Você está na página 1de 15

Técnica

Legislativa
- Noções
Básicas
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 2

Módulo 1 - Introdução
Olá!

Seja bem-vindo e bem-vinda a esse espaço de construção de


conhecimento.

Esperamos que possamos, com o uso de uma metodologia


alicerçada no aprendizado autoinstrucional na modalidade a
distância, alcançar nossos objetivos de aprendizagem.

A Técnica Legislativa será apresentada de forma teórica por meio


de um conteúdo acessível e com atividades para fomentar seu
conhecimento.

Inicialmente, vamos conhecer o que é Técnica Legislativa para


que possamos compreender o objetivo do curso e sua estrutura, e
sobretudo a importância dessa técnica que é fundamental para a elaboração de leis.

Você observou com atenção a imagem da tela anterior? Pensou no que tem a ver com o
nosso curso?

Pois bem, ao pensarmos na elaboração de leis, podemos fazer uma analogia em que a
“construção” do prédio é o processo legislativo, em todas as suas fases até o “habite-
se” (promulgação da lei). Agora, quanto mais cuidadosa for feita a base, quanto mais
coerente e mais atenta às normas de elaboração, mais chance temos de que essa lei
perdure e alcance os objetivos de sua elaboração.

Assim, podemos abstrair que Técnica Legislativa é, de forma geral, o modo de elaborar
as leis tornando-as exequíveis e eficazes. É um processo complexo que exige o
conhecimento de normas específicas de redação de leis.

A Técnica Legislativa compreende, pois, a elaboração de leis com clareza, precisão e


ordem lógica, como detalharemos no decorrer do curso para alcançarmos o objetivo de
conhecer as peculiaridades necessárias à elaboração de um texto legal e os problemas
que podem advir de lacunas ou textos mal formulados.

A Constituição da República Federativa do Brasil diz que:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I. emendas à Constituição;
II. leis complementares;
III. leis ordinárias;
IV. leis delegadas;
V. medidas provisórias;
VI. decretos legislativos;
VII. resoluções.

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,


redação, alteração e consolidação das leis.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 3

Já vimos que existe um conjunto de normas que disciplinam a criação de leis. Mas você já parou para
pensar para que elas existem?

Para ajudar sua reflexão, convidamos você a visitar o Flux - Para que existem as leis? criado pela
Escola da Câmara e que o ajudará a entender um pouco mais sobre esse assunto.

Com essa base, temos a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998.

A Lei Complementar nº 95/1998, “Dispõe


Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal,
e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona”.
menciona

Também é importante mencionar a Lei Complementar n° 107, de 2001, que modifica ou


complementa a Lei Complementar nº 95/1998, como veremos no decorrer do curso.

Alguns autores dividem a Técnica Legislativa em interna e externa, sendo a primeira a


clareza e a consistência do teor da lei e a segunda, a forma, a ordem lógica, ou seja, as
regras referentes à elaboração, emissão e publicação.

Em nosso curso, a organização se divide em módulos que abordam:


• Elaboração das leis
• Redação das leis
• Alteração das leis

Módulo 2 - Elaboração das Leis


Nesse módulo, vamos entender como as leis são estruturadas e quais as partes que a compõem.

O artigo 3° da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, diz:


TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 4

Art. 3° A lei será estruturada em três partes básicas:


I. parte preliminar, compreendendo a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a
indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas;
II. parte normativa, compreendendo o texto das normas de conteúdo substantivo relacionadas
com a matéria regulada;
III. parte final, compreendendo as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação
das normas de conteúdo substantivo, às disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de
vigência e a cláusula de revogação, quando couber.

A sistematização das leis, ou seja, a forma como uma lei é organizada, observa uma hierarquia
básica:
1. Partes;
2. Livros;
3. Títulos;
4. Capítulos;
5. Seções;
6. Subseções; e
7. Artigos.

Já os artigos, podem conter:


1. Parágrafos;
2. Incisos;
3. Alíneas; e
4. Itens.

O art. 59 da Constituição Federal, que trata sobre o Processo Legislativo, é um bom


exemplo dessa sistematização. Abaixo apresentamos a ordem hierárquica em que é
apresentado na Carta Magna:

TÍTULO IV - DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES


CAPÍTULO I - DO PODER LEGISLATIVO
SEÇÃO VIII - DO PROCESSO LEGISLATIVO
SUBSEÇÃO I - DISPOSIÇÃO GERAL

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I. emendas à Constituição;
II. leis complementares;
III. leis ordinárias;
IV. leis delegadas;
V. medidas provisórias;
VI. decretos legislativos;
VII. resoluções.

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e


consolidação das leis.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 5

Percebeu que o parágrafo único do art. 59 determina que a “...elaboração, redação, alteração
e consolidação das leis...” será disposta em Lei Complementar? Essa lei é justamente a Lei
Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que iremos estudar ao longo desse curso.

Agora, vamos ver do que se trata cada uma das três partes que compõem a estrutura básica de uma
lei?

2.1 Parte Preliminar

O Inciso I do art. 3° descreve que a parte preliminar será composta de: epígrafe, ementa,
preâmbulo, enunciado do objeto e âmbito de aplicação.

Vamos utilizar a própria Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998 para


apresentar a definição desses elementos que ela estabelece nos artigos seguintes e o
trecho da Lei que exemplifica cada um deles.

Art. 4º A epígrafe, grafada em caracteres maiúsculos, propiciará identificação


numérica singular à lei e será formada pelo título designativo da espécie normativa,
pelo número respectivo e pelo ano de promulgação.

LEI COMPLEMENTAR Nº 95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998

Art. 5º A ementa será grafada por meio de caracteres que a realcem e explicitará, de
modo conciso e sob a forma de título, o objeto da lei.

Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme


determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas
para a consolidação dos atos normativos que menciona.

Art. 6º O preâmbulo indicará o órgão ou instituição competente para a prática do ato


e sua base legal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei
Complementar:

O art. 7º da LC nº 95, de 1998, disciplina em relação ao primeiro artigo da lei que:

Art. 7º O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo âmbito de


aplicação, observados os seguintes princípios:
I. excetuadas as codificações, cada lei tratará de um único objeto;
II. a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada por
afinidade, pertinência ou conexão;
III. (...)
IV. o mesmo assunto não poderá ser disciplinado por mais de uma lei, exceto quando a
subseqüente se destine a complementar lei considerada básica, vinculando-se a esta
por remissão expressa.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 6

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis obedecerão ao


disposto nesta Lei Complementar.

Aqui cabe uma observação importante: o artigo é a unidade básica para apresentação de
um assunto em um texto normativo, enquanto os parágrafos, de forma geral, explicam
ou modificam o disposto no artigo.

Os incisos desdobram o assunto que não pode ser condensado no próprio artigo e são
expressos em algarismo romano, enquanto as alíneas, indicadas por letras minúsculas
seguidas por parênteses, são o desdobramento dos incisos. E as alíneas podem ser
desdobradas em itens, os quais são representados por algarismos arábicos.

Art. 2º (VETADO).

§ 1º (VETADO)

§ 2º Na numeração das leis serão observados, ainda, os seguintes critérios:

I - as emendas à Constituição Federal terão sua numeração iniciada a partir da


promulgação da Constituição;

II - as leis complementares, as leis ordinárias e as leis delegadas terão numeração


sequencial em continuidade às séries iniciadas em 1946.

Na reprodução acima do art. 7°, se observar, foi suprimido o inciso III, que diz o seguinte:

Art. 7º O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo âmbito de


aplicação, observados os seguintes princípios:
(...)
III - o âmbito da aplicação da lei será estabelecido de forma tão específica quanto o
possibilite o conhecimento técnico ou científico da área respectiva.
(...)

No caso da LC 95, de 1998, a descrição de seu âmbito de aplicação é feita no parágrafo


único do art. 1°:

Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis obedecerão ao


disposto nesta Lei Complementar.

Parágrafo único. As disposições desta Lei Complementar aplicam-se,


aplicam-se ainda, às medidas
provisórias e demais atos normativos referidos no art. 59 da Constituição Federal, bem
como, no que couber, aos decretos e aos demais atos de regulamentação expedidos por
órgãos do Poder Executivo.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 7

Abaixo, segue a reprodução do início da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que
ilustra um resumo dos elementos que compõem a parte preliminar de uma lei.

LEI COMPLEMENTAR Nº 95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998 Epígrafe

Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis,


conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e Ementa
estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Preâmbulo
Complementar:

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Enunciado do
Objeto
Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis
obedecerão ao disposto nesta Lei Complementar.

Parágrafo único. As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, Âmbito de


às medidas provisórias e demais atos normativos referidos no art. 59 da aplicação das
Constituição Federal, bem como, no que couber, aos decretos e aos demais disposições
atos de regulamentação expedidos por órgãos do Poder Executivo. normativas

2.2 Parte Normativa

O Inciso II do art. 3° descreve que a parte normativa compreende o texto das normas
de conteúdo substantivo relacionadas com a matéria regulada.

Essa parte será estudada em profundidade nos próximos módulos.

2.3 Parte Final

Por fim, o inciso III do art. 3° descreve que a parte final compreende as medidas necessárias à
implementação das normas de conteúdo substantivo, as disposições transitórias, se for o caso, a
cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber. Com relação a esses elementos é
importante observar o que disciplinam os arts. 8° e 9°:

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo
razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em
vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período
de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. (Parágrafo acrescido
pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei
entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’. (Parágrafo
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 8

acrescido pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)


Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições
legais revogadas. (“Caput” do artigo com redação dada pela Lei Complementar nº 107, de
26/4/2001)
Parágrafo único. (VETADO na Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)

No próximo módulo, começaremos a estudar alguns aspectos


relacionados à articulação e à redação das leis.

Módulo 3 - Redação das Leis


Nesse módulo, vamos explorar a Seção II da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998.

Como visto anteriormente, a unidade básica para apresentação de assuntos em um texto normativo
é o artigo. A primeira parte da Seção II trata justamente da articulação de uma lei, ou seja, de como
organizar a apresentação do texto normativo respeitando a hierarquia e a finalidade de cada um dos
elementos que a compõem:

Seção II
Da Articulação e da Redação das Leis

Art. 10. Os textos legais serão articulados com observância dos seguintes princípios:
I. a unidade básica de articulação será o artigo
artigo, indicado pela abreviatura “Art.”
“Art.”, seguida
de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste;
II. os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os
incisos em alíneas e as alíneas em itens;
III. os parágrafos serão representados pelo sinal gráfico “§”, seguido de numeração ordinal
até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a
expressão “parágrafo único” por extenso;
IV. os incisos serão representados por algarismos romanos, as alíneas por letras minúsculas
e os itens por algarismos arábicos;
V. o agrupamento de artigos poderá constituir Subseções; o de Subseções, a Seção; o de
Seções, o Capítulo; o de Capítulos, o Título; o de Títulos, o Livro e o de Livros, a Parte;
VI. os Capítulos, Títulos, Livros e Partes serão grafados em letras maiúsculas e identificados
por algarismos romanos, podendo estas últimas desdobrar-se em Parte Geral e Parte
Especial ou ser subdivididas em partes expressas em numeral ordinal, por extenso;
VII. as Subseções e Seções serão identificadas em algarismos romanos, grafadas em letras
minúsculas e postas em negrito ou caracteres que as coloquem em realce;
VIII. a composição prevista no inciso V poderá também compreender agrupamentos em
Disposições Preliminares, Gerais, Finais ou Transitórias, conforme necessário.

Conforme apresentado anteriormente, em resumo podemos dizer que a hierarquia básica da


sistematização das leis, ou seja, a forma como ela é organizada, é a seguinte:
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 9

1. Partes;
2. Livros;
3. Títulos;
4. Capítulos;
5. Seções;
6. Subseções; e
7. Artigos.

E os artigos, podem conter:


1. Parágrafos;
2. Incisos;
3. Alíneas; e
4. Itens.

O art. 11 apresenta os elementos que garantem ao texto normativo três características


essenciais: clareza, precisão e ordem lógica:

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica,
observadas, para esse propósito, as seguintes normas:

I. para a obtenção de clareza:


a. usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma
versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria
da área em que se esteja legislando;
b. usar frases curtas e concisas;
c. construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e
adjetivações dispensáveis;
d. buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando
preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;
e. usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de caráter
estilístico;

II. para a obtenção de precisão:


a. articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão do
objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o alcance
que o legislador pretende dar à norma;
b. expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras, evitando
o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;
c. evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto;
d. escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte do
território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais;
e. usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a primeira
referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado;
f. grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto data,
número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto;
g. indicar, expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as expressões
‘anterior’, ‘seguinte’ ou equivalentes;
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 10

III. para a obtenção de ordem lógica:


a. reunir sob as categorias de agregação - subseção, seção, capítulo, título e livro -
apenas as disposições relacionadas com o objeto da lei;
b. restringir o conteúdo de cada artigo da lei a um único assunto ou princípio;
c. expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma enunciada
no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida;
d. promover as discriminações e enumerações por meio dos incisos, alíneas e itens.

Ao redigir textos de projetos de lei, é importante observar o uso de algumas expressões que são
comumente utilizadas, mas não são recomendáveis, por se configurarem erros ou serem expressões
muito informais ou sem clareza.

Trataremos, aqui, de algumas expressões:


◦ ATRAVÉS DE – É muito frequente o uso dessa expressão, com o sentido de meio,
instrumento. No entanto, não é aconselhável o seu emprego. O Dicionário Aurélio registra
o seguinte para esta expressão: “de lado; atravessadamente, transversalmente; ...”. ou seja,
em lugar de empregarmos: “o poder Executivo, através do Ministério das Comunicações...”,
devemos adotar: “ O Poder Executivo, por intermédio do Ministério das Comunicações....”. É
claro que nem sempre a expressão “por intermédio” será adequada para substituir “através”.
Existem expressões equivalentes que devem ser usadas, dependendo do contexto, como:
“mediante” ou “por meio de”.

◦ A NÍVEL – É igualmente desaconselhável o seu emprego, já que o termo “NÍVEL” nos dá a ideia
de “ponto atingido dentro de uma escala”. “A cidade está no nível do mar” quer dizer que a
cidade encontra-se situada aproximadamente à mesma altura do mar. Portanto, em lugar de
escrevermos: “Ações a nível nacional”, devemos adotar: “ações em âmbito nacional”.

◦ BEM ASSIM – Outra expressão de uso frequente, que não está prevista nos compêndios
gramaticais oficiais. Em seu lugar, sugerem-se “bem como”, sem medo de cacofonia.

◦ “É CRIADO” – Expressões do tipo “É instituído”, “É aprovado” são frequentes em texto de


projeto. A propósito, nos projetos de decreto legislativo que renovam concessões de rádio
e TV, invariavelmente usamos a expressão “fica aprovado o ato a que se refere à portaria
n°”; isto é, o projeto de decreto legislativo, como determina a Constituição Federal, ratifica
a portaria do Ministério das Comunicações que renova a concessão da rádio em questão.
Portanto, quando dizemos: “Fica aprovado o ato”, queremos dizer que a partir daquela lei o
ato em questão torna-se aprovado. Dessa forma, estamos produzindo o fato da aprovação e
não apenas registrando a aprovação.

◦ Emprego do modo subjuntivo - O modo indicativo, como regra geral, é usado nas
orações que indicam o fato real, o fato concreto; ao passo que o subjuntivo aponta para a
possibilidade, para a hipótese. No projeto de lei que regulamentava o funcionamento dos
partidos políticos, havia o seguinte dispositivo: “Art. 28 O Tribunal Superior Eleitoral, após
trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do partido contra
o qual fique provado:

........................................................................................
lV – “que mantenha organização paramilitar.”

O verbo manter, neste caso, não deveria estar flexionado no modo subjuntivo, pois se trata
de um fato concreto.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 11

• O verbo dispor na ementa - Quando usado em textos legais, o verbo dispor normalmente
assume o sentido de “tratar, discorrer, doutrinar”. Portanto, quando dizemos que uma lei
“dispõe sobre o Conselho Nacional dos Aeroviários” estamos informados que a lei dará um
conjunto de diretrizes sobre o Conselho; isto é: criação, forma de funcionamento, direção,
taxas, associação, enfim, tudo o que for possível determinar para o funcionamento do referido
Conselho. Entretanto, vez por outra, encontramos o verbo dispor empregado indevidamente
na ementa de projeto. Por exemplo, um projeto que revogava um determinado dispositivo do
Código Civil referente à tutela de menores de dezoito anos, em cuja ementa, figurava: “Dispõe
sobre a tutela de menores de dezoito anos”. Neste caso, o verbo dispor está indevidamente
empregado. A ementa em questão deveria ser: “Revoga dispositivo do Código Civil referente à
tutela de menores de dezoito anos.”.

No próximo módulo, iremos falar sobre a alteração das leis.

Módulo 4 - Alteração das Leis


Antes de começar elaborar qualquer projeto é muito importante que se faça uma pesquisa sobre as
leis que já existem sobre o mesmo assunto. É muito comum que as ideias de inovação que venham
a alterar leis, decretos ou resoluções já existam, até porque a maioria dos assuntos já está disposta
em atos normativos.

É sobre isso que trata o art. 12 da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998: leis que
alteram leis que já estão em vigor, como veremos a seguir:

Art. 12. A alteração da lei será feita:


I. mediante reprodução integral em novo texto, quando se tratar de alteração considerável;
II. mediante revogação parcial; (Inciso com redação dada pela Lei Complementar nº 107, de
26/4/2001)

Temos na tela um exemplo prático de alteração no texto original da LC nº. 95, de 1998, feito pela LC
nº. 107, de 26 de abril de 2001, que traz:

“Art. 12. ...........................................................


...........................................................
II - mediante revogação parcial;
III - ..........................................................”(NR)

As linhas pontilhadas são de extrema importância na montagem de projetos que pretendem alterar
leis em vigor. O seu uso indica a manutenção do dispositivo como ele se encontra, sem qualquer
modificação. Ou seja: apenas os dispositivos que se pretende alterar serão escritos com a nova
forma.

Já o “NR” expressa que o artigo com alteração de redação, supressão ou acréscimo no caput ou em
seus desdobramentos possui uma “nova redação” e deve ser identificado, somente ao final da última
unidade.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 12

III - nos demais casos, por meio de substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado, ou
acréscimo de dispositivo novo, observadas as seguintes regras:
a. (Revogada pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
b. é vedada, mesmo quando recomendável, qualquer renumeração de artigos e de unidades
superiores ao artigo, referidas no inciso V do art. 10, devendo ser utilizado o mesmo
número do artigo ou unidade imediatamente anterior, seguido de letras maiúsculas, em
ordem alfabética, tantas quantas forem suficientes para identificar os acréscimos; (Alínea
com redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)
c. é vedado o aproveitamento do número de dispositivo revogado, vetado, declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou de execução suspensa pelo Senado
Federal em face de decisão do Supremo Tribunal Federal, devendo a lei alterada manter
essa indicação, seguida da expressão ‘revogado’, ‘vetado’, ‘declarado inconstitucional, em
controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal’, ou ‘execução suspensa pelo Senado
Federal, na forma do art. 52, X, da Constituição Federal’; (Alínea com redação dada pela Lei
Complementar nº 107, de 26/4/2001)
d. é admissível a reordenação interna das unidades em que se desdobra o artigo,
identificando-se o artigo assim modificado por alteração de redação, supressão ou
acréscimo com as letras ‘NR’ maiúsculas, entre parênteses, uma única vez ao seu final,
obedecidas, quando for o caso, as prescrições da alínea “c”. (Alínea com redação dada pela
Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)

Parágrafo único. O termo ‘dispositivo’ mencionado nesta Lei refere-se a artigos, parágrafos,
incisos, alíneas ou itens. (Parágrafo acrescido pela Lei Complementar nº 107, de 26/4/2001)

Aqui encerramos nossa jornada pelos principais artigos da Lei Complementar nº 95, de 26
de fevereiro de 1998 relacionados à redação e alteração de leis.

Esperamos que tenha sido um estímulo para que você Eleve seu conhecimento no
aprendizado da Técnica Legislativa.

Convidamos você a conhecer nosso canal no YouTube, onde poderá ter acesso a um rico
material que pode ajudar você nessa jornada:

Também não deixe de visitar o Portal da Educação para Democracia da Câmara dos
Deputados onde você encontrará experiências de aprendizagem que permitirão acesso a
conteúdo sobre política, cidadania, democracia e o papel do Poder Legislativo.

No próximo módulo, iremos dar mais algumas dicas para seguir seus estudos sobre
Técnica Legislativa.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 13

Módulo 5 - Encerramento - Últimas palavras


Prezadas Alunas e Prezados Alunos,

Chegamos ao final deste curso autoinstrucional de Técnica Legislativa que apresentou as noções
básicas sobre a elaboração, redação e alteração das leis.

Como dissemos, esse curso foi somente um passo inicial da jornada de desenvolvimento em Técnica
Legislativa, havendo muito o que ser conhecido e estudado ainda.

Nosso enfoque foi no estudo da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, alterada
pela Lei Complementar nº 107, de 26 de abril de 2001.

Assim, na elaboração ou alteração de uma lei, devemos seguir as regras e os princípios de técnica
legislativa nelas contidas juntamente com as normas cultas da língua portuguesa.

Mas aqui surge uma pergunta interessante: além da Lei Complementar nº 95, de 26 de
fevereiro de 1998, existe outro normativo que devemos observar?

Sim. Um exemplo foi o Decreto n° 9.191, de 1º de novembro de 2017 publicado pelo


Poder Executivo, que estabelece “normas e diretrizes para a elaboração, a redação e a
alteração de atos normativos no âmbito do Executivo”.

Esse Decreto, apesar de ter algumas particularidades, praticamente repetiu o conteúdo


constante da Lei Complementar n° 95, de 1998, apresentando poucas regras novas de
técnica legislativa.

Embora seja um Decreto a ser aplicado no âmbito do Poder Executivo, algumas das regras
novas de técnica legislativa apresentadas por esse Decreto, por praxe, foram adotadas
pelo Poder Legislativo.

Quer um exemplo? Quando afirmamos que, ao grafar datas, devemos empregar, por
exemplo, 4 de março de 1998 e não 04 de março de 1998 e 1º de maio de 1998 e não 01
de maio de 1998, estamos seguindo uma regra de técnica legislativa constante do Decreto
n° 9.191, de 2017, que também é adotada pelo Legislativo. E essa regra não consta da Lei
Complementar n° 95, de 1998.

Assim, atualmente, podemos dizer que as regras de técnica legislativa, no âmbito federal,
são as constantes da Lei Complementar n° 95, de 1998, e, subsidiariamente, as do Decreto
n° 9.191, de 2017.

Outro ponto relevante: é sabido que antes da Lei Complementar n° 95, de 1998, já existiam regras
de técnica legislativa que eram aplicadas na produção e na alteração de leis e que muitas não eram
escritas e sim fruto da tradição

Alguns estados e municípios adotaram regras de técnica legislativa, que, em sua grande totalidade,
têm a Lei Complementar n° 95, de 1998, como base. Mas, por exemplo, o estado de São Paulo e o
Distrito Federal já tinham suas regras de técnica legislativa antes da existência da Lei Complementar
n° 95, de 1998.
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 14

Atualmente, será que ainda utilizamos regras de técnica legislativa que ainda não são escritas e sim
fruto da tradição?

A resposta é sim. São minoria, mas ainda continuam a pautando. Permanecem sendo observadas
regras de técnica legislativa que não constam da Lei Complementar n° 95, de 1998, nem do Decreto
n° 9.191, de 2017, ou de outro dispositivo legal, existindo apenas no campo da tradição. Um
exemplo de destaque é o emprego da linha pontilhada utilizada em alteração de dispositivos, que
inclusive mencionamos no decorrer do curso.

Um ponto a se destacar é que a lei deve ser sempre seguida, mesmo que tenha sido elaborada
sem observar estritamente o processo legislativo regular. Claro, que sempre há espaço para que ela
seja impugnada mediante decisão judicial, inclusive por não ter sido observado o devido processo
legislativo, mas, enquanto não for revogada ou sua aplicação não seja impugnada por decisão
judicial, tem eficácia e deve ser cumprida e respeitada.

Antes de terminar, gostaríamos de apresentar algumas dicas valiosas:

Nos sites da Câmara dos Deputados e do Senado Federal você tem acesso a um vasto
conteúdo e pode consultar e acompanhar, inclusive com várias transmissões ao vivo,
o trabalho dos congressistas e a aplicação efetiva das normas e princípios de técnica
legislativa.

Tenha sempre em mãos um manual de redação para consultar em momentos de dúvida.


Uma boa sugestão é o Manual de Redação da Câmara dos Deputados, que apresenta
considerações sobre a redação em geral, tópicos relacionados ao uso da língua portuguesa
na sua norma culta e modelos e indicações de redação de atos administrativos.

Outro material valioso é o Manual de Elaboração Legislativa: modelos e informações,


que apresenta uma sistematização dos documentos previstos no Regimento Interno da
Câmara dos Deputados para o processo legislativo.

Por fim, caso tenha interesse em aprofundar os estudos sobre consolidação de leis,
sugerimos iniciar os estudos pelo Capítulo III da Lei Complementar nº 95, de 26 de
fevereiro de 1998.

Esperamos que tenha gostado do nosso curso e desejamos sucesso na sua jornada em
busca de conhecimento!
TÉCNICA LEGISLATIVA - NOÇÕES BÁSICAS 15

Créditos

Conteúdo: Cíntia da Costa Correa e Taísa Maria Viana Anchieta

Conteúdo de revisão e adaptação: Marcela Domingos de Albuquerque e Márcio Susumu Murakami

Desenho educacional: Lúcio José Carlos Batista

Revisão textual: Hélio Ferreira Cortes

Diagramação: Rafael Marques e Leonardo Stevanato

Imagens: Aldo Faiad

Desenvolvimento: Leonardo Stevanato, Ênio Júnior e Quintino Medeiros

Um pouco mais sobre as conteudistas

Cíntia da Costa Correa é Analista Legislativa da Câmara dos Deputados, com formação em
Letras e em Direito. Trabalhou na Secretaria-Geral da Mesa, na Comissão de Constituição e
Justiça (quando o nome ainda incluía “e de Redação”) e atualmente trabalha na assessoria
de uma liderança partidária, fazendo projetos de lei, PECs, emendas e pareceres a Medidas
Provisórias.

Taísa Maria Viana Anchieta é Analista Legislativa da Câmara dos Deputados, com formação
em Direito e Mestrado em Hermenêutica Constitucional. Trabalhou na Presidência, na
Assessoria Técnica da Diretoria-Geral e atualmente trabalha na Primeira-Secretaria, com a
revisão dos atos normativos a serem submetidos à Mesa Diretora da Casa.

Marcela Domingos de Albuquerque é Mestre em Linguística, especialista em Processo


Legislativo, professora de Língua Portuguesa e Literaturas Brasileiras, advogada,
esteticista e servidora da Câmara dos Deputados, tem a educação, as artes e a estética
suas principais paixões profissionais. Autora do livro “Curso de técnica legislativa: teoria e
prática” da Editora Dialética, do ano de 2021 com 160 páginas.

Você também pode gostar