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Georreferenciamento

de Imóveis Rurais

Prof. Gregorio Carlos de Simone

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. Gregório Carlos De Simone

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

S598g

Simone, Gregorio Carlos de

Georreferenciamento de imóveis rurais. / Gregorio Carlos de


Simone – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

209 p.; il.

ISBN 978-85-515-0525-0

1. Sistema fundiário brasileiro. - Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.

CDD 342.1136

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Interpretar a aplicabilidade do Georreferenciamento de Imóveis Rurais requer uma
leitura global de diversos temas, a fim de que o profissional, o estudante ou o pesquisador
detenha uma base sólida no que diz respeito à tarefa. Para isso ocorrer perfeitamente, é
necessária uma certa bagagem em temas, como geoprocessamento e aspectos legais,
além de uma aptidão em realizar uma leitura que o remeta ao passado, compreendendo
todos os processos históricos de criação e de evolução territoriais brasileiras.

Neste livro didático, será disponibilizada uma série de conceitos e de discussões


que visa dar embasamento para que você, acadêmico, possa conhecê-los amplamente. O
Georreferenciamento de Imóveis Rurais tem se tornado uma ferramenta, extremamente,
útil e inovadora para uma ampla rede de atividades que necessita de precisão de
posicionamento e de cruzamento de dados. É de fundamental  importância  para os
governos federal, estadual e municipal. Ainda, para o próprio proprietário de terra, por
se tratar de uma organização com diversas informações, imagens e dados técnicos da
propriedade rural.

Nesse sentido, na Unidade 1, abordaremos, inicialmente, aspectos históricos da


territorialização do nosso país, aspectos legais e alguns conceitos preliminares que envolvem
o tema. Iniciaremos as análises do sistema fundiário brasileiro, o qual é de fundamental
importância na busca pelo crescimento organizado e sustentável dos municípios.

Na Unidade 2, estudaremos a cartografia e o cadastro rural. Abordaremos as


técnicas e o sistema de posicionamento, as coordenadas e observáveis, os aspectos
geodésicos, e fecharemos com o cadastro rural brasileiro na atualidade, com a
implementação do Sistema de Informações Territoriais.

Por fim, na Unidade 3, encerraremos o nosso livro com uma ampla abordagem
da certificação de imóveis rurais. Detalharemos a base legal e os sistemas, as normas
técnicas para o georreferenciamento de imóveis rurais, e o guia técnico para limites e
confrontações, conforme orientações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA).

Portanto, convidamos você, acadêmico, a iniciar, conosco, este breve trajeto


de aprendizagem de um tema tão importante e atual para a gestão territorial brasileira.
Bons estudos!

Prof. Gregorio Carlos de Simone


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
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Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu


conhecimento, construímos, além do livro
que está em suas mãos, uma rica trilha de
aprendizagem, por meio dela você terá contato
com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais
complementares, entre outros, todos pensados e construídos na
intenção de auxiliar seu crescimento.

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preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - LEGISLAÇÃO CADASTRAL RURAL.....................................................1

TÓPICO 1 - CONCEITOS PRELIMINARES E IMPORTÂNCIA DO


CADASTRO RURAL.................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
2 UM POUCO DE HISTÓRIA...................................................................................... 3
2.1 “LEI DE TERRAS”: PRINCÍPIO DA REGULAMENTAÇÃO DA PROPRIEDADE .............6
3 CONCEITOS E ORIGENS...................................................................................... 10
4 LEGISLAÇÃO GERAL........................................................................................... 12
4.1 CADASTRO LEGAL BRASILEIRO.......................................................................................16
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 19

TÓPICO 2 - PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO SISTEMA AGRÁRIO............. 21


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 21
2 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA).... 21
3 DIREITO AGRÁRIO E QUESTÕES AMBIENTAIS.................................................25
4 PROPRIEDADE RURAL E DIREITO DE POSSE................................................... 27
4.1 PROPRIEDADE DE BENS IMÓVEIS.................................................................................. 28
4.2 POSSE................................................................................................................................... 29
4.3 POSSE DA PROPRIEDADE IMÓVEL PELA USUCAPIÃO.............................................30
4.4 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL RURAL OU AGRÁRIO....................................... 32
RESUMO DO TÓPICO 2...........................................................................................33
AUTOATIVIDADE....................................................................................................34

TÓPICO 3 - SISTEMA NACIONAL DE CADASTRO RURAL.................................... 37


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 37
2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA GESTÃO PÚBLICA DOS ESPAÇOS RURAIS..... 37
3 LIMITAÇÕES ATUAIS......................................................................................... 40
3.1 PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS DERIVADOS DO CADASTRO
DECLARATÓRIO NO BRASIL ..............................................................................................41
4 PERSPECTIVAS PARA CONSERVAÇÃO AMBIENTAL E SEGURANÇA
FUNDIÁRIA......................................................................................................... 44
4.1 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS: LIMITAÇÕES E POSSIBILIDADES DE
DESENVOLVIMENTO ..........................................................................................................44
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................... 47
RESUMO DO TÓPICO 3...........................................................................................63
AUTOATIVIDADE....................................................................................................64

REFERÊNCIAS........................................................................................................66

UNIDADE 2 — CARTOGRAFIA E CADASTRO RURAL............................................ 73

TÓPICO 1 — TÉCNICAS E SISTEMA DE POSICIONAMENTO................................. 75


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 75
2 SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL......................................................... 75
3 COORDENADAS E OBSERVÁVEIS...................................................................... 77
3.1 SÍNTESE DAS OBSERVÁVEIS GPS...................................................................................77
4 TÉCNICAS TOPOGRÁFICAS APLICADAS A LEVANTAMENTOS
CADASTRAIS RURAIS.........................................................................................80
4.1 APLICAÇÕES DO GPS ........................................................................................................81
LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................82
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................93
AUTOATIVIDADE....................................................................................................94

TÓPICO 2 - POSICIONAMENTO GEODÉSICO........................................................ 97


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 97
2 GEODÉSIA E DATUNS......................................................................................... 97
3 MÉTODOS, ERROS E CORREÇÕES...................................................................102
3.1 POSICIONAMENTO POR GNSS....................................................................................... 102
3.2 POSICIONAMENTO POR TOPOGRAFIA CLÁSSICA ................................................... 108
3.3 POSICIONAMENTO POR GEOMETRIA ANALÍTICA ..................................................... 116
3.4 POSICIONAMENTO POR SENSORIAMENTO REMOTO ...............................................117
4 APLICABILIDADES........................................................................................... 118
4.1 VÉRTICES DE APOIO ........................................................................................................ 118
4.2 VÉRTICES DE LIMITE ....................................................................................................... 119
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................... 121
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 122

TÓPICO 3 - CADASTRO RURAL........................................................................... 125


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 125
2 IMÓVEL RURAL E BASE CARTOGRÁFICA........................................................ 125
3 CLASSIFICAÇÕES DO PRODUTO CADASTRAL............................................... 126
4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES TERRITORIAIS.................................................. 129
4.1 LADM-MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA TERRA..................................................... 133
4.2 SINTER-SISTEMA NACIONAL DE GESTÃO DE INFORMAÇÕES TERRITORIAIS.............134
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 137
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 139

UNIDADE 3 — CERTIFICAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS..........................................143

TÓPICO 1 — BASE LEGAL E SISTEMAS...............................................................145


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................145
2 CADASTRO TÉCNICO DE IMÓVEIS RURAIS.....................................................145
3 LEI Nº 10.267, DE 28 DE AGOSTO DE 2001......................................................146
4 SISTEMA DE GESTÃO FUNDIÁRIA (SIGEF).....................................................148
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 155
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 156

TÓPICO 2 - NORMA TÉCNICA PARA GEORREFERENCIAMENTO DE


IMÓVEIS RURAIS.................................................................................................. 159
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 159
2 PADRÕES DE PRECISÃO E ACURÁCIA............................................................ 159
3 IDENTIFICAÇÃO E RECONHECIMENTO DOS LIMITES.....................................161
3.1 CREDENCIAMENTO DE PROFISSIONAIS E HABILITAÇÃO DE IDENTIFICAÇÃO.............162
3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS LIMITES EM ESPECIAL............................................................ 164
4 LIMITES E CONFRONTAÇÕES.......................................................................... 167
4.1 CODIFICAÇÃO DOS VÉRTICES (MATERIALIZADOS)...................................................167
4.2 CODIFICAÇÃO DOS PONTOS (NÃO MATERIALIZADOS).......................................... 169
4.3 CODIFICAÇÃO DOS VÉRTICES VIRTUAIS (NÃO MATERIALIZADOS).................... 169
4.4 CODIFICAÇÃO DE VÉRTICES, PONTOS E VÉRTICES VIRTUAIS DE IMÓVEIS
CONTÍGUOS....................................................................................................................... 169
4.5 CODIFICAÇÃO DO IMÓVEL..............................................................................................170
4.6 MATERIALIZAÇÃO DOS VÉRTICES................................................................................170
4.7 CARACTERÍSTICAS DO MARCO......................................................................................171
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................... 172
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 173

TÓPICO 3 - GUIA TÉCNICO PARA LIMITES E CONFRONTAÇÕES...................... 175


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 175
2 LEVANTAMENTO E PROCESSAMENTO............................................................ 175
2.1 SISTEMA CARTOGRÁFICO NACIONAL..........................................................................176
2.2 LEVANTAMENTOS DE APOIO BÁSICO.......................................................................... 177
2.2.1 Técnicas convencionais.......................................................................................... 177
2.2.2 GPS/GNSS................................................................................................................. 181
3 IMÓVEL RURAL E LIMITES................................................................................184
3.1 IMÓVEL RURAL OBJETO DE TÍTULO DE DOMÍNIO ................................................... 184
3.2 IMÓVEL RURAL PASSÍVEL DE TITULAÇÃO ............................................................... 188
4 LIMITES ............................................................................................................188
4.1 DESCRIÇÃO DOS LIMITES .............................................................................................. 189
4.2 TIPOS DE LIMITES ........................................................................................................... 189
4.3 TIPOS DE VÉRTICES DE LIMITES..................................................................................192
5 CONFRONTANTES E ALTERAÇÕES NA PARCELA CERTIFICADA.................. 195
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 197
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................ 204
AUTOATIVIDADE................................................................................................. 205

REFERÊNCIAS......................................................................................................207
UNIDADE 1 -

LEGISLAÇÃO CADASTRAL
RURAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a importância do cadastro rural;

• compreender os princípios de funcionamento do sistema agrário;

• interpretar o Sistema Nacional de Cadastro Rural;

• identificar as perspectivas para a conservação ambiental e a segurança fundiária.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITOS PRELIMINARES E IMPORTÂNCIA DO CADASTRO RURAL


TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO SISTEMA AGRÁRIO
TÓPICO 3 – SISTEMA NACIONAL DE CADASTRO RURAL

CHAMADA
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um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONCEITOS PRELIMINARES E
IMPORTÂNCIA DO CADASTRO RURAL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos, preliminarmente, alguns conceitos importantes
a respeito do cadastro rural. Para tanto, analisaremos, brevemente, o histórico da
temática, como e quando ela surgiu, e quais foram as evoluções acometidas ao longo
do tempo. Desse modo, compreenderemos que a colonização do Brasil sempre priorizou
o interesse dos grandes proprietários, ocasionando uma enorme distinção social entre
as pessoas, a qual é notória até os dias de hoje.

Vislumbraremos, de maneira resumida, que a defesa do meio ambiente deve


ser a motivação da índole dos interesses empresariais, pois os próprios instrumentos
jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional tutelam, efetivamente, o meio
ambiente, de modo que este não sofra alterações nas próprias propriedades e nos
atributos que são inerentes a ele, visto que é direito, de todos, terem um meio ambiente,
ecologicamente, equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida. Assim, impõe-se, ao Poder Público, incluindo a coletividade, os deveres de
defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Por fim, de modo a se obter o melhor rendimento do acadêmico no que diz


respeito aos assuntos apresentados no Tópico 1, será proposta uma autoatividade
envolvendo conceitos, histórico e legislação referente ao cadastro rural. Bons estudos!

2 UM POUCO DE HISTÓRIA
Os princípios das questões relacionadas à distribuição da terra e à necessidade
de leis, cada vez mais efetivas, para o uso da propriedade e do meio ambiente, remontam
à formação do Estado colonial, quando as questões políticas eram consideradas pelas
grandes potências econômicas da época. Conforme Miralha (2006, p. 152),

A desigualdade social e a concentração fundiária têm marcado a


sociedade brasileira e têm origem desde o processo de colonização
portuguesa, o qual instaurou o regime de sesmarias, o regime de posse
da terra vigente em Portugal e que foi transplantado para o Brasil.

Ou seja, no país recém-descoberto, foi, simplesmente, proposta e implementada


uma espécie de propriedade de terra, a qual foi exemplar nos países desenvolvidos, que
já eram habitados e possuíam uma estrutura econômica avançada para aquele período.

3
Conforme relatado por Marques (2009), a Coroa Portuguesa, que controlava o
território brasileiro, foi responsável pela ocupação e pela colonização dele, confiando
a tarefa a Martinho Afonso de Sousa. Nessa época, havia tanta terra para alocar que o
governo português tomou, no ano de 1535, 100 léguas de terra, e em caráter irrevogável.

Comprovando o quanto o país era vasto e carecia, sob um ponto de vista, de


uma ligeira colonização, empregou o sistema de sesmaria, que, em Portugal, já era
muito difundido.

Nessa perspectiva, Nozoe (2006) explana que a legislação fundiária, implantada,


no Brasil, no período colonial, foi constituída de modo inconstante, ausente de avisos,
resoluções, cartas de doações e textos das Ordenações Manoelinas e Filipinas. No
entanto, é factível confirmar que as sesmarias estabeleceram o regime básico para a
terra, o qual foi concebido, em Portugal, no regime de Fernando I, como lei agrária de
estímulo da produção agrícola e do cultivo das terras desabitadas, sendo alcunhadas
de sesmarias.

A respeito desse pano de fundo, Marques (2009) esclarece que o sistema


de sesmaria já era utilizado em Portugal há cerca de dois séculos, onde D. Fernando
promulgou leis régias para corrigir distorções do uso da terra rural, devido à falta de
alimentos, o que se expandiu, por causa da ociosidade e do crescente êxodo rural.

As sesmarias, em Portugal, detinham outro objetivo: as terras que já tinham sido


lavradas e aproveitadas eram doadas, para que ocorressem cultivos, visando atender à
carência de alimentos para a população. Já no Brasil, o objetivo era povoar o país.

Conforme Marques (2009), o Brasil, um território de Portugal, havia sido


submetido a concessões, a partir do início da colonização alavancada por Martin Afonso
de Sousa, com a implantação das sesmarias, as quais já contavam com o eixo legislativo
português e com outro sentido.

Miralha (2006) esclarece que, nesse regime, o agricultor possuía o direito de


posse, enquanto, o rei, o de domínio das terras. Todavia, na colonização brasileira,
unicamente, os brancos e católicos detinham o direito à posse de terra, com isso, os
senhores de engenho obtinham extensas áreas para cultivar cana-de-açúcar, enquanto
a maioria não possuía direito algum, como os escravos e os índios.

Nesse sentido, pode-se pontuar que a divisão de terras, no Brasil, não é um


problema social recente, mas tem um histórico de colonização. Ainda, a devastação do
meio ambiente, para a produção das grandes lavouras, foi estrondosa, varrendo, de todo
modo, o território, a fim de ser povoado e explorado.

4
O modelo colonial se fundou com base em três componentes fundamentais da
sociedade: a grande propriedade fundiária, a monocultura de exportação e o trabalho
escravo (MIRALHA, 2006). A propriedade fundiária abarcava as grandes lavouras de cana-
de-açúcar prevalentes, algo, fortuitamente, destinado à exportação e à mão de obra
escrava, a qual era responsável por todo o trabalho pesado em troca da supervivência.

Miralha (2006), ainda, ressalta o modo familiar de produção agropecuária.


A produção familiar era flâmula à grande propriedade e gerava, fundamentalmente,
produtos alimentícios para a subsistência e a demanda para pequenos mercados
locais, pois as grandes lavouras produziam, unicamente, a cana-de-açúcar, visando ao
escoamento para Portugal.

Assim, pode-se afirmar, de acordo com as anotações de Nozoe (2006), que as


sesmarias, criadas com base em procedimentos legais, pela tradição, delineavam-se
como meio vital de estímulo à colonização, visando, tão somente, à exploração, para
contemplar o desejo da Coroa.

Os sesmeiros, pessoas que eram agraciadas com a adjudicação das terras,


possuíam deveres estipulados e impostos, como:

colonizar a terra; ter, nela, morada habitual e cultura permanente;


demarcar os limites das respectivas áreas, submetendo-se à posterior
confirmação; e pagar os tributos exigidos na época. Se o sesmeiro
não contemplasse essas obrigações, caía em comisso, e, por efeito,
o imóvel devia voltar ao patrimônio da Coroa, para ser redistribuído a
outros interessados (MARQUES, 2009, p. 24).

Assim, o sesmeiro, mesmo sendo alguém escolhido para obter a concessão das
terras, tinha normas a seguir, e, caso não as cumprisse, tornava-se um sujeito apto a se
despossar delas para a Coroa, momento em que poderiam, novamente, ser direcionadas
a outra pessoa, independentemente do que já havia com ela.

Então, entende-se que as sesmarias não se enquadravam no Brasil em


comparação ao território de Portugal, pois, aqui, as terras, ainda, eram virgens, e só
havia a transferência do domínio útil.

Martin Afonso de Sousa, Governador-Geral, detinha o poder de distribuir terras


a quem chegasse até ele e desejasse viver aqui, no entanto, essas terras poderiam ser
retiradas dos sesmeiros e doadas a uma outra pessoa, caso elas não tivessem sido,
devidamente, aproveitadas em um período de dois anos (MARQUES, 2009). Logo, nota-
se a necessidade de povoar, incluindo dominar, todo o país de forma breve, assim,
aqueles que não obtivessem êxito a partir dos objetivos determinados perderiam a
utilização da terra.

5
Nozoe (2006) corrobora, salientando que o empenho da lei das sesmarias,
no Brasil, sucedeu-se com o uso, mais ou menos generalizado, da posse, como meio
de acesso à terra, o que gerou a interrupção das concessões de terras de sesmarias
em 1822, porém, até a promulgação da Lei de Terras, em 1850, a posse se conservava
com a tarefa rara de apropriação privada das terras públicas. Aqueles que não tinham
condições de ser agraciados com as terras e/ou que se desapossavam delas visavam à
posse como um meio de adquirir uma propriedade (BRASIL, 1850; 1854).

Marques (2009, p. 25) afirma:

pode-se avaliar que o emprego do instituto das sesmarias, no Brasil,


foi maléfico e benéfico a um só tempo. Maléfico porque, mercê das
distorções havidas, gerou vícios no sistema fundiário até os dias de
hoje, os quais reclamam reformulação consistente e séria. Benéfico
porque, a respeito de os sesmeiros não contemplarem todas as
obrigações assumidas, permitiu a colonização e o povoamento do
interior do país, o que se consolidou com dimensões continentais.

Assim, fica evidente que o sistema de sesmarias, no nosso país, presenciou


os problemas intrínsecos ao sistema fundiário, pelos quais, até hoje, a sociedade
perpassa. Todo esse processo das sesmarias findou com a aprovação da “Lei de Terras”,
em 1850. Todavia, desde 1822, já havia sido suspensa a concessão de terras por uma
sesmaria, ou seja, ocorreu um longínquo período em que o país ficou ausente de uma
lei que dirigisse o uso das terras, tornando, a posse, o meio mais utilizado para adquirir
terras (BRASIL, 1850; 1854).

2.1 “LEI DE TERRAS”: PRINCÍPIO DA REGULAMENTAÇÃO


DA PROPRIEDADE
Conforme destacado anteriormente, o governo português, por entender que as
sesmarias tinham sido mais prejudiciais do que benéficas, extinguiu-as em 1822, no
entanto, somente, em 1850, sob o regime do Império, foi criada uma nova lei para as
terras no Brasil, a Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Durante todo esse período, o
país ficou sem regra, ou legislação, que tratava disso (BRASIL, 1850; MARQUES, 2009).

Nesse sentido, a Coroa, ao tentar solucionar um problema, acabou gerando outro


ainda maior, pois, nesse período de 28 anos, mesmo ocorrendo a criação da primeira
Constituição, em 1824, não havia nada que regulamentasse a aquisição de terras. Logo,
esse período ficou marcado como extralegal, ou das posses, em que a ocupação do
território se desenrolou, totalmente, desordenada, sobressaindo-se o apossamento
indiscriminado de áreas de tamanhos variados (NOZOE, 2006).

6
Assim, Marques (2009) afirma que ocorria o seguinte:

1. proprietários legítimos, por títulos de sesmarias concedidas e


confirmadas, com todas as obrigações adimplidas pelos sesmeiros.
2. possuidores de terras originárias de sesmarias, mas sem confirmação,
ou inadimplência das obrigações assumidas pelos sesmeiros.
3. possuidores sem nenhum título hábil subjacente.
4. terras devolutas, aquelas que, dadas de sesmarias, foram devolvidas
porque os sesmeiros caíram em comisso (MARQUES, 2009, p. 25).

NOTA
O termo “cair em comisso”, conforme o dicionário digital Aulete, disponível
em https://www.aulete.com.br/comisso#:~:text=s.%20m.%20%7C%7C%20
(jur.)%20o,comisso%20o%20seu%20glorioso%20patrim%C3%B4nio,
significa s. m. || (jur.) o fato de incorrer em uma pena de multa cominada
por lei ou sentença ou em contrato, como consequência da falta de
cumprimento de cláusula estipulada ou da condição imposta. Cair ou
incorrer em  comisso. Sem que viesse a cair, quase, em  comisso, o seu
glorioso patrimônio. (Lat. Coelho, Vasco da Gama, I, c. 4, p. 35, 1ª ed.). (Fam.)
Pena convencional contra o que faltar a um ajuste. (P. ext.) Infração de
dever. F. lat. Commissum.

Em outros termos, englobavam-se todas as condições para que qualquer


pessoa que possuísse alguma condição de se apropriar de parte de terras a fizesse.
Não existia norma a seguir, e, consequentemente, não existia uma forma para controlar
tamanha desordem em um extenso território em ocupação.

Diante desse quadro e do crescimento da pressão pela abolição da escravatura, o


governo, com o apoio dos aristocratas do café, decretou a Lei de Terras, de 1850 (BRASIL,
1850; MIRALHA, 2006). De acordo com Marques (2009, p. 26), a Lei de Terras, votada por
Assembleia Geral, e sancionada pelo Imperador, tinha, como objetivos básicos:

1- proibir a investidura de qualquer súdito, ou estrangeiro, no domínio


de terras devolutas, excetuando-se os casos de compra e venda;
2- outorgar títulos de domínio aos detentores de sesmarias não
confirmadas;
3- outorgar títulos de domínio a portadores de quaisquer outros tipos
de concessões de terras feitos na forma da lei, então, vigorante,
uma vez comprovado o cumprimento das obrigações assumidas
nos respectivos instrumentos;
4- assegurar a aquisição do domínio das terras devolutas através
da legitimação de posse, desde que fossem mansas e pacíficas,
anteriores e até a vigência da lei.

7
Isso mostra os princípios das regras referentes à desapropriação e ao uso de
terras em todo o território brasileiro, para que, somente, aqueles que tenham condições
financeiras para, realmente, adquirir e comprovar a compra do terreno, para uso do
imóvel, possam adquiri-lo. Entretanto, além de definir o conceito de terras devolutas e
de proibir a aquisição, através de qualquer forma, de propriedade, que não seja a compra,
a lei inclui disposições para reafirmar as condições de doações anteriores, incluindo as
normas para legalizar as posses mansas e pacíficas, para as quais era necessária a
existência de, pelo menos, um princípio cultural e morada de sesmeiro ou posseiro para
a legitimação (MARQUES, 2009).

Marques (2009) traz que a Lei de Terras só foi regulamentada pelo Decreto nº
1318, de 30 de janeiro de 1854, e que, com propósitos, permitiu a conversão, para o
mundo jurídico, o que, antes, era, apenas, do mundo fálico. Ainda, foi capaz de definir
as terras devolutas, estabelecendo mecanismos de delimitação, diferenciando-as e as
separando das terras particulares (BRASIL, 1854).

Pode-se pontuar que a Lei de Terras foi o berço do regimento das propriedades
como meio legal, alcançando as deliberações da época. No entanto, Miralha (2006)
salienta que tal lei foi uma forma avistada, pela elite, para manter a ordenação agrária,
negando o livre acesso à terra pela população de baixa renda (maioria), e, por conseguinte,
fazendo com que existissem trabalhadores disponíveis paras as grandes lavouras de
café. Isso, diga-se de passagem, já foi feito ao se pensar em imigrar europeus para
substituir o trabalho escravo. A Lei de Terras travava os imigrantes ao acesso à terra,
obrigando-os a trabalharem para os grandes proprietários (BRASIL, 1850; 1854).

Foi comprovada a estratégia usada pelo governo, em parceria com os grandes


proprietários, de tirar a oportunidade daqueles que tinham condições de adquirir uma
propriedade. Assim, era possível obter uma mão de obra barata (BRASIL, 1850; 1854).
Nesse sentido, Miralha (2006) explica o seguinte:

Em meados do século XIX, o Brasil teve um primeiro momento


propício para a realização da reforma agrária, mas é claro que isso
não interessava às elites brasileiras, e, muito pelo contrário, elas
queriam ter trabalhadores sem-terra para trabalharem nas lavouras
de café (MIRALHA, 2006, p. 153).

A respeito dessa realidade, Nozoe (2006), também, trouxe, em uma obra, uma
afirmação relevante, proporcionando uma reflexão para esse período, o qual, pode-se
dizer, que, de certa forma, ainda, perdura.

[...] O fim do sistema sesmarial, nossa primeira forma de ordenamento


jurídico da propriedade fundiário, mediante o qual se ocupou menos
de 20% do território nacional, decidido no bojo das preocupações
com a modernização das relações de produção, não conseguiu
estancar o apossamento. Tendo se originado nos primórdios da nossa
colonização, processo de apropriação das terras públicas, associado
aos interesses rurais dominantes, sobreviveu à nova lei e a outras
que se seguiram, e dá sinais de que não chegou ao término nos dias
correntes (NOZOE, 2006, p. 19).

8
Logo, como percebido, não ocorreu uma distribuição igualitária de terras no
nosso país, desde a colonização, Lei de Terras, e tantas outras que foram criadas. O
interesse da elite, sempre, foi preservado, exercendo uma disparidade, assim, poucos
tinham muito e muitos tinham pouco, restringindo-se a trabalhar, de modo a contemplar
os direitos daqueles que dominavam (BRASIL, 1850; 1854).

Dessa forma, Miralha (2006) conclui que, com a Lei de Terras, trocava-
se a dominação do homem, do escravo, pela dominação das terras. A partir disso,
legalmente, não se teve mais acesso livre à terra, a qual se tornou restrita a quem
tinha condições, sendo que os escravos, os quais, em breve, seriam libertos, e os
imigrantes colonos, que vieram labutar nas lavouras, não teriam oportunidades para
adquiri-la (BRASIL, 1850; 1854).

Silva (2015, p. 91) possui outra análise, ao afirmar que

uma das grandes tarefas da Lei de Terras, de 1850, foi a de definir


critérios jurídicos gerais para ordenar situações que vinham se
realizando, historicamente, com base em costumes e tradições que,
na maioria das vezes, tinham, como base, situações específicas e
locais. Dessa forma, a lei não estabeleceu um ponto zero na história
da apropriação territorial no Brasil, nem inaugurou o “cativeiro da
terra”, pois, mesmo com outros significados, a terra já era “cativa”
em momentos anteriores. Ela, também, não iniciou uma tentativa de
separar o domínio público do privado. Ações, nesse sentido, já tinham
sido realizadas antes, e a Lei de Terras, efetivamente, é um resultado
consequente delas. Assim, o que ela consolida e não consegue
realizar, definitivamente, no espaço de tempo entre a promulgação, a
regulamentação e o fim do Regime Imperial, é uma nova concepção
de terra, incluindo o uso e a propriedade.

Isso demonstra que os percalços, vinculados à propriedade e ao uso da terra, no


Brasil, já ocorriam desde a colonização. Assim, a Lei de Terras tentou colocar em prática
uma normatização para a aquisição de terras, de modo que nem todos conseguiam
comprar uma propriedade, porém, esse já era um problema desde as sesmarias, quando
muitos não tinham o direito de ter terras, visto que isso ocorria conforme o desejo dos
colonizadores (BRASIL, 1850; 1854).

Diante de inúmeros problemas ocorridos desde a colonização, a Lei de Terras


não conseguiu atingir, efetivamente, o objetivo. Não foi capaz de definir, claramente, a
concepção de propriedade, o que fez com que muitos pesquisadores não a considerassem
algo de relevância para a regulamentação do uso das terras. Verdadeiramente, ela,
apenas, foi uma consequência dos agravos que já perduravam, como o domínio do
interesse da alta classe da sociedade (BRASIL, 1850; 1854).

Portanto, a partir da leitura realizada, a qual envolveu esse período, pode-


se registrar que a colonização do Brasil, sempre, priorizou o interesse dos grandes
proprietários, ocasionando uma enorme distinção social entre as pessoas, a qual é
notória até os dias de hoje. Consequentemente, tem-se que a luta pelo direito à terra,
também, estende-se por toda a história do Brasil (SILVA, 2015).
9
NOTA
Conhecer o princípio da formação das propriedades, no Brasil, é
fundamental para compreender que, ao longo de todos esses séculos,
sempre, foram explorados, os recursos naturais, pelos mais ricos,
conforme a natureza oferecia, sendo, esta, destruída com frequência,
desde a colonização, sem nenhuma preocupação em relação a quanto
tempo ela resistiria. Assim, depois de longos períodos de uso inadequado
e distinto do ambiente, começamos a sentir as consequências. Como
uma forma de mudança de cenário, são requisitadas leis e normas
técnicas que possam buscar um equilíbrio entre as necessidades
dos proprietários, a oferta de terras e a preservação, as quais serão
exploradas ao longo deste livro.

3 CONCEITOS E ORIGENS
Antes de abordar questões técnicas que envolvem o tema estudado, vislumbra-
se necessário apresentar algumas conceituações clássicas, incluindo as origens
do que, futuramente, originou o debate, o surgimento e os desdobramentos dos
georreferenciamentos de imóveis rurais.

A Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, percebida como “Estatuto da Terra”,


no Art. 4º e incisos, remete-se às seguintes definições de imóvel rural, propriedade
familiar, módulo rural, minifúndio e latifúndio, a saber:

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se:


I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja
a localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária
ou agroindustrial, quer através de planos públicos de valorização,
quer através de iniciativa privada;
II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente,
explorado pelo agricultor e sua família, absorva, deles, toda a força
de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e os progressos social
e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de
exploração, e, eventualmente, trabalho, com a ajuda de terceiros;
III - "Módulo Rural", a área que é fixada nos termos do inciso anterior;
IV - "Minifúndio", o imóvel rural de área e que tem possibilidades
inferiores às da propriedade familiar;
V - "Latifúndio", o imóvel rural que:
a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do Art. 46, § 1°, alínea
b, desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, os sistemas
agrícolas regionais e o fim a que se destine;
b) não exceda o limite referido na alínea anterior, e com área igual ou
superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido
inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e
sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou,
inadequadamente, explorado, de modo a ser vedada a inclusão no
conceito de empresa rural.

10
Outros pontos pertinentes a serem destacados aqui são os três aspectos
distintos, e abordados por SILVA (1998 apud GARCIA; SOUZA, 2007, p. 108), em relação
às definições de meio ambiente, os quais serão descritos a seguir:

I- meio ambiente natural, ou físico, constituído pelo solo, a água, o


ar atmosférico, a flora, enfim, pela interação dos seres vivos e do
meio, onde se dá a correlação recíproca entre as espécies e as
relações destas com o ambiente físico que ocupam;
II- meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano
construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço
urbano fechado) e de equipamentos públicos (ruas, praças, áreas
verdes, espaços livres: espaço urbano aberto);
III- meio ambiente cultural, integrado pelos patrimônios histórico,
artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora
artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que,
também, é cultural), pelo sentido de valor especial que adquiriu
ou do qual se impregnou.

Já Fiorillo (2013) define o termo “meio ambiente” como um conceito jurídico


indeterminado, cabendo, dessa forma, ao intérprete, o preenchimento do conteúdo.
Pode ser bem definido pela classificação dos próprios aspectos; unitário, quanto ao
conceito; e regido por inúmeros princípios, diretrizes e objetivos.

Nesse sentido, o saudoso autor elucida aspectos do meio ambiente. Assim, com
uma breve análise, destacamos os que envolvem o natural:

O meio ambiente natural, ou físico, é constituído pela atmosfera, pelos


elementos da biosfera, pelas águas (inclusive, pelo mar territorial),
pelo solo, pelo subsolo (inclusive, recursos minerais), pela fauna e
flora. Concentra o fenômeno da homeostase, consistente para o
equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem.
O meio ambiente natural é, mediatamente, tutelado pelo caput do
Art. 225 da Constituição Federal, e, imediatamente, v. g., pelo § 1º, I, III
e VII, desse mesmo artigo (FIORILLO, 2013, p. 50).

A abordagem e os ensinos teóricos do ávido autor chegaram a uma estima


que os fez serem incorporados pela Emérita Corte Suprema, a partir do julgamento em
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3540-MC4 (2006 apud FIORILLO, 2013, p. 91),
proferido pelo relator e ínclito Ministro Celso de Mello. Segue transcrito:

A atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os


princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente.
A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por
interesses empresariais, nem ficar dependente de motivações de
índole, meramente, econômica, ainda mais se se tiver presente que
a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a
rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que
privilegia a defesa do meio ambiente (CF, Art. 170, VI, que traduz o
conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural,
de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço
urbano) e de meio ambiente laboral). Doutrina. Os instrumentos

11
jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam
viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem
as propriedades e os atributos inerentes, o que provocaria um
inaceitável comprometimento da saúde, da segurança, da cultura, do
trabalho e do bem-estar da população, além de causar graves danos
ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado, este, a partir do
aspecto físico ou natural.

Destarte, o ponto crucial que norteia a colocação maciça da Emérita Corte


Suprema, guardiã da Constituição Federal de 1988, é o de que a defesa do meio ambiente
deve ser a motivação da índole dos interesses empresariais, pois os próprios instrumentos
jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional tutelam, efetivamente, o meio
ambiente, de modo que este não sofra alterações nas propriedades e nos atributos
inerentes, visto que é direito de todos terem um meio ambiente, ecologicamente,
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Assim,
são impostos, ao Poder Público e à coletividade, os deveres de defendê-lo e de preservá-
lo para as presentes e futuras gerações (Art. 225) (BRASIL, 1988).

4 LEGISLAÇÃO GERAL
Sob os aspectos gerais da gerência fundiária nas áreas rurais, é relevante
ressaltar que esta é de responsabilidade do Governo Federal.

O Estatuto da Terra, Lei n° 4504, de 30 de novembro de 1964, no Art. 46°,


determina que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), o qual tem, como sucessor,
o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), deve proporcionar a
pesquisa para a ordenação do cadastro dos imóveis rurais em todo o país.

A Lei n° 5.868, de 12 de dezembro de 1972, no Art. 1°, cria o Sistema Nacional de


Cadastro Rural (SNCR), composto pelos seguintes cadastros (BRASIL, 1972):

• Cadastro de Imóveis Rurais.


• Cadastro de Proprietários e Detentores de Imóveis Rurais.
• Cadastro de Arrendatários e Parceiros Rurais.
• Cadastro de Terras Públicas.

O Decreto n° 72.106, de 18 de abril de 1973, regulamenta a Lei n° 5.868, de 12


de dezembro de 1972 (BRASIL, 1972; 1973b). Esse Decreto, no Art. 2º, elenca as várias
utilidades dos cadastros, porém, destacam-se as que se remetem ao levantamento
sistemático. Tencionam dominar as condições vigentes da estrutura fundiária do país,
de modo a dispor elementos de orientação para a formulação da política agrícola e para
a elaboração e a execução dos planos nacionais e regionais de reforma agrária.

12
Enaltece-se, também, a classificação do imóvel rural quanto à dimensão, à
utilização e à eficiência, pois todas as informações envolventes dão respaldo legal ao
principal instrumento de correção das distorções fundiárias, como a desapropriação por
interesse social (COSTA, 2004).

No Art. 46, do mesmo Decreto, elencam-se as informações a serem obtidas


para a caracterização dos imóveis rurais, como (BRASIL, 1973b):

• proprietário e família dele;


• títulos de domínio, natureza da posse e forma de administração;
• localização geográfica;
• área com descrição das linhas de divisão e nome dos respectivos confrontantes;
• valores das terras, instalações, equipamentos;
• natureza e condições das vias de acesso e distâncias dos centros urbanos;
• condições de exploração e uso da terra.

O Decreto, no Art. 4º, amputa, às pessoas que possuem relação de detenção


com o imóvel rural, a fornecerem informações através de formulários e questionários,
conforme as normas, as instruções e os prazos previstos e editados pelo INCRA
(BRASIL, 1973b).

Atualmente, o INCRA coleta essas informações através da Declaração para


Cadastro de Imóveis Rurais, com três tipos de formulários: Dados da Estrutura, Dados
Sobre Uso, Pessoas e Relacionamentos e Plantas dos Limites, Uso e Aptidão. Todos são
armazenados em um sistema de banco de dados, e como uma característica essencial:
a incorporação de informações gráficas ao SNCR.

Com relação ao tributo, ou seja, à cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR), fica
sob a responsabilidade da Receita Federal, e é regida pela Lei n° 8.847, de 28 de janeiro
de 1994, e pela Lei n° 9.393, de 19 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1994; 1996).

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis


(IBAMA) é o instituto responsável pelas questões ambientais do país, com a inclusão
das áreas rural e urbana, e possui 14 objetivos definidos para o cumprimento da missão
institucional, a saber:

• Reduzir os efeitos prejudiciais e prevenir acidentes decorrentes da utilização de


agentes e produtos agrotóxicos, componentes e afins, incluindo os resíduos.
• Promover a adoção de medidas de controle de produção, utilização, comercialização,
movimentação e destinação de substâncias químicas e resíduos, potencialmente,
perigosos.
• Executar o controle e a fiscalização ambientais nos âmbitos regional e nacional.
• Intervir nos processos de desenvolvimento geradores de um significativo impacto
ambiental, nos âmbitos regional e nacional.

13
• Monitorar as transformações do meio ambiente e dos recursos naturais.
• Executar ações de gestão, proteção e controle da qualidade dos recursos hídricos.
• Manter a integridade das áreas de preservação permanente e das Reservas Legais.
• Ordenar o uso dos recursos pesqueiros em águas sob domínio da União.
• Determinar o uso dos recursos florestais nacionais.
• Monitorar os status de conservação dos ecossistemas, das espécies e do patrimônio
genético natural, visando à ampliação da representação ecológica.
• Colocar em prática ações de proteção e de manejo de espécies da fauna e da flora
brasileiras.
• Incentivar a pesquisa, a difusão e o desenvolvimento técnico-científico voltados para
a gestão ambiental.
• Desenvolver o acesso e o uso sustentável dos recursos naturais.
• Participar de estudos analíticos, prospectivos e situacionais, verificando tendências e
cenários, com vistas ao planejamento ambiental.

O governo federal, no final da década de 1990, articulou, com alguns institutos


de terras estaduais, mudanças na legislação, relacionadas ao meio rural, assim, obteve-
se a criação da Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001. A partir dessa lei, o governo
realoca as responsabilidades, ao INCRA e à Secretaria da Receita Federal, da organização
e da coordenação da informação rural, por compreender que essas duas instituições
possuem estruturas e conhecimentos técnicos na área cadastral (BRASIL, 2001).

A Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, no parágrafo 2°, do Art. 2°, cria o


Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR), o qual tem uma base comum de
informações, gerenciada pelo INCRA e pela Secretaria da Receita Federal, produzida
e compartilhada pelas diversas instituições públicas federais e estaduais produtoras e
usuárias de informações do meio rural brasileiro (BRASIL, 2001).

No parágrafo 3º, Art. 1º, da mesma lei, é determinado que a base comum do CNIR
deve adotar um código único, a ser estabelecido com o INCRA e a Secretaria da Receita
Federal, para os imóveis rurais cadastrados, de maneira a possibilitar a identificação
deles e o compartilhamento das informações entre as instituições participantes. Já no
parágrafo 4°, do mesmo artigo, determina-se, também, que integrem, o CNIR, as bases
próprias de informações produzidas e gerenciadas pelas instituições participantes,
constituídas por dados específicos de interesse, as quais podem, por elas, ser
compartilhadas, respeitadas as normas regulamentadoras de cada entidade (BRASIL,
2001; COSTA, 2004).

A referida lei, ainda, determina como deve ser a relação entre o INCRA e o
serviço de registro de imóveis, e estabelece a obrigatoriedade do georreferenciamento
dos limites das propriedades rurais com o Sistema Geodésico Brasileiro (BRASIL, 2001).

14
O Decreto nº 4.449, de 30 de outubro de 2002, que regulamenta a Lei nº
10.267, de 28 de agosto de 2001, determina, por exemplo, que é, o INCRA, a instituição
responsável pela certificação do georreferenciamento de um imóvel rural (BRASIL,
2001; 2002a).

Esse Decreto determina, nos Arts. 7° e 8°, as seguintes orientações:

Art. 7º Os critérios técnicos para implementação, gerenciamento e


alimentação do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais - CNIR serão
fixados em ato normativo conjunto do INCRA e da Secretaria da
Receita Federal.

§ 1º A base mínima de dados comum do CNIR contemplará as


informações de natureza estrutural que vierem a ser fixadas no
ato normativo referido no caput e as de interesse substancial das
instituições, dele, gerenciadoras, incluindo os dados informativos do
§ 6º, do Art. 22, da Lei nº 4.947, de 1966.

§ 2º São informações de natureza estrutural obrigatórias as relativas


aos dados de identificação, localização, dimensão, titularidade e
situação jurídica do imóvel, independentemente de estarem, ou não,
acompanhadas de associações gráficas.

§ 3º Além do INCRA e da Secretaria da Receita Federal, todos os demais


órgãos da Administração Pública Federal serão, obrigatoriamente,
produtores, alimentadores e usuários da base de informações do CNIR.

§ 4º As instituições gerenciadoras do CNIR poderão firmar convênios


específicos para o estabelecimento da interatividade dele com as
bases de dados das Administrações Públicas dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

§ 5º As instituições gerenciadoras do CNIR deverão convidar e


incentivar a participação de entidades da sociedade civil detentoras
de bases de dados cadastrais correlatos, para interagirem com os
esforços de alimentação e de gerenciamento do CNIR.

§ 6º O código único do CNIR será o código que o INCRA houver atribuído


ao imóvel no CCIR, e deverá ser mencionado nos atos notariais e
registrais de que tratam os §§ 6º e 7º, do Art. 22, da Lei nº 4.947, de 1966;
e a alínea "a", do item 3, do Art. 176, da Lei nº 6.015, de 1973.

§ 7o O ato normativo conjunto, previsto no caput, estabelecerá as


normas para compartilhamento e sistema de senhas e níveis de
acesso às informações constantes do CNIR, de modo a não restringir
o acesso das entidades componentes da rede de interação desse
cadastro aos informes de natureza pública irrestrita, sem, contudo,
permitir o acesso indiscriminado a dados de natureza sigilosa,
privilegiada, de divulgação expressa, ou, implicitamente, vedada em
lei, ou, potencialmente, vulneradores do direito à privacidade.

Art. 8º Os custos financeiros de que tratam o § 3º, do Art. 176; e o §


3º, do Art. 225, da Lei nº 6.015, de 1973, compreendem os serviços
técnicos necessários à identificação do imóvel, garantida a isenção,
ao proprietário de imóvel rural, cujo somatório das áreas não exceda
quatro módulos fiscais.

15
§ 1º A isenção de que trata este artigo abrange a identificação do
imóvel rural no caso de transmissão de domínio da área total cujo
somatório não exceda quatro módulos fiscais, na forma e nos prazos
previstos no Art. 10.

§ 2º O INCRA proporcionará os meios necessários para a identificação


do imóvel rural, devendo, o ato normativo conjunto, de que trata
o Art. 7º, deste Decreto, estabelecer os critérios técnicos e os
procedimentos para a execução da medição dos imóveis para fim
de registro imobiliário, podendo, inclusive, firmar convênio com
os Estados e o Distrito Federal, propiciando a interveniência dos
respectivos órgãos de terra.

§ 3º Para se beneficiar da isenção prevista neste artigo, o proprietário


declarará, ao órgão responsável pelo levantamento, que preenche os
requisitos do caput deste artigo, de acordo com as regras a serem
estabelecidas em ato normativo do INCRA.

§ 4º A isenção prevista neste Decreto não obsta que o interessado


promova, a suas expensas, a medição da própria propriedade, desde
que atenda aos requisitos técnicos fixados no Art. 9º.

Ressalta-se que o INCRA vem atuando a fim de fazer com que todas as instituições
públicas e/ou privadas, envoltas com o meio rural, direta ou indiretamente, colaborem
para a unificação das informações desse meio, assim, busca-se o cumprimento de um
dos maiores preceitos emanados da Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, que é o
cadastro único (BRASIL, 2001).

4.1 CADASTRO LEGAL BRASILEIRO


Os cartórios, no Brasil, estão sob a orientação, a supervisão e a correção do
Poder Judiciário.

A Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973, ordena os serviços relativos aos


registros públicos, estabelecidos na legislação civil, e especifica os Registros de
Imóveis (RI) como um desses registros, incluindo os aspectos relativos aos cartórios
(BRASIL, 1973a).

No Art. 176, o diploma legal estabelece que todo imóvel conta com uma matrícula
própria, e que a identificação deve ocorrer a partir das características e confrontações,
localização, área e denominação. Ainda, se rural, com logradouro e número, se urbano,
com designação cadastral, se houver (BRASIL, 1973a).

No Art. 225, são requeridas indicações com precisão e confrontações. Ainda,


localizações dos imóveis e outros indicadores. São considerados irregulares, para efeito
de matrícula, os títulos nos quais as caracterizações dos imóveis não coincidem com as
que constam no registro anterior (BRASIL, 1973a).

16
Observa-se que a lei impõe precisão quanto à descrição do imóvel e junção
com o cadastro técnico, porém, somente, quando há. Essa precisão é prejudicada no
momento em que não se exige a obrigatoriedade, além de regras efetivas e objetivas de
integração da questão técnica, que é o cadastro, com a legal, que é o registro.

Carneiro (2000) enxerga que a simples necessidade da planta do imóvel, pelo


registro, pouco acrescenta em termos de precisão da individualização desse imóvel,
uma vez que o registrador não tem capacitação técnica para exercer uma análise.

Azevedo (1976) afirma que, pode-se, pois, assegurar que o sistema de anotações
imobiliárias, no Brasil, está lançado com bases satisfatórias. Pelos indicadores reais e
pessoais, consegue-se, de maneira fácil, definir o dono de certo imóvel e o título de
direito. Pontua-se, no entanto, que as indicações reais são insuficientes, e que, somente,
as pessoais operam corretamente. Desse modo, para firmar o pertencimento de dado
imóvel, é vital apresentar o nome do proprietário. Unicamente, pelas características do
bem, não se atinge um resultado satisfatório, apesar de a lei impor o cadastro do imóvel
através dos indicadores reais.

Em tempo, torna-se importante destacar que a ligação do registro e do cadastro,


na área rural, está avançando, fundamentalmente, após a aprovação da Lei n° 10.267,
de 28 de agosto de 2001, a qual esclarece regras para a troca de informações entre
o INCRA e os cartórios de registros e em relação à precisão da localização do imóvel
(BRASIL, 2001).

17
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O sistema de sesmarias, no Brasil, presenciou os problemas intrínsecos ao sistema


fundiário, os quais, até hoje, a sociedade brasileira enfrenta.

• A Lei de Terras, apesar dos diversos problemas, foi o berço do regimento das
propriedades rurais no Brasil. Os propósitos dela permitiram a conversão, para o
mundo jurídico, do que, antes, era, apenas, do mundo fálico. Ainda, foi possível definir
as terras devolutas, estabelecendo mecanismos de delimitação, diferenciando-as e
as separando das terras particulares (BRASIL, 1850; 1854).

• A Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, no parágrafo 2°, do Art. 2°, cria o Cadastro
Nacional de Imóveis Rurais (CNIR), o qual tem uma base comum de informações,
gerenciada pelo INCRA e pela Secretaria da Receita Federal, produzida e compartilhada
pelas diversas instituições públicas federais e estaduais produtoras e usuárias de
informações do meio rural brasileiro (BRASIL, 2001).

• O INCRA vem atuando a fim de fazer com que todas as instituições públicas e/
ou privadas, envoltas com o meio rural, direta ou indiretamente, colaborem para
a unificação das informações desse meio, assim, busca-se o cumprimento de um
dos maiores preceitos emanados da Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, que é o
cadastro único (BRASIL, 2001).

18
AUTOATIVIDADE
1 A Lei de Terras, Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, foi uma das primeiras leis a
tratar da questão das terras devolutas no Brasil, isto é, das terras às quais o poder
público não deu nenhuma destinação especial. A respeito desse assunto, assinale a
opção CORRETA:

a) ( ) Ficam disponíveis, as terras devolutas, mesmo que necessárias à proteção de


ecossistemas naturais.
b) ( ) É suficiente, para a alienação de terras públicas com uma área superior a 2.500
hectares, a prévia aprovação do Senado Federal.
c) ( ) A destinação de terras devolutas independe da compatibilidade com a política
agrícola e com o Plano Nacional de Reforma Agrária.
d) ( ) É desnecessária, para a alienação, ou a concessão de terras públicas, para fins
de reforma agrária, a aprovação do Congresso Nacional.
e) ( ) Nenhuma das afirmativas anteriores está correta.

2 De acordo com a Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, conhecida como


“Estatuto da Terra”, defina "Imóvel Rural", "Propriedade Familiar", "Módulo Rural",
"Minifúndio" e" Latifúndio".

3 Tendo em vista a Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972, a base comum de


informações do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR), é gerenciada pelo INCRA
e pelo seguinte órgão:

a) ( ) IBAMA.
b) ( ) EMBRAPA.
c) ( ) Conselho Nacional de Justiça.
d) ( ) Secretaria da Receita Federal.
e) ( ) Ministério do Desenvolvimento Agrário.

19
4 Tendo em vista o que dispõe a Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973, a partir das
alterações decorrentes da legislação posterior, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Quando o imóvel se destina ao regime da multipropriedade, além da matrícula


desse imóvel, há uma matrícula para cada fração de tempo, na qual se registram
e se averberam os atos referentes a essa respectiva fração. Cada fração de
tempo pode, em função da legislação tributária municipal, ser objeto de inscrição
imobiliária individualizada.
b) ( ) Para a averbação do georreferenciamento dos imóveis rurais, é necessária a
anuência dos confrontantes, e se estes, se intimados, não apresentam resposta,
presume-se a discordância.
c) ( ) O habite-se é dispensado, expedido pela prefeitura municipal, para a averbação
de construção residencial urbana unifamiliar de um só pavimento finalizada
há mais de 5 (cinco) anos em área ocupada, predominantemente, por uma
população de baixa renda, salvo para o fim de registro ou averbação decorrente
de financiamento à moradia.
d) ( ) Na usucapião extrajudicial, se, na planta, não há a assinatura de qualquer um dos
titulares de direitos registrados na matrícula do imóvel usucapiendo, o titular é
notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio, com aviso
de recebimento, para manifestar o consentimento expresso em 5 (cinco) dias,
interpretado, o silêncio, como concordância.
e) ( ) A instituição do direito real de laje ocorre por meio da abertura de uma matrícula
própria no registro de imóveis, e, por meio da averbação desse fato, matrícula da
construção-base, sem remissão nas matrículas de lajes anteriores.

5 De acordo com a Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, que instituto é responsável


pela certificação do georreferenciamento do imóvel rural, e como deve ser realizada
essa certificação?

20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA AGRÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos os princípios de funcionamento do
sistema agrário. Desse modo, iniciaremos o nosso conteúdo nos debruçando sobre o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), destacando-se o Sistema
Nacional de Cadastro de Imóveis Rurais (SNCR), a estrutura e o funcionamento dele.

Na sequência, adentraremos no direito agrário e nas questões ambientais,


observando a importância geopolítica na Constituição e a implementação de políticas.

Por fim, concluindo o Tópico 2, analisaremos a concepção da propriedade rural


e o direito de posse, desde os primórdios da colonização brasileira. Portanto, desejamos
uma ótima leitura a todos!

2 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA


AGRÁRIA (INCRA)
O INCRA possui vários sistemas definidos e concebidos setorialmente, sem uma
visão corporativa, sendo que, apenas, o Sistema Nacional de Cadastro de Imóveis Rurais
(SNCR) carrega, na própria estrutura, o conceito de Cadastro Técnico Multifinalitário,
criado por força da lei.

Os sistemas existentes, atualmente, no INCRA, são:

• SISARQ: Sistema de Controle de Pastas Judiciais.


• SIAVA: Sistema de Avaliação Funcional.
• SAAV: Sistema de Atendimento ao Usuário.
• RIBAC: Bases Comunitárias.
• SIPT: Informações de Preço de Terra.
• SIPRA: Informações de Projetos de Reforma Agrária.
• SIG: Informações Gerenciais.
• SIJUR: Controle Jurídico.
• SICA: Informações de Conflitos.
• SISOTE: Obtenção de Terras.
• SANDESP: Centro de Custos.
• SNCR: Sistema Nacional de Cadastro Rural.

21
O cadastro de terras rurais foi criado em 1966. Na época, foi desenvolvida uma
metodização de coleta de dados estabelecida em todos os municípios, além de um
sistema de processamento eletrônico de dados, o qual suportou o registro de todos os
dados recolhidos e a constituição de informações, até o início da década de 1970.

Com o advento da Lei n° 5.868, de 12 de dezembro de 1972, que instituiu o Sistema


Nacional de Cadastro Rural (SNCR), foi realizada a primeira revisão cadastral, cercada
por uma reformulação do sistema de processamento eletrônico de dados, e visando
à introdução de melhorias para o tratamento deles e para a geração de informações.
Em 1978, de acordo com o que regia a lei, foi feita uma nova revisão cadastral, com um
enfoque bem parecido com o do ano de 1972 (BRASIL, 1972).

A partir desses dois momentos, como não havia uma unificação


de cadastros, a operacionalização de pesquisas se tornava mais
complicada, tendo em vista a referência não ser única. Por outro
lado, a experiência demonstrou que a coleta massificada se
tornou responsável pelo ingresso de dados inconsistentes, face ao
contingente técnico jamais haver sido suficiente para exercer uma
análise criteriosa dos dados coletados.

No ano de 1992, com o avanço da tecnologia, e as técnicas de base


de dados impunham a necessidade de um grande processo de
reformulação ao Sistema Nacional de Cadastro Rural, o projeto, ao
visar a um novo sistema, passa a ser desenvolvido por técnicos do
INCRA e do SERPRO, utilizando a linguagem natural e a arquitetura
de banco de dados Adabas. Entretanto, quanto à manutenção dos
dados, foi mantida a filosofia, até então, seguida, ou seja, não se traz,
para a base de dados, os registros de imóveis rurais existentes em
arquivos gerados pelo sistema anterior, e se pratica, mais uma vez, o
processo de revisão cadastral.

No decorrer de 1997, novamente, a tecnologia e as técnicas modernas


de base de dados e de georreferenciamento conduzem pelo caminho,
sempre, perseguido pela instituição, que é o de integração dos dados
literais e gráficos relativos aos imóveis rurais. Outra vez, os corpos
técnicos do INCRA e do SERPRO se juntam, no sentido de projetar a
modernização do Sistema Nacional de Cadastro Rural, desenvolvido
para o ambiente WEB, utilizando a arquitetura de banco de dados
Oracle e diversas ferramentas de última geração, para a programação
das regras de negócio. Agora, traz-se, além da experiência adquirida,
a conscientização de que tão, ou mais importante, do que as técnicas
e a tecnologia, é o dado que povoa qualquer base de dados.

À luz desse princípio, foi incorporado, ao projeto, um apêndice, cujo


objetivo era o de povoar a base de dados Oracle com todos os registros
de imóveis rurais, constantes da base de dados Adabas. Esse processo
pode ser sintetizado como um transporte de uma base de dados para
outra, muito embora deva ser, sempre, considerada a complexidade,
face às características da nova base de dados, definidas pelo projeto
de modernização, serem diferenciadas daquelas pertinentes à base
de dados em Adabas.

22
Com essa linha de ação, pôde-se chegar ao momento de implantação,
com a base de dados povoada com todos os registros de imóveis
rurais existentes, recuperados pelo processo de migração de dados
descrito anteriormente, totalizando, aproximadamente, 4.600.000
imóveis rurais, e dispensando, portanto, a realização de revisão
cadastral (COSTA, 2004, p. 62).

Assim, evidencia-se que a instituição se coloca em um patamar de qualidade


superior ao alcançado até então, por decorrência de um marco significativo, com
a implantação de todas as melhorias embutidas no projeto de modernização do
Sistema Nacional de Cadastro Rural, fundamentalmente, pelo processo de migração
de dados, o que certifica uma estabilidade na administração. A partir da estabilidade
de funcionamento de uma instituição, materializa-se o crédito das ações dela, e, por
consequência, propaga-se, ao público-alvo, a primordialidade do provimento de dados
fidedignos, o insumo para a geração de informações francas.

A figura a seguir apresentará a estrutura do SNCR. Nela, poder-se-á observar


que o imóvel rural é formado por dados literais e gráficos, e que, sempre, está associado
a uma pessoa ou a pessoas por detenção. Assim, a pessoa (física ou jurídica), também,
possui relação com um ou mais imóveis rurais, por detenção, por uso ou por ambos,
compondo, assim, o cadastro de imóveis rurais, pessoas e relacionamentos. O tipo de
pessoa, física ou jurídica, determina se o imóvel rural é público ou privado, estando,
portanto, também, nesse cadastro, o de terras públicas.

FIGURA 1 – ESTRUTURA DO NOVO SNCR

LOCALIZAÇÃO
USO APTIDÃO USO
ESTRUTURA

DADOS DADOS
GRÁFICOS LITERAIS

IMÓVEIS

USO RELACIONAMENTOS DETENÇÃO

PESSOA
ARRENDATÁRIOS PROPRIETÁRIOS
PARCEIROS NU-PROPRIETÁRIOS
USUFRUTUÁRIO POSSEIROS

FÍSICA JURÍDICA

PÚBLICA
PRIVADA

FONTE: Adaptada de Costa (2004)

23
O novo SNCR não obteve alterações na estrutura de coleta de dados, a qual é
composta pelas Superintendências Regionais e Unidades Avançadas do INCRA e pelas
Unidades Municipais de Cadastramento (UMC), localizadas nas prefeituras municipais,
com as quais o INCRA tem convênios, dispondo os materiais necessários, além de
treinamentos para funcionários das prefeituras, os quais necessitam lidar com o público.

É importante ressaltar que o SNCR deve contemplar os dispositivos legais


emanados pela Lei n° 10.267, de 28 de agosto de 2001, como o georreferenciamento
dos imóveis rurais, a troca de informações entre os cartórios e o INCRA etc.

A culminância dessa estrutura é a integração de fragmentos textuais e


gráficos, elaborados a partir de um único banco de dados, levando em consideração
dados declarativos coletados por meio de unidades localizadas nas cidades e
georreferenciamento de planos de propriedade rural. Nesse caso, o SNCR cumpre os
requisitos legais para determinar a criação e a manutenção de registos:

• dos imóveis rurais;


• dos detentores de qualquer título de imóveis rurais;
• dos parceiros e arrendatários de imóveis rurais.

Essa estrutura, além de incorporar as funcionalidades do sistema existente,


destaca pontos, como:

• permitir a identificação de superposições de área;


• permitir a comparação entre os dados declaratórios e os obtidos pelas representações
gráficas de localização e de uso dos imóveis rurais;
• permitir o lançamento do valor do débito da taxa de serviços cadastrais a partir da
atualização comandada para o imóvel rural, com agilidade da emissão dos certificados
de cadastro de imóveis rurais, veículo, também, para a cobrança do valor devido da
taxa citada;
• permitir o acompanhamento dos projetos de assentamento quanto ao
desenvolvimento e em relação às pessoas assentadas;
• permitir o acompanhamento dos processos de obtenção de imóveis rurais pelo
INCRA, através da desapropriação, da compra, da dação, da doação etc.;
• permitir o acompanhamento dos processos de fiscalização dos imóveis rurais;
• permitir o acompanhamento das transformações dos imóveis rurais ocasionadas
pela transferência de domínio;
• permitir o acompanhamento da produção das atualizações comandadas para os
imóveis rurais;
• permitir a transferência, em bloco, de imóveis rurais, ocasionada pela criação de
novos municípios;
• permitir a emissão de códigos identificadores de imóveis rurais, de pessoas e de
elementos de atualização.

24
3 DIREITO AGRÁRIO E QUESTÕES AMBIENTAIS
As leis agrárias, voltadas para o desenvolvimento econômico e para o
aumento da produção agrícola, visam atingir as empresas rurais. No entanto, todos
esses empreendimentos têm preocupações ambientais, pois, quanto maior o número
de atividades agropecuárias, consequentemente, maior deve ser o uso dos recursos
naturais. Embora a Constituição Federal ressalte a necessidade de proteger os recursos
naturais, esses recursos serão, cada vez mais, utilizados, e, potencialmente, ocasionarão
mudanças no meio ambiente.

Conforme coloca Amado (2014), enquanto se propaga a degradação do meio


ambiente, em especial, do natural, afeta-se, negativamente, a qualidade de vida das
pessoas, o que coloca em risco as futuras gerações e o que torna, fugaz, a grande e
eficaz tutela dos recursos ambientais pelo Poder Público e por toda a sociedade.

Nesse viés, pode-se identificar um problema complexo, vista a necessidade da


propriedade de se desenvolver economicamente. Assim, contempla-se a função social,
de modo que não fira o meio ambiente, que não prejudique a continuidade das espécies
e que não denigra o meio natural. Então, surge a pergunta: Há como fazer com que
essas duas ações aconteçam paralelamente?

Wood (2000) indica que o fervor da exploração do meio ambiente não foi
consequência do sistema fabril, mas das relações de propriedade capitalistas e da
necessidade de se aumentarem a produtividade e o lucro. Para a autora, o centro dos
problemas ambientais está correlacionado à obtenção de lucros a todo custo, ocorrendo,
dessa maneira, muitos desmatamentos e explorações dos recursos naturais, sem ou
com pouco controle.

A respeito dessa procura pela lucratividade, Nascimento (2008) coloca que, no


século XX, o Brasil, sob pressão dos grandes proprietários de terras, dos cafeicultores,
passou por percalços para a consolidação do setor agrícola, adversos à realidade
socioambiental, destinados à produção agropecuária em larga escala e findados à
lucratividade. Diante disso, a resolução teve, como objetivo, modificar a ocupação de
terras para obter algo rentável para as empresas “colonizadoras”, momento em que a
imersão do capital estrangeiro deteriorou os problemas agrário e ambiental.

Nota-se que o modo pelo qual o país foi colonizado trouxe problemas
para uma área e para outra, pois o meio ambiente foi destruído de
forma desordenada, e a distribuição de terras, de forma justa, não
ocorreu, o que gerou uma divisão de classe que perpetua até os dias
atuais (RAMOS, 2019, p. 20).

Na mesma linha de pensamento, Nascimento (2008) traz que, em um momento


corriqueiro, é necessário um olhar mais amplo para a questão agrária, a fim de que
se leve, realmente, em consideração, a problemática ambiental crescente, uma vez

25
que se concorda que a instituição do espaço rural brasileiro afetou (e, ainda mais,
recentemente, vem afetando) o ambiente, causando a degradação socioambiental.
Isso ocorre, firmemente, desde a Revolução Verde, nas décadas de 1960 e 1970, com a
concentração fundiária.

Dando continuidade, delineia-se que os fatores essenciais, para a degradação


ambiental e a deterioração social no espaço rural brasileiro, foram a permanência da
monocultura e a Revolução Verde, a qual intensificou a ejeção de lavradores tradicionais,
surgindo pequenos e médios proprietários rurais a partir do fracionamento de grandes
propriedades, findado o esgotamento de cada ciclo produtivo (WOOD, 2000).

Pontua-se que os problemas ambientais do Brasil estão, intrinsicamente,


linkados à ocupação, à monocultura e ao interesse na lucratividade, fortuitamente, para
os colonizadores estrangeiros, sendo presentes, desse modo, situações complicadas
para as questões agrárias. Todavia, a área agrária e o aspecto ambiental, atualmente,
sofrem as consequências das injustiças desses períodos de extensão e consolidação.

Gomes (2013) defende a existência, nos dias atuais, do Direito Ambiental


Agrário, uma vez que o Direito Agrário se inter-relaciona com o Direito Ambiental, o
Territorial, e, até mesmo, o Internacional, tendo, a evolução, acompanhada por meio
das teorias geopolíticas.

Entende-se, por geopolítica, segundo Gomes (2013, p. 39):

[...] O conjunto de estratégias adotadas pelo Estado para administrar


o próprio território, utilizando-se da teoria política, da geografia e
da geologia para enriquecer as ideias a respeito da relação entre
o homem e a terra rural. A geopolítica tem papel abrangente e
indispensável nas relações entre os processos políticos e os aspectos
geográficos, os recursos naturais, a topografia e o clima, como os
aspectos ecológicos [...].
A geopolítica tem o condão de unir a geografia e a política, em
níveis equivalentes, para traçar parâmetros entre os povos, os
comportamentos e os costumes a nível mundial.

Portanto, a inserção da geopolítica é necessária para desenvolver atividades


agrárias sem afetar o meio ambiente, ao serem respeitadas as permissões e as
determinações que são estipuladas através de leis e de normas especificadas pela
política agrícola.

26
4 PROPRIEDADE RURAL E DIREITO DE POSSE
As concepções de domínio e de território vêm desde o princípio da civilização,
assim, em busca da sobrevivência, demarcava-se um território para caça e abrigo.
Conforme Rizzardo (2013), a partir do desenvolvimento de grupos e da constituição
familiar, fixou-se, definitivamente, a propriedade. Ao se avançar durante a Idade Média e
o Feudalismo, Diniz (2013, p. 132) menciona a teoria de que a propriedade “foi concebida,
ao ser humano, pela própria natureza, para que possa atender às próprias necessidades
e às da família dele”.

A expressão propriedade, hoje em dia, é determinada, por Diniz (2013, p. 134),


“como os direitos que a pessoa natural, ou jurídica, tem, dentro dos limites normativos,
de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, e de reivindicá-lo de quem,
injustamente, detenha-o”.

Com relação às propriedades, em geral, consta, no Código Civil (BRASIL,


2008, p. 290):

Art. 1.228. O proprietário tem as faculdades de usar, gozar e dispor


da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que,
injustamente, possua-a ou a detenha.

§1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância


com as suas finalidades econômicas e sociais, e de modo que
sejam preservados, em conformidade com o estabelecido em lei
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico
e os patrimônios histórico e artístico, e evitadas as poluições do
ar e das águas.

§ 2º São defesos os atos que não trazem, ao proprietário, qualquer


comodidade, ou utilidade, e que sejam animados pela intenção de
prejudicar outrem.

§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa nos casos de


desapropriação, por necessidade, utilidade pública, interesse social,
e no de requisição, em caso de perigo público iminente.

§ 4º O proprietário, também, pode ser privado da coisa se o imóvel


reivindicado consistir em extensa área, com a posse ininterrupta
e de boa-fé, por mais de cinco anos, de um considerável número
de pessoas, e estas, nela, tiverem realizado, em conjunto, ou
separadamente, obras e serviços considerados, pelo juiz, de
interesses social e econômico relevantes.

§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização


devida ao proprietário; pago o preço, valerá, a sentença, como título,
para o registro do imóvel, em nome dos possuidores.

Segundo Coelho (2012), a propriedade pode ser abalizada em propriedade


corpórea ou incorpórea; plena ou restrita; singular ou copropriedade; perpétua ou
resolúvel; e imobiliária ou mobiliária.

27
Na consignação ao direito de propriedade, Pereira (apud LEAL, 1981, p. 7) discorre
que “é pedra de toque dos regimes jurídicos e dos regimes políticos. É, através dessa
análise, que se pode apurar a tendência de um poço em um determinado momento da
evolução jurídica”.

4.1 PROPRIEDADE DE BENS IMÓVEIS


Atualmente, a necessidade de um lugar para se abrigar, dormir e permanecer
atuou para o enaltecimento da propriedade de bens imóveis. Uma vez que esses bens
são vistos, por grande parte da sociedade, como patrimônios, o Direito considerou a
demanda com mais atenção (COELHO, 2012).

De acordo com Viana (1993), os imóveis seriam as coisas que não podem ser
retiradas de um lugar para o outro sem estrago. Estão divididos em quatro classes:
imóveis por acessão física, imóveis por acessão intelectual, imóveis por natureza e
imóveis por determinação legal.

Os bens imóveis, perante o Direito, estão divididos em três categorias:

Imóveis por acessão física são as coisas incorporadas, em caráter


permanente, ao solo, como edifícios e construções, por efeito do
trabalho do homem [...]. Imóveis por acessão intelectual se consideram
as coisas que o proprietário mantém, intencionalmente, empregadas
na exploração industrial, a aformoseamento, ou comodidade [...].
Imóveis por disposição legal são certos bens incorpóreos, como os
direitos imobiliários e as respectivas ações, e o direito à sucessão
aberta [...] (GOMES, 2000, p. 216).

Segundo a visão de Gomes (2000, p. 216), “imóveis seriam, somente, as coisas


que não pudessem ser removidas sem a alteração de uma substância. Os demais bens
seriam móveis [...]”. Ainda, conforme o mesmo autor, são imóveis pela própria natureza,
como o solo com a superfície e acessões adjacentes naturais.

Em tempo, ressalta-se que, de acordo com o Art. 79, do Código Civil (BRASIL,
2002, p. 77), “são bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar, natural ou
artificialmente”. Segundo Diniz (2013, p. 151), os Arts. 1.227, 1.238, 1.259 e 1.784, do Código
Civil brasileiro, conferem que “se adquire propriedade imóvel pelo registro do título no
Cartório de Registro de Imóveis, pela usucapião, pela acessão e pelo direito hereditário”.

28
4.2 POSSE
Ao abarcar o termo posse, informa, o Art. 1.196, do Código Civil brasileiro (BRASIL,
2008, p. 287):

Considera-se possuidor todo aquele que tem, de fato, o exercício


pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.

Segundo o Art. 1.204, “adquire-se a posse desde o momento em que se torna


possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”
(BRASIL, 2008).

Conforme historiadores do Direito romano, sabe-se que o tempo era o fator


primordial da posse, desde aquela época. Nesse sentido, para Diniz (2013, p. 176), “a
própria etimologia da palavra indica isso: capio significa “tomar” e usu quer dizer “pelo
uso””. Contudo, somente, através do tempo estipulado por lei, o termo “tomar pelo uso”
teria seguimento.

Para Diniz (2013, p. 48), a posse é descrita, pela teoria subjetiva de Savigny,
“como o poder direto, ou imediato, que tem, a pessoa, de dispor, fisicamente, de um bem,
com as intenções de tê-lo para si e de defendê-lo contra a intervenção, ou agressão, de
quem quer que seja”.

Seguindo a ideia da teoria subjetiva, a posse admite dois dados essenciais:


o corpus e o animus rem sibi habendi. Na obra de Diniz (2013), o corpus é o elemento
material que se traduz, no poder físico, sobre a coisa, ou na mera possibilidade de
exercer esse contato. Já o animus domini tem a finalidade de ocupar, a partir do bem,
o direito de propriedade. Entretanto, a partir da teoria objetiva de Ihering, a posse não
necessita do animus. Precisa, apenas, do corpus.

Em se tratando de origem, a posse, ainda, apresenta algumas divergências. 


Segundo algumas teorias, como a de Niebuhr, seguida por Savigny, a
posse surgiu através da divisão de terras obtidas pelos romanos. Outra
teoria, ainda, evidenciada, é a do jurista Ihering, para a qual a posse é
consequência do processo reivindicatório (DINIZ, 2013, p. 46).

Com relação à função social da posse, Albuquerque (2002, p. 40) apresenta:

[...] Além de atender à unidade e à completude do ordenamento


jurídico, é exigência, da funcionalização das situações patrimoniais,
especificamente, atender às exigências de moradia, de
aproveitamento do solo, e aos programas de erradicação da pobreza,
elevando o conceito da dignidade da pessoa humana a um plano
substancial, e, não meramente, formal [...].

De acordo com o Código Civil (BRASIL, 2002, p. 222), Art. 1.204, “adquire-se
a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de
qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.

29
Por fim, todo homem tem o direito natural ao uso dos bens e à apropriação
individual desses bens através da posse, a fim de atender à necessidade individual ou
para o bem comum.

4.3 POSSE DA PROPRIEDADE IMÓVEL PELA USUCAPIÃO


Conforme Diniz (2013) demonstra, o marco temporal da usucapião é bem antigo.
Para a autora, na cidade de Roma, na Itália, através da Lei das XII Tábulas, ocorreu a
primeira expressão de usucapião, assim, bens móveis, imóveis e as mulheres, através do
matrimônio, passaram a ser objeto de posse, com um tempo estipulado por lei. 

Com o passar do tempo, surgiram as leis Atínia, Júlia, Pláucia e Scribônia, as


quais negavam usucapião para bens furtados ou conseguidos por meios brutais e/
ou contra a submissão predial. Ainda, vista a deficiência da proteção para territórios
conseguidos fora da Itália, os romanos impetraram posse com justo título e boa-fé
(DINIZ, 2013).

Conforme as ponderações de Laranjeira (1984),

a origem da palavra, inclusive, explica o conceito por si só. Usucapio,


onis, emerge do substantivo usus e do verbo  capere,  os quais
imprimiram, a ela, com justeza, a significação de “tomar pelo uso”
(LARANJEIRAS, 1984, p. 207).

No que se refere à aquisição de bens imóveis por usucapião, o Art. 1.238, do


Código Civil brasileiro, de 2008, dispõe que as pessoas físicas que alienam bens imóveis
como bens próprios adquirem direitos de propriedade, desde que não haja vacância,
de qualquer espécie, por um período de 15 anos. O mesmo pode ser aplicado a um juiz
para cada declaração, a fim de obter o direito de registro no Registro de Imóveis. No
entanto, no caso de a terra ser utilizada para serviços produtivos, ou habitação, o prazo
é reduzido para dez anos (BRASIL, 2008).

Conforme Gomes e Muñoz (apud DINIZ, 2013, p. 182),

são necessários três requisitos para usucapir: Requisitos pessoais,


os quais consistem nas exigências em relação ao possuidor que
pretende adquirir o bem e ao proprietário que, consequentemente,
perde-o; Requisitos reais, os quais são alusivos aos bens e direitos
suscetíveis de ser usucapidos, pois nem todas as coisas e nem todos
os direitos podem ser adquiridos por usucapião; e os Requisitos
formais, os quais compreendem os elementos necessários e comuns
do instituto, como a posse, o lapso de tempo e a sentença judicial, e
os especiais, como o justo título e a boa-fé.

30
A consecução denominada de usucapião é conceituada, por Diniz (2013, p. 180),
como “a consolidação da propriedade, dando juridicidade a uma situação, de fato: a posse
unida ao tempo. A posse é o fato objetivo, e, o tempo, a força que opera a transformação
do fato em direito [...]”. Entretanto, Venosa (2004, p. 211) pontua que “se premia aquele
que utiliza, utilmente, o bem em detrimento daquele que deixa escoar o tempo, sem, dele,
utilizar-se, ou não se insurgindo que outro o faça, como se dono fosse”.

A usucapião é modo de aquisição de propriedade e de outros


direitos reais pela posse prolongada da coisa, com a observância
dos requisitos legais. É, também, chamada de prescrição aquisitiva.
É modalidade de aquisição originária, pois não existe vínculo entre
o usucapiente e o antigo proprietário da coisa, ou seja, não existe o
fenômeno da transmissão [...] (PINTO, 2014, p. 839).

Segundo Rodrigues (2002, p. 108), a usucapião se trata de um “modo originário


de aquisição de domínio, através da posse mansa e pacífica em um determinado espaço
de tempo, fixado na lei”.

Para o melhor entendimento dessa posse de usucapião, o termo posse é


definido, por Coelho (2012, p. 26), como “o exercício, de fato, de um ou de mais poderes
característicos do direito de propriedade”. Conforme o autor, deve-se considerar que os
termos posse e propriedade são distintos, pois possuir algum bem não é, essencialmente,
ser o dono dele. Ainda, para ser proprietário, não é necessário estar em posse do bem.

A ocupação há de ser do próprio requerente ou de familiares durante


todo o prazo, e, sempre, ininterruptamente. A continuidade se
revela na ausência de intervalos, sejam quais forem, a não ser por
força maior, como nos fatos de natureza, inundações, doenças etc.
(RIZZARDO, 2013, p. 303).

Com relação à propriedade rural, o Art. 1.239, do Código Civil brasileiro, de


2008, determina a usucapião, unicamente, à pessoa que não deter nenhum imóvel, e,
perante o período de cinco anos constantes, utilizar o imóvel para o trabalho produtivo
e a moradia, com a discriminação de que a totalidade da área da propriedade não pode
exceder cinquenta hectares (BRASIL, 2008).

De acordo com Coelho (2012), a colocação da usucapião imobiliária transverte


de acordo com as exigências fixadas. Dentre elas, existem a usucapião extraordinária
geral e abreviada; a usucapião ordinária geral e abreviada; a usucapião especial de
imóvel urbano; a usucapião especial coletiva; e, por fim, a usucapião especial de
imóvel rural.

31
4.4 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL RURAL OU AGRÁRIO
Conforme Rizzardo (2013), a datar de 1934, sob a égide da Lei Maior, ocorreram
sentenças que visaram ao direito de posse por usucapião, ou  pró-labore.  Teve
contiguidade com a Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, do Estatuto da Terra, Art.
98, a partir da qual foi mencionado que o possuidor deve manter a ocupação por dez
anos seguidos, e com produtividade na terra (BRASIL, 1964).

Com diversas mudanças, em relação a essa lei, no decorrer dos anos, atualmente,
o Art. 1º, da Lei nº 6.969, de 10 de dezembro de 1981; o Art. 191, da Constituição; e o
Art. 1.239, do Código Civil brasileiro, estabeleceram a usucapião, apenas, ao sujeito
que cultivar e fazer a terra ser produtiva mediante o próprio laboro ou o dos familiares,
ao menos, por um período de cinco anos ininterruptos (BRASIL, 1981; 1988; 2008;
RIZZARDO, 2013).

NOTA
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua, como própria, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área
de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a
produtiva pelo próprio trabalho ou pelo da família, e tendo, nela, uma
moradia, adquirirá a propriedade (BRASIL, 2008).

Conforme já abordado, o Art. 4º, do Estatuto da Terra, define o seguinte: I-


imóvel rural, o prédio rústico, de área contínua, qualquer que seja a localização, que
se destine à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial, quer através de
planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada (BRASIL, 1964).

De acordo com Rizzardo (2013), a posse por usucapião necessita ser


pessoal. Ainda, quanto à nacionalidade do posseiro, este pode ser nato, naturalizado
ou estrangeiro, entretanto, este último está sujeito à autorização específica do
Congresso Nacional. 

32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) deve contemplar os dispositivos


legais emanados pela Lei n° 10.267, de 28 de agosto de 2001, como o
georreferenciamento dos imóveis rurais, a troca de informações entre os cartórios
e o INCRA etc. (BRASIL, 2001).

• Com relação à função social da posse, além de atender à unidade e à completude


do ordenamento jurídico, é exigência, da funcionalização das situações patrimoniais,
especificamente, atender às exigências de moradia, de aproveitamento do solo, e aos
programas de erradicação da pobreza, elevando o conceito da dignidade da pessoa
humana a um plano substancial, e, não meramente, formal.

• A usucapião é modo de aquisição de propriedade e de outros direitos reais pela posse


prolongada da coisa, com a observância dos requisitos legais. É, também, chamada
de prescrição aquisitiva. É modalidade de aquisição originária, pois não existe vínculo
entre o usucapiente e o antigo proprietário da coisa, ou seja, não existe o fenômeno
da transmissão.

• Conforme o Art. 1.239, aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua, como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona
rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva pelo próprio trabalho ou
pelo da família, e tendo, nela, uma moradia, adquirirá a propriedade (BRASIL, 2008).

33
AUTOATIVIDADE
1 O INCRA possui vários sistemas definidos e concebidos setorialmente, sem uma visão
corporativa, sendo que, apenas, o Sistema Nacional de Cadastro de Imóveis Rurais
(SNCR) carrega, na própria estrutura, o conceito de Cadastro Técnico Multifinalitário,
criado por força da lei. Dentre sistemas existentes, atualmente, no INCRA, assinale a
alternativa que corresponde a um deles:

a) ( ) SAAV.
b) ( ) RIBALTA.
c) ( ) SIPTI.
d) ( ) SUIPRA.
e) ( ) SINJA.

2 O Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) deve contemplar os dispositivos legais


emanados pela Lei n° 10.267, de 28 de agosto de 2001, como o georreferenciamento dos
imóveis rurais, a troca de informações entre os cartórios e o INCRA etc. A culminância
dessa estrutura é a integração de fragmentos textuais e gráficos, elaborados a partir
de um único banco de dados, levando em consideração dados declarativos coletados
por meio de unidades localizadas nas cidades e georreferenciamento de planos de
propriedade rural. Nesse caso, o SNCR cumpre os requisitos legais para determinar a
criação e a manutenção de registos,

a) ( ) somente, dos imóveis rurais; dos detentores, de qualquer título, desses imóveis;
e dos parceiros e arrendatários.
b) ( ) somente, dos imóveis rurais.
c) ( ) somente, dos imóveis rurais e dos parceiros e arrendatários.
d) ( ) somente, dos imóveis públicos.
e) ( ) somente, dos imóveis venosos.

3 A partir do ordenamento legal brasileiro, disserte a respeito da função social da posse.

34
4 José da Silva pretende propor uma ação de usucapião para que seja declarado, a ele,
o domínio do imóvel no qual reside com a família há mais de dez anos. Assim, assinale
a alternativa CORRETA em relação a essa ação de usucapião:

a) ( ) Pede a citação das Fazendas Públicas da União, dos Estados e dos Municípios,
para que respondam, querendo, sob pena de revelia.
b) ( ) É possível ter, como objeto, um bem público, em razão do uso social da propriedade.
c) ( ) Está apta a ser uma ação proposta, mesmo com a pendência do processo
possessório.
d) ( ) Dispensa a citação dos confinantes em lugar incerto e não sabido.
e) ( ) Tem-se, como valor da causa, o valor venal do bem usucapiendo.

5 Explique o que se entende por usucapião de uma propriedade rural.

35
36
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
SISTEMA NACIONAL DE
CADASTRO RURAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, debruçar-nos-emos no Sistema Nacional de Cadastro
Rural (SNCR), isto é, será debatido a partir da análise dos elementos históricos da
gestão pública dos espaços rurais, em especial, com a participação da Lei de Terras
nesse processo. Elencaremos, também, as limitações atuais frente aos problemas
socioambientais derivados do cadastro declaratório no Brasil (BRASIL, 1850; 1854).

Analisaremos as perspectivas para a conservação ambiental e a segurança


fundiária no Brasil, incluindo o surgimento do Cadastro Ambiental Rural e das
aplicabilidades, da importância e das dificuldades dele.

Observaremos que o cadastro de imóveis rurais precisa ser um meio lógico e


padronizado de relacionar bases de dados alfanuméricos e cartográficos originadas
em diferentes instituições de gestão. A unificação dos esforços cadastrais permite
considerar as caracte­rísticas socioambientais de uma região, estado ou município;
identificar problemas ambientais e de demarcação fundiária, incluindo conflitos a partir
do uso do solo; e, assim, definir políticas públicas coerentes.

Fiquem atentos às autoatividades propostas! A realização delas é um passo


importante para a interpretação e a fixação do conteúdo. Tenham, todos, uma ótima
leitura e bons estudos!

2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA GESTÃO PÚBLICA


DOS ESPAÇOS RURAIS
A colonização portuguesa, no Brasil, foi baseada na ideia de estimular a produção
primária. A ocupação formal do território brasileiro começou com a implantação
do sistema de chefes hereditários. Esse sistema foi adotado em muitas colônias
portuguesas, e se baseava no princípio da propriedade privada. Esses capitães eram
subdivididos em lotes, denominados de sesmarias, sendo que os respectivos títulos
eram as cartas de sesmaria. Esses lotes, por sua vez, foram doados a candidatos com
habilidades de gestão e de negociação, com o objetivo de preencher a vaga, conferindo
poderes e privilégios, conforme o estatuto do capitão e os interesses pessoais (LOCH;
ERBA, 2007; MEDEIROS, 2002).

37
Como já foi, brevemente, abordado anteriormente, a demarcação das
sesmarias foi um problema que perdurou por séculos. Dentre as principais dificuldades,
destacavam-se os custos de nomeação de funcionários para desempenharem funções
de delimitação, além dos valores associados ao desconhecimento dos territórios
coloniais. Mesmo assim, as cartas das sesmarias continuaram sendo enviadas, com base
em informações imprecisas. Isso gerou diversos problemas, como áreas, com nomes
diferentes, para sesmeiros; ocupação de terras públicas; e latifúndios caracterizados
por grandes extensões fundiárias com pouco ou nenhum desenvolvimento produtivo
(MARIGHELLA, 1980).

A ideia de estimular a produção primária e a ocupação do território brasileiro,


por meio da concessão das sesmarias, perdurou até 1822. Naquele ano, uma resolução
suspendeu a concessão. De acordo com Loch e Erba (2007), as taxas irregulares de
posse e ocupação da terra explodiram, desde então.

Mesmo com a constituição imperial, de 1824, a situação não foi resolvida.


Diante disso, o governo imperial promulgou a Lei de Terras, em 1850, Lei nº 601,
de 18 de setembro de 1850. Essa lei foi a pioneira para a construção do sistema de
organização administrativa fundiária brasileiro, baseado no tratamento diferenciado de
terras públicas e privadas. Também, foram previstas a compra e a venda de terrenos
estatais devolutos, com a reconfirmação de direitos de uso da terra, com base no título
de sesmarias, dentre outros tópicos (BRASIL, 1850).

A Lei de Terras foi instituída em 1854, pelo Decreto nº 1.318, de 30 de novembro.


De acordo com o Decreto, foi criada a Direção Geral de Terras Públicas, e com as
seguintes atribuições: fazer o levantamento de terrenos públicos; legalizar os terrenos
privados e a venda de terrenos públicos; estabelecer um sistema de fiscalização de
terrenos devolutos; e criar os registros paroquiais. Além disso, a lei estabeleceu o
Registro de Propriedade de Terras, exigindo que todos os proprietários de títulos, ou
posses, registrassem as próprias terras. No entanto, nenhum dispositivo de medição foi
necessário para o registro. Assim, em 1890, exigia-se o registro de qualquer modificação
de área relevante (BRASIL, 1854).

O Decreto prevê, por fim, o planejamento e a avaliação do imóvel, ao se


identificar a necessidade de se estabelecerem referenciais estáveis ​​para integrar a
planta do imóvel, com a carta geral cadastral e outros detalhes importantes (BRASIL,
1854; LOCH; ERBA, 2007).

38
NOTA
O controle da posse de terra é uma característica da legislação fundiária
brasileira desde o período colonial até após a independência. Como as
sesmarias eram concedidas, apenas, a agentes de confiança do Império
Português, antes da promulgação da Lei de Terras, em 1850, o sistema de
organização administrativa das terras brasileiras dificultava a aquisição de
terras, as quais só eram adquiridas e vendidas por meio de concessões,
ou compras. Mesmo a Lei de Terras, com o objetivo primordial de revisão
fundiária, não conseguiu superar essa característica de controle, o que
garantiu, aos produtores com um grande poder econômico, acesso à terra
(BRASIL, 1850).

O sistema brasileiro de organização da administração fundiária, baseado na


Lei de Terras, de 1854, perdurou até a década de 1960. O início dessa década marcou
importantes medidas, no país, relacionadas à posse e ao uso da terra, em grande parte,
devido a desigualdades advindas de uma história profunda e do início de um processo
de organização sociopolítica no meio rural. A coalizão camponesa, surgida no Nordeste
do país, na década de 1950, representou o aspecto mais visível desse processo desigual,
mas várias outras frentes de mobilização, com pouco alcance político, passaram a
preocupar o governo brasileiro (BRASIL, 1850; 1854; MARTINS, 1995).

Em 1962, foi fundada a Superintendência de Po­lítica e Reforma Agrária (SUPRA),


com o objetivo de conhecer o espaço rural brasileiro (MURITIBA; ALENCAR, 2007). Após
dois anos, isto é, em 1964, foram compostos o Instituto Brasileiro de Reforma Agrá­
ria (IBRA) e o Instituto Nacional de Desenvolvi­mento Agrário (INDA), em substituição
à SUPRA. Segundo Oliveira (2008), esses órgãos passaram por diversas acusações de
corrupção, grilagens de terra e facilitação da venda de terrenos para estrangeiros.

Conforme já mencionado anteriormente, no gover­no militar, houve, então, a


promulgação da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, chamada de Estatuto da
Terra, a qual regulamentou diversos aspectos relacionados aos direitos e às obrigações
referentes aos imóveis rurais. Tinha, como objetivos, assegurar a oportunidade de
acesso à terra a todos, condicio­nada a uma função social; determinar zoneamentos e
cadastros, incluindo terras públicas, particulares, de posse e devolutas; e criar o cadastro
de imóveis rurais do Brasil (BRASIL, 1964; LOCH; ERBA, 2007).

Em 1970, surgiu o INCRA, devido à fusão do IBRA, do INDA e do Grupo Executivo


de Reforma Agrária (GERA), como uma entidade autárquica vinculada ao Ministério da
Agricultura. Durante os governos ditatoriais, o INCRA destinou as próprias atividades
à colonização de terras, especialmente, na Amazônia e no Centro-Oeste. A datar
de 1985, surgiram os questionamentos quanto aos desfechos obtidos pelo INCRA e
quanto à justificabilidade ao coordenar as polí­ticas públicas vinculadas à estrutura
fundiária brasileira.

39
Conforme Freitas (2007), devido aos números ineficientes, o INCRA acabou
sendo extinto, brevemente, no fim do ano de 1987. No entanto, após a Constituição de
1988, o Congresso Nacional recriou o órgão, e, desde então, a principal função dele é a
gestão da estrutura fundiária nacional (BRASIL, 1988).

Apesar da existência de instituições públicas que administram os espaços rurais


brasileiros, ainda, há problemas, como ocupação ilegal de áreas protegidas (reservas
permanentes, reservas estatutárias, áreas protegidas), esferas privadas (grilagem de
propriedades e terras) e evasão fiscal.

3 LIMITAÇÕES ATUAIS
A contar do Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, o Brasil
tem, oficialmente, um Cadastro Técnico de Imóveis Rurais, o qual visa fornecer, às
instituições públicas, empresas e proprietários rurais, dados e in­formações, de origem
cartográfica, dos recursos naturais, titularidade, formas geométricas e potencialidades
dos estabelecimentos, de modo que se assegurem a conservação am­ biental e o
desenvolvimento rural integrado. Por meio desse Estatuto, o INCRA é o órgão público
responsável pelo cadastro (BRASIL, 1964).

O cadastramento é exigido, por lei, a todos proprietários, titulares de domínio útil


ou possuidores de seja qual for o título de imóvel rural.

Conforme Brito (2005), o cadastro foi instaurado, em parte, em 1965, em alguns


estados brasileiros, estendendo-se, vagarosamente, pelo restante do país ao longo
dos anos seguintes. Esse cadastro possuía, como objetivo, determinar zonas passíveis
de desapropriação para reforma agrária, áreas que necessitassem de apoio técnico a
agricultores abastados. Exigia-se averiguar as situações dos agricul­tores em relação
à posse de terras, além de pontuar os principais focos de conflitos agrários no campo.
Ademais, o levantamento cadastral era necessário para definir o preço máximo de
arrendamento de terras, o que não poderia ser maior do que 15% do valor cadastral do
imóvel e das benfeitorias. Por fim, outra função era a de fornecer a base de dados para
a tributação das terras agrícolas.

A partir da década de 1970, o recém-criado INCRA passou a ser


responsável pelo cadastro. Em 1972, a Lei 5.868/72 instituiu o Sistema
Nacional de Cadastro Rural. Nesse mesmo ano, foi realizado o primeiro
cadastramento de imóveis rurais, contendo o levantamento dos dados
dos proprietários e de outros tipos de detentores de terra, o cadastro de
terras públicas, e a situação da produção agrícola. Esse levantamento
não contemplou todos os estabelecimentos rurais brasileiros.

O SNCR deveria englobar o Cadastro de Imóveis Rurais (incluindo os


imóveis com ou sem título de propriedade), o Cadastro de Proprietários
de Imóveis Rurais (identificando proprietários e posseiros), o Cadastro
de Arrendatários e Parceiros (demonstrando os usuários dos

40
imóveis), o Cadastro de Terras Públicas e o Cadastro Nacional de Flo­
restas Públicas. Entretanto, somente, o primeiro foi implantado. Em
1978, houve outro cadastramento, visando estabelecer coordenadas
geográficas para cada imóvel, de forma a permitir a localização deles
em mapas com pequena escala.

Ainda, na década de 1970, foi implantado o denominado Cadastro


Técnico de Imóveis Rurais (CTIR), prioritariamente, em áreas de
interesse, para reforma agrária. Nesse cadastro, foram registrados a
localização, as relações de vizinhança, a caracterização da situação
jurídica e o uso dado às terras. Além dos cadastros federais, órgãos
estaduais de terras, também, realizaram cadas­tros rurais para fins de
regularização fundiária e planejamento regional.

Até 1992, o cadastro existente não foi revi­ sado ou ampliado.


Nesse ano, foi realizado outro cadastramento, quando tinham sido
solicitadas plantas dos imóveis com área superior a 1.000 ha. Atual­
mente, o cadastro de imóvel, no SNCR, é realizado por meio de um
ato declaratório do proprietário, foreiro, enfiteuta, usufrutuário ou
posseiro, em documento chamado de Declaração de Propriedade de
imóvel rural (DP). Uma vez cadastrado, o imóvel recebe o número da
Certidão de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR).

Apesar dessas ações, os esforços cadastrais, nas áreas rurais


brasileiras, foram eventuais, não padronizados e sem planejamento
prévio, o que impediu que o Cadastro Técnico de Imóveis Rurais
deixasse de ser, apenas, declaratório. [...]

Um dos principais problemas do cadastro de terras, no Brasil, está


na falta de ligação entre os registros de imóveis e os documentos
cartográficos produ­zidos pelos profissionais de agrimensura. Assim,
não é possível afirmar a correlação entre a realidade do campo (a
posse efetiva) e o direito adquirido (título de propriedade). Torna-
se difícil a intervenção dos órgãos públicos, principal­mente, no que
se refere ao monitoramento, pois existem poucos dados confiáveis
da situação real das áreas rurais brasileiras (LASKOS; CAZELLA;
REBOLLAR, 2016, p. 194).

3.1 PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS DERIVADOS DO


CADASTRO DECLARATÓRIO NO BRASIL
Como mencionado anteriormente, desde a época da colonização brasileira,
diversos títulos de propriedade, ou de usufruto, foram emitidos pelos governos federal
e estadual. O registro sistemático de imóveis teve início em 1850, com a aprovação da
Lei de Terras, Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Existiam prazos, para um possuidor
de terras, para realizar esse registro, de modo a perder o direito sobre elas, caso não
cumprisse o determinado. Assim, os possuidores seriam confirmados como posseiros,
e, as terras, encaradas como devolutas. Até então, não existiam cartórios, e o registro
de imóveis era concedido nas paróquias das igrejas locais. O vigário conferia, assinava
e registrava a documentação de algum imóvel, com o arquivamento na própria igreja. A
partir de 1864, isso se tornou habitual, também, aos processos de posse (BRASIL, 1850;
GUEDES; REYDON, 2012; SHIGUNOV, 2005).

41
O Código Civil, de 1916, criou os cartórios de registro imobiliário
enquanto instituições públicas de caráter jurídico. A partir de então,
a proprieda­de de imóvel só poderia ser adquirida, legalmente, após o
registro nos cartórios oficiais. A Lei 6.015, de 1973, que dispõe sobre
os registros públicos, definiu os procedimentos a serem seguidos,
pelos cartórios, para o registro de imóveis. Segundo essa lei, o
cartório deve criar um número de matrícula único para cada imóvel.
Nessa matrícula, são regis­tradas as certidões, os demais documentos
públicos emitidos pelos cartórios de registro civil (partilhas,
inventários e aquisições) e os números referentes aos cadastros
públicos brasileiros, como a CCIR vinculada. Na mesma matrícula,
são averbadas, ou retificadas, informações referentes ao imóvel,
como coordenadas, ângulos, rumos magnéticos, confrontações
e localizações de áreas de preservação ambiental, previstas pela
legislação, contidas no Ato Declaratório Ambiental (ADA), vinculado
ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. A garantia jurídica da propriedade do imóvel é atestada
pelo documento denominado de certidão de matrícula do imóvel.

O INCRA e os cartórios de regis­tros de imóveis não dispõem de uma


base de dados oficiais para confrontar as informações declaradas
pelos proprietários de imóveis rurais. Sem essa base, não é possível
verificar se as informações declaradas são verdadeiras. No caso
do INCRA, somente, os imóveis acima de quatro módulos fiscais
são fiscalizados. A escolha dos imóveis a serem fiscalizados ocorre
de forma aleatória, sendo eleitos por área de atuação. Além disso,
a lei não obriga os proprietários de imóveis, com menos de quatro
módulos fiscais, a atualizarem as formas de uso. Assim, os dados
cadastrais de todas as propriedades e posses médias e pequenas
não são confiáveis e não podem ser utilizados para a gestão
socioambiental ou para a elaboração de políticas públicas, nem para
o monitoramento da aplicação da legislação ambiental.

Esse cenário inviabiliza uma gestão fundiária confiável, dando


margens a fraudes diversas, como sonegação de impostos; venda
de uma mesma terra a compradores diferentes; revenda de títulos
de ter­ras públicas a terceiros, como se elas tivessem sido postas,
legalmente, à venda, por meio de processos licitatórios; falsificação
e demarcação de terras compradas com uma extensão muito maior
do que a, originalmente, adquirida; confecção, ou adulteração, de
títulos de propriedade e certidões; anexação de terras públicas a
terras particulares; venda de títulos de terras atribuídos a áreas que
não correspondem a eles; venda de terra pública, inclusive, indígena,
e em áreas de conservação ambiental; remembramento de terras às
margens das grandes estradas federais, as quais, em anos anteriores,
tinham sido distribuídas, em pequenos lotes, para fins de reforma
agrária, a pequenos agricultores; venda de terra pública pela internet,
como se os vendedores fossem os reais proprietários, com base em
uma documentação forjada (LASKOS, 2016, p. 196).

Uma área declarada ao INCRA, que seja maior, ou menor, do que o tamanho real
do imóvel, pode ter a finalidade de deduções fiscais, ao omitir as terras improdutivas
e ampliar a área para mais financiamentos e grilagem (GIRARDI, 2008). Como se não
bastassem as atuais vulnerabilidades do SNCR, recentemente, foi instituído um novo
tipo de registro, que tem, como principal objetivo, monitorar a legalização das zonas de
proteção ambiental nas instituições rurais.

42
A legislação brasileira detém mecanismos que requerem a caracterização do
imóvel, entretanto, a realização disso está longe de ser alcançada, com êxito, quando
se tratam de objetivos primordiais, como a identificação, a localização e a descrição do
imóvel, ou seja, uma imagem da realidade fundiária do país.

Compreendemos que a sabedoria territorial só se satisfaz com a observância,


pelos proprietários, ou detentores dos imóveis, dos dispositivos legais, ao serem
concedidas as informações fidedignas desses imóveis, e que os governos federal,
estadual e municipal alinhem essas informações, tornando-as acessíveis para o
emprego de políticas, planos, projetos e programas, nas áreas pública e privada.

A legislação brasileira determina, notoriamente, a obrigatoriedade da descrição


do imóvel, assim, tem, como estruturas basilares desse dever, a Constituição Federal, de
1988; as Leis n° 4.504, de 30 de novembro de 1964; 6.015, de 31 de dezembro de 1973;
8.629, de 25 de fevereiro de 1993; 9.393, de 19 de dezembro de 1996; e 10.267, de 28 de
agosto de 2001 (BRASIL, 1964; 1973a; 1988; 1993; 1996; 2001).

A efetivação dessa legislação tem encontrado inúmeros percalços, dentre os


quais, pode-se destacar:

• falta de diretrizes nacionais quanto aos cadastros urbanos;


• falta de regras objetivas quanto à troca de informações entre os cadastros urbanos e
os registros de imóveis;
• falta de estruturação e de modernização dos cadastros urbanos;
• falta de valorização e de divulgação do cadastro de imóveis rurais por parte do
governo federal;
• falta de agilidade para regulamentação da lei, com ordem de troca de informações
entre o cadastro rural e os registros de imóveis;
• falta de articulação entre os Poderes Executivo e Legislativo nos sentidos de
simplificação e de rapidez das retificações na descrição e na localização dos imóveis;
• falta de importância dada, por parte dos governos federal, estadual e municipal, ao
cadastro como instrumento de planejamento;
• falta de atualizações sistemáticas dos cadastros.

Anteriormente ao cumprimento de dispositivos legais, necessitamos


compreender que caracterizar o imóvel, fielmente, é de importância singular para
o desenho do país e para a gestão territorial, portanto, torna-se um dever de todo
cidadão patriótico.

43
4 PERSPECTIVAS PARA CONSERVAÇÃO AMBIENTAL E
SEGURANÇA FUNDIÁRIA
A desarticulação das medidas em curso ga­nhou um novo ingrediente, com a
criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Esse registro de informações se originou de
ferramentas perscrutadas desde 2005, vinculadas a metodo­logias de sensoriamento
remoto, visando localizar os desmatamentos na Amazônia Legal, além da realização do
cadastramento na região.

No ano de 2012, foram regulamentados a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012,


e o Decreto nº 7.830, de 17 de outubro de 2012, que substituem a Averba­ção da Reserva
Legal, nos cartórios, pelo cadastro, no CAR. Anteriormente ao cadastro, o produtor
necessitava designar um profissional habilitado para desenvolver o memorial descritivo
e a planta topográfica, a fim de registrá-los em um cartório (BRASIL, 2012a; 2012b).

O CAR é imposto, por lei, a todos os estabele­cimentos rurais, e deve catalogar


dados ambientais relativos às situações das Áreas de Preservação Per­manente (APP),
das áreas de Reserva Legal, das florestas e remanescentes de vegetação nativa, das
áreas de uso restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país.

O novo Código Florestal e a chegada do CAR propiciaram agilidade para o


produtor, pois o sistema é on-line. Ainda, é possível agrupar diversas informações
importantes do estabelecimento rural em um único ambiente. Todavia, vale ressaltar
que, mesmo com essas melhorias, ainda, deparamo-nos com alguns pontos limitantes
do novo cadastro (BRASIL, 2012).

4.1 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS: LIMITAÇÕES E


POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO
Esse novo cadastro não obriga o proprietário a contratar um
profissional da área técnica para a realização do cadastramento.
Além disso, as infor­mações cartográficas, obtidas em campo,
apresentam divergências frente ao sistema disponibilizado para o
registro de dados referentes às áreas ambientais protegidas, sendo
necessárias correções manuais das informações, ou seja, quando o
levantamento topográfico, em meio digital, é importado para den­tro
do sistema do CAR, a área aparece deslocada na imagem de satélite.
Assim, é necessário mover, manualmente, o polígono que define o
imóvel, a fim de que coincida com a imagem. Esse ato com­promete,
completamente, a precisão e a acurácia obtidas, em campo, pelas
atividades de topografia, já que as coordenadas do polígono são
alteradas pelo deslocamento manual. Por fim, a qualidade das imagens
disponibilizadas no sistema do CAR não permite a visualização de
detalhes necessários para o cadastramento de pequenas áreas
(LASKOS, 2016, p. 196).

44
Diversos autores, como Araujo & Juras (2012), Camargo (2013) e Laudares,
Silva e Borges (2014), pontuam aspectos polêmicos desse sis­tema cadastral. Dentre
eles, podemos destacar a falta de estrutura, dos órgãos ambientais, para o serviço
correto; a falta de ação, com segurança jurídica, do sistema declaratório; a dificuldade
de combate às ocupações ilegais, com base em um sistema declaratório em constante
adaptação; e a grande quanti­dade de erros e de imprecisões.

Adicionam-se os estorvos que os agri­cultores familiares, ainda, enfrentam, a


partir do momento da adesão ao CAR, especialmente, no que diz respeito às questões
operacional e de precariedade do acesso à internet em diversas regiões do país,
justamente, nas áreas rurais. Por fim, é preciso levar em consideração os povos e as
comunidades tradicionais, os sindicatos e o órgão municipal incapacitado.

O Cadastro é uma ferramenta essencial para a gestão territorial.


Ele deve disponibilizar informa­ções precisas e confiáveis do espaço
físico, da situação jurídica da ocupação do solo, da condição
socioeconômica do ocupante da terra e das condições ambientais
do imóvel. Para tanto, é necessário que exista uma sólida base de
dados para que as institui­ções de gestão e os cartórios de registros
de imóveis possam confrontar as informações prestadas, sobre­
tudo, pelos proprietários, as quais envolvem os imóveis rurais deles.
Somente, por meio dessa confrontação, os dados dos cadastros
públicos podem ser utilizados para o planejamento e o monitoramento
das condições socioambientais do território brasileiro.

Ter essas informações disponíveis, atualizadas e conectadas


é essencial para a tomada de decisão, o monitoramento e o
planejamento de ações de ordenamento territorial. As constantes
alterações na ocupação do espaço territorial tornam, cada vez mais
importantes, a manutenção do cadastro e o planejamento dos
municípios com base em dados confiáveis.

No Brasil, paralelamente, à expansão das cida­des, está ocorrendo


o agravamento dos problemas sociais e ambientais. A ocupação
desordenada é um importante fator dessa degradação socioambiental.
As áreas ocupadas, de forma desordenada, não per­mitem a definição
dos limites das parcelas privadas e públicas, nem o controle da
exploração dos recursos naturais. Quando a ocupação do território
cresce sem limites, gera prejuízos ambientais, sociais e econômicos.

O Cadastro, com informações precisas, permite calcular a degradação


ambiental com soli­dez e compreender a situação socioeconômica dos
agricultores. Deve aportar informações das características existentes
em cada parcela, possibilitando uma análise dessa ocupação e dos
impactos dela sobre o ambiente. Somente um cadastro preciso e,
constantemente, atualizado oferece infor­ mações que auxiliam a
compreender as tendências de crescimento da ocupação, e, se
necessário, inter­vir nos aspectos considerados prejudiciais ao meio
ambiente e à maioria da população.

Precisa ser um meio lógico e padronizado de relacionar bases de


dados alfanuméricos e cartográficos originadas em diferentes
instituições de gestão. A unificação dos esforços cadastrais permite

45
considerar as caracte­rísticas socioambientais de uma região, estado
ou município; identificar problemas ambientais e de demarcação
fundiária, além de conflitos a partir do uso do solo; e, assim, definir
políticas públicas coerentes.

Os sistemas cadastrais são ferramentas de gestão eficientes e


passíveis de implantação por parte do poder público. A exploração
deles pode con­tribuir para a justiça socioambiental do nosso país.

Ao se observar a evolução da legislação brasileira relacionada ao


Cadastro, é possível perce­ber que ocorreram progressos no que se
refere a aspectos jurídicos e tecnológicos, porém, persiste o desafio
de centralizar o cadastro em uma instituição federal forte e ágil na
recepção, na atualização e na distribuição de dados aos demais
órgãos interessados e à sociedade civil organizada. Para que isso
ocorra, é necessário definir padrões nacionais para os produtos
cadastrais (cartografia e dados alfanuméricos), possibilitando o
intercâmbio de informações entre as diferentes instituições.

A superação dos principais desafios dessa área passa pelo aumento


do número de profissionais téc­nicos, de forma a acompanharem e a
fiscalizarem, em campo, a veracidade dos dados fornecidos pelos
produtores rurais. Além disso, o investimento em tecnologias e
parcerias com institutos de pesquisa e ensino, por meio de projetos
de extensão, principalmente, em áreas de unidades de conservação
e territórios de populações tradicionais e indígenas, representam uma
alternativa sociotécnica pouco utilizada no país (LASKOS, 2016, p. 198).

46
LEITURA
COMPLEMENTAR
A Integração do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR) com o Cadastro
Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR) no Brasil

Yse Vinhaes Dantas


Arthur Caldas Brandão
Juan Pedro Moreno Delgado

1- INTRODUÇÃO

Este artigo aborda o cadastro no Brasil, evidenciando as características, os


diagnósticos do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR) e do Cadastro Estadual
Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR) e a possibilidade de integração entre eles, no âmbito
da Lei nº 10.267/01, visando ao uso multifinalitário da informação cadastral.

O artigo que ora se apresenta é o produto da pesquisa desenvolvida, entre 2006


e 2008, no Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, da Universidade Federal da
Bahia, pelos autores. Os resultados serão, aqui, destacados.

A complexidade do tema Cadastro, com a vertente multifinalitária, a ele, inerente,


é incrementada quando relacionada à questão das áreas de Reserva Legal dos imóveis
rurais, espaço territorial protegido, genuinamente, brasileiro, pouco discutido nos meios
acadêmicos, podendo ser abordado sob as dimensões política, técnica, ambiental,
socioeconômica, filosófica etc.

Diante dessa complexidade, e considerando a impossibilidade da abordagem de


todas as dimensões do Cadastro em um único trabalho, foram analisados, na pesquisa,
os aspectos legais, técnicos e de gestão do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR)
e do Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR), com a implicação destes no
processo de averbação das áreas de Reserva Legal.

No Brasil, para um imóvel rural ser considerado legalizado, além de atender


ao princípio da função social da propriedade, deve estar com as situações cadastral,
tributária, jurídica e ambiental em conformidade com o que dispõe a legislação específica.
O imóvel rural deve, então, sob o aspecto:

• Cadastral: estar, regularmente, inserido no Sistema Nacional de Cadastro Rural


(SNCR), no Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR), e, no caso da Bahia, no
Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR).

47
• Tributário: ter a quitação da taxa do Certificado de Cadastro de Imóveis Rurais (CCIR)
gerida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e do Imposto
Territorial Rural (ITR), tributo, este, atualmente, de competência da Receita Federal do
Brasil (RFB), a qual mantém o CAFIR (Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais).
• Jurídico: estar, regularmente, registrado no Cartório de Registro de Imóveis da
comarca em que está situado, além de ter averbado a área de Reserva Legal (RL)
com a matrícula do registro do imóvel.
• Ambiental: respeitar e manter as áreas de Reserva Legal (RL) e de Preservação
Permanente (APP), nele, inseridas.

A criação das áreas de Reserva Legal foi determinada pelo Código Florestal,
de 1965 (Lei nº 4.771/65), e pelas alterações posteriores dele, mas pode, ainda, ser
considerada uma abstração normativa, sem consequências concretas. De acordo
com estatísticas cadastrais (INCRA, 1998), é pouco significativo o número de imóveis
rurais que mantém áreas de Reserva Legal no Brasil, apenas, 9,58%, e 3,26% na Bahia,
sendo que dados mais recentes não foram encontrados. Fica caracterizado, assim, um
enorme passivo ambiental, pelo menos, no que se refere ao aspecto legal dos imóveis
rurais no Brasil.

As áreas de Reserva Legal correspondem a um percentual que varia entre


20% a 80% do imóvel rural, a depender do bioma no qual está inserido, sendo que a
localização deve ser analisada e autorizada pelo órgão ambiental competente para,
posteriormente, ser averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel, no
competente cartório de registro.

A localização das áreas de Reserva Legal deve ser bem planejada, pois pode
contribuir, favorável ou desfavoravelmente, para a conexão entre os fragmentos
naturais da biodiversidade e a formação de corredores ecológicos. Esse fato é agravado
pelo caráter de inalterabilidade desses espaços, dado pelo Código Florestal, de 1965,
pois incidem sobre o imóvel, e não sobre o proprietário, ou posseiro. Assim, uma vez
averbada, em um Cartório de Registro de Imóveis competente, a localização da área
de Reserva Legal não pode ser alterada, mesmo nos casos de transmissão a qualquer
título, desmembramento e remembramento, salvo exceções legais.

A averbação de áreas de Reserva Legal é um processo complexo, na medida


em que envolve muitas instituições governamentais com atribuições diversas, políticas
públicas setorizadas e desarticuladas, recursos humanos e financeiros escassos, além
de regulados (proprietários e posseiros) com características diferentes.

No cenário da luta ambiental, a consagração do princípio da função social


da propriedade impôs, aos proprietários de imóveis rurais, a preservação do meio
ambiente, nos moldes, legalmente, estabelecidos. Assim, um imóvel rural contempla
esse princípio quando atende aos requisitos de aproveitamento racional e adequado
dos recursos naturais disponíveis, de preservação do meio ambiente, de observância
da legislação trabalhista, e de exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores.

48
Esses aspectos estão, intimamente, relacionados com o Cadastro, visto, hoje,
como uma ferramenta de uso multifinalitário, como de tributação, de retratação da
ocupação territorial, de complemento do Sistema de Registro de Títulos, de fiscalização
da função social da propriedade, de base para o ordenamento do planejamento territorial
(rural e urbano) e para questões ambientais.

De acordo com a Federação Internacional dos Geômetras (FIG), na Declaração


do Cadastro 2014 (FIG, 1995), o termo Cadastro passou a designar um inventário público
de dados, metodicamente, organizados, concernentes a todos os objetos territoriais
legais dentro de certo país, ou distrito, baseado no levantamento/medições dos limites.

O aperfeiçoamento e as tendências atuais do Cadastro seguem nas direções da


melhoria da qualidade da informação cadastral; da garantia dos direitos sobre o imóvel,
através da coincidência entre os assentos registrais e cadastrais; da base do sistema
de informação territorial; e do uso dos dados cadastrais para a regularização fundiária e
para a proteção dos recursos naturais.

Seguindo nessa direção, foi dado um passo importante, no Brasil, com a


publicação, em 21 de agosto de 2001, da Lei nº 10.267, que determinou a criação do
Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR). O advento dessa lei forneceu, ao setor
público, um instrumento com capacidade para potencializar ações de gestão da
estrutura fundiária, além de viabilizar a articulação entre as políticas de caráter fiscal,
ambiental, de desenvolvimento e reforma agrária no país (INCRA, 2001).

Com os objetivos de controle, fiscalização e monitoramento das atividades


florestais, inclusive, das áreas de Reserva Legal, de Preservação Permanente, de
Servidão Florestal e de Florestas de Produção, foi estabelecida, legalmente, na Bahia,
estado localizado na região Nordeste do Brasil, a criação do Cadastro Estadual Florestal
de Imóveis Rurais (CEFIR), a ser mantido pelo órgão ambiental do estado.

De acordo com o levantamento cadastral de 1992, do SNCR, a Bahia tinha 552.431


imóveis rurais cadastrados em uma área de 44.007.393,00 ha. Caso todos os imóveis
cadastrados tivessem regularizado as próprias áreas de Reserva Legal, deveria haver
um mínimo de 8.801.478,60 ha dessas áreas lançadas no CEFIR. No entanto, nenhum
dado desse cadastro foi disponibilizado ao público, o que dificultou o planejamento de
localização de novas áreas de Reserva Legal.

A determinação legal, para a criação do CNIR, na esfera federal, e do CEFIR,


na esfera estadual, com a obrigação da inserção cadastral do imóvel rural em ambos,
configura duplicidade das ações institucionais pública e privada sobre o mesmo objeto.

Este trabalho buscou apresentar um diagnóstico da implementação institucional


dos cadastros CNIR e CEFIR, com o intuito de propor diretrizes para a integração entre
esses cadastros, no âmbito da Lei nº 10.267/01, através da identificação de possíveis
pontos de integração.

49
No desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma pesquisa exploratória, com
uma abordagem, preponderantemente, qualitativa, pois, embora o tema do Cadastro
seja discutido em diferentes instituições, como universidades, órgãos cadastrais e de
registro, não foi encontrado um conhecimento acumulado e sistematizado, que envolva
o Cadastro, relacionado com a Reserva Legal.

A lógica de intervenção, para a coleta de dados e de informações, foi a utilização


da revisão bibliográfica no que diz respeito ao cadastro e à Reserva Legal, da análise
documental e de entrevistas. Nesse sentido, foi realizada uma análise documental das
leis, decretos, regulamentos, normas, pareceres, relatórios institucionais, registros e
outros documentos relativos aos cadastros CNIR e CEFIR e ao processo de averbação
de Reserva Legal no estado da Bahia.

As entrevistas foram muito úteis para o conhecimento dos processos internos


das instituições envolvidas com as questões cadastrais consultadas, de situações que
não puderam ser percebidas através da revisão bibliográfica e da análise documental.

Com base nos diagnósticos realizados, foi possível a identificação de elementos


semelhantes e divergentes dos cadastros analisados, não perdendo de vista as
determinações da Lei nº 10.267/01 e a regulamentação dela. A partir daí, houve a
elaboração de proposições técnicas e de gestão para a integração dos cadastros CNIR e
CEFIR, visando ao uso multifinalitário da informação cadastral no processo de averbação
de Reserva Legal.

A hipótese levantada, neste trabalho, é a de que a conexão entre os cadastros


CNIR e CEFIR poderia dar celeridade ao processo de averbação de Reserva Legal na
Bahia, otimizando recursos, evitando duplicidade de ações institucionais e favorecendo
a implementação dessas áreas. Seriam possíveis, então, o desenvolvimento de
atividades integradas das gestões territorial e do meio ambiente; o planejamento
da localização das áreas de Reserva Legal em relação a outros espaços territoriais,
especialmente, protegidos; a melhoria do monitoramento e da fiscalização dessas
áreas, com foco nos problemas ambientais; a criação de mapas temáticos; a realização
de análises espaciais etc.

1.1- Cadastro e Registro de Terras no Brasil

Para o entendimento da situação atual do Cadastro no Brasil, é necessário


que se remeta à origem da formação do território, às evoluções da propriedade e da
exploração dela, à degradação dos recursos naturais, ao destrato pelas pessoas e às
legislações que foram sendo estabelecidas.

De acordo com Cardim et al. (1998), o Brasil apresenta uma estrutura fundiária,
extremamente, concentrada, vista por uma abrangência nacional, mas, geograficamente,
diferenciada, tanto no uso quanto na posse, se analisada por regiões. A concentração da

50
propriedade de terra se sustentou, também, pela ausência de informações públicas e
de um cadastro consistente, o que impediu que o Estado brasileiro se assenhorasse de
todo o território nacional, vigorando a ilegalidade e a instabilidade jurídica dos imóveis.

Os processos naturais de desenvolvimento demográfico e os incentivos de


integração, no país, geraram um complexo e irregular mosaico de ocupação de terras.
Essa situação foi sendo amalgamada durante os períodos da Colônia, do Império e da
República, e motivou grandes conflitos sociais pela posse e pela propriedade de terra,
com profundas marcas na história do país (ANGIEUSKI, 2005).

Com o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, foi, também,


estabelecido, oficialmente, o primeiro cadastro de imóveis rurais, com uma previsão
de atualização de dados a cada cinco anos, a partir de uma tentativa do governo de
levantar, mais uma vez, as propriedades públicas e privadas do país. Essa lei trouxe
proposições avançadas para a distribuição de terras e o combate aos latifúndios. No
entanto, mostrou-se, totalmente, ineficaz, prestando-se mais ao controle de lutas
sociais à medida que as desapropriações ocorriam, esporadicamente, para a resolução
de conflitos de terra. Viu-se, assim, o avanço da grilagem de terras, um dos mais
poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária, no meio rural brasileiro
(FIGUEIREDO, 2004).

Com os objetivos de integrar e de sistematizar as informações a respeito do uso


e da posse de terra, foi sancionada, em 12 de dezembro de 1972, a Lei nº 5.868, a qual
instituiu o Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR). Conforme o Art. 1º dessa lei, os
cadastros que compuseram esse sistema foram, além do cadastro de imóveis rurais, os
cadastros de proprietários e detentores de imóveis rurais, de arrendatários e parceiros
rurais, e de terras públicas, todos de competência do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (INCRA).

Dos cadastros rurais previstos no SNCR, somente, o de imóveis rurais foi,


efetivamente, implantado, devido, principalmente, à função de tributação da terra.
Contudo, em 1990, as atividades relativas ao Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural (ITR) foram transferidas do INCRA para a Receita Federal do Brasil (RFB), por
determinação do Art. 1º, da Lei nº 8.022/90.

Não obstante, com relação às mudanças ocorridas com os tributos incidentes


sobre a propriedade rural, a cobrança foi, sempre, feita a partir de informações prestadas
pelos proprietários, ou posseiros, por meio de um sistema declaratório, inclusive, bem
inconsistente, através da cobrança da Taxa de Serviços Cadastrais, a ser paga por meio
do Certificado do Cadastro de Imóveis Rurais (CCIR).

O avanço da tecnologia e das técnicas de base de dados e a transferência da


tributação do imóvel rural para a RFB precipitaram um processo de reformulação do
SNCR, em 1992 e em 1997, a partir de uma tentativa de integração dos dados literais

51
e gráficos do cadastro de imóveis rurais, inclusive, em ambiente web. Esse processo
alterou o enfoque do SNCR, até então, tributário, para fins cadastrais, propriamente,
ditos, potencializando as ações para a identificação de imóveis passíveis de ser objeto
da reforma agrária. No entanto, as informações contidas, até então, nesse cadastro do
SNCR, ainda, eram de caráter declaratório, algo vulnerável à qualidade da informação
prestada pelo proprietário, a qual poderia ser equivocada, tendenciosa ou manipulada.
Decorre, daí, a retratação de um panorama, possivelmente, distorcido da realidade
fundiária brasileira (CARDIM et al., 1998).

A superfície territorial do Brasil, segundo o IBGE, é de 854 milhões de hectares,


no entanto, a área total constante, no SNCR, no INCRA, em 1992, era de 310 milhões
de hectares, o equivalente a, apenas, 36,7% da superfície total. Segundo Cardim et
al. (1998), os fatores que determinaram essa inconsistência foram originados por
graus distintos de confiabilidade e precisão dos dados cadastrais, como o caráter
declaratório do cadastro, podendo haver idoneidade, ou não, na declaração. Ainda, o
levantamento, com precisão, pelo INCRA, de imóveis prioritários para reforma agrária,
atualizando esses dados no sistema, e o não cadastramento das terras públicas do
país em cadastro próprio.

Por outro lado, apesar das informações oriundas dos sistemas registral e
cadastral serem indispensáveis para as atividades relacionadas ao planejamento e ao
gerenciamento de um território, esses sistemas funcionam, separadamente, no Brasil
(BRANDÃO, 2003). A fraude, nos registros de imóveis, foi, historicamente, facilitada por
algumas brechas institucionais, como pela inexistência de um cadastro único. Os órgãos
fundiários, nos três níveis (federal, estadual e municipal), não são integrados entre si.

Sem uma perfeita integração entre o registro imobiliário e a planta cadastral,


é impossível, especialmente, em grandes áreas rurais, determinar, com precisão, a
situação dos imóveis.

Recebidos títulos, aparentemente, idôneos, o registrador não tem como aferir a


sobreposição dos imóveis. As sobreposições, as interseções e as omissões de parcelas,
o que gera nulidade e bloqueio de matrículas, devem-se à falta de integração entre
registro e cadastro (CARNEIRO, 2005).

Essa situação passou a ser modificada a partir da publicação da Lei nº 10.267,


em 21 de agosto de 2001, que incorporou o aperfeiçoamento e as tendências atuais
do Cadastro. Essa lei forneceu, ao setor público, um instrumento com capacidade para
potencializar ações de gestão da estrutura fundiária, além de viabilizar a articulação
entre as políticas de caráter fiscal, ambiental, de desenvolvimento e de reforma agrária
no país (INCRA, 2001).

52
Também, denominada de Sistema Público de Registro de Terras, a Lei nº
10.267/01 estabeleceu uma nova sistemática de registro de imóveis, ao exigir medições
georreferenciadas dos limites desses imóveis. Essa lei pretendeu incorporar a base
gráfica do cadastro físico ao registro imobiliário, aumentando, assim, a segurança
jurídica do imóvel.

Com a Lei nº 10.267/01, foi determinada a atualização cadastral, uma vez que
obriga os proprietários, os titulares de domínio útil ou os possuidores de imóvel, de qualquer
título, a declararem, ao SNCR, qualquer alteração relacionada à área ou à titularidade,
incluindo os casos de preservação, conservação e proteção de recursos naturais.

A Lei nº 10.267/01, também, apresentou diretrizes para a integração entre


os sistemas de cadastro e de registro, entre o INCRA e os Cartórios de Registro de
Imóveis, o que deve acontecer mensalmente. O alvo dessa comunicação são as
matrículas imobiliárias dos imóveis rurais que sofreram modificações de titularidade,
desmembramento, parcelamento, loteamento, remembramento, retificação, averbação
de área de Reserva Legal e outras limitações e restrições de caráter ambiental.

Ademais, a partir da comunicação mensal, a Lei nº 10.267/01 exige que os


serviços notariais mencionem, nas escrituras, dados do imóvel e do detentor dele,
oriundos do CCIR. Isso, somente, é expedido, pelo INCRA, após a apresentação, a
análise e o deferimento das peças técnicas e dos formulários de coleta que compõem
a atualização cadastral.

Regulamentada pelo Decreto nº 4.449/02, a Lei nº 10.267/01 traz uma mudança


de paradigma no que se refere ao princípio de especialização do registro de um imóvel
rural, ao se tornar obrigatória a identificação do imóvel para fins de efetivação do
registro. Evita-se, ou se dificulta, assim, a sobreposição de títulos, com as fraudes de
dupla titulação.

A partir da Lei nº 10.267/01, a identificação do imóvel rural, que, antes, era feita
através de uma descrição literal, deve ser apresentada em um memorial descritivo,
elaborado, executado e assinado por um profissional habilitado e com a devida
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), contendo as coordenadas dos vértices,
os definidores dos limites desse imóvel e as georreferências ao Sistema Geodésico
Brasileiro, com a incerteza posicional máxima de 0,50 metro em cada vértice levantado.

Por exigência do Decreto nº 4.449/02, foi publicada, pelo INCRA, em 2003,


a Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais, a qual foi revista e
apresentada em 2010. Essa norma visa orientar os profissionais que atuam nos mercados
de demarcação, medição e georreferenciamento de imóveis rurais, para o atendimento
da Lei nº 10.267/01, ao estabelecer padrões claros de precisão e acurácia. Esses padrões
permitem o controle da qualidade dos serviços, ao ser viabilizado o conhecimento das
inconsistências decorrentes do levantamento cadastral.

53
Outro importante aspecto da Lei nº 10.267/01 e do decreto regulamentador dela
foi a determinação da certificação dos imóveis rurais. Essa certificação não deve ser
confundida com o CCIR. Não gera o reconhecimento do domínio, a exatidão dos limites e
as confrontações indicadas pelo proprietário. De competência do INCRA, a certificação é
o documento que afirma que a poligonal de determinado imóvel rural não se sobrepõe a
uma outra constante do cadastro georreferenciado, e que o memorial descritivo atende
às exigências técnicas estabelecidas na Norma.

A Lei nº 10.267/01 determinou, ainda, a criação do Cadastro Nacional de Imóveis


Rurais (CNIR), para servir de base comum às diversas instituições públicas, produtoras
e usuárias de informações do meio rural, com gerenciamento pelo INCRA e pela Receita
Federal do Brasil.

O CNIR foi estabelecido para dispor, ao setor público, um instrumento de apoio


eficaz, ao permitir agilidade para o uso das informações e potencializar ações de caráter
fiscal, ambiental, de desenvolvimento rural e de reforma agrária. Seria a ferramenta
para conferir efetividade à Lei nº 10.267/01, com eficácia para ações de desmonte de
esquemas de latifúndio e de grilagem de terras.

A homogeneidade e a sistematização das operações geodésicas, topográficas


e cadastrais, contidas na Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais,
incluindo as representações cartográficas decorrentes, permitem a inserção desses
produtos no SNCR e no CNIR.

A unidade cadastral adotada pela maioria dos países é a parcela, mas não há
um consenso quanto à definição dela (MARTIN-VARES, 2009). A Lei nº 10.267/01 adotou,
para o CNIR, o imóvel rural como unidade cadastral.

De acordo com Carneiro (2005), a não adoção da parcela, como unidade


territorial do cadastro, gera grandes problemas para o cadastro brasileiro, uma vez que
existem diferentes conceitos de imóvel, vinculados às competências e às atividades de
cada instituição pública.

Para o INCRA, o imóvel rural tem uma definição dada pelo Art. 4º, do Estatuto
da Terra, como “o prédio rústico, de área contínua, qualquer que seja a sua localização,
que se destina à exploração extrativa, agrícola, pecuária ou agroindustrial [...]”, conceito
que foi incorporado pela Lei nº 8.629/73, de registros. Contudo, para a Receita Federal
do Brasil, responsável, atualmente, pela cobrança do ITR, segue a legislação tributária, a
qual adota o critério de localização, rural ou urbana.

Considerando que esse cadastro deve ser gerenciado pelo INCRA e pela Receita
Federal do Brasil, com a análise dos sistemas individuais de cadastro de cada instituição
parceira, as divergências relativas à unidade territorial de cadastramento, se imóvel rural

54
ou se parcela, a situação é preocupante. Portanto, adotar um conceito de parcela para
o cadastro, no Brasil, é uma das necessidades mais evidentes e uma exigência, a fim de
possibilitar o uso multifinalitário da informação cadastral (BRANDÃO; CARNEIRO, 2002).

A Lei nº 10.267/01 trata, apenas, dos imóveis rurais, e não engloba todas
as questões necessárias à modernização do cadastro no país. Assim, no sentido de
atendimento às demandas cadastrais do meio urbano, estabelecidas através do
Estatuto das Cidades, da Lei nº 10.257/01, foi, recentemente, publicada a Portaria nº
511/2009, do Ministério das Cidades, com diretrizes para a criação, a instituição e a
atualização do Cadastro Territorial Multifinalitário (CTM) nos municípios brasileiros. Essa
portaria estabelece um importante avanço para o cadastro no Brasil, notadamente, sob
o aspecto conceitual:

• Art. 1º O Cadastro Territorial Multifinalitário (CTM), quando adotado pelos municípios


brasileiros, é o inventário territorial oficial e sistemático do município e embasado no
levantamento dos limites de cada parcela, com o recebimento de uma identificação
numérica inequívoca.
• Art. 2º A parcela cadastral é a menor unidade do cadastro, definida como uma parte
contígua da superfície terrestre e com regime jurídico único.

Os avanços decorrentes da Lei 10.267/01 e da Portaria MCidades 511/2009,


incluindo as pesquisas acadêmicas desenvolvidas com foco na integração, ou
cooperação, entre os sistemas cadastrais e registrais, indicam um importante
reconhecimento de que o cadastro, no Brasil, seja feito, conforme as recomendações
do Cadastro 2014, da FIG.

1.2- Cadastro Florestal e Reserva Legal

O Brasil é um país recoberto por ecossistemas variados, contando com uma das
maiores diversidades de vida do planeta. Assim, as iniciativas de conservação da natureza
se deram no período colonial, através de um estilo gerencial baseado mais em documentos
legais, pouco aplicados, do que em políticas de preservação do meio ambiente.

Ao longo dos séculos, foram sendo, legalmente, estabelecidos espaços


territoriais, especialmente, protegidos, para conter o uso predatório dos recursos
naturais, em terras públicas ou particulares. Assim, os objetivos eram separar algumas
porções do território e limitar o uso da terra e dos recursos naturais. Exemplos desses
espaços são as Unidades de Conservação, as Áreas de Preservação Permanente e de
Reserva Legal etc.

Apesar de ser uma importante estratégia para conter o uso predatório dos
recursos naturais, a criação desses espaços protegidos vem enfrentando grandes
desafios de implementação, relacionados à forma através da qual essas áreas foram,
ou são, estabelecidas, não considerando, muitas vezes, a pressão sobre o uso dos

55
recursos naturais. A gestão dessas áreas, submetidas a regimes de uso diferentes em
comparação ao vigente, com a paisagem circunvizinha, mas, ainda, com dependência,
conta, também, com a limitação de recursos humanos e financeiros.

Para Bensusan (2006), o maior, desses desafios, é a preservação dos processos


que geram e mantêm a diversidade biológica que se quer conservar, sendo necessário,
para tanto, conhecê-los, e reconhecer que se dão em uma escala que transcende a área
protegida. Milaré (2004) ressalta que é, de grande importância, pensar neles no espaço
geográfico, a partir da distribuição e da proximidade deles, como forma de favorecer a
conservação da biodiversidade e a manutenção dos processos ecológicos.

A Reserva Legal do imóvel rural é um espaço territorial protegido, criada pela Lei
nº 4.771, de 1965. O objetivo inicial era assegurar, em áreas de colonização mais antiga, e
com um alto grau de desmatamento, uma reserva mínima de recursos florestais (lenha,
carvão e madeira) para o uso na propriedade e para o abastecimento de mercados locais.
Em áreas, ainda, não desbravadas, a finalidade seria a de controlar o desmatamento,
assegurando a exploração sustentável da floresta a longo prazo (MERCADANTE, 2001).

O Código Florestal de 1965 sofreu inúmeras alterações, sendo, o texto atual


vigente, aquele dado pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001, a qual estabelece, no
Art. 1º, parágrafo 2º, inciso III, que Reserva Legal é a “[...] área localizada no interior de
uma propriedade, ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária
ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos
ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e da flora”.

As áreas de Reserva Legal correspondem a um percentual mínimo de 20% do


imóvel rural, podendo alcançar até 80% desse imóvel, a depender do bioma no qual
se encontra inserido. A localização deve ser analisada e aceita pelo órgão ambiental
competente para, posteriormente, ser averbada à margem da inscrição da matrícula do
imóvel, no devido cartório de registro de imóveis.

Para a aprovação das localizações das áreas de Reserva Legal, é necessário


que se comprovem, efetivamente, com o órgão ambiental competente, a área total
e a localização exata do imóvel, além das áreas de APP, nele, inseridas. Só, então, é
possível verificar se a área, proposta para a localização da Reserva Legal, corresponde
ao percentual mínimo exigido por lei, sendo, pois, imprescindível o levantamento do
perímetro do imóvel.

De acordo com Santos (2008), a finalidade de averbar a Reserva Legal é dar


publicidade à essa área. Com isso, futuros adquirentes do imóvel rural, e de toda a
coletividade, saberão, exatamente, onde está localizada a Reserva Legal, e a respeitarão,
em atendimento à finalidade da lei.

56
Apesar de todo esse arcabouço legal de proteção ambiental, no Brasil, essas
áreas são implementadas e geridas por vários órgãos governamentais, das três esferas
do Poder Executivo, setorizados e com dificuldade de comunicação entre si, o que não
contribui para o conhecimento do panorama dessas áreas.

A necessidade de aproveitamento eficiente dos recursos ambientais, cada vez


mais escassos, justifica a adoção de ferramentas que possibilitem a tomada de decisões
baseada em critérios técnicos, que levem a uma melhor relação custo-benefício. Nesse
sentido, as informações cadastrais são de valor inegável para a gestão ambiental.

O cadastro florestal aparece como ferramenta de gestão, controle e fiscalização


das atividades florestais. Alguns cadastros florestais podem ser encontrados no Brasil,
nas três esferas de poder (federal, estadual, municipal), com finalidades específicas,
principalmente, no que se refere às Unidades de Conservação e às Florestas Públicas.

A nível estadual, foi analisado, neste trabalho, pelo vínculo direto com os imóveis
rurais, o Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR), no estado da Bahia, com
os objetivos de controle e de fiscalização das atividades florestais, inclusive, das áreas
de Preservação Permanente e de Reserva Legal.

Esse cadastro foi, inicialmente, estabelecido pelo Art. 50, do Decreto Estadual
nº 6.785, de 1997, denominado de CFIR. Posteriormente, em 2005, houve, mais uma vez,
a determinação de criação do CEFIR, por meio do Decreto nº 9.405, com os mesmos
objetivos do decreto de 1997, porém, definia-se, agora, esse cadastro. Seria um banco
de dados georreferenciado, atualizado por meios disponíveis, próprios ou de terceiros,
com informações obtidas através dos processos administrativos, como o processo para
a aprovação da localização da Reserva Legal.

Na Lei nº 10.431, de 2006, que instituiu a Política de Meio Ambiente e de Proteção


à Biodiversidade do estado, a questão do CFIR foi, novamente, abordada, dessa vez,
com o nome de CEFIR, e passou a ser mais um dos cadastros que integrariam o Serviço
Estadual de Informações Ambientais (SEIA). Por ela, o CEFIR passou a ser o instrumento
de monitoramento de APP, de Reserva Legal, de Servidão Florestal e de Florestas de
Produção, necessário para a efetivação do controle e da fiscalização das atividades
florestais e para a formação de corredores ecológicos.

O CEFIR passou por uma evolução conceitual, talvez, imposta pelo avanço
tecnológico dos momentos concebidos, partindo de objetivos de controle e de
fiscalização para o monitoramento ambiental. A gestão desse cadastro, também, foi
sendo alterada, à medida que os documentos legais começaram a ser instituídos. Dessa
forma, a gestão desse cadastro foi atribuída ao Departamento de Desenvolvimento
Florestal (DDF), pelo Decreto nº 6.785/97; posteriormente, à Secretaria Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH/SFC), pelo Decreto nº 9.405/05; e, mais
recentemente, ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), pelo Decreto nº 11.235/08.

57
2- INTEGRAÇÃO DOS CADASTROS CNIR E CEFIR

Para a consecução dos objetivos da pesquisa, foi desenvolvido um método que


permitiu analisar os cadastros CNIR e CEFIR e o processo institucional de averbação da
Reserva Legal na Bahia e elaborar proposições para a integração entre esses cadastros,
apresentado, resumidamente, a seguir.

A partir da leitura de documentos científicos, legais e de divulgação, Dantas


(2009) procurou identificar e selecionar elementos importantes para a análise e o
diagnóstico dos cadastros CNIR e CEFIR.

Diante do grande número de elementos a serem investigados, buscou agrupá-


los para facilitar a análise dos cadastros. Ajustando esses elementos para os objetivos da
pesquisa, foram estabelecidos dois grupos de análise, conforme relacionados a seguir:

• Aspectos Legais e de Gestão: Criação, implantação, conceito, propósito, abrangência,


unidade de registro, código de identificação do cadastro, softwares utilizados,
instituição responsável, conteúdo compartilhado e/ou relacionamento institucional,
ligação com o sistema registral, frequência de atualização, pessoal obrigado,
prazos, acesso e disponibilização das informações, recursos humanos, custos e
documentação exigida para a inclusão cadastral.
• Aspectos Técnicos: Padrões do levantamento cadastral: Execução do levantamento
cadastral, precisão posicional, georreferenciamento, sistema de referência posicional,
codificação de vértices, georreferenciamento ao SGB.

A partir daí, foram elaborados quadros, um para cada grupo de elementos de


análise, com o intuito de se obter um diagnóstico dos cadastros, além de se compararem
elementos semelhantes e divergentes entre eles, perante as situações legais, técnicas
e de gestão.

O processo institucional, para a averbação da Reserva Legal, na Bahia, foi,


também, diagnosticado e analisado, sendo observado em que parte os cadastros
estavam inseridos nesse processo. Assim, foram estudados os documentos legais,
as rotinas, os procedimentos, o tempo despendido, as instituições responsáveis ou
envolvidas e os custos, e, então, elaborado o fluxograma de todo o processo. Esse
fluxograma pretendeu facilitar a visualização da complexidade do processo analisado.

De posse dos diagnósticos, foram propostos procedimentos técnicos e de


gestão que pudessem contribuir para a estruturação, a implementação e a integração
desses cadastros e para a desburocratização do processo de averbação da Reserva
Legal na Bahia. As proposições levaram em consideração os elementos favoráveis, os
quais foram enfatizados com vistas a reforçar a viabilidade da integração. Os pontos
desfavoráveis foram tratados no sentido de resolução das divergências identificadas.

58
Alguns pontos dos resultados e discussões da pesquisa estarão destacados
adiante.

Os cadastros CNIR e CEFIR, ainda, não foram, devidamente, implementados,


sendo que ambos estão passando por processos de reestruturação. Assim, essa
pesquisa poderá ser útil, uma vez que propõe elementos técnicos e de gestão para a
implementação de ambos.

Mesmo considerando a importância da Lei nº 10.267/01 e do CNIR, observou-se


a ocorrência de um cadastro concorrente, com a sobreposição de ações cadastrais,
como o Sistema de Gestão de Terras (SGT), do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA/SRA), em convênio com alguns Órgãos Estaduais de Terras (OET).

O SGT é o produto do programa federal 0138, com ação “Apoio aos Estados
para Implantação do Cadastro de Terras e Regularização Fundiária no Brasil”, o qual
dispersa, ainda mais, os já reduzidos recursos humanos e financeiros para a efetiva
implementação do cadastro, legalmente, estabelecido.

A verba federal destinada para a implantação do CNIR foi contingenciada. No


entanto, o INCRA manteve, em parte, o andamento dessa ação, através do trabalho
realizado pelos próprios servidores da instituição, sem um custo adicional para a
Autarquia, no que se refere ao desenvolvimento da componente gráfica do CNIR. Esta
foi implantada através do Serviço de Certificação de Imóveis Rurais, em 2005, em um
SIT denominado de Sistema Nacional de Cadastro de Imóveis (SNCI), utilizado, para o
desenvolvimento, o software comercial Geomedia. O SNCI é a base de lançamento de
todos os imóveis certificados pelo INCRA e se encontra em pleno funcionamento.

Não se deve negar, aqui, a importância de um programa de regularização


fundiária que tente sanar o problema histórico da ocupação territorial no Brasil, porém,
cabe o questionamento quanto às razões que levaram ao estabelecimento de um outro
cadastro de terras, no caso, do SGT, com a previsão legal e a indiscutível importância da
implantação do CNIR para o país.

A não implementação do CEFIR, mesmo com a importância dele para a gestão


ambiental do Estado da Bahia, assim como ocorreu com o CNIR, também, recaiu
sobre um aparelho implementador fragmentado, inadequado, com fragilidade técnica,
desconhecimento do cadastro, e superposição de funções dos órgãos públicos de
controle e gestão ambiental.

A proposição, para a implementação do CEFIR, foi no sentido de estruturá-lo


como um cadastro parcelar, assim, seriam inseridos os objetos territoriais ambientais do
imóvel rural, a exemplo das áreas de Reserva Legal, o que se adequaria, perfeitamente,
ao conceito de parcela. Assim, o perímetro do imóvel rural não seria inserido no CEFIR,
mas na base comum do CNIR, ao qual o órgão ambiental teria acesso, mediante o

59
estabelecimento de uma parceria formal e de senhas específicas. Assim, a pesquisa
apontou para a viabilidade legal de integração dos cadastros CNIR e CEFIR, mas houve
a necessidade de ajustes na estrutura inicial proposta. O fato de que o CEFIR tinha
inserção, apenas, no Estado da Bahia, não impediu que fosse conectado com os dados
constantes das bases cadastrais do INCRA (SNCR, CNIR, SNCI), referentes ao estado.

O processo institucional de averbação da Reserva Legal, na Bahia, apresentou-


se extenuante, demorado, custoso e burocrático para os detentores de imóveis rurais,
sendo identificada a duplicidade de exigências dos órgãos ambientais e cadastrais. Foi
proposto o enxugamento e/ou o aprimoramento de algumas etapas desse processo, o
que poderia otimizar recursos financeiros e humanos, evitando a duplicidade de ações
e favorecendo a gestão do território.

O levantamento do perímetro dos imóveis rurais deve atender às determinações


legais estabelecidas pela Lei nº 10.267/01, pelo Decreto nº 4.449/02 e pela Norma
Técnica de Georreferenciamento, e observados os prazos para o cumprimento dessas
determinações. Assim, o órgão ambiental não pode estabelecer normas, como a IN/
SEMARH/001/08, o que se opõe à legislação citada, pelo menos, no que se refere ao
perímetro externo do imóvel rural.

O CNIR, conforme, legalmente, previsto, não utilizou a parcela como unidade


cadastral. Esse fato prejudicou a integração entre os cadastros, não, apenas, o CEFIR,
mas, também, aqueles de outras instituições. Diante dessa situação, e visando favorecer
os elementos de integração para a implementação desse cadastro, propõe-se, aqui, a
manutenção da concepção original do CNIR como base comum de informações e das
bases próprias de outras instituições produtoras e consumidoras de informações do
meio rural.

Nessa base, as diversas instituições podem lançar os próprios dados referentes


ao imóvel rural e visualizá-los em relação aos de outras instituições, isso porque o
domínio agrário não está, somente, no INCRA, mas, também, nos Órgãos Estaduais
de Terras (OET), e, indiretamente, nos órgãos ambientais. As atualizações cadastrais
estão, portanto, descentralizadas, o que reduz a duplicação de atividades, a exemplo do
levantamento cadastral e da apresentação de documentos e de custos.

As informações se mostram organizadas em um único cadastro, estruturado


em redes e enlaces entre os diferentes sistemas computacionais, assim, cada nó pode
consumir e prover serviços aos outros nós. Um exemplo disso se dá com as áreas de
Reserva Legal da Bahia, inseridas, no CEFIR, como uma parcela de determinado imóvel,
cujo perímetro está, ou é, inserido no CNIR.

Para essa base comum, pode ser utilizada a estrutura já existente do Sistema
Nacional de Imóveis Rurais (SNCI), adotado, pelo INCRA, para a certificação dos imóveis
rurais. O SNCI está estruturado em algumas camadas, ou layers, a exemplo dos próprios
imóveis certificados, dos projetos de assentamento de reforma agrária, dos imóveis
vistoriados etc.
60
A estrutura do SNCI está apta a ser ampliada, com a criação de outras camadas,
cada uma comportando uma situação jurídica específica da composição desse imóvel
(domínio, posse a justo título, posse por ocupação etc.), e com níveis diferenciados de
levantamento cadastral, de tipo de imóvel (particular, público, projeto de assentamento,
vistoria para fins de reforma agrária, quilombola etc.) e de localização (rural ou urbano),
a fim de se resolverem problemas em caso de sobreposição. A camada principal dos
imóveis rurais deve ser aquela que contenha os imóveis certificados pelo INCRA, na qual
se encontra a informação precisa e inequívoca de um perímetro.

Os demais objetos territoriais relativos ao meio rural brasileiro, como Reserva


Legal, APP, Unidades de Conservação, hidrografia, rodovias, geologia, vegetação, biomas,
dentre tantos outros, são mantidos nas bases próprias de cada instituição responsável.

A curto e médio prazos, são utilizados tipos distintos de unidade cadastral,


adequados aos cadastros de cada instituição parceira, até que seja possível a adoção
da parcela em todos esses cadastros.

Quanto ao código de inserção cadastral, fica mantido o número do imóvel rural


dado pelo SNCR, visualizado através do CCIR, quando se trata da inserção pela unidade
“imóvel rural”. No caso da unidade “parcela”, utiliza-se um número composto pelo
código do imóvel no CCIR acrescido de três dígitos, com uma sequência crescente.
Nesse caso, para cada parcela vinculada a um determinado imóvel, há um número
específico, sem repetição.

A gestão dessa base pode ser mantida pelo INCRA, com a incorporação gradativa
da Receita Federal do Brasil, uma vez que esta última se mantém distanciada do processo
de estruturação do CNIR. No entanto, é necessário que essas duas instituições estejam
bem articuladas, ainda, que promovam a articulação com as demais instituições que
venham a se tornar parceiras.

O acesso ao CNIR se dá mediante senhas direcionadas para cada atividade


(consulta, inclusão, exclusão, alteração), disponibilizadas para as instituições parceiras,
no âmbito específico de domínio de cada instituição, das atribuições que são, legalmente,
a elas, estabelecidas.

Essas parcerias se tornam formais, e devem tratar do tipo de informação que


pode ser disponibilizado às demais instituições parceiras, e, futuramente, ao público em
geral, utilizados, por exemplo, termos de cooperação técnica entre essas instituições.

A disponibilização dos dados cadastrais do CNIR e o acesso à inserção e à


edição desses dados, pelas diversas instituições parceiras, podem ser feitos via web.
No entanto, sendo, a tecnologia da internet, uma solução extraordinária para questões
de comunicação e acessibilidade à informação, é, também, uma fonte de preocupação
quanto ao uso indevido das informações e à propagação de problemas.

61
Questões, como sigilo, certificação das informações e natureza dos processos,
necessitam ser, cuidadosamente, trabalhadas entre as instituições e com uma
equipe técnica que venha a ser contratada para estruturar esse cadastro virtual. As
informações cadastrais, ao se aprimorarem os mecanismos de controle da qualidade
da informação nesse ambiente virtual, devem ser, gradativamente, disponibilizadas ao
público, reforçados os princípios democráticos da transparência pública.

É necessário, a partir da tentativa de mobilizar as diversas instituições


produtoras e consumidoras de informações do meio rural, dar uma ampla divulgação
da Lei nº 10.267/01, do Decreto nº 4.449/02, da Norma Técnica de Georreferenciamento
de Imóveis Rurais e dos atos normativos subsequentes, não apenas, nos ambientes
institucionais, mas, também, na sociedade, em geral.

3- CONCLUSÕES

[...]

FONTE: DANTAS, Y. V.; BRANDÃO, A. C.; DELGADO, J. P. M. A integração do Cadastro Nacional


de Imóveis Rurais (CNIR) com o Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR)
no Brasil. 2010. Disponível em: https://Www.Researchgate.Net/Publication/276921451_A_
Integracao_Do_Cadastro_Nacional_De_Imoveis_Rurais_Cnir_Com_O_Cadastro_Estadual_Florestal_
De_Imoveis_Rurais_Cefir_No_Brasil. Acesso em: 24 abr. 2021.

62
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A Lei de Terras foi instituída em 1854, pelo Decreto nº 1318, de 30 de novembro. De


acordo com o Decreto, foi criada a Direção Geral de Terras Públicas, e com as seguintes
atribuições: fazer o levantamento de terrenos públicos; legalizar os terrenos privados
e a venda de terrenos públicos; estabelecer um sistema de fiscalização de terrenos
devolutos; e criar os registos paroquiais. Além disso, a lei estabeleceu o Registro
de Propriedade de Terras, exigindo que todos os proprietários de títulos, ou posses,
registrassem as próprias terras (BRASIL, 1854).

• O Cadastro de Imóveis Rurais precisa ser um meio lógico e padronizado de relacionar


bases de dados alfanuméricos e cartográficos originadas em diferentes instituições
de gestão. A unificação dos esforços cadastrais permite considerar as caracte­
rísticas socioambientais de uma região, estado ou município; identificar problemas
ambientais e de demarcação fundiária, incluindo conflitos a partir do uso do solo; e,
assim, definir políticas públicas coerentes.

• A contar do Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, o Brasil


tem, oficialmente, um Cadastro Técnico de Imóveis Rurais, o qual visa fornecer,
às instituições públicas, empresas e proprietários rurais, dados e in­formações, de
origem cartográfica, dos recursos naturais, titularidade, formas geométricas e
potencialidades dos estabelecimentos, de modo que se assegurem a conservação
am­biental e o desenvolvimento rural integrado. Por meio desse Estatuto, o INCRA é o
órgão público responsável pelo Cadastro (BRASIL, 1964).

• O CAR é imposto, por lei, a todos os estabele­cimentos rurais, e deve catalogar dados
ambientais relativos às situações das Áreas de Preservação Per­manente (APP), das
áreas de Reserva Legal, das florestas e remanescentes de vegetação nativa, das áreas
de uso restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país.

63
AUTOATIVIDADE
1 A Lei de Terras foi instituída em 1854, pelo Decreto nº 1318, de 30 de novembro. Assim,
quais eram as atribuições da Direção Geral de Terras Públicas, conforme o Decreto?

2 O INCRA cadastra famílias para desocuparem alguma terra indígena no MA. Para o
superintendente regional do INCRA, há uma área disponível para realocar as famílias
que se cadastram. Assim, analise as afirmativas a seguir, a respeito do INCRA, e, na
sequência, indique a opção CORRETA:

I- INCRA é a sigla do Instituto Nacional de Comércio e Retomada Agrária.


II- O INCRA tem, como missões prioritárias, executar a reforma agrária e realizar o
ordenamento fundiário nacional.
III- O INCRA visa contribuir para o desenvolvimento rural sustentável.
IV- O INCRA promove a democratização do acesso à terra por meio da criação e da
implantação de assentamentos rurais e da regularização fundiária de terras públicas.

a) ( ) I, II e III estão corretas.


b) ( ) II, III e IV estão corretas.
c) ( ) III e IV estão corretas.
d) ( ) I, II e IV estão corretas.
e) ( ) II e IV estão corretas.

3 Para os imóveis rurais, os Decretos n° 4.449, de 30 de outubro de 2002, e n° 5.570, de


31 de outubro de 2005, estabelecem:

I- Os serviços de registros de imóveis são obrigados a comunicar, mensalmente, ao


INCRA, as modificações ocorridas nas matrículas dos imóveis rurais.
II- O INCRA comunica, semestralmente, aos serviços de registros de imóveis, os
códigos dos imóveis rurais decorrentes de mudança de titularidade, parcelamento,
desmembramento e loteamento.
III- A identificação do imóvel rural, objeto de ação judicial, é exigida, imediatamente,
para qualquer que seja a dimensão da área.
IV- Os critérios técnicos para a implementação, o gerenciamento e a alimentação do
Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR) são fixados em ato normativo conjunto,
do INCRA e da Secretaria da Receita Federal.

Está CORRETO o que consta em:


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) II, III e IV, apenas.
c) ( ) I, II e III, apenas.
d) ( ) I e IV, apenas.
e) ( ) I, III e IV, apenas.

64
4 A Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012, conhecida como novo Código Florestal,
instituiu, a partir do Capítulo VI, o Cadastro Ambiental Rural (CAR). No que se refere a
esse cadastro, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É exigido, exclusivamente, para médios e grandes produtores.


b) ( ) Não é obrigatório.
c) ( ) É obrigatório para todos os imóveis rurais, exceto para assentamentos de
reforma agrária.
d) ( ) Substitui o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR).
e) ( ) É obrigatória, a inscrição, no CAR, de todas as propriedades e posses rurais.

5 No Brasil, paralelamente, à expansão das cida­des, está ocorrendo o agravamento


dos problemas sociais e ambientais. A ocupação desordenada é um importante fator
dessa degradação socioambiental. As áreas ocupadas, de forma desordenada, não
per­mitem a definição dos limites das parcelas privadas e públicas, nem o controle
da exploração dos recursos naturais. Quando a ocupação do território cresce sem
limites, gera prejuízos ambientais, sociais e econômicos. Assim, explique como o
cadastro de imóveis, em especial, o de imóveis rurais, pode evitar e/ou minimizar isso.

65
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, A. R. V. Da função social da posse e sua consequência frente à
situação proprietária. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2002

AMADO, F. A. Di T. Direito ambiental esquematizado. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense;


São Paulo: MÉTODO, 2014.

ARAUJO, S. M. V. G. de; JURAS, I. A. G. M. Debate sobre a nova lei florestal: análise


dos textos aprovados na Câmara e no Senado. In: COMITÊ BRASIL EM DEFESA DAS
FLORESTAS E DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Código Florestal e a ciência: o
que nossos legisladores ainda precisam saber. Brasília: Comitê Brasil, 2012. p. 105-116.

AZEVEDO, J. M. J. Do registro de imóveis; de acordo com a nova lei de registros


públicos - Lei 6015, de 31/12/1973. São Paulo: Saraiva, 1976.

BRASIL. Decreto nº 7.830, de 17 de outubro de 2012. Dispõe sobre o Sistema de


Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural, estabelece normas de caráter
geral aos Programas de Regularização Ambiental, de que trata a Lei nº 12.651, de 25 de
maio de 2012, e dá outras providências. 2012a. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7830.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação


nativa; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de
1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro
de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de
agosto de 2001; e dá outras providências. 2012b. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Código Civil (2002). Código Civil brasileiro e legislação correlata. 2. ed.
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BRASIL. Decreto nº 5.570, de 31 de outubro de 2005. Dá nova redação a


dispositivos do Decreto nº 4.449, de 30 de outubro de 2002, e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/
d5570.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 4.449, de 30 de outubro de 2002. Regulamenta a Lei no 10.267, de


28 de agosto de 2001, que altera dispositivos das Leis nos. 4.947, de 6 de abril de 1966;
5.868, de 12 de dezembro de 1972; 6.015, de 31 de dezembro de 1973; 6.739, de 5 de
dezembro de 1979; e 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e dá outras providências.
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66
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usucapião especial, de imóveis rurais; altera a Redação do § 2º, do Art. 589, do Código
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Cadastro Rural, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l5868.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

67
BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra,
e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
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BRITO, J. P. M. Apreciações e reflexões sobre a Norma Técnica para


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em: 24 abr. 2021.

70
UNIDADE 2 —

CARTOGRAFIA E
CADASTRO RURAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender as técnicas e os sistemas de posicionamento;

• compreender o posicionamento geodésico;

• perceber os inúmeros métodos de posicionamento, com a inclusão da melhor opção


a ser adotada, conforme as particularidades percebidas em campo;

• interpretar a aplicação da sobreposição de camadas de diferentes temas através de


um Sistema de Informação Territorial, visando a um correto e eficiente cadastro rural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TÉCNICAS E SISTEMAS DE POSICIONAMENTO


TÓPICO 2 – POSICIONAMENTO GEODÉSICO
TÓPICO 3 – CADASTRO RURAL

CHAMADA
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CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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72
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
TÉCNICAS E SISTEMA DE
POSICIONAMENTO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos, fundamentalmente, as técnicas e os sistemas de
posicionamento geoespacial cabíveis para o georreferenciamento rural. De tal modo,
abordaremos, brevemente, aspectos do manuseio do GPS, funcionalidades, observáveis,
erros, dentre outros.

Em seguida, analisaremos as principais técnicas topográficas aplicadas


a levantamentos cadastrais rurais, iniciando as análises, em especial, com os
posicionamentos relativos estático e estático rápido. Desse modo, aguçaremos o seu
interesse, acadêmico, no que estará por vir no Tópico 2 desta unidade.

Por fim, sugerimos uma leitura complementar, a qual trará alguns exemplos
práticos iniciais do assunto que abordaremos ao longo desta unidade. Portanto, tenham,
todos, uma ótima leitura e bons estudos!

2 SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL


Segundo Peroni (2004), o funcionamento do sistema GPS se baseia no preceito
da triangulação. Um observador determina a posição de um grupo de satélites em
relação a um referencial inercial e a própria posição em relação a esse grupo, e detém
uma posição particular no sistema de referência. O sistema de referência operado, pelo
sistema GPS, é o World Geodetic System 1984 (WGS 84).

O GPS é composto por três segmentos básicos: o segmento espacial,


determinado pelos satélites; o segmento de controle, formado pelas estações terrestres
(as quais agem sob o desempenho e o funcionamento do sistema); e o segmento
usuário, estabelecido pelos usuários do sistema (PERONI, 2004).

De acordo com Monico (2000), os sistemas GPS são projetados para permitir
que os usuários rastreiem, pelo menos, quatro satélites em qualquer lugar da superfície
terrestre, ou próximos a ela. Esse número de satélites permite o posicionamento em
tempo real. Para usuários no campo de levantamento geodésico, uma característica
muito importante da tecnologia GPS, em comparação com os métodos tradicionais de
levantamento, é que ela não requer visibilidade mútua entre os locais. Além disso, o GPS
pode ser usado em qualquer condição climática.

73
No GPS, existem dois tipos de serviços, os quais são chamados de SPS (Standard
Positioning Service – Serviço de Posicionamento Padrão) e PPS (Precise Positioning
Service – Serviço de Posicionamento Preciso). O SPS é um serviço com posicionamento
e tempo padrões que está disposto a qualquer usuário e sem custos; já o PPS, que
combina melhores resultados (10 a 20 metros), é exclusivo ao uso militar e aos usuários
autorizados/pagos (MONICO, 2000).

Castillo (2002) traz que cada satélite GPS emite, ao menos, duas ondas
portadoras, as quais podemos citar L1 e L2, obtidas a partir da frequência de 10,23 MHZ,
sendo multiplicada por 154 e 120, respectivamente.

O sistema de controle é composto por cinco estações monitoras (Ascendion


Island, Diego Garcia, Kwajalein, Hawaii, Colorado Springs), sendo que três delas têm
antenas para transmitir os dados para os satélites (Ascendion Island, Diego Garcia,
Kwajalein), e uma estação de controle central (Master Control Station – MCS), localizada
em Colorado Springs (CASTILLO, 2002).

Grande parte dos aparelhos GPS iniciou com receptores de simples frequência,
ao se adotarem a técnica de correlação do código C/A (Course/Acquisition) e medidas
de fase da portadora L1, com capacidade de rastrear, apenas, quatro satélites (MONICO,
2000). Com o passar do tempo, a opção da portadora L2 foi acrescentada, incluindo as
demais, aumentando, substancialmente, o número de satélites rastreáveis.

É importante ressaltar que os sistemas de coordenadas compreendidas no


posicionamento por satélites são o celeste e o terrestre convencionais, ambos geocêntricos
(MONICO, 2000). Em tempo, também, cabe, o destaque, ao Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), da definição, da implantação e da manutenção do Sistema Geodésico
Brasileiro (SGB). Ele detém o referencial horizontal do SGB sob a condição de paralelismo
entre o Sistema de Coordenadas Cartesianas e o CTRS (Conventional Terrestrial Reference
System – Sistema de Referência Terrestre Convencional).

É conveniente ressaltar que a Associação Internacional de Geodésia orienta,


de modo geral, o uso do WGS 84 para fins de mapeamento, navegação ou banco de
dados digitais.

Com isso, torna-se imperioso o destaque que, desde o ano de 2005, o IBGE, através
da Coordenação de Geodésia, incorporou, nas próprias atividades, o processamento
semanal dos dados de todas as estações da Rede Brasileira de Monitoramento
Contínuo dos sistemas GNSS – RBMC, visando aferir o quilate das observações GPS e o
prosseguimento do novo Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS
2000), oficialmente, implantado a partir de fevereiro do mesmo ano.

74
Após alguns anos, o IBGE passou a ser um dos centros de análise SIRGAS,
com a missão de processar os dados das estações GNSS contínuas que concernem da
parte central da rede SIRGAS-COM, além de concordar com as soluções semanais de
totalidade dos centros de processamento SIRGAS (IBGE, 2011).

3 COORDENADAS E OBSERVÁVEIS
De modo a facilitar o intercâmbio de dados GPS/GNSS, foi produzido o arquivo
de formato “RINEX” (Receiver Independent Exchange Format), o qual consiste em
três arquivos em ASCII, quais sejam: observações, dados meteorológicos e dados de
mensagens de navegação. As observáveis GPS, como todas as demais observáveis
atreladas aos desenvolvimentos de medidas, estão receptíveis a erros sistemáticos,
aleatórios e grosseiros.

Para se obterem conclusões seguras, deve ser profícuo o modelo matemático


(funcional e estocástico), firmado para a realidade física que se tenta descrever, e capaz
de detectar problemas. Dessa maneira, as fontes de erros, atreladas aos processos de
medidas, devem ser bem convividas (MONICO, 2000).

3.1 SÍNTESE DAS OBSERVÁVEIS GPS


A escolha da observável (Código; Portadora modulada, em fase, pelo código; ou
Combinação linear das portadoras) depende do objetivo do trabalho, do custo e da precisão
requerida. Segundo Hofmann-Wellenhof, Lichtenegger e Collins (1997), as observáveis
são distâncias deduzidas de medidas de tempo ou de diferenças de fases, baseadas nas
comparações entre sinais recebidos do satélite e sinais gerados no receptor.

• Pseudodistância, a partir do código (tempo de propagação do sinal X velocidade da luz).


• Fase da onda portadora ou diferença de fase da onda portadora (mais precisa:
diferença entre a fase do sinal de satélite recebido no receptor e a fase do sinal
gerado no receptor).

O sistema GPS emprega o conceito a partir do qual dois relógios são utilizados,
um pertencente ao satélite e outro ao receptor. Devido à não sincronização dos relógios,
as distâncias são parciais, sendo denominadas de pseudodistâncias.

Para a determinação da posição geométrica tridimensional de um ponto, são,


portanto, necessárias, as seguintes medidas:

• Três medidas de pseudodistâncias.


• Uma medida para sincronização dos relógios do receptor e do satélite.
• O conhecimento da posição dos satélites.
• A sintonização de, no mínimo, quatro satélites.
75
Para determinar as pseudodistâncias, pode-se utilizar duas observáveis básicas:
os códigos e as portadoras:

• Os códigos observados podem ser o código P (precisão) e o código C/A (Fácil Aquisição).
• As portadoras podem ser L1 e L2, sendo geradas através da multiplicação eletrônica de
uma frequência-base, 10,23 MHz, produzida por relógios atômicos com estabilidade
de 10E-13. A portadora L1 é modulada, em fase, pelos códigos P e C/A, e a portadora
L2 é modulada, apenas, pelo código P.

Neste sentido, torna-se importante mencionar, conforme Leick, Rapoport e


Tatarnikov (2015), que a pseudodistância e a fase da portadora são as observáveis GPS
mais importantes para o posicionamento.

Inicialmente, as soluções de navegação primárias utilizavam, somente, a


pseudodistância, adquirida com base na medição do tempo de percurso da onda
eletromagnética entre a antena do satélite e a do receptor, conhecendo-se a época de
saída do código, a época de chegada no receptor e a velocidade de propagação do sinal,
o qual é semelhante à velocidade da luz no vácuo.

A expressão matemática da pseudodistância precisa considerar, além da


distância geométrica, os erros dos relógios do receptor e do satélite; os efeitos da
atmosfera (atrasos na ionosfera e na troposfera); os ruídos gerados, internamente, no
receptor e no satélite; e o multicaminhamento do código. A expressão completa será
dada e apresentada na equação a seguir:

Sendo:

= distância geométrica no vácuo, calculada com base na posição do satélite p


e do receptor k. Consideração da rotação da terra durante o tempo de propagação
do sinal;
= desvio do tempo nominal de chegada do código em relação ao tempo verda-
deiro dessa chegada, ou seja, o erro existente pela leitura do relógio do receptor k, na
época da entrada do código na antena, em relação ao ;
= desvio do tempo nominal de transmissão do código em relação ao tempo
verdadeiro dessa transmissão, ou seja, o erro existente pela leitura do relógio do satélite
p, na época de transmissão do código na antena desse satélite, em relação ao ;
= velocidade da luz;
= atraso ionosférico do código-P na portadora L1. Valor, sempre, positivo, e
dependente das condições ionosféricas, ao longo do percurso, do sinal e da frequência;
= atraso troposférico, dependente das condições troposféricas e independente da
frequência. Também, sempre, um valor positivo;
= atrasos dos hardwares do satélite e do receptor e efeitos do multicaminhamento;

76
= ruídos nas medições da pseudodistância (aproximadamente, 30 cm para o có-
digo- P e valores mais altos para o código C/A, com dependência da tecnologia utilizada).

A pseudodistância utiliza dois códigos, os quais são modulados para as duas


portadoras: o Course Acquisition (C/A) e o código-P. O C/A tem comprimento de onda
efetivo de, aproximadamente, 300 metros, e é, propositalmente, omitido da frequência
L2. Por outro lado, o código-P tem comprimento de onda efetivo em torno de 30
metros, e está modulado nas duas portadoras. No entanto, atualmente, o código-P
está criptografado para o código-Y e disponível, apenas, para usuários autorizados
(HOFMANN-WELLENHOF; LICHTENEGGER; WASLE, 2008).

Compreendida como a diferença de fases da onda emitida pelo satélite e da


onda gerada, internamente, no receptor, a fase da portadora, com a pseudodistância, é
aplicada em soluções que exigem precisão e acurácia. A fase da portadora, em unidades
de comprimento, pode ser definida por meio da seguinte equação (LEICK; RAPOPORT;
TATARNIKOV, 2015):

Sendo:

= distância geométrica no vácuo, calculada com base nas posições do satélite p e do


receptor k. Consideração da rotação da terra durante o tempo de propagação do sinal;
= comprimento da onda portadora L1;
= incógnita, representada pela ambiguidade inteira;
= avanço ionosférico da fase da portadora L1. Esse valor, sempre, negativo, e
dependente das condições ionosféricas ao longo do percurso do sinal e da frequência;
= atrasos dos hardwares do satélite e do receptor e efeitos do multicaminhamento
na fase da portadora L1;
= ruídos da fase da portadora (menores que 0,01 ciclos).

Por fim, verifica-se que o subscrito indica que as respectivas quantidades estão
em unidades de comprimento. Em tempo, imperioso é o destaque para o conceito de
ambiguidade: representa o número inteiro de ciclos da fase da portadora, referente à
primeira fase de rastreio, e que se mantém constante durante o período de observação,
levando-se em consideração que não ocorram quedas de sinal (LEICK; RAPOPORT;
TATARNIKOV, 2015).

77
4 TÉCNICAS TOPOGRÁFICAS APLICADAS A
LEVANTAMENTOS CADASTRAIS RURAIS
Para Monico (2000), a localização envolve determinar a posição de um objeto em
relação a uma referência específica. Este pode, então, ser dividido em posicionamento
absoluto (quando as coordenadas estão, diretamente, relacionadas ao centro da Terra)
e posicionamento relativo (quando as coordenadas são determinadas em relação a uma
referência materializada, por um ou mais vértices, com coordenadas conhecidas).

Os variados DOPs (Dilution of Precision), comumente, utilizados para navegação


e planejamento de observações GPS, são alcançados a partir da definição de
posicionamento por ponto (MONICO, 2000). O DOP é obtido pela indicação da precisão
dos resultados alcançados.

Segundo Rocha (2000), a observável, regularmente, utilizada no posicionamento


relativo estático, é a dupla diferença da fase de batimento da onda portadora, ainda
que possa, também, lidar com a dupla diferença de pseudodistâncias, ou ambas.
Normalmente, quando se têm duas observáveis, a precisão do posicionamento é maior.
Nesse tipo de posicionamento, dois ou mais receptores rastreiam, paralelamente, os
satélites alcançáveis por certo tempo, podendo variar desde minutos até horas.

O posicionamento relativo estático rápido segue, similarmente, o posicionamento


estático. A distinção primordial segue no tocante ao período de ocupação da estação de
interesse. O emprego do método estático rápido é propício para levantamentos a partir
dos quais se almeja produtividade alta, no entanto, o receptor deve manter a recepção
dos sinais, durante o deslocamento, entre os pontos a serem ocupados. Quando, no
deslocamento, entre as estações a serem ocupadas, o rastreio do sinal é interrompido,
é indicado utilizar receptores. Nesse caso, deve-se buscar utilizar receptores de simples
(L1) ou dupla frequência (L1 e L2).

Já no posicionamento cinemático, tem-se, como observável fundamental,


a fase da onda portadora, embora o uso da pseudodistância seja, densamente,
relevante para a resolução do vetor ambiguidades. Os apontamentos desse tipo
de posicionamento demandam ser processado após a coleta (pós-processado), ou
durante a própria coleta (tempo real).

78
4.1 APLICAÇÕES DO GPS
O GPS facilita, amplamente, todas as atividades que envolvem o posicionamento
de alta, média e baixa precisões. Como resultado, as aplicações de GPS são numerosas
e crescentes. Algumas das atividades que fazem uso extensivo do GPS incluem:
geodinâmica; navegações global e regional; construção de redes geodésicas locais,
regionais, continentais e globais (ativa e passiva); geodésia para cartografia, suporte à
fotogrametria, controle de deformação; medição de altura etc. (MONICO, 2000).

Para tanto, é necessário estabelecer normas técnicas aplicáveis ​​aos serviços de


levantamento topográfico relacionados às atividades fundiárias, visando à caracterização e
ao georreferenciamento da propriedade rural por meio da averiguação e da realização
de limites e da posterior certificação da obra junto ao INCRA, de acordo com a Norma
Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais (NTGIR) V3ª Ed (BRASIL, 2013).

79
LEITURA
COMPLEMENTAR
Métodos de levantamentos topográficos planimétricos para o
georreferenciamento de imóveis rurais

Alison Galdino de Oliveira Silva


Verônica Wilma Bezerra Azevedo
Andréa de Seixas

1 INTRODUÇÃO

A Lei nº 10.267/01 estabelece o georreferenciamento dos imóveis rurais,


segundo o qual os limites das propriedades rurais devem ser levantados, uma única
vez, a partir do Sistema Geodésico Brasileiro em vigor (SAD-69 ou SIRGAS2000), com
as coordenadas submetidas a uma análise de precisão, feita em relação aos vértices
comuns, às propriedades vizinhas, o que deve ser menor que 0,50 m de acurácia.

A Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais, do INCRA (2003),


apresenta as especificações, as metodologias e as definições dos equipamentos a
serem utilizados nas atividades do georreferenciamento. Nela, os levantamentos
topográficos são definidos como aqueles que utilizam medições angulares, lineares e
de desníveis, obtidos através de, respectivamente, teodolitos, medidores eletrônicos
de distância e níveis de diversas combinações, incluindo cálculos decorrentes.
Destinam-se a fornecer os arcabouços de pontos diversos, com coordenadas e
altitudes, para a utilização nos levantamentos que visam à determinação do perímetro
e do georreferenciamento do imóvel.

Como, ainda, não existe uma definição clara dos limites da faixa de fronteira no
Brasil, cuja responsabilidade é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
podem ocorrer alguns problemas quanto ao georreferenciamento de imóveis rurais na
região do Pantanal, já que faz fronteira com a Bolívia e o Paraguai, dificultando, assim,
a homologação de registro de imóveis nessa região. Um outro problema que se pode
encontrar é em relação à não homogeneização dos trabalhos topográficos. Para mais
esclarecimentos acerca do assunto, verificar a literatura de Garnés (1998).

Na realização dos levantamentos topográficos, os conceitos de sistemas de


referência, de campo de pontos de referência e de campo de pontos-objeto devem ser
entendidos e diferenciados pelos profissionais que realizam esse tipo de levantamento.
Uma poligonal, por exemplo, constitui um campo de pontos de referência a partir do
qual se pode determinar pontos de detalhes (pontos-objeto), além de densificar uma
dada região.

80
Visando à densificação das estruturas geodésicas em regiões que abrangem
grandes áreas, como é o caso do Pantanal, serão apresentados, neste trabalho, os
métodos de levantamentos topográficos que possam atender às normas do INCRA e
o ajustamento das observações dos métodos da poligonação e da interseção a vante,
este último, à base de um aplicativo que foi desenvolvido em linguagem MATLAB.

2 OBJETIVOS

Desenvolver um estudo que abarque os métodos de levantamentos


topográficos planimétricos e descreva o ajustamento das observações, empregado nos
métodos da interseção a vante e da poligonação, a fim de que sejam utilizados para o
georreferenciamento de imóveis rurais na região do Pantanal, segundo as especificações
da Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais, do INCRA (2003).

3 MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizada uma revisão bibliográfica referente aos métodos de levantamentos


topográficos planimétricos (poligonação, polar, interseção a vante e a interseção
a ré) e ao ajustamento de poligonais e do método de interseção a vante, utilizando,
como fontes, livros de topografia antigos e atuais, artigos publicados e a internet. Foi
desenvolvido um aplicativo, em linguagem MATLAB, para realizar o ajustamento do
método da interseção a vante.

Os dados utilizados para o ajustamento das observações foram obtidos a


partir de simulações e de levantamentos topográficos realizados com equipamentos
do Laboratório de Topografia da UFPE (estação total Trimble – Série 3305 - precisão
angular: 5” e precisão linear de 5mm ± 5ppm e acessórios).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das definições de Silva et al. (2004), um campo de pontos de referência


é definido como o espaço geodésico, ou cartesiano, que contempla os aspectos de
otimização geométrica das estruturas geodésicas envolvidas, físicos de materialização,
estocásticos de realizações das variáveis aleatórias envolvidas no processo de medição
e de estabilização dos pontos para a definição do Sistema de Referência de Medição.

Uma poligonal é um campo de pontos de referência a partir do qual se pode


determinar pontos de detalhes, além de densificar pontos em uma dada região.

Silva et al. (2004) definem o campo de pontos-objeto como o espaço geodésico,


ou cartesiano, agregado aos aspectos de otimização geométrica da superfície, o que
representa o objeto a partir do enfoque, por exemplo, da teoria dos elementos finitos,
físicos de materialização e estocásticos das realizações das variáveis aleatórias
envolvidas no processo de medição empregado, de natureza geodésica, topográfica e
com procedência de outras fontes, como medições elétricas de grandezas não elétricas,
medições interferométricas etc.
81
O levantamento dos detalhes de uma dada região é um exemplo de campo de
pontos-objeto.

4.1 MÉTODO DA POLIGONAÇÃO

Uma poligonal consiste em um polígono irregular a partir do qual são medidos


os ângulos entre alinhamentos consecutivos e as distâncias entre os vértices vizinhos,
para serem determinadas as coordenadas retangulares dos vértices. Para o transporte
de coordenadas utilizando esse método, é recomendável ter, pelo menos, dois pontos
de coordenadas conhecidas para uma poligonal apoiada nos mesmos pontos (Figura
1), e quatro pontos de coordenadas conhecidas para uma poligonal apoiada em pontos
distintos (Figura 2).

A Norma Técnica, do INCRA (2003), faz as seguintes recomendações para a


aplicação da poligonação: Proporcionar o levantamento de imóveis rurais, demarcando-
os, segundo os limites respeitados pelos confrontantes; e fornecer as coordenadas dos
vértices e das divisas, ao se permitir a caracterização. Essa Norma, do INCRA (2003),
exige, para as poligonais topográficas de apoio, um controle azimutal com pontos
de Laplace. Já as poligonais de demarcação devem começar e terminar em pontos
distintos, com coordenadas conhecidas e azimutes de controle. Essa exigência de
controle azimutal, para o fechamento angular, também, está explícita na NBR 13.133.

Figura 1. Exemplo de uma poligonal apoiada nos mesmos pontos (P5 e P7).
Figura 2. Exemplo de uma poligonal apoiada em pontos distintos (A, A’, B e B’).

Na Figura 1, os pontos de coordenadas geodésicas conhecidas são P5 e P7. Os


outros pontos (TOP1, TOP2, TOP3 e TOP4) são utilizados para determinar as coordenadas.

Na Figura 2, os pontos de coordenadas conhecidas são A, A’, B e B’. Os pontos 1


e 2 são utilizados para determinar as coordenadas.

Esse tipo de poligonal é recomendado pela Norma Técnica, do INCRA (2003),


para o levantamento e a demarcação dos limites de propriedade.

82
Em uma poligonação, é, extremamente, necessário que se aplique o método
da centragem forçada, para minimizar os erros de centragem no ponto. É preciso
evitar ângulos muito agudos (em torno de 180º) e desníveis exagerados entre
estações consecutivas.

No que se refere ao ajustamento das observações da poligonal, a Norma


Técnica, do INCRA (2003), afirma que se pode fazer a compensação das observações. É
desejável, o ajuste, pelo Método dos Mínimos Quadrados (MMQ). Dentre outros, devem
ser apresentados:

• Cálculo do fechamento angular.


• Erro angular.
• Correção angular.
• Cálculo do azimute dos alinhamentos.
• Cálculo das projeções provisórias.
• Cálculo da diferença de coordenadas entre os pontos de partida e de chegada – caso
da poligonal fechada e apoiada em pontos distintos.
• Erro de fechamento linear.
• Precisão relativa da poligonal.
• Cálculo da correção linear.
• Cálculo das projeções corrigidas.
• Cálculo das coordenadas finais.

O modelo matemático de ajustamento das observações, pelo método


paramétrico, é:

La = F(Xa)

Sendo:

La – vetor das observações ajustadas (n x 1);


Xa – vetor dos parâmetros ajustados (u x 1);
F – função que relaciona La e Xa, podendo ser linear ou não linear;
n – número de equações;
u – número de parâmetros.

Para mais esclarecimentos, verificar a literatura de Camargo et al. (1996).

No caso de observações ajustadas pelo MMQ paramétrico, é importante


salientar a redundância de observações para tornar possível o ajustamento. A Norma
Técnica, do INCRA (2003), recomenda que as coordenadas do vértice de propriedade,
no levantamento convencional, devem ser ajustadas pelo MMQ, mas não especifica o
irradiamento duplo. No entanto, o ajustamento, pelo MMQ, depende da abundância de
dados, e se faz, apenas, a irradiação simples, assim, cada ponto é visado, apenas, de uma
estação, e o número de observações é igual ao número de incógnitas, impossibilitando
o ajustamento.
83
Com o método paramétrico, quando aplicado para o ajustamento da triangulação,
trilateração, poligonação, ou a combinação de tais processos de levantamentos, obtém-
se, no final do ajustamento, as coordenadas finais dos vértices com as respectivas
precisões delas (GEMAEL, 1994 apud CAMARGO et al., 1996).

4.2 MÉTODO POLAR

O método polar é, também, conhecido como método da irradiação, sendo o


mais utilizado para os levantamentos de detalhes. Pode ser utilizado para um ou vários
pontos a partir dos quais se deseja obter as coordenadas. Para isso, são medidos ângulos
e distâncias (Figura 3).

Figura 3. Exemplo do método polar.

FONTE: Kahmen e Faig (1988).

Na Figura 3, as coordenadas do ponto P são calculadas da seguinte forma:

Xp = Sp.sen(AZAB – rB + rp);
Yp = Sp.cos(AZAB – rB + rp);
α=(rp – rB) α = diferença entre as direções rp, rB;
AZAB = azimute de AB;
rp, rB = direções medidas;
Sp = distância medida.

Para trabalhos que exigem uma grande precisão, deve-se proceder da


seguinte forma:

q = (SAB)/(SB)
SAB = [(XB-XA)² + (YB-YA)²]1/2

84
Dessa forma, as coordenadas do ponto P são:

Xp = q.Sp.sen(rp + α)
Yp = q.Sp.cos(rp + α)

q representa um fator de escala entre a distância calculada SAB e a distância SB. Esse
método se caracteriza por ser um método não homogêneo no sentido de distribuição
de erro, visto que ele apresenta uma precisão relativa, ou seja, a precisão de um ponto
é relacionada à precisão de outro ponto vizinho.

São utilizados, também, os métodos trigonométricos quando os pontos-objeto


não são de fácil acesso. Basicamente, existem dois métodos para a determinação
trigonométrica de pontos: a interseção a vante e a interseção a ré (resseção).

4.3 MÉTODO DA INTERSEÇÃO A VANTE

Quando os pontos-objeto não são de fácil acesso, utilizam-se métodos


trigonométricos para determiná-los. O método da interseção a vante é aplicado ao se
medirem as direções para o ponto no qual se deseja determinar as coordenadas, a partir
de pontos de coordenadas conhecidas (Figura 4).

Figura 4. Método da interseção a vante (com dois ângulos α e β).

FONTE: Kahmen e Faig (1988).

AN.sen (AZAN) = XB + BN.sen (AZBN)


YN = YA + AN.cos (AZAN) = YB + BN.cos (AZBN)
AZAN = AZAA’ + φ
AZBN = AZBB’ + ψ

85
Sendo:

φ – ângulo medido entre as direções AA’ e BB’;


ψ – ângulo medido entre as direções BB’ e BN;
AZAA’ – azimute de AA’;
AZBB’ – azimute de BB’;
AZAN – azimute de AN;
AZBN – azimute de BN;
AN – distância calculada de A a N;
BN – distância calculada de B a N.

Pela Lei dos Senos:

AN = AB (senβ/senγ).
BN = AB (senα/senγ).

A precisão do método da interseção a vante (σN) depende de alguns fatores,


como da geometria do triângulo (Figura 5), da precisão das direções medidas e do
desvio-padrão do ponto para expressar a qualidade de determinação.

Figura 5. Método da interseção a vante (com dois ângulos α e β).

FONTE: Kahmen e Faig (1988).

σN = (1/senγ).(a2+b2)1/2. σα

Sendo:

a e b – distâncias calculadas;
σα – desvio-padrão das direções;
γ – 180º-(a+b);
α e β – ângulos medidos;
A e B – pontos de coordenadas conhecidas;
N – ponto de coordenadas desconhecidas.

86
Para estudar, detalhadamente, esse método, foi desenvolvido um aplicativo, em
linguagem MATLAB (Figura 6 – (a) e (b)), para o ajustamento das observações. Para isso,
foram utilizados dados de literaturas para verificar a eficácia do programa. Esse programa
possui a vantagem de ser aberto, além de aceitar modificações e implementações
posteriores e de ser uma ferramenta de grande utilidade para cálculos matriciais.

[...]

4.4 MÉTODO DA INTERSEÇÃO A RÉ (RESSEÇÃO)

A interseção a ré é feita com as medições de direções de um ponto qualquer a


pontos de coordenadas conhecidas (Pi, P1, P2, P3 – Figura 7). A solução das coordenadas
do ponto que se quer determinar (ponto N) é baseada na interseção de, pelo menos, três
linhas retas.

Figura 7. Interseção a ré (caso geral).

Fonte: Kahmen e Faig (1988).

Enquanto, na interseção a vante, estaciona-se com o instrumento de medição


sobre pontos de coordenadas conhecidas, na interseção a ré, centraliza-se o instrumento
de medição sobre o ponto que se deseja determinar.

As configurações ideais, para a realização desse método, serão mostradas a


seguir (Figura 8 – (a) e (b)).

87
Figura 8 (a) e (b). Configurações ideais para o método da resseção.

Fonte: Kahmen e Faig (1988).

A precisão da resseção será dada a seguir (Figura 9). Segundo Kahmen e Faig
(1988), o ponto N é, geometricamente, determinado pela interseção de dois círculos.
Um círculo passa através dos pontos B, N e M, e, o outro, através de M, A e N. Se o novo
ponto (N) é locado nos círculos, passando através dos pontos fixos A, M, B, então, a
solução é indeterminada.

Figura 9 – Resseção geométrica e o triângulo recíproco.

Fonte: Kahmen e Faig (1988).

88
4.5 APLICAÇÃO DOS MÉTODOS PARA GEORREFERENCIAMENTO DOS IMÓVEIS RURAIS

O estudo de metodologias que possam contemplar as especificações da Norma


Técnica, do INCRA (2003), para a realização de serviços de georreferenciamento de
imóveis rurais, é de significativa importância nas discussões acadêmicas, visto que
a utilização de métodos de posicionamento global, para o levantamento de imóveis
rurais, o que não é o caso deste trabalho, tem encontrado grande subsídio nas técnicas
convencionais de levantamento. Caso haja uma combinação entre os métodos de
levantamentos, é necessária a redução geométrica das distâncias ao plano topográfico
(KAHMEN; FAIG, 1988).

O método da poligonação é muito empregado para o georreferenciamento


de imóveis rurais, principalmente, nas fases de levantamento do perímetro e de
desenvolvimento da poligonal de apoio à demarcação. A compensação das distâncias e
dos ângulos é aceita pelo INCRA, segundo as informações de fechamento da poligonal.
No caso de observações ajustadas pelo MMQ, deve-se salientar a importância da
abundância de observações para esse ajustamento.

O método polar (irradiamento simples) é o método mais empregado,


pelos profissionais, para o levantamento de detalhes (pontos-objeto). É utilizado,
principalmente, para a determinação das coordenadas dos vértices definidores de limite
de propriedade, com uma precisão de 50 cm em relação ao vizinho.

O método da interseção a vante deve ser empregado, de acordo com a Norma


Técnica, do INCRA (2003), para a realização de poligonais por taqueometria, assim, cada
ponto é visado a partir de duas estações distintas. Essa é uma forma de obter melhores
resultados para a determinação do limite da propriedade. Por fim, esse procedimento,
também, é importante para o emprego do MMQ ao ajustamento das observações.

O método da interseção a ré (resseção) está disposto, raramente, para determinar


as coordenadas dos vértices da propriedade, pois, geralmente, há algum obstáculo,
como cercas, ou muros, nos limites dela. Esse método serve para a densificação de
estruturas geodésicas (campo de pontos de referência). O profissional precisa levar em
conta a configuração geométrica das estações para tornar possível o ajustamento das
observações desse método (cf. Figura 9).

5 CONCLUSÕES

Os métodos de levantamentos topográficos planimétricos (poligonação,


irradiamento simples, interseção a vante e interseção a ré) e os respectivos ajustamentos
podem ser empregados para o georreferenciamento de imóveis rurais, na região do
Pantanal, de forma adequada, pois contemplam as normas técnicas definidas pelo
INCRA (2003), não apenas, os métodos da poligonação e do irradiamento simples, como
a maioria dos profissionais tem o costume.

89
Ressalta-se, aqui, a importância da elaboração de uma legislação específica
para os limites de fronteira do país, para garantir o registro de imóvel nessa região.

Com relação ao ajustamento das observações, a abundância de dados se


faz necessária pelo Método dos Mínimos Quadrados (MMQ) e por compensação, para
garantir uma melhor precisão ao levantamento, principalmente, para as poligonais de
controle imediato (classe P2).

A vantagem de se utilizar o MMQ, para o ajustamento dos métodos de


levantamentos topográficos planimétricos, é o fato de se obterem, ao fim do ajustamento,
as coordenadas ajustadas e a precisão delas.

O desenvolvimento de aplicativos livres, como apresentado neste trabalho, para


o ajustamento das observações, aplicado aos métodos de levantamento topográfico
planimétrico, é, extremamente, importante, pois possibilita uma visualização gráfica dos
resultados ajustados, além de mostrar as etapas de execução dos cálculos, auxiliando,
assim, a verificação dos dados obtidos em campo.

FONTE: SILVA, A. G. de O.; AZEVEDO, V. W. B.; SEIXAS, A. de. Métodos de levantamentos


topográficos planimétricos para o georreferenciamento de imóveis rurais. 2006.
Disponível em: http://mtc-m16b.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m17@80/2006/12.12.13.39/doc/
p111.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

90
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os sistemas GPS são projetados para permitir que os usuários rastreiem, pelo menos,
quatro satélites em qualquer lugar da superfície terrestre, ou próximos a ela. Esse
número de satélites permite o posicionamento em tempo real. Para usuários no campo
de levantamento geodésico, uma característica muito importante da tecnologia GPS,
em comparação com os métodos tradicionais de levantamento, é que ela não requer
visibilidade mútua entre os locais. Além disso, o GPS pode ser usado em qualquer
condição climática.

• As observáveis são distâncias deduzidas de medidas de tempo ou de diferenças de


fases, baseadas nas comparações entre sinais recebidos do satélite e sinais gerados
no receptor.

• A localização envolve determinar a posição de um objeto em relação a uma referência


específica. Este pode, então, ser dividido em posicionamento absoluto (quando as
coordenadas estão, diretamente, relacionadas ao centro da Terra) e posicionamento
relativo (quando as coordenadas são determinadas em relação a uma referência
materializada, por um ou mais vértices, com coordenadas conhecidas).

• A observável, regularmente, utilizada no posicionamento relativo estático, é a dupla


diferença da fase de batimento da onda portadora, ainda que possa, também, lidar com
a dupla diferença de pseudodistâncias, ou ambas. Normalmente, quando se têm duas
observáveis, a precisão do posicionamento é maior. Nesse tipo de posicionamento,
dois ou mais receptores rastreiam, paralelamente, os satélites alcançáveis por certo
tempo, podendo variar desde minutos até horas.

91
AUTOATIVIDADE
1 Um sistema geocêntrico de referência é caracterizado pela origem dos três eixos do
sistema cartesiano estar localizada no centro de massa da Terra. O SIRGAS 2000,
sistema adotado, no Brasil, desde 2005, é exemplo de um sistema geocêntrico. Dentre
os demais sistemas de referência existentes, os parâmetros de transformação são,
praticamente, iguais entre o SIRGAS 2000 e o

a) ( ) SAD 1969.
b) ( ) WGS 1984.
c) ( ) Córrego Alegre.
d) ( ) SAD 1969, realização de 1996.
e) ( ) WHO.

2 O GNSS (Global Navigation Satellite System) é um sistema de posicionamento global


que possibilita, ao usuário, determinar a própria posição tridimensional em qualquer
lugar da Terra ou nas proximidades dela, em relação a um sistema de coordenadas
definido. Assim, no que se refere às vantagens da tecnologia GNSS, quando comparada
às técnicas convencionais de medições topográficas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As estações de medição não precisam ser intervisíveis.


b) ( ) As medições não podem ser realizadas sob quaisquer condições climáticas.
c) ( ) A determinação da posição geográfica de um ponto, a partir da recepção de
sinais emitidos por satélites artificiais, é conhecida como triangulação.
d) ( ) A cobertura é parcial.
e) ( ) Nenhuma das afirmativas anteriores está correta.

3 As mensagens transmitidas do satélite GPS, para um receptor, são enviadas em um


formato padrão, o qual foi desenvolvido para facilitar o intercâmbio de dados. Assinale
a alternativa que indica esse formato:

a) ( ) BLEND.
b) ( ) RINEX.
c) ( ) DGN.
d) ( ) TXT.
e) ( ) MDB.

92
4 De modo a facilitar o intercâmbio de dados GPS/GNSS, foi produzido o arquivo de
formato “RINEX” (Receiver Independent Exchange Format), o qual consiste em três
arquivos em ASCII, quais sejam: observações, dados meteorológicos e dados de
mensagens de navegação. As observáveis GPS, como todas as demais observáveis
atreladas aos desenvolvimentos de medidas, estão receptíveis a erros sistemáticos,
aleatórios e grosseiros. Assim, explique, sucintamente, o que são as observáveis.

5 Com relação às técnicas topográficas aplicadas a levantamentos cadastrais


rurais, pode-se pontuar que a localização envolve determinar a posição de um
objeto em relação a uma referência específica. Este pode, então, ser dividido
em posicionamento absoluto (quando as coordenadas estão, diretamente,
relacionadas ao centro da Terra) e posicionamento relativo (quando as coordenadas
são determinadas em relação a uma referência materializada, por um ou mais
vértices, com coordenadas conhecidas). Então, no que diz respeito aos sistemas
de posicionamento, explique a principal distinção entre o posicionamento relativo
estático rápido e o posicionamento estático.

93
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
POSICIONAMENTO GEODÉSICO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos a temática específica do posicionamento
geodésico. Analisaremos o que é, os conceitos norteadores para a obtenção, as
principais fontes e os princípios de uso.

Estudaremos todos os métodos de posicionamento que podem ser usados nos


serviços de georreferenciamento de imóveis rurais. Serão abordados um a um, sendo
apresentados definições, exemplos e aplicabilidades.

Por fim, fecharemos este tópico, exemplificando como os diversos métodos de


localização propostos, com as características técnicas utilizadas para realizá-los, devem
garantir a precisão dessa localização, de acordo com a aplicação do vértice. Logo, vamos
a uma leitura atenta para conseguirmos compreender tais situações.

2 GEODÉSIA E DATUNS
Segundo Castañeda (1986), um sistema de coordenadas (no espaço físico
ou abstrato) é definido como uma relação regular que especifica, inequivocamente, a
localização de cada ponto no espaço por um conjunto de números reais ordenados,
chamados de coordenadas. A propriedade mais importante de qualquer espaço é a
dimensão, que é medida pelo número de coordenadas necessárias para especificar a
localização de cada ponto.

Historicamente, a superfície do globo tem sido retratada pelas coordenadas


geodésicas latitude, longitude e altitude ortométrica, ao passo que uma porção
restrita dessa superfície pode, de modo simples, ser estabelecida pelas coordenadas
topocêntricas (RODRIGUES, 1993).

O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é retratado por um conjunto de pontos


geodésicos implantados na porção da superfície terrestre limitada pelas fronteiras do país.
Esses pontos são estabelecidos por mecanismos operacionais e coordenadas calculadas, à
base de modelos geodésicos de precisão coadunável e de propósitos fixados.

95
Para o SGB, o Elipsoide de Referência Internacional, de 1967, foi
aceito pela Assembleia Geral da Associação Geodésica Internacional,
em Lucerne, no ano de 1967. O referencial altimétrico coincide com a
superfície equipotencial, a qual contém o nível médio do mar, definido
pelas observações maregráficas tomadas na baía de IMBITUBA, SC
(BONIFÁCIO; SEIXAS; MARQUES DE SÁ, 2006, p. 803).

Antigamente, o sistema geodésico adotado, no Brasil, era o SAD-69.


Atualmente, encontra-se, oficialmente, em uso, outro sistema, chamado de SIRGAS
2000. O posicionamento e a orientação dele foram definidos através de métodos
clássicos de levantamento.

A coexistência desses sistemas, apesar de já ser bem pequena, ainda, persiste


em algumas situações especiais, todavia, tende a acabar definitivamente. A interligação
é expressa através de parâmetros de transformação. Os parâmetros de transformação,
entre o SAD 69 e o SIRGAS2000, serão listados a seguir (Quadro 1). A formulação
matemática a ser aplicada, nas transformações, é a divulgada nas Resoluções R.PR nº
23, de 21 de fevereiro de 1989, e R.PR nº 01, de 25 de fevereiro de 2005, do IBGE (IBGE,
1989; 2005).

QUADRO 1 – PARÂMETROS DE TRANSFORMAÇÃO DE COORDENADAS ENTRE SAD69 E SIRGAS2000

SAD 69 para SIRGAS2000 SIRGAS2000 para SAD 69


a1 = 6378160 m a 1 = 6378137 m
f1 = 1/298,25 f 1 = 1/298,257222101
a2 = 6378137 m a2 = 6378160 m
f2 = 1/298,257222101 f2 = 1/298,25
ΔX = -67,35 m ΔX = +67,35 m
ΔY = +3,88 m ΔY = -3,88 m
ΔZ = -38,22 m ΔZ = +38,22 m
FONTE: Adaptado de Bonifácio, Seixas e Marques de Sá (2006)

O Sistema NAVSTAR-GPS é o sistema de posicionamento por satélites mais usual


para a confecção de um sistema de referência. Atualmente, o sistema de referência do
GPS, quando se utilizam efemérides transmitidas, é o WGS84 (G873) (MONICO, 2000).
As coordenadas obtidas através dele são de referência geocêntrica. Ao conjuminar as
coordenadas estabelecidas com o GPS (referencial geocêntrico) a um sistema referencial
regional, ou local (não geocêntrico), a precisão delas diminui (COSTA, 1999).

Segundo De Seixas e Burity (2005), a determinação de um sistema de referência


depende da geometria e do objetivo que se busca. Eles variam, como: sistema de
coordenadas superior, sistema de coordenadas do aparelho e sistema de coordenadas
do objeto (DE SEIXAS, 2001).

96
Um sistema de referência superior é composto por um sistema de coordenadas
e por um campo de pontos interno para um espaço geométrico. Portanto, o campo de
pontos de referência é o espaço geodésico, ou cartesiano, o qual abarca (SILVA; DE
SEIXAS; ROMÃO, 2004):

• Aspectos de otimização geométrica das estruturas geodésicas envolvidas.


• Aspectos físicos de materialização.
• Aspectos estocásticos das realizações das variáveis aleatórias envolvidas no (s)
processo (s) de medição, além dos aspectos de estabilização de pontos para a
definição do Sistema de Referência de Medição.

O campo de pontos-objeto é o espaço geodésico, ou cartesiano, agregado aos


seguintes aspectos (SILVA; DE SEIXAS; ROMÃO, 2004):

• Aspectos de otimização geométrica da superfície, com a representação do objeto,


sob o enfoque, por exemplo, da teoria dos elementos finitos.
• Aspectos físicos de materialização.
• Aspectos estocásticos das realizações das variáveis aleatórias envolvidas no
processo de medição empregado, de natureza geodésica, topográfica e procedentes
de outras fontes, como: medições elétricas de grandezas não elétricas, medições
interferométricas etc.

O sistema de referência de medição, ou de aparelho, é o elemento primordial


para a interdependência dos diferentes sistemas, calculado para obter os valores de
observação. É, normalmente, definido a partir do sistema de referência superior.

Conforme o tipo de levantamento, de equipamento ou de aparelho, define-se o


sistema de referência a ser utilizado.

A partir do exposto, pode-se apresentar, por meio de um fluxograma (Figura


1), as possíveis ligações entre os sistemas de referência, anteriormente, abarcados,
determinando-se os pontos, seguindo a hierarquia e o emprego de redes no âmbito do
cadastro rural.

A ligação entre um sistema e outro é obtida a partir dos padrões de transição. Os


pontos definidos, do imóvel, tornam-se definidos via realização das redes geodésicas,
por meio de campos de pontos de referência. Na figura a seguir, os pontos de 1 a 10,
os quais determinarão o limite da propriedade, serão obtidos através dos seguintes
métodos: polar (com emprego do receptor GPS e/ou estação total) e interseção a vante
(com emprego da estação total).

97
FIGURA 1 – DENOMINAÇÃO E LIGAÇÃO ENTRE SISTEMAS DE REFERÊNCIA

Classificação dos pontos de rede e demarcação da área rural.

FONTE: Adaptada de Bonifácio, Seixas e Marques de Sá (2006)

Conforme a Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, pretende-se que


a incorporação da base gráfica do cadastro, ao registro, seja uma
verdadeira interconexão, através do georreferenciamento. Sendo
regulamentado pelo Decreto nº 4.449, de 30 de outubro de 2002,
o georreferenciamento tem, como fundamentos legais, os Arts. 176,
§§3º e 4º, e 225, §3º, da Lei nº 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos –
LRP), incluindo o Art. 9º, do Decreto nº 4.449/02.

Segundo Paiva e Burtet (2004), o georreferenciamento, conforme


a Lei nº 10.276/01, tem, como finalidade primordial, consistir em um
perfeito cadastro do imóvel rural, através da medição in loco, por
um profissional, devidamente, qualificado, levando em consideração
as coordenadas estabelecidas pelo Sistema Geodésico Brasileiro,
definidas pelo INCRA, e auferindo as precisas localização e
caracterização, como área superficial e confrontações. Assim, é um
levantamento técnico-jurídico que serve para ambas as instituições
(Cadastro e Registro), sendo conceituado como um sistema
multifinalitário de informações.

98
Conforme Erba et al. (2005), os cadastros, nos diferentes níveis
de governo, continuam sendo para o imposto territorial. Com o
surgimento de novos métodos de avaliação, baseados em detalhes
construtivos e na localização, na forma e nas dimensões dos terrenos,
esses fatores exigem uma ampliação para o uso das bases de dados.
Grande parte dessas variáveis se obtém por meio de levantamentos
topográficos, geodésicos e fotogramétricos, sendo registrados em
documentos cartográficos e bases alfanuméricas que constituem
o cadastro geométrico. A incorporação do controle geodésico,
nas mensuras, tem um valor significativo, pois a locação dos
limites parcelários, para repor marcos, ou determinar modificações
possessórias, pode se efetuar com rapidez e segurança.

O Sistema Nacional de Cadastro Rural, que vem sendo implantado


pelo INCRA, segue a nova tendência mundial. Os países que,
tradicionalmente, desenvolvem pesquisas em ciências geodésicas,
têm adotado o georreferenciamento, tendo, como objeto de
mensura, as redes geodésicas. Alguns exemplos: A Corporação de
Informação Geográfica da Província de New Brunswick, do Canadá;
o National Land Survey, da Suécia; e o National Land Survey and
Cadastre, da Dinamarca.

É importante salientar que, no Brasil, com o novo Sistema Nacional de


Cadastro Rural, fazem-se uma modernização e uma modificação no
cadastro rural, com a integração entre as partes técnica, geométrica
e de registro de imóveis, cartorial, através do CNIR – Cadastro
Nacional de Imóveis Rurais, com controle do INCRA, da Secretaria da
Receita Federal e de demais instituições das administrações públicas
federais, estaduais e municipais.

O memorial descritivo passa a ser o elo de integração entre a geometria


e a parte cartorial, no qual constam as coordenadas dos vértices da
propriedade rural, levantados a partir de uma rede geodésica, por
uma metodologia que produza resultados, nos padrões estabelecidos
pela norma técnica do INCRA, para o georreferenciamento do imóvel
(BONIFÀCIO; SEIXAS; MARQUES DE SÁ, 2006, p. 807).

Por fim, o conhecimento científico é integrado como uma importante ferramenta


para o cadastro rural, através do uso da geodésia, da topografia e dos sistemas de
posicionamento por satélite e sensores remotos em pesquisas, análises e resultados. A
utilização disso pode otimizar os resultados de projetos para evitar a migração do campo
para o urbano; reduzir o crescimento de áreas com condições não humanas nas áreas
urbanas, por meio de programas que mantêm as pessoas no campo; criar solos mapeados,
que permitam o uso adequado; e aumentar a produtividade. O cadastro rural é uma
ferramenta que possibilita o planejamento sustentável e a pesquisa de desenvolvimento.

É importante destacar que, no Brasil, o sistema de cadastro rural foi modernizado


e revisado como o novo Sistema Nacional de Cadastro Rural.

99
3 MÉTODOS, ERROS E CORREÇÕES
A seguir, serão descritos os métodos de posicionamento que podem ser usados
nos serviços de georreferenciamento de imóveis rurais.

3.1 POSICIONAMENTO POR GNSS


A sigla GNSS (Global Navigation Satellite System) é uma nominação genérica
que contempla variados sistemas de navegação, além de uma série de infraestruturas
espaciais (SBAS – Satellite Based Augmentation System) e terrestres (GBAS – Ground
Based Augmentation System), que, congêneres aos sistemas, possibilitam precisão e
confiabilidade.

Dentre os sistemas pertencentes ao GNSS, podemos citar:

• NAVSTAR-GPS (NAVigation System with Timing and Ranging – Global Positioning


System), mais conhecido como GPS. Sistema norte-americano, com ênfase ao longo
deste livro.
• GLONASS (Globalnaya Navigatsionnaya Sputnikovaya Sistema). Sistema russo.
• Galileu. Sistema europeu.
• Compass/Beidou (China’s Compass Navigation Satellite System – CNSS). Sistema
chinês.

Com relação ao SBAS, há os seguintes exemplos:

• WAAS (Wide Area Augmentation System). Sistema norte-americano.


• EGNOS (European Geostationary Navigation Overlay System). Sistema europeu.

O posicionamento por GNSS pode ser realizado por meio de diferentes


métodos e procedimentos. Neste documento, serão abordados, apenas, aqueles
que proporcionam uma precisão adequada para serviços de georreferenciamento
de imóveis rurais, para o estabelecimento de vértices de referência e para o
posicionamento de vértices de limites (artificiais e naturais).

Na sequência, realizaremos uma sucinta descrição de cada um dos métodos de


posicionamento GNSS, aplicados aos serviços de georreferenciamento de imóveis rurais.

• POSICIONAMENTO RELATIVO

No posicionamento relativo, as coordenadas de um vértice de interesse são


determinadas a partir de um ou de mais vértices cujas coordenadas são conhecidas.
Nesse caso, dois ou mais receptores GNSS são necessários para coletar dados
simultaneamente, com, pelo menos, um receptor ocupando o vértice de referência
(Figura 2).

100
FIGURA 2 – POSICIONAMENTO RELATIVO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

No posicionamento relativo, pode-se usar as observáveis: fase da


onda portadora, pseudodistância ou as duas em conjunto. A fase
da onda portadora proporciona uma melhor precisão, e, por isso, ela
é a única observável aceita para a determinação de coordenadas
de vértices de apoio e vértices situados em limites artificiais. O
posicionamento relativo, utilizando a observável pseudodistância,
só é permitido para a determinação de coordenadas de vértices
situados em limites naturais.

Pelo fato de existirem várias possibilidades de se executar um


posicionamento relativo, usando a observável fase da onda portadora,
neste documento, esse tipo de posicionamento foi subdividido
em quatro grupos: estático, estático-rápido, semicinemático
e cinemático. O posicionamento relativo, com a observável
pseudodistância, foi tratado como posicionamento relativo a partir
do código C/A (INCRA, 2013, p. 8).

• Posicionamento relativo estático

Para a utilização do método relativo estático, o (s) receptor (es) do (s) vértice (s)
de referência e o (s) receptor (es) do (s) vértice (s) de interesse necessitam se manter
estacionados (estáticos) no decorrer de todo o levantamento. Assim, a sessão de rastreio
se fixa por um bom tempo. Sugere-se notar os valores situados a seguir.

101
QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS PARA POSICIONAMENTO RELATIVO ESTÁTICO

Linha de Base Tempo Mínimo Solução da


Observáveis Efemérides
(km) (minutos) Ambiguidade
Transmitidas ou
0 – 10 20 L1 ou L1/L2 Fixa
Precisas
Transmitidas ou
10 – 20 30 L1/L2 Fixa
Precisas
Transmitidas ou
10 – 20 60 L1 Fixa
Precisas
Fixa ou Transmitidas ou
20 – 100 120 L1/L2
Flutuante Precisas
Fixa ou
100 – 500 240 L1/L2 Precisas
Flutuante
Fixa ou
500 – 1000 480 L1/L2 Precisas
Flutuante
FONTE: Adaptado de INCRA (2013)

• Posicionamento relativo estático-rápido

O posicionamento relativo estático-rápido é semelhante ao relativo estático, no


entanto, a divergência fulcral é o tempo de duração da sessão de rastreio do sinal GNSS,
o qual, nesta circunstância, normalmente, não é superior a 20 minutos. Por não haver a
imprescindibilidade de perdurar o receptor, ao capturar dados pelo arredamento entre
os vértices de interesse, esse método é uma opção para os casos em que, durante os
deslocamentos entre os pontos dos vértices a serem ocupados, ocorra a interrupção da
recepção do sinal.

• Posicionamento relativo semicinemático (stop and go)

Este método de posicionamento é uma transição entre o estático-rápido e o


cinemático. O receptor-base, que ocupa o vértice de interesse, permanece estático,
todavia, com um tempo de ocupação muito reduzido. No método semicinemático, o
sinal GNSS não pode ser perdido pelo receptor, ou seja, durante o deslocamento entre
os pontos de interesse, o rastreio do sinal não pode ser interrompido. Quanto maior o
período de sessão de levantamento, com a coleta de dados íntegros, sem perdas de
ciclos, maior a precisão para a definição de coordenadas.

Como é fundamental a obtenção contínua do rastreio do sinal GNSS durante


todo o período do levantamento, incluindo os momentos de deslocamento, esse método
não é recomendado quando o local, onde é feito o levantamento, apresenta obstáculos
que dificultam o deslocamento do operador do receptor, ou que bloqueiam, ou causam,

102
multicaminhamento do sinal GNSS. Como, geralmente, os limites de imóveis rurais se
situam em locais com essas condições, os profissionais necessitam de atenção quanto
à utilização, ou não, desse método, visto que os resultados podem não atender ao
estabelecido na terceira edição da Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis
Rurais (NTGIR) (BRASIL, 2013).

• Posicionamento relativo cinemático

No posicionamento relativo cinemático, ao mesmo tempo em que um, ou mais


receptores-base, está ocupando o (s) vértice (s) de referência, um, ou mais receptores
móveis (rover), coleta dados de interesse enquanto se mantém em movimento. Nesse
método, a obtenção e o registro das coordenadas dos pontos podem ser determinados
em intervalos de tempo, ou em intervalos de distância, ao longo do trajeto percorrido.

Esse método é adequado para o levantamento dos limites dos imóveis,


determinados por feições retilíneas de elevada sinuosidade, contudo, a operação, em locais
com muitas barreiras, é limitada, conforme observado a partir do método semicinemático.

• Posicionamento relativo a partir do código C/A

Os diferentes métodos de posicionamento relativo, apresentados até aqui, têm,


como base, a observável da fase da onda portadora, a fim de determinar as coordenadas
da posição. Todavia, o método de posicionamento relativo a partir do código C/A utiliza a
observável da pseudodistância, justamente, a partir do código C/A, sendo necessária a
realização do pós-processamento dos dados para a obtenção das coordenadas.

Como nos demais, no método de posicionamento relativo a partir do código C/A,


também, é necessário manter, ao menos, um receptor ocupando uma estação-base de
coordenadas conhecidas, enquanto outro (s) coleta (m) dados dos vértices de interesse.
Em razão da baixa precisão, proporcionada pela pseudodistância, a partir do código C/A,
esse método é inadequado para a determinação de coordenadas de vértices situados
em limites artificiais. É aceito, apenas, para a identificação de limites naturais, mas que
se obtenha o valor de precisão dentro do que rege a NTGIR V3ª Ed (BRASIL, 2013).

• RTK E DGPS

O conceito de posicionamento pelo RTK (Real Time Kinematic) e DGPS


(Differential GPS) se fundamenta na transmissão, em tempo real, de informações de
adequações dos sinais dos satélites, do (s) receptor (es) acomodado (s) no (s) vértice (s)
de referência, ou seja, receptores-base, os quais ocupam um ponto com coordenadas
conhecidas, realizam as correções do sinal e o transmitem, via rádio, telefonia móvel
ou internet, para o receptor móvel, que, ao ocupar os pontos de interesse, realiza a
correção, em tempo real, do posicionamento.

103
• RTK convencional

No modo convencional, os dados de correção são transmitidos via um link de


rádio do receptor, aportado no vértice de referência, para os receptores móveis (rover),
os quais ocupam os vértices de interesse. O recurso adotado é uma linha de base única,
como poderá ser observado na figura a seguir.

FIGURA 3 – RTK CONVENCIONAL

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Um motivo que restringe a área de abrangência para a execução de


levantamentos por RTK convencional é a transmissão das ondas de rádio. Em especial,
o alcance máximo é determinado em função da potência do rádio e das circunstâncias
locais em termos de obstáculos físicos.

• RTK em rede

Diferente do RTK convencional, que utiliza um receptor-base e a transmissão


via radiofrequência, o RTK em rede usa dados de correção transmitidos via internet,
por estações da rede de monitoramento contínuo GNSS. Contudo, o receptor móvel
deve estar conectado à internet, para receber os dados para a correção do sinal GNSS
(Figura 4).

104
FIGURA 4 – RTK EM REDE

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Neste método, é viável conseguir mais de um vetor para processar as correções.


São possíveis vários vetores para diversas estações de referência participantes. Assim,
o ajustamento das observações pode propiciar precisão e controle.

Essa tecnologia se estendeu, largamente, a partir da disponibilidade da


telefonia celular, dos tipos GSM, GPRS e 3G. Entretanto, a limitação ocorre em virtude
da presença, ou não, de serviços de telefonia celular em campo, fato comum nas áreas
rurais brasileiras.

Vale ressaltar que há um serviço de RTK em rede disposto, gratuitamente,


pelo IBGE. São disponibilizados dados de correção via protocolo, conhecido como
Networked Transport of RTCM via Internet Protocol (NTRIP), em formato definido pelo
Radio Technical Committee for Maritime Service (RTCM). A oportunidade de se executar
o posicionamento relativo cinemático em tempo real, devido a esse serviço, fica limitada
a regiões próximas às estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos
sistemas GNSS (RBMC).

105
DICA
Para mais informações a respeito do serviço de RTK em rede, disposto
pelo IBGE, acesse http://www.ibge.gov.br/home/ geociencias/geodesia/
rbmc/ntrip/.

• Differential GPS (DGPS)

O DGPS tem princípios similares ao RTK, contudo, a observável utilizada é a


pseudodistância, a partir do código C/A. Logo, esse método demonstra precisão inferior
ao RTK e a utilização dele, nos serviços de georreferenciamento de imóveis rurais, fica
limitada ao posicionamento dos vértices situados em limites naturais.

• POSICIONAMENTO POR PONTO PRECISO (PPP)

Com o posicionamento por ponto preciso, as coordenadas do vértice de


interesse são definidas de forma absoluta. Assim, é dispensado o emprego do receptor,
abrigado sobre um vértice de coordenadas conhecidas.

DICA
O IBGE disponibiliza um serviço on-line de PPP que processa dados nos
modos estático e cinemático em http://www.ppp.ibge.gov.br/ppp.htm.

3.2 POSICIONAMENTO POR TOPOGRAFIA CLÁSSICA


A topografia clássica pode ser empregada de forma única ou em parceria com
trabalhos orientados pelo posicionamento GNSS, fundamentalmente, onde o sinal
GNSS não tem alcance, devido a obstruções físicas que perturbam a propagação de
sinais de satélites.

Os posicionamentos aplicados pelos métodos de poligonação, triangulação,


trilateração e triangulateração podem comportar o tratamento estatístico das
observações pelo Método dos Mínimos Quadrados. Por conseguinte, eles devem abarcar
observações redundantes, ou seja, o número de observações deve ser excedente ao

106
número de incógnitas. Desse modo, os posicionamentos devem ter, no mínimo, quatro
vértices de referência, com dois vértices de “partida” e dois de “chegada”, sem incluir a
poligonal do “tipo 1”, que se apoia em, apenas, dois vértices. Pela usabilidade, os vértices
de referência devem ter as próprias coordenadas findadas, via posicionamento por GNSS.
Logo, a triangulação, a trilateração e a triangulateração são alternativas que estão aptas
a ser empregadas para o estabelecimento de vértices de referência, a partir dos quais
se determinam as coordenadas dos vértices de limite por irradiação, interseção linear
ou interseção angular.

• POLIGONAÇÃO

A poligonação se fundamenta na identificação de direções e de distâncias


entre vértices consecutivos de uma poligonal. O recolhimento de dados ocorre com a
instalação de um equipamento de medição em um dos vértices da poligonal, assim, a
partir deste, são observados os direcionamentos em relação ao vértice anterior (vértice
“ré”), ao vértice posterior (vértice “vante”) e as distâncias entre esses vértices.

Nos trabalhos de georreferenciamento de imóveis rurais, pode ser usado um dos


três tipos de poligonais, previstos na NBR 13.133 (ABNT, 1994), e identificados a seguir.

FIGURA 5 – POLIGONAL “TIPO 1”

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

107
FIGURA 6 – POLIGONAL “TIPO 2”

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

FIGURA 7 – POLIGONAL “TIPO 3”

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• TRIANGULAÇÃO

A definição das coordenadas, por meio do método da triangulação, é realizada


pela observação dos ângulos constituídos entre os alinhamentos de vértices intervisíveis
de uma rede de triângulos.

108
FIGURA 8 – EXEMPLO DE TRIANGULAÇÃO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• TRILATERAÇÃO

O posicionamento via trilateração é feito a partir da observação das distâncias


entre os vértices intervisíveis de uma rede de triângulos.

FIGURA 9 – EXEMPLO DE TRILATERAÇÃO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• TRIANGULATERAÇÃO

Na triangulateração, são vistos ângulos e distâncias entre os vértices intervisíveis


de uma rede de triângulos.

109
Devido à aferição de distâncias e de ângulos com estações totais, aliada
à viabilidade de processamento automatizado de um grande volume de dados, a
triangulateração, quando comparada com a trilateração e a triangulação, oportuniza
uma melhor precisão e uma análise estatística das observações e das coordenadas,
levando em consideração o alto número de observações redundantes.

FIGURA 10 – EXEMPLO DE TRIANGULATERAÇÃO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• IRRADIAÇÃO

O método da irradiação se baseia na definição de coordenadas, a contar da


observação de ângulos e de distâncias, ou azimutes e distâncias.

A definição das coordenadas do ponto de interesse é efetuada a partir da


observação da distância entre um dos vértices conhecidos até o vértice de interesse,
e do ângulo formado entre o alinhamento do vértice de interesse e o alinhamento dos
vértices conhecidos (Figura 11).

110
FIGURA 11 – EXEMPLO DE IRRADIAÇÃO OBSERVANDO ÂNGULO E DISTÂNCIA

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Em tempo, pode ser exercida a determinação por irradiação em casos nos quais
se identifica, diretamente, o azimute da direção entre o vértice de conhecimento e o
vértice de interesse (Figura 12).

FIGURA 12 – IRRADIAÇÃO OBSERVANDO AZIMUTE E DISTÂNCIA

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Os vértices de coordenadas conhecidas podem ser de apoio à topografia


clássica, ou vértices de desenvolvimento de poligonais, triangulações, trilaterações
e triangulaterações. Ao ser viável, é recomendável que o vértice de interesse seja
“irradiado” de mais de um vértice de referência. Desse modo, obtém-se o ajustamento
de observações (Figura 13).
111
FIGURA 13 – IRRADIAÇÃO COM OBSERVAÇÕES REDUNDANTES

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• INTERSEÇÃO LINEAR

A obtenção de coordenadas, via método de interseção linear, é organizada


a partir da observação das distâncias do ponto de interesse até dois vértices de
coordenadas conhecidas (Figura 14).

FIGURA 14 – INTERSEÇÃO LINEAR

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• INTERSEÇÃO ANGULAR

A interseção angular é oportunizada no momento em que se observam,


unicamente, os ângulos entre os alinhamentos ocasionados por dois vértices de
coordenadas conhecidas e o vértice de interesse (Figura 15).

112
FIGURA 15 – INTERSEÇÃO ANGULAR

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Esse método é de ótima valia para posicionar vértices situados em locais


inacessíveis, assim, torna-se possível a observação precisa dos ângulos entre os
alinhamentos.

• ALINHAMENTO

O método de alinhamento marca presença a partir da definição das coordenadas


de um vértice que se encontra na direção identificada por outros dois de coordenadas
conhecidas. A ressalva necessária é a distância de um dos vértices conhecidos até o
de interesse.

FIGURA 16 – EXEMPLO DE ALINHAMENTO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Prescreve-se o uso desse método para a determinação de vértices em locais


nos quais existem obstruções físicas que impedem e/ou dificultam o levantamento
por métodos GNSS. Essa é uma boa alternativa para a utilização de outros métodos
de topografia clássica, pois escusa a aplicação de uma estação total, havendo a
necessidade, apenas, de uma trena.

113
3.3 POSICIONAMENTO POR GEOMETRIA ANALÍTICA
O posicionamento por geometria analítica ocorre indiretamente, quando as
coordenadas são determinadas por cálculos analíticos, via vértices posicionados de
forma direta.

Para minorar a disformidade nos valores de área, distância e azimute, é


imperioso que o valor de altitude seja imputado a cada um dos vértices recolhidos, a
partir do posicionamento por geometria analítica. A partir do momento em que não
são obtidos esses valores, carece ser conferido, em cada um, o valor da altitude média,
como referência para essa determinação.

• PARALELA

O método da paralela se expressa pela determinação de coordenadas de vértices


a partir de uma linha paralela a uma outra, assim, obtêm-se os vértices, encontrados por
algum outro método de posicionamento. Nesse caso, torna-se imprescindível firmar a
distância de afastamento entre as linhas (Figura 17).

FIGURA 17 – MÉTODO DA PARALELA

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• INTERSEÇÃO DE RETAS

As coordenadas do vértice de interesse são categorizadas, conforme a


interseção de dois segmentos de retas a partir dos quais os vértices são findados de
forma direta. Seguem três possibilidades de interseção entre retas:

114
FIGURA 18 – EXEMPLOS DE TRÊS POSSIBILIDADES DE INTERSEÇÃO DE RETAS

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

3.4 POSICIONAMENTO POR SENSORIAMENTO REMOTO


No posicionamento por sensoriamento remoto, detêm-se conhecimentos
geométricos de elementos físicos, de forma indireta, com precisão e confiabilidade,
adequadamente, aferidas, por meio de sensores em nível orbital ou aerotransportados
(INCRA, 2013).

As possibilidades de posicionamento por sensoriamento remoto, para o


georreferenciamento de imóveis rurais, são os seguintes: Aerofotogrametria; Radar
aerotransportado; Laser scanner aerotransportado; e Sensores orbitais (satélites).

Os valores das coordenadas dos vértices, angariados por sensoriamento remoto,


podem ser obtidos de um órgão público, empresa pública ou privada e/ou produzidos
pelo próprio credenciado, todos em conformidade com o respectivo órgão de classe.

115
NOTA
Não se aplica o posicionamento por sensoriamento remoto para a
determinação de vértices tipo “M”, vértices em limites por cerca e vértices
referentes a mudanças de confrontação.

4 APLICABILIDADES
Os diversos métodos de localização propostos, com as características técnicas
utilizadas para realizá-los, devem garantir a precisão da localização, de acordo com a
aplicação do vértice. Os itens a seguir conterão métodos de posicionamento que podem
ser usados em
​​ diferentes situações.

4.1 VÉRTICES DE APOIO


De acordo com o método de posicionamento a ser empregado para a fixação
das coordenadas dos vértices de limite, ocorre a demanda de se apoiar em vértices de
coordenadas conhecidas, denominados de apoio, controle, referência ou base.

Os vértices de apoio, para a determinação das coordenadas dos vértices de


limite, podem ser aqueles que compõem o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB), ou
vértices cujas coordenadas foram determinadas a partir destes. Caso estes últimos
sejam empregados, os métodos de posicionamento que podem ser utilizados para a
indicação de coordenadas de vértices de apoio se encontrarão destacados a seguir:

QUADRO 3 – MÉTODOS DE POSICIONAMENTO PARA VÉRTICES DE APOIO

Código Método de Posicionamento


PG1 Relativo estático
PG2 Relativo estático rápido
PG6 RTK convencional
PG7 RTK em rede
PG9 Posicionamento por Ponto Preciso

116
PT1 Poligonação
PT2 Triangulação
PT3 Trilateração
PT4 Triangulateração
FONTE: Adaptado de INCRA (2013)

4.2 VÉRTICES DE LIMITE


A NTGIR V3ª Ed (BRASIL, 2013) determina distintos padrões de precisão,
conforme os tipos de limites: artificiais (melhor ou igual a 0,50 m), naturais (melhor ou
igual a 3,00 m) e inacessíveis (melhor ou igual a 7,50 m).

Em razão do padrão de precisão, os métodos de posicionamento são aplicáveis,


ou não, a determinado tipo de limite. Assim, a seguir, observaremos um resumo desses
métodos, identificando os códigos atribuídos por método e onde podem ser utilizados.

QUADRO 4 – MÉTODOS DE POSICIONAMENTO PARA VÉRTICES DE LIMITE

Código Método de Posicionamento Aplicação


PG1 Relativo estático Limite Artificial ou Natural
PG2 Relativo estático rápido Limite Artificial ou Natural
PG3 Relativo semicinemático Limite Artificial ou Natural
PG4 Relativo cinemático Limite Artificial ou Natural
PG5 Relativo a partir do código C/A Limite Natural
PG6 RTK convencional Limite Artificial ou Natural
PG7 RTK em rede Limite Artificial ou Natural
PG8 Differential GPS (DGPS) Limite Natural
Posicionamento por Ponto
PG9 Limite Artificial ou Natural
Preciso
PT1 Poligonação Limite Artificial ou Natural
PT2 Triangulação Limite Artificial ou Natural
PT3 Trilateração Limite Artificial ou Natural
PT4 Triangulateração Limite Artificial ou Natural
PT5 Irradiação Limite Artificial ou Natural
PT6 Interseção linear Limite Artificial ou Natural
PT7 Interseção angular Limite Artificial ou Natural

117
PT8 Alinhamento Limite Artificial ou Natural
PA1 Paralela Limite Artificial ou Natural
PA2 Interseção de retas Limite Artificial ou Natural
Limite Artificial*, Natural
PS1 Aerofotogrametria
ou Inacessível
Limite Artificial*, Natural
PS2 Radar aerotransportado
ou Inacessível
Laser scanner Limite Artificial*, Natural
PS3
aerotransportado ou Inacessível
Limite Artificial*, Natural
PS4 Sensores orbitais
ou Inacessível
*Com exceção de vértices tipo M e limites por cerca

FONTE: Adaptado de INCRA (2013)

118
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é retratado por um conjunto de pontos geodésicos


implantados na porção da superfície terrestre limitada pelas fronteiras do país. Esses
pontos são estabelecidos por mecanismos operacionais e coordenadas calculadas, à
base de modelos geodésicos de precisão coadunável e de propósitos fixados.

• No posicionamento relativo, as coordenadas de um vértice de interesse são


determinadas a partir de um ou de mais vértices cujas coordenadas são conhecidas.
Nesse caso, dois ou mais receptores GNSS são necessários para coletar dados
simultaneamente, com, pelo menos, um receptor ocupando o vértice de referência.

• A topografia clássica pode ser empregada de forma única ou em parceria com


trabalhos orientados pelo posicionamento GNSS, fundamentalmente, onde o sinal
GNSS não tem alcance, devido a obstruções físicas que perturbam a propagação de
sinais de satélites.

• No posicionamento por sensoriamento remoto, detêm-se conhecimentos


geométricos de elementos físicos, de forma indireta, com precisão e confiabilidade,
adequadamente, aferidas, por meio de sensores em nível orbital ou aerotransportados.

119
AUTOATIVIDADE
1 Explique como o Sistema Geodésico Brasileiro é retratado.

2 Analise as afirmativas a seguir e, na sequência, assinale a alternativa que apresenta


as CORRETAS:

I- O posicionamento por ponto a partir do código C/A tem, como objetivo, obter precisão
submétrica nos levantamentos.
II- No posicionamento relativo estático-rápido, o tempo de rastreio é inferior a 20 minutos.
III- No posicionamento relativo estático, a duração do tempo de rastreio pode variar de
20 minutos a algumas horas.
IV- No posicionamento por ponto preciso, é necessário utilizar a pseudodistância e a
fase da onda portadora L2.
V- No posicionamento relativo semicinemático (stop and go), o receptor deve estar
ligado durante todo o período do levantamento.

a) ( ) Apenas I, II e III.
b) ( ) Apenas II, IV e V.
c) ( ) Apenas III, IV e V.
d) ( ) Apenas II, III, IV.
e) ( ) Apenas I, IV e V.

3 Compreende-se, por levantamento, o conjunto de operações destinado à execução


de medições para a determinação da forma e das dimensões do planeta. Dentre os
métodos de levantamento, podemos destacar os planimétricos clássicos, conhecidos
como poligonação, trilateração e triangulação. Assim, considerando a figura a seguir,
assinale a alternativa que corresponde à ordem correta dos tipos de levantamento:

120
FONTE: <http://ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes/introducao.html>.
Acesso em: 24 abr. 2021.

a) Trilateração, triangulação e poligonação.


Poligonação, triangulação e trilateração.
Triangulação, trilateração e poligonação.
Trilateração, poligonação e triangulação.
Poligonação, trilateração e triangulação.

4 O Posicionamento por Ponto Preciso (PPP) utiliza a observável pseudodistância,


fase da onda portadora, ou ambas, com efemérides precisas. Esses parâmetros
são disponibilizados, aos usuários, por fontes independentes, como pelo IGS. Então,
respeito do tema, analise as afirmativas a seguir:

I- O resultado obtido, por meio do serviço IBGE-PPP, apresenta uma pequena diferença
em relação àqueles disponíveis no Banco de Dados Geodésicos (BDG) quando estão
sendo processadas as observações realizadas por marcos geodésicos pertencentes
ao Sistema Geodésico Brasileiro.
II- No que diz respeito às observáveis envolvidas no PPP, pode-se utilizar dados de
receptores de simples e dupla frequências, sem a necessidade do emprego de
modelos de redução dos efeitos da ionosfera.
III- As informações de órbitas e de relógios de satélites são indispensáveis para o
processamento. Na ausência delas, o processamento não ocorre.

121
Assinale a alternativa que apresenta a resposta CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
b) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
c) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
e) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

5 Em que método de posicionamento se detêm conhecimentos geométricos de


elementos físicos, de forma indireta, com precisão e confiabilidade, adequadamente,
aferidas, por meio de sensores em nível orbital ou aerotransportados?

122
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
CADASTRO RURAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, observaremos algumas generalidades relacionadas
ao cadastro rural. Abordaremos o imóvel rural e a base cartográfica dele, e veremos a
existência de diferentes definições para esse imóvel rural. Compreenderemos, também,
a importância que o Cadastro de Imóveis Rurais detém ao conter todos os imóveis de
interesse dos órgãos participantes, como INCRA, Receita Federal, IBAMA, SPU etc.

No decorrer deste tópico, estudaremos, ainda, as classificações do produto


cadastral, isto é, o que compõe a planta cadastral, a planta geral do imóvel, a planta
individual e o memorial descritivo.

Para o encerramento dos trabalhos, abarcaremos o Sistema de Informação


Territorial, dando destaque ao surgimento e ao desenvolvimento dele, incluindo os
modelos locais e globais propostos de gestão territorial, com foco na área rural.

Tenham, todos, uma ótima leitura e bons estudos!

2 IMÓVEL RURAL E BASE CARTOGRÁFICA


De acordo com o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964,
estipula-se, o imóvel rural, como “o prédio rústico, de área contínua, qualquer que seja a
sua localização, que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial
[...]” (BRASIL, 1964). Já pela leitura da legislação tributária, o imóvel é rural conforme a
localização dele, isto é, se está fora do perímetro urbano do município.

O Cadastro de Imóveis Rurais deve conter todos os imóveis de interesse dos órgãos
participantes, como INCRA, Receita Federal, IBAMA, SPU etc. Esse conceito deve ser,
claramente, definido para os serviços notariais e de registro, pois as informações a respeito
dos atributos são enviadas ao INCRA e estão sujeitas aos requisitos de georreferenciamento,
estabelecidos pela Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001).

Como ocorre com o cadastro urbano, o cadastro rural, também, adquire


informações da propriedade e da base cartográfica. As escalas, comumente, empregadas
giram entre 1:5.000 e 1:10.000, podendo variar, conforme a extensão das propriedades e
a região estudada. Fundamentalmente, nota-se que a base cartográfica é proveniente
de levantamentos aerofotogramétricos e de imagens de alta resolução, com apoio, em
campo, via levantamentos geodésicos.

123
Características basilares da Base Cartográfica Rural:

• Cartas planialtimétricas (entre 1:10.000 e 1:5.000).


• Levantamento cadastral (levantamento em campo).
• Esclarecimento da situação legal dos imóveis.
• Produção de documentação para regularização fundiária (titulação).

3 CLASSIFICAÇÕES DO PRODUTO CADASTRAL


De acordo com o INCRA (2013), o levantamento do imóvel rural deve possuir
um código inequívoco para cada vértice da poligonal, constituído por um grupamento
de caracteres. Os primeiros caracteres se designam ao código do profissional habilitado
para o posicionamento do vértice; posteriormente, referem-se ao tipo de vértice; e,
sequencialmente, direcionam-se aos números inteiros, o que particulariza o imóvel:

FIGURA 19 – PRIMEIROS CARACTERES

Exemplo M=Marco, V=Vértice, P=Ponto

FONTE: O autor

ESTUDOS FUTUROS
Acadêmico, neste Tópico 3, haverá um extenso item a partir do qual
trataremos, profundamente, de toda a codificação empregada pelo INCRA.
Não se preocupe! A inclusão desse assunto, no fim do Tópico 2, foi, apenas,
para contextualizar o produto cadastral e instigar a sua curiosidade.

124
O INCRA classifica o produto cadastral da seguinte forma:

• Plano cadastral: Visa organizar o conhecimento das redes fundiárias em áreas de


intervenção específicas. Contém o perímetro da propriedade pesquisada, as parcelas,
os marcos de controle, as linhas de demarcação, e outras feições planares, como
estradas, hidrovias, benfeitorias, reservas etc. De acordo com o modelo padrão, a
representação gráfica do plano cadastral segue as seguintes especificações:
◦ Escala de 1:10.000.
◦ Formato A1/ABNT; área útil para desenho de 50 x 60 cm.
◦ Malha de coordenadas plano-retangulares UTM, espaçadas, na escala do mapa,
em intervalos de 10 cm, correspondentes às coordenadas a cada quilômetro.
◦ Sistema de Projeção UTM.
◦ Articulação nas dimensões 3’x 3’.
◦ Código de articulação resultante da divisão em 100 partes articuladas de 3’ x 3’ da
carta topográfica do mapeamento sistemático brasileiro, na escala de 1:100.000,
com uma sequência iniciada em 00 na posição superior esquerda. Crescimento da
esquerda para a direita, e de cima para baixo, até 99.

• Planta geral do imóvel: Objetiva cadastrar loteamentos, expressar os limites do lote


com feições arteriais ou geográficas, e definir os mesmos marcos, o perímetro do
imóvel e os confrontos dele. A precisão de desenho deve ser compatível com a escala
de impressão (Figura 20). De acordo com o modelo padrão, uma representação gráfica
da planta do imóvel deve possuir as seguintes especificações:
◦ Formato A1/ABNT.
◦ Representação mínima de segmentos em 5mm na escala da planta.
◦ Número de folhas com articulação, com a representação de todo o parcelamento,
mas sem o secionamento de nenhuma das parcelas.
◦ Escala ditada pelas condições anteriores, com ocupação ótima da área útil da
folha.
◦ Sistema de projeção UTM.
◦ Indicação do Meridiano Central (MC), para o ponto central da planta.
◦ Malha de coordenadas plano-retangulares UTM espaçadas, na escala do mapa,
em intervalos de 10 cm.
◦ Prescrição de confrontantes do imóvel.
◦ Parcelas inscritas em círculos de raio conveniente.
◦ Mostra de distâncias e de azimutes correspondentes aos lados representados na
planta, sejam, estes, de parcelas individuais ou de áreas de uso comunitário.
◦ Apontamentos de marcos definidores das parcelas com um respectivo código
identificador.
◦ Designação de estradas internas ao imóvel.
◦ Quadro com número total de parcelas e de respectivas áreas.

125
• Planta individual: Deseja proporcionar uma visão detalhada do terreno rural,
através dos limites, das formas e dos enfrentamentos. Com o memorando descritivo,
é elaborado para possibilitar a distribuição dos títulos de propriedade e dos
registros públicos deles. Os tamanhos das plantas individuais são compatíveis com
os formatos de uma tabela padrão e são aplicados proporcionalmente. De acordo
com o modelo padrão, a representação gráfica de uma única planta contempla as
seguintes especificações:
◦ Formato A4/ABNT.
◦ Número ou código, com a parcela e os respectivos confrontantes.
◦ Azimutes dos lados em graus, minutos e segundos-arco.
◦ Comprimentos dos lados e perímetro expressos em metros, com duas casas decimais.
◦ Modelo de selo determinado pelo INCRA.
◦ Representação de acidentes planimétricos julgados importantes e levantados
a partir dos desenvolvimentos poligonais, segundo convenções adequadas à
escala da planta.
◦ Retratação do Meridiano Central (MC) correspondente, da convergência
meridiana, e das coordenadas plano-retangulares (UTM) e geográficas do ponto
mais ao norte da parcela.
◦ Destaque, com detalhes, das Áreas de Preservação Permanente (se existirem),
e excluídas, da área total da parcela, as áreas de vias públicas e, outras,
legalmente, dedutíveis.

• Memorial descritivo: Refere-se ao imóvel/parcela demarcada. Representa o


perímetro e aponta as confrontações e a área, de acordo com os dados técnicos
obtidos em um levantamento de campo. É elaborado de acordo com um modelo
padrão, segundo as especificações contidas na NTGIR 3ª Ed:
◦ Transcrição dos dados relativos ao perímetro, às confrontações e à área em escrita
corrente, sem rasuras, preenchidos os espaços em branco da descrição, com
absoluta identidade e com aqueles lançados na planta individual.
◦ Desenvolvimento da descrição do perímetro e das confrontações no sentido
direto, a partir do ponto situado na posição mais ao norte da área descrita, com
as respectivas coordenadas UTM, referenciadas ao Meridiano Central (MC), e
geográficas, com referencial planimétrico SIRGAS 2000.
◦ Lados do perímetro e confrontações caracterizados pelos comprimentos reduzidos
ao plano UTM e respectivos azimutes planos.

126
FIGURA 20 – EXEMPLO DE PLANTA GERAL DO IMÓVEL

FONTE: Adaptada de Miranda (2003)

4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES TERRITORIAIS


O Sistema de Informações Territoriais (SIT), ou, em inglês, Land Information
System (LIS), é uma tecnologia sustentada por um Sistema de Informações Geográficas
(SIG), aplicada ao cadastro multifinalitário.

De acordo com a Portaria MCid nº 511, de 07 de dezembro de 2009, do Ministério


das Cidades:

O Sistema de Informações Territoriais é composto de diferentes


cadastros temáticos baseados na informação das parcelas. Um
SIT pode (de preferência) ser estruturado em uma plataforma SIG,
porém, nos municípios, onde essa tecnologia, ainda, não chegou,
será suficiente se forem as bases alfanuméricas em um único mapa
de referência que seja utilizado por todos os parceiros. O número
de cadastros temáticos pode variar de um município para outro,
segundo a necessidade do local (NORMASBRASIL, 2009, s.p.).

Como observado, a Portaria MCid nº 511, de 7 de dezembro de 2009, do Ministério


das Cidades, evidencia que o Cadastro Territorial Multifinalitário só pode se encontrar
sob uma plataforma de Sistema de Informações Geográficas (NORMASBRASIL, 2009).
127
O primeiro esboço de SIT/LIS de que se tem registro de desenvolvimento, no
mundo, foi na década de 1960, como um arranjado técnico que previa a sobreposição
e a combinação de diversos dados em um único mapa. Na década seguinte, durante
estudos do Laboratório Gráfico Computacional, da Escola de Planejamento Urbano, da
Universidade de Harvard, surgiu o projeto pioneiro de LIS, denominado de SYMAP. Com
o passar dos anos, o uso do SIG foi evoluindo significativamente.

No Brasil, nos anos 80, surge o termo geoprocessamento, que,


na época, podia ser definido como o conjunto de técnicas e de
metodologias que implicam na aquisição, no arquivamento, no
processamento e na representação de dados georreferenciados. Um
dado georreferenciado é aquele que possui coordenadas geográficas
ou geodésicas, ou seja, latitude e longitude. O geoprocessamento
era o componente essencial do SIG, que, no caso, seria um sistema
computacional mais robusto que permitiria uma análise espacial,
simulações e modelagens de fenômenos geográficos. Atualmente,
os conceitos SIG e geoprocessamento se confundem e podem ser
considerados sinônimos, devido às sutilezas dos termos.

A principal característica de um Sistema de Informação Territorial


é a integração, em uma única base de dados, de informações
espaciais provenientes de dados cartográficos, dados dos boletins
cadastrais urbano e rural, imagens de satélite e modelos numéricos
de terrenos, de forma a combinar as várias informações através de
algoritmos de manipulação. O objetivo é a geração de mapeamentos
derivados: consulta, recuperação e visualização da base de dados
geocodificados (ambientes urbano e rural).

O SIT é um sistema de informação de múltiplos propósitos que


pode servir à autoridade local, às agências públicas e aos cidadãos.
A parcela é a unidade fundamental da organização espacial da
informação territorial. Os dados ditos ambientais podem ser incluídos
nessa base, a fim de ampliar as potencialidades do sistema em
relação à tomada de decisões técnicas.

Os produtos de levantamentos e mapeamentos resultantes de


operações cadastrais, visando contemplar os aspectos básicos de
um cadastro técnico, são de grande uso prático no planejamento
e na execução de vários projetos, e, ainda, formam a base de um
sistema de informação mais amplo, principalmente, em áreas
urbanas de rápido desenvolvimento, conferindo, ao cadastro, um
caráter multifinalitário. Algumas poucas cidades brasileiras de
médio porte possuem as próprias bases cadastrais automatizadas,
o que, consequentemente, permite englobar um maior número de
aplicativos, como o controle ambiental, o tráfego urbano, as rotas de
coleta de lixo etc. (ANTUNES, 2017, p. 72).

As diferentes camadas que compõem o SIT devem representar as realidades


urbana e rural, e de forma simplificada. Observe a sobreposição de camadas de
informação com o mesmo datum.

128
FIGURA 21 – CADASTROS TEMÁTICOS, CAMADAS OU LAYERS DE INFORMAÇÃO

FONTE: Adaptada de Antunes (2017)

A formação de um SIT deve conter, essencialmente, uma base cartográfica


atualizada e atrelada ao SGB, um banco de dados no que diz respeito à propriedade, e
uma ligação entre esse banco de dados e a base cartográfica.

Tende-se a organizar todos os elementos relacionados aos registros das


propriedades, ou seja, elementos ligados à propriedade de terra, a estatísticas
econômicas e espaciais, à infraestrutura e aos serviços, fazendo com que estejam
presentes em uma estrutura de referência geodésica. O banco de dados desse sistema
é composto por dados gráficos (mapas) e tabulares (tabelas, relatórios etc.) das áreas
rurais e urbanas, com elementos dos meios físico, biótico, socioeconômico e aspectos
legais institucionais (MONICO, 2000).

De modo geral, é possível afirmar que os elementos fundamentais, para a


composição de um SIT, são o dado, os recursos humanos e o software (Figura 22). A grande
dificuldade enfrentada pelos gestores públicos, em geral, pelas prefeituras municipais,
é o dado, a base cartográfica, em geral, oriunda de recobrimentos aerofotogramétricos,
pois, ainda, pode-se onerar, e muito, os cofres públicos.

129
FIGURA 22 – COMPONENTES SIG/LIS

FONTE: Adaptada de Antunes (2017)

Economicamente, em municípios de médio porte, a implementação do


cadastro técnico, com vistas à tributação, em meio digital, apresenta
uma boa relação custo/benefício a curto prazo, principalmente, pelo
aumento da arrecadação de tributos.

A base cartográfica, usada no cadastro, é um dos elementos mais


importantes para a ampliação do sistema. Logo, o primeiro passo, para
a implementação de um LIS que suporte um cadastro multifinalitário,
é o próprio cadastro técnico imobiliário.

Apesar de o Sistema de Informação Geográfica, aplicado à gestão


municipal, ser uma ferramenta imprescindível aos planejamentos
urbano e regional, este, ainda, é, na maioria dos municípios brasileiros,
uma quimera. Os principais problemas, para a implementação, são a
inexistência de uma base cartográfica e a falta de recursos humanos
e financeiros. Não obstante, muitas agências financiadoras de
projetos ambientais e de desenvolvimento sustentável exigem uma
base cadastral informatizada, como contrapartida para a postulação
de verbas. Isso faz com que o cadastro se torne, cada vez mais,
prioritário para o desenvolvimento regional (ANTUNES, 2017, p. 83).

130
4.1 LADM-MODELO DE ADMINISTRAÇÃO DA TERRA
A comunidade internacional, por meio da International Federation of Surveyors
(FIG), e com o apoio da UN-Habitat, propôs o Land Administration Domain Model
(LADM), em 2012, que visa estabelecer um SIT para padronizar a gestão territorial
global, com o objetivo de definir um modelo cadastral padronizado, dadas as grandes
diferenças que existem entre os cadastros ao redor do mundo. Esse modelo permite
a integração e a comunicação de todas as partes, utilizando a informação cadastral, o
que, também, é objeto do “Cadastro 2014”. As normas internacionais citadas propõem
um modelo de dados comum para o cadastro territorial e o SIT. Um dos grandes
problemas da área é a falta de um conjunto padronizado de conceitos, de terminologia
e de modelos conceituais.

Em suma, o LADM é um modelo conceitual que permeia conceitos básicos


e gerais comuns a diferentes sistemas de informações cadastrais no mundo, e que
pode ser utilizado em diferentes países, levando em conta os pontos comuns da gestão
territorial.

As parcelas são elementos espaciais para a realização de títulos e de outros


direitos, seguindo localizações, amplamente, definidas na legislação cadastral. O
objetivo do LADM não é substituir os modelos existentes, mas propor um único modelo
conceitual, uma linguagem formal de semelhanças presentes nos sistemas de gestão
existentes, além de prever e de ajustar as diferenças. É um padrão descritivo que se
concentra na identificação de direitos, de responsabilidades e de limitações que afetam
a terra (ou a água) e os componentes geoespaciais associados a ela (SANTOS, 2012). O
sistema é composto pelos seguintes elementos: parte: sujeito (cidadão); leis, restrições
e responsabilidades; unidade administrativa: objetos territoriais registrados; e unidade
espacial: aspectos espaciais dos objetos territoriais.

131
FIGURA 23 – MODELO GERAL DO LADM

FONTE: Adaptada de Antunes (2017)

No que diz respeito ao Brasil, constata-se uma ausência de padrões para


sistemas de gestão do território, sobretudo, de relações entre os diferentes objetos e
atores. Os cadastros e os sistemas de informações municipais são moldados, de acordo
com as necessidades e as experiências administrativas adquiridas ao longo do tempo.
Nesse sentido, propõe um sistema com elementos básicos únicos e que podem ser
adaptados a diferentes realidades. Santos (2012) apresenta um estudo que compara as
diretrizes do cadastro de 2009, Portaria nº 511, de 7 de dezembro de 2009, do Ministério
das Cidades, com o LADM proposto, mostrando uma convergência conceitual da
administração das propriedades (NORMASBRASIL, 2009).

4.2 SINTER-SISTEMA NACIONAL DE GESTÃO DE


INFORMAÇÕES TERRITORIAIS
Nos últimos anos, tem sido constante uma ampla discussão a respeito das
importâncias da gestão territorial e dos sistemas de informação. Podemos citar,
cronologicamente, as leis e os regulamentos que afetam a importância do registro
como ferramenta de gestão: regulamentos municipais; leis de georreferenciamento de
imóveis rurais; diretrizes do CTM; INDE; e, finalmente, SINTER. Em meio a tantas leis
e regulamentos, há uma falta de sinergia entre os diferentes atores que compõem a
cartografia nacional. A falta de sistematização e de discussão de um projeto cartográfico
nacional torna a geração de bases cartográficas muito pontual, e, apenas, com aspectos
ligados ao capital. Apesar dos avanços da cultura cartográfica e das aplicações dela nos
últimos anos, o investimento, para a geração, permanece distante dos gestores.

132
O Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais (SINTER) objetiva
integrar diferentes fontes de dados, de órgãos distintos, dos imóveis urbanos e rurais
produzidos pelo governo.

Atente-se aos distintos cadastros de variados órgãos municipais, estaduais e


federais, aglutinados à base única da Receita Federal, via SINTER.

FIGURA 24 – SINTER - INTEGRAÇÃO DOS DIFERENTES CADASTROS

FONTE: O autor

133
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Cadastro de Imóveis Rurais deve conter todos os imóveis de interesse dos órgãos
participantes, como INCRA, Receita Federal, IBAMA, SPU etc. Esse conceito deve
ser, claramente, definido para os serviços notariais e de registro, pois as informações
a respeito dos atributos são enviadas ao INCRA e estão sujeitas aos requisitos de
georreferenciamento, estabelecidos pela Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001
(BRASIL, 2001).

• O INCRA classifica o produto cadastral como planta cadastral; planta geral do imóvel;
planta individual; e memorial descritivo.

• A principal característica de um Sistema de Informação Territorial (SIT) é a integração,


em uma única base de dados, de informações espaciais provenientes de dados
cartográficos, dados dos boletins cadastrais urbano e rural, imagens de satélite e
modelos numéricos de terrenos, de forma a combinar as várias informações através
de algoritmos de manipulação. O objetivo é a geração de mapeamentos derivados:
consulta, recuperação e visualização da base de dados geocodificados (ambientes
urbano e rural).

• A comunidade internacional, por meio da International Federation of Surveyors (FIG),


e com o apoio da UN-Habitat, propôs o Land Administration Domain Model (LADM),
em 2012, que visa estabelecer um SIT para padronizar a gestão territorial global, com
o objetivo de definir um modelo cadastral padronizado, dadas as grandes diferenças
que existem entre os cadastros ao redor do mundo.

134
AUTOATIVIDADE
1 Qual é a responsabilidade do INCRA, definida pelos manuais técnicos de
posicionamento, de limites e confrontações?

a) ( ) Reconhecimento do domínio da propriedade rural.


b) ( ) Certificação.
c) ( ) Reconhecimento dos limites de confrontação da propriedade.
d) ( ) Georreferenciamento.
e) ( ) Qualificação registral.

2 Qual das leis, a seguir, estabeleceu a necessidade de georreferenciamento de imóveis


rurais, com regras fixadas pelo INCRA?

a) ( ) 6.015, de 1973.
b) ( ) 6.216, de 1975.
c) ( ) 10.267, de 2001.
d) ( ) 10.931, de 2004.
e) ( ) 13.838, de 2019.

3 A planta individual deseja proporcionar uma visão detalhada do terreno rural, através
dos limites, das formas e dos enfrentamentos. Com o memorando descritivo, é
elaborado para possibilitar a distribuição dos títulos de propriedade e dos registros
públicos deles. Os tamanhos das plantas individuais são compatíveis com os
formatos de uma tabela padrão e são aplicados proporcionalmente. Considerando o
modelo proposto pelo INCRA, apresente as especificações técnicas para uma planta
de imóvel rural para fins de georreferenciamento.

4 O Sistema de Informação Territorial (SIT), ou, em inglês, Land Information System


(LIS), é uma tecnologia sustentada por um Sistema de Informações Geográficas (SIG),
aplicado ao cadastro multifinalitário. Tendo isso em vista, explique qual é a principal
característica de um SIT.

135
5 O Cadastro Territorial Multifinalitário (CTM) necessita de normas e de especificações
técnicas, como do Modelo de Domínio da Gestão Territorial, ou Land Administration
Domain Model (LADM), além de uma Infraestrutura de Dados Espaciais (IDE), com a
padronização e a definição de metadados dos dados especiais. A partir do exposto,
analise as afirmativas a seguir e assinale a opção CORRETA:

I- A implementação do IDE tem, como objetivo, reduzir esforços na coleta, no


processamento e na atualização dos dados com a padronização deles.
II- Os benefícios de desenvolver um CTM não incluem o setor privado, apenas, o âmbito
governamental, pois é um instrumento direcionado às políticas territoriais.
III- No Brasil, a INDE, Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais, foi, oficialmente,
instituída pelo Decreto nº 6.666, de 2008.
IV- O CTM oferece uma base de dados espaciais que integra direitos reais da propriedade
com o uso, o valor e as distribuições natural e cultural.

Todas as afirmativas estão CORRETAS.


a) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
d) ( ) Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas.

136
REFERÊNCIAS
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13133. Execução de
levantamento topográfico. 1994. Disponível em: http://www.carto.eng.uerj.br/cdecart/
download/NBR13133.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

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geodésicas para o cadastro rural. Campo Grande: Embrapa Informática
Agropecuária/INPE, 2006. p. 801-810.

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nos 4.947, de 6 de abril de 1966; 5.868, de 12 de dezembro de 1972; 6.015, de 31 de
dezembro de 1973; 6.739, de 5 de dezembro de 1979; 9.393, de 19 de dezembro de
1996; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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objetos. Acesso em: 24 abr. 2021.

139
140
UNIDADE 3 —

CERTIFICAÇÃO DE
IMÓVEIS RURAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a certificação de imóveis rurais;

• perceber as aplicações de bases legais e a integração do Sistema de Gestão


Fundiária (SIGEF);

• assimilar os principais direcionamentos e técnicas para a realização do


georreferenciamento de imóveis rurais;

• saber demarcar limites, confrontações, marcos, dentre outros objetos e ações


inerentes ao ato de georreferenciar imóveis rurais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – BASE LEGAL E SISTEMAS


TÓPICO 2 – NORMA TÉCNICA PARA GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS
TÓPICO 3 – GUIA TÉCNICO PARA LIMITES E CONFRONTAÇÕES

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

141
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

142
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
BASE LEGAL E SISTEMAS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos, preliminarmente, alguns conceitos importantes
da base legal do sistema rural. Para tanto, analisaremos, brevemente, o histórico legal
do Cadastro Técnico de Imóveis Rurais, de quem é essa responsabilidade, quem e/ou
onde se operacionaliza em viés nacional e quais são os principais norteadores legais aos
quais o profissional deve se atentar.

Na sequência, será dada atenção à Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001,


também, conhecida como Lei de Georreferenciamento. Indicaremos as principais
mudanças ocorridas no campo rural após a promulgação dela, os pontos fortes e
algumas lacunas e/ou dificuldades que, ainda, podemos enfrentar (BRASIL, 2001b).

Por fim, abordaremos o atual Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), de modo a


apresentar a você, acadêmico, as principais interações ao realizar o acesso ao sistema,
com o preenchimento de dados e o envio de documentações do imóvel rural de interesse.
Portanto, desejamos, a todos, uma leitura atenta e bons estudos!

2 CADASTRO TÉCNICO DE IMÓVEIS RURAIS


O cadastro de imóveis rurais é de responsabilidade do INCRA (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária), por meio do Sistema Nacional de Cadastro Rural
(SNCR), que permite conhecer a estrutura e a ocupação da posse da terra no meio rural
brasileiro, para a gestão do programa de reforma agrária. O registro do imóvel rural é
declarativo e obrigatório. Para se cadastrar, é necessário apresentar uma declaração
ao INCRA e preencher formulários referentes a dados estruturais, de uso e informações
pessoais e relacionais, além de plantas e documentos (ANTUNES, 2017).

Um cadastro técnico é a coleta de um conjunto de informações de cada


propriedade, o qual é usado para determinar a localização dele, estabelecer relações
de vizinhança e descrever a situação legal e o uso do solo. O sistema emite a Certidão
de Cadastro de Imóveis Rurais (CCIR), com base nas informações declaradas pelo
proprietário, ou ocupante (invasão), do imóvel rural registrado. Esse certificado é a
prova de que o registo foi efetuado. A CCIR é essencial para loteamento, arrendamento,
hipoteca, venda ou promessa de imóvel rural e concessão de partilha amigável ou
judicial (herança por morte).

143
A Agência Nacional de Terras coopera, com o INCRA, para o levantamento
cadastral. A partir do ITCG (Instituto de Terras, Cartografia e Geologia, do Estado do
Paraná), por meio da implementação de um conjunto de dados e de informações
disponibilizados pelo cadastro de imóveis rurais, são permitidas diversas aplicações
cartográficas e físicas, promovendo, assim, o planejamento integrado e a gestão
democrática do território.

De acordo com a Lei de Terras, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, a


propriedade rural é definida como "a edificação rural, com área contínua, utilizada para
extração agrícola, pecuária ou agroindustrial, onde quer que esteja localizada [...]"
(BRASIL, 1964). Por outro lado, para a legislação tributária, o imóvel é rural de acordo
com a localização dele: se está fora dos limites urbanos da cidade.

O cadastro de imóveis rurais deve conter, portanto, todos os imóveis de


interesse das instituições participantes, como INCRA, Receita Federal, IBAMA, SPU etc.
Além disso, esse conceito deve estar bem definido, também, para os serviços notariais e
registrais, uma vez que são as informações desses imóveis que são enviadas ao INCRA,
e a partir das quais são feitas as exigências de georreferenciamento, previstas pela Lei
nº 10.267, de 28 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001b).

3 LEI Nº 10.267, DE 28 DE AGOSTO DE 2001


Calinoski (2015) menciona, inteligentemente, que “a grande missão dos
princípios constitucionais é dar uniformidade ao sistema jurídico, cuja norma máxima
é a Constituição, permitindo que a interpretação e a integração dos preceitos jurídicos
sejam feitas para dar coerência ao sistema normativo”. Com essa afirmação, iniciamos
essa discussão de maneira estratégica, para que possamos compreender o sistema
jurídico, em especial, a Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, e a importância dela para
os imóveis rurais (BRASIL, 2001b).

Com o passar dos anos, o uso da propriedade rural aumentou muito, e o valor
econômico dela também, exigindo, dessa forma, muita atenção dos governantes, que
passaram a promulgar leis, as quais estabeleciam normas e regras para o parcelamento
das terras. A propriedade rural, a identificação mais precisa e a história de posse forçada
dela deram origem ao princípio da particularidade. O Art. 176, da Lei nº 6.015, de 31 de
dezembro de 1973, inclui a personalização do imóvel em um documento específico,
denominado de registro, que substitui a entrada do livro tombo, que contém os dados
mais completos do imóvel, do proprietário, do título legal e as principais transações
comerciais que o envolvem, proporcionando segurança para a tempestividade das
informações e comprovação precisa da titularidade pelo legítimo proprietário (BRASIL,
1973; NETO, 2005).

144
As disputas de terra contínuas e crescentes, entre grileiros, proprietários
legítimos e vizinhos, exigem uma intervenção mais forte do Estado, a fim de criar uma
técnica precisa, segura e durável para medir a propriedade rural, e, o mais importante,
evitar a sobreposição de áreas privadas umas sobre as outras, onde essas áreas estão
localizadas em domínios nacionais, como proteções ambiental, indígena etc. Nesse
caso, surgiu um novo sistema revolucionário de divisão e de demarcação de terras,
chamado de georreferenciamento (NETO, 2005).

Conforme Folle (2008, p. 26), “o georreferenciamento é uma técnica moderna


de agrimensura”, criado para a mensuração de imóveis via coordenadas geodésicas
obtidas por satélite, sendo instaurado no ordenamento jurídico pátrio pela alteração dos
Arts. 176 e 225, ambos da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, por força da Lei nº
10.267, de 28 de agosto de 2001, que, de início, abarcou a resolução de um problema de
segurança na distribuição, na demarcação e no estabelecimento da propriedade rural
em campo, a partir de uma forma fiel descrita nos livros de registros cartorários (BRASIL,
1973; 2001b). Assim, como bem comentado por Folle (2008, p. 103):

O georreferenciamento foi instituído, no nosso sistema jurídico,


via alteração dos Arts. 176 e 225, da Lei dos Registros Públicos
(nº 6.015/73), por força da Lei nº 10.267/01. Por esses dispositivos,
o proprietário rural, em prazos que a norma regulamentadora viria
a instituir, deveria promovê-la, mediante a utilização do sistema
geodésico brasileiro e das expensas, em casos de desmembramento,
parcelamento e remembramento, e, obrigatoriamente, em caso de
alienação do imóvel rural, pena de ver gessado o direito de fruição
desse imóvel. Tais dispositivos foram regulamentados pelo Dec. nº
4.449/02, que pormenorizou os deveres do proprietário.

O georreferenciamento, de acordo com essa legislação, tem duas


funções básicas: a de servir de instrumento de registro público,
possibilitando a segurança no tráfico jurídico de imóveis; e a de servir
de instrumento de cadastro, com a finalidade, preponderantemente,
fiscalizatória, como, aliás, dispõe o Art. 1º. e os parágrafos dele, da
Lei nº 5.868/72, que trata do cadastramento rural, alterado, também,
pela dita Lei nº 10.267/01.

Ao contrário do cadastro urbano, o cadastro rural possui uma legislação nacional


especial para regular o registro de uma propriedade rural. Portanto, a Lei nº 10.267, de
28 de agosto de 2001, é um marco para a organização territorial do Brasil rural (BRASIL,
2001b). Os principais destaques são:

• Organização do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), com o reconhecimento da


necessidade de que esse cadastro seja realizado com base em medições geodésicas.
• Estabelecimento de mecanismos, para que possam possibilitar o início de uma efetiva
integração entre cadastro e registro de imóveis em áreas rurais.

145
Segundo o INCRA (2003), toda a infraestrutura cartográfica básica, imprescindível
aos trabalhos de natureza fundiária, deve ser adquirida de bases fundamentais do
Sistema Cartográfico Nacional e dos desenrolamentos dele, de redes geodésicas
principais e/ou secundárias e de mapas com escala topográfica, os quais compõem os
produtos finais do sistema.

A falta das infraestruturas cartográfica e geodésica, na área do projeto, significa a


determinação de coordenadas, altitude e azimute, preferencialmente, pelo rastreamento
de satélites GNSS, com a utilização de técnicas convenientes de processamento e
redução ao geoide, para atender às necessidades de suporte geodésico do projeto.

Nesses casos, é vital que as estações de referência se encontrem assentadas


em pontos da cadeia fundamental do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB), ou em
rede de pontos de ordem coadunável, cujas coordenadas e altitudes tenham sido,
preferencialmente, providas pelo IBGE (INCRA, 2003).

A Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, ou Lei de Georreferenciamento, como,


também, é denominada, no Art. 176, destaca a relevância da qualidade posicional do
levantamento topográfico (BRASIL, 2001b):

§ 3o Nos casos de desmembramento, parcelamento ou remembramento


de imóveis rurais, a identificação, prevista na alínea a, do item 3, do inciso
II, do § 1º, será obtida a partir de memorial descritivo, assinado por
profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos
limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico
Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida
a isenção de custos financeiros aos proprietários de imóveis rurais
cuja somatória da área não exceda a de quatro módulos fiscais.

Por fim, é importante destacar que pertence, ao INCRA, o papel de certificar se


a poligonal, objeto do memorial descritivo, não se sobrepõe a nenhuma outra constante
do cadastro georreferenciado, e se o memorial satisfaz às exigências técnicas. Essa é
uma evolução, para que não ocorram o registro incorreto de áreas e a grilagem de terra.

4 SISTEMA DE GESTÃO FUNDIÁRIA (SIGEF)


O SIGEF é um sistema automatizado, e gerenciado pelo INCRA, que permite
o recebimento, a verificação, a organização, a normalização e a disponibilização de
informações georreferenciadas dos limites das propriedades rurais, de acordo com a
Lei nº 10.276, de 10 de setembro de 2001. Em um pedido de certificação, o processo
processual não é mais feito em meio analógico, mas, inteiramente, digital. A parte
técnica é gerada, automaticamente, pelo SIGEF, para que os memorandos e os planos
descritivos possam ser fornecidos automaticamente, e, a autenticidade, verificada

146
online. O sistema, também, inclui: melhor gestão da rede fundiária rural brasileira;
articulação com cartórios e instituições públicas, com processamento de dados
fundiários; e transparência e objetividade. O SIGEF envolve diferentes atores, conforme
observado na figura a seguir (BRASIL, 2001a).

FIGURA 1 – ESTRUTURA DO SIGEF

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

O SIGEF surge, então, a partir do pensamento de se automatizar o processo de


georreferenciamento e de se obter uma gerência preponderante sobre as informações
desenvolvidas a partir dos processos. Inicialmente, foi apresentado pela Câmara
Técnica de Ordenamento Territorial, Regularização Fundiária e Gestão Ambiental, do
Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável, do Xingu (PDRS Xingu), da Secretaria
Extraordinária de Regularização Fundiária, da Amazônia Legal, vinculada ao Ministério
do Desenvolvimento Agrário, que, em cooperação com o INCRA, moldou-se em um
projeto de certificação automatizada. Logo, este se torna o SIGEF (Figura 2), e assume
o posto de principal sistema de disseminação e controle de informações referentes à
estrutura fundiária no Brasil, sendo um sistema, totalmente, automatizado, e oportuno
ao manuseio e à disponibilidade das novas geotecnologias.

147
Essas geotecnologias, por sua vez, empregadas nesses sistemas, atuam de
forma integrada, de modo que o processamento das informações georreferenciadas
é realizado de modo interno ao próprio servidor de dados do INCRA. A entrada desses
dados ocorre a partir de uma planilha de cálculo, a qual é, devidamente, estruturada
para desempenhar a totalidade das regras de formatação exigidas pelo SIGEF.

FIGURA 2 – INTERFACE DO SIGEF

FONTE: <https://sigef.incra.gov.br/>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O SIGEF detém uma forma singular de funcionamento. Inicia-se com o


preenchimento das informações espaciais em uma planilha eletrônica, previamente,
formatada, a qual deve ser salva em formato de planilha OpenDocumentSheet (.ods
– documento de planilha aberto), segundo o padrão Open Document Format (ODF –
formato de documento aberto) (Figura 3). Leva informações de titularidade do imóvel,
dados do proprietário, número de parcelas, Datum, tipo de coordenadas (geográficas e
UTM), vértices, Longitude (E), Latitude (N), sigmas (desvio padrão das coordenadas) e
Altitude (h), além de informações do tipo de limite, do Cadastro Nacional de Serventia
(CNS), da matrícula e do memorial descritivo.

148
FIGURA 3 – INTERFACE DA PLANILHA OPENDOCUMENT (.ODS), DEVIDAMENTE PREENCHIDA
PARA ENTRADA DE DADOS NO SIGEF

FONTE: Adaptada de Toledo e Bertotti (2014)

A partir dessa etapa, o envio da planilha é direcionado ao servidor do SIGEF,


por meio do sítio da internet, parte em que o profissional, previamente, habilitado, e
munido de uma chave de segurança digital, deve direcionar os dados para análise,
local e momento a partir dos quais o servidor verifica se há sobreposição de parcelas,
erros no preenchimento e referentes ao sentido do levantamento e dados divergentes.
Caso esteja tudo correto e o processo for aprovado, a certificação do imóvel é imediata,
assim, o mapa do imóvel georreferenciado e o memorial descritivo são gerados,
automaticamente, no próprio sistema.

149
FIGURA 4 – PLANTA DO SIGEF, ELABORADA, AUTOMATICAMENTE, APÓS CERTIFICAÇÃO DO IMÓVEL

FONTE: Adaptada de Toledo e Bertotti (2014)

FIGURA 5 – MEMORIAL DESCRITIVO, ELABORADO, AUTOMATICAMENTE, APÓS CERTIFICAÇÃO


DO IMÓVEL

FONTE: Adaptada de SIGEF (2014)

150
A certificação do imóvel fica condicionada à verificação pelo registro imobiliário,
e se encerra, assim, o processo de certificação dos imóveis rurais.

Com suporte, o processo se torna mais eficiente, sendo que os primeiros


resultados desse ficam acessíveis na própria página da internet, confirmando a eficiência,
a seriedade do sistema e a transparência da informação fornecida.

FIGURA 6 – ESTATÍSTICAS DO SISTEMA DE GESTÃO FUNDIÁRIA (SIGEF)

FONTE: Adaptada de SIGEF (2014)

NOTA
CAFIR – Cadastro de Imóveis Rurais da Receita Federal

O CAFIR é o Cadastro de Imóveis Rurais da Receita Federal com um objetivo fiscal, isto é,
de tributação. Tratam-se de informações dos imóveis rurais do país, dos titulares deles,
e, se caso forem, dos condôminos e dos copossuidores.

Segundo a Receita Federal, estão devidos, à inscrição no CAFIR, todos os


imóveis rurais, mesmo os que se privilegiam de privilégio ou da isenção do
Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR). Uma vez registrada a
propriedade no cadastro da Receita, obtém-se o NIRF, o Número do Imóvel
na Receita Federal, o qual é o número de identificação, junto à Receita Federal
do Brasil, consubstanciado ao imóvel rural (BRASIL, 2017).

Desde 2015, os cadastros da Receita Federal e do INCRA possuem as bases


integradas, e os dados do imóvel são capazes de ser disponibilizados em

151
ambos os sistemas. A vinculação dos cadastros do INCRA e da Receita Federal têm,
como designo, o acerto das bases de dados das duas instituições, de modo que se possa
avalizar a uniformidade dos dados manifestados e otimizar a Declaração Integrada de
Cadastro Rural, a qual beneficia os proprietários e/ou possuidores de imóveis rurais,
permitindo que a informação seja fornecida uma única vez (BRASIL, 2017).

152
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O cadastro de imóveis rurais é de responsabilidade do INCRA (Instituto Nacional de


Colonização e Reforma Agrária), por meio do Sistema Nacional de Cadastro Rural
(SNCR), que permite conhecer a estrutura e a ocupação da posse da terra no meio
rural brasileiro, para a gestão do programa de reforma agrária.

• A Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, é um marco para a organização territorial


do Brasil rural. Os principais destaques são: organização do Sistema Nacional de
Cadastro Rural (SNCR), com o reconhecimento da necessidade de que esse cadastro
seja realizado com base em medições geodésicas; e estabelecimento de mecanismos
que podem possibilitar o início de uma efetiva integração entre cadastro e registro de
imóveis em áreas rurais (BRASIL, 2001b).

• O SIGEF é um sistema automatizado, e gerenciado pelo INCRA, que permite o


recebimento, a verificação, a organização, a normalização e a disponibilização de
informações georreferenciadas dos limites das propriedades rurais, de acordo com a
Lei nº 10.276, de 10 de setembro de 2001 (BRASIL, 2001a).

• O CAFIR é o Cadastro de Imóveis Rurais da Receita Federal com um objetivo fiscal, isto
é, de tributação. Tratam-se de informações dos imóveis rurais do país, dos titulares
deles, e, se caso forem, dos condôminos e dos copossuidores. Estão devidos, à
inscrição no CAFIR, todos os imóveis rurais, mesmo os que se privilegiam de privilégio
ou da isenção do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR).

153
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com a Lei nº 4.947, de 6 de abril de 1966, modificada pelo Art. 1º, da Lei
nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, o documento emitido pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que constitui a prova do cadastro de um
imóvel rural, indispensável para qualquer transação que envolva desmembramento,
arrendamento, hipoteca, venda ou promessa de venda do imóvel rural e/ou para
homologação de partilha amigável ou judicial, é o (a) (BRASIL, 1966; 2001b):

a) ( ) Certificado de Cadastro de Imóveis Rurais – CCIR.


b) ( ) Cadastro Nacional de Imóveis Rurais e Urbanos – CNRU.
c) ( ) Certidão de Posse e Uso de Imóveis Rurais – CPUR.
d) ( ) Cadastro Nacional do Produtor Rural – CNPR.
e) ( ) Sistema Nacional de Cadastro Rural – SNCR.

2 Leia a afirmativa a seguir e assinale a opção que completa, corretamente, a lacuna.

A Lei Federal nº 10.267, de 28 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001b), estabelece que, em


casos de parcelamento, desmembramento ou remembramento de imóveis rurais, a
identificação prevista é obtida a partir de ___________________.

a) ( ) planta cadastral.
b) ( ) memorial descritivo.
c) ( ) levantamento topográfico.
d) ( ) certidão de registro.
e) ( ) escritura.

3 Segundo o INCRA (2003), toda a infraestrutura cartográfica básica, imprescindível


aos trabalhos de natureza fundiária, deve ser adquirida de bases fundamentais do
Sistema Cartográfico Nacional e dos desenrolamentos dele, de redes geodésicas
principais e/ou secundárias e de mapas com escala topográfica, os quais compõem
os produtos do sistema. Assim, explique o que ocorre diante da falta de uma
infraestrutura cartográfica eficiente.

154
4 Qual é o nome dado à ferramenta eletrônica desenvolvida pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA) para subsidiar a governança fundiária no território nacional? Por ele, são
efetuadas a recepção, a validação, a organização, a regularização e a disponibilização
das informações georreferenciadas dos limites de imóveis rurais, públicos e privados.

a) ( ) Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF).


b) ( ) Sistema de Gestão Fundiária Federal (SIGEFF).
c) ( ) Sistema de Cadastro Fundiário (SICAF).
d) ( ) Sistema de Gerenciamento Fundiário (SIGREF).
e) ( ) Sistema de Controle e Cadastro Fundiário (SICCF).

5 Explique o que é e para o que serve o SIGEF.

155
156
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
NORMA TÉCNICA PARA
GEORREFERENCIAMENTO DE
IMÓVEIS RURAIS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 2, trabalharemos com os temas abordados, de
acordo com o que trata a Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais,
elaborada pelo INCRA (2003; 2013). Toda a nossa discussão será pautada nesse
documento, assim, inicialmente, observaremos os padrões de precisão e de acurácia a
serem estabelecidos para o levantamento de campo.

Na sequência, veremos, que determinar e reconhecer os limites de uma


propriedade rural são tarefas que antecedem, necessariamente, a fase de levantamento.
O objetivo é garantir que os profissionais não errem no caminho a ser seguido.

Neste momento do texto, identificaremos elementos especiais que servem


para determinar os limites no levantamento rural. Também, abordaremos o roteiro que
o profissional deve deter para se cadastrar junto ao INCRA, e, por fim, entenderemos, na
prática, a codificação existente que deve ser aplicada nos registros.

Como se pode perceber, muito conteúdo importante vem por aí. Portanto,
fiquem atentos e tenham, todos, uma ótima leitura e excelentes estudos!

2 PADRÕES DE PRECISÃO E ACURÁCIA


Padrões de precisão e de acurácia são independentes das técnicas utilizadas no
levantamento de campo, uma vez que estes podem ser alcançados de distintas formas
técnicas. Dentre elas, podemos citar quanto à finalidade, à precisão e à acurácia.

Por técnicas convencionais, entendem-se aquelas que utilizam medições


angulares, lineares e de desníveis, através de, respectivamente, teodolitos, medidores
de distâncias e níveis, a partir de diversas combinações e cálculos decorrentes
(PESSOA, 2001).

Ainda que as técnicas convencionais sejam nominadas, genericamente, de


topográficas, essa classificação não deve ocasionar ambiguidade no que diz respeito
à finalidade. Levantamentos topográficos podem ser interpretados como operações

157
que se findam ao levantamento da superfície topográfica, como acidentes naturais,
culturais, configuração do terreno e localização exata. Logo, é imperioso ressaltar que
não se justifica a contraposição entre os levantamentos topográfico e geodésico, visto
possuírem finalidades distintas.

Com o advento e a popularidade dos levantamentos por satélite, essa distinção


perdeu o sentido. Uma vez que os resultados obtidos por meio dessa técnica estão
no domínio geodésico, isso significa que, implicitamente, as coordenadas, assim,
obtidas, são reduzidas a um elipsoide, seja representado em coordenadas cartesianas,
geográficas ou por qualquer projeção cartográfica ou geodésica (PESSOA, 2001).

Os levantamentos topográficos são, muitas vezes, referidos como levantamentos


feitos com referência a mapas topográficos locais, em vez de levantamentos geodésicos.
No caso de uma propriedade rural georreferenciada, não é adequado utilizar um mapa
topográfico local, como referência, para cálculos de coordenadas, área, azimute e
distância, independentemente do tamanho da propriedade em questão. Incorporá-lo
ao Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) e ao Cadastro Nacional de Imóveis Rurais
(CNIR) ficaria comprometido, pois toda a rede terrestre desses sistemas é reduzida a
elipsoides (COMASTRI, 2002).

Deve-se ter em mente que a realidade dos levantamentos cadastrais, para os


elementos descritores de parcelas ou de propriedades individuais, emprega grandes
áreas de definições que podem ser desconfortáveis ​​para quem está familiarizado com
as complexidades, devido à natureza curvilínea da superfície física do terreno. Nesses
casos, expressões, como "linha reta com azimute verdadeiro constante", devem ser
consideradas do ponto de vista geodésico, e tomadas as devidas precauções.

Independentemente da técnica utilizada para obter coordenadas e altitude, as


medições podem ser divididas. A partir das medições de controle, fornece-se um quadro
de pontos distintos com coordenadas e alturas, destinados a outras medições de baixo
nível. Eles são obrigados a se submeter à redução geodésica. Ainda, as medições de
cadastro têm o objetivo de investigar a extensão definida, a superfície topográfica e as
características naturais, artificiais e culturais da propriedade rural.

A precisão de uma certa grandeza representa o nível de conexão entre os


valores identificados, a repetibilidade ou o grau de dispersão. Mesmo que, por vezes,
empregado, indistintamente, para quantificar o grau de confiabilidade de uma grandeza,
o conceito de precisão não deve ser confundido com o de acurácia (INCRA, 2003).

Seguem valores-limite de classes (P1 – P3), conforme os níveis de precisão:

158
TABELA 1 – CLASSES, DE ACORDO COM PRECISÃO PLANIMÉTRICA (“P”) APÓS AJUSTAMENTO

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

Com relação à acurácia, podemos estabelecer um conceito de que, a partir desse


aspecto, um levantamento pode ser compreendido, conforme o grau de aproximação de
uma grandeza do valor verdadeiro dela, estando, portanto, associado a erros sistemáticos
(determinísticos) e aleatórios (estocásticos). Desse modo, isso significaria dizer que a
avaliação só pode ocorrer se é sabido esse “valor verdadeiro” (MONICO, 2000).

Especialmente, tratando-se do georreferenciamento de imóveis rurais, é


possível aferir a acurácia de observações em todas as coordenadas de vértices já
certificados pelo INCRA.

Segue o valor-limite do nível de acurácia.

TABELA 2 – NÍVEL DE ACURÁCIA APÓS AJUSTAMENTO

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

3 IDENTIFICAÇÃO E RECONHECIMENTO DOS LIMITES


Determinar e reconhecer os limites da propriedade rural são tarefas que
antecedem, necessariamente, a fase de levantamento. O objetivo é garantir que os
profissionais não errem no caminho a ser seguido.

O processo de delimitação do imóvel deve ser realizado, de acordo com a Lei nº


10.267, de 28 de agosto de 2001, com a coleta e a avaliação críticas dos documentos,
em especial, da descrição do imóvel no registro de imóveis e dos documentos técnicos
disponíveis no INCRA, em especial, de quaisquer coordenadas que tenham sido
determinadas e certificadas por essa autoridade. Essa avaliação deve ser estendida
a todos os imóveis adjacentes. Os vértices comuns a duas, ou a mais propriedades,
precisam, sempre, manter as respectivas posições descritas pelo mesmo par de
coordenadas ao fim do serviço (BRASIL, 2001b; COMASTRI, 2002).

159
A seguir, conforme consta na Norma Técnica de Georreferenciamento de
Imóveis Rurais, do INCRA (2003; 2013), realizaremos um compilado do passo a passo
que os profissionais devem seguir para realizar o credenciamento junto ao INCRA e estar
aptos à realização dos serviços.

ESTUDOS FUTUROS
Acadêmico, uma explanação mais rica, e detalhada, do modo de se
obterem, corretamente, o levantamento e processamento dos dados,
em relação aos limites e às confrontações das propriedades rurais, será
exposta no Tópico 3 da presente unidade.

3.1 CREDENCIAMENTO DE PROFISSIONAIS E HABILITAÇÃO


DE IDENTIFICAÇÃO
Para que profissionais, habilitados a prestarem serviços de georreferenciamento
de propriedades rurais, possam solicitar o credenciamento de trabalho, é necessário
facilitar o credenciamento prévio do INCRA.

Essa medida permite que um profissional obtenha um código de certificação,


condição essencial para a geração de um código que é atribuído a todos os vértices
do imóvel georreferenciados por ele. Em tempo, há de se ressaltar que uma breve
descrição da geração desse código será apresentada mais adiante, na parte de limites
e confrontações.

A certificação dos profissionais pode ser realizada em todas as dependências


da Autoridade Reguladora Regional do INCRA, na Sala do Cidadão, ou, diretamente, pela
internet. As inscrições, para o credenciamento, estão disponíveis no site do INCRA, em
www.incra.gov.br.

Para serem certificados pelo INCRA, incluindo o preenchimento correto da ficha


de inscrição, os profissionais devem apresentar os seguintes documentos:

• Carteira de Registro no CREA (cópia autenticada).


• Documento hábil fornecido pelo CREA, com o reconhecimento da habilitação do
profissional para a responsabilidade técnica sobre os serviços de georreferenciamento
de imóveis rurais, em atendimento à Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001 (BRASIL,
2001b) (original).
• Cartão de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) (cópia autenticada).

160
Os documentos listados devem ser enviados para cada Superintendência
Regional do INCRA, ou para o seguinte endereço: Conselho Nacional de Acreditação
e Acreditação – INCRA Ed. Palácio do Desenvolvimento, 12º andar, sala 1207, Setor
Bancário Norte-SBN, Brasília/DF, CEP 70.057-900.

Após ser efetivado o credenciamento, o INCRA concede a Carteira Nacional de


Credenciado, a qual contém:

• nome do profissional habilitado pelo CREA;


• número de registro no CREA;
• formação profissional;
• código de credenciamento emitido pelo INCRA;
• data de emissão da Carteira;
• data de validade da Carteira;
• número do CPF;
• número da carteira de identidade;
• assinatura do profissional credenciado;
• assinatura do responsável pela emissão da Carteira.

Após todo o processo de credenciamento, o profissional está apto a iniciar os


serviços de identificação do perímetro do imóvel, e, para tal, deve requerer, ao proprietário
da terra, toda a documentação existente, como:

• certidões cartoriais, constando matrículas ou transcrições;


• escrituras públicas;
• plantas topográficas existentes;
• croquis de levantamentos anteriores;
• planilhas de cálculos de levantamentos topográficos anteriores;
• cadernetas de campo de levantamentos anteriores etc.

A realização do serviço de identificação deve ser, sempre, acompanhada por um


proprietário vizinho, devidamente, identificado, ou de um representante legal, para que
não existam dúvidas em relação às restrições conjuntas propostas.

Ao fim do serviço de identificação, o proprietário do objeto do imóvel pesquisado


deve obter, de cada parte, uma declaração de que não há divergência no que diz
respeito aos respectivos limites comuns, transpostos pelo credenciado responsável pelo
serviço de georreferenciamento. Sempre que possível, a declaração deve ser pública e
registrada no Cartório de Registro de Títulos e Documentos da mesma comarca.

161
3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS LIMITES EM ESPECIAL
As definições, descritas a seguir, devem ser entendidas, apenas, como
diretrizes gerais, destinadas a facilitar a delimitação de imóveis rurais que não sejam,
perfeitamente, identificáveis ​​pelos documentos existentes. No entanto, os profissionais
credenciados não estão livres de avaliar esses documentos, principalmente, a descrição
do imóvel, contida no registro de registro de imóveis (INCRA, 2003).

• Linha seca: Caracteriza-se pela divisa, entre os imóveis, não definida por acidentes
físicos ou geográficos. A materialização é decorrente de intervenção humana, através
de cercas, canais, muros etc.
• Estrada de rodagem: Tem-se que, nos imóveis rurais confrontantes com estradas
públicas federais, estaduais ou municipais, a identificação dos limites deve estar de
acordo com a faixa de domínio fixada pelo órgão competente (DNIT, DER etc.) ou por
uma legislação específica.

FIGURA 7 – CROQUI DE IDENTIFICAÇÃO DE LIMITES DE IMÓVEIS RURAIS A PARTIR DA FAIXA


DE DOMÍNIO

faixa de dominio

estrada

vertice

vertice

eixo da
estrada

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

• Estrada de ferro: Observa-se que, nos imóveis confrontantes com estradas de


ferro, necessita ser observada a faixa de domínio da respectiva estrada fixada pelo
órgão competente (RFFSA, FEPASA etc.).
• Linha de transmissão, oleoduto, gasoduto, cabos óticos e outros: Demonstra-
se que, nos imóveis atravessados ou confrontantes com esses acidentes artificiais,
precisam ser notadas as características das áreas de domínio ou servidão, junto às
respectivas concessionárias.
• Rio e córrego: Requer-se seguir, para a identificação dos cursos d'água,
rigorosamente, o Código Florestal em vigor (Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e
alterações), observando-se os reflexos na dominialidade do imóvel (BRASIL, 1965).

162
• Vértice: Mostra-se como todo local onde a linha limítrofe do imóvel muda de direção,
ou onde existe a interseção dessa linha com qualquer outra limítrofe, de imóveis
contíguos. Pode ser representado de três formas distintas:
◦ Marco (ocupado e materializado).
◦ Ponto (ocupado, mas não materializado).
◦ Vértice virtual (não ocupado nem materializado).

FIGURA 8 – CROQUI DE IDENTIFICAÇÃO DE VÉRTICE

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

- Marco: Trata-se da materialização artificial do vértice, cujas coordenadas são


determinadas através da ocupação física.
- Marco testemunho (alinhamento): Materializa-se uma ou mais posições, as quais
permitem a determinação de um vértice virtual e de forma analítica, Não constituem,
necessariamente, um vértice.

FIGURA 9 – CROQUI DE IDENTIFICAÇÃO DE MARCO TESTEMUNHO

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

163
- Ponto: Determina-se como vértices não materializados na divisa do imóvel, ao longo
de acidentes, como: cursos e lâminas d´água, estradas de rodagem e de ferro, linhas
de transmissão, oleoduto, gasoduto, cabos óticos etc.

FIGURA 10 – CROQUI DE IDENTIFICAÇÃO DE PONTOS

estrada vicinal

vertice ponto ponto


ponto
ponto vertice

vertice vertice
FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

- Vértice virtual: Refere-se a cujas coordenadas são determinadas analiticamente,


sem a ocupação física.

FIGURA 11 – CROQUI DE IDENTIFICAÇÃO DE VÉRTICE VIRTUAL

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

164
4 LIMITES E CONFRONTAÇÕES
Continue a leitura para acompanhar os limites e as confrontações.

4.1 CODIFICAÇÃO DOS VÉRTICES (MATERIALIZADOS)


Cada vértice do imóvel rural é identificado por um código único, gerado pela
certificadora responsável pelo serviço de georreferenciamento. Esse código é composto
por, pelo menos, oito caracteres, e segue os padrões descritos a seguir.

NOTA
A partir da 3ª Edição da Norma Técnica de Georreferenciamento de
Imóveis Rurais, do INCRA, tem-se que os quatro primeiros dígitos serão,
sempre, preenchidos pelo código de credenciamento do credenciado
responsável pelo serviço de georreferenciamento. No entanto, para os
credenciados que receberam codificação com três dígitos, permanecerão
com os mesmos três (BRASIL, 2013).

Os três (ou quatro) primeiros campos (quando cabível) serão, sempre,


preenchidos pelo código de credenciamento do credenciado responsável pelo serviço
de georreferenciamento, contido na carteira nacional de credenciamento, emitida
pelo INCRA.

Exemplo:
MHJ_____

O quarto (ou quinto) campo (quando cabível) será preenchido, sempre, pela
letra M (= Marco), indicando que se trata de um vértice materializado.

Exemplo:
MHJM____

Os quatro últimos campos serão preenchidos, sempre, pelo credenciado,


através de uma numeração sequencial rigorosa, começando pelo número 0001. O vértice
seguinte será o número 0002, e, assim, sucessivamente, até o último vértice do imóvel.
Quando essa numeração atingir o número 9999, o credenciado deverá reiniciar essa
sequência, e substituir, no primeiro campo, à esquerda, o número 9 pela letra A. Essa
nova sequência será encerrada quando alcançar a configuração A999. Para prosseguir, a
letra A deverá ser substituída pela letra B, e por aí vai, permanecendo os outros critérios.

165
Exemplo:
MHJM0001
MHJM9999
MHJMA001
MHJMA999
MHJMB001
MHJMB999
MHJMC001
MHJMZ999

ATENÇÃO
Essa numeração sequencial deverá ser adotada, pelo credenciado, para
todos os imóveis georreferenciados por ele, visando ao atendimento da
Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, de forma que nenhum código,
já utilizado em qualquer vértice de outros imóveis georreferenciados
anteriormente, por esse mesmo profissional, venha a ser reutilizado
(BRASIL, 2001b).

Exemplo 1: M H J M 0 0 0 1:

Código do credenciado
Identificação do vértice
Numeração sequencial

Exemplo 2: Primeiro imóvel georreferenciado pelo credenciado,


com quatro vértices:

1º vértice: MHJ M0001


2º vértice: MHJ M0002
3º vértice: MHJ M0003
4º vértice: MHJ M0004

Segundo imóvel georreferenciado pelo mesmo credenciado, com


quatro vértices também:

1º vértice: MHJ M0005


2º vértice: MHJ M0006
3º vértice: MHJ M0007
4º vértice: MHJ M0008

166
4.2 CODIFICAÇÃO DOS PONTOS (NÃO MATERIALIZADOS)
Cada ponto da propriedade rural é identificado por um código único, gerado
por um funcionário credenciado, responsável pelo serviço de georreferenciamento. O
código é composto por oito caracteres, seguindo o mesmo padrão estabelecido para a
codificação de vértices, porém, o quarto campo, preenchido com a letra P, será alterado,
para indicar a presença de um ponto.

Exemplo:
MHJP0001
Código do credenciado
Identificador de ponto
Numeração sequencial

4.3 CODIFICAÇÃO DOS VÉRTICES VIRTUAIS


(NÃO MATERIALIZADOS)
Os vértices virtuais, para propriedades rurais, são identificados por um
código único, gerado por um oficial credenciado, responsável pelo serviço de
georreferenciamento.

O código será composto por oito caracteres, seguindo os mesmos padrões


estabelecidos para a codificação de vértices, porém, o quarto campo, preenchido com a
letra V, será alterado, para indicar a presença de vértices virtuais.

Exemplo: M H J V 0 0 0 1
Código do credenciado
Identificador de vértice virtual
Numeração sequencial

4.4 CODIFICAÇÃO DE VÉRTICES, PONTOS E VÉRTICES


VIRTUAIS DE IMÓVEIS CONTÍGUOS
A codificação de vértices, pontos ou vértices virtuais, para atributos cadastrados
e certificados pelo INCRA, deve ser, sempre, respeitada, e ter precedência sobre os
serviços de georreferenciamento subsequentes. Portanto, o credenciado é obrigado a
assumir a codificação já existente naqueles vértices comuns aos imóveis adjacentes, e
adotá-la para o desenvolvimento dos próprios serviços.

Exemplo: Imóvel georreferenciado pelo credenciado, de código MHJ (imóvel B),


com seis vértices, dos quais dois são comuns a um imóvel já certificado pelo INCRA
(imóvel A), e georreferenciado por um outro credenciado, de código SGR.

167
FIGURA 12 – EXEMPLO DE IMÓVEL GEORREFERENCIADO

FONTE: O autor

1º vértice: MHJ M0001


2º vértice: MHJ M0002
3º vértice: SGR M0017
4º vértice: SGR M0018
5º vértice: MHJ M0003
6º vértice: MHJ M0004

4.5 CODIFICAÇÃO DO IMÓVEL


Toda propriedade rural deve ter um código atribuído, pelo governo, como
identificador único INCRA, incluindo o Certificado de Cadastro de Imóveis Rurais (CCIR).

Exemplo: 702.065.001.947-1 código do INCRA

4.6 MATERIALIZAÇÃO DOS VÉRTICES


Cada vértice do imóvel deve ser realizado, previamente, ao processo de
medição, representado por monumentos artificiais, implantados pelo titular.

Os vértices já marcados, por plataformas, postes ou pedras, podem ser


utilizados, desde que, devidamente, identificados por plaquetas.

168
4.7 CARACTERÍSTICAS DO MARCO
Os vértices que necessitam de materialização devem atender às seguintes
prescrições:

• Marco de concreto: traço 1:3:4, alma de ferro Æ 4,2 mm, forma tronco piramidal e
dimensões 8 x 12 x 60 cm. O topo do marco deve conter uma chapa de metal, aço
inoxidável, latão, cobre ou bronze, com a identificação do vértice. É preciso aflorar
cerca de 10 cm do solo natural.
• Marco de granito: forma tronco piramidal e dimensões 8 x 12 x 60 cm. O topo do
marco deve conter uma chapa de metal, cobre ou bronze, com a identificação do
vértice. É preciso aflorar cerca de 10 cm do solo natural.
• Marco de ferro: tubo de ferro galvanizado, com Æ 49,5 mm; 900 mm de comprimento;
base pontiaguda, com dispositivos que dificultam a retirada (espinha de peixe). O
topo do marco deve ser revestido por chapa de ferro, com a identificação do vértice.
É preciso aflorar cerca de 10 cm do solo natural.
• Marco de material sintético: alma de ferro Æ 4,2 mm, forma tronco piramidal e
dimensões 8 x 12 x 60 cm. O topo do marco deve conter uma chapa de metal, aço
inoxidável, latão, cobre ou bronze, com a identificação do vértice. É preciso aflorar
cerca de 10 cm do solo natural.

Os vértices virtuais, determinados por interseção de direções,


conjugados pela impossibilidade de materialização, gerarão a
implantação de marcos-testemunhas, os quais deverão ter as
mesmas características dos marcos implantados nos vértices.
Deverá ser observada a distância mínima de 50 metros entre o
marco-testemunha e a referência dele (INCRA, 2003, p. 12).

169
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os padrões de precisão e de acurácia são independentes das técnicas utilizadas no


levantamento de campo, uma vez que estes podem ser alcançados de distintas formas
técnicas. Dentre elas, podemos citar quanto à finalidade, à precisão e à acurácia.

• As medições podem ser divididas, independentemente da técnica utilizada para obter


coordenadas e altitude. A partir das medições de controle, fornece-se um quadro de
pontos distintos com coordenadas e alturas, destinados a outras medições de baixo
nível. Eles são obrigados a se submeter à redução geodésica. Ainda, as medições de
cadastro têm o objetivo de investigar a extensão definida, a superfície topográfica e as
características naturais, artificiais e culturais da propriedade rural.

• A determinação e o reconhecimento dos limites da propriedade rural são tarefas que


antecedem, necessariamente, a fase de levantamento. O objetivo é garantir que os
profissionais não errem no caminho a ser seguido.

• A identificação e a utilização de limites especiais são essenciais, como: linha seca,


estradas de rodagem e de ferro, linha de transmissão, oleoduto, gasoduto, cabos
óticos, rios, córregos, vértice, marco, marco-testemunho, ponto e vértice virtual.

• Cada vértice do imóvel rural é identificado por um código único, gerado pela
certificadora responsável pelo serviço de georreferenciamento. Esse código é
composto por, pelo menos, oito caracteres.

170
AUTOATIVIDADE
1 Independentemente da técnica utilizada para obter coordenadas e altitude, como as
medições podem ser divididas?

2 Caracterize a utilização de limites especiais, como: linha seca, estradas de rodagem


e de ferro, linha de transmissão, oleoduto, gasoduto, cabos óticos, rios, córregos,
vértice, marco, marco-testemunho, ponto e vértice virtual.

3 De acordo com a Norma Técnica de Georreferenciamento de Imóveis Rurais, do INCRA


(2013b), na codificação dos vértices, os três, ou quatro primeiros caracteres se referem

a) ( ) ao número do vértice.
b) ( ) ao tipo do vértice.
c) ( ) ao código do credenciado.
d) ( ) à coordenada X.
e) ( ) à coordenada Y.

4 De acordo com a Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais,


do INCRA (2003; 2013b), e os respectivos manuais técnicos e edições, analise as
afirmativas a seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas. Na sequência,
assinale a opção CORRETA:

( ) As coordenadas do vértice de interesse, no Posicionamento por Ponto Preciso,


são determinadas de forma absoluta, portanto, dispensam o uso de um receptor
instalado sobre um vértice de coordenadas conhecidas.
( ) O vértice tipo “P” é realizado de forma direta e não materializado por marco.
( ) As precisões dos tipos de limites são: limites artificiais (melhores ou iguais a 0,50
m), limites naturais (melhores ou iguais a 3,0 m) e limites inacessíveis (melhores ou
iguais a 7,50 m).
( ) O método de posicionamento por aerofotogrametria pode ser utilizado para definir
vértices tipo M e limites por cerca.

a) ( ) V, F, V, V.
b) ( ) F, F, V, V.
c) ( ) F, V, F, F.
d) ( ) V, V, V, F.
e) ( ) F, F, F, V.

171
5 Conforme definido na Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais, do
INCRA (2013b), e respectivos manuais técnicos, os limites são descritos por segmentos
de reta interligados por vértices. De acordo com o estudado, a respeito dos limites e dos
vértices deles, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) Os diferentes elementos físicos são enquadrados, nos serviços de


georreferenciamento, como tipos de limites, os quais podem ser definidos como
naturais e artificiais.
( ) Os tipos de vértices com os respectivos códigos são: Marco – M; Ponto – P; e Virtual – V.
( ) As situações mais comuns, para a utilização dos vértices tipo “M”, serão aquelas
nas quais os limites são definidos por cursos d’água.
( ) O vértice tipo “V” pode ser utilizado em um local onde não é possível a implantação
estável de um marco, e o limite não é coincidente com um elemento físico.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) F, F, V, V.
b) ( ) V, V, F, V.
c) ( ) V, F, F, F.
d) ( ) F, V, V, F.
e) ( ) V, V, V, V.

172
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
GUIA TÉCNICO PARA LIMITES
E CONFRONTAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, estamos encerrando o nosso livro, assim, no Tópico 3, o nosso
foco será o Manual Técnico de Limites e Confrontações, do INCRA (2013a). Buscaremos
analisar o sistema cartográfico, visando abarcar os levantamentos de apoio básico, os
quais podem ser divididos por técnicas convencionais e por meio de GPS/GNSS. Nesse
sentido, detalharemos o emprego de cada um deles.

Utilizaremos a tática de textos simples e objetivos, com a inserção de algumas


figuras, proporcionando a você, acadêmico, uma leitura suave e dinâmica. Desse modo,
torna-se importante enfatizar a relevância de uma leitura atenta, com destaque às
citações, a GIOs e à leitura complementar. Aproveitem as dicas pontuadas e os exercícios
dirigidos! Tenham, todos, uma ótima leitura e bons estudos!

2 LEVANTAMENTO E PROCESSAMENTO
As técnicas de medição apresentadas, embora não pretendam ser exaustivas,
devem ser consideradas ferramentas para ajudar a alcançar a precisão necessária,
discutida nesta unidade. No entanto, a tecnologia mais adequada, à investigação, é,
essencialmente, uma escolha feita pelo credenciado. Assim, os líderes de planejamento
e de execução devem considerar as variáveis ​​eficiência e economia.

NOTA
Os vértices virtuais, fixados em serras inacessíveis, em encostas de
morro, em áreas com cobertura vegetal protegidas por lei e alagadiças,
dentre outras, poderão ter as coordenadas definidas a partir de
cartas topográficas desenvolvidas ou contratadas por órgãos públicos,
vinculadas à antepositiva anuência da Superintendência Regional, do
INCRA, na região na qual os trabalhos serão realizados (INCRA, 2003).

173
2.1 SISTEMA CARTOGRÁFICO NACIONAL
O Sistema Cartográfico Nacional exerce, para a Cartografia Sistemática Terrestre
Básica, nas escalas de 1:250.000 a 1:25.000, a projeção UTM (Universal Transversa
de Mercator). As cartas com escalas superiores (1:10.000, 1:5.000, 1:2.000 etc.), com
a inclusão das cartas cadastrais, não possuem regulamentação sistemática no Brasil.
A respeito dessa ausência de sistematização, o INCRA adota, para a execução dos
cálculos das coordenadas, da distância, da área e do azimute, o plano de projeção UTM
(INCRA, 2003). Assim, a totalidade dos cálculos, com a contemplação da medição, da
demarcação e do georreferenciamento de imóveis rurais, necessita ser executada nesse
plano de projeção UTM.

O Referencial Planimétrico (datum horizontal), em vigor no país, corresponde


ao Sistema SIRGAS 2000, desde o ano de 2005, entretanto, anteriormente a essa data,
era utilizado o Geodésico Sul-Americano, o SAD 69 (South American Datum, 1969),
conforme a realização de 1996.

As altitudes fundamentais são referenciadas ao zero do marégrafo de Imbituba/


SC. O referencial altimétrico coincide com o nível médio dos mares no Porto Henrique
Lage, na Baía de Imbituba/SC (datum vertical).

Toda a infraestrutura geodésica, indispensável aos trabalhos de


georreferenciamento, deverá ser obtida de dados fundamentais do
Sistema Geodésico Brasileiro, oriundos, exclusivamente, de:

a) redes geodésicas estaduais, estabelecidas a partir do


rastreamento de sinais de satélites de posicionamento e
homologadas pelo IBGE;
b) vértices da rede fundamental (1ª ordem) brasileira, desde que
reocupados com rastreadores de sinais do GPS, e, as novas
coordenadas, homologadas pelo IBGE;
c) estações ativas receptoras de sinais de satélites do GPS, da Rede
Brasileira de Monitoramento Contínuo - RBMC/IBGE;
d) estações ativas receptoras de sinais de satélites do GPS, da
Rede INCRA, de Bases Comunitárias do GPS – RIBaC, quando
homologadas;
e) estações ativas receptoras de sinais de satélites do GPS,
pertencentes a outros órgãos públicos ou empresas privadas,
desde que homologadas pelo IBGE;
f) linhas de nivelamento geométrico e/ou redes trigonométricas,
quando necessárias ao apoio vertical, homologadas pelo IBGE
(INCRA, 2003, p. 133).

A falta de infraestrutura geodésica na área de trabalho significa determinar


as coordenadas da base, preferencialmente, ao se rastrearem os sinais dos satélites
GPS, através de técnicas convenientes de processamento e redução de elipsoides, para
atender às necessidades de suporte geodésico do projeto.

174
Ao ser usada a transferência de coordenadas por métodos tradicionais, dois
vértices diferentes da rede devem ser utilizados. Em qualquer caso, as coordenadas,
tidas como referências, devem ter as respectivas métricas de precisão dadas pela
entidade que as fornece (MONICO, 2000).

2.2 LEVANTAMENTOS DE APOIO BÁSICO


Os levantamentos de apoio básico podem ser feitos por técnicas convencionais
e por meio de GPS/GNSS.

2.2.1 Técnicas convencionais


Os levantamentos de controle por técnicas tradicionais são determinados
como aqueles que se aproveitam de medições angulares, lineares e de desníveis,
através de, respectivamente, teodolitos, medidores eletrônicos de distâncias e níveis,
a partir de diversas combinações e cálculos decorrentes, e se encaminham a viabilizar
um arcabouço de pontos diversos, com coordenadas e altitudes, para a aplicação nos
levantamentos, que intentam a demarcação do perímetro e do georreferenciamento do
imóvel (INCRA, 2003).

A classificação dos equipamentos convencionais, de acordo com as precisões


deles, será apresentada a seguir:

• Teodolitos

Os teodolitos são classificados com base no desvio padrão de uma direção,


observado em duas posições do telescópio (CE/CD). O valor de precisão interna, para
cada modelo, é, normalmente, definido pelo fabricante. Se não há indicação disso, a
precisão angular pode ser medida por uma entidade oficial, qualificada para teste, em
um campo de prova ou em um laboratório de medição.

QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS TEODOLITOS, DE ACORDO COM PRECISÃO ANGULAR

Classe de Teodolitos Desvio Padrão (Precisão Angular)


1 – precisão baixa ≤ 30”
2 – precisão média ≤ 07”
3 – precisão alta ≤ 02”

FONTE: Adaptado de ABNT (1994)

175
• Níveis

Os níveis são considerados, conforme o desvio padrão, equivalente a 1 km


de duplo nivelamento, e possui a precisão indicada pelo próprio fabricante. Estes
necessitam ser aferidos periodicamente, para a correção de erros sistemáticos.

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS NÍVEIS

Classe de Níveis Desvio Padrão


1 – precisão baixa > 10 mm / km
2 – precisão média ≤ 03 mm / km
3 – precisão alta ≤ 01 mm / km
4 – precisão muito alta ≤ 01 mm / km

FONTE: Adaptado de ABNT (1994)

• MEDs – Medidores Eletrônicos de Distância

Os medidores eletrônicos de distância se classificam, de acordo com o desvio


padrão, conforme disposto a seguir.

QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS MEDIDORES ELETRÔNICOS DE DISTÂNCIA (MEDs)

Classe de MEDs Desvio Padrão


1 – precisão baixa (10 mm + 10 ppm x D)
2 – precisão média (5 mm + 5 ppm x D)
3 – precisão alta (3 mm + 2 ppm x D)

FONTE: Adaptado de ABNT (1994)

Sendo:

D = Distância medida em km ppm = parte por milhão

• Estações totais

As estações totais são medidores eletrônicos de ângulos e de distâncias, e


possuem uma categorização, explicitada a seguir.

176
QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DAS ESTAÇÕES TOTAIS, DE ACORDO COM PRECISÃO INTERNA

Classes de Estações Desvio Padrão Desvio Padrão


Totais (Precisão Angular) (Precisão Linear)
1 – precisão baixa ≤ 30” (5 mm + 10 ppm x D)
2 – precisão média ≤ 07” (5 mm + 5 ppm x D)
3 – precisão alta ≤ 02” (3 mm + 3 ppm x D)

FONTE: Adaptado de ABNT (1994)

• Desenvolvimento de poligonais

As poligonais deverão se desenvolver linearmente, sem mudanças


substanciais de sentido, com deflexão superior a 60°, tendo em vista
minimizar os erros de orientação, comuns às poligonais.

O controle azimutal deverá ser, rigorosamente, observado. Nas


medições angulares, metade das observações será efetuada no
ângulo interno, e, metade, no ângulo externo, com discrepâncias
máximas de 360° +- 4”, 360° +- 5”, respectivamente, para poligonais
de precisão (CONTROLE BÁSICO) e apoio ao levantamento e à
demarcação (CONTROLE IMEDIATO).

O desenvolvimento do traçado das poligonais deverá ser tal que


permita a distribuição de pontos de apoio em número e localização,
necessários às etapas posteriores, de levantamento e demarcação,
levantamento de detalhes e georreferenciamento, resguardadas
as distâncias máximas para elas. As estações poligonais de apoio
(controle) deverão ser implantadas em locais seguros, monumentados
por marcos de concreto, com a respectiva monografia descritiva de
acesso e as condições para a localização posterior deles.

Nos desenvolvimentos poligonais, os pontos de partida e de chegada


deverão ser distintos, qualquer que seja a técnica de levantamento
utilizada. Sob nenhuma hipótese, será admitido o fechamento de
desenvolvimentos poligonais em torno de um mesmo ponto (INCRA,
2003, p. 15).

• Poligonais geodésicas de precisão (CONTROLE BÁSICO)

A finalidade é o transporte de pontos de controle planimétrico, a partir de dados


fundamentais do Sistema Geodésico Brasileiro, oriundos, exclusivamente, de:

• Redes geodésicas estaduais assentes, a partir do rastreamento de sinais de satélites


de posicionamento, e homologadas pelo IBGE.
• Vértices da rede fundamental (1ª ordem) brasileira, desde reocupados com
rastreadores de sinais do GPS, e, as novas coordenadas, homologadas pelo IBGE.

Devem, necessariamente, partir e chegar em pontos distintos das redes


mencionadas, com a precisão definida na classe P1, conforme.

177
FIGURA 13 – POLIGONAIS GEODÉSICAS DE PRECISÃO (CONTROLE BÁSICO)

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

• Poligonais geodésicas de apoio à demarcação (CONTROLE IMEDIATO)

A finalidade é propiciar a densificação de pontos de controle para análises de


imóveis rurais, com coordenadas, a contar operações topográficas de demarcação e/ou
de levantamento a serem estabelecidas na região dos serviços.

Devem partir e chegar em pontos distintos da poligonal geodésica de precisão,


com precisão definida na classe P2.

178
FIGURA 14 – POLIGONAIS GEODÉSICAS DE APOIO À DEMARCAÇÃO (CONTROLE IMEDIATO)

FONTE: Adaptada de INCRA (2003)

2.2.2 GPS/GNSS
A finalidade é o transporte de um ponto de controle planimétrico a partir de
dados fundamentais do Sistema Geodésico Brasileiro.

A entidade responsável pela concepção, pela implantação, pela manutenção


e pela gestão do GPS é o governo dos Estados Unidos da América, através da NIMA
(National Imagery and Mapping Agency). O sistema de referência para satélites GPS é
o WGS84 (World Geodetic System 1984), com modificações implementadas em 1994
(WGS84 (G730)) e 1997 (WGS84 (G873)). Portanto, os parâmetros das efemérides de
transmissão e das pós-computadas são, ambos, referenciados ao centro de massa da
Terra. Trata-se de um sistema geocêntrico.

179
Existem dois grandes modos básicos de posicionamento com o GPS:

• Posicionamento isolado ou absoluto (GPS 1)

O posicionamento isolado apresenta o uso de um único receptor independente,


sem correções, em tempo real, ou o pós-processamento para elementos rastreados
por outros dispositivos. A agência reguladora do GPS atribui a classe de precisão de 22
m 2DRMS ao posicionamento isolado (GPS1). Na prática, as implicações desse nível de
confiabilidade impossibilitam o uso de uma localização isolada para investigações de
controle (MONICO, 2000).

• Posicionamentos relativo e diferencial (GPS 2, GPS 3, GPS 4)

Os princípios do posicionamento relativo e do posicionamento diferencial do


GPS/GNSS são baseados na correlação espacial entre o ponto de referência e o ponto
a ser determinado, o que pode eliminar, ou reduzir, e muito, a maioria dos erros de
posicionamento. Os posicionamentos diferencial e relativo, ao se usar a correlação entre
códigos e fase de batimento da portadora, respectivamente, podem fornecer resultados,
com precisão, de alguns metros ou milímetros, dependendo das observações utilizadas.
Para a determinação dos pontos básicos de controle, necessitam ser utilizadas, apenas,
técnicas de posicionamento relativo, por meio da correlação das fases do batimento da
portadora (MONICO, 2000).

A determinação da fase de batimento das ondas portadoras é um


recurso utilizado, por rastreadores, para o tratamento do sinal
recebido. A distância satélite/receptor passa a não depender,
diretamente, da correlação entre os códigos, mas de uma medida
de fase do batimento, gerado pela superposição de duas ondas.
Tem, como vantagem, um aumento da precisão com que são,
implicitamente, estimadas as distâncias entre os receptores e os
satélites, e, como desvantagem, a necessidade de se estimar um
parâmetro adicional, a ambiguidade inicial.

As especificações, aqui, apresentadas são destinadas ao sistema de


posicionamento com GPS, no modo relativo estático. O usuário deverá
estar familiarizado com as opções de configuração recomendadas
pelo fabricante do equipamento. Diante da existência de um conflito
entre essas recomendações e o recomendado pelo fabricante,
as orientações deste último deverão ser seguidas. Tais conflitos
precisarão ser encaminhados, com detalhes, ao INCRA, para solução
e esclarecimento [...]. Deve-se observar os seguintes requisitos:

1. A determinação dos pontos de apoio do controle básico, o uso da


tecnologia do GPS, deve ser realizada a partir de estações ativas
receptoras de sinais do GPS.
2. Cada ponto de apoio do controle básico deve ser determinado a
partir de, no mínimo, duas estações ativas receptoras de sinais do
GPS, permitindo a construção de um polígono, ou rede, com, no
mínimo, três vértices.

180
3. A rede resultante deve ser ajustada pelo processo dos mínimos
quadrados, assegurando, ao fim do ajustamento, a existência
de dois vetores independentes para cada ponto de apoio de
controle determinado.
4. Os receptores e o programa de processamento devem ter as
capacidades de armazenar e de pós processar fases de batimento
(j) das portadoras L1 ou L1/L2. Estas devem ser as observáveis
básicas do processamento.
5. O tempo de ocupação mínimo deve ser de 30m, desde que
a distância entre os pontos de referência e a determinar não
ultrapasse 20 km.
6. A geometria da configuração deve ser tal que assegure valores de
Geometric Dilution of Precision – GDOP inferiores a 8 durante o
período de rastreamento. Recomendações diferentes, expressas
pelo fabricante do equipamento, devem ser obedecidas, uma
vez que esta variável é utilizada nos algoritmos de solução de
ambiguidades no software de pós-processamento.
7. O número mínimo de satélites rastreados, simultaneamente,
durante o período, é 4 (quatro), sendo desejáveis cinco ou mais.
8. O horizonte de rastreamento mínimo deve ser de 15°.
9. O intervalo de gravação das observáveis deve ser de até 15S.
Quando associados a estações de referência cujo intervalo
difere de 15S, esses valores podem ser modificados, de modo a
coincidirem os instantes de observação. É aceita a utilização de
receptores de fabricantes diferentes em um mesmo levantamento.
Nesse caso, os dados devem ser convertidos para o formato de
intercâmbio, conhecido como Receiver Independent Exchange
Format, versão 2 – RINEX2. Para o processamento desses dados,
é necessário que os programas de pós-processamento sejam
capazes de decodificar dados do formato RINEX2 para o formato
de processamento proprietário, e vice-versa.
10. Os equipamentos auxiliares devem estar em perfeitas condições
de operação, por se tratar de um posicionamento tridimensional,
dadas as importâncias da centralização e do nivelamento das
antenas sobre marcos de referência e a partir dos quais se
pretende determinar coordenadas e altitudes.
11. A análise dos resultados do processamento, uma função do
software utilizado, deve seguir as recomendações do fabricante
do sistema, observadas as especificações anteriores, capazes
de decodificar dados do formato RINEX2 para o formato de
processamento proprietário, e vice-versa (INCRA, 2003, p. 188).

IMPORTANTE
Com relação às determinações altimétricas, é importante pontuar
que devem ser realizadas através do nivelamento por GPS diferencial,
trigonométrico ou geométrico. As características de cada um estão bem
estabelecidas na literatura.

181
Usar o GPS, para determinar e transmitir a altitude, é menos preciso do que as
coordenadas planares. Isso se deve, basicamente, aos fatores geométricos inerentes à
configuração do satélite, e à transmissão de altitudes ortométricas, ou relativas ao nível
do mar, assim, as variáveis ​​geofísicas passam a fazer parte do problema. Estes envolvem,
basicamente, o campo gravitacional da Terra, por isso, é necessário um mapa, ou um
modelo geoide.

3 IMÓVEL RURAL E LIMITES


O imóvel rural a ser avaliado, para os serviços de georreferenciamento, é aquele
objeto do título de domínio, aquele passível de titulação, conforme detalhado nos itens
a seguir. Assim, será conferida uma certificação a cada parcela (imóvel), e esta será
retratada em uma matrícula própria no registro de imóveis (INCRA, 2013a).

3.1 IMÓVEL RURAL OBJETO DE TÍTULO DE DOMÍNIO


Conforme demonstra o Manual Técnico de Limites e Confrontações, elaborado
pelo INCRA (2013a), o imóvel rural objeto de título de domínio é aquele constante em um
documento que formaliza a aquisição da titularidade, podendo ser:

• Área inscrita (matriculada ou transcrita) no Cartório de Registro de Imóveis.


• Área descrita em documento, ainda, não registrado, mas suscetível a registro, com
efeito translativo de domínio ou constitutivo da propriedade formal. Exemplo: escritura
de compra e venda relativa à parcela destacada de uma área maior, devidamente,
delimitada e caracterizada.

Ainda, de acordo com o INCRA (2013a), é importante enfatizar que cada título de
domínio se designa a, apenas, uma parcela, e vice-versa, com exceção das seguintes
situações:

• Ser direcionada, a matrícula, ou transcrição, a áreas descontínuas (cada área


corresponde a uma parcela):

182
FIGURA 15 – EXEMPLO DE MATRÍCULA REFERENTE A ÁREAS DESCONTÍNUAS

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• Haver interesse em remembrar as áreas contíguas, constantes em títulos distintos,


cuja fusão seja, juridicamente, possível (a soma das áreas corresponde a uma parcela):

FIGURA 16 – EXEMPLO DE REMEMBRAMENTO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• Haver interesse em parcelar/desmembrar a área objeto de título de domínio, sem


transferência de titularidade (a área do título de domínio corresponde a duas ou
mais parcelas):

183
FIGURA 17 – EXEMPLO DE DESMEMBRAMENTO/PARCELAMENTO SEM TRANSFERÊNCIA
DE TITULARIDADE

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

Ao encontrar um imóvel no qual exista (m) área (s) encravada (s), o profissional
credenciado deve ficar atento à situação jurídica dela (s):

• A área interna é objeto de título próprio. A parcela objeto de georreferenciamento


corresponde à área compreendida entre o perímetro externo e o (s) perímetro (s)
interno (s).

FIGURA 18 – EXEMPLO DE ÁREA ENCRAVADA - OBJETO DE TÍTULO PRÓPRIO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• A área interna está integrada no imóvel ao qual se refere o título de domínio, mas
se encontra ocupada por posseiro (s). Essa área interna não deve ser deduzida da
parcela.

184
FIGURA 19 – EXEMPLO DE ÁREA ENCRAVADA - POSSE INTEGRADA AO TÍTULO DE DOMÍNIO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• A área interna se encontra ocupada por posseiros, mas tal situação está, devidamente,
prevista na matrícula, de forma que a área encravada não integra o imóvel matriculado.
Nesse caso, o profissional deve proceder conforme o item “a”.

FIGURA 20 – ÁREA ENCRAVADA - POSSE INDEPENDENTE DO TÍTULO DE DOMÍNIO

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

185
3.2 IMÓVEL RURAL PASSÍVEL DE TITULAÇÃO
Imóveis rurais passíveis de titulação são aqueles correspondentes à:

• Área pública ocupada por particular, incluída em ação de regularização fundiária


promovida por um órgão público.
• Área particular com exercício da posse ad usucapionem (área cuja propriedade pode
ser adquirida por usucapião).

NOTA
O imóvel (parcela), somente, é certificado após a titulação.

4 LIMITES
Para identificar, corretamente, os limites do imóvel, o credenciado deve realizar
uma análise criteriosa dos documentos relacionados a ele, a fim de tirar dúvidas que
envolvem a localização. Como conteúdo principal da pesquisa, recomenda-se o seguinte:

• Matrícula ou transcrição do imóvel (indispensável).


• Matrículas e/ou transcrições dos imóveis vizinhos.
• Títulos de domínio. Exemplos: escritura pública, formal de partilha, carta de arrematação,
sentença de usucapião, título de legitimação de terras devolutas, dentre outros.
• Peças técnicas (plantas, memoriais descritivos, cadernetas de campo, dentre outros)
relacionadas ao imóvel e/ou aos confrontantes.
• Nos casos de imóveis passíveis de titulação, observados os limites de respeito, além
das indicações anteriores, quando necessário.

Além da análise da documentação, orienta-se que o credenciado


busque informações com o proprietário do imóvel objeto de
levantamento, com os confrontantes e os antigos moradores da
região, de forma a contrapor as informações para o saneamento das
dúvidas quanto à localização exata dos limites.

Frente aos limites comuns a imóveis georreferenciados, recomenda-


se, ao credenciado, efetuar, novamente, o levantamento, além de
confrontar as informações obtidas com as já existentes. Em caso
de concordância, o credenciado adota as mesmas informações
posicionais do imóvel vizinho e assume a responsabilidade por elas, e
de forma solidária com o outro credenciado.

186
Seja qual for o método de posicionamento utilizado, a identificação
dos limites deve ser feita in loco. É fundamental a presença dos
confrontantes ou dos prepostos, pois o levantamento é realizado
no limite comum entre os imóveis, a respeito do qual deve haver
concordância entre as partes envolvidas (INCRA, 2013, p. 12).

NOTA
Independentemente do método de posicionamento utilizado, a
identificação dos limites deve ser feita in loco.

Havendo dúvida e/ou desacordo entre as partes, quanto à identificação da


restrição, o credenciado deve prestar os esclarecimentos necessários. A abordagem
necessita ser, sempre, pacífica e justa, a fim de buscar soluções. Frente ao desacordo
não ser resolvido de forma amigável, recomenda-se que o processo de identificação
seja descontinuado.

4.1 DESCRIÇÃO DOS LIMITES


Conforme definido por INCRA (2013b), os limites são descritos por segmentos de
reta interligados por vértices. Desse modo, não são admitidos elementos curvos, como
arcos de circunferência, de elipse e outros na descrição de limites de imóveis rurais.

4.2 TIPOS DE LIMITES


Os seguimentos de reta descritos nos títulos de domínio e
representados na planta, em geral, referem-se a elementos físicos
que definem, em campo, o limite entre imóveis. Nos serviços
de georreferenciamento, os diferentes elementos físicos são
enquadrados como tipos de limites, os quais podem ser definidos em:

a) Elementos artificiais (Limites Artificiais - LA): cerca, muro, estrada,


vala, canal, linha ideal e limite artificial não tipificado.
b) Elementos naturais (Limites Naturais - LN): corpo d’água ou curso
d’água, linha de cumeada, grota, crista de encosta, pé de encosta
e limite natural não tipificado.

Para descrever, adequadamente, os limites que coincidam com


elementos físicos, o levantamento deve ser realizado, de forma
fidedigna, com a realidade do campo, e compatível com a precisão
do posicionamento, buscando representar as mudanças de direção
(sinuosidade) do referido elemento.

187
A descrição dos tipos de limites destacados a seguir é extraída, integralmente,
do Manual Técnico de Limites e Confrontações, do INCRA (2013b).

• Cerca

Caso a cerca possua longos trechos, aparentemente, retos, recomenda-se


levantar vértices ao longo desses trechos. Essa recomendação se deve ao fato de as
cercas não serem construídas com o auxílio de instrumentos precisos de medição, o
que proporciona mudanças de direção, visualmente, imperceptíveis.

• Muro

Seguem-se as mesmas recomendações definidas para a cerca.

• Estrada

É considerada o limite do imóvel a ser georreferenciado. É uma estrada


confrontante do elemento (cercas, linhas ideais, dentre outros) que delimita, em campo,
a faixa de domínio, se há algum instrumento jurídico que a defina. Não preenchido esse
requisito, o limite é a própria estrada.

• Canal

Seguem-se as mesmas recomendações definidas para a cerca.

• Vala

Seguir as mesmas recomendações definidas para a cerca.

• Linha ideal

Como se trata de uma reta ideal, a descrição desses limites é realizada com a
determinação dos vértices extremos dessa linha, os quais devem ser do tipo “M”.

• Limite artificial não tipificado

Caso se identifique um limite caracterizado por um elemento artificial não


contemplado neste manual, o credenciado deve atribuir, a ele, a definição de limite
artificial não tipificado.

• Corpo d’água ou curso d’água

O limite coincide com a margem ou com o eixo, de acordo com a descrição


constante no registro de imóveis. Se a descrição é omissa, deve-se observar o Decreto
nº 24.643, de 10 de julho de 1934 (Código de Águas), que divide os leitos (álveos) dos
cursos d’água em públicos e privados. Se públicos, o limite se dá pela margem; se
privados, pelo eixo (BRASIL, 1934).
188
Devido ao caráter tortuoso desse tipo de restrição, a certificadora deve buscar
uma densidade de vértices adequada para descrever essa restrição, de forma compatível
com a real situação do campo. Assim, a seguir, serão ilustradas as formas correta e
incorreta de conduzir a investigação e a representação do limite de flexão.

FIGURA 21 – REPRESENTAÇÃO DE LIMITES SINUOSOS

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• Linha de cumeada

Conforme definido anteriormente, não há a necessidade de implantação de


marcos, ao longo da linha de cumeada, para caracterizar o limite do imóvel. A opção fica
a critério do credenciado e dos proprietários envolvidos.

O adensamento de vértices deve seguir as recomendações definidas para o


corpo d’água/curso d’água.

• Grota

O levantamento deve seguir pelo eixo da grota e o adensamento de vértices


necessita contemplar as recomendações definidas para o corpo d’água/curso d’água.

• Crista de encosta

Seguem-se as mesmas recomendações definidas para o corpo d’água ou o


curso d’água.

189
• Pé de encosta

Seguem-se as mesmas recomendações definidas para o corpo d’água ou o


curso d’água.

• Limite natural não tipificado

Caso se identifique um limite caracterizado por um elemento natural não


contemplado neste manual, o credenciado deve atribuir, a ele, a definição de limite
natural não tipificado.

NOTA
Acadêmico, a seguir, apresentar-se-á um resumo com os principais tipos de limites e os
respectivos códigos de identificação.

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

4.3 TIPOS DE VÉRTICES DE LIMITES


Conforme definido pelo INCRA (2013b, p. 4), um vértice limítrofe é "o ponto em
que a linha limítrofe de uma propriedade rural muda de direção, ou onde cruza a linha
limítrofe de qualquer outra propriedade adjacente".

Na descrição, os vértices que definem os limites dos atributos são categorizados


por tipo, com o objetivo de mostrar a forma de posicionamento (direto ou indireto) e a
representação em campos.

190
• Vértice tipo “M” (marco)

Realiza a localização diretamente e caracteriza (materializa) os vértices no


campo, por meio de pontos de referência.

Dentro dos limites consolidados, definidos pelos elementos físicos, a


implementação do marco fica a critério dos credenciadores e dos respectivos
proprietários. Quando não há a definição de um elemento físico, é necessário atingir
marcos, com algumas exceções. Marcos podem ser construídos de concreto, rocha,
metal ou materiais compostos.

Os padrões de construção e as dimensões do marco devem ser definidos por


uma pessoa credenciada, para garantir a durabilidade e a estabilidade no solo.

Atente-se, a seguir, a dois modelos de marcos, incluindo a condição de


implantação no campo.

FIGURA 22 – MODELOS DE MARCOS

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

191
Na parte superior do marco, deve haver uma plaqueta de identificação, com o
código do vértice. No centro, é realizada a medição. A plaqueta necessita ser construída
com um material que garanta durabilidade e fixação no marco. Segue um modelo:

FIGURA 23 – MODELO DE PLAQUETA

FONTE: Adaptada de INCRA (2013)

• Vértice tipo “P” (ponto)

Determina o posicionamento de forma direta, e não é materializado por marco.


As situações que, comumente, utilizam vértices tipo “P” são aquelas nas quais os limites
são definidos por cercas e cursos d’água.

• Vértice tipo “V” (virtual)

Marca presença um vértice cujo posicionamento é realizado de forma indireta.


Dentre as situações nas quais esse tipo de vértice pode ser utilizado, podemos citar:

◦ Vértice situado em um local onde não é possível a implantação estável de um


marco e o limite não é coincidente com um elemento físico. Exemplos: vértices
situados em brejos, banhados e pântanos.
◦ Vértice correspondente a um limite que não possui elemento físico que o caracterize
em campo. Ainda, a implantação de um marco é inviável. Exemplos: vértices de
limite situados em áreas usadas para a agropecuária, nas quais a implantação do
marco é um empecilho para o desenvolvimento da atividade.
◦ Vértice situado em um local que é inacessível.

192
5 CONFRONTANTES E ALTERAÇÕES NA
PARCELA CERTIFICADA
Nos serviços de georreferenciamento, a identificação dos confrontantes deve
privilegiar o aspecto objetivo. Desse modo, quando o imóvel lindeiro está inscrito no
registro público, é identificado pelo número da matrícula ou transcrição, e pelo Código
Nacional de Serventia (CNS7) do cartório no qual está registrado.

Os imóveis que não possuem registro são identificados pela própria denominação,
conforme exemplos a seguir:

• Rodovias e ferrovias. Exemplo: Rodovia BR-040.


• Logradouros públicos. Exemplo: Rua Afrânio de Carvalho.
• Cursos ou corpos d’água públicos. Exemplo: Rio São Francisco.
• Terrenos da marinha.
• Terrenos reservados ou marginais.
• Áreas devolutas.
• Áreas com registro desconhecido.

É memorável destacar que a identificação da confrontação não está vinculada


à pessoa, mas ao objeto (imóvel).

NOTA
Seguem informações quanto às providências a serem tomadas quando há a necessidade
de alteração de uma parcela certificada, seja por desmembramento/parcelamento ou
remembramento.

No desmembramento/parcelamento, poderá ocorrer a


necessidade de inclusão de um vértice entre alinhamentos
de vértices já certificados. Quando esse fato ocorrer em
um alinhamento comum a outra parcela já certificada, será
necessário efetuar a alteração da parcela confrontante.

[...]

Quando houver a necessidade de alteração de uma parcela


confrontante, o credenciado deverá gerar uma Anotação
de Responsabilidade Técnica (ART) específica para esse
trabalho. Se a parcela confrontante estiver efetivada no
registro de imóveis, além da alteração da certificação, haverá
a necessidade de ações, também, no cartório.

[...]

193
Quando não houver uma parcela confrontante certificada, o
desmembramento poderá demandar a inclusão de vértices
entre alinhamentos já certificados, porém, não poderá ocorrer
a exclusão de vértices do perímetro original.

[...]

Em um remembramento que envolver parcela (s) certificada


(s) e parcela (s), ainda, não certificada (s), primeiramente,
deverá ser efetuada a certificação desta (s), para uma posterior
fusão. Quando houver interesse em remembrar parcelas,
ainda, não certificadas, poder-se-á optar por georreferenciar,
diretamente, o perímetro externo, correspondente ao
conjunto de parcelas (INCRA, 2013b, p. 21).

NOTA
Para aguçar o interesse em você, acadêmico, a fim de se debruçar
sobre a certificação de imóveis rurais na prática, assista ao seguinte
vídeo: CERTIFICAÇÃO DE IMÓVEL RURAL – INCRA (em 9 min). Esse vídeo
é de uma empresa de engenharia. Nele, o engenheiro responsável
demonstra todo o passo a passo para a certificação de uma fazenda.
São demonstrados a obtenção dos vértices, os marcos, a documentação
e o preenchimento da tabela ODS para o SIGEF. Oferecem-se um
fácil linguajar e exemplos rotineiros que são empregados. Qualquer
pessoa que tenha interesse nesse assunto está apta a compreender a
explicação. O vídeo tem cerca de 9 minutos de duração e se encontra
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JC40CO_JG6c.

194
LEITURA
COMPLEMENTAR
Georreferenciamento de imóveis rurais: análise de área entre topografia,
RTK e sistema TM

Nícolas Berwanger Michels


Reginaldo Macedonio da Silva
Sérgio Florêncio de Souza

INTRODUÇÃO

O território brasileiro corresponde a 851 milhões de hectares (ha), com um total


de 5.000.000 de propriedades rurais, as quais ocupam uma área total de 351 milhões de
ha, ou seja, 41 % da área total do país. Entretanto, de acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, apenas, 15,65% dos brasileiros viviam na
zona rural. Grande parte dessas propriedades não está mapeada e regularizada, sem
um sistema efetivo de controle territorial. Para isso, leis e decretos foram estabelecidos
nos últimos anos, a partir da tentativa de se criar um sistema eficaz, capaz de unir
ações administrativas, públicas e de planejamento. Devido ao georreferenciamento de
um imóvel rural ser uma condição necessária para a realização de desmembramentos,
parcelamentos, remembramentos, transferências e/ou atividades jurídicas territoriais,
observa-se a importância do papel dele para a determinação de áreas, como fator
preponderante no meio rural, incluindo a comparação de resultados em levantamentos,
com a utilização de diferentes métodos.

A publicação do Decreto nº 8.764/16 cria o SINTER (Sistema Nacional de


Gestão de Informações Territoriais), visando integrar os cadastros de imóveis em uma
única plataforma, com o objetivo de melhorar o registro da regularização fundiária,
aumentando a segurança jurídica da propriedade rural (BRASIL, 2016).

Os limites e as confrontações de um imóvel rural são caracterizados pelas


coordenadas dos vértices que compõem o perímetro, georreferenciadas ao Sistema
Geodésico Brasileiro.

A metodologia, para se alcançarem valores aceitáveis para a definição dos


limites da propriedade, foi estabelecida pela Norma Técnica para Georreferenciamento
de Imóveis Rurais, 3ª Edição (NTGIR), complementada pelo Manual Técnico de Limites
e Confrontações 1ª Edição (MTLC) e pelo Manual Técnico de Posicionamento 1ª Edição
(MTP), a fim de se obter precisão dentro das normas.

195
A 2ª edição da NTGIR adotava o sistema de projeção Universal Transversa de
Mercator (UTM) para o cálculo de áreas e de perímetros. Conforme Costa (2010), o UTM
é um sistema de projeção plana. A área determinada por ele apresenta ampliações ou
reduções, as quais dependem do meridiano dos vértices dela em relação ao meridiano
central. O cálculo de áreas em polígonos, sobre um elipsoide, cujos lados sejam formados
por arcos de paralelo, arcos de meridiano e linhas geodésicas, não é trivial, a não ser que
os lados sejam formados, apenas, por arcos de paralelo e de meridiano (GALO; MONICO;
OLIVEIRA, 2003).

Devido à não trivialidade de se calcularem áreas a partir de coordenadas


geodésicas, o sistema de projeção UTM era utilizado para calcular a área e o perímetro de
imóveis georreferenciados (INCRA, 2010). A 3ª edição da Norma alterou o procedimento
de cálculo da área, que, a partir desta, é realizado por meio do Sistema Geodésico Local
(SGL), ao invés de adotar o plano da projeção Universal Transversa de Mercator (UTM).
Nesse caso, o procedimento adotado é a média das coordenadas da parcela, como
origem do sistema (INCRA, 2013a).

Apesar de as coordenadas planas UTM influenciarem em valores angulares,


somente, em grandes áreas e em zonas de redução e de ampliação de um fuso TM, em
um imóvel considerado de pequeno porte, é importante analisar os resultados obtidos
pelo Sistema Geodésico Local, sistema, atualmente, definido pelo INCRA, nos cálculos
de área e de perímetro de imóveis, a fim de se contornarem problemas de ampliação ou
de redução, causados pelo efeito de curvatura da Terra. Encontram-se diferenças pela
representação física de uma propriedade em relação aos sistemas UTM, LTM, RTM e
Plano Topográfico Local.

O presente trabalho teve, como objetivo geral, a realização do georreferenciamento


de imóvel rural em uma propriedade no município de Capela de Santana (RS),
explorando a 3ª edição da Norma Técnica, a fim de se certificar o perímetro no Sistema
de Gestão Fundiária (SIGEF). Os objetivos específicos foram a demonstração de todos
os processos envolvidos e dificuldades de campo para a aplicabilidade dos métodos RTK
Convencional e Topografia Clássica, comparando-se as coordenadas dos vértices e as
precisões. Diante das diversas aplicabilidades dos sistemas de projeção locais, também,
objetivou-se a realização de uma análise comparativa das áreas obtidas no Sistema
Geodésico Local (SGL), Plano Topográfico Local (PTL), UTM, LTM e RTM, evidenciando-se
as discrepâncias existentes entre ambos os sistemas.

ÁREA DE ESTUDO

A área em estudo está localizada no município de Capela de Santana (RS), na


localidade do Vale do Rio Caí, distante 55 km de Porto Alegre, conforme Mapa Rodoviário
Estadual, disponibilizado pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem
(DAER) (DAER, 2018). O imóvel foi escolhido devido à permissão do proprietário (familiar
do autor), de livre acesso para a realização dos levantamentos. Localiza-se na zona UTM
22 Sul, com meridiano central -51°.

196
[...]

O imóvel está situado em uma região similar a um pequeno vale, com diferenças
máximas de altitude em torno de 40 m, Figura 2. Possui um arroio que a corta de leste
a oeste. O solo é, predominantemente, arenoso e argiloso. A maior parte do local possui
vegetação rasteira, tendo vegetação densa concentrada no limite oeste. O imóvel faz
divisa, a leste, com a Avenida Coronel Orestes (M0015, V-0001 e M-0016); ao norte,
com a Rodovia Estadual ERS-240 (M-0012 e M0013) e com Afonso Paulo Colling (M-
0013, M-0014 e M-0015); ao sul, com Gelsumina Baierle Lucas (M-0016 e M-0017);
e, a oeste, com Florestal Participações Ltda (M-0017, M-0018, M-0019 e M-0020). A
área se encontra demarcada por mourões cercados por arame liso e cercas comuns
de arame farpado. Não há conflitos com os vizinhos em relação às divisas comuns
entre os imóveis. A documentação apresentada está regularizada, faltando, apenas, a
certificação do georreferenciamento de imóvel rural, emitida pelo INCRA.

MATERIAIS E MÉTODOS

As etapas de campo, descritas a seguir, foram realizadas, conforme a Norma


Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais, 3ª edição.

DOCUMENTAÇÃO INICIAL, ANÁLISE DO LOCAL E IMPLANTAÇÃO DOS MARCOS

Inicialmente, coletou-se a matrícula atualizada, referente ao imóvel, com


informações pertinentes aos três lindeiros, incluindo os valores de faixa de domínio
das duas rodovias que circundam a propriedade. A área de estudo apresenta uma
faixa de domínio de 22 m na Avenida Coronel Orestes Lucas (Trecho administrado pelo
DAER: 240ERS9030), na divisa leste da propriedade; e outra de 40 m na ERS-240, no
km 19 (Trecho administrado pela Empresa Gaúcha de Rodovias – EGR), na divisa norte.
Realizou-se uma visita ao local onde se encontra o imóvel, a fim de se verificarem as
divisas e de se conferir o nível de dificuldade do trabalho de campo, avaliando-se os dias
previstos de serviço, sendo um dia para o levantamento com GNSS e dois a três dias para
a estação total. Em 27 de março de 2019, com o uso de uma marreta, foram implantados
os marcos geodésicos de alumínio (Vértices M no padrão INCRA: 60 cm), referentes: a)
ao ponto estratégico (campo aberto e com grande altitude), servindo, como base, para o
GNSS (linha de base máxima em torno de 700 m); b) ao ponto de ré, para a utilização no
Método Topografia Clássica; c) às divisas do imóvel, como locais não confrontantes com
a faixa de domínio das rodovias, pois estas, através do paralelismo, foram definidas em
campo, partindo-se do eixo central das vias ERS-240 e Avenida Coronel Orestes Lucas.

197
LEVANTAMENTO COM GNSS/RTK

Dois dias após a verificação do local e a implantação dos marcos (29/03/2019),


foi-se, até o imóvel, a fim de se iniciar o levantamento planialtimétrico com o receptor
GNSS Geodésico Leica900, apoiado a uma antena e rádio externo. Entretanto, não se
obteve sucesso na conexão entre o rádio externo e a controladora.

Para se aproveitar de todo o trabalho logístico envolvido no transporte dos


equipamentos, locomoção e outras variáveis, rastreou-se o ponto de ré através do
Posicionamento por Ponto Preciso (PPP), por 1h58min. A seguir, seguem as coordenadas
do ponto de ré processadas pelo IBGE-PPP (em 11/04/2019): a) UTM N (m) = 6.717.842,635;
σN = 0,003 m; b) UTM E (m) = 469.353,971; σE = 0,012 m; c) Altitude Geométrica (m) =
85,97; σh = 0,010 m; d) Ondulação Geoidal (m) = 4,90.

Em 12 de abril de 2019, através do método RTK Convencional, definido no


Manual Técnico de Posicionamento 1ª Edição, foi realizado o levantamento dos vértices
da propriedade com o GNSS Geodésico RTK Topcon Hiper. É importante ressaltar que, no dia
a dia do profissional, caso faltem equipamentos, a execução do georreferenciamento
pode demandar muito mais tempo, excedendo o prazo previsto e gerando prejuízos ao
cliente e o pagamento de multa, se previsto em contrato.

A Figura 3 apresentará parte dos equipamentos utilizados em campo, logo antes


da saída para a instalação do GNSS Geodésico RTK, no ponto-base de levantamento.

[...]

Nos pontos de divisa com outras propriedades, foram colocados vértices físicos
artificiais (Tipo M - Marco), sendo, o método utilizado (RTK Convencional), codificado como
PG6. Os vértices confrontantes com rodovias, também, são do tipo M, e implantados
com o mesmo método, porém, foram locados conforme ferramenta de offset, disponível
na coletora do GNSS Topcon Hiper.

Em uma leve curva da Avenida Coronel Orestes Lucas, foi decidido implantar
um vértice virtual do tipo V (não materializado), como cita o Manual Técnico de Limites
e Confrontações 1ª Edição. Dentre as situações nas quais esse tipo de vértice pode ser
utilizado, no caso da área de estudo, este estava situado em um local onde não era
possível a implantação estável de um marco, e o limite não era coincidente com um
elemento físico (INCRA, 2013b).

Nesse caso, o método de posicionamento utilizado é codificado como PA1,


e pode ser utilizado em limites naturais ou artificiais. Conforme o Manual Técnico
de Posicionamento 1ª Edição, o método da paralela consiste na determinação de
coordenadas de vértices, a partir de uma linha paralela, até uma outra, a qual tem os
próprios vértices determinados por algum outro método de posicionamento.

198
Foi necessário definir a distância de afastamento entre as linhas, a qual era de
11 m a partir do eixo da rodovia (valor da faixa de domínio). Foram coletados diversos
pontos, no eixo da rodovia, com o GNSS, e, através do comando offset, do software
AutoCAD 2017, definiu-se o local do vértice, exatamente, onde se confronta com a
rodovia, os quais são denominados de vértice V, Figura 5.

[...]

LEVANTAMENTO POR TOPOGRAFIA CLÁSSICA

O trabalho de campo descrito a seguir teve duração de dois dias de trabalho. O


primeiro foi iniciado às 8h e 30min, e pausado às 19h e 30min, com 1h de intervalo; e, o
segundo, finalizado no turno da manhã (2h e 10min de duração). A estação total utilizada
foi a Leica TS02, com precisão nominal angular de 7” e linear de 1,5mm + 2ppm, com
prisma padrão. No levantamento realizado através da Topografia Clássica, foi definido o
método presente na Norma Técnica, chamado de Poligonação, através de uma poligonal
apoiada com um ponto de partida (coordenadas conhecidas) e com outro de chegada
(coordenadas conhecidas), a fim de se verificarem os erros de fechamento angular e linear.

[...]

CERTIFICAÇÃO DO IMÓVEL NO SIGEF

Para o cadastramento dos vértices delimitadores do imóvel rural no padrão


INCRA, primeiramente, foi preciso preencher os seguintes dados em uma planilha-
padrão, disponibilizados pelo SIGEF, Figura 8.

[...]

Em uma segunda aba da planilha, Figura 9, é necessário informar o sistema de


projeção, meridiano central e hemisfério do local. Também, deve-se preencher o nome
de cada vértice com as respectivas coordenadas E, N e h; o sigma de cada posição; o
método de posicionamento; o tipo de limite; e o nome, o código CNS (Cadastro Nacional
de Serventia) e o número de matrícula do registro de imóveis dos confrontantes.

[...]

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os produtos gerados, no sistema SIGEF, constam nas figuras a seguir, nas quais
há o memorial descritivo, Figura 10, e a planta do imóvel, Figura 11.

[...]

199
ÁREA E PERÍMETRO CALCULADOS

Na NTGIR 3ª Edição (INCRA, 2013), o cálculo da área é realizado por intermédio


de coordenadas locais, dispostas sobre um Sistema Geodésico Local (SGL). Esse
sistema explicita melhor a realidade física. Assim, eliminam-se distorções, as quais se
tornam maiores na medida em que as parcelas aumentam na superfície (INCRA, 2013a).
Para um melhor entendimento do referido processo, a Norma apresenta a explanação
de como realizar a conversão para coordenadas locais. Estas são calculadas através da
conversão das coordenadas cartesianas, junto a uma matriz de rotação ortogonal.

[...]

CONCLUSÕES

Confirmou-se a confiabilidade da precisão posicional dos vértices coletados


através do método RTK Convencional, cujo método foi utilizado para a validação do
imóvel no SIGEF, com um valor máximo de 3,1 cm, muito abaixo da tolerância de 50 cm,
dada pelo INCRA.

Com relação ao resultado com a Estação Total, observa-se, somente, o vértice


SAGI-M-0017, que ficou com valor acima da tolerância da Norma, do INCRA, com 80,2
cm, já os outros ficaram com valores abaixo de 25 cm (dentro da tolerância dos 50 cm).
Isso demonstra que os problemas encontrados no campo influenciaram no resultado da
medição com a Estação Total, principalmente, em áreas nas quais não se pode derrubar
árvores para ter uma visibilidade do vértice, com a limpeza de obstruções.

Conclui-se que, na comparação entre os métodos de posicionamento, vistas


todas as etapas metodológicas, é notável que a utilização do método RTK Convencional
seja muito mais ágil, mas pode apresentar dificuldades em locais com muita vegetação,
onde se pode perder o sinal para a correção diferencial, porém, no caso desse trabalho,
isso não ocorreu. Com relação à Topografia Clássica, teve-se dificuldade com a
visibilidade dos vértices em locais com muita vegetação, assim, nesse caso, foi preciso
mais tempo de trabalho em campo.

Quanto aos valores de área e de perímetro a partir dos diferentes sistemas de


projeção, a variação das áreas esteve de acordo com a aproximação ou o afastamento
do coeficiente de deformação linear (K). Mesmo que essas diferenças sejam pequenas,
é importante ressaltar que a realização do cálculo da área, em uma superfície simulada
(sistemas TM), pode alterar o tamanho de uma propriedade. Considerando-se um imóvel
rural de grande porte, essas distorções podem ser ainda maiores. Isso comprova a adoção
do SGL, padronizado, e pelo INCRA, como sistema definido para esse tipo de serviço.

200
Os resultados, também, mostraram que, no sistema RTM, obteve-se um resultado
mais acurado quando comparado aos dos sistemas LTM e UTM. Isso se justifica pelo fato
de o imóvel estar localizado em um local mais favorável de fuso nesse sistema, ou seja,
mais próximo da zona de secância.

Em casos de remembramentos ou desmembramentos de imóveis rurais,


são incluídos pontos adicionais que mudam as coordenadas do ponto-base do SGL.
Consequentemente, os valores de área e de perímetro, mesmo em baixíssima escala,
são alterados. Para resolver esse problema, o SIGEF poderia informar, ao profissional,
as coordenadas pertinentes ao ponto tomado como base, além do valor de K0 adotado.
Por fim, exclusivamente, em remembramentos, utilizar o SGL da área de maior extensão.

FONTE: MICHELS, N. B.; SILVA, R. M.; SOUZA, S. F. Georreferenciamento de imóveis rurais:


análise de área entre topografia, RTK e sistema TM. 2021. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.
br/bitstream/handle/10183/221807/001126071.pdf?sequence=1. Acesso em: 24 dez. 2021.

201
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Referencial Planimétrico (datum horizontal), em vigor no país, corresponde ao


Sistema SIRGAS 2000, desde o ano de 2005, entretanto, anteriormente a essa data,
era utilizado o Geodésico Sul-Americano, o SAD 69 (South American Datum, 1969),
conforme a realização de 1996.

• Os levantamentos de controle por técnicas tradicionais são determinados como


aqueles que se aproveitam de medições angulares, lineares e de desníveis, através
de, respectivamente, teodolitos, medidores eletrônicos de distâncias e níveis, a partir
de diversas combinações e cálculos decorrentes, e se encaminham a viabilizar um
arcabouço de pontos diversos, com coordenadas e altitudes, para a aplicação nos
levantamentos, que intentam a demarcação do perímetro e do georreferenciamento
do imóvel.

• Os limites são descritos por segmentos de reta interligados por vértices, conforme
definido na NTGIR 3ª Edição. Desse modo, não são admitidos elementos curvos, como
arcos de circunferência, de elipse e outros na descrição de limites de imóveis rurais.

• A identificação dos confrontantes deve privilegiar o aspecto objetivo nos serviços de


georreferenciamento. Desse modo, quando o imóvel lindeiro está inscrito no registro
público, é identificado pelo número da matrícula ou transcrição, e pelo Código
Nacional de Serventia (CNS7) do cartório no qual está registrado.

202
AUTOATIVIDADE
1 Analise as afirmativas a seguir, relacionadas à Norma Técnica de Georreferenciamento
de Imóveis Rurais, do INCRA (2013b). Logo após, assinale a alternativa CORRETA:

I- Os valores de precisão da latitude e da longitude devem ser convertidos para


valores lineares.
II- O valor de precisão posicional a ser observado, para vértices definidores de limites
de imóvel, deve ser melhor ou igual a 0,5m.
III- Os valores das coordenadas dos vértices devem ser descritos por meio das
coordenadas geodésicas, vinculadas ao Sistema Geodésico Brasileiro.

Está (ão) correta (s), somente, a (s) afirmativa (s):


a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) I e II.
e) ( ) I e III.

2 A partir da análise das afirmativas a seguir e, em seguida, assinale a opção CORRETA:

I- A identificação dos confrontantes deve privilegiar o aspecto objetivo nos serviços


de georreferenciamento.
II- Os seguimentos de reta, descritos nos títulos de domínio e representados na planta,
em geral, referem-se a elementos físicos que definem, em campo, o limite entre os
imóveis.
III- O desenvolvimento do traçado das poligonais deve ser tal que permita a distribuição
de pontos de apoio em número e localização, necessários às etapas posteriores, de
levantamento e demarcação, de levantamento de detalhes e georreferenciamento,
resguardadas as distâncias máximas para elas. As estações poligonais de apoio
(controle) devem ser implantadas em locais seguros, monumentados por marcos de
concreto, com a respectiva monografia descritiva de acesso e as condições para a
localização posterior deles.

a) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.


b) ( ) Nenhuma afirmativa está correta.
c) ( ) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
e) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

203
3 Um formato de intercâmbio que é feito entre receptores independentes. Arquivo
ASCII com informação legível para a maioria dos programas de processamento.
Além disso, com relação ao sistema de posicionamento, ao se utilizar o GPS no
modo relativo estático, tem-se que o intervalo de gravação das observáveis deve
ser de até 15S. Quando associados a estações de referência, cujo intervalo difere
de 15S, esses valores podem ser modificados, de modo a coincidirem os instantes
de observação. É aceita a utilização de receptores de fabricantes diferentes em um
mesmo levantamento. Nesse caso, os dados devem ser convertidos para o formato
de intercâmbio conhecido como:

a) ( ) WGS. 
b) ( ) DWG. 
c) ( ) PDOP. 
d) ( ) RINEX.
e) ( ) SIRGAS.

4 Os seguimentos de reta, descritos nos títulos de domínio e representados na planta,


em geral, referem-se a elementos físicos que definem, em campo, o limite entre os
imóveis. Nos serviços de georreferenciamento, os diferentes elementos físicos são
enquadrados como tipos de limites. Defina-os.

5 Conforme definido por INCRA (2013b, p. 4), um vértice limítrofe é "o ponto em que
a linha limítrofe de uma propriedade rural muda de direção, ou onde cruza a linha
limítrofe de qualquer outra propriedade adjacente". Na descrição, os vértices que
definem os limites dos atributos são categorizados por tipo, com o objetivo de mostrar
a forma de posicionamento (direto ou indireto) e a representação em campos. Assim,
identifique e explique os tipos de vértice existentes.

204
REFERÊNCIAS
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13133. Execução de
levantamento topográfico. 1994. Disponível em: http://www.carto.eng.uerj.br/cdecart/
download/NBR13133.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

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das contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do
Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP e para a Seguridade Social - COFINS
incidentes sobre insumos utilizados na fabricação de produtos destinados à
exportação. 2001a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
leis_2001/l10276.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001. Altera dispositivos das Leis


nos 4.947, de 6 de abril de 1966; 5.868, de 12 de dezembro de 1972; 6.015, de 31 de
dezembro de 1973; 6.739, de 5 de dezembro de 1979; 9.393, de 19 de dezembro de
1996; e dá outras providências. 2001b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/leis_2001/l10267.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

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Cadastro Rural, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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BRASIL. Lei nº 4.947, de 6 de abril de 1966. Fixa Normas de Direito Agrário, dispõe
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205
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207

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