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Coping e equilíbrio trabalho-família em função do horário de trabalho na

população ativa

Ana Isabel Godinho e Raquel Brazona

Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes

Métodos de Investigação em PT&SO, Mestrado em Psicologia do Trabalho e da Saúde

Ocupacional, 2022/2023
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Resumo

O equilíbrio entre os papéis profissionais e familiares tem recebido muita atenção por

parte da comunidade científica, com o objetivo de contribuir para o aumento da compreensão

sobre a complexidade das relações entre as esferas do trabalho e da família.

O presente estudo tem como objetivo geral a análise da relação entre as estratégias de

coping e o equilíbrio trabalho-família na população ativa. Com vista a esse fim, pretende-se

estudar uma amostra composta por 370 participantes, sendo que 185 são do género feminino

e 185 do género masculino, com idades compreendidas entre os 25 e 65 anos e com uma

atividade profissional ativa.

Neste estudo de caracter transversal, de modo a operacionalizar as medidas, foram

utilizadas os seguintes instrumentos: (a) Questionário de Estratégias de Coping, versão

adaptada por Ribeiro e Santos, 2001; (b) Questionário de Interação Trabalho-Família Survey

Work-Home Interaction Nijmen (SWING), versão adaptada por Pereira, Queirós, Gonçalves,

Carlotto e Borges, 2014.

Com essa finalidade foram formuladas as seguintes hipóteses: (1) As mulheres

utilizam estratégias de coping mais adaptativas para manter o equilíbrio trabalho-família

quando comparadas com os homens que utilizam menos estratégias de coping; (2) Mulheres

com filhos, que apresentam um maior compromisso com o trabalho tem menos equilíbrio na

relação trabalho-família; (3) Trabalhadores com horário fixo apresentam um maior nível de

equilíbrio trabalho-família em relação aos que trabalham por turnos.

Palavras-chave: Equilíbrio trabalho-família, estratégias de coping, turnos rotativos e

vida familiar.
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Turnos rotativos: Coping e equilíbrio trabalho-família nas mulheres

Atualmente as doenças laborais têm sido foco de especial atenção por parte da

comunidade científica.

O equilíbrio entre os papéis profissionais e familiares assume grande relevância neste

estudo, sendo um dos seus principais objetivos contribuir para o aumento da compreensão

sobre a complexidade das relações entre as esferas do trabalho e da família.

Objetivos e hipóteses

O1: De que forma as estratégias de coping influenciam o equilíbrio trabalho-família

nas mulheres que trabalham por tunos?

H1: Prevê-se que as mulheres que trabalham por turnos recorram a estratégias de

coping mais adaptativas, apresentando um maior nível de equilíbrio trabalho-família.

O2: Mulheres que trabalham por turnos e utilizam estratégias de coping têm níveis de

equilíbrio trabalho-família mais elevados?

H2: Mulheres que utilizam estratégias de coping apresentam níveis de equilíbrio

trabalho-família maiores em comparação com as mulheres que não utilizam.

Estratégias de coping

Genericamente Coping define-se como o conjunto de estratégias utilizadas pelos

indivíduos para lidar com situações de stress, no entanto, achando que esta definição é

demasiado vaga para ilustrar o nosso trabalho e para que se entenda com exatidão a variável

em estudo, realizamos uma pesquisa que permitiu aprofundar o significado deste conceito.

Após uma cuidadosa análise da literatura verificamos que a definição de Coping varia

ligeiramente de autor para autor não sendo, portanto consensual. Talvez porque, várias

gerações de pesquisadores se têm dedicado ao estudo do tema, que se encontra fortemente

relacionado com as diferenças individuais, sendo ainda objeto de estudo da psicologia clínica,
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social e da personalidade. Ao nos cingirmos ao conhecimento científico, verificamos

evidências que demonstram que fatores situacionais não explicam a variedade de estratégias

de Coping adotadas pelos indivíduos, no entanto apontam para uma convergência entre

Coping e personalidade.

Segundo Carver e Scheier (1994), os indivíduos desenvolvem mecanismos habituais

para lidar com o stress e estes comportamentos constituem estilos de Coping que predispõem

o individuo para responder de uma forma especifica ao confronto com uma situação

stressante.

Folkman e Lazarus (1980), descrevem o coping como os esforços cognitivos e

comportamentais realizados de forma a reduzir, controlar ou dominar exigências internas e

externas, e os conflitos entre estas.

Ao contrário dos estilos de Coping, que estão ligados a fatores relacionados com a

predisposição do individuo para agir, estratégias de Coping estão relacionadas com fatores

situacionais. Estas estratégias refletem ações, comportamentos ou pensamentos usados para

lidar com a situação de stress (Folkman, Lazarus, Dunkel-Schetter, DeLongis & Gruen,

1986). Segundo Folkman e Lazarus (1980). estas estratégias classificam-se em dois tipos:

Coping focado no problema e Coping focado na emoção.

Coping focado na emoção define-se como uma ação que é tomada pelo individuo para

regular o estado emocional associado ao evento stressante, como por exemplo, fumar um

cigarro, consumir bebidas alcoólicas, tomar um calmante, fazer exercício físico ou ver

televisão. Estas estratégias podem ser muito diversificadas, mas todas elas visam reduzir a

tensão emocional e a sensação física desagradável associada ao estado de stress.

Coping focado no problema, define-se como o esforço realizado pelo individuo para

atuar diretamente na situação causadora de stress visando assim modificar ou eliminar o fator

causador de tensão. Neste âmbito, a ação associada a esta estratégia pode ser dirigida para o
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interior do individuo ou para o exterior. Quando o Coping, focado no problema, se dirige para

uma fonte de stress exterior, são usadas estratégias que envolvem a solicitação de ajuda

prática de outras pessoas ou a negociação para resolução de um conflito. Coping focado no

problema, mas dirigido para uma fonte de stress interna, geralmente pressupõe a necessidade

de uma restruturação cognitiva, como, por exemplo, atribuir um novo significado ao

elemento stressante.

Estratégias de Coping focadas na emoção, facilitam o Coping focado no problema,

uma vez que, diminuem a tensão emocional. Reciprocamente o Coping focado no problema,

reduz a ameaça diminuindo assim a tensão emocional.

Equilíbrio trabalho-família

O equilíbrio entre o trabalho e família é visto como uma das questões mais

importantes em estudos nas empresas e que tem suscitado grande interesse nos

investigadores. Desse equilíbrio resultam aspetos negativos (conflito trabalho-família), onde

a participação de um papel dificulta as obrigações de um outro papel e relações positivas o

(enriquecimento trabalho-família).

Segundo Grant-Vallone & Donaldson (2001), houve um grande progresso na

investigação na área do equilíbrio trabalho e família, o que levou ao desenvolvimento de

estudos empíricos, modelos teóricos e iniciativas “work-family” por parte das empresas.

Em relação ao tema trabalho e família, a Organização Internacional do Trabalho

(OIT) (2011) diz que as organizações ao promover o equilíbrio beneficiam, ao atrair e reter os

melhores colaboradores num mercado de trabalho mais competitivo, existe menos

rotatividade de pessoal, diminui-se os custos com novos recrutamentos, diminui-se o

absentismo e atrasos e ocorre um aumento na motivação, desempenho e produtividade.

Conflito trabalho-família
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O Conflito Trabalho-Família (CTF) pode ser descrito como “uma forma de conflito

inter-papel, na qual as pressões exercidas pelos papéis do domínio do trabalho e da família

são mutuamente incompatíveis de modo que a participação num papel [familiar] torna mais

difícil a participação no outro [profissional]” (Greenhaus & Beutell, 1985, p.77).

Greenhaus e Beutell (1985), diferenciam três dimensões do Conflito TrabalhoFamília:

o conflito baseado no tempo (time), o conflito baseado na pressão (strain) e o conflito

baseado no comportamento (behavior).

O conflito baseado no tempo ocorre quando o tempo exigido nas atividades de um

domínio interfere com o cumprimento das responsabilidades do outro domínio (e.g., um

indivíduo que trabalhe por turnos e não consiga estar presente nos eventos de família). Esta

dimensão do conflito está diretamente relacionada no contexto laboral com o número de

horas semanais de trabalho (Netemeyer et al., 1996; Pleck, Staines & Lang, 1980;), com o

trabalho por turnos, com a flexibilidade do trabalho e com o volume e frequência da

sobrecarga de trabalho (Pleck et al., 1980). No contexto familiar, este conflito relaciona-se

com o casamento (Herman & Gyllstrom, 1977), com a existência de filhos, principalmente

em idade pré-escolar ou escolar (Greenhaus & Kopelman, 1981; Pleck et al., 1980) e a

existência de famílias numerosas (Keith & Schafer, 1980).

O conflito baseado na pressão sucede quando esta é originada dentro de um papel

tendo consequências no cumprimento das responsabilidades do outro papel (e.g., após um dia

exaustivo de trabalho não ter paciência quando chega a casa e está em família). No que

concerne a esta dimensão esta relaciona-se a nível laboral com a ambivalência do papel no

trabalho (Kopelman, Greenhaus & Connolly, 1983), com a falta de apoio, quer por falta de

supervisão, quer por parte dos colegas (Jones & Butler, 1980), com as exigências do seu

trabalho, a nível físico e psicológico (Pleck et al., 1980), e com os elementos potenciadores

de stress no trabalho, como por exemplo as mudanças (Burke, Weir & Duwors, 1980).
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O conflito baseado no comportamento acontece quando o comportamento imposto

num papel não é compatível com os padrões de comportamento exigidos noutro papel (e.g.,

se na sua profissão um indivíduo é altamente organizado, espera-se que na sua vida pessoal

também o seja). Relativamente a este tipo de conflito em particular, não existem muitos

estudos empíricos que abordem as suas implicações relacionadas com o trabalho e com a

família, uma vez que este não tem uma relação direta com a maioria das profissões (Chambel

& Ribeiro, 2012).


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Método

Participantes

O número de intervenientes previstos para participar neste estudo é de 370

participantes, sendo que 185 são do género feminino e 185 do género masculino, que

exercem uma atividade profissional ativa. As idades dos participantes compreendem-se entre

os 25 e 65 anos.

Medidas

Questionário sociodemográfico: Questiona informações como idade, estado civil,

género, formação académica, local de residência e local de prestação de trabalho, bem como

características e condições de trabalho, nomeadamente função desempenhada e número de

horas de trabalho.

Questionário de Estratégias de Coping (QEC): O Questionário de Estratégias de

Coping é a versão adaptada por (Ribeiro e Santos, 2001) do Ways of Coping Questionnaire

(Folkman & Lazarus, 1988). É um questionário que tem como objetivo identificar

pensamentos e ações a que os sujeitos recorrem para lidarem com acontecimentos geradores

de stress específicos. O questionário é composto por 4 alternativas, numa escala tipo “Likert”

de 4 pontos em 1= nunca usei e 4= usei muitas vezes.

Procedimento

Indicar todos os passos dados para a recolha dos dados.

Especificar os pedidos de consentimento informado e outros aspetos éticos de base ao

estudo.

Especificar o período esperado de recolha de dados e a duração esperada da

administração do protocolo de investigação.

Indicar o carácter do estudo e tipo de variáveis.


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Referências

Burke, R. J., Weir, T., & Duwors, R. E. (1980). Work demands on administrators and spouse

well-being. Human Relations, 33 253-278

Carvalho, V. S., & Chambel, M. J. (2016). A relação entre o trabalho e a família. In Chambel,

M. J. (Ed.). Psicologia da Saúde Ocupacional. Lisboa: Pactor Editora

Chambel, M. J., & Ribeiro, M. T. (2012). A relação entre o trabalho e a família: do conflito

ao enriquecimento. Lisboa: RH Editora

Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1980). An analysis of coping in a middle‐aged community

sample. Journal of Health and Social Behavior, 21(3), 219‐39. doi: 10.2307/2136617

Greenhaus, J. H., & Beutell, N. J. (1985). Sources of and Conflict Family Between Work and

Family Roles. The Academy of Management Review, 10(1), 76-88

Pais-Ribeiro, J. L., & Rodrigues, A. P. (2004). Questões acerca do coping: A propósito do

estudo de adaptação do brief cope. Psicologia, Saúde, & Doenças, 1, 3-15

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