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Gagueira: nome técnico, tipos de exercícios e tratamento

Gagueira é um dos Transtornos de Fluência, enquadrados dentro do DSM-V


(Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) como transtornos
de comunicação. A fluência é o aspecto de produção da fala que se refere à
continuidade, suavidade e esforço. Fluência é definida como a fala de fluxo
contínuo e suave, que é decorrente de uma integração harmônica entre os
processamentos neurais envolvidos na linguagem e no ato motor. A gagueira, o
transtorno de fluência mais comum, é uma descontinuidade no fluxo de fala
caracterizada por repetições (sons, sílabas, palavras, frases), prolongamentos
de som, blocos, interjeições e revisões, o que pode afetar a velocidade e o
ritmo da fala. Essas disfluências podem ser acompanhadas por tensão física,
reações negativas, comportamentos secundários e evitação de sons, palavras
ou situações de fala.

Estatísticas da Gagueira

De acordo com o Instituto Brasileiro de Fluência, a incidência da Gagueira é de


5% na população brasileira. Isso significa dizer que mais de 10 milhões de
pessoas são afetadas pela gagueira durante o desenvolvimento da linguagem
no Brasil. A prevalência da gagueira é de 1%, ou seja, cerca de 2 milhões de
brasileiros gaguejam de forma crônica (há anos ou décadas).

A gagueira tipicamente tem suas origens na infância. A maioria das crianças


que gaguejam, começam a fazê-lo em torno de 2 anos e meio de idade.
Aproximadamente 95% das crianças que gaguejam começam a fazê-lo antes
dos 5 anos de idade.

Principais sintomas

Todos os oradores produzem disfluências, que podem incluir hesitações, tais


como pausas silenciosas e interjeições de enchimentos de palavras. O famoso
ééééé, ahhhhh ou qualquer outro tipo de pausa ou interrupção ao longo do
discurso natural. No entanto, alguns sinais podem ser evidenciados em quem
efetivamente sofre com a Gagueira:

 Uso mais frequente de interjeições. Por exemplo: “tipo assim, então, tá,
né?!”
 Prolongamento de sons. O som é emitido por maior tempo do que o
esperado. Por exemplo: “Popopodeeee me ajudar popopor fafaaavor”
 Ansiedade ou nervosismo excessivos para produzir uma palavra ou
som e iniciar uma palavra, frase ou expressão
 Ansiedade para iniciar um discurso, devido às sucessivas experiências
com a fala gaguejada
 Movimentos motores involuntários como: tensões faciais, tremores de
lábios, mandíbula, piscar de olhos, entre outros.
 Redução significativa da capacidade de se comunicar de forma eficaz

Outros Transtornos de Fluência

Além da gagueira, outros dois transtornos menos conhecidos estão englobados


dentro do conceito de fluência: a taquilalia e taquifemia. Ambos estão
relacionados a uma taxa de articulação (velocidade de fala) elevada,
suficientemente intensa para prejudicar a inteligibilidade da mensagem

Taquilalia

Trata-se da articulação muito rápida da fala, na qual a pessoa atropela as


palavras e pode prejudicar a inteligibilidade da mensagem. Porém, a Taquilalia
não está ligada a qualquer disfluência ou gagueira e não compromete a
integridade do discurso.

Taquifemia

Apresenta os mesmos sintomas da Taquilalia, porém, dois outros sintomas


também são obrigatórios para o diagnóstico: pouca consciência do distúrbio e
aumento de hesitações e disfluências. Porém, a Taquifemia não deve ser
confundida com a gagueira, um distúrbio multifatorial que tem muitas outras
características que compõem seu quadro.
Os indivíduos que possuem o transtorno também podem apresentar troca de
letra na fala e escrita, dificuldade para encontrar palavras, dificuldades
sintáticas, discurso confuso, dificuldade de leitura e escrita, desatenção,
hiperatividade, impulsividade, retardo no desenvolvimento de linguagem e no
desenvolvimento motor.

Tratamento

O tratamento para transtornos de fluência deve ser altamente individualizado e


baseado em uma avaliação completa da fluência da fala, fatores de linguagem,
componentes emocionais, atitudinais e impacto na vida.

Um profissional de saúde especializado deverá considerar o grau dos


comportamentos disfluentes da criança e como a comunicação geral são
influenciados por um transtorno coexistente (por exemplo, outros distúrbios de
fala ou linguagem, síndrome de Down, TEAou TDAH). Determinando, assim,
como o tratamento pode ser ajustado assertivamente.

A gagueira não é um distúrbio emocional ou afetivo e sim, um distúrbio


neuroquímico que afeta as estruturas pré-motoras da fala. Por isso, é
importante procurar um fonoaudiólogo a fim de ver o melhor tratamento
disponível. Um acompanhamento multidisciplinar, com um psicólogo, é
extremamente efetivo no tratamento da gagueira no que se refere à
dificuldades de autoestima, autoimagem e ansiedade. Além disso, um
psicólogo especializado pode proporcionar ao indivíduo técnicas facilitadoras
da fluência e, no caso de crianças, também trabalhar com a família para
auxiliar a criança a falar de forma mais suave e fluente.

Exercícios recomendados para os transtornos de fluência

Exercícios de relaxamento e alongamento para os lábios, língua, pescoço e


ombros são recomendados para o tratamento. Estes exercícios diminuem a
sensação de urgência para falar.
Relaxe o corpo:

 Libere a tensão nas costas, pescoço e braços. Relaxe os ombros, deixe-


os caírem ao nível natural.
 Mexa os lábios por alguns segundos antes de falar. Cantores fazem isso
como aquecimento.
 Remova qualquer tensão colocada nas pernas e nos braços. Gire o
tronco

Relaxe a mente:

 Diga a si mesmo: “Sou maior que a gagueira; essa gagueira não é maior
que eu!”.
 Concentre sua atenção em sua mente. Permita gentilmente que sua
atenção chegue até as pontas mais distantes de seu corpo, respirando
uniformemente. Isso pode ser feito através da meditação.

Fique na frente de um espelho e converse com você mesmo

Apenas comece a falar sobre qualquer coisa – como foi seu dia, como está se
sentindo, o que planeja fazer mais tarde – e observe a gagueira desaparecer.

 Falar em frente a um espelho não é a mesma coisa que conversar com


outra pessoa; porém, este exercício deve lhe dar uma boa carga de
confiança. Lembre-se do quão bem você falou em frente ao espelho
enquanto se preparar para conversar com outra pessoa.
 Tente falar consigo mesmo diariamente por 30 minutos. Pode parecer
estranho no início, mas o exercício é escutar a própria voz sem
gaguejar. Isso lhe dará muita confiança.

Leia livros em voz alta

Sua habilidade de se comunicar irá melhorar. Apenas leia em voz alta. Será
difícil no início, mas aprenderá como respirar. Um grande problema que a
maioria dos gagos possui é não saber quando respirar durante leituras ou
conversas. Com a leitura, você fará naturalmente exercícios de respiração e se
livrará da gaguez com algum tempo.

Reduza a velocidade da fala

Exercícios de velocidade, que fazem o paciente perceber as diferenças entre a


fala lenta, normal e rápida. Diminuir a velocidade de fala geralmente reduz a
ocorrência da gagueira. Para aprender a falar mais devagar, é necessário
treinar a redução da velocidade na leitura e na fala espontânea. No início, a
diminuição da velocidade de fala parece um pouco forçada, mas, com o treino,
vai se tornando cada vez mais natural e automática.

Aumente o uso de pausas

Exercícios de pausa silenciosa, que ensina a frequência adequada da fala ao


paciente. A utilização de um maior número de pausas na fala também é uma
estratégia eficiente para diminuir a ocorrência da gagueira. Mas, se as pausas
forem muito numerosas ou muito longas, a fala também vai soar pouco fluente.
Por isso, o treino deve ser organizado para que a pessoa que gagueja aprenda
a utilizar mais pausas na fala, mas em quantidade e duração adequadas.

Suavize a tensão muscular

A pessoa que gagueja, muitas vezes, utiliza um excesso de tensão muscular


para articular os sons da fala. Quando isso ocorre, percebe-se que há excesso
de esforço físico para falar, que se manifesta principalmente nos bloqueios. A
suavização consiste em aprender a articular os sons da fala com menor
solicitação muscular. No início, a diminuição da tensão muscular é voluntária,
mas, com o treino, vai se tornando natural. O treino envolve a prática da
suavização na leitura e na fala espontânea.

Como ajudar

Pessoas que convivem com crianças que gaguejam (pais, irmãos, amigos e
professores) podem colocar em prática atitudes simples para ajudá-los:
 Ouvir a criança com atenção e manter a calma e naturalidade enquanto
ela fala
 Reservar um tempo para conversar com a criança, sem distrações
 Falar devagar e sem pressa, sem perder a naturalidade da fala
 Incentivar todos da família a serem bons ouvintes
 Não chamar atenção para a gagueira durante interações diárias
 Aceitar a criança como ela é, não reagindo negativamente, não
criticando e não punindo a criança quando ela gaguejar.

GAGUEIRA

O que e gagueira

A gagueira é um distúrbio de fluência da fala. Sintomas típicos incluem


alongamentos, bloqueios e repetições de sons e sílabas.

A gagueira é involuntária. Isso significa que o falante não tem controle sobre
sua fala, não sendo possível simplesmente optar por não gaguejar.

Na tentativa de ocultar a gagueira, o falante pode recorrer a diversos truques,


nem sempre eficientes: substituir palavras difíceis por outras mais fáceis, falar
outra frase antes da frase realmente pretendida (circunlocução), usar
marcadores discursivos como “então” e “assim”, etc. Disfarçar a gagueira é um
trabalho árduo e, mesmo com grande vigilância, o falante não consegue fugir
de suas dificuldades.

Duas causas da gagueira estão comprovadas.

A primeira e mais importante é a hereditariedade. A maior parte das pessoas


que gaguejam apresentam predisposição genética para o distúrbio. Atualmente
já se encontra disponível no Brasil um teste genético que testa três genes
específicos para a gagueira.
A segunda é a lesão cerebral. Boa parte das pessoas que gaguejam (inclusive
crianças) apresentam histórico de injúria cerebral, como: hipóxia cerebral ao
nascer e trauma de crânio.

Também está sendo pesquisado se determinadas infecções (como por


estreptococos do grupo A) podem causar gagueira.

O cérebro de uma pessoa que gagueja funciona de forma diferente em


comparação com o cérebro de uma pessoa que não gagueja. Existem
alterações tanto em nível cortical, quanto em nível subcortical. De maneira
geral, essas alterações fazem com que os núcleos da base não produzam
pistas temporais internas suficientes para finalizar um som e iniciar o próximo
som da palavra. Até que o próximo som não é liberado, o falante permanece no
som anterior (prolongando, repetindo ou bloqueando).

Situações que desautomatizam a fala ou que sincronizam a fala com estímulos


externos tendem a melhorar a fluência, tais como: cantar, ler em coro, falar
com outro sotaque, sussurrar, representar um personagem, falar em um
ambiente barulhento, falar com crianças pequenas, etc.

Os distúrbios mais comumente associados à gagueira são: taquifemia, tiques


(motores e/ou vocais), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e
impulsividade (TDAHI), transtornos de ansiedade, distonia, transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC). Para que o tratamento da gagueira tenha
sucesso, é imprescindível fazer o diagnóstico diferencial da gagueira com estes
outros distúrbios.
Em linhas gerais, o tratamento aborda:

1) Dinâmica familiar
Determinadas atitudes dos pais podem piorar a gagueira do filho. A seguir,
alguns pontos importantes:
– Não falar sobre a gagueira, fingindo que ela não existe, contribui para
aumentar o tabu em torno do assunto.
– A gagueira é involuntária. Por isso dicas como: “Fale mais devagar”, “Fique
calmo”, “Pensar antes de falar”, “Respire fundo”, “Pare e comece de novo”,
“Pare de gaguejar” não funcionam.
– A criança não gagueja porque quer ou para chamar a atenção.
– Não apressar a criança para falar. Quanto mais rápido a criança tentar falar,
mais vai gaguejar.

2) Eliminação do mito de 100% de fluência


O mito de 100% de fluência é muito prejudicial. A fluência normal não é perfeita
e apresenta hesitações, pausas e reformulações. É possível atingir 100% de
fluência apenas na leitura ensaiada ou na fala decorada. Assim, os
apresentadores de telejornais são muito fluentes, porque leem as notícias. Da
mesma forma, os personagens de novelas são muito fluentes, porque as falas
estão decoradas. Como a fala espontânea não é, em geral, ensaiada ou
decorada, apresenta uma queda de fluência, que é esperado.

3) Assumir a gagueira
Muitas pessoas que gaguejam se envergonham de sua fala ou acham que são
culpadas por não “falarem direito”. Às vezes, para se sentirem melhor, essas
pessoas passam a negar a gagueira. Mas a dificuldade somente pode ser
melhorada quando a pessoa consegue reconhecê-la e assumi-la. Reconhecer
que algo não está bem e assumir que precisa de ajuda.

4) Resposta de congelamento (“freezing”)


Certos sentimentos (como medo, ansiedade, insegurança, timidez, vergonha)
podem piorar a gagueira. Essas emoções pioram a gagueira, porque disparam
a resposta de congelamento. Por outro lado, outros sentimentos (como alegria,
tranquilidade, raiva) podem melhorar a gagueira, porque tendem a não disparar
a resposta de congelamento.

A resposta de congelamento é um estado de diminuição dos movimentos do


corpo, incluindo redução dos batimentos cardíacos, dos movimentos
voluntários e da vocalização. Esta resposta ocorre quando a pessoa está em
uma situação que considera amedrontadora e fica em dúvida sobre a melhor
decisão a tomar. Quando a pessoa tenta falar durante o congelamento, a
gagueira claramente se intensifica.

5) Exercícios facilitadores
Relaxamentos e alongamentos específicos para lábios, língua, pescoço e
ombros podem auxiliar na percepção e na diminuição da tensão muscular, que
frequentemente está aumentada na pessoa que gagueja.

6) Técnicas ou estratégias de fala

Diminuição da “velocidade de fala” – a redução da velocidade de fala


geralmente diminui a ocorrência da gagueira. Para aprender a falar mais
devagar, é necessário treinar a diminuição da velocidade na leitura e na fala
espontânea. No início, a diminuição da velocidade de fala é voluntária, mas,
com o treino, vai se tornando cada vez mais automática.

Aumento no uso de pausas silenciosas – a utilização de um maior número


de pausas na fala também é uma estratégia eficiente para diminuir a ocorrência
da gagueira. Entretanto, se as pausas forem muito numerosas ou muito longas,
a fala também vai soar pouco fluente. Por isso, o treino é organizado para que
a pessoa que gagueja aprenda a utilizar mais pausas na fala, mas em
quantidade e duração adequadas.

Suavização – a pessoa que gagueja, muitas vezes, utiliza um excesso de


tensão muscular para articular os sons da fala. Quando isso ocorre, percebe-se
que há excesso de esforço físico para falar, que se manifesta principalmente
nos bloqueios. A suavização consiste em aprender a articular os sons da fala
com menor tensão muscular. No início, a diminuição da tensão muscular é
voluntária, mas, com o treino, vai se tornando cada vez mais automática. O
treino envolve a prática da suavização na leitura e na fala espontânea.

7) Gagueira ao falar dados pessoais (nome, endereço, telefone, RG, CPF)


Algumas pessoas gaguejam justamente quando são solicitadas a fornecer seus
dados pessoais. Os dados pessoais são informações que geralmente estão
fortemente memorizadas e, portanto, espera-se que a pessoa saiba referi-los
prontamente. Nestes casos, a redução da pressão de tempo e a estratégia de
suavização são especialmente indicados.

A taquifemia é um distúrbio de fluência, que compromete principalmente a


velocidade da fala. Quem apresenta taquifemia diz: “Eu falo tão rápido que
ninguém consegue entender” ou “Eu falo muito rápido e vou comendo as
palavras”.

Os sintomas da taquifemia incluem:

 Falar rápido demais;


 Fazer poucas pausas silenciosas;
 Excesso de hesitações/disfluências comuns na fala (preenchedores como “éh” e “ãh”,
repetições de palavras, correções).
 Pouca percepção das dificuldades de fala.
 Melhora na fluência quando a pessoa é instruída a falar mais lento e a se concentrar;
 Alterações na articulação da fala (os sons parecem distorcidos, apagados ou
substituídos);
 Dificuldade para encontrar as palavras durante a fala;
 Vocabulário reduzido;
 Discurso confuso ou prolixo;
 Dificuldades para entender o que lê.

A maioria das pessoas com taquifemia refere outros familiares que também
falam rápido. Desta forma, há indícios de que a taquifemia seja transmitida
geneticamente. As mutações genéticas relacionadas à taquifemia ocasionariam
mau funcionamento de áreas do cérebro relacionadas à fala e, principalmente,
ao ritmo da fala.

Gagueira: é o distúrbio mais comum de fluência. Ocorrem sintomas como


repetições (de sons, sílabas ou de palavras monossilábicas), alongamentos e
bloqueios de sons. A taquifemia geralmente ocorre em conjunto com a
gagueira. 35% das pessoas com gagueira também apresentam taquifemia.

Transtorno de aprendizagem: é um termo que se refere a dificuldades na


aquisição da leitura, escrita e/ou matemática. O desempenho nessas áreas não
é compatível com a idade cronológica, com a inteligência e com a escolaridade.
Aproximadamente 5% das crianças apresentam transtorno de aprendizagem.
Em torno de 20% das pessoas com transtorno de aprendizagem também
apresentam TDAHI.

Transtorno de déficit de atenção, hiperatividade e/ou impulsividade


(TDAHI): refere-se a dificuldades com atenção (esquecer coisas, fazer erros
por descuido, ter dificuldade para se concentrar, distrair-se facilmente, etc.),
com o grau de atividade corporal (ser muito inquieto, movimentar-se
excessivamente, falar muito, etc.) e/ou com o controle de impulsos (interromper
os outros com frequência, intrometer-se em conversações, fazer coisas sem
pensar, etc.). É necessário haver diversos sintomas em pelo menos duas áreas
da vida (em casa, na escola ou no trabalho) e por pelo menos 6 meses para
que o diagnóstico possa ser estabelecido. O TDAHI acomete aproximadamente
3% da população. Em torno de 30% das pessoas com TDAHI também
apresentam transtorno de aprendizagem. O diagnóstico de TDAHI é feito pelo
neurologista, psiquiatra ou psicólogo.

Na avaliação, são colhidas amostras de fala em situação de repetição de


palavras, repetição de frases, fala semi-espontânea e leitura em voz alta. As
amostras são analisadas em termos de velocidade de fala, pausas silenciosas,
frequência e tipologia de hesitações/disfluências, coordenação entre respiração
e fala, articulação dos sons de fala. A fala semi-espontânea também é
analisada em relação à estruturação textual (habilidade para descrever, narrar
e argumentar). Quando necessário, também incluímos avaliação específica de
compreensão de fala, vocabulário, leitura, escrita e audição.

O tratamento para taquifemia geralmente apresenta as seguintes metas:

1) Melhora da percepção da própria fala: são utilizadas diversas estratégias


– ouvir gravações da própria fala, variar voluntariamente a velocidade de fala,
observar-se em situações específicas do dia-a-dia.
2) Diminuição da velocidade de fala e aumento de pausas silenciosas: o
paciente treina a redução de sua velocidade de fala, articulando com clareza
todas as sílabas das palavras e fazendo pausas em locais adequados. São
utilizados materiais como repetição de frases, leitura em voz alta e narrativa de
cartoons.

3) Melhora da articulação dos sons de fala: quando as alterações


articulatórias são estritamente devidas ao aumento da velocidade de fala,
melhoram automaticamente com a diminuição da velocidade. Quando este não
for o caso (por exemplo, quando ocorrem trocas de sons), é necessário focar a
produção dos sons propriamente ditos.

4) Aprimoramento do vocabulário: são utilizados jogos de campos


semânticos específicos para melhorar o vocabulário.

5) Encontrar palavras durante a fala (acesso lexical): a diminuição da


velocidade de fala e o aumento de pausas silenciosas geralmente melhoram o
acesso lexical durante a fala espontânea. Quando isso não é suficiente,
lançamos mão de estratégias para reforçar as conexões entre palavras no
dicionário mental. São realizadas atividades que eliciam palavras do mesmo
campo semântico, palavras com vários significados (polissemia), sinônimos,
antônimos.

6) Aprimoramento das habilidades textual-discursivas: são utilizadas


histórias em quadrinho sem texto (cartoons) para aprimorar as habilidades de
descrição, narrativa e argumentação.

7) Hesitações/disfluências comuns e reformulações: a diminuição da


velocidade de fala, o aumento no número de pausas silenciosas e o
aprimoramento do vocabulário, do acesso lexical e das habilidades discursivas
promovem a diminuição no número de hesitações e de reformulações na fala
espontânea.
8) Leitura: em diversos casos, a diminuição da velocidade de fala auxilia na
compreensão do texto lido. Entretanto, alguns pacientes apresentam
dificuldades maiores de leitura. Se o comprometimento for na rota lexical,
haverá maior dificuldade para ler palavras irregulares. Se o comprometimento
for na rota fonológica, haverá maior dificuldade para ler palavras novas ou não-
palavras. Neste caso, o paciente será encaminhado para fonoaudiólogo
especializado em leitura e escrita.

Gagueira: sintomas, tratamentos e causas

www.minhavida.com.br/saude/temas/gagueira

O que é Gagueira?

Gagueira é um distúrbio na temporalização da fala que afeta a fluência e a


comunicação. A temporalização significa o tempo de execução dos sons,
sílabas, palavras e frases. Cada som da fala tem um tempo usual para ser
falado. Esse tempo depende da região onde a fala é produzida. No caso
da gagueira, alguns sons demoram mais para serem ditos. Esse tempo maior
interfere na fluência.

Já a fluência representa a suavidade e facilidade com que os sons, silabas,


palavras e frases são produzidos ao longo da fala. No caso de pessoas com
gagueira, a produção da fala é trabalhosa e a ligação entre sons, sílabas,
palavras e frases não é automática ou espontânea, como ocorre com quem
não tem a condição.

Saiba mais: Gagueira pode surgir por vários motivos

Aproximadamente 5% da população mundial é afetada pela gagueira durante o


desenvolvimento da linguagem e poderá se cronificar dependendo de inúmeros
fatores que possam estar relacionados. Cerca de 1% da população mundial
que gaguejam cronicamente.
Isso significa cerca de 70 milhões de pessoas no mundo, sendo que destes 2
milhões vivem no Brasil. A gagueira necessariamente tem seu início na infância
e pode continuar (ou não) na vida adulta.

Causas

Atualmente, a gagueira é vista pela ciência como um distúrbio causado por


diversos fatores. Alguns dos fatores que favorecem o aparecimento da
gagueira, são:

 Genética: Existem comprovações cientificas da presença de genes


envolvidos no surgimento e manutenção da gagueira, por isso, é
comum ter mais de um membro da mesma família com a condição
 Condições médicas: A gagueira pode ocorrer devido a um AVC, lesões
intracranicanas (também conhecidos como traumatismo
cranioencefálicos (TCE) pré, peri ou pós-natal ou outros problemas
como febre reumática por exemplo
 Fator social: Desde que haja pré-disposição orgânica, ocorre quando a
criança está inserida num ambiente familiar ou escolar facilitador ao
desencadeamento da gagueira. Quando um destes ambientes é muito
agitado, ou é composto por pessoas que falam muito rápido, ou usam
com uma complexidade muito maior do que aquela adequada para a
criança, a gagueira tem mais chances de aparecer
 Fator psicológico: Está comprovado que problemas emocionais NÃO
CAUSAM GAGUEIRA. Ao contrário, a vivência de uma fala gaguejada
pode trazer alguns dificultadores para a pessoa. Fatores emocionais
podem ser considerados agravantes, mas não são cientificamente
considerados como causadores da gagueira. Algumas crianças que
apresentam alguns dos fatores de risco para a gagueira mas que ainda
não se manifestam na fala, ou seja, já tem predisposição para tal, ao
passarem por alguma situação de maior impacto emocional, poderão
iniciar a gaguejar. Mas tem que haver a predisposição e sabemos não
é a maioria.

Fatores de risco
Alguns fatores que aumentam os riscos das crianças desenvolverem a
gagueira são:

 Ter um histórico familiar de gagueira


 Atraso no desenvolvimento infantil
 Ser do gênero masculino. Ao redor de 5% das crianças poderão
gaguejar até a adolescência. Desses, metade são meninos, metade
meninas. No entanto, a taxa de remissão espontânea nas meninas é
maior. Dessa forma, os meninos são mais sujeitos a cronificarem, ou
seja, a desenvolverem a gagueira crônica
 Gagueira que continua na criança por oito semanas ou mais.

É importante ressaltar que nenhum desses fatores, sem a pré-disposição


orgânica irá fazer com que a pessoa desenvolva a gagueira.

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Sintomas de Gagueira

Alguns dos sintomas da gagueira são:

 Prolongamento de sons. O som é emitido por maior tempo do que o


esperado. Por exemplo: “Aaabra a porta, por ffffavor”
 Bloqueios de sons, ocorrem quando um som fica impossibilitado de ser
articulado. Por exemplo: “(alguns momentos de silêncio) Abra a porta,
por favor”
 Repetição de sons e sílabas. Por exemplo: “A-a-bra a porta, por favor”
 Troca de palavras durante a fala. A pessoa que gagueja vai dizer uma
palavra e antes de fazê-lo percebe que irá gaguejar, por isso troca a
palavra. A questão da gagueira está no gesto pré-motor. Ela recebe
pistas ao redor de 450 milissegundos antes de que aquele
determinado som não será articulado. Por exemplo, ela ia dizer “por
favor”, mas ao notar que irá gaguejar na palavra “favor”, diz “por
obséquio”
 Uso mais frequente de interjeições. Por exemplo: “tipo assim, então,
né?!”
 Simplificação de frases. Acontece quando a pessoa recebe pistas
motoras de que vai gaguejar percebe que vai gaguejar com em
determinada palavra e decide tirá-la ou substitui-la por uma
articulatoriamente mais simples da frase
 Dificuldade em iniciar uma palavra, frase ou expressão
 Excesso de tensão para produzir uma palavra ou som
 Ansiedade em iniciar a fala, devido às sucessivas experiências com a
fala gaguejada
 Capacidade limitada para se comunicar de forma eficaz
 Movimentos motores involuntários como: tensões faciais, tremores de
lábios, mandíbula, piscar de olhos,
 Buscando ajuda médica

Como falado acima, 5% das crianças apresenta alterações na fluência. Caso a


gagueira persista por mais de 8 semanas, é necessário procurar um
fonoaudiólogo especializado na área. Em geral, médicos e pediatras não estão
atualizados com os descobrimentos da ciência sobre a cronificação da
gagueira. E muitas vezes cometem o GRANDE erro de pedir para esperar. O
“espera que passa” é o pior diagnóstico que os pais podem receber sobre a
fala de sua criança. Sim, a chance de alcançar a remissão espontaneamente é
grande – cerca de 80% - mas as outras crianças que correm risco de
cronificação estarão perdendo um tempo precioso de reabilitação. Uma criança
que gagueja não necessitará ser um adulto que gagueja.

Entre em contato com o fonoaudiólogo especializado em fluência caso a


gagueira:

 Durar mais de oito semanas


 Ocorrer acompanhada de outros problemas de fala e linguagem
 Quando a quantidade de rupturas ou a sua intensidade aumentarem
ao longo do tempo, mesmo durante o período de oito semanas
 Ocorrer com visível dificuldade para falar
 Afetar a capacidade da criança de se comunicar
 Causar dificuldades emocionais, como ansiedade ou estresse
 Começar quando a pessoa já é adulta.
Na consulta médica

O especialista apto a diagnosticar gagueira é o fonoaudiólogo. Estar preparado


para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma,
você já pode chegar à consulta com algumas informações:

 Uma lista com os comportamentos de fala observados e há quanto


tempo eles apareceram
 Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha,
como acontecimentos pré-natais, ou durante o parto, infecções de
garganta, e medicamentos que a criança tome com regularidade, como
broncodilatadores, cloridrato de metilfenidatoitalina, ou homeopaticos
 Se possível, pai e mãe participarem da consulta.

Você ouvirá uma série de perguntas, tais como:

 Quando você notou a gagueira pela primeira vez?


 A gagueira está sempre presente ou ela vem e volta?
 Alguma coisa parece melhorar a sua gagueira?
 Alguma coisa parece piorar sua gagueira?
 Quais os efeitos que a gagueira tem na sua vida?
 Mais alguém na sua família tem gagueira?
 Qual o efeito que a gagueira tem na sua vida ou na vida da sua
criança?

Também pode ser útil levar suas dúvidas para a consulta por escrito,
começando pela mais importante. Isso garante que você conseguirá respostas
para todas as perguntas relevantes antes da consulta acabar. Para gagueira,
algumas perguntas básicas incluem:

 O que está causando a minha gagueira ou a gagueira na minha


criança?
 Quais são os exames necessários?
 Esta condição é temporária ou durará muito tempo?
 Quais os tratamentos disponíveis e quais você recomenda?
 Existe alguma alternativa a este primeiro tratamento que você sugere?
 Existe algum folheto, livro ou site que você recomende para que me
informe mais sobre a gagueira?

Não hesite em fazer outras perguntas, caso elas ocorram no momento da


consulta.

Diagnóstico de Gagueira

Infelizmente, ainda não existe um padrão mundialmente utilizado para o


diagnóstico da gagueira. Contudo, normalmente o diagnóstico é realizado por
meio da contagem do número de rupturas na fala em um intervalo de tempo, do
levantamento dos tipos de disfluências que estão na fala, análise do ritmo e da
naturalidade da fala e observação da tensão e movimentos associados. Os
diagnósticos de gagueira deveriam iniciar imediatamente após o padrão de oito
meses de não-fluências.

Porém, muitos pais procuram esse recurso antes desse prazo para se
certificarem que de esteja tudo bem com sua criança. Assim já podem receber
informações preciosas para a observação da evolução do que poderá ocorrer
nas próximas duas semanas.

Existem diversos tratamentos disponíveis contra a gagueira. A natureza dos


tratamentos deverá ser compatível com a idade da pessoa e com os objetivos
de comunicação específicos de cada um, especialmente se a pessoa que
gagueja for adulta, entre outros fatores. Caso você ou sua criança gaguejem, é
importante procurar um fonoaudiólogo a fim de ver o melhor tratamento
disponível. Os psicólogos não estão instrumentalizados para o tratamento da
gagueira, uma vez que a gagueira não é um distúrbio emocional ou afetivo e
sim, um distúrbio neuroquímico que afeta as estruturas pré-motoras da fala. O
DSM V não classifica gagueira como um problema emocional. Mas um
profissional da área pode ser um colaborador no tratamento da gagueira no
que se refere à dificuldades de autoestima, ou autoimagem. Confira alguns
tipos de tratamentos:

 Terapia de modificação da gagueira: Existem diversas terapias


voltadas para adolescentes e adultos que tem como objetivo minimizar
a gagueira, como falar de forma mais lenta, regular a respiração ou
dizer sílaba por sílaba palavras ou frases mais longas e complexas.
Muitas terapias também ajudam a diminuir a ansiedade que sentem
em falar em algumas situações - como falar ao telefone, manter o
contato de olho, entre outros
 Terapia de promoção da fluência: O terapeuta instrumentaliza a
pessoa com técnicas facilitadoras da fluência e, no caso de crianças,
também trabalha com a família para auxiliar a criança a falar de forma
mais suave e fluente. Nesta modalidade também é importante o papel
da escola, que deverá também incluída no trabalho
 Uso de medicamentos: Não há uma droga específica para o
tratamento da gagueira. Contudo, alguns medicamentos que agem no
sistema neurológico central, podem ajudar na diminuição da gagueira.
Muitos desses medicamentos tem efeitos colaterais significativos. Por
isso, é necessária a participação de um neurologista ou de um
psiquiatra, para a verificação de possíveis sinais e sintomas
 Uso de aparelhos eletrônicos: Alguns aparelhos eletrônicos podem
ajudar a melhorar a fluência de algumas pessoas que gaguejam
 Grupos de apoio: Participar de grupos de apoio a pessoas que sofrem
de gagueira pode ser uma boa alternativa para compreender melhor a
sua dificuldade e observar que existem outros que convivem com o
mesmo distúrbio.

Gagueira tem cura?

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Convivendo/ Prognóstico

Os pais de crianças que gaguejam podem tomar algumas atitudes para ajudar
os pequenos:

 Ouvir com atenção o seu filho sua criança e manter a naturalidade


enquanto ela fala
 Separar um tempo para conversar com sua criança seu filho, sem
distrações
 Falar devagar e sem pressa, sem contudo perder a naturalidade da
fala
 Incentivar todos da família a serem bons ouvintes
 Criar um ambiente o mais tranquilo e relaxado possível
 Evitar de chamar atenção para a gagueira durante interações diárias
 Aceitar a criança como ela é
 Não reagir negativamente, não criticar e não punir a sua criança seu
filho quando ela gaguejar.

Lembre-se que a gagueira é involuntária, intermitente e individual.

Complicações possíveis

Pessoas com gagueira tendem a falar menos e isso poderá irá interferir
quantitativa e qualitativamente nos objetivos a serem atingidos. A gagueira
pode afetar a vida profissional e pessoal, gerando insatisfações e frustrações.

Gagueira tem cura?

A gagueira pode ter cura desde que o tratamento seja iniciado o mais próximo
possível do início das manifestações. Dessa forma, a criança tem de 98% a
100% de chances de superar o problema. Quanto mais tempo de espera,
menores são as possibilidades de cura. Isto porque quanto antes houver uma
intervenção adequada mais chances de remissão total terá.

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Prevenção

Não há como prevenir o surgimento da gagueira, contudo é possível obter a


não evolução do quadro e também a sua remissão. A detecção rápida e a
intervenção precoce permitem que a gagueira não cronifique.

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Referências

Ignês Maia Ribeiro, fonoaudióloga especializada em fluência e diretora


educacional do Instituto Brasileiro de Fluência
Associação Brasileira de Gagueira

Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição

Instituto Nacional de Surdez e outros distúrbios de comunicação do


Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos

Clínica Mayo – organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que reúne
conteúdos sobre doenças, sintomas, exames médicos, medicamentos, entre
outros.
Tropeçando em palavras A gagueira afeta cerca de 1% da população,
principalmente homens. Pesquisas revelam as bases neurobiológicas do
distúrbio e como funcionam as terapias de reabilitação. por Katrin Neumann A
gagueira geralmente aparece entre 2 e 4 anos. Genética responde por até 60%
dos casos Os problemas de Bruno começaram quando ele tinha 3 anos, depois
de ver dois carros em chamas, logo após um acidente. Pouco depois ele
começou a gaguejar. Hoje, aos 40, Bruno gosta de ir a restaurantes, mas
prefere pedir lasanha em vez de sua pizza favorita, à portuguesa, porque tem
dificuldade de pronunciar palavras que começam com fonemas explosivos
como o som de "p". Concluir que esse distúrbio da linguagem teria sido
causado exclusivamente pela situação traumática seria entretanto precipitado.
Pesquisas recentes mostram que o transtorno pode ser deflagrado por fatores -
físicos, psíquicos e ambientais - que, em geral, aparecem de forma associada.
Embora alguns ainda considerem erroneamente a gagueira um transtorno de
personalidade ou sinal de pouca inteligência, neurocientistas acreditam que a
dificuldade se encontra exatamente no ato de falar. Muitos gagos são capazes
de recitar poemas e cantar com relativa facilidade, mas uma conversa normal
pode ser um exercício penoso e frustrante para eles. Falar é uma tarefa de
precisão, ainda que a maioria das pessoas tenha apenas de abrir a boca para
que um fluxo ordenado de palavras flua. Em milésimos de segundo, o cérebro
orquestra o trabalho de diversas estruturas para que produzam sons e sentidos
apropriados. Os músculos da laringe, da língua e dos lábios funcionam em
uníssono e o ar é usado na quantidade e no momento certos. Para cerca de
1% da população, no entanto, a comunicação verbal exige muito mais que
mera determinação. A gagueira geralmente aparece entre 2 e 4 anos e é
quatro vezes mais freqüente em homen Revista Mente&Cérebro - Reportagem
necessárias, muito provavelmente porque seu sobrenome começa com a
temida letra "p". A gagueira tende a piorar em condições estressantes, como
nos diálogos cara a cara. Por outro lado, a fluência melhora muito quando a
pessoa está relaxada, ou então quando um "marca-passo" externo - como o
ritmo de um poema ou de uma canção - garante calma e ordem. As palavras
podem fluir tranqüilamente quando a pessoa fala a uma criança ou a um
animal, ou mesmo durante o sono. Para agravar o problema, muitos gagos
sofrem com sintomas secundários. Ao se esforçar para emitir as palavras,
costumam fazer caretas e gesticular demais, inspirar e expirar profundamente,
ruborizar e suar. Infelizmente, a maioria das pessoas reage com irritação a
essas paracinesias. Quando a pessoa é interrompida, o medo de falar se
intensifica, e o gago acaba se ofendendo e se retraindo ainda mais. O cantos
Nelson Gonçalves não gaguejava enquanto cantava. As atrizes Marylin Monroe
e Julia Roberts manifestaram o distúrbio na infância Fala e audição Aspectos
neurofisiológicos do distúrbio começaram a ser estudados no início do século
XX. Os neurologistas Samuel Orton e Lee Travis realizaram as primeiras
pesquisas na década de 20. Eles observaram crianças canhotas que
apresentavam problemas de fluência da fala sempre que eram forçadas a
escrever com a mão direita. Na época, imaginava-se que a razão fosse algum
problema neurológico de lateralização: o cérebro não conseguiria definir de
forma exata qual o hemisfério responsável por qual função, o que resultaria em
erros de processamento que afetariam a articulação das palavras. Mais tarde,
as técnicas de imageamento cerebral vieram corroborar a hipótese de Orton e
Travis. Em meados dos anos 90, estudos com tomografia por emissão de
pósitrons (PET) revelaram que os gagos exibem menor atividade nos centros
da fala localizados no hemisfério esquerdo, bem como em determinadas áreas
auditivas, segundo Peter T. Fox, do Centro de Ciência da Saúde da
Universidade do Texas em San Antonio. Ao mesmo tempo, as áreas
correspondentes no hemisfério direito pareciam ativas, mas não de forma
usual. Anos depois, uma equipe alemã e finlandesa liderada por Riitta Salmelin,
da Universidade de Tecnologia da Finlândia, acrescentou mais alguns detalhes
a esses resultados. O método usado foi magnetoencefalografia (MEG), técnica
não-invasiva que registra campos magnéticos fracos que se formam e mudam
em função da atividade elétrica neuronal. Os resultados do estudo mostraram
que a transferência de sinais entre os centros da fala no hemisfério esquerdo
estava ocorrendo na seqüência errada. A causa seriam conexões neuronais
supostamente defeituosas. Outro fator que contribui para a gagueira é o
processamento imperfeito do som. A compreensão da fala é essencial para
produzi-la de maneira apropriada. A chamada área de Wernicke, localizada no
córtex do hemisfério esquerdo e envolvida na compreensão da linguagem,
fornece um feedback constante das palavras que falamos, checando se elas
soam de forma correta. Os sons que ouvimos se transformam em palavras e
frases com significado, e a articulação correta de tudo isso é planejada no lobo
frontal inferior esquerdo, mais conhecido como área de Broca. Depois, o córtex
motor ativa os músculos necessários da língua, da laringe e dos lábios. Os
gagos parecem não ser capazes de perceber corretamente as palavras que
lhes saem da boca, segundo Janis e Roger Ingham, da Universidade da
Califórnia em Santa Bárbara. Em 2003, eles publicaram estudo no qual
observaram que a área de Wernicke de gagos parece afetada de modo
particular, assim como outras regiões cerebrais responsáveis pelo
processamento auditivo. Os gagos apresentam diferenças estruturais nos
centros motores da fala e nas áreas auditivas. Em 2001, Anne L. Foundas, da
Universidade Tulane, observou fissuras e relações anormais de tamanho em
certas áreas do córtex cerebral dos pacientes. No ano seguinte, Christian
Buechel, da Universidade de Hamburgo, e Martin Sommer, da Universidade de
Göttingen, Alemanha, descobriram que as fibras nervosas do cérebro do gago
estão significativamente deslocadas numa região localizada abaixo da área de
Broca. Apesar das deficiências, um número razoável de gagos consegue
exercer algum controle sobre o distúrbio. De alguma forma o cérebro deles é
capaz de compensar, ainda que parcialmente, as falhas de algumas conexões
sobretudo quando são auxiliados por terapia. Tal fenômeno parece se
manifestar de forma espontânea como resultado do aumento da atividade
cerebral que acompanha a fala no hemisfério direito. Usando ressonância
magnética funcional (fMRI), nossa equipe da qual participaram Christine
Preibisch, da Universidade de Frankfurt, e Anne-Lise Giraud, da Escola Normal
http://www2.uol.com.br/vivermente/conteudo/materia/materia_63.html (2 of
4)13/12/2006 23:18:44 Revista Mente&Cérebro - Reportagem Superior de Paris
observou maior atividade numa área chamada opérculo frontal direito (OFD).
Situada no lobo frontal inferior do hemisfério direito, corresponde, no hemisfério
esquerdo, à posição da área de Broca. Normalmente as pessoas usam o OFD
quando percebem erros gramaticais ou precisam completar as lacunas de uma
frase. Os gagos usam a mesma região para restaurar a função perdida por
causa do déficit do lado esquerdo. E, com efeito, quanto menos nossos
pesquisados gaguejavam, mais podíamos observar evidências de que os
neurônios no OFD estavam disparando. Recuperando a fluência Que tipo de
mecanismo seria ativado durante o tratamento a fim de diminuir os tropeços da
fala dos gagos? Para responder essa pergunta, nossa equipe em Frankfurt
trabalhou em colaboração com Harald A. Euler, da Universidade de Kassel, e A
Alexander Wolff von Gudenberg, diretor do Instituto Kassel de Tratamento da
Gagueira, Alemanha. Nos anos 90, os dois desenvolveram uma versão
modificada de um programa de treinamento americano para melhorar a fluência
de pessoas gagas. Com o chamado método Kassel, os pacientes aprenderam
uma forma nova e mais suave de falar, que utiliza uma técnica especial de
respiração. Mesmo dois anos depois do tratamento, a incidência do distúrbio foi
reduzida em até 70% em mais de trê quartos dos participantes do treinamento.
Paralelamente, conduzimos um estudo com fMRI para determinar com precisão
o que se passava no cérebro dessas pessoas. Registramos a atividade
cerebral de gagos destros e a de um grupo de controle, tanto antes como logo
após o tratamento. Acompanhamos os pacientes durante dois anos. No início
do tratamento, a atividade cerebral geral nos gagos era um pouco mais intensa
do que no grupo de controle. Como já era esperado, o efeito mais marcante foi
observado no hemisfério direito, precisamente no OFD. Também notamos
atividade reduzida na área de Broca, confirmando evidências anteriores.
Depois da terapia, no entanto, a situação mudou. Durante a fala, a atividade
cerebral aumentada dos gagos migrou para o hemisfério esquerdo, próximo à
área de Broca e ao córtex auditivo. Com a terapia, o cérebro parece ter criado
um mecanismo de compensação mais bem-sucedido. A dúvida é: essas
abordagens terapêuticas realmente "repararam" os centros da fala originais
que estavam menos ativos inicialmente? Infelizmente, a resposta é não. As
regiões adjacentes assumiram esse processamento; as áreas menos ativas no
começo do estudo continuaram a disparar aproximadamente com a mesma
freqüência. Assim, o cérebro dos gagos tenta melhorar suas fraquezas
apoiando-se no OFD e, depois da terapia, usando as regiões vizinhas dos
centros da fala e da audição do lado esquerdo. Tal hipótese é corroborada pela
observação de que as pessoas que gaguejam pouco geralmente apresentam
atividade cerebral maior no OFD do que quem gagueja muito. Além disso, a
maior atividade no hemisfério direito diminuiu, em certa medida, dois anos
depois de concluído o tratamento pelo método Kassel. Paralelamente, a
gagueira piorou um pouco. Essa atividade cerebral global um pouco mais
intensa nos que passaram pela terapia é sinal de que esse novo padrão de fala
deve ser monitorado e praticado continuamente. Atualmente nossa pesquisa
está focada nos mecanismos de compensação. Uma das questões que mais
nos interessam é como os padrões de atividade cerebral de pessoas cuja
gagueira na infância diminuiu diferem dos de pessoas que continuam
gaguejando. Enquanto nós, pesquisadores, buscamos respostas, uma coisa é
certa: quanto mais cedo a pessoa reconhece os sinais do distúrbio e começa
uma terapia, maiores são as chances de corrigi-lo. Terapias que funcionam
Como em muitos outros distúrbios, quanto mais cedo o tratamento da gagueira
começar, maiores serão as chances de sucesso. Embora adultos em geral
consigam melhorar razoavelmente sua fluência, os programas iniciados na
infância com freqüência eliminam o problema definitivamente. Há diversos
métodos disponíveis para tratar distúrbios da comunicação e da fala. Apenas
alguns deles, entretanto, foram pesquisados de forma profunda. Dois métodos
provaram ser particularmente bem-sucedidos. No primeiro, conhecido como
terapia de modificação da gagueira, os pacientes aprendem a chamada
pseudogagueira. Eles são treinados para gaguejar de propósito, o que os põe
em conflito com seus próprios tiques e os faz perder o medo de falar. O
segundo método, chamado modelagem de fluência, emprega novas técnicas
de fala. Uma variação dele é o programa Lidcombe, um tipo de terapia
comportamental desenvolvido na Austrália e adaptado para cada criança. Outra
variante da modelagem de fluência foi criada pelos alemães Harald Euler e
Alexander Wolff von Gudenberg. O tratamento começa com três semanas de
terapia intensiva, durante as quais os gagos aprendem um novo padrão de fala,
com técnicas de controle do stress, educação vocal e transições suaves entre
sons e respiração. Os exercícios devem ser praticados por no mínimo um ano.
A longo prazo, a taxa de sucesso é impressionante: mais de dois terços dos
pacientes continuam falando mais fluentemente depois de dois anos. Formas
"indiretas" de terapia também podem ajudar a aumentar as chances de
reabilitação. Elas têm como objetivo educar os pais de crianças gagas a mudar
a forma como conversam com elas. Eles aprendem, por exemplo, a procurar
não falar rápido demais e a evitar frases com estruturas muito complexas.
Distúrbio multifatorial
http://www2.uol.com.br/vivermente/conteudo/materia/materia_63.html (3 of
4)13/12/2006 23:18:44 Revista Mente&Cérebro - Reportagem A gagueira é um
distúrbio da comunicação no qual o fluxo da fala é interrompido por repetições,
prolongamentos ou paradas anormais de sons e sílabas, podendo ser
acompanhado de movimentos incomuns da face e do corpo que refletem o
esforço para falar. Estima-se que cerca de 1% da população seja gaga, na
razão de quatro homens para uma mulher. A idéia de que a gagueira é
causada por episódios traumáticos na infância não tem fundamento científico.
Especialistas apontam pelo menos quatro fatores que contribuem para o
desenvolvimento do distúrbio: herança genética (cerca de 60% dos pacientes
têm alguém na família que também gagueja); problemas no desenvolvimento
(crianças com distúrbios de linguagem são mais propensas); características
neurobiológicas (algumas áreas cerebrais dos gagos são diferentes das de
pessoas que não gaguejam); dinâmica familiar (excesso de expectativas e de
frustração e estilo de vida muito acelerado podem contribuir para o
aparecimento). Quase sempre a gagueira é o resultado da combinação desses
fatores, e aqueles responsáveis pelo surgimento do problema não são
necessariamente os mesmos que determinam sua continuidade ou piora ao
longo da vida. Existem basicamente duas linhas de tratamento da gagueira: a
fonoaudiológica e a psicológica. A primeira tende a enfatizar a aprendizagem
motora de técnicas a serem usadas durante a fala; a segunda se concentra nos
aspectos emocionais que interferem na fluência e na temporização da fala.
Ambas oferecem bons resultados, especialmente nas crianças, se empregadas
de forma complementar. A autora KATRIN NEUMANN é médica
otorrinolaringologista em Frankfurt e especialista em distúrbios da fala e da
audição. - Tradução de Frances Jones Para conhecer mais Gagueira: etiologia,
prevenção e tratamento. Lúcia Maria Gonzales Barbosa e Brasília Maria Chiari.
Editora PróFono, 2005. What causes stuttering. Christian Büchel e Martin
Sommer, em PLoS Biology, vol. 2, no 2, págs. 159-163, 2004. Instituto
Brasileiro de Fluência - www.gagueira.org.br Associação Brasileira de Gagueira
- www.abragagueira.org.br

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