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EXERCÍCIOS DE TRÊMOLO

Guilherme Arce

O primeiro aspecto do estudo do trêmolo que devemos levar em consideração diz


respeito ao posicionamento da mão direita. Devemos procurar uma posição de mão direita que
seja ao mesmo tempo confortável e com a qual possamos produzir o mesmo timbre entre os
dedos anelar, médio e indicador. A homogeneidade de timbre e volume no toque dos três dedos
é fundamental para a sonoridade e fluidez do trêmolo. Além disso, devemos procurar uma
angulação de mão que seja, na medida do possível, parecida à angulação com a qual estamos
habituados para o toque padrão.

Os exercícios a seguir buscam o trabalho desse aspecto especificamente. Neles, devemos


procurar: (a) não alterar tanto a angulação da mão direita; (b) igualar o volume e timbre dos
dedos anelar, médio e indicador; (c) relaxamento da mão direita.

(I) Posicionamento da Mão Direita

(a) Fórmula de Arpejo extraída de Giuliani op. 1 #88:

Embora este exercício seja um arpejo realizado em cordas distintas, a sequência “a – m – i”


pode ser inicialmente trabalhada aqui.

(b) Alinhamento de Dedos:

Neste exercício temos duas partes nas quais temos duas posições de mão direita:

(1) tempos 1 e 3 do compasso: posição de arpejo normal, na qual os dedos indicador,


médio e anelar estão posicionados sobre as cordas 3, 2 e 1, respectivamente, e
(2) tempos 2 e 4, na qual os dedos a, m e i estão sobre a primeira corda (posição de
trêmolo)

A ideia é que a transição entre as duas posições seja a mais confortável possível e que a
sonoridade se mantenha similar entre as duas posições. Assim, podemos trabalhar ou
descobrir uma posição de trêmolo que seja confortável e produza sons similares entre
anelar, médio e indicador.
(c) Exercício de alinhamento (Jorge Caballero)

Outra forma de pensarmos na posição da mão direita consiste no exercício a seguir. Nele
devemos posicionar os dedos anelar, médio e indicador sobre a primeira corda e tocá-la com os
três dedos simultaneamente. Naturalmente, a sonoridade resultante não será ideal, mas o
objetivo do exercício é o alinhamento dos três dedos na corda.

Posteriormente, devemos fazer o mesmo para as cordas 2 e 3. A partir do alinhamento


obtida pelo toque simultâneo dos três dedos, podemos treinar a fórmula do trêmolo.

(II) Imprecisão Rítmica.

O problema mais comum em uma execução defeituosa do trêmolo consiste na imprecisão


rítmica, o que incorre em uma sonoridade “cavalgada”. Normalmente isso ocorre quando o
ataque de um dos três dedos que tocam as notas do trêmolo é antecipado. O mais comum é que
isso ocorra entre o dedo anelar e médio, de maneira que o médio corta o som da nota produzida
pelo anelar antes do que deveria. Nesse caso, há o encurtamento da semicolcheia (ou fusa)
produzida pelo dedo anelar.

A correção desse problema pode ser pensada pelo trabalho da independência dos dedos
anelar e médio. Nesse sentido, dois exercícios são úteis: o de Acentuação e o de Separação.

(a) Exercício de Acentuação

Este exercício tem o objetivo de criarmos consciência do movimento de cada dedo


isoladamente e, dessa forma, evitar o toque antecipado ou atrasado de algum dos dedos pelo
movimento automático errôneo. O exercício deve ser realizado para cada dedo isoladamente. Na
medida do possível, devemos buscar um timbre e sonoridade ideal, mas o mais importante é que
exista uma diferença substancial de volume do dedo que está sendo acentuado em relação aos
demais.

Anelar
Médio

Indicador

(b) Separação dos toques de Dedos

Este exercício tem o objetivo de corrigir a duração encurtada do toque dos dedos que estão
produzindo a imprecisão rítmica. Exemplo: supondo que após o toque do dedo anelar, o dedo
médio esteja tocando muito rápido, cortando o som produzido pelo anelar, então devo realizar o
exercício abaixo, no qual deliberadamente coloco uma pausa entre os dois toques, visando
romper o movimento automático equivocado do dedo médio.

Anelar e Médio

Médio e Indicador
(c) Toque com preparação no trêmolo – staccato X legato.

Este exercício deriva do exercício sugerido por Scott Tennant em “Pumping Nylon”. Temos
dois objetivos principais neste exercício: (a) desenvolver o movimento sincronizado dos dedos
da mão direita no toque do trêmolo; (b) desenvolver sonoridade e precisão rítmica. A
preparação implica no posicionamento antecipado do dedo sobre a corda que será atacada a
seguir. No contexto do trêmolo, isso implica em uma sonoridade de staccato, visto que a
preparação do médio, implica necessariamente no corte da nota produzida pelo anelar e assim
sucessivamente.

(III) Desequilíbrio entre as vozes.

Outro problema comum refere-se ao desequilíbrio nas vozes. Muitas vezes vemos uma
execução do trêmolo na qual as notas tocadas pelo baixo são mais volumosas que as do
trêmolo. Podemos trabalhar isso pelo toque significativamente mais fraco do polegar em
relação ao trêmolo.

Diminuendo e crescendo no volume da melodia. Baixo constante.

Além do exercício anterior, podemos também desenvolver ainda mais o controle de


sonoridade pelo aumento e redução da dinâmica nas notas agudas, enquanto mantemos a
sonoridade do polegar estável:
(IV) Polegar

Devemos fazer o menor movimento possível de polegar, visto que um movimento muito
amplo pode desestabilizar a mão direita, tirando os dedos anelar, médio e indicador da linha do
trêmolo. Além disso, finalizado o toque de polegar, ele deve voltar a ficar próximo às cordas, para
que não toquemos a corda equivocada. O exercício abaixo ajuda no trabalho do toque de polegar
curto no contexto do trêmolo.

(V) Trêmolo na segunda e terceira cordas

O toque do trêmolo na segunda e terceira cordas é mais desafiador que na primeira, pois não
podemos realizar um movimento muito amplo nos dedos, uma vez que podemos “esbarrar” na
corda de baixo. Sendo assim, devemos fazer um movimento mais “curto”, o que pode ser difícil
quando queremos uma sonoridade mais volumosa.

Para tanto, algumas questões são importantes:

(a) Devemos trabalhar os exercícios anteriores para as cordas 2 e 3 isoladamente.


(b) O exercício de preparação é fundamental, pois desenvolverá a memória muscular de um
movimento mais estreito no trêmolo executado nessas cordas.
(c) Devemos atentar para a posição do antebraço. A passagem do trêmolo da primeira corda
para a segunda e terceira deve ser acompanhada por um pequeno movimento de
antebraço, já que devemos manter o mesmo ângulo de dedos para as 3 cordas, caso
contrário, o timbre produzido será muito diferente.

Assim, podemos executar o seguinte exercício:


(VI) Recursos Interpretativos

Os exercícios anteriores são importantes para o desenvolvimento do toque “padrão” do


trêmolo com homogeneidade e sonoridade. No entanto, é importante trabalhar as variações de
dinâmica e velocidade/andamento do trêmolo. O trabalho de dinâmica do trêmolo implica em
desenvolvermos o controle da intensidade do toque, sem comprometer a precisão rítmica do
trêmolo. Para isso, podemos escolher passagens específicas de obras de trêmolo e exercitar a
passagem da menor dinâmica possível à maior dinâmica possível, visto que é fundamental a
consolidação de um espectro de dinâmica amplo. Quando aumentamos a dinâmica, é importante
procurar não ampliar demais o movimento dos dedos na fórmula de trêmolo, visto que na
segunda e terceira cordas isso não é possível.

O trabalho de variações de andamento também deve ser desenvolvido junto ao estudo da


técnica, e pode ser feito também em trechos de obras específicas. É fundamental que as
flutuações de andamento do trêmolo sejam realizadas tendo como objetivo principal a suavidade
na transição de uma velocidade/andamento a outra.

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