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público um mestre da ficção científica, o autor de Fahrenheit 451 (1953) — sua obra
mais famosa, sobre um mundo distópico em que livros são proibidos. Crônicas
Marcianas (1950) vem em seguida, explorando facetas de como seria a vida em Marte.
No dia 22 de agosto deste ano, Bradbury completaria seu centenário e, para destacar o
importante legado literário que o autor nos deixou, vale a pena lembrar um livro de
contos inquietante, atualmente raro nos sebos e esquecido pelas editoras brasileiras
desde a década de 1980: O País de Outubro.
Nas histórias curtas que compõem a obra, o suspense é muito mais sugestivo do que
explícito, abrindo margens para a interpretação (Fotos: Guilherme Pech/Beta Redação)
As metáforas
Em 2001, durante um simpósio de escritores na Universidade de Point Loma Nazarene
(PLNU), em San Diego, Califórnia, Ray Bradbury transmitiu onze conselhos para
escritores novatos. Um deles ganha destaque: o uso de metáforas, uma figura de
linguagem muito utilizada por grandes escritores. Conforme Bradbury, a poesia e a
prosa dependem da qualidade e da variedade das metáforas contidas dentro delas.
O autor se considera, aliás, um “colecionador de metáforas”, ao invés de um romancista
nato. “Vocês precisam aprender a identificar metáforas e também a escrevê-las”,
explicou Bradbury, no evento, aos estudantes de literatura. O escritor iniciante deve, por
isso, ler muitas obras literárias clássicas, para ampliar os seus recursos, criar intimidade
com o sentido figurado e, então, combinar com seu repertório e suas experiências para
gerar novas metáforas na própria escrita.
Em O País de Outubro, as metáforas gritam nas páginas desde a capa. É um livro
essencialmente instigante por isso. Através da linguagem conotada, abre espaço para
múltiplas interpretações e significados. Além disso, por meio da fantasia, da ficção
científica, mas especialmente do bizarro, do grotesco, do repugnante e do macabro, isto
é, traços característicos da literatura de terror e horror, pode-se abordar temas
considerados como tabus ou proibidos, falar de medos inatos do ser humano. O toque da
poesia, como no caso desta obra, tempera as histórias (e suas metáforas) com delicadeza
e encanto.
Mesmo raro atualmente e desconhecido pelo grande público leitor, é bem provável que
O País de Outubro ainda se encontre empoeirado nas prateleiras de colecionadores do
gênero e de fãs do autor, enquanto as editoras brasileiras não o republicam. E mais
provável ainda: quem visitou este país, de sonho e mistério, certamente não se esqueceu
do que descobriu.