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grande volume de reservas em moeda estrangeira no Banco Central e um mercado interno em

crescimento permitiram que o país sofresse consequências bem mais brandas que as verifi
cadas nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão. Em 2011 foi empossada na
Presidência da República Dilma Rousseff , ex-ministra e sucessora de Lula. Os primeiros dois
anos de seu governo foram marcados por baixo crescimento do PIB (2,3% em 2011 e 0,9% em
2012) e manutenção das linhas gerais da política econômica de seu antecessor, com ampliação
dos programas de transferência de renda à população carente e redução das taxas de juros. Ao
longo dos oito anos de governo Lula e na primeira metade do governo Dilma, os investimentos
em infraestrutura foram insufi cientes para sustentar um crescimento econômico mais
acelerado, e houve deterioração na qualidade de alguns serviços públicos, com destaque para
o transporte aéreo, que apresentou alguns episódios de grande transtorno aos usuários. Para
enfrentar a necessidade de novos investimentos em transportes, energia e outros setores, em
2012 o governo Dilma retomou o projeto de Fernando Henrique para atrair investimentos
privados por meio da concessão da administração de usinas, aeroportos, portos, rodovias e
ferrovias à iniciativa privada. estruturA e distribuição dA indÚstriA brAsileirA Em 2010, a
atividade industrial era responsável por 23% do PIB brasileiro. Segundo o IBGE (Sistema de
Contas Nacionais 2005-2009), as atividades mais importantes em 2009 e responsáveis por
quase 75% do total do valor da transformação industrial do país foram: fabricação de produtos
alimentícios e bebidas (21%), fabricação de veículos automotores (12%), produtos químicos e
farmacêuticos (11%), derivados de petróleo e biocombustíveis (10%), metalurgia e produtos de
metal (10%), máquinas, equipamentos e materiais elétricos (7%), informática, eletrônicos e
ópticos (3%). Porém, embora os produtos não industrializados tenham obtido grande
crescimento entre 2000 e 2010 – de US$ 9 bilhões para US$ 73 bilhões, principalmente por
causa do aumento da importação de matérias-primas e de alimentos pela China e outros
países emergentes –, a exportação de produtos de alta e média tecnologias cresceu de cerca
de US$ 20 bilhões para US$ 47 bilhões nesse mesmo período. Essa modernização do parque
industrial ganhou impulso com a instalação de diversos parques tecnológicos (ou tecnopolos)
espalhados pelo país, que estimulam a parceria entre as universidades, as instituições de
pesquisa e as empresas privadas, e buscam maior competitividade e desenvolvimento de
produtos. No Brasil, os parques tecnológicos aparecem em todas as regiões, num total de 55
espalhados pelo país em 2012. Os principais estão localizados em: • São Paulo, Campinas e São
José dos Campos (SP); Santa Rita do Sapucaí e Viçosa (MG); e Rio de Janeiro (RJ), no Sudeste; •
Recife (PE); Fortaleza (CE); Campina Grande (PB); e Aracaju (SE), no Nordeste; • Porto Alegre
(RS); Florianópolis (SC); e Cascavel (PR), no Sul; • Brasília (DF), no Centro-Oeste; • Manaus
(AM) e Belém (PA), no Norte. parque tecnológico e incubadora no polo de Software de
campina Grande (pb). os tecnopolos também abrigam incubadoras de empresas, que são
locais dotados de infraestrutura para dar apoio ao desenvolvimento de micro e pequenas
empresas recém-criadas até que se consolidem no mercado (foto de 2009). p
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industriAlizAção e políticA econômicA p A partir da década de 1990, várias empresas estatais
foram privatizadas e o estado brasileiro reduziu bastante sua participação na produção
industrial. na imagem, pode-se ver galpão da embraer, fabricante de aviões sediada em são
José dos campos (sp) e uma das maiores empresas exportadoras brasileiras, privatizada na
década de 1990 (foto de 2011). Entre os aspectos positivos da dinâmica atual da indústria
brasileira, podemos destacar: • grande potencial de expansão do mercado interno, com
desconcentração de produção e consumo (que vem se fortalecendo pelas políticas de
transferência de renda promovidas pelos governos federal, estaduais e municipais); • o
aumento nas exportações de produtos industrializados, mesmo que em ritmo inferior ao dos
produtos primários, em virtude das crescentes importações chinesas; • o aumento na
produtividade; • a melhora da qualidade dos produtos. A indústria ainda enfrenta, porém,
vários problemas que aumentam os custos e dificultam a maior participação no mercado
externo, tais como: • preço elevado da energia elétrica; • problemas de logística: deficiências e
altos preços nos transportes; • baixo investimento público e privado em desenvolvimento
tecnológico; • baixa qualificação da força de trabalho – como citado na epígrafe deste capítulo,
mão de obra barata não é mais vantagem; • elevada carga tributária; • barreiras tarifárias e
não tarifárias impostas por outros países à importação de produtos brasileiros. Devido a esses
problemas, a partir da metade da década passada, a participação percentual do setor
industrial na composição do PIB vem sofrendo reduções, como vimos de forma mais
abrangente no capítulo anterior. númeRo de empRegos poR gêneRo de indústRiAs (meRcAdo
foRmAl) discriminação 2006 2011 indústria 7 875 585 11 161 199 extrativa mineral 183 188
232 588 construção civil 1 438 713 2 810 712 indústrias de transformação 6 253 684 7 681 193
miNistério do deseNVolVimeNto, iNdÚstriA e comércio exterior (mdic). Anuário Estatístico
2012. disponível em: . Acesso em: 5 dez. 2012. A abertura da economia brasileira na década de
1990 facilitou a entrada de muitos produtos importados, forçando as empresas nacionais a se
modernizar e incorporar novas tecnologias ao processo produtivo para concorrer com as
empresas estrangeiras. Como observamos na tabela acima, apesar da modernização, continua
havendo aumento no contingente de trabalhadores na indústria de todos os gêneros, porém,
como vimos, esse aumento não acompanhou o ritmo de ingresso de mão de obra no mercado
de trabalho. Leticia Moreira/Folhapress GGB_Geografia_v3_PNLD2015_030a048_U01C02.indd
44 4/12/13 4:14 PM A economiA brAsileirA A pArtir de 1985 45 desConCentração da atividade
industrial Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infraestrutura de
energia e transportes, entre outros, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando e
apresenta uma maior dispersão espacial dos estabelecimentos industriais em regiões
historicamente marginalizadas. Observe a tabela abaixo, que revela a redução relativa da
participação do Sudeste e o aumento das demais regiões no valor da produção industrial.
distRibuição RegionAl do vAloR dA tRAnsfoRmAção industRiAl – 1970-2010 Região participação
(%) 1970 1980 1993 2010 sudeste 80,7 72,6 69,0 60,9 sul 12,0 15,8 18,0 18,2 Nordeste 5,7 8,0
8,0 9,4 Norte e centro-oeste 1,6 3,6 5,0 11,5 iBge. Pesquisa industrial anual – Empresa 2010.
disponível em: . Acesso em: 5 dez. 2012; ross, J. (org.). Geografia do Brasil. são Paulo: edusp,
2011. p. 377. (didática 3). Embora desde o início do século XX o eixo São Paulo-Rio de Janeiro
seja responsável por mais da metade do valor da produção industrial brasileira, até a década
de 1930, a organização espacial das atividades econômicas era dispersa. As atividades
econômicas regionais progrediam de forma quase totalmente autônoma. A região Sudeste,
onde se desenvolvia o ciclo do café, quase não interferia nem sofria interferência das
atividades econômicas que se desenvolviam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou
no Sul (carne, indústria têxtil e pequenas agroindústrias de origem familiar). As indústrias de
bens de consumo, a maioria ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam a maior parte da
sua produção apenas em escala regional. Somente um pequeno volume era destinado a outras
regiões, não havendo significativa competição entre as empresas instaladas nas diferentes
regiões do país, consideradas até então arquipélagos econômicos regionais. Com a crise do
café e o impulso à industrialização, comandada pelo Sudeste, esse quadro se alterou.
Intensificou-se um processo de integração dos mercados regionais, comandado pelo centro
econômico mais dinâmico do país, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro, interligando os
arquipélagos econômicos regionais. Houve um aumento da participação de produtos
industriais do Sudeste nas demais regiões do país, o que levou muitas indústrias,
principalmente nordestinas, à falência. Observe, no mapa da página seguinte, a grande
concentração do parque industrial no Centro-Sul do país e nas principais capitais nordestinas.
Além de terem se iniciado historicamente com mais força no Sudeste, as atividades industriais
tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois outros fatores básicos: • a
complementaridade industrial: as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às
automobilísticas; as petroquímicas, próximo às refinarias; etc.; • a concentração de
investimentos públicos no setor de infraestrutura industrial: pressionados pelos detentores do
poder econômico, os governantes costumam atender às suas reivindicações. O governo gasta
menos concentrando investimentos em determinada região em vez de distribuí-los pelo
território nacional, sobretudo no início do processo de industrialização, quando os recursos
eram mais escassos. A primeira grande ação governamental para dispersar o parque industrial
aconteceu em 1968, quando foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus
(Suframa) e instalado um polo industrial naquela cidade, o que promoveu grande crescimento
econômico. A seguir, como resultado dos Planos Nacionais de Desenvolvimento dos governos
Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1979), no final da década de 1970 e início da seguinte,
começaram a ser inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste:
Tucuruí, no rio Tocantins (PA); Sobradinho, no rio São Francisco (BA); e Boa Esperança, no rio
Parnaíba (PI). Quando o governo passou a atender ao menos parte das necessidades de
infraestrutura das regiões historicamente marginalizadas, começou a haver um processo de
dispersão do parque industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas regional,
com industrialização dispersa pelo território de várias regiões e estados brasileiros. Além da
alocação de infraestrutura, ao longo da década de 1990, as indústrias passaram a se dispersar
em busca de mão de obra mais barata e onde os sindicatos são menos atuantes, provocando a
intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem impostos e oferecem
outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas. Mesmo no estado de São
Paulo, o mais equipado do país quanto à infraestrutura de energia e transportes,
historicamente houve maior concentração de indústrias na Região Metropolitana de São
Paulo.

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