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Auditoria

As Asserções e a Obtenção de Prova em


Auditoria – O ciclo das vendas e dívidas a receber
Encontramos já nas NTRA1 (Normas Técnicas de
Revisão/Auditoria) da OROC a informação que supor-
ta, no essencial, a figura que a seguir reproduzimos2.

1 O termo auditoria abrange neste trabalho quer o conceito de revisão quer o conceito de auditoria, tal como expressos pelos nomativos da OROC, pese embora
maioritariamente vocacionado para aquele. Por outro lado, revisão/auditoria aparece neste trabalho sempre que em causa estiver a passagem - na integralidade
ou por adequação - da expressão encontrada no mesmo conjunto de normativos;
2 Parte da informação terá sido complementada (pela maior amplitude) com preceitos contidos nas ISA, adequadamente mencionadas.

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Fábio de Albuquerque
Porfírio Bentinho Auditoria
Tânia Mota

Figura 1: Do planeamento à emissão da opinião

Fonte: IFAC (2007) e OROC (2008). Elaboração própria.

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Tal representação conduz-nos à conclusão de que o opinião apenas foi possível (ou não) a partir das pro-
tema objecto deste trabalho conforma-se indubitavel- vas recolhidas no decurso do seu trabalho;
mente com o processo global de auditoria, entendimen-
to que de seguida sintetizamos: Não sendo, portanto, a recolha de provas um fim em
si, trata-se do fio condutor dos trabalhos de auditoria,
Em auditoria, a recolha de provas3 exerce um duplo e sem o qual aquele objectivo não será concretizado4.
papel: por um lado, o de validar (ou não) as asserções
contidas nas DF (Demonstrações Financeiras), condu- Não resistimos, ainda, a transcrever a afirmação con-
zindo assim ao objectivo final dos trabalhos de uma tida noutra passagem das NTRA, pela forma clara e
auditoria, que é a expressão de uma opinião por parte breve com que corrobora as ideias atrás expressas:
do auditor; por outro, o de salvaguarda dos trabalhos
realizados por este profissional, sendo certo que a sua

3 O termo prova é, aqui, preferido ao termo evidência, uma vez que o primeiro, no léxico português, significa “tudo o que mostra a veracidade de uma propo-
sição ou a realidade de um facto”3, ao passo que o segundo diz respeito à “qualidade de evidente; noção clara; certeza manifesta”3. Assim, entendemos que
prova denota com maior precisão a ideia de substância material ou existência física de uma coisa, em sentido lato, enquanto evidência expressa uma ideia de
abstracção, de adjectivação da coisa em si (a prova) ou de sua qualidade. Contudo, por vezes faremos menção a este último termo, em detrimento de prova,
sempre que tal denominação seja assim utilizada por outros autores, devidamente referenciados;
4 A corroborar a afirmação anterior está o facto de que a inexistência, ocultação ou significativa insuficiência de matéria de apreciação, materializa-se na
assinatura, pelo auditor, de uma declaração de impossibilidade de certificação (a este propósito leia-se o nº 4 do art.º 44 do EOROC e ainda o ponto 2.1. do
presente trabalho).

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A segurança proporcionada pelo revisor/auditor, para melhor enquadramento do tema em análise.


relativamente à credibilidade das asserções contidas Postulados são proposições básicas relativas aos objec-
na informação financeira, assenta na sua satisfação tivos da Contabilidade, relacionados com o ambiente
quanto à evidência recolhida em resultado dos proce- social, político e económico em que a mesma é prati-
dimentos adoptados. cada. Iudícibus (1987) define-os, linhas gerais, “como
uma proposição ou observação de certa realidade que
No que à doutrina diz respeito, encontramos em Hayes pode ser considerada como não sujeita à verificação, ou
et al (2005, 11)5 o entendimento segundo o qual o como axiomática.” Os princípios, por seu turno, repre-
objectivo básico da recolha de provas, e o que estas sentam a essência das doutrinas e teorias relativas à
podem provar, são, fundamentalmente, as asserções da Contabilidade, sedimentando assim o entendimento
gestão. Complementando tal ideia, Arens et al (2006, acerca desta no âmbito científico-profissional. Cabe
145)6 referem ainda que: apresentarmos então, nesse contexto, as restrições
(ou constrangimentos) como factores de delimitação
As asserções estão directamente relacionadas com os conceptual do âmbito de actuação dos princípios8. A
princípios contabilísticos geralmente aceites7. Tais Deliberação nº 29 da Comissão de Valores Mobiliários
asserções são parte do critério que a gestão utiliza do Brasil9, entretanto já revogada, sintetiza brilhante-
para registar e divulgar a informação contabilística no mente o quadro conceptual (QC) acima apresentado, e
relato financeiro. que dado o seu interesse abaixo apresentamos:

Assim, reservamos para as linhas seguintes um desen- Numa enunciação axiomática da Teoria da
volvimento mais aprofundado do relacionamento entre Contabilidade, os postulados ambientais seriam os
as asserções e a obtenção de prova em auditoria, tema próprios Postulados ou Axiomas; os princípios seriam
objecto deste trabalho. os Teoremas; e as convenções (restrições) seriam os
Corolários.
1. A utilização das asserções na obtenção
de prova em auditoria Desse modo, e para complementá-lo, divulgamos o
conceito de características qualitativas a partir do seu
1.1. As asserções em auditoria confronto com um outro, este utilizado em larga medi-
Julgamos conveniente tecer, nesta fase do trabalho, da no âmbito específico da auditoria: as asserções. Tal
uma breve discussão acerca da diferença conceptual distinção revela-se-nos sobretudo útil tendo em conta
existente, no âmbito da Contabilidade, entre prin- a confusão habitualmente feita entre tais elementos,
cípio, postulado e restrição (ou constrangimento),

5 Tradução livre.
6 Tradução livre.
7 Em causa, os GAAP americanos (ou US-GAAP), traduzidos para português como “princípios contabilísticos geralmente aceites”.
8 Como adiante se verá, reside geralmente no quadro das restrições as principais fontes geradoras de conflitos na esfera da Contabilidade. Não estando em causa,
porém, cabe destacar, a necessária existência de uma e a mesma coisa.
9 No Brasil coexistiam, até bem pouco tempo, duas Estruturas Conceptuais: uma, emitida pelo IBRACON (Instituto Brasileiro de Auditores Independentes),
transformada em acto próprio da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) através da Deliberação nº 29, em 1986, sob o título “Estrutura Conceitual Básica da
Contabilidade”; outra, emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) pela sua Resolução CFC nº. 750, em 1993, e intitulada “Princípios Fundamentais
de Contabilidade (PFC). A esta última seguiram-se ainda a Resolução CFC nº. 774, em 1994, sob o título “Apêndice à Resolução Sobre os Princípios
Fundamentais de Contabilidade”, detalhando um pouco mais a anterior, e a Resolução CFC nº. 785, em 1995, denominada “Das Características da Informação
Contábil”. Em 14 de Março de 2008, a CVM aprova a Deliberação nº 539 (aplicando-se aos exercícios encerrados a partir de Dezembro de 2008), ao passo
que o CFC, 14 dias depois, aprova a Resolução nº 1.121, intituladas “Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis”
e nascidas ambas a partir de um documento emanado do CPC (Comité de Pronunciamentos Contábeis), expressamente adaptado do Framework do IASB.
Esta última Deliberação da CVM revogou então a de nº 29, ao passo que a Resolução nº 1.121 revogou a de nº 785. Mantêm-se, contudo, em vigor, nalguns
pontos actuando em conflito com disposições contidas naquela, as Resoluções nº 750 e 774 do CFC, já referenciadas. Partindo-se do entendimento de que a
Resolução nº 750 apresenta-se como uma forma sintetizada de Estrutura Conceptual, continua, no fundo, a coexistir dois documentos deste género no Brasil,
mantidos inclusive por um mesmo organismo, uma vez que a Resolução nº. 1.121 do CFC e a Deliberação n.º 539 da CVM são em tudo idênticos. Espera-se,
por tal facto, que ao longo de 2008, um e outro organismo venham a emitir novos pronunciamentos, em consonância com a Lei das Sociedades por Acções.
Esta última, em vigor após a modificação instituída pela Lei nº. 11.683/2007, que actua no sentido do progressivo alinhamento com as normas do IASB.

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a que atribuímos o facto de nascerem ambos de um Assim, e pelo modo sobretudo claro da exposição, para
mesmo conjunto informativo: as DF. cumprir este último objectivo faremos uso do quadro
que se segue:

Quadro 1: Diferenças entre asserções e características qualitativas.

ASSERÇÕES CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS

CONCEITO Afirmações da gestão, implícitas ou Atributos que tornam a informação


explícitas, consagradas nas DF. proporcionada nas DF útil aos seus
utentes.
Sobretudo na fase de preparação Sobretudo nas fases de apresentação
ORIGEM das DF. Subjacente ao ciclo de e divulgação das DF. Resultado
reconhecimento, classificação, (aspecto qualitativo) do ciclo de
apresentação e divulgação. reconhecimento, classificação,
FINALIDADE apresentação e divulgação.
Determinam a fiabilidade das DF. Determinam a utilidade das DF

RESPONSABILIDADE Órgãos de gestão. Órgãos de gestão.

Fontes: Elaboração própria. A partir de IFAC (2007) e IASB (1989).

Completa-se assim, com as características qualitati- relacionamento entre os diversos conceitos até aqui
vas, aquele que entendemos ser o QC completo da divulgados.
Contabilidade10. A próxima figura ilustra, por fim, o

Figura 2: Relacionamento entre os conceitos subjacentes à preparação, apresentação e divulgação das DF. Elaboração própria.

10 A título de curiosidade, cabe referenciar que, dos países de língua oficial portuguesa, o Brasil é o único a admitir a existência de restrições aos princípios
contabilísticos (Santos: 2006), pese embora a designação oficial prescreva o conceito de “convenções” como sinónimo daquele. É ainda naquele país que
encontramos, em exclusividade, tal EC na sua forma mais completa, conforme já mencionado: composto por postulados, princípios, restrições e características
qualitativas.

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Tipos de asserções
Reserva a ISA 500 da IFAC11 parte significativa do seu
conteúdo para o tema objecto do presente trabalho12.
Considerando os diversos tipos de potenciais distor-
ções, entende a referida norma que o auditor deverá
utilizar as asserções13 em pormenor suficiente que pos-
sibilite uma base para a avaliação dos riscos de erros
significativos, bem como para a concepção e execução
de novos procedimentos de auditoria. As asserções
utilizadas pelo auditor dividem-se, de acordo com o ali
prescrito, nas três seguintes categorias:

(a) Asserções relativas a classes de transacções e acon-


tecimentos durante o período em causa:

(i) O
 corrência (occurrence): as transacções e
acontecimentos que se encontram registados
ocorreram de facto e estão relacionados com a
entidade;

(ii) Plenitude (completness): todas as operações e


acontecimentos que deviam ter sido registados
foram de facto registados;

(iii) Exactidão (accuracy): valores e outros dados (ii) Direitos e obrigações (rights and obligations):
relacionados com as transacções e acontecimen- a entidade detém ou controla os direitos sobre os
tos registados foram apropriadamente regista- seus activos, e os passivos representam as obriga-
dos; ções da entidade;

(iv) Corte (cut-off): transacções e acontecimentos (iii) Plenitude (completeness): todos os activos, pas-
foram registados no período contabilístico a que sivos e interesses no capital próprio que deviam
diziam respeito; ter sido registados foram de facto registados;

(v) Classificação (classification): transacções e (iv) Valorização e imputação (valuation and allo-
acontecimentos foram registados nas contas cation): activos, passivos e interesses no capital
apropriadas. próprio estão incluídos nas DF por quantias
apropriadas e quaisquer ajustamentos resultan-
(b) Asserções relativas a saldos de contas no final do tes de valorização ou imputação foram apropria-
período: damente registados.

(i) E
 xistência (existence): activos, passivos e inte- (c) Asserções relativas à apresentação e divulgação:
resses no capital próprio existem de facto;

11 O International Federation of Accountants (IFAC) estabeleceu o International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) como o organismo norma-
lizador, em prol do interesse público, responsável pelo desenvolvimento de normas internacionais de prestação de serviços de auditoria, asseguração, controlo
de qualidade e serviços relacionados. Criado em Abril de 2002, em substiuição ao então extinto International Auditing Practices Committee (IAPC), o IAASB
tem como ob jectivo-chave promover a convergência das normas nacionais e internacionais de auditoria e asseguração, conduzindo a uma melhor qualidade
e uniformização das práticas desenvolvidas em todo o mundo.
12 Cabe referir que, a partir da pesquisa efectuada, constantamos que grande parte da literatura publicada sobre o assunto baseia-se categoricamente naquele
normativo, certamente pela ampla abordagem que ali é dada ao tema. Desse modo, não nos escusamos de recorrer àquela fonte nos pontos considerados de
maior relevância aos fins deste trabalho.
13 A nosso ver, o sentido de “utilizar as asserções” adoptado pela norma deve ser entendido como “utilizar o teste às asserções como procedimento de audito-
ria”.

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(i) Ocorrência e direitos e obrigações (occur- financeira foi apresentada e descrita de forma
rence and rights and obligations): acontecimen- apropriada, e as divulgações encontram-se clara-
tos, transacções e outros assuntos divulgados mente expressas;
ocorreram de facto e estão relacionados com a
entidade; (iv) Exactidão e valorização (accuracy and valu-
ation): informações financeiras e outras foram
(ii) Plenitude (completeness): todas as divulgações apropriadamente divulgadas e quantificadas.
que deviam ter sido incluídas nas DF foram de
facto incluídas. A figura seguinte resume os vários tipos de asserções
anteriormente mencionadas.
(iii) Classificação e compreensibilidade (clas-
sification and understandability): a informação

Figura 3: As asserções subjacentes às DF

RELATIVAS A CLASSES RELATIVAS


RELATIVAS
DE TRANSACÇÕES A SALDOS DE
À APRESENTAÇÃO
E ACONTECIMENTOS CONTAS NO FINAL
E DIVULGAÇÃO
DURANTE O PERÍODO DO PERÍODO

OCORRÊNCIA E DIREITOS
OCORRÊNCIA EXISTÊNCIA
E OBRIGAÇÃO

PLENITUDE DIREITOS E OBRIGAÇÕES PLENITUDE

CLASSIFICAÇÃO
EXACTIDÃO PLENITUDE
E COMPREENSIBILIDADE

EXACTIDÃO
CORTE VALORIZAÇÃO E IMPUTAÇÃO
E VALORIZAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de ISA 500 e Costa, B. (2007).

Por seu turno, a norma nacional equivalente, a DRA a) existência - um activo ou um passivo existe numa
510 da OROC, prescreve a existência de sete tipos de determinada data;
asserções, sem estabelecer de modo explícito14, e ao
contrário da ISA 500, uma classificação entre as mes- b) direitos e obrigações - um activo ou um passivo
mas. Assim, refere-nos aquela directriz que: respeita à entidade numa determinada data;

As asserções subjacentes às demonstrações financei- c) ocorrência - uma transacção ou um aconteci-


ras são as informações transmitidas pelos gestores, mento realizou-se com a entidade e teve lugar no
de maneira explícita ou não, incorporadas nas DF e período;
compreendem:

14 Note-se que, pese embora a DRA 510 não estabeleça de modo explícito uma classificação entre as asserções, conseguimos identificar as mesmas categorias
previstas na ISA 500. Mais: se por um lado a DRA 510 não refere a existência do “corte” como asserção, entendemos que a sua ausência deve-se à conside-
ração do regime do acréscimo como pressuposto da Contabilidade, apresentando-se por isso desnecessária a sua menção; por outro lado ainda, conseguimos
encontrar nesta DRA uma mesma asserção contida, simultaneamente, em mais do que uma das classes de asserções previstas na norma internacional.

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d) integralidade - não há activos, passivos, transac- g) apresentação e divulgação - um elemento é divul-
ções ou acontecimentos por registar, ou elementos gado, classificado e descrito de acordo com a estru-
por divulgar; tura conceptual de relato financeiro aplicável.

e) valorização - um activo ou um passivo é registado Não se afastando substancialmente das asserções
e mantido por uma quantia apropriada; previstas no normativo internacional, é deste modo
possível tecer uma correspondência, ainda que indi-
f) mensuração - uma transacção ou um aconteci- recta, entre as asserções apresentadas num e noutro
mento é registado pela devida quantia e o rédito ou documento.
gasto é imputado ao período devido; e

Quadro 2: Correspondência entre as asserções previstas na ISA 500 e na DRA 510.

Asserções previstas Classificação da Asserções previstas Classificação Tipo de


asserção de acordo da asserção correspondência
de acordo com entre as asserções
na ISA 500 com a ISA 500 na DRA 510 a DRA 500 (ISA vs DRA)

Ocorrência Ocorrência Directa

Plenitude Integralidade Directa


Relativas a classes
Exactidão de transacções Valorização Indirecta
e acontecimentos
durante o período
Corte Ocorrência Indirecta

Classificação Apresentação Indirecta


e divulgação

Existência Existência A norma Directa


nacional
não estabelece uma
Direitos e obrigações Direitos e obrigações classificação Directa
Relativas a saldos explícita
de contas entre as
Plenitude no final do período Integralidade asserções Directa
por ela
Valorização Valorização previstas
e imputação e mensuração Indirecta

Ocorrência e direitos Ocorrência e direitos Directa


e obrigações e obrigações

Plenitude Integralidade Directa


Relativas à
Classificação apresentação Apresentação
e compreensibilidade e divulgação e divulgação Indirecta

Exactidão Valorização Indirecta


e valorização

Fontes: Elaboração própria, a partir de IFAC (2007) e OROC (2001)

2. A obtenção de prova em Auditoria São todas as informações utilizadas pelo auditor que
A ISA 50015 faculta ao conceito de prova em auditoria lhe permitam extrair conclusões através das quais a
um sentido bastante alargado, que adiante transcre- sua opinião é baseada, e que inclui as informações
vemos:

15 Tradução livre da norma.

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contidas nos registos contabilísticos subjacentes às • procedimentos analíticos substantivos.


DF e outras informações.
Em linhas breves, podemos portanto afirmar que a
Como objectivos, esta norma indica-nos ainda que: prova é qualquer informação que corrobora ou refuta
uma asserção. Em termos nacionais, o CEDPROC
A
 obtenção de provas em auditoria possibilita ao (Código de Ética e Deontologia dos ROC), documento
auditor extrair conclusões que baseiam a sua opi- de valor incontornável ao bom exercício da profissão,
nião, e possuem significativa importância para o expõe por isso, já no nº 2 do seu art.º 5º, que:
auditor no que toca em especial a:
Deve, designadamente, o seu trabalho (o dos ROC)
• Permitir ao auditor compreender a empresa e o e o dos seus colaboradores ser planeado, executa-
seu meio envolvente, incluindo o seu sistema de do, revisto e documentado, por forma a constituir
controlo interno, e avaliar os riscos de distorções fundamentação adequada e suficiente dos relatórios,
materiais a nível das demonstrações financeiras certificações e pareceres emitidos.
e das asserções (procedimentos de avaliação do
risco); A DRA 310 revela ainda nesse sentido que:

• Para testar a eficácia operacional aos controlos O revisor/auditor faz julgamentos acerca de muitas
e prevenir ou detectar e corrigir distorções mate- matérias no decurso da revisão/auditoria, para os
riais a nível das asserções (testes aos controlos); quais o conhecimento do negócio é importante. Por
exemplo: (…) Apreciar a prova de revisão/auditoria
• Para detectar distorções ao nível das asserções com o fim de estabelecer a sua adequação e a vali-
(procedimentos substantivos), os quais incluem: dade das respectivas asserções contidas nas DF.

• testes de detalhes de classes de transacções, sal- Por isso, já na fase do planeamento, deverá o auditor
dos de contas e divulgações; e fixar uma estratégia global que abranja o âmbito, a

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tempestividade e a direcção da auditoria, por forma uma das áreas objecto de estudo, embora um mesmo
a servir de guia ao desenvolvimento de um plano de procedimento possa servir para comprovar mais do que
auditoria mais detalhado. A DRA 510 estabelece que uma asserção. Relacionado com este último ponto em
o auditor/revisor deve organizar um processo contendo particular, cabe referir que o auditor poderá colocar-
toda a documentação que adequadamente suporte a se em situação de desacordo com o órgão de gestão
sua opinião16. Tal documentação resulta da realização da entidade relativamente, entre outros, às asserções
de testes de auditoria e de procedimentos alternati- incluídas nas DF. Assim, e conforme expresso na DRA
vos e inclui, para além das demonstrações financeiras 700, quando se revelarem profundos e significativos os
objecto de revisão/exame, a prova das informações efeitos desse desacordo, de tal modo que as DF possam
orais e escritas obtidas de terceiros. A prova de revi- induzir em erro os seus utilizadores, o revisor/auditor
são/auditoria deverá ser obtida pelo revisor/auditor deverá emitir uma opinião adversa.
para cada uma das asserções a serem testadas em cada

Figura 4: A prova em auditoria e a consideração sobre as asserções.

Foram obtidas todas as provas de revisão/auditoria julgadas necessárias?

Desacordo quanto às asserções contidas nas DF (imagem verdadeira e apropriada posta em causa).

É o efeito do desacordo de tal modo significativo ou influente nas DF que estas, no seu todo, estão erradas ?

NÃO SIM

Opinião com reservas por desacordo Opinião adversa

Fonte: Elaboração própria.


Adaptado da DRA 700.

Assim vê-se que, em auditoria, o suporte da opinião seu conjunto informativo possa “convencer” o próprio
revela-se de extrema importância, uma vez que é por auditor da validade de sua opinião.
esta via que o auditor suporta, ele próprio, o seu tra-
balho. Pela sua importância, a obtenção de provas A relação entre as asserções subjacentes às DF e a
deve ser razoavelmente credível, de tal forma que o prova de auditoria conforma-se de variados modos.
Assim, casos há em que uma única prova é válida para

16 Conceito de papéis de trabalho, expressa no normativo nacional na DRA 230. A referida directriz estabelece que tal documentação tem como finalidade, além
de outras ali prescritas:
(...) c) registar a prova de revisão/auditoria resultante dos trabalhos executados com vista a servir de suporte à opinião e a comprovar que tais trabalhos
foram realizados de acordo com as Normas Técnicas e Directrizes Técnicas de Revisão/Auditoria.
Na sequência, encontramos que o revisor/auditor deve deixar registado nos seus papéis de trabalho informação que abranja o planeamento, natureza, extensão
e data dos procedimentos executados, os resultados e conclusões extraídos a partir da análise dos mesmos. Citamos a declaração do órgão de gestão como
exemplo de um documento que integra o conceito de papéis de trabalho e que, de acordo com a DRA 580, deve “(...) ser arquivada junto aos demais papéis
do exercício como uma das evidências do trabalho realizado.”
Em termos internacionais, encontramos conceito similar na ISA 230.

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confirmar uma asserção. Por exemplo, socorrendo-se duas asserções relativas ao saldo da respectiva conta à
da inspecção física às mercadorias como procedimento, data do balanço, e que são: a da existência desse saldo
a partir da prova então obtida o auditor poderá com- a 31 de Dezembro do ano X0 (supondo ser essa a data
provar a asserção da existência relativa ao saldo da de fecho do exercício, claro está) bem como a asserção
respectiva conta à data de balanço, não comprovando, relativa a sua valorização e imputação.
porém, a asserção da sua valorização e imputação.
Outras situações há em que a obtenção de uma prova 3. O caso específico das vendas e dívidas a receber
confirma simultaneamente duas asserções, como a Conforme mencionamos em pontos anteriores, a prova
seguir se exemplifica. Ora, obtendo o auditor a prova em auditoria deverá ser obtida pelo auditor/revisor
de que um determinado cliente pagou, em Janeiro para cada uma das asserções subjacentes às várias
do ano X1, e na totalidade, o saldo registado em sua áreas componentes do ciclo empresarial.
conta corrente no final do periodo imediatamente
anterior, poderá, baseado nessa única prova, confirmar

Figura 5: Ciclos da auditoria.

Financiamento Pessoal
Acréscimos, Interno e Externo e Respectivos
Diferimentos Encargos
e Provisões a Pagar

Imobilizações,
Investimentos OS CICLOS DA AUDITORIA Depreciações
Financeiros e Imparidade

Compras
Disponibilidades e Dívidas
Existências e a Pagar
Vendas Custo das Exist.
e Dívidas Vendidas e
a Receber Consumidas

Fonte: Costa, B. (2008)

Os objectivos da auditoria relacionados com as vendas último ponto do trabalho um quadro onde sintetica-
e dívidas a receber17 compreendem, em termos breves, mente se apresenta de que modo o auditor/revisor
a necessidade de obter prova apropriada e suficiente poderá, no processo de obtenção de prova, valer-se
que permita ao auditor emitir uma opinião acerca das das asserções da gestão como ponto de partida para os
asserções relativas a classes de transacções e acon- objectivos de auditoria relacionados com cada um dos
tecimentos durante o período e relativas a saldos de ciclos20 (no caso presente, ao ciclo das vendas e dívidas
contas à data do balanço18. Assim, divulgamos19 neste a receber).

17 Para atingir os objectivos propostos, o auditor emprega uma combinação de testes aos controlos e procedimentos substantivos.
18 Cosserat (2004) a nosso ver entende que a componente “apresentação e divulgação”, ao contrário do que prescreve a ISA 500, não é um dos grupos em que
se dividem as asserções, e sim apenas mais uma asserção contida simultaneamente em cada um dos dois outros grupos: asserções relativas a classes de tran-
sacções durante o período e asserções relativas a saldos de contas à data do balanço.
19 Fazemos uso, aqui, de um trabalho de Cosserat (2004), por nós traduzido, bastante elucidativo e concernente com os nossos propósitos.
20 A ideia de uma visão em ciclo, ainda que na prática só muito raramente uma auditoria assim se concretize, tem a nosso ver um efeito didático digno de
relevo, também destacado por Costa, B. (2008). Por outro lado, tem ainda subjacente a ideia de uma empresa em seu primeiro ano de actividade, e por isso
apresentar o ciclo de financiamento como o primeiro ciclo.

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Quadro 3: Auditoria ao ciclo das vendas e dívidas a receber. Fonte: Cosserat (2004).

Asserções relacionadas com classes de transacções relacionadas com os saldos de


e acontecimentos durante o período contas à data do balanço

Existência/ As vendas registadas respeitam a bens ou serviços efectivamente O saldo devedor na conta de
Ocorrencia ocorridos no período. Os recebimentos registados são, de facto, clientes à data do balanço diz
recebimentos de clientes do período. As deduções às vendas respei- respeito a valores a receber de
tam a descontos devidamente autorizados, devoluções de clientes e terceiros relativos às vendas
outros créditos correctamente processados no período.

Plenitude Todas as vendas, deduções às vendas e recebimentos ocorridos no Todos os valores a receber rela-
período foram registados. tivos às vendas estão incluídos
no saldo devedor da conta de
clientes à data do balanço.

Direitos e Como resultado das vendas registadas no período, os saldos deve- O saldo devedor à data do
obrigações dores nas contas de clientes e caixa ou bancos constantes do balanço representa direitos
balanço são representativos de bens e direitos da entidade sobre legais da entidade sobre clientes,
terceiros. traduzindo-se em recebimento
futuro.

Quadro 3 (cont.): Auditoria ao ciclo de vendas e dívidas a receber. Fonte: Cosserat (2004).

Asserções relacionadas com classes de transacções relacionadas com os saldos de con-


e acontecimentos durante o período tas à data do balanço

Exactidão, Todas as vendas, recebimentos de clientes e deduções às ven- O saldo total registado na conta de
classificação e das efectuadas durante o período estão devidamente valoriza- clientes corresponde ao valor bruto
valorização dos e reconhecidos nas contas apropriadas. das vendas aos clientes à data de
balanço, e concordam com a soma
individual dos saldos das contas
dos vários clientes. Os ajustamentos
à conta de clientes efectuados no
período representam uma estimati-
va razoável das perdas esperadas.

Corte Todas as vendas, recebimentos de clientes e deduções às ven-


das foram reconhecidos no período contabilístico correcto.

Apresentação As vendas, os recebimentos de clientes e as deduções às vendas Os saldos devedores relativos


e divulgação estão apresentados de forma apropriada nas DF. As divulgações aos clientes estão identificados e
foram devidamente efectuadas. classificados de forma apropriada
no balanço. As divulgações foram
devidamente efectuadas.

ABR/JUN 2008 REVISORES AUDITORES 37

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Auditoria

Considerações Finais ao ponto de reduzirem-se, tanto quanto possível, a


Este trabalho tencionou divulgar e discutir a dupla existência de situações esclarecidas fundamentalmente
importância do conceito de prova em auditoria: quer com base no julgamento profissional sem sustentabili-
na condução do processo de validação das asserções dade física (aqui entendida em sentido lato).
contidas nas DF – e bem assim no processo global
da auditoria – quer como suporte da própria opinião Sendo certo que a responsabilidade pelas asserções
emitida pelo auditor. contidas nas DF é atribuída aos órgãos de gestão,
o auditor será, contudo, o responsável último pela
Uma vez reconhecido que os vários constrangimentos determinação da prova que devidamente apoie a sua
inerentes aos trabalhos de auditoria limitam a quanti- opinião e o julgamento profissional. As diferenças de
dade e qualidade da prova a obter, ponto assente é que expectativas encontram por isso, também aqui, a sua
a opinião do auditor será também baseada em julga- existência, havendo a partir do estudo da relação entre
mentos e probabilidades sobre os factos e circunstân- tais responsabilidades, e a sua segregação, a possibili-
cias levantados. A consideração das provas que tornam dade de serem convenientemente minimizadas.
credíveis a opinião do auditor devem ser relevadas
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38 REVISORES AUDITORES ABR/JUN 2008

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Joana Moniz Fiscalidade

As Mais-Valias e Menos-Valias
de Partes Sociais em sede de IRC
1.1. Introdução Por se tratar de uma matéria tão frequente na vida
Com a apresentação deste tema pretendemos estudar das sociedades, tão relevante e que exige especial aten-
e sistematizar a diversidade de situações fiscais exis- ção pelas diferentes regras fiscais a que está sujeita,
tentes relacionadas com mais-valias e menos valias em importa ponderar sobre a mesma já que, como vere-
sede de IRC. mos, diferentes opções conduzem ao apuramento de
resultados tão divergentes.

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Fiscalidade

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Ao abordar alguns regimes específicos, tação os ganhos gerados com a inflação,
?????????????????????????? nomeadamente o das acções e quotas sujeitando a IRC apenas a parte que não
próprias, das Sociedades Gestoras de seja atribuída a esse efeito.
?????????????????????????? Participações Sociais, das Sociedades
de Capital de Risco, dos Fundos de O coeficiente é anualmente publicado
???????????? Investimento, das fusões, das cisões, das através de uma portaria do Ministério
entradas de activos, da permuta de par- das Finanças. Para alienações ocorridas
tes sociais e, finalmente, da liquidação durante 2008, aplica-se a Portaria n.º
e partilha de sociedades, não temos por 362/2008, de 13 de Maio.
objectivo tratar tais temáticas de per si
de forma aprofundada, mas apenas e tão Menos-valias
só na exacta medida em que estão relacio- O artigo 42º do CIRC estabelece que a
nados com o tema em análise. diferença negativa entre as mais-valias
e as menos-valias realizadas mediante a
1.2. Enquadramento Geral transmissão onerosa de partes de capi-
O Código do IRC dispõe que são con- tal, incluindo a sua remição e amortiza-
sideradas mais-valias ou menos-valias ção com redução de capital, bem como
realizadas, os ganhos obtidos ou as perdas outras perdas ou variações patrimoniais
sofridas relativamente a elementos do negativas relativas a partes de capital,
activo imobilizado mediante transmis- concorrem para a formação do lucro
são onerosa, qualquer que seja o título tributável em apenas metade do seu
por que se opere. [N.º 1 do Artigo 43.º valor.
do CIRC].
Complementarmente, os n.ºs 5 a 7 do
As mais-valias e as menos-valias são artigo 23º do CIRC determinam que
dadas pela diferença entre o valor de não são aceites como custo fiscal, as
realização, líquido dos encargos que lhe menos-valias realizadas com a transmis-
sejam inerentes, e o valor de aquisição são onerosa de partes de capital quando
[N.º 2 do Artigo 43.º do CIRC]. detidas pelo alienante por período inferior
a três anos e tenham sido adquiridas a
O valor de realização é definido no n.º 3 determinadas entidades específicas.
do artigo 43º do CIRC.
A referida exclusão como custos do exercí-
Coeficiente de actualização mone- cio verifica-se ainda, sempre que:
tária
a entidade alienante tenha resultado

O artigo 44º do CIRC prevê a aplicação de de transformação, incluindo a modifi-


um coeficiente de actualização monetária cação do objecto social, de sociedade
aquando do apuramento das mais-valias à qual fosse aplicável regime fiscal
e menos-valias geradas pela alienação de diverso relativamente a estes custos
partes de capital, detidas há mais de ou perdas e tenham decorrido menos
dois anos, de forma a excluir da tribu-

40 REVISORES AUDITORES ABR/JUN 2008

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Joana Moniz Fiscalidade

de três anos entre a data da verificação desse facto valor de aquisição não inferior a 20.000.000€,
e a data da transmissão. devendo as partes de capital e os títulos do Estado
Português adquiridos ser detidos por igual perío-
A
• s partes de capital sejam alienadas a entidades do;
com as quais existam relações especiais, ou a enti-
dades com domicílio em país, território ou região Quer isto significar que, se a sociedade alienante trans-
com regime de tributação claramente mais favo- mitir uma parte de capital representativa de 10% do
rável, constante de lista aprovada por portaria do capital social de uma sociedade com o capital social de
Ministro das Finanças, ou entidades residentes em 5.000€ o regime é aplicável, tal como o será no caso de
território português sujeitas a um regime especial o alienante transmitir uma parte de capital represen-
de tributação. tativa de 1% do capital social de uma outra sociedade,
mas que tenha sido adquirida por 21.000.000 €.
Mais-Valias e Menos-Valias
Potenciais ou Latentes O referido artigo estabelece ainda que as transmissões
onerosas e aquisições de partes de capital não podem
De acordo com os artigos 21º e 24º do CIRC as mais- ser efectuadas com entidades:
valias e menos-valias potenciais ou latentes, ainda que
expressas na contabilidade, não concorrem para a residentes de país, território ou região cujo regime


formação do lucro tributável, devendo ser acrescidas de tributação se mostre claramente mais favorá-
ou deduzidas ao resultado contabilístico para apura- vel, constante de lista aprovada por portaria do
mento do lucro tributável. Ministro das Finanças1; ou

1.3. Atenuação da Tributação - Regime Actual •com as quais existam relações especiais, excepto

do Reinvestimento quando se destinem à realização de capital social,
A regra geral é a de que o saldo positivo entre as caso em que o reinvestimento considerar-se-á total-
mais-valias e as menos-valias de participações sociais, mente concretizado quando o valor das participa-
quando obtidas por sujeitos passivos de IRC, con- ções sociais assim realizadas não seja inferior ao
correm para a formação do lucro tributável na sua valor de mercado daquelas transmissões.
totalidade.
Não estando reunidos todos estes requisitos, que são
Contudo, havendo reinvestimento, as mais-valias cumulativos, o saldo positivo entre as mais-valias e
serão apenas consideradas em metade do seu menos-valias obtidas concorre, na sua totalidade, para
valor. a formação do lucro tributável.

Para tal, o n.º 4 do artigo 45º do CIRC estabelece as O reinvestimento pode ocorrer no exercício ante-
condições que tornam possível a aplicação do regime rior ao da obtenção das mais-valias, no próprio exercí-
do reinvestimento, nomeadamente: cio ou até ao fim do segundo exercício seguinte.

a totalidade do valor de realização deve ser



• O reinvestimento não sendo concretizado, total ou
reinvestido, total ou parcialmente, na aquisição parcialmente, até ao fim do segundo exercício seguinte
de participações no capital de sociedades comer- ao da alienação, considera-se como proveito ou ganho
ciais ou civis sob forma comercial ou em títulos desse exercício, respectivamente, a diferença ou a parte
do Estado Português ou na aquisição, fabricação proporcional da diferença não incluída no lucro tribu-
ou construção de elementos do activo imobilizado tável, majorada em 15%.
corpóreo afectos à exploração;
É igualmente aplicável a majoração de 15% caso as
as participações de capital alienadas devem ter

• participações em que se concretizou o reinvestimento
sido detidas por período não inferior a um não se mantenham na titularidade do adquirente
ano e corresponder a, pelo menos, 10% do por um ano, excepto se a transmissão ocorrer no
capital social da sociedade participada ou ter um âmbito de uma operação de fusão, cisão, entrada de

1 Portaria n.º 150/2004, de 13 de Fevereiro.

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Fiscalidade

activos ou permuta de acções a que se aplique o regime No caso das participações de capital adquiridas por
previsto no artigo 68º do CIRC. incorporação de reservas, a titularidade é igualmente
reportada à data daquelas que lhe deram origem.
1.4. REGIME TRANSITÓRIO APLICÁVEL ÀS PARTES DE CAPITAL
ADQUIRIDAS ANTES DE 1989 O mesmo acontece nos casos de transformação de
O artigo 18º-A do Decreto-Lei n.º 442-B/88, de 30 de sociedades, em que a data de aquisição é a data de
Novembro, que aprova o CIRC, estabelece que se a aquisição das participações que lhe deram origem [n.º
titularidade das partes de capital for anterior 4 do artigo 66º do CIRC].
à entrada em vigor do CIRC (01.01.1989) as
mais-valias e menos-valias realizadas com a respectiva Exemplo – Reinvestimento
transmissão onerosa não concorrem para a formação A empresa YYY detentora da um carteira de partici-
do lucro tributável. pações decide, em 2007, alienar todas as participações
que detinha pelos valores a seguir indicados:
Para o efeito, considera-se como data de aquisição
das partes de capital a data da aquisição dos valo-
res mobiliários que lhes deram origem, sempre que a
propriedade tenha sido adquirida pelo sujeito passivo
através de um processo de cisão, fusão e permuta de
partes sociais.

Coef. de Valor
Data Valor Valor de
% actualização da Aquisição Resultado Fiscal
Aquis. Aquisição Venda moeda Actualizado
Soc. Alfa Lda. 70 1980 7.000 70.000 9,33 65.310 4.690
Soc. Beta S.A. 15 2000 15.000 25.000 1,22 18.300 7.700
Soc. Gama S.A 5 2001 15.000 20.000 1,14 17.100 2.900

A participação adquirida antes de 1989 está, desde dade e eventualmente corrigidas nos termos do CIRC
logo, excluída de tributação, pelo que não entra no [n.º 1 do artigo 17.º do CIRC].
somatório das mais-valias realizadas no ano.
Por outro lado, a alínea a) do n.º 3 do artigo 17º do
Quanto às restantes participações, verifica-se um saldo CIRC estabelece que a contabilidade deverá estar
positivo de 10.600€. Caso haja intenção de reinvestir organizada de acordo com a normalização contabilísti-
poderá ser considerado apenas 50% do valor apurado, ca e outras disposições legais em vigor para o respec-
existindo, no entanto, determinadas condições que tivo sector de actividade, sem prejuízo da observância
devem ser cumpridas. Ora, conforme já referido, uma das disposições previstas no CIRC.
das condições é a participação alienada corresponder a
pelo menos 10% do capital da sociedade a que respeita Destes normativos concluímos o quão importante é o
ou a 20.000.000€, o que não se verifica no caso da resultado contabilístico para o apuramento do lucro
Sociedade Gama. tributável do IRC. O resultado líquido do exercício é o
ponto de partida para o cálculo do lucro tributável.
Assim sendo, se se optar pelo reinvestimento de
7.700€, será sujeito a tributação no ano da venda o No Quadro 07 da Modelo 22 – Declaração de
montante de 6.750€ (3.850€ + 2.900€). Rendimentos, a primeira linha refere-se ao resultado
líquido do exercício e as seguintes reflectem a neces-
1.5. Do Resultado Contabilístico ao Resultado Fiscal sidade de expurgar do resultado líquido do exercício
O CIRC determina que o lucro tributável é constituído as mais ou menos-valias contabilísticas e de incluir as
pela soma algébrica do resultado líquido do exercício e mais ou menos-valias fiscais, nas condições referidas
das variações patrimoniais positivas e negativas veri- nos capítulos anteriores.
ficadas no mesmo período e não reflectidas naquele
resultado, determinadas com base na contabili-

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Joana Moniz Fiscalidade

Quadro 07 da
Operação
Declaração Modelo 22
1. MvC (conta 794) Δ– no campo 229

2. mvc (conta 694) Δ+ no campo 215

3. mvf Δ– no campo 230 de 50% mvf

4. MvF
Δ+ no campo 216 de 100% Mvf
4.1 Sem intenção de reinvestir
Δ+ no campo 274 de 50% Mvf
4.2.Com intenção de reinvestir

Existindo a intenção de reinvestir, há que deduzir no 1.6. O Momento da Realização de Mais-Valias e Menos-Valias
Quadro 07 do Modelo 22 do exercício em que se mani- Não é indiferente, para uma empresa, o momento em
festa a intenção de reinvestimento, o saldo positivo que se realizam des-investimento e re-investimentos de
entre as mais-valias e as menos-valias contabilísticas partes sociais.
obtidas e acrescer metade das mais-valias fiscais apu-
radas. As decisões de investimento não devem ser tomadas
isoladamente, mas antes incluídas numa gestão fiscal
Se até ao segundo ano após a alienação, não for rein- que passe pela análise do diferimento ou da antecipa-
vestida a totalidade do valor de realização, terá de se ção da realização de mais-valias e menos-valias e suas
acrescer a parte proporcional da diferença não incluída implicações em termos de imposto a pagar.
no lucro tributável do ano de realização, majorada em
15%.

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Fiscalidade

Exemplo- O Momento da Alienação


No exemplo que se segue, não teremos em consideração
o efeito da aplicação do coeficiente de actualização
monetária e será considerada uma taxa de tributação
de 26,5% (IRC + derrama).

A Empresa XYZ, S.A. detém a seguinte carteira de


acções:

Empresa Aquisição
Ano Valor
AAA 2000 250.000 €
BBB 2002 400.000 €

Hipótese 1.1) Venda das participações em anos diferentes sem


reinvestimento

Aquisição Venda
Mais/Menos valia
Empresa
do ano correspondente
Ano Valor Ano Valor

AAA 2000 250.000 € 2006 400.000 € 150.000 €


BBB 2002 400.000 € 2007 300.000 € (100.000) €

Em 2006, acresce ao Resultado tributável 100% da Logo, o somatório dos dois anos consecutivos resulta
mais-valia já que não pretende reinvestir. Em 2007, no seguinte:
deduz apenas metade da menos-valia.
Mais-valia em 2006 75.000
Logo, o somatório dos dois anos consecutivos resulta
no seguinte: Menos-valia em 2007 (50.000)

Mais-valia em 2006 150.000 Efeito fiscal 25.000

Menos-valia em 2007 (50.000) x 26,5 %

Efeito fiscal 100.000 IRC 6.625

x 26,5 %

IRC 26.500

Hipótese 1.2) Venda das participações em anos diferentes com


reinvestimento
Em 2006, acresce 50% da mais-valia já que se preten-
de reinvestir. Em 2007, deduz ao resultado tributável
apenas metade da menos-valia.

44 REVISORES AUDITORES ABR/JUN 2008

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Joana Moniz Fiscalidade

Hipótese 2.1) Venda das duas participações no mesmo ano


sem reinvestimento

Aquisição Venda Mais/Menos valia


Empresa do ano corres-
Ano Valor Ano Valor pondente

A. 2000 250.000 € 2007 400.000 € 150.000 €


B 2002 400.000 € 2007 300.000 € (100.000 €)
Efeito fiscal 50.000 €
x 26,5 %
IRC 13.250 €

Hipótese 2.2) Venda das duas participações no mesmo


ano com reinvestimento

Aquisição Venda Mais/Menos valia do


Empresa
Ano Valor Ano Valor ano correspondente

A. 2000 250.000 € 2007 400.000 € 150.000 €


B 2002 400.000 € 2007 300.000 € (100.000 €)
Soma positiva 50.000 €
Efeito fiscal (50% mais-valias) 25.000 €
x 26,5 %
IRC 6.625 €

Resumo dos Resultados obtidos 1.7. Mais-Valias Realizadas por Sujeitos Passivos Não
Residentes
Situação Resultado Fiscal
Segundo o artigo 4º do CIRC as pessoas colectivas e
1.1 Venda em anos diferentes 26.500 outras entidades que não tenham sede nem direcção
sem reinvestimento efectiva em território português ficam sujeitas a IRC
1.2 Venda em anos diferentes 6.625 quanto aos rendimentos nele obtidos.
com reinvestimento
2.1 Venda no mesmo ano sem 13.250 Consideram-se obtidos em território português os
reinvestimento ganhos resultantes da transmissão onerosa de partes
2.2 Venda no mesmo ano com 6.625 representativas do capital de entidades com sede ou
reinvestimento direcção efectiva em território português, incluindo
a sua remição e amortização com redução de capital
Como se pode verificar, caso não seja para reinvestir, é e, bem assim, o valor atribuído aos associados em
prejudicial a hipótese de alienação em anos diferentes. resultado da partilha que, nos termos do artigo 75º
Isto porque, uma menos-valia gerada separadamente do Código do IRC seja considerado como mais-valia
apenas contribui em metade para uma redução do resul- [Alínea b) do número 3 do artigo 4.º do CIRC].
tado fiscal, enquanto que uma menos-valia apurada num
ano em que também se geram mais-valias contribui na As entidades que não tenham sede nem direcção
sua totalidade para a redução do lucro. efectiva em território português e neste obtenham
rendimentos não imputáveis a estabelecimento estável
Verificando-se a opção pelo reinvestimento, os resul- aí situado são obrigadas a apresentar a declaração
tados obtidos são iguais. Há que ter em atenção que, de rendimentos Modelo 22 [N.º 4 do art. 112º. do
uma vez que os resultados são os mesmos em ambas as CIRC].
hipóteses, alienar em anos diferentes permitirá que o
reinvestimento possa ser mais disperso no tempo. Não tendo sede nem direcção efectiva em território
português, nem estabelecimento estável mas nele obte-

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Fiscalidade

nham rendimentos, são obrigadas a designar um repre- sócios, devendo a contabilidade retratar tais situações
sentante legal com residência, sede ou direcção em pela via da redução dos capitais próprios e não como
Portugal para as representar perante a administração simples factos permutativos, de substituição de um
fiscal quanto às suas obrigações referentes a IRC. activo (disponibilidade ou créditos) por outro activo
(imobilizações financeiras)”.
Segundo o artigo 123º do CIRC não podem realizar‑se
transferências para o estrangeiro de rendimentos A movimentação destas contas obedece às regras con-
sujeitos a IRC, obtidos em território português por tidas na correspondente nota explicativa do POC.
entidades não residentes, sem que se mostre pago ou
assegurado o imposto que for devido. De tudo o que foi dito, concluímos que, no caso de alie-
nação de quotas ou acções próprias, não será gerada
Ficam isentas de IRC os rendimentos obtidos com qualquer mais-valia ou menos-valia, mas antes varia-
a transmissão onerosa de partes sociais, emitidas por ções patrimoniais positivas ou negativas.
entidades residentes em território português e negocia-
dos em mercados regulamentados de bolsa. [Art. 2.2. Liquidação e Partilha de Sociedades
26.º do EBF]. Com a dissolução de uma sociedade termina a prosse-
cução do objecto social e dá-se início à fase de liqui-
A referida isenção não se aplica: dação.

a) a entidades residentes e sem estabelecimento A liquidação consiste no conjunto de actos realizados


estável em território português que sejam detidas, com vista à satisfação dos direitos de terceiros e a rea-
directa ou indirectamente, em mais de 25%, por lização de activos com vista à repartição pelos sócios
entidades residentes; do conjunto de valores a partilhar.

b) a entidades não residentes e sem estabelecimento O artigo 75º do CIRC define a natureza dos rendimen-
estável em território português que sejam domici- tos gerados numa operação de partilha, estabelecendo
liadas em país, território ou região, sujeitas a um que é englobado para efeitos de tributação dos sócios,
regime fiscal claramente mais favorável, constan- no exercício em que for posto à sua disposição, o valor
te de lista aprovada por portaria do Ministro das que for atribuído a cada um deles em resultado da
Finanças; partilha, abatido do preço de aquisição das correspon-
dentes partes sociais.
d) à s mais-valias realizadas por entidades não resi-
dentes, com a transmissão onerosa de partes Nestes termos, deve comparar-se o valor recebido com
sociais em sociedades residentes em território o valor pelo qual foram adquiridas as partes sociais
português cujo activo seja constituído, em mais sendo a diferença [n.º 2 do artigo 75º do CIRC]:
de 50%, por bens imobiliários aí situados.
- s e positiva, considerada como rendimento de apli-
2. Alguns Regimes Específicos cação de capitais até ao limite da diferença entre
o valor que for atribuído e o que, face à conta-
2.1. Acções e Quotas Próprias bilidade da sociedade liquidada, corresponda a
Até à entrada em vigor do POC, aprovado pelo entradas efectivamente verificadas para realização
Decreto-Lei 410/89, de 21 de Novembro, as acções do capital, tendo o eventual excesso a natureza de
e quotas próprias eram tratadas, pela contabilidade, mais‑valia tributável;
da mesma forma que as acções e quotas em outras
empresas. Com as alterações introduzidas pelo referido - s e negativa, considerada como menos-valia, sendo
diploma, as acções e quotas próprias passam a estar dedutível apenas quando as partes sociais tenham
incluídas nos capitais próprios, com sinal negativo. permanecido na titularidade do sujeito passivo
durante os três anos imediatamente anteriores à
Conforme refere Pinheiro Pinto (2005:27) “efectivamen- data da dissolução, e pelo montante que exceder
te, na maioria das situações em que existem quotas ou os prejuízos fiscais transmitidos no âmbito da apli-
acções próprias, o facto resultou de uma transferência cação do regime especial de tributação dos grupos
de capitais próprios da sociedade para os respectivos de sociedades e desde que a entidade liquidada não

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seja residente em país, território ou região com custo de aquisição das partes sociais, nem é aplicável
regime fiscal claramente mais favorável que conste o regime do reinvestimento previsto no artigo 45º do
de lista aprovada por portaria do Ministro das CIRC, já que tal operação não se encontrará abrangi-
Finanças. da pelas disposições dos artigos 43º a 45º do mesmo
diploma.
Existindo mais valia, a mesma será tributada conforme
vimos à taxa de 10%. De facto, o n.º 1 do artigo 43º estabelece como
mais‑valias ou menos-valias realizadas os ganhos
A expressão “entradas efectivamente verificadas para obtidos ou as perdas sofridas mediante transmissão
realização do capital” refere-se ao valor corresponden- onerosa.
tes às entradas dos sócios no capital da sociedade,
que não incluem os eventuais aumentos de capital por Da mesma forma, não se aplicará o regime previsto
incorporação de reservas. no artigo 18º-A do Decreto-Lei n.º 442-B/88, de 30
de Novembro, na medida em que o mesmo refere que
Quadro Resumo não concorrem para a formação do lucro tributável os
ganhos ou perdas realizados por sujeitos passivos de
(V. Partilha – V. Aquisição) IRC com a transmissão de acções ou partes sociais
cuja aquisição tenha ocorrido antes da entrada em
>0 vigor do Código do IRC, não fazendo menção à extin-
ção de partes sociais.
(V. Partilha – V. Entradas) = Rend. Capitais
Pessoas Singulares
(V. Entradas – V. Aquisição ) = Rend. Mais-valias
Caso o participante da sociedade liquidada seja uma
<0 pessoa singular, a diferença considerada como
mais‑valias ou menos-valias encontra-se tipificada no
n.º 1 do artigo 10º do CIRS, sendo que, o saldo apu-
=> Menos-valia dedutível se a participação estiver na posse
do titular há mais de 3 anos rado:

Pessoas Colectivas • se positivo é tributado à taxa de 10% [n.º 4 do


Em sede de IRC, e de acordo com o Despacho de artigo 72º do CIRS];
13/03/2007 do Director Geral dos Impostos, no cálculo • 
se negativo pode ser reportado para os dois anos
das mais-valias e menos-valias resultantes da operação seguintes, aos rendimentos com a mesma natureza,
de partilha não há lugar à correcção monetária do

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Fiscalidade

quando o sujeito passivo opte pelo englobamento O regime aplicável aos sócios das sociedades fundidas
[n.º 6 do artigo 55º do CIRS]. ou cindidas está previsto no artigo 70º do CIRC, o
qual estabelece que, na esfera dos sócios, não há
Ao contrário do que acontece em IRC, e de acordo lugar ao apuramento de ganhos ou perdas para efeitos
com o artigo 5º do Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de fiscais em consequência da operação, desde que, nas
Novembro, os ganhos que não eram sujeitos ao imposto suas contabilidades, seja mantido quanto às novas
de mais-valias, só ficam sujeitos a IRS se a aquisição participações sociais o valor pelo qual as antigas se
dos bens ou direitos a que respeitam tiver sido efectu- encontravam registadas.
ada depois da entrada em vigor do CIRS.
Assim, e no que respeita aos sócios das sociedades
A diferença considerada como rendimento de capitais intervenientes quando a sociedade que transmite se
será sujeita a retenção na fonte à taxa de 20%, no extingue, as participações são recebidas pelo valor das
momento de colocação à disposição do seu titular [alí- antigas; quando não se extingue, o regime é neutro,
nea c) do n.º 3 do artigo 71º do CIRS], podendo por mantendo-se o valor das participações.
opção ser englobada, sendo, neste caso, apenas consi-
derada em apenas 50% do seu valor [n.º 2 do artigo Aquando da alienação das participações adquiridas,
40-A.º do CIRS]. o valor será o existente na sociedade que lhes deu
origem.
2.3. Regime Especial das Fusões, Cisões, Entradas de Activos e
Permutas de Partes Sociais Entradas de Activos
De acordo com o n.º 5 do artigo 67º do CIRC consi-
Fusões e Cisões dera-se entrada de activos a operação pela qual uma
Verifica-se que, o legislador fiscal não pretende pena- sociedade (sociedade contribuidora) transfere, sem que
lizar operações de reorganização de empresas, desde seja dissolvida, o conjunto ou um ou mais ramos da
que as razões sejam economicamente válidas, pelo que sua actividade para outra sociedade (sociedade bene-
estabelece um regime de neutralidade fiscal sempre que ficiária), tendo como contrapartida partes do capital
se realizem fusões ou cisões. social da sociedade beneficiária.

Fusão é a operação pela qual se realiza a transferên- O tratamento fiscal a dar às entradas de activos é idên-
cia global do património de uma ou mais sociedades tico ao acima descrito para as fusões e cisões.
(sociedades fundidas) para outra sociedade já existente
ou a constituir (sociedade beneficiária) e a atribuição Permuta de Partes Sociais
aos sócios daquelas de partes representativas do capital No tocante à permuta de partes sociais, o n.º 5 do
social da beneficiária. artigo 67 do CIRC define-a como sendo:

Está-se perante uma cisão quando uma sociedade uma operação pela qual uma sociedade (sociedade


(sociedade cindida) destaca um ou mais ramos da sua adquirente) adquire uma participação no capital
actividade, para com eles constituir outras sociedades social de outra (sociedade adquirida), que tem por
(sociedades beneficiárias) ou para os fundir com socie- efeito conferir-lhe a maioria dos direitos de voto
dades já existentes, mediante a atribuição aos seus desta última; ou
sócios de partes representativas do capital social destas
últimas sociedades. uma operação pela qual uma sociedade, já deten-


tora de tal participação maioritária, adquire nova


O artigo 67º do Código do IRC prevê um regime de participação na sociedade adquirida, mediante
neutralidade aplicável às fusões e cisões de sociedades a atribuição aos sócios desta, em troca dos seus
residentes em território português, desde que obser- títulos, de partes representativas do capital social
vadas determinadas condições. Significa isto que, da primeira sociedade e, eventualmente, de uma
não há lugar, na esfera da sociedade incorporada, ao quantia em dinheiro não superior a 10% do valor
apuramento de quaisquer resultados por virtude da nominal ou, na falta de valor nominal, do valor
transmissão e, na determinação do lucro tributável da contabilístico equivalente ao nominal dos títulos
sociedade incorporante, tudo se passa como se houves- entregues em troca.
se continuidade na prossecução da actividade.

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O regime aplicável é idêntico ao anteriormente referi- 2.4. Regime Especial das Sociedade Gestoras de Participações
do para as fusões e cisões e está previsto no n.º 1 do Sociais e Sociedades de Capital de Risco
artigo 71º do CIRC que estabelece que a atribuição, Actualmente o EBF estabelece que as mais-valias e
em resultado de uma permuta de partes sociais, dos as menos-valias realizadas pelas SGPS e pelas SCR
títulos representativos do capital social da socieda- mediante a transmissão onerosa, qualquer que seja o
de adquirente aos sócios da sociedade adquirida não título por que se opere, de partes de capital de que
dá lugar a qualquer tributação destes últimos se os sejam titulares, desde que detidas por período não
mesmos continuarem a valorizar, para efeitos fiscais, inferior a um ano, e, bem assim os encargos financei-
as novas partes sociais pelo valor a que as antigas se ros suportados com a sua aquisição, não concorrem
encontravam registadas. para a formação do lucro tributável destas sociedades
[N.º 2 artigo 31º do EBF].

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O n.º 3 do artigo 31º do EBF, configurando uma norma 31.º do EBF, independentemente de se encontrarem já
antiabuso, estabelece algumas situações que é afastada reunidas todas as condições para a aplicação do regime
a aplicação do regime acima referido relativamente às especial de tributação das mais-valias. Caso se conclua,
mais e menos-valias de partes de capital detidas por no momento da alienação das participações, que não
um período inferior a três anos. se verificam todos os requisitos para aplicação daquele
regime, proceder-se-á, nesse exercício, à consideração
Não sendo as partes de capital detidas por período supe- como custo fiscal dos encargos financeiros que não foram
rior a um ano será aplicável o regime geral previsto nos considerados como custo em exercícios anteriores.
artigos 23º, 42º e 45º do CIRC.
2.5. Fundos de Investimento
Relativamente aos encargos financeiros suportados com O regime fiscal dos fundos de investimento está previsto
a aquisição de partes sociais, apenas no caso de a par- na alínea c) do n.º 1 do artigo 22º do EBF a qual esta-
ticipação ter sido detida por período inferior a 1 ano ou belece que, há lugar a tributação, autonomamente, nas
a 3 anos (nas circunstâncias descritas no n.º 3 do artigo mesmas condições em que se verificaria se desses rendi-
31º do EBF) é que estes concorrem para a formação do mentos fossem titulares pessoas singulares residentes em
lucro tributável. território português, pelo que:

A Circular n.º 7/2004, de 30 de Março, da Direcção dos − há lugar a tributação autónoma à taxa de 10% sobre a
Serviços do IRC, veio clarificar o tratamento a dar aos diferença positiva entre as mais-valias e as menos‑valias
encargos financeiros, dever-se-á proceder, no exercício obtidas em cada ano;
a que os mesmos disserem respeito, à correcção fiscal
dos que tiverem sido suportados com a aquisição de − encontram-se excluídas de tributação as mais-valias
participações que sejam susceptíveis de virem a bene- provenientes da alienação de acções detidas pelo fundo
ficiar do regime especial estabelecido no n.º 2 do art.º durante mais de 12 meses.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Borges, António; Cabrita, Pedro (2003), Mais e Menos Valias – Tributação e Reinvestimento, 3ª Edição, Áreas Editora.
Cabrita, Pedro, (2003), “O conceito contabilístico e fiscal de mais e menos-valias”, in Jornal de Contabilidade, n.º 314, Maio.
Ferreira, Tânia Almeida, (2002), “Regime das mais valias e do reinvestimento - IRC”, in Fiscalidade, Abril.
Luís F. Gonçalves Pinto, (2004), “O «Timing» e a gestão fiscal da realização de mais-valias em sede de IRC”, in Revista Ciência e
Técnica Fiscal, n.º 414, Julho/Dezembro.
Martins, Adelino, (2003), “Dissolução e liquidação de sociedades”, in Revista da CTOC, n.º 44, Novembro.
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Portuguese Journal of Management Studies, Volume V, n.º 1.
Moura, Joaquim Pina e Fernandes, Ricardo Sá (2000), A Reforma Fiscal Inadiável, Celta Editora, Oeiras.
Pinheiro Pinto, José Alberto (2003): Fiscalidade, 3ª Edição, Areal Editores.
Pinheiro Pinto, José Alberto (2005): Tratamento Contabilístico e Fiscal do Imobilizado, 1ª Edição, Areal Editores.
Silva, Artur Maria da, (2004), “Alguns aspectos da tributação das SGPS”, in Revista da CTOC n.º 48, de Março.
Silva, Joaquim Alexandre de Oliveira (2006): “IRC – Imposto sobre o rendimento das Pessoas Colectivas – 2005”, in Jornal de
Contabilidade, n.º 349, Abril.
Vasconcelos, André Alpoim (2003), “As SGPS e o imposto sobre o rendimento, in Revista da CTOC n.º 36, Março.
Legislação
Circular n.º 7/2004, de 30 de Março - Regime Fiscal das Sociedades Gestoras de Participações Sociais e Sociedades de Capital de Risco.
Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de Julho, aprova o Estatuto dos Benefícios Fiscais.
Decreto-Lei n.º 221/2001, de 7 de Agosto - Fusões, cisões e entradas de activos.
Decreto-Lei n.º 442-B/ 88, de 30 de Novembro, aprova o Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRC),
Lei n.º 53-A/2006, 29 de Dezembro, aprova o orçamento do Estado para 2007.
Lei nº 67-A/2007, 31 Dezembro, aprova o orçamento do Estado para 2008.
Sites consultados na Internet
* Ministério das Finanças - Direcção Geral dos Impostos: www.dgci.min-financas.pt
* PricewaterhouseCoopers: http://www.pwcglobal.com
* Diários da República: www.dre.pt
* Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias: http://publications.eu.int/index_pt.html
* Impostos Net: www.impostos.net
* Inforfisco: www.inforfisco.pt
* Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas: www.ctoc.p
* Ordem dos Revisores Oficiais de Contas: www.oroc.pt

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