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A maneira como o ser humano encara o ato de trabalhar mudou bastante com o tempo.

Na pré-história, o trabalho era uma questão de sobrevivência. Caçar animais e coletar

frutos era como os indivíduos retiravam seu sustento da natureza. Mesmo quando se

tornaram agricultores, deixando a vida nômade para trás, o objetivo do trabalho era

essencialmente suprir as necessidades mais básicas para sobreviver.

Na Antiguidade, o trabalho humano não era algo visto de forma positiva pelos grandes

pensadores gregos e romanos. Isso porque aqueles que precisavam trabalhar

ocupavam posições inferiores na sociedade, enquanto o grupo mais abastado — que

vivia do trabalho de escravos — tinha tempo livre de sobra para se dedicar às reflexões

políticas e filosóficas.

A forma como a elite encarava o trabalho não mudou muito na Idade Média, tanto que

esse tipo de atividade continuou sendo menosprezado. Os servos se dedicavam ao

trabalho árduo no campo para garantir sustento, moradia e proteção aos donos de

terras. Já a nobreza da sociedade feudal desfrutava de diversas atividades de lazer,

como torneios, caças de animais selvagens e festas nos castelos.

No século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, uma das principais figuras da Reforma

Protestante, difundiu a ideia de que o ócio é um pecado e que o homem nasce para

trabalhar. Para ele, quem executa um trabalho foi escolhido por Deus para isso. O

trabalho humano seria, portanto, um serviço divino.

Com a revolução industrial no século XVIII, muitos trabalhadores saíram do campo para

trabalhar nas fábricas que ficavam nas cidades. Vivendo em condições precárias e em

posição de subordinação, essas pessoas se tornavam mão de obra barata para os

empresários e cumpriam exaustivas jornadas de até 18 horas por dia, o que muitas

vezes resultava em acidentes e até mesmo mortes por exaustão.


A era industrial foi marcada por grandes avanços tecnológicos e pelo surgimento do

proletariado, a classe social formada pelos trabalhadores assalariados cuja força de

trabalho era explorada pela burguesia industrial. No século XIX, teve início o movimento

operário, com esse grupo se organizando para reivindicar melhores condições de

trabalho e direitos trabalhistas.

No início do século XX, Henry Ford otimizou os processos em sua indústria

automobilística por meio de uma linha de montagem, reduzindo o tempo de produção e,

consequentemente, seu custo. Nesse modelo de produção, os operários ficam parados

em seus postos de trabalho, limitando-se a executar atividades repetitivas.

A conquista de direitos trabalhistas e remunerações mais justas para a classe operária

nos países desenvolvidos fez com que muitas empresas passassem a buscar mão de

obra mais barata em outros lugares ao longo do século XX. Com isso, elas transferiram

a produção para países mais pobres, onde a população ainda lida com condições

precárias e salários baixos.

Os avanços tecnológicos no âmbito industrial permitem utilizar máquinas para

automatizar a execução de processos com menores chances de erros e maior redução

de custos. Isso reduz a participação humana em linhas de montagem, eliminando

também os riscos que os trabalhadores correm nessas atividades.

Em pleno século XXI, o uso de robôs já vai muito além das indústrias, chegando

inclusive ao mundo digital. Tanta automação de processos tem tornado a discussão

sobre a possibilidade de os robôs substituírem o trabalho humano cada vez mais

acalorado.

A transformação digital nas empresas tem proporcionado o surgimento de novas áreas

de trabalho humano que até alguns anos atrás seriam impossíveis de imaginar. Gestor

de mídias sociais, cientista de dados, desenvolvedor de software e designer de produto


são apenas alguns exemplos de profissões criadas em um passado ainda muito

recente.

O trabalho remoto já vinha ganhando espaço na sociedade e foi impulsionado pela

pandemia iniciada em 2020. Isso fez com que muitos profissionais que ainda não o

adotavam descobrissem os benefícios desse formato e, mesmo com a volta do trabalho

presencial, prefeririam seguir com um modelo de trabalho híbrido.

Com todas essas evoluções tecnológicas acontecendo em um ritmo tão intenso, é

natural se questionar se o trabalho humano vai se tornar cada vez mais dispensável,

quem sabe até mesmo a ponto de acabar em certos setores. Como você pode notar, no

entanto, o fator humano e a tecnologia sempre caminharam juntos ao longo dos anos e

na era da hiper automação isso não é diferente.

Enquanto a hiper automação substitui o trabalho humano em determinados processos,

as pessoas seguem absolutamente necessárias em outras atividades. Não há por que

imaginar um cenário de disputa por espaço, mas de transformação — de modo similar

ao que vem ocorrendo desde que começamos a nos organizar em sociedade.

A cultura de inovação nas empresas tem o importante papel de transformar desde os

processos internos até a experiência do cliente, entregando produtos e serviços

capazes de atender às suas demandas. Nesse cenário, o trabalho humano é um

elemento que caminha lado a lado com os avanços tecnológicos, continuando a evoluir

e a se adaptar à sua própria maneira.

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