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Notas de aulas de Estradas (parte 11)

Hélio Marcos Fernandes Viana

Tema:

Noções de terraplenagem

Conteúdo da parte 11
1 Introdução

2 Cálculo dos volumes

3 Cálculo das áreas das seções transversais

4 Diagrama de massas ou diagrama de Brückner

5 Momento de transporte

6 Propriedades dos diagramas de massas ou de Brückner

7 Fator de homogeneização de volumes (Fh)

8 Considerações finais
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1 Introdução

Terraplenagem são as operações de escavação, transporte e compactação


de solos em uma obra. Uma das mais antigas citações da Terraplenagem do mundo
está na Bíblia e ocorreu a cerca de 712 A.C.; Assim sendo, no livro do profeta Isaías
no capítulo 40 e no versículo 4, a Bíblia cita: “...Todo vale será aterrado, e nivelados
todos os montes e outeiros (ou monte pequeno); o que é tortuoso será retificado...”.

OBS. No dicionário Aurélio (1986), encontra-se a palavra terraplanagem significando


o mesmo que terraplenagem, porém a palavra mais utilizada nas literaturas de
engenharia é terraplenagem.

i) Principais objetivos do engenheiro projetista no que se refere à


terraplenagem

Para o engenheiro projetista de estradas, um dos principais objetivos


durante a elaboração do projeto é encontrar uma solução que permita:

a) A construção da estrada cumprindo as normas de um traçado racional; e


b) A construção da estrada com o MENOR MOVIMENTO DE TERRA possível.

ii) Considerações sobre o custo da terraplenagem

Na maioria dos projetos, o custo do movimento de terra é significativo em


relação ao custo total da obra (Pontes Filho, 1998).

Nos locais onde houver condições dos materiais de corte serem utilizados
como aterro, ocorrerá menores custos na terraplenagem.

OBS(s).
a) O equilíbrio entre cortes e aterros evita empréstimos de solo de jazidas distantes
e/ou bota-foras (ou descarte) de solo; e
b) Bota-fora é o material excedente, que é escavado nos cortes e não é aproveitado
nos aterros, o qual é depositado fora do local das obras.

2 Cálculo dos volumes

2.1 Obtenção do volume de campo através de prismóides

Para o cálculo do volume de terra a mover numa estrada, é necessário supor


que existe um determinado sólido geométrico na estrada cujo volume é facilmente
calculado. O método usual de cálculo do volume de solo a mover em uma estrada,
consiste em considerar o volume de solo como sendo proveniente da soma de
volumes de uma série de prismóides.

OBS. Prismóides são sólidos geométricos limitados nos extremos por faces
paralelas, e nas laterais por superfícies planas.
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2.2 Características do prismóide de campo

No campo, têm-se as seguintes características dos prismóides usados para


cálculo dos volumes:
a) As faces paralelas do prismóide correspondem às seções transversais de um
trecho da rodovia; e
b) As superfícies planas laterais do prismóide correspondem à plataforma da
estrada, aos taludes e à superfície do terreno natural.

A Figura 2.1 mostra o exemplo de um prismóide de campo de uma


determinada estrada, o qual é usado no cálculo do volume de corte.

Figura 2.1 - Prismóide de campo de uma estrada

Pode-se observar na Figura 2.1 que:

a) Na parte inferior, o prismóide é limitado pela plataforma da estrada;


b) Na parte superior, o prismóide é limitado pela superfície do terreno;
c) Nas laterais, o prismóide é limitado pelos taludes; e
d) Nas extremidades, o prismóide é limitado pelas seções transversais de áreas A1 e
A2.

Com base na Figura 2.1, pode-se concluir que o volume do prismóide


corresponde a um volume de corte.

2.3 Cálculo do volume dos prismóides

i) Cálculo do volume do prismóide de campo utilizando a fórmula das 3 (três)


seções transversais

O volume do prismóide da Figura 2.1 pode ser calculado com base na


seguinte equação.
L
V .( A 1  4.A m  A 2 ) (2.1)
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em que:
V = volume do prismóide que corresponde à corte ou aterro;
A1 e A2 = áreas das seções transversais extremas;
Am = área da seção transversal no ponto médio entre as seções transversais de
áreas A1 e A2; e
L = distância entre as seções transversais extremas A1 e A2.

OBS(s).
a) O prismóide também pode ser empregado para cálculo de volumes de aterro;
b) Am pode ser determinada pela média das seções transversais de áreas A1 e A2,
ou seja, Am = (A1 + A2)/2; e
c) Em caso de SEÇÕES MISTAS (com corte e aterro), realiza-se o cálculo dos
volumes com áreas de corte e aterro separadamente; ou seja, utilizar a fórmula duas
vezes: primeiro para calcular o volume com as áreas de corte, e depois para calcular
o volume com as áreas de aterro.

ii) Cálculo do volume do prismóide de campo utilizando a fórmula das áreas


médias

A fórmula das áreas médias é comumente utilizada para o cálculo dos


volumes dos prismóides de campo, ou seja, para cálculo do volume de cortes ou de
aterros.

O volume do prismóide da Figura 2.1, mostrada anteriormente, pode ser


calculado pela fórmula das áreas médias, que corresponde à seguinte equação:

L
Vm  .( A 1  A 2 )
2 (2.2)

em que:
Vm = volume do prismóide que corresponde ao volume de corte ou aterro;
A1 e A2 = áreas das seções transversais externas do prismóide; e
L = distância entre as seções extremas do prismóide.

OBS. Em caso de SEÇÕES MISTAS (com corte e aterro), realiza-se o cálculo dos
volumes com áreas de corte e aterro separadamente; ou seja, utilizar a fórmula duas
vezes: primeiro para calcular o volume com as áreas de corte, e depois para calcular
o volume com as áreas de aterro.

iii) Considerações quanto ao cálculo do volume dos prismóides de campo

Como já comentado, as equações para cálculo do volume podem ser


aplicadas para o cálculo do volume em seções mistas (com corte e aterro); Para isto
ocorrer, realizam-se os cálculos de forma isolada, assim tem-se que:

a) Para calcular o volume de corte entre seções mistas (corte e aterro), aplica-se
uma das fórmulas anteriores utilizando-se, apenas, as áreas de corte das seções
mistas; e
b) Para calcular o volume de aterro entre seções mistas (corte e aterro), aplica-se
uma das fórmulas anteriores utilizando-se, apenas, as áreas de aterro das seções
mistas.
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Quando as seções transversais extremas do prismóide são diferentes, o erro


do cálculo do volume quando se utiliza as duas equações anteriores, eq.(2.1) e
eq.(2.2), é geralmente menor que 2%, ou seja, insignificante.

Quando as seções transversais extremas do prismóide são iguais, obtém-se


volumes iguais com o uso das equações anteriores (eq. 2.1 e eq. 2.2)

3 Cálculo das áreas das seções transversais

3.1 Cálculo das áreas das seções transversais em terreno plano

A Figura 3.1 mostra o esquema de seções de corte ou aterro em terreno


plano.

Figura 3.1 - Esquema de seções de corte ou aterro em terreno plano

Para o caso de seções em corte ou aterro em terreno plano, mostradas na


Figura 3.1, tem-se que a área da seção transversal é obtida pela seguinte equação:

A  h.(b  n.h) (3.1)

em que:
A = área da seção transversal;
h = altura no centro da seção transversal;
b = largura do topo do aterro ou da base do corte; e
n.h = comprimento horizontal dos taludes de corte, ou dos taludes de aterro.
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3.2 Cálculo das áreas das seções transversais pelo método das fatias

O cálculo das áreas das seções transversais pelo método das fatias pode
ser aplicado às seções transversais em corte, em aterro ou mistas (corte e aterro).

O método das fatias para cálculo da área é caracterizado por dividir a seção
transversal em várias figuras geométricas conhecidas. As figuras geométricas
geralmente utilizadas no método das fatias são triângulos e trapézios.

A Figura 3.2 ilustra um esquema da aplicação do método das fatias em uma


seção mista (em corte e aterro).

OBS.
Quando as alturas dos triângulos não são bem definidas no método das
fatias, pode-se usar do artifício (ou do recurso) de somar e subtrair áreas de
triângulos de alturas conhecidas.

Figura 3.2 - Esquema de uma aplicação do método das fatias em uma seção
mista (em corte e aterro)

3.3 Cálculo das áreas das seções transversais pelo método analítico

Para um polígono onde as coordenadas dos seus vértices (ou extremidades)


são: (x1, y1), (x2, y2), (x3, y3),..., (xn, yn). A área do polígono é dada por pela seguinte
equação:

1 n
A  y i .( x i1  x i1 )
2 i1
(3.2)
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em que:
A = área do polígono;
x1, x2, x3,..., xn = abscissas do polígono; e
y1, y2, y3,..., yn = ordenadas do polígono.

OBS(s).
a) Na eq.(3.2), lê-se somatório com i variando do ponto (ou vértice) i = 1 até o ponto
(ou vértice) i = n; e
b) O método analítico para o cálculo de áreas de seções transversais é facilmente
implementado (ou executado) com a utilização do programa Excel do Microsoft
Office e de papel milimetrado.

A Figura 3.3 mostra o esquema de uma seção transversal utilizada na


aplicação do método analítico do cálculo de áreas, percebem-se as coordenadas
cartesianas (ou X e Y) de cada ponto (ou vértice) da seção transversal.

Figura 3.3 - Esquema de uma seção transversal utilizada na aplicação do


método analítico do cálculo de áreas

3.4 Cálculo das áreas das seções transversais com o uso do planímetro

Os planímetros são instrumentos que servem para medir a área de uma


figura, quando o contorno da figura é percorrido com uma determinada parte do
planímetro.

4 Diagrama de massas ou diagrama de Brückner

4.1 Importância do diagrama de massas ou diagrama de Brückner

O diagrama de massas facilita a análise da distribuição dos materiais


escavados.
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O diagrama de massas permite:

a) Definir a origem e o destino dos solos e rochas envolvidos na terraplenagem;


b) Indicar os volumes dos materiais (solos e rochas); e
c) Indicar as distâncias médias de transporte (DMT) dos materiais movimentados.

4.2 Etapas para construção do diagrama de massas ou diagrama de Brückner

Os principais passos para construção do diagrama de Brückner são os que


se seguem.

1.o (primeiro) passo: Inicialmente, é necessário calcular as áreas das seções


transversais correspondente à cada estaca.

2.o (segundo) passo: Define-se o fator de homogeneização (Fh) de volumes do


material do trecho, que está sendo analisado.

OBS. Maiores detalhes do fator de homogeneização (Fh) serão apresentados, a


seguir, no tópico 7.

3.o (terceiro) passo: É necessário preparar (ou preencher) a TABELA DOS


VOLUMES ACUMULADOS OU TABELA DAS ORDENADAS DE BRÜCKNER.

OBS. Maiores detalhes da tabela dos volumes acumulados ou tabela das ordenadas
de Brückner serão apresentados, a seguir, no tópico 4.4.

4.o (quarto) passo: De posse da tabela dos volumes acumulados taça-se o


diagrama das massas ou diagrama de Brückner.

4.3 Características do traçado do diagrama das massas ou de Brückner

O diagrama das massas, ou de Brückner, geralmente e desenhado abaixo


ou acima do perfil longitudinal do terreno e do greide da estrada.

O diagrama é traçado com dois eixos de referência, assim tem-se que:

a) No eixo das abscissas é colocado o estaqueamento da estrada; e


b) No eixo das ordenadas é colocado os volumes acumulados (ou ordenadas de
Brückner) para cada seção transversal.
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4.4 Elementos para elaboração da tabela dos volumes acumulados ou da


tabela das ordenadas de Brückner

A tabela dos volumes acumulados, ou das ordenadas de Brückner’ é


importante para construção do diagrama de Brückner.

A Tabela 4.1 é uma tabela típica utilizada para o cálculo dos volumes
acumulados ou das ordenadas do diagrama de Brückner.

Tabela 4.1 - Tabela típica usada no cálculo dos volumes acumulados

A seguir, tem-se o significado de cada uma das colunas da Tabela 4.1, que é
utilizada para o cálculo dos volumes acumulados.

Coluna 1: Nesta coluna são colocadas as estacas dos pontos, onde foram
calculadas as áreas das seções transversais.

Coluna 2: Nesta coluna são colocadas as áreas de corte, medidas nas seções
transversais.

Coluna 3: Nesta coluna são colocadas as áreas de aterro, medidas nas seções
transversais.

Coluna 4 (ou coluna aterro corrigido): Nesta coluna são colocados o produto da
coluna 3 pelo fator de homogeneização (Fh).

Coluna 5: Esta coluna corresponde à soma das áreas de corte de duas (2) seções
consecutivas da coluna 2.

Coluna 6: Esta coluna corresponde à soma das áreas de aterro de duas (2) seções
consecutivas da coluna 4.

Coluna 7: Nesta coluna são colocadas as semi-distâncias entre seções


consecutivas.
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OBS. Exemplos de semi-distâncias:


a) A semi-distância entre a estaca 51 e a estaca 52 é igual a 20 m / 2 ou 10 m; e
b) A semi-distância entre as estacas 45 + 12,00 e a estaca 46 é igual a 8 m / 2 ou 4
m.

Coluna 8: Nesta coluna são colocados os volumes de corte entre seções


consecutivas. Esta coluna corresponde ao produto da coluna 5 com a coluna 7.

Coluna 9: Nesta coluna são colocados os volumes de aterro entre seções


consecutivas. Esta coluna corresponde ao produto da coluna 6 com a coluna 7.

Coluna 10: Nesta coluna são colocados os volumes compensados lateralmente, que
não são sujeitos ao transporte longitudinal, mas influenciam no cálculo dos volumes
acumulados.

OBS. Os volumes compensados lateralmente ocorrem em seções mistas, quando o


material de corte de uma seção é usado como aterro na mesma seção.

Coluna 11: Nesta coluna são colocados os volumes acumulados, obtidos pela soma
algébrica acumulada dos volumes das colunas 8 e 9. Também, são levados em
conta no cálculo, dos volumes acumulados, os volumes da compensação lateral,
quando ocorrerem seções mistas (corte e aterro).

OBSERVAÇÕES FINAIS quanto ao preenchimento da tabela dos volumes


acumulados ou das ordenadas de Brückner:

a) Os volumes de corte são considerados positivos no cálculo dos volumes


acumulados;
b) Os volumes de aterro são considerados negativos no cálculo dos volumes
acumulados;
c) A somatória dos volumes acumulados (coluna 11) da tabela é feita a partir de uma
ordenada inicial arbitrária (ou atribuída). Geralmente, é escolhida uma ordenada de
grande valor (por exemplo: 1000 m3) para evitar o aparecimento de volumes
acumulados negativos; e
d) Maiores esclarecimentos, quanto ao preenchimento da tabela dos volumes podem
ser obtidos com o exemplo numérico da construção de um diagrama de Brückner,
que está anexo às notas de aulas.

5 Momento de transporte

5.1 Equação para cálculo do momento de transporte

Define-se momento de transporte como sendo o produto dos volumes


transportados pelas distâncias médias de transporte. O momento de transporte é
obtido pela seguinte equação.
M  V.dm  V.DMT (5.1)
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em que:
M = momento de transporte (em m3.dam, ou m3.km);
V = volume de solo transportado (m3); e
dm = DMT = distância média de transporte (em dam ou km).

OBS(s).
a) dam = decametro; e
b) 1 dam = 10 m = 0,01 km.

5.2 Melhor método para cálculo da distância média de transporte

i) Aspectos gerais da distância média de transporte

Quando é executado o transporte de um solo de um corte para um aterro, as


distâncias de transporte se alteram a cada viagem. Assim sendo, é necessário a
determinação de uma distância média de transporte (DMT).

A distância média de transporte (DMT) deverá ser igual à distância entre os


centros de gravidade dos trechos de corte e aterro compensados.

ii) Métodos que estudam a distribuição de materiais escavados

Existem vários métodos que estudam a distribuição dos materiais


escavados, pode-se citar:

a) Método do diagrama triangular ou diagrama das áreas;


b) Método do diagrama de Lalanne; e
c) Método do diagrama de Brückner.

iii) Qualidades apresentadas pelo método de Brückner

O método mais utilizado para estimativa das distâncias médias de


transporte, entre os trechos compensados de corte e aterro, é o método do diagrama
de Brückner, por ser o mais racional e ao mesmo tempo prático.

OBS(s).
a) Um projeto racional de terraplenagem deve indicar a melhor distribuição de terras,
de modo que a distância média de transporte (DMT) e o custo das operações de
terraplenagem sejam reduzidas a valores mínimos; e
b) Um trecho entre estacas é compensado, em termos de terraplenagem, quando o
solo escavado, ou cortado, no trecho é utilizado como aterro no mesmo trecho.
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5.3 Cálculo simplificado da distância média de transporte (DMT) e do momento


de transporte (M) pelo método de Brückner

5.3.1 Cálculo simplificado da distância média de transporte (DMT) pelo método


de Brückner

Para realizar o cálculo simplificado da distância média de transporte (DMT),


quando se utiliza o diagrama de Brückner, procede-se do seguinte modo:

i) Toma-se a METADE da altura máxima de uma onda, do diagrama de Brückner, e


traça-se uma reta horizontal nesta altura.

ii) A distância média de transporte (DMT) é a distância entre os pontos de interseção


desta reta horizontal com a onda do diagrama de Brückner, a qual é medida na
horizontal do desenho do diagrama.

A Figura 5.1 apresentada a seguir, mostra uma distância de transporte


obtida pelo processo descrito.

Figura 5.1 - Cálculo simplificado da distância de transporte (DMT)

5.3.2 Cálculo simplificado do momento de transporte (M) pelo método de


Brückner

O momento de transporte (M) é igual à área da onda de Brückner, que pode


ser estimada como sendo a área de um retângulo de área aproximadamente igual à
área da onda. Assim sendo, o momento de transporte (M) é igual ao produto da
altura da onda, dada em volume acumulado (V), pela distância média de transporte
(DMT).

A Figura 5.2 ilustra o esquema de cálculo do momento de transporte de uma


onda de compensação do diagrama de Brückner.
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Figura 5.2 - Esquema do cálculo do momento de transporte de uma onda de


compensação do diagrama de Brückner

As variáveis envolvidas no cálculo do momento de transporte do esquema


de cálculo mostrado na Figura 5.2 são:
M = momento de transporte (em m3.dam, ou m3.km);
V = volumes acumulados = volume compensado = ou volume dos cortes
usado em aterros (m3); e
DMT = distância média de transporte (em dam, ou km).

OBS. 1 decametro = 1 dam = 10 m = 0,01 km.

6 Propriedades dos diagramas de massas ou de Brückner

A Figura 6.1 mostra um diagrama de massas, ou de Brückner, desenhado


acima do perfil longitudinal do terreno e do greide da estrada. Também, na Figura
6.1 são destacados alguns dos elementos do diagrama.

Observa-se que a Figura 6.1 serve como base para a compreensão das
propriedades do diagrama de massas, ou de Brückner, as quais serão descritas a
seguir.
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Figura 6.1 - Diagrama de massas ou de Brückner, perfil longitudinal do terreno


e greide da estrada

Pode-se afirmar que um diagrama de massas, ou de Brückner, apresenta as


seguintes propriedades:

i) O diagrama de massas, ou de Brückner, não é um perfil. Assim sendo, a forma do


diagrama não tem nenhuma relação com a topografia do terreno.

ii) Inclinações muito elevadas das linhas do diagrama indicam grandes movimentos
de terra.
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iii) Todo trecho ascendente do diagrama corresponde a um trecho de corte (ou com
predominância de cortes em caso de seções mistas). Pode-se constatar esta
afirmação na Figura 6.1.

iv) Todo trecho descendente do diagrama corresponde a um trecho de aterro (ou


com predominância de aterro em caso de seções mistas). Pode-se constatar esta
afirmação na Figura 6.1.

v) A diferença de ordenadas (y) entre dois pontos do diagrama mede o volume de


terra acumulando entre estes dois pontos. Na Figura 6.1 o volume acumulado V’
corresponde à diferença de ordenadas dos pontos C e D.

vi) Os pontos extremos do diagrama (pontos de máximo e de mínimo) correspondem


aos pontos de passagem (PP) de corte para aterro ou de aterro para corte.

vii) Os pontos de máximo correspondem à passagem de corte para aterro.

viii) Os pontos de mínimo correspondem à passagem de aterro para corte.

ix) Qualquer horizontal traçada sobre o diagrama determina trechos de volumes


compensados ou ondas, ou seja, indica os trechos em que o volume de corte será
usado em aterro.

OBS. O volume compensado é igual ao volume de corte que será usado para aterro
em um determinado trecho, que corresponde a uma onda.

x) Qualquer linha horizontal traçada sobre o diagrama, é chamada de linha de


compensação ou linha de terra.

xi) É perfeitamente possível utilizar mais de uma linha de terra ou de compensação


nas análises com o diagrama de Brückner, desde que seja possível formar uma ou
mais ondas.

xii) A medida de um volume compensado, ou seja, do volume de corte que será


usado em aterro, é dada pela diferença das ordenadas (y) entre o ponto de máximo,
ou de mínimo, do trecho compensado (ou onda) e a linha de compensação ou linha
de terra.

xiii) A posição da onda do diagrama em relação à linha de compensação (ou de


terra) indica a direção do movimento de terra; assim, tem-se:

a) Para ondas POSITIVAS (ou ondas acima da linha de compensação), tem-se que
o transporte de terra é no sentido do estaqueamento da estrada. A Figura 6.1 ilustra
a movimentação de terra para uma onda positiva; e
b) Para ondas NEGATIVAS (ou ondas abaixo da linha de compensação), tem-se que
o transporte de terra é no sentido contrário ao estaqueamento da estrada. A Figura
6.1 ilustra a movimentação de terra para uma onda negativa.

xiv) A área compreendida entre a linha de uma onda do diagrama de massas e a


linha de compensação mede o momento de transporte (M) da distribuição
considerada (ou da onda).
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xv) A distância média de transporte (DMT) de cada distribuição de solo, ou onda de


compensação, pode ser considerada como a base de um retângulo de área
equivalente à área de uma onda, e de altura igual à ordenada máxima da onda.

OBS. O processo de cálculo simplificado para obtenção da distância média de


transporte (DMT) já foi apresentado anteriormente.

xvi) Os trechos descendentes do diagrama que não são compensados, ou que estão
fora de uma onda, correspondem aos volumes de empréstimo de material para
aterro. Este caso, não é ilustrado na Figura 6.1.

xvii) Os trechos ascendentes do diagrama que não são compensados, ou que estão
fora de uma onda, correspondem aos volumes de solo de corte para bota-fora ou
descarte. Este caso é ilustrado na Figura 6.1.

7 Fator de homogeneização de volumes (Fh)

O fator de homogeneização (Fh) é utilizado, considerando-se que o grau de


compactação do aterro é maior que o grau de compactação do corte.

O fator de homogeneização é a relação entre o volume de material do corte


de e o volume do aterro compactado resultante.

7.1 Fator de homogeneização na fase de anteprojeto

Geralmente, na fase de anteprojeto o fator de homogeneização é estimado.


O valor recomendado na literatura é Fh = 1,30, ou seja, o volume do material no
corte deverá ser 30% maior do que o material previsto para o aterro.

OBS. O Fh = 1,30 na fase de anteprojeto considera a diferença de grau de


compactação entre o material do corte e do aterro, e também as perdas do material
no transporte.

7.2 Fator de homogeneização na fase de projeto

Na fase de projeto, o fator de homogeneização pode ser avaliado pela


seguinte equação:

Fh  Scomp
 Scorte (7.1)

em que:
Fh = fator de homogeneização;
Scomp = peso específico do solo seco após a compactação do aterro; e
Scorte = peso específico do solo seco no corte.
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O fator de homogeneização é aplicado sobre o volume do aterro como


multiplicador para se obter o volume de corte.

Na prática, é utilizado um fator de segurança de 5% de modo a compensar


as perdas que ocorrem durante o transporte dos solos, e os possíveis excessos de
compactação dos mesmos.

Diante do exposto, tem-se que o volume do corte será:


VCORTE  1,05.Fh .VATERRO
(7.2)

em que:
VCORTE = volume do solo escavado no corte;
Fh = fator de homogeneização de projeto; e
VATERRO = volume de solo compactado no aterro.

8 Considerações finais

i) De acordo com Pimenta e Oliveira (1999) a linha de compensação, ou linha de


terra, mais econômica é aquela para qual a soma dos segmentos que ficam abaixo
da linha de Brückner são iguais, ou aproximadamente iguais, a soma dos segmentos
que ficam acima da linha de Brückner.

A Figura 8.1 ilustra uma linha uma compensação econômica.

Figura 8.1 - Exemplo de uma linha uma compensação econômica.

ii) Geralmente, os volumes acumulados, que é o eixo das ordenadas no diagrama de


Brückner é representado na escala 1 cm = 1000 m3.

iii) Os cálculos dos volumes de solo transportados e das distâncias médias de


transporte são importantes para estimar os custos da terraplenagem.
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iv) Para fins de orçamento, tem-se que o volume de solo transportado no caminhão é
estimado pela seguinte equação:
VSTC  1,4.VCORTE (8.1)
em que:
VSTC = volume de solo transportado no caminhão; e
VCORTE = volume de material escavado no corte.

OBS. No aterro, o solo está mais compactado do que no estado natural, e também
mais compactado do que quando transportado no caminhão; assim sendo, tem-se
que:

GC ATERRO  GC CORTE  GC STC

em que:
GCATERRO = grau de compactação do aterro;
GCCORTE = grau de compactação do corte; e
GCSTC = grau de compactação do solo transportado no caminhão.

Ainda, sendo:
d
GC 
 dmáx (8.2)

em que:
GC = grau de compactação;
d = peso específico do solo seco, que pode ser: no aterro, no corte, ou no
transporte; e
dmáx = peso específico máximo do solo seco, obtido no laboratório.

v) Em anexo às notas de aulas segue um exemplo de uma aplicação prática da


elaboração de um diagrama de Brückner.

A Figura 8.2 ilustra as obras de terraplanagem durante a construção do novo


aeroporto de Vitória da Conquista - BA. Na foto, tem-se uma retroescavadeira de alta
capacidade carregando um caminhão caçamba.
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Figura 8.2 - Obras de terraplanagem durante a construção do novo aeroporto


de Vitória da Conquista - BA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA , J. F. Bíblia Sagrada Edição Histórica. 2. Ed. Revista e atualizada no


Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil (1993).

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de


Janeiro - RJ: Nova Fronteira, 1986. 1838p.

LÓSS, Z, J. (199?) Distribuição do material escavado. Nota de aula de CIV 310 -


Estradas I. Viçosa - MG: Universidade Federal de Viçosa, 199?. 6p.

PIMENTA, C. R.; OLIVEIRA, M. P. (1999) Projeto geométrico e de terraplenagem


de rodovias - STT 402. São Carlos - SP: Universidade de São Paulo - Escola de
Engenharia de São Carlos, 1999. 118p.

PONTES FILHO, G. (1998) Estradas de rodagem projeto geométrico. [S.I.]:


Bidim, 1998. 432p. (Bibliografia principal)

SENÇO, W. (1980) Terraplenagem. São Paulo - SP: Universidade de São Paulo -


Escola Politécnica. 1980. ?p.

VIANA, H. M. F. Foto da obras de terraplanagem no novo aeroporto de


Conquista de Vitória da Conquista - BA. 2015.

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