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LINGUÍSTICA DESCRITIVA 2

Teste modelo

I
O ensino do português ganhou novo alento esta semana. Aqueles alunos enfastiados que
perguntam para que raio lhes servem os conhecimentos de gramática na vida real devem estar
muito envergonhados com o atrevimento da sua ignorância. Sobretudo os que sonham fazer
carreira nas autarquias locais. Não sei se o leitor acompanhou o caso político-gramatical. Foi o
seguinte: quando a lei da limitação dos mandatos autárquicos foi aprovada dizia que o presidente
de câmara que completasse três mandatos não poderia recandidatar-se. Mas, oito anos depois,
Cavaco Silva veio assinalar um erro na lei: a versão original não dizia "presidente de câmara",
dizia "presidente da câmara". É uma diferença subtil mas importante.

A mudança implica o seguinte: se um presidente "de" câmara não pode recandidatar-se depois de
três mandatos, a sua carreira autárquica acaba; mas um presidente "da" câmara não pode
recandidatar-se apenas à câmara específica a que preside. Mas pode recandidatar-se à do lado. Ou
a outra qualquer. Há 23 letras no alfabeto, mas Cavaco indicou a única que podia beneficiar os
dinossáurios autárquicos.
O objectivo da lei de limitação de mandatos era evitar que os autarcas se eternizassem nos cargos,
por se entender que a rotatividade no poder é uma parte importante da democracia. A lei
emendada considera o mesmo, mas numa parcela de território de cada vez. Para esta lei, é
repugnante que um autarca se mantenha num cargo para além de um determinado período, a
menos que se mova democraticamente uns quilómetros para o lado.

Ricardo Araújo Pereira, artigo de opinião publicado na revista Visão, 7 de Março de 2013

1. Procure identificar no texto:


a. um predicador adjetival e respetivo(s) argumento(s) (Note que tem de
transcrever todo o constituinte sintático que constitui um argumento do
adjetivo);
b. um predicador que selecione um argumento de natureza oracional
c. um predicador nominal e respetivos argumentos
d. uma oração que desempenhe a função de nome predicativo do sujeito.
e. uma oração que desempenhe a função de sujeito, i.e., uma oração
completiva de sujeito
f. um exemplo de ‘se’ impessoal (i.e., em que’se’ seja o sujeito da frase).

2. Identifique e classifique as orações em que se divide a frase que se segue, indicando as


relações hierárquicas que se estabelecem entre elas.

quando a lei da limitação dos mandatos autárquicos foi aprovada dizia que o presidente
de câmara que completasse três mandatos não poderia recandidatar-se
II
Considere agora nos seguintes exemplos:

(1) Perturba-me que eles tenham dito isso.


(2) Eles perturbaram-me pelo facto de terem dito isso.
(3) O facto de eles terem dito isso perturba-me.

1. Recorrendo a procedimentos teste, construa, argumentando, uma entrada lexical


para o verbo ‘perturbar. Não se esqueça de que a entrada lexical é só uma e deve
conter a estrutura argumental e a categoria sintática dos complementos.
2. Indique a função sintática desempenhada por cada argumento.

III
Assim é, como sabe, um advérbio de modo. Acha que esta forma tem um valor adverbial
ou pronominal em frases como O João disse que o Pedro está louco, mas eu não penso
assim? Acha que o valor que assim tem na frase anterior é o mesmo que tem na frase ‘O
João actuou assim: deu um berro, bateu com a porta e saiu.’? Fundamente devidamente
a sua resposta tendo em atenção as propriedades de seleção e de subcategorização dos
respetivos verbos.

IV

Atente agora na seguinte passagem, retirada de Peres e Móia (l995), que contém um
desvio à norma padrão. Identifique o problema e explicite a razão pela qual a construção
em causa é desviante.

Numa questão que tem a ver com a Unidade Nacional (...), impõe-se uma reflexão
serena, isenta e não interferida por factores emocionais.

V
Considere os seguintes exemplos:
a) *“Seja como for, é convicção geral de que Mário Soares decidirá a realização de
eleições (...)” O Jornal, 30/04/l987
b) “Eu tenho a convicção de que Mário Soares decidirá a realização de eleições.”

O exemplo (a) não é bem formado: a preposição de deveria ser omitida. Já no


exemplo (b) a presença da preposição é obrigatória. É capaz de encontrar uma explicação
para a impossibilidade de inserção da preposição no exemplo (a)?

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