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Orgânicos: definição, composto e como fazer a

compostagem
Sua História
A matéria orgânica é definida biologicamente como matéria de origem animal ou
vegetal e geologicamente como compostos de origem orgânica, encontrados sob a
superfície do solo. Os papéis, que são feitos com fibra vegetal, também são
considerados matéria orgânica, porém, trataremos dele separadamente.

Falaremos aqui do aproveitamento de restos de comida (cascas de frutas e verduras,


folhas, talo, etc) para a fertilização do solo, num processo conhecido como
COMPOSTAGEM.

COMPOSTAGEM: A RECICLAGEM NA
NATUREZA
A compostagem é um processo de transformação que pode ser executado com parte do
nosso lixo doméstico resultando em um excelente adubo para ser utilizado em hortas,
vasos de plantas, jardins ou algum terreno que você tenha disponível. Este é um dos
métodos mais antigos de reciclagem onde imitamos os processos da natureza para
melhorarmos a terra.

O conceito de resíduo na natureza passou a existir com a sua excessiva geração aliada à
crescente produção e uso de materiais sintéticos que não se degradam facilmente , além
da utilização de substâncias químicas perigosas, como tintas, solventes e metais pesados
utilizados em baterias, entre outras (FIGUEIREDO, 1995).

Dos resíduos gerados no estado do Rio de Janeiro, cerca de 52% são orgânicos, contra
44% de recicláveis e 4% de rejeitos. Em 20 anos a porcentagem de lixo orgânico
aumentou 16%. (COMLURB, 2001). É importante ressaltar que nem todos os 52%
podem ser compostados. Devido à falta de separação prévia na fonte geradora
(residências, restaurantes e outros) existem resíduos orgânicos que não são
compostáveis misturados aos que são. Além disso, elementos químicos perigosos ao
meio ambiente e à saúde contaminam o composto e comprometem a sua qualidade.
Segundo estudos feitos na Usina de Compostagem de Irajá, no Rio de Janeiro, existe
cerca de 5% de metais pesados por Kg de composto (AZEVEDO et all, 2003). Esse
elevado percentual de metal pesado e de material orgânico não compostável em nosso
lixo retrata o baixo percentual de resíduo orgânico que é transformado em composto,
não só no Brasil, com somente 1%, mas em países que já fazem a separação prévia de
seus materiais, como a Alemanha cujo índice chega a 5%. (BALERINI, 2000).

O QUE É COMPOSTO E COMPOSTAGEM?


O composto é um material escuro usado como um tipo de adubo também chamado de
terra preta ou húmus.
Compostagem é o processo de decomposição biológica da matéria orgânica contida em
resíduos animais ou vegetais. É feita por muitas espécies de microorganismos e animais
invertebrados que em presença de umidade e oxigênio, se alimentam dessa matéria e
propiciam que seus elementos químicos e nutrientes voltem à terra. Essa decomposição
envolve processos físicos e químicos que ocorrem em matas, parques e quintais. Os
processos físicos são realizados por invertebrados como ácaros, centopéias, besouros,
minhocas, lesmas e caracóis que transformam os resíduos em pequenas partículas. Já os
processos químicos, incluem a ação de bactérias, fungos e alguns protozoários que
degradam os resíduos em partículas menores, dióxido de carbono e água.

Essa técnica vem sendo utilizada há mais de cinco mil anos pelos chineses (FREIRE,
2003) e é uma prática utilizada em propriedades rurais.

O QUE PODE E O QUE NÃO PODE SER


COMPOSTADO:
Materiais que podem ser compostados Materiais que NÃO podem ser compostados

Elementos verdes:Restos e cascas de frutas, legumes e verdurasSaquinho de chá Fezes e urina humana e de animais
domésticos
Bagaço de cana Produtos químicos em geral

Papel colorido
Restos ou migalhas de pães ou biscoitos
Saquinho e conteúdo do aspirador
Esterco de galinha, gado ou cavalo (animais herbívoros)
Remédios

Pó de café inclusive o coador de papel Pilhas e baterias

Madeira tratada com pesticida ou verniz


Restos de grãos ou farinhas crus
Vidro, metal, papel, plástico e couro

Elementos castanhos:Aparas de ervas, raízes ou capim secoRestos de podas e Tinta


jardinagem
Sementes

Cascas de árvores Poda de ervas invasoras e vegetais doentes

Gorduras, óleos ou graxa


Arbustos e árvores
Leite e seus derivados
Grama seca Alimentos cozidos e salgados

Ossos
Folhas secas
Restos de carne vermelha ou branca
Serragem
Cebolas doentes

Cuidados:

 Os materiais que não devem ser compostados podem atrair ratos,


baratas e moscas além de possivelmente hospedarem patógenos
humanos que sobrevivem ao processo de compostagem;
 Óleos e gorduras podem impermeabilizar o composto atrapalhando a
sua degradação;
 Espere seu composto ficar pronto, quando inacabado ele retira
nutrientes do solo para terminar seu processo de decomposição. Além
disso, contém substâncias nocivas às plantas mais sensíveis.
FATORES QUE INFLUENCIAM NO
PROCESSO DE DEGRADAÇÃO DA
MATÉRIA:
Relação entre Carbono e Nitrogênio:

Estes elementos são necessários para o crescimento dos microorganismos e a melhor


proporção está em torno de 25 a 30 partes de carbono para uma parte de nitrogênio. O
monte deve ter maior quantidade de material rijo e fibroso, como palhas, folhas secas e
pedaços de madeira, que se decompõe lentamente. Com uma relação muito maior que a
recomendada a decomposição será muito lenta e se for muito inferior – montes com
muito resto de cozinha, poda de jardim e esterco por exemplo – tornará o processo
muito rápido e liberará o excesso de nitrogênio em forma de gás amônia, provocando
cheiro ruim.

Oxigênio:

O oxigênio é fundamental para os microorganismos degradantes, daí a necessidade de


se manter a aeração do composto, seja através de material estruturante (gravetos,
sabugos de milho, cavacos de madeira) ou fazendo o revolvimento periódico do monte.

Umidade:

A umidade é importante, pois a água dissolve os nutrientes orgânicos e inorgânicos


presentes, tornando-os disponíveis para utilização pelos organismos do solo. A medida
ideal é de 50% de umidade, correspondendo a um punhado que, quando espremido na
mão, algumas gotas escorrem por entre os dedos. Acima desse nível diminui a
velocidade de decomposição, que passa a funcionar como uma degradação anaeróbica –
gerando cheiro ruim e atraindo moscas; abaixo dele, há uma diminuição na atividade
metabólica dos microorganismos que ficarão dormentes ou morrerão.

Calor:

O aumento da temperatura no monte é indicativo da atividade microbiana, pois o seu


metabolismo gera calor. Se a temperatura variar entre 35 oC e 60 oC serão eliminadas
as sementes de ervas daninhas, larvas de insetos e alguns patógenos humanos que
podem estar presentes no material a ser compostado. Temperaturas maiores limitam a
atividade microbiana, sendo que acima de 70 oC são letais para muitos
microorganismos do solo.

CAIXINHA: QUANDO O COMPOSTO ESTÁ PRONTO

O composto estará pronto para ser usado quando apresentar as seguintes características:

 Coloração preta ou marrom café;


 Consistência granulada, homogênea e sem distinção de restos;
 Cheiro agradável de terra;
 Temperatura ambiente mesmo se for revolvido;
 Volume reduzido à metade ou a um terço do original.
O PASSO A PASSO DA COMPOSTAGEM:

 Escolha um lugar sombreado, de fácil acesso e preferencialmente


sobre a terra, de modo a manter contato mais íntimo com a vida do
solo;
 Reduza o tamanho do material, picando ou rasgando;
 Coloque primeiro o material graúdo (o mais adequado é o de poda de
árvores e cercas vivas, devidamente picado) até uma altura de 20 cm;
 Acrescente outros resíduos de jardim e de cozinha, evitando porém, a
formação de camadas nitidamente diferenciadas de um único tipo de
material;
 Mantenha o material solto e fofo;
 Depois de colocar o material, recubra com uma camada de grama,
palha, folhas de bananeira, de palmeira ou folhagem para protegê-lo
tanto do ressecamento quanto de chuvas fortes, conservando-lhe a
umidade e o calor;
 Molhe sempre que necessário para manter a umidade, mas lembre-se
que não deve ficar muito úmido;
 Avalie a temperatura usando um termômetro de haste longa, uma
barra de ferro ou colocando a mão no interior do monte. Se for
possível suportar o calor da barra ou do composto, a temperatura está
boa, mas se é praticamente impossível segurar a barra ou manter a
mão no monte, é preciso resfriá-la.
MÉTODOS DE COMPOSTAGEM.

LEIRAS:

A leira é um monte em formato de pirâmide que não deve ultrapassar 1,5m de altura.
Pode ter até 2m de largura na base e 5m de comprimento, sem no entanto ser muito
menor do que isso. Segundo Eigenheer, é a forma mais simples e barata de se produzir
composto de boa qualidade sendo que seu processo de maturação e cura pode durar de
três meses a dois anos, dependendo do material, com temperatura equivalente à do meio
ambiente.

No caso específico das leiras, existem algumas dicas para sua construção:

 À medida que se eleva, a leira deve ir diminuindo em sua largura,


tomando a forma de uma tenda, em cujas paredes a água da chuva
poderá escorrer;
 Revire a leira, de 3 em 3 dias durante 15 dias (nesse período a
temperatura pode chegar a 70°C), depois de 2 em 2 semanas do 16º
dia até o quarto mês e por fim, uma vez no 5º e outra no 6º mês.
Dicas importantes:

– Após alguns dias, observar se o núcleo da leira está aquecido, caso contrário ela pode
estar muito molhada ou seca, compactada demais ou muito pequena;

– Jamais revolva a leira enquanto estiver muito aquecida e ao mesmo tempo exalando
cheiro ácido.

COMPOSTEIRAS

A composteira é um reservatório que pode ter diferentes formas: barril, tonel ou algum
recipiente confeccionado de tijolo, de madeira, tela de arame, etc. Este reservatório
geralmente é aberto no fundo e pode ser tampado em cima para proteger o composto do
excesso de chuva (umidade). As composteiras são utilizadas em caso de pouco espaço
disponível ou quando a quantidade de material é insuficiente para a formação de uma
leira. As composteiras podem ser de diversos tamanhos e formas, mas o importante é
que permitam a circulação de ar e comportem um volume de resíduos não inferior a um
metro cúbico.

Existem algumas experiências realizadas em áreas cimentadas, mas recomenda-se certo


cuidado pois pode haver produção de chorume provocando cheiro ruim e atração de
insetos e roedores. Segundo Ana Branco (PUC-RIO), o importante é equilibrar a
quantidade de matéria seca com a umidade dos resíduos, o que evita a produção de
chorume.  

DIFICULDADES MAIS COMUNS NOS CASOS DE LEIRA E COMPOSTEIRA

Exemplos Motivos Soluções

Falta de oxigênio devido à compactação Revolver

Cheiro ruim Falta de oxigênio devido ao excesso de água

Adicione palha, folhas ou serragem (ricos


em carbono)

Se o cheiro for de amônia

Cor branco-acinzentada Falta de água e presença de fungos Revolver e umedecer

Adicione podas frescas de grama, esterco


Falta de nitrogênio ou de microorganismos
fresco ou restos de verduras

Pouca umidade Adicione água ao revolver

O composto não aquece

O monte precisa ser revolvido Levar o material das bordas para o centro

Pode estar pronto Verifique a maturidade do composto


O composto está muito quente
Monte muito grande Reduza o tamanho
(acima de 70º)

Evitar a incidência de água ou materiais


Excesso de umidade Excesso de água
muito úmidos

ATERRAMENTO

O aterramento consiste em abrir um buraco de no máximo 30cm de profundidade no


solo sendo uma prática comum em áreas onde não há recolhimento de lixo. Nesse
método, recomenda-se o recobrimento com camadas finas de terra retiradas da própria
escavação para evitar a atração de moscas e outros animais. É um processo mais lento
do que os anteriores e o material não precisa ser revolvido.

IMPORTÂNCIA DA COMPOSTAGEM:

 Reduz a quantidade de lixo nos depósitos;


 Enriquece a terra em nutrientes para as plantas;
 Evita as queimadas que poluem o ar e incomodam a vizinhança;
 Auxilia na agregação do solo melhorando a sua estrutura;
 Ajuda na aeração e na habilidade de reter água e nutrientes, e soltá-los
lentamente para uso das plantas ao seu redor;
 Melhora a drenagem nos solos argilosos e a retenção da água nos
solos arenosos;
 Reduz a necessidade de usar herbicidas e pesticidas.
Referências bibliográficas:

AZEVEDO, J. et al.


Metais pesados no composto de lixo urbano da usina de Irajá, município do Rio de
Janeiro.
Acesso em 23/06/03.

BALERINI, C. Saneamento:
Tratar o lixo para preservar o planeta. Revista Ecologia e Desenvolvimento, Edição 88,
2000. 
Acesso em 20/06/03.

BORGES, Eduardo.
Horta vertical orgânica. 
Acesso em 14/06/2003.

BRANCO, A. (PUC-RIO)
anamariabranco@terra.com.br ou site

CEMPRE.
Compostagem – a outra metade da reciclagem. Cadernos de reciclagem n. 6, 1997.
COMLURB. Análise Gravimétrica. Disponível em: <http://
www.rio.rj.gov.br/comlurb>. Acesso em 12/06/03

EIGENHEER, E.
Como preservar a terra sem sair do quintal – Manual de Compostagem. Centro de
Informações sobre Resíduos Sólidos, Niterói. 1996.

FIGUEIREDO, P.J.M.
A sociedade do lixo: os resíduos,a questão energética e a crise ambiental. 2 ed.
Piracicaba: Editora Unicamp, 1995

BORGES, E.
Horta Vertical 
Acesso em 24/06/03

FREITAS, A. 
Compostagem. Fundação Gaia
Acesso em 15/04/03.

ROULAC, J. W. Backyard
composting – Recycling Yard Clippings. England: Harmonious Press, 1992.

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