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ANATOMIA

APLICADA A
FISIOTERAPIA

Giulianna da
Rocha Borges
Músculos da cintura
escapular, do braço e
do antebraço, da mão
e dos dedos da mão
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Relacionar e descrever a organização e a função do sistema nervoso


com os sistemas muscular e ósseo da região dos membros superiores.
 Identificar a musculatura da cintura escapular, do braço e do antebraço,
da mão e dos dedos da mão.
 Desenvolver a compreensão da interação entre as funções das regiões
do membro superior envolvendo o pescoço, o braço, o antebraço,
a mão e os dedos.

Introdução
Neste capítulo, você vai compreender como descrever os músculos
esqueléticos que realizam os movimentos da cintura escapular, do braço,
do antebraço, da mão e dos dedos. Além disso, veremos quais articulações
esses músculos atravessam para realizar suas ações, inclusive suas origens
e inserções, que são informações fundamentais para a compreensão
das ações musculares, bem como a interação de grupos musculares.
A integração funcional entre as regiões dos membros superiores serão
discutidas e veremos também a inervação promovida pelo plexo braquial.
Compreender a importância dos movimentos dos membros superio-
res para a realização das atividades complexas que o ser humano, com
a evolução, foi desenvolvendo é fundamental para a prática profissional
2 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

do fisioterapeuta. Além disso, entender a inervação muscular permite


que o fisioterapeuta correlacione a integridade da função muscular à
integridade do sistema nervoso. Isso quer dizer que em qualquer alteração
na função muscular o sistema nervoso será alvo da avaliação fisioterápica.
Adicionalmente, a prática fisioterapêutica exige a avaliação muscular por
meio de testes de função muscular e para compreender os objetivos
de tais testes e o porquê devem ser realizados é necessário conhecer
detalhadamente a anatomia muscular.

Anatomia dos músculos do membro superior


O membro superior é dividido em cintura escapular e parte livre do membro
superior, o qual, por sua vez, é dividido em braço, na sua porção mais proximal,
seguido pelo antebraço e mão, na porção mais distal. Tem como característica
uma grande mobilidade que permite ao indivíduo realizar movimentos com-
plexos como segurar, golpear e manipular objetos com extrema destreza, sendo
esta última função mais específica das mãos, as quais têm vários músculos
inervados por vários neurônios que permitem o desenvolvimento de atividades
motoras finas (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

Músculos da cintura escapular (cíngulo do membro


superior)
O cíngulo do membro superior é considerado a raiz desse membro, pois liga
a parte livre do membro superior ao tronco. Seu esqueleto é formado pela
escápula posteriormente e pela clavícula anteriormente. Anteromedialmente, a
clavícula articula-se com o manúbrio do esterno e, posteriormente, a escápula
forma uma articulação fisiológica com o gradil costal, por meio da muscula-
tura relacionada a ela. Por fim, lateralmente, temos a articulação do ombro
formada pela cavidade glenoidal da escápula e a cabeça do úmero (articulação
glenoumeral) que é movimentada por vários músculos. Dentre os músculos
que atravessam essa articulação, temos o conjunto de músculos esqueléticos
que partem da região torácica e se inserem no úmero, os denominados mús-
culos toracoapendiculares que serão estudados juntamente aos músculos do
tronco. Fechando esse grupo, temos os músculos intrínsecos do ombro que
partem diretamente da escápula e se inserem no úmero, os quais são também
denominados músculos escapuloumerais (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014;
TORTORA; NIELSEN, 2017).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 3

Músculos escapuloumerais

São seis os músculos escapuloumerais que movem os membros superiores


na articulação do ombro: músculo deltoide, músculo redondo maior, músculo
supraespinal, músculo infraespinal, músculo subescapular e músculo redondo
menor, sendo os quatro últimos denominados músculos do manguito rotador
devido às suas ações relacionadas à rotação da articulação do ombro.

 Músculo deltoide: o músculo deltoide tem essa nomenclatura por seu


formato de triângulo invertido semelhante à letra grega delta (δ). Esse
músculo envolve todo o ombro em suas porções anterior, lateral e pos-
terior e cada uma delas age de certa maneira estabilizando a cabeça
do úmero na cavidade glenoidal da escápula, seja durante o repouso,
a deambulação ou outras atividades. Outra função primordial desse
músculo, especificamente de sua porção lateral multipeniforme, é re-
alizar a abdução a partir do ângulo de 15°. A porção anterior ainda é
sinergista do músculo peitoral maior na flexão realizada pelo balanço
dos membros superiores durante a deambulação, já a extensão nessa
mesma atividade é realizada pela porção posterior, sinergista do músculo
latíssimo do dorso. As origens do músculo deltoide são divididas pelas
suas porções; porção anterior: extremidade acromial da clavícula; porção
lateral: acrômio da escápula; e porção posterior: espinha da escápula.
A inserção acontece na tuberosidade do músculo deltoide no úmero. A
inervação é realizada pelo ramo do plexo braquial denominado nervo
axilar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculo redondo maior: sua nomenclatura é decorrente do fato de
sua secção transversal apresentar um formato redondo e espesso. Está
localizado na face posterior do ângulo inferior da escápula e se insere
no lábio medial do sulco intertubercular do úmero. Pela sua posição
posteroinferior na escápula e inserção anteromedial no úmero, sua
contração promove adução e rotação medial do braço. É inervado pelo
nervo subescapular inferior também proveniente do plexo braquial
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculos do manguito rotador: o manguito rotador é um conjunto de
quatro músculos que formam uma cobertura (manguito) musculoten-
dínea ao redor da cabeça do úmero que tem por função auxiliar na
estabilização ativa da cabeça do úmero na cavidade glenoidal. Com
exceção do músculo supraespinal, todos os outros são músculos que
realizam rotação da articulação do ombro.
4 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

 Músculo supraespinal: o primeiro integrante do grupo de músculos do


manguito rotador está localizado na porção mais superior e posterior da
escápula, a fossa supraespinal. Seu ventre se afunila lateralmente, passa
abaixo da articulação acromioclavicular para que seu tendão se insira na
face superior do tubérculo maior do úmero. Nessa posição, o músculo
supraespinal é responsável por iniciar a abdução até os primeiros 15°
e depois dessa angulação auxilia o músculo deltoide na continuidade
desse movimento. É inervado pelo nervo supraescapular (MOORE;
DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculo infraespinal: é mais largo que o músculo supraespinal, tem
origem na fossa infraespinal da escápula e é parcialmente recoberto pelo
músculo trapézio e porção posterior do músculo deltoide. A inserção
ocorre na face média do tubérculo maior do úmero. Sua contração
promove a rotação lateral do úmero. Também é inervado pelo nervo
supraescapular (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIEL-
SEN, 2017).
 Músculo redondo menor: ocupa toda a parte média da margem lateral
da escápula e se insere na face inferior do tubérculo maior do úmero.
Também realiza rotação lateral do úmero. Sua inervação fica a cargo
do nervo axilar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIEL-
SEN, 2017).
 Músculo subescapular: o último músculo que compõe o grupo man-
guito rotador ocupa a face anterior da escápula na fossa subescapular
e se insere no tubérculo menor do úmero. Sua ação individual é rodar
medialmente o úmero. Os nervos subescapulares superior e inferior
realizam sua inervação (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).

A seguir, veja as Figuras 1, 2 e 3.


Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 5

Vale ressaltar que ainda temos o músculo coracobraquial, que será estudado juntamente
aos músculos do braço, como preconiza Moore (2014), diferente de Tortora e Nielsen
(2017), que o descrevem juntamente aos músculos escapuloumerais.

Figura 1. Nessa vista anterior do tórax e da parte do membro superior, observe, principal-
mente, a porção anterior do músculo deltoide e a parte da porção lateral.
Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
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Figura 2. Vista posterior da região escapular. Observe os músculos posteriores que formam
o manguito rotador (músculo supraespinal, músculo infraespinal e músculo redondo menor)
e o músculo redondo maior. O músculo deltoide foi seccionado e rebatido.
Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).

Figura 3. Vistas posterior e anterior da região escapular. Observe que todos os músculos
que compõem o manguito rotador.
Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 7

Músculos do braço
O braço é a região localizada entre o ombro e o cotovelo, cujo esqueleto é
formado pelo úmero. Proximalmente, a cabeça do úmero articula-se com a
cavidade glenoidal formando a articulação do ombro e, distalmente, o côndilo
do úmero formado pelo capítulo (lateral) e a tróclea (medial) articulam-se
com o rádio e a ulna, respectivamente, formando a articulação do cotovelo.
Os músculos do braço podem atravessar tanto a articulação do ombro como
a articulação do cotovelo e até mesmo ambas articulações e, portanto, agem
sobre elas. As ações desses músculos promovem, basicamente, os movimentos
de flexão e extensão do ombro e do cotovelo (MOORE; DAILEY; AGUR,
2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
Os músculos do braço que têm inervação semelhante estão distribuídos em
dois compartimentos, um anterior e um posterior separados por duas lâminas
de tecido conjuntivo denominadas septos intermusculares medial e lateral.
O compartimento anterior aloja os músculos flexores e o compartimento
posterior aloja os músculos extensores. A distribuição em compartimentos é
melhor identificada em um corte transversal do braço (Figura 4) (MOORE;
DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).

Figura 4. Corte transversal do braço. Compartimentos anterior e posterior do braço.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
8 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Músculos do compartimento anterior

Todos os músculos que compõem o compartimento anterior do braço são


inervados pelo nervo musculocutâneo do plexo braquial (MOORE; DAILEY;
AGUR, 2014; TORTORA e NIELSEN, 2017). Nas Figuras 5 e 6, além desse
nervo, podemos observar os demais nervos que vão realizar a inervação das
porções mais distais do membro superior.

 Músculo bíceps braquial: é o músculo mais superficial do compartimento


anterior, é longo, fusiforme e como a nomenclatura sugere, tem dois
ventres (bíceps). O músculo bíceps braquial atravessa a articulação do
ombro e a articulação do cotovelo, ambas anteriormente, e, portanto,
sua ação principal nessas articulações é de flexão. A cabeça longa do
músculo tem um longo tendão que se origina do tubérculo supragle-
noidal da escápula e atravessa a articulação do ombro no interior da
cápsula articular entre os tubérculos maior e menor do úmero no sulco
intertubercular, onde é mantido pelo ligamento transverso do úmero.
A cabeça curta tem origem na extremidade do processo coracoide da
escápula, desce o úmero anteriormente para se juntar à cabeça longa em
um tendão único que atravessa anteriormente a articulação do cotovelo
e se insere na tuberosidade do rádio, o que possibilita a flexão dessa
articulação. Antes de inserir-se na tuberosidade do rádio, do tendão
do músculo parte uma faixa de tecido conjuntivo que atravessa a fossa
cubital anteromedialmente e se funde à fáscia do antebraço, a aponeu-
rose do músculo bíceps braquial (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

O músculo bíceps braquial é um exímio flexor do cotovelo, porém, sua ação pode
variar dependendo da posição dessa articulação. Por exemplo, quando o cotovelo
está flexionado a quase 90° e o antebraço encontra-se em supinação, o músculo
bíceps braquial é capaz de vencer a resistência do movimento para produzir vigorosa
flexão. Entretanto, quando o antebraço está pronado, esse músculo passa a ser um
potente supinador.
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 9

 Músculo braquial: imediatamente profundo ou posterior ao músculo


bíceps braquial, temos o músculo braquial, o principal flexor da ar-
ticulação do cotovelo por ser o principal gerador de força para esse
movimento, seja qual for a posição do membro. Tem origem na metade
distal da face anterior do úmero e inserção no processo coronoide e
tuberosidade da ulna (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo coracobraquial: é um músculo relativamente pequeno e estreito
comparado aos demais músculos do compartimento anterior do braço.
Tem origem próxima à cabeça curta do músculo bíceps braquial na ex-
tremidade do processo coracoide da escápula e inserção no terço médio
da face medial do úmero, sendo que nesse trajeto é perfurado pelo nervo
musculocutâneo. Auxilia na adução e flexão do braço, além de resistir
à luxação da articulação do ombro (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

Figura 5. Vista superficial do compartimento anterior do braço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).
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Figura 6. Vista profunda do compartimento anterior do braço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).

Músculos do compartimento posterior

Os músculos do compartimento posterior são inervados pelo nervo radial do


plexo braquial e têm como ação principal a extensão do ombro e do cotovelo
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 11

 Músculo tríceps braquial: é um músculo volumoso, grande e em forma


de fuso que tem três cabeças, a longa, a curta e a medial. A cabeça
longa tem origem no tubérculo infraglenoidal da escápula e, ao atra-
vessar a articulação do ombro posteromedialmente, é capaz de auxiliar
na extensão e adução do braço, porém, é mais ativa na estabilização
posterior do ombro em adução e resiste ao deslocamento inferior da
cabeça do úmero (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). A cabeça medial
é a principal extensora do cotovelo por ter origem na face posterior do
úmero, inferior ao sulco do nervo radial. Já a cabeça curta, a mais forte
das três cabeças, têm origem superior ao sulco do nervo radial, também
na face posterior do úmero. A inserção comum das cabeças do tríceps
braquial se dá por meio de um forte tendão na extremidade proximal do
olecrano da ulna e da fáscia do antebraço (MOORE; DAILEY; AGUR,
2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculo ancôneo: às vezes parcialmente fundido ao músculo tríceps
braquial, às vezes, visível como um pequeno músculo triangular na face
posterolateral do braço, o músculo ancôneo é sinergista da extensão
do cotovelo e tensiona a cápsula articular do cotovelo para evitar seu
pinçamento durante o movimento de extensão. Tem origem no epicôndilo
lateral do úmero e inserção na face lateral do olecrano e face posterior da
ulna (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).

Tanto a cabeça curta como a longa do músculo tríceps braquial, juntamente


com o músculo ancôneo, são superficiais. Já a cabeça medial do músculo tríceps
braquial é, em sua grande parte, profunda (TANK; GEST, 2009).
Veja as Figuras 7 e 8 a seguir.
12 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Figura 7. Vista superficial do compartimento posterior do braço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 13

Figura 8. Vista profunda do compartimento posterior do braço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).

Músculos do antebraço
O antebraço é a porção do membro superior entre o braço e a mão. Seu es-
queleto é formado por dois ossos paralelos, o rádio (lateral) e a ulna (medial),
que, por sua vez, são unidos entre si por uma forte membrana interóssea que
serve de inserção a vários músculos do antebraço e auxilia nos movimentos
de pronação e supinação. Basicamente, o antebraço auxilia o ombro a aplicar
força e a controlar a posição da mão para realizar suas funções finas. Assim
como no braço, os músculos do antebraço que têm inervação semelhante estão
distribuídos em dois compartimentos diferentes, um compartimento anterior
(anteromedial), denominado também de flexor-pronador e outro comparti-
14 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

mento posterior (posterolateral) ou extensor-supinador. Diferentemente do


braço, os compartimentos do antebraço espiralam-se na região proximal e
tornam-se realmente delimitados na região distal do antebraço. Entretanto,
na região proximal do antebraço, o que delimita os compartimentos anterior
e posterior são o rádio e a ulna, já a membrana interóssea é uma boa estrutura
para utilizarmos como limite anterior e posterior na região distal (MOORE;
DAILEY; AGUR, 2014).

A máxima funcionalidade das regiões distais do antebraço, punho e mão dependem


que as mesmas apresentem volume mínimo. Para garantir esse pequeno volume, seria
impossível que toda a musculatura que promove movimentos tão finos e coordenados
estivesse nessas regiões. Portanto, os ventres desses músculos são extrínsecos aos locais
que atuam e seus longos e delgados tendões estendem-se distalmente até o local de
ação, como cordões em polias distantes (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

Veja a seguir a Figura 9.


Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 15

Figura 9. Vista de corte transversal da porção proximal do antebraço. Linha tracejada é


considerada o limite entre os compartimentos anterior e posterior nessa região do antebraço.
Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

Músculos do compartimento anterior (flexor-pronador)

Esses músculos são maiores e mais fortes que os do compartimento posterior


e executam primariamente as ações de flexão do cotovelo, punho e dedos,
bem como a pronação do antebraço. O nervo mediano do plexo braquial
que se estende por toda a região mediana do antebraço inerva cinco dos oito
músculos desse compartimento. A maioria dos tendões dos músculos flexores
estão situados na face anterior do punho e o ligamento carpal palmar e o
retináculo dos músculos flexores, um espessamento da fáscia do antebraço,
têm a função de mantê-los no lugar, principalmente durante o movimento de
flexão. Os músculos estão distribuídos em três camadas, superficial, intermédia
e profunda (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
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Músculos da camada superficial

A partir de uma fixação comum, pelo tendão comum dos flexores, no epicôndilo
medial em direção lateral, temos quatro músculos esqueléticos nessa camada,
o músculo pronador redondo, o músculo flexor radial do carpo, o músculo
palmar longo e o músculo flexor ulnar do carpo. Todos eles são inervados pelo
nervo mediano, exceto o músculo flexor ulnar do carpo que é inervado pelo
nervo ulnar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

 Músculo pronador redondo: é o músculo mais lateral dessa camada


e com formato de fuso. Tem origem no epicôndilo medial do úmero
(cabeça umeral; origem comum dos flexores) e processo coronoide da
ulna (cabeça ulnar) e se insere na metade da convexidade da face lateral
do rádio. O sentido oblíquo de suas fibras com origem medial no úmero
e ulna e inserção lateral no rádio faz com que sua contração faça o
rádio rodar sobre a ulna promovendo o movimento de pronação. Uma
referência importante sobre esse músculo é que ele forma a margem
medial da fossa cubital (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).
 Músculo flexor radial do carpo: está localizado medialmente ao mús-
culo pronador redondo. É longo, fusiforme e também tem origem no
epicôndilo medial do úmero. Para realizar sua ação de flexão do punho
e também abdução deste, insere-se mais lateralmente, na base do II
osso metacarpo. Seu longo tendão pode ser visualizado na metade de
seu comprimento e antes de realizar sua fixação distal passa por um
canal formado na parte lateral do retináculo dos músculos flexores e um
sulco no osso trapézio do carpo, na bainha do músculo flexor radial do
carpo. Além disso, lateralmente à parte distal de seu tendão podemos
tocar a artéria radial (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).
 Músculo palmar longo: medialmente ao músculo flexor radial do carpo,
temos outro músculo fusiforme, com ventre pequeno e tendão longo,
o músculo palmar longo. Esse músculo pode apresentar variação ana-
tômica em cerca de 14% das pessoas, podendo estar ausente bi ou
unilateralmente. Também faz parte da origem comum dos flexores e
se insere superficialmente no retináculo dos músculos flexores e no
ápice da aponeurose palmar. Realiza flexão do punho e tensiona a
aponeurose palmar. A parte distal de seu tendão serve como referência
para localizar o nervo mediano que passa medialmente a ele antes de
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 17

entrar no retináculo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;


NIELSEN, 2017).
 Músculo flexor ulnar do carpo: o último músculo dessa camada é o
mais medial de todos e o único não inervado pelo nervo mediano,
mas sim pelo nervo ulnar que passa imediatamente profundo ao seu
ventre. Sua cabeça umeral tem origem comum com os demais flexores
dessa camada e a cabeça ulnar parte do olecrano e margem posterior
da ulna. A inserção acontece no punho, no osso pisiforme, no hâmulo
do hamato e no V osso metacarpo. Dessa maneira, o músculo realiza
flexão do punho, além de adução (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014;
TORTORA; NIELSEN, 2017).

Veja a Figura 10 a seguir.


18 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Figura 10. Camada superficial dos músculos do compartimento anterior do antebraço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 19

Músculo da camada intermédia

Na camada intermédia temos apenas o músculo flexor superficial dos dedos,


o qual realiza flexão das articulações interfalângicas proximais dos quatro
últimos dedos da mão. É um músculo amplo, com origem também no epicôndilo
medial e processo coronoide da ulna (cabeça umeroulnar) e no rádio em sua
metade superior da margem anterior (cabeça radial). Em sua porção distal
perto do punho, o ventre muscular dá origem a quatro tendões estreitos, que
passam dentro do túnel do carpo, juntamente aos quatro tendões do músculo
flexor profundo dos dedos e se fixam nos corpos das falanges médias dos quatro
dedos mediais. Além de flexionar as articulações interfalângicas proximais dos
dedos que se inserem, ao agir mais fortemente, consegue também flexionar as
articulações metacarpofalângicas desses mesmos dedos (MOORE; DAILEY;
AGUR, 2014).
Veja a Figura 11 a seguir.
20 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Figura 11. Camada intermédia do compartimento anterior do antebraço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 21

Músculos da camada profunda

A camada profunda do compartimento anterior do antebraço abriga os três


últimos músculos esqueléticos que compõem essa região.

 Músculo flexor profundo dos dedos: imediatamente profundo ao


músculo flexor superficial dos dedos, o músculo flexor profundo dos
dedos flexiona as articulações interfalângicas distais por atravessá-
-las anteriormente. Tem duas partes, a parte medial e a parte lateral,
porém ambas têm origem nos três quartos proximais das faces medial
e anterior da ulna e membrana interóssea. As inserções da parte medial
acontecem na base das falanges distais dos 4º e 5º dedos e a parte lateral
na base das falanges distais dos 2º e 3º dedos, sempre anteriormente.
Além disso, a parte ulnar é inervada pelo nervo ulnar e a parte lateral
pelo nervo interósseo anterior do nervo mediano (MOORE; DAILEY;
AGUR, 2014).
 Músculo flexor longo do polegar: lateral ao músculo flexor profundo
dos dedos, sua posição faz sentido ao visualizarmos que seu tendão deve
alcançar o polegar, um dedo lateral. Sua origem se dá na face anterior
do rádio e membrana interóssea e a inserção na face anterior da base da
falange distal do polegar. Ao contrair-se, promove flexão da articulação
interfalângicas do polegar. Sua inervação é feita pelo nervo interósseo
anterior do nervo mediano (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo pronador quadrado: para finalizar os músculos do compar-
timento anterior, temos o músculo pronador quadrado localizado na
porção mais profunda e distal do antebraço. Tem formato quadrangular
e, assim como o músculo pronador redondo, realiza a pronação do
antebraço. Na realidade, o músculo pronador quadrado é o agonista
desse movimento, enquanto o músculo pronador redondo é sinergista.
Tem origem no quarto distal da face anterior da ulna e inserção no
quarto distal da face anterior do rádio. Ao se contrair, roda o rádio
medialmente sobre a ulna. Também é inervado pelo nervo interósseo
anterior do nervo mediano (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

Veja a Figura 12 a seguir.


22 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Figura 12. Vista posterior dos músculos próprios ou intrínsecos do dorso.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 23

O túnel do carpo
É um canal formado superiormente pelo ligamento transverso do carpo e retináculo
dos músculos flexores e inferiormente pela fileira distal de ossos do carpo. O túnel do
carpo contém os tendões dos músculos flexores superficial e profundo dos dedos, o
tendão do músculo flexor longo do polegar, bem como as bainhas tendíneas sinoviais
que envolvem esses músculos e o nervo mediano. Este último é um nervo sensitivo
e motor (misto), responsável por desencadear a dor e a restrição dos movimentos
durante inflamações das bainhas sinoviais em razão do atrito excessivo entre elas,
caracterizando a síndrome do túnel do carpo. Veja a Figura 13.

Figura 13. Túnel do carpo.


Fonte: Adaptada de Tortora e Derrickson (2017).

Músculos do compartimento posterior (extensor-supinador)

Todos os músculos extensores do antebraço são inervados pelo nervo radial e,


assim como os tendões dos músculos flexores, os tendões dos músculos exten-
sores são mantidos nas suas posições pelo retináculo dos músculos extensores,
impedindo o fenômeno denominado “corda de arco”, que se caracteriza pelo
deslocamento posterior dos tendões desses músculos ao se realizar extensão do
punho. Outra semelhança entre os tendões dos músculos extensores e flexores é
que todos são revestidos com bainhas tendíneas sinoviais para reduzir o atrito
entre os tendões que estão muito juntos. Também existe uma fixação proximal
comum entre os tendões de quatro músculos superficiais, músculo extensor
radial curto do carpo, músculo extensor dos dedos, músculo extensor do dedo
mínimo e músculo extensor ulnar do carpo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014;
TORTORA; NIELSEN, 2017).
24 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

 Músculo braquiorradial: é uma exceção à regra, pois, apesar de ser


componente do compartimento extensor, localiza-se na face anterolateral
do antebraço e é um músculo flexor. É mais ativo contra resistência,
por exemplo, ao levantarmos peso necessitando de flexão do cotovelo e
evitando a subluxação do rádio. Sua origem é na crista supraepicondilar
e sua inserção é na face lateral do rádio próximo ao processo estiloide.
Observe que o músculo braquiorradial atravessa somente a articulação
do cotovelo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor radial longo do carpo: sua origem também é na crista
supraepicondilar logo inferior à origem do músculo braquiorradial que
o recobre até certa distância, podendo estar fundido a ele. Segue, então,
posteriormente ao músculo braquiorradial, cruzado pelos músculos
abdutor curto do polegar e extensor curto do polegar e se insere na
face posterior do II metacarpo. Atravessando a articulação do cotovelo
posterolateralmente, realiza extensão dessa articulação e, ao atravessar
a articulação do punho lateralmente, realiza abdução. É o principal
músculo responsável por cerrar o punho (MOORE; DAILEY; AGUR,
2014).
 Músculo extensor radial curto do carpo: é o primeiro músculo com
origem comum no epicôndilo lateral do úmero. Se insere na face pos-
terior da base do III metacarpo e é responsável pelas mesmas ações do
músculo extensor radial longo do carpo. Tanto os tendões do músculo
extensor radial longo como do extensor radial curto do carpo passam sob
o retináculo dos músculos extensores (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor dos dedos: estende os quatro dedos mediais da mão
e as articulações metacarpofalângicas, pois os quatro tendões desse
músculo se inserem nas faces posteriores das falanges médias e distais
desses dedos. É interessante pensar que esse músculo realiza a extensão
das articulações metacarpofalângicas apenas por passar posteriormente
a elas e não necessariamente ter inserção na região. A origem é co-
mum no epicôndilo lateral do úmero. A extensão individual dos quatro
últimos dedos é restringida por conexões intertendíneas que unem os
quatro tendões na região proximal das articulações metacarpofalângicas
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor do dedo mínimo: apesar de sua nomenclatura, após
realizar a extensão do 5º dedo, realiza extensão da mão. O ventre,
em sua porção distal, se separa do músculo extensor dos dedos e seu
tendão e bainha atravessam um compartimento separado do retináculo
dos extensores. Sua origem também é comum no epicôndilo lateral do
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 25

úmero e a inserção ocorre na face posterior na expansão extensora do


dedo mínimo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor ulnar do carpo: tem origem no epicôndilo lateral
e margem posterior da ulna. Insere-se na face posterior do V osso
metacarpo. Sua ação se resume em estender e aduzir a mão, além de,
juntamente com o músculo extensor radial longo do carpo, cerrar a mão.
Seu tendão não atravessa o retináculo dos extensores e passa por um
compartimento, juntamente com sua bainha sinovial, entre a cabeça da
ulna e o processo estiloide (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

Veja a Figura 14 a seguir.


26 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Figura 14. Vista superficial dos músculos do compartimento posterior do antebraço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).

 Músculo supinador: é o primeiro músculo da “camada profunda” e


está localizado profundamente na fossa cubital formando seu assoalho
juntamente com o músculo braquial. Tem origem no epicôndilo lateral do
úmero, ligamentos colaterais radial e anular do rádio, “fossa do músculo
supinador” e crista do músculo supinador. Sua inserção acontece em
direção oblíqua, seguindo as faces anterior, lateral e posterior do terço
proximal do rádio. Sua contração realiza a supinação lenta do antebraço
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 27

(a supinação rápida é feita pelo músculo bíceps braquial), além de ser


capaz de girar o rádio anterior ou superiormente com o cotovelo em
flexão. Por entre suas fibras trafega o ramo profundo do nervo radial
que o inerva e ao sair do músculo passa a seguir o trajeto da artéria
interóssea posterior e passa a ser denominado nervo interósseo posterior
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo abdutor longo do polegar: sua origem é bem profunda nas faces
posteriores das metades proximais do rádio, ulna e membrana interós-
sea. Insere-se na base do I osso metacarpo e suas principais ações são
abduzir o polegar e estender o polegar na articulação carpometacarpal.
No punho seu tendão é saliente e segue profundamente no retináculo
dos músculos extensores juntamente com o tendão do músculo extensor
curto do polegar na bainha que encerra esses tendões. Quando o polegar
é abduzido contra resistência na articulação metacarpofalângica, é
possível ver e palpar o tendão na face lateral da tabaqueira anatômica,
uma área triangular na lateral do dorso da mão. O tendão medial na
saliência da tabaqueira anatômica pertence ao músculo extensor longo
do polegar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor curto do polegar: distalmente e parcialmente enco-
berto pelo músculo abdutor longo do polegar temos o ventre fusiforme
do músculo extensor curto do polegar. Tem origem na face posterior do
terço distal do rádio e membrana interóssea e inserção na face dorsal da
base da falange proximal do polegar. Sua contração promove extensão
da falange proximal do polegar na articulação metacarpofalângica
e extensão da articulação carpometacarpal. Seu tendão se junta ao
tendão do músculo abdutor longo do polegar na tabaqueira anatômica
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor longo do polegar: como a própria nomenclatura
descreve, esse músculo é o mais longo que o extensor curto. Seu tendão,
ao atravessar o retináculo dos extensores juntamente com sua bainha
sinovial, se insere na face posterior da falange distal do polegar. A
origem é profunda na face posterior do terço médio da ulna e membrana
interóssea. A contração desse músculo estende a falange distal do
polegar na articulação interfalângicas, além de estender as articulações
metacarpofalângica e carpometacarpal. Seu tendão forma o limite
medial da tabaqueira anatômica (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Músculo extensor do indicador: o mais medial dos músculos profundos
tem um ventre estreito e alongado localizado medialmente ao mús-
culo extensor longo do polegar. Em razão desse músculo é que o dedo
28 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

indicador tem independência ao ser estendido. Entretanto, o músculo


extensor do indicador pode agir junto com o músculo extensor dos dedos
para estender o dedo indicador na articulação interfalângica proximal,
por exemplo, quando apontamos em direção a algo. Além disso, esse
músculo auxilia na extensão da mão. Sua origem é na face posterior do
terço distal da ulna e membrana interóssea e a inserção na expansão
do músculo extensor do 2º dedo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).

Todos os músculos profundos do compartimento posterior do antebraço são


inervados pelo ramo profundo do nervo radial (MOORE; DAILEY; AGUR,
2014; TORTORA e NIELSEN, 2017).
Veja a Figura 15 a seguir.
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 29

Figura 15. Vista profunda dos músculos do compartimento posterior do antebraço.


Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009).

Músculos da mão
A mão é a porção da parte livre do membro superior mais distal. Está conectada
ao antebraço proximalmente e tem a capacidade de realizar movimentos extre-
mamente complexos que deram a capacidade ao ser humano de segurar objetos,
30 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

fazer oposição, escrever e muitos outros. Tais movimentos finos somente são
possíveis devido ao grande número de músculos esqueléticos destinados à mão,
além da integração neuronal desenvolvida pelo sistema motor e, claro, do tipo
de inervação motora que esses músculos recebem. Dessa forma, temos muitos
músculos inervados dos muitos neurônios e sabemos que quanto mais um
músculo é inervado por mais neurônios, mais unidades motoras são formadas
e maior é a capacidade de recrutá-las durante um movimento específico. Além
disso, um maior número de unidades motoras confere uma maior capacidade
de modulação pelos sistemas de controle motor (SILVERTHORN, 2017).
O esqueleto da mão é formado por 27 ossos, os quais formam articulações
sinoviais entre si e permitem ampla mobilidade à essa região. São oito ossos
carpais formando o carpo, cinco ossos metacarpais formando a palma e o dorso
da mão e 14 falanges formando os dedos da mão. Para que cada articulação se
movimente de forma adequada, temos músculos localizados fora da estrutura
da mão (extrínsecos) e músculos localizados na própria mão (intrínsecos)
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
É essencial que profissionais da área da saúde, principalmente os fisiotera-
peutas e os terapeutas ocupacionais, tenham o conhecimento da morfologia e
da função da mão. É de esperar que indivíduos que apresentam incapacidade ou
dificuldade de realizar tarefas ou redução da habilidade manual desenvolvem
diversos prejuízos, principalmente às atividades da vida diária. Para tanto,
vamos fazer uma breve explanação sobre as atividades realizadas pela mão.

 Preensão palmar: se refere à forma que seguramos objetos. Os dedos


envolvem um objeto contra a palma da mão, sendo necessário realizar
mais ou menos resistência (força) dependendo do peso do objeto. De
acordo com a força empregada podemos utilizar mais ou menos mús-
culos, em geral, ao realizarmos um movimento de preensão com força,
necessitamos dos músculos flexores extrínsecos, que têm sua ação nas
articulações interfalângicas, músculos intrínsecos da mão, que agem nas
articulações metacarpofalângicas e os músculos extensores do punho,
que agem nas articulações mediocarpal e radiocarpal para posicionar a
mão, garantindo efetividade à preensão, uma vez que a flexão do punho
reduz a capacidade de preensão (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Preensão em gancho: nesse movimento, os músculos flexores extrínsecos
da mão são mais recrutados porque é necessário menor grau de energia
desprendida e precisão, por exemplo, quando carregamos sacolas ou
uma mala (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 31

 Preensão com manuseio de precisão: por exemplo, quando você segura


um objeto e tenta sentir sua textura e formato, você necessita segurá-lo
e ao mesmo tempo manuseá-lo, mudando-o de posição na palma da mão
e movimentando-o com os dedos. Segurar o lápis ao escrever, colocar
uma linha na agulha e se maquiar também são exemplos de movimento
de preensão com a utilização de movimentos finos realizados pelas
mãos. Nesse contexto, o punho e a mão são mantidos imóveis por
contrações isométricas dos músculos flexores e extensores dos dedos
e os músculos intrínsecos da mão realiza os movimentos complexos
(MOORE; DAILEY; AGUR, 2014).
 Pinçamento: esse movimento é realizado entre o polegar e o indicador,
como quando você vai pegar objetos muito pequenos como uma moeda
ou segurar a asa de uma xícara. Também é considerado pinçamento o
movimento de estalar os dedos utilizando o polegar juntamente com
os 2º e 3º dedos (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Nesse movimento,
os músculos intrínsecos e extrínsecos destinados a esses dedos são
mais utilizados.
 Posição de repouso: é a posição assumida quando a mão não está execu-
tando nenhuma atividade, ou seja, está inativa. É importante conhecer
essa posição, principalmente, quando é necessário imobilizar a mão
fraturada (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). A posição assumida é com
os dedos levemente flexionados e sem inclinação lateral na articulação
carpometacárpica.

Agora passaremos às descrições dos músculos intrínsecos da mão. Os


músculos extrínsecos já foram abordados no estudo do antebraço como inte-
grantes dos músculos de seus compartimentos anterior e posterior. São eles:
músculo flexor superficial dos dedos, músculo flexor profundo dos dedos,
músculo flexor longo do polegar, músculo extensor dos dedos, músculo exten-
sor do indicador, músculo extensor do dedo mínimo, músculo abdutor longo
do polegar, músculo extensor longo do polegar e músculo extensor curto do
polegar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).

Músculos intrínsecos da mão


Os músculos intrínsecos da mão estão agrupados em três partes distintas,
tenar, hipotenar e músculos curtos da mão, além de termos ainda o músculo
abdutor do polegar que não é agrupado em nenhumas das partes citadas.
32 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

Músculos tenares

Estão agrupados na eminência tenar, uma região elevada localizada in-


ferolateralmente na palma da mão e relacionada à oposição do polegar. O
polegar tem um alto grau de mobilidade, basicamente em virtude dos eixos de
movimento de suas articulações, principalmente do osso metacarpal I. Nesse
sentido, o polegar é capaz de executar os movimentos de flexão/extensão,
abdução/adução e oposição. A inervação de quase todos os músculos tenares
é realizada pelo nervo recorrente do nervo mediano, com exceção da cabeça
profunda do músculo flexor curto e adutor do polegar que são inervados pelo
ramo profundo do nervo ulnar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).

 Músculo abdutor curto do polegar: está localizado na porção ante-


rolateral da eminência tenar. Como a nomenclatura sugere, realiza
abdução, porém, também é sinergista da oposição do polegar realizando
um pouco de rotação medial da falange proximal. Esse músculo tem
origem no retináculo dos músculos flexores e tubérculos dos ossos esca-
foide e trapézio. A inserção acontece na face lateral da base da falange
proximal desse dedo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).
 Músculo flexor curto do polegar: é medial ao músculo abdutor curto do
polegar. Tem duas cabeças (ventres) que se interpõem entre o tendão
do músculo flexor longo do polegar, a cabeça superficial e a cabeça
profunda. Antes de se inserir na face lateral da base da falange pro-
ximal do polegar, podemos verificar na porção distal de seu tendão
dois pequenos e arredondados ossos sesamoides. A origem também é
comum aos músculos tenares no retináculo dos músculos flexores e
tubérculos dos ossos escafoide e trapézio. O músculo flexiona o polegar
nas articulações carpometacarpais e metacarpofalângicas, além de ser
sinergista da oposição (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).
 Músculo oponente do polegar: está localizado profundamente ao mús-
culo abdutor curto e lateralmente ao músculo flexor curto do polegar.
Sua contração promove a oposição, movimento específico desse dedo
e que lhe confere uma característica evolutiva importante que somente
alguns primatas têm, incluindo os seres humanos, os quais aprimora-
ram ainda mais esse movimento. Esse músculo roda e flexiona o osso
metacarpal I na articulação carpometacarpal durante a oposição, que
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 33

está diretamente relacionado ao polegar. A origem e a inserção são


comuns aos demais músculos tenares (MOORE; DAILEY; AGUR,
2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).

Músculo adutor do polegar

É um músculo em forma de leque e está localizado no compartimento adutor


da mão. Origina-se por meio de duas cabeças (oblíqua e transversa) que são
divididas pela artéria radial antes de formar o arco palmar profundo. A ação
desse músculo aumenta a força de preensão por mover o polegar em direção à
palma da mão. A cabeça oblíqua tem origem nas bases dos ossos metacarpais
II e III, capitato e carpais adjacentes e cabeça transversa na face anterior do
corpo do osso metacarpal III. A inserção acontece na face medial da base da
falange proximal do polegar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2017).

Músculos hipotenares

Esses músculos estão em lados opostos à eminência tenar, na face medial da


palma da mão e formam a eminência hipotenar, menos volumosa que a sua
oposta. Semelhante aos músculos tenares que movem o polegar, os múscu-
los hipotenares movem o dedo mínimo. Todos os músculos hipotenares são
inervados pelo ramo profundo do nervo ulnar (MOORE; DAILEY; AGUR,
2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).

 Músculo abdutor do dedo mínimo: apesar de ser um abdutor, também


flexiona a falange proximal do dedo mínimo por se inserir na face medial
da base da falange proximal desse dedo. Sua origem é no carpo, no osso
pisiforme. É o mais superficial dos músculos hipotenares (MOORE;
DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculo flexor curto do dedo mínimo: está localizado lateralmente ao
músculo abdutor do dedo mínimo. Também flexiona a falange proximal
do 5º dedo por sua ação na articulação metacarpofalângica. Tem origem
no hâmulo do osso hamato e retináculo dos músculos flexores e inserção
no mesmo local que o músculo abdutor curto do dedo mínimo (MOORE;
DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculo oponente do dedo mínimo: esse músculo complementa o mo-
vimento de oponência do polegar deslocando o V osso metacarpal em
sentido anterior e girando-o. Também tem origem no hâmulo do osso
34 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

hamato e retináculo dos músculos flexores e insere-se na margem medial


do osso metacarpal V, atuando na articulação carpometacarpal do 5º
dedo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculo palmar curto: localizado na tela subcutânea da eminência hipo-
tenar, sua ação é de enrugar a pele da eminência hipotenar e aprofundar
a palma da mão, atuando, assim, no movimento de preensão. O nervo
e a artéria lunares passam profundamente a esse músculo. Se insere na
margem medial da aponeurose palmar e na pele na margem medial da
mão (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017).

Músculos curtos da mão

Nesse grupo, temos os músculos lumbricais e os músculos interósseos.

 Músculos lumbricais: são quatro músculos estreitos, alongados e ver-


miformes. Atuam tanto na flexão dos dedos nas articulações meta-
carpofalângicas como na extensão das articulações interfalângicas. A
origem dos 1º e 2º lumbricais é nos dois tendões laterais do músculo
flexor profundo dos dedos (como músculos semipeniformes), mas a
origem dos 3º e 4º lumbricais é nos três tendões mediais do músculo
flexor profundo dos dedos (como músculos peniformes). Já as inserções
acontecem nas faces laterais das expansões extensoras do 2o ao 5o dedo.
Os 1º e 2º lumbricais são inervados pelo nervo mediano e os 3º e 4º,
pelo ramo profundo do nervo ulnar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014;
TORTORA; NIELSEN, 2017).
 Músculos interósseos: existem quatro músculos interósseos dorsais
entre os ossos metacarpais e três músculos interósseos palmares nas
faces palmares dos ossos metacarpais. Esses músculos fecham os es-
paços entre os ossos metacarpais, sendo que a musculatura dorsal
abduz os dedos e a musculatura palmar os aduz. Para finalizar, os
músculos interósseos dorsais têm origem nas faces adjacentes de dois
ossos metacarpais (como músculos peniformes) e inserção nas bases
das falanges proximais e expansões extensoras do 2o ao 4o dedo. Os
músculos interósseos palmares têm origem nas faces palmares dos ossos
metacarpais II, IV e V (como músculos semipeniformes) e inserção
nas Bases das falanges proximais; expansões extensoras do 2o, do 4o
e do 5o dedos. Todo o grupo de músculos interósseos é inervado pelo
ramo profundo do nervo ulnar (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014;
TORTORA; NIELSEN, 2017).
Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão 35

Veja a Figura 16 a seguir.

Figura 16. Vistas posterior e anterior da mão. Músculos intrínsecos da mão e tendões dos
músculos extrínsecos.
Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).
36 Músculos da cintura escapular, do braço e do antebraço, da mão e dos dedos da mão

MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. (Série Martini).
MOORE, K.; DAILEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 12. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
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