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Na época do curso primário tive um professor que era uma verdadeira loteria
para os alunos. No dia da sua matéria os coleguinhas de classe iam munidos de
figurinhas, bolinhas de gude, peões, pôsteres de mulheres nuas, enfim, tudo o
que possuíam de melhor para fazer suas apostas. Ganhava quem se
aproximasse mais do número de nés? pronunciados pelo mestre.
Nos dias em que ele estava mais atacado chegava ao exagero de dizer um né?
a cada frase ou duas. Não é preciso dizer que os alunos concentrados nos nés?
do professor tinham dificuldade para prestar atenção na matéria. Chegávamos a
sair da sala sem ter entendido ao menos o que ele pretendera dizer. Era preciso
fazer em casa, depois, uma espécie de curso autodidata lendo livros, como se o
assunto fosse inédito.
Citei esse exemplo porque dos primeiros nés? não se esquece. Depois encontrei
outros “nezistas” que poderiam se transformar em verdadeiros cassinos para
aquela nossa turma de estudantes. E o né?, embora seja a maior estrela, é só
um dos componentes de uma extensa prole em que se incluem os também
conhecidos tá?, ok?, percebe?, entendeu?, tá certo? e tantos outros. Assim
vamos nos ater ao né?, mas sabendo que os comentários valem para todos eles.
O mais curioso é que a maioria dos que usam o né? não tem consciência do que
faz.
No meu curso de expressão verbal, quando um aluno apresenta esse vício anoto
o problema em uma folha de papel e a entrego dobrada para chamar sua atenção
de maneira bem discreta. Muitos deles se voltam incrédulos para mim e
perguntam em que momento da sua apresentação pronunciaram o né?. E ficam
quase desnorteados quando respondo que foi em praticamente toda a
exposição. Antes que peçam mais detalhes sugiro que aguardem para assistir à
gravação no vídeo.