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INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ

MARIANA DE MELLO CAMARGO

A HISTÓRIA DO IGUAÇU E SEU MOVIMENTO SEPARATISTA

Jacarezinho
2023
Resumo

Os movimentos separatistas são aqueles que buscam independência de um


determinado território. E sabemos que geralmente são pregados por povos que
possuem um interesse em comum, sendo eles na maioria das vezes interesses
políticos e ou econômicos. Movimentos assim, foram constantemente vistos na
história do Brasil. E o Estado do Iguaçu é um exemplo deles. Portanto, este
trabalho tem como objetivo explicar a história do Estado do Iguaçu, atentando-
se a alguns desafios para dar conta de pensar como as ideias “separatistas”
fizeram ou fazem parte do processo social na região Sul e desse Estado.

Introdução

Foi por volta do século XIX, que o debate sobre a redivisão territorial brasileira
por muitos políticos e estudiosos que afirmaram a necessidade de reorganizar
o território nacional em partes mais ou menos da mesma extensão e com
limites naturais, começou a ocorrer. Dentre as mais variadas propostas de
redivisão territorial, a maioria era concretizada propondo dois tipos de unidades
administrativas: os Estados, auto-administráveis e os Territórios, com
administração direta da União. Mas, apesar disso, naquela época, tudo ficou
apenas no debate. Pois, havia mitos interesses contrários à criação de
territórios federais em várias partes do Brasil. Porém, o início do século XX, é
marcado quando o Acre foi anexado ao Brasil, como território federal, através
do acordo entre o Brasil e a Bolívia (o Tratado de Petrópolis), de 17 de
novembro de 1903. A Constituição de 1934, tratou da criação de outros
territórios federais.

Portanto, a tentativa de criação do Estado do Iguaçu ocorreu no final do século


XX, mais especificamente em 1962, na cidade de Pato Branco, onde foi criada
a Comissão para o Desenvolvimento e Emancipação do Iguaçu (CODEI) que
ficou encarregada de desenvolver um estudo sobre a viabilidade assim como
criar bases para o projeto de emancipação, e numa área de 65.854 km2 que
contaria com 96.854 habitantes, cinco municípios, e vinte e dois distritos
distribuídos. A CODEI atuou até o ano de 1968 quando são organizados os
congressos de organização e divulgação da proposta, que então recebeu o
nome de “Congresso das Forças Vivas Pró-Criação do Estado do Iguaçu”.
Esse foi um movimento onde a maior parte das lideranças eram de grupos
liberais do Rio Grande do Sul.

Quando houve a modificação na forma da sociedade se relacionar com a


temporalidade, surge então, uma nova unidade federativa que abrangeria o
Oeste e Sudoeste do Paraná assim como o Oeste de Santa Catarina.

Inicialmente, o objetivo do movimento era garantir a segurança das fronteiras


como Paraguai e Argentina, baseando-se na existência do Território Federal
do Iguaçu, durante o Estado Novo criado em 1943. Além, de também haver
registros de que o objetivo da criação desses territórios nacionais estava sendo
inserido no contexto da tentativa de colonização do interior do Brasil, no
processo conhecido como “Marcha para o Oeste”, que ocorreu por volta de
1943 e 1946, o qual tinha como inciativa, a abertura de estradas, criação de
colégios e outros estabelecimentos que eram representados como poder do
estado. Um objetivo visto como um esforço para diminuir os vazios
populacionais do território brasileiro.

A maior parte da administração do Território Iguaçu ficou a cargo do major


Frederico Trotta, nomeado pelo governo federal em 7 de fevereiro de 1946,
pelo presidente da República Eurico Gaspar Dutra. Esses territórios eram
administrados diretamente pelo governo federal, marcando o caráter
centralizador do autoritarismo do Estado Novo.
Voltando à 1930, quando houve alteração no cenário político com a vitória do
movimento civil militar que levou Getúlio Vargas ao poder, grande parte da elite
curitibana apoiou demasiadamente o novo regime e a nomeação do General
Mario Tourinho como interventor no Estado. E então, começou a existir
também a preocupação de evitar que o Oeste e o Sudoeste servissem de
abrigo a fugitivos da lei ou para dissidentes políticos, como ocorreu com a
coluna liderada por Luiz Carlos Prestes e Juarez Távora.

E foi durante esse mesmo período, que vem à tona a discussão sobre quem
seriam os paranaenses e que população teria sido agregada posteriormente.
Durante essa discussão, uma posição que se afirmava em contraponto à
defendida pelo movimento pró-Iguaçu, dizia que a região seria “fruto” de um
processo de ocupação do fluxo migratório vindo do Rio Grande do Sul, ocorrido
principalmente entre as décadas de 1930 e 1950, esta visão defendia que até
então existiria um abandono da área, sobre quem tem “direito” a área, para
afirmá-la como Oeste e Sudoeste do Paraná ou Norte e Centro do Iguaçu. E é
aí que vai começar a surgir pensamentos de que na verdade os paranaenses
nunca tiveram raízes no Oeste e Sudoeste do Paraná. E sim, que essas raízes
foram plantadas por catarinenses e gaúchos.

Ademais, por ocorridos depois de 1950, o projeto de criação do Iguaçu


permaneceu em grande parte desativado até o início da década de 1980,
quando ele voltou a se manifestar com bastante alarde. E é então que dizemos
que surge a reabertura do movimento pró-iguaçu.

Depois disso, todos os esforços foram conectados para com a formulação de


um abaixo-assinado para enquadrar a proposta do Iguaçu nas reformas da
constituição. Foi então feita uma primeira tentativa de aprovar o projeto na
comissão temática que dizia respeito à redivisão territorial do Brasil no ano de
1986. A comissão analisou a proposta e depois de votada e rejeitada por 27 a
19 votos, o movimento atribuiu tal resultado à participação do ex- governador
do Paraná José Richa na Comissão. Mesmo com a rejeição, nessa mesma
comissão foram aprovados outros projetos para emancipação de novos
estados como Tocantins. Depois, houve uma segunda comissão que passou
a ser então o foco do movimento, uma vez que as propostas já citadas de
criação de novos estados estariam na pauta, abrindo precedente para a
inclusão de um ponto de mesma natureza.

Em 1987, como emenda popular, a proposta de plebiscito para a criação do


Iguaçu foi levada à assembleia constituinte. O que resultou na coleta de
assinaturas pelo movimento, mas, o ponto foi retirado de pauta pelo deputado
responsável pela apresentação, o qual fez alegações de que a proposta seria
derrotada, evidenciando uma corrente de jogos políticos, na qual o processo
estava enredado.

Em 1988 ele volta, porém novamente não ocorre. E até o momento, a


possibilidade da aprovação do plebiscito pela constituinte, se dá por
esgotada/vencida. Mas só até o momento. Porque, o movimento irá se
organizar com o objetivo de eleger um deputado federal com o intuito de
representar a proposta que criaria a nova unidade federativa através de um
projeto parlamentar, que seria facilitada por um político ligado ao movimento,
com tal objetivo vai ser lançada a candidatura do presidente da SODEI para
deputado federal pelo PDT, nas eleições de 1990.

Por fim, de modo geral, para ser contra a criação do Estado do Iguaçu naquele
tempo, o acusavam de que ele tinha um fundo oportunista, visando meramente
uma elite local ou ainda que ele era ligado ao Rio Grande do Sul e aos
interesses dos políticos e empresários daquele estado. Contudo, conclui-se
que houve empecilhos durante a aprovação do projeto no Congresso Nacional,
e que com isso, a proposta pró Iguaçu não foi capaz de criar um novo Estado,
seja pela descrença gerada pela rejeição do projeto seguida da não eleição de
Edi Siliprandi nos pleitos de 1998 e 2002, ou pela estabilidade econômica que
se seguiu ao período.

Para saber mais, fontes de análise serão as matérias em jornais, dos quais
pode se destacar a Gazeta do Povo como grande divulgadora da proposta pró-
Paraná e o jornal O Paraná na divulgação das teses pró-Iguaçu, materiais que
apresentam leituras sobre as repercussões das ações dos movimentos.

Referências

VAZ DE CAMARGO, Mauro Cezar. “Vai um boi volta um bife”: O movimento


pela criação do estado do Iguaçu nas últimas décadas do século XX.
Florianópolis, 2011.
LOPES, Sergio. O Território Do Iguaçu No Contexto Da ”Marcha Para Oeste”.
Cascavel: Edunioeste, 2002.

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