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Básicas
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 2
Módulo 1 - Introdução
Olá!
Você observou com atenção a imagem da tela anterior? Pensou no que tem a ver com o
nosso curso?
Pois bem, ao pensarmos na elaboração de leis, podemos fazer uma analogia em que a
“construção” do prédio é o processo legislativo, em todas as suas fases até o “habite-
se” (promulgação da lei). Agora, quanto mais cuidadosa for feita a base, quanto mais
coerente e mais atenta às normas de elaboração, mais chance temos de que essa lei
perdure e alcance os objetivos de sua elaboração.
Assim, podemos abstrair que Técnica Legislativa é, de forma geral, o modo de elaborar
as leis tornando-as exequíveis e eficazes. É um processo complexo que exige o
conhecimento de normas específicas de redação de leis.
Já vimos que existe um conjunto de normas que disciplinam a criação de leis. Mas você já parou para
pensar para que elas existem?
Para ajudar sua reflexão, convidamos você a visitar o Flux - Para que existem as leis? criado pela
Escola da Câmara e que o ajudará a entender um pouco mais sobre esse assunto.
A sistematização das leis, ou seja, a forma como uma lei é organizada, observa uma hierarquia
básica:
1. Partes;
2. Livros;
3. Títulos;
4. Capítulos;
5. Seções;
6. Subseções; e
7. Artigos.
Percebeu que o parágrafo único do art. 59 determina que a “...elaboração, redação, alteração
e consolidação das leis...” será disposta em Lei Complementar? Essa lei é justamente a Lei
Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que iremos estudar ao longo desse curso.
Agora, vamos ver do que se trata cada uma das três partes que compõem a estrutura básica de uma
lei?
O Inciso I do art. 3° descreve que a parte preliminar será composta de: epígrafe, ementa,
preâmbulo, enunciado do objeto e âmbito de aplicação.
Art. 5º A ementa será grafada por meio de caracteres que a realcem e explicitará, de
modo conciso e sob a forma de título, o objeto da lei.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei
Complementar:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Aqui cabe uma observação importante: o artigo é a unidade básica para apresentação de
um assunto em um texto normativo, enquanto os parágrafos, de forma geral, explicam
ou modificam o disposto no artigo.
Os incisos desdobram o assunto que não pode ser condensado no próprio artigo e são
expressos em algarismo romano, enquanto as alíneas, indicadas por letras minúsculas
seguidas por parênteses, são o desdobramento dos incisos. E as alíneas podem ser
desdobradas em itens, os quais são representados por algarismos arábicos.
Art. 2º (VETADO).
§ 1º (VETADO)
Na reprodução acima do art. 7°, se observar, foi suprimido o inciso III, que diz o seguinte:
Abaixo, segue a reprodução do início da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que
ilustra um resumo dos elementos que compõem a parte preliminar de uma lei.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Preâmbulo
Complementar:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Enunciado do
Objeto
Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis
obedecerão ao disposto nesta Lei Complementar.
O Inciso II do art. 3° descreve que a parte normativa compreende o texto das normas
de conteúdo substantivo relacionadas com a matéria regulada.
Por fim, o inciso III do art. 3° descreve que a parte final compreende as medidas necessárias à
implementação das normas de conteúdo substantivo, as disposições transitórias, se for o caso, a
cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber. Com relação a esses elementos é
importante observar o que disciplinam os arts. 8° e 9°:
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo
razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em
vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período
de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. (Parágrafo acrescido
pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei
entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’. (Parágrafo
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 8
Como visto anteriormente, a unidade básica para apresentação de assuntos em um texto normativo
é o artigo. A primeira parte da Seção II trata justamente da articulação de uma lei, ou seja, de como
organizar a apresentação do texto normativo respeitando a hierarquia e a finalidade de cada um dos
elementos que a compõem:
Seção II
Da Articulação e da Redação das Leis
Art. 10. Os textos legais serão articulados com observância dos seguintes princípios:
I. a unidade básica de articulação será o artigo
artigo, indicado pela abreviatura “Art.”
“Art.”, seguida
de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste;
II. os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os
incisos em alíneas e as alíneas em itens;
III. os parágrafos serão representados pelo sinal gráfico “§”, seguido de numeração ordinal
até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a
expressão “parágrafo único” por extenso;
IV. os incisos serão representados por algarismos romanos, as alíneas por letras minúsculas
e os itens por algarismos arábicos;
V. o agrupamento de artigos poderá constituir Subseções; o de Subseções, a Seção; o de
Seções, o Capítulo; o de Capítulos, o Título; o de Títulos, o Livro e o de Livros, a Parte;
VI. os Capítulos, Títulos, Livros e Partes serão grafados em letras maiúsculas e identificados
por algarismos romanos, podendo estas últimas desdobrar-se em Parte Geral e Parte
Especial ou ser subdivididas em partes expressas em numeral ordinal, por extenso;
VII. as Subseções e Seções serão identificadas em algarismos romanos, grafadas em letras
minúsculas e postas em negrito ou caracteres que as coloquem em realce;
VIII. a composição prevista no inciso V poderá também compreender agrupamentos em
Disposições Preliminares, Gerais, Finais ou Transitórias, conforme necessário.
1. Partes;
2. Livros;
3. Títulos;
4. Capítulos;
5. Seções;
6. Subseções; e
7. Artigos.
Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica,
observadas, para esse propósito, as seguintes normas:
Ao redigir textos de projetos de lei, é importante observar o uso de algumas expressões que são
comumente utilizadas, mas não são recomendáveis, por se configurarem erros ou serem expressões
muito informais ou sem clareza.
◦ A NÍVEL – É igualmente desaconselhável o seu emprego, já que o termo “NÍVEL” nos dá a ideia
de “ponto atingido dentro de uma escala”. “A cidade está no nível do mar” quer dizer que a
cidade encontra-se situada aproximadamente à mesma altura do mar. Portanto, em lugar de
escrevermos: “Ações a nível nacional”, devemos adotar: “ações em âmbito nacional”.
◦ BEM ASSIM – Outra expressão de uso frequente, que não está prevista nos compêndios
gramaticais oficiais. Em seu lugar, sugerem-se “bem como”, sem medo de cacofonia.
◦ Emprego do modo subjuntivo - O modo indicativo, como regra geral, é usado nas
orações que indicam o fato real, o fato concreto; ao passo que o subjuntivo aponta para a
possibilidade, para a hipótese. No projeto de lei que regulamentava o funcionamento dos
partidos políticos, havia o seguinte dispositivo: “Art. 28 O Tribunal Superior Eleitoral, após
trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do partido contra
o qual fique provado:
........................................................................................
lV – “que mantenha organização paramilitar.”
O verbo manter, neste caso, não deveria estar flexionado no modo subjuntivo, pois se trata
de um fato concreto.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 11
• O verbo dispor na ementa - Quando usado em textos legais, o verbo dispor normalmente
assume o sentido de “tratar, discorrer, doutrinar”. Portanto, quando dizemos que uma lei
“dispõe sobre o Conselho Nacional dos Aeroviários” estamos informados que a lei dará um
conjunto de diretrizes sobre o Conselho; isto é: criação, forma de funcionamento, direção,
taxas, associação, enfim, tudo o que for possível determinar para o funcionamento do referido
Conselho. Entretanto, vez por outra, encontramos o verbo dispor empregado indevidamente
na ementa de projeto. Por exemplo, um projeto que revogava um determinado dispositivo do
Código Civil referente à tutela de menores de dezoito anos, em cuja ementa, figurava: “Dispõe
sobre a tutela de menores de dezoito anos”. Neste caso, o verbo dispor está indevidamente
empregado. A ementa em questão deveria ser: “Revoga dispositivo do Código Civil referente à
tutela de menores de dezoito anos.”.
É sobre isso que trata o art. 12 da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998: leis que
alteram leis que já estão em vigor, como veremos a seguir:
Temos na tela um exemplo prático de alteração no texto original da LC nº. 95, de 1998, feito pela LC
nº. 107, de 26 de abril de 2001, que traz:
As linhas pontilhadas são de extrema importância na montagem de projetos que pretendem alterar
leis em vigor. O seu uso indica a manutenção do dispositivo como ele se encontra, sem qualquer
modificação. Ou seja: apenas os dispositivos que se pretende alterar serão escritos com a nova
forma.
Já o “NR” expressa que o artigo com alteração de redação, supressão ou acréscimo no caput ou em
seus desdobramentos possui uma “nova redação” e deve ser identificado, somente ao final da última
unidade.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 12
III - nos demais casos, por meio de substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado, ou
acréscimo de dispositivo novo, observadas as seguintes regras:
a. (Revogada pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
b. é vedada, mesmo quando recomendável, qualquer renumeração de artigos e de unidades
superiores ao artigo, referidas no inciso V do art. 10, devendo ser utilizado o mesmo
número do artigo ou unidade imediatamente anterior, seguido de letras maiúsculas, em
ordem alfabética, tantas quantas forem suficientes para identificar os acréscimos; (Alínea
com redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
c. é vedado o aproveitamento do número de dispositivo revogado, vetado, declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou de execução suspensa pelo Senado
Federal em face de decisão do Supremo Tribunal Federal, devendo a lei alterada manter
essa indicação, seguida da expressão ‘revogado’, ‘vetado’, ‘declarado inconstitucional, em
controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal’, ou ‘execução suspensa pelo Senado
Federal, na forma do art. 52, X, da Constituição Federal’; (Alínea com redação dada pela Lei
Complementar nº 107, de 26/4/2001)
d. é admissível a reordenação interna das unidades em que se desdobra o artigo,
identificando-se o artigo assim modificado por alteração de redação, supressão ou
acréscimo com as letras ‘NR’ maiúsculas, entre parênteses, uma única vez ao seu final,
obedecidas, quando for o caso, as prescrições da alínea “c”. (Alínea com redação dada pela
Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
Parágrafo único. O termo ‘dispositivo’ mencionado nesta Lei refere-se a artigos, parágrafos,
incisos, alíneas ou itens. (Parágrafo acrescido pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
Aqui encerramos nossa jornada pelos principais artigos da Lei Complementar nº 95, de 26
de fevereiro de 1998 relacionados à redação e alteração de leis.
Esperamos que tenha sido um estímulo para que você Eleve seu conhecimento no
aprendizado da Técnica Legislativa.
Convidamos você a conhecer nosso canal no YouTube, onde poderá ter acesso a um rico
material que pode ajudar você nessa jornada:
Também não deixe de visitar o Portal da Educação para Democracia da Câmara dos
Deputados onde você encontrará experiências de aprendizagem que permitirão acesso a
conteúdo sobre política, cidadania, democracia e o papel do Poder Legislativo.
No próximo módulo, iremos dar mais algumas dicas para seguir seus estudos sobre
Técnica Legislativa.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 13
Chegamos ao final deste curso autoinstrucional de Técnica Legislativa que apresentou as noções
básicas sobre a elaboração, redação e alteração das leis.
Como dissemos, esse curso foi somente um passo inicial da jornada de desenvolvimento em Técnica
Legislativa, havendo muito o que ser conhecido e estudado ainda.
Nosso enfoque foi no estudo da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, alterada
pela Lei Complementar nº 107, de 26 de abril de 2001.
Assim, na elaboração ou alteração de uma lei, devemos seguir as regras e os princípios de técnica
legislativa nelas contidas juntamente com as normas cultas da língua portuguesa.
Mas aqui surge uma pergunta interessante: além da Lei Complementar nº 95, de 26 de
fevereiro de 1998, existe outro normativo que devemos observar?
Embora seja um Decreto a ser aplicado no âmbito do Poder Executivo, algumas das regras
novas de técnica legislativa apresentadas por esse Decreto, por praxe, foram adotadas
pelo Poder Legislativo.
Quer um exemplo? Quando afirmamos que, ao grafar datas, devemos empregar, por
exemplo, 4 de março de 1998 e não 04 de março de 1998 e 1º de maio de 1998 e não 01
de maio de 1998, estamos seguindo uma regra de técnica legislativa constante do Decreto
n° 9.191, de 2017, que também é adotada pelo Legislativo. E essa regra não consta da Lei
Complementar n° 95, de 1998.
Assim, atualmente, podemos dizer que as regras de técnica legislativa, no âmbito federal,
são as constantes da Lei Complementar n° 95, de 1998, e, subsidiariamente, as do Decreto
n° 9.191, de 2017.
Outro ponto relevante: é sabido que antes da Lei Complementar n° 95, de 1998, já existiam regras
de técnica legislativa que eram aplicadas na produção e na alteração de leis e que muitas não eram
escritas e sim fruto da tradição
Alguns estados e municípios adotaram regras de técnica legislativa, que, em sua grande totalidade,
têm a Lei Complementar n° 95, de 1998, como base. Mas, por exemplo, o estado de São Paulo e o
Distrito Federal já tinham suas regras de técnica legislativa antes da existência da Lei Complementar
n° 95, de 1998.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 14
Atualmente, será que ainda utilizamos regras de técnica legislativa que ainda não são escritas e sim
fruto da tradição?
A resposta é sim. São minoria, mas ainda continuam a pautando. Permanecem sendo observadas
regras de técnica legislativa que não constam da Lei Complementar n° 95, de 1998, nem do Decreto
n° 9.191, de 2017, ou de outro dispositivo legal, existindo apenas no campo da tradição. Um
exemplo de destaque é o emprego da linha pontilhada utilizada em alteração de dispositivos, que
inclusive mencionamos no decorrer do curso.
Um ponto a se destacar é que a lei deve ser sempre seguida, mesmo que tenha sido elaborada
sem observar estritamente o processo legislativo regular. Claro, que sempre há espaço para que ela
seja impugnada mediante decisão judicial, inclusive por não ter sido observado o devido processo
legislativo, mas, enquanto não for revogada ou sua aplicação não seja impugnada por decisão
judicial, tem eficácia e deve ser cumprida e respeitada.
Nos sites da Câmara dos Deputados e do Senado Federal você tem acesso a um vasto
conteúdo e pode consultar e acompanhar, inclusive com várias transmissões ao vivo,
o trabalho dos congressistas e a aplicação efetiva das normas e princípios de técnica
legislativa.
Por fim, caso tenha interesse em aprofundar os estudos sobre consolidação de leis,
sugerimos iniciar os estudos pelo Capítulo III da Lei Complementar nº 95, de 26 de
fevereiro de 1998.
Esperamos que tenha gostado do nosso curso e desejamos sucesso na sua jornada em
busca de conhecimento!
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 15
Créditos
Cíntia da Costa Correa é Analista Legislativa da Câmara dos Deputados, com formação em
Letras e em Direito. Trabalhou na Secretaria-Geral da Mesa, na Comissão de Constituição e
Justiça (quando o nome ainda incluía “e de Redação”) e atualmente trabalha na assessoria
de uma liderança partidária, fazendo projetos de lei, PECs, emendas e pareceres a Medidas
Provisórias.
Taísa Maria Viana Anchieta é Analista Legislativa da Câmara dos Deputados, com formação
em Direito e Mestrado em Hermenêutica Constitucional. Trabalhou na Presidência, na
Assessoria Técnica da Diretoria-Geral e atualmente trabalha na Primeira-Secretaria, com a
revisão dos atos normativos a serem submetidos à Mesa Diretora da Casa.