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Aos poucos, Paco Porrúa, como o editor era chamado, foi jogando
folhas no chão, numa tentativa tresloucada de organizar as ideias e as
emoções provocadas pela prosa fantasiosa de García Márquez, gênero
que mais tarde seria batizado de realismo fantástico (ou mágico).
Quando já não sabia se estava diante de um best-seller ou do trabalho
de um maluco, telefonou para o escritor Tomás Eloy Martínez, uma
espécie de conselheiro literário, e o convocou para a sua casa.
Chegando lá, o amigo encontrou uma cena inusitada: Paco estava de
pé, vivendo um surto eufórico, e páginas forravam o chão, espalhadas
como se o vento tivesse soprado tudo a esmo. Passaram a madrugada
analisando o texto e decidiram que era necessário publicá-lo
urgentemente, com uma tiragem maior do que a habitual. A primeira
edição se esgotou em semanas.
Nas últimas quatro décadas, o transe de Porrúa se repetiu em
inúmeros leitores. Cem Anos de Solidão conta o nascimento e morte
de uma cidade fictícia chamada Macondo. Nela, seis gerações da
família Buendía protagonizam uma sucessão de episódios de guerra,
paixão, trabalho e, acima de tudo, causos fantasiosos que parecem
tirados de escrituras sagradas, como uma Bíblia alternativa (há um
dilúvio que dura quatro anos, por exemplo). São cerca de 60
personagens, um exagero que levou o próprio Márquez a solicitar a
inclusão de uma árvore genealógica dos Buendía na edição
comemorativa bancada pela Real Academia Espanhola.