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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM

Anelise Junqueira Bohnen

DISTÚRBIOS DE FLUÊNCIA

Dra Fga Anelise Junqueira Bohnen


MÓDULO 1
Diagnóstico diferencial
Anelise Junqueira Bohnen

OLIVEIRA, CMC e BOHNEN, AJ. DISTÚRBIOS DA FLUÊNCIA: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL.


In: “Tratado de linguagem: Perspectivas Contemporâneas”. São Paulo, 2017.

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DIFERENÇAS ENTRE SINAIS E SINTOMAS

Sintoma
Na literatura médica, sintoma é qualquer alteração da percepção normal que
uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas
sensações, podendo ou não consistir-se em um indício de
doença. Sintomas são frequentemente confundidos com sinais.
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Sinais são as alterações percebidas ou medidas por outra pessoa,


geralmente um profissional de saúde.

A diferença entre sintoma e sinal é que o sinal é aquilo que pode ser
percebido E OU MEDIDO por outra pessoa sem o relato ou comunicação do
paciente...
SÍNDROME, TRANSTORNO, DOENÇA E DISTÚRBIO:
QUAL A DIFERENÇA?

SÍNDROME: é uma condição médica que resulta num conjunto de sinais e sintomas
que caracterizam mais de uma doença, que independem da causa e da origem que as
diferenciem. Seu nome vem do grego “syndromé” e significa reunião. Geralmente, as
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síndromes são nomeadas com o nome da pessoa que a pesquisou ou a sua geografia.

DOENÇA: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), doença é considerada


“ausência de saúde” com a alteração do estado de equilíbrio do indivíduo com o meio
ambiente, ou seja, é uma disfunção de um órgão, psique e/ou organismo com
sintomas específicos. Vem do latim “dolentia” com sentido de padecimento;
SÍNDROME, TRANSTORNO, DOENÇA E DISTÚRBIO:
QUAL A DIFERENÇA?

TRANSTORNO: é uma perturbação de ordem psicológica e/ou mental que


causa incômodo na pessoa devido a falha de estimulação na
região frontal do cérebro.
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DISTÚRBIO: é uma disfunção do Sistema Nervoso Central no cérebro que


causa desequilíbrio patológico por alguma alteração violenta da
ordem natural.

https://clinicadrrocha.com.br/sindrome-transtorno-doenca-e-disturbio-qual-a-diferenca/
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Diagnóstico diferencial é um método sistemático ou uma


hipótese formulada pelo fonoaudiólogo com base em:

 sinais, sintomas e / ou características apresentadas pelo


paciente durante o processo de avaliação e
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 é usado para distinguir distúrbios de aparência similar.

 É feito através de um processo de eliminação, através de


uma análise detalhada da origem, caracterização e
desenvolvimento dos sinais e sintomas que são necessários
para chegar à conclusão de que eles pertencem a um
distúrbio particular e não outro semelhante.

http://www.gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=36
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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• Neste processo, o profissional restringe a hipótese a um


conjunto de possibilidades, atendendo às suas semelhanças
ou diferenças com outras características clínicas.

• Os distúrbios de fluência envolvem mudanças de


comunicação que têm interrupções na continuidade da fala
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como uma das principais manifestações clínicas.

• O mais comumente encontrado na prática clínica são:


gagueira do desenvolvimento, taquilalia, taquifemia, gagueira
por lesões detectáveis ou gagueira neurogênica e gagueira
por reação de conversão ou reação psicogênica.

http://www.gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=36
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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• Sabe-se que existe coexistência de distúrbios de fluência e


transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (ADHD),
Síndrome de Down, Síndrome de Tourette, tiques, Síndrome da
Respiração Oral, entre outros.
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• Por outro lado, distúrbios de fluência podem ocorrer


concomitantemente na mesma pessoa, como gagueira e
taquifemia, por exemplo.

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Conhecer as características dos distúrbios da
fluência possibilita:
• Diagnóstico correto
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• Tratamento adequado
• Detecção de comorbidades
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• Uma vez que existem vários tipos de transtornos de fluência, um dos


objetivos deste Módulo 1 é mostrar as semelhanças e diferenças entre
eles, fornecendo ao fonoaudiólogo uma maneira clara e objetiva de
compará-los e assim qualificar seu diagnóstico.
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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• Na fonoaudiologia ou na terapia fonoaudiológica, a palavra gagueira


tem sido utilizada com pouca parcimônia para caracterizar qualquer
uma das rupturas que podem ocorrer na fala.
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• A gagueira, entre os distúrbios da fluência da fala, é a mais comum,


com uma prevalência de 1% da população adulta e até 5% da
população infantil.

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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Agora vamos discutir alguns aspectos específicos, que


contribuem para diferenciar a Gagueira como Distúrbio
Neurodesenvolvimental dos outros distúrbios.
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O processo de diagnóstico fonoaudiológico

• Realização da avaliação e
O QUÊ?
• de testes complementares
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distinguir, entre distúrbios semelhantes, as


PARA QUÊ? características, os sinais e os sintomas que
remetem às diferenças, detecção de comorbidades.

Esse diagnóstico também irá embasar a escolha dos processos


terapêuticos que serão mais adequados a uma ÚNICA pessoa.
Muitos fatores interagem num processo de tomada de decisões:
referenciais teóricos, habilidades, competências e paradigmas dos
fonoaudiólogos, princípios norteadores das escolhas terapêuticas,
diferenças metodológicas e, principalmente, a singularidade de cada
pessoa cuja fala se rompe (Bohnen, 2007).
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Esses e outros fatores são permeados pela concepção de ser humano


que embasa o trabalho de cada profissional fonoaudiólogo (Bohnen,
2014, 2015).
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

 Fluência
 Disfluência
 Taquilalia
 Taquifemia
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 Pseudo-gagueira (reação de conversão)


 Gagueira por lesão detectável (acidentes vasculares,
tumores, traumatismos cranianos)

 Gagueira do desenvolvimento
O que é gagueira?

De acordo
De acordo comcom a Classificação
a Classificação Internacional Internacional dasTranstornos:
das Doenças e outros DoençasCIDe –outros
10 Transtornos: CID – 10

“A fala é caracterizada por repetições frequentes ou prolongamentos de fones,


sílabas ou palavras, ou por hesitações frequentes, ou pausas que rompem o fluxo
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da fala.
Deverá ser classificado como um distúrbio apenas quando sua severidade
marcadamente interfere na fluência da fala.
É um distúrbio no ritmo da fala, no qual o indivíduo sabe precisamente o que quer
dizer mas, ao mesmo tempo, é incapaz de dize-lo devido a repetições,
prolongamentos e interrupções involuntárias dos sons”.
CID 10 – F98.5
O que é gagueira? De acordo com o DSM V
De acordo com a Classificação Internacional das
Doenças e outros Transtornos: CID – 10

No Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders-DSM V (2013) gagueira passou a


chamar-se Distúrbio de Comunicação no geral, e é descrita como distúrbio de fluência
iniciado na infância – gagueira, no particular.

Está classificada dentro da seção de Distúrbios Neurodesenvolvimentais.


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Diz: distúrbio nos padrões normais de fala e fluência que interferem com as aquisições
normais de linguagem.

DSM V 315.35.

Disponível em: http://dsm.psychiatryonline.org/doi/book/10.1176/appi.books.9780890425596

https://www.healthyplace.com/neurodevelopmental-disorders/communication-disorders/what-
is-stuttering-aka-childhood-onset-fluency-disorder/
GAGUEIRA DO DESENVOLVIMENTO

• A gagueira é um transtorno/distúrbio da fluência


caracterizada por interrupções involuntárias e atípicas
do fluxo da fala, prejudicando a produção de uma fala
contínua, suave e rápida.
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• Geralmente é experimentada pelo indivíduo que


gagueja como uma perda de controle.
GAGUEIRA DO DESENVOLVIMENTO

• Interrupções involuntárias e atípicas do fluxo da fala.

• Comunidade científica: a gagueira de desenvolvimento é


uma condição neurológica multifatorial.

• Sua natureza exata não está totalmente desvendada.


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• A pressão interna, externa e a pressão do tempo, pioram a


gagueira do desenvolvimento mas não são as causas
primárias.

• A gagueira de desenvolvimento melhora em condições de


relaxamento.
OUTROS FATORES

A preliminary survey of vocal tract characteristics


during stuttering: implications for therapy

by Anelise Junqueira Bohnen


from Brazil
October 22, 2011

http://www.mnsu.edu/comdis/isad16/papers/anelise16.html
BOHNEN, Anelise Junqueiraa,*

a Brazilian
Fluency Institute – IBF
*E-mail address: ajbohnen@uol.com.br

Abstract
The goal of this preliminary study was to investigate what happened in the vocal tract of six adult
males who stutter, who complained about intense movements in their throats when trying to speak.
These movements were not easily seen externally and, because subjects were not responding to
either fluency shaping or stuttering modification techniques, a flexible fiber optic nasolaryngoscopy
evaluation was required to study their laryngeal activity during stuttering. The obtained images
showed eighteen different movements during stuttering moments, of which seven occurred before
phonation was initiated. These movements are different from those of fluent speakers. These findings
were valuable for clinical purposes because learning what happened in these subjects’ vocal tracts
during stuttering, refined diagnostic and therapeutic strategies to enhance each individual’s fluency.
GAGUEIRA DO DESENVOLVIMENTO

Tensão muscular
Tensão vocal

ESFORÇO FÍSICO Incoordenação pneumo-fono-


articulatória
Movimentos corporais
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Fala rompida

Substituição de fones e/ou


palavras
ESFORÇO MENTAL
Diversas formas de ocultar a
gagueira
Uso de estratégias diversionistas
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O que é a antecipação da gagueira?
Sahin, et al. (2009),
Dentro da área de Broca havia atividades neuronais distintas para

• processamento do léxico: ~ 200 milissegundos

• processamento da gramática: ~ 320 milissegundos

• dos traços fonológicos: ~ 450 milissegundos.

• O mesmo ocorreu para substantivos e verbos.

• Isso sugere que há uma sequência do processamento linguístico no cérebro


para a realização de atividades com padrões espaço-temporais. Os resultados
são consistentes com propostas recentes de que a área de Broca não funciona
exclusivamente para um tipo de representação linguística, mas se diferencia em
circuitos adjacentes que processam as informações lexicais, gramaticais e
fonológicas.
Em 2000, Salmelin et al, já haviam identificado no hemisfério
esquerdo um intervalo de 400 milissegundos entre a apresentação de
uma palavra e o tempo necessário para a sua execução motora.

Os sujeitos com gagueira usaram tempos diferentes dos controles


fluentes. As neuroimagens indicavam anormalidades funcionais
diferentes, mesmo durante a fala fluente dos sujeitos com gagueira.
Estes achados permitem a inferência de que a fluência, para ser
adquirida e mantida, carece de atividades neuronais que se sucedem
em padrões temporais bem definidos, e que tal não ocorre em cérebros
de quem gagueja.
Esses dados nos mostram que a pessoa que gagueja pode
antecipar seus momentos de ruptura num lapso de tempo que
varia de ~200ms a ~450ms.

É durante esse tempo que ela poderá aplicar as aprendizagens


adquiridas no processo fonoterapêutico.

É uma faixa de tempo que parece exígua.

No entanto, um trabalho fonoterápico estruturado, bem planejado e bem


administrado tem se mostrado a maneira mais eficiente de se obter mais
fluência, assim como de se mantê-la.
Gagueira x Taquifemia

GAGUEIRA TAQUIFEMIA
• Há tensão muscular • Não há tensão nem evitação de
palavras ou situações de fala
• Evitação de palavras e situações
de fala • Impaciente, desorganizado,
apressado.
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• Tempo de atenção dentro da • Melhora quando presta atenção na


normalidade fala

• Pouca ou nenhuma dificuldade • Tempo de atenção reduzido


de organizar o pensamento
• Dificuldade com a organização do
pensamento
• Motivação adequada para terapia
• Baixa motivação para a terapia
Gagueira x Taquifemia

GAGUEIRA TAQUIFEMIA
• Queixa mais específica e • Queixa relacionada com a
direcionada ao distúrbio velocidade de fala e o prejuízo na
• Pessoas descrevem as disfluências que inteligibilidade;
ocorrem na sua fala, e as dificuldades
específicas em manter a continuidade do • Pessoas geralmente não têm
fluxo da fala. consciência das manifestações
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• Aumento da frequência das disfluências


típicas da gagueira, e o prejuízo no fluxo
de informação.
• Velocidade de fala aumentada ou
irregular, com prejuízos na
inteligibilidade
• Desempenho piora na leitura de um texto
desconhecido
• Desempenho melhora na leitura de
um texto desconhecido
• Leitura melhora com um texto conhecido
• Leitura piora com um texto
conhecido
COMORBIDADES

TDAH
Síndrome de Down
Síndrome de la Tourette
Distúrbios Síndrome da Respiração Oral
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Disfonia espasmódica
de Fluência Distúrbios de linguagem
Distúrbios de fala
Distúrbios de Motricidade Oral
Distúrbios de voz (nódulos)
outros
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Muitas pessoas que gaguejam dizem que têm "problemas


de voz" ou têm "problemas na voz".

Eles usam essas expressões porque é difícil para eles


admitir que estão gaguejando ou porque realmente não
sabem exatamente o problema que estão apresentando.
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Isso ocorre porque a gagueira ainda desperta ideias


relacionadas a causas emocionais e esses paradigmas são
muito complicados de serem desmontados.

Ninguém se sente confortável em ser considerado uma


pessoa que tem tantos problemas emocionais ao ponto de
gaguejar ...
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O que é disfonia espasmódica?

A disfonia espasmódica é um distúrbio de voz causado por movimentos


involuntários de um ou mais músculos da laringe ou do trato vocal.

Pessoas com disfonia espasmódica podem ter desde uma dificuldade


ocasional para falar uma ou outra palavra até uma dificuldade
suficientemente forte que interfira na comunicação.
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A disfonia espasmódica interrompe a voz ou altera sua qualidade, fazendo


com que ela adquira uma aparência tensa, forçada e estrangulada. Então
esta patologia é confundida com a gagueira.

Existem três tipos diferentes de disfonias espasmódicas.


1. Adutora,
b. De abdução e
c. Mista
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Quais são as características da disfonia espasmódica?

Na disfonia espasmódica adutora, há espasmos musculares ou movimentos involuntários


súbitos que fazem com que as pregas vocais se fechem firmemente.

Esses espasmos impedem a vibração das cordas vocais e, consequentemente, a produção da


voz.
As palavras são muitas vezes interrompidas ou com grande dificuldade para começar, devido
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a espasmos musculares.

Portanto, a fala pode ser hesitante e parece uma gagueira.


A voz de uma pessoa com disfonia espasmódica adutora é comumente descrita como forçada
ou estrangulada e produzida com muito esforço. Surpreendentemente, os espasmos
geralmente estão ausentes quando a pessoa sussurra, ri, canta, fala mais acentuadamente ou
fala durante a inspiração.

Por outro lado, situações de estresse podem tornar os espasmos musculares mais intensos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Na disfonia espasmódica abdutora, há espasmos musculares ou


movimentos repentinos involuntários, o que provoca a abertura das
cordas vocais.

Quando abertas, não podem vibrar. A posição de abertura das pregas


vocais permite que o ar escape dos pulmões durante a fala.
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Como resultado, a voz soa fraca, apenas audível, sussurrante.

Como na disfonia adutora espasmódica, espasmos muitas vezes estão


ausentes em atividades como cantar ou rir.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

A disfonia espasmódica mista envolve ambos os músculos que abrem as


pregas vocais e os músculos que as fecham.
Portanto, esta disfonia tem as características de ambos os tipos de disfonia
espasmódica.

No site da National Spasmodic Disphonia Association, existem muitos


exemplos de vozes com este problema.
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https://www.dysphonia.org/
Buscar em “Listen to voice samples”.

Essas amostras de disfonia espasmódica podem ser importantes para que


tanto o fonoaudiólogo como a pessoa que gagueja possam entender como
uma patologia soa diferente da outra.

http://www.gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=36
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Tiques ou Síndrome de Gilles de la Tourette
CID 10 - F95.2

Os tiques são movimentos rápidos e repentinos, involuntários e repetitivos que ocorrem


devido a uma disfunção dos gânglios basais.

Tiques são involuntários e o indivíduo não tem controle sobre eles. São muitas vezes
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precedidos por sensações premonitórias (sinais mentais ou físicos que alertam que o
tique está prestes a acontecer).

Depois disso, a pessoa pode ter uma sensação de alívio.

Em geral, os tiques são classificados em dois grupos principais:

Tiques motores: abrir e fechar, fazer caretas faciais, torcer o nariz e a boca, levantar os
ombros, balançar a cabeça, saltar a língua, tocar o rosto ou outra parte do corpo,
morder os lábios ou outra parte do corpo, espancamentos de pernas, etc.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Tiques vocais: limpar a garganta, estalar a língua, pronunciar sílabas ou palavras


inadequadas para o contexto da fala, às vezes mudar o volume da voz, repetir a mesma
palavra várias vezes (palilalia), repetindo as palavras que outras pessoas disseram
(ecolalia), dizer palavras obscenas (coprolalia).

Alguns tiques podem ser confundidos com a gagueira.


Nos tiques motores, o erro mais comum é pensar que o movimento está sendo feito
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para libertar a gagueira.


Nos tiques vocais, o erro mais comum é não diferenciar a própria gagueira do tique
vocal. A coexistência de gagueira e tique é comum e, portanto, não deve ser
subestimada.

http://www.movementdisorders.org/MDS/About/Movement-Disorder-Overviews/Tics--
Tourette-Syndrome.htm

http://www.gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=36
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Crianças com Síndrome de Tourette (ST) têm maior frequência de


gagueira do que a observada na população em geral.

Isso levantou a possibilidade de uma relação causal entre os dois


distúrbios, uma vez que ambos têm um funcionamento anormal de uma
parte profunda do cérebro chamado gânglio basal, que é um importante
centro de controle de movimentos.
Anelise Junqueira Bohnen

A literatura estima uma prevalência de 7% a 33% de gagueira na


síndrome de Tourette.

Uma análise sistemática recente indica que crianças com ST são mais
disfluentes do que crianças que não são afetadas.

No entanto, essa falta de fluência se mostra como hesitações.


DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

As crianças gaguejam mais frequentemente com repetições de


palavras, bloqueios e prolongamentos (ou seja, falta de fluência típica
da gagueira).

Crianças com síndrome de Tourette geralmente mostram um aumento


Anelise Junqueira Bohnen

nas disfluências comuns.

In:
De Nill L. Stuttering and Tourette’s Syndrome. 2016 Summer
Newsletter. Stuttering Foundation of America. In:
www.stutteringhelp.org.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
TAQUIFEMIA X GAGUEIRA
Pessoas com taquifemia, bem como pessoas que gaguejam, não constituem uma
população homogênea.

Isto é: há pessoas que sofrem de gagueiras leves e outras pessoas com gagueira
severa, enquanto há pessoas com taquifemia que são próximas do normal e outras
que têm uma comunicação muito comprometida, com maior velocidade de fala e
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baixa inteligibilidade do discurso.

A história clínica e a queixa do paciente ajudam no raciocínio clínico, para


determinar se é taquifemia ou gagueira.

As pessoas com taquifemia geralmente têm uma queixa relacionada à velocidade


da fala e perda de inteligibilidade.

As pessoas que gaguejam têm uma queixa mais específica e focada nas rupturas.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Outras informações muito relevantes na história clínica referem-se


à consciência da pessoa em relação às manifestações clínicas da
patologia.

Na taquifemia, as pessoas geralmente não estão conscientes das


Anelise Junqueira Bohnen

manifestações.

Ao contrário das pessoas que gaguejam, eles geralmente


descrevem a falta de fluência que ocorre em seu discurso e as
dificuldades específicas para manter a continuidade do fluxo de
fala.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Os resultados da avaliação fornecem sinais importantes sobre as diferenças entre os distúrbios. O
aumento da velocidade ou fala irregular, com perda de inteligibilidade, são manifestações típicas
da taquifemia.

Na gagueira, as características mais importantes são o aumento da frequência de palavras


gaguejadas e o dano no fluxo de informação.

Para facilitar o diagnóstico diferencial de taquifemia, gagueira e taquifemia relacionada à gagueira,


Anelise Junqueira Bohnen

Daly e Burnett sugeriram o uso de uma lista de verificação.


Este protocolo inclui uma lista das 33 principais características ou comportamentos indicativos da
taquifemia.

Cada artigo que é marcado de 1 a 4, onde 0 indica que a função não está presente e 4 indica que ela
é produzida com frequência.
Os autores sugerem que uma pontuação de 55 ou mais é um forte indicador de taquifemia.

Daly DA, Burnett ML. Cluttering: assessment, treatment planning, and cause study illustration. J Fluency
Disord. 1996;21:239-48.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Os dois distúrbios, taquifemia e gagueira, podem ocorrer no


mesmo paciente.
Nesses casos, além de outras disfluências comuns, a falta de
fluência típica da gagueira, aumento da velocidade da fala e /
ou linguagem irregular, confusa e desordenada e pouco ou
nenhum conhecimento de fala rápida também estará presente.
Anelise Junqueira Bohnen

O desempenho na leitura de um texto desconhecido, melhora


em pessoas com taquifemia e piora em pessoas com gagueira.

A leitura de um texto conhecido piora na taquifemia e melhora


a gagueira.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

A motivação para a terapia é baixa em pessoas com taquifemia e


geralmente adequada em pessoas com gagueira.

Essas características também facilitam o processo de diagnóstico


diferencial.
Anelise Junqueira Bohnen

OLIVEIRA, CMC e BOHNEN, AJ. DISTÚRBIOS DA FLUÊNCIA: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL.


In: “Tratado de linguagem: Perspectivas Contemporâneas”. São Paulo, 2017.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

LITERATURA PARA CONSULTA

1. Yairi E, Ambrose N. Epidemiology of stuttering: 21st century advances. J Fluency Disord. 2013;38:66–
87.
2. Chambers F. What do we mean by fluency? System. 1997;25(4):535-44.
3. De Nil LF, Kroll RM, Kapur S, Houle S. A positron emission tomography study of silent and oral single
word reading in stuttering and nonstuttering adults. J Speech Lang Hear Res. 1998; 43(4):1038-53.
Anelise Junqueira Bohnen

4. Sommer M, Koch MA, Paulus W, Weiller C, Buchel C. Disconection of speech-relevant brain areas in
persistent developmental stuttering. The Lancet. 2002; 3:360(9330):380-3.
5. Leal G, Guitar B, Bohnen AJ. Fundamentos teóricos y evaluación clínica de la tartamudez en niños,
adolescentes y adultos. In: Susanibar F, Dioses A, Guzmán M, Marchesan I, Leal G, Guitar B, Bohnen AJ.
Trastornos del habla - de los Fundamentos a la evaluación. Madrid: Editorial EOS. 2016. p.211-81.
6. American Speech-Language-Hearing Association-ASHA. New Diagnosis Codes for Fluency. 2010.
Disponível em: www.asha.org/Publications/leader/2010/100921/New-Codes.htm
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

7. Oliveira, CMC. Taquifemia. In: Marchesan IQ, Silva HJ, Tomé MC (orgs). Tratado das
especialidades em fonoaudiologia. São Paulo: Guanabara Koogan; 2014. p. 658-63.
8. St. Louis KO, Schulte K. Defining cluttering: thee lowest common denominator. In: Ward D; Scoot
KS (orgs). Cluttering: Research, intervention, education. East Sussex, UK: Pshychology Press. 2011.
9. Theys C, Van Wieringen A, Sunaert S, Thijs V, De Nil LF. A one year prospective study of
neurogenic stuttering following stroke: incidence and co-occurring disorders. J Commun Disord.
2011;44:678-87.
Anelise Junqueira Bohnen

10. Oliveira CMC, Bernardes APL, Broglio GAF Capellini SA. Perfil da fluência de indivíduos com
taquifemia. Pró-Fono Rev Atual Cient. 2010;22(4):445-50.
Conhecimentos Essenciais para Atender Bem
a Pessoa que Gagueja
Org. Ignês Maia Ribeiro
Pulso Editorial, 2ª edição, 2005.

Gagueira: conversa com os professores


Eliana Nigro-Rocha, 2009.
http://www.gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=143
Ensaio sobre a Gagueira
Eliana Maria Nigro Rocha & Paulo Amaro Martins,
2010

Autocuidado para pessoas com gagueira

Malcon Fraser, Eduneb (Editora da Universidade


do Estado da Bahia), 2008.

http://www.gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=126
BOHNEN, AJ Uso da tecnologia na Avaliação e Intervenção dos Distúrbios de
Fluência. In: Giachetti, CM org. Avaliação da Fala e da Linguagem: perspectivas
interdisciplinares. P. 135-155. 2016.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Juntar os pontos.
Estabelecer diferenças.
Anelise Junqueira Bohnen

Melhor planejamento
terapêutico.

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