificaremos quando analisarmos características de perda na Sec. 10.5.:
torção negativa [wash-out],
- se forem utilizados perfis com diferentes curvaturas ao longo da asa, p será
também função de z; diz-se, neste caso, que a asa tem perfis evolutivos ou
torção aerodinâmica pois, do ponto de vista de CL, é , por (9.11),
indiferente actuar em a ou em p .
De (10.16) concluímos então que uma distribuição elíptica de T(z), para a
qual é a^const. por (10.14), pode ser conseguida de infinitas maneiras,
jogando com as evoluções de c(z), de a (z) e de p (z). Uma possibilidade
consistirá em usar sempre o mesmo tipo de perfil — p = const. —, montar todos
os perfis ao mesmo ângulo de ataque — a = const. — e prover uma
distribuição elíptica de corda: c = cc ^ 1 - z2/s2 ; resulta neste caso:
( 2 ( 2V/2
r (z)= r c 2 20
U ^ a + p + a ,). (10.17)
* /
É de notar que uma distribuição elíptica de c(z) não exige que a asa em
planta seja uma elipse única, pois pode ser conseguida conjugando duas semi-
elipses com semi-eixos menores diferentes. Tal era o caso do célebre caça
inglês, da II Grande Guerra, Spitfire, ilustrado na Fig. 10.13.

F i g . 1 0 .1 3 P lanta do S p itfire.
SEC. 10.2. TEORIA DA LINHA SUSTENTADORA 571

A vantagem desta configuração de asa» produzindo a distribuição óptima de


circulação, é que permite ter uma longarina principal rectilínea na localização
mais solicitada do centro de pressão — vidé sub-Sec. 9.1.4.
Asas elípticas deixaram porém de ser utilizadas por duas ordens de razão:
i) uma é de natureza económica: embora a longarina principal seja rectilínea,
as longarinas de bordo de ataque e de bordo de fuga são de forma elíptica,
difíceis e caras de construir; este inconveniente poderia ser hoje em dia
ultrapassado com uma construção em materiais compósitos;
ii) outra razão tem a ver com segurança e controlo do voo: estando todos os
perfis a trabalhar ao mesmo ângulo de ataque, ao aumentar a toda a asa
entra em perda em simultâneo, implicando que uma vez que a asa entre em
perda se perde o controlo de rolamento, pois os ailerons, localizados perto
dos bordos marginais, se encontram inoperativos no seio de escoamento
separado; pior ainda, pois embora CLjd =const. a perda se deverá iniciar na
região dos bordos marginais, dados os mais baixos Reynolds's locais —
menor corda.
Este segundo inconveniente poderia também ser ultrapassado. Uma solução
consistiria em manter a forma elíptica em planta e conjugar perfis evolutivos,
com a curvatura relativa a aumentar em direcção aos bordos marginais (*), com
torção negativa da intensidade requerida para compensar o aumento de /3, de
modo a manter constante o ângulo de ataque absoluto a abs = a + fi — vidé pág.
475 — e assim CÍ2D = const. Dado que, como ilustrado na Fig. 10.14 e
semelhantemente ao reportado na Fig. 9.90 para a actuação de flaps,
aumentando a curvatura dos perfis estes tendem a entrar em perda a um menor
ângulo de ataque geométrico mas a um maior ângulo de ataque absoluto —
pelo que a gama de ângulos de ataque utilizável é mais extensa — consegue-se
deste modo garantir que a perda se inicie na região mais central da asa, que é a
que mais contribui para a sustentação; assim, a sustentação total diminui com
aumento de a , a asa entra em perda, mas as secções dos ailerons ainda não
atingiram a perda local. A solução é relativamente comum nas asas trapezoidais
de planadores de alta performance [154].

F i g , 1 0 . 1 4 G am as de ângulos de ataque absolutos utilizáveis


para perfis de diferentes curvaturas relativas: B > A .

(*) Agradeço ao m eu C o le g a P ro f. H e ito r A lm e id a , da U niversidade do M in h o , este seu


com entário.
572 CAP 10 ASAS FINITAS

Aproveitemos este exem plo sim ples de ob tenção da distribuição óptima de


circulação com uma asa elíp tica para d eterm in arm os as características
aerodinâmicas do sistem a sustcntador tri-dim ensionul, com parando a evolução
de Q vs. a da asa com a evolução Q iovs. a d os perfis que a constituem.
A te n d e n d o a q u e e m ( 1 0 . 1 7 ) é a t = -B l e r c **2bUmBv com
B{= Q jp (/r > R ), e q u e , p a ra u m a asa e líp tic a é 5 = rtb c c /4 pelo que
4? = 4 t> /( x c c ) , obtém -se, p o r a n a lo g ia c o m a d e s c riç ã o b i-d im e n s io n a i:

= (a +fi) com a 3D = - . (10.18)


1+^
JtM
C oncluím os assim que, para o sistem a sustentador tri-d im e n s io n a l, a variação
de CL com a é a in d a lin e a r na g a m a das pequenas in c id ê n c ia s mas a uma taxa
in fe rio r à re g is ta d a e m b i-d im e n s io n a l. n este c a s o c o n tr o la d a apenas pelo
alon g a m e n to , e ta n to m e n o r q u a n to m e n o r fo r A , c o m o ilu s tra d o na Fig.
10.15. A d ife re n ç a resulta apenas do fa c to dos p e rfis , q u a n d o instalados a um
ângulo de ataque g e o m é tric o a , re a g ire m c o m o e m b i-d im e n s io n a l mas a um
ângulo de ataque e fe c tiv o aei < a .

A decrescente

Fig. 10.15 Evolução CL vs. a em 2D eem 3D.

P ro c u re m o s , a in d a neste caso d a d is tr ib u iç ã o e líp tic a , a re la ç ã o entre a


env e rg a d u ra d a asa e a e n v e rg a d u ra d o v ó rtic e lig a d o d e in te n s id a d e constante
correspondente a u m m o d e lo de v ó rtic e e m fe rra d u ra , o q u e e q u iv a le a localizar
os v ó rtic e s (d ito s ) m a rg in a is . P a ra a m e s m a s u s te n ta ç ã o to ta l e a mesma
in tensidade de c irc u la ç ã o na e steira o b té m -s e , d a c o m p e n s a ç ã o d e áreas na Fig.
1 0 .5 .b ):

bTc = - b r c
c 4 c
de o n d e

b' = - b = 0 M ,
4
s ig n ific a n d o q u e os v ó rtic e s m a rg in a is e stão lo c a liz a d o s c e rc a de 10 %b para o
in te rio r dos bo rd o s m a rg in a is .
SEC. 10.2. TEORIA DA UNHA SUSTENTADORA 573

10.2.7. Metodologias de análise e de projecto de asas finitas

Para tra ta r os p ro b le m a s d c a n á lis e e de p ro je c to torna-se co n v e n ie n te


recombinar a n te rio re s re la ç õ e s n u m a n o v a fo rm a . Ig u a la n d o (1 0 .8 ) a (1 0 .1 6 ),
em termos de 0 , e ate n d e n d o a (1 0 .9 ) obtém -se:

£ B lts e n n 0 | n / i ( 0 ) + s e n 0 ] = / i ( 0 ) s e n 0 ( a ( 0 ) + 0 ( 0 ) ]
( 1 0 .1 9 )

Esta relação é p o r v e ze s d e s ig n a d a c o m o e q u a ç ã o d o m o n o p la n o [monoplane


equation], d esignação c a ric a ta , h o je e m d ia , mas com preensível atendendo a que,
à época e m que ( 1 0 .1 9 ) fo i e s ta b e le c id a , quase todos os aviões eram bi-planos.
Abordem os e n tã o as questões d e a n á lis e e de p rojecto de asas finitas.
N o p ro b le m a d ir e c to d e a n á lis e p re te n d e -s e , dada u m a de te rm in a d a asa,
calcular as suas c a ra c te rís tic a s a e ro d in â m ic a s , o que pode ser conseguido um a
vez conhecida a d e s c riç ã o d e r ( 0 ) na fo rm a ( 1 0 .8 ), isto é, um a vez calculados
os coeficientes Bn d a s é rie d c F o u rie r. S e optarm os p o r descrever r ( 0 ) com os
n prim eiros te rm o s d a s é rie , u m a v e z c o n h e c id a s a g e o m e tria d a asa —
s, c (0 ) e a ( 0 ) — e as c a ra c te rís tic a s a e ro d in â m ic a s dos p e rfis — a 20( 0 ) e
0 (0 ) — d e te r m in a ç ã o d o s n c o e fic ie n te s Bn tra d u z -s e , p o r ( 1 0 .1 9 ), na
resolução de u m s is te m a d e n equações lin e a re s a n incógnitas.
Para m a io r p re c is ã o , in te re s s a q u e as estações 0 ou z e m que vam os
satisfazer a ig u a ld a d e ( 1 0 .1 9 ) e s te ja m m a is concentradas nas regiões onde a taxa
de variação de F c o m z s e ja m a is a c e n tu a d a , o que ocorre p ró x im o dos bordos
marginais. A té c n ic a u s u a lm e n te a d o p ta d a consiste e m d iv id ir o arco 0 = 7T/2
em n partes ig u a is , s a tis fa z e n d o ( 1 0 .1 9 ) nos pontos 0 = kit/2n, o que, dada a
relação coseno ( 1 0 .7 .a ) , a u to m a tic a m e n te p ro d u z pontos m ais apertados e m z
na região dos b o rd o s m a rg in a is e m a is espaçados na reg ião central, onde é lenta
a variação de F c o m z. E m 0 = 0 , ( 1 0 .1 9 ) red u z-s e à solução triv ia l 0 = 0 .
Para d is trib u iç õ e s s im é tric a s d e c irc u la ç ã o , consideração de apenas os 3 ou 4
primeiros term os d e ( 10 . 8 ) p ro d u z j á ra z o á v e l precisão na determ inação de CL
e de CD..
N o p r o b le m a in v e r s o r e q u e re -s e p r o je c ta r u m a asa c a p a z d e e x ib ir
características a e ro d in â m ic a s p r é -fix a d a s , fo rm u la d a s em term os da p re te n d id a
distribuição d e c ir c u la ç ã o . R e s o lu ç ã o d o p ro b le m a c o m e ç a assim p o r se
exprim ir F ( 0 ) n a fo r m a ( 1 0 .8 ) , o q u e re q u e r d e te rm in a ç ão dos coeficientes Bn
da série de F o u r ie r s in to n iz a n d o a d is trib u iç ã o im p o s ta de F ( 0 ) com senos de
vária ordem :

( 10.20 )
574 CAP.10 ASAS FINITAS

e em seguida jogar com as distribuições de (á {9) — praticamente c($)


a ( $ ) e de P(9) de modo a satisfazer (10.19) nos n pontos de colocai
neste processo de escolha que se revela 'a mão' do projectista.

10 3 Método da malha de vórtices


. .

A teoria da linha sustentadora acabada de apresentar é, como salientámos,


aplicação restrita a asas de relativamente grande alongamento, sem diedro e st
flecha. Uma extensão imediata, concebida para cálculo numérico e aplicável
asas de forma arbitrária e a sistemas de múltiplas superfícies sustentadora,
consiste em discretizar a superfície de curvatura ou da corda dos perfis da as;
em painéis trapezoidais e instalar, a 1/4 da corda de cada painel, o filamento
ligado de um vórtice em ferradura, como indicado na Fig. 10.16.

Fig. 10.16 Modelação de uma asa com vórtices em ferradura


e localização dos pontos de controlo.

As velocidades induzidas pelos diversos filamentos de vórtice são calculadas


por Biot-Savart e a intensidade dos vórtices em ferradura é determinada de
modo a garantir satisfação das condições fronteiras em pontos de controlo dos
diversos painéis [12, 87]. Duas questões é preciso resolver previamenfe à
aplicação deste método da malha de vórtices [Vortex Lattice Method VLMJ;
escolha da configuração dos vórtices arrastados e da localização dos pontos de
controlo. Apreciemos cada uma destas questões.
Suponhamos o caso de um perfil a um certo ângulo de ataque, por
simplicidade discretizado em 3 painéis segundo a corda, como representado na
Fig. 10.17;

F ig. 10.17 Possíveis configurações dos vórtices arrastados.


SEC. 10.3. MÉTODO DA MALHA DE VÓRTICES 575

A. Dado que a linha de corrente divisória posterior abandona o bordo de fuga


com continuidade tangencial e tende depois a orientar-se segundo a
direcção do escoamento a infinito, a modelação mais correcta dos filamentos
arrastados, se por simplicidade supostos apenas sub-divididos em dois troços
rectilíneos, consistiria em encaminhá-los segundo a placa até 'um pouco'
depois do bordo de fuga e então alinhá-los com sendo a forma física da
esteira desconhecida a priori, seria sempre arbitrária a localização mais
conveniente do ponto de partição dos dois troços, a qual, além do mais,
variaria de ângulo de ataque para ângulo de ataque, o que tornaria o método
pesado e de precisão duvidosa.
B. Mais simples e sistemático seria colocar os segmentos rectilíneos semi-
infinitos a sair do bordo de fuga.
C. Outra possibilidade consistiria em admitir filamentos únicos de vórtices
arrastados, em vez de fraccionados em dois troços, abandonando a asa logo
nos extremos dos filamentos ligados.
D. O último caso ilustrado é o de filamentos únicos prolongando-se para
infinito segundo a direcção da corda.
É óbvio que, das quatro possíveis configurações assinaladas, a mais próxima
da realidade é a da hipótese A. E também óbvio que é computacionalmente
mais pesado, para construção das matrizes dos coeficientes de influência,
determinar as velocidades induzidas nos pontos de controlo considerando dois
troços de cada filamento arrastado do que apenas um troço semi-infinito. As
três primeiras configurações serão mais adequadas à descrição do campo a
alguma distância do corpo enquanto que para descrever ocorrências a nível do
próprio sistema sustentador, das configurações mono-filamento, a D será a mais
correcta.
Uma grande vantagem da configuração D, comparativamente a qualquer das
outras, é que, sendo a esteira rígida num referencial fixo ao corpo, a posição
relativa dos filamentos arrastados e dos pontos de controlo permanece
independente do ângulo de ataque, pelo que não é necessário calcular novas
matrizes dos coeficientes de influência cada vez que se altera a .
Dado que aplicação do método está restrita à gama das pequenas
incidências, qualquer das configurações ilustradas produz resultados dentro da
precisão exigível na determinação das características aerodinâmicas do próprio
corpo. As configurações simples correntemente utilizadas são a C e a D.
É um tanto arbitrária a escolha da localização dos*pontos de controlo mas,
usualmente, são tomados os pontos a meia envergadura e a 3/4 da corda de cada
painel, com base no argumento que passamos a apresentar.
Suponhamos a situação bi-dimensional estilizada de uma placa plana a um
ângulo de ataque a com o efeito sustentador simulado por um filamento de
vórtice a 1/4 c, como representado na Fig. 10.18, e procuremos o ponto sobre a
576 CAP. 10 ASAS FINITAS

placa onde a velocidade induzida pelo vórtice e a componente normal de £/ Se


cancelam exactamente, satisfazendo a condição fronteira de impermeabilidade
[12]. Num ponto sobre a placa à distância d do vórtice a condição fronteira
escreve-se:
- r
Uvon+í/„sena = 0 com v ™ = 2 j[j
de onde
u r
sm a = - ¥ m = — ----- .
U„ ln d V „
-r ____fL ,
sen a
4-— \
F ig. 10.18 Localização do ponto de controlo num painel plano bi-dimensional.

Atendendo a que em bi-dimensional é, para uma placa plana a incidência:


r = ^U„cCL com CL = 2 xsen a
obtemos para d, substituindo a anterior relação para sen a:
r
r= nU „c d = c/2
2ndU m
significando que o ponto sobre a placa onde a condição fronteira 6
automaticamente satisfeita se encontra a c/2 do vórtice localizado a c/4, i.e. a
3/4 c a contar do bordo de ataque.
Este resultado é conhecido por teorema dos três quartos da corda de
Pistolesi. Não é minimamente aplicável ao caso em apreço de painéis de
envergadura finita, mas esta (não) razão constitui a base para a escolha usual dos
pontos de controlo de cada painel a 3/4 da respectiva corda.
Até agora temos modelado a asa instalando um vórtice em ferradura em
cada painel, como ilustrado na Fig. 10.19 para o caso A de uma asa em flecha
discretizada em 3 painéis segundo a semi-envergadura e 1 painel segundo a
corda.
i

fl
Y•\ , • ,n• i
fí • ,#

Cl | Cl2 0) d4

A B

F ig. 10.19 Possíveis modelações de uma asa em flecha com vórtices em ferradura.
SEC. 10.3. MÉTODO DA MALHA OE VÓRTICES 577

Em situações com um plano de simetria central, de geometria simétrica e de


escoamento simétrico, uma organização alternativa dos vórtices em ferradura é a
representada em B [148]. A modelação B apresenta duas grandes vantagens
comparativamente à A:
- É menor o número de troços rectilíneos de vórtices cuja influência é preciso
contabilizar em todos os pontos de controlo, pelo que é menor o esforço de
cálculo. No caso ilustrado esse número reduziu-se de 18 para 12: uma
redução de 2/3; se a asa não fosse em flecha, caso em que os filamentos
ligados não seriam quebrados, essa redução seria de 18 para 9: para metade.
- É mais precisa. No caso B a intensidade de cada filamento arrastado, como o
filamento b, é calculada directamente; no caso A é obtida como a diferença
das intensidades de dois vórtices de circulação contrária (a, e a2): é sempre
pouco precisa a obtenção de um valor pequeno pela diferença entre dois
grandes. No plano central, a diferença das intensidades dos vórtices a3 e a4
deveria ser zero; na formulação B não é preciso calculá-la: é automática e
rigorosamente zero.
A modelação B tem porém a restrição de geometria e escoamento
simétricos.
Após decididas a discretização da superfície sustentadora, o tipo de
organização e a configuração dos vórtices em ferradura e a localização dos
pontos de controlo, procede-se, tal como no método dos painéis apresentado em
bi-dimensional na sub-Sec. 9.2.2., à construção da matriz dos coeficientes de
influência: componentes normais aos painéis das velocidades induzidas em cada
ponto de controlo por cada vórtice em ferradura de intensidade unitária T - 1 .
Para tal será preciso determinar separadamente as contribuições, para o vector
velocidade induzida, de cada um dos filamentos rectilíneos de cada vórtice em
ferradura, o que é feito com recurso à eq. (3.7) da lei de Biot-Savart.
Uma considerável economia de cálculo é conseguida neste processo tirando
partido de eventuais simetrias [87]. Suponhamos que, na situação simétrica
representada na Fig. 10.20, nos encontramos na fase de calcular a velocidade
induzida no ponto de controlo i pelos segmentos de vórtices em ferradura
associados aos painéis simétricos j e - j (chamemos-lhe).

10.20 Influência de vórtices em ferradura simétricos em pontos de controlo simétricos.


578 CAP. 10 ASAS FINITAS

Ora, dada a simetria central direito / esquerdo, a velocidade induzida em i


pelo painel simétrico - j será igual à velocidade induzida no ponto de controlo
imagem - / pelo próprio painel y, o que permite, no mesmo termo, englobar os
dois efeitos e reduzir o número de incógnitas a metade, calculando apenas as
intensidades dos vórtices numa semi-envergadura. Como grande parte do
esforço de cálculo é devotado à condensação da matriz para resolução do
sistema de equações, o qual varia com « 3, utilização desta técnica de reflexão
permite reduzir o tempo de computação de quase 8 vezes ( 23). Se a asa estivesse
a operar em efeito solo, simulado pelo método das imagens, a redução seria de
quase 43= 64 vezes.
Construindo o segundo membro com as componentes normais a cada painel
da velocidade do escoamento de aproximação, é resolvido o sistema de
equações lineares para determinação da intensidade de cada vórtice em
ferradura requerida para satisfação da condição fronteira de impermeabilidade.
Determinadas as intensidades dos diferentes vórtices em ferradura, a força
normal a cada painel pode ser aproximadamente calculada, com base no
teorema de Kutta-Joukowski, por
ANi =-pUtnr iAzi
onde ÁZj é a envergadura do painel. Dependendo da orientação do painel, essa
força normal eventualmente identificar-se-á com a sua contribuição para a
sustentação da asa. Referiu-se ainda que essa força normal podia ser calculada
"aproximadamente" pela relação acima: aproximada e não exactamente porque,
num sistema sustentador não plano, a distribuição espacial de vorticidade pode
induzir uma contribuição não nula para a velocidade segundo pelo que,
correctamente, na relação supra devia ser considerada essa velocidade resultante
e não apenas — desenvolveremos este aspecto na sub-Sec. 10.5.2.
Dada a gama de pequenos ângulos considerada, a contribuição de cada
painel para a resistência induzida pode ser expressa, conjugando (10.6) e (10.4),
por
A D ^ -^ -A N : ;
' u„ "
é de notar que, dado que o efeito sustentador é modelado por filamentos de
vórtices ligados localizados a l/4c de cada painel, é nestes pontos que a
velocidade descendente v(- deverá ser calculada, e não nos pontos de controlo a
3/4 c.
Semelhantemente se calculariam as contribuições para momento em torno
de qualquer ponto.
Na Sec. E.6 é apresentado um código simples de cálculo do escoamento
simétrico em torno de asas finitas pelo método VLM, aplicável a asas planas
com flecha e com torção constituídas por um único elemento trapezoidal. A asa
SEC. 10.4, MÉTODO DOS PAINÉISTRI-DIMENSIONAL 579

é discretizada em diversos painéis segundo a envergadura e apenas num painel


segundo a corda. Estão incluídas iodas as estratégias anteriormente mencionadas
para economia de tempo de cálculo. Dois comentários se impõem:
- Por qualquer razão não identificada» melhor precisão é conseguida neste
processo numérico discretizando a asa em painéis de largura constante
segundo a envergadura do que adoptando a distribuição coseno advogada
na sub-Sec. 10.2.7.» pelo que é o primeiro o tipo de discretizaçao
implementado.
- Sacrificando precisão em prol de rapidez, determinação do campo de
velocidades descendentes necessário ao cálculo da resistência induzida é
feita não no campo próximo, calculando a velocidade descendente a nível
dos filamentos de vórtices ligados, mas em termos do campo afastado a
infinito a jusante ]far field|, onde a velocidade induzida é dupla da registada
no campo próximo — vidé Sec. 3.4. e Fig. 3.7. Trabalha-se no denominado
plano de Trefftz, plano normal a C/„ e à esteira, onde as características do
escoamento se tornaram independentes da coordenada longitudinal,
redundando numa situação bi-dimensional em y,z. Ilustra-se na Fig. 10.21
[164] a configuração das linhas de corrente no plano de Trefftz; a
descontinuidade tangencial verificada na forma das linhas de corrente ao
atravessar o segmento correspondente à folha de vórtices arrastados resulta
da inversão de sentido da componente transversal da velocidade induzida:
para a asa direita, + 7/2 acima da folha e -y /2 abaixo da folha.

F ig . 1 0 .2 1 Configuração das Unhas de corrente no plano de Trefftz.

10.4. Método dos painéis tri-dimensional


Aplicação do método dos painéis tri-dimensional segue a mesma
formulação que a apresentada em bi-dimensional na sub-Sec. 9.2.2: i) a relação
base continua a ser a equação integral de Fredholm de 2a espécie (9.26), ii) as
superfícies do corpo e da esteira são discretizadas em painéis (planos, na
formulação mais simples), iii) sobre os quais são distribuídas folhas de
singularidades (de intensidade constante, na formulação mais simples), iv) as
matrizes dos coeficientes de influência são construídas para intensidades
unitárias das distribuições de singularidades, v) o sistema resultante de equações
lineares é resolvido, por métodos directos ou iterativos, para determinação das
580 CAP. 10 ASAS FINITAS

intensidades das singularidades necessárias para satisfação das condições


fronteiras em pontos de controlo dos diversos painéis, vi) a condição de Kutta é
implementada, e.g. sob a forma de iguais módulos da velocidade ou,
equivalentemente, de iguais pressões nos pontos de controlo dos painéis que
delimitam o bordo de fuga de componentes sustentadoras, vii) após o que fica
completamente determinado o campo do escoamento. São então possíveis
sucessivas iterações quer potenciais, para ajuste da forma da esteira, quer
viscosas / invíscídas.
É delicada a decomposição de um corpo tri-dimensional em diversos
componentes e a discretização de cada um deles em painéis, cujos vértices
devem ser fornecidos de forma ordenada de modo a possibilitarem a construção
lógica de uma matriz de conectividades « x 4 em que cada linha é composta
pelo número de ordem e pelas coordenadas do respectivo ponto fronteira num
referencial geral. Esta etapa puramente geométrica do processo é de tal modo
pesada e crítica que justifica o recurso a uma potente interface CAD permitindo
a visualização tri-dimensional do input para correcção de eventuais erros, antes
de se proceder a qualquer cálculo aerodinâmico. A título de exemplo ilustra-se
na Fig. 10.22 uma possível discretização da aeronave robotizada ARMOR XI.

Fig. 1 0 .2 2 Discretização de partida da aeronave ARMOR X7:


corpo, esteira e 'sopro' do hélice.

Optando-se, na formulação mais básica, por uma forma de quadriláteros


planos para os painéis, e dado que os 4 pontos fronteira definidos no input para
cada painel raramente residirão no mesmo plano, pergunta-se qual a localização
mais conveniente de cada painel de modo a minimizar fugas [leakage] entre
painéis adjacentes, como ilustrado na Fig. 10.23? A solução normalmente
adoptada é a de fazer deslizar o painel plano segundo a direcçao da normal n
definida na figura, de modo a minimizar o desvio dos 4 vértices do painel
relativamente aos pontos fronteira [69].
SEC. 10.4. MÉTODO DOS PAINÉIS TRI-DIMENSIONAL 581

h = vers ( d i x d 2 )

Fig. 10.23 Fugas na discretização de um corpo em painéis planos.


Uma vez discretizadas as geometrias do corpo e da esteira põe-se a questão
de calcular as velocidades induzidas em todos os pontos de controlo por
distribuições unitárias de singularidades em cada painel, o que é
computacionalmente pesado, envolvendo, no referencial do elemento indutor, o
cálculo de 8 funções ln e de 8 arctan para determinação das 3 componentes da
velocidade induzida. Pergunta-se: para pontos de controlo a 'grandes' distâncias
do painel indutor não será lícito, para economia de cálculo, aplicar o mesmo
tipo de argumentos e conclusões que, em bi-dimensional e através de (8.60),
conduziram ao teorema de Kutta-Joukowski, i.e. de que a 'grandes' distâncias do
painel a distribuição contínua de singularidades no painel primeiro se manifesta
como uma singularidade concentrada com uma intensidade igual à dessa folha
contínua? Investiguemos essa possibilidade com recurso à Fig. 10.24 em que se
assinala a influência, num ponto P(x,y,z), de um elemento de área d%xdr\ de
um painel indutor no qual estará distribuída uma folha de fontes de intensidade
unitária.
P < * .* * )

Fig. 1 0 .2 4 Painel quadrilátero no plano 77 •

O potencial de velocidades em P será, por (8.28):

Desenvolvendo a integranda 1jr em série de Taylor em torno da origem


obtém-se, a menos de termos de ordem r"4:

K -* 4 e
582 CAP. 10 ASAS FINITAS

do que resulta para d>, desprezando os te rm o s d e o rd e m s u p e rio r à 2a:

® = - ~ { loow - { lMwi + lc,>w?) + j { l20wa + 2 ,n w,y + l<n )]


onde:

Ç"t)"dA< w = ]/r „ e, e .g ., w, =(dw/dx\o, etc.

A preciem os o sig n ific a d o de c ada u m dos te rm o s deste desenvolvim ento:


- o p rim e iro term o Iw é s im p le s m en te a á re a d o p a in e l, q u e d á origem a um
efeito tip o fo n te pontual de in te n s id a d e A » c e n tra d a n a o rig e m ;
- / 10 e 701 são os p rim e iro s m o m e n to s e o re s p e c tiv o te rm o representa efeitos
tip o d ip o lo — eq. ( 8 .3 0 ) — c o m e ix o s a lin h a d o s s e g u n d o ÕE, e Õt],
res p e c tiv a m e n te ; o e fe ito a n u la -s e se se e s c o lh e r c o m o o rig e m local o
centróide do p a in e l, razão p o rq u e é usual fa z ê -lo ;
- / 20, / „ e / 02 são m om entos e produto s d e in é rc ia e os re s p e c tiv o s termos são
tipo tetrapolo.
Pelas razões apresentadas o d e s e n v o lv im e n to s u p ra é d e s ig n a d o com o uma
expansão m u ltip o lo .
Os diversos m om ento s são apenas fu n ç ã o d a fo r m a d o p a in e l indutor,
independentem ente do p onto onde se p re te n d a c a lc u la r a v e lo c id a d e induzida,
pelo que podem ser determ inados lo g o que d e fin id a a d is c re tiz a ç ã o do corpo.
D e p o is de a lg u m a e x p e rim e n ta ç ã o n u m é r ic a é u s u a lm e n te adoptado o
seguinte c rité rio p a ra e c o n o m ia de te m p o d e C P U : se, c o m p a ra tiv a m e n te à
m aior diagonal d do painel in d u to r, a d is tâ n c ia r0 e n tre a o r ig e m do referencial
do elem ento indutor e o ponto in d u z id o P fo r ta l que:
- r0/ d < 2 , 5 , procede-se a integrações a n a lític a s e x a c ta s a o lo n g o d a superfície
do painel indutor;
- 2 ,5 < r0/d <6 , recorre-se à expansão m u ltip o lo a c im a ;
- r0/ d > 6 , sim ula-se o e fe ito d o p a in e l in d u to r c o m o d e v id o apenas a uma
fo n te pontual.
Ilu s tra -s e na F ig . 10.25 [8 7 ] o gra u d e p re c is ã o c o n s e g u id o n a determinação
d a v e lo c id a d e in d u z id a n u m p o n to c o rre n te a u m a c o ta r a c im a d e u m painel
q u a d ra n g u la r de fontes de la d o a c o n ta b iliz a n d o o e fe ito d esse p a in e l tanto
e x a c ta m e n te co m o através de u m a fo n te p o n tu a l.
A lte r n a tiv a m e n te , o c á lc u lo das v e lo c id a d e s in d u z id a s nos pontos de
c o n tr o lo p o r d is trib u iç õ e s u n itá ria s d e s in g u la r id a d e s p o d e r ia ser feito
n u m e r ic a m e n te u tiliz a n d o e le m e n to s is o p a r a m é tric o s [ 4 9 ] , o q u e tem a
v a n ta g e m d e ser m a is preciso e e c o n ó m ic o ; os p a in é is q u a d rilá te ro s não têm de
s e r p la n o s , deste m o d o e lim in a n d o -s e o p ro b le m a das fu g a s , e n ã o é necessário
SEC. 10.4 MÉTODO DOS PAINÉIS TRI-DIMENS10NAL 583

a) Posição relativa do ponto induzido b) Velocidade induzida


Fig. 1 0.2 5 Influência de um painel quadrangular de fontes.

calcular as velocidades induzidas no referencial do elemento indutor, o que


permite poupar esforço de cálculo em transformações de coordenadas.
Para simular o efeito sustentador são utilizadas folhas de dipolos distribuídas
segundo faixas paralelas ao plano de simetria da asa. Se for p = const. segundo
a direcção da envergadura de cada faixa, i.e. se fi variar em patamar de faixa
para faixa, o efeito resultante será equivalente ao de uma libertação de vórtices
longitudinais discretos na transição de uma faixa para a faixa vizinha; se a
variação de p segundo a envergadura for linear em cada faixa, a folha
equivalente de vórtices arrastados será contínua mas de intensidade
discretamente variável.
Construída a matriz dos coeficientes de influência, em bi-dimensional o
sistema de equações lineares era resolvido em simultâneo para três segundos
membros diferentes; a = 0°, a = 90° e escoamento circulatório puro. Em tri­
dimensional é resolvido para a = 0o e /3 = 0°, a = 90° e /3=0°, oí = 0° e
/3 = 90°, onde /3 6 o ângulo de derrapagem [sideslip], e tantos escoamentos
circulatórios puros quanto o número de faixas sustentadoras.
Em bi-dimensional a condição de Kutta foi implementada requerendo
igualdade do módulo das velocidades (tangenciais: só uma componente) nos
pontos de controlo dos dois painéis que delimitam o bordo de fuga. Dado que
em tri-dimensional a velocidade tangencial tem uma componente segundo a
corda e outra segundo a envergadura, implementação da condição de Kutta sob
a forma de iguais módulos da velocidade, ou de iguais pressões, requer solução
de uma equação quadrática por um método iterativo.
Determinado um primeiro campo de escoamento potencial para uma forma
pré-fixada da esteira, essa forma pode, em sucessivas iterações, ser ajustada em
função do campo de velocidades induzidas de modo a conduzir a um
anulamento do diferencial de pressões normal, pois a esteira de vórtices
arrastados, sendo livre, não tem capacidade para suportar qualquer diferencial
de pressões. Tal relaxação de esteira [wake relaxatiori] conduzirá ao
característico enrolamento [wake roll up] assinalado na Fig. 10.26 para o
584 CAP 10 ASAS FINITAS

escoamento em («m o da aeronave ARMOR X7 obtido com o cód igo VSAERO


1172] com duas iterações de esteira (24).

Fig. 10.26 Aeronave ARMOR X7: distribuição de e configuração do escoamento


com duas iterações de esteira.

10.5. Diversos tipos de asas; características de perda


Prossegue este c a p ítu lo com a apreciação do c o m p o rta m e n to aerodinâm ico
de diversos tipos de asas, analisan do aspectos d e flu id o p o te n c ia l c o m base em
resultad os p ro d u zid o s p e lo c ó d ig o L in A ir d e m a lh a d e v ó rtic e s [9 4 ], que
p e rm ite c o n te m p la r c o n fig u ra ç õ e s de m ú ltip la s s u p e rfíc ie s sustentadoras, e
considerando, e m term os q u a lita tiv o s , o p re v is ív e l d e s e n v o lv im e n to de camadas
lim ite s e a e v o lu ç ã o d a p e rd a . Na s u b -S e c . 1 0 .5 .1 . são com paradas
características de d ife re n te s asas planas tra p e zo id a is e nas sub-S ecs. 10.5.2. a
1 0.5.4. são s u m a ria m e n te analisadas asas não p la n a s , e m fle c h a e e m delta; a
secção c o n c lu i c o m a lg u n s e x e m p lo s d e in te r fe r ê n c ia e n tr e elem entos
sustentadores — sub-S ec. 1 0 .5 .5 .

10.5.1. Asas trapezoidais


A p re c ie m o s o c o m p o r ta m e n to de asas t r a p e z o id a is a n a lis a n d o as
características de asas trap e zo id a is planas, sem to rç ã o , e c o m d ife re n te s relações
corda no bordo m a rg in a l / c o rd a na r a iz ; esta re la ç ã o A = chm/cr é designada
a fila m e n to [taper ratio]. E s ta a p reciação será fe ita re c o rre n d o aos resultados
reportados nas F ig s . 1 0 .2 7 .a ) e b ) d a e v o lu ç ã o , ao lo n g o d a env e rg a d u ra , dos
parâm etros L2U o u T «c CL e C Í2D para a asa e líp tic a d e re fe rê n c ia e para 3
asas trapezoidais características c o m a fila m e n to s 1 = 1 (a s a re c ta n g u la r), 1 = 0
(asa t r ia n g u la r ) e 1 = 0 ,5 ; e s te s p a r â m e tro s b i-d im e n s io n a is estão
convenientem ente n o rm a liza d o s pelos c o rresp o n d en tes p a râ m e tro s globais para
a asa fin ita Lm e CLm- O q u e n a re a lid a d e se fe z f o i , p a ra asas c o m o mesmo
rÁL V i WVfKVX TIPO!, IX AÍA', MS

alongamento M- 6 , a m e s m a s u p e rfíc ie a la r e s em p re d is c re tiz a d a t e m 2 0


elementos ig u u lm e m e espum ados s e g u n d o a e n v e rg a d u ra c u m e le m e n to se-
gundo a c o rd a , p e s q u is a i o v a lo r d o â n g u lo de a ta q u e a q u e p r o d u /.itie o
mesmo C , , = 1.
C om ecem os p o r c o n s id e r a r o c a s o d a asa re c ta n g u la r. C o m p a ra tiv a m c n te a
uma asa e líp tic a d e ig u a l á re a e ig u a l e n v e rg a d u ra p ro d u z in d o o m esm o C , é
de prever q u e as s e c ç õ e s ju n t o a o b o rd o m a r g in a l, a p res e n tan d o u m a m a io r
corda, p ro d u z a m u m a m a io r c o n tr ib u iç ã o p a ra a s u s te n ta ç ã o to ta l, p e lo q u e .
inversamente, as s ecçõ es in te r io re s d e v e rã o p r o d u z ir u m a m e n o r c o n trib u iç ã o . A
circulação d e v e rá a s s im v a r ia r m a is le n ta m e n te nas secções ce n ira is da asa e cair
a zero m a is a b r u p tu m e n t e nas r e g iõ e s e x te r io r e s , o q u e im p lic a q u e a
intensidade y - d í jilr d o s v ó r tic e s a rra s ta d o s seja m e n o r nas secções centrais e
mais elevada na v iz in h a n ç a d o s b o rd o s m a rg in a is do que no caso d a d is trib u iç ã o
elíptica de re fe rê n c ia . O s v ó r tic e s m a r g in a is e q u iv a le n te s , estando agora m ais
próximos d o s b o rd o s m a r g in a is que na s itu a ç ã o ó p tim a d e r e fe rê n c ia ,
produzirão, no p la n o c e n t r a l, u m a m e n o r v e lo c id a d e d e s c e n d e n te , a , será
menor (e m m ó d u lo ) c a cl m a io r , p e lo q u e CL será m a io r e , c o m a u m e n to de
ângulo de a ta q u e , a p e r d a se in ic ia r á n a r a iz p ro p a g a n d o -s e dep o is a toda a asa.
Em termos d e c o n tr o lo d e v o o tr a ta -s e d e u m a s itu a ç ã o m a is saudável do que a
descrita p ara a asa e líp t ic a , e m q u e to d a s as secções e n tra v a m e m p e rd a e m
simultâneo. E s ta n d o as s e c çõ es e x te rio r e s d a asa m a is carregadas do que no caso
elíptico de r e f e r ê n c ia , a d is tr ib u iç ã o d e c ir c u la ç ã o p o d e ser a p ro x im a d a d a
distribuição e líp tic a ó p t im a im p r im in d o à asa a lg u m a to rç ã o n e g a tiv a , o q u e a
toma a in d a m a is s e g u ra no c o n t r o lo p ó s p e r d a . E s ta s o lu ç ã o n ã o é a
normalm ente a d o p ta d a n a in d ú s tr ia a e ro n á u tic a , p o is separações m a s s iva s n a
região do e n c a s tra m e n to a s a / fu s e la g e m p o d e m v ir a 'm ascarar' o e s c o a m en to a
nível do e s ta b iliz a d o r e d e u m le m e d e d ire c ç ã o c e n tra l.

a) Evolução da sustentação ao longo b) Evolução do coeficiente de sustentação


da semi-envergadura
10.27 Características aerodinâmicas de asas trapezoidais com diferentes afilamentos.

É de n o ta r q u e s e n d o , n o b o r d o m a r g in a l, E 2D « c C L jd= 0 , o que, c o m c * 0 ,
0t>figa a C t2D= 0 , o e s c o a m e n to e m to m o d e asas c o m c bm^ 0 se o rg a n iz a
sempre de m o d o a in d u z ir , n o b o rd o m a r g in a l, u m a i = ~ ( a + / 3 ) .
586 CAP. 10 ASAS FINITAS

No extremo oposto de uma asa triangular, as secções extremas estarão


menos carregadas e as centrais mais carregadas que no caso elíptico, os vórtices
marginais equivalentes estarão mais próximos do plano de simetria, aí induzindo
uma maior velocidade descendente, a-, será mais negativo, a çf menor e CL2D
menor, pelo que a perda se iniciará na região dos bordos marginais.
Aproximação da distribuição elíptica óptima de T deverá assim ser possível
conseguir com uma asa trapezoidal de conveniente afilamento; ilustra-se o caso
A = 0,5, que sugere ou um afilamento um pouco menor (A = 0,4?) ou a
introdução de uma ligeira torção negativa. No caso A =0,5 verifica-se ser Cl!D
máximo na região central da meia envergadura, aí se devendo iniciar a perda.
Para cada um dos casos ilustrados, os valores dos ângulos de ataque
geométricos requeridos para se obter Q =1 foram de a = 13,4° para a asa
trapezoidal A = 0,5, a = 13,8° para a asa rectangular e a = 14,3° para a asa
triangular, o que dá bem noção da eficiência relativa das três asas; para a asa
elíptica, a relação (10.18) com a2D= 2n fornece a »12,2°,
A asa rectangular sem torção apresenta-se assim como uma séria candidata
em situações em que as máximas eficiências aerodinâmica e estrutural não
constituam o objectivo último de projecto: eficiência muito apreciável, simples e
barata de construir — longarina principal rectilínea, Iongarinas de bordo de
ataque e de bordo de fuga rectilíneas, perfis todos iguais, montados ao mesmo
ângulo, o que simplifica o estaleiro — e salutar comportamento em perda.
Do anteriormente exposto se conclui que o projectista dispõe de graus de
liberdade suficientes para satisfazer não só os requisitos aerodinâmicos como
ainda para contemplar, e.g., aspectos de segurança de operação e de economia
de construção.
Um diferente tipo de requisito se apresenta no caso de hélices propulsores
marítimos: evitar cavitação — a menos, obviamente, que se trate de perfis super-
cavitantes. A zona crítica é a dos bordos marginais dadas as elevadas velocidades
locais, soma vectorial da velocidade do escoamento de aproximação e da
velocidade tangencial: para que pmin se não torne inferior à tensão de vapor
haverá que limitar o nível de Cp e, por conseguinte, o valor de Q , o que
requer um aumento de corda para garantir a pretendida distribuição de carga;
claro que este aumento de corda acarreta um aumento do binário resistente por
aumento da resistência de forma, mas... É esta a razão da grande diferença de
configuração entre hélices usados em ar e em água.

10.5.2. Asasnãoplanas; diedroewinglets


Maiores eficiências aerodinâmicas — entendidas no sentido do factor de
eficiência de Oswald, eq. (lO.ll.b) — do que os 100% relativos à asa de
distribuição elíptica podem ser conseguidas com sistemas sustentadores não-
N
SEC, 10,5. DIVERSOS TIPOS DE ASAS 587

planos [34]. Investiguemos o porquê deste resultado, analisando o sistema


sustentador representado na Fig. 10.28.
0 elemento 5s de filamento ligado de imensidade T, organizado em torno
do ponto P da linha sustentadora não-plana, induz no ponto Q, à distância r,
uma componente de velocidade 5u segundo Õx, do que resulta a velocidade do
escoamento de aproximação ser localmente incrementada, pelo que aumenta a
sustentação local de uma quantidade 8 L X«2£/„5« (*) que poderemos designar
desustentação induzida .

F ig. 1 0 .2 8 Velocidades induzidas num sistema sustentador não-plano.

0 filamento de vórtice arrastado de intensidade 8y, emanando do mesmo


ponto P, por sua vez induz em Q uma velocidade Sq no plano y,z, de que só a
componente normal ao filamento ligado Ôqtf é efectiva na produção de
resistência induzida. De acordo com um 2o teorema de Munk, que não
deduziremos, a resistência induzida é minimizada para distribuições de
circulação ao longo do arco de filamento ligado que produzam uma velocidade
induzida efectiva proporcional ao coseno do ângulo r de inclinação local do
filamento, i.e. Ô q ef ^ c o st; o resultado (10.14) para a distribuição elíptica em
asas planas constitui assim um caso particular deste teorema mais geral:
r=0-const. => v = const.
Espraiando vorticidade arrastada ao longo de uma maior região do espaço e
simultaneamente fazendo com que apenas uma componente do vector
velocidade induzida contribua para — ambos os efeitos contemplados no
termo de produto externo 81 x t figurando na lei de Biot-Savart (3.6) — a
resistência induzida do sistema sustentador não-plano resulta inferior à
resistência induzida do sistema plano óptimo equivalente; a título de exemplo»
para uma asa em forma de semi-círculo é e = 150%.
É de notar que embora a asa representada na Fig. 10.28, com a concavidade
voltada para cima, e a mesma asa mas com a concavidade voltada para baixo,
produzam o mesmo Dx, os correspondentes Lt's são de sentido contrário, peio
que a orientação apresentada é mais favorável, ou mais eficiente em termos de

(*) St+ÔLj ~ ( / / . +6u)2= U * +2Ubb$u+(Su)2« U Í + 2 L /afS u para S u pequeno.


588 CAP. 10 ASAS FINITAS

Sendo uma asa curva difícil e cara de construir, esta forma é na prática
aproximada por troços rectilíneos, com o representado na Fig. 10.29.

- ^ 0 - ^
a) Diedro único b) Diedro só na região dos c) Wínglets
bordos marginais
Fig. 10.29 Aproximação de uma asu curva por troços rectilíneos.

O ângulo r assinalado em a ) é o â n g u lo de d ie d r o d e fin id o na introdução


da Sec. 10.2.; a fo rm a b) pode rev e la r-s e m a is in te re ss a n te d o q u e a a), pois a
força norm al ao plano da asa na reg ião c e n tra l, de m a io r v a lo r, actua no sentido
da sustentação re q u e rid a p a ra e q u ilib r a r o p e s o d a a e ro n a v e , não vindo
p o n d erad a p o r u m fa c to r c o s T c l ; os s e g m e n to s q u a s e v e rtic a is de asa,
representados em c ), são d e n o m in a d o s " w in g le ts " — e v ita -s e um a tradução
forçada para português: não c o n trib u e m p a ra a su s te n ta ç ã o do con ju n to apenas
d im in u in d o a re s is tê n c ia in d u z id a . E la b o re m o s u m p o u c o s obre os efeitos
diedro e de w inglets.
O d ie d r o não é p rim a ria m e n te u tiliz a d o p a r a a u m e n ta r a eficiência
a erod inâm ica da asa — v alo res m á x im o s d e r u tiliz a d o s são d a ordem dos
4 - 5 ° — m as sim p a ra lhe im p r im ir e s ta b ilid a d e e m r o la m e n to . Suponhamos
que, sob a acção de um a q u a lq u e r p e rtu rb a ç ã o , a asa fic o u c o m u m certo ângulo
de p rancham ento <p — in c lin a ç ã o la te ra l, e m re la ç ã o à h o r iz o n ta l — , como
indicado na F ig . 1 0 .30 .

Fig. 10.30 Asa em derrapagem.

S o b a a c ç ã o da c o m p o n e n te d e p e s o Wsenq> a a s a c o m e ç a rá a deslizar
la te ra lm e n te , ao q u e correspond e a in s ta la ç ã o , n u m r e fe r e n c ia l lig a d o à asa, de
u m a c o m p o n e n te d e v e n to la te ra l c o m o s e n tid o in d ic a d o . D ecom pondo
w„ s e g u n d o as d ire cç õ e s d a e n v e rg a d u ra 'e s tru tu ra l' e d a n o r m a l ao plano de
c a d a m e ia asa c o n c lu ím o s , c o m o ilu s tra d o , q u e d o la d o d a asa esquerda, que
'c a iu ', a c o m p o n e n te w „ s e n r p ro d u z u m a u m e n to d o â n g u lo de ataque
e fe c tiv o , d e o n d e u m a u m e n to de sustentação ALesq > 0 e , p a ra a asa direita, uma
d im in u iç ã o d e a tí e u m a d im in u iç ã o d e s u s te n ta ç ã o ALáir < 0 ; o m om ento de
SEC.106 DIVERSOS TIPOSDí ASAS 509

rolamento — segundo o e ix o lo n g itu d in a l — M R criado por este diferencial de


sustentação in d u z id o nas s e m i asas d ire ita e esquerda por acção do diedro actua
assim no sentido de fa z e r reg re s s a r a asa à posição original não perturbada de
voo horizontal: é u m a a c ç ã o c s ta b iliz a n tc .
Efeito d ie d ro p o d e ser in d u z id o n um sistem a sustentador por acção não de
um verdadeiro d ie d r o , n o s e n tid o g e o m é tric o do term o, mas por um a não
uniformidade do e s c o a m e n to de a p ro x im a ç ã o , resultante da influência de outros
componentes. E x e m p lo típ ic o é o d e u m a in te ra cç ã o asa / fuselagem ,
exemplificada na F ig . 1 0 .31 p a ra o caso de um a fuselagem tipo cilindro circular
suposta a operar e m flu id o p e r fe ito . O escoam en to lateral é verificado produzir,
no caso de um a v iã o a s a -a lta , u m m o m e n to eslab ibzante de rolamento, tal como
um verdadeiro e fe ito d ie d r o p o s itiv o , e, n u m avião asa-baixa, um momento
destabilizante. P o r esta r a z ã o , a v iõ e s a s a -a lta , sendo inerentemente estáveis em
rolamento d e v id o a o c a m p o d e in te ra c ç ã o asa / fuselagem , têm , em geral, asas
sem diedro, e, a v iõ e s a s a -b a ix a , asas c o m u m fo rte d iedro positivo para
compensar o m o m e n to d e s ta b iliz a n te o rig in a d o p e lo escoamento de interacção
asa-fuselagem.

m r <o

A/r > 0

Fig. 10.31 Efeito do escoamento de interacção asa / fuselagem


em aeronaves asa-alta e asa-baixa.

W in g le ts [7 4 ] — v e rd a d e ir o s c o m p o n e n te s sustentadores, produzindo um a
'sustentação' quase h o r iz o n ta l, e n ã o s im p le s placas term inais com o nos 'ailerons'
dos F ó rm u la 1 — a c tu a m a u m e n ta n d o a e fic iê n c ia aerod inâm ica da asa, a qual
passa a c o m p o rta r-s e c o m o u m a as a p la n a d e m a io r alo n g a m e n to 'e fe c tiv o '
tftcf = efàge0m com e> l. P e r m ite m r e d u z ir m o m e n to s fle c to r e s no
encastram ento as a / fu s e la g e m , c o m p a r a tiv a m e n te à solução de a um ento da
envergadura p a r a a m e s m a e f ic iê n c ia , in d u z e m u m e fe ito e s la b iliz a n te em
rolamento tip o d ie d ro , tê m u m c o m p o rta m e n to d e lic a d o e m derrapagem devido
a assimetrias c ria d a s p o r e v e n tu a is separações e co m p o rta m um a penalização em
termos de p e s o m a s , e m o p e ra ç ã o às c o n d iç õ e s de p ro je c to , p ro d u zem uma
pequena m as fa v o r á v e l c o n tr ib u iç ã o p a ra a fo rç a p ropulsora, com o ilustrado na
Fig. 10.32, e m q u e a c o m p o n e n te d e sustentação do w in g le t l w na direcção de
U„ prevalece s o b re a c o m p o n e n te d e Dw.
590 CAP. 10 ASAS FINITAS

F ig . 10.32 Forças actuantes num winglet.

Winglets justificam-se se houver limitações à envergadura geométrica da asa,


como no caso de aviões de passageiros em que o espaço disponível para
parqueamento entre mangas de embarque está à partida condicionado — vidé
Fig. 10.33 da asa de um Airbus A-340 —, ou se simultaneamente puderem ser
utilizados com outros fins, como, por exemplo, lemes de direcção nos bordos
marginais de asas em flecha, caso ilustrado na Fig. 1.28.b) e que voltaremos a
referir na próxima sub-secção.

F ig . 10 .3 3 Winglets num Airbus A-340.

Ilustra-se na Fig. 10.34 a distribuição óptima de circulação obtida com o


código MultOp [91, 92] — método da malha de vórtices com algoritmo de
optimização recorrendo a multiplicadores de Lagrange — para uma asa
rectangular de alongamento 6 sem e com winglets de altura h = \Q%s e para a
asa plana equivalente, as três produzindo um CL = 1 baseado na área em planta.

F ig . 1 0 .3 4 Distribuições óptimas de circulação para asas planas sem e com winglets.

A instalação destes winglets produz um aumento de eficiência de 16% em


relação à asa plana óptima de referência. Na próxima sub-secção será
SEC, 10.5. DIVERSOS TIPOS DE ASAS 591

comentado o p o rq u ê d o c o m p o rta m e n to a n ó m a lo d a evolução de r registado


na vizinhança im e d ia ta d a in te rs e c ç ã o asa p rin c ip a l / w in g le t.
Justifica-se r e f e r ir u m e fe ito la te ra l resultan te d a instalação de winglets em
asas com p e rfis la m in a re s a s s im é tric o s : aum entando o n ív e l dos CL's locais na
região dos bordos m a rg in a is c o m p a ra tiv a m e n te à solução sem winglets, em que
CL deveria c a ir a z e r o nos e x tre m o s d a e n v e rg a d u ra — vidé Fig. 10.34 — ,
conseguem-se c o lo c a r esses p e r fis a o p e ra r na gam a da bossa lam inar, deste
modo reduzindo a re s is tê n c ia d e p e r fil e a resistência total da asa.

10.5.3. Asasemflecha
São três as p rin c ip a is ra z õ e s p a ra im p r im ir fle c h a a um a asa:
- relegar p a ra m a io re s v e lo c id a d e s d e operação, ou, mais propriamente, para
números d e M a c h (s u b s ó n ic o s ) m a is e levado s, a ocorrência de indesejáveis
efeitos de c o m p re s s ib ilid a d e , ta l c o m o refe rim o s na Sec. 1.4;
- im p rim ir e s ta b ilid a d e lo n g itu d in a l (e m p ic a d a ) em aeronaves tipo asa
voadora e e s ta b ilid a d e d ir e c c io n a l (e m g u in a d a ) e em rolam ento em
qualquer tip o d e a e ro n a v e ;
- como p a lia tiv o , n u m a fa s e j á a v a n ç a d a d e m ais para reform ulação de um
novo p ro je c to , d e m o d o a g a ra n tir a necessária localização relativa do ponto
neutro e d o c e n tro d e g ra v id a d e d e u m a aeronave — que, na sub-Sec. 9.4.3.,
designámos p o r " m a rg e m e s tá tic a ".
A preciem os o p o rq u ê destes e fe ito s c o m relação à F ig. 10.35, em que estão
ilustrados os casos d e asas p la n a s c o m fle c h a po sitiva e negativa. Comecemos
por c o n s id e ra r a s itu a ç ã o s im é tr ic a d e e s co am en to de aproxim ação de
velocidade U„ a lin h a d o c o m o p la n o c e n tra l d e sim etria da asa. Para uma asa de
flecha A (p o s itiv a o u n e g a tiv a ), d e c o m p o n d o a velocidade do escoamento de
aproximação se g u n d o a n o r m a l à e n v e rg a d u ra estrutural U„cosA e segundo a
direcção dessa e n v e rg a d u ra sen A c o n c lu ím o s que, em bora a velocidade do
escoamento d e a p r o x im a ç ã o s e ja U„, os p e rfis da asa reagem com o se
estivessem a o p e ra r a u m a v e lo c id a d e m e n o r U„cosA <U„, em fluido perfeito a
com ponente s e g u n d o a e n v e rg a d u ra Ux sen A
e s tru tu ra l não p ro d u z iria
qualquer c o n trib u iç ã o p a r a fo rç a s n e m m o m e n to s. É esta a razão porque, com
uma asa e m fle c h a , se c o n s e g u e m re le g a r e fe ito s de com pressibilidade para
Mach's de o p e ra çã o m a is e le v a d o s ; o res u ltad o é o m esm o, seja a flecha positiva
ou negativa — c o s e n o é u m a fu n ç ã o p ar.
C o m p reen d e-se ta m b é m c o m o , c o m fle c h a , é possível im p rim ir estabilidade
longitudinal a u m a a e ro n a v e d o ta d a de p e rfis não auto-estáveis — vidé sub-Sec.
9.4.3. — a q u a l, s e m fle c h a , re q u e re ria o u u m e s ta b iliza d o r produzindo uma
sustentação (e m g e r a l) n e g a tiv a o u u m c a n a rd p ro d u zin d o um a sustentação
positiva: será s u fic ie n te o u im p r im ir to rç ã o n e g a tiv a a um a asa com flecha
592 CAP. 10 ASAS FINITAS

^dir ^•esq

Fig. 10.35 Componentes de velocidade e forças actuantes em asas


com flecha positiva e flecha negativa em derrapagem.

positiva* de modo a que as secções do bordo marginal, atrás do centro de


gravidade, estejam ou a produzir uma menor contribuição positiva ou mesmo
uma contribuição negativa para a sustentação total, ou, inversamente e com a
mesma finalidade, imprimir torção positiva a uma asa com flecha negativa.
Suponhamos, em seguida, que, sob a acção de uma qualquer perturbação* a
asa direita caiu, do que resultou a instalação de uma componente de velocidade
transversal w„ num referencial ligado ao sistema sustentador. Para uma asa com
flecha positiva, sendo a componente Uef de velocidade normal à envergadura
estrutural maior para a asa direita do que para a asa esquerda, será DA >Dtaqt
do que resulta um momento de guinada (em torno do eixo Oz) estabilizante
Mg <0, tendente a aproar a aeronave ao escoamento incidente resultante Um, e
também L$I >Lttq9 de onde um momento de rolamento semelhantemente
estabilizante MR > 0 tendente a fazer regressar a aeronave à posição de
equilíbrio. Inversamente, uma asa com flecha negativa será instável tanto em
guinada como em rolamento.
Compreende-se a razão porque aviões asa-alta com flecha positiva têm, em
geral, diedro negativo: os efeitos cumulativos de asa-alta e de flecha positiva
produzem uma acção de tal modo estabilizante em rolamento que se torna
necessário mitigá-la um pouco com diedro negativo.
Asas em flecha são porém, em termos de resposta a uma variação de ângulo
de ataque, menos efectivas do que asas sem flecha. Justifiquemo-lo com recurso
à construção puramente geométrica indicada na Fig. 10.36.
SEC. 10,5. DIVERSOS TIPOS DE ASAS 593

Fig. 10.36 Velocidade e corda efectivas em asas em flecha.

Para uma asa com flech a À operando a um ângulo de ataque a num


escoamento de aproxim ação de velocidade l/„ , cada perfil de corda efectiva
ca = c c o s A reag e co m o se em bi-dim ensional mas num escoamento de
velocidade UA -U^cosA e a um ângulo de ataque a A = asecA para a's
pequenos. Virá então para a sustentação:

LA = - jp ( [ /00co sA )2 5 a 2D( a s e c A )

de onde

2 P u ~*

Em resultado de um m enor dCL/ d a a perda ocorre a ângulos de ataque


mais elevados, como ilustrado na Fig. 10.37 (admitindo o mesmo C ^ ) .

Fig. 10.37 Efeito do ângulo de flecha na característica CL vs. a.

Este maior a ^ a pode-se tornar interessante em operação mesmo a baixas


velocidades, com o é o caso do leme de direcção de muitos aviões que assim se
mantém efectivo até grandes ângulos de derrapagem e permite, sem aumentar
desnecessariamente o com prim ento da fuselagem e o peso da estrutura,
aumentar o braço para m om ento de guinada — em muitos casos, porém, a
principal razão para im prim ir flecha num leme de direcção é apenas de natureza
estética!
Representam-se na Fig. 10.38 as evoluções de circulação, ou de
obtidas com o código LinAir para asas planas em flecha, de corda constante, nos
594 CAP.10 ASAS FINITAS

casos A ~ + 45° e A = -4 5 °, comparativamente à evolução elíptica de referência


e para um CL total unitário; CL = 1 foi atingido, para a asa rectangular referida
na sub-Sec. 10.5.1., a a = 13,8° enquanto que agora, para as asas em flecha e
devido ao menor dCL/doc, exigiu a = 17,6°.

Fig. 10.38 Distribuição de sustentação ao longo da envergadura para asas em flecha.

Constata-se que flecha positiva produz um maior carregamento das secções


extremas da asa e que, inversam ente, flecha negativa produz maior
carregamento na raiz. É fácil interpretar estes resultados; façamo-lo com
referência à Fig. 10.39 para o caso de uma asa com flecha positiva discretizada
em painéis nos quais foram instalados vórtices em ferradura.

Fig. 10.39 Malha de vórtices e pontos de controlo numa asa em flecha.

Os dois vórtices arrastados do painel da raiz induzem uma velocidade


ascendente no ponto de controlo Q do painel do bordo marginal, tal como o
fazem os filamentos arrastados do painel do bordo marginal no ponto de
controlo P do painel da raiz da asa. Simplesmente, em termos de ocorrências no
ponto de controlo Q, os vórtices arrastados do painel de P comportam-se como
filamentos de comprimento 'serni-infinito + r , enquanto que, em termos de P, os
filamentos arrastados do painel de Q se comportam com o de comprimento
' «m i-infinito-f; segue-se, por Biot-Savart, que a velocidade induzida
ascendente em Q será maior que a velocidade induzida em P por filamentos de
igual imensidade, pelo que K r)q > ( « t()p de onde (Ct )Q> (C t )p. ou L0 >L,
para c - const. como ilustrado na figura.
SEC. 10.5. DIVERSOS TIPOS DE ASAS 595

Por este mecanismo puramente invíscido é de prever que, numa situação de


fluido real, a perda de uma asa com flecha positiva se inicie, de forma nada
salutar, na região dos bordos marginais; inversamente, no caso de flecha
negativa, a perda dever-se-á pacificamente iniciar na região da raiz. Estes efeitos
invíscidos são agravados em fluido real, como referido na Sec. 7.2. com
referência à Fig. 7.5, pelo transporte de fluido de baixa quantidade de
movimento, no interior das camadas limites tri-dimensionais, em direcção a estas
regiões já de si críticas, efeito este documentado na Fig. 10.40 [1691.

Fig. 10.40 Linhas de corrente limites no extradorso de uma asa


com flecha positiva (semi-asa direita).

Segue-se que é particularmente melindroso o controlo pòs perda de asas


com flecha positiva. Tanto em asas com flecha positiva como negativa a perda
se inicia nas secções mais a jusante — secções dos bordos marginais, no caso de
flecha positiva, e secções da raiz, no caso de flecha negativa —, fazendo com
que diminua o momento de picada de origem aerodinâmica em relação ao
centro de gravidade da aeronave, necessário para equilibrar outros momentos:
em resultado de primeiras separações em regiões mais a jusante da asa não só
diminui a força L como o respectivo braço, pelo que o momento resultante
então instalado é de cabragem [pitch-up] conduzindo a um agravamento da
situação de perda. Porém, enquanto que no caso de flecha positiva a situação de
cabragem é crítica, por se ter perdido o controlo de ailerons, no caso de flecha
negativa a situação é relativamente pacífica.
Diversas soluções construtivas são adoptadas para minimizar os riscos de
prematura entrada em perda das regiões dos bordos marginais em asas com
flecha positiva; referem-se duas delas: cérceas (fences] e bordo de ataque em
dente de se rra [sa w -to o th ], esquematizados nas Figs. 10.41.a) e b),
respectivamente:
- cérceas constituem simples barreiras físicas impedindo a progressão, em
direcção aos bordos marginais, do fluido de pequena quantidade de
movimento das camadas limites tri-dimensionais;
596 CAP.10 ASAS FINITAS

a) Cérceas b) Bordo de ataque em dente de serra


Fig. 10*41 Soluções construtivas para atrasar a ocorrência da perda
nos bordos marginais de asas com flecha positiva.

- bordos de ataque em dente de serra não só prom ovem , p o r aumento da


corda local, uma diminuição do requerido para p ro d u zir a pretendida
distribuição de T — à semelhança do caso do hélice propulsor marítimo
referido na sub-secção anterior — com o geram um vórtice longitudinal
constituindo, à semelhança da cércea, com o que um a 'barreira fluida’
inibindo a progressão do escoamento de baixa qu an tidade de movimento
em direcção aos bordos m arginais e actuando ain d a p ara aumentar a
capacidade de mistura no interior da cam ada lim ite, todos estes efeitos
contribuindo no sentido de atrasar a ocorrência de separação.
Asas com flecha negativa, com um saudável com portam ento pós-perda, não
têm até agora sido popularizadas por duas ordens de razão que, entretanto,
perderam significado:
- serem inerentemente instáveis tanto em guinada com o em rolamento, o que
pode ser ultrapassado com um sistem a de au m en to de estab ilid ad e [Stcibility
Augmentation System SAS], com tempos de reacção m uito menores que os
de qualquer piloto humano;
- apresentarem uma característica ae ro e lá stic a — interacção aerodinâmica /
estruturas — de divergência em torção, fácil de interpretar com referência à
situação tipificada na Fig. 10.42, em que as 'asas’ de corda constante e flecha
tanto positiva como negativa são tomadas com o sim ples placas planas, para
as quais o centro de pressão está fixo a 1/4 da corda e o centro de corte se
encontra a 1/2c — centro de corte [shear center]: ponto relativamente ao
qual cargas aplicadas apenas produzem esforços de flexão, não de torção.
Conclui-se que, com flecha positiva, o momento torsor, e.g. na vizinhança
do encastramento no plano central, actua no sentido de dim inuir o ângulo
de ataque, enquanto que com flecha negativa actua no sentido de aumentar
o ângulo de ataque, pelo que aumenta a sustentação, aumentando a
sustentação aumenta o momento torsor, aum enta o ângulo de ataque,
aumenta a sustentação... Esta instabilidade aeroelástica exigiria uma
estrutura resistente metálica de peso incom portável; o problema só
recentemente pode ser ultrapassado com estruturas em materiais compósitos,
de comportamento direccional.
SEC. 10.5. DIVERSOS TIPOS DE ASAS 597

F ig. 1 0 .4 2 Geração de momentos torsores em asas em flecha.

A concluir alerta-se o leitor para deficiências inerentes à modelação muito


simplificada, tipo Tinha sustentadora', adoptada nos diversos casos ilustrados: asa
discretizada em faixas com apenas um painel segundo a corda. T al modelação,
simplificada dem ais, conduziu, n a p resente sub-secção de asas em flecha, às
'estranhas' evoluções de L 2D/ L 3D na região da raiz de asas com ângulos de
flecha não nulos e, na an terio r sub-secção, à (então chamada) "anómala"
evolução de T na região de intersecção asa / winglets. Ilustra-se na Fig. 10.43
[74], para o caso de um a asa com flecha positiva, o que (previsivelmente) deverá
constituir um a m odelação m ais ad eq u ad a do escoam ento nesta região de
intersecção de diferentes com ponentes de um m esm o elemento sustentador, com
filamentos de v ó rtic e s lig a d o s c u rv ilín e o s e com vó rtices arrastad o s
abandonando a asa antes de atingirem o plano central.

Fig. 1 0 .4 3 Possível configuração dos filam entos de vórtices ligados numa região
de intersecção de diferentes componentes sustentadores.

A grande d efic iên c ia d a m o d elação sim p lifica d a ad o p tad a resu lta das
velocidades induzidas, nestas regiões de intersecção, pelos elem entos de vórtices
ligados, os quais, no caso de u m a asa plana sem flecha, não produzem qualquer
contribuição. A m o d e la ç ã o é , n o e n ta n to , ad e q u a d a p a ra d escrev e r
comportamentos n a re g iã o ce n tral de cad a m eia asa ou para quantificar
parâmetros globais, não se lh e podendo ex ig ir que descreva, adequadamente,
todos os efeitos locais.
598 CAP. 10 ASAS FINITAS

10.5.4. Asas em delta

Configuração de asa estruturalmente mais interessante que a de uma asa com


grande flecha positiva é conseguida unindo os dois bordos marginais ao plano
central (à fuselagem, num caso de aplicação aeronáutica), o que dá origem à
chamada asa em delta [delta wing], assim designada por analogia de forma com
a da letra grega maitfscula A; em aplicações aeronáuticas esta forma tem ainda a
vantagem de aumentar o espaço interior da asa, necessário para a instalação de
depósitos de combustível, para recolher o trem de aterragem, etc.
O escoamento em torno de uma asa em delta, especialmente com bordos de
ataque angulosos, é substancialmente diferente do escoamento em tomo de uma
asa de grande alongamento com perfis subsónicos convencionais: como
ilustrado nas Figs. 10.44.a) [168] e 10.45 [77], as camadas limites no

a) Pequeno ingulo de ataque b) Ângulo de ataque elevado: colapso dos vórtices


Fig. 10.44 Vórtices de bordo de ataque numa asa em delta.

intradorso, progredindo em direcção aos bordos de ataque, separam-se e


recolam no extradorso dando origem a dois vórtices de geometria cónica. O
campo de baixas pressões associado a estes vórtices de bordo de ataque
[leading-edge vórtices] é o principal responsável pela geração de sustentação.

Fig. 10.45 Vórtices de bordo de ataque e distribuição de pressão


ao longo da envergadura de uma asa em delta.
SEC. 10.5. DIVERSOS TIPOS DE ASAS 599

0 carácter não lin ea r d este m ecan ism o de geração de sustentação bem se


reflecte na forma da curva CL vs. a , representada nas Figs. 10.46.a) [77] e b)
[12]; a gama linear é extrem am en te restrita, d C J d a é sempre muito menor que
para uma asa co n v en cio n a l e a perda é atingida só a ângulos de ataque muito
elevados, da ordem d o s 3 0 - 4 0 ° ; perda ocorre por c o la p s o destes vórtices de
bordo de ataque [vortex break-down], co m o ilustrado na Fig. 10.44.b) [168].

A = 0,83 1,61 238 3.16 3,97


* a O o <•
a) Característica CL vs. a de asas de grande b) Característica CL vs. a de asas em delta
e de pequeno alongamento de diferente alongamento
F ig . 1 0 .4 6 Característica C L vs. a de asas em delta.

Em aplicações aeronáuticas os reduzidos d C J d a e os muito elevados


podem levantar problem as de visibilidade nas fases de descolagem e de
aterragem, o que conduziu ao característico nariz de fuselagem rebatível no
transporte supersónico de passageiros Concorde, apresentado na Fig. 10.47.

Fig. 10.47 Aterragem do Concorde: nariz da fuselagem rebatido para visibilidade.

10.5.5. Interferência entre elem entos sustentadores

Sumarizemos os aspectos físicos mais significativos até agora considerados


neste capítulo de asas finitas, apresentando alguns exemplos de interferência
entre elementos sustentadores: os dois primeiros referem-se aos casos de asas na
presença de paredes planas, em que a interferência resulta do sistema imagem, o
terceiro respeita a um conjunto de aeronaves em voo de formação e o tíltimo à
600 CAP. 10 ASAS FINITAS

interferência entre diferentes elementos sustentadores de uma mesma aeronave,


o que nos vai permitir uma pequena incursão no domínio do projecto
conceptual de aeronaves.
Suponhamos o caso de uma asa geometricamente bi-dimensional, de
envergadura finita, ou encastrada numa única parede plana, simulando uma asa
de envergadura dupla, ou encastrada entre duas paredes paralelas, simulando
uma asa de envergadura infinita — estas situações já foram em parte discutidas
no fim das Sec. 7.5. e sub-Sec. 8.4.4. Referimos na alínea c) do ponto v) da Sec.
7.5. que, em fluido real, a circulação cai a zero na parede por acção da condição
de não-escorregamento pelo que. na vizinhança imediata da parede, deverão
emanar da asa, tal como numa situação de asa finita, filamentos arrastados com
uma intensidade resultante também igual a r c . A influência destes vórtices
arrastados no escoamento no plano central de medida é porém muito menor
que no caso de uma asa finita, pois o seu efeito é quase que cancelado pelo dos
vórtices imagem se a distância entre os dois vórtices for pequena comparada
com a dimensão transversal da secção de trabalho, o que efectivamente viabiliza
a simulação de uma situação quase bi-dimensional.
Quanto à influência da proximidade do solo no comportamento
aerodinâmico de um avião em voo rasante, caso do chamado efeito solo [ground
effec t]? Na sub-Sec. 8.4.4., aquando da consideração dos efeitos de
bloqueamento em ensaios em túnel aerodinâmico, referimos que, em bi-
dimensional, a proximidade de uma parede paralela à envergadura produzia um
acréscimo de sustentação. E em tri-dimensional, qual a influência dos vórtices
arrastados imagem? Com referência à Fig. 10.48 concluímos que os vórtices
arrastados do sistema imagem induzem, na asa objecto, uma velocidade com
componente ascendente que faz diminuir o efeito da velocidade descendente
auto-induzida, pelo que diminui | díj [ e, em resultado, aumenta a sustentação e
diminui a resistência induzida comparativamente ao caso de referência de
comportamento em meio infinito.

Quantificam-se, na tabela a seguir, resultados da simulação deste efeito solo


obtidos com o código LinAir para a asa rectangular considerada na sub-Sec.
10.5.2., ao ângulo de ataque a = 13,8o que, em meio infinito, produziu CL = 1, e
a diferentes alturas h/s da parede plana; todos os valores listados estão referidos
aos da asa rectangular em meio infinito.
SEC. 10.5. DIVERSOS TIPOS OE ASAS 601

h /s C i / C ‘ ,c< 4/Arf

5 1 .0 1 1 ,0 0 1,01

1 1 ,0 2 0 ,9 4 1 ,1 0

0 .5 1 ,0 5 0 ,8 5 1 ,2 7

0 ,2 1 ,1 4 0 ,7 4 1 ,7 5

Consideremos, como novo exem plo, o caso ilustrado na Fig. 10.49.a) da


interferência entre três asas sim ulando aviões em voo de formação. As três asas
são iguais à asa rectangular que tem vindo a ser utilizada como referência e
dispostas ao mesmo ângulo de ataque; o distanciamento lateral entre bordos
marginais é de uma corda e o distanciamento longitudinal de meia envergadura.

miinii nnm.mil
a) Organização espacial das três asas

b) Distribuição de sustentação ao longo da envergadura das três asas

F ig . 1 0 .4 9 Três asas em voo de formação.

Ilustram-se na F ig. 10.49.b) as distribuições de Ct2D ao longo da


envergadura para o leader e para os 'asas', normalizadas pelo valor CljD para a
asa isolada de referência, e tabelam -se os respectivos valores de Ct e de CDj,
também normalizados pelos correspondentes valores de referência.

C ° i / CDin=f

le a d er 1 ,0 5 0 ,9 2

'a s a s ' 1 ,0 8 0 ,8 4

Verifica-se da tabela de valores integrais que as três asas beneficiam da


interferência mútua, beneficiando os 'asas' mais do que o leader; a justificação é
a mesma que a apresentada na sub-Sec. 10.5.3. para a interferência entre painéis
mais avançados e m ais recuados de asas em flecha, dependendo da posição
602 CAP. 10 ASAS FINITAS

relativa dos 'pontos de controlo' e do ponto de início do filamento indutor semi-


infinito. É pelo facto de o leader ser o menos beneficiado por este efeito de
interferência — retira-se, da tabela acima, \ c LfC Lttf^ H c DjC DKlj= l,2 9 para os
'asas' e apenas 1,14 para o leader — que, num banao de aves em migração, o
leader é de tempos em tempos substituído. E notória a assimetria da distribuição
de CÍ2n para os 'asas', em que a região do bordo marginal mais próxima dos
vórtices arrastados do leader é a que mais beneficia do efeito da velocidade
induzida ascendente, assim provocando um momento de rolamento.
Analisemos por último a configuração apresentada na Fig. 10.50.a) de um
conjunto asa / canard; a asa é plana, com flecha positiva, torção negativa e
winglets — esta configuração constitui um dos exemplos fornecidos com o
programa LinAir. Representam-se na Fig. 10.50.b) as distribuições de CL ao
longo da envergadura das três superfícies sustentadoras para um ângulo de
ataque da configuração a = 10°.

Fig. 10.50 Configuração canard.

Para equilíbrio de momentos em torno do centro de gravidade da aeronave o


canard está a produzir uma sustentação positiva; o respectivo sistema de vórtices
arrastados induz, a nível da asa, uma velocidade descendente na região central e
uma velocidade ascendente na região exterior, do que resulta a distribuição
ilustrada de CLjd Concluímos assim que, em resultado da interferência entre os
diversos componentes sustentadores, mesmo jogando com as distribuições de
corda, de torção geométrica e de torção aerodinâmica, só a um ângulo de ataque
será possível garantir a distribuição óptima de circulação.
Uma configuração canard parece, à partida, mais favorável que uma
configuração convencional, pois, para equilíbrio de momentos, o canard produz
uma sustentação positiva enquanto que, numa configuração convencional, o
estabilizador produz (em geral) uma contribuição negativa para a sustentação
do conjunto, como já referido na sub-Sec. 9.4.3. Porém, o campo de
velocidades descendentes induzido pelo canard afecta negativamente o
comportamento da asa, o principal elemento sustentador.
SEC. 1 0 6 VOO PARA AUTONOMIA E PARA RAIO DE ACÇÀO 603

Por uma questão de segurança de operação o elemento sustentador frontal


de qualquer aeronave deve ser o primeiro a entrar em perda — o cartard antes
da asa ou, numa configuração convencional, a asa antes do estabilizador —, de
modo a garantir que o m om ento resultante seja de picada para que a aeronave,
por si, reduza o ângulo de ataque, recuperando da perda; por esta razão, não só
a superfície sustentadora anterior deve estar mais carregada como, lembrando a
influência do alongamento em dC L/ d a e no ângulo de perda — e.g. vidé eq.
(10.18) — deve ter maior alongam ento do que a superfície posterior; o canard
mais carregado e de maior alongam ento que a asa, a asa de maior alongamento
que um estabilizador.
0 facto de, numa configuração canard, o ponto neutro do conjunto estar
mais avançado, relativam ente à asa, que numa configuração convencional —
vidésub-Sec. 9.4.3. — , faz com que, para uma dada margem estática, o centro
de gravidade esteja também m ais avançado, pelo que diminui o braço do canard
comparativamente ao de um estabilizador. Assim, para equilibrar o acréscimo de
momento de picada induzido por um a deflexão de flaps, terá o canard de
produzir uma ainda m aior sustentação, o que obriga a que seja dotado de perfis
altamente sustentadores e tam bém de flaps, podendo inclusivamente requerer-se
a instalação de geradores de vórtices para atrasar separações, como no caso do
canard do Starship 2000A ilustrad o na Fig. 1.44.b); a solução revela-se, no
entanto, incapaz de garantir equilibragem no caso de se pretender utilizar um
sofisticado sistema de flaps na asa, o que, para voo lento, obriga a um aumento
da área alar e do peso da asa com parativam ente a um a configuração
convencional.
Na configuração ex em p lificad a ju stifica-se plenam ente a instalação de
winglets, pois estando localizados nos bordos marginais da asa em flecha, numa
posição bem recuada relativ am en te ao centro de gravidade, para além de
aumentarem a eficiência da asa podem tam bém ser usados como lem es de
direcção, como o são no caso do Starship 2000A da Fig. 1.28.b).
Asas em flecha não são porém adequadas à instalação de perfis laminares,
pois o escoamento transversal ao longo do bordo de ataque gera novas fontes de
perturbação capazes de prom over um a transição prematura; a fim de evitar esta
contaminação há necessidade de m anter o ângulo de flecha do bordo de ataque
tipicamente abaixo dos 15°.

10,6. Voo para autonomia e para raio de acção;


resposta a rajadas
Façamos por últim o a ponte entre os resultados aerodinâmicos globais até
agora obtidos e o desem penho em voo de cruzeiro de aeronaves dotadas de
diferentes tipos de sistem as propulsores: de motores alternativos e hélices, cujas
604 CAP. 10 ASAS FINITAS

características são expressas em unidades de potência, e de turbo-reactores, cujas


características são expressas em termos de força propulsora [58, 122], As
relações que obteremos para autonomia e para raio de acção são conhecidas
como equações de Breguet-Léduc ou simplesmente equações de Breguet.
Terminaremos com um breve comentário sobre a resposta de aeronaves a
rajadas.
Suponhamos condições de voo horizontal estabilizado, para o qual as
relações de equilíbrio de forças são expressas por (1.1), e comecemos por
considerar o caso de uma aeronave dotada de motores alternativos e hélices.
Sendo a diminuição do peso da aeronave durante o tempo de voo devido
apenas ao consumo de combustível para propulsão — não se considera, e.g.
extracção de potência para accionar um gerador eléctrico — , podemos escrever
dW
— = -cP (10.22.a)
dt
onde c é o consumo específico de combustível [specific fuel consumption sfc]
com dimensões de peso de combustível / unid. potência / unid. tempo [c] = L~'
— um valor típico de c para motores de pequena potência utilizados em aviões
ligeiros é da ordem dos 0,25 kgf .CV_1.h_l — e a potência P fornecida pelo
motor é:
P = DU!t),
onde r\ é o rendimento do hélice.
Obtém-se assim
dW c
— = — DU, (10.22.b)
dt T]
de onde

* bJL L ^ (A U 2L L ^ .
c DU liv j cU C D W
Admitindo tj, c = const., se o voo for efectuado a velocidade U = const. e a
ângulo de ataque constante, pelo que CLjC D = const., integração da relação
supra entre os pesos inicial W' e final W, fornece directamente para autonomia
E:
rwt J
= dt= l i £ k (1 0 .2 3 .a)
Jw, cU C n
ou atendendo à relação de equilíbrio de forças segundo a vertical

W = L=^-pU2SCL de onde U=
p sc~L :
SEC. 10.6. VOO PARA AUTONOMIA E PARA RAIO DE ACÇÃO 605

p rw
ln (10,23.b)
w /s Wt
Sendo CL(a ) = const., para que a velocidade V se mantenha constante
deverá continuamente aumentar a altitude a que o voo é efectuado, de modo a
que a diminuição de W seja compensada pela diminuição de p (*); o factor
W/p=const. figurando em (10.23.b) pode ser assim tomado tanto como
{Wlp). como (W /p)f .
Se, alternativamente, o voo for efectuado a altitude constante, em vez de a
velocidade constante, então p = const. e a velocidade U deverá continuamente
diminuir para compensar a diminuição de W. A relação a integrar escreve-se
agora

1 f p s C 3L12
í 2 CD W
obtendo-se

~ ~ r c f (10.24)
c w f / s CD

onde o peso final (sem combustível) foi tomado como referência para explicitar
acarga alar [wing loading] WjS.
De (10.23.b) e de (10.24) se conclui que para maximizar autonomia é
requerido
- prestar especial atenção às características propulsoras: E ^ i], c“'
- efectuar o voo a baixa altitude; E p 1/2
- que o aparelho tenha uma baixa carga alar: £«(IV /5)“V2
- voar ao ângulo de ataque para o qual é (C ^/C p) .
Para raio de acção R obtém-se imediatamente, atendendo às relações supra,

c CD W
que integrada produz:
]
R = ~ — ln (10.25)
c Cp wf y
de onde se conclui que:

(*) Por questõ es d e s e g u r a n ç a d e tráfeg o aéreo diferentes faixas de altitude sio atribuídas a
aeronaves n a v eg a n d o e m d ife re n te s sentidos, pelo que este aumento de altitude de voo não é
contínuo m as s im d e p a ta m a r em patam ar; presentem ente os regulamentos de controlo de
tráfego aéreo e sta b e le c e m de sn ív e is de 4000 ft * 1220 m para aeronaves voando em sentidos
contrários.
606 CAP 10 ASAS HN1TAS

<is caractensticas propulsivas têm o mesmo efeito e o mesmo peso que para
autonomia: //, c l;
o raio de aeção e independente tanto da altitude de voo (excepto pela sua
influencia nas variáveis de propulsão) como da carga alar: alteração de p ou
de IV S apenas altera a velocidade a que o voo é efectuado, não alterando a
distância que é possível percorrer com uma dada carga de combustível;
- o voo deve ser efectuado ao ângulo de ataque de ( Q / C p ) ^ .
Admitamos uma descrição analítica simples para a polar da aeronave
completa do tipo
Cp = CDo + CDl com CDl = KC I (10.26)
onde no termo quadrático estão englobadas todas as contribuições para o
coeficiente de resistência dependentes da sustentação: não só a resistência
induzida, o que está formalmente correcto, como e.g. também a resistência de
forma, para a qual a evolução quadrática apenas constitui uma grosseira
aproximação empírica.
Quando se pretende estudar a influência de diferentes áreas alares no
desempenho de uma aeronave com componentes fixos apenas produzindo
resistência — e.g. cargas externas, mísseis, uma antena de radar, o trem de
aterragem — toma-se conveniente exprimir a parcela CD em termos de uma
área p ara sita equivalente [equivalem parasite area] constante (i.e. não
dependente da área de referência escolhida para adimensionalizar forças e
momentos)
S, = SCDo (10.27)

correspondendo à área de uma placa normal ao escoamento produzindo a


mesma resistência que os componentes não-sustentadores e para a qual é
aproximadamente CDjf = 1.
Para a proposta polar parabólica [parabolic drag polar] imediatamente se
obtém que máximo raio de acção, correspondendo a (C J C D) , i.e.
/ \
d CL =0,
dC~L c d + k c [
é conseguido no ponto da polar para o qual CD = CD , pelo que
rQ ' 1
c dr - 2 c d 0> (1 0 .2 8 )
\C Dj 2 KCn

semelhantemente para máxima autonomia, i.e. (c?/2/C „ ) , se obtém:


' u * max

- -- ■----------- Í O V3
SEC. 10.6. VOO PARA AUTONOMIA E PARA RAIO DE ACÇAO 607

Conjugando estas relações vem:


c0 f= 2C0'i Clt = -y/3 CLii =1,7 C, K; Ut. « l / V ã l / , -0,761/*;

'a . ) .o .« ,ía .' (10.30)


^ dJ , 2 ( c j, l C Cj
Analogamente se procede para uma aeronave dotada de turbo-reactores. A
equação de partida passa a ser, em vez de (10.22):
dW
— = ~cr com T=D (10.31)
dt
onde o consumo específico c tem agora dimensões de peso de combustível /
unid. força propulsora / unid. tempo [c] = 7” 1 e obtém-se para autonomia

E - i W * (10.32)
C Cn w,
e para raio de acção a velocidade U constante

n UCLt
R=------ l n
c Cn V ^r
(10.33)
W /S C l12 [ Wj
= a/2 - In
c P CD ^Wf
e a altitude constante, p — const.:
-.1/2 f
^ -1 . (10.34)
V ’

Máxima autonomia é agora conseguida ao ângulo de ataque de (C^/C^)


e máximo raio de acção ao ângulo de ataque de (CÍ^/Cn) , aumentando
ainda o raio de acção com a carga alar e com a altitude: R « \W{/S) , p v .
Para a polar parabólica (10.26), no ponto de autonomia máxima é, tal como
no caso anterior para máximo raio de acção:

Cdl ~ Cdd> c de - 2 Q)0 ’ CLe = J c ^ ] K e - (10.35)

para máximo raio de acção é agora:

'Dq V3
c dl ~ Q >0/ 3 * C d r “ 3 Ç d 0» Q .* J 3 K
(10.36)
Cd ) r 4 J K C Dq

e conjugando estas relações


^ I 4 r r T. . ~ rf
608 CAP. 10 ASAS FINITAS

& I = 0 ,8 7 [ — (10.37)
^DJr 2 l CZ>/£
De (10.30) e (10.37) constatamos que é a mesma a finesse nos pontos
(< ».L • k-faL e cerca de 87% da finesse máxima.
Estes vários pontos óptimos de desempenho estão assinalados na polar
parabólica da Fig. 10.51.

Fig. 10.51 Pontos óptimos de desempenho numa polar parabólica.

Outras estratégias de navegação podem ser adoptadas como, por exemplo,


voar a altitude e a velocidade constantes, o que é prática em cada patamar de
altitude em voos de grande raio de acção, como os intercontinentais e os
transoceânicos.
Reforça-se que todos os resultados e conclusões acabados de apresentar
pressupunham que a potência ou a força motriz eram exclusivamente destinadas
a propulsionar a aeronave, i.e. a vencer a resistência aerodinâmica. No caso, por
exemplo, de uma aeronave dotada de motor alternativo e hélice e em que o
motor seja também utilizado para accionar um gerador eléctrico consumindo
uma potência a equação de partida passa a ser

dW DU
-+P.U
dt

em vez de (Í0.22.b), e consequências são que não só a autonomia e o raio de


acção naturalmente diminuem como ainda que máxima autonomia e máximo
raio de acção se passam a verificar a ângulos de ataque inferiores aos
correspondentes a ( Q ^ /Q .) e a ( Q / C ^ ) ^ , respectivamente. Estes efeitos
estão ilustrados na Fig. 10.52 [25] em que, para a aeronave robotizada ARMOR
XI, se comparam as evoluções de autonomia versus distância voada de
aeronaves optimizadas para diferentes CL's de projecto, voando a altitude e a
atitude constantes, nos casos Felectr= 0 e Felectf= 1 kW; a gama de CL's explorada
é de 0,6 a 1,6 em intervalos de 0,05.
Desta figura se conclui que máxima autonomia diminui de quase 20 h para
quase 16 h e que máximo ‘raio de acção', no sentido de máxima distância voada.
SEC. 10.6. VOO PARA AUTONOMIA E PARA RAIO DE ACÇAO 609

Fig. 10.52 Efeito da geração de potência eléctrica no desempenho


da aeronave robotizada ARMOR XI.

se reduz de mais de 1900 km para menos de 1600 km; também, e.g. para raio
de acção, enquanto que máximo raio de acção sem geração de potência eléctrica
é conseguido a Q « 0 ,8 6 , correspondendo ao ponto de (CL/C0) , com
geração de potência eléctrica passa a ser conseguido a Ct «0,80.
Concluamos este pequeno apontamento sobre desempenho em voo de
cruzeiro com um breve comentário sobre voo planado. Na Sec. 1.1. tínhamos
obtido que máximo raio de acção era conseguido ao ângulo de ataque de
(Q/Q>)max — ech (1*4); máxima autonomia será conseguida à velocidade de
descida mínima. Com referência à Fig. 1.3 vem
D
í/vert = E/sen 7 « E/tan y ~ U

~V2
fwjs cD
(10.38)
i P C f
peio que máxima autonomia ou velocidade de descida mínima é conseguida ao
ângulo de ataque de (c^/2/Q>)
Conhecida a polar aerodinamica CL vs. CD imediatamente se constrói a
chamada polar de velocidades de um planador para determinados W/S e p:
curva de velocidade de descida E/veit versus velocidade na horizontal
representada na Fig. 10.53. Nesta curva são directamente identificáveis os
pontos correspondentes a raio de acção máximo em atmosfera calma, a
velocidade de descida mínima (máxima autonomia) e a velocidade mínima de
V00~ a CW < > «Perda-
Salienta-se que, em voo planado, máxima autonomia é conseguida sempre
ao ângulo de ataque de (cl/2/CD) mas que máximo raio de acção é
' /max / v
conseguido ao ângulo de ataque de (Q /C p ) apenas em condições de
atmosfera calma; se se voar com vento de frente ou de cauda ou em ascendente
ou descendente as condições de voo para máximo raio de acção são diferentes
das correspondentes a {CL/CD) . Este facto está ilustrado na Fig. J0.53 em
que, interessando trabalhar em termos de velocidades reíativamente ao solo e
não em relação à massa de ar em que o planador se desloca, em vez de se alterar
610 GAP. 10 ASAS FINITAS

B
em atmosfera calma

D R ttuíX com vento de cauda (1)


ou em ascendente (2)
V E R ^ x com vento de frente (3)
ou em descendente (4)

F ig. 1 0.53 Polar de velocidades de um planador e pontos óptimos de desempenho.

a posição da polar no referencial para identificar o ponto de tangência, para


facilidade de representação se alterou a origem de que essa tangente é tirada.
Desta simples construção geom étrica se constata que i) em condições adversas
de voo, com vento de frente ou em descendente, m áxim o raio de acção é
conseguido Voando m ais picado', i.e. a um ângulo de ataque inferior ao de
( Q / C d) * enquanto que ii) em condições favoráveis, com vento de cauda ou
em ascendente, máximo raio de acção é conseguido a um ângulo de ataque
superior ao de ( Q /C p ) , sendo ainda estes desvios tanto maiores quanto
maiores forem as componentes horizontais ou verticais da velocidade do vento.
Para bom desem penho num a gam a extensa de condições de voo interessa
então que a polar de velocidades seja relativam ente achatada, de modo a que os
diferentes pontos de tangência se espraem ao longo de um a grande região do
eixo das abcissas f/hor, o que recom enda a utilização de perfis com uma extensa
b o ssa lam inar, com o os W ortm ann e E p p le r das F ig s. 9.67 e 9.72,
respectivam ente, em vez de perfis do tipo dos N A CA série 6 — Fig. 9.65 —,
com m enor CD mas uma bossa inevitavelm ente mais estreita [1731.
A preciem os por últim o, m uito sucintam ente, o com portam ento de uma
a e r o n a v e em tu r b u lê n c ia , considerando os casos de rajada horizontal e de
rajada vertical [71].
C om ecem os p or adm itir o caso ilustrado na Fig. 10.54.a) de uma aeronave
em voo r e c tilín e o h o riz o n ta l su b m etid a a um a ra ja d a horizontal de
suficientem ente grande com prim ento de onda para que a resposta da aeronave
seja quasi-estacionária. O acréscimo de sustentação resultante deste acréscimo de
velocidade escreve-se

ÁL = ^ p [ ( t / _ + u f - í/ * ] S C L = p u U „ S C L

do que resulta para o acréscim o do factor de carga:

(10.39)
SEC. 10.6 RESPOSTA A RAJAOAS 611

um
a) Rajada horizontal b) Rajada vertical
F ig. 10.54 Aeronave em turbulência.

Para o caso de rajada vertical ilustrado na Fig. 10.54.b) obtém-se,


respectivamente:
Í p U -»lS C , A a com C, = —
dCi
- e Aa * —
v
v m L* La d a Um
e

4n = — * i p v t / „ —— « C, , — (10. 40)
W 2P W /S La W /S 1 J
Concluímos, por exemplo no caso extremo de uma aeronave eficiente
dotada de motores alternativos e hélices em voo de autonomia, que são
perfeitamente antagónicos os requisitos para grande autonomia e para pequena
resposta a rajadas: por um lado CLa e CL elevados e W/S baixo — eqs.
(10.23.b) ou (10.24) — e por outro CLa e CL baixos e W/S elevado — eqs.
(10.39) e (10.40). Neste caso, para não sacrificar o desempenho em cruzeiro,
haverá necessidade ou de prover a aeronave com um sistema de aumento de
estabilidade ou, se se tratar de uma missão de observação utilizando câmaras
video ou de infraverm elhos, de instalar a câmara numa plataforma com
estabilização giroscópica ou então recorrer a técnicas de processamento para
estabilização das imagens.
Maior insensibilidade à turbulência atmosférica pode, sempre que
necessário, ser im pressa num a qualquer aeronave degradando as suas
características aerodinâmicas através de uma deflexão de spoilers ou de freios, o
que é prática corrente na aviação em geral — vidé Fig. 10.55 [73].

F ig . 10 .5 5 Efeito da deflexão de freios aerodinâmicos


na característica CL vs. a de um perfil.
CAPÍTULO
11
CORPOS NÃO-FUSELADOS
Na Sec. 1.3. do capítulo introdutório, e com referência à Fig. 1.58, fizemos
notar as características mais marcantes do escoamento em torno de um corpo
não-fuselado, aqui bem patenteadas nas Figs. 11.1.a) [169] e b) [56]:

a) Escoamento médio na esteira próxima

b) Esteira afastada: estrada de von-Kártnán

Fig. 11 .1 Esteira de um cilindro circular.

- esteira de grande espessura (da ordem de grandeza da dimensão transversal


do corpo) a que estão associados um grande 6* — grande deformação do
escoamento exterior comparativamente à configuração de fluido perfeito —
e um grande d — grande resistência de forma;
- uma região de esteira próxim a em que a velocidade do escoamento é
extremamente baixa — região de 'águas paradas' [dead water region] bem
assinalada pela 'dispiciente' e aleatória movimentação de detritos flutuantes
aglomerados a jusante dos pilares de uma ponte num rio — e a pressão
inferior à estática a infinito;
- uma esteira afastada caracterizada por uma organização discreta de vórtices
de circulação sim étrica, em duas filas paralelas desfasadas de meio
comprimento de onda: a estrada de von-Kármán;

612
PREAMBULO 613

- devido a esta lib e rta ç ã o de v ó rtices ( v o r ie x shedãing], discreta e alternada,


são induzidos no corpo esforços pulsatórios que, caso a estrutura seja
elástica, a fazem entrar cm vibração.
Neste capítulo são ap re sen ta d o s m odelos sim ples para descrever as
características geom étricas e cinem áticas do escoamento primeiro a nível da
esteira próxima — Sec. 11.1. — e depois a nível da esteira afastada — Sec.
11.2.; o capítulo term ina com a apreciação do mecanismo de indução de
esforços pulsatórios, suas consequências e possíveis estratégias para reduzir a
amplitude das oscilações — Sec. 11.3.
É pouco clara esta d esig n aç ão de "corpo não-fuselado", utilizada em
contraposição à de corpo de form a fuselada ou aerodinâmica produzindo uma
pequena resistência. Justifiquem o-lo com recurso a dois exemplos;
A. Consideremos o caso ilustrado na Fig. 11.2 de uma placa plana de espessura
desprezável: i) quando alin h ad a com o escoamento ( a = 0°) constitui o
corpo mais fuselado po ssív el, introduzindo o mínimo de perturbação no
escoamento — p erturbação nula em fluido perfeito; ii) quando colocada
normalmente ao esco a m en to de aproxim ação ( a = 90°) constitui um
exemplo típico e extrem o de corpo não-fuselado.
Constatamos assim que um m esm o corpo se pode comportar como fuselado
ou não-fuselado dependendo d a sua atitude no escoamento.

Fig. 1 1 .2 Escoamento em tom o de uma placa plana a a = 0° ea a = 90°.

B. 0 único corpo (b i-d im e n sio n a l cartesiano) a que está associado um


escoamento independente do ângulo de ataque é o cilindro circular; neste
caso, porém, o e sc o a m e n to depende do número de R eynolds, com o
representado na Fig. 11.3; i) a R e « 1 efeitos de inércia não têm intensidade
suficiente para provocar separações das camadas de corte perante os muito
significativos efeitos viscosos, e o escoamento assume uma configuração
aproximadamente sim étric a, tal com o no extremo oposto de Re —> <»,
entendido com o de flu id o p erfeito; ii) só numa gama interm édia de
números de R eynolds as cam adas lim ites se separam dando origem a um a
esteira próxima e a um a esteira afastada.

Re « 1 e Re 5 0 < R e < 3 x l0 3
Fig. 11.3 Escoamento em torno de um cilindro circular a diferentes números de Reynolds.
614 CAP.11 CORPOS NÀO-FUSELADOS

Concluímos assim que com esta designação de "corpo não-fuselado" nos


estamos a referir não propriamente ao corpo em si mas ao tipo de escoamento
produzido, com as características acima assinaladas: esteira de grande espessura,
de configuração distinta e bem característica na região de esteira próxima e na
de esteira afastada.
Ainda um comentário acerca do tipo de linhas que tem sido traçado para
ilustrar a geometria do escoamento a nível da esteira afastada, geometria esta
bem documentada na Fig. 11.1 .b) de visualização do escoamento com emissão
de um corante: trata-se de linhas filamento, que neste escoamento periódico,
não-permanente, não coincidem com as linhas de corrente. A configuração das
linhas de corrente será significativa, sim, mas num referencial no qual o
escoamento seja permanente, como é o caso de um referencial solidário com a
estrada de von-Kármán. Tal configuração de linhas de corrente está ilustrada
nas Figs. 11.4.a) [141] e b) [147]: linhas de corrente associadas a vórtices são
naturalmente círculos, mas progressivamente deformados por acção dos outros
vórtices da esteira.

a) Visualização do escoamento b) Linhas de corrente

Fig. 11.4 Configuração do escoamento num referencial solidário com a estrada de vórtices.

11.1. Esteira próxima


As camadas limites desenvolvendo-se ao longo da face frontal de um corpo
não-fuselado separam-se como duas camadas de m istura delimitando uma
esteira com uma espessura da ordem da dimensão transversal do corpo
— Fig. 11.5. A Reynolds's elevados estas camadas de mistura podem ser
convenientemente modeladas como folhas de vórtices orientadas segundo as
linhas de corrente locais, o que dá origem à chamada te o ria das linhas de
corrente livres \free-streamline theory).
Na região da esteira próxima da base do corpo — designa-se por "base" a
região do corpo imersa na esteira — verifica-se experimentalmente:
SEC 111 ESTEIRA PRÓXIMA 615

ij a velocidade do e sc o a m e n to ser exirem am enle reduzida e de carácter


aleatório, pelo que, para efe ito s de análise, pode ser convenientemente
tomada como nula; resu lta qu e as linhas de corrente livres assumem o
verdadeiro significado de linhas de deslocam ento da esteira S*\

CL

Fig. 11.5 Características mais marcantes do escoamento na região da esteira próxima.

ii) a pressão de b ase | base pressure] ser sensivelmente constante e menor que a
estática a infinito; n o te-se que não existe qualquer incompatibilidade entre
Ub~0< U „ e p b ~ co n st.< de onde Cpb< 0, pois que a pressão total se
não conserva ao atravessar a folha de vórtices — vidé eq. (2.19).
0 problema do estu d o da esteira próxim a traduz-se assim no estudo do
escoamento potencial e x te rio r ao corpo e à esteira. É um problema que não
pode ser resolvido p or um m étodo iterativo, como no caso do escoamento de
fluido real em torno de um perfil alar a pequenos ângulos de ataque, pois nos
encontramos agora p erante um a situação de interaeção viscosa / invíscida forte;
tal requer que, logo à partida, seja considerado não apenas o corpo sólido em
estudo mas sim corpo m ais esteira, i.e. corpo + 5*. A dificuldade reside no facto
da forma da esteira não ser conhecida a priori.
A dificuldade pode porém ser torneada passando, através de uma sequência
de transformações, do p la n o do escoam ento, em que a forma da esteira é
desconhecida, para um plan o onde parâmetros característicos do escoamento
possam ser estabelecidos, revertendo-se então ao plano físico por transformações
inversas.
Nesta secção se rã o apresen tad o s alguns dos modelos invíscidos m ais
significativos para tratar o escoam ento a nível da esteira próxima, começando-se
pela teoria das linhas de corrente livres de Kirchhoff-Helmholtz, avançada em
1869 e que, su b stitu in d o o corpo por corpo + esteira, primeiro conseguiu
relevar o paradoxo de d'A lem bert, produzindo um valor CD* 0 em escoam ento
permanente, b i-d im en sio n al de fluido perfeito, até modelações baseadas no
método numérico dos painéis.

11.1.1. Teoria das linhas de correntes livres


Uma das transform ações utilizadas nesta teoria das linhas de correntes livres
é a transformação de Schw arz-C hristoffel; apresentaremos assim prim eiro a
transformação de Schw arz-Christoffel, no §11.1.1.1., e só em seguida o m odelo
de Kirchhoff-Helmholtz, no §11.1.1.2.
616 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSEIADOS

11.1.1.1, Transformação de Schwanz-Chrislollel


A transformação de Schwarz-Christoffel [8, 96, 114]

( 11 . 1)

transforma a região do plano dos z's limitada exteriormente por um polígono


fechado, com um ou mais vértices eventualmente a infinito, no semi-plano 7) > 0
do plano dos £'s e transforma a fronteira poligonal em z no eixo real rç = 0,
como representado na Fig. 11.6.

y ©

* a, í
Fig. 11.6 Transformação de Schwarz-Christoffel aplicada
ao domínio interior a uma figura poligonal.

Na expressão anterior:
- os a /s são os ângulos internos do polígono
- os a/s são as coordenadas dos pontos do eixo real Ç em que são
transformados os vértices do polígono
- K é um factor de escala, eventualmente complexo.
Em geral, três das coordenadas a, dos transformados dos vértices do
polígono podem ser escolhidas arbitrariamente.
Quando um dos vértices do polígono estiver localizado a infinito, o ângulo
interno associado a y, digamos, será nulo; neste caso podemos, sem perda de
generalidade, considerar que o ponto transformado em Ç (i.e. | - a }) está
também a infinito, de modo que o factor é efectivamente constante e
pode ser considerado como englobado na constante K.
Comprovemo-lo para o caso em que um dos vértices do polígono
corresponde ao ponto al =-©o do eixo real do plano dos f s.
Escolhendo para o factor de escala a forma

a expressão (11.1) da transformação escreve-se

i=2
SEC. 11.1. ESTEIRA PRÓXIMA 617

:omo
-1
C -a,
lim = 1
V -a ,
Atemos finalmente

istoé, o facto r c o r r e s p o n d e n te a a , = - ° ° a s s im c o m o o â n g u lo a , são o m itid o s


da transform ação.
A tra n sfo rm a ç ã o d e S c h w a r z - C h r is to f f e l é a d a p ta d a , p o r e x em p lo , ao e stu d o
do esco am en to n u m d i f u s o r d e p a r e d e s p la n a s , d e m o d o a d e te rm in a r a
configuração d a s lin h a s d e c o r r e n te e a s s im d e f in ir a fo rm a d e ev en tu ais p lac as
directrizes a in s ta la r c o m o f im d e r e d u z ir s e p a ra ç õ e s , c o m o re fe rid o n a su b -
Sec. 4.1.1.
Situações de escoamentos interiores a uma fronteira poligonal não são
porém muito usuais, pelo que é deveras reduzido o interesse prático de uma
aplicação exclusiva desta transformação; ela revela-se no entanto importante
como um a de uma sequência de transformações para resolver um determinado
problema, como, p o r exemplo, no caso vertente do estudo da esteira próxima de
um corpo não-fuselado. Neste caso iremos precisar de recorrer à transformação
de Schwarz-Christoffel para transformar uma faixa semi-infinita num semi-
plano; vejamos como proceder, com referência à Fig. 11.7.

B ©
^ A
% a ©
CV'

-s*/2
-I +1
-K \ 2
D E
C' D' A' = E ' B' C'
Fig. 11.7 Transformação de uma faixa semi-infinita num semi-plano.

Escolhamos para transformados dos vértices do polígono os pontos


A':{=0;B':5 = 1; C ': 5«±» o; } e E':Ç = 0.
A tran sfo rm a çã o e s c re v e -s e e n tã o :

= k (ç +\y V2c '( ç - iy'/2 = — ×


Que integrada produz:
618 C A P . 11 C O R P O S N Ã O -F U S E L A D O S

z = -iK \n + C.
~ç n 2 1
A correspondência Ç = -l< > z = - h r /2 fornece directamente C = - j ^ .
correspondência Ç = 1<> z = i ^r/2 conduz então a
(*)
i—= - i ATln(—1) —i—~ k K - i —
2 1 7 2 2
de onde Af = i .
Obtém-se finalmente
í * r~:----- \
. TC
Z= ln 0 1 .2)
J
_1i *

11.1.1.2. Modelo de Kirchhoff-Helmholtz


O caso típico de aplicação do modelo das linhas de corrente livres de
Kirchhoff-Helmholtz é o de uma placa plana normal a um escoamento
uniforme de aproximação de velocidade U,m [8, 96]. À época em que este
modelo foi desenvolvido não existiam quaisquer resultados experimentais para
um tal escoamento e Kirchhoff-Helm holtz sim plesm ente admitiram
p b = const.= p„ o que, por Bernoulli (válido no escoamento potencial exterior à
esteira), conduziu a U = Z7aa= const. ao longo das linhas de corrente livres.
A configuração do escoamento, embora não seja conhecida no plano físico,
é perfeitamente definível no plano das velocidades complexas — plano do
hodógrafo lhodograph] — U = U - iV e no plano do potencial complexo
W = 0+ i'F . Com referência à Fig. 11.8, em que está ponteado o domínio do
escoamento, estabeleçamos, nos diversos planos, a evolução do escoamento ao
longo da linha de corrente divisória, para que arbitramos o valor fF = 0;
imponhamos ainda 0 = 0 no ponto de estagnação C no centro da placa e
adimensionalizemos velocidades por í/w: U/U„ = u = u - i v .

Fig. 11.8 Escoamento em torno de uma placa normal à corrente de aproximação:


planos físico, do hodógrafo e do potencial complexo.

(*) ln(-l) = ln(e‘") = i?r


SEC. 11.1. ESTEIRA PRÓXIMA 619

Ao longo da linha de corrente de estagnação a velocidade evolui apenas


com componente segundo O x, desde {)„ a infinito a montante — ponto I — até
jj~0, no ponto de estagnação no centro da placa — ponto C —, ao que
corresponde, no plano w, uma evolução de w= l a w= 0, e, no plano W, uma
evolução de 0 = -«> a = 0 segundo o eixo real = 0. Ao longo da face
frontal da placa e, e.g. no semi-plano superior y > 0 , a velocidade evolui apenas
com componente V > 0 desde V = O em C até V = U„ no ponto de separação S
no extremo da placa: de O a - i segundo o eixo imaginário -v e de 0 =0 a
#=#5 em W. Ao longo das linhas de corrente livres a evolução processa-se a
módulo constante U = const.= l/w e orientação continuamente variável desde
ÚSf//Õy — pois as camadas limites desenvolvendo-se ao longo da face frontal
da placa a abandonam tangencialmente nos seus extremos — até t/BB,//ác, ao
que corresponde, no plano do hodógrafo, uma evolução segundo um arco de
círculo de raio unitário.
O domínio W é directamente transformável num semi-plano superior X por
aplicação do expoente 1/2:
A= KW '12. (11.3)
O domínio u é também transformável no mesmo semi-plano X pela
sequência de transformações ilustrada na Fig. 11.9:

-1 1
B' S' (: s b

Fig. 11.9 Transformações do plano do hodógrafo para um semi-plano.

i) f= l/w , inverso da velocidade complexa;

ii) !2 = ln f = l n - 4 ] 8 = l n - + i0
we u
A introdução desta variável complexa Q constitui a chave da solução de
Kirchhoff-Helmholtz e é tal que, ao longo da face frontal da placa:
3(í2)= 0 = const.= ±7r/2 e, ao longo das linhas de corrente livres:
9?(í2) = ln(l/«) = const.= 0 pois « s l ; o domínio do escoamento fica assim
transformado numa faixa semi-infinita em O;
iii) a faixa semi-infinita em Í2 é então transformada no semi-plano superior X
por aplicação de Schwarz-Christoffel, eq. (11.2.):
620 GAP. 11 CORPOS NÁOFUSÉLADOS

ou, dado que í í = ln f =ln(Jz/í/lV):

(11.4)

O plano físico do escoamento z fica então rclacionável com A atendendo a


(11.3) e a (11.4):

(11.5)

Integração desta equação entre S' e S fornece a relação entre a constante de


proporcionalidade K e a largura da placa d:
2
K2
de onde

( 11.6 )
d
Através de (11.4) e de (11.5) e atendendo a (11.6) a cinemática e a
geometria do escoamento ficam assim completamente determináveis a partir do
plano A, relacionado com W por (11.3).
Quanto à resistência da placa, sendo p b = p„ ou Cpb= 0 ela será apenas
devida às sobrepressões actuantes na face frontal; em termos adimensionais virá:

com:

i) C,f = l- « ? e

ii) sobre a face frontal da placa é z = \y apenas, pelo que dz = idy ou

dy = -id z = - i —

Conjugando estas relações e atendendo ao resultado (11.6) para K obtém-se


finalmente:(*)

- |i
(*) e
SEC 111 FSTEWAPAÔOtt «21

dX

í 1 1.7)
JT+ 4
Substituindo corpo por co rp o + £ * — corpo semi-infinito — a teoria das
linhas de corrente livres toi o prim eiro modelo de escoamento potencial a
fornecer um valor não nulo para a resistência de pressão, assim relevando o
paradoxo de d'Alembert.
0 grande senão do m odelo de Kirchhoff-Helmholtz reside no facto de
produzir um valor C/1((h« 0,88 exageradamente baixo comparado com o que
veio a ser obtido experim entalm ente anos mais tarde (1927) por Fage e
Johansen (45J: Cn * 2 ,1 3 ; a discrepância, como então se verificou, é
fundamentalmente devida à intensa sucção na base de corpos não-fuselados
pb<p„, efeito este não considerado no modelo de Kirchhoff-Helmholtz.
Outros modelos foram então propostos de modo a permitir contemplar um
Cpb<0; o modelo de Riabouchinsky [8, 114], instalando um corpo fictício a
jusante do corpo real, o m odelo do jacto reentrante [8, 114], etc. O modelo
fisicamente mais correcto foi porém o avançado por Roshko em 1954 e que
apresentaremos na próxim a sub-secção.
Nota-se, a finalizar, que o modelo de Kirchhoff-Helmholtz é, por exemplo,
perfeitamente adaptado a descrever o escoamento bi-dimensional através de
uma fenda numa placa plana, com o na situação ilustrada na Fig. 11.10 de
descarga de um reservatório para a atmosfera.

F ig. 1 1 .1 0 Escoamento através de uma fenda numa placa plana.

1 U 2 . Modelo do hodógrafo co m entalhe

Como já realçado atrás verifica-se experimentalmente que CPb<0 é muito


aproximadamente constante na esteira próxima. Consequentemente a velocidade
622 CAP.11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

do escoamento no ponto de separação e ao longo das linhas de corrente livres


deverá ser constante e superior a Uj. Us = kUae com k> 1, digamos, de onde
C ^ l - / : 2. O valor da constante k é estabelecido de acordo com resultados
experimentais; por exemplo, para uma placa plana normal a um escoamento de
aproximação é (c pb) = -1,38 [45] do que resulta k = 1,54.
Mantendo o conceito de linhas de corrente livres, o modelo de Kirchhoff-
Helmholtz precisará de ser apenas alterado de modo a permitir que a velocidade
nos pontos de separação e ao longo das linhas de corrente livres assuma o valor
constante Us =kUm. Este ajustamento pode ser facilmente conseguido através
da evolução característica no plano do hodógrafo apresentada a cheio na Fig.
11.11.
A velocidade nos pontos de separação é Us =kU„ e conserva este valor ao
longo das linhas de corrente livres até estas se tomarem paralelas à direcção da
corrente não perturbada — pontos B e B '; a infinito a jusante o escoamento
deverá ter recuperado as condições não perturbadas, de modo que a evolução ao
longo das linhas de corrente livres desde B e B ' até I será representada, no
plano do hodógrafo, pelo entalhe B IB '. Tal característica levou Roshko [143] a
designar o seu modelo de hodógrafo com en talhe [notched hodograph]. Para
comparação representa-se também a tracejado a evolução correspondente ao
modelo de Kirchhoff-Helmholtz.

F ig. 11.11 Características do escoamento em tomo de uma placa plana a a = 90°


no plano físico e no plano do hodógrafo com C ph < 0 .

Note-se que qualquer outra curva característica SIS", tal como a curva a
traço-ponto na Fig. 11.11, onde os pontos B \ B e I são coincidentes, seria
compatível com o resultado Cpy^ = \~ k 2\ porém, já não seria p b = const. na
esteira próxima, como experimentalmente verificado.
Ilustra-se na Fig. 11.12 a sequência de planos utilizados para transformar o
domínio do escoamento no domínio do potencial complexo.
As velocidades são adimensionalizadas por Us = kU go de modo a que, tal
como no modelo de Kirchhoff-Helmholtz, os círculos nos planos u e f = l/«
tenham raios unitários; resulta então para a velocidade a infinito; u„ = l/k.
A passagem de Ç para X envolve uma rotação recta e aplicação da
transformação de Joukowski:
SEC. 11,1. ESTEIRA PRÓXIMA 623

Fig. 11.12 Sequência de transformações no modelo do hodógrafo com entalhe.

1
Í - I
* = 2 ^ f.

no ponto í é = £, de onde X l = k —i j ou
tf - 1
Xj - i h com h~
2k
A passagem de X p ara t envolve uma duplicação de ângulos (X ), uma
translação de + t f e um a normalização por ( t f + 1), de modo a que os pontos
de separação S e S' venham a residir em t = 1:
X2 +h2
t-
h2 + 1

pontos B e B 'é X BB. = 0, de onde = ou


tf+1

itf + 1 tf + 1
fn d' = ~~r
b .b a 2 com a= ( 11. 8)
tf- 1
O plano do potencial complexo é simplesmente o inverso de /: W = \/t.
De X = X (Ç) e de t ~ t { X ) obtêm-se as transformações inversas

Í =- i (^±VaT2 - i ) e * = ±^ í (a 2 +i)-A 2’,

respectivamente. Substituição de £ (í) em Ç = f ( £ ) conduz então a;

í ^ - i V Ã 5 +1 ±1 /
t f +1
624 CAP.11 CORPOS NÀO-FUSELADOS

a solução correspondente ao escoamento real é obtida quando os dois termos


entre parêntesis rectos tiverem o mesmo sinal. Assim, e atendendo a que t-l f W,
resulta para o (inverso do) campo cinemático:

C=±i- (11-9)
2k ( J W a‘ (IV
Dado que Ç=lju=dz/dW obtém-se para o campo geométrico

z=J ÇdW

.*2+l W
=±i +atan ( 11 . 10)
2k al -W
tendo a constante de integração sido determinada a partir da condição W = 0
em 2 = 0.
As eqs. (11.9) e (11.10), complementadas com a relação (11.8), fornecem
uma descrição completa do campo de escoamento.
Pontos característicos referem-se a *F = 0 e > 0: superfície frontal da
placa e linhas de corrente livres. Para a largura da placa obtém-se:
2k ifc2 + l
d = 23(z)Wsl = - ----1--- 7------ • tan
2 *2+ l 2k
a espessura máxima da esteira é
k2+ 1
k2- 1
e ocorre à distância da placa
f * 2+ ^ 2 r + i k+ i
+ -------ln------ .
2k k-\
Para A:= 1,54 obtêm-se os seguintes valores numéricos para estes
parâmetros:
d - 1 , 70; d' = 11,9; 6 = 7,74.
Note-se que é desprovido de qualquer significado, e.g., o resultado d = 7,70
para largura da placa, sendo este valor numérico constante apenas consequência
de, no plano do potencial complexo, se ter imposto # ss, =1. Fisicamente
significativos serão os valores adimensionais
d'/d = l 1,9/7,70 -1,55 e 6/<í = 7,74/7,70 = 1
revelando que a esteira tem uma espessura cerca de 55% superior à largura da
placa e que essa espessura máxima ocorre, aproximadamente, a uma largura de
placa a jusante da base.
SEC.111 ES1BRA PftÔXlMA 625

para k = 1, correspondendo a solução de Kirchhoff-Helmholtz, obtém-se


d ' - 00 â b ~ oot

i.c.a distância entre as duas linhas dc corrente livres tende monotonicamente


para infinito. Este resultado é fisicamente incorrecto, pois que, sendo
= implica e, por (2.36), CD= » . A questão, que motivou no
passado mais uma crítica ao modelo de Kirchhoff-Helmholtz, nâo é porém
relevante, pois, dado que a uma pequena distância a jusante do corpo as
camadas de corte livres se tendem a enrolar cm vórtices discretos, não tem
qualquer significado pretender extrapolar, para infinito a jusante, resultados
apenas respeitantes à esteira próxima.
Quanto ao coeficiente de resistência é
2 eW
Co = d í áC" dy C° m ACr = CP r CP.'
pelo que
CD= CP[-C „ b (11.11)

onde Cp( é o valor médio do coeficiente de pressão na face frontal e C o


valor constante de Cp na base.
Dado que adimensionalizámos velocidades por Us = kU„i do que resultou
=l/&, e que conhecemos o campo de velocidades em termos de Ç, não de u
—eq. (11-9) —, Cp escreve-se genericamente

Cp = l - = 1- *2« 2 = 1 -
u
líf
do que resulta

ora, ao longo da face frontal da placa, dy pode-se escrever como


, dy d&
dy = ---- d& -------
d<P uf

pelo que

r =- Ç h -k 2u2
f) —d0.
Pl d ) 0 ' f' Bf
Substituindo « f = l / |f | . com f dado por (11.9), e atendendo a que ao
longo da face frontal da placa é W real e 0 S <£•á 1 obtém-se, integrando a
anterior relação:
626 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

ijM tan
2k
-2 (* 2-!) ( 11 . 12)
k

Para k = 1,54 resulta:


C„f=0,75; CPb= - 1.38; C0 = 2,13

valor este de CD que coincide com o obtido experimentalmente por Fage e


Johansen.
Para k = 1 é:
CPb=0 e CD = Cpf=0,88.

Na Fig. 11,13, em que se comparam as distribuições de Cp obtidas através


dos modelos de Roshko e de Kirchhoff-Helmholtz com os resultados
experimentais de Fage e Johansen, verifica-se ser muito boa a concordância das
previsões do modelo do hodógrafo com entalhe com os valores experimentais.

Fig. 11.13 Distribuição de Cp ao iongo de uma placa normal ao escoamento:


comparação entre previsões dos modelos de Kirchhoff-Helmholtz e
de Roshko com resultados experimentais de Fage e Johansen.

É notória a maior contribuição da sucção na base para a grande resistência


de corpos não-fuselados. É também compreensível, pelo acréscimo de área
encerrada, a maior contribuição para CD da sobrepressão na face frontal da
placa dada pelo modelo das linhas de corrente livres comparativamente à do
hodógrafo com entalhe: 0,88 contra 0,75, já que no primeiro caso Cpf cai a
zero nos extremos da placa (Cpb= 0 ) enquanto que no segundo
( C \ =C =-1,38.
\ P) S,S' /'b
Este mesmo modelo do hodógrafo com entalhe é de aplicação mais vasta do
que o simples caso da placa plana exemplificado. Ilustram-se na Fig. 11.14 duas
outras possíveis situações:
SEC. 11.1. ESTEIRA PRÓXIMA 627

Fig. 1 1 .1 4 E s c o a m e n to s im é tr ic o e m to m o d e u m c o rp o d e se c ç ã o rectan g u la r
e d e u m a c u n h a d e â n g u lo in te rn o /3 n .

a) no caso da secção rectangular a influência das faces superior e inferior,


desde que não su ficientem en te extensas para permitirem recolamento,
apenas se m anifesta com o induzindo uma maior curvatura das linhas de
corrente livres, ao que está associado um diferente valor do parâmetro
empírico Cpb= \ - k 2 sem pre necessário;
b) no caso da cunha de ângulo de abertura /J tt, uma primeira ampliação de
ângulos permite transform á-lo no caso já conhecido da placa plana.
Transformações envolvendo o plano do hodógrafo não são, porém, as mais
ajustadas ao tratam ento de situações com separação numa superfície com
continuidade tangencial, com o é o caso do cilindro circular ilustrado na Fig.
11.15.

Fig. 11.15 Impossibilidade de estabelecimento prévio, no plano do hodógrafo, da evolução


do escoamento de fluido real ao longo da face frontal de um cilindro circular.

Neste caso, m esm o determ inados empiricamente os parâmetros fce 0S,


desconhece-se, no plano do hodógrafo, qual a forma da evolução de C para S.
Claro que é possível tornear a dificuldade recorrendo a métodos iterativos
envolvendo, por exem plo, com patibilização das curvaturas das linhas de
corrente livres e da superfície do corpo no ponto de separação, mas a estratégia
não é, de facto, a m ais indicada. Outras metodologias se revelam mais
apropriadas e a elas farem os um a breve referência na próxima sub-secção.

11.1.3. Outrosmodelos
Suponhamos o caso sim ples ilustrado na Fig. 11.16 de um corpo não-
fuselado sim étrico, com um a superfície com continuidade tangencial,
simetricamente posicionado relativamente a um escoamento de aproximação e
com separações nos pontos S e S '; admitamos ainda a existência de uma
transformação conform e z - f ( Ç ) que permita converter o plano Ç, do
escoamento em torno de um cilindro circular, no plano físico do escoamento z.
623 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

Fig. 11.16 M o d e lo de fo n te s n a e s te ira : tra n s f o rm a ç ã o d o p la n o


d o co rpo em e s tu d o p ara o p la n o d o c ilin d ro c ircu lar.

A transformação z - f{Ç ) é requerida manter a direcção, mas não forçosamente


o módulo, da velocidade a infinito e exibir zeros simples em S e S ', de tal modo
que as linhas de corrente abandonando o cilindro circular necessariamente a 90*
em S e S' sejam transformadas nas linhas de corrente livres separando-se do
corpo real com continuidade tangencial nos pontos transformados. Devido à
duplicação de ângulos em S e S' a superfície frontal do corpo real é percorrida
duas vezes SAS'BS enquanto um ponto corrente em Ç descreve o círculo
completo; a base do corpo SDS' é assim ignorada, excepto pelo seu efeito em
c * = 1 - * 2-
As linhas de corrente abandonando o cilindro circular em S e S ' podem ser
impostas pela introdução de fontes de intensidade m (a determinar) localizadas
interiormente à 'esteira, sobre a superfície do cilindro, em pontos com uma
coordenada angular 8 (também a determinar); esta técnica de simulação levou
os seus primeiros autores (Parkinson e Jandali [125]) a designá-la como modelo
de fontes na esteira [ w a k e s o u r c e m o d e l) .
Claro que ao efeito destas fontes deve ser sobreposto o efeito imagem no
cilindro circular: fontes de igual intensidade na superfície e poços simétricos na
origem, como resultante da situação limite da contemplada na eq. (8.57). Para o
potencial com plexo em Ç obtém -se então, por sobreposição do escoamento
uniforme de aproxim ação, do dipolo na origem necessário para simular o
cilindro circular e das fontes na esteira e respectivos sistemas imagem:
f 2^
r a m
W(Ç) = U . +— a e lá) + ln ( f - a e ’5) - l n í]*
\ í+7 K

A intensidade e a localização das fontes na esteira são determinadas através


das duas seguintes condições nos pontos de separação em Ç e em z: C/(f) = 0 e
\u (t ) \ / u . = k = j r ^ .
O método requer dois tipos de inform ação em pírica: o valor de CPb, tal
como no modelo de Roshko, e a localização dos pontos de separação.
A dificuldade reside na determinação da transform ação conforme z = /(?)■
Se o corpo em estudo for uma placa plana, a transformação obviamente será a
de Joukowski. Se for um cilindro circular, não é im ediato elaborar qual a
SEC. 11.2 ESTEIRA AFASTADA 629

transformação que transform a um cilindro circular num troço de cilindro


circular, exibindo zeros sim ples nos pontos de separação! a transformação é,
nestecaso,

« = /( C K - c o .r ~ f r ; —

como raio do cilindro circular em Ç dado por a = cosecy e o ângulo y


relacionado com o ângulo da separação em z por y - dsJ2.
Outros autores — e.g. [89] — propõem localizar as fontes não sobre a
superfície do cilindro circular mas sobre o eixo de simetria na esteira; a filosofia
dométodo é porém a mesma.
Total flexibilidade p ara tratam e n to do escoamento em torno de
configurações tridim ensionais de geom etria arbitrária, como, por exemplo, um
simples' veículo automóvel, exige naturalmente recurso a métodos numéricos.
Utilizando um código invíscido dos painéis incluindo cálculo de camada
limite, como e.g. o V SAERO [172], proposta uma primeira forma da esteira, a
localização das linhas de separação pode ir sendo ajustada até se obter
concordância com as previsões de camada limite. A esteira pode, por exemplo,
ser simulada por convenientes velocidades de transpiração nos painéis da base
do corpo; em bora o esco a m en to exterior seja deste modo previsto
fidedignamente os resultados obtidos para CD não terão qualquer significado.
Ilustra-se na Fig. 11.17 a configuração das linhas de corrente fora da camada
limite e na esteira obtida com o VSAERO para o escoamento em tomo de um
veículo utilitário monovolum e [108].

F ig . 1 1 ,1 7 Distribuição de C p e configuração do escoamento


em tomo de um veículo automóvel.

11.2. Esteira afastada


Depois de na secção anterior termos apreciado, com base em modelos
simples, o comportamento da esteira na vizinhança próxima de um corpo nao-
fuselado, descrevendo as suas características geométricas e cinemáticas, a forma
630 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

do campo de pressões associado e da força de resistência resultante,


desenvolvamos nesta secção um estudo equivalente para a região da esteira
afastada. Começaremos, na sub-Sec. 11.2.1., por descrever o mecanismo de
formação da estrada de von-Kármán e por identificar os grupos adimensionais
que governam esta libertação alternada de vórtices; na sub-Sec. 11.2.2. serão
então obtidas as características geométricas e cinemáticas da estrada de vórtices e
na sub-Sec. 11.2.3. apresentada a fórmula de von-Kármán exprimindo a
resistência de um corpo não-fuselado em termos de escalas características do
escoamento nesta região da esteira afastada.

11.2.1. Mecanismo de formação; número de Strouhal


Apresentemos o mecanismo de formação da estrada de von-Kármán
estudando a evolução do escoamento em tomo de um cilindro circular à medida
que o número de Reynolds aumenta [8].
A Reynolds's muito baixos Re = U„d/v « 1, em que d é o diâmetro do
cilindro, a equação de Helmholtz (3.9) de transporte da vorticidade reduz-se a
d Q j d t - v V ^ Q , significando que o escoamento é dominado por uma difusão
molecular de vorticidade em todas as direcções, actuando o cilindro como uma
fonte de vorticidade em consequência da condição de não-escorregamento; o
escoamento resultante é muito aproximadamente simétrico, com uma geometria
semelhante à obtida em fluido perfeito no extremo oposto da gama de números
de Reynolds Re->°o, como representado na Fig. 11.18.

Fig. 11.18 Escoamento em torno de um cilindro circular a R e « 1

Aumentando o número de Reynolds os efeitos convectivos vão destruindo


gradualmente a simetria do escoamento em relação a um plano passando pelo
eixo do cilindro e normal à direcção da corrente não perturbada. A partir de
R e - 6 a convecção da vorticidade ao longo da superfície torna-se dominante
em relação à difusão radial, passando a verificar-se uma acumulação de
vorticidade de sinal contrário de um e de outro lado do ponto de estagnação
posterior. À medida que o tempo decorre mais e mais vorticidade vai sendo
convectada para essas regiões de muito baixas velocidades, as concentrações de
vorticidade vão crescendo e destacam-se da superfície, dando origem a uma
dupla bolha de separação e a uma reversão do escoamento ao longo da linha de
corrente de simetria, o que, por seu turno, tende a aumentar a intensidade do
SEC. 11.2. ESTEIRA AFASTADA 631

movimento e a dim ensão das regiões de recirculação. Representa-se na Fig.


11.19 a) a geometria do escoam ento.

a)6á/teS40 b) R e * * 4 0

Fig. 11 .1 9 Escoamcnlo em tom o de um cilindro circular a baixos R e ' s.

A um número de Reynolds próxim o de 40 a esteira em regiões afastadas do


corpo torna-se instável a pequenas perturbações, passando a exibir oscilações
lentas e aproximadamente sinusoidais no tempo e no espaço, como ilustrado na
Fig. 11.19.b). À m edida que Re aum enta a oscilação da esteira vai aumentando
de amplitude e propagando-se a regiões cada vez mais próximas do corpo até
atingir as duas bolhas de separação.
A ite = 5 0 - 6 0 a vibração lateral imediatamente a jusante do corpo afecta a
estabilidade do escoam ento nesta região e faz com que as camadas de corte A e
Bdeixem de se encontrar no ponto de confluência C, acontecendo então que a
linha de corrente d iv isó ria B, por exem plo, corte, por arrastamento, o
fornecimento de vorticidade à concentração 1.

a) Crescimento da concentração de vorticidade 2 b) Libertação da concentração de vorticidade 2

Fig. 1 1.20 Libertação de concentrações de vorticidade no escoamento periódico


em torno de um cilindro circular a R e > 5 0 -6 0 .

Como esquematizado na Fig. 11.20.a), a concentração 2 pode agora crescer


livremente e aum enta de dim ensõ es, sendo, durante este processo de
crescimento, transportada para jusante pelo escoamento principal; a dada altura,
as posições longitudinais relativas das linhas de separação A e B invertem-se e A
corta o fornecim ento de vorticidade a 2 que se desprende do corpo, o que
permite o livre crescim ento da concentração 1: Fig. 11.20.b).
0 processo rep ete-se com a libertação alternada de concentrações de
vorticidade de um e outro lado do corpo não-fuselado, as quais, para efeitos de
análise, podem ser m odeladas como vórtices livres irrotacionais. À distribuição
rectilínea, dupla, de vórtices pontuais de intensidade simétrica desfasados de
meio comprimento de onda, representada na Fig. 11.21, dá-se o nome de
estrada de v o n-K árm án.
632 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

F ig . 1 1 .2 1 G eom etria d a estra d a de v on-K árm án.

Note-se que neste processo de formação de vórtices discretos o vórtice 2


atrás referido, por exemplo, arrasta, na sua fase de crescimento, vorticidade de
sinal contrário correspondente à camada de corte A; assim, o valor final de
vorticidade associada a 2 que é convectada para jusante, é inferior à quantidade
total de vorticidade que lhe foi fornecida pela camada de corte B. Verifica-se
experimentalmente que, neste processo de formação, se 'perde' cerca de metade
da vorticidade transportada para cada núcleo pela camada de corte respectiva
[45],
Visualizam-se na Fig. 11.22 [8] os diferentes estágios de formação da
estrada de von-Kármán.

R e= 55 «<r=102

«e=161

Fig. 11.22 Evolução do escoamento em torno de um cilindro circular


com aumento do número de Reynolds.

Para cada geometria, a frequência de libertação de vórtices / deverá ser


função da dimensão transversal do corpo d, da velocidade do escoamento de
aproximação U„ e da propriedade do fluido v, i.e. f= F (d ,U „ ,v ). A análise
dimensional fornece, com base nestas variáveis características, os seguintes dois
parâmetros adimensionais

s={ f =FiHV~)=nRe}- (1L13)


A frequência adimensionalizada dá-se o nome de núm ero de Strouhal
S = fd/V „.
SEC 112 ESTEIRA AFASTADA $33

Para corpos não-tuselados cm que a separação ocorre em descontinuidade»


da superfície, verilica-se que o número de Slrouhal é praticamente independente
do número de Reynolds. Mesmo em cilindros circulares, resultados
experimentais mostram que tanto S como CD são muito aproxímadamente
constantes numa extensa gama de Re's entre 3xlOJ e cerca de 3xl0!, com S
variando de 0,20 nos extremos do intervalo a um valor máximo intermédio de
cerca de 0,2! e sendo CD ■- 1,0, como ilustrado na Fig. 11.23.

Fig. 11.23 Variação de S e de CDcom Re para um cilindro circular.


Dado que, em condições geometricamente semelhantes, um aumento do
número de Reynolds está associado a uma diminuição da influência dos efeitos
viscosos comparativamente aos de inércia, estes factos sugerem que a libertação
de vórtices seja um fenómeno essencialmente invíscido, i.e. que embora
actuação da viscosidade tenha sido essencial para criar as camadas de corte
separadas, o seu subsequente enrolar em vórtices discretos deixa de ser
controlado por v . É um processo equivalente a outros três que já anteriormente
considerámos:
i) em campo turbulento a dissipação de energia é efectivada por acção viscosa,
mas a taxa de dissipação de energia é independente da viscosidade: depende
sim da taxa de transferência de energia ao longo da cascata, a qual é
resultante da actuação de um mecanismo essencialmente invíscido de
estiramento de vórtices;
ii) em perfis alares a viscosidade é essencial para produzir o vórtice de
arranque responsável pela sustentação, mas o valor da sustentação é
independente da viscosidade, sendo ditado pela circulação estritamente
necessária para satisfazer a condição de Kutta;
iii) em asas finitas a vorticidade longitudinal é gerada por acção viscosa, mas a
intensidade dos vórtices arrastados, do campo de velocidades descendentes e,
em particular, o valor da resistência induzida, são determinados pela forma e
atitude do coipo, independentemente da viscosidade.
Os abruptos aumento de S e diminuição de CD verificados a ffe = 3xl05 na
Fig. 11.23 são devidos ao facto das camadas limites sobre a superfície do
cilindro sofrerem transição antes de se separarem; dado que, para idênticas
634 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

condições globais, uma camada limite turbulenta se separa mais tarde que uma
camada limite laminar, a esteira deverá agora ser de menor espessura que a Re's
inferiores, do que resultam menores déficits de quantidade de movimento e
portanto uma menor resistência. A Fig. 11.24, em que se apresentam
distribuições do coeficiente de pressão C ao longo da superfície do cilindro
para Reynolds's inferior e superior a Recút = 3 x l 0 5 [145], ressalta a ocorrência
de valores menos negativos de Cp na base do corpo conducentes a um menor
valor de CD a Reynolds's supercríticos. As camadas de corte livres, estando
agora mais próximas, levarão menos tempo a interaccionar, menos tempo terão
as concentrações de vorticidade para crescer e maior será a frequência de
libertação de vórtices.

20 40 60 80 100 120 140 160 180


0 (graus)

Fig. 11.24 Distribuição de Cp ao longo de um cilindro circular


a diferentes números de Reynolds.

Note-se ainda, relativamente a esta figura, o patamar de pressão registado a


R e - 6 tl x \ 0 5 entre, aproximadamente, 100° e 110°, indicativo da presença de
uma bolha laminar antes da separação final em turbulento a cerca de 120°,
comportamento este semelhante ao já com entado no contexto do
desenvolvimento da perda em perfis alares. Ao maior Reynolds ilustrado de
8 ,4 x l0 6 já a distribuição de Cp é perfeitamente suave, característica de um
processo de transição 'pacífico' na camada limite de regime laminar para
turbulento sem separação; a este Reynolds mais elevado separação ocorre mais
cedo (pouco antes dos 110°) e a pressão de base é mais negativa que no caso
anterior, o que só é explicável pelo facto da camada limite turbulenta ter sofrido
transição mais cedo e ter tido um maior comprimento de desenvolvimento em
gradiente de pressão adverso, o que induziu maiores déficits e, apesar do
Reynolds mais elevado, promoveu uma separação antecipada.
Efeitos análogos aos descritos para o cilindro circular na transição regime
subcrítico / regime supercrítico se verificam a Re = const. em corpos com
diferentes geometrias; Roshko [144] obteve experimental mente as evoluções de
S com Re reportadas na Fig. 11.25 para cilindros circulares, cunhas a 90° e
SEC. 11.2. ESTEIRA AFASTADA 635

placas planas colocadas perpendicularm ente ao escoamento. Destes resultados se


conclui também que quanto m enos fuselado for o corpo, i.e. quanto maior for a
espessura relativa da esteira e m aior o coeficiente de resistência, menor será a
frequência adimensional de libertação de vórtices 5.

Fig. 11.25 Variação de S com R e para uma placa normal ao escoamento,


uma cunha a 90° e um cilindro circular na gama subcrítica.

Assim sendo é natural adm itir que S esteja mais relacionado com as
características geom étricas e cinem áticas da esteira próxima do que cora as
características globais do escoamento. A escala de comprimentos típica da esteira
próxima será a distância m áxim a entre as linhas de corrente livres d' e, a escala
de velocidades, a velocidade Us = kU„ do escoamento exterior às camadas de
corte — vidé Fig. 11.12.
Exprimindo a frequência de libertação de vórtices em termos destes novos
parâmetros
f = G(d',kU„, v )
a análise dimensional conduz a

relação semelhante à (11.13); S* e Re* estão relacionados com S e Re por


l d' d'
S*=S----- e R e * ~ R e k — ,
k d d
Nas coordenadas 5* vs. Re* as três curvas características para o cilindro
circular, a cunha a 90° e a placa plana vêm praticamente a coincidir, como
reportado na F ig. 11.26, o que levou Roshko [144] a designar
S*=const.« 0,164 por n ú m ero de Strouhal universal.
A existência de um valor único de S* para corpos com geometrias e
características aerodinâmicas tão diferentes como os referidos, sugere então que
a formação da estrad a de von-Kárm án dependa só das características do
escoamento a nível das camadas de corte livres e não da forma do corpo que as
originou.
636 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

0,20
,
0.18
* ' *
0,16

0.14 :a ola na
e*• cilindro
cunha a 90*
circular
0,12 * placa com interferência
cilindro com interferência
0,10
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40
X e * x lO '

Fig. 11.26 V ariação d e S* com Re* para d ife re n te s co rp o s.

Esta hipótese é consubstanciada por resultados de experimentação numérica


em que é introduzida uma pequena perturbação (e.g. sinusoidal) em duas
distribuições planas, infinitas e paralelas de vórtices discretos, de intensidade
simétrica nas duas folhas, assim simulando as duas camadas de corte livres.
A evolução obtida está representada na Fig. 11.27 [2], a qual mostra, nos
estádios intermédios de desenvolvimento, a interacção das duas folhas de
vórtices responsável pela diminuição da vorticidade resultante nas concentrações
de vorticidade em relação à vorticidade inicialmente existente nas camadas de
mistura.

Fig. 11.27 Interferên cia entre fo lh as d e v ó rtice s o rig in a n d o c o n ce n traç õ e s


d e vorticidade — sim ulação n um érica.

À medida que parte da vorticidade numa das folhas é arrastada para a outra,
as concentrações de vorticidade afastam-se do plano médio de modo a que, para
conservação da quantidade de movimento, o deslocamento total de cada
distribuição seja nulo. Verifica-se assim que a diminuição da intensidade das
concentrações de vorticidade, em relação ao valor da vorticidade inicial, está
intimamente ligada ao aumento da espessura da estrada verificado na prática
durante a fase intermédia do desenvolvimento — lembrar Fig. 11.1 .b).
O único efeito da viscosidade será o de cancelar, por difusão, vorticidade de
sinal contrário no contorno das concentrações de vorticidade deixando, no
entanto, o núcleo central bem definido, o que explica a persistência dos vórtices
discretos por grandes distâncias a jusante do corpo.
SEC. 11.2. ESTEIRA AFASTADA 637

112.2. Características geométricas e cinemáticas


Dada a grande extensão e organização de estradas de vórtices verificadas na
realidade, para efeitos de tratam ento analítico centremo-nos na porção regular
daestrada e modelemo-la com o duas distribuições rectilíneas, infinitas, paralelas
e discretas de filamentos de vórtices livres de intensidade simétrica, desfasadas
de meio comprimento de onda.
Comecemos por considerar o caso ilustrado na Fig. 11.28 de apenas uma
das distribuições [96, 114], no tan d o que, dada a organização periódica dos
vórtices, é nula a velocidade induzida em cada vórtice pelo conjunto dos outros
vórtices da esteira, pois que efeitos de vórtices simetricamente localizados se
cancelam mutuamente, o q u e im p lica que a distribuição fique residente em
fluido em repouso.

-r -r -r
-O- x
-2ci a 2a
F ig . 1 1 .2 8 Organização linear, discreta, de vórtices pontuais.

0 potencial e v elo cid a d e co m plexo s da distribuição de vórtices são


directamente, atendendo à form a das relações (8.58.a e b) estabelecidas na sub-
Sec. 8.4.4. para a série infinita de im agens de uma fonte entre duas paredes
paralelas:
ir ( ttzA
(11.14.a)
vv = — ln sen-—
2k v a )

u- -i —
r cot —
kz
(11.14.b)
2a a
de onde, desdobrando U = U - i V em parte real e parte imaginária:
U_ T senh (27ty /a )
2a cosh (2 7 T y /a)-c o s(2 ;rjc/a )
T ______ sen (2 7Tx/a)_______
2a c o s h (2 7 ry /a )-c o s(2 7 tx /a )
U é uma função par de x de período a, cujo valor médio ao longo de um
comprimento de onda é
t / = - f Udx - — sign(y) (11.15.a)
a Jo 2a
onde sígn(y) = y/\y\ é o sinal de y: positivo acima da distribuição ( y > 0 ) e
negativo abaixo da distribuição ( y < 0 ) . V é uma função ímpar tam bém de
período a, de onde:
638 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

V = - fV íír = 0. (11.15.b)
(jJO
Ainda quando |.v| —>00:
lim £/ = — sign(;y) e lim V = 0. (11.16)
r*±- 2a )-»±~
Daqui se conclui que o efeito desta distribuição periódica de vórtices
discretos é equivalente ao efeito de uma folha contínua de vórtices de
intensidade r/a ■— vidé §8.3.3.1. — tanto:
i) em média ao longo de um comprimento de onda, para todo o domínio —
um vórtice de intensidade r ocorrendo todas as distâncias a> de onde um
valor (médio) de densidade de circulação y = r / a — , como
ii) instantaneamente a grandes distâncias d da distribuição: dja —» °o — notar a
analogia deste resultado com os argumentos expandidos na introdução do
Cap. 1 e na sub-Sec. 8.5.2 para, respectivamente, justificar a hipótese de
meio contínuo e deduzir o teorema de Kutta-Joukowski.
No caso da distribuição dupla de vórtices correspondente à estrada de von-
Kármán e esquematizada na Fig. 11.29 [96, 114] imediatamente concluímos, da
construção geométrica ilustrada, que cada distribuição periódica de vórtices
induz, na outra distribuição, uma velocidade £/w < 0 levando a que, em fluido
em repouso, as duas distribuições progridam imutáveis em direcção ao corpo
que as produziu e se desloca com uma velocidade £/„ > C/w.

Fig. 11.29 Organização de vórtices pontuais correspondente à estrada de von-Kármán.

Com base no resultado (11.14.b), obtido para uma distribuição isolada,


calculemos então agora o valor desta velocidade t/w induzida por uma fila na
outra, em fluido em repouso. Virá, no referencial indicado na figura:

Para o vórtice, e.g. em z = a /2 - \ h / 2 será, atendendo a que nenhuma das


distribuições induz velocidade em si própria (*);

(*) Para z - a j 2 ~ i h / 2 a_segunda contribuição entre parêntesis rectos na expressão de U


naturalmente produz U = cotO = «>, correspondendo à descontinuidade infinita de velocidade
no centro de um vórtice livre.
SEC. 11.2. ESTEIRA AFASTADA 639

deonde:
(/ = - — tanh—71= t/w
2a a (11.17)
V=0.
Demonstra-se [96, 114] que a p resen te distribuição de vórtices só é estável a
pequenas perturbações b i- d im e n s io n a is p a ra v alo res do espaçam ento
adimensional h/a tais que senh {h %/a ) = 1 a que corresponde
Jt/a* 0,281 (11.18)
vulgarmente designado e s p a ç a m e n to d e v o n -K á rm án .
Dado que estradas de vórtices são verificadas persistir por longas distâncias e
que só para valores do espaçam ento adim ensional h/a expresso por (11.18) tal
distribuição espacial d e v ó rtic e s é estáv e l a pequenas perturbações bi-
dimensionais, conclui-se q u e tod as as estradas de von-Kármán ocorrendo na
realidade se tendem a o rg an izar segundo essa única configuração estável; caso
contrário, tenderiam a auto-destruir-se.
A velocidade de convecção dos vórtices em relação ao corpo não-fuselado
será então:
(11.19.a)

e a frequência de libertação de vórtices


M a la . (Il.l9 .b )
Esta questão de v elo cid ad es relativas alerta para as precauções a ter na
determinação da fre q u ê n c ia de lib ertação de vórtices tanto a partir de
fotografias de visualização do escoam ento como de sinais registados por um a
sonda fixa em relação q uer ao corpo quer a fluido em repouso.
Em termos de velocidade m édia ao longo de um comprimento de onda ou
da velocidade instantaneam ente induzida a grandes distâncias desta distribuição
dupla de vórtices conclui-se, co m base na Fig. 11.30 construída a partir dos
resultados (11.15) e (11.16) para um a distribuição única, ser, em relação ao
corpo não-fuselado:

fora da estrada (|y|>A /2)


f
U ^U m-----interiorm ente à estrada (|y|<Ji/2).
640 GAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

-y
-i _o-

—T “O —
y

Fíg. 11.30 Campo de velocidades médias exterior e interior a uma estrada de von-Kármán.

11.2.3. Fórmula da resistência de von-Kármán


Determinemos o valor médio, ao longo de um período T = a/t/N, da
resistência D induzida pela distribuição de vórtices na esteira afastada de um
corpo não>fuselado, para tal modelando esta distribuição, como até agora o
temos feito, por duas organizações lineares infinitas e paralelas de vórtices
discretos de intensidade simétrica, desfasadas de m eio comprimento de onda
[114].
Suponhamos o corpo a deslocar-se, em fluido em repouso, com uma
velocidade —1/„, caso em que a estrada de vórtices progredirá com a velocidade
Úw dada por (11,17). Se ao sistema sobrepusermos uma velocidade - ( / w,as
condições dinâmicas perm anecerão inalteradas e a situação redundará
permanente num referencial solidário com a porção regular da esteira; neste
referencial, fixo em relação à esteira, o corpo deslocar-se-á com a velocidade
- f / N, dada por (11.19) (*).
Um balanço de quantidade de movimento aplicado ao contorno de grandes
dimensões [ABCD] ilustrado na Fig. 11.31, fixo em relação à estrada de
vórtices, permite exprimir a resistência do corpo em term os de escalas de
comprimento e de velocidade características da esteira afastada.

D c

“_£w s f> ^

O O ò ò

A B
F ig. 11.31 Superfície de controlo para determinação da resistência
de um corpo não-fuselado em termos de esteira afastada.

É porém de notar que, dado que o corpo não permanece fixo no referencial
escolhido solidário com a esteira, dois novos vórtices vão sendo libertados em
cada período interiorm ente à superfície de co ntro lo , pelo que, para

(*) É esta a situação considerada para a configuração de Unhas de corrente ilustrada na Fig. 11.4.
SEC. 11.2. ESTEIRA BASTADA 641

determinarmos o valor médio da resistência ao longo de um período, teremos de


contabilizar não só a contribuição permanente expressa pela fórmula de Blasius
(8.59.a) como a contribuição não-permanente para a variação de quantidade de
movimento induzida pela libertação desse novo par de vórtices. Resulta então
para a resistência média ao longo de um período T:

onde AHX representa a variação, ao longo de um período T, da componente


longitudinal da quantidade de movimento complexa.
Esta última contribuição é fácil de calcular atendendo a que, em média ao
longo de um período, a distribuição dupla de vórtices discretos se comporta
como duas folhas contínuas de vórtices de intensidade simétrica ± T /a ,
induzindo uma velocidade - T / a no espaço inter-folhas e uma velocidade nula
exteriormente à distribuição, como assinalado na Fig. 11.30. Em cada período
T -a /U ^ a massa de fluido envolvida no processo é p a h , do que resulta uma
comunicação de quantidade de movimento - p T h ; a variação de quantidade de
movimento por unidade de tempo, ou a contribuição para a resistência média,
será assim [134]:

D-, p™. = ~ à H „ = ^ = ~ ( V m- V v )

Quanto à contribuição permanente [43, 114]:


- manifestando-se a influência dos vórtices na esteira através do campo de
velocidades de perturbação, o termo integral pode, de acordo com o 2o
teorema de C auchy, ser calculado ao longo do circuito de grandes
dimensões relativas [ABCD] em vez de ao longo do contorno do corpo [C];
- a velocidade complexa do campo de perturbação é, por (11.14.b):

dw iT
— ■— =—
dz 2a ( a 1 a
L \ j V /J
a ,h
com Zq = —+ i —;
4 2
o campo de perturbação só acusa valores não-nulos ao longo do troço BC
da superfície de controlo de grandes dimensões, onde d z ^ i d y , pelo que;

- conjugando estes resultados, laboriosamente se obtém para a contribuição


permanente:
642 CAP. 11 CORPOS NÀO-FUSELADOS

o -PIL-Ellu
Dpenn 2 na a w'
Adicionando as contribuições permanente e não-permanente resulta para j
resistência média ao longo de um período:

D=£ j l +Ell{u_-2t/w)
2na a K w'
ou, em termos do coeficiente adimensional CD e para o espaçamento de von-
Kármán (11.18):
D
o ,= 4 (l,5 9 « w-0,63«5,)
\p u U d'
( 11. 20)

^ (5 ,6 5 u w - 2 ,2 5 « ^ )
d v
com « w= í/w/í/„ e tendo-se feito uso da relação (11.17) para 7 \
A expressão (11.20) para o coeficiente CD de um corpo não-fuselado em
termos das escalas de comprimento a ou h e de velocidade u w características
da esteira afastada é designada por fórm ula da resistência de von-Kármán.
Atendendo a (11.13) e a (11.19) a expressão (11.20) pode, altemativamente, ser
expressa em termos de / ou de S , pois

«w = ^ w = 1_ í k = 1_ / £ = l
U„ t/„ U„ j*-
A fórmula de von-Kármán (11.20) determina CD em termos de escalas
características da esteira afastada — a ou h e mw — , enquanto que (11.11) e
(11.12) o exprimem em termos de escalas características da esteira próxima —
d e Vs = kUeB com k = ^ j i - C pb. Compatibilidade entre as duas soluções, por
exemplo admitindo d* = h e atendendo a que só uma fracção da vorticidade
convectada nas camadas de corte livres se manifesta depois concentrada em
vórtices discretos [144], permitiria reduzir o número de variáveis independentes,
mas tal compatibilização de resultados, embora fisicamente significativa, seria
sempre algo incorrecta, dada a simplificação dos modelos adoptados para
descrever características do escoamento tanto a nível da esteira próxima como da
esteira afastada.

11.3. Vibrações induzidas pelo escoam ento


Referimos, tanto no Cap. 1 de Introdução como no texto de apresentação
deste capítulo, que a libertação alternada de vórtices num corpo não-fuselado
induz esforços pulsatórios que, caso a estrutura seja elástica, a fazem entrar em
oscilação.
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 643

Nesta secção é primeiro apresentado, na sub-Sec, 11.3.1., o mecanismo de


indução destes esforços pulsatórios originados pela libertação periódica de
vórtices, situação que pode redundar em catástrofe se a frequência de libertação
de vórtices coincidir com uma das frequências de vibração natural da estrutura;
não serão considerados outros possíveis mecanismos de indução de esforços
variáveis no tempo em corpos não necessariamente não-fuselados como, por
exemplo, devido a turbulência no escoamento de aproximação ou no caso de
um corpo imerso na esteira de outro. A amplitude das oscilações induzidas pela
libertação alternada de vórtices pode ainda aumentar se o corpo tiver uma forma
tal que se revele aerodinamicamente instável; abordaremos este aspecto na sub-
Sec. 11.3.2. considerando as situações simples de um e de dois graus de
liberdade. Na sub-Sec. 11.3.3. são apresentadas possíveis estratégias para reduzir
a amplitude das oscilações e na sub-Sec. 11.3,4. afloradas situações tri­
dimensionais.

11.3.1. Libertação de vórtices


Vejamos então como a libertação alternada de vórtices a uma frequência
bem definida induz no corpo esforços pulsatórios que o podem fazer entrar em
vibração. Na Fig. 11.32 [33] apresentam-se distribuições instantâneas do
coeficiente de pressão, desfasadas de meio período, e as respectivas componentes
de força resultante correspondentes à fase de formação de vórtices na parte
superior e na parte inferior de um cilindro circular.

Fig. 11.32 Distribuições de cp (instantâneo) em tomo de um cilindro circular


desfasadas de meio período.

Os muito negativos valores de cp registados na vizinhança das concentrações


de vorticidade em crescimento resultam da contaminação da superfície do
cilindro pelo campo de baixas pressões associado ao núcleo dos vórtices.
Sendo / a frequência de libertação de vórtices, as flutuações periódicas de
cp em torno da distribuição média no tempo — cp - c p- C p, utilizando a mesma
notação que em campo turbulento para designar valores instantâneos, valores
médios e flutuações — , produzirão esforços pulsatórios a essa mesma
frequência / na direcção perpendicular à do escoamento não perturbado (cL) e
a uma frequência dupla 2 / segundo pois que a componente instantânea cD
é a mesma quer esteja em formação um vórtice do lado de cima quer do lado de
644 OAP 11 CORPOS NAO-FUSELADOS

baixo do cilindro. Verifica-se experimentalmente que a distribuição do desvio


padrão de c é aproxirnadamente simétrica em relação a Oy, pelo que a
intensidade da componente c, da força pulsatória resultante deverá ser muito
maior que a da componente cD: a razão de intensidades c, tipicamente, de cerca
de uma ordem de grandeza [59], i.e. o |^ c jj= 1 0 x o |^ f jj. Concluímos assim
que a libertação alternada de vórtices num corpo não-fuselado elástico tende a
induzir oscilações, fundamentalmente, numa direcção perpendicular à do
escoamento uniforme de aproximação e à frequência de libertação de vórtices.
Esta instalação de sustentações alternadas pode também ser interpretada em
termos análogos aos expandidos na sub-Sec. 9.1.1. no contexto da geração de
sustentação num perfil alar, atribuindo a cada vórtice acabado de libertar,
enquanto está um outro em formação, o significado de 'vórtice de arranque',
deixando no corpo um vórtice ligado simétrico responsável pela sustentação; a
situação corresponde, mais propriamente, à documentada na Fig. 11.33 [48] de
um perfil com um flap oscilante produzindo, alternadamente, sustentação
positiva e negativa.

Fig. 11.33 Libertação de vórtices num perfil co m flap oscilante.

Mesmo para um corpo bi-dimensional, como um cilindro circular, se


verifica experimentalmente que só a muito baixos números de Reynolds estão
bem correlacionados vórtices libertados a diferentes estações z ao longo da
envergadura mas que, mesmo estes, são libertados em instantes diferentes. Tal
facto é bem patente nas figuras de Lissajous (*) ilustradas na Fig. 11.34 [142] e
obtidas injectando, nos dois canais de um osciloscópio, sinais de velocidade
instantânea registados na esteira de um cilindro circular a diferentes estações
segundo a envergadura e a diferentes Reynolds's: i) só a Re = 80 estão bem
correlacionados, embora desfasados, os sinais registados a uma distância z de
100 diâmetros, ii) a Re=220 e 500 só a distâncias z/d = 10 e 3, respectivamente,
se regista uma razoável correlação, embora com algum ruído, iii) a estes
Reynolds's mais elevados a núvem de pontos para maiores espaçamentos é
indicativa da inexistência de qualquer correlação.

(*) Relembra-se na Sec. B.6. o significado e a interpretação d e figuras de Lissajous.


SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 645

O
Re=W
t/d~ 100

/
«c=500 fe=500 «£=500
z /4 = 3 z /4 = 10 z/<l=105
Fig. 11.34 Figuras de Lissajous para sinais de velocidade instantânea entre dois pontos
a distância variável segundo a envergadura e a diferentes Reynolds s
no escoamento na esteira de um cilindro circular.

Estes resultados não são estranhos porquanto embora seja de prever que,
pelo menos a baixos Reynolds's, a libertação de vórtices a várias cotas seja
perfeitamente regular, não há nenhum mecanismo que fixe o instante a que essa
libertação se inicie nas diferentes estações. É assim de prever que os filamentos
de vórtice libertados possam ser rectilíneos, paralelos, mas não necessariamente
paralelos ao eixo do cilindro, como ilustrado na Fig. 11.35 [60].

Fig. 11.35 Previsível orientação dos filamentos de vórtice libertados


relativamente ao eixo de um corpo não-fuselado.

Tal facto é significativo em termos do esforço resultante actuando sobre a


estrutura, o qual será obviamente menor do que no caso de todos os vórtices
serem libertados no mesmo instante.
Esta situação é a que ocorre com uma estrutura rígida. Com uma estrutura
flexível é porém de prever que, uma vez iniciadas as oscilações, seja a deslocação
da estrutura num ou noutro sentido que despolete a libertação de vórtices.
Aumentará assim o comprimento de correlação, como ilustrado na F i g . 1 1 . 3 6 ,
aumentará a intensidade da força resultante instantaneamente aplicada e, por
consequência, aumentará a amplitude das oscilações.
646 CAP. 11 CORPOS NÀO-FUSELADOS

Fig. 11.36 Correlação entre sinais a diferentes distanciamentos segundo a envergadura


na esteira de corpos nâo-fuselados rígidos e flexíveis.

A amplitude das oscilações tenderá a aumentar ainda mais quando se


atingirem condições de ressonância. Suponhamos a estrutura flexível do
cilindro circular (como exemplo de corpo não-fuselado) como um oscilador
harmónico simples com apenas um grau de liberdade em flexão e exploremos o
comportamento aeroelástico do sistema à medida que a velocidade do
escoamento aumenta.
Trabalhemos, por conveniência, em term os de frequências
adimensionalizadas investigando a evolução de / / n vs. f s/n, onde f é a
frequência de libertação de vórtices, f s = SU„/d é a frequência de Strouhal
( S=0,20 para um cilindro circular na gama subcrítica) e n é a frequência de
vibração natural da estrutura [119]; a abcissa f s/n pode então escrever-se como

n nd
onde U„/(nd) é designada velocidade reduzida [reduced velocity].
Se a estrutura fosse rígida teríamos sempre f = f s e a evolução dos dois
parâmetros seria linear com uma inclinação de 45°, como ilustrado na Fig.
11.37.
Sendo a estrutura flexível, condições de ressonância são atingidas quando
f sfn=\. Nestas condições o corpo desenvolve oscilações de grande amplitude A
e, tal como no caso anterior, passa a ser a deslocação do corpo num e noutro
sentido a comandar a libertação de vórtices, e não qualquer mecanismo de
natureza aerodinâmica. Esta situação de cap tu ra [lock-in] consegue-se manter
numa determinada gama de velocidades reduzidas, após a qual, com
subsequentes aumentos de (/„, a transferência de energia do escoamento para o
corpo já não é suficiente para prevalecer sobre o amortecimento aerodinâmico e
abruptamente ocorre uma diminuição da amplitude das oscilações. Para
cilindros circulares esta região de captura abrange, tipicamente, uma gama de
velocidades reduzidas entre U„/(nd)=1/0,2=5 e 7 e a amplitude máxima das
oscilações verifica-se perto do limite superior. A recuperação dá origem ao ciclo
de histerese ilustrado na Fig. 11.37.
Para meios-cilindros, com a face plana voltada a montante, a região de
captura verifica-se à esquerda do ponto de ressonância, f sfn< 1; para corpos
com outras formas pode-se estender para ambos os lados do ponto de
ressonância.
SEC 113 VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO «47

Fig. 11.37 Ciclo dc histerese na situação de captura da oscilação de um corpo não-fuselado.

11.3.2. Instabilidade aeroelástica: galope e flutter


A amplitude das oscilações poderá aumentar ainda mais se o corpo não-
fuselado for aerodinamicamente instável, i.e. se uma vez iniciadas oscilações por
libertação de vórtices, amplificadas ou não pelos mecanismos anteriormente
descritos, a evolução das variáveis aerodinâmicas cL e cD com o ângulo de
ataque induzido a for tal que a componente transversal / da força pulsatóría
resultante actue no sentido do deslocamento. Como se conclui da Fig. 11.38.a),
em que se supõe um corpo deslocando-se no sentido negativo dos y's, de modo
que a velocidade do escoamento induzido pela oscilação em relação ao corpo é
v>0, de onde a = tan_l v/í/_ > 0, a componente segundo Oy do coeficiente de
força induzida é
cy=cLcosa+cDs e n a ^ c L+cDa

e a condição de instabilidade será


dc dc, _
—£ = — +ce < 0, ( 11. 21 )
da da
relação verificada, por exemplo, para corpos prismáticos quadrangulares ou
rectangulares ao baixo, como documentado na Fig. 11.38.b) [124], Energia é
transferida do escoamento para o corpo à taxa f yv.
Este tipo de oscilação aeroelástica, envolvendo apenas um grau de liberdade
de vibração em flexão, é designado de galope [galloping] por ocorrer numa
direcção normal à do escoamento não perturbado.
648 CAP U CORPOS NÁO-FUSELADOS

a) Componentes de força instantânea b) Característica C y vs. a para corpos


para oscilação em flexão de diferentes geometrias
Fig. 11.38 Instabilidade de galope.

Compreende-se esta natureza instável de um prisma quadrangular atendendo


à forma do corpo e das superfícies de deslocamento da esteira e das bolhas de
separação ilustradas na Fig. 11.39 para ângulos de ataque crescentes.

Fig. 11.39 Superfícies de deslocamento da esteira de um paralelipípedo quadrangular


desenvolvendo oscilações em flexão.

À medida que a aumenta a camada de corte livre superior afasta-se da


superfície do topo e a camada de corte inferior curva mais acentuadamente em
direcção à superfície de baixo, do que resulta uma diminuição (em módulo) da
sucção no topo e um aumento de intensidade da sucção na face inferior; o
diferencial de pressões e, por conseguinte, / tornam-se máximos quando a
camada de corte livre inferior recola à superfície perto do extremo de jusante
[119], voltando depois a separar-se.
Situação análoga ocorre em prismas rectangulares ao baixo que, como
ilustrado na Fig. 11.40, quase que podem ser encarados como corpos
sustentadores com curvatura negativa, produzindo um cL< 0 a a ’s pequenos.

Fig. 11.40 Superfícies de deslocamento e componente de força instantânea


num prisma rectangular ao baixo em oscilação.
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 649

Ainda outro exemplo é o de uma secção em H na gama |a|<10°, com


cr = 0° entendido paralelamente aos banzos; edifício característico com este tipo
de secção recta é o Empire State, em Nova York.
Outros tipos de oscilações se podem verificar em corpos dinamicamente
mais complexos. Exemplos clássicos e passíveis de uma primeira apreciação
através de um modelo simples são os do tabuleiro de uma ponte suspensa —
tipo prisma rectangular ao baixo — e de uma asa de avião encastrada na
fuselagem.
Tanto um como outro podem apresentar divergência em torção, pelo
mecanismo exposto na sub-Sec. 10.5.3. para o caso de asas com flecha negativa,
o que envolve apenas um grau de liberdade. Também uma vez iniciadas
oscilações e.g. em flexão, energia pode eventualmente ser transferida para o
modo de vibração em torção e deste novamente para flexão, desenrolando-se o
processo através de um acoplamento de estados de oscilação em flexão e em
torção com amplitudes continuamente crescentes. Este tipo de instabilidade
aeroelástica, requerendo dois graus de liberdade e acoplamento entre os dois
modos de vibração, é designado por "flutter" de flexão-torção e deu origem ao
tragicamente célebre acidente com a ponte de Tacoma Narrows, nos U.S.A. em
1940, que culminou com o colapso do tabuleiro depois de ter estado a oscilar
durante mais de meia hora com amplitudes dificilmente imagináveis em ventos
de apenas 70 km /h. O conjunto de Figs. 11.41 [54] documenta este acidente.
650 CAP.11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

A preciem os, em term os muito gerais, o m ecanism o de f lu tte r. Para tal


considerem os a situação sim ples de ura corpo tipo placa plana capaz de
desenvolver oscilações em flexão e em torção; para um a placa plana o centro de
pressão está fixo a l/4 c e o centro de corte e o centro de gravidade estão
coincidentes a l / 2 c , pelo que forças de inércia, actuando segundo o CG, não
produzem m om entos torsores. L im item os estas apreciações à gama dos
pequenos ângulos de ataque, em que o escoamento pode ser modelado como de
fluido perfeito: é o chamado flu tte r clássico [classical flutter).
Com referência à Fig. 11.42 considerem os primeiro os casos de vibração só
em flexão — F ig. 11.42.a) — e só em torção — Fig. 11.42.b) — e
seguidam ente o de acoplamento flexão I torção — Fig. 11.42.c).

a) Oscilação só em flexão

------------
b) Oscilação só em torção

ff « 0 <0 = 0 >0 » 0 >0 = 0 <0 «0

f, » 0 >0 = 0 <0 «0 <0 = 0 >0 »0


c) Acoplamento flexão / torção

F ig . 1 1 .4 2 Mecanismo de flutter.

A o caso de vibração só em flexão aplica-se o tipo de considerações já


av an çad as aquando da descrição do fenóm eno de galope: o ângulo de ataque
in d u z id o p elo m ovim ento oscilatório é a = tan~' v /t/„ = v/l/„ e a sustentação
flu tu an te é:

ef° ‘ ^ P U - Cal D j j - x

a oscilação é assim am ortecida — a 2D> 0 antes da perda: e.g. quando a placa se


desloca para 'cim a' (no referencial da página) é a < 0 e éf < 0 , pelo que a força
aerodinâm ica instalada é de restituição — opõe-se ao movimento.
No caso de vibração só em torção, residindo o centro de pressão à frente dc
centro de corte, o m om ento torsor é destabilizante: e.g. para a > 0 é f, >0, pele
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 651

que o momento torsor tende a aumentar ainda mais o ângulo de ataque; se a


placa operasse apenas neste modo poderia, dependendo das suas características
elásticas, exibir uma divergência em torção. A sustentação flutuante é agora:

êt = % pU lca1Da u l.

Ilustra-se na Fig. 11.43 a evolução, com a velocidade do escoamento de


aproximação, das sustentações flutuantes induzidas por estes dois modos de
vibração simples; para velocidades t/„ inferiores à do ponto de intersecção da
recta l { <* U„ com a parábola £ ,« U l domina o efeito da oscilação em flexão e
para velocidades superiores a este valor domina o efeito de torção.

F ig . 1 1 .4 3 Evoluções t vs. l/_ para oscilações só em flexão e só em torção.

Consideremos por último o caso ilustrado na Fig. 11.42.c) de acoplamento


flexão / torção, em que, comparativamente às situações de um grau de liberdade
contempladas nas Figs. 11.42.a) e b), se supõe que é a mesma a frequência dos
dois modos sim ples e que a oscilação em torção está avançada de n/2
relativamente à de flexão; na tabela da Fig. 11.42.c) indicam-se os sentidos e as
intensidades relativas das sustentações flutuantes induzidas pelos movimentos de
flexão £f e de torção £v
Desta tabela se verifica que são sempre opostos os sentidos das sustentações
flutuantes associadas só a flexão e só a torção, pelo que a velocidades inferiores
à do ponto de intersecção t/nulter na Fig- 11-43, em que domina o efeito
estabilizante de flexão, as oscilações serão amortecidas e a velocidades
> Unmtt, em que domina o efeito instável de torção, as oscilações serão
amplificadas: é o domínio da instabilidade aeroelástica de flutter; a velocidade
(/flullei, fronteira entre estas duas regiões, é designada velocidade de flutter
[flutter speed].
Ao projectar uma estrutura susceptível de desenvolver oscilações em flutter,
o critério de dimensionamento será assim o de garantir que a velocidade de
flutter seja sempre superior à velocidade máxima do escoamento em que a
estrutura possa alguma vez vir a operar.
A situação muito simples apresentada aleita para a multiplicidade de factores
intervenientes num caso real: questões de aerodinâmica instacionária,
distribuição de massas e características de rigidez e de amortecimento da
estrutura e dos apoios.
652 C A P . 11 C O R P O S N Ã O -F U S R A D O S

Outras situações de flutter, de mais difícil tratamento, se podem apresentar,


como, por exemplo, as originadas pelas súbitas deslocações do centro de pressão
na região da perda em perfis exibindo uma perda abrupta e uma recuperação
com histerese: é o chamado stall flutter.
Nota-se ainda, como parêntesis e a propósito da condição de instabilidade
em galope (11.21), que a mesma relação se aplica ao caso de auto-rotação
numa asa finita: rotação em rolamento auto-sustentada, uma vez iniciada ou por
actuação das superfícies móveis ou em consequência de uma perturbação e que,
no caso de uma aeronave, redunda numa vrille [ s p i n ] — situação de voo
descendente, muito pronunciado, em espiral.
Para tal suponhamos a situação tipificada na Fig. 11.44 de uma asa instalada
num túnel aerodinâmico a um certo ângulo de ataque a , livre de rodar em
tomo do eixo longitudinal, e que a situação de equilíbrio é perturbada com um
impulso imprimindo-lhe rotação, de tal modo que a asa esquerda 'desça' e a
direita 'suba'. Como indicado na figura, a componente v de velocidade relativa
induzida pela rotação será positiva na asa esquerda ( v > 0), conduzindo a um
aumento do ângulo de ataque, e negativa na asa direita (v < 0 ), produzindo uma
diminuição de a .
AC y > 0
AC y< 0 | Mr > 0

Fig. 11.44 Situação de auto-rotação.

Para que o movimento seja auto-sustentado será necessário que seja positivo
o momento de rolamento AÍR produzido pela alteração da força normal Fy nas
duas asas em resultado da alteração do ângulo de ataque, i.e. ACy < 0 para a asa
esquerda onde d tr > 0 e ACy>0 para a asa direita onde A a < 0. A condição de
instabilidade é assim

Tal situação só se poderá verificar após a perda e requer que a asa esteja
dotada de perfis exibindo uma perda relativamente abrupta — e.g. tipo bordo
de ataque — de modo a que o valor muito negativo de dCL/d a possa prevalecer
sobre o valor positivo e também muito elevado de CD, em resultado de
separações massivas, conduzindo a um dCy/d a < 0.
Em aeronaves mais 'renitentes', pode-se tentar forçar uma vrille cruzando
comandos, e.g., para uma vrille para a direita, metendo 'pé para a direita e
manche para a esquerda', o que facilmente se compreende. "Pé para a direita",
i.e. empurrando o pedal direito, faz o leme de direcção deflectir para a direita,
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 653

assim criando uma sustentação para a esquerda no estabilizador vertical, como


requerido para uma volta para a direita; "manche para a esquerda" faz deflectir
o aileron direito para baixo e o aileron esquerdo para cima, o que promove um
pranchamento sobre a esquerda numa situação normal de voo, antes da perda,
mas que a ângulos de ataque superiores a a ^ , fazendo aumentar o ângulo de
ataque absoluto na asa direita e diminuí-lo na asa esquerda, faz aumentar ainda
mais o diferencial de sustentações nas duas asas e aumentar o momento de
rolamento para a direita, no sentido pretendido de realização da vrille. Voo a
ângulos de ataque elevados com uma compensação com comandos cruzados a
baixa altura do solo pode assim tornar-se perigoso por, inadvertidamente ou por
acção de uma qualquer perturbação, poder originar uma entrada em vrille, sem
altura suficiente para parar a rotação, picar e recuperar.

11.3.3. Estratégias para redução da amplitude das oscilações


Redução da am plitude das oscilações de um corpo não-fuselado pode ser
conseguida quer actuando sobre as suas características estruturais quer por
meios aerodinâmicos.
A fim de evitar condições de ressonância, a frequência fundamental da
estrutura deverá ser superior à frequência máxima de libertação de vórtices
atingível em condições de funcionamento; sendo / imposto quase que só pela
forma e dimensões do corpo e pela velocidade do escoamento, a desigualdade
requerida terá de ser satisfeita jogando com a rigidez, distribuição de massas e
amortecimento do corpo e/ou dos apoios e ainda com o número e localização
destes.
Sendo muito restrita, na prática, a margem de manobra para jogar com o
amortecimento estrutural do corpo, a estratégia normalmente adoptada consiste
em aumentar a sua rigidez ou a frequência fundamental do primeiro modo de
vibração através de um conveniente posicionamento dos apoios. Exemplo típico
referido na Fig. 11.45 é o do suporte de um mastro de transmissão, de que se
ilustra a deformada para um mastro simplesmente encastrado e um mastro com
espias, supondo fixos os respectivos pontos (rótulas) de implantação, i.e.
desprezando a elasticidade das próprias espias.

F ig . 11.45 Deformadas de um mastro encastrado sem e com espias.


654 CAP 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

Em termos aerodinâmicos, várias estratégias se revelam possíveis, embora


nem todas elas de interesse prático; a título exemplificativo referem-se apenas
três dessas possíveis soluções: i) alterar a forma do bordo de fuga, ii) interferir
com o escoamento a nível da esteira próxima e iii) modificar a configuração da
superfície de estruturas cilíndricas. Apreciemos resumidamente cada uma destas
estratégias:
• Consideremos o caso de um corpo tipo prisma rectangular ao baixo,
alinhado com o escoamento e livre de oscilar em tomo do bordo de ataque.
Documentam-se, na Fig. 11.46, resultados experimentais obtidos em canal
de água para diferentes configurações do bordo de fuga [119]: A. bordo de
fuga semi-circular, B. com entalhe, C. cortado a direito [blunt] e D.
bizelado; os parâmetros considerados são a amplitude adimensional A/h,
onde A é a deflexão máxima a nível do bordo de fuga t h a espessura do
corpo, a frequência de vibração adimensional co/n e a velocidade reduzida
U « = U j{ n h ) .

Ar

a) Amplitude de oscilação b) Frequência de oscilação c) Vórtices capturados


num bordo de fuga
em bizel embutido
Fig. 11.46 Influência da forma do bordo de fuga nas características de oscilação
de um prisma rectangular ao baixo.

Mostram estes resultados que (estranhamente) a configuração menos


favorável é a D, bizelada, pois é a que regista das maiores amplitudes de
vibração e a mais extensa gama de captura. A mais favorável é, sem margem
para dúvidas, a B com entalhe ou bizel embutido, o que só é explicável pela
geração de dois vórtices ca p tu ra d o s [trapped vórtices] que actuam no
sentido de reduzir a espessura da esteira, como esquematizado na Fig.
1 1 .4 6 .C ) . A solução é relativamente comum na indústria automóvel: a Fig.
1 1 .4 7 documenta a adopção de um t a l apêndice no vidro de trás de um
Volkswagen Golf.
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 655

Fig. 11.47 Apêndice para criar um vórtice Fig. 11.48 Renault 5 e VESTA U.
capturado no vidro traseiro
de um Volkswagen Golf.

A espessura da esteira e os correspondentes valores da pressão de base e da


intensidade dos vórtices libertados também podem ser reduzidos com um
conveniente afunilamento do bordo de fuga [boat~tail). Ilustra-se, na Foto
11.48, a alteração que, com este fim, foi introduzida na parte de trás da
carrosserie do Renault 5, conduzindo ao VESTA II.
A mesma ideia presidiu aos testes de instalação no tabuleiro da ponte de
Longs Creek de prolongamentos laterais em cunha \fairings]; é notória a
redução da amplitude das oscilações ilustrada na Fig. 11.49 [119].

a) Geometria da ponte b) Amplitudes de oscilação para diferentes fornias


de prolongamentos laterais em cunha
F ig . 11.49 Ponte de Longs Creek.

Retomando os exemplos de aerodinâmica automóvel notemos apenas que


um veículo de três-volumes, apesar da menor esteira, pode, para certas
configurações, registar um maior CD — Cx , na nomenclatura da indústria
automóvel — que um veículo de dois-volumes. Tal acréscimo de CD é
devido à geração dos vórtices longitudinais no extremo do habitáculo
ilustrados na Fig. 11.50 [90], efeito este equivalente ao dos vórtices
arrastados numa asa finita, produzindo uma resistência induzida.
656 CAP.11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

'A . ,'
Fig. 11.50 Configuração da esteira para veículos automóvel de 2 e de 3-volumes.

• Interferência com o escoamento a nível da esteira próxima pode ser


efectivada pela introdução de uma barreira física tipo placa divisória
[splitter-plate] ou através de transpiração na base [base bleed].
Uma placa divisória, se suficientemente extensa, inibiria completamente a
libertação de vórtices, pois as camadas de corte livres seriam levadas a
recolar, como esquematizado na Fig. 11.51.

Fig. 11.51 Libertação de vórtices inibida pela instalação de uma placa divisória
na esteira próxima de um corpo não-fusetado.

Mesmo placas mais curtas, convenientemente posicionadas na esteira


relativamente ao corpo, são verificadas conduzir a valores menos negativos
de C e a transferir mais para jusante a estação de primeiro enrolamento
das camadas de corte em vórtices discretos, conduzindo ainda a uma
diminuição do número de Strouhal. Mostra a Fig. 11.52 [9] ser - C p quase
inversamente proporcional à distância b a que os vórtices discretos se
formam a jusante do corpo. Solução deste tipo e facilmente implementável
para inibir a libertação de vórtices em cabos submarinos é a ilustrada na Fig.
11.53 [118], de fitas soltas [ribbons] de plástico entrelaçadas nos cabos.

Fig. 11.52 Relação entre Cp e a distância b /h F ig. 11.53 Instalação de fitas soltas
a que vórtices são formados na esteira de em cabos submarinos,
um corpo não-fuselado com placas divisórias.
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 657

Sopro através da base é uma solução alternativa, actuando um jacto delgado


de alta velocidade como uma placa divisória e servindo um sopro de baixa
velocidade para estabilizar a cavidade. Efeito análogo a este último pode
ainda ser conseguido com as placas perfuradas ou denteadas ilustradas na
Fig. 11.54, tendo as segundas a vantagem de actuarem também como
geradores de vórtices, favorecendo a mistura.

F ig. 1 1 .5 4 Placas perfuradas e denteadas tendentes a estabilizar o escoamento


a nível da esteira próxima de um corpo não-fuselado.

Em estruturas cilíndricas, como chaminés metálicas, a solução aerodinâmica


mais comum para reduzir a intensidade dos esforços pulsatórios foi
idealizada por Scruton do National Physical Laboratory, U.K. [150] e, como
ilustrado na Fig. 11.55, consiste na instalação, ao longo da superfície, de
alhetas helico id ais [helical strakes] tipicamente de 3 entradas, com uma
altura de 0,1 d e um passo de 5 d\ o dispositivo parece actuar por
diminuição do com prim ento de correlação entre vórtices libertados a
diferentes posições longitudinais, pois, como que 'guiando' o escoamento,
faz com que os vórtices da esteira não sejam formados todos ao mesmo
tempo nem libertados na mesma direcção.

a) Chaminé cilíndrica b) Modelo de antena de televisão


no túnel aerodinâmico do LNEC
F ig . 1 1 .5 5 Alhetas helicoidais

Solução alternativa consiste na instalação de uma m anga p e rfu ra d a


[perforated shroud] que, promovendo uma transpiração na base, tem
capacidade para aliviar Cpb. Diâmetro e porosidade típicos do invólucro são,
respectivamente, 1,25d e 40% [118]. Um invólucro perfurado tem,
comparativamente às alhetas helicoidais, a vantagem de produzir uma menor
penalização em termos de resistência média ( CD **0,6 baseado no diâmetro
do invólucro), mas tem o inconveniente de acarretar um aumento do peso da
estrutura.
658 CAP. 11 CORPOS NÃO-FUSELADOS

11.3.4. Configurações tri-dimensionais


C o nsiderem os apenas os caso s m u ito sim p le s d a s d u a s seguintes
configurações tri-dim ensionais: um cone num esco am en to de aproximação
uniforme e um cilindro circular num escoam ento de corte, co m o exemplo de
uma chaminé cilíndrica imersa na cam ada lim ite atm osférica.
No caso do cone em escoam ento uniform e v erifica-se experimentalmente
que o núm ero de Strouhal baseado no diâm etro local da secção se mantém
muito aproximadamente constante ao longo do eixo z do cone,

SJ M M , co,,,,.
Um

o que requer que a frequência de libertação de vórtices f(z) varie inversamente


com o diâmetro d(z), i.e. que o número de vórtices libertados po r unidade de
tempo numa secção junto do vértice do cone seja m aior que o número de
vórtices libertados numa secção junto à base. Ora tal não é fisicam ente possível,
pois implicaria que alguns dos filamentos de vórtices se não pudessem fechar ...
e vórtices não podem terminar no seio do fluido.
A única maneira de compatibilizar estes resultados será então admitir que
junto ao vértice, onde a frequência de libertação de vórtices é maior, essa
libertação se não processe continuamente mas sim numa alternância de estádios
de libertação organizada e de uma quase quiescência ou de uma libertação
incipiente.
A forma então sugerida de estrutura da esteira está ilustrada na Fig. 11.56.a)
e parece adaptar-se à interpretação da Fig. 11.56.b) de visualização do
escoamento [56], Justifica-se comparar esta fotografia com a Fig. 11.1 .b) para a
estrada perfeitamente regular produzida por um cilindro circular.

^ Vj
b) Visualização do escoamento
Fig. 11.56 Libertação não-regular de vórtices num corpo c ó n ic o .
SEC. 11.3. VIBRAÇÕES INDUZIDAS PELO ESCOAMENTO 659

Efeitos semelhantes ocorrem no caso de um corpo cilíndrico imerso num


escoamento de aproximação não uniforme e com o eixo segundo a direcção do
gradiente de velocidades. Também neste caso se verifica ser
/(z) d, ~ const.
So= —
U _(z)

significando que a frequência de libertação de vórtices deverá variar


proporcionalmente à velocidade local do escoamento de aproximação, de modo
a manter f(z)/U „(z) ~ const.
Assim, no caso de uma chaminé cilíndrica alta imersa na camada limite
atmosférica, só haverá necessidade de instalar alhetas helicoidais na região onde
os vórtices estejam bem correlacionados, i.e. onde dU„/dz seja pequeno:
tipicamente no terço superior, como ilustrado na Fig. 11.57.

F ig. 11.57 Chaminé cilíndrica imersa na camada limite atmosférica.

Na situação da chaminé de pequena altura reportada na Fig. 11.55.a) não tem


então qualquer justificação a instalação das alhetas helicoidais, dada a não
uniformidade do escoamento incidente introduzida pela proximidade do solo e
agravada pelos edifícios circundantes.
APÊNDICE A
Propriedades físicas da Atmosfera Padrão Internacional (ISA)
na gama de altitudes geopotenciais 0 a 80000 m
Apresentam-se as propriedades físicas da Atmosfera Padrão Internacional —
In te r n a tio n a l S ta n d a r d A t m o s p h e r e ISA — , ampliada até 80 km, conforme
reportadas no Manual da Atmosfera Tipo da OACI (Organização da Aviação
Civil Internacional): refi [107],
A altitude normalizada é a altitude geopotencial [g eo p o te n tia l altitude]
definida por

H =— = — (g(h)dh,
8o 8oJo
onde <p é o potencial gravítico, h a altitude geométrica, g ( h ) a aceleração da
gravidade, função da altitude, e g Q =9,80665 m /s 2 o valor de g à cota de
referência h - 0 do nível médio das águas do mar.
Desprezando a aceleração centrífuga induzida pelo movimento de rotação
da Terra, comparativamente à aceleração gravítica, obtém-se para forma de
g (h ), pela lei da gravitação de Newton:

onde r = 6356766 m é o raio nominal da Terra.


Substituição de g ( h ) na equação de definição de H produz, para relação
entre as altitudes geométrica e potencial:
rH rh
h= ou H =
r-H r+ h ’

Para a gama de altitudes considerada na ISA o ar é suposto satisfazer a


equação dos gases perfeitos
p= pRT,

onde a constante dos gases perfeitos para o ar vale R = 287,05287 J.kg^.K"1 ou


m2.s '2.K -1; a razão de calores específicos a pressão e a volume constante y,
interessante à determinação da velocidade do som
a =j yR T,

vale y = l , 4 .
Valores de referência, à cota h ~ 0, para temperatura, velocidade do som,
pressão, massa específica, viscosidade dinâmica e viscosidade cinemática, são,
respectivamente:

661
662 APÊNDICE A

T0 =288,15 K p 0 =101325 Pa = l,7 8 9 x H r s k g . m 'V


a„ = 340,294 m -s'1 p 0 = 1,225 kg.m "3 v0 =1,4607 xlCT5 m i s '1
A evolução das propriedades físicas em altitude é modelada na ISA
considerando a atmosfera sub-dividida em camadas acusando uma variação
linear de temperatura do tipo
T = T , + p { H - H b)
onde, com o índice b, se referem valores na base (limite inferior) de cada
camada e p = dT/dH é o gradiente vertical de temperatura.
Conjugando esta variação linear de temperatura com a equação da estática
dp = - p g d h e com a equação de estado dos gases perfeitos obtém-se, para a
evolução da pressão em altitude:
-l-ÍOl(í>*)
P = Pb para *0
'b

P = Pi, exp para j} = 0.


/Í T ' b;
A viscosidade dinâmica é assumida satisfazer a lei empírica de Sutherland

sT
T +S
com = l,4 5 8 x l0 '6 k g /(m .s.K 1/2) e 5 = 110,4 K.
Apresentam-se, na tabela a seguir, os valores base para cada uma das
camadas da ISA.

Altitude Pressão Gradiente de


Temperatura
geopotencial temperatura
n (K ) p b <p a i
H h ( km) P ( K/km)

0 288,15 101325
- 6,5
11 216,65 22632,0
0
20 216,65 5474,87
+1
32 228,65 868,013
+ 2,8
47 270,65 110,905
0
51 270,65 66,9381
- 2,8
71 214,65 3,95637
-2
80 196.65 0,88627
PROPRIEDADESFÍSICASDAISA 663

Ilustram-se, na figura abaixo, as evoluções de algumas propriedades físicas


na ISA normalizadas pelos respectivos valores à cota de referência: T/T0, pjp0,
P/Po e v/v0. Tabela-se ainda a evolução, de quilómetro em quilómetro, de T, a,
p , p , p e v nos primeiros 20 km da atmosfera. Apresenta-se, na Sec. E.I., um
programa para cálculo destas diferentes propriedades físicas até à altitude
geopotencial de 80 km.

Evoluções de T/T0, p/Pa* p /P o e v/ v » na


APÊNDICE B
Recordatória de noções de Análise Matemática

B.1. Diferenciais exactas


É condição necessária e suficiente para que o pfaffiano £ dxt , onde os
Xf's admitem derivadas parciais contínuas em ordem a todos os jt('s, seja uma
diferencial exacta df. que as derivadas cruzadas sejam iguais, i.e.

dX, _ 3Xj
dxj dXj

Em duas dimensões virá:

X = d f/d x
df = ^ - d x + ^ - d y = Xdx + Ydy
dx ay Y = d f/d y

com
dX_dY_
dy dx

B.2. Funçõesanalíticas
Definição: A função f ( z ) = a ( x ,y )+ ib (x ,y ) da variável com plexa z = x + iy
diz-se analítica num domínio D se for unívoca e diferenciável em
todos os pontos desse domínio.
i) É condição necessária para que f ( z ) seja diferenciável que as quatro
primeiras derivadas parciais d a /d x , da/d y , à b / d x e d b / d y existam e
satisfaçam as equações de Riemann-Cauchy:

da db da db
dx dy ’ dy dx

ii) E condição suficiente para que f ( z ) seja analítica que as quatro primeiras
derivadas parciais sejam contínuas.
Duas das propriedades de uma função analítica f ( z ) = a + ib, importantes
para o nosso estudo, são que i) numa função analítica, x s y figuram sempre na
combinação x + \y = z, pelo que f é uma função de z, e não de x ou de y
separadamente, e que ii) tanto a parte real a como o coeficiente da parte
imaginária b satisfazem a equação de Laplace: V2a = 0, V2ò = 0.
RECOROATÓRIA DE NOÇÕES DE ANÁLISE MATEMÁTICA 665

B.3. Teoremas de Cauchy, série de Laurent,


teorema dos residuos
g.3.1. Domfnios simples e multiplamente conexos
1, Um domínio D diz-se simplesmente conexo se todas as curvas fechadas em
D se puderem contrair a um ponto permanecendo sempre no domínio.
Quando existirem curvas fechadas para as quais este tipo de contracção não
seja possível, o domínio diz-se multiplamente conexo.
2. Qualquer domínio D multiplamente conexo, de conectividade n, pode-se
transformar num dom ínio simplesmente conexo D* pela introdução de
n -1 cortes ou barreiras limitadas por curvas da fronteira de D. O domínio
simplesmente conexo D* consiste portanto dos pontos do domínio D com
excepção dos pontos sobre os cortes B.

B.3.2. Teorem as de C auchy

1. Se a função /( z ) for analítica num domínio fechado simplesmente conexo o


seu integral ao longo do contorno [C] desse domínio é nulo:

2. Se a função f ( z ) for analítica num domínio fechado multiplamente conexo,


o seu integral ao longo do contorno exterior é igual à soma dos integrais ao
longo de todos os contornos interiores desde que todos os contornos sejam
percorridos no mesmo sentido (e.g. sentido directo).

B.3.3. Série de Laurent

Se a função f ( z ) for analítica num domínio fechado D limitado por dois


círculos concêntricos fi, e de centro em z = z0, então f ( z ) pode ser
representada, em qualquer ponto da coroa circular limitada por e jRj , pela
série de Laurent

/ ( z) = +£ A .( z - 2 o)"

onde os coeficientes A,, são dados por:

e os integrais são calculados no sentido directo ao longo de qualquer curva [C]


do domínio D que envolva o círculo interior.
O coeficiente /!_, do termo ( z -Z o ) no desenvolvimento de /( z ) em série
de Laurent na vizinhança de um ponto singular isolado designa-se por resíduo
de f( z) em z = z0.
666 APÍNOICE B

B.3.4. Teorema dos resíduos

Se /( ;) for analítica num domínio D excepto num número finito n de


pontos singulares interiores ao contorno fechado [Cl em D, então:

|jc|/(*)<fe = 27riSr,

onde os r. são os resíduos de f(z) nos pontos singulares de D interiores a [C],

B.4.Algumasrelaçõesintegraisenvolvendo
operadoresvectoriais
Listam-se algumas relações integrais envolvendo os operadores grad, div e
rot;

j VadV = rtadS

V.ãdv = £n.ãriS, teorema da divergência de Gauss

j V xã d V =^ fix ã d S
onde n é a normal exterior às superfícies fechadas que encerram os volumes.

B.5.Tiposdeequaçõesàsderivadasparciais
Suponhamos a equação às derivadas parciais de 2* ordem num espaço tri­
dimensional

2<P d 2<p d 2m dtp dtp


d x1 dxdy
onde os coeficientes a, b, c, d, e , f e g podem ser funções das variáveis
independentes x e y e da variável dependente <p [155].
Por analogia com a classificação das quádricas, esta equação é classificada
do tipo elíptico, p a ra b ó lic o ou h ip e rb ó lic o consoante b 2-4ac seja,
respectivamente, negativo, nulo ou positivo; nota-se que nesta classificação
apenas intervêm os coeficientes dos termos de 2a ordem.
Apreciemos o esforço de cálculo envolvido na resolução de cada um destes
tipos de equações.
Comecemos por considerar o caso da equação de Laplace, a que satisfaz e.g.
o potencial de velocidades de um escoamento potencial incompressível:
RECORDATÍJRIA DE NOÇÕES DE ANÁLISE MATEMÁTICA 667

fazendo o paralelo com a equação de referência supra (a = c = l, b = 0)


imediatamente concluímos que a equação de Laplace é do tipo elíptico:
fe2-4 o c = - 4 < 0 .
Dado que em escoamento subsónico, de que escoamento incompressível é
um caso particular, ocorrências num qualquer ponto do espaço afectam todo o
campo — varie-se o ângulo de ataque de um perfil e todo o escoamento é
alterado — solução numérica de uma equação deste tipo, seja por métodos
directos ou iterativos, é forçosamente pesada, já que é necessário manipular em
simultâneo informação quanto a todos os pontos da malha em que o domínio
em análise tenha sido discretizado. O cálculo é assim computacionalmente
pesado tanto em termos de tempo de CPU como de capacidades de memória.
Equação parabólica típica é a de condução de calor uni-dimensional
dT _,_d2T
dt ~ d x 2
determinando a evolução de temperatura ao longo do tempo numa barra fina,
isolada excepto nos extremos; neste caso efectivamente é b 2- 4 a c = 0 (a = k\
b = c = 0).
Numa qualquer evolução no tempo, o que acontece num dado instante só
afecta o que vem a acontecer em instantes posteriores, nunca o que já aconteceu
antes (I), pelo que a equação que rege o fenómeno pode ser resolvida por um
processo de m a rc h a no tempo, em que, em cada instante, só é necessário
manipular informação relativa ao instante imediatamente anterior. O cálculo é
assim incomparavelmente mais ligeiro do que para uma equação do tipo
elíptico. Quando esta característica se verifica em relação a uma coordenada
espacial, em vez de temporal, diz-se que essa coordenada é 'tipo tempo' [fime
like]. Exemplo de comportamento parabólico em aerodinâmica é o de um
escoamento em condições sónicas, em que o que acontece num dado ponto
afecta apenas todo o campo do escoamento a jusante da onda 'de choque'
normal, não se propagando a informação para montante.
Consideremos, por último, o caso hiperbólico da equação linearizada do
escoamento potencial supersónico

=o p 2 = M l - 1>0
ox oy
em que i>2 - 4 a c = 4/?2 > 0 ( a = /J2, b = 0, c = - l ) .
Em supersónico, pequenas perturbações só se propagam para jusante a uma
região confinada pelo cone de Mach, como argumentado na Sec. 1.4. A
correspondente equação pode seT assim também resolvida por um processo de
marcha ou, mais eficientemente, ser resolvida ao longo das direcções
correspondentes às ondas de Mach, denominadas curvas características e
668 APÊNDICE B

segundo as quais a solução da equação às derivadas parciais se reduz à


integração de uma equação diferencial ordinária.
As características podem, neste caso, ser interpretadas como as assímptotas de
uma hipérbole, o que está em consonância com a designação de equações
hiperbólicas; no anterior caso as 'assímptotas' coincidiam: equações parabólicas;
no caso elíptico as características são complexas.
Apliquemos as anteriores considerações à identificação do tipo das equações
exactas de Navier-Stokes e da equação aproximada de camada limite, já no caso
particular de escoamento permanente, bi-dimensional a propriedades constantes.
A equação de Navier-Stokes (4.7) para transporte de U escreve-se, na mesma
forma da presente equação de referência, como:
d 2U d zU „dU ,d U 1 dp „

de onde b 2 - 4 ac = - 4 v 2 < 0, revelando que a equação é do tipo elíptico.


Semelhantemente para a equação de camada limite (4.9)

dy dx dy p dx
obtemos í>2 -4 n c = 0, denotando que a equação é parabólica em x.

B.6. FigurasdeLissajous
Admitamos o movimento harmónico bi-dimensional descrito por

x = A, sen(tu, t + ç>,)

I y = Ajsen(©2r + ç>2j.

As curvas de composição deste movimento harmónico no plano x,y são


designadas figuras de Lissajous — vidé e.g. [51, 64], São curvas fechadas se a
razão de frequências angulares (úxl<ú2 for um número racional e que se
repetem com um período igual ao menor múltiplo comum dos períodos dos
dois movimentos simples; caso contrário as curvas preenchem todo o domínio
rectangular - A, < x At, - A2 £ y £ A2.
Ilustram-se algumas formas simples de figuras de Lissajous para dois
movimentos sinusoidais de amplitude unitária A, = A2 = 1 nos casos:
- 0)2 = (ús <p2 =<pl : segmento de recta a +45°
- ú)2 = fi)j <p2 = <p1+ * : segmento de recta a —45°
- (Ú1 = (0) <p2 = <p,+A’/2 : círculo
- (Ú2 = <W, <Pi = <Pi + */4 : elipse com eixo maior a 45
<N

: curva com 2 lóbulos.


3

<P2 = <P,
II
i
RECORDATÓRIA DE NOÇÕES DE ANÁLISE MATEMÁTICA 669

Figuras de Lissajous
apêndice c
Equações do cam po cin em ático d e u m e s c o a m e n to a p ropriedades
constantes em coordenadas c a rtesia n as, c ilín d ric a s e esféricas [ 13]

C.1. Coordenadas cartesianas ( w )


C.1.1. Equação da continuidade

- dU dUy dUz .
v .c /= — i + — ^ + - ^ = 0
dx ay az

C.1.2. Componentes do vector vorticidade

Q Q Q dUy dU*
* dy di y dl dx z dx dy

C.1.3. Componentes do tensor desviador das tensões

C d .4. Equações de Navier-Stokes

f d 2u x d zUx
v [ * 2 dy1

.+U*L=_i ^ +
1 dl p dl

670
EQUAÇÕES DO CAMPO CINEMÁTICO 671

0.2. Coordenadas cilíndricas (c e,x)


C21. Equação da continuidade

1d

0.2.2. Componentes do vector vorticidade

n =1r dU, dUg _ dur 3UX


à6 dx 8 dx dr = íí^-% \
C.2.3. Componentes do tensor desviador das tensões

V=2M- - 1<?U(í

[ d fU A 1 dV 1 (due 1du.)
íã u t ãur \
T- =^ =/ib f +i r
C.2.4. Equações de Navier-Stokes

^L =^L TJ VBdVr Ul IUdUr


Dt ~ dt +Ur dr + ^ ^
1 dp \ d í l d , f. , 1 32Ur 2i
p dr 'V r2302 r2
Dt dt
+u2Hs.+£s.Í£í.+M l+U
' dr r d0 r * dx
_ 1 1 õjp [" d (1 d / .. \V 1 3 Ua . 2 3VÇ 32Ue ~
p r dê

^DtJ J Ldt +Ur*L+


dr
<-hÊE,+

v:-
672 APÊNDICE C

C.3. Coordenadas esféricas (tf, o, <p)

C.3.1. Equação da continuidade

_! Í ( r :[/ ) + — !----- —( í/e sentf) + ---------


K 2 RR' * tfsen tftftf R&enO dtp

C.3.2. Componentes do vector vorticidade

1 dU „
fl.= 'Vt sen tf ) -
tf sen 0 tftf tf sen tf tfÇ>

^ - ________
Q 1 MgS.
9 tf sen tf tf0 tf tftfK )

C.3.3. Componentes do tensor desviador das tensões

xrr~^-R
dR

xee~ ± i E i +E*
R de R

—2/z 1 dU * I U r_ + ^ £ } ^
tfsen tf dtp R tf

T*e~ x8r- H t f - i r í V L i i í V
. tftf l tf; tf <?tf
_T i tfu* tf El o
> r0R~H hr - - —*-+ /? —í- I
[ tf s e n tf dtp tftfl

xep ~ tf — —f , 1 dU„
tf tf0 v sen 0 J tf sen 0 dtp
equações do campo cinemático 673
c 3 4, Equações de Navier-Stokes

BE*
Dt dt dR R de RsenO dtp R

■ - ~ + v { ^ U R~ ~ U R _2
pdR R2 R2 d g ~JfUecotfl-
R2 sen d dtp J

£Ejls ?B<l +u
Dt dt dR R de RsenO dtp R r

= _ I J - ^ E + V ( s / 2U i 2 âU * U« 2cose
pR de Ç 6 R2 de R 2 sen20 R2sen20 dtp

B E ± Jl± + u ldL l v* , W * , v,ut cot O


Dt dt R dR R dO RsenO dtp R R

= - I _í— BE.+ vfv2[ / ___ U-í- - h 2 ^ « i 2cos6> du«)


p R sen 0 dtp \ 0 R2sen20 R2 sen O dtp R2sen20 00 J
Nestas equações é:

V2=— —
R2 dR R2senOO0v dd) R2sen2o(^O02J
APÊNDICE D
Simulação da fronteira de um corpo
com distribuições superficiais de singularidades

Demonstremos que o escóamento não-circulatório em tomo de um corpo de


geometria arbitrária pode ser simulado com uma distribuição de singularidades
sobre a superfície do corpo [86].
De acordo com o 2o teorema de Green, sendo <p, e (p2 duas funções
escalares de posição:

j s {<PíV<P2-(P2V<Pi)-ndS = j v (í» ,V V 2 - ? > 2 ^ V i ) ^ (Dl)

onde V é o volume encerrado pela superfície fechada S e n a normal exterior a


S.
Tomemos <p, = l/r — equivalendo ao potencial de velocidades de uma fonte
pontual, de acordo com (8.28) — e <p2 = 0 , onde r é a distância de um ponto P
fixo a outro ponto do espaço e 0 é uma função harmónica em V . A eq. (D.l)
escreve-se neste caso:

-V $-< P V \ (D.2)

Comecemos por supor o ponto P exterior a S ; neste caso V2(l/r) anula-se


em todos os pontos de V e (D.2) reduz-se a

.n d S = 0 . (D.3)

Suponhamos agora o ponto P interior à região V . Dado que V2(l/r)


assume um valor infinito em r = 0, apliquem os (D.2) apenas à região
compreendida entre uma esfera de raio e pequeno centrada em P e a superfície
limítrofe S. Obtém-se:

130 0
---J ~ + ~2 \dS = 0;
r dr r

no limite e - ) 0 e sendo dS = A ne1 sobre a esfera:

iy < p -0 v | .ndS (D.4)


7

vindo d>(P), o valor de 0 em qualquer ponto de V , expresso apenas em


termos dos valores de 0 e de 3 0 / dn na fronteira S.

674
SIMULAÇÃO DA FRONTEIRA DE UM CORPO 675

Para os potenciais de velocidade de uma fonte e de um dipolo pontual,


expresso o primeiro por

conforme (8.28), e relacionados por (8.33.b)


V v *f
como demonstrado no §8.3.2.2., onde é o versor do eixo do dipolo, a
relação (D.4) produz:

revelando que o valor de 0 em P é devido a uma distribuição superficial de


fontes (primeiro termo) e de dipolos (segundo termo). A intensidade das fontes
é - V 0 .n por unidade de área e a densidade da distribuição de dipolos é 0 ,
estando os eixos dos dipolos orientados segundo a normal interior a S.
Os resultados (D.3) e (D.4) podem ser directamente aplicados ao potencial
de perturbação 0 de um escoamento irrotacional no domínio V exterior a um
corpo sólido. P ara tal apliquemos primeiro estes resultados a uma região
compreendida entre a fronteira do corpo S e uma superfície arbitrária 5*
encerrando S e façamos então S* tender para infinito. Dado que os integrais
sobre S* tendem para zero à medida que S * tende para infinito, obtemos,
sendo n a normal exterior a 5:
para P em V
(D.5)
para P exterior a V

A distribuição expressa por (D.5) pode ainda ser substituída por uma
distribuição superficial ou só de fontes ou só de dipolos. Seja 0 { harmónica na
região 7?, encerrada pela superfície S e seja 0 o potencial de perturbação em
causa. Se P for um ponto em V será:

Somando estes dois resultados obtém-se:


676 APÊNDICED

o que mais uma vez exprime que <í> em P é devido a uma distribuição
superficial de fontes e de dipolos. A densidade destas distribuições é porém
diferente da dada em (D.5), reflectindo que a representação de d>(P) através de
uma distribuição de fontes e de dipolos não é única. Este resultado está de
acordo com os teoremas de unicidade, segundo os quais a solução determinada
para 0 só será única quando ou o valor de 0 ou o valor de d0/dn for
prescrito na fronteira da região onde 0 é harmónica.
Comecemos por considerar uma condição fronteira de Dirichlet, de valor
imposto, prescrevendo 0 = 0 X sobre S. A anterior equação para 0 {P ) reduz-se
neste caso a

exprimindo que <P em P é devido apenas a uma distribuição de fontes sobre 5,


com uma intensidade ( V # -
Se, altemativamente, considerarmos uma condição fronteira de Neumann, de
derivada imposta, prescrevendo 3 0 / dn = 3 0 J d n sobre 5, obtemos:

correspondendo a uma distribuição só de dipolos sobre S.


Ambas as distribuições são únicas, revelando que o escoamento não-
circulatório em torno de um corpo sólido pode ser modelado por uma
distribuição ou só de fontes ou só de dipolos ao longo da superfície do corpo.
APENDICE E
Códigos Fortran

E.1. Programa ISA


Determinação das propriedades físicas da Atmosfera Padrão Internacional
(ISA) na gama de altitudes geopotenciais 0 - 80000 m, conforme reportadas no
Manual da Atmosfera Tipo da OACI.

Listagem do código

program ISA

character resp*5
real miu, niu
dimension Hb(8) ,beta(7) ,Tb(7) ,pb{7)
data gO/9.80665/rRar/287.05287/, gama/1.4/, r/6356766/
*, Hb/0., lle3,20e3,32e3,47e3,51e3,71e3,80e3/
*,beta/-.0065,0., .001, .0028,0.,-.0028,-.002/
\Tb/ 2 8 8 . 15,2*216.65,228.65,2*270.65,214.65/
* , p b / 1 0 1 3 2 5 ., 2 2 6 3 2 .0 ,5 4 7 4 .8 7 ,8 6 8 .0 1 3 ,1 1 0 .9 0 5 ,6 6 .9 3 8 1 ,3 .9 5 6 3 7 /
write (*, ' ('' ******************************************1')1)
write (*, 1 ('f
write(*,'('' FUNDAMENTOS DE * " ) f )

write (*,’('' AERODINAMICA


write(*,'('' INCOMPKESSIVEL *• •> ’)
write(*,'('1
write (*,1 (1 ' Propriedades fisicas da
write(*,'(11 atmosfera padrao internacional (ISA)
write (*,' (' ' de 0 a 80 km
write(*, ' ( "
write (*,’ (' V. de Brederode, 1997 *")')
^*^ • ^I • ****************************************** **)*)
write(*,*)
10 write(*, *)
write(*,1 (1f Altitude geopotencial Hgeop (m)
read(*,*) Hgeop
if(Hgeop.Ie.8e4) goto 20
write(*, 1010)
goto 50
20 do 30 i=l,7
if(Hgeop.le.Hb(i+l)) goto 40
30 continue
40 Hgeom»r*Hgeop/(r-Hgeop)
g=g0*(r/(r+Hgeom))**2
0 = 1 .+beta(i)/Tb (i)* (Hgeop-Hb(i))
T=Tb(i)*C
a«=sqrt (gama*Rar*T)
if(beta(i).eq.0.) then
p-pb (i)*exp (-g0/Rar/T* (Hgeop-Hb (i)))
else
p=pb(i)*C** (-g0/beta(i)/Rar)
endif
677
678 APÊNDICE E

rho=p/Rar/T
miu=l.458e-6*T**1.5/{T+110.4)
niussmiu/rho
write(*,1020) Hgeom,g, T, a,p,rho, miu,niu
50 write(*,1030)
read(*,'(a)') resp
if (resp.eq.’s ’.or.resp.eq.'S') goto 10
stop'##### FIM DE EXECUCAO #####'

1010 format(//' *** A altitude maxima contemplada e de fin u


1020 formate Hgeom =',f7.0,1 m',/, • g =',f7 4 • m / 0 ; ***
*•/' T =',f7,2,' K r,/' a =', f7.2, ' m/s'
*J' P « M p e l l . 4 , r Pa',/' rho ,lpell.4, ' kg/m3 '
*,/' miu =',lpell.4,' kg/m/s',/' niu = ’,lpell.4, • m2/s'
1030 format(//' Quer calcular outros valores ? [S/M]: * $\
end '

Exemplo de janela interactiva

Execute , .
***#*******************»oM<**>Mc^>MoMolo|oM(**
* *
* FUNDAM ENTOS DE *
* AERODINAMICA *
* INCOMPRESSIVEL *
* >K
* Propriedades físicas da *
* atmosfera padrao internacional (ISA) *
* de 0 a 80 km *
* *
* V. de Brederode, 1997 *

Altitude geopotenclal : Hgeop(m) ? 10060


g Hgeom ” 10016. m
i g - 9.7758 m/s2
! T - 223.15 K
a - 299.46 m/s
I p - 2.6436E+04 Pa
rho - 4.1271E—Hl kg/m3
I miu “ 1.4571E-05 kg/m/s
1 niu “ 3.5306E—05 m2/s

Quer calcular outros valores ? [S/Nj: n


STOP ***** FIM DE EXECUCAO *****
I
IíUQj u i
CÓDIGOSFORTRAN 679

E.2. Programa Thwaites


C á lc u lo d o d e s e n v o lv im e n to d e u m a cam ad a lim ite lam in ar pelo m étodo de
T hw aites. O c ó d ig o in c lu i p re v isã o d a o co rrên cia de transição segundo o critério
de C eb eci e S m ith .

Listagem do código
program THWAITES

character *20 InFile, OutFile


real x (30) ,(Je (30), intUe5,1, lambda, ll,niu
data xO,xl,intUeS, Cf,Ue52 ,RCS/6 *0 ./
write (*, 1('1 ********+***********************•**•«**#*«***•
write(*, *(" * *'MM
write(*,'('' * FUNDAÍCNTOS DE *'MM
write (*, 1 (' ' * AERODINAMICA *’MM
write (*, '(' ' * INCQMPRESSIVEL ***)')
write(*, ’ (* ' * *'MM
write(*,'(" * Evolução de camadas limites laminares *’')')
write(*,'(** * pelo método de Thwaites *'MM
write(*, •C * * **MM
write(*, '(’' * V. de Brederode, 1997 * ' M M
write (*, '(' ’ ****************************************..... >M
write(*,*)
write(*,*)
C DADOS DE ENTRADA
write(*,’(’’ Nome do ficheiro de entrada: **,$1 1)
read(*,1010 ) InFile
open(unit-1 ,file*InFile, status-^old*)
call saltacom
read(l,+) np,tetaO,níu
teta0 =teta0 /1 0 0 0 .
call saltacom
do 30 i«l,np
read(1 ,*) x(i),Ue(i)
x(i)«x(i)/1 0 0 0 .
30 continue
close(l)
write<*, '('' Nome do ficheiro de salda : ",$)')
read(*,1 0 1 0 ) OutFile
open (unit“2 ,fileK>utFile, statua«*newM
write (*, *)
writeí*, *>
write(*. '(** Id. x Ue delast teta
.. ,H Cf lambda Rx ftteta * M M
writeí*. T * (mm) (m/s) (ren) fiei'M‘ 1
write(2 ,M ” ! Id. x Ue delast teta
Cf lambda Rx Rteta ' M M
write(2 , •(” ! (ma) (m/s) (me) W M M
C CALCULO DA EVOLUÇÃO DA CAMADA LIMITE
c Constante de integracao
conat-teta0 **2 *Ue(1 ) **6
680 APÊNDICE E

do 170 i=l,np
C Integracao trapezoidal
Ue52=Ue(i)**5
if (i.eq.l.or.(i.eq.2.and.Ue(1).eq.O)) goto 40
intOe5=intUe5+ (Ue51+Ue52)* (x(i)-x(i-l))/2.
teta=sqrt (0.45*niu*intOe5+const)/Ue(i)**3
C Diferenciacao linear
dTJedx= (Ue (i) -Ue (i—1)) / {x (i) -x (i-1))
goto 50
40 dUedX'(Ue(2)-Ue(l))/(x(2)-x(1))
teta-tetaO
if (Ue(l).ne.O) goto 50
C Escoamento de ponto de estagnacao
teta=sqrt(0.075*niu/dUedx)
50 Rx-Ue<i)*x(i)/niu
Rteta=Ue(i)#teta/niu
1ambda«“t eta **2/niu *dUedx
if (i.eq.l) goto 110
C * * # * * # * * * * # •* ♦ * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * '* * * * * * * * * * * .» *

C LIMITE SUPERIOR DE VALIDADE DO MÉTODO: lambda=.25


if (lambda.lt.0.25) goto 60
C Determinação do ponto limite
xO-x(i-l)+ (x(i)-x(i-l))/(lambda-11)*(0.25-11)
write(*,1030) x0*1000.
write(*,1040)
lambda»0.25
H-2
1-0.5
goto 140
C CRITÉRIO DE TRANSICAO: Cebeci s. Smith
60 RCS-1.174*(1.+22400./Rx)*Rx**0.46
C Limite inferior de validade do critério: Rx~lE5
if (.not.(Rteta.ge.RCS.and.Rx.gt.1.e5)) goto 70
C Determinação do ponto de transicao
x0-x(i-1)+ (x(i) x(i-l))*(r8-r9)/ (RCS-r9-Rteta+r8)
C CRITÉRIO DE SEPARACAO: Cf-0 <> lambda— .09
70 if (lambda.gt.-0.09) goto 80
C Determinação do ponto de separacao
xl-x(i-l) (x(i) x(i-l))/(lambda 11)*(0.09+11)
C Locallzacao relativa dos pontos de transicao e de separacao
if (xO.eq.0..or.xO.gt.xl) goto 90
80 if (xO.eq.O.) goto 110
write(*, 1050) xOMOOO.
wrlt©(2, 1060) xGMOOO.
if (xO.eq.xl) goto 100
lambda-'11+ (lambda-11)/(x (i) -x(i-l)>* (xO-x(i-l))
goto 110
90 x0~xl
100 write(\ 1070) xlMOOO.
write(2,1080) xlMOOO.
lam ixia-- 0.09
H-3.55
1-0
goto 140
C
CÓDIGOS FORTRAN 681

ç RELAÇÕES EMPÍRICAS DE CURLE & SKAN PARA H e i


110 if (Iarobda.lt.0.) goto 120
H=*2.61-3.75* lambda+5.24*lambda**2
1=0.22+1.57*lambda-1.8*larobda**2
goto 130
120 H=0.0731/ (0.14+larobda)+2.088
1=0.22+1.402*larobda+0.018*lambda/ (0.107+lairibda)
130 if (xO.eq.O.) goto 150
C CARACTERISTICAS NOS PONTOS DE TRANSICAO, DE SEPARACAO OU LIMITE
140 Ue (i)=Ue (i-1) + (Ue(i) -Ue(i-l))/ (x(i)-x(i-l) ) *(xO-x(i-l))
Rx=Ue(i)*x0/niu
teta=teta2+ (teta-teta2) / (x(i)-x(i-l))*(xO-x(i-l)í
Rteta=Ue(i)*teta/niu
x(i)=xO
150 if (i.eq.l) goto 160
Cf=2.*niu*l/Ue(i)/teta
160 delast=teta*H*1000
write(*,1020) i,x(i) *1000.,Ue(i),delast, teta*1000.,H,Cf,
* lambda, Rx,Rteta
write (2,1020) i, x (i) *1000., Ue (i),delast, teta*100Q.,H,Cf,
* lambda, Rx,Rteta
if (xO.ne.O.) goto 180
11-lambda
teta2=teta
Ue51-Ue52
r8«Rteta
r9-RCS
170 continue
160 continue
dose (2)
stop'#t»*l FIM DE EXECUCAO ###♦#*

1010 format(A)
1020 formate ’,i4, f7.0, f7.3,3f7.3, lpell.3,0pf8.3, lpell.2,0pf7.0)
1030 formatt/,* *** Lantoda - 0.25 a x aprox. -'.fS.O,* mi «♦*•)
1040 formate *,* *** Limite superior de validade do método ***',/)
1050 formatí/, ' *** Transicao ocorre aprox. a x ma',
*' ***',/>
1060 fornat e !V, *! *** Transicao ocorra aprox. a x •*» f5.0, * em",
♦' ***',/'!*)
S0^0 f^rmatf/,* *** Separacao ocorre aprox. a * «•'»
....................., / )
1080 f o r m a t e ! ' / , ’ ! *** Separacao ocorre aprox. a x • m \

®ncí

s.ibr^.ut in e saltaco re
character string
I*" s* ri ng • ' *
readO , ' (A) ') str-rrg
if (string.eq. V *) goto 10
heckapaceO)
return
end
682 A P ÊN D IC E E

Exemplo de ficheiro de entrada

! Gradiente adverso c/ separacao


j
! No. estacões tetaO(mm) niu(m2/s)
14 °* l.E-5

x (mm) Ue (m/s
0 1.1
10 1.098
25 1.095
50 1.09
100 1.08
200 1.06
300 1.04
400 1.02
500 1.0
600 .98
700 .96
800 .94
900 .92
1000 .9
end

Exemplo de ficheiro de saída

Id. X Ue delast teta H Cf lambda Rx


(mm) (m/s) (mm) (mm)
1 0. 1.100 .000 .000 2.610 .OOOE+OO .000 .00E+00
2 10. 1.098 .530 .203 2.613 1.963E-02 -.001 1.10E+03
3 25. 1.095 .844 .322 2.618 1.228E-02 -.002 2.74E+03
4 50. 1.090 1.207 .460 2.626 8.517E-03 -.004 5.45E+03
5 100. 1.080 1.747 .661 2.645 5.779E-03 -.009 1.08E+04
6 200. 1.060 2.600 .966 2.690 3.711E-03 -.019 2.12E+04
7 300. 1.040 3.372 1.225 2.753 2.683E-03 -.030 3.12E+04
8 400. 1.020 4.167 1.466 2.842 1.974E-03 -.043 4.08E+04
9 500. 1.000 5.067 1.701 2.978 1.382E-03 -.058 5.00E+04
10 600. .980 6.223 1.937 3.213 7.647E-04 -.075 5.88E+04
** * Separacao ocorre aprox. a x = 676. m m ***

11 676. .965 7.522 2.119 3.550 .OOOE+OO -.090 6.52E+04


CÓDIGOS FORTRAN 683

E.3. Programa Head


C á lc u lo d o d e s e n v o lv im e n to d e u m a c a m a d a lim ite tu rb u len ta pelo m étodo
d e H ead .

Listagem do código

program HEAD

character *20 InFile,OutFile


real x(30) ,Ue(30) ,dUedx(30) ,b(2),c(2) ,k(2) ,g(8) ,niu
write (*, r( 1 • ************************************************** •j j
write (*/’(*'* *»»)<)
write (*,'('' * FUNDAMENTOS DE *")')
write (*, '(* ' * AERODINAMICA *'•)»)
write (*,’('' * INCOMPRESSIVEL *")')
write(*, *{*' * *")')
write(*, 1('** Evolução de camadas limites turbulentas *")’)
write{*,* pelo método de Head *")')
write (*,' (1' * *•*)•)
write (*,*('' * V. de Brederode, 1997 *'*)')
^* i | n **************************++******************# i i j »j
write (*,*)
write (*,*)
C DADOS DE ENTRADA
write (*, *(f* Nome do ficheiro de entrada: ",$)')
read(*,1010) InFile
open (unit^l, file=lnFile, statusM'old')
call saltacom
read(l,*) np,teta,H,niu
if (H.gt.l.and.H.lt.2.4) goto 20
write (*,*)
stop’##### Factor de forma sem significado #####'
20 continue
teta=teta/1000.
call saltacom
do 40 i»l,np
read(l, *) x(i),Ue<i)
x(i)=x(i)/1000.
40 continue
close(1)
write ( Nome do ficheiro de saida : ",$)')
read(*,1010) OutFile
open (unit=2, file*OutFile, status^new')
write (*, *)
write (*, *)
write (*, *(" Id. x Ue delta delast teta ''#
*' 'H Cf G Rx Rteta'')')
write (*, 1(" (m m ) (m/s) (nm) (mm) (mm) **)1)
write (2, «(» *i Id. x Ue delta delast teta ''t
*’’H Cf G Rx Rteta•’)')
write (2, »(« •1 (nm) (m/s) (nm) (nm) <nm), , ) , >
684 APÊNDICE E

c GRADIENTE DE VELOCIDADE (Interpolação de Lagrange com 3 pontos)


C Derivadas nos pontos intermédios
t2=x(2)-x(l)
do 50 i=2,np-1
tl=t2
t2=x{i+l)-x(i)
t3=tl+t2
dUedx (i)=-t2*Ue (i-1) /tl/t3+ (t2-tl) *Ue (i) /tl/t2+tl*Ue (x+1) /t2/t3
50 continue
C Derivada no primeiro ponto
tl= (2 .*x(l)-x(2) -x(3)}/ (x(1)- x (2)) / (x (1) -x (3))
t2= ( x ( 1 ) - x (3)) / (x (2) -x { 1 ) ) / (x (2) -x (3) )
t3=(x(l)-x(2))/(x(3)- x (1))/(x(3)-x (2))
dUedx (1)=tl*Ue(1) +t2*Ue (2) +t3*Ue (3)
C Derivada no ultimo ponto
tl= (x (np) -x (np-1))/ (x (np-2) -x (np-1)) / (x (np~2) -x (np))
t2= (x {np) -x (np-2))/ {x (np-1)-x (np-2))/ (x (np-1)-x (np))
t3= (2. *x (np) -x (np-1) -x (np-2))/ (x (np) -x (np-1)) / (x (np) -x (np-2))
dUedx (np) =tl*Ue (np-2) +t2*Ue (np-1) +t3*Ue (np)

if (H.gt.1.6) goto 60
H1=0.8234/(H-l.l)**1.287+3.3
goto 70
60 Hl=l.5501/(H-0.6778)**3.064+3.3
70 h2=Hl
S=Ue(1)*teta*Hl
C CALCULO DA EVOLUÇÃO DA CAMADA LIMITE
i0=0
b(l)=teta
b(2)=S
d=x (2) -x (1)
Uel=Ue(1)
dUedxl=dUedx(1)
x(np+1)=2.*x(np)-x(np-1)
do 180 i=2,np+1
do 170 1=1,4
goto (100,80,100,90),1
80 Uel= (Uel+Ue (i) )/2.+d* (dUedxl-dUedx (i) )/8.
dUedx1=(dUedxl+dUedx(i))/ 2 .
goto 100
90 Uel=Ue(i)
dUedxl=dUedx(i)
100 Hl=b(2)/b(l)/Uel
C CRITÉRIO DE SEPARACAO: H=2.4 <> Hl=3.59
if (Hl.gt.3.59) goto 120
if (.not.(i.eq.2.or.i.eq.3.and.l.eq.l)) goto 110
write(*,1020)
goto 190
110 x0=x (i-1 )+ (X (i-2) -x (i-1))/ (h3~h2) * (3.59-h2)
write(*,1030) x0*1000.
write (2,1040) x0*1000.
goto 190
120 if (Hl.lt.5.3) goto 130
H = (0.8234/(Hl-3.3))**(1./1.287)+1.1
goto 140
130 H=( 1 - 5 5 0 1 / ( H 1 - 3 , 3 ) ) * * ( 1 . / 3 , 0 6 4 ) + 0 6778
140 Rteta=Uel*b(1)/niu
CÓDIGOS FORTRAN 685

Lei de Ludwieg & Tillmann


Cf-0.246/10. ** <0.678*H) /Rteta**0.268
Equacao de von Karman
c (1) -Cf/2.-b (1) * (H+2.) /Uel*dUedxl
c (2) =Uel*0.0306/ (Hl-3.)**0.6169
if (l.gt.l) goto 160
delast-teta*H*1000.
delta-teta*Hl*1000.+delast
Rx-Ue <i—1)*x (i-1)/niu
Clauser- (H-l.) /H/sqrt (Cf/2.)
write (*, 1050) i-1,x(i-1) *1000.,Ue(i~l),delta,delast,
* teta*1000., H, Cf,Clauser, Rx, Rteta
write(2,1050) i-1,x(i-1)*1000.,Ue(i-1),delta,delast,
* teta* 1000., H, Cf, Clauser, Rx, Rteta
if (i.eq.3) goto 150
h3=h2
150 h2=Hl
160 if (i.gt.np) goto 190
call RK4 (i0,b, c,d,k,g)
170 continue
teta*=b (1)
s =b(2)
d=x(i+l)-x(i)
180 continue
190 continue
close (2)
stop’##### FIM DE EXECUCAO #####'

1010 format(A)
1020 format(/,' *** Condicoes iniciais inadequadas conduzem a
*H > 2.4 ***')
1030 fomat(/, ' *** Separacao ocorre aprox. a x =',f5.0,' nro',
*i ***',/)
1040 format (' í '/, ’! *** Separacao ocorre aprox. a x =',f5.0,1 mm',
*» ***•^
1050 formatC ', i3, f7.0, f6.1, f7.2,2f7.2, f7.3, lpell.3,0pf6.2,lpel0.2,
*0pf7.0)
end

Ç *******************************************************************

subroutine RK4{i0,b,c,d,k,g)

C MÉTODO DE RUNGE-KUTTA DE QUARTA ORDEM

real k (2) ,b(2) ,c(2) ,g(8)


iO-iO+1
goto (10,30,50,70),iO
C Entrada 1
10 do 20 j=l, 2
k(j)=b(j)
g(4*j-3)-c(j)*d
b(j)=k(j)+g(4*j-3)/2.
20 continue
goto 90
686 APÊNDICE E

C Entrada 2
30 do 40 j-1,2
g (4*j—2)= C (j)*d
b(j)=k(j)+g(4*j-2)/2.
40 continue
goto 90
C Entrada 3
50 do 60 j-1,2
g (4*j-1)=c{j)*d
b(j)=k(j)+g(4*j-l)
60 continue
goto 90
C Entrada 4
70 do 80 j-1,2
g(4*j)=c(j)*d
b (j) = (g<4*j—3) +2. * (g (4* j-2) + g (4* j-1))+ g (4* j))/ 6 .+k (j)
80 continue
i0=0
90 return
end

subroutine saltacom
character string
10 string = ' 1
read(l, ' (A)') string
if (string.eq.'!') goto 10
backspace(1)
return
end

Exemplo de ficheiro de entrada

Gradiente adverso c/ separacao

N o . estacões tetaO (mm) H0 niu(m2/s)


15 0.2 1.5 l.E-5

x (mm) Ue (m/s)
0 45.
10 44.7
25 44.25
50 43.5
100 42.
200 39.
300 36.
400 33.
500 30.
600 27.
650 25.5
670 24.9
675 24.75
678 24.66
680 24.6
end
CÓDIGOS FORTRAN 687

Exemplo de ficheiro de saída


Id. X Ue delta delast teta H Cf G Rx Rteta
(mm) (m/s) (mm) (mm) (mm)
1 0. 45.0 1.50 .30 .20 1.500 3.821E-03 7.63 .OOE+OO 900.
2 10. 44.7 1.69 .33 .22 1.490 3.773E-03 7.57 4.47E+04 1001.
3 25. 4 4 .3 1.99 .39 .26 1.481 3.683E-03 7.57 1.11E+05 1152.
4 50. 43.5 2.48 .48 .32 1.474 3.530E-03 7.66 2.18E+05 1404.
5 100. 42.0 3.50 .67 .45 1.473 3.257E-03 7.96 4.20E+05 1911.
6 200. 39.0 5.75 1.14 .76 1.491 2.812E-03 8.79 7.80E+05 2973.
7 300. 36.0 8.43 1.78 1.16 1.531 2.4UE-03 10.00 1.08E+06 4160.
8 400. 33.0 11.81 2.74 1.71 1.599 2.000E-03 11.85 1.32E+06 5654.
9 500. 30.0 16.35 4.30 2.53 1.698 1.5836-03 14.62 1.506+06 7601.
10 600. 27.0 23.30 7.33 3.86 1.900 1.0616-03 20.57 1.626+06 10419.
11 650. 25.5 28.89 10.37 4.68 2.126 7.111E-04 28.09 1.66E+06 12433.
12 670. 24.9 32.11 12.39 5.40 2.296 5.344E-04 34.53 1.67E+06 13436.
13 675. 24.8 33.09 13.05 5,54 2.355 4.846E-04 36.96 1.67E+06 13711.
14 678. 24.7 33.73 13.49 5.63 2.396 4.534E-04 38.69 1.67E+06 13883.

! *** Separacao ocorre aprox. a x * 619. nro ***

E.4. Programa Moody


Implementação numérica do diagrama de Moody; cálculo do coeficiente de
fricção em escoamentos completamente desenvolvidos em tubos Usos e rugosos.

Listagem do código
program MOODY

character resp*5
real lambda,Inovo
write(*, 1(’' **********************************i’>’)
write (*,'(' ’ * *i M ')
write(*, ' ' * FUNDAMENTOS DE *•’)')
write(*,’(' 1 * AERODINAMICA *i’)
write(*, *(* ’ * INCOMPRESSIVEL *•’>’)
write(*, ’ ' * *•') ’)
write (*,'(' ' * Diagrama de Moody *• ')
write (*, ' ' * *•') ')
write(*,' (’1 * V. de Brederode, 1997 *' ’)')
write(*,' (' ' *********************************** M ')
write (*,*)
write( * , * )
write ( * , '(*' Numero de Reynolds : Re ? '
read(*,*) Re
if(Re.gt.2300) goto 20
C Equacao de Hagen-Poiseuille
lambda=64./Re
goto 50
20 write(*,'C1 Rugosidade relativa: epsilon/D ? ’',$)')
read(*,*) epsilon
C Fronteira do regime completamente rugoso (Pigott)
if(Re*epsilon.lt.3500) goto 30
688 APÊNDICE E

Lei de Prandtl para tubos rugosos


c lambda» (1 •14-2. *alogl0 (epsilon))** (-2.)
goto 50
C Formula de Swamee & Jain
30 lambda=l.325/(alog(epsilon/3 .7+5.74/Re**0.9))**2
C Formula de Colebrook & White
C (iteracao por Newton-Raphson)
40 raizl-sqrt(lambda)
f=l./raizl-l.14+2. *alogl0 (epsilon+9.35/Re/raizl)
flinha=-l./lambda/raizl* (.5+4.06/ (Re*epsilon+9.35/raizl))
lnovo=lambda-f/flinha
C Critério de convergência: precisão de 1/1000
if (abs(lnovo-lambda) /lambda.It.0.001) goto 50
lambda=lnovo
goto 40
50 write(*,1010) lambda
write(*,1020)
read(*,1(a)') resp
if (resp.eq.'s'.or.resp.eq.'S*) goto 10
stop'##### FIM DE EXECUCAO #####'

1010 formate lambda =\lpel0.3)


1020 format(//' Quer calcular outros valores ? [S/N]: ’,$)
end

Exemplo de janela interactiva

E x e c u te
>K>íoKJK>>«toK>«>K>K>|o|o|o(<Jfo|o(<5(oJoK>K>KJíof<>K)K>foío(ojoKX<>)<>k
* *
* FUNDAMENTOS DE *
* AERODINAMICA *
* INCOMPRE SSIVEL *
* *
* Diagrama de Moody *
* *
* 7. de Brederode, 1997 *
>MoMoK>k>K>to|oK>K>M<>|oK>(otofoM(>(oMolOMo|o|oK>|o|<)tOi<>f(

Numero de Reynolds : Re ? 2000


lambda = 3.200EHD2

Quer calcular outros valores ? [S/N]: s

Numero de Reynolds : Re ? 1e6


Rugosidade relativa: epsilon/D ’ .001
lambda - 1.993E-02

Quer calcular outros valores ? [S/N]:


STOP #%### FIM DE EXECUCAO #####
5
CÓDIGOS FORTRAN 689

E.5. Programa painéis


C álcu lo d a s c a ra c te rístic a s aerodinâm icas de perfis alares pelo método dos
painéis d e H e ss e S m ith.

Listagem do código
program PAINÉIS

c h a r a c t e r I n F ile * 1 5 , O u tF ile* 1 5 , re sp
r e a l x b p (61) ,y b p (6 1 ) ,b (6 0 , 60) ,u (6 0 ,3 ) ,xcp(6 0 ),y cp (6 0 ) ,1 (60),
* n (6 0 ,2 )
common a ( 6 0 ,6 0 ) , sigm a (6 0 ,3 ), ncp, i e r
d a t a p i / 3 . 1 4 1 5 9 2 6 5 4 /,c o r d a /1 0 0 ./
************************************************ *) *)
w r i t e (*, * * . .) .)
w r i t e (*, ' C * FUNDAMENTOS DE
w r i t e (*, , ( , , ★ AERODINAMICA * " ) ')
w r i t e (*, ’ ( ' ’ * INCOMPRESSIVEL *M ),)
w r i t e (*, 1k
w r i t e (*, ' < " * C a r a c t e r i s t i c a s aerodinâm icas *” ) ’)
w r i t e (*, •< ” * de c o rp o s s u s te n ta d o re s b i-d im e n sio n a is
w r i t e (*, ■* p e lo método dos p a in é is de Hess & Smith
w r i t e (*, ’ <’ ' ★
w r i t e (*, , r , * V. de B rederode, 1997 * . . ) . )
w r i t e {*, ’ ( . . ***********************************************'')')
w r i t e (*, *)
w r i t e (*, *)
C LEITURA DAS COORDENADAS DO PERFIL
w r i t e ( * , ' ( ' * Nome do f i c h e i r o d e e n tra d a : ' ’,$ ) ’)
r e a d ( * , 1010) I n F i l e
open ( u n i t = l , f i l e ® I n F i l e , s t a t u s - 1o l d ')
c a l l s a lta c o m
r e a d (1 ,* ) nbp
c a l l s a lta c o m
do 30 i = l , n b p
r e a d (1, *) xbp ( i ) , ybp (i)
30 c o n tin u e
c l o s e (1)
w r i t e ( * , ' ( * ' Nome do f i c h e i r o d e s a id a : 1 ' , $ ) ')
r e a d ( * , 1010) O u tF ile
o p e n ( u n it* 2 , f ile = O u tF ile , s ta tu s » 'n e w ')
w r i t e (* ,* )
w r i t e (*, ' ( ' ' *** C a lc u la n d o .. . " ) ' )
w r i t e (* ,* )
C CALCULO DAS COORDENADAS DOS PONTOS DE CONTROLO, DO COMPRIMENTO
C DOS PAINÉIS E DAS COMPONENTES DAS NORMAIS UNHARIAS EXTERIORES
C NOS PONTOS DE CONTROLO
n cp = n b p -l
s l-0 .
do 40 i = l , n c p
xcp ( i) = (xbp (i)+ x b p (i+ 1 ) ) / 2 .
ycp ( i) - (ybp ( i) +ybp (i+ 1 )) / 2 .
x«xbp (i+ 1 ) -x b p (i)
y*ybp (i+ 1) -y b p ( i)
1 ( i)= s q rt(x * x + y * y )
690 APÊNDICE E

s l= s l+ l(i)
n ( i,l) * y /l( i)
n ( i,2 ) — x /l( i)
40 c o n tin u e
C CONSTRUCAO DAS MATRIZES DOS COEFICIENTES DE INFLUENCIA:
C a ( i , j ) & b ( i , j ) , r e s p e c t i v a m e n t e c o m p o n e n te s n o r m a l e t a n g e n c i a l
C (norm al e x t e r i o r e t a n g e n t e c o n s i d e r a d a p o s i t i v a no s e n t i d o d i r e c t o )
C da v e l o c id a d e i n d u z id a no p o n to d e c o n t r o l o i p o r uma d i s t r i b u i ç ã o
C c o n s t a n t e d e f o n t e s d e i n t e n s i d a d e u n i t a r i a a o lo n g o d o p a i n e l j ,
do 60 j = l , n c p
do 50 i = l , n c p
i f ( i . e q . j ) g o to 50
C C o o rd e n a d a s do p o n to d e c o n t r o l o i n o r e f e r e n c i a l d o e le m e n to j:
C t r a n s l a c a o s e g u id a d e r o t a c a o
x = x c p (i)-x c p (j)
y = y c p (i)-y c p (j)
x j « - x * n ( j , 2 ) + y * n ( j, 1)
y j = - x * n ( j , 1 ) - y * n (j , 2)
x p l= x j+ l(j)/2 .
x m l = x j - l (j ) / 2 .
C C om ponentes d a v e l o c i d a d e i n d u z i d a n o r e f e r e n c i a l d o e le m e n to j
u j = a l o g ( ( x p l* x p l+ y j* y j) / ( x m l* x m l+ y j* y j) ) / 4 . / p i
i f ( a b s ( y j ) .l t .l E - 0 6 ) th e n
v j= 0 .
e ls e
v j- ( a ta n ( x p l/y j) -a ta n (x m l/y j) ) / 2 . /p i
e n d if
C C om ponentes d a v e l o c i d a d e i n d u z i d a n o r e f e r e n c i a l g e r a l
C ( r o ta c a o i n v e r s a )
u i= - u j* n ( j , 2 ) - v j * n (j , 1)
v i= u j* n ( j,l) -v j* n ( j,2 )
C C om ponentes n o rm a l e t a n g e n c i a l d a v e l o c i d a d e i n d u z i d a
C no p o n to d e c o n t r o l o i
a ( i, j) = u i* n ( i,l) + v i* n ( i,2 )
b ( i , j ) = - u i * n ( i , 2 ) + v i * n ( i , 1)
50 c o n t in u e
C A u to - in d u c a o
a (j , j ) = 0 .5
b ( j , j) = 0 .
60 c o n t in u e
C ESCOAMENTOS INCIDENTES ELEMENTARES:
C 1 . E sc o a m e n to u n if o r m e d e i n t e n s i d a d e u n i t a r i a s e g u n d o Ox
C 2 . E s c o a m e n to u n if o r m e d e i n t e n s i d a d e u n i t a r i a s e g u n d o Oy
C 3 . E s c o a m e n to c i r c u l a t ó r i o p u r o i n d u z i d o p o r uma d i s t r i b u i ç ã o
C s u p e r f ic ia l d e c ir c u la c a o de in te n s id a d e u n i t a r i a c o n s ta n te ,
d o 80 i = l , n c p
s i g m a ( i , l ) = - n ( i , 1)
s ig m a ( i,2 ) = - n ( i,2 )
s ig m a ( i,3 ) = 0 .
u ( i , 1 ) = -n ( i , 2)
u ( i , 2 ) * n ( i , 1)
u ( i,3 ) = 0 .
do 70 j = l , n c p
s ig m a (i, 3 )= s ig m a (i, 3 )+ b ( i , j )
u ( i , 3) =*u ( i , 3) + a ( i , j )
70 c o n tin u e
80 c o n t i n u e
CÓDIGOS FORTRAN 691

c CALCULO DAS DENSIDADES DAS DISTRIBUIÇÕES SUPERFICIAIS DE FONTES


C REQUERIDAS PARA SATISFAZER A CONDICAO FRONTEIRA DE IMPERMEABILIDADE
C PARA CADA UM DOS ESCOAMENTOS INCIDENTES,
c a l l G au ss
i f ( i e r . n e . O ) g o t o 140
C DETERMINAÇÃO DAS DISTRIBUIÇÕES DE VELOCIDADES TANGENCIAIS RESULTANTES
C PARA CADA UM DOS ESCOAMENTOS INCIDENTES DE INTENSIDADE UNITARIA.
d o 11 0 k - = l,3
d o 100 i » l , n c p
do 90 j = l , n c p
u ( i , k ) = u ( i , k ) + b ( i , j ) * s i g m a ( j,k >
90 c o n tin u e
100 c o n tin u e
110 c o n t i n u e
C LEITURA DO ANGULO DE ATAQUE ALFA
120 w r i t e ( * ,1 0 2 0 )
re a d (* ,* ) a l f a
c = c o s ( a l f a * p i / 1 8 0 .)
s = s i n ( a l f a * p i / 1 8 0 .)
C CALCULO DA INTENSIDADE DA DISTRIBUIÇÃO CONSTANTE DE CIRCULACAO
C NECESSÁRIA PARA SATISFAZER A CONDICAO DE KUTTA:
C i g u a i s v e l o c i d a d e s n o s p r im e ir o e u ltim o p o n to s d e c o n tr o lo
C ( p o n t o s m é d i o s d o s p a i n é i s q u e d e l i m i t a m o b o r d o d e fu g a )
g a m a = - ( (u ( n c p , 1) +u ( 1 , 1 ) ) *c+ (u ( n c p , 2 ) + u ( l , 2 ) ) * s ) / ( u ( n c p , 3) +u (1 , 3 ))
C CALCULO DO COEFICIENTE DE SUSTENTACAO CL
C L = "2. * g a m a * s l/c o rd a
w r i t e ( * ,1 0 3 0 ) a l f a , C L
w r i t e (2 , 1 0 4 0 ) a l f a , C L
C CALCULO E ESCRITA DAS DISTRIBUIÇÕES DE VELOCIDADE U /U in f
C E DO COEFICIENTE DE PRESSÃO Cp
w r i t e ( * ,1 0 5 0 )
w r i t e ( 2 ,1 0 6 0 )
d o 130 i = l , n c p
v = u ( i , 1) * c + u ( i , 2) * s+ u ( i , 3 ) *gam a
i f (n ( i , 2 ) . g t . 0 . ) v*=-v
C p = l. -v * v
w r i t e ( * ,1 0 7 0 ) i , x c p ( i ) ,y c p ( i ) , v ,C p
w r i t e ( 2 ,1 0 7 0 ) i , x c p ( i ) , y c p ( i ) , v , -C p
130 c o n t i n u e
w r i t e ( * ,1 0 8 0 )
r e a d ( * , ' ( a ) ') r e s p
i f ( r e s p . e q . f s 1 . o r . r e s p . e q . ' S ‘ ) g o t o 120
c l o s e (2)
s t o p '# # # # # FIM DE EXECUCAO # # # # # '
140 w r i t e ( * ,1 0 9 0 )
c l o s e (2)
s t o p '# # # # # FIM DE EXECUCAO # # # # # ’
1010 f o r m a t( A )
1020 f o r m a t ( / ' a l f a ( g r a u s ) = ’ ,$ )
1030 fo rm a t ( / / / / ' a l f a 1 g r a u s 1, lO x , 1 C L - ’ , f 6 . 3 )
1040 f o r m a t ( 1 ! 1/ ' ! V ! a l f a = r , f 6 . 2 , 1 g r a u s 1, lO x , 1 CL « ' , f 6 .3 )
1050 f o r m a t ( / / 1 I d . ' , 5 x , ' x / c (% )1, 7 x , ' y / c (% )1, 5 x , 'U / U i n f 1, 7 x , 'C p 1/ )
1060 f o r m a t C ! ' / ' ! I d . ' , 5 x , ' x / c (%) 1, 7 x , ' y / c (%) 1, 5 x , ’ U / U i n f ' , 6 x , 1- C p 1)
1070 f o r m a t ( i 4 , f 1 3 . 3 , f 1 2 . 3 , 2 f l l . 3)
1080 f o r m a t ( / / ' Q u e r t e s t a r o u t r o a l f a ? [ S / N ] : * ,$ )
1090 f o r m a t ( / / / ' *** A m a t r i z d o s c o e f i c i e n t e s d e i n f l u e n c i a e 1,
* 1s i n g u l a r * * * '/ / / )
end
692 APÊNDfCfE

............ ***.****«***•********•*** t*********************^^^^ *****


*****

subroutine Gauss

C RESOLUÇÃO DO SISTEMA DE EQUAÇÕES PELO MÉTODO DE GAUSS

c c m o n a (60, 6 0 ), s (60, 3 ) , n , i e r
d im en sio n x ( 6 0 ,3 ) , s o m a t(3)
ie r» 0
do 40 i » l , n - l
do 30 j - i + 1 , n
razao=*a (j, i) /a(i,i)
do 10 n c » l ,3
s (j , n c ) = s ( j , n c ) - r a z a o * s < i , n c )
10 c o n tin u e
do 20 k = i+ l,n
a (j , k ) « a ( j , k ) ~ r a z a o * a ( i , k)
20 c o n tin u e
30 c o n tin u e
40 c o n tin u e
C S u b s t i t u i ç ã o i n v e r s a de J o r d a n
do 50 n c * l ,3
x (n, nc) =s (n, nc) / a (n , n)
50 c o n tin u e
do 100 i - n - 1 , 1 ,- 1
do 60 n c = l,3
som at< n c)* 0 .
60 c o n tin u e
do 80 j = i + l , n
do 70 n c * l ,3
som at (nc) « so m at ( n c ) + a ( i , j) * x ( j , n c )
70 c o n tin u e
80 c o n tin u e
i f ( a ( i , í ) . e q . 0 ) th e n
ie r* l
re tu rn
e n d if
do 90 n c - 1 ,3
x ( i ,n c ) * ( s ( i,n c ) -so m at ( n c ) ) / a ( i , i)
90 c o n tin u e
100 c o n tin u e
d o 120 i = l , n
d o 110 nc=*l, 3
s ( i,n c ) = x ( i,n c )
110 c o n tin u e
120 c o n tin u e
en d

s u b r o u tin e s a lta c o m
c h a ra c te r s tr in g
10 s t r i n g = ' *
r e a d ( l , ' (A)’ ) s t r i n g
i f ( s t r i n g . e q . ' ! - ) g o to 10
b a c k s p a c e ( l)
re tu rn
end
CÓDIGOS FORTRAN 693

Exemplo de ficheiro de entrada

^ c o o r d e n a d a s d o s pontos fronteira são expressas em percentagem da corda do perfil


n .b f ecidas s e q u e n c i a l m e n t e e m sentido directo, a partir do bordo de fuga: bordo de
*orn.lAn m extradorso, bordo de ataque (0, 0), íntradorso e novamente bordo de
fuga (1W' u>’
fuga-

; p e r f i l NACA 2412

Mo. de P °" t°s í ^ n teira


35

y/c<%)
x/c<%)
0.
100.
95. 1.14
2 .0 8
90.
3 .7 5
80.
5 .1 8
70 .
6 .3 6
60.
7 .2 4
5 0.
7 .8 0
40.
7 .8 6
30 .
7 .6 7
25.
7 .2 6
20.
6 .6 1
15.
5 .6 3
10 .
7 .5 4 .9 6
4 .1 3
5.
2 .9 9
2 .5
1 .2 5 2 .1 5
0. 0.
- 1 .6 5
1 .2 5
- 2 .2 7
2 .5
- 3.01
5.
7 .5
-3.^ 6
- 3 .7 5
10 . - 4 .1 0
15.
- 4 .2 3
20.
- 4 . 22
25 .
- 4 .1 2
30.
- 3 .8 0
40.
- 3 .3 4
50.
-2 .7 0
60.
70.
-2.14
- 1 .5 0
80 .
- 0.82
90.
- 0 .4 8
95 .
0.
100 .
end
694 APÊNDICE E

Exemplo de ficheiro de saída


CL - .657
a lfa ' 5.00 gr,
y/c<%) U/U inf -Cp
Id. x/c(%) .907 -.1 7 8
97.500 .570
1 1.610 1.016 .033
o 92.500 1.069 .142
85.000 2.915
3 4.465 1.130 .277
4 75.000 .400
5.770 1.183
5 65.000 1.235 .526
55.000 6.800
6 7.520 1.288 .658
7 45.000 1.347 .815
35.000 7.840
8 7.775 1.408 .982
9 27.500 1.056
7.465 1.434
10 22.500 1.149
6.935 1.466
11 17.500 1.263
6.120 1.504
12 12.500 1.412
5.295 1.553
13 8.750 1.510
4.545 1.584
14 6.250
3.560 1.641 1.691
15 3.750
2.570 1.759 2 .0 9 5
16 1.875 1.367
1.075 1.538
17 .625
-.8 2 5 -.2 5 5 .935
18 .625
-1.960 .453 -.7 9 5
19 1.875 .577
3.750 -2.640 .650
20 .780 -.3 9 1
21 6.250 -3.235
8.750 -3.605 .836 -.3 0 1
22 .873 .238
23 12.500 -3.925
17.500 -4.165 .909 -.1 7 3
24 .925 -.1 44
25 22.500 -4.225
27.500 -4.170 .931 -.1 3 3
26 .119
35.000 -3-960 .939
27 -.1 0 7
45.000 -3.570 .945
28 -.1 0 5
55.000 -3.050 .946
29
65.000 -2.450 .943 -.1 1 1
30
75.000 -1.820 .939 -.1 1 9
31
85.000 -1.160 .931 -.1 3 4
32
92.500 -.6 5 0 .915 -.1 6 3
33
34 97.500 -.2 4 0 .907 -.1 7 8

N.B. A eventual ocorrência, no ficheiro de saída, de velocidades locais UfUm negativas é


destinada a facilitar, ao utilizador, a localização do ponto de estagnação na região do
bordo de ataque, significando, essas velocidades afectadas de sinal menos, que, nos
correspondentes pontos de controlo, o escoamento se processa em sentido contrário
ao do escoamento de aproximação. No exemplo vertente o ponto de estagnação
anterior estará assim localizado entre os pontos de controlo com números de ordem
18 e 19.
A opção pela apresentação, na última coluna, de - C p, em vez de +Cp, é destinada a
permitir directamente a representação gráfica de Cp vs. x / c na orientação habitual:
C' *s negativos 'para cima’.
CÓDIGOS FORTRAN 695

E.6. Programa VLM


C á lc u lo d a s c a ra c te rís tic a s a e ro d in â m ic a s d e asas planas trapezoidais pelo
m étodo d a m a lh a d e v ó rtic e s (V L M )
Listagem do código
program VLM

ch a ra cter In File*15,O utFile*15


r e a l l n , l n i , l t , l t i , 1 0 ,l x , l z , l z i
re a l zv (4 0 ), c(4 0 ) , xpc<40), zpc(40) , 931113 ( 40 ) , a l f a (10) ,lbv(40)
common a (4 0 ,4 0 ) ,s o l (4 0 ,1 0 ),np, ie r
data p i / 3 . 141592654/
w rite (*, • C ’ * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 1 M M
w r it e (*, 1 <• • * *« ' ) ' )
w r it e (*, * (•• * FUNDAMENTOS DE * 1 MM
w r it e (*, ' (*• * AERODINAMICA * f MM
writeC*, • ( . . * INCOMPRESSIVEL *« MM
w r it e (*, ’ < " * *« MM
w r it e (*, * C aracteri st ica s aerodinâmicas *» MM
w rite (*, * de asas planas trapezoidais com flecha tM M
w r it e ( * , ★ p e lo método da malha de vó rtice s (VIM) * •M M
w rite (*, • C * *1 M M
w rite (*, ’ <•' * V. de Brederode, 1997 * * MM
w rite (*, ' ( " * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 1 MM
w r it e (*, *)
w r it e (*, *)
C LEITURA DA GEOMETRIA DA ASA
w rite (*, ' Nome do fic h e ir o de entrada: , , , $ ) ‘ )
r e a d (* ,1010) in F ile
o p e n (u n it -l,file = I n F ile , s ta t u s = 'o ld ')
ca11 saltacom
r e a d ( l ,*) A R ,a fil, flech a ,to rca o ,n p
c a l l saltacom
r e a d (l,* ) nalfa,alfam in,alfam ax
c l o s e (1)
i f ( n a l f a .n e .l ) then
d e la lfa * (alfamax-alfamin) / (nalfa-1)
e ls e
d e la lf a = l.
en d if
do 30 i - l , n a l f a
a lfa (i) =alfamin+ (i-1 ) *d elalfa
30 continue
w r i t e í * , '^ ' Nome do fic h e ir o de saída : ’ ' , $ ) ' )
rea d (*,1010) OutFile
open (u n it—2, file*O u tF ile, status*'new ')
w r ite (*,*)
w r ite ( * , ' (* ’ *** Calculando.. . 1') M
c CALCULO DE PARÂMETROS GEOMÉTRICOS
C (Dimensões normalizadas pela semi-envergadura)
D2R=*pi/18Q.
pi4=*4 . *pi
Sref-4./A R
c r * S r e f /(1 .+ a fil)
flecha^flecha*D2R
696 APÊNDICE E

s e n F * s in (fle c h a )
c o s F ^ c o s (fle c h a )
ta n F = ta n (f le c h a )
e n v = l. /n p
do 40 i*»l,np
z v (i)« re a l(i)/n p
if ( i.e q .n p ) z v ( i) = l.-e n v /4 .
lb v ( i ) = z v ( i ) / c o s F
i f ( i . e q . l ) th e n
z p c (1 )= z v ( l ) / 2 .
e ls e
zpc (i) = (zv (i) +zv ( i —1)) / 2 .
e n d if
c ( i) = c r * ( l.- z p c ( i) * ( 1 .- a f i l ) )
xpc ( i ) = z p c ( i ) * t a n F + c ( i ) / 2 .
40 c o n tin u e
C CONSTRUCAO DA MATRIZ DOS COEFICIENTES DE INFLUENCIA
do 60 i = l , n p
ln = x p c ( i) * c o s F - z p c ( i) * s e n F
lt= x p c ( i) * s e n F + z p c ( i) * c o s F
1 0 = s q rt(ln * ln + lt* lt)
ln i= l n + 2 . * z p c ( i)* s e n F
i f ( a b s ( l n i ) .l t .l e - 6 ) ln i= le - 6
l t i = l t - 2 . * z p c ( i)* c o s F
do 50 j » l , n p
lz ® z v ( j ) - z p c ( i )
l x = x p c ( i ) - z v (j ) * ta n F
l z i = l z + 2 . *zp>c ( i)
C v e lo c id a d e in d u z id a p e l o v ó r t i c e a r r a s t a d o
v t= ( l.+ lx /s q r t( lx * lx + lz * lz ) ) / l z
C v e lo c id a d e in d u z id a p e l o v ó r t i c e a r r a s t a d o imagem
v t i = (1 .+ l x /s q r t( l x * lx + lz i * lz i ) ) / l z i
d = s q rt(ln * ln + (lb v (j)-lt)* * 2 )
d i= s q rt(ln i* ln i+ (lb v (j)-Iti)* * 2 )
C v e lo c id a d e in d u z id a p e l o v ó r t i c e l i g a d o
v b = ((lb v (j)-lt)/d + lt/1 0 )/ln
C v e lo c id a d e in d u z id a p e l o v ó r t i c e l i g a d o imagem
v b i= ((lb v (j)-lti)/d i+ lti/1 0 )/ln i
a (i,j)= (v b + v b i+ v t+ v ti)/p i4
50 c o n tin u e
60 c o n tin u e
C RESOLUÇÃO DO SISTEMA DE EQUAÇÕES
C PARA O CONJUNTO DE ÂNGULOS DE ATAQUE
C C o n s tru ç ã o d o s seg u n d o s membros
to r c a o astorcao*D 2R
do 70 j = l , n a l f a
a l f a (j ) = a l f a (j ) *D2R
do 70 i = l , n p
s o l ( i ,j ) = - ( a l f a ( j)+ to rc a o * z p c (i))
70 c o n tin u e
C R e so lu ç ã o do s is te m a de e q u a ç õ e s p e l o m éto d o d e G auss
c a l l G a u s s (n a lfa )
i f ( i e r . n e . 0 ) g o to 120
CÓDIGOS FORTRAN 697
CALCULO E ESCRITA DAS DISTRIBUIÇÕES
E DOS RESPECTIVOS VALORES INTEGRAIS DE FORCAS E MOMENTOS
do 110 l = l , n a l f a
w r i t e ( * , 1020) a lfa (l)/D 2 R
w r i t e (2 ,1 0 3 0 ) a l f a ( l ) / D 2 R
w r i t e (* ,* )
w r i t e ( * , ' {’ ' I d . x /s z /s a lfa i c l 1',
' ' c * c l/c m e d cdi cm c/4' ’) ')
w rite ( * , '( ''
w r i t e ( 2 , ' ( ' ' ! id . (graus) " ) •)
x /s z /s
'' c * c l/c m e d cdi a lfa i c l '',
c m c /4 '' ) 1)
w r i t e (2, ' ( ’ ’ !
(g ra u s)' ' ) ' )
C C a lc u lo d a d i s t r i b u i ç ã o de c irc u la c a o
gam m a-0.
d o 80 i « l , n p
k = n p -i+ l
gama (k) =gamma+sol (k, 1)
gamma=gama(k)
80 c o n t in u e
C L asa= 0 .
C D ia sa = 0 .
CM asa=0.
do 100 i = l , n p
c l = - 2 . *gama ( i) / c (i)
c c l = c ( i ) * c l * 2 . /S r e f
c C a lc u lo do campo de v e lo c id a d e s descendentes
c a p a r t i r do p la n o de T r e f f tz
v=0.
do 90 j = l , n p
r = z v (j ) - z p c ( i )
ri= z v (j)+ z p c (i)
v = v + so l (j , 1) * (1. / r+ 1 . / r i ) /p i4
90 c o n t in u e
c d i= -c l* v
c m = c l* z p c ( i) * ta n F /c ( i)
w r i t e (* ,1 0 4 0 ) i , x p c ( i ) , z p c (i) ,v /D 2 R ,cl, cc l,c d i,c m
w r i t e (2, 1040) i , x p c { i ) , z p c ( i ) , v/D 2R ,cl, c c l, cdi,cm
c C a lc u lo d o s v a l o r e s in t e g r a i s
S=c ( i) * e n v
CLasa=C Lasa+S*cl
C D iasa=C D iasa+S*cdi
CMasa=CMasa+S*c (i) *cm
100 c o n tin u e
C L asa= 2 . * C L a sa/S ref
C D ia sa = 2 . * C D ia sa/S ref
CM asa=4. * C M asa /S ref/S re f
e=*CLasa*CLasa/ (pi*CDiasa*AR) *10°-
write (*,1050) CLasa,CDiasa,e,CMasa
write (2,1060) CLasa,CDiasa,e,CMas
110 c o n tin u e

S to p ’ ###### FIM DE EXECUCAO # # W


120 w r i t e (* ,1 070)
^ lose (2)
s t o p ’ ###### FIM DE EXECUCAO ###
698 APÊNDICE E

1010 f o r m a t (A)
1020 fo rm a t ( / / / , 1 a l f a { g ra u s) = \ f 5 . 1 )
103 0 f o r ma t ( ' J ! a l f a ( g r a u s ) = ’ , f 5 . l , / . !M
1040 f o r m a t ( i 4 , 5 f l Q . 3 , f l l . 5 , f l O .4 )
1050 fo rm a t( /,* CL a s a = ' , f 6 . 3 , / , r CD i a s a =• fft c
* / , ' e (%) = ' r f 6 . 1 , / , ' CM c/4 a s a = ' , f 7 . 4 ) * ’ '
1060 f o r m a t 1 ! CL a s a = \ f 6 . 3 , / , ' ! CDi âsa
* / , ’ *. e (%) = ’ , f 6 . 1 , / , ’ í CM c/4 a s a = ' , f 7 . 4 ) ' 8' 5'
1070 f o r m a t ( / / / 1 *** A m a t r i z d o s c o e f i c i e n t e s d e i n f i „ a .
&- s i n g u l a r * * * ■ ///) lu e n c ia e ',
end

Q ***************************************************** ****#ltit
*****<
s u b r o u tin e G a u ss(n 2 )
C RESOLUÇÃO DO SISTEMA DE EQUAÇÕES PELO MÉTODO DE GAUSS
common a (4 0 ,4 0 ) , s ( 4 0 ,1 0 ) , n , i e r
d im e n s io n x (4 0 /1 0 ) , s o m a t (10)
ie r= 0
d o 40 i = l , n - l
d o 30 j = i + l , n
r a z a o = a (j , i ) / a ( i , i )
d o 10 n c = l , n 2
s (j , n c ) = s (j , n c ) - r a z a o * s ( i , n c )
10 c o n tin u e
d o 20 k = i + l , n
a ( j , k) = a ( j , k) - r a z a o * a ( i , k.)
20 c o n tin u e
30 c o n tin u e
40 c o n tin u e
C S u b s titu iç ã o in v e r s a de Jo rd a n
d o 50 n c = l , n 2
x (n , n c ) = s ( n , n c ) / a ( n , n)
50 c o n tin u e
d o 100 i = n - l , 1 , - 1
d o 60 n c * l , n 2
s o m a t(n c )= 0 .
60 c o n tin u e
d o 80 j = i + l , n
d o 7 0 n c = l r n2
s o m a t ( n c ) = s o m a t (n c ) + a ( i , j ) * x ( j , n c )
70 c o n tin u e
80 c o n tin u e
i f ( a ( i , i ) . e q . 0) t h e n
ie r= l
re tu rn
e n d if
d o 90 n c = l , n 2
x ( i,n c ) = ( s ( i,n c ) - s o m a t( n c ) ) / a ( i , i )
90 c o n tin u e
100 c o n tin u e
d o 1 20 i = l , n
d o 1 10 n c = l , n 2
s ( i , n c ) “ x ( i,n c )
110 c o n tin u e
12 0 c o n tin u e
end
CÓDIGOS FORTRAN 699
subroutine saltacom
character string
10 string * '
read<l, ' ( A ) ’) string
if (string.eq.•!’) goto 10
b a c k s p a c e (1)
re tu rn
end

Exemplo de ficheiro de entrada

A sa t r a p e z o i d a l com f l e c h a

Alongamento A fila m e n to F le c h a c /4 T orcao no. p a in é is


(g ra u s) (g rau s) (max.40)
6. 0 .5 30. -5 . 10

C o n ju n to d e â n g u lo s d e a ta q u e (m ax.10):
n o . a l f a 's a l f a m in alfa m ax
5. 10.
end

Exemplo de ficheiro de saída

a lfa (g ra u s) = 5 .0

cl c*cl/aned cdi cmc/4


Id . x /s z /s a lfa i
(g ra u s)
.255 .332 .00538 .0170
1 .2 4 6 050 - 1 .2 0 9
.259 .319 .00496 .0545
2 .292 150 - 1 .0 9 0
.254 -297 .00410 .0944
3 .3 3 9 250 - .9 2 5
.243 .268 .00315 .1341
4 .385 350 - .7 4 1 .1714
5 - .5 6 1 .227 .235 .00223
.432 450 .2034
6 - .3 9 3 .206 .199 .00141
.4 7 9 550 .2266
.181 .163 .00075
7 .525 650 - .2 3 8 .2362
152 .126 .00027
8 .5 72 750 -.1 0 1 .2236
.014 ] 116 .089 -.00003
9 .6 1 9 850 .1693
.103 .074 -052 -.0 0 0 1 3
10 .6 5 9 938

CL a s a * .2 0 8
CDi a s a « .0 0258
e <%) = 8 8 .9
CMc / 4 a s a - .1 3 3 9
700 A P Ê N D IC E E

! a lfa ( g r a u s ) = 1 0 .0

z/s alfai cl c*cl/cm ed cdi


! Id. x /s cmc/4
(graus)
.0 50 -1.9 9 1 .574 .7 4 6 .01994
1 .2 46 • 0382
.150 -2.0 3 1 .597 .736 .02115
2 .292 .1257
.2 50 -1.9 0 4 .6 0 9 .7 1 1 .02024
3 .3 39 -2261
4 .385 .3 50 -1.7 3 7 .612 .6 7 3 .01856 .3374
5 .432 .450 -1.5 7 5 .607 .6 2 7 .01668 • 4579
.4 79 .5 50 -1.4 4 1 .594 .574 .01493
6 .5849
7 .5 25 .6 50 -1.3 6 0 .5 7 0 .513 .01354 • 7134
.572 .7 50 -1.366 .533 .4 4 4 .01270
8 .8306
9 .6 19 .8 50 -1.5 1 3 .468 .359 .01236 .8991
10 .659 -938 -1.7 6 0 .340 .2 4 1 .01044 .7789

CL a s a = .562
CDi a s a = .01 67 4
e (%) = 1 0 0 .3
CMc/4 a s a = .4081

Nota: Chama-se a atenção do leitor para o valor fisicam ente incorrecto e - 100,3% obtido
para o coeficiente de eficiência de O swald a a = 1 0 °. E ste valor e>100% ,
fisicamente incorrecto porquanto referido ao correspondente à distribuição óptima de
circulação para asas planas, reflecte a im precisão num érica do método para a
discretização simples, mas grosseira, escolhida e para a aproximação dos pequenos
ângulos adoptada. Esta a razão por que, no corpo do texto, a comparação entre as
prestações de diferentes formas de asas foi feita não em termos de e mas de qualquer
outro parâmetro menos sensível, e.g. em termos do ângulo de ataque geométrico
requerido para produzir um m esm o valor de C L — CÍ3D = 1 nos casos
exemplificados nas sub-Secs. 10.5.1., 3. e 5.
APÊNDICE F
Programas MAPLE

Listam-se neste apêndice os mais representativos programas usados para


traçar algumas das figuras dos Caps. 8 e 9 através do código de computação
simbólica MAPLE.
Em alguns casos para se obter todo o conjunto de linhas de corrente
pretendidas tornou-se necessário fazer parte do traçado explicitando a função a
representar em termos da variável r e o restante explicitando-a em termos da
variável 9. Quando o código revelou não ter capacidade para descrever a
função a representar sob forma explícita, a configuração do escoamento foi
obtida recorrendo à rotina de traçado de curvas de nível "plotfd" com a opção
"style=contour"; neste caso verificou-se ser particularmente crítico o grau de
discretização escolhido para a representação tri-dimensional de modo a evitar
erros de definição no traçado das curvas, como deixado patente na Fig. 8.2 na
vizinhança dos pontos de estagnação anterior e posterior da oval de Rankine.

F.1. Fonte em escoamento uniforme — Fig. 8.1


> assume (r>=0):
> z := r*e x p (l*th e ta );
> w ;=z+ln(z);
> w :^expand(w );
> psi:=evalc(lm (w ));
> psi:=psi-Pi;
> sol;=solve(psi=k,r);
> epsilon:= 1e-6;
> S1 :-se q ([so l,th eta,theta=epsilon..{P i-epsilon)],k= -3..3);
> S 2;=seq{[so l,theta,theta=(P i+epsilon)..(2*P i-ep silo n)],k=-3..3);
> p lo t({S 1 ,S 2 },x = -4 ..8 ,y = -6 ..6 fcoords=polar)scaling=constrained,
> co lor=black,linestyle=1 ,thickness=2);

F.2. Oval de Rankine — Fig. 8.2


> z 0 :« 1 ;
>assume(r>=0):
> z := r * e x p (r th e ta );
> w :=z+ln(z+zO )-ln(z-zO );
> p s i> eva lc(lm (w ));
> p lot3d{[r*cos(theta),r*sin(theta),psi]tr= 0 ..9 ,th e ta *0 ..2 *P L g rid *[6 0 0 ,6 0 0 ]p
> scaling^constrained.style^ontour.orientation^-gO .O ],
> axes«norm al,num points-20000,contours=7,color=black,
> lin estyle= 1Ith ic k n e s s « 2 lv iew = [-3 ..3 ,-3..3,-1 -5..1 .5]);

701
702 A P Ê N D IC E F

F.3. Escoamento ao longo de diedros — Fig. 8.10.C)

> assum e(r>=0): k:=’k’: n:=’n ’:


> z:=r*exp(l'theta);
> w:=zAn/n;
> w:=combine(expand(w),power);
> psi:=evalc(lm(w));
> s1:=solve(psi=k,r);
> n:=3/2; m:=2;
> kval:=[seq((i+.5),i=-6..5)];
> S1 :=seq([s1 ,theta,th8ta=0..m *Pi/n],k=kval);
> S 2:=seq([r,k‘ Pi/n,r=0..25J,k=0..m);
> plot({S1 ,S2),x=-5..5,y=-5..5,coords=polar,num points=1600,
> scaling=canstrained,color=black,linestyle=1 ,thickness=2);

F.4, D ípolo em escoam ento u n ifo rm e — Fig. 8.28.b)


>assume(r>=0):
> z:=r*exp(l*theta);
>w :=z-exp(l*alpha)/z;
> w:=combine(w,exp);
> alpha:=Pi/2;
> psí:=sim plify(evalc(lm (w)));
> sol:=solve(psi=k,r);
> epsilon:=1e-6;
> kva l:=[seq(sqrt(2)/2*i,i=2..4),seq(sqrt(2)/2*i,i=-4..-2)];
> S1 :=seq(|sol[1],theta,theta=epsilon..(P i-epsilon)],k=kval);
> S 2:= seq([sol[2],theta,theta=epsilon..(P i-epsilon)],k=kval);
> k :* 'k ’:
> s3:=solve(psi=k,theta);
> kval;=[seq(sqrt(2)/2*i,i=-1..1)];
> S31 :=seq([r,s3[1],r=0..10],k=kval);
> S 32:=seq([r,s3[2],r=0..10],k=kval);
> plot((S1 ,S2,S31 ,S32),x=-3..3,y=-3..3,coords=polar,num points=1000,
> scaling=constrained,color=black,linestyle=1 ,thickness=2);

F.5. C ilin d ro circu lar com circulação — Fig. 8.29.b)

> assume(r>=0):
> z := r*e x p (l'th e ta );
> w :=z+1/z+rG am m a*ln(z);
> Gam m a:=1;
> psi>slm plify(evalc(lm (w )));
> plot3d([r*cos(theta),r*sin(theta),2*psi],r=0..7,theta=0..2*P i,
> grid=[700,700],scaling=cpnstrained,style=contour,
> orientation= [-90p0],axes=norm al,num points=40000,color=black,
> linestyle=1 ,th ickness»2,view =[-2.5..2.5,-2.5..2.5,-4..6]);
PROGRAMAS MAPIE 703

F6 Dipolo na presença de um cilindro circular — Fig. 8.42.b)


>z0>2; a lp h a := P i/4;
? a s s u m e (r> = 0 ):
z = r'e x p (l th e ta ),
' ^ —exprPalpn^/rz-zOi-expt-Parphaí/tl/z-conjugatefzO));
l DSi = sim pli1y (e v a lc (lm (w )));
. p|ot3d(lr*cos(theta),r*sin(theta),psi],r=0..9,theta=O..2*Pi,grid=|300 3001
scaling=constrained,style=contour,oríentation=[-90,0]p ’
> a xe s= no rm a l,n u m p oin ts= 6 2 5 0 0,co nto u rs= 1 5,co lo r= b lack,
> |in e s ty le = 1 ,th ic kn e ss = 2 ,v ie w = [-3 ..3 ,-2 .5 ..3 .5 ,-P i/2 ..P i/4 ]j;

F.7. Geometria de um pertil de J o u k o w s k i — Fig. 9.t5.a)


>dr:=-.1; di:=.1;
> a:=sqrt((1-dr)A2 + d iA2);
> ce n tre := d r+ l*d i;
> z e ta := c e n tre + a *e x p (l*th e ta );
> z:= ze ta + 1 /ze ta ;
> plotQevalc(Re(z)),evalc(lm(z)),theta:=0..2*Pi],-2.5..2.5,-1..1,
> n u m p o in ts = 1 6 0 0 ,s ca lin g = co n stra in e d ,th ic kn e ss = 2 );

F.8. D is trib u iç ã o d e cp vs. x / c p a ra u m p e rtil de Joukow ski — Fig. 9.i5.b)

>dr:=-.1.; d i:= .1 ; a lfa := 6 ;


> W x i:= e x p (-l*a lp h a )*x i+ e x p (l*a lp h a )*a A2/xi+r2*a*sin(alpha+beta)*ln(xi);
> W z e ta := s u b s (x i= z e ta -c e n tre ,W x i);
> U z e ta := d iff(W z e ta ,z e ta );
> f:= ze ta + 1 /ze ta ;
> 1 d a sh := d iff(f,ze ta );
> U z:= U z e ta /fd a sh ;
> C p := i-a b s (U z )A2;
> e q 1 := z e ta = c e n tre + a *e x p (l*th e ta );
> e q 2 := ce n tre = d r+ l*d i;
> eq3 :=a=sqrt((1-dr)A2+diA2);
> e q 4-.=alpha=alfa*P i/180;
> e q 5 := b e ta = a rc ta n (d i/(1 -d r));
> Cp:=eva ic(subs(eq1 ,eq2,eq3,eq4,eq5,C p));
> * |= e v a lc (R e (s u b s (e q 1 ,e q 2,e q 3 ,f)));
> xba:=evalc(subs(theta=Pi+beta,eq5,x|);
> c:=2-xba;
* p'o ,(t(x -x b a )/c *1 O 0 ,-C p ,th e ta = 0 ..2 *P i],-.1 .. 100,- 1 ..2.5,num points-1600,
* ' h'CKnes s = 2 ,la b e ls = [‘x/o (% )‘ ,,-C p ,],labelfont=[TIM ES ,BO LD ,12]);
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[169] V i s u a liz e d F l o w - f l u i d m o t i o n in b a s i c a n d e n g i n e e r i n g s i t u a t i o n s r e v e a l e d b y flo w
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[171] Vries, O. de: "General Introduction to W ind Energy Conversion", em 'Wind Energy
Conversion D evices', Lecture Series 1981-8, von-K árm án Inst., 1981.
[172] "VSAERO: A Computer Program for C alcu latin g th e N on lin ear Aerodynamic
Characteristics o f Arbitrary Configurations", A n alytical M ethods Inc., U SA , 1994.
[173] Wortmann, F.X. e Schwoerer, K.: "EinflufS der Profílpolaren auf d ie Flugleistungen
von Segelflugzeugen", 9o Congresso O STIV, 1963.

Relação de "film-loops" de que foram extraídas im agen s para ilustrar o texto; estes "film-
loops", produzidos para o National C om m ittee for F lu id M ech a n ics F ilm s, U SA , são
distribuídos pela Encyclopaedia Britannica Educational Corporation.

[174] Catálogo "Film-Loops".


[175] FM-015: "íncompressible Flow through Area Contractions and Expansions".
[176] FM-025: "Low Speed Jets: Stability and M ixing".
[177] FM-049: "Flow Regim es in Subsonic Diffusers".
[178] FM-054: "Leading Edge Separation Bubble in T w o-dim ensional Flow".
[179] FM -071: "Flow Near Tip o f Lifting Wing".
[180] F M -117: "Subsonic Flow Pattems and Pressure Distributions for an Airfoil".
[181] FM -120: "Some Methods for Increasing Lift Coefficient".
[182] FM -146: "Examples o f Flow Instability (Part I)".
DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS
INGLÊS-PORTUGUÊS

Tradução de alguns termos técnicos ingleses, da área da mecânica dos fluidos /


aerodinâmica, com designação bem precisa ou com correspondência não imediata em
português. Quando forem diferentes os termos técnicos utilizados em Portugal e no Brasil,
indica-se também, entre parêntesis rectos, a correspondente terminologia 'brasileira': ex.
stall, perda [estol].

Advection, advecção bucket, bossa; laminar bucket/low-


adverse (pressure gradient), (gra­ drag bucket, bossa laminar
diente de pressão) adverso buffer, tampão
aerofoil (inglês), perfil alar [aerofólio]
air-break, freio aerodinâmico Camber (aerofoil), curvatura (de um
airfoil (americano), perfil alar [aero­ perfil alar); maximum camber,
fólio] flecha
airscrew (inglês), hélice Cascade, cascata
anhedral, diedro negativo chart, diagrama; Clauser chart,
aspect ratio, alongamento diagrama de Clauser
atmosphere, atmosfera; Internatio­ choked (nozzle), (tubeira) saturada
nal Standard atmosphere, atmos­ chord (aerofoil), corda (de um perfil
fera padrão internacional alar)
average, média; ensemble average, circulation, circulação
média de conjunto; time average, climb, voo ascensional
média temporal ou no tempo closure, fecho; closure condition,
condição de fecho
B ank, pranchar; bank angle, ângulo conformai, conforme; conformai
de pranchamento transformation / mapping, trans­
blade, pá formação conforme
blockage, bloqueamento continuum, meio contínuo
blowing, sopro contraction (wind-tunnel), contrac-
bluff body, corpo não-fuselado [corpo ção (de túnel aerodinâmico)
rombudo] contrail (condensation trail), rasto
blunt, rombo de condensação
body, corpo; body force, força
mássica convection, convecção
bound (vortex), (vórtice) ligado core, núcleo
b oundary, fronteira; boundary correlation, correlação
condition, condição fronteira; creeping flow, movimento lento
boundary layer, camada limite; crossflow, escoamento cruzado, trans­
boundary region, região limite; versal
boundary sheet, folha limite cruise, cruzeiro
bow shock, choque destacado curl, rotacional
break-down (vortex), colapso (de cusp, aresta de reversão
vórtices)
bubble, bolha; long bubble, bolha Data, dados numéricos
longa; separation bubble, bolha de density, densidade, massa específica
separação; short bubble, bolha curta design, projecto

713
714 DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS

developed (fully), (completamente) fineness (ratio), esbeltez


desenvolvido flap, flap; plain flap, flap simples;
deviatoric, desviador; deviatoric slotted flap, flap com fenda
stress tensor, tensor desviador das flat, plana; flat platc, placa plana
tensões flow, escoamento; flow rate, caudal;
diffusion. difusão creeping flow, movimento lento
dihedral. diedro flux, fluxo
dilatation, dilatação form, forma; form drag, resistência de
displaceroent, deslocamento; displa- forma; form factor, factor de forma
cement thickness, espessura do free stream, escoamento não perturbado
deslocamento friction, fricção, atrito ; friction
dissipation, dissipação coefficient, coeficiente de fricção;
doublet, dipolo friction drag; resistência de atrito;
downstream, jusante friction head loss, perda de carga
downwash, velocidade (induzida) des­ em linha; skin-friction, tensão de
cendente corte superficial
drag, resistência (aerodinâmica) [arrasto]; fully, completamente; fully deve­
form drag, resistência de forma; loped flow, escoamento completa­
fríctlon drag, resistência de atrito; mente desenvolvido; fully rough
induced drag, resistência induzida; regim e, regime completamente
pressure drag, resistência de rugoso
pressão; profile drag, resistência de
perfil; wave drag, resistência de onda O alloping, galope
droop, descair, rebater; drooped lea- gap, intervalo, folga, lacuna
ding-edge, bordo de ataque rebatível gauge, medida (aparelho de), sensor;
duct, conduta [duto] gauze (wire), teia metálica, rede
glide, planeio; glide ratio, coeficiente
de planeio, finesse
£ ddy, turbilhão; eddy viscosity,
grid, grelha, malha
viscosidade turbulenta; energy con-
taining eddy, turbilhão contendo guiding vane, pá directriz
gust, rajada
energia
gyrocopter, auto-giro
edge, bordo; leading-edge, bordo de
ataque; trailing-edge, bordo de fuga H airpin (vortex), (vórtice em) gan­
eigenvalue, eigenvector, valor pró­ cho de cabelo
prio, vector próprio head loss, perda de carga; friction
elevator, elevador (do estabilizador), head loss, perda de carga em linha;
leme de profundidade [profundor] minor head loss, perda de carga
end-plate, placa terminal concentrada ou singular
endurance, autonomia hinge, articulação
history, história
ensemble average, média de conjunto honeycomb, favo de abelha
entrainment, arrastamento; entrain- horse^shoe (vortex), (vórtice em)
ment velocity, velocidade de arras­ ferradura
tamento hover, pairar; hovering flight, voo
estacionário (e.g. aplicado a helicóp­
Fairing, concordância teros)
fan, leque, ventilador hub, cubo (de turbomáquina)
favourable (pressure gradient),
(gradiente de pressão) favorável Impeller, hélice impulsor
fence, barreira, cércea intermittency, intermitência
fín, deriva inviscid, invíscido
OICIONÂRIO DETERMOS TÉCNICOS 715

Jet, jacto; Jet flap, flap jacto; wall performance, desempenho


jet, jacto parietal pipe, tubo
pitch, passo (de um hélice, de uma
Lattice, malha, rede; vortex lattice, cascata de pás); pitch-down, picar;
malha de vórtices pitch-up, cabrar; pitching
law, lei; log law, lei logarítmica; wall moment, momento de picada
law, lei da parede planform, forma em planta
layer, camada; boundary layer, plate, placa; flat plate, placa plana;
camada limite; buffer layer, camada end-plate, placa terminal; splitter-
tampão; constant-stress layer, plate, placa divisória
camada de tensão constante; inner- plume, pluma
layer, camada interior; mixing polar, polar
layer, camada de mistura; outer- probe, sonda
layer, camada exterior; shear layer, production, produção
camada de corte; wall layer, camada propeller (americano), hélice; marin
daparede propeller, hélice propulsor maríti­
leading-edge, bordo de ataque mo; pusher propeller, hélice im­
lee, leeward, sotavento, jusante pulsor; tractor propeller, hélice
length, comprimento; length scale,
escala de comprimentos; mixing tractor
length, comprimento de mistura
levei, nível; levei flight, voo hori­ Rake (tube), pente (de tubos)
zontal random, aleatório
lift, sustentação; high-lift device, range, domínio, raio de acção; inertial
dispositivo hiper-sustentador sub-range, sub-domínio de inércia
load, carga; load factor, factor de carga rate, taxa
Iocus, lugar geométrico reattachment, recolamento
lower surface (aerofoil), intradorso receptivity, receptividade
reflex (camber line), (perfil) com
(de um perfil alar) dupla-curvatura, emS
relaminarization, reiaminarização
M agnitude, grandeza; order of
magnitude, ordem de grandeza relaxed (wake), (esteira) deformável
marching, marcha reseparation, reseparação
memory, memória reversal (flow), reversão (do escoa­
m ixin g, mistura; mixing layer, mento)
camada de mistura; mixing length, riblet, estria
comprimento de mistura roll, rolar; rolling moment, momen­
momentum, quantidade de movimento; to de rolamento; wake roll-up, enro­
momentum thickness, espessura lamento de esteira
da quantidade de movimento root, raiz; root-m ean-square
(r.m.s.), desvio padrão
N ose, nariz; nose-down, picar; roughness, rugosidade
nose-up, cabrar rudder, leme de direcção
notch, entalhe; notched hodograph,
hodógrafo com entalhe Saddle (point), (ponto) sela
nozzle, tubeira scan, varrer; scanning, varrimento;
scanny-valve, válvula selectora
Panel, painel; panei method, método screen (wind-tunnel), rede (de túnel
dos painéis aerodinâmico)
path, pathline, trajectória, linha self, auto; self-preserving flow,
trajectória escoamento auto-preservado
pattern, configuração separation, separação
716 DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS

settling chamber, câmara de estabi­ spreading. espraiamento; vortex


lização (de ninei aerodinâmico) spreading, espraiamento de vortici-
shadowgraph. sombrografia dade
shallow (angle), (ângulo) pequeno stabilator (all-moving), estabili­
shear. corte [cisalhamento]; shear zador integral
layer, camada de corte; free shear stabilizer, estabilizador, plano de
layer, camada de corte livre; wall profundidade
shear. tensão de corte na parede stagger (angle), (ângulo de) calagem
shedding, libertação; vortex stagnation, estagnação; stagnation
shedding, libertação de vórtices point. ponto de estagnação
sheet (vortex), folha (de vórtices) stall, perda [estol]
shock, choque; shock wave, onda de steady, estabilizado, permanente;
choque; bow shock, choque desta­ steady flight, voo estabilizado;
cado steady flow, escoamento permanente
shroud, invólucro step, degrau; backward-facing step,
side, lado; sideslip, derrapagem; side- degrau descendente; upstream-
wash. velocidade lateral facing step, degrau ascendente
similar, semelhante stick, manche
sink, poço still (air), (ar) calmo
skeleton (aerofoil), linha de curvatura strain, deformação; strain rate, taxa de
(de umperfil alar) deformação
skewing (vortex), rotação (de fila­ streakline, linha filamento ou de
mento de vórtice) emissão
skin-friction, tensão de corte super­ stream, corrente; stream functíon,
ficial; skin-friction drag, resis­ função de corrente; streamline, linha
tência de atrito de corrente; streamlined (body),
slat, fenda móvel (corpo) fuselado, de forma aero­
slender (body), (corpo) fuselado dinâmica; streamtube, tubo de cor­
slewing (vortex), rotação (de fila­ rente; free-stream, escoamento não
mento de vórtice) perturbado; limiting streamliae,
slip, escorregamento; slip-velocity, linha de corrente limite
velocidade de escorregamento; slip- stress, tensão; shear stress, tensão de
stream (propeller), sopro (de um corte [tensão de cisalhamento]; wall
hélice); no-slip condition, condi­ shear stress, tensão de corte
ção de não-escorregamento superficial
slot, fenda, fenda fixa stretching (vortex), estiramento (de
source, fonte; source filament, vórtice)
filamento de fontes; source sheet, strip, faixa
folha de fontes; line source, linha de suction, sucção
fontes; point source, fonte pontual sweep (angle), (ângulo de) flecha
span, envergadura; span loading, [enflechamento]; sweepback, flecha
carga por envergadura positiva; sweepforward, flecha
spar, longanna; main spar, longarina negativa; swept wing, asa em flecha
principal swirl, rotação
spectrum, espectro; power spectral
density, densidade espectral de Tab, compensador
energia; power spectrum, espectro tail, cauda
de energia tap, tapping (pressure), tomada (de
speed, velocidade (em módulo) pressão estática)
spin, vrille taper (ratio), afilamento; tapered
splitter-plate, placa divisória wing, asa trapezoidal
DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS 717

thickness. espessura; thickness-to- free vortex, vórtice livre; horxc-


chord ratio, espessura relativa (de shoe vortex, vórtice em ferradura;
um perfil alar); boundary layer passage vortex, vórtice de
thickness, espessura de camada passagem; starting vortex, vórtice
limite; displacement thickness, de arranque; stopping vortex,
espessura do deslocamento; vórtice de travagem; tip vortex,
momentum thickness, espessura vórtice marginal; trailing vortex,
da quantidade de movimento vórtice arrastado; trapped vortex,
thin, delgado; thin aerofoil, perfil vórtice capturado
delgado; thin shear layer, camada vort i ci ty, vorticidade; f r ozen
de corte delgada vorticity hypothesis, hipótese da
thrust, impulso [empuxo], tracção vorticidade congelada
tip, bordo marginal; tip speed ratio,
velocidade específica (de uma turbina W all, parede; wall jet, jacto parietal;
eólica); tip vortex, vórtice marginal wall law, lei da parede
torque, binário (torque) wake, esteira; wake blockage,
towing-tank, canal hidrodinâmico bloqueamento de esteira; wake
trailing-edge, bordo de fuga, trailing component, componente de esteira;
vortex, vórtice arrastado wake intensity, intensidade da
t r ans i t i on, transição; r e v e r s e componente de esteira; wake roll-
transition, transição inversa up, enrolamento de esteira; far-wake,
transpiration, transpiração esteira afastada; near-wake, esteira
traverse, atravessamento próxima;
trim, equilibrar, compensar; trim drag, wash-in, torção positiva
resistência de equilibragem wash-out, torção negativa
trip wire, arame de transição wave, onda; wave lenght, compri­
tube, tubo; tube rake, pente de tubos mento de onda; wave number,
tunnel, wind, túnel aerodinâmico número de onda; shock wave, onda
turn, volta; coordinated turn, volta de choque; travelling wave, onda
coordenada progressiva
twist, torção wedge, cunha
wind, vento; wind fann, parque eólico;
Unsteady, não permanente windmill, moinho de vento; wind-
upper surface (aerofoil), extradorso tunnel, túnel aerodinâmico; wind
(de um perfil alar) turbine, turbina eólica; windward,
upstream, montante barlavento, montante
upwash, velocidade (induzida) ascendente wing, asa; wing area, área alar, wing
loading, carga alar, wing tip, bordo
V ane, alheta, pá (em geral restrito a margina); flying wing, asa voadora
pás fixas); guiding vane, turning wise, no sentido de (e.g. chordwise,
vane, pá directriz crosswise, spanwise, streamwise)
velocity, velocidade (vector) working section, secção de trabalho
viscosity, viscosidade (de túnel aerodinâmico)
vortex, vórtice; vortex break-down,
colapso de vórtice; v o r t e x Y aw, guinada; yawing moment,
shedding, libertação de vórtices; momento de guinada; adverse yaw,
vortex slewing, rotação de guinada adversa
filamento de vórtice; v o r t e x
stretching, estiramento de filamento
de vórtice; bound vortex, vórtice
ligado; combined vortex, vórtice
real; forced vortex, vórtice forçado;
alfabeto grego

t,I [iota] P . P
a .A [alfa]
P,B [beta]
k .K [kapa] a ,I
X , A [lambda] x, T
y,T [gama]
H, M [miu] v ,Y
5 _a [deto]
£,E [épsilon] v ,N [niu] <|>, 4>
Ç. Z [zeta] ç .s [ksi] x .x
ri , H [eta] o ,0 [ómicron] y ,¥
0 .0 [teta] 7t,n [pi] to , Q

718
índice remissivo
A celeração
de Coriolis: arame de transição:
369 área 241
parâmetro de: 311 alar:
advecção: 118,266 32
admitância: parasita equivalente:
382 aresta de reversão: 606
aerodinâmico 472
arrastamento:
centro: 258,297
486,533 velocidade de:
freio: 258,312
67,541 asa
túnel: 9,240,438,445 díptica: 57Q
aeroelasticidade: 596,647 em delta: 598
afilamento: 584 em flecha: 9^
aileron: 34 rectangular: ’ 535
(s) diferenciais: 544 trapezoidal: 534
d'Alembert, paradoxo de: 147,451 triangular: 535
alhetas helicoidais: 657 voadora: 533,591
a lia s in g : 256 (s) não-planas: 535
ataque
alongamento: 561
ângulo de: 14
altimetria: 19
altímetro barométrico: 20 bordo de: 13
altitude atmosfera
padrão internacional: 19,661
de pressão: 20
classes de estabilidade: 387
geométrica: 661 condições de estabilidade da: 383
geopotencial: 661 atrito, resistência de: 43,198,304,452
altura auto
geostrófica: 370 -correlação, coeficiente de: 254
gradiente: 370,378/9 -estáveis, perfis: 532,536
amplificação -indução: 493
espacial: 228 -preservados, escoamentos: 293
temporal: 228 -rotação
analítica, função: 399,664 asa em:
helicóptero em: '41
ângulo de
ataque: 14 autogiro: 141
475 autonomia:
absoluto:
de perda: 58,507 241
de projecto: 481 B a llo tin i:
89
efectivo: 562 barreira do som:
ideal: 481 base
68,614
562 de um cotpo não-fuselado:
induzido: 68
583 pressão de:
derrapagem: 120,556
559 Beltrami, escoamentos de:
diedro: 18,73,119,122
92,553 B em oulli, eq. de:
flecha: 142
460 Betz, limite de:
incidência: Biot-Savart, lei de: 160,565,574
momento nulo: 485
6 Blasius , , q c,,
planeio: fórmulas de: ’
pranchamento: 7,588
lei de fricção de:
sustentação nula: 33,475
354 solução de, w
torção de uma CL 3D: teorema de:
aproximação dos pequenos ingulos: 180
719
‘20 W f REMISSIVO

N o q u o u n c n io a p ro x im a ç õ e s de c a m a d a s de corte
de esteira: 135, 446 d e lgadas la m in a re s 2 D : 168,175
e le ito de: 446 a p ro x im a ç õ e s de cam a d a s d e corte
b o la com e le ito : 395 d e lg a d a s tu rb u le n ta s 2 D : 268
bo lh a iie separarão: 64,259 eqs. d ife re n c ia is d e cam a d a s d e corte
curta: 509 d e lg a d a s la m in a re s 2 D : 182,191
longa: 510 eqs. d ife re n c ia is d e cam a d a s de corte
contracçào de: 531 d e lg a d a s tu rb u le n ta s 2 D : 270
rebentam ento de: 510 tran sição e m c a m a d a s de corte delgadas:
bolhas de hidrogéneo; 61 227,354
bordo c a m a d a de E k m a n : 371
de ataque: 13 c a m a d a lim ite : 39,167,348
e m dente de serra: 595 a x i-s im é tric a : 190
reb ative l: 545 c o m s u c ç ã o u n ifo rm e : 212
de ftiga: 13 e m s u p e rfíc ie ru g o sa: 288,307,379
anguloso: 473 a p ro x im a ç õ e s d e C L 3 D : 348
e m aresta de reversão: 472 c o n tr o lo d e : 210
m a rg in a l: 35,553 e q . in te g r a l d e C L 2 D : 184/8,192,271
bossa la m in a r: 522 eqs. d ife r e n c ia is d e C L 2 D : 182,191,270
Boussinesq eqs. d ife r e n c ia is d e C L 3 D : 350/1
aproxim ação de: 385 es p e s su ra d e C L 2 D : 40
m o d e lo d e visco sid ade turbulenta: 273 e s p e s su ra d e C L 3 D : 355
braço de cauda: 131 m e c a n is m o d e c re s c im e n to de
Bradshaw C L la m in a r: 39,199/200
'árvore' de: 249 C L tu rb u le n ta : 256/8
de fin iç ã o de c a m p o turbulento : 243 p a râ m e tro s in te g ra is : 184
m o d elo de turb u lê n c ia de: 276 s e p a ra ç ã o d e C L 2 D : 55,172,202
B regu et-Léduc, eqs. de: 604 s e p a ra ç ã o d e C L 3 D : 359
B ru n t-V ã isã là , frequência de: 386 c a m a d a lim ite a tm o s fé ric a : 368
B u c k in g h a m , te o re m a dos 77 ’s: 48 c â m a ra d e e s ta b iliza ç ã o : 12
B u y s B a llo t, le i de: 370 c a n a l h id ro d in â m ic o : 240
canard: 34,533,602
C a b r a g e m , m o m e n to de: 33 c a rb u ra d o r, p r in c íp io d e ope ra çã o : 28
calibração de Patel: 346/7 C a rb o ru n d u m : 241
camada carga
da parede: 281,299 alar: 605
de corte: 51,167 d e u m p e r f il a la r: 523
d e corte liv re : 51 fa c to r de: 8
de E km a n : 371 cascata
de m istura: 52 d e e n e rg ia : 247
d e tensão constante: 283 d e pás: 144,446
exte rio r: 2 8 2 ,291,299 Cauchy
in te rio r: 2 8 1 ,283,299 te o re m a s de: 449,665
lim ite : 39,167 v a lo r p r in c ip a l de: 565
tam pão: 287,299 ca u d a , b ra ç o de: 131
sobre-cam ada viscosa: 298 caudal
sub-cam ada la m in a r: 285 c o rre c tiv o : 329
sub-cam ada linear: 285,299 m á s s ic o : 26
sub-cam ada viscosa: 287,299 26
v o lu m é tr ic o :
camadas de corte 36
c a v ita ç ã o :
delgadas: 51,167 C e b e c i e S m ith , c r it é r io d e tran sição : Z&
liv re s : 51 ,2 1 6 ,3 3 4 c e n tra g e m :
53b
ÍNDICE REMISSIVO 721
centro: 362 in flu ê n c ia :
aerodinâmico: 486,533 493
m o m e n to de picada: 484
de gravidade: 533
a v a lia ç ã o experim ental do: 549
de pressão: 488 perda de carga:
passeio do: 489 127
p la n e io : a
de um perfil: 462
p o tê n c ia d e u m a tu rb in a eólica: 142
cérceas: 595 pressão:
chaminé cilíndrica: 23,152,424
659 resistência: 1198,504,566
choque avalia ç ã o experim ental do:
destacado: 86 549
sucção:
em X: 91 213
sustentação: 32,466,566
forte: 85
fraco: ava lia ç ã o e x p e rim e n tal do: 549
85
oblíquo: 84 tensão d e corte superficial: 188
normal: 83 v o lu m e
onda de: 82 d o estabilizador: 535
perda por: 89 de profundidade: 535
cilindro circular coerentes, estruturas: 307
com circulação: 394,428 c o la p s o d e vórtices: 599
em escoamento uniforme: 394,422 C o le b r o o k e W h ite , fó rm u la d e : 320
cilindro elíptico: 458 c o lu n a d e água, m ilím e tro s de: 21
cinemática, viscosidade: 47,111 com andos cruzados: 652
cinética, energia: 18,118,244,267 c o m p le x o
circuito material: 153 p o te n c ia l: 399,456
circulação velocidade: 399,456
conservação no espaço: 157 c o m p o n e n te de esteira: 300,358
conservação no tempo: 155 intensidade da: 300,309
cilindro circular com: 394,428 c o m p rim e n to
distribuição elíptica de: 569 d e m is tu ra : 273,288,358
distribuição geral de: 563 d e M o n in -O b u k h o v : 386
eq. de definição de: 121 de onda: 228
geração de circulação num cilindro e q u iv a le n te de conduta: 327
circular em rotação e translação: 433 escala d e (s): 42
geração de circulação numa condição de
placa plana a incidência: 467 K u tta : 463,499,583
significado físico de: 149 não-escorregam ento : 38
círculo re g u la rid a d e a in fin ito : 390
gerador (s ) fe c h o : 270
centrado na origem: 460 (s ) R ie m a n n -C a u c h y : 664
descentrado segundo o eixo c o ndução d o c a lo r, eq. de: 112/3
imaginário: 473 conduta: 26 ,12 5
descentrado segundo o eixo real: 471 (s ) e m p a ra le lo : 326
teorema do: 439 (s ) e m série: 326
classes de Pasquill-Gifford: 387 (s ) ram ificad as: 327
Clauser c u rv a em : 130
diagrama de: 344 e s c o a m e n to e m (s ): 1 2 5,171,323
parâmetro de equilíbrio de: 295 e x p a n s ã o a b ru p ta n u m a; 127
Coanda, efeito: 258 redes de (s): 327
coeficiente de re g iã o d e entrada: 224
auto-correlação: 254 c o n d u tiv id a d e turbulenta: 385
correlação espacial: 252,255 cone
correlação temporal: 253 de M ach: 78
fricção: 127,175,317 e m e s c o a m e n to u n ifo rm e : 658
?22 ÍNDICE REMISSIVO

c o n fo rm e , tra n s fo rm a çã o : 396,453 corte


conservação cam ada de: 51,167
eq. d e co nservação d a massa cam adas d e corte livres: 51
fo rm a d ife re n c ia l: 102,262 escoam en to d e c o rte puro: 108
fo r m a in te g ra l: 26,103 tensão de: 39,108
eq. d e conservação d e propriedade geral tensão de c o rte su p e rfic ial: 185
fo r m a d ife re n c ia l: 100,102 m edição da: 342
fo r m a in te g ra l: 99,101 C o u e tte , e s c o a m en to de: 169,288
eqs. de: 98 C o u n ih a n , geradores de: 13
le is de: 98 critério de
c o n s u m o e s p e c ífic o d e com b u s tív e l: G ib b in g s : 241
604,607 separação d e S tratford : 314,528
c o n tin u id ad e, eq. d a tra n s içã o d e C e b e c i e S m ith : 238
fo rm a d iferen cial: 100,102,262,670/2 transição e " : 236
fo r m a in te g ra l: 26,103 curvatura
c o n tín u o , m e io : 2 de u m p e r fil a lar: 14,475
contracção lin h a de: 14
abrupta: 65 p a râm etro d e c u rv a tu ra transversal: 191
d e tú n e l aerodinâm ico: 12
d e u m tensor: 110 D a r c y , eq. d e -W e is b a c h : 127,325
escoam entos e m contracções: 63 D a rrie u s , tu rb in a : 515
c o n tro lo D a v e n p o rt, espectro de: 380
d e c am ad a lim ite : 210 d é fic it de
p o r sopro: 211 caudal: 186
p or sucção; 212 energia: 188/9
m étodo do v o lu m e de: 115,125 quan tid ad e d e m o v im e n to : 187
ponto de: 493,575 v e lo c id a d e , le i do: 294,300,358
superfície de: 96 deform ação: 43,109
v o lu m e de: 96 ta x a de: 43
convectiva tensor das ta x a s de: 123
derivada: 101 degrau
variação: 96,100 ascendente: 66
convergência colinear: 190,271 descendente: 258,363
corda densidade espectral de energia: 245,254/5
de u m p e rfil alar: 13 deriva: 34
m édia aerodinâm ica: 562 derivada
m édia geométrica: 561 c o n v e c tiv a: 101
C o rio lis te m p o ra l: 101
aceleração de: 369 101
to tal:
força de: 369,452 8
derrapagem :
parâm etro de: 370 583
ân g u lo de:
corpo não-fuselado: 68,612 7
desem penho:
correlação
d e s e n v o lv id o , es c o a m en to com pletam ente
espacial: 252,255 41,125,169,316
tem poral: 253
d e s liza m e n to , lin h a de; 362
auto-: 254
deslocam en to, espessura do: 56,187,192
corrente
função de: diagram a
103,105,398
instabilidade de corrente cruzada: 354 de C lauser: 344
lin h a de: 97,400,614 de M o o d y: 3^1
linha de corrente lim ite : 352 p o la r
superfície de: 106 de Johnston; ^
tubo de; 105 de u m a C L 3 D : 354
ÍNDICE REMISSIVO 723
diâmetro
equivalente: 324,326 E difícios
hidráulico: 324 escoamento em tomo de:
diedro: 66,260,289
559 esforços sobre:
côncavo: efeito 382
402
convexo: 402 Coanda:
258
efeito: 588 debloqueamento: 135,446
escoam ento e m (s) diedro:
588
p o te n c ia l in co m p ressível: 401/5 Magnus:
395,435
supersónico: 85/7 solo:
600
diferencial exacta: 103,664 (s) aeroelásticos: 0 3 0 , KAl
difusão de Einstein, notação de 1ft1
energ ia cinética: Ekm an
118,265,267
quantidade d e m o vim en to : 45,112,264 camada de: 371
v o rtic id a d e n u m v ó rtic e real : espiral de: 373
165
difusor, escoam en tos e m (s): número de: 370
60,173
elasticidade: 74
dilatação, ta x a de: 102
dinâm ica elevador do estabilizador: 33
elevon: 35
pressão: 18
emissão, linha de: 97
viscosidade: 41,108,662 empenagem
perda: 513 horizontal: 33
dipolo vertical: 34
de fontes: 412 energia, factor de configuração: 376
de vórtices: 412 energia emética: 18,244
e m es c o a m en to u n ifo rm e : 422,426 cascata de en. cin. turbulenta: 247
densidade espectral de energia: 245
na presença d e
difusão de en. cin. turbulenta: 267
u m c ilin d ro circular: 442
eq. de transporte da: 118
u m a p ared e plana: 437 eq. de transporte da en. cin. turbulenta:
p o n tu a l: 395,414 267,271
fo lh a d e (s): 419,499,583 espectro de en. cin. turbulenta: 246,380
lin h a d e (s ): 393,409 produção de en. cin. turbulenta: 266
direcção taxa de dissipação de
34 en. cin.: 119,122/4
le m e de:
131 en. cin. turbulenta: 247,267/8
v o lu m e de:
direccionais, sondas: 425 energia eólica
11,145,173 recurso: 375,428
directrizes, placas:
turbina: 141,375
disco actuador: 139
energia potencial gravítica: 18
dispersão de poluentes: 382
dissipação, ta x a de: 119,122/4,247,267 entalpia
73
específica:
distribuição de 73
densidade de probabilidade: 376 total:
35,553
377 envergadura:
R a y le ig h : 531,537
377 Eppler, perfis:
W e ib u ll:
(s) sup e rfic iais de singularidades: equação
492,579,674 da continuidade
fornia diferencial: 100,102,262,670/2
divergência 26,103
19U form a integral:
colinear: 71
596,651 da energia 19,113,662
e m torção: da estática:
DNS: 278 124
665 da pressão: 18,73,119,122
d o m ín io s conexos: de Bemoulli:
D ryd en , espectro de: 381
724 (NDICE REMISSIVO

de condução do calor: 112/3 e q u ilíb rio


de conservação da massa local: 281
forma diferencial: 100,102,262,670/2 hipótese de K o lm o g o ro v de equilíbrio
form a integral: 26,103
u n iversal: 250
de conservação de propriedade geral
p arâm etro de e q u ilíb rio de Clauser: 295
form a diferencial: 100.102
equipotenctal: 121
form a integral: 99,101
U nha: 400
de Darcy-W eisbach: 127,325
escala
de E ulen 114
de H agen-Poiseuille: 175 de c o m p rim en to s: 42
de H elm holtz: 163 de velocidades: 32
de Laplace: 390,398,456 in te g ra l d e c o m p rim en to s: 255,381
de Orr-Som m erfeld: 229 in te g ra l d e tem pos: 255
de Poisson: 124,159 (s ) d e K o lm o g o ro v : 250
de R ayleigh: 229 escoam ento
de transporte da energia cinética: a propried ad es constantes: 111
118,265,267,271 ao lo n g o d e diedros: 85/7,401/5
de transporte da energia mecânica: 119 auto-preservado: 293
de transporte da quantidade de c o m p le ta m e n te desenvolvido:
m ovim ento 41,125,169,316
form a diferencial: 111,114 d e c o rte puro: 108
form a integral: 115 d e C o u e tte : 169,288
de transporte da voiticidade: 163 d e H a g e n -P o is e u ille : 174
de transporte das tensões de Reynolds: d e p la c a plana: 195,303,401
266 d e ponto d e estagnação: 195,402
do monoplano: 573 e m to m o d e e d ifíc io s : 66,260,289
dos gases perfeitos: 19,71,661 geostrófíco: 370
dos m ovim entos lentos: 436 in c o m p re s sív e l: 3
integral de C L 2 D : 184/8,271 irro ta c io n a l: 119,390
integral de Fredholm : 493 la m in a r: 58,167
integral de von-Kárm án: 184/8,271 não-perm anente: 98
(s) de Breguet-Léduc: 604 não-perturbado: 9
(s) de conservação 99 perm anente: 9
(s) de Navier-Stokes: p o te n c ia l: 120,389
111,114.263,369,670/1,673 transónico: 89
parabolizadas: 184 tu rb u le n to : 59,242
reduzidas: 184 u n ifo rm e : 9,372,401,413
(s) de transporte: 98 (s ) atm osféricos: 368/71
(s) diferenciais de C L 3D : 350/1 (s ) de B e ltra m i: 120,556
(s) diferenciais de camadas de corte (s) d in a m ic a m e n te sem elhantes: 48
delgadas laminares 2D : 182 (s) e m condutas: 171,323
(s) diferenciais de camadas de corte (s ) e m contracções: 63
delgadas turbulentas 2 D : 270 (s ) e m difusores: 61,173
(s) elípticas: 167,666 (s ) e m tubos: 174,317
(s) hiperbólicas: 666 (s ) geostróficos: 370
(s) parabólicas: 182,666 (s ) secundários de P randtl de 1® espécie:
(s )p : 329 214,352
(s) Q: 328 (s) secundários de P randtl d e 2* espécie:
« 4 2 : 329 323
equilibragem (s) sem elhantes: 192/3,216,405
de um a aeronave: 532 reversão do: 55,172,201
resistência de: 529,535 separação do: 55,202
Índice remissivo 725
esfera
estetoscópio: ^
em esco am ento uniform e: 427

solução de Stokes para resistência de estiramento de filamento de vórtice* iík


estrada de von-Kármán:
um a: 437 69,612,630
e s p e c tro
geometria e cinemática da: 637
de Davenport: 380 mecanismo de formação da: 630
de Dryden: 381 vibrações induzidas pela: 642
estratosfera: 1Q
de energia: 246,254/5,380
estrias (riblets): 315
de força: 382
de von-Kárm án: 381 estruturas coerentes: ttV7
Euler
de respo sta de um a estrutura: 382
equação de: 114
do vento atm osférico: 375,380/1
metodologia de: 96
espessura
euleriana, metodologia 96
da energia: 189
expansao
da quantidade de movimento:
133,187,192 abrupta numa conduta: 127
de cam ad a lim ite 2D: 40 centrada de Prandtl-Meyen 87
de cam ad a lim ite 3D: 355 experiência de Stokes: 40
de u m perfil alar: 14,472 extradorso: 13
do deslocam ento: 56,187,192
relativ a de um perfil alar: 14,472 F a c to r de
m eia-espessura de um jacto: 219 carga: 8
espiral d e Ekm an: 373 configuração de energia: 376
estabilidade estática: 532,591 eficiência de Oswald: 567
estabilizador: 33 forma: 188/9
horizontal: 33,543 intermitência: 257
integral: 34,88,543 Fage e Johansen 626
vertical: 34 Falkner-Skan, transformação de: 193
favo de abelha: 12
estagnação
195,402 fecho, condições de: 270
esco am ento d e ponto de:
105,391 fenda 211
lin h a d e corrente de:
14,391 fixa: 545
p o n to de:
74 móvel: 545
tem peratura de: 98
fenómenos de transporte:
estática 644,668
19,113,662 figuras de Lissajous:
equação da: 97,614
532 filamento, linha:
estabilidade: 364
18,107 film e de óleo, visualização com:
pressão: 249
533 filtro passa banda:
m argem : 6
25 finesse:
tom ada de: 211,538
35,52 flap:
esteira: 540
69,612,629 fenda:
afastada: 540
338 Fowler:
de cilindro circular: 542
558 Gumey:
deform ável: 542
68,612,614 jacto: 546
p róxim a: Kriiger:
atravessam ento de: 136 539
135,446 simples:
bloqueam ento de: 539
300,358 split: 35
com ponente de: flaperon:
557,583
enrolam ento da: flecha
131 14,475
exploração da: de um perfil alar:
9no 14
função de esteira de Coles: relativa:
intensidade da com ponente de. 30 » 92,553
ângulo de: 91,591
perda p o r rotação na: asas em:
relaxação de:
ÍNDÍCE REMISSIVO
726
Fow ler, flap:
540
fluido 15 114 Fredholm , eq. integral de:
493
ideal: freio aerodinâm ico:
newtoniano: 67,541
15114 frequência de Brunt-Vãisãlã:
386
perfeito: ' 38 fricção
real: 43 coeficiente de: 127, 175,317
simples: velocidade de:
284
flutter 55 0 fronteira, ponto: 493
clássico: 70,649 Froude, núm ero de: 49,240
de flexão / torção: 552 fuga, bordo de:
stallflutter. 13
651 função
velocidade de: analítica: 399,664
fluxo . „ . 4 4 .1 1 2 decorren te:
de quantidade de movimento, 103,398
44.112 d e S to k e s : 105
difusivo:
362 harm ónica: 456
foco:
folha
de dipolos: 419,499,583 G alope: 647
de fontes: 419,493 gás perfeito, equação dos (s): 19,71,661
de vórtices: 415,496 G auss
(s) de singularidades: 415 -Seidel: 494
(s) limites: 350 elim inação de: 494
fonte teorem a da divergência de: 99,1
de uma propriedade: 98 geostrófico
em escoamento uniforme: 391 altura: 370
entre paredes paralelas: 443 escoam ento: 370
na presença de um cilindro circular: 441 vento: 370
numa parede: 437 geradores
pontual: 395,413 de C ounihan: 13
folha de fontes: 419,493 de vórtices: 57
linha de fontes: 390,407 G ibb ings, c ritério de: 241
modelo de fontes na esteira: 628 glissade: 8
orça G orm ond, m éto do de: 517
centrífuga: 29 G õrtler, v ó rtices de: 235
de atrito: 15 gradiente
de Coriolis: 369,452 adiabático de tem peratura: 19
de impulsão: 385 de pressão
de inércia: 17 adverso: 16,112
de pressão: 15 favorável: 16,112
de superfície: 15,106 radial: 153
mássica: 15,106,113 efeito d e um : 16.55,172,201/3,309/11
volúmica: 15 parâm etro de: 171,194,202
irmã nits 07Q/Q
altura:
factor de: 188/9 370
vento:
resistência de: 452,504 492,674
fórmula G reen, teorem a de:
da resistência de von-Kármán: 640/2 guinada
544
de Colebrook e W hite: 320 adversa:
34,592
de Squire e Young: 505 m o m en to de:
(s) de Blasius: 542
449,641 G u m ey , flap:
Fourier
lei de: 112 H a g e n - P o is e u ilJ e
série de: 175
563,573 equação de: 174
transformada de: 254/5 escoam ento de:
ÍNDICE REMISSIVO 727

Hardy-Cross, m é to d o de: 330,333 flutter: 650


H ead, m éto d o de: 311 galope: 647
hélice de corrente cruzada: 354
im p u ls o r: 1J1 de K e lv in -H e lm h o ltz : 235
n ro p u ls o r m a r ítim o : 36 invíscida: 230
L c to r: 130/1 viscosa: 229,265
e fic iê n c ia d e u m : 140,604 intensidade de turbulência: 309,388
escoam en to u n i-d im e n s io n a l e m (s):139 interacção
so p ro do; 138 asa / fuselagem : 589
helicóptero choque / cam ada lim ite: 91
em au to-rotaçao : 141 visco sa / invíscid a: 60,220,500,502
em v o o esta c io n á rio ; 140 in te rm itê n c ia , factor de: 257
p ás de: 513 intradorso: 14
ro to r de: 140,513 in versão térm ica: 383
H elm h o ltz irro ta c io n a l, escoam ento; 119,390
2 o te o re m a de: 157 isotropia, tendência para a: 249,267
3 o te o re m a de: 155
4 o te o re m a de: 153 J a c to : 52
eq. de: 163 a x i-s im é tric o
K irch h o ff-, m o d elo de: 618 la m in a r: 216
hidráulico turbulento : 334
diâm etro: 324 parietal: 211
raio: 324 plano: 338
h id ro d in â m ico , canal: 240 fla p : 542
h id ro stá tic a , p ressão : 18,113 im p u ls o de um : 133
h ip ersu sten tad o res: 537 m eia-espessura de um : 219,336
de b o rd o d e ataque: 545 o rig e m v irtu a l de um : 219,335
de b o rd o d e fu g a (flaps): 538 Johnston, d iagram a p o la r de: 357
h ip ó tese Jones, m étodo de: 136
de K o lm o g aro v : 250 Joukow ski
da v orticidad e congelada: 253 generalização da transform ação de: 484
ergódica: 253 p erfis de: 397,460
h istó ria (d e c a m p o tu rb u le n to ): 256,292 teo re m a de K u tta -: 147,395,433,449
p arâm etro de: 293 transform ação de: 397,456
hodógrafo ju s a n te : 9
m o d e lo d o h o d ó g ra fo c o m entalhe: 621
p la n o do: 618 v o n -K á rm á n
eq. integral de: 184/8,271
espaçam ento de: 639,642
Im ag em
espectro de: 381
n u m cilin d ro circu lar: 439
estrada de: 69,612,630, 637
n u m a p are d e p lana: 436/8
fó rm u la da resistência de: 640/2
in fin ita s (s): 443
m éto d o d as (s): 435 K e lv in
im p u lsão , fo rç a de: 385 in s ta b ilid a d e de -H e lm h o ltz : 235
teorem a de: 153
im p u lso d e u m ja c to : 133
in cid ên cia, ân g u lo de: 460 K irc h h o ff
in c o m p re ssív e l, esc o a m e n to : 3 le is de: 328
indiciai, n o tação 101 -H e lm h o ltz , m o d e lo de: 618
in ércia, su b -d o m ín io de: 247/8,381 K o lm o g o ro v
instabilidade escalas de: 250
aeroelástica: 647 h ip ó tese d e e q u ilíb rio u n iv e rsa l; 250
d iv e rg ê n c ia e m torção: 596,651 K ru g e r, flap : 546
índice remissivo
728
de d ip o lo s :
393,409
Kutta 4 g3 4 9 9 ,583 de em issão :
97
S ^ :.Joukowski:147,395.433,449 de fo n te s / poços:
390.407
de p o n to s s in g u la re s :
362
T , 375 de rec o la m e n to :
J^acuna espectral. „ 360
de separação:
Lagrange. metodologia de: 360
de singularidades:
la°rangeana, metodologia 406
de v ó rtic es :
390.408
laminar e q u ip o te n c ta l:
522 121,400
bossa: fila m e n to :
58,167 97,614
escoamento:
522 sustentadora
perfis (s): m o d e lo da:
285 556
sub-camada:
390,398,456 te o ria da: 559
Laplace, eq. de:
277, 282 tra je c tó ria : 95
Launder, modelo k- e :
449,665 L is s a jo u s , fig u r a s de: 644,668
Laurent, série de:
316 L u d w ie g -T illm a n n , le i de: 305,312
LEBU s :
lei ]V Ia c h
da parede: 48b 290.358
cone de: 7g
de B iot-Savart: 160 565,574
317 n ú m e ro d e : 50, 78,240,252,466
de Blasius:
370 c rític o : 89
de Buys Ballot:
de d iv e rg ên cia : 89
de déficit de velocidade: 294; 300.358
302 onda de: 85
de expoente 1/7:
112 M a c M illa n : 340/1
de Fourier:
305,312 M a g e r , p e r fil tra n s v e rs a l d e : 357
de L u d w ie g -T illm a n n :
de Prandtl para tubos lisos: 320 M a g n u s , e fe ito : 395,435
de Prandtl para tubos rugosos: 320 m a lh a d e v ó rtic e s , m o d e lo da: 556,574
de Prandtl-Schlichting: 305 m an ch e: 508
de Sutherland 662 m a n g a p e rfu rad a: 657
logarítm ica: 286, 290,378 M a n g le r, tra n s fo rm a ç ã o d e : 191
I a le i da term odinâm ica. 71 m a n ó m e tro
2 a le i da term odinâm ica. 82 de tubo s in c lin a d o s : 21
2* le i de N e w to n 99,106 em U ; 20
(s) de conservação: 98 m a rg e m e s tá tic a : 533
(s) de K irchh off: 328 m assa
leme e specífica: 16
dedirecção: 34 to ta l: 74
de profundidade: 33 eq. de co n s e rv a ç ã o d a
Leonard, tensões de: 280 fo r m a d ife re n c ia l: 100,102,262,670/2
leque de P ra n d tl-M e y e r 87 fo r m a in te g ra l: 26,103
LES:
278 m a te ria l
L íe b e c k , perfis: 527 153
c irc u ito :
lim ite de B etz: 149
142 s u p e rfíc ie :
linear, sub-camada: 285,299 m a triz
linha 580
de conectividades:
de corrente: 328
97,400, 614 de in c id ê n c ia c o n d u ta-n ó :
de estagnação: 105,391 dos c o e fic ie n te s d e in flu ê n c ia : 493
livre:
615 m édia
de separação: 261
391 d e c o n ju n to :
divisória: 261
391 n o te m p o :
lim ite :
352 m e d iç ã o d e p e rfis d e v e lo c id a d e m édia: 3
de deslizam ento:
362 m e ia -e s p e s s u ra (d e u m ja c to ):
ÍNDICE REMISSIVO 729
meio contínuo: 2
de rolam ento:
memória (de um campo turbulento): 35,589,592
ângulo de m om ento nulo:
256,292 coeficiente de:
método 464
fó rm u la de B lasius para (s): 4449
da malha de vórtices: 556,574
fó rm u la de K utta-Joukow ski para (s):
das imagens: 435
453
deGormond: 517 M o n in -O b u k h o v , com prim ento de: 386
de Hardy-Cross: 330,333 m onop lan o, eq. do: 573
deHead: 311
a
de Jones: 136 M o o d y , diagram a de: 321
de lin e a riza çã o : 330/1 m u ltip o lo , expansão: 582
d e N e w to n -R a p h s o n : 322,330,332 y
d e T h e o d o rs e n : 489 N a CA: 518
d e T h w a iíe s : 204 perfis convencionais (4-dígitos): 519
d o v o lu m e d e c o n tro lo : 115,125 perfis lam inares série- 6 : 523
dos p a in é is 2 D : 492 não
dos p a in é is 3 D : 579 -escorregamento, condição de: 38
m e to d o lo g ia -fuselado, corpo: 68,612
e u le ria n a : 96 -perm anente, escoamento: 98
lag ran g ean a: 96 NASA: 518
M e y e r , e x p a n s ã o d e P ra n d tl-: 87 perfis G A (W ): 524
m ilím e tro s d e c o lu n a d e água: 21 N a v ie r
M iln e - T h o m s o n , te o re m a d o c írc u lo : 439 eqs. de -Stokes:
m is tu ra 111,114,263,369,670/1,673
d e n ív e l tu rb u le n to : 245 parabolizadas: 184
52 reduzidas: 184
c a m a d a de:
273,288,358 n eu tro , ponto: 487,535
c o m p rim e n to de:
m o d e lo N e w to n
d a lin h a sustentadora: 556
método de -Raphson: 322,330,332
d a m a lh a d e v ó rtic es : 556
newtoniano, fluido: 41,110
d a s u p e rfíc ie sustentadora: 556
Nikuradse, rugosidade padrão: 289
d e fo n te s n a e s te ira : 628
362
d e K ir c h h o ff-H e lm h o ltz : 618 nodo:
621 notação
de Roshko: 101
139 indiciai
d o disco actuador: 101
271 de Einstein
(s ) d e tu rb u lê n c ia :
276 número de
a 1 eq.: 370
277 Ekman:
a 2 eqs.: 49,240
277 Froude:
a 5 eqs.: 50,78,240,252,466
276 Mach:
a lg é b ric o s :
276 crítico:
de B ra d s h a w : de divergência:
d e c o m p r im e n to d e m istu ra: 228,245,255,380
273,288,358 onda:
47
Reynolds:
de v is c o s id a d e turb u le n ta : 273,336,358 231,634
k-e: 277,282 crítico:
234
de transição:
m o in h o d e v e n to
^ 142 Richardson
p o rtu g u ês 385
do fluxo: 386
'tip o a m e ric a n o ': do gradiente:
m o m e n to 370
33 Rossby: 632
d e cabragem : Strouhal:
34,592 635
d e guinada: universal:
33,482
de picada:
730 (NDICE REMISSIVO

perda
Onda de asas e m flecha:
82 595
de choque: de carga
normal: 83
concentrada: 128,327
oblíqua: 83
e m lin h a : 26,126,171,325
de compressão: 83
singular: 128
de expansão: 83
de perfis alares: 55,506
de Mach: 85
dinâm ica: 513
de Prandtl-M eyen 87
p o r choque: 89
de pressão: 76
p o r rotação na esteira: 144
de T ollm ien-S chlichting: 232
tip o bordo de ataque: 511
sonora: 76
tip o bo rd o de fuga: 508
com prim ento de: 228
tip o p e rfil delgado: 510
frente de: 76/7
ângulo de ataque de: 58,507
núm ero de: 228,245,255,380
avisadores de: 511
resistência de: 88,466
coeficiente de perda de carga: 127
origem virtual de 506
tipos de:
u m difusor: 173 13,459
p e rfil (a la r):
u m jacto: 219,335 c o m d u p la curvatura: 530
um a camada lim ite turbulenta: 307 e m flu id o real: 501
OiT-Som m erfeld, eq. de: 229 e m S: 530
Osw ald, factor de eficiência de: 567 oscilante: 516
oval de Ranldne: 392 (s) auto-estáveis: 532,536
(s ) E p p ler: 531,537
P ainéis (s ) evo lu tiv o s : 570
método dos painéis 2D : 492 (s) de Jo u k o w s k i: 397,460
método dos painéis 3D : 579 (s ) lam inares: 522
par fonte / poço: 393 (s ) L ie b e c k : 527
paradoxo de d A le m b e rt 147,451 (s ) N A C A d e 4 -d íg ito s : 519
parâmetro de (s ) N A C A lam inares: 522
(s ) N A S A G A ( W ) : 524
aceleração: 311
(s ) W h itc o m b : 524
C oriolis: 370
(s ) W o rtm a n n : 527
curvatura transversal: 191
carga de um : 523
equilíbrio de C lausen 295
c e n tro d e um : 482
gradiente de pressão: 171,194,202 13
corda de um :
história: 293 cu rva tu ra de um : 14,475
recuperação de pressão: 510 espessura de um : 14,472
parede fle c h a de um : 14,475
camada da: 281,299 p o la r de um : 58,522
le i da: 286,290,358 te o ria dos p e rfis delgados: 497
pás te rm in o lo g ia de p e rfis alares: 13
directrizes: 11 tipos d e (s): 518
de hélice: 36 p e rfil (d e velocidade e m cam ada lim ite)
de helicóptero: 513 de M a g e r: 357
cascata de: 144,446 lo n g itu d in a l. 353
Pasquill-Gifford: 387 s e m i-lo g a rítm ic o :
passo (de uma cascata de pás): 145 286,290,300,319,358,378
patamar de sucção: 528 tip o p otência: 301,318,356,378
Patel, calibração de: 346/7 transversal: 353,356
pente de tubos: 136,138 p e rfil, resistência de: 452
percurso m édio livre: 252,273 p e rm anente, escoam ento: 9
ÍNDICE REMISSIVO 731

picada» m o m e n to de: 33,482 escoamentos secundários de Prandtl de


P is to les i, te o re m a dos 314c de: 576 2 ‘ espécie: 323
P ito t, tu b o de: 24 expansão de -M eyer: 87
placa le i para tubos Usos: 320
d iv is ó ria : 656 le i para tubos rugosos: 320
p la n a a in c id ê n c ia : 460 le i de -S chlichting: 305
(s) directrizes: 11,145,173 m odelo de com prim ento de mistura:
(s ) te rm in a is : 365,445 273
escoam en to de p la c a plana: teoria da linha sustentadora de: 559
38,195,303,401 pressão
plano de T r e fftz : 579 de base: 68,615
p lu m a : 97 de reservatório: 80
co n fig u ra ç õ e s d e plu m a s de fu m o ; 384 dinâm ica: 16
poço estática: 18,107
de u m a propriedade: 45,118 hidrostática: 18,113
p o n tu a l: 395,413 to tal: 18,74,114,119
n u m a parede: 437 I a pressão crítica: 80
lin h a d e poços: 390,407 2 a pressão crítica: 82
P o is e u ille 3a pressão crítica: 81
eq. d e H a g e n -: 175 centro de: 488
escoam ento d e H a g e n -: 174 coeficiente de: 23,152,424
P o iss o n , e q . de: 124,159 eq. da: 124
p o la r gradiente adverso: 16,112
d e u m p e r fil: 58,522 gradiente favorável: 16,112
de velocidades: 609 gradiente radial: 153
parab ólica: 606 onda de: 76
d ia g ra m a p o la r d e u m a C L 3 D 354 parâm etro de gradiente de pressão:
poluentes, d isp ersão de: 382 171,194.202
p o n to resistência de: 452
de c o n tro lo : 493,575 técnicas de m edida com sondas de:
de estagnação: 14,391 perfis de pressão total: 339/342
d e rec o la m e n to : 259 pressão estática: 339
d e separação: 55,202 tensão de corte superficial: 342/7
d e transição: 234 te rm o pressão-deformação: 267
e s p ira l: 362 tom ada de: 25,339
fro n te ira : 493 Preston, tubo de: 345
n e u tro : 487,535 P rig o g in e 85
no d a l: 362 produção
sela: 362 de energ ia cinética turbulenta: 266,385
s in g u la r: 397,455 de vorácidade: 165
(s ) c rític o s : 360 profundidade
p o te n c ia l lem e de: 33
c o m p le x o : 399,456 v o lu m e de: 131
d e velocidades: 120,390,398
g ra v ític o : 113,661 Q u a d r ip o lo : 412
vector: 159 quantidade de m ovim ento
e scoam en to: 120,389 eq. integral de: 188,271
p ra n c h a m e n to , â n g u lo de: 7,588 eq. de transporte da: 111.114
P randtl espessura da: 133.187,192
ap ro x im aç õ e s d e c a m a d a lim ite de: 168 flu x o d ifu s iv o de: 44,112
escoam entos secundários d e P randtl de teorem a da: 115
1* espécie: 214,352 transporte d ifu s iv o de: 112,264.172
732 ÍNDICE REMISSIVO

R a i o de acção: 6,603 eq, de transporte das tensões de:


266
n ú m e ro de:
ra iz (d e u m a asa): 553 47
59 c rític o : 231,634
rajada:
resposta a (s): 610 d e transição: 234
ta m p a de transição: 529 tensões de: 264
R a n k in e , o v a l de: 392 riblets (e s tria s): 315
rasto de condensação: 36 R ic h a rd s o n , n ú m e ro d e
R a y le ig h d o flu x o : 385
d istribuição de: 377 do gradiente: 386
eq. de: 229 R ie m a n n -C a u c h y , co n d içõ es de: 664
receptividade: 226,231 ro la m e n to , m o m e n to de: 35,589,592
recirculaçâo, b o lh a de: 64,259 R o s h k o , m o d e lo de: 621
recolam ento: 259,359 R o s s b y , n ú m e ro de: 370
lin h a de: 360 rotação: 109
rede de túnel aerodinâm ico: 12 d e fila m e n to d e v ó rtic e : 164
redes de condutas: 325 a u to -: 141,652
referencial não-de-inércia: 368 ro to r d e h e lic ó p te ro : 140,513
reg im e rugosidade padrão: 289
c o m p le ta m e n te rugoso: 290,307 ru g o s o , r e g im e c o m p le ta m e n te : 290,307
la m in a r: 58,168,175 ru íd o -b ra n c o : 381
sobre-expandido: 83
subcrítico / supercrítico: 634 S c h w a r z -C h r is t o ffe l, tran sfo rm ação de:
sub-expandido: 83 616,619
transónico: 89 secção d e tra b a lh o d e tú n e l aerod.: 11
turbulento : 59,242 s e m e lh a n te s , esc o a m en to s : 192/3,216,405
reg iões lim ite s : 349 separação
R e ich ard t, dados p ara ja c to s turbulentos: de C L 2 D : 55,172,196,202
336 de C L 3 D : 359
relam inarização: 311 b o lh a de: 64,259,509/10
relaxação de esteira: 583 lin h a de: 360
reseparação: 363 lin h a d e c o rre n te de: 391
resíduos, teorem a dos: 449,666 p o n to d e : 55,196,202
resistência: 4,451 série d e
d e atrito: 4 3 ,198,304,452 F o u r ie r: 563,573
d e equilibragem : 529,535 L a u re n t: 449,665
de form a: 452,504 s im u la ç ã o
de onda: 88,466 dos gra n d e s tu rb ilh õ e s (L B S ): 278
d e p e rfil: 452 n u m é ric a d ire c ta (D N S ) : 278
d e pressão: 452 s in g u la r, p o n to : 397,455
d e u m c orpo b i-d im e n s io n a l: 131 sing u la rid a d es : 390
induzida: 37,563 d is trib u iç õ e s s u p e rfic ia is de:492,579,674
coeficiente de: 198,504,566 p o n tu a is : 413
fó rm u la de v o n -K á rm á n : 640/2 fo lh a s de: 415
fó rm u la de S q u ire e Y o u n g : 505 lin h a s de: 406
m étodo d e Jones: 136 so b re p o s iç ão de: 422
resposta à turbulência: 382,610 S m ith -v a n In g e n , c r ité r io e" de: 236
reversão s o b re -c a m a d a viscosa: 298
do escoam ento: 55,172,201 s o lid e z d e u m a tu rb in a eólica: 143
aresta de: 472 s o lo , e fe ito : 600
R eynolds som
89
decom posição à: 261 b a rre ira do:
76
efeito s d e baix o s (’s): 298,305,310 v e lo c id a d e do:
ÍNDICE REMISSIVO 733

sombrografia: 84 deLeonard: 280


sondas direccionais: 425 de Reynolds: 264
spoiler. 67,544 normal: 107
Squire e Y o u n g , fó rm u la de: 505 tensor das (s): 106
Stokes tensor desviador das (s): 107
eqs. de N a v ie r -: componentes do: 670/2
111,114,263,369,670/1,673 tensor
parabolizadas: 184 das taxas de deformação: 123
reduzidas: 184 das tensões: 106
experiência de: 40,108 de Reynolds: 264
função de corrente de: 105 desviador das tensões: 107
solução para resistência de um a esfera: componentes do: 670/2
437 contracção de um: 110
teorem a de: 149 traço de um: 107
Stratford teorema
critério de separação de: 314 da divergência de Gauss: 99,666
recuperação de pressão de: 528 da quantidade de movimento: 115
S trouhal de Blasius: 447
núm ero de: 632 deGreen: 492,674
de Kelvin: 153
universal: 635
de Kutta-Joukowski: 147,395,433,449
sub-camada
de Stokes: 149
lam inar: 285 do círculo: 439
linear: 285,299 dos 3/4c de Pistolesi: 576
viscosa: 287,299 dos resíduos: 449,666
sub-dom ínio de inércia: 247/8,381 dos n 's de Buckingham: 48
superfície 2° teorema de Helmholtz: 157
de controlo: 96 3o teorema de Helmholtz: 155
de corrente: 106 4o teorema de Helmholtz: 153
hidrodinam icam ente lisa: 290 (s) de Cauchy: 449,665
m aterial: 149 teoria
rugosa: 288,307,378
da linha sustentadora: 559
sustentadora, m odelo da: 556
sustentação: 4,396,451 das linhas de corrente livres: 615
induzida: 587 dos perfis delgados: 497
ângulo de sustentação nula: 33,475 termodinâmica
coeficiente de: 32,466,566 T lei: 71
Sutherland, le i de 662 2* lei: 82
tetrapolo: 412
T a c o m a N arro w s , ponte de: 649 Theodorsen, método de: 489
T a y lo r, hipótese da vorticidade congelada: Thwaites, método de: 204
253 Tollmien-Schlichting, onda de: 232
técnicas de m edida com sondas de pressão: tomada de estática: 25,339
perfis de pressão total: 339/342 erro de medida: 339
pressão estática: 339 torção
tensão de corte superficial: 342/7 aerodinâmica: 570
tem poral de uma C L 3D: 354
derivada: 101 geométrica: 570
variação: 96,100 divergência em: 596,651
tem peratura total: 74 total
tensão derivada: 101
de corte: 39,108 massa específica: 74
de corte superficial: 54,188 pressão: 18,74,114,119
medição da: 3427 em> de medida: 340/2
734 ÍNDICE REMISSIVO

74 escoam ento c o m p letam en te


temperatura:
96 desenvolvid o e m (s): 125,174,316
variação:
4 pente de (s): 136,138
tracção:
107 túnel aerod inâm ico: 9.10
traço de um tensor:
trajectória, linha: 95 de circuito aberto: 9.10
de circuito fechado: 9.10
transformação
conforme: 396,453 supersónico: 79
de Falkner-Skan: 193 tip o sopro: 9.10
de Joukowski: 397,456 tipo sucção: 9.10
de M angler: 191 ensaios em : 12,240,438,445
de Schwarz-Christoffel: 616,619 tu rb ilh ão : 59,244
ponto singular de: 397,455 contendo energia: 246
transição dissipativo: 247
forçada: 239 turbina
inversa: 311 eólica: 141,375
lam inar / turbulento: 59,226 de e ix o h o rizo n ta l: 143
arame de: 241 de e ix o v e rtic a l
número de R eynolds de: 234 de pás rectas: 514
previsão de: 236 tip o D a rrie u s : 515
ram pa de: 529 c o e fic ie n te de p o tê n c ia de uma: 142
transpiração, velocidade de: 223,500,629 solidez de um a: 143
transporte velocidade e sp ecífica d e uma: 143
convectivo: 47,112 W e lls : 515
difusivo: 45,112 tu rb o m á q u in a a x ia l: 144,446
eq. de transporte da energia cinética: turbulador. 537
118,265/6,271 turb u lê n c ia
eq. de transporte da energia mecânica: características da: 243,252
119 d e fin iç ã o de: 243
eq. de transporte da quantidade de escalas de: 250,255
m ovim ento: 111,114 espectro de: 246,254/5
eq. de transporte da vorticidade: 163 estruturas coerentes 307
eq. de transporte das tensões de h is tó ria da: 256.292
intensidade de: 309,388
Reynolds: 266
eq. de transporte de propriedade geral m e m ó ria da: 256.292
form a diferencial: 100,102 m odelos de: 271
fo rm a integral: resposta à: 382
99,101
eqs. de: 98
fenóm enos de: 98 V ariação
c o n v e c tiv a: 96,100
T re fftz, plano de: 579
tropopausa: te m p o ra l: 96,100
19
troposfera: 19 total: 96
troposkiana; 514 159
v e c to r, p o te n c ia l:
tubeira velocidade
convergente / divergente: 25
78 -a r calibrada:
saturada: 25
81 -a r indicada:
25
regimes de operação de um a: 79/83 -a r verdadeira:
399,456
tubo c o m p le x a :
258,312
de corrente: 105 d e arrastam ento:
264
de Pitot: 24 de escorregam ento:
651
de Preston: 345 d e flu tte r:
284
de total, correcção da leitura: 340/1 d e fricção:
de vórtices: 155 d e propagação:
ÍNDICE REMISSIVO 735

d e transpiração: 223,500,629 de travagem: 468


do som : 76 em ferradura: 289,558
e s p e c ífica d e u m a tu rb in a eólica: 143 em gancho de cabelo: 232
in d u zid a ascendente: 37 forçado: 151
in d u zid a descendente: 37,562,564 ligado: 367,435,468.554
reduzida: 646 liv re : 151,390
escala de: 32 m arginal: 35
le i de d é fic it de: 294,300,358 na presença de
p o te n c ia l d e (s): 120,390,398 u m cilindro circular: 442
v en a contracta: 65 um a parede plana: 437
v e n to real: 152
geostrófico: 370 (s) m arginais: 557
gradiente: 370 colapso de: 599
espectro do: 375,380/1 d ip o lo d e (s ): 412
V e n tu ri: 26 estiramento de (s): 165
vibrações in d u zid a s p e la libertação de geradores de (s): 57
v ó rtic e s : 70,642 fo lh a de (s): 415,496
viscosidade: 38 libertação de (s): 613,643
c in e m á tic a : 47,111 lin h a de: 390,408
d in â m ic a : 41,108,662 m alh a de (s): 556,574
e fe c tiv a : 273 mecanismo de geração dos vórtices
tu rb u le n ta : 273,337,358 arrastados: 558
v is u a liz a ç ã o d o escoam ento núcleo de um: 152
b o lh a s d e h id ro g é n io : 61 rotação de (s): 164
film e d e ó le o : 364 tubo de (s): 155
fu m o : 57 vorticidade
s o m b ro g ra fia : 84 flutuante: 267,277
v o lta m é d ia num a camada limite: 418
coordenada: 7 componentes da: 670/2
e m derrapagem : 8 conservação no espaço: 157
e m glissade: 8 difusão de
v o lu m e n u m vórtice real: 165
d e c o n tro lo : 96 num a camada lim ite: 200
dedirecção: 131 eq. de definição de: 114
de profundidade: 131,535 eq. de transporte da: 163
m é to d o d o v o lu m e d e controlo: 115,125 espraiamento de: 567,587
voo geração de voiticidade longitudinal
ascensional: 5 n u m a asa fin ita: 558
e m fo rm a ç ã o : 601 hipótese da vorticidade congelada: 253
e m v o lta : 7 produção de: 165
e s ta c io n á rio (h e lic ó p te ro s ): 140 significado físico de: 149
h o rizo n ta l: 4 v rille : 652
p a ra a u to n o m ia : 603 V S A E R O » código 584,629
p ara ra io d e acção: 603
planado: 5,609 W e i b u l l , distribuição de: 377
vórtic e W eisbach, eq. de Darcy-: 127,325
arrastado: 289,367,554 W e lls , turbina: 515
capturado: 654 W h itc o m b , perfis: 524
d e arranque: 434,468,556 w ing lets: 569,603
de b o rdo d e ataque: 598 W o rtm a n n , perfis: 527
d e G õ rtle r: 235
d e passagem : 216

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