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Conferência No 14

Tema V. Movimento de terra


 Movimento de terra. Cálculo de Volumes
1. Introdução.
2. Cálculo de volumes. Método das secções
 Método da média.
 Método dos volumes misto.
3. Diagrama de massas
1. INTRODUÇÃO.

Um dos aspectos de maior influencia, no custo duma estrada é sem lugar a dúvidas o movimento de terra.

Pode definir-se como o trabalho compreendido na construção e conformação da sobrasante sobre a qual se tem que
construir o pavimento da via. Inclui além disso as escavações para as obras de arte, drenagem superficial e profunda,
materiais de empréstimo, preparação do alicerce do aplainamento, transporte de material.

O custo do movimento de terra se calcula pelos volumes de escavação ou aterro, ou ambos inclusive, necessários para
a execução da obra e alcançar a sobrasante de projecto, tomando como dados os resultados de secções transversais
determinadas no terreno por métodos topográficos, ou determinados no gabinete por métodos fotogramétricos, ou
programas de computação desenhados para estes fins.

De uma forma mais detalhada se pode expor que as operações mais importantes que incluem o movimento de terra
são:

Capine: É a primeira operação que se realiza na construção duma estrada e consiste na limpeza absoluta da área da
obra ou a faixa de terreno compreendida entre os limites da via. Compreende o chapéu, o corte de árvores e a
extracção de desperdícios e toda classe de vegetação, restos de pavimentos estrutura de drenagens abandonadas,
escombros etc. Geralmente se considera para os efeitos do cálculo do movimento de terra que nesta actividade se
eliminam 10cm da espessura da capa vegetal.

Descascado: Consiste na eliminação do resto da capa vegetal e seu armazenamento em lugares escolhidos e próximos
à obra, para sua posterior utilização no revestimento de taludes, separadores centrais, bermas, obras de drenagem cujo
revestimento seja com grama; etc.

Escavação: Compreende o afrouxamento, remoção, carga e transporte do material. O termo escavação é aplicável
tanto para o trabalho próprio do leito, como para as escavações para a drenagem lateral da obra, a drenagem
transversal da obra (obras de arte) e a escavação em pedreiras de empréstimos.

Aterro ou Terrapleno: É a colocação, humedecimento e compactação dos materiais provenientes das escavações ou
de pedreiras de empréstimos em capas sucessivas, com o objectivo de chegar à cota da sobrasante projectada.

Ao projectar uma obra de movimento de terra, o engenheiro tem que conhecer alguns dados elementares que lhe
permitam realizar os cálculos com exactidão, assim como uma série de características que possibilitam a avaliação
daquelas questões que lhe garantem tomar decisões com critérios sólidos e obter uma boa solução de projecto.

Na tabela 1 se mostram os coeficientes de diminuição e empolamento para alguns materiais.

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Figura 1. Representação dos estados em que se encontra o material.

Tabela 1. Factores de conversão por tipo de material.

TRANSFERIDO A:
Estado actual do
Classe de Solo Esponjado ou
material Natural Compactado
Solto
Natural 1.00 1.11 0.95
Areia Esponjado ou Solto 0.90 1.00 0.86
Compactado 1.05 1.17 1.00
Terra e Natural 1.00 1.25 0.90
materiais Esponjado ou Solto 0.80 1.00 0.72
húmidos Compactado 1.11 1.39 1.00
Natural 1.00 1.43 0.90
Argila e
Esponjado ou Solto 0.70 1.00 0.63
Rochoso
Compactado 1.11 1.59 1.00
Natural 1.00 1.50 1.30
Rocha Esponjado ou Solto 0.67 1.00 0.87
Compactado 0.77 1.15 1.00
CÁLCULO DAS ÁREAS.
Com a informação já seja gráfica ou numérica segundo o método a utilizar, procede-se primeiro à determinação das
áreas das secções transversais para posteriormente determinar os volumes de movimento de terras. A precisão na
determinação das áreas pode, segundo o método que se utilize, depender da etapa de projecto que se está executando
já que não é necessária a mesma exactidão num anteprojecto que no projecto executivo.
Para a determinação das áreas das secções transversais existem diferentes procedimentos:

 Método gráfico: utiliza-se este método nos casos que o terreno seja plano ou tenha uma configuração regular.
Para determinar a área se utilizam fórmulas simples de geometria, tais como trapézios, triângulos e rectângulos.

Pode-se desenhar a secção transversal a escala ou simplesmente fazer um esboço da mesma. Se se desenhar a
escala se pode obter a área por medidas indirectas sobre a secção transversal.

Na figura 2 se mostra uma secção transversal em terreno plano.

h p

b
Figura 2. Secção transversal em terreno plano.
2
A área no plano se determina como:
1 
A  b  h  2 ph  h 
2 
A  bh  ph 2

Para conhecer a área no terreno será necessário multiplicar pelo denominador da escala do plano ao quadrado.

Aterreno  A  M 2
Onde:

A = área no plano (cm2).

M = denominador da escala do plano.

Este é o método á utilizar para o cálculo das áreas.

 Método das coordenadas: Se se conhecerem ou determinam as coordenadas X, distancia ao eixo dos pontos e as
coordenadas Z, cotas ou altura de ditos pontos se pode calcular a área pelo método do dobro área que se encontra
explicado em textos de topografia.

 Método mecânico: Para determinar a área das secções transversais pelo método mecânico se emprega o
planímetro, seu princípio e forma de trabalho estão explicados em textos de topografia. Este método se emprega
quando a configuração da secção transversal de terreno é irregular.

 Métodos computacionais: O desenvolvimento tecnológico do mundo actual permitiu ao homem desenvolver


algoritmos de cálculo que por sua complexidade eram muito lentos para realizá-los manualmente, mas entretanto,
com os computadores se realizam de forma rápida e segura. Estes métodos variam em grau de complexidade e
precisão, e geralmente não são explicados teoricamente mas sim formam parte integral do programa de
computação desenhado para este efeito.

2. CÁLCULO DOS VOLUMES. MÉTODO DAS SECÇÕES


Este método simplificado, mas classificado entre os exactos, é o mais empregado a nível mundial por
assegurar adequada precisão e simplicidade nos cálculos dos volumes de movimento de terra nas rodovias.

Consiste em traçar secções transversais ao eixo longitudinal da via e determinar a área para cada secção.
Com as áreas determinadas o volume entre elas se calcula por qualquer dos métodos que se expõem a seguir.

Existem vários métodos para a determinação do volume de movimento de terra, entre os mais usuais podem assinalar:

 Método da média das áreas extremas.

 Método dos volumes mistos.

Método da média das áreas extremas.

Este método conhecido também como fórmula standard do movimento de terras, calcula o volume do prismóide
multiplicando a área da secção média das áreas extremas pela distância que existe entre elas.

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A1  A2
V ( ).d
2
Onde:

A1 e A2= Áreas das secções transversais extremas; (m2)

d = Distancia entre as duas secções transversais extremas (m)

V = Volume de terras entre as duas secções transversais extremas (m3)

A limitação que apresenta este método é que ambas as secções transversais extremas devem estar em desmonte ou
aterro.

Método dos volumes mistos.

Este método permite resolver qualquer tipo de situação, independentemente da forma que adoptem as secções
transversais, por isso deve ser o de maior utilização. Para sua compreensão mostramos a figura 3 onde se representa
em isométrico duas secções transversais contínuas uma em aterro e a outra em escavação e a partir dessa figura se
determinam as expressões que permitem calcular os volumes de aterro e escavação.

Figura 3 Isométrico duas secções transversais contínuas


Onde:
d = Distâncias parciais das secções extremas à secção de área nula; (m).

T e E = Áreas em aterro e escavação respectivamente; (m2).


Por isso podemos expor que:
 T2  d
VT   .
T  E  2

 E2  d
VE   .
 E T  2
Com as expressões anteriores se pode resolver qualquer caso que se apresente entre secções transversais consecutivas.

Por exemplo para achar o volume de escavação e o volume de aterro entre as secções transversais mostradas na figura
4 se procede como segue:

 Riscam-se rectas paralelas ao eixo da via, em todos os pontos da secção transversal onde a via intercepte ao
terreno.

4
 Determinam-se as áreas em escavação e aterro ou ambas, entre as rectas.

 Aplica-se a fórmula da média das áreas extremas se ambas áreas correspondentes estiverem em escavação ou
em aterro; e a expressão de volumes mistos se as áreas forem distintas, quer dizer se uma esta em aterro e a
outra em escavação ou vice-versa.

Eixo da via

E2
E1
T1

E3
T3
T2

Figura 4. Secções transversais

 T1  T2   T3  d  E 2  E 3   E1  d
2 2
VT   
d    VE   d   
 2   T3  E1  2

 2   T3  E1  2

Os cálculos organizanse numa tabela denominada: Tabela Resumo (Tabela 2), somando a duas últimas colunas se
obtêm os volumes totais escavação e aterro ou cheio.

Tabela 2: Tabela resumo de cálculos dos volumes de movimento de terra


Áreas (m2) Volumes (m3) Volumes (m3)
Dist,
Estacão Área Área Vol. Escav. Vol. Aterro Vol. Escav. Vol. Aterro Obs.
m
escavação aterro Natural Compactado *Estado *Estado

 
*Estado: Ambos volumes devem expressar-se no mesmo estado

Para conhecer se há compensação de volumes no lance terá que transformar-se ambos os volumes ao mesmo estado
para poder compará-los, neste caso levando de estado natural a compactado o volume de escavação ou de
compactado a natural o volume de aterro, ou levando ambos volumes a estado esponjado ou solto.
O factor de conversão se determina pela Tabela 1 de coeficientes de transformação.
Então para determinar se forem aplainamentos balançados, deve-se determinar a diferença .

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A diferença entre os volumes de escavação e de cheio  < 5 %, magnitude que se propõe como limite máximo para
considerar um aplainamento balançado ou não, procedendo-se da seguinte maneira:

 Vmaior  Vmenor 
=    100
 Vmaior 
3. DIAGRAMA DE MASSAS ou Diagrama do Bruckner.

A curva que representa a soma algébrica acumulada do volume de terra da estação inicial do traçado, até qualquer
outra seguinte, conhece-se como diagrama de massa. É norma considerar a escavação positiva e o aterro negativo.

A curva de volumes como também se conhece o diagrama de massas se desenha à mesma escala horizontal que o
perfil longitudinal do traçado (eixo das abcissas ou distâncias) e uma escala vertical ou de volumes que se fixa a
julgamento do projectista.

Antes de desenhar a curva de volumes é conveniente tabular os volumes acumulados de escavação e aterro como se
mostra na Tabela 3. O diagrama de massas correspondente se mostra na figura 5.

Tabela 3. Tabela de balanço do movimento de terras.

Área (m2) Volume (m3)


Escf Volume Soma Volume
EST Esc. Aterro
Esc. Aterro (0.9) Balanço m3 Algébrica. Acumulado
nat Comp
0 + 0,00 - - - - - - - -
2 + 0,00 16 0 160 0 144 0 144 144
4 + 0,00 30 0 460 0 414 0 414 558
6 + 0,00 32 0 620 0 558 0 558 1116
8 + 0,00 20 0 520 0 468 0 468 1584
10 + 0,00 12 10 320 100 288 100 188 1772
12 + 0,00 0 14 120 240 108 108 - 132 1640
14 + 0,00 0 20 0 340 0 0 - 340 1300
16 + 0,00 0 28 0 480 0 0 - 480 820
18 + 0,00 0 32 0 600 0 0 - 600 220
20 + 0,00 0 24 0 560 0 0 - 560 - 340
22 + 0,00 0 18 0 420 0 0 - 420 - 760
24 + 0,00 10 14 100 320 90 90 - 230 - 990
26 + 0,00 46 0 560 140 504 140 364 - 626
28 + 0,00 58 0 1040 0 936 0 936 310

Como os volumes escavados se encontram em estado natural ou in sito é necessário, para analisar a possível
compensação levá-los a estado compactado. Se considerarmos o solo como argila, na Tabela 1, obtemos que o factor
de contracção é 0,90, portanto para levar a escavação de estado natural a estado compactado multiplicamos por 0,90 o
que se mostra na coluna correspondente a escavação por factor de contracção.

Outro cálculo que é possível realizar é o de metros cúbicos balançados, que se define como a quantidade de volume de
solo escavado que se pode utilizar na construção do aterro; ou seja, analisa a compensação parcial em estações.

Na próxima coluna se reflecte a soma algébrica de volumes ou seja o volume nítido que sobra ou falta para obter a
compensação total entre duas estações sucessivas. Para isso se utiliza a convenção de sinal negativo para indicar
défíce de material e sinal positivo para indicar os excessos de material.

Portanto:
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Aterro (-): material que falta.

Escavação (+): material que sobra

Por último é possível calcular o volume acumulado que representa o volume de material necessário para obter a
compensação total entre o início (Est 0 + 0.00) até qualquer estação do traçado. Calcula-se somando com seu sinal, as
quantidades que aparecem na coluna soma algébrica.

Figura 5. Diagrama de massas.

Propriedades do diagrama de massas.

Um estudo da curva de volumes representada na figura 5 nos permite afirmar que:

1. A ordenada, em cada ponto da curva de volumes, representa o volume acumulado do início até dito ponto.

2. Em escavação, a curva de volumes sobe de esquerda a direita.

3. Em aterro, a curva de volumes desce de esquerda a direita.

4. Nos pontos onde ocorre uma mudança de escavação a aterro, existe um máximo da curva de volumes.

5. Nos pontos onde ocorre uma mudança de aterro a escavação existe um mínimo da curva de volumes.

6. Qualquer linha horizontal que cruza a um lance da curva de volumes, fazê-lo entre dois pontos tais que a
escavação é igual ao aterro. A esta linha se lhe denomina linha de compensação. O volume de material a
mover equivale à diferença de ordenada entre linhas de compensação

7. Os lances para cima, ou seja os máximos, assinalam que o transporte do material da escavação ao aterro é de
esquerda para a direita como se mostra na figura 6.

8. Os lances para baixo, ou seja os mínimos, assinalam que o transporte do material da escavação ao aterro é da
direita para a esquerda como se mostra na figura 6.

9. Quando o ponto final da curva fica por cima do eixo significa que no lance que reflecte o diagrama de massas
sobra material, e se ficar por debaixo falta material.

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Volume acumulado

+ -

Distancia
- +

Movimento a direita Movimento a esquerda

Figura 6. Propriedades do Diagrama de Massa

Portanto o diagrama de massas é a curva que caracteriza ao movimento de terra no sentido longitudinal já que só
mostra a compensação no sentido longitudinal da obra.

Emprego do diagrama de massas.

A vantagem fundamental do diagrama de massas ou curva de volumes é que mediante sua análise se pode realizar a
organização de todo o equipamento disponível de maneira racional, com o objectivo de fazer o mais económico
possível o custo do movimento de terra.

Suas aplicações fundamentais são:

1. Ao mostrar a compensação dos volumes de escavação e aterro e permite analisar a distribuição mais vantajosa
desses volumes.

2. Indica as porções de volumes escavados que há em excesso e que portanto se faz necessário depositar a
cavalheiro.

3. Indica as zonas em que há um défice de terra e onde será necessário recorrer a empréstimos.

4. Permite organizar racionalmente o transporte com o movimento de terras e a determinação da distância


medeia real de trabalho das equipes.

5. É um instrumento importante na organização das obras de vias de comunicação.

Para a determinação da distância média real de trabalho das equipes, acha-se o centro de gravidade do volume a mover
de escavação e aterro por cada equipe e se risca uma linha determinando-se graficamente seu valor de acordo à escala
horizontal do diagrama. Começara-se pelos máximos e os mínimos começando pela equipe de menor distancia de tiro
económica, como se mostra na figura 8.
Distância de tiro económica:
Bulldozer ≈ 60 m, Máxima: 100m

8
Moto trela> 600 e <2000 m.
Caminhão de volteio:> = 2000 m.

V acumulado. Volume a mover:


BE = V2 – V1
V2 MT = V1

V1 BE CV = V3

MT

100 m CV Distancia
V3
Ate 2000 m

Figura.7. Distancia de tiro de equipamento


Limitações do diagrama de massas.

1. Mostra a compensação longitudinal e não a transversal.

2. A compensação que mostra não sempre é aproveitável fundamentalmente por duas razões:

 Que para obtê-la terá que percorrer grandes distancia e então não resulta em económico.

 Que os solos da zona não sejam utilizáveis, então terá que escavar e depositar a cavalheiro e trazer o que
falta de empréstimos situados a distância de tiro económica.

É importante apontar que a compensação que se obtenha com o diagrama de massas depende da rasante riscada. O
projectista, em função das normas de desenho realiza o traçado da rasante procurando obter um traçado óptimo de
forma que o movimento de terra seja o mais compensado possível e que as distâncias de tiro sejam convenientes, por
isso é vital o traçado de alternativas nesse sentido.

Garantir uma optimização do movimento de terra permite a realização duma distribuição eficiente do equipamento o
que contribui a uma diminuição do tempo de execução dos trabalhos e do custo dos mesmos e portanto do custo e o
tempo da obra, já que se comprovou que o transporte custa aproximadamente o 50% do custo de movimento de terra.

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