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DOI: https//doi.org/10.13037/gr.vol38n115.

7589

Received: 08/01/2021 | Accepted: 02/08/2021

Carreira na Maternidade: a percepção de mulheres de


uma cidade no norte do estado do Rio Grande do Sul
Career in Motherhood: Women’s perception of a city in the north of the state of Rio
Grande do Sul

Aline Carla Petkowicz 1i Neide Iara Lazzari 2ii


Orcid: http://orcid.org/0000-0001-9183-4681 Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3375-1233

Shalimar Gallon 3iii Larissa Nardes 4iv


Orcid: http://orcid.org/0000-0002-8830-4433 Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1109-7728

Resumo
O desafio das mulheres, anteriormente, era apenas inserir-se no mercado de trabalho, hoje elas
precisam superar obstáculos diversos para dar continuidade à sua carreira após a maternidade.
Nesse contexto, o presente estudo objetiva analisar a percepção de mulheres residentes em uma
cidade da região norte do estado do Rio Grande do Sul sobre a carreira após a maternidade.
Em uma pesquisa qualitativa, realizaram-se, com mulheres que trabalham em empresas
privadas, quinze entrevistas com roteiro semiestruturado, as quais foram analisadas por meio
de análise de conteúdo. Os resultados revelaram que as mulheres têm a perspectiva de seguir
uma carreira tradicional, mas, quando abordam sua trajetória, relatam uma carreira sem
fronteiras e proteana. Elas relatam sentirem a necessidade de ter a licença-maternidade
estendida para seis meses como maior benefício organizacional, bem como precisarem de
políticas organizacionais que lhes deem suporte para conciliar carreira e maternidade.
Palavras-chave: carreira. mulher; maternidade; gestão de pessoas.

Abstract
Previously, the challenge for women was just to enter the job market, today they need to
overcome different obstacles to continue their careers after motherhood. In this context, the
present study aimed to analyze the perception of the career after maternity in women living in
the northern region of the state of Rio Grande do Sul. Through a qualitative research, fifteen
interviews were conducted based on a semi-structured script with women working in private
companies, which were analyzed through content analysis. The results showed that women
have a traditional career perspective, but when they approach their trajectory, they report a
career without borders and protean. They also report that they felt the need to be able to have
motherhood leave extended to six months as a major organizational benefit, as well as they
need organizational policies that support this moment in their lives to reconcile career and
motherhood.
Keywords: career; woman; motherhood; human resources management.

1 Universidade Federal da Fronteira Sul – Chapecó/SC – Brasil. E-mail: alinecpetkowicz@gmail.com


2 Faculdade Meridional - IMED - Passo Fundo -RS – Brasil. E-mail: neidelazzari7@gmail.com
3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Pato Branco -PR – Brasil. E-mail: shalimargallon@gmail.com
4 Universidade Estadual de Maringá – UEM, Maringá/PR – Brasil. E-mail: lnardesn@gmail.com

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Gestão & Regionalidade | São Caetano do Sul, SP | v. 38 | n. 115 | p. 245-264 | set./dez. | 2022 | ISSN 2176-5308
Aline Carla Petkowicz, Neide Iara Lazzari, Shalimar Gallon & Larissa Nardes

1 INTRODUÇÃO Os modelos de carreira que formam


a base de muitas práticas da Gestão de
No início da década de 1970, após os Pessoas (GP) foram criados através de
movimentos sociais em busca de seus estudos de carreiras masculinas e não se
direitos, as mulheres começaram a exercer adaptam à complexidade das carreiras
profissões fora do lar, inserindo-se no femininas (SULLIVAN; MAINIERO,
mercado de trabalho e conquistando 2008). Além disso, existem práticas que
espaços profissionais até então ocupados reforçam as diferenças de gênero e o
apenas pelo público masculino (OLIVEIRA domínio masculino (FRAGA; ROCHA-
et al., 2015). Em consequência, elas se DE-OLIVEIRA, 2020). Nesse contexto,
fizeram participantes dos diversos setores questiona-se: qual a percepção de mulheres
da economia, sendo que 44,8% das residentes em uma cidade da região norte do
mulheres com idade para trabalhar estão estado do Rio Grande do Sul sobre a
presentes no mercado laboral brasileiro carreira após a maternidade?
(IBGE, 2018). Considerando as diversas
Com o aumento de sua participação concepções de carreira – tradicional
no mercado de trabalho, a mulher está cada (CHANLAT, 1995), contemporânea
vez mais envolvida profissionalmente, (SANT’ANNA; KILIMNIK, 2009;
sendo comum postergar a maternidade, DUTRA, 2007), proteana (HALL, 2002),
optando por ter filhos quando se julgar mais sem fronteira (LACOMBE; CHU, 2005),
segura ou menos ameaçada em relação à sua autogestão (FONTANELLE, 2005) –, esta
carreira (LOUREIRO; COSTA; FREITAS, pesquisa analisa a percepção de mulheres
2012). No entanto, quando a maternidade residentes em uma cidade da região norte do
chega, ela precisa dividir seu tempo entre a estado do Rio Grande do Sul sobre a
profissão e o filho, passando a exercer carreira após a maternidade.
maior número de tarefas (LINDO et al., Estudos atuais mostram que a
2007). Estima-se que, no Brasil, a mulher maternidade tem sido pesquisada em
dedica 18,1 horas por semana ao cuidado de relação à associação inversa entre idade
pessoas e/ou aos afazeres domésticos materna avançada e capacidade cognitiva
(IBGE, 2018). (GOISIS; SCHNEIDER; MYRKYLÄ,
A percepção das mulheres sobre a 2017), ao equilíbrio entre vida pessoal e
maternidade merece ser estudada, visto que vida profissional (LINDO et al., 2007), ao
ela tem se mostrado como uma interferência adiamento da maternidade (BARBOSA;
no trabalho feminino (BRUSCHINI, 2007). ROCHA-COUTINHO, 2007), à
Ademais, a carreira laboral apresenta-se de interrupção da carreira na maternidade
formas distintas para homens e mulheres (CERIBELI; SILVA, 2017), à sobrecarga
(FRAGA; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2020; com os cuidados dos filhos (CARVALHO
SULLIVAN; MAINIERO, 2005). As NETO; TANURE; ANDRADE, 2010). Nos
carreiras desenvolvem-se fora e dentro das estudos internacionais, muitas discussões
organizações e se constituem tanto pela versam sobre desigualdades de gênero
ação dos indivíduos como pelo ambiente em (GUPTA, 2017; HECKLER, 2019;
que eles se inserem. No caso das mulheres, KESKIN, 2017; LIM; LEE, 2019;
existem preconceitos e discriminações que RINGBLOM; JOHANSSON, 2020) e
bloqueiam sua ascensão e revelam-se como barreiras enfrentadas pelas mulheres
labirintos na carreira (FRAGA; ROCHA- (CASSIDY; BURGIN; WASONGA, 2021;
DE-OLIVEIRA, 2020), fazendo com que as HELLER; GABALDON, 2018;
mulheres tenham que se esforçar mais que MACKINNON, 2021; SWAIL;
os homens para conseguir ascender MARLOW, 2018) – temáticas que estão
organizacionalmente (GRISCI et al., 2015). associadas aos estudos de gênero. A

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presente pesquisa analisa a percepção da em dois modelos: tradicional e


carreira das mulheres após a maternidade, contemporâneo (CHANLAT, 1995). O
identificando os tipos de carreira que elas primeiro refere-se a uma sociedade
adotam em sua trajetória profissional predominantemente masculina, marcada
enquanto enfrentam os desafios propostos por certa estabilidade e hierarquia, com
pela maternidade. progressão de carreira linear e vertical
Este estudo visa contribuir para o (BALASSIANO; VENTURA; FONTES
conhecimento das possibilidades e dos FILHO, 2004; CHANLAT, 1995). Ele
desafios que surgem para as profissionais considera a organização como a principal
que se tornam mães e das perspectivas para responsável pela gestão da carreira dos
a carreira ao terem que dividir seu tempo em empregados (BALASSIANO; VENTURA;
dupla jornada. Entender as alternativas para FONTES FILHO, 2004).
a carreira feminina frente às mudanças O modelo contemporâneo surgiu
contemporâneas, sociais e de mercado nos anos 1970, resultante de mudanças
laboral, propicia às empresas sociais, como entrada das mulheres no
desenvolverem políticas e práticas de GP mercado de trabalho, elevação dos graus de
voltadas para as necessidades da mulher, instrução, flexibilidade do trabalho,
visto que os atuais modelos de carreira globalização da economia. Ele se
foram desenvolvidos para atender as caracteriza por variedade de gêneros,
necessidades dos homens (SULLIVAN; instabilidade, descontinuidade,
MAINIERO, 2008). As empresas podem horizontalidade (CHANLAT, 1995;
diminuir, no ambiente de trabalho, as TONELLI, 2009). A gestão da carreira
diferenças de gênero advindas da torna-se responsabilidade do próprio
maternidade, pois, embora algumas indivíduo e não da organização
organizações afirmem ter políticas voltadas (SANT’ANNA; KILIMNIK, 2009;
para as mulheres, muitas vezes, essas DUTRA, 2007).
políticas são superficiais e não Esse modelo de carreira permite
correspondem às necessidades das flexibilidade, incentiva o
empregadas (SULLIVAN; MAINIERO, empreendedorismo e a criatividade para
2008). soluções inovadoras (TONELLI, 2009),
exige mais competências e requer
2 CARREIRA desenvolvimento emocional para gerenciar
a crescente complexidade organizacional
O termo carreira utilizado para (TONELLI, 2009). Nesse contexto, surgem
definir trajetória de vida profissional pode diferentes tipos de carreiras
ser abordado sob diversas perspectivas. contemporâneas, como a proteana (HALL,
Bendassoli (2009) propõe um conceito mais 2002), a sem fronteira (LACOMBE; CHU,
contemporâneo e observa que a carreira 2005) e a autogestão (FONTANELLE,
pode ser compreendida como um processo 2005).
de individualização, indo além do simples A carreira de autogestão surgiu em
fato de ocupar um cargo para englobar um consequência da flexibilidade do emprego,
projeto de vida associado a uma das novas formas de trabalho baseadas na
organização ou a uma categoria gestão do conhecimento, das perspectivas
profissional. Nota-se, portanto, que a de curto prazo, das ideias de autonomia,
carreira pode ser analisada sob uma autoconhecimento e ‘sucesso psicológico’
perspectiva organizacional (BASTOS, (FONTANELLE, 2005). ‘Sucesso
1997; DUTRA, 2007) e individual psicológico’ denota que o indivíduo busca
(BENDASSOLI, 2009). entender o significado do trabalho e
Conforme a perspectiva encontrar satisfação naquilo que faz
organizacional, a carreira pode ser dividida (FONTANELLE, 2005). A carreira baseada

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na autogestão visa desenvolver o das fronteiras organizacionais, adquirindo


autoconhecimento, cabendo a cada novas experiências. A mobilidade física
profissional compreender o trabalho que lhe reflete o grau de interesse em mover-se
desperta maior interesse e identificar quais entre as organizações (BRISCOE; HALL;
as habilidades que possui para realizá-lo DEMUTH, 2006).
(FONTENELLE, 2005).
Hall (2002) formula a ideia de As mulheres são mais inclinadas à
carreira proteana, entendendo que, durante mobilidade psicológica do que à física, por
sua vida profissional, o indivíduo serem mais influenciadas por questões
desenvolve a capacidade de adaptar-se às familiares na tomada de decisões sobre a
mudanças, enfrentando novos desafios e carreira (FRAGA; ROCHA-DE-
aprendendo continuamente (HALL, 2002). OLIVEIRA, 2020). No entanto, muitas
A carreira proteana concebe um indivíduo
vezes essa inclinação acontece não por
flexível, capaz de gerenciar o presente e o
futuro de seu trabalho, assumindo sucessos escolha, mas como consequência de normas
e fracassos (HALL, 2002). Ela pode ser patriarcais da sociedade que moldaram a
entendida como uma metáfora da carreira identidade da mulher como responsável
de autogestão (FONTENELLE, 2005). pelo cuidado da casa e das crianças
Outro tipo de carreira é a sem (FRAGA; ROCHA-DE-OLIVEIRA,
fronteiras, a qual pondera que o 2020). Essas normas limitam as
desenvolvimento entre organização e oportunidades e a mobilidade das mulheres
indivíduo é uma relação independente, (FRAGA; ROCHA-DE-OLIVEIRA,
cabendo às pessoas a responsabilidade pelo 2020).
desenvolvimento do conhecimento e das
habilidades necessárias para a ascensão De modo geral, as carreiras foram
profissional (LACOMBE; CHU, 2005). Ela desenvolvidas visando às necessidades dos
compreende diversos cenários como: a empregados homens, não se adaptando às
carreira que atravessa as fronteiras entre necessidades das mulheres (SULLIVAN;
organizações; a que extrai validade ou MAINIERO, 2008). Torna-se, pois,
negociabilidade fora do atual empregador; a
importante conhecer e entender quais os
que se sustenta em redes de relacionamento
ou informação que estão fora da principais obstáculos enfrentados pelas
organização; aquela em que a pessoa mulheres em suas carreiras, a fim de
escolhe passar um tempo dedicando-se à melhorar as condições de igualdade. As
família ou reciclando-se (LACOMBE; principais barreiras para as mulheres estão,
CHU, 2005). na maioria das vezes, relacionadas às
Os indivíduos necessitam planejar a responsabilidades familiares (EAGLY;
carreira sem fronteiras e desenvolvê-la, CARLI, 2007), visto que a maternidade
sendo necessário investir em competências afeta diretamente sua ascensão na carreira,
como o know-how (o conhecimento, a resultando em sua desvalorização e na
técnica), o know-why (as motivações para o negação de oportunidades (MCINTOSH et
exercício do trabalho) e o know-whom (a al., 2012). Ressalta-se que as questões
rede de relacionamento) (LACOMBE; relativas à maternidade e à carreira não
CHU, 2005). Ela pode ser analisada pelo podem ser examinadas isoladamente
envolvimento de diferentes níveis de (MCINTOSH et al., 2012).
mobilidade física e psicológica
(SULLIVAN; ARTHUR, 2006). A
mobilidade psicológica corresponde ao
interesse do indivíduo em trabalhar além

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3 MATERNIDADE relação às mulheres que são mães, no


entanto, no contexto norueguês, o discurso
A estruturação do núcleo tradicional de igualdade de gênero esconde as
familiar vem sofrendo constantes desvantagens, o que resulta na cegueira de
alterações, refletindo-se nos papéis sociais gênero (THUN, 2020).
A retomada do trabalho das
exercidos pelas mulheres. A busca por um
mulheres que se tornaram mães é facilitada
trabalho assalariado – culturalmente por fatores como a divisão das atividades
associada ao homem – levou a mulher a domésticas com o parceiro e práticas
acumular as demandas do trabalho laborais favoráveis à família (EAGLY;
reprodutivo com aquelas do trabalho CARLI, 2007; HENNEKAM et al., 2019).
produtivo (HIRATA; KERGOAT, 2007). Contudo, as políticas favoráveis à família
Mesmo com a crescente participação dos devem ser oferecidas também para os
homens nas atividades do lar, as mulheres homens, pois, quando restritas às mulheres,
continuam tendo maior responsabilidade na elas podem levar as mães a se ausentarem
criação dos filhos, provocando desigualdade mais frequentemente do trabalho,
no exercício das tarefas domésticas (ROCHA-
reproduzindo o preconceito de que, por
serem mães, ficam menos orientadas para a
COUTINHO, 2004; BRUSCHINI, 2007). Muitas
carreira (HENNEKAM et al., 2019).
mulheres acreditam que a pressão da sociedade
Devido às demandas com o cuidado dos
quanto ao cuidado dos filhos recai apenas sobre
filhos, as mães tendem a receber menos que
a mãe, o que acarreta diminuição da carga de
as mulheres que não são, havendo diferença
trabalho fora do lar e a desistência de aproveitar
salarial média de 3,6% a 3,8%
oportunidades (HRYNIRWICZ; VIANNA, 2018).
(CUKROWSKA-TORZEWSKA;
Esse contexto relaciona-se com as MATYSIAK, 2020). A diferença salarial é
configurações da divisão sexual do associada às interrupções no trabalho
trabalho, pelas quais se entende que o relacionadas aos filhos, pois entende-se que
trabalho do homem ‘vale’ mais do que o da isso leva à perda de capital humano
mulher (HIRATA; KERGOAT, 2007), (CUKROWSKA-TORZEWSKA;
sendo ela responsabilizada pelas atividades MATYSIAK, 2020).
não produtivas. Essa percepção acaba Um estudo realizado com
impactando a carreira após a maternidade. enfermeiros indica que a maternidade tem
Uma pesquisa demonstrou que a academia efeito prejudicial na progressão da carreira
norueguesa apresenta ‘pontos cegos’ que das enfermeiras. O grau de restrição está
revelam preconceitos de gênero, diretamente relacionado com a idade dos
especialmente envolvendo as mães. Os filhos: quanto mais jovem for o filho, maior
entrevistados descrevem que a carreira será o impacto negativo (MCINTOSH et al.,
acadêmica do ‘pesquisador estrela’ inclui 2012). A possibilidade de progressão das
longos dias de trabalho, pesquisa como mulheres na carreira se reduz ainda mais
estilo de vida, muitas publicações de artigos caso tenham mais filhos ou trabalhem em
em periódicos internacionalmente meio período, porém as carreiras dos
reconhecidos e mobilidade internacional homens não são afetadas negativamente por
(THUN, 2020). Esses critérios de uma interrupção (MCINTOSH et al., 2012).
excelência são mais difíceis de alcançar Estudos feitos no Brasil concordam com
para alguns acadêmicos do que para outros, esses achados, ao mostrar que a
sendo mais árduos para mulheres com maternidade tem impacto negativo no
filhos, sugerindo que o homem sem trabalho feminino, quando os filhos são
responsabilidades familiares é o modelo do pequenos (BRUSCHINI, 2007). Por
acadêmico excelente (THUN, 2020). O conseguinte, algumas mulheres optam por
mesmo estudo demonstra que a academia postergar a maternidade, tendo filhos depois
adota um regime de desigualdade em

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dos 30 anos (CARVALHO NETO; cuidados com a criança (BELTRAME;


TANURE; ANDRADE, 2010), e outras DONELLI, 2012). Devido ao acúmulo de
desistem de ter filhos e família atividades domésticas e profissionais, a
(SCHLICKMANN; PIZARRO, 2013). saúde física e emocional das mulheres corre
As citadas pesquisas mostram que, o risco de se deteriorar (SPINDOLA;
nas relações de gênero, o mercado de SANTOS, 2003). As mulheres, muitas
trabalho migrou de um modelo tradicional – vezes, “sentem que não estão
o homem é responsável pelo trabalho desempenhando bem nem os papéis da
produtivo e a mulher é responsável pelo esfera doméstica, nem desenvolvendo de
trabalho doméstico – para um modelo forma satisfatória o lado profissional”
conciliador – o homem continua sendo (AMARAL, 2012, p. 18). Muitas vinculam
responsável pelo trabalho produtivo e a a incapacidade de conciliar vida
mulher deve conciliar as demandas do profissional e pessoal à ideia de fracasso
trabalho produtivo as tarefas domésticas – (CARVALHO; CARVALHO; SANTOS,
(HIRATA; KERGOAT, 2007). A lógica do 2002).
modelo conciliador é que cabe à mulher, Quando chega o momento de voltar
que buscou sair de casa para exercer um ao trabalho, observa-se que “a separação da
trabalho produtivo, conciliar as demandas mãe e seu bebê com o retorno ao trabalho é,
de suas responsabilidades. O problema de sem dúvida, ocasião crucial para todas que
ambos os modelos é que eles definem o precisam encontrar uma forma de conciliar
lugar da mulher na sociedade como o papel de mãe e profissional”
dependente do trabalho assalariado do (SPINDOLA; SANTOS, 2003, p. 594). Ao
homem, visto ser difícil conciliar atividades chegar ao fim da licença-maternidade e o
profissionais e domésticas. A fim de se consequente reingresso ao mercado de
igualarem ao homem, no mercado de trabalho, as mulheres não conseguem
trabalho, as mulheres tendem delegar suas dedicar-se igualmente a esses dois espaços,
atividades domésticas a terceiros seja pelo temor de faltarem excessivamente
(HIRATA; KERGOAT, 2007). ao seu bebê; seja por não saberem dosar a
A maternidade não é a única forma presença/ausência junto ao filho, como a
de a mulher sentir-se realizada mãe ideal deve fazer; seja por não poderem
emocionalmente, visto que a carreira realizar viagens de trabalho inesperadas,
profissional pode assumir papel central na cumprir horas extras ou levar tarefas para
vida das pessoas (FIORIN; OLIVEIRA; casa (BELTRAME; DONELLI, 2012).
DIAS, 2014). A carreira colocada em
primeiro lugar na vida das mulheres leva a
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
entender a maternidade como um obstáculo
para sua realização profissional (SOLÉ;
PARELLA, 2004). Atualmente, a Com o intuito de analisar a
expectativa da conciliação de papéis é percepção das mulheres sobre sua carreira
marcante entre as profissionais que após a maternidade, desenvolveu-se uma
vivenciam a experiência da maternidade, pesquisa qualitativa de caráter exploratório,
porém isso nem sempre ocorre de maneira visando entender o problema mais
tranquila (OLIVEIRA et al., 2011). A profundamente (GIL, 2008). A pesquisa de
relação entre maternidade e trabalho exige caráter qualitativo objetiva analisar os
lidar com a multiplicidade de papéis, o que fenômenos, coletando depoimentos que se
pode se tornar uma fonte de ansiedade transformem em dados relevantes (DEMO,
(OLIVEIRA et al., 2011). 2000). Esse tipo de pesquisa permite
A supervalorização da carreira gera descrever, com riqueza de detalhes, os
medo de se tornar ausente para o bebê ou de fenômenos como eles estão situados e
recorrer, em demasia, à terceirização dos incorporados nos contextos locais

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(JOHNSON; ONWUEGBUZIE, 2004), O tempo de empresa foi considerado


possibilitando melhor compreender o critério de seleção, pois isso possibilita às
ambiente em que o caso ocorre, devendo ser respondentes já terem uma percepção sobre
analisado sob uma perspectiva integrada. a expectativa de carreira na organização.
Os dados foram coletados por meio Foram entrevistadas somente empregadas
de entrevistas com base em um roteiro de empresas privadas pelo fato de as
semiestruturado, alicerçado no referencial trabalhadoras autônomas não gozarem das
teórico, tendo por base quatro blocos de mesmas prerrogativas da licença-
perguntas: perfil da entrevistada; carreira; maternidade que as servidoras públicas e
maternidade; carreira organizacional na por estas terem estabilidade. Delimitou-se o
maternidade. As entrevistas foram período de até um ano após a licença
realizadas com quinze mulheres, residentes maternidade, por se entender que o primeiro
em uma cidade da região norte do estado do ano de vida criança é o mais difícil para a
Rio Grande do Sul, as quais trabalham em conciliação entre maternidade e trabalho.
empresas privadas; estão por, ao menos, três As entrevistadas têm de 21 a 41
anos na atual empresa; encontram-se em anos; são casadas, solteiras ou divorciadas;
licença-maternidade ou dela retornaram há têm um ou dois filhos; possuem de ensino
menos de um ano. Para selecionar as médio incompleto a pós-graduação
entrevistadas, não foi usado nenhum outro completa; trabalham de três a quinze anos
critério adicional como idade, escolaridade na atual empresa (Quadro 1).
e renda.

Quadro 1 – Perfil das entrevistadas


Idade Estado Tempo na
E Profissão/função Escolaridade Filhos
(anos) Civil Empresa
Especialização em
Contadora/Analista
E1 35 Casada 10 anos Gestão e Planejamento 2
Contábil/ Sublíder
Tributário
Especialização em
Contadora/Auxiliar
E2 30 Casada 8 anos Contabilidade de 1
Contábil
Direito Tributário
E3 30 Casada 11 anos Recepcionista 2º Grau Completo 1
Especialização em
Contadora/ Coordenadora
E4 31 Casada 8 anos Gestão e Planejamento 2
Contábil e Fiscal
Tributário
E5 37 Casada 10 anos Auxiliar de Faturamento 2º Grau Completo 2
E6 21 Solteira 3 anos Vendedora 2º Grau Incompleto 1
Docente do Ensino Médio Doutorado em
E7 32 Casada 3 anos 1
e Ensino Superior Ecologia
E8 34 Casada 9 anos Auxiliar Fiscal Graduação em Direito 2
Docente Ensino Superior
e Pós-Graduação e Doutorado em
E9 34 Casada 11 anos 2
Coordenadora Programa Psicologia
de Carreiras da Instituição
Contadora/ Auxiliar Graduação em
E10 31 Casada 12 anos 1
Contábil Ciências Contábeis
E11 26 Casada 4 anos Escrevente em Cartório Graduação em Direito 1
Docente Ensino Superior Doutorado em Ciência
E12 38 Casada 8 anos 1
e Pós-Graduação - Bioquímica
Docente Ensino Superior Doutorado em
E13 41 Casada 15 anos 2
e Pós-Graduação Psicologia
E14 28 Solteira 4 anos Assessora Jurídica Graduação em Direito 1
Docente Educação Especialização em
E15 39 Divorciada 14 anos Infantil, Ensino Regência Coral (Canto 2
Fundamental e Médio Oral)

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Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da pesquisa (2020).

A escolha inicial das entrevistadas estudo mostra quantas pessoas precisam ser
decorreu pela facilidade de acesso, segundo entrevistadas.
Gil (2008), nessa opção o pesquisador As pesquisadoras do presente estudo
seleciona as pessoas às quais tem acesso. Na entraram em contato com pessoas que
continuidade, utilizou-se a técnica de bola correspondiam ao perfil desejado e lhes
de neve, solicitando às pessoas que já apresentaram o objetivo e a importância do
haviam participado da pesquisa a indicação estudo. Após o aceite de participação, foram
de futuras entrevistadas. Na pesquisa agendadas datas para as entrevistas, as quais
qualitativa, a determinação de quem vai ser foram realizadas individualmente, em local
entrevistado, de quantos sujeitos será reservado e de conveniência, escolhido
necessário entrevistar e de quantas vezes pelas entrevistadas (oito entrevistas
será preciso entrevistar cada pessoa não ocorreram nas casas das entrevistadas; seis,
pode ser definida antecipadamente. O nos locais de trabalho; uma entrevista, em
pesquisador, sem a apreensão da um restaurante). Antes de iniciar as
determinação estatística, tem autonomia entrevistas, as respondentes foram
para aumentar ou diminuir o número de informadas sobre a confidencialidade das
participantes do estudo e, quando preciso, informações e assinaram um termo de
aprofundar a entrevista com os pesquisados consentimento para utilização dos dados
(GODOI; MATTOS, 2006). Nesse tipo de exclusivamente em pesquisa científica.
estudo, o critério de saturação empírica é o Todas as entrevistas foram gravadas
mais utilizado (GASKELL, 2002), quando e, posteriormente, transcritas. Para a análise
o pesquisador constata que o acréscimo de dos dados, foi utilizada a técnica de análise
dados e informações não mais altera a de conteúdo que consiste em descobrir os
compreensão do fenômeno estudado núcleos de sentido que compõem uma
(THIRY-CHERQUES, 2009). Quando comunicação (BARDIN, 2009). Foram
dados começam a se repetir e informações estabelecidas duas categorias (Quadro 2) a
relevantes deixam de aparecer, é sinal de priori: carreira e maternidade, as quais
que não há mais necessidade de entrevistar resultaram na categoria final ‘carreira na
outras pessoas, ou seja, o próprio campo de maternidade’.

Quadro 2 – Categorias de Análise


Categorias Iniciais Categorias Intermediárias Categoria Final
Carreira tradicional; crescimento Carreira na maternidade:
vertical; conhecimento formal; – retorno ao trabalho;
Carreira
carreira contemporânea; carreira – cansaço;
proteana; carreira sem fronteira. – preocupação com o bebê;
– falta de tempo para o trabalho;
Motivos; postergação da
– atividades domésticas;
maternidade; responsabilidades
Maternidade – (in)satisfação na carreira;
com os cuidados dos filhos e com
– políticas organizacionais;
os afazeres domésticos.
– licença maternidade.
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da pesquisa (2020).

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS carreira; e ‘maternidade’ que examina a


percepção delas sobre a maternidade. Por
Essa seção contém a análise dos fim, essas análises resultaram na categoria
resultados, com base nas categorias final ‘carreira e maternidade’ que trata dos
intermediárias: ‘carreira’ que aborda o desafios para a conciliação de ambas as
entendimento das entrevistadas sobre atividades.

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Carreira na Maternidade: a percepção de mulheres de uma cidade no norte do estado do Rio Grande do Sul
Career in Motherhood: Women’s perception of a city in the north of the state of Rio Grande do Sul

5.1 Carreira indivíduo necessita buscar conhecimento e


aperfeiçoamento formais (TONELLI,
Embora as entrevistadas não 2009), pois o novo cenário, embora permita
tivessem clareza sobre o conceito de alguma flexibilidade, ainda exige
carreira disseminado pela literatura, a competências acadêmicas.
maioria expôs uma definição que vai ao Os depoimentos evidenciam como
encontro da explicação de Chanlat (1995, p. as entrevistadas percebem a carreira
69): “ofício, uma profissão que apresenta relacionada com crescimento vertical na
etapas, uma progressão”. As entrevistadas organização, sob a perspectiva tradicional
expressam, portanto, sua percepção de de carreira (BALASSIANO; VENTURA;
carreira como crescimento profissional, FONTES FILHO, 2004; CHANLAT,
como relata E12: “o teu crescimento na área 1995). E10 nota que o desenvolvimento de
profissional, como que você iniciou e como carreira pode estar atrelado a outras formas
que isso vai melhorando com o decorrer do de realização e não somente à ascensão
tempo, tanto em questão de sonho, de hierárquica: “em matéria de conhecimento,
almejar e financeiro mesmo”. A maior parte sim, eu só vou agregar conhecimento, isso
das entrevistadas vê a carreira da forma sim, eu sempre vou estar adquirindo. Agora,
tradicional, na qual a progressão é linear e deixar de ser auxiliar, não. Não vou passar
vertical (CHANLAT, 1995). E1 destaca que a ser uma gerente, uma supervisora, não”
se a empresa vê o empenho da pessoa, lhe (E10).
oportuniza o crescimento: “se você tiver O conceito de carreira evoluiu ao
vontade de crescer, a empresa também vai longo do tempo. Passou do modelo
ver teu desempenho, também vai te dar tradicional, no qual a organização era a
oportunidades para crescer. Empresa e principal responsável pela gestão da
empregado têm que trabalhar juntos pra carreira de seus empregados
poder subir de cargo”. (BALASSIANO; VENTURA; FONTES
O tempo de carreira das FILHO, 2004), para o modelo moderno, no
entrevistadas em suas atuais organizações qual, em um contexto de mudanças sociais
varia de três a quinze anos, sendo suas e de inclusão da mulher no mercado de
trajetórias profissionais bastante distintas. trabalho (CHANLAT, 1995), o
Algumas referem sua ascensão planejamento e a administração da carreira
organizacional, ao longo do tempo, devido são de responsabilidade do próprio
às oportunidades de crescimento, mas indivíduo e não da organização (DUTRA,
muitas delas destacam que, na atual 2007; SANT’ANNA; KILIMNIK, 2009).
empresa, não há como crescer: “lá não tem E9 expõe sobre o amadurecimento desse
como crescer muito. Tu entra fazendo uma conceito:
coisa e vai morrer fazendo praticamente a
mesma coisa. Crescimento? Acho pouco Eu vejo a carreira com um conceito
provável” (E2). que ele é bem amplo, não é algo
Os depoimentos mostram que a estático, que é dinâmico, que envolve
várias possibilidades de mobilidade
ascensão organizacional está relacionada física, mobilidade psicológica, e que,
com o conhecimento formal, comprovado também, tem uma construção de que a
por meio de certificados: “lá dentro é difícil. carreira, hoje, é algo muito mais do
Tipo assim, se tu não tem uma escolaridade, indivíduo e não mais aquele modelo
que eles dizem, um nível superior, é difícil” tradicional que as empresas eram
responsáveis pela carreira. Então,
(E3). E5 destaca: “o problema é que eu não hoje, assim, quem consegue ter uma
tenho uma faculdade. Tão exigindo uma boa gestão sobre a carreira é a aquela
faculdade e o bom é ter uma faculdade. Mas pessoa que consegue se preocupar,
acho que até sim, tem como crescer aqui consegue fazer adaptabilidade da
dentro”. Essas falas mostram que o carreira, enfim, um conceito bem mais

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amplo do que entendido como só uma eu pedi a redução de carga horária


formação e um trabalho. nessa empresa e aí fiquei trabalhando
menos horas, no formato de
Conforme os relatos sobre as consultoria. Uma empresa bem
grande, assim, com 2.500 funcionários
trajetórias profissionais, algumas e eu fiquei como consultora de uma
entrevistadas encontram-se imersas em área só, na área de GP e fiquei
carreiras contemporâneas, por exemplo, a vinculada à universidade. Como eu
proteana, na qual o indivíduo desenvolve a sabia que a minha intenção era
capacidade de adaptar-se às mudanças mesmo, desde a época da graduação,
trabalhar na academia, eu acabei
durante a vida profissional, enfrentando pedindo o meu desligamento dessa
novos desafios e aprendendo continuamente empresa. Acabei ficando com a
(HALL, 2002). A fala de E13 mostra que, universidade e com consultoria, fiquei
em sua trajetória na empresa, ela teve que se trabalhando assim durante dez anos. E
adaptar às mudanças, assumindo diferentes aí depois fui pro doutorado (E9).
responsabilidades, o que demonstra sua
adaptabilidade profissional: Os relatos de grande parte das
entrevistadas revelam o entendimento de
Aqui eu entrei com esse projeto de uma carreira tradicional, no entanto, ao
voluntariado onde eu fazia parte como exporem suas trajetórias, fica claro que elas
psicóloga externa. Eu cumpria minha desenvolvem carreiras com uma concepção
carga horária que era bem pouquinha, mais contemporânea, pois estão sempre se
era duas horas por semana. A partir
daí, a coordenadora do curso de
reinventando e se desenvolvendo como
Psicologia, me convidou pra ser profissionais (LACOMBE; CHU, 2005;
psicóloga da Clínica-Escola do curso, TONELLI, 2009).
que abriu em 2004. Daí eu fiquei seis
anos na Clínica-Escola, e comecei a 5.2 Maternidade
me interessar por a questão acadêmica
mesmo. E aí que eu procurei o
mestrado, enfim, precisava o mestrado Diversos motivos levam uma
pra entrar e eu me interessei mais na mulher a querer ser mãe. E11 demonstra
área da pesquisa. Em 2010, eu saí claramente o desejo de tornar-se mãe: “eu
daqui desse Campus e fui pro Campus sempre quis ser mãe (...) Eu queria poder
de Frederico, dei aula dois anos lá e,
depois, voltei pra cá, que tem a ver
aproveitar a minha condição física pra ter
com a maternidade também. Voltei uma boa gestação. Mas também foi em
pra cá, fiquei só aqui e comecei o função da fase do relacionamento que a
doutorado, em 2015. gente está vivendo”. E10 explica que
gostaria de ter um filho para lhe fazer
No conceito de carreira sem companhia à noite, enquanto o marido
fronteiras, as pessoas ultrapassam as estuda, para não se sentir sozinha: “eu
fronteiras da organização. Denomina-se desejei pra ter a companhia, não ficar
mobilidade física o interesse referente a sozinha durante à noite. Então, eu dizia: ‘eu
movimentar-se entre os empregadores e tenho que ter um nenê pra me ocupar de
mobilidade psicológica, o interesse em noite, eu preciso’, e até no sentido de não
trabalhar além das fronteiras da organização deixar muito pra depois”.
(ARTHUR; ROSSEAU, 1996). A fala de Os dados do IBGE (2016) indicam
E9 mostra sua trajetória em determinado crescimento da taxa de mulheres que têm
momento da vida profissional e a seu primeiro filho entre 30 e 39 anos,
conciliação entre carreiras distintas: mostrando que a maternidade está sendo
postergada (LOUREIRO; COSTA;
E aí, surgiu uma oportunidade de FREITAS, 2012). Isso é corroborado pela
começar com uma disciplina com presente pesquisa, na qual dez entrevistadas
contrato emergencial na universidade,
foram mães depois dos 30 anos. Os motivos

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que levam à postergação da maternidade


são variados. A maior parte das mulheres Primeiro, eu queria fazer o meu
opta por esperar porque deseja ter uma mestrado, meu doutorado. Então, eu
situação financeira mais estável, e moradia terminei os meus estudos e depois eu
gostaria de arranjar um emprego, e eu
própria, a fim de proporcionar maior arranjei o emprego, fiz o concurso,
conforto para a família, como relata E4: “o passei. Depois disso, a gente comprou
que pesou bastante foi a questão financeira, uma casa e com um ano morando
a gente queria primeiro construir a nossa nessa casa, a gente teve filho. Eu
casa. A casa que a gente estava era pequena, planejei tudo antes, primeiro o
emprego com as especializações, fui
não comportava pra ter filho, então a gente morar fora do país, meu marido
planejou mais no sentido financeiro e também, então, quando a gente fez
também para preparar um local pra eles”. tudo que a gente queria, voltamos pra
A carreira profissional desempenha casa e daí começou, tá e agora? Agora,
papel importante na vida das pessoas, a gente tem que ter um filho, falta pra
completar (E7).
fazendo-as, inclusive, adiar a concepção de
um filho (FIORIN; OLIVEIRA; DIAS, Na verdade, a minha programação era
2014). Ao serem indagadas se a carreira para quando eu tivesse estabilizada na
influenciou sua decisão, a maioria das carreira. Então, eu já estava na
entrevistadas afirmou que não. No entanto, universidade, já fazia algum tempo, já
tinha passado no concurso, já tinha
ao analisar suas falas, verifica-se que a uma carga horária boa, já tinha umas
espera por uma situação financeira mais consultorias. Eu tava bem estabilizada
adequada, a procura por um bom emprego e tanto no relacionamento, quanto na
a permanência nele denotam a preocupação vida profissional, eu entendi que era o
com a carreira. E4 deixa claro esse momento. Eu sempre desejei ter filho
cedo, mas eu tinha como requisito o
entendimento quando diz: “por questão de trabalho que eu estivesse estável (E9).
trabalho, eu esperei um pouco, pra não
engravidar assim que entrei no trabalho”. As mulheres engajadas na ascensão
Algumas mulheres optam por profissional não querem interromper a
concluir seus estudos para só depois ter carreira para terem filhos, porém, quando
filhos, o que demostra claramente a ocorre o adiamento da maternidade, as
preocupação com a carreira. O mercado de condições ideais podem nunca chegar
trabalho ainda encontra dificuldades para (BARBOSA; ROCHA-COUTINHO,
proporcionar oportunidades iguais aos 2007). E13 deixa clara essa situação, ao
gêneros. Alguns estudos mostram que as dizer: “um pouco acho que a carreira,
mulheres precisam se esforçar mais porque a gente sempre espera que vai
(GRISCI et al., 2015) para conseguir chegar lá no topo e nunca chega. Então, a
oportunidades laborais, por conseguinte gente pensa: mais um pouquinho, mais um
buscam melhor se qualificar para obterem pouquinho, quem sabe vou fazer o
maior destaque. A carreira pode ocupar o doutorado e acabava não fazendo”.
primeiro lugar na vida das mulheres, Mesmo com o aumento da
levando a entender a maternidade como um
participação dos homens nas atividades do
obstáculo para a realização profissional
lar, as mulheres continuam tendo a maior
(SOLÉ; PARELLA, 2004). Ela também
pode ser um motivo para a postergação de responsabilidade na criação dos filhos,
maternidade (BARBOSA; ROCHA- passando muitas horas por semana
COUTINHO, 2007). Essa preocupação dedicando-se aos cuidados domésticos
ficou mais evidente nas falas das (IBGE, 2018; ROCHA-COUTINHO, 2004;
entrevistadas inseridas em carreira LINDO et al., 2007; HIRATA; KERGOAT,
acadêmica, como mostram os relatos de E7 2007; BRUSCHINI, 2007). Esse
e E9: direcionamento não é uma escolha da

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mulher, mas deriva de um contexto Elas destacam a falta de tempo para cuidar
influenciado pelas normas patriarcais da de si, devido à prioridade atribuída aos
sociedade que a responsabiliza pelo cuidado bebês; mencionam a falta de tempo para se
da casa e das crianças (HIRATA; relacionarem com os maridos; assinalam a
KERGOAT, 2007; FRAGA; ROCHA-DE- alteração em seu círculo de amizade, por
passarem a se relacionar com pessoas que
OLIVEIRA, 2020), coerente com a
também tem filhos, O relato de E1 ilustra tal
perspectiva de um modelo conciliador sobre contexto: “tenho menos tempo pra mim, a
as responsabilidades relativas às atividades gente fica em função dos filhos. Sempre a
produtivas e reprodutivas nas relações de gente prioriza os filhos. A gente deixa de
gênero (HIRATA; KERGOAT, 2007). A lado a vida conjugal, mas tudo se resolve”.
mulher tem, portanto, menos tempo para se E9 corrobora a mesma percepção ao
dedicar ao trabalho fora do lar, no entanto dizer: “tinha muita coisa que eu imaginava,
muitas promoções, nas empresas, estão mas como dizia uma autora que eu esqueci:
associadas a mais horas laborais ‘eu era uma excelente mãe, até me tornar
(SULLIVAN; MAINIERO, 2008; uma’. É muito fácil falar sobre a condição
do outro, sobre a educação, sobre as
HRYNIEWICZ; VIANNA, 2018).
relações, é muito diferente a expectativa da
Ao serem indagadas sobre as realidade”. Isso ocorre porque há mudanças
atividades da casa e o cuidado com as na rotina das mulheres que se tornam mães,
crianças, a maioria das entrevistadas como explica E3: “e a nossa rotina não é a
considera o marido uma pessoa que ‘ajuda’ mesma. Antes, tu pensava na gente, agora
e não uma pessoa com quem divide essas tem que pensar primeiramente neles. E
tarefas. Os pais estão mais presentes às tudo, tudo, tudo muda. Nossos horários de
noites ou nos finais de semana, sendo almoço, os horários de fazer alguma coisa
maiores o envolvimento e as em casa, por mais que tu fique direto em
responsabilidades das mães, como se elas casa, é uma mudança radical na vida da
também não tivessem trabalho externo à gente”.
casa para realizar. E4 relata: “o meu esposo Os resultados mostram que as
ajuda à noite, que é quando ele está e no entrevistadas tinham o desejo claro de se
final de semana”. Duas entrevistadas tornarem mães, porém a maioria decidiu
destacam que os cuidados da casa e com o postergar a maternidade para depois dos 30
filho ficam mais sob sua responsabilidade, anos. A protelação adveio por causa do
em função das ocupações dos pais: “de desejo de estabilidade financeira, da
noite, é só comigo, a princípio. No final de vontade de concluir os estudos, do
semana, tem o pai, mas a casa é envolvimento com a carreira. Outro
praticamente comigo, agora damos uma elemento identificado que afeta a
puxadinha no pai, chega perto das férias tem maternidade é a sobrecarga com a criação
que ajudar um pouco mais” (E10). Ao se dos filhos, visto que, na percepção das
tratar da provável terceirização dos entrevistadas, a responsabilidade maior
cuidados com o bebê (BELTRAME; recai sobre as mulheres, sinalizando que a
DONELLI, 2012), principalmente com o sociedade ainda mantém um modelo de
retorno ao trabalho, evidencia-se a conciliação em relação às atividades
necessidade de auxílio, mostrando a domésticas (HIRATA; KERGOAT, 2007).
possibilidade de um modelo de delegação
das atividades domésticas (HIRATA; 5.3 Carreira e Maternidade
KERGOAT, 2007). Há equilíbrio em deixar
as crianças sob os cuidados das avós, de Quando questionadas sobre como as
babás ou de creches. As mães revelam ter empresas receberam a notícia da gravidez,
havido uma grande mudança em suas vidas. todas as entrevistadas disseram que foram

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bem tratadas e não tiveram objeção nem da deduzirem do imposto de renda os dois
empresa, nem dos colegas de trabalho. salários pagos na extensão da licença
Segundo E2, “eles reagiram de uma forma maternidade: “essa questão do benefício
boa, assim. Em nenhum momento eu me que já existe, mas que só as empresas
senti mal por causa da gravidez, que eles cidadãs que tem, eu vejo que é essencial pra
tivessem reagido mal, muito pelo licença-maternidade. O próprio Ministério
contrário”. Todas as entrevistadas da Saúde recomenda que você amamente
conseguiram se ausentar para realizar exclusivamente até os seis meses. Como
consultas e exames de rotina, porém sempre que você amamenta exclusivamente se você
agiram com bom senso, procurando agendar só fica quatro em casa?” (E4). Atualmente,
esses compromissos em horários que não tramita no Congresso Nacional o projeto de
influenciassem tanto seu trabalho: “a lei para a concessão de licença-maternidade
empresa entende, mas também a gente por seis meses às empregadas em regime
procura marcar depois do horário, ou senão, celetista.
marcar mais para o final do dia, então sair A decisão das empresas em
para uma consulta, sai uma hora antes do desenvolver políticas para dar suporte às
expediente terminar, ou então, marca para o mulheres nesse momento de sua vida deve
início do expediente e chega uma hora também envolver os homens. A elaboração
atrasada” (E4). de políticas exclusivas para as mulheres
Quanto a haver distinção de pode levar à falsa ideia de que elas estão
atribuições entre as mulheres com ou sem sendo privilegiadas. É importante
filhos, a maioria percebe que, em suas desenvolver políticas e práticas de GP que
empresas, não há essa distinção, não visem ao equilíbrio familiar (EAGLY;
influenciando o fato de a trabalhadora ser CARLI, 2007; HENNEKAM et al., 2019) e
mãe ou não. Isso acontece, pois grande parte permitam ao homem ter disponibilidade
das empresas não possui políticas e práticas para exercer a paternidade, quebrando
de GP voltadas para as mulheres estereótipos como o de que o cuidado dos
(SULLIVAN; MAINIERO, 2008), filhos é responsabilidade somente da mãe.
principalmente, após a maternidade, Isso inclui rever a licença paternidade que,
visando melhor equilíbrio familiar atualmente, é de oito dias e, no programa
(HENNEKAM et al., 2019). A exceção foi governamental ‘Empresa Cidadã’, é de 20
encontrada no depoimento de E7 que dias. Outras práticas que podem possibilitar
explica receber facilidades de a empresa o equilíbrio familiar são o banco de horas, o
como ser dispensada de acompanhar teletrabalho e o home office (EAGLY;
viagens de alunos, compromisso que tinha CARLI, 2007).
antes. Atualmente, a expectativa de
Indagadas sobre a existência, dentro conciliação de papéis é marcante entre as
da empresa, de políticas em favor de profissionais que vivenciam a experiência
mulheres grávidas ou mães, todas explicam da maternidade, situação que nem sempre
não haver nada a esse respeito, no entanto ocorre de maneira tranquila (OLIVEIRA et
elas são enfáticas quanto ao desejo que a al., 2011), principalmente por ocasião do
licença-maternidade seja concedida até os retorno ao trabalho (SPINDOLA;
seis meses do bebê: “eu acho que uma SANTOS, 2003). E8 relata a apreensão de
licencinha de seis meses pra uma deixar a criança aos cuidados de outras
universidade que tem cursos da área da pessoas: “no trabalho, tu está lá, mas sempre
saúde, enfim, acho que poderiam abraçar está meio apreensiva se vai acontecer
essa ideia” (E13). alguma coisa, por mais que a gente confie
As entrevistadas ressaltam o na escolinha nunca é como a gente está
programa governamental ‘Empresa cuidando deles”.
Cidadã’, que permite às empresas

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No retorno ao trabalho, as mulheres plano. Uma das barreiras que as mulheres


não conseguem, pelo menos inicialmente, enfrentam na ascensão da carreira está,
dedicar-se da mesma forma aos dois portanto, relacionada com a maternidade e
espaços, relatando falta de tempo, atenção e com os afazeres domésticos (EAGLY;
cansaço. Esse contexto provoca ansiedade, CARLI, 2007), visto que as mulheres com
como expõe E6: “no trabalho, a gente chega filhos acabam recebendo menos
mais cansada, principalmente quando que a oportunidades de crescimento nas empresas
nenê está doente, daí ela não dorme quase (MCINTOSH et al., 2012).
nada de noite. Daí, eu chego caindo de sono, As entrevistadas que já voltaram ao
quase dormindo sentada”. E7 corrobora trabalho foram unânimes em dizer que um
essa percepção, por causa da falta de tempo dos principais desafios provenientes da
para se dedicar ao trabalho com a maternidade é a falta de tempo disponível
intensidade de antes: “no trabalho, eu estou para realizarem as tarefas laborais com
sentindo bastante porque aquele tempo que anteriormente. Beltrame e Donelli (2012)
eu tinha, que sobrava pra eu fazer a enfatizam que, ao final da licença-
pesquisa, pra ler um artigo, pra traduzir um maternidade e o consequente reingresso no
artigo, pra corrigir um artigo de um aluno mercado de trabalho, as mulheres não
que precisava pra ontem, esse tempo eu não conseguem se dedicar como antes às tarefas
tenho mais”. Essa fala mostra a cegueira de laborais, conforme relata E7: “minha
gênero no meio acadêmico, mostrada por carreira está bem parecida, mas o meu
Thun (2020), ao expor que as universidades tempo é que mudou. Eu trabalhado mais de
exigem longas horas de trabalho para o madrugada, eu tenho feito mais coisas por
professor ter destaque na carreira, e-mail, as bancas que eu participo, eu não
implicando a falsa ideia de igualdade de vou, é por Skype, antes eu ia, acho que eu
gênero. tinha mais tempo, hoje, eu tenho menos
Uma das entrevistadas (E4) realçou tempo”. E9 corrobora essa percepção:
o lado positivo do afastamento do trabalho,
pela valorização de sua ausência: “por A carreira antes da maternidade a
exemplo, na empresa, eu vinha solicitando gente produz muito mais. Eu vejo
tanto na primeira gestação, quanto na
alguém pra ajudar. A gente conseguia dar segunda, que a doação e a entrega é
conta do trabalho, mesmo dizendo que muito maior. Tu não tem horário, tu
estava sobrecarregada, ia levando. A partir não tem tanta preocupação quanto tu
do momento em que eu me ausentei, eles tem agora com filhos. Depois que tu
viram que precisava ter essa pessoa. E em tem um bebê, eu vejo que por dois
anos a tua carreira tende a estabilizar,
um mês que eu estava de laudo, contrataram tu não consegue fazer uma entrega tão
a pessoa. Foi algo que eu vi que foi positivo grande, uma dedicação, não digo nem
porque valoriza a ausência, porque em termos de engajamento porque tu
enquanto você está lá suprindo todas as continua engajada, mas em termos de
necessidades, os problemas não aparecem dedicação tu fica muito mais limitada,
seja por horários, por possibilidades,
pra gerência”. então, te limita (E9).
Antes da maternidade, as mulheres
têm “totalmente a cabeça focada no As entrevistadas, no entanto,
trabalho” (E10). As mulheres engajadas na continuam percebendo o trabalho como
ascensão profissional não interrompem a fonte de prazer e de reconhecimento social
carreira para terem filhos, pois precisam se (AMARAL, 2012): “é uma satisfação
dedicar quase integralmente às atividades pessoal, mas que está aliada ao profissional.
laborais (BARBOSA; ROCHA- Eu estou muito satisfeita, muito feliz” (E9).
COUTINHO, 2007). No entanto, segundo Ressalta-se, porém, que nem todas as
alguns relatos, quando optam pela pesquisadas demonstraram ter, após a
maternidade, deixam a carreira em segundo maternidade, a mesma satisfação decorrente

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do trabalho. Algumas declararam-se muito 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS


insatisfeitas, como E15: “estou ansiosa pra
conquistar minha satisfação profissional
As mulheres enfrentam diversas
depois deles porque agora eu estou de
barreiras e obstáculos para darem
molho ainda porque a bebê é muito novinha
continuidade a suas carreiras após a
ainda”. E10 expõe sua insatisfação: “eu
maternidade, sendo importante reconhecer
senti que perdi um pouco do ritmo, mas no
os desafios enfrentados pelas mulheres em
geral, não mudou. Claro, antes de eu
seu desenvolvimento profissional. O
engravidar, o meu objetivo que eu tinha lá
presente estudo analisou a percepção de
no início de plano de carreira, eu desisti”.
carreira, após a maternidade, de mulheres
E7 também mostra sua dificuldade em
que trabalham em empresas privadas em
conciliar carreira e maternidade: “hoje não
uma cidade da região norte do estado do Rio
estou satisfeita com a minha carreira. Me
Grande do Sul. Os resultados mostram que
incomoda não ter tempo pra fazer o que eu
a maioria das entrevistadas percebem
gostaria de fazer que é a pesquisa que é o
carreira como ascensão organizacional,
que eu quero”.
porém, quando abordam a própria trajetória,
Não ter tempo para a realização das
relatam uma carreira sem fronteiras e
tarefas laborais é um dos fatores que mais
proteana (HALL, 2002; LACOMBE; CHU,
incomoda as mulheres em relação à carreira
2005).
depois da maternidade, mostrando que o
Com relação à maternidade,
modelo conciliador da divisão sexual do
observaram-se aspectos que surgem,
trabalho (HIRATA; KERGOAT, 2007) não
simultaneamente, como prazerosos e
permite a igualdade entre mulheres e
desafiadores, possíveis criadores da
homens no mercado de trabalho. As
dicotomia entre sentimentos e
entrevistadas mostram a necessidade e o
responsabilidades. As entrevistas neste
desejo de permanecer com os filhos, mas
estudo, sem exceção, falam da mudança
também têm vontade de continuar a se
radical em suas vidas ao se tornarem mães.
dedicar ao trabalho. No entanto, não se pode
Apesar de relatarem cansaço extremo com a
pensar na vida pessoal e na vida profissional
chegada do bebê – pois, são as principais
em separado, é preciso haver consonância e
cuidadoras dele (ROCHA-COUTINHO,
tentar conciliar expectativas e desafios nas
2004; LINDO et al., 2007; HIRATA;
duas dimensões.
KERGOAT, 2007; BRUSCHINI, 2007;
Nesse contexto, os conceitos de
IBGE, 2018) –, a maioria sente-se mais
carreira contemporânea acabam fazendo
plena e realizada emocionalmente.
mais sentido para as mulheres que são mães
Quando se analisam carreira e
do que o conceito tradicional. As barreiras,
maternidade, verifica-se que a atuação da
as dificuldades, a falta de tempo e a falta de
mulher como profissional e mãe gera
possibilidades de ascensão, em um
conflitos, não só em razão das preocupações
ambiente marcado pela desigualdade de
com o bebê em sua ausência, mas também
gênero, levam as mulheres a redefinirem
pelo excesso de atividades acumuladas no
sua concepção de carreira para encontrarem
exercício dessas duas funções
satisfação naquilo que fazem. A
(BELTRAME; DONELLI, 2012;
maternidade mostra-se tanto como
SPINDOLA; SANTOS, 2003). O dilema
obstáculo, quanto como possibilidade de
entre carreira e maternidade torna-se
mudança de perspectiva em relação à
comum, pois conciliar ambos os papéis
carreira profissional.
demonstrou ser desafiador para aquelas que
retornaram ao mercado de trabalho, após a
licença-maternidade (OLIVEIRA et al.,
2011). Muitas entrevistadas relataram a
falta de tempo como um dos maiores

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obstáculos da maternidade em relação à das mulheres e, consequentemente,


carreira. Elas revelam que, após a propiciar que elas estejam mais presentes
maternidade, levar trabalho para casa, como nas organizações após a maternidade. Esse
antes faziam; ficar na organização além do contexto promulgaria um modelo de
horário estipulado; comparecer na empresa complementaridade na divisão sexual do
em dias não previstos geram frustrações e trabalho (HIRATA; KERGOAT, 2007),
ansiedades. possibilitando às mulheres terem mais horas
Apesar de todas as conquistas disponíveis para se dedicarem à carreira
obtidas pelas mulheres, ainda há muito a profissional.
alcançar. As organizações não possuem Para estudos futuros, sugere-se a
políticas adequadas para essa nova etapa na análise de políticas e práticas
vida da mulher que quer ser mãe, organizacionais que visam à igualdade de
dificultando sua vida pessoal e profissional gênero, levando em consideração,
(SULLIVAN; MAINIERO, 2008). Mesmo principalmente, a maternidade e o equilíbrio
instituições de ensino, que contam com familiar. Analisar a carreira da mulher,
cursos como enfermagem e psicologia, levando em consideração marcadores
reconhecedores da importância da presença sociais, como cor e etnia, bem como
da mãe junto ao bebê até os seis meses, não rendimentos financeiros, é uma temática
disponibilizam a licença estendida. As importante a ser tratada para que a
entrevistadas foram unânimes ao dizer que sociedade amadureça sua percepção sobre a
gostariam de que a licença-maternidade divisão sexual do trabalho.
fosse concedida até os seis meses do bebê,
mesmo aquelas que expressaram o desejo REFERÊNCIAS
de voltar à atividade laboral.
O presente estudo mostrou que as AMARAL, G. A. Os desafios da inserção
perspectivas de carreira contemporânea da mulher no mercado de trabalho.
ainda não contemplam as necessidades das Itinerarius Reflectionis, v. 8, n. 2, 2012.
mulheres (SULLIVAN; MAINIERO, DOI:
2008), implicando desigualdade de gênero https://doi.org/10.5216/rir.v2i13.22336
no mercado de trabalho. Mesmo as carreiras ARTHUR, M. B.; ROUSSEAU, D. M.
proteanas, sem fronteira e de autogestão, The boudaryless career: a new
que permitem ajustes conforme a demanda employment principle for a new
da pessoa, ainda carecem de organization era. New York, Oxford:
aprofundamento para suprir as necessidades University Press, 1996.
das mulheres, pois ainda carregam o viés
das necessidades masculinas, sem BALASSIANO, M.; VENTURA, E. C. F.;
aprofundar as relações de gênero. FONTES FILHO, J. R. Carreiras e
Ressalta-se como principal Cidades: existiria um melhor lugar para se
contribuição empírica deste estudo, o fazer carreira? Revista de Administração
reconhecimento da necessidade de criação Contemporânea, Curitiba, v. 8, n. 3, p.
de políticas públicas e organizacionais mais 99-116, 2004. DOI:
efetivas, pois as mulheres, ao se tornarem https://doi.org/10.1590/S1415-
mães, desempenham importante papel junto 65552004000300006
à sociedade, portanto as empresas deveriam
ser facilitadoras desse processo, BARBOSA, P. Z.; ROCHA-COUTINHO,
proporcionando melhor engajamento entre M. L. Maternidade: novas possibilidades,
carreira e maternidade. Políticas que antigas visões. Psicologia Clínica, v. 19, n.
permitam o equilíbrio familiar tornam-se 1, p. 163-185, 2007. DOI:
urgentes no meio empresarial, para assim https://doi.org/10.1590/S0103-
diminuírem a carga de trabalho doméstico 56652007000100012

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i Mestrado em Administração pela Escola de Administração da Faculdade Meridional (IMED) - Passo Fundo - RS – Brasil
ii Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Pelotas -Pelotas - RS e aluna de graduação do curso de

Psicologia na Faculdade Meridional (IMED) - Passo Fundo - RS - Brasil

Mestrado e doutorado em Administração com ênfase em Gestão de Pessoas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
iii

-Porto Alegre - RS - Brasil. É professora e pesquisadora do Departamento de Administração na Universidade Tecnológica


Federal do Paraná (UTFPR) – Pato Branco - PR - Brasil

Mestre em Administração na Escola de Administração da Faculdade Meridional (IMED) - Passo Fundo - RS – Brasil.
iv

Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Administração na Universidade Estadual de Maringá (UEM) –


Maringá – PR.

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