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Alegações

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DE [...]


Proc. n.º [...]

Em Alegações, diz o A., […]:

Meritíssimo Dr. Juiz,

Pede-se na presente acção a anulação do acto administrativo que indeferiu o


pedido de licenciamento de uma moradia unifamiliar apresentado pelo A. e a
consequente condenação do R. à prática do acto de deferimento daquele pedido, em
substituição do acto praticado.
Salvo o devido respeito, pensa-se que assiste razão ao A. quanto ao
peticionado, como de seguida se procurará demonstrar.
Para tanto, (I) indica-se a matéria de facto que se considera provada, (II)
fazem-se breves considerações de direito e (III) termina-se com as conclusões.

I – DOS FACTOS

Em face dos documentos juntos aos autos, da falta de impugnação de


determinados factos, por parte do R., e da prova produzida em sede de audiência de
discussão e julgamento, pensa o A. que deve ser fixada a seguinte matéria de facto:
a) No dia […], o A. apresentou, na Câmara Municipal de [...], um pedido de
licenciamento para a construção de uma moradia unifamiliar;
b) Este pedido foi, nos termos legais, instruído com os seguintes documentos:
[…];
c) Em […], o R. indeferiu o pedido de licenciamento apresentado pelo A. com
o fundamento de que a operação urbanística em causa afecta
negativamente o património histórico e paisagístico natural envolvente;
d) O projecto da moradia unifamiliar apresentado prevê a utilização de
materiais da região no revestimento da edificação (designadamente, […]),
fontes de energia eléctrica alternativas (tais como a energia solar) e o
alinhamento com as demais construções circundantes.

II – DO DIREITO

Dispõe o artigo 24.º do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação


(doravante, RJUE), para o que ora mais releva, que:
«[...]
2 - Quando o pedido de licenciamento tiver por
objecto a realização das operações urbanísticas referidas
nas alíneas a) a e) do n.º 2 do artigo 4.º, o indeferimento
pode ainda ter lugar com fundamento em:
a) A operação urbanística afectar negativamente o
património arqueológico, histórico, cultural ou
paisagístico, natural ou edificado;
[...]»

Alegou o R. que o pedido de licenciamento apresentado pelo A. foi indeferido


porquanto a operação urbanística requerida afectava negativamente o património
histórico e paisagístico natural envolvente, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo
24.º do RJUE.

Contudo, pensa-se que não assiste razão ao R..

Na sua, aliás douta, contestação, o R. não concretizou e, como tal, não


resultou provado, os exactos termos em que se revela, na operação urbanística
requerida, a alegada afectação negativa do património histórico e paisagístico natural
envolvente.

Com efeito, e apesar de, na norma em apreço, serem utilizados conceitos


indeterminados, o que atribui à Administração, no momento da decisão, algum poder
discricionário, tal discricionariedade terá sempre que ser fundamentada.

Aliás, o R. não indica sequer, na sua fundamentação, qual o concreto


património histórico que se considera vir a ser afectado por esta construção.

Sendo certo que, os conceitos utilizados na norma consignada no n.º 2 do


artigo 24.º do RJUE, «ainda que não se refiram à violação de restrições ou servidões
administrativas, uma vez que estas situações já se encontram cobertas pelo disposto
no artigo 24.º, n.º 1, alínea a), devem ser lidos em articulação com o disposto na Lei
sobre o património cultural (Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro) e demais
instrumentos normativos a que o nosso país se encontra vinculado, como sucede com
a Convenção Europeia da Paisagem, de modo a limitar a margem de
discricionariedade do que é considerado património para efeitos do RJUE» – cf.
FERNANDA PAULA OLIVEIRA/ MARIA JOSÉ CASTANHEIRA NEVES/ DULCE LOPES / FERNANDA
MAÇÃS, O Regime Jurídico da Urbanização e Edificação - Comentado, 2.ª Ed.,
Almedina, Março 2009, p. 267.

Por outro lado, resultou provado nos autos que a operação urbanística em
causa encerra preocupações com a utilização de materiais da região no revestimento
da edificação, as fontes de energia eléctrica alternativas (tais como a energia solar) e
o alinhamento com as demais construções circundantes.

Razão pela qual, salvo melhor opinião, não se encontram preenchidos os


pressupostos de que depende o indeferimento do pedido de licenciamento
consagrados na referida alínea a) do n.º 2 do artigo 24.º do RJUE.

Nem quaisquer dos outros constantes do referido artigo 24.º, que enumera
taxativamente os casos em que tal pedido deve ser indeferido.

Em suma, pelas razões expostas, o acto de indeferimento do R., objecto da


presente acção, afigura-se ilegal, pelo que deverá ser anulado e, em consequência,
ser o R. condenado a praticar o acto de deferimento do pedido licenciamento
apresentado, com as legais consequências.

III – CONCLUSÕES

I. O indeferimento do pedido de licenciamento apresentado pelo A. na


Câmara Municipal de [...] é ilegal porquanto assenta, sem fundamento,
nos pressupostos constantes da alínea a) do n.º 2 do artigo 24.º do
RJUE, que não se encontram verificados no caso em apreço (assim
como, aliás, no caso, não se verifica qualquer outro dos pressupostos
taxativamente estabelecidos neste artigo 24.º para o indeferimento dos
pedidos de licenciamento);
II. Com efeito, a operação urbanística cujo licenciamento foi requerido pelo
A., conforme resulta da matéria de facto provada, revela preocupações
com a utilização de materiais da região no revestimento da edificação, as
fontes de energia eléctrica alternativas (tais como a energia solar) e o
alinhamento com as demais construções circundantes;

III. Aliás, o R. não alegou, nem por conseguinte logrou provar, quaisquer
factos que concretizassem a suposta afectação negativa do património
histórico e paisagístico natural envolvente, decorrente daquela operação
urbanística;

IV. Em face do exposto, o acto de indeferimento sindicado é ilegal, por


violação do disposto na alínea a) do n.º 2 do artigo 24.º do RJUE,
devendo por isso ser anulado e, em consequência, o R. condenado a
praticar o acto de deferimento devido.

Termos em que deve a presente acção ser julgada


procedente, por provada e, em consequência, ser:
a) Anulado o acto impugnado, com as legais
consequências;
b) O R. condenado a praticar o acto de deferimento
do pedido de licenciamento apresentado pelo A.
em [...].
com o que V. Exa., Meritíssimo Juiz, fará
JUSTIÇA!

Junta: comprovativo da notificação ao Ilustre mandatário do R..

Na elaboração do presente documento foram usados meios informáticos – artigos 138.º, n.º 5, do CPC e
1.º do CPTA, deixando o verso das folhas em branco.

O Advogado,

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