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GAGUEIRA – ORIENTAÇÃO FAMILIAR/ESCOLAR

Vamos Identificar e entender um pouco sobre a gagueira é importante conhecer


alguns conceitos:

Fluência: é a característica da fala espontânea e natural, produzida com facilidade.

Disfluência: são quebras, bloqueios, prolongamentos ou repetições dos sons durante a fala.

Observe nesses exemplos a seguir os diferentes tipos de quebras na fala (disfluências).

Disfluências Tipo 1

A cacacasa é grande. (repete a sílaba ca)

P (prende o som do p) are com isso!

Amo minha f_ (estica o som do f) amília

Eeeeeeu vou comer. (repete o som do e)

Disfluências Tipo 2

Eu queria ééé passear (hesita, fazendo ééé, annn entre as palavras)

Eu ia, eu fui pra escola (reformula as frases)

Pai, pai eu quero! (repete palavras)

Você deve ter observado que existem diferentes tipos de disfluências. As disfluências
do tipo 1 são mais características da gagueira. As disfluências do tipo 2 são consideradas
comuns e fazem parte do discurso de todo falante.

Se a sua criança repete uma ou duas vezes as palavras, faz revisões ou hesita antes de
falar, como se estivesse buscando dentro da cabecinha a palavra certa para usar, é sinal de que
ela está aprendendo novas formas de utilizar a linguagem (novas palavras, novos conceitos,
regras de gramática) e isso é absolutamente normal.

Caso alguns momentos, ela apresenta disfluências do tipo 1 e repete sons e sílabas
mais de duas vezes por exemplo: (va va va vaca) ou apresenta prolongamentos (duração
exagerada dos sons) e certa tensão associada à fala, como se estivesse fazendo força ou
faltando ar na hora de falar, fique atento! Essas disfluências também podem ocorrer no
período de desenvolvimento de fala e linguagem, mas devem desaparecer.
Se as disfluências do tipo 1 ocorrem sempre, em quase todas as situações
comunicativas, com muitos bloqueios (demora para conseguir falar ou solta um som de
repente como se ele estivesse preso) e, além disso, há tensão e movimentos faciais (piscar
olhos, tremer a boca, etc.) e/ou corporais (mãos, pernas, cabeça, etc.) associados à fala, muito
provavelmente essa criança apresenta gagueira. Nesses casos, é comum que algumas crianças
aparentam ter medo de falar e evitem situações comunicativas.

COMO AJUDAR UMA CRIANÇA QUE APRESENTA DISFLUÊNCIAS NA FALA?

Cada criança é uma criança e cada família é uma família, sendo assim, não existem
receitas prontas de “como devo fazer”. Entretanto, algumas atitudes familiares podem auxiliar
na diminuição da ocorrência das disfluências e promover mais fluência e interação
comunicativa, tais como:

1 – Prestar mais atenção ao conteúdo do que a criança está falando do que à forma: é muito
comum alguns pais se incomodarem com as disfluências e corrigirem a fala da criança o tempo
todo, sem dar atenção ao conteúdo. Por exemplo:

A criança diz:

- Hoje eu ganhei um ppppprêmio na escola!

E a resposta que ela recebe é:

- Vamos falar direitinho? Não é ppppprêmio, é prêmio! Repete para mim: PRÊMIO!

O ideal, seria oferecer um modelo adequado de fala (corrigindo indiretamente), mas dando
atenção ao que a criança quer contar. Neste caso, a resposta mais adequada seria:

- Então você ganhou um PRÊMIO? Que legal, parabéns! E que PRÊMIO foi esse?

Dessa forma você repetiu corretamente a palavra gaguejada sem apontar a gagueira e
incentivou continuidade na interação comunicativa.

2 – Ouvir com paciência: espere a criança terminar de falar antes de responder. Observe se
você não está apressando a criança para terminar de falar logo. Não tente adivinhar o que ela
vai dizer completar a frase antes que ela termine. Fale COM a criança e não POR ela.

3 – Manter o contato visual, olhos nos olhos, enquanto estiver falando: o contato visual é
extremamente importante na comunicação, pois conecta as pessoas e transmite verdade. Com
as crianças, o contato visual é especialmente necessário por causar um sentimento positivo e
segurança e acolhida.

4 – Ajudar a criança a falar mais devagar: para muitas crianças, determinadas mudanças nos
pais e/ou outros membros da família e o ambiente escolar são a melhor forma de estimular a
fluência. Por isso, você deve tentar moldar a sua própria fala, estabelecendo um padrão mais
lento e relaxado quando for conversar com a criança.

Não é necessário reduzir de forma artificial a velocidade de fala, mas criar uma atmosfera na
qual a fala rápida não seja necessária. Pausas breves entre as palavras e frases são muito
eficientes. Observe o estilo de vida das pessoas que convivem com a criança. Frequentemente
a criança reflete o estilo de vida da família e, se esse estilo for acelerado, ela não conseguirá
falar mais devagar. Para que ela consiga, será necessária uma mudança na postura da família,
pois se todos falarem mais devagar ela também o fará.
5 – Esperar um segundo ou mais antes de responder: essa atitude reduz a pressão do tempo
na comunicação, e fará com que a criança se sinta mais relaxada para processar o que quer
dizer antes de começar a falar também.

6 – Usar palavras simples, frases curtas e fazer uma pergunta de cada vez.

7 – Reservar um tempo, diariamente, para dar atenção exclusiva à criança: a fala mais lenta e
relaxada pode ser mais eficaz quando a criança tiver algum tempo de atenção dos pais só para
ela, sem distrações e sem ter que competir com outras pessoas.

8 – Se a criança for consciente da gagueira, encorajá-la a falar sobre o assunto com você:
mostre paciência e aceitação ao conversarem. A gagueira não deve ser um assunto evitado ou
proibido. Superar a gagueira é mais uma questão de perder o medo de gaguejar do que de se
esforçar para falar melhor. Lembre a criança de que as disfluências são naturais à fala de
qualquer pessoa e que é normal que, às vezes, apareçam rupturas na fala. Frequentemente, a
gagueira pode ocorrer sem incomodar o ouvinte e a criança não deve se sentir intimidada ao
falar.

9 - Usar comunicação não verbal: procure expressar sentimentos positivos não verbais, olhe
para a criança e sorria, dê carinho, mostre que você tem orgulho dela.

10 – Ler ou contar histórias: ler em voz alta ou contar histórias também enfatizam o prazer da
fala. Quando você estiver lendo uma história repetida que a criança goste, deixe que ela
termine algumas frases ou as reconte com as próprias palavras, se ela quiser.

ATITUDES QUE PREJUDICAM A FLUÊNCIA – O QUE NÃO FAZER:

1 – Dizer à criança “pare, pense, respire antes de falar”: evite dar instruções e dicas de como
ela tem que fazer para não gaguejar. Todos esses conselhos geram ressentimento e
insegurança e não ajudam a falar de forma mais relaxada, pelo contrário. Com o tempo, isso
fará com que a criança evite falar com medo de ser corrigida.

2 – Criticar ou corrigir a fala da criança: isso pode frustrá-la e fazê-la se sentir incapaz de expor
seus pontos de vista.

3 – Completar a fala da criança ou interrompê-la enquanto está tentando falar: a pressão


externa prejudica a fluência.

4 – Apressar a criança enquanto ela estiver tentando falar: agindo assim você aumentará a
ansiedade da criança e dificultará sua expressão de fala.

5 – Usar palavras e expressões difíceis: estas dificultam a compreensão da mensagem e podem


gerar medo e ansiedade de não conseguir responder. Utilize vocabulário adequado à faixa
etária e compreensão por parte da criança.

6 – Gritar com a criança quando ela gaguejar: o grito pode ser interpretado como uma punição
à gagueira (que é involuntária) e causar consequências emocionais negativas.

7 – Comparar à fala da criança com a de outras crianças: isso a fará se sentir envergonhada ou

diminuída.

8 – Forçar a criança a falar ou ler em público: recitar poemas ou contar algo em público pode
ser uma experiência traumatizante para a criança que tem dificuldade para falar. Se ela o fizer
espontaneamente, tudo bem, não há razões para sentir vergonha, todos nós temos limitações.
9 – Superproteger a criança: não faça tudo pela criança ou arranje a vida de modo que ela não
precise falar. A superproteção poderá aumentar seu medo de falar, se expor e lutar pelo que
deseja.

10 – Exigir demais da criança: exigir da criança um nível de perfeição muito elevado pode
prejudicar sua autoestima e, consequentemente, dificultar interações comunicativas.

A família, isoladamente, quer por trazer traços genéticos da gagueira, quer por suas atitudes
ambientais, não é capaz de provocar o distúrbio. A gagueira é muito complexa e sua causa
ainda não é totalmente conhecida.

Os pais e professores são, na verdade, os maiores aliados – e não inimigos – na luta


para promover a fluência da criança.

Entenda que seu filho/aluno é absolutamente igual a todas as outras crianças, só que
sua fala não sai com a suavidade e eficiência comuns. Seja tolerante porque a criança que
gagueja necessita de um tempo mais longo que o normal para maturar a produção de fala, e
esse processo é automático, ninguém pensa em cada palavra que vai falar.

Eduque seu ouvido para separar a fala gaga (que é o jeito de falar) da produção de fala
(o que a criança deseja falar).

E lembre-se: gagueira tem tratamento! Busque um profissional qualificado para


atender seu filho. De preferência um Fonoaudiólogo com experiência na atuação com
distúrbios da fluência.

O tratamento da gagueira requer colaboração, participação. O sucesso do tratamento


depende do equilíbrio entre: adequação do tratamento escolhido, mudanças ambientais
quanto à demanda de comunicação e resposta pessoal - particular e única da criança - pois
cada criança de desenvolve à sua maneira.

Referências utilizadas para elaboração deste material:

1 - Oliveira CMC, Yasunaga CN, Sebastião LT, Nascimento EN. Orientação Familiar e seus
efeitos na gagueira infantil. Rev Soc

Bras Fonoaudiol. 2010;15(1):115-24.

2 - Andrade CR. Gagueira infantil: risco, diagnóstico e programas terapêuticos. Barueri: Pró
Fono; 2006.

3- Paula Moura

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